Francisco Brito Mulheres em GUERRA Revolução das mulheres
Mulheres em GUERRA Revolução das mulheres
Francisco Brito Mulheres em GUERRA Revolução das mulheres Goiás, Agosto de 2022
Copyright © 2022, Francisco Brito Capa e editoração: Paulo Roberto da Silva Ilustração da capa: Francisco Brito Ficha catalográfica Brito, Francisco Mulheres em guerra : revolução das mulheres / Francisco Brito / Direitos em língua portuguesa para o Brasil, adquiridos ao autor e Publicado mediante Acordo, 2022. 164 p. 1. Ficção brasileira. Romance brasileiro. Feminismo. Direitos de igualdade no mercado de trabalho. Violência domésti- ca. Direito ao corpo. Sexualidade. I. Título Esta é uma obra literária de ficção. Nomes, personagens e aconteci- mentos descritos nos lugares que se passam a história são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Este livro segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa E-mail do autor: [email protected] Direitos Adquiridos ao autor Auto publicação.
Aos meus filhos Carolina, Enrique Gabriel, Felipe, Gustavo, Ygor, Rodolfo Zion e Vitorugo.
SUMÁRIO Personagens do livro..................................................................9 Prólogo.....................................................................................11 Capítulo 1 A amizade............................................................ 23 Capítulo 2 O negócio............................................................ 29 Capítulo 3 A internet e redes sociais................................... 33 Capítulo 4 A crise.................................................................. 39 Capítulo 5 Declaração de amor............................................ 45 Capítulo 6 Aprendendo a amar............................................ 53 Capítulo 7 Primavera das mulheres..................................... 57 Capítulo 8 Guerra dos sexos................................................. 65 Capítulo 9 A força da mulher............................................... 83 Capítulo 10 A vista do mar do arpoador................................ 87 Capítulo 11 Café da manhã.................................................... 91 Capítulo 12 Ser perceptiva e agir........................................... 99 Capítulo 13 É moda ser feminista........................................ 105 Capítulo 14 Mulher líder...................................................... 113 Capítulo 15 Mulher guerreira.............................................. 117 Capítulo 16 Lar, doce lar.......................................................123 Capítulo 17 Violência sexual................................................ 137 Capítulo 18 Direito ao amor e sexo...................................... 143 Capítulo 19 O enlace............................................................. 147 Capítulo 19 Epílogo.............................................................. 151
Personagens do livro Alice Falcão Executiva, feminista Antônio Sampaio Designer Celita Maurici Advogada, Feminista Clarissa Mostarga: Empresária e feminista Daisy Verneck: Escritora, jornalista e Feminista Elisangela Meireles: Deputada Federal e feminista Faustina Levy: Jornalista, blogueira e feminista Ítala Martins: Jornalista, Cientista político e feminista Joaquim Serrano: Gerente do Bistrô Copacabana Júlio César: Proprietário do Bistrô Copacabana Luana Sant’Anna: Atriz e feminista Lúcia Helena: Médica negra e feminista Meyre Haddad: Empresária e feminista
PRÓLOGO As mulheres no Brasil pedem socorro às autoridades. Mas poucas são ouvidas e muitas acabam sofrendo violência doméstica e violência sexual. Fica uma pergunta na cabeça de cada mulher (sem resposta) sobre o por que são assassinadas tantas mulheres por ano no Brasil? Que país de homens cruéis é o Brasil! Não é nenhum orgulho ocupar o 5o lugar no ranking mundial onde mais mulheres são assassinadas por ano. É como se os homens brasileiros fossem em sua maioria machistas que se acham no direito de violentar, agredir, estuprar, matar mulheres com requinte de crueldade – atos de crimes de ódio. O relatório do “mapa da violência 2015” mostra os crescentes números de violência contra a mulher, sendo o Estado do Espírito Santo recordista na violência contra a mulher. Muita gente ainda se pergunta o que é feminismo. O dicionário ensina que feminismo é um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Tornou-se uma palavra de ordem na luta da mulher por igualdade no mercado de trabalho e contra a opressão, assédio sexual e contra a violência doméstica que envergonha o nosso país. É importante que toda mulher saiba que o movimento do feminismo ativista não é inventado hoje por mulheres masculinizadas, é uma luta das mulheres pela igualdade entre
14 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres mulheres e homens. A origem dos movimentos feministas datam do século XIX, resultado dos ideais dos iluministas e pelos motivos que levaram a ser posta em prática a Revolução Francesa que tinha como lema: “igualdade, liberdade e fraternidade”. As mulheres que sempre participaram da vida da sociedade, elas procuraram se inserir no contexto daquelas mudanças preconizadas pelos ideais iluministas que desencadearam a revolução francesa para combater o patriarquismo daquela época. Com o advento da revolução francesa o feminismo se tornou uma palavra de ordem e chegou ao século XX, onde as feministas questionavam o poder dos homens – social, político e econômico detido pelos homens que comandavam a sociedade do mundo machista. E tornou uma palavra de ordem na luta da mulher contra a desigualdade de gênero. Feminismo é um processo de apoio aos valores feministas. Tem sua origem nas lutas da mulher num passado distante – a quando movimentos de mulheres reivindicavam um basta nas formas de opressões e violência contra a mulher, movimentos de libertação e superação das desigualdades (raciais e sociais), movimentos contra a discriminação da mulher no mercado de trabalho, racial, e desta forma romper com a cultura machista arraigada que desde o começo dos tempos ao homem foi-lhe dado todo direito sobre a mulher com quem se casava. Graças a movimentos feministas muitas práticas de sevícias praticadas contra a mulher foram revogadas. Contudo, práticas de crueldade e de ódio são praticadas contra a mulher, apensar dos avanços da legislação que beneficiam a mulher em muitos aspectos sociais e profissionais. Muito foi feito, mas muito precisa ser feito para tirar a mulher da opressão e da desigualdade da mulher em detrimento do homem dominante. Cada vez mais é necessário que mais
