os 1.200 m no Parque Nacional da Bocaina.                                                                                   As espécies típicas são o pinheiro-do-paraná                                                                                   (Araucaria angustifolia - Araucariaceae) e                                                                                   pinheirinho-bravo (Podocarpus lambertii -                                                                                   Podocarpaceae).Os estados da Mata Atlântica  Perereca                                             Refúgio ecológico100                           junto florestal a que se refere a sua denominação         É um agrupamento vegetal que apresenta                              está entre 20 e 50% e é dependente do clima,         fitofisionomia e florística dissonantes daquelas                              que tem uma estação chuvosa e outra seca. São        verificadas nos entornos imediatos. Ocorre,                              quatro as formações dessa região fitoecológica,      geralmente, sobre solos litólicos rasos. Das três                              mas apenas três estão parcamente representadas       modalidades existentes, apenas o refúgio eco-                              no Rio de Janeiro:                                   lógico alto-montano está presente em território                                                                                   fluminense.                                    - Floresta das terras baixas - Os pequenos                              remanescentes dessa formação localizam-se no              Está localizado acima dos 1.500 m, na Serra                              Município de Quissamã, entre Macabuzinho e           do Mar e na Mantiqueira. Em seus lugares de                              Dores de Macabu, fora de qualquer unidade de         ocorrência como Morro do Cuca, Pico do Fra-                              conservação, citando-se Sterculia chicha (Stercu-    de, Antas, Desengano, Bocaina e Itatiaia, ele                              liaceae) e Talisia sp. (Sapindaceae) como espécies   aparece logo após a floresta ombrófila densa                              típicas. A pecuária e o cultivo da cana-de-açúcar    alto-montana, à qual se relaciona e é, como ela,                              reduziram drasticamente essa formação.               local de altas concentrações de endemismos. Em                                                                                   Antas, entre Petrópolis e Teresópolis, 66 das 347                                   - Floresta submontana - Situa-se entre os 50 e  espécies coletadas são endêmicas; na Bocaina,                              os 500 m de altitude, no município de Macaé, redu-   no sul do Estado, são endêmicas 30 das 215                              zida a pequeníssimas manchas, sem qualquer tipo      espécies registradas; no Desengano, em Santa                              de proteção específica. O araribá (Centrolobium sp.  Maria Madalena, são 62 endemismos entre 275                              - Leguminosae) é citado como espécie típica.         espécies registradas; em Itatiaia, local dos mais                                                                                   pesquisados botanicamente, com 415 espécies                                   - Floresta montana - É a formação que me-       coletadas, há 88 que são endêmicas; no Morro                              lhor representa a floresta estacional semidecidual   do Cuca, em Petrópolis, há 27 endemismos en-                              no Estado. Manchas mais significativas ocorrem       tre 227 espécies coletadas e, no Pico do Frade,                              entre 500 e 1500 m nos municípios de Cordeiro,       em Macaé, das 124 espécies coletadas, 22 são                              Trajano de Moraes e Bom Jardim. Em Itatiaia          endêmicas.                              e Resende, há manchas menores. A sapucaia                              (Lecythis pisonis - Lecythidaceae) é uma das              A fitofisionomia é herbáceo-arbustiva,                              espécies típicas.                                    aberta. As Asteraceae estão significativamente                                                                                   representadas por vários gêneros (Achyrocline,                                   - Região fitoecológica floresta ombrófila       Baccharis, Chinolaena, Erigeron, Eupatorium,                              mista - Como as regiões fitoecológicas an-           Mikania, Senecio, Vernonia, Wedelia). As                              teriores subdivide-se em quatro formações,           Bambusacea possuem uma espécie de bambu                              mas no Rio de Janeiro só ocorre a formação           – Chusquea pinifolia – muito freqüente nesses                              floresta montana. Localiza-se entre os 800 e         locais, e só neles. Outra exclusiva é Cortade-
Restinga na                                                    cidade do Rio                                                    de Janeiroria modesta. Inúmeras outras famílias estão         desde a vegetação rastejante das praias aos es-        Os estados da Mata Atlânticarepresentadas por plantas pequenas, como as         paços desnudos com moitas esparsas e às matasEriocaulaceae e as Scrophulariaceae. No chão,       de restinga. Trabalhos recentes têm procurado          101às vezes, aparecem grandes manchas de líquens,      tipificar categorias de vegetação nessas áreas, jádos quais Cladonia confusa é freqüente. Lugares     que existem profundas diferenças estruturais entreúmidos são marcados por Sphagnum purpura-           elas. Um grande número de espécies endêmicas,tum, musgo higroscópico, acidificador das águas     raras e ameaçadas de extinção fazem parte doe propiciador de habitat para a planta carnívora    sistema biológico das restingas.Drosera vilosa.                                                         - Áreas com influência fluviomarinha - São osFormações pioneiras                                 manguezais que se instalam em águas calmas do                                                    interior das baías, ocupando, preferencialmente,     Compreendem os ecossistemas associados         fozes de rios. Sua flora é bastante simplificada eà Mata Atlântica e foram caracterizados em três     compõe-se, basicamente, de três espécies arbóreas:áreas:                                              Rhizophora mangle (Rhizophoraceae), Avicennia                                                    schaueriana (Verbenaceae) e Laguncularia race-      - Áreas com influência marinha - São as       mosa (Combretaceae). Na foz do Rio Paraíba dorestingas, das quais há uma significativa varie-    Sul, ocorre conspicuamente Avicennia germinans.dade no território fluminense. Embora grandes       As maiores áreas ocupadas por manguezais estãoextensões delas já tenham sido eliminadas, há       na foz do Rio Paraíba do Sul e na do Macaé, noainda bons remanescentes. Estão associadas às       fundo da Baía de Guanabara, na Baía de Sepetibaareias quartzosas litorâneas depositadas durante o  e no Litoral Sul, em especial em Parati. Como asQuaternário. Por isso mesmo, são bem represen-      restingas, os manguezais, apesar de protegidos portadas do município do Rio de Janeiro em direção     legislação específica, têm sido seriamente prejudi-ao litoral norte, onde a Serra do Mar se afasta da  cados por atividades humanas predatórias.costa e a planície litorânea alcança maior ampli-tude, especialmente nos municípios de Macaé,             - Áreas com influência fluvial - São os brejos eQuissamã, Campos e São João da Barra. No Rio        lezírias, que se formam nos baixos cursos dos rios.Ade Janeiro e nos dois últimos municípios, entre-    vegetação predominante é constituída por herbáceastanto, já foram profundamente descaracterizadas,    helóbias, das quais a mais característica é a cosmo-delas restando apenas manchas pequenas, resi-       polita taboa (Typha domingensis - Typhaceae).duais e fortemente secundarizadas. As restingaspossuem composições florísticas complexas e              Os manguezais, os brejos e as lagunas lito-características vegetacionais variadas, que vão     râneas barradas por cordões de restingas consti-                                                    tuem áreas úmidas de especial importância para                                                    a avifauna migratória.                                                    Fauna                                                         Muitas da áreas incluídas na Reserva da                                                    Biosfera da Mata Atlântica, especialmente aquelas                                                    de domínio privado, dispõem de pouca ou nenhu-                                                    ma informação sobre sua fauna. As áreas públicas                                                    protegidas foram mais estudadas, especificamente                                                    a fauna de vertebrados.
Os estados da Mata Atlântica       Entre os mamíferos, merecem destaque os         brejos, a garça-boiadeira (Bubulcus ibis), o socó-                              primatas representados pelos macacos guariba         mirim (Ixobrycus exilis erytromelas) e garças102                           (Alouatta sp), muriqui (Brachyteles arachnoides),    brancas (Egretta, Casmerodius); representantes                              macaco-prego (Cebus apella) e os sagüis, sendo       dos anatídeos, podem ser vistos nas baixadas,                              o mais conhecido o mico-leão-dourado (Leon-          irerês (Dendrocygna viduata) e a marreca-ananai                              topithecus rosalia), mas tendo ainda o também        (Amazonetta brasiliensis). Também nas partes                              ameaçado Callithrix aurita. Já o Callithrix jac-     baixas é comum observar-se o urubu comum                              cus, espécie típica do Nordeste, foi introduzido     (Coragypis atratus) e, junto à mata e encosta das                              no Estado e atualmente pode ser visto desde a        serras o urubu-caçador (Cathartes aura). Vá-                              Floresta da Tijuca até nas regiões de ocorrência     rios gaviões, sendo freqüente o gavião-caboclo                              do mico-leão-dourado, na região das baixadas         (Heterospizias meridionalis), o gavião-peneira                              litorâneas.                                          (Elanus leucurus), o gavião pega-pinto ou carijó                                                                                   (Buteo magnirostris), o gaviãozinho (Gampso-                                   São encontrados vários marsupiais (Didelfí-     nix swainsonii), o gavião-carrapateiro (Milvago                              deos), entre eles o gambá (Didelphis marsupialis),   chimachima), além do já escasso gavião pega-                              várias cuícas e a rara cuíca d’água (Chironectes     macaco (Spizaetus tyrannus).                              minimus) nos riachos que descem da Serra do                              Mar. Pertencentes a outros grupos, destacam-se            Vários outros grupos de aves estão represen-                              o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), a          tados, como os saracura-três-potes (Aramides caja-                              preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), tatus      nea), frango-d’água-azul (Porphyrula martinica);                              (Dasypus, Euphractus), o tapiti (Silvilagus), nu-    columbídeos: várias pombas, notadamente a bela e                              merosos roedores como o caxinguelê (Sciurus),        rara pomba-espelho (Claravis godefrida), a pomba-                              ouriço-caixeiro (Coendou), preá (Cavia), capivara    amargosa (Columba plumbea), rolinhas (Columbi-                              (Hydrochaeris hydrochaeris), paca (Agouti), cotia    na talpacoti), juriti (Leptotila); psitacídeos vários,                              (Dasyprocta), ratos-do-mato (Cricetidae) e o rato-   como o periquito-verde (Brotogeris versicolorus),                              do-bambu (Cannabaetomys amblionyx). Dentre           maitaca (Pionus maximiliani); sabiá-cica (Triclaria                              os vários predadores podem ser vistos o cachorro-    malachitacea); cuculídeos alma-de-gato (Piaya                              do-mato (Cerdocyon), o guaxinim ou mão-pelada        cayana), o comum anu-preto (Crotophaga ani),                              (Procyon), o coati (Nasua nasua), a lontra (Lutra),  como também anu-branco (Guira guira) predador                              irara (Eira barbara), furão (Galictis, Grison) e os  dos ninhos de pardais, rolinhas etc.                              gatos pintados (Felis). O mais importante réptil                              da região é o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman              Várias espécies de corujas habitam a região,                              latirostris). Em algumas áreas protegidas ainda      sendo mais comum a coruja-das-igrejas (Tyto alba                              sobrevivem os caititus (Tayassu tajacu).             suindara), jacurutu (Pulsatrix koeniswaldiana),                                                                                   a coruja-buraqueira (Speotyto cunicularia) e co-                                   Apesar de muito desfalcada em suas popu-        rujão-de-orelha (Rhinoptynx clamator). Também                              lações, a avifauna é rica em certas espécies sil-    comuns são os beija-flores (Ramphodon, Eupeto-                              vestres, com formas importantes de pelo menos        mena, Melanotrochilus, Phaetornis, Amazilia).                              três tinamídeos: o inhambu-guaçu (Crypturellus       Relativamente comuns nas áreas de mata são                              obsoletus), inhambu-xororó (C. parvirostris) e       ainda o trogonídeo surucuá-de-barriga-amarela                              inhambu-xintã (C. tataupa), além de, possivel-       (Trogon viridis), a juruva (Baryphthengus ru-                              mente, o raro macuco (Tinamus solitarius); dos       ficapillus), o joão-bobo (Nystalus chacuru) e o                              ardeídos é comum nas fazendas, partes baixas e       joão-barbudo (Melacoptila striata); os ranfastíde-
Bem-te-vi                                                                              comum, mas também ocorrem        Os estados da Mata Atlântica                                                                                       formas menores como Ameiva           os, tucano-de-bico-preto (Ramphastus vitellinus                             ameiva e Tropidurus torquatus,   103           atiel), maguari-poca (Selenidera maculirostris)                             Anolis sp. etc. Nos córregos,           comuns dentro da mata; os picídeos xanxão ou                                ocorre o raro cágado Hydro-           pica-pau-do-campo (Colaptes campestris), pica-                              medusa maximiliani, forma           pau-amarelo (Celeus flavescens), Melanertes                                 especializada em viver em frias           flavifrons que aprecia frutos da carrapeteira; o                            águas torrenciais das serras.           pica-pau-branco (Leuconerpes candidus).                                                                                            É farta a fauna de ba-                Há vários outros grupos de aves como arapon-                           tráquios, com muitas formas           ga (Procnias nudicollis), polícia-inglesa (Leistes),                        representadas na área. Também           joão-de-barro (Furnarius rufus badius), anambé-                             notável é a representação dos           branco (Tityra cayana), o comum tangará (Chiro-       invertebrados, sendo extraordinário o número de           xiphia caudata), tesourinha (Muscivora tyrannus),     insetos, dos quais podem ser destacados as borbo-           bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), cambaxirra          letas azuis do gênero Morpho, a grande mariposa           (Troglodytes aedon), sabiá-do-campo (Mimus sa-        (Agripina sp) e o marimbondo-caçador (Pepsis sp)           turninus), japacamim (Donacobius atricapillus),       que preda aranhas, gafanhotos e esperanças.           sabiá-una (Platycichla flavipes), sabiá-laranjeira           (Turdus rufiventris), sabiá-poca (T. amaurocha-       Patrimônio espeleológico           linus), guaxe (Cacicus haemorrhous), que tem           seus ninhos pendurados nas árvores perto dos               O Rio de Janeiro é um estado relativamente           rios; saíra-sete-cores (Tangara seledon), sanhaço     pobre em ocorrências de cavidades naturais sub-           (Thraupis), tiê-sangue (Ramphocelus bresilius),       terrâneas. Isso deve-se ao fato de que, em todo o           trinca-ferro (Saltator similis), pixoxó (Sporophila   território fluminense, existe apenas um pequeno           frontalis), coleirinho (S. caerulescens), gaturamo    bolsão de calcário, a rocha mais propícia à for-           (Euphonia sp.) e os alienígenas bico-de-lacre         mação de cavernas devido à dissolução por águas           (Estrilda) e pardal (Passer domesticus).              fluviais ou pela percolação das águas das chuvas,                                                                 situado nos municípios de Cantagalo e Itaocara,                Diversas cobras como a jibóia (Boa cons-         na região serrana.           trictor), jararacas e jararacuçu (Bothrops spp.),           cobras-coral (Micrurus), cobra-cipó (Chironius),           Esse bolsão de calcário, no entanto, a           caninana (Spilothes), além de alguns lacertídeos.     despeito de suas reduzidas dimensões (se           O lagarto teju (Tupinambis teguixin) é muito          comparado aos fenomenais carstes de Minas                                                                 Gerais, Bahia, Goiás e São Paulo, por exem-                                                                 plo) é explorado há muitos anos por fábricas                                                                 de cimento, que representam uma ameaça                                                                 concreta às poucas cavernas ali existentes. Por                                                                 essa razão, e por serem as cavidades naturais                                                                 subterrâneas feições geológicas expressamente                                                                 protegidas pela legislação vigente, encontra-se                                                                 tramitando na Assembléia Legislativa do Estado                                                                 do Rio de Janeiro, projeto de lei de autoria do                                                                 deputado Carlos Minc (PT/RJ) criando o Parque
Os estados da Mata Atlântica  Estadual das Cavernas Fluminenses, que obje-       Situação da Reserva da                              tiva preservar essas cavernas, das quais a mais    Biosfera da Mata Atlântica104                           importante é a Gruta Novo Tempo, reservando                              porém significativa porção do calcário para a           Limitando-nos à área definida hoje para o Rio                              continuidade da indústria cimenteira, de forma     de Janeiro, já se reconhece oficialmente que uma                              a não prejudicar a economia daquela região. A      primitiva cobertura vegetal, composta de florestas                              criação desse parque, na verdade, representaria    densas, cobria cerca de 97 % de sua área total.                              um novo vetor de desenvolvimento local, basea-     Ali se situavam as diversas matas de altitude, de                              do na exploração racional do turismo ecológico,    encostas serranas, de planaltos interiores, planí-                              não apenas através da visitação às grutas mas,     cies costeiras, alagadiços, restingas e mangues,                              também, da prática de outros esportes e ativi-     abrangendo assim os denominados ecossistemas                              dades ao ar livre, tais como caminhadas, vôo       associados à Mata Atlântica. Os restantes 3%                              livre e passeios a cavalo.                         eram do domínio de campos de altitude, de rochas                                                                                 expostas, de praias desnudas de vegetação e de                                   As demais cavidades naturais subterrâneas     superfícies líquidas de lagos, rios e lagoas.                              do Rio de Janeiro resumem-se a pequenas grutas                              criadas por falhas nos granitos e gnaisses que          Caso existisse, nessa época remota, uma                              constituem a litologia predominante no Estado,     imaginária Reserva da Biosfera, ela certamente                              bem como pelo encontro, ou superposição, de        abrangeria 100% da área total do Estado, abrigan-                              grandes blocos dessas mesmas rochas. Apesar        do a totalidade da riqueza de uma biodiversidade                              de sua modesta expressividade, em termos es-       natural, praticamente inalterada pelo homem                              peleológicos, algumas dessas grutas chegaram a     pré-histórico.                              adquirir grande fama local e, em conseqüência,                              certa importância turística. A título de exemplo,       Até a chegada dos colonos portugueses, na                              podemos citar a Gruta do Acaiá, na Ilha Grande;    primeira década do Século XVI, o trecho fluminen-                              a Gruta do Mero, no Morro da Urca; os “Olhos”      se, provavelmente, ainda guardava seus aspectos                              e a “Orelha”, na Pedra da Gávea; a Gruta do Pre-   naturais em mais de 93% do território do Estado,                              sidente, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos;   podendo descontar-se um suposto débito de 4%,                              a Gruta Paulo e Virgínia e a Gruta do Morcego, no  devido à alteração antropogênica indígena, con-                              Parque Nacional da Tijuca, dentre outras.          seqüente à existência de aldeamentos, roçadas e                                                                                 queimadas que resultariam da ocupação esparsa,                                                                                 mas ponderável, das muitas tribos indígenas na-                                                                                 tivas. Mesmo assim, dentro da imagem virtual de                                                                                 uma imaginária Reserva da Biosfera, ainda estaria                                                                                 mantida, então, praticamente toda a biodiversidade                                                                                 natural primitiva.                                                                                      No início do Século XVI, começou, e poste-                                                                                 riormente prosseguiu em escala crescente, a histó-                                                                                 rica ocupação humana européia colonial no Rio de                                                                                 Janeiro e a conseqüente e progressiva alteração da                                                                                 vegetação natural. As causas são bem conhecidas:                                                                                 a extração de pau-brasil, seja em contrabando, seja                                                                                 em comércio legalizado pela Coroa portuguesa;                                                                                 a demanda de grossos lenhos para as numerosas                                                                                 Flor de eritrina
