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Revista Pentagrama 2013-2

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 20:44:52

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pentagrama Lectorium Rosicrucianum Intuição – inteligência – sinais Ussat 2012: um impulso como um toque de trombeta A unidade do trabalho Ouve a música! O veio áureo oculto nas obras de William Shakespeare Resenha de livro: O jardim secreto das rosas 2013 2número

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA.H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaLinha editorialP. Huis Lectorium RosicrucianumImagem A revista Pentagrama dirige a atenção de seus lei-W. v. d. Brul tores para o desenvolvimento da humanidade nesta nova era que se inicia.Redatores O pentagrama tem sido, através dos tempos, oK. Bode, W. v.d. Brul, A. Gerrits, símbolo do homem renascido, do novo homem.H. v. Hooreweeghe, H.P. Knevel, F. Ele é também o símbolo do Universo e de seuSpakman, A. Stokman-Griever, G. Uljée eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretanto, um símbolo somenteRedação tem valor quando se torna realidade. O homemPentagram que realiza o pentagrama em seu microcosmo, emMaartensdijkseweg 1 seu próprio pequeno mundo, está no caminho daNL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos transfiguração.e-mail: [email protected] A revista Pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seu próprio interior.Edição brasileiraPentagrama Publicaçõeswww.pentagrama.org.brAdministração, assinaturas e vendasPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Números de anos anteriores R$ 8,00Responsável pela Edição BrasileiraM.D.E. de OliveiraCoordenação, tradução e revisãoJ.C. de Lima, N. Soliz, J.Jesus, S. P. Cachemaille,M.M.R. Leite, L.M. Tuacek, M.B.P. Timóteo, M.V. Mesquitade Sousa, M.R.M.Moraes, M.L.B. da Mota, R.D. Luz, F.Luz, R.J. AraújoDiagramação, capa e interiorD.B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253 tijd voor leven 2

pentagrama ano 35 2013 número 2Construir o templo interior e trabalhar para o mundo, na Inúmeras mãos içam o sino que ressoaria pelasociedade, remete a dois princípios, duas orientações, que primeira vez durante a conferência em Ussat­são o reflexo de uma aplicação coerente. Esse duplo tema -les-Bains em 2012precisa ser tratado com mais profundidade. Para nós, éevidente que toda ação autêntica e sensata voltada para os três primeiros temploso homem e a sociedade é impossível sem um trabalho da escola da rosacruz 2simultâneo e contínuo, dirigido para o ser interior. Trata-sede um trabalho fundamentado em uma grandiosa mudança a corrente vertical:interior: é preciso saber que estar a serviço dos outros é o intuição, inteligência, sinaismelhor modo de realizar o próprio progresso. dia da fraternidade 10As palavras-chaves são: o serviço ao próximo, a generosi­dade e o autorrespeito. Então, devemos começar en­ convivência – paz 18contrando a fonte e abrindo o jardim secreto, o elevado um impulso como um toque deprincípio eterno que existe no coração do ser humano.Então, o servir torna-se evidente, assim como a Terra nos trombetaserve, oferecendo-nos de tudo; como o Sol nos serve reflexões sobre a conferênciamediante consciência, calor vital e glória irradiante, assim em Ussat em 2012 24como a imensa beleza atestada em cada folha que cai, a unidade do trabalho 29mas também no sorriso que nosso semelhante nos dirige, a linguagem do silêncio 34ou no olhar travesso de uma criança. ouve a música! 42Esta edição da revista Pentagrama apresenta inúme­ minha vidaros aspectos dessa dupla atividade: uma exposição sobre reflexões de um jovem 49a paz, realizada no Palácio da Paz, em Haia, na Holanda, resenha de livroe uma reportagem fotográfica da exposição Convivência, o jardim secreto das rosas 51em Tarascon-sur-Ariège e em Toulouse; uma dupla ima­gem-pensamento expressa por um jovem; e um artigosobre Shakespeare, que, como bom conhecedor dessadupla atividade própria de um coração magnânimo,escreveu: “A essência da misericórdia não se impõe: elacai do alto, gota a gota, como uma chuva suave, sobre aterra abaixo. Ela abençoa duplamente: abençoa quem aconcede e quem a recebe. Dentre os mais poderosos,ela é a mais poderosa”. 1

os três primeiros templos daEm 2012, completaram-se 75 anos desde a consagração do primeiro templo em nome da Ordemda Rosa-Cruz. Esse templo representa o primeiro raio chamador, envolvedor e consolador doEspírito Sétuplo. Na tarde do sábado 4 de setembro de 1937, às 16 horas, J. van Rijckenborgh, queentão ainda se chamava Jan Leene, oficiou um memorável serviço de consagração. Desde então,o endereço da Bakenessergracht 11, em Haarlem, tornou-se um lugar sagrado onde foi edificadoo primeiro templo de fogo consagrado à Fraternidade no continente europeu. Em 1957 as insta­lações foram ampliadas, preservando o aspecto interior, e dedicadas a um trabalho mais extenso,agora a serviço da Fraternidade Universal. Um ano depois, era construído o templo Noverosapara a mocidade, conservando o simbolismo e aspectos do local.Aconstrução, a realização de um templo, novo, bonito e adequado à sua finalidade. Também é fruto e também sacrifício de uma não é um símbolo para o trabalho na Holanda, ou vida. Em 31 de agosto de 1929 já havia um ponto central que todos os amigos, daqui ou dosido edificado, no mesmo lugar em Haarlem, exterior, possam contemplar como o “seu” templo.um pequeno templo com capacidade para 25 Embora esses pareceres estejam perfeitamente corre­pessoas. Em 1935, a Sociedade Rosa-Cruz tos, não tangem, de forma alguma, o essencial.seguindo um novo rumo espiritual, sob a dire­ Como já foi dito tantas vezes, como alunos da Ro­ção de Z.W. Leene, Jan Leene e Cor Damme, sa-Cruz, não devemos olhar as coisas de fora, e simestabeleceu uma grande renovação, ainda ba­ de dentro. Vocês certamente devem saber ou supor aseada na Astrologia, e os alunos e estudantes importância de Cristo e seus servidores possuíremsentavam-se em bancos correspondentes aos focos, que os auxiliam a atuar em prol do mundoseus signos. e da humanidade. O templo de Haarlem já era háO templo de 1937 apresentou uma concepção alguns anos um desses focos, e o novo templo fazcompletamente diferente. Além de ser um que as possibilidades inerentes a esse fato possamtemplo de fogo, ele também é uma repro­ desenvolver-se melhor. Devido a informações falsas,dução fiel do “pequeno mundo” (minutus alguns alunos estão enganados. Eles acham que taismundus) do ser humano como manifestação focos são locais abençoados por si e, quando as re­espiritual. A rosa de ouro no centro da cruz servas se esgotarem, somente será possível trabalhardourada – a mesma que ainda hoje brilha, “de segunda mão”. Mas não é assim: foi precisosobressai na cruz do templo Noverosa – é o conquistá-los metro por metro no mundo.centro, o espelho dos mistérios, do qual se A posse de centrais de força é de significado inesti­desenvolve toda a criação espiritual, tanto em mável para a grande obra. Quando um centro estátermos de macrocosmo como de microcos­ estabelecido, a Fraternidade dispõe de um sólido emo. O irmão Z.W. Leene foi um dos grandes forte baluarte, que se torna cada vez mais podero­exemplos, e podemos considerar esse templo, so, para trabalhar desde o interior. E vocês com­em sentido espiritual, como fruto do trabalho preendem a imensa importância de se poder traba­de sua vida. Ele não pôde comparecer à sua lhar com base em uma perspectiva interna. Umaconsagração por estar doente de cama. Mas, luz que pode dirigir milhares através das trevas,na semana seguinte, escreveu, com o irmão, seja para se purificarem, elevarem, ou para quei­para um grupo de alunos, sobre a importân­ marem as próprias asas. Além de ouvir a palavracia desse templo: falada, os frequentadores de um templo como essePara compreendê-lo corretamente, é preciso libertar­ também são banhados no ouro da alma e inquie­-se de todos os pontos de vista exotéricos conscientes tados pelas forças espirituais sempre ali presentes.ou inconscientes. Não se trata aqui de um edifício Tal templo é uma força constante; mesmo quando2 pentagrama 2/2013

escola da rosacruz TEMPLO PRINCIPAL: HAARLEM, 4 DE SETEMBRO DE 1937 - 4 DE SETEMBRO DE 2012 TEMPLO RENOVA: BILTHOVEN, 21 DE DEZEMBRO DE 1951 - 21 DE DEZEMBRO DE 2011 TEMPLO NOVEROSA: DOORNSPIJK, 28 DE JUNHO DE 1958 – 28 DE JUNHO DE 2013Assim como o terebinto (pistacia palæstina) muitas vezes cresceu diante de templos, assim tambémele cresce diante da gruta de Belém. Segundo o livro dos Juízes, do Antigo Testamento, foi sob essaárvore que um anjo do Altíssimo encontrou Gedeãonão são realizados serviços, ele é uma fortaleza em Com grande alegria observamos que essascontínua atividade. Talvez agora vocês entendam palavras não perderam nada de sua força.a nossa alegria quando tivemos a oportunidade de Nesse aspecto, o templo principal de Haar­construir em Haarlem, não em outro lugar da cida- lem, assim como o templo Noverosa, sãode, mas no próprio solo do templo espiritual, um sinais luminosos e irradiantes da Gnosis.local simples e digno para realizar um trabalho que Ambos os templos de fogo são consagrados aenvolva todos os mundos. Cristo e sua grande obra de libertação para os três primeiros templos da escola da rosacruz 3

a humanidade que enveredou pelo caminho co, como o templo deveria ser construído eerrado. deu ao arquiteto Nol Bijker, em linhas gerais, as instruções para o esboço. A ideia por trásALOCUÇÃO PRONUNCIADA DURANTE A desse projeto especial refletia o vigorosoCONFERÊNCIA DE NATAL DE 2011 EM RENOVA impulso que partira da Fraternidade Mundial, de modo que nosso trabalho como um todoNesta conferência de Natal, recordaremos um pudesse ser acolhido nesse campo de forçamomento muito especial no desenvolvimen­ sétuplo.to da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea: Por essa razão, a filosofia e o conhecimen­a consagração do templo de Renova, em to da doutrina já não eram tão importantes,21 de dezembro de 1951, há exatamente 60 pois tratava-se de uma renovação espiritual.anos. Fazemos isso porque a Escola Espiritual Uma mudança radical era necessária, naentrou, naquele momento, em um período qual o novo foco templário tivesse a funçãocompletamente novo, e queremos expor o de novo ponto de irradiação. Por isso, esseque esse momento nos ensina. Os dois grão­ templo recebeu o nome de Renova, um focomestres, J. van Rijckenborgh e Catharose de e local de trabalho onde poderia ser rea­Petri, tiveram a visão de que a Escola deve­ lizado o trabalho espiritual de renovação.ria entrar em uma nova fase de desenvolvi­ Com o estabelecimento e a consagração domento, o que estava relacionado ao campo templo de Renova, uma colossal torrente deespiritual da Fraternidade Universal. Para novas energias fluiu do campo espiritual daisso, era necessário fundar um templo, um Fraternidade para a obra, o que culminariafoco, que servisse de intermediário ao novo no amplo trabalho mundial transfigurísticoe poderoso impulso espiritual. O senhor Van sétuplo, que hoje conhecemos. J. van Rijc­Rijckenborgh também viu, no campo etéri­ kenborgh disse aos alunos, naquela época: Foi este o claro conhecimento que ficou gravado em4 pentagrama 2/2013

nossa consciência: Começou. O auxílio sétuplo da mistério dos mistérios, o início e o fim de toda aFraternidade Mundial entrou em atividade. nova gênese.Foi para isso que os grão-mestres permane­ Muitos serviços já haviam evocado esse mi­ceram orientados interna e completamente. lagroso átomo-do-coração e as sete possibi­A consagração do templo Renova concreti­ lidades nele ocultas, os sete passos que deve­zou a ligação com os sete raios do Espírito riam ser dados para a ressurreição e os seteSétuplo. Toda a simbologia do templo assim raios que emanam do Espírito Sétuplo parao expressa. A construção redonda, em for­ tornar possível essa nova vida. Por esse mo­ma de círculo, como símbolo da eternidade, tivo, os grão-mestres tiveram a clara visãoé sustentada por 49 colunas que integram o de que o templo Renova também deveriafundamento do templo. No entanto, o mais ref letir, numa linguagem simbólica, os seteespetacular estava no coração do templo: uma vezes sete raios do Espírito Sétuplo. Elesfonte com uma rosa no centro, da qual brota­ deixaram isso claro já por ocasião da colo­vam três filetes de água. Assim, os alunos fo­ cação da pedra fundamental, e fizeram-noram confrontados, de maneira completamente de forma gnóstico-mágica, pedindo a setenova, com esse que é o símbolo mais impor­ colaboradores que tomassem lugar, comotante e, ao mesmo tempo o ponto central colunas vivas, nos sete pontos de intersecçãodo discipulado; e sua atenção foi dirigida ao das quarenta e nove colunas sobre as quaisprincípio da eternidade que eles carregam no o templo seria fundamentado. Além disso,microcosmo, como um tesouro maravilhoso. encontramos a mesma alusão aos 49 raiosA mensagem imutável que a Escola Espiritual da luz sétupla no meio do templo, acima datransmite aos alunos que estão no caminho é: fonte. E na luz violeta, o símbolo do sétimoIrmão, Irmã, preste atenção em tudo e, sobretudo raio do Espírito Sétuplo, sob o qual seriaao proto-átomo, à maravilhosa rosa-do-coração, realizado o trabalho no templo a partir da­pois ela é a chave para a verdadeira vida. Ela é o quele momento. os três primeiros templos da escola da rosacruz 5

