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coloquioNEA30anos-OK2016x

Published by Paulo Roberto da Silva, 2018-09-04 20:25:48

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Semeando cultura nos jardins históricos do palácio Cruz e Sousa SEMEANDO CULTURA NOS JARDINS HISTÓRICOS DO PAL SOUSA Márcia Regina Escorteganha Márcia ReginaResumo: EsteRrEelSaUtoMfaOz referência à confraternização e roda de conversade mestres dEosstseabrerleastoeffaazzerreefserdêancIlihaa àdecoSnafnrtaateCrnatiazraiçnãaoeedRa oGdraanddee conversajFalrodriinanssóhapibsotelóirrsei,csqouesedfoaozcPeoarrleráescuiodnaCorIuDlhziaae SddooeuFsSaoa.lncltoareC(a2t2ardineaageosdtao Gdera2n0d1e3),FnloorsianópolisPalavraDs-iachdaoveF: Torlacdloiçrãeo(;2P2atrdiemaôgnoiostiomadteer2ia0l1; M3)esntoressjdaorsdisnabsehreissteófraizceorsesd; o PalácioPolíticas públiPcaasl.avras chave: Tradição; Patrimônio Imaterial; Mestres dos Sa Políticas Públicas. INTRODUÇÃO Este trabalho é um relato de experiência referente à Roda de Con

202  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaIntrodução Este trabalho é um relato de experiência referente à Roda de ConversaPopular e Convivência e ao Fórum Setorial de Culturas Populares eTradicionais de Florianópolis, realizados no Dia do Folclore (22 de agostode 2013), nos jardins históricos do Palácio Cruz e Sousa – Museu Históricode Santa Catarina, em Florianópolis. Trata-se de uma manifestação culturaldo Patrimônio Histórico Imaterial e Material Catarinense, expresso nasmanifestações culturais tradicionais catarinenses da região litorânea e decolonização açoriana. Esse encontro teve como objetivo valorizar nossas raízes culturais e dar-lhes visibilidade. Foram convidados especialmente para esse evento os mestresde saberes e fazeres, que, numa tarde ensolarada entre flores e arvoredos dosjardins históricos do Palácio Cruz e Sousa, mostraram a riqueza de sua culturaherdada dos imigrantes açorianos e demais povos que vieram habitar o litoralcatarinense. Cultura esta que teve influência e se mesclou aos conhecimentosautóctones indígenas, bem como dos povos afrodescendentes. Integrando-se às atividades cotidianas dos mestres de saberes e fazeres que preservam atradição no litoral catarinense (figura 2).Figura 1 – Cartaz da Rede das Culturas Populares e Tradicionais – Território SC (RCPT)Fonte: Produção Thiago Skarnio 15/08/2013.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  203 Evento coordenado e promovido pelos membros da Rede das CulturasPopulares e Tradicionais – Território SC (RCPT)1 (figura 1), em parceria cominstituições públicas de âmbito municipal (Conselho de Políticas Culturais deFlorianópolis, Secretaria de Educação Municipal), federal (Ministério da Culturae Conselho Nacional de Políticas Culturais) e estadual (Fundação Catarinense deCultura ‒ Museu Histórico de Santa Catarina, sediado no Palácio Cruz e Sousa);a Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina e o Governo Autônomo dos Açores; oNúcleo da Cultura Açoriana/UFSC; o Núcleo de Referência Cultural Casa da VóNila ‒ Bairro José Mendes; e a Instituição Cultural Arte Movimenta.Figura 2 – Manifestações culturais nos jardins do Palácio Cruz e Sousa ‒ sede do Museu Histó-rico de Santa Catarina ‒ MHSCFonte: Acervo fotográfico Márcia R. Escorteganha 22/08/2013As atividades culturais Com objetivo de valorizar a diversidade de nossas raízes culturais e dedar-lhes visibilidade, foram convidados os mestres de saberes e fazeres parauma manifestação pública no Dia do Folclore Brasileiro, numa linda tardeensolarada entre flores e arvoredos nos jardins históricos do Palácio Cruze Sousa ‒ Museu Histórico de Santa Catarina, onde compuseram a Roda deConversa das tradições centenárias, que teve o prestígio da Banda de MúsicaEducacional Juvenil do Rio Vermelho – EBM Maria da Conceição Nunes, coma regência do mestre Paulo Rampinelli (figura 3).1 RCPT – Território SC é uma rede social formada por uma Comissão representativa dos Povos das Comunidades das Culturas Populares e Tradicionais de Santa Catarina.

204  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaFigura 3 – Banda de Música Educacional Juvenil do Rio Vermelho – E.B.M. Maria da Concei-ção Nunes, com a regência do mestre Paulo Rampinelli nos jardins do MHSC ‒ Palácio Cruz sSousa.Fonte: AcerFvoontfeo:tAogcreárfviocofoMtoágrrcáifaicRo. MEsácrocriateRg.anEhscao2rt2e/g0a8n/h2a01232/08/2013 As senAhs oSrenahsorraesnRdeenidreairsasddeecCririvvoo mMiiuudidnhino,hBoil,rbo ielrFouexifcuo xdiacsoCdomasuncidoamdesunidadesribeirinhRiabseireinihlahsoeaIlshocao, cnotnataggiiaavvaammo aombaimentbeiceonmtesuacsocmantosruiaasse cseaunctaorirsmiaas(feigs.0e4u). carisma(figura 4A)s. CAesstcareiasstadorsiaNsatdivoossdnoaSteirvtãoosdda oIlhSa,eqruteãcoomdpaõIelmhaos, qutuenesíclioosmtrapdõiceiomnaios dsous tensíliostradicioanfaaFzioesnretdseo:eAstacraeeffraavszodeifráoretioossgernáatfsaiccrooemfMuanásirddcaidiaáeRsrit.roaEdssiccnoioarntseaigcsaoinlhmhoaaus2.n2/i0d8a/2d0e1s3tradicionais ilhoas.Figura 4 – ImaFgiegnAusrsad4Sa–eRnimohodargaaedsnseRdbaeinlRrdooedidaraadsserBdeeinlrdoCedriarivasosr,encMdreiiviuroadsie;nchtreoiav,roBmeiolarntoeuaraelm.Faunxuaicl.o das Comunidades Ribeirinhas e Ilhoa, contagiavam o ambiente com suas cantorias e seu carisma (fig.04). As Cestarias dos Nativos do Sertão da Ilha, que compõem os utensílios tradicionais dos afazeres e tarefas diários nas comunidades tradicionais ilhoas. Figura 4 – imagens da Roda de Bilro das rendeiras; crivo e o tear manual. Fonte: Acervo fotográfico Márcia R. Escorteganha 22/08/2013 O Boi de Mamão do Porto da Lagoa comandado pela Mestre Graça seus jovens e crianças (fig. 05), que eufóricos e contentes vestiam e interp figuras que compõem o folguedo do “Boi de Mamão” (o Boi, o Cavalinho,FFonoFtneot:enA:tceAe:r cvAeocrfveoortovgfoorátffoicgtoorágMfriáácrfociicaMoRaMá. rEBcásicreacorirnRateu.gRnEaç.nsaEhc.ao)s,c2rto2ee/rng0tve8ag/on2alh0vna1eh3n2ad22o/028c/0a/28lo0/2r1o03s1a3mente e fes1ti9v4 amente todos ao tradicion da Ilha, atraindo as pessoas que pelo centro da cidade passavam e se comov O OBoBiodiedMe MamaãmoãododoPtaolPrtoofrotoldgaudeLadaLog,aogaaoscaoccmroiamannadçnaadsaodqopueeplaelsMaaiMeasmtersetcrGeanrGtaaçrnadçoCa aCernaerpniureoliaronedeo junto aos p

FonteF: oAncteer:vAocfeortvoogrfáoftiocogrMáfáicrociaMRá.rcEisacRor.tEegsacnohrtaeg2a2n/0h8a/22021/038/2013seus jPsOoerevuseBsenFrosjvoOoianevntdedeBe:conArosMaiciaheenadreçvmrecaaorãnsMfioçoa(atnafodicçmggouar.álãstfPuo0irc(o5afodrl)itg,aMooç.qáoPdu0rrcoiae5aiarn)Lte,aRouaq.efgdmEuóoaseracSiocLaerconutaoestfgagmóoeaCrnaaiachnctaoacodrno2sain2tmdeae/o0na8ctnp/eo2dse0nal1atvde3eonMsttpeieasesmltavreeeMsGtiienarsatmteçrraeperCGeiatnraratvneçaerapmi2rrCoe0aat5easrvnaemiroaesfadiagBuIelrhra(Cedfanasoiaug,aBiqbnurnaIuençlotrsfterhraiaeeeiganuas,.ricui)Ous,ropn,roqonaadjrmcueOos,çetBoanvereaqtpaveovBau.aõscni)aioveosnees,ollaiudcdmimvpeemnodoseeenmechpnsojvraoMõpsoMidaoasoõfev,osnloaeaameavpçmmlsmncaefgeMãisanssouqgooãlsd(euaeuooffofddoeriororcgaoiooladlr.gcspcsgsPiuoo0deaaauqeo5tlomlnqdreuoa)oPto,çduoe,“erocqaooaBndedrepusostbtaonedeea(co“itelomfLeorBoeirduoagdmon“efgecufióaBnduoeeprdrMtaaisnonLeaeõctitcoçiacaeM5rvoesamdiogm)mda.aeeo,)fmãamad,eqacodMnaoeãseou,d”eotnnnaeiacc”tv(fptvd,mieoeoo(odaaoneomlmsãatultBgpevsBoodsefuaaeoed”óeolnvneavniior,,edad(ptdisMeosoomcaoatoioaesdCatBCssoostmedaotaooardveoevstvidaoepr,ecalaGaosiei“oomnldncsrilbhnaatniao,Ceocçootechmr,aieaimpaooanstrovCl,nredeoeMtvaaataaeaesrlirdclaivsatnoMniorr,aemfmcisehmmicvoairaoooeolamarGotgas,naimoevsuct,aeraioiealãvnaadtMçomemtafoae”ro,alargioucoevdteaor,tal foetlagfleusefatdoiBvolgea,urmneaudsennoça,ct.er)i,,aasnennoçvcaotrslrivaaenqdnuçdicoaeisocasnlqaoaiuraloemsfaomslagceiuanantemetdaeonfcdedaosantitvIeaalnmhdpeaoun,tlaeaetntrodadpoionusdljauoonndattroosadpiajceuoiosnssntoaoplaefsoarlsqogosuuneeadp,goeperenslsoo,nagens,manteqtcmFnreuaidangednotumdtistravrçeaaolaaFãniínIvaoidlfdt5gahmoeoaaenulag,–dvrsmuccaoaiseatiivridvdamnam5aoiriavtn,acaada–dagansaeoaenstss,dirniasdmamoispscmdoraapeiidaagesçaaonspseãttsçmarrunooaaa“vsalsdeedBaasimçimndqomqçãouduiãoóaeeooerder“pciesmejBaesaualeianomoMdnardimcatccaoaaoesodrnmncameccdataarãoromonnooMisataddvaenmpnoaadmiadçmeoecaoómamriãdsrsPmóaioo.earodaenieraoddpmtaduopoagóalavsaessrdePnscnicradaaorrsvoiir,taaadLtanmmnoajalçuçsganaeafdsoctons.oasra.letig”eaLacunnoocaesdçmogdaomoopsovae.va,ir”aisnvamodcsanaoaa,dcogamroesvinassaesnir,nmpdçea,aldaasos pelaMestrFMaigGeusrrtaarça5aG–CFrIaaimgrçunaaregaCeirn5aosr.–ndeoimir“aoBg.oeinsdedoM“aBmoãioddeoMPaomrtãoo ddao LPaogrotoa”,dcaomLaagnodaa”dcoosmpaenladamdoesstrpaelGa raça CarnMeireos.tra Graça Carneiro.FonteFF:ooAnntcetF:eeAor:vcnAetoervc:foeAofrtcovoetoogrvgrfroááoffitiococtooogMgrMráááfrfáciicciraoocRiMaM. EáRsárcc.roicaErtieRsagc.aRoEnr.hstcaEeo2gsr2tace/n0og8hra/tna2eh0g2a1a232n/20h/08a8/2/220201/10338/2013RaqusqeeRNulu,aoaoeqEsssuRdbpSSeaueNrelqaNaeb,çulorseõaEeods.Nmless,odRosSdE,ussaaIdenaaPSnqlurlaõaaatõduaelurrõoeerfdsglesno,olosi,Io,,nlPinEaInsPtJnatedaottesudeeunuirlrolrdmnoneoanoo,,1Prb4ossJsdJa6óosdo)oldnle,áondi,eonccte1PoPoi4sa1oPa6dia4s)lpn:a,6áuo)eacalotsl,áoilmosordácdt,:eooicOeiopoJssdinosol:crodetení:Oioosipsserosslcueoed)íslinp,sOirdous,oottsolaclosoloe,íteddssipioMirvoorudsoFaoolsseFMiossg,sMids,gudteoiuroersodssersestceostrirFiíerfFerpcioMoiggroPuPssauuesel(n(notSrrsnSuikeetrsnirarmiilnhera.rdihaono.OeoPas(ssOseC,mmG(((snSdSaemGierrolsrnciaseacnhit.crla.araCcioOeeOneiots(aisePCos,dlmGsmheeoicoansaeooa)rnrli,.rsncihnoniifonhsaee)rCaac,.edocaeioolschnuosal)rvt,.uamra p C( Go a p es u cl c la ai e r sC , o o c neo dl n h e f o e )c c , co iqn o us n t e ra u v b í a r e ma b m e s m u e a nsaapmefbçoianestnedtaedraaormsgielunamssiinm“aAbmóletlanicrtaosdsaedsroeMpmraenessieftneretsatatFiçrvõaaensskdloPinsopulares e Tcorasdtu icmioens,aidsodcaoItlihdaiandao Me daagicau”(ltfuigr.a06p)o,pcuolmar eoscocnorstterjuoísradmaseFaemstbaisendt1oa9r5Da mivinoo Espírito fSPc“ iAoaganmlsutstraooerosiedrs,oracessodpcMrorateetaNsajneoroniisfsntesdeasonnatassdSeçoFeõs,ne.eashsstoasPrisomddp,ouoaslraDtPriiesavtssianseoeoTsar,EratrsdeepsipícãrrioieotssoneoanSlietsaainrdnotadosoIeelhafiasdgsduoimarNeMiaororastssgiosicataa”Stea(enfriihganruoetrren1as9dsã65eoo s)ss., o1le9i5r os e Figura F6i–gIumraag6en–s dime aartgeesãnoss doleeiarortseesfãigousreoirleosircoastaerinfeignusersemiroonstacnadtoaroin“Aelntasredsams Monantaifnesd-o o “Altar dtaaçsõeMs PaonpiufelasrteasçeõTersadPicoiponualiasrdeasIelhTa dradMicaigoian.ais da Ilha da Magia. FFoonntet:eA:cAervcoefrovtoogrfáofitcoogMráárfciiacoR.MEscáorrcteigaanRha. 2E2s/0c8o/2r0te13g.anha 22/08/2013. Ainda havia as peças criadas com Arte do Fuxico, toalhas, bolsas, blusas, almofadas, com destaque a Bandeira Nacional, que realçava o verde e o amarelo; as

