INTRODUTÓRIO CURSO CIÊNCIAS DA LONGEVIDADE HUMANA Professor Ítalo Rachid SÃO PAULO
Grupo Longevidade Saudável Academia Longevidade Saudável Diretor Científico: Dr. Ítalo Rachid 3ª. Edição 2020 Rachid, Ítalo – Introdutório Ciências da Longevidade Humana – Academia Longevidade Saudável, São Paulo, 2019. (Em processo de catalogação)
Sumário INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 12 1ª PARTE: LONGEVIDADE HUMANA E HORMONOLOGIA................................................................... 16 1. LONGEVIDADE HUMANA – NOVOS PARADIGMAS.............................................................................17 1.1 Uma visão global da nova ordem mundial.................................................................................17 1.2 Mudança de paradigmas.................................................................................................................... 18 1.3 Benefício financeiro da longevidade saudável........................................................................20 1.4 Considerações socioeconômicas da longevidade saudável.............................................. 21 1.5 A visão de uma nova realidade.......................................................................................................23 1.7 Os fundamentos da medicina da longevidade humana......................................................28 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................34 2. EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO MUNDIAL........................................................................35 2.1 O que é envelhecimento mundial? ................................................................................................35 2.2 A relevância do envelhecimento mundial ................................................................................35 2.3 As forças que estão sob o envelhecimento mundial? ..........................................................36 2.3.1 Redução da fertilidade ...................................................................................................................37 2.3.2 Aumento da Longevidade...............................................................................................................38 2.3.3 Aposentadoria antecipada............................................................................................................38 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................39 3. IMPACTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DO ENVELHECIMENTO.......................................40 3.1 A dimensão do desafio do envelhecimento mundial.............................................................40 3.2 O envelhecimento mundial e a economia...................................................................................40
3.3 Envelhecimento mundial e os mercados financeiros........................................................... 41 3.4 O envelhecimento mundial e os mercados de trabalho....................................................... 41 3.5 O envelhecimento mundial e a família........................................................................................42 3.6 O envelhecimento mundial e a política.......................................................................................42 3.7 O envelhecimento e a ordem mundial..........................................................................................43 3.8 Novas estratégias para um mundo que envelhece................................................................44 3.9 Como envelhecer com graça e prudência..................................................................................46 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................ 47 4. O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA.......................................................................48 4.1 Análise do cenário populacional....................................................................................................48 4.1.1 Primeiro, as más notícias................................................................................................................49 4.1.2 Depois, as boas notícias...................................................................................................................50 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................ 51 5. AS TEORIAS DO ENVELHECIMENTO........................................................................................................ 52 5.1 Teoria do uso e do desgaste............................................................................................................... 52 5.2 Teoria da velocidade e intensidade do uso................................................................................54 5.3 Teoria do acúmulo de dejetos........................................................................................................... 55 5.4 Teoria das ligações cruzadas...........................................................................................................54 5.5 Teoria dos radicais livres................................................................................................................... 58 5.6 Teoria do sistema imunológico....................................................................................................... 59 5.7 Teoria dos erros e reparos.................................................................................................................60 5.8 Teoria da ordem e desordem............................................................................................................63 5.9 Afinal, por que envelhecemos?........................................................................................................ 65
EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................66 6. INTRODUÇÃO GERAL AOS HORMÔNIOS............................................................................................... 67 6.1 Aspectos gerais....................................................................................................................................... 67 6.2 Definições................................................................................................................................................... 67 6.3 Funções.......................................................................................................................................................68 6.4 Mecanismos de ação............................................................................................................................. 74 6.4.1 Transcrição e translação................................................................................................................ 75 6.4.2 Interação hormônio-receptor...................................................................................................... 76 6.4.3 Atividade mediada pelo cAMP..................................................................................................... 76 6.4.4 Kinases..................................................................................................................................................... 76 6.5 Outros mecanismos de ação hormonal....................................................................................... 78 6.6 Transmissão de informação............................................................................................................ 78 6.6.1 Comunicação parácrina................................................................................................................. 78 6.6.2 Comunicação autócrine (Eicosanoides)..................................................................................79 6.6.3 Comunicação intrácrine.................................................................................................................79 6.6.4 Comunicação neurócrina..............................................................................................................79 6.6.5 Autacoide...............................................................................................................................................79 6.7 Outros modos de transmissão de informação.........................................................................79 6.8 Homeostase e Steady State...............................................................................................................80 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................ 81 7. FISIOLOGIA DO EIXO HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIO-GONADAL............................................... 82 7.1 Aspectos gerais........................................................................................................................................ 82
EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................84 8. ESTEROIDOGÊNESE........................................................................................................................................ 85 8.1 Lipoproteínas e colesterol.................................................................................................................. 85 8.2 Noções gerais...........................................................................................................................................86 8.3 Enzimas envolvidas.............................................................................................................................. 87 8.4 Proteínas reguladoras do colesterol............................................................................................84 8.5 Síntese hormonal...................................................................................................................................89 8.6 Aromatização.......................................................................................................................................... 91 8.7 Reações finais........................................................................................................................................... 91 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................92 9. FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO HORMONAL..............................................................................93 9.1 Considerações gerais............................................................................................................................93 9.2 Sono e envelhecimento........................................................................................................................ 95 9.3 Ritmo neuroendócrino e envelhecimento..................................................................................96 9.4 Declínio hormonal e envelhecimento...........................................................................................97 EXERCITANDO E REFLETINDO........................................................................................................................98 10. HORMÔNIOS OU REMÉDIOS?...................................................................................................................99 2ª PARTE: DIRETRIZES PARA A UTILIZAÇÃO DE HORMÔNIOS HOMÓLOGOS HUMANOS POR MÚLTIPLAS ESPECIALIDADES MÉDICAS NA PRÁTICA CLÍNICA........................................ 104 1. DIRETRIZES PARA A UTILIZAÇÃO DE HORMÔNIOS HOMÓLOGOS HUMANOS POR MÚLTIPLAS ESPECIALIDADES MÉDICAS NA PRÁTICA CLÍNICA ................................................. 105 1.1 Introdução................................................................................................................................................105 1.2 Descrição do método de coleta de evidência...........................................................................105
