Important Announcement
PubHTML5 Scheduled Server Maintenance on (GMT) Sunday, June 26th, 2:00 am - 8:00 am.
PubHTML5 site will be inoperative during the times indicated!

Home Explore BARROSANAABRIL VERSÃO FINAL

BARROSANAABRIL VERSÃO FINAL

Published by dvazchaves, 2021-03-24 22:30:38

Description: BARROSANAABRIL VERSÃO FINAL

Search

Read the Text Version

A A BARROSANA Revista digital de informação ABRIL O MÊS DA LIBERDADE João Milosas um Barrosão na revolução O QUE ERAMOS E O QUE SOMOS… ANO IV | MENSAL | EDIÇÃO XLI | ABRIL 2021 Director e Fundador: Domingos Chaves

2 “É escusado. Não posso ter outro partido senão o da liberdade\" – Miguel Torga… A evocação do Homem e do Poeta… 1907 - 1995 Coimbra, 25 de Abril de 1974 - Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada... Coimbra, 27 de Abril de 1974 - Ocupação das instalações da Pide. Enquanto, juntamente com outros veteranos da oposição ao fascismo, presenciava a fúria de alguns exaltados que reclamavam a chacina dos agentes, acossados lá dentro, e lhes destruíam as viaturas, ia pensando no facto curioso de as vinganças raras vezes serem exercidas pelas efectivas vítimas da repressão. Há nelas um pudor que as não deixa macular o sofrimento. São os outros, os que não sofreram, que se excedem, como se estivessem de má consciência e quisessem alardear um desespero que jamais sentiram. Coimbra, 25 de Abril de 1975 - Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolacão cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido. Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promovê-la. No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles.

3 A BARROSANA PERIODICIDADE Mensal DIRECTOR E FUNDADOR Domingos Chaves CONTACTOS Coordenação Email: [email protected] https://a-barrosana.webnode.pt/contacto/ Domingos Chaves Textos de Edição Ficha Técnica E… BARROSO É ISTO MESMO… DIREITOS Nos termos do disposto no n.º 2, Domingos Chaves, Catarina Pereira. Barroso não tem monumentos, nem precisa!... Barroso alíneas i) e j) do artigo 68.º e do artigo Barroso da Fonte, Fernando Gonçalves é só por si um verdadeiro monumento. O granito que 75.º, n.º 2, alínea m) do Código dos Rosa, João Damião, António Chaves, deu forma às suas \"muralhas\", aos velhos quartéis de Direitos de Autor e dos Direitos Custódio Montes, José Dias Baptista Marie outrora, às igrejas e ao casario, foi arrancado às Conexos, e do artigo 10.º da Oliveira, Arménio Santos, Helder Alvar, encostas que descem até ao Cávado e ao Rabagão, os Convenção de Berna, é de todo ou de Fernando Botelho Gomes, Isabel Tavares, rios que serpenteiam os termos de toda a região. Esse parte, proibida a reprodução bem Raquel Costa, José Alves, Jorge Martins e é o granito omnipresente que consubstancia, torna como a distribuição, comunicação ou Gabinete de Imprensa da C.M. concreta e palpável a memória do meu povo. colocação à disposição da totalidade Montalegre Foi com essas pedras que ele se defendeu, construiu as ou parte dos conteúdos desta suas humildes habitações, paços senhoriais ou vivendas publicação com fins comerciais directos, Fotografia burguesas, pavimentou as ruas, albergou santos em indirectos ou outros., em qualquer igrejas e conventos e deu guarida aos militares que o suporte, através de qualquer meio Domingos Chaves, C.M. Montalegre, José defendiam das invasões. técnico, sem a autorização prévia do Alves, Artur Pastor, Gerard Fourel, Nessas pedras deixaram os mestres canteiros as suas director. identitárias marcas e os pedreiros as suas fortes e Fernando D. C. Ribeiro, Mauro Fernandes certeiras cinzeladas. Hoje não se ouve o pedreiro a EDIÇÃO Heléne Martins, Raquel Costa e de percutir a pedra, nem o bulício dos militares em Domínio Público serviço ou de licença, e são poucas as crianças que Abril 2021 - Edição 41 ISBN alegram e dão vida às ruas cada vez mais desertas. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 152281/2017 Mas os que por cá andam, os que cá moram e os que Versão digital como eu não abandonam a \"terra\", têm a firme Execução convicção de que o futuro de Barroso terá que ser Domingos Chaves ainda mais risonho. Sejamos justos: aquilo que tem para oferecer é único. Tudo que ficou dito, é ímpar!... REVISTA ONLINE A arquitectura moldada pelo Larouco e pelo Gerês, tem aqui uma das suas pérolas mais brilhantes e https://a-barrosana.webnode.pt/ marcantes em comparação com outras que existem por essa Europa fora. ...

4 OS DESTAQUES O DESTAQUE DO MÊS 8 Abril – Mês da Liberdade 11 Página:7 44 O ROTEIRO DO ROMÂNICO 69 Página:8 Dr José Dias Baptista 57 58 VIAGEM PELAS ALDEIAS Santo André CRÓNICA DO MÊS A nossa História é aquilo que é BARROSÕES ILUSTRES Dr. Felizardo Gonçalves POLITICA INTERNA Retrospectiva Página:13 Marie Oliveira Página:28 Barroso da Fonte José Dias Baptista João Damião Sociedade António Chaves Custódio Montes Catarina Pereira Página:44 Página:34 O CONCELHO EM NOTICIAS Página:71

A PORTUGAL COMEÇA AQUI… I Quem tem amores não dorme... Se os não tem, não tem paria; Que fará quem tem os seus, Entre os mouros de Caria!... II Jarretas de Vilar, Escorna-cruzes de Solveira, Arriateiros de Santo André E cucos da Ponteira. Deram-me de comer E deitaram-me na eira. III Machos e fadistas, Levam a vida a zurrar, Todos são contrabandistas, Nos três bairros de Vilar. IV Homem de Vilar, E besta muar, Sempre têm coices a dar... “Ditos de antanho”

A E…BARROSO É ISTO!... Mas se somos assim, de paladar refinado e pote enriquecido, é • Pedra sobre pedra, dias sobre dias, estórias com história, corpos com porque aprendemos a ser felizes à alma e rugas com eternidades para mesa, a conviver à luz da candeia contar. Barroso é isto e isto é tanto!... Estimam-se livros de ouro e acesa e ao sabor de um cozido à desperdiçam-se histórias de nossa moda. diamante. Somos aquilo que somos, porque • O que somos, é muito mais do que somos poupados, e conseguimos aquilo que se pode guardar num banco ou bolsa. O que somos, é ultrapassar dezenas de crises, história fortificada, é ADN aprendendo a utilizar cem por enriquecido pela luta de quem viveu, cento do porco, a cozinhar com sofreu, sorriu e venceu. castanhas, a fumar o que é • O que não deveríamos era ser fracos preciso estimar ou a saborear de memória e deixar de estimar o uma sardinha partida em três. que somos, e o que somos vale mais que ouro. Se somos assim é porque milhares e milhares de aldeias • Se somos assim, é porque rios de lágrimas choveram sobre os mares!... sobreviveram ao passar dos Se somos assim, é porque os “mares tempos, sempre edificadas nos desconhecidos” nos permitiram enxergar a nossa alma destemida!... seus mais nobres valores e Se somos assim guerreiros, é porque tradições. Mas se somos assim nem bávaros, gauleses ou vizinhos alguma vez nos conseguiram dobrar porque haveremos nós de pela espinha!... mudar?!... VIVA BARROSO…

7 O PAÍS E A REGIÃO, NÃO PODEM SER UM “SOMATÓRIO DE EGOÍSMOS”… Ao longo dos últimos tempos, todos fomos confrontados com o sublime fenómeno de novéis especialistas em estatística, em finanças públicas, em virologia, em medicina intensiva, em gestão hospitalar, em dinâmicas de pandemias e como não podia deixar de ser, em inoculações que grassam pelas redes da desonra, levadas a efeito por “heróis” que sabem de tudo, menos como se devem comportar em sociedade. Tudo gente que não resiste a dar uma opinião sobre o que seria o ideal para uma situação que não se compadece com situações ideais, nem nos dá, sequer tempo, para acedermos a um patamar mínimo de segurança que nos dê garantias a médio prazo. Este é pois o tempo em que as opiniões dos cientistas são chocantemente tratadas como “mais uma” entre tantas, só porque sim!... Só porque sim, porque há quem ache que a opinião é toda igual, quer se tenha passado grande parte da vida a estudar o fenómeno em causa, quer se tenha “licenciado” na matéria num qualquer site manhoso pesquisado na internet. Isto, já para não ir até ao admirável mundo das alucinantes teorias da conspiração, onde podemos comprar todo o tipo de devaneios a pataco. Este é pois o tempo em que Entrando porém nos domínios da realidade, a grande verdade é que fomos todos as opiniões dos cientistas são apanhados de surpresa, e o grande dilema é entre o confinar e o desconfinar, entre a chocantemente tratadas saúde e o auxílio a uma economia em profunda crise com muitos milhares de como “mais uma” entre portugueses a verem os seus negócios de portas fechadas, isto é, milhares de negócios e tantas, só porque sim!... Só de vidas em suspenso, numa realidade que cada vez nos parece menos paralela. Mas isso porque sim, porque há é para gente decente, para quem se sucedem os estudos sobre os danos colaterais da quem ache que a opinião é pandemia; os impactos das diferentes velocidades de um improvisado ensino à distância, toda igual, quer se tenha a saúde mental e até sobre as consequências da falta de exercício físico. Para os passado grande parte da “indecentes” tudo vale e o seu contrário, isto é, a forma mais simples de fazer politica. vida a estudar o fenómeno Se quem tem responsabilidades diz que sim, dizem que não; se diz que não, aqui d`el rei em causa, quer se tenha que tem que dizer que sim, ou seja, o baixo nível a que nos vamos habituando. “licenciado” na matéria num qualquer site manhoso. Actualmente, estamos nos primeiros passos de um novo desconfinamento, precisamente num período em que fomos informados de que uma das vacinas que está a ser utilizada contra a Covid-19 está suspensa por supostos efeitos secundários, ainda que numa ínfima parte dos vacinados. E sendo assim, é claro que a polémica sobre a escassez das ditas vacinas não podia deixar de ser aproveitada e servir de pretexto para se instalar ainda com mais fervor. E este, é apenas um resumo do contexto que nos atingiu durante este primeiro ano após o início deste doloroso processo colectivo, onde tudo escapa ao controlo, excepto como é óbvio aos iluminados . Tudo, menos o essencial!... O de evitarmos – ao contrário dos predestinados - com as nossas atitudes facilitismos, por nós, pelos outros, pela saúde e pela economia deste país exausto e exaurido.

8 A Revista do Expresso EDIÇÃO 2518 29/ J A NEIRO / 2021 Há quem antes nunca tivesse Passada a euforia da vitória, ninguém lhes precisado de Partido, não sentisse a perdoou. Os heróis da mais bela revolução da falta da liberdade e se desse bem a História e agentes da maior mudança que viver de joelhos e a andar de rastos. Portugal viveu, são hoje muitos deles banidos e humilhados por quem lhes deve o poder e as Houve cúmplices da ditadura, bufos mordomias. e torturadores, houve quem sentisse Uns esqueceram os cravos que lhes abriram o medo, quem estivesse desesperado, caminho do Poder; outros reabilitaram os quem visse morrer na guerra crápulas que nos oprimiram; outros ainda, sem camaradas e soubesse de amigos memória nem dignidade, afrontam o dia 25 de nas prisões e se calasse. Mas houve Abril com louvores fascistas e lúgubres também quem resistisse e gritasse, e evocações da ditadura derrubada. quem foi calado a tiro ou nas Perante os ingratos e medíocres deixo aqui a prisões. TODOS os capitães de Abril e a todos quantos Uns, pagaram com a liberdade e a lutaram pela liberdade, o meu eterno obrigado. vida a revolta que sentiram, outros Não quero saber o que fizeram depois, basta-me governaram a vida com a desonra o que nesse dia fizeram. A arteenquantoterapia que calaram. Por JorgeCalado Houve ainda quem visse apodrecer João Milosas o regime e quisesse a glória de exibir o cadáver e a glória da libertação!... Azar!... Viram-se frustrados por um punhado de capitães sem medo e pela plêiade de heróis que tudo arriscou para que todos pudéssemos ser livres.

A MONTALEGRE UM CONCELHO COM HISTÓRIA Dizem os nossos escritores e também os poetas transmontanos, que Barroso é uma dádiva especial da Natureza e a grande obra de pedra e água feita em Portugal. E dizem-nos ainda, que é neste Norte que arduamente se riscam e planeiam caminhos, se cruzam vontades, e se resiste à força do tempo com a granítica força e persistência dos rios e das serras, à invasiva e danosa cultura que desvirtua e engana a História. E por fim concluem: “é da mesma pedra e da mesma água, que são feitas as gentes destes lugares”...

