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Revista Pentagrama 2016_site

Published by Pentagrama Publicações, 2016-11-04 08:27:12

Description: Qual seria a origem de nossos ancestrais?
O Projeto Genográfico tenta responder a essa pergunta, exatamente como o buscador espiritual deseja saber de onde veio, para poder responder à questão de por que está aqui e para onde vai.
Aos poucos, vamos percebendo uma realidade totalmente nova e tomamos consciência de que somos Um, compartilhamos o mesmo DNA e temos um ancestral comum: o Homo sapiens. Além do DNA, temos em comum cada partícula de nosso ser, cada molécula, cada átomo.

De onde viemos? De todos os lugares. Aonde vamos? Para todos os lugares. Quem somos nós? Uma maravilhosa expressão do Uno.

Nesta edição, a vivência mostra que, no fundo, sabemos a resposta para todas essas perguntas: basta despertar a reminiscência latente em nós. É essa a conclusão de um relato muito interessante de uma jovem aluna em país estrangeiro que tece conclusões a respeito da busca de si mesma.

Keywords: pentagrama,espiritual,renovação,rosacruz,aurea

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2016 número 1PentagramaLectorium RosicrucianumUm chamado vindo do coração solar –o Caminho, e a Verdade para sua vida!

balizas para uma viagem terrestre e cósmica os contornos do mundo da alma para alunos e amigos – Lectorium Rosicrucianumperspectiva: assim como é no alto, é embaixo – o milagre do cotidianopentagrama – base da consciência da almapentagrama

Ano 38 • 2016 número 1 pentagrama A partir de amostras de DNA, cientistas foram capazes de reconstituir a rota provável que o Homo sapiens percorreu pela Terra ao longo de milhares de séculos. O Projeto Genográfico consiste em comparar o DNA de diversos grupos para determinar se existem diferentes famílias humanas e qual seria a origem de seus ancestrais. Nosso próprio DNA indica que o Homo sapiens surgiu na África, há quase duzentos mil anos! Suas peregrinações seguiram primeiro em direção a leste, e depois a oeste, sempre acrescentando seu patrimônio genético. Na base desta pesquisa, há um fascínio que pode ser comparado ao do buscador espiritual, que quer responder as seguintes questões: De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? Pouco a pouco algo vai se tornando tão claro e tão surpreendente, que é como se a Medusa olhasse para nós. Assim, tomamos consciência, de maneira irrefutável, daquilo que, como seres humanos, não somos capazes de aprender nem socialmente, nem através da moral ou do altruísmo: nós somos um! Tomamos consciência de que somos Um, compartilhamos o mesmo DNA e temos um ancestral comum: o Homo sapiens. Originalmente, ele era menor, tinha a pele mais escura e estava muito mais perto da natureza do que nós, seres humanos motorizados, agarrados ao nosso celular. Além do DNA, nós temos em comum cada partícula de nosso ser, cada molécula, cada átomo. Na natureza nada desaparece: inúmeros elementos químicos datam de bilhões de anos! Eles estavam presentes na origem da vida, conheceram os dinossauros e percorram uma imensa trajetória para encontrar sua expressão bem aqui: em você e em mim, antes de continuar seu caminho através do tempo e do espaço. Ou seria para deixar o espaço e o tempo? Nesse sentido, somos poeira de estrelas e não apenas pó! De onde viemos? De todos os lugares. Aonde vamos? Para todos os lugares. Quem somos nós? Uma maravilhosa expressão do Uno. Um dia uma voz ressou, dirigindo-se aos seres humanos: “Tu és pó e ao pó voltarás!” Isto também se aplica ao novo tempo: ”És o Espírito e Espírito voltarás a ser!” Por tudo isso, amigos leitores, precisamos perseverar em nossa ascensão. Temos todas as razões para sermos humildes, e ao mesmo tempo, nenhuma razãoA revista Pentagrama é publicada quatro vezes por Diagramação para não abraçar a Pgurbalicnaçdãeo zdiagitdala criação. Lectorium Rosicrucianumano em alemão, inglês, espanhol, francês, húngaro, Studio Ivar Hamelink Acesso gratuito Sede no Brasilholandês, português, búlgaro, finlandês, grego, Rua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SP Tel. & fax: (11) 3208-8682italiano, polonês, russo, eslovaco, sueco e tcheco. Secretaria Responsável pela Edição Brasileira www.rosacruzaurea.org.br [email protected]ção de capa Kees Bode, Anneke Stokman - Griever Adriana Ponte Sede em PortugalAUREtmdoraziçegvãkéurosuiaisdlPeoecrasanláflaiszessindael maoosléoccuulapsadneteDs NdeAuemcovmeRPíeecnaudtaalaogçjurãapodmearddideoinnúomdeerasesrctoomdounSiadaardae.s indígenasCA,oddroiaerndsaednPeoançtãeo,,RtorsasdanuaçãCoileentroe,vAismãaona da Matta, Praça Anónio Sardinha, 3A (Penha de França)2R0e0d5açoão“PFrionajelto Genográfico” da National GeoMgaraarptehniscdibjkuseswceage1ncontrar respostas às questõeCsarfluosnG- omes, José de Jesus, Marcia Moraes, 1170-022 Lisboa [email protected] nHtuaijsis diante das quais a humanidade se eNnLc-o3n72tr3aM: CC oBimlthooveexnp, PliacíasersnBoaisxsoas origem? Que caMmariinahnaoLsimoeiro, Marlene Tuacek, Mercês Rocha, [email protected]çnopãodoeelro,cWgoeiranrsdidemolijsnodnvaeonrnpdeaonsv,Boéraumlp, AoersnwsteíovneGdl eourrspiatslra, noeDtaN?AEe-Pdmpaiçaraãialro:[email protected]ópormaiasseasdtáo ncooms luemva.nQdou?alqAUMRutarreesfayarSevecrplé,hALesmulsbii-dserAt,lfErelldikoaPTirninhdeairdoe,,MFearrncaílinodMo Leenidteo,nLçianoesoHaugpoovdaneHpoaorteiwciepeaghree, PceotenrtHruibijus,iFrracnosm esse projePteontcaigernatmífaicPou,bleicaaçsõseism, aprender sobre si mesma, bem © Stichting Rozekruis Pers . Proibida qualquer reprodução sem autorização prévia por escritomSapaiskmdaonq, ue se pode imaginar. © genographic.wnwatwio.pnenatlaggeraomgar.aoprgh.bicr.com Diagramação, capa e interiorAnneke Stokman-Griever, Lex van den Brul Nina Rimat, Missemota Arq‘Design ISSN 1677-2253 1

Conteúdo3 Imagens do Mundo (página 3, 7, 64)4 O sal da Terra J. van Rijckenborgh8 A atividade da Fraternidade Universal Algumas palavras sobre o futuro próximo14 Quem sou eu? O que sou eu? De onde venho? O que é que me formou? Uma jovem rosacruz: a busca de si mesmo em um país estrangeiro. E.L.White20 Reportagem Semana de Trabalho dos Jovens Rosa-Cruzes – Renova, 2015 M. van der Velden22 Pensamentos de Hermes28 Um bom começo30 Saiba o que você tem de fazer35 Platão e a sua teoria das Ideias W.K.C. Guthrie50 Os livros Paul Levy: Dispelling Wetiko – Rompendo a Maldição52 A armadilha da atual situação econômica61 Crônica O ponto cego62 Símbolo Círculo e ponto2 conteúdo

imagens do mundoEsse chamado toca almas incontáveis, microcosmos, essências flamejantes doEspírito Único, que povoarão o Universo incomensurável com a Luz do Uno...No dia 12 de junho de 2015, no Parque Gorky, em Moscou, foram inaugurados, ao mesmo tempo: a exposição“A Teoria do Infinito” e o “Museu Garagem” – um museu idealizado pelo holandês Rem Koolhaas, onde ojaponês Yayoi Kusama instalou espelhos infinitos. Os visitantes mergulham em milhares de luzes cintilantes, queprovocam uma vivência psicológica e sensorial muito especial. Para nós, era como se fosse a luz de milhões dealmas. © www.spletnik.ru/buzz/59771-novoe-zdanie-muzeya-garazh-chto-zhdet-posetiteley.htm 3

O pensamento lúcido de J. van Rijckenborgh e seu grande amor pela humanidade levaram-no a fundar, com Catharose de Petri, uma escola moderna de transformação da consciência: o Lecto- rium Rosicrucianum. A ideia inicial era a de que, ao serem preen- chidas as lacunas dos conhecimentos situados nos bastidores da existência, esse fato constituiria uma alavanca para atenuar o sofrimento do mundo.O Sal da Terra – imagem congelada do filme de mesmo nome de Wim Wenders e Ribeiro Salgado, 2014. © Sebastião Salgado 4 O sal da terra

O sal da terraEm todas as áreas, o sal é um ingrediente indispensável. Sem ele, avida seria impensável. Por analogia, falamos também do sal místicocomo o elemento de base da alquimia espiritual, essencial para asnúpcias alquímicas de Cristão Rosa-Cruz.O sal místico está presente em plano divino. O universo inteiro nos en- Desde o início até as últimas todo homem e seu grau de sina que “Deus é Luz”. Há provas dessa conferências que fez, J. van eficácia determina sua força verdade em todos os setores da vida. Ela Rijckenborgh nunca deixou de espiritual. A ação desse sal nos faz ter consciência de sermos cria- colocar As Núpcias Alquímicas de une ou dissolve diversas for- turas à Sua imagem, portadores de Luz. Christian Rosenkreuz (ano1459)ças e valores, úteis ou supérfluos para o Assim como o Logos impulsiona o sis- no centro de nossa atenção,processo. Além disso, torna o ser huma- tema solar no Universo, nós, portadores desvelando inúmeras camadasno apto para seguir seu caminho cósmi- da Luz genuína, entendemos nossa tarefa e muitas chaves ocultasco evolutivo no espaço-tempo. e podemos ser luzes para o mundo. Ao dessa obra.Sofrimento e purificação de vida sus- mesmo tempo, somos o sal da terra e acitados pelo sal místico interagem para luz do mundo!dar nascimento à consciência-alma, o Não se considere jamais um “eu”, mascorpo-alma dos iniciados, a veste áurea sempre um “nós”. O sal místico depo-crística que envolve aqueles que se sitado em você deve ser colocado a ser-apressam para participar das núpcias viço do “nós”, que é o mundo. Quema fim de esposarem a Luz do Espírito já conquistou forças de alma precisadivino que reside em seu interior. É espalhá-las a seu redor, no mundo:assim que se cumpre a primeira fase das desse modo, o misterioso sal místiconúpcias alquímicas. Mas, atenção: esse aumentará, graças à sua propriedadesal místico encontra-se em estado latente fabulosa. Quanto mais for doado, maisno interior de cada ser humano. você estará preparado para oferecer ePor mais tempo que o chamado ressoe, desejará doar mais ainda, seguindo oele ainda não conseguiu despertar o impulso do coração.homem da massa. Se isso acontecesse, o Você pode levar essa Luz interior, seusal místico poderia perder seu sabor e o espírito divino, para o “nós” a toda agênero humano se tornaria inútil para o humanidade. Sua missão não está no 5

nível do “eu”, mas sim no do “nós”. Você só terá sossego quando essaLuz penetrar os lugares mais sombrios.Essa é a única obra que responde à ordem divina e exige sacrifícioverdadeiro: o de ser o sal da terra e a luz do mundo. Assim seguimos oexemplo de Cristo – não descansar nunca antes que toda a onda de vidahumana tenha alcançado sua meta.Essa proposta nos leva a um comportamento muito especial, esclarecidopelo Sermão da Montanha.A vida diária mostra que o Sermão da Montanha ainda não foi assimilado.É como se ele nos colocasse diante da obrigação de subir uma monta-nha: ele suscita grandes reticências, pois Cristo nos pede uma completatransformação do homem e da sociedade.Se o Sermão da Montanhafosse aplicado minimamente,já provocaria uma transformação radicalTodo buscador sério sentirá que o ponto central não é dizer, mas fazer; Adeus aos Tetons Mounts,e, para fazer bem qualquer coisa, é preciso, primeiro, saber e com- no crepúsculo, próximos aopreender. Quando é dito que somos o sal da terra e a luz do mundo, Jackson Lake Lodgeisso mostra que Cristo traçou uma senda que pode ser percorrida. Se (Wyoming, USA) © Dong Nan Xi Beicompreendêssemos pelo menos “um pingo” das intenções de Cristo, oresultado seria significativo em escala mundial!Se o Sermão da Montanha fosse aplicado minimamente, já provocariauma transformação radical, tanto em nosso contexto interior quanto noambiente que nos rodeia, a ponto de podermos imaginar ter entradono Reino dos Céus. Isso seria incontestável para todos os seres humanosmortais e se manifestaria em toda a humanidade.6 O sal da terra

imagens do mundoEntre uma vida terrestre e uma vida solar,qual delas escolher? A vida solar, é claro! 7

