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Revista Pentagrama 2017-1

Published by Pentagrama Publicações, 2017-05-18 16:41:56

Description: A Sabedoria não é encontrada na eloquência nem em livros volumosos, mas sim quando nos afastamos das coisas do intelecto e nos voltamos para as coisas mais simples e mais infinitas. Aprendam como recebê-las em um templo livre de todos os vícios, ligando-se a elas com fervoroso amor, até conseguirem saborear e ver como é doce “o que está acima de qualquer doçura”! Depois de as terem provado, acharão ridículo tudo o que até agora achavam importante, e haverão de se tornar tão humildes que nem sequer um grama de arrogância ou de qualquer vício poderá permanecer. Uma vez que provarem dessa Sabedoria, estarão ligados a ela indissoluvelmente, com um coração casto e puro. Com certeza, prefeririam abandonar este mundo e tudo o que não estivesse de acordo com essa Sabedoria, a fim de morrer com a felicidade indizível de estarem vivos.

Nicolau de Cusa

Keywords: sabedoria,amor,silencio,rosacruz

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2017 número 1PentagramaLectorium RosicrucianumO Caminho das estrelas 1

pentagrama 2 Inhoud

Ano 39 • 2017 número 1 pentagrama O verdadeiro rosa-cruz Ele venceu três animais: O leão, daí vem sua paciência; O urso, daí vem sua amizade; A serpente da natureza inferior, por isso ele é livre de inveja e ciúme. Ele se tornou mestre das três virtudes essenciais: A fé em seu próprio saber, confiando que faz parte da promessa do rei; A esperança verdadeira, a partir de seu conhecimento da lei e de seu reconhecimento do bem em todas as coisas; O amor, especialmente no que diz respeito à justiça. Consequentemente, ele jamais julga os erros dos outros nem perde seu tempo com fofocas. Como sabe que ele próprio é um instrumento de Deus, jamais se vangloria disso. Como jurou obediência ao rei interior, sabe quando deve se calar. Como se esforça para cumprir suas obrigações e sabe que o voo de sua alma se reflete no exterior, ninguém encontrará nele qualquer desarmonia. Como está mais inclinado a ter uma opinião favorável do que desfavorável sobre as pessoas, sempre buscará em todas as coisas o que é bom. Sabendo que cada circunstância pode lhe dar a chance de crescimento interior, jamais pensará mal dos outros. Como ele mesmo sempre está impassível, tenta não influenciar os outros e não é arrogante. Como oferece mais para o bem-estar dos outros do que para sua própria felicidade, ele se opõe a todo e qualquer interesse pessoal e é livre de A revista Pentagrama é publicada quatro Diagramação egoísmo. Responsável pela Edição Brasileira Lectorium Rosicrucianum vezes por ano em alemão, inglês, espanhol, francês, húngaro, holandês, português, búlgaro, Studio Ivar Hamelink Sua fé, fundamentaAddraianna Poontreeconhecimento da verdaSReuddaeeSneobianBsrttaiãesoilrCiaornre,iron, 2ã15o, SpãooPaduleo –sSePr finlandês, grego, italiano, polonês, russo, enganada pelas ilusCõooerdsenmaçaãot,etrraidauiçsã.oAe rsesviismão, ele é livreTedl. e& faqx:u(1a1l) q32u08e-8r68i2rritação. eslovaco, sueco e tcheco Secretaria Edição Kees Bode, Anneke StokOmans-oGrfierviemr ento não cMAdoartitanan,saCePaorglnotuse,GeRoomvsseeas,nnJaocCséiêled-netloJoe,sA,umsp,aMnoaairdcsaiaa força [email protected] sição.CRaopzeakruis Pers Ele está ligado paraMosreaems, MparriaenaaLoimogeirrou, Mpaorlende Touasceqk,ue colocam em prática aCRéeudançoãtouFrninoalna Califórnia (anônimo) Redação Peter Huijs Pentagramm verdade. Mercês Rocha, Ana Maria Pellegrino, Rafael Sede em Portugal Redação Maartensdijkseweg 1 Albert, Ellika Trindade, Fernando Leite, Lino Praça Anónio Sardinha, 3A (Penha de França) Kees Bode, Wendelijn van den Brul, Arwen Gerrits, Hugo van Hooreweeghe, Peter Huijs, NL-3723 MC Bilthoven, Niederlande Meyer, Marcílio Mendonça e Urs Schmid 1170-022 Lisboa Frans Spakman, Anneke Stokman-Griever, Lex van den Brul e-mail: [email protected] Diagramação, capa e interior [email protected] Edição brasileira Flávio Gomes Duarte [email protected] © Stichting Rozekruis Pers Pentagrama Publicações Proibida qualquer reprodução sem www.pentagrama.org.br autorização prévia por escrito Publicação digital Acesso gratuito ISSN 1677-2253 1

Conteúdo4 As Visões dos Grandes A. Gadal8 No caminho de Paulo14 O campo de respiração18 O caminho... para onde?23 O belo e o sublime Ensaio36 O olho e a testemunha43 A Pedra Filosofal Tratado do nobre lósofo alemão Abraham Lambsprinck Uma obra do século 17 sobre a alquimia interior66 A Cruz do Tau68 Símbolo3 Ser um peregrino Coluna Imagens do mundo [13, 21, 41] Texto de Nicolau de Cusa2 Conteúdo

imagens do mundoO Universo não tem circunferência nem centro, porque, um limite físico, não está em nosso poder entenderse ele tivesse um centro e uma periferia deveria existir algo o Universo, cujo centro e circunferência são Deus. E, emborafora dele – pressuposto que se encontra completamente fora o Universo não possa ser in nito, também não pode serda verdade. Assim, uma vez que é impossível que o entendido como nito, uma vez que não há limites dentroUniverso tenha um centro físico e esteja incluído em dos quais possa ser delimitado. Nicolau de Cusa (1401-1464) © Jesse Garnier SFBAY. Gabriel Angelo, ano 12, São Francisco3

A. GADAL Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” João 4:23 4 As Visões dos Grandes

As Visões dos GrandesD e tempos em tempos, manusear a varinha de demonstração e EXTRAÍDO DO LIVRO em dias ensolarados, o entusiasmado ao ouvi-lo. O CAMINHO DO Ancião vinha à gruta do Familiarizou-se rapidamente com o SANTO GRAAL, DE Eremita. Chamava Matheus, resch, o iesmon, o chrismon, o iesmon-rech, ANTONIN GADAL Guilhem e alguns de seus o ieschrismon-resch, o círculo eterno, ocompanheiros e conduzia-os ao Avô, Alfa e o Ômega, o pentalfa luminosocontornando simplesmente uma ponta ou estrela dos magos, o microcosmo, orochosa situada logo depois do Eremita. macrocosmo; com os primeiros sinaisO Avô era uma jóia de gruta, pequena, de assembleia dos cristãos primitivos,de forma redonda, cujas paredes dos cristãos das sete igrejas da Ásia, dosestavam cobertas de desenhos e sinais, cristãos gregos, africanos e romanos, auns mais misteriosos do que os outros. criptografia apostólica, os monogramas,Ela se encontrava no ponto final de os diagramas, os trigramas, as siglasum grande círculo druídico com uma criptográficas; com os símbolos diversosalameda coberta; numerosas moradas e numerosos dos primeiros séculos daseparadas umas das outras. A plataforma era cristã; com as siglas anteriores à erasuperior, em meia lua, ainda possuía a cristã.mesa, recoberta de sinais profundos, e Ele seguiu avidamente seu Mestre que,os assentos em pedra dos ouvintes. O destacando-se numa parte plana daAncião havia-lhes até mostrado um belo rocha, subia até o Avô, proclamandopentáculo gravado na própria rocha, a imortalidade da alma, o eternoo qual, entretanto, não parecia muito masculino, o eterno feminino, a árvoreantigo. Mas, quem poderia saber? da vida com sete ramos, cuja união– Aqui meu Ancião começou sua missão, perfeita constitui o Ser supremo;disse ele, ajoelhando-se diante da mesa, o perpétuo sacrifício desse atoestendendo suas mãos espalmadas sobre cosmogônico, o Ser supremoa pedra sagrada e orando em demorado imolando-se, o Pai (eterno masculino),reconhecimento. a Mãe (eterno feminino), o Filho– Jamais vos esqueçais, acrescentou (árvore da vida), o Verbo Criador, aele, de vir aqui por alguns momentos Trindade: AUM.haurir um complemento para as vossas Após essas belas lições, seu espíritovirtudes. corria ligeiro; ele vivia longas horas,Parecia difícil, à primeira vista, separar com Rama, sobre o Monte Albori;os sinais sobrepostos uns aos outros com Krishna, sobre o Monte Meru;de cada lado do Avô; mas o Ancião com Hermes, nas grutas profundasera tão hábil, tão versado nesses de Mênfis ou de Tebas.; com Moisés,estudos, tão seguro de si mesmo, que sobre os rochedos de Serbal; comMatheus ficava maravilhado ao vê-lo Orfeu, sobre o Monte Kaoukaion; com 5

Pitágoras, em Delfos; com Platão, emsua academia; para reencontrar Jesus, odivino Mestre, sobre a montanha.Matheus ia até mais longe ainda, poiscomprazia-se, através de meditaçõescada vez mais profundas, em penetrarnas célebres visões:Visão de Rama, sob o carvalho da clareira.Rama dorme. Ele ouve uma vozpoderosa chamá-lo pelo nome. Diantedele, a figura majestosa de um gênio,vestido de branco, trazendo na mãouma vara com uma serpente enroladae uma foice de ouro, estendendo aRama um ramo de visco, depois atocha e a taça.Mateus ouvia as palavras do gênio:– Rama, vês esta tocha? É o fogo sagradodo Espírito divino. Dá a tocha aohomem e a taça à mulher, pois é a taçada vida e do amor.Visão de Krishna, na cabana do centenárioVasichta, em plena floresta santa.Matheus sentia-se também transportadoao sétimo-céu dos devas. Junto ao Pai dasCriaturas, viu Devaki, a Virgem-Mãe,fundindo num olhar de amor o Filho, aPalavra, o Verbo Criador.Visão de Hermes, na cripta secreta, Vista do Vale do Ariège a partir das grutas chamadas Églises, em Ussat-Ornolacrodeado de hierofantes e de magos.Matheus via Osíris, a Inteligência Visão de Moisés, sobre o cume do Sinai, na um só Ser, esposo e esposaSoberana; os sete raios do Verbo-Luz entrada da caverna protegida pelos terebintos. divinos, Pai e Mãe, Demiurgorelativos a uma fase da vida das almas; Ele via o anjo solar, raio de Elohim, e do qual Dionísio é o Filho.os sete gênios da Lua, de Mercúrio, de ouvia a voz se perder no espaço infinito: Ele seguia o Verbo, naVênus, do Sol, de Marte, de Júpiter e de – Eu sou aquele que é! gruta de Perséfone, a belaSaturno. Ele ouvia e reconhecia a voz tecelã Maia, Virgem divina,da Luz e lia no Livro dos Mortos dos Egípcios, Visão de Orfeu, pontífice do e retinha essa reflexão deonde as almas vagueiam, durante tempo Templo do monte Kaoukaion. Orfeu: É áspero o caminho quemais ou menos longo, segundo seu Ele bebia suas palavras proclamando conduz aos céus. Reflexão queestado de pureza (erros do homem--matéria, da lagarta), em direção à Luzno barco de Ísis. 6 As Visões dos Grandes

ele traduzia: É duro o caminho do Santo O homem medieval dispunha deGraal. grande receptividade de coração em ligação com o pensamento imagéticoVisão de Pitágoras, em Crotona, sobre a Unidade intuitivo.colina dos terebintos e das oliveiras. Cristo Para abordar dados abstratos comEle seguia as provas da iniciação, Jesus mais familiaridade, os bonhommescopiadas da iniciação egípcia, chave do cátaros utilizavam a linguagemcosmo; entrava nos quatro elementos: simbólica arcaica, transmitidaterra, ar, água, fogo, e apanhava o quinto no início do cristianismo e atéelemento etérico, fluido cósmico, luz mesmo linguagem de épocasastral, Alma do Mundo. anteriores. Esses símbolos seriam mais propriamente designados peloVisão de Platão, em sua Academia de Atenas. Vida Início termo “caracteres”, como na escritaApós haver compreendido os filósofos Morte Fim chinesa.da Ásia Menor, do Egito, da Itália Por exemplo: a linha vertical, omeridional, onde Pitágoras já havia Começo Resch, refere-se ao impulso divinoservido de modelo para muitos descendente. Resch sigini caseguidores, Matheus estudava com ele Fim “Deus” ou “cabeça”, no sentidoos números sagrados, a cosmogonia de “consciência divina”. Quandoesotérica, a doutrina da alma, o Salvador o Resch era representado pelamicrocosmo e o macrocosmo, a jornada letra maiúscula “P”,signi cavahumana e divina da alma, o verdadeiro, Unidade “Deus-Filho”. Mas, se ele vinhao belo, o bem; por fim, seguia esse Cristo desenhado ao contrário, signi cavamestre nos Mistérios de Eleusis. Jesus “Deus-Pai”. Vemos o signo hebraico Ain, que também quer dizer AinVisão de Jesus. Vida Início Soph, o “Círculo da Eternidade”.Matheus, a essa altura, já se mostrava Vida Fim Além disso, observamos os signos Xespírito superior; necessitava Começo e C,que se referem a Cristo. E o Msomente reunir suas recordações. indica Mater, a matéria, a Mãe. O S,Os sacerdotes do Egito, encabeçados Fim ou Soter, signi ca “o Salvador” oupor Ahmosi, o sumo-sacerdote, haviam Salvador “o Libertador”. O Α ou Alfa e o Ωanunciado que a fênix iria renascer de ou Ômega e, claro, o Pentagrama,suas cinzas. É necessário acrescentar que Matheus a estrela de cinco braços, indicam o estava completamente transformado? O renascimento da estatura da alma.O Batista, pressentindo o fim de sua ancião o havia percebido. Anunciou-lhe Várias combinações poderiam sermissão, anunciava, referindo-se a Jesus: para breve o conhecimento da lei que feitas, incessantemente. Assim, todasÉ preciso que Ele cresça e que eu diminua. governa a água simbólica para possuir as vezes uma nova faceta poderia serJesus nada podia a não ser recolher- o dom da adivinhação e da profecia. explicada.-se, entregar-se ao retiro, a um jejum A alegria de Matheus chegou ao auge;de quarenta dias, procurar um ninho compreendeu sua chegada à ordenação,de águia na gruta de Engaddi, onde à perfeição. A purificação pela água, aencontrava as meditações dos Profetas, Fount Santa, a fonte sagrada, um retiro deum pouco de água fresca, nozes e figos. quarenta dias, terminando com a morteE, como o divino Mestre, Matheus da matéria na tumba. Belém, a portaexclamava arrebatado: Para mim, a cruz! mística... e ele seria iniciado, Puro,Que o mundo seja salvo! Perfeito... Que belo sonho! 7