Bromélias, em                                                     Teresópolise imensas caldeiras de derretimento da gordura                               rios e lagoas, nascentes de     Os estados da Mata Atlânticade baleias; a procura de combustível lenhoso em                              cursos d´água, áreas outro-geral para uso da crescente população; o corte de                            ra florestais e outros sítios,  105madeiras-de-lei para construção naval e civil; a                             previstos na definição dederrubada, queimada e limpeza de extensas áreas                              uma Reserva da Biosfera. Deflorestais para fins de pecuária, agricultura e a                            qualquer maneira, ficamosocupação de terrenos para o estabelecimento e                                afinal mais pobres em 60%,desenvolvimento de povoados, vilas e cidades.                                no que concerne a áreas para                                                                             conservação do antigo do-     O desenvolvimento civilizatório passou a ter                            mínio das matas atlânticasum componente que, em relação àquela imaginária                              fluminenses.Reserva da Biosfera, poderia ser expresso mate-maticamente numa razão inversa. Ou seja, quanto                                   Mas o mais grave é quemaior a ocupação humana, menor a biodiversida-                               grande parte da riqueza dede. Tínhamos entrado decididamente num plano                                 nossa biodiversidade naturalinclinado de aceleradas e progressivas perdas, quer  se perdeu para sempre. Essa afirmação é admis-em áreas naturais, quer em biodiversidade.           sível, pois mesmo sem termos idéia real da pri-                                                     mitiva quantidade e qualidade da biodiversidade     Se na primeira metade do Século XX tivés-       fluminense, a constatação da alteração radicalsemos tido uma virtual Reserva da Biosfera, nela     dos ambientes em imensas áreas e a conseqüenteainda estariam contidos talvez 60% do território     destruição dos habitats, torna lógica a ilação: nos-fluminense. Na realidade, com o ritmo de devasta-    so saldo em biodiversidade desceu a nível muitoção descontrolada que se veio impondo, acabamos      baixo e está hoje ameaçado criticamente de baixarentrando no ano 2000 com uma delimitação legal       ainda mais, na medida que não tomemos medidaspara a atual Reserva da Biosfera da Mata Atlântica   urgentes e efetivas para conservar o que nos restouque se limitou a abranger 40% da área total do Es-   de fauna, flora e ambientes naturais.tado. E isso, porque essa Reserva não se prendeu          Fazer previsões para o futuro, na total au-ao percentual remanescente de florestas e incluiu    sência de uma bola de cristal, seria um exercíciotambém entornos de ilhas, restingas, margens de      ilegal da profissão de futurologia. Sem embargo,                                                     um esforço de imaginação nos permitiria ter duas                                                     visões baseadas em hipóteses antagônicas.                                                          Na primeira hipótese, não tendo havido                                                     modificação radical do padrão comportamental                                                     humano, que continuará orientado e dirigido                                                     para um sempre crescente consumismo, sob o                                                     paradigma do imediatismo de interesses, verifi-                                                     car-se-á uma inexorável e incessante diminuição e                                                     rarefação em todas as reservas naturais, inclusive                                                     naquelas protegidas por lei. A biodiversidade será                                                     reduzida a um mínimo de espécies vegetais e                                                     animais domesticadas ou amansadas, ocorrendo                                                     comumente surtos de doenças bio-sanitárias ou
Os estados da Mata Atlântica  pragas biológicas contra as quais se exercerá cres-  Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado                              centemente pesado e oneroso controle químico,        do Rio de Janeiro será uma realização modelar,106                           com conseqüências imprevisíveis. As áreas rurais     funcionando eficazmente num quadro geral da                              estarão substituídas por áreas semi-rurais total-    melhoria da qualidade de vida. Verdadeiramente,                              mente aculturadas ou por áreas urbanas imensas e     será um admirável mundo novo.                              extensas, resultando na formação de megalópolis                              conurbadas. A antiga Reserva da Biosfera da Mata          Pode-se afiançar, à luz dos atuais conhecimen-                              Atlântica foi um episódio histórico, sepultado pela  tos, que não há outras alternativas; a acomodação                              adoção do lema do desenvolvimento a todo custo,      a meios termos ou a tentativa de conciliação entre                              por parte de governantes e governados, sendo um      as duas hipóteses certamente serão procedimentos                              dos pilares dos comportamentos o alastramento do     paliativos que acabarão por nos levar a cair, cedo                              ecoturismo descontrolado. Não será, realmente,       ou tarde, na primeira hipótese acima descrita.                              um mundo admirável.                                                                                   Denise Marçal Rambaldi é secretária-geral da                                   Na segunda alternativa, vencendo afinal o       Associação Mico-Leão-Dourado e coordenadora                              bom senso sobre o imediatismo, as zonas urbanas,     do Colegiado Regional Sudeste da Reserva da                              através de numerosos e bem distribuídos parques,     Biosfera da Mata Atlântica.                              jardins e arborização e de densa arborização dos                              logradouros, tudo adequadamente planejado e                 AMEAÇAS NO RJ: págs. 199, 215, 219                              bem executado, funcionarão como complementos                e 224                              das zonas rurais, onde se implantarão, finalmente,                              os planos de uso da terra que faltavam. Como                PROJETOS NO RJ: págs. 267 e 275                              maior resultante, serão efetivadas as faixas ou zo-                              nas de corredores biológicos, interligando todas as         A REDE NO ESTADO: pág. 298                              unidades de conservação. Estas, plenamente im-                              plantadas e mantidas, formarão núcleos preciosos            BIBLIOGRAFIA: pág. 316                              para a garantia da manutenção da biodiversidade.                              Haverá satisfatória conscientização ecológica e                              efetiva vontade dos líderes e dos liderados, e a                                                                                                                                        Araucárias                                                                                                                                        em                                                                                                                                        Teresópolis
Minas GeraisCasarios   Foto: Gabriela Schäfferantigosna região                                                                                                                      Os estados da Mata Atlânticahistórica                                                                                                         107Diante das montanhas de Minas, não é difícil         Fitofisionomiasperceber o ritmo acelerado da devastação deum dos cinco biomas mais críticos do mundo,               A Mata Atlântica que ocorre em Minas Ge-ameaçado de desaparecer da Terra. São séculos        rais é bastante heterogênea, com uma fisionomiade exploração predatória, que começou com a          vegetacional que vai desde a floresta ombrófilachegada dos primeiros colonizadores e continua       densa até as florestas estacionais semideciduais.até os dias atuais.                                  Além dessas tipologias, as áreas de contato entre                                                     essas formações, as matas ciliares e os remanes-     Em Minas Gerais, a Mata Atlântica cobria        centes incrustados em outras formações, também49% da área do Estado, estando reduzida a 7% de      são incluídas no bioma.sua cobertura original. Como agravante, a maiorparte do que restou da vegetação de Mata Atlântica        De acordo com o nível atual de conhecimen-no Estado se encontra em remanescentes muito         to, o bioma Mata Atlântica contém mais diver-pequenos e nas mãos de proprietários privados.       sidade de espécies que a maioria das formações                                                     florestais amazônicas, bem como elevados níveis     Apesar de fragmentada, a Mata Atlântica de      de endemismos. Isso ocorre porque essa forma-Minas ainda abriga uma alta diversidade de espé-     ção é subdividida em vários tipos fisionômicos,cies da flora e da fauna, incluindo várias espécies  devido à influência das variações de latitude eendêmicas e ameaçadas. Além da fragmentação,         altitude. Além dessa variação nas tipologias típi-várias são as ameaças diretas à biodiversidade       cas de mata, existem ainda regiões cobertas pordessa floresta, incluindo-se, entre outros, o des-   campos de altitude e alguns enclaves de tensão pormatamento para expansão das culturas agrícolas e     contato. A interface com essas áreas cria, assim,da pecuária, tráfico de vida silvestre, urbanização  condições particulares de fauna e flora.e desenvolvimento industrial.
Os estados da Mata Atlântica       Os remanescentes de Mata Atlântica carac-       dessa formação, espécies das famílias Lauraceae,                              terizam-se pela vegetação exuberante, com acen-      Myrtaceae e Anacardiaceae, por exemplo, são108                           tuado higrofitismo (adaptadas a altas umidades).     bastante comuns. As espécies mais importantes                              Entre as espécies mais comuns encontram-se           na composição dos estratos arbóreos destas flo-                              algumas briófitas, cipós e orquídeas. Estima-se      restas são bastante variáveis, como resultado de                              que 8 mil espécies vegetais brasileiras sejam        condições ambientais diferenciadas ao longo de                              endêmicas da Mata Atlântica. Entre essas, 60%        toda a área de ocorrência dessa formação.                              são espécies arbóreas e os 40% restantes de não-                              arbóreas. Entre as bromélias, 70% são endêmicas           A floresta estacional semidecidual é o tipo de                              e, entre as palmeiras, 64%.                          formação atlântica mais comum no Estado, co-                                                                                   brindo quase toda a extensão da área de ocorrência                                   Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o        natural desse bioma. Também por isso é o tipo fisio-                              tipo fisionômico da floresta ombrófila densa pode    nômico que vem sofrendo mais com os processos                              ser encontrado em pequenas manchas na região         de fragmentação. Ela é constituída por elementos                              nordeste do Estado (Vale do Jequitinhonha - divisa   arbóreos, perenifólios até decíduos, que atingem 30                              com o estado da Bahia), no leste (Vale do Mucuri     a 40 metros de altura, sem formar cobertura supe-                              - na divisa com o estado do Espírito Santo) e no     rior contínua, além de elementos arbustivos, lianas                              sul, na região da Serra da Mantiqueira. Trata-se     e epífitas, estas em menor quantidade e riqueza                              de uma floresta com árvores bastante altas e sub-    quando comparadas com as formações da floresta                              bosque bem sombreado. Como conseqüência de           ombrófila densa. A diversidade do estrato superior                              feições topográficas inclinadas a fortemente incli-  desse tipo de formação é maior do que na floresta                              nadas, ocorre uma boa penetração de luz nessas       ombrófila mista, devido à fertilidade do solo, e                              formações, fator que, associado à alta umidade,      podem aparecer espécies como a peroba (Aspidos-                              ocasiona o aparecimento e a manutenção de co-        perma polyneurom), o cedro (Cedrella fissilis) e a                              munidades epifíticas bastante ricas e abundantes,    cabreúva (Myrocarpus frondosus). No sub-bosque                              o que talvez seja o traço mais marcante dessas for-  destacam-se espécies da família Meliaceae.                              mações. Qualquer observador, mesmo que leigo,                              consegue perceber tal característica em qualquer     Ipês-amarelos                              trecho mais preservado dessas florestas. Famílias                              como Orchidaceae, Bromeliaceae e Araceae,                              normalmente constituem os grupos predominantes                              nessas comunidades, tanto em riqueza como em                              abundância de espécies.                                    A floresta ombrófila mista é o tipo vegeta-                              cional menos representado no Estado. Ocorre em                              uma pequena mancha no sul do Estado, também                              na região da Serra da Mantiqueira. Pode ocorrer                              formando “ilhas” florestais de formato mais ou                              menos circular e tamanho variável em meio às for-                              mações campestres, constituindo os “capões”, ou                              então formando florestas contínuas de composição                              e estrutura variáveis. Além da araucária, típica
Uma das principais características da fauna       Ipê-rosa                                              Os estados da Mata Atlânticaque vive na Floresta Atlântica, assim como emoutras florestas tropicais do mundo, é o fato de ser   arbóreos e à disponibilidade de ambientes úmidos      109diversificada e marcada pela presença de muitas        dos habitats de Mata Atlântica. As florestas deespécies endêmicas. Várias dessas espécies possuem     altitude destacam-se, entre as diferentes tipologiasbaixas densidades populacionais, o que caracteriza     do bioma, como áreas de notáveis endemismosum grande número de espécies raras.Além da fauna       para anfibiofauna, aí propiciados pelo isolamen-terrestre, a Mata Atlântica abriga também uma rica     to geográfico de conjuntos serranos, como porfauna de peixes que habitam os pequenos riachos        exemplo o complexo da Mantiqueira.que permeiam as áreas florestadas. Muitos dessespeixes orientam-se pela visão para localizar alimento       Considerado o maior remanescente de Mataou parceiros reprodutivos, bem como para seus com-     Atlântica do Estado, o Parque Estadual do Rio Doceportamentos sociais, e são incapazes de sobreviver     (PERD) abriga 77 espécies de mamíferos, o queem águas turvas ou claras, sujeitas à luminosidade     equivale a 30% de todas as espécies de mamíferosintensa, quando ocorre a remoção da floresta.          da Mata Atlântica. Para os primatas, ocorrem sete                                                       espécies, o que equivale a 40% de todas as espéciesBiodiversidade                                         de primatas dessa floresta. Destaca-se também a                                                       ocorrência de carnívoros de grande porte, com o     Minas Gerais abriga cerca de 70% das              registro recente de populações de um dos maioresespécies de mamíferos que ocorrem em todo o            felinos com ocorrência no Brasil, como é o caso daDomínio da Mata Atlântica. A grande maioria            onça-pintada (Panthera onca). Cerca de 16% dasdas espécies de mamíferos registradas no Estadoocorre na Mata Atlântica, sendo aproximadamenteum terço (65) exclusivas desse bioma. Este é, porexemplo, o caso do muriqui-do-norte (Brachyteleshypoxanthus), o maior dos macacos neotropicais.Fica até difícil imaginar que, no passado, cercade 400 mil muriquis compartilhavam a grandebiodiversidade da Mata Atlântica. Hoje, sobraramaproximadamente 1.300 indivíduos.     Para a avifauna, das 785 espécies que ocor-rem no Estado - aproximadamente a metade dariqueza das aves do Brasil -, 54 são endêmicas daMata Atlântica.     Nesse contexto, a Mata Atlântica merece serdestacada também pela sua extraordinária fauna derépteis e, principalmente, de anfíbios endêmicos.Do total das 340 espécies de anfíbios conhecidospara Minas Gerais, 70% são encontradas nessebioma. A considerável riqueza para esse grupo éatribuída principalmente ao elevado índice pluvio-métrico, à alta diversidade estrutural dos habitatsBromélia comborboleta
Os estados da Mata Atlântica  Pintassílgo                                               As áreas protegidas do estado de Minas Gerais                                                                                   cobrem um total de 4.306.562,16 ha distribuídos em110                           espécies registradas nesta unidade de conservação    382 unidades de conservação. Na Mata Atlântica,                              são endêmicas ao bioma Mata Atlântica.               existem dois Parques Nacionais (Caparaó e Itatiaia),                                                                                   11 Parques Estaduais (como Rio Doce, Brigadeiro,                                   Em relação às aves, foram registradas, até os   Serra do Rola Moça e Itacolomi), uma Reserva                              dias atuais, 325 espécies no PERD. Esse número é     Biológica Federal (Rebio) e aproximadamente 65                              considerado bastante expressivo, pois corresponde a  reservas particulares (RPPNs). No entanto, por causa                              47% das aves registradas para o bioma Mata Atlân-    da grande fragmentação das florestas do bioma, as                              tica, 41% da avifauna mineira e 19% da avifauna      reservas são muito pequenas, o que impede a con-                              brasileira. Destaca-se a ocorrência de 20 espécies   servação de espécies no longo prazo. Além disso,                              de aves consideradas ameaçadas de extinção de        a distribuição dessas reservas é bastante esparsa ao                              acordo com a nova lista brasileira de espécies da    longo da paisagem, o que dificulta o trânsito das                              fauna ameaçadas de extinção. Esse número é tam-      espécies e as necessárias trocas genéticas para sua                              bém muito expressivo, visto que corresponde a 25%    perpetuação e não garante representatividade signifi-                              das aves brasileiras ameaçadas de extinção e a 27%   cativa dos diferentes habitats e ecossistemas na Mata                              das aves ameaçadas de extinção da Mata Atlântica.    Atlântica, que precisam ser conservados.                              Do total de espécies registradas para o Parque, 25                              são listadas como ameaçadas de extinção em Minas     Onça-pintada                              Gerais, como é o caso do muriqui (Brachyteles hy-                              poxanthus) e da onça-pintada (Panthera onca).             Apesar de crescentes iniciativas, a superfície                                                                                   de Minas Gerais coberta pela Mata Atlântica está                              Unidades de conservação                              muito aquém do mínimo sugerido para a manuten-                                                                                   ção da biodiversidade nesse bioma, apontando, e                                   As unidades de conservação são instrumen-       ao mesmo tempo justificando, a urgência de uma                              tos fundamentais para a reversão da crise de bio-    estratégia de ação para reverter esse quadro.                              diversidade. No entanto, os resultados alcançados                              por esse instrumento irão depender de como elas      Causas da destruição                              são selecionadas, planejadas, criadas ou geridas.                              Para agravar ainda mais a situação, as áreas pro-         Minas Gerais perdeu cerca de 121.000 hec-                              tegidas existentes são continuamente ameaçadas       tares de Mata Atlântica entre 1995 e 2000 (Fun-                              por invasões, exploração clandestina de madeira                              e ações de ocupação desordenada em seu entorno,                              gerando cada vez mais isolamento.
