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Portfolio do Projeto de Extensão Museu 3D - Volume 2 - As Oficinas

Published by Carla Aldrin de Mello Campos, 2021-05-11 14:38:16

Description: Apresentamos o Portfolio do Projeto de Extensão universitária “Museu 3D” reunindo as produções deste Projeto de Extensão de 2008 a 2019. O volume 1 de cunho museológico e patrimonial, apresenta os modelos didáticos em 3D, criados seguindo a cultura “maker”, servem como instrumento de ensino e divulgação em Ciências sobre os órgãos e sistemas do corpo humano, está dirigido ao público em geral. O volume 2, de cunho educacional, é um “Guia para Oficinas Pedagógicas”, com vários temas e fundamentações teóricas, atividades, materiais didáticos criados e a metodologia para cada oficina; está mais voltado a profissionais da educação que busquem ideias que contribuam ao ensino das Ciências Biomédicas.

Keywords: Museu 3D,Modelos 3D,Oficinas,Divulgação Científica,Ensino em Ciências

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Portfolio do Projeto de Extensão Museu 3D Volume 2 - As Oficinas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Editores Carla Aldrin de Mello Campos Elenice Maria Correa-Gillieron Coordenação de análise de dados / Fotografias das oficinas / Revisão Profa. Dra. Elenice Maria Correa (Correa-Gillieron, E.M.) Coleta e análise de dados / Fotografia dos modelos 3D / Projeto Gráfico: Capa e Diagramação Carla Aldrin de Mello Campos (Campos, C.A.M.) Revisão Prof. Dr. Hatisaburo Masuda (Masuda, H.) E-book Contatos: [email protected] https://www.facebook.com/Museu3D/ https://www.museu3d.com/ https://www.youtube.com/channel/UCLEPLALWNHPLTuR7UuClFmw Campos, Carla Aldrin de Mello Portfolio do Projeto de Extensão Museu 3D “Portfolio do Museu 3D” [livro eletrônico] / Campos, C. A. M. -- Rio de Janeiro, 2021. Volume 2: As Oficinas / 208 páginas e-book 84520 Kb ISBN 978-65-00-21227-3 Orientadora: Dra. Elenice Maria Correa (Correa-Gillieron, E.M.) Produto de Mestrado Profissional composto por 2 volumes / Programa de Mestrado Profissional em Educação, Gestão e Difusão em Biociências / Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021. 1. Divulgação Científica. 2. Educação em Ciências. 3. Gestão em Ciências. 4. Museu 3D.

Professores, Colaboradores e Alunos Portfolio do Museu 3D Extensionistas Envolvidos nas Oficinas Amanda Ribeiro de Paula Eliziane Araújo Maria Clara Menezes da Silva 3 Amanda Ricardo de Oliveira Evelyn Tavares Machado Mariana Barros Corrêa Amanda M. Vieira Salomão Estefânia Pereira Cardoso Azevedo Martha Gonçalves Guedes Nascimento Ana Flávia Louzada Fabiane da Silva Junqueira Nádia Campos O. Miguel Anne Francis P. Pelleizo Gabriel Nunes da Costa Natali Cristina Batista Souza Áurea Ferreira Chagas Gabriela Souza de Oliveira Natália Moura da Silva Bárbara Coelho dos Santos Gilberto da Hora Nathalia Cristina D. Almeida Beatriz Gonçalves de Almeida Pinagé Giovanna Dettiman Carnevale Nathalia Pereira Bastos Beatriz Nascimento Gonçalves Hélio Dutra Nicolle Oliveira Tomé Bianca Franchini Isabel Araújo Pedro Henrique A. Clemente Bianca Fereira Gomes Isabela Peçanha Müller Raphael Aquino de Mello Bruna Freitas Gonçalves Jaqueline dos Santos Freitas Rafael da Silva Pizzo Cardoso Bruna Rodrigues de Castro Jorge Agostinho de Farias Junior Rafaela Ribeiro da Costa Camila S. Conceição João Marcos V. Mendes Rebecca Heinzle Sathler Camila Corrêa Roza Laeber Julia V. Claasen Renan Carlos da Silva Camila Vieira de Oliveira Cunha Julia Fidelis Rodolfo Oliveira da Silva Camille Alves C. R. do Prado, Juliana Schvenek Rolim Sarah Lamounier Fagundes Carla Aldrin de Mello Campos Jullie Anne Gomes Sales Sérgio Mascarenhas Morgado Caroline Nascimento Santana Lara Andrade Gonçalves Stephanie Santana Couto de Azevedo Caroline Roque Laryssa Antunes Alves Suzana Lima do Amaral Almeida Cássia Christina Campos de Souza Leonardo de Andrade Tainá Cristina de Castro Soeiro Celso Patricio S. Duarte Lívia Guedes Gomes Thais Caroline Vieira Malagolle Ciro Soares de Lima Loany Nepomuceno de Britto Thays Corrêa Veiga Cristiane Moraes de Souza Lohane S. Navega Thais Perse da Silva Daianne Novaes Cordeiro Luiz Gabriel V. M. de Barros Tiago Veiga David Oliveira Maria da Graça de Santana Estalla Victoria Mariana F. de Lima Diamantina Maria Fernandes de Carvalho Márcia Cury El-Cheikh Viviane Gomes da Silva Elenice M. Correa Márcia Glória Ribeiro Guimarães Volume 2 - As Oficinas



Agradecimentos Portfolio do Museu 3D “O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos” Michael Jordan Meus sinceros agradecimentos a todos que participaram do Projeto Museu 3D. Uma equipe é um 5 conjunto de pessoas com um objetivo em foco e, em todos os momentos de trabalho juntos, o Projeto Museu 3D foi este foco. Por isso ele cresceu e foi tão longe! Porém, não foram apenas momentos de trabalho, aconteceram momentos de vida: de amizade, de alegrias e festas, de trocas e aprendi- zados, de anseios e sonhos, ao longo do tempo juntos, e a gratidão por cada momento desses está além destas folhas impressas. Obrigada a todos! Profa Elenice Coordenadora do Projeto de Extensão Museu 3D Profa. Dra. Elenice Maria Correa (Correa-Gillieron, E.M.) Volume 2 - As Oficinas



Apresentação Portfolio do Museu 3D O Projeto Museu 3D teve seu início em 2008 e foi traçado visando a recuperação e a manutenção de um valioso acervo de modelos 7 tridimensionais antigos, usados nas décadas de 60 e 70 como recurso didático, em cursos das ciências médicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Portanto, nesta perspectiva o Projeto teve um caráter museológico e de proteção ao patrimônio cultural da UFRJ. Estes modelos didáticos pertenceram ao Depto. de Histologia e Embriologia da UFRJ e foram trazidos para a universidade de uma forma não claramente historiada. Ao longo dos anos, servindo à educação médica, este precioso acervo didático foi sendo deixado sem conservação e muitas peças foram desaparecendo. No entanto, no ano de 2008 este acervo ficou sob a guarda do Projeto Museu 3D, o qual adotou este nome justamente para va- lorizar o cunho museológico deste patrimonio cultural da UFRJ. A partir daí o Projeto passou então a conservar, modernizar e reutilizar o acervo. Em 2019, o antigo acervo, remodelado, fotografado e catalogado foi reunido na publicação “Inventário da Coleção de Modelos Didáticos do Instituto de Ciências Biomédicas” da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicado em 2019 (CORREA-GILLIERON, 2019). A partir de 2009 os objetivos do Museu 3D foram ampliados, e no mesmo ano de 2009 o Projeto se tornou partícipe da Extensão Universitária da UFRJ, e obteve homologação por unanimidade da Congregação do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), conforme Ata lavrada (Ata Congregação ICB, 2009). Ao longo dos anos de trabalho, o Projeto obteve todos os demais registros necessários e obrigatórios do MEC para seu funcionamento: O primeiro registro no SIGProj n° 155637.183.32017.26092013 e o RUA n° 230912.118832.01708042016. Com o nome “Projeto de Extensão Museu 3D” já de domínio público, seu objetivo de atuar como restaurador e curador do acervo continuou, mas, outros objetivos foram implantados, entre eles, o de criar novos modelos didáticos (os modelos 3D) com materiais mais durá- veis e com maior resistência a manipulação exploratória, além de serem criados dentro de bases científicas, educacionais e artísticas, voltadas para o uso em oficinas pedagógicas aplicáveis a diversos níveis de estudantes e ao público-alvo da sociedade em geral. Com esta iniciativa, a produção de modelos 3D seguiu adepta a cultura “maker”, em especial, ao que se entende por aprender a conhecer e aprender fazendo, colocando assim os estagiários do Projeto para realizar a construção manual de cada modelo, pautados ainda na sustentabilidade (com o uso de materiais recicláveis), no cooperativismo e compartilhamento de ideias e na originalidade. A criação de modelos 3D específicos na área de Ciências Biomédicas tornou-se o “carro-chefe” das ações do Museu 3D em muitos cam- pos (aulas, oficinas pedagógicas, eventos), atuando como metodologia didática complementar ao ensino relacionado às Ciências Biomédicas e Saúde coletiva e a Divulgação em Ciências. No período de 2008 a 2019, o Projeto Museu 3D esteve presente em todos os eventos como as Semanas Internacional e Nacional do Cérebro, Semanas Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), Congressos de Extensão Universitária da UFRJ, Campanhas em Saúde Pública (ex.: do Câncer de Mama e Câncer de Próstata, doação de Medula Óssea, Prevenção do Suicídio, entre outras) o que permitiu maior acesso a um público diversificado, aumentando assim, a experiência extensionista dos membros do Projeto. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D A aplicabilidade do Projeto se edificou na criação de oficinas pedagógicas, que trabalharam a modelagem tridimensional, associada a outros materiais didáticos e lúdicos criados pelo Projeto: jogos, vídeos, cartilhas, infográficos e histórias em quadrinhos; destinados ao público-alvo proposto (estudantes em geral, professores do ensino fundamental e médio, estudantes e acompanhantes em ambulatórios hospitalares, ONGs, alunos com condições especiais (baixa visão e ou cegueira), participantes em centros de saúde ou de assistência social. A atuação do Museu 3D junto à sociedade levou ao importante passo de formação de parcerias com Escolas Públicas (2012 a 2019), para onde levou oficinas pedagógicas em Ciências Biomédicas; com o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - IPPMG (2015 a 2019), onde foram realizadas oficinas de divulgação em Ciências; com o Instituto Nacional de Câncer - INCA (2017 e 2018), para o qual criou modelos didáticos (cirúrgicos) para aulas de pós-graduação; e com algumas ONG’s e/ou centros assistencialistas (2016 a 2019), para onde levou oficinas pedagógicas, cumprindo assim o seu papel extensionista sociocultural. Com a demanda relacionada às parcerias, aumentou a necessidade de organizar, catalogar e divulgar de forma apresentável, os produtos desenvolvidos pelo Projeto de Extensão Museu 3D, os quais, apresentamos reunidos e catalogados neste portfolio que, devido suas especificidades, está composto por dois volumes. O volume 1, de cunho museológico e patrimonial, abarca os Modelos 3D e suas especificações e se destina a ser um Catálogo dos Modelos 3D, como um instrumento de informação e divulgação, ou, na acepção de Koch (2012, p. 19), um catálogo como um instrumento de consulta. Assim, o volume 1 é como um catálogo de um museu, que será físico 8 e virtual, o que permitirá sua ampla utilização pelo público em geral. O volume 2 de cunho educacional, abriga o detalhamento das oficinas pedagógicas criadas, mostrando seus temas, as fundamentações teóricas para cada assunto, as atividades lúdicas criadas, a mecânica de desenvolvimento e aplicação de cada oficina, o que permite que elas sejam utilizadas como apoio em aulas e eventos de natureza educacional, como estão ou adaptadas. Esse volume 2, por sua riqueza de exemplos e ideias de atividades laborativas, criadas e desenvolvidas pelos extensionistas do Museu 3D, e com resultados positivos quando de suas aplicações, serve como material de consulta para professores ou outros profissionais do ensino, interessados em exemplos de temas e atividades para desenvolver oficinas pedagógicas como metodologia auxiliar, em aulas ou eventos públicos. Portanto, o volume 2 aqui apresen- tado, estará disponível no site oficial do Museu 3D, como um “Guia de Oficinas Pedagógicas”. Os volumes 1 e 2 do Portfólio do Museu 3D estão entre os produtos finais elaborados para apresentação ao Mestrado Profissional em Educação, Gestão e Difusão em Biociências, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da UFRJ. Sua construção evidencia um Pro- jeto do Design amplamente trabalhado, e que se apresenta aqui pelo caráter criativo projetual do Design Gráfico e, da mesma forma, através do caráter informacional, como Design da Informação. Os modelos 3D aqui reunidos se encontram em exposição e sob a guarda do Museu de Anatomia da UFRJ desde 2019, que é coorde- nado por Ludimila Ribeiro de Carvalho, para que possam ser visualizados em visitas públicas. Volume 2 - As Oficinas

Premiações recebidas Portfolio do Museu 3D O Projeto Museu 3D recebeu premiações e menções honrosas em eventos, os quais serviram de reconhecimento do trabalho realizado e 9 estímulo para a equipe ao longo dos anos, destacando-se os seguintes prêmios e menções honrosas: Ano 2015: Dois Prêmios recebidos da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB) – “Prêmio FUJB de extensão Universitária” concedidos no 12° Congresso de Extensão UFRJ e na 6a Semana de Integração Acadêmica, na área temática Educação. Trabalhos premiados: - Museu 3D Promovendo Saúde: O Grito e suas Consequências Morfofuncionais. - Museu 3D Promovendo Saúde: Alimentação Infantil e o Sobrepeso. Ano 2016: Menção honrosa concedida no 13° Congresso de Extensão UFRJ e 7a Semana de Integração Acadêmica, na área temática Educação. Trabalho selecionado: - Modelando o conhecimento dos estados Físicos da Matéria. Uma Proposta Educacional Interativa para Professores. Ano 2017: Duas menções honrosas concedidas no 14° Congresso de Extensão e na 8a Semana de Integração Acadêmica. “Sessão Integrada Pesquisa e Extensão”. Trabalhos selecionados: - Radionovela Flash MOB: Uma Conscientização sobre o Uso da Voz e a Dramaturgia. - Implante Coclear: Do silêncio para o som. Volume 2 - As Oficinas



Sumário Portfolio do Museu 3D Fundamentação Teórica das Oficinas .......................................................................................................................................... 13 11 As Oficinas no Contexto Socioeducacional..................................................................................................................................78 As Oficinas do Projeto de Extensão Museu 3D............................................................................................................................79 Oficina n°: 01 - Tema: Museu 3D Ligado no Planeta ...................................................................................................................81 Oficina n°: 02 - Tema: A Percepção de Nossas Origens .............................................................................................................87 Oficina n°: 03 - Tema: Sangue: Bombeando Conhecimento. Uma Visão Cardiovascular em 3D...............................................88 Oficina n°: 04 - Tema: A Violência nas Escolas – Ação na Educação......................................................................................... 89 Oficina n°: 05 - Tema: A Nossa Memória..................................................................................................................................... 91 Oficina n°: 06 - Tema: Gravidez na Adolescência e as Drogas .................................................................................................. 92 Oficina n°: 07 - Tema: Conhecendo o Coração. Estruturas e Funcionamento em uma Didática Diferenciada .........................94 Oficina n°: 08 - Tema: Formação de Face e Fenda Palatina .......................................................................................................95 Oficina n°: 09 - Tema: A Visão Normal e as Alterações da Visão ............................................................................................... 96 Oficina n°: 10 - Tema: Os Músculos Esqueléticos como Ferramenta Educacional em Terapia Ocupacional .......................... 98 Oficina n°: 11 - Tema: Divisão Celular – O Controle do Ciclo Celular e o Câncer ................................................................... 100 Oficina n°: 12 - Tema: Daltonismo .............................................................................................................................................. 101 Oficina n°: 13 - Tema: Raciocina Guri! Cérebro e Áreas Envolvidas na Atividade Lúdica ........................................................ 103 Oficina n°: 14 - Tema: Saúde Vocal – “Promovendo o Bem-estar e a Saúde Vocal dos Profissionais da Educação” ............ 104 Oficina n°: 15 - Tema: O que Isto me Lembra? .......................................................................................................................... 107 Oficina n°: 16 - Tema: Memória em Foco. Métodos e Ferramentas para Melhorar a Memória ............................................... 108 Oficina n°: 17 - Tema: Mural Karaokê – Memórias Musicais ..................................................................................................... 110 Oficina n°: 18 - Tema: Atenção Conte a História! ....................................................................................................................... 111 Oficina n°: 19 - Tema: O meu Esqueleto Ossificado ................................................................................................................. 112 Oficina n°: 20 - Tema: A Voz na Radionovela ............................................................................................................................ 114 Oficina n°: 21 - Tema 1: A Roda dos Nomes – Tema 2: Reconstruindo o Assunto ................................................................. 115 Oficina n°: 22 - Tema: Tarefa de Stroop ..................................................................................................................................... 116 Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D Oficina n°: 23 - Tema 1: Lembrar ou Esquecer? O Google Ajuda? – Tema 2: Onde eu Vivo? Processamento ..................... 118 Oficina n°: 24 - Tema: Entenda Sua Visão ................................................................................................................................ 119 Oficina n°: 25 - Tema: Entendendo a Consciência Musical ...................................................................................................... 121 Oficina n°: 26 - Tema: Implante Coclear, do Silêncio para o Som ............................................................................................ 123 Oficina n°: 27 - Tema: Amamentar Promove Saúde! ................................................................................................................ 124 Oficina n°: 28 - Tema: Setembro Amarelo – O Mês Pode Ser Amarelo, Seu Sorriso Não ...................................................... 125 Oficina n°: 29 - Tema: Jogando com o Cérebro. Uma Proposta Educacional Interativa para Estudantes do Ensino Médio ...... 127 Oficina n°: 30 - Tema: Novembro Azul/Câncer de Próstata: Um Desafio para a Saúde do Homem ...................................... 129 Oficina n°: 31 - Tema: O Envelhecimento e o Seu Cérebro ....................................................................................................... 130 Oficina n°: 32 - Tema: Brincando com Estímulos........................................................................................................................ 132 Oficina n°: 33 - Tema: A Importância da Audição e Fonação na Comunicação! ..................................................................... 133 Oficina n°: 34 - Tema: Como Manter Seu Cérebro Jovem! ....................................................................................................... 135 12 Fotos das Oficinas e Materiais Produzidos................................................................................................................................. 137 Referências Bibliográficas............................................................................................................................................................ 201 Volume 2 - As Oficinas