A Roteiro do Românico… AS TERRAS DE BARROSO Por: José Dias Baptista Historiador e Investigador • As Igrejas • As Capelas • As Alminhas • E os Cruzeiros (Continuação do número anterior)

11 TERRAS DE BARROSO VESTIGIOS DE ESTILO ROMÂNICO Igrejas de S. Vicente da Chã, Viade e Tourém… É justo salientar que diversas outras igrejas datam dos Alminhas primeiros tempos da monarquia e seriam incluídas nesse estilo. Acontece que foram sofrendo remodelações – SABUZEDO muitas vezes as fundamentais – que as descaracterizaram. Por: A última grande febre dos arranjos deu-se nos princípios José Dias Baptista do século XVIII e, por isso, os edifícios exibem datas Historiador e Investigador dessa altura. Por exemplo: Pondras -1777; Santo André - 1813; e Vila da Ponte – 1710. Contudo, a maior riqueza Nossa Senhora das Neves em São Lourenço das nossas igrejas encontra- se no interior: tanto em muitos e São Tiago em Fafião, na freguesia de dos seus santos que escaparam à usura de sacristães, padres Cabril; Senhor do Alívio, em Salto; Senhora e “homens- bons”, como na talha que as orna, sendo que do Monte na Serra do Barroso; São Frutuoso uma boa parte dela se deve a ignorados artistas autóctones. em Montalegre; Santo Amaro em Donões; Santa Marinha, em Vilar de Perdizes; São Merecem algum realce certos exemplares como Salto, Domingos, em Morgade; Nossa Senhora de Santa Marinha, Covelo, Vila da Ponte, Viade, S. Vicente, e Galegos, no Cortiço - Cervos; São João da sobretudo, pelo ruralíssimo e humílimo conjunto de talha Fraga, em Pitões; São Lourenço, em de S. Miguel de Vilaça. Só o concelho de Montalegre tem Tourém, e Nossa Senhora da Vila de Abril, mais de cento e cinquenta capelas com quase outros tantos em São Pedro- Contim. Este tema merece oragos. Não há praticamente povoação que não tenha ao uns volumes que um dia se farão, sob o menos uma, As alminhas são o dobro, mais ou menos, das título de Barrosânia Sacra!... capelas e algumas de singular aspecto. Destacam-se as alminhas de Sabuzedo. Os cruzeiros são mais de 60 e se lhes juntarmos os calvários ainda existentes com as cruzes das estações da via sacra serão três vezes mais. Destacam-se o de Salto, Pondras, Mourilhe, Codeçoso de Meixedo, de Montalegre, o da Interdependência da Vila da Ponte, Negrões, Meixedo, Sabuzedo, Santa Marinha, Santo André, Penedones, Antigo de Serraquinhos, Sezelhe, Travassos do Rio, Vila da Ponte, Bustelo e Parafita! Das ermidinhas, que o estro de Junqueiro abençoa, destacamos quer pela beleza paisagística do local, quer pelo encanto do conjunto “Construção humana e Natureza envolvente”:

A

13 A NOSSA IDENTIDADE - O CICLO DE VIDA DA ADMINISTRAÇÃO NAS TERRAS DE BARROSO As Juntas de Freguesia Concelho de Montalegre As Juntas de Freguesia foram criadas pelo Governo Republicano liderado por António José de Almeida, que em 1916 aprovou a lei que punha fim às Juntas de Paróquias, consolidava a sua separação da Igreja e instituía as ditas Juntas de Freguesia. Para um conhecimento mais pormenorizado, as Juntas da Paróquia tiveram a sua génese nas chamadas freguesias religiosas e corresponderam aos seus limites territoriais. Foram criadas em 26 de Novembro de 1830 como as mais pequenas unidades de administração pública. O Decreto n.º 23 de 16 de Março de 1832 considerou então as Juntas da Paróquia, como agregados sociais e religiosos e provêm da divisão eclesiástica do território, formando-se desde o momento em que num determinado local exista uma população estável, esteja edificada uma igreja e nela se apresente um pároco. A importância da paróquia, tanto na estrutura eclesiástica como no quotidiano das populações, torna-se assim evidente, quando se pretende delimitar administrativamente um território. É neste instante que surge a dificuldade quanto às designações a tomar. Como aos fiéis da igreja paroquial está associada a designação de fregueses, desde logo se refere a unidade territorial como freguesia e passa indistintamente a ser utilizada qualquer das designações. As Paróquias e as Freguesias estão por isso intimamente ligadas na sua génese e evolução, mas hoje já não se confundem. É extremamente difícil no entanto, definir correctamente quando uma Freguesia foi criada, principalmente se a elevação de um núcleo urbano de certa importância a Freguesia tiver sido anterior à do Município em que se enquadra administrativamente. Se exceptuarmos os casos de Freguesias criadas no final do século XIX e durante o século XX, no cumprimento do estabelecido no Código Administrativo, e mais recentemente na legislação a esse respeito sobre as autarquias locais, para as restantes devem ser utilizadas algumas cautelas quanto à determinação da sua origem. A paróquia tem hoje a sua posição na Divisão Eclesiástica do território e a Freguesia existe enquanto circunscrição territorial num contexto político- administrativo determinado por lei. Mas nem sempre foi assim, motivo pelo qual devemos atender a questões de natureza legal.

14 A NOSSA IDENTIDADE - O CICLO DE VIDA DA ADMINISTRAÇÃO NAS TERRAS DE BARROSO As Juntas de Freguesia Concelho de Montalegre Em 1830, pelo Decreto de 26 de Novembro, são instituídas as Juntas de Paróquia, as quais pretendiam substituir os Juizes das Vintenas, ou dos Limites, e os Juizes Eleitos. Um facto que só teve execução em parte dos Açores, onde então estava sedeado o Governo da Regência. Em 1832, na Reforma da Organização Administrativa iniciada por Mouzinho da Silveira, pelo Decreto n.º 23, de 16 de Maio, são extintas as Juntas de Paróquia. São também excluídas as Paróquias da divisão do território e da organização administrativa, passando a ser consideradas por Lei como simples agregados sociais e religiosos. Em 1835, por Lei de 25 de Abril, as Freguesias são incluídas na divisão administrativa do território e por Decreto de 18 de Julho, são também restabelecidas as Juntas de Paróquia e consignadas as suas funções administrativas. A Freguesia passava a ter assim limites próprios e correspondia ao território sob influência da paróquia. Em 1836 o Código Administrativo mantém a mesma situação, assim como a Lei de 26 de Outubro de 1840, com a única diferença de se colocar obrigatoriamente como Presidente da Junta o pároco. Em 1842 o Código Administrativo mantém a designação do pároco como Presidente, mas as paróquias já não são incluídas na organização da administração pública. A Junta de Paróquia passa a ter atribuições limitadas à administração das “comissões fabriqueiras” da igreja e dos seus bens, para além de desempenhar actos de beneficência. Em 1870, pelo Código Administrativo, são extintas as Juntas de Paróquia, mas apenas durante cinco meses. Quando é aprovado novo Código, nesse mesmo ano, as Juntas de Paróquia voltam a fazer parte da organização administrativa. Em 1878, o Código Administrativo determina uma nova organização e atribuições das Juntas de Paróquia, sendo livre a escolha do seu Presidente. Em 1895 o Código Administrativo repõe na presidência da Junta os párocos. A mesma posição é seguida no Código Administrativo de 1896.

15 A NOSSA IDENTIDADE - O CICLO DE VIDA DA ADMINISTRAÇÃO NAS TERRAS DE BARROSO As Juntas de Freguesia Concelho de Montalegre Devido à implantação da República, a qual provoca a separação Em resumo e em jeito de conclusão, foi apenas do Estado e da Igreja, é colocado em vigor o Código em 1830 que “foram criadas as Juntas de Paróquia Administrativo de 1878, retirando, assim, a presidência aos originárias das Freguesias” para administrar o párocos. A Lei n.º 88, de 7 de Agosto de 1913, promove a organização das paróquias civis, numa clara distinção das território e os bens da paróquia, ficando então paróquias eclesiásticas, embora assuma o mesmo limite territorial. definido que seria esse órgão a assegurar “o bom Finalmente, a Lei n.º 621, de 23 de Junho de 1916, altera regimento e polícia dos povos”. Até 1878, em definitivamente a designação da Junta de Paróquia para Junta de Freguesia, mantendo-se praticamente sem alterações até hoje as regra, foi o padre que presidiu à Junta - embora suas componentes políticas e administrativas. Uma História que começa no século V, altura em que o território que actualmente tenha havido vários avanços e recuos nesta corresponde a Portugal era controlado pelos Suevos, depois de ter sido conquistado ao Império Romano. A Igreja tinha uma grande matéria. E só a partir do Código Administrativo importância na administração das terras, e as freguesias “começam desse ano que “as freguesias passam sempre a a surgir como paróquias, nos meios rurais, ao lado das localidades integrar a organização administrativa do Estado”. mais importantes – as eclésias -, que eram comandadas pelos Bispos. • O Padre é que era o Presidente da Junta… Até essa altura, “as Freguesias geriam e administravam os bens da Igreja e eram pequenas Com a expansão do catolicismo, a paróquia, que era chefiada pelo comissões de beneficência. Tratavam das pessoas padre local, “foram-se criando cada vez mais núcleos de culto”, e doentes e da caridade”. A partir daqui, passaram a “começou a haver um sentimento de pertença”, que transformou a ter todo um outro leque de competências, como a paróquia numa “verdadeira comunidade”. Essas paróquias construção de cemitérios, gestão de caminhos e “começaram por administrar os bens da Igreja”, mas foram, ao até passaram a poder lançar impostos. Seria apenas em 1916 que as paróquias passariam longo da Idade Média, adquirindo tarefas administrativas que mais a designar-se de Freguesias, com o seu órgão de gestão a chamar-se de Junta. tarde passariam para os Municípios.

16 A TERRA E AS GENTES… António Chaves Bento da Cruz, a par de brilhante escritor, sentiu e partilhou Economista e escritor o pulsar do coração do povo que o acolheu, numa singela aldeia de montanha, quando chegou a este mundo. Conheceu de perto as dificuldades da vida rural desta região agro-pastoril, em que o povo ia vivendo. Partilhavam um território comum de terras de cultivo, pastos de erva para o gado bovino e serras que alimentavam cabras e ovelhas, em luta diária contra os lobos por ali abundantes. Para as crianças, a escola de vida consistia simplesmente em “pão numa mão e pau na outra”, prontos a subir e a descer a montanha em cada jornada diária; estivesse calor, frio, ou sol, chuva ou neve, os gados eram levados ao pasto. “- Sempre que vais até ao cimo da serra, cresces um palmo”! Diziam-lhes para irem mais contentes. Cada aldeia tinha o seu termo, onde cortava os matos para as cortes do gado e alimentava os seus animais. As propriedades muradas eram de acesso restrito aos respetivos proprietários. O resto do espaço de montanha constituía pasto comunitário. Cabras e ovelhas mais nutridas eram fruto apenas da dedicação e empenho do cada pastor. A abundância do que designavam por termo foi alvo de brutalidade física e psicológica pelo Estado, onde os seus agentes transformaram o caráter das gentes, os estilos seculares de vida comunitária, a base social e económica, o cultivo da confiança e a reciprocidade e entreajuda dos seus membros. A comunidade silvo pastoril barrosã venceu todas as ameaças que os séculos colocaram no seu trajeto; e não foram poucas. Mas na terra de nascimento deixou de haver forma de lutar contra a força brutal e sem meios para aguentar e prolongar a resistência. O tecido rural entrou em falência acelerada e colapsou, logo que o fim da segunda grande guerra uma alternativa, abrindo as portas à mão-de- obra de Portugal e de Espanha para ajudar a fechar as feridas da guerra, abalando a base dos recursos comuns que mantinham a sociedade local com base na entreajuda e na solidariedade do tecido humano comunitário. Créditos das fotos: Artur Pastor e Gerard Fourel…

17 (continuação) V António Chaves Os carvalhos usam a luz do sol para crescer. É uma Economista e escritor árvore procurada, para obtenção de lenha, empregada em marcenaria, carpintaria e as folhas para forragem Paris e outros centos urbanos de França e Alemanha do gado. As suas raízes podem produzir novos rebentos ficaram apinhados de bidonvilles de trabalhadores ou propagar-se por meio das sementes (bolotas). Os acossados pela fome e pelo desamparo, nas mãos de gaios, muito apreciadores das bolotas na sua que quem os recrutava e em muitos casos explorava. alimentação, têm o hábito de enterrar as bolotas como Os bidonvilles tinham como aquecimento invernal o reserva alimentar, durante o inverno, sendo calor natural do trabalhador que ali dormitava no responsáveis pelo nascimento de muitos novos e jovens meio dos cobertores surrentos que iriam mitigar o carvalhos. Algumas espécies de carvalhos produzem, arrepio de frio, do freguês que ia ocupar o mesmo como defesa contra a picada de uma vespa, esferas leito mal terminado o respetivo turno de trabalho. esponjosas conhecidas por bugalhos. Estes bugalhos, A paisagem agro-pastoril da Europa, nos últimos que não são frutos, têm a particularidade de poderem cinco mil anos, caraterizou-se pela cultura do centeio ser usados para o fabrico de tinta da castanha, já que a e o pastoreio de ovelhas e de cabras, como revelam árvore, no seu todo, é rica em taninos. pinturas dos impressionistas franceses. É uma Na Europa de hoje realiza-se ainda, anualmente, um paisagem marcada pela presença exuberante de concurso para a eleição da árvore com história na vida folhosas com predomínio de grandes extensões de das pessoas da comunidade que a rodeia. Em 1917 foi florestas de carvalhos, castanheiros, e uma agricultura eleito um carvalho de Wisniowa, ligado à família de tipo familiar que só colapsou nos meados do Mycielski. Esta família ficou tão encantada com a século XIX, quando floresceu a ideia de plantar beleza da zona que resolveu comprar ali uma mansão. árvores para fazer floresta. Converteu-se em um centro cultural da região. Durante Até então, para lá das árvores de fruto (castanheiros, a Segunda Guerra Mundial, este carvalho serviu de cerejeiras, alfarrobeiras, nogueiras, medronheiros, abrigo a uma família de judeus que ali se escondeu dos aveleiras) e de outras árvores tradicionais europeias nazis. Esta árvore está presente nas notas polacas de cultiváveis, dominavam as matas de carvalho e uma 100 zlotis. grande variedade de folhosas como os amieiros, choupos, freixos, salgueiros, ulmeiros e vidoeiros.

18 HISTÓRIAS DE VIDA (continuação) E VIDA COM ESTÓRIAS António Chaves Economista e escritor O carvalho é uma árvore que é muito procurada para sangria emigratória para os países europeus, no pós guerra, obtenção de lenha, usada também em marcenaria, carpintaria situação da qual as regiões do interior português não mais e as cascas para curtimento de peles. As folhas eram usadas recuperaram, encontrando-se hoje, muitos desses locais, à como alimento e forragem verde para o gado. É uma árvore beira de um despovoamento sem retorno, numa caminhada com a capacidade de produzir rebentos a partir da base do insanável para a desertificação. tronco, podendo também rebentar a partir das raízes. Fugiu quem pôde. Na pequena aldeia onde nasci, viviam Propaga-se bem através da semente (bolota). Grandes cerca de 200 almas; 74 saíram para outros sítios mais extensões desses territórios onde predominavam grandes e favoráveis, nas regiões mais próximas; 85 emigraram abundantes soutos de carvalhos foram convertidos em clandestinamente para França e Alemanha e os mais velhos intermináveis plantações exclusivas de pinheiros, incluindo que ficaram foram envelhecendo e desvivendo. em zonas arenosas e solos graníticos. A população do concelho de Montalegre que, nos anos Nos anos trinta, em Portugal, foram estatizados os montes quarenta do século passado, albergava perto de 50 000 baldios e florestados com pinheiros bravos. Os montes habitantes tem hoje menos de 10 000, a maior parte idosos, comunitários e de pastoreio, foram substituídos por aquela representando apenas 20% da população de há 70 anos e resinosa reserva inflamável que o tempo acabou por uma fraca percentagem de nascimentos, intensificando a converter em pasto de incêndios e cinzas residuais que tendência de perda de população, que ninguém trava. destruíram também a cobertura orgânica dos solos. Muitos A todos os camponeses que ao longo do tempo e enorme elementos da população de hoje, lembram-se ainda da esforço, contribuíram, dia após dia, para a sustentação do violência operada pelos guardas florestais, e das casas dos património que é a nossa Paisagem Rural; aos pastores, guardas florestais nas montanhas e vigilantes nas encostas personagens do meu imaginário, caminhantes da solidão das das serras, das multas resultantes da entrada, por descuido, montanhas sem fim, rendo a minha homenagem e o meu de uma cabra ou ovelha na área reservada ao plantio, ou a preito de admiração e desassombro. Obrigado pelo que obrigatoriedade de requerer uma licença para cortar um sempre foram. carro de mato para as camas do gado nos montes que eram seus, já desde os tempos iniciais do neolítico. Esta paisagem, rica ou pobre, qualificou-a Bento da Cruz Foi esse governo autoritário, persecutório, violento e inculto, como «um paraíso – o único, ou um dos poucos que ainda sustentado por liberais retrógrados, pelos grandes agrários e industrialistas direta ou indiretamente implicados no existe à face da terra»; «Quando eu era devorador de desmantelamento dos baldios e da vida comunitária ali praticada, que fez reduzir os rebanhos de centenas de Bibliotecas, nem o Paradise Lost de Milton me escapou. E milhares de cabeças de cabras e ovelhas a efetivos confesso que não fiquei muito entusiasmado (…). Nem perfeitamente irrisórios, conduzindo como alternativa a uma admira. Era jovem de mais para me preocupar com a perda de qualquer paraíso, fosse aquele donde os anjos rebeldes se precipitaram (…), fosse o lugar donde Adão e Eva foram escorraçados para este vale de lágrimas. Mas hoje que estou velho, compreendo final e dolorosamente, o mito dos paraísos perdidos. Paraíso da minha infância. Tempo de maravilhas. Era das descobertas. Das coisas vistas pela primeira vez, das palavras ouvidas pela vez primeira».

