Jussie Bassani Rösner - Márcia BianchiFigura 2 – Evolução dos Indicadores de Endividamento 5,25 4,50 3,75 IDF 3,00 GE ICE 2,25 IARP 1,50 0,75 - 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2012). A partir da observação da Figura 2, é possível destacar queas curvas dos índices referentes ao grau de endividamento e aalavancagem com recursos próprios evidenciam semelhança decomportamento. Visualiza-se uma queda brusca que parte donível mais alto ao nível mais baixo entre os períodos de 2004 e2005, nos demais períodos, há uma oscilação com tendência auma elevação. A razão para o comportamento nos dois primeiros exercícios,deve-se ao fato da incorporação, por parte da Lojas Renner, dasua controladora, a empresa J. C. Penney Brasil Comercial Ltda.Fato esse, que incrementou mais de R$ 343 milhões no seucapital, onde estava registrado apenas R$ 55 milhões em 2004,(menos de um sexto do total do investimento). Levando em contaque o cálculo para fins de obtenção do GE e do IARP possuemo PL no seu denominador, fica esclarecido o porquê desta quedaabrupta nos referidos períodos. O índice de composição do endividamento manteve umpadrão linear de comportamento entre 2005 e 2009 e registrade duas quedas consecutivas, atingindo o seu menor valor noexercício de 2011. A partir desta informação pode-se presumirque a empresa passou a diminuir, percentualmente, os volumesde obrigações com terceiros no curto prazo, passando a captar50
O DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO pré e pós a coNvergência contábil AOS PADRÕES IFRS: UM ESTUDO DE CASO DA LOJAS RENNER42% dos recursos no longo prazo em 2011, contra uma médiageral, levando em conta todos os exercícios, de apenas 18%. O índice de dependência financeira manteve um padrãolinear de evolução, exceto pelo ano de 2004, período em que aLojas Renner contabilizou um prejuízo no balanço patrimonial,além disso, seu capital de terceiros somavam 80% do total doativo da empresa, longe da média dos outros anos que oscilouentre 51 e 61%. O grupo de indicadores de endividamento, como um todo,apresentou um quadro de melhora no período 2 em relação aoperíodo 1. Ressalta-se que as obrigações com terceiros tiveramsensível diminuição, as dívidas apresentam uma tendência àmigração para o longo prazo, embora, no período 2, o passivocirculante ainda aloque, na média, 77% das obrigações comterceiros. No mesmo período, a Lojas Renner registrou, na média,um aumento da utilização de recursos próprios, o que a tornamais independente financeiramente.4.4 ÍNDICES DE LUCRATIVIDADE A compreensão dos ganhos da empresa por meio dacomparação dos resultados auferidos através das vendas é o quevislumbra esta subseção. Na Tabela 3 estão elencados quatroimportantes indicadores de lucratividade.Tabela 3 – Indicadores de LucratividadeIndicador Período 1 Período 2 2009 2010 2004 2005 2006 2007 2008 54,1% 56,% 2011 52,% 11,2% 15,% 56,9%IMB 45,7% 45,6% 49,% 51,2% 10,5% 8,0% 11,2% 14,7% 7,4% 15,1% 18,4% 10,4%IMO 6,% 9,7% 9,1% 11,2% 13,6% 18,3%IML 5,5% 7,1% 6,5% 7,8%EBITDA 11,3% 12,5% 12% 14,8%Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2012). Observando os dados na Tabela 3, nota-se que o IMBapresentou uma significativa melhora no período 2, a média que 51
Jussie Bassani Rösner - Márcia Bianchiera de 47,9% no período 1, elevou-se ao patamar de 54,8% noperíodo 2, o que representa que as vendas obtiveram um aumentorelativo e os custos foram relativamente reduzidos. Este aumentotem vínculo com a adoção das normas internacionais, já que,devido à premissa que a essência deve se sobrepor à forma, aLojas Renner reclassificou as verbas recebidas de fornecedores,que antes eram contabilizadas como redutoras das despesasoperacionais com vendas, passando a reduzir os custos devendas, provocando, desta forma, um aumento no IMB. Ao analisar o IMO, constata-se um resultado significativamentemelhor no período 2, que abarcou um aumento de 42,4% namédia em relação ao período 1. Observa-se que este indicadortem sua melhora explicada pela aplicação das IFRS. Até 2007, osresultados financeiros eram alocados no montante operacional,o que a premissa ditada pelas normas internacionais, alterou,levando ao consentimento que o mesmo não seria fruto dasoperações da empresa, passando a compor o cálculo dos lucrosoperacionais, fato que impactou positivamente o referido índice. O IML apresenta um aumento de 38% no período 2 emralação ao período 1, com médias evoluindo de 6,7% para 9,3%das vendas líquidas. Os resultados vão ao encontro do estudoapresentado por Calanzas e Souza (2012), demonstrando quetanto a entrada das receitas quanto o lucro líquido apresentaramuma constância no comportamento, e que, portanto, não foraminfluenciados pelas alterações societárias. A margem do EBITDA em relação às vendas líquidas, evoluiude 12,7%, no período 1, para 16,3%, no período 2, crescendo29%. Esta evolução poderia ter sido maior se a empresa nãorealizasse a reclassificação das operações de financiamentode clientes. Fato que levou os saldos que antes compunham omontante dos resultados financeiros, para o montante de serviçosfinanceiros (em 2008 e 2009). Estas alterações mudaram os resultados financeiros deuma condição negativa para uma condição positiva, passandoos saldos que eram de R$ 10,1 e R$ 10,6 milhões negativos52
O DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO pré e pós a coNvergência contábil AOS PADRÕES IFRS: UM ESTUDO DE CASO DA LOJAS RENNERpara R$ 4,2 e R$ 7,6 milhões positivos nos exercícios de 2008 e2009, respectivamente. Assim o montante do resultado financeiroque antes se somava ao lucro líquido, passou a ser reduzido,produzindo um EBITDA com um valor menor comparado àspráticas de anteriormente adotadas. Aqui fica evidenciado maisum impacto da Lei nº 11.638/07 e da adoção das IFRS.4.5 ÍNDICES DE RENTABILIDADE O comportamento do índice de retorno sobre o investimento(ROI) e do índice de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE),pode ser observado na Tabela 4.Tabela 4 – Indicadores de RentabilidadeIndicador Período 1 Período 2 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011ROI 7,08 7,59 8,24 9,79 9,99 9,89 12,55 11,30 ROE 35,60 15,53 18,20 25,93 22,85 21,98 30,19 29,21Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2012). Entre dois índices demonstrados, o ROI se destaca aoapresentar um crescimento contínuo ao longo dos exercícios,exceto em 2011, quando o resultado financeiro caiu de R$ 27,3milhões, em 2010, para R$ 2,7 milhões, em 2011, em decorrênciado aumento das despesas financeiras. Este expressivo aumentoestá ligado à aquisição da Camicado, onde a Lojas Renner teveque desembolsar recursos do setor bancário para efetivar acompra. A média do ROI subiu de 8,18 para 10,93% no período2. Demonstrando obtenção de boas respostas aos investimentosda empresa. Já o ROE revelou-se muito oscilante nos dos períodos,anotando um crescimento de 9,4% no período 2, que obteve umamédia de 26,06%, contra 23,81% no período 1. Este aumentoindica que a companhia anotou um crescimento do seu lucrolíquido relativo aos investimentos feitos com o capital próprio. A Figura 3 a seguir compara, graficamente, o desempenhodestes indicadores de rentabilidade ao longo dos exercícios de2004 até 2011. 53
Jussie Bassani Rösner - Márcia BianchiFigura 3 – Indicadores de Rentabilidade4035302520 ROI ROE1510 5 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2012). O gráfico evidencia o comportamento destoante quando secompara o retorno na forma de lucro líquido das fontes própriasmais as fontes de terceiros (ROI), com o retorno sob a forma delucro líquido somente considerando as fontes próprias (ROE). Oretorno sobre o investimento apresenta uma evolução constantea cada exercício, exceto pelo ano de 2011. Percebe-se que nesteexercício as despesas financeiras aumentaram substancialmente,levando o resultado financeiro cair de R$ 27,3 milhões, em 2010,para R$ 2,7 milhões, em 2011. O expressivo aumento na despesafinanceira esta diretamente ligada a aquisição da Camicado, ondea Lojas Renner teve que desembolsar recursos do setor bancáriopara efetivar a compra. Em contrapartida, o índice de retorno sobre o patrimôniolíquido apresentou uma curva com muitas oscilações ao longodos exercícios. Em 2004, a empresa obteve o nível do ROE maisalto dentre todos os anos analisados, dando um retorno a seuPL em 35% na forma de lucro líquido da operação. Entretanto,no ano seguinte, o ROE chegou ao seu nível mais baixo, 15%.Essa queda brusca está associada ao substancial aumento dopatrimônio líquido da companhia que partiu de R$ 147 milhõesem 2004, para R$ 517 milhões em 2005. Aumento este que nãofoi acompanhado pelo lucro líquido, que passou, em 2004, deR$ 52 para R$ 80 milhões em 2005.54
O DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO pré e pós a coNvergência contábil AOS PADRÕES IFRS: UM ESTUDO DE CASO DA LOJAS RENNER Em 2008, após duas melhoras consecutivas nos exercícios de2006 e 2007, o ROE voltou a cair, certamente, motivado pela criseinternacional que implicou em uma desvalorização das ações daempresa, o que também foi sentido no ano de 2009. Conjuntamente, percebe-se que a Lojas Renner, de um modogeral, aumentou a rentabilidade no período 2, apesar da criseeconômica, onde demonstrou um quadro de melhora na evoluçãodestes indicadores. Fatores como a incorporação da J. C. PenneyBrasil Comercial Ltda. em 2005, e a compra da Camicado, em2011, influenciaram nas variações da rentabilidade, pois estãodiretamente ligados ao capital da empresa, registrando, a