Fundamentação Teórica das Oficinas Correa-Gillieron, Elenice Maria Volume 2 - As Oficinas



Fundamentação Teórica das Oficinas Portfolio do Museu 3D 1. Objetivo 15 O objetivo desta introdução é dar fundamentação teórica aos diversos temas trabalhados nas oficinas realizadas pelo Projeto de Extensão Museu 3D. Considerando que todos os extensionistas participantes do projeto tinham como tarefas criar as oficinas, era do mesmo modo solicitado a eles que efetuassem um extenso embasamento teórico para que pudessem estar aptos, não só a responder questões relacionadas aos assuntos abordados, como também, aptos a criarem as melhores atividades lúdicas de acordo com os temas das oficinas que aplicariam. Deste modo, o que segue nesta descrição são dados elaborados para embasar cada oficina pedagógica criada. A aplicação de oficinas pedagógicas é uma atividade do Museu 3D para alcançar de forma eficiente a sociedade, levando conhecimento com aval científico a todos os cidadãos, ao mesmo tempo que aprimorava e investia no crescimento educacional e científico dos próprios extensionistas que aplicavam as oficinas. Ou seja, uma via de mão dupla, para um projeto de cunho universitário. As oficinas envolveram uma diversidade de temas e portanto, era fundamental que os extensionistas estivessem embasados nos assuntos sobre os quais discutiriam através das oficinas e deste modo, o projeto criou um “formulário para a criação de oficinas”, o qual devia ser preen- chido para cada assunto. Neste formulário, um dos tópicos obrigatórios se referia ao “embasamento teórico” e nele, os alunos extensionistas deveriam colocar a teoria sobre o assunto a ser discutido, e então, apresentar à coordenadora do projeto para revisão e complementação. Outros tópicos como tipo de atividades que a oficina ofereceria, questões sociocientíficas envolvidas, objetivos e justificativas para a oficina, entre outros também eram preenchidos neste formulário. Após a revisão, o tema da oficina proposta era liberado para confecção da oficina em si. Vários temas foram desenvolvidos para as oficinas, mas entre eles e cabe aqui ressaltar, grande enfoque foi dado aos temas que seriam apresentados na Semana Nacional do Cérebro. Este evento anual, era vinculado à Brain Awareness Week (USA), uma campanha global para divulgar e compartilhar as maravilhas do cérebro, e o impacto que a ciência do cérebro tem em nossas vidas cotidianas. Esta campanha global, desenvolvida e coordenada pela Dana Foundation – organização americana filantrópica e privada, que apoia a pesquisa através de doações, e fornece ao público informações científicas sobre o Sistema Nervoso em geral por meio de publicações e programas educacionais. O Projeto Museu 3D, desde o seu início, foi parceiro fixo nas campanhas lançadas pela Brain Awareness Week, portanto, tinha a responsabilidade de trabalhar nas campanhas. Neste volume 2 do portfólio do Museu 3D, a ideia de relatar as oficinas realizadas teve o propósito de informar o trabalho efetuado pelo Projeto Museu 3D, além de deixar um legado de atividades práticas bem-sucedidas para todos os professores e/ou moderadores que queiram um roteiro de oficinas teórico-práticas simples ou aulas práticas, que podem ser aplicadas em escolas, eventos de divulgação em Ciências e outros locais, onde se possa trabalhar em conjunto o conhecimento científico e a educação, a arte e o lúdico.Assim, as informações que seguem representam os tópicos teóricos, reescritos e organizados pela coordenadora do projeto e usados nas oficinas pedagógicas do Museu 3D como embasamento teórico para orientar objetivos, justificativas e atividades propostas na oficina criada. Mesmo que um tema em uma oficina, seja tratado nas escolas públicas em diferentes séries e de diferentes formas é preciso, ao fazer extensão universitária, que os extensionistas (alu- nos de graduação universitária) envolvidos na ação tenham embasamento suficiente para reforçar os ensinamentos passados ao público-alvo Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D (nas escolas, na mídia etc.), levando informação atualizada e conceitos, com a qualidade científica obtida na universidade; porém de forma simples, prazerosa e eficiente para que o público-alvo (que pode ser o aluno de diferentes idades, ver Quadros 1 e 2) compreenda estes ensi- namentos extraclasse e complemente o seu aprendizado, tornando-se indivíduos proativos na sociedade da qual participam. Por outro lado, os próprios extensionistas aprimoram seus conhecimentos. 16 Quadros 1 e 2: Divisão do Ensino por séries e idades. 2. Aspectos Gerais para os Temas das Oficinas. 2.1. Embasamento sobre o Sistema Nervoso. Os temas relacionados ao Sistema Nervoso podem ser trabalhados em oficinas oferecidas a diferentes públicos-alvo (alunos e professores do ensino fundamental e ensino médio, alunos que frequentam ambulatórios hospitalares, alunos em ONGs e alunos de graduação). Estes temas envolvem o conhecimento básico sobre o que é o Sistema Nervoso (SN), seus elementos constituintes e suas funções. Deste modo, segue-se aqui, as bases teóricas simplificadas usadas para o trabalho realizado pelos extensionistas do Projeto Museu 3D, e que, no entanto, são pas- síveis de atualizações a cada aplicação. O SN é uma parte do corpo humano capaz de captar, processar e emitir reações que ocorrem no nosso corpo em resposta ao meio ambiente que o cerca ou em relação ao que acontece no próprio corpo. O SN é responsável por toda a nossa sensibilidade, ou seja, por toda a percepção aguçada ou receptividade a respeito de algo e pela motricidade – o conjunto de funções nervosas e musculares que permite os movimentos voluntários ou automáticos do corpo –, bem como pelos aspectos relacionados ao nosso intelecto e emotividade. O SN controla e coordena as funções de todo o organismo, podendo desencadear respostas adequadas aos estímulos internos e externos a ele. Muitas funções do SN dependem da vontade, e outras ocorrem sem que dela tenhamos consciência, são involuntárias. Divide-se o SN em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP) (ESQUEMA 1). Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D Esquema 1: Divisões do SNC (em azul) e do SNP (em verde) (elaboração Museu 3D) 17 O encéfalo, que se encontram dentro da caixa craniana – crânio, e a medula espinal, que se encontra dentro da coluna vertebral, cons- tituem anatomicamente o SNC. Os elementos nervosos que estão fora destes envoltórios ósseos (crânio e coluna vertebral) representam o Sistema Nervoso periférico (SNP) e correspondem aos nervos, gânglios nervosos, e terminações nervosas. O encéfalo surge na vida embrionária de um tubo neural, que se desenvolve do folheto embrionário ectoderma, que se alonga e sofre curvaturas para se tornar esta parte do nosso Sistema Nervoso central. O que não se torna encéfalo, será no embrião, a medula espinal que surge da cauda do tubo neural alongado (Fig. 1). Fig. 1A: O tubo neural – Encéfalo e medula espinal. Prosencéfalo + Mesencéfalo + Rombencéfalo = encéfalo primitivo – Imagem livre. Disponível em: http://webs.uvigo.es/mmegias/2-organos-a/imagenes/nervioso-vesiculas.png Acesso: 22/06/2020. Fig. 1B: O tubo neural, vista lateral, sofrendo curvaturas para formar no embrião o encéfalo primitivo, na fase de três vesículas encefálicas P= prosencéfalo; M = mesencéfalo; R = rombencéfalo. Figura modificada de Embriologia Básica Keith L. Moore, T. V. N. Persaud, Mark G. Torchia, 8ª edição, 2013. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D No decorrer da formação do embrião, o encéfalo se forma de 3 vesículas encefálicas primitivas chamadas prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo (Figuras 1A e 1B) que evoluem para as vesículas encefálicas definitivas (em número de 5) que são; Telencéfalo, Diencéfalo, Mesencéfalo, Metencéfalo, Mielencéfalo, o qual é seguido pela parte caudal do tubo neural, a medula espinal. Destas 5 vesículas (Fig. 2) surgirão todas as regiões cerebrais do encéfalo. Cada região do encéfalo apresenta um tipo de cavidade interna, que são os ventrículos cerebrais, áreas preenchidas com o líquido cefalorraquidiano (LCR) (um fluído aquoso, cristalino inodoro). O LCR ou líquor, serve ao redor do SNC como um “colchão amortecedor” de impactos (proteção mecânica) capaz de reduzir o peso do encéfalo, por exemplo, em 95%. E mais, este fluido possui uma composição química que é fundamental ao funcionamento das células do tecido nervoso, que necessitam viver em um meio bastante equilibrado. Diversos fatores podem alterar a composição do meio onde estão as células do corpo (estresse, medicamentos, exercícios, alimentação, alterações hormonais etc.), mas no caso das células nervosas, este meio, precisa estar bastante estável para a sobrevivência destas células, assim, é preciso um equilíbrio constante entre o líquido intercelular (meio entre as células) e o LCR que está nos ventrículos e também envolve o encéfalo e medula espinal. Portanto, os ventrículos cerebrais, as cavidades do encéfalo, e o canal central da medula espinal (Fig. 2), que seria como a sua cavidade, são preenchidos pelo LCR. Os ventrículos são: ventrículos laterais (no telencéfalo), terceiro ventrículo (no diencéfalo), aqueduto do mesencéfalo, quarto ventrículo (no metencéfalo e no mielencéfalo) (MARTINEZ; CORREA; ALLODI, 2014). 18 Fig. 2: Cavidades do Sistema Nervoso Central – Imagem de domínio público. Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:EmbryonicBrain-Italiano.png/ Acesso: 27/04/2021. Nos mamíferos, o telencéfalo (com seus hemisférios cerebrais) (Fig. 3) cresce muito nos sentidos lateral e caudal (processo de Encefaliza- ção), e acaba por encobrir o diencéfalo e as demais regiões cerebrais, exceto o cerebelo. Quando nos referimos aos hemisférios cerebrais esta- mos falando do telencéfalo em si. Existem duas vesículas hemisféricas (ou hemisférios cerebrais) ligadas por uma porção intermediaria, formando os hemisférios cerebrais direito e esquerdo que conhecemos. A superfície do encéfalo é marcada por sulcos e giros (Fig. 3), as reentrâncias e as saliências, que são formadas durante o desenvolvimento e crescimento encefálico (durante a encefalização) para que a massa cerebral possa caber na caixa craniana. Um complexo programa genético está regulando os eventos de formação embrionária, e conforme o encéfalo se desenvolve, vai surgindo a enorme área enrugada formada pelos giros e sulcos, e a ela denominamos de córtex cerebral que corresponde a uma extensa camada de células nervosas. Volume 2 - As Oficinas

Fig. 3: Anatomia do cérebro humano [modificada]. – Imagem original: Miha de / Shutterstock.com. Portfolio do Museu 3D Disponível em: https://image.shutterstock.com/image-illustration/human-brain-anatomy-structure-illustration-600w-526850140.jpg ID da ilustração livre stock: 526850140. Acesso: 22/06/2020. 19 No SNC, além da estrutura óssea protetora do encéfalo (o crânio) e da medula espinal (a coluna vertebral), existem entre os ossos e estas estruturas nervosas, as meninges (dura-máter, aracnoide e pia-máter) que são camadas protetoras que envolvem o tecido nervoso, constituídas por tecido conjuntivo. A dura-máter é a meninge mais externa (mais próxima aos ossos do crânio e da coluna vertebral), a aracnoide é a intermediaria e a pia-máter é a mais próxima do encéfalo e da medula espinal (MARTINEZ; CORREA; ALLODI, 2014) (Fig. 4). Entre a meninge aracnoide e a pia-máter existe um espaço (subaracnóideo) que é preenchido pelo líquor. Fig. 4: Meninges. – Imagem de domínio público. Wikimedia Commons [modificada]. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d0/Meninges-fr.png/640px-Meninges-fr.png Acesso: 22/06/2020. O termo encéfalo pode ser designado como todas as partes nervosas dentro do crânio e o que chamamos de cérebro, é a parte mais desenvolvida que observamos externamente com giros e sulcos (Figs. 3 e 4). Nos humanos, o cérebro pesa aproximadamente 1,3 kg, peso este aliviado pela presença do LCR no espaço subaracnóideo. O cérebro pode ser dividido em lobos cerebrais que são praticamente definidos pelos ossos do crânio: frontal, temporal, parietal e occipital. No córtex cerebral de cada lobo cerebral (Fig. 5) se encontram várias regiões importantes do cérebro, relacionadas com diversas funções e comportamentos do ser humano. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D As funções e comportamentos que apresentamos podem ser desencadeadas por diversos estímulos (formas de energia) que são transformados em impulsos nervosos (potenciais de ação) e chegam ao córtex cerebral. Por exemplo, no lobo frontal, na parte mais anterior (Fig. 5) encontramos áreas responsáveis pela elaboração do pensamento, pelo planejamento de ações, pelo raciocínio, por uma programação de necessidades individuais, por parte das reações emocionais, pela fala e na cognição, entre outros comportamentos relacionados. Fig. 5: Lóbulos do cérebro humano. Imagem original retirada de PNGWING – Licença livre de uso não comercial [modificada]. Disponível em: https://www.pngwing.com/pt/free-png-phtvu/ Acesso: 22/06/2020. O lobo parietal (localizado logo atrás do frontal) possui áreas envolvidas com atenção, sensações de dor, tato, gustação, temperatura, pres- são e equilíbrio. A estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes, produzem sensações gustativas. Este lobo também está relacionado com a lógica matemática. O lobo temporal (nas porções laterais do cérebro) tem áreas relacionadas basicamente com o sentido de 20 audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som, e com o equilíbrio postural. Esta área também exibe algum papel no processamento de um tipo de memória e emoção. O lobo occipital (estaria após uma linha imaginária do final do lobo temporal e do parietal está envolvido no processamento) da informação visual e reconhecimento de objetos. Podemos ainda citar o lobo límbico (nas porções internas e central dos hemisférios cerebrais, ao redor do corpo caloso (um conjunto de fibras nervosas que liga os dois lados do cérebro), um lobo que está envolvido com aspectos dos comportamentos emocional e sexual, e em parte com o processamento da memória. Existe um lobo (lobo da ínsula) praticamente escondido, onde está a área cha- mada ínsula, e que não faz parte de nenhum dos lobos citados. Ele se localiza no interior do sulco lateral, incrustado entre os lobos frontal e temporal de cada hemisfério. Esta área triangular também apresenta pequenos giros, apresentando, portanto, um córtex insular (Fig. 6).Vários estudos permitiram comprovar estreita correlação entre a função sensitivo motora do aparelho digestivo e a função da ínsula. O registro da atividade motora do estô- mago durante a estimulação elétrica de áreas corticais da ínsula provou que, no homem alerta, essas áreas exercem controle sobre a motilidade e sobre o tônus do estômago. A ínsula também estaria envolvida com o paladar. Mas suas principais funções envol- vem coordenar emoções e atividades ligadas ao sistema límbico, e ser responsável por transmitir sinais de alerta, relacionados às experiências dolorosas, e ainda, informar outras áreas para formação de memórias e atenção seletiva. No entanto, muito ainda está sendo estudado sobre esta região (CHADDAD NETO et al, 2006). Fig. 6: Lobo da ínsula – Imagem original retirada da internet [modificada]. Pearson Education, Inc, cap. 8. The nervous system. Disponível em: https://www.picuki.com/media/2248755646891002823 Acesso: 22/06/2020. Volume 2 - As Oficinas