A atividade da Fraternidade ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O FUTURO PRÓXIMO JJ. van Rijckenborgh já previa um cenário pouco tranquilo e reconfortante para omundo e a humanidade. Desde então, aconteceram muitos fatos que poderiam nosdesencorajar. As pessoas verdadeiramente honestas e íntegras são raras neste mundo. Amaioria não ouve o que elas dizem nem lhes dá crédito. Elas não podem ser ouvidasporque o estado psíquico da maioria dos seres humanos já não permite isso, pois ahumanidade chegou ao ponto mais baixo de sua viagem na matéria. A arte, a ciênciae a religião perderam valor como fontes de auxílio e de perspectivas de vida.Então, que horizonte restou para o gênero humano?De repente nos vemos impotentes e sem esperança, como que diante de um muro, e,apesar disso, somos convidados à autorrealização – tarefa para a qual estamos sendopreparados, de algum modo. E a questão é colocada novamente: Que perspectiva restaao homem? Como ele conseguirá romper os obstáculos que o limitam exterior e in-teriormente? É nessa situação de impotência geral que se abre uma nova possibilidadepara o trabalho da Fraternidade Universal.Como responder à condição atual do mundo?Observando os fatos com um olhar esotérico-gnóstico, lembramos que asforças ou anjos lunares pertenciam a uma onda de vida anterior à nossa. Em seudesenvolvimento, essas forças acompanharam nossa própria onda de vida – masnão fizeram parte dela. Elas acompanharam a humanidade até seu momento maissombrio: o nadir da matéria no qual nos encontramos hoje. Porém, elas se retiraramcompletamente, como J. van Rijckenborgh explicou. 8 A atividade da Fraternidade Universal

e Universal Des meeres und der Liebe Wellen (As ondas do mar e do amor) – pintura de Anselm Kiefer, 2011. Uma representação do drama clássico de Hero, que toda noite fazia a travessia do Helesponto a nado para encontrar sua amada Leandra 9

Boulder (Colorado), manhã de 6 de janeiro de 2015.©Tom YulsmanNovas energias tomarão conta da humanidade,provocando reações no interior de cada ser humano 10 A atividade da Fraternidade Universal

É por isso que a Fraternidade Universal, cujo prolongamento é a Escola Espiritualda Rosacruz Áurea, está preparando o futuro próximo. Afinal, já começou um períodode transição, marcado por grande desordem e catástrofes. A Escola vem falando inces-santemente sobre isso nos últimos anos, para deixar bem claro o que virá a seguir.Dizemos que ainda estamos em um processo incorreto, pois pouco nos preocupa-mos com a ordem cósmica, que exige interrelação, coesão, benevolência e diligên-cia em todas as coisas: sempre ignoramos e até negamos esses aspectos. Resultado:estagnação da ordem social, econômica, científica e religiosa, e de outras instânciasque poderiam impedir a sociedade de se desviar. A atual pobreza de espírito certa-mente segue lado a lado com isso. A memória da natureza registrou a experiênciade primeira mão de que a humanidade representa uma ameaça, não somente parao indivíduo, mas também para todo o planeta. Essa experiência direta ainda não ésentida em total consciência, mesmo quando os modernos meios de comunicaçãoestão expondo claramente diante de nossos olhos o atual estado do mundo. Diantedisso, qual é a sua resposta?Esperamos que você compreenda corretamente e seja guiado por esse entendimento!Veja o que o estado do mundo quer lhe dizerNão existe nenhuma solução política – a não ser aquela que você põe emprática em sua própria situação concreta. Ou você é uma pessoa que se indigna,que condena, que tem medo, que tem certezas, ou é alguém que está prontopara arregaçar as mangas. Não é verdade que todos os dias você percebesutilezas perversas, falsidades, mentiras, tanto nas relações entre os indivíduosquanto entre as nações?A partir dos próximos acontecimentos, dizemos que todas essas imposturas e enganoslogo pertencerão ao passado, porque todos poderão ver do que realmente se trata.A iniciativa da Fraternidade Universal diz respeito a você! Você mesmo terá de colocarem movimento e ativar a força positiva, essa força-luz que está adormecida dentro devocê, a fim de responder a um poderoso impulso de inspiração espiritual na formade uma vibração atmosférica, que cada um – todos os seres humanos de todas asraças – vão sentir e experimentar.Todas as Fraternidades – inclusive a nossa e as Fundações Rosacruzes – respondem aisso e contribuem à sua maneira. Não exteriormente, mediante comunicação ou radio-difusão, mas com iniciativas provindas de uma atitude interior e com foco no próximointenso e poderoso derramamento de radiações eletromagnéticas. Novas energias afeta-rão toda a humanidade e provocarão, em todos os indivíduos, profunda reação. Dessemodo, todos poderão defrontar-se com seu próprio estado de ser e assim receber forçae a possibilidade de intervir em sua própria situação. Isso terá certa semelhança comaquilo que na Escola Espiritual é conhecido como o estado de ser da alma-espírito.O estabelecimento de novos pontos de partidaFaz muitos anos que conversamos em nossa Escola sobre essa transição dimensional.A mesma coisa tem acontecido em muitos outros grupos incorporados à obra daFraternidade Universal. A nova realidade etérica rompe as camadas superiores de 11

Em todos os setores,a impostura perderá sua razão de sernossa atmosfera interna e expulsa as trevas. Isso se manifesta até nos grupos que tra-balham cada vez mais aberta e cinicamente em prol de seus interesses pessoais, por severem enfraquecidos pelo medo e pela busca de vantagens, cheios de arrogância, ódioe comportamento destrutivo. Para mudar a mentalidade de seus membros, que tam-bém são nossos irmãos, há somente uma solução: a atuação de uma grande correntecósmica de amor impessoal, conscientemente sustentada por milhares e milhares decorações abertos – por pessoas como nós e você.Não estamos falando, de maneira nenhuma, de “fim do mundo”. O que está aconte-cendo hoje pode ser interpretado como o estabelecimento, no éter, de novos pontosde partida, afinados com a grande lei do amor e da coesão de todas as formas de vida.Milhões de corações esperam por isso! Eles podem sentir, vivenciar essa realidade,e serem guiados por ela. Interiormente, essas pessoas estão afastando os véus entreas vibrações solares e as vibrações terrestres. A consequência disso é o aquecimentodo planeta, mudanças climáticas e, eventualmente, catástrofes naturais. É o Espírito –começando pelo Logos do Universo e a Vontade do Pai – que se encontra por detrásdisso, que mantém em equilíbrio essas enormes modificações magnéticas no interiordo sistema do planeta Terra. E tudo isso é realizado não a serviço de nossas pobrespersonalidades vacilantes, mas a serviço do conjunto da progressão cósmica, no inte-rior da qual a onda de vida humana se movimenta.Introduzindo uma nova dimensão no mundoEstá para acontecer, iminentemente, uma modificação da consciência. Essa mudançavem como resposta a uma necessidade cósmica, mas também, e sobretudo, ela é susci-tada pelo despertar do autêntico potencial espiritual do amor altruísta, que é o reflexoda imagem primordial do homem espiritual. Com isso, iremos perceber a realidadede maneira totalmente diferente! A nova aurora realmente está trazendo com ela umanova dimensão. Nosso coração é receptivo a tudo isso. Com nossa inteligência conse-guimos entender a razão superior. Com nossas ações amigáveis e diligentes poderemoscontribuir grandemente para introduzir essa nova aurora no mundo.Houve um tempo em que o ser humano estava unido à imagem primordial divina,pois era um homem verdadeiramente celeste. Hoje, a plenitude dessa imagem encon-tra-se muito distante de nós. Contudo, há uma lembrança, como se fosse um espelhoem um espelho, adormecida em cada ser humano, em cada coração que deseja lutar demaneira justa pelos outros.Todos poderão enxergar essa imagem em consequência dagrande iniciativa cósmica sobre a qual falamos. Os seres humanos irão senti-la comouma experiência direta, a ponto de vivenciar o poder da matriz original – que nósdenominamos “plano divino para o mundo e a humanidade”. Na Europa, o acolhi-mento a um grande número de refugiados vindos do Oriente não seria uma primeirae jubilosa reação a essa vivência? À luz das novas forças ou valores etéricos que estãodisponíveis para suprir as necessidades atuais, poderemos compreender, aliviados, 12 A atividade da Fraternidade Universal

nossa tarefa e nossa missão. É o resultado da ordem profunda e elevada: “Cuidem defazer viver a alma!” Ao mesmo tempo, poderemos ver claramente as consequênciasgeradas pela recusa a essa missão.Uma comoção agita todo o planetaQuando falamos sobre abrirmos amplamente a porta para a vida autêntica, observa-mos como o psiquismo do indivíduo pode ser regenerado na medida do possível etambém como essa experiência e as poderosas atividades da Força-Luz produzirãouma purificação impressionante! E isso não diz respeito apenas a todos os seres hu-manos, mas a todas as esferas de vida. Então, poderá ocorrer uma verdadeira revo-lução social: um novo e grandioso processo, que segue sete vias. Todos participarãodesse processo, pois diz respeito a todo o planeta. Nenhum setor de nossa sociedadeescapará às influências benéficas dessa revolução. Será como se a dimensão atual sedissolvesse e desaparecesse! A imagem original do ser humano, preservada em toda asua pureza nas mais altas esferas da vida, irá envolvê-lo em seu estado de Alma-Espí-rito. A cada dia ele crescerá em percepção e discernimento. A falsidade e a ambiguida-des desaparecerão.Não é difícil imaginar o que tudo isso implicará em termos de mudança moral nasociedade e nos objetivos desenvolvidos pela ciência. Trata-se de considerável perspec-tiva, de profunda mudança de consciência, que poderá estabelecer uma formidável re-volução universal. De tempos em tempos, a Escola Espiritual fala sobre isso, ainda quecom o mínimo de ênfase possível. Nesse processo, seremos todos como que reeduca-dos com base em novas premissas, de verdadeiros novos pontos de partida. Assim, anova iniciativa cósmica da qual falamos irá nos colocar diante da perspectiva de umaprogressão diferente e harmoniosa. Cada um de nós poderá iniciar a via do grandeplano divino para a humanidade e o mundo, porque nosso coração nos anima, nossainteligência nos faz compreender, e nossos atos darão testemunho de tudo isso.Iluminados pela imagem pura do verdadeiro homem Artigo redigido pela redação de Pentagra-É assim que a verdade e a nova realidade se manifestarão. As máscaras e as aparências ma. Veja também: J. van Rijckenborgh,já não predominarão, e o homem verá operar em si, harmoniosamente, mudanças Epílogo do livro As Núpcias Alquímicas,estruturais. Quando todos os indivíduos forem psiquicamente conduzidos para novos volume IIcaminhos, e a “pura imagem” os tiver esclarecido quanto ao ser humano real comtodas as suas possibilidades, o corpo racial perderá em densidade. Os efeitos da forçade gravidade serão modificados – os jovens já são sensíveis a isso, o que os torna ino-vadores – e a sociedade mostrará, enfim, uma nova face.Unidos àqueles que sabem de tudo isso (e que são muitos!), colaboraremos em totalabnegação com a Fraternidade Universal. Afinal, quando tudo isso acontecer, a atitudeque se espera de nós será a de um verdadeiro amor servidor. É por isso que quempuder compreender a natureza desse chamado irá se preparar e se dedicar ao grandetrabalho a serviço de uma humanidade em busca de seu verdadeiro modelo: a ima-gem original do homem celeste. Essa tarefa requer grande número de colaboradoresque possuam o entendimento apropriado e necessário.13

A BUSCA DE SI MESMO COMO JOVEM ALUNO DA ROSACRUZ ÁUREA EM UM PAÍS ESTRANGEIRO Quem sou eu? O que sou eu? De onde venho? O que é que me formou?Os Pináculos, Parque Nacional de Nambung, nas proximidades de Cervantes, WA, Austrália 14 Quem sou eu? O que sou eu? De onde venho? O que é que me formou?

