Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia PRODUTO COMERCIAL MATÉRIA PRIMA Cápsulas de óleo de copaíba Óleo de Copaíba diversos fabricantes Mel, Óleo de Copaíba e Outros ExtratosMel para tosse - diversos fabricantes Vegetais. Cápsulas de óleo de andiroba Óleo de andiroba Xaropes Mastruz Com Leite de Amapá, Jucá, Catuama, Derivados de guaraná Guaraná. GuaranáQuadro 3 - Produtos mais vendidos derivados de produtos amazônicosFonte: SEPLAN (2011). Carvalho e Costa (2013) e Barata e Bayma (2000) confirmam que estassão as espécies mais utilizadas nos mercados do bioprodutos, alcançando escalasnacionais de consolidação de cadeias produtivas. Em termos de produto in natura,estes autores apontam para a comercialização das chamadas “ervas medicinais”comercializadas no Porto da Manaus Moderna (Manaus-AM), em feiras e emcamelôs espalhados pela cidade de Manaus, tais como: carapanaúba (Aspidospermanitidum Benth. Ex Müll. Arg), boldo (Plectranthus barbatus Andrews), uxi(Endopleura uchi), cidreira (Melissa officinalis), capim santo (Cymbopogoncitratus), sara tudo (diversas espécies), além de mel de abelha e banha de cobra quesão “indicados” para o uso medicinal. A andiroba (Carapa procera D. C ou Carapa guianensis Aubl.), segundoo CBA (2000), tem sido indicada como produto medicinal (antiiflamatório) e naprodução de sabão/sabonetes. A copaíba (Copaifera cearensis Huber), utilizada naindústria farmacêutica, como anti-infeccioso e até anticancerígeno. Cupuaçu, mel,guaraná e castanha do Pará estavam entre as matérias-primas mais utilizadas porvolta do ano 2000 (BAYMA; BARATA, 2000). Quanto ao abastecimento dessasmatérias-primas, estes autores afirmam que a maioria das plantas utilizadas advémda região amazônica. O comércio dos bioprodutos apresentava facilidade aoacesso, pois estes possuíam barreiras reduzidas para a entrada. A logística deste abastecimento, por sua vez, representava um obstáculopara a expansão do mercado, pois há a intensa dependência de um sistema fluvial,com o transporte dos insumos feito em pequenas canoas ou barcos de diferentes 101
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiatamanhos, balsas e navios gaiolas. Além disso, insumos importantes provémde empresas do sul do país (ANVISA, 2003). Outras restrições que limitam ocrescimento do mercado de bioprodutos ou produtos naturais incluem segurança,credibilidade, rotulagem, padronização e regulamentação, entre outras. No segmento de fitoterápicos, desde 1929, existe uma FarmacopeiaBrasileira com espécies botânicas brasileiras e estrangeiras que até hoje geramdúvidas sobre a validade, no entender da própria Agência de Vigilância Sanitária -ANVISA (2003). Desta Farmacopeia foram excluídas numerosas espécies da florabrasileira pela ausência da ação terapêutica e desuso de drogas, o que se tornacontraditório com a utilização atual dessas plantas, presentes nos medicamentosfitoterápicos utilizados pela indústria farmacêutica brasileira. A lei 5.991 de 1973 que trata sobre o controle sanitário no comércio dedrogas, afirma que sua venda seja realizada somente em farmácias e ervanários.Na década de 90, aconteceram mudanças nas normativas de medicamentosfitoterápicos proibindo seu uso. Até 1996, os produtos fitoterápicos podiam servendidos como produtos naturais sem a necessidade de estudos pré-clínicos e nemde toxicidade. No novo cenário, esses estudos são exigidos pela Secretaria de SaúdeEstaduais e Municipais que se tornaram responsáveis para realizar a vigilânciasanitária de produtos fitoterápicos comercializados no país (ANVISA, 2003). Os laboratórios criados no Amazonas desde 2000 teriam o objetivofundamental de apoiar o sistema de fiscalização no âmbito da ANVISA, quepassaria a tarefa de realização de testes e emissão de laudos a esses laboratórios,uma vez que é um segmento com um grande aumento na demanda quanto nadiversificação de produtos, exigindo um maior controle (ANVISA, 2003). Parachegarem até a venda, os produtos naturais precisam de certificação da ANVISA,depois que comprovam a qualidade e certificação desses produtos, os produtosrecebem uma rotulação de autorização. A ANVISA tem o papel de regulamentar todos os medicamentos, incluindo os fitoterápicos, e fiscalizar as indústrias produtoras de medicamentos com o intuito de proteger e promover a saúde da população. Sendo assim, a ANVISA controla a produção, a liberação para consumo (registro) e acompanha a comercialização dos medicamentos, podendo retirá-los do mercado caso seu consumo apresente risco para a população. O registro de fitoterápicos segue o disposto na Lei nº102
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia 6.360/73 regulamentado pelo Decreto nº 79.094/77. Tem como regulamentos específicos a Resolução - RDC nº 14/10, complementada pelas seguintes: IN nº 5/10 (Lista de referências bibliográficas para avaliação de segurança e eficácia), IN nº 5/08 (Lista de registro simplificado), Resolução - RE nº 90/04 (Guia para a realização de estudos de toxicidade pré-clínica) e Resolução - RE nº 91/04 (Guia para realização de alterações, inclusões, notificações e cancelamentos pós- registro). (ANVISA, 2011, s.p.). Para a produção dos fitoterápicos a ANVISA adverte que a segurança deveser validada “[...] através de levantamentos etnofarmacológicos, documentaçõestecnocientíficas em bibliografia e/ou publicações indexadas e/ou estudosfarmacológicos e toxicológicos pré-clínicos e clínicos” (ANVISA, 2011, s.p.). Logo,não basta aos empreendedores possuírem conhecimentos apenas do produto, osfitoterápicos tem que ter aplicação farmacológica e serem devidamente registradosna ANVISA. No diagnóstico das micro e pequenas empresas de produtos naturaisda Amazônia, Barata e Bayma (2000) afirmam que é motivo de grande atençãoo baixo percentual das empresas que realizam o controle de qualidade em todoo processo de produção, pois as MPE receiam receber assistência imaginando-oscaros ou onerosos. As mesmas normas são válidas para os cosméticos que, segundoa ANVISA (2010), também é responsável pela autorização e comercialização deartigos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes mediante a concessão de registroou notificação, pois a mesma fiscaliza e estabelece normas para as empresas quefabricam os produtos e verificam todos os processos, como: produção, técnicas e osmétodos empregados até chegar ao consumidor.Metodologia da pesquisa Neste estudo de produtos naturais comercializados em Manaus, ametodologia utilizada caracteriza-se como descritiva, exploratória e de campo,considerando a coleta de dados em pontos comerciais. Apesar de se utilizar dealguns dados quantitativos, a abordagem é predominantemente qualitativa. Paraesta pesquisa, optou-se por entrevistar estabelecimentos comerciais de diversasestruturas e localizações, para fins de comparação. Os estabelecimentos comerciais 103
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaentrevistados comercializam produtos naturais dos diversos segmentos: higiene elimpeza, fitoterápicos, alimentos, etc. conforme ilustra o Quadro 4.itens EMPRESAS LOCALIZAÇÃO SEGMENTO Fitoterápicos1 Ervas da Osvaldo da Silva Loja Centro de Todos os Amazônia Queiroz Manaus segmentos Fitoterápicos2 Complevida Graça Santos Quiosque Todos os Shopping segmentos Manauara Fitoterápicos3 Sem Nome Arlison Durant Ambulante Comercial (pois é Fitoterápicos informal) Alimentos e4 Commel Hilson Moreira Loja em um bebidas Caxias Supermercado - Higiene/limpeza/ Zona Centro Sul cosméticos5 Casa de Sarana Fabíola Midulane Loja no Dom Pedro – Zona centro Oeste6 BOX 35 Adelaide Pereira Mercado Tanaka Municipal Adolpho Lisboa – Centro7 BOX 21 Wanderley Lopes Mercado Colares Municipal Adolpho Lisboa – Centro8 Casa de Ervas Raimundo Adelino Mercado Medicinal e dos Santos Municipal Produtos Naturais Adolpho Lisboa – Centro9 Anna Morena Liane Dias Quiosque Shopping AmazonasQuadro 4 - Lojas e quiosques no ramo de bioprodutos entrevistadosFonte: As autoras (2017).104
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia O reduzido número de empresas entrevistadas (nove estabelecimentos)decorreu da resistência de alguns proprietários devido a não regularização de seusprodutos. Acreditavam ser as pesquisadoras representantes de uma agência de vi-gilância sanitária. Em outros casos, não quiseram participar porque as entrevistasforam agendadas em período festivo.Características do comércio de bioprodutos em Manaus Esta seção apresenta os resultados da pesquisa de campo e analisa ascaracterísticas dos empreendimentos comerciais cujos produtos são provenientesda biodiversidade amazônica à luz da literatura apresentada.Identificação dos atores: localização, despesas operacionais e tempo de atuação Os produtos naturais da biodiversidade amazônica podem ser encontradosem diversos estabelecimentos e zonas da cidade. Entretanto, o centro da cidadeconcentra a maioria de pequenos empreendedores individuais e estabelecimentosque comercializam um grande volume desses produtos, conforme observadodurante a pesquisa de campo. A variedade de estabelecimentos que comercializamprodutos naturais na cidade aponta a existência de uma ampla acessibilidade, pelosusuários, desses produtos, tratados na literatura econômica como bens substitutos,ou seja, são caracterizados como bens que podem ser consumidos em substituiçãoa outros, pois possuem a mesma função (SANDRONI, 2009). O custo operacional da maioria destes estabelecimentos (67%) gira emtorno de R$ 3000 e 5000. A maioria (80%) trabalha com uma faixa de um a trêsfuncionários. No caso de apenas uma loja entrevistada, o número de empregados ésuperior a cinco. A administração familiar predomina nestes estabelecimentos. Namaioria dos casos os funcionários são todos da própria família, o que pode contribuirpara o número reduzido de funcionários. Em lojas, por ser um empreendimentomaior o número de funcionários não familiar é maior. A maioria (90%) dos entrevistados declarou não ter interesse em mudar delocal de trabalho, pois já desenvolvem suas atividades ali há muito tempo. Bayma eBarata (2000) já haviam classificado estes estabelecimentos como longevas, uma vezque, em 2000, atuavam há mais 10 anos. Os entrevistados também declararam nãoter interesse em mudar o tamanho de estrutura. Observou-se com isso que o tempo 105