1.3 Grau de recomendação e força de evidência..........................................................................105 1.4 Objetivos...................................................................................................................................................106 1.5 Conflito de interesse............................................................................................................................106 2. DECLÍNIO GONADAL FEMININO.............................................................................................................107 2.1 Quadro clínico........................................................................................................................................107 2.2 Quadro laboratorial...........................................................................................................................107 2.3 Janela terapêutica..............................................................................................................................107 2.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial..............107 2.5 Consenso da SOBRAF para o tratamento hormonal do Declínio Gonadal feminino..108 2.6 Conclusão das diretrizes..................................................................................................................108 3. DECLÍNIO ANDROGÊNICO MASCULINO.............................................................................................. 111 3.1 Quadro clínico........................................................................................................................................ 111 3.2 Quadro laboratorial........................................................................................................................... 111 3.3 Janela terapêutica.............................................................................................................................. 111 3.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico laboratorial............. 111 3.5 Diretrizes da SOBRAF para o tratamento hormonal do declínio androgênico masculino.....112 3.6 Conclusão das diretrizes.................................................................................................................. 112 4. INSUFICIÊNCIA DO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO....................................................................... 114 4.1 Quadro clínico........................................................................................................................................ 114 4.2 Quadro laboratorial........................................................................................................................... 114 4.3 Janela terapêutica.............................................................................................................................. 114 4.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial............ 114
4.5 Diretrizes da SOBRAF para o tratamento hormonal da insuficiência do hormônio do crescimento....................................................................................................................................................115 4.6 Conclusão da diretrizes.................................................................................................................... 116 5. INSUFICIÊNCIA TIREOIDEANA................................................................................................................. 117 5.1 Quadro clínico........................................................................................................................................ 117 5.2 Quadro laboratorial........................................................................................................................... 117 5.3 Janela terapêutica.............................................................................................................................. 117 5.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial............ 117 5.5 Diretrizes da SOBRAF para o tratamento hormonal da insuficiência tireoidiana......... 118 5.6 Conclusão das diretrizes.................................................................................................................. 119 6. DESREGULAÇÃO DO EIXO HPA................................................................................................................120 6.1 Quadro clínico........................................................................................................................................120 6.2 Quadro laboratorial...........................................................................................................................120 6.3 Janela terapêutica..............................................................................................................................120 6.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial............120 6.5 Diretrizes da SOBRAF para o tratamento hormonal da desregulação do eixo HPA...121 6.6 Conclusão das diretrizes..................................................................................................................121 7. INSUFICIÊNCIA CORTICAL RETICULAR................................................................................................122 7.1 Quadro clínico................................................................................................... 122 7.2 Quadro laboratorial............................................................................................................................122 7.3 Janela terapêutica...............................................................................................................................122 7.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial.............122 7.5 Diretrizes da SOBRAF para a suplementação hormonal da insuficiência cortical reticular............123
7.6 Conclusão das diretrizes..................................................................................................................124 8. INSUFICIÊNCIA EPIFISÁRIA......................................................................................................................126 8.1 Quadro clínico........................................................................................................................................126 8.2 Quadro laboratorial...........................................................................................................................126 8.3 Janela terapêutica..............................................................................................................................126 8.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial............126 8.5 Diretrizes da SOBRAF para o tratamento hormonal da insuficiência epifisária.....127 8.6 Conclusão das diretrizes..................................................................................................................128 8. INSUFICIÊNCIA DO HORMÔNIO D..........................................................................................................130 8.1 Quadro clínico........................................................................................................................................130 8.2 Quadro laboratorial...........................................................................................................................130 8.3 Janela terapêutica..............................................................................................................................130 8.4 Observações complementares acerca do diagnóstico clínico-laboratorial............130 8.5 Diretrizes da SOBRAF para a suplementação do hormônio D............................................130 8.6 Conclusão das diretrizes..................................................................................................................132 9. REFERÊNCIAS..................................................................................................................................................133 10. REFERÊNCIAS ESPECIAIS........................................................................................................................135 ANEXO 1 – NÍVEIS ÓTIMOS..................................................................................................................... 236 ANEXO 2 – ROTEIRO PARA CASOS CLÍNICOS.................................................................................. 244
Curso Ciências da Longevidade Humana INTRODUÇÃO Reflexões sobre um novo modelo de medicina Em geral, as pessoas costumam procurar o médico apenas quando estão doentes ou ao manifestarem sinais ou sintomas de que algum problema pode estar ameaçando a sua saúde. A medicina tradicional será sempre muito importante para atender às necessi- dades dos enfermos, feridos e dos que têm doenças graves, geralmente referidas como doenças agudas. Mais de dois terços de todo orçamento dos sistemas de saúde é usado durante os últimos dois anos de vida das pessoas, por estarem acometidas com as chamadas enfermidades e condições próprias da velhice. Nos Estados Unidos, existe um contingente atual de mais de cento e dez milhões de pessoas submetendo-se a algum tipo de tratamento e tomando diariamente um ou mais medicamentos para controlar ou atenuar os sintomas daquelas condições, gerando um custo anual estratosférico de quase um trilhão de dólares. Se continuarmos a utilizar apenas o modelo curativo de medicina, a projeção é de que dentro de duas décadas o sistema de saúde da nação mais rica do planeta estará completamente falido. Isto faz sentido? Não é muito mais difícil atingir o estado ótimo de saúde depois que estamos acometidos de enfermidades? Não é muito mais difícil aguardar passivamente até que a saúde esteja ameaçada, para, só então, tratarmos de fazer reparos e consertos? É muito mais oportuno e eficaz voltarmos os esforços para a prevenção e detecção precoce das doenças, permitindo maiores chances de vivermos com mais plenitude e vigor, além de produzir custos menores aos sistemas prove- dores de saúde. A definição tradicional da palavra saúde é: “ausência de doenças”. Desta forma, as pessoas esperam a chegada de sinais e sintomas para perceberem que algo está errado, e, só então, buscarem ajuda para tratar doenças que, na verdade, já haviam de maneira sorrateira e silenciosa se instalado. Saúde deve ser compreendida como um conceito muito mais profundo e universal do que simplesmente “não adoecer”. Saúde é um estado positivo, um estado ótimo, um estado no qual as nossas capacidades, sentidos e metabolismo encontram-se em um nível máximo de atividade. 12
www.longevidadesaudavel.com.br Esses conceitos são muito mais lógicos e abrangentes do que simplesmente “ausência de doenças”. Significa que corpo, mente e energia estão harmonizados no máximo potencial, permitindo que cada segundo seja pleno e glorioso, e a vida repleta de paixão e entusiasmo! É chegado o momento de revermos paradigmas e deixarmo-nos envolver por uma nova forma de pensar e praticar medicina. Já adentramos em uma nova era em que o médico terá a sua capacidade reconhecida não mais pela forma com que trata ou controla os sintomas das doenças, e sim pela habilidade e prontidão com que recorre a novas técnicas e conhecimentos que ajudem a manter pessoas saudáveis. O mundo experimenta o que podemos chamar de pandemia do envelheci- mento, implicando em enormes custos biopsicossociais. A expansão da longevi- dade humana não está sendo acompanhada da melhoria da qualidade de vida. Pessoas envelhecem e perdem, concomitantemente, a inalienável prerrogativa de permanecerem saudáveis. O resultado é um processo de envelhecimento associado a uma gradual e cumulativa perda da capacidade funcional e da qualidade de vida. Se não for adotada uma política global fortemente alicerçada na prevenção e detecção precoce de ameaças potenciais à saúde, que propicie uma vida com melhor qualidade, em breve, teremos uma população global cada vez mais velha e doente, com a consequente quebra dos sistemas de saúde. Mais de um terço da população americana faz uso diário de algum tipo de medicamento. Cerca de 52% deles irão desenvolver Demência de Alzheimer após ultrapassarem os 80 anos. Essa situação se torna alarmante ao considerarmos que três entre quatro americanos nascidos hoje irão atingir os cem anos de idade. São projeções preocupantes. O Brasil já está inserido no contexto desta nova realidade. Segundo o IBGE, a população que tem mais de 65 anos no Brasil cresce 25 vezes mais rápido do que a população jovem, que tem até 19 anos. Considerando-se em números absolutos, a população de jovens tem crescido a uma média de 3%, enquanto que a de velhos, 68%. A expectativa de vida hoje no Brasil é de 71,6 anos, com uma margem de sobrevida maior ainda se considerarmos apenas as mulheres. Isso acarreta uma mudança significativa na distribuição da força de trabalho. Na década de 1970, tínhamos 38 trabalhadores para um aposentado, enquanto que, na atualidade, estima-se 6 trabalhadores para cada aposentado. Cada vez teremos menos gente jovem para pagar um número maior de aposentadorias dos mais velhos. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 13 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana Essa já é uma realidade atual nos países desenvolvidos: as pessoas deixam de trabalhar em média cinco anos mais cedo, enquanto a taxa de natalidade vem caindo assustadoramente. O pior é que esse grupo populacional não é saudável. Hoje sabe-se, por exemplo, que 83% da população de brasileiros é sedentária, 60% está acima do peso, 23% é obesa e 29%, hipertensa. Tudo isso significa que os critérios da medicina social e das políticas públicas de saúde deverão ser repensados e reavaliados. A ênfase não pode mais ser apenas na cura, que é muito dispendiosa. Temos de priorizar a medicina da saúde. É claro que não podemos prescindir da medicina curativa, porém, para lidar com essa nova realidade, é necessária a implantação de um modelo de maior abrangência que assegure chances maiores de uma vida saudável. E a concreção desse objetivo passa, necessariamente, pela capacitação e preparação do médico, dotando-o de outras habilidades e conhecimentos que o permitam responder adequadamente à esta nova realidade. O médico não pode mais ser apenas tratador de doenças. No contexto desses novos cenários, ele tem que ser, prioritariamente, um tratador de saúde. Na busca do atingimento desse nobre objetivo insere-se este curso, que se propõe complementar à formação do médico, contribuindo para rever e modificar antigas crenças, uma vez que as suas bases estão alicerçadas na compreensão da fisiologia humana. Dessa forma, o curso foi concebido com o intuito de fornecer ao médico uma visão multidisciplinar da fisiologia, capacitando-o a incorporar novos conheci- mentos e aplicá-los na sua prática diária, qualquer que seja a natureza da sua especialidade primária. › A medicina da longevidade humana Este modelo de conceber e promover saúde nasceu no início dos anos 1990 nos Estados Unidos. No primeiro encontro estiveram presentes doze médicos, que pensaram em conceituar e promover saúde de forma diferente. Ao invés de aguardar passivamente pelo sinal, pelo sintoma ou pelas doenças, imaginaram que seria possível adotar uma estratégia diferente, a partir da qual a prioridade seria intervir ativamente antes da manifestação das patologias. A ideia era atuar nas causas, ao invés de controlar ou minimizar as conse- quências. Foi este cenário que serviu de berço para o desenvolvimento de uma nova forma de promover saúde, que alia os novos conhecimentos nas áreas de biotecnologia, genética, nanotecnologia, fisiologia das mitocôndrias, fisiopato- logia da inflamação subclínica e hormonologia. 14
www.longevidadesaudavel.com.br A proposta é exercer permanente vigilância e otimizar os parâmetros metabó- licos com o intuito de manter elevadas as capacidades de restauro e reparo celulares. Esse modelo não se propõe parar o tempo, e sim reduzir as chances de danos e disfunções, contribuindo para uma vida mais plena, saudável e funcional. Um outro aspecto relevante, é que o modelo, inicialmente concebido para melhorar a qualidade do envelhecimento, expandiu-se, tem sofrido contínuo aperfeiçoamento, abriu um vasto leque de oportunidade de intervenções em várias fases da vida, e é hoje universal, objetivando promover qualidade de saúde em qualquer etapa da vida humana, desde a preconcepção até a senes- cência. Essa forma de conceber saúde ganhou corpo e consistência mundiais, e o movimento está hoje presente em mais de 105 países, sendo representado por mais de 270.000 médicos, pesquisadores e cientistas. No Brasil, o modelo foi introduzido em 1998 pelo Dr. Ítalo Rachid, precursor do movimento. Por meio dos cursos disponibilizados pela Academia Longevidade Saudável, temos hoje milhares de médicos praticantes desse modelo. Espero que o curso possa contribuir de forma efetiva para expandir os seus horizontes profissionais e que aqui encontre boas respostas para os seus questio- namentos. O Grupo Longevidade Saudável lhe dá as boas-vindas! Desejo-lhe paz, luz, inspiração, sabedoria e uma excelente jornada ao longo dos seus estudos. Um forte e caloroso abraço, Dr. Ítalo Rachid. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 15 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
1ª PARTE: LONGEVIDADE HUMANA E HORMONOLOGIA
www.longevidadesaudavel.com.br 1. LONGEVIDADE HUMANA – NOVOS PARADIGMAS 1.1 Uma visão global da nova ordem mundial Por sermos um país que pouco registra e tabula seus próprios dados e estatís- ticas, teremos que citar números e cenários da saúde norte-americana, que servirão de modelo aproximado para compreendermos a nossa própria realidade interna. Analisando os números atuais da população americana, dois milhões e quinhentas mil pessoas completam 65 anos a cada ano. Cinco mil, setecentas e sessenta e cinco completam 65 anos a cada dia, sendo que, ao atingir 65 anos, um americano ganha automaticamente um bônus de 18,9 anos a mais, por conta da evolução dos novos conhecimentos e biotecnologias aplicados à medicina. Estudo do NIH – National Institute of Health – indica que homens e mulheres estão não apenas vivendo mais, como vivendo melhor. Pesquisas recentes estão pulverizando o mito de que envelhecer é sinônimo de declínio na saúde. A chamada geração baby-boomer está reescrevendo a história do envelhe- cimento humano. No estudo denominado Myths and Realities of Aging, promovido pelo National Council of Aging – NCOA – 2005 – 2008, ficou demonstrada uma clara mudança de atitude dos americanos em relação ao modo como estão envelhecendo. Essas mudanças ficaram ainda mais claras quando se analisou o comportamento da geração baby-boomer, que é constituída pelas pessoas nascidas no pós-guerra, entre 1946 e 1964, período de grande otimismo e crescimento econômico. A pesquisa com as pessoas desse grupo revelou que 56% destas pessoas declararam: “Estes são os melhores anos da minha vida”. Muito interessante observar o fato de que as pessoas não apontam mais a idade cronológica como parâmetro marcador do envelhecimento. As pessoas passam a se referirem ou se perceberem como velhas não pela idade que têm, mas pelo momento em que o declínio da capacidade física e/ou mental se instalam e as doenças começam a incidir. A atividade sexual se mostra um marcador muito eficaz da saúde geral e da vitalidade. Cerca de 53% dos homens com mais de 60 anos mantêm-se sexual- mente ativos, sendo que 70% das mulheres e 74% dos homens se declararam satisfeitos com sua vida sexual. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 17 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana 1.2 Mudança de paradigmas Grandes avanços no conhecimento médico que hoje ocorrem a uma veloci- dade exponencial exigem uma profunda e rápida mudança na visão tradicional do que é envelhecer. O aumento da longevidade está provocando profundas, permanentes e significativas alterações na ordem econômica e social. Desta forma, o modelo tradicional usado pelos cientistas para estabelecer os limites da longevidade humana requer imediata revisão. Projeções baseadas apenas na análise dos dados históricos não mais se aplicam à realidade atual dos fatos. Um dos empecilhos para avançarmos nesta área é a teoria proposta pelo Dr. Leonard Hayflick, ainda na década de 1950, segundo a qual o limite máximo possível para a vida humana seria de 120 anos, uma vez que este limite estaria inevitavelmente atrelado à capacidade máxima que uma célula somática humana tem de se dividir. Em 1997, esta teoria começou a ruir quando cientistas anunciaram a desco- berta dos telômeros. Telômeros são uma sequência repetida de DNA TTAGGG – que se localiza na extremidade dos cromossomos. A síntese desta sequência de DNA é controlada por uma enzima denominada telomerase. Enquanto células somáticas humanas não expressam esta enzima (por isto envelhecem e morrem), foi descoberto que células como as germinativas humanas, as do câncer e as amebas, dentre outras, são capazes de expressar telomerase e, desta forma, são células simplesmente imortais. Cada vez que uma célula somática humana se divide, os telômeros “encolhem” e se desgastam. Após um certo número de divisões e ao atingir um certo nível de desgaste, os telômeros encurtam e a divisão celular cessa. A partir deste momento, as células entram em um processo que conhecemos como senescência. O grande achado que tem provocado entusiasmo nos cientistas é que em estudos conduzidos in vitro, ao ser adicionada às células somáticas conven- cionais, a telomerase foi capaz de restaurar a estrutura danificada dos seus telômeros. Esse processo mostrou-se capaz de restaurar o “relógio molecular” que controla os processos do envelhecimento. Como resultado, ficou demons- trada que a expectativa “natural” de vida destas células pode ser estendida a limites ainda não definidos, sem alterar as suas funções biológicas primárias. A restauração de telômeros é apenas uma das inúmeras linhas de pesquisa que tem o potencial latente de derrubar de uma vez por todas a teoria imutável do Dr. Hayflick, que ainda norteia os princípios básicos da medicina tradicional. Este mesmo pesquisador declarou que, se em termos evolucionários o Homo sapiens precisou de 10.000 anos para atingir uma expectativa de vida de 70 18
www.longevidadesaudavel.com.br anos, não se pode ignorar o fato de que o homem só deverá atingir expectativa de vida de 100 anos por volta do ano 8050! De forma similar, geriatras e gerontólogos vêm, há muito tempo, calculando os limites máximos da longevidade humana, tomando como base apenas as taxas de mortalidade. O modelo de Gompertz, um dos mais utilizados na medicina convencional, baseia-se tão somente em variáveis de tamanho populacional, taxas de mortalidade e outros modelos lineares. Todos esses modelos ignoram o enorme impacto que as biotecnologias têm e terão na expansão da longevidade humana. Temos que adotar um novo modelo de projeção da longevidade, levando em consideração o enorme peso das novas biotecnologias. O ganho quantitativo e qualitativo originado pelos avanços tecnológicos constitui-se no grande e final salto da longevidade humana. E é exatamente este parâmetro que vai mudar para sempre como e quão bem todos nós viven- ciamos e viveremos cada dia da nossa potencialmente longa vida. A chave que nos permitirá refazer o nosso “mapa da vida” é permanecermos vivos pelos próximos 10 anos, tempo suficiente e necessário para que a aplicabilidade prática das novas biotecnologias provoque interferências profundas no processo de envelhecimento humano. As principais áreas de pesquisa que deverão contribuir de forma direta para o aumento exponencial da expectativa de vida humana são: a clonagem, a engenharia genética, órgãos artificiais, nanotecnologia, biorrobótica, células- -tronco de pluripotência induzida e a interface cerebral digital. Outro fator que deve ser levado em conta é a velocidade do conhecimento cientí- fico. Projeções atuais indicam que a velocidade do conhecimento está dobrando a cada 3,2 anos. Em 2029 saberemos 512 vezes mais do que sabemos hoje! Todo o conhecimento que um homem culto da Inglaterra do século XIX era capaz de armazenar ao longo de toda a sua vida está contido hoje em uma única edição dominical de um grande jornal americano. A quantidade de conhecimento e informação produzida nos últimos 30 anos equivale em extensão e magnitude a todo o conhecimento produzido pela espécie humana nos últimos 20.000 anos. A expectativa de vida dos proto-humanos era de apenas 17 anos. Na Roma antiga, cerca de 400 anos antes de Cristo, a expectativa era de 25 anos; na Idade Média, de 33 anos; final do século XIX, 47 anos e foi apenas na década de 1930 do século que passou que a expectativa atingiu 50 anos. Nos dias atuais é de 84 anos; no ano 2035, será de 101 anos e a projeção é de que por volta do final deste século poderemos alcançar expectativa de vida de 200 anos! Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 19 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana 1.3 Benefício financeiro da longevidade saudável A longevidade está alterando o perfil econômico de todos os países onde está ocorrendo a expansão da expectativa de vida. A medicina precisa se voltar para intervir e erradicar, se não pelo menos minimizar, as “doenças próprias da velhice” que levam à dependência e à desabilidade. Até atingirmos esse ponto, a sociedade irá arcar com um ônus imenso para sustentar esta população de idosos. As taxas de dependência relacionadas à idade irão crescer exponencialmente em todo o mundo nos próximos 25 anos. Na ausência de soluções médicas de caráter preventivo e proativo, estaremos gastando em 2025 cerca de 65% a mais no “tratamento” das doenças relacionadas à idade. Impossível negar os avanços na medicina, nas pesquisas com novos medica- mentos, novas tecnologias, exames cada vez mais sofisticados, a educação médica cada vez mais complexa. Entretanto, ao olharmos o outro lado desta moeda, percebemos o claro paradoxo de que avança, igualmente, a incidência de todas as doenças associadas ao processo do envelhecimento humano. Então, quanto valem os anos extras que iremos ganhar nas nossas vidas? Kevin Murphy e Robert Topel, professores da University of Chicago Business School, promoveram um estudo para responder a esta questão. Foi estimado que o aumento da longevidade produtiva nos próximos 20 anos injetará na economia americana 62 trilhões de dólares. A cada ano de longevidade produtiva, iremos ter uma injeção extra de 2,8 trilhões de dólares na economia americana. Os mesmos autores calculam que a eliminação do infarto pode injetar 50 trilhões de dólares na economia americana, enquanto que a cura do câncer, 47 trilhões. Apenas reduzindo em 20% o total de mortes por infarto agudo do miocárdio, teremos um impacto de 10 trilhões de dólares na economia dos Estados Unidos. Esta soma representa todo PIB americano em um ano. Enquanto a população mundial cresce a uma taxa média de 1,6% ao ano, a população de pessoas com mais de 65 anos cresce a uma taxa média de 2,7% ao ano, ou seja: quase 70% mais rápido. O grupo populacional de crescimento mais rápido em todos os países desenvolvidos e em todos os países em desenvol- vimento é o de pessoas com mais de 80 anos. Estudos de impacto demográfico realizados pela OMS indicam que por volta do ano 2025, 30% da população do planeta terá atingido e ultrapassado os 80 anos! No início do século XX, apenas 23% das pessoas conseguiam viver até os 65 anos. Nos dias de hoje, a proporção é de 88%. O segmento da população de 20
