Mata         Atlântica                       Uma rede pela floresta
Mata Atlântica   Uma rede pela floresta          Organização e ediçãoMaura Campanili e Miriam Prochnow                          2006
Expediente      Mata Atlântica – Uma rede pela florestaRede de ONGs da Mata Atlântica – março de 2006                 Organização e Edição: Projeto Gráfico:Maura Campanili e Miriam Prochnow Ana Cristina Silveira                                                    Textos:   Editoração:       Heloisa Ribeiro, Maura Campanili, Miriam               Globaltec Produções Gráficas Ltda.                         Prochnow e Wigold Schäffer           Revisão:                                                              João de Deus Medeiros, Eliana Jorge Leite                                                      Fotos:               Miriam Prochnow e Wigold Schäffer              Fonte Mapa dos Remanescentes Floresta de                                                              Mata Atlântica, pág. 37                                        Colaboradores:   Textos – Adílio A. V. de Miranda, Alessandro               Fonte: Remanescentes do Rio Grande do Sul à Bahia:                                                              “Atlas da Evolução dos Remanescentes Florestais e     de Paula, Alexandre Krob, Alexandre de M.                Ecossistemas Associados do Domínio da Mata Atlântica M. Pereira, André Lima, André Rocha Ferretti,                no período 1990-95”, Fundação SOS Mata Atlântica,                                                              Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.      Antonio C. P. Soler, Betsey Whitaker Neal,              Remanescentes do Nordeste.   Bruno Machado Leão, César Righetti, Clóvis                 Conservation International, Fundação Biodiversitas e                                                              Sociedade Nordestina de Ecologia – dados organizados       Ricardo Schrappe Borges, Denise Marçal                 para o Workshop “Prioridades para Conservação da     Rambaldi, Djalma Weffort, Gláucia Moreira                Biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste”, 1993.  Drummond, Jean-François Timmers, João de                    Obs: Mapeamento correspondente aos Estados doDeus Medeiros, Juliana Vamerlati Santos, Júlio                Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,    Francisco Blumetti Faço, Ivan Salzo, Kathia               Alagoas e Sergipe.Vasconcellos Monteiro, Kenia Valença Correia,      Lizaldo Vieira dos Santos, Lisiane Becker,              Agradecemos aos autores de textos e                                                              fotografias, gentilmente cedidos, o que        Luis Fernando Stumpf, Marcelo Tabarelli,              tornou este livro uma realidade, e também     Maria das Dores de V. C. Melo, Maria José                às seguintes pessoas: Alessandro Menezes,   dos Santos, Marli Custódio de Abreu, Milson                Armin Deitenbach, Elci Camargo, Enrique dos Anjos Batista, Nely Blauth, Osvaldo C. de                Svirsky, Maria Cecília Wey de Brito e Pedro   Lira, Renato Pêgas Paes da Cunha, Ricardo                  Graça Aranha    Miranda de Britez, Rogério Mongelos, Silvia                                                              Este livro foi viabilizado com recursos        Franz Marcuzzo, Tadeu Santos, Yasmine                 do Projeto “Apoio Institucional da RMA”,                                                   Antonini.  financiado pelo PPG7, através do Banco                                                              Mundial.      Fotos – Arquivo Apremavi, Arquivo CPRH,          Bruno Maciel, Fernando Pinto, Gabriela  Schäffer, Gerson Buss, Leonardo B. Ventorin,         Luiz Szczerbowski, Marcos Burchaisen,       Marcos Sá Corrêa, Nelson Wendel, Paulo            Vasconcelos Júnior, Peter Mix, Rudolf      Hausmann, Vivian Ribeiro Maria, Zig Koch    Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do LivroMata Atlântica – uma rede pela floresta        Organizadores Maura Campanili e Miriam Prochnow        Brasília: RMA, 2006        332p.: il.; 30cm        ISBN: 85-99824-01-5	 1.Mata Atlântica. 2. Florestas Tropicais – Conservação I.Campanili, Maura II. Prochnow, Miriam                                                                       CDD: 333.7
Este livro é dedicado a todas as pessoas que nas mais diversas épocas lutaram e lutam, resistiram e resistem,trabalharam e trabalham, mas acima de tudo amaram e               amam a Mata Atlântica e a vida.
Rede de ONGs da Mata Atlântica                                    Coordenação Geral: Miriam Prochnow (Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto                               Vale do Itajaí - Apremavi/SC)                               Coordenação Institucional:             Kláudio Cóffani Nunes (Instituto Ambiental Vidágua/SP)                                 Coordenação Nacional:titulares - Núcleo Amigos da Terra Brasil-NAT/RS; Associação de Proteçãoao Meio Ambiente de Cianorte-Apromac/PR; Associação Serras Úmidas do             Estado do Ceária-Assuma/CE; Grupo Ambientalista da  Bahia-Gambá-BA; Movimento Popular Ecológico-Mopec-SE; Os VerdesMovimento de Ecologia Social/RJ; Programa da Terra-Proter/SP; suplentes      - Associação Ecológica Canela-Assecan/RS; Centro de Estudos e             Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremos Sul da    Bahia-Cepedes-BA; Ecologia e Ação-Ecoa/MS; Grupo de Estudos de Sirênios, Cetáceos e Quelônios-Gescq/PE; Instituto de Pesquisa da Mata  Atlântica-Ipema/ES; Instituto Sul Mineiro de Estudos e Conservação da   Natureza-ISM/MG; Associação Projeto Roda Viva/RJ; Sociedade Terra   Viva-STVBrasil/RN; Instituto Indigenista e de Estudos Socioambientais                                       Terra Mater/PR.                                      Conselho Fiscal:   Titulares - Sociedade Nordestina de Ecologia-SNE/PE; Associação de     Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar- Apoena/SP; Projeto    Mira-Serra/RS; Suplentes - SOS Natureza/PI; Associação Mineira de   Defesa do Ambiente/MG; Associação Catarinense de Preservação da                                  Natureza-Acaprena/SC.                                            Equipe:   Ana Carolina Lamy (assessora institucional); Bruno de Amorim Maciel (secretário executivo); Carlos Henrique Sobral (assistente administrativo);   Eliana Jorge Leite (assessora administrativa e financeira); Sílvia Franz              Marcuzzo (assessora de comunicação); Alice Watson                                 (estagiária de jornalismo).      SCLN 210 - Bloco C - Salas 207/8, CEP 70862-530,  Brasília, DF.                                         61-3349 9162                                    Site: www.rma.org.br
ApresentaçãoViver na Mata Atlântica é ao mesmo               tempo um privilégio e uma grande        um deles e mostrando através de imagens as coisas               responsabilidade. Privilégio por-       importantes que ainda precisam de proteção.que, apesar de todo o processo de destruição,nela ainda reside uma das maiores riquezas em               Fala das ameaças atuais que rondam a florestabiodiversidade do mundo, sem falar em toda sua         e sua integridade e contra as quais é necessáriabeleza. Responsabilidade porque precisamos ser         uma grande união de forças. Ao mesmo tempo                                                       mostra algumas iniciativas positivas dos váriosextremamente cuidadosos com os preciosos rema- setores: cientistas, empresas, governos e ONGs,nescentes e também dobrar nossos esforços para cada vez mais empenhados em contribuir com arecuperar o que é necessário para podermos garan- proteção e recuperação do bioma.tir não só a sobrevivência do bioma, mas também             São detalhados também alguns conceitosa qualidade de vida dos que nela habitam.              importantes sobre áreas protegidas e processos     O livro Mata Atlântica – Uma rede pela flo-       utilizados para promover o uso sustentável dosresta pretende mostrar um pouco da diversidade         recursos naturais. Apresenta um cadastro dasque existe neste bioma. Não só biológica, da fauna     instituições filiadas à Rede de ONGs da Matae flora, mas também das populações, das cidades,       Atlântica, para ser consultado e servir de subsídiodos diferentes setores, das opiniões. Essa diversida-  para possíveis parcerias em prol da floresta.de está traduzida não só na variedade dos assuntos,mas também na forma e estilos livres que foram              Uma rede pela floresta quer mais do queutilizados na elaboração dos textos, respeitando       tudo chamar a atenção para a necessidade urgentedesta forma a diversidade existente dentro da          de se proteger e recuperar a Mata Atlântica, umprópria Rede de ONGs da Mata Atlântica.                Patrimônio Nacional que precisa estar sob o olharA publicação mostra a grandiosidade do cuidadoso de todos os brasileiros.bioma, um pouco de sua riqueza, o seu processode destruição, a necessidade de conservação, umpouco da sua história e da legislação que a protege.   Miriam ProchnowPassa pelos 17 Estados onde a Mata Atlântica estápresente, falando um pouco da realidade em cada        Coordenadora Geral da RMA
SumárioIntrodução...............................................................................................15Uma explosão de vida...........................................................................17     Fitofisionomias....................................................................................................20     Flora......................................................................................................................23     Fauna....................................................................................................................25     População............................................................................................................26     Água.....................................................................................................................28Os ciclos da destruição.........................................................................31Os estados da Mata Atlântica...............................................................37     Rio Grande do Sul...............................................................................................39     Santa Catarina.....................................................................................................45     Paraná..................................................................................................................58     São Paulo.............................................................................................................77     Rio de Janeiro......................................................................................................87     Minas Gerais..................................................................................................... 107     Espírito Santo....................................................................................................114     Bahia.................................................................................................................. 129     Mato Grosso do Sul......................................................................................... 142     Goiás................................................................................................................. 146     Nordeste............................................................................................................ 149     Piauí................................................................................................................... 152     Ceará................................................................................................................. 154     Rio Grande do Norte........................................................................................ 158     Paraíba.............................................................................................................. 160     Pernambuco e Alagoas: O Pacto Murici........................................................ 162     Sergipe.............................................................................................................. 165Um bioma sem Lei?.............................................................................171A luta pela Preservação.......................................................................177
A voz coletiva da Mata.........................................................................185O que ainda ameaça............................................................................197     Especulação imobiliária.................................................................................. 199    Manejo de espécies ameaçadas..................................................................... 201     Exploração madeireira..................................................................................... 205   Assentamentos rurais...................................................................................... 209   Fumicultura e agricultura insustentável..........................................................211    Grandes empreendimentos............................................................................. 215   Plantio de exóticas............................................................................................ 219   Mineração.......................................................................................................... 221   Sobreposições entre unidades de conservação e populações tradicionais	 224   Tráfico de animais............................................................................................. 226   Carcinicultura.................................................................................................... 227Oportunidade e experiências..............................................................235     Ciência............................................................................................................... 236    Governos........................................................................................................... 242   Iniciativa privada............................................................................................... 249   Organizações Não-Governamentais............................................................... 258   Reserva da Biosfera da Mata Atlântica........................................................... 274Saiba identificar...................................................................................277   Áreas protegidas............................................................................................... 278   Estágios sucessionais..................................................................................... 284     Manejo sustentável.......................................................................................... 285ONGs da Rede......................................................................................289Bibliografia...........................................................................................312