priori,um impacto negativo no retorno sobre o patrimônio líquido nosanos em que os referidos fatos ocorreram.4.6 GIROS E PRAZOS O desempenho das operações de compras, vendas,pagamentos e recebimentos são observados nesta categoria deindicadores, dispostos na Tabela 5.Tabela 5 – Indicadores de Giros e PrazosIndicador Período 1 Período 2 2009 2010 2004 2005 2006 2007 2008 1,33 1,26 2011 1,37 5,52 5,04 1,19IGA 1,38 1,26 1,36 1,41 6,02 66,12 72,38 4,11 60,67 3,19 3,37 88,72IGE 7,81 7,55 7,44 7,02 3,17 114,47 108,25 3,46 114,97 5,02 4,37 105,37PME 46,71 48,32 49,04 51,97 4,94 72,71 83,49 4,07 73,93 89,66IGC 3,26 3,21 3,91 3,68PMR 111,85 113,73 93,41 99,29IGF 3,38 3,30 3,67 4,06 PMP 108,14 110,46 99,44 89,94Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2012). O IGA obteve uma queda de 4,7%. A partir desta evidência,entende-se que o ativo da Lojas Renner esta demorando mais parase renovar. É importante enfatizar que as quedas mais agudaspercebidas nos anos de 2005 e 2011 podem estar relacionadasao aumento dos ativos oriundos das transações de aquisição decapital. 55
Jussie Bassani Rösner - Márcia Bianchi O IGE revela uma queda no ciclo de renovação do estoque.No período 1, registrou uma média de 7,5, passando, no período2, a contar com uma média de 5,2. Assim, o PME revela umaumento considerável entre os períodos, com médias de 49dias no período 1, e, 72 dias no período 2. Acredita-se que osreajustes decorridos das normas IFRS tenham participação nestedeclínio, que se acentuou a partir de 2007 e que impulsionaramas reclassificações realizadas no custo de vendas, provocando, arealocação dos valores positivos que reduzem o custo. Consoante aos índices apresentados, o IGC tambémregistrou queda da média entre os períodos, 6,1%, significandouma diminuição na rotatividade dos recebimentos. Diretamenterelacionado a este indicador está o PMR, o qual apontou umaumento no prazo de recebimento no período 2 em relação aoperíodo 1 em aproximadamente 7 dias, ou seja, a Companhiaestá demorando mais a receber dos seus clientes. Supõe-se que o IGC teve seu comportamento alterado devidoàs mudanças societárias da nova Lei e das premissas IFRS,uma vez que as operações de financiamento de empréstimopessoal, originalmente classificadas como redutora das contas areceber, passaram para o saldo do passivo circulante, devido suacaracterística. O IGF passou de 3,6 no período 1, para 4,6 no período 2,aumento de 27,7% no número de pagamentos, o que tambémdemonstra que a Lojas Renner optou por diminuir os financiamentosrecebidos de fornecedores nos anos posteriores a 2007. Assim, observado que houve um aumento no número de vezesque são quitadas as obrigações com fornecedores, obviamente,tem-se uma queda no prazo médio de pagamento, que era de 102dias no período 1, chegando a 79,9 dias no período 2, uma quedade 21,6%. A Figura 4 auxilia na visualização da evolução dos índicestratados nesta subseção.56
O DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO pré e pós a coNvergência contábil AOS PADRÕES IFRS: UM ESTUDO DE CASO DA LOJAS RENNERFigura 4 – Evolução dos Indicadores de Giros e Prazos IGA IGE 9,00 IGC 8,00 IGF 7,00 6,00 2009 2010 2011 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 2004 2005 2006 2007 2008Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2012). É possível perceber que o índice de giro do estoque vemacumulando sucessivas quedas, principalmente depois doexercício de 2007. Acredita-se que os reajustes efetuadosem decorrência ao atendimento das normas IFRS tenhamparticipação neste declínio, o qual se acentuou a partir de 2007e que impulsionaram as reclassificações realizadas no custo devendas, provocando, a realocação dos valores positivos quereduzem o custo. Ainda, contou com o aumento do volume deestoques motivados pela atualização do saldo das importaçõesem andamento. Nota-se que os índices de giro de clientes bem como o índicede giro de fornecedores evoluíram negativamente, já que os doisapresentavam até 2006 os mesmos níveis, a partir de 2007 ficaum distanciamento destes índices, com o IGF sempre em níveismais altos que o IGC. Assim, evidencia-se que a Lojas Rennerrenova a conta de fornecedores em média 4,6 vezes no período2, enquanto a conta de contas a receber de clientes é renovadaapenas 3,3 vezes, denotando uma maior rotatividade nas suassaídas de recursos que nas entradas. Supõe-se que o IGC teve seu comportamento alterado devidoàs mudanças societárias promovidas pela Lei no 11.638/07, bemcomo as premissas dos padrões IFRS, que fizeram com que asoperações de financiamento de empréstimo pessoal, realizadas 57
