As operadoras de planos de saúde também deverão informar o número do CNS de seus beneficiários, conforme estabelece a Resolução Normativa 250, de 2011. Na visão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o uso do cartão é uma estratégia para integrar os cadastros do SUS e da saúde suplementar, proporcionando melhorias na gestão da saúde no país. Essa possibilidade de integração dos sistemas público e privado vem sendo tentada desde a década de 1990; muitas experiências falharam por vários motivos, como problemas relacionados à tecnologia utilizada e à capacitação dos tra- balhadores. Cláudio Giuliano se diz esperançoso de que agora, de fato, se consiga integrar os sistemas. “Se desta vez não der certo, não se conseguirá manter a saúde em patamares sustentáveis”, teme o presidente da SBIS. O uso do Cartão Nacional de Saúde é uma estratégia para integrar os cadastros do SUS e da saúde suplementar, proporcionando melhorias na gestão da saúde no país 151
TICs SINDHOSP 2012 Entrevista Antonio Carlos Endrigo País poderá ter, enfim, dados da assistência à saúde unificados A disseminação do uso dos registros pesso- ais de saúde pode ser uma importante aliada no controle dos custos, além de contribuir para a melhoria do desfecho dos tratamentos médicos. A opinião é do ex-gerente-geral de Integração Setorial da Agência Nacional de Saúde Suple- mentar (ANS), Antonio Carlos Endrigo, nesta entrevista ao Anuário SINDHOSP. Na sua opinião, “as informações de saúde registradas, bem documentadas e podendo ser comparti- lhadas com quem é de direito, com segurança e mantendo a privacidade, contribuirão muito para o sucesso dos profissionais de saúde em benefício do paciente”. Com relação à imple- mentação do Cartão Nacional de Saúde (CNS), Endrigo acredita que a medida possa ser o passo inicial de um processo de unificação dos dados de toda a assistência prestada no país. Leia, a seguir, a entrevista. 152
Anuário SINDHOSP - A implementação do Car- rotina própria ao setor suplementar, de maneira que in- tão Nacional de Saúde pode ser vista como o primei- divíduos que não utilizam os serviços públicos de saúde ro passo para a criação de uma única base nacional também sejam cadastrados. Os esforços concentram-se de dados, que interligue e esteja disponível para to- inicialmente no cadastramento em massa. Posteriormen- dos os prestadores de saúde? te, o objetivo será a utilização do número do Cartão em todos os procedimentos relacionados à atenção em saúde, Antonio Carlos Endrigo - Sim. O principal objetivo seja na rede SUS ou na rede privada. do projeto é a construção de uma base nacional de infor- mações para a saúde, com identificação dos indivíduos, Anuário SINDHOSP – A adoção de novas tecnologias independentemente de sua cobertura pela saúde suple- da informação na área da saúde eleva o custo da assistên- mentar. O cadastramento dos beneficiários de operadoras cia? Quais os benefícios que essa adoção traz para o setor? de planos privados de saúde na base de dados do Car- tão Nacional de Saúde visa identificá-los como parte da Antonio Carlos Endrigo - Ao contrário, na verdade, população brasileira que também tem acesso ao Sistema a adoção de novas tecnologias da informação na área de Único de Saúde (SUS), além de cooperar para tornar viá- saúde possibilita passar de um foco centralizado em um vel a utilização de registros e prontuários eletrônicos em atendimento ocasional dos pacientes para uma gestão saúde pela rede prestadora de serviços. Dessa forma, a in- mais integral, permitindo, desta forma, a otimização dos tegração do setor suplementar ao projeto de implementa- recursos, maior qualidade assistencial e, em consequência, ção do Cartão, desenvolvido pelo Ministério da Saúde em uma redução do custo assistencial. Já existem experiências na todo o Brasil, contribui para a qualificação da assistência área hospitalar em que a utilização de sistemas de infor- prestada aos pacientes no país. mação adequados auxilia as instituições a ganhar produ- tividade, reduzindo o tempo de permanência do paciente Anuário SINDHOSP - Como será feita a interface no hospital, possibilitando monitoramento remoto, ofe- do CNS entre a rede pública e a saúde suplementar? recendo armazenamento de informações e mobilidade e, por fim, gerando conhecimento para a própria instituição Antonio Carlos Endrigo - Trata-se de uma única base e para o corpo clínico. Outro aspecto relevante é o trata- de dados nacional em saúde. Independentemente de co- mento mais adequado das doenças crônicas que implicam bertura por plano privado, cada cidadão terá seus dados em frequentes tratamentos ao longo de vários anos, e que - inicialmente os cadastrais - armazenados no Sistema são responsáveis por grande parte do aumento nos custos Cartão, cuja gestão é do Ministério da Saúde. O acesso com saúde. Neste sentindo, a adoção destas ferramentas das operadoras à base de dados do Sistema Cartão, com tecnológicas garante a utilização das melhores práticas e mecanismos de validação pela ANS, promoverá meios de um ótimo aproveitamento dos recursos. obtenção do número do Cartão Nacional de Saúde em Já existem experiências na área hospitalar em que a utilização de sistemas de informação adequados auxilia as instituições a ganhar produtividade, reduzindo o tempo de permanência do paciente no hospital, possibilitando monitoramento remoto, oferecendo armazenamento de informações e mobilidade 153
TICs SINDHOSP 2012 O mercado nacional apresenta certa dificuldade em função da falta de profissionais com formação e experiência necessárias para desenvolver soluções de TI para a área da saúde Anuário SINDHOSP – A disseminação do uso dos Anuário SINDHOSP - No âmbito da medicina preventiva, qual a contribuição que pode vir com a registros pessoais de saúde, os PHRs, pode ser encara- utilização das TICs? da como uma ferramenta importante que poderá con- Antonio Carlos Endrigo - A medicina preventiva tem como base a epidemiologia. Seu estudo parte da coleta de tribuir para diminuir o custo da assistência? dados, com o intuito de obter informações da situação de Antonio Carlos Endrigo - PHR significa Personal Health saúde para a sua gestão. Assim, a utilização das tecnolo- gias da informação pode contribuir de forma contunden- Record. É um prontuário cujas informações são produzidas te para a análise da situação de saúde e intervenção, ou ou inseridas e gerenciadas pelo próprio paciente e podem seja, tomada de decisão, programação das ações, imple- ser compartilhadas por profissionais de saúde. É importan- mentação e avaliação. Podemos ainda mencionar o uso da te diferenciar o PHR de outros tipos de prontuários, como telemedicina e telessaúde como ferramentas a contribuir EMR (Eletronic Medical Record), que é o prontuário elabo- para o acesso de populações desassistidas na área de me- rado para os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros dicina preventiva. etc., ou entidades de saúde, como hospitais, laboratórios, clínicas. E tem ainda o EHR (Eletronic Health Record) tam- Anuário SINDHOSP - Que avanços a implemen- bém conhecido pela sigla em português \"RES\" (Registro ou tação do padrão TISS e da tecnologia de certificação Repositório Eletrônico de Saúde), onde todas as informa- digital trouxeram ao setor da saúde suplementar? ções dos eventos em saúde podem ser armazenadas e com- partilhadas pelos agentes do setor, assim como pelo próprio Antonio Carlos Endrigo - A implementação do paciente. Depois de esclarecer os diversos conceitos sobre padrão TISS (Troca de Informações em Saúde Suple- \"prontuário do paciente\" e voltando ao PHR, com certeza, mentar) e o uso dos certificados digitais possibilitam a disseminação do uso destes registros pessoais pode ajudar a interoperabilidade entre os sistemas de informações muito a reduzir custos do setor, mas, sobretudo, melho- garantindo a confiabilidade das informações e maior rar o desfecho dos tratamentos, que é o principal objetivo segurança para o atendimento do paciente e para o pro- destes prontuários. Uma vez registradas as informações de fissional de saúde, com melhoria da qualidade no aten- saúde, bem documentadas e podendo ser compartilhadas dimento e possibilidade de construção de registros ele- com quem de direito, com segurança e mantendo a priva- trônicos de saúde. cidade, contribuirão muito para o sucesso dos profissionais de saúde em benefício do paciente. 154
Anuário SINDHOSP - O Sr. deixou, recentemen- ção, sistemática, do desempenho dos prestadores de servi- te, a ANS. Por isso, conhece os projetos e anseios da ços na saúde suplementar. Esta medição e avaliação serão agência. Qual a expectativa com relação à TUSS (Ter- feitas por meio de indicadores de desempenho, os quais minologia Unificada em Saúde Suplementar)? Quais estão agrupados em domínios, que representam as dimen- os principais obstáculos para fazer com que ela avance sões da qualidade. A participação no QUALISS Indica- de forma mais rápida? dores é voluntária para os prestadores, exceto para aqueles pertencentes à rede própria das operadoras. Os resultados Antonio Carlos Endrigo - A ANS adotou como estra- assistenciais serão divulgados à sociedade por meio do sítio tégia fazer, no primeiro momento, a unificação das diversas eletrônico da ANS, facilitando, desta forma, a escolha por tabelas utilizadas no setor para, numa segunda fase, avançar parte dos usuários de planos de saúde de prestadores com no sentido da padronização. A definição desta estratégia de melhores índices de desempenho. ação considerou o grande número de prestadores de servi- ços de saúde vinculados às operadoras de planos privados Anuário SINDHOSP - A adoção de ferramentas de TI de assistência e, consequentemente, o grande movimento pelo setor saúde requer a formação de profissionais qua- de ajuste contratual necessário para adoção da TUSS. A ex- lificados. Estamos prontos para atender a essa demanda? pectativa com a unificação das terminologias é reduzir os custos para controle e processamento das contas, além de Antonio Carlos Endrigo - O mercado nacional apre- possibilitar, no médio e longo prazos, estudos comparativos senta certa dificuldade em função da falta de profissionais e a construção do registro eletrônico de saúde do paciente. com a formação e experiência necessárias para desenvol- ver soluções de TI para a área da saúde. Estes profissionais Anuário SINDHOSP - Como funciona o programa de são responsáveis pela convergência entre as áreas clínica qualificação dos prestadores de serviços instituído pela ANS? e tecnológica, o que pressupõe uma formação interdisci- plinar que dificilmente é encontrada nas instituições de Antonio Carlos Endrigo - São dois Programas de Qua- ensino. Por ser um profissional raro no mercado, uma das lificação dos Prestadores de Serviços na Saúde Suplemen- soluções do setor para sanar esta demanda é a capacitação tar. O primeiro programa, instituído pela Resolução Nor- de profissionais de TI nos processos hospitalares e a qua- mativa n º 267, de agosto de 2011, doravante denominado lificação de profissionais de saúde em tecnologia. QUALISS Divulgação, consiste na divulgação, obrigatória por parte das operadoras de planos de saúde, dos atributos Anuário SINDHOSP - A produção nacional de so- que qualificam a sua rede prestadora de serviços. Esta di- luções de TI para a saúde atende às expectativas e ne- vulgação deverá ser feita em todos os veículos de comuni- cessidades do segmento? cação em que os prestadores de serviços sejam divulgados, sejam eles impressos ou eletrônicos. Cada atributo de qua- Antonio Carlos Endrigo - A demanda por soluções de lificação terá uma representação gráfica correspondente – TI para a saúde é muito grande e o mercado brasileiro está ícone – para facilitar a identificação por parte dos usuários em expansão. O Instituto Gartner, que é líder mundial no de prestadores mais qualificados. Desta forma, aumenta o fornecimento de pesquisas e aconselhamento na área de tec- seu poder de escolha na compra de um plano de saúde. O nologia da informação, avalia que o terceiro mercado vertical segundo programa, instituído pela Resolução Normativa cujo investimento em tecnologia mais crescerá no Brasil em nº 275, de novembro de 2011, denominado QUALISS 2012 será o segmento de saúde, que deve movimentar US$ Indicadores, consiste em um sistema de medição e avalia- 2,4 bilhões este ano – cerca de 9% mais do que em 2011. 155
Tendência SINDHOSP 2012
Hotelaria hospitalar une conforto, sofisticação e fideliza clientes A imagem de salas de hospitais pintadas de cinza, com o inde- fectível cartaz da enfermeira pedindo silêncio, está se tor- nando isso mesmo, apenas uma imagem. Dos mais simples aos sofisticados, estabelecimentos de saúde estão investindo para oferecer à sua clientela não apenas um bom (ou excelente) atendimento assistencial, mas também conforto, acolhimen- to. O conceito de que em ambientes agradáveis o processo de cura pode ser estimulado está se disseminando entre as ins- tituições. E a área que capitaneia essa transformação é a ho- telaria, que deixou de ser apenas o setor responsável pela troca de roupa e oferecimento da chamada “comida de hospi- tal” para se tornar polo de inovação no quesito bem-estar.
