resultaram em conseqüências danosas ao meio ambiente e que poderiam ter sido evitadas mediante a simples obediência à lei. Mesmo nos casos em que a natureza impôs sua força às modificações antrópicas, uma ação preventiva poderia resguardar ou minimizar seus efeitos deletérios. As degradações ambientais somente serão coibidas se as autoridades constituídas e responsáveis pela preservação do patrimônio de uso público e coletivo exercerem a força da lei e o poder de fiscalização. A elaboração e adoção de um Plano de Manejo e/ou Plano Diretor sem ingerências políticas e interesses hegemônicos outros, que estabeleça medidas e normas técnicas para a ocupação antrópica respeitando as limitações dos ecossistemas costeiros parece ser uma ação eficaz, evidentemente se resguardada por diretrizes e metas para análise, controle e acompanhamento das ações antrópicas. A partir dos mapas geoambientais apresentados podem ser concebidas cartas de zoneamento ambiental ou sensibilidade ambiental, em que possam ser acrescentadas e/ou associadas informações sobre os aspectos bióticos e sócio-econômicos, a fim de subsidiar de forma mais eficiente e completa o planejamento e a gestão ambiental dessas áreas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, G.V. & PINTO, M.N. 1973. Geomorfologia. In: Projeto RADAMBRASIL Folha SA23 (São Luís) e Parte da Folha SA24 (Fortaleza); geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, DNPM, p. 1-26. (Levantamento de Recursos Naturais, 3) BASTOS, M.N.C. 1996. Caracterização daformações vegetais da restinga da Princesa, ilha de Algodoal-Pará. Belém, Universidade Federal do Pará/Centro de Ciências Biológicas, 261p. Tese de doutorado. REIS, M.C. & MENDES, A.C. 2000. Análise crítica do Plano de Urbanização da Orla do Maçarico (Salinópolis-Pará). Traços, 1(7): 17-21. RIBEIRO, C. & SENA, C. 1995. Estudo dos subambientes de restinga de Fortalezinha/ilha de Algodoal - NE do Pará. WORKSHOP ECOLAB, 3. Belém, 1995. Resumos. Belém, MPEG/SUDAM/EJFPA: 112-114. SANTOS, V.F 1996. Estratigrafia holocênica e morfodinâmica atual da planície costeira da ilha de Algodoal e Marudá. Belém, Universidade Federal do Pará/Centro de Geociências, 139p. Tese de mestrado. SILVA, M.S. 1996. Morfoestratigrafia e evolução da planície costeira de Stzlinápolis - NE do Estado do Pará. Belém, Universidade Federal do Pará/Centro de Geociências, 14.2p. Tese de mestrado. SUDAM. 1984. Atlas Climatológico da Amazônia Brasileira. Belém, SUDAM/PHCA, 125p. VIEIRA, L.S. & SANTOS, PC.TC. 1984. Amazônia: seus solos e outros recursos naturais. São Paulo, Agronomia CERES. NOTAS 'MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi-MPEG. Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia. Campus de Pesquisa, Av. Perimetral, 1901. Cep 66077-530, Belém-PA. E-mail: [email protected] 2 IEPA-Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá/Centro de Pesquisas Zoobotânicas e Geológicas Divisão de Botânica. Rod. JK, Km. 10, s/n. (Fazendinha). Cep. 68902-280, Macapá-AR E-mails: [email protected]; [email protected] Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 111
O litoral ocidental é bastante recortado, com inúmeras baías, centenas de ilhas e bancos lodosos, e extensos manguezais margeando a costa e penetrando rios e canais até 100 km terra adentro. Dividindo o litoral oriental do ocidental encontra-se o Golfão Maranhense, aonde está situada a ilha de São Luís (Latitude 02°25'-02°35' S e Longitude 44001' - 44°23'W). Os manguezais cobrem cerca de 890 km do perímetro do Golfão (Medeiros 1988) e se distribuem, também, pelos estuários da ilha de São Luís. As marés, em São Luís, podem alcançar até 7 metros de altura (Ferreira 1988). A exuberância e a complexidade dos manguezais maranhenses são reconhecidas por vários autores (Kjerfve & Lacerda 1993; Lacerda & Schaeffer-Novelli 1992; Cintrón & Schaeffer-Novelli 1983). No Maranhão, a primeira Unidade de Conservação foi criada em 1942, na ilha de São Luís, incluindo áreas de manguezais. Em 1980 essa Unidade foi transformada no Parque Estadual do Bacanga. Em 1981 o governo brasileiro criou o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o qual apresenta manguezais em áreas restritas às desembocaduras de rios e pequenos estuários. No período de 1988 a 1991 o governo do estado criou Unidades de Conservação que englobam a totalidade da zona costeira maranhense. EXTENSÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS MANGUEZAIS NA ILHA DE SÃO LUÍS A Tabela 1 mostra a perda da área de manguezais na ilha de São Luís no período de 1972 a 1993, baseada em dados obtidos por sensoriamento remoto. Em 1993 os manguezais cobriam uma área de cerca de 19.000 ha na ilha de São Luís, distribuídos em franjas ao longo da linha de costa, em depressões (bacias) atrás das praias e dunas e nas margens de rios e igarapés, de acordo com os tipos descritos por Lugo & Snedaker (1974). Tabela 1—Mudanças na área de manguezais de 1972 a 1993 em São Luís.* Imagem Base Ano Estimativa da área de manguezais (ha) 1972 25.800 GMS 1000 1979 23.200 Landsat MSS 1991 20.730 SPOT 1993 18.900 LandsatTM * Adaptado deRebelo-Mochel 1997. A degradação dos manguezais parece mais acelerada de 1991 a 1993, a despeito das diferenças entre as escalas das imagens e suas resoluções. Nesse caso, a perda da área de manguezais, em dois anos, foi da ordem de 2.000 ha contra 5.000 ha em vinte anos. As áreas de manguezais perdidas no período considerado podem ser vistas nas figuras 1 e 2. ESTUDO DE CASO E MAPEAMENTO TEMÁTICO O estudo de caso foi conduzido no manguezal adjacente ao vilarejo de Parnauaçu, sudoeste da ilha de São Luís, entre as coordenadas 2037'27\"S - 2°38'30\"S e 44°20'36\"W - 44°21'41\"W Nessa área, os manguezais formam, principalmente, bosques mistos de Rhizophora, Avicennia e Laguncularia e uns poucos bosques Ecossistemas Costeiros impactos agest& ambiental 114
1971/1972 SÃO LUÍS 1991/1993 Manguezal 25.790 ha Figura 1. Áreas de Manguezal na ilha de São Luís (1971/72). Manguezal 18.895 ha Figura 2. Áreas de Manguezal na ilha de São Luís (1991/93). homogêneos formados por apenas um desses gêneros (Figura 3). Os mapas temáticos foram produzidos com o auxílio de fotografias aéreas em escala 1:8.000, cartas produzidas pelo DSG, Exército Brasileiro, e traba- lhos de campo para checar os temas. Foram utilizados programas computacionais Idrisi 1.1 e Aldus Photostyler. O mangue branco ou tinteira (Laguncularia racemosa) ocorre em bosques homogêneos (L) ou mistos (L/A/R), formando franjas na borda do estuário, enquanto bosques de R/lizophora mangle homogêneos (R) ou mistos com Avicennia (RIA) ocorrem nas áreas mais internas formando bacias como descrito por Lugo & Snedaker (1974). Esse aspecto fisiográfico representa as novas áreas colonizadas por Laguncularia onde se verifica a ocorrência de sedimentação ativa. Ecossistemas Costeiras: impactos egestão ambiental 115
O23T2T O23T57 Mangua ó 240 1:8.000 02°3?30 Figura 3. Mapa temático das espécies de manguezais em Praguaçu, ilha de São Luís. Bosques homogêneos de Laguncularia (L), Riiizophora (R) ou Avicennia (A) são pouco freqüentes na área estudada. Geralmente, os bosques homogêneos de manguezais, formados por um único gênero ou espécie, representam uma mesma história de colonização, favorecida pela ocorrência de um evento sobre uma determinada área num determinado período de tempo. Na área estudada, os bosques homogêneos formados por Laguncularia (L) são observados em locais sob a influência do deslizamento de solos, provenientes do desmatamento das encostas adjacentes. O desmatamento do ecossistema terrestre adjacente provoca a erosão dos solos, especialmente na estação chuvosa, aumentando a deposição de sedimentos no manguezal. Durante o estudo, observou-se a freqüente mortalidade de árvores provocada pelo assoreamento. Após o impacto, ocorre a colonização por plântulas de Laguncularia, e as novas condições do solo podem impedir a coloniza- ção por outras espécies de manguezais. O vilarejo de Parnauaçu (U) é circundado por áreas desmatadas (TFE) e o corte de árvores é uma prática comum. O ecossistema terrestre (TFD) apresenta uma vegetação densa de palmeiras, principalmente de babaçu (Orbignyia), além de outras espécies arbóreas e arbustivas. Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 116
As marismas (M), caracterizadas por Spartina alternflora, ocorrem nas franjas, em locais onde se observam alternância de eventos de erosão e deposição, este último na entrada da enseada do Arapopaí. Os manguezais de Parnauaçu podem ser considerados áreas impactadas, como verificado no campo e pela aparência heterogênea dos bosques no mapa temático. Entre as principais causas do desmatamento dos manguezais na ilha de São Luís, destacam-se os impactos produzidos pelas atividades humanas (agrícolas e portuárias) e o uso das árvores dos manguezais para a extração de madeira, lenha e carvão (Rebelo-Mochel 1997). Estrutura do manguezal Foram realizados levantamentos botânicos nos manguezais e na vegetação de transição. O estudo de plâncton foi realizado nas águas estuarinas adjacentes ao manguezal. A estrutura das árvores foi obtida de acordo com Schaeffer-Novelli & Cintrón (1986), modificando- se o tamanho de cada parcela para 20m x 20m. Foram medidas 20 parcelas distribuídas em perfis (\"transects\") longitudinais à linha de costa. Em cada parcela foram obtidos a altura e o diâmetro à altura do peito (DAP) de todas as árvores com diâmetro maior ou igual a 2,5cm. Foram calculados, para cada espécie de árvore do manguezal, o diâmetro médio, a área basal média, freqüência, densidade, valor de importância, número de troncos por indivíduo, além de estimativas do volume e da biomassa de madeira. Foram medidos, também, o comprimento e a largura de folhas verdes e a porcentagem de herbivoria em folhas maduras. Todos os dados foram analisados com programa Statistica 1.0. Os resultados mostram que o manguezal de Parnauaçu é constituído por 4 espécies: Rhizophora mangie, Avicennia schaueriana, Avicennia germinans e Laguncuiaria racemosa. O mangue-de-botão (Conocarpus erectus) é observado em áreas de transição, mas não foi considerado na análise da estrutura do manguezal. Laguncuiaria racemosa é dominante na área de estudo, com mais de 50% das árvores, com freqüência de 30%, seguida por Avicennia schaueriana com dominância de 32%, e R. mangie com dominância de 11%, ambas com freqüências de 25%. A. germinans apresenta 7% de dominância e freqüência de 20%. A ocorrência de bosques mistos de A. schaueriana e A. germinans nos manguezais do norte do Brasil foi assinalada por Rebelo-Mochel et ai. (1991). A densidade de árvores é maior nas franjas do manguezal do que nas áreas mais internas, concordando com Cintrón & Schaeffer-Novelli (1983), sendo que a densidade média do manguezal na área de estudo é de 3.400 ind/ha. As árvores do manguezal estudado mostram uma grande variabilidade estrutural. A altura média das 3 árvores mais altas é de 15 m, mas, considerando-se todas as árvores nas parcelas, a altura média é de 6 m ± 2,5m. As árvores mais altas do bosque são de R. mangle e A. germinans. Segundo Damázio & Santos (1985b). os manguezais da região onde Parnauaçu está incluída, são classificados como medianamente desenvolvidos. A siriúba (A. germinans) apresenta DAP de 10 cm, seguida pelo mangue vermelho (R. mangie) com DAP de 8,6 cm. A tinteira (L racemosa) apresenta DAP de 4,2 cm e a siriúba (A. sckauerian) com DAP de 3,9cm. Em relação ao DAP, quase 60% do total de troncos estão entre 2,5 e 10,0 cm, sendo que mais de 30% possuem DAPs inferiores a 2,5 cm. Esse fato indica uma colonização ativa por árvores jovens num manguezal constituído por bosques adultos, formando uma área heterogênea em termos estruturais. Possivelmente um dos aspectos mais impressionantes dos manguezais impactados é a aparência heterogênea conferida pela presença de bosques adultos misturados com bosques jovens, com grande variabilidade estrutural. E importante Ecossitemas Costeiros: impactos egestão ambiental 117
