Domingos Vaz Chaves Congresso de Medicina Popular. Admira que alguns, ditos intelectuais, lancem farpas ao dito como se estivéssemos ainda no século VI, do São Martinho de Dume, a combater pagãos e as heresias dos maniqueístas e arianos… Recusamo-nos a que nos lancem o anátema de pagãos e hereges pelo facto de querermos alcançar, enquanto é tempo, os saberes (no campo da farmacologia, da medicina e das tradições) dos nossos avós! Esperemos que a gente de Vilar continue a acarinhar as ervas com que se fazem mezinhas, defumatórios, infusões e chás que nos debelam as dores do corpo e nos dulcificam as dores do espírito! Estão em fase de conclusão os roteiros arqueológico e do contrabando, que a pé e a cavalo de burros irão permitir a visita aos locais que melhor defendem a identidade de Vilar de Perdizes. Meixide: É uma pequena aldeia a nascente do concelho, na cota dos novecentos metros de altitude, domina os outeiros da raia seca com a Galiza na encosta sul do Larouco. Em inexorável agonia preserva ainda assim uma velha jóia: a capelinha da Nossa Senhora da Azinheira que já foi uma das sete senhoras do planalto Barrosão. Até que um dia se possa esclarecer todo o passo histórico, Meixide vai gozando a fama de ter sido berço do herói Diogo Peres, (da “Escaramuça dos Nus”)...o tal que derretendo aos calores do deserto marroquino, foi refrescar-se na ribeira com alguns mais cavaleiros. Surpreendidos por um troço do exército mouro, tomam as espadas e adargas, montam completamente nus os seus cavalos, mas bem vestidos de indomável valentia desbaratam e põem em fuga a cavalaria moura. Uma façanha limpinha protagonizada à moda barrosã. 201
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Meixide tem actualmente cerca de 175 habitantes. Confina com o concelho de Chaves e daqui era natural um tal Diogo Peres que lutou em Marrocos, ao lado de D. Afonso V. Vilar de Perdizes é lugar único, mas representativo. Tem cerca de 530 habitantes e foi sempre uma terra diferente das demais do Alto Barroso, graças ao seu clima, bastante mais ameno. Foi terra de titulares famosos da Casa de Bragança. Modernamente deu-lhe fama o Padre Fontes, com os polémicos Congressos de Medicina Popular. União das Freguesias de Montalegre e Padroso É a capital de Barroso. Não é com certeza das freguesias mais antigas como atestam as confrontações antigas dos termos vizinhos; mas, depois que o Bolonhês mandou erguer o Castelo – autêntica jóia da arquitectura militar medieval - mudou-lhe os marcos e as cruzes e definiu-lhe num território de vinte quilómetros quadrados para sustento (pastoreio e agricultura) dos cem povoadores iniciais. E assim, sem grandes convulsões, foi crescendo ao longo dos séculos, por indústria e legítima ambição dos seus moradores. A vila é hoje uma pequena metrópole de vigoroso comércio, de indústrias incipientes mas estáveis e objecto de procura turística invejável. São já famosas as suas principais feiras - Santos, Prémio, Fumeiro e Vitela - as festas concelhias do Senhor da Piedade, o Festival do Cabrito e diversos outros eventos culturais como congressos de medicina, de arqueologia, de etnologia, de folclore e Medicina Popular. Já que se fala em festas cumpre recordar que até ao século dezanove a maior festa da vila foi a de São Frutuoso, na sua humilde capelinha a caminho do Larouco. De referir, como sítio com referências ao passado das épocas clássicas, um importante achado recente de mais de novecentas moedas romanas. Padroso: Como todas as freguesias da raia seca também Padroso sofreu as agruras das agressões castelhanas e gozou com os benefícios ocasionais do contrabando. Foi uma das honras de Barroso. Mas Padroso tem outras glórias para passar à posteridade. Desde logo o ter sido lugar propício para a emigração clandestina – actos heróicos que salvaram da fome e da morte muitas famílias pobres do norte. E justo é recordar agora o Padre Domingos de Donões que foi vilipendiado e condenado ao ostracismo, perdendo o sacerdócio e o seu estatuto social, apenas por ter espírito cristão, caritativo e solidário. Quantos dos que o acusaram, foram mil vezes piores que ele. Padroso e um tal Júlio, cabo da Guarda Fiscal aí colocado, foram o sítio azarado e a mão da justiça para “armar o laço” a um prepotente oficial que a agitação social, saída da “monarquia do Norte”, designara administrador do concelho de Montalegre. Este, tenente do exército, dos lados de Viseu, chamado Aurélio Cruz, trazia o povo aterrorizado, com ameaças, perseguições e multas incompreensíveis, com sovas e até com dias de prisão. Certo dia, ao ouvido do Dr. Custódio Moura, o tenente revelou intenção de oferecer à sua criada um xaile de veludo galego. Foi quanto bastou para o apanharem na esparrela. Como o cabo de Padroso lhe levantasse um auto de notícia, ao apanhá-lo em flagrante com o xaile de contrabando, o governo de 202
Domingos Vaz Chaves então decidiu exonerá-lo, por indecente e má figura, despachando-o para setenta léguas de distância. Padroso é lugar único e tem actualmente cerca de 110 pessoas. Aí existe um ponto que alguns confundem com um castro e a que se chama o \"Fim do mundo\", por fazer fronteira com a Espanha. Entre Padroso e Padornelos nasce o Rio Cávado. E passou a haver uma estrada que faz ligação com os \"nuestros hermanos. A freguesia reparte-se ainda pela Portela, pelos Casais e pelo antigo bairro do Crasto. Montalegre é a sede do concelho, tem 1822 habitantes e 866 edifícios. Sobressai o Castelo medieval, e a Casa do Cerrado que pertenceu a titulares da Casa de Bragança. Um bonito Pelourinho e o \"Carvalho da Forca\", por ali ter sido enforcado o \"Bagueiro\", naquela que foi a penúltima execução da pena de morte em Portugal. Merece visita a \"Fonte da Mijareta\" que tem a alegada virtude de acasalar com um barrosão a donzela solteira, que vinda de fora, beba dessa água. É uma acolhedora vila com várias e confortáveis unidades hoteleiras, com arruamentos modernos, com estruturas ao nível das exigências do moderno quotidiano. Freguesia de Morgade Andou muitos anos anexada, bem como Negrões, à freguesia da Chã. As três constituíam uma Comenda do Convento de Santa Clara de Vila do Conde. O fortalecimento das regras primitivas e da reforma contra a lassidão em que haviam caído os frades, levados a peito, ao longo do século XVI, originou um grande 203
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região movimento de apoio das populações, no plano espiritual e no plano material, que as levaram a construir mosteiros e capelas. Vem daí a devoção dos morgadenses a São Domingos de Gusmão, revelada na edificação da sua capela e dos vilapontenses que lhe dão lugar de honra no altar- mor da sua Igreja.. Era o comungar desta gente barrosã com os princípios da pobreza voluntária dos monges pregadores, também chamados mendicantes, os frades dominicanos (e os franciscanos) cuja glória mais significativa foi São Tomás de Aquino. E já que falamos de Santos não ficava nada mal – era até um acto de justiça – que os de Carvalhais devolvessem à sua Capela o orago primeiro que foi São Tiago, conforme muito bem expressa a nossa variante barrosã da belíssima lenda dos Sete Varões Apostólicos. Morgade tem 4 lugares: Morgade, Criande, Carvalhais e Rebordelo. Aí residem 287 pessoas. Situa se juntinho à Barragem de Pisões, dela beneficiando, sobretudo na época do verão, porque pode fazer se uma espécie de praia e entretenimento para os pescadores. Freguesia de Negrões Também esta freguesia integrou a Comenda da Chã às Clarissas de Vila do Conde, pelo rei de D. Dinis. Em 1862, nasceu em Vilarinho de Negrões Domingos Pereira. Ordenado padre e já abade de Refojos (Cabeceiras) contra vontade de seu tio, o também padre João Albino Carreira, filiado no Partido Regenerador, filiou-se no Partido Progressista. Fiel ao seu credo partidário, tornou-se amigo íntimo de Paiva Couceiro e recusou aderir à República em 1910. Perseguido, como os outros chefes monárquicos, 204
Domingos Vaz Chaves após a estrondosa derrota, no espaldão da carreira de tiro, em Chaves, foi condenado a 20 anos de penitenciária. Conseguiu colocar no Brasil os seus “soldados, na ordem de alguns milhares” e regressou a Espanha e à sua actividade conspiratória. Conspirou a vida inteira. Depois da amnistia de Sidónio Pais, teve acções preponderantes na proclamação da “Monarquia do Norte”, em 1919, participando nos combates de Cabeceiras, Mirandela e Vila Real. Restaurada a República exilou-se em Espanha e foi condenado à revelia a 20 anos de prisão maior. Excluído, como Paiva Couceiro, da amnistia concedida aos monárquicos, regressou em segredo, em 1926, a Cabeceiras, onde viveu até 1942. Por falar em condenações, é de lembrar a condenação de José Pereira, de Lamachã em 1947, a 29 anos e meio de cadeia “acusado de ser o autor moral” de um crime que de certeza não cometeu. Eram assim os tribunais e juízes fascistas. Negrões tem cerca de 190 residentes distribuídos pela sede de freguesia, Lamachã e Vilarinho. É banhada, a norte, pela Barragem de Pisões que lhe confere imensa graça. Aqui nasceu António Chaves, um economista que singrou em Lisboa, como docente do ensino superior e empresário, mas que nunca se desprendeu das origens telúricas. Guilherme Pires Afonso é outro filho da terra que brilha como Juiz Desembargador em Lisboa, ao lado do causídico Armando Gonçalves. Daqui 205
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região foi o famoso Padre Domingos Pereira, celebrizado em Cabeceiras, na Casa da Raposeira, aquando da Causa Monárquica liderada por Paiva Couceiro. Freguesia de Outeiro Em extensão territorial é a terceira freguesia de Barroso, contando apenas quatro aldeolas. Entra na conta das freguesias que bordejam a característica Mourela, além de Covelães, Paredes, Pitões, Tourém, e Randim (Galiza). Inicialmente a freguesia chamava-se Parada do Gerês, depois São Tomé de Parada , depois Parada de Outeiro e finalmente Outeiro, sempre sob o mesmo orago – que é e foi São Tomé. Merece referência o achado de Torques (jóias pré-históricas de oiro) encontradas na abertura da estrada de Outeiro a Parada do Rio, no sopé do Castro que linda com o rio Cávado . É um tesouro de inestimável valor – um dos muitos que arrastam os turistas mais cultos para longe das nossas terras e assim nos levam à desertificação. Outeiro tem mais três lugares: Cela, Parada e Sirvozelo, com cerca de 202 residentes, para uma extensão geográfica da ordem dos 51 km2. Constitui a varanda sobre a Barragem de Paradela que tanta beleza lhe confere, vigiada pela rudeza imponente do Gerês. 206
Domingos Vaz Chaves Freguesia de Pitões das Júnias Herdeira natural da velhíssima freguesia de São Vicente do Gerês, nas profundezas do rio Beredo, que recebe águas de vários ribeirinhos na montanha, Pitões é a segunda povoação mais alta de Barroso na cota dos 1100 metros, logo atrás de Sendim nas faldas do Larouco. Este facto contribuiu em grande medida para a elevada qualidade do presunto e fumeiro desta localidade. Sempre foi conhecida por ser terra de gente lutadora e mesmo guerreira. Não resistiu à destruição do Castelo, nem do Mosteiro, nem da sua “república ancestral” (conjunto de normas comunitárias e democráticas dos seus habitantes) mas resistiu aos Menezes, condes da Ponte da Barca, a quem um rapaz de casa do Alferes foi raptar uma filha com a qual caso. E residtiu também à pilhagem e assaltos sistemáticos que os Castelhanos organizavam durante a guerra da Restauração. Em 1665, “um grande troço de infantaria e cavalaria, sob comando de D. Hieronymo de Quiñones atacou Pitões mas não só não conseguiram queimar o povo como este lutou bravamente pondo em fuga o inimigo e sem perdas. Alguns dias após (com os pitonenses a ajudar, em represália) o capitão de couraças João Piçarro, com 800 infantes, atacaram Baltar, Niño d’Águia, Godin, Trijedo e Grabelos, donde trouxeram 400 bois, 1500 ovelhas e 20 cavalos. E resistiu ainda ao florestamento com pinheiros da Mourela imposto por Salazar, o que ainda assim levaria à perda de algumas das suas vezeiras. Resistiram sempre e ainda bem resistem!... Nesta aldeia é atracçao a corte do boi do povo agora reconstruída e um pólo do Ecomuseu de Barroso. 207