Tendência SINDHOSP 2012 urgida nos Estados Unidos na década de atendimento, certamente procurará a mesma instituição num outro momento de necessidade, além de indicá-la S 1970, a hotelaria hospitalar agrega os chama- para amigos.” Coordenador da especialização em Hote- dos serviços de apoio, aqueles não médicos e laria Hospitalar do Instituto de Ensino e Pesquisa Albert não administrativos, geralmente ligados à área da assis- Einstein, na Capital paulista, e autor de três livros sobre o tência. Hoje, a hotelaria tem ajudado na diversificação tema, Boeger relaciona os serviços de hotelaria aos progra- do ambiente de cuidados à saúde, oferecendo ao doente mas de qualidade. “Com raras exceções, hospitais que pos- um conforto próximo ao que ele encontraria em sua casa suem a área de hotelaria bem implantada são aqueles que, e no aconchego familiar. E, em muitos casos, a perfor- anteriormente, adotaram bons programas de qualidade.” mance da área acaba sendo o principal elemento no qual o paciente se baseia para avaliar o atendimento recebido, Marcos Bosi Ferraz, professor adjunto da Universida- independentemente do arsenal tecnológico e da qualida- de Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Centro de da equipe médica da instituição. Paulista de Economia da Saúde (CPES), concorda que o De acordo com o presidente da Sociedade Latino- entorno do processo de assistência é o que chama a aten- -Americana de Hotelaria Hospitalar e diretor da Hospi- ção do paciente. “Muitas vezes, ele desconhece todos os tallidade Consultoria para Meios de Hospedagem, Mar- recursos que são usados no seu tratamento, a excelência da celo Boeger, serviços de hotelaria bem implantados são equipe, a tecnologia empregada, elementos fundamentais importantes ferramentas para a fidelização dos clientes. numa boa instituição hospitalar. Dessa forma, ele pode “Quando procura um hospital, o cidadão observa a lim- vir a julgar que recebeu um mau atendimento, se ficou peza, a qualidade da comida servida, a cordialidade de insatisfeito com um ou dois itens que compõem o rol de quem o atendeu no quarto. Para o leigo, esses são parâme- serviços em hotelaria. Na verdade, o paciente quer rece- tros de qualidade. Se ele entender que recebeu um bom ber um tratamento semelhante ao que ele tem em casa.” 158
Tendência SINDHOSP 2012 Peças de decoração, discretas e charmosas, compõem o ambiente do espaço da internação do Hospital São Lucas Diferenciais O fato é que ninguém quer ir ao hospital. Este talvez que têm contato com o paciente e seus familiares. “Treina- seja um dos poucos lugares do mundo onde a recepcionis- mento é essencial”, sentencia. E este é um ponto nevrál- ta não deve dizer “volte sempre” no momento em que o gico, já que em muitos hospitais o contato das equipes de paciente recebe alta. “Só vamos ao hospital por necessida- apoio com paciente e familiares é feito por profissionais de de, até porque ele é identificado como um ambiente natu- empresas de terceirização. “Esses colaboradores precisam ralmente carregado de dor e sofrimento”, explica a diretora ser treinados para atuar em conformidade com as normas de Atendimento do Hospital São Lucas, do Rio de Janeiro, da instituição. Do contrário, toda a filosofia de atendimen- e do Hospital de Clínicas de Niterói, Selma Costinha. Ela to e acolhimento corre riscos”, ensina Marcelo Boeger. acrescenta que, por esta razão, é dever da instituição “ofe- recer o melhor atendimento possível para que a experiên- Tanto no São Lucas como no Hospital de Clínicas de cia vivida no ambiente hospitalar não seja tão estressante”. Niterói, os serviços prestados pela área da hotelaria são desempenhados por terceirizados, “treinados pela em- Responsável pela área de hotelaria dos dois hospitais, presa a partir do nosso briefing”, afirma Selma Costinha. Costinha explica que um dos pontos que considera funda- No total, são 18 horas de treinamento, feito a partir da mental é o tratamento prestado por todos os colaboradores contratação. 160
Fundado em 1937 como Maternidade Arnaldo de Moraes, o Hospital São Lucas está localizado em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, e conta com o privilégio de ter como vizinho de fundos um pedaço da mata atlântica. No começo deste ano, a instituição realizou um projeto de revitalização integrando esse pedaço de natureza à sua área física. Ali foi construída uma cafeteria para pacientes e seus familiares, que podem lanchar ao lado de imensas jaqueiras, pássaros, micos, num ambiente demarcado por uma pedreira cenográfica, criada em papel ma- chê pelo artista plástico Wander José da Costa e Silva, respon- sável por vários cenários no Projac, a central cenográfica da TV Globo. “Há pesquisas demonstrando que o lúdico, a satisfação e o conforto, além de minimizar o estresse da hospitalização, proporcionam maior aderência ao tratamento e auxiliam na re- cuperação do paciente”, completa Selma Costinha. O Hospital de Clínicas de Niterói, segundo ela, pratica a mesma filosofia de acolhimento do São Lucas. Ali, foi dada aten- ção especial à maternidade que tem, na porta de todos os quar- tos, cachepôs para acondicionar as flores recebidas pelas mães. O enxoval que as parturientes recebem também é diferenciado. E, na ala da pediatria, a refeição das crianças internadas é deco- rada com motivos infantis. “São detalhes que agregam valor e evidenciam o cuidado e atenção com os pacientes”, explica a di- retora Costinha. Recentemente, o hospital introduziu mais uma inovação. A UTI neonatal instalou minirredes de tecido – simi- lares às redes de balanço nordestinas – dentro das incubadoras. Nessas redes são colocados os recém-nascidos prematuros, de baixo peso, que ficam mais confortáveis, engordam mais rápido e diminuem a utilização dos equipamentos de respiração artifi- cial. “São conceitos de humanização como esse que procuramos implantar nas duas instituições”, continua Selma Costinha. Com 192 leitos, o Hospital São Lucas realiza cerca de 5 mil atendimentos de pronto-socorro e 750 cirurgias por mês. Já o Hospital de Clínicas de Niterói, com 190 leitos, é referência na região leste fluminense em atendimento a politraumatizados, portadores de doenças cardíacas e neurológicas e transplantes de órgãos. Ambas as instituições possuem selo de acreditação da Organização Nacional de Acreditação (ONA). 161
Tendência SINDHOSP 2012 Burle Marx e tecnologia Complexo Hospitalar Edmundo Além da natureza, o hospital também conta com a tec- Vasconcelos oferece jardim com nologia como aliada do conceito de bem-estar proporcio- mais de 40 espécies de plantas nado ao paciente. Em todos os quartos há computador com acesso à internet, sem custo adicional, facilidades e serviço de televisita que evitam o isolamento. A instituição oferece, ainda, o serviço de televisita, que permite o contato virtual com Quando a internação hospitalar é necessária, melhor amigos e familiares. Basta entrar no site do hospital que ela seja feita numa instituição cercada de natureza. O (www.hpev.com.br), clicar no campo “televisita” e digitar Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, na Capital o nome da pessoa internada e número do quarto. O pa- paulista, tem nada menos do que oito mil metros quadra- ciente recebe a solicitação e tem a opção de aceitar ou não dos de jardim, cujo projeto original é do paisagista Ro- a visita, que pode ser feita por meio de vídeo, áudio ou berto Burle Marx. Ali são encontradas mais de 40 espécies de chat via internet. Caso não possa atender o chamado, de plantas do mundo todo, como a exuberante ave-do- o recado fica registrado. As principais diferenças entre a -paraíso, natural da África do Sul, a seringueira falsa, do televisita e os serviços abertos disponíveis no mercado são Oriente Médio, que pode atingir 20 metros de altura, e as a segurança, privacidade e facilidade na operação. Essas brasileiríssimas cambará e o falso-íris, de flores delicadas comodidades oferecidas pelo hospital, acrescidas de ou- e coloridas. Essa paisagem é vista de todos os 120 quartos tras como o serviço de alimentos e bebidas funcionando de internação. De acordo com a direção do hospital, a vi- 24 horas, visam, de acordo com a direção da instituição, a são do jardim ajuda os pacientes a relaxarem e se sentirem deixar o paciente o mais confortável possível, quase como mais tranquilos com a condição de internação. se estivesse em casa. 162
Hospital conceito Boa iluminação Muitos hospitais foram se modernizado ao longo dos anos, intro- e qualidade de serviços, duzindo não apenas novos recursos tecnológicos como aprimorando serviços de hospitalidade. Outros já nasceram adotando uma nova fi- como a gastronomia losofia de atendimento. É o caso do Hospital Marcelino Champagnat, hospitalar, são de Curitiba, inaugurado no fim do ano passado, que é classificado, segundo o diretor Cláudio Lubascher, “como exemplo de empreendi- diferenciais agrádaveis mento que alia serviços profissionais de saúde de qualidade internacio- para pacientes nal a um ambiente funcional”. Entre os diferenciais do projeto arqui- e visitantes tetônico, o diretor destaca a iluminação natural nos dez pavimentos, incluindo a UTI, dotada de amplas janelas que permitem a entrada da luz nos 20 leitos, instalados em boxes individuais com persianas entre os vidros, que permitem o controle da iluminação. “Além de uma sensível redução no consumo de energia elétrica, o contato com a iluminação natural em todas as alas proporciona uma sensação agra- dável e boa disposição não só nos pacientes internados, mas também na equipe. É mais um fator motivacional”, afirma o diretor. Recepção do Hospital Marcelino Champagnat 163