Na linguagem dos mistérios da sagrada caba­ jovem Fraternidade gnóstica. Também fazemla, o número sete representa “o templo con­ parte dela os quatro volumes de A Gnosissumado, concluído”. Na sabedoria que nos foi original egípcia, nos quais o Corpus Hermeticumlegada por Pitágoras, o número sete indica “o serviu como base para a elaboração da novacaminho para a vida”. Em outro tratado, re­ sabedoria transfigurística. Mas, na verdade,ferente aos mistérios, o número sete é ligado podemos considerar como Biblioteca Renovaà “superação da matéria”. Isso seria compro­ toda a obra dos nossos grão-mestres, na qualvado nas conferências de renovação, como J. eles expõem o tesouro áureo da sabedoriavan Rijckenborgh passou a chamá-las a partir transfigurística. Nessa obra todo buscador,de então. Nessas conferências, os participan­ todo portador do átomo-centelha-do-espí­tes seriam inseridos, isto é, mergulhariam rito pode encontrar hoje o que acreditamosem uma corrente de ensinamentos universais, terem abrigado muitas bibliotecas gnósticastendo como ponto central o transfigurismo, do passado.base da sabedoria gnóstica, que com forçadinâmica, mediante a Luz, se conectaria com O templo Renova foi o foco com base noos alunos. A repercussão dessa mudança na qual uma nova etapa do trabalho espiritualEscola Espiritual e em sua doutrina encontra­ mundial teve início. Pouco depois, gruposse no livro O advento do novo homem, no qual de alunos fundaram focos de renovação emo grão-mestre estabeleceu os parâmetros e outros campos de trabalho, de forma queas diretrizes da nova Fraternidade gnóstica também ali passou a fluir a torrente de sabe­como Gnosis moderna. Moderna porque, a doria e força-luz, que brotava no templo departir desse momento, o ensinamento uni­ Renova a cada conferência.versal da Gnosis passou a ser transmitido de Uma frase marcou a consagração desse tem­maneira totalmente nova. plo: Começou! O auxílio sétuplo da FraternidadeComo possuidores da chave da sabedoria uni­ Mundial entrou em atividade. Essa declaraçãoversal, que está presente no campo espiritual ainda é a base da Escola Espiritual, com to-da Fraternidade Universal, os grão-mestres dos os focos e templos que foram construídostornaram novamente acessível para os alunos nos últimos 60 anos. Desse modo, o corpo­e pesquisadores muito da antiga sabedoria das -vivo, ao qual estamos ligados, constitui umescolas transfigurísticas precedentes. Por isso, potente sistema de respiração, no qual forças­eles denominaram a edição dos textos dessas -luzes puras descem e sobem continuamente,conferências de Biblioteca Renova, da qual faz tal qual acontece com a inspiração e a expi­parte A Gnose em sua atual manifestação, um ração. Uma corrente respiratória da qual po­claro indício da nova atuação da moderna e dem participar todos os alunos que se orien­6 pentagrama 2/2013

tarem para isso e estabelecerem a ligação. vimento do grupo que protege e anima osTodos os focos da Escola Espiritual traba­ focos e é capaz de elevar-se, sempre de novo,lham, de forma concentrada, com o fogo ao campo de luz. Nesse sentido, cada idainterplanetário do Sol espiritual. E o todo, o consciente ao templo, cada vez que se aden­corpo-vivo, é como UM grande templo que tra um local de trabalho da Fraternidade éenvolve tudo e todos – UM grande templo, uma confirmação do discipulado.ao qual todos os alunos no campo mundialpodem ligar-se, do qual eles podem viver e Nos sessenta anos que se seguiram, surgiuno qual podem trabalhar. Assim como o pla­ uma rede de templos e focos distribuídos porneta Terra gira em torno do Sol, descrevendo muitos países, em quase todos os continentes,sua órbita no sistema solar, o templo espi­ de forma que – falando-se de forma simbóli­ritual da Escola Espiritual gira em torno do ca, mas nem por isso menos real – uma forteSol espiritual central do campo de radiação rede foi lançada no mar da vida. Ela consis­da Fraternidade, recebendo nova força-luz te em todos os pontos de radiação dos seteininterruptamente. raios, que nos atingem provenientes do cam­ po de vida da Fraternidade Universal. ElesNa construção sétupla da Escola Espiritual, formam UM cordão nervoso fulgurante queessa simbologia representa a promessa de interliga todos os membros do corpo-vivo nouma nova realidade. Em sentido espiritual, a planeta inteiro.simbologia da Escola é uma realidade viva, Agora, trata-se de ampliar, com grandeum toque perceptível da luz, do Espírito, que dinamismo, entusiasmo e persistência, ose aproxima de nós, vindo do mundo original que foi iniciado no passado, em termos dedo homem. O Espírito é infinito, mas sempre possibilidades espirituais, de forma que nós,dá à alma uma nova respiração em interação como grupo de alunos, sejamos mundial­harmoniosa, que acompanha o desenvol­ mente mestres do nosso futuro. Todas as os três primeiros templos da escola da rosacruz 7

energias divinas e espirituais estão presentes mental. “E, por fim, a cruz é o sinal da suano princípio fundamental dos nossos templos vitória – a de Cristo –, na qual venceremos.”e focos. Neles o caminho das estrelas pode Sua base está plantada firmemente no chãoabrir-se para quem assim o quiser. da realidade, e sua ponta alcança até as esfe­ ras do pensamento abstrato do puro mundoALGUNS PENSAMENTOS SOBRE O 55º da gênese. O homem que se esforça apren­ANIVERSÁRIO DO TEMPLO NOVEROSA derá, cada vez mais, a expressar de fato as ideias abstratas da luz e do amor.O templo Noverosa foi o primeiro templo da O vaso representa o coração aberto e a maisEscola Espiritual a passar por uma recons­ pura receptividade; a mesa do altar, o anseiotrução, em 1958. Ele é uma reprodução fiel puro do coração e da cabeça, e sobre ela en­do minutus mundus, do microcosmo do ser contramos a Bíblia como o Verbo (re)criadorhumano original. A rosa áurea, no meio da – as energias atuais de Cristo. As sete velascruz áurea, é o centro e constitui o espelho do candelabro sétuplo ligam-nos ao Espíritodos mistérios, com base no qual toda a cria­ Sétuplo, ao Logos sétuplo que sustenta todação espiritual se desenvolve como mistério a criação, ligam-nos à corrente universal demaravilhoso da manifestação divina, na qual Fraternidades em Cristo.criador e criatura se espelham e expressam E os sete selos no teto indicam, como setemutualmente. A rosa é a representação do portais, os caminhos que a nova alma percor­mistério mais profundo, em que o homem é re. Eles são sustentados e apoiados pelas pare-uno com a própria divindade. des com doze janelas, os doze fiéis guardiães,A cruz, símbolo da personalidade, é, ao mes­ representantes dos doze irmãos mais antigos,mo tempo, a imagem da Terra onde ela vive que são as forças originais e formadoras dae faz suas experiências. A cruz é o número criação e representam os doze portais do sis­quatro: os quatro elementos, terra, ar, água e tema microcósmico µfogo, dos quais tudo se fez; os quatro pontoscardeais, que abrangem toda a Terra e estãopresentes simultaneamente em todos os pon­tos do planeta. Além disso, a cruz é a expres­são dos quatro corpos que hoje se manifes­tam no homem: corpo físico; corpo etérico;corpo astral, que pode ser nossa ligação como corpo solar de Cristo; e o incipiente corpo8 pentagrama 2/2013

CONSTRUÇÃO DO TEMPLO Na Roma antiga, conhecia-se o Ædes Menti, o templo do homem ou do Espírito; em Atenas, o Pártenon ainda mostra sua imponente silhueta (ver foto). As seções de colunas desse edifício ajustam-se com tal precisão que parecem talhadas num único bloco. Para construí-lo, Péricles, o mestre de obras, e Fídias, o mestre escultor, basearam-se nas leisda numerologia, da geometria e da arquitetura. Foi em 477 a.C. que eles iniciaram a construçãodesse que seria um dos monumentos mais belos e mais harmoniosos do mundo, e isso graças à proporção harmônica 9/4. construção do templo 9

a corrente vertical:intuição, inteligência, sinaisNo dia 7 de outubro de 2012, um grande número de alunos e membros domundo inteiro reuniu-se nos núcleos e locais consagrados do LectoriumRosicrucianum para refletir sobre sua união com a Fraternidade Universal sétupla.Estamos felizes de poder incluir, nesta edição da revista Pentagrama, o textoda alocução proferida nessa ocasião.Chegou a época em que se tornou ne­ correntes formam uma estrutura em forma cessária uma renovação estrutural, a de cruz, em cujo ponto central encontra-se o fim de que a Escola Espiritual possa princípio mediador.continuar a realizar sua incumbência numfuturo próximo. Para podermos colaborar na Assim, em cada processo de criação podemosconsecução desse desenvolvimento, susten­ distinguir três princípios:tá-lo e ajudar nessa travessia, os órgãos de - o afluxo vertical, o Espírito;direção devem colaborar de maneira nova. Na - o núcleo mediador, central, a alma;fase que hoje se inicia, é exigida de nós uma - o desenvolvimento horizontal, a forma, ocolaboração vertical entre os vários níveishierárquicos da direção. corpo.Para compreender a incumbência atual, deve­mos fazer uma distinção clara entre renova­ Cada um desses aspectos tem sua tarefação horizontal e renovação vertical. Sem essa própria. Dessa maneira, a corrente verticaldistinção existe o perigo de confundirmos impulsiona a manifestar-se o que ainda nãoa importante renovação horizontal, que já se manifestou, o desconhecido, enquanto aacontece na Escola, com a renovação vertical, corrente horizontal possibilita a manifestaçãoainda por acontecer, e assim obstaculizarmos e cuida para conservar o que foi chamado ào desenvolvimento da Escola. vida, mediante consolidação e reprodução. OPodemos reconhecer a essência dessas duas mediador desse processo é a força central, querenovações na estrutura imutável do plano transforma a corrente vertical em horizontal,de Deus: cada nova criação é o resultado da e sempre atua de maneira equilibradora.colaboração de um impulso espiritual verticalcom um estado material horizontal. O QUE NÃO EXISTIA ANTES Cada um desses aspectos tem suas próprias leis. Assim, tam­Um novo desenvolvimento não começa com bém há renovação na corrente horizontal,um estado primordial de tempos remotos, pois apenas mediante renovação é possívelporém sempre surge de um resultado já manter a longo prazo um estado existente.existente. A base para esse desenvolvimento No entanto, essa renovação horizontal não ésempre é a essência das experiências mate­ estrutural. Em última instância, ela é apenasriais do passado. O impulso espiritual, como adaptação, reprodução, cópia do que já existe,corrente vertical, introduz-se nessa essência; ou variação de um tema existente.e a reação a isso é seu desenvolvimento e Dessa maneira, a corrente horizontal seguesua propagação horizontais. Juntas, as duas leis reproduzíveis, que podem ser pesquisadas e apoiadas cientificamente. Isso não é válido10 pentagrama 2/2013

DIA DA FRATERNIDADE – 7 DE OUTUBRO DE 2012 a corrente vertical: intuição, inteligência, sinais 11