Cortes anatômicos de um encéfalo ou da região correspondente ao cérebro, mostram que o córtex pode ter uma espessura que Portfolio do Museu 3D varia de 1 a 4 mm. O córtex cerebral é quase todo constituído pelo neocórtex (o córtex mais recente no desenvolvimento do cérebro) (Fig. 7) que coordena o processamento e o armazenamento de informações captadas pelos órgãos do sentido, além de coordenar os movimentos. 21 No córtex, estão concentrados na substância cinzenta (externa), os corpos celulares da maior parte de nossos bilhões de neurônios. E na substância branca (interna) estão a maior parte das fibras nervosas (os axônios dos neurônios) que levam diferentes informações para diferentes áreas cerebrais. O tecido nervoso presente no encéfalo e na medula espinal, é um tecido constituído por células nervosas (neurônios e células gliais) e capilares sanguíneos, envolvidos em uma matriz extracelular amorfa. Neurônios e células gliais (astrócitos, oligodendrócitos e micróglia) são as principais células nervosas que constituem as paredes do encéfalo (antigo neuroepitélio, a parede do tubo neural). Além de corpos celulares elas possuem prolongamentos celulares. No caso de neurônios temos os axônios e dendritos, prolongamentos da célula especialmente preparados para transferir informações de neurônios a neurônios, músculos e glândulas nos locais chamados de sinapses. Sinapses são locais do Sistema Nervoso onde o impulso (estímulo) passa de um neurô- nio ao outro, e ela acontecem em todo o Sistema Nervoso. Fig. 7: Neocórtex (seta indicativa). – Imagem livre, retirada de Atlas do Corpo Humano (CENTRALX, 2017) [modificada]. Disponível em: http://www.atlasdocorpohumano.com/p/imagem/sistema-nervoso/sistema-nervoso-central/ encefalo/prosencefalo/telencefalo/cerebro/cortex-cerebral/neocortex/ Acesso: 22/06/2020. O Sistema Nervoso periférico (SNP) é formado principalmente por nervos (os axônios dos neurônios, as fibras nervosas) encarrega- dos de fazer as ligações entre o Sistema Nervoso central e o corpo. De acordo com sua posição, os nervos que formam o SNP são do tipo: cranianos e espinais (Esquema 1). São ainda componentes do SNP os gânglios e as terminações nervosas. Um gânglio é um conjunto de corpos de neurônios que se encontram ao longo de muitos nervos. Em alguma parte de sua trajetória, fibras nervosas chegam aos gânglios (fibras pré-ganglionares) fazem sinapses com suas células, as quais enviam informações através de fibras nervosas pós-ganglionares para várias regiões do corpo. Durante o envelhecimento natural, o cérebro sofre uma considerável eliminação de neurônios e algumas funções se modificam e podem comprometer a realização precisa de tarefas motoras. No entanto, pesquisas mostraram que novos neurônios nascem na nossa vida adulta em nosso hipocampo, e isto se deve a secreção do fator neurotrófico cerebral (proteína específica sintetizada por neurônios, ex.: neurotrofinas) um fator que inclusive é estimulado pela leitura e por exercícios, por exemplo. Este novo nascimento de neurônios influencia positivamente a memória e um estado de ânimo mais positivo. Portanto, o envelhecimento cerebral pode ser minimizado com a estimulação constante do cérebro. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D 2.2. Sistemas Sensoriais e Sistema Nervoso Autônomo (SNA) Os sistemas sensoriais do corpo humano abastecem o Sistema Nervoso central com uma grande quantidade de informações. Cada sistema sensorial tem suas próprias características, fisiológicas, morfológicas, celulares e moleculares. O nosso sistema sensorial é um conjunto de órgãos com receptores sensoriais (como pequenos ligantes proteicos) em suas células. Através destes receptores, o indivíduo capta estímulos e informações do ambiente que o cerca, além de informações do seu próprio corpo. Deste modo temos receptores que recebem estímulos da superfície corporal (são receptores externo) e receptores envolvidos com a captação de estímulos que vem do próprio corpo (são os receptores internos). Quando pensamos em receptores sensoriais devemos considerar grupos principais de tecidos relacionados a estes receptores. Assim, os vasos sanguíneos, os músculos, as articulações, a pele são alguns exemplos de tecidos que possuem receptores, os quais também são encontrados nos órgãos. Se nos referimos a grandes órgãos sensoriais humanos que nos conectam ao mundo, devemos pensar nos nossos sentidos principais que envolvem nossos sistemas sensoriais: o sistema visual (onde os olhos são importantes receptores de ondas luminosas), o sistema auditivo e vestibular (onde as orelhas – vulgarmente “ouvidos” são importantes receptores para ondas sonoras e mudanças de posição da cabeça), o sistema gustatório (onde a língua com suas áreas receptoras, as papilas linguais, são importantes receptores do paladar) e o sistema olfatório (onde o nariz é importante receptor de estímulos odoríferos). 22 A percepção do funcionamento do nosso próprio corpo e do mundo que nos cerca, depende da atividade integrada entre nossos siste- mas sensoriais e o SN. Nesta interação são fundamentais os papéis dos receptores sensoriais, que se localizam, por exemplo, nas células da retina (no olho), nas células do epitélio olfativo (no nariz) etc. A linguagem usada em geral pelo sistema sensorial é a transdução (transforma- ção) sensorial, onde a energia que traz a informação aos receptores (quer seja do meio interno quanto do externo) é transformada em outro tipo de energia capaz de ser usada pelo SN. A energia ativa canais na membrana plasmática lipoproteica dos diversos receptores sensoriais. Os sistemas sensoriais são responsáveis por receber, reconhecer, integrar e organizar o que recebe como estímulo, para dar uma resposta adequada. Além dos sentidos mais do que especiais (o tátil, o auditivo, o visual, o gustativo, o olfativo, o vestibular (relacionado ao equilíbrio) temos receptores sensoriais espalhados por todo o corpo, e a este grande conjunto podemos chamar de sistema sensorial somá- tico, responsável pelas sensações ditas somáticas. Sua importante função é informar o SN central sobre a sensibilidade geral (somestesia). De forma abrangente é possível falar destes receptores considerando a relação que possuem com a percepção do próprio indivíduo (seu estado subjetivo) ou com a percepção do ambiente externo. 2.2.1. Percepção e Sensação – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 02 - Tema: A Percepção de Nossas Origens. Oficina n°: 12 - Tema: Daltonismo. Oficina n°: 13 - Tema: Raciocina Guri! Cérebro e Áreas Envolvidas na Atividade Lúdica. Oficina n°: 17 - Tema: Mural Karaokê – Memórias Musicais. Oficina n°: 25 - Tema: Entendendo a Consciência Musical. Oficina n°: 32 - Tema: Brincando com Estímulos. Oficina n°: 28 - Tema: Setembro Amarelo – O Mês Pode Ser Amarelo, Seu Sorriso Não. Volume 2 - As Oficinas

O que chamamos de percepção pode ser interpretada como o julgamento que fazemos com base nas informações das sensações que perce- Portfolio do Museu 3D bemos, como se fosse a interpretação por parte do indivíduo, do que foi captado pelos sentidos. A percepção do mundo externo está voltada para as sensações que estímulos provocam em nosso corpo. O que chamamos de sensação é uma resposta fisiológica de um receptor sen- 23 sorial a estímulos externos, ou seja, é uma resposta fisiológica do organismo. Todas as posições que nossos membros assumem, a posição do próprio corpo, as informações que nossos músculos esqueléticos e articulações passam quando se movimentam ou se posicionam, tem relação com o que chamamos de propriocepção ou cinestesia – termo usado para descrever a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo –, a sua orientação e posição, além da força exercida pelos músculos, e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, porém, sem utilizar a visão. Estas informações são enviadas ao Sistema Nervoso central. As sensações somáticas envolvem funções que estão associadas as áreas ditas primárias do neocórtex humano. Seu cérebro está constantemente enviando-lhe “sinais” de mal-estar ou bem-estar, quando se trata de suas emoções, seus pensamen- tos, sua capacidade criativa ou de crescimento em geral. Já pode ter acontecido de você ficar de mau humor porque não gosta do seu trabalho, ou, você se sentir relaxado e feliz simplesmente porque está lendo um bom livro. À medida que você vai desenvolvendo capacidades para “escutar” e aprender a identificar os sinais que seu cérebro lhe envia, mais êxito pessoal terá. Na medida em que suas decisões e suas ações estejam em sintonia com seus neurônios, mais simples serão suas reações em sua vida. 2.2.2. Envelhecimento do Cérebro –Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 18 - Tema: Atenção Conte a História! Oficina n°: 31 - Tema: O Envelhecimento e o Seu Cérebro. Oficina n°: 34 - Tema: Como Manter Seu Cérebro Jovem! O envelhecimento cerebral causa alterações nas habilidades cerebrais, que podem afetam a percepção, as sensações, o raciocínio, a atenção, a imaginação, a memória, o pensamento e linguagem, obviamente, trazendo dificuldades para o comportamento, ou seja, em síntese, dificuldades na maneira de agir, de se comportar. O que chamamos de praxia, está envolvida no comportamento, pois se refere a uma função responsável pela realização de gestos ordenados e funcionais. Pode representar a ação de participar ativamente numa atividade de ordem prá- tica, onde ocorre a execução dos atos motores intencionados, portanto, dos atos voluntários coordenados e orientados conforme uma intenção específica. Apraxia é o contrário de praxia. Uma função bastante usada nas oficinas de extensão universitária. A atenção é muito importante para a memória, que pode ser uma memória visual ou auditiva, entre outras. Quando você visita um lugar está usando a atenção visual para guardá-lo na memória. Quando sente um odor pode evocar uma memória de sua vida. Este processo de atenção e memória pode ser comprometido pelo envelhecimento. Por exemplo, danos na visão, devido ao envelhecimento, pode comprometer a atenção e a memória do fato visto. O mesmo acontece com a audição, a qual pode diminuir com o envelhecimento e assim dar respostas alteradas em relação a sons conhecidos. A atenção auditiva é importante para guardar os sons ouvidos, e qualquer alterações na atenção a sons, pode comprometer a memória auditiva. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D 2.2.3. Atenção e Cognição – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 01 - Tema: Museu 3D Ligado no Planeta. Oficina n°: 13 - Tema: Raciocina Guri! Cérebro e Áreas Envolvidas na Atividade Lúdica. Oficina n°: 18 - Tema: Atenção Conte a História! Oficina n°: 21 - Tema 1: A Roda dos Nomes – Tema 2: Reconstruindo o Assunto. Oficina n°: 22 - Tema: Tarefa de Stroop. Oficina n°: 31 - Tema: O Envelhecimento e o Seu Cérebro. Oficina n°: 32 - Tema: Brincando com Estímulos. Várias oficinas aplicadas pelo Projeto Museu 3D envolveram a função atenção, a memória e a concentração. Isto necessitou de um bom preparo dos alunos extensionistas no que se refere aos conceitos, e ao conhecimento das áreas cerebrais relacionadas a estas funções. A atenção é uma importante função cerebral que conceitualmente significa a concentração da atividade mental sobre um objeto determi- nado. Há diversos estudos em áreas cerebrais com imagens de ressonância magnética do cérebro, buscando identificar marcadores biológicos 24 (que podem ser medidos) em disfunções neurológicas e capazes de prejudicar a atenção (ex.: estudos no transtorno do déficit de atenção com hiperatividade - TDAH). Dependemos da atenção para inúmeras funções importantes e até mesma para a sobrevivência. A atenção pode ser voluntária (ou explícita) ou involuntária (ou implícita). Andar na rua e prestar atenção em um buraco é uma forma de atenção voluntária, é proposital. Já quando alguém chama o nosso nome na rua e nós viramos para essa pessoa, é algo da nossa atenção involuntária. No entanto, não apenas as coisas externas a nós (as coisas que vemos ou ouvimos) são alvo de nossa atenção. Há uma grande estimulação da atenção para muitos de nossos pensamentos, ideias, lembranças, alguns cálculos mentais, e imaginações. A atenção é uma função que pode ser mantida durante um estímulo e por um certo período de tempo, e a isto chamamos de atenção sustentada. Um exemplo disto é prestar atenção em um concerto musical. Mas, pode também ser uma atenção alterada entre dois estímulos, como ninar um bebê enquanto mexe na panela da cozinha, ou como ler algo no celular enquanto vê um filme. Isto é um pouco diferente da atenção dividida, pois neste caso há dois estímulos e duas ações ao mesmo tempo sendo executadas. Porém, como recebemos a cada minuto muitos estímulos é preciso fazer uso da atenção seletiva, neste caso, é preciso selecionar algo importante enquanto se eliminam outros estímulos. Isto é o que acontece quando atravessamos uma rua e olhamos o carro que vamos cruzar a frente, ou mesmo quando um aluno, precisa ter atenção às matérias lecionadas pelo professor, ignorando estímulos visuais, sonoros ou outros. A determinação das áreas cerebrais relacionadas com a atenção depende bastante do tipo de atenção que estamos tratando. Assim, simplificadamente, podemos citar: áreas da porção superior do tronco encefálico, tálamo, áreas na região frontal, áreas no córtex límbico e áreas da ponte (locus ceruleus, por exemplo) e ainda os colículos superiores, o hipocampo e a ínsula. Mas, para as oficinas com crianças não será necessário estender para estudos mais aprofundados, citando apenas as áreas mais simples. Para o bom funcionamento da atenção são importantes alguns fatores como; A) Fator fisiológico, que depende das condições físicas e neuro- lógicas da pessoa, e ainda, do contexto no qual a pessoa está inserida, como um ambiente calmo ou ruidoso e complexo; B) A concentração, Volume 2 - As Oficinas

seria outro fator que faria a atenção ser melhor focada na fonte de estímulo. O grau de concentração da atenção em algo não depende apenas Portfolio do Museu 3D do interesse, mas também do estado de ânimo da pessoa e do conjunto dos processos e condições psíquicas do indivíduo. C) A fadiga e alguns estados patológicos interferem na atenção, bem como os estados decorrentes do uso de álcool e/ou drogas, os quais muitas vezes a inviabilizam 25 ou alteram a atenção; D) A motivação, é outro fator importante que depende da forma como o estímulo se apresenta e como e qual interesse ele desperta no indivíduo; E) Os transtornos de humor são fatores que dificultam a concentração e a atenção. Em quadros maníacos há alterações graves da atenção normal. Nas condições depressiva e na esquizofrenia, o nível de atenção diminui consideravelmente, levando a uma diminuição acentuada e global da atenção em todos os sentidos (o que se chama de hipoprosexia). Na esquizofrenia, constata-se dificuldade de filtrar estímulos considerados irrelevantes, assim há forte tendências a desviar a atenção devido a estímulos desprezíveis (distraibilidade). Nos casos de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) nota-se uma vigilância excessiva e desre- gulada. Já no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), observa-se dificuldade de prestar atenção em estímulos, externos e internos, prejudicando a organização e realização de tarefas, e observa-se muita impulsividade. Nas oficinas é muito importante criar palestras e atividades que considerem todos os fatores acima citados, buscando atendê-los do melhor modo. Cognição é o conjunto de processos psicológicos que atua na aquisição do conhecimento. São processos como a percepção, a atenção, a associação, a memória, o raciocínio, a imaginação, o pensamento e a linguagem, para que posteriormente seja possível um aprendizado. De uma maneira mais simples, seria dizer que cognição é a forma como o nosso cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda infor- mação captada através dos nossos sentidos. Já a capacidade cognitiva é a aptidão que cada um tem de interpretar os estímulos do ambiente em volta, e também a de interpretar a si mesmo para tomar as decisões acerca do próprio comportamento e aprendizado. O Teste de Stroop de Cores e Palavras (TSCP) é um instrumento eficiente na prática neuropsicológica como medida de atenção seletiva (DUNCAN, 2006). O Teste de Stroop foi publicado em 1935 por John Ridley Stroop, um psicólogo americano. É constituído por três tarefas: leitura de palavras, nomeação de cores e identificação da cor em que está escrita cada palavra, sem ter em conta o significado da mesma. Por exemplo, a palavra azul pode ser impressa em vermelho e você deve dizer a cor vermelho, em vez da palavra azul. O efeito Stroop é um fenômeno que ocorre quando você deve dizer a cor de uma palavra, mas não o nome da palavra escrita. Este efeito está relacionado à atenção seletiva, que é a capa- cidade de responder a certos estímulos ambientais, enquanto ignora os outros. O que se chamou de efeito Stroop seria o grau de dificuldade que as pessoas têm em nomear a cor da tinta em que a palavra está impressa, em vez da própria palavra. Nas palavras de Stroop, há “interferência” entre a cor da tinta e o significado da palavra. Essa interferência ocorre, não importa o quanto você tente, mesmo que a pessoa pense mas não expresse esta interferência, o que significa que esta interferência é incontrolável com o melhor esforço consciente. Isso implica que, pelo menos parte do nosso processamento de informações ocorre automaticamente. Existem algumas teorias que buscam explicar o teste de Stroop. Na Teoria da Velocidade de Processamento, o cérebro lê palavras mais rápido do que reconhece cores, e isto geraria um atraso para o cérebro reconhecer a cor. Na Teoria de Atenção Seletiva, existe a possibilidade do cérebro precisar de mais atenção para reconhecer a cor do que ler uma palavra, e assim atrasaria um pouco para reco- nhecer a cor. Já na Teoria da Automação ou Hipótese de Automaticidade, o cérebro poderia entender automaticamente o significado da palavra, devido a um longo hábito de leitura, já isto não seria possível para cores, ou seja, o reconhecimento da cor não seria automático. No caso da cor, para o cérebro nomear uma cor, em vez do significado da palavra, ele teria que anular o impulso inicial de ler a palavra automa- ticamente, e só assim poderia reconhecer e falar a cor. Outra teoria seria a Teoria do Processamento Distribuído em Paralelo, onde conforme o Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D cérebro analisa as informações ele constrói caminhos específicos para cada tarefa, e alguns caminhos (ex.: a leitura) podem ser mais fortes do que outros (ex. nomear cores), assim se esses dois caminhos são ativados simultaneamente (como no teste de Stroop) poderia haver interferên- cia entre a leitura e a nomeação de cores. Estudos realizados com estes estímulos comprovaram que dificuldades ao nível da leitura das palavras podem se dever a eventuais danos no hemisfério esquerdo do cérebro, enquanto que, o hemisfério direito está mais relacionado com a identificação de cores. Durante um teste de Stroop, duas partes do lobo frontal do cérebro – o córtex cingulado anterior e o córtex pré-frontal dorsolateral – entram em cena. Ambos estão ligados à captura de erros e à resolução de conflitos, e o córtex pré-frontal dorsolateral também está envolvido com a memória e a organização, entre outras coisas. A atividade teste de Stroop é muito boa para oficinas com alunos adolescente e mesmo os adultos que os acompanham, sendo de grande interesse nas oficinas usadas. 2.2.4. Memória – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 04 - Tema: A Violência nas Escolas – Ação na Educação. Oficina n°: 05 - Tema: A Nossa Memória. 26 Oficina n°: 13 - Tema: Raciocina Guri! Cérebro e Áreas Envolvidas na Atividade Lúdica. Oficina n°: 15 - Tema: O que Isto me Lembra? Oficina n°: 16 - Tema: Memória em Foco. Métodos e Ferramentas para Melhorar a Memória. Oficina n°: 18 - Tema: Atenção Conte a História! Oficina n°: 21 - Tema 1: A Roda dos Nomes – Tema 2: Reconstruindo o Assunto. Oficina n°: 22 - Tema: Tarefa de Stroop. Oficina n°: 23 - Tema 1: Lembrar ou Esquecer? O Google Ajuda? – Tema 2: Onde eu Vivo? Processamento. Oficina n°: 25 - Tema: Entendendo a Consciência Musical. Oficina n°: 29 - Tema: Jogando com o Cérebro. Uma Proposta Educacional Interativa para Estudantes do Ensino Médio Oficina n°: 31 - Tema: O Envelhecimento e o Seu Cérebro. Oficina n°: 32 - Tema: Brincando com Estímulos. O conceito mais simples de memória a considera como a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar (evocar) informações disponí- veis internamente no cérebro (memória biológica) e obtidas através de fatos, experiências ouvidas, vistas ou vividas. Portanto, fatos, experiên- cias ouvidas ou vividas são os construtores das memórias. Podemos dividir o processo de armazenamento da memória, em três subprocessos: aquisição, consolidação e evocação. A aquisição, diz respeito ao momento em que a informação chega até nosso Sistema Nervoso central através das estruturas sensoriais, as quais transportam a informação recebida até o cérebro. O processo de consolidação, é posterior e diz respeito ao momento de armazenar a informação. Esse armazenamento – que representa a memória – pode ocorrer das seguintes maneiras: (a) através de alterações bioquímicas ou (b) através de fenômenos eletrofisiológicos. Volume 2 - As Oficinas