Tendência SINDHOSP 2012 Cláudio Lubascher acrescenta que a instituição foi pensada Para atingir esse patamar, a Aliança Saúde, en- com o objetivo de oferecer bem-estar e conforto aos pacientes tidade ligada à Pontifícia Universidade Católica e seus familiares, “e também à equipe de profissionais e cola- do Paraná (PUC-PR), investiu R$ 65 milhões no boradores, que contam com salas de repouso dimensionadas e empreendimento. Parte desses recursos foi aplica- elaboradas com foco na humanização”. Outro exemplo de aco- da na gastronomia hospitalar, assinada pelo chef lhimento está na UTI, onde todos os leitos possuem poltronas Celso Freire, um dos mais renomados de Curiti- para o paciente e acompanhante, além de racks com aparelhos ba. Os menus elaborados por Freire atendem às de televisão. “Nossa intenção é ser referência no setor, é ser hos- especificidades de quadros clínicos, como dieta pital conceito”, ressalta Lubascher. diabética, pastosa ou mesmo hipossódica sem, no entanto, perder o sabor. Os cardápios foram mon- tados com a participação da equipe de nutrição da Aliança Saúde. Para garantir que a qualidade desse trabalho seja efetivamente sentida pelo paciente, em cada ala de internação foram instalados con- têineres térmicos. “A sopa chega ao quarto quen- tinha e o sorvete, geladinho. Chuchu sem gosto aqui não tem”, reforça o diretor do hospital. Centro cirúrgico e quarto do Hospital Marcelino Champagnat 164
É luxo? Cláudio Lubascher frisa que o serviço de hotelaria ofe- Worldwide Market Study, realizado pela consultoria Bain recido pelo hospital se aplica a todos os pacientes e não & Company). “Por ano, a movimentação nesse setor varia apenas àqueles que possuem planos ou seguros de saúde entre US$ 12 bilhões e US$ 13 bi.” Por isso, o professor tipo premium. “Não oferecemos luxo, mas assistência de acredita que a área da saúde deveria expandir seus negó- qualidade.” Mas há instituições que apostam nesse filão e cios para essa faixa da população. E propõe uma sugestão prestam serviços semelhantes aos de um hotel cinco estre- arrojada: o lançamento de um hospital no qual os serviços las. É possível conciliar luxo e assistência hospitalar? Para o de hotelaria sejam cobrados à parte, como se a instituição professor Sílvio Passarelli, diretor do MBA em Gestão do estivesse atendendo clientes particulares. “Sabemos que o Luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), é custo da saúde no Brasil e no mundo é muito alto, não natural que hospitais que atendem a uma clientela dife- sendo possível abdicar do plano ou seguro de saúde. Mas, renciada ofereçam serviços também diferenciados. “Mas na área de hotelaria e serviços diferenciados, acredito que só é possível fazer essa diferenciação na área da hotelaria a experiência seja viável.” porque equipamentos de ponta, tecnologia embarcada, equipe de alta qualificação fazem parte do core business da Na concepção de Passarelli, esse hospital teria um flat instituição, que está à disposição de todos os clientes.” Ele para acomodar os acompanhantes do paciente, “que po- acrescenta que o investimento na chamada hotelaria de deriam ter uma noite de sono mais tranquila”, praça de luxo vai ao encontro do objetivo dos hospitais em oferecer alimentação sofisticada e saudável, serviços de spa e be- a seus pacientes condições semelhantes àquelas encontra- leza, todas as facilidades de comunicação oferecidas pela das no seu dia a dia, de modo a tornar sua estada na ins- tecnologia, enfim, não haveria limites nos mimos ofere- tituição menos estressante. “Quando o paciente encontra cidos ao cliente diferenciado. E tudo isso seria cobrado no hospital serviços que ele tem à disposição em sua casa, como serviços de hospedagem. Mas o valor seria extrema- a tendência é ficar mais relaxado, menos ansioso.” mente alto. Haveria mercado? O especialista responde: “Hotéis como o Ritz de Madri e Paris têm diárias mais Sílvio Passarelli aposta que o mercado de luxo ainda caras do que as de uma UTI e estão sempre lotados. Um vai crescer no Brasil (em 2011, o segmento teve no país empreendimento desse porte no Brasil daria certo porque crescimento estimado em 20%, segundo o Luxury Goods há mercado consumidor.” Está lançada a ideia. 165
Tendência SINDHOSP 2012 Benefícios para todos Melhorar o atendimento de saúde a partir da pers- A adoção do modelo Planetree no Einstein teve início pectiva do paciente. Essa é a ideia central do Planetree, em novembro de 2008, quando foi assinado contrato en- conceito nascido nos Estados Unidos em 1978, baseado tre a organização e o hospital visando à implementação numa abordagem holística, com foco nas dimensões hu- do programa num prazo de três anos. Um dos principais manas, ambientais, educacionais e sociais. Esse modelo desafios foi treinar 92% de todos os colaboradores da ins- de atendimento é pioneiro na personalização, humaniza- tituição num curso presencial de oito horas; no total, mais ção e desmistificação das experiências de saúde para pa- de oito mil colaboradores foram treinados. De acordo com cientes e familiares. a direção do Einstein, os benefícios do programa vão além do paciente e seus familiares, atingindo toda a equipe assis- Hoje, em todo o mundo, existem apenas 29 hospitais tencial e de apoio. De um lado, o paciente e seus familiares certificados pela Planetree, uma organização sem fins lucra- recebem atendimento acolhedor e diferenciado, são ouvi- tivos. Um deles é o Hospital Israelita Albert Einstein que, dos e atendidos com relação às suas necessidades, dentro desde 2011, possui a designação “Hospital Centrado no dos dez componentes, para que sua estada seja a melhor Paciente”. É a primeira instituição em toda a América Lati- possível. De outro, para os colaboradores o ambiente de na a receber a certificação, alcançando 100% de conformi- trabalho fica mais atrativo, respeitoso, eles se sentem mais dade nas recomendações de boas práticas de humanização. valorizados num universo colaborativo de cura, além de serem estimulados a agir de maneira mais proativa para A especialista em Hotelaria Hospitalar, Ana Augusta atender as solicitações dos pacientes e familiares. Blumer Salotti, é uma forte defensora do Planetree, tanto que esse modelo de gestão foi a tese de conclusão do seu MBA. “Nesse programa, os valores essenciais de humani- zação e cuidado no foco do paciente são resgatados, re- sultando no aumento do índice de satisfação dos clientes internos e externos”, afirma. Ela acrescenta que como o aumento do índice de satisfação incide na maior retenção de talentos e diminuição do turnover, além da fidelização dos pacientes, a adoção do Planetree traz reflexos positi- vos para a saúde financeira da instituição. Segundo a direção do Einstein, os benefícios do Planetree vão além do paciente e seus familiares, atingindo toda a equipe assistencial e de apoio 166
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Tendência SINDHOSP 2012 Entrevista – Michael Lepore Um modelo centrado no paciente Prestar atendimento humanizado de saúde é prática explica Michael Lepore, diretor de Qualidade, Pesquisa hoje difundida em grande parte das instituições hospi- e Avaliação da instituição, nesta entrevista ao Anuário talares. Porém, aliar essa humanização a uma abordagem SINDHOSP. Segundo Lepore, deve-se cuidar da pessoa centrada totalmente no paciente é algo desafiador, uma como um todo, corpo, mente e espírito, e reconhecer o verdadeira quebra de paradigma. E esta é a proposta da ser humano que se encontra no leito hospitalar. Insti- Planetree, uma organização sem fins lucrativos, nascida tuições que se inscrevem para receber o “selo Planetree” nos Estados Unidos, em 1978, que prega a combinação passam por um rigoroso processo de avaliação. Tanto das boas práticas médicas com conceitos como envolvi- que, no mundo todo, há apenas 29 hospitais certifica- mento familiar, interação humana e apoio social. “Trata- dos, entre eles, o paulistano Albert Einstein. Leia, a se- -se de ouvir e respeitar as preferências de cada paciente”, guir, a entrevista. 168
