O problema na prática200O que ainda ameaçaLoteamento de luxo            bre os ecossistemas de restinga e a fauna                                                   e a flora locais. A pressão das organizações                                                                                                                                                                                                                                     Foto: Nelson WendelPela BR-101, entre Bertioga e São Se-da sociedade civil contra o loteamento,     bastião, em São Paulo, o loteamento Riviera   principalmente da ONG Coletiva Alternativa     de São Lourenço é um caso representativo do   Verde (Cave), cresceu e o caso chegou ao     processo de ocupação imobiliária impondo-se   Ministério Público na forma de uma Ação Civil     sobre os recursos naturais. O empreendimen-   Pública que previa o cancelamento parcial do     to foi construído na década de 1980 sobre     registro do loteador.     uma das principais áreas ainda intocadas     de restinga no Estado de São Paulo. Mesmo           Após anos de mobilização, o Superior     investindo em cuidados antes ignorados por    Tribunal de Justiça concedeu liminar para     outros empreendimentos desse tipo, como       determinar o embargo judicial de toda obra,     saneamento básico, o condomínio de classe     serviço ou atividade de alteração, modifica-     média alta, causou um grande desmatamento     ção ou supressão dos recursos naturais nes-     para abertura de vias, construção de casas,   sa área sob pena de multa diária de dez mil     prédios e shopping center.                    reais. O empreendedor entrou com recurso                                                   pedindo a suspensão da liminar, alegando           A expansão do Riviera de São Lourenço   a inexistência de leis que inibam o uso da     para o dobro da área original construída foi  propriedade privada. Em 2004, o empreen-     autorizada pelo Ibama na década de 1990,      dedor venceu a ação e conseguiu regularizar     fazendo crescer ainda mais as ameaças so-     a instalação da obra na área de restinga.     Construção irregular em Itapema – SC
Manejo de espéciesameaçadas*É lugar corrente na inteligêncianacional que nenhum país pode prescin-dir dos recursos oriundos das florestaspara seu desenvolvimento econômico esocial. A mesma inteligência diz que aexploração predatória e exagerada dosrecursos naturais gera desequilíbrios detoda ordem. Não obstante, nos últimoscem anos, com o advento da industria-     Plano de manejo irregular, em Ponte                               O que ainda ameaçalização e da expansão populacional        Serrada – SC, 2003desmedida, a abusiva exploração dosrecursos florestais na Mata Atlântica atinge con- naturais, como condição para o desenvolvimentotornos catastróficos. É quando praticamente toda econômico e social, é ainda a regra. Mesmo espé-a extensão da floresta já mostra sinais de extremo cies ameaçadas de extinção não são poupadas. Aocomprometimento que surge o recurso retórico do contrário, parece haver uma predileção toda espe-           201manejo florestal sustentável.                       cial por elas e, com a falta de criatividade reinante,O chamado manejo florestal sustentado com ressurge o argumento de que sem a possibilidadefreqüência incorpora na sua própria definição de exploração essas espécies desaparecerão.técnica a lógica produtivista do capital, estabe- Muitas delas, na prática, já desapareceram. Paralecendo-se portanto, numa base eminentemente ilustrar transcrevemos na íntegra um trecho dessautilitarista e humana. A floresta é tão somente tese apresentada no Seminário sobre o Manejoo cenário, onde se desenrola uma seqüência de Sustentável da Araucária e do Xaxim, da Comis-atos associados à “explotação” cíclica dos “juros” são de Turismo e Meio Ambiente da Assembléiaflorestais, à pretensa manutenção do “estoque” e à Legislativa do Estado de Santa Catarina, em 11retirada periódica do “incremento”. De cenário, a de setembro de 2005:floresta passa a ser reduzida a “almoxarifado”.     “Não é justo penalizar aqueles queA abstração chega a atingir níveis de insani-       preservaram ou compraram áreas comdade, a ponto de ainda persistirem defensores da    araucárias, xaxim e outras espéciesexploração madeireira nos remanescentes flores-     florestais, proibindo-os de EXPLOTARtais naturais, usando o argumento de que somente    parte desses recursos, para sua própriacom a intervenção humana essas florestas terão      sobrevivência. Só através dos MANE-futuro, já que elas não conseguem sobreviver sem    JOS dos recursos naturais renováveis,o homem, que lembram bem, também faz parte          de áreas nativas remanescentes é queda natureza.                                        poderemos encontrar a PAZ e o equi-Ainda que tenhamos uma sociedade que já             líbrio socioeconômico no campo. Aoadministra um considerável prejuízo decorrente      contrário permanecendo a proibiçãodos efeitos da degradação florestal, a tese do ma-  através de LEIS ou LIMINARES, au-nejo dos recursos madeireiros em remanescentes      mentaremos ainda mais os bolsões de                                                    POBREZA e desarmonia social.”
O que ainda ameaça202                 Desmatamento irregular de floresta com araucária – SC, 2005                         O esgotamento dos recursos florestais da       técnico-científica mínima para a sustentabilida-                    Mata Atlântica favoreceu a introdução de culti-     de do manejo florestal na Mata Atlântica é hoje                    vos florestais homogêneos de espécies exóticas.     formalmente reconhecida. Pelo menos para a                    Nessas florestas plantadas muito se investiu,       exploração de espécies ameaçadas de extinção,                    tanto em pesquisa quanto em incentivos para         coincidentemente aquelas mais manejadas, existe                    implantação. Nelas se assentava uma prodigiosa      uma decisão liminar do Poder Judiciário e uma                    e próspera indústria. Por isso, mesmo depois de     Resolução do Conama (278/01), que condicionam                    abrir todo o “espaço” possível na Mata Atlântica,   à liberação do manejo a apresentação da referida                    o saber nacional se voltou para o aprimoramento     base técnico-científica. Não há e tampouco pode-                    do manejo de florestas homogêneas exóticas, a       ríamos imaginar que esse embasamento surgisse                    antítese da profusão de biodiversidade da floresta  assim repentinamente. Em termos comparativos,                    original. Não bastasse, os escassos remanescentes   as pesquisas com eucaliptos no Brasil se estendem                    naturais atuais da Mata Atlântica são ainda objeto  por quase um século, recebendo aportes e incen-                    da cobiça, sustentada por discursos que mesclam     tivos os mais diversos, ao passo que ainda não                    demagogia barata com tecnocracia arrogante.         sabemos, por exemplo, quem poliniza a canela-                                                                        preta, ou ainda quais os dispersores das sementes                         As técnicas de manejo, desenvolvidas ao        do sassafrás, o incremento médio anual da imbuia.                    extremo nos plantios homogêneos, são também         Poderíamos nos estender por uma centena de                    facilmente transportadas para um irresponsável      questionamentos, todos sem respostas. No ilusio-                    e inconseqüente discurso de sustentabilidade na     nismo do manejo florestal dos remanescentes da                    exploração madeireira de espécies desconhe-         Mata Atlântica, manipula-se o desconhecido.                    cidas, agonizando em remanescentes naturais                    diminutos e isolados. A inexistência de uma base
Exploração                                                                                                de                                                                                                araucária                                                                                                em Turvo                                                                                                – PR, 1995                                                                                                O que ainda ameaça     O Estado comprometido e conivente,          aliás, sequer vê a árvore, apenas percebe a    203afinal é ele uma criação humana, essa que é      madeira. Mais assustador é ainda presenciar aa mais prejudicial das espécies invasoras da     pressão para a supressão dos espaços da MataMata Atlântica, perambula na letargia de uma     Atlântica para abrir caminho para a moderni-burocracia repleta de boas intenções. O Estado,  dade, traduzida pelos plantios de soja, pínusmais do que o homem, não enxerga a floresta,     ou eucaliptos.                                                                                                Madeira                                                                                                ilegal de                                                                                                araucária,                                                                                                em                                                                                                Bituruna                                                                                                – PR, 1995
O problema na práticaO que ainda ameaça  Perda da variabilidade                               pela informalidade. É comum os planos de                    genética da araucária                                manejo cortarem mais do que o autorizado,                                                                         devido à falta de fiscalização. Além disso, a                          Segundo levantamento realizado pelo            análise qualitativa dos planos de manejo são                    Grupo Pau Campeche, entidade ambienta-               tecnicamente frágeis, pois não inserem nada                    lista de Santa Catarina, o Ibama autorizou           referente à proteção da espécie, apenas limi-                    somente neste Estado, entre 1997 e 1999, 86          tam a 40% o volume a ser explorado.                    planos de manejo e 63 requisições de corte                    seletivo da araucária, totalizando um volume               Outro trabalho realizado pela Universi-                    de 233.402 m3 de madeira, ou quase 60 mil            dade Federal de Santa Catarina, comparando                    pinheiros cortados, em três anos. Na prática,        os remanescentes primários de floresta com                    esse valor corresponde a apenas um terço             araucária com as áreas exploradas, mostrou                    do desmatamento, pois o setor é marcado              uma perda de mais de 50% na variabilidade                                                                         genética dessas últimas.204                         O manejo florestal na Mata Atlântica procura                                                                           Exploração                    fechar um ciclo de destruição, consciente, cal-                                                                             ilegal ameaça                    culado, porém desastroso. Repetimos a história;                                                                             variabilidade                    aquela de exploração e destruição. Destruir flo-                                                                            genética das                    restas não é desumano, é essencialmente humano.                                                                             espécies                    As perspectivas positivas na Mata Atlântica são                    escassas. É preciso refletir sobre a situação, bus-  *João de Deus Medeiros é botânico do Depar-                    cando proteger essa floresta do homem. Ele que       tamento de Botânica (CCB-UFSC) e do Grupo                    nunca teve a menor habilidade com a floresta,        Pau-Campeche                    não mostra também maior sensibilidade com                    os remanescentes da Mata Atlântica. Não existe                    educação, ciência, manejo ou tecnologia capaz de                    salvar a Mata Atlântica, enquanto mantivermos                    essa equivocada e arrogante percepção de “desen-                    volvimento” como sinônimo de ocupação, uso e                    abuso. Para o pouco que sobrou da Mata Atlântica                    precisamos ainda aprender a enxergá-la.
Exploração madeireira*                               na Bahia, em especial quanto à sustentabilidade     O que ainda ameaça                                                     dos Planos de Manejo Florestal de Rendimento     A exploração das florestas do sul e extremo     Sustentável (PMFS).                                 205sul da Bahia remonta ao início da colonização doBrasil. Entretanto, durante os primeiros quatro           A floresta ombrófila densa e algumas áreas deséculos e meio, os impactos ambientais causados      transição para a floresta estacional semi-decidualforam de menor amplitude se comparados com a         no sul da Bahia continuam sendo objeto de devas-devastação dos últimos 30 anos. Desde a abertu-      tação paulatina, em intensidade variável conformera da BR-101, na década de 1970, e de rodovias       a demanda de madeira nativa, a capacidade deestaduais, como a BA-001, as madeireiras vêm         fiscalização dos órgãos públicos, a correlação deavançando sobre as florestas da região, deixando     forças políticas e a conjuntura socioeconômicapara trás um rastro de destruição ambiental. Se      regional, dentre outros fatores.por um lado não podem ser consideradas as úni-cas responsáveis pela degradação que enfrenta a           Em abril de 1998, após intenso debate entreregião, não há dúvidas que são a base e o princípio  a sociedade civil, através da Rede de ONGs dade um processo que coloca em situação crítica um     Mata Atlântica, governo da Bahia, Ibama e MMA,dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade e      o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Cona-endemismo do mundo.                                  ma) aprovou a Resolução 240/98, que suspendeu                                                     a exploração madeireira até a apresentação de     Desde a publicação do Decreto 750/93, que       estudos comprovando a sustentabilidade dessadispõe sobre a proteção e o uso sustentável da       atividade. Esses estudos jamais foram realizadosMata Atlântica, diversas instituições públicas e     de forma a atender o que foi preconizado. Com ada sociedade civil vêm externando suas preocu-       intensa pressão dos madeireiros sobre os governospações quanto à exploração da Mata Atlântica         estadual e federal, as exigências foram flexibi-                                                     lizadas, gerando a Resolução Conama 248/99,Desmatamento ainda ameaça a Mata Atlântica
O que ainda ameaça  que determinou, entre outros, estudos sobre o        As serrarias existentes funcionavam ilegalmente,     Corte ilegal                    estoque das espécies comerciais e o mapeamento       todas sem licenças ambientais e operando com         de cedro                    atualizado dos remanescentes, assim como esta-       espécies nativas de origem ilegal.206                 beleceu uma série de exigências para o caso de                    novas autorizações. Para todos, estava em jogo a     As ATPFs                    maneira como as serrarias exploravam as flores-                    tas no sul e extremo sul da Bahia, sem nenhum             No final de abril de 2000, o então ministro do                    planejamento ou critério, sem fiscalização séria,    Meio Ambiente, José Sarney Filho, que por várias                    ao sabor da conivência de agentes públicos, com      vezes havia manifestado sua discordância dessa                    pressão e violência por parte de membros do se-      exploração predatória, resolveu suspender os pla-                    tor madeireiro, o que provocava um certo risco       nos de manejo situados no entorno das unidades                    de vida pela ausência de segurança, ao mesmo         de conservação, em especial do Parque Monte                    tempo em que eliminavam qualquer possibilidade       Pascoal e dos recém-criados parques nacionais                    de sustentabilidade da atividade.                    do Pau Brasil e do Descobrimento.                         Uma boa ilustração da situação da atividade          Mesmo com a atividade madeireira formal-                    na região foi dada pela auditoria reivindicada       mente suspensa, as denúncias de desmatamento                    pela sociedade civil e realizada pelo Ibama, com     continuaram sistemáticas. Em 2002, começaram                    a participação de certa forma limitada de represen-  a aparecer provas concretas de que a emissão das                    tantes da RMA. Foram identificados 315 planos de     Autorizações de Transporte de Produtos Florestais                    manejo em operação, em 1997, dos quais apenas        (ATPFs) pelo Ibama eram feitas de forma fraudu-                    32 foram considerados aptos a continuar sendo        lenta, esquentando madeiras oriundas de desma-                    explorados. Durante esse período, a exploração       tamentos ilegais. Os caminhões circulavam nas                    clandestina não parou, embora tenha reduzido         estradas carregados de toras de espécies da Mata                    durante as várias fiscalizações da denominada        Atlântica, com ATPFs, passando pelos postos de                    Operação Descobrimento. Na contabilidade dessa       fiscalização, com conivência dos fiscais do Ibama,                    operação, o setor madeireiro se configurou como      da Polícia Rodoviária e da Secretaria da Fazenda                    o principal descumpridor da legislação ambiental.    do Estado da Bahia. Vários endereços de origem                                                                         e destino lançados nos documentos eram inexis-
Desmatamento                                                    para agriculturatentes, o que comprovava mais ainda o esquema            Com a mudança institucional e com o reforço      O que ainda ameaçade esquentamento, com serrarias e madeireiras       das ações de controle, vários madeireiros muda-fantasmas. No escritório do Gambá, começaram        ram da região devido às restrições impostas para      207a chegar, na época, várias cópias de ATPFs envia-   a continuidade da atividade, indo se estabelecerdas por pessoas anônimas que tinham acesso às       em outras regiões onde a exploração madeireirainformações e estavam indignadas com tal crime      é intensa, como no Mato Grosso. Os que ficaramà natureza que estava sendo cometido.               foram descobrindo algumas formas de burlar a                                                    fiscalização. Um exemplo é executar o desdobra-     A RMA e o Gambá, com apoio do Instituto        mento de toros e fazer os pranchões na própriaSocioambiental (ISA), resolveram, então, ingres-    floresta, dificultando o controle e a ação dossar com uma ação judicial visando à suspensão da    órgãos de fiscalização.emissão das ATPFs. A Justiça Federal concedeuliminar favorável em dezembro de 2002, que               Através do Projeto Corredores Ecológicos docontinua válida até hoje.                           PPG7 foram realizadas ações integradas dos vá-                                                    rios órgãos responsáveis pela fiscalização (Ibama,     Assim, toda e qualquer exploração e transpor-  Semarh/CRA, Companhia de Polícia Ambiental,te de madeira nativa da Mata Atlântica da Bahia     Polícia Civil, Polícia Rodoviária, Ministério Pú-é ilegal e deve ser denunciada pela sociedade e     blico), contemplando atividades de capacitação,combatida pelos órgãos de fiscalização.             integração, análise de procedimentos e operações                                                    de campo, resultando em ações bem mais eficazes     A partir de 2003, com a mudança dos ges-       no controle do desmatamento.tores do Ibama na Bahia, que demonstraramcompromisso para enfrentar essa realidade, a             A situação atual da Mata Atlântica na regiãoação do órgão foi fortalecida, mesmo ainda com      ainda precisa de um melhor controle, de maiorsérias dificuldades operacionais, dado o tamanho    consciência dos proprietários rurais detentoresdo problema. Ações mais concretas de fiscaliza-     de florestas e de políticas públicas eficazes para ação foram implementadas, conseguindo algumas        proteção da floresta. A criação de novas unidadesvezes evitar desmatamentos, mas na maioria das      de conservação de proteção integral, a melhoria davezes chegando ao local com a mata no chão.         gestão das atuais UCs, tanto dos parques nacionais                                                    como das Áreas de Proteção Ambiental (APAs),                                                    o incentivo à criação de Reservas Particulares                                                    do Patrimônio Natural (RPPNs), a viabilização                                                    do Projeto Corredores Ecológicos com mais                                                    agilidade, o controle de atividades que historica-                                                    mente vêm comprometendo a proteção do bioma,                                                    como a expansão da monocultura de eucalipto e                                                    da pecuária extensiva de baixa produtividade,                                                    são medidas necessárias e urgentes para serem                                                    implementadas na região.                                                    *Renato Cunha é coordenador executivo do                                                    Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá) e membro                                                    da coordenação da RMA
O problema na práticaO que ainda ameaça  Você tem pratos                                do centenas de fábricas clandestinas, em                    de madeira em casa?*                           quintais de periferias pobres. Tampouco é208                                                                exclusivamente indígena. Os Pataxó são                          Quase todos nós temos: pratos, tigelas,  apenas responsáveis por 11,6% da produção,                    tábuas de carne, talheres, gamelas, pilões     apesar de ter seu nome amplamente usado                    ou potes de mel. A cor, o desenho e o brilho   para driblar a fiscalização. Gera subem-                    da madeira são uns luxos. O que a maioria      prego, sem proteção física, nem legal. Um                    ignora, porém, é que esta beleza sustenta      objeto vendido a R$ 40,00 em São Paulo foi                    um tráfico de mais de 30.000 metros cúbicos    comprado por cerca de R$ 1,00 do produtor,                    anuais de madeiras raras da Mata Atlântica,    num regime de total dependência, parecendo                    só no extremo sul da Bahia.                    quase escravidão.                          Essa região, entre Porto Seguro, Prado         Os órgãos competentes têm de se                    e Itamaraju, não é apenas famosa por ser       mobilizar para combater essa desgraça.                    o local do descobrimento do Brasil pelos       Urgentemente. E mais do que tudo, VOCÊ                    portugueses. Também abriga os maiores          pode fazer a diferença. Se tiver algum desses                    remanescentes de floresta atlântica do Nor-    objetos em casa; se comprou algum nesse                    deste, considerada a mais rica e ameaçada      verão, agora sabe o quanto realmente custou.                    do Planeta.                                    Pode decidir nesse instante e para sempre                                                                   que, se não for muito bem comprovada a                          O impacto do tráfico está concentra-     origem ambientalmente e socialmente correta                    do nos remanescentes mais preservados          do objeto, por certificado ou selo verde, NÃO                    dessa floresta, abrindo novas frentes de       COMPRE, nunca mais.                    devastação. Procuram-se especificamente                    as árvores de grande porte mais valiosas,      * Jean-François Timmers, da Associação                    muitas ameaçadas de extinção, ou seja: es-     Flora Brasil                    tão virando utensílios domésticos os últimos                    exemplares de jacarandá, pau-brasil nativo,                    paraju, arruda, mussuta-                    íba, arapati etc., aptos a                    produzir sementes para                    eventuais futuros plantios                    comerciais, com fantástico                    potencial econômico.                          Não se trata aqui de                    artesanato, mas sim de                    uma indústria, envolven-                    Transporte de madeira                                            ilegal
O que ainda ameaça                                                                                                         209Assentamento rural em Abelardo Luz, Santa CatarinaAssentamentos rurais                                restas, em vários estados brasileiros, acabaram                                                    em desmatamento e destruição.     O Decreto Federal 750/93, principal legisla-ção relativa à Mata Atlântica e aos usos previstos       O desmatamento dos remanescentes flo-para o bioma, proíbe o desmatamento de áreas de     restais começa mesmo antes da implantação dofloresta primária e secundária nos estágios médio   assentamento. Em muitos casos, o proprietárioe avançado de regeneração para fins de reforma      desapropriado é autorizado a retirar todo o estoqueagrária. Mas a instalação de assentamentos rurais   de madeira antes de entregar a área às famíliastem como uma de suas bases um equívoco con-         beneficiadas. Outras vezes, os próprios assentadosceitual, qual seja, o de que propriedades cobertas  fazem da exploração e comércio de madeira umpor florestas nativas são improdutivas. Com isso,   meio de obter recursos financeiros imediatos, mes-a grande maioria dos projetos de reforma agrária    mo que temporários. De uma forma ou de outra,até agora realizados em áreas cobertas com flo-     milhares de hectares de florestas foram destruídos                                                    num ritmo acelerado nesse processo.
