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Revista Longevidade em Foco 9

Published by Grupo Longevidade Saudável, 2019-05-09 10:14:40

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• •ANO 5 N.9 2017 Ceará ganha Regional da SBCM Dr. ítalo Rachid assumiu a presidência a convite do presidente da SBCM, professor doutor Antônio Carlos Lopes Congresso Internacional de Ciências da Longevidade Humana Nutrigenética e biotecnologia estão na pauta do evento, que será realizado em outubro Medicina moderna Robôs cuidadores são uma das inovações científicas para o tratamento de doenças Dr. Antônio Carlos Lopes (esquerda) e Dr. Ítalo Rachid (direita)

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editorial Caros amigos, Este é um momento de grande importância, em que estamos escrevendo, a cada dia, páginas novas na história da Medicina do nosso país. O reconhecimento do trabalho e das ferramentas que disponibilizamos para os médicos e para a sociedade pode ser mensurado com a criação da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) Regional Ceará. Com muita honra e revestido de enorme senso de responsabilidade, aceitei o nobre convite feito pelo professor doutor Antônio Carlos Lopes para ser presidente da entidade, cuja missão é integrar o conhecimento médico em prol da qualidade de vida. A nova diretoria assumiu recentemente e já vem trabalhando para fortalecer o relacionamento com os associados, promover a integração entre eles e contribuir para a capacitação profissional e a difusão maior de um modelo de Medicina voltado para a prevenção. Além de falar sobre o tema, a revista Longevidade em Foco abre espaço para mostrar que o colesterol não é o vilão das doenças cardiovasculares. Tentar reduzir o nível da substância no organismo com drogas como as estatinas é um desperdício de tempo e de recursos, sem mencionar os malefícios à saúde. Pesquisa recente, de cientistas da Escócia, Suécia e Irlanda, demonstrou que idosos com taxas elevadas de LDL (lipoproteína de baixa densidade, chamada de “colesterol ruim”) viveram mais tempo e tiveram menos problemas cardíacos. O trabalho, resultado da revisão de estudos anteriores, envolveu cerca de 70 mil pessoas com mais de 60 anos. Os achados foram publicados no jornal BMJ, do Reino Unido. Outro assunto de relevância nesta edição, que circula com 88 páginas, é a realização do VI Congresso Internacional de Ciências da Longevidade Humana. O evento será realizado entre 27 e 29 de outubro e deve reunir cerca de mil profissionais, entre médicos, professores, pesquisadores e cientistas brasileiros e estrangeiros. Paralelamente ao congresso, no dia 27, acontecerá o I Workshop de Genética. Já no dia 28, ocorrerá o VI Workshop de Nutrição Bioquímico-Fisiológica. Entre os demais temas abordados nas próximas páginas estão a acrilamida e o risco aumentado de câncer; a associação entre terapia com testosterona e menores chances de câncer de próstata; os efeitos da vitamina D3 na função cardíaca em pessoas com insuficiência coronariana crônica; os benefícios do magnésio para a longevidade; e por que o horário das refeições é tão importante quanto o que se põe no prato. Boa leitura! Dr. Ítalo Rachid Diretor científico do Grupo Longevidade Saudável

sumário 06 Cuidado com alimentos muito torrados 08 Bebida em excesso e o risco para a saúde cardíaca 10 Magnésio e longevidade 12 TURISMO | Canadá reúne belezas naturais e lugares históricos 15 Compostos naturais contra a insônia 16 Açafrão para proteger a saúde ocular 18 Estresse e as doenças cardiovasculares 20 Vitamina D no tratamento da insuficiência cardíaca crônica 23 Sedentarismo acelera envelhecimento celular 24 CAPA | Dr. ítalo Rachid é o presidente da SBCM-CE 28 Terapia com testosterona reduz risco de câncer de próstata agressivo 30 Ciência e tecnologia a serviço da saúde 34 Testosterona estimula a produção da telomerase 36 O cérebro também agradece quando você se exercita 38 A longevidade incomum dos moradores de Acciaroli 42 Um olho no prato, outro no relógio REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO – Publicação oficial do Grupo Longevidade Saudável PRODUÇÃO: SB Comunicação (www.sbcomunicacao.com.br) • JORNALISTA RESPONSÁVEL: Simone Beja • EDITORA: Silvana Caminiti • JORNALISTA: Camilla Muniz • FOTO DE CAPA: SBCM • FOTOS DAS MATÉRIAS: CC0 Creative Commons; dreamstime.com; pixabay.com; unsplash.com • DESIGN GRÁFICO: Maurício Santos • DIAGRAMAÇÃO: Cintia de Sá, Carol Cardinali e Maurício Santos • IMPRESSÃO: Gráfica Cearense GRUPO LONGEVIDADE SAUDÁVEL – Av. José Moraes de Almeida, 783, Coaçu, CEP: 61760-000, Eusébio/CE. Tels.: 0800 0011223 / (55) (85) 3246 2126 DIRETOR CIENTÍFICO: Dr. Ítalo Rachid • DIRETORA DE MARKETING: Polliana Rachid • DIRETOR EXECUTIVO: Carlos Avellar CONTATO COMERCIAL E ASSINATURAS: Raquel Dantas – [email protected] • EXECUTIVA COMERCIAL: Ives Regina – [email protected] • RELACIONAMENTO COM O CLIENTE E MARKETING: Polliana Rachid – [email protected] O CONTEÚDO DOS ANUNCIANTES É DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS MESMOS.

44 O colesterol e sua saúde 48 O atendimento multidisciplinar na atenção ao distúrbio alimentar 52 Uso prolongado de medicamentos traz riscos à saúde 54 FITNESS | Balé fitness conquista adeptos 58 Obesidade infantil e combate à bebida açucarada 60 Uso excessivo de tecnologias pode afetar visão das crianças 62 Passar muitas horas sentado aumenta o risco de trombose 66 Vida sexual ativa protege da hipertensão 69 LIVROS 70 Como preparar um churrasco saudável para evitar o risco de câncer 72 ARTIGO | Você e o mercado 74 Dieta pouco saudável aumenta o risco de demência 76 Enzima pode estar ligada à gordura abdominal na menopausa 78 VI Congresso Internacional de Ciências da Longevidade Humana 80 BELEZA E SAÚDE | Cuidados com a pele durante a gestação 84 Aproveite a vida e viva mais 86 Benefícios da testosterona para homens com hipogonadismo

Torrados e perigosos Batatas fritas, pães Você já ouviu falar em acrilami- tostados e biscoitos da? Essa substância é formada Para se ter uma ideia, a Agência de crocantes com cor naturalmente por uma reação Normas Alimentares da Grã-Breta- amarronzada podem química entre aminoácidos, nha (Food Standards Agency – FSA) esconder composto açúcares e a água presente em divulgou recentemente um alerta que eleva risco de alguns alimentos — principalmente os orientando as pessoas a tostar, fritar câncer, alertam ricos em amido, como batatas e pro- ou assar os alimentos até que atin- agências de saúde dutos de cereais — quando eles são jam, no máximo, uma cor dourada, torrados, fritos ou grelhados em alta evitando consumi-los quando estive- temperatura durante muito tempo. rem com coloração marrom. Segundo cientistas, tal composto pode aumentar o risco de câncer. A entidade diz, em seu site, que ainda não está exatamente claro quanto da substância o organismo humano pode tolerar, mas deixa claro que po- demos estar consumindo-a demais. “Os níveis mais elevados de acrila- mida são encontrados em alimentos com alto teor de amido preparados em temperatura acima de 120 graus, em casa, como batatas fritas ou pão 6 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

gastrointestinal e depois é distribuí- da para praticamente todos os ór- gãos, sendo extensamente metaboli- zada no organismo”, explica. torrado, ou ainda durante o processa- Perigo também Mas o prato não é a única origem de mento na indústria, como no caso de vem do tabaco acrilamida. A substância também biscoitos crocantes. A cor escurecida está na fumaça de cigarros. “O taba- indica a presença de acrilamida, e Ainda segundo o médico, há cerca co é uma fonte de exposição ainda quanto mais escura a comida, mais de dois anos, a European Food Safety maior do que a alimentação”, alerta contém a substância”, explica o clínico Authority (Autoridade Europeia para o clínico geral. geral, Dr. Daniel Lopes Marques (CRM a Segurança dos Alimentos) divulgou SP-43752), professor da Universi- um parecer científico sobre a acrila- No Brasil, a Agência Nacional de Vi- dade Federal de São Paulo (Unifesp). mida nos alimentos, em que definiu a gilância Sanitária (Anvisa) orienta em presença da substância como um seu site que, para prevenir a forma- O médico lembra que cientistas de motivo de preocupação para a saúde ção do composto, os alimentos não diferentes países da Europa, como pública. “Após ser ingerida, a acrila- devem ser cozidos por longo tempo Inglaterra, Suécia, Holanda e Suíça, e mida é absorvida a partir do trato em temperaturas superiores a 120 também dos Estados Unidos já pes- graus. O órgão regulador ressalta quisaram o consumo da substância e que não existem evidências sufi- sua relação com a saúde. Todos os cientes sobre a quantidade de acri- estudos mostraram que a acrilamida lamida presente nos diferentes tipos é tóxica e leva a mutações genéticas de alimentos, para recomendar que que, além de câncer, podem afetar os se evite algum tipo em particular. sistemas nervoso e reprodutivo. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 7

