Domingos Vaz Chaves Convenientemente a esta «irmandade Galaico-Transmontana», o padre António Lourenço Fontes, em colaboração com José Rodríguez Cruz, numa obra intitulada Mitos, crenzas e costumes da Raia Seca–A Máxica Fronteira Galego-Portuguesa, refere que “A Galicia sul e o Norte de Portugal estão intimamente ligados. “Así xa foi desde tempos arrecuados, que se ve na cultura dos castros, na paisaxe, na cultura, na língua…”. Também em Etnografia Transmontana – O comunitarismo de Barroso, o Padre Fontes nos fornece uma descrição bastante pormenorizada referente a esta relação: “Irmanado com os montes e rios e com os animais do campo, falamos a mesma linguagem, conservamos hábitos ancestrais de vida comunitária agro- pastoril…”, “O nosso folclore, o cantigueiro, os romances medievais, as anedotas e chistes, os ditos e provérbios do povo sábio, as cantigas de amigo e saudade, a nossa fala, fazem de nós irmãos gémeos…” Um outro tópico significativo a realçar na região natural de Barroso, formada pelo concelho de Montalegre e de Boticas, e que constitui uma fonte de enriquecimento para as ciências da linguagem – o barrosão, que se aproxima do português falado nos séculos XIV E XV, e é tido como sendo uma das matrizes da nossa língua, possuindo além dos termos comuns ao galego, também uma panóplia de lexemas únicos, designados por «barrosismos». Para Rui Dias Guimarães “a linguagem falada pelo povo na vida quotidiana tem particularidades próprias. Não só apresenta aspectos fonético-fonológicos interessantes, como a nível lexical inclui léxico característico…”. Estas são pois as conclusões extraídas em O Falar de Barroso – O Homem e a Linguagem, do dito Professor Rui Dias Guimarães. Na primeira parte, referindo-se 151
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região à identidade cultural e linguística da região barrosã, o estudioso classifica o «falar» como subdialecto transmontano e alto-minhoto, o mesmo que Lindley Cintra chamava de dialecto e Leite de Vasconcelos subdialecto raiano transmontano. Três designações se registaram: falar, subdialecto e dialecto, tendo Rui Guimarães optado por se fixar na classificação de “dialecto”, dando seguimento a Lindley Cintra, dialecto barrosão como um subdialecto transmontano e alto- minhoto. Ora, é precisamente no segundo prefácio do trabalho de investigação deste Autor, que o etnógrafo Padre Fontes faz referência à fala barrosã, frisando que “(…) passou de simples e bem conservada oralidade ciosamente guardada pela gente mais rude, analfabeta, mas ciosa das suas origens, à forma escrita, estratificada, gravada para os vindouros. (…) Temos agora mais que nunca razões para falar barrosão. Esta é a nossa língua materna (…) Falá-la é identificar-se, irmanar-se, descobrir-se, dar a cara e o prazer a quem já se habituou a ouvir-nos, porque não somos nem envergonhados, nem imitadores de outras falas”. Mapa dos Dialectos de Portugal Continental de José Leite de Vasconcelos (1894 e 1929) Rui Guimarães, afirma que o falar barrosão é “conservado ainda pelos falantes com o estatuto sócio-cultural de «agricultor», «idade superior a 65 anos» e «analfabeto» ou «sabe ler e escrever sem a 4.ª classe»”, acrescentando que “Os falantes usam a variante linguística local em contextos familiares, e usam a variante do português padrão em situações diferentes, como nas escolas, nas repartições públicas, ou mesmo até com os próprios netos escolarizados”. Comparando com o mirandês, que é um dialecto ou variedade da Língua Leonesa, falada em Portugal, o barrosão é um dialecto português, ou uma variedade da Língua Portuguesa pertencente à área dos dialectos transmontanos e alto- minhotos, que em conjunto com a área dos dialectos baixo-minhotos durienses e beirões, integram a vasta área dos dialectos portugueses setentrionais, a partir da 152
Domingos Vaz Chaves região de Aveiro até ao Norte da Galiza, segundo o estudo realizado por Lindley Cintra (Portugal) e Fernández Rei (Galiza). Foi no mapa geolinguístico destes dois autores que Rui Guimarães inseriu o dialecto barrosão, limitando os seus contornos geográficos às regiões de Barroso, Montalegre e Boticas e o seu uso linguístico em situação de diglossia, por vezes com aspectos de bilinguismo, diglossia, como o uso de duas variantes da mesma língua, a Língua Portuguesa, uma variante com uso linguístico em contexto familiar e socio-cultural e a outra variante com afinidades em relação ao português padrão, em situações de comunicação oficiais e formais, um pouco como, de certo modo, também acontece com o Mirandês. Só que as origens do barrosão são muito antigas, próximas do galego-português medieval do século XIII e do português antigo do século XIV e com uma partilha comum assinalável em relação ao galego, ele mesmo, segundo Lindley Cintra e Fernández Rei, um dialecto da Língua Portuguesa, os dialectos galegos com três variantes internas. O interesse dos meios de comunicação social pelo dialecto barrosão também é já hoje assinalável ... 153
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região CAPITULO IX O CONCELHO DE MONTALEGRE 154
Domingos Vaz Chaves O Concelho de Montalegre é o segundo mais extenso do país!... Conta duas vilas - Montalegre e Salto - e 136 aldeias e lugares. É a grande porta de entrada do litoral minhoto, sendo por assim dizer, alguém com o coração em Trás-os-Montes e os braços estendidos ao Minho. É nesta linha de transição que têm lugar alguns dos mais belos trechos paisagísticos de Portugal e onde está implantado o único Parque Nacional de Portugal - o Parque Nacional da Peneda Gerês. Miguel Torga fala-nos como ninguém desse transpôr do Alto Minho para o Barroso: \"Tranquei as portas da memória e, pela margem do rio, subi aos Carris. Uma multidão minava as fragas à procura de volfrâmio, por conta da guerra e de quem a fazia. Teixos e carvalhos centenários acompanharam me quase todo o caminho. Só desistiram quando me aproximei do cume da montanha, onde a vida, já sem raízes, tenta levantar voo. Agora sim!... Agora podia em perfeita paz de espírito, estender a minha ternura lusíada por toda a portuguesa Galiza percorrida. Pano de fundo, o mar de terras baixas era apenas um cenário esfumado; à boca do palco reflectiam-se nas várias albufeiras do Cávado a redonda pureza da Cabreira e a beleza sem par do Gerês. E o espectador emotivo já não tinha necessidade de brigar com o cavador instintivo que havia também dentro de mim. Embora através da magia agreste dos relevos, talvez por contraste, impunha-se-me com outra significação a abundância dos canastros, o optimismo dos semeadores e a própria embriaguez que anestesiava cada acto, no fundo necessária à saúde dos corpos individuais e colectivos. Integrava o alegrete perpétuo no meu caleidoscópio telúrico. Bem vistas as coisas, se ele não existisse faria falta no arranjo final do ramalhete 155
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região coreográfico português. Em acção de graças por esta conclusão pacificadora, rezei orações pagãs no Altar de Cabrões, antes de subir à Nevosa e aos Cornos da Fonte Fria a experimentar como se tremem maleitas em pleno Agosto. Estava exausto, mas o corpo recusava-se a parar. Pitões acenava-me lá longe, de tectos colmados e de chancas ferradas. Não obstante pisar o mais belo pedaço de chão pátrio, queria repousar em terra real e consubstancialmente minha. Ansiava por estender os ossos nos tomentos do Barroso, onde apesar de tudo, era mais seguro adormecer. Quem me garantia a mim, que mesmo alcandorado nos carrapitos da Borrajeira, não voltaria a ter pela noite fria um pesadelo verde?!...\" Como tantas outras terras do Noroeste peninsular, o concelho de Montalegre, pela riqueza da sua história, pela singularidade dos seus costumes, pela sua centralidade no planalto barrosão, constitui um espaço onde se fundem gerações e gerações, particularidades e acontecimentos, que lhe conferem uma diferenciação na dinâmica social, que o distingue de todas as regiões circundantes. A sua abertura tardia ao contacto com povos e culturas diferentes, gerou nas últimas décadas fortíssimos processos de mudança, colocando problemas sérios de equilíbrio do indivíduo com o seu ambiente e de apreensão e transmissão do legado cultural. Alteraram-se não só os conhecimentos mas também \"os interesses, as atitudes, o desenvolvimento do carácter e da sociabilidade e adaptabilidade\". De facto, Montalegre não é hoje o que era há quarenta ou cinquenta anos. As relações económicas e sociais mudaram!... Não se vive de maneira idêntica e os quadros de valores também não são os mesmos. Os últimos anos do século XX trouxeram nos novos conhecimentos muitas e rápidas mudanças com sucessos e insucessos, descobrimentos, fenómenos e transformações que eram impensáveis nas gerações anteriores. Vamos então “sentar-nos no escano” frente à fogueira e recriar uma \"viagem virtual\" que retome as referências passadas e presentes, que corporizam e dão sentido ao Concelho de Montalegre de hoje. A HISTÓRIA O Concelho de Montalegre regista a presença do homem desde os longínquos tempos da pré história. Os mais antigos vestígios conhecidos datam de há 4 ou 5 mil anos. As antas ou dólmenes constituem o património vivo de uma cultura neolítica relativamente desenvolvida e de um povo fortemente vinculado à sua terra. São numerosos os dólmenes existentes no concelho. Infelizmente necessitam de um trabalho de sinalização, marcação e protecção. Impõe se um esforço de sensibilização das populações e das escolas, de modo a preservar um património valiosíssimo e raro, que pode constituir uma base notável para atracção de turistas esclarecidos e apreciadores do belo, eterno e único. Da era dos metais chegam até nós preciosíssimos achados: machados de bronze, pontas de lança, instrumentos com forma de garfo, fivelas em bronze e três admiráveis torques de ouro, por certo contemporâneos da civilização castreja. Por volta do ano mil antes de Cristo o concelho de Montalegre era habitado por um povo mal conhecido. 156
Domingos Vaz Chaves Mais tarde chegaram outros povos possuidores de uma forte cultura multissecular. No concelho de Montalegre são referenciados 50 castros, dos quais 35 ao longo da bacia do Rabagão. Este património inestimável encontra se ao abandono. 0 autor recebeu o testemunho de muitos pastores que ocuparam a sua mocidade a vandalizar muros, pedras, recantos, enquanto se divertiam a fazer rolar as pedras encosta abaixo. Outros testemunhos dizem nos de pessoas que ali foram carregar pedra para erguer casas e muros de propriedades rústicas. Tais factos deixam nos estarrecidos. Com um tal património de que mais podemos precisar para fazer desta região um local de atracção turística e cultural sem paralelo?!... A cultura ibero-céltica dos Castros cedeu lugar ao domínio romano e muitos destes castros foram romanizados ou abandonados com a deslocação forçada dos habitantes para as planícies. A região do Barroso era atravessada pela via romana de ligação entre Braga e Chaves, com três itinerários diferentes constituídos em épocas diversas. Os marcos milenares são prova disso. A densidade de vias de comunicação nesta região tem a ver, por certo, com a intensa exploração de estanho e de ouro, que se estendia desde a serra da Cabreira, ao Vale do Tâmega e à Galiza. Trás-os- Montes e Galiza forneciam então anualmente cerca de 6.000 quilos de ouro a Roma!... Isso explica também a forte presença militar (a sétima legião tinha assento em Chaves) para assegurar a exploração e o transporte de tamanha riqueza para a sede do Império. Em Salto, local bastante mineralizado foi feito um achado de 3.000 moedas do século III, bem próximo das minas da Borralha. Os tempos bárbaros trouxeram à região a presença dos Alanos, Vândalos, Suevos e Visigodos durante 126 anos, desde a queda do reino dos Suevos até à invasão árabe. Barroso não deve ter registado um domínio permanente dos árabes 157
