Ensaios clínicos No momento, as pesquisas do Laboratório de Nanomedicina são realizadas in vitro e in vivo. Nos estudos in vitro, os nanomateriais produzidos pelo grupo são colocados em contato com células tumorais e saudáveis retiradas de seres humanos, e se observa sua reação a esse contato. Já para as experiências in vivo, Zucolotto conta com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos e da Faculdade de Medicina da USP, campus São Paulo, onde é possível realizar os testes em animais de médio porte. Para o futuro, Zucolotto imagina ser possível produzir ensaios clínicos em pacientes. “Os resultados dos estudos em laboratório são bastante estimulantes. Acredito que, dentro de alguns anos, poderemos ter mais uma ferramenta no combate ao câncer”, comemora. 51
Ciência SINDHOSP 2012 Praga do amarelinho, o começo de tudo O dia 13 de julho de 2000, certamente, está gravado da Citricultura e envolvimento de cerca de 200 cientistas. na memória dos pesquisadores do Brasil. Foi nessa data A estimativa na época era de que a clorose variegada de que, pela primeira vez em 131 anos de existência, a re- citros causasse prejuízos estimados em US$ 100 milhões nomada revista Nature trazia em sua capa uma pesquisa anuais, afetando um terço dos pomares de laranja. feita por brasileiros. A reportagem anunciava o sequen- ciamento da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clo- O grande feito do projeto foi conseguir formar pes- rose variegada de citros, popularmente conhecida como quisadores capazes de utilizar as ferramentas de sequen- praga do amarelinho, que atacava os laranjais. Dez anos ciamento. Sem dúvida, foi o pontapé inicial de tudo depois, a mesma publicação comentava o feito em edito- o que foi feito com genoma no Brasil. Com o Projeto rial: “A biotecnologia brasileira amadureceu ao ponto em Xylella a Fapesp criou uma rede (dissolvida posterior- que seus cientistas são atores no cenário internacional”. mente) que serviu para sequenciar outros organismos, como a bactéria Xanthomonas (responsável pelo cancro Mas, afinal, qual a importância do sequenciamento de cítrico), parte do genoma da cana-de-açúcar e células de uma bactéria para além das plantações de laranja? A expli- alguns tipos de tumores. cação é simples: a maioria dos 35 grupos de pesquisadores que participaram do projeto não queria estudar uma bac- Outro resultado positivo do sequenciamento da Xy- téria, mas aprender a revelar as letras químicas que cons- lella foi a criação de empresas de desenvolvimento tec- tituem o código genético, idênticas para todos os seres nológico, algo até então raro no Brasil. Assim como raro vivos. O Projeto Xylella foi lançado em outubro de 1997 foi o artigo publicado em 2000 pela revista britânica The pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Economist, que começava assim: “Samba, futebol e...ge- de São Paulo), com apoio do Fundo Paulista de Defesa nômica. A lista de coisas pelas quais o Brasil é renomado se tornou, de repente, mais longa”. 52
Informe Técnico Publicitário BIOTECNO TRAZ INOVAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DE IMUNOBIOLÓGICOS, HEMODERIVADOS E MEDICAMENTOS Assim como todas as áreas da saúde no País, a conservação de termolábeis não foi esquecida no que tange à inova- ção. Sendo pioneira no desenvolvimen- to de equipamentos dotados de Siste- ma de Emergência para falta de energia elétrica comercial no mundo, a Biotec- no comemora o sucesso. Presentes em postos de saúde, clínicas, hemocentros, laboratórios, hospitais e farmácias, as câ- maras produzidas pela Biotecno trazem versatilidade e desempenho avançado. Importância da Conservação Adequada Câmaras Específicas para Conservação de Vacinas, Termolábeis e Hemoderivados produzidas pela Biotecno. As vacinas são imunobiológicos sen- Funcionamento Sem Energia Elétrica a tensão elétrica e desligar o equipa- síveis a agentes físicos como o calor e a Com ciência da importância da con- mento da rede comercial se a mes- luz, especialmente por conterem em sua ma estiver instável, com o intuito de formulação antígenos adjuvantes. O ca- servação adequada dos termolábeis resguardá-lo de danos. Uma vez que lor acelera a inativação das substâncias e com o intuito de gerar aos clientes houver estabilização, o equipamento que entram na composição dos produ- confiabilidade e segurança a Biotecno reconecta-se a rede comercial. Todos tos. As vacinas que contêm adjuvantes desenvolveu o Sistema de Emergência os dados podem ser extraídos em grá- não podem ser submetidas ao congela- para falta de energia elétrica comercial, ficos e relatórios. mento, ou seja, devem ser conservadas capaz de manter o compressor de frio do entre 2° e 8°C. Levando em conta toda equipamento funcionando por longos Software de Gerenciamento tecnologia dispendiosa ao se produzir períodos sem energia elétrica comercial. Para facilitar a análise de desem- uma dose de vacina, desde o desenvol- A câmara permanece em funcionamen- vimento de seu princípio ativo ao bene- to devido à conversão da energia de penho de temperatura, as câmaras fício que traz em salvar vidas, a conser- corrente contínua em corrente alterna- são dotadas de software de geren- vação trata-se de um fator de risco que da mantendo todas as funções eletro- ciamento, cuja função permite emitir influencia diretamente no resultado final. -eletrônicas, inclusive o compressor de relatórios e gráficos de performance, frio, com autonomia variável de acordo inclusive retroativos, permitindo o ge- O rígido controle e respeito às re- com o modelo, de 24 a 72 horas. renciamento da câmara via internet. gras de acondicionamento e transporte influenciam diretamente na eficácia da Instabilidade Elétrica A Biotecno investe em tecnologia imunização. Cada exposição de uma vaci- Avaliando as necessidades das dife- com o intuito de proporcionar a seus na a temperatura acima de 8°C resulta em clientes segurança total na armazena- algum grau de perda de potência, tendo rentes regiões brasileiras, contatou-se gem de seus produtos, trazendo tran- por conseqüência um efeito cumulativo que um dos grandes vilões da conser- quilidade e confiança, facilitando o irreversível na eficácia vacinas, além de vação das vacinas era a instabilidade seu dia-a-dia. que, o congelamento de determinadas elétrica. A Biotecno agregou a seus vacinas leva à destruição das mesmas. produtos um software capaz de avaliar www.biotecno.com.br
Ciência SINDHOSP 2012 Entrevista Mayana Zatz Uma apaixonada pela ciência Considerada uma das mais importantes figuras do cenário científico brasileiro, a geneticista Mayana Zatz foi uma das principais vozes no debate que le- vou à aprovação, em 2005, pela Câmara dos Deputa- dos, das pesquisas com células-tronco embrionárias. Apaixonada pela ciência, como ela mesmo se define nesta entrevista ao Anuário SINDHOSP, Mayana Zatz é professora titular do departamento de Biolo- gia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano. Nascida em Israel, em 1947, a pesquisadora morou na França até se fixar no Brasil, em 1955. Pós-doutorada em biologia genética pela Universidade da Califórnia (EUA), Zatz é fundadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular (de- signação de um grupo de doenças genéticas que se caracterizam por uma degeneração progressiva do te- cido muscular). Entre as muitas láureas que recebeu, destacam-se o Prêmio México de Ciência e Tecnolo- gia, Prêmio L’Oréal Unesco para mulheres em ciên- cias e o título de “Doutor Honoris Causa”, conferido pela Universidade Nacional Autónoma do México. De forma clara e acessível, Mayana Zatz aborda temas como o acesso às informações do sequencia- mento genético, os riscos das pesquisas com células- -tronco, os limites éticos do cientista. E revela que não se importaria em ser gerada para salvar a vida de um irmão doente. Leia, a seguir, a entrevista. 54
Anuário SINDHOSP – As pesquisas com células- Anuário SINDHOSP – Essas pesquisas envolvem -tronco embrionárias alimentaram as esperanças de se muitos riscos, não? obter a cura para lesões e doenças do sistema nervoso, como o Parkinson. Que resultados concretos esses es- Mayana Zatz – Exatamente, esse é o problema. Na doença tudos já apontaram? de Parkinson, o professor Keith Okamoto, do nosso Cen- tro de Estudos do Genoma Humano, junto com pesquisa- Mayana Zatz – Existem muitas pesquisas novas que dores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), de- estão acontecendo para a doença de Parkinson não só senvolveu um estudo injetando células-tronco no cérebro com células-tronco, mas com novas drogas. Não se pode de ratos. O que se descobriu é que você pode ter nessas cé- se basear apenas nas células-tronco. Existem trabalhos lulas-tronco uma contaminação por fibroblastos, que são recentes mostrando, por exemplo, que haveria acúmulo células que dão origem à pele. E que são muito parecidas de ferro nos neurônios, que são as células nervosas pro- com as células-tronco. Se houver qualquer contaminação dutoras de dopamina, atingidas na doença de Parkinson. por fibroblastos, o quadro degenera com uma velocidade Você tem as células nervosas que produzem dopamina e, gigantesca. Não é que não melhora, piora muito. Esse é na doença de Parkinson, essas células morrem e por isso um exemplo do cuidado que a gente tem que tomar. a pessoa começa a ter problemas. Existem tentativas te- rapêuticas com