Beber em excesso aduomeennçatas ocarrisdcíaocdaes Oabuso do álcool causa sérios problemas ao organismo, sendo responsável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), por quase 4% das mortes no mundo. Mas, embora já se saiba que o consumo em excesso pre- judica o fígado, eleva a pressão arterial e aumenta o risco de vários tipos de câncer, pela primeira vez um estudo cientí- fico mostrou a ligação direta de bebidas alcoólicas com infarto e doenças cardíacas. Publicada no Journal of the American College of Cardiology por cientistas da Universidade da Cali- fórnia, nos Estados Unidos, a pesquisa envolveu cerca de 15 milhões de pacientes adultos, que passaram por cirurgia, atendimento de emergência ou in- ternação hospitalar entre 2005 e 2009. Segundo os cientistas, o exagero na ingestão do álcool amplia em 40% o risco de ataque cardíaco, duplica as chances de fibrilação atrial 8 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

e aumenta em até três vezes os casos No caso da fibrilação atrial (quando Perigo em de insuficiência cardíaca congestiva. a frequência cardíaca é irregular e números Os pesquisadores descobriram ainda mais acelerada do que o normal, o que excessos podem levar a proble- que dificulta o fluxo sanguíneo), o mais mas no coração, mesmo em pessoas cardiologista lembra que estudo cdheaantcaeqsue que não têm histórico familiar de anterior já havia associado a ingestão doenças no órgão nem outros fato- de álcool – independentemente de 40% cardíaco res de risco. ser vinho, cerveja ou destilado – ao mais aparecimento da arritmia cardíaca. chances de Na literatura médica internacional, E quanto maior o consumo, maior o fibrilação há várias definições para classificar risco do surgimento do problema. 2x atrial o consumo de álcool. De acordo com mais casos de a publicação “Self-Help Strategies “A fibrilação atrial pode ter como insuficiência for Cutting Down or Stopping Subs- consequência um acidente vascular cardíaca tance Use: a Guide (2010)”, da OMS, 3x congestiva se a pessoa bebe, já há risco para a cerebral, tromboses em membros e saúde, especialmente se consome mais de duas doses diárias ou se órgãos e a embolia pulmonar. Isso não deixa de beber em dois dias da semana, pelo menos. porque a arritmia favorece a formação de coágulos que, “A ingestão de bebidas alcoólicas quando conseguem entrar na corrente sanguínea, podem favorece a liberação de dopamina no cérebro. Esse hormônio neuro- obstruir algum vaso sanguíneo”, explica. transmissor é responsável pela regu- lação de outras substâncias que, por O cardiologista lembra que o consumo excessivo de álcool sua vez, têm ação sobre o sistema causa danos também a outros órgãos, como pulmões, rins e cardiovascular. Por isso, beber em pâncreas. “No caso deste último, o álcool pode gerar uma infla- excesso pode causar alterações na mação, com risco de evolução para pancreatite. Nos pulmões, pressão arterial, na frequência cardí- o etanol deixa as trocas gasosas lentas, e o resultado é uma aca e nos vasos sanguíneos. A taqui- respiração mais difícil. E o sistema renal tem sua capacidade cardia e a hipertensão são outras reduzida, o que pode alterar os hormônios que controlam a consequências provocadas pelos pressão arterial e levar à hipertensão”, explica o médico. excessos”, explica o cardiologista Aloísio Rocha (CRM-SP 79144). REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 9

Magnésio epoopdoqerufevaoezcelêer Crucial para converter a energia química dos alimentos em combustível para o corpo, ele também influencia a regu- lação do açúcar no sangue e a saúde de vasos sanguíneos e ossos. Assim é o magnésio, mineral considerado peça- -chave para a promoção da longevidade. Estudos mostram que a ingestão dele protege contra uma série de problemas relacionados à maturidade, incluindo doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, diabetes e osteoporose. As fontes na alimentação são variadas: cereais, leguminosas (como grão- -de-bico, lentilha e amendoim), castanha-do-pará, quinoa, frutos 10 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

secos, tofu, chocolate amargo, vege- “Com participação ativa na absorção do cálcio e tais de folhas verdes (como espina- na conversão da vitamina D na sua forma ativa, fre), água de coco, salmão e sementes ambos fundamentais para a mineralização óssea, de abóbora, entre outros. o magnésio é importante para o crescimento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes”, Como se não bastasse, mais de 300 comenta o especialista. enzimas no organismo precisam do magnésio para funcionar adequada- Saúde do coração mente. Ele também ajuda a diminuir a atividade dos radicais livres nas Outro importante benefício do mineral é a capa- células, colaborando para retardar o cidade de reforçar a prevenção contra doenças envelhecimento, e tem papel crucial cardiovasculares, já que ele auxilia o músculo na atividade elétrica do cérebro. cardíaco no bombeamento do sangue. “O coração “Nos últimos anos, a ciência voltou a requer uma tremenda quantidade de energia atenção para o mineral, e vários es- para funcionar corretamente, e o magnésio é ne- tudos mostraram que aqueles com cessário no passo final de toda a síntese de ener- maior ingestão de magnésio têm gia”, explica o Dr. Lemes. taxas muito mais baixas de hiperten- são e de doenças cardíacas e renais, De acordo com o médico, o elemento químico além de apresentarem risco menor ainda ajuda a prevenir arritmias e a proteger os de declínio cognitivo e até mesmo de vasos sanguíneos do acúmulo de cálcio, o que enxaquecas”, diz o nutrólogo José reduz o risco de aterosclerose. “A literatura médi- Antônio Lemes (CRM SP 59300), ca é farta de estudos que mostram os perigos de professor da Universidade Federal baixos níveis de magnésio para a saúde cardiovas- de São Paulo (Unifesp). cular”, conta o especialista. Segundo o médico, o elemento quí- mico regula múltiplos processos me- tabólicos, influenciando o modo como funcionam os sistemas de todo o organismo. Ele também interfere no equilíbrio e na ação de outros mi- nerais, como o cálcio e o potássio, e é essencial à saúde de ossos e dentes. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 11

turismo Canadá Belezas naturais e lugares históricos Eleito o melhor destino de viagens em 2017 pela editora de guias de viagem Lonely Planet – a maior do mundo – e pelo jornal americano The New York Times, o Canadá pode ser uma boa opção para quem ainda está pensando aonde ir nas férias. Com belas paisagens e cultura variada, o que já são boas razões para fazer uma visita, o país agora oferece um atrativo a mais para os turistas: cerca de 200 parques e locais históricos estão com entrada gratuita durante todo este ano, para celebrar o 150º aniversário da Independência. O valor do dólar canadense, que tem cotação em relação ao real bem mais vantajosa do que a moeda americana (R$ 1 a menos, em média), é outro elemento que pesa a favor. A gama de lugares deslumbrantes para conhecer no país inclui metrópoles como Toronto e Vancouver, além de cidades char- mosas e de herança francesa, como Montreal. Toronto é a maior cidade do Canadá e também uma de suas capitais culturais 12 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Isso tudo se soma a belezas naturais, como as Cataratas do Na Colúmbia Niágara, e parques, a exemplo do Nacional Banff, declarado Britânica, um dos Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1984. O local, com destaques é lagos de cor azul-turquesa e picos montanhosos, fica na pro- Osoyoos, pequena víncia de Alberta, na costa oeste do Canadá, e é uma das áreas e charmosa cidade verdes mais visitadas em todo o mundo. onde fica uma das maravilhas naturais Em Vancouver, durante o verão, a temperatura chega aos 30 mais incomuns graus. Entre as atrações turísticas mais visitadas, estão os par- do mundo: o Lago ques Stanley Park e o Queen Elizabeth Park; a praia Kitsilano Manchado Beach; e a Capilano Suspension Bridge, uma ponte de 140 metros de comprimento suspensa a 70 metros acima do Rio Capilano. Para quem preferir desembarcar lá no inverno (a estação vai de dezembro a março), fica a dica: as principais estações de esqui, como a Grouse Montain e a Cypress Mountain, se loca- lizam no norte da cidade. O que ver em Toronto Em Toronto, capital da província de Ontário, há a Casa Loma, um centenário castelo com 98 cômodos, decorados com obras de arte e mobílias vindas de diversas partes do mundo. Também são atrações a Torre CN, a terceira mais alta do mundo, com 533 metros de altura; o High Park, com 161 hectares de área verde; e o Lago Ontário, um dos cinco maiores da América do Norte. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 13