www.longevidadesaudavel.com.br crescimento mais rápido nos países desenvolvidos é o de pessoas com mais de 80 anos. Este grupo cresce a uma velocidade quase sete vezes maior do que o restante da população. O mais dramático é que 48% das pessoas deste grupo precisam de assistência médica diária e, como citado anteriormente, 52% destas pessoas irão desenvolver demência senil de Alzheimer. Um outro dado chamativo é quando analisamos os gastos dos sistemas de saúde em todo o planeta e constatamos um verdadeiro absurdo matemático, que, certamente, configura uma das razões pelas quais estes sistemas estão falindo um atrás do outro: por volta de 85% dos recursos financeiros disponíveis por empresas de planos de saúde são usados nos últimos dois anos de vida das pessoas, numa demonstração clara e inequívoca de que inexistem programas de desenvolvimento de políticas que privilegiem a medicina da saúde. Isto significa que a terminologia “planos de saúde” não reflete a realidade vigente. O mais lógico, pela forma irracional com que se desperdiça recursos, é renomeá-las “planos de doença”. 1.4 Considerações socioeconômicas da longevidade saudável A explosão gerontológica está redesenhando a estrutura familiar neste século. A proporção de americanos com mais de 60 anos que possuem pelo menos um dos pais ainda vivos aumentou quase 50% nas últimas quatro décadas. Em 1960, 14% dos americanos com idade de 50 anos ainda tinham ambos os pais vivos. Em 2008, este percentual já se situava em torno de 31%. Atualmente mais de 32 milhões de americanos fornecem diretamente ou financiam cuidados de saúde a familiares mais velhos. Quase 80% da atual população americana nasceu após 1939. A maioria destas pessoas começa a perceber os sinais do envelhecimento em seus espelhos e o impacto da idade no mercado de trabalho. Este modelo de medicina é uma ciência que expande o conceito original de medicina preventiva, e passa a englobar a detecção precoce, a prevenção e a reversão das doenças associadas ao envelhecimento. Trata-se, indubitavelmente, de um importantíssimo modelo de saúde, capaz de enfrentar e responder às demandas do novo milênio. Todas as doenças podem ser enquadradas em quatro categorias básicas: doenças geneticamente herdadas, doenças infecciosas e traumas representam, juntas, apenas 10% dos custos de tratamento de doenças nos Estados Unidos. Quase 90% de todos os gastos são aplicados em cuidados extraordinários de saúde, aplicados para contornar complicações das chamadas “doenças próprias e inevitáveis da velhice”. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 21 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana Principais causas-mortis na população americana atualmente: • Infarto agudo do miocárdio .................................................................................. 31,4% • Câncer ...................................................................................................................... 23,3% • Acidente vascular cerebral .................................................................................. 6,9% Estas três doenças juntas consomem cerca de 55% de todos os recursos dos sistemas de saúde dos Estados Unidos. Correntemente, existem mais de 115 milhões de americanos tratando duas ou mais doenças degenerativas da velhice, situação que consome quase 800 bilhões de dólares por ano! Se conseguirmos apenas retardar a velocidade do envelhecimento e melhorar a qualidade deste processo, poderemos eliminar mais de 50% de todas as doenças. A geração baby-boomer representa o grupo populacional de crescimento mais significativo em toda história americana. Este grupo trouxe imenso impacto ao contexto social, político e econômico dos Estados Unidos. Esta geração tem redefinido todos os ciclos de vida por onde tem passado. Foram eles que criaram a geração dos hippies e do rock and roll dos anos 1960-70, e, depois, tornaram-se os profissionais urbanos dos anos 1980. Esta geração detém cerca de 70% das propriedades dos Estados Unidos e possui 77% de todos os recursos financeiros. Representa 66% dos acionistas da Bolsa de Valores e possui 80% do dinheiro aplicado em poupança e empréstimos. Na medida em que os velhos deste grupo passam a atingir os 60 anos, começam a ditar e a escrever o formato da próxima revolução da América: a Aposentadoria. Uma pesquisa recente foi realizada pela American Association of Retired People (AARP), apontando os principais temores destas pessoas acerca do envelhecimento. O resultado foi que 56% temem ser acometidos pelas doenças da velhice, 26% apontaram a segurança financeira como o maior temor, 13% a deterioração mental e 5% a dependência de outros. Um dado expressivo é que mais de 60% deles demonstram desejo e capacidade de fazer opção por um médico de acordo com a sua livre escolha, mesmo que possuam um plano de saúde, e não se incomodariam em pagar a este profissional uma consulta particular. A realidade é que este grupo peculiar de pessoas hoje não apenas dita as regras sociais e econômicas dos Estados Unidos, como tem optado prioritária 22
www.longevidadesaudavel.com.br e primariamente pela escolha de médicos adeptos e praticantes deste modelo de medicina, profissionais que são treinados e capacitados a ajudá-los a viver não apenas uma vida longa, mas, principalmente, uma vida compensadora e produtiva, livre das desabilidades associadas às doenças do envelhecimento. Este tem sido o perfil de profissional de saúde buscado e desejado por um grupo potencial de mais de 80 milhões de pessoas que hoje ditam a ordem econômica dos Estados Unidos. O Brasil, igualmente, já começa a compreender esta nova realidade, e as pessoas já são mais bem informadas e conscientes acerca da necessidade de atrelar qualidade à quantidade de vida, sendo o cenário cada vez mais favorável aos profissionais capacitados a manter saúde, ao invés de apenas tratar doenças. 1.5 A visão de uma nova realidade Precisamos buscar respostas mais resolutivas no universo da medicina. Tomemos como exemplo a doença que mais ceifa vidas: o infarto agudo do miocárdio. Existe um alto índice de complicações nas cirurgias de revasculari- zação cardíaca, aliada a uma crescente incidência de patologias cardiovasculares. A população de pessoas consideradas velhas ocupa um percentual cada vez mais expressivo da pirâmide populacional. O tratamento das doenças associadas a esta fase da vida consome uma quantidade cada vez maior de recursos, as doenças que acometem essa faixa da população apresentam altos índices de recidivas ou cronificação, além de, frequentemente, levarem a limitações físicas e funcionais. Existem atualmente nos Estados Unidos mais de 81 milhões de pessoas sofrendo de doença cardiovascular. Quase um milhão e trezentas mil pessoas morrem anualmente vitimadas pelo infarto, sendo que, uma em cada 2,4 mortes é por infarto. Quase seiscentas mil pessoas morrem por ano acometidas pela doença arterial coronariana, e quase quinhentas mil pessoas são vitimadas por morte súbita como primeira manifestação clínica da doença cardiovascular. A sugestão mais sensata para a realidade em que vivemos é que os dois lados da moeda (medicina curativa e medicina preventiva) devem se unir com a finalidade de promover um modelo de saúde mais eficaz, a isto chamamos: medicina da longevidade humana. Profissionais de saúde não podem mais estar envolvidos apenas com um dos lados. A medicina moderna e integrativa não admite polarizações. Para uma relação produtiva e duradoura, alguns pontos têm que ser compreen- didos. Este é um modelo de medicina solidamente embasado na fisiologia. Pode ser praticado por qualquer médico. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 23 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana Os métodos utilizados como base e plataforma para este modelo encontram-se solidamente embasados em ciência, e são utilizados hoje por milhões de pessoas em mais de uma centena de países. Pratique o que você preconiza! É a diretriz-mor dos médicos do Grupo Longevi- dade Saudável. O que procuramos fazer é dar a estas pessoas, nossos familiares, mães, pais, irmãos e a nós mesmos uma opção e uma chance de manter a qualidade da nossa saúde utilizando novos métodos e abordagens, solidamente embasados em evidências, na prática clínica direta de milhares de médicos e na aplicação clínica dos princípios inabaláveis da fisiologia. Nosso foco é manter pessoas saudáveis. Desse modo, poderemos alcançar um prognóstico diferente, permitindo-nos mais chances de uma vida plena e feliz. A nossa anatomia indica o status do nosso presente. A nossa fisiologia indica o status do nosso futuro. Não podemos mudar o presente, mas podemos influenciar forte e signifi- cativamente o futuro! Deste modo, deve ser compreendido que a medicina da longevidade humana é um modelo essencialmente preventivo que se utiliza de avançados conhecimentos tecnológicos e biomédicos, permitindo a elaboração de protocolos clínicos e terapêuticos padronizados, que visam detectar, prevenir e tratar disfunções metabólicas com alto potencial de desabilidades e comorbidades. É um modelo de saúde que adota os mais modernos princípios científicos com a finalidade de promover a qualidade de vida, reduzindo os custos socioeconô- micos de potenciais doenças. Desse modo, é embasado em princípios de ética e responsabilidade, que são compatíveis e consistentes com aqueles praticados e preconizados em outras áreas da ciência médica. Os anos de prática por um grupo cada vez maior de médicos e o avançar dos conhecimentos permitiram considerável expansão do seu foco inicial. Os médicos que utilizam este modelo de medicina na atualidade não oferecem assistência apenas às pessoas que estão envelhecendo. Um fato típico dos eventos no dia a dia dos consultórios desses médicos é a mulher, por ser mais perspicaz e rápida, agendar uma consulta. Depois de algum tempo, passa a se sentir muito bem e traz o seu marido. A partir daí, 24