19 A NOSSA IDENTIDADE O QUE ERAMOS E O QUE SOMOS… “No concelho barrosão, O concelho de Montalegre permaneceu em Pelo outro, a criação de bovinos como cada aldeia constituía-se grande isolamento até pelo menos aos fonte de rendimento e também como meio assim numa espécie de finais da década de 30 do século XX. Só imprescindível para a actividade agrícola, comunidade em meados desta, foi concluída a primeira fruto sobretudo das características independente, com estrada – a actual Nacional 103 - que intrínsecas do território. Um território limites territoriais bem passou a ligar Braga a Chaves, onde as paisagens agrárias tradicionais definidos, onde as atravessando parte do território concelhio. permaneceram durante muito tempo relações entre os inalteradas, particularmente devido a moradores assentavam Neste contexto, a agricultura cumpria a condições climáticas muito rigorosas que numa base de função de auto-abastecimento da população sempre impuseram limitações acentuadas solidariedade e e as trocas com o exterior estavam à agricultura e ao leque de culturas ao entreajuda”. limitadas ao comércio de vitelos de raça dispor dos agricultores. Foi assim, a que Barrosã, produto que estava menos foi sujeito o povo barrosão, pese embora ... dependente da existência de vias de tais factos tenham de alguma forma sido comunicação adequadas, transportando-se amenizados com o inicio da cultura da “ Esta, é por assim dizer o por si próprio pelos rudimentares caminhos batata, que viria a constituír-se como uma tipo de imagem que retrata então existentes um pouco por todo o lado. mais-valia a partir dos finais dos anos 30. a realidade do espaço rural do concelho de Montalegre Foi neste ambiente, que a actividade A nova cultura, então antes da mecanização da agrícola da região se foi desenvolvendo designada por “ouro branco”, agricultura, do uso de durante muito tempo em torno de dois viria assim a ser responsável por fertilizantes e do abandono eixos principais: por um lado, a cultura do algumas alterações com alguma de muitas explorações centeio sempre crucial num contexto de importância ao nível da agrícolas devido à fuga para auto-suficiência imposta por um marcado ocupação dos solos, as grandes cidades, iniciando isolamento geográfico. desse modo o processo de O desenvolvimento desta cultura, com declínio acentuado que se maior relevo no final da primeira metade registaria mais tarde”. do século XX, veio aliás transformar o contexto até então existente, embora resultante também de uma evolução lenta e prolongada. A nova cultura, então designada por “ouro branco”, viria assim a ser responsável por algumas alterações com alguma importância ao nível da ocupação dos solos, nomeadamente através da limpeza em série de terras de mato, destinadas depois que eram à cultura da batata. Porém e como noutros casos, a nova actividade que se adivinhava prometedora não se perpetuou por mais de cinco décadas e o seu declínio surgiu ainda nos anos oitenta, dando origem a uma nova alteração do sistema agrário.

20 A NOSSA IDENTIDADE “Um território que permaneceu em grande isolamento até pelo menos aos finais da década de 30 do O QUE ERAMOS E O QUE SOMOSséculo XX. Só em meados desta, foi concluída a primeira estrada – a actual Nacional 103 - que passou a Desta feita, a pecuária surge novamente como actividade principal dos sistemas ligar Braga a Chaves, atravessando de produção. Esta, é por assim dizer o tipo de imagem que retrata a realidade do parte do concelho”… espaço rural do concelho de Montalegre antes da mecanização da agricultura, do uso de fertilizantes e do abandono de muitas explorações agrícolas devido à “fuga” para as grandes cidades, iniciando desse modo o processo de declínio acentuado que se registaria mais tarde. População Para se ter uma ideia e a este propósito, a população no Registe-se, que desde 1960, o concelho de Montalegre – tal concelho em 1864 havia sido de 18 539 indivíduos residentes. como o seu vizinho Boticas - perde em média, a cada 10 Cerca de um século depois, em 1960, este número viria quase a anos, cerca de 20% da sua população. Uma situação que é duplicar, tendo sido apurada nesse ano - no X Recenseamento aliás muito semelhante à verificada no distrito, onde a Geral da População – uma população residente de 32 728 população foi crescendo globalmente até 1960 e indivíduos. diminuindo desde essa data em diante. Porém os dados do recenseamento realizado em 1991 apontam Não é por acaso que a população actual no distrito de Vila já para um decréscimo muito significativo cifrando-se então nos Real, é apenas ligeiramente superior em 2,5% à verificada 15 464, isto é uma redução de mais de 50% da população em 1864. residente. Uma catástrofe em termos populacionais que não foi ainda mais significativa, não fora o regresso da ex.colónias Ora foi exactamente face a este declínio populacional, que ocorrido a partir de meados dos anos setenta. ao longo dos últimos anos a principal actividade na região – A partir desta data tem-se então verificado uma diminuição a agricultura de montanha -sofreu grandes mudanças, tanto incessante da população e em 2001, o número de residentes era nos sistemas de aproveitamento dos recursos naturais como já de apenas 12.762 indivíduos. Actualmente, a população do na própria estrutura da sociedade. concelho de Montalegre é mesmo inferior à que lá vivia em 1864, aquando do primeiro Recenseamento Geral da População, Como já foi referido, a sociedade barrosã do início do onde se registaram os tais 18.539 residentes já referidos. século XX encontrava-se profundamente isolada e as relações com o mercado eram muito incipientes.

21 A NOSSA IDENTIDADE No território barrosão, cada aldeia constituía-se assim como uma comunidade independente O QUE ERAMOS E O QUE SOMOS… com limites territoriais bem definidos, onde as relações entre os moradores assentavam numa A partir da década de 60, a emigração viria a ter uma base de solidariedade e influência marcante sobre a percentagem de assalariados no entreajuda. total da população activa agrícola do concelho de recursos naturais e as diversas formas de produção ditaram assim Montalegre. as suas leis e contribuíram significativamente para que a Em consequência dessa mudança, verificaram-se grandes esmagadora maioria das aldeias permanecessem idênticas a si alterações no tipo de explorações agrícolas que se mesmas através dos tempos e como consequência do prolongaram até aos dias de hoje. encerramento económico e social de cada uma ocorressem Neste período, não estando ainda concluída a primeira manifestações de vida comunitária, de que são exemplos os estrada que atravessando o Barroso, o ligava a Braga e a Chaves, o trânsito efectuava-se por estradas de terra batida e moinhos colectivos, a posse de bens comuns como o forno e o trilhos secundários. Mesmo depois de terminada em 1932, a “boi do povo”, a usufruição em comum dos baldios, a “vezeira”, ligação a Montalegre desde São Vicente e aldeias a água de rega “distribuída à roda”, a entreajuda nos trabalhos circundantes fazia-se em péssimas condições, o que agrícolas - “segadas”, “malhadas”, corte dos fenos e até no significava que grande parte do território se continuasse a manter num grande isolamento. Outro exemplo: a população arranjo de caminhos e levadas. de Tourém tinha de atravessar território galego para chegar à sede do concelho. A estrada que ligou estas duas freguesias Nos anos trinta, quarenta e cinquenta e face ao contexto do só foi concluída em 1965, e parte do percurso entre isolamento, tinha também por aqui bastante importância – e especiais cuidados lhe eram dados – a cultura do linho. Numa região arredada de tudo, era imperioso ser auto-suficiente em matéria-prima para vestuário das populações. Antes da entrada da batata para semente na região, quando o dinheiro era pouco Montalegre e Covelães apresentava-se em péssimo estado de mais que inexistente, o linho e a lã eram quase exclusivos no conservação; no final da década de 1960 as freguesias de fabrico da roupa das gentes do Barroso. Cabril e Outeiro eram ainda servidas por caminhos pouco A Cultura de Batata para Semente transitáveis. Nestas circunstâncias, a circulação de Em 1933 os Serviços Oficiais, em colaboração com alguns mercadorias era como se compreende, muito limitada. lavradores de Montalegre, passaram a certificar a batata para No território barrosão, cada aldeia constituía-se assim como semente, produzida nos campos sujeitos a inspecções. A sua uma comunidade independente com limites territoriais bem produção teve início em pequenos núcleos que depois se definidos, onde as relações entre os moradores assentavam alargaram extraordinariamente: começou em Montalegre, numa base de solidariedade e entreajuda. O isolamento Gralhas e Padornelos pela iniciativa dos mais audazes e ditado pelas condições climáticas e geográficas, os limitados noutras povoações foram cedidos baldios a empresas (Continua)

22 A NOSSA IDENTIDADE A partir da década de 60, a emigração viria a ter uma influência O QUE ERAMOS E O QUE SOMOS… marcante sobre a percentagem de assalariados no total da população A produção da batata de semente teve início em activa agrícola do concelho de pequenos núcleos que depois se alargaram Montalegre. Como consequência dessa extraordinariamente: começou em Montalegre, mudança, ocorreram grandes Gralhas e Padornelos pela iniciativa dos mais alterações no tipo de explorações audazes… agrícolas que se prolongaram até aos dias de hoje. que se lançaram na cultura e proporcionaram vastos Este período era caracterizado por uma relativa homogeneidade espacial ensinamentos aos habitantes, o que significa que grande dos sistemas de produção, situação que só veio a alterar-se com a expansão parte da batata produzida em Montalegre era pertença de da batata para semente. indivíduos que à terra pouco estavam ligados. A emigração Em 1938 é fundada então no concelho de Montalegre a A partir da década de 60, a emigração viria contudo a ter uma influência Cooperativa Agrícola dos Produtores de Batata para Semente marcante sobre a percentagem de assalariados no total da população activa e no final da década começou a ter um lugar de destaque nos agrícola do concelho de Montalegre. Em consequência dessa mudança, campos barrosões. A sua comercialização para fora da região verificaram-se grandes alterações no tipo de explorações agrícolas que se beneficiou e só foi possível através da nova estrada que tinha prolongaram até aos dias de hoje. sido entretanto concluída. Entre 1960 e 1975 as explorações patronais diminuíram 28% e as É nesta altura e nos anos subsequentes que a cultura da familiares 85%, o que se traduz numa significativa diminuição das batata se viria a tornar no “ouro branco” da região. Neste explorações, passando a força de trabalho a procurar ocupação em contexto, os recursos naturais das montanhas do Barroso, mercados de trabalho exteriores à região onde vive. que se tinham revelado restritivos ao alargamento do conjunto de culturas que poderiam estar à disposição dos Torna-se assim evidente, que a sociedade rural barrosã do final dos anos 70 agricultores na procura do auto-abastecimento alimentar do e 80 do século passado, já nada tem a ver com a sociedade do período agro- período agropastoril, revelaram-se também a partir daqui pastoril em que um pequeno grupo de lavradores abastados emprega como uma mais-valia. sazonalmente um grande grupo de cabaneiros, nem com a sociedade do Uma mais-valia que originou um conjunto de mudanças período de expansão da batata para semente em que o trabalho assalariado profundas na sociedade rural do Barroso e nos seus sistemas conhece um grande acréscimo e se verifica uma grande diferenciação de aproveitamento dos recursos naturais nas décadas de 40 e social. 50 e 60, nomeadamente um aumento da forma assalariada do trabalho agrícola e uma transformação dos padrões de uso do A partir desta altura, a agricultura desenvolve-se num contexto social de solo que vinham do período agro-pastoril. famílias agrícolas que trabalham essencialmente as suas terras – aquelas que trabalham.

23 A NOSSA IDENTIDADE O QUE ERAMOS E O QUE SOMOS A quebra do isolamento possibilitada pela abertura progressiva de estradas a partir da década de 40 do século XX e a emigração, mais marcada a partir de 1960, A SOCIEDADE NO TEMPO originaram assim grandes transformações no quadro social Foi pois este modelo de desenvolvimento económico, ético, do aproveitamento dos recursos naturais. social e cultural que provocou os actuais fenómenos de Com o regresso ainda que diminuto da população que desertificação e de desflorestação que em muitas das sua áreas durante mais de duas décadas abandonara a região para as assumem já proporções sérias e ameaçadoras de agora chamadas grandes áreas metropolitanas e para a sustentabilidade. Não vão muitas décadas que no único aposento Europa, a partir do inicio de 1990, dá-se inicio ainda que das casas cobertas que eram de colmo, de rudes paredes de pedra incipiente a um processo de recuperação. sobreposta, por cujas fendas muitas vezes entrava o frio e o vento, nasciam as crianças nas aldeias mais remotas e “perdidas no tempo sem assistência médica, e só raras vezes com o auxilio de uma parteira improvisada – um dado sintomático que nos diz tudo.. Depois, aos cinco anos ensinavam-lhes a rezar, aos sete já lhe confiavam a guarda das vacas, das cabras e das ovelhas, o monte era a sua primeira escola e quase sempre a única, e aos doze, a vida de trabalho ininterrupto principiava. Rapaz ou rapariga e de “comunhão” feita, era já uma criatura emancipada!... Se os pais eram pobres, íam “servir”; se fossem filhos de lavradores remediados, faziam em casa o tirocínio árduo da lavoura – este era efectivamente o Portugal de Salazar. Desde o nascer do dia até noite fechada, homens e mulheres tinham como único ofício, trabalhar na lavoura. O dinheiro era escasso e muitos nem sequer o conheciam, a troca de bens Nos primeiros anos da década, a mecanização atingira já aligeirava as necessidades básicas, e até a doença parecia uma dimensão considerável e 20,5% das explorações respeitar todo este culto sagrado da economia dos lavradores de possuíam tractor próprio. Em 1999, as explorações barroso, onde só a velhice os matava. O retrato social de uma trabalhadas com tractor próprio atingiam já as 38,3% do região “amordaçada” e abandonada Foi assim nas décadas de 50, total. 60, 70 e de 80, até aos dias de hoje.E sendo assim e como era suposto acontecer, “não há mal que sempre dure, nem bem que Foi a época de maior mecanização do concelho de nunca acabe”. Todo este “regime patriarcal” acabaria por morrer Montalegre, superior até ao que se verificava no distrito, o economicamente e exactamente da mesma maneira como que não deixou de ser surpreendente, considerando que se economicamente havia nascido e vivido durante séculos. trata de uma zona de montanha onde o declive impõe Hoje, ignorar estes factos e dizer-se que a desertificação é um restrições acentuadas à utilização do tractor. problema actual, é no mínimo surrealista e procurar tapar o sol De referir ainda que entre 1990 e 2000, o número de com uma peneira. É o mesmo que procurar esconder-se uma tractores no concelho aumentou 43% enquanto no distrito o realidade, que aqueles que já contam para lá do meio século, aumento foi de apenas 27%. conhecem como ninguém. Uma realidade diga-se, que como é sabido passou por escolhas: a guerra que consumia cerca de 50% Em jeito de conclusão, poder-se-à assim dizer, que por aqui da riqueza nacional; a emigração como meio de fugir à pobreza e teve início a transformação profunda no seio de uma por acréscimo a contribuição para a manutenção de um “regime” comunidade de pastores, praticamente isolada do mundo até sem horizontes. Na ausência de modelos de desenvolvimento meados do século XX. económico, ético, social e cultural em que se persistia, as populações sem alternativas e sem esperança numa vida melhor Foram transformações ditadas pelo êxodo rural que se não hesitaram: o abandono das aldeias e a fuga para o litoral, acentuou durante a década de 60, prosseguiu nas seguintes e para as grandes áreas metropolitanas e para o estrangeiro ditaram que hoje se procura inverter em vários domínios. o resto.