E, claro, quem for a Ontário não pode O colorido de Vancouver no outono deixar de visitar as Cataratas do Niá- Cataratas canadenses do Niágara gara, a 120 quilômetros de Toronto, que ficam em uma pequena cidade de mesmo nome (Niagara Falls). O Queen Victoria Park possui vários pontos de observação com vista espetacular para as cataratas. Já a torre Skylon Tower oferece uma vista panorâmica a 230 metros de altura. Águas coloridas Na Colúmbia Britânica, um passeio im- perdível é conhecer Osoyoos, pequena e charmosa cidade que fica na melhor região vinícola do país. É lá que está uma das maravilhas naturais mais incomuns do mundo: o Lago Kliluk. Localizado entre os vales de Okanagan e de Similkameen, no deserto, ele também é conhecido como Lago Manchado por causa do efeito colorido resultante da grande quantidade de minerais presentes em suas águas. No verão, a água evapora, deixando para trás piscinas coloridas, separadas por pequenos caminhos formados por terra endure- cida. Cada uma tem um tom diferente de verde, amarelo e marrom, dependendo dos depósitos minerais — titânio, cálcio e prata, entre outros — e da quantidade de chuvas do ano. Vista da cidade de Niagara Falls, onde à noite holofotes iluminam as cascatas 14 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

cCoonmtpraosationssnôantiaurais Se você sente dificuldades para adormecer, saiba que não está sozinho. Estima-se que a Valeriana, ginseng indiano e insônia atinja cerca de 20% da população lúpulo são algumas das plantas adulta no Brasil. A boa notícia é que produ- cujas propriedades ajudam a tos naturais podem ajudar a relaxar e pro- relaxar e a dormir melhor porcionar um descanso de mais qualidade. Chás ou comprimidos fitoterápicos à base de valeria- dormir. Também se deve evitar a automedicação com indutores na, comprados sem receita médica nas farmá- de sono (benzodiazepínicos), que apresentam uma longa lista cias, são alguns deles. As propriedades calman- de efeitos colaterais e afetam a qualidade de vida. tes da planta se encontram em sua raiz, usadas no preparo da bebida. A privação crônica de descanso é um problema que tende a piorar com o avanço da idade. Na pesquisa Sono: uma Perspec- Outra erva que pode ajudar é a Withania somnifera tiva Global, desenvolvida pela Associação Mundial de Medicina (ou ginseng indiano). Ela contém um composto que do Sono com 8 mil pessoas em dez países, 83% dos entrevis- induz o equilíbrio fisiológico e reduz os impactos tados disseram que não conseguem dormir direito durante a do estresse, com um resultado benéfico sobre a noite. Já 22% responderam que dormem menos tempo do que ansiedade. O lúpulo — sim, aquele ingrediente da gostariam de cinco a sete vezes por semana. cerveja junto com malte, cevada e levedo — tam- bém pode auxiliar no combate à falta de sono quando colocado em sachês dentro da fronha do travesseiro ou usado para fazer chá. Se misturado a extrato de maracujá e erva-cidreira no preparo da bebida, tem seu efeito calmante potencializado. Mas aqui fica uma dica: mesmo sendo com- postos naturais, o uso prolongado de algu- mas substâncias pode trazer danos à saúde. O ideal é consultar um médico para saber a razão da dificuldade de REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 15

Açafrão paasraaúpdreootecguelarr Além de dar mais cor e sabor aos ali- mentos, o açafrão é um excelente aliado da saúde dos olhos. Diversas pesquisas têm mostrado que a in- clusão da especiaria na dieta pode ajudar a prevenir e até retardar os efeitos da degeneração macular, lesão crônica que leva à perda gradual da visão. O tempero amarelo con- tém carotenoides (tipo de pigmento) denominados crocina e crocetina, dois poderosos antioxidantes capazes de proteger a retina e melhorar a acuida- de visual em pacientes com a doença. No Brasil, a estimativa é que 2 milhões de pes- soas, principalmente com idade acima de 60 anos, tenham a degeneração macular diagnosti- cada. O problema afeta a área central da retina, chamada mácula, responsável pela visão de de- talhes. Tal comprometimento prejudica tanto a visão de longe quanto a de perto, o que pode dificultar ou impedir atividades importantes do dia a dia, como a leitura. 16 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Estudo italiano mostrou “A flor da especiaria contém alfa-caroteno, um que a especiaria ajuda a pigmento que dá a cor amarela e, assim como preservar a morfologia da os componentes principais, protege as células retina e a função visual, pigmentadas da retina de danos. Isso foi de- ao defender as células monstrado em um estudo desenvolvido por de danos oxidativos pesquisadores da Universidade de Harvard que, induzidos pela luz durante 20 anos, analisaram dados de cerca de 100 mil pessoas, entre homens e mulheres, com mais de 50 anos. Os achados tornam claro que o alfa-caroteno oferece defesa contra a dege- neração macular relacionada à idade em seus estágios iniciais”, comenta. Um estudo conduzido por cientis- Vegetais e peixes: outros aliados tas do Departamento de Biotecno- logia e Aplicação Clínica da Univer- Segundo o especialista, outras substâncias com sidade de Áquila, na Itália, mostrou ação antioxidante também ajudam a prevenir o que tanto a crocina quanto a croce- aparecimento da doença. Entre elas, o oftalmolo- tina são capazes de proteger o fo- gista cita a luteína e a zeaxantina. torreceptor P2X7, encontrado nas células da retina, dos danos oxida- “Esses elementos são encontrados em alimentos tivos provocados pela luz. O bene- como espinafre, couve e agrião. Eles têm pigmen- fício preserva essa parte do olho e tos amarelos que, de forma eficiente, absorvem a a função visual. luz, impedindo que ocorram danos aos tecidos da retina. Além disso, a luteína e a zeaxantina com- O oftalmologista Renato Nogueira batem os radicais livres, o que reduz impactos (Cremerj 52.70436), professor da prejudiciais às células dessa região dos olhos”, Faculdade de Medicina da Universi- comenta o Dr. Nogueira. dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que outros estudos Mais um aliado da saúde ocular é astaxantina, também já mostraram os benefícios presente no salmão, em crustáceos e no camarão. do açafrão. “Além de proteger as células da retina dos efeitos do estresse químico e físico, a substância ajuda a prevenir lesões relacionadas ao aumento da pressão no olho”, diz. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 17

upEcosamtrrraaaeçbosãsooem: baPqeausamdeqfaeiuíaatgtiatasdaiqadvadudialdaieoapa,sr,dreepceelsaagomdrididãreearoísaiirtcodceaoorosçbsduãcralooeétuamrderoAbeVrmoC 18 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Se você tem levado a vida no limite do nervosismo, é melhor colocar o pé no freio. O estresse crônico pode ser conside- rado um fator de risco tão importante quanto o tabagismo e a pressão alta para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares. A conclusão é resultado de um estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet, senso melhorado de bem-estar conduzido por cientistas da Faculdade de Medicina da psicológico”, afirma, em artigo cien- Universidade Harvard, nos Estados Unidos. A pesquisa tífico, o Dr. Tawakol, que é professor apontou que o estresse afeta a amígdala — região do da Faculdade de Medicina em Harvard cérebro associada a emoções, lembranças e memória e vice-diretor do Departamento de —, o que deixa as pessoas mais suscetíveis a doenças Cardiologia do Massachusetts General cardíacas e acidente vascular cerebral (AVC). Hospital, em Boston, nos EUA. A pesquisa envolveu 300 pacientes. Aqueles com Importância do estudo maior atividade na amígdala se mostraram mais propensos a apresentar complicações cardiovas- O cardiologista Ricardo Peixoto (CRM RJ culares — e mais cedo do que outros. Segundo 5271733-9) lembra que o tabagismo, a pressão o cardiologista Ahmed Tawakol, principal autor alta e o diabetes são fatores de risco bem estabe- do trabalho, a amígdala, quando muito ativa, lecidos para doenças cardíacas e que algumas envia sinais para a medula óssea para que pesquisas anteriores já apontavam para a possi- sejam produzidas mais células brancas para bilidade de o desgaste físico e mental crônico ser o sangue. E são essas células que causam outro perigo. “Estudos com animais encontra- inflamação nas artérias, elevando o risco ram ligação entre estresse e maior atividade na de ataques cardíacos e AVC. medula óssea e nas artérias”, comenta. Para chegar a essa conclusão, os cientistas tra- Ainda segundo o especialista, pessoas com trans- balharam em duas frentes de pesquisa. Em uma torno de estresse pós-traumático, ansiedade e delas, avaliaram exames de imagens (como resso- depressão apresentam maior atividade da amíg- nância magnética e tomografia computadorizada) dala. “Porém, antes desse novo trabalho, não se do cérebro, da medula óssea, do baço e de artérias sabia qual região do cérebro associa o estresse ao dos pacientes. Durante cerca de quatro anos de ataque cardíaco e ao acidente vascular cerebral. monitoramento, aqueles com maior atividade da Por isso, o achado é importante”, diz. amígdala apresentaram ou ataques cardíacos ou AVC. Em outra frente, analisou-se a relação entre Além do sistema cardiovascular, outras partes do níveis de estresse e inflamação no corpo. organismo são afetadas pelo nervosismo, o que pode desencadear problemas como hipertensão, “Conseguimos mostrar que a redução do estres- infecções, distúrbios gastrointestinais, desordens se pode produzir benefícios que vão além de um alimentares, dores tensionais, insônia, queda de cabelos, diminuição do desejo sexual e impotência temporária em homens. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 19