Francisco Brito 15 mulheres sejam corajosas e se declarem feministas e se juntem a outras mulheres nas campanhas feministas para conjugar esforços de combate à violência sexual, violência doméstica e contra a desigualdade no mercado de trabalho. Não é só a mulher da periferia que precisa combater a violência doméstica, faz-se necessário que as mulheres das classes sociais elevadas, celebridades, artistas, saiam do conforto de seus lares e se intitulem feministas ativistas e adicionem contatos pessoais para se fazer presente no apoio a outras mulheres na luta contra a opressão, a desigualdade e a violência doméstica. O livro apresenta um olhar crítico e indagativo sobre a problemática vivenciada pelas mulheres que ainda são vítima de violência doméstica, violência sexual (estupros) e assassinatos no interior do lar doce lar. Não é admissível que em pleno Século XXI, a mulher ainda seja tratada pelo homem como se estivesse ainda na sociedade antiga, medieval e moderna, se desde o Século XX – 1930 e 1940 – a luta da mulher toma corpo e reivindica direito ao voto nas eleições, melhoria de vida e igualdade entre os dois sexos. A mulher continua relegada a uma posição secundária (vista pelo homem machista como objeto de desejo, de procriação, cuidadora do lar e a cozinheira), enquanto o homem é “o senhor absoluto” com direito sobre a mulher com quem está casado ou namorando. A sociedade é conivente com a cultura do homem machista – homem se sente em posição superior à mulher e exerce o poder pela força sobre a mulher – e impõe uma separação clara dos papéis entre homens e mulheres. Cedo elas aprendem a discernir a sua identidade sexual – mulher é mulher, homem é homem. É ensinada à menina a ser uma menina, e que ela deve ficar longe
16 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres dos meninos. E, assim, a mulher desde cedo é marginalizada e relegada a uma segunda categoria de gênero, enquanto o homem segue adiante garboso em posição de liderança na sociedade machista. Buscou-se apresentar uma visão crítica de um grupo de mulheres bem sucedidas, celebridades, artistas, jornalistas, deputadas, socialites, indignadas com a situação crucial da mulher na sociedade machista decidiram apoiar os valores feministas e buscar uma solução que pudesse outorgar direitos para minimizar a desigualdade da mulher no mercado de trabalho e combater a violência doméstica junto aos agentes políticos. E por se tratar de um processo de transformação de gênero, aquelas mulheres chegaram à conclusão que é preciso mais que campanhas feministas nas redes sociais, já que o caso requer contatos estreitos diretos com as demais mulheres onde elas estejam, incluindo àquelas que não têm acesso à internet. Neste sentido, foram unânimes em dizer que é preciso traçar planos e metas para alcançar o propósito das mulheres. E como a união faz a força, as mulheres deverão se unir e cada uma se adaptar às necessidades e limites do gênero. Foram unânimes em dizer que a luta das mulheres deve ser tratada como quem trata um negócio e arregimentar mulheres talentosas para aderir ao feminismo ativista e liderar os movimentos em todas as regiões para chegarem ao Congresso Nacional com propostas viáveis. Aderir ao feminismo ativista é uma atitude necessária por todas as mulheres de todas as classes sociais – independentemente da cor e da raça – para apoiar os valores feministas na luta por igualdade no mercado de trabalho, direito ao corpo, direito ao aborto, direito à proteção policial, direito à defesa da igualdade racial, direito a um número de cotas de empregos e cargos
Francisco Brito 17 comissionados (por lei), na ordem de cinquenta por cento dos números de vagas de empregos e cargos comissionados oferecidos nas indústrias, nas empresas brasileiras e no Serviço Público, como forma de combater a desigualdade no mercado de trabalho. Mostra a necessidade de valorizar o feminismo ativista para que haja uma revolução das mulheres contra os homens machistas que se acham no direito de usar, abusar, dominar e tornar submissa a mulher, estuprar, agredir e até matar a mulher no interior do lar doce lar. Não importa a classe social – mulheres ricas ou pobres são mortas por seus maridos. Todas as mulheres são chamadas à luta para combater o assédio moral, o assédio sexual, a violência sexual e a violência doméstica. Nenhuma mulher está isenta de ser agredida, estuprada e assassinada por seu marido ou ex- marido, namorado ou ex-namorado, uma vez que a mulher nunca irá saber com quem estará dormindo e fazendo amor. Muitas mulheres estão dormindo com o seu pior inimigo invisível que da hora para outra poderá se rebelar e matá-la. Não importa se a mulher está hoje numa situação privilegiada, a manhã ela poderá ser a próxima vítima da violência doméstica. Hoje ela é tratada com carinho pelo namorado ou amante ou marido, mas amanhã ela poderá vir ser espancada e até assassinada pelo homem que faz amor com ela e a chama de meu amor. O amor é irmão gêmeo do ódio, razão porque existem tantos crimes de ódio contra a mulher. Faz-se necessário que mulheres bem-sucedidas encampem campanhas feministas para entrar na luta das mulheres contra o poder dos homens machistas, sabendo que tirá-lo da posição central da sociedade requer estratégia de guerra e união de todas as mulheres. Elas são maioria em todos os segmentos da vida
18 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres moderna, o que elas precisam é se organizar e declarem guerra contra os homens machistas que se acham no direito de espancar, estuprar e até matar a mulher. Faz-se necessário que sejam criados grupos de mulheres e se intitularam feministas ativistas para combater o mal pela raiz. Deixarem de ser sensíveis e complacentes, e tornarem- se em posição de liderança, acompanhar e servir na guerra das mulheres contra os homens machistas. Nenhuma mulher está imune de ser a próxima vítima doméstica. Deve estar ciosa que ela (celebridade, executiva, escriturária ou empregada doméstica) poderá ser a próxima mulher a ser assassinada pelo marido ou ex- marido, pelo namorado ou ex-namorado. Mulheres devem ter mais confiança no seu talento. Acreditarem que podem vir ser a próxima Presidenta do Brasil, ou a Governadora de seu Estado, a Senadora da República, a Deputada Federal, e não achar que suas possibilidades quando muito estão limitadas a um cargo eletivo de Vereadora. Isso acontece porque elas cresceram num ambiente em que a mulher é relegada a uma posição secundária, ou seja, ser apenas uma mulher para servir ao homem e procriar. Mais do que antes, a mulher deverá aprender, sem cessar, a se tornar uma feminista ativista e liderar campanhas feministas para obter novos benefícios para a nova mulher do presente e para as gerações futuras. Significa não aceitar continuar numa posição secundária e temerosa ao homem machista, mas enfrentar os desafios para se tornar melhor, negar atitudes de auto complacência e buscar crescimento pessoal e se tornar uma líder feminista com todas as armas para enfrentar o homem cruel que se acha no direito de matar a mulher.