Introdução     Desde que o homem se viu impelido a bus-       gem, desbravando-o. Bravos eram os pioneiros       Introduçãocar novos territórios além das savanas abertas,     que enfrentavam a floresta. Esse modelo dea floresta se constituiu em novo desafio à sua      manejo sequer pode se associar à exploração de     15sobrevivência. Fruto de uma história evolutiva      recursos naturais, já que pouco ou quase nada eradesvinculada da floresta, o homem precisou          aproveitado. O objetivo maior era abrir espaçomanejá-la, já que era mais rápido transformar       para a civilização. A civilidade não se compati-a floresta do que aguardar um distante e incerto    biliza com a floresta, dualismo quase perenizadoprocesso de co-evolução homem-floresta, o que       no paradoxo da evolução humana.de fato nunca ocorreu. Ao dominar o fogo, ainteligência humana se rende ao imediatismo,        Florestas tropicaisprocurando então recriar suas pequenas sava-nas, as clareiras nas florestas. Um pouco mais           A natural inabilidade humana com astarde essa mesma inteligência também criou          florestas fez com que as áreas de florestaso machado, e as savanas foram se ampliando          tropicais se mantivessem quase intactas atémundo afora.                                        passado recente. Historicamente se observa                                                    um paralelo entre grandes civilizações e áreas     Avançando para o norte gelado, a neces-        abertas e, mais recentemente, com áreas desidade vital de calor cria uma nova condição        florestas temperadas, estruturalmente menospropícia ao manejo da floresta: retirar dela o      complexas, portanto mais fáceis de “manejar”.lenho que alimenta as chamas da sobrevivência.      A história nos mostra também que o ciclo deE o homem sobreviveu e evoluiu. As florestas        crescimento e declínio de todas as ditas grandesse mostravam ora como obstáculo, gerando            civilizações associa-se diretamente ao esgota-temeridade e pavor, ora como objeto de certa        mento dos recursos naturais por elas exploradosvalia ao pragmatismo utilitarista.                  de forma predatória. A história trata dos feitos,                                                    ambições e frustrações humanas, a natureza, se     No imaginário humano, a floresta sem-          muito, se insere na história como cenário. Aspre se mostrou como local escuro, perigoso,         florestas tropicais não fugiram a essa regra nadesconhecido, desafiador. Crescemos enquanto        sua “convivência” com os humanos. Mesmo nacivilização, deliberadamente, distanciados da       América do Sul, o último rincão a ser invadidofloresta. Nossos núcleos de convivência, desde      pelo homem, como relata Warren Dean, “os queos primeiros tempos eram ambientes construídos,     tombaram ainda jazem insepultos e os vencedo-desnaturalizados. Por certo a complexidade da       res ainda vagueiam por toda parte, saqueandofloresta, inviabilizando a sensação de domínio e    e incendiando o entulho”. Mais uma vez acontrole, tão essenciais ao animal humano, foi      história da floresta é um relato de exploraçãouma determinante importante nesse processo          e destruição.de intolerância. Destruir a floresta era essencialpara o desenvolvimento das sociedades humanas            No contexto das florestas tropicais, a Matae, mais tarde, com a estabilidade dos primeiros     Atlântica é um exemplo da eficiência destruido-povoamentos, sinônimo também de posse e do-         ra da espécie humana. Há cerca de 65 milhões demínio da terra. O avanço tecnológico propiciou      anos, as angiospermas, que dominam as flores-oportunidades novas, encorajando o homem a          tas tropicais, chegaram ao dossel e, nos últimosavançar a passos largos sobre o território selva-
Introdução  50 milhões de anos, a diversificada teia de vida  uma vez é abruptamente rompida com uma nova            da Mata Atlântica tem evoluído sem a pressão      leva de colonizadores. Aportando suas naus            de grandes transtornos geológicos. Contudo, a     numa costa ampla e exuberante, o colonizador            chegada do homem às planícies sul-americanas      europeu logo colocou a desserviço da floresta            há cerca de 13 mil anos inicia um processo de     toda a sua tecnologia. A eficiência foi tamanha            interferência sem precedentes, mais devastador    que em cinco séculos “manejando” a Mata            do que as próprias “catástrofes” geológicas. Um   Atlântica, com o providencial apoio da meta-            dos resultados mais imediatos, aventa-se, foi     lurgia, o invasor europeu conseguiu subverter            a onda de extinção da megafauna. Na seqüên-       a lógica natural e, num ambiente com todos            cia, avança o homem sobre a floresta, criando     os requisitos necessários para a exuberância,            distúrbios que, de certa forma, se diluíam na     reduziu tudo a “paisagem” e a “espaço”.            efervescência de formas de vida e na magnífi-            ca favorabilidade das condições desse último      João de Deus Medeiros é botânico do Depar-            período interglacial. Isso ajudou a construir o   tamento de Botânica (CCB-UFSC) e do Grupo            mito do “bom selvagem”. Essa condição mais        Pau-Campeche16            Noroeste catarinense — 1928
Uma explosão de vida                                17Uma explosão de      vida
Quando os primeiros euro-                                  peus chegaram ao Brasil,                                  em 1500, a Mata Atlântica                      cobria 15% do território brasileiro,                      área equivalente a 1.306.421 Km2.                      Distribuída ao longo da costa atlântica,                      a Mata Atlântica é composta por um                      conjunto de ecossistemas, que incluem                      as faixas litorâneas do Atlântico, com                      seus manguezais e restingas, florestasUma explosão de vida  de baixada e de encosta da Serra do                      Mar, florestas interioranas, as matas                      de araucárias e os campos de altitu-                      de. Nas regiões sul e sudeste chega a                      atingir a Argentina e o Paraguai. Sua                      região de ocorrência original abrangia                      integralmente ou parcialmente atuais18                    17 estados brasileiros: Alagoas, Bahia,                      Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas                      Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba,                      Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janei-Monte Crista – região de Joinville – SC                      ro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do                      Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo.          incluindo os insetos. No caso dos mamíferos,                      Atualmente, a Mata Atlântica está reduzida a por exemplo, estão catalogadas 261 espécies,                      7,8% de sua área original, com cerca de 102.000 das quais 73 são endêmicas, contra 353 espécies                      Km2 preservados. É o segundo bioma mais amea- catalogadas na Amazônia, apesar desta ser quatro                      çado de extinção do mundo, perdendo apenas para vezes maior do que a área original da Mata Atlân-                      as quase extintas florestas da ilha de Madagascar tica. Existem 620 espécies de aves, das quais 181                      na costa da África.                                são endêmicas, os anfíbios somam 280 espécies,                      Mesmo reduzida e muito fragmentada, a sendo 253 endêmicas, enquanto os répteis somam                      Mata Atlântica ainda abriga mais de 20 mil es- 200 espécies, das quais 60 são endêmicas.                      pécies de plantas, das quais 8 mil são endêmicas,  Aproximadamente 120 milhões de pessoas                      ou seja, espécies que não existem em nenhum vivem na área de domínio da Mata Atlântica. A                      outro lugar do Planeta. É a floresta mais rica do qualidade de vida destes quase 70% da população                      mundo em diversidade de árvores. No sul da brasileira depende da preservação dos rema-                      Bahia, foram identificadas 454 espécies distintas nescentes, os quais mantêm nascentes e fontes,                      em um só hectare.                                  regulando o fluxo dos mananciais d´água que                      Comparada com a Floresta Amazônica, a abastecem as cidades e comunidades do interior,                      Mata Atlântica apresenta, proporcionalmente, ajudam a regular o clima, a temperatura, a umi-                      maior diversidade biológica. Estima-se que no dade, as chuvas, asseguram a fertilidade do solo                      bioma existam 1,6 milhão de espécies de animais, e protegem escarpas e encostas de morros.
Hotspot de biodiversidade      A situação crítica da Mata Atlântica fez    conscientização da sociedade para a pro-                               Uma explosão de vidacom que a organização não-governamental           teção e conservação do bioma. Dentre asConservação Internacional (CI) incluísse o        espécies mais conhecidas estão o mico-leão-      19bioma entre os cinco primeiros colocados na       dourado, o mico-leão-da-cara-dourada, olista de Hotspots, que identifica 25 biorregiões  mico-leão-preto e o mico-leão-da-cara-preta     Flor doselecionadas em todo o mundo, consideradas        (gênero Leontopithecus) e duas espécies de      pau-brasilas mais ricas em biodiversidade e, ao mesmo       muriquis (gênero Brachyteles), maior macacotempo, as mais ameaçadas. Na escolha de           das Américas e também o maior mamíferoum Hotspot, considera-se que a biodiversi-        endêmico do Brasil. Essas espécies têmdade não está uniformemente distribuída ao        ajudado a população do Brasil e do mundo aredor do planeta, ou seja, 60% das plantas e      valorizar e a proteger a floresta. Os muriquisanimais estão concentrados em apenas 1,4%         sobrevivem hoje em alguns remanescentesda superfície terrestre. No Brasil, além da       de Mata Atlântica nos estados da Bahia, Es-Mata Atlântica, também o Cerrado foi incluído     pírito Santo, Minas Gerais e São Paulo e suasna relação da CI.                                 populações não passam de 2.000 animais.      A existência de espécies endêmicas,                                                         Foto: Rudolf Hausmannaquelas que são restritas a um ecossiste-ma específico e, por conseqüência, maisvulneráveis à extinção, é o principal critérioutilizado para escolher um Hotspot. Alémdisso, consideram-se os biomas onde maisde 75% da vegetação original já tenha sidodestruída. Alguns desses biomas possuemmenos de 8% de remanescentes em relaçãoà sua área original, como é o caso da MataAtlântica. Mesmo assim, o bioma contribuimuito para que o Brasil seja o campeão emmegadiversidade do mundo, ou seja, commaior quantidade de espécies de plantas eanimais em relação a qualquer outro país.      Segundo a Conservação Internacional,a Mata Atlântica tem também diversas “es-pécies bandeira”, que simbolizam a regiãoe podem ser utilizadas em campanhas deMicos-leões-dourados
Uma explosão de vida        É também da Mata Atlântica a árvore que                      deu origem ao nome do País, o pau-brasil                      (Caesalpinia echinata). Explorado ao extremo                      para uso como corante e construção de na-                      vios, o pau-brasil praticamente desapareceu                      das matas nativas. Estima-se que cerca de                      70 milhões de exemplares tenham sido envia-                      dos para a Europa. A Mata Atlântica é ainda                      rica em muitas outras espécies de árvores                      nobres e de porte imponente e ímpar, como                      as canelas, o cedro, o jequitibá, a imbuia e o                      pinheiro brasileiro (araucária).                      pau-brasil, espécie que deu                          origem ao nome do país20                    Fitofisionomia                                            Constatou-se que o bioma era muito maior do                                                                           que se pensava, pois até então se considerava Mata                           Apesar de originalmente formar uma floresta     Atlântica apenas a floresta ombrófila densa. Como                      contínua, até recentemente existiam diferentes de-   resultado do encontro, foi definido o conceito                      nominações para a Mata Atlântica. Essas denomi-      de Domínio da Mata Atlântica para as áreas que                      nações eram baseadas em diversos pesquisadores       originalmente formavam uma cobertura florestal                      que agrupavam as formações florestais de acordo      contínua. Após algumas reformulações, essa de-                      com seus próprios critérios de considerações fito-   finição foi reconhecida legalmente pelo Conselho                      fisionômicas e florísticas. Quando a Constituição    Nacional do Meio Ambiente (Conama), em 1992                      Federal de 1988 conferiu à Mata Atlântica o status   e pelo decreto presidencial nº 750 de 1993.                      de Patrimônio Nacional, a definição de quais áreas                      fazem parte do bioma passou a ser preponderante           Além de sua grande extensão territorial,                      para a política de conservação.                      outros fatores geográficos, como a variação de                                                                           altitudes, as diferenças de solo e formas de relevo,                           Para tanto, um seminário com pesquisadores      entre outros, proporcionam cenários extrema-                      e especialistas nos diferentes ecossistemas do       mente variados à Mata Atlântica. Por isso, seu                      bioma, organizado em 1990, pela Fundação SOS         domínio é constituído por diversas formações,                      Mata Atlântica, além de critérios fitofisionômi-     tais como florestas ombrófila densa, ombrófila                      cos, considerou os processos ecológicos entre os     mista, ombrófila aberta, estacional semidecidual,                      diversos ecossistemas, tais como a relação entre     estacional decidual, campos de altitude, além                      a restinga e a mata, o trânsito de animais, o fluxo  de ecossistemas associados, como manguezais,                      de genes de plantas e animais e as áreas de tensão   restingas e brejos interioranos. Diversas ilhas                      ecológica (onde os ecossistemas se encontram e       oceânicas também se agregam ao Domínio da                      vão gradativamente se transformando).                Mata Atlântica.