Vitaminano tratamento da insuficiência D cardíaca crônica 20 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Substância fundamental para a formação de Idosos produzem ossos fortes, para a manutenção de um cére- menos vitamina D3 bro saudável e até para o reforço da imunida- em resposta à luz solar de, a vitamina D também é capaz de melhorar do que jovens a função coronariana em pessoas com insufi- ciência cardíaca crônica. Foi o que mostrou um estudo randomizado, controlado com placebo, apresentado no American College of Cardiology, em Chicago. A pesquisa foi realizada por cientis- tas da Universidade de Leeds, no Reino Unido. O trabalho durou cinco anos e envolveu mais de 160 pacientes submetidos a tratamentos conven- cionais para a doença, como o uso de fármacos betabloqueadores e inibidores da enzima conver- sora da angiotensina (também chamados de inibi- dores da ECA) e marca-passos. Durante um ano, metade dos voluntários passou a receber uma dose diária de vitamina D3 — ou colecalciferol, produzida pelo corpo em resultado a exposição à luz solar, mais especificamente, à radiação ultravioleta B —, enquanto o restante recebeu placebo. Segundo o cardiologista Klaus Witte, professor da Escola de Medicina de Leeds e líder do estudo, aqueles que tomaram o compos- to apresentaram melhoria significativa na função cardíaca. “As alterações foram avaliadas por meio de ecocardiogramas e com a medição do percen- tual de sangue que entra e sai do coração a cada batimento, parâmetro conhecido como fração de ejeção”, explica o especialista. A fração de ejeção de uma pessoa saudável é geralmente entre 60% e 70%. Mas, em pessoas com insuficiência cardíaca, o percentual é signi- ficativamente mais baixo. No caso do estudo, os REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 21

Para avaliar pacientes apresentavam uma fração Uma das maiores autoridades mun- a função coronariana, de ejeção média de 26%. Após a su- diais em suplementação de vitamina os cientistas realizaram plementação com vitamina D3, o D, o endocrinologista, doutor em ecocardiogramas e índice subiu para 34%. bioquímica e professor da Univer- mediram o percentual sidade de Medicina de Boston Mi- de sangue que entra De acordo com o Dr. Witte, o resul- chael Holick concorda com o Dr. e sai do coração, tado da pesquisa significa que, para Elias Neto. Ele lembra ainda que a cada batimento pelo menos parte dos pacientes com pacientes com a doença costumam insuficiência cardíaca crônica, tomar sofrer da falta da substância, já que regularmente vitamina D3 pode di- idosos produzem menos quantidade minuir a possível necessidade do dela do que jovens. uso de um cardioversor desfibrilador “Por isso, é absolutamente necessário implantável (ICD). O dispositivo é combater a deficiência de vitamina D3, que afeta milhões de pessoas, capaz de detectar arritmias graves e tratá-las ime- para prevenir e tratar doenças crôni- cas, incluindo as cardíacas”, explica. diatamente, por meio de estímulos elétricos. Para o cardiologista Jorge Elias Neto (Cremesp 25742), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), essa é uma evidência pioneira, que pode representar um avanço importante na forma de tratar a insuficiência cardíaca crônica. 22 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Soeednevnetlahreiscmimoepnotodecealcuelalerrar Pesquisa mostra que processo de encurtamento Segundo o Dr. Shadyab, futuros estu- das extremidades dos cromossomos é mais veloz dos serão realizados para saber como em mulheres que não praticam exercícios o exercício se relaciona com o com- primento dos telômeros em pessoas Oquão importante é a atividade nem sempre a idade cronológica mais jovens e em homens mais velhos. física para o organismo femi- corresponde à biológica. nino após os 60 anos? A res- Vale lembrar que, à medida que as posta para essa questão acaba O estudo foi realizado pela Escola de células se dividem — para renovar de vir de um estudo que mos- Medicina da Universidade da Cali- órgãos como pele, pulmões e fíga- trou que o envelhecimento celular fórnia em San Diego, nos Estados do —, as extremidades dos cromos- pode ser acelerado em mulheres Unidos, envolvendo 1,5 mil mulhe- somos vão naturalmente ficando mais velhas com estilo de vida seden- res, com idades entre 64 e 95 anos. mais curtas. Quando elas atingem tário. De acordo com a pesquisa, o As voluntárias fazem parte da Inicia- um tamanho muito limitado, as cé- processo de encurtamento dos telô- tiva de Saúde da Mulher (WHI, na lulas perdem a capacidade de se meros (extremidades dos cromosso- sigla em inglês), uma investigação dividir, o que promove a degenera- mos presentes nas células) nessas nacional sobre fatores determinan- ção dos tecidos e, consequente- pessoas é muito mais veloz do que tes para doenças crônicas na pós- mente, o envelhecimento. naquelas que fazem, pelo menos, 30 -menopausa. O resultado da pesqui- minutos de exercícios diários. sa foi publicado recentemente no American Journal of Epidemiology. “Todos sabemos dos benefícios da atividade física quando somos jo- Os cientistas analisaram amostras de vens, mas ela deve continuar a ser sangue das participantes, que preen- parte de nossa vida diária à medida cheram questionários sobre suas que envelhecemos, mesmo aos 80 atividades e usaram um acelerôme- anos”, diz o professor doutor Aladdin tro (aparelho que mensura movimen- Shadyab, principal autor do trabalho. tos) no quadril, tanto no período de vigília quanto nas horas de sono. Especialista em epidemiologia, ge- Depois, os pesquisadores compara- nética da longevidade e saúde pú- ram o comprimento dos telômeros blica, o cientista explica que, por com a prática de atividade física, em conta da relação entre sedenta- busca de possíveis associações en- rismo e envelhecimento celular, tre tal hábito e o envelhecimento. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 23

