samadhi de seu brinquedo. Assim demonstram eles o estágio Joaquim Alicedo natural o prazer. A verdade, na sua expressão visível e nogozo de si própria, é a esfera em que se movem os mestres, ao cruzar as espadas”, ao atingir o alvo, ao centrar-se no coração,assim como diz Joaquim Alice em Reflexos Do Espelho Mágico 51... De Um Alfaiate: na amizade que nos une na afeição que te dedico na intenção que me move no meu bem-querer ... é que TE AMO ! é ao dar(-te) o meu melhor ... criado à tua medida ÚNICO: por ser p’ra ti que me ENCONTRO que me crio que (me) amo EM TI Nossa compreensão vem dos sinais que o nosso antagonistanos dá. Quando nos tornamos um só, sem adversidade (semcombatividade), então teremos atingido o estágio da bem-aventurança. Só quando isso acontece somos capazes decompreender o outro sem o auxílio de sinais. Essa maestria nãopode ser alcançada pela ação da razão, se não pela atividadeinterior e através de longos exercícios. O mais alto estágio nãopode ser expresso em regras nem descrito com palavras. É aVerdade, e a Verdade existe acima de regras e de regulamentose só se comunica com naturalidade após longos e continuadosexercícios. Para a atividade suprema já não existem maisregras”: é só o AMOR, fonte da vida. A grandeza do ser, ... a verdadeira é estar presente ... no todo é, do furacão, estar consciente
... do mais profundo de (todos) nós e mover-se atentamente p’a permanecer (sempre) no Centro em paz em silêncio em aceitação sendo tudo ao mesmo tempo, num “derramar-se” constante por sobre tudo ... e através ... é ser o dente, a linha, a cor e o tacão a imagem, seu reflexo e o raio de luz, o átomo, o núcleo e o protão, o movimento, a velocidade ... e o espaço de permeio é ser-se múltiplo, mas inteiro é fundir-se, ser a chama e a caldeira é tudo abarcar em consciência ascender em tal estado (d’ascensão) que o tempo nada mais é, ... inexiste o percurso é vertical, mas abrangente, és tudo e todos ... só com a mente ÉS DEUS ... em ato de criação. E o Universo conspira a teu favor sempre que dás ... em boa intenção (atento à voz interior) e sorris ... e aceitas ... e amas és o amor52 E se és AMOR, és PERFEIÇÃO. És Deus!
O corpo antropomorfo da escrita, a metáfora Joaquim Alicecomo fonte esclarecedora Gestação, nascimento, crescimento e desenvolvimentosão etapas pelas quais todo o ser humano precisa passar na sua 53trajetória terrena, sinergia em rede de interconexões energéticasque vão dando forma e vida aos corpos densos e sutis que ocompõem. Gerado a partir de um sêmen, de cuja integraçãona complexa cadeia da vida dependerá a capacidade ou não degerenciar a própria vida, o corpo humano evolui, passando porfases específicas, conforme vai avançando na idade cronológicae nos aspectos psíquicos, emocionais e espirituais. Ao acompanhar o nascimento, o desenvolvimento e oamadurecimento da poesia de Joaquim Alice até o momentode sua organização para a publicação, considerei a obra a que oautor intitulou ... do mais profundo de (todos) nós, à semelhançade um corpo humano, um corpo literário em construção, réplicaem espelho, duplo a ser estudado, em suas inter e intraligaçõese conexões sutis, tanto nos seus órgãos materiais quantos nosseus sistemas biopsíquicoespirituais, desde os seus momentosde beatitude até aos desfiladeiros da angústia, da tristeza e dosdesejos não satisfeitos: um corpo antropomorfo de escrita,com seus altos e baixos, dos desequilíbrios e estagnações àaceitação e ao agradecimento, tudo personificado e expandidopela voz fiel que dá vida aos pensamentos do autor e que se fazouvir em toda a extensão das páginas que compõem os oitolivros desta coleção. Imaginem o corpo de um ser humano. Desde a escolaprimária aprendemos que o indivíduo é constituído por trêspartes: corpo, alma e mente. Por corpo, entendíamos toda aextensão visível e palpável: tronco, membros e cabeça. A menteachávamos que fosse restrita ao cérebro, e a alma, acreditávamosque estivesse centrada no coração. Bem, com o passar dos
anos, do avanço da ciência e da tecnologia e com a propagação dos ensinamentos da mística ocultista, guardada pela religião e só nos últimos decênios divulgada pelos iniciados, é que, no Ocidente, passamos a ter noção – talvez já tivéssemos essa percepção sem a manifestar publicamente – do que acontece no mundo, para nós, invisível das energias. E até agora esse conhecimento só vem se alargando. Então, à semelhança do nosso conhecimento sobre a constituição dos corpos humanos, vamos tentar entender a estrutura organizacional que suporta a construção desse corpo literário que é a obra poética de Joaquim Alice. Vamos usar a imaginação e fazer hipoteticamente deste corpo antromorfo da escrita (a obra, o conjunto de poemas dos oito Livros) um ser completo, literariamente vivo e atuante (“nada de estagnação, livre-se dela”, diria o próprio autor), a dialogar conosco, a dar-se a cada um dos seus leitores. Então, se pensarmos na imagem do ser humano na sua postura anatômica, de pé, no sentido vertical céu-terra, sabemos que de espaço, em espaço, desde a sua genitália, até... do mais profundo de (todos) nós o topo da cabeça, existem plexos energéticos que prendem a aura (corpos sutis) ao corpo físico, onde é armazenada toda a energia que conforma o ser e de onde é distribuída essa mesma energia para todas as partes constituídas, purificando-a, ou, pelo contrário, de acordo com função de vitalidade ou não, deturpando-a com bloqueios e desarranjos desequilibradores em potencial. Esses centros de energia (chacras), se localizam, desde o cóccix, atrás, ou da parte genital, na frente, até o alto da cabeça, num formato de cones que se abrem para frente e para trás (com exceção do primeiro e do último, que se abrem para baixo e para cima, respectivamente), partindo da medula,54 aos pares.45 45 Ver nas Figuras 2 e 3, em Subsídios para melhor entender a obra poética de Joaquim Alice, no Apêndice a este livro, a imagem dos chacras, na sua tomada de perfil.
Existem muitos chacras localizados em todo o corpo Joaquim Alicefísico, mas, para efeitos de comparação com a obra de JoaquimAlice, aqui trataremos apenas dos sete principais e de mais um, o transcendental, situado além da cabeça humana. Cadaum corresponde a um livro de Joaquim Alice, com a sua cor 55respectiva. Chacra Básico: Livro Um – Vermelho Chacra Umbilical: Livro Dois – Laranja Plexo Solar: Livro Três – Amarelo Chacra Cardíaco; Livro Quatro – Verde Chacra Laríngeo: Livro Cinco – Azul Claro Chacra Frontal: Livro Seis – Azul Índigo Chacra Coronário: Livro Sete – Violeta Chacra Transcendental: Livro Oito – Translúcido Pois bem, cada um desses chacras tem função determinantena constituição do ser humano. Cada um se diferencia, etodos trabalham em conexão de atividades e funções, seinterinfluenciando com o sentido de distribuir, armazenare purificar as energias vitais que manterão a saúde física,emocional, mental e espiritual do indivíduo. Assim tambémvale para os poemas que compõem cada livro de JoaquimAlice:46 os poemas do Livro Um partem da visão de umapessoa que se abre para a vida adulta, mas ainda influenciadapelas dúvidas e incertezas da puberdade e adolescência. O Euestá Só. O Livro Dois indica a procura de união entre o Eu quese descobre como indivíduo e quer se acasalar para perpetuar46 Contudo, chamo a atenção de que, mesmo rotulados por um título e em livros diferentes, os poemas podem sofrer influência de estilo e de conteúdo temático dos que o precedem, assim como antecipar conteúdos dos que ainda virão. Não é uma categorização estanque.