TEXTO E.L. WHITEVocê está em um lugar desconhecido, cheio de pessoas dife- rentes, e nunca esteve tão consciente de si como agora. As pessoas sempre estão por ali, mas você não as conhece. Elas olham para você com curiosidade.Você precisa fazer o pos- sível para causar boa impressão. Fica refletindo sobre o quevocê é, pensando nas experiências que viveu e no porquê de merecer apro-vação.Você pode portar-se como se eles não fossem julgá-la, mas sabe queeles o farão mesmo assim – você também faz isso. Quem são? Eles sabemde onde você vem, o que aprendeu? Será que aprenderam a mesma coisa?Você se endireita, dá um passo à frente e se apresenta.Pelo sotaque, eles arriscam: Canadense? Irlandesa?... Ah! Holandesa! Derepente você é “a holandesa”. Na Holanda você jamais seria uma holande-sa, pois na Holanda os holandeses não têm grande coisa em comum: têmreligiões diferentes, cor de pele diferente, tradições diferentes e sotaquesdiferentes. Na verdade, alguém só é “um holandês” durante os jogos defutebol, ou quando viaja ao exterior. E quando vai um pouco mais alémda França ou da Itália, mais além da Turquia e de alguns mares e fronteirasmais distantes – de repente se torna “um europeu”. Ah, a Europa! Comsua civilização, sua cultura, sua história e suas línguas. O lugar onde tudocomeçou. É o que nós pensamos. Nós? Quem somos nós? Nós, “holande-ses”? Nós, “europeus”? Nós, “de vinte anos”? Nós, “sagitarianos”? Nós,“vegetarianos”? Todos esses nós e esses eles, são identidades inexistentes! Setodo mundo pudesse compreender isso, a Terra seria um belo planeta –ainda mais belo do que já é.Apesar de tudo, você se sente diferente das pessoas que olham para vocêcom olhar interrogador, nesse lugar desconhecido. Eles nasceram nesselugar e têm uma opinião menos elevada do que a sua a respeito de ondevocê vem. Nós, europeus, estamos convictos de termos introduzido a civi-lização no mundo todo, e por isso, e talvez com razão, somos desprezadosem certos lugares. Esse desprezo, embora um tanto atenuado, agora atingevocê, depois de ter se apresentado de forma um tanto modesta.15

Aqui, pode-se sentir a aspiração a esse tipo deunidade, e a formação de uma identidade estáem pleno andamento, mas a tarefa não é fácilJovens participando do outdoor festival Camp Doog, WA, Austrália Quem sou eu? O que sou eu? De onde venho? O que é que me formou? 16

Você se sente uma estrangeira! Não que da Austrália pelos ocidentais começou hávocê tenha vergonha de sua origem. apenas duzentos anos. Todos os que estãoPelo contrário! Mas você é a minoria, e nesta festa têm antepassados que, até porse sente vulnerável. Olhando as pessoas, volta do século 16, tiveram a mesma His-você percebe que seus pensamentos e atos tória que você.nem sempre foram abertos e calorosos Aproveitando a chance de desviar a atençãocomo quando você estava em sua casa, de sua pessoa, você pergunta sobre aconfiante. Bem, mas isso foi há muito origem de seu interlocutor. “I’m 100%tempo; você não pôde e nem pode fazer Aussie, mate!” (Sou 100% australiano,mais nada. Além do mais, as pessoas que parceiro!). E aí está a resposta.Você lançaestão nessa sala não são todas originárias um olhar ansioso para ele – será que eleda Europa? Sim! É verdade! A conquista não vê que sou mulher e não um “parcei- ro”? Sem tempo para corrigi-lo, você faz a mesma pergunta a um outro. A resposta é a mesma. Então você pergunta se seus antepassados eram aborígenes. “Não”: a resposta é igual. Eles também preferem se calar sobre suas origens europeias. Por quê? Será porque os primeiros coloni- zadores eram detentos? Não. É porque a identidade europeia não tem mais vez na Austrália. Aqui as pessoas trabalham duro para construir uma identidade própria. Enquanto na Europa estamos descons- truindo o sentimento de nacionalidade, fazendo desaparecer fronteiras, na Austrá- lia as pessoas tentam criar uma identidade australiana. Isso é bem difícil, pois “o australiano” não existe mais, assim como “o europeu”. No entanto, quando as na- ções europeias adotavam o nacionalismo como ideologia política, era possível ape- lar para uma cultura secular de tradições e costumes, e escolher precisamente aquilo que fosse capaz de convencer o povo de sua unidade e fazer coincidir as fronteiras culturais e políticas de uma nação. Aqui, na Austrália, percebe-se que as pessoas desejam esse tipo de unidade. A criação dessa identidade está em pleno andamen- to, mas a tarefa não é fácil! Os australia- nos já não querem ser “os rejeitados”, “os condenados da Europa”. Ficaram sem saber em qual cultura se basear. E tiveram apenas dois séculos para criar suas tradi- ções comuns. 17

Eles querem separar-se da História euro- des do Século das Luzes, nos filósofospeia e deixam claro que fazem parte da atemporais ou nos gênios do Oriente.angloesfera, como todos os países anglófo- Por isso, as pessoas preferem se voltarnos, como os Estados Unidos e a Nova para outra direção: a simplicidade e aZelândia. Mas será que isso é suficiente facilidade são colocadas acima da com-para se criar uma identidade? Sim, com plexidade humana. Aqui, nada é com-certeza The australian dream (O sonho aus- plicado, tudo é “too easy, mate” (muitotraliano) substitui o sonho americano. simples, parceiro!)A Austrália é “o país das possibilidadesilimitadas”; “o país das minas”, “do Os australianos são colocados nas nuvensmineral de ferro” e “dos milionários por sua tolerância multicultural, mas so-que conquistaram o que têm por esforço mente por eles mesmos. Todos são bem-próprio”. Nada de sangue azul, de aristo- -vindos e tratados com amor, contantocracia. Os ricos são corretores, donos de que o formulário solicitando o visto nominas e cassinos. passaporte seja corretamente preenchido.Aqui não é possível inspirar-se nos gran- Se para embarcar num avião sua bagagemÁrvore solitária nas dunas de areia de Noverosa, em Doornspijk, Holanda 18 Quem sou eu? O que sou eu? De onde venho? O que é que me formou?

Quando você se lembra de Noverosa,começa a escutar a si mesmode mão deve caber num pequeno com- e olha para outro lado: tudo porque nãopartimento metálico, para entrar nessa quer mais explicar ao motorista de táxiilha gigantesca pouco povoada, você que os homens com cor de pele diferenteprecisa ter vindo de um país ocidental, ter não são inferiores.boa saúde e menos de trinta anos,. É uma Você quer ser apoiada e procura alguém“cultura coca-cola com nível de tolerân- parecido com você, mas logo pensa: elescia limitado”. A mentalidade é a seguinte: são diferentes!“Não sou racista. Mas os aborígenes em Você nunca teve de passar pelo desafio dosua maioria são criminosos”. É isso: se “não julgar” enquanto tentava ver a Luzafirmar de antemão que você não é ra- nas pessoas ao seu redor (a força da civili-cista, então pode dizer o que quiser. Isso zação sob a forma de amor!). Então, vocênos faz pensar nas palavras de Voltaire: “É entra em pânico, pois não consegue verproibido matar, por isso todos os assassi- essa Luz e, desesperada, fecha os olhos.nos são punidos, a menos que matem emgrande número e ao som de trombetas.” Então você se lembra de Noverosa e voltaEssas trombetas soam todos os anos no seu olhar para dentro.continente para lembrar o dia em que os Você ouve os hinos do Templo e sente oprimeiros ingleses desembarcaram. Mas, cascalho do caminho para o Templo sobpor conveniência, as pessoas se esquecem os pés (“Não corra!”), enquanto o perfu-de que esse dia também marca o início me das flores do Jardim das Rosas penetrado período de exploração e de genocídio suas narinas. De repente, você finalmentedos aborígenes, já que agora todos vivem percebe que a simplicidade não é tãojuntos, em paz, embora alguns vivam em tediosa: é só pensar na descrição da forçamansões e outros, em becos bem ao lado. universal, que é uma centelha e vem doMas, tudo bem: todos tiveram as mesmas grande fogo que existe em cada coraçãooportunidades. Então, que assim seja. humano. O pânico vai embora quando você percebe que todos têm a mesmaA atmosfera da sala mudou. Quando origem, e que eles certamente sabemvocê pensava em ganhar a aprovação com disso e o sentem secretamente. A busca dasuas ideias sobre a igualdade das raças, a unidade – de uma História em comum –igualdade dos sexos ou sobre o casamen- é a busca de todos.to homossexual, logo se vê num debate Você sente isso novamente.Você sabe deacalorado para defender a si mesma e às novo quem realmente é, e qual é sua ver-suas ideias. dadeira identidade.Você sabe novamenteDe repente você percebe que já não de- de onde veio. Aí está uma nova chance, efende suas ideias. A tristeza se apodera de você nem sabia que precisava dela. E, devocê. Ou é medo: medo de se esquecer de repente, do outro lado do mundo, vocêonde você veio. Ou vergonha – porque, se sente conectada e finalmente está emàs vezes, você se cansa, balança a cabeça casa, onde quer que esteja. 19

Semana de Trabalho dos Jovens Rosa-Cruzes,A cada verão, centenas Ir para lá de onde? O que ele significa? de estar lá, que vem com umade jovens rosa-cruzes de Quantas chances de viajar no Que razões preciso ter para ir sabedoria interior – e, assim,18 a 30 anos trabalham verão! Tantas ideias passam para lá?” Esse chamado não inconscientemente, a decisãodurante uma semana em pela sua cabeça na hora de foi feito para ser traduzido em de ir para lá já foi tomada.um centro de conferên- decidir! É sempre uma resistên- palavras. “Ele não depende do Os jovens de hoje têm os péscias. Em 2015, esse grupo cia, mas também um cha- espaço-tempo”, diz um jovem. no chão e fazem escolhasinternacional estava em mado. Essa escolha vem da “Viajei 14 horas para chegar. conscientes, mas tambémRenova, na Holanda, para cabeça ou do coração? Parece Para mim isso não importa. Eu sabem reconhecer quando“juntos construírem algo, evidente: jovens precisam ir à tinha de vir. Se eu tivesse que precisam escutar a voz interiortrabalhando em conjunto Semana de Trabalho. Alguns viajar 24 ou 34 horas, eu teria que diz para irem à conferên-para uma renovação”. nunca faltaram. Mas isso não vindo do mesmo jeito.” cia sem ficar analisando significa que não há escolha. Mas às vezes há uma hesita- essa voz. Só quer dizer que a escolha ção, uma vozinha que sopra não é difícil. Como disse um para você, dizendo que você jovem: “Tinha outra opção, não está querendo ir, ou que mas não era uma escolha. Eu você poderia ter a chance de ir tinha de ir”. É um chamado outro dia. Nesse caso, não se que ressoa pelo mundo afora trata de uma evidência, mas e é dirigido a nós! Um impulso sim de uma escolha conscien- interior, nos diz que precisamos te. Quando a gente pensa na ir. E nós vamos! Não temos de Escola e começa a se lembrar dissecar esse sentimento com das Semanas de Trabalho a cabeça: “Esse chamado vem anteriores, nasce uma vontade 20 Rcoenptoerútadgoem