www.longevidadesaudavel.com.br acabam vindo os pais, irmãos, amigos, e, finalmente, vem os filhos, de várias faixas etárias distintas. O interessante é que qualquer que seja a idade, existem ações preventivas que agregam considerável valor à saúde das pessoas, influenciando diretamente as capacidades metabólica e funcional. Para ilustrar, damos a seguir uma visão geral dos principais tópicos de abordagem e aplicação do modelo, em fases distintas da vida. Na infância, adolescência e juventude dos 25 aos 30 anos: • Correção dos múltiplos distúrbios alimentares; • Detoxificação; • Estímulo à prática de atividade física; • Restrição aos carboidratos refinados com altos índices glicêmicos; • Correção dos distúrbios do sono; • Suplementação nutracêutica funcional; • Prevenção e tratamento da obesidade; • Prevenção e controle da inflamação crônica subclínica (inflamograma); • Detecção e correção dos distúrbios hormonais; • Mapeamento genético. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 25 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana Pessoas na faixa etária dos 30 aos 40 anos: • Período crítico no qual os processos de morbiletalidade se aceleram; • Correção dos múltiplos distúrbios alimentares; • Detoxificação; • Estímulo à prática de atividade física; • Restrição aos carboidratos refinados com altos índices glicêmicos; • Correção dos distúrbios do sono; • Suplementação nutracêutica funcional; • Tratamento e prevenção da obesidade; • Prevenção e controle da inflamação crônica subclínica (inflamograma); • Avaliação completa do perfil hormonal; • Mapeamento genético. Pessoas na faixa etária dos 40 aos 60 anos: • Período crucial, pois estas pessoas estão vivendo no ponto de transição; • Formam a última geração na qual a vasta maioria morrerá de maneira “antiquada”, geralmente de condições debilitantes progressivas que vão interferir gravemente na qualidade de vida; • Correção dos múltiplos distúrbios alimentares; • Detoxificação; • Estímulo à prática de atividade física; • Restrição aos carboidratos refinados com altos índices glicêmicos; • Correção dos distúrbios do sono; • Suplementação nutracêutica funcional; • Tratamento e prevenção da obesidade; • Prevenção e controle da inflamação crônica subclínica (inflamograma); • Avaliação completa do perfil hormonal; • Mapeamento genético. 26
www.longevidadesaudavel.com.br Pessoas com mais de 60 anos: • Ainda é possível reverter décadas de prejuízos e prolongar significativamente a longevidade, a vitalidade e a qualidade de vida; • Correção dos múltiplos distúrbios alimentares; • Detoxificação; • Estímulo à prática de atividade física; • Restrição aos carboidratos refinados com altos índices glicêmicos; • Correção dos distúrbios do sono; • Suplementação nutracêutica funcional; • Tratamento e prevenção da obesidade; • Prevenção e controle da inflamação crônica subclínica (inflamograma); • Avaliação completa do perfil hormonal; • Mapeamento genético. Dentro do universo deste novo modelo de promoção de saúde, o médico deve ser um veículo de informação e proporcionar aos seus clientes os conhecimentos e as medidas específicas a serem adotadas o mais rapidamente possível para manter e prolongar a vida, a vitalidade e o bem-estar das pessoas. A única pessoa que pode assumir a responsabilidade pela sua saúde é o próprio indivíduo. Se desejarmos nos manter saudáveis pelo maior tempo possível, não podemos mais depender simplesmente da ordem natural que a evolução biológica nos determina. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 27 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana 1.6 Os fundamentos da medicina da longevidade humana › Científico Os protocolos de diagnóstico e tratamento adotados por esse modelo de medicina são embasados em sólidas evidências científicas e, desse modo, não pode ser simplesmente rotulada como “medicina alternativa”. › Baseado em evidências Esse modelo de medicina encontra-se alicerçado em uma metodologia ordenada de aquisição e compilação de dados que permitam a adoção de rotinas e proto- colos científicos, sobre os quais as propostas terapêuticas são determinadas e estabelecidas. › Holístico Esse modelo de medicina adota uma estrutura global de avaliação diagnóstica e rotinas terapêuticas, respeitando as necessidades individuais de cada pessoa. › Sinergístico Esse modelo de medicina reconhece que, de forma bastante frequente, um acesso multimodal, multidisciplinar e multiterapêutico permite a possibilidade de resultados clínicos muito mais consistentes e significativos. › Comprovado Os fundamentos desse modelo de medicina encontram-se fartamente documen- tados nos periódicos científicos indexados mais importantes do mundo. Manter os indivíduos saudáveis, atuando nas suas vidas de forma programada, preventiva e preditiva. Devemos compreender que, com base nos conhecimentos atuais, é possível vivermos de um modo mais saudável. A medicina tradicional, curativa, é uma ciência nobre e deve ser por todos nós respeitada. Nela, procura-se, da maneira mais digna possível, tratar as comorbidades e doenças associadas ao envelhecimento. A realidade dos novos cenários demonstra, de forma incontestável, que, embora constituam ações muito importantes, as mesmas não mais se bastam. A medicina curativa precisa celebrar um casamento inadiável e indissolúvel com a medicina preventiva. Nesta, procura-se, de maneira não menos nobre e digna, aplicar conhecimentos cientificamente comprovados no sentido de permitir maiores chances de uma vida saudável, digna, plena, feliz e produtiva. 28
www.longevidadesaudavel.com.br Aprendemos na medicina convencional a valorizar e considerar basicamente os fenômenos, sinais e sintomas que sejam capazes de aferição e percepção aos nossos cinco sentidos. Aprendemos a enxergar apenas o que é visível, do mesmo modo que enxergamos a ponta de um iceberg flutuando em alto mar. Nesta medicina, somos treinados para enxergar além do óbvio e do visível. É como se, a partir de um dado momento, passássemos a nos preocupar muito menos com a ponta visível do iceberg e muito mais com a parte submersa, muito maior e mais complexa. Esta analogia significa que, para um médico tradicional, dificilmente irá existir uma janela de intervenção clínico-terapêutica diante de uma pessoa que não se queixa de algum sinal ou sintoma, sugestivo de algum problema em potencial. Deste lado da moeda, o que procuramos fazer é exatamente o contrário: buscar intervir na vida das pessoas, principalmente diante da aparente inexistência de problemas, manifestada pela ausência de sinais e sintomas. Deste modo, as doenças acabam sendo compreendidas como circunstâncias ou fenômenos inevitáveis sob o prisma puramente curativo da medicina. Pelo nosso ponto de vista, a partir do momento em que um ser humano rompe a barreira do seu limite biológico e metabólico, o que costuma ocorrer por volta dos 30 anos, a ação sorrateira de uma gama de fenômenos que podem atuar de modo combinado ou isolado como: dieta geneticamente incorreta, estresse, sedentarismo, estilos de vida inapropriados, múltiplos e cumulativos declínios nos nossos sistemas produtores de hormônios, a excessiva produção de radicais livres e um profundo desequilíbrio na bioquímica cerebral, produz a ativação de um fator de transcrição denominado de Fator Nuclear Kappa-Beta, capaz de ativar o maquinário celular que passa, por sua vez, e como resposta, a sinte- tizar uma vasta gama de proteínas especiais, como as citocinas e os fatores de necrose tumoral, elementos-chave envolvidos na ativação, controle, promoção e manutenção da atividade inflamatória subclínica. Sabemos hoje com clareza que pelo menos 90% das doenças associadas ao envelhecimento tem como principal fator etiológico a inflamação crônica subclínica. Em síntese: as doenças do envelhecimento eram compreendidas como um processo inevitável. A fisiologia moderna nos diz que o envelhecimento acelerado e as doenças devem-se à ação crônica e combinada de uma gama de fatores multivariados, dentre os quais: o sedentarismo, o estresse, as carências nutri- cionais e vitamínico-minerais, a excessiva toxicidade alimentar e ambiental, a inflamação crônica, a queda de hormônios anabolizantes com a concomitante elevação dos hormônios catabolizantes respondem pela maior parte do que Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 29 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana conhecemos como síndrome clínica do envelhecimento, fenômeno que, por sua vez, acaba gerando múltiplas disfunções em nossos órgãos e sistemas e, ao longo do tempo, findam por exaurir os nossos sistemas de resposta e de reparo, dando lugar ao surgimento das doenças comumente associadas a esta fase da vida. O nosso foco passa a ser, deste modo, a detecção precoce, prevenção, trata- mento ou mesmo reversão dessas disfunções. Podemos resumir toda a filosofia que embasa as nossas ações em um objetivo maior que é dar qualidade à quanti- dade e quantidade à qualidade de vida. A receita de bolo que leva a uma vida mais saudável é complexa e, ao mesmo tempo, paradoxalmente lógica. Os seus ingredientes mais importantes são a prática regular de atividade física, o manuseio do estresse, a detoxificação, a suplementação nutracêutica funcional, a reeducação alimentar e a otimização hormonal bioidêntica. Até pouco tempo acreditava-se que a herança genética responderia por 70% da longevidade, o meio ambiente por 10% e os estilos de vida por 20%. As evidências atuais dão amplo suporte a uma redistribuição percentual destes fatores. Hoje é possível afirmar que a genética reponde por modestos 15%, o meio ambiente por mais 15% e os estilos de vida impactam em 70% da nossa longevidade! Um estudo realizado a poucos anos na Escola de Medicina da Stanford Univer- sity (Estados Unidos), jogou ainda mais luz sobre esta nova realidade. O estudo preocupou-se em identificar o peso dos fatores que contribuem para as pessoas chegarem aos 65 anos saudáveis e livres de doenças. Isto significa que se uma pessoa vive em uma grande cidade, que possui recursos de alta complexidade em medicina, tais como hospitais muito bem equipados, aparelhos e equipamentos ultramodernos e de última geração, exames complementares de laboratório ou de imagens de altíssima precisão e sofisticação e médicos exaustivamente treinados para realizar os procedimentos mais complexos e avançados hoje disponíveis, o impacto total da soma destes recursos na longevidade saudável não passa de modestos 5%! (Escola de Medicina de Stanford University) 30
www.longevidadesaudavel.com.br Para que tenhamos uma ideia da nossa realidade, fazendo uma análise populacional em seu atlas Corações do Brasil, o Dr. Raul Santos, cardiologista, constatou que 83% dos brasileiros são sedentários, 60% Estão acima do peso, 23% são obesos e 29% hipertensos. (oms, 2016) Diante destes fatos e números, um parâmetro muito mais preciso e signi- ficativo pode ser associado às chances de vivermos de modo mais ou menos saudável: a idade biológica. A idade cronológica marca apenas a passagem linear do tempo, e, diante dos conhecimentos atuais, não pode mais ser utilizada como critério isolado no rastreamento dos riscos de doenças. Procuramos adotar um conceito mais lógico e abrangente, que é a idade biológica. Este, mais do que a mera passagem do tempo, é um marcador da capacidade metabólica e funcional intrínseca de um indivíduo. Em resumo: a idade cronológica identifica o tempo de fabricação, enquanto que a idade biológica identifica o estado de conservação. Todos nós já vencíamos a situação em que ao conhecermos uma pessoa e tomarmos conhecimento da sua idade cronológica nos surpreendemos, quer seja porque visualmente a pessoa aparenta ser mais velha ou, ao contrário, aparenta ser mais jovem. A percepção subjetiva de que as pessoas não envelhecem à mesma velocidade, ainda que tenham a mesma data de nascimento é um fato não apenas intuitivo, mas, na realidade, hoje pode ser amplamente mensurado. Está cientificamente comprovado que nós, seres humanos, não só envelhe- cemos de forma tão individual quanto a nossa impressão digital, quanto nossos próprios órgãos e sistemas, igualmente, não envelhecem à mesma velocidade ou seguindo o mesmo ritmo. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 31 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana Significa que duas pessoas do mesmo sexo podem ter 45 anos de idade, sendo que, em uma delas, podemos encontrar uma idade metabólica e biológica de 30 anos, por exemplo, enquanto que na outra, com a mesma idade cronológica de 45 anos, os fenômenos degenerativos e catabólicos podem estar incidindo com uma intensidade tal que a mesma tenha uma idade metabólica e biológica de 55 ou 60 anos. Isto quer dizer que entre duas pessoas que nasceram no mesmo ano, podemos identificar uma diferença em seus comportamentos biológicos que podem chegar a 10, 20 ou 30 anos! Diante desta realidade, fica fácil compreender que um indivíduo não corre maior ou menor risco de adoecer ao longo da sua existência apenas pela idade que tem. Na verdade, o risco será tão maior quanto mais elevada for a sua idade biológica. Tudo isto significa a necessidade de compreensão de uma nova realidade. Importante termos em mente que 75% dos seres humanos que adotam estilos de vida saudáveis exibem poucas probabilidades de adoecer ao longo de suas vidas. Na atualidade, a expectativa de vida nos países desenvolvidos é de cerca de 84 anos. Por volta do ano 2030, um vasto leque de terapêuticas com células-tronco já estará disponível para aplicação em seres humanos, bem como as tecnologias de reparo do DNA e o domínio da expressão da telomerase. Tais avanços permitirão rápida expansão da expectativa de vida. Antes do final deste século as técnicas de clonagem humana, nanomedicina e interface cerebral digital já estarão ampla- mente disponíveis para utilização clínica em seres humanos, de modo que a previsão é atingirmos expectativas de vida em torno de 180 a 200 anos! Parece um sonho? Nem tanto. Conforme dito anteriormente, a velocidade do conhecimento científico avança de forma tão avassaladora que todo o conhe- cimento que se tem hoje em medicina foi produzido ao longo dos últimos anos de evolução da espécie humana. Iremos precisar de apenas 3 anos, para que toda a base de conhecimentos que adquirimos em 10.000 anos seja duplicada! Ainda que deixemos um pouco de lado o médio e o longo prazos, devemos, todos nós, médicos, profissionais de saúde e usuários, termos a consciência de uma informação extremamente relevante: tudo o que precisamos fazer, a nós mesmos, aos nossos familiares, amigos e clientes é procurarmos nos manter vivos pelos próximos 10 anos, porquanto 10 anos é o período de tempo requerido para sermos alcançados pela próxima onda das novas biotecnologias. 32