pSítaBrloeCRsMaicdh-iCdêeansascurmiáae da Integração do conhecimento médico Nova diretoria em prol da qualidade de vida. Essa Professor titular de Clínica Mé- trabalha para é a missão da Sociedade Brasileira dica da Universidade Federal de a difusão mais de Clínica Médica (SBCM) Regional São Paulo (Unifesp), o Dr. Antônio ampla de um Ceará, que agora tem como presi- Carlos é um dos mais respeitados modelo de dente o Dr. Ítalo Rachid (Cremec nomes da Medicina brasileira. Medicina 4554). A nova diretoria da entidade, Ele é autor do principal livro de voltado para com sede em Eusébio, na Grande Clínica Médica no país, o Tratado a prevenção Fortaleza, tomou posse recente- de Clínica Médica, que tem três mente e já vem trabalhando duro. volumes e mais de 5.500 páginas. As primeiras medidas visam fortale- cer o relacionamento com os associa- “A partir desse acordo de coope- dos, promover a integração entre os ração científica entre a SBCM e a médicos e contribuir para a capacita- Sobraf (Sociedade Brasileira para ção profissional e a difusão, cada vez Estudos da Fisiologia), ambas as maior, do modelo de Medicina volta- instituições passam a dar oficial acreditação aos do para a prevenção. A indicação de cursos do Grupo Longevidade Saudável e a todo Rachid para o cargo foi feita pelo o nosso projeto pedagógico. Por outro lado, será presidente da SBCM, Dr. Antônio disponibilizado aos sócios da entidade um pro- Carlos Lopes. grama de educação médica continuada, que per- mitirá a atualização profissional e a indispensável 24 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Indicação de Rachid para o cargo A SBCM – que conta com regionais foi feita pelo presidente da SBCM, em 16 estados, incluindo a do Ceará, Dr. Antônio Carlos Lopes, um dos e mais de 14 mil médicos associados nomes mais respeitados da – tem como pilares a valorização do Medicina brasileira clínico, a humanização da Medicina, a relação médico-paciente e a demo- cratização do conhecimento. Mudança de foco integração multidisciplinar do Segundo o Dr. Rachid, em sua for- conhecimento em prol da qua- mação de base, o médico é treinado lidade de vida”, explica o Dr. para enxergar apenas o que é per- Rachid, diretor científico do ceptível por meio de sinais ou sin- Grupo Longevidade Saudável tomas. Desse modo, a incidência e e presidente da Sobraf. o transcurso das doenças, em gran- de parte, são compreendidos como “O Dr. Antônio Carlos perce- circunstâncias ou fenômenos pou- beu a importância da nossa co suscetíveis a modificações, sob proposta terapêutica, no sen- o prisma essencialmente curativo tido de transformar o clínico da Medicina. em um profissional preparado não apenas para tratar as en- “A ausência de sintomas não significa fermidades da melhor forma necessariamente saúde. Os médicos possível, mas para cuidar da são treinados a perguntar ao pacien- saúde prioritariamente”, com- te o que ele está sentindo, não a lidar pleta o Dr. Rachid. com a prevenção. É preciso que o foco da estratégia terapêutica passe “Esse conhecimento vem pre- a ser mais amplo e integrado, con- encher uma lacuna existente templando não só o tratamento de na formação dos médicos e permitirá a eles desenvolver habi- disfunções, mas também, sobretudo, lidades complementares para o diagnóstico de potenciais sua detecção precoce e as formas de ameaças à saúde”, confirma o Dr. Antônio Carlos, que também evitá-las. Assim, é possível alcançar é diretor da Escola Paulista de Ciências Médicas e tem traba- um objetivo maior: dar qualidade à lhado pela compreensão de que o melhor médico é aquele com quantidade de vida, por meio da in- formação mais holística. tervenção antes que os problemas se manifestem”, esclarece o Dr. Rachid. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 25

Equilíbrio para uma XIV Congresso Brasileiro de Clínica boa saúde Médica, que será realizado em outu- bro, em Belo Horizonte. O diretor científico do Grupo Longe- O conceito de Medicina focado na vidade Saudável lembra ainda que a prevenção deve passar a integrar o base de uma boa saúde é formada currículo do curso de graduação em pela dieta geneticamente correta, Medicina da Escola de Saúde do pelo controle do estresse e por um Exército, em São Paulo. “A ideia é estilo de vida e níveis hormonais elaborar um projeto pedagógico de apropriados. O desequilíbrio desses forma a apresentar esse conteúdo fatores, juntamente com a excessiva dentro da formação médica, o que produção de radicais livres e altera- dará outra perspectiva para o aluno”, ções na bioquímica cerebral, desen- explica o Dr. Rachid. Com isso, a ins- cadeiam a inflamação crônica subclí- tituição será uma das primeiras esco- nica, causa das doenças associadas las do mundo a oferecer tal conheci- ao envelhecimento. mento na graduação. “Em geral, problemas que surgem Diretoria da SBCM-Ceará com o avanço cronológico eram com- preendidos como um processo pre- Os valores que pautam as A diretoria da entidade, visível e, muitas vezes, inevitável. ações da SBCM-Ceará são agora, é composta por: Novos conceitos em fisiopatologia a vida em primeiro lugar, nos ensinam que o envelhecimento o humanismo na Medicina, Presidente: acelerado e as doenças relacionadas o tratamento da saúde, a ele se devem à ação crônica, recor- a valorização do ato médico Dr. Italo Rachid rente, precisa e combinada de uma e o resgate da relação gama de fatores, que hoje já podem médico-paciente. Vice-presidente: ser mensurados de forma precoce e, sobretudo, ainda em fase assinto- Dr. José Luiz Verde mática, qualquer que seja a idade do indivíduo”, diz. Primeiro-secretário: Com o intuito de apresentar Dr. Ronald Canejo e aprofundar um pouco mais a discussão dessas ideias Segundo-secretário: na SBCM, o Dr. Rachid vai ministrar uma palestra Ellysson Abinader sobre o tema durante o Primeiro-tesoureiro: Dr. Idilio Dias Segundo-tesoureiro: Dr. Carlos Lopes Clínicos que quiserem se associar à entidade podem obter mais informações no site www.sbcmce.org. 26 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO



Testosterona arceâgdnreuceszsrridivseocoprdóestata Um novo estudo científico chega A pesquisa, conduzida por cientistas para derrubar a ideia de que do Centro Médico Langone, da Uni- há ligação entre a terapia de versidade de Nova York, e do Centro reposição hormonal com tes- de Câncer Laura e Isaac Perlmutter, tosterona e o risco aumentado na mesma cidade, é resultado da aná- de câncer de próstata. Apresentado lise de registros médicos de mais de na reunião anual da American Uro- 231 mil homens. Foram utilizados logical Association, em San Diego, dados do Registro Nacional de Cân- na Califórnia, nos Estados Unidos, cer de Próstata e do Registro de Me- o trabalho mostrou que não só não dicamentos Prescritos na Suécia. houve elevação do risco, como tam- Dos 38.570 homens que desenvol- bém os homens em tratamento du- veram câncer de próstata entre rante mais de um ano tiveram 50% 2009 e 2012, 284 fizeram reposição menos chances de desenvolver uma hormonal antes do diagnóstico da forma agressiva da doença em com- doença, porém eles apresentavam paração àqueles não tratados. fatores de risco. 28 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

O líder da pesquisa, Dr. Stacy Loeb, Homens em professor assistente de Urologia e terapia de Saúde da População na Universidade reposição de Nova York e especialista em cân- hormonal cer de próstata, diz que, com base durante mais nos resultados, é possível orientar os de um ano médicos para que fiquem atentos apresentaram aos pacientes que têm fatores de risco para câncer de próstata e es- 50% tão em terapia hormonal. No entan- to, não é preciso hesitar em prescre- menos chances ver o tratamento por medo de au- mentar a probabilidade de surgi- existe nenhuma rela- de desenvolver mento do problema. ção entre níveis mais ele- a doença vados de testosterona e Suporte para avaliação médica câncer de próstata. Essa hipóte- O urologista Márcio de Carvalho se foi baseada em pesquisas mal (CRM PR-12020) comenta que os resultados do estudo reforçam as interpretadas, conduzidas há mais de vantagens da reposição de testoste- rona. “Os achados oferecem infor- quatro décadas”, diz. mações importantes para a avaliação do risco/benefício para homens com O especialista, que em 2011 publicou um trabalho deficiência androgênica e que estão sobre o assunto, ressalta que análises longitudi- considerando o tratamento”, explica. nais anteriores já apontavam para tal evidência. “No estudo que fizemos há seis anos, os pacientes Um dos maiores estudiosos interna- receberam reposição hormonal por um período cionais do tema, o norte-americano médio de dois anos e meio, apesar de terem câncer Abraham Morgentaler, mestre e dou- de próstata em observação. Todos eles tiveram tor em Urologia e professor da Har- biópsias de acompanhamento da glândula, e ne- vard Medical School, tem a mesma nhum sofreu progressão da doença”, relata. opinião. “Agora está bem claro: não Segundo o Dr. Márcio de Carvalho, os fatores que podem aumentar o risco do problema são idade (acima de 50 anos), raça (homens com ascen- dência africana são mais acometidos) e histó- rico familiar. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 29

Ciência e tecnologia a serviço da saúde Estudos genéticos e criação de robôs humanoides para cuidar de idosos trazem a possibilidade de novos tratamentos e mais qualidade de vida para pacientes 30 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Sequenciamento de genes em crianças com distúrbios de desenvolvimento raros e ainda não diagnosticados. Criação de robôs humanoides capazes de reconhecer as emoções humanas e ajudar no cuidado com o paciente, como lhe trazer o remédio na hora certa. Uso de medici- na regenerativa para combater doenças relacionadas à idade, com foco na reparação de danos em tecidos, células e molé- culas. Esses são alguns exemplos do avanço tecnológico e científico que pode ser traduzido em novas terapêuticas para tratar e evitar problemas de saúde e, assim, dar mais quali- dade de vida à população. A cada ano, nascem em todo o mundo milhares de bebês que não se desenvolvem normalmente por causa de erros em seu DNA. Isso pode levar a condições como deficiência in- telectual, epilepsia, autismo ou de- feitos cardíacos. Para se ter uma Pesquisa realizada ideia, hoje existem mais de mil falhas por 200 geneticistas genéticas cientificamente reconhe- clínicos do Reino Unido cidas, porém, muitos transtornos descobriu 14 tipos são tão raros que as causas perma- de distúrbio do necem obscuras. Foi a partir dessa desenvolvimento realidade que 200 geneticistas do causados por Reino Unido iniciaram o estudo De- mutações genéticas ciphering Developmental Disorders (Decifrando Transtornos do Desen- volvimento, em tradução livre). Eles examinaram todos os 20 mil ge- nes de mais de 4 mil famílias que têm entre seus membros uma criança com problema de desenvol- vimento. E o resultado, publicado na revista Nature, em janeiro último, foi surpreendente: foram descobertos 14 tipos de trans- torno, todos causados por mutações genéticas encontradas nos pequenos, mas não no DNA do pai ou da mãe. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 31