dação SOS Mata Atlântica, 2002). A exploração           espécies ocorrem na Mata Atlântica, sendo 29        Os estados da Mata Atlântica     predatória de espécies vegetais - para lenha, car-      espécies de aves, 19 de mamíferos, três espécies     vão, alimentação e construção - ainda persiste, o       de anfíbios e três de répteis, além de 12 espécies  111     que tem levado muitas áreas à extinção. Extensas        de insetos (besouros, borboletas e libélulas).     áreas de Mata Atlântica do Vale do Rio Doce, por     exemplo, onde as siderurgias primeiramente se           Instrumentos de conservação     instalaram, foram completamente exterminadas,     fazendo com que o desmatamento avançasse sobre               Em Minas Gerais, existem vários instrumen-     outras áreas de mata, principalmente as dos vales       tos criados para auxiliar na conservação da bio-     dos rios Mucuri e Jequitinhonha.                        diversidade do Estado e principalmente daquela                                                             associada à Mata Atlântica.Cidade de Poços de Caldas                                                                  O Atlas de Áreas Prioritárias para a Conser-           A perda de habitats foi apontada como o           vação da Biodiversidade se tornou um documento     principal fator responsável pelo declínio de 82% da     extremamente importante no que diz respeito a     fauna ameaçada de Minas Gerais. A maior parte           políticas de proteção da biodiversidade no Esta-     dessas espécies, cerca de 60%, está associada à Mata    do. Esse instrumento, reconhecido pelos órgãos     Atlântica. Estudos recentes, desenvolvidos a partir da  ambientais estaduais, vem auxiliando na criação     análise de imagens de satélite, continuam mostrando     de unidades de conservação e na priorização de     um acentuado ritmo de substituição de extensas áreas    programas para conservação de flora e fauna.     de florestas por empreendimentos agropecuários,         A versão atualizada do documento aponta, por     obras de infra-estrutura e expansão urbana.             exemplo, que, das 26 novas áreas indicadas em                                                             relação à versão anterior, 25 se encontram dentro           A perda de biodiversidade decorrente da           do bioma Mata Atlântica. Isso pode ser o resul-     intensa pressão antrópica sobre a Mata Atlântica        tado dos programas para a conservação da Mata     do Estado foi expressa em números quando da             Atlântica, que contribuíram para o conhecimento     elaboração das listas da fauna e da flora ameaça-       da fauna e flora de novas áreas e possibilitaram a     das de extinção. Nos estudos coordenados pela           sua inclusão na lista de áreas prioritárias. Nelas     Fundação Biodiversitas, 178 espécies de animais         se enquadram, por exemplo, a área de Barbacena     e 538 de plantas foram consideradas ameaçadas           e Barroso, um grande remanescente de floresta     no Estado. Desse total, com relação à fauna, 66         com algumas espécies endêmicas (como por                                                             exemplo, a aranha Corinna selysi) ou a área de                                                             Entre-Folhas, um remanescente de Mata Atlânti-                                                             ca com mais de 500 hectares, que abriga grande                                                             número de espécies ameaçadas e endêmicas e                                                             alta riqueza de espécies, como os primatas sagüi-                                                             da-serra (Callithrix flaviceps) e sauá (Callicebus                                                             personatus nigrifrons).                                                                  O Programa de Proteção da Mata Atlântica                                                             (Promata) é um programa resultante da coo-                                                             peração entre o Brasil e a Alemanha, que visa                                                             a contribuir para a proteção de remanescentes                                                             e a recuperação de áreas degradadas na Mata
prego-de–peito-amarelo (Cebus xanthosternos), o                                                            muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) e o                                                            surubim-do-Doce (Steindachneridion doceana).nina de população tradicional                               Áreas prioritárias para                                                            conservação112  Atlântica de Minas Gerais. O Programa envolve     o fortalecimento de suas UCs (regularização fun-            Na Mata Atlântica mineira, as áreas indicadas     diária parcial, obras e equipamentos, planos de        como potencialmente importantes no atlas atuali-     manejo), o monitoramento e controle da cobertura       zado das Áreas Prioritárias para a Conservação da     vegetal (levantamento da cobertura vegetal), a         biodiversidade estão diretamente relacionadas ao     prevenção e combate aos incêndios florestais, o        seu nível de fragmentação e de alteração da vege-     desenvolvimento sustentável do entorno das UCs         tação natural, a qual persiste apenas em pequenos     e a promoção de áreas de conectividade entre os        remanescentes isolados. A existência de um gran-     fragmentos de floresta.                                de número de remanescentes vegetais pequenos e                                                            próximos entre si, como no sul de Minas, levou          Entre os novos programas para a MataAtlânti-      à proposição de grandes áreas prioritárias para a     ca, podemos destacar o Programa EspéciesAmeaça-        investigação e formação de corredores de biodi-     das, voltado para a proteção das espécies em risco de  versidade, centradas no levantamento biológico e     extinção desse bioma. Resultado de parceria entre      em estudos que promovam a conectividade entre     a Biodiversitas e o Centro de Pesquisas Ambientais     esses fragmentos.     do Nordeste (Cepan), com o apoio do Fundo de     Parceria para Ecossistemas Críticos, o Programa,            O maior volume de informações em algumas     implementado em 2003, apóia financeiramente            áreas da Mata Atlântica mineira, com a maior     projetos voltados para a recuperação das espécies      concentração de registros de espécies ameaçadas     ameaçadas e a conservação de seus habitats. En-        de extinção, possibilitou aos especialistas que     tre as espécies beneficiadas no Estado de Minas        elaboram o Atlas a identificação de um complexo     através do apoio desse Programa estão o macaco-        de áreas de extrema importância biológica, como                                                            os Parques Estaduais do Rio Doce e da Serra do                                                            Brigadeiro. A grande pressão antrópica reforça                                                            a necessidade de criação de outras unidades de                                                            conservação nessas regiões.                                                                 Na Mata Atlântica que ocorre no Sul de Mi-                                                            nas, foram indicadas diversas áreas situadas na                                                            Serra da Mantiqueira, como a região do Parque                                                            Nacional do Itatiaia e de Poços de Caldas.                                                                 Devido ao baixo conhecimento que se tem                                                            sobre a Mata Atlântica que ocorre na região do                                                            Jequitinhonha, há menos áreas aí indicadas, as                                                            quais incluem o extremo nordeste do Estado.                                                            Contudo, três novas áreas de importância extrema                                                            para conservação foram propostas para a região.                                                            Rio São Francisco
Parque Nacional do Caparaó                                 ca onde a agropecuária expande suas fronteiras. Já o    Os estados da Mata Atlântica                                                           corredor Jequitinhonha inclui áreas de importância           No Domínio da Mata Atlântica, foi desenha-      biológica muito alta, como Santa Maria do Salto,        113     do o corredor leste que envolve as áreas de im-       que apresenta remanescente florestal em bom es-     portância biológica especial - Serra do Brigadeiro    tado de conservação, com alta riqueza específica e     e Parque Nacional do Caparaó - conectando-se          com influência florística da floresta atlântica do sul     com o grande corredor central da floresta atlântica   da Bahia e da Serra do Mar, no Sudeste do Brasil.     (sul da BA, ES e MG). Estão incluídas também          A Reserva Biológica da Mata Escura, por exemplo,     as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) de Pedra        guarda remanescentes significativos de floresta     Dourada e Santa Rita do Itueto, extensas áreas        atlântica de grande importância ecológica.     ainda bem preservadas, porém desconhecidas     floristicamente.                                           As áreas mais prejudicadas da floresta atlân-                                                           tica são justamente as mais importantes do ponto           Um outro corredor, o Sudeste, engloba re-       de vista conservacionista. São as remanescentes     manescentes primários de floresta atlântica com       das matas do leste e do sul mineiros, que abrigam     alta conectividade, incluindo as florestas urbanas    os últimos exemplares de gêneros e espécies de     de Juiz de Fora, as áreas prioritárias do Parque      plantas e animais ameaçados de extinção.     Estadual do Ibitipoca, de Bom Jardim de Minas,     de Bocaina de Minas e de Monte Verde e a APA               Os remanescentes de Mata Atlântica locali-     Fernão Dias. A região é altamente explorada pela      zados em regiões metropolitanas, como a de Belo     atividade agropecuária, reflorestamento de pinus      Horizonte, Viçosa e Juiz de Fora, também foram     e especulação imobiliária.                            apontados como de interesse para conservação.                                                           Nesses remanescentes, existe um grande número           A região da floresta atlântica norte, acima do  de registros de espécies ameaçadas de extinção e     Rio Doce, apresenta-se em expressivos fragmentos,     são regiões, em geral, muito bem inventariadas. A     em sua maioria desconhecida floristicamente. O        grande pressão antrópica causada pela presença de     corredor Mucuri/Jucuruçu, proposto no novo Atlas      grandes cidades reforça a urgente necessidade de     mineiro, preserva remanescentes de floresta atlânti-  criação de outras unidades de conservação nessas                                                           localidades.                                                           YasmineAntonini e Gláucia Moreira Drummond                                                           são biólogas da Fundação Biodiversitas                                                                  AMEAÇAS EM MG: págs. 199, 219 e 221                                                                  PROJETOS EM MG: págs. 259 e 275                                                                  A REDE NO ESTADO: pág. 293
Espírito SantoOs estados da Mata Atlântica114                              Parque Estadual da Pedra Azul na região serrana    de altitude média em torno de 50 m. No Espírito                                                                                 Santo, ocupa uma faixa estreita ao sul, entre as                                   O Espírito Santo possui área de 45.597 km2,   planícies e as primeiras escarpas das serras inte-                              sendo que 100% de sua superfície eram cobertas     rioranas. Ao norte de Vitória alarga-se, tornan-                              por Mata Atlântica. Segundo o Instituto Brasi-     do-se expressiva entre Linhares e São Mateus e                              leiro de Geografia e Estatística (IBGE-2004), a    prolonga-se até o sul da Bahia. A zona serrana,                              Mata Atlântica no Estado é composta por floresta   localizada mais ao interior, é formada por vales                              ombrófila, floresta estacional semidecidual, for-  profundos e escavados, nos prolongamentos da                              mações pioneiras (brejos, restingas, mangues)      Serra da Mantiqueira.                              e refúgio vegetacional da Serra do Caparaó. O                              relevo caracteriza-se como montanhoso, com              Na zona dos tabuleiros, ocorre principalmen-                              altitudes que vão desde o nível do mar até 2.897   te a floresta ombrófila densa, sendo caracterizada                              m, cujo ponto culminante é o Pico da Bandeira      por uma vegetação com exemplares de altura                              (Serra do Caparaó).                                média acima de 30 m. As árvores são espaçadas,                                                                                 o sub-bosque é pouco denso e apresentam-se                                   Do ponto de vista geológico, Amorim (1984)    poucas epífitas. Já a zona serrana é caracterizada                              considerou que o Espírito Santo pode ser dividido  pela floresta ombrófila aberta, de altitude, com o                              em duas zonas principais: zona dos tabuleiros e    interior fechado, vegetação rasteira e arbustiva                              zona serrana. A zona dos tabuleiros compreende                              o terraço litorâneo, plano ou levemente ondulado,
abundantes, com altura média de 25 m. De 300 a       baixos, de substratos de vasa de formação recen-     Os estados da Mata Atlântica800 m de altitude, forma-se a floresta de encosta,   te ao longo do litoral. Esses se desenvolvem namais úmida. Acima de 1.200 m, assume carac-          desembocadura dos rios, lagunas e reentrâncias       115terísticas de floresta montana, com árvores um       costeiras, onde existe encontro das águas dospouco mais baixas e espécies típicas. Acima de       rios com a do mar. São formados por arbustos e2.000 m, aparece a vegetação de campos (refúgios     árvores com poucas espécies, semelhantes fisio-vegetacionais). A zona serrana foi intensamente      nômica e fisiologicamente. Nas zonas de maiorexplorada, onde se desenvolveu uma capoeira de       influência das marés, aparecem mangue-vermelhoregeneração, alta e rica em imbaúbas.                (Rhizophora mangle) e mangue-preto (Avicenia                                                     schaueriana) e nas zonas de menor influência     As planícies costeiras ou planícies litorâ-     encontra-se mangue-branco (Laguncularia race-neas geralmente têm a elas associado o termo         mosa). Considerando sua extensão, os manguezaisrestinga, esse, porém, de significado bastante       mais importantes do Estado são os do Rio Sãodiverso. Nesse texto, vamos considerar que o         Mateus, Rio Barra Seca, complexo Piraquê-Açú-termo restinga se refere ao tipo de vegetação        Mirim, Baía de Vitória, Baía de Guarapari, Rioque recobre as planícies costeiras. Sendo assim,     Benevente, Rio Itapemirim e Rio Itabapoana.podemos caracterizar as planícies costeiras porum conjunto de tipos de vegetação, designado         Histórico da ocupaçãomuitas vezes como complexo, que varia desdeformações herbáceas, passando por formações               Em 1503, foi fundado o primeiro vilarejoarbustivas, abertas, fechadas, chegando a florestas  no Estado, no atual município de Vila Velha. Acujo dossel varia em altura, mas geralmente não      derrubada de florestas para formação de roças eultrapassam os 20 m.                                 retirada de lenha contribuiu para o processo de                                                     degradação da Mata Atlântica, que foi intensifi-     As regiões costeiras caracterizam-se por        cado com a extração indiscriminada de madeiraapresentarem diversas feições morfológicas:          de lei. A ocupação da faixa costeira foi favorecidadunas, mangues, estuários, baías e recifes, de-      pelo acesso e transporte por via marítima e pelacorrentes da atuação de diferentes fatores como      riqueza e diversidade de recursos existentes nasventos, marés, ondas e correntes.                    áreas úmidas, manguezais, estuários e baías.     A vegetação do litoral encontra-se dividida          A entrada para o interior foi proibida pelaem dois tipos básicos: a vegetação das praias,       Coroa, a partir da descoberta das minas de ourodunas e restingas e a vegetação dos mangues. Nas     em 1710, quando o governador capitão-geral dopraias, apresenta-se principalmente de porte her-    Estado do Brasil, Lourenço de Almada, por ordembáceo e nas dunas o porte é arbustivo. Na restinga,  de D. João V de Portugal, determinou a suspensãopode-se encontrar uma mata de aspecto xeromór-       da exploração das minas existentes na Capitaniafico, que em zonas alagadas torna-se paludosa. As    do Espírito Santo, com a proibição da construçãorestingas do Espírito Santo localizam-se desde a     de estradas para as Minas Gerais, sob “pena dedivisa da Bahia até a divisa com o Rio de Janeiro,   confisco de bens e degredo para Angola”.ao longo do litoral, por 411 Km de extensão. Li-mitam-se em alguns pontos à praia, mas em 80%             O Espírito Santo, não obstante a proximidadede sua área, avançam para o interior.                com o Rio de Janeiro, ficou, assim, por três sécu-                                                     los e meio, coberto de florestas que começavam     A presença de manguezais é favorecida pelaocorrência de uma faixa contínua de terrenos
Os estados da Mata Atlântica116                           Restinga                              próximas ao mar, atravessando todo o território,    devastação da cobertura florestal primitiva. A                              galgando as serras do Caparaó e dos Aimorés e       introdução da cultura cafeeira trouxe uma forte                              penetrando no vizinho estado de Minas Gerais.       mudança na economia e passou a ser a principal                              Em 1810, cerca de 85% do território capixaba        atividade econômica do Estado. O desmatamento                              encontrava-se coberto pela Mata Atlântica.          descontrolado, aliado às condições geográficas                                                                                  de relevo dominante e com solos altamente sus-                                   Esse panorama se manteve por um bom            ceptíveis à erosão, promoveu impactos sobre o                              tempo, sendo que em 1888, apenas 15,4% do ter-      ambiente natural: erosão do solo, contaminação                              ritório era ocupado pela população humana. Essa     das águas e assoreamento dos rios.                              ocupação se limitava ao litoral, cujos principais                              núcleos eram, ao norte, São Mateus e, ao sul, Nova       No final do século XIX, a produção agrária                              Almeida, Guarapari, Benevente e Itapemirim.         do Estado se caracterizava pela monocultura ca-                              Nesses últimos, a principal atividade econômica     feeira e pela pequena propriedade. Mesmo assim,                              era a produção de cana-de-açúcar, enquanto no       em 1920, somente 28,6% das terras do Estado                              norte do Estado era a produção de farinha de        eram ocupadas pelos estabelecimentos agrícolas                              mandioca para exportação.                           e apenas 17,6% dessa área eram cultivadas.                                   Com a expansão da atividade cafeeira pro-           Novos imigrantes europeus, que chegavam                              veniente da região do Vale do Paraíba, a partir da  ao Estado fugindo das conseqüências das guerras                              segunda metade do século XIX, teve início a ocu-    mundiais, receberam do governo glebas de 30                              pação da região central do Estado pelos primeiros   ha para implantação da cultura do café. Entre os                              imigrantes italianos e alemães, com conseqüente     anos 1920 e 1950 era muito comum que novas                                                                                  derrubadas de florestas fossem realizadas para