No caso de fenômenos eletrofisiológicos, determinados conjuntos de neurônios continuam disparando durante alguns segundos, enquanto Portfolio do Museu 3D tentamos memorizar uma situação nova, retendo temporariamente a informação, somente durante o tempo em que a mesma é necessária, extinguindo-a logo em seguida (ex.: a memória operacional usa este fenômeno para, por exemplo, guardar um número até que ele seja anota- 27 do). Neste caso, não haverá um armazenamento a nível bioquímico. Quando o armazenamento envolve os fenômenos bioquímicos (as vezes chamados de traços de memória), estes fenômenos geram dois tipos de alterações: as morfológicas ou estruturais, e as alterações funcionais. Os dois tipos acontecem na circuitaria neural do cérebro. Por alterações morfológicas podemos pensar na formação de novas áreas no neurô- nio (como por exemplo as espículas dendríticas) que permitem que esta célula receba mais informações de outros neurônios através de novas sinapses feitas nestas espiculas. Mas, também podemos pensar em alterações morfológicas que criam novos circuitos que anteriormente não existiam, com a formação de novas sinapses. Já quando se fala em alterações funcionais, devemos associar a formação de novos canais iônicos na membrana celular ou novas proteínas sinalizadoras, que otimizam a transmissão sináptica (PURVES et al, 2010). Qualquer que seja a alteração ocorrida, o substrato destas sempre será a síntese proteica nos neurônios envolvidos. A informação, se repetidas várias vezes, de alguma maneira ainda pouco conhecida, produz fatores que atuam no DNA do neurônio, que comanda a síntese de novas proteínas, por exemplo, proteínas dos canais iônicos ou das espículas dendríticas ou dos axônios (PURVES et al, 2010). Portanto, o armazenamento é possível graças à neuroplasticidade, a capacidade que o cérebro tem de se transformar diante de estímulos diversos. Assim, quando figurativamente falamos que as informações ficam guardadas em “gavetinhas” no cérebro, falamos na verdade em informações que ficam armazenadas em várias regiões do cérebro, em seus neurônios e redes complexas de neurônios, os quais sofreram as alterações ditas acima (KANDEL et al, 2013). Entender o que é memória e como e onde ela se forma, é importante para a atividade educativa, quer seja para os alunos como para os professores. A memória pode ser vista como um sistema múltiplo, formado por subsistemas de codificação, armazenamento e recuperação (evocação) de informações. Ela pode se dividir em 3 tipos: memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo. A memória sensorial é a memória envolvida com a retenção de informações percebidas pelos nossos 5 sentidos, como os estímulos visuais, auditivos, táteis, olfativos e gustativos. No caso de informações sensoriais, estas são armazenadas na memória sensorial apenas o tempo suficiente para então serem transferidas para a memória de curto prazo. A memória sensorial se subdivide em: icônica, ecoica e háptica. A memória sensorial icônica é uma breve (milissegundos) memória visual. Por ex.: usamos esta memória quando acordamos durante a noite e acendemos uma luz. Ao voltar a apagar a luz, alguns traços visuais continuam em nossa visão, essa é a nossa memória icônica funcionando. A ecoica está relacionada à memória auditiva e tem efeitos de retenção superiores a memória visual (2 a 3 segundos) porém, menor capacidade de guardar processos sequenciais. Os estímulos auditivos chegam através do tálamo, até a porção dorsal do lobo temporal do cére- bro onde está o córtex auditivo primário, e lá os sons são memorizados brevemente. Um exemplo desta memória é quando ouvimos a pessoa dizer o nosso nome, mas pedimos que ela repita, pois temos consciência que ela está emitindo o mesmo som e palavra que já havíamos escutado antes, porém só não fizemos o devido processo cognitivo para lembrar. A háptica, é retida por curto período (de 2 segundos em média) porém é mais abrangente do que as anteriores, pois envolve estímulos de várias áreas do corpo, e também reflete sobre toda a superfície do cérebro. A memória háptica é muito habilidosa e pode nomear rapidamente uma grande quantidade de objetos (até 100). A memória tátil se relaciona com a memória e percepção háptica, pois se trata da manipulação ativa dos objetos, por isto a memória háptica pode ser chamada de memória tátil. Um dos papéis do lobo parietal é diferenciar aspectos da memória háptica e Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D suas percepções. Este sistema de memória possui alguma independência do sistema visual, ou seja, é guiada por outros princípios, muito embora neuroimagens tenham evidenciado que áreas do córtex visual são recrutadas quando o reconhecimento dos objetos está envolvendo a memória háptica. Isto mostra que é possível construir uma forma mental de um objeto que está sendo explorado pela memória tátil. Em relação as áreas cere- brais envolvidas com esta memória háptica, verificou-se que regiões ativadas pelo estímulo visual também estão ativadas quando a memória tátil é usada. Esta memória é especialmente usada nas oficinas do projeto que envolvem sempre os modelos 3D que podem ser tateados. A memória de curto prazo (MCP), envolve a capacidade de cada pessoa reter uma pequena quantidade de informação na mente, num estado ativo e prontamente disponível durante um curto período de tempo. A duração da informação na memória é, portanto, pequena e o decaimento em geral acontece em 15 segundos. Mas, é possível copiar ou transferir desta memória rápida para um depósito a longo prazo. Esta memória é como uma memória imediata, e pode ser medida, por exemplo, pela quantidade de números que podem ser repetidos em ordem correta (ex.: discar fone com 7 dígitos). Se for discado seguidamente, o número pode ser mantido na memória por segundos até ser discado, mas, se alguém nos distrair ou o número der ocupado, os 7 dígitos são esquecidos. Neste tipo de memória é possível pensar em memória primária, quando é um sistema simples de memória de alguns segundos, e memória de trabalho ou operacional, quando há inte- ração de sistemas de memória para gerenciar as informações que estão transitando pelo cérebro. A memória de trabalho cuida do armazenamento e da manipulação temporária da informação. Ou seja, esta memória serve para manter 28 por segundos ou poucos minutos a informação que está sendo processada no momento. Ela serve para saber onde estamos, o que estamos fazendo a cada momento, ou onde estávamos no momento anterior. O conceito geral admite que o córtex pré-frontal, o parietal, o córtex cingulado anterior e alguns gânglios basais sejam cruciais para o funcionamento da memória de trabalho. Este tipo de memória mantém certas informa- ções no foco de atenção, enquanto executa tarefas cognitivas mais complexas (para aquisição de um conhecimento).A memória de trabalho não deixa traços e não gera arquivos. Por exemplo, quando lemos uma frase, a guardamos apenas pelo tempo que precisamos para entendê-la ou para dar continuidade a leitura, mas logo depois podemos esquecer a frase para sempre. Esta é a memória que muitos alunos distraídos usam na hora do aprendizado interferindo na aquisição correta do conhecimento, e isto tem que ser pensado na formulação de oficinas pelos exten- sionistas universitários, bem como pelos professores nas escolas. Na memória de trabalho se deve considerar ainda o que se chama “buffer” episódico: um armazenamento, um depósito temporário, capaz de integrar dados de diferentes fontes. No caso da memória de trabalho ela pode usar sistemas ditos escravos, ou seja, sistemas de apoio que mantém a informação por um certo tempo, e, por um sistema gerenciador central (que seria a memória de trabalho em si) que integra e coor- dena os sistemas escravos. Por exemplo, manter um número de telefone com 7 dígitos pelo tempo que quiser, é possível desde que o número seja repetido constantemente. Isto se deve ao “buffer” episódico. Um bom teste para a memória de trabalho é o teste do digit span, onde são falados vários números, e as pessoas normais conseguem lembrar até 8 deles. Porém, um paciente com Alzheimer avançado pode lembrar apenas 1 ou 2 números, por não ter um bom deposito temporário. Na esquizofrenia também há falha na memória de trabalho, e o indivíduo pode não entender o mundo ao redor por falha no “buffer” episódico, e assim, pode criar alucinações visuais, por exemplo, olhar para uma parede com pessoas encostadas e achar que é uma massa com pernas e cabeças. No caso de informação verbal e auditiva elas são armazenadas por um laço fonológico. A alça fonológica ou fonoarticulatória é um armaze- nador que mantém a memória de trabalho por alguns segundos, mas que pode aumentar este tempo se houver repetição subvocal (recitando os números do fone por exemplo). Esta alça fonológica é um sistema escravo. Pessoas com alterações na alça fonológica (que codifica informação Volume 2 - As Oficinas

principalmente pela fala), apresentam dificuldade no processamento para a aquisição de nova linguagem. No caso de informações visual e espa- Portfolio do Museu 3D cial, uma memória de trabalho tem a função de manter e manipular a informação referente aos objetos e às relações espaciais entre eles sendo, portanto, uma memória armazenadora de estocagem temporária. Esta é uma memória bastante usada nos jogos de Tangran usados nas oficinas. 29 As memórias são consolidadas no hipocampo, uma estrutura encontrada nos lobos temporais do encéfalo, tanto do lado direito quanto do lado esquerdo, abaixo da superfície cortical e que faz parte do sistema límbico, que é um conjunto de estruturas responsáveis pelos senti- mentos e emoções. O hipocampo é primordial para transformar a memória de curto prazo em memória de longo prazo. Quando uma pessoa sofre uma lesão no hipocampo, ela fica impossibilitada de criar novas memórias. Suas novas experiências não são armazenadas, mesmo que as lembranças mais longínquas estejam íntegras. Para que as novas lembranças sejam armazenadas, é necessário que as sinapses, através de neurotransmissores, transmitam os impulsos nervosos de um neurônio a outro e assim levem estas informações para formar um tipo de me- mória duradoura. Por exemplo, abrir uma garrafa de refrigerante envolve milhões de sinapses e pode se transformar numa memória duradoura. Uma lembrança mais complicada pode envolver bilhões de sinapses até se consolidar. A memória de longo prazo (MLP) é a capacidade de manter a informação até décadas. É diferenciada estrutural e funcionalmente da memória de curto prazo, que armazena elementos por segundos. A MLP é uma memória secundária, remota, que codifica pelo significado e não pela fala. A MLP pode ser didaticamente dividida em duas categorias principais: 1) memória declarativa (ou memória explícita), 2) memória não- -declarativa (ou memória implícita): 1) A memória explicita, que também pode ser chamada de memória  declarativa, é a que armazena as memórias  que podem ser evoca- das de forma consciente, ou seja, requer a participação consciente e envolve o hipocampo e o lobo temporal. É a memória que está pronta- mente acessível à nossa consciência, e que pode ser evocadas através de palavras. As memórias explicitas são muito suscetíveis e modula- das pelas emoções, pela ansiedade, e pelo humor e animo. A memória explicita pode se subdividir em duas categorias: a memória semântica e a memória episódica. A memória semântica (a que faz parte da memória permanente) é aquela que pode ser declarada, como fatos, nomes, significado de palavras, qual é o perfume de uma rosa. É a memória que diz respeito a conhecimentos não relacionados a tempo e espaço específicos. Trata-se de uma memória que não guarda momentos, mas sim fatos. Por exemplo, a usamos quando respondemos qual a cor de um prato, qual cão é maior ou menor, qual a capital de…). Pessoas com Alzheimer manifestam problemas nesta memória. Já a memória episódica (que são em geral autobiográficas, lembram eventos com data) diz respeito a experiências passadas, a “episódios” de nossas vidas. Por exemplo, é aquela memória de experiências pessoais como quando pagou sua conta de luz, o que comprou quando sua mãe pediu para você fazer compras. Problemas nesta memória resultam em problemas da memória de longo prazo.A episódica e a semântica podem se misturar, ou seja, se a pessoa lembra o que comeu no almoço (episódica), isto pode depender de saber o que se come num almoço (semântica). Essa memória é muito usada em jogos com adolescentes. 2) A  memória implícita, não requer a participação consciente. Aqui podemos colocar a memória procedural (ou memória de procedimento) pois estas são memórias adquiridas de maneira implícita, quase que automática e sem que o indivíduo perceba de forma clara que está aprendendo. Por exemplo, andar de bicicleta, uma memória que não depende da recordação consciente de quando foi aprendida. Pessoas com Síndrome de Korsakoff (que ocorre pelo uso excessivo e constante de álcool), doentes de Parkinson, alguns doentes de Alzheimer, pessoas com esquizofrenia, crianças com dislexia, têm deficit na memória de procedimento. Até algumas memórias semânticas podem ser obtidas de maneira implícita, por exemplo, a língua materna. De uma maneira geral, as memórias que são adquiridas sem a percepção de como foram adquiridas, são memórias implícitas. Na memória implícita é importante o que chamamos de memória evocada através de dicas, esta memória em inglês se chama priming Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D ou pré-ativação. É uma memória muito usada onde o processo de aquisição se dá através de fragmentos do fato, gestos do episódio, odores de uma lembrança, ou seja, memórias que são evocadas quando há uma pré-exposição ao estímulo. Por exemplo, um músico só lembra o resto da partitura quando executa as primeiras notas. Esta memória é usada em oficinas com músicas. Podemos ainda falar de memórias remotas, aquelas que duram meses ou anos. Por exemplo, uma pessoa de 70 anos pode lembrar niti- damente de sua infância. E, podemos discutir as memórias associativa e não-associativa. Um rato de laboratório pode lembrar um ano depois, do choque que levou em uma gaiola, isto é uma memória associativa. Mas, quando respondemos a algo por que se tornou um hábito, devido ao fato de termos repetido muitas vezes aquela coisa, estamos usando uma memória não- associativa e é uma habituação. A memória verbal e a memória visual, também são de longo prazo. É possível lembrar do que se escreve e lê, mas, também daquilo que não verbalizamos, como o rosto de pessoas. Como diferentes partes do cérebro podem estar envolvidas com a informação verbal e a visual, elas podem ser afetadas de forma diferente. Ex.: se remover o lobo temporal esquerdo há deficiência da memória verbal, e, se remover o direito há dificuldade de reconhecer rostos e determinados padrões de aquisição não verbal. Na demonstração anatômica de oficinas onde o assunto é memória, e importante mostrar as áreas envolvidas com este processo de armazenamento, bem como comentar as células destas áreas e sua relação com a memória. O cérebro humano possui bilhões de neurônios. Cada um desses neurônios forma centenas de conexões com outros neurônios totalizando mais de 1 trilhão de conexões, como uma rede. Se cada um 30 desses neurônios pudesse armazenar somente 1 memória ou informação, teríamos problema de espaço. Mas como os neurônios se combinam, se comunicam, cada um pode armazenar muitos dados ao mesmo tempo, aumentando a capacidade de armazenamento do cérebro humano para cerca de 2,5 petabytes (PB) (1 PB = 1024 terabytes) (UFRB, 2014). Isso significa, por exemplo, que o cérebro poderia armazenar até 3 milhões de horas de vídeos, numa espécie de rede neural integrada. A palavra amnésia significa a diminuição considerável ou perda total da memória. A amnésia verbal seria a perda de memória para as palavras. Nas amnésias há perda das memórias explícitas e episódicas. Enquanto a memória semântica e as procedurais (implícita) podem permanecer, com algumas exceções, de casos como no Alzheimer e Parkinson. Possivelmente as primeiras memórias que aparecem durante o desenvolvimento do ser humano são as memórias de trabalho – memória de curta duração. Ex.: o choro por comida é uma memória. Os reflexos gastrointestinais avisam a criança que já passou um tempo da última refeição. A origem de quase toda nossa vida afetiva está nessas memórias antigas e inconscientes que adquirimos quando muito pequenos. Até 40 anos os humanos podem lembrar muito bem do nome de um filme e detalhes, visto a 2 até 7 dias antes. Depois de 40 anos nossa lembrança do filme visto a 7 dias antes, diminui ou mesmo desaparece para alguns. Existem realmente uma perda expressiva de neurônios durante o nosso desenvolvimento, sendo esta perda maior no segundo ano de vida, e depois, desacelera. Mas hoje se sabe que novas memórias podem ser feitas mesmo na vida tardia, pois novos neurônios consegue nascer na vida pós-natal, ao contrário do que se achava antigamente, que nascíamos com um número de neurônios e morríamos com menor quantidade, pois eles não surgiam após o nascimento. Deste modo, oficinas que estimulam a formação de memórias são fundamentais para crianças desde o ensino fundamental. Postula-se que o sono ajuda a gravar memórias. Há poucas evidências concretas disto, porém, uma boa noite de sono ajuda a lembrar de coisas do dia anterior, enquanto uma noite ruim interfere na nossa memória. Assim devem existir ligações entre os eventos. Porém quem passa o tempo dormindo, ou sem fazer nada, perde mais memória do que aquele que está sempre querendo aprender, e manter a mente ativa. No caso da memória “quanto mais se usa, menos se perde. E mais, a leitura é um estímulo para a produção de neurônios na vida adulta. Segundo Volume 2 - As Oficinas