O problema na práticaO que ainda ameaça  Desmatamentos                                                        Assentamento em Quedas                    em Santa Catarina                                                    do Iguaçu, no Paraná210                 e Paraná                                                                                       Abelardo Luz foi o município                          A partir de meados da década de 1980,                        campeão em desmatamen-                    inúmeros assentamentos rurais foram im-                            tos no Estado, de acordo com                    plantados em Santa Catarina, predominan-                           o Atlas dos Remanescentes                    temente no planalto, meio-oeste e oeste do                         Florestais e Ecossistemas                    Estado, área de ocorrência da Floresta com                         Associados no Domínio da                    Araucária. Desmatamentos praticados em                             Mata Atlântica (1998), tendo                    assentamentos de trabalhadores rurais são                          sido desmatado um total de                    notícia freqüente nos jornais e foram consta-                      4.500 hectares.                    tados oficialmente por uma equipe integrada          Outro exemplo conhecido do problema                    pela Federação de Entidades Ecologistas        em área de Mata Atlântica foi a desapropria-                    Catarinenses (FEEC), Apremavi, Ministério      ção para reforma agrária, no município de                    do Meio Ambiente e Ibama, durante levan-       Quedas do Iguaçu, no Paraná, entre 1997                    tamento sobre a situação das florestas no      e 1998, de 26.252 hectares cobertos com                    Estado, em abril de 2001.                      vegetação primária e em estágio avançado                                                                   de regeneração de Mata Atlântica, perten-                          Em maio de 1998, o Jornal de Santa Ca-   centes à empresa Araupel, os quais foram                    tarina publicou matéria informando que, até    totalmente desmatados.                    aquele ano, existiam no Estado um total de 96        Uma vistoria realizada no local em no-                    assentamentos ocupando uma área estimada       vembro de 2000, pelo Ministério do Meio Am-                    em 70.000 hectares. Somente no município       biente em conjunto com a Rede de ONGs da                    de Abelardo Luz existem 17 assentamentos,      Mata Atlântica, constatou que foram implanta-                    conforme revela um relatório do Movimento      dos na área dois assentamentos para reforma                    dos Sem Terra (MST) de 1997, a maioria         agrária e que toda a área encontrava-se                    deles implantados em áreas cobertas por        desmatada, sendo que em vários locais nem                    Floresta com Araucária. Entre 1990 e 1995,     mesmo as áreas de preservação permanente                                                                   (matas ciliares) foram respeitadas. Foram                                                                   vistos ainda vários desmatamentos recen-                                                                   tes, com posterior queimada, para “limpeza”                                                                   das áreas. Uma pesquisa que estava sendo                                                                   realizada com uma população de queixadas e                                                                   catetos na região foi inviabilizada, pelo desa-                                                                   parecimento completo desses animais. Além                                                                   dessas espécies, várias outras continuaram                                                                   a ser caçadas na região.
Fumicultura e agricultura                            pela assistência técnica, financeira e transporte da  O que ainda ameaçainsustentável                                        produção até as usinas de beneficiamento. Mas                                                     ainda que o processo produtivo, da entrega das        211     Com a expansão do parque industrial e o         sementes à seleção das folhas, seja controladoincremento da produção e exportação agrícola no      pelas empresas, o contrato com as famílias nãoPaís, a fumicultura teve um aumento significativo    inclui a responsabilidade pelos danos ambientaisna região Sul a partir da década de 70. Hoje res-    da atividade.ponsável pela produção de 850 mil toneladas detabaco por ano - o que dá ao Brasil o triste título       A destruição gerada pelo cultivo passa pelode primeiro exportador mundial de fumo – o País      uso do brometo de metila, agrotóxico consumidoconvive com os diferentes danos causados por         em larga escala no controle de ervas daninhas,esse tipo de agricultura insustentável, tanto para   doenças e pragas nos canteiros de fumo. A conta-os agricultores quanto para o ambiente da Mata       minação ambiental se dá pela degradação do solo,Atlântica, onde a cultura do fumo se localiza.       dos recursos hídricos e da própria camada de ozô-                                                     nio, pois o brometo de metila possui capacidade     Embora desenvolvida por mais de 150 mil         50 vezes maior de destruir moléculas de ozôniofamílias em cerca de 650 municípios do Sul (50%      do que um átomo de cloro. Já a contaminaçãono Rio Grande do Sul, 35% em Santa Catarina e        da água ocorre por lixiviação – quando a chuva15% no Paraná), além de 50 mil famílias fumicul-     carrega camadas superficiais do solo, atingidastoras em estados como Bahia e Alagoas, a cultura     por produtos químicos, para dentro dos rios – oudo fumo guarda relações perversas entre pequenos     pelo transporte dos agrotóxicos para dentro daprodutores, indústria e consumidores. Primeiro,      terra, onde ficam acumulados nas águas subterrâ-pelo chamado ‘sistema integrado de produção’, as     neas. Por fim, a fertilidade do solo é mantida pelaindústrias garantem a compra integral da produção    aplicação excessiva de insumos agrícolas, o quepor preços negociados com representantes dos         acarreta em erosão e perda do equilíbrio naturalagricultores, devendo se responsabilizar também      entre floresta e fertilidade.                                                                                                           Secagem                                                                                                           da folha                                                                                                           de fumo                                                                                                           ainda                                                                                                           utiliza                                                                                                           lenha                                                                                                           nativa
O que ainda ameaça       De outro lado, a fumicultura surge como             Pelo aspecto humano, a fumicultura relacio-                    principal causadora do desmatamento da Mata         na-se a diversas doenças causadoras de morte até o                    Atlântica em estados como Santa Catarina. As        uso de mão-de-obra escrava imposto por algumas                    estufas de fumo carecem de madeira para o aque-     indústrias do tabaco. Em 2000, fumicultores do                    cimento e secagem das folhas da planta e, embora    Paraná denunciaram suposto esquema de explo-                    grandes empresas e fumilcutores tenham firmado      ração do trabalho escravo no Estado, assim como                    Termo de Ajustamento de Conduta que proíbe o        intoxicações por defensivos químicos usados sem                    uso de lenha de madeira nativa nas estufas, grande  máscaras, luvas ou botas. O descuido no uso de                    parte dos agricultores ainda remove árvores na-     agrotóxicos pode levar de irritações na pele e nos                    tivas para esse fim. A lenha tem participação de    olhos, a problemas respiratórios, câncer, distúr-                    7,6% no custo de produção do fumo e, segundo        bios sexuais e até doenças no sistema nervoso                    dados da Organização Mundial de Saúde, para         central e periférico.                    cada 300 cigarros acesos, uma árvore é derruba-                    da. Empresas como a Souza Cruz, por exemplo,             O combate ao tabagismo como tendência                    respondem pela orientação ao plantio, colheita e    em campanhas de conscientização – com o Brasil                    uso da estufa, mas não pelo combustível que as      tendo assinado a Convenção Internacional para o                    alimenta.                                           Controle do Tabaco, em 2003 – remete ao debate                                                                        sobre a necessidade de erradicação da fumicultura212                    Desmatamento para plantio de soja – SC, 2005
Pecuária em área depreservaçãopermanente  – BA, 2004                                                                                                                       O que ainda ameaça                                                                                                                       213               no País. Municípios e trabalhadores das regiões   doença de Parkinson e o Dithane, mutação e má               produtoras, no entanto, dependem da fumicultura   formação do feto.               e da destruição que ela gera, devendo encontrar               alternativas agroecológicas para a diminuição          Por fim, agriculturas insustentáveis estão               progressiva desse tipo de lavoura.                representadas pelos sistemas monocultores de                                                                 produtos como a soja e a cana, cujo plantio ex-                    Outras formas de agricultura insustentável   tensivo promove o desmatamento dos últimos               estão relacionadas ao intenso grau de toxicidade  remanescentes da Mata Atlântica (além da soja               de alimentos que têm baixa resistência a pragas.  ser a monocultura de maior impacto sobre os               Em 2002, pesquisas com o tomate revelaram um      biomas Cerrado e Amazônia). Repetindo um mo-               índice de contaminação por agrotóxico de 26%,     delo de desenvolvimento obsoleto e predatório, a               com o mamão de até 37% e com o morango de         monocultura da soja ocupa mais de 43 milhões de               54%. As ocorrências se devem em grande parte      hectares no País, cresce cerca de 8% ao ano devido               ao uso de agrotóxicos não permitidos, muitos      à intensificação na utilização de tecnologias de               dos quais têm resíduos que persistem ao longo     plantio direto, e implica em impactos diretos sobre               de toda a cadeia alimentar. Em culturas de to-    o meio ambiente. Ao seguir um modelo de manejo               mate e pimentão, por exemplo, ainda se usam       predatório dos recursos naturais, o cultivo de grãos               fungicidas perigosos como o Maneb, o Zineb e      traz problemas para a qualidade da água, assorea-               o Dithane – os dois primeiros podendo provocar    mento, processos erosivos e de perda do solo.