Floresta ombrófila densa - Mata perenifólia                                                     Floresta(sempre verde), com dossel (“teto” da floresta) de                                                   ombrófilaaté 15 m, com árvores emergentes de até 40 m de                                                      densa no sulaltura. Densa vegetação arbustiva, composta por sa-                                                  da Bahiamambaias arborescentes, bromélias e palmeiras. Astrepadeiras e epífitas (bromélias, orquídeas), cac-                                                  Uma explosão de vidatos e samambaias também são muito abundantes.Nas áreas mais úmidas, às vezes temporariamente                                                      21encharcadas, antes da degradação pelo homemocorriam figueiras, jerivás e palmitos (Euterpe      Floresta ombrófila mista na estação escológicaedulis). Estende-se do Ceará ao Rio Grande do Sul,   da Mata Preta – SClocalizada principalmente nas encostas da Serra doMar, da Serra Geral e em ilhas situadas no litoral                                                   Florestaentre os estados do Paraná e do Rio de Janeiro.                                                      ombrófila                                                                                                     aberta – BA     Floresta ombrófila mista - Conhecida comoMata de Araucária, pois o pinheiro-do-paraná                                                         Floresta(Araucaria angustifolia) constitui o andar superior                                                  estacionalda floresta, com sub-bosque bastante denso. Antes                                                    no Parqueda interferência antrópica, essa formação ocorria                                                    Nacional donas regiões de clima subtropical, principalmente                                                     Iguaçu – PRnos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarinae Paraná, e em maciços descontínuos, nas partesmais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Sulde Minas Gerais (Serras de Paranapiacaba, daMantiqueira e da Bocaina).     Floresta ombrófila aberta - É consideradaum tipo de transição da floresta ombrófila densa,ocorrendo em ambientes com características cli-máticas mais secas. É encontrada, por exemplo,na Bahia, Espírito Santo e Alagoas.     Floresta estacional (decidual e semideci-dual) - Mata com árvores de 25 a 30 m, com apresença de espécies decíduas (derrubam folhasdurante o inverno, mais frio e seco), com consi-derável ocorrência de epífitas e samambaias noslocais mais úmidos e grande quantidade de cipós(trepadeiras). Ocorriam, antes da degradação pelohomem, a oeste das florestas ombrófilas da encostaatlântica, entrando pelo Planalto Brasileiro até asmargens do Rio Paraná. O Parque Estadual doMorro do Diabo e o Parque Nacional do Iguaçuprotegem esse tipo de floresta.
Uma explosão de vida       Brejos interioranos – São áreas de clima                                                           Serras                      diferenciado no interior do semi-árido, também                                                          úmidas em                      conhecidas regionalmente como “serras úmidas”,                                                          Guaramiranga                      por ocuparem primitivamente a maior parte dos                                                           – CE                      tabuleiros e das encostas orientais do Nordeste.                                                                                                                              Campos                           Campos de altitude - Ocorrem em elevações                                                          de altitude                      superiores a 1.800 metros e em linhas de cumea-                                                         no Parque                      das localizadas. A vegetação característica é for-                                                      Nacional de                      mada por comunidades de gramíneas, em certos                                                            São Joaquim                      lugares interrompidas por pequenas charnecas.                                                           – SC                      Freqüentemente nas maiores altitudes ocorrem                      topos planos ou picos rochosos, como no Parque                      Nacional de Itatiaia (localizado entre Rio de Ja-                      neiro, São Paulo e Minas Gerais).22                      Manguezais da região de Itacaré – BA                      Manguezais - Formação que ocorre ao longo                                                                           dos estuários, em função da água salobra produ-                                                                           zida pelo encontro da água doce dos rios com a                                                                           do mar. É uma vegetação muito característica,                                                                           pois tem apenas sete espécies de árvores – menos                                                                           de 1% das registradas na Mata Atlântica –, mas                                                                           abriga uma diversidade de microalgas pelo menos                                                                           dez vezes maior. Essa floresta invisível, revelam                                                                           pesquisadores da Universidade Federal Rural de                                                                           Pernambuco (UFRPE), é capaz de ocupar, com                                                                           cerca de 200 mil representantes, um único centí-                                                                           metro quadrado de raiz de mangue.                           Restinga - Ocupa grandes extensões do                                                              Restinga                      litoral, sobre dunas e planícies costeiras. Inicia-                                                     no Parque                      se junto à praia, com gramíneas e vegetação                                                             Estadual                      rasteira, e torna-se gradativamente mais variada                                                        Paulo César                      e desenvolvida à medida que avança para o in-                                                           Vinhas – ES                      terior, podendo também apresentar brejos com                      densa vegetação aquática. Abriga muitos cactos,                      orquídeas e bromélias. Essa formação encontra-se                      hoje muito devastada pela urbanização.
Flora                                              Orquídeas de restinga                               Uma explosão de vida     O conjunto de fitofisionomias que forma a     de 3,6% do que se estima existir em todo o mun-     23Mata Atlântica propiciou uma significativa diver-  do. No caso das pteridófitas (plantas vascularessificação ambiental, criando as condições adequa-  sem sementes como samambaias e avencas), asdas para a evolução de um complexo biótico de      estimativas apontam para uma diversidade entrenatureza vegetal e animal altamente rico. É por    800 e 950 espécies, que corresponde a 73% doeste motivo que a Mata Atlântica é considerada     que existe no Brasil e 8% do mundo.atualmente como um dos biomas mais ricos emtermos de diversidade biológica do Planeta.             O Museu de Biologia Mello Leitão publicou,                                                   em 1997, estudos desenvolvidos na Universidade     Não há dados precisos sobre a diversidade     Federal do Espírito Santo e da Universidade detotal de plantas da Mata Atlântica, contudo con-   São Paulo, dizendo que na Estação Biológica desiderando-se apenas o grupo das angiospermas       Santa Luzia, município de Santa Teresa (ES),(vegetais que apresentam suas sementes prote-      foram identificadas 443 espécies arbóreas emgidas dentro de frutos), acredita-se que o Brasil  uma área de 1,02 hectare de floresta ombrófilapossua entre 55.000 e 60.000 espécies, ou seja,    densa. Na seqüência, estudos realizados no Parquede 22% a 24% do total que se estima existir no     Estadual da Serra do Conduru, no Sul da Bahia,mundo. Desse total, as projeções são de que a      elevaram este número para 454 espécies de árvo-Mata Atlântica possua cerca de 20.000 espécies,    res por hectare (Jardim Botânico de Nova Iorqueou seja, entre 33% e 36% das existentes no País.   e CEPLAC). Estas descobertas superam o recordePara se ter uma idéia da grandeza desses números,  de 300 espécies por hectare registrado na Amazô-basta compará-los às estimativas de diversidade    nia Peruana em 1986 e podem significar que dede angiospermas de alguns continentes: 17.000      fato a Mata Atlântica possui a maior diversidadeespécies na América do Norte, 12.500 na Europa     de árvores do mundo.e entre 40.000 e 45.000 na África.                                                        Vale ressaltar que das plantas vasculares co-     Apenas em São Paulo, estado que possuía       nhecidas da Mata Atlântica 50% são endêmicas,cerca de 80% de seu território originalmente       ou seja, não ocorrem em nenhum outro lugarocupado por Mata Atlântica, estima-se existirem    no planeta. O endemismo se acentua quando as9.000 espécies de fanerógamas (plantas com         espécies da flora são divididas em grupos, che-sementes, incluindo as gimnospermas e angios-      gando a índices de 53,5% para árvores, 64% parapermas), 16% do total existente no País e cerca    palmeiras e 74,4% para bromélias.                                                   Bromélia
Uma explosão de vida  Fruto e semente do baguaçu                           gustifolia), espécie que chegou a responder por                                                                           mais de 40% das árvores existentes na floresta24                         Muitas dessas espécies endêmicas são frutas     ombrófila mista, hoje reduzida a 1% de sua área                      conhecidas, como é o caso da jabuticaba, que cres-   original. Orquídeas e bromélias também são extra-                      ce grudada ao tronco e aos galhos da jabuticabeira   ídas para serem vendidas e utilizadas em decora-                      (Myrciaria trunciflora), daí seu nome iapoti-kaba,   ção. Plantas medicinais são retiradas sem qualquer                      que significa frutas em botão em tupi. Outras        critério de garantia de sustentabilidade.                      frutas típicas da Mata Atlântica são a goiaba, o                      araçá, a pitanga, o caju e as menos conhecidas            Em um bioma onde as espécies estão muito                      cambuci, cambucá, cabeludinha e uvaia. Outra         entrelaçadas em uma rede complexa de interde-                      espécie endêmica do bioma é a erva mate, maté-       pendência, o desaparecimento de uma planta ou                      ria-prima do chimarrão, bebida bastante popular      animal compromete as condições de vida de várias                      na região Sul.                                       outras espécies. Um exemplo é o jatobá (Hyme-                                                                           naea courbarail). A dispersão de suas sementes                           Muitas dessas espécies, porém, estão            depende que seu fruto seja consumido por roe-                      ameaçadas de extinção. Começando pelo pau-           dores médios e grandes capazes de romper a sua                      brasil, espécie cujo nome batizou o País, várias     casca. Como as populações desses roedores estão                      espécies foram consumidas à exaustão ou sim-         diminuindo muito, os frutos apodrecem no chão                      plesmente eliminadas para limpar terreno para        sem permitir a germinação das sementes. Com                      culturas e criação de gado. Atualmente, além do      isso, já são raros os indivíduos jovens da espécie.                      desmatamento, outros fatores concorrem para o        À medida que os adultos forem morrendo, faltará                      desaparecimento de espécies vegetais, como o         alimento para os morcegos, que se alimentam do                      comércio ilegal. Um exemplo é o palmito juçara       néctar das flores de jatobá.                      (Euterpe edulis), espécie típica da Mata Atlântica,                      cuja exploração intensa a partir da década de 1970   Pau d’alho centenário – Maranguape – CE                      quase levou à extinção. Apesar da retirada sem a                      realização e aprovação de plano de manejo ser                      proibida por lei, a exploração clandestina continua                      forte no País. O mesmo vem acontecendo com o                      pinheiro-do-paraná ou araucária (Araucaria an-
CambacicaFauna                                                                               Segundo levantamento   Uma explosão de vida                                                                              da Conservação Interna-     Dentro da riquíssima fauna existente na                                  cional, a maior parte das    25Mata Atlântica, algumas espécies possuem ampla                                espécies da nova lista pu-distribuição, podendo ser encontradas em outras                               blicada pelo Ministério doregiões, como são os casos da onça-pintada,                                   Meio Ambiente habita aonça-parda, gatos-do-mato, anta, cateto, queixa-                              Mata Atlântica. Do total deda, alguns papagaios, corujas, gaviões e muitos                               265 espécies de vertebra-outros. O que mais impressiona, no entanto, é a                               dos ameaçados, 185 ocor-enorme quantidade de espécies endêmicas, ou                                   rem nesse bioma (69,8%),seja, que não podem ser encontradas em nenhum                                 sendo 100 (37,7%) delesoutro lugar do Planeta. É o caso das 73 espécies de                           endêmicos. Das 160 aves damamíferos, entre elas 21 espécies e subespécies de   relação, 118 (73,7%) ocorrem nesse bioma, sendoprimatas. No total, a Mata Atlântica abriga quase    49 endêmicas. Entre os anfíbios, as 16 espéciesmil espécies de aves, 370 espécies de anfíbios,      indicadas como ameaçadas são consideradas en-200 de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350      dêmicas da Mata Atlântica. Das 69 espécies deespécies de peixes.                                  mamíferos ameaçados, 38 ocorrem nesse bioma                                                     (55%), sendo 25 endêmicas, como o tamanduá-     Mas essa grande biodiversidade não faz com      bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o muriqui,que a situação deixe de ser extremamente grave.      também conhecido como mono-carvoeiro (Bra-A lista das espécies ameaçadas de extinção, pu-      chyteles arachnoides), o maior primata do con-blicada pelo Ibama em 1989, já trazia dados im-      tinente americano e o maior mamífero endêmicopressionantes: Das 202 espécies de animais con-      do território brasileiro.sideradas oficialmente ameaçadas de extinção no           Entre as 20 espécies de répteis ameaçadas,Brasil, 171 eram da Mata Atlântica. A nova lista,    13 ocorrem na Mata Atlântica (65%), sendo 10publicada pelo Ministério do Meio Ambiente em        endêmicas, a maioria com ocorrência restrita aosmaio de 2003, traz dados ainda mais alarmantes:      ambientes de restinga, um dos mais pressiona-o total de espécies ameaçadas, incluindo peixes      dos pela expansão urbana. Estão nessa categoriae invertebrados aquáticos, subiu para 633, sendo     espécies como a lagartixa-da-areia (Liolaemusque sete constam como extintas na natureza.          lutzae), a jibóia-de-Cropan (Corallus cropanii) e                                                     a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).                                                          A verdade é que, em um país onde a biodi-                                                     versidade é pouco conhecida como o Brasil, há                                                     espécies que podem ter sido extintas antes mesmo                                                     de serem catalogadas pelos cientistas e outras que,                                                     ao serem descobertas, entram imediatamente para                                                     a trágica lista das ameaçadas de extinção. São os                                                     casos, por exemplo, do mico-leão-da-cara-preta                                                     (Leontopithecus caissara) e do pássaro bicudi-                                                     nho-do-brejo (Stytalopus acutirostris), ambos                                                     recentemente encontrados por pesquisadores no
