A presença de compostos, comnitrogênio e fósforo, nesses sedi-mentos, denominados nutrientes,é a principal responsável pelo pro-cesso de eutrofização dos corposd’água. Eutrofização é um processo,normalmente, resultante de algumaatividade de origem humana, de al-teração das características do meioaquático pelo aumento do aporteda carga de nutrientes, resultandoem reprodução acelerada de algunsorganismos já presentes no ambien-te, como algas, cianobactérias e ma-crófitas aquáticas. Esse processo pode durar al-guns dias ou vários meses, e resultarem desequilíbrio ambiental tempo-rário. Formam-se tapetes de algasnos fundos dos córregos, plantaspodem entupir canais, podendo le-var à diminuição da disponibilidadede luz para a coluna d’água e quedada concentração de oxigênio dissol-vido (depleção) pela decomposiçãoda matéria orgânica resultante des-se crescimento excessivo. Como re-sultado, as consequências vão des-de o fechamento do corpo d’águapara qualquer uso até a mortalida-de de peixes e demais organismosaquáticos por anoxia ou pela produ-ção de compostos tóxicos por algu-mas espécies. Portanto, o excesso de nutrien-tes nos corpos d’água é prejudicialà saúde dos ecossistemas, poden-do trazer problemas às populaçõesresidentes em seu entorno ou quefazem uso dessa água. Para evitarque isso aconteça, é importante queexista sistema de esgotamento sa-nitário com tratamento adequadoe, nas zonas rurais, sejam adotadaspráticas de conservação dos solos eaplicação controlada de fertilizantese de pesticidas, fundamentais paraevitar que a poluição termine noscursos d’água.
Perda da diversidadebiológica afeta a vidade todos os seres vivos
T anto a comunidade científica Três razões principais justificam a preo- internacional, quanto os go- cupação com a conservação da diversida- vernos e entidades não-gover- de biológica. Primeiro, porque se acredita namentais ambientalistas, vêm que a diversidade biológica é uma das pro-alertando para a perda da diversidade priedades fundamentais da natureza, res-biológica em todo o mundo, principal- ponsável pelo equilíbrio e estabilidade dosmente, nas regiões tropicais, como o ecossistemas. Segundo, porque se acredi-Brasil. Mais uma vez, a culpa principal é ta que a diversidade biológica representado ser humano. O crescimento explosi- um imenso potencial de uso econômico,vo da população, a distribuição desigual em especial pela biotecnologia. Terceiro,de riquezas, o desmatamento e poluição porque se acredita que a diversidade bio-dos mananciais são alguns dos motivos lógica esteja se deteriorando, com aumen-para a perda da diversidade genética. to da taxa de extinção de espécies, devidoEsta perda envolve aspectos sociais, ao impacto das atividades antrópicas.econômicos, culturais e científicos. Motivos Biomas estão sendo ocupados em Entre os diversos motivos para adiferentes escalas e velocidades: exten- destruição genética, estão a destruiçãosas áreas de vegetação nativa foram de- do habitat de espécies, uso excessivovastadas no Cerrado do Brasil Central, de recursos naturais, contaminação dosna Caatinga e na Mata Atlântica. Como mananciais e introdução de espéciesresultado das pressões da ocupação hu- exóticas. A destruição do habitat se des-mana na zona costeira, a Mata Atlântica taca entre os fatores que desencadeiamficou reduzida a 7% de sua vegetação a diminuição da biodiversidade. Quaseoriginal. A perda da biodiversidade é sempre esse processo ocorre como con-a ameaça real mais importante da atu- sequência da urbanização e do desma-alidade. De acordo com o pesquisador tamento para aumento das áreas agro-Zakri Abdul Hamid, é preciso chamar a pecuárias e desenvolvimento de grandesatenção do mundo para o problema do obras. O aquecimento global tambémdeclínio da diversidade de espécies de contribui para a perda de habitat. Complantas e de animais em todo o plane- o habitat destruído, muitas espécies sãota, que alguns cientistas chamam de “o obrigadas a migrar para outras áreas, en-sexto grande episódio de extinção na frentando perigos e incertezas de sobre-história da Terra”. Segundo dados apre- vivência. Já aquelas que não conseguemsentados pelo pesquisador, cerca de migrar, como as plantas, acabam sendo75% da diversidade genética de culturas reduzidas e, algumas, extintas.agrícolas foi perdida no último século.
Outra grande Outra grande ameaça à biodiversidade é o uso excessi- ameaça à vo de recursos naturais. A caça e a pesca, por exemplo, são práticas responsáveis pela diminuição do número de indiví- biodiversidade é o duos de várias espécies anualmente, bem como a retirada uso excessivo de ilegal de madeira e a exploração de plantas, como o xaxim. O tráfico de animais e plantas silvestres também dificulta a recursos naturais. conservação de vários organismos. A caça e a pesca, por exemplo A introdução de espécies exóticas pode ajudar a extin- guir outras espécies nativas. Esta nova espécie pode se re-54 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta produzir exageradamente e, até, provocar doenças. Desta forma, afeta o equilíbrio de determinado ecossistema. A contaminação dos mananciais também contribui para que algumas espécies não consigam sobreviver à falta de ali- mentos e à dificuldade de acesso à água potável. Para que a biodiversidade seja efetivamente protegida, é fundamental o uso sustentável dos recursos naturais. Por isso, são necessá- rios investimentos em pesquisas para descobrir fontes alter- nativas de recursos e aumentar a fiscalização, além da criação de áreas de preservação. É de fundamental importância que todos, principalmente a população, entendam que a totalida- de dos seres vivos é importante para o planeta. Valor econômico Ecólogos e ambientalistas são os primeiros a insistir no aspecto econômico da proteção da diversidade biológica. Deste modo, Edward O. Wilson escreveu em 1992 que a biodiversidade é uma das maiores riquezas do planeta, e, entretanto, é a menos reconhecida como tal (la biodiversité est l`une des plus grandes richesses de la planète, et pour- tant la moins reconnue comme telle). A maioria das pessoas vêm a biodiversidade como um reservatório de recursos que deve ser utilizado para a pro- dução de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméti- cos. Este conceito do gerenciamento de recursos biológicos provavelmente explica a maior parte do medo de se perde- rem estes recursos devido à redução da biodiversidade. Com pesquisas e investimentos é possível utilizar a biodiversidade a favor da sustentabilidade. Nos Estados Unidos houve um ganho de US$ 50 milhões na agricultu- ra depois que um parente silvestre do trigo originário da Túrquia proporcionou genes resistentes a doenças para as variedades comerciais. Uma variedade de cevada da Etió- pia forneceu um gene que protege, atualmente, a cultura da cevada na Califórnia contra um vírus fatal, proporcionando
economia de US$ 160 milhões. Nos Estados economia da ordem de US$ 200 milhões paraUnidos, 25% dos produtos farmacêuticos re- os produtores brasileiros. Exemplo semelhante eceitados, atualmente, contêm ingredientes ati- já rotineiro na exploração de cana-de-açúcar é ovos derivados de plantas e existem mais de 3 uso de parasitas para controlar a cigarrinha (Dia-mil antibióticos derivados de microrganismos. traea saccharalis), prática que representa econo-A exploração farmacológica da biodiversidade mia anual superior a US$ 100 milhões.brasileira está em seu início e, a julgar pelo re-sultado obtido em outros países, há um vastís- De importância estratégica para a produ-simo campo a ser explorado no País. ção de soja no Brasil, com reflexos diretos na nossa pauta de exportações, é a economia Na área da agricultura, o Brasil tem exem- obtida com as pesquisas que possibilitaram aplos, de repercussão internacional, sobre o de- substituição de fertilizantes nitrogenados porsenvolvimento de biotecnologias que geraram associações simbióticas da planta com bac-riquezas por meio do adequado emprego de térias fixadoras de nitrogênio. Este trabalhocomponentes da biodiversidade. Este é o caso científico, liderado pela pesquisadora Dra. J.do programa de controle biológico, por meio de Dobereiner, tem proporcionado à agriculturaBaculovirus anticarsia utilizado no combate à la- brasileira uma economia da ordem de US$ 1,6garta da soja (Anticarsia gemmatalis), que gera bilhão anualmente.O QUE É BIODIVERSIDADE? Denominamos de biodiversidade a variedade de espécies de seres vivos existentes emnosso planeta, bem como o papel desses seres na natureza. Todos eles estão, de algumaforma, interligados e, portanto, a extinção de algum ser vivo afeta diretamente todo o ecos-sistema. Apesar da importância de cada organismo vivo, observamos um crescente aumento nadestruição da biodiversidade. As causas são as mais variadas. Porém, na maioria das vezes,o homem apresenta grande influência no processo. Dentre os principais motivos da perdade biodiversidade, podemos destacar a destruição de habitat, o uso excessivo dos recursosnaturais, a introdução de espécies invasoras e a poluição.OS PRINCIPAIS PROCESSOS RESPONSÁVEIS PELA PERDA DE BIODIVERSIDADE SÃO:• Perda e fragmentação dos habitats;• Introdução de espécies e doenças exóticas;• Exploração excessiva de espécies de plantas e animais;• Uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos programas de reflorestamento;• Contaminação do solo, água e atmosfera por poluentes;• Mudanças climáticas.