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Pitões é também um aldeamento único. Para nascente e junto a um regato que a dado passo do seu curso, forma a típica \"cascata\", situa-se o Convento de Santa Maria das Júnias, que foi célebre na época medieval e que ainda hoje permite ajuizar da sua importância, não obstante o estado de abandono em que se encontra. União das Freguesias de Venda Nova e Pondras Venda Nova, é uma localidade relativamente jovem (ainda não existia à data do numeramento ordenado por D. João III, em 1530), mas duzentos anos depois, já consta como sede de freguesia, nas memórias paroquiais de 1758. Talvez convenha deixar dito que as referidas memórias paroquiais podem não constituir informação de grande fiabilidade. Por um lado, devido ao nível de interesse que os Inquéritos teriam despertado, e pelo outro, devido ao estado de espírito, aptidões e propensão dos inquiridos. As respostas dos curas anuais ou encomendados em paróquias pobres e isoladas, onde sobreviviam um ano ou dois, vindos talvez de lugares distantes, não podem ter o mesmo “nível e valor” que as do abade de freguesia rica, donde apenas sairiam para a cova. Aliás, esses estados de alma, detectam-se em muitos períodos das diferentes respostas aos inquéritos. A nova sede de freguesia substitui o lugar de S. Simão de Codeçoso de Arco e passou a chamar-se São Pedro de Venda Nova, tendo andado anexa a Santa Marinha de Ferral. A antiga igreja que fora transferida do vale da igreja para Venda Nova acabou por ser afogada, assim como toda a povoação e o cemitério pelas águas da barragem que foi inaugurada em 1950, com pompa e circunstância e onde, no desfazer da festa se afogaram dez pessoas. Próximo da Venda Nova existem ainda as aldeias de Codeçoso do Arco, Padrões, e Sanguinhedo, todas pertencendo à freguesia. Quanto a Pondras, ocorre evidente discrepância sobre o hagiotopónimo desta freguesia. As inquirições de 1258 tratam-na, e bem, por Santo Fins. O Catálogo de todas as Igrejas em 1320, quando reinava D. Dinis, chama-lhe, e mal, São Félix. Mais recentemente, voltámos e bem, ao chamadouro correcto que é São Pedro 208
Domingos Vaz Chaves Fins de Pondras. É provável que a confusão derive do tratamento dado na arquidiocese ao problema de São Pedro de Rates, dito primeiro bispo-fundador da Igreja de Braga, ou a D. Pedro, primeiro bispo-refundador da Igreja de Braga. De todo o modo, em Pondras, fazem festa ao príncipe dos Apóstolos, em 29 de Junho. É um caso significativo o modo de povoamento verificado visto que as principais povoações da freguesia -Pondras e Ormeche, estão algo distantes do local da Igreja, por acaso, ou talvez não, junto do outeiro que foi um castro e onde se situa a povoação de São Fins. Próximo de Pondras existem ainda mais quatro aldeias, todas pertencentes também à freguesia: Ormeche, Paio Afonso, e S. Fins. Alguns troços da via romana que por aqui existiam, foram cobertos pelas águas da barragem. É uma freguesia que beneficiou dos sortilégios da Barragem do mesmo nome, como por ela foi lesada, na medida em que perdeu os melhores terrenos agrícolas. De Sanguinhedo foi o Padre Domingos Barroso, autor do «Perdigueiro Português», obra marcante do seu tempo. Freguesia de Reigoso Com a freguesia de Reigoso sucedeu o mesmo que sucedeu a Contim!... Antes de independente esteve anexa à de São Pedro de Covelo. Ao ganhar carta de alforria levou consigo Currais e Ladrugães. Mas Currais - exemplo único no Barroso, nasceu de quatro casais de Dona Maior Gomes e que D. Afonso II honrou. Com o decorrer dos tempos esses “lavradores” organizaram-se em catorze casais, sob a forma de beetria, isto é, os habitantes escolhiam o senhor que mais garantias lhe desse. Talvez por isso o melhor troço de via romana existente no concelho foi tão bem preservado em Currais. Na freguesia ainda há hoje uma irmandade muito antiga 209
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região mas igualmente muito fechada e reduzida de “irmãos”. Da freguesia fazem ainda parte as aldeias de Ladrugães e Currais. É uma terra que foi muito prejudicada pela Barragem da Venda Nova, por lhe ter roubado os melhores terrenos. Mas recompensou a com a graciosidade paisagística. Freguesia de Salto Salto é a maior freguesia do concelho, pois para além da sede da freguesia existem mais 20 aldeias que fazem parte da mesma e que totalizam cerca de 1.800 pessoas, o que ultrapassa a própria sede concelhia. São elas, Ameal, Amiar, Bagulhão, Beçós, Minas da Borralha, Caniçó, Carvalho, Cerdeira, Corva, Linharelhos, Lodeiro d'Arque, Paredes, Pereira, Pomar da Rainha, Póvoa, Reboreda, Seara, Tabuadela e Golas. Sempre teve ilustres filhos!... Em Reboreda nasceu Leonor Alvim, que foi mulher de Nuno Álvares Pereira. As Minas da Borralha constituíram, na segunda metade do século XX, um filão de ouro que valeu a muita gente da região. Como espaço habitado e evangelizado, Salto é já referido no Paroquial Suévico como uma das trinta paróquias já existentes no último terço do século VI e pertencentes à catedral de Braga. Ao longo da sua vida teve muitos momentos de glória, daí a riquíssima história desta freguesia. Enquanto os cruzados do norte da Europa atravessavam o Atlântico e o Mediterrâneo, para combater nos lugares santos, o povo portucalense trepava descalço os caminhos das suas peregrinações que atravessavam a freguesia. De tal modo que D. Afonso Henriques autorizou e apoiou a construção da Albergaria de São Bento das Gavieiras ao monge Benedito em 1136. Alguns nobres olharam com cobiça para esse território onde adquiriram casais ou mesmo 210
Domingos Vaz Chaves povoações como Carvalho, Póvoa e Revoreda que eram do fidalgo-trovador D. João Soares Coelho e de suas irmãs. D. Pedro I, o tal que arrancou o coração pelo peito a Pero Coelho (bisneto do referido João Soares Coelho) e pelas costas a Álvaro Gonçalves por terem morto Inês de Castro, também cobiçou Salto. Por isso, depois de uma visita a Santa Senhorinha de Basto, de quem era devoto, cedeu-lhe fartos rendimentos da Igreja de Santa Maria de Salto. O território da freguesia actual 78,6 km2 era ocupado também pela freguesia de Novaíças que incluía vários casais e herdades em diferentes povoações entre- tanto desaparecidas: Pontido, Curros de Mouro, Ulveira, Gulpilheiras e outras. Os grandes mosteiros do norte Refojos, Pombeiro e Bouro – todos levantavam daí grossas rendas. Aqui poderá visitar-se a antiga casa do Capitão, agora pólo do Ecomuseu de Barroso, onde se encontrará uma apresentação dos ofícios tradicionais do Pisão de Tabuadela e das Minas do Volframio da Borralha. União das Freguesias de Seselhe e Covelães Ambos os lugares desta freguesia foram sede de freguesia, porém anexas a Santa Maria de Montalegre. Todos os edifícios de ambas as localidades estão construídos entre os novecentos e os mil metros de atitude. Como o resto do concelho são terras de produção agro-pecuária, de largos montes de caça e de boas manchas de arvoredo para madeira e lenhas. Os 211
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região documentos conhecidos não autorizam a grafia deste topónimo com z como por aí se vê escrever. A criação de gado foi tão importante que os de Travaços do Rio ergueram a meio do povo uma torre ao boi campeão. Os seus habitantes devem sentir-se orgulhosos também porque Travaços é depois de Salto, a terra barrosã referida em documentos autênticos e mais antigos!... Trata-se de dois documentos do Tombo de Celanova, na Galiza, referentes a doações destinadas ao Mosteiro e ambas no termo de Travaços, datadas, respectivamente, dos anos 953 e 976, sendo que numa delas é doadora a própria mãe do bispo São Rosendo há 1053 anos. Muitas vezes “o coração tem razões que a razão não conhece” e assim, por vezes, encontramos canastros, tulhões, cortes de boi, fornos e moinhos feitos com tanto primor e equilíbrio como se de altares ou sacrários se tratasse. A emigração que hemorragicamente nos vem sangrando, por este andar, vai obrigar-nos a associar não duas mas quatro ou cinco freguesias limítrofes. Por sua vez, Covelães é a primeira das freguesias que circuitam a serra da Mourela. Esta serra, verdadeiro planalto de altitude média a caminho dos 1100 metros, é e foi, desde os tempos megalíticos, um local muito apto para a transumância ascendente. Com efeito, as povoações próximas aí conduzem numerosas vezeiras de gado que por lá demoram todo o verão. Tal costume há-de ter origem nos ancestrais pré-históricos que encheram aquele espaço de mamoas, sinal de que aí viveram e morreram. O que também já morreu ou quase, foi a raríssima perdiz cinzenta, também conhecida por charrela. Devíamos envergonhar-nos de tal notícia, mas enfim. A actual freguesia compõe-se de dois lugares: Covelães e Paredes do Rio!... Ambos foram sede de freguesia, aquele sob o orago de Santa Maria e este de Santo António. Nesta localidade existe um pisão, com outras curiosidades dignas de visita, entre as quais uma sala que servirá de polo na rede informática do Ecomuseu. Aos pés da freguesia fica a barragem do Alto Cávado. Aqui nasceu o Coronel António Dias Vieira, um bom exemplo de barrosão. Freguesia da Vila da Ponte Sendo uma das freguesias barrosãs com menos área distribuída é, porém a mais produtiva por metro quadrado de terreno. Por outro lado, a povoação sede, ainda é uma das mais populosas, pois aparece em oitavo lugar - ao lado de Solveira, no conjunto dos 136 povoados do concelho.Tal indicação (ao lado de outros indicadores bem significativos) deve servir como aviso aos poderes vigentes no sentido de providenciarem uma distribuição mais equitativa dos benefícios às populações. É a única freguesia que não tem acesso a outra povoação. Das glórias de que sempre gozou (sem que alguma vez tivesse pretendido obstruir as legítimas capitalidades – honras, coutos e sede concelhia) todas lhe vão sendo injustamente sonegadas com evidentes malefícios para uma população ordeira e esclarecida. Orgulha-se das suas villae, disseminadas ao longo do ubérrimo vale e várzeas e bem testemunhadas em documentos medievais e na toponímia vigorante, dos seus castros estrategicamente colocados sobre linhas de água que entram no 212
Domingos Vaz Chaves Regavão. Orgulha-se também dos seus monumentos funerários (tipo/cistas, achados em dois outeiros, Donim e Gorgolão, sobre os quais corriam lendas cheias de encanto; do seu outeiro (altarium) onde os mais remotos indígenas ergueram altar para adorar os seus deuses e sobre o qual, ao lado do Paço (que hoje é o cemitério local) edificaram o seu oratório ou basílica, que é agora a igreja; da sua velhíssima ponte que unia os vales marginais, e que durante séculos, foi a única passagem invernal para as povoações de entre-os-rios. Por falarmos do rio lembra-se que devemos continuar a dizer Regavão. Com v ou com b, não importa visto que não se trata de modismos. Mas era assim sempre que o povo dizia. E dizia bem como sempre. Ora, o mais antigo documento conhecido até hoje chama-lhe Regavam (1258)!... Que se saiba é o único rio transmontano que se pode gabar de ter uma monografia publicada em letra de forma, da autoria do Professor da Universidade de Coimbra, Raul Miranda, em 1938. Da freguesia fáz ainda parte a aldeia de Bustelo, somando 260 habitantes. Ainda hoje tem uma ponte romana, bem conservada, a confirmar o relevante papel da via romana que ligava Braga a Astorga e que tinha um acentuado nó, mais abaixo, em Codeçoso (do Arco). Seguia o curso do Rio Rabagão, até à sua nascente, em Codeçoso (da Chã), hoje pertencente à freguesia de Meixedo-Padornelos. Teve sempre filhos muito ilustres: o Padre Manuel Baptista, continuado por seus sobrinhos: o José Dias Baptista, investigador e autor de inúmeras obras de história local e poesia; o Manuel e o Domingos e o antigo Presidente da Câmara de Chaves, João Batista. 213