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiajá instalado no mesmo local e a não intenção de mudar de lugar estão relacionadosaos vínculos de fidelização com alguns clientes - casos dos estabelecimentosinstalados no centro da cidade, cerca de 60%. Outro aspecto declarado está relacionado à frequência e ao grau defiscalização dos produtos. A maioria dos entrevistados (60%) declarou que nocentro da cidade torna-se mais fácil a venda dos produtos já que a fiscalização nãoé tão acentuada quanto nos estabelecimentos que estão localizados em shoppingscenters e lojas de maior porte. A certificação dos produtos/regularização do setor édiscutida em outra subseção deste artigo. Os que têm interesse em mudar de local, justificam ser o aluguel elevadoou a falta de clientes os principais motivos. Estes estabelecimentos participantes dapesquisa estão localizados respectivamente no centro da cidade, zona centro sul, eum supermercado da zona centro oeste.Motivação para o negócio Metade dos entrevistados (50%) afirma que o mercado para bioprodutosé promissor e por isso investiu no segmento. Pesaram na decisão de atuar nosegmento, seus conhecimentos sobre a matéria-prima. Para mais da metade dosentrevistados (60%), a decisão foi resultado da vivência e experiências adquiridas.Ou seja, mesmo sem tecnologias avançadas, pesou o conhecimento tradicionalque utiliza as potencialidades da natureza para remédios, cosméticos, etc. Essasexperiências e o uso destes insumos são passadas de uma geração a outra.Fornecedores - abastecimento e matéria prima Os produtos naturais in natura comercializados em Manaus são provenientesde diversos municípios do estado do Amazonas, sendo comercializados em ruas,feiras e em lojas. Os produtos naturais processados (com valor agregado), ou seja,que tiveram suas propriedades industrialmente analisadas, tratadas, embaladas,etc., são provenientes das empresas locais e que passam por um processo deagregação de valor até chegar às lojas. A maior parte dos entrevistados (90%) declarou que os produtos naturaisin natura comercializados são provenientes das cidades próximas a Manaus,trazidas por atravessadores, que é o sujeito econômico que realiza a distribuição e106
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaa circulação da mercadoria in natura para o consumidor final nas lojas e feiras dacidade. Mais de 70% dos entrevistados vende “ervas medicinais” e declarou não ternenhuma dificuldade para vendê-las. As ervas são matérias-primas para os chás, ouaté mesmo a mistura delas conhecidas com “garrafadas” direcionadas para váriosproblemas de saúde. Quanto à regularidade no fornecimento, mais da metade (60%) declarounão ter dificuldades para adquirir os produtos, sendo estes produtos processados,pois os fornecedores disponibilizam tudo que precisam. Segundo a ANVISA(2003), na década de 90 muitos produtos podiam ser vendidos como produtosnaturais sem que fossem requeridos estudos pré-clínicos e nem de toxicidade.Depois de 1996 seu uso foi proibido pelas mudanças de normas e regulamentos.Estes produtos precisam de certificação, depois que comprovam a qualidade osmesmos são liberados para a venda (ANVISA, 2003).Certificação dos produtos Quanto à certificação, mais de 70% dos entrevistados declarou que osprodutos que vendem não têm certificação (selo da ANVISA, etc.). Justificam estasituação alegando motivos burocráticos. Apesar disso, declararam que expõemseus produtos regularmente, exceto quando na visita de agente fiscalizador. A ausência de registro foi observada tanto nos produtos in natura quantonos processados. A ANVISA tem por objetivo identificar produtos falsos, semregistros, com desvio de qualidade ou quando são comercializados por empresassem a autorização. Mesmo que as regras se tornem menos rígidas, não se podedizer que os empreendedores individuais terão facilidade de regularizar-se. A atuação de forma irregular pode estar vinculada não só à baixacapacidade de fiscalização/apoio ao setor do Estado, mas também à ausência demão de obra especializada, elevados custos para a implantação dos laboratóriose equipamentos. Observou-se durante a pesquisa que a maioria dos produtosdos estabelecimentos visitados não possuía autorização legal, com exceção dosprodutos naturais processados vendidos nos quiosques de Shoppings Centers. Essasituação compromete o mercado, uma vez que não é seguro para o comércio e nempara o consumidor leigo. 107
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaMercado De acordo com os resultados do trabalho de campo, o produto maisprocurado e vendido é da categoria dos fitoterápicos, somando 56%. Isto vai aoencontro de Bayma e Barata (2000) que em sua análise afirmam que os produtosfitoterápicos representam 80% e predominam nas empresas amazonenses, pois alista de produtos produzidos em Manaus é extensa. Mais de 60% dos entrevistadosafirmou não ter dificuldade para a venda de produtos da biodiversidade. No que se refere ao principal motivo pela aquisição do produto natural, asdeclarações apontam que o público que procura esses produtos nos estabelecimentoscomerciais localizados no centro da cidade objetiva combater doenças graves ecomuns. Dos seis entrevistados instalados no centro da cidade, 100% declarouque o principal motivo da procura é o combate à doenças. Por outrolado, as declarações dos estabelecimentos comerciais entrevistados localizadosnos shoppings centers da cidade, apontam que o principal motivo da procura porprodutos natural objetiva o bem estar, o emagrecimento e cuidados com a pele e ocorpo. Estas relações podem apontar uma demanda diferenciada relacionada tantoao poder de compra quanto à facilidade de acesso ao produto, sem restrições, entrealgumas deduções. Entretanto, tais relações demandam pesquisas complementares. No que se refere à demanda por motivos de saúde, o resultado vai aoencontro dos estudos de Bayma e Barata (2000) que afirmam que o mercado defitofármacos cresce a cada ano principalmente por serem estes mais baratos emrelação aos fármacos. No que se refere à demanda por produtos que auxiliem nobem-estar, emagrecimento e cuidados com a pele e o corpo, o resultado concordacom as pesquisas feitas por Portilho (2008), segundo o qual, o mercado é reflexode pessoas aderindo um modo de vida mais saudável com maiores cuidados com ocorpo e com ética alimentar.Conclusões e recomendações Os estudos sobre o mercado de produtos naturais em diferentes momentos(em um intervalo de aproximadamente dez anos) apontam para o crescimento domercado, especialmente o uso destes como fitoterápicos. Os países desenvolvidosapresentam uma estrutura sólida deste segmento, ao passo que as pequenas e108
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiamédias empresas no Brasil enfrentam dificuldades apesar do cenário promissor. Este estudo revelou que passados mais de dez anos, em Manaus, continualivre a comercialização de produtos não certificados pela agência sanitária. Issosignifica que os consumidores adquirem produtos irregulares. Salvo poucasempresas que têm seus produtos processados regularizados. As entrevistas comalguns empreendedores individuais e estabelecimentos comerciais possibilitoucaracterizar algumas variáveis deste segmento sob a ótica da oferta, especificamenteos segmentos de fitoterápicos e os cosméticos. É possível apontar que: o mercado de produtos naturais continuaglobalmente em ascensão; os fitoterápicos são os produtos mais demandados; amaioria dos estabelecimentos comerciais deste segmento são empresas familiares;e a maioria dos produtos comercializados não são regulados pela ANVISA, emboraesta agência esteja cumprindo o seu papel de vistoriar os produtos para dar maiorsegurança para seu consumidor em geral. A certificação dos produtos, em suamaioria vendidos e expostos sem restrições, é um grande desafio do segmento, quedeve ser avaliado em seu aspecto cultural, já que as pessoas compram produtos semselos importantes aos consumidores, entre outras condições. Se for um mercadocapaz de movimentar a economia, tal cenário compromete o esforço de torná-lovirtuoso. Considerando que foi declarado que o consumidor do Centro procura estesprodutos por motivos de saúde e que o consumidor de shopping center procura pormotivo de estética, recomenda-se que pesquisas futuras contemplem uma análisedo segmento pela ótica do consumo, além de atualizar esta que ocorreu em 2014.ReferênciasAGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Guia paraavaliação de segurança de produtos cosméticos. Brasília: ANVISA, 2003.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DE HIGIENE PESSOAL,PERFUMARIA E COSMÉTICOS (ABIHPEC). Anuário ABIHPEC. 2011.Disponível em: <https://abihpec.org.br/institucional/publicacoes> Acesso em: 26dez. 2014. 109
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaBARATA, L. S. A economia verde. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 64, n. 3, p. 31-35, 2012, Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v64n3/a11v64n3.pdf> Acesso em: 26 dez. 2014.BAYMA, J.C.; BARATA, L. E. S. Diagnóstico das Micro e Pequenas Empresas deprodutos naturais da Amazônia. Documento cedido pelo Centro de Biotecnologiado Amazonas. Belém, 2000.CARVALHO, T. P. V. de. Mercado de bioprodutos: da produção ao consumo. In:ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, 16., 2010, Anais... Porto Alegre.Disponível em: <www.agb.org.br/evento/download.php?idTrabalho=703> Acessoem: 05 jan. 2014.______; COSTA, R. C. A contribuição dos sítios/quintais na cadeia produtiva dobioproduto. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE AGROECOLOGIA,4., 2013. Anais... Lima, Perú, 2013. Disponível em: <http://orgprints.org/24407/13/24407.pdf> Acesso em: 7 jun. 2014.CENTRO DE BIOTECNOLOGIA DA AMAZÔNIA (CBA). Estudo de Mercado.Belém: [s.n.], 2000.FRICKMANN, F.S.S.; VASCONCELLOS, A. G. Oportunidades para a inovaçãoe aproveitamento da biodiversidade amazônica em bases sustentáveis. T&CAmazônia, Manaus, ano VIII, n. 19, p. 20-28, 2010.GOMES, A.N. O novo consumidor de produtos naturais: consumindo conceitosmuito mais do que produto. Escola Superior de Propaganda e Marketing. Centralde Cases. Junho de 2009. Disponível em: < http://www2.espm.br/sites/default/files/o_novo_consumidor_de_produtos_naturais.pdf >. Acesso em: 10 set. 2014.PORTILHO, F. Consumidores de alimentos orgânicos: discursos, práticas e auto-atribuição de responsabilidade socioambiental. In: REUNIÃO BRASILEIRADE ANTROPOLOGIA, 26., 2008. Anais... Porto Seguro: 2008. Disponível em:< http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_110
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiatrabalho/trabalhos/GT%2022/fatima%20portilho.pdf> Acesso em: 18 jun. 2017.MANKIW, Gregory N. Introdução a Economia. Princípios de Micro eMacroeconomia São Paulo: Ed. Cengage Learning, 2004. 872 p.NATURALTECH 2017. 13ª Feira de Alimentação Saudável. Disponível em:<http://www.naturaltech.com.br/2017/index.asp# > Acesso em: 18 jun. 2017.NOGUEIRA, W. Manaus receberá os primeiros laboratórios no próximo mês.Gazeta Mercantil. São Paulo, 2002. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=6174> Acesso em: 1 jul. 2014.NORONHA, M. Arranjos produtivos locais e a bioeconomia regional. T&CAmazônia, Manaus, ano VIII, n. 19, 2010.ONTARIO MINISTRY OD AGRICULTURE, FOOD AND RURAL AFFAIRS(OMAFRA). Introduction to Bioproducts. Fact Sheet n. 80, 2010. Disponível em:<http://www.omafra.gov.on.ca/english/crops/facts/10-013w.htm> Acesso em: 18jun. 2017.OXFORD LIVING DICTIONARY. Bioproduct. Oxford University Press.Digital Edition. Disponível em: <https://en.oxforddictionaries.com/definition/bioproduct> Acesso em: 18 jun. 2017.PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D.. L. Microeconomia. 6. ed. São Paulo: PearsonPrentice Hall, 2006. 647 p.SANDRONI, P. Dicionário de economia do Século XXI. 4. ed. Rio de Janeiro:Record, 2009. 905 p.SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS(SEBRAE); ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING (ESPM).Cosméticos à base de produtos naturais. Estudo de Mercado. 2008. Disponível em:<http://docplayer.com.br/2786169-Cosmeticos-a-base-de-produtos-naturais- 111