Jussie Bassani Rösner - Márcia Bianchipor instituições financeiras e originalmente classificadas comoredutora das contas a receber, passassem a compor o saldo dopassivo circulante, devido a sua característica. Por outro lado,as alterações na evolução do IGF não apresentam vínculo comas alterações societárias, acredita-se que as mesmas se devemao fato da Lojas Renner passar a contrair maior número deobrigações a longo prazo, conforme já percebido na visualizaçãodo ICE nos período 1 e 2. O índice de giro do ativo, ao contrário dos demais, sinalizaum comportamento padrão, sem oscilações, entretanto, caberessaltar que, em 2011, o mesmo atingiu o menor nível dentretodos os períodos analisados, apresentando, dessa forma, umacorrelação à aquisição da Camicado, que provocou o aumentosignificativo do imobilizado e do intangível da companhia,crescimento este que não foi acompanhado pelo lucro líquido,ocasionando a queda do IGA.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa, com objetivo de verificar os impactos do processode convergência contábil brasileiro e as modificações trazidaspela Lei no 11.638/07 no desempenho econômico e financeiroda Lojas Renner, utilizando-se das demonstrações contábeis,mensurou os índices propostos nos exercícios de 2004 a 2011. Dessa forma, os resultados sugerem que alterações nodesempenho econômico e financeiro podem ser percebidasapós a adoção dos padrões IFRS e da Lei no 11.638/07, tendopor base a análise das demonstrações contábeis por indicadoresfinanceiros. Os índices de liquidez tiveram uma evolução positivanos períodos analisados. No período 2, o ILI aumentouexpressivamente, fato que tem participação da aplicação da Leino 11.638/07 e dos padrões IFRS, onde o CPC 03, dá um novoconceito a conta caixa e equivalentes de caixa, incorporando ossaldos da conta aplicações financeiras. Os índices de lucratividade apresentaram mudançassignificativas em razão das normas internacionais. O IMO excluiude seu montante, o resultado financeiro. O IMB aumentouno período 2, devido a alteração no entendimento de verbas58
O DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO pré e pós a coNvergência contábil AOS PADRÕES IFRS: UM ESTUDO DE CASO DA LOJAS RENNERrecebidas de fornecedores, que deixaram de compor o saldo dasdespesas operacionais para compor o custo de vendas. Por fim, oEBITDA teve seu desempenho diminuído pelos critérios adotadospela Lojas Renner em relação ao resultado financeiro, mesmoregistrando um ótimo crescimento, sobretudo no período 2. Os índices de endividamento apontam uma sensível queda,porém nenhuma tem relação com as alterações societárias. Acomposição do endividamento enfatizou a migração das contasdo curto para o longo prazo. O comportamento do IARP e do GEapresentaram grande oscilação, explicado pelo aporte ao capitalpróprio no ano de 2005. A rentabilidade da empresa parece não ter sido afetada emdecorrência das novas normas, consoante ao estudo de Calanzase Souza (2012). O ROE teve suas oscilações motivadas pelo aportede capital no patrimônio da empresa e pela crise econômica, nosanos de 2008 e 2009. Já o ROI, mostrou-se indiferente a todos osfatores ocorridos no período analisado, registrando um aumentocrescente e constante, exceto em 2011. Os Giros e prazos enfatizam um resultado negativo. O IGEdemonstrou um aumento no prazo de rotação dos estoques,afetado pela reclassificação oriunda das novas premissassocietárias. Igualmente, supõe-se que tais conceitos levaram aqueda no IGC, visto que, a companhia retirou do ativo, a contade operações de financiamento de clientes, redutora do ativo,passando a contabilizá-la no passivo circulante. Por outro lado, oIGF e o IGA parecem não sofrer alterações societárias. Este estudo limita-se a abordar os impactos promovidos pela Leino 11.638/07 e pela adoção dos padrões IFRS nos demonstrativosda Lojas Renner. Futuramente, sugere-se que estudos analisemos impactos destas normativas em outras empresas do mesmosetor, para então estabelecer um comportamento do segmentotêxtil brasileiro.REFERÊNCIASASSOCIAÇÃO BRASILEIRA INDÚSTRIA TÊXTIL E DECONFECÇÃO. Perfil do Setor. Dados Gerais do SetorAtualizados em 2012 Referentes ao Ano de 2011. São Paulo,2012. Disponível em: <http://www.abit.org.br/site/navegacao. 59