a espécie. É o Eu em relação ao dois. O Livro TRÊS trata das emoções, assim como o plexo solar. O Livro QUATRO refere- se ao amor em todas as suas tonalidades. O Livro Cinco, da criatividade e da forma e expressão do indivíduo; o Livro SEIS, parte da ideia da mente a tudo organizar com o seu propósito de comando; o Livro SETE apresenta a Divindade da qual todos nós somos Templo e, finalmente, o OITO, transcende todo o aspecto cognitivo dos sentidos comuns, alcançando a Transcendência. Assim o Livro UM, em semelhança às características do primeiro chacra, chamado de base, raiz ou genésico, é o mais denso e guarda caraterísticas mais voltadas para a questão de sobrevivência, segurança e amparo. Conquanto seja grosseiro, é o alicerce da vida, o ponto de onde fluem as energias que nutrem todos os chacras em combinação com as energias astrais que descem do plano espiritual. À medida que a energia vai fluindo para a parte superior do corpo, ela vai se tornando mais sutil, mais espiritualizada até alcançar os altos patamares... do mais profundo de (todos) nós da Consciência Pura, do estado de transcendência Divina, o ponto onde o Inominado É. Isso quer dizer que, quanto mais os poemas, de acordo com a sua localização nos livros, vão sendo apresentados, em numeração mais alta, mais estarão voltados à espiritualidade. Isso para lembrar que os quatro primeiros chacras pertencem ao agrupamento do Quaternário Inferior, isto é, são mais ligados ao comportamento humano que usualmente conhecemos. Os três últimos livros, pertencentes ao Terciário Superior, guardam dimensões mais sutis, voltadas para o mundo do Espírito e das boas ações.56 Quando o indivíduo, já espiritualizado, fazendo valer o seu conhecimento conforme a Consciência de Amor, fundamenta suas ações no coração em concomitância com as energias espirituais apuradas pelas glândulas Pineal e Pituitária, que
governam todo o organismo humano, do estado de Paz e Joaquim AliceHarmonia já alcançados, ele passa a gerir sua vida no planoda transcendência, diretamente da sétima dimensão, onde espaço e tempo inexiste, onde o Tudo se unifica com o TODOCósmico. Tudo isso a partir do centro, do EU corporificado, 57livre e conscientemente vivendo a sua humanidade através daevolução do físico ao sutil e ao transcendente. E esse conteúdoforma o Livro Oito. E é para esse percurso, da densidade física egóica até a(quase) perfeição das atitudes e dos comportamentos regidospelo Espírito, que Joaquim Alice, através do seu metafóricocorpo antropomorfo de escrita (o corpus da obra constituídapor poemas) exorta os seus leitores a galgar novos patamaresda consciência, com domínio da vontade, abertura para novasdescobertas, coragem para a transformação íntima e desejosde mudança coletiva, já que, neste nosso planeta, quando umapessoa muda, abre-se a possibilidade de o universo todo setransformar em um mundo melhor. Por isso, aqui estamos para revelar, a grosso modo, aexperiência literária que retrata a correspondência que podeexistir entre as funções dos chacras no corpo humano e atrajetória que a voz lírica do poeta assume nesta obra, desdeo seu tempo de adolescência literária (a criação dos primeirospoemas) até a maturidade da escrita, em posturas no nível doimaginário que coincidem com atitudes triviais da condutahumana. Assim, baseados na leitura dos poemas aqui publicados,poderemos observar que os aspectos mais representativos dosquatro primeiros chacras (Básico ou de Raiz, Umbilical, PlexoSolar e Cardíaco), exatamente os mais densos, são manifestadosclaramente pelo eu lírico (o eu poético a quem o autor emprestaa voz e faz, às vezes, de personagem) dos versos de JoaquimAlice que compõem os quatro primeiros livros.
... do mais profundo de (todos) nós Para ficar mais claro, reitero a informação de que os poemas mais expressivos quanto à materialidade da ações humanas, do seu contato com a natureza circundante, incluindo a fauna e a flora, dos desejos não satisfeitos, das agressões violentas geradas pela falta de compreensão e de confiança, do ciúme e da violência, e de outros tormentos emocionais a que está submetido o homem que se deixa levar pelas ilusões da vida, estão agrupados nos Livros UM: ... do mais profundo de mim ( o EU Sozinho), no DOIS: ... do mais profundo de nós (os dois) (o EU e o Outro(s), no TRÊS: ... do mais profundo da (minha) emoção (as Emoções) e no QUATRO: ... do mais profundo do (meu) coração (os sentimentos). No seu conjunto, como já foi explicado, eles integram o Quaternário Inferior, por onde fluem as energias mais ligadas ao corpo físico, ao corpo das ações menos controladas, da identidade que se quer firmar, das emoções que podem sofrer bloqueios e dos sentimentos que nem sempre são os mais amorosos. Se fôssemos desenhar esse aspecto do Quaternário Inferior, teríamos uma representação simbólica do quadrado47, figura geométrica associada ao pensamento cartesiano, a indicar o mundo material, a frieza, a precisão, o cálculo e a perfeição matemática, em perfeito “domínio da racionalidade, da impessoalidade e da neutralidade”.48 Seria o homem na sua expressão mais ligada aos instintos naturais. Como já dito, na 47 O quadrado simboliza pausa e cessação, refletindo estabilidade e perfeição, segundo Pitágoras. Para outras culturas, ele representa a Terra e os pontos cardeais. No Islamismo, é a representação do coração: cada lado é uma influência58 daquilo que o órgão sofre: divina, angélica, humana e diabólica; na arte cristã, é uma referência aos quatro evangelistas; para os mágicos, revela um secreto de poder. Disponível em: <https://www.dicionariodesimbolos.com.br/quadrado> Acesso: 12 maio 2018. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/LilianaOliveira3/ simbologia-das-figuras-geomtricas>. Acesso em: 12 maio 2018. 48 JOHARI, Harish. Chacras: centros de energia de transformação. Trad. Maria Epstein. São Paulo: Pensamento, 2010.
expressão literária aqui em foco, consideramos essa condição Joaquim Aliceevolutiva correspondente ao processo de vivência pessoal esocial observável na conduta da voz-personagem dos poemas constitutivos dos Livros UM, DOIS, TRÊS e QUATRO. Aspectosque são vividos espontaneamente na terceira dimensão, onde 59volume, tempo e espaço estão presentes. O segundo agrupamento levou em conta os aspectosespirituais dos níveis energéticos dos Chacras da Laringe, oFrontal e Coronário confrontados com a atuação evolutiva doeu poético dos poemas criados mais recentemente e que estãoespecificados nos livros CINCO: ... do mais profundo da (minha)intenção, SEIS: ... do mais profundo da (nossa) consciênciae SETE: ... do mais profundo da (nossa) essência. Todos comvisão voltada para o espiritualismo, já que esses chacras regemas energias sutis. Formam, então, eles, a grande composição doTernário Superior. Para representá-lo, se também o quiséssemosdesenhar, utilizaríamos, dessa vez, a imagem do triângulo.49 Assim, do Ternário Superior, fazem grupo os corpos sutisonde afloram a criatividade expressa pela arte, a comunicaçãoe expressão e a memória; a mente abstrata (o poder que tudoorganiza e comanda) e a divindade. Os três livros supracitadosmanifestam aspectos dos níveis de consciência, do mentalabstrato, da divindade em nós e da quinta dimensão onde oespírito encravado na matéria dá vida à alma humana que,num processo ativo de iluminação, prepara-se para alcançara sétima dimensão no seu aspecto cósmico transcendental,e aí já passamos a falar do Livro OITO, incluído na Parte DaTranscendência: o TODO em TODOS nós, no estado perfeitodo UM.49 O triângulo é equivalente ao número três – número mágico e poderoso – símbolo sagrado da Deusa Tríplice: Virgem, Mãe e Anciã. Invertido, simboliza o princípio masculino. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/LilianaOliveira3/ simbologia-das-figuras-geomtricas>. Acesso em: 12 maio 2018.