O Logos impulsiona a uma propagação contínua das manifes­tações e da consciência. Isso significa que, mais cedo ou maistarde, toda forma é submetida a um salto evolucionáriopara a corrente vertical, para a renovação ver­ festação. Para tanto, sabemos que nossos es­tical. Em princípio, ela não pode ser plane­ forços apenas podem ser coroados de êxito sejada nem realizada de maneira metódica. Ela os impulsos e energias necessários provieremtambém não se apoia em pesquisas estatísticas da radiação nuclear da mônada, que libera anem em desenvolvimentos já existentes. força da nova alma no coração. Apenas quan­A corrente vertical traz à manifestação o que do o trabalho está impregnado pelo Espírito énunca existiu, o inesperado. Por essa razão, que a corrente de água viva pode continuar aela não pode ser investigada nem guiada por fluir. Isso é reconhecido na alegria, no entu­meio de pesquisa de tendências, pois a pes­ siasmo e na serviçabilidade com que o alunoquisa se orienta por algo já existente e indica em autoesquecimento empreende seu traba­tendências de mudança de estados conhe­ lho de propagação e renovação horizontais.cidos, as quais podem ser descritas cientifi­ Assim, cada colaborador realiza seu trabalhocamente. É importante saber isso a fim de com base na vivência do discipulado.distinguir entre renovação vertical e renova­ No entanto, chegamos agora ao critério decisi­ção horizontal. vo. Não é plano do Logos manter viva indefi­Durante longo tempo a renovação horizon­ nidamente uma forma de vida manifestada. Otal é absolutamente necessária, tal como a Logos impulsiona a uma propagação contínuanatureza se renova a cada primavera, pois na das manifestações e da consciência. Isso signifi­primeira fase da vida de cada novo organis­ ca que, mais cedo ou mais tarde, toda forma émo, qualquer que seja sua espécie, os órgãos submetida a um salto evolucionário. No en-diretivos têm a tarefa de servir aos processos tanto, essa renovação estrutural levada a efeitohorizontais de manutenção e reprodução. pelo Logos pode ser realizada de duas maneirasSe transpusermos isso para a Escola Espiritual, distintas, de acordo com o campo de força quevemos que os órgãos diretivos têm de cui­ mantém o estado existente. A diferença essen­dar para manter e renovar, por tanto tempo cial consiste no seguinte: na corrente da dialé­quanto possível e na medida certa, o que foi tica santa superior, isso acontece mediante umcriado pelo impulso vertical dos grão-mestres: processo harmonioso de dissolução e reconsti­o corpo-vivo e sua forma material de mani­ tuição. Contudo, em nossa conhecida dialética12 pentagrama 2/2013

inferior isso acontece mediante um fim desar­ des e... sobretudo, a largura da escada devemonioso da existência por aniquilação e por ser ampliada e ela deve ser colocada em umaum começo completo a partir do zero. posição central da casa, a fim de permitir um intercâmbio intenso entre os pavimentos deA questão decisiva é: vivificamos, na Escola cima e de baixo. Em todos esses trabalhosEspiritual, a corrente da dialética superior, na estrutura, os arquitetos devem considerarou apenas os processos de cristalização e quais são as paredes de sustentação e as colu­transformação da dialética inferior? Qualquer nas principais da estrutura básica, pois a casaforma que venha à existência pode ser man­ cairá se elas forem retiradas.tida viva por determinado espaço de tem­po mediante os processos de regeneração e A estrutura básica da Casa Sancti Spiritus é oreprodução. plano divino, o plano do Logos, tal como éNo entanto, após um período de tempo, ela revelado, por exemplo, no Corpus Hermeticum.degenera e é obrigada a passar por uma re­ Por isso, hoje, mais do que nunca, devemosnovação fundamental – isto é, mediante um passar da fase tipicamente maniqueísta da Es-processo criativo –, sendo assim elevada a um cola – que separa e eleva para fora do abismonível evolucionário superior. Esse momento da matéria – para a fase tipicamente hermé­chegou para a Escola Espiritual. tica, que une e constrói num movimento deTodos os esforços de renovação que reali­ retorno à Unidade.zamos até agora, com grande laboriosidade, O que significa isso para a Escola? Devemosamor e muita competência, concernem à fase renovar estruturalmente desde o interiorhorizontal, à fase da reprodução. Eles foram e muitos de nossos conceitos: uma vez que acontinuam sendo absolutamente necessários, e atividade do Espírito Santo no corpo-vivonão queremos de modo algum questionar seu está plenamente desenvolvida e a espada davalor. Essa fase é comparável à renovação de distinção entre luz e trevas está integrada nouma casa, na qual o interior e a fachada são grupo nuclear, a separação e a delimitação jámodernizados. A pintura das paredes, o piso, não devem ser levadas ao exterior da mesmaa iluminação, os banheiros, a cozinha são re­ maneira que o foram na fase de construçãoformados segundo o que há de mais moderno. da Escola. A separação enfática da fase inicialNesse processo, contudo, a estrutura da casa deve ser vencida, por assim dizer, coroadacontinua a mesma. Agora, porém, trata-se de pela união, pela religação com o Espírito. Auma renovação estrutural. O interior deve ser separação do exterior teve sentido na fase daampliado mediante a retirada de divisórias, construção, pois apenas assim os alunos e aportas e janelas devem ser abertas em pare- Escola puderam ser purificados, acrisolados e a corrente vertical: intuição, inteligência, sinais 13

protegidos das forças astrais inferiores e dos mental na estrutura da Escola Externa e naéons da natureza. maneira como é feito o acompanhamento deNo entanto, hoje devemos levar em conta interessados, membros e alunos do primeiro eo elevado nível de vibração do corpo-vivo, segundo aspectos. É necessário que um novoe em sua força unimos tudo. Assim, deve­ tipo de comunicação surja. Ainda devemosmos reconhecer claramente certos conceitos elaborar em detalhes que aparência ela terá.dualistas e separatistas, que de modo algum Contudo, gostaríamos de tratar da essênciapertencem às influências de Aquário, e subs­ de nossa colaboração. Temos consciência detituí-los pelos respectivos conceitos herméti­ que a direção da Escola Espiritual está, comocos. Isso, porém, é um assunto muito sutil e sempre, nas mãos da Direção Espiritual, istodelicado, pois também se procura alcançar a é, dos grão-mestres J. van Rijckenborgh e Ca­união e a unidade de todos em muitos con­ tharose de Petri, e da Fraternidade das almasceitos sociais novos de desenvolvimento da vivas. Unicamente a Loja do Alto pode dar opersonalidade, no esoterismo contemporâneo impulso para a forma de manifestação atual doe na ciência. E não poderia ser de outra ma­ plano divino. Somente ela sabe como a Escolaneira, pois isso é uma reação a Aquário. Espiritual deve desenvolver-se desde o âmago a fim de satisfazer as exigências da nova era.Contudo, apenas fortalece a ilusão quem No entanto, a Fraternidade não nos dá umjunta sem antes ter separado no Espírito. manual concreto de construção. Sua men­Somente quem realiza o solve alquímico, pode sagem é de natureza espiritual, por isso éprogredir para o coagula. Se, no início, não abstrata e apenas pode ser percebida comoestá presente a espada separadora do Espírito, visão, como imagem que se projeta em nossaa união não é libertadora, porque nela o anti- alma-espírito.go e o novo estão mesclados. Jamais devemos Visões e imagens nunca são exatas. Elas sãoesquecer esse fato! vagas, imprecisas e sujeitas a interpretações, pois apenas desenvolvem a força para a reali­Por conseguinte, não devemos desenvolver na zação. Se tivéssemos um plano concreto queEscola novos conceitos de união, pois eles já detalhasse o que devemos fazer faltar-nos-ia aexistem, mas sim dar provas, de maneira nova força para realizá-lo. A força para a realizaçãoe convincente, da realidade da reversão fun­ apenas é liberada quando juntos transforma­damental, da ausência de forças eônicas e de mos a ideia abstrata recebida da Fraternida­ilusões; e isso tanto por palavras quanto por de mediante um processo de concretização.meio de nossa atitude de vida. Isso conduz Assim, os diversos níveis das direções e os as­necessariamente a uma reformulação funda­ pectos do corpo-vivo têm a tarefa de receber14 pentagrama 2/2013

Visões são como uma luz, como uma lâmpada diantedos pés, e não um manual de instruçõeso impulso abstrato da Fraternidade e juntos sentido de experiências concretas do passado,transformá-lo, degrau por degrau, até que ele porém no sentido da inteligência, da essênciase concretize na matéria. Trata-se, portanto, que foi adquirida no passado. No entanto,de processos de transformação do abstrato no isso também significa que as experiênciasconcreto, que são possibilitados por uma coo­ concretas do passado já não podem servirperação vertical, por um intercâmbio vertical de base, mas devem ser dissolvidas alqui­entre os níveis hierárquicos. micamente, por assim dizer, e sua essênciaNessa colaboração vertical, as medidas prá­ destilada. Dirigir, em novo sentido, significaticas da renovação devem ser desenvolvidas. abranger e integrar os diversos aspectos deEssa colaboração vertical é um processo de um todo. Um órgão de direção é um aspectocirculação, tal como é descrito na Tabula superior que cria as condições para a for­Esmaragdina. O impulso da Fraternidade pode mação de um órgão de maneira análoga aointroduzir-se nessa circulação hermética, envoltório e à proteção proporcionados pelanessa destilação alquímica, que une o que está membrana de uma célula a todos os seus ele­em cima com o que está embaixo, e condu­ mentos. Nessa nova forma de direção, trata­zir-nos para as margens da nova vida. se de estímulo, apoio e orientação amorosa, numa completa abertura para um resultadoA missão da Direção Espiritual Internacional, final ainda não conhecido e não identificado.como o nível mais elevado de direção da Es- A direção, que representa o aspecto espiri­cola na matéria, é receber os impulsos renova­ tual do todo, une os elementos contráriosdores da Fraternidade. Ela estabelece a orien­ dos graus que lhe estão subordinados hie­tação e os objetivos espirituais, no entanto não rarquicamente e transforma-os em aspectosos detalha concretamente. Então, mediante complementares. Dessa maneira, a direçãoa colaboração com o Presidium e as várias cria espaço, embora não entre nele, pois umdireções, a orientação e os objetivos devem salto verdadeiramente evolucionário apenas étornar-se aplicáveis e utilizáveis na prática, possível por meio da integração de opiniõesconvertendo-se em realidade na matéria. contrárias em elementos complementares.Para tanto devem afluir, como essência, como Por outro lado, se apenas procuramos pessoasdestilado, as experiências do embaixo. Não no que pensem da mesma maneira, bloqueamos a corrente vertical: intuição, inteligência, sinais 15

o desenvolvimento. A inteligência sagrada cia reconhece os sinais presentes na direçãoe verdadeira apenas pode ser desenvolvida indicada pela intuição. E os sinais estão namediante a integração dos opostos nos grupos vida concreta, nos acontecimentos, no que éde trabalho confiados a nós. Essa inteligência perceptível pelos sentidos.verdadeira reconhece a liderança espiritual Possam os citados três atributos estar ativose a interpreta da maneira correta. A renova­ como uma unidade em nosso trabalho para oção espiritual é sempre inesperada e conduz mundo e a humanidade µa algo antes inimaginável. No surpreendenteela contém o potencial para a manifestaçãodo plano do Logos. Assim, no futuro cadavez mais seremos confrontados com as trêsferramentas mágicas do arquiteto: intuição,inteligência e sinais.A intuição é o aspecto espiritual. Ela mostra­-nos a direção.A inteligência é o aspecto anímico. Ela mostra­-nos as ligações.Os sinais constituem o aspecto físico. Elesmostram-nos o tempo e o local de nossa ação.Esses três constituem o encontro imediatoentre idealidade e realidade, o elo decisivo naligação vertical entre o Espírito e a matéria.A intuição eleva-se do desconhecido. Ela nãoé controlável e resulta da ligação interior como Espírito. A intuição guia o olhar, os pen­samentos, para a direção correta. A intuiçãoé orientadora e direcionadora. A inteligên­16 pentagrama 2/2013