Após pesquisar sobre a história dos hospitais e refletir sobre sua própria experiência, a Planetree elaborou uma lista de itens que, a seu ver, precisavam de mais atenção Anuário SINDHOSP – Quando a Planetree foi Anuário SINDHOSP – Mudar o foco do atendi- fundada? mento, passando a valorizar a opinião do paciente e seus familiares, representa uma quebra de paradig- Michael Lepore – A Planetree foi fundada em 1978 mas no modelo assistencial vigente em praticamen- por Angelica Thieriot, após uma internação de duas se- te todo o mundo. Como proceder a essa ruptura? manas num hospital de São Francisco, vítima de um vírus desconhecido. Ela sobreviveu e saiu do hospital com o Michael Lepore – Trabalhando uma organização de objetivo de mudar a forma como os pacientes são trata- cada vez! E por meio de novas normas e exigências gover- dos. Após pesquisar sobre a história dos hospitais e re- namentais, como o reembolso e pagamento às instituições. fletir sobre a própria experiência, ela elaborou uma lis- Algumas organizações irão abraçar essa filosofia porque é ta de itens que, a seu ver, precisavam de mais atenção: a a melhor coisa a fazer para os pacientes e suas famílias e necessidade de um ambiente estético e solidário, contato porque devolve a elas a paixão pelos serviços dedicados à humano, continuidade de tratamento, envolvimento das saúde. No entanto, quando reembolsos financeiros estão famílias no tratamento e fortalecimento dos pacientes. associados à satisfação dos pacientes, os hospitais passam automaticamente a prestar mais atenção ao tratamento Anuário SINDHOSP – Esse modelo objetiva me- humanizado. Estamos vendo isso acontecer nos Estados lhorar o atendimento de saúde a partir da perspec- Unidos, onde a avaliação do nível de satisfação dos pa- tiva do paciente. Como esse conceito é aplicado no cientes em relação à sua experiência no hospital está sendo dia a dia das instituições de saúde? incluída na planilha de “aquisições de valor”, através da qual os hospitais recebem reembolsos do governo. Michael Lepore – A filosofia da Planetree se baseia em dez componentes que incluem o envolvimento das Anuário SINDHOSP - Como está estruturado o famílias, interação humana e apoio social. Cada afiliado modelo Planetree? da entidade implementa a filosofia de forma diferente e inovadora. Alguns dos princípios básicos incluem aces- Michael Lepore – Quando uma organização pas- so irrestrito aos registros médicos pelos pacientes como sa a fazer parte da Planetree, o trajeto estruturado até a forma de ajudá-los a compreender seu estado de saúde implementação inicia com sessões sobre liderança e, na e o tratamento a que estão submetidos, visitas diretas ao sequência, sessões informativas para toda a organização paciente 24 horas por dia, terapias integrativas e inclusão sobre a abordagem da Planetree com relação ao tratamen- de atividades de arte e lazer. to humanizado. Uma avaliação organizacional, que inclui 169
Tendência SINDHOSP 2012 a formação de grupos de ação compostos por pacientes abordagem de tratamento de saúde centrado no paciente e funcionários, ajuda na identificação de prioridades e como sendo personalizada, humanizada e desmistificadora. dá a direção para os próximos passos. Um coordenador Trata-se de ouvir e respeitar as preferências de cada pacien- Planetree que ocupe um cargo de gerência no hospital te – nem toda abordagem médica se encaixará a todos os é selecionado para liderar uma equipe formada por fun- pacientes. Eles conhecem suas próprias prioridades, o que cionários em todos os níveis da organização. As equipes é importante para eles. Em um modelo de parceria, funcio- de trabalho são responsáveis por orientar a organização nários de saúde expõem as opções e os planos de tratamen- como um todo na implementação de cada um dos dez to aos pacientes e oferecem escolhas. Trata-se de cuidar da componentes. Uma etapa fundamental da implementa- pessoa como um todo, corpo, mente e espírito, e reconhe- ção é a realização de imersões com as equipes formadas, cer o ser humano que se encontra no leito hospitalar. É im- quando funcionários dos mais diversos setores da organi- portante considerar que talvez esse paciente seja uma espo- zação realmente passam a se envolver com a filosofia de sa, uma irmã, uma mãe, alguém dedicado à sua carreira ou tratamento focada no paciente. um praticante de ioga. Cada paciente é um indivíduo com uma história única, que deve ser respeitada. Por último, há Anuário SINDHOSP - Uma instituição Planetree a desmistificação. Funcionários de saúde devem discutir o incentiva as “parcerias de cura”. O que é isso? diagnóstico e plano de tratamento com o paciente usando termos simples de serem compreendidos, oferecendo um Michael Lepore – A parceria para a cura descreve a re- quadro geral dos próximos passos e das expectativas do tra- lação entre funcionários da saúde – médicos e enfermeiros tamento. Uma das maneiras de se fazer isso é estimulando – e os pacientes. Em vez da relação paternalista do tipo “sou o acesso dos pacientes aos seus registros médicos. o médico e você faz o que eu digo”, a Planetree descreve a 170
Anuário SINDHOSP- Um dos pilares da Planetree Michael Lepore – A inscrição para o selo Planetree é o conceito de humanização, aplicado no trato com é feita por uma solicitação detalhada, por escrito, e uma pacientes, familiares e colaboradores. Em tempos de avaliação local da organização pela Planetree. O selo é fi- tanto “tecnicismo” há espaço para a humanização? nalmente concedido por um comitê. Michael Lepore – Absolutamente. Além disso, em Anuário SINDHOSP - Que benefícios alcançam um estudo recente sobre o processo de humanização no as instituições que adotam o modelo Planetree? Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, concluiu- -se que trabalhar com a Planetree auxilia na promoção do Michael Lepore – A melhoria significativa no ní- equilíbrio entre aspectos humanos e técnicos. Pacientes, vel de satisfação dos pacientes, maior envolvimento, familiares e funcionários que trabalham com a Planetree satisfação e retenção de funcionários. Alguns hospitais dão testemunhos desse equilíbrio. relatam a melhoria nos índices de segurança dos pa- cientes e redução no número de processos judiciais por Anuário SINDHOSP - Um hospital que decide danos. Os hospitais também podem ser eleitos “Boas adotar o modelo Planetree tem que fazer grandes Empresas para Trabalhar”, atraindo talentos. Há um investimentos financeiros? aumento no interesse de clientes internacionais pelos hospitais, como resultado do selo “Planetree Designa- Michael Lepore – Não necessariamente. Trata-se tion”. Nos Estados Unidos, as instituições que rece- muito mais de uma mudança de paradigma e um com- bem o selo superam significativamente a média nacio- promisso com a mudança do sistema e da forma de trata- nal em todas as avaliações de experiências feitas por mento. Há taxas de adesão e para o treinamento e serviços pacientes, que estão disponibilizadas publicamente. educacionais, mas estas são, em geral, ajustadas de acordo Também superam as avaliações sobre qualidade dos com o tamanho da organização. Os diretores de hospitais tratamentos de doenças do coração, pneumonia, ci- descobriram que uma pequena parte do orçamento pode rurgia e check-ups gerais. financiar uma cultura sustentável de tratamento com foco centrado no paciente. Anuário SINDHOSP - No mundo todo há apenas 29 hospitais com a designação “Hospital Centrado Anuário SINDHOSP - Hospitais públicos teriam con- no Paciente” conferida pela Planetree. Por que é tão dições de seguir o modelo de gestão Planetree? Existe algu- difícil obter essa certificação? ma instituição com esse perfil já certificada pela entidade? Michael Lepore – O processo é rigoroso porque a Michael Lepore – Sim. A Planetree trabalha, por abordagem de tratamento centrada no paciente deve ser exemplo, com a U.S. Veterans Health Administration, absorvida por toda a organização. O comprometimento agência governamental que inclui 23 redes integradas de é comprovado através das pesquisas de nível de satisfação serviços de saúde voltados para veteranos de guerra nos dos pacientes, que indicam se os mesmos sentem a dife- EUA. Até o momento, nenhum hospital público obteve rença na forma como receberam tratamento. a certificação “Planetree Designation”, mas todos os hospi- tais podem se inscrever para obter o selo. Anuário SINHDOSP - Quais são as instituições certificadas Planetree? Anuário SINDHOSP - Como é o processo de ava- liação das organizações de saúde que se candidatam Michael Lepore - As 29 organizações certificadas es- a receber o “selo Planetree”? tão listadas em nosso site - www.planetree.org. 171
Sustentabilidade SINDHOSP 2012
Relatórios de sustentabilidade revelam compromissos éticos das empresas Mensurar, divulgar e prestar contas dos im- pactos econômicos, ambientais e sociais cau- sados pelas atividades de uma organização. Esta é, em síntese, a definição de um relató- rio de sustentabilidade, prática que começa a ser aplicada em diversos países como mais uma ferramenta de aprimoramento da ges- tão corporativa de uma empresa. Os relató- rios de sustentabilidade, produzidos volun- tariamente, evidenciam o compromisso ético da instituição com a prática responsável das atividades do seu dia a dia. No Brasil, porém, ainda é pequeno o número de empresas com- prometidas com a chamada sustentabilidade corporativa. A área da saúde não é exceção.