almtooafalhdaass,dceocmrodcehsêtanqausecaorBesanddeeiertaniNasacaifornicala,nqaus,etrraeazliçdaavsapoorvmerudleheereos anmegarrealso,;maosstrandotoaulhmascdeencárroiochtêipniacsamcoernestedebreatnsiilaesiraofrimcaonsatsr,atdroazipdealsap“oCr imaudlhaesreMs nuelhgerares,smNoesgtrraansdoda Ilha”2u0m(6fcigenuárario7)t.ipicamente brasileiro mostrado pela “Cia das Mulheres Negras da Ilha” Colóquio NEA 30 anos de História(figura 7). Ainda havia as peças criadas com Arte do Fuxico, toalhas, bolsas,blusas, almofadas, com destaque a Bandeira Nacional, que realçava o verdee o amarelo; as toalhas de crochê nas cores de etnias africanas, trazidas pormulheresFnigeugrraas7, m–oismtraagnednosudma caernteárdioo tifpuixciacmo eentteoablrhaassiledireocmroocshtrêadnoaspecloares de etnias“CiaafrdiFcaiasgnMuarsauld7hae–rCeiismaNadegagesrnMassuddalaheaIrrlhteesa”dN(ofeiggfuruaxrsiacdo7a)e.Ilthoaa.lhCaosmdedecsrotacqhuêenaasBcaonrdeesirdaeNeatnciiaosnal, queFaifgruriceraaanl7ça–asvimdaaaogCevniaes rdddaaeasretMeoduoalhmfuearxeircseolNoe.etogarlahsasddae Iclrhoac.hêCnoams codreesstadqe ueteniaasBaafrnicdaeniaras dNa aCciiaodnaasl, queMreuallhçearvesaNoevgrearsddeaeIlohaa.mCaormeldoe.staque a Bandeira Nacional, que realçava o verde e o amarelo.FFoonnFtet:oeAn:ctAeer:vcoeArfovctoeogrfrvoáoftiocfogoMrtáoáfrgicciraoáRfMi. cEáoscrocMritaeágRracn.ihEaa s2Rc2.o/0rE8t/es2gc01ao3nrtheag2a2n/h0a8/2220/1038/2013 196 Ao mesmo tempo os presentes eram agraciados com delícias dag as tronomia ilhoa e rosca de polvilho doce – produção centenária dos 196 Engenhos tradicionais da Ilha.Conclusão As pessoas conversavam animadas, felizes, fotografavam, trazendo aslembranças de seus ancestrais, concretizando a verdadeira “Roda de Conversa ede Convivência”, fazendo com que neste dia permanecesse nos jardins a sementeda arte e da cultura para novas gerações que assistiam a esse espetáculo. Todaessa festividade culminou com a instauração do Fórum Setorial das CulturasPopulares e Tradicionais de Florianópolis, com a presença de autoridadesrepresentando o poder público, instituições de ensino, acadêmicos, mestres desaberes e fazeres, e sociedade civil. Ocorreu a votação e aprovação do Regimento Interno desse fórum e aeleição de um mestre representante das Culturas Populares e Tradicionais deFlorianópolis para ocupar o assento no Conselho Municipal de Política culturalde Florianópolis; também foi apresentado o Projeto de lei “Mestres de Saberes eFazeres das Culturas Populares e Tradicionais do Município de Florianópolis-

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  207SC”, enviado ao Prefeito Municipal para ser sancionado.2 Infelizmente até omomento nada se concretizou sobre essa lei, mas esperamos que seja logoencaminhada, pois, para muitos dos mestres, não há muito tempo de vida parao merecido reconhecimento. Por conseguinte, foi uma grande conquista e fortalecimento dessessegmentos culturais das culturas populares tradicionais a realização desseevento que marcou o dia de comemoração nacional das raízes do folclorebrasileiro. Espera-se, com essa inciativa, que se torne uma prática constantenos jardins do Palácio Cruz e Sousa, onde a população se apropria daquilo quelhe dá direito à memória, à história e à cultura.Figura 8 – Dia do Folclore ‒ comemoração nos jardins do Palácio Cruz s Sousa ‒ MHSCFoFnoten:teA:cAecrvFeoornvtfeoo: AtfocoegtrovroágffroiátcofgoircáMfoicoMáMrcááirrcaciaiRaR..REEs.csoEcrtosegcratonehrgatea2g2n/ah08na/h220a1232/. 028/0/280/210313onte: AAcgAerrgavrdoaedfcoeimtcoiemgnreátnofitcaootaModtáoordscoiosasoRps.aEprtasircctioipcraitpneagtenastnehdsoad2eo2ve/e0vn8eto/n2,t0oe,1m3emespesepceiacliaaloasoMs MestersetsredsedeadSbeaedSsbrseaeeAesbrsseegeesernreeacesFnodaFcenezoa2tc Ferznioraemt“dPerzrTertoseoeãeíFtjsrounleetoetlãtoeorsioioamaddaneeieNpaómMNpLaoeoetepreioilsNtiovtisandrv”reae.onotaLida0tvseOeo1nOia0setorp5elSrtaO4saatebebprgo/rpegaatrar2eaaare0adgsar1(a(tea3svisae,eFcmea(qacivclszup2orereae0eaerrcl1etiniotrns3azaetrsdarpreittiaiezçastaasluaãroCiiçosd,ddaumãonaaldotodeuamReRarâdavmbcCCsaRreubPoPPnciClsottToutpTruPoeul-pdr-tT,laarouTerT-eresmceaemseTanruerrctetnraTiaaeriitnrcrtrótsaíióiaepdrnptsirriióoeecoiidrinoncoadiesSinoeRaSneaCeFli,sSCdsl)eoqdCa)r,dounoi)aaqnMeasnsunaóCuerMeapnuenroliaeetrlcaeiuelíasnlpsir,talzaaiteooilrsalzcietzçaesaãcççooeãdãoeooepsaspteraietmrniômcnoôinontiriomoiatmPãtoeoaprutieilaamrlrieaepsloemeTrtramaatdneairtcteiieoarnlpi.aaaislr.–aTaerrvitaólroiorSizanatçaãCoatadrianac-RuCltPuTr.a catarinense, que enaltece oatrimônio imaterial e material.

208  Colóquio NEA 30 anos de História Agradecimento a todos os participantes do evento, em especial aosmestres de saberes e fazeres e à Neiva Ortega (secretária da RCPT ‒ TerritórioSC) na realização desse encontro tão importante para a valorização da culturacatarinense, que enaltece o patrimônio imaterial e material.Evento publicado no YouTube:Disponível em: <https://youtu.be/wSTXSgpZ0Js>. Rede das Culturas Populares eTradicionais – Território, SC.Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=wSTXSgpZ0Js>.

Brinquedos e brincadeiras de base açoriana Mariângela Leite Convidada por Gelsi Coelho, o Peninha, que na época era vizinho,todas as quartas-feiras, numa das salas da UFSC, participava de um encontrocom diversos interessados em criar um núcleo de nossa cultura: o Núcleo deEstudos Açorianos. Durante esse tempo, aprendemos muito, e, assim, as boaslembranças de nossas brincadeiras de infância:Aviãozinho Passa o anelBambolê Pau de seboBolinha de gude Pé de LataBoneca de pano Perna de PauCantorias de roda e populares PetecaCarrinho de lata PipaChapéu de soledade Pula elásticoChinelão Pular cordaComidinha em louça de barro RolemãCozinhadinho Samba Lê – LêDobraduras Se eu fosse um peixinhoEntra na Roda Telefone sem fioPão por Deus Terezinha de Jesus No desenvolvimento desse projeto nas escolas de nosso município,reunimos os professores de nossa rede de ensino das disciplinas de Geografia,História, Artes e Educação Física e passamos a realizar as atividades e oficinaspara os alunos conhecerem e criarem os brinquedos e brincadeiras. E, noreforço de nossas ações, a contamos com colaboração imprescindível dosprofessores e voluntários que compunham o Núcleo de Estudos Açorianos daUniversidade Federal de Santa Catarina.

210  Colóquio NEA 30 anos de História O professor Gelci Coelho, o Peninha, era quem nos clareava o caminhoa seguir. Até que nos levou a realizar um grande encontro dos envolvidos nesseprojeto. Uma grande lona foi montada na praça do Centro Histórico de São José,para abrigar os brinquedos e brincadeiras construídos. Cada grupo cuidavade suas realizações. Esse projeto serviu de modelo para outros municípios e,por dois anos seguidos, esteve presente na Festa Açoriana de São José, sendocolocado à disposição da comunidade, graciosamente, substituindo o parquede diversões. Alegria geral da família. No ano de 2002, fomos convidados pelo Governo dos Açores a visitar aPraia da Vitória, na Ilha Terceira, onde recebemos uma homenagem e tivemosa oportunidade de apresentar e desenvolver as brincadeiras e brinquedosnaquela comunidade. Isso tudo deve-se à criação do NEA e aos seus trinta anos de atividades,estando presente nos municípios da cultura de base açoriana. Obrigado!