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaestudos-de-mercado-sebrae-espm-2008-sumario.html>. Acesso em: 1 jul. 2014.SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTOECONÔMICO (SEPLAN). Anuário Estatístico do Amazonas. Manaus: Governodo Estado do Amazonas, 2011.SOUZA, M. Breve História da Amazônia. São Paulo: Ed. Agir, 2001. 240 p.112
A BIOINDÚSTRIA DA CASTANHA-DA-AMAZÔNIA: A REALIDADE E AS PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS PARA AGREGAÇÃO DE VALOR AO PRODUTO LOCAL1 Roseane de Paula Gomes Moraes Francisco Elno Bezerra Herculano Valdir Florêncio da Veiga JúniorIntrodução A castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) foi amplamente descrita naliteratura científica desde os tempos de Humboldt. Pertencente à família dasLecythidaceas, apresenta 11 gêneros e cerca de 118 espécies classificadas no Brasil.Com diversas designações, a castanha-do-pará, castanha-do-brasil ou castanha-da-amazônia é muito apreciada pelo valor nutricional e comercial de suas sementes(MMA/GTA/SEBRAE, 1998). Sua coleta ocorre predominantemente em áreasflorestais naturais (CLAY, 1997). Por iniciativa do Peru e da Bolívia, em 1992, no encontro internacionalsobre castanha, foi proposta e aprovada a designação de “castanha-da-amazônia”,tendo em vista sua ocorrência também naqueles países. A sinonímia estrangeirada castanha também detém importância por sua demanda internacional, a saber:“Nuez de Brasil” nos países latino-americanos, “Noix Du Brésil” nos países cujoidioma oficial é o francês, “Brazil nuts” ou “Pará nuts” nos países anglo-saxões(MMA/GTA/SEBRAE, 1998). A castanha-da-Amazônia é um dos produtos da biodiversidade regionaldemandado por diversas iniciativas de negócios como: plantio comercial para aprodução de castanhas secas e usina familiar de beneficiamento; agroindústria depequeno porte para transformação da castanha em biscoito com castanha; “leite”e farinha de castanha, bem como, insumo para a indústria de cosméticos (MMA/1 O estudo é resultado parcial da pesquisa de doutorado em Biotecnologia do PPGBIONORTE(UEA-UFAM) 113
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaGTA/SEBRAE, 1998; HERCULANO, 2013). O fruto da castanheira, comumente chamado “ouriço”, pode pesar de 500ga 1.500 g e abriga cerca de 10 a 25 amêndoas. Esta amêndoa, presente no interior dasemente, é utilizada como alimento e considerada uma das proteínas vegetais dasmais completas, possuindo alto valor nutritivo. É rica em cálcio e fósforo, essenciaisna alimentação infantil, possui elevado índice de magnésio e potássio, mineraisimportantes para o equilíbrio da saúde. Pesquisas recentes descobriram tambémque a amêndoa é rica em selênio, mineral de ação rejuvenescedora e energética(VILHENA, 2004; COSTA et al, 2009). A Bolívia é responsável por 50% da produção mundial de castanha-da-amazônia, ficando o Brasil em segundo lugar com 37% e o Peru com 13%dessa produção. A Bolívia destaca-se também em tecnologia, níveis sanitáriose, principalmente, valor agregado, controlando 71% do mercado de castanhaprocessada (COSLOVSKY, 2005; TONINI, 2007). É ainda, grande compradora dacastanha-da-amazônia. Isto porque, cerca de 90% das castanhas com casca extraídasno Brasil são exportadas para a Bolívia e Peru, com 17 mil toneladas por ano paraos dois países. Com isso, Brasil já exportou US$150 milhões em castanhas e nozesem 2015, conforme dados divulgados no 5° Encontro Brasileiro e 1° EncontroLatino Americano de Nozes e Castanhas (BARROS, 2016). Segundo Herculano (2013), em 2011 a produção nacional dessa frutaalcançou 42.152 toneladas, e o estado do Amazonas foi o seu principal produtor,atingindo 14,7 mil toneladas, correspondentes a 34,8% do total nacional. Entretanto,foi seguido de perto, pela produção acreana, que registrou 14,0 mil toneladas,correspondentes a 33,3% do Brasil. Um pouco mais distante das produçõesamazonense e acreana, mas com grande expressividade, o estado do Pará ocupou aterceira posição, atingindo 7,2 mil toneladas, equivalentes a 17,1% do total do país.Juntos, Amazonas, Acre e Pará foram responsáveis por 85,2% da oferta nacionalem 2011, ficando os 14,8% restantes dispersos entre quatro estados produtores:Rondônia, Mato Grosso, Amapá e Roraima. Em 2010, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas(Fapeam) com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançou oCatálogo “Quando a Ciência é um Bom Negócio” com os resultados de projetos deinovação tecnológica das empresas contemplados pelo edital 017/2008. O objetivodo catálogo era dar visibilidade a projetos potencializados pelos recursos investidosno empreendedorismo sustentável do Amazonas. Os produtos e processos114
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiafinanciados pelo Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa, DesenvolvimentoTecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresas na Modalidade SubvençãoEconômica foram reconhecidos por serem iniciativas inovadoras e pelo uso de mãode obra e insumos locais. Entre eles, a produção de azeite extravirgem de castanha-da-amazônia composto com óleos vegetais e ervas aromáticas, além do projetode fitocosméticos a partir de subprodutos da castanha-da-Amazônia (FAPEAM/FINEP, 2010). Nesse sentido, apesar de tais iniciativas e de todo potencial comercial,o mercado da castanha-da-amazônia esbarra em problemas comuns a diversosbioprodutos de origem amazônica. Dentre os principais problemas estão: a faltade estabilidade no preço, baixo capital de giro dos extrativistas, incipiente níveltecnológico, ação do atravessador e a qualidade do produto (SILVA, 2010).Conforme o enfoque deste trabalho concentrou-se esforços voltados aos aspectostecnológicos da transformação da castanha em produto comercial. O reduzido nível tecnológico manifesta-se desde o processo de coleta dacastanha-da-amazônia, o qual permanece inalterado há séculos, cuja estagnaçãocontribuiu para a perda de competitividade do produto brasileiro. A forma pelaqual se coleta, transporta e armazena a castanha influencia a qualidade do produto,o que faz com que as regiões produtoras enfrentem muitas dificuldades para seadequarem aos padrões tecnológicos exigidos pelos mercados compradores (SILVA,2010). O isolamento das comunidades extrativistas pelas distâncias dos castanhaisreforça a fragilidade logística e acentua a ação dos atravessadores mantendo o preçobaixo das castanhas nos locais onde são produzidas. No Amazonas, os principais “gargalos” da cadeia produtiva da castanhasegundo a 1° Conferência das Populações Tradicionais estão de acordo com osmesmos aspectos descritos para o estado do Acre são: primeiro, o difícil acessoaos castanhais mais distantes, onde o extrativista precisa ir cada vez mais longefloresta à dentro para coletar as castanhas; segundo, a falta de investimento paraa infraestrutura de transporte e armazenamento do produto; terceiro, a oscilaçãono preço da castanha; quarto, a falta de práticas de manejo adequado na coletae armazenamento que garanta a qualidade do produto; e, por fim, entre outrosentraves destaca-se a falta de pesquisa no desenvolvimento de tecnologias para osetor, como por exemplo, para quebrar os ouriços e retirar as amêndoas inteirassem feri-las (AMAZONAS, 2005). 115
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaProcedimentos metodológicos Neste trabalho, foram identificadas algumas das tecnologias detransformação, em uma amostra não probabilística, composta por três empresasdo interior do Amazonas que produzem castanha desidratada, produtopredominantemente comercializado por empresas e cooperativas amazonenses. A pesquisa de campo se deu nos municípios de Manicoré e Lábrea, ondeidentificou-se que as castanhas ali processadas são oriundas dos castanhais nativose plantados de diversas regiões ao longo dos rios Madeira e Purus. No período de janeiro a agosto de 2015 foram realizadas visitas técnicas emempreendimentos que processam grandes volumes de castanha-da-amazônia, paraobservar o processo de transformação deste bioproduto e realizar entrevistas com osdirigentes destes empreendimentos, por meio de um questionário semiestruturado. No processo de levantamento dos dados foram identificados outrosmunicípios do estado que atuam no extrativismo e processamento de castanha,a saber: Beruri, Amaturá, Boca do Acre, Barcelos com agroindústria, e Humaitá.Assim como outros países, tais quais a República da Guiana (antiga Guiana Inglesa),Peru e Bolívia, já mencionados anteriormente, que também atuam na extração eprocessamento da castanha-da-amazônia.Resultados e discussão Segundo a pesquisa de campo nas instituições do setor, todos os anos assafras de castanha variam assim como os preços. A matéria-prima é a semente comcasca comprada dos extrativistas por lata, equivale a 10 kg pelo valor de R$24,00(vinte e quatro reais) e a amêndoa desidratada foi vendida aproximadamente aR$33,00/ kg (trinta e três reais) no ano de 2015. A coleta dos ouriços ocorre somente com aqueles caídos ao solo, e dá-semanualmente, um por um, com auxílio de uma vara de três pontas, onde o coletorencaixa o ouriço e o armazena num cesto ou saco de ráfia preso às costas. Após acoleta, os ouriços são amontoados em lonas no solo da floresta para que o coletorefetue o corte do ouriço e retire as castanhas, que são transportadas até a usinabeneficiadora (HOMMA; MENEZES, 2008). Há que se destacar, o modo como é efetuado o armazenamento e otransporte da castanha reflete decisivamente na sua qualidade. Se as amêndoas116
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiasão lavadas, o grau de umidade, a contaminação com combustível, por fungos, oupeixe durante o transporte nas embarcações, por exemplo, precisam ser evitadas.A origem da castanha-da-amazônia também tem grande influência na qualidadefinal do produto (HOMMA; MENEZES, 2008). O processo de beneficiamento da castanha desidratada e embalada avácuo dá-se a partir das seguintes etapas: primeira, a cooperativa recebe a castanhalavada do cooperado, estas são postas para secar naturalmente nos primeiros dias,e armazenadas em grandes caixas de madeira suspensas, de onde são retiradas asamêndoas para a segunda etapa, a secagem térmica de 60 a 80 °C por 18 horas. Naterceira etapa as amêndoas vão para o autoclave para a esterilização e cozimentopor 25 segundos a 110 °C; e, na quarta etapa, recebem um choque térmico comágua em temperatura ambiente em secador rotativo por uma hora para que aamêndoa solte da casca. As amêndoas esterilizadas e cozidas descem para umtanque chamado de tulha onde ficam por 24 horas e depois seguem para a quintaetapa, na máquina de quebra para separar as cascas das amêndoas e classificá-laspor tamanho, separando-as das amêndoas quebradas. Posteriormente, seguempara a estufa, onde as amêndoas ficam de 16h à 18h a 60o C para eliminar oóleo, nesta fase a amêndoa deve ficar branca por dentro. Após esta secagem, asamêndoas são novamente classificadas em máquina selecionadora que separa asamêndoas em três tamanhos, pequenas, médias e grandes. Depois, estas seguempara uma classificação manual onde são identificadas as amêndoas quebradas ouque ainda mantém a casca fina de cor marrom. Estes funcionários trabalham comluvas e toucas. A fase final do processamento é a embalagem mecanizada a vácuo(FIGURA 1). Como se pode observar na Figura 1, a maior parte das fases de processamentoda castanha desidratada dá-se de forma semiautomatizada nas usinas visitadas emManicoré, mas ainda foi possível observar grande dependência do trabalho manualnas fases de processamento, bem como o contato manual após as amêndoas seremesterilizadas. As cascas das sementes que saem do processamento geram um grandevolume de resíduos e ficam acumuladas do lado de fora do galpão das cooperativase aos poucos são utilizadas na caldeira como material de queima para o sistemade secagem térmica das castanhas. Entretanto, o volume produzido é maior queconsumo da caldeira gerando uma “montanha” de resíduos depositada na áreaexterna na cooperativa (FIGURA 2). 117