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Empresas transparentes são aquelas que divulgam não apenas o seu desempenho financeiro, mas também o ambiental e social e acordo com Rodrigo Carlos Henriques, dores, fornecedores, acionistas, clientes). Rodrigo Hen- riques acrescenta que até mesmo o mercado financeiro D consultor em sustentabilidade, a prática de vê com melhores olhos organizações que primam pela produzir esses relatórios atende ao imperati- transparência na divulgação de seu desempenho finan- vo da transparência. “Empresas transparentes são aquelas ceiro, ambiental e social. “No momento de conceder um que divulgam não apenas o seu desempenho financeiro, empréstimo, o banco vai preferir empresas que divulgam mas também o ambiental e social. Esse é um processo relatórios de sustentabilidade”. Nessa linha de valoriza- contínuo, que não tem fim, assim como a busca pela ção da transparência, a Bolsa de Valores de São Paulo qualidade total”. mantém, desde 2005, o seu Índice de Sustentabilidade As empresas que elaboram e divulgam seus relatórios Empresarial (ISE), que reflete o desempenho de ações de de sustentabilidade acabam tendo vários benefícios. Para empresas comprometidas com a responsabilidade social a gestão corporativa, o instrumento pode representar o e a sustentabilidade empresarial, e atua como indutor diagnóstico das principais fortalezas e debilidades no que de boas práticas no meio empresarial brasileiro. Outro se refere ao seu desempenho socioambiental e, conse- exemplo vem dos Estados Unidos onde, recentemente, quentemente, uma oportunidade de inovação e alta per- a consultoria Bloomberg, um dos principais provedores formance. A imagem pública também sai ganhando, pois mundiais de informações para o mercado financeiro, re- a transparência agrega valor à marca, melhora a reputa- comendou à sua carteira de clientes que adotem relató- ção e contribui para o aumento da fidelidade, motivação rios de sustentabilidade. e compromisso de seus diferentes stakeholders (colabora- 174
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Como fazer Instituições que desejam adotar o relatório de sus- le que apresenta somente os pontos positivos. “Da mesma tentabilidade como mais uma ferramenta de divulga- forma como não existem pessoas perfeitas, não há empresas ção de suas atividades nem precisam se debruçar para perfeitas”. O bom relatório é aquele focado na transparência criar um modelo. Fundada em 1997, a Global Reporting das informações. “Quando se jogam dados negativos para Initiative (GRI) é uma organização não governamental baixo do tapete, há o risco de um dia o tapete explodir”. internacional, com sede em Amsterdã (Holanda), que tem como missão desenvolver e disseminar globalmente A base para a elaboração de um relatório GRI pode diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabili- ser utilizada por qualquer organização. As diretrizes dade. Entre os vários modelos de relatório existentes no para a elaboração do documento se dividem em duas mundo, o da GRI é o que tem maior credibilidade no partes. A primeira explica como relatar, com orienta- cenário internacional. ções para definição do conteúdo do relatório, assegurar a qualidade da informação e estabelecer o limite ou es- Especialista na orientação a empresas do setor saúde para copo do relatório. A segunda parte traz o que relatar, elaboração do relatório GRI, Rodrigo Henriques explica estabelecendo referências para demonstrar o perfil da que os investimentos necessários à adoção dessa ferramenta organização, sua forma de gestão (governança, compro- acabam não sendo tão altos “quando comparados a outros, misso e engajamento) e, finalmente, os indicadores de sem falar nos benefícios resultantes”. O consultor acrescenta desempenho. Um aspecto interessante do modelo de que um relatório de sustentabilidade bem feito não é aque- relatório proposto pela GRI é a consulta às partes inte- 176
ressadas, ou seja, os públicos de interesse que são atingi- delas é a autodeclaração, na qual a empresa divulga o dos direta e indiretamente pelas atividades da empresa. relatório sem revisão da GRI ou auditoria externa. A se- Num hospital, por exemplo, são partes interessadas os gunda modalidade é a GRI checada. Nesse caso, o órgão clientes, colaboradores, fornecedores, poder público, faz uma análise da coerência e consistência do relatório. médicos, planos de saúde, comunidade acadêmica e Se aprovado, o documento pode ser publicado com o lo- científica, entre outros. gotipo da GRI. Finalmente, há a publicação com verifica- ção externa, quando a empresa contrata uma instituição No total, a GRI trabalha com 79 indicadores e três independente, que realiza auditoria não só do relatório, níveis de aplicação do relatório (C, B e A). Cada nível mas também de suas operações objetivando comprovar a estabelece um número de indicadores de desempenho autenticidade do documento. Realizada esta auditoria, o que deve ser respondido; o nível C, por exemplo, exige relatório é classificado com o símbolo + juntamente com respostas a um mínimo de dez dos 79 indicadores. Há, a letra do nível de aplicação (C, B ou A). ainda, três formas de comunicar o relatório. A primeira É o jeito particular de olhar para os exames que garante a qualidade dos nossos laudos radiológicos. Equipe de radiologistas diferenciada Apoio clínico à sua equipe e médicos solicitantes Protocolos otimizados Suporte operacional Tel.: 11.4063.6150 - www.teleimagem.com.br - [email protected]
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Construir conhecimento Em 2011, de acordo com o consultor Rodrigo Henri- o cumprimento da lei”, reclama. Com ele faz coro Flávio ques, pouco mais de 1.800 empresas reportaram relatórios Alexandre Álvares Cardoso, gerente de Sustentabilidade de sustentabilidade à GRI; cerca de 70 delas são brasilei- do Hospital Sírio-Libanês, da Capital paulista, instituição ras. Desse total, apenas dez são organizações ligadas à área que pelo segundo ano produz e divulga relatório de sus- da saúde. “Não entendo como o setor saúde pode ficar à tentabilidade. “Nós lidamos com o que há de mais impor- margem de uma discussão tão importante. Temos que nos tante no mundo: a vida humana. Temos que ser agentes alinhar aos demais segmentos da economia. Não é admis- da mudança de cultura, da transformação”, afirma Flávio sível que instituições da área continuem operando com Cardoso. O executivo lembra que, representando 8,5% normas da ISO 9000 dos anos 90, como ainda ocorre, do PIB nacional (em 2011, o PIB brasileiro fechou em ou que sigam a legislação sobre destinação de resíduos e R$ 4,143 trilhões), o setor privado da saúde tem peso na acreditem que são ‘top’ em sustentabilidade. Isso é apenas economia “e precisa construir conhecimento”. 178
A adoção do relatório de sustentabilidade pelo Hospital Flávio Cardoso, ressaltando que todo esse investimento na Sírio-Libanês pode ser vista como a consequência natural área de sustentabilidade tem como objetivo “garantir a pe- de uma instituição que, nos idos de 1998, deu início ao seu renidade da instituição de modo ativo e responsável, para programa de gestão ambiental a partir da reestruturação consolidar um modelo de gestão que priorize não só o de- do sistema de higiene hospitalar, com o objetivo de econo- sempenho econômico, mas todos os aspectos sensíveis que mizar água. De lá para cá, vários processos foram adotados envolvem a operação de um hospital de grande porte”. visando não só à redução do consumo como também a No relatório de sustentabilidade divulgado em 2011, com eficiência na utilização de insumos (energia, água e gás) e os dados de 2010, o Sírio-Libanês apresentou documento a reciclagem dos resíduos. Hoje, o hospital destina todas autodeclarado nível C. Já no relatório referente a 2011, as sobras de alimentos do restaurante da instituição a uma lançado em maio de 2012, o hospital recebeu nível B GRI empresa que, através do processo de compostagem, trans- checado. Para aqueles que acreditam que investir em sus- forma os resíduos em adubo orgânico, rico em nutrientes. tentabilidade traz como retorno à instituição apenas uma Agora, o Sírio-Libanês se prepara para dar mais um pas- boa imagem pública, Flávio Álvares Cardoso lembra que so no caminho da sustentabilidade com o lançamento do há ganho financeiro também. “Na medida em que você inventário sobre a emissão de dióxido de carbono (CO2). reduz o consumo de insumos, como água e energia, acaba “A partir desse inventário, vamos dar início a outros pro- obtendo economia de recursos, o que é importante para a cessos tendo como meta reduzir nossos índices”, completa saúde financeira de qualquer empresa”. 179
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Sobrevivência Há quem pense, também, que somente as grandes sempenhos financeiro, ambiental e social tem que ser a instituições privadas têm condição de produzir e publi- base da gestão responsável e sustentável”, ensina. car relatórios de sustentabilidade. O Hospital Municipal de Cubatão, instituição pública da Baixada Santista ad- Foram as boas práticas em sustentabilidade que leva- ministrada pela Fundação Pró-Saúde, uma Organização ram o Hospital Municipal de Cubatão a receber a classi- Social de Saúde (OSS), teve seu relatório de 2011 clas- ficação nível C checada da GRI. “Estamos em patamar sificado como nível C checado pela GRI, mantendo o semelhante ao dos melhores hospitais privados brasilei- mesmo patamar do ano anterior. Para o diretor do hos- ros”, orgulha-se o diretor. Para atingir essa qualificação, a pital, José Donizetti Stoque, falar em sustentabilidade no instituição introduziu uma série de mudanças no hospital setor é falar em sobrevivência. “As instituições públicas a partir de 2010, começando pela lavanderia. A reforma de saúde, com raras exceções, trabalham com orçamentos do setor e a substituição de equipamentos representaram apertados para atender a grandes demandas. Assim, é im- uma economia de consumo da ordem de 30%. Hidrôme- perativo buscar o rendimento máximo dos recursos, eco- tros instalados em pontos estratégicos e vistoria periódica nomizando onde é possível. E sustentabilidade tem tudo à procura de vazamentos são outras ações implementadas. a ver com otimização e utilização racional dos recursos”. Também é dada atenção aos fornecedores do hospital. Assim como também tem a ver, entende José Donizetti, “Nossas compras, por exemplo, são feitas pela central da a preocupação com o ambiente de trabalho oferecido aos Pró-Saúde, o que nos garante não só a redução de custos, funcionários, a motivação constante. “Equilibrar os de- mas também a tranquilidade de lidar com empresas com- prometidas com a sustentabilidade”. 180
Equilibrar os desempenhos José Donizetti Stoque acrescenta que não foi difícil para financeiro, ambiental a instituição atender a, pelo menos, dez dos 79 indicado- e social tem que ser res propostos pelo relatório GRI. “Trabalhamos com um a base da gestão total de 780 indicadores de desempenho e planejamento estratégico. Fazemos análises de risco mensalmente”. responsável e sustentável O Hospital Municipal de Cubatão tem 150 leitos, além de sete na UTI adulto e sete na neonatal. Realiza, em mé- dia, 300 cirurgias, 130 partos e 2.500 atendimentos ambu- latoriais por mês. Praticamente, toda a clientela é do SUS. “A população atendida por nós é carente e ainda não tem arraigado o conceito de sustentabilidade. Por isso, investi- mos em palestras e apresentação de vídeos para fomentar essa conscientização”, afirma o diretor José Donizetti. Em 2011, o Hospital Municipal de Cubatão recebeu a certifi- cação ONA (Organização Nacional de Acreditação) nível 1; para este ano, já pleiteou a elevação para o nível 2. Trazendo a qualidade e confiança até você. Distribuidor Autorizado JOHNSON & JOHNSON MEDICAL BRASIL Rio de Janeiro: (21) 2285-2278 / Fax: (21) 2285-2634 181 São Paulo: (11) 2659-1534 / Fax (11) 2659-1540 www.cortexmed.com.br