Gestão pública e patrimônio cultural – Experiência da Fundação Municipal de Bombinhas Nivea Maria da Silva Bucker O patrimônio cultural tradicional sempre foi bastante valorizado nacidade de Bombinhas. Apesar da pouca idade do município, apenas 23 anos deemancipação, a história da comunidade fundamenta-se na presença indígenana região, muito antes da chegada dos colonizadores portugueses no sec. XVII. Os costumes tradicionais atravessaram gerações e, ainda hoje, percebe-se a presença desses saberes e fazeres entre as famílias. No entanto, há oconstante desafio de fomentar a manutenção e a perpetuidade desses costumes,principalmente diante dos constantes avanços tecnológicos, do crescimentoda cidade, da urbanização do território e das diversas atividades de lazer erecreação modernas. Pensando nisso, desde 2013, a Fundação Municipal de Cultura investeconstantes esforços na promoção de projetos que reúnam a comunidadetradicional e divulguem os costumes locais, sensibilizando tanto moradoresquanto visitantes da necessidade e importância da cultura local. Entre as ações propostas, destacam-se:Tarde do beiju Promovido pela Fundação Municipal de Cultura de Bombinhasem parceria com o Instituto Boimamão, o encontro dos saberes e fazerestradicionais reúne a comunidade e visitantes em torno de um forno de engenhocentenário para fazer o beiju, uma espécie de biscoito resultante da massa demandioca antes de ser torrada. Além de participar da manutenção dessa herança tão presente naidentidade cultural, o encontro promove o aprendizado e a degustação desse

212  Colóquio NEA 30 anos de Históriaprato recorrente na mesa bombinense, e proporciona uma agradável conversasobre os causos, histórias e lendas locais. O evento acontece desde março de 2013, sempre nas primeiras quintas-feiras dos meses de abril a novembro, e recebe visitas técnicas de alunos dasescolas municipais (desde o maternal até o 9o ano) e estaduais, e de graduandos,gmbmáaoresaemsttaretbsrornainndnaoeeldmnaohtséisiesasto,óesrqeiaun9d,ºefoi,aamunngtto,oerosnra,paeqoenrulsoodecsgoolaiaaslmas,snetquenaursstiesteam,dáeocurne,oagaimgslsa,opsgbdatrarareomtdniuolhhamainasidtmacóo,urselsi,taenum,ufirmesaas,,nstrataaarbqlnoieudapreodeolsaoslsoesrgeqdàiguoasaeu, dtmoetorunaasgrtnriladosoombunsamaomns,aasdceullitcuiroa,soacliaadféo.s as matronas bombinenses que, generosamente, compartilham seussaberePs,arreagpadaortaicuipmadr,enlicãiooséo ncaefcée. ssário fazer inscrição, basta se deslocar até oMuseuPCaroampuanrtiictiápraironEãnogéennheocedssoáSrieorftaãzoe,rainesnctrriçaãdoa, ébalisvtares. e deslocar até o MuseuPCroodmuuçnãoitádreioBEeinjugenho do Sertão, a entrada é livre. Produção de BeijúPirão cultural Pirão Cultural Consagrado em toda a região litorânea, o projeto Pirão Cultural, quepromove os saberes tradicionais com raízes açorianas e envolve conhecimentoe saborO, épirdojeeatoli,zacdonosaegorardgoaneizmadtoodpaelaa FreugniãdoaçliãtoorâdneeaCuqluteurparodmeoBveomobsinshabaesr,esctoramdicaiopnoaiios dcoomNúracílzeeosdaeçEorsiatundasoseAeçnovroialvneosco(nNhEecAim),edntao Uenisvaebrosri,daédeideFaeldizeardaol e organizado pela Fundação de Cultura de Bombinhas, com apoio do Núcleo de Estudos Açorianos – NEA, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, e restaurantes parceiros dos bairros da cidade, já que, por ser itinerante oportuniza a participação de

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  213de Santa Catarina (UFSC) e de restaurantes parceiros dos bairros da cidade,já que, por ser itinerante, oportuniza a participação de vários colaboradores.Além de debater aspectos culturais, os participantes têm a oportunidadede degustar um dos mais tradicionais pratos da região: o pirão com peixe!A gastronomia é um importante aspecto cultural das comunidades tradicionais,sendo também um dos destaques dos encontros, e, apesar de simples, é cheiade sabor e história! Os encontros acontecem uma vez por mês, sempre nas últimasquintas-feiras de cada mês, num restaurante parceiro, com uma palestra deaproximadamente 40 minutos, uma apresentação cultural e a degustação dopirão com peixe e outros quitutes a critério do restaurante anfitrião. Ao todo, foram 8 edições, que contaram com a participação de mais de350 pessoas e com os seguintes temas e palestrantes: ■■ Abril: A Influência da Colonização Açoriana em SC – Joi Cletison ■■ Maio: Folguedos do Boi de mamão – Gelci Coelho “Peninha” ■■ Junho: Engenhos de Farinha de Mandioca – Nereu do Vale Pereira ■■ Julho: Pesca da Tainha e Patrimônio Cultural – Cláudio Bersi de Sousa ■■ Agosto: Lendas, Contos e Histórias – Gelci Coelho “Peninha” ■■ Setembro: Manifestações da Cultura Popular – João Lupi ■■ Outubro: Pão por Deus – Mestres da Cultura Tradicional de Bombinhas ■■ Setembro: Gastronomia Tradicional – Dra. Yolanda Flores da Silva

214  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaItens da gastronomia tradicional servidos nos eventos: pão por Deus, peixe assado na grelha ecoruja de polvilhodopIsteomnlvsiloOhdroaaPdGiroaãsroterosCnuaotmlutuiaariTsarlantdeãivcoieonnuaamlssciemervripadmaosctneoomms euBvieotnomtopbso:inspiãhtoiav-spooenr-aDnecãuoosm,tPuiveneixiredaamadsseaa.dcMoesunsaiotogàrselha e coruja decultura tradicional. O evento possibilitou conhecimento dos diversos aspectosculturais Oda PcoirmãounCidulatudrea,llivterveedeumquaimlqpuaecrtopremcouintoceiptoosoituivodisntaorçcãoom. uAnoidfaindael. Muitos dosdasmeodraiçdõoerse,sa FatuunadisaçnãoãoMnuansicciepraalmdeeCmultBuorma bapinlhicaosu eumnaãpoestqivueirsaamcoamceossso a culturapartrtaicdiipcaionntaels. eO10e0v%endtoos penotsrseibviilsittoaudocsornehlaetcoiumeqnuteoasdopsaledsitvrearsscoosntarsibpuecírtaoms culturais daparcaomseuunaidpardene,dliizvaredodee qcounalhqeuceirmpernetcoo.nceito ou distorção. Ao final das edições, a Fundação Municipal de Cultura aplicou uma pesquisa com os participantes, sendo que 100% dosInetnittruevlaisçtaãdoos droelsatomu esquteresasdapacleustlrtaus racotnrtaribduiícraimonapalradeseu aprendizado eBocomnhbeicnimheantso.tipIontditeSualacbiçeêã-nsoceidaqouoseuMoaetrsíttteur,elostítdduealomCueessltstuereraqéuTaertaredinbicuvioíodlnvoeaàl uqdmueeaBleoslomvnebgriasnahcdaaosms ienmhaadlagudmeestudos e pesquisas. No entanto, mestres também são aqueles que repassamo que aprSeanbdee-mse cqoume ao vtíitdualoadoelomnegsotrdeoéteamtripbou,ídfoatoàrqueessleesevsseernsacdiaolspearma aalgum tipo demacniêuntecniaçoãou adrates, atíttiuvliodeadssees qtruaedeicnivoonlavies udmeaulomngpaocvaom. iSnãhoadjausdteamesetnutdeospaerapesquisas. NoedseseeMnstqaesuntteroea,smLdeeaisMtCreuunlttaiucmripabaéTlmrnaoéd1i.ac3iq2ou6ne,aldel edq2eu3eBdroeempjuablsihnsoahdaose.q2Au0e1L3a,eppi,rreednvedêeiancIiocnmitaittuiavlaavçiddãaoa ao longo doverteeamdpoor,a faMtoarreiasseJúelisaseEnmciaíllioa m(Laenguistelantçuãroa d2a0s13a-ti2v0id1a6d)ese treaxdeiccuiotnaadias dpeeluam povo. SãoFujnudsataçmãoenMteuensisceipsaql udeeaCLuelituMruan, icteipmal o13o2b6j,edtievo23ddeevjaullohroizdaer 2o0s13d,epternevtoêraesIntitulação de Mestres da Cultura Tradicional de Bombinhas. A Lei, de iniciativa da Vereadora Maria Júlia Emílio (Legislatura 2013-2016) e executada pela Fundação Municipal de Cultura tem o

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  215dos saberes e fazeres tradicionais da comunidade bombinense. Conforme essalei, a Fundação Municipal de Cultura lança edital, e as indicações podem serfseeimAtasssfiopncesialolçusõcePrsaotdCiveuorltesusràaEiFsxuesnceudmtaiçvfiãnoose, lquLcueregaitfisvoloarsmtivàaorFámucnuodnmaiçciãsiops,ãaoiqsueeespafsoesrcmoiacaliraápçaõcroeamsacisvusalãltiouarreasaipssecialpropaproastaavsa.liAar parsimpreoipraositnatsi.tuAlapçriãmoeaircaoInntteitcuelauçãnooadcioan1te4cedue nnoovdeiam1b4roddeen2o0ve1m4,bero derec2o0n14h,eeceruec2o0nhmeceesutre2s0, mqueestrdeestêqmueodesatébmeronsoatbóerrionodtaórpioesdcaap, edsocaa,rtdeosaanrtaetsoa,ndaato, damemmemóróiraia,,ddaalliitteerraattuurara, ,ddaagagsatsrotrnoonmoiameiadoe fdoolclfoorelc.lore. FoFroarmam iinnttiittuulaladdososMmesetrsetsrensancaatecgaoterigaopreiascpaeoscJao:séJoOsélímOplioím(Mpieostr(eMZeesqtrueinha),ZeOqsuvianldhoa),ReOinsavldaoldodeRMeienloald(Moesdtree MVaerldoinh(Mo),esVtirteal VJaanrduáinrihooM),igVueitla(lMJeasntrueárViiotal) eMcMoaSCingniasluvtorraleoeulslç((MJAMãoodeserséinsãtrtaoeMrvePaaDVlirn:ótihrEitoenal)iilsr;a)os(neM(aMMCeeacssaanttrrtroeeleoeglNsoGrdaAiuaraoed)gSrc;aiielãn)svoataaecPr(iaaMiHtneheMgesreoatmirrnriaeooíneDc(lioMoónJrsoeDotssr)uéta;rçmenãMoáaNazncraitoaairntvoseaV)gl;io(oenMriariEeaaslcitacar(seetMesMtgGeaoasrutrnieriaoaeg:eal)daeHeHremrmínínioio); DnaamcáaztieogoVriieairaeng(MeneshtoredeHefarmriínnihoa); dneamcaantedgioorciaa: CenagnetnahlíociodeCafalirxinthoa deRomcahnadi(oMcaesCtarentaClíacinotaClíacliixoto), RMocahnaoe(Ml eJsotãreo CdaantSailílcviao),(MMaensotreel JBoiãeolindhaoS),ilvRao(sMaestreGeBriaellidnahod),aRSoislavaG(eMraledsatrdaa RSoilvsaa)(MeeSsutrael RGosoan)zeagSauedl eGMonezlaoga(MdeesMtreelo S(uMeels)t;renaSuel);catneagocartieagograiastgroasntoromnoiamiae eagargircicuullttuurraafafmamiliailriaArn:aACnaalixtCo aRlioxcthoa dRaocShilvaa d(Ma eSsitrlavaAna),(MDeusltcreaMAanriaa),daDSuillvcae (MMeasritraa dDaulSciel)vae (SMaleetsetrMaaDriaulPcien)heeirSoaPleetreeirMa a(MrieasPtrainShaeliertoe); na(LSPMaueLdcnríeaezietnstaiadetrbnrogadilaarmoao(r(EaiMSaMErlilzlaezEvearsasamt)tetr;Fr(asaeMrnananuaLSneaeacisctnlilotsaedrdcttaaeoaeeg)LmrSde;oeenaanrndnriLaaaet)iam);ircnfnaeaoaaatladRec(ceMlrgoaoeocsetrnraerseivdigt(arooMedeirHeaeriLraaesittntleeerdfdaorsneonalaEcmbnollLziaoaluadtrrrí)o)oeez;;:abnnEraaaodelzaiircscadea:SanFtetiLeeldrvmgigaaenooniard(rricMmiaaoaisemfãdofcsoolateaclr:craldoPlcoreLErereeiedmLvndroibaeaomo)nHtAiaeeudreieRanrellooeornmedzsdnoaaeaedmereãirioasdaPNedartoivAidiroazdoed(aMNeasttivreidaPdeepe(Mderost)reePMepaendoroe)l eFlMoardnooealrFdloorddoeaSrdeonadeFSilehnoa (FMilheost(rMeestreSeSnean);an);anacactaetgeogroiraialliitteerraattuurraeA: tAílitoílFioraFnrcaisnccoiAscnotãAo n(Mtãeostr(eMAetíslitoreAnAtãtíoli)o Antão)Cerimônia de Intitulação dos Mestres da Cultura Tradicional de BombinhasCerimônia de Intitulação dos Mestres da Cultura Tradicional de Bombinhas