ressaltar que, na área estudada, os bosques adultos de siriúba são constituídos por uns poucos exemplares de A. germinans enquanto que os bosques jovens são densamente constituídos por A. schaueriana. Os resultados mostram que as árvores e as folhas (média de 12,5 cm de comprimento por 5,7 cm de largura) mais desenvolvidas pertencem às espécies R. mangle eA. germinans e, provavelmente, essas espécies foram dominantes na área estudada há alguns anos. A estimativa para a biomassa do manguezal em Parnauaçu é de 146 t/ha e a área basal é de 15 m2/ha com A. germinans e R. mangle representando 75% do total. A produção de madeira estimada é de 137 m3, confirmando bosques medianamente desenvolvidos (Damázio & Santos 1985b). Schaeffer-Novelli & Cintrón (1986) afirmaram que em condições favoráveis os manguezais desenvolvem um tronco por árvore. Em Parnauaçu os manguezais são comumente cortados para diversos usos e muitos indivíduos de L racemosa e das espécies de Avicennia apresentam regeneração (ou rebrotamento), com média de 2 troncos por árvore. Indivíduos de R. mangle não rebrotam, morrendo após o corte. A degradação dos manguezais na área de estudo também é evidenciada pelos danos na área foliar, com valores mais altos para a herbivoria nas folhas de Laguncularia (14%). Segundo Santos (1986) o corte de árvores para a exploração da madeira constitui um dos impactos mais significativos sobre os manguezais da ilha de São Luís. Os resultados obtidos para a área estudada mostram que além dos impactos diretos, como o corte das árvores, os impactos indiretos, como o desmatamento da terra firme, também afetam de forma negativa os manguezais da região. Macroalgas associadas a vegetação de manguezal As espécies de Rhizophora, Avicennia e Laguncularia produzem vários tipos de troncos e raízes denominadas de raízes escoras e pneumatóforos, localizadas na zona entre-marés e que ficam expostas nas marés baixas. Seus ramos folhosos oferecem um sombreamento aos troncos e raízes que, de certa forma, os protegem do excessivo calor e da luz, durante a maré baixa, tornando-os um substrato ideal para o crescimento de algas. As macroalgas têm uma participação muito importante nos processos biológicos do manguezal (Chihara & Tanaka 1988) e também são consideradas importantes indicadoras deste ecossistema, visto que algumas são exclusivas deste ambiente. Muitos estudos ecológicos de macroalgas de manguezal foram realizados nos mares do Caribe (Almodovar & Pagan 1971; Kolehmainen & Hildner 1974), na Austrália (Beanland & Woelkerling 1982; Davey & Woelkerling 1980; King & Wheeler 1985), no Japão (Chihara & Tanaka 1988), na África do Sul (Phillips etal. 1994, 1996) e no Quênia (Coppejans & Gailin 1989). Dados de macroalgas dos manguezais brasileiros são escassos e correspondem a informações fiorísticas (Joly 1954; Hadlich 1984; Hadlich & Bouzon 1985; Fortes 1992; West & Braga 1992). A ilha de São Luís apresenta grandes extensões de manguezais ao longo dos rios. Entretanto, poucas informações existem sobre as macroalgas. Este trabalho apresenta resultados de estudos sobre a composição de espécies de macroalgas em troncos e pneumatóforos de Avicennia germinans em um manguezal ao sudoeste da ilha de São Luís. Para o estudo da composição de espécies foram coletadas algas em raízes de R. mangle, em troncos e pneumatóforos de A. germinans, levadas ao laboratório para subseqüentes análises. As algas aderidas foram removidas e examinadas em microscópio. As espécies foram identificadas utilizando trabalhos de King & Puttock (1989); Pedrini (1980) eJoly (1954). Ecossistemas Costeiros: impactos egest& ambiental 118
Um total de dezenove espécies de algas foram identificadas em um estudo preliminar o qual incluiu cinco Clorofíceas (Enteromorpha linguiata, Ciadophoropsis membranacea, Cauierpa fastigiata, Rhizocionium africanum e R. tortuonsum) e quatorze Rhodophyceae (Dawsoniocoiax bostrychiae, Cateneila caespitosa, Centroceras ciavuiatum, Calogiossa ieprieurii, C. ogasawaraensis, Poiysiphonia subtiiissima, E howei, Bostrychia radicans, B. moniifbrmes, B. caiiiptera, B. binderi, Murrayeiia periciados). A lista de espécies não é tão grande para a região pois o período de coleta e as áreas investigadas foram restritos. A flora de macroalgas de manguezal da ilha de São Luís incluiu os gêneros Bostychia, Calogiossa, Cateneila e Murrayella as quais são típicas para este ecossistema (Oliveira 1984; Lambert et ai. 1987; Chihara & Tanaka 1988; Eston et ai. 1991; Phillips et ai. 1996). Esta associação foi denominada de Bostrychietum por Post (1936). Diatomáceas epífitas associadas a macroalgas de manguezal Os manguezais servem como substrato específico e satisfatório para as macroalgas e microalgas bênticas (Naguno & Hara 1990), as quais são expostas a variações de salinidade da água e/ou dessecação. Neste ambiente, as algas bênticas e epifíticas apresentam maior riqueza e são mais abundantes. As diatomáceas correspondem ao grupo dominante entre todas as microalgas (Ricard & Delessale 1979). Entretanto, há poucos estudos taxonômicos e florísticos nos manguezais brasileiros. Sendo assim, realizou-se um trabalho sobre a composição de espécies de diatomáceas epifi'ticas nos manguezais da ilha de São Luís, que representa as primeiras informações sobre essas microalgas nos manguezais do nordeste brasileiro. Na tabela 2, estão listados os 66 táxons, incluindo as variedades nos 20 gêneros identificados. Três gêneros dominaram em termos de número de taxa identificados, Nitzchia (13), Navicula (8) e Achananthes (4). Tabela 2. Lista das diatomáceas epifíticas identificadas no manguezal da ilha de São Luís. Achnanthes brevipes Navicula spl Achnanthes brevzes var parvuia Navicula sp2 Achnanthes brevipes var intermedia Na'ziicuia sp3 Achnanthes sp. Nitzchia amphibia var amphibia Amphora exigua Nitzschia constricta Campyiodiscus decorus Niotzschia fascicuiata Cocconeis distans Nitzschia granulata Cocconeis piacentuia var eugiypta Nitzschia iaevis Coscinodiscus excentricus Nitzschia iittoraiis Cycioteia styiorum Nitzschia obtusa var scaipei/rmis Cycioteia srtiata Nitzchia panduriformis Denticula subtilis Nitzschia pandurformis var minor Djploneis gruendieri Nitzschia punctata Diploneis smithii Nitzchia punctata vai coarctata Dipioneis interrupta Nitzschia sigma var rigida Fragilaria sp. Nitzschia sp Frustulia rhomboides Pieurosigma sp Grammatophora hamulfera Raphoneis amphiceros Grammatophora marina Surirelia ovata Melosira monilformis Synedra tabuiata Navicuia granula Terpsinoe americana Navicuia mutica var unduiata Terpsione musica Navicuia humerosa Triceratium favus Navicuia pennata Navicuia piatyventris Ecositemas Costeiros: impactos egestão ambiental
Plâncton (Bacillariophyceae) do Igarapé Arapopaí Para o estudo do fitoplâncton foram realizados levantamentos bimestrais, de outubro/92 a abril /94. As coletas foram feitas duas vezes ao dia, durante as marés alta e baixa, em 4 estações ao longo do Igarapé Arapopaí, o qual percorre o manguezal de Parnauaçu. As estações foram estabelecidas da desembocadura até a porção mais interna do Igarapé. Utilizou-se uma rede de plâncton de 65 j.m de malha, na posição horizontal. As amostras foram fixadas em formol 4% e foram identificadas em laboratório com o auxílio de equipamentos ópticos adequados. Foram encontrados 43 taxa, distribuídos em 2 subclasses, 5 ordens, 12 famílias, 42 espécies e 1 variedade. Algumas espécies como Biddulphia mobiliensis Bailey, Coscinodiscus oculusirides Ehrenberg, Cyclotella stylorum Ehrenberg, Diploneis bombus Ehrenberg, Paralia sulcata Ehrenberg ocorreram tanto em marés altas quanto em marés baixas, perfazendo mais de 50% da freqüência das espécies (Figura 4). Vegetação de Transição Foram realizados levantamentos da vegetação de transição presente na área de estudo, entre o manguezal e os ecossistemas de terra firme. As plantas foram coletadas mensalmente e levadas ao laboratório para identificação. Os resultados encontram-se na Tabela 4. Essa vegetação apresenta diversidade maior do que a vegetação do manguezal estudado, e é caracterizada por espécies que possuem adaptações para ambientes variados, de salmos a terrestres. Tabela 3. Levantamento de placton (Bacillariophyceae) do igarapé Arapopaí. Divisão - CHRYSOPHYTA Biddulphiapulchella Gray Classe - BACILLAIUOPHYCEAE Biddulphia tridens Ehrenberg Subclasse - CENTRICAE Lithodesmium undulatum Ehrenberg Ordem - DISCALES Família - ANAULACEAE Família - COSCINODISCACEAE Teipsinõe musica Ehrenberg Coscinodiscus centralis Ehrenberg Subclasse - PENNATA Coscinodiscus excentricus Ehrenberg Ordem - ARAPHIDALES Coscinodiscusjonensianus (Greville) Ostenfeld Família - FRAGILARIACEAE Coscinodiscus lineatus Ehrenberg Fragilaria capucina Desmazières Coscinodiscus oculusirides Ehrenberg Gramatophora hamulifera Kützing Cyclotellastylorum Ehrenberg Rhaphoneis amphiceros Ehrenberg Melosirasukata (Ehrenberg) Kützing] Synedra uma (Nitzsch) Ehrenberg Skeletonema costatum (Greville) Cleve Thalazionema nitzschioides (Grunow) van Heurck Família - ACTINODISCACEAE Thalassiotrixfrauenfildii Grunow Actinoptychusannulotus (Walich) Grunow Ordem - BIRAPHIDALES Actinoptychus .rplendens (Bailey) Ralfs Família - NAVICULACEAE Actinoptychus undulatus (Shadbolt) Ralfs Caloneispermagna Bailey Polymyxus coronalis Bailey Dploneis bombus Ehrenberg Família - EUPODISCACEAE Frickea lewj.sjana (Greville) Ostenfeld Actinocyclus ehrenbergii Ralfs Família - AMPHIPRORACEAE Eupodiscus antiquus (Cox) Hanna Amphprora ahaa (Ehrenberg) Kützing Ordem - SOLENIALES Família - NITZSCHIACEAE Família - SOLENIALES Bacillariaparadasa Gmelin Rhizosoleniasetigera Brightwell Nitzschiagranulata Grunow Ordem - BIDDULPHIALES Nitzjchia obtusa Wm. Smith Família - CHAETOCERACEAE Nitzschiapungens Gregory et Müller Chaetoceros brevis Schütt Nitzschiapungens var atlântica Cleve C/zaetoceros coartactus Lauder Nitzschia sigma (Kützing) Wm. Smith Chaetoceros lorenzianus Brightwell Nitzschia vermicularis (Kützing) Hantzsch Família - BIDDULPHIACEAE Família - SURIRELLACEAE Biddulphia longicru ris Greville Surirallafebtgeru Lewis Biddulphia mobiliensis Bailey Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 120
Tabela 4. Vegetação de transição entre os manguezais e os ecossistemas terrestres em Parnauaçu, sudoeste da ilha de São Luís. CRYPTOGAMAE Família Espécies Nome vulgar Hábito Briophyta Calymperaceae Epífita Lejeuneaceae Calimperes palisotii Musgo Epífita Pteridophyta Polypodiaceae Arbusto Cheilolejeunia cf rigidula Hepatica Acrostichum aureum Samambaia do mangue PHANEROGAMAE Dycotyledoneae Bataceae Batis maritima Beldroega Rasteiro Amaranthaceae Biutaparon portulacoides Beldroega Rasteiro Aizoaceae Sesuvium portulacatrum Beldroega Rasteiro Combretaceae Conocarpus erectus Mangue-de-botão Arbusto Cyperaceae Eleocharis sp Rasteiro Cyperaceae Fimbristylis sp Rasteiro Monocotyledoneae Gramineae/Poaceae Spartina alterniflora Capim praturá Rasteiro Gramineae/Poaceae Spoprobolus virginicus Capim Rasteiro barba-de-bode ri. j4 Figura 4. Distribuição e dominância de Bacillariophyceae plantônicas. Macrobenthos: Endofauna do Manguezal A endofauna macrobêntica do manguezal foi coletada na lama sob as raízes das árvores, com um cilindro coletor apropriado, de acordo com a metodologia de Rebelo (1986). A Tabela 5 mostra que em Prnauaçu a endofauna macrobêntica é constituída pela taxocenose Polychaeta-Bivalvia-Crustacea. Os anelídeos poliquetos constituem o grupo dominante (70%), com espécies escavadoras de substratos móveis, indicadoras de ambientes sujeitos a mudanças nos eventos de erosão e deposição. O poliqueta Isoldapuichelia ocorre em ambientes sob sedimentação ativa (Uebelacker &Johnson 1984) e foi encontrado no manguezal de Pirnauaçu nas áreas de deposição de sedimentos. Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 121
Tabela S. Endofauna macrobêntica do manguezal em 1rnauaçu. Espécies No. Ind.! 0,25 m2 Espécies No. Ind.! 0,25 m2 POLYCHAETA 153 GASTROPODA - Nereis oligohalina Soloniorbisschumoi Isoldapuichelia 58 LittoninaJlava 3 Notomastus lobatus 30 Glypteuthnia meridionais 2 Perinereis vancaurica 26 Ceratia rustica Scolopios texana 17 1 Maiphysa sanguinea 9 1 Namalycastis abiuma 6 Sigambra grubii 6 INSECTA 3 Ara,bella incolor 4 Syllis comuta 2 Insecta spA 2 Vitrinelia semiscuipta 1 Isoptera 2 Anaitides mucosa 1 1 Nephtysfiuviatilis 1 Hymnopteia 1 Coleoptera Pupa de Diptera NEMERTINEA spA 3 CRUSTACEA OLIGOCHAETA spA 1 Crustacea spp 65 TOTAL - 435 BIVALVIA 36 Lucinapectinata A composição e a distribuição das espécies tubícolas e filtradoras (Polychaeta e Bivalvia) indicam ambientes de baixa energia, compostos por sedimentos constituídos principalmente por lama ou lama areno- sa, com elevados teores de matéria orgânica. Os resultados encontrados neste trabalho assemelham-se a endof.una encontrada em outros manguezais (Navajas 1990; Capehart & Hactney 1989; Rebelo 1987; Rueda & Moreno 1985), nos quais a taxocenose Polychaeta - Crustacea - Bivalvia é dominante, ocorrendo desde a superfi'cie até 20 cm de profundidade. Segundo Guelorget et ai. (199 0) Lucinapectinata é uma espécie que alcança tamanho comercial para a exploração econômica, mas em Prnauaçu, no ambiente estressado do manguezal, essa espécie apresenta estoques muito baixos e raramente é consumida. Macrobenthos: Epifauna do Manguezal A epifauna do manguezal em Parnauaçu é representada principalmente por caranguejos \"chama- marés\" Ocypodidae (Uca thayeri) e caranguejos da família Grapsidae. O \"chama-maré\" Uca thayeri possui hábito detritívoro (Francisco et ai. 1996) e é a espécie dominante da epifauna em Parnauaçu, vivendo em tocas situadas entre as raízes da vegetação do manguezal. Observou-se o recrutamento das espécies ao longo de todo o período de estudo (1992 a 1994). Foi encontrado um grande número de caranguejos jovens, tanto de Ocypodidade como de Grapsidae, e essa pode ser uma estratégia biológica para a manutenção das populações num ambiente dinâmico. As espécies encontradas no presente estudo estão listadas na Tabela 6. Dos caranguejos conhecidos como \"chama-marés\", Uca thayeri foi a única espécie encontrada no susbtrato lamoso entre as raízes das árvores do manguezal em Parnauaçu, embora outras espécies ocorram nas planícies lamosas e nos apicuns adjacentes. Na área de estudo foram encontrados indivíduos jovens do caranguejo arborícola Aratus pisonii se alimentando de detritos nos sedimentos do manguezal, durante as marés baixas. Segundo Lacerda (1991, 1984) essa espécie tem hábito omnívoro, alimentando-se de algas, polpa das árvores, restos de peixes e de folhas. O caranguejo Eurytium limosum geralmente ocorre embaixo de rochas, troncos e em bancos de ostras (Coelho 1970), alimentando-se de pequenos invertebrados da zona entre-marés (Kneib e Weeks 1990, apud Ecossistema.s Costeiros: impactos egestão ambiental 122