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PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade. PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade. Felipe Ghisleni Freitas 7 Catarina Delgado8RESUMONeste artigo foi proposto um estudo com o intuito de analisar as aplicações de práticas sustentáveis em empresas doagronegócio brasileiro. Este estudo gira em torno da análise de relatórios de sustentabilidade empresariais e adota umapesquisa exploratória com análise de conteúdo. Os relatórios de sustentabilidade foram buscados no site das própriasempresas que compõem o estudo, as quais formam a lista das cinquenta maiores empresas do agronegócio brasileiro eque foi divulgada pela revista Exame. Os relatórios de sustentabilidade empresarial GRI foram analisados e avaliados pormeio de uma Lista de Verificação Composta baseada no estudo de CICA (2008 apud FARIA, 2010) e que apresenta umamétrica de ponderada para os indicadores de desempenho do padrão GRI. Após a aplicação desta lista nos relatórios desustentabilidades foi obtido o Nível de Sustentabilidade Empresarial das empresas que compõem a amostra. Após testesbivariados levando em conta um total de vinte hipóteses, foi possível se verificar significância somente na relação entre“dimensão” da empresa e Nível de Sustentabilidade Empresarial Ambiental. Pode-se atribuir tal resultado ao fato de queempresas maiores possuem maior evidência no mercado, logo, práticas que prejudiquem o meio ambiente podem resultarem retaliações por parte dos stakeholders, sejam eles fornecedores, clientes empresariais ou clientes pessoa física.Palavras-chave: Sustentabilidade, Relatórios de Sustentabilidade, GRI.ABSTRACTThe present paper proposes the analysis of sustainable practices by Brazilian companies associated with the agribusiness.The work is based on corporative sustainability reports and adopts an exploratory approach and content analysis. Thereports were found in websites belonging to each of the investigated companies selected for this work, making up a list ofthe fifty largest companies from the Brazilian agribusiness according to the Brazilian Exame magazine. GRI corporativesustainability reports were analyzed and evaluated through a composed checklist based on the work by CICA (2008 apudFARIA, 2010) which presents a metric for the GRI performance indicators. After testing twenty hypotheses, it was possibleto identify a link between the “dimension” feature and the environmental corporative sustainability level. Such finding can belinked to the fact that larger companies have a larger amount of evidence in the market so that practices that could harm theenvironment may result in retaliations by stakeholders, providers, corporate clients or individual consumers.Keywords: Sustainability, Sustainability Reports, GRI.7 Mestre em Gestão Comercial pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto - FEP8 Doutora em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores; Docente e Pesquisadora na Faculdade de Economia da Universidade do Porto-FEP 63
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado1 INTRODUÇÃO Atualmente, é crescente a parcela da sociedade mundialconsciente dos efeitos da degradação ambiental e da importânciade evitá-la. Essa perspectiva, relativamente recente, influenciadiretamente o ponto de vista, positivo ou negativo, que oconsumidor e os mercados terão em relação às empresas. A demanda crescente por alimentos, impulsionadaprincipalmente pelo aumento da população mundial, colocaos estudos da área em um patamar de destaque na ordemeconômica, ambiental e social, em termos de desenvolvimentosustentável e em razão dos efeitos ambientais provocados pelaprodução agroindustrial intensiva. Com foco na discussão sobre a importância de promover odesenvolvimento sustentável, e atentas ao aumento da demandapor políticas sustentáveis, as empresas estão buscando investir,cada vez mais, na ampliação e divulgação de políticas sustentáveis,buscando alcançar uma percepção positiva, não somente dosconsumidores finais, mas também dos seus colaboradores. Sendo assim, é de total relevância o entendimento daspolíticas assumidas pelas empresas deste setor, que visamadotar práticas sustentáveis e que nos remetem à seguinteindagação: a politica sustentável promovida e divulgada pelaempresa está diretamente relacionada ao desempenho dasempresas do agronegócio brasileiro? Com tal problemática sebusca entender até que ponto o volume de vendas das empresasdo agronegócio está relacionado com seu comprometimento comsustentabilidade. Especificamente se busca efetuar a caracterização dasempresas que compõem este estudo, determinar quais e comoas empresas apresentam as informações sobre sustentabilidadeao público, determinar os indicadores (econômicos, sociais eambientais) mais referidos pela empresa no âmbito sustentável,avaliar o nível de sustentabilidade empresarial praticado pelaempresa e verificar a existência de relações entre os aspectossocioeconômicos das empresas estudadas e os níveis desustentabilidade empresarial praticados por elas.64