... do mais profundo de (todos) nósNesse último livro, a voz do poeta revela as possibilidades de o ser humano poder chegar, mediante seu próprio esforço de evolução espiritual, à Mente Cósmica, Consciência Pura onde habita o Infinito Tesouro de Todo o mundo criado e creado.50 Esse estado de bem-aventurança se alcança pelo exercício do autoconhecimento, em mergulhos interiores capazes de dar mais sentido à vida de compartilhamento das emoções positivas na busca pela chama crística, conteúdo poético do Livro OITO, na sua clara e firme disposição de tratar de assuntos voltados para a sétima dimensão, a da transcendência. Dessa forma, a obra poética de Joaquim Alice pela primeira vez apresentada sob forma de livro, abrange os próximos oito volumes de poesia volumes; dizendo de outro modo, este corpo antropomorfo de escrita poética e filosófica, inclui as partes do Quaternário Inferior, com os livros UM, DOIS, TRÊS e QUATRO (do corpo físico à camada astral); Do Ternário Superior, Livros CINCO, SEIS e SETE (corpos espirituais) e Da Transcendência: Livro OITO. Poderíamos mesmo, em se tratando de toda obra contida nesta coleção, imaginá-la como um círculo51, por demonstrar poética e filosoficamente a circunvolução do ser humano na sua órbita existencial, num corpo utopicamente perfeito que vai do nascimento ao ápice da Consciência Universal. Mas, é só quando o espiritual insufla de alma o material que o mistério acontece. Explico de outra forma: acompanhada a evolução desse eu lírico cuja voz se faz ouvir em todos os poemas da obra agora dada ao público, mesmo de forma imparcial, sem querer60 50 Na acepção que dá ao termo o filósofo catarinense Hubert Rhoden. 51 O círculo está associado ao ponto e ambos podem ser considerados como sinais supremos de perfeição, união e plenitude. Também é sinônimo de movimento, expansão e tempo. Representa ainda o céu, o firmamento e a ordem cósmica na astrologia. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/LilianaOliveira3/ simbologia-das-figuras-geomtricas>. Acesso em: 16 maio 2018.
entrar nos méritos estilísticos e literários52 do autor, ao final Joaquim Aliceda obra, no Livro OITO, quando os poemas alcançam altonível de comunicação, é possível vislumbrar-se possibilidades de, um dia, Creador e criatura conviverem na Energia Pura,mesmo que seja no imaginário ficcional literário. É como se 61o triângulo formado pelo Terciário Superior entrasse emcomunhão interna com o Quaternário Inferior e, em plenarotação multienergética, transformasse-o em Beleza PuraeTranscendente. Nesta obra de Joaquim Alice, neste corpo antropomorfoda escrita, a voz do poeta, ao longo do amadurecimento do seueu interior, vai se sublimando até percebermos que o trânsitoentre o Ponto Celestial (que Lúcia Simas chama a Casa deCristal) e o ponto do planeta Terra, onde habitamos, são apenasdimensões a que podemos aceder conforme o nosso estadode espiritualização consciente. A humanidade ainda caminhapara tal realização, embora a maioria ainda tropece nos seusintentos de bem-aventurança. E quando o ser humano quasecai – e não cai porque já está no domínio da paz requeridapela quinta dimensão – é com mais força que ele se eleva à essasétima dimensão onde a transcendência se realiza. E isso tudopode-se sentir e ver acontecer pela poesia que transpassa todosos livros desta coleção.A poética do silêncio Pelo seu estilo peculiar de escrita formal, Joaquim Alicenestes seus oito Livros se revela: são letras maiúsculas onde52 ... cabíveis nos estudos retóricos da teoria e da crítica literárias; mas minha função aqui é apresentar, para que seja melhor comprendida, a poesia de Joaquim Alice neste nosso mundo meridional em relação à comunicação linguística dos Açores que, por vezes, se distancia da expessão brasileira catarinense da nossa Língua Portuguesa, ambas se valendo da mesma origem, mas que têm variantes consideráveis no seu léxico e na sua sintaxe gramatical.
... do mais profundo de (todos) nós não se espera, aspas, sublinhados, grifos em nuances claras ou muito escuras, fontes de tamanho reduzido ao lado de letras garrafais, espaços e linhas em branco, versos curtos e extensos, poemas breves e longos, formas, arabescos... tudo a surpreeender, como se houvesse uma quebra entre o poético/ divino e o casual/humano, entrevista no sentido de humor expresso, quase sempre, no último verso do poema. Leio, nessa opção pela emoção expressa por formas gráficas diferenciadas, a mesma tendência de que se valeram os poetas brasileiros Ferreira Gullar, Paulo Leminski, Décio Pignatari, Paulo Berri e, agora mais recentemente, Rosana Cordeiro, para criarem, desbravarem e enobrecerem a Poesia Concreta. Abundam as reticências... (Ah! Lá isso, são muitas!...) Nesses espaços aparentemente vazios, o silêncio criativo de que também se valem os grandes escritores,53 talvez não com tanta frequência, Joaquim Alice quase que abusa... e aí está um dos segredos da sua poesia: a poética que envolve todos os seus silêncios, ou todos os silêncios que o seu dizer sugere. E são nesses silêncios repetidos, cheios de significado e simbolizados pelo falar das reticências, que o poeta açoriano oferece ao leitor oportunidade de coautoria como a permitir-lhe cumplicidade no inaudito.54 No caso de Joaquim Alice, o silêncio, simbolizado pelas reticências ou espaços aparentemente vazios, é a arma da sua alma, a seta que desfere sentido na direção do entendimento, 53 O poeta Joaquim Pessoa (Vou-me embora de mim.Lisboa: Porto, Litexa, Editora, 2002, p. 54) diz que o escritor é uma pessoa que “diz e contradiz, que escreve contra si a seu favor. [...] numa espécie de silêncio cheio de gritos, mas também62 numa espécie de grito almofadado com silêncios”. Texto retirado de “Escritores a revelar”, in Dar Rosas a quem sonha Rosas, de minha autoria (Nova Letra, 2013, p. 313, palestra pronunciada no XIX Colóquio da Lusofonia, Maia, ilha de São Miguel, em março de 2013). 54 Miguel Torga, por exemplo, numa das páginas do seu Diário III , afirma que, sem nada ter a “esconder do leitor”, reconhece que “há recantos do ser e da vida que precisam de silêncios”.