CONSTRUÇÃO DO TEMPLO Procedente de Amon – o incognoscível, o invisível, a substância original sem forma – o modelo arquitetural constante do templo egípcio com seus pilares, seus espaços interiores, suas colunas ornadas com motivos de lótus e palmeiras, seus santuários no coração do templo, suas decorações representando as divindades, os personagens reais, os rituais e os textos sagrados,bem como sua localização em lugar sagrado e sanador, era uma projeção do Universo na Terra.E o que estava no cosmo e era percebido pelo homem também se encontrava nele: o invisível, as matérias primas e sua expressão: a trindade Deus-cosmo-homem. Templo de Luxor, a avenida das esfinges, Egito construção do templo 17

convivência - paz18 pentagrama 2/2013

Em 22 de setembro de 2012, teve lugar no Palácio da Paz em Haia, sobo patrocínio da AMORC, um congresso, no qual representantes de seisorganizações expuseram suas ideias e considerações sobre a paz. Além dos porta­vozes do Movimento Sufi, da Associação Antroposófica, da Sociedade Teosóficae de uma apresentação sobre o significado esotérico do Palácio da Paz, Theo vanRooij, membro da Direção Espiritual Internacional do Lectorium Rosicrucianum,falou sobre a paz interior. Uma personalidade da AMORC encerrou com umameditação sobre a paz com um fundo musical de Eric Satie. “Para todos os que não nos conhe­ cem bem: somos uma comunidade gnóstico-cristã de rosa-cruzes, com foco no hermetismo, na Rosa-Cruz e na Gno­ sis. No fim de semana passado, tivemos uma grande conferência internacional de quatro dias no sul da França, com cerca de 2.500 participantes. Ainda estou tocado por essa experiência maravilhosa. Depois voltarei a fa­ lar sobre isso. Todos nós queremos contribuir para a paz, esse estado particular e elevado que, de pleno direito, pode e deve ser chama­ do humano. Todos vocês, prezados ouvintes, estão à pro­ cura da paz e exigem uma paz duradoura, constante, não apenas como contrapeso à luta ou – o que é pior ainda – à guerra, mas como algo duradouro, como uma posição espiri­ tual contínua e um estado correspondente da alma, que ajudam a tornar possível a paz social. Essa paz é um estado elevado, uma realização espiritual, é ser acolhido em um novo estado de vida, isto é, em uma atmosfe­ ra astral e etérica que eleva a alma a um esta­ do de ser novo e puro, a um devir em harmo­ nia com tudo e com todos. É poder ligar-se à realidade humana sublime, pura e verdadeira, cuja essência divina está presente em cada ser humano: Deus é amor, Deus é paz. Quem quiser obter esse estado de paz deve trabalhar em si mesmo, examinar-se profundamente e esforçar-se por ter uma atitude de vida moral e espiritual de alto nível. Para a alma, a paz e o amor não são normas convivência - paz 19

CONVIVÊNCIA em Tarascon e Toulouse. Durante os dias que precederam a Conferência do Lectorium Rosicrucinum em Ussat também foram realizados colóquios no contexto do evento Convivência, com porta-vozes de várias associações espirituais e sociais. As fotografias dão uma ideia desse acontecimento.Lombrives, a montanha da Catedralmorais desejáveis, porém constituem um esta­ – e que há muitos estágios diferentes de de­do de ser. Então sua paz e também seu amor senvolvimento.são uma propriedade, pois não poderia ser deoutro modo. Nesse caminho para o cume, que é o Espí­Para nós, trata-se de alcançar aquele estado rito, sempre reconheceremos um ao outrode ser em que o espiritual, o divino, é fonte e nos saudaremos amigavelmente, porquee, ao mesmo tempo, atmosfera de vida, pois reconhecemos nos outros o divino, o aspec­Deus é amor. Jesus Cristo também não foi to-alma.chamado de Príncipe da Paz, no sentido de E, no entanto, para o homem e a humanida­bálsamo para a alma, dignidade tranquila, de de, a realidade é tal, que devora os ideais, abenevolência? paz não é estabelecida, e a disputa só culmi­No nosso imo todos aspiramos a isso, porque na numa nova disputa. A paz é muito frágil.surgimos desse elevado estado humano. Essa étambém a razão de não podermos agir de outro Cabe, portanto, perguntarmo-nos: Por quemodo, senão esforçarmo-nos constantemente sempre há luta novamente?para reencontrar a ligação com essa atmosferade vida especial e, sobre esse fundamento, mol­ Em essência, podemos afirmar que a luta édar uma sociedade na qual a paz seja a base e o uma consequência da nossa realidade atual daamor, por assim dizer, o fermento. separação, e também porque somos determi­ nados pela dualidade.Uma convivência: A essência mais profunda de toda separação– na qual não olhemos em primeiro lugar é que a nossa alma está apartada do Espíritopara nós mesmos, e sim para o todo e os inte­ divino, portanto já não existe uma ligaçãoresses do outro; ativa. O que costumamos chamar de espírito– na qual respeitemos uns aos outros e tenha­ é o intelecto. Usamos o conceito de espíritomos em grande estima todas as outras crenças para designar a atividade intelectual. Nos-e correntes de pensamento; sa maneira de pensar e de falar é marcada,– na qual consideremos a Terra como parte da em alto grau, por divergências de opinião e,criação divina; portanto, disputa. Utilizamos nossa capacida­– e na qual saibamos que todos, da maneira de de pensar principalmente para comprovarque for e em que fase se encontrem, estão diferenças.escalando a montanha do Espírito; Por isso, a briga sob a forma de pensamentos– e que vários caminhos conduzem a esse e palavras é o pão-nosso de cada dia.objetivo; Separados do divino e da unidade, estamos na20 pentagrama 2/2013

Alain Sutra, prefeito de Tarascon Daniel Benlolo, Círculo Raymond Lulle, ToulouseA tarefa especial das comunidades espirituais agora é sairpelo mundo e, como fez Hermes, auxiliar nosso próximo etransmitir uma mensagem claradualidade, no dualismo, como, por exemplo: de auxiliar o ser humano e a humanidade.ter e não ter. Por essa razão, preocupamo­ Jesus e todos os outros grandes iniciadosnos com o amanhã. Separação e medo são as deixaram as escolas de iniciação, após deter­molas propulsoras da luta. minado período de preparação, de aprendi­Nossa consciência, nossa segurança, estão na zagem e iniciação, e, em seguida, levaram amatéria, pelo menos é o que pensamos, mas a todos a alegre mensagem. Da mesma formaúnica certeza na matéria e no nosso campo de nós, como comunidades espirituais na Era devida é que eles estão constantemente subme­ Aquário, deixando para trás a Era de Peixes,tidos à mudança. A mudança é a escola de temos uma tarefa especial: sair pelo mundoaprendizado para a alma. e, como Hermes, auxiliar nosso próximo eA ligação viva com o divino, o Espírito – o transmitir-lhe uma mensagem clara.único criador do Todo –, foi perdida, e onosso cosmo tornou-se, portanto, uma mani­ O princípio de vida hermético, um princípiofestação dialética, dual. Porém, a alma em nós puramente da alma, determina: tudo receber,está procurando, e continuará procurando, a tudo entregar e, assim, tudo renovar.sublime trindade Deus-cosmo-homem. As­ Vemos isso como um desenvolvimento con­sim, somos os que anseiam, os que buscam a tínuo, que depende da medida em que nosverdade e a paz. transformamos mediante a entrega. Trata-se de abrirmo-nos às forças espirituais e permitirO que podemos fazer? que elas nos mudem e também querer traba­ lhar para os outros com elas.Subir a montanha, viver a vida do Sermão Muitas vezes pensamos no nosso próprioda Montanha. Elevar nossa alma ao nível e desenvolvimento ou no do grupo ao qualàs esferas em que a alma encontra o Espírito pertencemos. Uma das afirmações mais co­e é alimentada com as substâncias do amor e nhecidas na nossa Escola Espiritual é esta:da paz, onde aprofundaremos cada vez mais a Serviço aos outros é o caminho mais curto e seguroligação com o Espírito, como em um processo até Deus.sem fim, e então trabalhar com base em uma O símbolo do Espírito é a pomba, a pom­perspectiva nova e impessoal de serviço, a fim ba da paz que, como luz e força, liga-se ao convivência - paz 21

Imagem do espaço Convivência em ToulouseO espírito do catarismo, porém, não morreu. Pelo contrário, eleestá brotando na nossa época, pois muitas pessoas sentem-seatraídas por essa região e por esse espíritocoração anelante. O coração, onde a centelha Rosa-Cruz, uma Aliança cuja atuação espi­de luz do único criador do Todo está oculta ritual conjunta surgiu em 1957. No vale docomo núcleo da nossa alma, está à espera de rio Ariège, aos pés dos Pirineus, entre Foix eseu despertar, para assim reconhecer o Es­ Andorra, estavam situados os locais onde ospírito, a pomba da paz. Então, a pomba da cátaros, após a queda de Montségur, recebiampaz será reconhecida no pensamento, como seus ensinamentos e eram consagrados, nasnova compreensão, como sabedoria. Se qui­ grutas da atual Montagne Sacrée (Montanhasermos permitir que essas correntes de força Sagrada). A queda do castelo de Montségur,nos preencham, se quisermos ser capazes de o último farol do catarismo, em 1244, repre­seguir o amor e a sabedoria, então é preciso sentou o ponto final de uma cruzada impie­agir em concordância. Essa é a maneira pela dosa de roubo, assassínio e pilhagem, além dequal podemos fazer que a paz se torne uma significar o fim da Occitânia como sociedaderealidade em nós e ao nosso redor. elevada, onde o amor e a paz eram tidos em conta de forma extraordinária. Todos os cáta­Mas também gostaríamos de falar-lhes sobre ros ali presentes – cerca de 200 – perderam ao ocorrido no último final de semana. Como vida na fogueira.mencionamos, tivemos uma conferência inter­ E, no entanto, o espírito do catarismo nãonacional com aproximadamente 2.500 rosa­ morreu, pelo contrário, ele está brotando-cruzes de mais de 40 países. na nossa época, pois não apenas pessoas daDesde meados dos anos 1950, realizamos nossa comunidade, mas felizmente de muitasregularmente conferências no sul da França, outras, sentem-se atraídas por essa região eporque nos sentimos muito unidos aos cáta­ esse espírito. O interesse atual pela ideia doros, que foram banidos da matéria pela In­ catarismo é especialmente gratificante, poisquisição, mas que ainda hoje atraem muitas os cátaros procuraram estabelecer um reinopessoas, inclusive nós. Eles integraram um do amor e da paz.grande movimento puramente gnóstico e cris­tão nos séculos 12 e 13. Consideramos essas Devido aos cátaros, surgiu um pré-Renasci­conferências como uma forma de vivificar a mento na Occitânia, como se chamava anti­Tríplice Aliança da Luz: Graal – Cátaros – gamente o sul da França. No período inicial,22 pentagrama 2/2013

Pilar Garrido, especialista em religião muçulmana Michel Cire, colaborador de Antonin Gadalcristãos – tanto católicos como cátaros –, mundo, e só então tinha início o verdadeirojudeus e muçulmanos viviam juntos, num cli­ trabalho de sua vida.ma de grande respeito e liberdade quanto às Conosco também é assim. Tão logo passamospossibilidades de desenvolvimento. Falava-se, a trilhar nosso caminho interior, podemosna época, de convivência, isto é, a arte de viver trabalhar por outros e com outros. A almacom os outros em harmonia. Ela foi pertur­ não pode guardar para si própria o que rece­bada pela intervenção da Igreja romana que, beu. Cada um de nós deve superar o costumecom os soberanos da França, cobiçava as ri­ de colocar o próprio ser e o próprio desen­quezas da Occitânia e queria chegar ao poder. volvimento no centro de tudo. É uma vitóriaDaí resultaram a guerra e a Inquisição, que sobre si mesmo, e significa que colocamosprovocaram um atraso considerável no de­ no centro de nossa vida a vida pura da alma!senvolvimento em muitas áreas, inclusive na Um ser-alma está em paz. A paz é um estadosocial, fato que também foi e continua sendo muito especial de ser, que pode ser atingidonotório em outros países, onde governos into­ se subirmos a montanha do Espírito, a monta­lerantes ou grupos terroristas proibiram cren­ nha na qual acontece uma transformação.ças e correntes de pensamento diferentes das O que ocorre são processos de formação, re-suas. A mencionada convivência poderia muito forma e transformação. É o Sermão da Mon­bem ser a base para a nossa sociedade atual, tanha, a vida conforme o Sermão da Monta­multicultural, porque nela, cada pessoa e cada nha, a vida da alma que poderá nos indicargrupo, seja de crentes ou ateus, poderiam se­ o caminho para lá e nos auxiliar. A todosguir seu próprio caminho em respeito mútuo, que buscam a paz, desejamos essa subida daum cadinho, no qual o desenvolvimento com Montanha, até as alturas puras, onde a pombae por meio do Espírito do único criador do da paz – o Espírito – enfim percebida, podeTodo, o criador do universo, é possível. unir-se à nossa alma µQuando se encontravam, os cátaros deseja­vam uns aos outros as belas e profundas con­solações de Belém. Belém era o nome de umagruta de iniciação na qual, após alguns anosde reflexão e purificação, os cátaros recebiamsua iniciação, o nascimento da alma-espíritoconsciente de si mesma, da paz e do consolode Belém.Após sua iniciação, o cátaro saía para o convivência - paz 23