www.longevidadesaudavel.com.br A perspectiva é que se nos mantivermos vivos pelos próximos 10 anos, teremos nossa expectativa de vida expandida para além dos 100 anos! A medicina da longevidade humana se tornará o modelo primário de medicina no século XXI. Por quê? Em primeiro lugar, porque é um modelo que engloba quatro impor- tantes parâmetros, que as pessoas estão passando a cobrar cada vez mais dos sistemas de saúde, entre os quais: • Disponibilizar rotinas de diagnóstico e detecção precoce de doenças, associadas com intervenções agressivas e eficazes. • Estabelecer uma cultura de promoção sistemática de saúde, por meio de um programa massivo de informação e educação do público. • Motivar e implementar parcerias multidisciplinares entre médicos, profissionais de saúde e os clientes, disponibilizando serviços de saúde eficazes, personalizados e de qualidade sem paralelos. • Abrindo, conquistando e retendo uma nova demanda por serviços de saúde, transformando o médico em um profissional dotado de um importante diferencial competitivo de mercado: a capacidade de manter pessoas saudáveis. Em segundo lugar, porque a maior expressão de liberdade pessoal é o controle sobre o destino da sua própria saúde. A medicina da longevidade humana é um modelo que coloca em primeiro lugar a sagrada liberdade de escolha pessoal. O mais claro testemunho do crescimento deste movimento é que ele vem sendo rapidamente adotado em escala global, estando presente na atualidade em 105 países, conforme dito anteriormente. Inúmeros estudos têm demonstrado a confiança crescente do público nessa proposta. Estima-se que mais de 40% dos norte-americanos estejam hoje de alguma forma engajados com esta medicina e os seus conceitos. A consequência é que numerosos centros de estudo passaram a recomendar que os médicos se familiarizem com estas práticas e com este modelo de saúde. Temos em nossas mãos uma nobre missão: escrever um belo capítulo da história da medicina contemporânea, no qual poderemos não apenas resgatar a magia de praticar medicina com felicidade, prazer e devoção, mas, devolver às pessoas o brilho nos olhos e a concreta possibilidade de viver de forma mais plena, digna, feliz e produtiva. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 33 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana EXERCITANDO E REFLETINDO 1. A partir dos grandes avanços no conhecimento médico, podemos afirmar que é necessária uma mudança na visão tradicional usada pelos cientistas para estabelecer os limites da longevidade humana. • Quais são esses grandes avanços? • O que a teoria proposta por Dr. Leonard Hayflick contempla? • A partir da sua compreensão, quais são os reais limites da longevidade humana? 2. “Telômeros são uma sequência repetida de DNA – TTAGGG – que se localiza na extremidade dos cromossomos...”. A partir do conceito de telômeros é possível rediscutir a teoria proposta por Leonard Hayflick. Em que as defini- ções se contrapõem? 3. Explique a telomerase e como essa enzima pode controlar/restaurar o processo de envelhecimento. 4. Entendendo que as pessoas, de uma forma geral, têm se tornado mais exigentes com a sua qualidade de vida e com as escolhas dos profissionais da saúde que irão acompanhá-las, além de preferirem um modelo de medicina que as garanta viver mais e melhor. Explique o conceito de medicina da longe- vidade humana e descreva como ela se insere nesse contexto atual. 5. De acordo com os estudos realizados, como é desencadeado o Fator Nuclear Kappa –Beta? Como o mesmo contribui para o processo de aceleração do envelhecimento? 6. Mensure as diferenças da idade biológica e da idade cronológica. 34
www.longevidadesaudavel.com.br 2. EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO MUNDIAL 2.1 O que é envelhecimento mundial? O mundo está no limiar de uma transformação social e de uma revolução, que tem poucos paralelos na história da humanidade. Chama-se envelheci- mento mundial, e nas próximas décadas, submeterá os países desenvolvidos e em desenvolvimento a uma extraordinária tensão política, econômica e social. Ao longo de toda a história, os idosos (mais de 65 anos de idade) nunca repre- sentaram mais do que 2 ou 3% da população. Há aproximadamente 150 anos, este grupo populacional começou a crescer. Hoje, no mundo desenvolvido, repre- senta 17% de toda a população, no ano 2030 atingirá 25%, devendo ultrapassar 30% em vários países da Europa continental. O envelhecimento mundial imporá novas cargas e regras aos trabalhadores e aos empregadores e exigirá decisões muito difíceis para os eleitores e líderes governamentais. Existe um custo fiscal nestas mudanças simplesmente espantoso. O desafio do envelhecimento mundial vai muito além dos seus efeitos sobre os orçamentos governamentais. Irá exigir uma reestrutura profunda na economia, mudar o formato atual da família, redefinir políticas e reacomodar a ordem geopolítica deste século. Diferentemente de muitas previsões a respeito do futuro, o envelhecimento mundial não é apenas uma hipótese longínqua. Seu momento e magnitude já estão claramente definidos e determinados. É uma revolução que já começou e, quando atingir o seu apogeu, nada, simplesmente nada, voltará a ser igual! 2.2 A relevância do envelhecimento mundial › Governo Aumentará enormemente o custo dos programas de benefícios de saúde e aposentadorias, tornando-os, em muitos dos casos, simplesmente proibitivos. Fará com que muitos países tenham déficits orçamentários desestabilizadores e gerará uma enorme pressão para a redução dos benefícios, elevação de impostos ou exclusão de recursos para defesa, para infraestrutura, para a educação e outros serviços públicos vitais. Redefinirá os programas políticos e desencadeará enormes tensões de gerações, entre os que pagam e os que se beneficiam. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 35 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana › Negócios Significará impostos mais altos, custos mais altos de capital, redução dos mercados de consumo e a perda de bens tangíveis e da valorização do patri- mônio. Restringirá os mercados de trabalho, tornando difícil a retenção da mão de obra altamente qualificada, criando incentivos para o recrutamento de estrangeiros ou para a mudança da produção para o exterior. Levará a um excesso de capacidade em bens imóveis, construção, vendas no varejo e setores-chave, intensificará a competitividade por vendas decrescentes, reduzindo os lucros sobre os investimentos e gerando novas pressões a favor do controle de capital, das barreiras não tarifárias de comércio e do franco protecionismo. › População Fará com que os planos governamentais atuais de aposentadoria sejam uma perigosa estratégia pessoal de aposentadoria e criará uma nova urgência a respeito da poupança. Levará a reduções gritantes dos benefícios prometidos para a idade avançada, adiamentos na idade da aposentadoria e a um papel mais amplo da família no cuidado a longo prazo. Reduzirá drasticamente o valor dos bens imóveis residenciais e, possivel- mente, das carteiras de capital. Causará profundas mudanças nos padrões de trabalho, incluindo-se a necessidade de novas capacitações na idade madura e uma aposentadoria bem mais tardia. Cerca de 46% dos aposentados nos Estados Unidos dizem que a previdência social é a sua maior fonte de receitas e somente 2,7% dos trabalhadores atuais nos Estados Unidos com menos de 40 anos acham que será assim quando eles se aposentarem. 2.3 As forças que estão sob o envelhecimento mundial O envelhecimento mundial é resultado de duas forças demográficas funda- mentais: a redução da fertilidade e o aumento da longevidade. A primeira reduz o número relativo de jovens, enquanto que a segunda aumenta o número relativo de idosos. As consequências fiscais e sociais dessas tendências demográficas se complicam devido a outros fatores como a aposentadoria antecipada e os sistemas públicos de aposentadorias que realizam pagamentos sem a acumulação de recursos (repartição simples), além do crescente e, hoje, quase inadministrável custo da assistência médica. 36
www.longevidadesaudavel.com.br 2.3.1 Redução da Fertilidade De acordo com uma série de estudos promovidos por vários setores da sociedade, nos últimos 30 anos, a taxa geral de fertilidade do planeta caiu de 5.1 para 2.6. Se considerarmos só os países desenvolvidos, a taxa hoje é de 1.6. Importante ressaltar que a taxa mínima para manter qualquer população estabilizada é de 2.1 ou mais. Hoje, todos os países desenvolvidos estão abaixo dela, alguns até muito, muito abaixo. No Japão, a taxa atual de fertilidade é de 1.5, na Alemanha 1.3 e na Itália 1.2. A redução da fertilidade está invertendo a tradicional pirâmide populacional. Também significa que, sem levar em conta a migração populacional massiva dos países em vias de desenvolvimento, a população do mundo chagará ao seu máximo em aproximadamente 15 anos e começará, a partir daí, a diminuir. Cerca de 45% da população mundial vive hoje em países aonde a taxa de ferti- lidade se encontra abaixo do nível de renovação populacional, que é de 2.1. O que acontecerá se a fertilidade não ressurgir? De acordo com a projeção oficial das Nações Unidas, a média de idade do planeta aumentará de 37,5 anos hoje, para 47,6 anos por volta de 2040. (Nações Unidas) No ano de 2050, a média de idade alcançará 52,5 anos. Na Alemanha, a média de idade chegará a 54 anos, no Japão chegará a 56 anos, na Itália chegará a 57 anos. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 37 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana A população total do mundo desenvolvido já começou a diminuir desde 2013. A Europa e o Japão perderão aproximadamente 2/3 da sua população atual até o final do século XXI. 2.3.2 Aumento da Longevidade A partir do final da Segunda Guerra Mundial até o final dos anos 1980, a expectativa de vida mundial aumentou de 45 para 65 anos. Nos últimos 50 anos, a expectativa média de vida aumentou mais do que nos últimos 5.000 anos de evolução do homem na terra. Todos os estudiosos do assunto são absolutamente unânimes em apontar que a longevidade irá aumentar exponencialmente neste século, mais do que em toda a história da humanidade. Inclusive, chegaram recentemente a uma conclusão de que uma expectativa de vida de 100 anos poderá ser atingida bem antes do ano 2030. As implicações e consequências destas projeções são simplesmente assombrosas! Para poder receber benefícios durante o mesmo número de anos que um trabalhador típico dos Estados Unidos que se aposentou aos 65 anos em 1940, a Administração da Previdência Social dos Estados Unidos projeta que o traba- lhador típico do ano 2045-2050 terá que trabalhar no mínimo até os 79 anos de idade para poder se aposentar, número que supõe apenas um modesto aumento da longevidade. Na prática, entretanto, está claramente identificado um paradoxo que vai agravar ainda mais a situação: a idade da aposentadoria diminuiu ao invés de aumentar. 2.3.3 Aposentadoria antecipada Nos Estados Unidos, a idade média de aposentadoria na Previdência Social diminuiu de 69 para 63 anos, de 1960 para cá. Na França, na Alemanha e na Itália apenas 3.5% dos homens com mais de 65 anos estão empregados agora. E não são apenas os idosos que abandonaram a força de trabalho em grandes números. Nos países desenvolvidos, apenas 25% dos homens com idades variando entre 59 e 65 anos continuam trabalhando hoje. Isto significa que o impacto econômico da proporção de trabalhadores que pagam impostos para os aposentados que não trabalham no mundo desenvolvido diminuirá muito mais do que apontam as atuais análises estatísticas. Hoje esta proporção é de 3 para 1 e em 2030 prevê-se que caia de 1.5 para 1. Em vários países europeus cairá de 1 para 1 ou 0.9 para 1. 38