Mclvor & Smith 1995). Em Parnauaçu, Eurytium limosum foi encontrado no manguezal embaixo de troncos e raízes de R. mangle, A. germinans, A. schaueriana e L racemosa. Diversos autores têm ressaltado a importância da fauna de invertebrados dos manguezais, em especial dos caranguejos, para a ciclagem dos sedimentos pela atividade de escavação de tocas e galerias. Neste trabalho foram contadas 816 tocas de caranguejos emiO m2, as quais associadas às espécies da endofauna podem contribuir para os processos sedimentares no manguezal de Parnauaçu. Tabela 6. Epifauna do manguezal em Parnauaçu. Grupos Ind./10 m2 Uca thayeri 143 ALPHEIDAE 3 Aratuspisonii 13 Eurytium limosum 7 Sesarma cra.ssipes 77 Total 243 A distribuição das espécies da epifauna na área de estudo não se correlaciona com o teor de matéria orgânica, salinidade e nem granulometria dos sedimentos do manguezal, uma vez que a área como um todo é bastante homogênea no tocante às características dos sedimentos. No entanto, observou-se que as espécies de caranguejos pequenos não ocorrem com as espécies de caranguejos mais robustos como Ucides cordatus, sugerindo competição interespecífica. Em Parnauaçu, a diversidade e o número de indivíduos das espécies são baixos, provavelmente pelo manguezal impactado apresentar uma dinâmica muito rápida de mudanças nos eventos de erosão e deposição de sedimentos. Nutrientes e algumas variáveis fisicas e químicas das águas estuarinas do Igarapé Arapopaí Algumas variáveis físicas, e químicas e nutrientes inorgânicos da superficie da água foram analisados em três locais do igarapé Arapopaí, a fim de investigar sua distribuição horizontal e variação durante o período chuvoso, de dezembro de 1994 a junho de 1995. A transparência da água foi determinada com disco de Secchi, e a temperatura, pH, e condutividade elétrica foram medidas com um sensor HORIBA UV-10. Para a análise dos nutrientes foram utilizados os seguintes métodos: nitrato (MackerethetaL 1978); nitrito (Goltermanetal. 1978); amônia (Koroleff 1976); silicato (Golterman et aL 1978), fósforo inorgânico (Mackereth et ai. 1978) e fósforo total dissolvido (Menzel et ai. 1965). A profundidade da água dos locais amostrados variaram de 1,80 a 6,28 m. Profundidades maiores foram registradas em maio e junho, quando a intensidade da precipitação foi alta (3.000 mm/mês). A temperatura da água mostrou valores elevados, entre 27,7 e 29,6 °C, típico de áreas costeiras tropicais. A transparência da água raramente excedeu 0,5 m, devido ao escoamento de sólidos da área de captação. O pH variou entre 7,57 a 9,78, indicando alta capacidade de tamponamento das águas. A condutividade elétrica não diferiu muito durante o ciclo sazonal (42,2 a 59,3 mS/cm), exceto em junho, quando os resultados variaram de 281,9 a 299,43 mS/cm (Tabela 7). Os resultados altos observados em junho estão provavelmente relacionados à influência das marés. A salinidade variou de 2,74 a 3,41 %o, com valores mais altos no início da estação chuvosa. Ecossistemas Costeiras: impactos egestão ambiental 123
Tabela 7. Características físicas e químicas das águas superficiais do igarapé Arapopaí em diferentes períodos da estação chuvosa. Período Estação Profundidade Transparência Temperatura p[H] Turbidez Cond. Elet. Salinidade (°C) (NTU) (mS/cm) (%o) Dezembro/94 1 3,90 0,30 28,7 7,92 - 51,9 3,41 III 1,90 0,14 29,0 7,76 765 49,3 3,23 Fevereiro/95 1 2,90 0,18 29,2 7,87 380 45,8 2,99 II 1,80 0,22 27,7 7,79 253 42,2 2,74 III 2,10 0,31 28,1 7,86 - 45,4 2,95 Maio/95 1 6,82 0,20 26,8 - 641 45,2 - II 4,93 0,19 - 9,78 664 59,2 - III 4,42 0,18 - 8,50 681 59,3 - Junho/95 1 5,10 0,25 29,4 -- 299,4 - 11 4,00 0,35 29,5 -- 286,3 - 111 2,90 0,52 29,6 -- 281,9 - - não determinado. Na Tabela 8 são apresentados os resultados dos nutrientes em meses diferentes no igarapé Arapopaí. As concentrações de nitrato foram de até 400 mg/L; as nitrito de até 17,52 mg/L. A amônia apresentou concentrações de 9,15 ao final da estação chuvosa, em junho, a 80,62 mg/L, em maio. As mais elevadas concentrações de fósforo foram registradas para o fósforo total (frações orgânicas e inorgânicas), principalmente em maio (101,73mg/L). Nos outros meses as concentrações caíram para 24,29 a 53,63 mg/L. Comportamento similar foi observado para o fósforo inorgânico: altas concentrações em maio (58,62 a 96,62 mg/L) e valores intermediários nos outros meses (8,63 a 37,13 mg/L). As concentrações de silicato mostraram baixos valores no início da estação chuvosa, em dezembro e fevereiro (0,47 a 0,86 mg/L), e mais elevados, em maio e junho, entre seis a nove ordens de magnitude. Em geral, as variáveis físicas e químicas e nutrientes não variaram entre as estações amostradas, uma vez que as mesmas são rasas e estão sujeitas à isotermia (Ibafiez, comunicação pessoal). As águas investigadas mostraram altas concentrações de fósforo e estes resultados sugerem contribuições naturais, mais do que antrópicas, uma vez que a área está medianamente impactada por atividades humanas. Usos do manguezal e implicações sócio-econômicas. Em Parnauaçu, a fauna do manguezal com importância sócio-econômica é dominada pelo caranguejo Ucides cordatus em 83% do total das espécies coletadas. Esse caranguejo é consumido pela população local e freqüentemente vendido nos mercados da cidade de São Luís. A importância de Ucides cordatus como um recurso valioso dos manguezais da costa norte e nordeste do Brasil é enfatizada por diversos autores (Coelho 1962; Fausto-Filho 1968; Paiva 1970). Outras espécies de importância sócio-econômica na área de estudo são os siris-azuis, principalmente Cailinectes boucourti (12%) e o marisco Lucinapectinata (5%) (Figura 5). Esses valores concordam com estudos realizados em outros manguezais do Brasil (Rebelo et ai. 1984; Corbisier 1981). Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 124
Tabela S. Nutrientes inorgânicos das águas de superficie do igarapé Arapopaf em diferentes períodos da estação chuvosa. Período Estação Nitrato Nitrito Amônia Fósforo Fósforo Silicato (mg/L) (mg/L) (mg/L) Total Inorgânico (mg/L) (mg/L) (mg/L) Dezembro/94 1 624,03 22,66 37,74 53,63 37,73 0,86 III 528,30 4,22 20,59 52,24 33,08 0,47 Fevereiro/95 1 695,55 37,15 38,88 42,35 19,69 0,80 II 596,52 40,18 38,88 31,06 8,63 0,69 III 659,24 31,88 33,74 40,44 20,93 0,56 5,69 Maio/95 1 505,19 37,02 78,33 61,97 58,62 6,97 11 487,59 86,02 80,62 101,73 96,62 Junho/95 III 497,49 17,525 49,75 41,65 38,39 5,13 1 410,56 17,39 21,73 24,29 25,45 4,42 11 534,90 20,81 9,72 36,79 29,97 4,70 III 507,39 30,17 9,15 35,06 28,72 5,79 No presente trabalho, observou-se Ucides cordatus reproduzindo de fevereiro a maio. Medidas biométricas revelam que os machos são maiores (em média 43,0 mm comprimento, 60,0 mm largura) e mais pesados (média de 104 g) do que as fêmeas (29,0 mm comprimento, 53,0 mm largura e 69 g de peso). Machos de U cordatus maiores que as fêmeas foram também relatados por outros autores (Castro 1986; Fernandes etal. 1982). Parcelas sob as árvores de R. mangle apresentaram caranguejos maiores que as parcelas sob Avicennia ou Laguncularia. O relatório do encontro do Grupo de Estudo sobre U cordatus realizado em 1994, apontou que as folhas de R. mangle são uma importante fonte alimentar para este caranguejo. No manguezal de Parnauaçu, a maioria dos caranguejos coletados foi encontrada em parcelas com altos teores de água (superiores a 60%), sob as árvores de mangue vermelho (R. mangle). A produção local de U cordatus em Parnauaçu foi estimada em 0,6 t/ha, mas é muito superior em outros manguezais do estado do Maranhão, alcançando de 3,5 até 6,0 t/ha (Rebelo-Mochel 1995; Castro 1986; Barros etal. 1976). Considerando-se a média para o total das espécies, a produção estimada é de menos de 0,3 t/ha e, portanto, o recurso deve ser considerado escasso na área estudada, somente servindo de subsistência para a população local. Os processos de erosão e sedimentação devem desempenhar um papel fundamental impedindo que as comunidades aumentem. Durante a estação chuvosa, a sedimentação ativa (assoreamento), devido a erosão das áreas terrestres adjacentes, é comumente observada no manguez .1 de Parnauaçu e pode levar à mortandade das espécies mantendo os estoques muito baixos durante todo o ano. Na área estudada, os manguezais têm sido tradicionalmente usados pela população local. Prnauaçu é um pequeno povoado rural de 200 famílias que vivem na região há mais de 50 anos. Não há energia elétrica. Os questionários aplicados revelaram que a população é composta principalmente por pescadores e agricultores (Figura 6). Ecosrioemas Costeiros: impactos egestão ambiental 125
Nas áreas mais internas do manguezal, as árvores de Rhizop/iora e Avicennia são cortadas para diversos fins como construção de casas, extração de lenha, carvão e tanino. Observações fenológicas foram feitas de setembro de 1993 a fevereiro de 1996. Os resultados mostram que a vegetação dos manguezais em São Luís floresce e dá frutos o ano inteiro, com variações entre os bosques. Em Parnauaçu, as espécies de Avicennia Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa produzem flores e frutos preferencialmente de outubro a janeiro. Entretanto, em bosques próximos à área de estudo essas espécies apresentam inflorescncias e frutos abundantes em outras épocas do ano. Foram feitas entrevistas aleatórias com as famílias residentes de Parnauaçu, buscando-se levantar se a população local usa ou não os manguezais para qualquer finalidade e quais são esses usos. Os principais produtos do manguezal utilizados pela população local encontram-se na tabela 9. A totalidade dos produtos extraídos do manguezal é vendida por quase 80% dos usários do manguezal. Os agricultores constituem 30% das pessoas entrevistadas e 10% deles nem mesmo conhecem o manguezal adjacente, sobrevivendo exclusivamente das práticas agrícolas e da caça. Tabela 9. Rrcentagem de produtos extraídos do manguezal em Parnauaçu. Produtos Unidades Extração Extração Não utiliza* Quantidade diária até 50unid. acima Søunid. 40% Madeira Troncos 40% 20% 30% Caranguejos Unidades 40% 30% 75% Siris Unidades 20% 5% 15% Camarões Kg 70% 15% 10% Peixes Kg 80% 10% * Porcentagem dos entrevistados que não utiliza o recurso especificado. Ucides cordatus 83,0% Lucina pectinata 5,0% Callinectes sp. 12,0% • Ucides cordatas •Cailinectes Lucina pectinata Figura S. Fauna do manguezal com importância sócio-econômica em Parnauaçu. Ecositema Costeiros: impactos egestão ambiental 126
2 Comerciante - Mecânico 1 Agricultor o • Doméstica Figura 6. Ocupação dos residentes em Parnauaçu. Lavrador Pescador O tráfego marítimo intenso na Baía de São Marco, devido à proximidade da principal área portuária do Maranhão, leva a eventuais despejos de óleo que atingem o manguezal pelas marés. Do ponto de vista econômico, o presente estudo sugere que os atuais estoques de espécies não são sustentáveis e poderiam não resistir a um aumento na exploração comercial, a menos que os manguezal fosse restaurado e suas espécies cultivadas. A restauração dos manguezais em Parnauaçu também obrigaria a diminuição da erosão provocada pelas práticas de desmatamento dos ecossistemas terrestres adjacentes. As entrevistas revelam que a população local conhece os bens fornecidos, mas nem todos os serviços prestados pelo manguezal. É necessária a educação ambiental para conscientizar as pessoas das ligações que existem entre os manguezais, as águas estuarinas e os sistemas terrestres. O manejo tradicional pode e deve ser melhorado com a introdução de novas técnicas para a restauração do manguezal, o cultivo de espécies e a diminuição dos impactos diretos e indiretos na região. CONCLUSÕES A ilha de São Luís perdeu cerca de 7.000 ha de manguezais nos últimos 20 anos. As perdas foram 4 vezes mais rápidas nos anos 90 do que nas décadas de 70 e 80; O estudo de caso mostrou que os manguezais em Parnauaçu são estruturalmente heterogêneos e apresentam aspectos fisiográficos incomuns, geralmente relacionados com a intervenção humana no ambiente; O manguezal em Parnauaçu é impactado por erosão e assoreamento provenientes das atividades humanas nos ecossistemas adjacentes. A degradação dos manguezais também é provocada pelo corte de árvores, despejos de óleo, depósitos de lixo e outros tensores; A composição e a distribuição da fauna e flora mostram uma baixa diversidade, comumente encontrada em manguezais sob impactos ambientais. Observa-se o recrutamento dinâmico das espécies, sugerindo uma estratégia de sobrevivência num ambiente impactado; Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 127
A tinteira Laguncularia racemosa ocorre com maior freqüência nas áreas onde o corte de árvores e o assoreamento são os impactos principais; Os usos tradicionais do manguezal em Parnauaçu são importantes para a subsistência da população local; Os estoques atuais das espécies de importância sócio-econômica não são sustentáveis e podem não resistir a uma exploração comercial, sendo vistos apenas como meio de subsistência para a população local; Recomenda-se a utilização de Parnauaçu como área piloto para a restauração dos manguezais e a realização de atividades de educação ambiental nessa região. AGRADECIMENTOS Ao apoio da Fundação ALCOA, em especial ao Sr. Maurício Macedo da ALUMAR, do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Programa PIBIC), do Governo do Estado do Maranhão! Secretaria de Meio Ambiente, do Gerenciamento Costeiro- GERCO/MA, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão; e da Universidade Federal do Maranhão. Os autores são especialmente gratos a todos os colaboradores, que são muitos para serem listados e cujo apoio foi fundamental para a realização deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMODOVAR, L.R. & PAGAN, F.A. 1971. Notes on mangrove lagoon and channel at La Parguera, Puerto Rico. Nova Hedwigia (21):241-253. BARROS, A. C. et ai. 1976. Prospecção dos recursos pesqueiros das reentrâncias maranhenses. Natal, SUDEP! PROJEP!IRN, 124p. BEANLAND, WR. & WOELKERLING, W.J. 1982. Studies on Australian mangrove algae: II. Composition and geographic distribution of communities in spencer Gulf, South Australia. Proc. R. Soc. Vict., 94(2): 89-106. CAPEHART, A.A. HACKNEY, T 1989. Thepotential role of roots and rhizomes in structure salt-marsh benthic communnities. University of North Coralina at Wilmington/Department ofBiological Sciences, p. 119-122. CASTRO, A.C.L. 1986. Aspectos biológicos do caranguejo-Uçá Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), no Estuário do Rio dos Cachorros do Coqueiro, São Luís, Ma. Rol. Lab. Hidrob., 7: 7-26. CHIHARA, M. & TANAKA, J. 1988. Species composition and ecology of macroalgae in mangrove brackish of east Indonesia. In: OGINA, K. & CHIHARA, M. Biologicalsystem ofmangrove. A reportof east Indonesia mangrove expedition 1986. Ehima University, p. 7-20. CINTRON, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. 1983. Introduccion a la ecologia dei manglar Montevideo, Oficina Regional de Ciencia y Tecnologia da Ia Unesco para America Latina y el Caribe!ROSTLAC, 109p. CINTRON,G. & SCHAFFER-NOVELLI,Y. 1983. Mangrove Forests: Ecology and response to natural and man inducedstressors. Unesco reports in marine science, 23: 87-113. COELHO, PA. 1962. Crustáceos decápodes de valor comercial no Estado de Pernambuco. Boi. Est. Pesca, Recife 2(3):17-18. COELHO, P.A. et al. 1970. A Macrofauna Bêntica dos Estuários de Pernambuco e da Paraíba. CONGRESSO LATINOAMERICANO DE ZOOLOGIA, 4. Atas. 2:497-528. Ecosstemas Costeiras: impactos egestão ambiental 128