expansão da cultura devido a épocas de bom           tora e exportadora deste recurso, principalmente     Os estados da Mata Atlânticapreço do café. Com a queda dos preços, as ter-       para Minas Gerais e Rio de Janeiro.ras eram abandonadas ou se transformavam em                                                               117pastagens, caracterizando o ciclo mata-café-pas-          Na década de 1950, a floresta de várzea e atagens. Como conseqüência, houve devastação          vegetação pantanosa, que eram muito freqüentesda cobertura vegetal primitiva de grande parte       ao longo de toda costa espírito-santense, estavamdas terras do Estado e utilização predatória dos     quase totalmente destruídas, sendo mais facilmen-recursos naturais.                                   te encontradas nas proximidades do Rio Doce. Já                                                     em relação à vegetação de encostas e de altitude, a     Em relação à região norte (que no início da     destruição ocorreu tanto por ação de madeireiroscolonização não fora objetivo de exploração),        quanto por carvoeiros. A demanda para produçãoa construção da estrada de ferro Vitória-Minas       de dormentes para atender à rede ferroviária e degarantiu fácil acesso e permitiu em 1908 o po-       carvão para alimentar a indústria siderúrgica, tam-voamento da região sul do Rio Doce. Quanto à         bém contribuiu com o processo de desmatamentomargem norte, só em 1916 teve início o primeiro      irracional e sem critérios.povoamento ao longo do Rio Pancas e também ainstalação da primeira fazenda de cacau em Li-            O declínio da exploração das florestas tro-nhares e Regência. O desenvolvimento tornou-se       picais do sudeste da Ásia influenciou fortementeacelerado a partir de 1928, quando foi construída a  para que o Brasil assumisse o papel de produtorponte sobre o Rio Doce, ligando Colatina às terras   e fornecedor de madeiras e derivados para aten-do norte. Posteriormente, a exploração de madeira    der ao mercado internacional. Nos anos 1960,tornou-se uma alternativa economicamente segu-       a indústria madeireira era a principal atividadera, destacando-se essa região como grande produ-     econômica geradora de empregos (empregando                                                     33,13% do total de operários da indústria de trans-                                                                                                          Floresta e                                                                                                          cachoeira em                                                                                                          Santa Teresa
RegiãolitorâneaOs estados da Mata Atlântica  formação), explorando grandes áreas do Estado        da alta dos preços, sendo que, com a queda dos                              até o esgotamento dos recursos florestais, quando,   preços, muitas dessas áreas eram abandonadas118                           na década de 1970, o setor entra em decadência       e transformadas em pastagens. Outro fator que                              em virtude da escassez de matéria-prima.             concorreu para a perda da cobertura florestal,                                                                                   nessa década, foi a demanda energética para suprir                                   Ainda nos anos 1970, teve início um grande      os setores residencial, agropecuário e industrial,                              incremento no desenvolvimento industrial e o Es-     principalmente o siderúrgico, o que gerou uma                              tado passou a fazer parte do processo de expansão    equivalência em área desmatada superior à média                              da economia brasileira, através da implantação e     de 30.000 ha/ano.                              desenvolvimento de setores estratégicos como                              celulose, metalmecânica, siderurgia, entre outros.        A evolução dos remanescentes florestais e                              A instalação de grandes projetos industriais no      ecossistemas associados no Espírito Santo, no                              Estado, como a Aracruz Celulose, Companhia           período de 1985 a 1995, foi discutido em trabalho                              Siderúrgica de Tubarão, Usina de Pelotização e       realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica,                              Petrobras, aceleraram o processo de urbanização      Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)                              e de concentração populacional, agravando o qua-     e o Instituto Socioambiental (1998). Os remanes-                              dro de destruição dos remanescentes em função        centes florestais em 1985 perfaziam 465.414 ha,                              da demanda energética, com inevitável impacto        sendo reduzidos para 442.930 ha em 1990 e para                              sobre a qualidade de vida da população.              410.391 ha em 1995. Esses números demonstram                                                                                   um aumento da intensidade do desmatamento no                                   O eucalipto, principal matéria-prima para a     Estado, de 4,83%, no período de 1985 a 1990,                              produção de celulose, passou a ocupar significati-   para 7,35%, no período de 1990 a 1995. Em                              vas parcelas de terra na região das bacias dos rios  relação à restinga, no ano de 1985, a área era de                              São Mateus, Barra Seca e Itaúnas, onde inclusive     33.313 ha, sendo reduzida para 31.967 ha em                              áreas de floresta nativa foram substituídas por      1990 e posteriormente para 31.091 ha em 1995.                              grandes extensões de plantações homogêneas.          Houve nesse caso uma redução da velocidade                              No final da década de 1970, o reflorestamento já     de desmatamento, caindo de 4,04% para 2,74%.                              ocupava área equivalente a 119.303 ha.               Em relação ao mangue, de 1985 a 1990, não foi                                                                                   registrado nenhum desmatamento, sendo que, no                                   Nos anos 1980, houve novo crescimento dos                              desmatamentos para plantação de café, em função
Os estados da Mata Atlântica                                                                                                       119Floresta ombrófila densaperíodo de 1990 a 1995, houve desmatamento de       lise comparativa com os estudos realizados pela271 ha representando um decremento de 3,80%         própria Fundação SOS Mata Atlântica para osda cobertura.                                       períodos anteriores. Por exemplo, os resultados                                                    apresentados para o período 1995-2000 indicam     O monitoramento da cobertura florestal         uma cobertura florestal nativa para o Espíritopara o período 1995 a 2000 amplia a escala de       Santo na ordem de 30,28%, o que correspondemapeamento para 1:50.000, o que permite iden-       a 1.398.435 ha, enquanto que os dados de 1995tificar fragmentos florestais, desmatamentos e      indicavam 8,9% de remanescentes.áreas em regeneração a partir de 10 ha, enquantoanteriormente somente áreas acima de 25 ha          Situação atual e perspectivaseram possíveis de serem mapeadas. Além dessas       futurasalterações metodológicas, o processo de mapea-mento passa a incluir a identificação de formações       Apesar do avanço da consciência con-arbóreas sucessionais secundárias em estágio        servacionista, o legado deixado pelo processomédio e avançado de regeneração, diferindo dos      exploratório dos recursos naturais gerou umamapeamentos anteriores, nos quais considerava-      fragilidade na relação homem/ambiente. As ati-se como remanescentes florestais apenas as for-     vidades antrópicas, em muitos casos, se tornarammações arbóreas primárias e aquelas em estágio      insustentáveis, principalmente pela baixa capaci-avançado de regeneração.                            dade de absorção dos impactos apresentada pelos                                                    sistemas naturais.     Essas modificações não permitem uma aná-
OrquídeaOs estados da Mata Atlântica       Como exemplo dessa fragilidade, podemos          do País, com 145.000 ha ao norte do Rio Doce e                              citar o uso do solo do Estado, que está distribuído   35.000 ha ao sul. Hoje, infelizmente ele encontra-120                           basicamente em: lavouras (permanente, temporá-        se em processo de desertificação, o que aumenta                              ria e temporária em descanso), pastagens (natural     em muito sua importância, devido à fragilidade                              e plantada), florestas naturais, florestas plantadas  que o ambiente apresenta. Através de ações exe-                              e terras produtivas não utilizadas, que totalizam     cutadas (principalmente drenagem) pelo extinto                              3.339.022 ha, ou seja, 73,23% da extensão terri-      Departamento Nacional de Obras e Saneamento                              torial do Estado. As pastagens cobrem 1.821.069       (DNOS), entre os anos 1965 a 1970, o patrimônio                              ha, constituindo o uso predominante do território     biológico foi depredado com o intuito de aumentar                              capixaba. Sua maior concentração é na mesorre-        a fronteira agrícola na região.                              gião Litoral Norte Espiritossantense, totalizando                              618.070 ha. Dentre os 13 municípios integrantes            Outra atividade de potencial impactante é                              dessa mesorregião, o município de Linhares con-       a indústria que está concentrada no litoral, com                              centra 236.544 ha (38,7% do total de pastagens        destaque para as empresas de produção de aço,                              da mesorregião).                                      celulose, produtos químicos, petróleo e gás na-                                                                                    tural. Já no interior, concentram-se a produção                                   Vale ressaltar que, na mesorregião Litoral       têxtil, as confecções e a atividade mineradora.                              Norte Espiritossantense, existem fisionomias mui-     Como reflexo do desenvolvimento industrial, a                              to ameaçadas, seja pelo isolamento em pequenas        população, que até 1960 era distribuída predo-                              frações, seja pela pressão das atividades antrópi-    minantemente na área rural (71,55%), passou,                              cas, como é o caso da floresta dos tabuleiros, que    depois do processo de industrialização ocorrido                              vem passando ao longo do tempo por um processo        a partir da década de 1970, a ser composto por                              de desmatamento motivado principalmente pela          79,52% de população urbana. Desses, 46,06%                              implantação e expansão de atividades como fru-        ocupam a região da Grande Vitória, abrangida                              ticultura, silvicultura e pecuária. Nessa região,     pelos municípios de Cariacica, Serra, Viana, Vila                              também podemos observar a vegetação florestal         Velha e Vitória.                              da várzea, que ocupa os solos aluviais, sujeitos por                              vezes a inundações. Essa vegetação pode ser ob-            Diante desse cenário de grande pressão                              servada na Floresta Nacional de Goytacazes. Essa      urbana, as restingas e os manguezais são os                              fitofisionomia foi muito explorada principalmente     ecossistemas mais ameaçados. A vegetação de                              no tocante à utilização para implantação da cultura   restinga tem sido utilizada como combustível                              do cacau. A prática de “brocar” a floresta (mata      pelas comunidades humanas, mas um dos maio-                              de cabruca), retirando indivíduos do sub-bosque e     res problemas, além da ocupação desordenada,                              mantendo apenas os existentes no dossel, promo-       tem sido a exploração irregular de areia para a                              vem um retardamento dos eventos sucessionais,         indústria da construção civil. Os manguezais                              por vezes até inviabilizando a sustentabilidade do                              ecossistema florestal.                                   Uma fisionomia singular e também extre-                              mamente ameaçada é o Vale do Suruaca, loca-                              lizado nos municípios de São Mateus, Linhares                              e Aracruz. Esse era considerado um verdadeiro                              pantanal, pois se tratava da maior várzea contínua
encontram-se bastante comprometidos devido          projeto Conservação da Biodiversidade da Mata         Os estados da Mata Atlânticaao processo histórico de uso indevido de seus       Atlântica do Estado do Espírito Santo, realizadorecursos, destacando-se lançamento de esgotos,      pelo Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica         121disposição de lixo, aterros e invasões, utilização  (IPEMA) em parceria com o Governo do Estadoda madeira para construção e combustível, utili-    e a Conservação Internacional do Brasil. Esse ézação da casca do mangue vermelho para extração     composto por três subprojetos:do tanino e pesca predatória.                                                         - Elaboração da Lista de Espécies da Flora e     O Espírito Santo possui ainda uma das          da Fauna Ameaçadas de Extinção - Foi concluídomaiores reservas de mármore e granito do País,      com a realização de um workshop no período desabidamente atividades com grande potencial de-     13 a 15 de outubro de 2004, que contou com agradador. Em 2002, o volume de rochas processa-     participação de especialistas de várias instituiçõesdas no Estado representou 78,5% das exportações     de pesquisa brasileiras com relevante atuação nobrasileiras do produto.                             Espírito Santo. Como resultado, integraram a lista                                                    197 espécies da fauna e 753 da flora.     Também vale ressaltar que, nos últimos doisanos, foram registrados no Estado cerca de 50%           - Avaliação do Manejo das Unidades de Con-das descobertas de petróleo do Brasil. As novas     servação Estaduais e Federais - Levantou informa-reservas petrolíferas, confirmadas recentemente     ções sobre a avaliação no manejo nas unidades deno sul do Estado, elevam a produção para 2,1        conservação estaduais e federais em quatro âmbi-bilhões de barris, o que representa cerca de 20%    tos: ambiental, social, econômico e institucional,do total de reservas do País.                       traçando um perfil das UCs no Estado.     Todas essas atividades representam uma              - Definição de Áreas e Ações Prioritáriasforte pressão sobre a Mata Atlântica. Por outro     para a Conservação - Foi concluída no períodolado, ações têm sido desenvolvidas no intuito       de 6 a 9 de abril de 2005, com a realização dode melhorar sua conservação, como exemplo o         workshop para a definição das Áreas e Ações                                                                                                          Região de                                                                                                          entorno                                                                                                          do Parque                                                                                                          Nacional do                                                                                                          Caparaó
LibélulaOs estados da Mata Atlântica122                              Prioritárias para Conservação da Biodiversidade     de aproximadamente 8.550 ha de vegetação de                              da Mata Atlântica no Estado do Espírito Santo.      restinga, áreas alagadas e pastagens, situada no                              Como resultado do workshop, definiram-se 28         entorno da Reserva Biológica de Comboios, e                              áreas prioritárias para a conservação da Mata       abrange parte dos municípios de Aracruz e Li-                              Atlântica.                                          nhares. O principal objetivo da unidade é garantir                                                                                  a utilização sustentável e a conservação dos                                   O Ibama tem realizado ações, como a cria-      recursos naturais renováveis, tradicionalmente                              ção de quatro novas unidades de conservação,        utilizados pelas populações extrativistas da re-                              sendo uma costeira e três marinhas. A área costei-  gião de entorno da Reserva Biológica (Rebio)                              ra tem como proposta a criação de uma Reserva       de Comboios e o estabelecimento de uma zona                              de Desenvolvimento Sustentável na região da         de amortecimento para ela.                              foz do Rio Doce e compreende uma superfície
Os estados da Mata AtlânticaParque Nacional do Caparaó                         diferentes espécies que compõem as comuni-         123                                                   dades bióticas.     As unidades de conservação marinhas pro-postas incluem o Parque Marinho de Santa Cruz,          Em fevereiro de 2000, foi assinado pelo Go-em Aracruz; o Parque Marinho da Ilha do Francês,   verno Federal e o Governo do Estado do Espíritoem Piúma, e a Reserva Extrativista de Barra Nova,  Santo o Pacto Federativo. Uma das medidas queem São Mateus. Com relação à criação de novas      integram o pacto é o projeto Ação Integrada deReservas Particulares do Patrimônio Natural        Fiscalização para a Mata Atlântica no Estado do(RPPN), o Ibama tem feito uma divulgação mais      Espírito Santo.direcionada aos pequenos proprietários rurais etem atendido a diversos pedidos de esclareci-           Diante desse cenário, conclui-se que, apesarmentos.                                            do aumento da pressão das atividades antrópi-                                                   cas sobre a Mata Atlântica no Espírito Santo,     Ações importantes têm sido realizadas         a sociedade tem se mobilizado e conseguidopelo Comitê Estadual da Reserva da Biosfera        avanços importantes no tocante à conservação.do Estado do Espírito Santo. Pode-se citar a       Mesmo assim, é urgente que se repense o modeloampliação da área da Reserva da Biosfera da        de desenvolvimento adotado no Estado, pois aMata Atlântica no noroeste do Estado, com          conservação dos recursos naturais é fundamen-aproximadamente 100.000 ha, gerando a ex-          tal para gerar um equilíbrio homem/ambiente.pectativa de estabelecimento de novas unidades     Sem esse equilíbrio, não é possível chegar a umde conservação na região. Também devemos           desenvolvimento econômico (que seja sustentá-ressaltar o Projeto de Implantação do Corredor     vel), a conservação da biodiversidade (que é semCentral da Mata Atlântica que tem como obje-       dúvida a nossa maior riqueza) e a uma melhoriativos a manutenção e o incremento do grau de       da qualidade de vida da população, a qual deveconectividade entre fragmentos florestais que      ser o nosso maior objetivo.permitam maximizar o fluxo de indivíduos das