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região superior a 40 anos, mas as incursões foram muitas, motivo por que os nomes e tradições mouriscas ficaram aqui profundamente arreigados. Por certo os repovoamentos efectuados a seguir à fundação da nacionalidade têm bastante a ver com este fenómeno. Barroso faz parte integrante do Condado Portucalense, tal como uma substancial fatia do sul da Galiza, devolvida ao rei de Leão por Afonso Henriques, quando da tentativa frustrada da conquista de Badajoz. Foi assinalável a participação de homens de Barroso na reconquista com viva presença em Toledo e no cerco de Sevilha. Segundo o trabalho de investigação efectuado por José Batista, o escudo de armas dos Barrosos está presente em mais de meia dúzia de locais diferentes da cidade de Toledo. Foi D. Dinis, o rei lavrador, quem ordenou a construção do imprescindível Castelo de Montalegre. Sobre a linha de fronteira edificaram-se duas torres de vigilância: a atalaia do Portelo e o Castelo de Piconha, hoje desfeito. Estas eram as únicas fortalezas existentes desde Lindoso à vila acastelada de Chaves. D. Nuno Álvares Pereira casou no Concelho de Montalegre, na freguesia de Salto, com D. Leonor Alvim, viúva de um senhor de Barroso, de avantajado património territorial. Foi, segundo a lenda, no Monte da Corneta, que foram treinadas as tropas que haveriam de combater depois em Aljubarrota. Barroso assistiu ainda à passagem do exército napoleónico, em princípios de 1808, sob o comando de Soult, e no seu regresso, dois meses depois, ferozmente perseguido pelo exército luso inglês, tendo-se escapado por um triz pela ponte de Misarela. No seu recolhimento, afastados dos grandes centros populacionais e políticos do país e separados da Galiza por montanhas pouco acessíveis, os naturais do concelho, excluídas algumas correrias e escaramuças, foram sempre poupados a lutas fronteiriças sangrentas. Os poucos conflitos militares aqui registados revestiram preponderantemente o carácter de 158
Domingos Vaz Chaves acções isoladas, por vezes de tipo guerrilha, ou limitaram se a incursões pontuais com objectivos limitados. Hoje como ontem, porta de passagem da Galiza para Portugal e vice-versa, Montalegre acolhe os galegos com o mesmo espírito que estes vêm em Montalegre uma comarca vizinha. Padres, médicos e veterinários prestam os seus serviços de um e outro lado da fronteira. E já assim acontecia em tempos remotos, muito antes da abolição das fronteiras, trazida pelos ventos europeus. Como se sabe e já se afirmou, a área do concelho de Montalegre é enorme!... Porém, os seus 800 quilómetros quadrados de serras e planalto são escassamente povoados, por menos de quinze mil habitantes, o que lhe dá uma densidade populacional pouco superior a 16 habitantes por quilómetro quadrado. Hoje, não bastando serem poucos, os barrosões estão também em retrocesso demográfico. Morrem muitos mais do que nascem, o que cada vez mais se nota na ocupação do território e na paisagem, hoje em dia entristecida pela proliferação de aldeias em desertificação, apenas povoadas por respeitosos gerontes, saídos de um conto de antanho, de Miguel Torga ou Bento da Cruz. A maior parte da população vive no planalto barrosão, que se estende desde os contrafortes do Gerês à depressão do vale de Chaves. O resto do concelho é montanhoso e agreste. Proporciona miradouros esplêndidos de onde se disfrutam panoramas rasgados. Aliás, todo o território de Montalegre é muito elevado, o que marca indelevelmente o clima. O território montalegrense está em parte coberto de florestas. Todavia, são apenas todas de plantação recente, nomeadamente as de coníferas. Apenas nos vales mais abrigados há ainda florestas nativas de carvalhos. Junto aos rios, há choupos e freixos, também plantados, mas para servir de divisórias nos pastos. A 159
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região maior parte das terras baixas é de semeadura, onde se colhem saborosas e afamadas batatas, ou de pastagens, onde se alimenta e cresce o célebre gado barrosão. Dos seus antepassados celtas, a população desta terra herdou o carácter orgulhoso e agressivo, do qual resulta um marcado bairrismo, que torna a população solidária e ao nível da comunidade, auto-suficiente. Como em muito poucas zonas do território nacional, a vida e sentimento comunitários são particularmente intensas nas terras de Barroso. Veneram-se ainda hoje de uma forma invulgar os familiares desaparecidos. Por outro lado, todos se sentem umbilicalmente ligados à terra que os viu nascer. Porém, paradoxalmente, o povo barrosão é fechado e reservado, quiçá em consequência da sua actividade tradicional principal, a pastorícia que o torna igualmente rude e violento. Mas também o clima, o relevo e a pequena densidade populacional moldaram o carácter rude e austero dos barrosões e determinaram que se agrupassem em aldeias outrora populosas, com muitas casas, próximas umas das outras e aconchegadas. Em regra, não há casas ou quintas isoladas, que seriam muito mais vulneráveis aos temporais, ao frio ou às alcateias de lobos famintos que noutros tempos desciam das serras no Inverno. Nestas aldeias, ao longo das gerações, enraizaram-se tradições comunitárias que não poderiam aparecer em pequenas povoações: a vezeira de reses, somente rentável em aldeias grandes; o forno do povo de grandes dimensões; e o boi do povo, que para ser campeão exigia grandes despesas no seu trato. Por todo o Barroso houve, no passado, várias outras ricas tradições de instituições comunitárias, como a administração dos baldios, o ordenamento das águas correntes para rega de lameiros, ou o fojo do lobo. São também determinadas pelo clima as mais características manifestações do artesanato local: a capucha de burel e a croça. A 160
Domingos Vaz Chaves primeira é uma capa de Inverno, em tecido grosseiro, de agasalho e de protecção da chuva e da neve; a segunda é um capote palha ou juncos, destinado ao tempo de chuva. O povo que aqui aina habita, laborioso e esforçado, rende-se por isso à alimentação substancial. Na mesa barrosã é imprescindível o fumeiro, composto, entre outros, por chouriças, de carne e de sangue. A par dele, come-se também muita carne de porco. São especialmente característicos desta terra, como de toda a terra transmontana, os “rijões”, que são pedaços de tripa de porco fritos no unto do próprio animal. Em dias de festa, come-se vitela ou vaca, bem como cabrito. É também nestas ocasiões que se comem os poucos doces que por aqui se permitem: o arroz doce, a aletria e as rabanadas de Natal. A mais recente especialidade regional é a carne de vitela barrosã, na grelha ou na frigideira, sem qualquer tipo de tempero. Esta é enfim, uma terra de vastos e vivos horizontes, mas de poucas e fracas vias de penetração. Contrariando a beleza dos lugares e o ambiente pastoril e salutar, onde predomina a natureza selvagem, a vida é difícil por estas paragens - a agrura cria predisposição para a emigração. Apesar do natural apego dos barrosões ao seu torrão natal, desde há séculos que a emigração se instalou como uma tradição e instituição, quer para as Américas, quer em momento mais recente para a Europa. Já assim é desde o século XVI, quando um natural da zona, João Rodrigues Cabrilho, a soldo dos reis de Espanha, se tornou famoso por ser o primeiro europeu a pisar a Califórnia. Também por ser terra de emigração, esta é uma terra hospitaleira, não faltando nunca ao visitante a porta aberta para a mesa farta de cozido à moda de Barroso, presunto, cabrito ou vitela assada. AS CASAS As casas de Barroso são em geral uniformemente simples e cinzentas!... A sua beleza rústica prevalecia até há algumas dezenas de anos, quando começaram a regressar mais intensamente os emigrados de além-fronteiras, que trouxeram com eles descontracção e vontade de a demonstrar, nomeadamente no estilo inusitado que imprimiram às suas casas. Mas há, além destas, alguma que outra excepção ao estilo tradicional, e se assim se lhe pode chamar, regional. Na vila, um dos mais notáveis casos atípicos é a Casa do Cerrado. Quando o castelo deixou de servir como residência senhorial dominial no advento da Idade Moderna, os alcaides de Montalegre mudaram-se para um novo paço, construído em sítio mais abrigado das intempéries que o morro do castelo medieval. Esta nova residência, que ficou conhecida como Casa do Cerrado, está em sítio actualmente próximo do centro cívico da vila, em frente ao Tribunal Judicial, à Câmara Municipal e ao edifício da Caixa Geral de Depósitos. É um solar granítico, rodeado, em tempo, de jardins, com traços tradicionais e pretensões senhoriais. Hoje em dia passa um pouco desapercebido, por estar baixo e pela proximidade de outros edifícios maiores e mais altos. Mais chamativa é a sua monumental portalada de acesso ao pátio, também em granito, onde estão esculpidas, em grandes dimensões, as armas dos senhores da casa. No que diz respeito às casas dos lavradores nas aldeias, estas estiveram ao longo dos anos, sempre adaptadas às actividades agrícolas e pastoris. Sobre o mesmo tecto abrigavam-se muitas vezes pessoas, animais e produtos da terra. O rés-do- 161
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região chão era reservado para a adega, cortes dos porcos, lojas, tudo paredes meias com a corte da rês e cortes do gado. Os estábulos deitavam normalmente para um pátio, e se o recinto fosse adequado, podia servir também de eira com palheiro e tulha a fechar o círculo. No primeiro andar, habitavam as pessoas. A escada exterior em pedra levava à cozinha, e a varanda corria toda a fachada, dando acesso ao sobrado de limpo, destinado na maioria dos casos para os “visitantes ilustres” dormirem. Havia porém casos, em que a eira, o palheiro e as cortes de gado eram um conjunto independente e até distante da casa de habitação. A par das casas dos lavradores existiam ainda as dos cabaneiros, estas muito mais modestas e apertadas, mas não raramente com mais família para abrigar. Nestas casas normalmente térreas, cabiam o lar com escano e cremalheira, as camas, uma pequena mesa, uma toucinheira pendurada da trave, uma caixa de madeira de carvalho e vários molhos de lenha ao lado, que uma dúzia de galinhas usava como capoeira. Gralhas-Anos 60 A cobertura de colmo ajudava a conservar o calor noite dentro, o que era fundamental quando o lume era pobre e onde raramente entrava cepo de carvalho ou torgo de urzeira. OS LOCAIS DE CULTO Quanto a igrejas em Montalegre, não há muito a dizer. Somente há algumas dezenas de anos Montalegre foi dotada de uma grande Igreja Matriz, compatível em grandeza com a terra. A actual igreja principal é um templo grande e moderno, dominado por uma torre sineira, construído em cimento e pintado de branco. Está a leste do núcleo principal da vila, próximo da saída para Boticas. Muito mais antigas, são as duas 162
