Anuário SINDHOSP – Segundo cálculos seus, de aí, em plena forma e com sucesso. Recomendo ler o meu cada cem fortunas nacionais, só 18% são herdadas. livro “Empresas Centenárias”, no qual estão descritos os Quais as causas que levam a maioria das empresas a indicadores de sucesso de algumas, como Gerdau, Cedro não ultrapassar a segunda geração? Cachoeira, Ypioca e SulAmérica. Renato Bernhoeft – As causas para que a segunda ge- Anuário SINDHOSP – O senhor afirma que discu- ração, em muitas das circunstâncias pesquisadas, coloque tir a sucessão familiar em vida é uma atitude inteligen- a perder a herança construída pela primeira geração têm te, que pode prevenir problemas futuros. Mas, como duas origens. Muitos dos fundadores, que conseguiram convencer o fundador de uma empresa, que ainda se construir um patrimônio com muito esforço e determina- julga capaz de gerir o seu negócio, de que chegou o ção, sendo a grande maioria de origem humilde, terminam momento dele se afastar para dar lugar a um profis- adotando, no papel de pais, uma conduta protetora de seus sional que, provavelmente, veio de fora e não tem ‘o filhos. Proporcionam aos mesmos muito do que não tive- sangue da empresa’ nas veias? ram, o que desprepara seus filhos para uma relação saudá- vel com dinheiro, prestígio e poder. O segundo aspecto é Renato Bernhoeft – Encaminhar o processo de su- que boa parte dos herdeiros imagina que também vai ser cessão e continuidade com o fundador ainda vivo é fun- “dono”, o que não é verdade. Além de muitos sonharem damental. Mas a grande dificuldade para iniciar esse com a única opção de trabalhar na empresa criada pelo pai. processo é a incapacidade de muitos empreendedores se E desta forma não se preparam para o papel de sócios. reinventarem para deixar espaço para as novas gerações. Na área hospitalar essa situação é mais delicada ainda, Anuário SINDHOSP – Costuma-se imaginar que porque muitas vezes tanto a instituição como os clientes na empresa familiar há lugar para toda a família traba- desenvolveram um vínculo muito forte com o fundador. lhar. Esta seria uma das causas do fracasso de muitos E a única pessoa que pode equacionar esta questão é o empreendimentos de origem parental? próprio fundador. Ele precisa entender que sucessão não significa morte, mas continuidade da sua obra e legado. Renato Bernhoeft – Jamais a empresa deve ser olhada como um lugar para acomodar a família. Uma empresa Anuário SINDHOSP – Na área da saúde é gran- existe para atender ao mercado e, como tal, necessita de de o número de empresas familiares. De modo geral, profissionais competentes, sejam eles familiares ou não. seus fundadores estão preparados para uma substi- Quando um fundador afirma que fez a empresa para a tuição de comando? família, costumo dizer que é melhor ele criar uma ONG (organização não governamental). Renato Bernhoeft – A área da saúde possui uma carac- terística muito peculiar que é a de que, de maneira geral, Anuário SINDHOSP – Também é comum pensar que, são empresas multifamiliares na primeira geração. Ou seja, por ser familiar, a empresa não conta com gestão moderna. os sócios criaram o empreendimento através de um grupo Esse pensamento é fruto de preconceito e desinformação? de especialidades e com uma visão de tarefas e responsa- bilidades. Mas este modelo se esgota e somente se aplica Renato Bernhoeft – A empresa familiar necessita de à primeira geração, Ele não será útil para a segunda e daí uma gestão profissional e atualizada. No Brasil já temos em diante. A sociedade que surge depois não se vincula inúmeros exemplos de empresas que ultrapassaram os pelo trabalho ou especialidades, mas pelo capital. Minha cem anos, sob o controle da mesma família, e continuam 101
Gestão SINDHOSP 2012 Não existe processo de sucessão sem conflitos. Eles já se iniciam na estrutura familiar, estendem-se à sociedade e refletem no gerenciamento do negócio observação é que esta particularidade não tem sido obser- etc. Especialmente se levarmos em conta que esses sócios vada na maioria dos casos de instituições de saúde, o que não tiveram a liberdade de se escolherem, tanto como ir- as têm levado a serem adquiridas – nem ao menos serem mãos ou primos. E menos ainda como sócios. Este assun- vendidas – por outras instituições. Especialmente quando to é ainda mais complicado nas sociedades multifamilia- começam a faltar os membros da primeira geração. res, como explicado anteriormente. Anuário SINDHOSP – Todo processo de sucessão, Anuário SINDHOSP – Não é raro que o dono do hospital forneça serviço para o seu próprio negócio, seja por melhor que ele seja encaminhado, gera algum tipo como médico credenciado, seja como proprietário de uma empresa de diagnóstico, por exemplo. Como essa de conflito. Quais são os mais recorrentes? situação deve ser equacionada junto aos demais sócios? Renato Bernhoeft – Não existe processo de sucessão Renato Bernhoeft – Muitas vezes um empreendedor sem conflitos. Eles já se iniciam na estrutura familiar, brilhante não consegue se transformar em empresário. E estendem-se à sociedade e refletem no gerenciamento do no campo da medicina este é um risco na medida em que negócio. Além de necessitar um protocolo – que estabele- o “brilho” do médico impede que ele crie uma instituição ça direitos e obrigações de todos os componentes – tam- despersonalizada. O risco é que ele leve para o túmulo a bém se torna necessária uma estrutura de governança que sua “criatura”. considere estas três instâncias de poder – família/patri- mônio/empresa. Não basta uma governança corporativa. Anuário SINDHOSP – Os familiares herdeiros que Anuário SINDHOSP – Um hospital de origem fa- assumem um negócio não são apenas donos do empreen- miliar que pretenda ser moderno em todos os sentidos, dimento; são também sócios que, muitas vezes, não tive- inclusive na gestão, pode adotar práticas correntes em ram liberdade de escolher os demais membros do grupo outros setores da economia ou as especificidades do societário. Como deve ser administrada essa condição? segmento requerem modelos próprios? Renato Bernhoeft – Muito antes de se prepararem Renato Bernhoeft – Nenhuma instituição – mesmo para a gestão do empreendimento, os herdeiros necessi- aquelas sem fins lucrativos – poderá sobreviver e crescer tam se educar para o papel de sócios. Isso exige muita sem adotar critérios, estratégias e estruturas provenientes competência, humildade, capacidade de fazer concessões de outras áreas de gestão. 102
Anuário SINDHOSP – A adoção de boas práticas de governança corporativa encontra eco nas institui- ções de saúde brasileiras? Renato Bernhoeft – Os desafios – e o desaparecimen- to – que estão enfrentando as instituições de saúde no Brasil mostram, com muita clareza, que para assegurar sua continuidade é indispensável estabelecer boas práticas de governança. Mas não apenas na gestão. Também no relacionamento entre os sócios e seus futuros herdeiros. Afinal, uma geração não desaparece integralmente para dar lugar à seguinte. Em muitos casos duas ou até três ge- rações deverão conviver simultaneamente. E com os atuais índices de longevidade esse desafio é cada dia maior. Anuário SINDHOSP – Em sua larga experiência como consultor de empresas familiares, na saúde in- clusive, quais foram os maiores desafios encontrados? Renato Bernhoeft – Um dos grandes desafios na área da saúde ainda é convencer um brilhante médico de que, em algum momento, sua missão maior é preparar a con- tinuidade do seu legado. E isso exige que ele se reinvente para assumir novos papéis. Mas, acima de tudo, que con- tinue se sentindo útil e preserve sua autoestima. Anuário SINDHOSP – E a sua sucessão, como está sendo encaminhada? Renato Bernhoeft – A minha sucessão está encami- nhada desde 2005. Hoje, a Höft é administrada integral- mente pelo Wagner Teixeira e pela Renata Bernhoeft. Minha participação em atividades é apenas quando reque- rida por alguma demanda do mercado. Do ponto de vista acionário, tenho apenas 28% da empresa e, em mais dois anos, permanecerei com apenas 10% na qualidade de só- cio embaixador. Atualmente, dedico-me a escrever e fazer palestras sobre outros temas, além de ter uma atividade voluntária na Endeavor (Endeavor Brasil, organização sem fins lucrativos voltada à promoção do empreendedorismo como ferramenta para o desenvolvimento econômico). 103
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PPP SINDHOSP 2012
Parcerias Público-Privadas na saúde: o caminho da resolutividade Quando se discute o gerenciamento do sistema de saúde no Brasil, a expressão “o cobertor é curto” é recorrente. Téc- nicos e estudiosos do tema são categóricos ao afirmar que os recursos não são suficientes para atender a (sempre) cres- cente demanda. Mas há outros entraves à boa administração do atendimento de saúde. O emaranhado de leis que dificulta a prática da gestão orçamentária e financeira das unidades, a pressão dos sindicatos de trabalhadores que leva à estabi- lidade de funcionários que, se fossem contratados da inicia- tiva privada, certamente seriam demitidos por incapacidade técnica, são apenas dois exemplos de como o poder público se vê engessado quando pretende melhorar a assistência de saúde aos cidadãos. Por isso, é preciso criatividade e inova- ção para encontrar saídas. Os contratos celebrados com Organizações Sociais (OSs) e as recentíssimas parcerias com instituições privadas lucrativas apontam os caminhos que le- vam ao aumento da resolutividade e à satisfação do usuário.