O problema na práticaO que ainda ameaça  Lenha Nativa em                                ponsabilidade da execução do termo não é                    Santa Catarina                                 só do fumicultor mas também das fumageiras214                                                                e empresas de grande porte do ramo. Sabe-                          Segundo produtor nacional de fumo,       se, porém, que grande parte dos produtores                    com mais de 30% da produção brasileira do      ainda usa lenha nativa para aquecer suas                    setor, o estado de Santa Catarina tem na       estufas, muitas vezes de forma camuflada,                    fumicultura o principal responsável pelo des-  escondendo a madeira nativa debaixo de                    matamento de suas florestas nativas. Hoje,     uma pilha de eucalipto.                    a retirada de árvores nativas para produzir                    calor nas estufas de fumo amplia a pressão           O uso questionável de exóticas pode ser                    sobre os remanescentes da maior parte dos      visto no cenário de municípios como Atalanta,                    municípios do Estado, onde o setor fumageiro   Ituporanga, Vitor Meireles, Witmarsun, Dona                    tem expressiva importância econômica.          Emma, Presidente Getúlio e José Boiteux,                                                                   onde uma vistoria realizada no final de 2004                          Em 2003, um Termo de Ajustamento         revelou resultados alarmantes. Montes de                    de Conduta (TAC) determinou que os fumi-       lenha nativa foram encontrados à beira                    cultores estão proibidos de utilizar lenha de  das estradas ou ao lado das estufas, com                    madeira nativa para a secagem das folhas de    comprovada proveniência de fragmentos                    fumo em suas estufas, sendo recomendado        vizinhos, alguns em Áreas de Preservação                    o cultivo de árvores exóticas como o pinus e   Permanente (APPs).                    o eucalipto para esse fim. Além disso, a res-                    Madeira nativa utilizada para queima
Barragemda UHEde BarraGrande          Grandes                                                 As usinas hidrelétricas são responsáveis por      O que ainda ameaça          empreendimentos                                    grande parte da perda de floresta nativa, pois com                                                             o enchimento do lago para produção de energia,         215               Empreendimentos de grande porte, sejam        inundam-se extensas áreas cobertas por vegeta-          eles econômicos, turísticos, industriais, imobi-   ção. Ações para a implantação de hidrelétricas          liários ou de transporte representam sempre uma    devem prever o desmatamento do local e o sal-          alteração das propriedades originais do ambiente   vamento de animais, em geral já ameaçados pela          onde são instalados. No caso de novas obras no     redução de seu habitat. A obtenção da licença para          Domínio da Mata Atlântica, não há como im-         a formação do lago das hidrelétricas passa pela          plantá-las sem promover a ruptura dos processos    obrigatoriedade de ações mitigatórias por parte          ecológicos existentes e a desorganização da vida   do empreendedor. Essas devem compensar os          social e cultural das localidades próximas. Os     prejuízos sociais, econômicos e ambientais, que          impactos ambientais resultantes dessas atividades  vão desde o impacto sobre os recursos pesqueiros,          podem afetar direta ou indiretamente a saúde, o    o regime hidrológico e a perda de espécies endê-          bem-estar da população e a qualidade do meio       micas, até a inundação de áreas de comunidades          ambiente. A implantação de qualquer grande         ribeirinhas.          empreendimento deve ser precedida, portanto,          de estudos de impacto ambiental que auxiliem            Também caracterizadas como obras de gran-          na prevenção para a tomada de decisão sobre a      de porte, as usinas nucleares costumam implicar          obra e no planejamento para o desenvolvimento      em graves riscos ambientais para as áreas naturais          sustentável.                                       e para a população vizinha ao empreendimento.                                                                                Além das condições impróprias                                                                                para a instalação de usinas como                                                                                Angra I e II na zona costeira do                                                                                Domínio da Mata Atlântica, seja                                                                                pela difícil evacuação em caso de                                                                                acidente seja pela grande quanti-                                                                                dade de lixo nuclear que depende                                                                                de vigilância por milhares de anos                                                                                e não conta com técnicas de arma-                                                                                zenamento seguras, empreendi-                                                                                mentos desse tipo não levam em                                                                                conta a vocação de importantes                                                                                áreas naturais e os incalculáveis                                                                                custos das obras em relação à                                                                                energia produzida.                                                             Torres da igreja,                                                             remanescentes da cidade                                                             de Itá – SC, alagada por                                                             hidrelétrica
A alteração da paisagem pela chegada de       desordenada de parte do litoral de Santa Catarina,                    novos empreendimentos pode ser observada                    ainda pela implantação de parques industriais      podendo ameaçar até o litoral do Paraná caso                    que não respeitam as características originais de                    uma região. Para implantar uma fábrica de aços     haja vazamento dos produtos com que a empresa                    no litoral de Santa Catarina, por exemplo, um                    grupo francês executou obras de aterramento em     trabalha.                    áreas de mangue, em região considerada de alta                    biodiversidade. Neste caso, a questão financeira   Por fim, a abertura de estradas coloca-se                    se sobrepôs à ambiental, pois conforme o governo                    atendeu à vontade dos empreendedores, ignorando    como mais um vetor de risco para a conservação,                    impactos da atividade previstos no EIA/RIMA. O                    empreendimento tem fomentado ainda a ocupação      causando o chamado efeito de borda com com-                                                                       prometimento para a floresta, os rios e a biodi-                                                                       versidade do entorno do empreendimento. Com Floresta                                                                                                                           que o lago                                                                       a criação dessas vias, o comércio irregular e as    de BarraO que ainda ameaça                                                     novas construções passam a se associar à falta de Grande                                                                                                                           inundou, em                                                                       suporte e de condições para a demanda de pessoas    2005, pouco                                                                       atraídas pelas novas oportunidades.                 antes do                                                                                                                           enchimento216
O problema na práticaA hidrelétrica que                              área de aproximadamente 8.140 hectares,         O que ainda ameaçanão viu a floresta                              90% da qual recoberta por floresta primária                                                e em diferentes estágios de regeneração e       217      Abrigo de um dos últimos remanescentes    por campos naturais. Ali, na floresta tragadade floresta primária de araucárias existentes   pelas águas, estava um dos mais bem preser-no País e de quatro das últimas populações      vados e biologicamente ricos fragmentos dede uma espécie endêmica de bromélia, a          floresta ombrófila mista do estado de SantaDyckia distachya, o trecho de cinco mil hec-    Catarina, em cujas populações de araucáriatares entre os municípios de Anita Garibaldi    foram identificados os mais altos índices de(SC) e Pinhal da Serra (RS) corresponde         variabilidade genética já verificados em todohoje ao lago da Usina Hidrelétrica de Barra     o ecossistema.Grande. Em julho de 2005, o caso de BarraGrande tornou-se exemplo de uma derrota               Só recentemente, quando o empreen-histórica para os ecossistemas da Mata          dedor – a Barra Grande Energética S/A, cujaAtlântica. Nessa data, o Ibama concedeu         atual composição acionária tem a participa-licença de operação para o empreendimen-        ção das empresas Barra Grande Energiato, autorizando o fechamento das compotas       S/A (Begesa), Alcoa Alumínio S/A, Camargoda barragem e a inundação da floresta que       Corrêa, Companhia Brasileira de Alumínioficará submersa pelo grande lago da represa     (CBA) e DME Energética Ltda. - solicitou aoda usina.                                       Ibama um pedido de supressão das florestas                                                a serem inundadas, descobriu-se que o Estu-      Barra Grande é uma localidade no Vale     do de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatóriodo Rio Pelotas, divisa de Santa Catarina com    de Impacto Ambiental (Rima) - documentosRio Grande do Sul, onde a geografia traça       necessários para obter a licença de operaçãobelíssimos desenhos na paisagem formando        do empreendimento –, entregues em 1998uma calha de rio com declives acentuados,       ao Ibama, omitiram a existência desses re-cobertos ora por uma exuberante floresta        manescentes de floresta com araucária comcom araucárias, ora por campos nativos, ora     importantes populações naturais de espéciespor propriedades agrícolas que lá se implan-    ameaçadas de extinção.taram ao longo do tempo.                                                      Ao analisar o pedido de supressão, o      As preciosas manchas de floresta com      Ibama solicitou um inventário florestal, ela-araucárias, formação florestal do Domínio da    borado e apresentado pelo empreendedorMata Atlântica, e ecossistemas associados       em maio de 2003, que mostrou, dessa vez, aexistentes no Vale do Rio Pelotas estão na      real situação da cobertura florestal existenteárea de influência direta da Usina Hidrelétri-  na área que seria inundada. Na verdade, oca de Barra Grande, cuja barragem, de 190       Rima apresentado havia reduzido a coberturametros de altura, já está cheia. A formação     florestal primária da área a ser alagada dede seu lago provocou a inundação de uma         2.077 para 702 hectares; a área de floresta
O problema na práticaO que ainda ameaça                     em estágio avançado de regeneração - trata-      e, constatando a gravidade da situação,                                       da no documento como um “capoeirão” – de         a Federação de Entidades Ecologistas218                                    2.158 para 860 hectares; a área de floresta      Catarinenses e a Rede de ONGs da Mata                                       em estágios médio e inicial de regeneração       Atlântica impetraram, em setembro de 2004,                                       - tratada apenas como “capoeira” – de 2.415      uma ação civil pública na Justiça Federal de                                       hectares para apenas 830 hectares. Além dis-     Florianópolis(SC), na tentativa de reverter                                       so, não fazia menção clara sobre os campos       esta absurda situação. Enquanto isso, o                                       naturais, que estão presentes em mais de         governo federal assinava com a empresa                                       1.000 hectares.                                  um Termo de Compromisso que viabilizou a                                                                                        assinatura de uma autorização de desmata-                                             Ou seja: a licença de instalação da obra   mento pelo Ibama.                                       havia sido concedida pelo próprio Ibama, em                                       junho de 2001, em pleno vigor da resolução 278         Além das plantas presentes na Lista                                       do Conama (que proteje as espécies ameaça-       Oficial de Espécies Brasileiras Ameaçadas                                       das de extinção), com base em um documento       de Extinção, a área do vale do Rio Pelotas                                       que falsificara a real situação dos remanescen-  contém animais raros igualmente ameaça-                                       tes de Mata Atlântica existentes na área a ser   dos, como algumas aves de rapina. Com a                                       diretamente afetada pelo reservatório. Omitira,  confirmação de que o enchimento do lago                                       inclusive, a existência de um raro fragmento     provocou o desaparecimento de populações                                       de floresta com araucária com alto índice        de bromélias ameaçadas que só existiam                                       de diversidade genética – informações que,       naquela área, o País também deve prestar                                       considerando a legislação em vigor, poderiam     contas à comunidade internacional, já que é                                       inviabilizar a instalação do empreendimento.     signatário da Convenção da Diversidade Bio-                                                                                        lógica e irá sediar a Conferência das Partes                                             Diante desse quadro, as ONGs am-           (COP) VIII da Convenção em 2006.                                       bientalistas realizaram uma visita à região                    Foto: Gerson Buss                                       Bromélia Dyckia distachya - Extinta na natureza por conta de Barra Grande
Plantio de exóticas                                 ecossistema das araucárias, essa atividade eco-    O que ainda ameaça                                                    nômica produz outros efeitos ambientalmente     A implantação de florestas homogêneas,         danosos à vida rural. Via de regra, as áreas re-   219quase exclusivamente com espécies exóticas de       florestadas, concluído o ciclo de crescimentorápido crescimento, pode produzir um nível de       determinado pelos critérios comerciais, sofremdegradação semelhante àquele provocado pela         um desmatamento completo, deixando o soloagricultura convencional. O avanço das monocul-     exposto. Em seguida, o local é queimado para aturas de árvores exóticas se tornou um problema     limpeza do terreno. Alguns proprietários ignoramgrave principalmente no domínio original da         solenemente o Código Florestal, plantando flo-floresta ombrófila mista.                           restas homogêneas em áreas de mata ciliar e em                                                    superfícies com declividade superior a 45º e em     A expansão dessas “florestas” tem apro-        topo de morros.fundado o isolamento dos pequenos e médiosfragmentos de florestas nativas, importantes para        Essas práticas geram processos erosivos,qualquer perspectiva de recuperação do ecossis-     perda de nutrientes do solo e, conseqüentemente,tema. Caracterizadas por sua agressividade e pelo   assoreamento de nascentes e cursos d´água. Ocrescimento acelerado, as plantações exóticas       impacto sobre o solo é agravado pelo trânsito deacabam eliminando qualquer possibilidade de os      veículos e máquinas pesadas pela rede de estra-remanescentes reocuparem áreas desmatadas, es-      das abertas entre as árvores, que compactam otorvando, inclusive, a interligação dos fragmentos  terreno.existentes.                                                         Uma notícia alentadora diante desse quadro     Na região noroeste de Santa Catarina, por      é que algumas empresas estão adotando práticasexemplo, onde estão três fragmentos que totalizam   diferenciadas, como o rigoroso cumprimento dacerca de 9.000 hectares considerados relevantes     legislação e o planejamento dos reflorestamentos.para a conservação da floresta com araucária, o     Os grandes empreendimentos têm ainda buscadoMinistério do Meio Ambiente detectou, por meio      a certificação florestalde imagens de sa-télite e de visitasde campo, a for-mação de grandespropriedades des-tinadas ao reflo-restamento – es-pecialmente comPinus elliottii,variedade qualifi-cada por biólogoscomo “invasoracontaminante”.     Além decomprometer aregeneração doDesmatamentopara plantio de             pinus
O problema na práticaO que ainda ameaça  Espécie altamente invasora                              Eucalipto                                                                            Árvore rústica de origem australiana, o220                       O Pinus elliottii é um pinheiro originário  eucalipto possui mais de 500 espécies e é                    dos Estados Unidos cujas características          conhecido pelo seu crescimento rápido e a                    reprodutivas transformaram essa espécie           dispensa por cuidados no cultivo logo após                    em uma ameaça à recuperação das florestas         o primeiro ano de plantio. Essa facilidade                    que integram o Domínio da Mata Atlântica,         contribuiu para a introdução da planta no                    especialmente a floresta ombrófila mista e os     Brasil na forma de monoculturas por em-                    campos naturais associados a essa floresta.       presas nacionais e estrangeiras, ocupando                    Nos campos, a situação é ainda mais preo-         milhares de hectares de terras antes cobertas                    cupante, visto a facilidade de implantação da     por florestas nativas no Domínio da Mata                    monocultura de pinus, a qual, além de extin-      Atlântica.                    guir as espécies nativas, também modifica               No extremo sul da Bahia, o plantio exten-                    totalmente a paisagem típica dessas regiões.      sivo do eucalipto na década de 1980 deter-                    Um estudo do engenheiro florestal Fernando        minou a perda de 85% da Mata Atlântica pre-                    Bechara, do Laboratório de Ecologia Vegetal       servada na região. Os problemas causados                    da Universidade Federal de Santa Catarina         desde então na paisagem são crescentes:                    (UFSC) informa que esse pinheiro foi introdu-     a eucaliptocultura praticada por empresas                    zido em Santa Catarina no início da década        como Aracruz Celulose e Bahia Sul ocupam                    de 1950 e, desde então, tem provocado gra-        um maciço de cerca de 600 mil hectares,                    ves problemas ecológicos no Estado.               segundo cálculos da ONG Cepedes, dos 3                                                                      milhões de hectares do extremo sul baiano;                          A ausência de predadores naturais, a        pequenos agricultores recebem incentivos                    baixa necessidade de nutrientes, a poliniza-      para implantar o cultivo do eucalipto na                    ção e dispersão por meio do vento fazem do        propriedade; e a expansão da cultura para o                    Pinus elliottii uma espécie altamente invaso-     entorno de áreas de mata nativa já é visível,                    ra. De acordo com Bechara, suas sementes          assim como o rebaixamento dos recursos                    aladas podem vir a germinar em distâncias         hídricos nas regiões de maior adensamento                    superiores a 10 Km da árvore original, co-        da espécie.                    lonizando inclusive o interior de unidades              Alvo de polêmicas na comunidade cientí-                    de conservação – como ocorreu no Parque           fica, as principais críticas ao uso do eucalipto                    Estadual da Serra do Tabuleiro, região da         referem-se à tendência da planta em ressecar                    Grande Florianópolis. Tal expansão acaba          o solo e empobrecer o meio ambiente.                    por prejudicar a fauna e a flora nativas da                    Mata Atlântica já que, ao sombrear áreas                    abertas, normalmente ensolaradas, impede                    que a vegetação de porte baixo frutifique e                    atraia animais.