“As famílias querem entender a causa da desor- Combate ao envelhecimento dem de seus filhos. E pode ser um grande alívio obterem, finalmente, um diagnóstico”, comenta o Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), professor doutor David Fitz Patrick, um dos au- os países com maior expectativa de vida para mu- tores do trabalho. lheres são Japão (86,8 anos), Cingapura (86,1 anos) e Espanha (85,5 anos). Entre os homens, os Pepper, o robô camarada campeões são Suíça (81,3 anos), Islândia (81,2) e Austrália (80,9). Mas pessoas de qualquer país Pepper: esse é o nome do primeiro robô huma- podem ter a longevidade aumentada nas próximas noide capaz de reconhecer as principais emoções décadas. Essa é a aposta da Fundação de Pesquisa humanas e reagir a elas, adaptando-se ao humor SENS, com sede na Califórnia, nos Estados Unidos. de seu interlocutor. Com base nas palavras ditas A entidade realiza e financia pesquisas biomédicas, pela pessoa e na expressão de seu rosto e gestos na busca de soluções que serão usadas para tratar corporais, ele interpreta o estado emocional e responde mudando a entonação da voz doenças associadas ao envelhecimento. e a cor de seus olhos e do tablet que traz no peito. Fundador e diretor científico da SENS, o doutor em Biologia Aubrey de Grey Atualmente, uma equipe interna- será um dos palestrantes do VI Congres- cional de cientistas está trabalhando so Internacional de Ciências da Longe- em um projeto de 2 milhões de libras vidade Humana, que será realizado no (cerca de R$ 8 milhões), patrocinado pela próximo mês de outubro, em São Paulo. União Europeia e pelo governo do Japão, para a construção dos robôs, que serão Entre as pesquisas desenvolvidas usados para fazer companhia a idosos que pela SENS estão a utilização de vivem em casas de repouso. Os primeiros huma- noides começam a operar dentro de dois anos. células-tronco para tratamento de mal de Parkinson; a vacina- Segundo Amit Humar Pandey, cientista-chefe ção contra detritos extracelu- da Softbank Robotics, fabricante do Pepper, lares que contribuem para do- robôs semelhantes já estão sendo usados em hospitais no Japão para realizar tarefas como enças como Alzheimer; a indu- levantar pacientes e servir comida. ção de autodestruição de células senescentes (que já não se dividem, mas produ- zem substâncias inflamató- rias que contribuem para problemas do envelhecimento); e a eliminação da telomerase como meio de controle do câncer. 32 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO



Testosterona pode ‘rejuvenescer’ homens e mulheres integridade do material genético durante a divi- são celular. Com o passar do tempo, os telômeros vão se encurtando, o que impede as células de se reproduzirem e as leva ao envelhecimento. Cientistas brasileiros e americanos Tal processo está ligado à redução da telomerase, descobrem que tratamento com o cuja ação repara os telômeros. hormônio é capaz de reverter processo Na pesquisa, o Dr. Rodrigo Tocantins Calado, pro- fessor do Departamento de Clínica Médica da que leva ao envelhecimento celular Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da Hematologia Clínica do Centro Oncológico Antô- Um estudo pioneiro e conduzido por dois mé- nio Ermírio de Moraes, do Hospital Beneficência dicos brasileiros, entre outros pesquisado- Portuguesa de São Paulo; e equipe trabalharam res, detectou que o uso de hormônios andro- realizando testes em laboratório. Depois, com gênicos — principalmente testosterona — base nos resultados, desenvolveram um protoco- lo clínico em que pacientes com telômeros muito pode ajudar a prevenir o envelhecimento curtos e doenças associadas a mutações no gene celular em homens e mulheres. De acordo com codificador da telomerase — como anemia aplás- o trabalho, publicado na revista científica New tica e fibrose pulmonar — receberam danazol (hor- England Journal of Medicine, esses hormônios es- mônio sexual sintético) por dois anos. O objetivo timulam o organismo a produzir a enzima telo- do experimento era diminuir a taxa de encurta- merase, capaz de prolongar a capacidade de as mento das extremidades dos cromossomos. células se dividirem. Segundo o Dr. Calado, os resultados foram ines- Na ponta dos cromossomos, existem estruturas perados e surpreendentes. Dos 27 pacientes que chamadas telômeros, responsáveis por manter a participaram do estudo, 45% apresentaram pro- 34 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

longamento dos telômeros. “Inicialmente, tínha- mos como meta reduzir o encurtamento, mas o que observamos foi o alongamento em quase me- tade dos casos. Essa foi a primeira demonstração de que estender essas estruturas é possível em humanos com o uso de medicação”, diz. Para o médico e professor russo Vladimir Kha- vinson, uma das maiores autoridades mundiais quando o tema é telomerase, o estudo abre ca- minho para a investigação de estratégias simila- res que possam tratar doenças crônicas associa- das a telômeros mais curtos. “É a primeira vez que se demonstra a possibilidade de reconstituir te- lômeros em seres humanos, com efeitos positivos para a saúde”, diz o médico, presidente da regional europeia da Associação Internacional de Geron- tologia e Geriatria. O trabalho, denominado Danazol Treatment for Telomere Diseases, foi realizado em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 35

Oqucaénredborvooacgêrsaedeecxeercita Que praticar exercícios faz bem ao corpo, ninguém duvida. Mas vários estudos científicos têm demonstrado que, Souza (Cremerj 52.538609), isso  além de eliminar gordura e tonificar os músculos, a inclu- ocorre porque a atividade eleva o  são de esportes na rotina favorece o desempenho cere- fluxo sanguíneo e os níveis de oxige-  bral. Entre as vantagens, estão a melhora das capacidades nação no corpo. Isso também esti-  de concentração, memória e atenção. Outro grande mula uma comunicação mais eficien-  benefício da atividade física é o bom humor. te entre os neurônios, colaborando  Uma simples caminhada ou uma corrida resul- para a regulação do sono, da fome e  tam no aumento dos níveis de substâncias do humor, entre outros benefícios.  como serotonina, endorfina e dopamina, liga- das à sensação de bem-estar. Atividade no hipocampo Outros esportes podem contribuir de forma “Pesquisas recentes mostraram, por diferente para a saúde cerebral. É o caso, por meio de ressonância magnética, que exemplo, de atividades que requerem tomadas pessoas que fazem exercícios regu- rápidas de decisão, como o futebol, o basquete, larmente apresentam uma intensa o vôlei e a esgrima. Segundo estudo publicado pela atividade no hipocampo, região do L’Università degli Studi di Roma, na Itália, a prática cérebro ligada à memória e à apren- dessas modalidades incrementa a função cognitiva, dizagem”, lembra Souza. tanto em jovens como em idosos. O especialista ressalta ainda que Já exercícios aeróbicos — como pedalar, por exemplo mexer o corpo ajuda a ampliar o sur- — podem ajudar a aumentar a concentração. gimento de novos vasos sanguíneos Segundo o ortopedista e especialista em no cérebro, fazendo com que mais Medicina do Esporte Cláudio Frota de oxigênio seja levado ao órgão. “Isso significa mais facilidade para desen- volver tarefas do cotidiano, como pensar, enxergar, sentir e se mover”, explica o médico. 36 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO



Ainlcoonmgeuvmiddaodse Amocracdoireas dre oli 38 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Com parte da população Aaldeia Acciaroli, na província de Salerno, no sul da Itália, com 100 anos ou mais, aldeia tem atraído nos últimos anos a atenção de cientistas de no Sul da Itália chamou a todo o mundo, que tentam desvendar a longevidade in- atenção de cientistas, que comum de seus habitantes. Para se ter uma ideia, cerca estudam a genética e o de 20% dos moradores da cidade — que fica 140 quilô- estilo de vida dos moradores metros ao sul de Nápoles e é banhada pelo mar Tirreno — têm mais de 100 anos. Um dos primeiros pesquisadores a se inte- ressar pelo local foi o cardiologista norte-americano Alan Maisel. Ele visitou a vila pela primeira vez em 2012, quando estava de férias, e ficou impressionado com a grande quanti- dade de pessoas idosas. Intrigado, o Dr. Maisel, professor de Medicina na Universidade da Califórnia, em San Diego, iniciou um estudo em parceria com colegas da Universidade La Sapienza, de Roma. Eles passaram seis meses na aldeia e fizeram descobertas sobre os hábitos de vida dos moradores, como o consumo de bastante carne de coelho (que eles mesmos criam) e de anchovas pes- cadas em suas praias. A alimentação é baseada na dieta mediterrânea, composta por frutas frescas, vegetais, peixe e azeite de oliva de fabricação própria. Outra curiosidade na culinária local: os residentes em Acciaroli usam alecrim em tudo que cozinham. Como algumas pesquisas têm mostrado que a especiaria pode auxiliar a função cerebral, os cientistas acreditam que a variedade cultivada na vila ita- liana pode ter concentrações especialmente altas de substân- cias benéficas. Com ar puro, temperatura amena e sol em abundância, a cidade é um ambiente agradável para passar bastante tempo ao ar livre, nadando, pescando, cuidando do jardim ou subindo as colinas íngremes que cercam a localidade. E muitos usam bicicletas para se locomover pelas ruas, inclusive aqueles com mais de 90 anos. A qualidade de vida dos moradores quase centenários é ele- vada: praticamente ninguém tem catarata ou sofreu fraturas ósseas; a saúde cardíaca deles é excelente; e a incidência de Alzheimer, baixa. Entre as 80 pessoas que participaram do estudo, 25 delas com mais de 100 anos, nenhuma apresentava sinais de declínio cognitivo. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 39

Entre os 80 Saúde da circulação preservada participantes da pesquisa, sendo Além de investigar o estilo de vida, os pesquisadores também 25 com mais de se debruçaram sobre a genética dos habitantes de Acciaroli. 100 anos, nenhum Foram feitos diferentes testes sanguíneos e o acompanha- apresentou mento das condições cardíaca e neurológica deles. O trabalho sinais de declínio — que reuniu 27 famílias com, pelo menos, um membro com cognitivo 90 anos ou mais — descobriu que os idosos têm baixas taxas de adrenomedulina, um hormônio peptídeo vasodilatador 40 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO que atua nos vasos sanguíneos. Segundo o Dr. Maisel, normalmente, conforme se envelhece, os níveis de adrenomedulina aumentam no organismo, o que afeta a microcirculação (circulação sanguínea capilar). Mas, nos anciãos da aldeia, as taxas encontradas são iguais às de pessoas de 20 a 30 anos. “Com muita quantidade desse hormônio, não há um bom fluxo sanguíneo para órgãos e mús- culos”, explica o professor, ressaltando que ainda não está clara a razão pela qual os moradores apresentam pouca adre- nomedulina no organismo. Após os primeiros achados, os cientistas decidiram estender o estudo para aprofundar a investigação, que não tem, por enquanto, data para terminar. Uma das teorias que ainda serão verificadas é a possível presença de algum gene capaz de ex- trair, de forma mais eficaz, as propriedades benéficas de pro- dutos consumidos regularmente, como o alecrim, por exemplo. Segundo o último censo da prefeitura local, Acciaroli possui 2 mil residentes, sendo 400 centenários. Já na região onde fica a vila, a população é de 60 mil pessoas, e o total de pes- soas com mais de 100 anos chega a 2 mil. A proporção é ex- cepcionalmente alta, o que confere ao lugar o título de capi- tal mundial da longevidade junto com Okinawa, ilha no sul do Japão. Na localidade asiática, para cada grupo de 100 mil habitantes, 50 são centenários.

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Upnromartoeoll,hóogouinotroo Comer em horários irregulares afeta o ritmo do organismo e eleva o risco de hipertensão, diabetes tipo 2 e obesidade Alimentar-se em horários regulares é tão importante para a saúde quanto o que se coloca no prato. A conclusão é de pesquisadores britânicos que revisaram 28 estudos publicados anteriormente sobre o impacto dos padrões alimentares no organismo. Os resultados foram publica- dos no periódico científico Proceedings of the Nutrition Society e mostraram que comer em horários irregulares está associa- do a maior risco de hipertensão, diabetes tipo 2 e obesidade. Principal autora do trabalho, a nutricionista e doutora em Ciência da Nutrição Gerda Pot, professora do Kings’ College of London, na Inglaterra, e da Vrije Universiteit, em Amsterdã, diz que os hábitos relativos à dieta podem alterar o ritmo circadiano (relógio biológico interno), afetando o funciona- mento de órgãos como fígado e intestino. “Nosso corpo é regido pelo ritmo circadiano, que se repete a cada 24 horas. E muitos processos metabólicos, como o apetite, a digestão e o metabolismo da gordura e da glucose, seguem 42 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Privação de sono e consumo de calorias esse ritmo. Por isso, desrespeitar O estudo mostrou ainda que pessoas nosso relógio interno traz danos à que tinham problemas para descan- saúde”, comenta a pesquisadora. sar bem à noite consumiram uma média de 385 calorias a mais no dia De acordo com a Dra. Gerda, entre seguinte, porém sem gastar a energia os distúrbios que podem surgir quan- extra. A análise incluiu a comparação do o estilo de vida não é compatível de dados de um grupo com restrição com o relógio biológico interno, es- parcial de sono e de outro que dor- tão a síndrome jet lag social (que mia oito horas por noite. Depois, foi ocorre principalmente quando se feita a medição das calorias ingeri- muda o padrão de sono nos fins de das por todos os voluntários nas 24 semana), desordens alimentares e horas seguintes. dificuldades para dormir. Os pesquisadores descobriram que Em seu artigo, a autora explica que os indivíduos privados de sono con- quem trabalha em turnos corre mais sumiam proporcionalmente mais risco de desenvolver câncer, doenças gordura e menos proteína em relação cardiovasculares, pressão alta, dia- àqueles que dormiam bem. “Se a pri- betes tipo 2 e obesidade. Já o jet lag vação de sono em longo prazo conti- social foi associado a maiores chan- nuar resultando em um aumento da ces de obesidade e síndrome meta- ingestão de calorias nessa magnitu- bólica. Noites mal dormidas têm liga- de, isso pode contribuir para o ganho ção com ganho de peso. de peso”, diz a Dra. Gerda. A nutricionista clínica funcional Aline Monteiro (CRN 2000.100.386-5) afirma que o achado reforça as evi- dências já existentes a respeito de horários regulares para a alimenta- ção. E lembra outro fator importante: “As refeições em família contribuem para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis em crianças e adolescentes, o que beneficiará o adulto no futuro”, comenta. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 43

orpCseoroqaebullcrmeeiessevaenotlsetecaeêbroerl: Não existe versão ruim dessa Ocorpo humano é uma máquina substância, reduzir o consumo com design perfeito. E nada dela não impede o risco de que ele produz faz mal ou está ataques cardíacos e usar ali por acidente. O colesterol, medicamentos para controlar certamente, não é exceção à seus níveis no sangue pode ser regra. Por isso, médicos e pesquisa- prejudicial à saúde dores de todo o mundo vêm, nos últimos anos, tentando derrubar o maior mito em relação à substância: não, não existe colesterol ruim. Uma vasta literatura científica mostra que o composto não causa doença cardíaca, e tentar reduzir o nível 44 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

dele com drogas, como as estatinas, é um desper- dício de tempo e de recursos, sem mencionar os malefícios para a saúde. O colesterol é, na verdade, fundamental para o Mais tempo de vida organismo, com diversas funções importantes, como auxiliar a manutenção da saúde do sistema Um estudo internacional recente, nervoso e a produção de hormônios esteroides feito por pesquisadores da Escócia, (incluindo progesterona, estrogênio e testoste- da Suécia e da Irlanda, mostrou que rona) e corticoides (adrenalina e cortisol). Além 92% das pessoas com nível elevado disso, o composto é crucial para o bom funciona- de colesterol viveram mais tempo. mento dos receptores de serotonina no cérebro; O trabalho é resultado da revisão para a digestão (os sais presentes na bile, fluido de pesquisas anteriores, envolven- necessário ao metabolismo das gorduras, são pro- do cerca de 70 mil participantes duzidos a partir de colesterol); e para a síntese de com mais de 60 anos. Os achados vitamina D, quando se está exposto ao sol. foram publicados no jornal BMJ, do Reino Unido. Mas qual a origem do colesterol no corpo? Cerca de 80% são produzidos pelo fígado, e o restante “O que encontramos foi que idosos vem do consumo de alimentos. As principais fon- com níveis elevados de LDL (lipopro- tes são ovos; leite e derivados, como manteiga e teína de baixa densidade), o assim queijo; carnes bovina e suína; pele e miúdos de chamado colesterol ruim, viveram aves, como fígado; e frutos do mar, como lagosta. REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 45