um impulso como umtoque de trombetaREFLEXÕES SOBRE A CONFERÊNCIA EM USSAT EM 2012Dois mil e quinhentos alunos de mais de 40 países voltaram para casa inspiradospela conferência em Ussat-les-Bains. Todos levaram consigo um tesouro. O tesourode presenciar uma conferência com um chamado muito especial. A vivência dessemomento dificilmente pode ser expressa em palavras.Trata-se do milagre de uma comunidade os demais. Além disso, a editora Rozekruis de almas que entra em contato com o Pers está preparando uma edição especial com mundo do Espírito graças à orientação os temas das três últimas conferências de Ussate à enorme concentração de tantas pessoas. em 2001, 2006 e 2012. Esperamos que, a longoQuando o fogo da alma é aceso no campo do prazo, essa sequência de publicações possa termundo, o mundo do Espírito vem a seu en­ continuidade, pois cada vez mais percebemoscontro, e não poderia ser de outra forma. Isso como essas conferências internacionais são im­é magia gnóstica. Dessa maneira, surge uma portantes e tão especiais para todos.ligação “de baixo para cima” e “de cima para O elemento internacional é algo que conferebaixo”. Testemunhar esse fato proporciona uma forte impulso tanto ao Trabalho da Mocidadealegria intensa, uma alegria que pôde ser sen­ como à obra voltada para os adultos. Talveztida durante semanas: antes, durante e após a porque o aspecto internacional expresse algoconferência, como uma proteção a nos aquecer. da plenitude do universal. A multiplicidade dasQuem vivenciou essa festa teve suas baterias línguas e culturas transforma-se, na alma, emcarregadas e agora pode continuar a construir unidade. Graças a isso, pode-se experimentarem seu lugar no mundo, na sociedade. concretamente que existe uma comunidadeUma conferência como a de Ussat fez que de almas viventes no aqui e agora! Durante atodos que lá estiveram, os obreiros dos mais última conferência internacional, dirigiu-se adiversos campos de trabalho, pudessem retor­ atenção de todos os alunos para os três aspectosnar com nova energia, novo ímpeto, entusias­ atuantes na Escola:mo e dinamismo. É um enorme impulso no 1. o campo da Fraternidade, que se manifestousentido de revigorar o trabalho que deve serrealizado de maneira renovada. E isso exige no corpo-vivo da Escola Espiritual – a pirâ­continuidade... mide espiritual descendente; 2. o campo da alma, que pôde desenvolver-seNós também estamos empenhados em trans­ com base no grupo de alunos – a pirâmidemitir os impulsos da conferência internacio­ da alma ascendente;nal. Fazemos isso nesta edição, recorrendo às 3. ambos chegam à plenitude de sua manifesta­impressões de uma conferência com o propósito ção na ligação com o campo mundial.de atingir um grande número de alunos.A revista Pentagrama é publicada em 16 idio­ Embora o Espírito seja pura energia divina, suamas, possibilitando uma revivificação mun­ força não pode manifestar-se sem um instru­dial da conferência, não somente para os que mento material. A Fraternidade da Vida existeestiveram presentes, como também para todos nas regiões imateriais do nosso campo de vida. No entanto, somente pode manifestar sua força24 pentagrama 2/2013

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A 7ª Conferência Internacional em Ussat foi um chamadopara nos conscientizarmos diariamente da ligação verticallibertadora no mundo quando dispõe de um Acima: Um clímax foi o primeiro repicar do sinoinstrumento material. A Escola Espiritual da especialmente fundido para essa ocasião.Rosacruz Áurea é um desses focos. Por seu À direita: Participantes da conferência de 40 países,intermédio, a Fraternidade pode ligar-se ao entre eles muitos jovens alunos e membros domundo e, graças ao corpo-vivo da Escola, pode Grupo D da Mocidade estiveram juntos em Ussat.colocar o mundo em movimento. O corpo-vivo Uma experiência única foi a subida em conjuntotem sete aspectos, e o sétimo aspecto é o ponto até a gruta de Lombrives, a Catedralde conexão. Ele é o guia, o indicador, o farolpara todos os aspectos da Escola. Ele constitui truímos em nosso imo e somos colocados emo campo da ressurreição. O sétimo aspecto da condição de executar o trabalho. Tudo isso,nossa Escola é o primeiro aspecto da Fraterni­ porém, não acontece de forma automática, pordade da Vida. si próprio. É preciso, sempre de novo, que nosÉ o campo no qual as duas naturezas se in­ esforcemos. Procuramos realizar esse esforçotegram e se completam, o campo no qual a sobre a base de um grande potencial de força­pirâmide espiritual descendente e a pirâmide -alma, com o seu auxílio. Trabalhamos porqueascendente das almas se tocam e se fundem. sentimos, no imo, a necessidade de ajudar aAo mesmo tempo, esse é o ponto de partida, a humanidade da melhor maneira possível. De­base para o trabalho da Escola. Esse campo é a vido à riqueza de suas facetas, essa construçãofonte da qual flui incansavelmente a força verti­ espiritual-material exige, a cada dia, toda acal. E, para nós, constitui o objetivo dos nossos nossa atenção:esforços. Nessa força batizamos nossas crianças 1. o desenvolvimento espiritual e o acompanha­e damos nossos últimos passos para entrar naliberdade perfeita. mento de todos os aspectos da nossa Escola;A 7ª Conferência Internacional em Ussat foium chamado para que nos conscientizemosdiariamente dessa ligação vertical, a fim deunir o de cima com o de dentro, e, do in­terior, realizar a obra no exterior: de cima– para dentro – para fora. Vivenciamos dia adia como a matéria é recalcitrante, resistente,opositora. Libertar algo neste mundo signi­fica orar, agir e construir. Por meio de nossasintonia com o Espírito vivo (a oração), cons-26 pentagrama 2/2013

um impulso como um toque de trombeta 27

No vale de Vicdessos encontra-se o dólmen de Sem, bem próximo ao local onde se supõe haver existido ocastelo do Santo Graal em Montréal-de-Sos2. o acompanhamento e o estímulo dos diferen­ dinâmica do Universo. Mas isso não importa. tes campos de trabalho, a direção de grupos Trabalhamos para que nossa construção possa de trabalho; crescer até o céu e os que estão prontos possam subir a escada. Somos seres temporais e desco­3. a manutenção, em todos os aspectos, dos nhecemos quando nosso tempo chegará ao fim.nossos locais consagrados de trabalho. Nossa existência não escapa às garras do tempo. Porém, também dispomos do conhecimen­Procuramos manter, consolidar e ampliar essa to de que, ainda nesta vida, é possível lutar econstrução mediante o caminho que nos foi in­ abrir caminho para fora do tempo. Que sempredicado pelos grão-mestres, pois se toda a nossa possamos orar, agir e construir até chegar nossaatenção não estiver voltada para isso nos tem­ última hora, livres de qualquer expectativa epos atuais, a construção poderá ser sufocada, julgamento, em alegria e verdade, recordandoinvadida e rapidamente paralisada. No entanto, as palavras: “quem ora, age, constrói e segueestamos inteiramente conscientes de que, por com coragem, na força de Deus” µmais que trabalhemos duro, por mais mágicoque seja nosso trabalho, no melhor dos casos te­remos um progresso muito pequeno, ínfimo, na28 pentagrama 2/2013

a unidade do trabalhoOs tempos mudam e mudamos com eles. Esse antigo ditado ainda continua atual. Mas, na reali­dade, os tempos mudam por causa dos homens. É o homem que atrai e cria a mudança, poisele é o mundo. Ele é capaz de provocar catástrofes, mas também de tornar operante a maiselevada luz por meio de sua aspiração. Hoje, quando a banalização do que é espiritual chegoua tal ponto em que é possível, por assim dizer, encontrá-la no supermercado, o conceito deluz, a capacidade de maravilhar-se e a disposição para a verdadeira alegria estão diminuindo.Com isso, a condição de verdadeiro ser humano – no sentido hermético e rosa-cruz de que “ohomem é um microcosmo” – está sendo cada vez mais relegada a segundo plano.Ariqueza da Escola, em termos de en­ consciência da alma. Momentos maravilhosos sinamentos, valores e homens, precisa têm início então. ser colocada em prática na sociedade. AFundação Rosa-Cruz, que é o tema deste arti­ Graças ao novo “ânimo”, o ser respira inteira­go, foi criada com essa finalidade e já está ativa mente na nova atmosfera de vida da Alma doem alguns países. Ela pode desempenhar um Mundo, da qual fala Hermes.novo papel, não como proclamadora dos ensi­ Do interior do microcosmo jorra imensanamentos, mas oferecendo-se como plataforma compreensão – que já não desaparecerá – sem­para que o belo, o bom e o verdadeiro possam pre repleta da energia do Espírito. É a alegriaflorescer no ser humano, ensinando que esses do campo da ressurreição, que se oferece aotrês conceitos, esses três valores em princípio homem que “conhece” a Deus novamente eherméticos, somente podem se desenvolver vivencia o fato de ser conhecido por ele; a ale­com base na alma. gria de existir, de ver o grande milagre que é o ser humano.A primeira propriedade da alma que despertapode ser comparada à alegria. É com essa carac­ A nova Fundação quer atuar, num relaciona­terística que o homem pode reconhecê-la: a ale­ mento consciente, com os impulsos da Alma dogria de identificar que encontrou o que buscava Mundo. Ela tem a esperança de poder sustentare a de aprender a compreender, passo a passo, o fortemente a reversão positiva que está aconte­segredo da vida. cendo na consciência dos homens. Ao mesmoNo entanto, participar da alegria ainda não é tempo, ela quer estimular a busca e, com sua“saber”. Nessa fase, o homem pensa em termos presença, orientá-la e vivificá-la.de beleza, de música ou poesia. Esse aspecto é Dessa forma, planejamos um encontro navisível nos seres humanos que se abrem para a Universidade de Utrecht (Países Baixos), comsenda interior. Eles se ligam exclusivamente aos estudantes e simpatizantes do trabalho da Fun­aspectos mais belos. No início do processo é difí­ dação, no qual, além de serem passadas infor­cil distinguir entre a manifestação da nova alma mações sobre a Escola, falaremos do Trabalhoe a força que dá vida à personalidade. da Mocidade e do Grupo de Jovens Rosa-Cru­Mas, a partir do momento em que a alegria zes no mundo, apresentaremos nosso site nacomeça a se manifestar de modo mais preciso Internet, assim como os projetos da Fundaçãoe que o ser humano toma consciência de que a Rosa-Cruz.alma é um ser autônomo e pertence a um campo Esperamos estabelecer contato com outras uni­de consciência totalmente diferente, então já se versidades, pois estarão presentes grupos, associa­pode falar da aurora da renovação, a aurora da ções e outros estudantes interessados. a unidade do trabalho 29

Graças ao novo “ânimo”, o ser respira inteiramente na novaatmosfera de vida da Alma do Mundo, da qual fala Hermes.Do interior do microcosmo jorra imensa compreensão30 pentagrama 2/2013

Como se tivesse asas, o corpo magnético da Escola Espiritual eleva-se poderosamente das dimensões etéricas sob os olhos do Espírito, e vemos que alunos participam dessa elevação. Na Loja do Alto, a ligação com o campo da ressurreição é uma grande e alegre certeza.Desse modo, estamos abrindo um novo cam­ -alma consciente, preparado para ligar-se depo de trabalho. Sabemos que nosso trabalho na forma autônoma com a Luz, o Cristo.Escola é urgente. No entanto, precisamos tam­ As atividades de orientação formam o pontobém estar ativos na sociedade fundamentados pelo qual o buscador se aproxima da Escola.na Escola, aplicando tudo o que dela recebemos. Os alunos do preparatório, do probatório e doAfinal, não foi com essa finalidade que aprende­ professo assim como os membros e simpatizantesmos, vivemos e recebemos tudo? e os jovens da Mocidade formam os dois primei­A Fundação percebe que sua tarefa pode ser ros campos de trabalho no qual o buscador podeexecutada de forma diferente da que foi prevista. chegar à exata compreensão da relação entre asNão se trata de fazer algo ou de ser alguém, mas duas vozes que convivem dentro dele. Ele apren­muito mais de favorecer, de tornar possível alguns de a assimilar o campo de força e a colaborareventos, da mesma maneira que o Tao é útil ao conscientemente com as vibrações específicas doatingir todos os pontos e que a água sempre está interior dos dois primeiros campos de trabalho.buscando o ponto mais baixo, e, dessa forma,é útil em toda parte. A água é útil quando está A Fundação Rosa-Cruz é o foco do qual a luzcorrendo, pois é assim que todos podem utilizá-la. da Escola Espiritual, como Espírito e força ativa,Do mesmo modo, temos a esperança de poder irradia para o exterior.criar possibilidades nas quais o espírito, que já está Atualmente, já existem inúmeros eventosoperando no interior dos seres humanos e por acontecendo sob a égide da Fundação. Emmeio deles, possa se manifestar. A Fundação está muitos lugares da Europa, sua bandeira, queem busca da alma que, de acordo com as palavras traz um logotipo e um emblema, já é conhe­da Rosa-Cruz clássica, está em tudo e em todos. Mas cida. Algumas atividades preparadas antes dejá não está fundamentada em uma personalidade sua criação hoje se encontram sob esse novoaprisionada, desesperada, e sim no espírito que tudo denominador comum.sonda, até mesmo as profundezas de Deus. Durante a semana de trabalho em Uny, na Hun­ gria, os jovens lançaram o projeto de um filmeAo mesmo tempo, no campo do mundo, a internacional, de qualidade profissional, que aEscola Espiritual sempre continuará a apre­ Fundação espera distribuir mundialmente. Osentar a porta da libertação, solidamente centro desse filme não será nossa Organização,ancorada na hierarquia da Gnosis sétupla. Os mas lá estará seu pensamento, seu chamado e asete campos de trabalho oferecem uma estru­ apresentação da busca, com base em temas datura segura e confiável. Rosacruz Áurea.A partir do terceiro campo de trabalho, a Escola Também há, em vias de realização, um projetoajuda o aluno professo a tornar-se um homem- internacional sobre Shakespeare. Esse projeto a unidade do trabalho 31