PPP ndre Medici, economista do Banco Mundial SINDHOSP 2012 A e especialista em SUS, vê na falta de moder- nização do setor público de saúde um grande 108 obstáculo à autonomia e modernização de hospitais. En- quanto essa realidade permanecer “as parcerias público- -privadas(PPPs), baseadas em contratos adequados e bem balanceados, poderão ser uma forma de valorizar os re- cursos gastos pelo setor público e uma melhor resposta às necessidades dos pacientes”. Com base na autoridade de quem participou do movimento que, em 1988, construiu o modelo do SUS, Medici ressalta que somente com essas iniciativas será possível para o Brasil ter instituições de saúde de qualidade com profissionais motivados e esti- mulados por incentivos vinculados ao seu desempenho. A verdade é que a gestão pública é mais cara e menos eficiente, enquanto o setor privado executa um serviço melhor a um custo menor
Prática reconhecida O governo do Estado de São Paulo resolveu adotar pública, sendo vencedora a melhor proposta feita dentro práticas inovadoras para gestão dos serviços de saúde já dos parâmetros assistenciais estabelecidos pela Secretaria. nos idos de 1998. É nessa data que surgem as primei- ras parcerias com Organizações Sociais de Saúde (OSSs), Ainda de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, a pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, adoção dos contratos com as Organizações Sociais “permi- por meio de contratos de gestão. De acordo com a Secre- te aliar a assistência em saúde de qualidade, prestada por taria Estadual da Saúde, esses contratos definem as metas entidades de renome e tradição na área, como a Faculdade assistenciais que o hospital administrado pela OSS deverá de Medicina da USP, Hospital Sírio-Libanês, Unicamp, atingir, seja de quantidade de partos, consultas, exames Fundação ABC, com ferramentas privadas de gerencia- e cirurgias, como de qualidade, como índices de mor- mento que tornam a gestão mais eficaz e ágil”. A participa- talidade materna e de partos normais, redução da taxa ção no processo de instituições de qualidade de assistência de cesáreas e controle de infecção hospitalar. Os critérios reconhecida é, na opinião do economista Andre Medici, para qualificação de uma entidade como Organização So- uma excelente ferramenta para a melhoria da assistência cial de Saúde exigem que ela tenha, pelo menos, cinco como um todo. “A experiência bem-sucedida das Organi- anos de experiência na prestação de serviços de saúde pelo zações Sociais tem sido utilizada pela Secretaria Estadual SUS. A escolha é feita através de processos de convocação da Saúde como parâmetro de benchmarking para os hospi- tais e estabelecimentos de saúde da administração direta”. 109
PPP SINDHOSP 2012 Hoje, o Estado de São Paulo conta com 37 OSSs que cretaria Estadual da Saúde, mensalmente o governo paulis- gerenciam 37 hospitais e 41 Ambulatórios Médicos de ta recebe um relatório com a prestação de contas das OSSs, Especialidades (AMEs), além de um centro de referência, contendo a discriminação dos gastos e do atendimento realiza- duas farmácias e três laboratórios de análises clínicas. Em do. O documento é encaminhado, posteriormente, ao Tri- 2011, o Estado repassou um total de R$ 3,3 bilhões aos bunal de Contas do Estado, Conselho Estadual de Saúde hospitais gerenciados pelo modelo de OSS. Essas institui- e Comissão de Higiene e Saúde da Assembleia Legislativa. ções realizaram, no período, 325,8 mil internações, 73,3 mil cirurgias, 2,3 milhões de atendimentos de urgência, A Prefeitura de São Paulo também adota o modelo dos 1,5 milhão de exames, 105,5 mil sessões de quimiotera- contratos de gestão com Organizações Sociais de Saúde pia, 141,5 mil sessões de radioterapia e 84,5 mil trata- para o atendimento da população. Atualmente, de acordo mentos de diálise. As unidades ambulatoriais realizaram com informações da Secretaria Municipal da Saúde, há 3,4 milhões de consultas médicas de especialidades, 1,3 contratos com dez OSSs que prestam serviços de atenção milhão de consultas não médicas (fisioterapia, fonoau- básica, atendimento hospitalar, de urgência e emergência diologia, nutrição), 140,8 mil cirurgias e 644,8 mil exa- e diagnóstico por imagem. A avaliação desse trabalho é mes de apoio diagnóstico. feita trimestral e semestralmente, embora o acompanha- mento seja mensal. A remuneração das OSSs é realizada A manutenção financeira dos serviços de saúde e o con- por orçamento global, previamente aprovado pela Secre- trole de onde e como é investido o dinheiro público são de taria e contratualizado, com desembolsos mensais. A Se- responsabilidade do Estado. Segundo informações da Se- cretaria não informou o valor desses pagamentos. 110
Novo paradigma Na opinião do presidente da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior, o modelo de atendimento via contratos com Organizações Sociais veio es- tabelecer um novo paradigma na assistência pública de saúde. “A verdade é que a gestão pública da assistência à saúde é mais cara e menos eficiente, enquanto o setor privado executa um serviço melhor a um custo menor”. As razões para a maior eficiência por um preço mais baixo, de acordo com o presidente da CMB, estão li- gadas à adoção de práticas mais modernas de gestão. “Os trabalhadores da iniciativa privada não têm estabilidade no emprego; daí, não existe acomodação, mas sim, a busca por melhores resultados. As compras de materiais e equipamentos também podem trazer economia, uma vez que o comprador privado oferece condições de pagamento melhores que o Estado”. Além de gastar melhor os recursos, as institui- ções também têm obrigação de cumprir metas não apenas quantitativas, mas, prin- cipalmente, qualitativas. Hoje, muitas santas casas se qualificam como Organização Social para a prestação de serviços na saúde. “É uma opção mais interessante do que os contratos com o SUS”, ressalta José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior. Esses contratos com o SUS, que podem ser considerados a mais antiga parceria do Estado com a iniciativa privada, há muito deixaram de ser interessantes. “Hoje, as santas casas que vivem exclusivamente do atendimento ao SUS atravessam sérias dificuldades financeiras. Para fechar o caixa no fim do mês elas acabam recorrendo a doações, campanhas e outros expedientes para obter recursos”. 111
PPP SINDHOSP 2012 Licitação bilionária Além dos contratos com Organizações Sociais que, por caso de problemas de pagamento do setor público. “Se os definição, são instituições não lucrativas, há outro modelo municípios passarem a utilizar esse fundo, as PPPs serão de gestão da assistência à saúde, o da parceria público-pri- mais sólidas e terão melhores resultados”, acredita Naves. vada (PPP) através de licitação, da qual podem participar entidades com fins lucrativos. Esse modelo, no entanto, O economista Andre Medici acrescenta que, da mes- ainda gera temor entre as empresas justamente por conta ma forma como o Estado deve ser responsável pela elabo- da insegurança jurídica em torno dele. O advogado Ru- ração de termos que permitam o alcance dos resultados bens Naves, fundador e conselheiro da Transparência Bra- pactados nos contratos, com transparência no uso dos re- sil (organização independente e autônoma, fundada em cursos públicos, o setor privado também deve se resguar- abril de 2000 por indivíduos e organizações não gover- dar para não aceitar do Estado contratos nos quais suas namentais comprometidas com o combate à corrupção) garantias não estejam judicialmente asseguradas. “O pro- e integrante da Comissão de Direito do Terceiro Setor da blema é basicamente de tecnologia jurídica e contratual. Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), explica que esse Assim como a atenção à saúde é um direito de todos, o temor se deve, entre outros fatores, à falta de garantia de dever do Estado é assegurar que os termos financeiros dos que a esfera pública vá pagar na hora certa. Essa resistência contratos entre governo e estabelecimentos privados de pode ser quebrada, adianta o advogado, com a criação do saúde sejam obedecidos, a fim de proteger seus cidadãos chamado fundo garantidor dos investidores, acionado em de eventuais problemas associados à falta de atendimento como decorrência da quebra dos hospitais privados”. 112
Além dos contratos com OSSs, a Prefeitura de São A adoção do modelo de PPP pela Prefeitura de São Paulo lançou, em 2011, a sua primeira PPP, um ambicio- Paulo se deve, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, so projeto que envolve 16 unidades de saúde: construção ao fato de que apesar de a cidade ter o terceiro maior de três novos hospitais, seis novos edifícios para substi- orçamento do país (perdendo apenas para a União e o tuição dos prédios existentes, reforma e dotação de equi- Estado de São Paulo), a capacidade histórica de realizar pamentos em três outros, além de construção de quatro investimentos de larga escala na rede pública municipal centros de diagnósticos. E, para atrair investidores, a Pre- de saúde é bastante limitada. Ainda de acordo com a Se- feitura criou o seu fundo garantidor em valor equivalente cretaria, a maior parcela dos cerca de 20% de recursos a quase seis meses de valores de contraprestação, consti- aplicados no segmento acaba sendo dirigida para o cus- tuído em reais e aplicados em um Fundo de Investimento teio da extensa e complexa rede municipal. A busca do Financeiro, cujas quotas são dadas em caução à operação parceiro privado foi a estratégia adotada “a fim de realizar e são mantidas em valor atualizado anualmente até o fim um verdadeiro choque de gestão, para suprir dificuldades do 15º ano da concessão contratada, segundo informa- estruturais na rede e duplicar a capacidade de atendimen- ções prestadas pela Secretaria Municipal de Saúde. Essa to ao cidadão paulistano, em várias áreas da cidade que preocupação em garantir a participação da iniciativa pri- ainda carecem dos recursos humanos e de investimentos vada é pertinente, já que o valor do investimento da PPP providos pelo poder público da cidade”, informa a Secre- ultrapassa R$ 1 bilhão. taria Municipal da Saúde. 113