Domingos Vaz Chaves igrejas da zona medieval da vila. Uma delas, a Igreja do Castelo, que já foi matriz e está efectivamente muito próxima do castelo. Rodeiam-na muitas e frondosas árvores, que lhe dão um ambiente sereno e pacato de muito recolhimento. Embora seja de origem medieval, o seu traço diz-nos que deve remontar ao século XVII, e nela merece destaque a torre sineira. Tal como em muitas igrejas da região, está separada do corpo principal do templo, ao qual fica fronteira, tendo acesso próprio pelo exterior. A outra igreja é mais baixa e atarracada. Também tem origem medieval, embora as suas características arquitectónicas actuais revelem alterações muito posteriores. Fica no Largo do Pelourinho. A CRIAÇÃO DE GADO No Concelho de Montalegre deveriam existir, antes da florestação, à volta de um milhão e meio de ovelhas e cabras, as quais geravam uma média de 800.000 cabritos e cordeiros, dos quais meio milhão destinado à venda. Aos preços actuais daria uma receita de cerca de 4 milhões de contos, ou seja, 20 milhões de euros. A diminuição brutal do pastoreio originou uma quebra insustentável do rendimento familiar. O gado barrosão, foi desde sempre a verdadeira riqueza pecuária do planalto. É meão de estatura, sóbrio e robusto, de \"cornos infinitos\" no dizer de Miguel Torga; é animal de trabalho e de criação. A densidade de gado bovino em Montalegre era de 15 cabeças por 100 hectares, muito acima da média registada em toda a região de Trás-o- Montes. Todos os anos saíam de Montalegre em direcção a Braga e outras cidades e vilas minhotas, cerca de 5 a 6.000 vitelos, que aí eram engordados com milho, trevos e fenos, para serem vendidos depois nas feiras do litoral. Aos preços actuais daria origem a uma receita da ordem de 40 milhões de Euros. Em paralelo, o arroteamanto de lamas, lameiros e touças, para produção de batata de semente, reduziu ainda mais a área de pastagem. Estamos a falar do Barroso da década de 30. Com a intensificação da cultura da batata de semente nos anos 40 as coisas mudaram radicalmente. 163
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região O gado barrosão foi, em grande medida, substituído pelo gado de penato (maronês), mais rústico e resistente ao trabalho, e pelo mirandês, mais corpulento e possante. Bovino Raça Barrosã As juntas de vacas deram lugar às juntas de bois, muitos lameiros viraram plantações de batata e inclusivamente certos bancos exploraram grandes áreas de produção de batata de semente, como por exemplo na Aldeia Nova de Barroso. Passado o impacto da guerra e reorganizada a produção na Europa, Montalegre voltou a experimentar dificuldades económicas, que só a emigração atenuou. As razões são várias: A batata de semente baixou para preços que mal cobriam os custos de produção. Os circuitos de comercialização funcionavam mal (apesar da existência de cooperativas de produtores) e os valores de mercado oscilavam excessivamente de ano para ano. A carne de gado barrosão, sendo reconhecidamente uma das mais saborosas do mundo, não tinha condições para se diferenciar pelos preços (o que só recentemente está a acontecer), face ao crescimento mais rápido de outras raças produtoras de carne. \"Uma barragem a mais, três vales a menos\"; a construção das barragens roubou mais de 2 mil e setecentos hectares dos melhores vales agrícolas e as indemnizações, sem qualquer preocupação de natureza social, foram simplesmente de miséria. Conhecemos casos em que o valor pago ao proprietário foi inferior ao valor de venda da batata ali produzida no ano anterior; O comunitarismo agrário foi profundamente atingido, os baldios reduzidos, o tecido social destruído, os produtos tradicionais afectados. E então, chega a sangria da emigração para França. A juventude, a alegria, a força de trabalho foram-se. França e Alemanha são os grandes destinos, mas também os Estados Unidos da América e até em alguns casos o Brasil. Nos Estados Unidos, há até casos, em que certas ruas são conhecidas pelo nome dos habitantes originários das aldeias de Barroso: \"rua dos de Negrões\" ou de outras localidades, conforme a predominância. Barroso da Fonte, cita que só em Bridgeport (EUA) viviam, na passagem do segundo milénio, 164
Domingos Vaz Chaves cerca de 150 pessoas nascidas na sua aldeia natal de Codeçoso. Montalegre sofreu assim um golpe brutal e a partir de então vive à procura de um novo equilíbrio ainda por definir. As potencialidades existem, mas torna-se imperioso aprofundar uma estratégia, que dê sentido e concretize as mais profundas aspirações das suas gentes. Os desequilíbrios são estruturais. Muitos dos seus filhos não encontram aqui condições para afirmar a sua independência psicológica e material, e por isso vão procurar outros destinos. E Montalegre ressente-se de tudo isto, sem perspectivas concretas, sem projectos, com uma população crescentemente envelhecida a registar uma perda de um terço da população em cada dez anos. O património natural, a paisagem pouco alterada, a qualidade do ar, a calma dos grandes espaços, os desportos aquáticos e de montanha, a qualidade dos produtos, a riqueza da cozinha, a proximidade dos grandes centros do litoral são atractivos que podem constituir um foco de intensa atracção turística. No entanto, é necessário criar uma mentalidade empresarial, mesmo de um tecido de pequenos projectos bem geridos e apoiados, e isso não se revela fácil numa comunidade crescentemente subsídio dependente. Montalegre e todo o Barroso tem ao seu alcance todo o mercado europeu para aí colocar a sua carne de Barroso se souber utilizar a informação e o marketing de modo adequado. Falta um plano, falta produção, falta confiança e credibilidade. Nada que não tenha sido feito ao longo do século XIX, com a exportação regular de gado barrosão vivo para Inglaterra, onde os melhores restaurantes colocavam, como atractivo, sobre a porta da entrada o dístico, \"Portuguese beef'. Foi igualmente a carne barrosã a dar renome ao mundialmente conhecido \"roasted beef'. Este fluxo de exportação sofreu um forte decréscimo por ocasião da disputa do mapa cor de rosa, tendo-se mantido no entanto, até por volta de 1918 A HIDROGRAFIA No que se refere à hidrografia, o Barroso apresenta uma vasta rede hidrográfica, com especial destaque para os Rios Cávado, Rabagão e Beça, que quer pela sua dimensão, quer pela área que abrangem, modelam a paisagem ao longo do seu percurso, fecundando os campos e oferecendo nos seus leitos um manancial piscícola. Neste ponto destacam-se, apenas os principais rios que atravessam as Terras de Barroso, mas desde já fica registado que será elevado o número de ribeiros e corgos que não sendo citados, estão à espera de ser visitados e que por mais pequenos que sejam, no deixam de ser importantes no seu conjunto. O rio Cávado nasce na Serra do Larouco – na já designada Fonte da Pipa - , a uma altitude de cerca de 1520 metros, passa contíguo à vila de Montalegre e depois de banhar uma infinidade de aldeias, alimenta famosas barragens. Passa por Braga, Barcelos e desagua no Oceano Atlântico junto a Esposende, após um percurso de 135 quilómetros. Este rio tem como principais afluentes o rio Homem, o rio Rabagão e o rio Saltadouro. O Rabagão é um afluente da margem esquerda do rio Cávado. Nasce entre as serras do Barroso e do Larouco, e com um comprimento de 37 quilómetros, drena 165
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região uma área de 246 km². Desagua no rio Cávado, próximo da famosa Ponte da Misarela. O Sistema Cávado - Rabagão – Homem, é composto por várias barragens implantadas nesses mesmos percursos fluviais para aproveitamentos hidroeléctricos: Barragem da Paradela, Barragem de Salamonde, Barragem da Caniçada, Barragem do Alto Cávado, Barragem do Alto Rabagão, Barragem da Venda Nova, Barragem de Vilarinho das Furnas e a Barragem de Penide. Finalmente, o rio Beça nasce na serra do Barroso nas imediações de Serraquinhos e percorre os leitos de Cervos, Beça, Vilar e Canedo, indo desaguar na margem esquerda do rio Tâmega, perto de Santo Aleixo. A água sempre teve uma enorme importância para esta região, sendo aproveitada e adaptada conforme as necessidades da população, que a utiliza para os mais diversos fins, que vão desde a rega dos prados naturais (lameiros) e dos campos de cultivo, à fonte de energia para os inúmeros moinhos de água existentes junto ao seu curso, bem como para a produção de energia eléctrica, como já se disse, ou para a prática de pesca, uma vez que estes rios transportam e alimentam diversas qualidades de peixes que são nacionalmente reconhecidas por terem uma qualidade invejável e um sabor único e inconfundível. Entre outras variedades piscícolas, podemos destacar a truta, o escalo, os barbos, a boga e a carpa. AS BARRAGENS Barroso, terra de montanha, é também terra de muita água. Das serras correm rios e ribeiros caudalosos no inverno e na primavera, e mais calmos no verão. Os seus vales prestam-se à construção de barragens e de centrais de aproveitamento da energia hídrica. O rio Cávado e o seu afluente Rabagão dão origem, ao longo dos respectivos cursos, a um dos maiores e mais complexos sistemas de 166
Domingos Vaz Chaves barragens e centrais hidroeléctricas. Os lagos artificiais, para além de intervirem na ecologia e na paisagem da região, modificando-a, criam também interessantes locais de turismo e lazer. Para o aproveitamento hidroeléctrico de alguns cursos de água, ao longo dos anos, designadamente durante o último século foram construidas grandes barragens em toda a região. Só no concelho de Montalegre existem, a Barragem do Alto Rabagão inaugurada em 1966, também conhecida por Barragem de Pisões, que se estende desde o paredão da aldeia, até ao extremo do antigo planalto barrosão de Morgade, a Barragem do Alto Cávado a qual está relacionada com um túnel de cinco quilómetros com a Barragem do Alto Rabagão, mas é bastante menor, a Barragem de Paradela, com uma característica muito própria de construção, feita de rochas acumuladas a granel, constituindo no seu género, a maior obra de engenharia da Europa e a Barragem da Venda Nova, construída em 1951 e que levou à imersão a dita povoação. BARRAGEM DO ALTO RABAGÃO Situa-se junto da aldeia de Pisões e é o maior lago de Portugal. Tem cerca de 12 quilómetros de comprimento máximo e cerca de 4 de largura, tendo uma capacidade de mais de 500 milhões de metros cúbicos de água. O dique da barragem propriamente dita tem cerca de 3 quilómetros de comprimento e noventa metros de altura máxima. A sua construção foi concluída em 1966, ficando desta obra, como especial referência, a sua central, que é subterrânea e fica a 130 metros de profundidade. Como lago, apropriado para actividades de lazer, esta barragem é de utilização livre e sem restrições. As suas margens são muito recortadas, com baías, golfos e pequenas enseadas de areia e pedra granítica. Tem muita pesca e podem praticar-se desportos náuticos, para os quais há boas condições. Em boa parte as margens são vegetadas com carvalhos e sobretudo com mato rasteiro, criando assim uma bonita paisagem, completada pelas cadeias montanhosas das vizinhanças. 167
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região A BARRAGEM DO ALTO CÁVADO É a mais pequena e modesta da região. Com apenas um par de quilómetros de comprimento, tem capacidade para tão só 2 milhões de metros cúbicos de água. A barragem em betão, tem uma altura máxima de 29 metros. Não tem central hidroeléctrica, mas as suas águas não se perdem!... Alimentam a Barragem do Alto Rabagão, para onde são levadas por uma conduta artificial com quase cinco quilómetros de comprimento. A configuração deste lago artificial é comprida mas estreita, seguindo o curso sinuoso do rio Cávado. As suas margens estão revestidas de densos matagais de vegetação nativa, onde avultam os lameiros, ladeados de carvalhos e vidoeiros, que dão encanto e placidez ao lugar. A utilização desta barragem é condicionada por lei, podendo ser feitas restrições às actividades aqui desenvolvidas. Não obstante, é autorizada a pesca e a natação, bem como alguns desportos náuticos. BARRAGEM DE PARADELA Também vive das águas do rio Cávado!... O seu dique é uma impressionante edificação de terra e granito, empilhados em aterro, com uma altura de 110 metros e um comprimento de 540. Pelas suas dimensões, já foi considerada a maior da Europa no género. O lago é igualmente grande e profundo, com capacidade para mais de 150 milhões de metros cúbicos de água. Também aqui não há central de aproveitamento hidroeléctrico. Porém sem se perder, a água que daqui sai é directamente canalizada para a Central de Vila Nova, sobranceira à Barragem de Salamonde, por uma fantástica conduta escavada na montanha, com cerca de 11 quilómetros de comprimento. Quer a barragem, quer a respectiva albufeira, estão na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, em zona de planalto, em geral 168