24 Dr. Custódio Montes PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO Juíz Conselheiro E RESILIÊNCIA… 1 - Defendo para o Barroso e Montalegre, Como em tempos disse o então Presidente da pelo menos, uma infraestrutura rodoviária Comissão de Coordenação e Desenvolvimento condigna de ligação a Braga Regional de Lisboa e do Vale do Tejo, a 33.ª Mega-Região mundial que se estende de E… Lisboa à Corunha, devia ser ligada em linha de alta velocidade para se interligarem entre si 2 - A defesa e respeito pelas suas gentes, pela todos os saberes aí existentes. sua cultura e património paisagístico, classificado como Património Agrícola Citava esse autor, Richard Florida que, Mundial, bem como a pureza das suas águas, contrariando Friedman (este autor do livro O bem escasso e essencial à vida, água que é Mundo é Plano), defende que o mundo é cada bebida pelas populações de Chaves, Vidago, vez menos plano, estando “mais concentrados Montalegre, Braga, Barcelos, Esposende, geográfica e socialmente” “as actividades Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Porto produtivas, as tecnologias, a inovação e o Norte: talento”. Assim, estando o futuro na convergência e ... articulação de esforços, devem interligar-se, em alta velocidade, os saberes instalados 1 nessa Mega-Região da faixa litoral: Lisboa Coesão nacional para o Barroso e vale do (serviços financeiros, ensino superior, Cávado cultura), Leiria/Marinha Grande (moldes), Aveiro (telecomunicações), Porto (saúde e A área de Portugal continental é de cerca de calçado), Braga (software e nanotecnologia), 89.000Km2, com cerca de 848Km de aproveitando o seu potencial universitário, comprimento máximo por 250 Km de largura marítimo e portuário. máxima, estendendo-se a sua costa marítima ao longo de cerca de 837Km. Este diminuto Essa Mega-Região, na qual se integram Braga rectângulo, devia ter acessos privilegiados e a Corunha, inclui, como se sabe, a para o mar quer pela sua localização quer pela denominada Região dos Municípios do Eixo sua história. Atlântico, em formação, que se estenderá Em vez de Auto Estradas longitudinais ao desde Vila Nova de Gaia à Corunha e cujo mar, devia haver vias rápidas perpendiculares, vértice Nascente terminará em Chaves que, a ligar o interior à faixa costeira. neste momento, se une a Verin para constituírem ambas uma grande cidade Assim, toda a população teria acesso europeia. privilegiado ao mar, estando acessível, em No seguimento desta dinâmica, evidente se pouco tempo, às pessoas que vivem junto a torna que a faixa litoral do nosso País, ele. associada à Galiza (Vigo, Pontevedra, A concentração demográfica no litoral que Santiago de Compostela, Corunha), terá um tem vindo a ocorrer, com a consequente acelerado desenvolvimento, que muito desertificação do interior e o abandono das beneficiará as suas populações. (Continua) terras, implicava que se reorganizassem os acessos de forma diferente à que tem vindo a acontecer.

25 • PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA… Com o plano rodoviário nacional, a EN103 DDr.rC. uCsutsótdóidoioMMonotnetses deixou de ser estrada de 1.ª classe e passou a JuJíuzízCoCnosneslehlehieroiro (continuação) integrar “outras estradas”, mantendo a configuração actual. Para que as regiões de Barroso e do Vale do Cávado possam aproveitar os factores de O grande Porto foi dotado, e bem, de vias desenvolvimento e modernização dessa plataforma rápidas, auto-estradas (AE) (A20, A41, A29, logística do Atlântico, tem necessariamente de se A44-9Km), circulares, metro, estando prevista ligar a ela de forma rápida e eficiente. uma ligação por TGV a Lisboa, à Galiza e à Europa. Quer a localização geográfica dessas Regiões quer as suas afinidades com Braga, impõem que essa Entre o Porto e Valença foram construídas ligação se faça através dessa zona do País. duas AE paralelas – a A3 e a A28, que, por sua Ora, analisando o plano rodoviário para estas vez, foram ligadas, entre si, por três AE: a A7 Regiões, vemos que foram desprezados os mais (Famalicão – Vila do Conde -, impropriamente elementares princípios de coesão, solidariedade, chamada auto-estrada do Gerês, porque não subsidiariedade e justiça, sendo um factor de passa por lá), a A11 (Braga-Apúlia) e a A27 maior desertificação, e não tendo em conta, (Ponte de Lima-Viana do Castelo (a AE do sequer, em termos proporcionais, as riquezas com “queijo limiano”). que essa vasta área do território contribui para a bem-estar nacional. Portanto, numa área de cerca de 3.243 Km2 (Grande Porto - Minho/Lima) foram construí- Basta comparar o plano rodoviário nacional no dos, cerca de 280 Km de AE. que toca a essas Regiões e o que foi gizado e foi executado para as Regiões do Grande Porto até Valença do Minho. A área das regiões de Barroso (Montalegre e Boticas) e do Vale do Cavado (Montalegre, Vieira do Minho, Terras de Bouro, Póvoa de Lanhoso, Amares e Braga) é de cerca de 2.010Km2. Antes do plano rodoviário nacional, as regiões do Numa área de cerca de 2.010Km2 (Barroso e Barroso e do Vale do Cávado eram ligadas a Braga Vale do Cavado) foram construídos 0 Km de por uma estrada de 1.ª classe – a EN103 – (Viana do Castelo – Bragança). AE ou vias rápidas; e a única estrada da região – a EN103 – foi ainda desclassificada para A área do grande Porto e do Minho/Lima é de “outras estradas”, nunca tendo sofrido, até cerca de 3.243 Km2. agora, qualquer rectificação de vulto. (Continua)

26 PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA… (continuação) Dr. Custódio Montes Estes números indicam bem a desconsideração Juíz Conselheiro nacional duma zona do País que contribui com muita riqueza para ele: são as cinco barragens que nela se localizam, os inúmeros parques eólicos Além disso, permitirá que os nossos jovens que ali foram já instaladas, além da água dos trabalhem em Braga e vivam ao longo dessas nossos rios – Cávado, Rabagão e Homem – a regiões, tendo, assim, além do emprego, uma abastecer, designadamente, as populações indústria ou comércio nesse interior deBraga, Barcelos, Santo Tirso, Esposende, esquecido, permitindo a sua fixação nele, Póvoa de Varzim, Maia Norte; bem como as de numa eficaz luta contra a desertificação; Chaves, Boticas, Vidago (com a captação na potenciará também o turismo dessas regiões, barragem do Alto Cávado). A coesão nacional e a à semelhança do que o IP4 trouxe a Vila Real redução das assimetrias regionais, nesta zona do e a A24 trará a Chaves. Atrairá investimentos país, foram sempre postergadas pelo poder e pólos de desenvolvimento para a nossa central. Ora, a luta contra a desertificação do região. interior, o bem-estar das populações das Regiões O futuro de Barroso e do Vale do Cávado e de Barroso e do Vale do Cávado impõem que se dos nossos filhos passa inquestionavelmente inverta este estado de coisas. por uma boa e rápida ligação a Braga, que, aliás, se impõe pelos mais elementares princípios acima mencionados da solidariedade e coesão nacionais, bem como pelas contrapartidas com que essas regiões contribuem para o todo nacional. A única estrada que liga essa vasta região a Braga Por outro lado, a concretização deste é a EN103 que é uma estrada sinuosa, sem faixa objectivo (melhor ligação a Braga) permitirá de lentos, com o trânsito de muito camiões. descongestionar toda esta faixa litoral do A sua rectificação, com a eliminação de curvas, País, cuja população deixará de se concentrar redução da sua extensão e a criação de uma faixa aí, passando a povoar o interior, cultivando de lentos de Braga a Montalegre e Chaves é essa imensa área agrícola, diminuído a nossa condição essencial para o desenvolvimento da dependência do exterior, bem como o flagelo Região, da luta contra a desertificação, da dos incêndios que cada ano fustigam o País, potenciação do turismo, da ligação à rede de Auto diminuindo também a criminalidade que a Estradas da maior parte dos habitantes da Região. concentração populacional nessa diminuta No Plano rodoviário nacional estava prevista uma área nacional trouxe. ligação do Barracão-Montalegre à A24 mas o então presidente da Câmara de Montalegre (Continua no próximo número) prescindiu dela para ser rectificada a EN 103 mas nem ligação à A24 nem a rectificação da EN 103. Uma boa estrada até Braga, permitir-nos-á ligar à faixa do litoral e aos saberes que se desenvolvem nessa região, acima já identificados.

Sociedade…

28 Sociedade… COVID-19 | BRASIL PIOR QUE NUNCA… COVID 19 – A VACINA UNIVERSAL… O Brasil continua a bater recordes no que diz respeito aos Noticias de surto pandémico provocada pelo coronavírus, chegan a atingir as 2 286 mortes associadas à covid-19 no espaço É um objectivo ambicioso que uma empresa de biotecnologia de de 24 horas. Nunca antes o país tinha ultrapassado a Lyon pretende atingir!... Encontrar uma vacina universal que seja fasquia das duas mil mortes diárias. Desde o início da eficaz contra todas variantes da Covid-19. Tudo começou antes da pandemia já perderam a vida mais de 270 mil pessoas no pandemia, quando os investigadores tentaram encontrar uma vacina Brasil e o número de novas infecções não pára de crescer, universal contra a gripe. Os primeiros ensaios clínicos revelaram-se com cerca de 80 mil novos casos diários, a terceira marca promissores e agora estão a aplicar o método para combater o novo mais alta de sempre. coronavírus. A ENTREGAR EM 2020 A diferença em relação às vacinas actuais é a parte do vírus que O sistema de saúde está à beira do colapso e a campanha visam. As vacinas actuais procuram desencadear uma resposta de de vacinação está comprometida pela falta de vacinas no anticorpos, visando a proteína Spike que está na superfície do vírus, país, mas Jair Bolsonaro garante que o Governo \"não enquanto a vacina em desenvolvimento visa a proteína nucleocápside poupou esforços e não economizou recursos para atender que está no interior do vírus - menos propensa a mutações. todos os estados\". A gestora de projecto da vacina universal diz que estão A situação nos hostitais é também mais grave do que em \"a visar uma parte no interior do vírus, que não é momentos anteriores que, até agora, eram considerados os acessível aos anticorpos, por isso treinam o sistema picos da pandemia no Brasil. Segundo os últimos imunitário para desenvolver outro tipo de resposta: uma balanços, em 17 dos 26 estados brasileiros, e também no imunidade celular. Distrito Federal, o sistema hospitalar está perto do colapso, de acordo com a CNN Brasil. A empresa pretende dar início aos ensaios clínicos para as vacinas Em São Paulo, a maior cidade do país, três dos maiores universais da Covid-19 dentro de um ano. Por enquanto, ainda estão a hospitais privados estão muito próximos de esgotar a ser feitos testes em animais. Em França, o Banco de Investimento capacidade. No hospital Albert Einstein, onde foi Público acaba de conceder à Osivax um financiamento de 15 milhões diagnosticado o primeiro caso de infecção no Brasil, de euros e a empresa recebeu um montante semelhante da parte da bateu-se o recorde de internamentos desde então em Comissão Europeia. Fevereiro. Mas este não é o único laboratório em busca da chamada vacina ... universal: nos Estados Unidos, Bélgica e Canadá, um total de dez laboratórios e universidades já deram início às pesquisas. Numa carta E EM FRANÇA… aberta publicada na revista científica Nature, dois importantes investigadores alertam para o surgimento de novas variantes mais O Ministro francês da Saúde, Olivier Véran, admitiu, mortíferas, em parte devido à \"implacável invasão humana do a transferência de doentes com covid-19 dos hospitais ambiente natural\". da região de Paris para unidades de saúde de outras regiões em França. Por isso pedem aos governos que invistam no desenvolvimento de uma vacina universal que pode ajudar o mundo a estar preparado para A média do país nos últimos dias é de cerca de 27.160 a possibilidade do surgimento de outras formas de coronavírus, mas novos casos de covid-19 e 265 mortes relacionadas também admitem que não será tarefa fácil. com a doença por cada 24 horas. Na região de Île-de- France, os cuidados intensivos estão perto do limite, com mais de mil doentes internados, o número mais elevado desde meados de Novembro do ano passado. De acordo com o Ministro, caso o ritmo de contágios se mantenha, a região chegará aos 1.500 doentes de covid-9, no inicio de Abril.