PPP SINDHOSP 2012 Pelo modelo escolhido, o parceiro privado será responsável No modelo de gestão pela construção ou reforma dos prédios e por equipá-los. Além compartilhada, disso, irá prestar um conjunto de dez serviços não assistenciais a operação em apoio às atividades assistenciais, que continuarão a ser de- sempenhadas pela administração direta ou pelas Organizações de unidades assistenciais Sociais de Saúde homologadas pela Secretaria. Para a realiza- e a oferta de serviços ção dos serviços não assistenciais – instrumentação hospitalar, são feitas em parceria lavanderia, nutrição, segurança e vigilância, limpeza, recepção, com empresas telefonia, informática, manutenção predial e manutenção de do setor privado, equipamentos –, o parceiro privado receberá uma contrapresta- escolhidas por meio ção mensal que, na avaliação da Secretaria da Saúde, permitirá a de licitação ele realizar os serviços e, pela produtividade proporcionada pelos ganhos de escala obtidos, criar excedentes para remunerar os in- vestimentos que realizou nos lotes para os quais foi contratado. A Secretaria ressalta que todo o investimento virá da inicia- tiva privada, seja com recursos próprios, seja com a captação em bancos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi- co e Social (BNDES), aliás, já forneceu carta de conformidade, oferecendo recursos diferenciados para custear os investimentos privados necessários. Os parceiros privados só começarão a rece- ber a contraprestação após realizarem e entregarem todos os in- vestimentos em obras civis e equipamentos definidos pela PPP. Em maio de 2012, o Tribunal de Contas do Município sus- pendeu a PPP municipal de São Paulo argumentando que o edital de licitação deve exigir mais garantias econômico-finan- ceiras das empresas participantes. O órgão pede, também, que seja feito um novo estudo dos valores. A Secretaria Municipal da Saúde acatou a decisão, mas não se manifestou a respeito. A exemplo da Prefeitura de São Paulo, o governo do Rio de Ja- neiro também pretende lançar uma PPP para construção de uni- dades de saúde. O objetivo é construir quatro centros de trauma, uma maternidade de baixo risco, um hospital de oncologia, um centro de imagem, um de pesquisa, um hospital geral e outro de cuidados intensivos. As unidades deverão atender a pelo menos 15 municípios e uma população estimada em mais de sete milhões de habitantes. No momento, todo o projeto ainda está no papel, nem mesmo o modelo de PPP a ser adotado foi escolhido. O edital de manifestação de interesse deverá ser lançado ainda em 2012. 114
Além desse projeto de PPP, a Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro mantém parcerias com a iniciativa privada através dos contratos de gestão compartilhada. Uma delas envolve o Con- sórcio Vita Saúde, responsável pela gestão do Hospital da Mulher Heloneida Studart, no município de São João do Meriti, na Baixada Fluminense. Inaugurada em março de 2010, a maternidade presta atendimento a gestantes de alto risco e complexidade. No modelo de gestão compartilhada, a operação de unidades assis- tenciais e a oferta de serviços, como exames laboratoriais, por exemplo, são feitas em parceria com empresas do setor privado, escolhidas por meio de licitação. A remuneração, mensal, é estabelecida em orçamento. De acordo com Francisco Roberto Balestrin de Andrade, diretor do Consórcio Vita Saúde, a gestão compartilhada é benéfica não só para a iniciativa privada, mas também para a população, uma vez que todo o serviço realizado é auditado pelo Estado e deve atender a indicadores de qualidade e estratégicos. “Men- salmente, o Consórcio se reúne com representantes da Secretaria para avaliação do desempenho”. Segundo dados da Secretaria, pesquisa interna revelou índice de satisfação de 98% entre funcionários e pacientes. A unidade é a primeira do Estado e segunda do país a receber a certificação 3M, categoria Diamante, do Programa de Certificação em Esterilização Hospitalar mantido pela empresa. O programa é elaborado pela 3M do Brasil com base em orientações estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Enfermagem de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (Sobecc). A certificação é conferida às instituições de saúde que implementam boas práticas em suas centrais de materiais e esterilização. 115
PPP SINDHOSP 2012 No ano passado, o Hospital da Mulher realizou 4.511 resultados do trabalho. “Temos que ter indicadores que partos, 9.959 internações, 550 cirurgias e 127.162 con- mostrem a qualidade do atendimento oferecido, seja por sultas. “Estamos com uma média de 350 partos de alto empresas privadas, seja por organizações sociais. As de- risco por mês. Recebemos pacientes do Estado todo”, mandas na área da saúde são muito grandes e têm que ser acrescenta Balestrin. O Consórcio Vita Saúde é formado atendidas para a manutenção dos direitos à cidadania”. O por três empresas. O pólo médico do grupo é representa- economista Andre Medici complementa: “Não creio que do pelo Grupo Vita Saúde, do Paraná, do qual Balestrin as PPPs sejam uma privatização. O objetivo do setor pú- é vice-presidente. blico é garantir a cobertura, qualidade, equidade e huma- nização do atendimento à saúde para sua população, mas Na opinião do advogado Rubens Naves, iniciativas não necessariamente através da oferta pública”. Para ele, como as de São Paulo e do Rio mostram que o Estado bons contratos entre o governo e estabelecimentos priva- perdeu sua capacidade de planejamento e gestão. “Ele dos de saúde permitem garantir uma política pública de não consegue mais, sozinho, oferecer atendimento de saúde mais eficiente do que a realizada pelos estabeleci- qualidade na área social, por isso, tem que contar com a mentos públicos sem autonomia, que têm que enfrentar participação da iniciativa privada, utilizando as ferramen- em seu dia a dia a rigidez orçamentária dos processos de tas disponíveis. As PPPs são uma delas”. Com relação às compras e contratos públicos e de gestão de recursos hu- críticas, motivadas, muitas vezes, por ingerências ideoló- manos. “O Estado, para ser eficiente, dever ser mais pedra gicas de que esses modelos alternativos de gestão seriam do que vidraça. Desfazendo-se de seu papel de executor uma privatização da saúde, Naves rebate afirmando que direto terá mais poder para cobrar por melhor saúde para a legislação garante a participação da iniciativa privada a população”, acredita Medici. no atendimento de saúde. O importante, para ele, são os 116
Iniciativa pioneira Enquanto os modelos de PPPs do município de São imagem, raios X, tomógrafo, ultrassonografia, ressonância Paulo ou do Estado do Rio ainda não se traduziram em magnética, endoscopia e eletrocardiograma. obras, a Bahia, há mais de um ano, conta com um hospital gerenciado totalmente pelo modelo de PPP. Inédita no país, Priscila Romano Pinheiro, presidente da comissão de a iniciativa foi reconhecida pelo Banco Interamericano de acompanhamento da gestão do contrato de PPP, ligada Desenvolvimento (BID) como uma experiência que pode à Secretaria de Estado da Saúde da Bahia, explica que o abrir caminhos para o surgimento de outras instituições Estado recorreu a esse modelo de gestão “porque buscava de saúde similares nos demais estados brasileiros. Inaugu- um novo paradigma no atendimento de saúde da popu- rado em setembro de 2010, o Hospital do Subúrbio, em lação baiana, com melhores indicadores de performance Salvador, é uma unidade de alta complexidade que atende e prestação de serviço de excelência”. Para a viabilização urgência e emergência. Possui 268 leitos de internação, da ideia, o Estado procurou a Corporação Financeira distribuídos nas especialidades de clínica médica, pediátri- Internacional (IFC, na sigla em inglês, uma investidora ca, cirurgia geral adulto e pediátrica, traumato-ortopedia e consultora global, membro do Banco Mundial, com- adulto e pediátrica, unidade semi-intensiva e UTI adulto e prometida em promover projetos sustentáveis em países pediátrica. O hospital conta, também, com centro de bio- em desenvolvimento) em busca de colaboração para o desenvolvimento de um modelo de PPP. 117
PPP SINDHOSP 2012 Diferentemente do projeto paulistano, a O Hospital do Subúrbio, PPP baiana não tem um fundo garantidor dos na Bahia, é a primeira PPP contratos com os parceiros privados pois, de acordo com Priscila Romano, o Estado não do gênero no país. tem reservas financeiras para isso. Optou-se, A iniciativa já foi então, pela criação de um fundo pagador, ali- reconhecida pelo BID mentado mensalmente com 12% do repasse federal do Fundo de Participação dos Estados. Esses 12% equivalem a 3% da receita corrente líquida (ou R$ 547 milhões) que a Bahia pode destinar às PPPs. Assim que o valor é deposita- do em conta no Banco do Brasil, a instituição financeira faz o repasse aos dois parceiros de PPP: a empresa que reforma o Estádio da Fon- te Nova (que será utilizado na Copa de 2014) e a Prodal Saúde, que administra o Hospital do Subúrbio. “Esse fundo é a garantia do par- ceiro de que receberá em dia do Estado pelo serviço prestado”, acrescenta Romano. A Prodal Saúde investiu cerca de R$ 30 mi- lhões para equipar a unidade (o prédio já exis- tia), comprar materiais e contratar os profis- sionais. O contrato terá duração de dez anos, sendo que o retorno do investimento inicial será feito em até cinco anos e meio. O hospital iniciou suas atividades em setembro de 2010; em outubro daquele ano foi feito o primeiro pagamento mensal, que engloba produção e amortização do investimento, com taxa de retorno de 12%. O contrato de parceria esta- belece que se o hospital atingir no mês 100% da meta de produção estipulada, ele recebe R$ 9,141 milhões; caso o percentual seja inferior, recebe menos. No valor repassado também está a amortização do custo do financiamento feito junto à IFC para o desenvolvimento do estudo que viabilizou a PPP, US$ 1 milhão, pago pelo parceiro. 118
Hospital do Subúrbio Segundo Priscila Romano, a adoção do modelo de PPP indicador que a Secretaria da Saúde baiana almeja é a traz, pelo menos, duas grandes vantagens. A primeira de- acreditação. “Estabelecemos em contrato que dois anos las é que o custeio da equipe médica é cerca de 20% infe- após o início de operação da unidade ela se habilitasse rior do que nas unidades próprias. “Isto porque a maioria a receber o selo de acreditação da ONA (Organização dos profissionais trabalha de segunda a sexta, em regime Nacional de Acreditação)”. Priscila Romano Pinhei- de dedicação exclusiva, o que reduz em até 25% o total ro estima que esse prazo será encurtado, uma vez que de profissionais necessários”. A segunda vantagem é que a o processo de acreditação já foi encaminhado. Caso o iniciativa privada consegue melhores preços na aquisição Hospital do Subúrbio receba a certificação (até o fecha- de materiais e medicamentos, já que, diferentemente do mento desta edição isso não havia sido alcançado), será Estado, ela paga com regularidade e em prazos menores, a primeira unidade pública de atendimento da Bahia a podendo, assim, negociar descontos. obter o selo de qualidade. Já para a população atendida a vantagem é que in- Enquanto estados e municípios buscam nos contratos dicadores rigorosos de desempenho e avaliações cons- com Organizações Sociais ou na formulação de modelos tantes estão previstos em contrato. No total, são oito de parcerias com a iniciativa privada estratégias para me- pacotes de indicadores qualitativos. “As taxas de infec- lhorar e modernizar o atendimento de saúde, no âmbito ção hospitalar e o tempo de permanência, por exemplo, do Ministério da Saúde não há nenhum projeto visando são aqueles preconizados pela Organização Mundial da ao estabelecimento de PPPs para construção ou adminis- Saúde (OMS)”, afirma Priscila Romano. As pesquisas tração de unidades de atendimento. O que se tem, por realizadas junto à clientela atendida apontam, segundo enquanto, são apenas contratos com a indústria farma- ela, um índice de satisfação de 94%. Mas o principal cêutica para a produção de medicamentos. 119