Uma explosão de vida  Onça–pintada                                            Além da perda de habitat, as espécies da Mata                                                                         Atlântica são grandes vítimas do tráfico de ani-26                    litoral paranaense, a menos de 200 quilômetros     mais, comércio ilegal que movimenta 10 bilhões                      da cidade de São Paulo, a maior metrópole da       de dólares no Brasil. Segundo as estimativas, em                      América do Sul.                                    cada 10 animais traficados, apenas um resiste às                                                                         pressões da captura e cativeiro. Existe ainda o pro-                           As espécies da Mata Atlântica também são      blema de espécies que “invadem” regiões de onde                      lembradas nas análises mundiais de lacunas de      não são nativas, prejudicando as espécies locais,                      proteção da biodiversidade. O estudo feito pela    seja pela destruição de seu próprio habitat, seja por                      Conservação Internacional, “Análise Global de      solturas mal feitas de animais apreendidos. Um                      Lacunas de Conservação”, apresentado no V          exemplo aconteceu no Parque Estadual da Ilha                      Congresso Mundial de Parques (Durban/África        Anchieta, em São Paulo, onde foram soltas, pelo                      – 2003), constatou que, no mundo, pelo menos       governo, em 1983, várias espécies de animais,                      719 espécies de vertebrados vivem fora dos limi-   entre elas 8 cutias e 5 mico-estrelas, um sagüi                      tes das unidades de conservação existentes e que   natural de Minas Gerais. Sem predadores e com                      outras 943 espécies estão dentro de reservas tão   alimento abundante, essas espécies se multiplica-                      pequenas que seu habitat não pode ser considerado  ram livremente e hoje contam com populações de                      efetivamente protegido. Das 719 espécies sem       1.160 e 654 indivíduos, respectivamente. Como                      proteção, 140 são mamíferos, 233 são aves e 346    conseqüência, cerca de 100 espécies de aves, cujos                      anfíbios. Das 233 espécies de aves consideradas    ninhos são predados por esses animais, foram                      sem proteção, boa parte é da Mata Atlântica.       extintas na ilha.                                                                         População                                                                              Grande parte da população brasileira vive na                                                                         Mata Atlântica, pois foi na faixa de abrangência                                                                         original desse bioma – 15% do território brasilei-                                                                         ro – que se formaram os primeiros aglomerados                                                                                                                                Anta, o                                                                                                                                maior                                                                                                                                mamífero do                                                                                                                                Brasil
urbanos, os pólos industriais e as principais me-     do palmito na floresta. Seu modo de vida, apesar   Uma explosão de vidatrópoles. São aproximadamente 120 milhões de          de eventuais práticas que agridem o ambiente,pessoas (70% do total) que moram, trabalham e         define-se por seu trabalho autônomo, por suase divertem em lugares antes totalmente cobertos      relação com a natureza e pelo conhecimento quecom a vegetação da Mata Atlântica.                    conservam através da tradição.     Embora a relação não seja mais tão evidente,          Conheça um pouco de algumas dessas po-pela falta de contato com a floresta no dia-a-dia,    pulações:essas pessoas ainda dependem dos remanescentesflorestais para preservação dos mananciais e das           Os índios - Quando os portugueses chegaramnascentes que os abastecem de água, e para a regula-  ao Brasil, em 1500, havia cerca de 5 milhões deção do clima regional, entre muitas outras coisas.    índios por aqui. Embora não haja um censo indíge-                                                      na, estima-se que a população de origem nativa e     A Mata Atlântica também abriga grande            com identidades específicas definidas some cercadiversidade cultural, constituída por povos indí-     de 700.000 indivíduos no País, vivendo em terrasgenas, como os Guaranis, e culturas tradicionais      indígenas ou em núcleos urbanos próximos. Issonão-indígenas como o caiçara, o quilombola, o         significa 0,2% da população brasileira. As tribosroceiro e o caboclo ribeirinho. Apesar do grande      que habitavam o litoral (Tamoios, Temininós, Tu-patrimônio cultural, o processo de desenvolvimen-     piniquins, Caetés, Tabajaras, Potiguares, Pataxós                                                      e Guaranis) foram as primeiras a sofrerem com a                                                      chegada dos colonizadores. Os brancos, além de     27                                                      espalhar doenças, usaram os índios como soldados                                                      nas guerras contra os invasores e como escravos.                                                      Muitas etnias foram extintas e as que sobrevive-                                                      ram sofrem as pressões da civilização.                                                           Atualmente, na área de Domínio da Mata                                                      Atlântica, segundo levantamento do Instituto                                                      Socioambiental (ISA), existem 133 terras indí-                                                      genas, das quais 16 ainda estão em processo de                                                      identificação. As demais 117 ocupam 1 milhão                                                      de hectares, porém mais da metade dessa áreaCidade de Taboquinhas, às margens do Rio deContas – BAto desenfreado fez com que essas populações ficas-    Índios Guarani, região das Missões – RSsem de certa forma marginalizadas e muitas vezesfossem expulsas de seus territórios originais.     Essas populações tradicionais têm relaçãoprofunda com o ambiente em que vivem, porquedele são extremamente dependentes. Vivem dapesca artesanal, da agricultura de subsistência,do artesanato e do extrativismo, como a coleta decaranguejos no mangue, ostras no mar e o corte
(539 mil hectares) pertence à                      Terra Indígena Kadiwéu, nos                      municípios de Porto Murtinho                      e Corumbá, no Mato Grosso                      do Sul. As demais são áreas                      muito pequenas, a maior parte                      com menos de 2 mil hectares,                      geralmente insuficientes para                      garantir a sobrevivência ou a                      manutenção do estilo de vidaUma explosão de vida  tradicional indígena. São 27                      terras no Mato Grosso do Sul,                      22 no Rio Grande do Sul, 19                      em Santa Catarina, 18 no Pa-                      raná, 14 em São Paulo, 13 na                      Bahia, seis em Minas Gerais, Caiçaras – sul da Bahia28                    quatro em Alagoas e no Espíri-                       Nhunguara e São Pedro, mas apenas 13 são oficial-                      to Santo, e três na Paraíba e no Rio de Janeiro.     mente reconhecidas pelo Instituto de Terras do Es-                           Os caiçaras - O caiçara, que na língua tupi     tado de São Paulo (Itesp). Outras estão em processo                      quer dizer “armadilha de galhos”, é a herança        de identificação. Um exemplo vivo dessa história                      deixada pelo contato entre o colono e o índio.       é a capela de Ivaporunduva, construída em 1779,                      Mestiços de índios e portugueses, vivem entre o      onde ainda é celebrada a missa afro-católica.                      mar e a floresta, sobrevivendo da pesca, do plantio                      da mandioca e do extrativismo. Assim como as              Nos últimos anos, as populações tradicionais                      florestas e os índios que foram sumindo, a popula-   têm desempenhado um novo papel no cenário                      ção caiçara também está perdendo sua identidade      sócio-político, sobretudo na área de conservação                      e sua cultura, principalmente pela exploração do     ambiental, em virtude do grande conhecimento                      turismo e da especulação imobiliária.                acumulado sobre a biodiversidade, das práticas                                                                           de manejo e também dos movimentos de defesa                           Os quilombolas - São comunidades rurais         de seus modos de vida.                      negras, muitas delas formadas por descendentes                      de escravos remanescentes dos antigos quilombos           Atualmente cresce o número de projetos                      (fundados por escravos fugidos) e que preservam      de desenvolvimento sustentável executados por                      a cultura negra tradicional. Como exemplos da re-    essas comunidades, muitos deles em unidades de                      sistência dessa cultura na Mata Atlântica, pode-se   conservação de uso sustentável como as Reser-                      citar as comunidades do Vale do Ribeira, em São      vas Extrativistas, Áreas de Proteção Ambiental e                                                                           Áreas de Relevante Interesse Ecológico.                      Paulo. Descendentes de escravos desgarrados de       Água                      velhas fazendas do século XVIII, os quilombolas                      têm hoje direito legal à terra que ocupam, graças     Já em 1500 a riqueza de água da Mata Atlân-                      à Constituição de 1988.                              tica foi objeto de observação. Pero Vaz de Cami-                      No Vale do Ribeira, são cerca de 50 comu- nha, em sua carta ao Rei D. Manuel, escrevia:                      nidades como as de Ivaporunduva, Praia Grande, “A terra em si é de mui bons ares...As águas são
muitas, infindas; em tal maneira é graciosa, que,  se confirmou no Brasil pois, com exceção de          Uma explosão de vida querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem  Fortaleza, todas as cidades brasileiras pesquisa- das águas que tem.”                                das dependem em maior ou menor grau de áreas         29                                                    protegidas para o abastecimento.       Atualmente, aproximadamente 120 milhões de brasileiros se beneficiam das águas que nascem       A Mata Atlântica abriga uma intrincada rede na Mata Atlântica e que formam diversos rios que   de bacias hidrográficas formadas por grandes rios abastecem as cidades e metrópoles brasileiras.     como o Paraná, o Tietê, o São Francisco, o Doce, Além disso, existem milhares de nascentes e pe-    o Paraíba do Sul, o Paranapanema e o Ribeira quenos cursos d’água que afloram no interior de    de Iguape. Essa rede é importantíssima não só seus remanescentes.                                para o abastecimento humano mas também para                                                    o desenvolvimento de atividades econômicas,       Um estudo do WWF (2003) constatou que        como a agricultura, a pecuária, a indústria e todo mais de 30% das 105 maiores cidades do mundo       o processo de urbanização do País. dependem de unidades de conservação para seu abastecimento de água. Seis capitais brasileiras        Infelizmente, se Pero Vaz de Caminha vol- foram analisadas no estudo, sendo cinco na Mata    tasse hoje ao Brasil, diria que a quantidade de Atlântica: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Hori-   floresta que ele viu já não existe mais e as águas, zonte, Salvador e Fortaleza. A tendência mundial   conseqüentemente, deixaram de ser infindas.Águas límpidas, cada vez mais raras. Itacaré – BA        Segundo pesquisas realizadas pelo Labo-                                                    ratório de Hidrologia Florestal Walter Emerich,                                                    do Instituto Florestal de São Paulo, existe uma                                                    relação muito íntima entre a quantidade de água                                                    na Mata Atlântica e o estado de conservação da                                                    floresta. Essas pesquisas produziram um dado                                                    inédito sobre o regime hídrico na região de Cunha                                                    (SP): “de toda a chuva que cai na Mata Atlântica,                                                    nesse sítio, ao longo de um ano, 70% abastece as                                                    águas dos rios de forma continuada e permanente.                                                    Isso significa uma alta produção de água pura.                                                    Maior que o aproveitamento da água indicada                                                    em estudos realizados na Floresta Amazônica,                                                    por exemplo, que chega a apenas 50%” (Rocha                                                    & Costa, 1998).                                                         A floresta auxilia no que se chama de regime                                                    hídrico permanente. Com seus vários componen-                                                    tes (folhas, galhos, troncos, raízes e solo), age                                                    como uma poderosa esponja que retém a água da                                                    chuva e a libera aos poucos, ajudando a filtrá-la                                                    e a infiltrá-la no subsolo, alimentando o lençol                                                    freático. Com o desmatamento, surgem problemas                                                    como a escassez, já enfrentada em muitas das                                                    cidades situadas no Domínio da Mata Atlântica.