Francisco Brito 19 Os tempos exigem da mulher importantes propostas de ação para ampliar formas de comunicação e de integração entre todas as mulheres para se fortalecerem diante do inusitado: o homem machista. Ressalta-se que o propósito implícito dos movimentos sociais e políticos deve estar fundamentado nos valores feministas. Tornar-se líderes feministas é considerar o papel da mulher na sociedade para ensinar e pensar no bem-estar da categoria de gênero, munindo-se de coragem e determinação para vencer a luta e ser glorificada. Isso só é possível quando a mulher de hoje se munir das armas que têm: maior em número que os homens e maiores saberes escolares. A força física do homem não sobrepõe a força da inteligência da mulher. A mulher não deve mais aceitar um somente um papel coadjuvante, como eram as mulheres do passado. As décadas passadas foram determinantes para distanciar a mulher das estruturas hierárquicas do poder, relegando-as a um segundo plano, permanecendo o desequilíbrio da mulher perante os avanços conquistados pelos homens. Isto fez com que a mulher fugisse de seu oponente na luta por igualdade no mercado de trabalho, na luta por seus direitos, deixar de conquistar benefícios necessários à mulher e permanecer num relacionamento que é ruim por ter se tornado submissa e dependente do homem que a escraviza e a põe para baixo para continuar sendo um ser absoluto. Significa que a mulher aceita permanecer no barco prestes a afundar, em vez de buscar alternativa para se salvar. Muitas mulheres se encontram numa situação precária no casamento, sentindo suas mãos e pés atados, quando elas podem se libertar do seu opressor e denunciar sevícias sofridas pelo seu companheiro, marido ou namorado. Qualquer mulher que sofra
20 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres maus tratos poderá ter liberdade e dever de reivindicar mudanças necessárias para pôr em prática seu potencial e abandonar a precariedade do relacionamento. As leis são para todos reivindicar seus direitos, denunciar e pedir medidas de proteção. Nunca aceitar permanecer na zona de conforto, quando ela está sob risco de vida, mas usar conhecimentos específicos ou se armar para defender a sua integridade física. As redes sociais estão à disposição de todas para arregimentar outras mulheres que sofram sevícias no interior do lar doce lar e, juntas, formar um exército de mulheres para lutarem sob um só objetivo: direito à vida. Usar de todos os meios e recursos para mudar a situação de dependência e obediência ao homem machista. Requer, pois, que a mulher administre os conflitos para ter vitória rápida antes que seja tarde demais. Denunciar o agressor é a primeira medida requerida. O passo seguinte é pedir medida de proteção para manter o agressor distante. A integridade física é o principal objetivo. Neste livro procurou-se compreender a situação das mulheres que se deixam sofrer violência doméstica, se a Lei Maria da Penha oferece a eficácia necessária para proteger a mulher do marido opressor. A conclusão a que se chegou foi que a mulher não reage nem denuncia o marido ou namorado, ao receber o primeiro empurrão e o primeiro tapa. Ela baixa a cabeça e fica com medo de apanhar do homem com quem mantém um relacionamento se o denunciar. Como ela fica calada, o homem acha que ela gostou de sua atitude agressiva. Então para torná-la obediente a ele, ao menor motivo ele passa a surrá-la e chegará o dia que ele a matará.
Francisco Brito 21 A configuração da violência doméstica no Brasil preocupa as autoridades que se sentem impotentes para solucionar tantos casos de agressão e assassinatos de mulheres no interior do lar doce lar. Por mais que se faça, as ações são ineficazes para mudar a configuração social que a mulher se encontra. A violência doméstica é uma realidade. O que fazer para apagar essa mancha do Brasil? Esta manhã a ler o jornal encontrei uma reportagem sobre uma mulher que fez tudo para salvar a sua vida, mesmo assim ela foi assassinada pelo marido. Era a terceira surra que a Gabriela dos Santos levava do marido naquele mês de novembro. Ela criou coragem e foi à delegacia da mulher e fez a denúncia e obteve uma medida protetiva que impedia o marido de se aproximar dela. Com medo de represália do marido, ela pediu demissão do emprego e deixou a casa que eles tinham construído e mudou-se para o Distrito Federal. Foi morar na cidade de Planaltina, certa que o marido nunca ia descobrir onde ela morava. Começou a trabalhar numa concessionária de veículos no Plano Piloto, em Brasília. Já havia se passado um ano que ela havia deixado a cidade de Goiânia e se mudado para o Distrito Federal. Ela tinha certeza que o marido já não era mais uma ameaça para ela. Mas ela se enganou. Ele a procurara feito um cão farejador e não havia descansado um só dia, procurando por ela, até descobrir onde ela morava com a filha. E naquela manhã de domingo, o Moacir Ramos irrompeu a casa que ela morava e aos gritos acusava-a de traição e de ser uma esposa infiel. Possuído de ciúme ele entrou casa adentro, enquanto ela conversava ao celular com o namorado. O tapa que ela levou arrancou o celular da mão dela. E ele a cobriu de socos e pontapés. Os gritos por socorro de Gabriela ficaram gravados no celular, mas o seu algoz não se condoeu de seus pedidos de “não
22 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres me mate pelo amor de Deus”. Quanto mais ela gritava, mais ele batia nela. A filha do casal viu quando o pai arrastou a mãe até à cozinha e apanhou uma faca e a esfaqueou por diversas vezes. A menina correu e chamou os vizinhos que chamaram a polícia. Embora os vizinhos tenham ido em socorro da pobre mulher e dominaram o agressor, era tarde demais, a mulher já estava agonizando se esvaindo em sangue. Quando a ambulância chegou e levou a pobre mulher para o hospital, ela não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do hospital. Este não é um caso isolado? Não. Todos os dias são assassinadas treze mulheres no Brasil, em sua grande maioria são assassinadas por seus maridos ou ex-maridos, noivos ou ex- noivos, namorados ou ex-namorados – uma violência provocada por violência machista. É como se o homem tivesse em mente “se não é minha, não é de mais ninguém”. Inúmeras mulheres sofrem violência sexual e pouco se faz para minimizar a crueldade contra a mulher. A sociedade continua de braços cruzados, enquanto o mundo dos homens machistas continuam cometendo suas crueldades contra a mulher. O número de mulheres mortas na década de 2005 a 2015, só na região do Cariri, no Ceará, foram assassinadas 187 mulheres, segundo o observatório da Violência Contra a Mulher do Cariri. Segundo dados do IPEA “violência contra a mulher: feminicídios no Brasil”, 50 mil mulheres foram assassinadas em uma década. Apesar da Lei Maria da Penha estar em vigor a sete anos, os assassinatos de mulheres por parceiros ou ex-parceiros continuam crescendo ano a ano – um absurdo o Brasil ostentar um índice tão elevado de mulheres assassinadas por parceiros ou ex-parceiros, sendo um homicídio a cada uma hora e meia. Metade das vítimas foram assassinadas por arma de fogo, muitas
Francisco Brito 23 no interior do lar com uso de armas brancas (facas). Mesmo assim os jornais se omitem em publicar em suas primeiras páginas, quando muito a notícia aparece numa parte do jornal Dia 25 de novembro é o Dia Internacional Contra a Violência de Gênero, mas ninguém comemora, é um dia de tristeza causada pela violência machista contra a mulher. A barbaridade da violência machista está enraizada na cultura dos homens que se acham no direito de massacrarem as mulheres com o objetivo de torná-las submissas e obedientes diante da severidade do opressor. Quando irá haver punidade severa à violência machista? Quem salvará a mulher de ser morta por seu marido ou ex- marido, namorado ou ex-namorado, se os tribunais não dão a atenção devida às causas de violência doméstica. Cada vez mais aumentam a violência doméstica e sexual. Todos os dias são inúmeras mulheres que sofrem agressão patriarcal devido a dominação feminina permanecer. Exemplos do feminismo radical da década de 1960 – que acreditava só ser possível exterminar o machismo com uma revolução profunda e geral – devem ser reformulados conceitos e práticas para reivindicar legislação e sua aplicabilidade com mais rigor na proteção da mulher contra a crueldade dos homens. A mulher não deve mais continuar sendo uma espécie de segunda classe, mas se impor para construir uma sociedade que sobreponha-se ao poder masculino machista e obter igualdade entre mulheres e homens em todos os segmentos da sociedade. Mas mulheres também matam. Em 2012 esposa matou o diretor da Yoki Alimentos, depois de ter sofrido agressões físicas do marido que a esmurrou, depois de uma discussão motivada por ciúmes. Ela reagiu e deu um único tiro na cabeça do marido,
24 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres com uma arma calibre 380, no interior do luxuoso apartamento de 500m² do casal, enquanto a filha dormia no quarto. O crime aconteceu na Vila Leopoldina, na cidade de São Paulo. Para se livrar do cadáver do marido, a esposa esquartejou o corpo, colocou as partes do cadáver dentro de sacos plásticos e põe para congelar dentro do freezer. Depois acondicionou as partes do corpo dentro de três malas. Desceu com as malas pelo elevador do luxuoso edifício e jogou as partes dos restos mortais da vítima em diferentes pontos de Cotia e as malas abandonou em outros lugares. Outro crime cometido por esposa da vítima, que após discussão, ela esfaqueou o marido, esquartejou e guardou no freezer por vários dias. Quando eu terminava de escrever este prólogo a televisão anunciava que uma mulher havia matado o marido enquanto ele dormia. Com muito sacrifício ela puxou o corpo até à garagem e o colocou no porta-malas do carro e levou o carro para bem longe de onde ela morava e ateou fogo no carro com o corpo dentro do porta-malas e voltou para casa como se nada tivesse acontecido. São inúmeros os casos de mulheres que matam o marido e esquarteja-os e se livra das partes mortais para não serem descobertos os crimes. Contudo, os casos de homens que matam e esquartejam as esposas são proporcionalmente muito mais superior ao número de mortes de maridos por suas mulheres.