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Freguesia de Santo André A aldeia de Santo André, como a de Solveira, foram desmembradas da sub-zona denominada Vilar de Perdizes a que pertenciam. Ao conseguirem as suas autonomias escolheram os patronos que já antes admiravam e invocavam. Santo André é terra bastante fértil, com alguma fruta. Para que se saiba, o rei D. José I mandou passar certidão à petição por escrito, que fora feita em 9/11/1733, de brasão de armas de nobreza a “Mateus Francisco Padrão, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, capitão de granadeiros no 1º batalhão do Regimento de Guarnição da Praça de Elvas onde era morador, dizendo nela, que ele suplicante é filho legítimo de António Francisco e de sua mulher Jerónima da Encarnação. Neto pela parte paterna de Afonso Francisco de Sirgo natural da honra e julgado de Santo André, freguesia de S. Miguel o Anjo do lugar de Perdizes, e de sua mulher Inês Padrôa, filha de Diogo Padrão naturais da mesma honra. E pela materna que é neto de Alexandre Gonçalves e de sua primeira mulher Maria Vaz, naturais da honra de Gralhas onde ele foi vereador e juiz ordinário, tudo na comarca de Chaves e ele suplicante natural da cidade de Lisboa. Os quais ditos seus pais, avós e mais antepassados que foram todos muito nobres e por tais conhecidos e respeitados, sem que algum deles houvesse labéu de judeu ou mouro, nem outro sangue infecto que pudesse pôr nódoa na sua fidalguia, nem havia fama ou rumor em contrário. ”A sentença de justificações foi proferida a 9/6/1756 e a decisão: ”… busquei os livros dos registos das armas da nobreza e fidalguia deste reino que em meu poder então e nelas achei os que pertencem à nobre e antiga linhagem de padrão na forma que lhas dou iluminadas com as mesmas figuras, cores e metais nesta carta segundo as regras do nobre oficio da armaria. A saber: “Um escudo com as Armas dos Padrões que sai em campo azul um Padrão ou coluna de prata levantada sobre um monte de sua cor e sobre a coluna um escudo do mesmo metal carregado de uma Cruz da Ordem de Cristo entre duas estrelas de ouro. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas e por diferença uma brica de prata com uma faixa vermelha. Lisboa aos nove dias do mês de Maio do ano do N. S. J. Cristo de 1760.” 214
Domingos Vaz Chaves Os vários entendidos na heráldica asseveram que “esta família tem as mesmas armas que os Cãos pelo que se presume que descendem de Diogo Cão a quem elas foram dadas.” O próprio Braancamp Freire afirma: “As armas do apelido Cão”. Santo André é lugar único. Tem cerca de 270 habitantes, um forno do povo todo em granito, com a aldeia galega da Xironda e situa-se nas faldas da serra do Larouco, para nascente. Freguesia de Sarraquinhos Esta freguesia, enquanto tal, não consta das Inquirições de 1258 conquanto constem delas todas as localidades que a integram. Em boa verdade lá se referem Pedrário, Sarraquinhos, Cepeda, Zebral - onde existia uma herdade do irmão do trovador João Baveca e Antigo. Esta última povoação com o topónimo significativo, Antigo de Espinho, que o mesmo era dizer Antigo de Aspinius (Aspini). Mais tarde foi Antigo de Arcos, pertencente ao aro de Cervos e agora Antigo de Sarraquinhos. As voltas que a vida dá!... Quem vai a Sarraquinhos deve seguir o roteiro do grande poeta transmontano Miguel Torga: visita obrigatória à igreja, à capela, ao castro de Pedrário e ao Forno e ouvir meia dúzia de velhinhas dizer jaculatórias por alma do sempre lembrado Padre Joaquim, que Deus haja. Da freguesia fazem parte mais quatro aldeias: Antigo, Cepeda, Pedrário e Zebral, totalizando a população cerca de 370 pessoas residentes. Desta terra emigrou muita gente, alguma bem situada hoje na vida, corno por exemplo: Manuel Moutinho, que tem um \"império\" na cidade de Bridgeport nos USA. Freguesia de Solveira É a mais recente freguesia do concelho de Montalegre e ganhou a independência à custa de Vilar de Perdizes tal como Santo André. O topónimo é muito antigo: provém do étimo sorbu+aria - sorbaria, planta semelhante ao buxo muito utilizada em obras de marcenaria. Como tal, já se vê que o território desta freguesia foi habitado há muitos séculos. Aliás, a toponímia circundante certifica-o!... Primeiro o sítio das Antas que nos levam até à pré- história; depois o próprio assentamento da povoação no Outeiro – altarium; e 215
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região depois ainda, o castro do Soutelo, a Cidadonha e finalmente Paio Mantela, uns e outros tradicionalmente considerados locais habitados.Solveira ao fazer parte da honra de Vilar de Perdizes estava obrigada a mandar homens à guarda do Castelo da Piconha, pelo menos até ao reinado de D. João I, mas há quem pense que a obrigação durou até à Restauração. Entre 1841 e 1853 pertenceu ao concelho de Ervededo que foi couto criado por D. Afonso Henriques para o seu amigo Arcebispo D. Paio Mendes em 1132, tal como fizera ao Couto de Dornelas. Solveira é lugar único, com cerca de 210 habitantes. Também aqui emigrou muita gente, mas é uma freguesia rica e berço de ilustres filhos. Freguesia de Tourém Ao refazermos a nossa história regional, é justo salientar como exemplo a freguesia de Tourém. Recebeu foral de D. Sancho I para manutenção da vigilância fronteiriça a partir do Castelo da Piconha e da sua ligação, num caminho neutral, ao coração do Couto Misto formado pelas povoações de Santiago, Rubiás e Meaus. Há mesmo notícia certa, de que o Sancho Povoador por ali passou antes de 1211: “…quando ibat rex domino Sanchio pro a Sancte Pelagio de Piconia…” Mesmo após o estabelecimento definitivo da capitalidade das terras de Barroso em Montalegre, as prerrogativas e privilégios de Tourém foram mantidos. Basta dizer que as chamadas “honras” ficaram oneradas em fornecer homens para a guarnição da Piconha. Aliás, a defesa do sítio era questão primordial para toda a população de Tourém, como se verifica pelos orifícios abertos nas testadas das casas sobre as portas das habitações, de modo a evitarem assaltos, cercos e esperas ou emboscadas. Dado de inusitada curiosidade é o facto da igreja muito antiga de São Pedro - com vestígios românicos, não aparecer no catálogo de 216
Domingos Vaz Chaves 1320. Mas tal não ocorre, porque pertencia no espiritual, à Diocese de Ourense. Por esse motivo, é da tradição e tido como certo, que a dada altura, no florescimento do Liberalismo Galego, um bispo de Ourense, da família Quevedo, se refugiou em Tourém, por razões políticas. O bispo, estando em país estranho, estava em terra própria, porque Tourém integrava a Diocese de Ourense. Tourém, muito antes do foral, foi honrada numa escritura de doação de bens ao Mosteiro de Celanova, pelos anos de Cristo de 1065. É talvez a freguesia mais cosmopolita da zona com visitas diárias dos “turistas” da Galiza Irmã. Estes forasteiros podem desfrutar com toda a comodidade, das instalações legadas pela Casa dos Braganças, reconstruída para turismo de habitação. Nesta aldeia, a corte do boi do povo foi transformada em pólo do Ecomuseu de Barroso, onde está retratada a questão do contrabando, do couto misto, dos exilados políticos e da relação transfronteiriça. Tourém é lugar único, tem cerca de 185 habitantes e está mais próxima da Espanha do que do seu país. Ali bem perto existiu o castelo da Piconha e o Couto Misto de Rubiás. Ali marcou também presença a Casa de Bragança e o protestantismo. Existem acentuados vestígios romanos, como, por exemplo, a Igreja paroquial.Um exemplo esta aldeia... ... 217
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região CAPITULO X O CONCELHO DE BOTICAS 218
Domingos Vaz Chaves A SEDE O concelho de Boticas está situado na parte noroeste de Portugal, província de Trás-os-Montes, Distrito de Vila Real. Criado no âmbito da reforma administrativa de 1836, o actual concelho de Boticas corresponde a uma parte da antiga terra do Barroso à qual deu o nome, pois é na sua área geográfica que existe a serra do Barroso e as povoações de Alturas do Barroso e Covas do Barroso, divisão administrativa e territorial que até então incorporava também o actual concelho de Montalegre e o extinto concelho de Ruivães, este hoje parte do concelho de Vieira do Minho. A Vila de Boticas, então já lugar central, é desde a criação do Concelho, a sede do Município. O concelho de Boticas é limitado a Norte pelo concelho de Montalegre, a nascente pelo concelho de Chaves, a Sul pelo Concelho de Vila Pouca de Aguiar e a poente pelos Concelhos de Montalegre e Cabeceiras de Basto. A sua área é de 314,88 Km2, tendo cerca de 10 mil habitantes em 3.986 fogos distribuídos por 10 freguesias e num total de 52 povoações. Boticas assenta essencialmente numa vasta superfície planáltica, onde a serra do Barroso ou Alturas, se orienta a NE e SW em 1279 metros, no seu ponto mais alto. No entanto, o desnível entre as cotas extremas, 1279 e 22 5metros em Fiães do Tâmega, junto ao rio Tâmega, é bastante considerável (1054mts), pelo que é possível dentro do concelho conjugar vários tipos de paisagem, que vão desde a alta montanha granítica pobre em vegetação e rica em grandes penedias, passando pelos verdes vales cobertos por prados de lameiro. Oferece também áreas consideráveis de bosque onde as espécies dominantes autóctones são o carvalho roble e o carvalho negral nas zonas de maior altitude e o vidoeiro nas zonas de menor altitude, nas linhas de água é frequente o aparecimento do amieiro e salgueiro. Para além da paisagem própria do relevo do concelho, é ainda possível uma vasta e alargada visão para as serras de Cenábria, Larouco, Gerês, Cabreira e Marão, oferecendo assim uma rara imensidão de horizonte, por vezes entrecortado pelas águas da barragem do Alto Rabagão. Estas serras que cercam e dominam a região impuseram-lhe sérios condicionalismos de acessibilidade e comunicação, hoje ultrapassados. Boticas encontra-se por rede viária, sensivelmente à mesma distância de Madrid e Lisboa e perto de grandes cidades como Orense, Vigo, Santiago de Compostela, Vila Real, Braga e Porto. Também no que diz respeito a água, o concelho é rico e atrai um número considerável de pescadores, sendo atravessado pelos rios Beça, Covas, Terva e Tâmega, além de um enorme número de ribeiras e corgas. Com base nos Livros de Linhagens - Livro Velho 3, Título XXX.º página 107; na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, página 313 do 4º volume; no Armorial Lusitano, página 88; e no Historial do Apelido de Família do CAPB, o apelido \"Barroso\", de raiz toponímica, teve a sua origem nas Terras de Barroso, em Trás-osMontes. O primeiro que o usou, e que provinha da antiga linhagem dos Guedeões, retirou-o de uma torre no lugar de \"Sipiões\", naquela região, da qual foi Senhor. Foi ele D. Egas Gomes Barroso, filho de D. Gomes Mendes Guedeão e de sua mulher D. Chamôa Mendes de Sousa, ambos tratados no Nobilário do Conde D. Pedro, filho de D. Dinis, onde se vê ainda ser neto de D. Gueda, o Velho. Foi D. Egas rico- 219
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região homem dos Reis D. Sancho II e D. Afonso III, tendo ido em 1247, durante o reinado deste último soberano, ao cerco de Sevilha, em auxílio do Rei D. Fernando, o Santo, de Castela. Dos dois filhos de D. Egas vêm duas distintas linhagens: a dos Bastos, descendentes de seu filho segundo, D. Gomes Viegas de Basto, e os Barroso, provenientes do casamento do primogénito Gonçalo Viegas Barroso com D. Maria Fernandes de Lima. Destes ficou vasta geração, a qual manteve o uso do apelido, muitas vezes até por linha feminina. Fixando-se na região de Braga e Barcelos vieram a ser senhores e administradores de bons Vínculos e Morgados, como os das Quintas da Falperra, do Eixidio, de Oleiros, ou de S. Jorge, que tinha Capela em S. Francisco, no Porto. As armas usadas por esta família são: de vermelho, cinco leões de púrpura, armados e linguados de ouro, cada um carregado de três ou de duas faixas também de ouro. As armas e a bandeira do concelho de Boticas, são, de acordo com o parecer da Associação dos Arqueólogos Portugueses, de prata, com uma abelha de negro realçada a ouro, acompanhada de quatro espigas de trigo verde, cruzadas em ponta e atadas de vermelho. Coroa mural de quatro torres. Bandeira azul. ASPECTOS GERAIS E CARACTERIZAÇÃO O relevo do concelho corresponde a um mosaico diversificado de cadeias montanhosas e vales encaixados. Na parte mais elevada, que representa 13% da área do concelho, encontra-se, orientada de NE a SW, a Serra do Barroso (1279 metros), de onde deriva o nome da região que Boticas integra e que corresponde ao ponto mais alto do concelho. Mais a Este, encontra-se a Serra do Leiranco (1155 metros). No prolongamento destas duas serras, vastas áreas de planalto ocupam grande parte da zona central do concelho. Aí se localizam outras serras, 220