Uma explosão de vida       Esse também é o principal motivo da neces-           O estudo do WWF aponta também dados                      sidade de se preservar e recuperar a mata ciliar,    econômicos para justificar a adoção dessas reco-30                    que é o conjunto de árvores, arbustos, capins,       mendações, enfatizando que é muito mais barato                      cipós e flores que crescem nas margens dos rios,     conservar as florestas nas áreas de mananciais do                      lagos e nascentes. As áreas nas margens de rios,     que construir centros de tratamento mais com-                      lagos e nascentes onde ocorrem as matas ciliares     plexos para purificar a água poluída. A cidade de                      são consideradas de preservação permanente pelo      Nova Iorque é citada como exemplo: “há décadas                      Código Florestal Brasileiro.                         a administração da cidade optou por purificar a                                                                           água potável filtrando-a naturalmente pelas flo-                           O nome mata ciliar vem de cílios. Assim         restas, a um custo inicial de US$ 1 bilhão a US$                      como os cílios protegem os olhos, a mata ciliar      1,5 bilhão no período de dez anos. É sete vezes                      protege os rios, lagos e nascentes, cobrindo e pro-  mais barato do que os US$ 6 a US$ 8 bilhões                      tegendo o solo, deixando-o fofo e permitindo que     que seriam gastos na forma tradicional de tratar e                      funcione como uma esponja que absorve a água         distribuir água potável, mais US$ 300 a US$ 500                      das chuvas. Com isso, além de regular o ciclo da     milhões anuais em custos operacionais”.                      água, evita as enxurradas. Com suas raízes, a mata                      ciliar evita também a erosão e retém partículas de          Bibliografia, pág. 312                      solo e materiais diversos, que com a chuva iriam                      acabar assoreando o leito dos rios.                  Quedas do Rio Chapecó – SC                           Esse conjunto de árvores, com sua sombra e                      frutos, é muito importante também para a proteção                      e preservação da diversidade da flora e fauna e                      para o equilíbrio do ecossistema como um todo.                           Em toda a Mata Atlântica, muitas matas                      ciliares ao longo de rios, lagos e nascentes foram                      desmatadas e indevidamente utilizadas. As con-                      seqüências dessa destruição são sentidas diaria-                      mente, com o agravamento das secas e também                      das enchentes, o que torna necessária uma urgente                      ação de recuperação.                            As recomendações, apontadas pelo estudo                      do WWF, principalmente para as cidades da Mata                      Atlântica, são a criação de áreas protegidas em                      torno de reservatórios e mananciais e o manejo                      de mananciais que estão fora das áreas protegi-                      das. Embora a legislação restrinja a ocupação                      ao redor de áreas de mananciais, em São Paulo,                      por exemplo, há milhares de pessoas habitando a                      beira de reservatórios como as represas Billings                      e Guarapiranga. Com a degradação dessas áreas,                      as companhias de abastecimento são obrigadas a                      buscar água mais longe, a um custo maior.
Os ciclos de destruição                                      31           Os ciclos dedestruição
Os ciclos de destruição                          A destruição e utilização irracional da                a conservação da biodiversidade. Pelo contrário,                                                             MataAtlântica começou em 1500 com a        sempre agiram objetivando o maior lucro no32                                                           chegada dos europeus. Nestes 500 anos,     menor tempo possível. O mais grave é que essa                                                 a relação dos colonizadores e seus sucessores com      falta de compromisso com a conservação e, muitas                                                 a floresta e seus recursos foi a mais predatória pos-  vezes, até o estímulo ao desmatamento, partiram                                                 sível. No entanto, foi no século XX que o desmata-     dos governos.                                                 mento e a exploração madeireira atingiram níveis                                                 alarmantes. Das florestas primárias, só foi valori-         Em 1850, o Estado de São Paulo tinha 80%                                                 zada a madeira, mesmo assim apenas de algumas          de seu território coberto por Mata Atlântica, os                                                 poucas espécies. Nenhum valor era atribuído aos        outros 20% eram Cerrado e outros ecossistemas.                                                 produtos não-madeireiros e os serviços ambientais      Com a expansão da cultura do café e a indus-                                                 das florestas eram ignorados ou desconhecidos.         trialização, apenas 100 anos depois, em 1950,                                                                                                        restavam somente 18% de Mata Atlântica, mas                                                      Todos os principais ciclos econômicos desde       isso preocupava pouca gente, pois a “fumaça das                                                 a exploração do pau-brasil, a mineração do ouro        fábricas era vista e apreciada como paisagem do                                                 e diamantes, a criação de gado, as plantações de       progresso” (Rocha & Costa, 1998).                                                 cana-de-açúcar e café, a industrialização, a expor-                                                 tação de madeira e, mais recentemente, o plantio       Exploração incentivada                                                 de soja e fumo foram, passo-a-passo, desalojando                                                 a Mata Atlântica.                                           Segundo Newton Carneiro em “Um Pre-                                                                                                        cursor da Justiça Social – David Carneiro e a                                                      Historicamente, os setores agropecuário,          Economia Paranaense”, em 1873 a Companhia                                                 madeireiro, siderúrgico e imobiliário pouco se         Florestal Paranaense, com o objetivo de fazer                                                 preocuparam com o futuro das florestas ou com          propaganda e atrair os importadores europeus,                         Foto: Arquivo Apremavi                                                 Desmatamento em Atalanta (SC) na década de 1940
chegou a cortar em pedaços uma araucária de 33       encontrada num livro escrito em 1930 por F. C.      Os ciclos de destruiçãometros de altura, transportando-a de navio para a    Hoehne. Ao liderar uma expedição, na qualidadeEuropa, onde foi novamente montada em pé, na         de assistente-chefe da seção de botânica e agro-Exposição Internacional de Viena.                    nomia do Instituto Biológico de Defesa Agrícola                                                     e Animal do Estado de São Paulo, Hoehne per-     Um exemplo da forma como o desmatamento         correu de trem a região das matas onde ocorria aera estimulado pode ser encontrado em Relíquias      araucária, nos estados do Paraná e Santa Catarina,Bibliográficas Florestais, que transcreve uma ex-    passando pelas regiões de Curitiba, Ponta Grossa,posição de motivos feita em 1917, pela Comissão      Rio Negro, Mafra, São Francisco do Sul, Portoda Sociedade Nacional de Agricultura, para o         União, além de outras cidades menores, chegandoMinistro da Agricultura, Indústria e Comércio.       a Joinville.A Comissão solicitava ao governo federal e aosgovernadores dos estados que fizessem amplacampanha estimulando o corte de nossas florestaspara exportação ao mercado europeu, depois queterminasse a Primeira Guerra Mundial.     No documento intitulado “O Córte das                                                                33     Mattas e a Exportação das madeiras     brasileiras”, pode-se encontrar o se-           Canário morto em estrada     guinte parágrafo:... “Seria um acto re-     velador de intelligente previsão e muito             Registrou em detalhes a beleza da paisagem,     remunerador aproveitarmos o prazo que           a diversidade da flora, a presença humana e a     nos separa da data em que se celebrará          destruição promovida pela exploração madei-     a paz, para darmos a máxima actividade          reira irracional e pela expansão de pastagens e     à indústria extrativista das madeiras,          agricultura sem nenhum cuidado com o meio     formando por toda a parte, na proxi-            ambiente. Em Três Barras, a caminho de Porto     midade dos nossos portos de embarque,           União, Hoehne descreveu com intensa revolta     avultados stocks de madeiras seccas e           a enorme degradação promovida pela empresa     limpas que serão procuradas com em-             South Brazilian Lumber and Colonisation Comp.     penho e promptamente expedidas por              Ltda., que , em troca da construção de trechos da     bom preço, para o exterior, quando a            estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, recebera     guerra cessar. ...por meio de reiteradas        a concessão para explorar milhares de hectares     publicações feitas na imprensa diária de        de florestas ricas em araucárias e imbuias, numa     todos os municípios, e por outras medi-         extensão de 15 km em cada lado da ferrovia.     das adequadas, estenderia a patriótica     propaganda para todo o paiz...”.     Já no final da década de 1920, podia-se vero resultado perverso das políticas florestais equi-vocadas da época. Uma descrição da irracionali-dade praticada contra a Mata Atlântica pode ser
Toras de                                                                                                                         araucária                                                                                                                         em Serraria,                                                                                                                         Bituruna                                                                                                                         – PR, 1995Os ciclos de destruição34                                                                Acima das reservas                         Hoehne escreveu: “...Alguém disse que         Para entender melhor o processo de destrui-                         o nosso caipira é semeador de taperas,   ção da Mata Atlântica, vejamos alguns dados de                         fabricante de desertos e um inimigo das  um estudo feito no Estado do Paraná na década                         mattas.                                  de 1960. Em 1963, foi realizado o “Inventário do                         ...Assim procederam e continuam agin-    Pinheiro no Paraná” pela Comissão de Estudos                         do as vanguardas da nossa civilização,   dos Recursos Naturais Renováveis do Estado do                         que denominamos pioneiros e desbra-      Paraná (Cerena), em colaboração com a Escola                         vadores do sertão.	                      de Florestas da Universidade Federal do Paraná,                         ...Urge que os governos opponham um      Escola deAgronomia e Veterinária da Universidade                         dique à onda devastadora de madeiras,    Federal do Paraná, Departamento de Geografia,                         que ameaça transformar nossa terra em    Terras e Colonização e Organização das Nações                         um deserto.”                             Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).                         O brasilianista Warren Dean, registra                         que durante uma conferência em Minas          Eis alguns números e conclusões do estudo: em                         Gerais, realizada em 1924, um orador     1963 a área total de florestas no Paraná era de cerca                         disse: “Entre nós é nulo o amor por      de 6.500.000 hectares (em 1995, restavam somente                         nossas florestas, nula a compreensão     1.730.500 ha de florestas primárias e secundárias,                         das infelizes conseqüências que derivam  segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais no                         de seu empobrecimento e do horror que    Domínio da Mata Atlântica – SOS, INPE, ISA);                         resultaria de sua completa destruição.   naquele mesmo ano, a área total com remanescentes                         Fortalecer o sentimento (de conser-      de araucária era estimada em 1.500.000 ha. O es-                         vação) é uma medida de necessidade       tudo estimou em 45.000.000 m3 o estoque total de                         urgente”.