Domingos Vaz Chaves despido de arborização. Apenas em alguns locais há coníferas, plantadas pelos serviços florestais. Com estas condicionantes, a barragem é classificada como protegida, por motivos de preservação ambiental e ecológica, sendo todavia permitido, com certas restrições, pescar e nadar, bem como praticar desportos náuticos, desde que sem utilização de motor. Os acessos à barragem sofreram muito recentemente obras de beneficiação e fazem-se actualmente por estrada alcatroada até ao paredão. A partir daí, são em regra maus, fazendo-se por caminhos de terra, embora curtos, que partem do estrada que a bordeja pelo sul. Há todavia por ali, locais muito agradáveis e propícios às actividades ao ar livre. BARRAGEM DA VENDA NOVA A mais distante barragem do concelho de Montalegre, já nos limites do Minho, é a no rio Rabagão. É a mais antiga de toda a região e foi construída em 1951. O seu dique tem 96 metros de altura máxima e 230 de largura. A sua albufeira, com capacidade para quase 100 milhões de metros cúbicos de água, tem cerca de 10 quilómetros de comprimento, apesar de ser muito estreita. Como outras, não tem central hidroeléctrica, alimentando com as suas águas a Central de Vila Nova, para onde são levadas por uma arrojada conduta com cerca de 3 quilómetros de comprimento. A albufeira é muito irregular, com variadas ramificações para os flancos, entrando pelos vales dos afluentes do Rio Rabagão. 169
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região As margens são intensamente florestadas com coníferas, dando à paisagem uma tonalidade sempre verde e repousante, que convida à prática da vida ao ar livre. Tanto mais que esta barragem é de utilização livre, sendo possível pescar e nadar, bem como praticar todas as modalidades de desportos e competições náuticas. O CLIMA O concelho, na sua globalidade também conhecido por Terra Fria Transmontana devido ao seu clima, é bastante heterogéneo, como diz o ditado popular, com “nove meses de inverno e três de inferno, ou seja, invernos longos e extremamente gélidos, com temperaturas mínimas registadas frequentemente 170
Domingos Vaz Chaves abaixo de 0º, com nevões frequentes e geadas que levam semanas e até meses a desfazer e que reforçam a rara beleza das suas paisagens. Por sua vez, os verões são muito quentes, muitas vezes com temperaturas superiores a 35º, o que faz destacar os rios e as albufeiras que formam praias fluviais propícias e agradáveis em momentos de lazer. Durante o período de abril a outubro, o clima comporta-se de forma regular, sendo aconselhado medicinalmente, como dos melhores climas para a saúde. O clima nesta região regista grandes amplitudes térmicas. Podendo assim fazer-se uma distinção entre o Baixo Barroso, que se apresenta mais temperado e com elevadas precipitações, e a região de Montalegre, que se apresenta mais rigoroso e com fortes nevões. A pluviosidade do Planalto do Barroso é considerada elevada, com cerca de 1.100 mm devido à grande condensação nas altas montanhas. A GEOGRAFIA ÁREA: 822 quilómetros quadrados POPULAÇÃO: 12.792 habitantes (census 2011) VILAS: 2 FREGUESIAS: 25 VILAS, ALDEIAS E LUGARES: 136 SERRAS: Larouco 1.525 metros; Gerês 1.434; Alturas do Barroso 1.262; Leiranco 1152. MACIÇOS MONTANHOSO:Montes Gordo e Ferronho 1.214 metros; Alto de Ribas 1.477; Coto de Sendim (Sendim) 1.259; Cabeço do Vidual (Padroso) 1.272. 171
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Cabeço do Alto (Sabuzedo) 1.322; Alto do Rinchão (Mourilhe) 1.401; Pisco (Tourém) 1.393; Ourigo 1.276; Corujeira (Montalegre) 1.214. AS GRANDES REFERÊNCIAS MONTANHOSAS DE BARROSO O LAROUCO Do planalto barrosão, a nordeste da vila de Montalegre, sobressai o espigão de uma serra que no outono é escura e ameaçadora, no inverno é branca, na primavera verde e no verão garrida. É a serra do Larouco, cuja altitude máxima atinge os 1536 metros acima do nível do mar. Está disposta na direcção norte/sul, atravessando a fronteira e prolongando-se para terras da Galiza, com um comprimento de cerca de 10 quilómetros. Chega-se lá, partindo de Montalegre pela estrada de Vilar de Perdizes, que depois se deixa na direcção de Padornelos Daqui, toma-se a estrada de Sendim e do antigo posto fronteiriço, cuja estrada se deixa para a direita, na direcção da pendente ocidental da serra. A estrada foi recentemente pavimentada e é pouco pronunciada até meio da encosta. encontra- se toda em bom estado; passa agora a ser térrea e íngreme. Nalguns troços está mesmo em O panorama imenso que daqui se avista, consoante se vai subindo, compensa o esforço da subida. A zona do topo, próxima da raia, é conhecida por Fonte da Pipa. Trata-se de um planalto, a cerca de 1500 metros de altitude, que no inverno e na primavera está sempre bastante molhado, por reter as águas pluviais. Um pouco mais abaixo, na encosta poente da serra, com esta água começa a formar-se o rio Cávado. A 1525 metros de altitude, está um marco 172
Domingos Vaz Chaves geodésico de onde o panorama é fabuloso. Avista-se todo o Barroso, o Alto Tâmega e o Gerês, como se fossem vistos de avião.. A historiografia galaica diz que no cimo do Larouco havia, há dois mil anos, um templo a Júpiter. Arqueólogos da região raiana, de ambos os lados da fronteira, apoiados por populares, têm feito nos últimos anos, no verão, réplicas das festas pagãs que havia outrora. À serra chamavam os romanos Monte Ladiço. Nas suas encostas foi colocada na Idade Média uma atalaia, que mais tarde se transformou em castelo, dividindo inicialmente as dioceses de Braga e Lugo, e depois Portugal da Galiza. O PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS O Parque Nacional da Peneda-Gerês inclui no seu território uma significativa parcela do concelho de Montalegre, a noroeste da circunscrição. É uma área grande, no conjunto do Parque, que se demarca pela especificidade da morfologia do terreno e pela particularidade dos ecossistemas. É uma das zonas mais interessantes, apesar de ser das menos visitadas. Caracteriza-se pelo predomínio das zonas planálticas, inóspitas e rochosas, cortadas aqui e ali por córregos largos e fundos. Há aldeias, grandes e populosas, como no restante Barroso, uniformemente cinzentas, o que resulta do granito em que sem excepção são construídas. A economia da população local baseia-se sobretudo na pastorícia. Há muitos e grandes pastos de altitude, tal como há lameiros, de dimensões mais reduzidas, normalmente rodeados de árvores, que os protegem dos ventos. Estes lameiros servem como pastos no verão, mantendo-se verdes toda a estação, porque são regados pelos sistemas tradicionais de levadas, alimentadas pelos rios e ribeiros. Aliás, uma das instituições comunitárias mais tradicionais da região é a regulamentação da rega de lameiros, que são alternadamente regados por cada um dos vizinhos, de modo a que ninguém fique sem água. No inverno, com o solo coberto de neve ou gelo, o gado apenas se alimenta de forragens ou palha. Nas margens dos cursos de água há, de onde em onde, azenhas, 173
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região destinadas em tempos idos a aproveitar a energia hídrica para moer os cereais. Actualmente, a generalidade destes moinhos de água está destruída ou muito arruinada. Dentro da área do parque, as aldeias maiores e mais próximas das características dos últimos séculos, são Tourém e Pitões das Júnias. Em relação a elas, a Câmara Municipal de Montalegre tem tido particulares cuidados, em conjugação com a Direcção do Parque Nacional, para salvaguardar as respectivas fisionomias e as suas características arquitectónicas e paisagísticas. Pitões das Júnias, é uma aldeia com muitas casas, invariavelmente graníticas. Algumas ainda têm telhado de colmo, sobretudo as destinadas à recolha dos animais. As ruas da aldeia são estreitas e estão sempre enlameadas, mesmo no verão, apesar de quase todas elas estarem calcetadas. Na zona central da aldeia, próximo de uma das fontes, está localizado o forno comunitário. Tourém, é uma aldeia relativamente mais pequena que Pitões das Júnias. Constitui uma curiosa espécie de enclave, que na raia norte entra pela Galiza, mantendo-se portuguesa apesar de estar virada para Espanha. Aliás, nesta terra, há por isso uma grande identificação com a Galiza!... Por exemplo, quando há que chamar o veterinário ou o médico, muitas vezes chama-se o galego de Randim. Esta uma realidade com raízes históricas. Conta-se que na Idade Média houve uma espécie de referendo em Tourém, para decidir se a freguesia alinhava por Portugal ou pela Galiza. Prevaleceu desde então a tendência lusitana. Porém, nas vizinhanças, foi o único povoado a optar por Portugal, ficando assim geograficamente isolado. Ainda actualmente o acesso é feito por uma única estrada que atravessa o planalto da Mourela, cuja paisagem desolada de rochas 174
Domingos Vaz Chaves graníticas e vegetação rasteira está a 1200 metros de altitude. Este acidente geográfico, que no inverno se cobre de neve, torna-se muitas vezes intransponível, é a fronteira natural entre Portugal e Espanha. RIOS: Rio Cávado; Rio Rabagão; Rio Beça; Riacho da Assureira. OS LIMITES Confronta de Norte. com a província espanhola da Galiza, de Oeste. com o concelho minhoto de Terras do Bouro, de Sul e Sudoeste com terras de Vieira do Minho e de Cabeceiras e de Sueste com o Rio Tâmega, até alturas da Serra de Pinho, servindo-lhe o concelho de Chaves de limite oriental. - ALGUNS MONUMENTOS HISTÓRICOS De entre os monumentos destacamos: os diversos dólmenes e antas, já assinalados. Estes monumentos tumulares de pedra foram construídos, entre nós, no período que se situa nos fins do Neolítico, com prolongamento pela Idade do Bronze; os castros são povoações fortificadas, localizadas em colinas de difícil acesso e, de preferência, junto a cursos de água, onde os povos viviam em relativa tranquilidade e se poderiam defender de outras tribos. A cultura castreja teve larga difusão no Barroso, como já vimos; as estradas romanas que atravessavam a região do Barroso, fazem a ligação entre Braga e Chaves e Astorga com variantes e itinerários diferentes; os marcos miliários, monolitos que se fixavam ao longo das vias romanas, por vezes, com indicação de nomes e títulos honoríficos. assinalavam as distâncias de 1.000 em 1.000 passos. 175
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Dos muitos existentes ainda se conservam os que se encontraram em Vilarinho dos Padrões, Sanguinhedo, Codeçoso do Arco, Lama do Carvalhal e Cruz do Leiranco. Como património medieval construído temos: os castelos medievais, o de Montalegre, o do Portelo e o da Piconha, (hoje em ruínas, conservando se, apenas, a cisterna, no alto do morro, dois lanços de escada e os rasgos de uma rocha, que serviram de alicerces); o Convento de Santa Maria das Júnias de Pitões, dos monges de Cister; a igreja de S. Vicente da Chã, que, segundo a tradição, foi parte de um convento da Ordem dos Templários e que denuncia na parte inferior o estilo românico do século X. Casa de Abrigo São de registar igualmente como locais de grande destaque a Ponte de Misarela sobre o rio Rabagão, entre as povoações de Ferral e Ruivães; as casas solarengas como o Solar dos \"Queridos\" em Viade e a Casa do Cerrado, residência dos últimos alcaides, de que apenas resta o portal heráldico; São ainda de assinalar alguns achados históricos como um machado de talão, duas pontas de lança e um instrumento garfiforme na freguesia de Solveira, diversos machados de bronze; três torques de ouro da civilização castreja, de fabrico céltico; moedas romanas pertencentes ao tesouro dos \"Antonianos\" (cerca de 3.000 encontradas em Salto e 15 em Penedones). Também podem ser visitados locais de interesse como os fornos comunitários, as aldeias tradicionais, os coutos mistos, as piscinas naturais do Cabril, os \"Cornos das Alturas\", as albufeiras e barragens, a cascata de Pitões das Júnias. 176