Domingos Vaz Chaves como Santa Comba (901 metros), Pinheiro (1002), Antigo (968), Bocal (906), Melcas (949), Brandelos (560) e Facho (775), que ocupam a maior proporção do território. No nível seguinte, dos 400 aos 700 metros, que corresponde a 39% da área do concelho, encontram-se alguns dos vales mais férteis, junto dos principais cursos de água: na parte Este, os vales dos Rios Tâmega e Terva, e na parte Oeste do concelho, os vales das Ribeiras das Lousas e do Couto e do Rio Covas. Por fim, no que se refere à classe de altimetria mais baixa, dos 0-400 metros, podemos afirmar que é a menos representativa no concelho, correspondendo apenas a 2% da área total, distribuindo-se ao longo das encostas dos vales encaixados dos rios Covas e Tâmega. O desnível entre as cotas extremas, 1279 metros em Alturas do Barroso e 225 em Fiães do Tâmega, é bastante considerável. Assim, Boticas encerra uma diversidade de paisagens, que vão desde as altas montanhas graníticas, aos vales cobertos por prados naturais (os lameiros). Os pontos mais altos, entre os quais se destacam a Serra do Barroso e a Serra do Leiranco, pela sua posição estratégica e pela sua altitude, constituem excelentes miradouros naturais que permitem uma vasta e alargada visão para as Serras de Sanábria (Espanha), Larouco, Gerês, Cabreira e Marão, oferecendo, assim, uma rara imensidão de horizonte, por vezes entrecortado pelas águas da barragem do Alto Rabagão. Encaixadas nestas múltiplas paisagens encontram-se as aldeias e lugares do concelho, dispostas em planaltos, nas encostas das serras ou protegidas nos vales. A conjugação destes diferentes tipos de paisagens proporciona momentos únicos aos visitantes e constitui uma das imagens de marca do concelho. O Clima Longe do mar e isolado das suas influências pela barreira natural formada pelas inúmeras cadeias montanhosas que constituem a região do Barroso, domina o clima exposto às influências continentais. A isto se alia o facto de o concelho se encontrar numa zona planáltica e montanhosa, modelada por vales profundos, o que faz com que se registem alguns contrastes climatéricos. Os Invernos são agrestes e prolongados, durante os quais é frequente ocorrerem fortes nevões, especialmente nos pontos mais altos, e geadas em alguns períodos do ano. Por seu lado, os Verões são muito quentes e pouco prolongados. Rigores de um clima, que o adágio popular “Em Barroso, nove meses de Inverno e três de inferno” tão bem descreve. Em termos gerais, a temperatura média anual é tendencialmente crescente de Norte para Sul, sendo que as temperaturas mais baixas se registam ao longo das Serras do Barroso e Leiranco, enquanto que as temperaturas mais elevadas se encontram confinadas nas encostas mais a Sul, nos vales encaixados dos rios Beça, Covas e Tâmega. Todavia, se tivermos em conta os valores médios anuais de temperatura e a precipitação média anual, o concelho divide-se em várias zonas climáticas: a Terra Fria de Montanha corresponde à zona mais elevada do concelho - a Serra do Barroso, região muito fria, com elevadas precipitações médias anuais e alguns nevões durante o Inverno. A Terra Fria de Planalto, embora mantenha as elevadas precipitações médias anuais, possui uma temperatura mais amena, estendendo-se por uma 221
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região vasta área do concelho e encerrando algumas serranias da Zona Oeste, como são os casos das Serras de Santa Comba, Pinheiro, Antigo e Bocal, Leiranco e a Serra das Melcas, na parte Este. A Terra de Transição que se localiza essencialmente na parte Sul do concelho, ao longo dos vales encaixados das Ribeiras das Lousas e do Couto e do Rio Covas e parte intermédia das encostas do Tâmega. Uma segunda Terra de Transição que ocupa a parte Este do concelho, sendo que à medida que nos aproximamos da fronteira com o concelho de Chaves se verifica um decréscimo da precipitação e a manutenção da temperatura. E a Terra Quente, uma zona extremamente explosiva do ponto de vista climático, dado possuir em simultâneo elevadas precipitações e elevadas temperaturas médias anuais. Encontra-se circunscrita a uma pequena área na parte Sul do concelho, ao longo das partes mais baixas das encostas dos Rios Beça e Tâmega. Património e Arqueologia O Guerreiro consiste num monólito antropomórfico esculpido, erecto e em posição de parada. Foi encontrado, juntamente com outro exemplar semelhante, provavelmente no sec. XVIII (tendo sido posteriormente encontradas, já no século XX, mais duas estátuas acéfalas) no grande castro do Lesenho, a altitude de 1075 metros, em Campos, Freguesia de S. Salvador de Viveiro e Concelho de Boticas, considerado o mais importante castro lusitano em Portugal e já classificado como imóvel de interesse público (D.R. n.º 29/90 de 17 de Julho). Este Guerreiro apresenta-se vestido com \"sagum\" (saio exuberantemente decorado com motivos geométricos de círculos concêntricos encadeados e axadrezados), com decote em V e manga curta, cingido por um cinturão com quatro nervuras paralelas. A cabeça é proporcionada, exibindo um cabelo curto e deixando livres as orelhas, barba e bigode. Ostenta as seguintes armas: \"caetra\" redonda e plana (típico escudo redondo), com umbo, com decorações do tipo \"labirinto\", que segura na mão esquerda com correias cruzadas no antebraço, e na mão direita empunha um punhal triangular curto, com pomo discoidal, introduzido numa bainha com o conto de perfil circular e linhas transversais de possíveis travessas. Usa no pescoço um torque (peça de ourivesaria típica nos guerreiros da época), com aro aberto e em cada braço, uma \"víria\" de três toros (espécie de pulseira). O Guerreiro Calaico ou Castrejo é o expoente máximo da Arqueologia Nacional e representa a imagem da Divindade e o carácter guerreiro das civilizações castrejas que habitaram a nossa região. As quatro estátuas de Guerreiros Calaicos ou Castrejos que apareceram no imponente Castro do Lesenho encontram-se actualmente em Lisboa, no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia; as duas que se encontraram em melhor estado de conservação são um verdadeiro \"ex-libris\" do referido Museu. AS ALDEIAS Esta região de Barroso desde sempre foi habitada pelo homem. Disso são marca os inúmeros vestígios da ocupação humanade que os povoados castrejos identificados nos cotos dos montes são o inequívoco e principal testemunho (Santos Júnior). O sentido da palavra aldeia significa o ajuntamento de casas onde se aglomeram famílias, que se organizam em comunidade de vizinhos. A típica aldeia trasmontana e particularmente a barrosã é caracterizada por ser um 222
Domingos Vaz Chaves aglomerado de casas que se tocam de perto, separadas apenas por pequenas hortas ou logradouros. Normalmente têm um quintal anexo nas traseiras e cortes para os animais. Outra fachada, a principal, abre-se à rua ou largo, espaço de convívio e partilha da comunidade. Depois alongam-se, seguindo a orientação da rua principal ou irradiando pelas suas travessas a partir do centro onde, normalmente, se situa a capela ou igreja. Outros elementos de uso colectivo situam-se em lugar estratégico, como a eira onde os vizinhos, ajuda por ajuda, se auxiliavam nos trabalhos; o forno onde todos cozem à vez e que também funcionava como espaço de partilha e fruição comunitária, albergue de peregrinos ou almocreves em rota de passagem para os centros de peregrinação e comércio, pousada de pedintes e indigentes; a corte do boi do povo, animal de cobrição e reprodução, alimentado e guardado por todos, situava-se também no perímetro mais próximo da aldeia. Em torno deste aglomerado de casas, logradouros e “equipamentos” existiam, se a terra e o clima o permitissem, as hortas e campos de novidades: o segadiço, o linhal, o nabal donde se colhiam os legumes, as ervas sempre frescas para os animais de criação e o linho que haveria de servir para a organização do bragal. Num anel exterior, os lameiros e os campos de cultivo onde pastam os animais e se produz o centeio, a batata e algum milho e vinho, este nas terras abrigadas da ribeira. Muitos destes eram terrenos de fruição comunitária, uns anos terra de semeadura, outros terra de pasto. Mais distante o monte, os baldios, onde o povo se abastece de mato e lenha e o pastor leva o gado a pastar. A partir de uma, duas ou mais aldeias se construiu a comunidade de fregueses que constitui a freguesia ou paróquia. Ligada à igreja onde pontifica o pároco, é nesta figura tutelar que se encontra a dignidade matricial da paróquia, à volta da qual se organiza a vida quotidiana dos fregueses e se registam os momentos vitais da comunidade. A freguesia cimenta-se na vivência dos vários momentos da celebração na igreja – nascimento, sacramentos da confissão e comunhão, casamento e funeral. Na igreja ou no adro organiza-se também a vida da comunidade, funcionando como centro de decisão da vida económica e social: os trabalhos agrícolas, a distribuição das águas, a colheita do cereal, a limpeza dos montes, a organização do pastoreio dos gados, etc. Da igreja centro, aos limites territoriais claramente definidos do seu termo se fixa o horizonte geográfico da freguesia. É, pese embora a origem remota de algumas destas aldeias e lugares e da consequente influência cultural dos inúmeros povos e civilizações que aqui passaram e deixaram as suas marcas, nesta realidade, plasmada ao longo dos últimos séculos, que se sedimentou o carácter e a identidade do povo de Barroso. União das Freguesias Alturas de Barroso e Cerdedo A aldeia de Alturas de Barroso situa-se a uma altitude de 1120 metros e encavalitada na serra do Barroso, a qual atinge no Alto da Armada os 1275 metros. Esta aldeia incrustada no coração na inóspita e agreste serra, é segundo as celebrações eucarísticas, o rincão onde Deus mora. Recentemente com a agregação das freguesias, a extinta freguesia de Alturas do Barroso uniu-se com a extinta freguesia de Cerdedo passando a denominar-se 223
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo. Fica situada na parte noroeste do concelho de Boticas e é formada pelas aldeias de Alturas do Barroso (sede), Atilhó, Vilarinho Seco, Cerdedo, Coimbró, Casas da Serra e Virtelo, totalizando 5.664 hectares de área total - tornando-se desta forma na maior freguesia do concelho. Tem como referência patrimonial a igreja de Santa Maria Madalena. Uma igreja de planta simples, composta apenas por uma nave e sacristia. A fachada principal é constituída por portal de forma rectangular encimado por óculo redondo sobrepujado por campanário com dois rasgos sineiros coroados por dois pináculos e uma cruz. Interiormente a sua riqueza ornamental é soberba. A porta da Sacristia é Barroca, em castanho com grandes almofadas pintadas. O espaço envolvente da igreja, o adro, serviu durante muitos anos de cemitério, encontrando-se o piso todo lajeado com tampas de sepulturas com datas, cruzes e outros sinais. Quanto a Cerdedo é marcadamente uma aldeia das terras do Barroso, com uma área de 23,96 kms² e cerca de 180 habitantes. Situada nos confins dos concelhos de Boticas e de Montalegre, a Freguesia de Cerdedo estende-se pela encosta Sul da Serra do Barroso. A cerca de 22 kms de distância da sede concelhia, é limítrofe das Freguesias de Alturas do Barroso e Dornelas (concelho de Boticas) e Viade de Cima, Vila da Ponte, Pondras e Salto (concelho de Montalegre). A situação geográfica da Freguesia, como a do concelho aliás, inserido num conjunto de serras (Larouco, Cabreira, e Marão), impôs até há pouco tempo sérias limitações ao desenvolvimento da região. Hoje, todavia essa fase está ultrapassada. A sede da freguesia fica situada à beira da EN. 311 o que a torna perfeitamente acessível tanto para quem vem de Boticas (22 km) como para quem vem de Salto 224
Domingos Vaz Chaves (7km). Coimbró beneficia de estradas para Telhado (concelho de Montalegre – 4 km) e Alturas do Barroso (7 km). Desconhece-se a época a que remonta o povoamento do território que corresponde à actual freguesia, mas sabe-se que tal como o actual concelho de Boticas foi habitado desde o período Neolítico. Em tempos a exploração mineira - estanho- foi muito importante para esta freguesia. União das Freguesias de Ardãos e Bobadela Ardãos tem uma área de 22,41 kms². A origem da freguesia perde-se nos tempos!... Sobre o topónimo também não existem certezas, contudo poderá admitir-se que este termo esteja associado ao vocábulo “arder” e que para expressar locais de onde se queima ou arde muito, se terá encontrado um aumentativo em ão e seguidamente elevado ao plural assim: Ardãos = arde + ão + s. Esta possibilidade poderá ser sustentada no facto de nas proximidades de Ardãos terem existido importantíssimas explorações de ouro, na época romana, fazendo-se uso do carvão para fundir ouro. Uma outra possibilidade seria a de que Ardãos deriva de Arda, do velho saxão - harda - grande, maior. Acresce que de inverno as ardas (espécie de esquilo lanoso) frequentariam as pantanosas margens do alto Terva, por isso chamavam a este sitio - ardãos- significando local onde existiam grandes ardas. Segundo outros autores o nome desta localidade terá a ver a fase de reconquista cristã nomeadamente a um presor destas terras de nome Ardam. Esta aldeia tem actualmente cerca de 250 habitantes, 119 famílias clássicas residentes, 270 alojamentos de acordo com os Censos de 2011 225