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Edificação sustentável O Grupo Fleury, outra organização que produz e divulga relatório de sus- tentabilidade nos moldes da GRI, desenvolve um modelo de negócio susten- tável que estabelece metas rigorosas visando a reduzir os impactos por meio do uso adequado dos recursos naturais, oferecer serviços e instrumentos de gerenciamento seguros e confiáveis, incentivar a saúde ocupacional de seus colaboradores e implementar projetos sociais. Entre as diversas ações voltadas ao equilíbrio ambiental está o inventário da emissão dos gases de efeito estufa, que começou a ser feito em 2009. Esse levantamento serviu de base para a definição de metas para a redução dessas emissões. Outra iniciativa teve início em 2010, com a criação de um novo padrão de edificação sustentável. A unidade Rochaverá-Morumbi, na Capital paulista, foi o primeiro estabelecimento de saúde do Brasil a receber a certificação LEED (Lea- dership in Energy and Environmental Design), concedida pela U. S. Green Building Council, organização não governamental que reúne líderes de mercado no setor de construção e arquitetura, promovendo edifícios que sejam ambientalmente responsáveis, economicamente atrativos e que ofereçam ambientes saudáveis para se trabalhar e viver. Recentemente, foi inaugurada a Unidade Fleury Alphaville, na Grande São Paulo, projetada, do alicerce à cobertura, em total conformidade com os padrões LEED, como utilização de madeira certificada, lâmpadas com baixa concentração de mercúrio e equipamentos eletrônicos com o Selo Energy Star, criado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Daniel Périgo, gerente de Sustentabilidade do Grupo Fleury, destaca pelo menos três pontos de destaque na nova unidade: a eficiência energética, com a escolha de lâmpadas especiais e o uso de iluminação natural; a instalação de plan- tas desérticas no teto, para regular a utilização do ar condicionado, e a inclusão de temas de educação ambiental na Vila da Saúde (setor de atendimento pediá- trico). Outros diferenciais são a construção com amplas áreas verdes no térreo e na cobertura, promovendo a biodiversidade, a redução no uso e no descarte de matéria-prima finita e materiais de longo ciclo de vida, com a utilização preferen- cial de materiais de rápida renovação, como pastilhas de coco, toalhas e lençóis feitos com 100% algodão e a existência de bicicletário e vagas no estacionamento para veículos com baixa emissão de gases de efeito estufa e para caronistas. O relatório de sustentabilidade do Grupo Fleury possui nível autodeclara- do C+, verificado pela Det Norske Veritas (DNV), certificadora internacional. 182
História em construção A Central Nacional Unimed, operadora que comercializa planos de saúde da cooperativa em todo o Brasil, é mais uma organização do setor que produz e publica relatórios de sustentabilidade. Neste ano, saltou do nível C checado GRI para o B. Na opinião da gestora da área de Responsabilidade Social da Central, Rosemeire Gomes, o pequeno número de instituições do segmento que aderiram à prática deve-se à resistência em mudar a cultura reinante. “Nossos gestores não foram formados nem treinados para se preocupar com essa questão. Infelizmente, ainda há empresas que pensam apenas no lucro pelo lucro”, lamenta. Ela acrescenta que o conceito de sustentabilidade é algo que vai sendo construído ao longo dos anos. “Desde a sua criação, a Central vem trabalhando a ideia da sustentabilidade não apenas com colaboradores e fornecedores, mas com toda a rede de Unimeds espalhada pelo Brasil. É uma história que ainda estamos construindo”. Rosemeire Gomes afirma que nem sempre é fácil incutir na mente do gestor local conceitos como preservação am- biental, responsabilidade social. “Nos grandes centros a realidade é uma, já na periferia do Brasil há muita dificuldade”, conta. A gestora informa que no sistema Unimed existe um comitê de sustentabilidade para justamente “trabalhar” esses conceitos junto às cooperativas estaduais e municipais. Outra dificuldade relatada por Rosemeire Gomes é o relacionamento com fornecedores (no seu caso, hospitais, clínicas e laboratórios), que nem sempre estão interessados em adotar os mesmos princípios da operadora. “Acredito que o Brasil ainda tenta entender o que é sustentabilidade”. 183
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Estratégia de resultados Enquanto muitas em- A Baxter Hospitalar, presas ainda tentam “en- com mais de mil fun- tender o que é sus- cionários, alinha-se às tentabilidade”, como diretrizes da matriz raciocina Rosemeire norte-americana. De Gomes, outras estão acordo com o diretor- na vanguarda, apos- -geral da subsidiária tando em tecnologias brasileira, Mario Ciar- sustentáveis. É o caso da delli, “sustentabilidade Baxter, uma empresa glo- integra as responsabili- bal e diversificada da área de dades sociais, econômicas saúde que desenvolve, fabrica e ambientais às prioridades de e comercializa produtos de biotec- negócios da empresa”. O executivo nologia e terapias especializadas para he- acrescenta que essa estratégia da empresa mofilia, doenças renais, distúrbios imunológicos, traz resultados positivos. “Além de demonstrar o trauma e outras condições clínicas críticas. Com 80 anos de compromisso com a responsabilidade corporativa, as ini- atuação no mundo, conta com 47 mil colaboradores em mais ciativas de sustentabilidade agregam valor significativo de cem países. No Brasil, está presente desde 1960. ao negócio e se refletem desde a forma de atrair e reter talentos até a redução de custos operacionais”, afirma. Em 2012, a Baxter foi novamente reconhecida como Certificada ISO nos segmentos de gestão da qualidade, uma das “100 Empresas Globais mais Sustentáveis” pela proteção do meio ambiente e OHSAS na área de saúde Corporate Knights Inc., uma organização independente ca- ocupacional e segurança do trabalho, a Baxter Hospitalar nadense. A lista é anunciada todos os anos durante a reali- recebeu, em 2006, dois prêmios relacionados ao consu- zação do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. mo de água: o 1º Prêmio Fiesp de conservação e reuso É a única empresa norte-americana de saúde a constar dessa de água e outro, concedido pela Baxter Internacional à lista todos os anos desde a criação do ranking, em 2005. E, subsidiária que mais se destaca nessa prática. pelo segundo ano consecutivo, a organização foi conside- Em sua página na internet, a GRI fornece orientações rada a empresa norte-americana “mais verde” no segmento sobre como fazer e publicar relatórios de sustentabilidade e saúde, segundo o Green Ranking 2011 promovido pela re- disponibiliza o download dos documentos relacionados à vista Newsweek, que analisa as 500 maiores empresas cota- Estrutura para Relatórios de Sustentabilidade. O endereço das em Bolsa nos Estados Unidos. A Baxter produz e publi- é www.globalreporting.org. ca relatório de sustentabilidade autodeclarado nível B GRI. 184
Um pacto pela vida Em 2000, por iniciativa do então secretário-geral da Organização das Na- ções Unidas (ONU), Kofi Annan, foi lançado o Pacto Global, com o objeti- vo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para adotar em suas práticas de negócios valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas do meio ambiente, direitos humanos, relações de trabalho e combate à corrupção, refletidos em dez princípios. A criação do Pacto considerou que atualmente as empresas são protagonistas fundamentais no desenvolvimen- to social das nações e devem agir com responsabilidade na sociedade com a qual interagem. Empresas dos mais diversos segmentos da economia e países são signatárias do Pacto. No Brasil, a Rede Brasileira do Pacto Global foi criada em 26 de julho de 2000 e conta, atualmente, com mais de 450 organizações signatárias, entre elas, várias instituições ligadas à área da saúde. O Pacto Global é um instrumento de livre adesão pelas empresas, sin- dicatos e organizações da sociedade. A instituição que adere assume vo- luntariamente o compromisso de implantar os dez princípios do Pacto em suas atividades cotidianas e prestar contas à sociedade, com publicidade e transparência, dos progressos que está realizando na sua implantação. Os dez princípios defendidos são derivados da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Declaração da Organização do Trabalho sobre Princí- pios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. São eles: 1 - as empresas devem apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos reconhecidos internacionalmente; 2 - assegurar-se da sua não participação em violações destes direitos; 3 - as empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação co- letiva; 4 - eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório; 5 - abolição efetiva do trabalho infantil; 6 - eliminar a discriminação do em- prego; 7 - as empresas devem apoiar uma abordagem preventiva dos desafios ambientais; 8 - desenvolver iniciativas de promover maior responsabilidade ambiental; 9 - incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambien- talmente amigáveis; e, 10 - as empresas devem combater a corrupção em todas as formas, inclusive extorsão e propina. Interessados em aderir ao Pacto Global podem fazê-lo no site da Rede Brasileira do Pacto Global (www.pactoglobal.org.br) onde, também, pode ser acessada a lista de instituições brasileiras signatárias. 185
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Ações reduzem “pegada de carbono” O lançamento excessivo na atmosfera de gases de efeito estufa, entre eles, o dióxido de carbono (CO2), é um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global, que gera sérias mudanças climáticas, com efeitos perniciosos para toda a humanidade. Enquanto cientistas, governos e organismos internacionais se debruçam sobre o problema, começam a surgir iniciativas para neutralizar as emissões de CO2 provocadas pela atividade humana. Uma delas vem do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN), que não só calcula a emissão do gás como também promove plantio de árvo- res que neutralizam essa liberação. Foi o IBDN que, em 2011, calculou e neutralizou o carbono gerado pela produção da edição do Anuário SINDHOSP, que se tornou a primeira publicação do setor saúde a obter o selo Carbono Neutro. De acordo com o presidente do IBDN, Rogério Iório, praticamente toda atividade humana gera dióxido de carbo- no. “O combustível queimado pelo carro ou ônibus, os restos do almoço deixados no prato, o banho no final do dia, tudo isso emite dióxido de carbono”. É de se imaginar, então, quanto de CO2 uma grande empresa ou até mesmo um hospital emitem. Se não é possível evitar a emissão, que se faça, então, a neutralização. 186