MineraçãoA devastação da MataAtlântica pela mineraçãoremonta ao período colo-nial, com a retirada do ouroencontrado sob extensasáreas de mata nativa emMinas Gerais. As atividadesmineradoras já implica-vam, assim, na destruiçãoda floresta e na retirada de Mineração em São Paulo                                                   221centenas de exemplares deárvores nobres como as canelas, o jacarandá, a portanto, as técnicas para extração do minério,peroba e o cedro. Desde então, a Mata Atlântica envolvendo o uso da chamada drenagem ácida,tornou-se vítima direta dos impactos provoca- que levam à erosão, facilitam a acidificação dodos pelos processos de mineração, da erosão e solo e alteram significativamente a paisagem daalteração paisagística provocadas por atividades região das lavras. O nível de acidez do solo inibe,que vão da extração de areia ao assoreamento e por exemplo, o crescimento da vegetação e tornacontaminação das águas que a extração do carvão o terreno impróprio para a agricultura.                                                  Mas o efeito da extração do carvão sobre amineral causa.Desflorestamento, modificação do relevo e qualidade dos recursos hídricos e os ciclos hidro-contaminação das águas, advindos dos proces- lógicos é ainda mais danoso. A alteração do pHsos de extração de areia e carvão mineral têm se das águas pela drenagem ácida mata os rios dodestacado como um dos elementos de degradação entorno da região carbonífera. A drenagem dosdos ecossistemas da Mata Atlântica. Além da afluentes dos lavadores de carvão e a disposiçãosupressão da cobertura vegetal e do estabeleci- de rejeitos da mineração baixaram o pH da águamento de processos erosivos, a extração de areia de grande parte da região sul de Santa Catarina.remove camadas do solo que funcionam como O ambiente de áreas carboníferas do Rio Grandefiltro físico e biológico para as águas subterrâ- do Sul também se deteriorou: no Baixo Jacuí, osneas, incluindo a diminuição da pressão sobre mananciais subterrâneos foram afetados e boaos lençóis freáticos caso a areia seja extraída em parte da sub-bacia do Arroio do Conde está com-grandes quantidades.                              prometida; em Candiota, diversos pesquisadoresCombustível não-renovável, o carvão mineral observaram a queda na qualidade das águas super-é o resultado da transformação de troncos, raízes, ficiais a jusante das zonas de lavra. A percepçãogalhos e folhas de árvores que ficaram milhares da degradação é visível ainda em casos como ode anos submersos em ambientes pantanosos. do Rio Tubarão (SC), que nasce no pé da SerraNo Brasil, as jazidas dessa matéria compactada do Rio do Rastro, próximo das áreas de minera-localizam-se principalmente nos três estados do   ção. Durante décadas, os dejetos de lavagem doSul, dispostas em camadas estratificadas que po-  carvão foram jogados em suas águas e ainda hoje,dem conter centenas de metros de espessura. São,  sempre que chove, escorre uma lama de resíduos
O que ainda ameaça  amarelados de enxofre e ferrugem das encostas. Já    dióxido de carbono – principal gás causador do                    o Rio Mãe Luzia (SC) foi recentemente apontado       efeito estufa, pelo processo onde o CO2 absorve o222                 como o único caso no mundo a apresentar quatro       calor emitido pela superfície da Terra e promove                    cores no seu curso de água.                          o aumento da temperatura global.                         Em muitas ocasiões, o carvão nacional é              Para completar o quadro de agressões am-                    britado e lavado para a retirada de impurezas        bientais envolvidas na mineração, diferentes                    antes de ser utilizado nas usinas. E a água com os   regiões de abastecimento de água já sofrem com                    rejeitos, mesmo depois de filtrada, ainda contém     as irregularidades e atividades relacionadas à ex-                    metais dissolvidos que passam a ser descartados      ploração mineral. Em meados de 2005, diversos                    nos cursos d´água.                                   pontos da sub-bacia Guarapiranga foram identifi-                                                                         cados pelo Instituto Socioambiental (ISA) como                         Os impactos ambientais do carvão passam         alvos de atividades de supressão da vegetação,                    ainda pela indústria, já que a queima do produto     carvoaria, exploração mineral e remoção de ter-                    produz cinzas que, se não removidas devida-          ras. Neste caso, as minerações exploravam áreas                    mente, provocam uma forma de erosão química          completamente diversas daquelas com concessões                    conhecida como lixiviação, quando os elementos       de lavra pelo Departamento Nacional de Produção                    do solo, incluindo as substâncias tóxicas, são       Mineral (DNPM).                    carregados para as drenagens adjacentes. Já os                    metais pesados das mesmas cinzas acabam indo              Entre os casos mais graves de danos perma-                    parar nos cursos d´água e contaminando os solos      nentes pela mineração, estão os das regiões do                    e matas ciliares.                                    Vale do Ribeira de Iguape e do Vale do Paraíba. A                                                                         extração de areia do rio Paraíba do Sul repercutiu                         De todos os combustíveis fósseis, o carvão é    na mídia e criou novas políticas relacionadas ao                    o que lança na atmosfera a maior quantidade de       tema. Mas estudos para o planejamento e zo-                    CO2, óxido de nitrogênio e enxofre, por unidade      neamento minerário da região ainda não foram                    de energia gerada. Por esse perfil, junto com o pe-  finalizados como importante instrumento de                    tróleo, o carvão é responsável por 85% do enxofre    regulamentação.                    lançado na atmosfera e por 75% das emissões de                                                                                                                             Mineração                                                                                                                             em área de                                                                                                                             Domínio da                                                                                                                             Mata Atlântica
O problema na prática*Carvão e degradação                                   Aos poucos, o sul de Santa Catarina       O que ainda ameaçana Bacia do Araranguá                           passou a ser considerado uma das 14 áreas                                                mais poluídas do Brasil, de acordo com o        223      Milhares de toneladas de terra removi-    Decreto Federal 85.206 de 1980. A mobiliza-das pela multinacional escavadora Marion,       ção para reversão do caos ambiental ocorreudestruição da vegetação nativa e comprome-      por meio de uma sentença judicial proferidatimento das nascentes locais contribuem para    somente em 2000, que condena as minera-o cenário de degradação da Bacia Hidrográfi-    doras, inclusive a estatal CSN, a promoveremca do Rio Araranguá, na região sul de Santa     a recuperação do meio ambiente do sul doCatarina, considerada a mais poluída do         Estado. Recentemente, uma decisão judi-Brasil por resíduos piritosos do carvão. Com    cial da esfera federal também condenou aa substituição do petróleo pelo carvão mineral  Tractebel, proprietária da termelétrica Jorgena geração de energia e na siderurgia, após     Lacerda de Capivari de Baixo, à indenizaçãoa Segunda Guerra Mundial, a Companhia           de danos causados na saúde pública.Siderúrgica Nacional (CSN) instalou-se de-finitivamente na Bacia do Araranguá para o            Num dos primeiros casos de participaçãodesenvolvimento de atividades carboníferas.     da sociedade civil em órgãos deliberativos,E a exploração e beneficiamento do minério      a ONG Sócios da Natureza também passouna região acarretaram a devastação da mata      a ocupar a presidência do Comitê de Geren-nativa e a perfuração desordenada do solo,      ciamento dos Recursos Hídricos da Bacia dodando ao cenário as características de uma      Rio Araranguá. O objetivo do Comitê, criadoplanície lunar.                                 no âmbito do cenário de devastação pela                                                mineração, passou a ser o uso adequado dos                                                recursos hídricos e da biodiversidade local.                                                Rio                                                assoreado e                                                poluído por                                                mineração*Tadeu Santos é coordenador geral dos Sócios da Natureza e Juliana Vamerlati Santos, mestrandaem História pela Universidade Federal de Santa Catarina e integrante dos Sócios da Natureza
O que ainda ameaça  Sobreposições                                      que a constituição garante tanto o direito à preser-                    entre unidades de                                  vação ambiental como aos territórios tradicionais,224                 conservação e                                      colocando em lados opostos diferentes órgãos                    populações tradicionais                            de governo, organizações não-governamentais                                                                       ambientais, sociais e socioambientais, muitas                         A destruição acelerada da Mata Atlântica e    vezes criando impasses onde normalmente há                    a corrida para garantir a conservação do máximo    perdas tanto para o meio ambiente quanto para                    possível dos pouco mais de 7% que restaram         as populações.                    do bioma fizeram com que as populações tradi-                    cionais – elas mesmas, através de seu modo de           A questão indígena é a mais complicada,                    vida, bastante responsáveis por estas áreas ainda  pois depende de negociações constantes que,                    existirem – também passassem a ser vistas como     mesmo avançando, continuam deixando conflitos                    ameaça à Mata Atlântica. São caiçaras, caboclos,   latentes e gerando impactos negativos nas áreas                    quilombolas e, sobretudo, índios cujas terras de   de conservação. A escassez de áreas disponíveis                    ocupação tradicional estão sobrepostas a unidades  para a instalação das populações indígenas dei-                    de conservação. São áreas às vezes tão pequenas    xam as poucas áreas ainda preservadas de Mata                    que mesmo as atividades de subsistência de pou-    Atlântica altamente vulneráveis a invasões. Os                    cas pessoas, como abrir clareiras, caçar e fazer   casos de sobreposições mais conhecidos em                    roças para consumo próprio, podem representar      áreas de Mata Atlântica são os Pataxó no Monte                    grandes estragos.                                  Pascoal, na Bahia, os Guarani, nas regiões Sul e                                                                       Sudeste, e os Xokleng no Alto Vale do Itajaí, em                         Os casos de sobreposição têm gerado confli-   Santa Catarina.                    tos de toda natureza, começando pelos legais, já                                                                                                                             Terra Indígena                                                                                                                             em Nonoai                                                                                                                             – RS
O problema na prática      Um exemplo recente de conflito entre ín-        Os índios reivindicavam terras para  O que ainda ameaçadios e unidades de conservação foi a invasão    morar e escolheram o local porque um so-do Parque Nacional do Iguaçu, no segundo        nho revelou ao pajé da etnia que as áreassemestre de 2005, por um grupo de 54 índios     do Parque Nacional do Iguaçu seriam aAvá-guarani, que permaneceram no local          terra prometida de seu povo. Segundo umpor 80 dias e foram retirados depois de uma     levantamento realizado por uma equipeoperação conjunta entre as polícias Federal     de biólogos do Ibama, durante o períodoe Militar, que acabou em agressão e feridos     em que os índios permaneceram no Par-dos dois lados quando chegaram à reserva        que, mais de mil árvores foram cortadas,em Santa Rosa do Ocoí (região oeste do          o equivalente a área de 5 hectares. AlémParaná), onde viviam os índios. A retirada foi  disso, foram mortos animais como cotia,possível graças a uma liminar que liberou a     veado, gato-maracajá e lagarto.reintegração de posse solicitada pelo Ibamaum mês depois da invasão.                              BIBLIOGRAFIA: pág. 322                                                                                           225Parque Nacional do Iguaçu
Espécies como mico-leão-preto                        estão ameaçadas pela falta de                      remanescentes florestais e pelo                                                          tráficoUma explosão de vida  Tráfico de animais                                  O maior receptor desse animais é o eixo Rio-São                                                                          Paulo, onde apenas na Grande São Paulo existem226                        O tráfico de animais silvestres é o terceiro   entre um e dois milhões de animais silvestres em                      maior comércio ilegal do mundo, atrás somen-        cativeiro.                      te das armas e das drogas e é uma das grandes                      ameaças à fauna do mundo todo. Esse comércio             Embora grandes rotas de tráfico tenham                      ilegal movimenta US$ 10 bilhões a cada ano e        como origem as regiões Norte e Centro-Oeste, a                      o Brasil responde por 10% desse mercado. O          Mata Atlântica também é bastante visada. Animais                      comércio interno responde por 60% do tráfico e      são capturados para venda tanto em locais com                      o externo, por 40%.                                 grandes remanescentes, como o Sul da Bahia,                                                                          quanto em pequenas matas, como na Região Me-                           Segundo a Lei de Crimes Ambientais, é proi-    tropolitana de São Paulo, onde sobretudo pássaros                      bido caçar, vender, transportar e manter animais    são apanhados e comercializados em feiras e pet                      silvestres em cativeiro. No entanto, estima-se que  shops da própria região.                      sejam apreendidos pelo órgãos oficiais (Ibama,                      polícias ambientais) 45 mil animais silvestres por                      ano no Brasil. Levantamento da Rede Nacional                      de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres                      (Renctas), porém, calcula que as apreensões re-                      presentem somente 0,5% dos animais traficados.                      O problema na prática                      Crueldade e baixa                                   os animais para que pareçam dóceis ou até a                      diversidade                                         furar os olhos de aves para que não vejam a                                                                          luz do sol e não cantem, para não chamarem                            Em cada 10 animais traficados, apenas         a atenção da fiscalização durante o processo                      um resiste às pressões da captura e do ca-          de transporte.                      tiveiro. Além da óbvia perda de diversidade                      na natureza, que faz as listas de espécies                A falta de animais também colabora para                      ameaçadas de extinção não pararem de                a diminuição da diversidade de plantas, já                      crescer, existe ainda a crueldade contra os         que são importantes dispersores de semen-                      bichos. Os traficantes chegam a anestesiar          tes, causando um desequilíbrio ambiental                                                                          dificilmente recuperado.
Carcinicultura*A introdução da carcini-cultura marinha (cultivo decamarões marinhos) no Brasil ébastante recente e não referen-dada como uma tradição culturalentre as populações do nossolitoral. Seu desenvolvimento datade pouco mais de vinte anos, nosquais vimos proliferar, particu-                                                                          O que ainda ameaçalarmente no Nordeste, fazendas População tradicional ameaçada por carciniculturade cultivo extensivo e semi-ex-tensivo de pequena, média e grande escala. Foi        rotineiramente ocorrem em nosso litoral, carac-     227em meados da década de 1990 que se iniciou, no        terizados como crimes ambientais, questionam alitoral nordestino, a carcinicultura industrializada  atividade, particularmente em relação aos seusde água salgada. A introdução de espécies exóti-      custos e benefícios sociais e ambientais.cas, somada ao desenvolvimento de tecnologiasde cultivo e manejo mais eficientes, possibilitou          Considerando as grandes dimensões da car-o incremento da produção, ampliando as áreas          cinicultura e sua extensa cadeia produtiva, a qualcultivadas no País.                                   compreende e/ou ramifica-se em atividades como                                                      produção de insumos, larviculturas, fazendas de     Estes fatos, e particularmente o sucesso de      engorda, empresas de beneficiamento e indústriasimplementação da espécie Litopenaeus vanna-           químicas que utilizam como matéria-prima osmei, fizeram rapidamente o Brasil sair de uma         resíduos do camarão, não pretendemos esgotar oprodução de 3.600 toneladas em 1997, para             tema, nem relacionar todos os tipos de interações60.128 toneladas em 2002, configurando o aqui         ambientais, econômicas e sociais envolvidos. Odenominado milagre brasileiro da carcinicultura.      enfoque escolhido reduz a discussão aos aspectosDessa maneira, o Brasil transformou-se em um          relacionados à situação no Brasil, com ênfasedos maiores produtores mundiais de camarõescultivados, estando à frente da China, Tailândia especial à região Nordeste. Neste contexto, ase Equador. Assim, podemos considerar que no interações limitam-se às questões de sustentabi-Brasil, especialmente no Nordeste, o agronegócio lidade, ambientais e socioeconômicas.do camarão marinho está em expansão.    Esses resultados são vistos com entusiasmo Sustentabilidade ambientalpelo setor carcinicultor, mas têm trazido preocu-          O desenvolvimento da carcinicultura nopações, devido ao incremento dos conflitos com        Brasil, particularmente no litoral nordestino, temoutros usuários dos mesmos recursos naturais e        sido apoiado por grandes investimentos e atra-ambientalistas, representados principalmente por      entes incentivos fiscais, como a redução de 75%organizações não-governamentais (ONGs). Esses,        do Imposto de Renda e isenção de ICMS, PIS ecom base na trajetória histórica da carcinicultura    Cofins, nas operações de exportações, operaciona-mundial e literatura especializada e em fatos que     lizados por órgãos de desenvolvimento e grandes
Manguezaispreservados:cada vezmais rarosO que ainda ameaça228                    agentes financeiros, como BNDES, Banco do          passada sérios problemas ambientais associados                    Brasil, FINEP, Banco do Nordeste, entre outros.    à expansão dessa atividade.                    Em contraponto às expectativas de geração de                    renda e empregos, essa atividade tem despertado         Hoje, as discussões no Brasil focadas na                    questionamentos quanto à sua sustentabilidade      carcinicultura seguem duas vertentes distintas: a                    ambiental nos próximos anos e à real avaliação     degradação ambiental como um todo e o impac-                    dos riscos aos quais nossos ecossistemas estão     to dos problemas ambientais na produtividade                    sendo submetidos.                                  e no controle de doenças (sustentabilidade). É                                                                       conhecida a relação direta entre o aparecimento                         As preocupações não são infundadas, haja      e a velocidade de disseminação de doenças e a                    visto o rastro de insustentabilidade deixado em    degradação ambiental.                    países com tradição na carcinicultura industrial,                    como Taiwan, Indonésia, Índia, México, Hondu-           Assim, para garantia da sustentabilidade da                    ras e Equador, os quais vivenciaram na década      carcinicultura nacional é imperativo o conheci-                                                                       mento e o monitoramento dos impactos ambien-
tais da atividade; o estabelecimento da capacidade    e a ausência do caráter de sustentabilidade. Há     O que ainda ameaçade suporte das bacias destinadas à cultura do         regiões do Ceará, Piauí e Rio Grande do Nortecamarão; e investimentos em pesquisas voltadas        onde foi diagnosticada uma doença caracterizada     229para neutralizar ou reduzir esses impactos, os        pela necrose do corpo do camarão, sendo consi-quais possuem elevado nível de complexidade,          derada, devido à sua elevada disseminação, comodevido à utilização de recursos específicos e         o “ápice de uma trajetória de insustentabilidadediferenciados em cada elo da cadeia produtiva,        para uma determinada atividade” (Mello-2003).acarretando diversos efeitos no meio ambiente.        Reforçando esse ponto de vista, salienta-se que as                                                      doenças associadas à criação do camarão podem     Nesse sentido, de acordo com a Associação        atingir também outros animais e contribuir para aBrasileira de Carcinicultores (ABCC), foi definido    diminuição de populações naturais de carangue-um Código de Práticas Responsáveis sob o ponto        jos, peixes, entre outros.de vista ambiental e social para o cultivo do cama-rão, o qual busca contribuir para a conscientização        Ainda nesse contexto, apesar de sua altae motivação das partes envolvidas no processo,        rentabilidade, a carcinicultura gera impactos am-com o objetivo de assegurar a sustentabilidade        bientais de grandes proporções, acabando quaseambiental da atividade. Ressaltamos ainda as          sempre em epizootias, cuja repercussão na ativi-orientações feitas pelo poder público, respaldadas    dade costeira é desastrosa. As grandes epizootiaspela Resolução do Conselho Nacional do Meio           do ano de 1989, devido ao vírus da necrose hipo-Ambiente (Conama) nº 312, de 10 de outubro de         dermal e hematopoiética infecciosa (IHHNV), e2002, que dispõe sobre o licenciamento ambiental      a de 1992, provocada pelo vírus da síndrome dedos empreendimentos de carcinicultura na zona         Taura (TSV), tiveram conseqüências econômicascosteira e sobre a definição legal das áreas onde o   nefastas para os países que se dedicavam à car-cultivo de camarão em cativeiro está autorizado, a    cinicultura. Essas ocorrências levaram a intensassaber, em salinas abandonadas, áreas de mangue        pesquisas, as quais concluíram ser a deterioraçãonão regeneradas e áreas anteriormente destinadas      do ambiente de suporte o fator mais importanteà piscicultura ou à pecuária.                         dentre as causas de epizootias.     A atividade parece, contudo, ignorar essas            A carcinicultura representa ameaça aindarecomendações, sendo imediatista e sem respon-        para a biodiversidade do litoral amazônico bra-sabilidade ambiental, observando-se na prática a      sileiro, pois a atividade, proibida até bem poucocontínua expansão da maioria das unidades produ-      tempo no Maranhão, tem agora nesse Estado maistoras, especialmente as de menor porte (até 10 ha),   uma área de expansão. Devemos chamar atençãoem locais proibidos, tais como áreas de proteção      para o aspecto econômico, pois o camarão rosaambiental, mangues naturais ou regenerados.           da costa norte do Brasil é o responsável pela                                                      principal pescaria da região e faz parte de um dos     Por outro lado, verifica-se a atuação deficien-  mais importantes bancos camaroneiros do mundo,te das instituições de administração e controle       estendendo-se desde Tutóia (MA), até o delta doambiental no âmbito federal (Ibama) e estadual        Orinoco, na Guiana. Por outro lado, nos estados(agências de conservação do meio ambiente) em         do Maranhão e do Pará, encontram-se cerca derelação à regulamentação, controle e fiscalização     50% da produção total controlada de carangue-das empresas do setor. Desse modo, o que se           jo-uçá das regiões Norte e Nordeste, atendendo àobserva na atividade é o elevado risco ambiental      demanda de várias capitais nordestinas.