Estar de férias significa, Caminhando com Pauloliteralmente, manter distância davida cotidiana, observar tudo apartir de um novo ponto, vivera partir de uma perspectivadiferente. Com frequência umolhar mais amplo se apresentaporque, de repente, em um paísdistante e estranho, você fazparte de um todo maior e de umahistória mais significativa.Se você é europeu, na África do Sul você é o branco. Em Bali, o colonialista. Nos Estados Unidos, o cúmplice. Na Índia, o eterno buscador daeterna sabedoria universal como os outros.E na França ou na Itália você é a partelúcida de um continente que está embusca de sua própria identidade.No caminho você pode sentir, de maneiraimprevista e evidente, que as pessoas estãotodas interligadas, seja como indivíduos ouem grupos. Ao mesmo tempo estão juntas,aprisionadas em um emaranhado bastanteconfuso. Raças, grupos e países determi-nam a história e o destino de cada pessoa:às vezes em sentido positivo, mas tambémem sentido desastroso. Quando viajamos,vemos e ouvimos o quanto homens emulheres se desgastam por um pouco defelicidade, por um futuro melhor para seusfilhos, pelo tipo de vida que faz algumsentido para eles. É assim que, observandoe escutando aqui e ali, nos damos conta deque, se existe diferença entre nós, é apenas 8

Caminhando com PauloBrahma Vihara é o único templo budista na Ilha de Bali. Às vezes também é chamado o “Pequeno Borobudur” 9

em relação a condições externas e tempo- Em nossa plenarais.Viajando, de repente nos percebemos autorresponsabilidade,como pessoas cosmopolitas, cidadãos do iremos ao encontro de nossoUniverso. Fica muito claro que estamos to- próprio ser inalienáveldos no mesmo barco! E, com nossos olhosespirituais, também vemos que, atrás de ram de nosso campo de visão e os sábios,nós, já temos um caminho extremamente os grandes, foram para os bastidores, jálongo de uma história comum. não podemos continuar empurrando aDemorou milhões de anos até que a huma- responsabilidade para nossos pais, nemnidade como um todo evoluísse para o ho- para nossos dirigentes, nem para as con-mem racional – o homo sapiens. Comparti- dições de vida e menos ainda para Deus.lhamos uma vida em comunidade há apenas Nós é que temos de nos tornar adultos!algumas dezenas de milhares de anos. Assim, em nossa plena autorresponsa-Nesta incrivelmente longa história da bilidade, iremos ao encontro de nossohumanidade jamais fomos abandonados, próprio ser inalienável e eterno em algummesmo que muitas vezes não conseguís- lugar e em algum momento.semos perceber isso. Em todas as épocasdifíceis sempre fomos acompanhados por O que Bali ensina Escultura no parque do Templohierarquias superiores veneráveis, que Brahma Vihara. Brahma Viharadirigem os processos cósmicos e as fases Estando de férias em Bali você pode sentir refere-se às quatro condições dede desenvolvimento da consciência. De muito bem as diferenças na evolução da um espírito que encontrou a paztempos em tempos, mensageiros da Luz consciência. Os balineses são orgulhosos do universo: amor, compaixão,sempre vieram até nós trazendo esperança de sua mescla de veneração de antepas- impassibilidade e alegria pelae apresentando perspectivas ilimitadas de sados com o hinduísmo tradicional. A felicidade dos outroscampos de vida que estão nos aguardando. religião domina totalmente a vida deles.Vários grandes homens do espírito ilumi- Todo dia as mulheres ocupam-se horas anaram nossos caminhos. E nas épocas his- fio com o arranjo de oferendas multico-tóricas chegaram até nosso campo de visão loridas e trançadas com elegância.impressões da beleza, bondade e verdade Mulheres e homens muitas vezes fazem ce-divina, que ficaram gravadas em nosso ser rimônias diárias em seus próprios templosatravés de narrativas, imagens e música. domésticos ou nos templos da comunidadeEm todos os tempos também existiram para venerar seus antepassados, para orarpessoas preparadas para sacrificar-se pelos para seus muitos deuses ou para Brahma.outros. Mas agora parece que nesta época Todos os dias livres são dedicados a ceri-moderna, que também já conta centenas mônias. Famílias, comunidades e tradiçõesde anos, estamos entrando em um pe- centenárias determinam como a comuni-ríodo de aceleração e, do ponto de vista dade pensa e vive. Individualidade e inde-temporal, nossa posição está sendo levada pendência parecem ter pouca importância.ao ponto máximo. Nossa civilização Não é improvável que isso venhacomeçou há mais de 10.000 anos: é um a mudar dentro de algum tempolongo período de evolução, um autode- previsível. O número de muçulmanossenvolvimento vagaroso.Mas desde os antigos gregos fomos leva-dos a refletir sobre nós mesmos. Cada vezmais estamos tomando as rédeas de nossodestino. Agora que os líderes desaparece- 10 Caminhando com Paulo

está crescendo. É quase inevitável queos muçulmanos praticantes, que sededicam social ou politicamente à suacrença, venham a sobrepujar as tradiçõesbalinesas. Os habitantes de Bali precisamfazer uma escolha entre a adaptação e odesaparecimento. Isso é trágico e, casoaconteça, sem dúvida provocará muitaperturbação e desgosto, mas, ao mesmotempo, uma inevitável fase de evoluçãopara o estado adulto – ponto no qualestamos como humanidade. Por um lado,o que se vê em Bali pode nos pareceralgo muito distante. Por outro, quandoconsiderado em nível mais profundo,também é válido para nós: trata-se de umadiferença de espirais, pois um intervalo decem anos não tem a menor importância.Neste exato momento, todos nós esta-mos sendo conduzidos através do tempoaté o fundamento de nossa existência.As tendências visíveis e perceptíveis dapolarização separam as pessoas e grupospara que, mais cedo ou mais tarde, nosreencontremos em um plano espiritual.Podemos observar processos como esseem nossa própria vida. Como seres huma-nos ocidentais, individualizados, estamoslutando contra nossas tendências pueris, aangústia, o fato de sermos completamenteinfluenciados pelo mundo e suas potências.Também nós nos defrontamos com temase questões antiquíssimos que nos põemem contato com sentimentos primais.Estes, muitas vezes, surgem de vivências deinsegurança, exclusão, perda e solidão. Sãosombras e, em grau extremo, repetições deuma vivência maior: a expulsão do paraíso.Carregamos conosco essa vivência funda-mental como uma ferida que não cicatri-za e como uma grande privação da qualninguém escapa. Para suportar essa dordeixamo-nos enganar pelas três tentaçõesclássicas: posse, prestígio, poder. “Clássicas”porque, já no notável livro de sabedoria,que é a Bíblia, elas são apresentadas de 11

modo muito fácil de compreender. to. Por isso, tinha autonomia no pensar eQuando optamos por esse caminho, no agir e era incansável em seu anseio desó nos envolvemos cada vez mais, de- afastar-se de tudo o que não pertence aopendendo uns dos outros individual e centro microcósmico.coletivamente – e é assim que acabamos Paulo era um renovador corajoso. Mas nãoperdendo o rumo da trilha interior. tinha orgulho e estava sempre bem cons- ciente de seus próprios limites como serNão estamos sozinhos nascido da natureza. São sinais de amadure- cimento. Mas o que, na realidade, marcavaQuem está vinculado à Rosacruz Áurea sabe, a verdadeira majestade de seu estado dedo mais recôndito de seu ser, que a desu- adulto não era apenas o fato de que vivia anião fundamental só é revogada na medida partir do conhecimento interior de modoem que nos ligamos de novo e para sempre autônomo e consciente, mas o fato de que,com o espírito de Amor e Liberdade que ao mesmo tempo, estava profundamentepertencem ao núcleo do microcosmo. Só ligado às pessoas a seu redor (sem dúvidaassim podemos chegar ao amadurecimento porque não podia agir de outra maneira).sobre o qual fala Paulo em Coríntios I,13: Relacionava-se com todos os outros sem“No princípio, quando eu ainda era crian- torná-los dependentes dele. Confiava em suaça, falava como criança, sentia e pensava força anímica e focalizava o que era possívelcomo criança, mas então me tornei um ou o que podia tornar-se possível. Assimhomem e desisti das ideias de criança. também poderia ser nosso vínculo com oAgora vemos apenas uma imagem vaga ambiente e com os outros! E muitas vezescomo em um espelho turvo. Porém depois isso já acontece agora, sem dúvida. Não ape-estamos diante de Deus. Agora o conhece- nas de modo abstrato e também não apenasmos apenas de modo imperfeito; porém com os que buscam conscientemente e en-depois o conheceremos perfeitamente contram a Escola Espiritual, mas com cadaassim como Ele agora já nos conhece.” pessoa que cruza nosso caminho na vida.Nesta época muita coisa está caminhan- Então seremos bons servidores, quando,do mal e muitas pessoas estão buscando, como Paulo, estivermos vivificados peloquase em desespero, um novo alicerce. Espírito e independentes, por assim dizer,E agora, tendo chegado à base de nossas indivisos e íntegros como em uma fusãovidas, descobrimos, como pessoas, que – portanto, quando soubermos isso funda-não estamos sozinhos, e podemos obser- mentados no coração, e o reconhecermosvar isso também à nossa volta. Aí está o simultaneamente com a cabeça, conseguin-fio que nos liga e nos conduz até a saída! do assim viver com base nesse entendimen-Como um toque sutil, um sussurro meigo to clemente e salutar. Essa certeza interiorou uma clara resposta ressoa o chamado: nos basta e ainda tem muito a nos dizer.“Venha, siga-me”. Seremos bons servidores quando, com baseComo na citação acima, Paulo dirige-se nesse estado de ânimo livre e inspirado,enfaticamente à nossa fantasia até os dias de estivermos atentos ao nosso ambiente e ahoje, e isso também se justifica. Ele estava cada pessoa com que nos encontramos para,preenchido pelo espírito ardente daVerdade então, conviver realmente com elas – o quee do Amor. Ele vivia fundamentado na significa apoiá-las e ver o que é possível. EsseGnosis. Exatamente como vivemos agora ou momento exige de nós a máxima presençacomo, no mínimo, tentamos viver. para colocarmos os valores das outras pes-Paulo tinha atingido essa condição rara e soas acima de tudo. Isso é que é Amor.majestosa do verdadeiro amadurecimen- 12 Caminhando com Paulo

imagens do mundoA Sabedoria não é encontrada na eloquência nem em livros de se tornar tão humildes que nem sequer um grama devolumosos, mas sim quando nos afastamos das coisas do arrogância ou de qualquer vício poderá permanecer. Umaintelecto e nos voltamos para as coisas mais simples e mais vez que provarem dessa Sabedoria, estarão ligados a elain nitas. Aprendam como recebê-las em um templo livre de indissoluvelmente, com um coração casto e puro. Comtodos os vícios, ligando-se a elas com fervoroso amor, até certeza, prefeririam abandonar este mundo e tudo o que nãoconseguirem saborear e ver como é doce “o que está acima estivesse de acordo com essa Sabedoria, a m de morrer comde qualquer doçura”! Depois de as terem provado, acharão a felicidade indizível de estarem vivos.ridículo tudo o que até agora achavam importante, e haverão Nicolau de Cusa13