O IBDN calculou e neutralizou Antes de promover ações que neutralizam as emissões, o carbono gerado o IBDN faz um inventário dessas emissões com a ajuda do mesmo software utilizado pelo Painel Intergovernamental pela produção da edição sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês, do Anuário SINDHOSP 2011, ligado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Am- biente), adaptado à realidade brasileira. “Tropicalizamos que se tornou a primeira a calculadora do IPCC porque o Brasil tem diferenciais publicação do setor saúde em relação à Europa e Estados Unidos. Nossa gasolina, a obter o selo Carbono Neutro. por exemplo, contém 20% de álcool, o que a torna me- O Parque Ecológico do Tietê nos poluidora”, explica Rogério Iório. Esse inventário é já recebeu mais de 55 mil mudas a chamada “pegada de carbono”, ou seja, o total de CO2 emitido na atmosfera como resultado direto ou indire- to de uma atividade. Ao calcular a pegada, o IBDN faz, também, as contas de quantas árvores devem ser planta- das para neutralizar essa emissão. A neutralização se dá pelo processo da fotossíntese. As mudas do IBDN são plantadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs), em parques públicos, em áreas ciliares degradadas e no Amazonas, junto ao Rio Solimões. O Parque Ecológico do Tietê (maior parque linear do mundo, com cerca de 80 quilômetros de extensão) já recebeu mais de 55 mil mudas do IBDN. “Nosso objetivo é recompor a mata ci- liar das margens do rio, da cidade de São Paulo até Sale- sópolis, onde fica a nascente do Tietê”, afirma Iório. No total, o IBDN trabalha com 80 espécies de árvores. Instituições interessadas em calcular e neutralizar sua pegada de carbono podem fazê-lo acessando o site do IBDN: www.ibdn.org.br. 187
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 Entrevista Marcos Tucherman Sustentabilidade rima com justiça social “Antes de tudo, não prejudicar”. Este princípio, que consta do juramento de Hipócrates, permeia o Programa de Susten- tabilidade do Hospital Israelita Albert Einstein, da Capital paulista. Amplo e abrangente, o programa desce a detalhes sobre como, por exemplo, or- ganizar um serviço de alimentação saudável, com ambiente agradável e em equilíbrio com o meio ambiente. Nesta entrevista, Marcos Tucherman, gerente responsável pelo Plano Diretor de Sustentabilidade da institui- ção, afirma que quando se repensa um projeto buscando causar menos impacto social ou ao meio ambiente, o resultado é uma opção “que certamen- te virá com benefícios além dos econômi- cos”. Ressaltado que o Einstein “é uma organização que dissemina conceitos de ética e igualdade social”, Tucherman afirma que a contribuição dos profissionais de saúde para vencer o desafio de se obter sustentabi- lidade ambiental e justiça social está na prática de quatro conceitos judaicos: Mitzvá, Refuá, Chinuch e Tsedaká, ou, Boas Ações, Saúde, Educação e Justiça Social. A seguir, a entrevista. 188
Anuário SINDHOSP – Como está estruturado o mente corretos, e adquirir papéis preferencialmente certi- ficáveis, por exemplo, pelo FSC (Forest Stewardship Coun- Programa de Sustentabilidade do Hospital Israelita cil, ou Conselho de Manejo Florestal, o “selo verde” mais reconhecido do mundo), ou reciclados. Essas diretrizes Albert Einstein? serviram de base para a elaboração do Plano Diretor de Marcos Tucherman – O Programa está pautado nas Sustentabilidade, que aborda 30 temas com mais de 90 diretrizes que englobam, entre outros assuntos, alimenta- seguintes diretrizes institucionais: buscar o desenvolvi- ção, centro cirúrgico, comunidade, construções, emissão mento das suas atividades, visando diminuir a geração de de poluentes atmosféricos, energia elétrica, fornecedores, resíduos, minimizando os impactos ao meio ambiente; gás natural, higiene, laboratórios, manutenção, pesquisa, executar projetos hospitalares (implantação e operação), produtos químicos e resíduos, recursos hídricos, reporte visando sempre à proteção do meio ambiente; prevenir e interno/externo, terceiros e treinamento. mitigar a poluição; fornecer a estrutura para estabelecer, revisar e analisar criticamente os planos de ação para pre- Anuário SINDHOSP – Este programa adota o servação do meio ambiente; manter permanente diálogo princípio hipocrático de “antes de tudo, não preju- com as partes interessadas – funcionários, fornecedores, dicar”. Como aplicar esse princípio considerando-se comunidades vizinhas, clientes, órgãos de controle am- que a prática da medicina contribui para a poluição biental e o público em geral -, com o comprometimento e degradação ambiental? de abertura nas discussões para a adoção das melhores práticas de meio ambiente; seguir, com estrito respeito, Marcos Tucherman – Pensar na forma mais eficiente a legislação vigente, os regulamentos, padrões, normas e de utilização dos recursos naturais visando gerar o míni- procedimentos voltados ao meio ambiente, assegurando a mo de impacto possível quanto à geração de resíduos e as otimização das ações que permitam a redução e/ou elimi- emissões. Por isso, pensamos em padrões de construção nação dos efeitos ambientais adversos; e reduzir o consu- verdes, redução do uso de óleo diesel para geradores de mo de água, eletricidade e papel. Com relação a resíduos emergência, do consumo de água, gás natural, destino e efluentes, o hospital compromete-se a atender ao dis- mais adequado e menos impactante para os resíduos etc. posto pelas Resoluções Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 358 (disposição de resíduos de saúde) Anuário SINDHOSP - De que maneira as organi- e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) 306 zações de saúde podem, ao mesmo tempo, cuidar da (regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos saúde dos pacientes e reduzir o consumo dos recursos de serviços de saúde), além de manter o Plano de Geren- naturais e a poluição ambiental? ciamento de Resíduos de Serviços de Saúde da institui- ção. Já com relação aos insumos, temos o compromisso Marcos Tucherman – Primeiramente, conhecendo de reduzir o consumo de água, eletricidade e papel, atuando seus impactos. É importante que as organizações saibam na fase do anteprojeto, aquisição e manutenção de equi- quais são os maiores impactos ambientais pelos quais são pamentos, sinalização e treinamento. E com relação à responsáveis e depois, estruturem planos de curto, médio área de compras, temos o compromisso de estimular for- e longo prazos para minimizar possíveis impactos. É im- necedores de produtos e serviços a obter certificações de portante que as organizações consigam conciliar suas ativi- menor impacto ao meio ambiente; não utilizar produtos dades de forma a consumir recursos de maneira eficiente, ou equipamentos que danifiquem a camada de ozônio, sem prejudicar a qualidade e segurança do atendimento. priorizar fornecedores que reutilizem materiais ecologica- 189
Sustentabilidade SINDHOSP 2012 É importante que as organizações saibam quais são os maiores impactos ambientais pelos quais são responsáveis e, depois, estruturem planos de curto, médio e longo prazos para minimizar possíveis impactos Anuário SINDHOSP – Nenhum programa de Anuário SINDHOSP – Uma organização susten- preservação ambiental é bem-sucedido se não contar tável deve ser economicamente viável, ecologicamente com a efetiva participação de todos os envolvidos, da correta e socialmente atuante. Como esse tripé se sus- alta direção da organização até o público atendido, tenta no Einstein? passando por colaboradores e fornecedores. Qual a estratégia do Einstein para convencer todas as partes Marcos Tucherman – Por ser uma entidade filantró- interessadas? pica, temos uma preocupação, talvez maior que em ou- tras empresas, em considerar ou não uma ação economi- Marcos Tucherman – Temos dois comitês que tratam camente viável. Sempre que buscamos novas tecnologias do tema sustentabilidade. Um, presidido por um dos vice- ou melhorias no processo, além do ganho para o meio -presidentes e outro, presidido pelo CEO (Chief Executive ambiente, consideramos o ganho econômico e a viabili- Officer ou diretor-geral) e que conta com a participação dade da ação. Acreditamos que somos uma organização dos diretores da Sociedade. No início de 2012 fizemos que dissemina conceitos de ética e igualdade social e, com um levantamento da materialidade com a participação de isso, contribuímos para uma sociedade mais justa. nossos principais stakeholders externos para a elaboração do relatório de sustentabilidade seguindo os indicadores Anuário SINDHOSP – O Einstein participa do pro- GRI. Nessa ação, pudemos conhecer as principais preo- grama Green Kitchen Operação. O que é esse programa? cupações dos diversos públicos com que mantemos con- tato. Fora isso, temos ações constantes de divulgação das Marcos Tucherman – É um programa que une, pela ações internamente. primeira vez, os elementos naturais de arquitetura, nu- trição e sustentabilidade e, assim, compõe um serviço Anuário SINDHOSP – Sustentabilidade ambiental e de alimentação saudável, com ambiente agradável e em justiça social são metas que caminham juntas. Atingi-las equilíbrio com o meio ambiente. Na prática, faz-se um é, seguramente, um dos grandes desafios dos tempos atuais. upgrade técnico, como num sistema surpreendentemente Quais os caminhos para superar esse desafio? E qual a econômico de gestão. Controlando-se excessos e supérflu- contribuição dos profissionais de saúde nessa luta? os, cada ação prioriza o que é bom ao cliente e a sua cor- reta implantação. Dentro das possibilidades de cada res- Marcos Tucherman – Ser ético acima de tudo; levar à taurante, o importante é construir um ambiente em suas prática os conceitos judaicos Mitzvá, Refuá, Chinuch e Tse- melhores condições de ar, água, alimentos, temperos, hi- daká, ou seja, Boas Ações, Saúde, Educação e Justiça Social. gienização, seleção de resíduos e informações aos clientes. 190
Anuário SINDHOSP – Dois prédios do Einstein – o Pavilhão Vicky e Joseph Safra e a unidade Morumbi – pos- suem a certificação LEED (Leadership in Energy and En- vironmental Design), concedida pela U. S. Green Building Council aos “edifícios verdes”. Que benefícios esses edifí- cios trazem para quem os utiliza? Marcos Tucherman – Melhor aproveitamento da luz solar, mobiliário proveniente de madeira certificada, utilização de tin- tas à base de água, com menor impacto negativo ao meio am- biente tanto no uso como no descarte. Durante a obra, houve rígido controle de poluição, além de plano de gerenciamento de erosão, assoreamento, poeira e ruídos, a fim de evitar problemas para moradores e frequentadores da região. Um programa de reciclagem fez com que cerca de 75% do material fosse reutili- zado, evitando que o entulho fosse para aterros sanitários. Anuário SINDHOSP – O Einstein produz e divulga Re- latório de Sustentabilidade nos moldes GRI. Em que nível a instituição está classificada? Marcos Tucherman – No relatório referente a 2010 está- vamos classificados com B, pois criávamos uma consciência de reporte e transparência na instituição. No relatório relativo a 2011 estaremos classificados como A+. Anuário SINDHOSP – As práticas de sustentabilidade adotadas pelo Einstein não são recorrentes nas corporações brasileiras em geral e nas organizações de saúde em particu- lar. De que maneira os líderes empresariais comprometidos com um planeta mais habitável podem sensibilizar e cons- cientizar seus pares? Marcos Tucherman – Já é bastante falado em todos os tipos de mídia que se não cuidarmos dos recursos existentes, não so- brará muita coisa aos nossos descendentes. Essa é uma verdade incontestável, mas a sustentabilidade deve começar a ser vista pe- los gestores como uma medida, antes de tudo, de eficiência de processos. Quando você repensa um processo, de forma a causar menos impacto social ou ao meio ambiente, o resultado é uma opção que certamente virá com benefícios, além dos econômicos. 191
Infraestrutura SINDHOSP 2012
Setor saúde começa a pensar na Copa do Mundo de 2014 12 de junho de 2014. EsTa, sem dúvida, é uma data especial e não por conta da comemoração do Dia dos Namorados. É que nesTe dia será dado, literalmente, o pontapé inicial da Copa do Mundo no Brasil. É claro que todos estamos tor- cendo para que, até lá, nossa seleção esteja bem prepara- da, mostre que é “a melhor do mundo” e espante, de vez, o fantasma da primeira – e única – Copa realizada no país, em 1950, quando bastava um empate para sermos campeões e fomos derrotados, no Maracanã, pela seleção do Uruguai.