madeira de araucária no Estado do Paraná naquele   papel e pasta mecânica.                            Os ciclos de destruiçãoano. Concluiu que, a continuar o corte anual de         Esses dados mostram claramente que há 403.000.000 m3, a reserva de madeira estaria liqui-                                                     35dada em 15 anos a contar do ano de 1963.           anos já se sabia que a Mata Atlântica vinha sendo                                                   destruída numa velocidade muito maior do que     ...”De acordo com o que ficou de-             a sua capacidade de auto-regeneração. O estudo     monstrado, o desenvolvimento anual            fez sugestões de medidas que deveriam ter sido     das matas remanescentes é muito mais          tomadas naquela época:     baixo do que o corte processado pela     indústria madeireira no mesmo período               ...”A aplicação do Código Florestal     de tempo. Em razão desse desequilíbrio,            (art.16) é uma fórmula justa a ser     uma crise se delineia em futuro muito              considerada pelos poderes estaduais.     próximo. ...A atual indústria madeireira           ...Um dos primeiros passos a dar em     está na realidade baseada num corte                direção à recuperação florestal do Es-     anual de cerca de 10 vezes o incremento            tado é estabelecer reservas florestais,     anual total de madeira, que é de apenas            a fim de manter a cobertura florestal     460.000 m3.”                                       permanente e prover o suprimento ne-                                                        cessário de madeira e matéria-prima     Também ficou demonstrado que, além                 para a indústria de papel e as demais     da Floresta Ombrófila Mista, que vinha             de transformação.... Para o Paraná isto     sendo dizimada pelos madeireiros, as               significa manter reservas de cerca de     florestas estacionais e densas também              3 a 4 milhões de hectares.”     vinham sofrendo uma intensa destrui-     ção: ...”Pode ser feita uma avaliação     da área florestal anualmente destruída     no Estado do Paraná, principalmente     pelos fazendeiros, baseando-se em     fotografias aéreas de 1963 e 1953. Os     cálculos revelaram que anualmente     são destruídos cerca de 250.000 ha de     florestas tropicais.” Área equivalente a     2.500 km2/ano de florestas destruídas.     Em 1965, segundo o Instituto Nacional do      Figueira centenária derrubada durante estudoPinho, havia no Paraná: 1.395 serrarias de pro-    para implantação de linha de transmissão dedução para exportação e consumo local do pinho;    energia elétrica, Lontras – SC278 fábricas de laminados e compensados, 926fábricas de pinho beneficiado, caixas, cabos devassouras, artefatos de lâminas; 256 fábricas demóveis; 188 exportadores de madeira; 932 co-merciantes de madeira; e 94 fábricas de celulose,
Os ciclos de destruição       Como nenhuma das medidas sugeridas foi          públicas a defesa de teses conservacionistas, pelo                         levada a sério, os números de serrarias e empre-     menos até a década de 1970. ROCHA & COS-36                       gos foram diminuindo juntamente com a floresta.      TA (1998) nos dão uma idéia dessa indiferença:                         Isso mostra que houve não apenas uma insusten-       “O homem estava de costas para as florestas e                         tabilidade ambiental na exploração da floresta,      desprezava o conhecimento indígena sobre ela,                         mas também uma completa insustentabilidade           ainda que tivesse adotado a maioria de suas plan-                         econômica e social nessa exploração. Segundo         tas alimentícias, como a mandioca e o milho, e                         estudo da Fundação de Pesquisas Florestais do        a imensidão de frutas que até hoje são fonte de                         Paraná (FUPEF, 2001), restam hoje no Paraná          vitamina e alegria para todos os brasileiros.”                         apenas 0,8% (66.000 ha) de remanescentes de                         floresta com araucária em estágio avançado de             A política do crescimento a qualquer custo                         regeneração. Ambientes intocados são pratica-        adotada pelo Brasil após a Segunda Guerra Mun-                         mente inexistentes.                                  dial teve no pólo industrial de Cubatão, no litoral                                                                              de São Paulo, o seu principal ícone. Os resultados                         Cerco final                                          catastróficos da poluição e da alta concentração                                                                              de gases na atmosfera lançados pelas indústrias                              Warren Dean, no livro “A Ferro e fogo”,         começaram a aparecer na década de 1970, com                              faz um dos relatos mais impressionan-           a população da região sofrendo problemas res-                              tes do processo de destruição da Mata           piratórios e até o nascimento de bebês com má                              Atlântica. As políticas governamentais          formação. Além disso, a chuva ácida desestabi-                              brasileiras tinham como imperativo o            lizou todo o ecossistema da Mata Atlântica nas                              “desenvolvimento econômico” e, já na            encostas da Serra do Mar. Em fevereiro de 1985,                              primeira metade do século XX, havia se          fortes chuvas provocaram enormes deslizamentos                              dado o cerco final à Mata Atlântica.            nas encostas, causando diversas mortes em bairros                                                                              como a Vila Parisi e também atingindo e levando                              “A idéia de desenvolvimento econômico           prejuízos econômicos a diversas indústrias.                              penetrava a consciência da cidadania,                              justificando cada ato de governo, e até de           Mas a destruição da Mata Atlântica não parou                              ditadura, e de extinção da natureza”.           por aí. Nos tempos modernos outros ciclos surgi-                                                                              ram e ainda estão em andamento, continuando a                              Durante a primeira Conferência das Nações       colocar o bioma em risco.                         Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,                         realizada em Estocolmo (Suécia), em 1972, os                         representantes do governo brasileiro deram ao                         mundo um dos mais deploráveis exemplos de des-                         consideração para com o meio ambiente de todos                         os tempos, ao declararem “que venha a poluição,                         desde que as fábricas venham com ela”.                              Não só os governantes desde a época dos                         portugueses, mas a maioria dos brasileiros tam-                         bém sempre foi indiferente à destruição da Mata                         Atlântica, cabendo aos cientistas e algumas figuras                                                                              Desmatamento em região de araucária – SC, 2005
Os estados daMata Atlântica
Os estados da Mata Atlântica  Presente em 17 estados brasileiros, a Mata           perceber que a exploração predatória, mesmo                                       Atlântica que conhecemos hoje é o re-       nos estados de ocupação mais antiga, como São38                                     sultado de diferentes paisagens originais,  Paulo, ocorreu mais intensamente nos últimos 100                              forjadas pelos processos naturais, e também de       anos. O mesmo processo de desmatamento rápi-                              diferentes histórias de ocupação, exploração e       do e descontrolado atingiu estados de ocupação                              manejo, conforme sua localização. Assim, apre-       mais recente, como o Espírito Santo, que passou                              sentar o que aconteceu (e ainda está acontecendo)    três séculos e meio de ocupação portuguesa com                              com o bioma em cada um desses locais é uma           suas florestas praticamente intactas, mas entrou                              forma de entender o todo, a partir da montagem       no século XXI com índices de cobertura vegetal                              de um quebra-cabeça, através da diversidade de       semelhante aos demais estados do bioma.                              informações e até de abordagem dos artigos.                                                                                        Além de mostrar as peculiaridades das fitofi-                                   Escritos preferencialmente por pessoas do       sionomias da Mata Atlântica nos estados, alguns                              próprio estado (ou região, no caso do Nordeste),     textos analisam as condições de cada uma delas,                              cada um dos textos traz enfoques diferentes, mas     as pressões atuais e o que tem sido feito no sentido                              sempre buscando clarear o entendimento sobre         de inverter o processo de destruição. Em geral, os                              como a Mata Atlântica chegou à situação de quase     autores ressaltam que, apesar de haver iniciativas                              extinção em alguns estados, como em Alagoas,         bem-sucedidas de conservação e alguns bolsões                              onde sobraram apenas 6,04% da área original          de recuperação, os ganhos ainda são frágeis e de-                              do bioma, ou então no Piauí, onde restaram ape-      pendentes de políticas públicas ainda incipientes                              nas 0,1% da área original. Também é possível         e vigilância constante da sociedade.                              Árvores petrificadas no município de Mata – RS
Rio Grande do SulParque Nacional dos Aparados daSerraLocalizado no extremo sul do Brasil, na fron-       de liberdade chegaram ao extremo sul do Brasil     Os estados da Mata Atlânticateira do Uruguai e Argentina, o estado do Rio       vindos da Europa.Grande do Sul possui 282.062 km2, população                                                            39de 10.187.798, clima subtropical, relevo com três        Historicamente a base da economia gaú-regiões naturais distintas e dois grandes biomas:   cha é a pecuária e a agricultura, mas hoje asMata Atlântica (no planalto serrano e região lagu-  atividades industriais também têm destaque.nar) e Pampa. Originalmente três grupos indígenas   O Estado é conhecido como celeiro do Brasilocupavam o território gaúcho: o ge ou tapuia, o     em razão da grande produção de soja, trigo,pampeano (Charrua, minuano) e o guarani. Dois       arroz e milho. Entre as atividades industriaisfatores diferem a cultura do Rio Grande do Sul      destacam-se a coureiro-calçadista, alimentícia,dos demais estados do Brasil: a ocupação tardia     metalúrgica e química.do território e a guerras.                                                         Estima-se que em 1500 havia 11.202.705 km2     A ocupação deu-se, principalmente, a partir    (39,70 hectares) com cobertura de vegetação dede 1824 com a chegada de imigrantes alemães em      Mata Atlântica no Estado. Em 1940, a cobertura1875 e com os italianos que se instalaram no Vale   original era de 9.898.536 Km2 (35,08%), masdo Rio dos Sinos e na Serra.                        em menos de 20 anos perdeu-se mais 7 milhões                                                    de hectares dessa vegetação, restando apenas     Os conflitos entre portugueses e espanhóis     2.700.501 Km2 (9,57%). Estudo da Fundação SOSsobre os limites da fronteira no extremo sul do     Mata Atlântica e Instituto Nacional de PesquisasBrasil só se encerraram em 1777 e a definição da    Espaciais (INPE) mostrou que em 1995 havia so-fronteira definitiva hoje correspondente ao Estado  mente 2,69% do território gaúcho com coberturasó aconteceu em 1801. No período entre 1835 e       de remanescentes de Floresta Atlântica. Uma sim-1845, aconteceu a Revolução Farroupilha, que        ples e rápida análise constata que o desmatamentotinha por objetivo proclamar a independência do     ocorrido está estreitamente relacionando com oEstado que não aceitava a subordinação imposta      aumento da área agrícola que ocorreu com a mi-pelo Governo Central. Nessa época, os ideais        gração de colonos e seus descendentes para novas
Os estados da Mata Atlântica  áreas, assim como a mecanização da agricultura.        jerivás, cedros, timbaúvas; no lado continental, re-                              Como em outras regiões, o crescimento popu-            manescentes de matas de restinga. Na região, está40                            lacional e a conseqüente urbanização também            localizada a Reserva Biológica Estadual da Serra                              influenciaram os altos índices de desmatamento.        Geral - na parte alta -, Parque Estadual de Itapeva                                                                                     – na planície - e Reserva Ecológica da Ilha dos                                   O Domínio da Mata Atlântica no Rio Grande         Lobos - no oceano, junto à cidade de Torres.                              do Sul é constituído de floresta ombrófila densa,                              floresta ombrófila mista (floresta com araucária),          Nessa região, predomina o minifúndio, onde                              floresta estacional semidecidual, campos de alti-      a terra é explorada ao máximo, inclusive em áreas                              tude, restinga.                                        de preservação permanente (APPs), com a cultura                                                                                     da banana (nas encostas) e arroz. A urbanização da                                   Nos últimos anos, percebe-se a recuperação        orla marítima para turismo de verão é responsável                              florestal em áreas abandonadas pela agricultura.       pela degradação ou extinção de áreas com mata                              A mecanização e a falta de políticas públicas para     ou vegetação de restinga, banhados e a remoção                              o pequeno agricultor têm levado os produtores          de dunas.                              rurais a abandonar áreas antes usadas para agri-                              cultura, principalmente as encostas de morros.              No planalto gaúcho, encontra-se um dos                                                                                     mais ameaçados ecossistemas da Mata Atlântica:                                   Por outro lado, o desmatamento continua.          a floresta com araucária associada aos campos                              Pequenos produtores continuam a desmatar               de altitude. O pinheiral possui dois andares per-                              para aumento da área “produtiva” ou para lenha,        ceptíveis ao olhar: o andar inferior consiste de                              serrarias continuam a explorar florestas nativas,      árvores baixas, geralmente mirtáceas, sendo o                              empreendimentos de infra-estrutura como es-            andar superior o domínio da araucária (Araucaria                              tradas e barragens são permitidos em área com          angustifolia).                              remanescentes florestais.                                                                                          Nessa região, também restam alguns poucos                              Remanescentes atuais                                   remanescentes da floresta estacional semideci-                                                                                     dual, pequenas manchas de um maciço contínuo                                   No Litoral Norte, encontra-se o principal         que unia Argentina, Paraguai e Brasil. A região                              conjunto de remanescentes da floresta atlântica,       abriga uma das mais belas paisagens do Brasil: os                              mais especificamente de floresta ombrófila densa       cânions do Itaimbezinho e Fortaleza, localizados                              e, do lado atlântico, juncais, campo seco, figueiras,  nos Parques Nacionais deAparados da Serra e SerraRuínas de SãoMiguel dasMissões, já nolimite com oPampa
Rio Camaquãe seusremanescentesflorestaisGeral na divisa do Rio Grande do Sul com Santa         de restinga e formações de dunas paleolíticas e      Os estados da Mata AtlânticaCatarina. No planalto, estão localizadas grandes       floresta estacional semidecidual. Na região, es-áreas com monoculturas de soja, milho e pinus e        tão localizados a Estação Ecológica do Banhado       41plantios menores de batata, alho e repolho, entre      do Taim, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe,outros. Pelas características de relevo, a região tem  ambas com destacado papel na proteção de avesgrande potencial de aproveitamento hidrelétrico,       migratórias, e o Parque Estadual do Delta do Ca-especialmente na bacia do Rio Uruguai, na divisa       maquã (floresta estacional semidecidual). As áreascom Santa Catarina, o que indica mais agressão à       de banhados (alagadas) são tradicionalmente ocu-vegetação nativa. Junto ao Rio Uruguai ocorre a        padas por grandes plantações de arroz ou drenadasfloresta estacional semidecidual, formada por es-      para pecuária. O crescimento urbano aumenta naspécies como a canafístula, que floresce em janeiro     cidades localizadas à beira da Laguna dos Patose fevereiro, a paineira, o alecrim, a canela, o cedro  em razão do turismo de verão. A beleza cênicae o louro, sendo os últimos quase extintos pela ação   da região é única, com a presença de figueirasde madeireiras.                                        centenárias às margens das inúmeras lagoas que                                                       ocorrem nessa área.     Na região serrana, encostas do planalto vol-tadas para o sul, encontram-se remanescentes de             Até 2005, o Rio Grande do Sul era o únicofloresta estacional semidecidual e, nas partes mais    estado brasileiro onde a caça amadora era permi-altas, floresta com araucárias e campos de altitude    tida. Somente nesse ano, uma sentença judiciale, no leste, da floresta estacional semidecidual. É a  suspendeu a temporada de caça que ocorria naregião de colonização alemã e italiana, com áreas      região em razão das aves de banhado, muito vi-de minifúndios intensamente exploradas. É dessa        sadas pelos caçadores.região que vem a maior pressão para a flexibiliza-ção e utilização das áreas de preservação perma-            Outra característica do Estado é o trabalhonente. Os vitivinicultores, por exemplo, usam as       conjunto entre diversas instituições visando a pro-encostas para plantio da uva em grandes parreirais.    teção e recuperação do bioma Mata Atlântica. OA região também apresenta grande urbanização e         Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Matao principal pólo metal-mecânico do Estado.             Atlântica tem atuação ativa com a participação de                                                       Secretarias de Estado, ONGs ambientalistas, repre-     Nas regiões do Litoral Médio e Sul e também       sentantes dos moradores e comunidade científica.no entorno da Lagoa dos Patos (na verdade uma          Desde sua criação, em 1994, esse Comitê mantémlaguna), existem diversos remanescentes da mata        continuadas ações em prol da floresta atlântica.