O campo de respiração 14 Inhoud

“Inspiração”: Toda vida humana começa com umainspiração profunda, seguida normalmente de um gritoforte. A vida de cada um de nós – assim dita autônoma –depende totalmente da respiração. Da mesma forma que aTerra é envolvida por uma camada de ar ou atmosfera, nóstambém vivemos em nossa pequena atmosfera ou campo derespiração. Esse campo de respiração microcósmico é umcampo de vida, uma atmosfera astral muito pessoal, cujaestrutura e função são exatamente as mesmas que as dogrande campo de respiração cósmico. OO sopro, o alento, conduz tudo à vida, a uma transformação constante, auma metamorfose contínua. Essa força de vida misteriosa é conhecida des-de sempre e é chamada prana pelos hindus, pneuma pelos gregos; os chinesesa denominam chi e os romanos, spiritus vitalis, para designar essa essênciavital em todos os níveis de expressão da vida em si.A respiração, o alento, regula a estrutura da matéria e também sua dete-rioração. Mas também a transição para um novo nível vida, mais elevado.Ou, como o descreveu poeticamente um botânico inspirado pelo taoísmo:“Toda a paisagem exterior simboliza a paisagem interior do homem.Tudofaz parte de um mesmo processo cósmico natural. É, ao mesmo tempo, umprocesso espiritual de cima para baixo inspirado pelo chi, do qual o cosmointeiro participa e no qual o homem ocupa um lugar modesto, embora elepossa se integrar a esse processo com a alma e o coração, de maneira quetoda a separação entre o grande e o pequeno desaparece”.Esse botânico sustentava que: “Assim como as grutas profundamente escon-didas na paisagem se abrem para o espaço imenso, a libertação e a imorta-lidade jazem no segredo do homem interior”. É sempre essa aparente con-Instalação de Jim Lambie na The Fruitmarket Gallery, Edinburgo 2014Foto: Ruth Clark. Cortesia: The Fruitmarket Gallery15

tradição que carrega em si mesma o milagre do Um, o milagre da possibilidade perfeitada libertação, o milagre de um caminho que vai cada vez mais longe, o milagre de umaesfera de vida infinita. J. van Rijckenborgh, contudo, diz em sua análise do Nuctemeron,de Apolônio de Tiana: “Não existe ser humano dialético ou homem divino que possasubtrair-se ao domínio das forças magnéticas de seu campo de respiração”.Aí está uma afirmação bastante categórica, que nos faz considerar a situação em quenos encontramos a partir da perspectiva do campo respiratório.Cada ser humano que chega a esta Terra nasce em um campo de respiração – um cam-po, uma esfera que contém a herança de inúmeras vidas anteriores. Começamos nossaexistência em uma magnífica câmara de tesouros, ou mesmo em uma terna prisão –ou dentro de tudo o que possa ser vislumbrado entre esses dois extremos.Toda atmosfera é determinante. Quando ela é favorável, muito mal pode ser convertidoem bem. A qualidade de uma esfera ou de um campo é determinada pelas forças quenela estão concentradas. Desse modo, os rosa-cruzes clássicos sabiam que eram prote-gidos por uma concentração de força ígnea em seu campo de respiração. Eles coloca-vam seu trabalho conscientemente sob a proteção dessa força, “à sombra de suas asas”.Todo ser humano tem a obrigação de respirar. Somente conseguimos prender ouacelerar nossa respiração durante um curto lapso de tempo. Quem tenta forçar uma ououtra situação perde a consciência – e os centros respiratórios assumem o controle. Éassim que a respiração se mantém durante o sono ou o coma.Da mesma maneira, é impossível influenciar a respiração magnética ou astral com nossavontade. Em uma entrevista, há algum tempo, uma pessoa declarou ter tentado duranteanos se desapegar de uma tendência profundamente arraigada, que lhe causava imensosofrimento. Ela disse ter chegado finalmente à conclusão de que, nesse nível, não tinhaconseguido atingir nada por meio de sua vontade. “A única coisa que podia fazer comminha vontade, disse ela, era tomar a decisão de observar essa tendência para percebê--la o mais objetivamente possível”.Karl von Eckartshausen considerava isso a primeira etapa da “percepção interior”. Eessa primeira etapa consiste em prestar extrema atenção e manter interiormente certoafastamento. O fato de tomarmos distância e consagrarmos toda a nossa atenção podeparecer contraditório. No entanto, essa é a atitude daquele que chegou a um limite,mas sabe que existe um caminho que leva ainda mais longe. Com essa atitude, certacalma se instala no campo de respiração, e assim podemos assimilar outras forças mag-néticas. Quem, nessa calma e com esse comportamento, entra em um templo da EscolaEspiritual, sabe que a ele é dada a oportunidade de assimilar por um momento, a partirdo sopro de Deus, o alimento – os santos alimentos de luz que iluminam o espaço 16 O campo de respiração

criado em seu campo de respiração e rompem os fios do destino, criando a harmoniano caos e reforçando a paz em seu ser. O sopro de Deus não é apenas um brilho, umairradiação. É também uma substância que tudo penetra e que, circulando pelo espaço,é capaz de modificá-lo inteiramente. A consequência inegável disso é que ela modificaigualmente a respiração magnética. Com isso, o campo de respiração se torna mais si-lencioso e a consciência ganha mais clareza. Todo o trabalho que é realizado nesse localpermite que o homem se liberte progressivamente do peso astral. Há cada vez maisespaço para a alma, que aumenta em esplendor. Assim, lentamente, mas com vigor, aatmosfera do campo de respiração se modifica.Karl von Eckartshausen chama isso de resultado da confluência entre a vida meditativae a vida ativa. A Escola Espiritual nos ensina a “estar sobre o tapete” por intermédio deuma fé inabalável, um desejo intenso e um esforço contínuo. São essas as condiçõespara enfim mudar a respiração magnética e abrir o campo de respiração às forças docampo astral puro. Em um primeiro momento, vivemos em uma atmosfera fechada naqual se produz uma série – aparentemente sem sentido – de construções e demolições,onde parece não haver lugar para onde escaparmos. Porém, quando apresentamos umcomportamento de vida meditativo, uma abertura contínua favorável ao aprofunda-mento, à renovação e elevação, e, quando nossas ações são resultantes dessa atitude devida que realiza aquilo que contribui para a plenitude e preservação do mundo e dahumanidade... então vai descendo até nosso campo de respiração uma atmosfera sutil,cada vez mais etérica – que provém da atmosfera ilimitada do Grande Alento.Então, acontece a situação descrita por J. van Rijckenborgh em sua análise do Nuctemeron:“O fogo mágico do Universo, de onde dimana a vida, já não precisa penetrar o cam-po de respiração através do emaranhado fio da teia do destino. Pelo contrário, o fogo,segundo seu objetivo original, entra diretamente no sistema microcósmico do candidato,concentrando-se, perfeitamente puro, no campo de respiração, onde o candidato – res-pirando com o coração sétuplo purificado – alimenta seu ser com esse fogo hermético”.Aqui é descrita uma situação extremamente misericordiosa, com a qual todos nós pode-mos nos alegrar e na qual cada um de nós pode se reconhecer. Então é dado ao homemum fragmento de uma realidade elevada, que o conduz no mais curto caminho possível:o caminho do serviço à humanidade. Essa visão o alimenta e protege por inteiro, pois jánão é sua própria vontade que o anima, mas sim a alma que vive com o Espírito.Quando assim acontece, não porque pensamos ou queremos, mas porque o tempo dosesforços ansiosos se cumpriu, então o campo de respiração se torna um campo santifica-do e, inevitavelmente, o conjunto de todos os nossos pensamentos, sentimentos e açõesserá consagrado à plenitude e à salvação do mundo e da humanidade. 17

O caminho... para onde?No pequeno estacionamento nalidades, todas tão diferentes! Eu era um onde nosso grupo esperava candidato novo, apesar de ser de meia-idade. pela partida, não era Curiosamente, os que eram mais auto- possível ver muita coisa dos -confiantes eram igualmente os mais de- arredores. Tínhamos sido senvoltos: passaram a noite toda fazendo osinformados sobre o que nos esperava, mas preparativos para um jogo do qual queriamnão sabíamos para onde estávamos indo. participar. É claro, eles já sabiam tanto! Ei, o que estava acontecendo? Esses caras comEu olhava disfarçadamente à minha volta. suas mochilas já haviam partido, ou era umaOs outros pareciam tão seguros de si! ilusão? Sim: já tinham partido e voltado. MasCarregavam mochilas nas costas, sapatos para o retorno jamais poderia ser o caminho,caminhada e garrafas de água superpráticas. pois esse caminho não tinha volta!Acredito que todos tenham feito algum curso Os responsáveis vieram desejar boa viagemde sobrevivência ou coisa parecida, pois co- para todos. Apertamos as mãos e, de re-nheciam todos os termos técnicos, conversa- pente, me vi sozinho! Você pode dizer quevam com os responsáveis como se já tivessem isso seria impossível no meio de um grupofeito muitas viagens desse tipo. Para mim, pequeno; mas foi isso que aconteceu. Eutudo era novidade. Outra coisa eu não fazia, levava comigo apenas uma bússola, massenão escutar, de queixo caído, como se diz. não sabia como ela funcionava.Para mim, era como se tivesse esperado por Como não sabia para onde ir, simplesmen-esse momento durante toda a minha vida. te comecei a caminhar. Isso me pare-Tinha um monte de perguntas, mas não fiz. ceu excelente! A paisagem da região eraDe qualquer modo, essas perguntas recebe- magnífica, e com certa regularidade euram respostas, mas sem indicações preci- encontrava um companheiro de viagem.sas. Quando me perguntaram se eu queria Às vezes era alguém que eu já conhecia,viajar, fiquei surpreso por ter sido aceito; ao às vezes alguém que já tinha começado amesmo tempo, já sabia que nada poderia caminhar há mais tempo. Cada um seguiame deter.Todos os inconvenientes – pois sua própria bússola, mas cada uma eracertamente eles existiam – tinham sido leva- provavelmente de marca diferente, porquedos em conta. Para mim, foi simplesmente ninguém caminhava ao meu lado ou atrásirresistível! Depois de um tempo, experi- de mim. Eu me sentia tão feliz por estarmentei um intenso sentimento de esperan- no caminho que quase comecei a saltitar!ça, mesmo ainda não sabendo o que podia Embora tivéssemos sido avisados sobreesperar. Um senhor idoso simplesmente obstáculos nada agradáveis, ainda não ha-me deu um sorriso – e isso me passou a via nada para notar. Às vezes eu via alguémsensação de estar no caminho certo. Foi algo parar, com o rosto preocupado. Outras,incompreensível, mas não havia nenhuma cheguei a encontrar uma pessoa estendidadúvida! Foi então que encontrei esse grupo no chão. Quis ajudá-la a levanter-se, masde viajantes. Uma notável coleção de perso- 18 O caminho... para onde?

Reflexão sobre uma viagem, um grupo, a alegria de estar a caminho, um rochedo no caminho, a imagem de um pássaro e o trabalhoVisões de Luz 19

não pude. Então ela me disse que conse- minha mente. Mas, quando tento vê-la,guirira sobreviver. ela desaparece.Está certo que às vezes chovia e muitas A única coisa que realmente chama a atençãooutras fazia frio ou então muito calor. neste lugar é uma espécie de pássaro grande,Mas, no geral, minha caminhada foi agra- já há algum tempo, sentado na rocha. Alémdável e rápida. Logo cheguei a um limite. dele não vejo nenhum outro animal. Ele é umNão que eu o tivesse notado, pois só me animal estranho, que olha de esguelha paradei conta dele depois que o atravessei. mim. Estou me sentindo tão sozinho agoraEntão, vi que tudo era novo e desconhe- que acho até que vou conversar com ele. Ah,cido! Agora eu procurava caminhar com mas isso é uma grade tolice!mais cuidado – às vezes um tanto hesitan- Às vezes ele voa um pouco, mas logo voltate quanto a seguir pela esquerda ou pela para o mesmo lugar. Fico aqui pensandodireita. Aqui e ali, havia rachaduras, fendas que seria bom se eu também pudesse voar:que eu precisava saltar – e isso era perigo- então, eu voaria por cima do rochedo! Seráso! Tinha de escalar picos elevados e des- que o pássaro vivia atrás dele? Olhem agora!gastantes, seguidos de caminhos sinuosos, Ele está voando de novo, agora mais alto doterrivelmente abruptos e escorregadios que antes – e eu o sigo com o olhar. Ele voapor causa da chuva. No entanto, em mo- cada vez mais alto! Nossa! É maravilhosomento algum desejei ter ficado em minha ver como suas asas graciosas se destacam nocasa, pois minha casa era aqui, agora! céu azul! Há um círculo de luz ao seu redor.No momento, estou há semanas ou me- E percebo que ele está voando exatamenteses, não sei ao certo, diante de um roche- entre mim e o sol, diretamente para a luz.do colossal. Já tentei de tudo: empurrei, Então, já me esqueço do rochedo e deixopuxei, tentei arrastar, entalhei, subi e es- meu coração voar com ele, tão deliciosa-correguei novamente para baixo. Não há mente livre, leve e solto! Nenhuma parteninguém por perto, e não posso ir mais da viagem se iguala a este voo. Parece que oalém. Juntei todas as minhas forças, mas pássaro tem uma coroa de luz branca ador-o rochedo não quer ceder! Não consigo nada com pedras preciosas de todas as cores.nem ver o que existe por trás dele, nem É uma loucura! Mas vou me aproximandoao lado. cada vez mais dele e logo chego às suasTentar voltar é impossível – e inútil. Mas costas, onde acho um lugar confortável paratambém não posso permanecer aqui! Es- me sentar. Em um deslumbrante farfalhar detou com tanta fome e com tanta sede, que asas, movemo-nos juntos pelos céus. De re-estou disposto a tentar qualquer coisa! pente, começo a pensar sobre a viagem. SeráSe pelo menos eu pudesse remover esse que ele também está indo para o ponto maisbloco! Mas quanto mais eu tento, mais alto do rochedo? O pássaro vira a cabeçacansado fico, e não quero dormir, de jeito para mim e seu olhar é o de um velho ami-nenhum! É importante não cair no sono: go. Mas quem? Sua voz é ao mesmo tempojá me alertaram que depertar seria muito alta e baixa, suave, mas distinta: “Primeirodifícil. Sento em uma rocha e reflito mais vamos lá para o alto. Depois, precisamos vol-uma vez sobre todos os métodos que tar para a Terra: ao trabalho!”.já utilizei. O caminho deve ser esse! De E, cheios de coragem, descemos para ondetempos em tempos é como se alguma eu estava antes.coisa – fora do meu alcance – surgisse em Onde está o rochedo? 20 O caminho... para onde?

imagens do mundoAgora ainda vejo a vida eterna em espelho, em imagem e assim me alimentando, queres despertar meu desejo eesculpida, em enigma, porque ela não é senão o olhar fazer-me beber da felicidade; e, fazendo-me beber, queresbenigno com o qual jamais deixas de me contemplar com mergulhar-me em uma fonte de vida, para que, assim, tudoo máximo amor. Sim, até os cantos mais secretos de minha isso se prolongue e cresça – para que eu compartilhe dealma! Por isso, contemplar a vida contigo é doar-se: outra tua imortalidade... pois esse é o máximo absoluto de todocoisa não fazes senão doar ininterruptamente Teu mais ter- desejo justo, e não há nada maior que isso.no amor. Queres in amar-me em amor ofertando-me amor, Nicolau de Cusa21

ensaioAlbert Bierstadt, Looking down Yosemite Valley (Olhando lá embaixo o Vale Yosemite), Califórnia, 1865 22 O belo e o sublime