será realizado em colaboração com Peter Lief­ sobre “o corpo, esse desconhecido” (a anatomiahebber, organizador de uma conferência na do conhecimento). Em Flandres, os destaqueslivraria Pentagram na Holanda. Liefhebber é autor serão C.G. Jung, G. Gezelle e Ruusbroec. Nade um livro bilíngue (inglês e holandês) que ain­ Holanda, estão sendo preparados dois diasda está sendo escrito, a ser editado pela editora especialmente interessantes destinados a tocarRozekruis Pers, e trata dos bastidores espirituais os corações. O primeiro dia terá como assuntoda maravilhosa obra desse bardo inglês. principal “Como o mistério desaparece”, comA Fundação também organizou alguns simpósios. temas como “Google Earth ou sabedoria inte­Em 21 de dezembro, houve uma conferên­ rior?” e “Realmente conseguiríamos viver semcia sobre os maias, em Enschede, na Holanda. o mistério, o indemonstrável, o invisível?”Atualmente, Renova está preparando um dia O segundo dia terá como tema “O reino in­de conferência sobre o Tao e também um livro terior”, tendo como base central as palavrassobre a sintonia do Tao com a condição de aluno de Espinosa: “Quem compreende a Deus e ae os ensinamentos de J. van Rijckenborgh. si mesmo sabe que precisa levar em considera­ ção o bem-estar de todos. E quem está doenteNo plano internacional, a Holanda e a Suíça segundo a mente poderá curar-se por meio doestão trabalhando juntas em um projeto que vai espírito da mansidão e da tolerância, com basegerar um livro sobre a renovação: Die Freude der no exemplo de Cristo”.Erneuerung (A alegria da renovação). Haverá temas abordando a simplicidade do cora­Os simpósios de Berna e Utrecht vão tratar da ção, a mansidão e questões essenciais, como: “Omudança do campo magnético terrestre. Na que é a verdadeira vida?”, “O que é viver bem?”,Alemanha, há tantos projetos sendo preparados “Existe realmente uma vida espiritual?”, “O queque seria impossível citar todos. Menciona­ é uma boa sociedade?”, “O que é a natureza eremos apenas: Stufen der Wandlung (As etapas até onde ela vai?”da transformação) – As núpcias alquímicas deChristian Rosenkreuz (organizado em conjunto Por meio da Fundação, a Escola trabalha, no planocom a Casa de Rudolf Steiner em Hamburgo internacional, com uma plataforma favorável a in­e em Calw). Na França, houve uma tarde de tercâmbios que propiciem a apresentação de ideiasdiálogo entre três escritores e o público. Estão gnósticas e herméticas relativas a temas atuais dasendo preparados, também: um dia internacio­ sociedade, da ciência, da arte e da religião.nal sobre a Fama Fraternitatis (em 2014), com Este é o nosso jeito de dar forma à missão quea colaboração do prefeito de Estrasburgo e a Cristo nos ordenou:presença de diferentes associações. Em Bru­ “Ide e pregai o Evangelho a todos os povos e axelas, na Bélgica, está previsto um dia inteiro todas as nações” µ32 pentagrama 2/2013

CONSTRUÇÃO DO TEMPLO Numerosos são os que buscam lugares onde possam ligar-se ao que é diferente, ao que é superior. Lugares de elevação, onde sua aspiração ao bem, ao belo e à verdade possa chegar até o supra-humano. O templo oferece um ponto de onde o indivíduo pode permanecer a salvo da violência, fruto das projeções invasoras da sociedade, bem como diante da imensidão opressiva do cosmo.No templo, ele pode encontrar lucidez para a cabeça, consolação para o coração e repouso para o corpo. Fotografia do templo Bahá’í nas proximidades de Santiago do Chile. construção do templo 33

a linguagem do silêncioEscrever sobre a linguagem do silêncio parece impossível! Jamais as pala­vras, escritas ou pronunciadas, poderão conter o silêncio e sua linguagemou transmiti-los. Queremos, neste artigo, somente utilizar as palavras quesugiram algo dessa língua secreta, e caso o consigamos, fazer o leitor experi­mentar algo dela no coração.Silenciosamente, a noite apodera-se do dia, Um livrinho editado pela Rozekruis Persem silêncio ela o deixa. começa assim: Milhares de escritos apare­A coruja vai sair, dizem. ceram no decorrer da história humana a fimA aspiração permanece insaciada, de tentar dar forma à Verdade. Isso é impossível! Oela prepara para si um dia ainda igual aos precedentes. indizível não pode ser enunciado. Muito menos pode­ se captar e considerar parcialmente um único raio daAli onde o silêncio deveria, poderia Luz universal.se prolongar por um momento,o homem aplaude com ambas as mãos. Para começar, consideremos o ex-centro minei­ ro do Grande Hornu, na Bélgica. Situado nãoQue som produziria então um aplauso silencioso? muito distante da cidade de Mons, na regiãoE uma palavra de elogio não exprimida? de Borinage, o Grande Hornu foi edificado emComo elogiar e agradecer em silêncio? 1820 pelo empresário francês Henri De Gorge, segundo a ideia utópica da “cidade operáriaSilencioso, um olhar pode ser uma testemunha atenta. ideal”. O projeto compreendia um complexo industrial, uma mina de carvão, uma cidade operária e uma residência para os administra­ dores. O conjunto foi descrito como uma das mais impressionantes demonstrações de organi­ zação do trabalho por meio da arquitetura. Com um pouco de imaginação, podemos visualizar a enorme e pesada indústria minei­ ra antes em atividade. Na poeira do carvão, ouve-se o ferro bater contra o ferro, o trabalho com o aço, os ruídos e o estrondo das pedras de carvão derramadas e trituradas, o assobio do vapor, as rodas de ferro dos vagões sobre os trilhos de aço... e as gaiolas do elevador subin­ do e descendo, as ordens dadas aos gritos, as perfurações e o trabalho dos homens a grande profundidade. Há algumas dezenas de anos tudo isso foi interrompido. As minas foram fechadas, e um pesado silêncio caiu sobre a região. Os34 pentagrama 2/2013

a linguagem do silêncio 35

Criar o vazio não leva ao vazioprédios administrativos ainda se encontram e de sonhos tenazes. Essa dinâmica prosseguelá, bem como duas ruas de casas de operários por algum tempo, porém acaba sempre trans­nas proximidades de um entulho, uma enorme formando-se em seu contrário. A despeitomontanha negra reconquistada a seu modo desse ciclo sempiterno, o homem não cessapela natureza. O que ali subsiste faz parte da de buscar e de se projetar, impulsionado porarqueologia industrial, sendo objeto de estudo “alguma outra coisa”, uma aspiração por “outrae curiosidade. A construção em forma de coisa”, inacessível até mesmo ao artista maisanfiteatro, que constituía o antigo centro da bem dotado. Como diz Anish Kapoor, “criarregião mineira do Grande Hornu, recebeu nova o vazio não leva ao vazio”. Quando nós, seresfunção. O lugar é hoje ocupado pelo MAC’s, o humanos, nos esforçamos por criar o silêncio,Museu de Artes Contemporâneas. não o conseguimos. Portanto, parece-nos queAté 6 de março de 2012, o MAC’s era a área enquanto nos mantivermos no movimento nãoutilizada para a exposição do artista plástico alcançaremos o silêncio. Não é, pois, evidenteanglo-indiano Anish Kapoor. Na entrada da que devemos aquietar-nos no silêncio?exposição, uma citação do artista explicava:Todo meu trabalho se baseia em uma única desco­ A linguagem do silêncio não pode ser faladaberta: criar o vazio não leva ao vazio. O processo pela boca de uma autoridade; muito menos porque me interessa é a ressonância que decorre do um trovoar de ordens, nem mesmo pela doçuravazio. Desse local, do testemunho de suas edi­ bem intencionada de palavras amáveis.ficações, sucesso e declínio que encontram um Devemos aprender e descobrir essa linguagemnovo impulso, esse artista e buscador escreve por nós e em nós mesmos, e não por meio deas palavras que ressoam: Quanto mais faço uma outra pessoa. Muito menos ainda por tê-lacoisa, mais chego a outra. Quanto a essa só e única aprendido ou lido em algum lugar. Trata-se decoisa, esse vazio, não há meios para alcançá-la; retirar tudo o que a encobre e descobrir, emcontudo, eu a sinto, eu a conheço e ouço o som: a nós mesmos, todos esses ruídos que se apresen­ressonância do vazio. tam, por exemplo, por meio de nossos medosQuando se olha para baixo do alto dessa mon­ e preocupações, que são a causa do barulhotanha negra, o entulho do Grande Hornu, a interior, e se agarram a nós, afastando-nos cadaprodigiosa ambição humana salta aos olhos: a vez mais de nosso ser mais profundo.ambição acompanhada do alarido e da agitação; Contudo, chega o momento em que consegui­uma busca secular, decifrada nas ruínas, nos mos desvendar esse mecanismo e descobrimosmonumentos e museus, sob o sol, ao rés-do- que o objeto de nosso desejo mais profundo-chão e nos ares, na atmosfera poluída e nas é “esse outro”, o mundo do silêncio, e entãoesferas sutis cheias de imagens-pensamentos desejamos entregar-nos a esse silêncio.36 pentagrama 2/2013

Esse desejo de silêncio e a linguagem uti­ uma perturbação apodera-se de nós, em nossolizada pelo “totalmente outro” procedem sentir, em nossa alma. Uma perturbação queem realidade de um princípio da eternidade logo associamos à melancolia, ao sofrimento, àprofundamente oculto em nós. Para ouvirmos morte, ao transitório ou ao romantismo.a linguagem do silêncio, precisamos aquietar Isso poderia levar-nos a pensar que somente éo coração e remeter-nos a esse outro e, no possível nos aproximar do silêncio quando existesilêncio, deixar vir a nós esse outro, que está sofrimento: por ocasião de uma morte, porem nosso coração, deixar-nos inspirar por efeito de uma emoção, quando estamos transtor­ele. Então, mesmo o maior alarido já não po­ nados ou angustiados e, muitas vezes, apaixo­derá nos afastar dele. Essa atitude pode evo­ nados. Não é precisamente nos momentos emluir para uma nova conduta e fazer renascer, que é tocada e necessita ser nutrida ou consoladarenovada e realizada, a antiquíssima alma, que a alma encontra o objeto de sua busca, nesseque então ouve e reconhece essa linguagem silêncio que tentam traduzir para nós as sono­do silêncio. Essa nova alma, realizada, está ridades de uma peça musical ou de um poema?apta a ligar-se ao Espírito; ela pode tornar-se Essas obras são como pontos que ligam o caosplena do Espírito. Então, deixando livremen­ deste mundo ao silêncio do outro mundo.te para trás sua antiga veste material, o novo Os grandes músicos testemunharam ter sidohomem em nós poderá encontrar o caminho inspirados por essa experiência que vinculade retorno. esses dois mundos. Inspiração remete-nos a respiração, animação,O que precede é um esboço da senda quín­ alento, ordem. Inspiração remete-nos ao espiri­tupla que o homem pode percorrer, e é isso tual. Na inspiração, a voz do silêncio fala a suaque justifica a função da Escola Espiritual da linguagem.Rosacruz Áurea. O aluno estuda, ele percorre Por ocasião da transmutação dos impulsos espi­o caminho. A Escola o acompanha com todos rituais, o músico, o artista, utiliza os tesourosos meios colocados à sua disposição pela Frater­ armazenados em sua esfera aural. A naturezanidade Universal. e a qualidade desse tesouro determinam a queQuando, por iniciativa própria, tentamos nos esferas – de cores, de formas ou de sonoridadesdeter, é como se devêssemos começar por nos – o artista tem acesso. A pressão que o afligedesembaraçar de um mal-estar. A Física nos e o impulsiona à atividade criadora provém deensina que um corpo em movimento tende a seu coração. Não se sabe quais são as possibi­manter-se em movimento se não houver forças lidades que seu ser aural lhe concede para darque se oponham a esse movimento. Quan­ expressão às forças de sua alma. Passemos ado tentamos nos deter, no mesmo instante palavra a dois compositores: a linguagem do silêncio 37