reportagem9 a 16 de agosto de 2015, Renova, HolandaEstar lá Mesmo quando alguém se incrível que nos ajuda a romper essa é a finalidade da SemanaO que faz uma Semana de Tra- sente sozinho e não fala com com o que é velho e construir de Trabalho!balho dos Jovens Rosa-Cruzes os outros, já faz parte do gru- o que é novo.ser tão especial? Qual é seu po – do jeito que ele é. Há grandes chances de vocêsignificado? Os jovens trabalham juntos, Ir embora ter encontrado respostas“Aqui, durante essa Semana tanto no sentido físico como Chega o final da conferência e para seus questionamentos,de Trabalho, com todas essas no sentido mental e espi- achamos que o tempo passou uma nova força e energia,pessoas, posso compartilhar ritual. Juntos, constroem, depressa demais! É hora de a grande motivação de seminhas ideias e pensamentos”, demolem, mudam coisas de deixar para trás todos os ami- transformar, a alegria, a Luz...diz um jovem. “Na minha lugar. É uma oportunidade gos e a Semana de Trabalho, e muito mais!vida diária não consigo fazer muito especial de romper mas não é uma despedida Quando você leva a atmosferaisso. Nesta vida, sou dife- com os modelos e hábitos de verdade: cada um leva da Semana de Trabalho comrente e meus pensamentos que nos impedem de alcançar suas lembranças e carrega você e percebe que seu cora-são especiais. O fato de ser a meta à qual aspiramos. seus amigos em seu coração ção está um pouco mais leve,diferente cria certa solidão. Os E como é possível se libertar – onde quer que vá – e sabe vê que pode levar sua vida deque diziam ser meus amigos dessas amarras? Será que que no próximo ano vai vê-los um jeito melhor.se afastaram. Aqui, todos são elas só estão dentro de nossa novamente. Trabalhamos em uma cons-como eu. Dividimos nossas cabeça e, para nos livrarmos Não: com certeza não partimos trução que é muito maior queconvicções e ideias. Aqui não delas, basta somente apertar de mãos vazias! Levamos Renova! E trabalhamos nosou um estrangeiro, um estra- um botão? para casa o resultado de uma mundo inteiro, pedra sobrenho. Aqui, me sinto em casa!” Não importa a resposta. O fato semana de trabalho espiri- pedra, dia após dia, até queO grupo é unido porque os é que não se pode negar que tual. Esse resultado é pessoal, a meta seja alcançada.jovens têm algo em comum. uma conferência é uma força mas também coletivo, pois Fotos de: Cedric Veldhuis, Rumon Bruins 21

22 conteúdo

Pensamentos de Hermes Sol poente em Essoura, Marrocos ©Frank Fabrice, 2011 Em tempos muito remotos, Hermes foi chamado “O Príncipe da Luz”. Dizem os esoteristas que ele realizou sua obra no Egito em 10350 a.C.. Do ponto de vista astrológico, sua chegada assinala a era de Leão, período que vai mais ou menos do ano 10000 a 8000 a.C.. Foi um período chamado “Era de Ouro” porque, diz a tradi- ção, o homem “caminhava com os deuses”. 23

e acordo com os estudiosos, po, “o acompanhante das almas”, nome a esfinge – que, na época, adotado diretamente da sabedoria egípcia. fora esculpida em pedra – Assim que o homem adormece ou morre, Hermes o acompanha com seus doisD tinha a forma de um leão. companheiros Hypnos (que é o sono) e Também existem arqueólo- Thanatos (a morte) para as regiões ondegos modernos – os quais apontam para ele pode continuar seu desenvolvimentouma época muito mais antiga do que até da melhor forma, pois não existe pausa.agora se presumia – para os quais ela teria Tudo segue processos cósmicos. Hermessido inequivocamente adornada com leva tudo o que é divino para o Elísio. Por-uma cabeça de leão. A própria efígie está tanto, ali, na esfera do Sol, esfera de Feboorientada exatamente para o leste, direção Apolo, encontramos aquele que, na Terra,na qual o Sol se ergue no horizonte. Toda- contribuiu de algum modo para a luz.via, digno de nota é que, naquele tempo, Hermes é a ligação. Sua morada é “oessa direção coincidia com o lugar onde à paradeiro dos bem-aventurados, na claranoite surgia no céu a constelação de Leão. Luz do Sol”, canta Homero. “É o palácioAtravés dos séculos, atribuiu-se ao de Cronos, a ilha do tempo eterno, ondePríncipe da Luz certo número de fun- moram os primordiais e libertos Filhosções e significados, todos relacionados de Deus e todos os heróis cujos nomescom “transmitir ensinamentos”. Para os são imortais. As ilhas ficam bem longeegípcios da época dos faraós ele é Thoth, de deuses e homens. Lá, sempre soprao deus Íbis. Thoth era o neter (energia, uma corrente de ar fresco, as árvores sãoforça) que acompanhava o morto até o adornadas com maravilhosas flores dou-trono de Osíris. Diante desse trono, a vida radas que põem um véu enfeitado sobredesse homem era investigada e sua alma aqueles que ali ouvem palavras sobre aera colocada diante da famosa balança. Verdade, o Bem e a Justiça”, diz o poetaAli, seu coração era contrabalançado com grego Píndaro.o peso de uma pena – a pena de Maat, di- Em séculos posteriores, foram os hermé-vindade que simboliza a ordem cósmica, ticos que mantiveram intacta a tradicionalo verdadeiro equilíbrio. Ora, certamente fórmula hermética da Tabula Smaragdina.o coração não podia ser muito pesado, Desde os mestres até os discípulos, todospois era sinal de que sua alma estava visavam realizar em si o sentido gnósticomuito afundada na matéria, mas também do axioma “Assim como é em cima, énão podia ser muito leve, pois isso queria embaixo”. Os gnósticos das cidades dedizer que a pessoa não havia cumprido Alexandria e de Sais adaptaram os nu-suficientemente sua missão durante a merosos livros de Hermes para o pensa-viagem terrena! mento e a linguagem grega e, assim, elesPorém, quando a balança apresentava um chegaram até nós ainda que de modoequilíbrio perfeito, a pessoa podia par- fragmentado. Esses livros também foramticipar do combate na falange de Hórus conservados como fragmentos pelos poe-para lavrar e manter os campos celestes de tas eruditos e alquimistas da Arabia FelixJalu. Assim, mais tarde, à medida que era (atual Iêmen).Também devemos muitopreenchida com mais Luz, ela podia tomar aos discípulos da Idade Média, período aassento na barca de Ísis para prosseguir via- que chamamos de Idade das Trevas. Aindagem até o campo de consciência de Osíris. assim, foi uma época em que, em muitosOs gregos davam outros nomes a Hermes lugares, pequenos e grandes, a Luz espiri-Trismegisto, como o de Hermes Psicopom- 24 Pcoensteaúmdeontos de Hermes

tual elevou-se para a esfera do Espírito da dos séculos, de sua sublime passagem. pelo regaço da mãe, assimVida em busca do elemento espiritual, do Ao longo da órbita solar, caminhando na- também a alma é formadaouro espiritual no homem, que parecia quela esfera que o espírito humano ainda no corpo”. E diz Hermes: “Ohaver se perdido. consegue captar, lá estava Hermes, o men- corpo vem do regaço da mãe,Na Renascença, Hermes despertou sageiro dos deuses, com sua Sabedoria: da escuridão para a luz, masnovamente quando, depois da queda de Mal podendo acreditar, inteiramente vivificado mer- a alma vem no corpo, da luzConstantinopla, em 1453, Ficino e sua gulhado no sublime, ele observa os deuses que mudam para a escuridão”.Academia Platônica redescobriram o texto de aparência para elevarem os homens a seu reino. “O Espírito encontra-se nahermético grego do Corpus Hermeticum. alma e a natureza no corpo. OAcreditava-se que os escritos eram mais E lá, vagamente atrás do horizonte, onde Espírito é o criador da alma e aantigos que Platão e Pitágoras (o que, em os deuses ainda se permitem deixar seus alma é a criadora do corpo”.princípio, confere, pois eles remontam sublimes rastros, a sabedoria hermética E assim ele prossegue: “Agoraà sabedoria primordial) e, assim, Her- ainda pode ser alcançada. Ela é acessível a todo o sentido da vida estámes alcançou seu status. Nessa época, ele todos os que, com sinceridade e simpli- em que a alma – que, no cor-era enaltecido ao lado de Moisés e Jesus. cidade, orientam seu caminho na vida de po, está como que nas trevasOs séculos 14 e 15 foram o período de acordo com ela, visando desenvolver a – lembre-se novamente doHermes! Ele teve um retorno glorioso, justa compreensão. Espírito ou da Luz à qual elamas perdeu esse status nos séculos 17 Agora Hermes é o pensador que mexe pertence.”e 18, quando o pensamento racional e e remexe com todas as áreas! Seu pen- E continua: “A alma pene-iluminista obteve a primazia. Foi só com samento trata da conexão entre Deus, tra no corpo sob pressão; oo pensamento esotérico dos rosa-cruzes, cosmo e homem e entre corpo, alma e Espírito penetra na alma pordos alquimistas tardios, dos livre-maçons, Espírito. Não que Hermes tenha dito que decisão”. Quando a alma estáque ele continuou sendo valorizado, já eles sejam o mesmo. Absolutamente! Eles fora do corpo, ela não temque todos os procedimentos dessas esco- são claramente diferentes entre si. qualidade nem quantidade;las tinham raízes em Hermes. E agora, em Ele diz, por exemplo: “Nosso corpo é no corpo, ela recebe, ao mes-nossa época, seu pensamento está de volta uma ferramenta. Chega a ser um atributo mo tempo, tanto o bem comoaté na Ciência, com a Teoria Quântica e da alma”. o mal, uma vez que a maté-os universos da energia e matéria escura. A esse respeito é preciso refletir um pou- ria faz isso (ele quer dizer: aMesmo quando temos a impressão de co. O que Hermes quer dizer com isso? existência na Terra faz isso).que Hermes esteve adormecido por longo Ele acrescenta: “Do mesmo modo como o A qualidade capacita a alma atempo, seus discípulos sabiam, através corpo é formado de maneira prodigiosa tomar essa decisão. 25

Mas, primeiro, vamos abordar a questão Sete astros com órbitas diversasda pressão. O que ele pretende dizer com gravitam em torno do átrio doisso? Podemos entender quando Hermes Olimpoesclarece no capítulo seguinte: “Sete as-tros gravitam em longas rotas no átrio doOlimpo e, com eles, o tempo infinito giraeternamente. Esses sete são os seguintes: aLua, que brilha à noite; o tenebroso Cro- 26 conteúdo

nos (Saturno), o encantador Sol; a deusa o Sol e Mercúrio estão em nós. E assim é o conhecimento do que é infinito.de Paphos (Afrodite ou Vênus), que traz o nosso destino: recebermos do Espírito da Assim como você se comportaleito nupcial; o valente Marte; Mercúrio Vida lágrimas, riso, ira, geração ou procriação, diante da alma quando ela estáou Hermes, com suas asas velozes; e Zeus, inteligência, sono e desejo. As lágrimas são de no corpo, assim também elao mais velho e a fonte primordial de Cronos ou Saturno; a geração é Júpiter; a se comportará diante de vocêonde se originou a natureza. fala é Mercúrio; a fúria é Marte; o sono quando ela tiver deixado oA eles é atribuído o gênero humano e, as- é a Lua; o desejo é a deusa de Kythera, corpo!”sim, a Lua, Júpiter, Marte,Vênus, Saturno, Afrodite ou Vênus; e o riso é do Sol, pois, No decorrer dos séculos, graças a ele, sorri todo mortal sensato e o muitos pensadores chegaram cosmo infinito com boa consciência”. à conclusão de que o que Isso era considerado um ensinamento resta para o ser humano é sua universal. Os planetas nos fornecem as capacidade de tomar a decisão características humanas gerais e, nesse correta graças a seu anseio de sentido, todo homem é um microcosmo. ser bom, de praticar o bem Nessa época, o ser humano via a si e, cheio de alegria, crescer na mesmo muito menos como um indiví- beleza, na verdade e no bem. duo do que nos dias de hoje. Os deuses E isso ele aprendeu na Terra, concediam aos homens atributos pelos graças a seu corpo, graças às quais, certamente, eram guiados e viviam. dádivas dos deuses em sua Era assim que acumulavam experiências. alma e graças ao Espírito eter- De acordo com os herméticos, todos no, imortal, que, no âmago de esses planetas exerciam influências sobre seu ser e no silêncio, pensa, a vida. Diziam que o mundo, o cosmo, é pondera, percebe e entrega-se o corpo de Deus. E o homem é uma ima- permanentemente e é uma gem em miniatura desse corpo cósmico: eterna alegria. Assim nos ensi- um microcosmo! “A alma foi obrigada a na Hermes. entrar no corpo”, diziam os herméticos. E, com isso, ela passa por experiências e aprende a ser boa e a ansiar pelo Bem Absoluto, pela perfeição. Esse é o objetivo do nascimento neste mundo, que vale para todos os seres hu- manos. Nas palavras do próprio Hermes: “Assim como o corpo deixa o regaço materno quando está maduro, também a alma deixa o corpo quando alcança a perfeição. Ora, assim como o corpo em estado não amadurecido não está pronto para deixar o regaço materno, também a alma não consegue continuar vivendo quando deixa o corpo em estado de im- perfeição. A perfeição da alma significa ter Sol poente a 348 km sobre o Oceano Pacífico. Foto da (Estação Espacial Internacional) 2003 27