O que ainda ameaça       O desequilíbrio da dinâmica ambiental, a             O presidente da Associação Brasileira dos                    partir do desrespeito à capacidade de carga da       Criadores de Camarão (ABCC), por outro lado,230                 natureza, favorece a explosão de enfermidades        alega serem as críticas ao setor desprovidas                    infecciosas, as quais acabam provocando uma          de fundamentação técnica e orquestradas por                    elevada taxa de mortalidade das populações           concorrentes internacionais, tementes da força                    no cultivo, gerando em seguida um colapso da         da carcinicultura brasileira, com o objetivo de                    atividade. Por outro lado, quando uma empresa        desestabilizar um agronegócio que traz amplas                    aumenta o nível de produção acima dessa capa-        perspectivas à economia nacional, sobretudo no                    cidade de carga, haverá um excesso de poluição       Nordeste. Afirma ainda estarem o Ministério Pú-                    que o ambiente não consegue absorver. Produz-se      blico e a Procuradoria da República, de maneira                    então o colapso do sistema a médio prazo, o qual     geral, tomando partido de setores alienados da                    gera deterioração ambiental e, conseqüentemente,     sociedade, desconsiderando as evidências forne-                    um custo social maior.                               cidas pelos criadores e o histórico da atividade                                                                         no Brasil. Outrossim, cita a falta de apoio do                         Assim, os lucros anteriormente obtidos com a    Ministério do Meio Ambiente (MMA), o qual                    atividade vão para a empresa, enquanto as conse-     apenas estaria enfocando aspectos negativos,                    qüências do empobrecimento ambiental, traduzi-       como a destruição dos manguezais e a falta de                    das em perda da qualidade de vida, são repartidas    licenciamento, frutos da incapacidade de fiscali-                    entre todos os membros da sociedade.                 zação dos órgãos ambientais, visto que a ABCC                                                                         é contrária à utilização de áreas de mangue para                         A carcinicultura conta com problemas si-        a prática da atividade.                    milares aos de muitas outras atividades de pro-                    dução. Portanto, é urgente definirmos, enquanto           O segmento da sociedade representado pelas                    sociedade, o que queremos que seja sustentável       comunidades tradicionais e ambientalistas, por                    dentro desse agronegócio. Poderíamos priorizar a     sua vez, consoantes com a legislação ambiental,                    produtividade obtida pelo cultivo; a contribuição    apoiaram recentemente (janeiro de 2005), junto ao                    dos recursos naturais; a viabilidade econômica da    MMA, a criação de um Grupo de Trabalho (GT)                    espécie cultivada; a diversidade biológica; a gera-  para tratar questões pertinentes à carcinicultura no                    ção de renda para as gerações futuras; a qualidade   Brasil, sendo a iniciativa contestada pela ABCC e                    ambiental e a integridade cultural das comuni-       Associação Brasileira de Entidades Estaduais de                    dades em relação sociológica satisfatória dentro     Meio Ambiente (Abema), sob a alegação de que                    do contexto humano. No entanto, o que temos          uma nova discussão do tema, já realizada em outro                    verificado é a constatação periódica de denúncias    GT do MMA, poderia repercutir na economia dos                    de impactos socioambientais que apontam para a       estados, principalmente no Nordeste.                    insustentabilidade da atividade no Brasil.                                                                              Esses firmes posicionamentos por parte dos                         Os carcinicultores brasileiros rebatem          segmentos interessados no fortalecimento da car-                    dizendo que “enquanto os ambientalistas e o          cinicultura brasileira contrapõem-se amplamente                    meio empresarial não estabelecerem um diálogo        aos interesses daqueles que consideram que o tema                    objetivo e prático definindo uma normatização        ainda não foi conclusivamente discutido e que a                    ambiental única e efetiva a seguir e que seja        atividade no Brasil tem como desafio alcançar um                    exeqüível, a polarização que hoje persiste só vai    crescimento harmônico com prudência ecológica,                    continuar a estimular conflitos e a proliferação     eqüidade social e viabilidade econômica.                    da atividade informal, sem regulamentação, sem                    limites e sem controle”.
Viveiro irregular                                  Foto: Arquivo CPRH – PEna comunidadedo Chié, Ilha de                                                                                                                           O que ainda ameaçaItamaracá – PEMeio ambiente     Com o crescimento em progres-                   águas com reduzida salinidade ocorrer artificial-    231são geométrica da população mundial                  mente de forma gradativa, através de mecanismose a exacerbada utilização dos recursos               de mudança da concentração salina nos viveirosnaturais, uma grande pressão está                    de cultivo.sendo colocada sobre a terra, a água,a energia e os recursos biológicos,                       Com relação aos efeitos impactantes da ocu-elementos imprescindíveis para a                     pação do solo, advindos da criação de camarõessustentabilidade da vida no planeta.                 marinhos, a ocupação de áreas de manguezais é,Sob essa ótica, o desenvolvimento                    sem dúvida, o que apresenta maior visibilidade.acelerado da carcinicultura tem gerado conflitos e,  Assim, diversas revistas de pesquisa têm apontadonos últimos anos, a atividade vem sendo acusada      a carcinicultura na costa brasileira como um sériode causar impactos negativos ao meio ambiente,       risco de destruição dos manguezais. Segundo aoriginando grandes prejuízos e perdas e destruin-    Global Aquaculture Alliance (GAA), o impacto dado ecossistemas importantes, principalmente          destruição dos manguezais ocasiona importantesmanguezais, estuários e baías.                       mudanças ecológicas oceanográficas, além das já                                                     mencionadas socioeconômicas. Afora a supres-     No Brasil, a carcinicultura tem sido igual-     são dos manguezais, a construção de viveirosmente criticada por diferentes segmentos da          de camarão promove outros impactos sobre essesociedade, como associações de moradores,            ecossistema, como a modificação do fluxo e doinstituições religiosas, cientistas e ONGs. Essas    padrão de circulação de água no estuário, cau-últimas, particularmente, têm acompanhado a          sada pela construção dos diques. Ainda sobre atrajetória internacional desse agronegócio e mo-     construção dos viveiros, pode-se citar as técnicasnitorado a sua expansão em nosso litoral, bem        utilizadas no Rio Grande do Norte, onde muitascomo as comunidades diretamente afetadas pela        fazendas importam argila de áreas adjacentes aoatividade, através das quais é possível traçar um    empreendimento, degradando os locais de onde oclaro paralelo entre os latifúndios de cana-de-açú-  material é retirado e impactando a paisagem. Porcar e as grandes fazendas de cultivo de camarão,     outro lado, a transferência de solos de caracterís-por suas práticas impactantes, como a derrubada      ticas diversas para áreas anteriormente ocupadase queima dos manguezais; a ocupação de áreas         por manguezais dificulta a regeneração, caso ade grande diversidade e importância ecológica,       atividade venha a cessar.como restingas e apicuns; e a contaminação derecursos como o solo, lençóis freáticos, rios,estuários e baías.     Como agravante, estudos recentes apontamuma tendência para o avanço da carciniculturamarinha para regiões mais interiores dos estados,como mata, agreste e semi-árido, levando consigoo risco de impactos ambientais, particularmentepara a região da Mata, como a salinização do solo,devido à aclimatação da espécie marinha para
O que ainda ameaça       Da mesma forma, encontram-se relacionados             Por outro lado, no Brasil, carcinicultores                    à implantação da carcinicultura impactos pelo uso     vinculados à ABCC, rebatem as críticas ao setor,232                 irregular dos corpos d’água, como: alterações         alegando que os impactos ocasionados pela ativi-                    da salinidade através dos efluentes lançados dos      dade em nosso litoral são insignificantes quando                    viveiros, normalmente mais salgados devido à          comparados aos de outros setores produtivos.                    evaporação, descritas como sendo prejudiciais         Consideram ainda que hoje a maioria das grandes                    às espécies de mangue, particularmente ao man-        fazendas de camarão em funcionamento localiza-                    gue-branco (Laguncularia racemosa), de maior          se em áreas de litoral superior, como a dos estados                    afinidade por ambientes de menor salinidade; e a      da Bahia e Pernambuco, enquanto no Ceará e no                    eutrofização do ambiente causada pelos efluentes      Piauí predominam em áreas de apicum, e no Rio                    dos cultivos, por conta da associação e da relação    Grande do Norte e Paraíba, nas áreas de antigas                    direta da biomassa do fitoplâncton e da deman-        salinas e viveiros de peixes estuarinos. Afirmam                    da bioquímica de oxigênio no ambiente com os          também que a maioria dos casos de degradação                    despejos dos viveiros e a biomassa dos camarões       dos manguezais esteve associada à construção de                    cultivados, além da interferência nos processos de    canais de abastecimento e descarga de água.                    colonização de propágulos e sementes da vege-                    tação devido ao crescimento excessivo de micro             Avaliando o exposto, podemos concluir que                    e macroalgas.                                         no Brasil parece existir uma carcinicultura com                                                                          duas fisionomias, ou seja: uma degradadora e                         Entre os demais impactos referentes à utili-     outra ambientalmente correta. A primeira formada                    zação dos corpos d’água, podemos citar ainda a        pelo grupo dos pequenos e médios carcinicultores                    “erosão do pool genético” de certas populações        e a segunda representada pelos grandes empre-                    nativas e enfermidades, em geral relacionadas à       sários do setor, levando-nos a recordar conceitos                    introdução de espécies exóticas; escape da biota      hoje totalmente superados, os quais vinculavam,                    do cultivo para os estuários; utilização de produtos  no passado, os atores sociais de menores recursos                    químicos (terapêuticos, corretores do pH da água e    financeiros à condição de maiores poluidores.                    do solo, pesticidas, fertilizantes e aditivos usados                    nas rações); salinização de grandes extensões de           Não obstante, a esse enfoque resta-nos o                    terra; deposição de sedimentos e, por fim, altera-    questionamento que insiste em não calar: em que                    ções tróficas nos ecossistemas utilizados.            elo da carcinicultura brasileira, cuja produção é                                                                          direcionada principalmente à exportação, encon-                         Do ponto de vista ético, vemos que a preo-       tram-se esses pequenos e médios carcinicultores,                    cupação dos segmentos ligados à carcinicultura        os quais, mesmo imersos na marginalidade da                    internacional foi expressa através da “Declaração     lei e estigmatizados como contraventores legais                    de Cholutecas” elaborada em Honduras, em 16 de        por infringirem claramente as leis ambientais                    outubro de 1996, envolvendo delegados governa-        brasileiras, insistem em permanecer e não raro                    mentais e comunitários da América Latina, Eu-         se expandir?                    ropa e Ásia. Essa declaração deixou transparecer                    uma profunda preocupação com a destruição do          *Kenia Valença Correia, bióloga, especialista                    meio ambiente, particularmente dos ecossistemas       em ecologia e professora da Univ. Federal de Per-                    de florestas, estuarinos e lagunares, transformados   nambuco e Bruno Machado Leão, biologo, espe-                    em áreas de cultivo de camarões, o que confere à      cialista em oceanografia biológica, e membro do                    atividade o caráter de insustentabilidade.            GESCQ (texto inclui O problema na prática)                                                                                 Bibliografia: pág 321
O problema na práticaEfeitos socioeconômicos                         material de construção, pesca, agricultura,     O que ainda ameaça                                                forragem, papel, medicina e alimentos como      Em várias regiões do mundo, o êxito       peixes, crustáceos e moluscos.                  233expansionista da carcinicultura alcançado alongo prazo foi tal que deslocou efetivamente         Dessa forma, dentre os impactos so-outras atividades econômicas, particularmente   cioeconômicos que a atividade apresenta,aquelas vinculadas à subsistência das co-       salienta-se a depauperação das comunida-munidades tradicionais, causando rupturas       des não envolvidas com o cultivo, pois, denas estruturas sociais locais, desemprego e     acordo com membros de comunidades deêxodo. Por ser direcionada à exportação, não    pescadores nordestinos, as empresas quetrouxe reais benefícios às comunidades locais   desenvolvem a carcinicultura trazem para ae à geração de empregos, a qual foi sempre      região sua própria mão-de-obra, restando àem número inferior àqueles destruídos com a     população local o trabalho de “roçar os man-perda das áreas de pesca e agricultura.         gues” e o de participar na despesca. Com                                                isso, a indústria da carcinicultura tem também      No Brasil, os impactos socioeconômicos    contribuído para o surgimento de problemasda atividade, em comparação ao cenário          como a marginalização social, utilizando-semundial, são de menor intensidade devido,       da mão-de-obra local para, além das ativi-principalmente, à baixa ocupação econômi-       dades supracitadas, apenas a manutençãoca e densidade populacional verificada nas      das instalações e dos cultivos, restringindoáreas exploradas pelo setor.                    sua função a vigilantes, serviços gerais etc.,                                                caracterizando-a como mão-de-obra barata,      Quanto aos benefícios socioeconômicos     enquanto que as atividades técnicas e dealardeados pela indústria da carcinicultura,    manejo são reservadas para profissionaisesses recaem basicamente na geração de          com formação especializada, normalmentereceitas e de empregos. Para essa última,       adquirida em grandes centros de pesquisade acordo com Rocha (2002), presidente          ou universidades.da ABCC, a relação gerada pela atividadeno Brasil é de um emprego permanente por              Esse fato é agravado quando se veri-hectare explorado, sendo superior ao verifi-    fica que, já em 1996, o cultivo de camarãocado na pecuária e nos cultivos do algodão,     no Ceará estava implantado dentro dos trêssoja e milho.                                   principais estuários do Estado, ou seja, o                                                estuário do Rio Acaraú, do Rio Jaguaribe e      Por outro lado, percorrendo o litoral     do Rio Pirangi, onde o setor pesqueiro tra-nordestino, concordamos com o relatado por      dicional era considerado um dos principaisQuesada et al (1998), que um simples hec-       recursos econômicos, constituindo-se emtare de manguezal provê a diversas famílias     um dos maiores geradores de emprego euma variedade de produtos e serviços, utiliza-  renda local. No entanto, com a implantaçãodos historicamente de forma sustentável por     da carcinicultura, houve a sobreposição decomunidades costeiras. Assim, os impactos       atividades nos espaços comuns, antes maissocioambientais provocados pela perda des-      socializados ou democráticos, e a reduçãoses ecossistemas, decorrentes da carcinicul-    dos espaços públicos, que foram cercados etura, são realmente relevantes, pois oferecem   privatizados, forçando a mudanças das rotasàs comunidades produtos para combustível,
O que ainda ameaça  e passagens das comunidades, aumentando          ção de empregos e de receita, a indústria da                    o esforço ao acesso e captação dos recursos      carcinicultura comete injustiça social também234                 naturais, antes mais facilmente alcançados.      na repartição dos lucros obtidos do patrimô-                                                                     nio natural, bem comum de todos, gerando                          Essa realidade também vem ocorrendo        a exploração de um contingente de homens                    e sendo denunciada em outros locais do lito-     “sem qualificação” como mão-de-obra e, em                    ral nordestino, como em Sergipe, onde pes-       conseqüência, a figura marginal socioeconô-                    cadores alegam que os viveiros encontrados       mica, oriunda de comunidades pesqueiras                    no distrito de Piabita estão implantados próxi-  tradicionais. Seus componentes, qualificados                    mos aos rios e mangues da região e cercados      cultural e dignamente, ao longo dos séculos                    com cercas elétricas, não raro ocorrendo         como pescadores, catadores e marisqueiras,                    acidentes vitimando pescadores tradicionais      correm agora o risco de serem somados a                    locais, que disputam com a carcinicultura o      um novo e emergente perfil de ator social,                    acesso aos bens e recursos naturais.             denominado “os sem água”.                          A carcinicultura imposta às nossas               No caso da “maricultura-cultivo de orga-                    comunidades litorâneas se diferencia nota-       nismos marinhos”, denominação na qual se                    damente da atividade pesqueira tradicional,      enquadra a carcinicultura marinha, os primei-                    entre outros aspectos, pelo fato de que na       ros a serem considerados “sem-água” seriam                    primeira, a produção é coletada por indiví-      os pescadores artesanais, acostumados a                    duos ou associações que são donos dos            extrair dos ecossistemas costeiros o sustento                    organismos aquáticos em cultivo. Já na se-       de sua família e que nunca tiveram a preocu-                    gunda, a produção corresponde à extração         pação, tampouco a possibilidade econômica,                    de recursos hidrobiológicos de livre acesso,     de adquirir a posse de terras costeiras que                    que podem ser explorados por qualquer            pudessem agora utilizar para o cultivo de                    pessoa ou entidade. Assim, vemos que com         organismos aquáticos, como, por exemplo, o                    a expansão da carcinicultura em nosso litoral    camarão marinho. Desse modo, eles perdem,                    tem ocorrido uma transformação do modo de        com a instalação das fazendas de camarão                    aproveitamento e acessibilidade aos recursos     em áreas litorâneas, suas áreas de ocupação                    naturais, com a utilização por particulares,     habitacional, além de direito ao livre acesso                    através da privatização e desapropriação, de     aos recursos naturais antes utilizados.                    recursos antes utilizados comunitariamente                    como rios, manguezais, áreas de restinga,              No entanto, aparentemente alheios à am-                    apicuns e baías, para o cultivo de camarões.     pla dimensão de todo esse quadro socioeconô-                    Convém também salientar que a terra adqui-       mico, construído através do desenvolvimento                    rida para a implantação do negócio da carci-     da carcinicultura brasileira, Vieira-Filho (2002),                    nicultura, em geral, é comprada de pequenos      ligado ao segmento empresarial da carcinicul-                    proprietários e donos de fazendas costeiras      tura, refere a seguinte “máxima”: “Estamos                    por grandes companhias, incrementando            deixando de ser pescadores e nos tornando                    o preço e induzindo seus antigos donos a         aqüicultores”, a qual esconde atrás de si a idéia                    vendê-la, sobretudo pela carência de capital     do desaparecimento da cultura dos pescadores                    para investir em carcinicultura.                 tradicionais e, conseqüentemente, da democra-                          Não obstante, com o discurso de gera-      tização dos espaços de uso comum.