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaFigura 1 - Fases do processamento da castanha-da-Amazônia desidratada embalada avácuo em uma usina de beneficiamento.Fonte: os autores Figura 2 - Resíduos das cascas da castanha para ser utilizados na caldeira da cooperativaFonte: os autores118
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia Numa cooperativa visitada relatou-se o interesse em transformar ascascas das castanhas em carvão vegetal, entretanto, seu representante não ofereceumaiores detalhes quanto a isso. A estratégia de aproveitamento de resíduos relatadae praticada pela cooperativa é o uso de amêndoas “não selecionadas” para aextração do óleo. Este óleo é vendido para uma empresa de Manaus (R$20/kg) eo resíduo desta extração, o bagaço, é vendido para piscicultura (R$0,50/kg), poisserve de alimento para os peixes. Ademais, doam parte dos resíduos das cascas dascastanhas para o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentáveldo Estado do Amazonas (IDAM/ Manicoré) para a produção comercial de adubopara hortaliças. Homma e Menezes (2008) avaliaram uma indústria beneficiadora decastanha em Cametá no Pará, cujos resultados evidenciaram que a cada 50 kgde castanha bruta que entra na indústria de beneficiamento, obtém-se 20 kg deamêndoas beneficiadas prontas para exportação. Mediante esses parâmetros, podeestimar para toda a região da Amazônia Brasileira, uma perda no processamentoindustrial da castanha, bastante expressiva, da ordem de 60%. Este fato por siconstitui-se numa variável explicativa, em que novos processos tecnológicossão sumamente importantes para maximizar a produtividade do bioproduto emquestão. Observou-se na visita técnica, a ocupação de mão de obra no processamento,embalagem das amêndoas e manutenção dos equipamentos. De acordo com relatodo entrevistado, os gastos com aquisição de novas máquinas e equipamentos ocorrepor financiamentos do Banco do Brasil; Banco Nacional do DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) e da Agência de Fomento do Estado do Amazonas(AFEAM), havendo a necessidade de contrapartida da própria cooperativacorrespondente a 10% do valor do financiamento. Na cooperativa de Manicoré,por exemplo, entre 2015 e 2016 houve a aquisição de uma máquina embaladoraa vácuo automática, ao custo em torno de R$ 50.000,00, com previsão de adquiriruma fatiadora de amêndoas, no valor aproximado de R$ 9.000,00. A maior expectativa das empresas regionais é a exportação, embora todastenham noção das exigências sanitárias, ambientais e certificações que o mercadoexterno exige. Entre outras providencias a cooperativa de Manicoré espera exportarcastanhas para a Europa com a obtenção de uma nova certificação de qualidade, seloperdido em 2009 por causa de auditorias in loco com coletores onde foi identificadoque estes não seguiam boas práticas na coleta das castanhas. A ausência de boas 119
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiapráticas de coleta reprova o produto por ser um forte indício de contaminaçãomicrobiológica, sobretudo, por favorecer o aparecimento de fungos produtoresde aflatoxinas, substâncias altamente cancerígenas e que não são eliminadas emprocessos de esterilização biológica. Além dessa contaminação, outras de natureza biológica, física e químicapodem ocorrer na pós-colheita e durante o processamento da castanha. Essesriscos estão relacionados à prolongada exposição da castanha a fatores ambientaisna floresta e às condições de transporte e de manipulação na indústria processadora(SILVA, 2014). Uma das empresas no município de Manicoré recebe a produção viafluvial, pois a usina está localizada à margem do rio Madeira, facilitando a recepçãoda matéria-prima, e diminuindo o tempo em que as castanhas ficam embaladas eúmidas nos porões dos barcos. Atualmente, as usinas de beneficiamento de castanha exigem que oscoletores trabalhem com boas práticas de manejo e conservação, incluindo alavagem das castanhas com hipoclorito. Estes cuidados foram relatados naspesquisas de campo nas empresas visitadas. Silva (2014) avaliou a qualidade de castanhas-do-brasil em diferentes etapasao longo do processamento industrial, desde o início do processo com a castanhain natura, na fase intermediária com a castanha dry e na fase final com as amêndoasdesidratadas. A composição nutricional foi mantida ao longo do processamento,com predominância do ácido graxo linolênico (ômega-6) nas amostras. O índice deacidez da fração lipídica apresentou resultados satisfatórios, que se encaixam dentrodos limites da legislação vigente para óleos brutos extraídos a frio, com 2,20±0,84,2,48±0,97 e 0,18±0,07 mg KOH/g de óleo para a castanha in natura, dry e amêndoadesidratada respectivamente. O índice de peróxido da fração lipídica nas amostrasin natura apresentaram média de 0,018±0,010 mmol/kg, dry 0,032±0,011mmol/kge na amêndoa desidratada 0,044±0,011 mmol/kg. Mesmo com o aumento do teor dehidroperóxidos em função do processamento, todas as amostras estavam dentro dospadrões estabelecidos na legislação brasileira. Os resultados para absorbância emluz ultravioleta a 232 nm corroboram os resultados da formação de peróxidos, comdiferença significativa entre as amostras. Os valores apresentados pelas castanhas innatura, dry e amêndoa desidratada foram de 2,14±0,28, 1,60±0,47 e 3,08±0,37 E1%1 cm, respectivamente. Apesar das diferenças entre indicadores do estado oxidativodas amostras, não houve diferença significativa na estabilidade oxidativa da fraçãolipídica, quantificada pelo período de indução em Rancimat, cuja média foi de120
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia4,29 horas. A composição em ácidos graxos das amostras também foi similar, semdiferenças significativas entre grupo de ácidos graxos saturados, monoinsaturadose polinsaturados. Em todas as amostras os resultados para coliformes em termosde E. coli foram menores que 1 NMP/g, e ausência de Salmonella. Entretanto,elevados índices de contaminação por aflatoxinas foram encontrados. Apenas 5das 24 amostras estavam dentro dos limites estabelecidos nas legislações brasileirae da União Europeia. Contudo, a presença de contaminação por aflatoxinas nasamostras de amêndoas desidratadas, foi reduzida significativamente, após as etapasde seleção e classificação das castanhas. No levantamento por procedimentos mais modernos praticados noprocessamento de castanhas-da-Amazônia identificou-se em Cobija, na Bolívia,uma empresa que emprega uma combinação de vapor a alta pressão, quebranozes mecânico vibratório e uso de nitrogênio líquido. Esse processo dispõe decertificação, garantindo que a castanha está livre de contaminações (HOMMA;MENEZES, 2008). Segundo dados da Corporación Interamericana de Inversiones(CII/ BID, 2004) membro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aplanta industrial de processamento desta empresa está na vanguarda na detecçãode aflatoxinas em castanhas amazônicas, bem como, na avaliação de contaminaçãobacteriana nos equipamentos e funcionários que mantém contato com as amêndoas,cujos resultados são verificados periodicamente em laboratório certificados naFrança e Alemanha. O processo de controle de qualidade da empresa boliviana em questão éobjeto permanente de auditorias por parte de seus clientes internacionais, cujosrequisitos de controle de qualidade os impede de comprar castanhas amazônicascaso a matéria-prima não passe na inspeção. Outra estratégia importante destaempresa ocorre na coleta da matéria-prima ao proporcionar assistência técnicaaos coletores de castanhas. Esta assistência é fornecida por meio de formação, deconstrução de galpões temporários e de fornecimento de material de transportepara assegurar que a matéria-prima seja armazenada de forma segura e emboas condições de ventilação até que possa ser transportada para a unidade detransformação. É uma das duas empresas bolivianas que vendem castanha orgânicacertificada pela Associação Organic Crop Improvement dos Estados Unidos e peloInstituto de Marketology da União Européia (CII/ BID, 2004). As castanhas descascadas produzem um volume considerável de cascas,que são temporariamente armazenados perto da planta de processamento, 121
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiacomo observado também nas empresas locais. Parte das cascas é utilizada comocombustível para a usina que gera vapor para limpar as castanhas e o restante seráusado no novo projeto de geração de eletricidade a partir de biomassa. O alto podercalorífico das cascas representa um potencial significativo de energia. Resíduos delaboratório, tais como lâminas de microbiologia, são autoclavados e em seguida,descartados, em embalagens seladas (CII/ BID, 2004). A falta de matéria-prima constitui a grande limitação para o funcionamentoda indústria de castanha, daí a necessidade de adquirir o máximo de castanhadurante o curto período da safra (HOMMA; MENEZES, 2008). Assim, juntamentecom as estratégias de agregação de valor à castanha como bioproduto, está acontinuidade dos castanhais para atender aos aspectos de regularidade de estoquese manutenção da produção. Experiências acumuladas ao longo dos anos indicam que coletas derecursos genéticos requerem alternativas de conservação sustentáveis, quereduzam perdas de acessos por pressões bióticas e abióticas e, possibilitem o usoe a valoração da diversidade genética por meio de procedimentos de avaliação,caracterização e utilização das amostras de populações naturais resgatadas. Nestesentido, a Embrapa Amazônia Ocidental, em parceria com a Embrapa Acre e como Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, atua em pesquisas objetivando aconservação e uso de recursos genéticos de espécies vegetais nativas da Amazônia,entre elas a castanheira. A maior parte da produção de castanhas-da-Amazônia sempre dependeuda coleta de frutos dos castanhais nativos. Atualmente a produção concentra-se naregião norte, sendo responsável por 95% da produção nacional e praticamente todoesse volume vem do extrativismo. Ainda assim é importante registrar que cercade 2% da produção nacional é proveniente de áreas cultivadas. No entanto, aindasão muitos os desafios para tornar a castanheira uma planta cultivada e aumentara produção de frutos, tais como: conhecer a fenologia da planta, a biologiafloral, para assegurar a ocorrência de polinização. Além disso, é necessário que aplanta não apresente déficit de macro e micronutrientes, que não haja problemasfitossanitários, e que se tenham condições edafoclimáticas favoráveis (HOMMA etal, 2014; MAUÉS et al, 2015). O banco ativo de germoplasma da Embrapa Oriental atua na conservaçãoe documentação da coleção de germoplasma de castanheira do Brasil com umplano de ação que envolve três atividades a serem desenvolvidas pelas Unidades122