Perda da diversidade genética:desmatamento e outras ações humanasaumentam a perda de biodiversidadePesq. Juliane Silberschmidt Freitas, Dra. (IBILCE/UNESP)Prof. Eduardo Alves de Almeida, Dr. (FURB). Doutor emCiências Biológicas O aumento das atividades antropogê- fundamental para muitas estratégias na-nicas tem direcionado rápidas mudanças cionais e internacionais na conservação danas paisagens naturais do planeta, alte- biodiversidade (FAOLEX, 2012; Panfil et al.,rando seus ciclos biogeoquímicos, trans- 2015). No entanto, diversos eventos têmformando suas características e aumen- ocorrido isoladamente em áreas distintas do planeta e evidenciam perda rápida da tando a dispersão da biota (Chapin et al., biodiversidade regional nesses domínios. 2000). A degradação e perda de áreas florestais são impulsionadas por fa- Um exemplo notório de devastação tores socioeconômicos complexos, florestal e perda de diversidade ocorre na os quais envolvem, principalmente, floresta Amazônica, a qual abriga estima- modificação de paisagens por damente um quarto da diversidade mun- práticas de extração de madeira, dial terrestre (Dirzo et al., 2003; Malhi et estabelecimento ou ampliação al., 2008). Em 2001, cerca de 837 mil km2 de áreas agrícolas e extensões de da floresta foram removidos principalmen- infraestrutura (Norris et al., 2010). te para o estabelecimento e expansão da No entanto, tais expansões vêm produção de gado e soja. Estima-se que excedendo os limites nas últimas 80% do desmatamento florestal amazô- décadas, causando consequ- nico estejam em terras brasileiras, sendo ências negativas ao ambiente. 70% provocados pela pecuária (Soares-Fi- A adaptação das espécies ani- lho et al., 2006), mas também por práticas mais e vegetais não acompanha como exploração madeireira, caça e quei- as rápidas mudanças ambientais madas. Atualmente, a velocidade e a mag- dirigidas pela atividade humana. nitude das atuais pressões humanas estão Como resultado, muitas espécies afetando a resiliência da floresta e provo- e comunidades biológicas têm sido cando consequências imensuráveis à sua eliminadas de áreas dominadas pela biodiversidade. Pesquisas desenvolvidas influência antrópica. com plantas, invertebrados e vertebrados Atualmente, 35 áreas globais são da Amazônia evidenciam perdas drásticas na diversidade local de espécies pelo des- qualificadas como “hotspots” (www. matamento (Solar et al., 2015).conservation.org/How/Pages/Hotspots. aspx), cada qual contendo 0.5% ou mais Alterações nas características genéti- da flora mundial restrita a seus territórios cas entre populações podem ser obser-(espécies endêmicas) e que sofreram per- vados mesmo após simples eventos dedas de pelo menos 70% de sua extensão desmatamento ou alterações de solo parageográfica original (Myers et al., 2000). uma diversidade de táxons e ecossistemas.Estes sítios suportam aproximadamente Citando um exemplo, no Parque Nacional60% das espécies mundiais de plantas, The Great Smoky Mountains, nos Estadosaves, mamíferos, répteis e anfíbios, em Unidos, cientistas compararam a distribui-uma área de superfície terrestre de ape- ção da variação genética entre popula- ções de árvores perenes Acer saccharum nas 2.5%. A maioria dos “hotspots” em áreas de floresta recolonizadas, após mundiais é representada por flores- práticas mecanizadas de exploração de tas tropicais e, por isso, a proteção dessas áreas é considerada um pilar
madeira e em remanescentes de floresta antiga, onde as 2006). Essa polinização reduzida provoca efeito em cascataárvores experimentaram baixa influência humana (Baucom na dispersão de sementes pelos frugívoros (Harrison, 2000)et al., 2005). A porcentagem de lócus polimórficos e a ri- e consequências na instauração de espécies de plantas emqueza alélica estimada foram reduzidas em populações de fragmentos diversos. O aumento das concentrações deárvores recolonizadas quando comparadas às populações CO2 e N2, mediadas pela atividade humana, também podede crescimento antigo, indicando uma possível diminuição aumentar as taxas de crescimento e alterar a química dasem suas capacidades de adaptações futuras a ambientes plantas em curto prazo, resultando em uma série de inte-alterados, e aumentando assim sua susceptibilidade à extin- rações bióticas envolvendo plantas, herbívoros e consumi-ção (Frankel et al., 1995). dores secundários (Tylianakis et al., 2008). Quando preda- dores são removidos, as presas normalmente sofrem um Ecologistas estão longe de calcular os reais custos da aumento considerável em seu crescimento populacional,perda de biodiversidade para os ecossistemas. Porém, con- esgotando suas fontes de alimento e levando a uma cascatasequências danosas são previstas, uma vez que a funcio- de efeitos ecológicos. Estudos removendo peixes piscívorosnalidade dos processos ecossistêmicos depende da rique- de lagos enriquecidos com fósforo provocaram aumento naza e distribuição de seus organismos. Algumas espécies abundância de peixes planctívoros, os quais exauriram aexercem particular efeito na estabilidade desses processos biomassa fitoplanctônica e promoveram a floração de algasecossistêmicos, interferindo nas redes de fluxo de energia e o consequente aumento de CO2 nesses sistemas (Schin-ou, ainda, por modificações físicas no ambiente. As mudan- dler et al., 1997). A presença de insetos perlídios em córre-ças no estado físico podem ter consequências ecológicas gos na costa do Pacífico foi associada ao ganho de pesopositivas e negativas para outras espécies que experimen- em trutas Oncorhynchus clarkii, uma vez que esses insetostam o ambiente alterado. Isso ocorre porque elas depen- alteram o comportamento de suas presas e as tornam maisdem de recursos cuja disponibilidade é controlada direta ou vulneráveis à predação pelos peixes (Soluk e Richardson,indiretamente por tais mudanças nos fatores abióticos. Por 1997). Devido à elevada especificidade dessas interações, aexemplo, os invertebrados de solo, tais como minhocas e perda ou diminuição de uma dada espécie envolvida devealguns insetos, podem alterar o volume de matéria orgâni- aumentar a probabilidade de efeitos em cascata nos ecos-ca e o suprimento de nutrientes disponível para animais e sistemas em geral.plantas acima do solo, influenciando a composição de faunae flora local (Lavelle et al., 1997). A introdução de espécies A alteração no funcionamento dos ecossistemas, comode plantas fixadoras de nitrogênio em ambientes empobre- causa direta da alteração da biodiversidade, também trazcidos pode levar a um aumento abrupto nas entradas desse inúmeras consequências para a sociedade humana, as quaiscomponente para o ecossistema, alterando, consequente- são transplantadas em redução de fontes de alimento, com-mente, a produção líquida primária, a composição de espé- bustíveis, matéria prima, fontes medicinais, dentre outras. Nocies e diversas outras propriedades funcionais das florestas geral, essas alterações constituem uma importante questãonativas (Vitousek et al., 1987). As árvores, em áreas flores- socioambiental em decorrência da complexidade dos pro-tais, alteram os padrões de sombra, reduzem impactos das cessos nelas envolvidos, bem como da magnitude de seuschuvas, ventos e raios solares, criando um ambiente com impactos decorrentes. Em uma perspectiva ecológica etemperaturas mais moderadas e influenciando na umidade ecossistêmica, mudanças em políticas governamentais e nono solo (Holling, 1992, Callaway e Walker, 1997). As raízes comportamento humano, bem como inovações tecnológi-alteram a textura do solo e afetam as taxas de infiltração cas mais eficazes na extração e processamento dos recursosde água (Juma, 1993), estabelecendo um novo habitat para naturais, são essenciais e urgentes, vista a necessidade deos organismos florestais terrestres. Em ambientes aquáti- diminuição dos danos causados. Atualmente, 5-20% das es-cos, as folhas e ramos podem cair em lagos, aumentando o pécies de diversos grupos de organismos já foram extintas,volume de matéria orgânica e modificando características e estimativas mostram que esses valores devam aumentarfísico-químicas da água, cruciais para a vida aquática. entre 100 e 1000 vezes com a intervenção humana (Bellard et al., 2012). Assim, o atual desafio está em prever como as O desmatamento e a intensificação do uso de terra tam- diversas interações bióticas e abióti-bém são fatores determinantes nas relações tróficas entre cas são traduzidas na magnitude eorganismos no ambiente (Wardle, 1995). Esse tipo de alte- no direcionamento das mudançasração pode provocar mudanças nos fluxos de energia e no na estrutura da biodiversidade mun-traço e abundância de espécies que monitoram esse fluxo, dial, estabelecendo uma possívelalterando a competição entre plantas e animais, diminuin- trajetória evolutiva na tentativado as relações mutualísticas entre espécies, gerando efei- de se avaliar as vulnerabili-tos multitróficos na rede de decomposição, entre outras dades dos ecossistemas(Tylianakis et al., 2008). Por exemplo, a fragmentação de frente a uma gama dehabitats exerce quase sempre efeitos negativos na poliniza- fatores ambientais mo-ção, principalmente, sobre espécies nativas (Aguilar et al., dificados.
Resíduos da Construção Civil devem ser reaproveitados58 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
A Construção Civil é um dos setores mais importantes para a economia de um país. No entanto, ao mesmo tempo em que figura como um dos setores que mais geram riquezas e postos de trabalho no Brasil, é tam-bém um dos principais geradores de resíduos. Praticamente todosos processos produzem resíduos. Ainda que nem toda perda gere rejeitos (já que uma parte delafica na obra), dados da Abrecon (Associação Brasileira para Re-ciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição) apontamque os resíduos chegam a representar 50% do material desper-diçado no segmento. O número alarmante dá uma boa ideia daimensa quantidade de materiais de construção que se descartatodos os dias em decorrência das obras. Estatísticas indicam queesse volume de material desperdiçado, que representa por volta de850 mil toneladas de entulhos/mês, é depositado sem critério emlixões, ou em aterros sanitários, além de terrenos baldios e áreasde preservação permanente. O Reino Unido produz aproximada-mente 53 mil toneladas/ano e o Japão pode ser considerado umareferência em reaproveitamento, com apenas 6 mil toneladas/ano. A Política Nacional de Resíduos (PNRS) ou Lei 12.305/2010 re-gulamenta o manejo ambientalmente correto dos resíduos sólidose define metas de reutilização, redução e reciclagem. A lei, que visaa minimizar o nível de rejeitos para destinação final, demanda aparticipação de todos os setores da sociedade e, claro, requer umamudança de postura dos empresários do ramo da construção civil. Outros resíduos gerados em obras são efluentes como a lamabentonítica na etapa de escavações e perfurações e a água resi-duária, composta de esgotos domésticos. Se esses efluentes nãoforem tratados adequadamente, ocasionam a poluição do solo ede corpos d’água, além de ações passíveis de penalizações e até interdição da obra por parte dos órgãos responsáveis. O armazenamento dos efluentes deve estar de acordo com a NBR 7229 da ABNT, que determina as condições para a construção e operação de tanques sépticos, trata- mento e disposição de efluentes e lodos sedimentados, não sendo permitido o uso de valas a céu aberto, ou de caixas sem tampas adequadas. A norma também esta- belece que os efluentes dos refeitórios passem previamen- te por caixa retentora de gordura, antes de serem levados paratratamento. Faz-se necessário, com urgência, que haja uma cultura de tra-tamento, reciclagem e reutilização no setor. No Brasil, a questãoainda é nova. Na Europa, porém, há muito tempo se fala sobre anecessidade de reciclagem e reutilização de materiais. Além dis-so, é necessário investir em fiscalização. Mesmo com legislação,ainda há muito descarte de forma incorreta e poluição de manan-ciais. É só fazer uma visita aos canteiros de obras para verificar Gigantes da Ecologia | 59
o tamanho do problema. Há um abismo entre a realidadee as determinações legais, mesmo existindo uma resoluçãodo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) sobreo assunto, desde 2002, que ganhou reforço com a PolíticaNacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A maioria das construções no País ainda é realizada compouco reaproveitamento do entulho gerado, ou seja, combaixa sustentabilidade. Mesmo existindo diversas tecnolo-gias para o reaproveitamento dos dejetos, o País continuaproduzindo resíduos cuja destinação final gera impacto nomeio ambiente, posto que a maior parte não é descartadade forma correta. Vantagens do tratamento adequado O tratamento dos resíduos da construção civil traz bene-fícios econômicos, sociais e ambientais para todo o mundo.A substituição dos materiais convencionais pelo entulho, porexemplo, resulta em economia na aquisição de matéria-pri-ma. Com a reciclagem, há ainda a minimização da poluiçãocausada pelos resíduos, que podem causar enchentes e oassoreamento de rios e córregos. É importante destacar queo descarte incorreto também traz sérias consequências parao ambiente urbano, uma vez que propicia doenças como adengue e a febre amarela, e torna-se chamariz de roedorese insetos. Como se vê, a falta de encaminhamento adequadodesses materiais gera prejuízos do ponto de vista do meioambiente e da qualidade de vida da população, evidencian-do ainda mais a necessidade de reaproveitamento. As vantagens ambientais do reaproveitamento estão emreduzir as matérias-primas bases dos materiais de constru-ção, reduzir a quantidade de resíduo em aterros sanitáriose diminuir o volume de detritos e resíduos da construção.Estas ações, com certeza, diminuem a poluição das cidades. A maioria das construções no País ainda é realizada com pouco reaproveitamento do entulho gerado, ou seja, com baixa sustentabilidade.
A GERAÇÃO DE RESÍDUOS NA OBRA: ENTULHO E REUSOEFLUENTES DEVEM TER DESTINAÇÃO ADEQUADA significa reprocessar e Em definição da Abrecon, o Resíduo da Con- reinstalar materiais semstrução e Demolição (RCD), ou Resíduo da Con- remanufatura;strução Civil (RCC) é todo dejeto gerado no proces-so construtivo de reforma, escavação, ou demolição. RECICLAGEMDesta forma, pode-se dizer que o entulho inclui osrestos de tijolos, argamassa, concreto, madeira, aço e é a completa remanufaturaçãooutros materiais advindos da construção, reforma e/ onde se produz outro elementoou demolição de estruturas diversas como residên- construtivo, a partir de umacias, pontes e prédios. peça já existente; Se a geração desses resíduos se tornou um grande DOWNCYCLINGobstáculo a ser ultrapassado pelo setor da construçãocivil, que se vê em meio ao desafio de conciliar seus é o reprocessamento completoprocessos de produção com um desenvolvimento de outro produto diferente daconsciente, a alternativa da reciclagem e do reaprovei- origem e que possui menortamento se apresenta como solução. qualidade.