do apaziguamento interno de um ao coração do outro, o alvo Joaquim Alicefraterno, o alvo onde acontecerá, quando tocado pela seta doseu arco literário, o “milagre” da compreensão. Dessa forma, visivel e formalmente, o silêncio requerido 63pela parada obrigatória, sinalizada com a presença física dasreticências, quase sempre entre sujeito e predicado ou entre umpredicado e o seu complemento, não é desconhecimento dasnormas da Língua Portuguesa, mas um padrão de fala, umaforma intimista de dirigir-se ao interlocutor e dele exigir atençãoao que está sendo proposto, sugerido, dito. Não é o silêncio quese justifica porque o autor não quer usar a palavra adequada,por não achá-la ou para que o leitor a substitua por outra. Nãoé uma parada para pensar, refletir sobre o que está sendo dito...É o silêncio gerado por uma tensão de sentidos que despertará oleitor para o assunto tratado, com consciência aberta. Portanto, o silêncio na obra de Joaquim Alice podeconter mais do que o próprio autor sugeriu, porque ele, opoeta, apenas indica o caminho para a interpretação, masa sua leitura, o desvelamento e a compreensão daquela falta(o poeta não foi capaz de deduzir qual seria a melhor palavrapara aquele significado individual e íntimo de cada leitor...)está circunscrito unicamente à leitura e à experiência de vidade quem lê. Descobrir o que se se esconde nos abismos dasreticências desta obra é tarefa única e exclusivamente pessoaloferecida, com desvelo, ao leitor Assim, em Joaquim Alice, o silêncio existe na forma dedizer o que não pode ser dito nem adivinhado pelo poeta,mas o que o leitor, na profundidade de si mesmo, é capaz deregistrar, analisar, interpretar e ressignificar. É um exercíciode raciocínio, de exame de consciência, de colocar a luz paradentro dos esconderijos mais íntimos da alma.55 Por isso,55 Li numa mensagem recebida pelo WhattsApp que não é apenas visualizando luzinhas coloridas que expurgamos os demônios que nos atormentam; só
... do mais profundo de (todos) nós em seus versos, as reticências podem não ser usadas na sua devida função gramatical como sendo supressão de sentido, mas como espaço de múltiplas interpretações particulares que vão alinhando as palavras do autor e seus silêncios com os sentires do leitor ou do ouvinte até que se forme uma cadeia de entendimentos que fogem ao significado simplista do plano linear da escrita e cai na trama múltipla das isotopias, isto é, das diversas formas possíveis de interpretação da palavra literária ou da sua ausência no discurso. Assim, na obra de Joaquim Alice, as reticências exercem a função de metáforas,56 cujo segundo elemento, volátil, flexível, mutável, só se realiza na consciência do leitor, porque só esse leitor com nome e sobrenome sabe o que se passa em seu Ser interno, o seu Eu Superior. O declamador de poesia que não conseguir entender o silêncio expresso pelo escritor através das reticências não terá sucesso na sua arte declamatória, porque a parada que o autor evoca, não é simplesmente o calar, mas, acima de tudo, o silenciar para ouvir-se, de dentro, em profunda reverência aos sentidos. Então, no caso de Joaquim Alice, o calar não se opõe ao dizer, mas sim passa a ser um espaço de reflexão, uma maneira de revelação em segredo (não manifesta) do que está acontecendo naquele receptor, naquele que lê ou ouve. Dizendo de outra forma, pelas suas reticências, ou sugestões de espaço e de tempo para pensar, Joaquim Alice não esconde juízos, nem os revela. Ao solicitar o acompanhamento do seu raciocínio, o poeta oferece tempo – pelo espaço das reticências – para64 iluminando, com conhecimento e consequente reforma íntima, os mais recônditos pontos obscuros de nossa alma, é que eles se afastam. 56 No sentido que Paolo Valesio dá ao conceituar o silêncio na poesia como “una rubrica o etichetta che marca il campo ‘della esperienza-e-linguaggio-al-limite” do poeta como se fosse uma marca pessoal, uma forma de caracterização do seu estilo pessoal como escritor. VALESIO, Paolo. Ascoltare il silenzio. La retorica come teoria. Bologna: Il Mulino, 1986, p. 357.
o leitor ouvir a sua própria voz, para preencher com as suas Joaquim Alicefaltas ou necessidades aquele espaço de solicitude que a pausaoferece, e daí tomar, ou não, atitudes de transformação cabe ao leitor decidir se sim ou se não. Em suma, nos poemas deJoaquim Alice, o silêncio não se apresenta como supressão ou 65negação, mas como geração de sentidos únicos e individuaisnum plano secundário, mas intensamente expressivo de umaleitura das entrelinhas, dos espaços vazios e da sua insistente equase abusiva repetição gráfica dos três pontinhos... Talvez há quem aponte essa maneira de poetizar sobreos fatos corriqueiros da vida, ou de levantar os problemaspsíquicos e somáticos que acometem a humanidade, comoforma paradoxal de uma poesia lírica, onde o objeto literárioseria o próprio eu do poeta, como num grande monólogoque resumisse a obra toda. Contudo, ainda em referênciaa Joaquim Alice, o que temos é, conforme já foi aventado, adialogização entre um sujeito emissor, poeticamente instalado,e o seu interlocutor (um narratário fictício, diria eu, se de prosanarrativa se tratasse), um leitor ou ouvinte humanamentepostado e receptivo das energias emanadas da poesia, diantedas palavras, dos versos, do poema, da obra... e dos seussilêncios. As reticências empregadas por Joaquim Alice,seriam, portanto, não formas de interrupção do pensamentopela falta de palavras, como já dito, mas o lugar de mensagemque cada um entenderia a seu modo, e de acordo com o seujeito de analisar, interpretar e entender. Como explica Orlandi57 e nós redirecionamos para oestudo em pauta, “ao invés de pensar o silêncio como falta,podemos, ao contrário, pensar [tal] linguagem como excesso”que ultrapassa o dito convencional da poesia, porque, o “silêncionão fala. O silêncio é. Ele significa. Ou melhor: no silêncio, o57 ORLANDI, E. Puccinelli. As formas do silêncio. No movimento dos sentidos. Campinas, SP: Editora da Unicampi, 1992, p. 33.
sentido é”. E pelos poemas de Joaquim Alice, nesse segundo nível de isotopia interpretativa, quando o entendimento se estabelece e a transformação ocorre no leitor, também o poeta filósofo, através do seu dizer e do espaço de reflexão que cria... cumpre-se, como ele próprio diz. A poesia é expressão do presente, dizem os teóricos. A manifestação desse imaginário de Joaquim Alice tem sua grande força no espaço em branco e/ou nos pontinhos sequencialmente colocados, que se revelma plenos naquele instante poetizado. Essa expressão do presente surgiria como um florescimento positivo na mente o leitor. E o aparentemente vazio, esse espaço primordial, a origem onde o poeta dá-se, onde o leitor avulta na criação, onde ele passa a ser igualmente criador e com o autor partilha aquele momento único, insoldável, da cocriação poética. E, nesse momento, o escritor/poeta deixa de ser o único criador, passando a ser possibilidade criativa que despertará na mente do leitor a imagem que dele precisa para o poema se fazer acontecer; isto, é, cumprir-se, processo sempre renovado... do mais profundo de (todos) nós a cada nova leitura, a cada mudança de receptor/leitor. E não será o poeta que se eternizará nesse silêncio anunciado, o qual deixa de existir quando o leitor o preenche, mas será nesse hiato aparentemente vazio que florescerá (no sentido que Osho58 emprega tal conceito) todo o fenômeno do mistério da poesia e da consequente fruição da beleza literária por parte do leitor. E aí o silêncio transforma-se em eternidade, em nascimento não só de mais uma obra estética, mas de uma produção que ultrapassa os versos escritos e alcança invisível, múltipla e plurívoca imensidão de sentidos, conforme cada pensamento e sentimento surgido na alma do leitor.66 Para terminar, quero dizer ainda que sinto que os poemas de Joaquim Alice nascem desde o himo da alma que se quer 58 OSHO. El Libro de los Chacras. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Grupal; Arkano Books/Grupal, 2013.
desabrochar em flor perfumada de abundância e luminosidade, Joaquim Alicepara que mais e mais sejamos frutos da nossa consciência despertapara o Bem, para o Bom e para o Belo. Ou seja, para uma vida de paz, de alegria, de prosperidade... E é desta consciência emalta dimensão que Joaquim Alice nos leva, passo a passo, mas de 67forma firme e categórica, como só os que sabem podem liderar,para a espiral ascendente de sentires que nos levará à bem-aventurança crística. E aí sim, acessaremos à sétima dimensão,onde o Espírito de Luz transbordará em nós, não como formaapenas de alegria individual, mas numa fraterna sintonia com afelicidade universal. A consciência da Quinta Dimensão nos dá apaz; a sétima e as demais dimensões, que também eu não alcanço,permitirão realmente que vivamos aquilo que realmente somos,libertos pelo amor, crísticos, unificados com a consciência maiorda Fonte Única de toda a Sabedoria Cósmica, onde TODOS,paradoxalmente como nos diz Joaquim Alice, são o TUDO naperfeição divina do UM. Bem hajam os leitores de J.A. Bem hajam os apreciadoresdesta vigorosa e forte filosofia poética que nos ensina aamar incondicionalmente o amor divino que vibra em nóse no outro e que nos aponta o caminho certeiro para umfuturo próximo cheio de transformações, tendo no perdão oinstrumento maior capaz de acessar os planos superiores desde... o mais profundo de (todos) nós, onde residem beleza, amore conhecimentos que necessitamos e os quais também somoscapazes de gerar, preservar e, ao mesmo tempo, compartilharnesta evolução ascensional. Então, agora podemos aceitar oconvite de Joaquim Alice: – Chega-te (cá), abracemo-nos em silêncio... E, que em silêncio, possamos realmente sentir o afeto queem nós se cria e transborda ao lermos estes livros. Florianópolis, 26 de junho de 2018.