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IMPACTOS NATURAIS E ANTRÓPICOS NA PLANÍCIE COSTEIRA DE BRAGANÇA (NE DO PARÁ) Pedro Walfir Martins e Souza Filho' Resumo O impacto da dinâmica natural e das atividades antrópicas na Planície Costeira Bragantina vem proporcionando rápidas e intensas modificações na paisagem. Os processos de erosão e acreção da linha de costa estão afetando os manguezais e a vida dos moradores locais, enquanto os impactos das atividades antrópicas está relacionado à construção de estradas de acesso às praias, ocupação desordenada, deposição de resíduos sólidos (lixo) nas áreas costeiras e contaminação do lençol freático. A integração dos vários parâmetros estudados permitiram o estabelecimento de uma estratégia de ocupação da área costeira, a partir da definição de unidades geoambientais. As recomendações para redução da vulnerabilidade das áreas costeiras perpassa pela implementação de uma política de gerenciamento costeiro, que vise no futuro reduzir os impactos antrópicos desse setor do litoral do estado do Pará. Abstract The impact of the natural dynamics and anthropogenic activities in the Bragança Coastal Plain lias made fst and dramatic changes in the landscape. The erosion and accretion of the shoreline are affecting both the mangroves and daylife of the local population. The anthropogenic impacts are most related to the opening of roads to the beaches and unplanned coastal land use, as well as the drops of solid wastes and groundwater contamination. The integration of the several parameters studied here allowed to suggest some important rales to the fature coastal land use. This was also based on the concepts ofgeo-environmental units. It is suggested that a strong coastal management directed to the sustainable development ofthis area represents one of the main point that could allow the fature reduction of the anthropogenetic impacts. INTRODUÇÃO As áreas litorâneas possuem uma riqueza significativa de recursos naturais, que apresentam um grande potencial turístico. Contudo, a intensidade de ocupação desordenada vem colocando em risco este frágil ecossistema costeiro. Os ambientes costeiros na área de Bragança vem sofrendo constantes modificações naturais, como a migração de barras arenosas e canais de maré, formação de novas áreas costeiras devido à progradação de depósitos de manguezais, desenvolvimento de áreas pantanosas colonizadas por gramíneas e erosão e acreção de praias. Atualmente, o homem está continuamente interagindo com o ambiente natural, produzindo modificações no sistema costeiro, como por exemplo a degradação de manguezais, através da construção de estradas de acesso às praias; utilização de areias de dunas na construção civil; construção de casas sobre os campos de dunas e o pós-praia, entre outras formas de agressão. Portanto, tentar entender a relação entre as atividades antrópicas e os processos naturais nos ecossistemas costeiros é importante para planejar um desenvolvimento sustentável. Conhecer melhor a dinâmica de funcionamento dos ambientes costeiros e estuarinos permitirá trazer novos dados científicos e tecnológicos necessários para o monitoramento e manejo dessas áreas, uma vez que não se pode conservar adequadamente ambientes sem conhecê-los e sem entender a relação que existe entre eles e o
homem. Assim, este trabalho tem como objetivo fornecer informações sobre a região costeira de Bragança (PA) relacionadas às modificações causadis por fatores naturais e antrópicos, além de utili7ar tais informações com o intuito de propor melhor uso das áreas costeiras, baseado em planejamento geoambiental. CENÁRIO REGIONAL O embasamento da planície costeira é formado por sedimentos terciários do Grupo Barreiras que constitui o Planalto Costeiro. Este apresenta uma superfície plana, arrasada, suavemente ondulada e fortemente dissecada, com cotas entre 50 e 60m, que diminuem progressivamente em direção à planície costeira, à norte, cujo contato é marcado por uma mudança litológica (sedimentos areno-argilosos avermelhados do Grupo Barreiras e lamosos da planície costeira), vegetacional (floresta secundária e mangue) e morfológica brusca (falésias inativas de até im de altura) (Souza Filho & El-Robrini 1996; 1997). A Planície Costeira Bragantina, no nordeste do estado do Pará, apresenta cerca de 40 km de linha de costa, estendendo-se desde a Ponta do Maiaú até a foz do Rio Caeté (Figura 1). Está inserida em uma costa embaiada, transgressiva e dominada por macromaré, cuja compartimentação geomorfológica apresenta três domínios (Souza Filho 1995): (1) Planície Aluvial, com canal fluvial, diques marginais e planície de aíau inundação; (2) Planície Estuarina, com um canal estuarino subdividido em funil estuarino, Buçucan / segmento reto, segmento meandrante e canal de curso superior, canal de maré, e planície de Baía do Maoaú a touruteu aa aaa* Canela6 L Ç7 a a,a a: a p °escadores atas:: . aaaaaa o inundação; e (3) Planície Costeira, com os 5 k5 5 aaaa ambientes de pântanos salmos (interno e externo), 5 planície de maré (manguezais de supramaré e W1 >C intermaré e planície arenosa com baixios de maré), cheniers, dunas costeiras e praias (Figura 1). A vegetação da Planície Costeira Bragantina é caracterizada pela ocorrência de mangues que ocupam 95% de toda a área costeira. Os gêneros dominantes são Rhyzophora, Avicennia e Laguncularia. Associados a esta vegetação, ocorrem o- 46- 47 Spartina .p. e Conocarpus L. A vegetação de campo de nos pântanos salmos é predominantemente Bragança Aleucha rias sp. (juncos), enquanto que nos cheniers 03 Belém NE do Pará e campos de dunas observa-se vegetação arbustiva - (Souza Filho & El-Robrini 1996). li Praias Pântano salino interno O clima da área é equatorial quente e úmido (Amw, de acordo com a classificação de Planície arenosa Pântano salino externo Kippen), com uma estação muito chuvosa de dezembro a maio e precipitação anual em torno Dunas Costeiras 111111 Planície de inondaçl de 2.500 mm; a umidade relativa do ar oscila Manguezal de supramaré entre 80 e 91% (Martorano et al. 1993). Planície estuarina :Janguezal de interearé Chenier Planalto costeiro Figura 1. Mapa de localização e dos ambientes sedimentares da Planície Costeira Bragantina Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 134
METODOLOGIA Os métodos e equipamentos utilizados durante a realização deste trabalho incluíram sensoriamento remoto, geoprocessamento, testemunhagem a vibração, perfis de praia e caracterização dos parâmetros oceanográficos. As cenas de satélite (TM do LANDSAT-5 datada de 24/07/1991, órbita-ponto 222-61) foram processadas digitalmente, obtendo-se a composição colorida 5R 4G 3B, definida como a melhor composição para o estudo da área costeira. Deste modo foram cartografados os diferentes ambientes de sedimentação, sendo elaborado o mapa geológico-geomorfológico. Além do mais, foram cartografados os vetores de impactos ambientais instalados (p. ex. ocupação urbana e estradas, áreas desmatadas) e as alterações morfológicas e da cobertura vegetal ocorridas ao longo do tempo. Os levantamentos de campo foram realizados para identificação da vegetação, ambientes de sedimentação, processos costeiros naturais, além de um levantamento completo da ocupação e uso do solo, localização, descrição e registro das ações antrópicas causadoras da degradação ambiental. A partir da integração dos dados obtidos nas etapas anteriores foi elaborado a carta temática geoambiental, cujos objetivos básicos segundo Mendes et ai. (1997) são: (1) registrar as unidades geológicas-geomorfológicas que retratam o meio físico; (2) registrar o quadro atual da ocupação antrópica e sua influência sobre o ambiente natural; e (3) apresentar as áreas para as mais diferentes formas de ocupação das áreas costeiras, respeitando suas particularidades geológicas, geomorfológicas, botânicas e processos costeiros atuantes, além da legislação ambiental vigente. IMPACTO DOS PROCESSOS NATURAIS NA ZONA COSTEIRA Os processos naturais atuantes na zona costeira em estudo são extremamente energéticos, o que vem propiciando intensas modificações na paisagem costeira. Segundo Souza Filho (1995), a posição geográfica do NE do estado Pará (00-10 S), aliada a seus embaiamentos costeiros e grande extensão da Plataforma Continental do Pará/Maranhão, proporciona o desenvolvimento de um ambiente de alta energia, dominado por macromarés semi-diurnas, com amplitudes variando de 4 a 6 m (DHN 1997), com ondas de até 2 m de altura geradas pelos ventos alíseos de NE e correntes de maré vazante no sentido de SE para NW e correntes de maré enchente no sentido de NW para SE (DHN 1986). Estes fatores são, em grande parte, responsáveis pelo transporte de sedimentos, assim como pela orientação dos canais estuarinos do litoral norte do Brasil. Tais condições hidrodinâmicas influenciam consideravelmente a sedimentação e a dinâmica das áreas costeiras, tornando-as incomparáveis com os demais setores da costa brasileira. Erosão da Linha de Costa Embora o monitoramento das áreas costeiras através da utilização de perfis de praia não esteja sendo realizado em todas as praias da área de estudo, pode se afirmar, com segurança, que todas as praias têm sido afetadas por processos erosivos decorrentes, principalmente, da ação das marés de sizígia de equinócios, que têm provocado o recuo da linha de costa da ordem de até 50 m em um ano de observação (março/1998 a março/99). Na praia dos Pescadores, eventos erosivos sucessivos vêm afetando constantemente a vida dos moradores locais. Nos últimos cinco anos, cerca de 500 m da vila dos Pescadores voltada para o canal estuarino foram erodidos, sendo os moradores deslocados para outra área mais segura e livre da ação dos processos costeiros. Na área da praia voltada para o mar, a taxa de erosão é mais lenta, devido ao perfil de praia dissipativo e o ângulo de incidência das ondas ser aproximadamente paralelo à linha de costa, com ondas com alturas nunca superiores a 1 m. Ecossistemas Costeiras: impactos egestão ambiental 135
Na praia de Ajuruteua, seu setor NW vem sendo submetido a forte processo erosivo devido a sua posição às margens de um canal de maré, ângulo de incidência de ondas em torno de 7° com a linha de costa, alturas próximas a 2m e amplitude de maré variando de 4 a 6,5 m durante os meses de março e abril. Tais condições propiciaram o recuo de 22 m da linha de costa no último ano, expondo as casas de veraneio e pousadas à erosão na zona de intermaré (Figura 2). Nas praias do Farol e Buçucanga a ação de ondas e correntes de maré provocam, também, o recuo da linha de costa, desenvolvendo escarpas de praia de até 10 m de altura, esculpidas em dunas longitudinais costeiras (Figura 3), onde ainda é possível observar linhas de deixa formadas por troncos de árvores de 10m de altura, que evidenciam a grande energia hidrodinâmica do ambiente. Figura 2. Setor NW da Praia de Ajuruteua submetido a erosão. Notar construções na zona intermaré exposta a ação de ondas. Acreção da linha de Costa Enquanto a maioria das praias vem sendo submetida a erosão, um pequeno setor da linha de costa, com cerca de 1,5 km de extensão, acresce, devido ao seu posicionamento às margens de um canal de maré, onde um amplo deita de maré vazante funciona como uma barreira hídrica e sedimentar, propiciando a progradação da praia em direção ao mar. Deste modo, graças ao processo deposicional relacionado ao retrabalhamento de areias da zona de intermaré da praia pelo vento durante a maré baixa, observa-se a formação de pequenas dunas na base da escarpa de praia, provocando o alargamento do berma praial e, por conseguinte, a acreção da linha de costa. Mudanças na vegetação costeira Com a ação dos fortes processos hidrodinâmicos na zona litorânea, o efeito na vegetação costeira tem sido significante. Mediante a ação de processos deposicionais associados à migração de bancos de areia sobre depósitos de manguezais, observa-se a destruição da floresta de mangues que, mesmo morta por asfixia de suas raízes, permanece em posição de vida, formando bosques de paliteiros com até 10 m de altura, que em seguida são derrubados pela ação de ondas e correntes de maré, propiciando assim o recuo da linha de costa (Figura 3). Ecossztemar Costeiros: impactos e gestão ambiental 136