FisionomiasOs estados da Mata Atlântica        De acordo com o IBGE (2004), a cober-     Attalea. Essa região é subdividida em quatro                              tura vegetal natural do Estado se classifica    formações, de acordo com as diferenças de124                           como:                                           topografia e fisionomias florestais:                                    Floresta ombrófila densa - Essa re-             Floresta ombrófila densa das terras bai-                              gião recobre uma área de 3.124.300 ha ou        xas - Situada entre os 4° de latitude Norte e                              68,5% do território do Estado. Ocorre sob       os + de 16° de latitude Sul, a partir dos 5 m                              um clima ombrófilo e dependente de chuva,       até os 100 m acima do mar; de 16° de latitude                              sem período biologicamente seco durante         Sul a 24° de latitude Sul de 5 m até 50 m;                              o ano e excepcionalmente com dois meses         de 24° de latitude Sul a 32° de latitude Sul                              de umidade escassa, com grande umidade          de 5 m até 30 m. É uma formação que em                              concentrada nos ambientes dissecados das        geral ocupa as planícies costeiras, capeadas                              serras. As temperaturas médias oscilam entre    por tabuleiros pliopleistocênicos do Grupo                              22 e 25ºC. Caracteriza-se por solos de baixa    Barreiras. Essa fisionomia é comumente clas-                              fertilidade, álicos ou distróficos.             sificada como floresta de tabuleiro. Rizzini                                                                              (1997) definiu a Floresta dos Tabuleiros como                                    Na floresta ombrófila densa, apresen-     o corpo florestal que ocorre desde Pernam-                              tam-se árvores de grande porte nos terraços     buco até o Rio de Janeiro e caracteriza sua                              aluviais e nos tabuleiros terciários, enquanto  área central como imponente e define sua                              nas encostas marítimas as árvores são de        distribuição como sendo da região sul da                              porte médio. Alguns gêneros são típicos e ca-   Bahia até o norte do Espírito Santo. Trata-se                              racterizam bem essa região da encosta atlân-    de uma faixa litorânea, por dentro das alvas                              tica até o Rio Doce, como Parkia, Manilkara e                                           Bromélias e cactus na restinga
areias quaternárias (ditas areões na Bahia        são interiores. Sua estrutura e composição      Os estados da Mata Atlânticaaustral), que suportam a restinga. O nome         nos diferentes estandes são variáveis,tabuleiro refere-se à topografia, já que essa é   contudo é possível caracterizá-las devido       125uma faixa quase plana, elevando-se de 20 a        ao: desenvolvimento menor, as árvores do200 metros acima do nível do mar. Segundo         andar superior apresentam de 15 a 25 m deIBGE (1977), os tabuleiros formam, no norte       altura e não ultrapassam 60 cm de diâmetro;do Espírito Santo, níveis de baixas altitudes     ausência quase completa de lianas, epífitas,(de 30 a 60 metros) nos interflúvios dos rios     plantas macrófitas, palmeiras e de fetosMucuri e Itaúnas, sendo precedidos na faixa       arborescentes (com exclusão dos vales emais próxima do mar pelas baixadas e pelos        grotas); e falta ou escassez de sapopemascordões arenosos quaternários. Sua origem         e raízes adventícias superficiais.continental poderia ser explicada pela intensaerosão das rochas dos maciços cristalinos               Floresta ombrófila densa montana - Si-sob condições provavelmente secas. Após           tuada no alto dos planaltos e/ou serras entrea deposição, teriam sido esses depósitos          os 4° de latitude Norte e os 16° de latitudeafetados pela tectônica e pelas oscilações do     Sul a partir dos 600 m até 2.000 m; de 16°nível do mar, ocorridas durante o Quaternário.    de latitude Sul a 24° de latitude Sul de 500Sua flora é rica e diversificada e apresenta      m até 1500 m; de 24° de latitude Sul atévárias espécies arbóreas endêmicas.               32° de latitude Sul de 400 m até 1.000 m. A                                                  estrutura florestal do dossel uniforme (20 m)      Floresta ombrófila densa submontana         é representada por ecotipos relativamente- Situada nas encostas dos planaltos e nas        finos com casca grossa e rugosa, folhasserras entre os 4° de latitude Norte e os 16°     miúdas e de consistência coriácea.de latitude Sul a partir dos 100 m até 600 m;de 16° de latitude Sul a 24° de latitude Sul            Floresta ombrófila aberta - A fisionomiade 50 m até 500 m; de 24° de latitude Sul a       florestal é de árvores mais espaçadas, com32° de latitude Sul de 30 m até 400 m. Suas       estrato arbustivo pouco denso, com climaprincipais características são os fanerófitos de  com mais de dois e menos de quatro mesesalto porte, alguns ultrapassando os 30 m.         secos, temperatura média de 24 e 25ºC.      Ruschi (1950) e Rizzini (1979) descre-            Caracteriza-se pela presença de arbustosvem essa vegetação como mata de encosta,          e muitas palmeiras, especialmente do gênerosendo a mata que se desenvolve sobre o            Attalea, conhecida como indaiá-açu. Esse tipoarqueano em altitudes de 300 até 800 m.           de floresta é encontrado em pequenas áreasSeu interior é muito fechado devido à vege-       localizadas a noroeste e a sudeste, ocupandotação rasteira e à subarbustiva que é muito       130.800 ha ou 2,87% da extensão territorialdensa. A altura de suas árvores chega aos         do Estado. Ocorre sobre a litologia do Pré-30 m no máximo. É uma paisagem absolu-            Cambriano, situada no planalto do Caparaó,tamente típica de elevações arredondadas          entre Venda Nova e Ibatiba, com altitudes quee sucessivas, que se expande através de           variam entre 1.000 e 1.200 m. Ocorre ainda naamplas extensões do Espírito Santo, onde          região de Domingos Martins, em uma pequena                                                  faixa perpendicular ao eixo da rodovia BR-
Os estados da Mata Atlântica126                              Pico do Cristal                              262, de Alfredo Chaves a Santa Leopoldina,     que somente duas delas são encontradas                              com altitudes entre 600 e 800 m.               no Espírito Santo:                                    Floresta estacional semidecidual - Essa        Floresta estacional semidecidual de                              fisionomia está determinada por duas esta-     terras baixas - Encontrada nos tabuleiros cos-                              ções, uma chuvosa e outra seca, que condi-     teiros terciários do grupo Barreiras e áreas                              cionam a sazonalidade foliar dos elementos     de litologia do Pré-Cambriano entre 5 e 50 m,                              arbóreos dominantes. A porcentagem de          em poucos agrupamentos remanescentes,                              árvores caducifólias no conjunto situa-se en-  no município de Itapemirim, em Itapecoá.                              tre 20% e 50%. São dominantes os gêneros                              neotropicais Tabebuia, Swietenia, Parate-            Floresta estacional semidecidual sub-                              coma e Cariniana, entre outras, em mistura     montana - Própria das áreas de litologia do                              com os gêneros paleotropicais Erythrana e      Pré-Cambriano e relevo dissecado, ocorren-                              Terminalia e com os gêneros australásicos      do próximo à cidade de Cachoeiro de Itape-                              Cedrela e Sterculia. No Estado, essa região    mirim, em altitudes entre 50 e 500 m.                              fitoecológica compreende 1.047.900 ha (23%                              da superfície).                                      Refúgio vegetacional - São agrupamen-                                                                             tos vegetais que destoam da fitofisionomia                                    A floresta estacional semidecidual é     predominante da região. Podem ser divididos                              subdividida em quatro formações, sendo         em montano e alto montano. De acordo com                                                                             o levantamento do Radam-Brasil, no Espírito
Santo ocorre somente o tipo alto montano,        de locais sombreados e muito ensolarados,         Os estados da Mata Atlânticaencontrado em altitudes superiores a 1.500       proporcionados tanto pela descontinuidadem. É o caso dos campos de altitude presentes     do dossel como pela grande quantidade de          127no Parque Nacional do Caparaó. A cobertura       clareiras existentes.graminóide é intercalada por pequenos arbus-tos, cuja composição apresenta um alto índi-           O nativo caracteriza-se por uma vegeta-ce de gêneros e famílias endêmicas, sendo        ção de caméfitas pioneiras, com a presençaque as mais freqüentes são: Euphorbiaceae,       de plantas lenhosas de pequeno porte. EmMelastomataceae e Rubiaceae.                     lugares onde a água da chuva fica estagnada,                                                 a floresta de muçununga degenera, transfor-      Savanas - As áreas cobertas por sava-      mando-se numa espécie de cerrado ou re-nas no Estado são consideradas de origem         vestimento arbustivo. Às vezes, por causa depaleogeográfica. Ocorrem em uma pequena          ações antrópicas ou por episódios naturais,área ao norte da cidade de Linhares, na          essa vegetação pode degenerar ainda maisReserva Natural da Vale do Rio Doce, ocu-        e transformar-se em nativos. Sendo assim,pando cerca de 30 km2. Constituem-se de          denominam-se nativos manchas de solocomunidades herbáceas em meio à vege-            constituídas de areia pura, cuja vegetação étação florestal, que se instalam sobre solos     formada de grama dura e samambaia, sendoarenosos, azonais, caracterizando dois tipos     que essa última forma verdadeiros tapetes,distintos de vegetação: muçununga e nativo,      cobrindo parcialmente essas manchas.como são conhecidos localmente.                                                       Formações Pioneiras - São as que re-      As florestas de muçununga ocorrem em       cobrem os terrenos do quaternário recentesolos muito arenosos, em pequenas man-           (holoceno) e estão presentes ao longo do lito-chas dentro da floresta de tabuleiro. Nessa      ral, ao longo dos cursos d’água e ao redor defloresta, as árvores do andar superior pos-      depressões fechadas que acumulam água,suem altura total que varia de 7 a 10 metros,    como os pântanos e as lagoas. Caracterizam-com suas copas, algumas vezes, se tocando        se por terrenos instáveis, cujos sedimentose formando um dossel contínuo. Entretanto,       são influenciados pelos processos de acumu-mais comumente, o dossel apresenta-se des-       lação fluvial, marinha, lacustre, fluviomarinhacontínuo, o que possibilita a penetração dos     e eólica. As fisionomias são variáveis de acor-raios solares, em alguns locais, até o solo. As  do com as diferentes condições ambientais.árvores emergentes são freqüentes, emborasuas alturas geralmente não excedam 20 m,              De acordo com o IBGE (1987), as for-mas o suficiente para que toda ou quase toda     mações pioneiras podem ser divididas ema sua copa esteja localizada acima das árvo-     quatro tipos de formações principais:res do andar superior. As epífitas são bastan-te comuns na área, podendo ser considerada             Área de influência fluvial - Estão presen-uma das características mais marcantes           tes nas planícies aluviais permanentementeda floresta de muçununga. Esse epifitismo        ou periodicamente inundadas que ocupamelevado pode ser atribuído à co-existência       extensas faixas situadas ao longo dos rios. A                                                 vegetação característica é herbácea-grami-                                                 nóide com destaque para o gênero Panicum;
Os estados da Mata Atlântica  o encharcamento do solo pode ser o fator        influência das marés e que ocupam os estuá-                              limitante para o desenvolvimento da vege-       rios dos rios. O mangue é constituído por uma128                           tação lenhosa. No Espírito Santo, ocorre no     comunidade serial arbórea, bastante homo-                              extremo norte, na região do Rio Itaúnas e no    gênea, cujas espécies mais freqüentes são:                              extremo sul, na região do Rio Itabapoana.       o mangue-vermelho (Rhizophora mangle),                                                                              mangue-branco (Laguncularia racemosa) e                                    Área de influência fluviomarinha herbá-   o mangue-amarelo (Avicenia germinans). No                              cea - Ocorre em solos predominantemente         Espírito Santo, está presente na região de                              arenosos, formados por deposições de            Vitória, Conceição da Barra, em Barra Nova,                              sedimentos fluviais e marinhos. No Espírito     município de São Mateus, nos estuários dos                              Santo, ocorre ao longo do litoral, ao norte do  rios Piraqueaçu e Santa Rosa, em Aracruz,                              Rio Doce, cujas planícies inundadas ou inun-    em Guarapari, em Anchieta e na Barra do                              dáveis são muito utilizadas para pastagens,     Rio Itapemirim.                              a partir da utilização de sistemas para dre-                              nagem do excesso de água. Nas áreas mais              Área de influência marinha - Essas for-                              úmidas, estão presentes os gêneros Typha        mações predominam no litoral sobre solos                              (taboa) e Montricardia (aninga). Nas regiões    arenosos e são cobertos por vegetação de                              mais elevadas e que não são alcançadas          restinga. Essa vegetação apresenta diversas                              pelas cheias, aparecem núcleos de florestas     fisionomias que vão desde herbácea (mais                              individualizadas, cujas espécies têm grande     próxima à praia e que formam diferentes está-                              poder de adaptação a solos lixiviados, tais     gios sucessionais em direção ao interior) até                              como: Aspidosperma sp., Schefflera sp. e        alcançar uma vegetação arbórea com árvo-                              Tapirira guianensis.                            res de até 15 m de altura. No Espírito Santo,                                                                              ocorre praticamente ao longo de todo o litoral,                                    Área de influência fluviomarinha arbórea  em faixas cuja largura é variável, desde o sul                              - São os manguezais que ocorrem normal-         até o extremo norte do Estado.                              mente associados a solos de várzeas, sob a                              Alessandro de Paula é Engenheiro Florestal,                              doutorando em Ecologia e Recursos Naturais,                              mestre em Botânica e consultor do Instituto de                              Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema)                                    AMEAÇAS NO ES: págs. 199, 219 e 224                                    A REDE NO ESTADO: pág. 292                                    BIBLIOGRAFIA: pág. 316
BahiaManguezal                                                                                                                 Os estados da Mata Atlânticada região deCanavieiras                                                                                                                          129                   A Mata Atlântica na Bahia distribui-se por      propriedades corporativas – com mosaicos de              cinco regiões: Chapada Diamantina-Oeste, Litoral     fragmentos florestais e plantações de cravo, den-              Norte, Baixo Sul, Sul, Extremo-Sul. Essas regiões    dê e seringueira, e extração de piaçava. Poucos              apresentam características ecológicas, histórias de  remanescentes florestais ainda sofrem desmata-              ocupação humana, usos do solo e pressões antrópi-    mentos para plantios comerciais e alimentares,              cas distintas. Diversos ciclos econômicos sucede-    mas a exploração madeireira ilegal é intensa.              ram-se nos domínios da Mata Atlântica na Bahia:      Inclui a Baía de Camamu, extensa zona estuari-              pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, diamantes, café,   na, com trechos únicos de manguezais, florestas              jacarandá, gado, algodão, cacau e recentemente       de restinga e campos nativos e a Ilha de Tinharé              monocultura de eucalipto.                            (Morro de São Paulo), que recebe grande aporte                                                                   de turistas e novos vetores de pressão surgem, em                   Das cinco regiões da Mata Atlântica na          especial a carcinicultura e a indústria de gás e óleo              Bahia, três são sucintamente apresentadas abaixo     implantadas a partir da Baía de Camamu.              e situam-se ao sul da Baía de Todos os Santos no              Corredor Central da Mata Atlântica (CCMA): o              A Região Sul ou Cacaueira, limitada pelos              conjunto delas é chamado genericamente de Sul        rios de Contas e Jequitinhonha, é considerada a re-              da Bahia. No entanto, distinguimos as sub-regiões    gião mais tradicional do cultivo do cacau no sistema              Baixo Sul, Sul (também conhecida como Região         cabruca (cacau cultivado à sombra de árvores rema-              Cacaueira) e Extremo Sul, por apresentarem rea-      nescentes), com estrutura fundiária dominada por              lidades socioambientais muito distintas.             pequenos e médios proprietários. O cacau/cabruca                                                                   domina, deixando grande número de fragmentos de                   O Baixo Sul, entre os rios Paraguaçu e de       médio e pequeno portes isolados nas encostas mais              Contas, apresenta estrutura fundiária diversifi-     altas dos morros e em áreas de difícil acesso.              cada e antiga – desde assentamentos até grandes
Os estados da Mata Atlântica                                                           O Extremo Sul, entre o Rio Jequitinhonha e                                                                                  a divisa com o estado de Espírito Santo, área de130                           Cacau secando na rua, em Canavieiras                ocupação mais recente e tradicionalmente madei-                                                                                  reira, tem paisagem hoje dominada por pecuária                                   Nos anos 1990, o surgimento da vassoura-       extensiva e monocultura de eucalipto, com rema-                              de-bruxa, doença devastadora provocada pelo         nescentes florestais espalhados. Essa região con-                              fungo Crinipellis perniciosa e a queda do preço     centra o maior conjunto de remanescentes de Mata                              do cacau no mercado internacional incentivaram      Atlântica de grande extensão de todo o Nordeste                              a exploração madeireira dos remanescentes e das     do Brasil. Encontra-se ali, portanto, uma das mais                              cabrucas, além da conversão de cabrucas em          importantes redes de unidades de conservação do                              pastos e cafezais, provocando a multiplicação       Corredor Central, totalizando 264.600 hectares de                              dos desmatamentos ilegais e incentivando o setor    matas e recifes de corais protegidos: quatro par-                              madeireiro do Sul e Extremo Sul da Bahia. Nesse     ques nacionais - Descobrimento, Monte Pascoal,                              período, quase um terço dos 600.000 hectares cul-   Pau-Brasil e Abrolhos - e uma reserva extrativista                              tivados com cacau foram desmatados. O prejuízo      – Corumbau. As pequenas bacias hidrográficas                              para a Mata Atlântica revela-se assustador. Hoje    protegidas por parques nacionais protegem ainda                              ainda, para disseminar clones de cacau resistentes  os recifes de coral e outros ecossistemas marinhos                              ao fungo que causa a doença, a Comissão Exe-        no parcel dos Abrolhos, região mais rica em reci-                              cutiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac)       fes de coral do Atlântico Sul.                              recomenda o raleamento das cabrucas em 50%, o                              que traz novas ameaças à manutenção da cober-            Nessa região, a atividade econômica princi-                              tura florestal na região.                           pal foi, desde o século XIX, a exploração madei-                                                                                  reira. Mesmo assim ainda era coberto por mais                                                                                  de 80% de floresta na década de 1970, quando                              Jindiba