PARTE II A obra poética de Joaquim Alice...do maisprofundo de(todos) nós ... poemas em oito livros
... querida, QUERO levar este projeto por diante, e conseguir publicar os “escritos” ... Não tanto por mim, ... mas sim POR TI ... ... (apreciadora e incentivadora desde a primeira hora/dia e trabalhadora incansável desde então ... e já lá vão muitos anos) ... ... e também PELOS LEITORES (pelo menos pelos leitores que consigam entrar na onda ou vibração adequada para os sentirem ... e desfrutem da sua leitura ... e, ainda, de algum modo, também, para que através de alguns deles (melhor) se encontrem/identifiquem).... e ainda, mas não por último, a todos quantos estiveram ao meu lado desde a primeira leitura de um dos escritos, e quecontinuam a estimular incondicionalmente esta publicação. J.A.
escritos... basta que me liberte de mim... e de tudo ... basta que SEJA ... (simplesmente) TUDO !
JOAQUIM ALICE... do mais profundo de mim Livro UM – Vermelho Chacra básico – Muladhara Quaternário Inferior Vilca Marlene Merízio Organização, introdução e notas
SumárioIntrodução--------------------------------------------------------Poemas------------------------------------------------------------Apêndice---------------------------------------------------------- Subsídios para melhor entender Joaquim Alice e a sua obra. Os Corpos Sutis e os Chacras, rápida noção------------149 A rede de sinergia humana: buscando entendimento na Medicina Ayurvédica. As dimensões Biopsicoespirituais----------------------------------------------- 156Índice dos poemas-----------------------------------------------Leituras sugeridas-----------------------------------------------Sites indicados---------------------------------------------------
Introdução ao livro um de Joaquim Alice... do mais profundo de mim Vilca Marlene Merízio ... do mais profundo de mim é o título que encabeça os Joaquim Alicepoemas lançados no Livro UM – Vermelho – desta PrimeiraParte,1 a Do Quaternário Superior – deste corpo antropomorfo de escrita, a que Joaquim Alice intitulou ... do mais profundode (todos) nós. 77 Assim, o presente volume2 engloba poemas que, aprincípio, foram criados pelo autor em diferentes datas ecircunstâncias, de 2002 a 2018, mas que, especialmente paraesta publicação, foram selecionados com o objetivo de compora categoria que mais se aproxima das características de umapessoa que age por impulsos e instintos ao ser influenciadapela predominância dos atributos do Chacra Básico. Cada um à sua maneira e competência, os chacras prin-cipais e secundários distribuem energia para todo o corpo físicoe organizam a relação do ser humano com as suas próprias1 Como já foi anteriormente justificada, a distinção tripartida da coleção deveu- se ao entendimento de que os atributos e as funções dos quatro primeiros chacras (Básico ou de Raiz, Umbilical, Plexo Solar e Cardíaco) estão presentes na caracterização das ações, pensamentos e sentimentos do eu poético dos versos que fazem parte dos Livros UM, DOIS, TRÊS e QUATRO, respectivamente.2 O termo volume aparecerá, às vezes, como sinônimo de livro no que se refere aos livros que constituem esta obra.
funções vitais desde as necessidades básicas de sobrevivência imediata, de amparo e acolhida pelo meio, de identificação pessoal, de reconhecimento próprio à autopreservação, de ver satisfeita sua necessidade de tomada de decisão e de relacionar- se com outras pessoas, no sentido de amizade ou de amor. Os chacras agem como se fossem radares ou sensores internos, que nos avisam quando algo não está em bom funcionamento, mas nem sempre os ouvimos como deveria de ser. Se ouvíssemos o nosso corpo, talvez os males não se instalariam, porque primeiro as disfunções acontecem no nível energético para depois se revelarem no corpo físico.3 Em relação ao Primeiro Chacra, as energias movem-se principalmente motivadas pelo desejo de união sexual e de autovalorização, pela necessidade de sentir-se respeitado como um eu em desenvolvimento, pela intempestividade das emoções e dos sentimentos que variam de intensidade, tudo a ser influenciado pelas manifestações densas da mente concreta. No nível literário, ao criar os poemas que compõem este... do mais profundo de (todos) nós livro, provavelmente Joaquim Alice não pensou nesses detalhes, mas, ao se organizar a obra, o conteúdo ligado às funções do primeiro chacra destacaram-se como uma categoria, a primeira que corresponde às atitudes da última infância de uma pessoa até a sua puberdade/adolescência. No caso em foco, seria, o despertar dos desejos de autoafirmação do eu lírico, cuja voz se ouvirá no crescer das tensões e no posterior amadurecimento do eu poético e na sua espiritualização que serão abordados nos livros seguintes. A ideia é apresentar os poemas mais simples e singelos neste primeiro livro, depois, à medida que os poemas vão crescendo em complexidade em relação ao conteúdo,78 distribuí-los em volumes que vão deste primeiro até o oitavo 3 Sobre este assunto ver: “El Pensamiento Cuântico”, de Dr. Fabian Ciarlotti et al. In: El Pensamiento Cuántico em las Terapias. Argentina: Ediciones Ricardo Vergara, 2007.
desta coleção, cujo patamar de espiritualidade é o mais alto que Joaquim Alicehoje se pode comparar em relação aos já existentes. Assim, para ser possível a comparação deste corpoantropomórfico de escrita (a obra poética de Joaquim Alice 79em si) com as funções habituais dos corpos sutis e dos setechacras principais que formam o corpo humano, farei breveresumo do que se entende por Chacra Básico, e, logo emseguida, apresentarei alguns exemplos colhidos neste mesmovolume, que contenham as características que o identificam.Deixarei, depois, o leitor livre para fazer as suas próprias ilaçõesinterpretativas. O primeiro vórtice de energia que liga os corpos sutisao corpo físico do indivíduo é conhecido como PrimeiroChacra, Chacra Básico ou de Base ou, ainda Chacra Raiz. Emsânscrito,4 seu nome é Muladhara. Ele é o mais denso de todosos que formam o Quaternário Inferior (Básico, Umbilical,Plexo Solar e Cardíaco). Apresenta caraterísticas relevantesno processo de desenvolvimento humano voltadas para aquestão de sobrevivência, segurança e amparo. Conquanto sejagrosseiro, este centro de força é o alicerce da vida, o ponto deonde fluem as energias que nutrem todos os chacras do corpoem combinação com as energias astrais que descem do planoespiritual. À medida que a energia, do primeiro chacra, vaifluindo para a parte superior do corpo, ela vai se tornando maissutil, mais espiritualizada até alcançar os altos patamares daConsciência Pura, do estado de transcendência cósmica. Todasas nadis5 importantes têm origem no centro desse chakra. Nacultura indiana, é no Chacra Básico que são repesentadas asdivindades Brahma (criador do plano físico), VishnuShiva4 Sânscrito: antiga língua dos brâmanes, na Índia. in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 2008-2013. Disponível em: <https://www.priberam.pt/dlpo/ s%C3%A2nscrito>. Acesso em: 18 maio 2018.5 Nadis: canais portadores de energia no corpo.