29 Sociedade… UM ANO DE COVID-19, ESPALHADO PELA De um recorde absoluto de casos diários estabelecido a oito de Janeiro, nas 68 mil infecções registadas, actualmente EUROPA… cifram-se nas 6 mil. A Rússia é o país europeu mais afectado pelo SARS-CoV- Fez um ano, neste último mês de Março, que o Montenegro se tornou 2, com 4,4 milhões de casos confirmados, incluindo 93 mil no último país europeu a ser infectado pelo SARS-CoV-2. A França mortes, seguido do Reino Unido com 4,2 milhões e 126 tinha sido o primeiro, a 24 de Janeiro de 2020. mil mortoe e a França com 4,1 milhões e 91.500 mortos - o Estado-Membro da UE mais infetado. Quando os montenegrinos registaram os primeiros \"doentes covid\" já grande parte do continente europeu impunha restrições para conter a Em melhor situação, está a Santa Sé. O Vaticano soma um galopante pandemia de Covid-19, então com o epicentro em Itália. total de 27 infeções diagnosticadas, com as Ilhas Faroé a Um ano volvido e já com a vacinação em curso por todo o continente, o manterem-se como o país europeu com menos mortes – 1, ainda \"invencível\" coronavírus continua bem activo, letal e até a ligadas à Covid-19, entre 661 casos confirmados no agravar-se em muitos países. território insular. A Presidente da Comissão Europeia diz ser \"preocupante\" ver \"a situação epidemiológica a piorar\". \"Vemos as variantes, sobretudo a Em Portugal, perfez neste último mês de Março, um ano B117 - britânica; vemos a crista da terceira vaga a formar-se nos em que foram detectados os dois primeiros casos de covid- Estados-Membros e sabemos que temos de acelerar o ritmo da 19 em Portugal, e desde então e durante este periodo, vacinação\", alerta Ursula von der Leyen. verificaram-se 804.956 casos positivos dos quais cerca de A Polónia, por exemplo, vai numa média de 25 mil novas infecções por 89,5% já recuperaram, tendo ocorrido 16.351 óbitos. cada 24 horas e impõs de novo restrições a nível nacional. Este número é dramático e supera o número de mortos Em Espanha, onde o combate à epidemia tem sido gerido sobretudo a havidos durante os treze anos de guerra colonial, mas nível regional, houve picos de infecção muito elevados, sobretudo na esconde o drama de muitas famílias e uma realidade região de Madrid, actualmente vista como um oásis para quem quer inesperada: o mundo mudou e nunca mais vai voltar a ser o fugir às restrições nos respetivos países, por exemplo, para os franceses. que era, na política e na economia, na educação e na saúde, Em França, o país europeu há mais tempo \"infectado\" pelo SARS- no desporto e na vida cultural. CoV-2, a epidemia mantém-se agressiva em diversas regiões, por Naturalmente que nem tudo tem corrido bem, até porque exemplo, na região de Paris. tudo está a passar-se num quadro que não se conhecia. No entanto, tem havido a humildade de reconhecer erros e tem O Governo mantém algumas medidas de contenção, como por exemplo havido o generoso contributo de muitos profissionais que um recolher obrigatório entre as 18 horas e as 06 horas da manhã por detrás desta cortina que são as redes sociais, certos seguinte ou o fecho de bares, restaurantes e actividades lúdicas. O canais de televisão e muitos patetas que procuram mostrar Eliseu tenta resistir a agravar as restrições para não comprometer ainda saber de tudo sem nada saberem, tem trabalhado mais a economia, mas a saturação dos hospitais pressiona a imposição dedicadamente nos hospitais e nos serviços de apoio à rede de mais medidas para reduzir as infecções. hospitalar. Por isso, aqui fica a nossa gratidão e aplauso à No Reino Unido, desde Janeiro um concorrente económico da União tenacidade e à dedicação com que a Ministra da Saúde, a Europeia, a vacinação foi precipitada pelo Governo de Boris Johnson Directora Geral da Saúde e as suas equipas têm enfrentado em Dezembro antes mesmo da validação europeia das vacinas, numa não só a pandemia, mas também a censura ao histerismo de medida vista como política no culminar do processo do Brexit. O comentadores, estagiários de jornalismo e das ordens processo de vacinação parece estar adiantado e a epidemia controlada. profissionais, apenas preocupados com a sua promoção pessoal, procurando fins que certamente nada têm a ver com o combate à pandemia. ...

30 Sociedade… Sondagem Euronews: Como lidam as pessoas com a vacinação da covid-19?!... Em todo o mundo, os programas de vacinação contra a covid-19 trazem esperança, mas ainda há uma série de desafios: A dificuldade de distribuição de vacinas e preocupações com novas variantes do vírus. Mas de que forma está a população a lidar com todas estas mudanças?!... Uma sondagem da Euronews em conjunto com a Redfield e a Wilton Strategies, feita na Alemanha, França, Itália e Reino Unido, responde a estas dúvidas. As perguntas foram feitas a 1500 pessoas em cada país, num total de seis mil os envolvidos. Pergunta: Se a vacina estiver disponível sem ou a baixo custo, opta por ser vacinado?!... A maioria dos inquiridos na Alemanha diz que quer ser vacinado mesmo que a vacina tenha algum custo financeiro. O mesmo dizem os italianos e os britânicos, mas não os franceses. 42% das pessoas inquiridas em França admite não querer ser vacinado. Ou seja, 4 em cada 10 pessoas não quer administrar o medicamento contra a covid-19. Na União Europeia estão autorizadas três vacinas, a BioNTech-Pfizer, a Moderna e a AstraZeneca. Mas será que há preferência por cada um destes medicamentos?!... É relevante qual das vacinas é administrada?!... Pergunta: Está satisfeito com os planos nacionais de vacinação até agora?!... Alemanha, França e Itália dizem-se insatisfeitos com o plano traçado pelos próprios governos, ao contrário do Reino Unido, 85% dos questionados estão satisfeitos com processo de vacinação. A grande esperança de muitos é que a vacinação leve à reabertura de, por exmplo, viagens internacionais. A discussão sobre passaportes para vacinas está em cima da mesa mais do que nunca. Uma espécie de \"visa\" para quem já foi vacinado.

31 Sociedade Parque Nacional da Peneda-Gerês PORTUGAL ELEITO O MELHOR DESTINO Considerado pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera, é TURISTICO EUROPEU PELO SEXTO ANO uma das maiores atrações naturais de Portugal, pela rara e CONSECUTIVO… impressionante beleza paisagística, pelo valor ecológico e etnográfico e pela variedade de fauna e flora. O Parque Nacional Não há duas sem três, nem cinco sem seis!... E depois de Braga ter sido da Peneda-Gerês situa-se no extremo nordeste do Minho, eleita o melhor destino europeu do ano, é a vez de Portugal se estendendo-se até ao concelho de Montalegre, sendo atravessado destacar como melhor país para visitar em 2021. Portugal foi eleito no por dois grandes rios, o Lima e o Cávado, numa área total de cerca passado dia 23 de Março, pelo sexto ano consecutivo, o melhor destino de 69.596 hectares, fazendo ainda fronteira com a Galiza. turístico europeu pelos World Travel Awards, os óscares do turismo. Na corrida ao prémio de melhor destino turístico, Portugal derrotou países como Áustria, Inglaterra, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça e Turquia. Num ano em que as viagens internacionais ainda estão muito limitadas, explorar Portugal é assim considerada a melhor opção. Felizmente, o país tem muito cantos e recantos encantadores à espera de serem descobertos. Se prefere passar mais tempo ao ar livre e desfrutar da natureza, as opções são muitas: parques naturais, montanhas, vales e rios, praias paradisíacas e muito mais para descobrir de norte a sul do país. No Parque encontram-se vários e importantes centros de peregrinação e inclui trechos de estradas romanas que ligavam Braga a Astorga ou a Santiago. Esta área protegida forma ainda conjunto com o parque natural Baixa Limia – Serra do Xurés, constituindo, desde 1997, o Parque Transfronteiriço Gerês-Xurés e a Reserva da Biosfera com o mesmo nome. Ali foi criado também o primeiro espaço museológico instalado na antiga “corte do boi” em Pitões das Júnias, o qual oferece aos visitantes uma viagem no tempo, onde podem ser recordados saberes e modos de vida ao longo dos tempo - uma verdadeira casa barrosã, confortável e aconchegante. A partir daqui pode então dar- se inicio a uma rota cultural dentro da própria aldeia e circundantes, que passa pelo forno, pelos moinhos, canastros, relógios de sol e uma grande variedade de património etnográfico imóvel. Na capital, o Padrão dos Descobrimentos, é um dos ex.libris da cidade digno de uma visita!... Foi inventado para a Exposição do Mundo Português em 1940. O mote era “o sentido de partida contendo a gesta portuguesa rasgando o mar”. Nessa altura foi edificada uma construção escultórica efémera, moldada em gesso e estopa, com armação de madeira e ferro e uma leve estrutura em ferro e cimento. Os autores foram o arquiteto Cottinelli Telmo e o escultor Leopoldo de Almeida. 20 anos depois, em 1960, para celebrar os 500 anos da morte do Infante D.Henrique, o maior impulsionador dos descobrimentos, o Padrão foi reconstruído duma forma definitiva – em betão, pedra e calcário. E já nos anos 80, os seus interiores foram remodelados para se inaugurar enquanto Centro Cultural, com salas de exposições, autidório e miradouro. Este símbolo de Lisboa e da partida dos portugueses para o Mundo Este espaço serve também de ponto de partida para percursos à impõem-se a quem chega à cidade de barco – firme e hirto, honra Cascata, ao Mosteiro de Santa Maria das Júnias e à Capela de São João da Fraga. Possui também uma pequena loja de produtos da o Infante D.Henrique, mas também perpetua 32 figuras cimeiras da terra e artesanato local. cultura da época e do universo das descobertas – navegadores, cartógrafos, guerreiros, colonizadores, evangelizadores, cronistas e artistas

32 Sociedade A comida processada invadiu o mercado. A toma de medicamentos cada vez aumenta mais e sucessivamente, ficamos mais doentes. Os medicamentos acabam com os sintomas, não tratam a causa. As toxinas estão a ser colocadas em tudo o que João Damião comemos. A comida biológica tem cada vez menos PORQUE FICAMOS DOENTES?... adeptos. Nós sabemos que frutos e vegetais têm sido geneticamente modificados para que as culturas se A saúde está ligada ao bem estar físico e mental. As pessoas estão a tornem mais resistentes às doenças, pois tal como a ficar cada vez mais doentes. Porquê? É por causa dos germes? Das indústria farmacêutica, o dinheiro é que conta. bactérias? Dos vírus? Das causas genéticas? Pensemos sobre isso… As pessoas com cancro têm um PH muito ácido. Não se apanha o cancro, a diabetes, a obesidade, o refluxo gastro Alcalizar o organismo é fundamental para afastar as esofágico, as dores de cabeça, a artrite etc., mas sim, é tudo patologias. Os alimentos alcalinos têm normalmente desenvolvido pelo nosso organismo! Os vírus e as bactérias, poucos açúcares, como: feijão branco, feijão de soja, transmitem-se, claro. Duas pessoas, expostas ao vírus da gripe, ao salsa, coentros, alho, abacate, laranja, limão, cebola, mesmo tempo, uma pode ficar doente e até sucumbir e a outra não, cenoura, couve, nabo e pepino. contínua saudável. A questão é que o corpo nem sempre faz aquilo Também se deve beber águas com o ph acima de 6- para que foi criado, afastar e lidar com os ataques dos vírus: depende 7.Evitar comida processada. Jacklane disse um dia que do estado do sistema imunitário. É aqui que está o segredo, ou seja, se “se foi o homem que fez, não se deve comer. Eu também está debilitado ou forte. penso que o que ingerimos deve estar conforme aos Quando o seu organismo não reage, há pelo menos quatro motivos:1º- desígnios da natureza. Os aditivos postos nos alimentos estamos com sobrecarga de toxinas, 2º-deficiências nutricionais -3º- são químicos não naturais, tóxicos e processados e, por estar exposto e afectado de forma negativa por um caos isso, o valor nutricional é eliminado. electromagnético, 4º- estar com stress mental e físico. O ideal seria comer alimentos completamente naturais, O estilo de vida ocidental tem muito a ver com o aumento das frutos e vegetais de produção biológica e assim vamos recuperar um “sentir-nos melhor”. doenças. José Dias Baptista

AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS… CONSEQUÊNCIAS Se nada mudar, as alterações climáticas irão gerar uma crise pior que a pandemia…

34 Por: Catarina Pereira 1.Introdução 2.Justificação As alterações climáticas são o maior desafio que a O atual ritmo acelerado das alterações climáticas tornou-se humanidade enfrenta em toda a sua história. O um motivo de preocupação que torna urgente agir o quanto aumento das temperaturas é conhecido há décadas e antes. A situação chegou a um ponto que a comunidade espera-se que continue a aumentar num futuro recente. científica já alertou que as alte- rações climáticas são uma A escassez de água, desertificação e desaparecimento realidade a que todos nós estamos sujeitos. de lagos, eventos climáticos extremos mais frequentes, aumento do nível das águas do mar e um aumento no A quantidade atual de gases de efeito de estufa (GEE) na número de inundações são algumas das consequências do atmosfera tem excedido o nível que o planeta é ca- paz de aquecimento global que já se começam a notar. absorver. No entanto, essa mudança pode ser interrompida e a sua intensidade limitada para que os efeitos não sejam tão prejudiciais. Assim, é de grande importância que se tomem decisões e se adotem políticas para a adaptação às mudanças vindouras e que se tente retardar o processo e reduzir o seu impacto. Por outro lado, as áreas urbanas desempenham um papel fundamental, uma vez que são responsáveis pela maior quantidade de emissões de CO2, sendo o nível atual de GEE na atmosfera definitivamente superior ao dos tempos pré-industriais. O seu impacto em todo o planeta torna fundamental que todos os países, sem exceção, tomem consciência das mudanças vindouras para que se possam adaptar a elas. Além disso, é essencial que todos os indivíduos desempenhem um papel ativo frente às alterações climáticas, tomando medidas que ajudem a retardar o processo e a mitigar os seus efeitos. Nesse sentido, aumentar a consciencialização na sociedade, não apenas nos governos, é fundamental para produzir uma mudança no estilo de vida atual que é tão prejudicial para o nosso planeta.

35 Por: Catarina Pereira O projeto LIFE ADAPTATE, incluído no Programa LIFE da UE, foi iniciado com o obje- tivo de contribuir para a adaptação das cidades aos impactos das alterações climáticas. Este projeto contribui para o desenvolvimento de políticas locais de adaptação às alterações climáticas assim como para o cumprimento das metas da União Europeia para 2030, que visam a redução das emissões de gases de efeito de estufa, melhorar a eficiência energética e promover o aumento do consumo através de energias renováveis. EVIDÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Desde o século passado, notaram-se certas mudanças na Terra que mostraram uma mudança nos padrões climáticos do planeta. Graças à ciência, ficou provado que estamos realmente no meio das mudanças climáticas. De faco, foi demonstrado que essa mudança foi acentuadamente aumentada devido ao ser humano. Como resultado, diferentes iniciativas internacionais nasceram para encontrar soluções para desacelerar a mudança climática. Através da cooperação entre países, são estabelecidas propostas para mitigar o risco - através da redução das emissões de GEE - e adaptar as cidades a essas novas condições climáticas. (Continua no próximo número)

36 • Conselheira portuguesa em França alerta Marie Oliveira |Paris para situação \"muito complicada\" de emigrantes em Lourdes… \"Há muita gente que está cá há menos de cinco anos e não tem direito a mais de um ano de subsídio de desemprego. \"É uma situação muito complicada e só não há fome - na Muitos acabaram de trabalhar em Novembro de 2019, comunidade portuguesa - porque há uma grande solidariedade\", deviam ter recomeçado a trabalhar em Março, mas com a afirmou Carolina Amado em declarações à Agência Lusa. Sobre pandemia não puderam e esgotaram todos os direitos\", os 150 portugueses que trabalham na cidade de Lourdes, em indicou. França, a conselheira pediu uma reunião com as autoridades locais e deslocou-se até lá para falar diretamente com os atores no terreno. Tal como Fátima, em Portugal, Lourdes é uma cidade A conselheira conseguiu a cooperação das autoridades economicamente dependente do turismo religioso e funciona de locais para tentar encontrar um novo trabalho aos forma sazonal. Sendo assim, muitos hotéis só estão abertos entre portugueses desempregados, assim como aulas de francês Março e Novembro, encerrando no resto do tempo, com a maior de forma a capacitar estes trabalhadores para outras áreas. parte dos trabalhadores da hotelaria a exercerem funções em Também haverá uma permanência social na associação de regime de contratos com termo. trabalhadores sazonais onde muitos portugueses vão Quando esses contratos terminam, os descontos acumulados nos buscar semanalmente comida. meses precedentes chegam para alguns meses de subsídio de desemprego até à próxima época alta, mas desde o início da No entanto, os esforços das autoridades francesas não pandemia de covid-19 em França, muitos hotéis não reabriram e chegam para as situaçoes mais criticas. muitos portugueses não conseguiram voltar a trabalhar, \"Tendo em conta a urgência social, há pessoas que encontrando-se numa situação precária. eventualmente não têm direito a nada e ou as ajudamos a percorrer o caminho para que fiquem no estrangeiro e ... encontrem outro trabalho ou temos de as repatriar\", referiu Carolina Amado. ... • Cada vez menos portugueses emigram para França Segundo dados do Eurostat, foram 7.643 os portugueses que em 2019 entraram em França, o que representa um decréscimo face ao ano anterior. O organismo europeu contabilizou um total de 385.591 entradas de estrangeiros em França, tendo os portugueses representado 2% desse total. Depois de um máximo de 19.658 entradas em território francês em 2012, o número de emigrantes portugueses para França tem vindo a diminuir: -4% em 2013, -22% em 2014 e menos -21% em 2015. Em cinco anos o peso das entradas de portugueses em França passou de 5.6% em 2013 para 2% em 2019.