Figura 3. Processo natural de erosão na praia do Buçucanga e o impacto na vegetação costeira. Em áreas onde predominam os processos de progradação lamosa, a vegetação de mangue expande-se sobre o substrato, inicialmente colonizado por Spartina .., gerando uma clara zonação da vegetação costeira. IMPACTO DAS ATIVIDADES ANTRÓPICAS NA ZONA COSTEIRA Segundo Nichois & Corbim (1997), para se entender como as áreas costeiras têm sido afetadas por atividades antrópicas, é necessário saber primeiro qual é a origem dos sedimentos costeiros, que por sua vez está relacionada à erosão de áreas continentais e ao transporte fluvial destes sedimentos, e quais são as fontes de sedimentos marinhos que suprem as áreas costeiras. Portanto, quando analisamos os impactos antrópicos em processos costeiros, se faz necessário saber que os ambientes costeiros da Planície Bragantina constituem um sistema dinâmico, e assim, qualquer impacto antrópico que modifique a dinâmica natural, como a construção de estradas, residências, hotéis e pousadas afetará os processos costeiros atuantes. Construção de estradas de acesso às praias Até o final da década de 70, a falta de acesso as praias da Planície Costeira Bragantina era visto como um sério problema ao desenvolvimento do turismo na região. No entanto, no início da década de 80 foi construída a estrada que liga a cidade de Bragança à praia de Ajuruteua o que, sem dúvida, deu um grande impulso ao turismo, além de facilitar a vida dos pescadores locais. Contudo, esta estrada foi construída sobre extensos depósitos da planície de intermaré lamosa, densamente colonizada por mangue, seccionando 25 km de manguezais. Assim, tal empreendimento veio a constituir uma das maiores obras ;om impacto antrópico direto sobre áreas costeiras do norte do país, cujos danos ainda não foram quantificados. Ao longo dessa estrada, observam-se áreas cuja vegetação de mangue já foi completamente removida, estando o solo lamoso exposto à incidência direta dos raios solares, que provocam a formação de gretas de contração, além de desencadear modificações das condições fi'sico-químicas do solo, que geram, certamente, prejuízos à atividade biológica (Figura 4). Ecossitema Costeiros: impactos e gestão ambiental 137
Outro problema observado está relacionado a desestruturação de parte da rede de drenagem, uma vez que diversos canais de maré, responsáveis pela circulação dos nutrientes no ambiente de manguezal, foram cortados pela estrada, que em alguns trechos funciona como barragem ao fluxo das marés, gerando enormes áreas com água represada (Figura 5). Tal modificação tem gerado novas condições ambientais que alteram o funcionamento do ecossistema manguezal, desde o processo de sedimentação, condições fi'sico-químicas das águas até a fauna e flora vivente. Figura 4. Impacto antrópico causado pela construção da estrada sobre o manguezal. Notar a área em que a floresta foi completamente removida e o solo encontra-se exposto. Figuras. Barragem de um canal de maré causado pela construção da estrada. Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 138
Ocupação desordenada das praias Os 535 Jun2 de áreas costeiras em estudo estão pouco ocupados pelo homem. A ocupação se dá, na maioria das vezes, sobre \"ilhas\" de terrenos terciários aflorantes em meio ao manguezaL Nas praias ela é desordenada, exceto na Vila dos Pescadores, onde a grande maioria das casas looili7a-se atrás do cordão de dunas fixo; e apenas uma minoria encontra-se sobre a escarpa de praia, sujeita à ação erosiva de ondas e marés, o que leva os moradores a desmontarem suas casas, construindo-as, posteriormente, em áreas mais protegidas, não influenciadas pela dinâmica praial. Na praia de Ajuruteua, a forma de uso é inversa, uma vez que toda a linha de escarpa de praia e o pós- praia estão ocupados por casas e pousadas (Figura 6). Para conter a erosão, alguns moradores construíram muros de madeira que vêm afetando a dinâmica morfo-sedimentar, influindo na evolução natural do ambiente praial. As demais praias da área de estudo (Farol, Chavascal, Buçucanga, Pilão, Picanço, Canela e Maiaú) encontram-se completamente preservadas, sendo o acesso feito somente por meio fluvial ou a pé, durante a maré baixa. Estudos de monitoramento reilizados nestas praias permitirão em breve quantificarmos exatamente a relação destas formas de ocupação com os processos erosivos e deposicionais ocorrentes em todas as praias da Planície Costeira Bragantina. Impacto dos resíduos sólidos no ambiente costeiro O volume de lixo sólido depositado no ambiente costeiro constitui uma séria ameaça ao ambiente praial e manguezal da Planície Costeira Bragantina. Ao longo dos 25 km da planície costeira, não existe nenhum sistema de coleta de lixo, sendo este depositado regularmente nos campos de dunas. Seus impactos variam desde a poluição da linha de costa até influências na saúde da população, a problemas estéticos e econômicos que abalam o turismo da área. Alguns destes impactos foram muito bem descritos por Simmons (1997) como: Figura 6. Ocupação desordenada da praia de Ajuruteua. Ecossistemas Costeiros.- impactos egestão ambiental 139
Impactos na fauna e flora Estima-se que os resíduos plásticos constituem 60% dos detritos inorgânicos que entram no ambiente marinho. A degradação deste produto é muito lenta, permanecendo em suspensão no mar ou retido no fundo por um longo período de tempo. Estes resíduos representam uma ameaça aos animais marinhos, como pássaros, tartarugas, peixes, crustáceos, etc. Degradação ffiica O grande depósito e a lenta degradação de plásticos (400 anos), vidros (200 anos), borracha (100 anos), metais (2 anos) e alumínio (não degrada) proporcionam a acumulação dos resíduos sólidos nos estuários e praias, que são posteriormente retrabalhados e depositados juntamente com os sedimentos, formando camadas de lixo intercaladas a camadas sedimentares recentes, marcando períodos de grande acumulação de resíduos (Figura 7). Impactos estéticos e econômicos A presença de lixo em áreas costeiras, principalmente nas praias não é bem vista, particularmente em áreas onde o turismo é dependente da beleza natural e de um ambiente saudável. Logo, um aumento no acúmulo de lixo poderá diminuir a qualidade e beleza do ambiente e, por conseguinte, diminuir o fluxo de turistas, visitantes e usuários da praia, sendo isto traduzido em perdas econômicas para pousadas e empresas de turismo, sem contar com os prejuízos de moradores, pescadores e donos de embarcações. Impactos na saúde Garrafas, copos e latas lançadas nas praias e estuários constituem uma ameaça a banhistas e demais usuários, que sofrem constantes acidentes. O conteúdo destes detritos em contato com a pele ou ingeridos acidentalmente representam um perigo real, se tratados de forma imprópria e inadequada pelos usuários das praias. Além do mais, o lixo e as fossas contaminam os lençóis freáticos, tornando a água utilizada pela população imprópria ao consumo. Devido a forte erosão costeira, diversas fossas são encontradas na zona de intermarés das praias (Figura 8). Figura 7. Impacto dos resíduos sólidos na praia de Ajuruteua. Depósito de lixo (lata, plástico, tijolo) intercalado a camadas de sedi- mentos arenosos que constituem os campos de dunas costeiras próximo a linha de maré alta. Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 140
Figura 8. Impacto dos resíduos sólidos na praia de Ajuruteua. Fossas de antigas residências expostas na zona de intermaré, devido a forte erosão responsável pelo recuo da linha de costa. Estas fossas representam um perigo real à saúde dos banhistas, além de contaminarem os lençóis freáticos superficiais, cuja água é utilizada pelos moradores locais. ESTRATÉGIA DE OCUPAÇÃO DA ÁREA COSTEIRA A partir da integração dos mapas geológico-geomorfológicos com os processos naturais e antrópicos observados na área costeira, foi possível identificar e caracterizar áreas apropriadas ou não ao uso e ocupação do solo, as quais Mendes et ai. (1997) denominaram de Unidades Geoambientais. Com base no mapa geoambiental (Figura 9), elaborado para a área de estudo, é proposta uma forma de uso e ocupação da zona costeira, baseado em um planejamento que permita um desenvolvimento sustentável, conforme descrito abaixo: Áreas de preservação permanente De acordo com a Resolução n° 004/85 do CONAMA, essas áreas são consideradas Reservas Ecológicas, sendo representadas na Planície Costeira Bragantina pelos ecossistemas de manguezal, pântanos salmos, dunas costeiras - incluindo os cheniers - planícies arenosas e praias e, os ecossistemas estuarinos (canal estuarino e planície de inundação). Além das características ecológicas peculiares destes ecossistemas, essas áreas são inadequadas à urbanização por estarem sujeitas a processos naturais como erosão, deposição, inundação, marés, ondas, ação eólica, etc., os quais dificultam sobremaneira a construção de obras de engenharia. Arcas adequadas à ocupação Representam áreas cujas características geológicas-geomorfológicas e ambientais atuais (a floresta nativa já foi destruída nos primórdios da década de 60) favorecem sua urbanização, principalmente por estarem loca1izad2s sobre o Planalto Costeiro, sustentado por sedimentos terciários do Grupo Barreiras. Há a necessidade de avaliação do impacto sobre a cobertura vegetal e rede de drenagem a ser atingida. Ecossistemas Costeiros.- impactos egestão ambiental 141
OO\"43'18\" Maiaú Buçucanga Baía do Maiaú a'rol Canela Aj uruteua Picanço Pilã 1 Vila dos Pescadores 013 Augusto Cora ' Braganç. 01'04'17\" Legenda Costa estuarina Áreas de Preservação Permanente Costa aberta Áreas Adequadas a Ocupação ' Estradas Áreas de Risco a Ocupação 1Áreas Degradadas Figura 9. Mapa geoambiental da Planície Costeira Bragantina. Áreas de risco à ocupação Correspondem às áreas que apresentam restrições ao uso do meio físico, dispondo apenas de condições parciais de suporte a projetos de urbanização. São necessários cuidados especiais a fim de se evitar problemas ambientais, geológicos e geotécnicos que possam ocorrer nas áreas de risco, como as margens das paleofalésias, os rios e os estuários. Existe ainda a preocupação com a emissão dos efluentes nos sistemas estuarinos e costeiros, devido a sua proximidade. Áreas degradadas Constituem áreas situadas na unidade geoambiental de preservação permanente, submetidas a impactos antrópicos que degradaram o meio fisico. Essas áreas são representadas pela ocupação desordenada das praias, devastação de florestas de mangue, formação de novos ambientes (lagos) e estradas que seccionam os manguezais. Entretanto, caso essas ações tivessem sido planejadas, seus impactos ambientais poderiam ser minimizados. Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 142
RECOMENDAÇÕES PARA REDUZIRA VULNERABILIDADE DA ÁREA COSTEIRA Para se reduzir a vulnerabilidade das áreas costeiras sujeita, tanto a processos naturais, quanto os antrópicos, se faz necessário a tomada de decisões, cujas atribuições são do setor público (órgãos municipal, estadual e federal), responsável pela preservação do patrimônio de uso público e coletivo. Portanto, para reduzir o impacto ambiental nas áreas costeiras, é preciso a implantação de alguns programas como: • monitoramento dos processos costeiros para constituir um banco de dados a fim de predizer a dinâmica costeira; • priorizar a proteção dos manguezais, dunas costeiras e praias; • regenerar áreas costeiras já destruídas pela ação antrópica; • estabelecimento de uma linha de recuo (\"setback\") para o uso e desenvolvimento de áreas costeiras. Esta linha de recuo seria definida como a distância prescrita da linha de maré baixa para uma feição costeira, preferencialmente a linha de vegetação do campo de dunas, na qual todos ou certos tipos de desenvolvimento seriam proibidos. Nesta área a praia pode acrescer ou recuar naturalmente. • determinação de uma zona entre a linha de maré baixa e a faixa de ocupação costeira, na qual a zona de praia pode acrecer ou recuar naturalmente; • controlar a emissão de efluentes domésticos e industriais nos rios, estuários e linha de costa; • estabelecimento de um programa de coleta de resíduos sólidos adequado ao ambiente costeiro, com a finalidade de reciclar o lixo, quando possível. • de educação ambiental para as populações fixa e flutuante. Estas medidas devem ser tomadas o quanto antes, uma vez que a grande maioria dos impactos antrópicos responsáveis pela vulnerabilidade das áreas costeiras ainda são reversíveis. Deste modo, planejar, nesse momento, um desenvolvimento sustentável para a região é bastante pertinente, sendo possível evitar danos ambientais irreparáveis, como aqueles observados na área de Salinópolis (Mendes et ai. 1997), também localizada no litoral do Estado do Pará. CONCLUSÕES Este artigo representa uma tentativa de se abordar os muitos problemas envolvidos no gerenciamento de áreas costeiras, com o intuito de planejar um desenvolvimento sustentável para a Planície Costeira Bragantina. A implementação de uma política de gerenciamento deve ser de longo período, iniciando-se com o reconhecimento das características do meio abiótico e biótico, para que se possa então monitorar e em seguida gerenciar o ambiente. Os principais problemas ambientais na Planície Costeira Bragantina estão relacionados à erosão costeira e à ocupação desordenada de áreas de preservação permanente, sem que haja nenhum estudo prévio dos impactos ambientais decorrentes de tal ação. Deste modo, o primeiro passo é reconhecermos a erosão costeira como um problema que vem afetando a população local, causando sérios prejuízos econômicos e sociais. Em seguida, é necessário se rever a forma de ocupação atual da planície costeira e adequá-la a proposta geoambiental de uso e ocupação do solo, a fim de que se possa reduzir a vulnerabilidade das áreas costeiras aos processos naturais atuantes. Vale ressaltar ainda a necessidade de estabelecimento de uma política de gerenciamento costeiro, onde o planejamento do meio físico seja de responsabilidade de órgãos ambientais, que juntamente com a comunidade, a iniciativa privada e organizações não governamentais fomentem e incentivem o turismo racional e o desenvolvimento da região de modo efetivo. Portanto, ainda há tempo de evitarmos problemas ambientais mais graves na Planície Costeira Bragantina, que só passam a existir quando o homem ocupa de forma desordenada e irracional o ambiente em que vive. E~~ Costeiros impactos egestão ambiental 143