A consertada é um licor a base de café passado, cachaça e especiari21c6ravo, canela, gengibre e erva doce. Ela éColmóquuiiotoNEaAp3r0eacnioasddae Hpisetólorias moradoresCosenrsviedrataprdinacipalmente em datas comemorativas. O nome vem do trabalho fei café passado, que restava do consumo da família, e para ser “consertado” er comAocsodnesemrtaaidsainéguremdileicnotresa.base de café passado, cachaça e especiariasmcoomraodocrreaAsvolpo,ecscaaaisnreedlsaee,ravgiebdneagbpiibdrriaenceeipstaealrmrvtaea-nmdteobceéemm. Edpalarteasséecnommteueitemomoaropautrietvrcaoisas.dOma unpnoeimlcoíespios catarinevemBodmobtrinahbaalshoefleaitotocomma oucmafaé ppasasratdicoipqauçeãroesteasvpaedcoiaclonnsaumvoiddaa fsamocíilaial das famílie, pcaormaAuspenreids“acarodneds,eertajaádboe”q,bueidreaa feeersrvtaaidroptcaromomdbuéozmsiddapemrepsaeeisnlaitnesgeremmdaieotnruitaterrsoc.sasm, unpircinípciiopsalmente durcatfaersintievnidsaesd,eesmdeBfoimmbdinehaasnoe,lamtoommeantuomeampaqrutieciapsaçfãaomeílsipaesciraelcenbaiavmidaas cantoriassocdiealRdeasisfaemBíoliia-sdee-dmaacmomãou.nidade, já que era produzida pelas matriarcas,pfarminícliiapsalrmePceeenbntiseaamdnudarsoacnantenistaossroif,aessadtievFiTdueanrddneaosçddãeeoRfieMmisuedneBicoiapin-adol,e-dmmeoammCeuãnoltt.uoraemprqoupeôass seu reconh comPoenbseanbdidoa tnípisiscoa, caultFuuranld, acçuãlominMaunndiocipcaolmdae LCeui ltMuruanicpiproaplôns° s1e3u18 de 23 derneoc12o30n11h83e,.cdieAm2e3inndtteoenmcçoaãmioooddbeae2b0Li1de3ai.tAéípiipncrateecnsuçelãtruovradarel,sacsausllmeciaiénrpaarcnetdseeorrícvsoatimrcaaasscLaderiaaMctbueernbíiscitdiipcaaa,slque é produdambeublhidear,eqsuedéaprcoodmuzuidnaidpaodrem, ualhléemres ddaecoinmcuennitdivaadre, aalémdivduelginacçeãnotivdareala como umdivgualgsatrçoãnoôdmeliacocodmeoBuommabtirnahtiavso.gastronômico de Bombinhas.Garrafa de consertada Garrafa de Consertada

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  217Pesca artesanal da tainhaPesca Artesanal da Tainha A pesca da tainha é uma tradição de origem indígena que ganhou aicapnosrisflmlioumenêiir,nAzocasqpidaueaoseçdrcoeaorasisadanappçoetrosaisrmicnqiaahuenaeireoéoassupacmosahraçteacogtrarraaanimradoaniçamnoãsaos. dDdrqeeeugeoeliãueroisamg,peveomievsriórtidnaaedrmpníagcameiauansnandjmaáqoueraeleehsxggsoiaiisrmãntioihaa,qsomuuereveaiaqdailnueifzpanluaencêdsidncaaocansiadneoodos,oasspcarinnocaispadleinusmtrupamuenjátoexpisatriaama qpueasncdaoarotsescaonloanl,izqaudoereésaacçaonrioanao, sjácqheugeauramma. Ddeaslesmvieuriatmasahsambielilhdoardiaessrdeaolipzaodvaos ançooprirainncoipaelrainsotrmumaennutosepioarcaoampefesrcraaamrteensatansalpqaurea éa accoannosatr,ujçáãoquneavuaml.a das muitas habilidades do povo açoriano era o manuseio comferrameNnteasssaparaatiavicdoandsetruçoãcoornraevaul.ma grande aproximação entre familiares,amigos e comunidade, que realizam uma vigília diária na praia, que muitasvezes Nineiscsiaa naativmidaadderuogcaodrrae, suemguaegdraunrdaentaeporoxdiimaaeçãaotéeantrneoiftaem. iAliaroebs,searmvaigçoãso eicnoimnutenridraudpet,a dquoemreoavliizmaemntuomdaosvicgaílriadudmiáerisaénfaunpdraaima,eqnutael pmauritaasquveezseesprinoicceiadanaomcaedrrucgoa. dAap, óssegauceapduturarnat,eooredsiauletaadtéo éa dniovitied.iAdoobesnetrrveaaçsãofaimniníltiearsrudpotas dpoesmcaodviomreenstoedoasjucdaardnutmese,sméofuranddaomreesnotaul pvaisraitaqnuetesse, aprpoacsesdeaioo pceelracop. rAapióas, qauceapdteucraid, eomresaujultdadaor éndiavi“dpiduoxaednatredearsedfaem”. ílias dos pescadores e ajudantes, moradores ou visitantes, aFpoatossdeaidoépcaedlaadper1a9ia80,,qcuome daserceiddeesmdeapjeusdcaadrantaain“phua xnaosdvaardaeis,rneadPer”a.ia de Quatro IlhasFoto da dAécpadeascdae 8a0r,tceosmanasalreddaestadeinphesacaédpaattarinihma ônonsiovairamisa, ntearPiraaliaedsetaQduuatarol eIlhmasunicipal.A Lei Estadual no 15922, de 6 de dezembro de 2012, “declara integrante dopatrimônio histórico, artístico e cultural do Estado de Santa Catarina, a A pesca artesanal da tainha é patrimônio imaterial estadual e municipal. A LeiEstadual 15922 de 06 de dezembro de 2012 “declara integrante do patrimônio histórico,

218  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaPesca Artesanal da Tainha”, e a Lei Municipal no 1285, de 4 de julho de 2012,“declara a Pesca da Tainha integrante do patrimônio histórico, artístico ecultural do município de Bombinhas”. Apesar de a pesca da tainha não serpatrimônio exclusivo de Bombinhas, reconhece-se a importância da atividadena manutenção dos saberes tradicionais. A proteção através de leis se faz pertinente pelo fato de a pesca artesanalda tainha ser uma característica da identidade cultural de todo o litoral deSanta Catarina, no caso bombinense, é uma das mais importantes e marcantesda identidade local, aliada a outros costumes de extrema relevância naformação da memória, história e no conjunto de caracteres próprios, emboranão exclusivos, que formam um povo.Antes do inverno – um documentário sobre a pescada tainha em Bombinhas Dentro das propostas de proteção e registro do patrimônio culturalimaterial, a Fundação Municipal de Bombinhas propõe o registro da pescaartesanal da tainha através de uma produção audiovisual. O projeto dodocumentário tem como objetivo justamente registrar a prática da pescae valorizar a atividade, expondo os diversos aspectos dessa importantemanifestação cultural. O documentário, de 37 minutos, executado pela produtora bombinenseTramela Produções, teve a direção de Santiago Asef, roteiro de Marcos AurinoPinheiro e produção de Aline Vieira. Com participação ativa da comunidadepesqueira, retrata o dia a dia do pescador artesanal, suas dificuldades, angústiase alegrias. Também faz um apelo para a manutenção e fortalecimento daatividade. O filme, lançado no dia 11 de setembro de 2013, foi um sucesso jána estreia, impactando e emocionando todos os presentes, pois, ao retratara atividade da pesca artesanal da tainha, propiciou um espelho para acomunidade tradicional, despertou o orgulho, na nova geração, de ser filho,neto ou bisneto de pescador, além de estimular a valorização da atividade queé uma das características mais marcantes da identidade local. O filme também está disponível para download no blog da Fundação deCultura: culturabombinhas.com.br, o que proporciona a democratização doacesso.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  219Capa do documentário Capa do documentárioFarinhada A farinhadFaaerninvohlavdeatodo o processo da produção de farinha, desdea colheita da mandioca, a ralação, a prensagem até a torração. Agora foioficializada como um paAtrimfarôinnhioadhaistóernicvoolveecutlotudroal odepBroocmebsisnohads.aÉcfoeilhtaeita da mednesgdene haoésppoeclaods ocsporílneonndisizoaasgdqeoumreesveiavçioaarmitaonnroarasr.çeãAgoilãéomp, apdraaessaspenrrdoodfoupnçetãelaodaeddaeaplitmfaaçerãinnothona,oasagora foiprática sobrevive paatétrhimojôeneiophoissstióbriilcitoa ea ctruoltcuaradledveivBêonmciabsineheaxsp. eÉrifêenictaiads.eAsde a épocfarinhada começanaquraengdiãooo, spabsosisansãdoo cpoelolacaaddoaspntaoçcãaorrnoopsaerangirenàhroosçapedleos colonizdmuarnadnitoeceas. sDesepmooidsmeeessnteatorséfoqtnruateezidadcaeopnaatliermcaeemontoean,sgaecnapnhrátootirceiaacso,smoabserçebarviianvecraaadstepéiargahesomjee. aeÉs possibilitacontações de “cauesoxsp”.eCriêonmciaasm. aAssFaadrainmhaanddaioccoamperçoantqau, aanmdaotéorsia-bporiismsaãvoaicolocadospara a prensa até dqueemsaaiandbieomcaa. áDgeupao. iDseeploaiséa mtraazsisdaaé pdaesrafeiota eenpgeennehiroadea. começaDcuascáugzu.aDqeupeosisaiaufedasraisnmehsaanémdtiooomrcraeasdneato.tisraqoupeolaviclohnoteecdeammaasssa cseanfatozroiabse, ijause obrincadeira “causos”. Com a massa da mandioca pronta, a matéria-prima va saia bem a água. Depois a massa é desfeita é peneirada. Da águ se tira o polvilho e da massa se faz o beiju e o cuscuz. Depois a fa

220  Colóquio NEA 30 anos de História Esse processo centenário tornou-se patrimônio cultural imaterial deBombinhas, através da Lei Municipal no 1328, de 8 de agosto de 2013, a partirde um projeto proposto pelo vereador Osmarino da Silva. Como justificativa doprojeto de lei, foi considerado que o conhecimento repassado entre as geraçõesé fundamental para estabelecer relações entre as pessoas, possibilitando oconvívio e a troca de experiências, culminando com a produção da farinha demandioca, base alimentar da comunidade tradicional.entre as pessoas, possibilitando o convívio e a troca de experiências, culminando com apRroodduaçdãeoRdaaspfaagrienmhaddeemmaannddioioccaa, base alimentar da comunidade tradicional.Roda de Raspagem de mandiocaCorrida de embarcações a remoCorrida de Embarcações a Remo Trata-se de um encontro entre a comunidade pesqueira bombinense eABa1vcocani5osmnu,intboatdaeialnTnacmhrtedtaaaeeettssaon.d.u-dtÉseomeAeunmcadmponaêeaansipvuuctdremeoeasrcróirsmeeai,ádnaadartcrioeoçdbodnoeBet,odlrconeoaeomzmneaBdonbêoadtoisrmsneem,dihsnraebeeagaicrosnlmo,ipzmmhoaeaanaudsrisnadscç.iaoedapÉd,anroódounxeupariom,lmempjsouedeacsnnoaaqtotmcdeuaoedomniriinrraaraegdip1dnobar5aato,teimmadadcaibdaneotieanimhsecBdanaepossnemreeaxoóunbaeaxiisvnlsitevhcm,ariaass,rsoimácte,aroainoaaolmtnroiedzadseaedsd.udaiaaasodepelsacbaudtoar ddiaártaiain.ha, exalta com sua canoa de um pau só a beleza de ser pescador,juntamente com seus camaradas de labuta diária. Em 17 anos evento é inegável os bons resultados colhidos. A cada ano, maispescadores participam da corrida e, desde 2005 canoas de outros municípios, comoGaropaba e Florianópolis, também trazem suas canoas e juntam-se aos bombinenses.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  221 Em 17 anos de evento, é inegável os bons resultados colhidos. A cadaano, mais pescadores participam da corrida, e, desde 2005, pescadores deoutros municípios, como Garopaba e Florianópolis, também trazem suascanoas e juntam-se aos bombinenses. Esse intercâmbio entre os pescadores ébastante enriquecedor, e manifesta o orgulho pela profissão. A cada edição da corrida, a Fundação Municipal de Cultura mobilizapescadores e visitantes a prestigiarem o evento, que acaba sensibilizando atodosAqcuaadnateodiaçãiomdpaocrotrârnidcai,aa dFaunmdaaçnãuotMenuçnãicoipael dpereCsuelrtuvraaçãmoobdileizsasapeastciavdidoaredseevpiseistaqnuteesiraa,pbreesmtigicaoremmoocehvaemntoa, aquaeteancçaãboa speanrsaibailsizaenmdobaarctoadçoõseqs:uacnatnooaasim, pmourtâitnacsiaddaelmasancuetnenteçnãoáreiaps,refseeitravasçdãeo fdoersmsaa aatrivtiedsaadneapl,eqsquueesirea,trbaenmsfcoormmoa, mchanmaaprainacteinpçaãlopaatrraaçaãsoedmabparrcaaiaçõ! es: canoas, muitas delas centenárias, feitas de forma artesanal quetCraannsofaosrmseapmo-ssiceionnaanpdrioncpiapraal aatcroarçrãidoada praia!Canoas se posicionando para a Corrida