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região e possui uma veiga verdejante, cercada de montes com vários Castros: Malhó, Murada, Ribeira e Cunhas. Em termos arquitectónicos registe-se a capela de Santo António, datável do século XVI, que ostenta no seu interior interessantes retábulos em talha renascença. A sua principal actividade económica é a agricultura e a pecuária. Em termos de artesanato encontramos a cestaria. Fica situada no extremo norte do concelho de Boticas, dispondo de bons acessos para a cidade de Chaves e para a sede do concelho. Na própria localidade além do forno do povo tem a Igreja paroquial, cujo padroeiro é Santo André, a capela de S.Roque, que actualmente serve de casa mortuária e o Nicho de Nossa Senhora de Fátima. A poucos quilómetros da aldeia fica situado o santuário da Senhora das Neves onde se realiza uma das festas mais importantes da freguesia e da região. Esta freguesia representa um manancial de história capaz de atrair simples curiosos, estudiosos ou mesmo os melhores especialistas em história antiga. Bobadela, é a outra aldeia que fáz parte da freguesia. Situa-se na parte ocidental do concelho, a cerca de sele quilómetros de Boticas, Bobadela, diz a lenda, deve o seu nome ao facto de em tempos recuados ter existido aqui uma confraria com casas abobadadas. O seu povoamento remonta, como em todo este concelho, a épocas pré- históricas. Ao poente da sede da povoação, num pequeno outeiro, surgiram alguns vestígios de um antigo reduto castrejo, o castro de Cidadonha. Conhecido também como castro do Bobadela ou do Brejo, é um daqueles que foi estudado a partir de 1983. Encontra-se na parte ocidental da freguesia. Ali foram encontrados 226
Domingos Vaz Chaves dois machados, um de pedra polida e outro de bronze e outros objectos de metal, estes descobertos na primeira metade do século. Um outro, o de Nogueira, foi descoberto na aldeia do mesmo nome, no alto de um cabeço cónico. Este castro terá sido romanizado, a julgar pelo marco miliário descoberto em redor e pela calçada da mesma época. Um caminho difícil conduz ao local, marcado por uma vegetação espessa. Daquilo que provavelmente foi um povoado lusitano, restam hoje algumas ruínas de muralhas, mas nenhum dos seus paramentos é actualmente visível. Algumas covas pouco fundas no seu interior parecem indiciar que ali terá existido exploração, ou pelo menos pesquisa, de materiais preciosos. Nogueira fica no cume da serra, perto do ribeiro das Lameiras. A instituição paroquial desta freguesia ocorreu ainda no século XIII. Pertencia à Sé de Braga e foi mais tarde uma comenda da Ordem de Cristo. O reitor ele Bobadela era apresentado pela mitra e tinha de rendimento anual 150 mil réis. A igreja paroquial de Bobadela, totalmente restaurada nos inícios do século XVIll, é de uma só nave. A capela de S. Lourenço. erigida em 1742, encontra-se na parte mais alta da povoação. Conserva no seu interior uma ara muito antiga e em mau estado de conservação. O Poço das Freitas, datado não se sabe bem de quando, é um local de interesse turístico nesta freguesia pela sua peculiaridade e raridade. É a maior obra construída pelo homem em todo o concelho, destinada que era à exploração de ouro nas minas e no aluvião. As areias dali saídas seriam posteriormente lavadas com água de uma barragem. Esta, da qual hoje não resta qualquer vestígio, era alimentada por um pequeno regato nascido na serra da Cortiça, o Ganidoiro. Certas tradições mantêm-se ainda hoje desde tempos longínquos. Na Páscoa, por exemplo, todos os vizinhos têm que levar o folar caseiro para a festa. Quando algum habitante mais pobre não tiver essa possibilidade, todos os outros se juntam e contribuem da forma que podem. Foi sempre assim, mas nota-se que de quando em vez a tradição se vai perdendo. Freguesia de Beça Beça tem 30,01 km² de área e cerca de 840 habitantes. A imponência arquitectónica desta freguesia fica bem demonstrada quando nos deparamos com a Igreja Paroquial de Beça - São Bartolomeu, Igreja Românica, podendo enquadrar-se a sua construção no século XIII ou XIV. Fica fora da povoação, junto do cemitério. Tem uma área coberta de 132 metros quadrados. O chão está lajeado com 49 tampas de sepulturas. A cornija é ornada de modilhões simples. A fachada tem na portada um esplêndido arco romano que está encimado por uma torre sineira para dois sinos, e a coroá-la, uma cruz Grega adornada a toda a volta. É a família portuguesa deste nome um ramo dos Baeza de Espanha, pelo que se trata de uma designação com raízes toponímicas. 227
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região No tempo do Rei D. Fernando I fixou-se em Portugal Juan Alfonso de Baeza, que daquele soberano recebeu as vilas de Alter do Chão e do Vimieiro. Juan, depois João Afonso, casou aqui e teve descendência, que começou por aportuguesar o nome em Baeça e depois em Beça. Freguesia de Covas de Barroso Covas do Barroso situa-se nas faldas da Serra de Dornela, a dezassete quilómetros da sede concelhia, e é composta pelas povoações de Covas do Barroso, Romainho e Muro, confrontando com as freguesias de Couto de Dornelas, São Salvador de Viveiro e Canedo. Na época medieval, Covas do Barroso tinha mais duas povoações (Cabanelas e São Martinho), que, por causa das peste, se extinguiram. O topónimo da freguesia justifica-se pela sua situação geográfica, uma vez que está rodeada de serras e, quando é avistada do Alto do Castro, parece uma cova. O povoamento do território que corresponde à actual freguesia remonta a épocas muito antigas, tal 228
Domingos Vaz Chaves como se pode comprovar pelos diversos vestígios arqueológicos encontrados nesta zona (castros, moeda bizantina da época do Imperador Ducas, vestígios romanos). Apesar do antigo povoamento, só há referências documentais a Covas do Barroso a partir do século XII. Esta freguesia integrou o concelho de Montalegre, até ao dia 6 de Novembro de 1836, data em que foi criado o município de Boticas, tendo Covas do Barroso passado a pertencer-lhe. Mas, do ponto de vista judicial, a freguesia pertencia, em 1839, à Comarca de Chaves, em 1852, à de Montalegre e, no ano de 1878, integrava o Julgado de Eiró. As pessoas mais idosas da freguesia costumam contar que, quando se colocou a hipótese de transferir a freguesia de Covas do Barroso para o concelho de Ribeira de Pena, se gerou um conflito aceso entre esse concelho e o de Boticas, uma vez que Covas do Barroso era a melhor e a mais rica freguesia das redondezas. Em 1839, os habitantes desta simpática freguesia passaram a dispor de uma Escola Primária, estando destinados ao mestre-escola vinte mil réis anuais. A luz eléctrica, da rede pública, chegou a Covas do Barroso em 1966, mas já há cerca de vinte anos que algumas casas detinham electricidade, graças a um gerador que havia sido instalado na Aguieira. 229
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região Freguesia de Dornelas ou Couto de Dornelas A freguesia de Dornelas, situada na parte mais a sudoeste do concelho de Boticas, confronta com a freguesia de Alturas do Barroso a Nordeste, com S. Salvador de Viveiro e Covas do Barroso a Este, com Gondiães, do concelho de Cabeceiras de Basto, a Sudoeste e com Cerdedo a Noroeste. Esta freguesia tem a peculiaridade de ter um nome que não advém de nenhuma das aldeias que a compõem, mas antes terá a sua origem derivado das inúmeras dornas que aí existiam. É a maior freguesia do concelho e ocupa uma área total de 36,6 Km2, sendo constituída por 7 aldeias: Antigo, Casal, Espertina, Gestosa, Lousas, Vila Grande, sede da freguesia, e Vila Pequena, localizadas perto umas das outras, à excepção de Lousas e Casal que se encontram mais afastadas. Dista da sede do concelho aproximadamente 25 Km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, sentido Braga, e depois segue-se pelo CM 1046, ou em alternativa percorre-se um pouco mais a ER 311 e segue-se pelo CM 1045. UNIÃO DAS FREGUESIAS DE CODESSOSO, CURROS E FIÃES DO TÂMEGA Fiães do Tâmega tem 14,76 km² de área e 167 habitantes (2001). Capela de Fiães do Tâmega Igreja de Veral Capela de Fiães do Tâmega - Pequena capela de 230
Domingos Vaz Chaves planta rectangular, com torre sineira alongando a fachada do edifício. Portal de forma rectangular. Interiormente possui várias imagens pintadas no retábulo do altar-mor. Igreja de Veral - Igreja de planta rectangular com torre sineira separada. Portal de forma rectangular encimado por óculo redondo e inscrições onde consta a data de 1855, ano da possível fundação do edifício. Interiormente possui pintado no tecto a imagem de S. Martinho. União das Freguesias de Boticas e Granja Boticas terá nascido pelos fins da Idade Média, na periferia dos lugares de Sangunhedo e Eiró, junto à estrada que por ali passava em direcção a Chaves e onde também existia um entroncamento de outras vias para outros lugares. Aqui ter-se-ão instalado duas ou mais boticas que deram o nome ao local que posteriormente se foi desenvolvendo. \"Mesmo a linguística confirma esta possibilidade com a fala popular \"fui às Boticas\", \"vim das Boticas\" e não \"fui a Boticas\" ou \" vim de Boticas \". \"Assim o nome Boticas deriva da palavra \"apothéca\" que significava lugar onde se guardavam provisões correspondendo ao termo celeiro ou adega. No português medieval adquiriu o sentido de Casa pequena onde se encontra toda a variedade de objectos e daí a frase popular \"haver de tudo como na botica\". Hoje é sinónimo de farmácia, loja ou estabelecimento onde se confeccionam e vendem medicamentos. A existência, até há poucos anos atrás, de uma importante loja ou botica, que confeccionava medicamentos para toda a região de Barroso, e a existência de pelo menos duas 231
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região \"estrumarias\" (lugar onde se recolhiam e pernoitavam, almocreves e donos), reforçam esta possibilidade.\" Granja tem 8,79 km² de área e 266 habitantes (2001). Igreja Paroquial da Granja Convento da Granja Castro do Cabeço - O Castro do Cabeço fica em termo da freguesia da Granja, que dista apenas 2km da sede do concelho. O monte cónico ou cabeço onde assenta o Castro fica a escassos 300 m da estrada nacional n.º103, km 146, entre Sapiãos e o Alto do Fontão. É propriedade da Junta de Freguesia. O castro possui duas linhas de muralhas. Encontra-se a primeira muralha separada da segunda muralha por um espaço de cerca de 15m, e esta está separada do fosso do reduto por cerca de 21m. Existem neste castro vários vestígios de casas circulares com pavimento lajeado, tégula, mós, bronzes e imbrices. Freguesia de Pinho A freguesia de Pinho situa-se na parte Sudeste do concelho de Boticas. Confronta com várias freguesias: a Norte Boticas, Granja e Sapiãos, a Este Anelhe, do concelho de Chaves, a Sul Arcossó, também do concelho de Chaves e Capeludos, do concelho de Vila Pouca de Aguiar e a Oeste Curros e Beça. Dista da sede do concelho aproximadamente 5,5 km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, sentido Vidago, virando na indicação Pinho. A freguesia é constituída por três aldeias: Pinho, sede de freguesia, Sobradelo e Valdegas, dispostas no decorrer da encosta sul da Serra do Facho; ocupando uma área total de 22,4 km2 e uma população de cerca de 170 individuos. 232