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL E EMPRESAS A exploração em grande escala de recursos naturais, oaumento da produtividade e a presença do estado de bem-estarse tornaram os pilares sobre os quais se desenvolveu a economiamundial após a Segunda Guerra Mundial. A mão de obra barata, afartura em recursos naturais e a frouxidão com relação a controlesambientais tornaram o Terceiro Mundo atrativo a investidores(YOUNG; YOUNG, 2004). A ideia de desenvolvimento trazia em seu bojo a noção deacessibilidade irrestrita e de capacidade infindável. No entanto,seus limites mostraram-se evidentes em suas consequênciasnefastas, tais como a crise ambiental; ou seja, as demandaseconômicas mostraram-se cada vez mais contraditórias às“demandas” naturais (BECKER, 2001). Atualmente, a natureza é vista como patrimônio, e suapreservação e melhoria afetam diretamente a qualidade devida do ser humano, que nada mais é que um integrante dessesistema. Esta nova visão, entendida como um paradigma dedesenvolvimento sustentável em sentido ampliado, influênciadiversas áreas do conhecimento e das atividades humanas,e pode ser tomada como fundamento de uma nova ética dedesenvolvimento humano. Todos os que possuem o curso do desenvolvimento emsuas mãos, através de seus poderes de decisão, possuemmaior responsabilidade na promoção e adoção de práticas dedesenvolvimento sustentável. Esse grupo inclui líderes sociais,personalidades, executivos, políticos, empresários, economistase cientistas das áreas mais relacionadas à mudança do paradigmade desenvolvimento (MONTEIRO, 2002; CARMO, 2006). Para realizar o desenvolvimento sustentável é preciso umaprofunda reordenação do modo humano de lidar com o mundo,em todas as suas faces. Isto não se dá de maneira espontâneaou natural, já que para tal exigem-se mudanças viscerais nosmodelos vigentes, pautados no individualismo de curto prazo. Eisaí um desafio político, que inclui questões como a da energia,poluição, urbanização, industrialização, entre outras, bemcomo esforços no sentido de manutenção da paz e segurança 65
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadointernacional e da melhor relação entre as economias dos diversospaíses. Localizada neste cenário global, está também a questãoda gestão sustentável.2.1 GESTÃO SUSTENTÁVEL A responsabilidade socioambiental no meio empresarial é umprocesso evolutivo e continuado de envolvimento e discussão porparte da organização, no que tange a questões sociais e ambientaisrelacionadas a todos os seus stakeholders: colaboradores,sócios, acionistas, fornecedores, clientes, concorrentes, governo,imprensa, comunidade e o próprio meio ambiente (FURTADO,2003). A responsabilidade social pode ser vista sob dois tipos demodelo. O primeiro realiza-se com as ações empresariais e osbeneficiários da gestão, ou seja, os donos ou acionistas e aindaoutros beneficiários da atividade empresarial, como a comunidadelocal e colaboradores. O segundo está relacionado a objetivosmais gerais do que aqueles almejados em primeiro lugar pelaempresa, tais como os referentes a valores, motivações morais,entre outros (NETO, 2010). Estão aí compreendidas as razões pelas quais umaorganização adota práticas responsáveis socialmente. Naperspectiva do primeiro modelo, funciona como um instrumentogerencial, uma vez que tais práticas traduzem-se em melhorimagem perante o mercado e o cliente. Pela perspectiva da éticae dos interesses sociais gerais, a responsabilidade social permiteque a organização atenda uma obrigação moral com a sociedade,de retribuir, uma vez que possui recurso financeiro para tal, erealizar ações de impacto social positivo. Quanto ao desenho da estratégia ambiental, destaca-se opapel fundamental da Organização para a Cooperação Econômicae Desenvolvimento (OECD) e da União Europeia. Através daestratégia para a gestão socioambiental elaborada por essasorganizações, estimularam-se políticas ambientais relacionadasa desenvolvimento econômico e empreendimentos ligados àtemática ambiental, servindo como incentivo para inovaçõestecnológicas. Posteriormente, nos anos 1990, destacaram-se66
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.as ferramentas para o desenvolvimento sustentável, propondoprocessos de inovação mais velozes e redução de custos(POLIZELLI et al., 2005). O ambiente tornou-se valioso enquantomercado a ser explorado. Os modelos da gestão ambiental envolvem uma série decontribuições, entre elas o marketing ambiental. O crescimento dapreocupação com a questão ecológica iniciou-se com a busca damelhoria da imagem organizacional, através de ações pontuais. Asensibilidade do cliente estava fora do foco empresarial.Apartir dosanos 90, as organizações evoluíram para o conceito de marketingambiental, que incluía comprometimentos organizacionais bemdefinidos da empresa com o seu público externo, sendo estasdiretrizes extensíveis às várias etapas do negócio (DRISCOLL;STARIK, 2004). O marketing ambiental trabalha o respeito ao meio ambienterelacionado às necessidades dos consumidores. Para tanto, atransparência