Efeitos de grandes obras civisProfª. Priscila D. Krambeck Braun, Dra. (FURB).Doutora em Engenharia Civil A construção civil é uma das atividades mais No Brasil, a cadeia produtiva da Construçãoantigas que se tem conhecimento e, desde os Civil ocupa uma posição de destaque e respondeprimórdios da humanidade, foi executada de por 15% do PIB (Produto Interno Bruto) nacio-forma artesanal, gerando como subprodutos nal. Por se enquadrar como indústria de trans-grande quantidade de entulhos. A primeira apli- formação a demanda por materiais é expressiva,cação significativa da reutilização de entulhos só atingindo valores superiores a 1 ton./m2.foi registrada após a segunda guerra mundial, naEuropa, em 1946, com a reutilização dos escom- A alta demanda por materiais e a falta de pla-bros britados das edificações bombardeadas na nejamento resultam em quantidade significativareconstrução das cidades. de resíduos (RCD) gerados no mercado formal e informal da construção. Historicamente, o ma-62 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
nejo dos RCC esteve a cargo dopoder público, que enfrentava oproblema de limpeza e recolhi-mento dos substratos deposita-dos em locais inadequados. Somente em 2002, com aaprovação da Resolução nº 307do Conselho Nacional do MeioAmbiente - CONAMA, altera-da pela Resolução nº 348 de2004, atribuiu-se ao gerador aresponsabilidade pelo gerencia-mento dos resíduos de constru-ção e demolição (RCD) (BRA-SIL, 2002; BRASIL, 2004). Após duas décadas de dis-cussões, em 2010, foi sanciona-da a Lei Federal Nº 12.305, queinstitui a Política Nacional dosResíduos Sólidos (PNRS). A Leidispõe sobre os princípios, ob-jetivos, instrumentos e diretrizesrelativos à gestão integrada e aogerenciamento de resíduos sóli-dos (incluídos os da construçãocivil), as responsabilidades dosgeradores e do poder públicoe os instrumentos econômicosaplicáveis (BRASIL, 2010). As exigências da sociedadesão cada vez maiores, principal-mente no que se refere à me-lhoria e manutenção das condi-ções ambientais, o que exige doEstado e da iniciativa privadamedidas que possibilitem com-patibilizar o desenvolvimentocom as limitações da explora-ção dos recursos naturais. Gigantes da Ecologia | 63
Alterações climáticas contribuempara aumento da pobrezaA escassez de água potável, o aumento das inunda- ções e do nível do mar, além da insegurança alimen- tar e extinção de espécies animais, são algumas das consequências das mudanças climáticas. De acordo com o relatório “Grandes Catástrofes: Como Enfrentar os Efei- tos das Mudanças Climáticas na Pobreza”, do Banco Mundial, uma maior consciência sobre o clima poderia afastar da pobre- za mais de 100 milhões de pessoas por volta de 2.030. Porém, é necessário agir logo, senão, nesse mesmo período, mais 3 mi- lhões de pessoas poderão estar na linha da pobreza. No entan- to, diante do quadro atual, fica meio difícil acreditar que algo vá acontecer. O efeito das mudanças climáticas já são notados com o aumento de doenças transmitidas por águas contamina- das, que se intensificam durante o calor, fracasso das colheitas devido às secas e inundações, impacto nos preços dos alimen- tos e desastres naturais, nos quais as pessoas perdem tudo, o que obriga muitos a se deslocarem para outras áreas.
Entre as ações necessárias para conter as al- Tecnologiaterações climáticas, uma delas é a de estabilizar Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o Big Data Climate Challenge, uma as temperaturas mundiais em um nível seguro, competição global para estimular o uso de dados o que significa que as emissões líquidas mun- para resolução dos problemas climáticos. Em 2017, diais de carbono precisam ser reduzidas a foi criado o Data for Climate Action, um desafio zero antes de 2.100. Outra ação que, com aberto de inovação que busca utilizar Big Data para certeza, dá resultado, é apostar na agricul- soluções climáticas. O Big Data tem por objetivo a tura inteligente. Os vaivéns do clima podem análise de grandes quantidades de dados, pois elas deixar sem trabalho muitos moradores de podem trazer informações valiosas sobre padrões povoados. A agricultura dá emprego a qua- de comportamento humano e riscos climáticos, se 20% da população da América Latina e do que podem ajudar no desenvolvimento de estraté- Caribe, o que representa mais da quinta parte gias preventivas e ações corretivas. As informações coletadas com o uso de Big Data podem influenciar do Produto Interno Bruto (PIB) regional. a tomada de decisões em nível global nos setores Quando não há condições de produção, as fa- privados, incentivando as empresas a adotar inicia-mílias rurais precisam comprar comida com pre- tivas e assumir sua responsabilidade nesse cenário.ços mais elevados e isso afeta a sua capacidade Outra tecnologia que pode contribuir é a ener-econômica. Há pouco tempo, a América Central gia limpa, provavelmente um dos melhores recur-enfrentou uma das secas mais duras da história: sos para reduzir o impacto humano no clima, pois40 dias sem chuva deixaram mais de 2 milhões não libera resíduos ou gases poluentes durante seude pessoas com fome. Por isso, se faz necessário processo de produção, como energia das marés,apostar na prática de cultivo e de pecuária com eólica, solar, biogás e biocombustíveis. O desafio émaior resistência ao clima. desenvolver tecnologias inteligentes que possam De acordo com o relatório, na maioria dos pa- ser armazenadas e transmiti-las de forma eficienteíses os recursos que poderiam ser obtidos de um depois de capturadas.imposto sobre o carbono (ou da reforma dos sub- O monitoramento e gerenciamento do consu-sídios para a energia), permitiria melhorar a assis- mo de energia pode se tornar mais inteligente comtência social ou investimentos em outros projetos a Internet das Coisas. Termostatos inteligentes,que tirariam as pessoas da linha de pobreza. Na por exemplo, podem aprender com os padrões doCosta Rica, por exemplo, o mercado doméstico usuário e analisar o clima local atual para ajustar ade carbono serve para que as empresas compen- temperatura ambiente automaticamente, ajudandosem as emissões de CO2 que não possam reduzir a economizar energia. Já a Geoengenharia é umde suas operações, transferindo esse excedente método controverso, mas que pode dar resultado.para atividades de eficiência energética, reflores- Essa ciência estuda meios de manipulação do climatamento e proteção de matas. através de tecnologia de forma controlada, com o Por que tanta ênfase em acabar com a pobre- objetivo de reverter o aquecimento global com umaza para reduzir os impactos das alterações climá- redução artificial da temperatura do planeta. Entreticas? Porque os mais desprotegidos são sem- as utilidades da Geogenharia estão o gerenciamen-pre os mais afetados pelos desastres climáticos. to da radiação solar, instalação de megaespelhosQuando o furacão Mitch golpeou Honduras, em na órbita para reflexo de raios solares e aumento da1998, as pessoas em condições de pobreza per- refletividade das nuvens sobre a superfície da Terra,deram proporcionalmente três vezes mais ativos para refletir mais calor do Sol de volta ao espaço;e receitas do que as demais. Quando Blumenau, e Biocarbonato, para queimar e enterrar biomassaem Santa Catarina, foi atingida pelas enchentes para que o carbono fique preso no solo; captura node 2008, com um mar de lama e muitas casas fo- ar ambiente, máquinas podem remover o CO2 dire-ram soterradas, quem era pobre ficou mais pobre tamente do ar e armazená-lo, e a fertilização oceâ-ainda. As famílias abastadas logo se recupera- nica, que estimula a produção de fitoplânctons, queram. Mas, quem já vivia na pobreza luta há quase absorvem CO2 da atmosfera.10 anos para se recuperar. Gigantes da Ecologia | 65
SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: des e períodos longos de estiagem. Nas duas situações,É de conhecimento de todos que o efeito estufa é re- a pecuária e a agricultura são as mais prejudicadas;sultado da emissão exagerada de gases tóxicos no Algumas regiões poderão sofrer com grande quantida-ambiente. Entretanto, o que quase ninguém sabe, é de de chuvas, o que ocasionará deslizamentos constan-que a maioria dos países não possui um plano ade- tes de terra e aumento das enchentes. As áreas costei-quado para diminuir o impacto que será causado e ras sofrerão com o aumento do nível do mar, em virtudenem estratégias eficientes para a diminuição da emis- do degelo das geleiras ocasionado pelo aumento dasão de gases poluentes; temperatura média do planeta; As áreas secas do planeta sofrerão ainda mais com a fal-Segundo o último relatório do Painel Intergoverna- ta de água. A água potável, que já é escassa, poderá sermental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as previ- motivo de mortes e de disputas políticas. Com a seca,sões sobre o futuro do planeta até 2.100 são alarman- aumentará o índice de incêndios, ocasionando perda dates. De acordo com o IPCC, mesmo que as emissões biodiversidade e ameaçando a vida da população;de gases do efeito estufa diminuam, a Terra continua- A produção de alimentos diminuirá, visto que as al-rá sofrendo com os danos residuais e terá que apren- terações climáticas afetam diretamente o cultivo deder a conviver com o aumento da temperatura; diversas espécies. Com isso, os preços serão elevados e mais pessoas poderão passar fome.Os maiores castigados serão os países tropicais, taiscomo o Brasil. Segundo o relatório, poderão ocorrerinundações em virtude da intensificação das tempesta-66 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
O QUE SÃO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS? De maneira simples, a mudança climática, também co-nhecida como aquecimento global se dá pelo aumento datemperatura média global. O aumento das emissões de gasesde efeito estufa na atmosfera (CO2 em particular) está pren-dendo o calor na atmosfera da Terra. Isto impacta sistemasclimáticos globais, causando desde chuva inesperada atéondas de calor extremas. A Terra já passou por períodos deaquecimento e refrigeração e alterações climáticas associa-das. Os cientistas estão mais preocupados é com o processode aquecimento, que está acontecendo muito mais rápido doque antes, e esse rápido aquecimento é causado pelo aumen-to dos níveis de emissões criadas pelo homem; Os principais gases, responsáveis por reduzir a saída daradiação de onda longa para o espaço são o metano (CH4),o dióxido de nitrogênio (NO2) e o dióxido de carbono (CO2)que, associados ao vapor d´água, absorvem a radiação deonda longa; A reemissão dessa radiação dá origem ao efeito estufa.Esse é um processo natural que faz com que a temperaturado planeta se mantenha em equilíbrio, em cerca de 14ºC. Semesse efeito estufa, o aquecimento provocado pelo sol seriacontrabalanceado pela enorme perda de energia de ondaslongas para o espaço, e a temperatura média ficaria em tornode 17ºC negativos. Portanto, o problema não é o efeito estufae, sim, a sua intensificação a partir da adição dos gases deefeito estufa na atmosfera, o que pode provocar a mudançaclimática global (Houghton, 1995); Entre 1750 e 1995, a concen- tração de CO2 na atmosfera au- mentou 28%, passando de 280 para 358 ppm, e a concentração de metano (CH4) passou de 800 ppbv, da era pré-industrial, para 1.750 ppbv na década de 1990, um aumento de aproximadamente 10 ppbv por ano; O óxido nitroso (N2O), originá- rio de queima de combustíveis fós- seis e de biomassa, de automóveis, de processos industriais e do uso de fertilizantes químicos, teve sua concentração aumentada de 285 ppbv, da era pré-industrial, para 310 ppbv na década de 1990. Atu- almente, a concentração de CO2 na atmosfera está em 400 ppm, 42% acima do valor observado an- tes da Revolução Industrial. Gigantes da Ecologia | 67
O clima vai esquentarProf. Dirceu L. Severo, Dr. (FURB)Doutor em Meteorologia O clima da Terra e suas variabilidades causado por eventos de secas prolonga-podem ter influenciado negativamente o das. Há 20 mil anos a região do Saharadesenvolvimento das civilizações ao lon- apresentava um ecossistema de savana,go dos séculos. Registros arqueológicos propício para atividades agrícolas masguardam sinais de sociedades que colap- que, devido à variabilidade climática,saram abruptamente devido às mudan- tornou-se o ambiente árido e estéril queças climáticas. O fim da civilização dos persiste até hoje. Ainda na América doAcadianos, antigos habitantes da região Sul, há indícios de que a parte central doatual da Síria, há cerca de 4.200 anos, deserto do Atacama, um dos mais secosocorreu devido a um episódio de seca do mundo, desfrutou de condições ade-muito intensa. O colapso dos Maias, na quadas à vida, tendo grande abundânciaAmérica Central, também parece ter sido de gramíneas, macroflora e roedores.68 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
O clima da Terra é o resultado do balanço entre a posição do carbono em ambiente anaeróbico, comoenergia solar de ondas curtas absorvida pelo sistema ocorre em pântanos e em lagos construídos para gerarterra-atmosfera e a radiação infravermelha terrestre hidroeletricidade, são exemplos de atividades que pro-emitida de volta para o espaço. O denominado efeito duzem gases de efeito estufa. Por outro lado, parte doestufa é, portanto, um fenômeno natural, sem o qual a aumento da temperatura média observado nas últimastemperatura média do planeta, hoje em torno de 15ºC, décadas, também pode estar associado a fatores na-cairia para –18ºC, tornando inviável a permanência da turais como as variações cíclicas do albedo planetário,biosfera tal como a conhecemos. O vapor d’água e o atividade vulcânica e outros de origem interna. É reco-gás carbônico são os agentes mais ativos do efeito es- nhecido que, durante a ocorrência do fenômeno El Niño,tufa, absorvendo diferentes faixas da radiação infraver- as temperaturas médias globais aumentam. Entretanto,melha terrestre, colaborando de forma preponderante nos eventos El Niño de 1982/83 e 1992/93, as anomaliasno processo de aquecimento planetário. Outros gases positivas de temperatura não foram significativas devi-contribuem em quantidades diferentes para o efeito do do à presença dos aerossóis emitidos pelas erupçõesaquecimento da Terra, como o metano, o óxido nitro- dos vulcões El Chichón e Monte Pinatubo. Levando emso, o ozônio, os clorofluorcarbonos, etc., além de vários consideração estes fatores, os modelos climáticos dotipos de aerossóis. Em consequência das atividades IPCC têm previsto que, caso as emissões de gases doantrópicas, o volume destas substâncias aumentou sig- efeito estufa continuem crescendo às atuais taxas aonificativamente e, portanto, estariam contribuindo para longo dos próximos anos, a temperatura do planeta po-o aquecimento global. A queima de combustíveis fós- derá aumentar até 4,8 graus Celsius no final deste sécu-seis, a expansão de áreas urbanas, os desmatamentos lo, resultando em uma elevação de até 82 centímetrose queimadas de biomassa, a multiplicação do rebanho no nível do mar, com danos importantes na maior partebovino, cujo processo digestivo libera metano, a decom- das regiões costeiras do globo. Gigantes da Ecologia | 69
Aumentoprogressivo das necessidades energéticas e suas consequências ambientais.