PPP SINDHOSP 2012 Entrevista Gonzalo Vecina Neto “Na iniciativa pública não há gestão” Médico sanitarista, gestor, docente, Gonzalo Ve- cina Neto é um profissional da saúde que conhece muito bem o sistema público. Já foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), secretário nacional de Vigilância Sanitária do Mi- nistério da Saúde e secretário municipal de Saúde em São Paulo. Hoje, ocupa o cargo de superinten- dente corporativo do Hospital Sírio-Libanês, na Capital paulista. E é com base nessa experiência, tanto no setor público como no suplementar, que Vecina Neto defende as parcerias público-privadas, preconiza a divulgação de indicadores de desempe- nho e cobra instrumentos eficientes de gestão no setor público. “O mundo mudou e a administra- ção pública não mudou”, denuncia ele nesta entre- vista ao Anuário SINDHOSP. 120
Anuário SINDHOSP – Por que o atendimento de tivemos essa péssima notícia do corte linear das despesas para fazer frente à necessidade de garantir o equilíbrio das saúde é tão deficiente no Brasil? A causa está no mo- contas do governo. Sem dinheiro não dá para fazer um atendimento melhor. O segundo problema é a gestão. O delo de gestão? mundo mudou e a administração pública não mudou. Gonzalo Vecina Neto – Eu discuto se ele é tão de- Nos últimos vinte anos, o mundo ganhou um instrumen- to de gestão fantástico que é toda essa área da tecnolo- ficiente. É óbvio que tem deficiências importantes. Nós gia da informação, tanto do ponto de vista da rapidez do temos que melhorar a estruturação da rede básica e tam- processamento como da possibilidade da criação de redes bém o acesso na atenção secundária e terciária. Hoje, nós através da internet. Nenhum desses dois componentes foi temos uma rede de atenção básica montada em cima do adequadamente absorvido pela administração pública, programa Saúde da Família, que atinge praticamente 60% que trata igual segurança, justiça, educação, saúde, trans- da população brasileira. Sabemos que esses 60% atendi- portes. Não dá, são coisas diferentes. Saúde é diferente dos estão dentro das classes D e E. É um instrumento de educação e o instrumental gerencial que tem que ser poderoso de redistribuição de renda e de diminuição da utilizado depende da dinâmica dos processos de produção desigualdade. Do ponto de vista da dispensação de medi- e essa dinâmica é muito diferente. Temos que criar instru- camentos para doenças de altíssima prevalência, como é mentos que permitam a modernidade gerencial. A gestão o caso da hipertensão, que atinge 20% da população, do na área da saúde é um problema importante e que tem diabetes, que atinge 10%, nós temos uma farmácia po- que ser enfrentado com instrumentos diferentes daqueles pular no Brasil. São 20 mil farmácias privadas que fazem que nós temos utilizado nos últimos anos. dispensação gratuita de uma linha de medicamentos para hipertensão e diabetes. Além disso, para doenças de alta Anuário SINDHOSP – O modelo das parcerias complexidade, para Aids, esquizofrenia, tuberculose, uma público-privadas pode ser uma alternativa para mo- variedade de tipos de câncer, doenças metabólicas, há um dernizar o atendimento, seja na área de gestão, seja na gasto importante do sistema de saúde que deve estar che- área assistencial? gando hoje próximo dos R$ 4,5 bilhões. Nós temos um programa de transplantes que só faz melhorar. Em nú- Gonzalo Vecina Neto – Eu não tenho dúvida de que meros de volume, é o segundo maior programa de trans- o caminho é a terceirização da gestão para empresas pri- plantes do mundo. Agora, por que a sensação de que o vadas, com ou sem finalidade lucrativa. Para fazer isso, o sistema é pior do que na realidade é? A primeira questão é Estado tem que criar um sistema para regular a capaci- a do financiamento. Nós temos um sistema de saúde sub- dade da iniciativa privada entregar aquilo que o Estado -financiado. Na América Latina, Chile, Uruguai e Cuba está querendo comprar. O Estado precisa se remodelar têm sistemas de saúde melhores que o nosso. Quando para conseguir fazer auditoria, fiscalização e controle do você compara o gasto público com a porcentagem do PIB uso dos recursos públicos por essas instituições. Hoje, a em saúde desses países, todos são muito maiores que o maior parte das parcerias público-privadas é feita utili- Brasil. Nós gastamos pouco e o que nós gastamos, a maior zando parceiros sem finalidade lucrativa. É óbvio que a parte vem do setor privado, e não do setor público. 55% responsabilidade do Estado em fiscalizar diminui muito. do gasto total em saúde no Brasil é do setor privado. Esse Como hoje essa é uma solução pequena, ou seja, existem é um problema no qual nós temos que pensar. A emenda muito poucas experiências de terceirização, isso, de fato, constitucional 29 recém-aprovada foi um desastre. Nós, que esperávamos um orçamento um pouquinho melhor, 121
PPP SINDHOSP 2012 A questão do financiamento é o problema de qualquer sociedade. Que tipo de serviço de saúde a sociedade brasileira quer e como ela quer fazer esse financiamento? ainda é gerenciável. Se a solução se espalhar pelo sistema, Gonzalo Vecina Neto – Quando o Estado assina um a capacidade do Estado de controlar e auditar essas ins- contrato de gestão com uma entidade da iniciativa pri- tituições será fundamental. Porque poderão acontecer al- vada, ela diz quanto custa para fazer tanto e o Estado guns maus exemplos e, quando eles acontecerem, a nossa transfere esse valor. Agora, quando você tem um próprio tendência será jogar a criança junto com a água de banho. público, você não diz quanto vai custar para fazer o que Por isso é importante gerar capacidade diferenciada de quer que seja. O Estado tem uma quantidade de recursos regular essa atividade nos Estados que estão com movi- que ao longo do tempo vai diminuindo e sabe-se Deus mentos de terceirização mais fortes, como é o caso de São quanto ele vai conseguir fazer porque não tem gestão. Na Paulo. É o desafio do controle do uso do dinheiro público verdade, não se trata de dizer que a iniciativa privada faz por terceiros, que assinaram um contrato de gestão e vão mais com menos. Trata-se de dizer que na iniciativa pú- garantir uma determinada entrega de serviço à popula- blica não há gestão. Hoje, o Estado não teria condição de ção. Outro desafio é o do arranjo interno do sistema de transferir 100% de suas atividades para a iniciativa pri- saúde. Esse desafio chama-se regulação. Por que o nosso vada porque ele não tem recursos suficientes para fazer programa de transplantes é tão diferenciado? Porque tem isso. Não tem milagre. Só tem desinformação. No setor uma fila que é transparente. Todo mundo que precisa de público não se sabe quanto custa o serviço. transplante está na fila e ninguém passa na frente. Nós temos que enfrentar o desafio de organizar a fila para fazer Anuário SINDHOSP – A falta de recursos já pode exame, para consulta de especialidades, para internação, ser considerada uma doença crônica que afeta o siste- para cirurgias. Nós temos que organizar o sistema de saú- ma de saúde de muitos países, Brasil, inclusive. Como de de forma que o acesso aos serviços seja transparente. driblar essa carência? As ferramentas para isso existem, são os softwares de ge- renciamento de serviços de saúde. Do jeito que está hoje Gonzalo Vecina Neto – Essa questão do financiamen- parece que a culpa é de Deus. Essa questão da regulação to é o problema de qualquer sociedade. As sociedades do acesso é vital. pagam impostos para ter os serviços que elas decidiram ter. Que tipo de serviço de saúde a sociedade brasileira Anuário SINDHOSP – Em geral, as instituições quer e como ela quer fazer esse financiamento? Nós temos privadas que atendem a população através de convê- serviços de saúde privados que atendem, hoje, cerca de nios com o setor público prestam um serviço melhor 25% da população. Esses 25% da população não têm um por um preço menor. Onde está a “mágica”? serviço muito melhor que o serviço público. E os proce- dimentos de alta complexidade, os medicamentos de alto 122
custo, esses 25% vão buscar no setor público. Há uma fossem sofisticações desnecessárias. Dessa forma, estamos série de regalias fiscais que deveriam ser reestudadas. Não perdidos. Não estamos lutando para a organização fazer dá para desperdiçar recursos. Temos que pensar como fa- o que deve ser feito, e sim, para sobreviver. Organizações zer para integrar a assistência médica pública à privada de que lutam para sobreviver não merecem existir. E as orga- tal maneira a tornar mais eficiente a alocação dos recursos nizações públicas, em boa parte, passam o tempo lutando da sociedade. para sobreviver. Anuário SINDHOSP – Muito se fala no aprimora- Anuário SINDHOSP – Ainda com relação ao aper- feiçoamento da gestão de saúde, qual a contribuição mento da gestão de saúde no Brasil. Em que ela precisa do setor privado, especialmente, das chamadas insti- tuições de ponta? ser aperfeiçoada? Gonzalo Vecina Neto – Hoje, nós temos um conjun- Gonzalo Vecina Neto – O que a gente pode oferecer de melhor são duas coisas. Número um, a dinâmica do to de instrumentos para comprar, contratar, alinhar pro- gerenciamento. Organizações modernas, contemporâneas, cessos de produção, para fazer controle de qualidade na têm uma dinâmica adequada ao seu tempo. O segundo área da saúde que praticamente não são utilizados pelo componente importante é o da qualidade e segurança do setor público. Veja, por exemplo, a questão da acredita- processo assistencial. Boa parte das organizações privadas ção. A acreditação é um instrumento importante para tem uma preocupação absolutamente diferenciada com a garantir qualidade. Qualidade significa menos vidas per- qualidade e segurança de seus pacientes. Elas estão com- didas. Praticamente nenhum hospital público brasileiro prometidas com as seis metas internacionais da segurança tem certificação, seja da ONA (Organização Nacional de e da qualidade: comunicação eficaz com seus pacientes, Acreditação), seja de qualquer certificador internacional. identificação adequada dos pacientes, controle adequado O setor público, quando quer contratar alguém, demora, do uso de drogas que podem causar a morte, controle no mínimo, seis meses para fazer um concurso público. rigoroso da infecção hospitalar, o conjunto de procedi- Hoje, as pessoas entram e saem dos empregos com uma mentos para evitar que ocorram problemas nas cirurgias e velocidade muito grande porque elas estão continuamen- a prevenção de quedas. te buscando melhorar suas vidas. A contratação através de concurso público, se bem que garante o princípio cons- Anuário SINDHOSP – O benchmarking é consi- titucional da isonomia, é um descalabro. Nós temos que derado uma ferramenta eficiente para a melhoria da discutir isso. Não dá para fazer concurso público. Agora, performance das instituições de saúde, mas no Brasil não significa que não tem que ter recrutamento e seleção. ele é pouco adotado. Por que há essa relutância em Tem que ter como em qualquer lugar que seja moderno abrir alguns índices de desempenho? e bem gerenciado. No setor público não se consegue de- senvolver programas de capacitação, falta dinheiro para Gonzalo Vecina Neto - Acho que esse é um problema tudo. Não se tem sistemas informatizados e, quando tem, atávico na sociedade brasileira. Nós temos uma cultura são sistemas antigos, que não produzem dados e informa- da busca da punição. Quando um colaborador comete ções suficientes para gestão. Sem informação não há ges- um erro e este erro leva a um prejuízo para o paciente, tão. No setor público, não existe a utilização de ferramen- que pode ser até a morte, a primeira coisa a fazer é bus- tas modernas de gestão porque essas ferramentas exigem car o culpado e puni-lo. Na verdade, quando analisa- investimentos e esses investimentos são tratados como se 123