da organização para com os clientes é essencial.Assim, a comunicação constitui importante competência dagestão ambiental, inclusive por permitir uma interação otimizadacom os stakeholders (Neto, 2010). Portanto, ao longo do tempo, a preocupação com aquestão ambiental deixou de ser uma exclusividade de gruposutópicos alternativos, para torna-se onipresente em empresas,comunidades e governos. Dessa forma, para que uma empresasobreviva à concorrência e ganhe destaque no setor de atuação,além de atender as demandas de mercado com qualidade, deveainda atentar sempre ao quesito meio ambiente. O modelo desustentabilidade pode evitar a exploração abusiva de recursosnaturais, mantendo os objetivos de desenvolvimento, masadaptando os meios de geração de crescimento onde necessário,utilizando-se de avanços técnicos, científicos e organizacionais(BANERJEE, 2001). O que significa dizer que o desenvolvimento futuro deveráocorrer dentro de limites ambientais aceitáveis, sendo paratanto necessárias profundas reformas estruturais econômicas eindustriais. Essas reformas concentrar-se-ão na otimização derecursos, em processos de produção não poluentes e na redução 67
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadode resíduos e emissões (BANERJEE, 2001), que poderá seralcançado através de uma gestão ambiental. Assim, percebe-se que a gestão sustentável objetiva reduziros impactos negativos causados ao meio ambiente pelasatividades industriais. A prática da gestão sustentável pode seradotada por organizações objetivando aumentar a consciênciaambiental do seu público interno e externo, ou meramente com ointuito de cumprir a legislação específica.2.2 DESEMPENHO SUSTENTÁVEL O desempenho de uma organização é medido para quantificara eficiência e a eficácia das atividades empresariais. Eficiênciasignifica utilizar recursos economicamente, visando um nível desatisfação específico. Já a eficácia diz respeito ao atendimento,ou não, das expectativas do cliente (CLARKSON, 1995). Tipicamente, a avaliação de desempenho de uma organizaçãoseria feita através de documentos e indicadores econômicose financeiros. Atualmente, este campo ganhou significativacomplexidade tornando estes indicadores, por si, incompletospara mensurar o desempenho total das empresas (BANERJEE,2002). A partir dos anos 90 um grande número de sistemasabarcou cenários não financeiros, resultando em um equilíbrioentre indicadores financeiros e não financeiros, integrando fatoresinternos e externos as organizações. Não há um consenso acerca da definição de indicador desustentabilidade, havendo definições diversas. Para Marzall(1999), um indicador de sustentabilidade é uma ferramenta cujaanálise permite definir um sistema como sustentável ou não. Suautilização identifica se os limites econômicos, sociais e ambientaisestão sendo observados ou desrespeitados, considerando valoresde referência (CRUZ, 2013). Muito reconhecido e utilizado pelas empresas mundialmenteGlobal Reporting Initiative (GRI) elaborou diretrizes para acriação de relatórios de sustentabilidade Empresarial (RSE). Taisdiretrizes são classificadas em duas partes: a primeira se relacionaao conteúdo do relatório, preocupando-se com a qualidade domesmo. A segunda parte traça referências para desenhar o perfil68
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.da empresa, a maneira como a gestão é conduzida e os indicadoresde desempenho. O modelo de relatório de sustentabilidade daGRI é hoje um dos mais utilizados, com mais de mil organizaçõesadotando as diretrizes da terceira geração do modelo, GRI-G3(GRI, 2006). A GRI é uma referência internacional para RSE. O modelopropõe que se considere a opinião dos stakeholders ao traçar osindicadores relevantes, obtendo-se uma estrutura confiável pararelatar a sustentabilidade, possibilitando seu uso por empresasde diferentes portes, áreas de atuação ou localização geográfica.Os indicadores da GRI para avaliação da sustentabilidade sãoclassificados em: sociais, econômicos e ambientais (GRI, 2006). Além de diversas definições, há também diversos tipos deindicadores: simples; composto; quantitativo; qualitativo; vínculo;distância à meta; de metas ou de resultados; objetivos; subjetivos,entre outros. Cada um com suas vantagens e desvantagens,conforme seu contexto de aplicação. Um indicador composto éobtido quando diversos indicadores simples são agregados. Estesindicadores simples, por sua vez, são obtidos através de mediçãoou estimação de uma variável indicativa (KRISHNAN, 2008). Algumas vantagens do uso de indicadores compostos:sintetizam cenários complexos e multifacetados objetivando darsuporte à tomada de decisão; é mais fácil interpretar um indicadorcomposto do que “n” indicadores independentes; são capazesde