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1-AUTOBIOGRAFIA - 50 ANOS DE HISTÓRIA - I O ANTIGO REGIME

Published by dvazchaves, 2020-06-03 17:43:55

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65 ANOS DE ESTÓRIAS 1954 – 2020 (AUTOBIOGRAFIA)

Para os meus filhos... João E Luis

Para a minha amiga e companheira...

Para o meu nétinho Tomás...

...para todos os combatentes pela Liberdade e pela Democracia... ...e para aqueles que embora professando diversos credos, religiões e opções políticas…

...enriqueceram com generosidade o legado cultural dos valores universais da Civilização ... … e contribuíram decisivamente para a Libertação do Homem e da causa da Liberdade.

I - O ANTIGO REGIME

Há 65 anos... ... Portugal, era um país pobre e subdesenvolvido, ocupando a agricultura, embora em muitos casos ainda rudimentar, a maior parte da sua população activa.

A indústria e o comércio, localizados junto ao litoral e próximo dos grandes centros urbanos, iniciavam um processo de desenvolvimento. A partir da década de 60, o país, como consequência das guerras em África, fragilizou-se ainda mais e as dificuldades do povo aumentaram!... O analfabetismo era um dado adquirido e os índices culturais e politícos demasiadamente baixos, pouco ajudavam para inverter a situação.

Face à conjuntura interna, Portugal, era também um país isolado do mundo desenvolvido, facto que não impedia os politicos de então, de o considerarem como ... … um jardim à beira mar plantado…

… E nesse país ainda subdesenvolvido, nesse “jardim à beira-mar plantado”, como lhe chamavam... ...havia um garoto. Um garoto, nascido em 3 de Agosto e registado a 16 do mesmo mês, do ano de 1954, na aldeia transmontana de Gralhas, terra fria, do concelho de Montalegre...

… que tal como outros meninos, no aconchego dos seus avós maternos, ali brincava, alheio a tudo, que envolvia a sociedade e o “mundo”. Esse garoto foi crescendo, e como os outros miúdos da sua idade, aos 5 anos, já guardava gado.

Aos 7 foi então para a escola, aprender a ler e a escrever, para mais tarde, como lhe diziam… … saber fazer, contas à vida .

Entretanto com 8 anos e na 2.ª classe da instrução primária, rumou a Lisboa, juntando-se a seus pais que ali trabalhavam. Passou a frequentar a escola pública n.º 18, sedeada na Rua Presidente Arriaga, muito próxima do local de residência dos seus progenitores. Volvido pouco mais de um ano, é transferido para a escola n.º 145, algures no Bairro da Penha de França também em Lisboa, para onde seus pais se haviam mudado. Ali concluíu a 4.ª classe e efectuou o exame de admissão antes de ingressar no Liceu Nacional de Gil Vicente.

Já no 3.º ano nova transferência. Desta vez o destino foi o Externato Liceal de Montalegre, onde permaneceu 2 anos…. … findos os quais, regressou… …de novo a Lisboa.

Uma vez na capital, já mais “maduro” e em contacto com o trabalho, aconteceu a esse garoto, então já um jovem rapazinho… … presenciar uma manifestação de trabalhadores.

As manifestações nesse tempo, eram proibidas, mas os trabalhadores, desesperados ... … continuavam corajosamente a desfilar, por melhores salários.

Durante a manifestação, no outro extremo da rua, o jovem rapazinho, viu também surgir a galope ... … brandindo as espadas, um pelotão de militares da G.N.R. …

… e assustado, observou a onda de violência dos cavalos, derrubando... ...e espezinhando os trabalhadores, homens e mulheres desarmados …

…que continuavam a cantar, corajosa e heroicamente, o hino nacional... …enquanto os militares os agrediam, feriam, e abatiam com as suas espadas …

… o jovem rapazinho, definitivamente marcado pela ocorrência, foi assim aprendendo o significado da repressão política, que grassava no seu país… … ao ver o modo brutal…

…como a polícia agredia...

…prendia as pessoas …

… e sobretudo, como os feridos… … eram atirados para as viaturas políciais, sem dó nem piedade.

Esse rapazinho, a quem a professora Virginia, na escola primária havia ensinado, que o regime político do seu país... … era dirigido pelo senhor presidente do Conselho, o Professor Doutor Oliveira Salazar…

…e que o senhor Presidente do Conselho, era um homem bom e fora colocado no poder pelos ...

… militares, que tinham feito, em 1926, mais uma revolução salvadora e providencial para Portugal...

…e que esses militares tinham sido chefiados pelo general Gomes da Costa, o qual decidira pôr ordem no país…

…mas a quem nunca disse, que o General Gomes da Costa, só teve que repor a ordem, porque a ordem pública ... … fora perturbada por rufias arruaceiros…

… por agitadores, pagos na sua maior parte, pelos monárquicos... ...e pelo clero reaccionário …

…e que essas perturbações da ordem, foram sobretudo apoiadas pela realeza e pelo clero, não só… … português como espanhol…

… e que era uma reacção natural daqueles que se consideravam prejudicados ou ameaçados, pela implantação... … da jovem República Portuguesa em 1910…

A República Portuguesa de 1910

Infelizmente, a revolução de 28 de Maio de 1926, chefiada pelo General Gomes da Costa … … que acabou com a democracia, e dissolveu o parlamento…

…viria a gerar uma ditadura, como vinha preconizando um político da época, ex-seminarista… … e professor na Universidade de Coimbra, chamado António de Oliveira Salazar…

…criatura “iluminada”, que por sugestão do clero reaccionário, foi chamado para o governo… … “ para ajudar a meter o país na ordem” .

Nas escolas, diziam aos jovens, que o Senhor Professor, cuja fotografia ... … estava colocada nas paredes…

…das salas de aula, de todos os estabelecimentos de ensino do país, era do Professor Doutor Oliveira Salazar... … que era um homem muito bom e muito inteligente…

… e que o Senhor Professor, era um homem a quem Portugal tudo devia … porque era Presidente do Conselho de Ministros e porque sacrificava a sua vida, para se dedicar à governação …

… e a quem o povo tudo devia, porque o Dr. Salazar tinha salvo as finanças do país e ainda ... porque tinha salvo Portugal da 2.ª grande guerra .

Mas o jovem, embora ainda miúdo, nunca conseguiu entender muito bem, de que tipo de trabalho falava o Professor … quando nos seus discursos, se referia à glória do trabalho…

... e na prática, a polícia reprimia, prendia, torturava e matava trabalhadores… … que apenas reclamavam direitos e melhores condições de vida.

O jovem, que ía desenvolvendo alguns dotes democráticos e que tinha o seu orgulho na História do país … na grandeza dos seus antepassados, heróicos conquistadores e navegadores, como lhe haviam ensinado na primária…

… também não conseguia entender, como é que ao Dr. Salazar, pessoa tão boa como diziam… lhe faltava tanto a grandeza, que mandava agredir brutalmente…

…o povo indefeso, pela polícia ...

… e tão pouco entendia … … como é que o governo de Salazar, prendia e deportava trabalhadores… … muitos deles, sem julgamento sequer…

...para os campos de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde…

… ou os deportava para o campo de concentração... … de S. Nicolau em Angola, donde nem depois de mortos regressavam…

… porque ficavam lá enterrados…

… nem percebia… … como é que o governo de Salazar pessoa tão boa, como diziam... … mandava a polícia política prender jovens trabalhadores com apenas 15 anos…


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