Um bom começo 28 conteúdo

vida é cheia de possibilidades para um bom começo, a todo dia, a toda hora, para todo ser humano. Normalmente Ao começo é rotineiro, até insignifi- cante. Mas, na verdade, todo começo é um dos acontecimentos mais importantes de nossa vida! No mundo material, vemos que tudo começa pe- queno. Por maior que seja um rio, ele começa como um pequeno riacho que até um gafanhoto pode cruzar sem esforço. A maior inundação começa com gotas isoladas de chuva. O carvalho, árvore forte que suportou milhares de tempestades de inverno, já foi um dia uma pequena semente. E levemos em conta que, também no mundo espiritual, as maiores coisas surgem do menor começo. Uma inspiração pode significar o nascimento de uma descoberta magnífica ou de uma obra de arte imortal. Um pensamento puro, firme, pode resultar no emprego de uma força regenerativa universal! Existe um bom começo e um começo equivocado. Ambos têm seus próprios efeitos. Com pensamentos cuida- dosos, podemos evitar enganos e realizar um bom começo. Assim, podemos driblar os maus resultados e apreciar os bons. Pensamentos puros, altruístas, amorosos e amigáveis são um bom começo e levam a resultados maravi- lhosos. Isso é muito simples, óbvio e absolutamente verdadeiro, porém é inteiramente ignorado, des- considerado e tão mal compreendido! Ora, nossa vida toda é uma série de consequências cujas causas estão em nossos próprios pensamen- tos! Todo o nosso comportamento é determinado e moldado por nossos pensamentos. Com efeito, todas as ações, tanto as boas como as más, são pensamen- tos que se tornaram visíveis!29

Saiba o que você tem 30 Scoainbtaeúodqoue você tem de fazer

m de fazer Arte de rua, Bansky, sem data, Londres 31

elo amor de Deus! Faça (1951- )*, que mostra como intenções bem está sempre acompanha- alguma coisa!”, grita- conscientemente invocadas (como pedi- do do mal. Embora seja verda- va mamãe. “Saia desse dos ou súplicas), individualmente ou em de que o Bem Único merece grupo, podem influenciar os fatos. A partir ser buscado, devemos estar“P sofá!” Impossível ficar de experiências realizadas cientificamente, conscientes de que ele não sem fazer nada. Para ela, ela demonstra que a consciência governa a faz parte do mundo material. “a mente ociosa é uma oficina do diabo”. matéria – mesmo que a ciência tradicional O homem que compreendeu Na Europa, a grande “palavra de ordem” não queira reconhecer isso. Nossa influên- a importância essencial da ainda é, sempre, “trabalhar”. A ética do cia sobre tudo o que nos rodeia, baseada serviçabilidade deve praticá-la, trabalho deveria evoluir no sentido de uma em tudo que imaginamos, é essencial. mesmo que isso sempre seja ética de distribuição de tarefas. Assim, o A Escola Espiritual da Rosacruz Áurea um equívoco, mesmo que isso tempo livre também seria distribuído de considera que, acima de tudo, o serviço pareça sem sentido. E isso, até forma mais justa. Mas e depois? O que fa- ao próximo está ligado a um trabalho que ele consiga entender que zer com esse tempo? Entre alimentar nosso interior e requer, em primeiro lugar, certa o Universo – como se cos- “grande ego” de consumidor e “servir calma e equilíbrio. J. van Rijckenborgh tuma dizer hoje em dia – o ao próximo”, existem muitas gradações aconselha que os alunos permaneçam em Plano Divino, de acordo com possíveis. A noção de “grande ego” vem perfeita tranquilidade: “Dentro e fora do o conceito rosa-cruz – encon- do humanista holandês Harry Kunneman templo, estareis em perfeita quietude de tra um jeito de mostrar ao ser (1948- ), que lhe atribui três caracterís- alma, entrareis num profundo silêncio, em humano seu real significado e ticas: torna-se cada vez maior (o consu- profunda serenidade. Esse estado de ser a real intenção da vida. Quais midor desenfreado); fica inflado (sente-se brevemente será de absoluta necessidade são nossos valores? Hoje em importante); e é muito resistente. É inútil para vós, para que não vos deixeis absor- dia, no mundo todo, somos condenar moralmente esse “grande ego”, ver pelas violentas emoções da natureza arrancados de nossa zona de pois ele cai em todos nós como uma luva. da morte. Somente com a paz da alma conforto. As atrocidades estão E isso també para a economia, a política e podereis continuar a navegar o mar da vida caindo sobre nossas cabeças e a ecologia. Para Kunneman, a humanidade e retornar à casa do Pai.”* as vítimas delas estão batendo se comporta como um “grande ego”. Ain- Isso nos faz compreender a frase de Lao à nossa porta. Assim, vamos da assim, muitas pessoas optam pela alter- Tsé no livro A Gnosis Chinesa¹: “Por isso fazer o que nossas mãos nativa de estar a serviço do próximo. Mas o sábio adota o não fazer; ele exerce o encontrarem para ser feito, a questão é como dar um sentido a esse ensinamento sem palavras”. Pelo não fazer, mesmo que isso também nos serviço. As necessidades são imensas, tanto tudo se realiza. Somente a auto-entrega ao seja arrancado: se alguém que no plano material quanto no espiritual. silêncio pode dar ao ato concreto a devida possui as riquezas desse mun- Por onde começar? Uma regra simples: intenção. AVoz do Silêncio diz: “Tanto a ação do, vendo seu irmão ou irmã fazer o que as mãos acharem para fazer. como a inação podem caber em ti”. Mas em necessidade, lhe fechar o Quando estamos abertos, o que temos de logo após ela acrescenta este aviso: “Se- coração, onde estará, então, fazer aparece naturalmente! Você recebeu meia boas ações e colherás o seu fruto. A seu amor a Deus? AVoz do Silên- um talento. Talvez dez. Talvez mil. Utilize- inação num ato de misericórdia passa a ser cio diz: “Se porventura quiseres -os! O filósofo alemão Wilhelm Schmid a ação num pecado mortal”. De qualquer colher a doce paz e a quietude, (1953- ) dá a seguinte definição: “Trabalho forma, devemos agir, pois estaríamos sen- então, discípulo, semeia as é tudo o que eu faço em relação a mim e à do altamente falhos se permanecêssemos sementes do mérito no campo minha vida para poder levar uma vida que passivos nas ocasiões em que a caridade da colheita esperada. Aceita seja linda e valiosa”. Essa definição ignora é uma necessidade. Façamos o que nossas as dores de teres nascido”. Se conceitos como “sálario” e “voluntaria- mãos acharem para fazer! O que fazemos aceitarmos a vida tal como ela do”, e fala sobre a intenção que motiva não é o mais importante, visto que, na se apresenta a nós, a partir da todo e qualquer trabalho e sobre os valores vida material, estamos sujeitos à lei dos assimilação desse repouso da que prevalecem. Outra perspectiva interes- opostos, pela qual consequentemente o alma, então a alma receberá sante é a da americana Lynne McTaggart 32 Saiba o que você tem de fazer

a inspiração para agir espontaneamen- sa, sempre presente, que nos acompanha Arte de rua, Bansky,te, a partir de seu próprio interior, em com base na nova compreensão adquirida sem data, Londresum “não-fazer que tudo realiza”. Nos- com a autorrendição. É essa compreensãoso estado de ser irradia através de tudo; que lhe dará o entendimento daquilo quevamos acompanhar nosso próximo sendo você tem de fazer...simplesmente humanos! Ninguém ficaráde lado, pois, como diz AVoz do Silêncio²: ¹Rijckenborgh, J. van e Petri, Catharose de, A“Não creias que sentando-te em florestas Gnosis Chinesa, capítulo 15 (II), p. 163. Editoraescuras, em orgulhosa reclusão, longe dos Rosacruz, 2006, Jarinu - SPhomens [...] isto te levará à meta da liber- ²Blavatsky, H. P., AVoz do Silêncio, tradução detação final”. Fernando Pessoa, Fragmento II p. 149-154.Em meio a todas as aflições e sofrimentos Editora Teosófica, 2011, São Paulo - SPque despertam em nós intensa compaixão * Lynne McTaggart, O experimento da intenção,pela humanidade, há uma alegria silencio- Editora Rocco, 2010. 33

ensaioAlunos do Trinity College, de Cambridge, escutam uma palestra sobre a contribuição da Arqueologia para acompreensão das mudanças climáticas: 2013, Inglaterra 34 Platão e sua teoria das Ideias

TEXTO W.K.C. GUTHRIEPlatão e sua teoria das Ideias Neste ensaio destacam-se os tratados universais da libertação da alma. Os diferentes Diálogos aos quais W.K.C. Guthrie se refere tratam do planejamento ideal da Cidade-Estado. No entanto, e sem nenhuma dúvida, eles podem ser igualmente considerados uma pura imagem gnóstica primordial, a mesma em que se basearam os fundadores da Rosacruz Áurea para conceber a Escola Espiritual. Ao longo das oito décadas em que viveu, e particularmente durante seus anos de grande maturidade, Platão se sentiu cada vez mais atraído pelo mundo do ser-em-si, da consciên- cia do ser, atraído pelo mundo que se situa além e fora do campo limitado da percepção sensorial e mesmo além dos fluxos de pensamentos, ou seja, do espírito móvel; cativado pelo mundo do imutável e do permanente, que não morre nem nasce. É provável que ele não tenha abordado esse tema senão com os vinte e oito alunos que formavam o grupo central de sua Escola e que ele recebia em sua morada. Aos outros estudantes de sua Academia, ele devia expor um sistema de conhecimentos mais gerais. 35