Infraestrutura SINDHOSP 2012 Os serviços de saúde precisarão estar preparados para atender a essa demanda aumentada e às variações do perfil epidemiológico orcida à parte, a certeza que se tem, pouco Se a infraestrutura básica do evento enfrenta proble- mas, o segmento do atendimento de saúde se articula T menos de dois anos antes da realização do visando à adequação do país para o evento. Segundo es- evento é que muita coisa – ou quase tudo – timativas do governo federal, cerca de 600 mil turistas ainda está por fazer. No que se refere aos estádios onde as estrangeiros e outros 3 milhões de brasileiros devem se partidas serão jogadas, as obras seguem devagar; algumas, deslocar, no período, entre as 12 cidades-sede do Mun- como a do Beira-Rio, em Porto Alegre, estão praticamen- dial – Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, For- te no início. No aspecto mobilidade urbana, a morosidade taleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Ja- dos trabalhos também é evidente. Do monotrilho ligando neiro, Salvador e São Paulo - e demais polos turísticos o aeroporto de Congonhas à rede metroferroviária, em do país. Os serviços de saúde precisarão estar preparados São Paulo, ao complexo da rodoviária de Porto Alegre, para atender a essa demanda aumentada e às variações do tudo ainda está por fazer. Sem falar nas reformas de por- perfil epidemiológico. O Ministério da Saúde, visando à tos e aeroportos, igualmente atrasadas. preparação do sistema, criou, em maio de 2011, a Câma- ra Temática da Saúde, que se reúne periodicamente com representantes dos municípios e Estados das 12 cidades- -sede. Elencando três eixos básicos de atuação (vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e assistência à saúde), a Câmara tem por objetivos coordenar o planejamento de ações nacionais na área, estabelecendo diretrizes gerais e metas, e apoiar os municípios na efetivação do trabalho que for necessário. Além disso, o grupo pretende dar ên- fase ao desenvolvimento de capacidade básica de vigilân- cia sanitária nos pontos de entrada do país, como portos, aeroportos e fronteiras. 194
De acordo com Adriano Massuda, secretário executivo-adjunto do Ministério da Saúde e responsável pela Câmara Temática, os encontros até agora realizados trataram da elaboração do planejamento definido em três fases: pré-evento, durante o evento e pós-evento. “Nesse planejamento foram verificadas algumas necessidades, como a cria- ção de mapeamento de avaliação de riscos relacionados ao evento, a intensificação de ações de comunicação em saúde, elaboração de um plano de contenção de epidemias e de prevenção de endemias, a preparação dos profissionais de saúde, dentre outras.” Massuda, no entanto, não revela que cidades apresentam maior carência de infra- estrutura. Ele informa que, basicamente, elas necessitam aprimorar os serviços e for- talecer a rede assistencial e de vigilância tendo em mente o atendimento aos turistas sem, contudo, prejudicar a população local. Cidades como São Paulo e Rio de Janei- ro, que já possuem experiência em receber eventos que reúnem milhares de pessoas, como o carnaval e réveillon, levam alguma vantagem nesse sentido. “Aquelas que têm menos experiência ou que possuem uma rede menos preparada precisarão, de modo geral, de adequação da rede assistencial de urgência e emergência. Além disso, há necessidade de fortalecimento do sistema de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental”, explica Adriano Massuda. 195
Infraestrutura SINDHOSP 2012 Teste no “Galo da Madrugada” Todas as ações, que começaram a ser implementadas a Uma das estratégias de planejamento utilizadas pelos paí- partir do segundo semestre de 2012 e ao longo de 2013, ses foi a realização de eventos-teste. O Brasil copiou a ex- estão sendo delineadas junto às cidades-sede. Massuda periência e testou as ações de saúde no desfile de carnaval acrescenta que o trabalho da Câmara conta com a parce- do “Galo da Madrugada”, do Recife, considerado o maior ria da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que bloco carnavalesco do mundo. No sábado, 18 de feverei- oferece ferramentas de planejamento, execução e monito- ro, das 8h às 17h, equipes do Ministério da Saúde acom- ramento de eventos de massa. A experiência de países vizi- panharam o trabalho dos gestores locais. Foi a primeira nhos é mais uma arma que a Câmara Temática pode utili- grande ação de monitoramento de um evento de massa zar. Em dezembro de 2011, o grupo de trabalho reuniu-se envolvendo as cidades-sede da Copa. Dos 12 municípios, na sede da Opas, em Brasília, com representantes da Ar- apenas Salvador e Rio de Janeiro não enviaram represen- gentina, Colômbia e México, que em 2011 sediaram, res- tantes. O evento-teste pretendeu checar ações preventi- pectivamente, a Copa América, Copa do Mundo Sub-20 vas, assistenciais e de vigilância sanitária, como barreiras, da Fifa (Federação Internacional de Futebol) e Jogos Pan- hospitais e postos de atendimento; de aprimoramento da -Americanos. As lições aprendidas e os legados adquiri- comunicação de risco e de vigilância epidemiológica em dos com os eventos foram apresentados aos participantes. caso de surto, dando resposta rápida para investigação 196
A realização imediata e providências urgentes. Foram formados dois de eventos-teste grupos de trabalho. O da coordenação atuou na sala de é uma das estratégias situação montada no gabinete do secretário de Saúde de de planejamento para Pernambuco, com a participação de 36 profissionais do a Copa de 2014. Ministério da Saúde (secretarias executiva, de vigilância O primeiro teste em saúde, atenção básica e Anvisa – Agência Nacional de aconteceu no carnaval, Vigilância Sanitária) e das secretarias estadual e municipal de saúde. O segundo grupo foi o da atuação, que perma- no Recife neceu em campo nos pontos definidos das áreas de vigi- lância e assistência, para detecção, coleta e transmissão de informação. Nesse grupo estiveram envolvidos 151 pro- fissionais, incluindo representantes das cidades-sede. Por cerca de nove horas, o “Galo da Madrugada” percorreu aproximadamente 4,5 quilômetros arrastando uma mul- tidão avaliada em dois milhões de foliões, ou quase duas vezes a população do município de Goiânia. O conteúdo deste Anuário disponível onde você estiver versão com versão com mobile digital mobile Acesse a App Store ou o Google Play, busque e baixe o Anuário SINDHOSP. É gratuito e prático. Tenha esta publicação em seu dispositivo móvel. 197
Infraestrutura SINDHOSP 2012 “Praticamente preparada” Das 12 cidades-sede, São Paulo pode ser considerada uma das que melhor está prepara- da para o atendimento aos turistas e à popula- ção que acompanhará os jogos da Copa. Todo o planejamento está sendo realizado em con- junto pelas secretarias estadual e municipal de saúde. De acordo com o representante da Secretaria Estadual da Saúde junto à Câmara Temática, Acaccio Borges Neto, estão previs- tas ações antes (que começam em 2012), du- rante e após o evento. Já há um levantamento de todas as unidades públicas de atendimento localizadas na Região Metropolitana de São Paulo que podem ser utilizadas. Só de leitos, há cerca de 20 mil disponíveis, número con- siderado bom por Borges Neto. Os trabalhos estão na fase de análise das necessidades de investimento em infraestrutura e capacitação dos profissionais. “Como a cidade de São Pau- lo tem know-how na realização de eventos com grande afluxo de público, entre eles, a Fórmu- la 1 e a Parada Gay, a infraestrutura básica existente é boa, não havendo necessidade de grandes investimentos nessa área. Não vamos construir novos hospitais, por exemplo. Preci- samos é melhorar o que já existe.” Borges Neto ressalta que a Zona Leste da Capital e, em especial, a região no entorno da Arena São Paulo (o nome oficial do estádio que está sendo construído para os jogos, mais co- nhecido como Itaquerão ou Fielzão) requer um planejamento especial, desde as condições de 198
Não vamos construir novos acesso até disponibilidade de atendimento de hospitais, precisamos saúde 24 horas em dias de jogo. Várias secreta- melhorar o que já existe rias estão envolvidas nesse processo. A região conta com hospitais municipais, estaduais ge- ridos por Organizações Sociais (OSs)e insti- tuições privadas, como o Hospital Santa Mar- celina. No ano passado, o hospital iniciou a construção de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) 24 horas. Incluído no progra- ma SOS Emergência, do Ministério da Saúde, a instituição receberá verbas federais para o custeio da obra. A construção dessa unidade, no entanto, não está relacionada com a Copa do Mundo, afirma a assessoria de imprensa do hospital, acrescentando que nenhuma comis- são foi formada internamente para discutir a participação da instituição no atendimento aos frequentadores do evento. Outro ponto que exige atenção especial do grupo de trabalho é a Fifa Fun Fest, evento reali- zado nas cidades-sede nos dias de jogo. Em São Paulo, este evento acontecerá no vale do Anhan- gabaú, onde serão montados telões e palco para apresentação de artistas. “Trabalhamos com a estimativa de frequência de aproximadamente 100 mil pessoas em cada Fun Fest. Já estamos elaborando um plano de contingenciamen- to para esses eventos”, adianta Acaccio Borges Neto. O representante da Secretaria da Saúde reforça que São Paulo está “praticamente prepa- rada” para sediar a Copa. E acrescenta, otimista: “Se depender da saúde, o Brasil já é campeão.” 199
Infraestrutura SINDHOSP 2012 Referência mundial Enquanto as esferas federal, estaduais e municipais assunto ainda não foi objeto de reunião de diretoria. se articulam para que a rede do Sistema Único de Saúde Essa indefinição foi uma das razões que levou à criação (SUS) possa garantir atendimento de qualidade durante a Copa do Mundo tanto para turistas estrangeiros quanto da plataforma BrazilHealth, uma iniciativa de Mariana para os brasileiros que circularem pelo país, no setor priva- Palha, uma das organizadoras do Medical Travel Meeting do ainda pairam muitas dúvidas. A que, talvez, seja a mais Brazil, evento de fomento na geração de oportunidades importante é saber como deve agir o visitante do Exterior de negócios no segmento do chamado turismo de saú- que tem um plano ou seguro de saúde contratado no país de e que, em suas duas edições, teve o apoio oficial do de origem e necessitar de atendimento médico. À exceção SINDHOSP. O objetivo dessa plataforma é reunir, num de alguns hospitais que já mantêm convênios com ope- só espaço, todos os atores envolvidos no atendimento de radoras de saúde internacionais, nada foi pensado, nesse saúde a estrangeiros, como hotéis, hospitais, consultó- sentido. O Ministério da Saúde informa que a questão rios, médicos, enfermeiros e até intérpretes. A plataforma está sendo analisada no âmbito da Agência Nacional de tanto servirá para o turista agendar a realização de um Saúde Suplementar (ANS), que não tem nada de concreto procedimento médico no Brasil como para atender os es- ainda. A Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fe- trangeiros que estarão no país acompanhando a Copa do naSaúde) desconhece o tema e sequer montou comissão Mundo e precisarem de atendimento na área da saúde. para estudá-lo, segundo informações da assessoria de im- “Procurei o Ministério da Saúde, o Ministério dos Es- prensa. A Associação Brasileira das Empresas de Medicina portes, a Confederação Brasileira de Futebol, a Embratur de Grupo (Abramge) também não fala a respeito, já que o e ninguém tinha qualquer informação sobre o assunto. Então, resolvemos agir.” 200
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