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiada Embrapa nos Estados do Pará, Amazonas e Rondônia que se propõem a darcontinuidade às atividades de coleta, conservação e caracterização de germoplasmade espécies frutíferas nativas da Amazônia. No caso específico da castanheira asatividades se concentram, basicamente, na multiplicação de acessos existentes naColeção de Clones de Castanheira-do-brasil da Embrapa Amazônia Oriental queestão implantados em área que, atualmente, não permite assegurar a conservação.Os acessos serão propagados por enxertia e implantados no Campo Experimentalda Embrapa Amazônia Oriental, em Tomé-Açu, Pará. Diversas outras frutíferasque estão organizadas em coleções diversificadas, existentes na Embrapa AmazôniaOcidental e na Embrapa Rondônia também serão objetos de atividades concernentesà conservação, ampliação e caracterização (HOMMA et al, 2014). Propor soluções para superar os gargalos das cadeias produtivas e torná-las sustentáveis ampliando a sua rentabilidade requer um conjunto de estratégias eo envolvimento de seus diversos atores. Com base nos indicadores analisados porAlvarenga e Reid (2014), para tornar os negócios da biodiversidade e outras atividadesprodutivas sustentáveis mais atrativas economicamente são recomendáveisestratégias que visem promover a interação entre diferentes atividades produtivas,comunidades produtoras e demais atores da cadeia produtiva; capacitar produtorese lideranças locais em boas práticas de manejo e gestão; ampliar o acesso àsinformações de mercado entre produtores e suas organizações; facilitar o acessoaos financiamentos de baixo custo e não-reembolsáveis; qualificar a estrutura deprodução, beneficiamento, armazenamento e comercialização a partir de inovaçõestecnológicas se possível, de baixo custo.Considerações finais Observa-se a partir destas reflexões, o caráter multidisciplinar emultissetorial das estratégias em torno da agregação de valor de um produtoreconhecido pelo mercado, mas que ainda prescinde de tecnologias, planejamentoestratégico e investimentos. Tendo como foco deste trabalho as tecnologias emtorno da castanha, é importante destacar que as inovações tecnológicas devemser primeiramente um mecanismo para que as empresas possam contribuir namitigação de desigualdades e na conservação ambiental. Juntamente com Sachs(2012), defende-se que o conceito de inovação precisa ser mais amplo e capaz decontemplar os reais objetivos do desenvolvimento com visão de futuro. 123
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia Na Região Amazônica, além do restrito acesso à educação básica eprofissionalizante, a assistência técnica e extensão rural são insuficientes e muitasvezes inadequadas. Isso reflete no limitado acesso ao conhecimento sobre boaspráticas para o uso sustentável de recursos naturais e eficiência dos processosprodutivos, assim como na falta de gestão de atividades produtivas e de organizaçõescomo associações e cooperativas. Soluções de baixo custo e impacto ambiental são essenciais para suprir asdemandas de infraestrutura. No entanto, faltam inovações tecnológicas e incentivoscom estas características, que possam contribuir para maior rentabilidade(ALVARENGA; REID, 2014), como: alternativas de transporte terrestre, de pequenoporte adaptado para a carga; combustíveis menos poluentes, de fácil aquisição ebaixo custo; confecção de materiais, instrumentos e ferramentas ou instalaçõesfísicas com uso sustentável de materiais locais para a coleta, beneficiamento ouarmazenamento; técnicas para reduzir o volume ou aumentar a durabilidade dosprodutos para facilitar o transporte e/ou armazenamento, entre outras. Vale ressaltar que investimentos exclusivamente em infraestrutura nãosão suficientes para gerar resultados melhores em produtividade e rentabilidadese estiverem desarticulados de ações que ampliem a sustentabilidade ambiental esocial necessárias às atividades produtivas que contribuam para a manutenção dafloresta em pé. As inovações tecnológicas a serem priorizadas devem respeitar critériossociais, contribuir com a geração e distribuição de renda, e do ponto de vistaambiental buscar a conservação e a sustentabilidade; e, por último, ter viabilidadeeconômica. O exemplo da Bolívia que lidera o mercado mundial, seja em tecnologiae qualidade sanitária gerando maior valor de mercado, deve ser o benchmark paraa produção na Amazônia. Finalmente, esta pesquisa permitiu corroborar, para a indústria dobioproduto em tela, o que Sachs (2012), já recomendara: a necessidade de políticasgovernamentais com condições de estímulo e créditos preferenciais para pequenasempresas que inovem e respeitem os critérios sociais, ambientais e econômicosapoiadas por uma rede de cooperação técnico-científica regional, nacional einternacional para promover respostas e formular estratégias de desenvolvimentorealmente sustentáveis e includentes.124
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaReferênciasALVARENGA, F. R. P.; REID, J. Viabilidade econômica de negócios sustentáveis dabiodiversidade em áreas protegidas. 30. ed. Rio de janeiro: Conservation StrategyFund; Conservação Estratégica, 2014. (Série técnica).AMAZONAS. Cadeia produtiva da castanha-do-brasil no estado do Amazonas.Manaus: SDS, 2005. (Série Técnica Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,3).BARROS, Isabela. Abertura de mercado para as nozes e castanhas do Brasil emdebate na FIESP. São Paulo: FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DESÃO PAULO (FIESP), 2016. Disponível em <http://www.fiesp.com.br/mobile/noticia/?id=219098>. Acesso em: 30 mar. 2017.CLAY, J. W. Brazil nuts: the use of a keystone species for conservation anddevelopment. In: C. H. FREESE (Ed.). Harvesting wild species: implications forbiodiversity conservation. Baltimore: The John Hopking University Press, 1997. p.246-282.CORPORACIÓN INTERAMERICANA DE INVERSIONES (CII). Tahuamanu S.A. Cobija, Bolívia: [s.n.], 2004. Disponível em: < http://www.iic.org/es/proyectos/project-disclosure/bo1023c-01/tahuamanu-sa>. Acesso em: 29 mar. 2017.COSLOVSKY, S. V. Determinantes de sucesso na indústria da castanha: como aBolívia desenvolveu uma indústria competitiva enquanto o Brasil ficou para trás.Rio de Janeiro: Ebape, 2005. 21 p.COSTA, J. R. et al. Aspectos silviculturais da castanha-do-brasil (bertholletiaexcelsa) em sistemas agroflorestais na Amazônia Central. Acta Amazônica, Manaus,v. 39, n. 4, p. 843-850, 2009.FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO ESTADO DO AMAZONAS; Finep.Quando a ciência é um bom negócio. Manaus, 2010. 69 p. 125
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaHERCULANO, F. E. B. Produção industrial de cosméticos: o protagonismo dabiodiversidade vegetal da Amazônia. 2013. Tese (Doutorado em Biotecnologia)–Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013.145 p.HOMMA, A. K. O.; MENEZES, A. J. E. A. Avaliação de uma indústria beneficiadorade castanha-do-pará, na microrregião de Cametá, PA. Belém, PA: EmbrapaAmazônia Oriental, 2008. p. 210-220. In: HOMMA, A. K. O. Extrativismo vegetalna Amazônia: história, ecologia, economia e domesticação. Brasília: EmbrapaAmazônia Oriental, 2014. (Comunicado técnico, 213).______; ______; MAUÉS, M. M. Castanheira-do-pará: os desafios do extrativismopara plantios agrícolas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi de CiênciasNaturais, Belém, v. 9, n. 2, p. 293-306, maio/ago. 2014.MAUÉS, M. M. et al. A castanha-do-brasil: avanços no conhecimento das práticasamigáveis à polinização. Fundo Brasileiro para a Biodiversidade. Rio de Janeiro:Funbio, 2015. 84 p.MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DAAMAZÔNIA LEGAL (MMA); GRUPO DE TRABALHO AMAZÔNICO (GTA);SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS(SEBRAE). Produtos Potenciais da Amazônia. Brasília, 1998. 88p.SACHS, I. Políticas de desenvolvimento. Entrevista. Cadernos do Desenvolvimento,Rio de Janeiro, v. 7, n. 11, p. 196-211, jul./dez. 2012.SILVA, S. M. P. S. Estado e políticas públicas no mercado de castanha-do-brasil noEstado do Acre: uma análise pela abordagem do desenvolvimento local. RevistaIDeAS: Interfaces em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Rio de Janeiro,RJ, v. 4, n. 1, p. 103-128, jun./jul. 2010.SILVA, A. F. da. Efeito das etapas de processamento sobre a qualidade de castanhas-do-brasil (Bertholletia excelsa, H.B.K.): avaliação da fração lipídica e contaminaçãopor aflatoxinas. 2014. Dissertação (Mestrado)–Escola Superior de Agricultura“Luiz de Queiróz”, Piracicaba, SP, 2014. 95 p.126
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaTONINI, H. Castanheira-do-brasil: uma espécie chave na promoção dodesenvolvimento com conservação. Boa Vista: EMBRAPA-RR, 2007. Artigo dedivulgação.VILHENA, M. R. Ciência, tecnologia e desenvolvimento na economia da castanha-do-brasil: a transformação industrial da castanha-do-brasil na COMARU - RegiãoSul do Amapá. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos)–Faculdadede Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP,2004. 149 p. 127
128
VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE BIOCOMPÓSITOS EM MANAUS: POTENCIAL ECONÔMICO DA FIBRA DE CURAUÁ1 Rosana Zau Mafra José Luiz Duarte Dimas José LasmarIntrodução Compósitos poliméricos reforçados com fibras vegetais naturais (cânhamo,linho, knaf etc.) têm sido usados em uma variedade de aplicações estruturais devidoà sua elevada resistência e módulo específico em comparação com os metais.Entretanto, poucas destas fibras apresentam propriedades mecânicas favoráveisà produção de compósitos termoplásticos como ocorre com as fibras de Curauá(ananas comosus var. erectofolius), uma planta da família das bromiliaceaes e cultivadasomente na Amazônia (CORDEIRO, 2007). As propriedades mecânicas das fibrasdesta planta, comparadas com as demais fibras vegetais naturais, concorrem comas propriedades da fibra de vidro, tornando-a sua substituta potencial na indústriaautomobilística, na busca continua para produzir veículos mais leves. Sendo o Curauá uma planta que, além das propriedades mecânicas,apresenta características produtivas vantajosas haja vista seu cultivo ser possívelaté mesmo em áreas consideradas improdutivas (MAFRA; DUARTE; LASMAR,2010), não se pode deixar de questionar a viabilidade de implantação de1 Material extraído do Plano de Negócios da Biofibras, apresentado como requisito paraobtenção do título de MBA em Inovação e Negócios, em uma parceria entre a FundaçãoCentro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI) e a New Mexico Univer-sity (NMU - EUA). As demonstrações financeiras do Plano buscaram atender o perfil deinvestidores estrangeiros, porém foram adotados indicadores brasileiro. O cenário para aimplantação da Biofibras Ltda, fábrica fictícia de biocompósitos é 2009-2010. 129