Os estados da Mata Atlântica       Também o Elo da Rede Mata                              Atlântica tem tido papel relevante                              para congregar e fortalecer as ações                              das ONGs que atuam no bioma. O                              Elo-RS, que atua desde 2002, possui                              coordenação de três entidades, mais                              uma secretaria executiva, uma es-                              trutura de trabalho não existente nos                              demais estados brasileiros.                              Kathia Vasconcellos Monteiro é         Município de São José dos Ausentes                              coordenadora do Núcleo Amigos da                              Terra/Brasil e Nely Blauth é asses-                              sora técnica do Núcleo Amigos da                              Terra/Brasil42                              Campos nativos em São José dos Ausentes
Ações de proteção na Zona Costeira*      Na região do Rio Grande do Sul, até             Muitos diplomas legais foram conquis-    Os estados da Mata AtlânticaUruguai adentro, diversos banhados formam       tados através de processos de participaçãouma imensa zona úmida latino-americana. A       e organização popular em municípios dessa      43Laguna dos Patos, as lagoas Mirim e Man-        zona costeira gaúcha. Em Pelotas, pode-gueira são enormes reservatórios de água        mos citar: a Lei 3835/94, que reestrutura ointeragindo com banhados e marismas. Uma        Conselho Municipal de Proteção Ambientalsingular diversidade de fauna e flora - algu-   (Compam); a Lei 4125/96 que dispõe sobre amas raras, endêmicas e/ou ameaçadas de          criação do Programa Adote Uma Área Verde;extinção - é encontrada nos remanescentes e     a Lei 4336/98, que declara de valor paisagís-ecossistemas associados de Mata Atlântica,      tico e ecológico a Mata do Totó, localizadaque sofrem pelas externalidades oriundas        no Balneário do Laranjal e Barro Duro; a Leidas múltiplas atividades urbanas e também       4354/99, que institui o Código Municipal derurais.                                         Limpeza Urbana (CLU); a Lei 4392/99, que                                                declara como área de interesse ecoturístico      O Centro de Estudos Ambientais (CEA),     a orla da Laguna dos Patos, no municípioorganização ecológica não-governamental,        de Pelotas; Lei 4428/99, que dispõe sobre acom mais de 22 anos de atuação na região,       flora nativa exótica do município de Pelotas;tem priorizado suas ações e projetos em edu-    a Lei 4753/01, que dispõe sobre o Fundocação ambiental e direito ambiental na região,  para a Sustentabilidade do Espaço Municipaltendo como escopo a sustentabilidade das        (Fusem) e a Lei Orgânica Municipal, aindaZonas Úmidas.                                   que de forma tímida.Praia da Guarita em Torres
Os estados da Mata Atlântica  Aves típicas do Rio Grande do Sul44                                  Através de diversos projetos de educa-    letividade da orla da laguna dos Patos, cons-                              ção ambiental, o envolvimento da coletivida-    tituída por moradores (muitos pescadores e                              de tem ajudado a construir noções teóricas e    outros cuja sobrevivência também depende                              resultados práticos de sustentabilidade, com    dos elementos ambientais) e veranistas. A                              inclusão social. Destacamos o Projeto Mar       comunidade local diagnosticou e apontou                              de Água Doce (Promad), desenvolvido em          premissas para projetos e ações, apoiados                              1995 e que recebeu prêmios internacionais;      por uma parceria das ONGs e governo lo-                              Projeto Abrace a Lagoa; movimento “Eu           cal, Ministério do Meio Ambiente e o Fundo                              também Quero a Lagoa Despoluída”; pro-          Nacional do Meio Ambiente. Uma pesquisa                              jetos de educação ambiental desenvolvidos       realizada junto à comunidade destacou a                              juntamente com o Programa Mar de Dentro,        importância da proteção dos banhados e das                              do governo do estado do Rio Grande do Sul,      matas remanescentes da orla, despertando                              atualmente quase extinto pela proposta políti-  uma nova relação para com tais ecossiste-                              ca governante; apoio ao projeto Coletivos de    ma daqueles (agentes socioambientais) que                              Trabalho e atualmente Construindo a Agenda      formam os Núcleos de Educação Ambiental                              21 de Pelotas, o qual encontra-se numa fase     (NEAs).                              de elaboração de projetos para posterior                              execução, caso o governo municipal não          *Antonio C. P. Soler, advogado ambienta-                              comprometa ainda mais sua continuidade.         lista, mestrando em desenvolvimento susten-                                                                              tável (Argentina) e coordenador do Elo-Sul                                    Entretanto, chegou-se a esse módulo       Rede Mata Atlântica pelo CEA.                              depois de várias reuniões públicas com a co-                                                                                     A REDE NO ESTADO: pág. 301                                AMEAÇAS NO RS: págs. 201, 211, 215,                                221 e 223.                                PROJETOS NO RS: págs. 238, 251 e                                264
Santa CatarinaMorro Pelado, em Apiuna                                                                                   Os estados da Mata Atlântica                                                                                                          45Com uma extensão territorial de 95.985 km2, dos     do Estado, compondo assim a cobertura florestalquais 85%, ou 81.587 km2, estavam originalmente     predominante. A Floresta Subtropical da Baciacobertos pela Mata Atlântica, Santa Catarina si-    do Rio Uruguai, ou floresta estacional semideci-tua-se hoje como o terceiro Estado brasileiro com   dual, por sua vez, cobria 9.196 km2, perfazendomaior área de remanescentes da Mata Atlântica,      9,6% da cobertura florestal de Santa Catarina.resguardando cerca de 1.662.000 hectares (16.620    Estima-se ainda em 14,4% (13.794 km2 ) a áreaKm2), ou 17,46% da área original. Registra-se que   de campos e em 0,6% (575 km2) as porções coma área do Estado corresponde tão somente a 1,12%    floresta nebular.do território brasileiro. Esses dados bem ilustrama crítica situação atual da Mata Atlântica.              Da área original de floresta ombrófila densa                                                    restam cerca de 22% (7.000 km2), distribuídos em     De acordo com o Mapa Fitogeográfico do         remanescentes florestais primários ou em estágioEstado de Santa Catarina, a cobertura florestal     avançado de regeneração.Amaior extensão da áreado Estado está subdividida em Floresta Pluvial da   ainda coberta por florestas no Estado é representadaEncosta Atlântica, Floresta de Araucária ou dos     por fragmentos de floresta ombrófila densa.Pinhais e Floresta Subtropical da bacia do RioUruguai. A Floresta Pluvial da Encosta Atlântica,        A floresta ombrófila mista, que se constituíatambém conhecida como floresta ombrófila densa,     na formação florestal predominante do Estado,juntamente com seus ecossistemas associados,        foi alvo de intensa e predatória exploraçãomanguezais e restingas, cobria 31.611 km2 ou        madeireira, estando hoje numa situação extre-32,9% do território catarinense. A Floresta de      mamente crítica. Vários núcleos de floresta om-Araucária, definida como floresta ombrófila mista,  brófila mista são também encontrados na regiãocobria 40.807 km2, ou seja, 42,5% do território     da Floresta Pluvial Atlântica, destacando-se os                                                    núcleos situados nos municípios de Antônio
Os estados da Mata Atlântica  Carlos, São João Batista, Lauro Müller, Sombrio            As matas virgens ou primitivas que consti-                              e Major Gercino.                                      tuíam as grandes regiões cobertas de araucária46                                                                                  foram chamadas por Reitz & Klein (1966) de                                   Afloresta ombrófila mista compõe uma vegeta-     matas pretas. Esses autores, referindo-se à distri-                              ção de ocorrência praticamente restrita à região Sul  buição dessa conífera em Santa Catarina, assim                              do Brasil. Hoje seus remanescentes, extremamente      se expressaram:                              fragmentados, não perfazem 5% da área original                              segundo dados do Ministério do Meio Ambiente               “Originalmente os pinhais mais extensos se                              (2000), ou 3% segundo FUPEF (1978), dos quais         situavam, principalmente, no assim chamado pri-                              irrisórios 0,7% poderiam ser considerados como        meiro Planalto Catarinense, abrangendo as áreas                              áreas primitivas, as chamadas matas virgens.          compreendidas desde São Bento do Sul, Mafra,                                                                                    Canoinhas e Porto União, avançando em sentido                              Mata Preta                                            sul até a Serra do Espigão e Serra da Taquara Verde,                                                                                    continuando em seguida pela Serra do Irani em                                   A floresta ombrófila mista constitui um ecos-    sentido oeste. Em toda essa vasta área, o pinheiro                              sistema regional complexo e variável, abrigando       emergia como árvore predominante, por sobre as                              muitas espécies, algumas das quais endêmicas          densas e largas copas das imbuias, formando uma                              dessa tipologia florestal. É uma floresta tipicamen-  cobertura própria e muito característica. Precisa-                              te dominada pelo pinheiro araucária (Araucaria        mente em virtude dessa cobertura densa e do verde-                              angustifolia), que responde por mais de 40% dos       escuro das copas dos pinheiros, esses bosques são                              indivíduos arbóreos da formação, apresentando         denominados pelos serranos de mata preta.”                              valores de abundância, dominância e freqüência                              bem superiores às demais espécies componentes              A floresta estacional semidecidual original-                              dessa associação.                                     mente ocupava o vale do Rio Uruguai, penetrando                                                                                    profundamente pelos vales dos seus afluentes,                                    Mesmo as extensas áreas contínuas de flo-       como os rios Canoas, Do Peixe, Rancho Grande,                              resta ombrófila mista eram, em alguns pontos,         Jacutinga, Engano, Irani, Chapecó, São Domin-                              interrompidas por manchas de campos naturais, os      gos, Das Antas, Iracema, Macaco Grande e Pepe-                              quais se mostram como remanescentes das altera-       ri-guaçu. Essa tipologia florestal encontra-se hoje                              ções climáticas ocorridas durante o Quaternário.      praticamente extinta. Além dos fatores históricos                                                                                    de pressão, como exploração madeireira e agricul-                              Pinhões: sementes de araucária                        tura, mais recentemente a bacia do Rio Uruguai/                                                                                    Pelotas é também ameaçada com os grandes pro-                                                                                    jetos de aproveitamento hidráulico. No início de                                                                                    2005, estabeleceu-se uma intensa disputa judicial,                                                                                    figurando governo e empreendedores de um lado e                                                                                    ambientalistas do outro, sendo objeto dessa dispu-                                                                                    ta nada menos que 8.000 ha de florestas, uma das                                                                                    derradeiras manchas de floresta ombrófila mista                                                                                    e semidecidual dessa enorme bacia hidrográfica,                                                                                    e que foi simplesmente omitida nos estudos exi-                                                                                    gidos para o licenciamento ambiental da Usina                                                                                    Hidrelétrica de Barra Grande. A barragem de 190