substâncias que retirariam o excesso de Anuário SINDHOSP – Em que nível estão as pes- ferro para não deixarem os neurônios morrerem. Esse é quisas com células-tronco no Brasil? Estamos muito só um exemplo de que nem todas as respostas estão nas atrasados em relação a outros países ou caminhamos células-tronco. Temos também pesquisas tentando injetar mais ou menos juntos? células-tronco em cérebro de ratos que têm Parkinson e os resultados são promissores. Mayana Zatz – Nós caminhamos mais ou menos jun- tos. Temos vários grupos de excelência. Mas todo mundo Anuário SINDHOSP – É possível prever quando tem que tomar o maior cuidado para só anunciar resulta- essas células serão testadas em humanos no Brasil? dos quando tiver segurança. Mayana Zatz – Não dá para responder porque a gen- Anuário SINDHOSP – O sequenciamento do te não pode estabelecer uma data. As pesquisas estão genoma humano abriu um novo nicho de mercado. avançando, nós estamos otimistas, estamos esperanço- Dentro de pouco tempo será possível realizar esse sos, mas no momento em que eu disser ‘vamos começar sequenciamento a preços mais acessíveis. A senhora as pesquisas’, no dia seguinte, minha caixa postal estará defende que qualquer pessoa faça o seu sequencia- entupida de mensagens. Todo mundo quer ser cobaia. mento genético? Nós, leigos, saberemos lidar com a Por isso, temos que ser muito cautelosos. Nós só vamos gama de informações que esse teste trará? anunciar quando tivermos certeza de que está pronto para o tratamento. Aí, vamos precisar de voluntários Mayana Zatz – A gente não vai saber lidar com as para as pesquisas clínicas. informações, isso só vai gerar muito mais angústia do que ajudar. Só deve fazer o sequenciamento do genoma a pes- Temos vários grupos de excelência. Mas todo mundo tem que tomar o maior cuidado para só anunciar resultados quando tiver segurança 55
Ciência SINDHOSP 2012 soa que tiver alguma doença genética que não foi defini- Só deve fazer da. A pessoa chega e diz ‘tenho uma doença genética na o sequenciamento minha família e quero saber se corro risco de ter algum do genoma a pessoa problema’. Para isso, você não precisa fazer o sequencia- que tiver alguma doença mento, já sabe qual é o gene, pesquisa diretamente o gene. genética que não Anuário SINDHOSP – Então, fazer o sequenciamento foi definida. pelo simples prazer de fazer é, no mínimo, desnecessário? Os testes genéticos só são importantes Mayana Zatz – Eu acho que as pessoas vão se angus- se você puder fazer tiar. Se eu chegar e disser que você tem risco aumentado para doença de Alzheimer... alguma coisa útil com os resultados Anuário SINDHOSP – No caso do teste apontar esse risco, o que fazer? Contar ou não contar ao pa- deve ser dada aos pais. Há outro dado importante. Às ciente? Qual a postura a adotar? vezes, com o excesso de exame, você gera muita angús- tia. Tive contato com uma pessoa que ficou grávida e, no Mayana Zatz – Não há uma regra. Eu não quero saber oitavo mês de gravidez, fizeram um ultrassom e acharam se tenho risco aumentado. Se eu souber que tenho o risco que a criança tinha um problema na calota do crânio. Essa e começar a esquecer as coisas, vou achar que estou com moça entrou em “parafuso”. Achei um absurdo fazerem o a doença. E todo mundo esquece coisas o tempo todo. exame e darem aquela informação a ela se não havia nada Quando a gente está estressada isso acontece. Eu já cheguei a fazer. O nenê nasceu e ele não tinha nada, era saudável. a esquecer o número do meu telefone há 30 anos e não era Essa mulher passou um mês em desespero. Se não há o problema de idade. Agora, no momento em que souber- que fazer, por que torturar a pessoa com uma informação mos que existe um tratamento preventivo para a doença que não vai trazer nenhum benefício? Estamos vivendo de Alzheimer - e nós vamos chegar lá – aí eu quero saber uma época de muita informação. Temos que saber qual para me prevenir. Os testes genéticos só são importantes informação é benéfica e qual vai atrapalhar. se você puder fazer alguma coisa útil com os resultados. Anuário SINDHOSP – Além de abrir novas opor- Anuário SINDHOSP – No caso de uma doença ge- tunidades de negócios, o sequenciamento do genoma nética descoberta durante a gravidez, qual o melhor humano introduziu, também, questões éticas de difícil aconselhamento? resposta. Até onde o cientista pode ir em nome da pes- quisa? É possível conciliar a ética com a sede de saber? Mayana Zatz – Primeiro, é preciso saber em que fase da gravidez a mulher está, se no começo, meio ou fim. Mayana Zatz – Eu acho que sim. A maioria dos cien- Depende, também, do tipo de doença. Aí, há duas possi- bilidades. Se for no início da gestação, a mãe pode decidir o que ela quer fazer com aquela informação. Agora, se a gravidez estiver adiantada, não há o que fazer. É a mesma coisa que fazer um teste preditivo para uma doença para a qual não há cura. Eu defendo, sempre, que a informação 56
tistas que eu conheço tem preocupações com a ética. Eu Anuário SINDHOSP – Essa sua resposta revela digo sempre que a gente faz a descoberta e depois vem o uma generosidade muito grande... questionamento ético. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a clonagem da ovelha Dolly. A clonagem da ovelha Mayana Zatz – Mas quantos de nós não fomos ge- Dolly foi extremamente importante porque ela mostrou rados por acidente? No caso dos irmãos salvadores você que uma célula, já diferenciada, podia ser reprogramada pode ter certeza de que, pelo menos, uma missão na vida e fazer um bicho inteiro. Isso abriu perspectivas enormes você tem, pode ser que não tenha outra... com as pesquisas com células-tronco. Aí, surgiram os di- lemas médicos; de repente, começou-se a discutir se iam Anuário SINDHOSP – O que se usa do irmão gera- clonar seres humanos. Muitas vezes, as questões éticas sur- do para salvar o doente? gem depois. Eu defendo com unhas e dentes que todas essas questões têm que ser discutidas com a sociedade. Nós Mayana Zatz – É o sangue do cordão umbilical, que vai precisamos descobrir que o que pode afetar as pessoas dire- para o lixo. Eu não me sentiria nem um pouco diminuída. E tamente tem que ser discutido em fórum aberto. Eu acho a mãe, no momento em que nasce o bebê, ela se apaixona do que está na hora de discutir quem vai poder utilizar as mesmo jeito. Eu digo que, nessas situações, em vez de correr informações do sequenciamento do genoma humano. Por o risco de perder um filho, o casal ganha outro. Muitos ca- exemplo, se eu descubro que tenho uma mutação que gera sais que optaram por esse procedimento não só afirmam isso câncer ou qualquer problema de alto custo, as companhias como dizem que os irmãos são os melhores amigos. de seguro-saúde podem ter acesso a essa informação? Anuário SINDHOSP – Até que ponto a religião atra- Anuário SINDHOSP – Como garantir, no Brasil, palha o desenvolvimento científico genético no Brasil? o direito à privacidade e confidencialidade da infor- mação genética? Mayana Zatz – Acho que hoje não atrapalha. Nós te- mos liberdade para fazer as pesquisas que queremos. Acho Mayana Zatz – Essa é outra questão sobre a qual está que a religião é uma questão de foro íntimo de cada um. na hora de pensar. Tem que ser discutida com a socieda- É possível conciliar religião com ciência. de. A população tem que se manifestar, tem que entender o que está sendo discutido e tem que se posicionar. Foi Anuário SINDHOSP – Nas muitas palestras que pro- o que aconteceu na aprovação das pesquisas com células fere, a senhora apresenta uma qualidade um tanto rara embrionárias. Tivemos muita interação com a sociedade. entre os cientistas: a capacidade de traduzir em lingua- Muitos questionários feitos na época mostraram que a gem acessível conceitos extremamente complexos de ge- população estava a favor dessas pesquisas e isso influen- nética. Qual o segredo dessa facilidade de comunicação? ciou os parlamentares. Temos que nos engajar mais nessas discussões porque elas interessam a todos nós. Mayana Zatz – Talvez seja a minha paixão pela ciên- cia. Quando a gente é apaixonado por alguma coisa, quer Anuário SINDHOSP – A senhora considera lícito – e transmitir essa paixão para o outro. E não é só o amor pela ético – que pais gerem um filho para salvar outro afetado ciência. Eu gostaria de motivar cada vez mais jovens a serem por uma doença letal, os chamados “irmãos salvadores”? cientistas. Tento sempre passar a imagem de que cientista é gente normal, que almoça, janta, vai ao cinema, namora. A Mayana Zatz – Totalmente. Eu seria uma “irmã salvadora”. única diferença é que nós, cientistas, temos uma curiosida- de mórbida. Não basta olhar as coisas, tem que saber como funciona, o porquê, como mudar, se precisa mudar. 57
Pesquisa SINDHOSP 2012
Células do cordão umbilical, uma fonte de vida 1988 representa um marco na evolução das pesquisas com células- -tronco existentes no sangue do cordão umbilical. Foi nesse ano que a francesa Eliane Gluckman realizou o primeiro transplante de medula óssea utilizando essas células para tratamento da ane- mia de Fanconi, uma doença hematológica hereditária. Desde então, os cientistas se debruçam sobre todas as possibilidades que os ele- mentos contidos nesse pedacinho do corpo humano, normalmen- te jogado fora após o nascimento do bebê, podem oferecer para o tratamento de enfermidades tidas hoje como incuráveis e letais.