37 • DEZASSEIS REGIÕES FRANCESAS, INCLUINDO PARIS, PASSAM A CONFINAMENTO PELO MENOS UM MÊS O confinamento está de regresso a França em 16 departamentos e foram muitas as pessoas que tentaram escapar para regiões não abrangidas antes do seu inicio, tendo-se registado um tráfego anormal para sair das grandes cidades, pelo Marie Oliveira Paris menos de Paris. A procura de bilhetes de comboio também cresceu. 21 milhões de um total de 70 milhões de cidadãos vão enfrentar as restrições durante pelo menos um mês, face ao aumento de casos de Covid-19 e os hospitais estão lotados e obrigados a transferir doentes para outros locais. A média nacional diária de infecções em França é de cerca 25 mil pessoas. Outra arma contra a Covid-19 com que o Governo conta, é a vacinação. Quase seis milhões de pessoas já levaram pelo menos uma dose e o processo regressou à normalidade depois da suspensão da inoculação com a Astrazeneca. • Pandemia ... pode adiar regresso de emigrantes… • Testes rápidos à covid-19 já à venda em França… A pandemia e as suas consequências na economia, poderão levar a um adiamento das A França já avançou com a venda de testes intenções de retorno dos emigrantes portugueses mais qualificados, com exceção daqueles rápidos em farmácias e supermercados, ao que estão no Reino Unido, face ao Brexit e \"sobretudo à falta de um acordo pós-Brexit\", mesmo tempo em algumas regiões do país, com disse à agência Lusa o investigador do CES Pedro Góis, Coordenador de um estudo sobre Paris no topo da tabela, que enfrenta um novo \"expectativas de regressos de emigrantes portugueses\", que juntou a Universidade de aumento da curva epidemiológica. Coimbra e o Instituto Politécnico de Leiria.\"A economia ajudaria muito, mas não estamos à espera, até pela estrutura do Plano de Resiliência, de um forte investimento industrial que crie novas áreas que permitam atrair quadros portugueses, cientistas e trabalhadores altamente qualificados\", constatou. O estudo, que contou com um inquérito entre Maio e Novembro de 2020, notou que \"a Jerome Salomon, ao canal de televisão BFM maioria dos inquiridos afirmaram que a sua intenção de regresso não foi afetada pela acrescentou que “a situação é complexa, e está pandemia em curso\", mas os investigadores salientaram que o inquérito foi realizado \"num piorar de dia para dia.” A França tem neste momento em que os efeitos da crise sanitária ainda não se encontravam perfeitamente visíveis e em que se tendia a perspetivar o regresso, a curto prazo, a uma situação de momento 6.300 pessoas nos cuidados normalidade\".O estudo, com 2.349 respostas válidas, centrou-se em 1.126 inquiridos, que são residentes no Reino Unido, França, Suíça e Luxemburgo. intensivos, um número que as autoridades de Segundo as conclusões do projeto, 44,6% dos inquiridos têm a expectativa de regresso a saúde consideram “preocupante”. Questionado Portugal, contra 27,7% indecisos e 24,7% com intenções de permanecer no país onde estão. sob a demora desta medida, face a outros países como Portugal, Suíça, Eslovénia, Áustria ou Reino Unido, Salomon fundamentou o tempo demorado na necessidade de garantir que estes instrumentos são seguros: “não podemos autorizar testes que deem falsos negativos ou falsos positivos. Devemos, portanto, ter a certeza de que esses testes são confiáveis “. Cada teste não custará mais do que 10 euros por unidade e poderá ter comparticipação social, como informa o La Voix du Nord.



39 JOÃO BARROSO DA FONTE Dr. João Barroso da Fonte Historiador e Jornalista OS FUNERAIS EM BARROSO HÁ 150 ANOS E A GERINGONÇA EUROPEIA… Como se adivinha esta cerimónia profana degenerou em excessos tais que a Igreja julgou conveniente proibi-la, como vergonhosos restos da A pandemia veio demonstrar a todos nós que não passamos de superstição pagã. As determinações da Igreja e a civilização esqueletos com vida efémera. Trago a este jornal uma realidade que, em condenaram estas indecências. E hoje, em poucas partes do país se 20 de Agosto de 1870 se passava nas terras de Barroso. pratica o que era prática corrente em Terras de Barroso. No Jornal do Porto do dia 20 de Agosto de 1870, foi publicado um A explicação deste cronista, cresce por cada nova faceta do tempo que «comunicado» sobre os «Funerais em Barroso». Foi uma explicação costuma durar as 24 horas do funeral. Ao segundo dia aumenta o jornalística, escrita por um tal Felisberto, não sabendo se era jornalista, pessoal que vem de todo o lado. Se a família do morto tem pouco para se era algum viúvo a quem aconteceu essa desgraça, de ficar sem gastar, terá menos gente a rezar pelo defunto. Mas qualquer família mulher e sem o pouco que na casa havia. remediada ficava depenada. Não devo publicar as quatro colunas dessa curiosa notícia, pouco À hora em que (re)escrevo esta «estória» de há 150 anos atrás, vejo e abonatória para os Barrosões. Toda ela é eivada de termos, nada ouço, a crónica dos Estados da União Europeia, reunidos nesta cimeira honrosos para os avoengos. Sou quase tentado a pensar que seja um dos 27. Dizem os repórteres que está a ser a Cimeira mais complicada padre. de sempre. E o que dizem,uns e outros conjuga-se com uma verdade: Tal como sucedia, em Barroso, há 150 anos, com os comensais dos Mas nós, Barrosões, estamos habituados a sofrer, a ver sofrer e, em enterros, também nós, portuguesinhos passámos da fome à fartura, nada, a ser ouvidos. E, se hoje, após 45 anos do advento da democracia, com a entrada na União Europeia. num país democrático, continuamos a ser esquecidos do poder político, Alinhei nessa euforia nos primeiros tempos, não como técnico, mas é bom conhecer a escravidão por que passaram os nossos maiores. como diretor do Paço dos Duques de Bragança, onde decorreram as Não reproduzo todo o artigo que o «velho Felisberto» publicou primeiras jornadas preparatórias da nossa adesão (1985) entrada (1986) no Jornal do Porto, vai fazer 150 anos no próximo dia 20 de Agosto. O de Portugal no grupo doze. Recebi Jacques Delors, quando aqui que se segue em itálico é texto dessas quatro colunas daquele matutino decorreu o conselho de Ministros da União Europeia. (1992). Anos Portuense. depois chegou a Moeda única. A partir dessa fase qualquer português «...Sei de antemão que hei-de desagradar a muita gente que não pode que estivesse atento dava conta de que houve «marosca» com os desprender-se fundos comunitários. Muito desses milhões chegavam a Lisboa e dali Quando falo em abuso nos funerais, não se entenda que nos referimos para cima raramente se lhes conhecia o rasto. Todos nós conhecemos ao clero ou à maneira como se fazem os funerais na igreja. Pelo como eram distribuídos esses «fundos». Basta rever casos & casos do contrário, confessamos que o clero se apresenta nas funções com programada RTP sexta as 9. A jornalista Sandra Felgueiras anualmente decência e regularidade; e se alguma excepção há esta confirma a investiga dezenas desses casos bicudos. Uma boa parte deles regra geral... ficam suspensos até que prescrevam. Não deixarei de censurar o clero de Barroso pelos motivos que deixo É por essas e por outras que a última cimeira Europeia já deixou tudo expostos. em sobressalto. À hora em que ultimo esta sátira, os países ricos já O que hoje censuro é o que me repugna e o que nos envergonha. E o desancam nos países pobres. Dos 28, já saiu o Reino Unido. Mas os 27 que é contrário à pureza da nossa religião, aos bons costumes e à que ainda andam por lá andam, aos beijos, entre máscaras e civilização do século dezanove: são essas comezainas em casa do cotoveladas, desta vez deixaram cair o verniz. E os cronistas que por lá defunto! andam, tão desorientados como nós por cá, vão deparar-se, dentro de Tenham paciência os meus patrícios; creio que lhes virão as cores ao pouco tempo, com o desmoronamento da União Europeia. rosto, quando lerem estas linhas; mas creiam que também me acontece Esta narrativa de Julho, lida daqui a 150 anos, deixará atónito qualquer o mesmo quando escrevo. leitor como eu estou, ao pretender falar dos «funerais em Barroso, em Não sei, nem posso, nem quero pintar ao vivo os abusos que se 20 de Agosto de 1870» e a terminar a mesma narrativa profetizando o praticam nas papazanas de que acima falei. São uns verdadeiros desmoronamento dos 27 países da União Europeia. As causas são ágapes, dos primitivos séculos do cristianismo. Ágapes eram certos metafóricas mas chamam a atenção da fome e da vontade de comer. banquetes fúnebres feitos em casa do defunto para o qual eram Em 1870 a fome era uma fatalidade humanitária. Em 2020 é a convidados os parentes, amigos e os pobres para todos o comensais corrupção a comandar o bom senso. Barroso da Fonte orarem por ele, depois de bem comido e bebidos.

40 “ESTÓRIAS DESCONHECIDAS” O SURTO DE CÓLERA QUE A REVOLUÇÃO QUIS ESCONDER Desde o século XIX até aos anos 70 do século XX, as doenças de origem bacteriana, como a febre tifoide, a cólera e a tuberculose, ainda inspiravam terror e provocavam mortandades. Apesar da ciência ter começado gradualmente a compreender melhor as suas causas, os aglomerados urbanos continuavam a ser os principais detonadores de infecções, em especial as intestinais e pulmonares. Os bairros populares eram pouco arejados, a higiene quase inexistente e a rede de esgotos deficiente. As divisões da maioria das casas eram pequenas, bolorentas e húmidas, situação frequentemente agravada por telhas partidas e pela água que entrava pelas casas. Homens, mulheres e crianças não tinham como se proteger da chuva, que se Quem no executivo de Palma Carlos defendia aquela entranhava nas suas roupas permeáveis, muitos andavam descalços, bebiam posição argumentava com o propósito de “não causar águas estagnadas e comiam alimentos apodrecidos. Neste cenário, não é alarme público” e de prevenir danos económicos no difícil perceber o porquê das constantes infeções pulmonares, febres e turismo. diarreias. Mas a liberdade de expressão e de informação recém- conquistada, depois de quase cinco décadas de autocracia e de censura, desfez num ápice os planos governamentais de guardar segredo. Especialistas em Saúde Pública, conhecedores da gravidade do surto e que previam já a epidemia que se seguiria, protestaram nos jornais contra a anacrónica política do secretismo. Em Lisboa, a situação era agravada pelas lamas e esgotos que se aglomeravam junto ao Tejo, fazendo da beira-rio o local ideal para medrarem mosquitos portadores de doenças. Uma dessas situações ocorreu precisamente no ano de 1974!... Ao mesmo Ainda a polémica decorria e no terreno já estava, qual formiga incansável, o então Diretor-Geral da Saúde, tempo que se festejava a queda da ditadura e a liberdade, o então Director- Arnaldo Sampaio, pai de Jorge Sampaio, que viria a ser Presidente da República de 1996 a 2006, e do psiquiatra Geral da Saúde, Arnaldo Sampaio, pai de Jorge Sampaio, combatia um grave Daniel Sampaio. Refira-se que aquele eminente professor de Saúde Pública foi um dos raros Diretores-Gerais a surto da doença que surgiu nos bairros de lata da Grande Lisboa e que tinha passar ao lado do tsunami de saneamentos após a “Revolução dos Cravos”. já causado até então 41 mortos. Sabe-se hoje, que o I Governo Provisório, chefiado pelo advogado Palma Carlos – o qual tomou posse menos de um mês após o golpe militar de 25 de Abril de 1974, que derrubou a ditadura do Estado Novo –, teve a tentação de abafar a divulgação de um grave surto de cólera que surgira nos bairros pobres que à época circundavam Lisboa.