A s fontes de energia são recursos da natureza ou artificiais uti- lizados pela sociedade para a produção de algum tipo de energia. Esta, por sua vez, é empregada com o objetivo de propiciar o deslocamento de veículos, gerar calor ou produ-zir eletricidade para os mais diversos fins. Porém, atualmente, há umagrande preocupação em todo o mundo por conta das fontes energé-ticas a serem usadas, seu consumo, a forma de produção e, principal-mente, os impactos ao meio ambiente. A geração de energia é um assunto extremamente estratégico nocontexto geopolítico global pois, o desenvolvimento dos países de-pende de uma infraestrutura energética capaz de suprir as demandasda população e das atividades econômicas. Os meios de transporte ecomunicação, além de residências, indústrias, comércio, agricultura evários campos da sociedade, dependem totalmente da disponibilidadede energia. Por isso, com o crescimento socioeconômico de diversospaíses, a cada ano a procura por recursos para a geração de energiatem crescido. As fontes de energia podem ser classificadas conformea capacidade natural de reposição de seus recursos. Existem, assim, asfontes renováveis e as não renováveis. As fontes renováveis são as que possuem capacidade de seremrepostas naturalmente, o que não significa que não sejam inesgotá-veis. Algumas delas, como o vento e a luz solar (eólica e solar), sãopermanentes; mas outras, como a água, podem acabar dependendodo uso que é feito. No Brasil, a principal fonte de energia elétrica é ahidrelétrica, que corresponde ao aproveitamento da água e dos riospara a movimentação das turbinas de eletricidade. Nas usinas hidro-elétricas constroem-se barragens no leito do rio para o represamentoda água que será utilizada no processo de geração de eletricidade.Nesse caso, o mais aconselhável é a construção de barragens em riosque apresentem desníveis em seus terrenos, com o objetivo de dimi-nuir a superfície inundada. As fontes não renováveis de energia são aquelas que poderão es-gotar-se em um futuro relativamente próximo. Alguns recursos ener-géticos, como o petróleo, possuem o seu esgotamento estimado paradaqui a algumas décadas, o que eleva o seu valor. Outra fonte nãorenovável e bastante utilizada é o fóssil. A queima de combustíveisfósseis pode ser empregada tanto para o deslocamento de veículos
pequenos, médios e grandes, quanto para tas começou com grande intensidade paraa produção de eletricidade em estações a geração de vapor, que ajudou no cresci-termoelétricas. Os três tipos principais são: mento das economias.petróleo, carvão mineral e gás natural. Se-gundo dados da Agência Internacional de Há cerca de 150 anos, a fonte de ener-Energia, cerca de 80% de toda a matriz gia mais utilizada é a fóssil. Recentemente,energética global advêm dos três principais isso tem se intensificado com o crescimen-combustíveis fósseis acima citados. to da indústria automobilística e a grande industrialização dos países desenvolvidos Cada tipo de energia apresenta suas e em desenvolvimento que, juntos, emitemvantagens e desvantagens, de forma que bilhões de toneladas de gases na atmosfera,não há nenhuma fonte que se mostre, no provocando impactos ambientais negativos.momento, como absoluta sobre as demais Esses fatores trazem alterações climáticasem termos de viabilidade. Algumas são ba- provocadas, principalmente, pelo efeito es-ratas e abundantes, mas geram graves im- tufa e a destruição da camada de ozônio.pactos ambientais; outras são limpas e sus-tentáveis, mas financeiramente inviáveis. O Embora praticamente todos os tipos demais aconselhável é que, nos diferentes ter- geração de energia, tragam de alguma for-ritórios, exista uma grande diversidade nas ma impactos negativos ao meio ambiente,matrizes energéticas para atenuar os seus sua produção é necessária para atender aorespectivos problemas, o que não acontece crescimento da população e sua sobrevi-no Brasil e em boa parte dos demais países. vência. O homem precisa se conscientizar sobre a necessidade de explorar sem acabar Início de tudo com os recursos naturais. Trata-se de uma Se voltarmos um pouco na história, ve- mudança cultural na forma de utilização daremos que na época das cavernas o homem energia, optando-se por meios mais inteli-já queimava os troncos e galhos de árvores gentes, racionais e responsáveis. A energiapara fazer o fogo, o que não prejudicava as é imprescindível para a sobrevivência doflorestas. No entanto, com a invenção da mundo, mas deve ser produzida e consumi-máquina a vapor, a devastação das flores- da sem comprometer as gerações futuras.
Cada tipo de energia apresenta suas vantagens e desvantagens, de forma quenão há nenhuma fonte que seapresente, no momento, como absoluta sobre as demais em termos de viabilidade Gigantes da Ecologia | 73
Prof. Henry F. Meyer, Dr. (FURB). Doutor Aumento progressivoem Engenharia Química das necessidadesProf. Vinicyus R. Wiggers, Dr. (FURB). energéticas e suasDoutor em Engenharia Química consequênciasPesq. Waldir P. Martignoni, Dr. ambientais.(Petrobrás). Doutor em EngenhariaQuímica O fornecimento eficaz de energia é o principal alia-Prof. Laércio Ender, Dr. (FURB). Doutor do do bem-estar e desenvolvimento econômico daem Engenharia Química sociedade. Notavelmente a necessidade por energiaPesq. Ramon F. Beims, Me. (FURB). faz parte tanto de processos produtivos na indústria,Mestre em Engenharia Química quanto para atender as necessidades do atual padrão de vida da sociedade. Uma vez que as atividades rela- 74 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta cionadas com o consumo de energia aportam impacto significativo ao meio ambiente, faz-se necessário pro- curar por formas de atender à demanda exigida para o desenvolvimento tecnológico e econômico, com a preocupação de causar o mínimo impacto ambiental. O consumo de energia é apontado como o prin- cipal responsável por diversos problemas ambientais como, por exemplo, a emissão de gases de efeito estu- fa. Paradoxalmente, é necessário para o contínuo de- senvolvimento tecnológico e o crescimento mundial. Neste contexto, o objetivo deste capítulo é possibilitar uma reflexão sobre o constante aumento da neces- sidade energética mundial e os impactos ambientais ‘associados ao uso das principais fontes energéticas.
Aumento da demanda energética mundial O aumento da demanda energética tem comoimpulsionador o crescimento populacional, aliado àcrescente urbanização e desenvolvimento tecnológi-co. A população mundial atingiu aproximadamente7,4 bilhões de habitantes em 2016, devendo atingir 9,7bilhões em 2050 (THE WORLD BANK, 2017). Conse-quentemente, espera-se que a população urbana, es-timada em 4 bilhões em 2016, alcance 6,5 bilhões em2050 (UNITED NATIONS, 2014). Nas grandes cidadesa população urbana é responsável por aproximada-mente 68% do consumo energético mundial, e como contínuo aumento da urbanização, a necessidadepor energia torna-se cada vez maior (SHABAZ et al.,2017). De fato, projeções feitas pela International Ener-gy Agency – IEA (2013), baseadas em dados econômi-cos e políticas de mercado atuais, demonstram que oconsumo de energia continuará a crescer considera-velmente nos próximos anos (Figura 1). Nota-se que asprojeções sugerem uma fração maior de consumo dasfontes fósseis do que outros materiais. Em 2040, cercade 80% do consumo de energia mundial ainda deveser proveniente de fontes fósseis. Figura 1. Projeção do consumo de energia mundial. Fonte: : International Energy Outlook, 2016. Gigantes da Ecologia | 75
Mais de metade do aumento projetado no consumo relacionada com a precariedade dos serviços prestadosmundial de energia de 2012 a 2040 ocorre entre os países à população. Observa-se também que mesmo um leveda Ásia. A China e a Índia, em particular, estão entre as aumento no consumo de energia de uma nação apontaeconomias de maior crescimento durante a maior parte valores mais altos no seu IDH, enquanto faixas mais al-da década passada (HERD e DOUGHERTY, 2007). Em- tas de IDH podem exigir alto incremento no consumo debora as taxas de expansão econômica devam se tornar energia para sua melhora gradativa.moderadas no futuro, ambos os países continuarão a serdestaque no crescimento da demanda mundial de energia Figura 2. Relação da energia consumidaao longo do período projetado. per capita com o IDH de cada país. O crescimento econômico e populacional de uma Fonte: : The World Data Bank, 2017 (consumo de energia) e UNDP, 2015 (IDH).nação resulta em uma maior demanda por energia. Oconsumo de energia está associado ao bem-estar social,visto que tem efeito sobre serviços de saúde, educação,comunicação, acesso à informação e produtividade agrí-cola e industrial. Em 2014, o consumo médio de energiaper capita no mundo foi de aproximadamente 1,9 tone-ladas equivalente de petróleo; porém, existem amplasvariações desse valor entre países desenvolvidos e emdesenvolvimento. Uma relação da energia consumidaem um país com o seu índice de desenvolvimento hu-mano (IDH) é apresentada na Figura 2. Embora existauma ampla faixa no consumo de energia entre os paí-ses com elevado IDH, os dados sugerem que países maisdesenvolvidos tenham maiores necessidades energéti-cas que países em desenvolvimento. A baixa demandaenergética nos países menos desenvolvidos pode estar
A matriz energética mundial e seus impactos associados A matriz energética mundial pode ser dividida em poníveis por um longo período. Isto explica o porquê datrês fontes principais: fóssil (petróleo, carvão e gás na- fração de energia consumida por fontes fósseis ainda sertural), renovável (hidrelétrica, biomassa, solar e eólica) e majoritária em 2040 (ver Figura 1). Um cálculo realizadonuclear. Cada fonte tem as suas especificidades em rela- em 2016, baseado nas reservas estimadas em 2015, con-ção ao fornecimento de energia com o objetivo de aten- siderando o volume de extração do mesmo ano, apontader a atual demanda energética, conforme apresentado de forma conservadora a disponibilidade de petróleo,na Figura 1. Todas apresentam impactos negativos ao gás natural e carvão por ao menos 53, 54 e 109 anos,meio ambiente associados ao seu uso, como discutido respectivamente.nos itens subsequentes. RESERVAS DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS EM 2015 Fontes fósseis São considerados fontes fósseis de energia os mate- Petróleo Carvão Gás Naturalriais oriundos da decomposição parcial de matéria orgâ- (bilhões de (bilhões de (trilhões de m3)nica em condições específicas de pressão e temperatura,devido às camadas de sedimentos acumulados ao lon- barris) toneladas)go dos períodos geológicos. Nesta classificação enqua-dram-se o petróleo, o gás natural, o carvão e o xisto. O América do Norte 238,0 245,0 12,8petróleo é considerado uma fonte energética atrativa América Central e do Sul 329,2 14,6 7,6devido à elevada eficiência em relação ao seu processa- Brasil 13,0 6,6 0,4mento, desde a extração até a conversão nos produtos Europa e Eurásia 155,2 310,5 56,8finais. Sua armazenagem e transporte são relativamente Oriente Médio 803,5 80,0fáceis, e existe uma grande infraestrutura construída para África 129,1 1,1 14,1a distribuição de petróleo e seus derivados. Embora as Ásia e Pacífico 42,6 31,7 15,6fontes fósseis estejam ameaçadas de se tornarem escas- 288,3sas dentro de alguns anos, as reservas identificadas até omomento (Tabela 1) mostram que elas ainda estarão dis- Total 1697,6 891,2 186,9 Fonte: British Petroleum, 2016.