AGRADECIMENTOS O autor agradece à CAPES pela concessão da bolsa de doutorado e pelo financiamento das etapas de campo, ao Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica da Universidade Federal do Pará, pela utilização dos laboratórios do Centro de Geociências; ao pesquisador Msc. Amílcar Carvalho Mendes (Museu Goeldi) e ao Prof. Dr. Werner Truckenbrodt pelas discussões, sugestões e revisão crítica do artigo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO-DHN. 1986. Roteiro Costa-Norte. Rio de Ja- neiro, DHN. 152p. DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO-DHN. 1997. Tábuas de Marés para 1997. Costa do Brasil e alguns portos estrangeiros. Rio de Janeiro, DHN. p. 1-6. MARTORANO, L.G.; PERREIRA, L.C.; CÉZAR, E.G.M.; PEREIRA, I.C.B. 1993. Estudos Climáticos do Estado do Pará, Classificação Climática (KOPPEN) e Deficiência Hídrica (THORNTHWHITE, MATHER). Belém, SUDAM/ EMBRAPA, SNLCS. 53p. MENDES, A.C.; SILVA, M.S.; FARIA Jr., L.E.C. 1997. A expansão urbana e seus efeitos danosos ao meio ambiente da Ilha do Atalaia-SalinópolistPA. In: COSTA, M.L. & ANGÉLICA, R.S. (ed.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Belém, Finep/SBG-NO. p. 359-396. NICHOLS, K. E. & CORBIN. C. 1997. Community based approach to beach management. In: CAMBERS, G. (cd) Managing Beach Resources in the Smaller Caribbean Island. Porto Rico, UNESCO. p. 182-190. SIMMONS, D. 1997. Development planning guidelines for tourism development in coast areas ofSmall Island States. . In: CAMBERS, G. (ed) Managing Beach Resources in the Smaller Caribbean Island. Porto Rico, UNESCO. p. 237-247. SOUZA FILHO, P.WM. 1995. Influência das Variações do Nível do Mar na Morfoestratigrafia da Planície Costeira Bragantina (NE do Pará) durante o Holoceno. Belém, Universidade Federal do Pará, 123p. Tese de Mestrado SOUZA FILHO, PWM. & EL-ROBRINI, M. 1996. Morfologia, processos de sedimentação e litofácies dos ambientes morfo-sedimentares da Planície Costeira Bragantina - Nordeste do Pará (Brasil). Geonomos, 4(2):1-16. SOUZA FILHO, P.WM. & EL-ROBRINI, M. 1997. A influência das variações do nível do mar na sedimentação da Planície Costeira Bragantina durante o Holoceno - Nordeste do Pará, Brasil. In: COSTA, M.L. & ANGÉLICA, R.S. (ed.). Contribuições à Geologia da Amazônia. Belém, FINEP/ SBG. p. 307-337. NOTAS 1. Universidade Federal do Pará, Laboratório de Ciências Ambientais. Campus Universitário. Rua Augusto Correa, 1. Cep. 66075-110; C.P 1611. E-mail: [email protected] Ecossistemas Costeiras: impactos egestão ambiental 144
IMPACTO POR DERRAMAMENTO DE ÓLEO E PROSPECÇÃO SÍSMICA EM MANGUEZAIS DO LITORAL DE SERGIPE (NE DO BRASIL) Solange Alves Nascimento' Resumo O impacto das atividades ligadas ao petróleo no manguezal de Cotinguiba (derrame de óleo) e no rio Vasa- Barris (sísmica) foram monitorados pela ADEMA durante seis anos. São analisados os impactos sobre a flora (Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle and Avicenniaschaueriana ) e a fauna (Ucidescordatus). Abstract The impacts ofseismic work and oil spill on mangrove ofCotinguiba river (oil spill) and Vasa- Barris tiver (seismic work) were studied by ADEMA during six-years. It is discussed the negative effects on flora (Laguncularia racemosa, Rbizophora mangle and Avicennia schaueriana ) and fauna (Ucides cordatus). INTRODUÇÃO O estado de Sergipe encontra-se no trecho do litoral brasileiro compreendido entre o Cabo Calcanhar e o Recôncavo Baiano. Está caracterizado por uma costa de relevos baixos (restos de tabuleiros formado sobre depósitos de Terciário - \"barreiras\", cotas de 10m) e carência de acidentes geográficos significativos (raros morros arredondados esculpidos ou rochas sedimentares do Mesozóico) sendo a planície costeira formada por depósitos do Quaternário. Seu litoral, ocupando uma área de 1.200km2 e 163 km de linha de praia, fica sujeito a intensas colmatagens e apresenta numerosos canais e rios - São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vasa-Barris, Piauí e Real, que dão origem a um grande número de ilhas antes de lançarem suas águas no Atlântico. Estas ilhas, aliadas ao clima marítimo quente, à pequena amplitude térmica diária e anual e às águas calmas e tépidas, permitem o desenvolvimento do mangue em grande parte do litoral. Representando um percentual de aproximadamente 25% da região costeira do Estado, o ecossistema manguezal vem sofrendo ocupação e utilização as mais variadas, causando em algumas áreas sua total erradicação. Vários tensores de graus e origens diferenciados foram identificados ao longo da costa sergipana, os quais comprometem aproximadamente ¼ dos manguezais do Estado; Nascimento (1996) constatou a interrelação existente entre a biologia do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) e o tipo de bosque de mangue, e a influência desses tensores no comportamento biológico e ecológico desta espécie, bem como a necessidade de se manter os manguezais não somente como condicionante de sobrevivência do caranguejo, mas também como garantia de uma das faunas mais ricas e diversificadas do ambiente estuarino e marinho. A resposta do ecossistema manguezal a uma variedade de tensores vem sendo muito estudada ultimamente em todo o mundo. Porém, dentre eles, poucas são referentes a derrame de óleo e, sobretudo, nenhuma diz respeito a detonação de explosivos (sísmica) dentro desses ambientes.
O tensor é um tipo de situação que força o sistema a mobilizar seus recursos e gastar mais energia para manter a homeostase. O efeito do tensor provoca uma simplificação na estrutura e redução da diversidade, operando de tal forma que pode ocasionar uma regressão do ecossistema, inibindo completamente suas funções como a capacidade de produção, produtividade e estabilidade. A extração do petróleo depende de uma série de processos nos trabalhos de campo, sendo, dentre eles os mais importantes a prospecção sísmica, a perfuração e finalmente a produção, todos provocando em menor ou maior escala, impactos ao meio onde estão sendo realizados. Ecossistemas de manguezal são distribuídos por todas as áreas tropicais e subtropicais, comumente adjacentes às principais rotas de transporte de óleo nos oceanos Atlântico, Pacífico e Indico. Os danos ocasionados aos manguezais pelos acidentes de petroleiros e oleodutos têm causado graves prejuízos ao meio ambiente. Esses ecossistemas são particularmente sensíveis aos derrames de óleo por possuírem baixas condições aeróbicas; o mangue para arejar suas raízes e absorver água conta com um sistema de poros ou aberturas, propensos a serem cobertos ou obstruídos pelo petróleo. O óleo causa o entupimento mecânico das lenticelas das raízes aéreas e dos pneumatóforos, causando morte por asfixia. A prospecção sísmica é o trabalho efetuado através de explosões subterrâneas para detecção de bacias petrolíferas. A realização de trabalho desse tipo no manguezal promove uma série de impactos, danificando sobremaneira o ecossistema. Os tensores mais marcantes são: desmatamento através de desfolhamento, desgalhamento ou mesmo corte das árvores para abertura das picadas; durante algumas semanas um elevado número de operários (equipe sísmica) se movimentará dentro do sistema, ocasionando uma série de problemas ao mesmo; as ondas de choque (ondas sonoras) provocadas pela explosão acarretam mortandade em grande parte da fauna que ali reside; as crateras decorrentes da detonação formam pequenos lagos, modificando a ciclagem hídrica e de nutrientes no ecossistema. Em Sergipe, nordeste do Brasil, a Petrobrás atua há mais de 30 anos, deixando, portanto, um saldo negativo de problemas ambientais, seja em terra firme, nos rios, praias, etc. Nossas pesquisas, desenvolvidas através de dois projetos, \"Derramamento de óleo em manguezal \" (1982-1992) e \"Identificação e análise de impacto por detonação\" (1988 - 1996), objetivaram o monitoramento biológico, procurando-se determinar os parâmetros indispensáveis à garantia de uma análise segura das possíveis alterações ocorridas na biota do manguezal, quando submetido a impactos desta natureza. Convém frisar que o sistema de transferência de óleo dos campos petrolíferos - oleodutos - até o Terminal da Atalaia, em Aracaju, capital do estado, atravessa extensas áreas de estuário e manguezal, com sérios riscos de acidentes para os ecossistemas. O estudo em pauta deveu-se ao rompimento de um oleoduto da Petrobrás na fazenda Santa Cruz, município de N.Sa do Socorro, quando um trator, ao melhorar o acesso para o canavial, rompeu-o com sua lâmina numa zona próxima ao manguezal do rio Cotinguiba. Neste acidente houve vazamento de cerca de 79,5 m3 de óleo (dados da Petrobrás), atingindo uma área de aproximadamente 1,Sha, posteriormente ampliada pela ação da maré (Figura 1). CARACTERÍSTICAS DA ÁREA O estudo foi desenvolvido na bacia-vertente dos rios Sergipe, Cotinguiba, município de N.Sa.do Socorro. Situa-se a 10'9' 5\" a 100 10, 3\" Sule 3707 8\" a37'8'2\" Oeste, na margem esquerda do rio, próximo a ponte da BR-101, em terras da fazenda Santa Cruz. Ecositemas Costeiros: impactos egest& ambiental 146
O relevo circunvizinho caracteriza-se por formas originárias de deposição fluviomarinha e marinha; predominam os solos halomórficos indiscriminados de mangue. A temperatura média da área é de 26°C e a precipitação pluviométrica média de 1200 a 1400rnm (dados da cidade de N.Sa. do Socorro). O manguezal apresenta uma cobertura vegetal em que predomina a espécie Laguncularia racemosa, sendo encontradas, também, em Cotinguiba, Rhizophora mangle e Avicennia schaueriana. Este ecossistema termina numa aclividade do terreno onde se encontram manchas de restinga e, logo após, imensas plantações de cana-de-açúcar. Figura 1. Mapa do estado de Sergipe, mostrando o local atingido pelo derramamento de óleo. OBSERVAÇÕES Os trabalhos foram iniciados em fevereiro de 1982. Durante os quatro primeiros anos foram realizadas coletas mensais na área. A partir de 1986 as coletas e observações foram efetuadas trimestralmente no ambiente aquático (estuário e riachos) e no terrestre (manguezal). Por ocasião do acidente (rompimento do oleoduto) a equipe da Petrobrás que trabalhava na recuperação do óleo, provocou outros impactos no ecossistema: aterro, queimada e corte da vegetação do manguezal. Para um estudo dos vários tipos de impactos, o sistema foi dividido em subáreas: Subárea 1 - controle, sem impacto; subárea 2 - com óleo e vegetação cortada; subárea 3 - com óleo e vegetação queimada; subárea 4 - com óleo e aterrada e a subárea 5 - com óleo, mas sem aterro e sem corte (Figura 2). Decorridos cinco anos e meio do acidente, observou-se uma série de transformações pelo qual passou todo o ecossistema atingido. Em agosto de 1987 realizou-se um trabalho de coletas e observações (\"varredura\"). A área controle, local não afetado pelo óleo, embora dentro do ecossistema (subárea 1), situa-se à aproximadamente 90m de distância do rio, é circundada por um canal e um dique de antigo viveiro de 1,8m de altura que funcionou como barreira de proteção contra o óleo por ocasião do desastre. O solo argiloso encontrava-se mesclado com emaranhado de raízes. O bosque, composto principalmente pela espécie Laguncularia racemosa, estruturalmente bem desenvolvido, apresentava, porém, uma taxa de pastejo muito elevada. A fauna visualizada foi essencialmente de crustáceos das espécies Goniopsis cruentata,Aratuspisonü (aratus) e Ucides cordatus (caranguejo-uçá) de médio tamanho. Os cirripedes (cracas) aparecem colonizando troncos das árvores até altura de 60cm do solo. Também muito expressiva é a população de Littorina angulfera sobre as árvores. Nos troncos, convivendo com as cracas, as algas alcançavam a altura de 1 metro; sobre os pneumatóforos Ecossiaemas Costeiros: impactos egesto ambiental 147
e rizóforos, também ocorrem diversas espécies de algas sendo mais abundantes as dos gêneros Bostryc/iia e Enteromorpha. No solo, em maré baixa, o molusco Meliampus coifeus forma um verdadeiro \"tapete\" juntamente com várias espécies de ucas. A subárea 2 recebeu óleo e suas árvores foram cortadas. Cinco anos após o acidente a vegetação que nasceu nesse espaço de tempo (Laguncularia racemosa) não apresentou desenvolvimento estrutural. As plantas apresentavam-se estressadas, com altura média de 1,5m e densidade de 4 indivíduos por metro quadrado. A área de vegetação cortada foi de 2.100m, sendo 70m 1inear, perpendicular ao rio, e 30m de largura paralelo à margem. No solo, de textura areno-argilosa, a fauna observada era composta por algumas ucas localizadas na margem do rio e Littorina.s sobre a vegetação. Apesar de ocorrerem algumas tocas, não foi visualizado nenhum Ucides cordatus, mesmo na maré baixa, período em que esses animais estão fora das tocas recolhendo folhas para sua alimentação. A subárea 3 recebeu óleo e a vegetação foi queimada. Em 1984 começou o desenvolvimento de plântulas de Laguncularia, porém poucas conseguiram sobreviver. A faixa às margens do rio apresentava uma vegetação consorciada de Rhizophora, Laguncularia e Avicennia, numa média de duas árvores por metro quadrado e altura média de 1,3 m. Distando 30 metros do rio, as Laguncularias que nasceram no ano de 1986 encontravam-se aglomeradas, numa média de 45 plantas por metro quadrado, sendo do tipo arbustivo e apresentado diâmetro reduzido. Com exceção de insetos e algumas ucas na margem do rio, nenhuma outra espécie animal foi visualizada. A subárea 4 recebeu óleo e foi completamente aterrada. Durante os dois primeiros anos subseqüentes ao derrame do óleo, esta área permaneceu seca, sem condições para o desenvolvimento de qualquer espécie vegetal. Em 1984 começaram a surgir plântulas de Laguncularia, que em pouco tempo foram cortadas por pescadores. Em 1986 novas plântulas nasceram na área, e em agosto de 1987 alcançavam altura de 2,5m e densidade de 9 plantas por metro quadrado, surgindo também aratús e uma média de duas tocas de Ucides cordatus por metro quadrado. A quinta subárea recebeu óleo formando uma grande poça, a qual depois de cinco anos, ao cavar-se até 40cm de profundidade, ainda aflorava óleo no solo, em perfeito estado de viscosidade e cheiro característico. O local foi colonizado por gramíneas, desenvolvendo-se apenas uma Laguncularia com aspecto anatômico curioso de um vegetal rastejante. As folhas apresentavam tamanho normal, porém a morfologia da árvore era diferente, não possuindo tronco e sim ramificações rasteiras sobre o solo. RESULTADOS Nos primeiros dias após o acidente o impacto mais evidente ocorreu com a população de crustáceos, principalmente da espécie Ucides cordatus. No manguezal, a quantidade de caranguejos mortos tornou-se incontável, constatando-se também expressivo número de caranguejos vivos perambulando pelo manguezal, completamente encharcados de óleo, apáticos e que morreram posteriormente. Estudos efetuados na anatomia interna desses animais revelaram que seus aparelhos respiratórios (brânquias) encontravam-se impregnados de óleo, interrompendo as trocas gasosas e ocasionando-lhes a morte por asfixia. A vegetação sofreu de maneira mais lenta a ação do petróleo. Seis meses depois a desolação era total. As árvores que foram atingidas diretamente pelo óleo, pouco a pouco, perderam suas folhas, murcharam e morreram. Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 148