Pesquisa SINDHOSP 2012 partir do experimento feito por Gluckman, a Hoje, mais de cem doenças do sistema sanguíneo e imune são tratadas com o transplante de medula óssea A técnica do transplante de medula com células com CTH do sangue do cordão umbilical. Pacientes do sangue do cordão umbilical e placentário com leucemias, linfomas, anemias graves, congênitas, passou a ser utilizada no mundo todo. As células-tronco hemoglobinopatias, imunodeficiências congênitas, mie- adultas, existentes não apenas no sangue do cordão um- loma múltiplo, entre outras enfermidades, beneficiam- bilical, possuem duas características que as tornam espe- -se com o tratamento. As vantagens das células do ciais: conseguem se reproduzir, duplicando-se, gerando cordão em relação às da medula óssea é que elas estão duas células com iguais características, e têm a capacidade imediatamente disponíveis, não havendo necessidade de diferenciar-se, transformando-se em diversas outras de localizar um doador e submetê-lo à retirada da me- células de seus respectivos tecidos e órgãos. No cordão dula óssea, provocam menor rejeição e apresentam me- umbilical, e também na medula óssea vermelha, são en- nor restrição de compatibilidade HLA (Antígenos Leu- contradas as células-tronco hematopoiéticas (CTH) e me- cocitários Humanos, na sigla em inglês), ao contrário senquimais. Na medula, as hematopoiéticas são responsá- do transplante feito com doador de medula óssea, que veis pela geração de todo o sangue. E é justamente a CTH exige compatibilidade total. que os médicos usam para o transplante de medula óssea. 62
A coleta do cordão umbilical é uma tarefa relativamen- maternidade. Após o nascimento, o cordão é lacrado com te simples, quando executada por uma equipe especializa- uma pinça e separado do bebê, cortando a ligação com a da. Sua preservação já exige bastante complexidade. Todo placenta. A quantidade de sangue (geralmente cerca de 70 esse processo deve atender às disposições da Resolução a 100 ml) que permanece no cordão e placenta é drenada da Diretoria Colegiada (RDC) 56, da Agência Nacional para uma bolsa de coleta. No laboratório, as células são de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tal norma dispõe sobre processadas e criopreservadas, aguardando resultado de a coleta, processamento e armazenamento tanto para os uma série de exames, inclusive maternos, que avaliarão a bancos públicos quanto para os privados. presença de marcadores para doenças infectocontagiosas do sangue. Em geral, somente de três a seis meses após o Os pais que optam pela doação devem saber que so- parto é que as unidades são liberadas para uso. Essas célu- mente maternidades credenciadas podem fazer a coleta. las podem ficar congeladas por tempo indefinido; existem Já para os que preferem o armazenamento para uso pró- bolsas de sangue de cordão congeladas há mais de 24 anos. prio ou familiar, a coleta pode ser realizada em qualquer Hoje, mais de cem doenças já são tratadas com as células-tronco do sangue de cordão umbilical 63
Pesquisa SINDHOSP 2012 Polêmica: doar ou preservar? Que as células-tronco do cordão umbilical são uma estrategicamente pelo país, de modo a contemplar a fonte de vida e esperança de cura para portadores de diversidade genética da população brasileira composta, doenças onco-hematológicas é consenso universal. A basicamente, por caucasianos, índios e negros. O discórdia se instala quando entra em discussão o desti- coordenador da Rede BrasilCord e diretor do Centro de no que se dará ao cordão coletado. Basicamente, exis- Medula Óssea do Instituto Nacional do Câncer (Inca), tem duas correntes de pensamento, ambas ancoradas Luiz Fernando Bouzas, explica que, por conta da forte em sólidos argumentos: aqueles que defendem a doação miscigenação brasileira, optou-se por criar bancos nas desse cordão para os bancos públicos e os que preconi- várias regiões. Além disso, essa diversificação permite zam a preservação em instituições privadas visando o que, no futuro, sejam criados centros de transplante de uso próprio, o uso familiar ou mesmo a doação para um medula. “No Pará, por exemplo, a instalação do banco amigo ou conhecido, mediante autorização. público está favorecendo a mobilização local com vistas à criação de uma central de transplantes.” Atualmente, Os defensores da doação estão sob o guarda-chuva há quatro bancos públicos no Estado de São Paulo, da Rede BrasilCord, que reúne os Bancos Públicos de um no Rio de Janeiro, um no Distrito Federal, um no Sangue do Cordão Umbilical e Placentário. O objetivo Paraná, um em Santa Catarina, um no Rio Grande do dessa rede é armazenar amostras, que podem ser Sul, um no Ceará, um no Pará e um em Pernambuco. utilizadas em transplantes de medula óssea. A Rede foi “A nossa rede é uma das maiores do mundo”, ressalta criada em 2004 pela Portaria 2381, do Ministério da Luiz Fernando Bouzas. Saúde. Hoje, existem 12 bancos públicos, distribuídos 64
O coordenador da Rede BrasilCord acrescenta que se- projetos para a criação de mais quatro (Manaus - AM, São ria impossível, em qualquer lugar do mundo, armazenar Luiz - MA, Campo Grande - MS e Salvador - BA), que todos os cordões umbilicais. “Não haveria estrutura nem serão construídos com financiamento de R$ 16 milhões do equipamentos suficientes.” Assim, são realizados estudos Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que identificam um percentual da população que terá o (BNDES) e sem prazo, ainda, para início de construção. cordão armazenado, suficiente para atender a demanda. E O Banco, aliás, financiou a expansão da Rede, em 2008, quanto maior a miscigenação, maior é a quantidade ne- com aporte de R$ 31,5 milhões do seu Fundo Social. “Em cessária. No caso brasileiro, Luiz Fernando Bouzas afirma média, leva-se um ano para construir e equipar um banco que o ideal seria a existência de 75 mil cordões armazena- público de cordão.” O total de 75 mil unidades deverá ser dos nos bancos públicos. atingido cinco anos após a inauguração de todos os bancos, quando se acredita que eles estejam operando a plena carga. O Brasil ainda está longe de atingir esse patamar. Nos “Hoje, os bancos não estão no mesmo nível de operação. 12 bancos públicos existem 12 mil cordões. Esse número Aqueles lançados recentemente ainda não atingiram a sua deve aumentar até o fim de 2012, quando será inaugurado capacidade total de armazenamento”, afirma Bouzas. Mes- o banco de Minas Gerais, integrante de um projeto maior, mo assim, ele entende que a situação brasileira não é dramá- que contemplará, também, bancos de outros tecidos, cons- tica. “Das quatro mil unidades existentes no banco público truídos com recursos da Fundação Centro de Hematolo- do Inca, apenas 130 foram utilizadas para transplante.” gia e Hemoterapia de Minas Gerais (Hemominas). E já há Crédito: Divulgação CordCell Trabalho em um dos laboratórios da CordCell 65
Pesquisa SINDHOSP 2012 Ao doar o cordão umbilical, a mãe e a criança per- atualmente, o único uso comprovado do sangue do cor- dem todo o direito sobre ele. No entanto, nos casos em dão é para transplante de medula óssea. Bouzas questiona que há histórico familiar de doença onco-hematológica até mesmo a possibilidade de expansão das células-tronco Bouzas explica que existe uma espécie de “banco fami- hematopoiéticas existentes numa unidade de cordão um- liar”, onde os cordões ficam armazenados e não entram bilical, muitas vezes, insuficiente para atender a um trans- na lista dos que podem ser doados. “Analisamos cada plante de adulto com mais de 50 quilos. “Essa expansão caso. Hoje, no banco do Inca, há cerca de 600 cordões ainda está em estudo.” Nos bancos públicos, a insuficiên- no banco familiar.” cia pode ser contornada com a utilização de duas unida- des de cordão para cada transplante, o que é possível em Luiz Fernando Bouzas condena a existência dos ban- função da menor compatibilidade HLA. O coordenador cos privados de sangue do cordão umbilical, “porque eles lembra que em países como Itália, França, Inglaterra e Es- fazem uma aposta num futuro que a ciência ainda não panha é proibida a criação de bancos privados. E finaliza: comprovou.” Sem se ater às inúmeras pesquisas que estão “Se meu filho nascesse hoje, faria a doação.” sendo feitas em todo o mundo, o pesquisador ressalta que, São doenças fatais e, se não preservarmos as células-tronco do sangue de cordão umbilical, estaremos perdendo uma oportunidade de tratamento Crédito: Divulgação CordCell Imagem de laboratório de criopreservação 66
No lado oposto, os defensores da preservação em ban- Anvisa, estatísticas indicam que, em aproximadamente co privado argumentam que em países com grande taxa 20 mil amostras de sangue de cordão criopreservadas, de miscigenação, como Brasil e EUA, a guarda para uso somente uma será usada em transplante durante os 20 autólogo (pela própria pessoa) ou para parentes pode ser primeiros anos de vida. “Mas eu digo que é melhor ter a solução mais indicada, uma vez que não há células mais e não precisar do que precisar e morrer por não ter.” O compatíveis para um paciente do que as suas próprias e as diretor científico da empresa, Elíseo Joji Sekyia, acres- possibilidades de compatibilidade são muito maiores en- centa que, apesar da baixa probabilidade de utilização tre parentes. Segundo estudos, caso o irmão necessite de do sangue do cordão pela própria pessoa, “é importante um transplante, o índice de compatibilidade é de 47%. lembrar que estas são doenças fatais e se não preservar- Um forte adepto da corrente da preservação é Adelson Al- mos as células, estaremos perdendo uma oportunidade ves, fundador da CordCell, centro de terapia celular loca- de tratamento.” Hoje, a maioria dos transplantes de lizado na Capital paulista que atende pacientes portado- medula óssea realizada no país é autóloga, isto é, fei- res de doenças onco-hematológicas e mantém, também, ta com as células-tronco retiradas do próprio paciente um banco de cordão. Alves conta que a ideia de criar esse exatamente no momento em que a doença já o atingiu. banco nasceu em 1988, quando ele acompanhou o trans- “Se esses doentes tivessem tido a oportunidade de ter plante feito por Eliane Gluckman. “Na época, aquilo pa- guardado as suas células-tronco ao nascer, sem dúvida o recia impossível”, lembra. resultado do tratamento seria bem mais eficaz”, ressalta Adelson Alves. Com relação à possibilidade de expansão Adelson Alves reconhece que as chances de a pessoa das células do cordão, técnica que, em tese, permitiria que tem seu cordão umbilical criopreservado em um que apenas uma unidade fosse utilizada para transplante centro especializado vir a usá-lo para tratamento de al- de medula óssea, Sekyia se mostra otimista com os “re- guma doença são raras, mas não desprezíveis, até por- sultados bastante positivos” apresentados nas pesquisas que as doenças onco-hematológicas não ocorrem com em laboratório. grande incidência entre a população. Segundo dados da 67
Pesquisa SINDHOSP 2012 Ter o sangue de cordão umbilical armazenado é o primeiro passo para se beneficiar de um estudo clínico ou mesmo de terapias consolidadas Na CordCell, ressalta Adelson Alves, as técnicas de cordão da própria pessoa já estão sendo testados para o preservação do sangue do cordão umbilical obedecem tratamento de doenças autoimunes, como artrite reu- aos mais modernos padrões internacionais de segurança. matoide, lúpus eritematoso sistêmico e diabetes tipo 1, O sistema de armazenamento das células é realizado por ou com componente autoimune, como esclerose lateral imersão em nitrogênio líquido, com manutenção contí- amiotrófica e esclerose múltipla, assim como nos aci- nua da temperatura baixa (-196º C). As células, quando dentes vasculares cerebrais (AVCs) ou lesões cerebrais totalmente imersas em nitrogênio líquido, mantêm a sua por hipóxia ou trauma.” eficácia terapêutica por longos períodos de armazena- mento. “O nosso mais antigo registro é de 16 anos atrás Maria Helena Nicola ressalta que, para os pacientes e eu garanto que o sangue está em perfeitas condições de e seus familiares, que possuem doenças para as quais as uso”, reforça Adelson Alves. Confirmando que acredita células do sangue do cordão umbilical podem trazer be- plenamente nas vantagens da preservação, Alves deu ao nefícios, o tempo decorrido entre as descobertas e o tra- neto um presente inusitado quando ele nasceu: congelou tamento efetivo pode parecer longo. “Entretanto, é im- o cordão umbilical da criança. portante levar em consideração que as pesquisas médicas devem ser conduzidas com muito rigor e que a evolução Outra pesquisadora que reforça o time dos defenso- é surpreendente quando comparada com os avanços da res da preservação em banco privado é Maria Helena medicina no século passado.” Assim, finaliza a pesquisa- Nicola, diretora científica da carioca Cryopraxis – Ban- dora, “ter o sangue de cordão armazenado é o primeiro co de Sangue do Cordão Umbilical. De acordo com passo para se beneficiar de um estudo clínico ou mesmo Nicola, “transplantes com células-tronco do sangue do de terapias consolidadas.” 68
Um universo de possibilidades na ponta do seu dedo.