Capítulo 1 A AMIZADE Clarissa Mostarga de Abreu frequenta o Bistrô Copacabana – do Engenheiro Elétrico Júlio César – deste os tempos que ela era noiva de Lucas Walfrido do Amaral, um capitão da Aeronáutica. Lucas e Júlio mantinham uma sincera amizade deste os tempos de colegial. A amizade de Clarissa com Júlio vem dos tempos que ela era noiva do Lucas e os dois frequentavam com frequência o Bistrô. Quando o Lucas foi assassinado, ela ficou mais de um ano sem voltar ao Bistrô Copacabana. Há dois anos, ela voltara a frequentar o Bistrô de Júlio César. A amizade entre os dois se tornou mais presencial. Sempre que podia, a Clarissa ia ao Bistrô com as amigas. A amizade entre Clarissa e Júlio era muito forte. Quem os via juntos podia jurar que os dois eram casados, tanto que ele se entendiam. Júlio era o confidente, de Clarissa era um dos poucos homens em quem ela confiava as suas confidências. Quando ela se sentia triste ou carente, ela ia conversar com o Júlio. Ele era uma espécie de conselheiro e confidente dela.
26 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres O Júlio teve uma grande decepção amorosa há menos de três anos. Ás vésperas do casamento com a Jornalista Andrea Sousa, a noiva deixou de atender as suas ligações telefônicas dele, não respondia seus e-mails e bloqueou o acesse dele à sua página no facebook. Ela simplesmente sumiu. Ela deixou o emprego, bloqueou todos os acessos que ele poderia ter nas suas redes sociais. Tirou o perfil dele do Linkedin, Twiter, Skype, do Instagran e vendera o apartamento dela e desapareceu. Ficou a impressão que ela houvera sido sequestrada, mas na verdade ela deu um fora sem ser comunicado – como diz na gíria, ele levou um ghosting. Certamente para não ter que passar pelo constrangimento e justificativas que o estava deixando por um sujeito que ela havia conhecido na internet. Tempos depois Júlio soube que ela tinha fugido com um homem para Lisboa, em Portugal, que ela conhecera num site de relacionamento. Quando ele soube que a noiva havia se casado com outro e que estava morando em Lisboa, Portugal, ele não se abalou, apenas disse: – Ela não imagina o peso que tirou de minhas costas, quando “escafedeu-se”. Ela me fez foi um grande favor, cortando todo e qualquer laço virtual e pessoal comigo, assim, eu continuo solteiro e livre para ficar com quem eu quiser. Como confiar numa pessoa que resolve ir embora para não encarar impactos emocionais do fim de um relacionamento, não merece nenhum tipo de contato, muito menos um espaço em minha vida. Eu não nego que foi traumático no começo, mas não me causou nenhum tipo de depressão, disse ele aos amigos que contaram sobre o paradeiro de Andrea. O fato é que ele levou o maior baque quando levou aquela bloqueada. Ele ficou sem confiar noutras mulheres que
Francisco Brito 27 apareceram em sua vida, evitando se envolver e abrir a guarda a novas intimidades. Para ele a estratégia da noiva terminar o relacionamento com ele daquela maneira foi um ato de pessoas que não conseguem se colocar no lugar da outra pessoa que tem sentimentos sinceros. Os amigos mais chegados dizem que a dor do fim do relacionamento daquele jeito demorou sarar. E como ainda não existe um remédio para cura da dor de amor, só o tempo, ele teve que conviver com aquela dor. Ter passado por uma situação de um grande amor que virou fantasma foi nó mínimo “indigesto” para quem recebe o ghosting, ou seja, um sumiço voluntário da pessoa amada para não gastar energia com justificativas porque decidiu pôr fim ao relacionamento. Júlio César sempre fora um homem sensível, com muita compreensão. Não é o tipo de homem que se amargura se a noiva ou esposa o colocar um par de “chifre” na sua cabeça. Ele sai da situação com naturalidade sem improvisar rancor nem vingança se ela o trai. Especialmente que no mundo existe um superávit de mulheres disponíveis. São mulheres deslumbrantes, lindas, que estão nas redes sociais e em sites de relacionamentos em busca de namorados, sexo e vida a dois. Júlio nunca foi um tipo de homem compulsivo por sexo. Ele convive muito bem sem sexo. Especialmente nos últimos dois que conheceu Clarissa. Ele evita se envolver com mulheres – mesmo para se aliviar – porque sente por ela uma paixão que nunca sentiu por nenhuma outra mulher. Mas evita dar-lhe sinal de seu amor por ela, já que ela fora a noiva de seu melhor amigo. Ele se satisfaz somente em vê-la. Ele desconfia que ela o ame na mesma proporção que ele a ama, mas sabe que essa iniciativa tem que partir dela.
28 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres Clarissa é uma mulher bonita e sensível, como o Júlio. Joaquim costuma dizer os dois nasceram um para o outro. E que se existem almas gêmeas, Júlio e Clarissa são almas gêmeas. Os dois até se parecem fisicamente um com o outro. Muitos acham que eles são irmãos. Ela é uma empresária que deu certo. Faz parte de uma minoria que faz parte da geração Y que embarcou no porto digital e se tornou um fenômeno sem nenhuma experiência no mercado virtual – é como se diz na gíria, ela nasceu com o bumbum virado para a lua. Certa vez, numa festa de aniversário, ao conversar com um jovem designer formado em Design Gráfico e estar fazendo a sua segunda graduação em computação, trabalhando numa revista de moda a um salário de R$ 1.500,00 que estava desestimulando a sua carreira profissional. E ela também confessou que era formada em arquitetura, mas que só depois de formada foi que viu que não era a profissão que ela queria. Logo Clarissa que não era de se queixar nem ficar jogando conversa fora com um estranho que mais parecia um guardador de carro. Foi quando ele disse que se tivesse dinheiro ele montaria uma loja virtual. Ele se adiantou e explicou que era lojas online que oferecem ao cliente tudo que procura em um só lugar por ter acesso a preços competitivos para vendas de roupas vintage (roupas de estilos antigos, relíquias), retrô (roupas novas inspiradas em roupas antigas, acessórios, sapatos) e brechó (roupas usadas em bom estado e assessórios), para homens e mulheres. A loja física poderá ser instalada à escolha da propriedade. O que contará é o ambiente virtual. Clarissa não teve dúvida. Em menos de um mês ela transformou a ideia daquele designer em prática e abriu a Brechó Clara. Contratou o Designer Tonico que montou o ambiente
Francisco Brito 29 virtual da Brechó Clara. Em menos de dois anos, ela conseguir criar um império, com suas lojas vintage na internet. Hoje ela tem 4 lojas físicas que dão suporte às suas lojas virtuais que atendem clientes do mundo todo.