/ o PONTO DE DERRAMAMENTO DE ÓLEO / LIMITE DA ÁREA DE MANGUEZAL PIO 01 Subárea controle 02 Subárea c/ óleo e cortada 03 Subárea c/ óleo e queimada 04 Subárea c/ óleo o aterrada 05 Subárea cI óleo /. \\ Escala - 1:5000 Fonte - ADEMA Figura 1. Localização do ponto de derramamento de óleo em Sergipe, com as 5 subáreas. No decorrer do primeiro ano observou-se uma tentativa de recuperação do manguezal, com o nascimento de plantas do gênero Laguncularia, mas sem prosseguimento. A morte dessas plântulas deu-se provavelmente pela combinação de dois fatores, não tendo sido, entretanto, mensurado com exatidão o peso de cada um sobre este processo. O primeiro fator decorreu destas terem nascido sobre a área aterrada, que se tornou extremamente ressecada por se apresentar num nível inatingível pela maré alta. O segundo decorreu do próprio petróleo, pois assim que as raízes alcançavam a região do subsolo saturado de óleo, rompia-se o desenvolvimento da planta pela carência de nutrientes. Observou-se, ainda, que as folhas que brotavam das árvores menos atigidas ou atingidas indiretamente pelo óleo, apresentavam anomalias que as tornavam enrugadas e 30% menores que as folhas normais. Também com relação as folhas marcescentes com processo de abcisão completo e frutos de Laguncularia e Rbizophora, mesmo ressecados e deformados continuavam presos aos galhos. Nos testes realizados em laboratório para reprodução do Ucides cordatus da área a'etada, todas as fêmeas ovadas apresentaram anormalidades. Algumas não conseguiram liberar as larvas, havendo degeneração da massa ovígera presa aos pleópodos, enquanto em outras aconteceu a eclosão dos ovos, porém as larvas eclodidas viveram apenas durante seis horas. O pH das águas do rio e riacho, apresentou-se quase sempre alcalino durante os anos de estudo, exceto nos meses subseqüentes ao derramamento do óleo quando seu valor esteve sempre ácido. Ecossirtemas Cesteiros: impactos egestão ambiental 149
A salinidade das águas apresentou grandes oscilações em seus valores, sendo a máxima de 42% e a mínima 0.5%. O OD (oxigênio dissolvido), no primeiro ano após o acidente, demonstrou valores críticos para a sobrevivência da vida aquática (0.5 a 3.7 ml/l,), sofrendo oscilações marcantes nos anos subsequentes com valores de 1.0 a 7.0 mui. As temperaturas sempre estiveram com valores acima do normal na área, sendo o ano de 1984 o que apresentou os maiores valores, tanto para o ar quanto para água. Todos os fenômenos observados e mensurados durante o período de estudo, indicam que a vegetação e a fauna afetadas pelo óleo passaram a apresentar respostas instáveis. No estudo do impacto por prospecção sísmica das áreas escolhidas para \"laboratório-vivo\", a que melhor resposta apresentou à pesquisa foi a localizada no estuário do rio Vasa-Barris, manguezal Pulga, município de São Cristóvão. O estuário do Vasa-Barris abrange aproximadamente 40 km2 de superficie de água, caracterizando-se por apresentar inúmeras ilhas e canais de tamanhos variados perpendiculares ao seu eixo. As ilhas originadas das condições geomorfológicas deste estuário, encontram-se circundadas por bosques de mangue estruturalmente bem desenvolvidos, onde os rizóforos das Rhizophoras constituem-se em verdadeiros \"nichos\", densamente povoados por moluscos (gastrópodes, ostras, sururus e outros bivalves) e crustáceos (anfipodas, aratus, caranguejos, cracas), essencialmente importantes para manter a vida estuarina e marinha. Na franja se faz presente uma diversificada população zooplanctônica, assegurando, desta forma, o equilíbrio morfogenético nessa região. A utilização desse estuário, mais precisamente das bordas do manguezal, tem-se voltado para piscicultura. As ameaças com efluentes poluidores sobre a natureza são mínimas, entretanto, é marcante a presença da ação antrópica, visualizada principalmente no corte de mangue, condicionando a curto ou longo prazo, forte comprometimento da produtividade estuarina, mediante desequilíbrio de uma das mais complexas interações tróficas do globo terrestre Mar-Estuário-Manguezal. O monitoramento dos impactos constou de levantamento, mensalmente realizados em manguezais da Ilha do Veiga (teste) e Ilha Caramindó (controle), no período de 1991/1992, e no manguezal Pulga de 1994/ 1995, todos no estuário do rio Vasa-Barris. O estudo foi dividido em três etapas: 1 . Levantamento de todo o sistema; 2a. Detonação 3a Acompanhamento/monitoramento dos possíveis impactos. Na primeira etapa o manguezal foi zoneado em 17 pontos de coleta, tomando-se como referência a LT (linha de tiro), entre os PT (pontos de tiro) 219 a 233. Os coletores foram distribuídos na LT acompanhando os PT, e a distância de SOm e 25m paralelo a esta linha. Os coletores, compostos de cestas coletoras de serapilheira (estudo da produção), tubos coletores de água (salinidade intersticial - enterrados a 80cm no solo) e sedimento para determinações fi'sico-químicas, permaneceram no ecossistema durante todo o período estudado. A segunda etapa teve início em novembro de 94, com a detonação da linha 27.RL.1748. O explosivo, uma emulsão gelatinosa à base de sais de nitrato, de caráter biodegradável e isento de nitroglicerina ou Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 150
nitroglicol (POWERGEL). A sua detonação somente é possível através de corrente elétrica que aciona uma espoleta, sendo que essas ligações somente são feitas após o carregamento do furo e tamponamento do mesmo. Em seguida à detonação foi iniciado um trabalho de \"varredura\" em toda extensão da linha, inclusive para observação da existência de crateras que pudessem ter ocorrido em locais de sedimento mais seco e duro, como os adjacentes ao apicum. CONCLUSÕES O ecossistema manguezal que serviu como laboratório para o estudo experimental das detonações, suportou muito bem, sem grande variações, os choques provocados pelas explosões provenientes dos estudos sísmicos. Há de se levar em consideração que somente uma linha foi detonada, representando, para o universo do sistema estudado, o equivalente a 0,01% da área. Provavelmente, por esse motivo é que não foram detectadas mudanças comportamentais nos indivíduos que formam a fauna e flora local. As mudanças observadas, sempre pontuais e de curta duração, não ultrapassaram as semanas subseqüentes às detonações. A distorção que perdurou por mais tempo foi a picada. Em faixas de Rhizophora, as picadas quase não são perceptíveis, em virtude de ser processado apenas o desfolhamento ou, algumas vezes, o desgalhamento para a passagem da linha, quase nunca ocorrendo o corte da árvore. já nas faixas de Laguncularia e Avicennia, os cortes alcançam larguras de 1 a 1, 5m e necessitam de longo tempo para recomposição. A macrofauna não apresentou nenhuma modificação comportamental após as detonações, como também não foram visualizados indivíduos mortos pela explosão. Uma exceção deve ser feita à infauna localizada na linha de tiro. Esta foi atingida, sendo mais afetada a que se encontrava no raio de ação ou nexatamente a vivente no local onde se implantou o ocorrendo destruição da infauna e fauna séssil adjacente. Convém salientar que cada manguezal responde diferentemente às variações a que forem submetidos, porque cada um tem a sua própria identidade. Assim sendo, não se pode extrapolar os resultados obtidos nesses manguezais para qualquer outro. As crateras provocadas pelas detonações, quando em áreas lodosas, se recompõem imediatamente e, na próxima maré alta, não mais se verificam vestígios do que ali se processou; em áreas mais compactas, em que o sedimento é mais duro ou arenoso (no chamado alto manguezal ou apicum), é necessário a efetuação de tamponamento posterior. Analisando todos os resultados e observações obtidos nessa pesquisa, conclui-se a impossibilidade de trabalhos sísmicos que não oferecessem perigo de impactos destrutivos ao manguezal. Portanto, sabendo-se que para estudos sísmicos efetuados pela Petrobrás para prospecção de petróleo em ecossitemas de manguezal há necessidade de uma série de etapas (abertura de picadas com corte e desgalhamento da vegetação, movimentação da equipe dentro do sistema, detonação que provoca mortandade da fauna e crateras que modificam a circulação hídrica e de nutrientes - atentar para o número de linhas necessárias), é impossível a execução desses trabalhos sem impacto de grande porte, com destruição de parte relevante do ecossistema. Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 151
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NASCIMENTO, S. A. 1993. Estudo de impacto do derramamento de óleo em áreas de manguezal do estado de Sergipe -Nordeste do Brasil. SEMINÁRIO SOBRE MEIO AMBIENTE. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Petróleo-IBP, p. 152-163. (Trabalhos Técnicos, 2). NASCIMENTO, S.A. 1996. Identificação e análise do impacto por detonação no meio biótico no estuário do rio Vasa-Barris - estado de Sergipe. Aracaju, ADEMA, p. 128. NOTAS ADEMA - Administração Estadual do Meio Ambiente. Bióloga, Coordenadora do Meio Ambiente.Av. Herácito Rollemberg, 4444. Caixa Postal 088. Cep 49030-640, Aracaju-SE. Teis.: 55-79 217.1840/1920. Fax: 55-79 231.2947/9142. Ecossistemas Costeiros: impactos egestãa ambiental 152
NÍVEL DE CONTAMINAÇÃO POR ÓLEO NOS SEDIMENTOS DE FUNDO E NA ÁGUA DO RIO PARÁ, DECORRENTE DO ACIDENTE COM A BALSA MISS RONDÔNIA José Francisco Berredo' Amilcar Carvalho Mendes' Maria Emília da Cruz Sales' José Paulo Sarmento' Resumo Este estudo apresenta os procedimentos, métodos e resultados obtidos para a definição da identidade molecular do óleo combustível tipo Ai, derramado no acidente com a balsa Miss Rondônia, no rio Pará, às proximidades do Porto de Vila do Conde, Barcarena-PA. As análises cromatográficas realizadas em sedimentos de fundo mostraram que em algumas amostras foram detectados teores de hidrocarbonetos, cujas características geoquímicas são bastante semelhantes àquelas definidas no óleo derramado. No entanto, as concentrações de PAH e TPH são baixas, não evidenciando alterações significativas nas características abióticas e bióticas do ecossistema aquático, comprovado pela qualidade química das águas e comparações dos resultados obtidos com índices ecológicos de referência. Abs~ This study presents the procedures, methods and results gotten for the definition ofthe molecular identity of the Ai combustible oil, spilled in the accident with the Miss Rondônia raft, in the river Pará, to the neighborhoods ofthe Port of Vila do Conde, Barcarena-PA. The carried through chromatographic analyses in bottom sediments had shown that in some samples hydrocarbons had been detected, whose geochemistry features are similar to those defining ia the spilled oil. However, the concentrations of PAH and TPH are low, not evidencing significant alterations in the abiótics and biotic features ofthe aquatic ecosystem, proven for the chemical quality ofwaters and matchings ofthe results gotten with ecological indices ofreference. INTRODUÇÃO Derrames de petróleo e seus derivados em rios, estuários e oceanos no mundo inteiro são causados por acidentes envolvendo navios, balsas, dutos, refinarias e terminais de armazenamento. Esses acidentes normalmente estão associados à falha humana, má conservação de equipamentos ou fenômenos meteorológicos (tempestades, etc...). Dependendo das circunstâncias ambientais e do volume de óleo, o derrame pode causar danos à biota e às atividades sócio-econômicas em sua área de abrangência. Assim, a rapidez e a habilidade para caracterizar a fonte de um derramamento de óleo são fundamentais para a plena execução de procedimentos de contingenciamento de desastres ecológicos e, sobretudo, para acionar judicialmente os responsáveis por danos ambientais. Neste trabalho são apresentados os procedimentos, métodos e resultados das análises geoquímicas realizadas para caracterização da magnitude do impacto na coluna d'água e sedimentos de fundo da área de abrangência do acidente ocorrido com a balsa \"Miss Rondônia\", no Rio Pará, às proximidades do Porto de Vila do Conde (PA), quando estava carregada com cerca de 1900 toneladas de óleo Ai.