Deve se levar em consideração que a estimativa RESERVAS MUNDIAIS DE XISTO CONVENCIONALse baseia nas tecnologias de extração existentes. Odesenvolvimento de novas tecnologias pode trazer Reserva disponível (bilhões de barris)uma perspectiva diferente a esta previsão; o caso doxisto não convencional no início dos anos 2000 é um País Xisto Xisto nãoexemplo disto. O xisto pode ser dividido basicamente convencional convencionalem convencional e não convencional. O xisto conven-cional é uma rocha sedimentar de grão fino, contendo Estados Unidos 4285 25uma mistura sólida de compostos orgânicos (quero-gênio), a partir do qual podem ser produzidos hidro- Rússia 248 80carbonetos líquidos, usualmente denominados comoóleo de xisto. O xisto não convencional, por sua vez, Rep. do Congo 100 *é essencialmente o óleo preso em formações de xistoe, como a permeabilidade da rocha é muito baixa, é Brasil 82 13necessário que ela seja fraturada para retirá-lo de seuinterior. Em meados da década de 2000, nos EUA, Itália 73 *houve um aumento da produção de óleo de xisto (nãoconvencional), que em 2008 reverteu o declínio nor- Jordânia 34 *te americano, de longa data, na produção de petróleobruto. Este aumento foi estimulado pelo alto preço do Austrália 32 1petróleo bruto convencional após 2003, o que tornoucompetitiva a tecnologia emergente do óleo de xisto * valores não disponíveis nos relatórios consultados.não convencional’. Desde então, o custo de produçãode óleo de xisto não convencional diminuiu substan- Fonte: World Energy Council, 2013 e EIA, 2013.cialmente, já que os processos envolvidos para o óleode xisto tornaram-se mais eficientes (KILLIAN, 2016). Porém, o uso de fontes fósseis está diretamente as-A Tabela 2 apresenta uma estimativa das reservas de sociado a questões ambientais (ALAM et al., 2016). Àxisto (convencional e não convencional) disponíveis medida que as emissões de dióxido de carbono (CO2)no mundo. O total mundial de xisto convencional e resultam, principalmente, da combustão de combustí-não convencional é estimado em 4,9 trilhões e 1,6 tri- veis fósseis, o consumo de energia está no centro dolhões de barris, respectivamente. Somado a isto, há debate sobre mudanças climáticas, uma vez que asmais 345 bilhões de barris em recursos potenciais de projeções indicam emissões cada vez maiores (Figu-xisto não convencional. ra 3). Cerca de 32 bilhões de toneladas métricas de CO2 foram geradas em 2012, decorrentes do uso as- sociado de petróleo, carvão e gás natural. Estima-se que a geração de CO2 tenha um aumento de 30% até 2040 (International Energy Outlook, 2016). O aumento das concentrações de dióxido de carbono é apontado como um dos principais causadores da elevação geral da temperatura do globo terrestre, conhecida como “efeito estufa”. Como consequência, o aquecimento
global poderia modificar o regime das chuvas, resul-tando em alterações nas terras cultiváveis e sobre a ex-tensão dos desertos. Existe uma ampla concordânciana comunidade científica de que as emissões globaisde gases de efeito estufa devem ser reduzidas em pelomenos 80% até 2050, a fim de evitar mudanças climá-ticas severas (MEINSHAUSEN et al., 2009). Figura 3. Emissões decorrentes de combustíveis fósseis Fonte: International Energy Outlook, 2016. Usinas nucleares A energia nuclear é produzida através de dois pro-cessos principais: fissão e fusão. A fissão nuclear é capazde gerar mais energia do que a produzida pela combus-tão de fontes fósseis e, em face aos impactos ambientaisprovocados pelo uso de combustíveis fósseis, a energianuclear também se mostra vantajosa, uma vez que seuprocesso produtivo não libera gases de efeito estufa emquantidades significativas. Também não libera gases deenxofre ou nitrogênio, qualificando-se como uma tecno-logia limpa para geração de eletricidade. Além disso, ocusto da energia nuclear é mais estável, ao passo queas fontes energéticas derivadas de combustíveis fósseissão inteiramente dependentes de oscilações no mercadointernacional (PFENNINGER e KEIRSTEAD, 2015). Entretanto, em 2012 o consumo de energia nuclearmundial foi de aproximadamente 25,87 EJ, o que corres-ponde a cerca de apenas 4% do consumo total mundial(International Energy Outlook, 2016). Um motivo asso-
ciado a esta baixa fração correspondente à energia nuclearé a geração de resíduos nas usinas. Devido à enorme den-sidade energética, as usinas de energia nuclear produzemquantidades muito menores de resíduos do que as plantasfósseis. Porém, embora o volume total e a massa de resíduosnucleares produzidos por ano sejam relativamente baixos,sua radiotoxidade resulta em preocupação com o empregoda energia nuclear. Os resíduos nucleares requerem isola-mento, armazenamento e resfriamento adequados, tornan-do o tratamento dos resíduos complexo para ser controladoe gerenciado. Além disso, o histórico de acidentes relaciona-dos com usinas nucleares, como os de Chernobil (em 1986)e Fukushima (em 2011), criou uma grande barreira popularcontra sua ampliação (MCCOMBIE e JEFFERSON, 2016), ge-rando um impacto negativo sobre o crescimento da utiliza-ção das usinas nucleares. Assim, nota-se que, apesar de seruma opção promissora no sentido de atender à necessida-de energética mundial, as projeções não indicam um futuropromissor para a energia nuclear (ver Figura 1), à exceção denovas estratégias que aumentam a segurança nas plantas eno manuseio e descarte do resíduo nuclear. Usinas hidrelétricas Reconhecendo a possível escassez e os impactos am-bientais associados ao uso de combustíveis fósseis e do tra-tamento do resíduo nuclear, nos últimos anos tem se dadomaior atenção a fontes alternativas de energia, principal-mente baseada em recursos renováveis. As energias renová-veis em comparação com as fontes de energia convencionais(de origem fóssil) são apresentadas como de menor impactoao meio ambiente. Dentro destas, a geração de energia pro-veniente de hidrelétricas adquiriu um papel cada vez maissignificativo, representando um dos maiores contribuidorespara o fornecimento de energia elétrica em alguns países,como é o caso do Brasil. Devido às suas especificidades, ageração de energia por hidrelétricas aparece como uma pos-sibilidade para enfrentar os desafios trazidos pela crescentedemanda energética global e, ao mesmo tempo, atende aospadrões ambientais, especialmente considerando as exigên-cias quanto às emissões de gases de efeito estufa, aqueci-mento global e mudanças climáticas (BOTELHO et al., 2017). Em 2012, as usinas hidrelétricas foram responsáveis por17% da energia elétrica produzida mundialmente, o quecorresponde a aproximadamente 3,66 trilhões de kWh (Fi-gura 4). No Brasil, conforme dados da ANEEL, as usinashidrelétricas são responsáveis por cerca de 61% do forne-cimento de energia elétrica. Além disso, pequenas centraishidrelétricas (PCH) também merecem destaque no cenárionacional. Embora representem apenas 3% da geração na-
cional, a descentralização na geração de energia possi- correspondente a somente um quinto da energia pro-bilita um melhor atendimento às necessidades de car- duzida por hidrelétricas.ga de pequenos centros urbanos e regiões rurais, poiscomplementa o fornecimento realizado pelo sistema Apesar do papel desempenhado pela energia hi-interligado. Elas também apresentam prazo reduzido drelétrica como uma alternativa renovável necessáriade construção devido às obras civis de pequeno por- no cenário de energia global, como qualquer outrate. O principal fator negativo relacionado às PCHs é o fonte de energia, ela implica benefícios e custos tan-alto custo para produção de energia e a dependência to em nível ambiental, como socioeconômico. Os im-do período de chuvas onde estão instaladas. Ou seja, pactos ambientais são associados às áreas inundadasem épocas do ano em que as chuvas são escassas, as para construção da usina, causando impactos na faunamáquinas podem ficar subutilizadas, podendo ocorrer e flora, intrusão na paisagem, impactos nos recursossua ociosidade (SACHDEV et al., 2015). hídricos, destruição de relíquias e sítios históricos, e impactos visuais (BOTELHO et al., 2017). A natureza Figura 4. Energia proveniente de hidrelétricas. e a extensão dos problemas causados são altamente dependentes das características específicas do local, bem como do tipo e dimensão da usina hidrelétrica, o que sugere que os impactos que afetam as comunida- des locais devem ser avaliados “caso a caso”, uma vez que envolvem as áreas inundadas para construção da usina (KOCH, 2002). Figura 4. Energia elétrica por fontes renováveis. Fonte: International Energy Outlook, 2016. Fonte: International Energy Outlook, 2016. Entretanto, as projeções apresentadas na Figura 4 Gigantes da Ecologia | 81apontam para uma redução na fração da energia prove-niente de hidrelétricas até 2040. Parte disso se deve aofato de que a fração ocupada por outras fontes renová-veis, como a energia solar e a eólica, tende a aumentarnos próximos anos (Figura 5). Somente a energia solardeve aumentar nove vezes até 2040, embora ainda seja
O tamanho do reservatório criado por um projeto hidrelé-trico pode variar, dependendo em grande parte do tamanhodos geradores hidrelétricos e da topografia da terra. As usinashidrelétricas em áreas planas tendem a exigir muito mais terrado que aquelas em áreas montanhosas onde reservatórios maisprofundos podem conter mais volume de água em um espaçomenor (AGUIAR et al., 2016). A área inundada para um reserva-tório hidroelétrico tem um impacto ambiental extremo, poden-do destruir partes de florestas e, consequentemente, prejudicara fauna e flora locais, e terras agrícolas (YARDLEY, 2007). Alémdisso, após a inundação para construção da barragem da usinahidrelétrica, a vegetação e o solo que estão localizadas na árease decompõem e liberam CO2 e metano (CH4). A quantidadeexata de emissões depende muito das características específi-cas do local; no entanto, estimativas sugerem que as emissõesdo ciclo vital podem ser superiores a 200 gramas de equivalen-te de dióxido de carbono por quilowatt-hora (IPCC, 2011; NAS,2010). Desta forma, torna-se uma tarefa bastante complexaidentificar os reais impactos causados pelo uso da energia pro-veniente de usinas hidrelétricas. Outras fontes renováveis O maior crescimento em energia renovável é projetadopara os recursos provenientes de usinas eólicas e solares (In-ternational Energy Outlook, 2016). Estes tipos de fonte ener-gética têm recebido atenção considerável por serem apon-tados como uma forma de geração de energia amigável aomeio ambiente, visto que não emite gases poluentes, nem geraresíduos. Porém, a energia gerada a partir desses recursos éinfluenciada por condições climáticas e, assim, armazená-laou garantir um fornecimento estável continua a ser o principalfator impactante para o seu crescimento. No caso da energiasolar, a escassez da radiação solar durante a noite, ou em casode condições meteorológicas adversas, deve ser compensadapela energia gerada durante períodos de maior intensidade.Em relação à eólica, a energia gerada pela turbina é proporcio-nal à velocidade do vento. Se a velocidade do vento no localde instalação for inferior à velocidade de corte da turbina eóli- ca, a geração de eletricidade será desligada, comprometendo o fornecimento constante de energia. (AL-SHARAFI et al., 2017). Biocombustíveis produzidos a partir de biomassa também oferecem uma fonte de energia renovável. O termo biomassa compreende materiais como cascas e outros resíduos decorrentes da agroindústria, óle- os vegetais e gorduras animais. Assim, os biocom- bustíveis proporcionam uma fonte renovável de energia, podendo ser utilizados como substi- tutos dos combustíveis fósseis. Dentre os