O belo eo sublimeO sublime do latim sublimis, é uma qualidade grandiosa, seja corporal,moral, intelectual, metafísica, estética, espiritual ou artisticamentefalando. O termo remete especialmente a uma amplitude situada alémde qualquer cálculo, medida ou imitação possível. (Wikipedia)Aantiguidade atribuía à força do belo um valor espiritual capaz de elevar a alma. Essa consideração foi variando no decorrer dos séculos, principalmente porque começamos a compreender que, para apreciar o belo precisaríamos de sentidos cuja confiabilidade parecia ser completamenterelativa, especialmente no que diz respeito aos valores espirituais.No entanto, em todas as épocas, apesar de uma leve baixa no século 20,Vênus foi objeto de uma apreciação quase constante como representanteda beleza. Como símbolo do belo, Vênus é universal, enquanto anatureza do belo não pode ser nem compreendida nem possuídapor muito tempo. Um poeta italiano do século 16 declarou que overdadeiro charme da bondade venusiana é um “não sei quê”. A ideiade sublime e o significado que podemos lhe dar somente aparecerãomais tarde. Jan van Ruusbroec talvez seja o primeiro a descrever ogrande calor inerente ao processo interior do casamento alquímicoespiritual. Nesse caso, ele chama de “sublime” a ação do Espírito. Natradição espiritual da alquimia, a fase sublimatio é bem importante parao processo espiritual de transmutação. E a “imortalidade” (o tornar-seimortal) da alma foi inspirada pela atração pelo belo, na irradiação deVênus, chamada de “divina”.No Romantismo surge a relação disputada de um lado por nossa observaçãosensorial e, de outro, pela vivência do sublime e do belo. Essa é uma disputaou uma luta que acaba na transfiguração, quando, com o auxílio do “fogodionisíaco” conseguimos levar nosso processo alquímico a um sublimecasamento alquímico.23

Em uma prece mandeísta (comunidade Tanto a aparência do belo comojoanita que tinha como rituais centrais a aparência do bem contribuemo batismo, a pureza e a ação da luz) para o surgimento do feiofigura uma passagem na qual o devotopede a Deus que seus olhos somente rência e degenerar através dela. Ambas, apossam contemplar a beleza do mundo aparência do belo e do bem, fazem surgire não sua fealdade. Não se trata de pedir o feio”.para aprender a ver o belo, mas sim de Daí podemos concluir que o verdadeiroeducar o olhar a fim de que somente belo somente pode ser vivenciado naquiloperceba o belo que deve ser comunicado que é sublime?à consciência. É como se esses devotosquisessem modificar seu filtro sensorial, Algumas pessoas acham que vivenciaramde modo que o que é observado reflita o sublime – ao menos daquilo que elasapenas os valores da pureza e os efeitos chamam de sublime: uma experiênciada luz. superior, um instante de despertar, umaUma possibilidade como essa seria com elevação espiritual, uma serenidade, umcerteza formidável e poderia muito bem estado de unicidade* que inclui o senti-acontecer que a grande Lei do Amor des- mento de vivenciar um perfeito equilíbriotacasse, em parte, uma visão semelhante de sons, cores, formas e conteúdo. Seja emda beleza da Criação e, principalmente separado ou ligados, os sentidos e a cons-pelo fato de abordar sem luta a natureza ciência poderiam vivenciar a percepçãomaravilhosa, recobrindo sua fealdade do sublime. A harmonia das proporçõescom um manto de amor. Mas, será que pode ser sublime: ela pode emocionar etemos permissão para negar uma parte atribuir profundidade, evocar uma vivênciada realidade? Aprender a apreciar tanto de ideias do bom, do belo e do verdadeiro,a beleza quanto a feiura não faz par- como na Grécia clássica.te da senda? Não é importante sermos Em Grego, não há palavra para “sublime”realistas e vermos a existência da beleza – no entanto esse termo deve ter umaem contraste com a feiura? E isso, até a origem linguística, etimológica. Entredesconcertante descoberta de que a feiura os séculos 12 e 14 encontramos esseé a prova de que a beleza é enganadora, termo no francês arcaico (marcado pelocomo dizem J. van Rijckenborgh e Ca- latim) e inglês médio. Em sua origem, otharose de Petri no livro A Gnosis Chinesa: latim fornece uma descrição imagética“O homem é terrivelmente pobre em de sub-limen, que significa “debaixo dobeleza, em real beleza, por isso ele venera batente, do limiar da porta”. Depois,as aparências. E, por ser muito infeliz, ele passou a significar “alto no ar, elevado”.nega o feio. Inutilmente, pois construir Mesmo que não haja palavra equivalentesua vida sobre aparências, sobre o irreal, no grego, a conotação afetiva do belo,provoca fortes reações contrárias. Quan- bom e verdadeiro sobre os quais falado descobris que determinada situação Platão está muito próxima da ideia deque, de todo coração e cheios de convic- sublimidade. Entre os gregos, o belo tinhação, consideráveis bela, na verdade nãoo é, vossa primeira reação é repelir essadescoberta. Todavia, à medida que prosse-guis, a realidade dessa feiúra vos sufoca.Isso significa, então, mergulhar na apa- 24 O belo e o sublime

valor absoluto, por mais que essa ideia A almaesteja próxima da que temos hoje.No entanto, o sublime enquanto vivência Em muitos trechos nos quais ele citaparece datar de uma época posterior, por Hermes Trismegisto encontramosmais que a célebre Alegoria da Caverna de Pla- essa elevação de espírito que pode sertão sugira esse tipo de experiência. conhecida pela vivência da alma queA evolução do termo, no entanto, fará sur- observa as mudanças que ocorrem em seugir um nivelamento de sentido que chega interior. Nessas ocasiões, a vivência doaté a não-significação. É como se o “subli- sublime vem acoplada à sonolência dosme” perdesse sua força e, perecendo em sentidos corporais. Hermes afirma: ”Umseu próprio grito, se perfilasse na mesma dia, refletindo sobre as coisas essenciaiscategoria de “gigante”, “mega, “super”. e tendo meu Noûs se elevado, aconteceuFalando em nivelamento de sentido, o que meus sentidos corporais adormeceramúltimo e o sublime disputam o primeiro completamente, tal como alguém quelugar. O autor Hans Hartog de Jager mostra se vê vencido por profundo sono apósa causa disso em seu livro O Sublime: “Essa lauta refeição ou por motivo de grandepalavra está de tal modo contaminada cansaço físico”. Atenção! Aqui ele nãopelo exagero e pela falta de realismo que está tratando de algo sensorial, mas simjá não pode ser utilizada sem um toque fazendo uma comparação para abrir nossode ironia e somente pelos comentaristas entendimento profano ao sublime. Alguémde futebol e adolescentes que usam a poderia achar estranho acoplar umalinguagem televisiva”. De acordo com esse elevação de alma ao entorpecimento dosautor, “sublime” virou uma palavra “que sentidos, e perguntaria como o belo, comomostra a impotência espiritual e a falta de valor absoluto, poderia ser vivenciado nasutileza”. arte e na ciência a não ser pelos sentidos. Isso não seria um sinal de que o belo,A vivência do sublime que é um componente do sublime, não pode existir como valor absoluto na artePercebemos já ao vivo essa experiência: e na ciência e que, de fato, a feiura seria adeterminada vida da alma que busca seu prova de que o belo é apenas aparente? Noprolongamento no sentido de “elevação”, entanto, o filósofo Espinosa irá reproduzir,de “aspiração a elevar-se” e, no sentido mais tarde, um processo semelhante.negativo, de “ambição”. ** Na mística de Ele vai deixar para trás todos osmestre Eckhart, na filosofia de Ficino e pensamentos que tratam de riqueza, honraNicolau de Cusa, essa pesquisa de eleva- e sensualidade, permitindo, assim, queção corresponde ao esforço para alcançar sua alma possa elevar-se: uma vivênciao ideal clássico da vivência do belo e da que, assim como Hermes, somente éunidade. Com relação ao uno eles se ba- possível no plano da alma. A sublimidadeseiam em Plotino, o neoplatônico. Espan- espinosiana é a “razão elevada”, que setosamente, na obra de Ruusbroec o termo compara ao “verdadeiro” em Platão.“sublime” é utilizado pela consciênciaque se eleva, vista como um estado de ser Vivenciar o sublime ailuminado: uma poderosa chama interiorde enorme claridade (a elevação do casa- partir dos sentidos?mento alquímico espiritual). O casamentoespiritual a que ele se refere diz respeito Ao longo do tempo, a partir de mais ouaos processos alquímicos interiores. menos 1750, as pessoas começaram a recusar-se a se resignar com a impossibi- lidade de vivenciar o sublime a partir dos 25

sentidos. O Século das Luzes e o Roman- cor, a arquitetura. Um artista que cria uma Links:tismo fizeram pesquisas a fim de descobrir ordem de acordo com normas universais À esquerda: Templo da Harmonia,se o sentimento da perfeição quanto ao faz isso com base em sua vivência pessoal. em Agrigento, Sicília, cerca debelo vivenciado pelos sentidos poderia Na experiência sublime do belo, o caos 440-430 d. C.levar o observador a uma experiência torna-se cosmo. Na Grécia, especialmente À direita: James Turrel faz instalaçõesque corresponderia à sensação abstrata para Pitágoras, a beleza coincide com a de cores que “multiplicam” a percep-do belo de Platão. Com o Romantismo, o “ordem divina”. Mais tarde, para Plotino, ção, como esta instalação no Museuque as pessoas pensavam ser o sentido do ela corresponde ao “esplendor divino”. Guggenheim, em 2013.belo entre os gregos passou a ser objeto E esse “divino”, para os gregos, poderiade um novo sentimento. O Renascimento muito bem ser qualificado de “sublime”.havia examinado os valores clássicos da Pode parecer, agora, que o belo tornou-Antiguidade de modo racional, e eles já -se inacessível e causador de cegueira porchegavam a tocar o nível dos sentimentos. sua luz, como se a harmonia perfeita lheNo início, o belo é ainda perfeita harmo- concedesse uma beleza estática. Do mesmonia de acordo com a medida, o número, a modo que a crença em um céu que seria 26 O belo e o sublime

um lugar de estadia ideal é rejeitada por violenta, elas queriam sentir-se emociona- Na vivênciamuitas pessoas por causa da monotonia das por ela, até sentirem sensações-limite do belo e doque elas sentiriam, também o fato de não tais como o perigo (sensação que é tradu- sublime oser mais inspirado, motivado, emocionado, zida, por exemplo, pela pintura de William caos torna-seanimado e colocado em movimento por Turner). Assim, todos queriam sentir a cosmoefeito de emoções daria a impressão de pura rusticidade dessa natureza como umaque o céu teria sido desertado pela vida. experiência única. Era também a consequência da distinçãoO Romantismo entre o belo e o sublime estabelecida pelo século 17. A beleza da natureza provocaIsso explica por que, depois de ter viven- sentimentos de serenidade e de calma, masciado a perfeição do número e da medida também experiências intensas, caóticas eno espírito no tempo do Renascimento e revolucionárias, o que pode levar ao estu-do Barroco, com o Romantismo as pessoas por, à angústia e ao sofrimento.começaram a sair em busca do belo na Também existe uma possibilidade denatureza. Em meio à natureza selvagem e 27

manifestação do sublime no imprevisto. precisamos trazer para dentro de nosso ser. O casamento (alquímico) de Her-Em sua obra A Respeito do Sublime, (1801) O encantamento não é um “encantamento mes, o Sublime, e Herse, segundoF. Schiller fala do sentimento diante dos sentidos”, por mais que, na fase uma representação de Giovannido sublime como uma confusão de de surpresa, os sentidos intervenham. Jacopo Caraglio, originária da ta-sentimentos. Em sua mais elevada E por mais que se trate de uma delícia, peçaria de Willem de Pannemaker,expressão é um “fazer demais” que dá para as almas refinadas esse sentimento por volta de 1570ao mesmo tempo um arrepio e grande é amplamente preferido ao sentimentoalegria, combinadamente, que podem ligado aos sentidos. Parece que Hermesculminar em um encantamento. Esse Trismegisto e Espinosa tentam também“fazer demais” é descrito por Jacob nos fazer compreender isso.Boehme como uma luta cavaleiresca que 28 O belo e o sublime

A natureza surpreendente e O Romantismo e o sublime em Todas as formas deindomável – uma experiência sublime outras expressões artísticas arte no RomantismoSentimos como sublimes alguns fenôme- Beethoven, Chopin, Mahler, Debussy, Arvo são tentativasnos da natureza quando eles escapam à Pärt e outros são compositores que pude- de expressarnossa vontade e não podemos controlá-los. ram deixar ressoar a natureza selvagem, o casamentoFalamos aqui da natureza bruta, como por o apaziguamento e a dissolução em sua (alquímico)exemplo a retratada pela pintura de Turner: música romântica. Na peça A Flauta Mágica, de Hermes, otempestades, oceano raivoso, furacões, Mozart retraduz os momentos alquímicos sublimevulcões, alturas e precipícios, riachos das Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreuzimpetuosos. Diante da natureza nossos (Cristão Rosa-Cruz). Na verdade, todassentidos podem se alterar e desvendar uma as disciplinas artísticas do Romantismodimensão na qual homem e natureza se tentam tornar possível o Sublime. Há atéinterpenetram, suscitando um estado de pensadores que acham que a melhor litera-“auto-esquecimento” ou “auto-entrega”. tura do gênero “romance” foi escrita noEsse estado de ser pode impulsionar a vi- século 19.vência de uma forte união com a natureza.“Por essa experiência de unidade a nature- Como é possível colocarza pode ser novamente a realidade na qualsabemos que estamos enraizados e a partir ordem no caos?da qual vivemos.”***Mas essa experiência não intervém antes de No entanto, as tentativas dos autorestermos tomado consciência de que a combi- românticos de vivenciar o sublime nonação de dois sentimentos opostos reduz de imprevisto são diferentes quanto a pon-maneira irrefutável nossa autonomia moral a tos importantes da missão que se auto-um único sentimento, desnudando-a. -outorgavam os gregos: a de fazer do caosNossa experiência diante do sentimento da uma ordem, um cosmo. No cenário desublimidade é que nosso estado de espírito fundo onde Cronos (o tempo) devoranão está necessariamente voltado para uma todos os seus filhos, Platão está em buscaplenitude dos sentidos; que as leis da na- de uma solução para tentar preenchertureza não são obrigatoriamente as nossas a lacuna entre o mundo como ele é e oleis; e que possuímos princípio autônomo, mundo tal como ele poderia ser, se elesindependente de todas as emoções morais. coincidissem com um mundo de ideias onde reinam o bom, o belo e o verdadei-A alquimia ro. Enclausurados neste mundo sublunar onde vivemos, nós, seres humanos, nãoTudo o que vimos até agora ficará mais conseguimos compreendê-lo porque nãoclaro se compararmos os dados de início nos lembramos desse Mundo das Ideias.com as diferentes fases alquímicas. Aí Também é importante imaginar comopodemos reconhecer as fases solutio, lidaremos com essas duas concepções quecoagulatio e conjunctio. se tornaram dados históricos a fim deSolutio – a autorrendição, a dissolução, a conduzi-las a um novo desfecho. Será quetomada de consciência da gota no oceano. conseguiremos ir além de Cronos paraCoagulatio – a ligação da essência espiritual colocar ordem no caos de um modo ins-com a gota no oceano. pirado, baseados em Urano, o planeta daConjunctio – a coincidência e a fusão dos intuição e do gênio e mestre de Aquário,elementos paradoxais no Espírito único e o Aguadeiro? Será que, depois do Ro-independente. mantismo, conseguiremos nos aproximar do sublime como uma nova realidade de 29