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaempreendimentos intensivos em capital no estado do Amazonas. Principalmenteem um contexto em que o Estado necessita de uma alternativa à sua atual baseindustrial que, por conta das incertezas da duração dos incentivos fiscais e pelasrecorrentes Propostas de Emendas Constitucional (PEC) visando igualá-los aos deoutras regiões economicamente mais desenvolvidas, tornam o projeto Zona Francavulnerável (OLIVEIRA, 2009; ARAÚJO, 2009). Na busca por alternativa econômica industrial para o estado, projetou-se aimplantação de uma fábrica de compósito em Manaus - sendo a fibra de Curauá seuprincipal insumo, tendo o contexto político de planejamento econômico regionale setorial vigente (os incentivos fiscais) e a importância da agregação de valornecessária ao incremento da comercialização dos produtos da Amazônia comovariáveis explicativas ao empreendimento.Compósitos e biocompósitos Compósitos (ou materiais compostos) são aqueles constituídos de doisou mais materiais independentes (ou duas fases) com propriedades físicas equímicas nitidamente distintas, em sua composição. Estes materiais, segundoGibson (1994), são compostos por uma fase contínua (matriz) e uma fase dispersa(reforço ou modificador), contínua ou não, cujas propriedades são obtidas a partirda combinação das propriedades dos constituintes individuais (regra da mistura). Objetiva-se com essa mistura atender aplicações tecnológicas quedemandam combinações incomuns de propriedades que não podem ser atendidaspela atuação de seus constituintes sozinhos. Disto origina-se o que se entende porcompósito funcional, que são materiais compósitos cujas propriedades de interesseprincipal são as propriedades elétricas, térmicas, magnéticas ou ópticas, além dapropriedade mecânica (GIBSON, 1994). As propriedades dos compósitos dependem quer da natureza dos materiaisusados quer do grau de ligação entre eles através da interface. Os materiais usadosnessas combinações podem ser de polímeros (matriz polimérica), cerâmicos (matrizde cerâmica) ou metais (matriz metálica). Para a Amalco (2012), os compósitos sãoconhecidos pelos elevados índices de resistência mecânica e química, bem comopela versatilidade para os quais há mais de 40 mil aplicações catalogadas em todo omundo, de caixas d´água e tubos a peças de barcos e aviões. McAuley (2003 apud ZAH et al, 2007) entende que uma das razões para130
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaque o uso de plásticos em automóveis de passageiros tivesse dobrado a partir dofinal do século XX foi a tendência de uso de componentes/peças mais leves e maiscomplexas. Para melhorar as propriedades estruturais do plástico, as fibras devidro têm sido incorporadas à matriz de polímero. Em tempos mais recentes, oscompósitos já podem ser encontrados em várias peças de automóveis. Entretanto,os compósitos que contém fibras de vidro não podem ser facilmente separados e,por isso, são difíceis de serem reciclados. Além disso, de acordo com a Directiva2000/53/CE, a Comunidade Europeia solicita que os países membros reutilizem erecuperem pelo menos 95% de todos os veículos end-of-life (EOL) até 2015 (ZAHet al, 2007). Esta situação abre espaço para o uso de plantas ou fibras vegetais usadascomo reforços plásticos. Isto já vem ocorrendo com folhagens (de algodão, desumaúma), feixes ou vasos dicotílicos de plantas monocotílicas, ou seja, liberianas(tais como linho, cânhamo, juta, rami) e fibras rígidas (de sisal, henequem, fibrade coco) (BLEDZKI; GASSAN, 1999). As fibras vegetais naturais, em geral,apresentam vantagens econômicas e ambientais quando comparadas a reforços eenchimentos tradicionalmente usados (ARYLMIS et al, 2011). Como compostospoliméricos, consideram-se suas diferentes propriedades mecânicas conforme seobserva no Quadro 1. Chamados de biocompósitos, ou ‘compósitos verdes’, têm como vantagema baixa densidade, propriedades mecânicas específicas competitivas, e menorconsumo de energia. Reduzir peso em um automóvel, por exemplo, significamenos consumo de combustível (MALKAPURAM, 2009). Estes compósitos sãobaratos, não tóxicos e ainda servem como uma alternativa às fibras de vidro ou decarbono (MALKAPURAM et al, 2009). Observa-se, no Quadro 1, que o Curauá sedestaca das demais no que se refere às propriedades mecânicas, que a elegem comosubstituta da fibra do vidro. A resistência à tração desta fibra do Curauá é 5 a 9vezes maior do que a de sisal e de juta, as fibras longas.Curauá A plantação do Curauá (que pertence à família das bromélias ou abacaxis),pode ocorrer por monocultivo ou/e em consórcios com outras espécies (MEDINA,1959 apud CORDEIRO, 2007). Tomczak et al (2007) descrevem esta planta como 131
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiadetentora de fibras lignocelulósicas únicas no Brasil. Segundo os autores, estaplanta hidrofílica, tem chamado muita atenção, especialmente desde 1993, quandosuas fibras passaram a ser comercializadas pelas indústrias automotivas brasileiras,que a utilizam para fazer assentos e painéis de carros, ônibus e caminhões. Essasfibras alcançaram o terceiro lugar em viabilidade econômica e o quarto em termosde rigidez (propriedade mecânica) no país (TOMCZAK et al, 2007).Quadro 1 – Comparação das propriedades de fibras vegetais selecionadas com a fibra de vidroFonte: Zah, et al (2007). A resistência à tração da fibra do Curauá contribuiu, segundo Tomczaket al (2007), para o aumento da demanda por esta fibra. A Mercedes Benz tinhauma demanda de 300 toneladas por ano. Isto estimulou as autoridades municipaisde Santerém, no Pará, a tomarem medidas adequadas, em 2001, para aumentara área de cultivo destas plantas em cerca de 100 ha (TOMCZAK et al, 2007).Tanto interesse em aumentar a produtividade desta planta se deve, além de suaspropriedades mecânicas, às condições bioedafoclimáticas para a sua cultura, o quea torna mais competitiva entre as fibras tradicionais brasileiras. O cultivo do Curauá132
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologianão exige solos de grande fertilidade e pode ser cultivado em solos improdutivos(ditos alterados, ou degradados, na maioria da literatura) e pastagem abandonadas2(CORDEIRO, 2007). O potencial de aplicação das fibras de Curauá abrange mercados alémdo automobilístico, tais como geotêxtil, agrotêxtil, médico (a toxina encontradano soro da planta pode ser usada na produção de bactericidas) entre tantos(CORDEIRO, 2007). A curto prazo, o uso mais nobre para as fibras de Curauáseriam as peças automotivas. Dentre as vantagens da substituição da fibra de vidropela de Cuaraúa estão, segundo De Paoli (2007) melhor acabamento externo daspeças, leveza, menos desgaste nos equipamentos de produção, menor risco aotrabalhador e o menor impacto ambiental quando o carro não for mais usado, porconta da biodegradabilidade da fibra natural.Mercado de fibras naturais e a adoção de compósitos termoplásticos pelaindústria automotiva Na década de 1980, vários estudos previam um mercado potencialconsiderável para compósitos de fibras de linho. No entanto, o desenvolvimentodesse mercado revelou-se muito mais difícil e demorado do que o esperado. Oambicioso Programa de Linho alemão, que contava com 60 milhões de marcosalemães (cerca de 30 milhões de euros à época) não sobreviveu (KARUS; KAUP,1999). Nos últimos cinco anos da década de 1990, entretanto, o uso de fibrasnaturais (cânhamo, knaf, sisal, juta etc.) tornou-se comum em algumas aplicações,sendo seu principal usuário a indústria automotiva. Suas aplicações, matrizes eprocessamento são ilustradas no Quadro 2. Em suas pesquisas, Karus e Kaup (1999) apontam que, em 1996,foram utilizadas cerca de 4.000 toneladas de fibras naturais na indústriaautomobilística alemã e austríaca entre fornecedores e fabricantes. Já em1999, o volume alcançou 14.400 toneladas superando todas as estimativasnteriormente publicadas ou apresentadas por outros autores. Diante disto,passou-se a projetar uma demanda anual de 15.000 a 20.000 toneladas, no2 Seu cultivo apresenta-se como uma alternativa ao uso de áreas desmatadas na Amazônia. 133
Quadro 2 - Uso médio de compósitos em automóveis por ano (1988-1993) Fonte: USP/DEMAR (2010).curto prazo, e de 20.000 a 45.000 ton à médio prazo (KINKEL, 1999, apud KARUS;KAUP, 1999). Esta demanda poderia aumentar entre 500 a 3.000 toneladas por ano,a cada mudança de modelo. De 1996 a 2003, o uso de fibras naturais em compósitos aumentou de4.000 toneladas para 18.000 toneladas por ano na indústria automotiva alemã.Outros segmentos industriais também começaram a adotar estes compósitos,com destaque para a construção civil e de transporte. De acordo com Karus et al(2006), com o estabelecimento deste novo grupo de material, esperavam-se taxassignificativas de crescimento para os anos seguintes. Em 2005, o mercado global defibras naturais na indústria automotiva era da ordem de 800.000 toneladas ao ano(SUDDELl et al apud ZAH et al, 2007). Nos Estados Unidos, o mercado de ‘fibrasnaturais-compósito plástico’ estava crescendo a uma taxa de 54% ao ano (KLINE;COMPANY apud ZAH et al, 2007). A indústria automotiva brasileira identificou a necessidade do uso das fibrasvegetais. De acordo com Educação Gaia (2007), esta indústria tem demandado10.000 toneladas por ano de sisal para peças de automóveis que usavam fibra de134
vidro. As empresas transformadoras demandaram toda a fibra vegetal ofertada,usadas para o enchimento do assento entre outras aplicações, conforme ilustra oQuadro 3. Quadro 3 - Aplicações de fibras vegetais na indústria automotiva Fonte: Mafra, Duarte e Lasmar (2010). A Renault, que já usa fibra da juta na tampa do bagageiro do Clio, pretendeestender o uso de fibras vegetais ao maior número de peças possíveis. O SERVIÇOBRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE,2005) alerta, contudo, que mais fibras vegetais não estão sendo usadas por falta deoferta. Observa-se que do mercado para usos tradicionais existem possibilidadespara novos usos de fibras vegetais em produtos com conteúdo tecnológico. É nesteambiente que surge a produção de biocompósitos de Curauá, cujas fibras deixamde ter utilidades apenas em revestimentos e em peças não-estruturais como forrosde portas ou prateleiras traseiras e passam a agregar valor às peças automotivas quedemandam propriedades mecânicas mais resistentes. E ainda que o motivo técnico não prevaleça, o uso potencial das fibras deCurauá se justifica pelo crescimento do mercado de veículos no Brasil e no mundo.Em 2009, mais de 60 milhões de veículos, incluindo carros e veículos comerciais,foram produzidas em todo o mundo (BRASIL SUPERA..., 2010; OICA, 2009).Mercados emergentes como China, Rússia, Índia e Brasil, presenciaram os maisrápidos crescimentos. Naquele ano, foram comercializados 3,1 milhões de veículosno Brasil. A oferta dos biocompósitos (compósitos de fibra de Curauá) produzidosem Manaus, atenderia este mercado. A opção por produzir o biocompósito emManaus considera, além das condições ambientais favoráveis à cultura do Curauájá citadas em seções anteriores, as vantagens fiscais da Zona Franca de Manaus 135