mais comuns, podem-se mencionar o etanol, produzi- ainda, aproveitar as oportunidades que possam surgir.do a partir da cana-de-açúcar ou milho, e o biodiesel, a Exemplos de medidas de adaptação incluem o uso departir de sementes oleaginosas (DEMIRBAS, 2011). Além recursos hídricos escassos de forma mais eficiente e odisso, outros processos, como o craqueamento térmico/ desenvolvimento de culturas tolerantes à seca. Os pa-catalítico, vêm sendo investigados para produção de bio- íses de baixa renda tendem a ser mais vulneráveis aos-óleo a partir de fontes renováveis. O bio-óleo consiste riscos climáticos e a algumas medidas de adaptaçãono produto líquido obtido pelo craqueamento térmico/ (ZACHARIADIS, 2016).catalítico de biomassa, sendo rico em hidrocarbonetosde forma similar ao petróleo. Através do fracionamento Especificamente para países em desenvolvimento, ado bio-óleo pode se obter combustíveis de forma se- introdução em larga escala da geração de energia reno-melhante ao que é feito com o petróleo nas refinarias vável pode ter um retorno econômico baixo, dificultando(WIGGERS et al., 2017). Entretanto, o uso de biocombus- o crescimento contínuo de suas economias (LAMBERTtíveis apresenta impactos negativos. Algumas das ma- et al., 2014). Enquanto os países em desenvolvimento,térias-primas utilizadas no processo produtivo, como o de modo geral, contribuíram pouco para as emissões demilho, a cana de açúcar e o óleo vegetal, podem ser uti- gases de efeito estufa, eles são os mais vulneráveis aoslizadas tanto como alimentos, quanto para produzir bio- efeitos adversos das mudanças climáticas devido à suacombustíveis. Isto gera preocupações no sentido de que dependência excessiva do meio ambiente. Neste con-a geração de energia com estas fontes poderia resultar texto, as estratégias para mitigar as mudanças climáti-em outros problemas, como a escassez de alimentos cas não devem limitar a capacidade dos países menosnos países em desenvolvimento (TOMEI e HELLIWELL, desenvolvidos de atender às suas necessidades básicas2016). Além disso, os biocombustíveis apresentam ca- de energia para o desenvolvimento, mas sim apoiar oracterísticas que diferem de certo modo dos combus- acesso a fontes de energia mais limpas (GAYE, 2007).tíveis fósseis e nem todas as máquinas e equipamentosestão adaptados para isto. Reduzir os elevados custos Conclusãoe o aumento de escala são os principais desafios asso- O constante crescimento populacional observadociados ao uso de biocombustíveis. O co-processamento nas últimas décadas tem por consequência uma deman-do bio-óleo com o petróleo dentro da refinaria pode ser da cada vez maior por energia. Embora os combustíveisuma opção promissora, embora ainda sejam necessárias fósseis tenham contribuição significativa no incrementoinvestigações (BEIMS et al., 2017). da concentração de gases de efeito estufa na atmos- fera, a quantidade de reservas disponíveis ao redor do De forma geral, a ampliação da geração de energia mundo, aliado às atuais políticas de governo, resultama partir de fontes renováveis para patamares mais sig- em projeções que indicam que seu consumo não devenificativos reside em quatro questões fundamentais: os diminuir no futuro próximo. Além disso, outras fontes deprocessos relacionados devem levar em conta o lado energia, não provenientes de fontes fósseis, também po-econômico, serem ambientalmente amigáveis, garantir a dem provocar impactos ambientais, o que gera diversasestabilidade de fornecimento e, somado a isso, permitir preocupações sobre o seu uso.a operação em escala industrial (SILVA, 2008). A geração de energia de forma sustentável é um dos grandes desafios do atual cenário energético mundial. Estratégias de adaptação A pesquisa e o desenvolvimento de fontes alternativas As projeções apontam para um aumento progres- devem continuar para facilitar a transição de uma matrizsivo do uso dos combustíveis fósseis. Embora alguns energética baseada na combustão de hidrocarbonetospaíses tenham envidado esforços no sentido de assu- para outra mais limpa e renovável, visando a minimizarmir compromisso com a redução do consumo de fontes os impactos ambientais e a diversificação das fontes.fósseis, a necessidade crescente de energia tem criado Da mesma forma, também se faz necessária a realiza-barreiras para isto. ção de estudos para adaptação das comunidades a vá- Há também que se pensar no conceito de adapta- rios cenários climáticos. Cabe ressaltar que a sociedadeção. Isto significa antecipar os efeitos adversos das mu- também representa um papel importante no sentido dedanças climáticas e tomar as medidas adequadas para procurar formas mais eficiente e consciente de utilizarprevenir ou minimizar os danos que podem ocorrer ou, os recursos energéticos disponíveis de forma. Gigantes da Ecologia | 83
É necessário investir em políticassustentáveis na agricultura
O modelo global de produção, no Brasil e que a mudança no uso do solo distribuição e consumo de ali- representa cerca de 42% das emissões, mentos precisa ser revisto com pode-se afirmar que 74% das emissões de urgência. Há um paradoxo no gases que contribuem com o efeito estufamundo: enquanto quase 800 milhões de são oriundos da agropecuária. O calcanharpessoas ainda passam fome, outros 2 bi- de Aquiles é o desmatamento da Amazô-lhões em todo o mundo estão obesos, nia e do Cerrado.ou com sobrepeso. Nunca se produziutanta comida. No entanto, a distribuição Ao mesmo tempo em que a agriculturae o acesso são desiguais. Estimativas da é uma das principais vilãs do efeito estu-Organização das Nações Unidas para Ali- fa, a agropecuária é a principal vítima domentação e Agricultura (FAO), mostram aquecimento global. Alterações no clima,que, em 2050, a população mundial ultra- que provocam o aumento ou a queda dapassará os 9 bilhões de pessoas, dos quais temperatura, bem como eventos extremos,70% residirão na zona urbana. Este quadro como geadas ou secas prolongadas, atin-contribuirá para o aumento da demanda gem a produção de alimentos. No Brasil,por alimentos em mais de 60%. A compe- estima-se que um mundo 2ºC mais quen-tição por terra, água e comida, com certe- te reduzirá a área produtiva de culturasza, agravará os problemas relacionados à importantes como soja, arroz e feijão atéfome e à pobreza. 2030. Com a redução de oferta, os preços se elevam e mais pessoas passam fome. Além disso, o uso intensivo de agrotó-xicos e de recursos naturais (solo e água), Para atender ao aumento da população,o desmatamento e a enorme contribuição a produção de cereais terá que crescer emda agropecuária para as mudanças climá- torno de um bilhão de toneladas, enquantoticas, colocam em xeque esse modelo in- a demanda por carnes deverá superar ossustentável e desigual no qual, mesmo se 470 milhões de toneladas. A FAO estimaproduzindo cada vez mais, milhões ainda que os países em desenvolvimento consu-passam fome. De quebra, o meio ambiente mirão 72% da produção mundial de carne,está sendo afetado para que haja aumento um aumento de 12 pontos percentuais noda produção. consumo atual. No Brasil, o aumento da produção nos Alimentos contaminadosúltimos anos vem esgotando os recursos Antes de escolher os alimentos em su-naturais que garantem a própria sustenta- permercados, feiras e até em restaurantesção das lavouras. Segundo o último cálculo é bom avaliar o que se está comendo. Paradisponibilizado no Sistema de Estimati- aumentar a produção agrícola e pecuá-va de Emissão de Gases de Efeito Estufa ria os produtores investem em defensivos(SEEG), do Observatório do Clima, a agro- agrícolas e em hormônios. Tudo isso into-pecuária é responsável por 32% das emis- xica o organismo e provoca doenças. Va-sões no país. Considerando que a ativida- rejistas e detentores de grandes marcasde é a principal causa de desmatamento de alimentos, por sua política de compras;
produtores rurais, por meio de suas escolhas de práti- aumentada. Para atender a demanda, os vegetaiscas agrícolas, governos, por suas políticas de subsídio, precisam amadurecer mais rápido, o gado e as avesassistência técnica e compras institucionais, definem o precisam atingir o peso de abate logo. Com isso, maisque está sendo colocado no prato do cidadão. Em uma áreas são desmatadas para esse fim e agrotóxicosporção maior ou menor, todos consomem agrotóxicos, mais potentes são utilizados em larga escala, degra-que estão nos alimentos, na água e até nas roupas. dando o meio ambiente.Segundo o último Programa de Análise de Resí- Para não ser contaminado por esse ciclo vicio-duos de Agrotóxico (PARA), organizado pela Agên- so, o ser humano deve prestar atenção no que estácia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram comendo. O ideal seria se alimentar apenas com ali-detectados resíduos em 67% de todos os alimentos mentos orgânicos, sem uso de defensivos agrícolas,testados. Das amostras com resídu- fertilizantes ou pesticidas. No entan-os, quase 40% continham agrotóxicos to, nem todos têm acesso a esse tiponão autorizados, ou acima de limites de alimentação. Na hora de cozinhar,máximos, fato destacado pelo Institu- Os agrotôxicos os alimentos deveriam ser aproveita-fçdocnrbttasaaooiáãuggaleiieuvsozlrraNtnncoepOííaimccvdoatallrçooosaaacmabpãalli,dgiaasoaioeopieaaa.sdglnqonsaUssrparauetpo.mnfrepalcdeouotEodlaooôlnrvadleauoelexrmotiuxçosndeisdcCcemaãsuisuzaaomcoânazeadsosdndegpdçndancepmoãrtnleeetoola.oaaãspármatenamotgeó(bdrqtlIuxipoiaNeesaeuniatçsrclsiCah,eop7lõotímaAba3dãdresdosor%ue)so,éiflt.o.ftlirafeoiaAaidesvemmnrpsairradesapeebpsiasaçvndoeéatmedãoaunecmsoeass-----péciescvofedangenuetotáãnaansgomaisaouiealncasoopo,tal,aãmmraaeofisntddlmacofateaoaoaorapnm.rioeadnsçEbrnodõgteleéaaanoeeemanessssssirisgnmidaou,psácddtdpmdcvtdauroeageeorereiafiarralusmsovaaáimnOlpoai.irbgesdzadie.rsezAeou.aneoPerlarAdrahddsaearapiaoífaprnmrcrcoooarsedoiuorrsso.sdsipimtmãdapAv.piácarmoçuríoavlaoodloéãiçeidmnnumndonqãilunss.oueuoueádeAztsdiczanenvriesedirentvgeddoseutpbatirnoossisaanmdeoãáscmltsvfapo,oraersqieideebopnrsofucnelsa,ésoagoaoicezcmlrseseoona2eoenrédvss0radnfoeeu,eeem0useprmrvevmiommmtoeiscotmlomqdbraiaeetdiureereareladdnhooemmmmsioeeeasss-- resíduo por causa de embalagens. Alimentos emba-Sustentabilidade na alimentação lados em plástico estão contaminados por BisfenolCom o crescimento da população mundial, a A, uma substância relacionada ao surgimento de do-produção de alimentos está sempre precisando ser enças como câncer.86 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
CONHEÇA MAIS SOBRESUSTENTABILIDADE A agricultura de conservação ousustentabilidade alimentar procuraaprender com a natureza, onde tudono sistema é mantido em equilíbrio efunciona em harmonia. Muitos sistemas de produção paraa agricultura sustentável têm sido pro-postos nas últimas décadas. Entre di-versos existentes, dois têm dado bonsresultados: o sistema de plantio diretoe a integração lavoura pecuária. A pri-meira técnica tem se destacado comogrande responsável por proporcionara sustentabilidade alimentar em diver-sos países. O ato de se realizar seme-adura diretamente sobre o solo semrevolvimento, aliado à manutençãoconstante de palha sobre a superfíciee a rotação de culturas, tem garanti-do alta produtividade, além da con-servação dos solos. Já o sistema deintegração lavoura pecuária se baseiana execução de diferentes atividadesagropecuárias na mesma área. A inte-gração tem se destacado por propor-cionar a sustentabilidade alimentar euma maior segurança financeira parao produtor rural, que tem sua rendaproveniente de diversas fontes. Gigantes da Ecologia | 87
O efeito da agriculturaPesq. Edison Barbieri, Dr. (Instituto de Pesca da Secretária daAgricultura do Estado de São Paulo, Divisão de Maricultura, Base deCananéia). Doutor em Oceanografia Biológica Embora a Terra já tenha presenciado a fertilizantes e inseticidas, e os esgotos extinção de animais (como os dinossau- domésticos e industriais estão degra- ros, em tempos remotos), nunca como dando e envenenando os sistemas natu- agora estão se perdendo tantas espécies rais, o que causa o desaparecimento dos e se produzindo tantos processos de al- animais e vegetais que deles dependiam. terações de zonas naturais. A destruição daí resultante não afeta somente as zonas onde estes poluentes Para poder alimentar, alojar, trans- são produzidos: o vento, os rios e as cor- portar os bilhões de seres humanos que rentes marinhas podem transportar as vivem no Planeta, alteram-se fragmentos substâncias contaminantes até centenas de ecossistemas e danificam-se comple- de quilômetros da fonte contaminadora. tamente sistemas inteiros. O emprego de Exemplo flagrante é o DDT, que já foi de-88 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
tectado em tecidos de pinguins da Antártica (Barbieri. Todavia, antes do ano 2005 esse país contarava apenas2013). Grande parte do enorme patrimônio natural está com dez variedades. Isso porque, durante as últimasdesaparecido antes mesmo de ser conhecido, o que re- décadas, aquelas de alto rendimento têm sido preferi-sulta numa perda incalculável para as gerações futuras. das para o plantio, e as demais foram sendo abandona- das. Na Indonésia, mil e quinhentas linhagens de arroz A agricultura atual é baseada na alta produtivida- desapareceram nos últimos quinze anos (Helene & Mar-de, deixando de lado muitos problemas ambientais condes, 1996). No Brasil as linhagens de milho das tri-e sociais que podem vir a se desencadear a médio e bos indígenas, principalmente as do Cerrado Brasileiro,longo prazo. Tendo como base um número reduzido também seguiram o mesmo destino de outras regiõesde espécies vegetais cultivadas em grandes extensões onde o sistema agrícola extensivo avançou sem respei-de terra e poucas variedades dentro dessas espécies, tar o ecossistema.a agricultura moderna tende a homogeneizar a paisa-gem, simplificando, desse modo, os processos naturaise favorecendo a distribuição da diversidade genética davida selvagem e doméstica. A expansão da agricultura,por sua vez, elimina ecossistemas naturais, com perdada diversidade biológica, e provoca alterações no fun-cionamento dos ciclos biogeoquímicos. A agricultura intensiva trouxe consigo uma dimi-nuição da biodiversidade. Visando a obter o máximode rendimento, os agricultores utilizam geralmenteum número reduzido de variedades vegetais; mas es-tas, com frequência, requerem a aplicação de grandesquantidades de fertilizantes e inseticidas. No futuro,corre-se o risco de que estas espécies, mais produ-tivas em certas condições ambientais, tais como au-mento da temperatura, maior incidência de raios ultra-violeta, por causa do buraco na camada de ozônio, doaumento da poluição por gases etc., venham a tornar--se, também, as mais frágeis. Para ter uma ideia de como o sistema agrícola atualafeta diretamente a perda da biodiversidade, basta vero caso da Índia, onde existiam trinta mil linhagens dearroz, plantadas ao longo dos últimos cinquenta anos.