vida trazida pelas influências dos planetas nada com base no processo interior daUrano e Netuno, trazendo novas aquisi- transfiguração.ções sublimes, como sinal de um tempo Sem dúvida, é a forma ativa do “Homem,realmente novo? Neste século 21, o subli- conhece-te a ti mesmo!” dos gregos. Doisme poderia se tornar o resultado de uma “mandamentos” que, realmente, não sealquimia espiritual atual, que precederia excluem, sendo paradoxais e complemen-um sublime século de ouro? tares, no sentido de “fazer que se torne inteiro ou completo”.Dionísio e Apolo Mondrian, o Estilo e o sublimeIsso é possível, responde Nietzsche no século19, pela transfiguração, a partir da com- Durante o turbulento período dospreensão de que o campo de vida espiritual é séculos 19 e 20, apresentou-se um novogovernado por forças dionisíacas e apolíneas. modelo de harmonia em uma roupagemDionísio é o princípio do fogo alquímico totalmente nova: entre outros, a do pintorque ao consumi-las, libera as forças ígneas Mondrian e o movimento artístico deincontroláveis. Assim, libera o sublime que Theo van Doesburg (“Estilo”). Os dois seestá oculto, permitindo que essas forças puseram a buscar a natureza, sua harmoniaimpuras possam, por meio da transfiguração, e seus modelos. Podemos observar umatornar-se apolíneas ou divinas. transformação do Barroco ou até umaPortanto, isso não pode ser realizado por reação a ele, e também uma estritameio da contemplação de uma beleza aplicação das leis dos números e medidasestática elevada e única nem mediante (a ordem de Saturno) – a partir de umaesforços realizados para chegarmos a visão de mundo na qual uma abordagemuma perfeita harmonia, mas sim através quantitativa e racional severa da naturezade um processo de transmutação que fi- eliminaria as chances de encontrarmosnalmente surgirá como nada mais do que ou vivenciarmos o sublime e assim, fariaum processo interior: um processo de desaparecer a possibilidade de reconhecerconsciência. E Nietzsche, que ficou bem à nela os modelos para nossas vidas. A buscavontade no Romantismo, nos fez ver que pela simplicidade e pelo fundamento dessaesse processo interior dava mais força natureza, em um elemento de culturaà ação, a atos firmes e fortes. Somente como uma pintura, deu mais profundidadepoderemos consumar essa transfigura- à experiência vivida e permitiu a algunsção por nós mesmos e não a projetando vivenciar a sensação de sublimidade.a partir de alguém ou do mundo. Em E isso não era válido somente para osalquimia, isso corresponde à fase coagulatio quadros de Mondrian, mas também para– a atividade autônoma sobre si mesmo; as obras de Rothko, Newton e Jamese sublimatio, a arte de libertar o espírito Turrell. Geralmente monocromáticasque está em segredo (Cronos ou Saturno) e abstratas, essas obras interiorizavamde suas limitações e ligações inferiores. infinitamente: tanto elas “falavam” queEssa autonomia de atividade ou coagulatio atraíam demais. Portanto, o belo é sentidotambém é chamada de labore: trabalhem! em uma abstração aparentemente simplistaPara que esse trabalho não se volte na que emociona – porque parece que, nessadireção das outras pessoas ou do exterior, simplicidade, sentimos a unidade dosNietzsche ordenava: “Realizem o comba- contrários, de um modo misterioso. Assim,te dentro de si mesmos!”, para obrigar poderíamos, sim, sentir o sublime pelo viésque a energia seja conservada e direcio- dos sentidos! 30 O belo e o sublime

Rejeitando o belo emanar do belo. Na verdade, se algo pode ser ligado ao belo isso representa o decli-Porém, no início do século 20 surgiu no, a decadência: esse belo jamais pode seruma nova ideia que passou a tomar lugar uma característica do bom ou do verdadei-central. Na pintura e nas artes plásticas, ro absolutos. Essa beleza é e era suspeita,as pessoas se perguntavam se o belo e a charmosa e enganosa.vivência do belo não eram um obstácu-lo para o sublime. Por volta do final do A beleza do feioséculo 18, Edmund Burke, em seu livroA Respeito do Sublime dá uma explicação sobre Desse modo, eles defendiam a aprecia-o belo e o sublime sob uma ótica pura- ção do feio – e aí se incluía a ideia demente a estética. E faz isso simplesmente que uma coisa pode ser apreciada pordefinindo o processo de percepção e seu sua feiura, seja por sua decadência, suaefeito sobre o observador: o belo provém decomposição, ruínas e por tudo o que éda harmonia e do equilíbrio, e o sublime grosseiro, mal acabado, deletério, simpló-é a consequência de uma emoção muito rio ou artificial.dolorosa ou desagradável causada pela O arquiteto Ashok Bhalotra introduziu oobra. Ele foi o primeiro a manifestar esse experimento da construção degradada,modo de olhar, em seus quadros. Durante em ruínas. Isso pode estar próximo doa Primeira Guerra Mundial, a linha que romantismo de Turner. Seria como nodemarcava o belo e o sublime foi levada conto A Bela e a Fera, no qual Bela reconhecepara mais além por Marcel Duchamp que o quanto há de autenticidade em Fera, oupraticamente declarava guerra ao belo e à como, pela dificuldade de tirar a casca,harmonia. Na música também, depois de acreditamos que a casca da noz contémDebussy, houve um afastamento da har- um fruto branquinho. Ou então comomonia tonal, que até então era considerada nos sentimos ligados aos dois, sem dúvidauniversal. Isso teve como consequência achando que o belo pode ser tanto alegriao surgimento de um novo gênero musi- como tristeza em relação ao Paraíso quecal, composto de modo a negar a música está próximo e inatingível...consonante, harmoniosa e melodiosa. Eraa música atonal: uma forma musical sem O Universo é insensívelmodo nem gênero tonal fixo. Represen-tantes desse gênero, como Schönberg, Em seguida vem a reabilitação tranquilaStockhausen, Hindemith, tentaram romper do belo na arte. A vida afetiva tece umtodos os laços com a alma e expulsar todas fiozinho fino para o sublime. Seriaas vivências sentimentais da arte. mais como Ravel, com seu Bolero, que éA ideia inicial era a de que era necessário demoníaco por seu efeito enfeitiçador. Omanter total indiferença com relação à mesmo acontece com a inspiração ligadaestética em razão do fato de que o belo e à desarmonia, à injustiça e à depravação,a vivência do belo criavam obstáculos para como nas composições invasivas deo sublime. Talvez afirmassem isso basea-dos na ideia de que não há somente belas A música atonal rejeitouaparências e que a fealdade é a prova do o belo porque achava quecaráter aparente do belo. O fato de rejeita- era sedutor e traiçoeirorem e minarem o belo evitaria que caíssemna armadilha da sugestão do sublime, doabsoluto, do ser autêntico, que poderia 31

Galina Ustvolskaya, tidas como “garras As ”casas-em-ruína” de Ashokna alma”. Essa compositora sofreu muito Bhalotra valorizam o rústico, oporque, diante de seu lamento e seu “grito inacabado e o naifprimal”, o Universo continuou indiferentea uma existência injusta que se perdia em melha à felicidade que sentimos quando a tristeza e a alegria estão presentessua obscura amplitude: um grito nascido, simultaneamente e se sobrepõem no mesmo instante.sem dúvida, de sua impotência para ver abeleza do Universo. Um flash do sublimeNo entanto, essa beleza comoveu osastronautas quando viram a Terra lá de fora. O autor Van Doorn define esse instante como um flash do sublime na vivên-Eles sentiram o valor estético com emoção: cia da unidade dos opostos: “O flash é uma descarga elétrica de sublimidade“Como é linda, essa nossa Terra, no meio que se libera quando o contato entre o positivo e o negativo ocasiona umado espaço imenso! Como ela nos dá um centelha. Essa comparação nos faz compreender que temos necessidade desentimento de solidariedade e de unidade!” contrastes ou de polaridades contrárias para conseguir vivenciar o sublime.O mínimo traço que vai em direção à subli- Quando nos atemos a somente um dos polos, a centelha não se produz.”midade sentida emocionalmente caminha As contradições bem conhecidas que estão na base da vivência do subli-par e passo com a reabilitação prudente me são o belo e o feio, a alegria e a angústia, a finitude e a infinitude.da apreciação do belo. Em 1946, o pintor E Van Doorn completa essa série assim: espaço-tempo, vazio-pleno, ordem-americano Robert Motherwell opina que -caos, matéria-espírito, sujeito-objeto, eu-outro, causa-efeito. Por outro lado,“o esteticismo obtém sua função a partir do ele pensa que poderia ser algo que apresentasse uma beleza tão grande que,meio”, ou seja, ele é um meio para alcan- para senti-la, todas as nossas forças precisariam ser imobilizadas. Assim, pare-çarmos os bastidores infinitos das emoções ce que o belo é um elemento importante para vivenciarmos o sublime.a fim de dar-lhes a densidade de um objetoque pode ser observado.Será preciso haver contradiçõespara vivenciarmos o sublime?A opinião do escritor Manfred van Doorn éa de que é necessário haver contrastes paratermos a vivência perturbadora da subli-midade: “A amplitude profunda e negrado Universo incomensurável e imponente,o vazio do espaço cósmico insuportável eterrível que contrasta o delicado e frágilplaneta Terra azul-platinado, com seu finovéu atmosférico e sua luz resplandecente”.O que o autor descreve ou pinta expressa aimportância relativa, marginal e insignifi-cante do ser humano espaço-temporal: “Elenasceu da poeira das estrelas e voltará àpoeira das estrelas – em meio à indiferençado Universo”. Assim como aconteceu comUstvolskaya, essa indiferença do Universopor seu grito primal o enche de angústia.Van Doorn descreve o sublime como umaforma intensa de consciência que se asse- 32 O belo e o sublime

Em qual luz as trevas não É o fogo da renovação e da continuidade. A luz desse fogo não vacila. Esse amorconseguem habitar? não precisa de forma alguma do ódio! As chamas do ódio não têm nenhum do-É perigoso afirmarmos que o sublime é mínio sobre esse amor, pois elas não sãodependente da necessidade existencial de do mesmo nível. O amor é de qualidadevivenciarmos os contrastes. diferente; o ódio e o mal não podemUma abordagem atual das relações huma- jamais ser sublimes, não alcançam essenas afirma que, em virtude da dinâmica da nível. O ódio e o mal podem alojar-se emvida, o amor precisa do ódio, assim como nossas profundezas, mas eles não têm suaso desespero precisa da esperança. O mais raízes na infinita profundidade, o Ungrunddifícil em uma relação é manter e prote- [NT: conceito desenvolvido por Jacobger o amor dos primeiros tempos. É que, Boehme].às vezes, precisamos que haja muita trevapara sabermos que a luz existe. O ornamento de um casamentoPitágoras testemunha que existe uma luz alquímico, espiritualna qual não pode existir nenhuma treva.Ninguém que esteja vivenciando o amor O sublime tomou forma a partir de umirá desejar o ódio. E, para esse amor, a notável processo ígneo, ao casar os paresesperança é uma fase preliminar que não opostos. Ele somente pode enfeitar-se “comdepende do desespero. Então: qual seria o a força d´Aquele que de dois faz Um”.amor ligado ao sublime? Assim como a natureza se renova pelo fogoQue brilho e que calor acompanham (Ignus Naturae Renovator Integre, INRI), a forçao sublime? Seria o brilho do fogo da crística manifesta em nós o dois-em-umelevação? Dizem que o amor impessoal e dinâmico de um estado iluminado e seminfinito está ligado a tudo o que é no- atritos que é próprio de uma dialética divi-bre no sublime. Para seguir em frente, na. Jan van Ruusbroec fala do “ornamentoquem está realmente desperto, quem foi de um casamento espiritual”, da magníficaadmitido na unidade do Todo com uma veste da dupla unidade.consciência definitivamente transforma-da, não tem necessidade de atritos. É o O sublime décimo-terceiro éonque acontece quando estamos integradosna realidade unidade-liberdade-amor, O belo também desempenha um papelem uma corrente interior que não tem crucial no livro As Núpcias Alquímicas denecessidade de ser interrompida. Manter Christian Rosenkreuz. Ele surge como a Vênusvivo esse amor superior e sublime já não é prodigiosa e inviolável. Uma grandeum trabalho que depende de oposições. O beleza que CRC pode observar, poramor sublime é o amor da alma imortal: mais que isso não corra completamenteum sublime pássaro de fogo! É o fogo conforme as regras...cósmico interior que Jan van Ruusbroec Enquanto no mundo dos seres humanos oexplica, como se a alma sentisse um calor ódio e o mal são dados terríveis mas reaisincrivelmente grande quando se aproxima (sim, é aterrador o que os seres humanosdo mais da “infinita profundidade”. É isso infligem uns aos outros), na realidade su-que ele qualifica de sublime. A partir desse perior da alma imortal a consciência atra-momento, o fogo interior transforma-se vessa todos os níveis sem que as forças dosem fogo cósmico – um fogo que promove arcontes se dêem conta disso, para elevar-a união entre o microcosmo e o cosmo, -se até o sublime décimo-terceiro éon [NTum fogo suave e que não pode ser extinto. ver O Evangelho gnóstico da Pisitis Sophia]. 33