Floresta                                                                                                          Os estados da Mata Atlânticaombrófiladensa em    Itacaré                                                                                                                    131             foi aberta da Rodovia BR-101. Ali, conheceu um      próximo aos 30.000 m3, envolvendo mais de             intenso processo de desmatamento, no modelo         540 fábricas e a derrubada, em média, de cerca             amazônico: produção de carvão, depois implan-       de cem árvores por dia.             tação de pastagens de baixa produtividade e, mais             recentemente, plantações de café, mamão e agora     Impactos e desafios             monocultura de eucalipto. Estima-se que hoje res-             tem menos de 0,5% da cobertura florestal original,       A Mata Atlântica da Bahia, apesar abrigar             em fragmentos maiores de 400 hectares. Mais 3%      os remanescentes mais significativos da região             de remanescentes florestais estão distribuídos em   Nordeste, sofre desmatamentos em toda sua ex-             fragmentos menores.                                 tensão. Os ecossistemas associados, de mangue,                                                                 restinga e mussununga – ecossistema arbustivo ou                  Até 2001, projetos de extração madeireira,     herbáceo no tabuleiro terciário (campos nativos             acobertados por insustentáveis “planos de ma-       ou cheirosos), remanescente da última glaciação e             nejo”, se concentravam em grandes remanes-          adaptado a solos arenosos pobres e ácidos de tipo             centes, principalmente no entorno dos parques       podzol hidromórfico, impedindo o crescimento de             nacionais. A atividade está hoje suspensa.          árvores; não reconhecido nos mapas de vegeta-             No entanto, existem ainda focos de explora-         ção -, são bem mais restritos e localizados, mas             ção clandestina, principalmente para carvão,        também estão intensamente degradados. Vários             pranchões e confecção de artefatos de madeira       fatores interagem de forma complexa e contri-             (industrianato). Um estudo realizado pela Flora     buem para essa situação.             Brasil, em novembro de 2004, apontou o consu-             mo anual de madeira nativa para industrianato
Os estados da Mata Atlântica                                                                                                        Caiçaras132                                   A maioria das fazendas de pecuária na região  desses projetos têm financiamento de agências                              não possui Reserva Legal (RL) e as pastagens       nacionais e regionais de fomento.                              muitas vezes avançam sobre as Áreas de Pre-                              servação Permanente (APP). Os incêndios para            O crédito rural continua até hoje incenti-                              renovação dos pastos atingem repetidamente os      vando desmatamentos. O Pró-Cacau financiou a                              poucos remanescentes florestais que persistiram.   derrubada de cerca de 215 mil hectares na Região                              Apesar da exploração madeireira ter sido proibida  Cacaueira. De maneira geral, as linhas de crédito                              no Estado, dezenas de serrarias ainda processam    agrícola não condicionam a liberação de recursos                              madeiras de lei, de forma ilegal. Desmatamentos    à verificação da adequação ambiental das pro-                              ilegais e incêndios criminosos de remanescentes    priedades rurais, como por exemplo, à existên-                              são práticas comuns, para criar novos pastos e     cia de Reserva Legal e à proteção das Áreas de                              aproveitar a madeira para serrarias ou carvoa-     Preservação Permanente. Quando a regra existe,                              rias.                                              dificilmente é implementada na prática. Projetos                                                                                 do Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-                                   São inúmeras as carvoarias clandestinas,      cultura Familiar (Pronaf) financiaram em 2005,                              produzindo carvão com madeira retirada da Mata     no Extremo Sul da Bahia, serrarias familiares sem                              Atlântica. Roubos de madeiras nobres, para ser-    garantia de fornecimento de matéria-prima que                              vir como matéria-prima para os artesãos locais,    não seja madeira de lei.                              também são freqüentes. Ainda ocorrem desmata-                              mentos para estabelecer lavouras de café, mamão,        Existe ainda na Bahia uma cultura extrati-                              coco e pimenta-do-reino, esta última usando        vista muito enraizada, vindo dos tempos em que                              milhões de estacas de madeira retiradas da Mata    a mata dominava toda a faixa costeira e tinha de                              Atlântica para escoramento das plantas. Muitos     ser desbravada para consolidar fazendas, vilas e                                                                                 cidades. A maioria da população, muitos técnicos                                                                                 e até autoridades não percebem ainda a fragilida-
Populaçãotradicional             de, o estado calamitoso e o valor extraordinário         O eucalipto instalou-se no final dos anos de    Os estados da Mata Atlântica             da Mata Atlântica para as futuras gerações.         1980 no Extremo Sul da Bahia, para atender à de-                                                                 manda da indústria de celulose. A região apresenta   133                  As disparidades sociais, no campo e na         condições ideais para o cultivo: características             periferia das cidades, marginalizam populações      edafoclimáticas perfeitas, tradição de exploração             em ecossistemas preservados e deixam poucas         madeireira, baixo custo das terras, de mão-de-             escolhas a não ser degradar ecossistemas para       obra, de energia e de impostos e os menores custos             tentar sobreviver. Muitos posseiros se instalam     de produção do mundo. Apenas no Extremo Sul,             em áreas de nascentes e topos de morros e tentam    cobria 169.300 hectares em 1992 e, depois de mais             sobreviver de coivaras. Nas periferias, florestas,  de 20 anos de iniciada, a monocultura do eucalipto             mananciais e manguezais são invadidos por fave-     já abrange uma área de mais de 400 mil hectares.             las com condições de vida subumanas.                A recente construção da usina de produção de                                                                 celulose da empresa Veracel e a duplicação da                  A esse quadro se somam novos ciclos eco-       capacidade de produção da planta de celulose da             nômicos, tomando lugar do cacau e da pecuária       Suzano implicarão certamente na ampliação dos             extensiva de outrora. A monocultura do eucalipto    plantios e possivelmente no aumento da pressão             é, sem dúvida, uma das atividades econômicas        sobre os remanescentes.             mais importantes no Extremo Sul e se projeta             agora para o norte, alcançando a região cacauei-         Os assentamentos de reforma agrária im-             ra. Exerce grande influência sobre a dinâmica do    plantados no sul da Bahia, do Instituto Nacional             uso da terra, com disparada do preço da terra,      de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ou do             tendência à concentração fundiária maior e êxo-     programa estadual Cédula da Terra, têm se mos-             do rural. Promessas de altos lucros com fomento     trados também fatores de ameaça aos remanescen-             florestal das empresas incentivam desmatamentos     tes de florestas da região. A falta de uma política             especulativos. Pecuaristas venderam áreas de        transparente e objetiva de reforma agrária, a falta             pasto supervalorizadas e se instalaram em outras    de opções de assentamento devido à concentração             regiões, com preço fundiário menor, e desmataram    fundiária e ao aumento exponencial do preço da             para formar novos pastos.
Os estados da Mata Atlântica  terra, relacionados à monocultura de eucalipto,     Seguro, Santa Cruz de Cabrália e Belmonte. Áreas                              assim como a ausência de soluções para a efeti-     de floresta, manguezais e restingas próximas a134                           va melhoria da renda dos assentados, tornam-se      centros urbanos costeiros estão sendo destruídas                              fatores de pressão sobre os ecossistemas naturais   pela urbanização desordenada ligada ao turismo                              remanescentes.                                      de massa e também pelo crescimento de bairros                                                                                  populares e favelas, decorrente do êxodo rural                                   Embora a quantidade desmatada em áreas de      provocado pelo declínio da lavoura cacaueira.                              reforma agrária seja pequena, se comparada com                              a derrubada praticada por grandes proprietários e        Uma nova ameaça sobre esses ecossistemas                              empresas, esses pequenos desmatamentos causam       vem do planejamento e fomento recente de grandes                              impactos em áreas de grande valor ecológico, sem    projetos de carcinicultura nas regiões de Caravelas,                              gerar benefícios duradouros para os assentados,     Canavieiras e Camamu. Causando desmatamentos                              esgotando rapidamente os recursos hídricos e os     ilegais de extensas áreas de restinga e mangue, essa                              solos das áreas.                                    atividade predatória altamente poluente e concen-                                                                                  tradora de renda já causou graves estragos sócio-                                   Obras de infra-estrutura promovidas pelo       culturais e ambientais no litoral do Nordeste.                              Programa de Desenvolvimento do Turismo no                              Nordeste (Prodetur), executado pelo governo              Uma grande usina hidrelétrica foi recentemen-                              do Estado com recursos próprios e empréstimos       te concluída em Itapebi, no Vale do Jequitinhonha,                              do Banco Interamericano de Desenvolvimento          com impactos ainda desconhecidos sobre a ictio-                              (BID), também têm provocado impactos ambien-        fauna endêmica do rio. Em fase de planejamento,                              tais e o isolamento de importantes fragmentos na    encontram-se também pequenas hidrelétricas a                              proximidade de áreas protegidas. Novas propostas    serem instaladas nos rios Jucuruçu e Buranhém,                              do Estado para o BID, no âmbito do Prodetur II,     ameaçando potenciais locais turísticos e toda a                              não possuem um componente de conservação con-       biodiversidade de ambientes de água doce.                              sistente, ameaçando com obras de infra-estrutura e                              urbanização costeira os trechos mais preservados         Na área tradicionalmente ocupada por cacau,                              do litoral, principalmente nos municípios de Porto  os grandes proprietários estão usando a madeira                                                                                  como fonte emergencial de renda. No Extremo                              Cidade de Itacaré
terrestres, engloba ainda ecossistemas aquáticos  Os estados da Mata Atlântica                                                    de água doce, bem como marinhos, dentro da pla-Ilhéus                                              taforma continental. Está inserido no bioma Mata  135                                                    Atlântica, ocupando uma área de aproximadamen-                                                    te 213 mil Km2 - a porção marítima compreende                                                    cerca de 80 mil Km2 e a terrestre 133 mil Km2. A                                                    porção terrestre é composta por mais de 95% de                                                    terras privadas, estando o restante ocupado por                                                    unidades de conservação federais, estaduais e                                                    municipais, bem como terras indígenas. A quase                                                    totalidade dos remanescentes florestais pertence                                                    a particulares e estão, em geral, sob ameaça de                                                    alguma forma de exploração ou mesmo de des-                                                    florestamento.                                                         Na Bahia, o CCMA estende-se por um vasto                                                    território limitando-se ao norte pelo Rio Para-                                                    guaçu (na Baía de Todos os Santos) e ao sul pelo                                                    Rio Mucuri, na divisa com o estado de Espírito                                                    Santo.Sul, cresce a concentração de terras controladaspor grandes grupos econômicos. Os últimos rema-nescentes de floresta vão sendo substituídos pornovas monoculturas, como a palmeira pupunha(Bactris gasipaes) no Baixo Sul e o mamão (Ca-rica papaya L.) no Extremo Sul. Essa região járepresenta 30% da produção nacional de mamão,do qual é o maior produtor mundial.     Não restam dúvidas de que, ao persistir oatual ritmo de destruição, grande parte das áreasainda representativas serão aniquiladas nos próxi-mos anos, se medidas urgentes não forem tomadaspara determinar sua proteção.Corredor Central da Mata                            Menino pescando em ItacaréAtlântica     O Corredor Central da Mata Atlântica(CCMA) está localizado nos estados da Bahiae Espírito Santo, ao longo da costa atlântica,estendendo-se por mais de 1.200 Km no sentidonorte-sul. Este Corredor, além dos ecossistemas
Os estados da Mata Atlântica       O CCMA representa cerca de 75% da região       sul da Bahia confirma a importância biológica da                              biogeográfica “Bahia”, conforme análise efe-        região, tendo sido registradas até o momento 87136                           tuada por Silva e Casteleti (2001), abrangendo      espécies de anfíbios anuros, incluindo espécies                              diferentes tipologias da Mata Atlântica: floresta   endêmicas da Mata Atlântica e da região sul da                              ombrófila densa; manguezais; restingas; floresta    Bahia. Destes, a maior parte (49) não foi conclu-                              semidecídua; floresta ombrófila aberta.             sivamente identificada, e pelos menos 12 novas                                                                                  espécies de anfíbios anuros já foram confirmadas,                                   A região compreende até dois centros de        mostrando o quanto a fauna da região ainda é                              endemismo da Mata Atlântica, conforme estudos       desconhecida.                              disponíveis sobre vertebrados terrestres, borbole-                              tas e plantas. Caracterizam-se por um indíce de          A diversidade é também excepcional para                              endemismo altíssimo (26% a 28% das espécies de      plantas. Em estudo realizado em uma reserva pri-                              vários gêneros). Entre eles estão: Brodriguesia,    vada de Serra Grande, município de Uruçuca, ao                              Arapatiella e Harleyodendron, e ainda quatro        norte de Ilhéus, foram encontradas 458 espécies                              gêneros de microbambus (Atractantha, Anomo-         de árvores em 1 hectare de floresta, número que                              chloa, Alvimia e Sucrea). Dessa região também       foi considerado recorde mundial de riqueza de                              é endêmica a piaçava (Attalea funifera), palmeira   plantas lenhosas.                              de importância econômica.                                                                                       Dados compilados da coleção do herbário da                                   A região é biologicamente diversa e abriga     Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacauei-                              muitas espécies ameaçadas de extinção e de          ra (Cepec/Ceplac), a partir de décadas de inventá-                              distribuição restrita, como o mico-leão-da-cara-    rios no sul da Bahia, registram a presença de cerca                              dourada (Leonthopithecus chrysomelas), macaco-      de 162 famílias vegetais, representadas por 1.144                              prego-de-peito-amarelo (Cebus xanthosternos),       gêneros e cerca de 3.620 espécies. Esses números                              ouriço-preto (Chaetomys subspinosus), papagaio-     não são conclusivos, pois muitas espécies ainda                              chauá (Amazona rhodochorytha), escarradeira         serão descritas a partir de revisões dos gêneros, mas                              (Xipholena atropurpurea) e choquinha-do-rabo-       oferecem um panorama abrangente da região.                              cintado (Myrmotherula urosticta), entre outras.                                                                                       A partir da análise de espécies com distri-                                   Apresenta uma diversida-                              de de aves elevada, com cinco                                                                                               Encontro                              novas espécies e um gênero                                                                                                  do rio com                              (Acrobatornis fonsecai) re-                                                                                                 o mar                              centemente descobertos nas                              regiões montanhosas e costei-                              ras da Região Cacaueira, no                              centro-sul do Estado. O Corre-                              dor Central abriga mais de 50%                              das espécies de aves endêmicas                              da Mata Atlântica. O Corredor                              Central é também particular-                              mente rico em anfíbios, com                              alto nível de endemismo. Um                              estudo recente de anfíbios no