Saneamento básico– uma vergonha para o Brasil
S aneamento básico é visto como uma das infraestruturas mais atrasadas no Brasil, não que as outras não sejam mas, nesse quesito, o País é uma vergonha. Os últimos dados do Ministé- rio das Cidades mostram que o País ainda está longe de cum-prir suas metas básicas de levar água tratada, coleta e tratamento deesgoto para todos os brasileiros. Após 10 anos da lei do SaneamentoBásico entrar em vigor no Brasil, metade da população do País aindacontinua sem acesso a sistemas de esgotamento sanitário. Atualmente, apenas dos 42,6% dos esgotos gerados no Brasilsão tratados e somente 83% dos brasileiros têm água tratada emseus domicílios. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE-2014), ocorrem mais de 400 mil internaçõesanuais por diarreia. Com isso, temos 35 milhões de brasileiros semacesso a este serviço básico e mais de 100 milhões de brasileirosnão têm acesso a esgoto tratado. Em 2007, quando a lei 11.445 foi sancionada, 42% da populaçãoera atendida por redes de esgoto. Até 2015, o índice aumentou 8,3pontos percentuais, o que corresponde a menos de um ponto per-centual por ano. Quanto ao abastecimento de água, apesar de aabrangência ser bem superior à de esgoto, a evolução foi ainda maislenta: passou de 80,9% em 2007 para 83,3% em 2015, um aumentode apenas 2,4 pontos percentuais. Esses índices mostram que o Bra-sil ainda está muito longe de exibir índices de primeiro mundo. En-quanto isso, milhares de pessoas continuam ficando doentes e algu-mas morrendo. Faz-se mais do que urgente a necessidade de mudaresse quadro, ampliando os investimentos em saneamento básico.
ÁGUA • 83,3% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água potável. Os demais usam água impró- pria para o consumo. São mais de 35 milhões de brasileiros sem acesso a este serviço básico; • A cada 100 litros de água coletada e tratada, em média, apenas 63 litros são consumidos. Ou seja, 37% da água tratada no Brasil são perdidos com vazamentos, roubos, ligações clandestinas, falta de me- dição ou medições incorretas no consumo da água, resultando em prejuízo de R$ 8 bilhões; • A região Sudeste apresenta 91,16% de atendimento total de água tratada, enquanto no Norte o índice é de apenas 56,9%. FALTA DE SANEAMENTO GERA PREJUÍZO: O custo de uma internação por infecção gastrointestinal no Sistema Único de Saúde (SUS) é de aproximadamente R$ 355,00 por paciente na média nacional. Se 100% da população tivesse aces- so à coleta de esgoto, haveria uma redução, em termos absolutos, de 74,6 mil internações.92 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
ESGOTO• Apenas 50,3% da população têm acesso à coleta de esgoto. E, desse total, 42,67% são tratados;• Mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a este serviço;• Apenas 10 das maiores 100 cidades brasileiras tratam acima de 80% de seus esgotos;• Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades do País, despejam esgoto irregularmente,mesmo tendo redes coletoras disponíveis;• 4 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a banheiro;• 3.500 piscinas olímpicas de esgotos são despejadas em rios, mares e cursos d´água, apenas pelas 100maiores cidades brasileiras; Fontes: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2015), Estudo Trata Brasil “Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica – 2015”, Estudo Trata Brasil “Ociosidade das Redes de Esgoto – 2015”, Fonte: Estudo Trata Brasil “Ranking do Saneamento – 2015”, Ranking do Saneamento (SNIS 2011) - Instituto Trata Brasil, 2013 e Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro – Instituto Trata Brasil/CEBDS, 2014 e Organização Mundial da Saúde (OMS). Gigantes da Ecologia | 93
Falta de saneamento básicoProf. Joel D. da Silva, Dr. (FURB). Doutor em Engenharia AmbientalPesq. Rodrigo Catafesta Francisco. (SAMAE). Engenheiro Civil A palavra “saneamento” tem sido apli- Isso no papel. Na prática, a situação do cada ao conjunto de medidas que visam saneamento básico no mundo é algo muito a preservar ou a modificar, no sentido de aquém do ideal. O Portal das Nações Uni- criar impactos positivos, as condições das no Brasil, em 2014, estimava que 780 do meio ambiente para prevenir doen- milhões de pessoas no mundo não tinham ças, promover a saúde pública, melho- acesso à água potável e que aproximada- rar a qualidade de vida da população e mente 2,4 bilhões viviam sem os serviços a produtividade do indivíduo, e facilitar básicos de distribuição de água e de trata- as atividades econômicas. Estas medi- mento de esgoto. Neste mesmo contexto, das, segundo a OMS (2016), precisam ser a Organização Mundial da Saúde (OMS, adotadas pelos três níveis de governo 2016) apontava, ainda, que a cada 10 pes- (Federal, Estadual e Municipal). soas, pelo menos 7 viviam sem saneamen-94 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
to adequado. Outro dado relevante, é que dois terçosda humanidade habitam regiões onde ocorre a escas-sez de água ao menos uma vez por mês, sem contarque a demanda por água deve aumentar em 50% atéo ano de 2030, segundo a Organização das NaçõesUnidas (ONU, 2016). No Brasil, as discussões sobre a implantação depolíticas públicas para o saneamento básico surgi-ram na década de 80, porém a primeira Lei Federala entrar em vigor que aborda sobre o saneamen-to básico, entre outras diretrizes, foi o Estatuto daCidade, instituído pela Lei 12.257 de 10 de julho de2001. Neste contexto, após 20 anos de discussõese com o saneamento ganhando espaço no cenárionacional, foi criada a Política Nacional de Sanea-mento Básico, estabelecida pela Lei 11.445 de 05 dejaneiro de 2007 (BRASIL, 2007). Dentre as diretrizes estabelecidas pela PolíticaNacional de Saneamento Básico, foi determinadoque os serviços de saneamento básico deverãocontemplar o tratamento e distribuição de água po-tável; a coleta e o tratamento do esgoto sanitário; acoleta, o tratamento e destinação final de resíduossólidos; e também, o manejo e a drenagem urbanade águas pluviais. Outro aspecto relevante foi a titu-laridade dos serviços, passada para os municípios,de modo que possam ser consideradas as peculiari-dades de cada região, como também a questão daexigência da participação popular no planejamentodas ações para o saneamento básico. Embora o acesso aos serviços de saneamen-to básico seja um direito assegurado pela legisla-ção federal e pela Constituição Brasileira (BRASIL,1988), por vezes é possível visualizar que, na prática,o básico inexiste. Mesmo decorridos dez anos desde a instituição daPolítica Nacional de Saneamento Básico no Brasil, oproblema está longe de ser solucionado. Dados maisrecentes do Sistema Nacional de Informações sobreSaneamento (SNIS, 2016) apontam que 2,5 milhõesde domicílios não possuem instalações sanitárias, me-tade da população continua sem acesso a sistemaspúblicos de esgotamento sanitário e apenas 42,67%do esgoto coletado por estes sistemas é tratado. Sig-nifica dizer que, através deste levantamento, mais de100 milhões de pessoas utilizam medidas alternativaspara lidar com os dejetos – seja através de soluçõesindividuais de tratamento, como uma fossa e um fil-tro, ou jogando o esgoto diretamente em rios, o que,juntamente com lançamento de efluentes industriaissem tratamento prévio, favorece o aparecimento dedoenças de veiculação hídrica infecciosas e/ou para-sitárias (MARINHO et al, 2016). No país, as doenças de
transmissão feco-oral, especialmente as diarreias, representam, em média, mais de 80% das doenças relacionadas ao sanea- mento ambiental inadequado (IBGE, 2012). É bom lembrar que o acesso à rede pública de coleta de esgoto sanitário é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um direito humano fundamental, tanto que, den- tre outros objetivos, o saneamento básico foi colocado entre as metas de desenvolvimento do milênio estabelecidas pela ONU, que propuseram que até 2015 mais 2 bilhões de pessoas tives- sem acesso a água tratada e rede de coleta de esgoto. Como ainda existiam grandes desafios a serem enfrentados pelos países que desejam alcançar as metas propostas pela ONU, a agenda de desenvolvimento pós-2015 utilizou os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, para então dar origem aos no- vos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o período 2015 – 2030, que foram divididos em 17 segmentos, onde está presente o objetivo intitulado “Água Potável e Saneamento”. Desta forma, é possível afirmar que o compromisso com a uni- versalização do acesso aos serviços do saneamento foi renova- do e fortalecido (NAÇÕES UNIDAS, 2015). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS 2009), 88% das mortes por diarreias no mundo são causadas pela ausência ou deficiência nos serviços de saneamento. Dessas mortes, aproximadamente 84% são de crianças. No Brasil, ain- da ocorrem cerca de 340 mil internações/ano por doenças infecciosas associadas à falta de saneamento, com mais de 2 mil mortes (dados de 2013). Percebe-se, infelizmente, que no Brasil o tema tem sido relegado a plano secundário pelos governos, com desumana indiferença. Um recente levantamento da ONG Contas Aber- tas indica que, nos últimos 16 anos, mais de 60% dos recursos federais autorizados para o saneamento básico não foram in- vestidos na área. No âmbito estadual, também utilizando as informações disponibilizadas pelo SNIS (2014), o Estado de Santa Catarina oferece água tratada para 86,02% da popula- ção, enquanto que apenas 16,03% do esgoto são tratados nos municípios. Na Bacia do Rio Itajaí, este cenário é ainda mais crítico, onde apenas 7,05% do esgoto é tratado. Um outro eixo do saneamento que merece destaque é o relacionado com a coleta e tratamento de resíduos sólidos urbanos. O Jornal Correio Brasiliense (18/04/2017) afirma que o Brasil gastou R$ 1,5 bilhão em 2015 apenas para tra- tar pessoas com doenças relacionadas à gestão inadequada de resíduos. Destaca-se que o dano ambiental é incalculável, pois, sem o devido tratamento, a decomposição dos resídu-96 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
os contamina o solo e os lençóis subterrâneos Houve tentativas para diminuir a disparidadede água, sem mencionar a produção de biogás, entre discurso e realidade, especialmente quandopotencial poluidor do ar. A gestão inadequada da apresentação do Programa de Aceleração dodos resíduos pode facilitar a proliferação de ve- Crescimento (PAC) no país. Desde sua primeiratores transmissores de doenças, como insetos e edição, o saneamento básico foi listado como umapequenos roedores. prioridade da infraestrutura nacional; contudo, as informações das várias edições apresentadas Quanto aos sistemas de drenagem das cida- pelo Jornal O Estado de São Paulo (15/10/2016),des brasileiras, de acordo com Cruz; Souza, Tucci revelam outra ordem de valores. De acordo com(2007), são em sua grande maioria do tipo com- a entidade Contas Abertas, o PAC 1 (2007 a 2010)binado, ou seja, recebem contribuição de esgoto e o PAC 2 (2011 a 2014) previram R$ 62 bilhõesdomiciliar, além das águas pluviais o que, aliado para investimentos em saneamento. Foram gastos,à urbanização descontrolada das cidades brasi- no entanto, apenas R$ 4,2 bilhões, representandoleiras tem provocado, dentre outros impactos, o menos de 7% da previsão anunciada. Assim, o sa-agravamento das enchentes naturais e a amplia- neamento teve o pior resultado entre todos os se-ção de sua frequência, além de criar novos pontos tores do PAC.de alagamento, com uma complicação adicional:a questão de saúde pública. Diante do exposto, foi possível observar que a universalização do saneamento básico é um Diante deste cenário, é possível observar compromisso mundial e que o próprio arcabouçoque o saneamento básico necessita de esforços legal brasileiro propicia o controle da sociedadeconjuntos entre os diferentes entes federados. A sobre os investimentos em saneamento. NestePolítica Nacional de Saneamento Básico – PNSB, sentido, uma vez que ocorra a disseminação deestabelecida por meio da Lei nº 11.445 (BRASIL, informações sobre a importância do acesso aos2007) e a Política Estadual de Saneamento Bási- serviços de saneamento básico e seus reflexosco – PESB, estabelecida pela Lei nº 13.517 (SANTA sobre a saúde pública, será possível fortalecer oCATARINA, 2005), propõem diretrizes que deve- controle popular sobre os investimentos no se-rão ser articuladas com as políticas estabelecidas tor, uma vez que os gestores públicos, em todaspara as bacias hidrográficas e, consequentemen- as esferas de governo, devem pôr em prática oste, para os municípios. anseios da população.