CAPÍTULO 2 O NEGÓCIO Clarissa ao chegar no Bistrô Copacabana perguntou pelo Júlio. Como ele não estava, ele pediu uma cerveja importada com uma porção de bolinhos de bacalhau. E recomendou ao Joaquim que fosse a cerveja mais forte que ele tivesse. Alegou que estava estressada. Não demorou ela foi servida. Só que em vez de ser o Joaquim vir servi-la, que levou a cerveja foi o Júlio. – O que a deixa tão preocupada e estressada? – Disse Júlio César, que chegou por trás dela para servi-la. Clarissa levou um ligeiro susto ao ouvir a voz do Júlio César. Ela olhou para trás e viu o Júlio com aquele olhar meigo, olhando para ela com um leve sorriso. – Júlio! – Por quê está com esse rosto lindo com ar de preocupada? – Ele perguntou com a voz audível e carregada de lirismo. Clarissa recompôs as feições e abriu um sorriso amistoso.
32 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres – Tudo que eu precisava hoje era ouvir a sua voz gostosa e sentir o seu olhar meigo. Disse ela, levantando-se para dar um abraço no amigo. – O que está deixando você triste? – Nada que não possa ser resolvido, disse ela. – Preocupada com os negócios? – Quis saber ele. – Não. Os negócios vão muito bem, disse ela. – Preocupar-se é muito natural. Nós estamos sempre nos preocupando com o amanhã, com o futuro sem ter vivido inteiramente o presente. – Loucura é não se preocupar com o presente. O futuro ainda vai chegar, então não temos com que se preocupar. – Disse Clarissa. O Júlio puxou uma cadeira e sentou-se de frente para Clarissa. – Você consegue ficar mais bonita quando sorri, disse Júlio. – Eu? – Clarissa zombou do galanteio de Júlio. – Como foi a passeata das mulheres? – Indagou Júlio – Eu estava vendo pela televisão o movimento político inteligente que as mulheres mostraram para o Brasil e para o mundo. O movimento mostrou que as mulheres sabem se organizar, sabem o que querem, sabem como ser solidárias em torno de uma causa e mostraram com inteligência o repúdio ao assédio sexual. – Fico feliz que você apoia o movimento. O movimento foi só uma gota no oceano. O feminismo irá precisar se organizar com melhores estratégias para ter resistência para enfrentar a longa missão reivindicatória que as mulheres terão pela frente. – Disse Clarissa. – Ainda vamos ter que enfrentar cantadas grosseiras,
Francisco Brito 33 fiu-fius, assédio sexual na rua e no trabalho. Muitas mulheres serão vítimas de estupros e violência doméstica. Infelizmente. – O importante é que as mulheres estão prontas para mais esse desafio. O feminismo no Brasil está mais consciente. Eu só acho que o feminismo deve ir mais além das questões que dizem respeito à sexualidade, mas estender as reivindicações ao mercado de trabalho por igualdade salariais. Reivindicar que o governo enseje maior atenção ao acesso da mulher ao mercado de trabalho, igualdade salarial com os homens que tenham o mesmo nível educacional e incentivar mais na participação da mulher no empreendedorismo. – Disse Júlio. Clarissa fez que sim.
CAPÍTULO 3 A INTERNET E REDES SOCIAIS Júlio César é apaixonado por esporte. Ele é figura constante nos jogos de futevôlei – jogo com os pés, peito, pernas, cabeça e ombros, sem o uso das mãos – na areia da praia de Copacabana. O jogo exige concentração, muita habilidade, boa noção de espaço, excelente condicionamento físico e força muscular. Quando terminou a partida de futevôlei, ao sair da quadra deu de cara com a Clarissa que o esperava. – Surpresa boa ver você a esta hora da manhã. – Disse ele, surpreso de ver a Clarissa, depois de quase um mês sem ela aparecer no Bistrô. – O Joaquim me disse que você estava jogando futevôlei aqui. E eu vim ver você jogar. – Disse ela. – Você viu o jogo todo? – Quase todo. Você é bom mesmo, disse ela.
36 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres – Bom que você gostou. Eu posso ensinar a você, disse ele. – Não. Eu não sou muito de esporte. Aprecio ver o talento dos jogadores de futevôlei, mas eu não levo jeito. – Disse Clarissa. – Está a fim de tomar água de coco? – Sim. Vamos, sim. – Você estava viajando? Tem quase um mês que você não apareceu no Bistrô. Eu senti a sua falta, disse ele. – Fiquei duas semanas em São Paulo, onde acabei de abrir mais uma loja na Capital Paulista. A nova loja fica no Itaim Bibi, na Zona Oeste de São Paulo, um bairro nobre e bastante desenvolvido. – Como é que você dá conta? – A internet é meu grande aliado. O espaço físico é só uma referência, a internet faz o resto. – Eu admiro as pessoas inteligentes que têm visão comercial. Que sacada a sua em abrir um brechó virtual para vender roupas, disse ele. – A ideia surgiu de uma conversa informal com um jovem recém-formado em design, com 23 anos de idade, que ganhava um salário de R$ 1.500,00 numa editora de modas. Eu o conheci numa festa de casamento de um antigo amigo do Lucas dos tempos que ele era vivo. Aquele designer falou sobre a ideia de um brechó virtual. Ele falou com tanta clareza que me deixou impressionada. Fui para casa e fiquei idealizando aquela sacada do sujeito. Duas semanas depois eu telefonei para ele e perguntei se ele queria trabalhar para mim e montar o brechó virtual. Ofereci um salário de três mil reais mais 2% como meu sócio. E ele topou. Eu escolhi a eBay para trabalhar. A partir daí o trabalho começou a ser estruturado. E todo esquema tecnológico foi montado por
Francisco Brito 37 ele, o Tonico, um designer que estava se formando em ciência da computação. Vendi o meu apartamento e investi todo dinheiro naquele negócio. – Disse ela. – Aquele jovem designer é até hoje o meu guru. Hoje o seu salário é de 20 mil reais e mais participação de 2% na sociedade. Ele gerencia todo o esquema tecnológico. – Uau! – Quem o vê acha que ele é um simples office-boy. Ele já foi confundido por guardador de carro quando foi ver um show na Lapa. A começar pelo seu tipo físico. Ele é magro, pardo, usa uma barba rala, usa um boné para esconder os cabelos desgrenhados e rebeldes que não se deixam dominar pelo pente. Ele é um rapaz fantástico. Tem o olhar esperto, astuto, sério e sereno. Ele não se preocupa com a vestimenta que usa. Para ele uma camiseta de balaio, uma calça jeans e um par de tênis são o bastante para o deixar confortável. – Disse ela com profunda admiração pelo seu designer. – E roupa é vista como uma ferramenta de comunicação, sendo o ato de vestir sinônimo de alguém bem-sucedido. Ninguém melhor que um designer de moda para saber que ter boa apresentação e um bom portfólio impressionável é o seu melhor cartão de visita, disse Júlio. – É verdade. Depois que eu conheci o Tinoco e ele passou a trabalhar para mim, eu vi que os atributos físicos e o modo de se vestir não são sinônimos de competência. É claro que o profissional de design sabe que a vestimenta, seu visual e um bom portfólio impressionável são o seu cartão de visita. Não o Tinoco. Ele sabe que a sua competência é o que conta. – Você não tem medo que ele leve o know-how e venda para um concorrente?