250 anos da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos250 anos da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos Rogério João Laureano 250 anos da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos Rogério João Laureano Rogério João LaureanoandPidnsihEobIeeaamrssebismmstohjSnjsaatieaeaóciogtiIhboEntsmufnr0rnieibeismmitvisaed1mnjcíaEatóteoçdiaeóaegea,tr,rmcnf0rdieãndoiivooide1mdcCseatoeaoaene,eedv,cdd,n,addbs1roeejdeteeistoeadeonemdevaesgn,desneesj1dSrnideosaudrmdemeien7ieaeedeemsanrSnefsndre6aomireoieaavamhanrcj5nnddaooao.tvedhcanus,eilrnfAoonetuovãmnducielrfeneJevdmntnaoiaed2nsreiJeIdoamsres2srr0fo,d-esiuoo0umds-s1aduoss1eael5ssnsoel5uescdamuu,fcP,mdfPcrumicnuioeaarraararlaalamaamstadfsbtdooçiiisstt2issIiejIieanoomãavrve0rasamdnsaaomsonotno1uonosafeoias.ltf,ao5vtiumngc,poSginicpdodSo,greicaeodormfaaaesnomruoapmfaddsnhpauenpóeddohSlepdent,sóIeteraoirailedrdtsteatevdodrosominrJaddtuatoaeeodiiovmohJscndSssuanaueeisiieo,eoonsstcna2Smnincnnurit5sihddeauoodosst02voiniJíionaasmdtm5reoahsdauddoi0s0onilinJíoapaPseavu1ddersntsaetsnloeiisoi0dseusndtgJarsstPdues1dtePs.oneaoeioaetosçsjonadisdsuasaõutosssnFdueSscdeees.soseise2iuuecoçisojtsdard5aPanaõelro-orsetnFafr0eeaáshsuossedSisfeudsngacoieoasoadruadaPinnermsofiaca1reotaf,irçoára7iaurfsdJãdSoa6ursmSsnCgeioces5aão.ndn.uaessa,nFmsodetaau1anddat,ccoçira7eiraosihcdnaãisaa6rmnCiaoçdocsso5dãaiunã.rasan,ra,ooaaaooádtpdsacJcosnmetrreoiiiaoomsntPçsauupaunãadr,siooóaaascçisasdaõoidote1soasso, Em julho de 1782, a Irmandade iniciou a prática de obras de caridade epassou a prestar assistência a doentes, pobres e desvalidos. Foi nesse períodoque surgiu a instituição da “Caridade dos Pobres”, marco inicial para aimplantaEçmãojudlheoudem17h8o2,sapIirtmaalncdoadnehineicciioduoaepmrátigcaradenodberaps adretcearpidealdoe einpeassstoiumaável valorde sepuresttarrabasasilshtêon.ciaAaoIsrmdoaenntedsa, dpoebraessseudmesivualiodost.raFobianlehsote dpeeríoadjoudquaer saursgipu eassoas quechegianvsEtaimtmuiçjuãaolhIdolahd“aeCda1r7oid8aD2d,eeasdotIersmrPraoonb.dreasd”,eminaircoioiuniaciaplráptaircaaadiempolbarnatasçdãoe dcearuimdahdoespeitpaal ssou a presctaornAhaetsucsidaisoltmêenmecingartaena,doesapdIarortmenpateenlso,dinapeodsbteirmedásvoelSvdeaenlsovhradoleirdsoeJues.struFabsoaidlhnooe.sAstPeIrampsaesnroídosadéoe amqssuuaemnistuuerngeiudoara ereinssptoiotuntirsçaábãaovlehdoladp“eeCaljaaurdiaadrdaadmsepidensosisosatPsroqabuçreãecsoh”,e,gmmavaaarmncouatiIenlhinacçidaãoloDpaeesrtaezraeroli.ompdloantIamçãpoedreiaulmHhoossppiittaall de conhecidoAteumalmgerannted, eapaIrrtme apnedlaodeinedsotimSáevnheol rvaJleosrusdedsoesu tPraasbsaolshoé.AmIarnmteanneddaodrae aessumiu o trarbesaplhonosdáveeal jpuedlaaraadsmpineissstroaaçãsoq, umeacnhuetegnaçvãoame zaeIlolhdaodIomDpeersitaelrHroo.spital de Caridade, da Capela Menino Deus, da Casa de Apoio, do Cemitério, de todos os seus bens móveis Atualmente, a Irmandade do Senhor Jesus dos Passos é mantenedora e

224  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaCaridadee,imdaóCvaepieslaeMdeenminoaiDseautsi,vdiadCaadseasdereAlpigoiioo,sdaosc,ecmoitmérido,edsetatoqduoes para as feos seusàbPenrsomciósvseãisoediomóSveenisheodredmoasis Pataivsisdoadse.s religiosas, com destaquepara as festividades relacionadas à Procissão do Senhor dos Passos. Há 249 anos, a procissão ganha as ruas do centro da capital catarinense,psearuamoandtreaadtirçaãiHomqáiulhe2ac4roe9ms dapenlefoitéasis2a5to0dPaonrsoooscsieasmnsoã2so0d1ug6r.aaAnnthfeeasatQiavisudaarrdueseamtseavd,eroeinpcíecteiionndteromo- da capita1766, dmoisilahnaorseaspódseufmiéaiesmtboadrcoasção,scoamnodsesdtiunoraànctiedaadeQdue aRrieosGmraan,dreepetindo-s(RS), ter atracado na Ilha do Desterro trazendo a imagem baiana de SenhorJesus docsoPmaspsoles.tPaorr 2um50a vaontoadseedmivin2a0, a1ss6im. Aacrfeedisttaimviodsacdateólitceovs edaiInlhíac,io em 176a vinda por engano da escultura que rememora um das cenas do sofrimentode JesuesmCbriastrocacrçuãcoificcaodmo sde etosrtninouo saímcbiodlaoddee ddevRoçiãoo.GAraimnadgeem(RteSm), ter atracacmoomboiligztauraaprzadreiaãnmdaaoInrtmaerainvmidvaaadgeesesdmaotrSabedanicihaioonrnaaJelsdfueesstidSvoiedsnaPdhaeoscsrorissJ,teãqs.u ÉuesaalindquouaselmaPecnaidtseasdosees. Por umase encoanctrrae,dquiteatmodaossascgaetróaçlõicesosse udnaemIl.ha, a vinda por engano da escultura cenas do sofrimento de Jesus Cristo crucificado se tornou sí imagem tem como guardiã a Irmandade do Senhor Jesus dos Pas mobiliza para manter viva esta tradicional festividade cristã. É encontra, que todas as gerações se unem.

mobiliza para manter viva esta tradicional festividade cristã. É aencontra, que todas as gerações se unem.  225 Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina Eu tenho muito orgulho dessa tradição que começou em 1765,valorizando a originalidade e autenticidade da religiosidade açoriana desdeEquetfeoni chroiadma.uAitIormoarngduadlhe oreadliezastaaPtrroacdisisçãoãodoqSueenhcoor mdoes çPoasusoes,mma1io7r65, come mais antiga manifestação religiosa de Santa Catarina, que foi tombada pelooCroignsienlaholidEastdadeuael deaCuuteltnurtaicciodmaodePatrdima ônrieoliCguilotusriadlaIdmeateraiçalodreiaSnanata desdeCatarina em 2004 e está com processo em andamento, junto ao Instituto do PAaçtorrimianôanieomHSiastnótraicCoatearAinrtaí.stico Nacional (IPHAN). Preservando a HerançaPalavra-chave: Irmandade, Herança Açoriana e Religiosidade.Referências CABRAL, Oswaldo R. Nossa Senhora do Desterro, Florianópolis: Lunardeli, 1979. v. 1 e 2. FONTES, Henrique da Silva. A Irmandade do Senhor dos Passos e o seu Hospital, e aqueles que os fundaram Florianópolis. Editora do Autor, 1965. PEREIRA, Nereu do Vale (Org.). Memorial Histórico da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos. Florianópolis: Ministério da Cultura, 1997. v. 1 e 2. *E aos fotógrafos que no passado registraram a memória da procissão.



A linha invisível: somos aquilo que não esquecemos! Rosane Luchtenberg Registrar a essência da cultura popular existente através do audiovisualnuma linguagem cinematográfica é de extrema significância, uma vez que amemória viva é vista e reconhecida, acendendo a valorização das referênciasculturais populares da comunidade e promovendo o entendimento mais amplopara o processo de salvaguarda do patrimônio cultural. O curta-metragem relata a história do Engenho do Sertão com acomunidade tradicional de Bombinhas nos quase 20 anos de existência dainstituição. O filme, que estreou em dezembro de 2014, registra a identidadecultural viva na comunidade tradicional, através dos fazeres e saberes,dos cenários e espaços tradicionais e da presença marcante de pessoas querepresentam as várias linguagens da cultura popular dessa comunidade. Oroteiro foi desenvolvido dentro de uma narrativa que funde a história doEngenho do Sertão e a memória cultural presente no cotidiano de um povo.A obra é idealizada pela presidente do Instituto Boimamão Rosane Luchtenberg,dirigida pelo cineasta Santiago José Asef, com roteiro do poeta popular MarcosAurino Pinheiro e produzido pela artista Aline Lúcia Vieira. Depois de exibições em mostras, eventos e ações culturais, o filmeserá disponibilizado através do canal do Vimeo, em junho de 2015, parademocratizar o acesso a esse registro.

228  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaO filme está disponível em: <https://vimeo.com/tramela>.

Casa dos Açores de Santa Catarina: 15 anos de valorização, promoção e divulgação da açorianidade Sérgio Luiz Ferreira A Casa dos Açores de Santa Catarina é uma das 13 casas dos Açores queexistem onde há açorianos ou descendentes fora do arquipélago. É uma espéciede consulado dos Açores e está ligada à Direção Regional das Comunidadesdaquele governo regional. Existem casas dos Açores em Portugal continental,Estados Unidos, Canadá, Uruguai e quatro casas no Brasil (Rio de Janeiro, SãoPaulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Essas casas compõem o ConselhoMundial das Casas dos Açores (CMCA). O incentivo e apoio da equipe da Direção Regional das Comunidadesforam fundamentais para que a Casa dos Açores de Santa Catarina fosse criadaem 1999. O idealizador da Casa foi o artista plástico Jone Cezar de Araújo.Como primeira providência, ele reuniu um grupo de pessoas interessadas nacultura de origem açoriana. Juntos fizeram um abaixo-assinado que circulounas localidades onde estavam presentes os descendentes de açorianos. A adesãofoi maciça, tanto por parte dos descendentes de açorianos, de autoridades,como também das outras etnias formadoras da população catarinense. O referido documento foi apresentado em uma reunião do Núcleo deEstudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (NEA/UFSC),tendo recebido o aval da maioria de seus membros. Era o início de nossahistória, que contou com a orientação fraterna da Casa dos Açores de SãoPaulo. Sem qualquer vinculação política ou institucional, o nosso maior obje-tivo é propiciar a integração dos descendentes luso-açorianos, que valorizema herança cultural açoriana e que promovam as nossas manifestações maissignificativas deixadas pelos nossos povoadores aqui chegados entre 1748 e1753.