... do mais profundo de (todos) nós (princípio masculino) e a Deusa Kundalini6 (princípio feminino). No corpo humano, o Chacra Básico localiza-se no “períneo, abaixo dos genitais e acima do ânus, dentro do cóccix, no plexo pélvico, na base da coluna vertebral e das primeiras três vértebras”.7 Seu elemento é a Terra (não confundir com a ideia de Terra/planeta) e a sua cor é o vermelho. Simbolicamente, é representado pela flor de lótus de 4 pétalas.8 Seu órgão dos sentidos é o nariz e seu sentido predominante é o olfato. O ânus é o seu órgão de ação. O seu mantra é a sílaba seminal (bija mantra) LAM que, quando reverbera em som ascendente, propicia atenção plena e força interior, energia que o protege em todos os sentidos. É no Chacra Básico que residem o poder e o desejo e onde dorme a rnrtgia Kundaline. Aparentemente ingênuos, com linguagem muito simples e acessível, pobre de figuras estilísticas e retóricas, os poemas que representam, neste primeiro livro de Joaquim Alice, o Chacra Básico, são expressões que denotam o crescimento natural a que está submetido o ser humano e a evolução que vai ocorrendo com o passar do tempo e o amadurecimento provocado pelas experiências da vida. Literariamente não há muito que se esperar. Todas as pessoas vivenciaram esse começo 6 Kundalini, representada pela deusa Shakti, é de “suprema sutileza e tem um profundo desejo de união com o seu amado Senhor, o Ser Supremo”. Shiva, representando a Linga (falo), e Shakti são o eterno par de opostos. Shiva é a fonte de todo o conhecimento que não pode ser apreendido intelectualmente, só pelo sentir. A pessoa só pode ter acesso a ele quando se torna ‘consciente da verdadeira natureza de Si Mesmo, além da existência física e psicológica. Então, o Si Mesmo espiritual é nascido dentro” desse chacra. JOHARI, Harish. Chakras. Centros e80 Energia de Transformação Trad. Maria Epstein. São Paulo: Pensamento, 2010, p. 108-109. 7 Idem, ibidem, p. 105. 8 As 4 pétalas representam as quatro modificações mentais importantes: estado de máxima alegria, estado de prazer natural, deleite no controle das paixões e a felicidade suprema na concentração. Idem, ibidem, p. 107.
que prepara o indivíduo para a juventude e, posteriormente Joaquim Alicepara a vida adulta. Parte do início das aventuras amorosas, daépoca do deslumbramento e da fase da identificação pessoal. Tem a ingenuidade da infância e o atrevimento da adolescênciae pseudo-heroísmo da juventude. 81 Contudo, mesmo sendo o mais denso de todos osdemais, este chacra persiste durante toda a vida do corpofísico, influenciado nas atitudes e nas tomadas de decisõesdo indivíduo, principalmente naquelas ocasiões em que osaspectos financeiros e o apego aos bens materiais estejamem jogo. Cabe à pessoa, conscientemente, transitar destechacra para os superiores, porque ele sempre continua ativoe operante e, por isso mesmo, deva ser mantido em equilíbriopermanente, não importa a idade do sujeito. Para o equilíbriogeral de todos os corpos, deve ser atentamente observado,recebendo atenção constantes e cuiados específicos segundoa sua natureza. Os sete desejos alimentados por este ChacraBásico que merecem atenção para que a energia nele flualivremente. Quando a energia que nele flui recebe atenção ecuidao, é certo que há possibilidades na realização dos setedesejos que ele almeja: segurança, despertar da sexualidade,longevidade, compartilhamento prazeroso, conhecimento,autorrealização e união sexual.9 Comportamentos agressivos de raiva, ganância, frustra-ção, avareza, traição e sensualidade desmedida, geram dese-quilíbrios que o desalinham em relação ao bom funcionamentodos demais chacras. Em harmonia com os demais corpos, sem que nadao perturbe e quando sua força é usada com moderidade, a9 Esse chacra básico age como gerador, ativando os que o rodeiam, recarregando- lhes os sistemas de energia e dando-lhes disposição para o movimento. Quando bem alinhado e harmonizado com o coronário, possibilita equilíbrio interior e energia pessoal vibrante.
... do mais profundo de (todos) nós energia desse pimeiro chacra, influenciada pelo elemento terra, conecta-se com o desejo natural do indivíduo por trabalho estável e remunerado, o abrigo de um teto e prazer compartilhado. Como diz Miller,10 essa necessidade de sentir os pés fincados no chão, leva o indivíduo a cuidar da sua “ancoragem”11 em lugar seguro que preserve sua identidade e o deixe livre para ser feliz. Esse ponto de ancoragem é a base sólida de um caminho em direção à espiritualidade: “corpo são em mente sã”! Como ponto de partida de uma iniciação poética, tanto quanto o é Chacra Base em relação ao começo da vida no ser humano, os poemas que compõem este Livro UM, de Joaquim Alice, no presente corpo antropomorfo de escrita (obra), são passagens literariamente manifestadas no tempo presente, com o eu lírico vivendo plenamente o seu momento de uma (ainda) pré-adolescência, quando passado e futuro não têm grande importância. Mesmo que os fatos que deram origem aos poemas sejam de caráter infantil ou juvenil, o autor deles se vale como que a dar início à sua jornada espiritual em direção ao Ideal Supremo da Paz e da Liberdade Espiritual. Que só vai acontecer bem mais tarde no nível da espiritualização do Terciário Superior (Livros CINCO, SEIS e SETE). Por isso, dá-se o devido valor a esses versos iniciais, quase “naifs”,12 se 10 MILLER, Joan P. O Livro dos Chakras, da Energia e dos Corpos Sutis. Uma Nova Visão das Tradições Antigas e Modernas sobre os nossos Centros de Energia. São Paulo: Pensamento, 2018, p. 50. 11 O nível de consciência do Chacra Base é o da sobrevivência, representado pelos reflexos fundamentais dos instintos diante do perigo e pela vontade de viver em paz em ambiente estável. É essencial equilibrar primeiro este chacra,82 porque ele constitui a pedra angular sobre a qual o edifício de nosso ser e de nossa consciência se constrói. Se a base for instável, o restante da construção desmoronará um dia ou outro. 12 Naïf (francês): o termo define a Arte das formas simples e pela fácil compreensão do que está representado. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 2008- 2013, <https://www.priberam.pt/dlpo/naif> Acesso em: 18 maio 2018.
considerados em comparação com os ulteriores, principalmente Joaquim Aliceos da 3a Parte da obra; nível da Transcendência. Detecta-se coesão dos poemas de Joaquim Alice comcaracterísticas deste chacra no âmbito da comida, bebida, 83dinheiro, sexualidade, habitação, locomoção, aspectos danatureza e do temor que tudo isso lhe falte. O medo domomento presente pode parecer pesado demais; então, asolução é o isolamento. EXAURIDO de força e ânimo mentais .../ cego d’ esperanças .../... faço-me mudo .../ ... arco de palavras// ...// ... vivo em meu mundo (isolei-me!)13 Joaquim Alice revela a sua coesão com este chacra atravésdo seu relacionamento com a comida, bebida, dinheiro,sexualidade, habitação, e sua locomoção ou outros atos de semover. Apresenta medo principalmente sobre a vida, temoressobre morte, sexualidade, dinheiro, habitação, do passado emedo do momento presente. Vejamos o poema “Marés” deste Livro UM, e localizemosa voz que fala. Fala no presente, fala sobre duas situaçõesíntimas: uma de frustração e outra de alento pelo dia que corretranquilamente. E o poeta vai buscar exatamente para explicara diferença entre esse dois tipos de estados de humor opostos,imagens simples, compreensíveis por qualquer leitor açoriano(talvez o brasileiro tenha de ir ao dicionário procurar sabero que são lapas e outros termos...) – a de maré baixa (e todomundo conhece essa expressão como a de momentos difíceis)e a maré alta, quando tudo corre bem na vida do indivíduo.Para além disso, há o estado de aceitação pelo que não está beme de busca de recuperação de ânimo, apreciando a naturezaem sentido de agradecimento e, ainda, de bom humor: Ora13 “Os dias de sombra, peso e desalento”.