38 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres – É um risco que eu corro. Mas já que ele é meu sócio sem ter desembolsado um centavo, ele jamais faria tal besteira. Nesse ramo tem campo para todo mundo. Pode até parecer fácil, mas há que ter um cabeça gerencial e liderança para competir e sobressair no mercado, disse ela. – Ser empreendedor requer muita habilidade e amor pelo que faz. Se não tiver esses dois ingredientes, não bastará ter dinheiro para iniciar o negócio, disse Júlio. Clarissa fez que sim. – Qual o seu segredo para o sucesso meteoro? – Quis saber Júlio. – Ter paciência com os designers que trabalham comigo e com os demais funcionários dentro e fora do ambiente do trabalho. Deixar os designers realizarem o trabalho no tempo deles, aí o resultado é fantástico. – Disse Clarissa. – E essa recessão que caminha para uma depressão econômica não está abalando os seus negócios, quis saber Júlio César. Clarissa pôs-se pensativa e remexeu em suas memórias por alguns segundos, e por fim disse: – Eu tive um professor de português, quando eu fazia o cursinho de pré-vestibular no Curso Bahiense e, nas suas aulas de sintaxe que se estudava termos essenciais da oração, especificamente o “sujeito”, e ele disse que o sujeito é o que pratica a ação, o qual deve assumir o controle dos seus atos. E para completar ele disse que tudo ia depender da construção da base do contexto. Clarissa fez uma pausa e continuou.
Francisco Brito 39 – Eu interpretei aquela lição de sintaxe do meu jeito. Procuro, então, aplicar aquela lição na minha vida diária. Sigo sempre uma sequência natural, uma ordem direta. Como o sujeito representa um determinado ser de quem se diz algo, e eu sou um sujeito que pratica a ação, então eu tenho que buscar praticar minhas ações com prudência e coerência. Meus negócios são praticados depois de pensar muito e discutido com os profissionais que trabalham comigo. Eu deixo claro a todos eles que cada um é responsável por aquela ideia posta em prática. Júlio César ficou em silêncio. – Todo mês é feito um sorteio entre os aniversariantes do mês e selecionado um dos funcionários para ser o homenageado com um almoço na própria empresa, onde todos saboreiam uma substancial refeição servida por um restaurante escolhido pelos aniversariantes. Antes de ser servida a refeição são feitos discursos de cada aniversariante do mês. Isto faz com que as pessoas se sintam importantes e mais envolvidas com o segmento da empresa. – Disse Clarissa. – Sábia. Você é muito sábia, Clarissa. – Metade de nossos funcionários são mulheres e a outra metade são homens. Assim, são privilegiados os dois gêneros – homem e mulher – quando contratamos. A nossa empresa requer criatividade, abolindo todo e qualquer tipo de privilégio este ou aquele gênero, porque o que importa é o que é feito com responsabilidade e amor pelo que faz. – E quando um funcionário destoa dos demais da equipe? – Ele é chamado e mostrado as suas falhas nas câmeras dos dias de sua falha ou corpo mole que tenha feito. Damos um tempo para ele rever na câmera os seus atos como sujeito da ação. O
40 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres indivíduo – homem ou mulher – passa por um novo treinamento e nova avaliação pelo setor de recursos humanos da empresa e é dada nova oportunidade para o profissional continuar na empresa, disse Clarissa. – Os funcionários sabem que são vigiados por câmera? – Sim. As câmeras estão espalhadas em todo ambiente da empresa, sendo visto por todos como positivo. Clarissa fez uma pausa e por fim disse: – Estamos sempre em busca de uma estratégia para melhorar o relacionamento interno com os funcionários, com os clientes e fornecedores. Então, toda prudência é bem-vinda.
CAPÍTULO 4 A CRISE – Está terminando o mês de novembro. Praticamente terminou o ano de 2015. Este ano não foi fácil. A crise que assola o país está tirando o sonho de muita gente. Ainda bem que o ano está chegando ao fim e novo ano virá para renovar as esperanças. – Disse Júlio César, num desabafo. – Nós estamos no futuro? Sabe que às vezes eu sonho com o futuro! E logo acordo sobressaltada, com o coração martelando, a garganta seca e os olhos lacrimejando. Deve ser por causa de meus rancores pessoais e vinganças sombrias que habitam no meu coração. Olha que eu tento ser cautelosa ao máximo para esquecer a maldade que fizeram com o meu noivo. Mas, eu acho que as coisas só tendem a piorar a cada ano que passa. A bandidagem aumenta e as cidades ficam cada vez mais à mercê dos bandidos. Não se iluda que vai ser melhor em 2016, porque não vai. – Disse Clarissa, com um péssimo humor.