Oportunidades e experiências                                            235           Oportunidades eexperiências
Oportunidades e experiências  Apartir da década de 1980, a luta de am-              Tecnologia usada em prol da conservação                                          bientalistas e cientistas pela proteção236                                       da Mata Atlântica começou a gerar              A seguir, são apresentados alguns desses                              resultados em diversas áreas, tais como aprova-       avanços científicos e iniciativas voltadas à recu-                              ção de novas e mais rígidas leis e regulamentos,      peração e uso sustentável por parte de governos,                              criação de órgãos federais, estaduais e municipais    iniciativa privada e organizações não-governa-                              de meio ambiente, criação de novas unidades de        mentais, além de casos de integração entre essas                              conservação e iniciativas de recuperação e uso        várias instâncias, como é o caso da Reserva da                              sustentável dos recursos florestais, principalmente   Biosfera da Mata Atlântica. São exemplos de                              por parte de organizações não-governamentais          oportunidades que podem, e devem, ser utilizadas                              (ONGs) e de alguns proprietários de terras. Essa      como incentivo e fonte de inspiração para orga-                              nova realidade propiciou também um aumento nas        nizações, administradores públicos, empresas e                              pesquisas, o que tem gerado constantes avanços,       cidadãos interessados em viver em um planeta                              como a descoberta de muitas espécies, proteção        mais saudável e com melhor qualidade de vida                              das que estão ameaçadas e novos usos para a           para todos.                              biodiversidade.                                                                                    Ciência                                   Esse conjunto de iniciativas e projetos vem                              sendo implementado pelo governo federal, esta-        Paraná                              dos, municípios, ONGs, instituições acadêmicas                              e privadas. O estudo “Quem faz o que pela Mata                         Artigos científicos                              Atlântica – 1990-2000” (Rede de ONGs da Mata                              Atlântica, Conselho Nacional da Reserva da                 A Fundação O Boticário de Proteção à Natu-                              Biosfera da Mata Atlântica, Instituto Socioam-        reza organiza, em conjunto com a Rede Pró-Uni-                              biental e WWF-Brasil – 2004) cadastrou 747            dades de Conservação, o Congresso Brasileiro de                              projetos, dos quais 47,18% executados por ONGs,       Unidades de Conservação. Trata-se de um evento                              20,77% por órgãos públicos municipais e os de-        bienal, cuja primeira edição foi em 1997, que tem                              mais por organizações governamentais estaduais,       se consolidado como o maior evento sobre o tema                              federais e por instituições de pesquisa e iniciativa  na América Latina. Na sua quarta edição, ocorrida                              privada.                                              em Curitiba, em 2004, o Congresso reuniu cerca                                                                                    de 1.800 participantes de diferentes regiões do                                   Atualmente, somam-se a essas iniciativas e                              projetos o aprimoramento da legislação protetora,                              o fortalecimento de instituições governamentais e                              não-governamentais, a vigilância da imprensa e da                              sociedade, bem como o aumento do conhecimento                              científico sobre a biodiversidade e importância da                              MataAtlântica. Juntos, representam um importante                              avanço na conservação dos atuais 7,8% de rema-                              nescentes, contribuindo na busca do desmatamento                              zero e abrindo uma perspectiva para se iniciar um                              processo de recuperação mais efetivo do bioma.
Brasil e de outros países das Américas, onde fo-   ONG Mater Natura, habitando áreas das bacias                                   Oportunidades e experiênciasram discutidos um pouco da história, da situação   hidrográficas dos rios Iguaçu e Tibagi, próximasatual e das perspectivas futuras das unidades de   à região metropolitana de Curitiba. O pequeno                                  237conservação no Brasil.                             pássaro de 12 gramas sobreviveu em apenas 24                                                   locais de maior altitude, depois da formação do       Foto: Marcos Burchaisen     Como parte da programação desse evento,       reservatório da Barragem do Iraí que alagou suasão apresentados trabalhos técnico-científicos,    principal área de ocorrência.selecionados por um grupo de colaboradoresvoluntários com reconhecida expertise no tema,          Ao ser encontrada já em situação seriamenteque resulta na publicação de um livro com os       ameaçada de extinção, a ave tornou-se um símboloartigos selecionados na íntegra, compondo o        da campanha de educação ambiental do municípiomaior conjunto de informações e contribuições      de Pinhais, Paraná. A história de sua descobertaao conhecimento das unidades de conservação        nas várzeas marginais aos rios é contada no livrodo Brasil.                                         “Por um sonho real” e numa peça de teatro levada                                                   a várias escolas. Mais de 3 mil alunos de primeira     Na área do Domínio da Mata Atlântica, foram   à quarta série, em treze escolas e creches, já ouvi-publicados 181 artigos, considerando os quatro     ram as lições ambientais do macuquinho.eventos ocorridos da série, sendo a maioria (53%)realizados em unidades de conservação localiza-    Macuquinho-da-várzeadas na área de ocorrência da floresta ombrófiladensa. Cerca de 23% dos artigos publicados foram        O objetivo tem sido mostrar para crianças erealizados em unidades localizadas na floresta     jovens que o macuquinho-da-várzea está amea-estacional semidecidual/decidual, tanto em áreas   çado porque seu hábitat vem sofrendo diversosde contato com outras formações florestais como    impactos, como a extração de areia do subsolo,nas regiões de contato com o Cerrado. Unidades     loteamentos, drenagens, formação de pastagensde conservação englobando os ecossistemas cos-     e o fogo. Já o aspecto do animal, com plumagemteiros foram abordadas em aproximadamente 16%      preta no dorso e cinza no ventre, além do cantodos trabalhos publicados, enquanto na floresta     que consiste na repetição de uma única nota porombrófila mista foram apresentados somente 13      até onze minutos, são revelados como forma deartigos, o que representa cerca de 7% do total.    despertar o afeto das crianças pelo animal, esti-                                                   mulando a proteção ambiental.     Em termos de representatividade regional das  Conheça mais: www.maternatura.org.bráreas tratadas nesses artigos, há um predomíniode trabalhos realizados em unidades de conser-vação localizadas no Sudeste e Sul do Brasil,notadamente nos estados de São Paulo, Rio deJaneiro e Paraná.Conheça mais: http://internet.boticario.com.br/portal/site/fundacao/              Macuquinho-da-várzea     Totalmente desconhecido pela ciência, omacuquinho-da-várzea (Scytalopus iraiensis)foi descoberto em 1997 por pesquisadores da
Oportunidades e experiências  Rio Grande do Sul                                        É possível determinar que o araçá-piranga                                                                                  deve ser considerada uma espécie chave e pode-238                                      Estudo constata raridade de              se resumir sua característica ecológica para                                                espécie arbórea*                  um tipo de hábitat essencialmente florestal, de                                                                                  estágio sucessional avançado para clímax. Com                                   Pesquisa realizada pelo Núcleo Socioam-        base nos dados coletados, é possível determinar                              biental Araçá-piranga constatou a extrema rari-     no estado do Rio Grande do Sul um novo limite                              dade da espécie arbórea araçá-piranga (Eugenia      oriental e setentrional para a espécie, bem como                              multicostata). Com ocorrência exclusiva na Mata     estabelecer a atual área geográfica e o respectivo                              Atlântica, a espécie consta da Lista de Experts em  limite físico.                              Genética, da Organização das Nações Unidas para                              a Agricultura e a Alimentação (FAO).                     A espécie pode ser utilizada como referên-                                                                                  cia para implementar corredores ecológicos que                                   A planta possui importância histórica, pois    tenham por objetivo conectar ecossistemas signi-                              seu nome figura como denominação de diversas        ficativos, bem como permitir o fluxo gênico desse                              localidades, entre elas o município de Sapiranga,   tipo de comunidade. Além disso, tem importante                              no Rio Grande do Sul. Além disso, seu tronco teve   função quando for necessário identificar ecossiste-                              grande utilidade madeireira, na construção dos      mas conservados em forma de mosaicos, incluin-                              eixos de rodas d´água, no período colonial. Seu     do-se como prioritários para sua conservação.                              fruto tem tamanho superior à média existente na                              Mata Atlântica e chega a atingir de 5 a 7 cm de          O araçá-piranga foi acrescido na lista de                              diâmetro, além de ser comestível e saboroso.        espécies ameaçadas de extinção da FAO (2001),                                                                                  caracterizada como de extrema prioridade e ex-                                   Araçá-piranga é um dos nomes comuns de         tremamente rara, sendo reconhecida como de uti-                              Eugenia multicostata Legr. que foi dado pelos pri-  lização para madeira industrial, para alimentação                              meiros residentes da região de Sapiranga, os indí-  humana e de caráter medicinal. Esses aspectos                              genas Caigangues. A sua provável abundância na      reforçam a necessidade de estudos da distribuição                              região levou os primeiros colonizadores alemães     e variabilidade genética das populações de araçá-                              a referir-se ao atual município como “As Terras     piranga no Brasil.                              de Sapiranga”. Esse nome foi significativo pois                              serviu de referência para delimitação de terras na   *Luís Fernando Stumpf, biólogo, coordenador                              região, conforme consta nos registros do Arquivo     da ONG Araçá-Piranga                              Histórico do Rio Grande do Sul (1870).                                                                                  Conheça mais: http://www.raufer.com.br/                                    Segundo Wingert e Wermüller, moradores        arasapiranga                              do interior do município de Sapiranga, o araçá-                              piranga teve utilidade como eixo de rodas d’água    São Paulo                              devido ao seu tronco reto, cilíndrico e de madeira                              muito resistente, e ainda no uso de cunhas de                 Bicudinho-do-brejo-paulista                              madeira para a regulagem de moinhos de farinha.                              O fruto parece-se como o da pitanga, porém de            O trabalho de manejo e resgate da fauna nos                              tamanho maior, variando entre 3 a 5 cm de diâ-      arredores dos municípios de Biritiba Mirim e                              metro, sendo as costas profundas e sulcadas. É      Paraitinga, para a construção de duas barragens                              uma espécie típica da floresta ombrófila densa e    da represa Paraitinga, trouxe mais uma descoberta                              sua distribuição geográfica abrange os estados de   para o meio ambiente paulista. O pesquisador                              Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Luís Fábio Silveira, pesquisador do Departamento      insulares), espécie endêmica e com características   Oportunidades e experiênciasde Zoologia do Instituto de Biociências da Uni-       muito peculiares. Atualmente, também se reali-versidade de São Paulo (USP), confirmou ali a         zam expedições para Alcatrazes, onde a atenção       239presença de uma nova espécie de pássaro, com o        é voltada para a jararaca-de-alcatrazes (Bothropsnome científico de stymphalornis sp.nov e o nome      alcatraz), cujas opções evolutivas diferenciadaspopular de bicudinho-do-brejo-paulista.               deram origem a uma espécie única.     Por viver em áreas de brejo ameaçadas e               A jararaca ilhoa foi descrita em 1921 pelomuitas já alagadas pelo empreendimento do De-         herpetólogo Afrânio do Amaral (1894-1982),partamento de Água e Energia do Estado de São         do Instituto Butantan. Muitas das característi-Paulo (DAEE), a nova espécie deverá ser incluída      cas, como veneno e hábitos, são uma respostana lista dos animais em extinção. As próprias ca-     adaptativa às condições ambientais na Queimadaracterísticas do animal, com aproximadamente 8        Grande. Ao contrário da maioria das jararacas dogramas, coloração acinzentada e pouca vocaliza-       continente, cujos adultos caçam principalmenteção, permitiram que ele passasse desapercebido        roedores, os adultos da ilhoa se alimentam so-frente a outras espécies mais vistosas e se adaptas-  bretudo de aves. A nova dieta, necessária pelase às modificações comuns do ambiente de brejo        inexistência de pequenos mamíferos terrestrescom taboais, um tipo de vegetação aquática. Ainda     (roedores, marsupiais) na ilha, imprimiu à espécieassim, a espécie se encontra bastante reduzida e      ainda outras características interessantes, comoo pesquisador da USP coletou o maior número           a ação do veneno, cinco vezes mais potente parapossível de animais (cerca de 72 exemplares) para     matar uma ave que o da jararaca comum.soltá-los em localidades próximas com ecossiste-mas semelhantes, antes do alagamento.                      Com o mesmo problema da jararaca ilhoa                                                      — falta de roedores na ilha —, a jararaca-de-     As ameaças do desmatamento e da cons-            alcatrazes encontrou solução diferente: passoutrução de grandes empreendimentos na região           a caçar invertebrados (principalmente lacraiasafetam, principalmente, os mananciais que abas-       e centopéias) e pequenos anfíbios, alimento dastecem a Grande São Paulo, já que ali se localizam     jovens jararacas do continente. Talvez por esseas cabeceiras do Rio Tietê, cuja proteção reflete     motivo, também ficou do tamanho das juvenis,na qualidade da água fornecida à metrópole. Para      ou seja, virou anã. Um exemplar adulto atinge, noo analista ambiental do setor de Fauna do Ibama,      máximo, 50 centímetros, enquanto a continentalCarlos Yamashita, a presença de animais como          pode chegar a 2 metros. A jararaca ilhoa fica entreo bicudinho-do-brejo-paulista é um indicador da       as duas, com até 1 metro de comprimento.saúde do ambiente e conseqüentemente da quali-dade de seus recursos hídricos.                            Embora tenha sido encontrada já na expe-                                                      dição do Museu de História Natural em 1920,Conheça mais: http://www.ibama.gov.br/sp/             a jararaca-de-alcatrazes foi descrita e batizadaindex.php?id menu-24&id arq=33                        apenas em 2002 pelos pesquisadores Otávio A.V.                                                      Marques, do Instituto Butantan; Márcio Martins,                  Jararacas ilhoas                    da Universidade de São Paulo; e Ivan Sazima, da                                                      Universidade de Campinas.     Desde a década de 20 do século passado,cientistas do Instituto Butantan fazem viagens à           Além de ter sido descrita há mais tempo,Ilha da Queimada Grande. O principal foco de in-      a observação da jararaca ilhoa é facilitada parateresse das pesquisas é a jararaca ilhoa (Bothrops    os cientistas por contar com uma das maiores
Oportunidades e experiências  densidades de serpentes conhecidas no mundo,         Mata Atlântica delimitado pela Estação Bio-                              estimada em pelo menos 2.000 indivíduos. São         lógica de Boracéia, Parque Estadual da Serra240                           tantas cobras, que os pesquisadores chegam a         do Mar – Núcleos Cunha e Picinguaba, Parque                              deparar até sessenta delas em um só dia, enquanto    Estadual de Carlos Botelho, Tapiraí e Pariquera-                              da jararaca-de-alcatrazes encontram, em média,       Açu, totalizando uma área aproximada de 28 mil                              três por dia, número semelhante ao revelado em       quilômetros quadrados. A área de ocorrência den-                              estudos de jararacas do continente na Mata Atlân-    tro de Unidades de Conservação já garante um grau                              tica nas últimas décadas.                            de proteção diferenciado para a espécie, mas para                                                                                   sua oficialização perante a comunidade científica                                   O Butantan está testando a eficiência e as      é necessária a publicação de um artigo em revista                              diferenças do veneno dessas espécies. Entre os       internacional, com uma descrição em Latim.                              resultados já encontrados, está que o veneno da                              ilhoa jovem é mais ativo em invertebrados e me-           A descoberta também revela a lacuna de                              nos em roedores. Quando adulta, a composição         conhecimento sobre a diversidade florística dos                              muda e o veneno se torna muito ativo em aves.        biomas paulistas. Nos últimos anos, já foram                              Todo esse interesse se justifica porque cada subs-   descobertas outras três novas espécies da mesma                              tância identificada pode resultar em um remédio      família Lauraceae, duas na Mata Atlântica do Es-                              importante. O veneno da jararaca do continente,      pírito Santo e a outra em São Paulo, especialmente                              por exemplo, deu origem a medicamentos como          no Parque Estadual da Serra do Mar.                              o anti-hipertensivo Captopril (ansiolítico), cujo                              nome foi patenteado por uma multinacional e o        Conheça mais: www.iflorestsp.br                              Evasin, patenteado por pesquisadores do Instituto                              Butantan. Por meio de um contrato com a Fun-                          Sapo reencontrado                              dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São                              Paulo (Fapesp), o Instituto Butantan mantém uma           Um grupo de pesquisadores do Museu de                              equipe dedicada a isolar princípios ativos, na qual  Zoologia da Universidade de São Paulo (USP)                              o pesquisador fica com 30% da patente.               redescobriu no interior do Estado o sapinho Para-                                                                                   telmatobius gaigeae, de apenas alguns centímetros,                              Conheça mais: www.butantan.gov.br                    considerado extinto desde a década de 1930. O                                                                                   trabalho faz parte de um levantamento da fauna de                                    Nova espécie da família das canelas            animais vertebrados que habita a Estação Ecológica                                                                                   de Bananal e descobriu também duas possíveis                                   Um esforço comum entre diversas institui-       novas espécies no local, um anfíbio e um réptil.                              ções de pesquisa do estado de São Paulo inten-                              sificou a coleta de materiais botânicos no Estado         Morador da Mata Atlântica, o P. gaigeae foi                              e permitiu ao Instituto Florestal identificar uma    retratado seis décadas atrás pelo médico brasileiro                              nova espécie de árvore da Mata Atlântica. Trata-se   Adolpho Lutz, que recolheu dois espécimes em                              de uma árvore com até 17 metros de altura perten-    1931 na Fazenda do Bonito, na Serra da Bocaina,                              cente à família Lauraceae, a família das canelas,    na divisa entre o Rio e São Paulo, e pintou retratos                              a qual pertence também a imbuia, o abacate, a        de seu dorso e da barriga vermelha. Foi com base                              canela-preta, entre outras.                          nessas pranchas coloridas que a espécie foi descri-                                                                                   ta em 1938, mas depois os exemplares sumiram,                                   Até o momento, os cientistas reconhecem         assim como o sapo na natureza.                              a presença da nova espécie num polígono de