P ara melhor compreender o foram desastrosas, particularmente em so e a manifestação de amor ensinamento de Platão, é pre- Atenas, onde a organização da Cida- à pátria constituíam uma ciso começar por considerar de-Estado independente era a mais única e mesma prática. Nes- sua obra o resultado de suas desenvolvida. sa Cidade-Estado, a deusa duas motivações principais. A Essas rivalidades causaram as consecu- Atenas, protetora da cidade,primeira delas era a intenção de reto- tivas derrotas de Atenas, mas também, desfrutava da supremacia. Amar o fio da obra de Sócrates, exata- e sobretudo no plano moral, o sofri- Acrópole – que ainda hojemente no ponto em que foi interrom- mento da população diante do cresci- domina a cidade de Atenas,pida, a fim de perpetuar o ensinamento mento da força de diversos tiranos. Isso coroada por seu grandede seu mestre e de defendê-lo contra foi acompanhado da aparição de novas templo – era consagradainevitáveis questionamentos e ataques. luzes sob a forma de novas ideias filo- exclusivamente a Atenas.Mas Platão não se deixava apenas guiar sóficas, que contribuíram para minar No dia de sua festa, aconte-por motivações de natureza pessoal ou ainda mais o sustentáculo das antigas cia a cerimonia mais impor-pelo respeito a seu mestre. Uma segun- tradições, ou seja, dos usos e costumes. tante do calendário anual.da motivação o animava também. Era Ora, a gestão e a sobrevida da peque- Essa estreita relação doo desejo de desenvolver e defender o na unidade da Cidade-Estado que era Estado e do culto se encon-conceito inacabado da Cidade-Estado Atenas repousava em grande parte em trava também na legislaçãocomo unidade política e socioeconômi- um funcionamento ligado a suas velhas ateniense. As consecutivasca independente. tradições. sansões às infrações às leisPlatão pensava poder alcançar seu ob- baseavam sua autoridade najetivo retomando o desafio lançado por Impossível imaginar qualquer vida tradicional crença da ori-Sócrates aos sofistas e aprofundando religiosa pessoal gem divina da legislação,ainda mais o conceito de Cidade-Es- Para uma compreensão mais ampla pois as leis haviam sidotado. Mas o destino da Cidade-Estado do assunto, devemos nos dar conta comunicadas aos primei-livre seria selado pelas conquistas de de quanto, nessa época, o Estado e a ros legisladores do mesmoFilipe da Macedônia e de seu filho, religião estavam interligados. Não se modo como as Tábuas da LeiAlexandre o Grande, que tiveram como tratava de substituir a Igreja pelo Esta- o foram a Moisés. Aos olhosconsequência a submersão da pequena do, pois existia somente um conceito dos atenienses, as primei-unidade da Cidade-Estado nas ondas de unindo essas duas ideias: apenas um ras leis provieram do deusreinos macedônios que se desenvolviam conjunto de regras e de modos de agir. Apolo, que tinha a funçãocom base em um modelo semi-oriental. A ideia de Igreja não existia e não se de profeta ou mensageiroO aumento dos grandes impérios pôs concebia mesmo tal instituição inde- de Zeus, o Pai dos Deuses. Afim, de maneira radical, ao processo de pendentemente do Estado. grande maioria dos indiví-declínio que se manifestou após certo Os deuses eram venerados nas ceri- duos nem mesmo imaginavatempo na Grécia de então. monias organizadas pelo Estado, e a possibilidade de uma vidaParte das causas desse declínio cer- participar delas fazia parte dos deveres religiosa pessoal. O esforçotamente foram de ordem política – a comuns do cidadão. Atenas contava com de Atenas por se manter eracomeçar pelas rivalidades entre cida- grande variedade de templos consagra- tão grande, que uma alter-des gregas, nas quais as consequências dos a diferentes deuses. O culto religio- nativa proposta por outra 36 Platão e sua teoria das Ideias

corrente de pensamento tinha poucas constituição a ela ligadas naufragassem Em Atenas,chances de êxito. Além do mais, essa irremediavelmente no niilismo ateu as primeirasalternativa seria imediatamente vista existente. Os fundamentos tradicionais leis provieramcomo se levasse à criação de uma força da sociedade estavam triplamente amea- do deus Apolo,subversiva capaz de atentar contra a çados: pela observação e análise dos que tinhaordem estabelecida; e ousar questioná- fenômenos da natureza, pelo sofismo a função de-la supunha a vontade de modificar os ateu e pelo pensamento místico. No profeta oufundamentos da sociedade. Mas nenhu- que diz respeito ao terceiro ângulo de mensageiroma defesa de natureza sociopolítica da ataque, é suficiente prestarmos atenção de Zeusordem estabelecida poderia proteger a certo número de livres pensadores,permanentemente esses fundamentos dentre os quais os mais influentes eramcontra tais ataques. Portanto, era preciso os que se apoiavam nas obras atribuí-que a elaboração do sistema de organi- das a Orfeu. Seu ensinamento atacava azação da Cidade-Estado fosse atribuída ordem estabelecida na medida em quea um tipo de autoridade transcendente afirmava que a religião se relaciona àe absoluta. Uma defesa razoável dessa alma de cada um e não a seus deveresordem estabelecida e de suas institui- para com o Estado ou a comunidade.ções seria concebível apenas sobre essa Quanto aos que analisavam os fenôme-base. Tal ponto de vista dificilmente nos da natureza, sua crítica consistia napoderia se distanciar de um universo ideia de que os deuses, segundo eles,fundamentado numa concepção absolu- não podiam de modo algum existir sobta do divino. a forma apresentada por Homero. O terceiro ataque, o da escola sofista,Antropomorfismo religioso, niilismo, residia na afirmação de que a legis-ateísmo, contestação lação da cidade não podia ser de fatoAinda era difícil referir-se a Homero e a uma inspiração divina, uma vez que osseu panteão de divindades que, quatro deuses eram apenas invenções humanas,séculos antes, haviam sido considera- portanto revogáveis.dos capazes de tomar a forma humana.Isso, sem evocar os ataques cínicos que Defesa do helenismo em prol da cidadeocorreram a esse respeito da parte dos Essas três contestações eram correntesfilósofos ateus chamados sofistas, pois no tempo de Platão. Ora, este tinhatal visão já estava ultrapassada no tempo espírito prático e havia renunciado àde Platão. A visão antropomorfa do sua carreira política com o objetivomundo divino já não podia se manter de poder se consagrar inteiramente àna sociedade da Atenas do século 4 a.C., elaboração de um sistema de governo.quando ela alcançara o nível de desen- Duas possibilidades se apresentavam avolvimento do pensamento abstrato. ele: ou seguir a tendência do momen-Mas o fato de a visão antropomórfica to e reconhecer que a concepção dado panteão ter sido considerada ul- Cidade e a estrutura de sua organizaçãotrapassada não significava que nada pertenciam ao passado – neste caso,pudesse substituí-la. Isso evidentemente ele poderia contribuir para a demoliçãoera mais que necessário para garantir da obra e, sobre suas ruínas, tentara sobrevivência dessa sociedade que reconstruir uma sociedade e umase transformava rapidamente. Além religião novas – ou utilizar todas asdisso, havia o risco de que a moral e a suas forças para manter a Cidade e 37

Naturalmente não era possível tornar públicos os projetosreferir-se a Homero e a seu panteão criminosos de seus inimi-de deuses antropomorfos gos, tomando deles o queindisciplinados tivesse valor para reforçar o sistema tradicional enfra- quecido. Mas, em qualquer dos casos, não era necessário que as abordagens políticas, religiosas ou metafísicas se contradissessem. Muito pelo contrário. Nenhuma mudan-38 Platão e sua teoria das Ideias

A gruta de Platão? Crystal Cave, Parque Nacional da esse ideal: conceber uma reforma preservar evitando compor-Sequoia, Califórnia, EUA da sociedade tendo como ponto de tamentos individuais indese- partida não a supressão da Cidade como jáveis e liberdades que, porça real no pensamento político poderia forma de organização, porém melho- fim, sempre poderiam fazerser obtida sem uma mudança paralela rando-a e consolidando suas institui- surgir forças destruidoras.na concepção geralmente aceita sobre a ções e práticas. Somente se a Cidade pudes-natureza e a realidade. Percebendo tudo se conservar sua homoge-isso claramente, Platão decidiu agir com Fornecer à comunidade inteira uma neidade – sua “harmonia”,toda a sua força em defesa do helenis- vida feliz assim exprime Platão – elamo e da salvação da Cidade. O fato de Em A República, os membros da classe manteria seu funcionamen-ter publicado A República no início de sua dirigente estão submetidos ao interesse to por mais tempo. Essacarreira de autor e que suas Leis tenham geral, em um grau de obediência que harmonia baseia-se na ideiasurgido pouco antes de sua morte mos- pode parecer excessivo a nossos olhos. de que todos os cidadãostra que ele devotou toda a sua vida a Aos cidadãos mais eminentes e mais veriam como necessária a dotados, eram retiradas posses e fa- adequação entre a função a mília; a educação das crianças deveria desempenhar na Cidade e ocorrer sob a vigilância da comunida- as capacidades exigidas para de; direitos e deveres eram atribuídos assumi-la. segundo um sistema quase incontestá- vel de distinção de classes que poderia Tomar consciência do con- chocar nosso mundo e nossa sociedade. ceito e da realidade Em A República, Platão atribui a um de O fato de Sócrates ter sido seus auditores a característica segundo o inspirador do platonismo a qual, nesse novo modelo de socie- não é de admirar, pois ele dade, os que são chamados a se tornar demonstrou claramente essa dirigentes não parecem destinados a coerência durante sua deten- uma vida particularmente agradável: ção. Enquanto seus amigos e de fato, eles não poderão nem possuir adeptos premeditam liber- nem alugar uma casa ou qualquer outro tá-lo, ele lhes responde: bem; deverão viver em comunidade, “Mas dize-me, achas que como num quartel militar e, conforme se deva ter atenções para salienta Sócrates para tornar a carac- com todos ou não procurar terística ainda mais cáustica e cínica, comprazer a ninguém, a “sem mesmo receber pagamento”. Ele ninguém obedecer, nem se justifica assim: Nosso objetivo ao a um estratego nem a não criar esta sociedade não é tornar certa importa que magistrado?” classe feliz ao privilegiá-la, mas propor- Nesse contexto, a pergunta cionar à comunidade inteira uma vida capital surge diretamente da feliz. A forma de organização proposta teoria do próprio Sócrates. em A República é a sequência lógica da De fato, de maneira simples adesão ao conceito de base da Cidade. e muito original, ele tenta Mas Platão havia compreendido que não fazer as pessoas melhores e haveria futuro para ela se as consequên- convencê-las de que, para se cias dessa forma de organização não tornarem senhoras de sua fossem aceitas. Ele pensava mais preci- alma, deveriam trabalhar samente que a comunidade deveria se nela por si mesmas, pois 39

isso era de sua própria responsabili- a ocupar-se por si mesmo da saúde de Em suadade. Ele tentava fazê-las compreender sua alma. O método que ele propu- maioria, osque não deveriam se limitar a observar nha para o autoexame e sobre o qual gregos erame respeitar as diferentes formas e ex- insistia tanto era de fato novo naquela pragmáticos;pressões de virtude possíveis – como os época. Os gregos eram em sua maio- tinham os doisatos justos, corajosos e caridosos – mas ria pragmáticos; eles tinham os dois pés bemque deveriam fazer de tudo para mos- pés bem cravados no chão. A psique e o cravados notrar a si mesmas claramente o sentido e mundo da alma não eram coisas que chão. A psiqueo valor das noções de justiça, coragem lhes interessassem diretamente. Eles e o mundo dae amizade que norteiam os próprios podiam se satisfazer com noções vagas, alma não eramatos. É pouco provável que Platão tenha suscetíveis de interpretações diver- coisas que lhessido o primeiro autor a identificar essa gentes, transmitidas desde Homero e interessassemproblemática, mas parece evidente que estabelecidas como definitivas havia diretamenteas incessantes e pertinentes questões quatro séculos. A noção de psique, porapresentadas nesse sentido por Sócrates exemplo, trazia-lhes a imagem de umaos espíritos céticos de seus contem- sopro ou de uma substância etérea queporâneos atenienses tenham suscitado animava o corpo, mas que ao mesmonumerosas interrogações e reações. tempo dependia dele, fazendo-o agir.Tomemos este exemplo: “Sócrates, seu Quando a morte levava o corpo, a psiqueconvite a uma conduta virtuosa parte da se encontrava desprovida de abrigo esuposição capital segundo a qual existiria condenada a penetrar numa existênciaalgo como a justiça e a virtude indepen- crepuscular, privada de força. Mesmo osdentemente de atos concretos nos quais modernistas do tempo de Sócrates, queestas se manifestam. Ora, é verdadeira- esperavam que os mistérios lhes ga-mente conveniente supor que exista no rantissem uma melhor existência apósabsoluto, e separadas do homem, uma a morte, ficavam admirados diante dajustiça e uma virtude? A realidade dos visão totalmente nova segundo a qual afatos nos mostra que certos homens, psique era a morada de todas as proprie-em momentos diferentes e em épocas dades morais e intelectuais do homemdiferentes, agiram de uma maneira que e tinha infinitamente mais importân-qualificamos de justa ou de virtuosa. Mas cia que o corpo físico. Para encarar anenhum desses diferentes atos pode ser inevitável crítica e a fim de que todas asidentificado com a virtude ou a justiça novas concepções pudessem se impor,perfeita às quais buscamos precisamente era necessário introduzir paralelamentedar uma definição. No máximo podemos os dois eixos de incidência da filosofia,dizer que esses exemplos são aproxima- que são a metafísica e a moral. As qua-ções rudimentares da perfeição e que na lidades requeridas para essa tarefa eramverdade apenas existem atos individuais e excelentes em Platão. De fato, contra-isolados. Se tal conceito universal não de- riamente a Sócrates, ele buscava esta-vesse de fato existir, que se teria a ganhar belecer uma definição da natureza daem buscar a todo preço tal quimera?” própria realidade e alcançar conceitos abstratos em estreita ligação com a mo-O novo: ocupar-se por si mesmo da ral. Para refletir sobre grandes questõessaúde de sua alma como “O que é o ser? O que é real e oUma segunda objeção que não tardou que não é?”, Platão inspirou-se em seusa surgir estava na instigação de Sócrates predecessores, Heráclito e Parmênides. 40 Platão e sua teoria das Ideias