Domingos Vaz Chaves Castelo da Piconha Aquela que foi a mais importante das três fortalezas medievais de Barroso, a Piconha, poderá ter muito mais a ver com o Couto Misto de Rubiás do que à primeira vista pode parecer. Aquando da independência do condado de Portugal, o castelo da Piconha, como fortaleza defensiva do concelho de Tourém, teve um importantíssimo papel “na defesa nacional contra Leão e Castela e tornou-se o principal centro militar da região do Salas, com Tourém por capital”. Em torno do seu Castelo se realizaram inúmeras batalhas. Construido provavelmente muito antes da nacionalidade portuguesa, serviu depois de fortaleza defensiva do condado. Foi por mais de uma vez arrasado pelos castelhanos e outras tantas reconstruido pelos portugueses que lhe outorgaram e confirmaram numerosos e importantes privilégios por cartas, alvarás e forais régios. Presentemente, do Castelo ainda restam a cisterna aberta no alto do bloco granítico, dois lanços de escada de acesso ao Castelo sobre cujo morro se erguia a altaneira torre de menagem e cujas vistas dominavam toda a parte norte do vale do Salas. Tourém, naqueles tempos concelho, era bem mais importante que Montalegre por causa das honrarias com que os reis portugueses distinguiram os habitantes das terras da Piconha. Estes numerosos privilégios, semelhantes aos do Couto Misto, poderão ter criado naqueles povos um certo sentido de independência de que usufruiram durante séculos e justificar o facto de Tourém, uma cunha no território galego, sempre se manter fiel a Portugal. O mesmo se terá passado com o Couto Misto de Rubiás extinto contra a vontade dos seus habitantes em1864. 177
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Outro factor que se pode descartar é também a indefinição dos limites da fronteira entre Portugal e Espanha que, associado ao abandono a que este território era votado, pode ter suscitado e reclamado o estatuto de independência por parte dos seus habitantes. Mas há um outro pormenor que também não pode ser menosprezado. É deveras surpreendente verificar que o Couto Misto de Rubiás resistiu durante muitos séculos e impôs o seu estatuto e direito de existência sobre os dois paises (Espanha e Portugal) que, nos séculos XV e XVI, dominavam o mundo. O Castelo da Piconha com um historial riquíssimo encontra-se completamente abandonado. Recentemente, um vizinho de Randín cercou um seu terreno com uma vedação de postes de ferro e arame farpado que vai rematar nos penedos da fortaleza, dificultando ainda mais o acesso às pessoas que a queiram visitar, transformando o caminho privilegiado em caminho desprezado, porque impraticável. Resta aos curiosos e estudiosos, a tarefa de corta mato e salta paredes para o que é indispensável uma prévia preparação física adequada. Pena que o concelho de Calvos de Randín ou a Diputatión de Ourense ou a Xunta da Galiza não se proponham preservar aquele monumento, encomendar o estudo da sua história e referenciá-lo como um importante marco da história desta parte da Gallaecia. Mosteiro de Santa Maria das Júnias As ruínas do Mosteiro de Santa Maria das Júnias são um local ermo e místico, localizado a sul da aldeia de Pitões das Júnias, no noroeste do concelho de Montalegre. Estão no fundo de um vale escavado no planalto da Mourela, emergindo dos densos silvados que o revestem. O conjunto é simples e bonito, apesar de muito degradado. É o que resta de um antigo mosteiro, fundado na Idade Média, a partir de um eremitério, construído numa zona de morfologia agreste e clima destemperado. A partir do século passado, foi sendo abandonado, 178
Domingos Vaz Chaves ruindo pouco a pouco, sobretudo após um violento incêndio que quase o destruiu totalmente. Foi fundado, provavelmente, no século IX da nossa era. Diz a lenda (citada por JOÃO GONÇALVES DA COSTA, em \"Montalegre e terras de Barroso\", I, paginas 120 a 121) que a sua fundação foi voto de um grupo de fidalgos que andavam por aqui a caçar e, a certa altura, no tronco de uma árvore, viram uma imagem de Nossa Senhora com o Menino, sinal que tomaram como indicação para a construção de uma igreja. Há quem explique este facto, dando-lhe fundamento histórico, dizendo que a imagem religiosa teria sido escondida aquando das invasões muçulmanas, para a proteger dos infiéis. Com mais fundamento, pode afirmar-se que, no século XII, sob a protecção dos monges beneditinos galegos, do Mosteiro de Santa Maria de Osera, este local foi transformado num mosteiro, ligado inicialmente à diocese de Ourense, que integrava Osera, para passar mais tarde a pertencer ao mosteiro cisterciense de Santa Maria do Bouro, integrado na diocese de Braga. Ao longo da sua história, aliás, viria a estar ligado, quer a um lado, quer a outro. Teve, por variadas vezes, abades galegos. O seu último pároco, que não merecia o título de abade, por ser já o único habitante do mosteiro, morreu em 1850. Nas ruínas do notável conjunto, vale a pena realçar a porta principal da igreja, tipicamente românica, com um arco de volta inteira de duas arquivoltas e um tímpano singelamente decorado. O claustro do mosteiro, do qual restam apenas alguns arcos de volta inteira, também é notável, apesar de estar muito destruído. Tal como o resto do edifício, estes arcos são de granito, Não obstante estar muito arruinado e em completo abandono, o mosteiro merece uma visita. Fica a cerca de um quilómetro e meia de Pitões das Júnias, para sul, por um caminho de terra batida, sinalizado pelos serviços do Parque Nacional da Peneda Gerês, em cuja área se encontra. Este caminho apenas é circulável por veículos de todo-a-terreno e, em parte, a pé. Castelo de Montalegre O Castelo de Montalegre foi construído já tardiamente, inserindo-se no movimento empreendido por D. Afonso III para a reorganização das fornteiras a oeste e a este de Chaves. O objetivo da sua construção foi o de que a fronteira setentrional de Trás-os-Montes fosse dotada de uma efetiva ordem territorial e jurídica, que deveria ficar sob o poder do Rei. No entanto, esse domínio régio durou pouco tempo, sendo que, ainda antes do término do século XIII, Pedro Anes recebeu, por parte do rei D. Dinis, a carta de foral de Montalegre, com o objetivo de povoar estas terras, já que, por essa altura, Montalegre encontrava-se completamente deserta. Essas dificuldades de povoamento e os parcos recursos económicos que aí existiam ficam bem evidentes no formato do castelo que, segundo o projeto inicial, deveria incluir três torres que ficariam integradas no perímetro da muralha oval. A Torre furada é a única que foi construída segundo o projeto, devendo existir uma outra semelhante e uma terceira de maior impacto visual. No entanto, devido à falta de recursos económicos, as duas outras torres foram construídas com planta rectângular e com uma altura inferior. Actualmente, o Castelo de Montalegre conserva ainda as suas principais caraterísticas de fortaleza gótica, mantendo a 179
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região sua planta ovalada, muralhas entrecortadas por uma torre quadrangular e duas rectangulares. A torre de menagem está também associada à cerca, não se encontrando isolada e situada no centro do pátio, como era habitual. Das duas portas que existiam no castelo, mantém-se apenas a porta virada para nascente, sendo que, a porta principal que era protegida pela torre de menagem e que ficava virada para norte, já não existe. A torre de menagem é mesmo a principal peça do conjunto militar, sendo que a sua construção é posterior à das restantes peças do Castelo. A torre de menagem foi construída durante o reinado de D. Afonso IV e concluída em 1331. Daí o facto da torre de menagem ter uma maior altura e secção que as restantes torres, assumindo-se assim como a parte mais robusta de todo o conjunto. Possui quatro pisos e uma organização cujos sistemas de escoamento de águas, espaços abobadados e espessas paredes rasgadas por estreitos corredores de acesso aos balcões, revelam uma complexa preocupação funcional. Durante o reinado de D. João II, o Castelo de Montalegre sofreu uma campanha de reconstrução e aprimoramento da estrutura, com o objetivo de reforçar a entrada principal, protegendo-a por um reduto de torres circulares, das quais restam apenas os níveis superiores. Já no século XVII, devido às Guerras da Restauração, o Castelo viria a sofrer novas alterações, com a construção de diversos baluartes e revelins, com as caraterísticas naturais da época, não tendo o conjunto arquitetónico sofrido mais nenhumas alterações até aos nossos dias. Nos últimos anos, foram realizadas diversas escavações exploratórias no local, que 180
Domingos Vaz Chaves têm ajudado a conhecer a história pré-castelo do local. O Castelo de Montalegre está envolto em lendas e tradições orais. Por exemplo, diz-se que, cada ano, à meia noite do dia de S. João, aparecem três belas meninas sentadas em cadeiras de ouro e que não é possível livrá-las do encantamento. Reza a lenda que, certa vez, as meninas ofereceram a uma mulher um avental cheio de jóias, alertando-a de que não deveria contar a ninguém o que levava ali. Quando a mulher ia a caminho de casa, apareceu-lhe uma amiga que lhe perguntou o que carregava no avental. A mulher respondeu-lhe que levava uma grande riqueza e, quando abriu o avental para mostrar, todas as jóias tinham se transformado em carvão. Numa outra lenda, diz-se que quando ia a caminho da igreja do Castelo, pela estrada que vai da Portela para lá, uma mulher encontrou um cordão de ouro. Quando começou a puxar, viu que o cordão não tinha fim. Ela puxou o cordão até se cansar. Então ela disse: “Para ser rica já me chega” e cortou o cordão. Nessa altura, o cordão começou a desfiar-se em sangue, ouvindo-se muitos gritos e maldições contra ela. Para quebrar o encanto, a mulher devia ter puxado o cordão durante toda a missa, até que o padre a terminasse. Ponte Romana – Vila da Ponte Um belo e bem conservado exemplar de uma ponte Romana de três arcos, com corta águas e em cavalete. É uma das pontes que atravessa o concelho de Montalegre, pertencendo à Via Romana que ligava Braga a Chaves. 181
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Igreja Românica de São Vicente da Chã Templo de elevado valor patrimonial, de estilo românico. Foi edificada entre os séculos XI e XIII e encontra-se no núcleo mais antigo da aldeia de São Vicente, na freguesia de Chã. A igreja é composta por duas naves de planta rectângular, interligados por dois arcos plenos e cobertura em madeira. Em 1910 foi incluída no primeiro grande decreto português de classificação de edifícios antigos como “monumentos nacionais”. Ponte do Diabo (Mizarela) Também conhecida por Ponte do Diabo, a Ponte Misarela é um dos lugares mais míticos do Barroso. Fica no limite de Trás-os-Montes com o Minho e transpõe o rio Rabagão, já próximo da sua foz com o Cavado. Por ela passaram os franceses do exército invasor de Soult, quando retiravam em fuga, a 16 de Maio de 1809. Não sem que os tentassem impedir alguns paisanos portugueses, capitaneados por um sacerdote, que compreenderam a importância estratégica da passagem da ponte e quiseram encurralar os inimigos entre ela e o exército nacional que os perseguia. Diz-se que a sua origem é romana. De acordo com a lenda, esta ponte foi construída pelo diabo, pois só ele, com as suas artes maléficas, poderia colocar uma ponte sobre o rio, num desfiladeiro como este. À ponte estão associados poderes sobrenaturais: a ela se deslocavam as mulheres estéreis que, com os respectivos maridos deviam aqui dormir uma noite. 182