Domingos Vaz Chaves Nesta freguesia prolifera a existência de Castros!... De entre eles, saliente-se o Castro do Lezenho, um monte cónico e pedregoso cuja altura se pode calcular em 50 a 60 metros. O Lezenho tem três linhas de muralhas, sendo a cimeira a melhor definida pelos alinhamentos de pedras em montão caótico, a entestar em penedos. A segunda e terceira muralhas, na sua maior parte em ruínas, são também assinaladas pelas fiadas de montões de pedras. A maior parte das muralhas têm dois metros de largura. Além da porta aberta na muralha fundeira, que pode considerar-se a entrada principal, há mais duas portas. Uma no topo norte da terceira muralha, a outra no lado poente da primeira muralha. O Castro do Lezenho notabiliza-se pelo facto de nele se terem encontrado, talvez no século XVIII, quatro estátuas de Guerreiros Calaicos. Freguesia de Sapiãos A freguesia de Sapiãos, localizada a Este da vila de Boticas, confronta com várias freguesias: a Norte com Bobadela e Ardãos, a Este com Redondelo do concelho de Chaves, a Sul com Pinho e a Oeste com Granja e Cervos, do concelho de Montalegre. É constituída pelas aldeias de Sapiãos, sede de freguesia e Sapelos. O acesso viário faz-se seguindo pela EN 312 até aparecer a indicação Sapiãos, por seu lado, para Sapelos segue-se pela EN 103 em direcção a Chaves. A aldeia de Sapiãos encontra-se disposta na base da encosta Este da Serra do Leiranco e a aldeia de Sapelos junto à encosta Norte da Serra do Facho. Protegidas a toda à volta por serras e montes, os seus pastos e campos de cultivo estendem-se ao longo do vale do rio Terva. A freguesia ocupa uma área total de 21,1 Km2. A sua origem data dos primeiros séculos conforme deduzimos dos testemunhos encontrados nos castros, já em muito mau estado e nas sepulturas antropomórficas ainda existentes. O Dr. João Baptista Martins, intelectual e estudioso prestigiado da história do concelho de Boticas, em artigo no «Notícias de Chaves» e transcrito no Ecos de Boticas em 15 de Outubro de 1997, escreveu “Conforme demos a conhecer, na freguesia de Sapiãos havia sepulturas antropomórficas, uma nas Seixas, junto do lameiro do Senhor António Joaquim de Moura e outra nas Pássaros junto ao caminho, esta cavada na rocha e reduzida a metade por virtude de obras levadas a efeito na referida via”. Podem ver-se também outras campas, a 200 metros da cruz das almas - onde se faz uma paragem, quando levam os mortos para o cemitério. A 100 metros da estrada nacional n.° 103, existem outras, feitas em rocha, com proporções que rondam 1,80 metros. Conta a história que as campas antropomórficas foram criadas há muitos séculos, o que confere a esta aldeia um passado remoto, em que muitos factos a tornaram naquilo que é hoje, recordando saberes ancestrais, preservando-os e registando-os para que futuras gerações possam desfrutar dos saberes de outrora. Uma coisa é certa, Sapiãos fazia parte do itinerário das Vias Romanas, que ligavam Bracara Augusta a Aquae Flaviae, passando por Venda Nova, Pisões, Morgade e Sapiãos, a caminho das termas de Chaves, não existindo já marcas desse passado histórico. No entanto, documentos mais recentes, mas agora já 233
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região escritos, datam de 1251 da era Cristã, aquando da entrega do foral a esta aldeia por D. Afonso III. Poderá ler-se este foral na íntegra: Foral de Sapiãos \"Em nome de Deus. Eu Julião Gonçalo, Juiz da terra de Panóia, por mandato do senhor Rei Afonso de Portugal e de D. Garcia abaixo assinado, faço carta de povoamento daquela herdade do senhor Rei que está no termo de Sapiães, de quanto aí tem o senhor Rei Afonso. Dou outra vez a D. João e a vós Pedro Peres e a Columba vossa esposa os domínios da mesma herdade, para que façais dela foro nomeadamente ao senhor Rei de Portugal. Pagai anualmente dois morabitinos. Não pagueis nela três calúnias, se as fizerdes. Se fordes inquiridos pela boca dos homens bons acerca das apostilhas, não respondais. Não deis luctuosa das casas e nenhum homem entre no vosso lugar para fazer mal por estas três calúnias já ditas. Pelo furto pague-se o dobro ao seu dono e a sétima parte é para o palácio. As duas outras que restam, entregam-se segundo o costume da terra. Pagai o dito foro pela festa de S. João Baptista a quem o Rei de Portugal mandar. Pagai este foro da já dita herdade, conforme se regista nesta carta, e nada mais. Que vós e toda a vossa posteridade tenhais a dita herdade e a povoeis. Que vós, segundo o dito foro, e os vossos sucessores a tenhais em posse para sempre. Se vier alguém para vos impedir em alguma coisa e na medida em que vos impedir; pagar-vos-á o dobro, e tem a maldição de Deus, Amem. E quem tiver a vossa representação para ela consiga os soldos. Os nossos ouvidos prestem atenção ao pacto que se fez nesta carta a qual foi datada na era de mil duzentos e oitenta e nove sendo Rei de Portugal, Afonso. Conde de Bolonha no seu reinado. Arcebispo bracarense, João. O abaixo-assinado doador de Panoia. D.Garcia. Eu Juliano, juiz da terra por mandato do senhor Rei Afonso. E do abaixoassinado D. Garcia cobro esta carta por minhas próprias mãos, no cobro de dois dinheiros. Foram testemunhas, João testemunha. Conheceu os domínios por mandato de anos. Além disso, mando-vos 234
Domingos Vaz Chaves que deis anualmente pelo vodo um almude e mil e dois pães. E outro almude do vinho no lagar. Não mais do que as testemunhas prescritas. E esta Carta não estava selada: nem tinha selos. \" Arquivo Nacional da Torre do Tombo. A Freguesia de Sapiãos ontem e hoje Continuando a fazer história, apresenta mais documentos escritos que datam do século XVIII, como consta nas “Memórias Paroquiais - Dicionário geográfico” elaborado pelos párocos em 1758, quando ainda fazia parte da diocese de Braga. Aí pode ler-se: “FREGUESIA DE SÃO PEDRO DE SAPIÃES, COMARCA DE CHAVES, ARCEBISPADO DE BRAGA PRIMAZ.\" \"Padre Domingos Gonçalves, Reitor da Paróquia Igreja de S. Pedro de Sapiães, termo da Vila de Montalegre, Comarca de Chaves, Arcebispado de Braga, Primaz, em virtude de uma ordem do correio que do Reverendo Padre Doutor Bispo Carvalho de Faria, vigário-geral desta Comarca de Chaves me foi apresentado com o edital dos interrogatórios juntos para lhes responder; faço certo constar esta freguesia de S. Pedro de Sapiães de dois lugares, Sapiães um, e Sapelos outro, situados ambos em um vale. Conta toda a freguesia de cento e sessenta e cinco pois nela existem quinhentos e oitenta e três almas mais ou nos mesmos lugares no termo de Montalegre e sujeita as do juiz de fora da mesma vila e da Insígnia Casa de Bragança Província de Trás-osMontes. A Paróquia desta freguesia, cujo orago é o Apóstolo São Pedro, está situada na estrada da veiga que fica entre os ditos dois lugares. Tem três altares, um na Capela-mor do dito Apóstolo dois colaterais, um da Senhora do Rosário outro do Santíssimo nome da Cruz. No altar da Senhora do Rosário, é a irmandade da mesma Senhora. O Pároco desta Igreja é o Reitor e de colação ordinária por concurso poderá receber um ano por outro cento e quarenta mil réis de certos e incertos, pouco mais ou menos; não há conventos beneficiados, hospitais, nem casa de misericórdia nesta freguesia. No lugar de Sapiães há três Capelas uma do Senhor onde está o tabernáculo do Santíssimo Sacramento, fabricada pelos fregueses excepto a armação para a lâmpada que alumia diante do Sacrário que se dá pelos frutos da Comenda de que é Comendador o ilustríssimo Senhor Marquez de Marialva; tem a dita Capela três altares. Um do Senhor; outro de São Caetano e outro das Almas. Nesse há a Irmandade das mesmas almas instituída autoridade ordinária. Capela com um altar que é da evocação de Nossa Senhora da Conceição, administrada pelos herdeiros de Gonçalo Monteiro, deste mesmo lugar e freguesia. Não há imagens nesta freguesia nem coisas dignas de singular memória. Na outra Capela da evocação da Senhora dos Anjos e de São Domingos, com um só altar; administrada pelo Reverendo António Alves Monteiro, Reitor da Igreja de São Miguel de Bobadela. Frutos que nesta freguesia se colhem com mais abundância são centeio, milho, castanhas e algum vinho. Fica distante da cidade de Braga, capital do Arcebispado, doze léguas e meia e de Lisboa capital do Reino setenta e duas léguas. Uma do correio de Chaves, distante desta freguesia, duas léguas e meia. Basta o vigésimo sétimo interrogatório e nesta freguesia nada mais há que responder; por estar respondido. No distrito desta freguesia de S. Pedro de Sapiães há ao norte uma 235
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região serra chamada Leiranco; fica duas léguas de comprimento em algumas partes e uma de largo; Confina pelo norte com freguesia de Santa Cristina de Cervos. Nada há nela coisa aí digna de memória das que se perguntam nos interrogatórios. Porque há muitos penedos, giestas com algum mato de carqueja e videiras, muito agreste. Nela se criam alguns coelhos e perdizes. Pelo distrito desta freguesia de São Pedro de Sapiães corre do nascente para poente um rio que principia na freguesia de Santa Maria de Calvão desta Comarca de Chaves e se chama rio Terva. Não corre caudaloso por ser terra plana e pequeno, que no estio quase de todo seca; e se vai sepultar no rio Tâmega por baixo de Mosteirão, freguesia de Santa Maria de Curros. Há no dito rio uma grande pedra cantaria na estrada pública que vem da Província do Minho para a praça de Chaves desta Província de Trás-os-Montes a qual ponte fica entre Sapiães e Sapelos lugares de que se compõe esta freguesia de Sapiães. No termo desta freguesia não há moinhos no dito rio; peixe que cria, são algumas bogas pequenas; e no que se pergunta nos vinte interrogatórios, não tenho mais que responder por não haver coisa notável no tal rio de que se podia dar notícia. Por verdade palrei esta que finei com o reverendo António Dias Monteiro vigário da Real Igreja de Santa Maria de Pinho e Manuel Dias vigário da Paróquia da Igreja da São Salvador de Eiró. Ambas anexas desta desta matriz de São Pedro de Sapiães e da forma dita a juro in verbo Sacerdotis. Sapiães, Março, 9 de 1758. 236
Domingos Vaz Chaves Domingos Gonçalves de Santa Maria de Pinho – António Dias Monteiro, o vigário de São Salvador do Eiró – Manuel Dias” Dicionário Geográfico (Memórias Paroquiais), Vol. 34, doc.77, pág. 649 a 652. Torre do Tombo – Lisboa). A actual igreja paroquial é do século XVIII como foi referido no documento e tem, como padroeiro, S. Pedro. É adornada por quadros que datam do século XVIII e que foram oferecidos por emigrantes que buscaram riqueza no Brasil. Igreja paroquial Altar da igreja Além desta igreja, existe a Capela da evocação da Senhora dos Anjos e de São Domingos, Capela mais conhecida por Capela Nova, erigida também no século XVIII, mas que, actualmente, se encontra encerrada, não sendo utilizada para nenhuma prática religiosa. A Capela de São Pedro é uma obra artística que marca o período do românico/gótico que se viveu nesta aldeia, o que ajuda a vincar o seu carácter secular, e nos leva a crer ter possuído uma grande percentagem de habitantes, para arquitectarem um tal monumento. Esta capela foi construída nos finais do século XII, início da transição do românico para o gótico, como se pode verificar na frontaria do edifício. Actualmente, esta igreja, que se encontra afastada da povoação, serve de descanso aos que partem deste mundo, acolhendo-os junto dos seus antecessores que ajudaram a provocar a erosão na frontaria, devido à quantidade de vezes que tocaram os sinos para chamar os fiéis das localidades mais próximas à oração. Todo o seu espólio interior foi vendido ou levado para as outras igrejas do meio da povoação. Em Sapiãos existem três cruzeiros, sendo o mais antigo de 1759 e por sinal, todos situados em cruzamentos das ruas ou caminhos e no centro das aldeias, excepto o que se encontra na antiga via romana, datado de 1793. A fé, a devoção e o reconhecimento pela protecção concedida foram publicamente manifestadas no monumento construído, desde a Igreja Paroquial até ao lugar do Calvário, onde foram colocadas as cruzes referentes à Via-Sacra. Estas cruzes encontram-se na encosta de uma colina e esse movimento de subida, relacionado com as forças positivas, recorda-nos a virtude ascética a que todos aspiramos, mas que só é concedido àqueles que se mantêm fiéis aos seus anjos e santos. - O Castro fica no termo da freguesia de Sapiãos, e a nordeste de Sapelos. É um castro de situação baixa, assente na encosta pendente pelo lado poente sobre o rio Terva, que lhe corre na base, ao fundo da encosta, e a cerca de 100m da muralha fundeira. Para ir ao Castro segue-se o estradão que parte da povoação de Sapelos e vai para a capela da Nossa Senhora das Neves. A cerca de 2,5km chega-se ao castro que fica pela esquerda junto ao rio Terva. O castro é elíptico de eixo SW-NE, com comprimento de 122m e largura máxima de 47m. A muralha cimeira, tem patente e relativamente conservado o seu paramento interno, mas do lado do fosso a maior parte do paramento ruiu. 237
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região União das Freguesias de São Salvador de Viveiro e Vilar É uma pequena freguesia constituída em 2013, no âmbito da reforma administrativa nacional, pela agregação das antigas freguesias de Vilar e São Salvador de Viveiro. Tem uma área com 30,88 km² e 487 habitantes (censos 2011). A sua densidade populacional é 15,8 hab/km². Em termos de património, a Igreja da S.ª da Guia e a Capela do Senhor dos Milagres, são as suas principais referências. ... 238