Pesquisa SINDHOSP 2012 Brasil tem 45 mil unidades de cordão umbilical em bancos privados Crédito: Divulgação CordCell Um dos tanques de armazenamento de células-tronco O mais recente relatório da Anvisa sobre a produção situação clínica desses pacientes, após a infusão das células, dos bancos privados de sangue de cordão umbilical e pla- não foram informados à Anvisa e serão divulgados segun- centário, divulgado em dezembro de 2011, indica que do critérios estabelecidos pelos pesquisadores. exatas 45.661 unidades foram armazenadas no período de 2003 a 2010. Desse total, apenas oito foram utilizadas para O levantamento aponta, ainda, o descarte de 1.505 transplante. De acordo com o relatório, no ano de 2010, unidades, no período de 2003 a 2010. Entre os principais os Bancos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário motivos de inutilização destacam-se baixa celularidade, para Uso Autólogo atingiram o quantitativo de 18 serviços contaminação microbiológica e desistência. O relatório instalados no país: dois na região Centro-Oeste, dois na pretende estimular ações de vigilância sanitária e contri- região Sul, três na região Nordeste e 11 na Sudeste. Em re- buir para a melhoria da qualidade dos serviços e das célu- lação ao uso terapêutico das unidades de sangue de cordão las disponibilizadas à população. Os dados constantes do armazenadas, os dados da Agência apontam a utilização de relatório foram informados à Anvisa pelos bancos priva- duas unidades em 2010, ambas empregadas em protocolos dos através do envio de relatório mensal no qual constam de pesquisa clínica. Os resultados dos usos terapêuticos e a número de unidades coletadas, processadas, armazenadas, descartadas e utilizadas para fins terapêuticos. 70
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Pesquisa SINDHOSP 2012 A fronteira do conhecimento médico Hoje, no Brasil e no mundo, há inúmeras pesquisas tecidos”, explica. Duas dessas pesquisas já estão pratica- utilizando células-tronco presentes no sangue do cordão mente no estágio pré-clínico, ou seja, a fase de testes com umbilical e também na medula óssea. Alguns experimen- modelos animais já foi concluída. A primeira delas utiliza tos encontram-se, ainda, na fase dos testes em modelos as células-tronco do cordão para tratar doenças do sistema animais; outros já evoluíram para os ensaios clínicos, en- neurológico. A outra trabalha com a possibilidade de re- volvendo pacientes e aumentando as esperanças de surgi- generação do fígado atacado por tumores, evitando-se, as- mento de novos tratamentos. sim, a necessidade de transplante do órgão. “Creio que en- tre 2012 e o próximo ano deveremos encaminhar relatório A pesquisadora Ângela Cristina Malheiros Luzo, he- ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) a fim matologista, diretora do Serviço de Transfusão e Banco de obter autorização para iniciar os ensaios clínicos com de Cordão do Hemocentro Unicamp (Universidade de pacientes.” Já a terceira pesquisa tem como fim a produção Campinas), testa a eficácia dessas células no tratamento de de insulina para combater o diabetes tipo 1. “Neste experi- doenças neurológicas, do fígado e do diabetes tipo 1. “As mento estamos encontrando alguma dificuldade porque a células do cordão umbilical são boas para pesquisa porque quantidade de insulina obtida ainda é insuficiente.” estão prontas para uso e podem ser diferenciadas em vários 72
Regina Goldenberg, professora PhD em terapia celu- O laboratório chefiado por Regina Goldenberg está lar, chefe do Laboratório de Cardiologia Celular e Mo- desenvolvendo pesquisas com células-tronco do segmen- lecular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da to do cordão umbilical para o tratamento de doenças Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma cardíacas. “Isolamos as células mesenquimais do cordão que é possível obter células-tronco do sangue do cordão, e fazemos a sua expansão.” A escolha desse tipo de célula da placenta, do líquido amniótico, do sangue menstrual. deu-se porque é mais fácil fazer a sua expansão, ao con- “Acredito que o mais importante numa pesquisa é desco- trário das hematopoiéticas, fundamental para qualquer brir qual origem de célula-tronco se aplica ao nosso ob- pesquisa, e também porque é possível reprogramá-la em jeto de estudo, porque não acredito que um único tipo laboratório para que regrida a um estágio semelhante ao de célula-tronco seja capaz de tratar todas as doenças”, embrionário. explica a pesquisadora, acrescentando que esse deveria ser o caminho adotado pelos cientistas. “Se um colega meu Esses estudos já contam com mais de cinco anos e ain- obteve bons resultados utilizando determinada célula- da se encontram na fase da pesquisa básica, ou seja, aque- -tronco, vou tentar repetir o experimento da forma como la em que os testes são feitos com modelos animais ou em ele foi realizado em vez de tentar com células de outra plaquinhas de cultura. “Pesquisa é trabalho de uma vida. origem. Seria ilógico fazer isso.” Ainda não temos ideia de quando poderemos passar para a fase dos ensaios clínicos, com pacientes voluntários.” 73
Pesquisa SINDHOSP 2012 Enfisema pulmonar Além de manter banco de armazenamento de sangue do O experimento foi realizado com duas crianças diag- cordão umbilical, a CordCell também é parceira de insti- nosticadas com hipóxia grave cujos pais haviam autori- tuições em três pesquisas que utilizam células-tronco. Em zado a preservação do cordão. “A avaliação foi surpreen- todas elas, a empresa é responsável pelo processamento das dente, tanto que os pacientes receberam alta hospitalar”, células usadas nos experimentos. A primeira pesquisa envol- afirma o pesquisador Elíseo Joji Sekyia, diretor Científi- ve a hipóxia neonatal, doença causada pela baixa oxigenação co da CordCell, acrescentando que até os três meses am- no cérebro por problemas na gestação ou no momento do bas apresentaram desenvolvimento cerebral semelhante parto. Essa baixa oxigenação gera lesões neuronais e paralisia ao de uma criança sadia. O comprometimento neuronal cerebral. Em casos graves, a hipóxia leva ao óbito. Até hoje, deu-se a partir do quinto mês de vida, “mas num nível não há tratamento para a enfermidade. A pesquisa, iniciada inferior ao de uma criança vítima de hipóxia”. Após um há cerca de dois anos em parceria com a UFRJ, consiste ano, uma das crianças teve pneumonia e faleceu; a outra na utilização de células-tronco obtidas do sangue do cor- continua em monitoramento. “Para continuar a pesqui- dão umbilical da própria criança. Foram separadas as células sa, dependemos de criança cujos pais optaram por pre- mononucleares (hematopoiéticas e mesenquimais) e, poste- servar o sangue do cordão umbilical”, afirma Sekyia. No riormente, injetadas no paciente por via endovenosa. Essa momento, está sendo feito rastreamento em maternida- aplicação deve ser feita até 28 dias após o nascimento. De- des do Rio de Janeiro autorizadas a coletar o cordão, em pois desse prazo, já não é possível a aplicação endovenosa. busca de pacientes. 74
Outra pesquisa, desta vez em parceria com a Univer- estabelecimento de um tratamento eficaz para a doença”, sidade Estadual Paulista (Unesp), busca um tratamento conta Elíseo Joji Sekyia, da CordCell. para a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), ou enfisema pulmonar, inflamação que provoca fibrose e Finalmente, a terceira pesquisa é um estudo-piloto morte das células pulmonares. Atualmente, o único tra- apenas com modelos animais e tem por objetivo estacio- tamento é o transplante de pulmão. Nesse experimento, nar o processo de destruição celular provocado pela es- os pesquisadores utilizaram células mononucleares da clerose lateral amiotrófica (ELA), doença hoje incurável medula óssea de quatro pacientes com enfisema em grau que ataca os neurônios motores, provocando a perda de avançado, dependentes do uso de cilindro de oxigênio. movimentos, da capacidade respiratória, levando a óbito. As células alojaram-se nos pulmões, freando o processo O experimento, em parceria com a Santa Casa de São inflamatório e iniciando a regeneração dos pulmões. Três Paulo, utiliza células mesenquimais do tecido adiposo, dos quatro pacientes se livraram do cilindro “e mantêm que são expandidas e injetadas nas cobaias por meio de uma vida quase normal”; o quarto faleceu por complica- punção na medula espinhal. “Nossa intenção é promover ções da doença. A técnica foi testada entre 2009 e 2010. a regeneração dos tecidos neuronais ainda não destruí- Agora, os cientistas aguardam autorização do Conep para dos”, explica Sekyia. repetir a pesquisa, desta vez, com 20 pacientes. “Se os re- sultados forem mantidos, partiremos para a terceira fase, Recentemente, a CordCell estabeleceu convênio com a com grupos maiores de pessoas, já tendo como objetivo o Universidade da Califórnia para intercâmbio e treinamen- to de pessoal. Este convênio foi o primeiro que a univer- sidade celebrou com uma instituição privada no mundo. 75