Domingos Vaz Chaves Depois, para que a criança nascesse sem complicações e com saúde, já durante a gravidez, deveriam o pai e a mãe voltar à ponte onde dormiriam de novo. Mas desta vez, só até à meia-noite. Depois desta hora, os futuros pais aguardavam a primeira pessoa a passar sobre a ponte, que logo ficaria, por este facto, designada para padrinho. Desde logo se baptizava o nascituro, ainda no ventre da mãe, dando-se-lhe o nome escolhido pelo viajante. Actualmente, o lugar está muito modificado, pela proximidade da barragem e da albufeira de Salamonde, no sistema hidroeléctrico do Cávado. Igreja de Santa Maria de Gralhas Desconhece-se o ano da sua construção, sabendo-se apenas que é anterior ao século XVI. E sabe-se que é anterior ao século XVI, dado existir na Biblioteca Pública de Braga, uma «Relação de todas as Igrejas do Arcebispado e seus Padroeiros», onde consta, para além de outras 26 igrejas da região de Barroso, a «Igreja de colação do Arcebispo de Santa Maria de Gralhas». Embora tratando-se de um documento sem data, pela caligrafia e ortografia, verifica-se ter sido manuscrito, no início do século XVI, razão pela qual, a Igreja terá sido construída no antecedente. A esta aldeia e à sua Igreja, se refere também o respectivo Vigário, Francisco Affonso dos Santos, que sob o testemunho do Vigário de Santo André de Vilar de Perdizes, Agostinho Alvares e do Reitor de São Miguel de Vilar de Perdizes, Miguel do Couto de Oliveira, quando em 20 de Março de 1758 e em resposta a uma ordem emanada do Muto Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral, para que lhe desse conta do que havia nesta freguesia, lhe respondeu o seguinte: 183
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região 1-Esta freguezia de Santa Maria de Gralhas está sita na província de Trás dos Montes no Arcebispo de Braga Primaz, da comarca de Chaves, eclesiástica e do secular de Bragança e o hé do termo da vila de Monteallegre.Hé freguezia matriz. 2-Hé beneficio simples, anexo a hua tercenaria na Santa Sé Primaz.Hé toda de Roma e do ordinário conforme ao mês da sua bacatura.O beneficiado que existe hé José da Silva Duarte. (...) 6-A paróchia está dentro do lugar no meio da povoaçam (parte) do Nacente e nam tem mais lugares. 7-Seu orago hé Nossa Senhora dÀssumpssam.Tem três altares hum principal e dois colaterais, o principal tem o Santíssimo no sacrário e Santo António e o Santo Nome de Jezus e o colateral da parte direita tem Nossa Senhora dÀssumpssam e o da parte esquerda tem Nossa Senhora do Rozário.Nam tem naves, nam tem irmandades. 8-O párocho hé vigário ad nutum aprezentado pelo beneficiado deste beneficio.Terá de renda cem mil réis pouco mais ou menos hum anno por outro. É uma das mais belas igrejas da região. Paço de Vilar de Perdizes Complexo de grande valor histórico constituído por solar e hospital, botica, capela com cruzeiro junto ao caminho de Santiago. Constitui um dos poucos, senão único Morgadio em Portugal que se sabe ter sido instruído por comenda pontifica. A origem deste Paço está Intimamente ligada a Santiago da Compostela, pois a 184
Domingos Vaz Chaves criação inicial da botica e hospital tinha como objectivo o apoio a esse peregrinos. O hospital teria capacidade para 9 a 12 indivíduos, e ao que parece, estava relativamente bem apetrechado, visto a carta de instituição determinar oferecer um caldo de azeite, caldo de carneiro e frango. Aliás, em Vilar de Perdizes existia um talho ao serviço do hospital. O pão seria feito no forno, nomeadamente no de cima da vila. O solar de Vilar de Perdizes terá ainda desempenhado um papel importante na introdução da cultura do bicho-da-seda em Trás-os-Montes, tendo as primeiras experiencias sido aí realizadas. Aliás, uma amoreira centenária testemunho dessa tentativa sobreviveu no Parada do Paço até há poucos anos. Actualmente, o solar apresenta o aspecto de uma residência senhorial do século XIX. A fachada, sóbria, em granito, tem dois pisos. Apenas é decorada pela escadaria, também granítica, que lhe fica no centro. Em volta do edifício há um terreiro amplo, ao lado do qual são ainda visíveis os vestígios da albergaria medieval, deles se destacando os restos ias edifícios religiosos de então. No seu interior, em razoável estado de conservação, já estiveram instalados serviços públicos. CASA DO CERRADO Casa de arquitetura tardo-barroca localizada no centro cívico de Montalegre, em frente ao Tribunal Judicial e à Câmara Municipal. Trata-se de um solar em granito que antigamente se encontrava rodeado de jardins. Destaca-se na porta de acesso ao pátio, um monumental escudo em granito, onde estão esculpidas as armas dos senhores da casa. Serviu em tempos, como residência aos alcaides de Montalegre. 185
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região A Casa do Cerrado, foi construída quando o castelo deixou de servir como residência senhorial dominial, no advento da Idade Moderna. Foi nesta altura que os alcaides de Montalegre se mudaram para este novo paço, construído em sítio mais abrigado das intempéries que o morro do castelo medieval. Hoje em dia passa um pouco desapercebido, por estar baixo e pela proximidade de outros edifícios maiores e mais altos. A SEDE DO CONCELHO Vila e sede do concelho, ocupa o coração do planalto barrosão em lugar sobranceiro ao rio Cavado e à serra do Larouco, que lhe domina as vistas. Está a cerca de mil metros de altitude, pelo que o seu clima é muito frio e rigoroso no Inverno, sendo em contrapartida ameno no verão. Os historiadores não sabem ao certo desde quando esta terra é habitada. Julga-se porém que houve já por aqui barrosões desde o segundo milénio antes de Cristo. Prova disso são os inúmeros dólmenes espalhados por todo o concelho, cuja enumeração inclui várias dezenas. No último milénio antes de Cristo todo o Barroso foi povoado pelo povo celta, que se disseminou pelos outeiros deste território agreste, construindo castros. Estão actualmente inventariados cerca de cinco dezenas. Entre eles, o da vila de Montalegre, sobre cujas ruínas viria a ser mais tarde construído o castelo medieval. Ainda actualmente, o povo barrosão exibe as suas características célticas, nas suas feições físicas, no seu carácter violento e orgulhoso e nas suas manifestações lúdicas e culturais. Embora não haja documentação que o comprove, parece certo que a zona da vila, povoada apenas por pastores até à Idade Média, por essa altura se povoou intensamente, correspondendo este fenómeno à necessidade de povoar e defender o reino portucalense e, em particular, as zonas fronteiriças. Aliás, ao que parece, já então a vila ocupava o lugar de cabeça da terra de Barroso. Com D.Afonso III, Montalegre teve o seu primeiro foral em 1273, confirmado e renovado por D. Dinis em 1289. Este é o primeiro documento escrito que se conhece sobre Montalegre. E dele pouco se sabe mais porque desapareceu com o incêndio que destruiu a vila durante as 186
Domingos Vaz Chaves escaramuças fronteiriças que opuseram o nosso rei D. Afonso IV a Afonso XI de Castela. Conhece-se uma versão posterior do foral, emitida pelo próprio D. Afonso IV em 1340 e renovado por D. João II, em 1491. Com D. Manuel, em 1515, a vila teve novo foral, o qual acabou com antigos privilégios nobiliárquicos e abriu o caminho para o desenvolvimento que a vila teria nos tempos modernos. Actualmente, Montalegre é uma vila agitada por ser o centro administrativo e comercial do Alto Barroso. A sua rua principal, a Rua Direita, muito comercial, destina-se apenas ao trânsito de peões. Nesta rua predominam ainda as casas de granito cinzento típicas de Barroso, que aliás são muito abundantes por toda a vila. Verifica-se com agrado que vários dos edifícios públicos de construção mais moderna, na zona da Portela, exibem o uniforme cinzento acastanhado que lhes impõem o estilo e os materiais de construção tradicionais, o que não quer dizer que não haja também já por toda a vila casas de cores garridas, “importadas da Europa” e abandonadas durante a maior parte do ano. Montalegre é também uma vila florida, com vários e bem cuidados canteiros e jardins. Sobretudo nas praças principais, onde uma estátua de João Cabrilho domina com o olhar os edifícios solenes do Palácio de Justiça, da Câmara Municipal e da Caixa Geral de Depósitos. AS FREGUESIAS A região de Barroso desde sempre foi habitada pelo homem. Disso são marca os inúmeros vestígios da ocupação de que os povoados castrejos identificados nos cotos dos montes são o inequívoco e principal testemunho (Santos Júnior 1986). O sentido da palavra aldeia significa o ajuntamento de casas onde se aglomeram famílias, que se organizam em comunidade de vizinhos. A típica aldeia trasmontana e particularmente a barrosã é caracterizada por ser um aglomerado de casas que se tocam de perto, separadas apenas por pequenas hortas ou logradouros. Normalmente têm um quintal anexo nas traseiras e cortes para os 187
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região animais. Outra fachada, a principal, abre-se à rua ou largo, espaço de convívio e partilha da comunidade. Depois alongam-se, seguindo a orientação da rua principal ou irradiando pelas suas travessas a partir do centro onde, normalmente, se situa a capela ou igreja. Outros elementos de uso colectivo situam-se em lugar estratégico, como a eira onde os vizinhos, ajuda por ajuda, se auxiliavam nos trabalhos; o forno onde todos cozem à vez e que também funcionava como espaço de partilha e fruição comunitária, albergue de peregrinos ou almocreves em rota de passagem para os centros de peregrinação e comércio, pousada de pedintes e indigentes; a corte do boi do povo, animal de cobrição e reprodução, alimentado e guardado por todos, situava-se também no perímetro mais próximo da aldeia. Em torno deste aglomerado de casas, logradouros e “equipamentos” existiam, se a terra e o clima o permitissem, as hortas e campos de novidades: o segadiço, o linhal, o nabal donde se colhiam os legumes, as ervas sempre frescas para os animais de criação e o linho que haveria de servir para a organização do bragal. Num anel exterior, os lameiros e os campos de cultivo onde pastam os animais e se produz o centeio, a batata e algum milho e vinho, este nas terras abrigadas da ribeira. Muitos destes eram terrenos de fruição comunitária, uns anos terra de semeadura, outros terra de pasto. Mais distante o monte, os baldios, onde o povo se abastece de mato e lenha e o pastor leva o gado a pastar. A partir de uma, duas ou mais aldeias se construiu a comunidade de fregueses que constitui a freguesia ou paróquia. Ligada à igreja onde pontifica o pároco, é nesta figura tutelar que se 188