Por mais que tenhamos consciência de que o belo absolutonão é acessível, isso não é uma razão para combatê-loO belo – que é a alma imortal – escapa feminina nada tem a ver com tudo o que Fontes:dessas forças e dessas potestades pelo fato foi escrito sobre ela com base na admiração - De vleugels van weemoed, een pleidooide que ela é de um nível superior: ela é e no encantamento. Para ele, o verdadei- voor schoonheid (As asas da melancolia –da ordem da “Vênus dos Mistérios”, que ro charme da beleza de Vênus não é nada em defesa do Belo), Francis Smets, Deysteredesvela sua nudez (sua realidade), perfeita disso, mas “um não sei quê”. Mas isso não Uitgeverij, 2014e indescritivelmente bela e pura, de tal passa de um modo de adiar a questão. - A Gnosis Chinesa: comentários sobre omodo supranatural e intocável que CRC Montesquieu, pensador francês do Século Tao Te King de Lao Tsé, J. van Rijkenborghse sente como paralisado, assim como é das Luzes (século 18), não nega a existên- e Catharose de Petri ; 2ª ed. – Jarinu, SP:descrito no quinto dia das Núpcias Alquímicas cia do “encanto invisível” das mulheres e Lectorium Rosicrucianum, 2010, cap. 2(”Vi então Vênus, completamente nua, gra- das obras de arte. É como o que acontece (Wu wei), pp. 34-35.ciosamente deitada e tão bela que fiquei quando estamos apaixonados: podemos - Het sublieme, het einde van de schoonheidcomo que pregado no chão...”) muito bem senti-lo, mas não conhecê-lo, en een nieuw Begin (O sublime, o m do pois esse encantamento não é de natureza Belo e um novo começo), Hans Hartog DeA beleza de Vênus intelectual, ele não é racional. Ele não pode Jager, Atheneum Polak, 2015 ser compreendido ou explicado. - As núpcias alquímicas de CRC, Volume II, J.Como explicar que aquilo que é perfeito, No século 20, o filósofo francês Vladimir van Rijckenborgh, Lectorium Rosicrucianum,de uma beleza indescritível, sobrenatural, Jankélévitch sai em defesa do belo contra 1996, São Paulo-SP, Tomo II, p. 131).intangível, possa não passar de um meio o qual ninguém deve se insurgir, pois ele - Flitsen van het sublieme (Flashes dopara nos conduzir ao final sublime, não seria um objeto de rejeição. Mesmo sublime), Manfred van Doorn, Editora Índigonos levar até a sétima fase do processo quando temos a consciência de que a - Ik weet niet wat (Um não sei quê), Francisalquímico da união dos contrários, ao verdadeira beleza não pode ser alcança- Smetsconjunctio, ao estado de transfigurados? da, nem por isso devemos combatê-la ou - De verhevenheid van de geestelijke bruiloftO homem atual, na fase cultural em que reduzi-la a uma falsificação. O fato de nos of de innige ontmoeting met Christusvivemos, não consegue conceber isso. Ele encontrarmos diante da impossibilidade de (A elevação do casamento espiritual outambém rejeita a beleza. Ele a recusa até dizer que o belo absoluto existe não sig- um encontro íntimo com Cristo), Jan vanmesmo conscientemente, de tão inclinado nifica que ele não exista! O belo absoluto Ruusbroek, Lannoo / Tielt / Amsterdam, 1977que está a apreciar a decadência, a buscar a jamais pode ser percebido. - Alchemie als innerer Weg (A alquimiadesarmonia e expulsar o belo da arte. Nós apenas podemos encontrá-lo em suas como caminho interior), Dr. Dagmar Uecker, múltiplas formas e aparências! Ele apenas 2007, DRP Editora Rosacruz, HolandaO belo e o amor que não transparece através das coisas e, portan- * Trata-se da coincidência de opostos,conseguimos explicar to, sempre sob as mais diversas formas. como Cusanus (Nicolau de Cusa) chama a Encontrá-lo pode ser precioso para ela- conjunctio, a sétima fase da alquimiaA refutação do belo ainda não estava em borarmos um esboço e uma pedra funda- **Vocabulário conciso do Latim, de F.vigor na fase da cultura precedente, no mental de construção rumo ao sublime! Muller e E.H. Renkemamomento em que Agnolo Firenzuola, poeta Essa compreensão estava ainda viva no decor- *** Christa Anbeek: Overlevingskunste escritor italiano, redigiu, em 1548 Della rer de um período mais recente da História. (A sobrevivência), capítulo “O belo e obellezza delle donne (Sobre a beleza das mulhe- O impressionista francês Paul Cézanne sublime”res), um diálogo que começa com dezenas supõe que essa força nos tornasse aptos ade páginas consagradas à beleza descrita em nos elevar até o belo (ou seja, Eros) tenhatodos os seus tons. O autor constata, no fimdas contas, que o que dá charme à beleza 34 O belo e o sublime

desparecido, mas que o sentido de nossa mais do que trabalhar com a força infinita Iceberg encurralado por um recife.busca é o de recobrar nossa essência – e impessoal do amor no grande campo de Desenhado pelo Capitão Back emque é o aspecto mais interior do belo – e calor já mencionado. Trabalhar com essa uma expedição ao rio MacKenzierestabelecê-la. energia faz que a “árvore se dissolva”, entre 1824–1826A arte, toda e qualquer arte, pode tentar como é dito no livro As Núpcias Alquímicas.restituir essa essência: na simplicidade, Quando a fusão em nosso interior estivercom meios técnicos avançados, com abs- concluída (a fusão da transformação alquí-trações e com engajamentos sociais. Mas, mica que opera como síntese),Vênus des-no final das contas, o belo como um meio pertará e tornar-se-á mãe do rei, como nasnecessita de uma reflexão interior. Vênus Núpcias Alquímicas. O ser humano sublime, oprecisa ser internalizada para que possa rei-sacerdote, acaba de despertar.dar lugar à “surpresa” do sublime, como Então, é exalada a prece inspirada pelouma eterna iluminação. belo: a prece de enxergarmos “com osEssa “posse” interior não significa nada olhos do amor”! 35

O olho e a testemunhaEstudo de Michelangelo 36 O olho e a testemunha

Há uma ideia comum de que a personalidade desaparece totalmente após a morte. No entanto, comodiz Jacob Boehme: ”quem morre antes de morrer não morrerá quando morrer” – e assim a persona-lidade se torna testemunha de um processo miraculoso que traz em si a harmonia. Para ela, é comose uma estrela longínqua fosse descoberta: a fonte de sua própria existência! E ela entra em Unidadecom essa estrela. Jacob Boehme explica que “sua alma torna-se um olho que percebe”.P ara quem pertence à Escola Espiritual, além do nascimento um conjunto de documentos que registram nossa viagem original – os docu- neste mundo há dois momen- mentos que nosso microcosmo recebeu quando iniciou sua GrandeViagem. tos importantes de um ponto O segundo momento importante é quando deixamos o horizonte terrestre. Não é nada impossível que, ao passar pela fronteira, nos sintamos em casa,de vista superior, cósmico. O no nosso país de origem! Esse caso é imensamente feliz, pois nesse momen-primeiro é sua entrada, ou seja, o primei- to, inspirados pelos impulsos do Espírito, temos a possibilidade de continuarro contato com a Escola. É o momento nosso trabalho como uma nova personalidade transfigurada.em que seu coração é tocado e se abre a Também pode ser que nem tenhamos percebido a fronteira durante asesse “algo desconhecido” que é a Gnosis. horinhas que passamos nos divertindo na Terra. Nesse caso, logo na nossaTrata-se de uma lei da Luz, e as leis da Luz saída, absolutamente nada muda para nós: todas as circunstâncias conti-não variam. É também o momento em que nuam sendo as mesmas e os problemas também – enfim, todos os valoreso ser humano diz, com firmeza: ”Sim, é que cultivávamos na Terra. Se podemos dizer que existe uma situação semisso! É isso que eu estava buscando há tanto saída, pensamos que é exatamente essa.tempo!” É assinar embaixo da verdade que Talvez sintamos falta de nossos amigos e familiares nos primeiros tempos,está expressa em um poema extremamente pois podemos estar certos de que as pessoas nascem, vivem e se reencarnamsingelo e marcante de Catharose de Petri, em grupos. Depois de um tempo mais ou menos longo, haveremos de nosextraído de seu livro Sete vozes falam: reencontrar. Mas, nesse segundo caso, pelo menos uma coisa muda: nada dáPerdido segundo o eu certo. Já não conseguimos agir do outro lado da fronteira. Claro, aprendemosNo deserto sem fim, a ver tudo de outra maneira, a partir de um processo de efeito espelho e de-Eis-me um eleito sintegração, mas não há meio de mudar o que quer que seja! Há um tempoEm meu “nada mais ser”. de repouso, qualificado de eterno, como a tranquilidade no País do SonoA Luz encontrou-me (Lethes). De repente, tudo começa a se dissolver lentamente.Você se lembraNesses lugares dolorosos de ser uma pessoa ativa, cheia de energia; agora, virou a testemunha daquiloE me chama, da aridez, que diz respeito a você mesmo, pessoalmente.Tudo passa desfilando dianteAté o Rio de Deus! de seus olhos e você revive tanto as coisas boas quanto as más e desagradá- veis que você impôs às outras pessoas. A justiça é feita.Quando realmente vivenciarmos esse E a Luz diz: “Assim como instruí a Noé, assim vou instruir você”. Essas leismomento excepcional, estaremos exis- são invariáveis. Pode ser útil nos colocarmos face a face diante de nossa pró-tencialmente marcados no campo de vida pria realidade.cósmico. E é lá que uma estrela se põe abrilhar; e é aí que nascemos interiormente. Ser testemunhaNada sabemos a respeito desse campo Ser uma testemunha: olhem que bela expressão para dizer o quanto fazemosde vida, como um bebê que nada perce- parte disso. Ser aluno também é uma forma de testemunhar, no sentidobe ainda, inconsciente do mundo que o de que “fazer parte” significa, nesse caso, estar incluído no Ser original.rodeia. No entanto, nesse campo de vida Podemos dizer até que é a essência do Caminho. O aluno que “faz parte” éplanetário, uma vida é dada à Luz. incluído na Luz, é testemunha da ação da Luz dentro dele.Uma onda auxiliadora plena de amor é Na verdade, a “morte” do aluno acontece mais cedo: ele morre em vida!liberada a partir desse campo, que é como O processo que ele atravessa é semelhante à “dissolução das vestes” que 37

acontece normalmente depois da morte Se a alma conseguisse co-física. Essa dissolução acontece de acordo nhecer a Deus sem conhecercom linhas mestras da vida planetária o mundo, então o mundo nãoque valem para todos. Mas, no caso do teria sido criado para elaaluno... que diferença!Ele não precisa observar como seus veí- marca a fronte daqueles cujos selos o tempo deslacra. O eleito não é escolhidoculos se dissolvem. Ele vê outra coisa: ele para um instante, mas sim para milhões de anos e ele nasce no tempo do gran-vê como os processos elementares da vida de ano da Graça para tornar manifestas as maravilhas que Deus planeja. Desdemental, astral e etérica vão se harmoni- muito tempo o início e o fim de uma Nova Era, na qual nos encontramos nazando. O aquietamento de seu ser interior presente hora, já foram preparados para o gênero humano”.é causado pelo fato de que tudo vai se O buscador sério interessado em biografias de homens e mulheres dedicadosextinguindo precocemente – as tempesta- a Deus irá encontrar muitos testemunhos desse gênero. Mas vamos falar maisdes inflamadas pelos sentimentos, as forças um pouco a respeito de Jacob Boehme. A resposta do sapateiro suscitou muitavitais que atravessam como relâmpagos polêmica e todos começaram a falar ao mesmo tempo. Alguns gritavam queseu ser aural, reduzindo a pó seu desejo de Boehme estaria divulgando uma mensagem muito diferente da registrada naspaz, o conflito entre seus sentimentos de Santas Escrituras. Outros o trataram como um personagem perigoso e herege.culpa, suas dúvidas que se alternam com Outros ainda o reprovaram por não rejeitar este mundo nem fugir dele, assimsua pretensa certeza, todas as lutas mentais como o haviam feito os santos da história da Igreja. Ao contrário: eles o repro-que ele conhece tão bem, todos os fo- vavam por sair em busca deste mundo e iam contra isso, dizendo: “Sabemosgos, todas as chamas – enfim, tudo o que que, se a alma quiser conhecer a Deus, deverá fugir deste mundo!”exigia suas forças vitais agora reencontra o Boehme, que era combativo, respondeu: “Se a alma pudesse conhecer aequilíbrio. O estado de equilíbrio é aquele Deus sem ter necessidade do mundo, o mundo não teria sido criado paraque exige o mínimo de energia! ela. Não devemos fugir do mundo, mas sim lidar com ele!”Apesar de tudo, o aluno que está focadonão perde a fonte de energia que lhe foi con- Uma voz compreensiva gritou: “Se não fosse assim, como um ser huma-cedida. Essa fonte se eleva como um Sol. no poderia irradiar todas as suas propriedades maravilhosas sem encontrarEle vivencia a “aproximação dos fogos da resistência no mundo? A honra e a coragem somente resplandecem porque oGraça” sob a forma de uma nova lucidez (e mundo se opõe a elas com sua escuridão”.a palavra “lucidez” vem de Luz!) e tam- Balthazar Walter, conhecido por ser cético, estava tomando parte dessa dis-bém uma certeza interior sempre cres- cussão. Ele era um homem infeliz que, inquieto, percorria o mundo inteirocente. Ele se sente poderoso, equilibrado, em busca da Verdade. Sua verbosidade provocava medo. E não é que ele acabapronto para iniciar a Obra. Ele se espanta encontrando alguém que dá testemunho da Verdade com força e firmeza?e se pergunta o que será que fez dele um Boehme era uma pessoa que havia deixado sua lança sondar e descer tãoescolhido; o que foi que permitiu a ele profundamente que havia encontrado o próprio princípio original da Cria-ou ela vivenciar essa maravilhosa leveza ção! Walter declarou: “Em nenhum lugar e nunca entre muitos sábios jamaisinterior, essa simplicidade, essa quietude. me senti tão gratificado como neste momento. Até hoje eu ignorava que o saber interior podia me deixar tão feliz!”. Quanto a Boehme, que conseguiaFugir do mundo ver o interior da alma agitada desse peregrino, sentiu grande afeição por ele e lhe respondeu: “A alegria é o que há de mais divino possível para o serUm dia, os magistrados fizeram a seguintepergunta a Jacob Boehme: “Você tem cer-teza, sapateiro, de que Deus nos escolheu?”Boehme respondeu: “Os eleitos não têm ohábito de vangloriar-se. É um modo de serevelarem na temporalidade das coisas, poisa temporalidade é cheia de dores do parto eperigos. Existe um selamento de Deus que 38 O olho e a testemunha