Pesquisa Burocracia SINDHOSP 2012 Embora estejam ainda na fase de testes, os experimentos com células-tronco do cordão umbilical representam espe- 76 rança para portadores de doenças tidas hoje como incu- ráveis. No Brasil, porém, há uma grande barreira ao desenvolvimento da pesquisa científica. Engana- -se quem acredita que seja a falta de recursos. “O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem in- vestido muito nessa área”, afirma Ângela Luzo, da Unicamp. O problema é a buro- cracia na hora de importar equipamentos e reagentes. “Para a pesquisa sobre o diabetes tipo 1 esperamos três meses pela chegada de uma pequena placa. É muito difícil fazer pesquisa no Brasil com tanta burocracia.” Regina Goldenberg, da UFRJ, faz coro com a colega de Campinas. “No Ex- terior, você compra pela manhã e recebe à tarde. Aqui, esperamos meses para receber a encomenda. Muitas vezes, o produto fica preso em algum órgão federal, mal acondicionado e acaba estragando. Ou perde a validade.” Em abril de 2012, ao anunciar um pacote de R$ 15 milhões para expandir a produção nacional e pesquisa de células-tronco embrionárias e adultas, o Ministério da Saúde reconheceu os entra- ves regulatórios denunciados pelos pesquisadores. De acordo com o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério, Carlos Gadelha, um projeto-piloto começará a ser desenvolvido em alguns aeroportos brasileiros para agilizar a liberação de material de pesquisa importado. Dificuldades à parte, há otimismo em relação às pesquisas que hoje estão sendo realizadas. Regina Goldenberg tem absoluta certeza de que o futuro reserva boas perspectivas. “Não tenho dúvida alguma de que haverá grandes avanços no campo da medicina regenerativa a partir da utilização das células-tronco. O problema é que não dá para pre- ver o que virá nem quando virá.” Elíseo Sekyia, da CordCell, que também trabalha com terapia celular na USP (Universidade de São Paulo) é enfático: “As células-tronco são a fronteira do conhecimento médico.”
Pesquisa SINDHOSP 2012 Entrevista Alysson Muotri Ciência tem que ser desafiadora O brasileiro Alysson Muotri entrou para o seleto grupo daquelas pessoas que fazem a diferença em 2010, quando conseguiu curar, em laboratório, um neurônio com Síndrome de Rett, um tipo grave de autismo, e abrir as portas para o desenvolvimento de uma droga eficiente contra essa síndrome. O feito foi publicado na renomada revista científica Cell. No começo de 2012, Muotri repe- tiu o experimento, desta vez com células de portadores do autismo clássico, obtendo os mesmos resultados. For- mado em biologia molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com doutorado em genética pela USP, Muotri está radicado nos Estados Unidos des- de 2002, onde é professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia. Em seu blog, hospedado no portal G1, Alysson procura “atiçar e provocar as mentes científicas brasileiras” com ideias inovadoras e propostas desafiadoras. Nesta entrevista, Muotri fala de suas pesqui- sas com o autismo, da produção científica brasileira, das perspectivas com relação à terapia celular. Critica, tam- bém, a forma de se fazer pesquisa no Brasil que, segundo ele, resulta em muita quantidade, mas com qualidade dis- cutível. Leia, a seguir. 78
Anuário SINDHOSP – Em 2010, o laboratório de Anuário SINDHOSP – A Microsoft anunciou que pesquisa chefiado pelo senhor conseguiu curar um está interessada em contribuir com as pesquisas que neurônio portador da Síndrome de Rett, uma das for- o seu laboratório desenvolve sobre autismo. De que mas mais graves de autismo. No começo de 2012, o forma essa contribuição poderá ser efetivada? seu grupo reproduziu o experimento utilizando, desta vez, células de pacientes com o autismo clássico, e ob- Alysson Muotri – Numa das apresentações que eu teve os mesmos resultados. Qual a importância dessas fiz aqui nos Estados Unidos, fui abordado pelo pessoal descobertas para a cura do autismo? da Microsoft, que demonstrou interesse em participar da pesquisa. Conversamos sobre a dificuldade em analisar as Alysson Muotri – É importante dizer que são ex- imagens dos neurônios em cultura. Hoje, nós testamos perimentos isolados, ou seja, são alguns neurônios que as drogas nesses neurônios de cultura através da quan- estão numa plaquinha de cultura. Eles não representam tificação do número de sinapses, aquelas conexões entre o cérebro humano, mas é um modelo dinâmico e aces- os neurônios, e é isso que a gente percebeu que está com sível. Portanto, é uma extrapolação muito grande para defeito nos neurônios derivados de crianças autistas. Essa o cérebro de uma criança. Nós estamos fazendo ainda quantificação é feita manualmente, por imagens feitas em o que chamamos de trabalho pré-clínico, sem testes em microscópios. Com a parceria da Microsoft a ideia seria pacientes. Se conseguirmos descobrir como essas drogas desenvolver um sistema inteligente que faria essa quan- funcionam e torná-las mais eficientes, aí sim vamos nos tificação em minutos, ao invés de semanas. Parece que aventurar para a fase dos ensaios clínicos, que é fazer o eles já têm um protótipo para esse tipo de análise, vamos teste diretamente com o paciente. A complexidade au- testar alguma coisa semelhante nos próximos meses. Está menta muito, não sei quanto tempo isso vai levar, mas muito perto de acontecer. ainda temos alguns anos pela frente. Anuário SINDHOSP – A propósito, nos Estados Anuário SINDHOSP – De qualquer forma, essas Unidos, a contribuição da iniciativa privada à pesqui- pesquisas aumentam as esperanças dos portadores de sa científica tem alavancado o desenvolvimento do autismo, não? país nessa área. Como convencer a elite financeira bra- sileira a “abrir a carteira”? Alysson Muotri – Com certeza. Antes, não se falava em cura ou na possibilidade de reversão. Hoje em dia, Alysson Muotri – Esse ponto é muito importante. A podemos dizer que existe essa possibilidade. Eu trabalho ciência avança aqui nos Estados Unidos com a ajuda da com essa esperança também, acordo todos os dias ansioso iniciativa privada, algo que a gente não vê no Brasil. Co- para fazer os trabalhos andarem mais rápido. Se tudo cor- nheço pouco do sistema brasileiro porque estou morando rer bem, imagino que dentro de três a quatro anos, inicia- no Exterior há muito tempo, mas lembro que esse tipo remos a fase dos ensaios clínicos. Se der algum problema de doação não fazia parte da cultura brasileira. Outro dia, nessa fase com alguma droga, teremos que substituí-la e a mãe de uma criança disse ‘por que você não entra em começar tudo de novo. É algo difícil de prever. contato com o Eike Batista [empresário brasileiro com 79