230  Colóquio NEA 30 anos de História A Casa dos Açores de Santa Catarina tem por missão atender, atravésde suas iniciativas, as comunidades de descendentes de açorianos do litoralcatarinense. Nesse contexto, a entidade, objetivando alcançar essa meta,vem buscando ações e projetos com maior participação e envolvimento dascomunidades. Para isso, trabalha e procura identificar, nas manifestaçõespopulares mais tradicionais da Ilha e do litoral, legados que transpuseram otempo por gerações e ainda estão presentes em nossos dias. Acredita, comisso, atender ao compromisso eterno de manter viva as nossas raízes maisprofundas. A Casa dos Açores, desde o início de suas atividades, vem assumindodiversos projetos culturais. Entre eles, destacam-se alguns, como o Centro deReferência das Rendeiras e a Restauração da Casa do Vigário, na Lagoa daConceição. Outro destaque são as efetivas parcerias feitas com a FundaçãoFranklin Cascaes e o NEA/UFSC, que conjuntamente desenvolvem ações nascomunidades e eventos tradicionais, como as Festas do Divino Espírito Santo,valorização das rendeiras de bilro e o AÇOR. O Grupo Folclórico da Casa dos Açores de Santa Catarina chama-se“Balho & Tocata Raízes Açorianas” e foi fundado em 29 de maio de 2010.Além de apresentar as danças típicas açorianas, esse grupo valoriza e promovetambém a cultura local, sendo uma delas o hino de Florianópolis, “RanchoAmor à Ilha”, que faz homenagem à Ilha de Santa Catarina, considerada adécima ilha dos Açores.

Associação folclórica mixtura Silvio Manoel Pinheiro Filho Boa tarde a todos, me chamo Silvio Manoel Pinheiro Filho, morador deBombinhas SC, vim aqui hoje dar um relato sobre uma experiência magníficaa qual tenho o prazer de participar há mais de 15 anos. Sou atualmente otesoureiro e ensaiador da Associação Folclórica Mixtura, fundada no dia 12de junho de 1999, quando eu tinha apenas 9 anos de idade. Hoje, 15 anosdepois, posso dizer que, junto com a nossa presidente, coordenadora efundadora do grupo, somos os integrantes mais velhos, digo, “experientes”, doGrupo Folclórico Mixtura, um grupo que, no início, era para ser apenas maisuma quadrilha de festa junina, mais que, graças à Professora Vera Eli PereiraPires, não se tornou apenas isso. Com o intuito de fazer uma apresentaçãoque contemplasse a cultura local, confeccionamos um PAU DE FITAS e,com um arremedo de toucas portuguesas e ao som de Roberto Leal – quenão era açoriano –, dançamos o “BATE O PÉ” e o “VIRA”. Nas apresentaçõesseguintes, melhoramos o figurino e começamos a bailar o ARCO DE FLORES,já com trajes padrões. Naquele mesmo ano, devido ao “sucesso”, fomosconvidados para dançar em festas juninas de outras escolas, em barraquinhasde supermercados, aquelas de São João sabe?! O cachê? Esse era altíssimo,um cachorro-quente para cada integrante, e já nos sentíamos “celebridades”(risos). No mesmo ano de 1999, participamos do nosso primeiro açor, em PortoBelo, a convite da Secretaria de Educação e Cultura de Bombinhas, após a suasecretária assistir a uma apresentação nossa na Escola Básica de Bombas. Em2001, estivemos no Açor de São José, onde podemos ver e conhecer outrosgrupos já formados, como o grupo Arcos, coordenado pela Profa. Ana LuciaCoutinho, o Rancho Açoriano de Criciúma e também a casa dos açores doRio Grande do Sul, com quem aprendemos muito. Como éramos um grupode 40 crianças bailando entusiasmadas, ao som de um CD, começaram achover convites para nos apresentarmos. Posso dizer que foi nessa época que

232  Colóquio NEA 30 anos de Históriaconhecemos a maioria das cidades do litoral Norte de Santa Catarina. Comoainda estávamos engatinhando e, por falta de material suficiente dos bailesaçorianos, também fazíamos apresentações do folclore gaúcho, que pertenciaà cultura de muitos de nossos integrantes. Em 2002, no AÇOR de tijucas,tivemos o prazer de conhecer Joi Cletson, coordenador do NEA, o qual, nadata, nos fez um convite para participarmos do Conselho Deliberativo doNEA, incentivando-nos a aprofundar nossas pesquisas, nos emprestandomaterial de áudio e vídeo de grupos folclóricos dos Açores. Pela insistênciade nossa coordenadora, filmávamos e assistíamos os grupos mais antigospara aprender novos bailes, posturas, trajes, nos transformando aos poucosnum grupo folclórico que lembrasse nossos antigos colonizadores que um diabailaram para seus santos padroeiros ou para matar a saudade da terra natal.Participamos, com exceção do Açor de Garopaba, de todos os outros maioreseventos da cultura açoriana. No ano de 2005, fomos agraciados com um convitepara participarmos do 1o encontro de ensaiadores de grupo folclórico dosaçores, “A Bailar é que a agente se entende”, nas ilhas do Pico e Faial. Após essecurso e a ida aos Açores pela nossa primeira vez, houve uma transformaçãogeneralizada no grupo, pois lá aprendemos muito das danças, dos trajes e dahistória do povo e tivemos contato com outros grupos de outros estados epaíses de colonização açoriana. Trocamos nossos trajes, que eram até entãopadrões, por roupas de nossos avós, a mais antiga possível, e já em 2005, noAÇOR em Barra Velha, alteramos totalmente o nosso repertório, dançando aosom do Grupo das Doze Ribeiras, da Ilha Terceira; do Grupo dos Flamengos,do Faial; e do Grupo Ilha Morena, do Pico. Em 2007, sob o patrocínio do NEA/UFSC e com o apoio da Direção dasComunidades/Açores, ministramos cursos de Danças Folclóricas Açorianasem 4 polos do litoral catarinense: Itajaí, São José, Laguna e Sombrio. Duranteesses cursos, recebemos mais de 100 professores e agentes culturais paraformação de novos grupos e capacitação de grupos já formados. Como paracriar e manter um grupo folclórico é preciso uma grande dose de persistência epolíticas públicas voltadas para a cultura, dos grupos que deram continuidade,temos como exemplo gratificante a Casa da Dindinha, em Laguna, e oGrupo Alma Açoriana, em Barra Velha. No mesmo ano, fomos agraciadoscom o Troféu Açorianidade, pelo qual nos sentimos honrados e plenamentehomenageados. No ano de 2008, Bombinhas assinou um protocolo de Cidade Irmã dasLajes do Pico. Com esse protocolo e o apoio e orientação do Joi, do NEA, nosprogramamos e fizemos um intercâmbio cultural em agosto de 2008, indo atéos Açores nas ilhas Terceira, Pico, Faial, São Jorge e São Miguel, e com certezafoi mais um aprendizado de grande valia para nosso grupo.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  233 No ano seguinte, recebemos nossos “irmãos” de Lajes do Pico,O Grupo Folclórico da Casa do Povo de São João, coordenado pelo senhor JoséArmindo, onde laços indissolúveis foram amarrados. Paulo Henrique Neto,grande tocador e professor de violão, ao recebermos de presente da Câmaradas Lages do Pico nossa primeira viola de dois corações, se entusiasmou tantoque criou e coordena até os dias de hoje nossa “TOCATA”. No ano 2010, retornamos ao curso de ensaiadores na Ilha Terceiracom o Grupo das Doze Ribeiras, onde D. Vera, Luiz e Marília, durante 30dias, estiveram com os grupos folclóricos das ilhas de São Jorge, São Miguel,Santa Maria, Pico, Faial e Flores, acrescentando vários bailes ao repertório doMixtura. Só não tivemos contato com os grupos das Ilhas do Corvo e Graciosa,por isso tão poucos bailes apresentamos dessas duas ilhas. No mesmo ano,nossa fundadora recebeu o Troféu Açorianidade como Pesquisadora. Em 2012, mais uma vez o Grupo Folclórico Mixtura foi convidadopara ministrar um curso de dança folclórica açoriana na cidade de São José.Entre nossos alunos, tivemos a presença de grupos já constituídos e de outrasetnias como o grupo 25 de Julho, de Blumenau. Foi ótimo, pois ensinamos eaprendemos. Atualmente temos em nosso repertório mais de 90 bailes das 9 ilhas dosAçores: Pico, Faial, Terceira, S. Jorge, S Miguel, Graciosa, Flores, Santa Maria,Corvo.

234  Colóquio NEA 30 anos de História O Mixtura, como somos chamados, já é mocinho, completou 15 anosem 2014, este ano, com 16 anos, já podemos “votar”. Nossos agradecimentos. Silvio Manoel Pinheiro filho e Vera Eli Pereira Pires (a duas mãos )

Grupo folclórico São José da Terra Firme São José da Terra Firme em Busca de sua identidade cultural Adriano de Brito No final da década de 1990, o grupo iniciou um trabalho de pesquisa nomunicípio de São José, para obter da população informações acerca de nossosantepassados. Inicia-se uma pesquisa de campo, então, com o objetivo de construirum diagnóstico cultural, contando com a participação precisa do Núcleo deEstudos Açoriano (NEA), entidade fundamental para a confirmação de nossaidentidade cultural. São José, originalmente São José da Terra Firme, importante polocultural da Grande Florianópolis, com características marcantes da imigraçãoaçoriana, ocorrida no século XVIII, guarda consigo até os dias atuais marcasdesse legado histórico em seus costumes e em um rico conjunto arquitetônico,situado no Centro Histórico. Em seus casarios, percebe-se notadamente apresença do povo açoriano em nossas terras, com sua chegada assinalada emoutubro de 1750. Com o passar do tempo, essas marcas permaneceram entranhadas nasparedes centenárias desses casarios e em festividades religiosas e folclóricas,mas a identificação do povo como sendo uma cultura desenvolvida a partir deuma construção com base na cultura açoriana foi-se perdendo em virtude dagrande quantidade de pessoas de várias origens étnicas culturais que para cá sedeslocaram, favorecendo aculturações, processadas ao longo do tempo. Sendo diagnosticada essa perda de identidade, o município de SãoJosé, que já havia sido reconhecido como a Capital da Louça de Barro,necessitava urgentemente buscar em suas raízes informações necessárias

236  Colóquio NEA 30 anos de Históriapara o reconhecimento de sua história e a valorização de sua gente. Essasinformações seriam repassadas aos alunos de Rede Pública Municipal deensino, os quais também serviriam de condutores de informações trazidas deseus lares, colhidas com seus avós e parentes mais idosos. Com a socialização desses saberes entre alunos e professores daRede Pública Educacional de São José, mais a participação do NEA e osconhecimentos históricos trazidos pelo Professor Vilson Francisco de Farias,São José entra no ano 2000 com um forte movimento de valorização de nossahistória. No ano 2000, é lançado o livro São José: 250 anos ‒ natureza história ecultura, de autoria de Vilson Francisco de Farias, marco de extrema importâncianessa busca de nossas origens. No ano de 2002, foi organizada uma viagem de estudos para a IlhaTerceira, em Açores, Portugal. Embarcou, rumo ao arquipélago português,um grupo de 40 professores do município de São José, os quais objetivavamconhecer as terras e a cultura daquele povo, de onde há mais de 250 anoshaviam partido 188 casais para darem início ao desenvolvimento econômicoe administrativo do município de São José. Posteriormente, essas informaçõesforam repassadas aos alunos da Rede Pública Municipal. No mesmo instante, esses professores levaram para o povo açorianouma grande quantidade de atividades culturais e folclóricas, desenvolvidas emSão José pelos açorianos que aqui chegaram a partir de 26 de outubro de 1750. Na “bagagem cultural” que partiu com os professores para os açoresem 2002, além de atividades envolvendo uma peça teatral contando a sagaaçoriana em nossa terra (espetáculo “Terra à Vista... São José da Terra Firme”,dirigido por Carmem Fossari), brinquedos e brincadeiras populares de cunhoaçoriano, havia ainda a dança do Boi de Mamão, montado exclusivamentepara ser apresentado na Ilha Terceira, Praia da Vitória. A montagem do boi de mamão contou com a participação fundamentaldo Senhor Gelsi José Coelho (o Peninha), do NEA, e do representante doGrupo Folclórico Filhos da Terra, do município de Palhoça, o Senhor LuzairMartins. Nascia, assim, o Grupo Folclórico São José da Terra Firme. A meta do grupo de buscar a identidade cultural de São José segueseu rumo através das apresentações do boi de mamão e de participações emdiscussões nas comunidades, principalmente junto às crianças das redes deensino pública e privada. Hoje estamos na luta pela valorização de nossa gente e de nossa história.A dança do boi de mamão, desenvolvida pelo grupo folclórico, associada asimples existência desse mesmo grupo, faz com que São José continue suas

atividades culturais exaltando sempre a forte e importante presença açorianaem nossa região. Ao longo dos tempos, o Grupo Folclórico São José da Terra Firme lutapara manter viva a chama da cultura de base açoriana. Atualmente, mesmo sem apoio institucional, o grupo segue firme nafortificação da identidade cultural do município de São José. A cultura não pode ser desprezada. A força de um povo está na históriadaqueles que anteriormente fizeram parte dele e contribuíram de formapositiva para o engrandecimento do município. Temos o dever, enquanto detentores desses saberes, de repassar asinformações para todos os que nos cercam, contribuindo, assim, para mantervivo o nosso legado cultural, investindo direto na manutenção de nossamemória e na valorização de nossa gente.