PPP SINDHOSP 2012 mos a maior parte desses erros nós vamos encontrar um No setor público processo mal desenhado ou um colaborador mal capa- não existe a utilização citado. Até que ponto a responsabilidade é só dele? Essa cultura da busca do culpado faz com que as pessoas evi- de ferramentas tem reconhecer seus erros e, com isso, evitem parar de modernas de gestão errar. Para a pessoa parar de errar, ela precisa aprender a fazer certo e essa não é uma tarefa solitária, é uma tarefa porque essas conjunta. Se a gente conseguir melhorar esse compo- ferramentas exigem nente, vamos conseguir discutir um pouco mais como investimentos, e esses aceitar que nossos indicadores, nossos dados sejam mais transparentes para a sociedade. Conseguir que todos os investimentos hospitais divulguem na internet suas taxas de infecção são tratados como hospitalar, de mortalidade, de queda de maca, enfim, se fossem sofisticações suas taxas de inadequações, de erro ou quase erro. Esses números não são números que devem indicar uma má desnecessárias qualidade da assistência médica. São números que vão indicar o quanto estou tentando aprimorar os proces- são condições de vida e um pouquinho de assistência sos. A cada erro eu tenho que gerar uma ação corretiva. médica. É importante que a gente consiga melhorar as Essas ações corretivas devem ser divulgadas junto com condições de vida; só a assistência à saúde não conse- os erros. E esse não é só um problema brasileiro, é mun- gue reduzir essa mortalidade. Estamos num momento dial. Temos que encontrar uma forma de divulgar isso em que precisamos de mais civilização e um pouco de sem causar terror e, ao mesmo tempo, levar informação assistência médica. para os pacientes. Anuário SINDHOSP – O senhor tem experiência Anuário SINDHOSP – O Brasil ganhou notorieda- na gestão pública de saúde. Com base nela, que ava- de internacional pelos seus programas de tratamento liação faz do SUS? de algumas doenças, como a Aids, e de vacinação. No entanto, ainda morre muita criança no país vítima de Gonzalo Vecina Neto – O SUS transformou a face da diarreia. Como explicar essa dicotomia? assistência à saúde neste país. Além dessa transformação, conseguiu ter instrumentos de redução das desigualda- Gonzalo Vecina Neto – Não acho que morra muita des. Mas ainda é insuficiente. Temos muito que fazer criança no país por diarreia - é uma doença de veicula- para garantir o acesso universal a toda população e não ção hídrica. Hoje, a água no Brasil é 100% tratada. A dá para garantir essa universalidade sem discutir a inte- mortalidade por diarreia caiu muito. A questão é o aces- gração público-privado e o financiamento. Temos que so a serviços de saúde e condições de vida um pouco discutir o princípio da integralidade, ou seja, assistên- melhores dessas crianças que têm diarreia, pneumonia, asma, bronquite. Nós estamos hoje com uma taxa de mortalidade infantil na média de 20 por mil nascidos; desses, sete a oito são por questões perinatais; o restante 124
dica que temos aí um problema de equidade terrível. E esse problema da equidade se repete em todos os outros indicadores sanitários. Temos que resolver isso. O SUS fez um grande papel, mas há muito por fazer ainda se quisermos ser um país mais civilizado. cia preventiva e curativa. Nós fazemos pouca assistência Anuário SINDHOSP – Em 15 anos, como o senhor preventiva principalmente porque não temos uma visão intersetorial unindo saúde, educação, cultura, esporte, acredita que estará o sistema de saúde brasileiro, tanto lazer. O terceiro princípio é o da equidade. Nós usamos mal o conhecimento epidemiológico que temos. Veja o o SUS quanto o setor suplementar? exemplo da mortalidade materna. Gestação não é doen- Gonzalo Vecina Neto – Precisamos conseguir resolver ça, portanto, não se deve morrer de gestação. Mas exis- tem algumas doenças associadas; assim, é esperada uma minimamente a questão do financiamento e intervir na mortalidade da ordem de 20 mães para cada 100 mil questão tributária, tornando menos danosas essas trans- partos. No Brasil, a mortalidade materna é de 55 por ferências de renda que hoje acontecem, como o fato do 100 mil partos, mais do que o dobro do recomendável. sujeito comprar o serviço de saúde e poder descontar Isso indica que temos problemas importantes não só de do imposto de renda. Acho que o mercado da assistên- assistência ao parto como também de condições de vida. cia médica supletiva não cresce muito acima dos 25%, E quando olhamos para esse indicador considerando os pode, no máximo, chegar a 30% da população, que são grupos sócio-raciais é um espanto, porque entre as mu- as classes A e B do ponto de vista da renda. Se nós con- lheres negras, excluindo as miscigenações, a mortalidade seguirmos melhorar minimamente o financiamento da materna no Brasil é de 260 por 100 mil partos. É quase saúde pública e torná-la complementar à assistência mé- seis vezes superior ao índice da população geral. Isso in- dica privada, ou seja, não usar dinheiro público para atender paciente que tem plano de saúde, nós teremos condição de gerenciar o SUS com mais recursos e adotar práticas modernas, contemporâneas de gestão, princi- palmente, intensificando a terceirização nas áreas de alta tecnologia. Nesse futuro da construção do SUS espero que a gente consiga, também, criar uma aliança com a universidade e a indústria nacional para desenvolver no- vos produtos tanto na área da biotecnologia quanto na área de equipamentos médicos. Nós estamos próximos de dar um salto em termos de desenvolvimento de novas tecnologias dentro do país. Para isso, é fundamental que o governo continue usando a sua capacidade indutiva e que os empresários nacionais continuem demonstrando esse apetite por gerar mais lucros, exportar produtos e servir melhor a medicina brasileira com tecnologia de ponta. Acho que esse componente da pesquisa, do de- senvolvimento e inovação é fundamental. 125
Capital Humano SINDHOSP 2012
As diferentes gerações e o desafio de administrar talentos O ambiente de trabalho nas corporações está se transforman- do muito rapidamente. Valores como estabilidade, obediência a conceitos preestabelecidos estão dando lugar ao dinamis- mo e inovação, ao uso cada vez mais intenso da tecnologia. Se o ambiente muda, as pessoas também. Hoje, não é raro encon- trar, numa corporação, vários departamentos coordenados por jovens de 23, 28 anos, que têm, entre seus subordinados, pessoas com 40, 50 anos, até 60. Numa brincadeira de letras, estamos vivendo a era da convivência entre as gerações BB, X e Y. Convivência, aqui, entra como mero eufemismo, pois a reali- dade mostra que as salas de trabalho transpiram conflitos. Nesse ambiente de quase guerra, uma boa notícia: o gestor que conseguir estabelecer canais de comunicação entre as três gerações e fazer com que elas se entendam terá dado um gran- de passo para o sucesso da sua corporação. E DO seu também.
Capital Humano ma das gerações que hoje co-habitam no C M SINDHOSP 2012 U ambiente de trabalho são os baby boomers, Y nascidos entre 1946, no pós-guerra, e CM 128 1964. Foi a primeira geração que cresceu em frente à MY TV. E foi pela televisão que eles viram a chegada do CY homem à Lua, a Guerra do Vietnã, conheceram o CMY rock and roll e seus ícones, como Elvis Presley, Beatles, K Rolling Stones. Uma frase define-os bem: “não confie em ninguém com mais de trinta anos”. No Brasil, os baby boomers conviveram com a ditadura militar, a falta de liberdades democráticas, as músicas de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso. No ambiente de trabalho, esse grupo respeita e valoriza a hierarquia, cria vínculos com a empresa onde trabalha e permanece muitos anos no mesmo emprego. Já a geração X, ou os filhos dos baby boomers, nasceu entre 1965 e 1980. São pessoas que buscam o equilí- brio entre a vida pessoal e profissional, empreendedoras e extremamente independentes, altamente pragmáti- cas. Foi com a geração X que surgiram as preocupações com a destruição ambiental e as questões ecológicas. Marcos importantes da era X são o fim da Guerra Fria e o início da internet. Os representantes desse grupo gostam de trabalhar num ambiente de equipe e valori- zam o conhecimento, experiência e foco. Finalmente, a geração Y, nascida entre 1981 e 1999, chegou em uma época em que a tecnologia já produzia enormes avanços e seu principal brinquedo eram os vi- deogames. Não fosse pela aparência, seria simples iden- tificar um “geração Y”. Para ele, é muito fácil realizar várias tarefas simultaneamente: ao mesmo tempo em que trabalha no computador, conversa via MSN, ouve música, manda mensagens e fala ao celular, lê e-mails e ainda consegue bater papo com o colega da mesa ao lado. Criativo e sempre em busca de desafios, o jovem da geração Y tende a demonstrar maior produtivida- de quando colocado em situações que demandem alta criatividade.
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Capital Humano SINDHOSP 2012 Conflitos inevitáveis É possível imaginar a gama de conflitos que surge num ambiente onde convivem ge- rações tão diferentes e com valores tão distintos. De acordo com o consultor em gestão empresarial Sidnei Oliveira, os representantes da geração X estão vivendo um processo de reinvenção, na tentativa de se manterem jovens e garantir seus postos de trabalho, funda- mental à manutenção do padrão de vida conquistado. “Eles têm como certo que a ideia de aposentadoria na faixa dos 50 ou 60 anos, uma experiência vivida por seus pais, já não existe, dado o aumento na expectativa de vida”. Nessa reinvenção, a geração X voltou a estudar. “Atualmente, dos cerca de 5 milhões de universitários brasileiros, aproximada- mente 20% têm mais de 40 anos”, informa Oliveira. Já os Y, segundo Sidnei Oliveira, têm como característica marcante a quebra de paradigmas, de premissas estabelecidas e a busca da satisfação imediata e o acesso a todo tipo de informação, chegam ao mercado de trabalho acumulando muita informação acadêmica. É a primeira geração da história a ter maior conhecimento que as anteriores em uma área essencial, a da tecnologia. O segredo está em saber aproveitar o potencial das pessoas, extrair o melhor de cada geração 130