em maré-baixa e, quando nesta,/ como agora, [...] fico grato! Sereno!// Aguento-me à bronca. Até pode parecer um poema simples, sem grandes complicações estilísticas, mas na sua simplicidade e até na sua ingenuidade descritiva é que está centrada a mensagem filosófica desse pensador que é Joaquim Alice. O nível de consciência deste chacra de base localiza-se no movimento, na percepção do que é sentido fisicamente. Quando está em harmonia, deixa trasparecer um sentimento de bem-estar físico que permite ao indivíduo uma melhor satisfação vivencial. Quando lhe é negado esse direito, reclama, fala, grita. É o que se percebe extamente em “Bolo de arroz e bolas de Berlim” que podem parecer, à primeira vista, teimosia de criança, cuja vontade quer se afirmar frente a uma situação que a contraria. Mas, entrando no poema, verificaremos a importância do grito de liberdade que há nas entrelinhas:... do mais profundo de (todos) nós Deixem que me aprenda... a mim! Não o que vocês são! [...] Não me impijam vosso gosto, Não me “abanem” o meu gostar. [...] Deixem-me escolher. Deixem-me estar! É o eu, em resistência, tomando forma, ancorando-se no seu próprio querer, que nem sempre, se o chacra estiver bloqueado ou com outro impedimento por excesso ou falta, consegue realizar-se. Em “Perdido (estou)”, essa falta de chão,84 ancoragem em solo firme, volta a perturbar, talvez pelo fato de o seu portador estar, agora, – quem sabe de uma maneira ainda prematura – tendendo às forças energéticas dos chacras superiores, quer dizer, ao mental abstrato, do que às necessidades materiais do corpo físico.
[...] Joaquim Alice flutuo no intemporal... sensação de estar solto... 85 divagando... em sítio nenhum, mas por todo o lado, como se fora possível existir, ... apenas... no plano mental. E o que dizer de “Perdido?” O eu indaga, mas sabe quenesse atordoamento difuso não se encontrará a si mesmo. Ea resposta só vem para o público leitor, bem mais tarde, jáno período de amadurecimento espiritual, quando revela, noLivro CINCO, em “Meu Recanto”: Meu recanto sagrado não tem local (é cá dentro!). Em nenhum sítio se encontra (é no interior!), está sempre presente, embora, nem sempre, o ache, em cada momento. E assim, as imagens vão sendo lançadas por JoaquimAlice, reiteradas, quase que beirando a repetição exaustiva,na tentativa, sim, de fazer-se compreender, de deixar claro ocaminho a seguir. E a voz que se exprime neste Livro UM é a de um EUSozinho em começo de experiência vivencial, desprendido,isolado, depauperado, deprimido, como bem revela em“Fibrosado”: Estou carente de mim. Ou, quando diz, em “Apenas”, antecipando a próxima fase,a do relacionamento a dois, característica dos acontecimentosgovernados pelo 2o Chacra, o Chacra Umbilical:
... do mais profundo de (todos) nósSou... qual buraco negro, invertido. Quanto mais tenho, mais dou... Quanto mais absorvo, mais verto... Quanto mais carregado, mais leve... Quanto mais sério. mais alegre, mais contente. E enquanto sou tudo isso, nada sou! E, essa voz se reconhece na busca por um melhor viver que não seja o exílio de uma pessoa só, desacompanhada, numa ilha. Onde estou? Responde: Exilado/ [...]/ nesta ilha, rodeada de ausência. E, deixa evidente o seu querer bater asas (em “Quero outros paradigmas”) para outras lonjuras: mas brot[o]a... qual rebento pujante/ deste lodo peçonhento e pegajoso... Agora, sim, ... movido por esperança (ainda cega) ... ...qual fênix renascida, transform[a]o o vácuo... em Vida... E esse renascer repetido nunca finda: Termina... o dia, nasço eu... (“O Meu Nascer”). A cada anoitecer, um novo começo. Enquanto isso, vive o presente, conforme afirma em seu último poema, à guisa de fechamento do Livro UM: Felicidade Sim... sou feliz! E mais teríamos a apontar, mas... deixo aos leitores a vontade de saborear cada verso de Joaquim Alice nesta sua verdadeira lição de vida.86
Poemas
Olho mais pro Todo que pro lodo, fazendo tudo avançarcom alegria e prazer do cumprido (e não do perfeito)... mas... com-pés-pr’andar. J.A.
Marés Tal como marés são os ânimos... Joaquim Alice Ora em maré-alta, cheia de força, certeza, segurança, fé ... Ora em maré-baixa e, quando nesta, 89 como agora, [...] fico grato! Sereno! Aguento-me à bronca... Qual lapa que, colada à rocha, se fecha, esconde e aguarda... Compraz-se em sua pequenez, tira partido do que tem ao (seu) dispor. Assim também o faço, olho em volta, em regozijo simples, muito simples, ... algo ingênuo (até), mas aprecio o que está ao meu alcance: o céu, o desenho das nuvens... o vento na cara, o calor do sol, tão agradável... o ruído de crianças a brincar; a música... o trabalho do pedreiro... o malhar do calceteiro, o sorriso da secretária, ... a companhia do pedinte(que pedira dinheiro p’ro café e opto por acompanhá-Lo), a piada do funcionário, o aceno do amigo, o cumprimento do colega, a conversa com o conhecido, o olhar (súbito) do pintor e a beleza colorida do canteiro em flor... A cidade que pulula, o polícia que (se) passeia,
os clientes na esplanada, as manchas negras nas caras (que do sol protegem (os) olhos)... Deixo-me ir rua afora, pachorrento, em maré-baixa... mas usufruindo do anancial de ínfimos pormenores, ricos, inspiradores... que, em maré-alta, nos passam como que despercebidos... São migalhas, sim... grãos de areia... soltos, isolados do imenso areal, mas peças divinas ... que... em dia de maré-baixa... são o alento ideal.... do mais profundo de (todos) nós Bolos de arroz e bolas de Berlim (Enfardadeiras) Deixem-me escolher meus bolos... ... larguem-me da mão!!! Deixem que me aprenda ... a mim! (Não o que vocês são...) Deixem-me escolher meus bolos, se p’la cor, tamanho,90 formato ... ou odor. Deixem-me ser.
Não me impinjam vosso gosto, Joaquim Alice não me abanem14 meu gostar. Deixem-me preferir... Deixem-me escolher. 91 Por favor... Deixem-me estar! Perdido? Perdi-me ? ...??? Ou será que me estou a encontrar?!!! É estranho este sentir como que atordoado, sonâmbulo... anestesiado, mas sofrido... apoquentado. Centro-me, então, no momento, e aprecio a variedade de tudo que (ele) tem entesourado. Neste sentir me concentro, nesta riqueza recupero a força, a paz... o alento.14 Abanar: agitar, sacudir, dar abanões a.