O ruído possui essa particularidade: nós ouvimos apenaso barulho mais forte. Então, enquanto houver ruído nãoperceberemos o silêncio“Não é o artista sempre um estrangeiro entre a corrente vivente é aniquilada, mas em nossasos homens?”, Franz Liszt se perguntava. “Seja próprias palavras, nas palavras humanas, naqual for a força a impulsioná-lo e aonde quer tagarelice. Essa advertência remete-nos ao hinoque vá, em todo lugar ele tem a impressão de paulino, à sublime Ode ao Amor:ser um exilado. Parece-lhe ter conhecido umcéu mais puro, um sol mais quente e homens Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,melhores”, escreveu Ludwig von Beethoven, se não tiver amor,quando trabalhava em sua Nona Sinfonia. E serei como o bronze que soa ou comoacrescentou: “Quando, pleno de admiração, o címbalo que retine.olho para o céu e o exército de luzes chamadasde sóis ou planetas move-se eternamente no in­ A linguagem do silêncio dirige-se aos pobresterior de suas fronteiras, meu espírito se dirige em espírito, aos mansos, aos que choram, aospara essas estrelas a milhares de léguas distan­ que aspiram à justiça, aos caridosos, aos quetes, para a fonte primordial de onde procedem, têm o coração puro, aos pacíficos e aos perse­eternamente, novas criaturas. guidos.Se tento, então, por meio de notas, dar forma à Ocupar-se e falar dão segurança ao ser huma­minha enorme agitação, ah!, fico terrivelmente no; percebemos isso melhor quando estamosdecepcionado! Jamais pessoa alguma nascida em grupo. Manter-se tranquilo e silenciosonesta terra – disso estou firmemente conven­ em um grupo exige confiança e entrega. Falarcido – poderá representar essas imagens celes­ é proteger-se. Quem deseja a paz, prepara ates por meio de notas, de palavras, de cores guerra. Palavras são armas. Sempre acontece deou golpes de cinzel. Sim, tudo o que toca o ficarmos pasmos diante daquilo que dizemos; ecoração deve vir do alto, do contrário tudo não um mundo totalmente diferente abre-se quan­passa de corpos sonoros sem espírito. O que é do conseguimos permanecer juntos em silêncio;um corpo sem espírito? O espírito deve alçar- não imobilizados como estátuas, com o maxilar-se acima da terra, elevar-se, buscar a fonte de rígido, porém como seres de coração aberto.onde procede.” O SILÊNCIO SE COMUNICA PELA ALMA. O si­Isso nos aproxima muito de todas as formas lêncio verdadeiro apenas surge quando dele nosde ilusão; ilusão por obstinação, própria des­ afastamos e retiramos, quando deixamos que elete mundo. Jacob Boehme adverte seriamente: se faça. Então, como elemento ativo, o silêncio“A corrente vivente de Deus é assassinada nas se faz.palavras”. Entendamos bem isso. Não é na pa­ Precisamos entregar-nos a esse silêncio ver­lavra que pertence à linguagem do silêncio que dadeiro, e nosso ser não é silencioso. Nosso38 pentagrama 2/2013

coração bate, nossos sentidos nos retêm em alcança assim tão longe. Tomar, de súbito,nossas cobiças, enquanto milhares de flashes consciência desse infinito é uma experiên­metralham nosso cérebro. cia estética, uma experiência de beleza, umaO ruído possui essa particularidade: nós ou­ comoção.vimos apenas o barulho mais forte. Então, Nesse sentido, temos a impressão de que oenquanto houver ruído, enquanto o caminho silêncio responde a certas leis e possui suapermanecer impedido, não perceberemos o própria gramática, assim como acontece comsilêncio como pura luz, como puro amor. Nós uma língua. No silêncio vibra a harmonia dasmesmos somos o maior obstáculo. E se, em ra­ esferas, a grandiosa e imperturbável ordemros momentos, paramos por um instante e nos do macrocosmo, do cosmo e do microcosmo.distanciamos porque algo nos tocou – quem Essas leis, essa ordem e essa harmonia são suasabe, talvez o silêncio! – sentimo-nos então linguagem, a linguagem do silêncio.subjugados. Porque quando o silêncio, a ple­ Ficar em silêncio não significa permanecernitude do vazio, de repente se apresenta, sua imóvel. O silêncio não é morte. Não há mor­vastidão apodera-se de nós. te no sentido de vazio, de imobilidade, deUm silêncio profundo incita cada um de ausência de vida ou de alma. Há apenas algonós à humildade. Diante do silêncio não nos que vivenciamos com “silêncio”, o silêncioposicionamos como diante de um tufo de vivo com uma voz, a voz do silêncio, a pa­ervas ou de um inseto, mas como um bebê lavra vivente que exerce sua força continua-que, quando ouve sua mãe, enche-se de sua mente, aqui e agora.presença. No princípio dessa linguagem do silêncioO silêncio pleno nos cerca muito além do estava o Verbo. Um Verbo silencioso. Assimque podemos ver ou ouvir. Som algum começa o evangelho de João. a linguagem do silêncio 39

Para além de toda treva se encontra, ainda e sempre, a origem.Aqui, a noite sucede a manhã, e a manhã seguinte sucede anoite. Além deste mundo, encontra-se sempre “o princípio”No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com pre, a origem. Aqui, a noite sucede a manhã,Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio e a manhã seguinte sucede a noite. Além destecom Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e mundo, encontra-se sempre “o princípio”.sem ele nada do que foi feito se fez. João 1:1-4 Assim, a Gnosis, que é outra palavra para designar o silêncio e sua linguagem, intro­Para além do tumulto das trevas se encontra duz-se no sistema humano e concede-lhe umo silêncio. Uma luz tranquila, uma palavra novo poder. Inicialmente, apenas sob a formapacífica. Para além do tumulto se encontra, de um raio de pensamento dirigido à pessoa,ainda e sempre, o Verbo do princípio. Para provocando uma resposta imediata da vonta­além de toda treva se encontra, ainda e sem­ de, um impulso do desejo que permite agarrar40 pentagrama 2/2013

a salvação encerrada na Gnosis. Quando a homem. E esse morto somente poderá res­Gnosis irrompe assim no homem, ela desper­ suscitar quando a personalidade terrena seta pensamentos que não se originam nem do apagar, quando ela entrar no silêncio.carma, nem da lípica1, nem da esfera astral, Em seguida, o átomo primordial, o núcleonem tampouco do sangue da natureza. Esses da alma original, o “morto-vivo”, dirigir­pensamentos nascidos de Deus permitem-nos se-á à pessoa disposta a escutá-lo. Tudo iráescutar a voz da alma ou, falando misticamen­ então depender de ela aceitar o processo dete, escutar a voz de Deus. neutralização e entrar no silêncio interior. Nesse silêncio, ela é como a figura de JoãoEssa linguagem é universal. Em total consonân­ em Patmos. Os antigos focos de força docia com isso, podemos ler em A Gnosis chinesa: firmamento aural extinguem-se. Surge um novo céu e uma nova terra em seu micro­Então, no devido momento, todas essas especula­ cosmo. O sol aural e a personalidade celesteções chegam ao fim, pois, subitamente, no decorrer original renascem.do processo, a luz do outro reino penetra até as E vi um novo céu e uma nova terra...profundezas do ser. Pela graça e pela verdade, oVerbo atravessa as trevas, e a filosofia especulati­ Talvez consigamos agora pressentir algo dava é substituída pela ação de graça e verdade, pela grandiosa realidade oculta por detrás da pro­grande realidade mesma, pela força e pela sabedo­ messa das escrituras sagradas, a linguagem doria únicas e perfeitas que pertencem ao Tao. silêncio. Não sabemos o dia nem a hora, pois cabe a nós a tarefa de realizar “a hora do Se­Conforme é dito no Brihadaranyaka Upani­ nhor” em nosso próprio microcosmo. Mediantexade: a ressurreição do “morto-vivo”, o microcosmoAssim, o sol se pôs, bem como a lua, o fogo se ímpio e suas criações são vencidos. E, simul­extinguiu e a linguagem emudeceu; e o homem taneamente, o renascido escapa igualmente dopôde fazer sua ronda, realizar sua obra e regressar macrocosmo. O filho da palavra do silêncioà luz de Atman. encontra-se livre novamente! µEm nosso ser mais íntimo há um morto quedeve despertar de uma morte que já duramuitos éons: o veículo celeste do verdadeiro1 O firmamento aural, conjunto dos centros sensoriais, centros deforça e focos nos quais todo o carma da humanidade está gravado a linguagem do silêncio 41

ouve a música!William Shakespeare, às vezes chamado de o último grande bardo, desafia--nos de várias formas. Às vezes ele nos arranca bruscamente de um sonho,outras nos conforta e outras ainda reabre em nós uma velha ferida.Todavia, sua preferência pela defesa inte­ gócios. Isso nos incita a refletir. Esse veio áureo gral da virtude é bastante conhecida. Na escondido somente pode aflorar e sua unidade Barlett’s Familiar Quotations, uma cole­ ressurgir durante o espetáculo da apresentaçãotânea de citações do século XIX, os extratos da própria obra de Shakespeare. Shakespearedas obras de Shakespeare ocupam 122 páginas, deve ser vivenciado. É como se nos transfor­contra apenas 37 citações da Bíblia. Portan­ mássemos em atores de suas peças.to, não surpreende que sua obra seja definidacomo a “bíblia leiga”, e também como a “más­ William Shakespeare abasteceu-se no rico cá­cara do rosa-cruz”. lice da Renascença Inglesa, período do séculoJ. van Rijckenborgh, fundador da moderna XVI que antecedeu o Iluminismo do séculoescola da Rosacruz, declara a respeito da força XVII. Essa riqueza habilitava o escritor a pra­diligente dos grandes autores literários: “A ver­ ticamente colher do céu todos os elementos dadadeira arte somente pode ser criada e sentida cultura, da ciência, do hermetismo, da alqui­se os homens são tocados pelas forças do reino mia, da sabedoria hebraica, mística e grega.celestial. Quando um autor começa a escrever, Tanto em suas comédias como nas tragédias,uma força mágica se manifesta. Embora seja ele concilia brilhantemente esses elementos aimpossível definir sua origem, essa força irra­ traços como a inveja, a ambição e o ciúme.dia de toda a sua obra. Em todos aqueles que Shakespeare quis mostrar que os homens sãocompreendem a obra e a penetram, um parecer os próprios responsáveis pelas emoções negati­único predomina. Eles a reconhecem como a vas. No entanto, em sua obra, a esperança estáarte da transposição”. sempre presente. Certa compreensão inteligenteNo que diz respeito à sua vitalidade artística, é sempre expressa no final da história. Assim,a base da obra de Shakespeare continua atual, ele concede ao próprio Macbeth ideias claras deporque as relações humanas não mudaram qualidade superior provenientes de uma mentefundamentalmente em seus aspectos social, humana consciente.psicológico e espiritual. Além disso, a forma e Todavia, sobretudo nas comédias, ele tambémo conteúdo de seu trabalho criativo não re­ soube desenvolver emoções positivas, especial-duzem a vida, mas deixam-na fluir como um mente emoções relativas ao amor, em todosrio áureo. Sabedoria acompanhada de trans­ os seus aspectos. Sendo assim, o personagemformação; beleza acompanhada de força. Para principal, muitas vezes uma mulher, personi­muitos estudantes americanos, a linguagem de fica o amor altruísta, um amor absoluto que,Shakespeare parece estar mais “na moda” do na verdade, não é deste mundo. Assim é, porque as proposições dos filósofos considerados exemplo, Rosalinda em As you like it (Como“esclarecidos” ou dos gurus do mundo dos ne­ vos aprouver). Quem quiser esposar Rosalinda42 pentagrama 2/2013