autores, escrever é uma forma saudável de ampliar nosso banco de dados. Nossa memória não pode guardar absolutamente todas as informa- Portfolio do Museu 3D ções que chegam, assim, armazenando somente o que interessa e criando associações com fatos ou algo escrito, uma memória pode solicitar outra e assim sucessivamente. 31 A doença de Alzheimer – patologia degenerativa do cérebro, mais comum em pessoas idosas – causa, entre outras coisas, o declínio da capacidade intelectual e a perda progressiva de memória. Porém, mesmo no Alzheimer, a perda de memória é menor nos indivíduos que tem curso superior e que adquiriram muitas memórias ao longo da vida. A perda de memória por falta de uso está relacionada a perda da função e a atrofia das sinapses envolvidas no processamento da memória. O hábito da leitura é uma forma de praticar a memória e conservá-la. Não há nenhuma atividade nervosa que exija tanto e em tão pouco tempo do cérebro e da memória, como a leitura. No caso da música, a leitura de partituras é tão efetiva para preservar a memória quanto a leitura de palavras. Estes são fatos importantes na configuração de oficinas que envolvam conhecimentos musicais e também o conhecimento de leitura e organização de frases, como a oficina realizada pelo projeto, onde as palavras eram embaralhadas e os alunos tinham que organizar as frases ouvidas ou lidas. 2.2.5. A Memória e a Consciência Musical – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 17 - Tema: Mural Karaokê – Memórias Musicais. Oficina n°: 20 - Tema: A Voz na Radionovela. Oficina n°: 25 - Tema: Entendendo a Consciência Musical. Oficina n°: 33 - Tema: A Importância da Audição e Fonação na Comunicação! É de grande importância para o extensionista a compreensão e o uso da música em oficinas socioeducacionais. A música tem uma liga- ção importante com a memória. Quando o maestro britânico Clive Wearing em 1985 contraiu uma infecção no cérebro, ficou com capacidade de recordar apenas os eventos ocorridos poucos segundos antes do início do quadro infeccioso. Embora apresentasse um dos casos mais graves de amnésia conhecido pelos cientistas, a habilidade musical do maestro permaneceu intacta. Hoje com 73 anos, Wearing, consegue ler partitura e tocar música no piano, e já regeu o seu antigo coral. Isso mostra a importância da música para o cérebro. As canções que marcaram uma época ou um momento especial, são capazes de auxiliar no tratamento para a doença de Alzheimer, como mostrou um estudo feito por neurocientistas alemães, os quais detectaram que as regiões do cérebro que guardam as canções, são diferentes das que registram experiên- cias e conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Deste modo, existem áreas para as lembranças musicais e áreas para outras recordações, as quais são esquecidas pelos pacientes com a doença de Alzheimer. O córtex auditivo é responsável por distinguir volume e tom, e por entender o ritmo. Quando o som entra pelos ouvidos, outras áreas do cérebro também são ativadas: áreas para o movimento, memória, atenção, emoção, e diversos estudos já mostraram que a música pode ter efeitos positivos no cérebro, liberando dopamina, neurotransmissor mais conhecido como “hormônio do prazer”. As vezes, a imaginação musical ultrapassa os limites normais e se torna até patológica, quando um fragmento de uma música se repete incessantemente por dias na nossa cabeça. Estes fragmentos repetitivos, em geral, com 3 a 4 compassos, podem ocorrer por horas ou dias. Este fragmento musical entra no cérebro e subverte uma parte dele, forçando-o a disparar de maneira repetitiva e autônoma. Cada música representa uma informa- Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D ção emocional diferente para cada pessoa, e uma lembrança diferente. Essas lembranças ficam guardadas em partes profundas do cérebro. Ao ouvir a música, a pessoa também relembra o significado de determinado fato que ocorreu durante a sua vida, e que se relacionava com aquela música. Há nesta ação a ativação da memória semântica, aquela que diz respeito a conhecimentos não relacionados a tempo e espaço específicos, e sim a uma memória de fatos. A consciência é uma qualidade da mente. Esta qualidade está vinculada ao sistema de valores de cada indivíduo. A consciência pode ser explorada em vários sentidos: Psicologicamente, a consciência é a percepção do seu próprio eu. Epistemologicamente, a consciência tem um papel de sujeito do conhecimento. E, na metafísica, a consciência pode ser o próprio Eu. Um conceito único de consciência é difícil, e às vezes, a consciência é descrita simplesmente como o estado de estar acordado e ciente do que está acontecendo ao seu redor, e mes- mo, de ter um senso de si mesmo. Pode haver uma ligação sutil entre o cérebro, o som e consciência musical. Já se conhece a percepção musical como uma capacidade, a de perceber o som como parte de uma linguagem musical. Recentemente, pesquisadores descobriram uma área do cérebro que atua como uma espécie de interruptor para o cérebro. Esta região é chamada de claustro. O claustro é uma fina camada de substância cinzenta localizada na parte interna do neocórtex, no telencéfalo. Faz parte dos núcleos da base. Se esta área for estimulada eletricamente, o paciente fica instantaneamente inconsciente. Ou seja, perde a consciência do que está ao seu redor. É impos- sível dizer claramente por que e como o claustro é fundamental para a consciência musical, porém, durante a percepção musical, o claustro (e algumas outras áreas além dele) estão ativas. Estas áreas no hemisfério esquerdo são ativadas com melodias de sons simples, e aquelas 32 do hemisfério direito são ativadas com melodias mais complexas. Com melodias simples ou com as complexas há sempre ativação do cerebelo. Isto mostra como a música pode estimular o encéfalo. Atualmente a música tem sido um grande recurso para o ensino, daí o seu uso em oficinas do projeto, A percepção musical envolve as áreas primárias e secundárias do sistema auditivo nos lobos temporais, as quais recebem informações dos ouvidos por meio do tálamo. Essa percepção envolve o reconhecimento de características físicas do som, como timbre, volume e afinação. Quando à percepção envolve os componentes musicais como melodia e o ritmo, temos a percepção melódica e rítmica. Quando uma pessoa se concentra apenas na música como um todo, sem pensar em acordes isolados, ficam principalmente ativos o córtex auditivo primário (no lobo temporal) e o secundário (no lobo temporal mais rostral) assim, estas são áreas que participam durante um evento sonoro que concentre a atenção do ouvinte na música como um todo. A percepção musical pode ser inata e mesmo a criança muito jovem pode perceber o som musical. Deste modo, vários aspectos devem ser levados em conta quando queremos “ter consciência” de algo, o mesmo acontece com a consciência musical. Para alguns a consciência musical só se estabelece através de um aprendizado musical. No entanto, pesquisas demonstram que os humanos percebem a música não apenas como sons, mas também como movimentos e como emoções. Mesmo pessoas surdas podem ter musicalidade inata e podem gostar de música e ser responsivos ao ritmo que sentem como vibrações, e não como som aprendido. Deste modo, usar diversos sons para despertar a consciência musical em crianças, como feito em oficinas aqui citadas, foi importantíssimo para o envolvimento e ativação de emoções e memórias nas crianças e adolescentes. Em todas as épocas, a música sempre foi feita considerando-se os seus efeitos sobre o corpo e a alma. Uma memória musical pode ativar regiões no lobo temporal, em especial as porções média e inferior deste lobo, onde áreas atuariam como locais da memória auditiva e musical. Devemos lembrar que o lobo temporal está relacionado com importantes funções além da audição, como a compreensão da lingua- gem falada, o olfato, a memória em si (no hipocampo) e até parte do comportamento emocional (porção medial). Atualmente a música é feita, tocada ou ouvida, principalmente atrelada ao nosso contexto político e social (CORREA, 2011) por ex.: a violência diária. Antigamente, para a Volume 2 - As Oficinas

cultura Grega a música podia modificar e conduzir os estados de ânimo (ETOS). É claro que existe uma relação ânimo-música-corpo (músicas Portfolio do Museu 3D alegres, músicas tristes) e que outros fatores e comportamentos podem se somar ao poder do som, como relatou Correa, e tornar a interpreta- ção do som quase que individual dependendo da cultura, da ideologia, das emoções e dos sentimentos (CORREA, 2011). 33 É importante a qualquer estudante entender que a palavra som pode significar um fenômeno físico – a energia que se propaga em um meio físico –, como ondas que apresentam duas fases alternadas: uma de compressão e outra de rarefação, a que se denomina ciclo. Ou, que o som pode ser visto como um fenômeno psicofísico, nesse caso, envolve a audição, ou seja, se refere à sensação que o fenômeno som provoca em nós. Ao ouvir um som, este pode estar sendo produzido por vibrações periódicas (como o som musical), vibrações não periódicas (como o ruído) ou por um abalo mecânico isolado (como um estampido). É importante para o processo de ensino-aprendizagem, tanto para o aluno quanto para o professor, perceber que existem algumas crianças com desordens ao nível do processamento do som pelo Sistema Nervoso central, apresentam comportamentos específicos como ouvir quando quer, ser desatenta, ouvir mas não entender, ter dificuldade de aprendizado escolar, falar de forma incorreta e ter problemas com sons específicos com os sons de /l/ e /r/. Assim, oficinas com atividades musicais, seja qual som for, são importantes para a verificação da percepção dos sons foi pelas crianças. Inúmeras pesquisas em diferentes países e em diferentes épocas, particularmente nas décadas finais do séc. XX, confirmam que a influência da música no desenvolvimento da criança é incontestável. Algumas delas demonstraram que o bebê ainda no útero materno, desenvolve rea- ções a estímulos sonoros. Pesquisadores nos EUA e Alemanha revelaram que ao comparar cérebros de músicos e não músicos, os do primeiro grupo apresentavam maior quantidade de substância cinzenta (onde estão a maioria dos neurônios), particularmente nas regiões responsá- veis pela audição, mas também em áreas destinadas a visão e ao controle motor (SHARON, 2000). Para vários autores, tocar um instrumento exige muito da audição e da motricidade fina das pessoas, aquela que envolve a capacidade de executar movimentos de precisão, como usar uma tesoura, um lápis, um pincel, com controle e destreza. A prática musical faz com que o cérebro funcione “em rede”, segundo as pesquisas. Por exemplo, quando o indivíduo lê determinado sinal na partitura, passa essa informação visual ao cérebro e este transmitirá à mão o movi- mento necessário, e ao final, o ouvido através da audição acusará se o movimento feito foi o correto. O efeito do treinamento musical no cérebro é semelhante ao da prática de um esporte nos músculos e, mesmo que o contato com a música seja apenas por apreciação e não tocando um instrumento, ouvindo com atenção a composição, os estímulos cerebrais são bastante intensos. Apesar da música gerar uma diversidade de estímulos, ela tem um caráter relaxante que ajuda na absorção de informações e na aprendizagem. Há estudos que mostram crianças em situação de aprendizagem onde foi oferecida música clássica enquanto estavam tendo aulas, resultou em maior aprendizado para o grupo que ouviu a música. A explicação dos pesquisadores foi que ouvindo música clássica, lenta, a criança passava do nível alfa (mais relaxado) para o nível beta (relaxados, porém atentos) aumentando a ciclagem cerebral, aumentando as atividades dos neurônios e tornando as sinapses mais rápidas, o que facilitava a concentração e a aprendizagem (BALLONE, G.J., 2010). Há pesquisas que apontam a relação benéfica entre a música e o raciocínio lógico-matemático onde alunos que receberam aulas de música apresentavam resultados até 41% superiores, em testes de proporções e frações, do que outras crianças sem as aulas (CAVALCANTE, 2004). Enfim, o que se pode concluir a esse respeito é que efetivamente a prática de música, seja pelo aprendizado de um instrumento seja pela apreciação ativa, potencializa a aprendizagem cognitiva, particularmente no campo do raciocínio lógico, da memória e do raciocínio abstrato. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D Outro importante fator que associa a música e o aprendizado é a relação que se pode fazer da música com as cores. Segundo Wisnik J.M. (1989), as cores são luminosas ou sombrias, alegres ou tristes. Há estudos mostrando que pessoas de diferentes culturas (americanos e mexicanos) tendem a relacionar músicas e cores, escolhendo cores claras e vivas para músicas mais animadas, cores escuras e frias para músicas mais tristes. Assim, músicas mais rápidas são relacionadas a cores claras e vívidas, como os tons de branco, amarelo, verde, enquanto melodias mais lentas ou tristes se relacionam a tons escuros, acinzentados ou azulados. Há hipóteses de que as emoções são responsáveis pela associação entre música e cor (PALMER et al, 2013) onde músicas mais agitadas foram relacionadas com expressões felizes, enquanto músicas mais lentas foram associadas à tristeza. Rostos felizes também foram ligados ao amarelo e outras cores claras, e expressões sombrias estavam sempre associadas a tons de vermelho-escuro. No marketing, são frequentes as associações entre cores, músicas e cérebro. Muitos recursos atuais são usados neste sentido, portanto, levar os estudantes a expressarem seus sentimentos e entendimentos através da música e das cores, foi uma forma interessante como metodo- logia didática nas oficinas. A sinestesia é uma condição onde sensações originárias de diferentes órgãos do sentido (visão, tato, olfato, paladar e audição) são reunidas de forma que o cérebro seja capaz de interpreta planos sensoriais distintos como uma coisa única. Isto usado nas oficinas trouxe ótimos resultados onde a música e as cores foram associadas, mostraram aspectos emocionais valiosos dos alunos participantes, e inclu- sive, problemas emocionais que enfrentavam mas não expressavam na escola para os professores ou coordenadores. 34 2.2.6. A Voz e a Fala – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 14 - Tema: Saúde Vocal – “Promovendo o Bem-estar e a Saúde Vocal dos Profissionais da Educação”. Oficina n°: 20 - Tema: A Voz na Radionovela. Oficina n°: 33 - Tema: A Importância da Audição e Fonação na Comunicação! A emissão de uma voz saudável chama-se eufonia. Já uma voz doente, ou seja, com uma ou mais de suas características alterada, damos o nome de disfonia. Uma das causas do afastamento por invalidez precoce nos profissionais da educação é o surgimento de disfonias (alteração na produção da voz), cuja causa prioritária é a falta de orientação dos cuidados com a voz, e consequentemente, um abuso vocal.A grande demanda de uso vocal em docentes aumenta o fator de risco de disfonias, sendo fundamental a orientação sobre os cuidados devidos como uma forma de prevenção, e com o uso de técnicas vocais que permitem a projeção correta da voz em ambientes que haja necessidade de um grande alcance, ou, mesmo para a melhoria na sonoridade, intensidade e qualidade. É importantíssimo a conscientização de educadores em escolas públicas sobre a sua qualidade vocal. Neste sentido, as oficinas oferecidas em atividades extensionistas devem considerar a possibilidade de prestar auxílio ao docente nas escolas públicas através de ensinamentos sobre a voz e a fala, e mostrar as áreas cerebrais responsáveis pela compreensão e produ- ção da linguagem. O projeto buscou trabalhar isto em Cursos de Aperfeiçoamento de Docentes, promovidos por prefeituras. Do mesmo modo este tipo de oficina pode contribuir para o aprimoramento do estudante no sentido dele próprio saber usar a sua voz e aprender mais sobre linguagem. Os conceitos usados neste tipo de oficina são diversos, portanto, os extensionistas precisam estar bem embasados. A voz é um meio de comunicação bem primitivo na espécie humana, natural e espontâneo, e se tornou o veículo através do qual as pes- soas conseguiram ser ouvidas e compreendidas. A voz é um documento. Assim, no âmbito da fonoaudiologia Forense, o fonoaudiólogo perito Volume 2 - As Oficinas