humano. Na verdade, desde que o Novo Todas elas diziam respeito à alma.Todas eram formuladas pela razão hu-Homem tenha despertado, sua aparência mana. “De onde a alma provém? Onde ela respira? Como ela chega até otambém é plena de alegria. Assim como o corpo? Quais corpos gloriosos ela vai conhecer?”ser humano exterior vê o mundo exterior, Boehme deve ter suspirado, mas respondeu a cada uma das perguntas, poiso homem renascido vê também, simul- aquele que questiona tem direito a uma resposta, o que faz que a revelação seja possível. “Nãotaneamente, o mundo divino no qual ele sabemos mais do que os outros, mas nos foi dado dar-lhes uma resposta, dizhabita. O espírito divino, em sua alegria, Boehme, a fim de receber mais clareza para nossos próprios pensamentos,apressa-se em conduzir a alma à divi- para a sinceridade de nossa busca e para a aspiração de nosso coração.”na escola de sabedoria onde ela poderá A quinta pergunta de B. Walter era: “A alma se parece com o quê, e comoaprender mais do que em todas as escolas ela se forma?” e a resposta de J. Boehme: “À imagem do galho que crescedo mundo”. de uma árvore e toma a forma da árvore; é como uma criança que é seme-Essa escola não se resume à Escola Espiri- lhante a sua mãe. Em seu princípio primordial, a alma tem a forma de umatual, mas ela coincide bem com ela e englo- bola ou esfera: exatamente como seu original, ela tem a forma de um olho.ba todas as verdadeiras escolas. Elas têm um E não poderia ser de outra forma, pois não há nada que possa lhe dar outranúcleo em comum: o Ser nuclear de Cristo. forma. No entanto ela é dupla como um coração no qual existe a cruz.Nossas almas são instruídas; nós somos Em segundo lugar, no segundo princípio, a alma é um espírito: ela é umatestemunhas dessa instrução. A Sabedo- imagem perfeita, assim como o homem exterior também é.ria é ligada a nós e somos testemunhas E, em terceiro lugar, no terceiro princípio, ela é um espelho do mundodela. Nossas almas crescem, amadurecem, inteiro, de tudo o que existe no céu e na terra: todas as propriedades ee somos testemunhas desse processo, todas as criaturas aí estão contidas, pois esse espelho é como o firmamentosentindo-nos surpresos e maravilhados. e as estrelas. Ela é semelhante a uma coroa na qual está inscrito o númeroAfinal, não é isso o que faz Cristão Rosa- do curso da vida do ser humano exterior, assim como o final de sua exis--Cruz? Ele não é testemunha desse pro- tência, incluindo toda a felicidade e infelicidade que estão reservadas paracesso durante os sete dias de sua viagem? ele”. Assim, vemos que a alma é um olho que observa; um espírito queMaravilhado, ele observa o processo das dirige; e um espelho de todas as forças do mundo. É essa vida tríplice quenúpcias alquímicas e se rejubila! E, quan- o homem vive. Cada um dos três princípios é um mistério, diz Boehme,do, ao chegar ao final, pensa que precisa ou um arcano, um segredo para os dois outros, e cada um deseja os doisdesempenhar no dia seguinte o papel de outros: aí está exatamente o objetivo da Criação.guardião do portal, ele volta para casa! E o Uno Absoluto, o Criador Infinito, a substância celeste, deseja esse espelho, pois esse mundo visto em sua triplicidade tem semelhança absoluta com o SerAs quarenta questões sobre a alma de Deus e Sua substância. Não potencialmente, mas na realidade, a divindade é manifesta em uma semelhança terrena, nos diz Boehme. Afinal, é impossívelEsse mesmo BalthazarWalter apresentou, em que o grande milagre do arcano, ou o mistério oculto, possa ser aberto no1620, quarenta questões a Jacob Boehme. 39

mundo dos anjos, pois ele é completamente dar-lhe forma de acordo com a sabedoria eterna. Foi assim que Jacobinterior e provém do amor. Boehme se expressou.O que é interior e respira no amor e só Essas palavras admiráveis não são muito parecidas com as da Rosa-Cruzconhece a felicidade, mas não o poder clássica, a Ordem Rosa-Cruz? É como se, por meio de um modo de olhar edo desejo, somente pode, portanto, uma sabedoria diferente, fosse concedido a nós dar uma olhada no temploirradiar o amor de Deus e, assim, ajudar funerário no qual os Irmãos da Rosa-Cruz clássica descobriram o “corpoos reinos inferiores. Mas neste mundo intacto de Cristão Rosa-Cruz”, enquanto matriz do novo homem!terreno, onde se misturam amor e cólera, Fortalecidos com a descoberta desse tesouro, nos tornamos principalmen-o milagre é possível! Nele o homem pode te mais pragmáticos. No centro de um mundo fragmentado, vemos bemnascer duas vezes! pouco dessa gloriosa e harmoniosa imagem. Foi o que aconteceu comBoehme prossegue: “E, onde é possível Boehme, que viveu durante a devastadora Guerra dos Trinta Anos. Alémo duplo nascimento, é possível haver de si mesmo, sua obra e sua integridade foram alvo de repetidos ataques,milagre, pois tudo o que é exterior aspira durante toda a sua vida. No entanto, ele não deixou de direcionar as pes-intensamente a ser interior, busca sua soas para as realidades espirituais e de testemunhar profundas verdades aimagem original e deseja a liberdade, respeito da existência do reino, do macro e do microcosmo.deseja ser livre de sua limitação, que é a Quanto a nós, devemos nos elevar acima da confusão e de todas as desar-ignorância dos dois outros”. monias, respeitanto os três princípios seguintes:Como se Jacob Boehme compreendesse que 1. Precisamos apenas observar, isto é, sermos testemunhas do processo.isso seria muito complexo para entender- 2. Há uma consciência que nos dirige, um princípio bem mais seguro emos, ele nos explica assim: “Compreedere- confiável, mais pleno de amor que nossa consciência pessoal. Essa cons-mos que, na natureza, todas as formas aspi- ciência inclui totalmente nossa consciência individual.ram à Luz, pois é desse anseio que provém 3. O espelho pode refletir o esplendor da Criação, na medida em que oo óleo (ou seja, a substância) no interior alquimista que somos, como discípulos do Espírito, deixe que todas asdo qual a Luz pode ser conhecida, pois ela forças entrem em fusão.procede originariamente da clemência”. Mediante nosso renascimento interior, a Escola Espiritual deseja, acima deLogo, precisamos primeiro conhecer tudo, nos auxiliar por meio de seu corpo vivo. Ela nos atrai magnetica-nossa própria vida, que se situa no centro mente para seu mistério. Em seguida e em contrapartida, ela conta total-do fogo, pois a vida se inflama no fogo. E mente conosco, na medida em que fazemos descer a longa sonda de nossaentão, em segundo lugar, precisamos nos pesquisa até nosso próprio abismo original, a causa primeva, o Ungrundaprofundar nesse anseio de amor e no (“o sem-fundo”, o “sem chão”), onde já não vivenciamos como umadesejo voltado para o amor, que emana pressão angustiada nem o positivo nem o negativo, nem os fogos da graçaoriginalmente do Verbo e se expande no nem os da oposição. Então, passamos a vê-los como forças formadoras damais elevado dos céus, a esfera dos anjos, Criação. Aquele que olha nesse espelho vê o divino – a fonte das forçasdas almas puras. É a partir daí que o co- eternas que também estão acessas dentro de si mesmo!ração de Deus dirige seu desejo em nossa Assim, em terceiro lugar, nos aprofundamos em uma idéia nova: a de que estadireção – seu grande desejo de nos atrair vida terrestre em particular foi criada para ser inteiramente imersa no prodígiopara seu mistério. “Atrair”: é assim que do reino, tanto interior como exteriormente, tanto nas alturas como nas pro-Boehme se expressa. fundezas, tanto no grande como no pequeno. É que agora já sabemos que esseE, em terceiro lugar, temos de estudar, reino é tríplice, assim como nossa alma, nosso microcosmo.sondar o “reino mágico” desse mundo que Ele é um olho que está nos observando.também está aceso em nosso interior e nos Ele é um espírito que nos dirige e governa. E é um espelho de todas asfaz mergulhar com força em seus esplen- forças do mundo.dores, pois esse reino deseja manifestar-se! Vamos recriar o mundo – nosso mundo – por meio da magia tríplice doNa verdade, o homem é criado, engen- reino.Vamos cumprir esse plano, realizar nossa vida. Não daqui a poucodrado para revelar esse grande mistério nem em algum outro lugar. Não. Mas sim na eternidade do hoje. Sabemostríplice e para dar à luz esse prodígio, que, lá longe, uma estrela está brilhando tranquilamente e vela por nós. 40 O olho e a testemunha

imagens do mundoQuem pensa que a sabedoria não é nada mais do que Sobre imagens do mundoaquilo que pode ser compreendido pelo entendimento, “Minhas paisagens mostram combinações de campo e indús-que a felicidade nada mais é do que aquilo que pode ser tria em todos os seus signi cados complexos e em camadasalcançado, está bem longe da verdadeira sabedoria, eterna como a consequência não intencional do impacto humanoe in nita. A mais elevada sabedoria consiste em saber em um ambiente frágil”, diz Philip Govedare. O que ele pintaisto: que o que é inatingível para o intelecto pode ser, no é tanto uma resposta como uma interpretação do mundo.entanto, alcançado de um modo que passa inteiramente Com uma mistura de beleza, medo e dúvida, Skies (Céus) edespercebido pelo entendimento e vai muito além da Excavation (Escavação) oferecem uma imagem do passadocompreensão intelectual. como projeção do futuro. “Estou preocupado em divulgarNicolau de Cusa o estado da paisagem e da natureza em nosso mundo e minhas paisagens tentam causar uma reação no público.\"No próximo número, a revista Pentagrama publicará um Philip vive e trabalha em Seattle, EUA.artigo completo a respeito de Nicolau de Cusa. Philip Govedare, Excavation (Escavação), pintura a óleo. www.philipgovedare.com41

42 AInbhroauhdam Lambsprinck

A Pedra FilosofalOs alquimistas começam a ilustrar seus tratados a partir do fim da TRATADO DOIdade Média, e o fazem de modo mais sistemático após a Renascença. NOBRE FILÓSOFONo princípio, de modo um pouco tímido e amador, mais tarde com ALEMÃO ABRAHAMmais imaginação e arte. Particularmente nas publicações dos séculos LAMBSPRINCK,16 e 17 encontramos pérolas de artes gráficas alquímicas. Trata-se UMA OBRA DO SÉCULOde um florescimento tardio, desesperado, pois um século mais tarde 17 SOBRE A ALQUIMIAa alquimia entra em considerável declínio e, no século seguinte, é INTERIORdeclarada morta pela nova psique, e é quase totalmente esquecida. UUma dessas pérolas é o tratado de que vamos falar aqui. Ele comporta, além da páginado título e do brasão do autor, 15 gravuras lindamente executadas, que representam,cada uma, um tema do trabalho alquímico. Além disso, cada gravura está acompanhadade um belo trecho de texto explicativo de fácil leitura, e por isso muito acessível parauma primeira aproximação da alquimia.A identidade do autor, que se denomina Lambsprinck, é desconhecida. Também não se sabequando precisamente ele viveu e quando escreveu o tratado sobre a Pedra dos Sábios. Sabemosque o tratado de Lambsprinck foi originariamente escrito em alemão e que, antes de serimpresso, já era um manuscrito ilustre. Lucas Jenning publicou os textos com ilustrações em1625, no compêndio Museum Hermeticum. Nesse mesmo ano, Jenning também editou umaversão em alemão. Hermann de Sande foi o próximo a editar o tratado Museum Hermeticumem 1677. Foi essa edição latina que utilizamos para nossa tradução. Por m, é dito que oartista grá co responsável pelas magní cas gravuras seria Mathieu Merian, que também teriafeito as 50 gravuras de Atlanta Fugiens e ilustrado os trabalhos de Robert Fludd. Mas issonão foi comprovado. Como Lambsprinck tinha um brasão, supõe-se que ele fosse um ourivesou um nobre. Mas também podemos ver aí uma interpretação simbólica de seu nome, comoo “cordeiro de Deus” no brasão dos irmãos Van Eyck, no qual vemos a imagem do cordeirorepresentada com a fonte da vida diante de si.43