As relações entre essas duas gerações se complicam boa formação, mas sem um direcionamento profissional. porque, de um lado, a geração X não está preparada para “O que o representante da geração Y precisa é de alguém treinar e ser substituída, no futuro, pela Y; e, de outro, a que direcione o seu potencial. O líder tem que saber ca- Y entende ser mais prática que sua antecessora e que pode nalizar a energia desse colaborador, mostrar que as suas ser muito mais ágil. O consultor Sidnei Oliveira acrescen- qualidades, se bem aproveitadas, podem agregar valor”. ta que, embora tenha formação acadêmica superior à da geração X, mais experiente, o jovem Y apresenta uma ima- Para Sidnei Oliveira, um caminho pode ser o de mos- turidade corporativa inédita e que desafia os gestores. “É o trar ao veterano que ele deve mudar de papel, saindo da confronto da teoria contra a prática”. E a situação se torna função de executor para a de mentor. “O mentor é o con- ainda mais delicada quando um representante da geração selheiro sábio e confiável de uma pessoa inexperiente; ele Y acaba chefiando pessoas da geração X. “Essa é a razão do não manda, sugere. Orienta, guia, mostra o caminho e as conflito de gerações, mas ela pode ser, também, a raiz das opções disponíveis, deixando o mentorado fazer a escolha oportunidades”. Como resolver esse conflito? Quem res- que julgar a melhor”. O papel do mentor, continua Oli- ponde é Ramiro Novak Filho, administrador de empresas veira, é alinhar os interesses do mentorado com o plano e coach (treinador, na tradução literal, é o profissional que estratégico da empresa e com o plano individual que ele transmite ao cliente capacidades ou técnicas que ajudem pretende trilhar. “Fora disso não há solução porque, por a aprimorar seu desempenho): “O segredo está em saber mais qualificado que seja, o jovem da geração Y não vai aproveitar o potencial das pessoas, extrair o melhor de vencer a batalha contra o X, por conta da experiência que cada geração”. Em seu trabalho de formação de novas li- este possui, e acabará deixando o emprego”. Nas oficinas deranças, muitas delas em organizações do setor saúde, que realiza em empresas, Sidnei Oliveira coloca frente a Novak Filho tem encontrado jovens com alto potencial, frente veteranos e novatos para que conversem, se enten- dam e busquem, juntos, uma solução para os conflitos. 131
Capital Humano SINDHOSP 2012 Ser excelente, não o melhor O enfrentamento desses conflitos ainda é subestimado lar e ouvir”. O executivo acrescenta que o trabalho do líder por muitas empresas, que preferem não encarar o problema. consiste em comprometer todos com o mesmo objetivo, o Outras, no entanto, se anteciparam e hoje colhem os frutos processo tem que ser um aprendizado entre iguais. “Aqui da adoção de políticas inovadoras. Uma delas é o Hospital no hospital é permitido dizer a verdade, até o que se pensa”. Santa Isabel, de Blumenau (SC), que conta com cerca de mil funcionários. O diretor Administrativo-Financeiro, Vil- O segundo segredo revelado por Santin é negar a máxi- son Santin, destaca que é praticamente impossível não ha- ma difundida por muitos palestrantes, segundo a qual cada ver conflitos nas organizações. “Cada ser humano tem uma um tem que ser o melhor. “Eu não quero o melhor por- impressão digital diferente; da mesma forma, cada pessoa que no pódio do melhor só cabe um e, muitas vezes, para tem um comportamento diferente”. Santin afirma ter dois chegar lá, ele pisou em muita gente. Eu quero o excelente, segredos para a superação dos conflitos. O primeiro deles porque no pódio do excelente cabem todos. Não quero es- é saber exercer a liderança. “A geração baby boomer não foi trelas trabalhando comigo, quero a constelação”. Nas reu- treinada para liderar, mas para mandar. Muitos agem como niões periódicas que realiza com os coordenadores e gesto- verdadeiros caudilhos. Essa prática já não funciona mais”. res, Vilson Santin reforça esses conceitos. Outro ponto que O dirigente diz que é função do gestor colocar nos postos de o executivo destaca é a defesa do diálogo entre as gerações, liderança pessoas que tenham sido melhor preparadas para especialmente, com a Y. “Se você encontrar o caminho cer- assumir a função. “O bom líder é aquele que negocia em to para falar com esse pessoal, não há limites para o que vez de impor. Ele tem que levar a equipe e não tocá-la para eles podem produzir dentro de uma organização”. Santin frente, tem que exercer uma gestão compartilhada, saber fa- acrescenta que a facilidade com que a geração Y lida com a tecnologia é extremamente útil para as empresas. 132
Liberdade para crescer Embora conte com representantes das três gerações, a que compreenda os motivos e real utilidade de cada um maioria dos quase 1.200 funcionários do Laboratório Sa- deles. Essa geração tem necessidade de entender melhor bin, de Brasília, está no grupo dos Y. “É um pessoal inova- os processos da organização, de contribuir de forma sig- dor, que gosta de lidar com tecnologia. Cabe aos gestores nificativa e de ter autonomia para modificar o que con- de RH buscar o melhor de cada geração, estimulando a siderar necessário”. Ela acrescenta que “se a organização participação de todos e buscando a sinergia entre a equi- se preocupar em mostrar ao profissional da geração Y o pe”. Quem dá essa receita é a superintendente de Recursos significado de cada regra, a complexidade do processo e Humanos do Sabin, Marly Vidal. Lidando no dia a dia os impactos gerados caso determinado protocolo não for com jovens que têm, entre suas características, uma certa seguido, ou seja, se permitir que ele compreenda verda- dificuldade em seguir regras e determinados padrões, Vi- deiramente o sentido de cada um desses padrões e normas dal dá a receita de como extrair o melhor dessa geração estabelecidos, esse profissional não só seguirá a todos eles em proveito da qualidade do serviço prestado. “A geração como aperfeiçoará o processo, além de defender que os Y não se incomoda com normas, regras e protocolos desde demais colegas da empresa adotem a mesma postura”. 133
Capital Humano SINDHOSP 2012 Marly Vidal explica que no Sabin são adotadas diversas ferra- mentas para promover a integração e sinergia entre as gerações. Uma delas são as reuniões periódicas do chamado “grupo de ino- vação”, que conta com a participação de representantes de todos os setores do laboratório. “Nesses encontros, os participantes são li- vres para apresentar qualquer ideia que possa melhorar o trabalho”. Uma das propostas saídas dessas reuniões foi a impressão das ins- truções para coleta de urina diretamente no saco plástico no qual é acondicionado o frasco de coleta, e não mais num papel que ficava dentro do saco plástico. “Foi uma medida simples, de fácil adoção, que ajudou na redução do consumo de papel pelo laboratório mas que, até então, ninguém havia pensado em fazer. O importante é dar liberdade para o funcionário crescer”, ensina Marly Vidal. A executiva é um exemplo dessa liberdade. Há vinte anos, ela ingressou no Sabin como recepcionista. Já empregada, iniciou um curso superior. Com as oportunidades que recebeu dentro da em- presa, foi galgando postos até atingir o cargo de superintenden- te de RH. “A política do Sabin é sempre aproveitar o seu capital humano. Tanto que 100% dos nossos líderes gestores vieram de carreira na empresa”. A maioria desses gestores pertence à geração Y e sempre que uma inovação é apresentada por eles, são utiliza- das ferramentas para que ela seja replicada para as outras gerações. “Mostramos que essa novidade agrega valor à tarefa realizada”. Fundado há 27 anos, o Laboratório Sabin foi considerado, no ano passado, pela revista Você S/A, da Editora Abril, como a melhor empresa no setor de saúde na Região Centro-Oeste. E foi eleito como a quarta melhor empresa para se trabalhar no Brasil, segundo a pesquisa Great Place to Work, levantamento realizado há 25 anos em mais de 40 países pelo grupo norte-americano homônimo, baseado na avaliação do nível de confiança dos fun- cionários nos aspectos credibilidade, respeito, imparcialidade, orgulho e camaradagem. O sucesso desse reconhecimento, en- tende Marly Vidal, está na capacidade de unir a maturidade da geração X à inovação digital da Y. “Nossas pesquisas internas revelam que o quê os funcionários mais valorizam na empresa é a oportunidade de crescimento e desenvolvimento”. Hoje, 51% dos colaboradores do Sabin pertencem à geração Y, 37% à X e, 12% são baby boomers. 134
Apostar no novo A prevalência de jovens em cargos de liderança revela que, tentativas de “puxada de tapete”, até que o funcionário se de um lado a empresa confia e aposta no talento do novo, acabou sendo demitido. “O saldo positivo desse embate é de outro é preciso muita firmeza para suportar pressões. que conquistei o respeito de todos no departamento. Os O headhunter Marcos Prospero vivenciou essa experiência, colegas desse funcionário notaram que eu tinha capacidade nem sempre agradável. Aos 23 anos, ingressou num banco para resolver os problemas com maior rapidez”. Hoje, e, dois anos depois, foi promovido a gerente da área de Prospero é sócio da Robert Wong Consultoria Executiva telemarketing. “Eu fui a pessoa certa, no lugar certo e na e é como consultor que ele afirma que as empresas têm hora certa”, conta. Entre os vinte funcionários que chefiava, que procurar a melhor forma de se comunicar com essa havia vários mais velhos que ele. As pressões só diminuíram nova geração de trabalhadores, valorizando o que eles têm quando a equipe entendeu que as mudanças propostas por de melhor. Do contrário, os jovens acabam buscando outro Prospero facilitavam seu trabalho. Mas problemas, mesmo, emprego. Aliás, a alta rotatividade deve se consolidar como ele teve quando, aos 32 anos, chegou ao cargo de diretor uma tendência do mercado de trabalho nos próximos anos, do banco. “Havia um colega na faixa dos 50 anos que justamente por conta da entrada da geração Y, impaciente trabalhava no departamento há muito mais tempo e contava e imediatista na busca de resultados. “A rotatividade já é como certa a promoção”. Foram seis meses de pressões, de grande e isso custa caro para as empresas”, lembra Prospero. Ética, responsabilidade e respeito. Procuramos a melhor solução possível com pronto atendimento. Com cerca de 70 colaboradores, a A3 Contabilidade administra mais de 3.000 funcionários de seus clientes e um faturamento próximo a R$ 3 bilhões. Somente uma empresa com credibilidade e eficácia comprovada poderia administrar esses números. Confie em nossos serviços. Entre em contato agora mesmo. www.a3.srv.br Tel. 11 3122 0300 135