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia(BRASIL, 1967). Significa exportar granulados.Metodologia da pesquisa Para esta pesquisa, foram visitadas plantações de Curauá em Santarém-PA, fábricas transformadoras em São Paulo-SP que utilizam fibras de diversasorigens em peças de automóveis, e institutos de pesquisa no Norte e no Sudestedo Brasil que investigam as potencialidades do uso da fibra de Curauá. Tais visitaspossibilitaram, por meio da observação direta e de entrevistas, registrar dados eminúcias imprescindíveis para a análise da viabilidade econômica de uma fábricade biocompósito, tais como as tecnologias apropriadas, as pesquisas em andamento,as perspectivas do mercado, e a orientação sobre eventos e literatura relacionados,entre outros subsídios.Dados do empreendimento Trata-se de uma indústria de transformação, incentivada, a ser instaladaem um terreno de 1000m2 no parque industrial de Manaus, com 600 m2 construídodos quais 500m2 representam a área operacional (unidade fabril) e 100m2 a áreaadministrativa. O processo produtivo de biocompósitos, assim como o de compóstitos,é capital-intensivo. A maioria dos compósitos contendo fibras naturais etermoplásticos são produzidos por extrusão, conforme ilustra a Figura 1. Figura 1 - Processo produtivo do biocompósito Fonte: Os autores (2010); adaptado de Coperion Ltda (s.d.).136
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia As fibras de Curauá para esta fábrica de biocompósito serão adquiridasde uma empresa localizada no Pará e de produtores independentes do DistritoAgropecuário da Suframa (DAS), localizado próximo a Manaus-AM e de 10regiões do estado do Amazonas que já iniciaram a produção em Unidades deObservações. O polipropileno (matriz do biocompósito) pode ser obtido a partir dedistribuidores nacionais ou empresas representantes, localizados, em sua maioria,na região sudeste brasileira. No entanto, a Venezuela oferece preços competitivosdevido às suas vantagens de produção em escala3. Os valores que expressam os custos fixos e variáveis desta fábrica debiocompósito foram obtidos por meio de informações e parâmetros vigentesdisponibilizados tanto pela literatura quanto por entidades de financiamentoe escritórios de projetos e contabilidade. Os custos variáveis apresentaram-sesignificativamente elevados por conta das matérias primas principais: fibra deCurauá e polipropileno. O polipropileno estava sendo vendido entre R$ 4,15 e R$ 5,00 o quilo(COPERION, 2010) e a fibra de Cuaruá estava sendo vendida entre R$ 3,00 e R$ 5,00o quilo. Os preços dos dois insumos estão ilustrados no Quadro 4, já considerado ouso proporcional de ambos na produção do biocompósito.MATÉRIA PRIMA PREÇO DE PROPORÇÃO DE CUSTO AQUISIÇÃO (R$/Kg) USO PROPORCIONALPolipropileno (PP) 4,57* 80% 3,66 0,8Fibra de Curauá 4,00* 20% (FC) 4,46Custo da matéria prima por Kg no Ano 1 (R$)Quadro 4 - Composição do custo do biocompósitoFonte: Estimado de Reto (2010); Pesquisa de campo.Nota: *média. Chega-se, portanto ao custo da matéria-prima por kg no valor de R$ 4,46,em média, dadas as proporções de uso destas duas matérias-primas, considerando3 Este país apresenta a maior reserva de petróleo e gás da América Latina, razão pelaqual uma renomada empresa brasileira de polipropileno está implantando uma fábrica lá(BRASKEM, 2005). 137
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiao preço do polipropileno vendido no mercado brasileiro e o preço da fibra deCurauá vendido na região amazônica. Além das matérias-primas, compõem oscustos variáveis de produção, os sacos para embalagem, equipamentos de proteçãoindividual, energia, logística, entre outros. Agregam-se aos custos fixos, as despesascom comunicação, licenciamento da patente, aluguel do imóvel, entre outras. Os gastos necessários para a concretização física do empreendimento(Custos Pré-Operacionais) compreendem as instalações da unidade fabril, aquisiçãode computadores, automóveis, máquina e equipamentos sendo a extrusora o itemcom maior participação neste custo, conforme ilustrado no Quadro 5. Quadro 5 - Despesas pré-operacionais da fábrica de biocompósito Fonte: Os autores (2010). Em uma análise comparativa entre construir ou alugar a unidade fabril,estes gastos seriam maiores se a opção fosse construir o galpão. Cabe destacar que,neste quadro, as depreciações ainda não estão consideradas.Análises e discussões Identificadas as necessidades de uso de capital em inversões fixas(equipamento) e financeiras (formação de estoque); consideradas as disponibilidadesde recursos próprios; e consideradas as linhas de créditos vigentes nos bancos defomento e desenvolvimento econômico federais, projetou-se as obrigações para 36meses, com 1 ano de carência (prazo do de maturação do investimento fixo) a umataxa de juros anual de 6%. Estes valores estão ilustrados no Quadro 6.138
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia Quadro 6 - Montante a ser financiado à fábrica de biocompósito Fonte: Os autores (2010). Normalmente os empréstimos são caracterizados por taxas de juros de até12% ao ano (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010), entretanto, no período quecompreende a análise deste empreendimento, a TJLP vigente era de 6% (BNDES,2010), um momento atípico vivenciado pela economia brasileira.Projeção de receitas Na projeção de receitas deste empreendimento, foram considerados o preçode mercado dos compósitos regulares (cujos reforços não são feitos com fibrasvegetais, porém sintéticos) e a quantidade demandada estimada de biocompósitopelo setor automotivo. O preço médio do compósito regular é R$ 5,0/kg (RETO,2010). Se o biocompósito fosse vendido a este preço, o empreendimento não sesustentaria por conta de todos os custos envolvidos na composição do seu preço. Neste sentido, por se tratar de um produto potencial, projetou-seuma margem de lucro inicial de, no mínimo, 16%4. Esta margem permitiu oestabelecimento do preço inicial do biocompósito em R$ 7,40/kg. Esta margemde lucro tende a aumentar já que o empreendimento não inicia operando em suacapacidade plena e, por isso mesmo, não necessitará de investimento de capitalfixo no médio prazo; há, também, grande possibilidade de diversificação tantodo fornecedor de polipropileno (importação) quanto do mercado (no caso, ointernacional). A demandada estimada considerou a produção nacional anual média de2000 a 2009 (ANFAVEA, 2009) em pouco mais de dois milhões de automóveis,4 A margem de lucro deste segmento de compósitos plásticos é de 9 a 11% (AFIPOL, 2009). 139
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiacomerciais leves, ônibus e caminhões, cada unidade adotando pelo menos 3,5 kg defibra vegetal natural diversas em peças automotivas variadas, conforme abordamZah et al (2007). De forma modesta, propõe-se que 10% desta parcela contemplebiocompósito de Curauá, donde se chega a uma produção inicial estimada de 756toneladas, conforme ilustra o Quadro 7. Quadro 7 – Estimativa de demanda por biocompósito pela indústria automobilística nacional Fonte: Os autores (2010). Projetou-se a ampliação desta produção a uma taxa de crescimento anualde 10% para o segundo ano, e um crescimento de 30%5 para o quarto ano, resultandoem 840, 848, 1.168 e 1.179 toneladas, nos anos subsequentes. Isto representa umareceita bruta anual de R$ 5.607.479,14, no primeiro ano, de R$ 6.216.703,03 no ano2, de R$ 6.278.254,55 no ano 3, de R$ 10.863.200,00 no ano 4, e de R$ 12.424.600,00no ano 5, conforme ilustra o Quadro 8. Quadro 8 - Projeção de receita com a produção de biocompósito Fonte: Os autores (2010). Casarotto Filho e Kopittke (2010) instruem que as projeções de receitas,custos, despesas gerais, depreciações e amortizações de despesas pré-operacionais5 Esta última taxa considera a diversificação e a ampliação do mercado.140
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiapossibilitam projetar o demonstrativo de resultados, apurando-se o resultadoliquido anual. A análise da produção de biocompósito foi avaliada com base no ValorPresente Liquido (VPL), na Taxa Interna de Retorno (TIR), e no Payback, para umaprojeção de 5 anos, prazo considerado adequado à dinâmica do empreendimento,uma vez que, segundo os autores (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE 2010),segmentos mais dinâmicos devem ter horizontes de análises com prazos menoresque 10 anos. A demonstração das fórmulas bem como os arranjos não cabem nestecapítulo.Fluxo de caixa Em um empreendimento, espera-se que, em algum momento futuro, umfluxo de benefícios seja capaz de superar os custos (fixos, operacionais, despesasfixas e de financiamento) e por isso elabora-se o fluxo de caixa. Os fluxos de caixalíquidos para os 5 anos deste empreendimento decorrem da estimativa das entradasoperacionais de caixa resultante das vendas anuais, e só não se apresenta positivono ano 0, conforme ilustram o Apêndice 1 e a Figura 2. Figura 2 - Fluxo de caixa da fábrica de biocompósitos projetado para 5 anos Fonte: Os autores (2010). O decréscimo que inicia ano 3 decorre do aumento do volume da produção,quando então espera-se, já no ano 4, diversificar o mercado. Isto implica aumentaros custos variáveis que tem na matéria-prima o seu componente maior. A partir doano 5 as entradas voltam a crescer. 141
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaValor Presente Líquido (VPL) O Valor Presente Líquido de um projeto de investimento pode ser definidocomo a soma algébrica dos valores descontados do fluxo de caixa a ele associado.Segundo Casarotto Filho e Kopittke (2010), o VPL é utilizado para análise deinvestimentos isolados que envolvam o curto prazo ou que tenham baixo númerode períodos. Considerando o investimento inicial de R$ 1.877.518,00 e as entradas decaixa (receitas líquidas) anuais no período de 5 anos, verifica-se que o Valor PresenteLíquido é de R$ 1.704.341,76. Isso significa que, o empreendimento, a uma taxa dedesconto de 6% (taxa de juros do mercado naquele contexto econômico), no finaldesse período ganharia R$ 1.704.341,76 com este projeto. Ao se descontar os váriosfluxos de caixa pela taxa mínima de atratividade, o valor do projeto é maior que ocapital investido, demonstrando assim que o negócio oferece rentabilidade. Ainda que se trabalhasse com uma taxa de desconto de 10%, o ValorPresente Líquido do empreendimento seria de R$ 1.387.276,19. Este valorpositivo significa que, por esse método de avaliação de investimento (VPL), aproposta de implantação de uma fábrica de biocompósito deveria ser aceita, pois oempreendimento ganharia dinheiro, ou seja, teria sua riqueza maximizada com oreferido projeto.Taxa interna de retorno A TIR serve para mostrar qual é o maior custo de oportunidade queum projeto suporta, ou seja, representa o custo de oportunidade do capital secomparado a qualquer outra aplicação financeira (VERAS, 2001). Por esse critério, a implantação da fábrica de biocompósito somente seráviável se for capaz de gerar uma TIR maior que o seu custo de oportunidade, queé de 6% ao ano (ou até mesmo 10% conforme adotam muitos autores que tratamdo assunto). O cálculo dessa taxa teve como base as entradas anuais de caixaapresentadas no Apêndice A. A TIR de 40% significa que a taxa encontrada superao custo de oportunidade estabelecido. Por esse método de análise de investimentoverifica-se que a proposta deve ser aceita, pois 40% ao ano supera o custo deoportunidade da fábrica em estudo que é de 6% ao ano. O que demonstra que seriamais vantajoso financeiramente a implantação da fábrica do que realizar aplicações142