O VEIO ÁUREO OCULTO NAS OBRASDE WILLIAM SHAKESPEARE ouve a música!! 43

Alguns estudiososconsideram oretrato da ColeçãoCobbe (1610) comoa representaçãomais autêntica deShakespearedeverá empreender com sucesso um percurso As influências esclarecedoras de Marsílio Ficino eque pode ser qualificado de iniciático. Giordano Bruno, com sua sabedoria hermética eEsse aspecto iniciático é marcante em O mer­ neoplatônica, encontraram terreno fértil no Albioncador de Veneza. Os três casamentos que ocor­ do século XVIIrem no final podem ser entendidos como umanova coexistência nos três planos do espírito italiana e flamenga. Por meio das influênciase da alma até a perfeição. Esse aspecto iniciá­ iluminadoras de Marsílio Ficino e Giordanotico aparece em As núpcias alquímicas de Chris­ Bruno, a sabedoria hermética e neoplatônicatian Rosenkreuz, e muito provavelmente em O encontrou um campo fértil. Enquanto Brunocasamento espiritual de Jan van Ruusbroec, nas tentava ensinar os professores de Oxford, Johnnúpcias alquímicas como lições iniciáticas de Dee e Francis Bacon, outras figuras-chaves dasabedoria e amor, expressos por meio de cantos época, frequentavam a corte de Elizabeth I.em A flauta mágica de Mozart.De modo admirável, Shakespeare prefere trazer John Dee havia publicado sua obra Monasfacilidade e vivacidade para as suas comédias, Hieroglyphica em 1564, na Antuérpia, livro deintroduzindo observações sagazes e detentoras grande importância para a Inglaterra e para ode um duplo sentido, quase ambíguas. O epílo­ restante da Europa durante quase todo o séculogo de Rosalinda é um exemplo. Essa comédia, XVII. Nele pode ser encontrada a sabedoriaassim como As núpcias alquímicas de Christian grega de Pitágoras, a sabedoria cósmica egípcia,Rosenkreuz, é repleta de jogos de cena, repre­ a arte da transformação alquímica, bem comosentações teatrais, dramas sempre a serviço da as universalidades reunidas sob o signo de Mer­compreensão, da sabedoria e da transforma­ cúrio, o signo de Hermes Trismegisto: simultâ­ção. Do mesmo modo que Jacob Boehme, um nea interpretação mágica do tetraktys (triângulocontemporâneo de William Shakespeare, os perfeito) de Pitagóras e da década, que por suasete espíritos do Espírito Santo fazem dançar e“explodir de alegria”. Esse é o cenário, o palcopara a aventura da Renascença Inglesa. Acredi­tamos que o grande bardo inglês queria que opovo se divertisse e ao mesmo tempo captasseum pouco do ouro espiritual oculto, da sabedo­ria universal.A flauta mágica expressa esse mesmo anseio.Esse período inglês, de grande riqueza cultural,foi profundamente inspirado pelas Renascenças44 pentagrama 2/2013

vez refere-se, às sefirotes da tradição judaica. No provérbio “Homens maus não têm can­Para Pitágoras, o tetraktys representava a perfei­ ções”, os alemães expressam a mesma ideia.ção, em absoluta concordância com a harmonia Shakespeare nos diz que nossa vestimenta pe­das esferas, a música cósmica secreta, sempre recível nos sufoca, degrada-se lentamente e nospresente e audível. impede de ouvir a harmonia perfeita da músi­Mas, talvez surja a pergunta: o que tudo isso ca das esferas. No entanto, Jéssica e Lorenzo,tem a ver com William Shakespeare? Para res­ noiva e noivo, tal como Tamina e Pamino emponder a essa questão, é necessário compreender A flauta mágica conseguiram tornar transparenteo comportamento de Jéssica em O mercador de sua vestimenta perecível. Suas roupas já não osVeneza. Jéssica representa a alma que realiza a sufocam, e sua consciência tornou-os capazestransformação mística rumo ao mundo da luz. de se abrirem à harmonia cósmica.Durante uma noite sagrada, num magnífico dis­ Trata-se realmente do firmamento celeste,curso, seu marido Lorenzo compartilha com ela composto de reluzentes camadas de ouro. É aa harmonia das esferas, da qual falava Pitágoras. veste áurea nupcial, que não envolve nem su­“Como dorme tranquilo o luar no banco! Sen­ foca, pois é formada e alimentada pelo amor:temo-nos aqui e consintamos que penetre a mú­ um manto luminoso e radiante, o soma psychi­sica em nossos ouvidos. O tranquilo silêncio e a kon (o corpo da alma) mencionado nas Núpciasnoite servem para realçar uma harmonia amena. alquímicas e talvez também em Die brulocht (OSenta-te aqui, Jéssica, e observa como se acha o casamento espiritual).soalho do céu todo incrustado de pedacinhos deouro cintilante. Não há estrela, por menor que Mais adiante na peça teatral O mercador de Ve­seja, de quantas aí contemplas, que em seu curso neza, Portia e sua servidora Nerissa – nome denão cante como um anjo, em consonância com uma nereida – realizam uma última apariçãoos querubins dotados de olhos moços. Na alma em uma cena divertida e rica de significado.imortal essa harmonia existe. As núpcias alquímicas de Christian RosenkreuzMas enquanto estas vestes transitórias de argila anno 1459 também mencionam as nereidas,a envolvem muito intimamente, não podemos no quinto dia. Inúmeras lendas mencionaramouvi-la (...). O homem que não traz música em seu sétuplo cântico de amor que evoca o novosi mesmo, nem se comove ante a harmonia de estado de vida.agradável toada, é inclinado a traições, tão- O que conquista tudo? O amor. Como encontrar o -só, a roubos e a todo estratagema, de sentido amor? Mediante o amor.obtuso como a noite e sentimentos tão escuros Onde resplandecem as boas ações? No amor.quanto o Érebo. De um homem assim descon­ Quem pode unir os dois? O amor.fia sempre. Ouve a música!” Retornemos a John Dee, que na época de Shakespeare, serviu na corte de Elizabeth I. Muitas vezes chamado de magus na era elisabe­ tana, foi a ele que Gustav Meyrink dedicou o romance O anjo da janela do ocidente. Matemático e mago, sua personalidade bastante esotérica e mística influenciou profundamente o movimento poético criado pela rainha. Tal influência foi de­ terminante para o clima espiritual da Inglaterra e da Alemanha (Boêmia) no século XVI. Os rosa-cruzes alemães do círculo de Tübingen foram particularmente inspirados pelo signo da Monas Hieroglyphica de John Dee, o signo de Mercúrio, que consideravam o ponto culminan­ te de todos os signos do zodíaco. Metal asso­ ouve a música!! 45

A qualidade da misericórdia não se impõe, cai como a suavechuva do céu sobre a terra embaixo...ciado ao planeta do mesmo nome e matriz de Após a Reforma e a Contra-Reforma, A grande todos os metais, Mercúrio torna a compreensão instauração de Francis Bacon não poderia ser realista, purifica a inteligência e a consciência, considerada uma terceira tentativa de engaja­refresca o pensamento. Ele representa o número mento em uma luta religiosa. A publicação des-cinco, a diligência da alma imortal. Diz-se que sa obra visava à renovação das artes e das ciên­Mercúrio conduz à iluminação pela razão e rea­ cias. Qual o seu objetivo? Alcançar o estado de liza a renovação do microcosmo e do macrocos­ iluminação por meio de um método. Essa é a mo. John Dee já havia fornecido outras informa­ razão pela qual os próprios leitores são convi­ções a respeito da imagem aqui representada. dados a preencher o último capítulo (o sétimo). No frontispício, figuram gotas de orvalho Aqui o amor impõe limites à ação da verdade, acompanhadas de alusões complexas à cruz, ao sendo quase uma arma, enquanto o amor, na simbolismo da Monas. Uma tradição mais an­ compreensão de Shakespeare, desarma e faz a tiga, que interpreta o conceito rosa-cruz como misericórdia prevalecer sobre o direito (a lei), uma expressão de origem alquímica derivada pois, no mundo, sempre argumentamos com das palavras latinas ros (orvalho) e crux (cruz), o objetivo de defender o nosso direito mesmo encontra na Monas Hieroglyphica de John Dee se, na lógica e na consciência humana, ressoe um suporte considerável. Em um contexto outro sinal.cultural mais amplo, Mercúrio, ou a razão purae simples da alma imortal, moderniza a ciência “A qualidade da misericórdia não se impõe, e as artes, tal como Francis Bacon revelou em cai como a suave chuva do céuseu principal trabalho A grande instauração. O sobre a terra abaixo. É duplamente abençoada:subtítulo da obra é: A transformação universal abençoa quem a concede e quem a recebe;e geral do mundo inteiro através da renovação é a mais poderosa entre os poderosos: fica melhorde todas as artes e das ciências. ao monarca do que a sua coroa;Jaap Ruseler, durante uma conferência sobre os o cetro mostra a força do poder temporal,aspectos ocultos da obra do famoso autor, afir­ um atributo da reverência e da majestade,ma que esse impulso de renovação completa faz onde deve residir o temor e o medo aos reis;justiça ao “agitador da lança”. O nome de famí­ a misericórdia está acima da instabilidade do cetro.lia de Shakespeare refere-se à deusa Palas Atena, Está entronizada nos corações dos reis,personificação da sabedoria e da inteligência é um atributo do próprio Deus.divinas. Portanto, seu nome significa shaker of E o poder terreno mostra-se semelhante ao divinothe spear (literalmente: aquele que agita a lança). quando a misericórdia tempera a justiça (...)”Palas Atena brande a lança contra o dragão da Este belo fragmento de O mercador de Venezaignorância quanto à origem divina do homem. ilustra a natureza da renovação ligada ao amor 46 pentagrama 2/2013

segundo a fórmula tudo receber, tudo abandonar e Poderíamos dizer “inclinados a fazer o mal”assim tudo renovar. Essa nova atitude do homem conforme era dito no tempo de Shakespeare,hermético é duplamente abençoada: é a arte de quando a Bíblia oficial dos Países Baixos foivida da fonte do coração de um rei - do rei escrita. No Gênesis dessa Bíblia é mencionada ae da rainha. Ele simboliza o próprio Deus. O natureza da “maldade” de tais homens, total-veio áureo oculto nas obras de William Shake­ mente corrompidos por “fantasias que gover­speare é inexprimível. Todavia, ele ainda está nam os pensamentos de seus corações”.presente quando essas peças são interpretadas Face à traição e à desconfiança, apresentam-secom inspiração, e quando, assim como o un­ a lealdade e o amor. Assim, não é nada sur­grund (sem fundo) de Jacob Boehme, a profun­ preendente o fato de que várias peças de teatro,didade da realidade subjacente pode ser experi­ incluindo comédias, terminem em casamento.mentada tanto pelos espectadores quanto pelos A nosso ver, Shakespeare não tinha em menteatores. Vivenciada como uma energia transfor­ núpcias comuns, porém matrimônios de grandemadora da consciência, ela nos faz reconhecer valor. O resultado de um processo.nosso próximo, o ser humano, praticamente Isso nos conduz à alquimia entre o homem e acomo um deus. mulher, à veste áurea nupcial, também presen­“Ouve a música!” te na mitologia viking norueguesa: em LofotenIsso exige de nós determinada arte de vida: pode-se ver uma finíssima miniatura de ouronão se trata de possuir o ouro que brilha, mas puro de um casal divino. É preciso usar umade tornar-se o próprio ouro. Nessa arte real, lente de aumento, pois ela é muito pequena.o amor brilha como um sol que jamais se põe: Com tudo isso, o caminho áureo ainda nãosem Terra nem Lua que o possa ocultar. E o pode ser expresso. No entanto, “ouve a mú­Sol faz evaporar as nuvens e faz a chuva cair sica” – ouve realmente a música! A riquezasuave como a misericórdia. Se houve alguém dessa obra, a ser ouvida e percebida, perduraque através de suas obras tenha realmente após tantos séculos, que mesmo o estudan­renovado a arte e a linguagem de modo indelé­ te americano de hoje prefere a linguagem devel, esse foi Shakespeare. Sua influência sobre o Shakespeare às frases da moda e às expressõesidioma inglês é incontestável. Durável, como se afetadas.diz hoje em dia. Ouçamos, pois, a música, a música das esfe­Como um pré-Mozart de A flauta mágica, ele ras, desde que ela ainda consiga atravessar orevelou em suas obras o caminho alquímico nevoeiro dos sinais de satélite e dos ruídos doe maçônico. O segredo está na experiência espaço! Ouçamos também o nosso ser profun­consciente e profunda da natureza das opo­ do, se ainda fomos capazes de percebê-lo µsições, da coincidência dos opostos, que só aalma pode experimentar. Jéssica e Lorenzo Shakespeare, W. O mercador de Veneza, Rio de Janeiro: Ediouro, 2009.não sentem essa conjunção de um esplêndidocéu transparente e de sua música? Percebemosas condições que Shakespeare impôs a essas al-mas e as qualidades que lhes atribuiu. Não setrata aqui de almas que se deixaram aprisionare confinar em suas muddy vesture of decay (en­lameadas vestes da corrupção), mas de almasimortais “tocadas por suaves sons”, capazesde ouvir e ver. Shakespeare nos adverte paraestarmos atentos contra os portadores infe­riores de vestimentas de alma, pois são serespredispostos à traição, à astúcia e ao saque. Épreciso estar atento sempre. ouve a música!! 47

minha vida48 pentagrama 2/2013


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