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Edicao Completa 2014

Published by ismaelmoura4, 2016-06-28 06:10:58

Description: Edicao Completa

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EDITORIAL A Faculdade RATIO, destacando-se também como Instituição de EnsinoSuperior comprometida com a investigação científica, lança o primeiro número daRevista Trabalho e Sociedade, meio eletrônico de comunicação das pesquisasacadêmicas realizadas por seus docentes e alunos, bem como pelo público em geral. Deperiodicidade semestral, a Revista reúne análises sobre as questões que envolvem omundo do trabalho e suas transformações atuais. Além desse enfoque temático, parte dapublicação é dedicada às abordagens interdisciplinares, oriundas dos mais diversoscampos acadêmicos e profissionais. O leitor encontrará neste primeiro número a contribuição das pesquisadorasRyanne Bahia e Tuanne Monteiro, intitulada TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDEDO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANO EM FORTALEZA, cujo foco é a atividadelaboral dos motoristas de ônibus urbano da cidade de Fortaleza/CE. O artigo intituladoCOACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA, da professora Magda Silva, sugere a adoção do coaching enquantométodo e mudança de mentalidade junto à prática docente do professor que atua noEnsino Superior. A proposta de Karla Araújo, Silvia da Silva, Elivânia Nascimento,Francisco Fernandes e Raúl dos Anjos, AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDOEMITIDOS POR UM TRATOR DE RABIÇAS COM UM ARADO DE DISCOACOPLADO, aborda a segurança e a saúde dos operadores de máquinas agrícolas. Um segundo corpo de artigos se inicia com a reflexão de Cícero PereiraPARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTRE PROFESSORES EALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISE em que analisa as crisesadministrativa e pedagógica de uma instituição educacional de Fortaleza, queculminaram na sua falência, a exemplo das inúmeras escolas que “fecharam as portas”recentemente. O texto do professor Túlio Cruz, COMUNICAÇÃO INTERNA: UMESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE FOTALEZA, realizaanálise sobre a importância da comunicação interna para o processo de eficiência deuma organização. O trabalho de Francisco Maurício, PARA UMA SOCIOLOGIA DOPRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUY STANDING, GIOVANNI ALVES ERUY BRAGA, almeja mapear as conceitualizações de precariado produzidas porStanding, Alves e Braga, problematizando, através de uma análise comparativa, as Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.1-2.

2diversas formulações sobre o conceito. No artigo “A LIBERDADE É VERMELHA”: AHONRA FEMININA E O COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS1980, de autoria de Janaina da Silva Rabelo e da professora Diocleciana Paula da Silva,é discutido o modo como a dominação masculina se apresentava na sociedadefortalezense nos anos 1980, mediante os crimes passionais publicados no jornal O Povo.Finalizando esse primeiro número, o artigo A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NOCAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: A REATUALIZAÇÃO DOCONSERVADORISMO NO SERVIÇO SOCIAL, de Marisa Cordeiro, Cristiane Porfírioe do professor Jeriel Santos, discute as incidências reatualizadas do conservadorismo noServiço Social, a partir de suas expressões com o advento do chamado pós-modernismona sociedade. Por fim, gostaríamos de agradecer a todos os alunos, professores efuncionários que apoiaram e colaboraram com o lançamento desta que é a primeirapublicação acadêmica da Faculdade RATIO. Um agradecimento especial ao DiretorEducacional Orlando Júnior que, com sabedoria e perspicácia, visualiza, a cada instante,novos horizontes de atuação para o engrandecimento da RATIO. Desejamos que osleitores encontrem na publicação e, em particular, neste número de estreia,contribuições que possam instigar suas reflexões e estudos. BOA LEITURA! Comissão Editorial Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.1-2.

TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANO EM FORTALEZA. WORK ENVIRONMENT AND HEALTH OF URBAN BUS DRIVER IN FORTALEZA. Ryanne F. Monteiro Bahia1 Tuanne Freire Monteiro2RESUMO:O presente estudo versa acerca da relação entre trabalho, ambiente e saúde, cujo foco sãoos motoristas de ônibus urbano da cidade de Fortaleza/CE. O objetivo dessa pesquisa érefletir sobre as condições de trabalho e efeitos na saúde, entendida aqui em umaconcepção lato sensu. O instrumento de coleta de dados utilizado foi a observação,realizada em campo durante um ano, acompanhada por conversas informais com ossujeitos da pesquisa. Os achados de pesquisa apontam que o ofício de motorista de ônibusé causador de significativos agravos a saúde física e mental, devido à não adaptação dosistema de transporte público ao desenvolvimento da cidade, bem como da muitasexigências e poucos estímulos positivos.Palavras-chave: Trabalho. Saúde. Ônibus. Motoristas.ABSTRACTThe present study deals about the relationship between work, health and environment,whose focus is on urban bus drivers in the city of Fortaleza / CE. The objective of thisresearch is to reflect on the working conditions and health effects, understood here in abroad sense conception. The data collection instrument used was the observation, made inthe field for one year, followed by informal conversations with the subjects. The researchfindings indicate that the job of the bus driver is causing significant damages to physicaland mental health due to the lack of adaptation of the system of public transportation to thecity, as well as the many demands and few positive stimuli.Keywords: Work. Health. Bus. Drivers.1 Doutoranda em Sociologia pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, bolsistada Capes.2 Acadêmica em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará, bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

4TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro1 INTRODUÇÃO A saúde não se define apenas pela ausência de alguma enfermidade no corpo.Mas também por estado de bem-estar, de realização do indivíduo e do exercício de suaspotencialidades. Georges Canguilhem (1995), filósofo francês, traz uma perspectiva desaúde e doença importante para a compreensão destas de forma mais ampla, e para aelaboração de práticas que consideram o sujeito como um todo, não apenas como o doente.Para este autor, o que diferenciaria a doença da saúde é que nesta há a presença de umaabertura para mudanças, enquanto aquela apresenta um caráter fixo, estático. Saudávelseria aquele que consegue conservar sua capacidade de ultrapassar uma normamomentânea, constituindo-se novas formas, padrões, modos de viver. Doença e saúde paraCoelho& Filho (1999) seriam relacionais, e a norma deveria ser individual, representando amáxima capacidade de um ser. “O homem dito são não é, portanto, são. Sua saúde é umequilíbrio conquistado à custa de rupturas incoativas. A ameaça da doença é um doselementos constitutivos da saúde.” (CANGUILHEM, 1995, p. 261). A saúde não seria, assim, algo homogeneizador, nem a obediência irrestrita auma norma, seria ela a capacidade de apresentar várias normalidades, de dar condições deescolhas aos indivíduos. O ser saudável também estaria ligado à capacidade designificação, de dar sentido à vida, às situações; se o indivíduo não consegue darsignificado ao que lhe acontece o resultado pode ser o adoecimento. (COELHO; FILHO,1999) Deste modo, o estilo de vida que algumas profissões impõem ao seu trabalhadorcontribui para um processo de adoecimento, uma vez que não permitem a ele momentos detranquilidade, descontração, assim como subtraem suas energias não sobrando disposiçãopara, no tempo livre, exercitar suas potencialidades intelectuais, praticar esportes(importante para o bom funcionamento do corpo). Submetido a cargas de trabalhoextenuantes, em que lhe é pedido cada vez mais, resta ao sujeito pouco espaço paraelaborar suas perdas, para significar suas faltas e a si mesmo. Esse artigo se volta para umacategoria profissional específica: a dos motoristas de ônibus urbano. Os motoristas de ônibus são expostos em seu cotidiano a inúmeros fatores queprovocam adoecimento e algumas são referentes ao ambiente, tais como: poluição sonoracausada por buzinas no trânsito e do alarde sonoro acionado pelo passageiro que indica ao Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

5TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiromotorista o ponto de desembarque, sendo este o mais frequente. Também incômoda é apoluição atmosférica proveniente da fumaça dos veículos automotores; a temperaturaelevada no interior dos coletivos, que em sua maioria não possuem aparelhoscondicionadores de ar; e o tempo excessivo de exposição ao sol que pode causar câncer depele. Não menos importantes são os fatores estressores causados pelas condiçõesinadequadas do serviço: alguns profissionais precisam dirigir e receber a passagemsimultaneamente (no caso dos micro-ônibus). Há também dificuldades inerentes aoatendimento das exigências dos passageiros e aos problemas do trânsito, tais comoacidentes e vias mal conservadas. Outro fator que não deve ser negligenciado são ascondições ergométricas relacionadas ao serviço: trabalhar próximo ao motor, que irradiacalor diretamente para o condutor do veículo, (alguns itens que compõe a frota encontram-se em condições precárias, não devido ao tempo de uso, mas pela má qualidade do materialcom que foi produzido); acrescente-se a isso muitas horas sentado realizando movimentosrepetitivos e pouco tempo para descansar a visão. Todos esses itens comprometem o bomdesempenho do ofício e causam forte sofrimento psíquico e físico a essa categoriaprofissional. Ademais, o ambiente de trabalho dos motoristas é a rua, o vasto ambienteurbano. A rua, conforme DaMatta (2010) representa um ambiente não controlado, onde seestá mais passível de sofrer com os infortúnios do acaso. Isso deve ser considerado no quese refere aos imaginários populares que associam a casa à segurança e a rua ao perigo. Issofica patente nos relatos de motoristas que temem serem assaltados ou sofrerem algum tipode violência em serviço. O motorista está no local físico da empresa apenas durante doismomentos do dia: quando sai da garagem e no final do turno quando deve prestar contas darazão de quantos passageiros conduziu (quanto foi acumulado em passagens) porquilômetros rodados. Tal profissão encarna os princípios do início da modernidade: ocontrole do tempo, a disciplina sobre o corpo, o adestramento dos movimentos e aprodução de corpos dóceis. (FOUCAULT, 1987) Em um determinado tempo, o motorista eo cobrador devem transportar um número considerável de passageiros. Há uma lógica deprodução de serviço que é semelhante ao sistema fabril clássico. Este modelo lembra omolde taylorista/fordista de produção, que se preocupava com a otimização do trabalho pormeio desse controle do tempo e da eliminação dos movimentos desnecessários. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

6TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro Alguns estudos relatam como as condições de trabalho do motorista de ônibusurbano afetam sua saúde: Carrére et al (1991) destacam as elevadas taxas de cortisol,adrenalina e noradrenalina apresentadas, Evens et al (1987) chama a atenção para elevaçãoda pressão sanguínea, Pereira (2004) aponta em seus estudos a presença de queixas dessestrabalhadores acerca de fadiga, cansaço mental. Junior e Mendes (1994) apontam paradoenças do sistema musculoesquelético como principal motivo para afastamento doserviço; as queixas mais frequentes são as de lombalgia, o que é compreensível seconsiderarmos a Vibração de Corpo Inteiro (VCI) do motorista e de quem mais estiver nointerior dessa arquitetura itinerante, pois alguns veículos estremecem devido ao motor e àestrutura instável do piso que trepida produzindo um ruído persistente dos parafusos querangem continuamente. Também foram frequentes relatos referentes a cefaleias, depressão,nervosismo e distúrbios gastrointestinais. Os ruídos e a vibração imanentes aos ônibusurbanos de Fortaleza estão acima dos limites de tolerados pela norma ISO 26313.(CAVALCANTE, 1994) Nos estudos de Johansson & Carrere (1994); Frankenhauser & Johansson(1986) há informações de que os motoristas de ônibus urbano morrem precocemente dedoença cardiovascular e aposentam-se mais cedo por incapacidade física, além deapresentarem novamente os casos de doenças musculoesqueléticas, nervosas egastrointestinais. Não separando o sofrimento psíquico de sua somatização, percebe-secom o trabalho de Lima (2004) que a categoria dos motoristas apresentou, no levantamentodesse autor, características próximas ao alcoolismo em 57% dos pesquisados, seguidos porepisódios maníacos, depressão e ansiedade. No caso da realidade fortalezense, foi possívelconstatar empiricamente que os motoristas que trabalham em terminais, além de serempressionados a alimentarem-se rapidamente, fazem-no com a alimentação inadequadacaracterística dos Terminais da capital, à base de salgados gordurosos e refrigerantes.Diante dessa problemática, questionamos: Como o ambiente de trabalho dos motoristas deônibus urbano afeta seu convívio social e sua qualidade de vida? Com isso, busca-secompreender melhor a relação ambiente de trabalho e a saúde para os referidos atoressociais.3 As Vibrações de Corpo Inteiro (VCI) são comuns para quem trabalho em transportes. A ISO 2631 e a NHO 09- Normade Higiene Ocupacional- Procedimento técnico- Avaliação da Exposição Ocupacional a vibrações de corpo inteiro, sereferem ao estabelecimento de normas que minimizem esse impacto. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

7TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro Observando o serviço de transporte urbano coletivo por ônibus em Fortalezapor aproximadamente seis anos, tendo dedicado o ano de 2012 a observações sistemáticasrealizadas em trabalho de campo, foi possível observar a relação ambígua dos profissionaisque executam esse serviço de fundamental importância para a cidade no que concerne àmaneira de condução do veículo. A situação do motorista em relação ao passageiro édelicada. Se o condutor transita em alta velocidade, o ônibus sofre trepidações causandodesconforto e apreensão aos que estão em pé por temerem serem arremessados de encontroàs barras de sustentação ou em outros usuários em função de uma redução brusca develocidade, se anda no limite, é considerado lento para os usuários mais apressados. Emcaso de acidentes, a situação fica ainda mais tensa, pois o quadro de horários a seremcumpridos se altera em virtude dos atrasos. E dados os problemas de mobilidade queenvolvem toda a dinâmica do trânsito de uma metrópole superpopulosa como Fortaleza, écomum escutar do passageiro: “Acelera motorista!” De todo modo, a insatisfação com osinfortúnios da viagem a saber, superlotação, demora na chegada do coletivo, condiçõesinadequadas do veículo e o preço da tarifa recai sobre os profissionais rodoviários:motoristas e cobradores. Tais questões perpassam o cotidiano desses profissionais querecebem muitas responsabilidades por parte dos empresários e pouco reconhecimento porparte de seus usuários. (CAIAFA, 2002) Com jornadas cansativas e pouco espaço para o desenvolvimento desociabilidades amistosas entre os agentes que executam o serviço e o usuário deste, pois omotorista deve evitar conversar com o passageiro para evitar distrações, na intenção deminimizar os acidentes; esse profissional tem poucas condições de desenvolver uma vidasaudável. Durante as observações efetuadas, raras vezes foram presenciadosagradecimentos ou palavras amistosas para o motorista. Os objetivos desse estudo são:compreender como os sujeitos da pesquisa (motoristas de ônibus) simbolizam seucotidiano de trabalho, como significam sua prática no trabalho; identificar de que forma oambiente de trabalho e suas contingências interferem na saúde e no bem-estar dotrabalhador.2. CONCEPÇÃO DE SAÚDE A saúde é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 1976) nãoapenas como a ausência de enfermidades, mas como um completo estado de bem-estar Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

8TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteirofísico, social, mental e espiritual. Essa definição se confundiria com a de felicidade, umestado que não se pode alcançar plenamente, talvez apenas em raros e fugidios momentos,não se caracterizando como um estado permanente. Afinal, somos seres faltosos, e seriajustamente a ausência constante de algo que nos movimentaria, que permitiria quebuscássemos, transformássemos, melhorássemos. As faltas, descontentamentos einsatisfações nos fariam tentar transcender, ou melhor dito, ultrapassar as normas, asexigências de existência momentâneas na busca de outras normas, padrões, modos de vida.Esta capacidade de transformação, de normatividade se aproximaria da concepção deCanguilhem (apud ALVES, R. & SCLIAR, M, 2011) de saúde. Georges Canguilhem(1995) se contrapunha a Doutrina de Broussais, a qual afirmava que a doença e anormalidade seriam como um mesmo estado cuja distinção entre estas seria de ordemquantitativa, pois a doença seria a falta ou excesso acima ou abaixo do “estado normal”.Para autor em questão, a distinção entre normalidade e patologia seria qualitativa, e anormalização seria a imposição de uma exigência a uma existência, seria a tentativa detomar um ponto de referência ao qual todos o sujeitos buscariam se adequar para seremconsiderados normais. Já a normatividade seria a capacidade que se tem na saúde de seestabelecer novas normas de vida. (COELHO; FILHO, 1999) Com o capitalismo e a industrialização, surge a necessidade de se estabelecernovas normas e padrões de comportamento. A partir da segunda metade do século XIX,médicos, psicólogos, sociólogos passaram a ter como tarefa o estabelecimento de padrõesde normalidade para o trabalho, as possibilidades de rendimento do homem e da sociedade.Porém, se todos fossem normais e seguissem apenas uma norma, não haveriapossibilidades de mudança e isso já caracterizaria uma patologia. A normalidade engloba adoença, uma vez que para ser saudável, o indivíduo deve ser capaz de adoecer e sereestabelecer, ser capaz de muitas normas. (COELHO; FILHO, 1999)2.1 O TRABALHO E A SAÚDE Na Grécia Antiga, (ALBORNOZ, 1986) o trabalho poderia ser compreendidopor meio de três palavras, labor, poiesis e práxis. O labor se refere ao trabalho mecânico,prático, realizado com intuito primeiro de suprir uma necessidade material, desobrevivência. Essa prática não necessita de uma reflexão por parte do sujeito. É oexemplo de ofícios manuais realizados em fábricas. A poiesis envolve criação, seria Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

9TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiroimanente à arte, o fazer a si mesmo, mas concernente à ação. Já práxis se faz presente pormeio da palavra, do discurso, coaduna-se com uma ação política. Para Hanna Arendt(1983), a modernidade propiciou uma “laborização”, uma ação “mecânica” que deixapouco espaço para a significação política do trabalho, a práxis. O trabalho para Dejours (1992a, 1994) envolve tensões, instabilidades eangústias que lhe são inerentes, pois sempre há metas para cumprir, satisfações a seremdadas, testes pelos quais alguns funcionários passam constantemente etc. Porém, nãosignifica que as empresas, organizações e empregadores em geral não possam mitigar essasquestões fornecendo meios que aumentem a autonomia do trabalhador, que lhe tornemsuas atividades mais interessantes, que possibilitem meios de o trabalhador aprimorar-separa estar mais adequadamente preparado para enfrentar as adversidades propiciadas peloambiente. Dejours (1992a, 1994) considera o trabalho com o potencial adoecedor, onde ocomum é o sofrimento e a exceção é o equilíbrio psíquico e a satisfação. Durante aRevolução Industrial, havia o que se chamava de “miséria operária”, que se expunha pormeio da notável taxa de morbidade causada pelo emprego fabril; na época, o efeito dotrabalho desgastante era tão pernicioso quanto uma doença para pessoas enfraquecidas,comum entre as pessoas que se expunham a essa situação. Não era possível pensar em umaconvivência entre vida saudável e trabalho, ao menos em termos de operariado. Nessemomento histórico, o trabalho infligia uma agressão ao corpo disciplinado do trabalhador.Com as revoluções tecnico-científicas e o desenvolvimento de novas tecnologias deprodução, o esforço sobre o corpo diminuiu, porém, ficou mais intensa a carga desofrimento psíquico, dependendo da ocupação. Na contemporaneidade, a doença atinge otrabalhador não apenas no corpo, mas na mente. A superação do sistema fordista e areestruturação produtiva baseada no toyotismo, que implicou não só em flexibilização, masno emprego mínimo de mão-de-obra, fez com que muitas pessoas se sujeitassem a durascondições de serviço, onde os cuidados básicos com a saúde não eram respeitados. Dessemodo, sujeitos sob estresse “tomam excitantes ou tranquilizantes para dar conta dasituação, para ter bom desempenho, para mostrar sua “excelência”, entramos numa“civilização de dopping” (termo adotado por Enriquez, (2006) para se referir àmodernidade contemporânea e sua tendência à medicalização de problemas cuja origem éde cunho social); e quando esses indivíduos não são mais úteis, eles são descartados,apesar de todos os esforços despendidos”. (ENRIQUEZ, 2006, p. 6) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

10TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro O trabalho está intimamente relacionado à saúde e ao bem-estar. O trabalho emsi não é necessariamente problemático. O ato de trabalhar como poiesis, a ação de produzira si mesmo através do trabalho é algo produtivo, uma vez que haja identificação com aatividade desenvolvida. (ALBORNOZ, 1986) O trabalho no sentido de labor expressadesqualificação dos sujeitos que o executam, é uma espécie de punição. Esse significadovem da Grécia antiga, onde o filósofo como homem superior não se entregava ao labor,pois essa função era por excelência dos escravos, mas também dos comerciantes. Noperíodo medieval, os imaginários relacionados ao trabalho eram igualmente negativos: apirâmide social se dividia entre os que rezavam, simbolizados pelo clero; os queguerreavam, referindo-se aos cavaleiros e os que trabalhavam, os camponeses. Amodernidade desenvolveu com a indústria um modo de transformação da matéria quealterou substancialmente os modos de produção, erigindo o trabalho orquestrado pelotempo e amparado pela máquina, esta com quem o homem mantém até os dias de hoje umarelação ambígua. Karl Marx (1988) foi o primeiro pensador a eleger o trabalho comocategoria central de seus estudos, a partir do estudo das relações de produção, escrevendosua obra magna O capital. A crítica marxiana não recai sobre o trabalho em essência, masnos modos de exploração do mesmo, e, sobretudo, sobre o trabalho alienado produtor demais-valia, ou seja, a apropriação privada do trabalho social (tempo de trabalho não pagoao trabalhador, ancorado no trabalho abstrato4 correspondente ao valor de troca, quenecessariamente gera valor) que considera o homem como máquina, simples meio para aprodução de riquezas e desigualdades, o que seriam características próprias do capitalismo. Como acima exposto, observa-se que o trabalho possui significações diversasao longo do tempo. Pensando nos sujeitos dessa pesquisa, os motoristas de ônibus urbano,será utilizada a categoria sentidos do trabalho. Os estudos do tema em lide foram deKackman e Oldhan. (1975 apud TOLFO; PICCININI et al, 2007) Estes tinham umaconcepção de que a qualidade de vida se relaciona com os sentidos do trabalho para quemo executa. Afirmam que o sentido é positivo quando possibilita a utilização decompetências múltiplas, e que gera empatia com a prática do ofício, o que é mais4 A fonte do valor é o trabalho. O trabalho concreto é o trabalho individual, usado para criar algo, satisfazer umanecessidade, e pode ou não gerar valor. O trabalho abstrato é complexo, é o trabalho humano em geral, que se relacionacom os outros, é, portanto, social. Está relacionado ao valor de troca e à produção da mais-valia. É o trabalho em geralque é apropriado privadamente para gerar lucro. Por meio do trabalho concreto se produz coisas úteis, com valor de uso,mas somente para convertê-las em valor de troca posteriormente. É no trabalho abstrato que o capital se realiza. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

11TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteirofacilmente atingido quando o sujeito possui um maior controle sobre aquilo que faz.(GUIMARÃES, 2006; SATO, 1991) O sentido positivo está imbricado em uma prática detrabalho não alienado e que possibilita uma resposta no tocante ao seu trabalho, há umretorno. A expressão “sentidos do trabalho” aqui utilizada é original da PsicologiaOrganizacional de meados de 1980, destacando-se os estudos do grupo Meaning of WorkInternational Research team (MOW). Sua perspectiva era que o trabalho faz parte de umtodo complexo que engloba a relação com o ambiente físico e com o contexto cultural,assim como interage com as representações. (TOLFO; PICICININI, 2007)2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO AMBIENTE: O SISTEMA DE ÔNIBUS DEFORTALEZA Anteriormente, foi posto de forma sucinta a base teórica que ancora essapesquisa: a relação entre saúde e trabalho. Agora será apresentada uma contextualização doambiente em que estão imersos os trabalhadores rodoviários, nesse caso específico,motoristas de ônibus de Fortaleza. O levantamento histórico é pertinente uma vez quepermite visualizar as condições de trabalho dessa categoria e seu desenvolvimento.2.2.1 Os primeiros ônibus no Ceará As condições de trabalho dos motoristas dos primeiros ônibus da capitalcearense eram relativamente satisfatórias, se comparadas com a atualidade. Não há relatosde que havia muitos conflitos com os passageiros, os quais se sentiam melhor acolhidospelo ônibus do que pelos bondes da empresa Light, a qual despertava irritação tanto osusuários do serviço quanto os seus funcionários. Os primeiros ônibus eram limpos,confortáveis e mais eficientes que os bondes. (SAMPAIO, 2010) Com a circulação doauto-ônibus no final dos anos 1920, este passou a fazer concorrência ao bonde da Light efoi recebido com certa esperança e até euforia pela população, há muito insatisfeita com aempresa citada. (SAMPAIO, 2010) O auto-ônibus custava o mesmo que o bonde de primeira classe e era maisrápido e moderno e dispunha de motoristas que se comportavam de maneira mais afávelpara com os usuários do serviço. O comportamento dos motoristas variava conforme o Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

12TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteirovalor pago pelos bondes. Por isso, popularmente se falava em bonde classe A e bondeclasse B. Os primeiros ônibus eram poucos e de circulação limitada. Além disso, faziaconcorrência com os bondes. Segundo o historiador Sampaio (2010), os funcionários dosauto-ônibus eram corteses e agradáveis com os usuários do serviço. O que pode terocorrido pelo fato de haver pela primeira vez na capital concorrência no serviço detransporte público. Outro fator se refere à melhoria das condições de trabalho, pois aempresa Light teve muitos problemas com seus funcionários no que tange a esse tema. Hátambém a questão da escala demográfica: poucas pessoas, se compararmos com atotalidade da população, utilizava esse serviço. O ônibus assim passou a ser o prediletopara aqueles que pudessem pagar sua passagem. Talvez por esse motivo o bonde tenhasobrevivido até 1947. O serviço dos auto-ônibus tinha uma capacidade muito limitada em relação auma população que crescia de forma constante. Os primeiros ônibus de grande portecomeçaram a circular em 1941 e eram veículos com capacidade para 40 passageiros.Em 1966, foram incorporados três ônibus elétricos, os quais ficaram conhecidos comotrólebus; porém somente no ano seguinte o equipamento foi testado e foi realizado umconcurso público para a contratação de profissionais que trabalhariam nos trólebus,exigindo-se para a contratação de pessoal não apresentar registro criminal. Não havia entãopreocupação com relação à capacitação do profissional em questão, era preciso apenasestar afastado de problemas criminais e possuir habilidades para dirigir. (BASTOS, 2000)2.2.2 O ônibus como transporte massivo: o endurecimento do trabalho e dos homens No início dos anos 1970, com um milhão de habitantes, Fortaleza contava comuma frota de 659 ônibus. Tais veículos já estavam desgastados pelo tempo de uso, umamédia de 20 anos, e agravando o problema da conservação dos mesmos, praticamenteinexistia até o momento abrigos para guardar os ônibus. Foram construídos 40 em 1975.No ano seguinte, a Empresa Brasileira de Transporte Urbano (EBTU), recebeu daSecretaria de Serviços Urbanos de Fortaleza um projeto que pedia recursos para asfaltar asvias por onde os ônibus circulavam. (BASTOS, 2000) O transporte público em Fortaleza apresentava-se defasado em relação ao queocorria em outras capitais brasileiras. Pensando nisso, em 1977, o então ministro dos Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

13TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteirotransportes Dirceu Nogueira assinou um convênio que visava transformar profundamente otransporte público em Fortaleza. Só então se considerou implantar o transporte de massa, oque ocorreu a partir do Plano de Desenvolvimento de Transportes da Região Metropolitanade Fortaleza e esse projeto reuniu: Ministério dos Transportes, governo estadual emunicípio. O Plano de Desenvolvimento de Transportes de Fortaleza5 preocupou-se comquestões estruturais, mas acabou negligenciando o aspecto humano. Aparentemente, ascoisas foram vistas como se, sanando o aspecto material da questão: novos carros, viasmais adequadas, aumento de desempenho socioeconômico, os conflitos no referido setorfossem ser resolvidos. Isto não ocorreu, apesar da expectativa de melhoria em 1977 quandoa frota fora composta por 710 ônibus geridos por 24 empresas. Nessa década, os jornaislocais relataram uma série de problemas como atraso no embarque, ônibus superlotados,empurra-empurra e conflitos entre passageiros e motoristas, e destes e cobradores com osempresários. Na década de 1980, ocorreram sucessivos aumentos da tarifa chegando a umpatamar de 71,8% no ano de 1985, o que causou muitos conflitos entre passageiros,empresários, trabalhadores rodoviários e prefeitura. (BASTOS, 2000, ALCANTARAJUNIOR, 1991) Mesmo com as indicações do Plano de Desenvolvimento de transportes deFortaleza, que pregava uma abordagem mais profissional inspirada no modelo deplanejamento estratégico, a Secretaria de Transportes não possuía “sequer uma ficha com ohistórico de cada empresa, frota, número de multas, período de concessão etc”. (BASTOS,2000, p. 56) Curiosamente, no final da década de 1980, foi criado pela Secretaria deTransporte e Serviços Urbanos, um disque reclamações para o transporte público. Dado onúmero elevado de reclamações dos passageiros em relação aos profissionais rodoviários, aCompanhia de Transportes Coletivos (CTC) desenvolveu um curso de “reciclagem erelacionamento interpessoal” para os motoristas. O aumento da frota de ônibus não foiproporcional ao crescimento populacional da cidade. Deste modo, os coletivos ficaramcom lotação excessiva, com carros danificados pelo tempo e pela sobrecarga de pessoas5 1 ° Caracterização do sistema de transporte (até o momento) vigente;2° Análise da situação presente e prognose para horizontes futuros;3° Propostas de soluções alternativas para o sistema futuro de transportes e sua avaliação;4° Detalhamento de alternativa mais conveniente em curto prazo, envolvendo as linhas de transporte público;5° Estudo de viabilidade técnico-econômica dos transportes ferroviários de subúrbios de Fortaleza. (BASTOS, 2000). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

14TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteirotransportadas, que, não raro, estavam insatisfeitas com esse serviço e tendem a direcionartal descontentamento para os funcionários da empresa mais próximos: motoristas ecobradores, os quais, por sua vez, também incomodados com sua situação deflagraramgreves recorrentes. (ALCANTARA JUNIOR, 1991) Em 1992, o Sistema Integrado de Transporte de Fortaleza 6 (SITFOR)inaugurou os terminais de Antônio Bezerra e de Messejana. A conclusão, com aimplementação dos demais terminais foi efetuada em 1995. O objetivo dos terminais era ode permitir aos seus usuários o acesso a diversos locais da cidade mediante pagamento deuma tarifa única. Os passageiros podem se transferir para linhas circulares e interbairrosque são integradas em seus respectivos terminais. Atualmente, Fortaleza conta com seteterminais que trabalham de modo integrado. São eles: Papicu, Antônio Bezerra, Lagoa,Siqueira, Messejana, Conjunto Ceará e Parangaba. No ano de 2011, foram criados os consórcios (na prática, foi a concorrênciapública para a operação do sistema de transporte coletivo urbano regular) que prometiam“acabar com o sistema amador do transporte de ônibus na cidade.” Uma das propostas dosconsórcios seria renovar a frota e melhorar a qualidade do serviço (ALMEIDA,2012). Foipossível constatar que ocorreu efetivamente uma renovação da frota. Entretanto,persistiram os problemas ergonômetros dos ônibus, o elevado ruído, as trepidaçõesprovenientes das imperfeições na via pública bem como da falta de estabilidade do veículo.Acrescente-se a isso a vibração proveniente do motor. A insalubridade é mais patentedurante os horários de pico, quando o trânsito é lento e a ventilação natural é escassa emvirtude do número de passageiros que permanecem próximos às janelas dificultando apassagem de ar, aumentando a sensação de calor.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS6 Em 1990, foi criada a Diretoria de Gerência do Sistema, subordinada à Companhia de Transporte Coletivo (CTC). Foi aDGC que desenvolveu e implantou o SITFOR, bem como o Sistema de remuneração pela compensação tarifária. Taisatribuições sobrecarregaram a CTC, havendo a necessidade de criar um órgão juridicamente independente da CTC. Em23 de dezembro de 1993, um ano após o início de atividades do SITFOR, foi criada a Empresa de Trânsito e TransporteUrbano S/A (ETTUSA), mediante a lei municipal 7.481/93. Trata-se de uma empresa de economia mista na qual 98,69% do capital pertencia à Prefeitura Municipal de Fortaleza e apenas 1,32% a empresas que lá operam. A ETTUSA nasceuvinculada à Secretaria de Transportes do Município (STM), quando esta foi extinta, a responsabilidade da gerência dotransporte de ônibus foi totalmente entregue à ETTUSA, até que em 2006 foi criada A Empresa de Transporte Urbano deFortaleza S/A (ETUFOR). Com ela, a prefeitura fez o resgate das ações que outrora pertenciam a sócios particulares etornou a empresa responsável pelo transporte público. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

15TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro Durante a pesquisa de campo, foi observado que motoristas de linhas de ônibuscom elevada demanda apresentam mais frequentemente comportamento ansioso e deelevado nível de stress. Conversando com familiares de motoristas, eles declararam que oconvívio social com aqueles era penoso, comprometido em virtude do estresse ocasionadopelo trabalho. Conforme foi visto, a massificação do transporte público foi acompanhada poruma perda na qualidade do serviço. Isso afeta as pessoas que trabalham diretamente nesseserviço. O SITFOR possui uma estrutura bastante complexa; anualmente é produzido umrelatório com os dados objetivos relacionados a essa atividade: quantas pessoas passarampela catraca do ônibus, quantos quilômetros foram percorridos, quantos pagaram meiapassagem ou inteira; é possível saber até em que paradas o ônibus passou, pois cada trajetoé vistoriado via satélite. Além das questões de cobrança institucional, existem as relaçõescom os passageiros, nem sempre amistosas de parte a parte. Há também o peso daresponsabilidade em relação às vidas que estão sendo transportadas em caso de acidente erisco de assaltos ou depredações do ônibus. No que tange aos problemas na relação entre passageiros e profissionaisrodoviários, neste caso, motoristas e cobradores, há uma questão que é de saúde pública.Conforme os estudos citados no item saúde e trabalho, se percebe que os motoristas deônibus urbano constituem uma parcela das pessoas que se queixam de “doença dosnervos”. Essa categoria nativa, êmica, é composta por uma imensa gama de males taiscomo: cansaço, esquecimento, medo de sair de casa, dores de cabeça e no estômago,impaciência etc. Tais sintomas, segundo Marco Antônio Alves Brasil (1996) são vistoscomo somatização de problemas de fundo emocional. Para esse autor, as agruras da vidacotidiana, a violência urbana (e seu imaginário), pobreza, exploração no trabalho, enfim,problemas sociais são erroneamente tratados por meio de medicação. Ao invés de tentardescobrir a origem do problema, é mais comum buscar nos remédios um paliativo. Dessaforma, vivemos uma banalização da depressão, dos traumas e do stress, burnout (síndromedo esgotamento nervoso), seguidas de abusos de medicação. Se há problemas de insônia:calmante; dificuldades de lidar com a família, idem; indisposição para o trabalho:vitaminas e estimulantes. Nesse sentido, Brasil (1996) afirma que vários estudos realizadosem diferentes lugares no país acusam o abuso de medicamentos que são utilizados paraaplacar males relativos ao contexto socioeconômico: Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

16TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro Todos estes estudos apontam que por trás dessa doença encontram- se a pobreza, a impossibilidade de participar produtivamente da sociedade, o não reconhecimento social, o desamparo, o desemprego, a fome e a perda da esperança de vencer na vida (BRASIL, 1996, p. 14). A sociedade capitalista transmite a ilusão de que todos podem “vencer navida”. Nas campanhas publicitárias, todos são jovens, bonitos e desfrutam de um “estilo devida” confortável ou aventureiro; estar fora desse padrão, é, para muitas pessoas, ser umdesajustado, um outsider. Não ter tempo ou meios para lidar com essas questões são causasde sofrimento humano. Esse sofrimento não é percebido se descolarmos o homem de suacultura, de seu contexto histórico e de seu universo cultural. Em uma sociedade hedonistatudo que se busca é um remédio para dor e para o sofrimento, muitas vezes, inerentes aoexistir humano. Em uma cultura que prega que é possível viver sem dor, o sujeito nãoencontrar muitos recursos para lidar com as demandas e adversidades que se apresentam aele. Em uma sociedade que não oferece mecanismos e espaços para o sujeito significarsuas atividades, se reconhecer naquilo que produziu, a depressão, o burnout, encontram umancoradouro. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

17TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire Monteiro4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALBORNOZ, S. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1986.ALCANTARA JUNIOR, Jose Odval. Conflitos sobre rodas. Fortaleza, 1991. 189p.Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceara, 1991.ALMEIDA, Maria do Socorro. Análise observacional dos conflitos ocorridos noembarque de passageiros nos terminais de ônibus do Siqueira e Papicu. 2012.46f.Monografia (Especialização em Gestão do Trânsito e Transportes Urbanos)- UniversidadeFederal do Ceará, Fortaleza,2012.ANTP, Associação Nacional de Transportes Públicos. Mobilidade e cidadania. SãoPaulo, 2003.______. Transporte humano: cidades com qualidade de vida. São Paulo, 1997.ALVES, R.& SCLIAR, M. Saúde, felicidade, corpo e alma. In: Moacir Scliar & RubemAlves conversam sobre o corpo e a alma: uma abordagem médico-literária. Campinas:Saberes Editora, 2011, p. 19-27.ARENDT, H.: “A Derrota do Homo Faber e o Princípio Felicidade” e “A Vitória doAnimal Laborans” In _____. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p. 317-326 e 333-338.AYRES, J.R.C.M. O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde. Rev.Saúde e Sociedade v.13, n.3, p.16-29, set-dez. 2004.BASTOS, Ana Paula Pinto. Transporte coletivo em Fortaleza e problemas ambientaisurbanos: 1970 - 1999. Fortaleza, 2000. 156p. Dissertação (Mestrado) – UFC. 2000.BRASIL, Marco Antônio Alves. A ética do sofrimento humano. In: FIGUEIREDO, AnaCristina; SILVA, João Ferreira. (Orgs.) Ética e saúde mental. Rio de Janeiro: Topbooks,1996.CAIAFA, JANICE. Jornadas urbanas: exclusão, trabalho e subjetividade nas viagens deônibus na cidade do Rio de Janeiro. Rio Janeiro: Editora FGV, 2002.CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária,1995. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

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19TRABALHO E AMBIENTE NA SAÚDE DO MOTORISTA DE ÔNIBUS URBANOEM FORTALEZA.Ryanne F. Monteiro Bahia e Tuanne Freire MonteiroJUNIOR, E.; MENDES, R. Estudo das condições de trabalho e saúde de motoristas deônibus urbano de Belo Horizonte –MG. Fundacentro, v. 25, n. 95/96, p. 131 -141, 1994.LIMA, A. A relação entre distúrbio mental e trabalho: evidências epidemiológicasrecentes. In: W. Codo (Org). O trabalho enlouquece? Petrópolis: Vozes, 2004. p. 139-160.MARX, Karl. O Capital. Nova Cultural: São Paulo, 1988.ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Documentos básicos. 26.ed. Ginebra:OMS,1976.SAMPAIO, Jorge Henrique Maia. Para não perder o bonde: Fortaleza e o transporte daLight nos anos 1913-1947.2010. 139f. : Dissertação (mestrado) - Universidade Federal doCeará, Programa de Pós-Graduação em Historia, Fortaleza, 2010.SATO, L. Abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo de caso demotoristas de ônibus urbano. Dissertação de Mestrado em Psicologia Social, PUC, SãoPaulo, 1991.TOLFO, S.R; PICCININI. Sentidos e significados do trabalho: explorando conceitos,variáveis e estudos brasileiros, Psicologia & Sociedade, n.19,p. 38-46, 2007. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.3-19.

COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH, UMA PROPOSTA. COACHING FOR TEACHING IN HIGHER EDUCATION: TEACHER-COACH, A PROPOSAL Magda Lima da Silva 1ResumoNa última década, o Coaching tem crescido vertiginosamente no Brasil. O ramo empresarialabriu portas para o processo de expansão e adaptação do coaching de acordo com asnecessidades de cada segmento. Nesse contexto, a educação tem-se mostrado um ramo aberto epredisposto a dialogar com as ferramentas e métodos propostos pelo coaching. Sabe-se que oensino superior no Brasil vem demonstrando profundas fragilidades no que diz respeito aoprocesso de ensino e aprendizagem- a velocidade da informação, o crescimento dasespecializações e as exigências do mercado têm contribuído para uma relativa perda deidentidade do professor. Tais aspectos comprometem a relação professor-aluno e tornam-naainda mais mecanizada pelo contato diário em sala de aula. Defende-se, neste artigo, a aplicaçãodo coaching enquanto método e mudança de mentalidade junto à prática docente do professorque atua no ensino superior.Palavras-chave: Coaching, Professor, Ensino e Aprendizagem.AbstractIn the last decade, coaching has grown dramatically in Brazil. The enterprise branch openeddoors to the process of expansion and adaptation of the coaching according to the needs of eachsegment. In this context, education has been shown to be a branch open and predisposed todialogue with the tools and methods proposed by coaching. It is known that higher education inBrazil has demonstrated profound weaknesses with regard to the process of teaching andlearning-speed information, the growth of expertise and market requirements have contributed toa relative loss of teacher identity. These aspects affect the teacher-student relationship and makeit even more mechanized by daily contact in the classroom. It is argued in this article, theapplication of coaching as a method and change of mindset with the teaching practice of theteacher who works in higher education.Keywords: Coaching, Teacher, Educa2tion and Learning. 1 Graduada em história, especialista em gestão escolar e em metodologia da pesquisa e mestre em políticas públicas e sociedade. Professora da Faculdade Ratio. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

21 COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH, UMA PROPOSTA. Magda Lima da SilvaINTRODUÇÃO O presente ensaio propõe, em termos gerais, refletir sobre a mudança comportamental do docente do Ensino Superior a partir da inserção do coaching em sua prática acadêmica e exercício do magistério. Um dos desafios propostos ampara-se na defesa de uma mudança qualitativa comportamental do docente, mediante a adoção de novos paradigmas educacionais interdependentes de distintas áreas do saber. Indaga-se, na problemática, como o coaching pode contribuir para a superação das deficiências no processo de ensino e aprendizagem e inserir na prática docente habilidades como autopercepção, motivação, autorregulação, empatia e efetiva sociabilidade na relação professor-aluno. Sabe-se que a responsabilidade docente, independentemente do nível ou segmento de ensino, tem sido crescente nas últimas décadas. Mais que “ensinar” conteúdos, o professor é convidado a fomentar a produção do conhecimento, a gerir um volume considerável de informações e fatos, a mediar situações conflitantes e, sobretudo, a dominar as tecnologias da informação enquanto meio e fim para se chegar à maturidade intelectual. O coaching enquanto método dialoga diretamente com correntes da psicologia, linguística, filosofia e pedagogia, áreas que fundamentam os saberes docentes e apresentam subsídios para a revolução silenciosa sobre o magistério no ensino superior pelo modo de refletir, olhar e atuar. Com o propósito fundamental de encontrar resposta adequada ao problema proposto, a metodologia empreendida baseou-se na análise puramente qualitativa dos dados, amparada na investigação conceitual, teórica e no campo das ideias de distintos especialistas na área do coaching e na formação docente. A pesquisa quanto ao seu objetivo caracterizou-se como explicativa, exploratória e propositiva; as fontes consultadas foram basicamente bibliográficas. 1. COACHING: HISTORICIDADE E FUNDAMENTAÇÃO Segundo Underhill (2010), a palavra Coach vem da Hungria do século XV, referindo-se à aldeia de Kocs, onde eram construídas finas carruagens de transporte. O Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

22COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvapropósito era transportar pessoas de onde elas estavam para onde quisessem ir. Similar auma metáfora, coaches (profissionais treinados para aplicar o coaching nas pessoas)facilita o transporte de coachees (clientes) a novos níveis de desenvolvimento e eficiência. Avançando cinco séculos a partir da cidade húngara chegando ao século XX, ocoaching deteve-se à área esportiva. Um coach era um treinador qualificado que conduziaos atletas ao aprendizado das técnicas dos jogos, monitoramento dos resultados,fornecimento de feedback e condução a melhores performances. Em 1974, um livro foipublicado - The Inner Game of Tennis, de Timothy Gallwey, considerado um marcofundamental para o início do coaching que conhecemos hoje. O livro de Gallwey foi umaobra revolucionária em sua abordagem ao tênis, no qual o autor argumenta que existe,durante o jogo de tênis, um jogo interior que se desenvolve na mente do jogador, onde oadversário é ele mesmo. O importante para o principiante (aprendiz), segundo Gallwey(1996, p.54) “é permitir o desenvolvimento do processo natural de aprendizagem eesquecer as autoinstruções de cada jogada. Os resultados serão surpreendentes”. Para Gallwey (1996), o conceito de coaching consiste numa relação de parceriaentre Coach e Coachee, que revela e liberta o potencial das pessoas de forma amaximizar o seu desempenho. O processo ajuda as pessoas a aprender, ao invés de ensinaralgo a elas, e isso não é uma novidade, pois, segundo Whitmore (2010), Sócrates havia ditoa mesma coisa dois mil anos antes, no entanto, por alguma razão, sua filosofia se perderano reducionismo materialista dos últimos dois séculos. O novo contexto cultural propicioua iniciação e disseminação do coaching do modelo de hoje, “os livros de Gallweycoincidiram com o surgimento, no entender psicológico, de um modelo mais otimista dehumanidade do que a antiga visão behaviorista de que não passamos muito de recipientesvazios dentro dos quais tudo tem que ser derramado” (WHITMORE, 2010, p.3). Comoratifica Gladwell (apud LAGES e O’CONNOR, 2010), em The Tipping Point, que chamaalgumas ocasiões, no caso do coaching, de “fator de adesão” como o processo desurgimento, que se encaixa perfeitamente no contexto e atende à necessidade exatamenteno momento em que se cria. Consiste metaforicamente em uma semente plantada numterreno fértil. Ou, similarmente, ao “meme”- termo do biólogo evolucionista RichardDawkins para designar uma unidade de informação cultural que pode ser transferida deuma mente a outra, como, por exemplo, a música e a moda. Segundo O’Connor e Lages Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

23COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silva(2010), o coaching ainda é um “meme”. Nem toda metodologia de mudança chegou tãolonge, disseminando-se com intensa rapidez e sucesso para outros países. Assim, Coaching é um processo de condução lógica e cognitiva que identificao estado atual do individuo, e, por meio deste, busca identificar os objetivos e realizações,aonde a pessoa quer chegar, traçando, assim, um caminho em busca destes, desobstruindoos fatores impeditivos para a realização dos objetivos de vida profissional e pessoal. Logo,o coaching é o processo de mudança por meio de uma metodologia; coach é o profissionalespecializado no crescimento pessoal e profissional das pessoas e coachee é o cliente, ouseja, o indivíduo que está passando pelo processo de coaching. Gallwey, professor de linguística pela Universidade de Harvard e professor detênis, iniciou o que chamou de “tênis Yoga”, no centro esportivo do qual fazia parte, doInstituto Esalen, Califórnia. O Instituto era (e continua sendo), a “Universidade dedesenvolvimento do potencial humano”, onde se discutem estudos que combinamfilosofias orientais e ocidentais. O corpo docente era composto por figuras como: CarlRogers, Abraham Maslow, Joseph Campbell, Deepak Chopra, entre outros. Segundo O’Connor e Lages (2010), o livro de Gallwey, O jogo interior doTênis, reuniu elementos da Psicologia esportiva, humanista, da Filosofia budista (ênfase àconsciência não discriminatória) e da ideia de programação do inconsciente, num processoprático e estruturado. A cultura e contexto em que o coaching desenvolveu-se teveinfluência da Psicologia humanista, Filosofia oriental, Construtivismo, Estudos linguísticose Psicologia positiva. A Psicologia humanista, criada na década de 1950, liderada por Carl Rogers eAbraham Maslow, constitui um dos pilares do coaching e é baseada essencialmente pelosseguintes princípios: visão otimista da natureza humana - as pessoas querem se realizar;cada pessoa é um ser único e valioso; a maneira como as pessoas se sentem é umaperspectiva psicológica válida; toda pessoa forma um todo singular; é preferível teralguma opção que nenhuma; toda pessoa tem escolhas e deseja exercer essa prerrogativa.As ideias de Rogers tiveram profunda influência na maneira como o coach se relacionacom seu cliente (coachee), ou seja, “um relacionamento em que cada pessoa é o própriofim, não um meio para chegar a um fim” (LAGES e O’CONNOR, 2010, p.28). A influência da Filosofia oriental no coaching deve-se às abordagens orientaisensinadas no Instituto Esalen e integradas à filosofia ocidental. Timothy Gallwey, autor de Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

24COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da SilvaThe Game of Tennis, dedicou seu livro ao líder religioso Maharaj Ji e era seu seguidor.O coaching ontológico (ou “coaching do ser”), disseminado na América do Sul porFernando Flores, utiliza muitos exercícios de autoconhecimento baseados no Budismo, emforma e intenção. Assim como a auto- observação, que se assemelha à meditação. OCoaching incentiva os clientes a buscar respostas dentro de si e enfatiza o não pré-julgamento. (LAGES e O’CONNOR, 2010, p. 30). O Construtivismo desenvolve a ideia de que o indivíduo “constrói ativamentesua história” a partir de suas experiências. Assim como considera os indivíduosparticipantes de um processo de construção de mundo cujos costumes, regras eregulamentos eles estão ajudando a inventar. No coaching, a resposta que o cliente(coachee) busca para uma mudança de vida passa a existir e é construída a partir dainteração coach e coachee, do aprendizado que ambos vivenciam e do conhecimentodecorrente do fato de como o coachee atua no mundo, logo é este que a detém.“Construtivismo subtende ação, dado que a ação é capaz de mudar não apenas o mundo,mas você também. Todas as vezes que agimos, mudamos o mundo e a nós mesmos. Ocoaching enfatiza a ação; não basta ter discernimento (os budistas dizem: “Odiscernimento é a derradeira ilusão”)”. (LAGES e O’CONNOR, 2010, p. 32). No processode coaching, os coaches orientam seus clientes (coachees) no sentido de mudar ascircunstâncias, e consequentemente a própria vida, de forma autorresponsável. Na prática,a ferramenta utilizada e muito valorizada no processo de coaching que representa tal ideiaé a atribuição de tarefas, como, por exemplo, a combinação com o cliente da adoção depequenas atitudes a serem tomadas. A linguagem é outro fator imprescindível na construção da realidade. Ocoaching adota ricos modelos sobre o fato de que a maneira como utilizamos a linguagemtanto pode limitar como expandir a visão de mundo do indivíduo. No momento em que os clientes contam suas histórias, os coaches ouvemativamente suas experiências descritas com sua linguagem e fazem uma leitura dalinguagem subjacente e da pessoa como um todo – tom de voz, linguagem corporal, aconstrução da frase, se é voz ativa ou passiva - partindo da ideia de que, na línguaportuguesa, a voz passiva (“foi feito”) não faz menção a quem está falando, enquanto a vozativa (“eu fiz”) inclui a pessoa que está falando. “... ao fazer muito uso da voz passiva, osclientes se esquecem de que eles são os próprios criadores de suas experiências, e o coach Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

25COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvairá ressaltar isso, orientando-lhes a reflexão do sobre o fato e, talvez, que utilizem a vozativa, para que eles vejam a diferença que isso faz” (LAGES; O’CONNOR, 2010, p.35) O coaching interage com outras abordagens. Tais dimensões agregamprincípios científicos e ferramentas que agregam valores ao processo de crescimentohumano. A Psicologia positiva promove “o desenvolvimento de pessoas com o objetivo deaumentar a produtividade e bem-estar assim como a utilização de recursosdesenvolvimentais para prevenção de problemas” (UNESTAHAL apud LAGES &O’CONNOR, 2010). A Neurociência desenvolveu o Neurocoaching, que tem “a propostade melhorar e ampliar as estratégias de desenvolvimento humano. Indica as técnicasnecessárias para dominar e equilibrar as emoções e estabelecer novas conexões neurais queimpulsionam pensamentos, crenças e sentimentos” (LAFUENTE, 2012). A Psicologiadesenvolveu a Inteligência Emocional, da qual o coaching utiliza as competênciasemocionais e sociais como ferramenta para o desenvolvimento humano. “Nossainteligência emocional determina nosso potencial para aprender as habilidades práticas queestão baseadas em cinco elementos: autopercepção, motivação, autorregulação, empatia eaptidão natural para relacionamentos. Nossa competência emocional mostra o quanto dessepotencial traduziu para capacidade de trabalho” (GOLEMAN, 2001, p.38). O coaching tem crescido nos últimos anos, tanto no mundo como no Brasil, ese apresenta atualmente como uma ferramenta eficiente e eficaz nos processos deaprendizado, liderança e desenvolvimento humano e organizacional. De acordo com Lagese O’Connor (2010), em uma recente pesquisa, 85% das empresas europeias e 95%daquelas localizadas no Reino Unido utilizam coaching. Das empresas integrantes darevista Fortune 500, 40% utilizam coaching, das quais 99% afirmaram que o coachingpode trazer benefícios concretos para pessoas físicas e jurídicas. Enquanto 96%declararam que o coaching é uma forma eficaz para promoção do aprendizadoorganizacional. De acordo com Underhill (2010), embora seja possível ter um programa decoaching de sucesso sem apoio das lideranças seniors, é muito mais fácil com ele. Segundo Whitmore (2010), há múltiplos benefícios no processo de aplicaçãodo coaching nos indivíduos, dentre os quais: melhoria da performance e produtividade;desenvolvimento de equipes motivadas; melhoria no aprendizado e nos relacionamentos; Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

26COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvamelhoria na qualidade de vida; equipe autorresponsável, engajada e autônoma; maiorflexibilidade e adaptabilidade às mudanças. De acordo com um estudo liderado pelo pesquisador Antony Grant naUniversidade de Sidney, em 2009, a comparação de executivos que realizaram sessões decoaching com aqueles que não passaram pelo processo, constatou o seguinte: “Menorpropensão à depressão, mais resiliência, mais adaptabilidade às mudanças organizacionais,mais bem-estar no ambiente de trabalho nos executivos que passaram pelo processo decoaching.” (apud DAMATTA, 2012). Na atualidade, existem mais de 200 empresas decoaching no mundo e o número de coaches em atuação está em torno de 70 mil. No Brasil, o mercado de coaching está em expansão, existem várias Escolasespecializadas em Formação em Coaching com uma tendência a crescimento. Dentrevárias: FEBRACIS (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE COACHING); SBC (SOCIEDADEBRASILEIRA DE COACHING); IBC (INSTITUTO BRASILEIRO DE COACHING);LAMBERT DO BRASIL; ICI ( INSTITUTO DE COACHING INTEGRADO). Há diversas modalidades de coaching, que consistem em desenvolverestratégias diretivas a áreas de interesse de determinado nicho, tais como: Coaching deVida ou Life Coaching (relacionado a todas as dimensões da vida), Coaching Executivo ouExecutive Coaching (Desenvolvimento de Líderes e Executivos) Coaching Empresarial ouBusiness Coaching (Desenvolvimento de presidentes e executivos com metasempresariais), Coaching para professores (Desenvolvimento de professores para utilizaçãodas ferramentas e princípios do coaching no processo ensino-aprendizagem).2. PROCESSO BÁSICO DE COACHING – FRAMEWORK UNIVERSAL DECOACHING. O coaching é uma metodologia que gera mudanças e é composto por trêsetapas comuns a qualquer modelo de Coaching, a saber:  ESTADO ATUAL: Momento inicial do processo de parceria estabelecida pelo coach e coachee.“ Quem é o coachee, como é sua vida e o que ele faz com ela?” O Coach precisa obter a resposta dessa pergunta para poder orientar seu cliente com eficácia” (DINSMORE, 2007, p.2). O Coach faz o levantamento do perfil do cliente (características pessoais, recursos pessoais e tendências de comportamento) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

27COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silva e seu ambiente externo, ou seja, se o momento é de pressão, de crescimento, de incerteza ou de crise. Tanto o ambiente interno (perfil) como externo constitui “pano de fundo” para o desenvolvimento do processo de coaching.  ESTADO DESEJADO: Onde o coachee quer chegar? Qual sua missão? Seus valores? Seus objetivos e visão de futuro? Essas respostas são obtidas e construídas por meio de perguntas eficazes feitas pelo coach ao coachee num ambiente de confiança e apoio desenvolvido ao longo do processo. A partir da visão, os objetivos são fixados. Os objetivos possuem características definidas, precisas e mensuráveis. Para cada uma das visões (curto, médio e longos prazos), é preciso fixar objetivos correspondentes que possam ser acompanhados.  ESTRATÉGIAS/ CAMINHOS POSSÍVEIS: “Como consigo o que quero ou preciso?”, “Quais as estratégias possíveis para chegar ao meu objetivo?” É o momento onde é desenvolvido um plano de ação com as etapas detalhadas de execução, com o acompanhamento do coach de cada etapa. Nesse processo, por meio de ferramentas específicas do coaching, as crenças que impedem ou limitam o coachee de atingir, de forma fluida seus objetivos são minimizadas, eliminadas ou criadas; outras vezes são fortalecedoras.2.1. PERFIL DO COACH. Segundo Dinsmore (2007), para ser um coach bem sucedido é necessáriohabilidade de relacionamento e conhecimento do comportamento humano. Isso não querdizer que ele tenha formação específica nessa área, ou seja, que seja especialista na área docoachee. “O coach não precisa ter conhecimento especializado ou qualificação específicano campo da atividade do cliente. O cliente é o especialista na sua área” (LAGES;O’CONNOR, 2002, p.8). O mais importante é o coach desenvolver a confiança, o apoio eo respeito na relação com o coachee. Um coach é apaixonado pelas questões das pessoas, gosta de observar e entender os motivos por trás dos comportamentos, aprecia e sente-se feliz ao perceber o desenvolvimento de seu cliente. É um incentivador e ao mesmo tempo firme no rumo que levará em direção aos seus objetivos (DISMORE, 2007, p.23) .As competências básicas do coach, segundo Vieira (2012), são: Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

28COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silva  Comunicação (saber ouvir, perguntar, estabelecer empatia, gerar novas opções e entendimentos);  Motivação (ser automotivado, autotransformador e flexível, saber motivar, apoiar, entusiasmar, aumentar o nível de confiança e autoestima dos outros);  Planejamento (gerar foco, saber planejar, segmentar sonhos e objetivos, saber lidar com propósitos, crenças e valores);  Transformação (entender do processo de mudança e transformação das pessoas, promover melhorias em si e nos outros);  Visão sistêmica (capacidade de enxergar o todo; perceber a relação entre os diferentes aspectos que compõem determinada situação; pensar em termos de processo, ou seja, perceber que mudanças e melhorias duradouras não são instantâneas, elas começam com a conscientização e ocorrem em etapas - esses processos são cíclicos, isto é, estamos sempre mudando e buscando melhoria);  Ética e caráter (ter ética e caráter);  Flexibilidade e adaptabilidade (Entende e se adequa às mais diferentes pessoas e situações, mesmo não estando de acordo com seus paradigmas);  Resiliência (Capacidade de superar desafios, de sobrepor-se e construir-se positivamente frente às diversidades).3. PROFESSOR-COACH, PORQUE NÃO? O coaching aplicado à prática docente no Ensino Superior pressupõe algumasreflexões prévias sobre o processo formativo dos sujeitos envolvidos. A escolha peladocência no contexto das IES (Instituições de Ensino Superior) é, por vezes, marcada poratitudes conscientes e vocacionadas, contudo, em parte considerável desse segmento,percebe-se o caráter circunstancial da escolha e, via de regra, condicionantes econômicosaliados às exigências produtividade no meio social. Mediante o exposto, levantam-se algumas indagações necessárias, tais como:de que modo os sujeitos se formam e aprendem a ser professor no ensino superior? Hádiscrepância na formação e no perfil entre o professor consciente e o professor de ocasião?Embora os indicadores e a observação do real nos apresentem respostas imediatas e Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

29COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvaobjetivas, entende-se ser importante ponderar e relativizar de acordo com os distintoscontextos social, econômico e cultural. Ao analisarmos a matriz curricular dos cursos acadêmicos, identifica-se umvácuo na preparação específica para professor no ensino superior, assim como adependência direta da trajetória de formação pedagógica e da experiência acumulada para aformação da identidade docente. De acordo com Goergen e Saviani (1998), um dos maiores problemas naformação docente no Ensino Superior está na relação teoria-prática que, por sua vez,depende cada dia mais de outros setores da sociedade e não somente de pedagogos eespecialistas. Para os referidos autores, os avanços da ciência e da tecnologia passaram aconfrontar áreas tradicionalmente habituadas a lucrar com a manipulação da ignorância,inclusive junto ao processo de formação docente. É consensual o fato de que a competitividade, tanto no mercado interno quantono externo, depende, cada vez mais, de recursos humanos competentes. Goergen (1998)afirma que a existência de tais recursos está diretamente ligada à qualidade da educaçãoque cada sociedade oferece a seus cidadãos. Os parâmetros que referenciam a educaçãonão são mais internos, o caráter de subsistema social cedeu espaço à internacionalizaçãodos saberes e às novas exigências. A responsabilidade social e política do docente noEnsino Superior pressupõem atitudes e posturas didáticas bem mais complexas eabrangentes que tão somente as fornecidas pelos cursos de formação ou que a simplescompetência científica. Pierre Bourdieu (1983) definiu ainda na década de 80 que a competênciacientífica do professor no Ensino Superior deve ser o resultado da imbricação entrecompetência técnica e poder social. Este último diz respeito ao desenvolvimento dehabilidades e competências para lidar com problemas e mediar situações de conflito nabusca de uma maior eficiência e excelência no desempenho de seu papel. Tal excelência eeficiência estão condicionadas, em certa medida, à missão da instituição à qual o professorestá vinculado, dependendo inclusive da natureza da instituição em que trabalha – sepública ou privada - e da função e do grau de autonomia que lhes são atribuídos enquantodocente. Perrenoud (2000) também desenvolveu 10 competências que devem sertrabalhadas para que se estabeleça a atividade docente nesse novo contexto de forma Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

30COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvasimples e objetiva: 1) organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2) administrar aprogressão das aprendizagens; 3) conceber e fazer evoluir os dispositivos dediferenciação; 4) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5) trabalharem equipe; 6) participar da administração da instituição; 7) informar e envolver a familia;8) utilizar novas tecnologias; 9) enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão e 10)administrar sua própria formação contínua. Pode-se perceber que as 10 competências ciadas pelo autor não apresentamnenhum aspecto original ou mesmo desconhecido da maioria; são proposições amplamentediscutidas no meio educacional, seja na esfera básica ou superior de ensino. Todavia,percebem-se lacunas e discrepâncias consideráveis no fazer acadêmico quanto a algunsaspectos, principalmente em dois deles: a administração progressiva da aprendizagem doaluno, por exemplo, é um desafio para as IESs. As particularidades que desenham a relaçãodo docente com a instituição tem se apresentado como um obstáculo em muitos casos,gerando um distanciamento por parte do docente quanto ao acompanhamento processualdo aluno ao logo do curso e não somente durante a disciplina que ministra. Outro aspectorelevante diz respeito a cuidar da sua própria formação continuada. Neste caso há umatendência generalista de entendimento que formação continuada limita-se a pós-graduaçãolato sensu e stricto sensu, negligencia-se a busca por novas aprendizagens, novasexperiências e domínio de habilidades específicas normalmente encontradas em ambientesimprováveis. Arriscar-se, envolver-se com o desconhecido, conhecer sob o ponto de vistaantropológico outras culturas e fazeres são aspectos fundamentais que caracterizam oprovável professor coaching. Alguns teóricos da educação, como o americano Howard Gardner defendeuenfaticamente que a escola deve estimular e valorizar as diferentes habilidades nos alunos;hoje, a ideia estende-se ao professor. Limitar-se a executar sua função é insuficiente paraas demandas da sociedade pós-moderna. É preciso que as diferentes inteligências sejamestimuladas e estejam a serviço da resolução de problemas emergenciais eepistemológicos. Clássicos como Rousseau já propuseram um modelo de educação querespeitasse a integridade, a autenticidade e a autonomia da criança, exigindo, desse modo,um perfil de professor diferenciado em sua essência e revolucionário para os padrões daépoca. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

31COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silva Esse perfil, embora nos pareça acessível e conhecido, ainda não faz parte dascaracterísticas básicas do professor acadêmico, por vezes marcado por uma práticaimediatista e por um método “bancário” de socialização dos saberes, conforme tão bemcriticou Paulo Freire. Segundo esse autor, ninguém educa ninguém, mas ninguém progridesozinho. Essa máxima pressupõe atitudes de autorresponsabilidade, solidariedade,reconhecimento do inacabado, predisposição à aprendizagem constante e, sobretudo,competências sociais para mediar conflitos e gerir o conhecimento de forma proativa. Phillip Perrenoud, por conseguinte, defende o estímulo à sensibilidade afetivacomo instrumento transformador da prática docente. Edgar Morin argumenta que é precisoincorporar os problemas cotidianos aos distintos saberes; propõe a reforma do pensamentoe a superação do reducionismo a fim de se chegar à compreensão da complexidade da vidae ao combate à simplificação. Bernardo Toro criou os códigos da modernidade mediante adefesa das sete competências mínimas para a participação produtiva e a inserção socialcom dignidade dos sujeitos no século que vigora. Observa-se, desse modo, o aparato teórico e conceitual sobre a mudança deperfil dos docentes de todos os níveis, mais especificamente no Ensino Superior, quanto aopensamento, à atitude e à postura frente ao magistério dentro das IES. Não há uma basecurricular única que privilegie esse modelo de formação, contudo, a formação continuadamostra-se como uma alternativa de incorporação de novas referências e práticas didáticasbaseadas na Inteligência Emocional e em novas habilidades e competências necessárias àstransformações em curso. Nessa linha de raciocínio, desenvolve-se a ideia do Professor-coach, ou seja,aquele que assume uma abordagem construtivista perante o processo de ensino eaprendizagem, aplicando uma metodologia dinâmica e inovadora, com aulas expositivasdialogadas e que apoiam e incentivam o aluno a ter uma postura participativa e conscienteno processo de aprendizagem. Aulas que fujam do tradicional na medida em que façam usode novos artifícios, como diálogos mais reflexivos e menos técnicos. O método socráticoconstitui a base didática de socialização do conhecimento e da informação - respostas sãobuscadas de forma coletiva, reflexiva e participante, jamais concedidas de forma objetiva esimplista. O professor que se apropria do processo de coaching como suporte profissionalprivilegia a autoaprendizagem, incentivando a pesquisa, proporcionando a cada discente Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

32COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvaum espaço para discussões, debates coordenados e produtivos em sala de aula e construçãodo conhecimento por meio de questionamentos e ressignificação dos fatos e informações. O docente procura trabalhar de forma planejada e sistemática por meio dadefinição do estado presente ou atual do aluno, seu nível de conhecimento e estadodesejado, prevendo onde se deseja chegar e desenvolvendo ferramentas que garantam aoaluno uma maior apropriação dos conteúdos em sua vida pessoal e profissional;determinam objetivos específicos e estratégias para alcançar, de maneira mais dinâmica eprazerosa, os objetivos, eliminando possíveis crenças limitantes, tanto de si como dosalunos. O docente-coach apoia e incentiva o aluno a buscar, atingir e a produzir suasmetas nos planos estudantil, profissional e pessoal. Nesse processo de parceria entre oprofessor e aluno, o professor-coach viabiliza ao discente o alcance da autonomia naaprendizagem e na leitura de mundo, compreendendo a relação constante e dialética entre ateoria e a prática. Os últimos estudos da neurociência no campo educacional, segundo Gracioso(2011) considera que a retenção do conhecimento na memória de longo prazo no serhumano deve-se, fundamentalmente, ao envolvimento emocional da pessoa no momentoda aprendizagem. O professor-coach envolve emocionalmente os alunos nas atividadesacadêmicas, aumentando significativamente a chance de ocorrer um aprendizado real eduradouro. O professor-coach ultrapassa o plano puramente intelectual, dando espaço àimaginação e criatividade dele próprio para que possa elaborar experiências formativas queverdadeiramente os engajem no processo de ensino-aprendizagem. O elemento emocional, para ser bem aplicado e gerar os efeitos esperados,deve, a priori, ser experimentado e refletido pelo docente para que este se torne habilitadoem coordenar as atividades com os alunos. As competências emocionais sugeridas porGoleman (2001) abrangem as seguintes categorias: competência Pessoal- aspectos íntimose intransferíveis dos sujeitos; competência da autopercepção - conhecimento dos própriosestados interiores, preferências, recursos e intuições; autorregulação - controle sobre osimpulsos; motivação- desenvolvimento da psicologia positiva, da ressignificação dos fatose criação de estímulos permanentes; competência Social - habilidades nosrelacionamentos; empatia - percepção e sensibilidade em relação aos interesses do outro e Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

33COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvaa suas necessidades; aptidões sociais – exercício de uma boa comunicação, que estimule aliderança, formação de vínculos, cooperação e confiança entre os sujeitos e o grupo. O sucesso de atuação do professor-coach depende do desenvolvimento de suashabilidades interpessoais. Aprimorar as aptidões cognitivas ou técnicas, sem priorizar ascompetências emocionais, não garante o alcance dos objetivos propostos ao programa, nemtão pouco possibilita a integração plena do discente no processo de ensino-aprendizagem.4 CONCLUSÃO O coaching tem sido aplicado nos últimos anos em diversas esferas do social,desde a sua maturação metodológica e o aperfeiçoamento das ferramentas instrumentais.Distintos segmentos no ramo empresarial, político, artístico e acadêmico, têm dado umsentido prático ao coaching. Vários aspectos foram identificados e levantados nesse ensaio,com o propósito de justificar e demonstrar a viabilidade de aplicação do coaching à práticadocente do professor de Ensino Superior. A viabilidade de aplicação do coaching na prática docente no Ensino Superioré plenamente possível e inovadora, embora se saiba que grupos de docentes já trabalhamnuma perspectiva emocional e de autoconhecimento. A realidade absoluta atesta que amaioria dos docentes assume posturas positivistas quanto ao método, abordagem ediscurso. O fato de o próprio docente ter que vivenciar o coaching para si antes de aplicá-lo como instrumento e postura de trabalho, já é um ganho considerável. É incoerenteestimular as pessoas a evoluírem enquanto indivíduos e sujeitos traçando projetos de vida,metas e estratégias cotidianas, quando o próprio professor carece sobremaneira deautoconhecimento e autorregularão. Não se pode negar a deficiência na prática docente no Brasil, pois muitosmigram para o magistério como um apêndice profissional, como uma atividadedesempenhada para complementar a renda familiar ou mesmo ocupar o tempo ocioso;outros, movidos pela vaidade e status de ser professor, abraçam a profissão sem possuir ashabilidades necessárias e o conhecimento da ciência pedagógica; tem-se ainda o grupo dospseudos eleitos, aqueles embriagados pela titulação, enquanto instrumento de delimitaçãode território e de poder, criam uma barreira intransponível entre os mesmos e o corpodiscente, alimentando a ilusão da superioridade acadêmica. Tal postura impede a plenitude Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

34COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da Silvado fazer pedagógico, gera insatisfação e por vezes contribui para o comprometimento daautoestima e amor próprio do aluno. Aspectos como o da autoresponsabilidade e o estabelecimento de objetivos emetas possíveis, mas desafiadoras, adequam-se perfeitamente aos obstáculos e impassespresentes na prática docente de muitos profissionais. Aprender a refletir a partir dainteligência emocional, e não somente do cognitivo, pode ser a estratégia que faltava para asuperação de crenças limitantes, de velhos chavões, de métodos obsoletos e,principalmente, da superação da visão estreita que se tem dos alunos, normalmente vistoscomo sujeitos em busca de conhecimento e legitimidade profissional, esquecendo-se deque, acima de tudo, são seres humanos falíveis, carentes e com uma carga emocional quenão pode ser desprezada perante a vida acadêmica. Embora se tenha chegado à conclusão de que o coaching constitui umaferramenta inovadora e possível no Ensino Superior, deve-se ao mesmo alertar sobre asresponsabilidades envolvendo tal mudança de paradigma. O docente sob o ponto de vistaindividual pouco pode desenvolver no contexto geral dentro de uma IES. Por mais que umou outro profissional adote essa linha metodológica é importante e necessário que ainstituição assuma o compromisso de investir e apoiar o grupo como um todo, a ação deveser muito mais institucional e conjunta que particularizada. Vale lembrar que a atuaçãodocente não se limita à sala de aula, ela abrange a organização de um modo geral; oprofessor, via de regra, é o reflexo da instituição na qual está inserido, traduz de uma formamais objetiva e prática o pensamento de quem reflete e administra a instituição. A competência docente passa por profundas mudanças em sua própriadefinição e abrangência; limitar-se à sala de aula constitui deficiência, pois o professoralém de ter a obrigação de dominar academicamente os conteúdos pelos quais éresponsável e ter proficiência na investigação, deve saber agir de forma mobilizadora. Essaação implica em integrar não só conhecimentos, mas recursos e habilidades que agreguemvalor a organização sob o ponto de vista social, político e profissional. Justifica-se dessemodo a necessidade de parceria entre corpo docente e corpo dirigente das IESs na medidaem que se deseja um projeto comum de expansão, evolução e, sobretudo, diferencial nomercado de trabalho tão competitivo. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

35COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da SilvaREFERÊNCIASBOURDIEU, P. (1983). O esboço de uma teoria da prática. Em R. Ortiz, (Org.). PierreBourdieu: sociologia. (pp.46-81) São Paulo: Ática.DA MATA; VILLELA. Personal e professional coaching. Livro de metodologia. Rio deJaneiro: Publit, 2012.DINSMORE, Paul Campbell. O Coaching prático: o caminho para o sucesso: modelopragmático e holístico usando o método Project-based coaching. Rio de janeiro:Qualymark, 2007.FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993.GALLWEY, W. Timothy. O jogo interior do tenis. Tradução: Mario R. Krausz. SãoPaulo. Editora Texto Novo,1996.GOLEMAN. Daniel. Trabalhando com a Inteligência emocional. Rio de janeiro:Objetiva, 2001._________A Fisiologia do Gerenciamento. Dossiê Neurobusiness. HSMMANAGEMENT Florencia Lafuente. Julho/ agosto 2012. P.62 a 84.GOERGEN, Pedro; SAVIANI, Dermeval (orgs.). Formação de professores: Aexperiência internacional sob o olhar brasileiro. Campinas: Autores Associados, 1998.GRACIOSO, Alexandre. Trazendo as emoções para dentro da sala de aula. Revista daESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. V. 18, ano 17, 5 ed. P. 32 a 41.Setembro/outubro 2011.LAGES , Andrea e O’CONNOR Joseph . Como funciona o coaching: o guia essencialpara a história e a prática do coaching eficaz; [tradução de Luiz Frazão Filho]. Rio dejaneiro: Qualitymark, 2010.PERRENOUD, Ph. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: ArtmedEditora, 2000.PERRENOUD, Ph. (2002). A Prática Reflexiva no Ofício de Professor :Profissionalização e razão pedagógicas. Porto Alegre : Artmed Editora (trad. enportugais de Développer la pratique réflexive dans le métier d'enseignant.Professionnalisation et raison pédagogique. Paris : ESF, 2001)UNDERHILL, Brian O. et ali . Coaching executivo para resultados: guia definitivo paralíderes organizacionais; [tradução Marc Broker]. – Osasco, SP: Novo século Editora,2010. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

36COACHING PARA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR: PROFESSOR-COACH,UMA PROPOSTA.Magda Lima da SilvaVIEIRA, P. Curso Formação Internacional em Coaching Integral Sistêmico®Empresarial, Pessoal e Profissional. FEBRACIS – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DECOACHING INTEGRAL SISTÊMICO. Apostila. Fortaleza: 2012.WHITMORE, John. Coaching para performance: aprimorando pessoas, desempenhos eresultados; competências pessoais para profissionais. Tradução Tatiana de Sá - Rio deJaneiro: Qualitymark Editora, 2010. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.20-36.

AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DE RABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADO EVALUATION OF NOISE LEVELS ISSUED BY A TRACTOR WITH A TRACTOR STILT PLOW DISC COUPLED Karla Lúcia Batista Araújo1, Silvia Ferreira da Silva2, Elivânia Maria Sousa Nascimento3, Francisco Ronaldo Belem Fernades4, Raul Monte dos Anjos5RESUMOAtividades com máquinas que geram grande quantidade de ruído são comuns em naagricultura. Objetivou-se avaliar os níveis de ruído emitidos por um trator de rabiças comum arado acoplado em duas situações: em movimento e parado. Para a primeira situação,foi utilizando o dosímetro, na segunda situação os níveis de ruído foram avaliados com umdecibelímetro. Nas condições em que o trator de rabiça encontrava-se parado, na distânciade um metro em todas a rotações e na distância de dois metros na rotação de 1.360 rpm osníveis de ruído excederam a Norma Regulamentadora 15. Com o trator de rabiças emmovimento os níveis de ruído encontrados nesse experimento, excederam as normas da NR15 que especifica um nível de ruído máximo de 85 dB(A) para uma jornada de trabalho de8 horas diárias. Recomenda-se a utilização de protetores auriculares para os operadores detrator de rabiças.Palavras-chave: Agricultura familiar; potência sonora; máquinas agrícolas, saúde dooperador.ABSTRACTActivities with machines that generate large amounts of noise are common in agriculture.This study aimed to assess the levels of noise emitted by a tractor with a plow stilt engagedin two situations: moving and stationary. For the first situation, was using the dosimeter, inthe second situation the noise levels were evaluated with a decibel meter. In conditionswhere the tractor handlebar at a stand still, the distance of one meter in all the rotations andthe distance of two meters at 1,360 rpm rotation noise levels exceeded the Norm 15. Withthe tractor handlebars moving noise levels found in this experiment exceeded the standardsof NR 15 that specifies a maximum noise level of 85 dB (A) for a working day of 8 hoursdaily. It is recommended to use earplugs for tractor operators stilt.Key-words: Family farms; sound power; agricultural machines, operator health.1 Professora da Faculdade Ratio, Mestre em Engenharia Agrícola, Especialista em Engenharia de Segurançado Trabalho e Engenheira Agrônoma;2 Mestre em Engenharia Agrícola e Engenheira Agrônoma;3 Mestre em Engenharia Agrícola e Engenheira Agrônoma;4 Mestrando em Engenharia Agrícola e Engenheiro Agrônomo.5 Mestrando em Engenharia Agrícola e Engenheiro Agrônomo. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

38AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos AnjosINTRODUÇÃO Na agricultura familiar é frequente o emprego de tratores de rabiça como fonte depotência, podendo ser uma ferramenta para otimizar o trabalho. Este modelo de trator tornapossível abranger uma maior área em menor tempo comparado com os trabalhos que utilizama fonte de tração animal (Morais et al. 2009). Nas pequenas propriedades rurais, onde a agricultura familiar se faz muitopresente com atividades diversificadas, o microtrator, popularmente conhecido como“Tobata” é importante instrumento na execução das principais atividades, pois, aumenta aprodutividade, diminui o tempo e os custos de produção, além de reduzir substancialmente, ademanda de esforço físico do homem do campo. Trata-se de um veículo de menor porte, ágile com capacidade para minimizar o problema da escassez de mão-de-obra (RODRIGUES etal., 2006). As máquinas deverão estar corretamente adequadas ao tamanho da fazenda e àsoperações a serem realizadas, de modo que no final resulte numa combinação deequipamentos com a maior economia possível (Silveira et al. 2005). De acordo com a Norma Regulamentadora 12 (NR 12) o trator de Rabiçastambém pode ser chamado de motocultivador, “mula mecânica” ou microtrator. A NormaRegulamentadora 12 define essa máquina como sendo um equipamento motorizado de duasrodas utilizado para tracionar implementos diversos, desde preparo de solo até colheita.Caracteriza-se pelo fato de o operador caminhar atrás do equipamento durante o trabalho. Os microtratores de duas rodas são chamados de motocultivadores, ou mulasmecânicas com direção por meio de rabiças devido a sua semelhança com os implementos detração animal, onde o agricultor caminha atrás do implemento (MACHADO et al., 2010). Jesuino (2007) afirma que o uso dos tratores agrícolas diminuiu expressivamenteos esforços físicos braçais ao qual o agricultor encontrava-se submetido, promovendo comisso um aumento da capacidade de produção agrícola e aumentando também o consumo deenergia nas atividades de campo. Normalmente este microtrator vem com uma enxada rotativa posterior ás duasrodas motrizes, podendo ser substituída por arados, carretas, pulverizadores, perfurador desolo e outros implementos. São tratores de baixa potência, atingindo até cerca de 12 cv nomotor. São empregados nas pequenas propriedades (até 10 ha) devido ao seu preço de Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

39AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjosaquisição relativamente baixo, onde não se justificam o uso de máquinas maiores(SILVEIRA, 1987). O ruído é um fenômeno físico vibratório com características indefinidas devariações de pressão (no caso do ar) em função da frequência, isto é, para uma dadafrequência podem existir, em uma forma aleatória através do tempo, variações de diferentespressões (SALIBA, 2008). O ruído é agente físico insalubre presente em mais de 90% das atividadeslaborativas existentes. Na operação de um trator é o principal risco ao qual o operador estáexposto (TOSIN 2009). Infelizmente, o setor agrícola observou esse problema tardiamente(SOUZA et al. 2004). Do ponto de vista fisiológico e da ergonomia no posto de trabalho do operador,são duas as características de interesse do ruído emitido por tratores: a altura e a intensidade.E ainda, o ruído é medido em uma escala logaritma denominada decibel (dB) (MIALHE,1996). A presença de ruído ao longo da jornada de trabalho pode lesionar o sistemaauditivo dos trabalhadores e causar perda na audição quando os níveis são excessivos(TELES, 2009). Além dos problemas relacionados à audição, os níveis elevados de pressãosonora podem trazer distúrbios como irritabilidade, cansaço e transtornos do sono (SILVA,2002). Devido a sua simplicidade de operação, não raro, os cuidados com a segurança nouso dos microtratores são ignorados, seja por parte dos operadores ou fabricantes, o que podecomprometer sobremaneira a saúde dos operadores em geral (BAESSO et al., 2008). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui algumas normativassobre níveis de ruído em máquinas agrícolas, sendo as principais a NBR-9999 (ABNT,1987a) e a NBR 1052 (ABNT,1987b). A Norma Regulamentadora (NR-15), sobre atividadese operações insalubres, instituída pela Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego(MTbE), estabelece que o nível máximo de ruído permitido para oito horas de exposiçãodiária é de 85 dB(A). Acima desse limite, o ruído, além de perturbar as atividades humanas,pode causar sérios danos à saúde (SILVA et al., 2004). Arcoverde et al. (2011) ressaltam a importância dos estudos sobre níveis de ruídoem operações agrícolas para as necessidades reais de adotar medidas de prevenção, conforto e Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

40AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjossegurança como o uso e a utilização de equipamentos de proteção individual, conhecidoscomo protetores auriculares, para minimizar os ruídos Os tratores agrícolas, geralmente, tendem a produzir alto nível de pressão sonora,sobretudo, quando operam em maiores rotações, nesse caso, o operador é bastante afetadopela poluição sonora produzida (RUAS et al., 2011). Cunha et al. (2009), ao avaliar ruídoemitidos por um trator, em operação de aração e gradagem, observaram que o ruído podecausar danos irreversíveis aos operadores de tratores agrícolas. De acordo com Rinald etal.(2008) o nível de ruído a que o operador está exposto tem relação direta com o aumento dapossibilidade de acidentes, pois o ruído excessivo pode causar irritação e perda daconcentração. Qualquer estudo, por mais superficial que seja, demonstra que a frota nacional detratores não está projetada, de acordo com as necessidades do trabalhador, mas sim com o dotrabalho (Souza et al. 2004). O ruído das máquinas agrícolas, com o passar do tempo, podeprovocar problemas auditivos em seus operadores (Alves et. al. 2012). Cunha et al. (2009), ao avaliar ruído emitidos por um trator, em operação dearação e gradagem, observaram que o ruído pode causar danos irreversíveis aos operadores detratores agrícolas. De acordo com Rinald et al. (2008) o nível de ruído a que o operador estáexposto tem relação direta com o aumento da possibilidade de acidentes, pois o ruídoexcessivo pode causar irritação e perda da concentração. De acordo com Saliba (2008), o ruído pode trazer vários efeitos ao organismo.Alguns dos efeitos auditivos que o ruído pode acarretar são: trauma acústico, perda auditivatemporária e perda auditiva permanente. Em relação aos efeitos extra auditivos do ruído oautor ressalta o estresse, aumento dos batimentos cardíacos, hipertensão arterial leve oumoderada, alterações digestivas, irritabilidade, insônia, ansiedade, vertigem, cefaleia, entreoutros. De acordo com o exposto esse trabalho teve como objetivo avaliar os níveis deruído emitidos por um trator de rabiças com um arado acoplado em duas situações: emmovimento e parado a fim de determinar a pressão sonora ao qual o operador esta exposto.MATERIAL E MÉTODOS Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

41AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos O estudo foi conduzido no Departamento de Engenharia Agrícola (DENA),pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC), localizado no Campus do Pici, emFortaleza- CE, a uma altitude de 19,5 m. Os testes de campo foram realizados no mês de maiode 2012 em um Argissolo Vermelho-Amarelo (EMBRAPA, 2006), com área planautilizando-se um trator de rabiças da marca Yanmar Agritech, modelo TC14S. Para os ensaios foram adotadas duas situações: na primeira com o trator de rabiçasem movimento foi utilizando o dosímetro em três diferentes marchas em uma rotação, e nasegunda situação os níveis de ruído foram avaliados com o trator de rabiças parado utilizandoum decibelímetro em quatro diferentes raios de afastamento (1, 2, 5 e 10 metros), medidas nosquatro lados do trator de rabiças em diferentes rotações. Antes de iniciar os ensaios dos níveisde ruído com o trator de rabiças em movimento, foi medida a velocidade dos ventos e atemperatura do ar com auxilio de um anemômetro multifunção da marca Instrutemp, modeloExtech 45170. O trabalho foi realizado em um campo aberto, sem barreiras físicas ou barulhosexternos que impedissem a realização do estudo. As leituras do ruído com o trator de rabiçasem movimento foram realizadas do lado esquerdo do trator, com o microfone próximo aoouvido do operador preso na gola da camisa, a escolha do lado esquerdo se justifica porcorresponder ao lado do trator de rabiças onde está localizado o escapamento de saída dosgases do motor, ponto onde encontra-se os maiores níveis de poluição sonora emitidos poressa máquina. A obtenção dos dados foi feita utilizando dosímetro da marca Instrutherm, modeloDOS-500, fabricado conforme as normas ISO 1999 BS 402 (1983), a frequência deponderação utilizada foi “A” e certificado de calibração válido. Para avaliação do ruído emmovimento o trator de rabiças percorreu uma distância de 30 m de comprimento para cadamarcha (parcela do experimento) com um arado de disco reversível, munido com um disco deaproximadamente 60 cm de diâmetro, arando a uma profundidade de 15 cm. Foram utilizadastrês marchas (1ª, 2ª e 3ª marcha) para avaliação e feitas cinco repetições para cada marchacom a rotação do motor a 1.100 rpm apróximadamente. Embora a velocidade dos ventos verificada estivesse em boas condições, emmédia 3,5 m.s-1, para os ensaios utilizou-se um protetor de ventos no microfone do dosímetro,com a intenção de uniformizar as condições de leitura e evitar a influência de possíveisrajadas de vento, a temperatura ambiente no momento do ensaio era de 29,8 ºC. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

42AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos O Dosímetro se encontrava preso no bolso da calça do operador e o microfonepreso da gola da camisa do operador próximo ao ouvido do operador do lado esquerdo dotrator. Os dados coletados foram submetidos a uma análise descritiva utilizando o programacomputacional Assitat 7.6 beta para obter informações sobre o efeito da marcha selecionadasobre o ruído medido. Avaliação dos níveis de ruído com o trator de rabiças parado foram realizadas emquatro diferentes raios de afastamento (1, 2, 5 e 10 m) em quatro direções do trator de rabiças(lado direito, esquerdo, frente e atrás), de acordo com a ilustração na Figura 1. Os dados doruído foram medidos em três rotações 810, 1.040 e 1.360 rpm. As leituras dos dados do ruídoemitidos pelas diferentes rotações foram adquiridas utilizando-se um decibelímetro da marcaMinipa, modelo MSL-1325, as leituras foram feitas com a faixa de medida de nível de 50 ~100 dB (nível médio) utilizando os circuitos de resposta lenta e de equalização “A” emdiferentes posições e raios de afastamentos. As rotações do motor foram medidas com um tacômetro digital da marca Minipamodelo MDT – 2245A, esse instrumento realiza medidas de rotações por minuto (rpm) pormeio de contato e medidas de velocidade de superfície (m/min e ft/min). Após a estabilizaçãoda rotação foram coletados os dados do ruído com cinco leituras para cada raio deafastamento, esse procedimento foi repetido para cada variação da rotação. Figura 1 - Esquematização das leituras realizadas em campo com o trator derabiças parado em quatro diferentes raios de afastamento e em quatro direções. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

43AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos AnjosRESULTADOS E DISCUSSÃOA análise dos dados foi feita considerando os níveis de rotação avaliados comosendo um fator quantitativo e cada um deles contendo cinco repetições. Esses dados foramsubmetidos a uma análise descritiva para obter o efeito da rotação do motor em relação aoruído médio. Os resultados encontrados no resumo da estatística descritiva dos níveis de ruídoemitidos pelo trator de rabiças em movimento nas marchas estudadas (1ª, 2ª e 3ª marcha),estão na Tabela 1 que, de acordo com o aumento das marchas do motor, houve um aumentoudo nível de ruído emitido pelo trator de rabiças. O maior nível de ruído foi verificado na 3ªmarcha, nessa ocasião a média dos níveis de ruído medidos na altura do ouvido do operadorforam de 98,8 dB(A). O menor valor de ruído foi encontrado na 1ª marcha, com valoresmédios de 95,7 dB(A) (Tabela 1).Tabela 1 - Resumo da estatística descritiva dos níveis de ruído [dB(A)] emitidospelo trator de rabiças próximo ao ouvido do operador na 1ª, 2ª e 3ª marcha.Repetição Marcha 1ª 2ª 3ª1 95,3 98,4 99,1Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

44AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos 2 95,4 98,1 99,2 3 95,6 98,3 98,5 4 95,9 98,0 98,7 5 96,4 98,2 98,9 Média 95,7 98,2 98,8[dB(A)]DP [dB(A)] 0,39 0,14 0,25CV (%) 0,41 0,14 0,26DP: desvio padrão,CV: coeficiente de variaçãoSegundo a Norma Regulamentadora 15 (NR 15, 2011), em todas as rotações osníveis de ruído analisados ultrapassaram os limites de tolerância, essa norma informa que olimite de ruído contínuo ou intermitente para exposição durante 8 horas de trabalho deve serde 85 dB(A). De acordo com os resultados encontrados sugere-se o uso de protetoresauriculares, para o operador ter mais conforto e segurança durante o trabalho. Caso não sejapossível a utilização desse equipamento de proteção individual, recomenda-se a redução dashoras de trabalho de acordo com a NR 15 (Tabela 2).Tabela 2 - Nível de ruído observado e o tempo máximo de exposição diário dooperador em cada uma das rotações avaliadas.Marcha Nível de Ruído Tempo máximo de(1.100 observado exposição1rpm) (dB) (h) 1ª 95,7 2 horas 2ª 98,2 1 hora e 15 minutos 3ª 98,8 1 hora e 15 minutosO resumo dos valores dos níveis de ruído emitidos pelo trator de rabiças parado,nas diferentes rotações, ao qual foi submetido, encontram-se na Tabela 3. Observa-se umaumento na média do nível de ruído na medida em que a rotação do motor é aumentada.Tabela 3 - Resumo da estatística descritiva dos níveis de ruído [dB(A)] emitidospelo trator de rabiças próximo ao ouvido do operador à 810, 1.040 e 1.360 rpm Repetição Rotação do motor (rpm) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

45AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos 81 104 1360 0 01 76, 77, 80,6 72 35 92 76, 77, 80,6 53 38 43 76, 77, 80,7 68 36 24 76, 77, 80,9 71 43 15 76, 77, 81,0 91 42 7Média (dB(A)) 76, 77, 80,8 71 38 0DP (dB(A)) 0,1 0,0 0,16 2 3CV (%) 0,1 0,0 0,19 5 4DP: desvio padrão,CV: coeficiente de variaçãoO resultado gráfico da análise de regressão linear e equação de ajuste da reta,apresentados na Figura 2, demonstra o aumento do nível de ruído para o operador à medidaque se observa um avanço na rotação empregada no motor. O coeficiente de correlação foi de0,87 afirmando que os dados estão positivamente (ou diretamente) correlacionados. Figura 2 - Gráfico da análise de regressão linear e equação de ajuste dos níveis deruído do trator de rabiças em diferentes rotações.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

46AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos Os resultados encontrados (Tabela 4) mostraram que, na rotação máxima de(1.360 rpm) nos quatro raios de afastamento, apenas as distância de um e dois metrosexcederam as recomendações da NR 15 que foi de 96,07 e 86,35 dB(A) respectivamente,enquanto que a norma indica que o ruído máximo é de 85 dB(A), por isso, nessa rotaçãoencontrou-se os maiores níveis de ruído. Tabela 4 - Resumo da estatística descritiva dos níveis de ruído [dB(A)]emitidos pelo trator de rabiças em diferentes posições e raios de afastamentos na rotação de1.360 rpm Posiçã Raio de Afastamento (m) o 1 2 5 10 LD 98, 8 8 77 1 8,6 3,0 ,3 LE 98, 8 8 76 5 8,6 2,7 ,8 LF 94, 8 7 73 6 4,6 8,7 ,4 LT 93, 8 7 73 1 3,6 9,0 ,5 Média 96, 8 8 75 Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

47AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos(dB(A)) 07 6,35 0,85 ,25 DP 2,2 2 2 2,(dB(A)) 9 ,63 ,32 09 CV 2,3 3 2 2, (%) 8 ,05 ,86 78 Posições em relação ao trator de rabiças: LD (lado direito), LE (lado esquerdo),LF (Frente) e LT (parte de trás). DP: desvio padrão, CV: coeficiente de variação De acordo com Cunha et al. (2009), ao avaliar ruídos emitidos por um tratorem operação de aração e gradagem, utilizando um decibelímetro, observou que osresultados apresentaram níveis de ruído acima do limite de 85 dB(A) e sugere o uso dedispositivos de proteção auricular, durante sua execução. Na rotação de 1.040 rpm apenas amédia da distância de um metro, excedeu o recomendado. Em relação aos outros raios deafastamento, o maior nível médio de ruído 82,73 dB(A) foi encontrado a 2 m de distânciado trator de rabiças. Os resultados para a rotação de 1.040 rpm encontram-se na Tabela 5. Tabela 5 - Resumo da estatística descritiva dos níveis de ruído [dB(A)]emitidos pelo trator de rabiças em diferentes posições e raios de afastamentos na rotação de1.040 rpm Raio de Afastamento (m) Posição 12 5 1 0 93, 84, 78, 7 LD 9 3 1 3,7 92, 85, 78, 7 LE 8 9 2 4,5 91, 83, 77, 7 LF 8 5 7 2,1 87, 78, 72, 6 LT 1 9 8 8,6 Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

48AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos Média 91, 83, 76, 7 (dB(A)) 40 15 70 2,23 DP 2,5 3,0 2,6 2 (dB(A)) 9 0 1 ,61 CV (%) 2,8 3,6 3,4 3 3 1 0 ,62 Posições em relação ao trator de rabiças: LD (lado direito), LE (lado esquerdo),LF (Frente) e LT (parte de trás). DP: desvio padrão, CV: coeficiente de variação Os resultados das médias do ruído na menor rotação (810 rpm), foram de92,45; 83,15; 76,70 e 72,23 dB(A) resultados encontrados a 1, 2, 5 e 10 metrosrespectivamente. A média a um metro de distância excedeu a NR 15 e esta bem próxima daencontrada nos resultados da rotação de 1.040 rpm. Assim, nessa rotação encontraram-seos menores níveis de ruído em relação aos níveis encontrados anteriormente (Tabelas 5 e6). Tabela 6 - Resumo da estatística descritiva dos níveis de ruído [dB(A)]emitidos pelo trator de rabiças em diferentes posições e raios de afastamentos na rotação de810 rpm Raio de Afastamento (m) Posição 12 5 1 0 LD 94, 81, 75, 7 8 9 7 1,6 LE 95, 85, 78, 7 9 7 9 3,9 LF 91, 82, 75, 7 2 3 3 0,8 LT 87, 81, 73, 6 9 0 8 9,8 Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

49AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos AnjosMédia 92, 82, 75, 7(dB(A)) 45 73 93 1,52 DP 3,1 2,0 2,1 1,(dB(A)) 5 6 5 75CV (%) 3,4 2,4 2,8 2, 0 9 3 44Posições em relação ao trator de rabiças: LD (lado direito), LE (lado esquerdo),LF (Frente) e LT (parte de trás).DP: desvio padrão,CV: coeficiente de variação Morais et al. (2009), em seu trabalho sobre os níveis de ruído de um microtrator de rabiças, marca Tobatta, modelo M 130, mediram em diferentes rotações os níveisde ruído emitidos pelo trator de rabiças utilizando um dosímetro pessoal de ruído da marcaInstrutherm, modelo DOS-500. No estudo foi observado que quanto mais alta a rotaçãomaior o ruído gerado. Na rotação de potência máxima do motor (1.800 rpm) o tempomáximo de exposição permissível é de apenas duas horas se o operador não utilizarprotetores auriculares.CONCLUSÕES Com o trator de rabiças em movimento os níveis de ruído encontrados nesseexperimento, excedêramos valores encontrados na norma regulamentadora 15 queespecifica um nível de ruído máximo de 85 dB(A) para uma jornada de trabalho de 8 horasdiárias. Na medida em que ocorreu o avanço das marchas, consequentemente oaumento da velocidade na mesma rotação (1.110 rpm), também aumentou linearmente osníveis de ruído emitidos pelo trator de rabiças. Em relação aos níveis de ruído com o trator de rabiças parado podemosconcluir que na distância de um metro em todas a rotações e apenas a distância de doismetros na rotação de 1.360 rpm excederam a NR 15. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

50AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos Anjos As médias dos níveis de ruído encontradas foram maiores do lado esquerdo dotrator de rabiças exceto na distância de 1 m para a rotação de 1.040 e na distância de 5 mna rotação de 1.360. Recomenda-se também a utilização de protetores auriculares para osoperadores de trator de rabiças que forem realizar trabalhos de aração mesmo que embaixas rotações. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.


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