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiafinanceiras com o capital.Payback (tempo de recuperação do capital) Casarotto Filho e Kopittke (2010) ensinam que o payback mede o temponecessário para que o somatório das parcelas anuais seja igual ao investimento inicial.Ou seja, indica o período mínimo necessário para o investidor ou proprietáriorecuperar seu capital total aplicado ou o tempo de funcionamento necessário pararecuperar o capital investido. Para a fábrica de biocompósito alcança-se o tempo de1,9 anos (ou 21 meses) para a recuperação do capital. Utilizando como parâmetroos valores médios encontrados na literatura e empreendimentos que apresentamem suas atividades características muito parecidas com as analisadas neste estudo,conclui-se que o prazo de retorno do investimento encontrado é viável. Os três indicadores apontam que economicamente o empreendimentoé viável. Como resultado desta análise, no período observado, observa-se que oempreendimento é lucrativo e capaz de gerar retornos a seus investidores.Conclusões e recomendações Aparentemente desvantajosa por conta da distância geográfica do centroconsumidor, a implantação de uma fábrica de biocompósito em Manaus se mostroueconomicamente viável após mensuração dos resultados de Caixa (projeção dosfluxos de caixa) e da taxa de retorno exigida pelos proprietários de capital (credorese acionistas). Pesaram na decisão de investir as vantagens fiscais do estado e asalternativas para a aquisição das matérias-primas. A fábrica tem a opção de obterpolipropileno do exterior a preço mais competitivo e a proximidade do fornecedorde fibra de Curauá é uma variável que pode ajudar a aumentar o faturamento. Cabe ressaltar, entretanto, a importância da regularidade no fornecimentoda fibra de Curauá, pois, dada a quantidade de matéria-prima necessária para aprodução de biocompósito (140 toneladas de fibra de Curauá só no primeiro ano),este montante indica a necessidade da expansão da cultura no estado e na região,donde se vê a importância de projetos que incentivem o plantio e a consequenteexpansão da produção desta fibra. 143
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia Além da regularidade, a qualidade da fibra deve ser uma constantepois, dependendo das condições agrícolas, as fibras podem ter suas propriedadecomprometidas por absorção de umidade, implicando seu uso final na indústriaautomotiva, limitando a temperatura para seu processamento, e diminuindo suaspropriedades de resistência, entre outras implicações. Em função disso, a produçãode biocompósitos em Manaus pode motivar pesquisas biotecnológicas para amelhoria do cultivo do Curauá e para análises mecânicas das fibras, abrindo espaçopara parcerias entre a iniciativa privada e a academia. O valor nominal decorrente da associação do produto à Amazônia, avantagem ambiental do plantio do Curauá, que pode ser cultivado em áreasconsideradas improdutivas, a salubridade de trabalhar com a da fibra de Curauácomparada à fibra de vidro, e a perenidade do cultivo, tornam este empreendimentocompetitivo. Entretanto, o crescimento potencial das vendas de biocompósito podeinduzir a entrada de concorrentes no segmento. Recomenda-se, por isso, analisaras ameaças ao negócio, considerando também o surgimento de insumos substitutosà fibra de Curauá, e a possibilidade de países com condições bioedafoclimáticassemelhantes às da região amazônica produzirem Curauá, evitando que a históriada Amazônia repita o aspecto negativo da economia gomífera. Por fim, outros métodos de análises que não foram adotados neste estudo,tais como, produtividade do ativo, custo médio ponderado de capital (CPMC ouWACC, do inglês Weighted Average Capital Cost), etc., são também importantespara que, quando combinados, torne a análise e avaliação de investimento maisconclusiva. Recomenda-se também pesquisas continuas e atualizadas sobre omercado internacional das fibras.144
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiaReferênciasASSOCIACAO BRASILEIRA DE PRODUTOS DE FIBRAS POLIOLEFINICAS(AFIPOL). Braskem recebe prêmio do jornal DCI pelo desempenho em 2008.Disponível em: <http://www.afipol.org.br/news/46/afipol_news.htm>. Acesso em:maio 2009.ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE MATERIAIS COMPÓSITOS(ALMACO). Compósito. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.almaco.org.br/compositos.cfm>. Acesso em: maio 2012.ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FABRICANTES DE VEÍCULOSAUTOMOTORES (ANFAVEA). Histórico de produção e vendas internas de veículos- Brasil. Disponível em: <http://www.udop.com.br/download/estatistica/vendas_producao_automoveis/comparativo_prod_vend_veiculos.pdf>. Acesso em: dez.2009.ARAÚJO, O. Bancada unida para derrotar a PEC contra a ZFM. [S.l.], 16 jun. 2009.Disponível em: <http://osnyaraujo.blogspot.com.br/2009/06/bancada-unida-para-derrotar-pec-contra.html>. Acesso em: out. 2009.BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL(BNDES). Taxa de juros de longo prazo. Disponível em: <www.bndes.gov.br>.Acesso em: fev. 2010.BLEDZKI, A. K.; GASSAN, J. Composites reinforced with cellulose based fibres.Progress in Polymer Science, v. 24, p. 221-274, 1999.BRASIL. Decreto-Lei Nº 288, de 28 de Fevereiro de 1967. Altera as disposiçõesda Lei número 3.173 de 6 de junho de 1957 e regula a Zona Franca de Manaus.Brasília, 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0288.htm>. Acesso em: jan. 2009.BRASIL supera EUA na produção de automóveis. G1, Autoesporte, São Paulo, 13 145
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiamaio 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/carros/noticia/2010/05/brasil-supera-eua-na-producao-de-automoveis.html>. Acesso em: jun. 2010.BRASKEM. BRASKEM e PEQUIVEN iniciam estudos para produzir polipropilenona Venezuela. São Paulo, 2005. Disponível em: <www.braskem-ri.com.br/mobile/Download>. Acesso em: fev. 2010. Material de divulgação coorporativa de 2005.CASAROTTO FILHO, N.; KOPITTKE, B. H. Análise de Investimentos. 11. ed. SãoPaulo: ATLAS, 2010.COPERION SOLUÇÕES INDUSTRIAIS. Consulta de preços do polipropileno.Entrevista por telefone com o vendedor, em jan. 2010.COPERION. Screw Extruders. Disponível em: <https://www.coperion.com/en/support/downloads/>. Acesso em: jan. 2010.CORDEIRO, I. M.C.C. Comportamento de Schizolobium parahyba var. amazonicum(Huber ex Ducke) Barneby e Ananas comosus var. erectifolius (L. B. Smith) Coppense Leal de sob diferentes sistemas de cultivo no município de Aurora do Pará (PA).2007. Tese (Doutorado)–Rede Bionorte, Universidade Rural da Amazônia, Belém,2007. 115 fls.DE PAOLI, M-A. Biomicrofiber composites with thermoplastics prepared byextrusion. Notas de aula de 2007 cedidas durante visita de campo. Disponível em:<http://www.lpcr.iqm.unicamp.br>. Acesso em: abr. 2010.EDUCAÇÃO GAIA. Fibra natural. [S.l.], 2007. Disponível em: <www.gaiabrasil.net>. Acesso em: jan. 2009.EXAME. Brasil pode virar quarto maior mercado de veículos. [S.l.], 15 abr. 2010.Disponível em <http://www.mvcplasticos.com.br/noticias.php>. Acesso em: jun.2010.GIBSON, R. F. Principles of composite material mechanics. New York: McGraw-Hill,1994.KARUS, M. et al. Use of natural fibres in composites for the German automotiveproduction from 1999 till 2000. Hürth: Nova-Institute, 2006. Disponível em: <http://146
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologianova-institut.de/pdf/06-12_nova_NF-CompositesAutomotive.pdf>. Acesso em:jul. 2009.KARUS, M.; KAUP, M. Use of natural fibres in the German automotive industry.Journal of the International Hemp Association, v. 6, n. 2, dec. 1999. Disponível em:<http://druglibrary.net/olsen/HEMP/IHA/jiha6209.html>. Acesso em: jul. 2009.MAFRA, R. Z; DUARTE, J. L; LASMAR, D. J. Biofibras’ Business Plan. Trabalhode Conclusão de Curso (MBA in Business and Inovation)-FUCAPI - New MexicoUniversity, Manaus, 2010.MALKAPURAM, R.; KUMAR, V.; NEGI, Y.j S. Recent development in naturalfiber reinforced polypropylene composites. Journal of Reinforced Plastics andComposites, v. 28, n. 10, 2009.INTERNATIONAL ORGANIZATION OF MOTOR VEHICLEMANUFACTURERS (OICA). World motor vehicle production by country: 2008-2009. 2008 and 2009 Production Statistics. Disponível em: <http://oica.net/category/production-statistics/>. Acesso em: mar. 2010.OLIVEIRA, J. A. P. (Org.). Pequenas empresas, arranjos produtivos locais esustentabilidade. Rio de Janeiro: FGV, 2009.RETO, M. A. de S. Distribuição de resinas. Revista Plástico Moderno, fev. 2010.Disponível em: <http://www.plasticomoderno.com.br/plastico.htm>. Acesso em:mar. 2010.SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS(SEBRAE). Negócios com fibras. Disponível em: <www2.uol.com.br/pagina20/01052005/sebrae20.htm>. Acesso em: 5 jun. 2009. TOMCZAK, F.; SATYANARAYANA K. G.; SYDENSTRICKER, T. H. D. Studies on lignocellulosic fibers of Brazil: Part III Morphology and properties of Brazilian curaua fibers. In: Composites: Part A - applied science and manufacturing, v. 38, p. 2227-2236, 2007. ISSN: 1359-835X.UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Compósitos. São Paulo: Departamento 147
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologiade Engenharia de Materiais (DEMAR), 2010. Material cedido pela Escola deEngenharia de Lorena (EEL) durante pesquisa de campo.VERAS, L. L. Matemática financeira: uso de calculadoras financeiras, aplica-ções ao mercado financeiro: introdução à engenharia econômica: 300 exer-cícios resolvidos e propostos com respostas. São Paulo: Atlas, 2001.ZAH, R. et al. Curaua´ fibers in the automobile industry e a sustainabilityassessment. Journal of Cleaner Production, v. 15, p. 1032-1040, 2007.148
Estudos da bioindústria amazonense: sustentabilidade, mercado e tecnologia APÊNDICE AProjeção da Demonstração de Resultados e Fluxo de caixa do EmpreendimentoFonte: Autores 149
150
Search
Read the Text Version
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16
- 17
- 18
- 19
- 20
- 21
- 22
- 23
- 24
- 25
- 26
- 27
- 28
- 29
- 30
- 31
- 32
- 33
- 34
- 35
- 36
- 37
- 38
- 39
- 40
- 41
- 42
- 43
- 44
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
- 66
- 67
- 68
- 69
- 70
- 71
- 72
- 73
- 74
- 75
- 76
- 77
- 78
- 79
- 80
- 81
- 82
- 83
- 84
- 85
- 86
- 87
- 88
- 89
- 90
- 91
- 92
- 93
- 94
- 95
- 96
- 97
- 98
- 99
- 100
- 101
- 102
- 103
- 104
- 105
- 106
- 107
- 108
- 109
- 110
- 111
- 112
- 113
- 114
- 115
- 116
- 117
- 118
- 119
- 120
- 121
- 122
- 123
- 124
- 125
- 126
- 127
- 128
- 129
- 130
- 131
- 132
- 133
- 134
- 135
- 136
- 137
- 138
- 139
- 140
- 141
- 142
- 143
- 144
- 145
- 146
- 147
- 148
- 149
- 150
- 151
- 152
- 153
- 154
- 155
- 156
- 157
- 158
- 159
- 160
- 161
- 162
- 163
- 164
- 165
- 166
- 167
- 168
- 169
- 170
- 171
- 172
- 173
- 174
- 175
- 176
- 177
- 178
- 179
- 180
- 181
- 182
- 183
- 184
- 185
- 186
- 187
- 188