Domingos Vaz Chaves encontra a dignidade matricial da paróquia, à volta da qual se organiza a vida quotidiana dos fregueses e se registam os momentos vitais da comunidade. A freguesia cimenta-se na vivência dos vários momentos da celebração na igreja – nascimento, sacramentos da confissão e comunhão, casamento e funeral. Na igreja ou no adro organiza-se também a vida da comunidade, funcionando como centro de decisão da vida económica e social: os trabalhos agrícolas, a distribuição das águas, a colheita do cereal, a limpeza dos montes, a organização do pastoreio dos gados, etc. Da igreja centro, aos limites territoriais claramente definidos do seu termo se fixa o horizonte geográfico da freguesia. É, pese embora a origem remota de algumas destas aldeias e lugares e da consequente influência cultural dos inúmeros povos e civilizações que aqui passaram e deixaram as suas marcas, nesta realidade, plasmada ao longo dos últimos séculos, que se sedimentou o carácter e a identidade do povo de Barroso. As aldeias eram assim e continuam a ser na maioria dos casos, povoados por gente que raramente ultrapassava em média as 300 almas. Ergueram-se a meio das encostas, predominantemente voltadas a sul, protegidas do vento norte e de preferência, próximas de rios ou ribeiras. No concelho de Montalegre, Vila de Ponte, Frades do Rio, Fiães do Rio e Pondras entre outras, são vivos exemplos desta realidade. Abrigam-se normalmente nas pequenas bacias da testa do vale, defendidas dos ventos mais agrestes. As casas apinham-se umas sobre as outras, como se protegessem mutuamente das invernias. As ruas são estreitas e tortuosas, onde desembocam becos e onde mal passa um carro de mato. As casas são (ou eram), em regra, de propianho ou pedra miúda desemparelhada, enegrecida pelo tempo e raras são aquelas que denotam algum sinal de riqueza 189
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região ou de fidalguia do proprietário. Prática também corrente, era o facto do povo se mobilizar facilmente para consertar os caminhos. Freguesia de Cabril Cabril é um mosaico de pequeninas povoações ao longo das encostas abrigadas que descem sobre os rios. Xertelo que fica acima dos 700 metros, Lapela e Pincães, acima dos 600 metros, São Lourenço, Chelo, Fafião e Azevedo, acima dos 500 metros, Bustochão e Vila Boa, acima dos 400 metros e todas as restantes, Cabril , Cavalos, Chãos, Fontaínho, São Ane e Chã do Moinho não sobem para lá dos 300 metros de altitude. Não admira por isso que, nestas funduras quentes e húmidas, Barroso se orgulhe de colher boa fruta, vinho e azeite na freguesia de Cabril. Pincães foi a primeira aldeia do concelho que teve honra de monografia publicada, da autoria de Jacinto de Magalhães. É a segunda mais extensa freguesia do concelho -76,6 km2 - e provavelmente a mais bucólica, a mais rica no plano das espécies arbóreas e avícolas e também a mais admirável no aspecto multifacetado das suas paisagens edénicas, sem dúvida, devido às condições orográficas e climatéricas que a cordilheira do Gerês apresenta. Com um total de 14 lugares ou aldeias, dista cerca de 50 km da sede de concelho e faz fronteira com o Minho, beneficiando dos sortilégios das Barragens de Paradela, Venda Nova e Salamonde. Tem cerca de 640 habitantes e à volta de 410 edifícios dispersos pelos. O lugar mais célebre é o da Lapela, pois foi aqui que nasceu João Rodrigues Cabrilho, na Casa do Americano. 190
Domingos Vaz Chaves União das Freguesias de Cambezes do Rio, Donões e Mourilhe Cambeses é uma das poucas povoações expostas ao cortante frio do setentrião, além de que, segundo a carta do Instituto Geográfico e Cadastral de 1/50.000, é cortada a meio pela curva de nível dos 1000 metros de altitude, situação a que poucos lugares se alcandoram. Encabeça, as freguesias ditas “do Rio”. Pode dizer-se que esta freguesia barrosã mantém um altíssimo nível de rusticidade e tipicismo bem próprios para filmes medievais a que até o seu orago se adapta com enorme propriedade. Com efeito, este mártir da Capadócia tem culto antiquíssimo na Península Ibérica. O ser advogado das mães que aleitam os filhos deve-se talvez ao facto da mãe dele - Santa Rufina, o ter parido quando ela e o marido estavam na prisão, durante a perseguição do feroz e tresloucado imperador Aureliano, nos fins do terceiro quarteirão do século II. Donões resume-se apenas ao lugar do mesmo nome, com cerca de 70 habitantes e 81 edifícios. É a mais próxima da vila e também a mais pequena. Foi berço dos artistas \"Pintos de Donões\", de vários padres da família Costa, um dos quais o Monsenhor João Gonçalves da Costa, autor da grandiosa Igreja de N.ª Senhora da Conceição, em Vila Real e da Monografia: «Montalegre e terras de Barroso». A Igreja de São Pedro, o castro, os moinhos, as capelinhas da Senhora da Peneda e de Santo Amaro onde resistem meia dúzia de sepulturas antropomórficas fixas, destacam-se porque preservam com carinho e devoção exemplares magníficos. No dia 4 de Abril de 1854, ficou reduzida a cinzas, a igreja incluída. Reconstruída por subscrição pública em terras do Minho e Trás-os-Montes, voltou a ser devorada pelas chamas em 4 de Julho de 1875, apenas se salvando desta vez 191
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região quatro casas e a igreja!... O Aquilégio Medicinal dá notícia dos efeitos curativos da fonte desta Igreja que foi benzida “consagrada” por São Braz” e produz milagrosas curas nas moléstias da garganta. Não conseguimos descobrir como é que o bispo Arménio São Braz cá teria chegado trezentos anos depois de Cristo, visto que foi martirizado em 316. Em lembrança do seu martírio, as cardadeiras e tecedeiras escolheram-no para seu patrono e advogado das gargantas doentes. Por isso, se diz, quando a criança se engasga: “São Braz te desafogue já que Deus não pode”!... Em tempos, Mourilhe foi Comenda de Cristo e levantava rendas em metade da povoação de São Pedro da freguesia de Contim. Enquadrada nesta freguesia fica ainda a aldeia de Sabuzedo. Nela vivem cerca de 130 pessoas O facto de algumas destas aldeias se situarem nas margens do Rio Cávado, como todas quantas partilham do mesmo estatuto, têm a expressão \"do Rio\". Nesta freguesia foi professor primário o poeta barrosão Artur Maria Afonso e aqui nasceu o Padre António Lourenço Fontes. Freguesia de Cervos A freguesia mais oriental do concelho foi atravessada de lés-a-lés pela via imperial romana, a primeira ou Prima. No seu aro apareceram já três marcos miliários, o primeiro dos quais em 1813, na rua principal de Arcos, perto da Senhora do Campo, e que muito contribuiu para localizar, “in situ”, o verdadeiro e único trajecto da citada via. Pelos marcos viários e Moimentos ficámos também a conhecer a verdadeira localização da antiquíssima cidade pré-romana de CALADUNUM que deverá situar-se no termo desta paróquia. Antigo de Arcos, Vilarinho de Arcos e Arcos - sem necessidade de arcos em rio que não possuem – trazem no próprio nome a 192
Domingos Vaz Chaves indicação de que seria por aí o antigo opidum. A Senhora de Galegos com a sua lenda mais o castro e a passagem da via romana no Cortiço, sobre o Beça, merecem visita atenta. É também digna de referência a lenda. Tem uma extensão de 33,070 km2, para uma população de cerca de 325 residentes que ocupam 311 edifícios. Tem os seguintes sete lugares: Arcos, Barracão, Cervos, Cortiço: Fontão, Vidoeiro e Vilarinho de Arcos. Chã é das maiores freguesias em extensão geográfica: 57 km2 e 927 habitantes distribuídos por 742 edifícios. São as seguintes as suas doze aldeias: Aldeia Nova, Castanheira, Fírvidas, Gorda, Gralhós, Medeiros, Peirezes, Penedones, São Mateus, São Vicente, Torgueda e Travassos da Chã. Até 1836 também lhe pertenceu a aldeia de Codeçoso que actualmente pertence à freguesia de Padornelos-Meixedo. Em Peirezes nasceu o escritor Bento da Cruz. Em Fírvidas nasceu o falecido Bispo de Portalegre D. Carlos Esteves Dias. A igreja paroquial é românica e está classificada como monumento nacional. União das Freguesias de Paradela, Contim e Fiães Antigamente Contim era lugar da freguesia de São João da Poenteira - é este o topónimo correcto. Actualmente invertem-se os termos, sendo sede da dita freguesia Paradela. Porém, como Outeiro, Venda Nova, Ferral, Paredes e Travaços do Rio mantém-se o anterior padroeiro que era e é São João. É uma freguesia de largos horizontes e 193
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região panorâmicas paisagens, variadas e de grande profundidade para sul e ocidente. Na sede da freguesia mora uma barragem que assume uma grande novidade em termos de construção: o dique enorme foi erguido com pedregulho a granel, betonado a montante e com um sistema inovador de descarga num funil gigante associado ao túnel de profundidade. Tal como as da barragem da Venda Nova, as suas águas vão em tubarias gigantes fazer mover as turbinas da Central de Vila Nova produzindo energia hídrica. Merecem uma visita cultural as armas dos Carvalhos, na Casa do Loureiro, e os exímios ceramistas locais José Pereira e esposa. Todas as três povoações que formam a freguesia já serviram de sede: em todas se rezou missa e se ergueu baptistério capaz. Metade de São Pedro, aldeia fundada sobre um castro onde ainda continua, pertenceu à Comenda de Sã o Tiago de Mourilhe. Porém, o mais idílico recanto de todo o planalto talvez seja a capela de Nossa Senhora da Vila de Abril que foi ermitério medieval carregadinho de religiosidade e lendas. É uma das “Sete Senhoras” festejadas a 8 de Setembro de cada ano. Repare-se na poesia desta lenda: Consta que um ermitão (os ermitães, como possíveis vestígios de algum antigo mosteiro que aí tivesse havido, habitaram no local, pelo menos até ao século XVIII), um belo dia de há séculos atrás, ao abrir a porta da capela aos peregrinos, deu pela falta da imagem da Senhora no seu altar. Convenceu então os assistentes a juntarem-se a ele em orações que se prolongaram por todo o dia. Ao cair do sol no horizonte, sobre o Alto de São Pedro do Rio, uma sombra triangular alongou-se pelo corpo do edifício!.. Era a Senhora que regressava muito cansadinha. O ermitão franziu a sobrancelha e repreendeu-a: “Maria, então como é que me deixas tão aflito, preocupado e doente?!... E a senhora regressou ao seu altar ante a estupefacção dos presentes. Era assim, sem cerimónias, que o último pároco da freguesia contava a poética lenda. Fiães do Rio: Ocupa o penúltimo lugar em termos de pequenez do respectivo território. Foi aí que nasceu Bento António Gonçalves, em 1902, que bem cedo migrou para Lisboa. Muito jovem encabeçou as lutas laborais/sindicais como operário no Arsenal da Marinha o que o levaria a ser detido pela Pide e condenado a degredo no Tarrafal (Cabo Verde) onde viria a morrer com quarenta anos. Foi o primeiro Secretário Geral do Partido Comunista Português. A sua ponte de madeira, tal como a de Covelães sobre o rio Cávado, é muito antiga. Referidas a ela contam-se muitas peripécias de imensa graça e alguma história. Por lá passavam grupos de pessoas da margem norte, em romagem a São Bartolomeu, o menos conhecido dos doze apóstolos, para que da sua capelinha acorrentasse o demónio e os livrasse das malignas possessões. Da freguesia fazem ainda parte São Pedro e Vilaça, com uma população de 100 pessoas que ocupam 89 edifícios. Ás portas da freguesia, existe ali também a Barragem do Alto Cávado, também conhecida por Barragem de Sezelhe. Covelães tem 186 habitantes que ocupam 142 edifícios e se distribuem por uma extensão geográfica de 18 km2, agrupando se em 2 lugares: Covelães e Paredes do Rio. Da freguesia fáz também parte o lugar de Loivos e a Ponteira. A barragem. que recebeu o nome da freguesia, tirou-lhe o fértil vale, mas recompensou a com uma beleza inconfundível. 194