www.longevidadesaudavel.com.br EXERCITANDO E REFLETINDO 1. Considerando o que foi estudado neste capítulo, discorra de que forma a redução da fertilidade e o aumento da longevidade impactam no envelhe- cimento mundial. 2. Observando o cenário mundial e entendendo que a população da Europa e do Japão já se encontram em um processo de redução; o que você acredita que acontecerá se a fertilidade não ressurgir? Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 39 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana 3. IMPACTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DO ENVELHECIMENTO 3.1 A dimensão do desafio do envelhecimento mundial Até 2030, o déficit combinado consequente às aposentadorias esgotará toda a poupança nacional líquida dos países desenvolvidos. Alguns países tentarão acomodar os benefícios das aposentadorias reduzindo outros gastos, entretanto, esta resposta também tem o seu limite. O custo do envelhecimento mundial é tão grande, que muitos destes países poderão cortar todos os seus gastos não relacionados aos benefícios e ainda assim serão incapazes de equilibrar seus orçamentos para a década de 2020. Aumentar impostos é uma solução duvidosa, uma vez que poucos países possuem hoje a capacidade de aumentá-los a estes níveis de exigência. Na Comunidade Europeia, os impostos totais já estão em uma média de 46% do PIB. Cobrar entre 9 e 16% do PIB em impostos será economicamente impos- sível. A maioria dos países tentará todas as alternativas anteriores e, mesmo assim, verá que não existirá outra opção a não ser reduzir os benefícios das aposentadorias. A questão básica é se farão as reformas mais depressa, quando ainda há tempo de se ajustar e se preparar, ou mais tarde, quando uma crise econômica ou política acabará fatalmente por lhes obrigar a fazer as dolorosas reformas. 3.2 O envelhecimento mundial e a economia Além do desafio fiscal, o envelhecimento mundial está criando desafios econô- micos ainda mais impactantes. Com a redução das populações, haverá, igual- mente, redução do número de consumidores e produtores. A partir de 2010, na União Europeia é esperada uma redução de quase 15% nas populações entre 20 e 39 anos. Sendo este o grupo principal envolvido na formação de lares, esta redução provocará, simultaneamente, restrição da demanda ativa de compra de moradias, eletrodomésticos, bens duráveis, etc. Este fenômeno causará redução direta dos investimentos em setores-chave como: construção civil, bens imóveis e bens duráveis. Os bancos e fundos de aposentadoria sofrerão deterioração nos seus balanços, enquanto que a taxa de poupança privada no mundo desenvolvido cairá pela 40
www.longevidadesaudavel.com.br metade, por conta da redução dos benefícios das aposentadorias e pelo aumento dos impostos. No Japão é esperada uma redução de 25% no número de trabalhadores com menos de 30 a partir de 2010. A força de trabalho nos países desenvolvidos, terá uma diminuição de cerca de 1% a cada ano a partir de 2010, o que significa que a economia real destes países irá começar a encolher. Como reagirão os líderes destes governos quando tomarem consciência de que a base fiscal será reduzida de uma década para a outra? Como reagirão os líderes empresariais quando perceberem que o tamanho dos seus mercados irá se reduzir de uma década para a outra? 3.3 Envelhecimento mundial e os mercados financeiros O envelhecimento mundial também ameaçará a estabilidade dos mercados financeiros mundiais. O perigo maior é que se as nações desenvolvidas não estabe- lecerem uma reforma fiscal imediata, irão gerar enormes déficits orçamentários nas próximas duas décadas. Isto levará a profundas mudanças na direção dos fluxos de capital, provocando uma crise financeira de dimensões mundiais. O Japão ainda é o maior exportador de capital do mundo, mas se não mudar o seu rumo fiscal, irá se transformar em importador bruto de capital em menos de uma década, apenas para manter o seu nível atual de investimento doméstico. Em 10 anos, o crescimento do déficit devido às aposentadorias será 3 vezes maior do que sua capacidade de exportar capital. Em 30 anos, este déficit será 30 vezes maior. No mundo de fala inglesa, em 10 anos os países irão começar a enfrentar enormes tensões por conta das aposentadorias da geração baby-boomer. Quando os membros desta geração começarem a vender seus bens aos membros da geração mais jovem (busters) que os seguem, os mercados finan- ceiros sofrerão uma grande depressão. Desta forma, os planos de aposentadorias de milhões de pessoas poderão arruinar-se, levando a uma enorme pressão para aumentar a generosidade dos sistemas públicos de aposentadorias, justamente quando começará a ser quase impossível continuar pagando por eles. 3.4 O envelhecimento mundial e os mercados de trabalho O envelhecimento mundial precipitará uma era de mercados de trabalho restritos nos países desenvolvidos. Os governos terão que encontrar maneiras de estimular o cidadão a trabalhar por mais anos ou a trabalhar mais. Esta necessidade vai causar impacto e choque no cerne nas expectativas sociais Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 41 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana profundamente arraigadas a respeito da aposentadoria adiantada e às semanas de trabalho mais curtas. Para compensar o déficit de trabalhadores, na União Europeia a imigração terá que ser de quatro milhões de pessoas anualmente. Haja ou não redução de quotas, as empresas procurarão a todo custo formas de contratar mão de obra estrangeira barata. A pressão para o aumento da imigração vai crescer, tanto da parte dos que procuram, quanto da parte dos que oferecem trabalho. 3.5 O envelhecimento mundial e a família Os governos em todos os lugares estão contando com as famílias para que assumam a maior parte da responsabilidade pelo cuidado dos idosos. Esta responsabilidade vai se tornar cada vez mais difícil, porquanto o problema é que quando os adultos de hoje em idade de trabalhar envelhecerem, será altamente provável que tenham apenas um filho, ou que não tenham nenhum, ou que nunca se casaram, que sejam viúvos ou divorciados. Quando surgir a necessidade de fornecer o cuidado a longo prazo, a maior parte destas pessoas não terá qualquer alternativa a não ser os programas públicos. Estamos passando por uma transformação sem precedentes na família estendida. Hoje, no mundo desenvolvido, pelo menos um filho de cada dois é filho único. Daqui a uma geração, pelo menos um filho de cada quatro não terá irmãos, nem irmãs, nem tias, nem tios, nem primos. Mesmo reduzindo o seu tamanho, o aumento da expectativa de vida está multiplicando o número de níveis de gerações vivas ao mesmo tempo, não apenas mais avôs, mas, principalmente, mais bisavôs e mais tataravôs. A expansão dos benefícios públicos das aposentadorias, a entrada das mulheres no mercado de trabalho e o surgimento da nova ética da “vida independente” debilitaram o papel da família como rede de apoio aos dependentes da todas as idades. Agora, o envelhecimento mundial irá impor, irremediavelmente, novas e enormes responsabilidades sobre a família. A pergunta que cabe é: a família estará preparada para enfrentá-las? E se não estiver, o governo poderá assumi-la? 3.6 O envelhecimento mundial e a política Apesar de ser inquestionável que os planos atuais de aposentadoria são simplesmente insustentáveis, os políticos continuam negando-se a admiti-lo. Na 42
www.longevidadesaudavel.com.br Europa, as aposentadorias generosas e sem financiamento são consideradas o pivô da “solidariedade social”. Falar de redução de benefícios, criará enorme atrito entre as classes. Nos Estados Unidos se defendem como “direitos adquiridos” semelhantes à propriedade privada. Para agravar, o aumento do poder político dos votantes mais velhos irá tornar a inevitável reforma ainda mais difícil. Até 2030, 2/3 dos votantes nos países desenvolvidos estarão na idade da aposentadoria ou acima dela. Em 2030, mais de 50% dos adultos dos Estados Unidos terão mais de 50 anos. Tudo isto significa que o poder dos idosos está e irá aumentar cada vez mais daqui para frente. Os grupos de opinião organizados por pessoas maduras estão aumentado em todo o mundo. Paradoxalmente, a causa de ter um governo poderoso está sendo associada aos interesses políticos e econômicos dos “velhos”, e não dos jovens, o que significa uma completa inversão do estereótipo tradicional. 3.7 O envelhecimento e a ordem mundial Desde Tucídides, os historiadores observaram que a ascensão e queda das civilizações estão diretamente associadas às tendências demográficas. Historicamente, as populações que se reduziram, cederam militar, econômica e culturalmente às que se expandiram. Acontece que os países desenvolvidos não estão e nem estarão dispostos a ceder o poder e a direção aos países em desenvolvimento, mais jovens. Desta forma, não podem ficar omissos às implicações geopolíticas das tendên- cias divergentes quanto à idade e fertilidade das suas populações. O mundo em desenvolvimento que se expande demograficamente pode ser politicamente instável. Os planejadores estratégicos acreditam que os locais com maiores “concentrações de juventude” são os que tem o mais alto potencial em relação à geração de problemas. Ao mesmo tempo, um mundo desenvolvido que envelhece terá mais dificuldades em cumprir seus compromissos de segurança. Os orçamentos de defesa e assuntos internacionais estarão sob pressões constantes provenientes dos gastos cada vez maiores com aposentadorias e serviços de saúde, enquanto que as forças armadas irão sofrer escassez crônica de mão de obra, tanto porque o número de jovens está diminuindo como porque os restritos mercados de trabalho civis tornarão as carreiras militares menos atrativas. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 43 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana A estrutura em transformação das famílias irá apresentar um problema grave, porquanto os pais não estarão dispostos a sacrificar seus únicos filhos homens em situações de combate. Muitos países desenvolvidos de hoje irão depender de importações de capital provenientes de países em desenvolvimento, que poupam mais e crescem mais rapidamente, para financiar investimentos internos e até mesmo a defesa nacional. Como ficará o equilíbrio de poder internacional quando a China se transformar em um grande emprestador e Japão, Alemanha e Estados Unidos nos grandes tomadores de empréstimos? Em 1950, sete das nações mais populosas do mundo eram países desenvol- vidos. Em 2050, somente um país irá permanecer nesta lista: Estados Unidos. A redução da população e da capacidade de produção econômica dos países desenvolvidos, fará surgir outras grandes potências. O grande desafio do mundo desenvolvido será como garantir que a mais nova ordem emergente seja compa- tível com seus valores, interesse e segurança a longo prazo. 3.8 Novas estratégias para um mundo que envelhece Nos próximos anos, todos os países desenvolvidos estarão em busca de formas de satisfazer as necessidades dos idosos sem exaurir os seus sistemas econô- micos e sem sobretaxar os jovens. Haverá muitas estratégias diferentes sobre a mesa, entre as quais: › Fortalecer as bases do crescimento econômico Com os desembolsos por benefício subindo rapidamente, as nações industriais terão que conseguir um crescimento econômico sustentado e robusto para evitar uma crise fiscal. As reformas para uma gama de políticas que inibam o capital e a produti- vidade da mão de obra, desde os impostos até as aposentadorias, o emprego e os mercados financeiros, são cada vez mais essenciais para a manutenção das garantias sociais neste século. › Incentivar aos que não são idosos a trabalhar mais Seja persuadindo os cidadãos em idade de trabalhar a trabalharem mais ou expandindo a imigração. Esta estratégia aumentaria o tamanho da economia e da base tributária. 44