Pesquisa SINDHOSP 2012 atuação em diversos setores, em especial petróleo, logís- soal do Japão, flui muita informação. Por alguma razão, no tica, energia, mineração e indústria naval, presidente do Brasil, essa informação não flui tanto ou existe um protecio- Grupo EBX. Segundo a revista Forbes, é o sétimo homem nismo, alguma coisa que atrapalha a relação internacional, e mais rico do mundo], parece que ele gosta de financiar eu ainda não identifiquei exatamente o porquê disso. esse tipo de projeto’. E aí a gente esbarra em outro proble- ma: eu não conheço essa elite brasileira e eles talvez não Anuário SINDHOSP – O cientista brasileiro teria me conheçam também. É difícil fazer essa ponte, eu não uma cultura provinciana? saberia por onde começar, mas aceito sugestões. Alysson Muotri – Correto. Não são todos e não quero Anuário SINDHOSP – As pesquisas que o senhor generalizar, mas existe sim. Não há como, num mundo realiza na Universidade da Califórnia poderiam ser tão interligado, tão conectado, a gente pensar em se fe- desenvolvidas em algum centro de estudos brasileiro? char. Os grandes trabalhos que eu tenho publicado con- Nosso país oferece boas condições aos pesquisadores? tam com pessoas do mundo inteiro. Não consigo fazer tudo sozinho, tenho que trazer experts de outras áreas. Alysson Muotri – As condições têm melhorado bastan- Falta bastante o lado colaborativo no pesquisador brasi- te, mas ainda são insuficientes. Eu vejo entraves como, por leiro, é uma coisa que a gente tem que aprender. Acho exemplo, a massa crítica. O pesquisador brasileiro tem uma que o caminho é mandar mais pessoas para o Exterior, ver postura muito provinciana de não buscar contatos interna- como funciona e voltar com uma mente mais aberta. Eu cionais. Aqui, nos Estados Unidos, eu me sinto muito con- acho o cientista brasileiro extremamente criativo, mas um fortável em colaborar com o pessoal da Europa, com o pes- pouco receoso dessa interação. Os grandes trabalhos que eu tenho publicado contam com pessoas do mundo inteiro. Não consigo fazer tudo sozinho, tenho que trazer experts de outras áreas 80
Anuário SINDHOSP – A produção científica brasi- vada, o que não acontece nos Estados Unidos. Aqui, as universidades públicas e as empresas privadas interagem leira é relevante no cenário internacional? a todo momento. A minha intenção, com essa parceria, foi dar o exemplo de que é possível fazer isso aí no Brasil. Alysson Muotri – Existem duas formas de você ava- Nós vamos começar a fazer uma série de trabalhos, com a liar o impacto científico. Uma delas, a mais usada no Bra- esperança de transferência de tecnologia entre os dois la- sil, é o número de publicações. Quando se considera o dos. Existe muita empolgação e tem tudo para dar certo. número de publicações, pode-se dizer que estamos bem. Mas quando você mede o fator de impacto dessas publi- Anuário SINDHOSP – Que tipo de trabalho vocês cações, o quão importante elas são para a comunidade, pensam em desenvolver? os trabalhos brasileiros são muito fracos. A gente produz bastante, mas com pouco impacto. São publicações mais Alysson Muotri – Possivelmente, algum trabalho com descritivas, que não desafiam o status quo, não alteram a células-tronco de pluripotência induzida e alguma coisa forma de pensar. Temos que parar de fazer ciência descri- com células mesenquimais. tiva e começar a fazer uma ciência mais desafiadora. No sistema brasileiro, o professor universitário está cheio de Anuário SINDHOSP – No Brasil, existe uma po- entraves burocráticos, para ele se concentrar na pesquisa lêmica com relação a preservar o sangue do cordão é mais difícil. Outro lado que eu acho que tem que ser umbilical ou doá-lo para um banco público. Qual sua repensado é a estabilidade do sistema universitário bra- posição a esse respeito? sileiro. Nos Estados Unidos, a cada dia, a cada ano, eu tenho que mostrar o que produzi. Nós somos avaliados Alysson Muotri – As células do cordão umbilical fun- o tempo todo, não existe estabilidade. Parece-me que a cionam muito bem para tratamento de doenças sanguíneas, estabilidade acadêmica começou de uma forma tradicio- como leucemia. A aplicação para outras doenças ainda está nal para gerar flexibilidade ao pesquisador, pois ele não em fase pré-clínica. Acho que devam existir bancos privados, teria que se preocupar com o salário, que está garantido. para aqueles que podem arcar com os custos, e bancos públi- Assim, pode ficar livre para pensar o que ele quiser, sem cos, para os que não podem arcar com esse tipo de despesa. nenhum interesse. Hoje em dia, não é mais assim, não dá Nos bancos públicos, mesmo sendo doador, o acesso às célu- mais para levar esse sistema. Tem que ser um sistema mais las não é direto. Se a pessoa precisar, ela terá que entrar numa competitivo. A sociedade busca um retorno da ciência. fila. Portanto, vejo com bons olhos a existência dos dois. Anuário SINDHOSP – Recentemente, a Universi- Anuário SINDHOSP - No campo da terapia celu- dade da Califórnia firmou parceria com a CordCell, empresa brasileira especializada na coleta, armazena- lar, o que já é realidade? mento e congelamento de células-tronco do cordão Alysson Muotri - Terapias para doenças do sangue e umbilical. Qual o objetivo dessa parceria? transplante de medula funcionam faz anos. Protocolos Alysson Muotri – Por enquanto é só o começo de com células mesenquimais para reconstrução de tecidos uma parceria que pode crescer muito mais. A ideia por também são rotina em clínica. O que ainda é precoce é trás disso é que a gente estabeleça colaborações científicas o uso de células-tronco embrionárias. Apesar da enorme com o setor privado, algo não muito comum no Brasil. capacidade dessas células, existem muitos ensaios em es- Existe no Brasil um preconceito contra a empresa pri- tágios pré-clínicos, mas quase nada aplicado. Isso porque o campo ainda é muito precoce. 81
Pesquisa SINDHOSP 2012 Procuro atiçar e provocar as mentes científicas brasileiras. Sugeri a criação de uma escola que une ciência e arte. Acho que as duas são bem complementares e podem nutrir a criatividade uma da outra Anuário SINDHOSP - As pesquisas com células- sileiras na esperança de que algum dia essas ideias se tor- -tronco representam esperança para muitas doenças nem realidade. Nesse caso especifico, sugeri a criação de hoje tidas como incuráveis. Há perspectivas de, em uma escola que une ciência e arte. Isso porque acho que médio prazo, esses experimentos se tornarem efetiva- as duas coisas são bem complementares e podem nutrir a mente tratamentos clínicos? criatividade uma da outra. Alysson Muotri - Depende do que se entende como Anuário SINDHOSP - É possível imaginar que be- tratamento clínico. A parte de transplante celular talvez nefícios os avanços nas pesquisas científicas poderão leve mais tempo, pois ainda não entendemos direito como trazer para a humanidade daqui a dez ou vinte anos? as células se comportam no organismo. Acho a ideia de E esses avanços poderão transformar o homem num medicina regenerativa excelente, mas ainda muito futu- ser mais comprometido com a preservação do planeta? rista. Minha aposta vai para o uso de células-tronco como modelos de doenças, exatamente como usamos para es- Alysson Muotri - Sou um otimista, acho que daqui tudar o autismo. Nesse modelo, não há transplante, mas há dez ou vinte anos teremos um melhor entendimento usamos neurônios derivados das células-tronco para tria- de diversas doenças, principalmente as com base genética, gem de novos medicamentos. Para mim, o melhor uso clí- como o autismo. Digo isso porque os avanços na área de nico de células-tronco vai ser azul e pequeno: uma pílula! genômica têm sido exponenciais. Some-se a isso o sucesso da reprogramação celular, que permite estudar neurônios Anuário SINDHOSP - O senhor lançou, no seu vivos dos pacientes ainda em vida, por exemplo. São tec- blog, a ideia de se criar uma Escola Brasileira de Inte- nologias impensáveis há dez anos. É possível que a cura ração Ciência-Design, unindo cientistas e artistas. O para diversos males deixe o homem menos preocupado que vem a ser essa escola? consigo mesmo e mais antenado com o todo, com o pla- neta. Como consequência, acredito numa maior cons- Alysson Muotri - Como muitas das minhas ideias do cientização com o meio ambiente, por exemplo. blog, procuro atiçar e provocar as mentes científicas bra- 82
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Gestão SINDHOSP 2012
Os caminhos da eficiência e competitividade Criar uma empresa sólida, que tenha vida lon- ga, seja respeitada e conquiste credibilidade junto ao seu público-alvo. Sem dúvida, este é o desejo de dez entre dez empreendedores em qualquer parte do mundo. Afinal, ninguém quer consumir tempo, recursos financeiros e humanos para, depois de TODO O ESFORÇO, perceber que o negócio não deu certo, que as dívidas estão se acumulando, que os clientes sumiram. Mas qual o segredo do sucesso? São muitos os fatores que determinam a perenida- de de uma empresa. E, neste UNIVERSO de alta competitividade, de ausência de fronteiras, da informação em tempo real, é preciso mais que carisma e boa vontade para prosperar.