Domingos Vaz Chaves CAPITULO XI PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO DE BARROSO 239
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região O MEGALITISMO A cultura megalítica floresceu na pré–história, ainda no período Neolítico, e caracterizava-se pelo aparecimento de utensílios de pedra polida, pela domesticação de alguns animais e início de actividades agrícolas primitivas que levaram à descoberta da cerâmica. O material mais utilizado era o sílex, com que se faziam facas, raspadeiras, pontas de seta e lanças. A sedentarização do homem deixou-lhe tempo para o progresso social e religioso e, muito mais tarde, para a indústria metalúrgica. Contudo, a roda de oleiro e o arado parece terem surgido apenas na Idade do Bronze. Nessas eras, a habitação do homem era ainda a gruta natural e a cabana rudimentar. Com os avanços referidos transferem-se os abrigos para sítios defensáveis em montes cónicos, próximos da água, constituindo povoados de várias famílias. No concelho de Montalegre e Boticas aparecem e existem muitas provas da passagem desses povos em todo o território. Era com tais artefactos que o homem primitivo fazia as gravuras rupestres, caçava, pescava e descarnava os animais que abatia, em grutas como as de Loivos, junto ao Cávado. Vestígios dessas actividades encontram-se ainda nos Penedos do Sinal, Pedra Pinta, Penedos das Ferraduras, Pena Escrita e Caparinhos, que se distribuem por todo o planalto barrosão. OS CASTROS “CELTILIZADOS E ROMANIZADOS” Estas construções estão disseminadas por toda a região barrosã. Da mesma época, mas muito mais raros são as Cistas de que temos exemplares conhecidos e únicos, na Vila da Ponte. Depois desses ignorados habitantes primitivos provavelmente indígenas, vieram povos a que é costume chamar Celtas cujos conhecimentos e modos de vida se enraizaram definitivamente. São os “metalúrgicos”!... Além de recolectores, de pastores e de agricultores passaram a dominar os metais. Primeiro o cobre, depois o bronze (liga de cobre e estanho) e finalmente o ferro. Daí a facilidade com que ocuparam o mundo conhecido. Vários escritores da antiguidade consideram os Galli, Galatae, Galleci, Keltoi designações de povos com a mesma entidade étnica – os Celtas – e ocupando quase toda a Europa e a Ásia Menor. Habitavam os castros que eles construíram muitos séculos antes da era romana. No concelho de Montalegre e Boticas, podemos distinguir facilmente pela análise dos restos de cerâmica e de outros objectos os castros romanizados e os “celtizados”. Ao nível artístico e artesanal os Celtas não têm paralelo. Os seus objectos de adorno, em ouro, prata, cobre, ferro e bronze são fruto de uma perícia manual imbatível. Vejam-se, a título de mera referência, os torques de ouro do castro de Outeiro ou os objectos de bronze de Solveira e Vila da Ponte, aqueles expostos no Salão Nobre da Câmara Municipal e este no Museu Dr. Mendes Correia, na faculdade de Ciências do Porto, onde se encontram também os três vasos da 1ª Cista da Vila da Ponte, dita de Donim, achada em 1931. sete, oito séculos após a fixação céltica iniciou-se a conquista romana. 240
Domingos Vaz Chaves As máquinas de guerra daquele tempo, como é uso chamar-se às legiões romanas, demoraram duzentos anos a dominar os povos peninsulares, dentre os quais sobressaem os Vetões, os Vaceus, os Lusitanos, os Ástures, os Cântabros e sobretudo os nossos mais lídimos antepassados – os orgulhosos e indomáveis Galaicos. Para sustentação de tal domínio foi necessário abrir estradas para que as legiões do exército acorressem prontamente a qualquer ponto do império. Por isso lhe chamavam “estradas imperiais militares”, sendo a primeira a que saindo de Braga (Bracara) e atravessando o planalto barrosão de poente a nascente, aflorava Chaves (Flaviae) e seguia depois por Astorga (Asturica) à importantíssima zona portuária de Tarragona (Tarraco). Os restos arqueológicos desta via são vestígios de um passado glorioso. Os castros são pois a expressão patrimonial visível de uma cultura no noroeste da Ibéria. Constituem aquilo a que os romanos chamavam \"gentilitas\" um grupo de famílias aparentadas, que estabeleciam a sua relação na base de uma colectividade sobreposta a qualquer indivíduo. Os povos castrejos alimentavam-se à principal refeição do dia com uma espécie de pão de farinha de bolota e de um certo tipo de cerveja. Apesar da história recente dos dois Municípios que hoje dividem as Terras de Barroso, as origens do povoamento do território perdem-se na imensidão dos tempos. No aspecto histórico, Barroso possui um vasto património, enriquecido por uma grande variedade de vestígios de povoações castrejas, com destaque para a emblemática figura do Guerreiro Calaico, um dos achados provenientes dos Castros da actual região de Boticas, expoente da estatuária castreja com profundo enraizamento popular e institucional, que por esse motivo, constitui hoje uma aposta forte do Município no que respeita à promoção e divulgação da sua imagem. Como já foi referido, estas estátuas de Guerreiros Calaicos, encontram-se actualmente expostas no Museu Nacional de Arqueologia. Todos esses castros se encontram implantados em montes ou cabeços mais ou menos altos, quase sempre junto ou na proximidade dum rio, ou ribeiro, e muitas vezes na confluência de cursos de água. Para conhecimento fica uma breve resenha descritiva de alguns dos mais importantes castros desta região: SÃO VICENTE DA CHÃ CASTRO DOS MOUROS: Este povoado fortificado conserva uma parte das três linhas de muralha e um fosso que o circunda parcialmente. Encontra-se estrategicamente implantado numa curva do rio Rabagão, sendo defendido por este. Na muralha intermédia ainda se observa uma porta de acesso ao povoado. Tudo indica que o castro se tenha desenvolvido sobretudo nas plataformas superiores, dentro dos limites da segunda muralha, pois são aí visíveis ruínas de construções de aparelho castrejo. O povoado cinge-se ao cabeço, à exceção de um prolongamento de muralha externa para uma rechã natural onde se identificam algumas construções. Distinguem-se, neste local, vestígios de estruturas, fragmentos de cerâmica e 241
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região pedaços de escória de ferro. Tudo indica que o povoado teria uma área urbana extensa, incluindo um setor com evidente atividade metalúrgica. Os vestígios existentes remontam à Idade do Ferro, sendo pouco evidentes os vestígios de romanização, embora se conserve, relativamente perto, o traçado da Via Romana XVII. PEDRÁRIO Classificado como \"Imóvel de Interesse Público\" em 1990, o \"Castro do Pedrário\" ergue-se a uma altitude de aproximadamente mil metros, no topo de um espigão sobranceiro ao Rio Assureira, no Lugar de Pedrário, que lhe deu nome. Construído durante a Idade do Ferro, o povoado dispunha de um complexo sistema de fortificação constituído por duas cinturas de muralha (com uma espessura variável entre um metro e meio e os dois) com paramento duplo preenchido com material pétreo de reduzidas dimensões, tendo sido reforçadas por um terceiro muro nas faldas localizadas a Oeste e a Este, o que parece conferir à fortificação uma aparência de subdivisão interna. Quanto às aberturas que conduziam ao interior da área habitada, elas foram localizadas nos dois muralhados, o segundo dos quais (exterior) ainda ostenta um dos esteios que serviria de umbral. É no recinto intra mural de configuração rectangular que nos deparamos com a presença de um conjunto de vestígios de estruturas domésticas de planta predominantemente circular, característica inerente deste tipo de povoado proto-histórico. As intervenções arqueológicas conduzidas neste arqueossítio permitiram, ainda, recolher diverso espólio essencialmente constituído por fragmentos de cerâmica manual e torneada atribuível à Idade do Ferro, bem como alguns vestígios de escória de bronze e de ferro, a indiciar uma provável prática metalúrgica no local. 242
Domingos Vaz Chaves ALTURAS DO BARROSO Designação: Vilarinho Seco (Alturas do Barroso) Descrição: O castro de Vilarinho Seco, também conhecido como Couto dos Mouros, localiza-se a cerca de 1 km da aldeia de Vilarinho Seco, freguesia de Alturas do Barroso. Quase na base da encosta do Castro, voltada a Poente, encontra-se a habitual fiada de pedras caóticas a assinalarem o alinhamento da muralha, totalmente derruída. Esta primeira linha de defesa começa num grande penedo, no lado Norte, segue para Sul e vai entestar noutro grande penedo. Apenas 2 metros de muralha ligam este grande penedo a outro semelhante. Seguem-se 17 metros de ruínas de muralhas que entestam noutro penedo. Entre 20 a 30 metros acima da primeira muralha encontra-se a segunda, também destruída, que segue a crista do monte quase no alinhamento N/S, poucos metros adiante esbarra no alto, num grande penedo. Nele se vê uma cruz gravada em sulcos pouco fundos. Esta segunda muralha esbarra em dois grandes penedos, sobranceiros a um despenhadeiro quase abrupto da vertente do lado Leste, encosta que é toda penedia contínua, com alguns penedos grandes, com 6 ou 7 metros de altura, encostados uns aos outros. ARDÃOS Designação: Castro do Muro de Cunhas. Localização: Ardãos Descrição: O castro do Muro de Cunhas fica a Nordeste de Ardãos num monte muito pedregoso especialmente no topo cimeiro. O acesso ao castro faz-se de Ardãos pela estrada que vai para Chaves até uns 5 quilómetros depois à esquerda, uns 800 metros por estradão até à base do castro Na sua base vê-se um ouriçado de pedras fincadas, pequenas e não muito juntas, que se estende até à primeira muralha. Muralha essa com o paramento externo de cerca de 80 centimetros de altura de pedras de granito bem apicotadas, de faces 243
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região em perfeita esquadria rectangular, de tal modo que assentam e encostam em perfeito ajuste. A primeira muralha tem 3 metros de largura e a face interna quase toda rente à terra. Acima 30 metros encontra-se a segunda muralha, que é do mesmo tipo de construção da primeira e também com 3 metros de largura. Existem neste castro restos de construções e pedras talhadas com covinhas e sulcos. BEÇA Designação: Castro de Carvalhelhos (Património Classificado). Localização: Carvalhelhos (Beça) Descrição: O Castro de Carvalhelhos assenta num cabeço sobranceiro às afamadas Águas de Carvalhelhos. Este castro tem três linhas de muralhas. A primeira muralha, em alguns sítios com 3 metros de largura, forma um anel à volta do reduto cimeiro, arredendado, com 51 metros no sentido N/S e 42,5 metros no sentido E/O; a segunda muralha entesta na primeira junto da porta do castro segue pela encosta do lado Poente direita ao ribeiro e a uma distância de 30 metros da muralha cimeira. A terceira muralha, ou muralha da base, estende- se por mais de 100 m paralela e a curta distância do ribeiro. Existem 15 ou 16 rampas de acesso às muralhas, sendo 10 ou 11 na primeira e 5 na segunda. Uma particularidade que concorre para notabilizar o Castro de Carvalhelhos é a profundidade dos seus fossos. No castro foram descobertas algumas casas, sete no reduto cimeiro, sendo quatro circulares, uma das quais com vestíbulo parcialmente destruído e três rectangulares. Fora da muralha na encosta do lado Nascente encontram-se quatro casas, das quais duas são circulares, uma delas com vestíbulo e duas rectangulares. Neste castro foram também encontradas algumas peças de metal: uma fivela de bronze, uma fíbola também em bronze, quatro moedas e ainda duas contas de vidro, uma pedra de anel e vários pedaços de cerâmica. DORNELAS Designação: Castro de Ervas Ruivas, Localização: Lousas (Dornelas) Descrição: Este castro, localizado a cerca de 1 km de Lousas, assenta num monte situado no fundo do vale rodeado a Nascente, Sul e Poente pela Ribeira de Lousas. O esborralhado de pedras a marcar o alinhamento da primeira muralha começa na porta Sul do talude e estende-se 26 metros no alinhamento S/N. Na ponta do lado Norte a primeira muralha desanda à esquerda em ângulo recto, bordeja o recinto cimeiro e desce a encosta setentorial num extensão de 50 metros. A segunda muralha desce ao lado e abaixo da primeira, dela separada 10 metros. Dele apenas se vê uma fiada de pedra que marca o seu alinhamento, formando um patamar com 2 a 3 metros de largura cuja borda, em alguns sítios tem de 1 a 2 metros de altura, mas na maior parte do seu comprimento menos de 1 metro. O topo cimeiro é limitado a Norte pela primeira muralha e a Sul por penedia. SAPIÃOS Designação: Castro do Muro/Casas dos Mouros. Localização: Sapiãos. Descrição: o Castro do Muro fica ao lado e acima da EN 103, sentido Braga a Chaves, cerca de 400 metros adiante de Sapiãos. O “Muro” de Sapiãos é um castro de encosta, quase assente na base da ladeira do monte fundeiro do Leiranco. O perímetro da 244