buição conhecida, foram estimados o nível de        Nessa região de ambientes muito impactados, com       Os estados da Mata Atlânticaendemismo da flora em duas áreas do sul da          alta riqueza de espécies endêmicas, constata-se aBahia: no entorno do Parque Estadual Serra do       presença de aves ameaçadas de extinção, como          137Conduru (PESC) e na Reserva Biológica de Una        o graveteiro Rhopornis ardesiaca e a choquinha(situados respectivamente a 40 km ao norte e ao     Formicivora iheringi (espécies globalmentesul de Ilhéus). Na Reserva de Una, 44,1% das        ameaçadas).espécies foram caracterizadas como endêmicasdas florestas costeiras e 28,1% endêmicas do sul         Os ecossistemas terrestres desta região sãoda Bahia e norte do Espírito Santo. No Conduru,     extremamente importantes, não só para a bio-41,6% das espécies mostraram-se endêmicas das       diversidade da Mata Atlântica, como tambémflorestas costeiras e 26,5% endêmicas do sul da     para a proteção das bacias hidrográficas e, porBahia e norte do Espírito Santo.                    conseqüência, dos recifes de coral e outros ecos-                                                    sistemas marinhos no parcel de Abrolhos, Reserva     Além da grande diversidade de espécies, a      Extrativista do Corumbau, Parque Nacional Mari-região do Corredor Central destaca-se pela pre-     nho de Abrolhos e demais áreas marinhas ao longosença de diversos animais e vegetais amazônicos,    do Corredor Central. Esta região constitui-se notipicamente associados à costa atlântica.           maior e mais rico conjunto de recifes de coral do                                                    Atlântico Sul, com altíssimo grau de endemismo     Os pouquíssimos remanescentes de mata          da fauna marinha.decídua, conhecida regionalmente como matade cipó, ecossistema muitíssimo ameaçado pela            Os principais remanescentes legalmente pro-atividade agropastoril, em especial com a cultura   tegidos da região são áreas núcleo da Reserva dado café, da região de Vitória da Conquista, Jequié  Biosfera da Mata Atlântica e bens tombados pelae Boa Nova, bem como as florestas estacionais       Organização das Nações Unidas para a educação,semideciduais da encosta do Planalto Baiano e da    a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimôniosSerra do Tombo estão gravemente ameaçados por       naturais da Humanidade. Partes muito represen-desmatamentos. Esses ambientes têm a flora pou-     tativas do hotspot de biodiversidade da Mataco conhecida e bastante diversa da mata higrófila.  Atlântica constituem várias áreas consideradas                                                    de extrema importância biológica no Workshop                                                    Avaliação e Ações Prioritárias para a Conser-                                                    vação da Biodiversidade da Mata Atlântica e                                                    Campos Sulinos.                                                    Efeitos da fragmentação                                                         Os índices alarmantes de desmatamento                                                    criaram uma situação onde restaram poucos e                                                    diminutos fragmentos da cobertura original. Por                                                    isso, a análise dos remanescentes mais represen-                                                    tativos deve ser o ponto de partida para estratégias                                                    de conservação.                                                         De acordo com Forman (1995), enquanto os                                                    grandes fragmentos são muito importantes para                                                    Praia em Itacaré
Os estados da Mata Atlântica  a manutenção da biodiversidade e de processos        Pôr-do-Sol em Canavieiras                              ecológicos em larga escala, os pequenos remanes-138                           centes cumprem diversas funções extremamente         versidade biológica da região como um todo não                              relevantes ao longo da paisagem. Dentre elas,        teria como se manter nos níveis atuais. Grandes                              podem-se mencionar o seu papel como elementos        conjuntos de fragmentos, mesmo descontínuos,                              de ligação (stepping stones) entre grandes áreas,    justificam a criação de novas unidades de conser-                              auxiliando no aumento do nível de heterogenei-       vação. Na verdade, trata-se de antigos e grandes                              dade da paisagem e do habitat, assim como de         remanescentes em processo acelerado de degra-                              refúgio para espécies que requerem ambientes         dação, que pode e deve ser revertido.                              específicos que só ocorram nessas áreas.                                                                                   Unidades de conservação                                   A maior parte do Corredor Central da Mata                              Atlântica encontra-se na forma de pequenos                No Extremo Sul da Bahia está localizada a                              fragmentos distribuídos na matriz da paisagem,       maior concentração florestal nativa protegida, com-                              apresentando mais de 88% da área remanescentes       preendendo três parques nacionais: Descobrimento,                              de Mata Atlântica da região.                         Monte Pascoal e Pau-Brasil na parte terrestre, com                                                                                   cerca de 50.000 hectares de matas e o Parque Na-                                   A riqueza biológica desses pequenos frag-       cional Marinho Abrolhos, com 90.000 hectares. As                              mentos ainda é grande. Entretanto, como os efeitos   pequenas bacias hidrográficas protegidas por estes                              da fragmentação não são imediatos, o processo de     parques nacionais são extremamente importantes                              extinção pode estar ocorrendo progressivamente.      não só para a biodiversidade da Mata Atlântica,                              Espécies endêmicas, além daquelas com maior          como também para os recifes de coral e outros                              requerimento de área, respondem rapidamente à        ecossistemas marinhos do Banco de Abrolhos e do                              dinâmica de fragmentação, tanto que compõem          Parque Nacional Marinho deAbrolhos, a zona mais                              hoje um conjunto bastante significativo de formas    rica em recifes de coral do Atlântico Sul.                              altamente ameaçadas e com necessidade de pro-                              teção em unidades de conservação.                                   Fragmentos de 2.000 hectares suportam                              grande parte das espécies de Psitacídeos da região,                              inclusive as consideradas ameaçadas de extinção.                              Em levantamento de anfíbios anuros realizado na                              mesma região, um fragmento isolado de apenas                              500 ha foi o segundo mais rico do estudo, com 35                              espécies registradas. Nesse levantamento, foram                              registradas espécies endêmicas do Sul da Bahia,                              além de novas espécies e formas raras, mesmo                              nas áreas mais perturbadas. Isso é sinal de que                              tais espécies toleram um certo grau de impacto e                              são capazes de persistirem, desde que a cobertura                              nativa não seja totalmente destruída.                                   Desse modo, pode-se estimar então que, sem                              essas centenas de fragmentos menores e sem a                              proteção e o manejo adequado dessas áreas, a di-
Centro de                                                                                              Os estados da Mata AtlânticaTaboquinhas     No vasto território da Mata Atlântica baia-    to de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia          139na, além dos três grandes Parques Nacionais,        (IESB) e a Flora Brasil produziram, em 2002, umas demais unidades de conservação de proteção       estudo para ampliação da superfície sob proteçãoIntegral são: Reserva Biológica de Una, Parque      integral na porção baiana do Corredor Central daEstadual Serra do Conduru e Estação Ecológica       Mata Atlântica, através da ampliação de unidadesde Wenceslau Guimarães.                             de conservação existentes e da criação de novas                                                    áreas protegidas.     Todas essas UCs continentais juntas repre-sentam cerca de 78.000 hectares de florestas             Esse trabalho considerou critérios de repre-protegidas. Essas UCs via de regra carecem de       sentatividade dos ecossistemas regionais, áreasrecursos e pessoal nas quantidades mínimas ne-      prioritárias para conservação da biodiversidadecessárias para resguardar a vocação única desses    segundo o documento Avaliação e Ações Priori-remanescentes florestados. E ainda carecem de       tárias para Conservação dos Biomas Mata Atlân-recursos para a regularização fundiária da área já  tica e Campos Sulinos (MMA, 2000), importânciaexistente e/ou ampliação dos seus limites atuais.   biológica dos remanescentes florestais e grau de                                                    ameaça a que estão submetidos.     No Domínio da Mata Atlântica da Bahia háainda 20 Áreas de Proteção Ambiental (APAs)              O estudo embasou a Portaria MMA 506 deEstaduais englobando, além de florestas conti-      20/12/2002, reformulada na Portaria MMA 177 denentais, mangues, ilhas, bancos coralíneos e ou-    07/04/2003, determinando essas áreas como prio-tros ecossistemas associados. Além dessas UCs,      ritárias para a criação de unidades de conservaçãocerca de 30 Reservas Particulares do Patrimônio     federais. O estudo de 2002 foi reavaliado no final deNatural (RPPNs) juntas protegem 9.510 hectares      2004 e foram identificadas mais seis áreas prioritá-de ecossistemas.                                    rias para criação de UCs de proteção integral.     A pedido do Ministério do Meio Ambiente,            A criação dessas novas UCs permitiria am-a Conservação Internacional do Brasil, o Institu-   pliar significativamente a representatividade da
EsquiloOs estados da Mata Atlântica  proposta nas regiões Cacaueira e do Baixo Sul,           Nesse contexto, os conceitos corredor eco-                              assim como para ecossistemas costeiros (restingas   lógico ou corredor de biodiversidade referem-se140                           e manguezais) e interioranos (florestas semi-de-    a extensões significativas de ecossistemas biolo-                              ciduais, submontanas e matas de cipó). Com essa     gicamente prioritários, nas quais o planejamento                              proposta, a porção baiana do Corredor Central       responsável do uso da terra facilita o fluxo de                              teria uma cobertura de UCs de proteção integral     indivíduos e genes entre remanescentes de ecos-                              correspondendo a de 6,4% de seu território, cor-    sistemas, unidades de conservação e outras áreas                              respondendo a um incremento de cerca de 630%,       protegidas, aumentando a sua probabilidade de                              em relação à situação atual.                        sobrevivência no longo prazo e assegurando a                                                                                  manutenção de processos evolutivos em larga                                   Para a realização dos estudos foi constituída  escala. Busca-se dessa forma garantir a sobrevi-                              uma Equipe Técnico-Científica (ETC) de técnicos     vência do maior número possível de espécies de                              do Ministério do Meio Ambiente, Ibama e orga-       uma determinada região.                              nizações governamentais estaduais e municipais                              e organizações da sociedade civil e universidades        A formação de corredores ecológicos visa                              com trabalhos voltados para a região. A ETC é       ainda incrementar a conectividade entre as áreas                              responsável pela realização de estudos técnicos,    naturais remanescentes, mediante fortalecimento                              atualmente em curso, observando as orientações      e expansão do número de unidades de conserva-                              da legislação pertinente (Lei nº. 9.985, de 18 de   ção, incluindo as RPPNs, além da recuperação de                              julho de 2000 e Decreto nº. 4.340, de 22 de agosto  ambientes degradados. No curto e médio prazos,                              de 2002).                                           um corredor ecológico constituído por mosaicos                                                                                  de áreas com diferentes usos deveria permitir a                              Projeto Corredores                                  passagem de espécies sensíveis às alterações do                              Ecológicos                                          habitat, favorecendo o fluxo gênico entre popu-                                                                                  lações anteriormente isoladas em fragmentos de                                   A riqueza excepcional e quadro de acelerada    ecossistemas.                              destruição de uma das biodiversidades de maior                              importância no planeta, impõem ações imediatas           A concepção de corredores ecológicos está                              no sentido de: proteger e conservar essa impor-     sendo posta em prática pelo Projeto Corredores                              tante biodiversidade, principalmente nas áreas de   Ecológicos, associado ao Programa Piloto para a                              sua maior concentração; reduzir as pressões sobre   Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7).                              as áreas mais íntegras e sobre suas comunidades     O Projeto, sob responsabilidade do Ministério do                              bióticas; e garantir populações de plantas e ani-                              mais geneticamente viáveis ao longo prazo.                              Bromélia
Meio Ambiente e em cooperação com governos        a articulação entre dezenas de atores locais e      Os estados da Mata Atlântica             estaduais, atua, desde março de 2002, na implan-  regionais, governamentais, não-governamentais,             tação em dois corredores: Corredor Central da     instituições de pesquisa, movimentos sociais, no    141             Amazônia e Corredor Central da Mata Atlântica     planejamento e coordenação de ações e recursos.             (CCMA). Um caráter marcante do Projeto é que as   Do corredor ecológico nasce uma verdadeira             decisões são tomadas por um comitê deliberativo   cultura de cooperação para a conservação da             composto por representantes governamentais, do    biodiversidade no sul da Bahia e norte do Espírito             setor produtivo e da sociedade civil.             Santo, na busca de soluções concretas, socialmen-                                                               te e ambientalmente viáveis, para a proteção da                  Desde o início de 2003, as equipes do Cor-   Mata Atlântica.             redor Central da Mata Atlântica contam com as-             sistência técnica da cooperação Brasil-Alemanha        A capacidade da sociedade atual conciliar             (GTZ). Com uma doação inicial do Rain Forest      interesses, às vezes conflitantes, entre o uso dos             Trust Fund (RTF), administrado pelo Banco Mun-    remanescentes da Mata Atlântica, a luta contra             dial, e contribuições de outras doadores (KfW,    a pobreza e para o bem-estar e a urgência de se             União Européia) previstas para a segunda fase.    assegurar condições ecológicas para perpetuação             Atualmente o Projeto encontra-se em preparação    de milhares de espécies, que levaram milhares ou             para início da segunda fase.                      milhões de anos para se diferenciarem, será nossa                                                               herança para as futuras gerações. Nesse cenário,                  Juntam-se à iniciativa governamental para a  alternativas de conservação regional, a exemplo             implantação de corredores ecológicos uma série    do Projeto Corredores Ecológicos, podem signi-             de pesquisas, estudos e ações significantes em    ficar um dos últimos esforços macro-regionais             campo, promovidas por entidades de pesquisa,      para consolidar políticas públicas que assegurem,             ONGs locais e nacionais, muitas vezes apoiadas    em tempo hábil, a preservação desse patrimônio             por financiamentos de organizações ambientalis-   biológico excepcional para as gerações futuras.             tas não-governamentais, nacionais e internacio-             nais, tais como SOS Mata Atlântica, Conservation   Milson dos Anjos Batista, biólogo e consul-             International, BirdLife, CEPF, WWF e outras.       tor técnico do Projeto Corredores Ecológicos;                                                                Jean-François Timmers, biólogo, consultor                  O seu resultado atual mais significativo é    técnico e presidente da Flora Brasil até julho                                                                de 2005; e Renato Pêgas Paes da Cunha,                                                                engenheiro, especializado em gestão ambien-                                                                tal, coordendor do Grupo Ecológico da Bahia                                                                (Gambá) e da Rede de ONGs da Mata Atlân-                                                                tica.Litoral Sul                                                    AMEAÇAS NA BA: págs. 199, 205, 208,  da Bahia                                                     219, 224, 226 e 227                                                               PROJETOS NA BA: págs. 249 e 258                                                               A REDE NO ESTADO: pág. 289                                                               BIBLIOGRAFIA: pág. 317
Mato Grosso do SulOs estados da Mata AtlânticaParque         Nacional                                                                                                                                                                                                                                          Foto: Vivian Ribeiro Mariada Serra da     Bodoquena142          Considera-se Domínio de Mata Atlântica          Esse é o caso do Parque Nacional da Serra da     (DMA) a área originalmente coberta por um mo-        Bodoquena (PNSB), unidade de conservação     saico de formações florestais e ecossistemas asso-   onde a fitofisionomia predominante é de floresta     ciados, sujeitos à influência do Oceano Atlântico.   estacional decidual submontana. Com área de     A extensão desse domínio não é consensual entre      76.481 ha (764,81km²), o PNSB cobre aproxi-     os autores, mas para efeitos legais, o Decreto-Lei   madamente 0,2% da superfície do Mato Grosso     750/93 define-o como:                                do Sul (MS).          “O espaço que contém aspectos fitogeográfi-          O pequeno percentual ocupado pela área     cos e botânicos que tenham influência das condi-     do PNSB no MS corresponde a 16% de todos os     ções climatológicas peculiares do mar incluindo      remanescentes de Mata Atlântica nesse Estado e é     as áreas associadas delimitadas segundo o Mapa       seu mais importante remanescente. Ao se conside-     de Vegetação do Brasil (IBGE,1993) que inclui        rar as florestas estacionais deciduais submontanas     a floresta ombrófila densa, floresta ombrófila       isoladamente, mais de 25% da área que ocupam     mista, floresta ombrófila aberta, floresta estacio-  no Mato Grosso do Sul se inserem nessa unida-     nal semidecidual e floresta estacional decidual,     de de conservação (UC). Mesmo em um estado     manguezais, restingas e campos de altitude asso-     onde é fácil encontrar propriedades rurais com     ciados, brejos interioranos e encraves florestais    área superior à do parque nacional, esse é ainda     da Região Nordeste.”                                 alvo de oposição, conforme revelam reportagens                                                          publicadas no Correio do Estado de 30 de maio e          De acordo com a definição desse decreto-lei,    em O Progresso de 23 de junho de 2005.     o DMA extrapolaria os limites do bioma Mata     Atlântica ao incluir as florestas estacionais de          A Serra da Bodoquena apresenta uma diver-     algumas regiões mais interiores no continente.       sidade de ecossistemas cuja proteção não poderá