Literatura de tradição oral de basecultural açoriana: pistas para o imaginário em São Francisco do Sul, SC Andréa de OliveiraResumo: O trabalho aqui apresentado tem como temática a literatura detradição oral como patrimônio imaterial presente na cultura de base açorianana cidade de São Francisco do Sul, SC. A idealização e concepção epistemológica da referida pesquisa surgiua partir de vínculos criados por meio dos esforços do Núcleo de EstudosAçorianos (NEA), percebidos durante as reuniões de capacitação comprofessores no citado município no final da década de 1990, onde se tornouconhecida a metodologia das fichas de mapeamento proposto pelo NEA para aidentificação e registro de aspectos ligados à cultura de base açoriana no litoralcatarinense. O objetivo central da proposta foi investigar a existência de tal literatura,que envolve narrativas fantásticas, provérbios, versos de ratoeira entre outrasformas, e desenvolver o registro, tornando público os resultados.Palavras-chave: Cultura de base açoriana; Literatura; São Francisco do Sul. São Francisco do Sul foi povoada inicialmente por portugueses,vindos da Região de São Vicente, São Paulo, no século XVII. Localiza-se “namicroregião de base cultural-açoriana no litoral Norte de Santa Catarina”(FARIAS, 2001, p. 427). Outros portugueses vindos dos arquipélagos dos Açores e da Madeiratambém se acomodaram na região. Muitos casais de açorianos e madeirenseschegaram ao litoral catarinense entre 1748 e 1756, para realmente concretizaro povoamento da calha Sul da Floresta Atlântica. Segundo Santos (1999, p. 59), a coroa portuguesa dá instruções aogovernador do Rio de Janeiro, por meio de uma provisão régia datada do ano

240  Colóquio NEA 30 anos de Históriade 1747, determinando que os casais idos da Madeira e dos Açores “deveriamser instalados no Brasil, entre São Francisco do Sul e o Morro de S. Miguel.”O que norteia o entendimento de que nossa região tenha recebido tambémportugueses originários das ilhas, e não somente de Portugal continental. Do século XVIII a meados do século XX, a produção de farinhaimpulsionava a economia de São Francisco do Sul, em função de seus muitosengenhos de farinha que foram aprimorados e mantidos principalmente pelosaçorianos e seus descendentes. Constata-se, no referido município, a presença de cultura de baseaçoriana, expressa por meio dos saberes e fazeres, das narrativas fantásticase outras manifestações da oralidade, das crendices, da produção artesanal, dareligiosidade entre outros. Piazza (1999, p. 377) nos mostra que, a partir do povoamentoaçoriano em Santa Catarina, são observados resultados que devem serobjeto de reflexão pelos estudiosos e que podem ser percebidos nas áreas:político-administrativa, econômica e cultural. As manifestações culturaisforam discutidas e qualificadas por Piazza (1958, p. 129-142), em sua época,como sendo a “vitória da cultura popular açoriana em Santa Catarina”.É fato que seus desdobramentos atingem um campo vasto e digno deaprofundamento. Considerando todos estes fatos, é que se deu a escolha do objetode pesquisa para o desenvolvimento deste estudo: as narrativas e outrasmanifestações expressas pela oralidade, que participam da cultura de baseaçoriana e que permeiam o imaginário dos moradores de São Francisco do Sul. O estudo aqui apresentado foi desencadeado a partir do curso decapacitação oferecido pelo NEA, no ano de 1998, aos professores da RedePública Municipal em São Francisco do Sul, onde foram obtidos os primeirosembasamentos metodológicos que nortearam a pesquisa. A partir de pesquisa de campo com uma abordagem etnográfica, foramexecutadas entrevistas gravadas e a transposição das fichas de mapeamentopropostas pelo NEA: narrativas, provérbios, versos de ratoeira, orações,cantigas e quadrinhas foram registradas. Cerca de cinquenta e cinco pessoasforam entrevistadas e contribuíram para a recolha que, após ter sido organizada,resultou em dois livros. O primeiro, publicado no ano de 2009, tem relaçãocom a parte inicial da pesquisa, que se deu em uma comunidade de pescadoresdenominada Iperoba, e foi intitulado Retalhos do Iperoba: estórias colhidas emum pé de araçá; e o segundo, intitulado A PA-lavra entre o oral e o escrito: umregistro de literatura de tradição oral em São Francisco do Sul, foi publicado noano de 2012. Para essa segunda parte da pesquisa, pessoas de diferentes áreasdo município foram entrevistadas.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  241 Os resultados obtidos com a pesquisa demonstram a presença deliteratura de tradição oral de base cultural açoriana em São Francisco do Sul eque tal literatura pode ser compreendida como patrimônio. Deve-se considerar que a literatura de tradição oral no Brasil e emPortugal esteve diretamente ligada aos estudos folclóricos e foi, por muitotempo, relegada a uma condição de inferioridade em relação à literaturaformal; era considerada algo primitivo, cujo valor não alcançava o da escrita. No passado, ouvir e contar histórias aproximava as pessoas, definiavalores e orientava simbolicamente a estrutura social. Sua modalidade oralantecede à literatura escrita e a formal da maneira como são conhecidas hoje.Deve-se considerar, ainda, o fato de que a memória oral constitui tal literatura eela própria significa um patrimônio cultural, um filão importante que percorregeração por geração e demonstra sua fecundidade na alma humana. Comoafirma Parafita (1999, p. 61), a literatura popular de tradição oral, as crenças e as superstições e outras manifestações tradicionais são tão ou mais valiosas para o conhecimento e compreensão da história e etnopsicologia dos povos do que as ruínas dos monumentos ou os fragmentos das inscrições. Por meio da literatura oral, os homens perpetuaram sua própria história,seus saberes e sua cultura.Apresento aqui alguns exemplos de tal literatura queforam registrados em São Francisco do Sul comoresultado da pesquisaNarrativa fantástica:As bruxas roubaram a canoa de um pescador do Iperoba“Contam os antigos que uma vez aqui no Iperoba tinha um pescador que chegouno porto para pegar sua canoa, encontrou ela suja de areia e molhada. Entãoele resolveu que naquela madrugada ele ia ficar na espreita, escondido pra verquem mexia com a canoa dele. Ficou ali no panero da canoa escondidinho. Foiquando ele espiou duas mulheres que vinham rindo, gargalhando e entraramna canoa. Então elas encantaram a canoa e foram flutuando sobre a água atéparar numa ilha. Lá saíram e foram fazer estripulias com outras mulheres.Eram as bruxas.

242  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaNa vorta elas vinham naquela rindo de algazarra e diziam assim: mas que cheirode carne humana. Elas sabiam que o homem tava ali e queriam colocar medonele. O coitado ficou rezando o Creio em Deus Pai bem baixinho.Quando chegaram no porto elas saíram rindo. O homem foi pra casa correndocontar pra mulher o que tinha acontecido. Daí, no outro dia o homem volto noporto e a canoa tava suja e encima da canoa tinha um galho de pimenta do reinoque era a prova de que elas tinham ido lá pro reino.Estória contada por Rita de Oliveira Corrêa, que encontra-se no livro Retalhosdo Iperoba – estórias colhidas em um pé de araçá. (2009).ProvérbiosHóspede e pescada aos três dias enfada.Mofas com a bomba na balaia.Aquele não dá o quinhão pro gato.A formiga quando quer se perder cria asa.Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.Lua nova trovejada, trinta dias de molhada.Casamento e mortalha no céu se talhaVersos de ratoeiraRatoeira bem cantadaFaz chorar, faz padecer,Também faz um triste amantede seu amor esquecer.Meu galho de rosa me manjericãoDá três pancadinhas no meu coraçãoMeu galho de malva minha flor de aurora.Não posso passar sem te ver toda hora.Fiz a cama na varandaE esqueci o cobertorDeu um vento na roseiraEncheu a cama de flor.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  243Versos de pão por DeusLá vai meu coraçãonesse papel rendilhadoVai pedir pão por Deusa quem é do meu agrado.Aqui vai meu coraçãoNas asas da andorinhaVai pedir pão por DeusA minha querida madrinhaOraçãoSanto Antônio disse a missa,o senhor barreu o altar.Nossa senhora me benzeu,na hora de me deitarCom três cravos me abracei,com Jesus me deiteiCruz na testa,cruz na boca,cruz no peito,cruz na cama onde me deito. Provérbios, versos de ratoeira, versos de Pão por Deus e oração contadaspor Luci Maria Dutra. Encontram-se no livro; A Pa-lavra entre o oral e oescrito: um registro de Literatura de Tradição Oral em são Francisco do Sul.(2012). Pode-se afirmar que o desenvolvimento dessa pesquisa e a realizaçãodas mencionadas publicações foram possíveis a partir das influências econtribuições do Núcleo de Estudos Açorianos na formação da própriapesquisadora e no impulsionar a identificação e compreensão da cultura debase açoriana presente no município de São Francisco do Sul, como aconteceutambém em outros municípios do litoral catarinense.

244  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaReferênciasFARIAS, Vilson Francisco de. De Portugal ao Sul do Brasil/500 anos: história-cultura-turismo. Ed. Do autor. Florianópolis: 2001.OLIVEIRA, Andréa de. Retalhos do Iperoba: estórias colhidas em um pé de araçá.Joinville: Todaletra, 2009.OLIVEIRA, Andréa de. A PA-lavra; entre o oral e o escrito: um registro de literaturade Tradição Oral em São Francisco do Sul. Blumenau: Nova Letra, 2012.Parafita, Alexandre. A comunicação e a literatura popular. Lisboa: PlátanoUniversitária, 1999.PIAZZA, Walter F. A epopéia açórico-madeirense (1746-1756). 2. ed. Edição doCEHA – Centro de Estudos de História do Atlântico. Funchal: 1999.PIAZZA, Walter F. A vitória da cultura popular açoriana em Santa Catarina. Angrado Heroísmo. Boletim do instituto histórico da Ilha Terceira. Xvi (16). 1958.SANTOS, Maria Licínia F. dos. Os madeirenses e a colonização do Brasil. Funchal:Centro de Estudos de História do Atlântico, 1999.