Domingos Vaz Chaves muralha é de 270 metros. Nalguns sítios vêem-se os paramentos externo e interno da muralha que tem 3,50 metros de largura. Na sua maior parte está destruida e é assinalada por fiada de pedras em amontoado caótico. A maior parte do recinto intra muralha, é por assim dizer, penedia. Distinguem-se dois pequenos terreiros sem penedia, um na base e outro a meio. A eira dos mouros é um espaço quadrilátero com quase 40 metros de comprimento na linha E/W, e de contorno subtrapeziodal, que vai alargando de cima para baixo. No alto tem 16 metros de largura, a meio 21 metros e quase no fundo 26 metros de largura. No local do castro foram encontrados restos de cerâmica. ... 245
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região CAPÍTULO XII EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA DE BARROSO 246
Domingos Vaz Chaves Os mais antigos documentos referentes à região do Barroso na Pré-história datam de há 4.000 ou 5.000 anos. Nos fins do Neolítico, com prolongamento pela Idade do Bronze, desenvolve-se a cultura megalítica em Barroso, período este de civilização pré-histórica que se documenta essencialmente pela construção de monumentos tumulares de pedra, designados de dólmenes ou de megálitos, bem como pelos materiais como armas de pedra, osso, madeira e bronze, objectos de cerâmica, instrumentos de trabalho e uso doméstico. Por todo o concelho de Montalegre e Boticas, é possível encontrar e visitar tais vestígios da cultura megalítica.Da Idade do Bronze, há cerca de 3000 anos, são poucos os vestígios nesta região, embora apareçam três preciosos achados: os de Solveira – um machado de talão, duas pontas de lança e um instrumento em forma de garfo; os de Montalegre – cinco machados planos de bronze; e os de Carvalhelhos – duas peças de bronze, uma fivela circular e uma fíbula de arco. Por volta do ano 1.000 antes da nossa Era, a região do Barroso foi habitada pelos Oestrímnios, povo com uma tradição multisecular com usos e costumes detentores de uma cultura e de um modo de viver próprio. Da colaboração mútua entre este povo e os Sefes, povo de filiação celta que terá chegado a esta região no final do século VII a. C. ou nos princípios do século seguinte com o qual nasce a cultura castreja. Atravessando uma época de ameaças constantes, num clima de insegurança resultante da guerra permanente, com preocupação defensiva, estes povos construíram povoações fortificadas, designadas castros. Este tipo de arquitetura - castro - consistia em erguer construções muralhadas, com um recinto no interior, dentro do qual construíam as casas em pedra, madeira ou outro material ligeiro como barro. Pensa-se que estas construções de habitação apresentavam geralmente forma circular na fase inicial, com um diâmetro compreendido entre 3 e 6 metros e com a sua cobertura em colmo. São numerosos os castros existentes no Barroso, havendo 53 registados pelo autor Braga Barreiros. Citam-se alguns, nomeadamente o Castro de Montalegre, o Castro da Veiga de Montalegre, o Castro do Portelo, entre outros testemunhos multiseculares de que já aqui demos nota e que provam a existência de população nesta região na época longínqua da cultura castreja. Por sua vez, a cultura romana dominou a anterior, dando um contributo valioso à cultura local, no que diz respeito à legislação, às instituições políticas, administrativas e sociais, à língua, às letras e aos costumes. São exemplo das marcas deixadas por este povo no Barroso, as vias de comunicação, os marcos miliários, as moedas imperiais, os monumentos funerários, a estatuária e a toponímia. A região do Barroso era atravessada pela via romana de ligação entre Braga e Chaves, com três itinerários diferentes, em que as distâncias eram assinaladas de mil em mil metros pelos mencionados marcos miliários. Também são prova da presença romana em Barroso, as moedas imperiais encontradas em Penedones (Chã) e Paredes (Salto). Do Barroso, pouco se sabe acerca da presença dos povos Bárbaros, embora as actas do concílio de Lugo, reunido em pleno século VI, nos dê informação sobre esta região: “Barroso era cristão e estava relativamente desenvolvido em 569(…)” 21 . No ano de 716, o Barroso terá caído em poder dos Mouros, sofrendo, tal como tantas outras localidades, o ódio e a perseguição mourisca.22 Após esta fase de conquistas dos Mouros, dá-se a 247
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região reconquista cristã do Barroso em 753, após um cativeiro de trinta e sete anos. A passagem dos Mouros por esta região é comprovada pelos numerosos topónimos: Terra de Mouros, Eira dos Mouros, Pedra da Moura, entre outros. Desta época até à independência nacional, ou seja, desde 1095 até 1140, nada se pode garantir concretamente, tal como refere o João da Costa: “Mas a organização militar, fiscal e administrativa existente no dealbar da nacionalidade portuguesa; a vida paroquial e pastoral da região, em funcionamento perfeito; e ainda o arcediagado de Barroso, coevo da independência nacional, dá testemunho seguro do valor defensivo, do desenvolvimento económico e da vitalidade cristã do nosso planalto, durante o século XI e XII.” Apesar de surgirem alguns documentos e testemunhos deste período, é apenas a partir do século XIII que se pode encontrar documentação abundante sobre esta região. Relativamente a Montalegre, vila e cabeço das Terras de Barroso, o primeiro diploma legal que conhecemos é o foral de D. Afonso III, datado de 9 de junho de 1273. A partir deste documento, tentamos responder a questões como: quando e onde nasceu Montalegre?!... Não é possível afirmar a data de fundação da vila de Montalegre, o que sabemos e é certo, é que Montalegre já existia quando Portugal nasceu, em 1140. Desenvolvimento Sócio-económico Os concelhos de Montalegre e Boticas, caracterizam-se por terem ambos uma matriz essencialmente rural, sendo possível constatar a existência de núcleos habitacionais de pequenas dimensões, em que a economia depende sobretudo da actividade agrária e pecuária. Actualmente, deparamo-nos com uma realidade de algum desalento e abandono, necessitando estas populações de ajudas, de forma a produzir rendimentos suficientes para que tenham condições de permanência nas aldeias. No século 248
Domingos Vaz Chaves XX, ocorreram mudanças que tiveram um enorme impacto nesta região. Por um lado, o envelhecimento da população, que contribuiu para um contínuo decréscimo populacional e para a incapacidade de renovação das gerações. Por outro lado, a região é afectada por um forte fluxo de emigração a partir dos anos 60, o que provocou a sua desertificação. Regista-se sobretudo, a emigração de homens e de jovens, o que provoca consequentemente um paulatino e crescente abandono das atividades tradicionais, contribuindo deste modo para resultados muito baixos a nível do desenvolvimento económico, social e cultural. No que diz respeito à evolução demográfica de ambos os concelhos, destacam-se as primeiras perdas populacionais nos princípios do século XX, com as migrações ultramarinas. É nos anos 20 do mesmo século que se regista uma queda generalizada, consequência da epidemia pneumónica de 1919. No período entre os anos 60 e 70, registam-se perdas substanciais como consequência da excessiva pressão demográfica, a par do tipo de intervenção dos serviços florestais nos baldios, num meio onde a produção estava vocacionada para a subsistência. É portanto, neste período, que se dá a diminuição mais drástica da população, devido ao fenómeno emigratório que se acentua com grande intensidade nesta região. A título de exemplo, refira-se que no concelho de Montalegre – o mais afectado, em 1960 a população era constituída por 32.728 habitantes, tendo este número vindo a decrescer, e no início da década de 90, era cerca de metade. Esta situação manteve-se até ao último censo realizado em 2011, com 10.537 habitantes. De início, o fluxo migratório ocorria essencialmente para destinos como o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA), no entanto, nos últimos anos alteraram-se esses destinos para países como a França, a Alemanha e a Suíça. Montalegre sendo um território de fronteira, está fortemente marcado pela emigração para Espanha, nomeadamente para Andorra. Aos fluxos migratórios 249
Terras de Barroso – Origens e Características de Uma Região externos acrescentam-se também os internos para os centros urbanos, especialmente para Braga, onde existem edifícios habitacionais multi-familiares com população exclusivamente do Barroso. Há portanto, uma perda generalizada da população em quase todos os aglomerados populacionais, registando-se uma quebra significativa da taxa de natalidade, uma vez que o envelhecimento dos seus habitantes e residentes foi aumentando. É necessário perante tais adversidades, combater as sequelas da emigração e da desertificação. É assim, importante avaliar a realidade estratégico-política, económica e social dos concelhos da região, actualmente marcados por um número muito reduzido de habitantes, causado também pelas suas dimensões e localização periférica. É importante tomar medidas que procurem cativar e fixar a população, como modernizar as infraestruturas e as estruturas colectivas, tentando mudar as mentalidades. Iniciativas de animação estratégica e económica, entre elas um conjunto de actividades ligadas ao turismo, que passam pelo lazer, nomeadamente ligados ao desporto, pelo religioso, ligados aos valores patrimoniais e naturais, são alguns dos sectores em que se tem investido e apostado com maior acuidade. Eventos como as Feiras do Fumeiro e do Presunto e as Feiras da Vitela, entre outras, ganharam uma grande dimensão e exposição pública, constituindo iniciativas que para além de divulgar e possibilitar a comercialização dos produtos do Barroso, produzidos e criados na região, vieram animar e valorizar o sector hoteleiro. 28 Em relação ao envelhecimento populacional, este traduz-se essencialmente em situações de isolamento face à sociedade exterior, uma vez que muitos idosos se encontram afastados dos centros, vivendo na solidão, especialmente porque os seus familiares mais próximos emigraram. Este abandono, associado ao declínio económico e consequentemente social, às más condições da habitação e da alimentação, ao forte apego à casa e o pouco envolvimento e participação na vida social e cultural, constituem factores que 250
Search
Read the Text Version
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16
- 17
- 18
- 19
- 20
- 21
- 22
- 23
- 24
- 25
- 26
- 27
- 28
- 29
- 30
- 31
- 32
- 33
- 34
- 35
- 36
- 37
- 38
- 39
- 40
- 41
- 42
- 43
- 44
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
- 66
- 67
- 68
- 69
- 70
- 71
- 72
- 73
- 74
- 75
- 76
- 77
- 78
- 79
- 80
- 81
- 82
- 83
- 84
- 85
- 86
- 87
- 88
- 89
- 90
- 91
- 92
- 93
- 94
- 95
- 96
- 97
- 98
- 99
- 100
- 101
- 102
- 103
- 104
- 105
- 106
- 107
- 108
- 109
- 110
- 111
- 112
- 113
- 114
- 115
- 116
- 117
- 118
- 119
- 120
- 121
- 122
- 123
- 124
- 125
- 126
- 127
- 128
- 129
- 130
- 131
- 132
- 133
- 134
- 135
- 136
- 137
- 138
- 139
- 140
- 141
- 142
- 143
- 144
- 145
- 146
- 147
- 148
- 149
- 150
- 151
- 152
- 153
- 154
- 155
- 156
- 157
- 158
- 159
- 160
- 161
- 162
- 163
- 164
- 165
- 166
- 167
- 168
- 169
- 170
- 171
- 172
- 173
- 174
- 175
- 176
- 177
- 178
- 179
- 180
- 181
- 182
- 183
- 184
- 185
- 186
- 187
- 188
- 189
- 190
- 191
- 192
- 193
- 194
- 195
- 196
- 197
- 198
- 199
- 200
- 201
- 202
- 203
- 204
- 205
- 206
- 207
- 208
- 209
- 210
- 211
- 212
- 213
- 214
- 215
- 216
- 217
- 218
- 219
- 220
- 221
- 222
- 223
- 224
- 225
- 226
- 227
- 228
- 229
- 230
- 231
- 232
- 233
- 234
- 235
- 236
- 237
- 238
- 239
- 240
- 241
- 242
- 243
- 244
- 245
- 246
- 247
- 248
- 249
- 250
- 251
- 252
- 253
- 254
- 255
- 256
- 257
- 258
- 259
- 260
- 261
- 262
- 263
- 264
- 265
- 266
- 267
- 268
- 269
- 270
- 271
- 272
- 273
- 274
- 275
- 276
- 277