Reencontrada, a nova população da espécie     Foto: Peter Mix                                                                                                                                                        Pesquisa da Embrapa Pantanal, com o apoio       241             já é considerada ameaçada de extinção, principal-                                                                                                                                                                    da Companhia Energética de São Paulo (CESP)             mente porque a Estação Ecológica é praticamente                                                                                                                                          Oportunidades e experiênciase Fundação Dalmo Giacometti indicam que as             uma ilha, com seus 884 hectares de Mata Atlântica                                                                                                                                                                    últimas populações remanescentes do cervo, fora             cercados, de um lado, por uma área plantada de                                                                                                                                                                       do Pantanal Mato-grossense, são cerca de 103             pinus quatro vezes maior do que a unidade de                                                                                                                                                                         indivíduos no Rio Correntes e tributários, em             conservação e, do outro, por uma região devas-                                                                                                                                                                       Goiás, 350 indivíduos na área de influência da             tada, primeiro pela plantação de café, depois pela                                                                                                                                                                   usina hidrelétrica de Porto Primavera, entre São             exploração da madeira que alimentava com carvão                                                                                                                                                                      Paulo e Mato Grosso do Sul, e 1.550 indivíduos             a indústria siderúrgica.                                                                                                                                                                                             nas várzeas do Parque Estadual de Ivinheima e                                                                                                                                                                                                                                  Parque Nacional de Ilha Grande, na divisa dos                  O trabalho é coordenado pelo curador da                                                                                                                                                                         estados do Paraná e Mato Grosso do Sul.             coleção de Herpetologia do Museu, Hussam             Zaher e já identificou mais de 70 espécies no                                                                                                                                                                             Construção de barragens, drenagem de áreas             local desde dezembro de 2003, lista que não pára                                                                                                                                                                     úmidas, assoreamento de canais de rios e várzeas,             de crescer.                                                                                                                                                                                                          pastoreio de gado, queimadas, diques, estradas e             Conheça mais: www.mz.usp.br                                                                                                                                                                                          extração de argila são apontados pelos pesquisa-                                                                                                                                                                                                                                  dores como as principais causas da degradação de          São Paulo e Mato Grosso                                                                                                                                                                                                 hábitats dos cervos-do-pantanal. A pesquisa vai          do Sul                                                                                                                                                                                                                  ajudar na elaboração de um plano de conservação                                                                                                                                                                                                                                  da espécie na área de influência de Porto Prima-                         Cervo-da-mata-atlântica*                                                                                                                                                                                 vera, que teve mais de 1.000 indivíduos afetados                                                                                                                                                                                                                                  com a construção da usina hidrelétrica Engenheiro                  A articulação entre Ministério Público, com-                                                                                                                                                                    Sérgio Motta, no final dos anos 1990.             panhia energética, ONG e instituições de pesquisa             pode trazer de volta o cervo-do-pantanal (Blasto-                                                                                                                                                                         Em São Paulo, onde na década de 1980, o             cerus dichotomus) para o bioma Mata Atlântica.                                                                                                                                                                       cervo era encontrado nas regiões de Promissão e             De ocorrência original em quase toda a América                                                                                                                                                                       Pereira Barreto, no Rio Tietê, na Reserva Florestal             do Sul, o maior cervídeo brasileiro está reduzido a                                                                                                                                                                  da Lagoa São Paulo e nas planícies de inundação             pequenas populações em alguns tributários e rios                                                                                                                                                                     do Rio Paraná, a pesquisa ganhou aliados – são a             da bacia do Rio Paraná, parte da qual incluída nos                                                                                                                                                                   Procuradoria da República, o Ministério Público             limites do Decreto 750/93 que define legalmente                                                                                                                                                                      Estadual e a ONG Apoena, que propuseram a             os domínios da Mata Atlântica.                                                                                                                                                                                       criação dos parques estaduais dos rios do Peixe e                                                                                                                                                                                                                                  Aguapeí, onde sobrevivem as últimas populações   Cervo-                                                                                                                                                                                                                         viáveis de cervo-do-pantanal no Estado.da-mata-atlântica                                                                                                                                                                                                                              No sudeste do Mato Grosso do Sul, onde a                                                                                                                                                                                                                                  Mata Atlântica inicia a transição para o Cerrado,                                                                                                                                                                                                                                  pesquisadores e ambientalistas estão defendendo                                                                                                                                                                                                                                  a anexação de novas áreas protegidas à RPPN                                                                                                                                                                                                                                  Cisalpina, com o aproveitamento das várzeas do                                                                                                                                                                                                                                  Rio Verde, a criação de unidade de conservação                                                                                                                                                                                                                                  na confluência dos rios Pardo e Inhanduí, além                                                                                                                                                                                                                                  de recuperação de hábitats, manejo adequado
Oportunidades e experiências  das unidades existentes e monitoramento da po-            Sobre o aperfeiçoamento da legislação,                              pulação a longo prazo. Utilizando o cervo como       o Ministério do Meio Ambiente vem há anos                              espécie-bandeira para a conservação das várzeas      acompanhando e trabalhando junto ao Congresso                              da Mata Atlântica, esperam conseguir um mosaico      Nacional pela aprovação do PL Mata Atlântica                              de áreas protegidas na bacia do Rio Paraná           (PL 3285/92), de autoria do Deputado Fabio                                                                                   Feldmann, aprovado por unanimidade na Câ-                               * Djalma Weffort, jornalista, é presidente da       mara Federal em 3 de dezembro de 2003 e que                               Associação em Defesa do rio Paraná, Afluentes       atualmente tramita no Senado aguardando votação                               e Mata Ciliar (Apoena)                              daquela casa.                              Conheça mais: www.apoena.org.br;                              www.cesp.com.br; www.embrapa.gov.br242                           Governos                                   A situação crítica em que se encontram os            Houve também avanços em Resoluções do            Reunião do                              remanescentes das formações florestais e ecossis-    Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),          GT Mata                              temas associados e toda a rica biodiversidade da     como a 278/01, que suspendeu temporariamen-           Atlântica                              Mata Atlântica somente despertou a atenção dos       te as autorizações para corte e exploração de                              setores públicos brasileiros, de forma mais efetiva  espécies ameaçadas de extinção, constantes da                              e proativa, nas últimas duas décadas.                lista oficial do Ibama (Portaria nº 37-N/92), em                                                                                   populações naturais no bioma. Ainda no âmbito                                   No âmbito do Ministério do Meio Ambiente        do MMA, a edição da Instrução Normativa MMA                              destacam-se iniciativas visando o aperfeiçoamento    nº 8/04, sobre colheita e transporte de espécies                              da legislação, instituição de projetos e programas   florestais nativas plantadas, estabelece a obrigação                              para apoiar ações de conservação e recuperação       de vistoria de campo para comprovar o efetivo                              do bioma e ampliação do nível de parcerias e         plantio, antes da concessão de autorização de                              participação das instituições da sociedade civil.    corte e transporte.                              Mata Atlântica: ação do governo é necessária e            A participação de setores governamentais e                              urgente                                              não governamentais na discussão de ações, polí-                                                                                   ticas e programas para o bioma foi ampliada com                                                                                   a criação do Grupo de Trabalho (GT) da Mata                                                                                   Atlântica, instituído pela Portaria 221, de 9 de
maio de 2003, integrado pelas seguintes institui-        Este GT tem exercido importante papel no        Oportunidades e experiênciasções governamentais e da sociedade:                 sentido de contribuir com a discussão e proposição                                                    das prioridades a serem observadas pelo Ministé-     243“I – dois representantes dos seguintes órgãos e     rio do Meio Ambiente.entidades:a) do Ministério do Meio Ambiente, que o coor-           Sobre projetos e programas voltados a apoiardenará;                                             ações de conservação e recuperação da Matab) da comunidade científica, indicados pela So-     Atlântica é importante mencionar o pioneirismociedade Brasileira para o Progresso da Ciência      do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA),(SBPC), sendo um da área das ciências biológicas    criado pela Lei 7.797/89, e que, desde então, jáe um da área das ciências humanas;                  apoiou centenas de projetos descentralizados nac) do setor empresarial, sendo um indicado pela     Mata Atlântica e também nos demais biomasConfederação Nacional da Indústria e um pela        brasileiros.Confederação Nacional da Agricultura.                                                         No âmbito dos estados, uma das principaisII – um representante de cada órgão e entidades     iniciativas são os projetos bilaterais, desenvolvi-abaixo indicados:                                   dos pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Ca-a) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos   tarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e MinasRecursos Naturais Renováveis (Ibama);               Gerais, que contam com a cooperação financeirab) do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do      e técnica do governo da Alemanha, através doRio de Janeiro (JBRJ);                              Banco KfW e da Agência de Cooperação Alemãc) do Ministério da Agricultura e do Abasteci-      (GTZ). Esses projetos têm como foco principal amento;                                              implantação de unidades de conservação estaduaisd) do Ministério da Ciência e Tecnologia;           e o monitoramento e fiscalização dessas unidadese) do Ministério do Desenvolvimento Agrário;        e do seu entorno.f) da Associação Brasileira de Entidades de MeioAmbiente (Abema);                                   Projetos federaisg) da Associação Nacional dos Municípios e MeioAmbiente (Anamma);                                         Projetos Demonstrativos do PPG7h) do Conselho Nacional da Reserva da Biosferada Mata Atlântica (CNBRMA);                              Uma das primeiras iniciativas do Ministérioi) de organizações indígenas da Mata Atlântica;     do Meio Ambiente visando a proteção e recupera-j) de comunidades de pescadores artesanais da       ção da Mata Atlântica ocorreu em 1992, quando,Mata Atlântica;                                     no âmbito das negociações com o G7 (Grupo dosl) de organizações de comunidades quilombolas       sete países mais ricos do Planeta), o Governoda Mata Atlântica.                                  brasileiro, atendendo reivindicação da sociedade                                                    civil, incluiu a Mata Atlântica no Programa PilotoIII – três representantes ambientalistas indicados  para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasilpela Rede de ONGs da Mata Atlântica, sendo:         (PPG7). O Programa Piloto, iniciado efetivamen-a) um da Região Nordeste;                           te em 1995, teve seu foco maior na Amazônia,b) um da Região Sudeste;                            reservando, no entanto, parte dos recursos doc) um da Região Sul/Centro Oeste.”                  Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA)                                                    para a Mata Atlântica.                                                         Em sua primeira fase, o PDA apoiou 47                                                    projetos descentralizados na Mata Atlântica,
Oportunidades e experiências  executados por organizações da sociedade civil,       Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e                              investindo um total aproximado de 6 milhões de        coordenador do Núcleo Mata Atlântica, Wigold244                           dólares do subprograma e 3,2 milhões de dólares       Schäffer                              de contrapartida dos executores.                                                                                    processo de consulta e participação, envolvendo                                   Esses projetos geraram importantes resul-        os setores governamentais e não governamentais,                              tados e licões de conservação e recuperação da        acadêmico, empresarial, doadores internacionais                              Mata Atlântica. Um dos principais legados dessa       e Banco Mundial, em três seminários: Brasília                              primeira fase do PDA foi o fortalecimento insti-      (DF) – 28 de julho de 2000; Salvador (BA) – 11                              tucional das organizações executoras e o aumento      e 12 de setembro de 2000; e São Paulo (SP) – 25                              da massa crítica e capacidade executora de pro-       e 26 de setembro de 2000.                              jetos por parte dessas organizações da sociedade                              civil. O PDA também proporcionou uma maior                 A proposta, no valor global de 115 milhões                              articulação e parcerias entre as instituições da so-  de dólares, foi aprovada pela Comissão de Co-                              ciedade civil organizada e entre estas e os órgãos    ordenação Brasileira do PPG7 (CCB) em 26 de                              governamentais. O Governo Alemão através do           janeiro de 2001 e pela Comissão de Coordenação                              Banco KfW é o principal doador do PDA, que            Conjunta (CCC) em 8 de fevereiro de 2001. Com                              conta ainda com a cooperação técnica da Agência       a aprovação na CCB e CCC, o Subprograma Mata                              de Cooperação Técnica Alemã (GTZ).                    Atlântica tornou-se a referência para o MMA                                                                                    iniciar a captação dos recursos necessários à sua                                      Plano de Ação da Mata Atlântica               implementação.                                   Desde o início das negociações do PPG7, a             O Subprograma Mata Atlântica tem como                              sociedade civil reivindicou, principalmente atra-     base estruturadora as Diretrizes para a Política de                              vés da Rede de ONGs da Mata Atlântica, maior          Conservação e Desenvolvimento Sustentável da                              participação do bioma no Programa Piloto. Em          Mata Atlântica, aprovadas pelo Conselho Nacio-                              1998, o Ministério do Meio Ambiente promo-            nal do Meio Ambiente (Conama) em dezembro                              veu um Seminário Nacional onde foi discutido          de 1998, o Plano de Ação para a Mata Atlântica                              o “Plano de Ação da Mata Atlântica”, o qual foi       (1998) e as Ações Prioritárias para a Conservação                              aprovado em outubro de 1999 pelos seus partici-       da Biodiversidade da Mata Atlântica e Campos                              pantes (doadores, Governo brasileiro, sociedade       Sulinos (Probio/Pronabio, 1999).                              civil e Banco Mundial), como subsídio para a                              elaboração do Subprograma Mata Atlântica no                Os objetivos do Subprograma Mata Atlântica                              âmbito do PPG7.                                       visam: a) assegurar a conservação da biodiver-                                           Subprograma Mata Atlântica                                   Tendo como base de discussão o Plano de                              Ação da Mata Atlântica, o Subprograma Mata                              Atlântica do PPG7 foi elaborado sob a coorde-                              nação do Núcleo dos Biomas Mata Atlântica e                              Pampa da Secretaria de Biodiversidade e Florestas                              do Ministério do Meio Ambiente, num amplo