Domingos Vaz Chaves Freguesia de Covêlo do Gerês Este lugar é o herdeiro único do determinativo “do Gerês” que pertenceu também às freguesias de Ferral - outrora Santa Marinha do Gerês - e Parada do Gerês - actual freguesia de Outeiro - e São Vicente do Gerês – actual Pitões . A situação, numa altitude inferior aos setecentos metros, e encaixada entre o Gerês e a serra do inter-flúvio, torna a freguesia apta para produções agrícolas semelhantes à de Cabril. Por isso o ditado antigo, sobre os principais povos de Barroso, no que dizia respeito à produção vinícola: Covas e Pinho, Vila da Ponte sem vinho; Atrás vem Covêlo do Gerês. que dá na tola aos outros três. E não só na produção do verdasco porque o nosso Povo também se diz: Vaca de São Pedro, mulher de Covelo. Tem cerca de 260 habitantes, distribuídos por três lugares: Covêlo, Penedas e S. Bento de Sexta Freita. União das Freguesias de Viade de Baixo e Fervidelas A freguesia de Santa Maria de Viade orgulha-se do seu passado glorioso, de que restam vestígios notórios, às vezes, de muito difícil estudo por ausência total de documentos. Referimo-nos ao bonito solar dos Queridos no qual sobressai uma impressionante pedra de armas, dos Barrosos e Mouras, e a extinta capela de Santa Rita. A dificuldade de retirar da obscura poeira dos tempos a verdadeira história destes e doutros monumentos conduz à propagação do rosário de lendas que a tal respeito se contam. O vale do Regavão, que bordeja a freguesia pelo sul e nascente, dá passagem à via prima, aqui assinalada por um miliário gigante que 195
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região depois se transformou na cruz de Leiranque. Não longe desse local houve um pisão – que passou a topónimo da barragem e mais acima a antiquíssima Vila de Mel, provavelmente a primeira “statio” - São Vicente da Chã seria a segunda - entre as cidades de “Praesidium” e “Caladunum” – “mansiones” da dita via imperial. Aí, ainda se pode ver a necrópole, cujas sepulturas abertas num granitoide muito mole e areento se vão esboroando com a erosão eólica e aquática. Urge acudir-lhes. Doutras eras mais recentes temos imensas notícias que dariam para grossos volumes. Fervidelas: Ao redor do altar onde veneram o Santinho que foi peregrino de bordão, chapéu e cabacinha, Fervidelas abriga-se por trás do Oural, do frígido vento castelhano. A par de Cambeses é a freguesia mais alta de toda a montanha inter-fluvial. Apesar de se ter tornado independente há vários séculos, andou sempre anexada à sua vizinha Santa Maria de Viade por ser demasiado pequena em território e populações. Vale a pena percorrer os seus caminhos de montanha para admirar a cascata e o “castelo” de penedos empoleirados bem como o Monte Oural que traz com ele o nome quanto à riqueza de paisagens que dali se vislumbram. Desta freguesia fáz parte igualmente a aldeia de Lamas, Antigo, Brandim, Friães, Parafita, Pisões, Telhado e Viade de Cima. Foi nos seus melhores terrenos que se construiu a Barragem de Pisões. Para o bem e para o mal, alterou a vida das populações. Tem hoje cerca de 795 habitantes. Tem filhos ilustres. como, por exemplo, o general Jorge Barroso de Moura e todos os seus irmãos. 196
Domingos Vaz Chaves Freguesia de Ferral Esta freguesia mudou várias vezes de nome: foi primeiro Santa Marinha de Covêlo do Gerês por oposição a São Pedro de Covêlo do Gerês; depois dava apenas pelo hagiotopónimo Santa Marinha; mais tarde foi Santa Marinha de Ferral e hoje é somente Ferral. Contudo, é da tradição local que existiu neste mesmo termo a freguesia de São João da Misarela, de que não possuímos qualquer documento escrito. Na realidade, nunca se encontraram vestígios de tal construção nem qualquer referência à sua localização. Apesar das oito povoações que integram a freguesia, o seu isolamento até ao século XVIII era tão acentuado que se tornava extremamente propício à criação e sedimentação de lendas de que é paradigma a da Misarela. Tal como na vizinha Cabril, antes das barragens, os rios eram barreiras difíceis de transpor, mesmo de verão, por isso a freguesia foi-se alargando e anexando povoações na área de entre Cávado e Regavão: Vila da Ponte e Bustelo (freguesia anexa até ao século XIX) Contim e São Pedro. A freguesia tem cerca de 640 residentes distribuídos por 8 lugares: Bairro, Ferral, Nogueiró, Pardieiros, Sacozelo, Santa Marinha, Sidrós e Vila Nova de Ferral. Aqui se situa a célebre Ponte da Misarela, em que o sagrado e o profano atingem dimensões inimagináveis. Freguesia de Gralhas Gralhas é uma freguesia com 20,82 km² de área, cerca de 208 habitantes residentes e uma densidade de 10,8 habitantes/km². A história da aldeia é milenar. Segundo alguns autores, por aqui cruzaram estradas romanas, passando pelo 197
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região \"opidum\" romano, hoje relembrado pelo lugar de Castelo Romão (castro romano). Nesta terra, aparece, com alguma frequência, cerâmica com fortes sinais de romanização. Para além desta referência arqueológica, outra merece idêntico destaque. Falamos da \"villa de Caladunum\". São vários os textos que a ela se referem, informando existir no local um edifício quadrangular abobadado em pedra, muita dela reutilizada na construção da actual igreja paroquial. Em 1530, Gralhas aparece referenciada com 44 moradores o que daria uma população aproximada de 180 pessoas. Em 1538, aparece identificada dentre as honras de Barroso: “os lugares de Honras que partem com Galiza” eram os seguintes “a Aldeia de Vilar de Perdizes, a Aldeia de Gralhas, a Aldeia de Padornelos, a Aldeia de Padroso (…) e tem cada Aldeia seu juiz de honras”. No tempo da Monarquia até ao ano de 1836, foi um concelho com Casa da Câmara, com Vereação, com oficiais para o governo económico, aplicação da justiça e controlo social. Era um concelho cujo território era apenas a actual freguesia, que pertencia à Casa de Bragança, tal como Montalegre, Chaves e tantas outras terras que faziam parte do Ducado de Bragança. Lá por esses tempos do rei D. Dinis, Gralhas foi elevada à categoria de Vila após a concessão do respectivo “foral”. É provável que daí proviessem os muito famosos e não menos ignorados, Gralhos - fidalgotes locais que não passaram à história, porque entre nós, sempre foi residual a história longe do trono, mas passaram à lenda. Queremos acreditar que, na aba sul do Larouco nasceram para uma paixão agitada e periclitante um tal Fernão Gralho e Maria Mantela, filha de Paio Mantela – antropotopónimo de povoação perto de Solveira. Todo o fidalgo rural que se prezava tinha então a sua quinta na Ribeira. Não admira por isso que o jovem casal fosse viver para a nobre cidade (então vila) de Chaves, nem que a determinada altura, tivessem filhos, os renomados filhos de Maria Mantela. E o resto da lenda fica para outra ocasião... Em Gralhas nasceu o primeiro seminário da diocese de Vila Real. Um ex-aluno do dito escreveu a outro uma longuíssima carta cheiinha de saudades e de recordações desde o Rio de Janeiro: “Aqui Rio de Janeiro/Trago sempre na lembrança/Feliz terra do dinheiro/ 198
Domingos Vaz Chaves Nossos dias de criança/Tão falada em Portugal; E os caros tempos de Gralhas/ Paraíso terreal/E as primeiras batalhas/Além dos mares sem fundo/ Contra o azar e os maus fados/ Nas terras do Novo Mundo; Em que fomos derrotados… Gralhas tem 346 edífícios!... Aqui funcionou de 1922/25 o primeiro Seminário da diocese de Vila Real e aqui nasceu o Padre João Álvares de Moura, sobrinho de D. Joaquim da Boa Morte Álvares de Moura, de quem herdou a valiosa biblioteca. Nas suas imediações existiu a cidade romana, conhecida por Ciada.Tem monografia da autoria de Domingos Vaz Chaves. União das Freguesias de Meixedo e Padornelos Como Gralhas e outras mais,Meixedo foi uma das honras de Barroso. Por ser lugar honrado os reis não possuíam aí reguengos. Bem pelo contrário o seu termo (só de Meixêdo) constituía “um couto coutado por padrões separados que coutou o Senhor Rei Afonso primeiro ao Hospital” (à ordem dos Hospitalários). Esta tinha sido fundada após a conquista de Jerusalém pelos Cruzados, em 1099. Por ser a única dádiva à dita Ordem dos Hospitalários, em Barroso, a gente de Meixedo deve considerar-se muito honrada. A Capela de São Sebastião é um dos poucos sinais vivos da enormíssima devoção a este Santo, depois da peste de 1570, e, sobretudo, após o renascimento do Sebastianismo, com a morte de D. Sebastião, em 4 de Agosto de 1578. Pertence hoje à freguesia a povoação de Codessoso que antigamente pertenceu à freguesia da Chã. Nesta povoação, em 1258, pagavam ao rei a oitava de todos os frutos excepto a herdade de cavaleiros e de Dona Maiorina. E, pelo São Miguel, os 199
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região de Codessoso (as mais antigas referências deste topónimo não autorizam outra grafia) tinham de entregar simples espáduas com pão e, como todos os da Chã, iam ao apelido e davam a refeição e a cevada ao mordomo do senhor rei. Pelo termo de Codessoso passava um caminho medieval importante que servia diversos lugares da enorme paróquia da Chã, ao tempo das Inquirições de D. Afonso III: Negrões, Vilarinho, Lamachã, Morgade, Carvalhais e Rebordelo, Fírvidas e Gralhós, além das herdades ribeirinhas do Regavam. Padornelos: É a referência lógica à terra fria barrosã, desde os tempos de Camilo, muito antes de Ferreira de Castro! Mas Padornelos goza de outras referências bem mais importantes (ou devia gozá-las)! Importa recordar que lhe foi concedido um foral autêntico, por D. Sancho I e confirmado, a 5 de Outubro de 1266, por D. Afonso III. Foi ‘’conselho sobre si’’, isto é, gozava dos privilégios que aos grémios municipais se concediam: “Os homens de Padornelos devem meter juíz e serviçal e mordomo e clérigo” E assim, por este documento que substituía o de Sancho I, se conferia existência jurídica ao rudimentar concelho, com magistraturas próprias. Dessas glórias antigas (foi depois uma das honras fronteiriças de Barroso) sobeja ainda o facto de ter direito a capitão residente para poder arregimentar homens, dos 18 aos 60, para a defesa nacional, sempre que Portugal fosse acossado. Padornelos tem um forno do povo muito curioso, e ao lado existe a Casa do Capitão, onde Ferreira de Castro, em 1934 se hospedou para escrever o romance “Terra Fria”. Para além de Padornelos e Meixedo, esta freguesia tem mais dois lugares: Sendim, a aldeia mais alta de Portugal com os seus 1120 metros e Codeçoso (conhecido por Codeçoso da Chã). No lugar do Facho, em Codeçoso, existe um dólmen e a povoação foi atravessada por uma calceta romana que passava nos Pardieiros, Portela de Urzeira e seguia para Chaves, por Meixedo, Gralhas e Vilar de Perdizes. Em Codeçoso nasce o Rio Rabagão que dá origem à Barragem de Pisões. A capela em honra de S. Nicolau é célebre pela sua talha setecentista. União das Freguesias de Vilar de Perdizes e Meixide Vilar de Perdizes: A par de Salto e Tourém é das mais cosmopolitas freguesias do concelho, afora Montalegre. Outra zona barrosã testificadamente habitada desde remotas eras, como se prova numa inventariação sumária dos seus monumentos: as inscrições pré-históricas de Caparinhos (gravuras rupestres de controvérsia leitura); o altar sacrificial da Pena Escrita; as duas aras romanas achadas na abertura da estrada para Meixidee-Chaves, uma dedicada ao Deus dos Deuses, Júpiter, e outra dedicada ao Deus local Larouco; e a grande inscrição do Penedo de Rameseiros cuja interpretação não consegue recolher consensos. Tal riqueza arqueológica e tão diversificada não é usual em meios pequenos. Mas a riqueza continua no que sabemos da sua igreja de São Miguel e no Solar, que foi berço de filhos de algo, e junto do qual floresceram o Hospital e a Capela de Santa Cruz, destinados a prestar apoio físico e espiritual aos peregrinos de Santiago de Compostela e do Cristo de Ourense que por ali passavam, vindos dos lados de Chaves Alto Douro, Beiras e Castela. Modernamente Vilar de Perdizes entra na moda das notícias televisivas por apadrinhar um evento sócio-cultural que é o 200
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