pode usar os conhecimentos técnico-científicos sobre a voz e a comunicação, para o esclarecimento de fatos de interesse da justiça, mais Portfolio do Museu 3D precisamente, em fatos que precisem a identificação de falantes envolvidos em casos judiciais, exercendo assim a ciência da perícia vocal. Conceitualmente, a voz humana representa o som produzido pelo ser humano quando este usa as suas cordas (ou pregas) vocais para falar, cantar, gritar, gargalhar, chorar etc. A voz é produzida na laringe (Fig. 8) através da vibração das pregas vocais, isto ocorre devido ao ar que vem dos pulmões. A voz é produto da evolução humana e deriva de um imenso trabalho que envolve os sistemas nervoso, respiratório, digestório, além de músculos ligamentos e ossos, para tornar possível uma emissão eficiente do som. Fig. 8: Laringe e prega vocais. Biologia, Anatomia e Fisiologia Humanas. 35 Disponível em: https://static.todamateria.com.br/upload/57/21/5721f5a273865-laringe.jpg/ Disponível em: https://static.todamateria.com.br/upload/57/21/5721f5cdb296a-laringe.jpg/ – Imagem livre retirada de Toda Matéria [montagem modificada]. Acesso: 01/12/2020. A laringe é um tubo irregular sustentado por peças cartilaginosas irregulares articuladas que une a faringe à traqueia. As cartilagens são responsáveis pela manutenção da abertura da luz da laringe, garantindo sempre a livre passagem do ar.As cartilagens são: as aritenoides, a tireoi- de e a cricoide. A entrada da laringe é denominada glote. As pregas vocais são pregas na mucosa encontrada na laringe. No total são dois pares de pregas: superior, chamado de pregas vestibulares, e inferior, chamado de pregas vocais verdadeiras. Afirma-se que o tamanho e a espessura das pregas vocais, junto com o tamanho da língua, a forma e altura do palato, o comprimento da distância entre a laringe e os lábios, são respon- sáveis pela caracterização individual da voz. Com isso se distingue o tipo de voz – infantil, adulta masculina e adulta feminina. A voz pode ser um identificador fisiológico, quanto à idade, sexo, raça, tamanho físico, características da personalidade e do estado emocional. Para uma boa emissão de voz alguns conhecimentos são importantíssimos, como, o que se chama respiração costodiafragmática. Esta é uma respiração que permite maior expansão do pulmão, pois utiliza todos os músculos da cavidade torácica. Nos casos dos professores, que dão aula e falam durante todo o dia, é necessário uma capacidade respiratória maior que só é possível com o padrão respiratório costo- diafragmático. Outro importante conhecimento é o aquecimento da voz, ou seja, é necessário aquecer a voz antes de utilizá-la e desaquecê-la após o uso, para que não se tenha danos permanentes nas pregas vocais. Cuidados básicos com a voz são essenciais aos professores, como por exemplo, beber bastante água durante o dia (em temperatura ambiente), falar sem esforço (sem gritar), não consumir café e chocolate antes das aulas que forem ser ministradas etc. A voz é produzida quando o ar vindo dos pulmões passa pelas pregas vocais produzindo uma vibração que é a voz. Nos sons surdos ou desvozeados e na respiração em repouso, as pregas vocais estão separadas e a glote está aberta. Quando ocorre o movimento contrário, ou seja, as pregas vocais se unem e a glote está fechada, o ar tem de forçar sua passagem e isto faz as pregas vocais vibrarem, com isso temos os sons sonoros ou vozeados. As pregas vocais podem ficar em outras posições, formando vários outros sons, por exemplo, quando as pregas vocais Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D estão juntas em toda a sua extensão e a glote está fechada, pode ter um afastamento das cartilagens aritenoides e isso forma uma pequena abertura na glote, resultante num som sussurrado. Quando ocorre a vibração das pregas vocais, porém as aritenoides permanecem afastadas, pode ocorrer um escape extra de ar, formando o som murmurado. Quando ocorre a vibração lenta dos ligamentos das pregas vocais, fazendo com que o som produzido seja tremulado. O termo fonação é o ato ou processo de produzir voz e o ato de emitir no ser humano, uma linguagem articulada, formada de sons vocais ou fonemas. Os conceitos sobre voz e fonação foram importantíssimos para as oficinas, tanto com os docentes quanto com as crianças do funda- mental. E os extensionistas do projeto puderam explorar o assunto: Por que gritar faz tão mal? Você sabe? E, explicar que: Porque quando se grita as pregas vocais “batem” muito uma na outra, fazendo com que elas fiquem muito vermelhas e inchadas tornando a qualidade vocal ruim. Se isso ocorrer de forma recorrente pode trazer grandes prejuízos vocais pois pode gerar lesões nas suas cordas vocais! Isto não ocorre quando você projeta a voz, porque quando se projeta a voz aumenta-se o “volume”, sem fazer com que as “cordas vocais” se choquem e se machuquem, preservando assim a sua voz! Uma mudança de voz também pode ocorrer quando a pessoa fala muito alto e grita, pois provoca atrito entre as pregas vocais e elas ficam edemaciadas, mudando o tom da voz. Ensinar sobre isto foi educador para os participantes de oficinas mas também para o extensio- nista, inclusive na hora de aplicar a oficina. Passar os cuidados com a voz, ensinando que estes devem acontecer desde cedo e mostrar a 36 importância de, por exemplo, beber 1,5 litros de água por dia como um dos cuidados, levou uma informação saudável que em muitas escolas e ambulatórios hospitalares era desconhecida. Nas oficinas, alguns perguntavam: Mas a água passa nas cordas vogais? Não a água não passa nas cordas vocais! Então, como a água auxilia na voz se ela não passa pela laringe? Pois bem, a água mantém os tecidos hidratados e fluidifica o muco do trato vocal. A hidratação das cordas vocais não é feita imediatamente após a ingestão de água. Depois da água ser absorvida e distribuída ao corpo humano é que haverá a hidratação das nossas pregas vocais. Isso mostra a importância da hidratação ao longo de todo o dia e não apenas quando as nossas cordas vocais já estão cansadas. Quando estamos desidratados as pregas vocais fazem maior esforço e temos dificuldade para controlar a nossa voz, assim produzimos um de som pior qualidade. Esta informação simples, foi fundamental para os professores na oficina direcionada a eles. Outra importante informação que as oficinas passaram neste tema foi sobre a única forma de lubrificar diretamente as pregas vocais, isto é levar o líquido direto pelas ‘cordas vocais’ o que se faz através da nebulização com soro fisiológico ou água. O ar quente e úmido ao encon- trar uma região mais fria condensa-se virando gotículas de água e assim lubrifica as pregas vocais. Ou seja, a água faz bem para todo nosso corpo, então mantenha-se sempre muito bem hidratado, comer frutas cítricas, como a maçã, que tem um efeito adstringente, dilui e limpa as secreções da boca e da garganta. E ainda, ao mastigar as frutas se exercitam os músculos articuladores da fala. O hábito de consumir balas e pastilhas para melhorar a voz não é eficaz pois elas também não passam pelas pregas vocais, portanto, seu benefício é só na faringe, e ainda, podem anestesiar a laringe levando você a abusar mais da voz. Gargarejos e gotas nasais para melhorar sua voz, somente deve ser adotada com indicação médica, e ainda deve ser visto que os gargarejos não atingem as pregas vocais e as gotas nasais ressecam toda a mucosa do nariz. Outra dica importante que foi passada pelas oficinas foi sobre aprender a aquecer a voz com exercícios, antes de usá-la e depois, voltando a sua emissão natural. Mas claro, sempre sugerindo aos participantes de oficinas que a ajuda de um fonoaudiólogo deveria ser buscada houvesse qualquer dificuldade com sua voz. O fumo também é prejudicial à voz, pois a nicotina liberada pela fumaça do cigarro é depositada diretamente sobre as pregas vocais, provocando irritação. Com isso, a longo prazo, a voz engrossa e perde a potência além de ser a maior causa de câncer na laringe. Volume 2 - As Oficinas

Toda pessoa deve se cuidar em relação a ruídos excessivos, pois isto pode prejudicar sua audição e ainda, leva a pessoa a falar mais alto do Portfolio do Museu 3D que o ruído, o que causa tensão e esforço nas pregas vocais. Uma das maiores causas do afastamento por invalidez de forma precoce nos profissionais da educação é o surgimento de disfonias. Isto é ocasionado prioritariamente pela falta de orientação dos cuidados com a voz, que 37 como consequência culminam no mau uso desta. Por isso é necessário a orientação aos docentes sobre os cuidados com o seu instrumento de trabalho, visando prevenção e promoção de saúde, e ainda, com o intuito de melhorar a sonoridade, intensidade, qualidade e adequação. 2.2.7. Audição e Percepção Auditiva – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 21 - Tema 1: A Roda dos Nomes – Tema 2: Reconstruindo o Assunto. Oficina n°: 26 - Tema: Implante Coclear, do Silêncio para o Som. Oficina n°: 33 - Tema: A Importância da Audição e Fonação na Comunicação! Audição é uma função sensorial que permite captar os sons pelas orelhas (vulgarmente ouvidos) e transmiti-los através do nervo auditivo ao cérebro, onde são recebidos e analisados. Nossas orelhas também nos ajudam a perceber o que está ocorrendo à nossa volta. A partir desses conceitos podemos perceber como fala e audição se inter-relacionam, pois para falar bem é preciso ouvir bem. Este é um ponto importante para ser abordado em oficinas nas escolas. O que se chama de percepção auditiva envolve a recepção e a interpretação de estímulos sonoros através da audição. Nesta percepção identificam-se algumas habilidades como a detecção do som, a sensação sonora, a discriminação e localização do som, o reconhecimento e compreensão do som, além da atenção e a memória. Parte do processamento auditivo envolve a investigação do sinal acústico e a audição não suporta estímulos desagradáveis, ou seja, caso o ouvido for exposto a intervalos dissonantes, podem ocorrer irritabilidade ao ouvinte. No caso das oficinas educativas é bastante útil as atividades que envolvem a percepção auditiva, pois esta tem um papel no desenvolvi- mento de diversos aspectos cognitivos como, por exemplo, na linguagem etc. Muitas atividades que envolvem a percepção auditiva podem ser utilizadas não somente com crianças mas também com idosos, especialmente para estimular a memória e a criatividade. Isto envolve ativida- des como uso de objetos sonoros (ex.: chocalhos etc.), jogos de rimas, treinamento de ritmo (através de marcha, palmas e dança etc.), jogos de palavras que iniciam com o mesmo som, falar, escrever ou ainda desenhar o som ouvido, contar histórias ou elaborar uma frase baseada no som, mostrar alguns sons e pedir posteriormente que se identifique na ordem os sons ouvidos, identificar e imitar sons e ruídos produzidos por animais e fenômenos da natureza, brincar com instrumentos musicais etc. Uma oficina bastante importante tem como assunto o implante coclear, sua função e possibilidades de ser feito, já que este permite que a pessoa implantada volte a ouvir sons. Em muitos casos é possível, inclusive, compreender a fala humana mas certamente não se trata de uma audição normal capaz de distinguir entre as vozes de diferentes pessoas, por exemplo, é muito difícil para o implantado. Há pacientes implanta- dos que conseguem falar ao telefone, mas, há pacientes cujo implante ajuda apenas a perceber os sons sem conseguir compreender totalmente a fala. O quanto à pessoa implantada será capaz de compreender depende de muitos fatores, como o tempo que a pessoa ficou sem ouvir (tempo entre a perda auditiva e a cirurgia de implante), se a pessoa ouvia normalmente antes de perder a audição ou se a pessoa nunca ouviu. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D Pacientes que já ouviram e foram implantados, relatam que o som proporcionado pelo implante coclear é um tanto robótico, metálico.Por outro lado, devolver a alguém que nada escuta alguma sensação sonora, e muitas vezes permitindo a compreensão da fala é sem dúvida um grande pro- gresso. É impossível saber exatamente o que um paciente implantado escuta (isso certamente varia de caso para caso). Existe uma infinidade de nuances na indicação do implante coclear que devem ser discutidas com o paciente ou, no caso das crianças, com os familiares e respon- sáveis. Todo convênio que tenha cobertura para cirurgia é obrigado a cobrir o implante coclear, pois o mesmo consta no rol de procedimentos básicos inclusive em cirurgias feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Trazer esta divulgação em Ciências para o âmbito de uma oficina aplicada por extensionistas capacitados (ex. alunos de fonoaudiologia) para divulgar e discutir o assunto é sem dúvida enriquecedor para os próprios extensionistas e para os participantes (alunos, pais, docentes). 2.2.8. Memória e Violência – Trabalhado na oficina: Oficina n°: 04 - Tema: A Violência nas Escolas – Ação na Educação. “A memória é a caixa de segredos da personalidade. Tudo o que somos, o mundo dos pensamentos e o universo de nossas emoções 38 são produzidos a partir dela.” (CURY, 2003). A personalidade é o conjunto das características marcantes de uma pessoa. Estas características podem definir o grau de violência deste indivíduo. Por conceito a violência urbana é caracterizada pela desobediência às leis, vandalismo em relação aos bens públicos e atentado à vida no âmbito das cidades. No caso da escola, a violência escolar é denominada por todos os atos ou ações de violência e os comporta- mentos agressivos e antissociais do aluno (PRIOTTO; BONETI, 2009), incluindo conflitos interpessoais (quer seja entre alunos, entre alu- nos e professores e mesmo só entre professores). Os danos ao patrimônio escolar são também um tipo de violência escolar. Pode haver atos criminosos dentro da escola em relação as pessoas e a marginalização de estudantes através das drogas, da incitação ao crime etc. As discriminações de raça, cor ou religiosas dentro do ambiente escolar, bem como o bullying são exemplos de violência escolar praticados por alunos, professores, funcionários, ou mesmo de familiares e estranhos à escola. As escolas não são mais um ambiente de segurança e proteção. Ao longo dos anos o que se tem visto é um aumento generalizado da violência atrás dos portões escolares em todo o Brasil. Furtos, agressões físicas e verbais, tráfico e consumo de drogas tem sido parte do cotidiano de diversas instituições de ensino. Um dos fatores que se refletem nesta violência dentro das escolas diz respeito ao ambiente onde as escolas estão inseridas. Estes muitas vezes tornam os alunos vulneráveis, ou mesmo, os tornam autores e reprodutores da violência urbana dentro da escola. No entorno de escolas não é incomum a presença de bares com fácil acesso a bebidas alcoólicas por menores, que muitas vezes levam a bebida para dentro das salas de aula. O ambiente onde a escola está inserida, pode ser um lugar com falta de segurança pública e policiamento. E mesmo o policiamento, caso exista, pode ser visto como fonte de medo e não de segurança. O tráfico de drogas é sem dúvida um fator determinante para a violência na escola. Porém, não apenas o ambiente ao redor da escola mas o próprio ambiente familiar pode ser a fonte de violência que se reflete dentro da escola. A negligência e o abandono das crianças por parte dos seus pais ou responsáveis, o descaso de proporcionar condições necessárias para o desenvolvimento correto do ser humano, como as medidas de higiene, a alimentação adequada, as roupas de acordo com os bons Volume 2 - As Oficinas