41 “ESTÓRIAS DESCONHECIDAS” O SURTO DE CÓLERA QUE A REVOLUÇÃO QUIS ESCONDER Arnaldo Sampaio era o homem certo no lugar certo. Em 1971, quando uma epidemia De Maio a Setembro de 1974, de cólera atingiu o País, o então ministro da Saúde, Baltazar Rebelo de Sousa (pai do registaram-se mais de 1.600 atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa), nomeou-o comissário casos de cólera, no bairros nacional da campanha contra a doença. No ano seguinte, ascendeu a diretor-geral da pobres da Grande Lisboa… Saúde, cargo que ocupou até 1978, e que deixou de exercer por ter atingido o limite de idade (70 anos). Tudo isto para dizer que, no meio da euforia da revolução, foi uma “Dava conselhos de higiene, para cortar a sorte haver um Arnaldo Sampaio (também considerado o “pai” da vacinação em massa transmissão da doença, esclarecendo que era um no nosso país) para coordenar o combate à epidemia de cólera de 1974, detetada em contágio com início nas fezes, as quais tinham maio e dominada em setembro. O diretor-geral, com a experiência de 1971, já tinha de ser eliminadas em instalações adequadas, não preparado médicos e enfermeiros nos hospitais, e montado uma rede de delegados de podiam depois pelas escorrências da gravidade saúde, semelhante à que existe hoje. ir para junto de poços, cuja água as pessoas À imagem de Sherlock Holmes, Arnaldo Sampaio e a sua equipa investigaram com bebiam”, lembra. “Tudo isto era explicado minúcia e descobriram em Chelas, nas hortas cultivadas pela população mais pobre de minuciosamente, por vezes até em grupos que Lisboa, o epicentro da epidemia. Os legumes eram regados com água não potável, reuníamos para esclarecimentos, e os técnicos contaminada com a bactéria da cólera. de saúde ambiental ajudavam os médicos, Dava-se, de seguida, aquilo que em linguagem epidemiológica se chama “transmissão colocando lixívia nos poços para desinfetar a fecal-oral”: a bactéria é eliminada pelas fezes e acaba depois por ser sobretudo água”, diz Francisco George ingerida através da água e dos alimentos que estejam contaminados com o bacilo. A cólera, além de ser uma infeção do intestino delgado, é uma doença da pobreza – e, A lixívia era o remédio amplamente distribuído por isso, atingiu os numerosos bairros de lata que à época rodeavam a capital, às populações atingidas pela epidemia. E era desprovidos de água potável, redes de esgotos e recolha de lixo. também um dos itens do “grande esforço de A estirpe era virulenta e começaram a aparecer nos hospitais pacientes com educação sanitária” que o psiquiatra Daniel manifestações agudas da doença, dos vómitos à febre, e principalmente com diarreias Sampaio se lembra de o seu pai fazer, com aquosas, as quais, se não forem rapidamente tratadas, conduzem a um estado de sucessivas aparições na RTP, a única estação de desidratação fatal. TV então existente. Em frente das câmaras, Arnaldo Sampaio (que morreu em 1984, aos 76 BENDITA LIXÍVIA anos) não deixava nada por dizer. Além de Jovem médico então em início de carreira, Francisco George apanhou em cheio com a explicar ao pormenor tudo sobre a cólera, dava epidemia, no hospital Curry Cabral, em Lisboa. “A pressão de doentes, oriundos de conselhos muito específicos: ferver sempre a bairros pobres e de zonas rurais, era permanente”, recorda o discípulo e aluno de água; pôr as saladas cruas em banho-maria, com Arnaldo Sampaio que, muito mais tarde, de 2005 a 2017, o sucedeu como diretor-geral duas gotas de lixívia, durante 30 minutos; da Saúde. cozinhar bem os alimentos; na água para beber, colocar duas gotas daquele desinfetante por cada Francisco George prescrevia a reidratação e, consoante os casos, também um litro, para evitar a transmissão hídrica, e lavar as antibiótico. Mas é claro que, bem ensinado por Arnaldo Sampaio, não se ficava pelo mãos depois de evacuar. receituário. Francisco George considera ainda hoje, que “o serviço público de saúde conseguiu responder à epidemia, embora com a dificuldade de se tratar de um contágio ligado à pobreza e à miséria, e à falta de infraestruturas municipais”. Dos mais de 1 600 casos registados resultaram 41 mortes. E, logo no ano seguinte, 1975, Arnaldo Sampaio e a sua equipa enfrentaram outra epidemia de cólera – esta bem menos grave e rapidamente controlada. As aprendizagens anteriores deram maior eficácia à intervenção da Direção-Geral da Saúde, que tinha já todas as medidas profiláticas instaladas no terreno.

42 MARÇO 1961| OS 60 ANOS DA DATA DO SEU INICIO… O dia 4 de Fevereiro de 1961 é frequentemente indicado como a maior mobilização militar da História contemporânea do país e a data do início em Angola da guerra colonial, dia ainda hoje uma guerra de 13 anos, que se espalharia às restantes colónias comemorado como a data de início da luta pela libertação. portuguesas e acabaria, ela própria com o regime, já sem Salazar. Porém o que aconteceu em Luanda a 4 de Fevereiro de 1961 não Uma ida, essencialmente para protecção dos colonos, é actualmente visto como o dito início da guerra por grande maioritariamente fugidos da pobreza em Portugal e alheados da parte dos nossos historiadores e especialistas. O que marcou essa política internacional e dos ventos de mudança em África, um data, foi o facto de um grupo de cerca de 200 angolanos, sem território que mal conheciam, mas onde beneficiavam da grande grau de organização ter atacado uma cadeia em Luanda. superioridade que a discriminação racial lhes concedia, ainda que Um ataque de que o próprio MPLA se demarcou, ainda que mais temerosos devido ao número muito superior de negros que os tarde dela se tivesse apropriado e feito da sua data um símbolo rodeavam. Na reação aos ataques de 15 de março dividiram-se entre para o país. a fuga e o espírito de vingança, alimentado pelas autoridades que Outro dado, é que a resposta a este acontecimento não envolveu numa primeira fase, não tinham meios militares para cobrir a região. o exército colonial, que na altura não tinha praticamente expressão nas então Províncias Ultramarinas e ainda que violenta, foi apenas obra de resposta por parte da Polícia. Salazar não lhe deu sequer grande importância. Diferente foi o ataque a dezenas de fazendas no norte de Angola, na manhã de 15 de Março, fez agora precisamente 60 anos, dirigido pela UPNA-União dos Povos do Norte de Angola, depois UPA- União do Povo de Angola, e mais tarde FNLA- Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, um nacionalista sempre ausente, a dezenas de fazendas no norte de Angola, que causou milhares de mortos, entre europeus e afri- canos - sete mil africanos e mil portugueses - diz-se, num Por isso, é hoje consensual que o \"15 de Março\", coincidindo com a massacre de extrema violência. Então sim, Salazar reagiu com a discussão sobre Angola na ONU, não foi totalmente inesperado!... célebre \"Para Angola, rapidamente e em força\", dando início à Salazar teve avisos suficientes para tomar medidas preventivas que não tomou, fosse por duvidar da informação ou por querer tirar vantagem da comoção nacional que um episódio de violência anticolonial desencadearia. Mas ninguém previu a dimensão e as características dos ataques, nem mesmo a UPA, que só dias depois assumiu a paternidade da acção.Mas como a História das guerras é sempre feita pelos vencedores, a de Angola não foge à regra!... E depois prolongada por mais de outro tanto tempo em guerra civil, não é excepção. E pela mão do MPLA, vencedor da guerra civil, Angola assinala o 4 de Fevereiro, que poderá para sempre ficar a assinalar a data do início da luta armada pela independência, mesmo que na realidade tenha sido o dia 15 de Março de 1961 a ditar o início da guerra colonial. Foi há 60 anos!...

O CONCELHO EM NOTICIAS

44 O CONCELHO EM NOTICIAS OS EFEITOS DE UM ANO DE PANDEMIA NO CONCELHO DE MONTALEGRE A ANÁLISE DO PRESIDENTE DO MUNICIPIO, ORLANDO ALVES… Para uma análise aos efeitos da Pandemia neste primeiro ano de surto no concelho de Montalegre, a A Barrosana quis saber a opinião do Presidente do Municipio, Orlando Alves sobre o assunto, bem como as consequências e implicações que o Covid provocou em todo o aglomerado populacional do território e as saídas previstas para um regresso à normalidade, se de facto de normalidade pudermos vir a falar. Segundo o Presidente, as consequências de um ano de Covid-19 Para ajudar a minimizar os impactos negativos decorrentes da são “devastadoras”!... Orlando Alves começou por destacar que o pandemia, a autarquia lançou ao longo do último ano uma série de sector mais afectado foi efectivamente o da restauração. medidas de apoio às famílias e às empresas, como, por exemplo: a Restauração, que “vive acima de tudo, dos eventos que a Câmara isenção do pagamento das tarifas da água a todas as famílias e e a Associação Empresarial do Planalto Barrosão promovem e empresas do concelho; o “Vale Família” que serve para aquisição de não puderam ser levados a cabo. Um sector que vivendo com os bens/géneros em estabelecimentos comerciais do concelho pelo fluxos turísticos que apreciam uma terra com forte identidade e período de três meses, e cujos valores monetários atribuídos são 50 que vêm principalmente da Galiza, de Braga, da Área euros por cada adulto/adolescente com idade superior a 13 anos e 30 Metropolitana do Porto e até de Lisboa, designadamente nos fins euros por cada criança até aos 12 anos, inclusive; a entrega de mais de de semana e se viu privada deles, por força dos confinamentos 180 computadores com acesso à internet a alunos de famílias mais impostos e fecho das fronteiras com os nossos vizinhos carenciadas, para que estes possam assistir às aulas online; e a espanhóis. atribuição de 200 mil euros à Associação Empresarial do Planalto Apesar disso, o autarca montalegrense não deixa também de Barrosão para apoiar a restauração, a cafetaria, os cabeleireiros, os reconhecer, que os efeitos negativos da pandemia se estenderam barbeiros, esteticistas e o sector apícola, do vestuário e do calçado. a outras áreas da economia local, tendo em conta que não houve sectores – embora uns mais que outros – que não deixassem de Com todas as medidas implementadas, o autarca acredita que o seu ser afectados. “Isto foi um desastre de consequências ainda Executivo Municipal tem estado “à altura daquilo que se exige a uma difíceis de apurar, mas que vai perdurar ainda durante muito Câmara que tem de estar ao serviço dos seus, e que felizmente, tem as tempo”, assegurou. contas equilibradas para poder também fazê-lo. Estaremos sempre na linha da frente para apoiar as famílias e as empresas. O apoio a estas No que diz respeito às questões sociais e ainda de acordo com nunca parou. Mesmo aquelas que estão mais directamente envolvidas Orlando Alves, a pandemia veio agravá-las: “Se já éramos uma no sector da construção, terraplanagens, edificação, de obras públicas, região pobre, agora ficamos ainda mais pobres. Se já tínhamos porque temos efectivamente uma carteira de investimentos grande que desequilíbrios sociais graves, agora são gravíssimos. Perdeu-se permite que as empresas da região não precisem de emigrar, porque emprego, perderam-se oportunidades de negócio, a autoestima hoje também nem emigração há para lado nenhum. Temos tentado das pessoas diminuiu. E o maior prejuízo decorre da interrupção estar à altura daquilo que nos é exigido”. das actividades lectivas. Estamos a comprometer o futuro de muita gente. Estamos a comprometer o futuro das crianças e dos O concelho de Montalegre, registou neste primeiro ano de pandemia jovens que já tinham sobre os ombros uma dívida enormíssima um total de 794 casos confirmados de infecção por Covid-19, dos para pagar, à qual agora se vêm juntar as consequências desta quais se mantêm três activos, 777 recuperados e 14 vítimas mortais. pandemia”.

O CONCELHO 45 EM NOTICIAS Sendim, mantém especificidade de FRONTEIRAS COM A GALIZA: passagem com horários específicos Restrições prolongadas até à Páscoa O Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, avançou que as actuais restrições nas fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha deverão ser prolongadas até à Páscoa por razões de luta contra o Covid-19. O responsável governamental reconheceu que \"há uma evolução positiva\" dos indicadores de luta contra a pandemia, tanto em Espanha como em Portugal, \"que hoje tem dos níveis mais baixos na Europa\". \"Espero que esta evolução se consolide permitindo depois reabrir, aquilo que todos desejamos, uma circulação com precaução, mas uma circulação plena entre Portugal e Espanha\", afirmou Eduardo Cabrita. Oito, são os pontos de passagem permanentes entre os dois países - Valença, Vila Verde da Raia, Quintanilha, Vilar Formoso, Marvão, Caia, Vila Verde e Castro Marim, e outros seis, entre os quais Sendim, de passagem com horários específicos. ... EM ARCOS AINDA SE COZE O PÃO NO FORNO DO POVO E O PRESIDENTE FOI VER Na aldeia de Arcos, freguesia de Cervos, concelho de Montalegre, o forno do povo ainda é utilizado com regularidade pelas famílias desta localidade barrosã. Em pedra, com paredes reforçadas por contrafortes e cobertura em pardieiros, não só é um dos ex-libris da aldeia como representa o alimento diário. Na verdade, o espírito comunitário sempre foi um traço vincado que marcou o povo desta região. Orlando Alves, presidente da Câmara de Montalegre, assistiu a esta atividade tradicional. O autarca deixou um aplauso a quem continua a manter este traço da identidade do concelho.

46 O CONCELHO EM NOTICIAS PSD | JOSÉ MOURA RODRIGUES É O CANDIDATO À CÂMARA MUNICIPAL José Moura Rodrigues, é o cabeça de lista e candidato a presidir ao Segundo Rui Rio, estes candidatos foram Municipio, pelo PSD às eleições autárquicas que terão lugar no próximo homologados pela Comissão Política Nacional e mês de Setembro ou Outubro, conforme decisão que venha a ser tomada juntam-se aos nomes anunciados no dia 3 de pelo Governo de António Costa. Março, por José Silvano, Secretário-geral do PSD, que deu a conhecer que se recandidatam, A noticia foi divulgado pelo PSD Nacional em Coimbra, englobando um os actuais Presidentes das autarquias do PSD “pacote” de outras candidaturas. Um processo - diga-se, que não foi pacifico de: Alijó – José Rodrigues Paredes; Boticas – e que levou à demissão de um Vice-Presidente da Concelhia local e do Fernando Queiroga; Murça – Mário Artur respectivo Tesoureiro. Segundo fontes contactadas pela A Barrosana, as Lopes; Peso da Régua – José Manuel divergências ocorridas, nada tiveram a ver com o candidato em si, isso sim, Gonçalves; Valpaços – Amílcar Almeida e Vila com o processo pouco transparente que levou à sua nomeação e que fez Pouca de Aguiar – Alberto Machado. lembrar a “sovietização” de um sistema, que nada tem a ver com o PSD. Porém e sobre o assunto, o PSD-Montalegre, nunca fez qualquer tipo de Ficam ainda por conhecer os candidatos do PSD considerações, limitando-se a dar da indigitação uma pequena nota e sem à capital de distrito, Vila Real e os candidatos às qualquer comentário a acompanhá-la nas redes sociais. autarquias de Mondim de Basto e Ribeira de Pena. Refira-se, que José Moura Rodrigues é actualmente Vereador sem regime de De acordo com o líder do PSD, até ao permanência da autarquia e foi o número dois da Coligação PSD/CDS-PP, momento, estão anunciados “mais de 50% dos encabeçada por Carvalho de Moura, também à Câmara Municipal, em 2017. candidatos” às eleições autárquicas. No evento do anúncio da sua candidatura, Rui Rio, Presidente do Partido, apresentou para além do candidato montalegrense, entre outros, os candidatos às ditas eleições para os concelhos de Chaves, Mesão Frio, Sabrosa e Santa Marta de Penaguião. Autarquias que são actualmente lideradas por socialistas.