Gestão SINDHOSP 2012 O setor saúde não foge a essa regra. E, além dis- eram feitos à vontade. Hoje, tudo isso acabou”. so, possui alguns complicadores inexistentes Os tempos são outros e as mudanças começam a ocor- em outros segmentos da economia. “A área rer no setor saúde, embora em velocidade menor que a ne- da saúde só começou a tomar consciência de que precisa- cessária. “Até há pouco tempo, os hospitais eram adminis- trados por pessoas com formação na área assistencial, que va profissionalizar sua gestão a partir da criação da Agên- valorizavam o paciente, relegando a questão da administra- ção”, diz a médica especialista em administração em saúde cia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regulou Ana Maria Malik, coordenadora do GVSaúde, núcleo liga- do à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da o setor”, afirma o coordenador do Núcleo de Gestão em Fundação Getúlio Vargas. Ela acrescenta que não adianta o mercado fornecedor se esforçar para vender softwares de Saúde da Fundação Dom Cabral, Osvino Pinto de Souza gestão se não houver quem saiba utilizá-los no hospital. “O software, adequado ou não, sozinho não faz nada.” Filho. Com ele faz coro André Staffa Filho, diretor da Lo- gika Consultores Associados: “Antes da regulação do setor e até mesmo do lançamento do Plano Real, há 17 anos, os donos de hospitais eram felizes e não sabiam. Com a in- flação alta não havia necessidade de controle, os reajustes 88
Saúde é negócio Osvino Pinto de Souza Filho, da Fundação Dom Ca- não a doença. É preciso mudar o foco, valorizando a pre- bral, afirma que as pressões geradas pela competição estão venção hoje para ter menos custos amanhã”. obrigando os hospitais a profissionalizarem sua gestão. “Infelizmente, muitos não têm preparo para essa profis- Formado na área industrial e depois especializado em sionalização; outros, se negam a fazer cursos de adminis- saúde, Osvino Pinto se recorda do momento em que o tração como ocorre em outras áreas”. O fato é que, hoje, conceito de qualidade total chegou à indústria. “Na épo- ainda há muito empreendedor na saúde que não admite ca, se dizia ‘o cliente é o rei’. Adaptar o setor a esse con- que o setor é um negócio. Osvino conta que, recentemen- ceito foi um processo doloroso que, no entanto, gerou te, participando de um fórum com profissionais da saúde, frutos excelentes. Hoje, o parque industrial brasileiro é alguém falou da área como negócio. “Imediatamente, um moderno e competitivo. Não vejo porque o mesmo não dirigente se levantou e disse que deixaria a sala caso con- possa ocorrer com a saúde”. tinuassem a tratar a saúde como negócio”. Staffa Filho complementa que a reação de muito dono de hospital é Ana Maria Malik, do GVSaúde, nota que o interesse de desdém quando a consultoria aponta a necessidade de pela profissionalização começa a ser despertado. Os cur- profissionalizar a gestão, de quantificar os custos. “Ouço sos, debates e eventos anuais promovidos pelo núcleo sem- muito ‘isso é teórico, não preciso. Estou aqui para cuidar pre têm lotação esgotada. “Notamos uma sede de conhe- da saúde dos meus pacientes’. Esse é um discurso maro- cimento. O problema é que essa sede não é disseminada”. to porque alguém vai ter que pagar a conta no final”. E essa conta pode ser bem alta. “Há hospitais devendo até um ano e meio de faturamento ao banco. Uma institui- ção como essa não sobrevive. Acaba sendo vendida para saldar dívidas”. A falta de visão empresarial, na opinião de Staffa Filho, gera problemas em cima de problemas. “Quando a situação atinge um estágio crítico, os gestores apelam para a consultoria”. O coordenador da Fundação Dom Cabral entende que não há alternativa de crescimento que não passe pela pro- fissionalização. “No passado, os cursos de administração eram focados na atenção à saúde; hoje, eles precisam ser voltados à atenção da organização”. Osvino Pinto mostra alguns caminhos para cuidar da saúde da empresa: “Os dirigentes precisam criar planos estratégicos, descobrir oportunidades, olhar para dentro da empresa, diagnosti- cando suas forças e fraquezas e, principalmente, ter como objetivo desenvolver um modelo que promova a saúde e 89
Gestão SINDHOSP 2012 Sinais vitais Estabelecer metas, definir estratégias, mensurar de- de nada adianta fazer um planejamento estratégico se sempenho. Este é o tripé sobre o qual se sustenta uma os seus resultados não podem ser aferidos. Uma boa fer- empresa saudável. Sem essas premissas, a gestão hospi- ramenta para essa aferição é o estabelecimento de in- talar está fadada ao fracasso. Do contrário, instituições dicadores de desempenho, verdadeiros sinais vitais de que conseguem definir exatamente seus objetivos, se uma instituição. É a análise desses dados que permite à empenham em atingi-los e realizam acompanhamento empresa avançar rumo à meta estabelecida, corrigindo a periódico dos resultados apresentam performance posi- rota quando necessário. Eles são as referências de desem- tiva tanto no aspecto assistencial quanto no financeiro penho da organização em cada objetivo estabelecido. e administrativo. O São Camilo adota a metodologia do BSC (Balanced Um exemplo de empresa focada no bom desempe- Scorecard ou Indicadores Balanceados de Desempenho, nho é o Hospital São Camilo, de São Paulo. Com três em português). Desenvolvido pelos professores Robert unidades de atendimento, localizadas nos bairros de Kaplan e David Norton, da Harvard Business School, o Pompeia, Santana e Ipiranga, a instituição adota pro- BSC é uma técnica que visa à integração e ao balancea- cessos que permitem a análise segura dos resultados de mento de todos os principais indicadores de desempenho cada setor, corrigindo desvios em relação às metas esta- existentes em uma empresa, desde os financeiros e admi- belecidas. O diretor geral Valdesir Galvan explica que nistrativos até os relativos aos processos internos. Nesse Nós buscamos o equilíbrio entre o desempenho no campo assistencial e no financeiro. Não podemos simplesmente focar exclusivamente na área assistencial porque, assim, a instituição quebra 90
São Camilo - Pompeia sistema, a gestão é avaliada em quatro perspecti- dessas intervenções, quantas são as fontes pagadoras, como estão vas: financeira, cliente e mercado, processos in- sendo gastos os recursos alocados, qual o custo real de cada ci- ternos e aprendizado e crescimento. “Nós busca- rurgia, quantas pessoas trabalham no setor. Em outras áreas o mos o equilíbrio entre o desempenho no campo procedimento é o mesmo. O resultado são bancos de dados que assistencial e no financeiro. Não podemos focar devem ser analisados de forma conjunta, precisam estar atualiza- exclusivamente na área assistencial porque, assim, dos, serem disponibilizados e comparados. No São Camilo, os a instituição quebra. De outro lado, não é possível indicadores estratégicos são avaliados mensalmente, “o que nos buscar a todo custo o aumento do lucro, pois cor- permite agir prontamente para melhorar os resultados que estão remos o risco de apresentar queda na qualidade em desacordo com as metas estabelecidas”. O executivo adverte do serviço prestado”, afirma o executivo. que é comum alguns gestores questionarem indicadores que re- velam um baixo desempenho. “Se a coleta foi bem feita, o dado Na instituição, continua Valdesir Galvan, há é fiel. Não confiar no que ele indica mostra que todo o trabalho 40 indicadores estratégicos, ligados à gestão fi- foi perda de tempo”. nanceira, qualidade assistencial, desempenho dos processos, produtos e recursos humanos. Além Outra ferramenta importante utilizada no São Camilo é o disso, também há indicadores operacionais, que benchmarking, um processo de comparação de desempenho. “A acompanham o desempenho dos diversos seto- comparação de nossa instituição com outras do segmento nos res. Um ponto fundamental no estabelecimento dá o parâmetro de nossa performance no mercado”, afirma o di- desses indicadores é saber exatamente o que se rigente. No entanto, nem todas as instituições adotam o bench- quer medir. “Essa é uma das maiores dificulda- marking, pois relutam em “abrir seus números”. Na opinião de des enfrentadas hoje pelos gestores, porque se não Galvan, é claro que alguns indicadores de performance não de- sabemos o que queremos aferir, o trabalho será vem ser compartilhados. “Porém, acredito que o uso dessa fer- inútil”. Galvan cita como exemplo a análise de ramenta deveria ser disseminado chegando até ao paciente que um centro cirúrgico: é preciso saber quantas ci- poderia ter acesso, por exemplo, aos índices de infecção hospi- rurgias são realizadas mensalmente, qual o porte talar da instituição. A transparência é benéfica para todos”. 91
Gestão SINDHOSP 2012 Agregar valor Buscar a longevidade no negócio pressupõe não apenas de estabelecer estratégias para a empresa, eleger ou desti- bons programas de gestão administrativa. É preciso criar tuir o principal executivo, fiscalizar e avaliar o desempe- uma estrutura empresarial mais consolidada, que agregue nho da gestão e escolher a auditoria independente. valor. Um dos melhores instrumentos para atingir esse objetivo é a governança corporativa, uma ferramenta que De Luca enxerga na governança corporativa a melhor propicia aos proprietários a gestão estratégica de sua em- ferramenta para garantir que as empresas se mantenham presa e o monitoramento da direção executiva. “A gover- saudáveis por muitas décadas. “As instituições de saúde nança corporativa não tem relação nenhuma com o tama- precisam ser sadias como um todo, seja na prestação da nho da empresa. Ela pode ser aplicada tanto no grande assistência médica ou na relação com seus fornecedores, hospital como em pequenas clínicas, que possuem três ou com as fontes pagadoras”. E, hoje, com o crescimento das quatro sócios”, afirma Luiz De Luca, coordenador da Co- fusões e incorporações, apresentar transparência e solidez missão de Governança em Saúde do Instituto Brasileiro agrega valor. Outra boa razão para adotar a governança, de Governança Corporativa (IBGC). Ele acrescenta que entende De Luca, é que ela torna a instituição mais atraen- boas práticas de governança corporativa dão transparên- te para receber investimentos. “Embora seja proibido o cia à empresa e a solidificam no mercado. aporte de recursos externos em hospitais, nada impede que um grupo estrangeiro monte um fundo de investi- São quatro as linhas mestras da governança corporati- mentos nacional e invista em hospitais. Agora, quem não va: transparência, prestação de contas, equidade e respon- tem administração transparente entra numa área cinzen- sabilidade corporativa. Estruturada no tripé conselho de ta, da qual o mercado investidor foge”. De Luca acrescen- administração, auditoria independente e conselho fiscal, ta, por outro lado, que de nada adianta haver facilidades a governança pode blindar a empresa de fracassos decor- para captação de recursos se não há empresas em condi- rentes de abusos de poder, erros estratégicos e fraudes. ções de recebê-los. “Costumo dizer que de nada adianta a Nesse modelo cabe ao conselho de administração o papel porta da casa estar aberta se ela não é habitável”. 92