Capital Humano SINDHOSP 2012 Salto de modernidade Elevar o nível de qualidade do serviço prestado pela em- processos e cronogramas. O coaching também serviu para presa, desenvolvendo competências e adotando um estilo promover a integração dos jovens, diminuindo os riscos de moderno de gestão. Basicamente, foram essas as razões que conflitos e aliando seus talentos às necessidades da empre- levaram a direção da Dal Ben Home Care a contratar, em sa, ao mesmo tempo em que se procurou adequar as ge- 2010, um diretor executivo que contava, então, com 24 rações mais velhas à introdução de modernas tecnologias. anos. “Sentimos que era chegado o momento de alinhar os “Nesse processo, buscávamos o crescimento individual dos processos visando à conquista da certificação internacional colaboradores para que eles descobrissem como poderiam da Joint Commission (JCI). Era preciso dar um salto de mo- contribuir para o sucesso não só da empresa, mas deles dernidade”, explica a enfermeira Luiza Watanabe Dal Ben, também”, lembra Luiza Dal Ben. O trabalho de coaching presidente da empresa. A chegada do novo diretor, contra- permanece com todos os líderes. tado no mercado, não foi aceita com naturalidade por to- dos os colaboradores, lembra Luiza Dal Ben. “Mas esse era Hoje, ela vê a Dal Ben como uma empresa antena- um risco que eu queria correr porque sabia que, no final, da com a modernidade, com os gestores e coordenadores haveria o entendimento de que todos sairiam ganhando”. afinados e comprometidos com os objetivos pretendidos. À contratação do diretor geração Y seguiu-se um trabalho Tanto que a certificação internacional já foi conquistada de coaching (processo de orientação e assessoramento ao no início de junho. Quanto ao diretor executivo, recebeu desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo) com uma proposta de trabalho irrecusável e mudou-se para a os líderes, objetivando despertar talentos e a capacidade Suíça. Seu cargo não foi preenchido. “A empresa está tão de agir sob as pressões das dificuldades de planejamento, bem organizada que não vemos necessidade de contratar esse profissional”, finaliza Luiza Dal Ben. 136
Geração digital Se a geração Y é caracterizada, entre outras, pela sua porque ele não existe para ela. “Da mesma forma como a capacidade de realizar diferentes ações ao mesmo tempo, geração X não sabe o que é viver sem geladeira, a Z não se a Z consegue ser ainda mais multitarefa. Formada por vê no mundo sem o celular, a internet”. A melhor defini- indivíduos constantemente conectados através de dispo- ção para esse grupo, segundo Oliveira, é geração digital. sitivos portáteis, a geração Z não tem uma data definida para o seu “nascimento”. Ela pode até ser considerada Daqui a pouco, representantes do grupo Z ingressarão parte da geração Y, já que muitos autores posicionam o no mercado de trabalho, o que certamente trará ainda seu surgimento entre a segunda metade da década de 90 mais desafios à gestão de pessoas. No entender de Sidnei e 2009. No entanto, os jovens Z se diferenciam dos Y Oliveira, caberá, em boa parte, à geração Y lidar com esses pela forma como utilizam a internet, a tecnologia e as re- profissionais. “Talvez as dificuldades e os conflitos sejam des sociais. Ao contrário da Y, que cresceu de mãos dadas menores porque há muita similaridade entre elas, como a com o avanço tecnológico, a geração Z já nasceu inse- rapidez no acesso à informação, a dependência do com- rida no mundo digital. Sidnei Oliveira explica que essa putador”. Autor de três livros sobre a geração Y, Sidnei geração não entende o mundo analógico simplesmente Oliveira já inicia a produção de uma nova obra, desta vez sobre a geração Z, a ser lançada em 2013. Evolução Permanente 137
Capital Humano SINDHOSP 2012 Entrevista Mauricio de Sousa “Meus quadrinhos não têm armas” Com mais de um bilhão de revistas publicadas em mais de 30 países, Mauricio de Sousa é considerado hoje o maior formador de leitores do Brasil. Representantes de diversas gerações aprenderam a ler com as divertidas historinhas da Mônica, do Cebolinha, Cascão, Chico Bento. Aos 75 anos, Mauricio continua “antenadís- simo” – um de seus mais recentes lançamentos é o aplicativo para smartphones que permite criar avatares de personagens e compartilhar em redes sociais. Como pou- cos, este paulista de Santa Isabel domina a arte de se comunicar com fãs de qualquer idade. “Basta não me esquecer do meu lado criança”, explica ele nesta entrevista ao Anuário SINDHOSP. Seus quadrinhos, que povoam o imaginário infantil (e, quem sabe, o adulto também) desde 1959, não têm ar- mas, a não ser o coelho da Mônica, é claro, e tratam de amizade, convivência, enfim, falam do bem. Sua preocupação em ensinar, orientar e informar de forma leve e bem-humorada o levou a re- ceber, em 1998, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a medalha dos Direitos Huma- nos. Veja, a seguir, o que pen- sa o mais famoso e premiado autor brasileiro de quadrinhos. 138
deeEmqPauaaeegeisovlsetercãrqanooumtpsoeenãseleomoçdsasssãereemoauempensdruceofaosipclnhoegatoisiprmbssariosemeq.nnutdeoer Anuário SINDHOSP – Há quem diga que his- tória em quadrinho não é cultura. Dá para educar Anuário SINDHOSP – Pelos padrões da Organi- com quadrinhos? zação Mundial de Saúde (OMS), você, aos 75 anos, é considerado idoso. No entanto, tem fãs com 7, 15, 40 Mauricio de Sousa - Eu mesmo comecei a me interes- anos de idade. Qual a fórmula para se comunicar – e se sar em aprender a ler por causa dos quadrinhos. E depois fazer entender – por públicos de gerações tão distintas? dos quadrinhos fui para os livros. Isso continua aconte- cendo hoje em dia. Pais que me encontram em eventos Mauricio de Sousa - Basta não me esquecer do meu dão depoimento de que começaram a aprender a ler pe- lado criança. O que consigo com o apoio e companhia los meus gibis. E agora são seus filhos que estão nesse dos meus dez filhos, 11 netos e dois bisnetos. Converso e processo. Se uma criança tem interesse em se alfabetizar brinco com todos. Tem de todas as idades. por causa dos quadrinhos, dá para perceber o quanto essa linguagem é importante, como ferramenta de ensino e Anuário SINDHOSP – Você começou sua carreira, detonadora de processo educativo/cultural. há 50 anos, publicando tirinhas infantis em jornal de adulto. Hoje, com tantos meios eletrônicos à disposi- Anuário SINDHOSP - Muitas histórias da Turma ção, é possível atrair crianças para o jornal impresso? da Mônica tratam de temas como a preservação am- biental. É difícil falar de assuntos sérios com crianças? Mauricio de Sousa - Muitos vivem dizendo que as crianças estão abandonando a leitura em impressos e Mauricio de Sousa - Criança gosta de histórias bem migrando para os games, mp4, tablets, redes sociais, ce- contadas. Por isso pedem para repetir várias vezes. Pode- lulares etc. Mas em 2008 lançamos a revista da Turma -se falar de tudo dentro de uma historinha. Basta que seja da Mônica Jovem que é um “case” do mercado editorial. na linguagem da hora e da vez. E com aquela criatividade Chega a picos de 500 mil exemplares impressos. Portan- e bom humor. to, é uma prova de que o que realmente importa para a criança e o jovem é o conteúdo. Ou o Japão, reino do Anuário SINDHOSP – E existem assuntos que não eletrônico mundial, não seria o país onde mais se vende devem ser abordados em quadrinhos? gibis - mangás - no planeta. Portanto, independente da plataforma de comunicação, o que temos que trabalhar Mauricio de Sousa - Digo aos meus roteiristas que direito é o conteúdo. Tem que ser criativo, envolvente e perguntam qual o nosso limite sobre assuntos mais difí- se identificar de imediato com o público leitor. ceis: faça um roteiro e pense se você o mostraria para seu filho. Porque se houver qualquer dúvida nessa questão, é melhor não publicar. Anuário SINDHOSP – Você considera que o mun- do dos quadrinhos atual tem muita violência? Mauricio de Sousa - Tem uma linha que procura reproduzir em quadrinhos a violência de certos games. Uma violência com armamentos que espalham sangue por todos os lados. Mas nos quadrinhos há mais reflexão do que a ligeireza de um game. Em meus quadrinhos 139
Capital Humano SINDHOSP 2012 Estamos atentos às novas formas de comunicação. Temos que caminhar junto com nosso público, hoje antenado e participativo -final, depois desenhos e finalmente roteiros para os ar- tistas da equipe. Mas era necessário para continuarmos crescendo e nos fortalecendo. Graças a isso temos pra- ticamente uma revista a cada dois dias sendo produzida nos estúdios, com mais de 1.200 páginas encaminhadas à editora todo mês. não têm armas, a não ser o coelhinho da Mônica (risos). Anuário SINDHOSP – O que é o Instituto Cultu- Mas briga infantil é algo normal dentro do aprendiza- ral Mauricio de Sousa? do da convivência até entre irmãos. Veja que nos nos- sos quadrinhos todos brigam, mas sempre estão juntos. Mauricio de Sousa - Em certo momento percebemos Ao ponto da Mônica namorar o Cebola já na Turma da que algumas ações sociais exigiam um braço específico. Mônica Jovem. O Instituto Mauricio de Sousa é autônomo em relação à empresa para podermos ceder direitos dos personagens Anuário SINDHOSP – Até que ponto podemos - sem custos - para alguns projetos. Com isso, estamos fazer humor sem perder a elegância e mantendo os trabalhando com entidades e empresas que querem de- parâmetros éticos? senvolver projetos socioeducativos. Mauricio de Sousa - É a historinha do bem, do bom, Anuário SINDHOSP – Recentemente, a Mauricio do humor e do amor. Nós estamos nessa. de Sousa Produções lançou aplicativos para smartpho- nes e tablets que permitem criar avatares de persona- Anuário SINDHOSP – Sendo um autor lido prati- gens e compartilhar nas redes sociais. Para quem co- camente no mundo todo, você diria que criança e ado- meçou a carreira desenhando com lápis e papel, foi lescente é tudo igual, só muda o endereço? difícil a imersão no mundo digital? Mauricio de Sousa - Antes de viajar por esse mundão Mauricio de Sousa - Preparamo-nos para isso. Es- de Deus, não tinha essa consciência. Hoje, fico feliz ao tamos atentos às novas formas de comunicação. Temos perceber quando crianças da Itália, da Indonésia, da Chi- que caminhar junto com nosso público, hoje antenado na brincam chamando-se, umas às outras, pelos nomes e participativo. dos meus personagens. Anuário SINDHOSP – Hoje, você mantém equipes de roteiristas que produzem as revistas da Turma da Mônica. Foi difícil delegar essa atribuição? Mauricio de Sousa - Foi um momento meio difícil para mim quando deleguei letreiramento, depois arte- 140
A nossa especialidade é cuidar da sua saúde. Oncologia - Neurologia - Ortopedia - Cardiologia Av. Santo Amaro, 2.468 - Vila Olímpia São Paulo - SP - (11) 3040 8000 - www.santapaula.com.br Responsável: Dr. Rafael Munerato de Almeida - Diretor Técnico Médico - CRM/SP 101.547
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Registros pessoais de saúde começam a surgir no país Presentes em vários países, especialmente nos Estados Unidos, os registros pessoais eletrô- nicos de saúde ainda ensaiam sua deslanchada no Brasil. São poucas as empresas que oferecem esse tipo de serviço, disponibilizado em espaços virtuais. A expectativa dos provedores é de que, nos próximos anos, cresça a demanda de usuá- rios. A se concretizar essas previsões, especia- listas e profissionais da área acreditam numa significativa mudança na forma como a assis- tência será prestada, com o paciente assumindo mais responsabilidades pela sua própria saúde.