... do mais profundo de (todos) nósObrigado Obrigado pela leveza... Obrigado pela clareza... OBRIGADO ! ! ! Bem mais limpo está o céu, já não está enevoado; vou descartando o “chapéu”,15 aos poucos... aliviado! É novo este meu sentir, diferente... outro... (até aqui) ignorado. O peso, o sufoco, a insônia estão a partir... Estou sereno e recatado. Deixei-me de jogos sujos, deixei de ser desatento... Meu outro ser é de cujus,16 aprendo com novo alento... Oferecido é que (já) não sou, passei a ser ofertado.92 15 Chapéu: aqui empregado em linguagem figurada. 16 De cujus: finado, falecido.
Estou mais atento ao que dou Joaquim Alice ... ninguém se sente roubado. Muito mais igual-a-mim. correspondo ao interior. 93 Sinto-me melhor assim em vibração superior. E... se em síntese, me encontro, sinal que estou em louvor... Canto... cheio de fervor. Estou mais próximo do centro... Observador O sol brilha... tudo aquece. A chuva teimosa cai... tudo arrefece. Nesta estação de inverno, já acredito em tudo: na cor, no doce e no lagarto, na proximidade... e empatia,como o gato que ronrona, não mia. Aconchegado na vida, escolho meu canto. Atento à vibração sou e aceito frio, calor, chuva, o arco-íris, o café e o biscoito (ou sua ausência!).
... do mais profundo de (todos) nósEsbanjo aceitação, fabrico paciência. Sou bom... mas nunca o melhor... Mero servidor. Ao estar centrado, vejo o pormenor, observador... Obrigado (Ausência de torvelinho) Agradeço o cuidado, a atenção e o respeito, mesmo a liberdade e... até ... o jeito. É que estar e não estar, o ser aceite e o não ser, são jogos de equilíbrio que, à partida, são (estão) viciados, pois, estás logo vencido, porque te manténs desligado. Deixas o mundo, então, ser. Vais vendo tudo em redor, tentando manter o contato, mas... descontaminado!!! Quando chega o maremoto, estás no topo do morro sentado,94 e lá ficas ... sossegado...
Buffet Joaquim Alice Está tudo presente ... sempre como num lauto buffet A mente ... sente quando o sentir ... vê Embotado Bloqueado... sem sentido... sem rumo e sem norte,sentindo o sufoco da inação... Nada no horizonte ... FLIC-FLAC...cambalhota... E eis-me de pé... hirto, queixo erguido,sabendo o destino, o objetivo, e crente no sucesso! (sem ligar ao como). 95
... do mais profundo de (todos) nósÉ a toca a toca agora se faz, constroem-se muros que sobem, emedam-se blocos... Reforçada a estrutura, nasce uma toca... compriiiiiiiida... Planos se fazem, se pensam, se imaginam... e são trocados, algo mesmo... em-ba-ra-lha-dos... Sabe-se apenas o que se desconhece e, em busca da verdade, se parte... ajuda aqui, ali e ainda além... Na cabeça: é um vaivém, chorrilho de decisões, avaliam-se alternativas, fazem-se comparações... E eis que a toca cresce, qual ninho que, de graveto em graveto, fio, pena, folha seca e penugem, forma vai tomando... Consistência e segurança também. Mera toca p’ro corpo, toca p’ro ambiente, protetora... qual refúgio... quer-se... até quente.96
Aprendo Joaquim AliceQuanto mais espero dos outros é sinal de que mais em falha estou ... para comigo. Quanto mais busco por fora, 97 mais desatento me encontro ... no meu interior. Quanto mais me ofendo com os outros,mais inseguro me encontro (comigo mesmo).Quanto mais inseguro me sinto com os outros, mais esquecido de mim (ando). Quanto mais contido, fechado e zangado. mais vulnerável (me transformo)... Menos EU ... (sou), menos SOL deixo entrar pela janela do meu SER. Na vida tenho o meu ESPELHO... Sempre! O espelho do meu SER ... que aprendo a interpretar. Lodo Por um pormenor apenas, deixo parado... o Todo. Como se perante o riacho cristalino se me detivessem os olhos no lodo pondo, assim, tudo em causa...
... do mais profundo de (todos) nósBastas vezes me entupo... Paro! Estagno! Emboto! Dou graças por este insight17que permite analisar, ter consciência... e a oportunidade de (me) desembaraçar. Olho mais pro Todo que pro lodo, fazendo tudo avançar com alegria e prazer do cumprido (e não do perfeito)... mas... com-pés-pr’andar. Contenho o grito ... e o vento sopra... O mar está sempre chegando em ondas que atira contra a ilha, deixando seu alvo bordado em mancha larga junto à praia. O dia, já no fim, escurece lentamente. Eu contenho o grito, num desatino cego (com o meu interior), às apalpadelas... Não sei de mim... É tal a cegueira ou a teimosia (já nem sei),98 que nem me enxergo... 17 Insight (do inglês): visão, percepção, conhecimento, ideia, perspicácia
Neste vácuo em que me encontro, Joaquim Alice até o ar me falta (mas respiro!). Lateja-me a alma em desatino, neste oceano vasto e profundo de dúvidas.O vento sopra... ligeiro e forte... abana18 o carro (até). E eu contenho o grito... ... Sempre! Esboço um sorriso... vem do fundo, tanto há p’r’agradecer, afinal... eu respiro, vivo! Nada me falta de momento, apenas o medo (do futuro) me perturba. Tontice... Santa Luzia já sabe, já trabalhou... já se fez luz e compôs a sinfonia, que pode ser ouvida (haja ouvidos afinados!)... E tudo está a encaixar-se na vida ... 9918 ... balança o carro.
... do mais profundo de (todos) nósFibrosado (... é como estou) Sinto-me enrijecer, o contrário de abrir e dar... Sinto-me fechar... anoitecer (entristecer), constrangendo a (minha) vontade. Sinto-me recolher... desconfiar, desimportar... deslizar... Quero eventualmente PARTIR. Magoa-me a tirania do guardar silêncio com tanto para dizer... Pesa-me tanto a Vida... Tinge-me o SER de tons pardos... E, pra onde quer que olhe, pra onde quer que me vire, apenas deparo com fardos que me pesam... São carga, nada havendo que ma tire [está difícil... sequer sorrir(!)]. Sinto vontade de me voltar para dentro: estou carente... de mim. E essa carência reflete em quem mais prezo e quero... Enfim... Fibrosado II 100 no entanto... O sol brilha e verte LUZ, acende cores... a tudo. ... ...
Search
Read the Text Version
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16
- 17
- 18
- 19
- 20
- 21
- 22
- 23
- 24
- 25
- 26
- 27
- 28
- 29
- 30
- 31
- 32
- 33
- 34
- 35
- 36
- 37
- 38
- 39
- 40
- 41
- 42
- 43
- 44
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
- 66
- 67
- 68
- 69
- 70
- 71
- 72
- 73
- 74
- 75
- 76
- 77
- 78
- 79
- 80
- 81
- 82
- 83
- 84
- 85
- 86
- 87
- 88
- 89
- 90
- 91
- 92
- 93
- 94
- 95
- 96
- 97
- 98
- 99
- 100
- 101
- 102
- 103
- 104
- 105
- 106
- 107
- 108
- 109
- 110
- 111
- 112
- 113
- 114
- 115
- 116
- 117
- 118
- 119
- 120
- 121
- 122
- 123
- 124
- 125
- 126
- 127
- 128
- 129
- 130
- 131
- 132
- 133
- 134
- 135
- 136
- 137
- 138
- 139
- 140
- 141
- 142
- 143
- 144
- 145
- 146
- 147
- 148
- 149
- 150
- 151
- 152
- 153
- 154
- 155
- 156
- 157
- 158
- 159
- 160
- 161
- 162
- 163
- 164
- 165
- 166
- 167
- 168
- 169
- 170
- 171
- 172
- 173
- 174