Fontes das concepções de Platão ca – visão que as teorias de Heráclito outra forma, os conceitosO ensinamento de Heráclito diz essen- ameaçavam conduzir ao caos devido à são relativos e não há umacialmente que no mundo do espaço mutabilidade das coisas. regra geral.e do tempo tudo está em movimento Platão estava convencido de que deve- Atualmente, muitos céticosconstante, tudo está submetido a um ria haver respostas a essas questões. Ele considerarão mesmo injusti-contínuo processo de mudança, que recorreu ao único caminho possível de ficada toda generalização dea mudança jamais cessa, que, de fato, resolver esse aparente dilema. Ele afir- conceitos. Como consequên-nada é o mesmo duas vezes. mou que o que é conhecido – portanto cia, eles não concordarãoA consequência desse ensinamento é os objetos de conhecimento – pode sobre a qualidade de umque de fato não pode haver conheci- ser definido e ter existência, mas esses bom vinho ou de um bommento do mundo. Porque se tudo se conceitos não deveriam ser confundi- esportista. É preciso notartransforma continuamente, e jamais dos com o que percebemos no mundo que no conceito platônico aspermanece idêntico a si mesmo, não é físico. Eles existem num mundo ideal, duas acepções estão presen-possível conhecer o que há um mo- onde tempo e espaço não estão presen- tes quando se fala da Ideiamento era diferente. O conhecimento tes. Aqui reside a origem da Ideia platô- ou do Bem.supõe que haja algo de conhecimento nica, derivada da mesma palavra grega Platão nos diz que essasestável e permanente. que anteriormente portava o sentido de Ideias são conceitos absolu-Parmênides opunha-se a essa tese e de- forma ou padrão. tos, separados, que existemfendia a ideia de uma realidade estável O significado do termo ideia, como o de maneira autônoma aléme imutável. Mas essa realidade somente empregamos correntemente hoje, peca das limitações fornecidaspoderia ser descoberta pela atividade do pela omissão do fato de que as ideias pelo espaço e tempo, casoespírito, pois ela é de fato separada do podem existir de modo completamente contrário o conhecimentomundo transitório, objeto dos sentidos. independente além de nossa capacidade se tornaria um sonho fútil,Somente pode ser conhecido o que é de representação, além mesmo de nosso e seu objeto, uma quimera.imutável, invariável, eterno, além do próprio espírito. A crença em um mundotempo e espaço. Quanto aos sentidos, A acepção platônica de ideia nos leva a de ideias absolutas ou deeles nos põem em contato com esse representá-la como um tipo de substân- conceitos independentes éoutro mundo de mudanças, perecível e cia, à qual Platão atribuía uma existên- razoavelmente possível parapassageiro. Essas eram as reflexões que, cia autônoma e perfeita. Podemos facil- tentar encontrar uma defini-depois de Parmênides, Platão usava para mente criar uma ideia original com os ção dessas noções. Assim, éfazer a ligação com as questões propos- conceitos de bondade e igualdade. Isso possível captar sob um de-tas por Sócrates com relação aos pre- nos permite dizer que há algo comum nominador comum – comoceitos a serem ensinados sobre conduta em situações diferentes, como quando o Bom – fenômenos ligadosracional e moral. Além do mais, ele falamos, por exemplo, do bom vinho, a coisas tão diferentes comoacrescentava a isso seu interesse pri- do bom esportista, de oportunidades o vinho e o esportista.mordial pela matemática pitagórica. iguais ou de um triângulo equilátero. Podemos agora imaginar um Se não houver uma base comum, mundo ideal onde se situa-A Ideia, conceito não identificável quando o mesmo conceito é aplicado a riam os conceitos funda-existente além do espaço-tempo situações diferentes, toda comunicação mentais da natureza, perfei-Platão queria a todo custo resolver dois entre as pessoas será impossível. Essa tamente puros e eternos.problemas: de um lado, o da reunião da base comum é chamada ideia, conceito Quanto à existência aparen-herança de Sócrates com a existência de ou noção, como por exemplo a bon- te do mundo material, elanormas absolutas de conduta; de outro, dade ou a igualdade. O resultado dessa decorre de seu maior ouo da existência ou da não-existência de visão não está de acordo com o modo menor envolvimento e parti-um mundo suscetível de ser compreen- de ver moderno, segundo o qual gostos cipação na existência plena edido de maneira puramente científi- e cores não se discutem ou, dito de perfeita do outro mundo. 41

O coração e a razão falam de um Platão ampliou essa primeira ideia a caos e na divisão. Em seumundo ideal fim de nela incluir todos os fenômenos tempo, tratava-se obviamen-Devido ao fato de essa visão das coisas e criaturas da natureza. Consequente- te de um modo totalmenteparecer muito com uma crença reli- mente, hoje somos capazes de consi- novo de ver, e as premissasgiosa e com uma experiência mística e derar formas diferentes, peculiares a eram bem menos evidentesdificilmente poder ser baseada em ar- uma espécie ou raça – os cavalos, por do que o são para a maioriagumentos razoáveis, Platão muitas vezes exemplo – como parte do conceito de nossos contemporâneos.recorreu a comparações e alegorias para mais genérico de “cavalo”. Isso, apesar Por um lado, havia o pensa-descrever a relação entre os dois mun- da manifestação dessa imagem ideal mento de Heráclito, segun-dos. Mas ele se ateve explicitamente ao perfeita e absoluta de “cavalo” não do o qual tudo muda, opensamento que a razão pode, de fato, poder ser aplicada com exatidão aos que obstaculizava para umademonstrar a existência desses dois reflexos limitados e imperfeitos que são abordagem analítico-cien-mundos. os cavalos do mundo físico. tífica dos fenômenos. PorNo entanto, esse pensamento também Em Fédon, Sócrates diz: “O que me outro, havia o ensinamentotem um significado que ele junta à parece é que, se existe algo belo além de Parmênides, que alegava,noção de razão, maior, portanto geral- do belo em si, só poderá ser belo por ao contrário, que tudo que émente aceita, que compreende somente participar do belo em si”. real é eterno e imutável.argumentos lógicos, mecânicos. Segun- Se devêssemos relacionar essa decla-do Platão, a razão inclui também indis- ração com nossos usos linguísticos e Suposições engendraramcutivelmente o pensamento conduzido científicos, diríamos que só considera- os alicerces da ciênciapelo sentimento e pelo silêncio con- mos científico um fenômeno que possa modernatemplativo, que leva ao que é correto e ser incluído numa classificação, numa O ensinamento de Platãorazoável. ordem. Isso implica em que devemos tem muito mais pontos deAristóteles considerava o emprego de ter conhecimento prévio da classe em contato com nosso pen-comparações uma imperfeição, mas não que esse fenômeno poderá se encaixar. samento moderno do quepodemos ver Platão procedendo de ou- A maioria das pessoas que conhece- estamos inclinados a admitirtra forma. Ele fala às vezes desse mundo mos acharia difícil compreender uma num primeiro momento. Sa-ideal como de um modelo do mundo declaração feita dessa forma e não ber se nosso modo de pen-físico observável pelos sentidos, como seguiria Platão facilmente quando ele sar se fundamenta no uso deseu reflexo, conforme as limitações da atribui a essa classificação uma exis- conceitos gerais, abstratos ematéria o permitem. Outras vezes ele tência própria e independente, como a impessoais que, dessa forma,fala do mundo físico como partícipe uma Ideia separada do espírito humano. têm um caráter autônomoda existência do mundo ideal. Uma Essa dedução de Platão repousava numa e absoluto, é uma perguntade suas comparações favoritas é a que escolha sua, pois, como Sócrates, ele que de fato não nos fazemos.estabelece entre o ator de teatro e sua estava firmemente convencido da possi- Nas ciências, por exemplo,interpretação do papel que ele deve de- bilidade e da realidade de uma aborda- partimos da imutabilidadesempenhar e o papel e a interpretação gem científico-analítica para estabelecer do que é chamado “lei”.inicialmente imaginados pelo autor. alguns tipos e princípios básicos. Uma Mas um homem das ciências abordagem que, por fim, desembocou interrogado a esse respeitoOs conceitos subjacentes à nossa cul- na cultura científico-tecnológica que responderia que a adoçãotura científica tecnocrática conhecemos. de leis procede, na verdade,Os ensinamentos de Sócrates chegaram Platão e Sócrates também estavam con- unicamente da necessidadea nós graças a Platão. De fato, foi Sócra- vencidos da necessidade de uma ética de facilitar um uso prático.tes quem introduziu pela primeiríssima social baseada em normas absolutas, Na realidade, a formulaçãovez a questão de Ideia, ou do conceito sem a qual a sociedade estaria irreme- de uma lei nada mais é querelativo a noções morais e intelectuais. diavelmente condenada a perecer no a formulação de altas proba- 42 Platão e sua teoria das Ideias

bilidades e de aproximações da verdade físicos distintos e diferentes. Para Platão, ae da realidade. No entanto, isso não nos é suficiente, razão inclui tam-Parece, no entanto, que tais suposições pois, como na Grécia de Sócrates, hoje bém, indiscutivel-puderam se tornar o fundamento de usamos corriqueiramente esses concei- mente, o pensa-importantes alicerces da taxonomia tos gerais e esses termos abstratos de mento conduzidocientífica moderna. E isso baseado em modo ainda mais superficial e irrefleti- pelo sentimentoverdades e realidades supostamente do sem nos atermos aos seus verdadei- e pelo silêncioimutáveis, às quais essas leis conferem ros significados. contemplativo,sua força. Se tivéssemos certeza de que Platão estava muito consciente de que que leva aoessas mesmas leis seriam aplicadas no esses conceitos abstratos e gerais en- que é correto efuturo assim como foram no passado, a carnavam uma realidade transcendental razoávelciência não faria nenhum progresso. não material, se bem que insistisse naNessa abordagem científica trata-se, importância de instigar Sócrates a seportanto, de fé e confiança, desde que dedicar a um profundo autoexame paraestejamos abertos para atribuir a esses encontrar o significado preciso dessesconceitos abstratos um valor transcen- conceitos. Mas se partimos da hipótesedental e absoluto. da existência de um mundo perfeito eA notável ambiguidade de nosso pen- eterno, no qual as leis e os modelos dosamento moderno é que utilizamos mundo físico perceptível são fixos, e aconceitos e leis como se fossem absolu- seguir de que esses dois mundos sãotos e imutáveis, enquanto pensamos, ao mais ou menos mesclados e intrincadosmesmo tempo, que elas não possuem de modo que a realidade das formasde modo nenhum essa existência autô- transcendentes pode ser mais ou menosnoma e absoluta. transmitida às formas físicas, entãoPodemos ver a prova no fato de que podemos nos perguntar onde e comodenominações diferentes são utilizadas entramos em contato com essas formaspara designar certas doenças, como a e conceitos abstratos, onde e como pu-gripe, por exemplo. A gripe é um con- demos reconhecê-los e utilizá-los comoceito geral que inclui muitos sintomas ponto de referência e verificar que essadiferentes, suscetíveis de se manifestar ou aquela ação pode ser consideradasem jamais serem de fato idênticos. boa ou bela.No entanto, falaremos sempre de gripecomo um dado absoluto existente por Cuidar da alma para a saúde de suasi e evidentemente real. Nossa expe- própria psiqueriência nos faz dizer que há pessoas Tendo chegado a esse ponto, Platãodoentes e não que existe uma doença. confirma outro aspecto do ensinamento de Sócrates, desenvolvendo-o à luz daMescla do abstrato e do concreto tradição religiosa mística dos adeptosPodemos, portanto, afirmar que, em de Orfeu e de Pitágoras.certo sentido, Platão defendeu e elevou Esse outro aspecto é a incitação inces-a determinado nível filosófico o que sante de Sócrates a seus ouvintes dea maioria de nós admite inconscien- tomar sobre si a responsabilidade dotemente como uma evidência. Isso cuidado da alma para a saúde de suasignifica que existem efetivamente própria psique.conceitos absolutos, autônomos e Platão entendia que o ponto que religa-intangíveis que mesclam fenômenos va o mundo eterno e transcendental das 43