EUA deixam de recomendar ingestão menor O Dr. Rachid lembra que, em 2015, o governo dos Estados Unidos já havia liberado o consumo de alimentos ricos em colesterol. Anteriormente, as Diretrizes Dietéticas para os americanos reco- mendavam a ingestão máxima de 300 mg da gor- dura por dia. Mas a orientação foi retirada por falta de evidências que demonstrassem a relação entre a presença da substância na dieta e o coles- terol existente no sangue, de forma alinhada com o relatório da American Heart Association e Ame- rican College of Cardiology. mais tempo e tiveram menos doenças cardíacas”, Vale ressaltar que o documento, do início do sécu- disse o Dr. Malcolm Kendrick, um dos autores da lo passado, apontou os ovos como um dos princi- pesquisa, que há anos trabalha para desmitificar a pais inimigos do coração e deu início ao combate ligação entre colesterol alto e mortes por enfarte. ao consumo de alimentos ricos em colesterol. O médico, até, publicou um livro sobre o tema, The A determinação, adotada ao redor do mundo, se Great Cholesterol Con, em 2008. manteve intocável até dois anos atrás. Para o Dr. Ítalo Rachid (Cremesp 114612), diretor Entre os muitos trabalhos científicos que desmiti- científico do Grupo Longevidade Saudável, esse ficam a ideia de que é preciso baixar os níveis de estudo vem ratificar a ideia de que a classe médica colesterol, estão aqueles realizados pelo grupo precisa reavaliar as diretrizes para a prevenção de International Network of Cholesterol Skeptics problemas cardiovasculares. “Colesterol na dieta (THINCS, Rede Internacional de Céticos sobre não é a causa de doença cardíaca coronariana. Colesterol, em tradução livre). Formada em 2002 Pelo contrário, taxas altas da substância no corpo por médicos, acadêmicos e pesquisadores de di- são uma indicação clara de que o fígado está em ferentes países, a equipe diz, em seu site oficial boa saúde. Vários trabalhos já mostraram que in- (www.thincs.org), que seu objetivo é informar ao divíduos que sofrem ataques cardíacos têm níveis público em geral que essa teoria não só não tem base normais de colesterol”, justifica. científica como também existe um grande número de estudos que a contradizem diretamente. 46 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Estatinas causam sérios efeitos colaterais O colesterol é Em setembro do ano passado, o fevereiro de 2013. Ele explica que essencial para o THINCS lançou o livro Fat and Cho- a substância é essencial para a vida funcionamento das lesterol Don’t Cause Heart Attacks and e deixa clara a inexistência de rela- células do sistema Statins Are Not the Solution (Gordura ção entre altos níveis dela e doen- nervoso, para o e colesterol não causam ataques ças arteriais. Também refuta a ne- metabolismo cardíacos e estatinas não são a so- cessidade e eficiência do tratamen- das gorduras e lução, em tradução livre). A obra, to da hipercolesterolemia (excesso para a produção assinada por 21 autores, diz, entre de colesterol no sangue), sobretudo de vitamina D outras coisas, que a recomendação com estatinas, destacando seus de dietas com pouca gordura é, efeitos colaterais. provavelmente, a causa da epide- mia de obesidade e diabetes tipo 2. Estimativas mostram que, no Brasil, Também detalha os efeitos adver- cerca de 8 milhões de pessoas fa- sos das estatinas (classe de drogas zem uso dessa classe de medica- inibidoras da enzima responsável mentos. Nos Estados Unidos, 36 pela síntese do colesterol nas célu- milhões consomem o remédio; no las), que foram ignorados ou supri- Reino Unido, 5,2 milhões; e na Fran- midos em relatórios de ensaios pa- ça, 6 milhões. Globalmente, calcula- trocinados por companhias farma- -se que 1 bilhão de pacientes to- cêuticas, como o desenvolvimento mem estatinas. de aterosclerose coronária e insu- ficiência congestiva. Já o professor e pesquisador fran- cês Philippe Even, autor de vários artigos científicos sobre o tema, publicou o livro The Truth About Cholesterol (A verdade sobre o colesterol, em tradução livre) em REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 47

Amtúeltinplçaãaoos Problema, de ordem mundial, que afeta homens e mulhe- res de diferentes idades, o transtorno alimentar não tem uma só causa; ao contrário, trata-se de um mal de origem multifatorial, que envolve componentes biológicos, gené- ticos, psicológicos, socioculturais e familiares. Por isso, o tratamento deve ser multidisciplinar, realizado por profissio- nais como o nutricionista e o educador físico (que vão prepa- rar, respectivamente, o programa alimentar e o de exercícios), o médico (que atuará na reposição hormonal), o psicólogo e, quando preciso, o psiquiatra. O trabalho em equipe é funda- mental para amenizar os sintomas físicos e psíquicos que provocam sérios danos na qualidade de vida do paciente. 48 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO

Embora não haja uma estatística oficial do núme- ANOREXIA ro de casos de transtornos alimentares no Brasil, apenas no estado de São Paulo, estima-se que, a cada dois dias, uma pessoa seja internada por anorexia ou bulimia em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). E 77% das mulheres jovens têm propensão a desenvolver algum tipo de distúrbio relacionado à alimentação. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde. Os três tipos mais comuns de transtorno alimentar são ano- rexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar. Os dois primei- ros apresentam os mesmos aspectos centrais: o medo inten- so de engordar e a preocupação excessiva com a forma do corpo. Se, na anorexia, a obsessão por perder peso leva o paciente a adotar dietas extremamente restritivas, a bulimia é caracterizada pela ingestão descontrolada de grandes quan- tidades de alimentos, seguida de comportamentos “compen- satórios”, como vômitos forçados, exercícios extenuantes, abuso de laxantes e diuréticos e jejuns prolongados. Já na compulsão alimentar, o paciente não tem a preocupação com o peso, mas a sensação de não conseguir controlar o quanto come. Assim, ingere porções exageradas em um curto espaço de tempo. Um dos sinais da síndrome pode ser comer escondido, como explica a psicóloga clínica Maria das Graças de Souza (CRP-02/10139). “Esperar todos em casa irem dormir para atacar a geladeira, por exemplo, é uma tentativa de evitar possíveis críticas quan- to à qualidade e à quantidade do que se ingere e à veloci- dade com que se faz isso”, diz. Ainda segundo a psicóloga, comer muito rápido é outro sintoma que faz parte dos critérios para diagnóstico da compulsão alimentar. COMPULSÃO REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO 49

BULIMIA A Dra. Liliane Kijner Kern (Cremesp 59173), psiquiatra do Programa de Orientação e Aten- ção a Pacientes com Transtorno Alimentar (Pro- ata), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que 96% dos casos de anorexia surgem a partir de dietas. “Pode-se dizer que o quadro é patológico quando a própria pessoa perde a noção de que a magreza traz um com- prometimento para a vida dela”, comenta. Obsessão por saúde Outro distúrbio alimentar é a ortorexia nervosa, caracterizada pela ob- sessão por uma alimentação saudável, com a ingestão de alimentos “puros” apenas. A doença foi descrita pela primeira vez na década de 90, pelo médico americano Steven Bratman, mestre e doutor em Saúde Pública e autor do livro Health Food Junkies (Viciados em Comida Saudável, em tra- dução livre). Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anun- ciou que estima que 28% da população ocidental sofra do problema. De acordo com o Dr. Bratman, as pessoas com ortorexia nervosa costumam seguir dietas sem orientação de um nutricionista. Também deixam de consumir grupos alimentares como car- nes, laticínios, gorduras e carboidratos, sem fazer a substituição adequada. ORTOREXIA Desequilíbrio hormonal É importante lembrar que transtornos alimentares afetam o sistema endócrino, com sérias consequências para o organismo. Vários estudos mostram que mulheres com anorexia, por exemplo, apresentam diminui- ção dos níveis de estrogênio sérico, enquanto, nos homens, ocorre a redução dos níveis de testosterona. A amenorreia secundária (ausência de menstruação na idade reprodutiva) afeta cerca de 90% das adoles- centes com o distúrbio. Comer de forma restritiva continuamente também pode prejudicar a ti- reoide. A glândula passa a produzir menos hormônios, o que reduz a velo- cidade do metabolismo na tentativa de preservar calorias do corpo. 50 REVISTA LONGEVIDADE EM FOCO


Revista Longevidade em Foco 9

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