O Planeta só será curado se todos fizerem a sua parteA s cidades sustentáveis são o sonho de todos aqueles que se preocupam com o meio am- solo para atividades como agricultura e mineração, assim biente e com o Planeta que será deixado para as também como as atividades industriais, têm sido descritasfuturas gerações. Ao longo dos anos o homem como os principais contribuintes para essa situação.tem usado os recursos naturais de forma irracional, esque- Como resolver? Há soluções locais, fáceis de se imple- mentar, e com resultados globais. Por exemplo, já é possívelcendo-se de que, muitos deles, são finitos. As pessoas co- fazer a substituição dos combustíveis fósseis por energiasmeçaram a despertar para a sensibilização ambiental a par-tir da década de 70, promovendo encontros mundiais para renováveis (utilização do gás metano oriundo da degrada- ção de resíduos sólidos e dejetos animais para produção dediscutir temas importantes para a preservação do planeta. energia); o reflorestamento, reduzindo as emissões origina-Contudo, ainda há muitas coisas que precisam ser feitas,com urgência. das pela agricultura e também adotando-se práticas mais limpas (P+L) nos processos industriais.A UNEP (United Nations Environment Programme –Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ago- As espécies têm sido extintas de todas as formas possí-ra ONU Meio Ambiente, na virada do século veis, seja através da derrubada de árvores eXXI, levantou 12 grandes problemas que têm consequente perda do habitat de inúmerospreocupado pesquisadores, administrado- animais, seja através da pesca predatória eres e gerentes da área ambiental em todo da caça ilegal. Além disso, a poluição e con-o mundo. São eles: o crescimento demo- É necessário um taminação dos rios deixa os animais doen-gráfico rápido, a urbanização acelerada, o esforço conjunto tes. Todos os animais, de alguma maneira,desmatamento, a poluição marinha, a polui- para deter a fornecem produtos e serviços essenciaisção do ar e do solo, poluição e eutrofização destruição da para a sobrevivência humana e, por essa ra-de águas interiores – rios, lagos e represas, biodiversidade. zão, é necessário mantê-los.a perda da diversidade genética, os efeitosde grandes obras civis, a alteração global do É necessário um esforço conjunto para deter a destruição da biodiversidade. Aclima, o aumento progressivo das necessi- legislação brasileira diz que todos temosdades energéticas e suas consequências o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,ambientais, produção de alimentos e agricultura e a falta que é descrito como um bem de uso comum e cabe aode saneamento básico. poder público e também à coletividade, o dever de de-As soluções para minimizar os efeitos da degradação fendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-estão nas mãos de legisladores e tomadores de decisão, ções. Fiscalização e sensibilização também são necessá-assim também como de todos nós, por meio de ações as- rios.sertivas, que promovam a sustentabilidade, agora ampliadapara os eixos social, econômico e ambiental. De acordo com dados da ONU, cerca de 12 milhões de hectares de terras agrícolas são degradadas todos os anos,O ar atmosférico e os oceanos já estão sobrecarrega- principalmente, pela aplicação da monocultura e explora-dos de poluentes, trazendo consequências como supera- ção excessiva para pastagens. Existem diversas técnicas dequecimento, derretimento das geleiras polares, desertifica- conservação e restauração do solo, como o plantio direto, ação, chuva ácida, dentre outros. A combustão incompleta rotação de culturas e a construção de “terraços” para con-de combustíveis fósseis, a retirada de cobertura vegetal do trole da erosão pluvial. Resolver o problema do desmata-98 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
mento e degradação do solo, contribuirá, certamente, para integridade do sistema ambiental global. De caráter não-o-reduzir a fome, uma das metas traçadas para o milênio. brigatório, poucos países aderiram a esta agenda e pouco se avançou deste então. Mesmo com os índices de natalidade caindo em paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento, a população huma- Entre os bons exemplos conhecidos está a cidade dena continua a crescer e a viver mais. A combinação desses Brasília (DF), que tem incentivado o uso de bicicleta pordois fatores leva a superpopulação no Planeta. Somando- meio da ampliação de ciclovias. Quanto mais pessoas utili--se a isso, a ascensão social nos países mais ricos, chega- zarem as bicicletas, menos gases poluentes serão liberados-se ao aumento exagerado de consumo de água, comida e no ar. Outras cidades referência em sustentabilidade, porenergia. É uma combinação perigosa. meio de alguma ação ou projeto, são Curitiba (PR) e João Pessoa (PB). Na cidade de Curitiba, há diversos parques, Se todas as pessoas do mundo pudessem ter um apare- cheios de árvores que contribuem para a melhoria da quali-lho de ar condicionado ou carro com motor à combustão, dade do ar, bem como da preservação da flora e fauna. Emo que aconteceria? O caos seria instalado. Não há recursos João Pessoa, a Prefeitura da capital, nos últimos, tem pro-naturais para dar conta desta demanda. A solução também movido a preservação de áreas verdes, arborização urbanapassa pelo controle da natalidade, com políticas sérias vol- e a recuperação de áreas degradadas, utilizando mudas detada para as mulheres e inclusão de minorias, principalmen- árvores nativas produzidas no Viveiro Municipal.te nos países em situação de vulnerabilidade, em condiçãode extrema pobreza. O crescimento da população, coinci- Na cidade de Santana do Parnaíba (SP), uma organi-dentemente, está concentrado no continente africano e no zação formada por ex-catadores de materiais recicláveissul e leste da Ásia, conhecidos pela vulnerabilidade social e (Avemare), criou o Programa Lixo da Gente – Reciclandoeconômica. Cidadania. O Programa promove a coleta seletiva por meio de conscientização da população sobre a importância da Cidades Inteligentes reciclagem para a preservação ambiental, assim como a in- As cidades inteligentes, assim conhecidas, por adota- clusão e o desenvolvimento social.rem práticas que aliam qualidade de vida da população,desenvolvimento econômico e preservação do meio am- Ainda há muito a ser feito. Muitas ações dependem debiente, têm sido descritas como solução ideal para pratica- vontade política dos gestores. Outras, dependem da mu-mente todos os problemas ambientais que assolam o mun- dança de hábitos e costumes da população. Sim, de todosdo. Nestas, haveria uma redução significativa dos impactos nós. Não podemos nos isentar deste processo. As 12 feridasambientais relacionados ao consumo de matéria, energia e ambientais, ao longo do tempo, foram criadas e agravadasgeração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. a partir da mão do homem e das atividades no dia a dia. Infelizmente, não existe uma cidade 100% sustentável, Desta forma, a sensibilização é a forma mais efetiva para secontudo, o pouco que cada um fizer ajudará a diminuir os curar tais feridas. Se cada um fizer a sua parte, por menorimpactos no meio ambiente. A Conferência das Nações que seja, juntos será possível transformarmos o Planeta eUnidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, reali- deixá-lo melhor, hoje, e para as futuras gerações.zada em 1992, a ECO-92, sediada no Rio de Janeiro, esta-beleceu uma agenda, conhecida como Agenda 21, onde os A curas das 12 Feridas Ambientais do Planeta serãopaíses participantes comprometer-se-iam com a adoção apresentadas nas próximas páginas através da visão do Ar-de instrumentos econômicos como iniciativa de proteção à tistas plástico Israel Madeira, mais informações sobre ele na “orelha” do livro. Gigantes da Ecologia | 99
ECO HOME low energy house
Search
Read the Text Version
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16
- 17
- 18
- 19
- 20
- 21
- 22
- 23
- 24
- 25
- 26
- 27
- 28
- 29
- 30
- 31
- 32
- 33
- 34
- 35
- 36
- 37
- 38
- 39
- 40
- 41
- 42
- 43
- 44
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
- 66
- 67
- 68
- 69
- 70
- 71
- 72
- 73
- 74
- 75
- 76
- 77
- 78
- 79
- 80
- 81
- 82
- 83
- 84
- 85
- 86
- 87
- 88
- 89
- 90
- 91
- 92
- 93
- 94
- 95
- 96
- 97
- 98
- 99
- 100
- 101
- 102
- 103
- 104
- 105
- 106
- 107
- 108
- 109
- 110
- 111
- 112
- 113
- 114
- 115
- 116
- 117
- 118
- 119
- 120
- 121
- 122
- 123
- 124
- 125
- 126
- 127
- 128
- 129
- 130
- 131
- 132
- 133
- 134
- 135
- 136
- 137
- 138
- 139
- 140
- 141
- 142
- 143
- 144
- 145
- 146
- 147
- 148
- 149
- 150
- 151
- 152
- 153
- 154
- 155
- 156
- 157
- 158
- 159
- 160
- 161
- 162
- 163
- 164
- 165
- 166
- 167
- 168
- 169
- 170
- 171
- 172
- 173
- 174
- 175
- 176
- 177
- 178
- 179
- 180
- 181
- 182
- 183
- 184
- 185
- 186
- 187
- 188
- 189
- 190
- 191
- 192
- 193
- 194
- 195
- 196
- 197
- 198
- 199
- 200
- 201
- 202
- 203
- 204
- 205
- 206
- 207
- 208
- 209
- 210
- 211
- 212
- 213
- 214
- 215
- 216
- 217
- 218
- 219
- 220
- 221
- 222
- 223
- 224
- 225
- 226