42 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres Júlio César olhou para ela com uma certa expressão alentadora. – Pelo menos no Brasil não tem terremoto, não tem tsunami nem guerra. – Ele disse aquilo por dizer, sabendo que ela ia contestar. – Você está enganado. Nós vivemos em guerra e atordoados pelo medo. Vivemos com medo de ser atacado na rua, com medo de parar no sinal de trânsito e ser tomado o nosso carro por alguém armado, com medo de nossa casa ser invadida por um ladrão, com medo de sair para caminhar e um menor nos assalte na rua e nos deem um tiro, com medo de bala perdida, com medo de ser estuprada ao sair do metrô ou ao descer do ônibus para ir para o trabalho ou para voltar para casa. – Disse ela, enumerando diversos atos de violência que estamos sujeitos ao pôr os pés na rua. Era mesmo uma vergonha viver com medo de nossos semelhantes, tendo que reforçar a tranca de nossa porta de casa e ter que pôr grades ao redor de casa e reforçar com cerca elétrica o muro para se ter um pouco mais de segurança. – As pessoas andam nas ruas segurando firme a bolsa, desconfiando de qualquer um que se aproxime. É o cúmulo de o absurdo não confiarmos nas pessoas e termos medo até de um adolescente que se aproxime de nós. – Disse Clarissa. – Sim, medo, sim. Eu tenho medo de ser assaltada e de ser assassinada por um pivete no sinal ou quando saio para fazer caminhada no calçadão de Copacabana pela manhazinha. – Louca seria não se preocupar – disse Júlio César. – Eu já fui assaltado uma vez, sob a mira de revólver, confesso que senti um arrepio apertar o meu corpo inteiro, pernas, braços, tronco e
Francisco Brito 43 todos os meus membros, como se a adrenalina rastejasse todo o meu corpo milimetricamente. Foi terrível. Eu fiquei imóvel, meus olhos apertados, meu coração martelando a seu ritmo acelerado tum, tum, tum, tum. O sujeito deve ter me visto falando ao celular e me seguiu e quando teve a primeira chance apontou a arma para mim e disse que eu tirasse Smartphone Samsung Galaxy Note 5 do bolso e entregasse para ele, senão ele me daria um tiro na cara. Eu meti a mão no bolso e entreguei o celular que eu tinha comprado há uma semana. Ainda bem que acatei a sugestão do vendedor e fizera o seguro. Eu recebi um novo smartpphone, mas aquela cena do sujeito apontando uma arma para mim não tem smartpphone que pague o susto que eu levei – disse Júlio César. Ela ergueu a sobrancelha e fitou o Júlio. – Você não tinha me contado isso, disse ela. – Isso é o tipo de coisa que se evita conta para não lembrar o medo que passou. Não quero passar por outra situação dessa nunca mais em minha vida, disse Júlio César. – O cidadão comum anda desarmado e não tem como se defender. E o bandido sabe que ele pode assaltar qualquer um na rua que dita pessoa não irá reagir. Só ele tem a arma, o cidadão honesto está indefeso. O ladrão rouba e sai despreocupado. O ato covarde do ladrão que assalta à mão armada é como tirar a chupeta de uma criança. O cidadão não irá reagir. – Disse Clarissa, revoltada com a atitude que teve o governo de desarmar o povo, em 2003, coagindo o povo de usar o livre arbítrio de defender seu direito mediante à edição do Estatuto do Desarmamento. – O governo tirou a arma do cidadão e editou uma lei severa para quem for encontrado com arma de fogo sem ter porte de arma – disse Júlio César.
44 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres – Um novo Estatuto foi acenado com um texto que reduz de 25 anos para 21 anos para compra de arma no país e que o porte de arma tenha validade de dez anos, não três como é hoje. A proposta do novo estatuto tem por objetivos tomar os milhares de armas clandestinas que ainda existem, mas, com certeza, não foi visando à segurança do povo, mas para deixar o povo sem condição de se rebelar contra o governo. – Disse ela, com aquele seu jeito próprio de proferir frases encadeadas para enumerar detalhes para reproduzir discursos factuais impossíveis de seu interlocutor não querer ouvir. Júlio César se portava com elegante discrição de um bom ouvinte. Ele é um raro homem em quem ela confia, por ele saber se comportar diante de uma dama e ter muita paciência com ela e com outras mulheres que frequentam o seu bistrô, em Copacabana. Júlio adota a filosofia de que o homem deve deixar a mulher dizer ou fazer o que ela bem quiser, depois que ela ganhar confiança, ele a terá na palma da mão. Embora ele seja louco por Clarissa, ele não demonstra seus sentimentos. Mas toda mulher tem sexto sentido, logo percebe qual é a intenção do homem. Clarissa já se tornou freguesa assídua do Bistrô de Júlio. Ele se porta convenientemente, já que ele aprendeu que galinha de casa não se corre atrás. Ele conhece a história de Clarissa. Há três anos a Clarissa perdera o noivo, Lucas Walfrido do Amaral, um capitão da Aeronáutica, quando ele fazia caminhada ao redor da Lagoa Rodrigues de Freitas, no Rio de Janeiro. Ela e o Lucas se conheciam desde os tempos que faziam o ensino fundamental e médio. E há quatro anos os dois haviam decididos engatar o namoro e ficaram noivos. E para honrar o compromisso de amor, os dois haviam marcado o casamento para ser celebrado na semana de seu
Francisco Brito 45 aniversário, em dezembro de 2014. Quando faltava três meses para o enlace matrimonial, uma tragédia aconteceu, o noivo foi assassinado por um adolescente que atirou à queima-roupa nele logo após ele entregar o relógio Rolex que ele usava no pulso, justamente o relógio que ela tinha dado de presente para o noivo no seu último aniversário. A morte de Lucas transformou a vida de Clarissa. Ela se tornou revoltada com o sistema que tem leis brandas para menor de idade. O adolescente de 16 anos se entregou à polícia 36 horas depois de ter cometido o crime e confessou ter sido ele o autor do disparo, alegando que o tiro saiu por acidente. Ele ficou internado por um período de seis meses, e foi solto, ficando com a ficha limpa. E voltou para as ruas fazer furtos e assaltar as pessoas nas ruas. Clarissa se inscreveu numa academia de Karatê e fez treinamento de lutas marciais. Além disso, ele fez treinamento de tiros, tornando-se exímia em armas de fogo. E se tornou pronta para a guerra. Quando estava pronta, ela procurou o adolescente ao redor da Lagoa Rodrigues de Freitas todos os dias, durante um ano, para vingar a morte do noivo. Mas ela nunca encontrou o assassino de seu noivo. E a morte do noivo ficou sem ser vingada. Por fim, ela deixou de pensar naquela coisa estúpida que ia fazer, já que nada ia trazer de volta o seu noivo. Em 2013, então com 25 anos, depois de concluir o mestrado, abandonou a casa dos pais e foi morar sozinha num apartamento de dois quartos, em Ipanema – presente dos pais quando ela havia concluído o curso de Arquitetura. Ela nunca quis saber de trabalhar em prancheta. Em vez disso, ela abriu uma loja, a Clara Brechó, um brechó virtual no eBay, que hoje vende milhares de roupas vintage pela internet, com mais de 50 mil de visitas em
46 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres sua página. Tem agora quatro lojas físicas no Rio de Janeiro, três em São Paulo e uma em Belo Horizonte. Tem na sua folha de pagamento 100 funcionários que trabalham para ela. Ela pode até não parecer ser rica, mas exibe nos lugares que frequenta o seu Parche amarelo – pago à vista – e mora numa casa de 1200 metros quadrados que ela comprou em dinheiro vivo, a casa de seus sonhos, na Barra da Tijuca. Bem-sucedida na vida, mas vive sem ter um amor para dividir a sua cama king-size e amassar os seus lençóis de seda. Depois que o noivo foi assassinado, ela nunca mais deitou com outro homem para fazer sexo. Nenhum outro homem parece-lhe ser bastante “bom” para ela se envolver outra vez. Quando algum rapaz se aproximava dela, ela o encarava com seu olhar frio e arrogante, e o dispensa sem o menor remorso.