METODOLOGIA Análise bibliográfica e cartográfica Levantamento de dados cartográficos (cartas náuticas, imagens de satélite, fotografias aéreas, mapas planialtimétricos) e bibliográficos sobre aspectos fisiográficos, geológicos e geoquímicos da região do aci- dente e adjacências, bem como da bibliografia de apoio aos procedimentos de campo e laboratório. Estabelecimento da malha de amostragem Elaborada de acordo com o grau hipotético de impacto, definido pelas características hidrodinâmicas e na provável área de dispersão do óleo, sendo subdividida em setores assim denominados: • Área de Impacto Agudo - Local do naufrágio da balsa, incluindo a barreira de contenção e a área de manobra de embarcações no Porto de Vila do Conde (até a cota batimétrica de 20m) - Amostras 1, 2, 3, 20 e 21. • Área de Impacto Potencial - Radial em torno de 5Km do local do naufrágio da balsa - Amostras 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 22, 26e27, • Área de Background - Zonas teoricamente sem influência do impacto do vazamento, locd17adas na margem esquerda do rio Pará (às margens da ilha do Marajó)— Amostras 15, 16, 18, 19, 23, 24 e 25. • Área de Referência - Zonas localizadas à montante e à jusante do local do naufrágio - Amostras 14e 17. Foram definidos 27 pontos de amostragem para sedimentos de findo e 18 estações para coleta na coluna d'água (Figura 1). As amostras de água foram coletadas no topo e base, durante marés de enchente e vazante. 4850W Ilha 1 de Marajó RioPará • 0V30'S Ilha —Vila do Conde do Capim • Agua + Sedimento 11, Sedimento 2 1Cm Figura 1. Mapa de locali7ação dos pontos de amostragem o 154 Ecossistema.s Costeiros: impactos egestão ambiental
Trabalhos de Campo Foram realizadas etapas de campo durante os meses de março e abril, período de maior índice pluviométrico regional. A primeira, para coleta de água e sedimentos de fundo, e a segunda, para realização de perfis longitudinais e transversais de amostragem nas praias de Vila do Conde, Beja e Caripi. Os pontos de amostragem em ambas as etapas tiveram as coordenadas geográficas definidas pelo Sistema de Posicionamento Global por Satélite (GPS) e, posteriormente, plotadas em base cartográfica de referência. Para o deslocamento em campo foram utilizados o Navio de Pesquisas Almirante Paulo Moreira (MAMA) e barco de alumínio com motor de popa. Os sedimentos de fundo foram coletados com draga-mandíbula e acondicionados em recipientes de vidro envoltos em papel alumínio, para impedir efeitos da oxidação fotoquímica. A amostragem da coluna d'água foi efetuada, em superficie, com garrafa Beta e, em profundidade, com garrafa Nansen. As amostras foram mantidas sob refrigeração para posterior envio aos laboratórios do Centro de Pesquisa da PETROBRAS (CENPES), Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico e de Defesa do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (CETESB) e Universidade Federal do Pará (UFPA). Trabalhos de Laboratório O conjunto de substâncias poliaromáticas (PAH's) presentes em óleos combustíveis são funda- mentais na diagnose da impressão digital desses compostos, mesmo que estejam em proporções inferiores a ppb (partes por bilhão). Sedimentos de fundo e de praia foram submetidos à cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG/EM), para detectar a presença de hidrocarbonetos poliaromáticos (PAH), naftalenos alquilados (análise quantitativa) e biomarcadores. O óleo coletado na balsa foi analisado por cromatografia líquida (MPLC), cromatografia gasosa tipo whole oil, cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG/EM) e espectrometria de massas para razão de isótopos estáveis de carbono (EM/RI). Ainda no campo, parte das amostras de água foi analisada para pH, temperatura e oxigênio dissolvi- do (Método Winkler), enquanto que outra foi acondicionada, sob refrigeração, em recipientes de vidro âmbar e polietileno para análises de óleos e graxas e DQO (Standard Methods, 1998). LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de trabalho está limitada entre as coordenadas 01'25'00\"S, 01'40'00\"S, 48044'00\"W e 48°57'00\"W, abrangendo o canal de navegação do Rio Pará, no setor compreendido entre o Furo do Capim, ao Sul, e o Furo do Arrozal, ao norte (Figura 2). Ecossistemas Costeiros: impactos egest& ambiental 155
00 Vila Local do do Naufrági' Conde • \\/ Figura 2. Mapa de localização da área estudada, destacando o local de naufrágio da Balsa Miss Rondônia CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA A região de Barcarena-PA, é representativa da típica paisagem da planície amazônica, constituída por terrenos sedimentares, vegetação tipo Hiléia, rios, furos e igarapés que se interligam e se comunicam com a baía de Marajó. O clima é tropical úmido, com temperaturas médias anuais em torno de 27° C. A umidade relativa do ar é elevada (>80%). O período chuvoso inicia-se em dezembro, estendendo-se até o final de junho, com médias de precipitação anual próximo à 3 000mm (Lima & Kobayashi 1988). Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 156
As principais massas de água são constituídas pela baía de Marajó, rio Pará e diversos rios menores, interligados pelos \"furos\" e igarapés. O canal de navegação do rio Pará, na área de estudo, apresenta orienta- ção NE-SW, profundidades máximas atingindo 47m e largura variando entre 1.3 a 1.7 Km. Segundo dados da Companhia das Docas do Pará as características hidrológicas encontradas na área de estudo estão contidas na Tabela 1. Tabela 1. Condições hidrodinâmicas encontradas na área estudada. Valores 2.36m Parâmetros Hidrodinâmicos 3.04m Nível médio das marés 0.30m Nível médio das preamares de sizígia 2.48m Nível médio das baixa-mares de sizígia 0.78m Nível médio das preamares de quadratura 0.69m Nível médio das baixa-mares de quadratura 0.85m Nível médio de redução 3.6 segundos Altura máxima das ondas Ventos dominantes Período de ondas sopram de nordeste, com maior intensidade Ventos verificada em 9.26m/s (33 Km/h) Fonte: http:\\www.cdp.com.br A vegetação tipo Hiléia caracteriza-se por floresta de terra firme alterada e capoeiras; nas proximidades de rios, furos e igarapés ocorre abundantemente vegetação de várzea, ocorrendo também palmeiras tipo açaizeiro, buritizeiros, etc. Os terrenos sedimentares apresentam modelado de costas baixas e inclinação moderada, com \"falésias\" em depósitos síltico-argilosos, bem como terrenos baixos, inundáveis, e praias com expressivas faixas de areias. A litologia é caracterizada por areias, siltes, argilas e concreções lateríticas (Schãller et al. 1971; Resende &Ferradaes 1971). RESULTADOS E DISCUSSÕES Nos trabalhos de campo foram registradas ocorrências visuais de óleo nas amostras de sedimento de fundo, incluindo amostras na barreira de contenção e a jusante desta, conforme demonstrado na Figura 3. Em decorrência da presença de óleo em pontos fora da barreira de contenção, principalmente em amostras coletadas próximo a praia de Vila do Conde, foram realizadas, em uma segunda etapa, coletas nessa e nas praias de Beja e Caripi. Não foi registrada ocorrência de óleo na praia do Caripi, no entanto, dada a baixa declividade e a extensa zona de estirâncio na praia de Beja, foi possível realizar o mapeamento longitu- dinal e transversal durante a baixa-mar, onde foram detectadas manchas centimétricas de óleo associadas aos sedimentos argilosos, notadamente nos setores central e esquerdo da praia. A identidade molecular do óleo encontrado nos sedimentos foi comparada àquela do óleo BPF cole- tado na balsa, visando a correlação geoquímica entre ambos. A interpretação dos resultados obtidos da análise do óleo coletado na balsa indica tratar-se de um óleo combustível tipo A-1, que apresenta uma variação de Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 157
Ilha de Marajó .SB-14 SP-196'. SP-13 SP-11 • Eo SB-16 Jo SP-26 SA-21 o W-7SP-6 SA-20 SB-24 SP-50 . SP-27 Ilha do SP-40 -22 Capim, o Um Ilha Osb-23 O Presença de Óleo de • 1 lidrocarboneto Natural Urubuéua SR-1& %I\" do SA - impacto Agudo R-17 SI' - Impacto I'otncial S13 - J3.mch4ioud SR - Referência Figura 3. Distribuição dos pontos onde foi detectada presença visual de óleo em sedimentos. hidrocarbonetos de C8 a C30, com predominância dos compostos aromáticos metil e dimetil-naftalenos (Figura 4). A composição química do óleo por classe de compostos, e a razão de isótopos estáveis de carbono #é apresentada na Tabela 2. L13C %o Tabela 2. Composição química do óleo coletado na balsa. Amostra CEGEQ SAT (%) ARO (%) NOS (%) Perda (%) Óleo (Balsa) 000263775 16 48 36 35 -24.47 Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 158
40000 Metil-Naftalenos 30000 Dimetil-NaítaJenos 20000 10000 20 40 60 80 100 Figura 4. Perfil cromatográfico do óleo coletado na balsa, apresentando como compostos principais os metil-naftalenos e dimetil- naftalenos. O óleo combustível apresenta alta porcentagem de compostos aromáticos e compostos NOS, além de alta porcentagem de perda devido aos compostos que ficam retidos na pré-coluna durante o processo de separação cromatográfica. Dentre os biomarcadores observa-se a presença dos hopanos demetilados (Figura 5), que são indicativos do grau de biodegradação do óleo. O valor da razão de isótopos estáveis de carbono é de —24.47%o e encontra-se na faixa dos valores dos óleos produzidos na Bacia de Campos/RJ (-24 a —25.5%o). Comparando-se os resultados obtidos em cada amostra coletada e no óleo derramado, verifica-se que estas podem ser agrupadas em duas categorias: as amostras que contêm naftalenos e as que não os contêm. As amostras que não contêm estes compostos, apresentam distribuição de PAH similar à hidrocarbonetos natu- rais (principalmente provenientes de vegetais superiores); por outro lado, as amostras que contêm naftalenos apresentam a distribuição de PAH bastante similar à do óleo coletado na balsa (Figura 6). Corroborando os resultados mencionados, as correlações entre as impressões digitais (\"fringer print\") do óleo encontrado nas amostras de sedimento e a do óleo coletado na balsa, constata-se que, em pelo menos 5 estações de coleta, pode-se afirmar que a influência dominante é do óleo tipo Ai, semelhante ao coletado na balsa. Dentre as amostras enviadas para análises de PAH e TPH, várias apresentaram características para os hidrocarbonetos dominantes similares à distribuição do óleo derramado mas, também, características de hidrocarbonetos naturais ou uma mistura destes. Ecossistemas Costeiros: impactos egestão ambiental 159
90000 C30-Hopano 80000 C29-Hopano 70000 60000 )u) 50000 80 90 100 110 40000 30000 20000 10000 24000 20000 16000 80 90 100 110 Figura S. Crornatogramas de massas referentes aos terpanos, m/z 191, e hopanos demetilados, m/z 177, do óleo combustível. A = C2825-nor- 1 7á(H)-hopano; B = C2925-nor- 1 7á(H)-hopano (Fonte: CT CEGEQ 071/2000) Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 160
1 88888 o oO O O O 8o, oO Oo OOO OOO O Lo) O Lo) O qdd O') N C'J 1 o o Uo) E I -Ca -4 44 Z - ( •,•• a) oooo ooo ooo oooooo ooooo ooooo o oCD ooCD Lo W) O o o o OO ('1 qdd Ecossistemas Costeiros: impactos e gestão ambiental 161
Os teores de TPH nos sedimentos variaram entre 0,5 e 2,0 /Lg/g, e os de PAH entre 1 e 4214g/Kg. As amostras coletadas nas praias de Beja e de Conde apresentaram as concentrações mais elevadas de PAH; nos sedimentos de fundo, a maior concentração de PAH-TPH foi encontrada na amostra coletada no pier do Porto de Vila do Conde. A Tabela 3 apresenta os parâmetros e resultados analíticos nas águas. O pH manteve-se fracamente ácido em marés de vazante, variando entre neutro a fracamente alcalino nas marés de enchente, com peque- nas variações entre as amostras coletadas em profundidades e horários diferenciados. Os valores de oxigênio mantiveram-se rigorosamente em torno dos valores médios obtidos nas marés de enchente e vazante (leve- mente mais baixos), sem, contudo, demonstrar tendências fortes de variações entre amostras coletadas em diferentes profundidades e horários de amostragem. Estes resultados são compatíveis com águas agitadas e quimicamente equilibradas encontradas na Amazônia, em período semelhante de amostragem. A exceção, foi o ponto de amostragem utilizado como referência, localizado em frente ao Terminal de Miramar (Belém), que apresentou águas ligeiramente ácidas e teor de OD em torno de 4,9 mg/l, associado à degradação de matéria orgânica em maré de vazante. Os teores de óleos e Graxas (OG) são mais elevados nas marés de enchente, com valores médios entre 1,34 e 1,96 mg/l, excluindo-se destas médias, os altos teores encontrados nos pontos 4, 6, 8 e 16, durante a maré de enchente. Com relação ao DOO, os padrões brasileiros não estabelecem limite de referência. No entanto, resul- tados anteriores obtidos por Lima & Kobayashi (1988) na área, em seu estado \"teoricamente zero\", ou seja sem a presença de fontes poluidoras potenciais, sugerem que os teores encontrados nas amostras analisadas acham-se compatíveis com os valores naturais. Tabela 3. Parâmetros e valores máximos, mínimos e médias dos valores em marés de enchente e vazante analisados na coluna d'água. Parâmetros Valores Valores Média Média Mínimos Máximos Enchente Vazante Temperatura (°C) 26,9 30 28,4 27,6 PH 6,15 7,43 7,06 6,91 Oxigênio Dissolvido (mg/1) 4,9 7,65 6,74 6,37 Óleos e Graxas (mg/1) 0,3 72,2 1,96 * 1,34 DOO (mg/1) 5 30 12 13 Os resultados das análises em sedimentos e água foram comparados a valores ecológicos de referência propostos por Long et al. (1995), para avaliar o potencial de efeitos adversos que a presença de PAHs totais produzem em sedimentos e organismos bênticos. A Figura 7, apresenta a comparação gráfica dos valores de PAH encontrados nas amostras com o limite acima mencionado, onde observa-se que somente a amostra CDD4, coletada na praia de Vila do Conde, ultrapassou o limite de referência, ou seja, pode ser considerada como indicativa de possíveis efeitos adversos ao meio. Em decorrência da inexistência de índices de referência para TPH em ecossistemas aquáticos, foram utilizados os dados de toxicidade de óleo combustível N° 6, grau API7, dada sua semelhança geoquímica com o óleo Ai. De acordo com a literatura internacional (Falk-Petersen apud ENTRIX-NATRONTEC, Ecossistemas Costeiras: impactos e gestão ambiental 162
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