www.longevidadesaudavel.com.br As sociedades com baixas taxas de imigração (como o Japão) ou com custos trabalhistas e desempenho alto (como a Alemanha) serão envolvidas em um intenso debate acerca dos custos e dos benefícios desta estratégia “americana”. › Criar mais filhos e que sejam mais produtivos Esta estratégia distribuiria a responsabilidade da dependência dos idosos entre uma maior e mais rica geração em desenvolvimento. Vários países desenvolvidos, especialmente as nações escandinavas e a França, têm uma longa tradição de financiamento público generoso a favor da natali- dade de investimento em crianças. Esta tradição poderia se estender a outros países como uma das respostas em relação à diminuição da população. › Fortalecer os laços familiares As sociedades como os Estados Unidos, onde a família ampliada é fraca e os custos com a velhice estão se avolumando rapidamente, têm muito o que aprender com as sociedades “confucianistas” como o Japão. Ainda que não se espere a importação desta ética pelos países ocidentais, muitos deles terão que levar em conta políticas que exortem e ajudem os membros da família a cuidar uns dos outros. › Direcionar os benefícios de acordo com as necessidades Os sistemas públicos de aposentadoria costumam distribuir os benefícios a todos os aposentados sem se importar com a renda ou com a riqueza. Apesar da Austrália ser o único país desenvolvido onde todos os benefícios públicos de aposentadorias passam por uma comprovação de acordo com os recursos, outros países acabarão por adotar estratégias semelhantes de “base de proteção.” › Exigir que as pessoas poupem mais durante suas vidas produtivas Grã-Bretanha e Austrália (do mesmo modo Chile e Singapura) estão mostrando ao mundo como avançar em direção às poupanças financiadas para a aposentadoria. Esta estratégia é a mais eficiente para resolver um dos maiores desafios do envelhecimento mundial, ou seja, como manter taxas adequadas de poupança e de investimento. Além das vidas produtivas mais longas, esta é a única estratégia que não impõe um imposto direto ou uma responsabilidade indireta econômica ou familiar sobre as futuras gerações. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 45 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana › Estimular que se tenha uma vida produtiva mais longa A forma mais eficiente e direta de conseguir poupanças fiscais e econômicas grandes sem prejudicar a qualidade de vida dos idosos será chamá-los a ter suas vidas produtivas mais longas. Ultrapassar o ciclo de vida das três etapas de educação, trabalho e aposen- tadoria, traria enormes benefícios para a economia e para os próprios idosos. Tenho a certeza de que você, que tomou a decisão de estudar este modelo de medicina com profundidade e de mergulhar nas suas bases e fundamentos, e agora lê esta obra, já se encontra habilitado a compreender a grandeza e a dimensão das responsabilidades que temos em mãos, enquanto praticantes de uma forma efetiva e eficaz de medicina, capaz de fazer frente não só a estas novas demandas, como oferecer uma solução lógica e mais do que necessária ao grande desafio do envelhecimento mundial! 3.9 Como envelhecer com graça e prudência O envelhecimento mundial traz consigo uma profunda transformação siste- mática de todas as esferas da vida social. Trata-se de uma transformação de tal magnitude que irá transcender os seus próprios limites culturais. Desde Tóquio até Paris, de Varsóvia até Washington, estamos vendo exata- mente as mesmas manchetes nos jornais a respeito dos mesmos problemas fiscais, familiares e, principalmente, de saúde. Ou melhor: da falta de saúde. Sob as manchetes estampadas nos veículos de comunicação e sob as projeções fiscais desalentadoras, existe uma dinâmica econômica e cultural de longo prazo cujo funcionamento estamos apenas começando a entender. Como será viver numa sociedade que será mais velha do que qualquer uma que já conhecemos, que já imaginamos e que já existiu em toda a história da humanidade? O mundo desenvolvido será capaz de compreender todos os desafios e oportu- nidades que esta transição profunda irá representar? O mundo desenvolvido estará preparado para mobilizar políticas públicas de forma adequada? Considerando tanto as sociedades como as pessoas, são aqueles que enxergam as tendências e se planificam com antecipação (os mais rápidos), que serão capazes de envelhecer com prudência, saúde, graça e sucesso. O momento é mais do que propício para parafrasearmos Charles Darwin, que, ao dedicar anos da sua vida ao estudo da evolução das espécies concluiu: “No mundo, irão sobreviver não os mais fortes, nem tão pouco os mais inteligentes, mas sim, aqueles que mais rapidamente souberem se adaptar às mudanças”. Nada mais atual! 46
www.longevidadesaudavel.com.br EXERCITANDO E REFLETINDO 1. Ao discursarmos sobre o envelhecimento mundial, percebemos o impacto deste sobre os aspectos mencionados. Baseado em seus estudos, comente um pouco sobre: O papel da família e a sua relação com o envelhecimento; As possíveis estratégias para um mundo que envelhece; O papel do médico no incentivo a uma vida longeva e produtiva. 2. A partir do seu entendimento e da sua percepção do mundo, qual seria a melhor maneira de envelhecer? Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 47 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana 4. O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA 4.1 Análise do cenário populacional No início da década de 1980, o World Health Statistics Annuals (WHSA) projetou que o Brasil passaria de 16º país com maior contingente de idosos no mundo em 1950 para sétimo no ano 2000. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) a porcentagem de pessoas com 60 anos ou mais na população alcançou 9,1% em 1999. De 1995 a 2002, o número de idosos aumentou em 2,8 milhões. A região Sudeste foi a que teve maior envelhecimento, tendo pessoas dessa faixa etária representando, em 2000, 12% de sua população total. De acordo com a Organização Mundial de Saúde o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões de pessoas até 2050; isso repre- sentará um quinto da população mundial. Segundo dados do IBGE de 2019, a população total de brasileiros está em torno de 210.198.932 habitantes. Destes, estima-se que em torno de 29 milhões tenham 60 anos ou mais e a expectativa é que, até 2060, este número suba para 73 milhões com 60 anos ou mais, o que representa um aumento de 160%, ante os 10,7 milhões que eram em 1991. O Brasil, em 2016, tinha a quinta maior população idosa do mundo, e, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos. Como em outros países do mundo, há um número maior de mulheres na faixa etária idosa (55%). Essa diferença se acentua com o aumento da idade: a razão de sexo é de 118 mulheres para cada 100 homens na faixa etária de 65-69 anos e de 141 para cada 100 no grupo de 80 anos ou mais. A expectativa de vida ao atingir 60 anos também acompanha o sexo, com mais 19,3 anos de vida, em média, para as mulheres contra 16,8 anos para os homens. 48
www.longevidadesaudavel.com.br 4.1.1 Primeiro, as más notícias Envelhecer em um país em desenvolvimento é tarefa bastante árdua. De 2005 para 2015, a proporção de idosos de 60 anos ou mais na população do Brasil passou de 9,8% para 14,3%. Ao mesmo tempo, observou-se queda no nível de ocupação dos idosos de 30,2% para 26,3%. O perfil do grupo de idosos que trabalham sofreu mudanças: diminuiu a proporção de idosos ocupados que recebiam aposentadoria, de 62,7% para 53,8%, e aumentou a participação de pessoas com 60 a 64 anos entre os idosos ocupados, de 47,6% para 52,3%. Entre os idosos ocupados, 67,7% começaram a trabalhar com até 14 anos de idade. As pessoas de 60 anos ou mais inseridas no mercado de trabalho possuem baixa média de anos de estudos (5,7 anos) e 65,5% delas tinham o ensino fundamental como nível de instrução mais elevado. Mais de 40% dos idosos no país tem uma renda familiar per capita de menos de um salário-mínimo. (Síntese de Indicadores Sociais (SIS): uma análise das condições de vida da população brasileira 2016) Ramos et al comentam sobre a alta prevalência de domicílios multigeracio- nais no Brasil e sobre a hipótese desse arranjo ser muito mais uma estratégia de sobrevivência do que uma opção cultural. Entendem, também, que os idosos desses domicílios estão muito mais sujeitos a uma situação de isolamento e maior grau de dependência e incapacidade, que são frutos de pior qualidade de vida a que estão expostos. Os idosos apresentam mais problemas de saúde que a população geral. Nos últimos anos, vem aumentado o número de pessoas que buscam atendi- mento médico, Cerca dos 156,1 milhões de brasileiros que procuraram atendi- mento médico nos últimos 12 meses, 78,2% eram maiores de 65 anos. Esse também foi o grupo de maior coeficiente de internação hospitalar (23,1 por 100 pessoas no grupo) no ano anterior. Mais da metade dos idosos apresentava algum problema de saúde (56,7%), sendo 26,1% portadores de doenças crônicas. Com o aumento da população de idosos, observa-se aumento do consumo de medicamentos por essa população. A maioria (mais de 80%) utiliza, pelo menos, um medicamento por dia, e cerca de um terço consome cinco ou mais simultaneamente. O referido público chega a constituir cerca de 50% dos multiu- suários sendo, possivelmente, o grupo etário mais medicalizado na sociedade, por causa do aumento da prevalência de doenças crônicas com a idade.Estudos demonstra que idosos atendidos ambulatorialmente consumem três ou mais medicamentos por dia. Das drogas não psicotrópicas, os anti-hipertensivos foram os mais frequentemente utilizados (32,6%). As síndromes depressivas e demenciais são os problemas mentais mais prevalentes na população idosa. Em suma, os idosos no Brasil são portadores de, pelo menos, duas a três doenças crônicas, e utilizam 2,3 medicamentos, em média, regularmente. Um em cada três idosos apresenta sintomas psiquiátricos ou demenciais, e seus cuidadores informais sofrem um impacto decorrente desse papel. Os serviços de saúde disponíveis não são suficientes para as necessidades de cuidado dessas pessoas. Academia Longevidade Saudável • Todos os direitos reservados © 2020. 49 A reprodução e compartilhamento deste material é proibida.
Curso Ciências da Longevidade Humana 4.1.2 Depois, as boas notícias Com esse perfil, é possível que haja boas notícias? Sim. Vive-se mais, e este sempre foi o intuito do ser humano. O trabalho nesse momento reside no fato de como obter melhor qualidade de vida nesses anos conquistados a mais. Pesquisas têm sido feitas no sentido de esclarecer os fatores que contribuem para o chamado “envelhecimento bem-sucedido”. Esta seria uma “condição indivi- dual e grupal de bem-estar físico e social, referenciada aos ideais da sociedade, às condições e aos valores existentes no ambiente em que o indivíduo envelhece e às circunstâncias de sua história pessoal e seu grupo etário”. No Brasil, ainda são tímidas as iniciativas relacionadas ao bem-estar da população idosa. Lentamente surgem centros de convivência, alojados em clubes, paróquias, instituições etc. Surgem, também, universidades abertas da terceira idade que, além de prestarem um importante serviço à comunidade idosa, desenvolvem pesquisas na área gerontológica. Espera-se, assim, que um número crescente de profissionais tenha acesso a treinamento adequado para lidar com os problemas sociais, econômicos e de saúde que afetam a população idosa. Estamos diante de uma grande oportunidade para disseminar e democra- tizar os conceitos dessa medicina entre os médicos e profissionais da saúde, um modelo capaz de fazer frente aos enormes desafios do envelhecimento mundial. O Brasil deste início de milênio já é um país de velhos. Fazer com que as boas notícias ocupem mais espaço nos artigos depende de uma maior mobilização da sociedade em relação a essa parcela da população, que faça com que os representantes no poder público criem políticas de benefícios para os idosos. Essas iniciativas devem se basear em estudos para determinação de preva- lência na comunidade das principais doenças e problemas que acometem estas populações. Os resultados destes estudos devem impulsionar políticas adequadas em relação aos idosos, e todos os envolvidos na área devem pressionar para que as mesmas saiam do papel. A rede de apoio ao idoso não pode mais depender apenas de iniciativas isoladas de profissionais conscientes. O envelhecimento bem-sucedido deve ser a meta de saúde primária a ser atingida e um compromisso assumido por todo profis- sional de saúde. 50
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