Os quatro elementosA maior parte do tempo, imaginamos os quatro elementos tradicionais como certotipo de estados de agregação; uma disposição como também representada na TurbaPhilosophorum, o mais antigo texto alquímico conhecido: a terra é sólida, a água élíquida, o ar é gasoso e o fogo é etérico. Mas existe também uma estruturação possível,que data dos mais antigos mitos da criação e representa, na maior parte do tempo, ocaos que reinava no começo como um mar infinito, uma massa de água ou oceano.Nesse caos, a criação criou a ordem. A terra e o ar acima dela separavam as águas debaixo das do alto no firmamento. O sol e as estrelas do firmamento são o fogo. É dessaforma que Lambsprinck utiliza os quatro elementos na classificação de suas ilustraçõese de seus textos.O compilador deste artigo copiou as ilustrações e fez mapas separados para tentarordená-las de modo correto. Ele chegou ao seguinte esquema, que se assemelha aocetro do hierofante, conforme a figura do Tarô: uma cruz com três barras transversais.Embaixo, no esquema, a água é representada como um mar com dois peixes. Depois,um homem luta com um dragão. É a passagem da água para a terra. A terra é repre-sentada pela barra transversal de baixo.Vemos três imagens representando cada umapor sua vez uma floresta com dois animais que vivem sobre a superfície da terra: umcervo e um unicórnio, dois leões, um cão e um lobo. A seguir, um dragão que mordeo próprio rabo. Ele representa a passagem da terra para o ar.Vemos o elemento ar emduas representações com pássaros. Na primeira, vemos uma árvore com um ninho;na segunda, dois pássaros lutando. A seguir, como figura central no esquema, vemo rei em seu trono. Ele representa o coroamento da Pequena Obra e a formação dapedra branca; a salamandra, que é assada, indica a passagem para o elemento fogo. Asrepresentações que se seguem já não sugerem animais, somente figuras humanas. Estaslevam ao coroamento da Grande Obra e à formação da tintura e da pedra vermelha: aPedra dos Sábios final.Mercúrio (metal prata-viva)De todos os metais conhecidos na antiguidade, o mercúrio (outrora chamado prata--viva) é o único que pode passar ao estado líquido em temperatura ambiente mais bai-xa que a normal. Ele é instável, retrai-se até formar pequenas bolas quando é vertidosobre uma superfície lisa e evapora-se rapidamente. Na alquimia, o mercúrio é a maté-ria base de todos os metais devido ao fato de que os metais são solúveis e, em tempe-ratura elevada, tomam a forma que o mercúrio já possui em temperatura normal.Para a alquimia, a essência do mercúrio é a rápida mudança entre dissolver e coagu-lar, entre o volátil e o sólido. Numerosas metáforas estão ligadas a isso. O volátil seeleva, se espalha; ele é centrífugo e se abre. O sólido está submetido à gravidade: elese contrai, se comprime, é centrípeto e se centraliza. Essas propriedades formam umametáfora muito apropriada à vida psíquica. Ela enfatiza dois movimentos de nossaatenção. De um lado, a elevação total, que permite perder-se em uma percepção ouuma impressão; de outro, o poder de se concentrar e reter essa impressão.Quando conseguimos reunir esses dois movimentos da atenção – aparentementeopostos um ao outro – fazemos nascer uma síntese entre instinto e intuição, entre 44 Abraham Lambsprinck

A 15 pedra vermelhaGR 14A tinturaND 11-12-13E quintessênciaO 10B FOGORA 7-8-9 ARA 6P pedra brancaEQ 3-4-5U TERRAEN 2A putrefaçãoO 1B ÁGUARA 45

sentir e pensar. Elevar-se totalmente em uma percepção e reter o sutil nela concen- tra na fronteira da sensiti-trado pode revelar em nós, como por milagre, uma região, abrir um espaço interior vidade e do ser, lá onde ano qual podemos morar espiritualmente. Esse domínio é pleno de significado, mas “vida” se ajusta à “matéria”.desprovido de palavras; ele pode ser comparado a um sonho muito lúcido. É mais Lá onde a consciência e oque uma visão: é a inspiração, que pode ser consultada desde que possamos nos ser – portanto o lado espiri-lembrar dela. tual ou interior da vida – seÉ um processo sutil que exige não nos deixarmos distrair por imagens ou associa- tornam matéria, ou o “ladoções de pensamentos; se falharmos, a fonte se fecha e a inspiração desaparece. É a de fora”. É um nível pro-arte de aprender como podemos abrir essas fontes de inspiração, retê-las e descobrir fundo, instintivo, descritoquais são as áreas que as abrem. como a primeira impressãoO princípio que consiste em reter a inspiração a partir de fontes diferentes e religá- que o mundo provoca em-la a determinada ideia é o princípio da formação da Pedra dos Sábios. Mercúrio (o nós quando vemos a luz. Esseplaneta) é ambivalente, tem uma dupla natureza expressa nos conceitos enxofre e nível profundo, instintivo, émercúrio, sol e lua, homem e mulher, fogo e água, alma e espírito. O mercúrio (a como um mar no qual nossa“prata-viva”) é ambivalente porque deve sua existência a partir de certa sensibilida- consciência comum mergu-de de percepção (o mercúrio) e a um núcleo sólido de compreensão (o enxofre). É lha após ter tido o derradeiroem torno do enxofre e em seu interior que aquilo que é observado (a inspiração) é vislumbre de estar plena-centralizado, retido e conduzido a uma forma específica (o sal). Sem uma base tão mente consciente.sólida de compreensão em que a atenção é focalizada, a clareza intuitiva se volatilizae já não será utilizada. Essa praia, ou essa margemAssim, o mercúrio, o enxofre e o sal formam os elementos básicos do mercúrio eterna com essa consciência“prata-viva”. Veremos essa teoria frequentemente aplicada no tratado de grão de areia, encontra-seLambsprinck. O símbolo do mercúrio é o sinal do planeta Mercúrio. Ele é, de fato, na parte inferior do abdô-composto de três símbolos sobrepostos: uma lua escondida atrás de um sol com men, como uma centelha deum ponto no centro, estando ele mesmo acima de uma cruz. A lua, como uma vida de profunda vitalidade,taça aberta apontando para cima, indica o princípio aberto receptivo. É o chamado indelével. É o ponto culmi-mercúrio na alquimia. É geralmente líquido, ou volátil. O sol, um círculo com nante do metabolismo, ondeum ponto central, é o princípio da concentração, o “ponto focal”. É o enxofre na a matéria é transformada emalquimia. Ele está ligado a calor e fogo, a solidez e perseverança. A cruz é o sal. É vida no organismo. Comoo que forma e cristaliza sob a influência e cooperação do mercúrio e do enxofre. experiência, é uma forma deAssim, mercúrio, enxofre e sal juntos formam uma trindade que chamamos de intensidade, de sensitividade,mercúrio. Com a prima materia, essa é a base para a “pedra filosofal”. de vitalidade, e agitação. Para a consciência, é a perplexi-Vemos aqui retratada a Monas Hieroglyphica, de John Dee. Para ele, esse símbolo era dade. É o ponto mais pro-a síntese do trabalho alquímico e muito mais. Vemos aqui também o símbolo do fundo de nossa encarnaçãoplaneta Mercúrio, tendo abaixo o símbolo de áries, um signo do fogo. A lua, o sol e em um corpo.a cruz formam o vaso hermético no qual o trabalho de transmutação irá se realizarsobre o fogo e em seu interior.Prima materiaE difícil explicar o que é a prima materia. Ela é descrita como algo de pouco valor,algo muito simples que encontramos na poeira da estrada. E, no entanto, é a coisamais preciosa que existe. No início é um caos. Devemos descer às profundezas dasentranhas da terra para encontrá-la. É algo que passa despercebido ao olhar, que estáprofundamente oculto no interior do caos de nosso coração e que o poeta assimexprimiu: “Sou um grão de areia à margem da eternidade”. A consciência se encon-46 Abraham Lambsprinck

O mar e o corpo. Há dois 1peixes: o Espírito e a AlmaOs sábios dizem que no início há dois peixes emnosso mar, inteiramente desprovidos de carne e ossos.Devemos cozinhá-los em sua própria água. Deles seráfeito um mar sem limites, que ser humano algumserá capaz de descrever.Assim dizem os filósofos:Os dois peixes são apenas um, é verdade,eles são dois, porém uma coisa só,Corpo, Espírito e Alma.Agora eu vos digo com certeza:cozinhai os três juntospara que o mar seja bem grande.Mais tarde isso vos será evidente,quando tiverdes crescido o suficiente.Cozinhai bem o enxofre com o enxofre,E sobre esse ponto falai pouco.Calai-vos e guardai essas coisaspara vosso bem-estar:assim, estareis livres de toda a pobreza.Vigiai bem vossas palavras,para que vosso trabalho seja visível para todos.Lambsprinck o chama de “um mar contê-las. Somente o sistema nervoso completamente, seja pelacom dois peixes”. Os peixes são os dois simpático completamente desenvolvido, educação seja, gradualmente,centros de consciência no oceano do que regula as funções básicas de nosso pela frustração. A vida nosinconsciente, espírito e alma em estado corpo, pode reagir. Essa condição muda decepciona. Nossa confiançaelementar. No momento em que nasce- rapidamente a partir da alimentação e da é traída; nosso amor é ferido;mos, tudo já existe: o mundo, o cosmo. educação. Assim, serão criados elemen- nossa segurança natural éPercebemos isso completamente e sem tos de contenção para guardar tudo o despedaçada. Nossa habilida-nenhuma restrição. Todas as influências, que percebemos. Com essas limitações, de de capturar as “primeirasde perto ou de longe, alcançam nos- somos capazes de conter e ordenar pri- impressões” é encapsulada.sa consciência completamente aberta. meiramente e acima de tudo as impres- Essas impressões são devo-Mas não conseguimos guardá-las, pois sões do ambiente que nos rodeia. radas por um sapo ou umainda não contamos com nada que possa Mas a primeira impressão perde-se dragão de estresse latente que 47

se forma em nós e se aninha em nosso condicionamento e experiências trauma- prima matéria, que pode levarcorpo e em nossas entranhas. O que era tizantes. Os selos do mundo que nos ro- a uma “compreensão total”.uma fonte de inspiração e criatividade deia são simbolizados nos planetas e nos Libertar-se dessa forma étornou-se intimidação que entrava nossa diferentes metais. Eles são afixados em sempre subversivo, porqueiniciativa própria e nos escraviza às in- nós para sermos impressionados por cer- vai de encontro à predomi-fluências exteriores. Há, por assim dizer, tos poderes e certas forças, a fim de que nante “lei do mundo” e aoestigmas em nossos centros de sensitivi- percamos nossa inciativa própria e já não andamento comum dos acon-dade, selos praticamente impossíveis de sejamos capazes de formar nossas primei- tecimentos, que nos mantêmserem rompidos. Há também uma fonte ras impressões. Esses são os obstáculos prisioneiros. É necessário irde criatividade que continua a operar: que nos impedem de ver diretamente a a fundo, senão talvez nos li-nossa criatividade continua a se manifes- luz da fonte; permanecemos sempre em bertemos de certos selos, mastar nos órgãos sexuais; nossa procriação sua sombra. Nossa “fonte de vida” está permaneçamos prisioneirosfísica é assegurada. bloqueada atrás desses selos e a “água da de outros, que continuam aEsse primeiro momento, essa primeira vida” é conduzida por canais de restrições nos explorar.impressão, é a de “estarmos presentes”, e operada por poderes que escravizam A “primeira impressão dode “sermos completos” como môna- nossa vitalidade em proveito próprio. nascimento” é uma metáforada, como espelho do Universo. É uma Para liberar a fonte, devemos romper os que todos podem compreen-experiência de um nível extremamente selos. Mas isso é algo quase impossível! der. Na verdade, as condiçõesprofundo. É por essa razão que a trans- É necessário que existam circunstâncias desse momento encontram-formação espiritual deve começar com muito especiais para que isso seja feito. -se sempre presentes no aquiessa experiência primária vital. Ela está Devemos compreender a natureza de cada e no agora. É possível ser ilu-ancorada em nós como uma primeira im- selo e não sermos impressionados por minado aqui e agora. O agorapressão, selada e bloqueada por educação, ele. Somente então é liberada a energia da é o aqui. Neste momento! Neste lugar! Na terra e naO objetivo de uma Escola de Mistérios deveria ser criar circunstâncias nas quais as pessoas minha vida. A eternidade é opudessem se encontrar e depositar as intimidações que lhes são impostas pelo mundo, a m de “agora” do cosmo. Esses doispoderem ser elas mesmas, e não sua pro ssão, sua função, sua carência ou sua classe social ou coincidem: são uma unidade,qualquer outra coisa. uma só identidade. Entre oEntão os doze tipos de personalidades do zodíaco astrológico poderiam se exprimir em toda agora e a eternidade há umliberdade e se inter-relacionar como Homens. Esse seria um princípio de verdadeira franco- eu, com seus obstáculos que-maçonaria. Quem vem à Escola Espiritual depõe sua personalidade mundana. Não a impõe aos podem se transformar emoutros nem se deixa impressionar por ela. Alguma coisa deve poder se desenvolver em toda oportunidades, capacidades,liberdade que existe dentro do grupo, mas também transcendê-lo. Sem o desejo de se impor, qualidades de percepção ea inteligência e a competência de cada um vêm à luz por si mesmas: elas formam a base das de abertura e de inteligência.possibilidades de um grupo. Aqui se manifesta a forma-Quando os “doze signos astrológicos” se reúnem e já não são impedidos pelas intimidações ção e o desenvolvimento dedas diferentes esferas planetárias, uma irradiação pode se produzir através de seu círculo. Uma vários corpos sutis. Certo tipoatmosfera mais pura nasce, na qual essa nova irradiação se torna tangível. Esta é ao mesmo de trabalho interior é neces-tempo nova e familiar, pois está sempre presente. Entretanto, ela é continuamente misturada às sário. Aqui começa o traba-impurezas da vida comum, que macula a energia sutil com a fantasia e a “dispersão”. Em sua lho alquímico. Conforme oforma mais pura, essa energia faz ver as essências dos signos do zodíaco, e com isso o caráter trabalho prossegue, surgeme o signi cado do círculo. Os participantes podem interpretar o que receberam em função de novas oportunidades de sen-sua essência. Eles são os espelhos uns dos outros e se completam mutuamente. Juntos, eles tir, perceber e compreender.formam uma imagem mais perfeita dos mundos mais elevados. Então, quando o círculo é Uma linguagem é formadasu cientemente estável, outra atividade tem início. Outro plano se desvela, outra direção, outra para que seja possível regis-evolução é possível. trar e interpretar tudo isso. 48 Abraham Lambsprinck


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