Ipê-branco                                                                                                         Os estados da Mata Atlânticase restringir ao interior do parque. É significativa       Os ecossistemas terrestres protegidos pelo    143a ocupação do solo em volta da unidade, mas a         PNSB localizam-se em uma área com certaregião ainda apresenta possibilidades interessan-     individualidade topográfica, o que está relacio-tes de conectividade através da preservação de        nado à formação geológica (Bocaina) de quaserecursos hídricos, da manutenção de mosaicos          todo Parque Nacional, que é diferente daquelasde reservas legais e formação de corredores eco-      adjacentes, fora dos limites da unidade. Dentrológicos.                                              dessa, uma análise visual permitiu identificar                                                      12 tipos de ambientes terrestres, a saber: mata      No parque e suas imediações, os ecossiste-      decídua com dossel fechado sobre morro, matamas aquáticos envolvem uma rede de drenagem           decídua com dossel aberto sobre afloramentosdividida em quatro sub-bacias: Perdido, Salobra,      rochosos, mata decídua de baixada (terras bai-Formoso e Prata. Todos possuem nascentes muito        xas), afloramentos rochosos, taquaral, brejo per-próximas ao Parque Nacional. Diante da impor-         manentemente inundado, brejo estacionalmentetância ao ecoturismo, os rios Prata e Formoso         seco, afloramentos rochosos com predominânciasão considerados rios cênicos pela lei estadual       de gramíneas, formação arbustiva sobre aflora-número 1.871/98. Coincidentemente, ambos estão        mentos rochosos, afloramentos rochosos comfora do PNSB. Os rios Prata, Formoso e Perdido        predominância de bromélias, matas ciliares empossuem, em suas cabeceiras, extensos banhados        relevo plano e em relevo em “V”. Cabe ressaltar– quase totalmente externos aos limites do PNSB       que em um desses ambientes, brejo estacio-– que, mesmo no caso dos dois rios cênicos, foram     nalmente seco, foi encontrado uma espécie deignorados pela lei estadual 1.871/98. Essas áreas     margarida (Dimirostemma annuum), que teveúmidas não apresentam o apelo visual e sentimen-      seu primeiro e único registro no chaco paraguaiotal das matas ciliares, mas são tão importantes       em 1815. Essa é uma espécie considerada rara equanto essas na preservação e manutenção dos          ameaçada de extinção.recursos hídricos.
Os estados da Mata Atlântica       Fora da unidade, a preservação das áreas na-         Em relação à fauna de mamíferos do PNSB                              turais remanescentes através da aplicação da lei é   e região, o que temos até o momento são dados144                           a única alternativa para evitar o empobrecimento     bibliográficos de um levantamento na região do                              genético que sucede o isolamento de áreas naturais.  PNSB e levantamentos realizados em áreas adja-                              Esses ambientes possuem fauna e flora ainda pou-     centes à Serra da Bodoquena, como o Pantanal e o                              co conhecidas, mas potencialmente importantes.       Cerrado. Esses dados podem nos dar informações                                                                                   de uma provável composição da mastofauna do                                   Devido às características singulares de for-    PNSB. No levantamento bibliográfico realizado                              mação dos corpos d’água da região do PNSB, a         por Camargo (dados não publicados) para as re-                              ictiofauna apresenta elevada biodiversidade. Há      giões do Pantanal e Cerrado, foram listadas 239                              presença de grutas e cavernas inundadas, onde é      espécies com provável ocorrência na Serra da                              possível encontrar endemismos e espécies não         Bodoquena. Dessas, 155 apresentam alta proba-                              descritas pela ciência. De fato, em 1997 foi des-    bilidade de ocorrerem de fato.                              crita por Sabino e Trajano uma espécie nova de                              cascudo albino (Ancistrus formoso). Mesmo nos             Utilizando as categorias de ameaça estabele-                              rios, que apresentam uma das maiores transparên-     cidas pela União Mundial para a Conservação da                              cias para água doce no mundo (podendo chegar a       Natureza (UICN), das 154 espécies de mamíferos                              60 m de visibilidade), foi descrito recentemente     que apresentam alta probabilidade de ocorrência                              uma nova espécie de lambari, o Moenkhausia           na região do PNSB, 24 estão classificadas nas                              bonita, por Benine e col. em 2004.                   categorias criticamente em perigo e em perigo.                                                                                                                                      Árvores                                                                                                                                      cheias de                                                                                                                                      bromélias,                                                                                                                                      riqueza                                                                                                                                      da Mata                                                                                                                                      Atlântica
Segundo a classificação, essas espécies estão sob   Foto: Vivian Ribeiro Maria                                                                              Além da fauna atual, há registros fossilíferos            risco extremamente alto e muito alto de extinção                                                                                                       da megafauna que existiu no Pleistoceno (15 mil            na natureza. Nessa listagem, cabe ressaltar a fa-                                                                          Os estados da Mata Atlânticaanos atrás). Nas grutas e cavernas inundadas da            mília Felidae (médios e grandes felinos) com 8                                                                                                         Serra da Bodoquena, foram encontrados fósseis de            espécies, incluindo a onça-pintada, que apresenta                                                                                                      preguiça gigante, mastodonte, gliptodonte, tigre            alta probabilidade de ocorrência na região do                                                                                                          dentes de sabre, entre outros.            PNSB e todas em alto risco de extinção.                                                                                                                                                                        Nessa relação intrincada, pouco conhecida,                 Um dos poucos esforços amostrais para mas-                                                                                                        cheia de atores é que está inserido o Parque Nacio-            tofauna feito na Serra da Bodoquena por Carmig-                                                                                                        nal da Serra da Bodoquena, uma zona de transição            notto (2004) revelou alguns dados interessantes.                                                                                                       entre distintos biomas, que pode resguardar muito            Foi registrada uma espécie não descrita do gênero                                                                                                      mais espécies novas e endêmicas desconhecidas            Gracilinanus (catita) e também a espécie Thylamys                                                                                                      pela ciência. Criado para preservar e conservar            macrurus, sendo o segundo registro para o País                                                                                                         esse importante fragmento de florestas no interior            (ambos são tipos de gambá). Uma espécie conhe-                                                                                                         do Brasil, é a única unidade de conservação de pro-            cida como rato d’água (Nectomys squamipes), que                                                                                                        teção integral do estado do Mato Grosso do Sul.            é mais amplamente distribuída pelo bioma Mata            Atlântica, foi registrada também nesse estudo.                                                                                                                                       145                 A avifauna da região do PNSB vem sendo                                                                                                                                                                                    Rio no            registrada por ornitólogos há alguns anos. Desses                                                                                                                                                                              Parque            esforços foi obtida uma lista com 327 espécies                                                                                                                                                                                 Nacional            de aves até o momento para a região. Em outro                                                                                                                                                                                  da Serra da            estudo desenvolvido por Braz (2003), a autora                                                                                                                                                                                  Bodoquena            registrou 5 espécies endêmicas numa lista de            183 espécies, dentre elas estão: Pyrrhura devillei                                                                                                      Alexandre de M. M. Pereira e Ivan Salzo            (periquito – Psittacidae), Syndactyla rufosuper-                                                                                                        são analistas ambientais do Parque Nacional            ciliata (trepador – Furnariidae) e Phyllomyias                                                                                                          da Serra da Bodoquena e Adílio A. V. de Mi-            reiseri (piolhinho – Tyrannidae). Na região do                                                                                                          randa é Chefe do Parque Nacional da Serra            PNSB, foi feito também o primeiro registro de                                                                                                           da Bodoquena            gavião real (Harpia harpyjal) no estado do Mato            Grosso do Sul.  Papagaio                                                                                                                                                         AMEAÇAS NO MS: pág. 199verdadeiro                                                                                                                                                         PROJETOS NO MS: pág. 241                                                                                                                                                                   A REDE NO ESTADO: pág. 295                                                                                                                                                                   BIBLIOGRAFIA: pág. 320
GoiásOs estados da Mata Atlântica  Borboleta típica das                                florestas de Goiás146                                   Estado com a menor área coberta por ecos-        também matas ciliares, remanescentes incrustrados                              sistemas do domínio da Mata Atlântica, Goiás          ou limítrofes inseridos em outras formações.                              possui apenas 82 mil hectares ainda ocupados                              por florestas características do Bioma. A área é           Pelo mesmo padrão de desmatamento das                              proporcionalmente muito pequena em relação ao         demais áreas de Mata Atlântica, a dinâmica de                              domínio do Cerrado no Estado. Os remanescentes        destruição do bioma tornou-se mais acentuada                              de Mata Atlântica estendem-se basicamente pelo        nas três últimas décadas. O estado de Goiás so-                              território de nove municípios do sudeste goiano:      freu alteração severa nos ecossistemas pela alta                              Quirinópolis, Inaciolândia, São Simão, Buriti         fragmentação de habitats e perda da biodiversi-                              Alegre, Morrinhos, Água Limpa, Corumbaíba,            dade local. O Atlas dos Remanescentes Florestais                              Goiatuba e Araporã.                                   e Ecossistemas Associados da Mata Atlântica,                                                                                    coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica,                                   Ao contrário de estados como Rio de Janeiro,     mostra o quanto a destruição da floresta no Esta-                              Espírito Santo e Paraná, inteiramente cobertos pela   do continua evoluindo. Em 1995, Goiás possuía                              diversidade das fisionomias da Mata Atlântica,        aproximadamente 85 mil hectares de mata ou                              das florestas ombrófilas e estacionais deciduais ao   7,5% em relação ao domínio original no Estado.                              manguezal e a restinga, Goiás conta somente com       Em 2000, esse número havia caído para cerca                              floresta estacional decidual e floresta estacional    de 82 mil hectares ou 7,24% da área original. O                              semidecidual, ambas caracterizadas pela vegetação     desmatamento equivaleu, assim, a mais de 3 mil                              arbórea que perde suas folhas no período da seca. Há  e 300 hectares ou 3,95% entre 1995 e 2000.
Os estados da Mata Atlântica                                                                                                     147Remanescente florestais às margens do Rio Paranaíba     Dentro desse quadro, está em aprovação            Segundo os técnicos da agência ambiental,a criação da única unidade de conservação que     os 1 mil hectares do Parque merecem ser pre-garante a proteção de significativa parcela de    servados pela diversidade faunística, constituídaMata Atlântica no Estado. O Parque Estadual da    de mamíferos de grande porte, como macacosMata Atlântica, no município de Água Limpa,       e onça-pintada, e por espécies de aves nativaspartiu de estudos técnicos da Gerência de Áreas   de transição entre Cerrado e Mata Atlântica; aProtegidas e de Ações Integradas da Diretoria de  diversidade florística possui o mesmo grau deEcossistemas da Agência Ambiental de Goiás,       expressão, composta por plantas como cedro,que mostraram a riqueza dos atributos físicos e   jatobá, peroba-rosa e outras quase extintas quebióticos da região.                               só ocorrem no bioma.
Os estados da Mata Atlântica  Cobra148                                Espera-se que a criação do Parque da Mata                              Atlântica também signifique um avanço econô-                              mico para a chamada Região das Águas. Ali se        Ipê-amarelo                              localiza o maior aqüífero termal do mundo, nos             BIBLIOGRAFIA: pág. 320                              municípios de Caldas Novas e Rio Quente, além                              dos grandes lagos formados pelo represamento                              do Rio Paranaíba. A vocação natural da área para                              o ecoturismo pode ser fomentada pela constitui-                              ção de parcerias para o turismo sustentável no                              circuito.                                   Após ter sua criação aprovada pelo Conselho                              Estadual de Meio Ambiente (Cemam), o Parque                              da Mata Atlântica de Goiás aguarda agora decreto                              de criação pelo governador do Estado. Enquanto                              isso, outras unidades de conservação de domínio                              privado já foram aprovadas pelo Cemam, como                              o Refúgio da Vida Silvestre do Meia Ponte, que                              garante a preservação de cerca de 1 mil hectares                              de mata nativa no município de Goiatuba. A uni-                              dade de conservação irá proteger, assim, um dos                              últimos resquícios florestais da bacia do Meia                              Ponte no sul do Estado, com formação vegetal                              de floresta semidecídua típica do Planalto Central                              brasileiro.
Nordeste                                                                                                        Os estados da Mata Atlântica                                                                                                        149     A diversidade biológica da Mata Atlântica      floresta estacional encravadas no semi-árido.está distribuída preferencialmente em pelo me-      Ao sul do Rio São Francisco, estão os centrosnos cinco centros de endemismos e duas áreas        Diamantina e Bahia, os quais ocupam tambémde transição. Esses centros e áreas representam     pequenas porções de Minas Gerais e do Espíritoas unidades biogeográficas básicas de toda a        Santo. Além do elevado número de espécies en-região da floresta atlântica. A porção de floresta  dêmicas, esses quatro centros estão entre as áreasreferida aqui como Mata Atlântica do Nordes-        mais ricas em espécies de toda a Mata Atlântica.te compreende os estados da Bahia, Sergipe,         O Centro Bahia é uma das porções mais ricas deAlagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do         floresta tropical do mundo.Norte, Ceará e Piauí. Do ponto de vista fitofisio-nômico, a Mata Atlântica do Nordeste abriga for-         Infelizmente, a Mata Atlântica do Nordestemações pioneiras, porções de floresta ombrófila     e seus centros de endemismos representam umdensa e aberta, floresta estacional semidecidual    dos setores mais degradados do bioma, abrigandoe decidual.                                         dezenas de espécies oficialmente ameaçadas de                                                    extinção.     Do ponto de vista biogeográfico, a MataAtlântica do Nordeste abriga quatro dos cinco cen-  Situação Atualtros de endemismo que ocorrem no bioma. Doisdeles situam-se ao norte do Rio São Francisco, o         A Mata Atlântica no Nordeste cobria umaCentro de Endemismo Pernambuco e os Brejos          área original de 255.245 Km², ocupando 28,84%Nordestinos, esse último composto por ilhas de
                                
                                
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