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Experiências locais Aqui no Brasil, uma das poucas empresas a oferecer rece vários serviços, como avisar o usuário, por e-mail ou gratuitamente o serviço de armazenamento dos dados SMS, quando ele tem que tomar determinado medica- do histórico médico pessoal é a HelpLink, localizada em mento ou comparecer a consulta médica agendada. Há, Campinas, no Interior de São Paulo. O sistema funciona ainda, uma série de aplicativos que auxiliam a pessoa a a partir da alimentação de dados feita pelo próprio pa- gerenciar melhor a sua saúde, como calculadoras de fre- ciente. De acordo com Ciro Carneiro de Menezes, diretor quência cardíaca, risco cardiovascular e massa corpórea, da empresa, a ideia por trás da experiência é contribuir bulário eletrônico, carteira de vacinação online, tabela para que as pessoas possam gerenciar melhor sua saúde, nutricional, além de notícias e dicas sobre saúde e bem- com mais qualidade de vida e ações preventivas. -estar. O usuário pode utilizar esses serviços para cuidar não apenas da sua saúde, mas, também, da dos familiares. No portal www.helplink.com.br o usuário pode ar- mazenar informações básicas sobre sua saúde, como a Ciro de Menezes acredita que ferramentas como as existência de doenças crônicas, alergias, tipo sanguíneo, disponibilizadas pela HelpLink contribuem para a maior e inserir os atendimentos médicos realizados, resultados assertividade do diagnóstico. “Na medida em que o mé- de exames, laudos, vacinas. Ao se inscrever no progra- dico tem em mãos um histórico de saúde atualizado, tem ma, o usuário recebe login e senha e o Help Card, cartão condições de proceder a uma análise mais acurada.” Outra com um código de emergência que pode ser acessado por vantagem apontada é a eliminação de exames desnecessá- equipes de resgate. Com esse código, os profissionais que rios. “Muitas vezes, o paciente vai ao especialista e acaba estiverem prestando o atendimento de urgência podem repetindo o exame que o clínico solicitou um mês antes solicitar o acesso aos dados. “Os dados do prontuário simplesmente porque não encontra o laudo, aumentando são protegidos por sistemas de segurança criptografados os custos da assistência”, comenta Menezes. e disponíveis apenas ao usuário”, garante Ciro de Mene- zes. Sendo o dono do registro, o paciente pode, se quiser, Criado há três anos, o HelpLink conta com cerca de gerar acessos temporários ou permanentes para médicos e 15 mil usuários. Ciro de Menezes reconhece que o portfó- outros profissionais que cuidam da sua saúde. lio ainda é pequeno. “Embora comum no Exterior, esse serviço é relativamente novo no Brasil, mas acredito que a A partir da alimentação do prontuário, o sistema ofe- demanda deva crescer muito nos próximos três anos.” 145
TICs SINDHOSP 2012 Arquétipo cultural Oferecer uma ferramenta que possibilite ao usuário “No momento em que nos conscientizarmos de que so- centralizar em um único espaço virtual todo o seu histó- mos os principais responsáveis pela nossa saúde, o acesso rico de saúde de forma rápida, simples e segura. Essa é a a aplicativos como esse certamente será ampliado”. proposta do serviço de registro médico eletrônico pessoal que o Bradesco Saúde Concierge oferece a seus segura- Logo após o lançamento, o sistema passou por uma dos, sem nenhum custo adicional. Lançado há pouco fase de testes de funcionalidade; num segundo momento mais de um ano, o sistema, além de armazenar dados foi oferecida a adesão voluntária a ele aos beneficiários como laudos e resultados de exames, possibilita a criação do Concierge, segmento dos planos executivos que dispo- de página customizada com informações clínicas e conta- nibiliza uma série de benefícios à sua clientela. Agora, a tos para casos de emergência, envia alertas sobre realiza- empresa se prepara para iniciar a fase de balanço. “A partir ção de consultas agendadas, permite ao usuário convidar do segundo semestre, vamos avaliar o sistema com o ob- médicos de sua confiança a ter acesso ao seu histórico, jetivo de estabelecer quais as melhores formas de atingir traz notícias e orientações de saúde e ainda pode ser tra- e estimular o nosso beneficiário a aderir ao programa”, duzido para vários idiomas. adianta Manoel Peres. “Queremos iniciar 2013 com um plano mais ousado.” Peres, assim como Ciro de Mene- No entanto, dos cerca de 80 mil beneficiários que te- zes, da HelpLink, tem certeza de que os registros pessoais riam direito a usar o serviço, apenas dois mil aderiram. irão se consolidar nos próximos anos como ferramenta Manoel Peres, diretor do Bradesco Saúde, procura no de controle da saúde e também como auxiliar na redução arquétipo cultural as razões para o baixo interesse por dos custos da assistência no país. O executivo entende um sistema que só contribui para melhorar a saúde das que, quando a tecnologia cria aderência, não se consegue pessoas. “Tendemos a não nos responsabilizar pelas in- mais viver sem ela e exemplifica que, hoje, um simples formações relativas à nossa saúde, preferimos atribuir a açougue de periferia não pode prescindir da tecnologia, terceiros, no caso, aos médicos, essa tarefa”, afirma, acres- presente na balança digital que o comerciante usa para centando que mudar essa mentalidade é o maior desafio. pesar os produtos vendidos. 146
Evitar o retrabalho O sistema utilizado pelo Bradesco Saúde é o Kubbo permita concentrar todas as informações em um único (www.kubbo.com.br), lançado por dois profissionais de espaço virtual tende a evitar o retrabalho e o desperdício saúde. Um dos diretores, o cardiologista João Manoel Pe- de recursos com a realização de exames desnecessários. droso, explica que a ideia nasceu a partir da constatação de que o surgimento de novas tecnologias no segmen- Disponível também para pessoas físicas, mediante pa- to, ao contrário do que ocorre em outros setores da eco- gamento de mensalidade, e com a mesma vantagem de nomia, só fez aumentar os custos da saúde. “Na área da poder ser traduzido para vários idiomas, o Kubbo é, na exploração de petróleo, por exemplo, a adoção de uma visão de Manoel Pedroso, mais do que um repositório de nova tecnologia reduz custos operacionais, otimiza o tra- laudos e resultados de exames. “A partir das informações balho e evita desperdício. No caso da saúde, as inovações enviadas, o sistema estima riscos para doenças cardiovas- encarecem os tratamentos. Com o aparecimento das su- culares, diabetes, câncer e sugere rastreamento e condutas bespecialidades médicas, os sistemas de saúde público e preventivas.” Todos esses cálculos, ressalta Pedroso, são privado se apoiaram demais nos exames complementares, elaborados a partir da medicina baseada em evidências elevando demasiadamente os custos. Essa situação gerou e podem ser acessados pelo médico do paciente. “Com o uma crise mundial.” Na sua opinião, um aplicativo que prontuário pessoal, a consulta é realizada num nível mais elevado, com mais e melhores informações.” 147
TICs SINDHOSP 2012 Com relação ao nível de segurança do sistema, Manoel iniciou tratativas com empresas visando a oferecer a elas Pedroso esclarece que todas as informações são trocadas programas de qualidade de vida e monitoramentos de doen- em ambiente seguro com chave de criptografia e a única ças crônicas. A intenção é que os trabalhadores sejam es- pessoa a ter acesso é o usuário, que pode convidar mé- timulados a cuidar melhor de sua saúde. “Funcionários dicos a acessarem suas informações. Da mesma forma, saudáveis significam menos gastos com planos de saúde, ao trocar de médico, o usuário pode bloquear o acesso redução do absenteísmo, entre outras vantagens. Do lado do profissional anterior. “O paciente pode, ainda, custo- da empresa, os custos também caem”, afirma Pedroso. mizar sua página, disponibilizando apenas determinadas informações para os casos de emergência.” Numa escala menor, mas também visando à elimina- ção do retrabalho e redução de custos, há mais de dez No momento, o sistema passa por uma fase de ajustes anos, o laboratório de análises Rocha Lima, de São Caetano que permitirá a sua interação com laboratórios. A ideia do Sul, oferece a seus clientes a possibilidade de armazena- é que, tão logo os exames solicitados estejam prontos, rem em um banco de dados laudos e resultados de exames eles sejam automaticamente inseridos no prontuário in- realizados na empresa. “Mantendo os registros organiza- dividual. “Acredito que até o fim de 2012, dois grandes dos em um único local, o paciente não precisará repetir laboratórios brasileiros estejam integrados ao Kubbo”, exames quando for procurar um especialista por orienta- adianta Manoel Pedroso. ção do clínico”, afirma o biomédico Rafael de Menezes Padovani, diretor do laboratório e auditor de Qualidade A adesão ao Kubbo é semelhante às dos beneficiários da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC). O do Bradesco Saúde Concierge e HelpLink: baixa. Hoje, serviço oferecido pelo Rocha Lima funciona, também, há menos de mil usuários cadastrados no sistema. Para como uma ferramenta de fidelização dos clientes. aumentar o número de assinantes, Manoel Pedroso já Um aplicativo que permita concentrar todas as informações de saúde em um único espaço virtual tende a evitar o retrabalho e o desperdício 148
Há quem veja, no entanto, pouca serventia nos re- Já do ponto de vista da regulação profissional não há gistros individuais de saúde. Para o diretor de Relações qualquer impedimento do Conselho Federal de Medicina Institucionais da Sociedade Brasileira de Informática em (CFM) quanto à interação médico-paciente via registros Saúde (SBIS), Luiz Gustavo Kiatake, os modelos atuais eletrônicos individuais de saúde. “Respeitados os níveis existentes no Brasil são meras “pastinhas eletrônicas”. de segurança e garantido o sigilo, esses serviços podem, Kiatake entende que o sistema precisa evoluir e se tor- de fato, baratear o custo da saúde no Brasil”, afirma o nar mais interessante e, dessa forma, conquistar os brasi- conselheiro Edvard José de Araújo. O conselheiro, aliás, leiros. O representante da SBIS acrescenta, ainda, que o defende que os médicos devam usar todos os recursos da prontuário pessoal é tão importante quanto o prontuário tecnologia hoje disponíveis para estreitar o relacionamen- eletrônico do médico “e, por isso, deve atender a todos os to com seus clientes e melhorar o nível de atendimento. requisitos de segurança e sigilo”. Outro problema aponta- “Sou cirurgião e meus pacientes possuem um endereço do pelo profissional é a falta de padronização desses pro- de e-mail meu para troca de informações. Essa prática dá gramas. “O sistema precisa entender o que eu escrevo. mais tranquilidade e segurança a eles.” Sem padronização, a informação não terá valor.” 149
TICs SINDHOSP 2012 Base nacional Para o presidente da Sociedade Brasileira de Informá- prefeituras e remetido ao governo federal. Com formato tica em Saúde (SBIS), Cláudio Giuliano Alves da Costa, semelhante ao de um cartão de crédito, o CNS contém mais que os registros individuais de saúde, uma ferramen- etiqueta com os dados pessoais do usuário e o núme- ta eficiente para diminuir os custos da assistência no Bra- ro nacional de identificação. É a partir desse número, sil é a efetiva integração da rede de serviços em torno de exclusivo para cada cidadão e válido em todo o territó- uma base nacional. “No Canadá, o governo local iniciou, rio nacional, que se pretende criar o cadastro único de há três anos, um programa de integração de todo o siste- todos os usuários do SUS e centralizar as informações ma de saúde. Esse é o melhor caminho para controlar os sobre o paciente. custos e melhorar a assistência à população.” Por intermédio do cartão, o histórico de atendimen- Essa integração desejada por Giuliano pode ser atin- to do usuário poderá ser acompanhado em qualquer gida se a proposta do Cartão Nacional de Saúde (CNS), unidade de saúde ou pelo usuário em área restrita do que entrou em vigor em março de 2012, for efetiva- Portal de Saúde do Cidadão. As informações permitem mente implantada. De acordo com a Portaria 763, de saber quem foi atendido, onde, por quem e com qual 20 de junho de 2011, do Ministério da Saúde, todo ci- tipo de problema, exames e remédios prescritos. A meta dadão brasileiro deverá ter o Cartão para ser atendido do governo é que todos os brasileiros tenham o Cartão nos estabelecimentos que prestam serviços pelo SUS. Nacional de Saúde até 2014. Quem não tiver o cartão O cadastramento para a emissão do cartão é feito pelas não será impedido de receber atendimento. 150
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