CAPÍTULO 5 DECLARAÇÃO DE AMOR Os tempos são de se buscar a fama a qualquer custo para encontrar um lugar ao sol e ter a vida que o destino tenha lhe reservado para viver. Todo mundo quer ser o mocinho para ficar bem na foto. As garotas sonham em ser modelos. Os garotos sonham em ser jogador de futebol e outros sonham em ser cantores famosos para ganharem muito dinheiro. Pudera! Nem sempre um diploma de uma universidade é garantia de um bom emprego e bom salário. Outros sonham em montar o seu próprio negócio e se tornar empresário para ficar rico antes dos 30 anos. Quando não dá certo o seu negócio, a pessoa se frustra. Mas poucos se dão conta que o sucesso acontece quando se tem vocação para aquilo que se propõe a fazer com amor. Quando a mulher não alcança a posição desejada, ela diz que no mundo dos homens só os homens são valorizados. Ora homens e mulheres são iguais, não tem porque diferenciar a mulher do homem. É sabido no meio científico que não existem forma feminino e
48 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres masculino. Mas no cérebro os dois são exatamente iguais. É isso o que a Clarissa argumenta com propriedade. Havia uma semana que a Clarissa não ia ao bistrô do Júlio César. – Júlio! Cadê você. – Chamou ela ao entrar no bistrô. – Dona Clarissa, bom dia! O Júlio César deu uma saída e já volta. – Disse o empregado do Júlio. – Ah, tá! Vou esperar por ele. Joaquim faça-me um favor dos grandes. Prepare um suco de laranja para mim com uns bolinhos de bacalhau. Eu estou com o estômago nas costas, disse ela. – É para já, madame. – Disse o Joaquim, o gerente do bistrô. Não demorou e o Júlio chegou. – Isso é que eu chamo de surpresa divina, disse ele. – Júlio, meu bom amigo. Você vive tão ocupado a ponto de não me telefonar, é? E se eu tivesse morrido? Você nem ia ao meu enterro. – Disse Clarissa, levantando-se para entregar o seu abraço caloroso ao amigo. – Exagerada. Eu adoro o seu exagero. Faz eu me sentir amado por você, disse ele, recebendo o abraço caloroso dela. – Você sabe que eu amo você. Se você não percebe isso é porque você é cego. Aposto que até o Joaquim já percebeu que eu amo você. – Disse Clarissa. O Joaquim balançou a cabeça em sinal de sim. – Mulher bonita e rica como você não tem tempo para o amor. – Disse Júlio César. – Sofrer por causa de um divórcio jamais eu quero passar. Eu não iria aguentar casar com você e depois você me deixar. – É mesmo. Nem eu ia aguentar essa sua calma. Eu ia ter que dar umas sacudidas em você para ser mais proativo. Mas eu
Francisco Brito 49 tenho uma proposta para lhe fazer, – disse ela. – Você quer viajar comigo por uma semana para Paris. – Sério! Não faça eu perder o pouco de juízo que ainda me resta, disse ele. – Tudo pago. É pegar ou largar, disse ela. – Não brinca com coisa séria, Clarissa. – Estão aqui as passagens e os vouches do hotel cinco estrelas na capital da luz. Você precisa sair e conhecer novos ambientes. Em Paris tem bistrôs maravilhosos que você poderá conhecer e trazer boas ideias para o seu bistrô. – Disse Clarissa. – Você é louca, disse ele, certificando-se do itinerário da passagem e o vouch do hotel. – Estou dentro. Eu irei com você. – Você tem passaporte, Júlio? – Sim. Tirei há três anos. – Disse ele. – Ótimo, disse ela. – Joaquim, você tomará conta do bistrô durante uma semana. Eu não posso contrariar a determinação de uma dama. Especialmente se essa dama é a Clarissa. – Você seria um tolo se recusasse um convite desse. Especialmente se esse convite é de uma dama como a dona Clarissa. Vá, homem, divirtam–se. – Disse Joaquim. – E por falar nisso... – Como se esperasse pela deixa, Júlio passou as costas dos dedos no rosto de Clarissa. – É um pedido de namoro? – É mais que isso. É uma declaração de amor com todas as letras, disse Clarissa. – Posso beijar a minha namorada, quis saber Júlio. – Beijo não se pede, beija. – Disse Clarissa, entregando a sua boca ao beijo de Júlio.
50 Mulheres em guerra – revolução das Mulheres Os dois não disseram uma palavra a mais, o amor já havia trilhado o coração dos dois. Com uma serena entrega de carinhos, os dois ficaram se olhando como se fosse a primeira vez que se viam, enquanto o brilho do olhar substituía o antigo brilho de olhar de amigos. Seus olhos se movimentavam de um lado para o outro e se fechavam para mais um beijo. – Sabia que eu já te amava a muito tempo, disse Clarissa. – Não. Eu nunca imaginei que fosse realizar o meu sonho de ter você como minha namorada. Eu acho você muita areia para a minha carroça. – Disse ele, enquanto saboreava o beijo dela. – Você é sempre modesto assim? Ou é para me agradar? Eu morria de medo de você me rejeitar. Mas hoje eu acordei e levantei decidida em jogar todas as cartas na mesa. O que eu não podia mais era ficar te amando em silêncio. – Disse Clarissa. – Eu me guardei todo esse tempo para você. Evitei me relacionar com outras mulheres por medo de afastar você de mim. Mas eu não tinha coragem de me declarar a você. – Disse ele, sem desviar os olhos dos olhos de Clarissa. – Por eu ter sido a noiva de seu melhor amigo, quis saber ela. – Não. Por medo de perder minha melhor amiga, disse ele. Ela conteve-se e ficou ouvindo Júlio se declarar. – Acho que amei você desde a primeira vez que vi você com o Lucas, disse ele. – Eu também. Eu acho que Lucas percebeu o meu interesse por você. Ele me perguntou se eu tinha gostado de você, disse Clarissa. – Eu disse que você era um homem que qualquer mulher gostaria de ser possuída por você, disse ela.
Search
Read the Text Version
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16
- 17
- 18
- 19
- 20
- 21
- 22
- 23
- 24
- 25
- 26
- 27
- 28
- 29
- 30
- 31
- 32
- 33
- 34
- 35
- 36
- 37
- 38
- 39
- 40
- 41
- 42
- 43
- 44
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
- 66
- 67
- 68
- 69
- 70
- 71
- 72
- 73
- 74
- 75
- 76
- 77
- 78
- 79
- 80
- 81
- 82
- 83
- 84
- 85
- 86
- 87
- 88
- 89
- 90
- 91
- 92
- 93
- 94
- 95
- 96
- 97
- 98
- 99
- 100
- 101
- 102
- 103
- 104
- 105
- 106
- 107
- 108
- 109
- 110
- 111
- 112
- 113
- 114
- 115
- 116
- 117
- 118
- 119
- 120
- 121
- 122
- 123
- 124
- 125
- 126
- 127
- 128
- 129
- 130
- 131
- 132
- 133
- 134
- 135
- 136
- 137
- 138
- 139
- 140
- 141
- 142
- 143
- 144
- 145
- 146
- 147
- 148
- 149
- 150
- 151
- 152
- 153
- 154
- 155
- 156
- 157
- 158
- 159
- 160
- 161
- 162
- 163
- 164
- 165
- 166
- 167
- 168