costumes, o linguajar inadequado do ambiente domiciliar, o abuso, entre outros fatores, podem levar as crianças a se sentirem rejeitadas, mar- Portfolio do Museu 3D ginalizadas, fomentando sentimentos de revolta, exteriorizados de forma agressiva dentro das escolas. Ainda no âmbito familiar, muitos filhos acabam vivenciando episódios de violências entre os familiares que acabam se refletindo no desenvolvimento psicológico e emocional de cada 39 um deles, afetando o desenvolvimento escolar e social e inclusive, desencadeando comportamentos violentos dentro das escolas. Os problemas de violência apresentados nas escolas são, em sua maioria, os mesmos encontrados nas ruas, em crianças e adoles- centes rejeitados, abandonados. Para solucionar o problema da violência infantil e do adolescente deve haver a busca coletiva de meios, pelo Estado e pela sociedade. Mas, na escola, a situação requer a participação efetiva da direção, de professores, funcionários, pais, e dos próprios alunos na busca por solução. A violência escolar se reflete ainda no fato de muitos pais delegarem à escola uma responsabilida- de que seria sua, atribuindo à escola todo papel de educar seus filhos. Isto é um grave erro, pois a família é a base da educação. É onde se aprende o que é ser ético, respeitar as diferenças de cada um, os limites que cada um deve ter, a noção de conjunto familiar e daí a de conjunto social. Outra questão, principalmente nos dias de hoje é discutível, o fato de muitos pais atribuírem todo o seu tempo para traba- lhar e não criam um tempo para educar e conviver com seus filhos. Deixar o filho na creche ou na escola não pode substituir a presença, o interesse e a responsabilidade nos papéis de pai e mãe. Entre os múltiplos fatores envolvidos com a violência na escola está a saúde do professor. O professor é um ser humano, diretamente relacionado ao aluno e quase sempre a linha de frente entre o aluno violento e a escola. O professor, portanto, pode ser um alvo. É importantís- simo entender a violência nas escolas para resguardar e mesmo salvar o professor desta violência. Não só a vida do professor pode ser ceifada fisicamente, bem como outros problemas podem levar o professor até a destruir sua própria vida ou finalizar sua carreira. A violência na escola gera inúmeros sintomas no professor. Estes podem ser: 1. Sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça, tontura, náusea, diarreia, enurese, sudorese, taquicardia, dores musculares, alterações no sono (insônia ou sono excessivo); 2. Estresse, o qual pode aumentar a vulnerabilidade a doenças diminuindo a resistência imunológica; 3. Questões de saúde mental como ansiedade, medo, raiva, irritabilidade, inquietação, cansaço, insegurança, isolamento, impotência, rejeição, tristeza, angústia, baixa autoestima, depressão e pensamentos suicidas, entre outros; 4. Prejuízo na socialização, aumentando o isolamento social, gerando insegurança que pode afetar a confiança no outro, a capacidade de se expressar em público, de resolver conflitos e tomar decisões; 5. Déficits de memória e comprometimento do ensino sob sua responsabilidade. Oficinas que objetivam falar da violência nas escolas e incentivar a discussão sobre a localização dos problemas envolvidos, as possíveis soluções etc., transformam as pessoas e podem mostrar que há o envolvimento de outros indivíduos nesta questão tão delicada, que podem ajudar, se sensibilizar e não abandonar sozinhos, o aluno e o professor das escolas públicas neste grave problema. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D 3. A Divisão Celular, o Sistema Reprodutor Feminino e Masculino – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 02 - Tema: A Percepção de Nossas Origens. Oficina n°: 11 - Tema: Divisão Celular – O Controle do Ciclo Celular e o Câncer. Oficina n°: 30 - Tema: Novembro Azul/Câncer de Próstata: Um Desafio para a Saúde do Homem. Um assunto bastante requisitado em oficinas educacionais para adolescente diz respeito a reprodução humana e aos aparelhos repro- dutores masculinos e femininos. Isto é natural tendo em vista que são pessoas em desenvolvimento. Um projeto de extensão universitária pode construir parte deste conhecimento de forma científica e educacional para formar um cidadão com valores humanos e respeito a si próprio e ao seu corpo. Do mesmo modo é importante para os estudantes extensionistas da área biomédica e suas futuras profissões, o conhecimento sobre suas próprias células e os processos corretos de divisão celular. 3.1. Divisão Celular e Suas Consequências: 40 Ao aprender na escola que o corpo é constituído por células e essas se dividem e se diferenciam possibilitando a formação dos seres e a formação dos órgãos, nem sempre é acompanhado por suficiente informação prática sobre isto e inclusive, sobre as consequências de um erro nos processos de divisão e diferenciação celular. No entanto, o mundo de hoje com sua evolução requer este conhecimento básico para todos poderem participar das novidades que chegam todos os dias pela internet. O entendimento de muitas doenças também necessitam destes conhecimentos, entre elas o câncer, uma doença que atinge muitas pessoas e poucas entendem a forma como se inicia, como se desenvol- ve e o grau de relação entre ele e as células. E inclusive a associação do câncer com o modo de vida emocional, com a alimentação, com a hereditariedade nem sempre é claro. Há muito o que estudar sobre esse tema e fazer oficinas capazes de esclarecer sobre as células e as patologias que as envolve, é bastante significativo, para as futuras profissões dos alunos em geral e para a qualidade de suas vidas. Para isto os extensionistas precisam levar informações modernas, corretas e com qualidade científica. A divisão celular se refere a capacidade de uma célula se dividir dando origem a outras células. A divisão celular não é um processo casual e apenas estimulado e controlado por fatores genéticos, e pela sinalização química de diversas substâncias. Para a divisão celular, é necessário dividirmos as células em dois grupos: (a) Células somáticas, que representam a maior parte das células do corpo. Nos humanos estas possuem 23 pares de cromossomas totalizando 46 cromossomos (são diploides, 2n). Estas células compõem os órgãos como fígado, pulmão, coração etc. Elas se dividem e proliferam por Mitose; (b) Células sexuais ou gametas. Esse tipo celular possui vinte e três cromosso- mas (são haploides, 1n), metade dos presentes nas células somáticas. As células sexuais (ou germinativas) se dividem por Meiose (Fig. 9) formando os gametas masculino (espermatozoides) e feminino (ovócito). Volume 2 - As Oficinas

A mitose é um processo no qual uma célula dá origem a duas outras células filhas, Portfolio do Museu 3D que tem o mesmo número de cromossomas que a célula de origem (célula-mãe). Na mitose não ocorre uma recombinação genética do material genético dividido, isto é, as células filhas são como cópias da célula-mãe e seu material genético. A meiose se relaciona com a formação dos gametas e com a reprodução sexuada, e é um pouco diferente da mitose. Basicamente na meiose, a célula-mãe dá origem a células filhas que contêm apenas metade dos cromossomas da célula-mãe. Fig. 9: A divisão celular. Ilustração original: Alila Medical Media / Shutterstock.com. ID da ilustração livre stock: 172528919. 41 Disponível em: https://www.infoescola.com/citologia/divisao-celular/ Acesso: 23/06/2020. A divisão celular é uma etapa do que chamamos de ciclo celular, um conjunto de fases que uma célula passa durante sua vida com o intuito de duplicar-se, dando origem a células novas. Neste ciclo, a interfase, é o período entre duas divisões e no qual a célula aumenta de volume e no número de organelas celulares. É uma etapa longa do ciclo correspondendo a 95% do tempo. É nela que ocorrem os fatores e os estímulos que propiciam a divisão celular. A interfase é subdividida em: Fase G1, o período inicial, que se estende até o início da duplicação do DNA. Nesta fase ocorre o aumento do volume com grande aumento na formação de organelas e síntese de proteínas, além de produção de RNA e uma intensa síntese de carboidratos; Fase S, é a mais longa, nela acontece o processo de duplicação das moléculas de DNA res- ponsável por garantir que as células-filhas recebam as informações genéticas que determinam suas características. Não ocorre a duplicação dos cromossomos; Fase G2, onde ocorre a duplicação de centríolos, além de iniciar a produção de glicose, que é importante durante a divisão celular. Forma-se nesta fase o fuso mitótico ou fuso cariocinético. A célula então está preparada para a fase mitose, onde acontece a divisão em duas células filhas. A fase G1 é importante para a checagem se tudo está correto para a divisão. Erros em G1 podem levar ao câncer. A mitose, a fase de divisão, tem como funções o crescimento, cicatrização e regeneração de tecidos, e as divisões do zigoto durante o período embrionário. Ela ocorre em quatro etapas: Prófase: Uma fase mais longa, onde os filamentos de cromatina se enrolam e diminuem de tamanho virando cromossomo. Os dois pares de centríolos se afastam em direções opostas formando um fuso, e o invólucro nuclear se rompe com a chegada dos centríolos aos polos e os nucléolos desaparecem; Metáfase: Os cromossomos chegam a posição media da célula, se con- densam de maneira individualizada numa placa equatorial; Anáfase: os centrômeros dos cromossomos começam a se duplicar enquanto as fibras do fuso, conectados aos centrômeros, se encurtam e puxam os cromossomas para os polos da célula. Em seguida, os centrômeros se clivam e se separam originando dois conjuntos de cromossomas independentes; Telófase: Nesta as fibras do fuso desaparecem e a membrana celular se desenvolve em volta dos cromossomas de cada polo da célula, assim passam a existir dois conjuntos com informação genética igual. Nesta fase começa a citocinese, a divisão do citoplasma para cada uma das células filhas. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D Na meiose a célula-mãe diploide (2n), com cromossomos duplos, dá origem a quatro células-filhas com metade do número de cromossomos da primeira, através de duas divisões sucessivas. A meiose tem a função de formar gametas e é constituída por duas fases (meiose I e meiose II). Na primeira divisão meiose I, ocorrem a prófase I, metáfase I, anáfase I e telófase I. Na segunda, a prófase II, metáfase II, anáfase II e telófase II. São elas: • Prófase I: primeira fase, a cromatina se espiraliza, transformando-se em cromossomos (contendo duas cromátides irmãs). O nucléolo e a carioteca desaparecem e os centríolos migram para os polos da célula para formar o fuso acromático. Essa etapa pode ser dividida em cinco etapas. A primeira delas é o leptóteno, que é caracterizado pela condensação dos cromossomos em alguns pontos especí- ficos. Esses pontos são denominados de cromômeros. A próxima fase é o zigóteno, momento em que é possível observar os cromos- somos homólogos emparelhados, o que se denomina de sinapse. O emparelhamento atinge sua perfeição na fase de paquíteno, quando é possível observar o chamado bivalente ou tétrade. Os bivalentes são os pares de cromossomos totalmente emparelhados. Nesse momento poderá ocorrer o crossing-over, processo caracterizado pela troca de partes entre os cromossomos homólogos, um fenômeno importante para que haja uma maior variabilidade genética na espécie. Na etapa chamada de diplóteno, os cromossomos iniciam a separação. Nesse momento é possível observar os quiasmas, pontos onde as cromátides do cromossoma se cruzam. Por fim, ocorre a diacinese, quando acontece a separação dos cromossomos homólogos, com o deslizamento dos quiasmas para as extremidades do bivalente. No “crossing-over” também chamado de permutação, ocorre a quebra e troca de genes entre os cromossomos. 42 • Metáfase I: A membrana celular desaparece e forma-se o fuso. Os cromossomos homólogos atingem a espiralização máxima e migram presos às fibras do fuso se alinhando no plano equatorial. • Anáfase I: Ocorre o emparelhamento dos cromossomas e os cromossomas homólogos migram para os polos opostos das célu- las devido ao encurtamento das fibras do fuso. • Telófase I: Os cromossomos começam a se descondensar (se desespiralizam) a membrana nuclear é refeita e os nucléolos reorgani- zam-se. Em seguida acontece a divisão do citoplasma. Assim ao fim da meiose I cada célula-filha já tem metade do número de cromos- somas da célula-mãe (é uma divisão reducional). Entre esta meiose I e a meiose II não há a duplicação do DNA. • Prófase II: Os cromossomos se condensam novamente e acontece a duplicação dos centríolos. Também nesse momento a membrana nuclear desaparece, os nucléolos desaparecem e forma o fuso acromático. • Metáfase II: Os cromossomos homólogos se encontram na região equatorial e os centríolos se preparam para se duplicarem. • Anáfase II: Há duplicação dos centrômeros, as cromátide irmãs dos cromossomos homólogos migram para pólos opostos devido ao encur- tamento das fibras do fuso; • Telófase II: Nessa última fase os cromossomos se descondensam, a carioteca e o nucléolo reaparecem e ocorre o término da cariocinese e da citocinese, formando-se 4 células haplóides (n). Muito embora o ciclo celular seja algo estudado nas escolas, ele é um assunto bastante explorado em exames e os estudantes devem entender um pouco mais sobre ele para poderem entender as falhas celulares que podem levar a patologias. Uma oficina que esclarece de forma lúdica o ciclo celular, usando modelos 3D, abordando de maneira prática e visível o que é ensinado na escola, edifica este conhecimento, por isto é importante como meio educacional auxiliar. Volume 2 - As Oficinas

Fig. 10: Esquema de meiose. – Imagem original de domínio público. Science primer, NCBI [modificada]. Portfolio do Museu 3D Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Meiose Acesso: 23/06/2020. 43 O maior conhecimento sobre o ciclo celular pode levar os estudantes a compreender mais sobre doenças graves como o câncer, uma patologia que em diversas ocasiões podem deixar estudantes órfãos. Portanto, eles querem saber mais. No caso do câncer é possível mostrar aos alunos que muitos estudos são realizados para descobrir as causas, alguns deles inclusive mostraram a falta de proteínas reguladoras, por exemplo, quando falta uma proteína chamada Mad1, o processo de mitose ocorre muito depressa e são cometidos erros, e, destes erros surgem células com potencial tumoral. Mas não apenas isto, o câncer é uma doença causada por uma divisão celular descontrolada que acontece devido a uma série de alterações na atividade dos reguladores do ciclo celular (ex.: os inibidores do ciclo celular, entre outros fatores). Na maioria dos casos essas alterações ocorrem devido a mutações nos genes que codificam as proteínas reguladoras do ciclo celular.  Em geral, as células humanas podem passar por aproximadamente 40-60 ciclos de divisão antes de perderem a capacidade de se divi- dir e finalmente, morrer.  Já as células cancerígenas podem se dividir muitas vezes mais do que uma célula normal do corpo. O entendimento disto envolve conhecer as regiões repetitivas nas extremidades dos cromossomos que são chamadas de telômeros e que atuam como regiões que protegem as regiões internas dos cromossomos. O tamanho dos telômeros é um indicador da idade celular, ou a idade biológica da célula. Mas, os telômeros se desgastam a cada ciclo de replicação de DNA, assim vão encurtando, e isto está relacionado ao envelhecimento celular, por isto há um número fixo de divisões celulares antes da célula perder a capacidade de se dividir (etapa dita senescência celular). A perda desta capacidade acontece pela perda da função de uma enzima chamada telomerase. A telomerase reverte o desgaste das extremidades do cromossoma, que normalmente acontece durante cada divisão celular. A telomerase está bem ativa em algumas células (como as germinativas e tumorais), mas está reprimida nas células somáticas. A telomerase é uma DNA polimerase RNA dependente, ou seja, uma enzima que pode produzir DNA usando o RNA como molde. Quanto maior for a atividade da telomerase, maior será sua capacidade de preservar o tamanho dos telômeros (ver Fig. 105 do ANEXO) e manter a integridade dos cromossomas. As células cancerígenas têm a telomerase muito ativa o que favorece portanto, a vida da célula cancerígena. O câncer é um processo onde existe a perda da regulação do ciclo celular, a perda do controle, gerando invasão e metástase (espalhamento Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D das células cancerígenas) e também a falha da apoptose (morte celular). A maioria dos cânceres surge quando células adquirem uma série de mutações (alterações no DNA) que fazem com que elas se dividam mais rapidamente, escapem dos controles internos e externos da divisão celular e evitem a morte celular programada (apoptose). Estes conceitos e o entendimento deste assunto muitas vezes só é conseguido com o ensino superior, deste modo, as oficinas sobre ciclo celular podem levar a uma visão mais ampliada sobre a sobrevida de nossas células, a forma saudável de aumentar esta sobrevida, mas também uma visão correta do que acontece no câncer e nas metástases. O sucesso deste tipo de oficina foi bastante incentivador ao Projeto Museu 3D, como um divulgador de ciências. 3.2. A Reprodução Humana – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 06 - Tema: Gravidez na Adolescência e as Drogas. Oficina n°: 11 - Tema: Divisão Celular – O Controle do Ciclo Celular e o Câncer. Oficina n°: 27 - Tema: Amamentar Promove Saúde! Oficina n°: 30 - Tema: Novembro Azul/Câncer de Próstata: Um Desafio para a Saúde do Homem. 44 A reprodução é um processo que acontece no corpo humano para perpetuar a espécie. Além de ser discutido em ciências nos ensinos fundamental e médio, a reprodução humana é um ponto relevante no ensino de ciências e bastante conveniente para a elaboração de interes- santes oficinas, devendo os extensionistas dominar esta questão para levar o conhecimento correto. Não apenas o processo de reprodução é visto nas oficinas do Projeto Museu 3D, mas também os sistemas genitais masculinos e feminino em detalhes que possam esclarecer de maneira simples e respeitosa, cada elemento deste sistema, bem como os fenômenos da fecundação e do ciclo menstrual, que são temas de ciências inclusive nos concursos. Outrossim, patologias podem ser incluídas para discussões em relação a estes sistemas ou para as campa- nhas de saúde relacionadas, como a campanha do câncer de mama ou de próstata. Na reprodução há a participação dos sistemas reprodutores, o sistema genital masculino e o genital feminino, que apresentam diferenças anatômicas que garantem a  reprodução. As funções destes sistemas genitais são distintas, assim o sistema reprodutor feminino está adap- tado para produzir os óvulos (ovócitos primários) e transportar o ovócito fecundado para implantação no útero e dar continuidade à gravidez. O sistema masculino tem como função produzir e manter os espermatozoides que encontrarão os óvulos. 3.2.1. Os Sistemas Reprodutores Feminino e Masculino. O sistema reprodutor feminino é constituído pelo (1) útero (que abriga o embrião no início da gravidez e depois o feto, nome que o embrião recebe em fases mais adiantadas da gravidez), (2) as tubas uterinas (local onde o ovócito é fecundado) que se comunicam com o útero, (3) os ovários (onde os ovócitos são produzidos e que também produz hormônios femininos), (4) vagina (local por onde os espermatozoides penetram e que também serve como o canal do parto). A mulher tem 2 ovários um de cada lado do útero (Fig. 11) que se localizam próximos às paredes da pelve Volume 2 - As Oficinas