m de altura já está edificada, entre os municípios       De Jaraguá do Sul até as proximidades de        Os estados da Mata Atlânticade Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS).     Ibirama, observa-se uma intensa fragmentaçãoFoi emitida a Licença Ambiental de Operação, o      da floresta ombrófila densa, predominando for-       47que viabilizou a formação do lago, inundando os     mações secundárias nos estágios iniciais e médiosreferidos fragmentos florestais e, muito possivel-  de regeneração. Em toda extensão verifica-se umamente, decretando a extinção de uma espécie da      acentuada redução nas atividades agrícolas, espe-flora brasileira ameaçada de extinção, a bromélia   cialmente nas áreas mais montanhosas, o que temDychia distachya.                                   propiciado a ampliação das áreas de capoeirinhas                                                    e capoeiras. Provavelmente em decorrência doDetalhe da flor da Dyckia distachya                 fenômeno de desruralização, constata-se também                                                    que não mais persistem grandes pressões sobreSituação atual                                      as formações florestais remanescentes. Em toda                                                    extensão desse primeiro trecho, não foram detec-     A situação atual da Mata Atlântica no Es-      tados desmatamentos significativos.tado pôde ser verificada através de um vôo dereconhecimento, realizado em março e abril de            No aspecto qualitativo, contudo, a situação2001, e complementada por diversas inspeções        é preocupante, visto que as formações florestaisde campo realizadas posteriormente. O trabalho      secundárias mostram-se relativamente pobres,foi realizado com o intuito de verificar o grau de  com uma predominância acentuada de algumasconservação de algumas importantes áreas de         espécies arbóreas pioneiras. Em grande extensãoMata Atlântica situada fora das unidades de con-    também se percebe uma vertiginosa proliferaçãoservação no Estado e contou com a participação      de algumas espécies de lianas (cipós) e taquaras,de técnicos do Núcleo Assessor de Planejamento      o que pode estar prejudicando sensivelmente ada Mata Atlântica do Ministério do Meio Am-         continuidade e o ritmo da sucessão secundária.biente (NAPMA), do Comitê Estadual da Reser-        Longos trechos isentos de remanescentes pri-va da Biosfera, do Ibama-DF, da Federação de        mários ou em estágio avançado de regeneração,Entidades Ecologistas Catarinenses (FEEC) e da      seguramente condicionam significativo obstáculoAssociação de Preservação do Meio Ambiente do       à recuperação e à preservação da biodiversidadeAlto Vale do Itajaí (Apremavi). Na primeira etapa   original, acrescentando fatores adicionais de riscodo trabalho foram diagnosticadas áreas situadas     ao processo natural de sucessão secundária.no trajeto entre os municípios de Jaraguá do Sule Abelardo Luz.                                          Nas proximidades dos contrafortes da Serra                                                    Geral, entre os municípios de Trombudo Cen-                                                    tral, Atalanta, Agronômica, Agrolândia, Pouso                                                    Redondo e Mirim Doce, destacam-se os campos                                                    de cultivo agrícola. Os remanescentes florestais                                                    igualmente mostram-se fragmentados, na maior                                                    parte enquadrando-se nos estágios médio e avan-                                                    çado de regeneração, com sinais de acentuada                                                    pobreza qualitativa. A área em questão era ori-                                                    ginalmente coberta pela floresta tropical do Alto                                                    da Serra com predominância de canela-amarela                                                    (Nectandra lanceolata), sapopema (Sloanea
Os estados da Mata Atlântica                                                      Borboleta: um                                                                                  dos indicativos                                                                                  de biodiversidade48                            lasiocoma), tanheiro (Alchornea triplinervea),      Após percorrer-se uma extensa área dominada por                              taquaras (Merostachys multiramea) e carás (Chus-    plantios homogêneos de Pinus elliottii (espécie                              quea sp.). Essa situação degradada torna-se menos   exótica), encontra-se uma formação de floresta                              pronunciada apenas nas áreas das encostas mais      ombrófila mista bastante significativa. Apesar de                              íngremes, onde a vegetação apresenta-se numa        não se constituir exatamente num grande fragmen-                              condição visivelmente melhor.                       to, aproximadamente 9.000 ha, delimitado pelos                                                                                  rios Do Mato e Chapecozinho, o aspecto qualita-                                   Adentrando a região do planalto, área coberta  tivo dessa floresta é destacável. A área encontra-                              originalmente pela floresta ombrófila mista, os     se ainda coberta por uma verdadeira floresta de                              reflexos da excessiva e irracional exploração ma-   araucária, a chamada Mata Preta, com indivíduos                              deireira das espécies arbóreas dessa tipologia são  de acentuado vigor e distribuídos em abundância,                              evidentes. A fisionomia florestal predominante foi  formando o característico dossel que sombreia um                              substituída, em sua maior parte, pelas pastagens    rico sub-bosque igualmente denso e diversificado.                              e reflorestamentos homogêneos com espécies          No contexto atual, esse remanescente florestal re-                              exóticas. Os raros remanescentes florestais na-     veste-se de inestimável valor biológico. A crítica                              tivos são de reduzida dimensão, encontram-se        situação da floresta ombrófila mista, evidenciada                              isolados e com evidentes alterações estruturais.    em toda a sua área de ocorrência natural e, desta-                              A predominância de algumas espécies heliófilas      cadamente, a gravíssima condição da araucária são                              pioneiras, com aparente proliferação invasiva de    elementos que destacam a importância de se prover                              taquaras (Merostachys multiramea), e o reduzido     uma proteção legal efetiva para esses derradeiros                              número de indivíduos de Araucaria angustifolia,     remanescentes, traduzida com a criação do Parque                              praticamente restritos a exemplares isolados ou     Nacional das Araucárias. Avaliações da estrutura                              em pequenos agrupamentos de indivíduos de com-      genética das populações de Araucaria angustifolia                              pleição inferior, caracterizam a vegetação atual.   nesses fragmentos têm mostrado elevados índices                                                                                  de endogamia e a ocorrência de alelos exclusivos                                   Somente na altura dos municípios de Ponte      em todos os fragmentos florestais analisados.                              Serrada e Passos Maia, ao longo da Serra do Cha-                              pecó, encontra-se uma mudança nesse quadro.
O grau de fragmentação e degradação florestal   dos motivos da revisão na citada Instrução Nor-na maior parte da região oeste do estado de SantaCatarina é alarmante. A dimensão dos fragmentos      mativa: uma operação do Ibama-SC detectou queremanescentes e o acentuado grau de isolamento aque ficam submetidos conduzem, inexoravelmente,      100% das áreas notificadas para corte de árvoresa um processo de empobrecimento e degradaçãobiológica iminente. A busca de estratégias que pos-  plantadas não apresentavam qualquer indício desam estimular os proprietários rurais ao engajamen-to num processo de recrutamento, enriquecimento      plantio florestal.e conexão dos fragmentos remanescentes é medidaque poderia ainda alimentar uma expectativa de mi-   De um modo geral, pode-se afirmar que natigação do grande impacto já perpetrado sobre essascomunidades florestais. Urgente também se faz a      maior parte do terreno situado a oeste da Serraadoção de medidas visando a recomposição dasmatas ciliares, formações de relevante importância   Geral predomina uma cobertura florestal exces-e que igualmente foram literalmente dizimadas.                                                     sivamente fragmentada. Constata-se, por outro        Os estados da Mata Atlântica     Na porção norte do município de AbelardoLuz, observa-se a ocorrência de outra área coberta   lado, algum avanço nos processos de regeneraçãopor floresta de araucária, contudo o sub-bosquenessa formação já mostra sinais de intensa ativi-    natural, com expansão das capoeiras, tipificandodade antrópica. Outros fragmentos próximos sãoigualmente relevantes, ainda que a extração de       estágios iniciais e médios de regeneração. Des-árvores de araucária praticamente tenha eliminadoessa espécie da floresta. Persiste o sub-bosque,     tacam-se na paisagem as extensas áreas cobertassobre o qual são claros os sinais da continuidadedo processo de exploração madeireira. Este con-      pelos plantios homogêneos de essências exóticas,junto de fragmentos passou a compor a EstaçãoEcológica da Mata Preta.Até meados de 2004, essa     notadamente Pinus sp., plantios esses que tambémexploração não poupou sequer as espécies amea-çadas de extinção. Mais de 1.000.000 de árvores      se alastram de forma vertiginosa por sobre as áreasde Araucaria angustifolia foram derrubadas, coma prosaica notificação de corte de árvore plantada   de campos naturais. Recentemente um projetoprotocolada nos escritórios do Ibama. A edição daInstrução Normativa MMA Nº 8, de 24 de agosto        de lei foi apresentado na Assembléia Legislativa     49de 2004, revogando a Instrução Normativa MMA         procurando regulamentar o plantio de florestasnº 1/2001, foi comemorada pela comunidadeambientalista de Santa Catarina. Essa medida foi     com espécies exóticas no Estado. O PL foi barradodecisiva para estancar um escandaloso processo dedepredação das florestas catarinenses, promovido     na Comissão de Constituição e Justiça e, “provi-por madeireiros inescrupulosos e devidamenteacomodado no atraso da burocracia estatal. Um        dencialmente”, arquivado. Por outro lado, o órgão                                                     ambiental do Estado (Fatma) vem implementando                                                     a expedição de “autorizações de corte”, invaria-                                                     velmente caracterizando as áreas como detentoras     Floresta com                                                                                                          araucárias                                                     de vegetação em “estágio inicial de regeneração”.                                                     Em muitas dessas áreas autorizadas, a ação de em Ponte                                                                                                          Serrada
                                
                                
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