sidade da Mata Atlântica, reduzindo significa-       Santa Catarina e Paraná; f) apoio aos estudos para   Oportunidades e experiênciastivamente o seu processo de empobrecimento,          criação e ampliação de unidades de conservaçãoatravés da ampliação das unidades de conservação     no Sul, Baixo Sul e Extremo Sul da Bahia e noe redução drástica do desmatamento ilegal; b)        Nordeste de Minas Gerais; g) apoio ao estudo parapromover o desenvolvimento sustentável, assegu-      implementação de corredor ecológico no Vale dorando a utilização dos recursos naturais de forma    Rio Pelotas, visando manter o fluxo gênico entreecologicamente sustentável e socialmente justa,      a calha do Rio Pelotas, seus principais afluentes econtribuindo significativamente para a redução       os Parques Nacionais de São Joaquim e Aparadosdo processo de empobrecimento cultural na Mata       da Serra; h) elaboração de uma proposta de moni-Atlântica; c) promover a recuperação de áreas        toramento participativo da Mata Atlântica.degradadas da Mata Atlântica.              Projeto Mata Atlântica                                 PDA Mata Atlântica                   245                                                          O PDA Mata Atlântica é o primeiro compo-     O Projeto Mata Atlântica, iniciado em 2004      nente do Subprograma Mata Atlântica a iniciarcom o apoio financeiro do Banco Mundial e            sua execução. Estará investindo em três anos, acooperação técnica da Organização das Nações         partir de 2005, 17,69 milhões de euros de doa-Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO),       ção do Governo da Alemanha através do Bancotem como objetivo apoiar ações de planejamento,      KfW e aproximadamente 10 milhões de reais deimplementação e acompanhamento das políticas         contrapartida do Ministério do Meio Ambiente,para a Mata Atlântica em nível nacional no âmbito    em projetos de conservação da Mata Atlântica. Odo Ministério do Meio Ambiente.                      PDA Mata Atlântica está dividido em Ações de                                                     Conservação de Nível Nacional e Ações de Nível     As principais ações em execução são: a) ela-    Local ou Regional.boração, tendo como base o Subprograma MataAtlântica do PPG7, de um Programa Nacional           Força-tarefa de estudos para criação de UCspara a Mata Atlântica e promoção de atividadesde captação de recursos para projetos e ações nosbiomas Mata Atlântica e Pampa. Esse Programadeverá potencializar as iniciativas federais, esta-duais e da sociedade em todo o bioma; b) atuali-zação e complementação das informações sobreáreas prioritárias para a conservação, utilizaçãosustentável e repartição dos benefícios da biodi-versidade dos biomas Mata Atlântica e Pampa; c)apoio a organização de eventos e campanhas pelaconservação dos biomas Mata Atlântica e Pampa,em parceria com organizações de sociedade civil;d) acompanhamento da tramitação do Projeto deLei da Mata Atlântica (PL 3.285/92) no SenadoFederal; e) apoio aos estudos para criação de oitonovas unidades de conservação na floresta om-brófila mista nos estados do Rio Grande do Sul,
Oportunidades e experiências      Ações de conservação de nível nacional           des de conservaçãos ou zonas de amortecimento,                                                                                   visando fortalecer a implantação e gestão dessas246                                Essas ações visam alcançar resultados com       UCs de acordo com o previsto no Sistema Nacio-                              efeito em âmbito nacional, contribuindo para a       nal de Unidades de Conservação (SNUC), que                              conservação e recuperação de todo o bioma:           uniformizou a base conceitual referente às áreas                                                                                   protegidas, especialmente no que concerne às                              a) Implantação de um sistema de monitoramento        categorias de unidades de conservação nas três es-                              participativo da Mata Atlântica em âmbito nacio-     feras de governo (federal, estadual e municipal).                              nal - Visa fornecer informações e subsídios para o                              estabelecimento de planos de ação de prevenção,      c) Campanha de conscientização e mobilização                              controle e combate a desmatamentos ilegais; con-     nacional sobre preservação e conservação da Mata                              trole e combate a queimadas e incêndios florestais;  Atlântica - Pretende trabalhar com a percepção                              intensificação das ações de monitoramento, con-      das pessoas no sentido de difundir a importância                              trole e fiscalização, reforçando as iniciativas dos  da preservação, recuperação e desenvolvimento                              órgãos públicos federais, estaduais e municipais     sustentável e a necessidade da participação dos                              de meio ambiente e das organizações da socie-        cidadãos nessas ações de conservação e recupe-                              dade civil; e atualização das informações sobre      ração do bioma Mata Atlântica.                              as áreas de risco potencial para desmatamentos                              e queimadas, bem como áreas para a criação de             Estudos para identificação, valoração e re-                              unidades de conservação.                             gulamentação dos serviços ambientais da Mata                                                                                   Atlântica e desenvolvimento de mecanismos                                   O Ministério do Meio Ambiente iniciou um        financeiros inovadores.                              mapeamento do histórico de uso e ocupação da                              terra em áreas propostas para criação de novas            Esses estudos pretendem identificar e valo-                              unidades de conservação, em áreas críticas e em      rar os serviços ambientais dos remanescentes de                              outras áreas de grande importância para a con-       Mata Atlântica, essenciais para a conservação da                              servação da biodiversidade. Para o mapeamento        biodiversidade, manutenção dos recursos hídricos,                              inicial dessas áreas são utilizadas imagens de       conservação do solo, recreação e lazer, retenção                              satélite de alta resolução, as quais são posterior-  de sedimentos e regulação do clima. A Mata                              mente comparadas com imagens de diferentes           Atlântica, por estar localizada em área de maior                              datas visando obter a evolução histórica do uso      densidade demográfica do País e ter sofrido forte                              do solo dessas áreas. Esse trabalho, que conta       conversão das florestas para outros usos do solo,                              com a parceria do Instituto Nacional de Pesquisas    faz com que seus pequenos e fragmentados rema-                              Espaciais (INPE), visa implementar um monito-        nescentes florestais exerçam papel fundamental                              ramento periódico e sistemático dessas áreas e,      no fornecimento de serviços ambientais.                              assim, possibilitar a intervenção sempre que os                              desmatamentos estiverem no início e não apenas       d) Elaboração de planos e implantação de corredo-                              quando o estrago já estiver feito.                   res ecológicos em áreas prioritárias estabelecendo                                                                                   conectividade com áreas de preservação perma-                              b) Capacitação em gestão de Unidades de Con-         nente e reserva legal em nível local e regional                              servação - Pretende preparar representantes de       - Essa ação pretende apoiar a realização de planos                              entidades governamentais e da sociedade civil        de implantação de corredores ecológicos em áreas                              organizada, com atuação relevante junto à unida-     críticas da Mata Atlântica e apoiar a implementa-                                                                                   ção de um ou mais corredores que possam servir                                                                                   de exemplo demonstrativo sobre a viabilidade
e) Restauração e recuperação da cobertura vegetal                                                                nativa e outras medidas mitigadoras do efeito da                                                                fragmentação de habitats em áreas prioritárias e                                                                em áreas de mananciais e recarga de aqüíferos.                                                                f) Uso sustentável dos recursos naturais através do                                                                ecoturismo em áreas de relevância ambiental.Reunião de constituição dos mesmos. Nos biomas onde                             Corredor Ecológico                   Oportunidades e experiências     do GT  as formações vegetais naturais apresentem alto           O Projeto Corredores Ecológicos, voltadoAraucária                                                       para o desenvolvimento de ações de proteção e            índice de fragmentação devido à ação antrópica,     recuperação dos remanescentes da Mata Atlântica                                                                do Sul da Bahia e do Espírito Santo, envolve uma            como é o caso da Mata Atlântica, os corredores      parceria do governo federal, governos estaduais                                                                e organizações da sociedade civil desses estados.            ecológicos são considerados atualmente uma ini-     O projeto tem como principais ações a proteção                                                                e implementação de unidades de conservação,            ciativa de grande importância para a interligação   desenvolvimento de novos modelos de uso e                                                                ocupação do solo no entorno das unidades de            entre fragmentos isolados através da recuperação    conservação, incentivo ao ecoturismo e criação de    247                                                                Reservas Particulares do Patrimônio Natural.            de áreas degradadas entre eles.                                                                 Atualização das prioridades de conservação                      Ações de nível local e regional                                                                     As áreas prioritárias para a conservação, uti-                 Essas ações apoiam projetos descentraliza-     lização sustentável e reparticão de benefícios da            dos, elaborados e executados por organizações da    biodiversidade da Mata Atlântica foram definidas            sociedade civil, sem fins lucrativos, em parceria   através do Projeto de Conservação e Utilização            com instituições públicas ou acadêmicas:            Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira                                                                (Probio), em 1999. Essas áreas, juntamente com            a) Apoio à criação, elaboração de planos de ma-     as áreas prioritárias dos demais biomas brasilei-            nejo e implantação de unidades de conservação       ros, foram reconhecidas pelo Decreto Federal            estaduais, municipais e privadas.                   5.092/04, que definiu regras para identificação                                                                de áreas prioritárias para a conservação, utili-            b) Estudos para ampliação e/ou criação de unida-    zação sustentável e repartição dos benefícios da            des de conservação e outras medidas mitigadoras     biodiversidade, no âmbito do Ministério do Meio            de impactos sobre a Mata Atlântica, em áreas        Ambiente.            críticas de expansão urbana, de fronteira agrícola            e fragmentos florestais.                                 O Decreto estabeleceu ainda que essas áreas                                                                serão consideradas para fins de instituição de            c) Elaboração de planos e implantação de mi-        unidades de conservação, no âmbito do Sistema            cro-corredores ecológicos em áreas prioritárias,    Nacional de Unidades de Conservação da Natu-            estabelecendo conectividade com áreas de preser-    reza (SNUC), pesquisa e inventário da biodiversi-            vação permanente e reserva legal em nível local            e regional.            d) Apoio a estratégias de recuperação de áreas de            preservação permanente e da reserva legal.
Oportunidades e experiências  dade, utilização, recuperação de áreas degradadas     ao reforçar apenas os instrumentos de proteção                              e de espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de         legal já consagrados em nível local. Mas pro-248                           extinção e repartição de benefícios derivados do      porcionam estímulos de natureza variada, como                              acesso a recursos genéticos e ao conhecimento         transferências de tecnologias ‘amigáveis’ ou de                              tradicional associado.                                baixo impacto ambiental e recursos financeiros.                                   Desde 1999, houve significativos avanços no           A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de                              conhecimento sobre a biodiversidade do bioma          São Paulo ocupa uma área de 17.603 Km2 em 73                              tanto por parte de instituições governamentais,       municípios, abrigando reservas biológicas e par-                              quanto acadêmicas e organizações da sociedade         ques, como o Parque Estadual da Serra do Mar.                              civil e também alterações das condições ambien-       Especificamente para a Região Metropolitana de                              tais em algumas regiões. Neste sentido e visando      São Paulo, o Cinturão Verde é responsável por ser-                              atualizar e refinar as prioridades, a Comissão        viços ambientais como a proteção de mananciais                              Nacional de Biodiversidade (Conabio), com apoio       que abastecem a cidade e as cabeceiras e afluentes                              da Secretaria de Biodiversidade e Florestas está      de rios que cortam a área urbana; estabilização                              realizando o processo de revisão das áreas prio-      do clima, impedindo o avanço de ilhas de calor                              ritárias em todo o País, trabalho que deverá estar    em direção à periferia e filtragem do ar poluído;                              concluído até meados de 2006.                         proteção de áreas vulneráveis onde se produzem                                                                                    chuvas torrenciais, evitando enchentes na malha                              Conheça mais: http://www.mma.gov.br/                  urbana, além de suporte à grande parte da produção                                                                                    de hortifrutigranjeiros que a cidade consome.                              São Paulo                                                                                         Sob administração do Estado, as áreas                                 Cinturão Verde do Estado de São Paulo              “coração” da Reserva da Biosfera que fecham o                                                                                    cinturão estão bem estabelecidas pelas seguintes                                   Originada de uma campanha cívica liderada        unidades: Parque Estadual Alberto Löfgren e da                              por diferentes organizações do País e do exterior, a  Cantareira, Parque do Jaraguá, Reserva Florestal                              criação da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde      de Morro Grande, Parque Estadual de Jurupa-                              do Estado de São Paulo deu-se em 1994, após           rá, Parque Estadual da Serra do Mar e Estação                              encaminhamento da proposta do governo de São          Ecológica de Itapeti. Os serviços prestados pelo                              Paulo, por meio do Instituto Florestal, ao Comitê     cinturão verde foram analisados pelo comitê da                              Brasileiro do Programa Homem e a Biosfera,            Avaliação Ecossistêmica do Milênio – um esforço                              da Unesco. A proposta de criação da reserva foi       que tem envolvido 2 mil cientistas de 95 países                              aprovada por unanimidade por estar localizada no      para realização de um diagnóstico da saúde dos                              entorno da segunda maior cidade do planeta, com       ecossistemas da Terra, até 2007. Eles apuraram,                              cerca de 10% da população brasileira e baixíssimo     por exemplo, que reflorestar as margens de rios e                              nível de área verde por habitante.                    reverter o desmatamento do cinturão pode repre-                                                                                    sentar uma economia de milhões de reais em tra-                                   Como áreas sob responsabilidade da Unesco,       tamento de água, obras de controle de enchentes                              as Reservas da Biosfera apresentam relevante          e internações hospitalares.                              valor ambiental para a humanidade e representam                              um compromisso do governo local em realizar os             Estudos sobre o principal serviço ambiental                              esforços e atos de gestão necessários para pre-       do Cinturão Verde – a capacidade de fornecer água                              servar essas áreas e estimular o desenvolvimento      à região metropolitana – mostraram que se a taxa                              sustentável. Não interferem na soberania do país
de remoção de florestas permanecer constante, a      rio, simplesmente abrindo gaiolas. Para que isso     Oportunidades e experiênciasCompanhia de Saneamento Básico de São Paulo          não ocorra, os animais deveriam ser encaminha-(Sabesp) gastará 30% a mais só com carvão ati-       dos para centros de triagem, para serem avaliados    249vado para tratar a água.                             e depois decidido o melhor destino: cativeiro, vida                                                     livre ou até o sacrifício (para bichos muito debi-Conheça mais: http://www.rbma.org.br/mab/            litados ou mutilados). No entanto, esses centrosunesco 03 rb cinturao.asp                            são raros. Na ausência de locais de soltura, todosVeja também: Reserva da Biosfera, pág. 274           esses animais estão condenados ao cativeiro. E                                                     é para resolver este problema que o Ibama-SP        Protocolo de soltura de animais              está cadastrando áreas de soltura, através de um                                                     protocolo criado no ano de 2004.     A gerência do Ibama em São Paulo produziuum protocolo estadual de orientações para soltura         Para se cadastrar, o interessado deve informarde animais silvestres, que muitas vezes era feita    desde porque tem interesse em receber os animais,sem muito critério. Outro problema é a dificulda-    até fazer um levantamento com um mapeamentode de destinação do animal, já que a maior parte     completo da propriedade e do entorno, incluindoacaba sendo realocada em um local diferente de       foto aérea, levantamento da fauna e da flora eonde foi retirada. Para tanto, um outro protocolo    grau de preservação e pressões na área, como afoi elaborado, desta vez para cadastrar áreas de     vizinhança e ocorrência de caça, por exemplo.soltura no Estado.                                   Conheça mais: www.ibama.gov.br     O protocolo de soltura consiste em uma série    Iniciativa privadade perguntas a serem respondidas, que determina-rão os procedimentos a serem adotados. A primei-     Bahiara delas é o tipo de soltura que será feita. Depoisdisso, as perguntas básicas são: será que o animal              Cacau orgânico da Cabrucapode ser solto no local? Será que essa espécieocorre ali? Há alimento ou abrigo suficiente? Ele         Por um amplo programa de apoio à recupera-pode estar levando uma doença para o local? O        ção do cacau, cujas lavouras foram contaminadaslocal é uma área de conservação?     Além disso, deve-se saber o perfil ecológicodo animal, ou seja, conhecer a história natural daespécie: o que come, em que tipo de floresta ocor-re, se é uma espécie maleável à adaptação, quaissão seus inimigos. Por outro lado, deve-se avaliaro tamanho da população dessa espécie residenteno local de soltura, para saber se tem muito oupouco. No caso da Mata Atlântica, como a maiorparte dos fragmentos está isolada, a populaçãopode estar em franca proliferação, por não ter maisinimigos naturais, como onças, por exemplo, e onovo animal estará em desvantagem.     Hoje, 78% dos animais apreendidos no Brasiltêm sido soltos, a maior parte sem nenhum crité-Cacau
                                
                                
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