ideias ao do espírito ligado ao corpo intemporais e dos conceitos que estão A doutrina do mundo idealsituava-se nas doutrinas dos reforma- além do mundo físico sensorial. depende inteiramente da fédores religiosos no que concerne ao Mais que ser uma catástrofe para a inquebrantável na alma eter-gênero e à natureza da alma humana. alma, a morte do corpo lhe dá a opor- na, ou seja, do reconheci-Conforme vimos, a visão corrente dos tunidade de se renovar no néctar e de mento de sua preexistência.gregos sobre a matéria era vaga e super- viver na vida real. Desse ponto de vista, Somente então o processoficial. Eles pensavam que, sobrevindo o o corpo é como uma prisão ou um cai- de aprendizado pode serperecimento do corpo, a alma em de- xão, no qual a alma espera ser libertada compreendido como relem-clínio se encontraria exilada como um para retornar ao mundo ideal onde resi- brança, porque a observaçãosem-teto e se dissiparia como fumaça, dia antes de se unir a um corpo. dos fenômenos e dos fatosconforme diz Homero, reduzida a umaexistência vaporosa, fluida e sem vita-lidade. Para explicar o caráter insensatode tal visão das coisas, Sócrates pressio-nou o raciocínio a ponto de prevenirseus amigos que assim pensavam deque, se o dia de sua condenação fosseuma jornada de tempestade, atravessá-lopoderia ser para eles algo muito arris-cado, pois o vento poderia se abater detal modo sobre sua alma que a substân-cia desta seria dispersada pelos quatropontos cardeais.Num clima de crenças desse tipo, nãoé de admirar que Sócrates devesse semostrar tão radical quando disse quea alma é bem mais importante que ocorpo e que o homem tem, portanto, odever de se preocupar com ela mais doque com seu corpo físico, talvez mesmoem detrimento dele.Diante de tal afirmação, a incredulida-de de seus contemporâneos era geral.Como consequência, para dar peso àmaneira de ver de Sócrates, Platão bus-cou confirmar a verdade de ensinamen-tos mais antigos, como o de Pitágoras,que afirma que a alma é de essênciaeterna e que, devido à sua natureza, elanão está em casa num mundo depen-dente do espaço e do tempo.A alma viveu numerosas encarnações,mas, no intervalo que separa cada umadelas, liberta de sua ligação com o cor-po, ela entrevê, sempre mais ou menos,algo do único mundo real dos valores 44 Platão e sua teoria das Ideias

exteriores a nós e que nos cercam é o que sabíamos anteriormente mas O Simpósio de Platão, obra de An-incapazes de fazer surgir a menor forma esquecemos, contaminados que estamos selm Feuerbach, em torno de 1869,de conhecimento referente aos aspectos pela existência material e pela ligação em que ele representa Ágaton queuniversais, eternos e abstratos dos con- à Terra. acolhe Alcibíades. O contraste entre oceitos e das ideias que acalentamos. hospedeiro bêbado e a figura espiri-Mas, devido ao fato de a alma ter ante- O imperfeito não conduz por si mes- tual de Ágaton é a expressão da lutariormente vivenciado o mundo real de mo ao conhecimento do perfeito interior do pintor. O quadro é cheioonde surgiu e ao qual pertence, é possí- O ponto de partida dessa visão é o posi- de símbolos que remetem à vidavel que o fraco e imperfeito reflexo do cionamento segundo o qual o imperfei- espiritual da Academia de Platão, ummundo ideal nesta terra nos relembre to jamais pode conduzir por si mesmo assunto que cativou Feuerbach. 45

ao conhecimento do perfeito. Nenhuma reecontrar o caminho do conhecimentocoisa no mundo físico é matematica- e da perfeição. Esse conhecimento esta-mente idêntica a outra. Se, em nosso va antigamente presente em nosso espí-espírito, imaginamos conhecer o ver- rito, mas encontra-se agora em estadodadeiro significado da palavra igualdade, latente. É preciso que ele seja redesco-não damos a ela o sentido comparável berto, reativado, para que a inteligênciaa uma referência material, como duas possa funcionar. Em realidade, todoregras ou dois traços. Essas abordagens conhecimento no mundo material éterrestres devem efetivamente ser estu- uma questão de reminiscência. Quan-dadas e observadas, no entanto, elas só do o filósofo está na pista do mundopodem funcionar como indicadores ou ideal, devido ao fato de ter aprendido areferências para o espírito, permitindo utilizar da justa maneira seus sentidos Por um lado, havia o pensamento de Heráclito, segundo o qual tudo muda, o que obstaculizava uma abordagem analítico-científica dos fenômenos. Por outro, havia o ensinamento de Parmênides, que alegava, ao contrá- rio, que tudo o que é real é eterno e imutávelPlatão e a Academia de Atenas. Moisaico, Pompeia, cerca de 79 d.C. 46 Platão e sua teoria das Ideias

e suas faculdades de observação, ele com as consequências que trouxeram um caráter ainda mais ale-já não precisa se preocupar incessan- para a teoria platônica, é igualmente górico.temente com as coisas relevantes da representado sob a forma de grandes A composição da alma hu-esfera física. Ele pode, então, considerar mitos, como os que figuram no final mana é aí apresentada comoo corpo pelo que ele é, dominar os de- dos diálogos. O mais importante deles semelhante a uma parelhasejos corporais – todos os desejos – de talvez seja o mito de Er*, com o qual alada formada por um carromodo a liberar a alma e o espírito de termina A República. Ele descreve a inteira puxado por dois cavalos,uma pesada carga. viagem da alma através da criação, onde cujo cocheiro representaEntão, ele está pronto a se elevar além as diferentes encarnações são identifi- a razão. Ele deve guiar osdo mundo sensorial e a reencontrar cadas, assim como o que se passa nos cavalos, um dos quais é inte-o conhecimento das formas perfei- intervalos que as separam. Esse mito ligente e impetuoso, mas detas. Segundo as palavras que Platão faz descreve igualmente a maneira pela natureza inclinada a obe-Sócrates dizer, a filosofia pode ajudar a qual a alma se torna refinada e purifi- decer, enquanto o outro énos prepararmos para a morte porque cada para, finalmente, escapar para sem- mau e desobediente. Os doisequipa a alma para estar apta a ocupar pre dos ciclos de nascimentos e mortes. cavalos representam de umseu lugar de origem no mundo ideal e A razão de nós, seres humanos, não nos lado a parte corajosa, heroi-aí permanecer, e já não ser novamente lembrarmos da realidade desse mundo ca e capaz de disciplina dacondenada ao cativeiro na camisa de ideal totalmente diferente é explicada natureza humana – inclusiveforça de um envoltório perecível. no mito pela obrigação que cada alma de ter vontade; e, de outro tem de beber do rio do Esquecimento lado, a tendência de nosA linguagem simbólica se casa com a antes de adotar um novo corpo. Ora, deixarmos levar por nossofilosofia e a religião como as almas acabam de atravessar componente físico, sensorialEssa visão da natureza da alma bem uma vasta planície deserta, a tentação e grosseiro.como a explicação definitiva do con- de beber uma grande quantidade dessa A lenda diz que, num pas-ceito de conhecimento atravessam, qual água é enorme. Nesse momento pre- sado longínquo, esse carroum fio condutor, o conjunto do diálogo ciso, as almas demonstram o avanço fez uma viagem seguindointitulado Fédon, no qual Platão expõe filosófico que realizaram durante as a borda do céu, de onde oseus pensamentos analítica e simboli- precedentes encarnações, pois é ali que cocheiro podia ver a verdadecamente, sob a forma do mito que en- a força do domínio que adquiriram é eterna. No entanto, o cavalocerra esse diálogo. Porém, mais adiante, verdadeiramente posta à prova. Mas, in- desobediente e caprichosoé pela estrita lógica, pela via tangível, felizmente, todas as almas se encontram se rebelava tanto o tempoque ele expõe e tenta demonstrar a na obrigação de beber um pouco – sal- todo, que fez o carro virar.veracidade dessa concepção do conhe- vo se estiverem predestinadas a escapar Este caiu e imergiu no mun-cimento que é a reminiscência. Assim é à ligação a um corpo e a reencontrar a do da matéria, da mudança,em Menon, onde o empregado iletrado ligação eterna com a própria verdade. do espaço e do tempo. Dian-que tem esse nome deve responder a Tanto aqui como na Grécia antiga, essa te de tantos pontos de vistaquestões de ordem matemática. No imagem do rio da água do esquecimen- essenciais de seu sistema deentanto, nesse diálogo, Platão também to, de que a alma deve beber, ressalta pensamento transmitidosfaz Sócrates dizer que esse ensinamen- o bom uso que Platão faz das lendas dessa forma, certos pesqui-to provém de sacerdotes e sacerdotisas transmitidas pela tradição para explicar sadores se viram forçados aque consideram que ser responsável por seus próprios pontos de vista. descobrir se Platão queriaseus atos faz parte de seu dever e de verdadeiramente que suassua tarefa. Mais uma vez, portanto, de Abandonando o pensamento lógico- histórias míticas fossemmaneira quase despercebida, a filosofia -analítico para entrar onde os poetas levadas a sério.e a religião se apresentam de mãos da- e os místicos buscam sua inspiração Talvez a melhor resposta sejadas. O mesmo entrelaçamento dos dois, Em Fédon, encontramos um mito com a que ele confia a Sócrates 47

Visitantes do museu americano de História Natural, em Nova Iorque, diante de um painel ilustrativoda biodiversidadeem Fédon. Lembremos que a imortali- mula mágica. Essa é a razão pela qual eu Platão aí expõedade da alma é o tema e que o debate me demorei com esse mito”. seus pensamen-termina com a história de um mito A grande vantagem do mito é que o lei- tos de modo analí-na qual são dados numerosos detalhes tor deve abandonar o pensamento ana- tico e também emsobre a vida da alma após a morte. lítico lógico e se deixar conduzir e levar linguagem simbóli-Para concluir, Sócrates resume: “Por isso, num mundo carregado de emoção, no ca, sob a forma doSímias, precisamos fazer tudo durante qual os poetas e os místicos encontram mito que encerraa vida atual para alcançar a virtude e a sua inspiração. Não tomamos os mitos esse diálogosabedoria. Isso vale a pena, há muito de forma literal, mas como expressãoa esperar. Não convém a um homem do que frequentemente escapa às ma-inteligente ater-se sem mais ao fato de lhas grosseiras da rede da argumentaçãoque tudo é conforme descrevi. Mas me lógica e precisa.parece permitido esperar que ele tomeem consideração as coisas concernentes Redescobrir a Ideia pura e perfeitaà alma e à sua morada, uma vez que a da qual todas as coisas são apenasalma parece ser eterna. Tal tentativa vale um reflexoa pena, é um esforço nobre. Um homem No entanto, antes de terminar, paradeve se lembrar disso como de uma fór- evitar que vejamos Platão apenas como 48 Platão e sua teoria das Ideias


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