Gestão SINDHOSP 2012 Gestão focada Unidade do Fleury, no Itaim, em SP Hoje, há no mercado de saúde empresas que souberam existência de um conselho de administração formado por fazer a “lição de casa”: foram criadas, se consolidaram e nove membros, sendo três independentes, responsável se modernizaram, tornando-se referência no segmento. pela orientação geral dos negócios da empresa e pela su- Uma delas é o Grupo Fleury, capitaneado pelo Fleury pervisão da gestão dos seus diretores. A diretoria executiva Medicina e Diagnóstico e outras quatro marcas. “Nossa é composta por quatro membros eleitos, com mandato de visão é de que saúde é um negócio e nossa gestão sempre dois anos. Em 2009, em outra estratégia de inovação, o foi muito profissional e focada, com adoção de estraté- Fleury abriu seu capital no segmento Novo Mercado cria- gias de inovação”, afirma o diretor executivo de Negó- do pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que tem cios, Wilson Pedreira. Nascido como empresa familiar em por finalidade atrair companhias abertas dispostas a for- 1926, o Fleury, há cerca de 15 anos, iniciou seu proces- necer informações ao mercado e aos seus acionistas a res- so de profissionalização da gestão. “Naquele tempo, não peito de seus negócios adicionais, e que se comprometem havia essa cultura no segmento da saúde. Optamos pelo a adotar práticas de governança corporativa, tais como investimento no conhecimento técnico em todas as áreas, práticas diferenciadas de administração, transparência e buscando no mercado especialistas em setores ligados à proteção aos acionistas minoritários. Pedreira lembra que, gestão”, acrescenta Pedreira. antes mesmo de entrar na Bolsa, a empresa adotava a prá- tica dos balanços abertos. “Transparência sempre foi um As práticas de governança corporativa adotadas pelo dos nossos valores”. Fleury são as recomendadas pelo IBGC e contemplam a 94
Nesses quinze anos, o Fleury cresceu, segundo Wilson Pedreira, sete vezes o seu tamanho. “Nesse processo de crescimento você deixa a zona de conforto, o que não é fácil, já que é preciso manter a unidade de valores em todo o grupo. A cada nova aquisição é necessário adaptar os colaboradores à nossa política de gestão”. Os resultados divulgados pelo Grupo Fleury relativos a 2011 comprovam que a estratégia adotada deu certo. A receita bruta consolidada foi de R$ 1,2 bilhão, 31,2% superior a 2010. O crescimento orgânico (excluindo aquisições concretizadas no ano) representou 13,6%. Em relação às unidades de atendimento, a receita foi 32,4% superior ao ano anterior. Em 2011, o grupo foi conside- rado uma das 20 empresas brasileiras mais inovadoras, segundo a pesquisa Best Innovator, realizada pela A. T. Kearney desde 2003 em quinze países e que utiliza quatro dimensões de inovação como critérios: estratégia, proces- sos, organização e cultura, estrutura e suporte. 95
Gestão SINDHOSP 2012 Família, um complicador? Se adotar práticas de governança corporativa requer não vou para o conselho’; nesse caso, não adianta impor esforço, pois tira as empresas de sua zona de conforto para a governança porque ela não vai funcionar”, comenta. De jogá-las num ambiente de transformação, é de se imagi- Luca gosta de desconstruir o dito popular segundo o qual nar quanto maiores podem ser as dificuldades quando a só o olho do dono engorda o gado. “Mas de que adianta família é dona do negócio. Não há estatísticas oficiais, ficar de olho se há apenas uma vaca? É muito melhor ter o mas sabe-se que no Brasil, cerca de 90% das empresas são olho representado por outros olhos mais qualificados para familiares, de pequeno, médio ou grande portes. Outro montar uma estrutura eficiente, que manterá o sucesso da fato concreto é que de cada cem empresas, 30% chegam empresa criada pelo fundador”. à segunda geração e apenas 5% à terceira. A área da saú- de não é exceção. Muitas das organizações, algumas delas Para Domingos Ricca, administrador de empresas e elencadas entre as melhores do país, têm origem parental. consultor especialista em empresas familiares, um dos Para Luiz de Luca, do IBGC, as dificuldades em adotar grandes problemas enfrentados ocorre quando o pai resol- governança corporativa não estão no fato de a empresa ve colocar os filhos na administração do negócio mesmo ser familiar. “Elas estão na cabeça do dono que se recusa que eles não tenham interesse. “Muitas vezes, a segunda a transferir o comando do negócio para um executivo de geração não tem noção de como a empresa cresceu, não mercado e assumir um cargo no conselho administrati- conhece a trajetória de vida do fundador, as dificuldades vo. O fundador do hospital diz ‘enquanto eu for vivo, que enfrentou, o esforço que empregou. Sem esse conhe- cimento, a tendência é valorizar menos o negócio”. 96
Secura O sistema hipodérmico com mecanismo de segurança automático “Surpreenda-se com um só movimento” Segurança para o As seringas de segurança WTF excedem os requisitos da NR 32 do MTE usuário e o paciente O sistema hipodérmico de segurança WTF Secura retrai automaticamente a agulha após o uso por meio de um mecanismo de mola de retração que recolhe toda a agulha para o interior do êmbolo da seringa. A agulha e todo o resíduo de sangue desaparece no interior da seringa e todo o sistema pode ser eliminado de modo seguro. Veja o vídeo Controle completo do usuário O usuario decide quando o êmbolo será liberado, assim, mantém o controle de quando o mecanismo de segurança será ativado. Mecanismo de segurança automático Uma vez que o medicamento foi aplicado integralmente e a agulha foi retirada do tecido do corpo, a liberação do êmbolo vai ativar automaticamente o mecanismo de segurança. Nenhuma alteração na técnica de aplicação é necessária O mecanismo de segurança não requer medidas adicionais de ativação. Não prejudica o local de punção No caso das agulhas convencionais com adicionais características de proteção, por exemplo, capa protetotra, o campo de visão e manipulação no local da punção podem ser prejudicados. O mecanismo de segurança WTF Secura é praticamente invisível e, portanto não prejudica o procedimento normal de injeção. Para assistir, baixe um leitor de Importado e distribuído por: QR Code em seu disposítivo móvel Tel. +55 19 3272 8000 De acordo com a Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde, NR 32 [email protected] do MTE (portaria 485 de 11 de novembro de 2005) Fabricado por: Beijing WanTeFu Medical Apparatus 0086 010 60750961 - www.bjwtf.com
Gestão SINDHOSP 2012 De outro lado, herdeiros que se preocupam com o fu- cheguei à conclusão de que para conseguir uma sucessão turo da empresa podem ser grandes aliados no processo bem feita e sustentabilidade na organização precisaríamos sucessório e adoção de práticas de governança corporati- de um processo de governança bem encaminhado e pro- va. “Já acompanhei casos em que os filhos conseguiram fissionalização da gestão”, conta Fábio Sinisgalli. sensibilizar o pai fundador de que havia chegado o mo- mento de mudar”, conta Luiz de Luca, do IBGC. O Nossa Senhora de Lourdes foi adquirido, no pri- meiro semestre de 2012, pelo grupo D’Or, do Rio de Um exemplo de herdeiro que sentiu a necessidade de Janeiro. “Uma organização com transparência e equida- mudar é Fábio Sinisgalli, cuja família fundou, há mais de de passa a ser encarada pelo mercado de forma diferen- 50 anos, o Hospital Nossa Senhora de Lourdes, na Ca- ciada, como uma instituição com um projeto sólido de pital paulista. Em 2000, Sinisgalli assumiu a direção do governança, séria e competente”, acredita Sinisgalli. O hospital e iniciou o processo culminado em 2010 com a Nossa Senhora de Lourdes foi pioneiro, há dez anos, na transferência do fundador Cícero Sinisgalli da presidên- captação de investidores através de fundos imobiliários cia executiva para a presidência do conselho consultivo da de seus hospitais, uma ação integrante dos processos de instituição. “No tempo em que estive à frente do hospital, governança corporativa. 98
Fábio Sinisgalli admite que não é fácil deixar o co- to das práticas de governança, orientar a transição da mando de uma empresa da qual se é o dono. “No pri- gestão familiar para a corporativa, analisar e reestruturar meiro momento, foi difícil até para mim, que levantei os processos internos e administrar o projeto de cons- a bandeira da governança. Mas é um processo necessá- trução de um novo prédio do hospital, com cem leitos, rio”. Sinisgalli tece elogios à conduta do fundador Cí- ao lado da construção já existente. cero, hoje com mais de 80 anos. “Meu pai teve uma posição corajosa”. Sinisgalli assumiu a presidência da instituição em agos- to de 2011, permanecendo por seis meses. “Foi o tempo Fábio Sinisgalli levou essa mesma experiência vivi- necessário para implantar as mudanças, acompanhar a da no Nossa Senhora de Lourdes para o Hospital Vera transferência dos sócios proprietários para os conselhos Cruz, de Belo Horizonte, que o contratou para implan- consultivo e societário, além de organizar os comitês tar um modelo de governança corporativa na institui- técnico-operacional e econômico-financeiro. Isso feito, ção. De origem familiar, o Vera Cruz, com 64 anos de passamos à fase de seleção de executivos para a adminis- fundação, decidiu implantar um plano de melhorias na tração dos negócios no dia a dia”. O novo presidente do gestão e coube a Sinisgalli acompanhar o funcionamen- Hospital Vera Cruz assumiu em janeiro de 2012. 99
Gestão SINDHOSP 2012 Entrevista Renato Bernhoeft Sucessão não é morte, é continuidade da obra Principal especialista brasileiro em empresas familia- res, Renato Bernhoeft conhece como poucos os meandros que envolvem a sucessão empresarial. Na área da saúde, atuou como conselheiro nos processos de transição de al- gumas das mais importantes instituições brasileiras. Ca- tegórico, o consultor afirma que muito médico brilhan- te não consegue criar uma instituição despersonalizada, correndo o risco de levar sua “criatura” para o túmulo. Mostrar a esse profissional que, em algum momento, sua missão maior é preparar a continuidade do seu legado é um dos grandes desafios no segmento da saúde, diz Ber- nhoeft nesta entrevista ao Anuário SINDHOSP. Formado em Filosofia pela Faculdade Anglicana de Teo- logia, de São Paulo, e autor de 16 livros sobre empresas familiares, sociedades empresariais e qualidade de vida, Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho da Höft – Bernhoeft & Teixeira - Transição de Gerações, empresa de consultoria com mais de 35 anos de existên- cia. Com a sua própria sucessão já encaminhada, Renato Bernhoeft ensina aos empreendedores que um processo de sucessão não significa morte, mas a continuidade da obra e do legado. Leia, a seguir, a entrevista. 100
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