óssea (ou bacia). O útero e os ovários começam a crescer ainda em fase pré-puberal, e precede o aparecimento dos caracteres sexuais secundá- Portfolio do Museu 3D rios.  O útero permanece inalterado até os 8-10 anos e os ovários aumentam a partir dos 6-8 anos (TEIXEIRA et al, 1999). 45 Os ovários são órgãos glandulares em forma de amêndoa, localizados simetricamente na parte inferior da cavidade pélvica em ambos os lados do útero e cada um debaixo da correspondente trompa de Falópio (ou tuba uterina). São seguros nessa posição por vários ligamentos. Os ovários correspondem às gônadas femininas, já que é neles que estão as células reprodutoras (gametas) e os hormônios sexuais femininos são produzidos. Os ovários são revestidos externamente por uma camada de células cúbicas chamada mesotélio peritoneal. O ovário possui uma região periférica dita córtex e outra central chamada medula. Estas áreas possuem tecido conjuntivo. No córtex encontram-se os folículos ovarianos em vários estágios do desenvolvimento. Estes folículos possuem as células germinativas, as oogônias (antes chamadas ovogônias) que apa- recem durante a formação do embrião feminino no local onde seus ovários estão se desenvolvendo. Após os 14 anos há poucos folículos primários no ovário e este ovário encontra-se sexualmente maduro. Estas oogônias ficam no ovário envoltas por células do tecido conjuntivo dos próprios ovários e este conjunto é chamado de folículo primário. As oogônias se multiplicam por meiose e, por exemplo, em um ovário embrionário de uma menina no 5° mês fetal, já tem de 5 a 7 milhões de oogônias. Destas, muitas oogô- nias que não formam um folículo, desaparecem antes do nascimento pois degeneram e morrem. Assim, apenas cerca de 1 milhão de oogônios sobrevive até o nascimento da menina. Nas meninas, a meiose I começa antes do nascimento. As oogônias que sobrevivem entram em meiose, a divisão celular reducional, e se transformam em ovócitos (oócitos) primários. Mas, esta divisão é interrompida na fase de diplóteno (Fig.12), devido a secreção de uma substância inibidora da meiose que próprio ovário produz, induzido pelo hormônio chamado luteinizante (LH). Esta interrupção leva a menina a nascer com ovócitos nesta fase interrompida, ou seja, com ovócitos que não completaram a meiose I. Somente na puberdade, no período da ovula- ção, é que uma substância indutora da meiose vai estimular estes ovócitos primários a completar a meiose I e iniciar a meiose II. Ao terminar a meiose, a célula se divide em duas, onde uma será o ovócito secundário e a outra (bem menor e sem condições de sobreviver) será o primeiro corpúsculo polar que degenera. Fig. 11: Biologia, Anatomia e Fisiologia Humanas. Anatomia do Sistema reprodutor feminino. – Imagem do Pinterest livre. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/sistema-reprodutor-feminino/ Original em: https://br.pinterest.com/pin/610871136939064305/ Acesso: 27/04/2021. Na vida da menina muitas oogônias degeneram por um processo dito atresia. Portanto, na mulher jovem apenas cerca de 300.000 a 400.000 folículos ovarianos poderão se desenvolver durante 30 a 40 anos. E a cada mês, mais precisamente a cada 28 dias, um destes folículos crescerá e liberar um ovócito primário para ser ou não fecundado. Antes da puberdade todos os folículos no córtex do ovário estão no estágio de folículo primordial ou primário. Nesta fase o hipotálamo no encéfalo produz um hormônio estimulante, o hormônio liberador de gonadotrofinas, através de seus neurônios. Este hormônio estimula células da hipófise, uma glândula localizada um pouco abaixo do hipotálamo, Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D a liberar hormônios que atuam sobre um folículo ovariano a cada mês. Estes hormônios são o folículo-estimulante (FSH), que será responsável pelo crescimento e desenvolvimento do folículo primordial e o hormônio luteinizante, responsável pela liberação do ovócito primário para fora do ovário (a ovulação). Deste modo, os folículos nos ovários apresentam 2 estágios distintos: 1. Folículos primordiais, que ainda não estão em crescimento; 2. Folículos em crescimento, que chegam ao estágio final de folículo maduro ou folículo de Graaf. O crescimento dos folículos ocorre ao longo do ciclo menstrual, ou seja, há um ciclo no ovário, responsável pelo cres- cimento dos folículos ovarianos, e um ciclo uterino, responsável por pre- parar o útero para receber o futuro embrião. No ciclo ovariano, os folículos primordiais são ovócitos primários envolvidos por uma única camada de células achatadas do ovário (as células foliculares) e eles são muitos, antes do nascimento da menina. Nesta fase o ovócito tem um núcleo grande e seus cromossomas estão desespiralizados. 46 Os folículos primordiais começam a se transformar, o ovócito primário cresce, e as células que o recobrem tornam-se cúbicas. Com o cres- cimento do folículo, aumentam as camadas de células ao redor do ovócito, e várias camadas passam a formar a camada granulosa do folículo, onde há muitas células foliculares. Nesta fase uma zona, sem células, separa o ovócito desta camada granulosa, é a zona pelúcida. Nela estão, entre outros elementos, os receptores (glicoproteínas, ZP1, ZP2 e ZP3) que vão futuramente, reconhecer o espermatozoide. Fig. 12: Imagem de Gametas e Gametogênese – Imagem livre do Pinterest. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/gametas-e-gametogenese/ Original em: https://br.pinterest.com/pin/630574385344456992/ Acesso: 23/06/2020. Rodeando a camada granulosa (que envolve o ovócito) outras células do ovário se organizam em 2 camadas chamadas Tecas, a teca mais interna, que tem receptores para o hormônio luteinizante (LH) produzido pela hipófise, e a teca externa constituída por células do próprio ovário, sem grandes modificações. Os folículos primários crescem pelo aumento de camadas de células ao redor do ovócito primá- rio. Com o crescimento do folículo, espaços começam a se formar no interior da camada granulosa, espaços cheios de um líquido folicular, e então, o folículo primário já pode ser considerado um folículo secundário. Todo este crescimento folicular ocorreu devido à presença e influência do hormônio folículo estimulante – FSH liberado pela hipófise. Os espaços aumentados e com líquido se aproximam até formar um único espaço, o Antro Folicular, e assim o ovócito vai sendo empurrado Volume 2 - As Oficinas

para um dos lados, e as células da granulosa vão se reorganizando para revestir o ovócito justamente na face que está voltada para o antro. Portfolio do Museu 3D O ovócito fica então alojado num amontoado de células da granulosa chamado de disco prolígero (ou cúmulo oóforo) enquanto uma camada única de células, a coroa radiada, fica envolvendo todo o ovócito. Nesta fase, uma rica rede de capilares está nutrindo as células das tecas 47 e da camada granulosa. Se o crescimento do folículo continuar (devido ao FSH) ele se torna um folículo maduro ou Folículo de Graaf, que pode ter até 2,5 cm e fazer uma saliência na parede do ovário. Conforme aumenta a produção de líquido folicular, o antro vai crescendo, e isto leva a separação do disco prolígero do restante da camada celular (membrana granulosa), ficando então, o disco prolígero, mais a coroa radiada e o ovócito flutuando livremente no líquido do antro. Fatores hormonais farão com que este conjunto flutuante seja expelido para fora do ovário, na ovulação. A ovulação ocorre em média por volta do 14° dia do ciclo menstrual, quando um elevado pico do hormônio LH (luteinizante) liberado pela hipófise é atingido. Este pico causa um aumento do fluxo sanguíneo para o ovário. Os capilares no seu interior e dentro das camadas celulares (as tecas) começam a extravasar o seu plasma, causando um edema no local. O folículo de Graaf começa a pressionar a parede do ovário criando o estigma. As células das tecas e da granulosa passam a secretar citocinas e enzimas hidrolíticas (histamina, prostaglandinas e colagenase) que levam ao rompimento da parede do folículo e o rompimento da túnica albugínea e do epitélio do ovário, assim o antro fica aberto para a cavidade peritoneal e o conjunto flutuante com o ovócito sai do ovário. Antes porém desta liberação, o ovário secreta a substância indutora da meiose, e com isso, o ovócito primário retoma rapidamente a meiose I, dividindo-se em ovócito secundário e primeiro corpúsculo polar (que recebe menos citoplasma). O ovócito secundário entra então rapidamente em meiose II, que é interrompida na fase metáfase (Fig. 10), e nesta condição o ovócito sai do ovário sendo captado pela tuba uterina. A meiose II só irá se completar se o ovócito secundário for fecundado pelo espermatozoide. O resto do folículo de Graaf que ficou no ovário sofre um colapso e muitos vasos no local se rompem, liberam sangue e se forma um corpo hemorrágico, um coágulo. Mas, conforme este coágulo vai sendo removido por células fagocitárias, o alto teor de LH transforma o resto do folículo no que se chama de corpo lúteo, um tipo de glândula temporária que produz hormônios – estrogênio ou estrógeno e progesterona – hormônios que inibem a liberação de FSH e LH, respectivamente. O ovócito dura aproximadamente 48 horas e a vida útil do corpo lúteo é de aproximadamente 14 dias. Na mulher adulta as tubas uterinas ou Trompas de Falópio tem cerca de 10-12 cm de comprimento por 1 cm de diâmetro. Elas são duas estruturas tubulares ocas semelhantes a chifres de veado, que se originam lateralmente a partir do útero (Fig. 11). As tubas servem para capturar o ovócito que deixa o ovário e promover um local para a fecundação (em uma região chamada ampola) e depois, servem para conduzir o zigoto (resultante da fecundação do ovócito pelo espermatozoide) em transformação (clivagem) até o útero. As tubas uterinas se dividem em 4 segmentos: infundíbulo, ampola (onde ocorre a fecundação) istmo e porção uterina. Quando ocorre a ovulação, a tuba se aproxima do ovário, e executando movimentos de contração e relaxamento, lança suas fímbrias (expansões digitiformes) que se movem sobre o ovário fazendo uma varredura e puxando o ovócito para dentro. Os espermatozoides (gametas masculinos), que entram pela vagina são direcionados por movimentos de contração do útero e das tubas até a região da ampola (a parte mais dilatada da tuba uterina) onde então encontram o ovócito para fecundá-lo. O próprio ovócito atrai o espermatozoide com sinais químicos. Ocorrendo a fecundação se forma o zigoto, que seguirá lentamente até o útero passando pelo processo de clivagem. Se não ocorrer a fecundação (gravidez ectópica), o zigoto degenera. Mas, se por algum erro a fecundação ocorrer em outro local da tuba uterina, poderá causar uma gravidez tubária que não segue adiante, mas poderá romper a tuba e gerar sangramento grave. Volume 2 - As Oficinas

Portfolio do Museu 3D A fertilização ou fecundação começa com o contato dos dois gametas e termina com a mistura dos cromossomas materno e paterno. Quando o espermatozoide entra no ovócito ele completa a meiose II. Na fecundação, o espermatozoide dispersa as células da coroa radiada usando enzi- mas apropriadas e começa a penetrar no ovócito usando sua cauda móvel para auxiliar seus movimentos. O espermatozoide possui um capuz (tipo bolsa) em sua cabeça que contém enzimas que são liberadas para atacar as células da coroa radiada e a zona pelúcida (amorfa) que está colada ao ovócito.Quando o espermatozoide (o primeiro que chegou lá, o mais viável) chega a esta região ocorre uma reação zonal (uma mudança na zona pelúcida) que torna o ambiente envolta do ovócito impermeável à passagem de outros espermatozoides, permitindo assim que só este espermatozoide mais viável, possa ligar a sua membrana plasmática com os receptores da zona pelúcida (glicoproteínas ZP1, ZP2, e ZP3). Assim, deixando sua membrana plasmática fundida com a própria membrana plasmática do ovócito, a cabeça e cauda do espermatozoide entram no ovócito, que então, termina sua meiose II, forma um ovócito maduro e o segundo corpúsculo polar. O momento real da fecundação é quando os núcleos destes gametas se transformam em núcleos com cromossomas não condensados (os pró-núcleos feminino e masculino), e se fundem. Os cromossomas materno e paterno se arranjam e se misturam criando uma nova combinação genética no zigoto. O zigoto leva, geneticamente, metade dos cromossomas paterno e metade dos cromossomas materno refazendo o número diploide 46 (2n). Logo após o zigoto se formar ele começa a sofrer mitoses, num processo denominado clivagem, gerando um aumento rápido de células enquanto o zigoto se move ao longo da tuba em direção ao útero. A clivagem é uma divisão celular (que leva cerca de 7 dias) e que gera, seguidamente, 2 células (2 blastômeros) (30 h após a fertilização), depois 4 células, 8 células, e assim vai ao longo da tuba uterina. 48 A cada divisão os blastômeros vão se tornando menores e se compactando, grudando um no outro, até chegar a forma de mórula, uma mas- sa com muitas células a semelhança de uma amora. A mórula tem uma massa de células mais interna, rodeada por uma camada de células (cerca de 32 células) externa. Esta mórula está formada 3 dias após a fecundação. Logo que a mórula entra no útero, cerca de 4 dias da cliva- gem, ela vai se transformar em um blastocisto. Isto acontece porque o líquido da cavidade uterina vai penetrando na mórula e abrindo espaços, os quais se unem formam a cavidade blastocística ou blastocele. Esta cavidade divide o blastocisto em duas porções: uma camada externa de blastômeros que formam o trofoblasto (que dará a placenta) e uma massa de blastômeros, o embrioblasto, que dará origem ao embrião. O blastocisto vai se encostando na parede do útero (com a porção do embrioblasto voltado para ela) e através de digestão enzimática penetra nesta parede, no endométrio. Todo este processo de clivagem e implantação ocorre na primeira semana embrionária. Quando não há fecundação, este endométrio que estava se preparando para receber o blastocisto (futuro embrião) degenerará e o sangue perdido representa a menstruação. O útero (ver Fig. 13 ANEXO) é constituído por três camadas de fora para dentro: perimétrio (externa, ou peritônio visceral), miométrio (intermediária, músculo liso) e endométrio (interna). O endométrio é formado por um epitélio cilíndrico simples (revestimento interno do útero) e por tecido conjuntivo que contém inúmeras glândulas tubulares simples (glândulas endometriais). Esta é a camada que se torna espessa, se preparando para receber o blastocisto, e que se desfaz sendo eliminado como a menstruação. O útero é um órgão oco, situado atrás da bexiga e à frente do reto. Tem a forma de uma pera invertida, com cerca de 8 cm de comprimento, entre 3 a 4 cm de diâmetro na sua parte mais larga, e tem um peso um pouco inferior a 100 g. Suas dimensões se alterem significativamente durante a gravidez, ao longo da qual o útero aumenta milhares de vezes e alcança um peso superior a 1kg. Os órgãos externos do sistema genital feminino são: o monte púbico com pelos na vida adulta (monte de Vênus) e vulva (que engloba os grandes e os pequenos lábios, e o clitóris. Os grandes lábios são dobras da pele que recobrem tecido adiposo e contém pelos. Os pequenos lábios, não tem tecido adiposo e nem pelos. Na sua porção superior está o clitóris, uma massa de tecido erétil (cerca de 2 cm) cuja função e ser anatomicamente a área capaz de proporcionar prazer sexual. É do tamanho de uma ervilha e tem mais de 8.000 terminações nervosas, Volume 2 - As Oficinas

é anterior a uretra, local por onde a urina é liberada. A vagina é um canal fibromuscular, revestido por uma membrana pregueada. Tem cerca Portfolio do Museu 3D de 10 a 12 cm de comprimento. A vagina comunica a vulva e o útero e suas funções são: servir como o canal do parto, pois apresenta grande elasticidade, dar saída ao fluxo menstrual, e receber o órgão copulador masculino (pênis) para direcionar os espermatozoides até o útero. 49 O assunto sistema genital masculino e feminino desperta a curiosidade de crianças e adolescentes. Em muitas escolas é um assunto difícil de explicar devido a várias situações. Sendo assim, atividades pedagógicas extraclasse, como as oficinas socioeducacionais acabam tendo que elaborar maneiras de responder a estas questões, principalmente quando tratam de câncer de útero, gravidez e até mesmo, abusos sexuais. Portanto, os extensionistas precisam estar preparados para responder questões dentro deste tema. O uso de modelos 3D, como sem- pre é feito no Projeto Museu 3D, associado a informações simples mas corretas e precisas, ofereceu um excelente suporte para as oficinas que envolvem os sistemas genitais masculino e feminino, a fecundação, a menstruação, e outros relacionados. 3.2.2. As Glândulas Mamárias – Amamentação – Trabalhado nas oficinas: Oficina n°: 06 - Tema: Gravidez na Adolescência e as Drogas. Oficina n°: 27 - Tema: Amamentar Promove Saúde! As glândulas mamárias (mama, busto, seio, peito) fazem parte da genitália externa feminina do sistema reprodutor feminino. As mamas são órgãos estruturalmente dinâmicos que variam com a idade, o ciclo menstrual e o estado reprodutivo da mulher. A mama se desenvolve como uma proliferação (crescimento da pele) da epiderme ao longo de uma linha (linha ou faixa mamária) oblíqua que vai da axila até a virilha. Não tem uma altura certa para a mama se desenvolver em todas as pessoas, mas uma área comum. Na face posterior da mama está a sua musculatura, separada do músculo peitoral por fina camada de tecido conjuntivo e de tecido adiposo. A face anterior da mama é revestida pela pele e a mama tem ao centro a aréola, um disso que possui cerca de 20 tubérculos areolares que são glândulas sebáceas. Na gravidez eles aumentam, e no aleitamento produzem uma substância oleosa que protege a aréola. No centro da aréola está a papila, uma área pequena, irregular e rugosa, o mamilo (ver Fig. 227 do ANEXO). A mama normal, internamente, possui um tecido de preenchimento (tecido conjuntivo denso) e o tecido glandular, com 10-20 lobos formandos por lóbulos e ácinos (ver Figs. 225 e 226 do ANEXO). Há cerca de 15 a 25 lóbulos em glândulas tubuloalveolares compostas que secretam leite. Cada lobo é drenado por um canal excretor, o canal lactífero, que apresenta uma dilatação, o seio lactífero, e se dirige para as papilas. Cada lóbulo se separa do outro por tecido conjuntivo denso e muito tecido adiposo. Estes lóbulos são como glândulas individuais com seus ductos excretores – ductos galactóforos – e pequenos alvéolos, as unidades secretoras onde o leite é produzido e fica armazenado até sua expulsão. Assim, a glândula mamária contém um sistema de ductos e unidades secretoras. As transformações que a mama sofre na gravidez são importantes e têm o propósito de preparar o corpo para amamentar. Em torno dos seis meses de gravidez o colostro já começa a ser produzido. Esse líquido é nutritivo e o bebê irá se alimentar dele nos primeiros dias de vida. Com o nascimento do bebê, os níveis de estrogênio (hormônio relacionado com o controle da ovulação e desenvolvimento das características femininas) diminuem e em 48 horas após o parto, sob comando da hipófise no cérebro, há um pico de prolactina, hormônio responsável pela produção de leite materno. Nesse processo, os lóbulos mamários, que se parecem com cachos de uva (ver Figs. 225 e 226 do ANEXO) e estão localizados no final dos ductos começam a produzir e armazenar o leite materno. Volume 2 - As Oficinas


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