47 O CONCELHO EM NOTICIAS PSD-MONTALEGRE | JOSÉ MOURA RODRIGUES É O NOVO PRESIDENTE DA CONCELHIA facto do candidato à Câmara ter sido decidido através de um processo pouco transparente e com isso pudesse vir a trazer consequências negativas para o Partido a nível nacional; ter sido apresentado por uma concelhia em fim de mandato como facto consumado; e ter o dito candidato sido igualmente apresentado pelo Presidente do Partido em vésperas de um acto eleitoral, cujo resultado poderia ser o que foi, como poderia ter sido outro, caso outras listas se apresentassem a sufrágio. Sem surpresa e como era já expectável, José Moura Rodrigues, E sendo assim, é por isso fácil constatar, a extemporaneidade da foi eleito como o novo Presidente da Concelhia do PSD- nomeação de José Rodrigues!... É que sendo pacifico que a única lista Montalegre, chegando onde queria. Um desiderato que várias concorrente, encabeçada pelo agora Presidente possa aceitar uma fontes garantem à “A Barrosana”, ter vindo a ser preparado condição imposta vinda de trás, o mesmo não se poderá dizer de outra desde hà muito tempo por uma corrente que designam de um lista que se predispusesse a ir a votos e eventualmente vencesse as “conservadorismo avesso à mudança e ao progresso”, a qual eleições. Ninguém é obrigado a ver-se confrontado com um candidato se propôs com êxito, capturar o Partido à boa maneira da que não era o seu, e pelos vistos, José Moura não é o candidato Putin(nização) russa. Uma corrente – diga-se, que se fechou consensual em função do processo que esteve por detrás da respectiva sobre si própria, e tem agido segundo os seus ditames ao longo candidatura. do seu mandato autárquico, através de processos que não dignificam quer a democracia, quer os próprios Estatutos do Apesar de tudo, diz-nos um militante de base do Partido, que ao Partido Social-Democrata. contrário do que fizeram outros no passado, ninguém irá colocar Face aos factos, estamos assim perante duas correntes com entraves ao seu desempenho, nem “entregar o ouro ao bandido”!... Será visões estratégicas diferentes e que redundaram para já, como não poderia deixar de ser, em fracturas insanáveis do ponto de ele o único responsável pelo que vier a acontecer. A partir daí e para o vista politico. Segundo apuramos e apesar do Partido não o ter divulgado, ao acto eleitoral concorreu apenas uma lista bem ou para o mal, caberá depois a cada um, tirar as respectivas encabeçada pelo agora eleito Presidente José Rodrigues!... O ilações. Porém, diz-nos ainda o nosso interlocutor: ”vamos ficar muito número de participantes e a percentagem de votos que agora atentos ao desenrolar dos acontecimentos”, não excluindo mesmo – suportam a liderança, foram também omitidos dos militantes e caso a estratégia montada venha a fracassar nas autárquicas – simpatizantes, tudo factos que indiciam que a participação no acto eleitoral haja sido diminuta. apresentar uma alternativa com um projecto próprio e de futuro. O que não se desconhece por ser óbvio, é que a ausência de outras listas se tenham ficado a dever a vários pressupostos, Outros dados que sobressaíram destas eleições para além da saída dos entre os quais, o bom senso politico dos opositores, aliado ao “demissionários” e da “tomada do poder” por José Rodrigues, foi a despromoção de Alexandre Antunes, que integrando a lista, viu o seu lugar de Presidente ser ocupado pelo entretanto eleito, colocando-se num lugar de subalternidade; a extinção de um lugar de Vice- Presidente; a nomeação de um novo tesoureiro, que segundo se consta será o candidato à Junta de Freguesia de Salto. Em termos de Mesa do Plenário, faltaram os candidatos e Carvalho de Moura, terá sido mais uma vez, a tábua de salvação continuando como Presidente da mesma. (Foto de domínio público)

48 O CONCELHO EM NOTICIAS MINERÁLIA, QUER RETOMAR EXTRAÇÃO DE VOLFRÂMIO NAS MINAS DA BORRALHA A Minerália quer reaproveitar a área da antiga mina da Borralha para a extração de volfrâmio no âmbito de um licenciamento para prospeccão obtido contratualmente em 31 de Julho de 2012, prevendo investir mais de 10 milhões de euros e criar 50 empregos directos. “Um sector mineiro desenvolvido modernamente, pode e deve ser um dos motores Questionado sobre o porquê da aposta na Borralha, Adriano do desenvolvimento do nosso Interior”, afirmou Adriano Barros, gerente da Barros contextualizou com o “reaparecimento do tungsténio Minerália, à Agência Lusa, numa entrevista concedida por escrito. como metal crítico para a Europa, consequência da sua aplicabilidade em sistemas de alta tecnologia e ferramentas, para Como já foi referido, a empresa requereu à Direção-Geral de Energia e Geologia a além do histórico uso bélico, a perda de alguma competitividade celebração do contrato de concessão para a exploração de volfrâmio, estanho e da produção chinesa e o interesse ocidental da não dependência molibdénio, numa zona que abrange os concelhos de Montalegre e Vieira do de metais críticos”. Minho, o qual viria a ser outorgado em 31/7/2012 contrato esse, que abrange uma parte da área das antigas Minas da Borralha, uma aldeia da freguesia de Salto. Após o fim da guerra entre as Coreias, o preço do tungsténio Segundo o gerente da Minerália, a futura exploração – a concretizar-se - será desceu significativamente e as minas portuguesas foram desenvolvida em parte da área da brecha de Santa Helena, uma das várias do encerrando até aos anos 80. “A prospeção realizada na Borralha, antigo couto mineiro da localidade que nasceu e cresceu com a extração de pela Minerália, obliterou muitas áreas que no nosso ponto de volfrâmio, entre 1902 e 1986. Adriano Barros, referiu que o projecto da vista, não são económicas à luz da actualidade e realçou o “Borralha” prevê um investimento entre os 10 a 12 milhões de euros e a criação potencial da brecha de Santa Helena onde focamos mais os de cerca de 50 postos de trabalho directos. O investimento, diz o “patrão” da nossos trabalhos”, frisou. empresa, inclui um plano de compensações, “que começará mal o contrato final de extracão seja celebrado”. Adriano Barros prefere falar em “reaproveitamento” da área do antigo e histórico Adriano Barros, entende que este projecto “pode ser um couto mineiro e aponta um projecto com uma “dimensão mais modesta” e que “almeja atingir a sustentabilidade”. importante vector de desenvolvimento local e regional e um Disse ainda, que a “índole da eventual exploração será a céu aberto”, mas com “as exemplo de que é possível a existência de actividade mineira respectivas condicionantes ainda a serem estabelecidas em âmbito de EIA - responsável e sustentável”. Adiantou, que o “minério extraído Estudo de Impacte Ambiental e plano de lavra”. “Por força do natural será tratado no local, de forma a criar concentrados desenvolvimento do conhecimento e as imposições ambientais e de segurança, a economicamente vendáveis” e que a “dimensão prevista não exploração e o tratamento de minérios sofreu também uma evolução crucial”, salientou. O responsável, apontou “as medidas ambientais preventivas, justifica o investimento na refinação dos concentrados obtidos por via de fundição, como se fazia historicamente na Borralha”. caucionárias e compensatórias que fazem parte da instrumentalização legal para a “Uma das características que mais nos agrada na mineralização aprovação de um EIA”. “Hoje em dia, no que toca à extração mineira há um da brecha de Santa Helena é a presença vestigial a nula de especial cuidado com a protecção das populações e ambiente locais no que toca a poeiras, ruídos, linhas de água, entre outros factores, assim como a segurança”, sulfuretos. A concentração da volframite - mineral que contém o sublinhou. tungsténio -, por via da sua elevada densidade, será feita Como exemplo, salientou que “devido às condições geológicas da área de utilizando métodos hidrogravíticos em circuitos fechados, com o exploração, prevê-se a utilização muito reduzida de explosivos, e mesmo esses, reaproveitamento e recirculação de águas e sem o uso de são de natureza bem diferente dos usados historicamente”. químicos”, salientou. Acrescentou ainda, que “os estudos metalúrgicos que têm sido desenvolvidos apontam para esta possibilidade que é a ideal sob o ponto de vista ambiental – a produção de concentrados de volframite utilizando apenas métodos físicos - gravíticos”. “Todos os processos até à aprovação do EIA e do plano de lavra poderão levar mais ou menos dois anos após a celebração do contrato de concessão mineira com a DGEG”, referiu. Entretanto as opiniões sobre o assunto dividem a população!... Enquanto uns falam da exploração como factor de desenvolvimento, à semelhança do que aconteceu no passado século, outros contestam a reactivação da exploração mineira e alertam para os impactos ambientais, na saúde e na agricultura.

49 O CONCELHO EM NOTICIAS MINERÁLIA, QUER RETOMAR EXTRAÇÃO DE VOLFRÂMIO NAS MINAS DA BORRALHA As Minas da Borralha, Montalegre, guardam a história de uma aldeia que nasceu e cresceu com a exploração de volfrâmio, que chegou a mobilizar 2.000 trabalhadores e deixou memórias de um trabalho difícil a 210 metros de profundidade. A exploração mineira começou depois de um engenheiro francês ter registado a Isto desenvolveu-se com pessoal vindo de todo o lado”, frisou. A concessão em 1902. Com o fecho definitivo das minas em 1986, a localidade da todos era oferecida casa, água e energia eléctrica. Havia GNR, Freguesia de Salto esvaziou-se de gente e o património ficou abandonado até Correios, posto médico, refeitório, um cinema e escola – anos 50 - começar a ser recuperado pela Câmara de Montalegre, que em 2015, abriu um a primeira entre Braga e Chaves e onde alunos aprendiam uma centro interpretativo. profissão para os diversos trabalhos na mina. António Fernandes, com 78 anos, foi trabalhar para as Minas da Borralha quando Na aldeia industrial foram construídas lavarias, uma fundição única regressou do Ultramar. Não havia na altura alternativas de emprego e por ali ficou na Península Ibérica e onde se fazia a transformação do volfrâmio durante 20 anos, até ao encerramento. Foi escombreiro, maquinista, entivador - no ferro tungsténio, para além de oficinas, armazéns, carpintaria, colocava madeiras para escoramento em minas - e depois passou a capataz. Vivia britadores, o ‘stockwerk’ e bairros que chegaram a albergar cerca em Salto e inicialmente ia a pé até às minas, onde descia até às entranhas da terra de 5.000 pessoas. Actualmente, tem cerca de 170 moradores. “À para trabalhar. A descida era feita por “escadas e escadas e escadas”. Mais tarde volta das minas nasceu uma aldeia com tudo. Era um oásis no foram colocados elevadores. concelho, era a aldeia mais desenvolvida da região, era procurada por muitos trabalhadores e famílias que viviam com dificuldade”, salientou Alberto Fernandes. “Era muito difícil. Alguns só lá iam um dia e não voltavam”, afirmou à agência O auge da exploração foi nas décadas de 30, 40, 50 do século passado, na altura da II Guerra Mundial e da Guerra da Coreia. O Lusa. Já em pequeno andava pela zona das minas a apanhar pedras das sobras couto mineiro tinha 2.000 hectares e o volfrâmio era usado para o para vender e sobreviver. “A Guarda andava em cima de nós, mas nós fugíamos revestimento de armamento, encontrando-se ainda em peças de mais do que eles”, recordou. António Fernandes referiu que ainda sabe “onde está automóveis e nos filamentos das lâmpadas. o minério” e que “aquele alto todo está por explorar”. “Nos anos 40 um quilo de volfrâmio chegou a valer mil escudos - cinco euros - e os farristas davam-se ao luxo de fumar notas de 500. Mário Mendes, hoje com 80 anos, nasceu na Borralha e deixou nas minas 25 anos Um quilo de volfrâmio é uma pedra muito pequena”, referiu José Alves. Para além dos mineiros, à volta das minas havia ainda os de trabalho como electricista. Foi sindicalista e hoje é Presidente da Associação apanhistas que tinham uma licença especial da empresa e podiam explorar o volfrâmio sempre a céu aberto, com a condição de no Social e Cultural dos Amigos da Borralha. final do dia vender tudo à companhia. As minas tiveram dois períodos de paragem - 1944/46 e 1958/62. Recorda também o trabalho difícil a grande profundidade, a descida íngreme pelas Depois de anos de abandono, a Câmara de Montalegre deu início à recuperação do património das Minas da Borralha, escadas e o encerramento que já se antevia por anos de má gestão e a queda da onde já investiu mais de dois milhões de euros. cotação do volfrâmio. “Saímos todos para a rua sem indemnizações”, salientou. O projecto de musealização prevê ainda a recuperação da fundição, dos escritórios, refeitório, dos compressores e da Depois foi “uma tristeza”. entrada de para uma galeria. “Quando começa a decadência, a sair hoje um, amanhã outro e ainda hoje isso se No verão de 2020, o centro interpretativo recebeu 2.855 visitantes. reflecte”, salientou. A actividade mineira poderá ser agora retomada na Borralha, através de um projecto da empresa Minerália. Alberto Fernandes, Presidente da Junta de Freguesia de Salto, referiu que a aldeia “morreu” com o fecho das minas. “Os novos que podiam trabalhar emigraram e restaram aqui os idosos e algumas crianças”, salientou. Mário Mendes falava à Lusa junto ao Centro Interpretativo das Minas da Borralha, que conta a história desta localidade. “Aqui não havia absolutamente nada.

50 O CONCELHO EM NOTICIAS Governo suspende a aplicação de coimas… Por lei, o prazo para limpeza dos terrenos pelos privados terminava a 15 de Os responsáveis que não cumpram a sua Março, data a partir da qual os Municípios teriam de substituir os obrigação de limpeza dos espaços a seu cargo, proprietários faltosos, sujeitos então a coima e custos. Até 31 de Maio, os sujeitam-se a pagar uma coima entre 280 e Municípios teriam por sua vez de ter cumprido integralmente o plano de 10.000 € no caso de pessoa singular e entre intervenção em curso de limpeza nas faixas de gestão de combustível. 1.600 e 120.000 €, se se tratar de pessoa Contudo, o Governo anunciou que o prazo para limpeza dos terrenos colectiva. pelos proprietários vai ser prolongado até 31 de Maio, isentando os A responsabilidade que recai sobre os proprietários de multas durante este período. proprietários de limpeza dos seus terrenos mantém-se depois de 15 de Março, como se A GNR-Guarda Nacional Republicana vai no entanto começar ainda no mantém a possibilidade de entrada dos final de Março a levantar autos sobre terrenos ainda não limpos, embora Municípios, ajudados pela GNR, nos terrenos dos o Primeiro-Ministro garanta que esse processo não será uma «caça à multa», proprietários, com o objeCtivo de proceder à mas antes uma acção pedagógica e de esclarecimento. limpeza em falta, cobrando depois por esse Sendo levantado auto, o responsável pela limpeza terá de a fazer até ao final serviço. Por seu lado, o Estado já abriu vários do novo prazo. Se cumprir, a contraordenação e respectiva coima ficarão concursos para adjudicar a realização de sem efeito. corredores de segurança no território e a implementação de faixas de continuidade na floresta. Este diploma aplica-se desde dia 16 de Março, o dia seguinte ao fim do prazo inicialmente estabelecido para a limpeza de terrenos. Para o efeito, foram também aprovadas duas linhas de crédito, uma de 40 milhões, dirigida aos privados, e outra de 50 milhões de euros, destinada às autarquias, para financiamento das despesas com redes secundárias de faixas de gestão de combustível, prevista no Orçamento do Estado para 2018.


Like this book? You can publish your book online for free in a few minutes!
Create your own flipbook