Projeto Cantares e Fazeres da Ilha de Santa Catarina Claudio Agenor de Andrade Uma iniciativa da Associação de Moradores de Santo Antônio de Lisboae Casarão e Engenho dos Andrade. Acreditamos que a transmissão da cultura passa indiscutivelmente pelocrivo da oralidade, e foi baseado nessa tese que o projeto Cantares e Fazeresfoi sedimentado. É importante salientar que, apesar da metodologia de execução seguiralguns padrões utilizados no meio acadêmico, a tônica era estabelecer entreo entrevistado e o pesquisador uma conversa como alguém muito próximo,para que não ocorresse nenhum receio ou constrangimento. Também nãoqueríamos que esse trabalho fosse apenas mais um registro, mas, sim, algo quepudesse proporcionar uma transmissão de conhecimento, reatando esse elonatural de ensinamentos dos mais velhos para mais novos. Foi justamente na montagem dessa equipe, formada fundamentalmentepor agentes da própria comunidade, que encontramos o caminho quedesejávamos para alcançar esses objetivos. Então, gostaria de compartilhar com vocês um pouco mais dessa grandeexperiência. Ciente da fragilidade e do risco iminente do desaparecimento decertos hábitos do nosso povo. Não foi fácil, em muitos momentos, conter aemoção, embora cada um tenha a sua particularidade, mas no geral é comose estivessem falando da nossa própria história, e na verdade estão mesmofalando da nossa própria alma, que se nutre dessa cultura, que é comum atodos nós. Não querendo atribuir a mim, e nem ter a pretensão de guardiãoda cultura, mas de certa forma foi, e é assim que me sinto, e, como se nãobastasse, um sentimento de impotência quase que me paralisa diante detoda essa transformação cultural a qual estamos sendo submetidos. Entãoquero acreditar, e precisamos, por nós mesmos e pela bela história que nosfoi herdada, nos transformar, de alguma forma, em bandeira. Bandeira de

246  Colóquio NEA 30 anos de Históriaresistência fazendo algo que possibilite a continuidade dessa rica e delicadacultura do povo da Ilha e jamais achar que será uma luta inglória. Para entender um pouco mais a singularidade e beleza dessa cultura,devemos estar atentos a todas as manifestações populares que ocorrem na ilha. Já pararam e prestaram atenção na confecção dos tapetes de CorpusChristi? É uma manifestação coletiva, em que cada um contribui com as suasinspirações, expressadas com toda a sua alma, mas mesmo assim esses tapetesnão perdem a singularidade, tampouco a coletividade, do que foi neles expresso,dando um único sentido, que provém da mesma fonte. Busco esse exemplopara clarear um pouco mais esse mosaico cultural, sobretudo o patrimônioimaterial da Ilha de Santa Catarina que foi objeto de nosso projeto. Tive aoportunidade de acompanhar e ser mediador em várias visitas às casas depessoas antigas da comunidade, cuja escolha se deu, evidentemente, devidoao seu notório saber. E pude comprovar, sem correr o risco de cometer erro,que “o ilhéu é uma casa de portas abertas”, como se costuma dizer na Ilha.A alegria com que nos recebia, a vivacidade com que contava as suas histórias,quase sempre carregadas de muita emoção, a ponto de nos emocionar, e deuma pureza, isso tudo só é encontrado nessa gente. Imagine se trabalhos comoesse fossem realizados há décadas, o quanto teríamos preservado. Esse tipo dequestionamento foi comum entre a equipe de pesquisa, que lamentou não ter tidoessa oportunidade em outros tempos, em que outras pessoas, mestres de saberestradicionais viviam entre nós. Por outro lado a cultura, hoje objeto de pesquisa e

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  247registro, antes simplesmente o cotidiano das pessoas. É evidente que não podemosdesconsiderar os trabalhos realizados nessa linha de pesquisa, os quais, por sinal,são muitos. Mas me refiro especificamente a esse, pela forma como foi concebidoe conduzido, seguindo a premissa da pesquisa voltada para a transmissão deconhecimentos tradicionais através dos mestres de saberes tradicionais. Passando para a fase seguinte do projeto, foi levada em conta a questão docronograma, pois, afinal, era um projeto como todos, com começo, meio e fim,e regrado pelo tempo. Então tivemos que partir para a parte mais desagradáveldo projeto, ou seja, selecionar os tantos mestres que havíamos identificado nacomunidade, pois o tempo que ainda nos restava nos obrigava a manter partedas oficinas identificadas. Como todos eram importantes vejam vocês que nãofoi tarefa fácil, mas pelo menos aproveitamos muito as que foram selecionadas. A realização das oficinas aconteceu no espaço cultural Casarão e engenhodos Andrade, e teve como alvo os alunos do ensino fundamental da escolabásica municipal Dr. Paulo Fontes. Havia um orçamento para pagamentode transporte, alimentação e para os próprios mestres que ministraram asoficinas. Durante seis meses foram realizadas seis oficinas: gastronomia debase açoriana, cestaria, cerâmica ‒ olaria, cantigas tradicionais, danças de roda,violão e percussão, sendo cada oficina realizada aproximadamente em trintadias. Bom, seria interessante falar um pouco sobre a experiência das oficinas,sobretudo do ponto de vista dos estudantes, principalmente sobre a expectativado comportamento e engajamento nas atividades. Até mesmo porque a escolhade uma escola pública e o local pesou muito, pois seria um ponto determinantepara o sucesso do projeto. Mas havia uma certa preocupação com o fato de queos professores passariam a ser pessoas idosas da comunidade, e não mais osprofessores de sala de aula, com que os alunos estavam acostumados. Então adinâmica precisou ser adequada para essa situação, que felizmente foi superadaao desenrolar das oficinas. A primeira atividade a ser realizada foi a de cestaria. Nessa oficina, omestre Mané Ereno mostrou aos estudantes varias espécies de cipó e umasérie de utilidades envolvendo técnicas diversas. Essa interação entre mestree alunos foi fantástica e possibilitou a confecção de vários balaios, peneiras etipiti, além de esteiras. Todas as atividades foram realmente muito interessante, mas nãoposso deixar de comentar a de gastronomia, ou comida típica. Essa oficinafoi ministrada por três mestras: Maria de lourdes Padilha, Dona Valdete deLima e Dona Rosinha Crus, além de profissional da área de gastronomia, ElzaBelling. Foram realizados vários pratos da culinária local, sendo apresentadosaos alunos, com muitas plantas utilizadas na alimentação antigamente e quehoje as pessoas não reconhecem mais como tempero ou alimento.

248  Colóquio NEA 30 anos de História Essa oficina também contemplou a torrefação de café sombreado, e osalunos puderam participar de todas as etapas que envolvem o processo, desdea colheita à torração. Esse momento foi muito interessante, Dona Valdete eDona Rosinha, durante a colheita, contaram e encantaram com história deum tempo, que ainda está muito vivo em suas memórias e nos faz muito bem.Os alunos foram envolvidos de tal forma, a ponto de surpreender as própriasprofessoras. Acho interessante comentar alguns detalhes, como a forma decolher o café. O café de Florianópolis conhecido como sombreado teve o títulode melhor café do mundo, conquistando o exigente mercado europeu, e issoem razão da maneira como era colhido e armazenado. Os estudantes puderamdegustar o sabor e aroma ao final dessa oficina, onde os alunos prepararam umdelicioso café, que foi servido com iguarias à base de mandioca. Bom, poderiafalar muito dessa grande experiência, mas, como diz o bom ilhéu, cortandoconversa, vamos adiante. Acreditamos ter alcançado o objetivo final do projeto, que erafazer, evidentemente, um registro, mas, acima de tudo, proporcionar umatransmissão dos conhecimentos tradicionais, da forma mais natural possível,dos mais velhos, para os mais novos. A coroação de todas as etapas do projeto culminou com uma farinhadano engenho dos Andrade, onde todos os envolvidos puderam participar, epriorizou-se um fato extremamente relevante para a cultura do homem dointerior da Ilha. Fomos muito felizes por essa feliz oportunidade. O seu Hercílio Marciano, mais conhecido como seu Cilo, um legítimorepresentante de todos os lavradores e homens de engenho, aos seus quase cemanos, contribuiu de forma grandiosa para esse projeto, dando-lhe um sentidotodo especial, pois trata-se simplesmente do último representante do ciclo dafarinha de mandioca vivo e em atividade; mas também, para a nossa tristeza,a despedida, pois é a última roça de mandioca plantada pelas próprias mãos. Mas inclinemos para o lado bom da história: a oportunidade de fazerparte desse momento e registrar todos os detalhes, desde arrancar da mandiocana roça, com a participação do seu Cilo. E aí todo o ritual. Carregar o carrode boi, o trajeto entre a Barra de Sambaqui e o engenho, na Praia Comprida,a raspagem da mandioca e as velhas histórias, sempre contadas em volta domonte. Até finalmente o mais esperado: a forneada. Onde todos puderambrindar, saldando a grande e rica epopeia da cultura da Ilha. E assim se encerrou o projeto Cantares e Fazeres, deixando um granderegistro através do livro O tempo da farinha, o CD Cantigas da Ilha de SantaCatarina e do DVD Cantares e fazeres. Além da oportunidade que esses jovenstiveram de participar do projeto e tirar proveito dessa aprendizagem.

Açores e Santa Catarina: relato de uma experiência na literatura infantil Eliane Veras da Veiga A história e a cultura dos Açores ligam-se de maneira muito forte àhistória das comunidades litorâneas do Sul do Brasil, já que, no século XVIII,houve um fluxo migratório intenso de colonizadores vindos desse arquipélago,especialmente para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dessaimigração resultaram traços culturais pregnantes, ainda manifestados pelosdescendentes brasileiros, atualmente na 6a geração, e mesmo nas paisagenshumanizadas no litoral sul do Brasil. A partir dessa constatação, questionamos: ■■ Como as crianças e jovens – brasileiros e açorianos – observam tais manifestações? ■■ Qual o papel dos mais velhos na transferência cultural aos mais jovens? ■■ Que características aproximam as gerações mais jovens dos dois lados do Atlântico? ■■ É possível trazer aprendizado sobre esta herança cultural às crianças e jovens através da literatura? ■■ Como a escola de Ensino Fundamental vem trabalhando esse fenômeno cultural no Brasil e nos Açores? ■■ Existe metodologia apropriada para estimular a pesquisa e o intercâmbio cultural entre escolas brasileiras e açorianas? Ora, percebe-se que boa parte da comunidade em idade escolardesconhece a força dessa herança cultural e a realidade açoriana doArquipélago, que é muito rica e semelhante à que se encontra ainda hoje emmuitas localidades do Sul do Brasil. Ocorre que ainda é escassa – no Brasil enos Açores – literatura, dirigida à comunidade infantojuvenil, enfocando otema história e cultura, relacionando Brasil e Açores, que possa ser ferramenta

250  Colóquio NEA 30 anos de Históriade ensino e aprendizagem e, ao mesmo tempo, que contribua para a ampliaçãodas possibilidades de investigação e exercício lúdico sobre a cultura local nasduas faces do Atlântico. A literatura é um meio de comunicação que, além deeducar, estimula a busca por novos conhecimentos. Esta comunicação pretende responder aos questionamentos, à medidaque relata os resultados da utilização do livro infantil O Voo da PandorgaMágica, lançado em Florianópolis e nos Açores, em 2012, o qual, além deestimular professores e alunos a buscar e entender as suas facetas culturais,motivou intensa comunicação e a troca de experiências pedagógicas, por meiode sucessivas videoconferências, ocorridas durante dois anos entre alunos deescolas brasileiras e dos Açores – Ilha de São Miguel. Laços de fraternidade ede identificação cultural foram criados entre professores e alunos das escolasenvolvidas nessa experiência pela literatura infantil. O Voo da Pandorga Mágica foi apresentado no 3o Congresso Internacionala Voz dos Avós, em julho de 2012, nos Açores, sendo reconhecido porparticipantes do evento e por professores e diretores das escolas locais visitadasem três das nove ilhas como um modelo literário de grande interesse. EmSanta Catarina, ele foi adotado em dezenas de escolas que encontraram nessaobra a facilidade do entendimento das peculiaridades geográficas e culturaisde Florianópolis e o estímulo ao reconhecimento de identidades dos dois ladosdo Atlântico. Sabemos que as escolas de hoje têm um novo paradigma a ser vivenciado:pensar globalmente e agir localmente. Para que isso ocorra, é importante daracesso à produção literária, tanto para a fruição e a diversão quanto para aprodução de novos conhecimentos, permitindo ao jovem leitor sentir-sesujeito inserido num contexto em que ele tenha voz, se perceba, se identifiquee se relacione bem com o meio. Desde que lancei o meu primeiro livro infantil O Voo da PandorgaMágica, em 2012 (com recursos do prêmio Elisabete Anderle), eu visiteidezenas de escolas (entre 2012 e 2014) e perguntava às crianças, aos seusprofessores, orientadores pedagógicos e bibliotecários qual a validadedaquela história que escrevi, que eles leram e com a qual trabalharam demuitas formas (leitura, interpretação, contação da história, conversa com aescritora, representação teatral, produção de filme, fazendo passeios fora daescola, buscando identificar os lugares e os personagens, interagindo comsuas famílias, através de exercícios de expressão escrita – redação e poesia –,por meio da expressão gráfica – desenho e pintura – ou da expressão musical,e, ainda, com a produção de maquetes e mapas, de pandorgas e pipas, de pãopor Deus, cartinhas e até videoconferências), e foram muito ricas as suasrespostas.


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