avaliar progressos ao longo do tempo; diminuem o tamanhoperceptível de indicadores, sem ignorar informações relevantes;colocam questões de desempenho no centro das discussõespolíticas; viabilizam a comunicação com o público e fomentam aresponsabilidade; auxiliam no processo de tornar informações deespecialistas acessíveis para leigos; permitem comparações decenários complexos (GRI, 2006; CRUZ, 2013). Entre as desvantagens do uso de indicadores compostos:no caso do indicador ser mal elaborado ou mal interpretado,pode gerar mensagens políticas enganosas; podem levar aconclusões políticas precipitadas; podem ser mal utilizados,ocultar deficiências e dificultar a identificação de ações corretivas,se sua elaboração não se deu com transparência e princípios 69
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadotécnicos sólidos; podem conduzir a políticas inadequadas se asdimensões de desempenho de difícil mensuração são ignoradas(BANERJEE, 2002). Dentro de um cenário sustentável, o sucesso de umaorganização não é dado apenas pelo lucro do negócio, maspelo desempenho global das dimensões econômica, social eambiental. Para que um negócio seja viável financeiramente eagregue valor aos acionistas no longo prazo, deve ser conduzidode forma a levar em consideração estas três dimensões. Para isso,não basta gerenciar ameaças. Deve-se fomentar a participaçãodos principais stakeholders, inovando em soluções sustentáveis,observando sempre valores como ética, transparência ecompromisso com os conceitos fundamentais da sustentabilidade(CLARKSON, 1995). O conceito de desempenho de uma organização é base parapesquisas referentes às diversas estratégias administrativas.Acompanhar o desempenho organizacional, medi-lo e avaliá-losão ações de suma importância dentro do contexto do controlegerencial em qualquer empresa. A obtenção de medidas eindicadores é fundamental para a melhoria da organização, poissão a partir destes indicadores que se delineiam as metas daorganização.2.3 DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS O reconhecimento da importância da sustentabilidadeempresarial caminha não apenas pela adoção de práticas e ações,mas também pela descrição e comunicação das informaçõesrelacionadas à temática da sustentabilidade. Essa comunicaçãoé um fator essencial no relacionamento que se estabelece entreempresa e sociedade, servindo como estratégia empresariala longo prazo ou fator de proteção da imagem e marca, dentrediversos fatores de eficiência da divulgação. A comunicação não deve se restringir somente a questõesambientais, incluindo também aspectos sociais que estejamao alcance das atividades empresariais, como questõesrelacionadas a trabalhadores, à comunidade, ao meio ambiente,e questões éticas em geral. Em outras palavras, a divulgação de70
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.informações sobre sustentabilidade empresarial é um processode comunicação dos efeitos ambientais e sociais das atividadeseconômicas das organizações (GRAY, 1996). Embora a questão da adoção de ações sustentáveis edo compromisso com a sustentabilidade empresarial seja umtraço fundamental e relevante na estratégia das empresas, otema da eficiente divulgação dessa informação ainda não estáconsolidado, já que um grande número de empresas implicadascom sustentabilidade ainda não tem êxito na divulgação dessasações. É certo que os estudos acerca da divulgação das informaçõestêm destacado os relatórios anuais das empresas, considerandoque este é o melhor meio de comunicação da organização com osseus stakeholders. No entanto, esta concepção pode resultar porexcluir e oferecer uma visão estreita das práticas de divulgação(ROBERTS, 1991). Tanto é assim que a internet tornou-se, em pouco tempo, umimportante meio de divulgação das mais variadas informaçõesempresariais, inclusive no que diz respeito à sustentabilidade,substituindo os meios tradicionais. As suas vantagens sãoevidentes em comparação aos relatórios e contas anuais feitasem papel, isso é, a internet é acessível 24h (vinte e quatro horas),ferramentas de pesquisa auxiliam a busca por dados específicos,atualização frequente viabiliza a concessão de informação emtempo real, é possível o download e a manipulação de dados, eainda é mais adequada à preservação do meio ambiente (ADAMS& FROST, 2004). Além disso, Adams & Frost (2004) apontam para asvantagens da internet como veículo de divulgação de informaçõesrelacionadas à sustentabilidade, como fornecer as informaçõesexigidas e estabelecer novas possibilidades de diálogo com osstakeholders. Isto porque, a internet tem propiciado, por meio daqualidade da informação, o atendimento eficiente das exigênciasdos stakeholders. De fato, a propagação da utilização da internet tem alterado amaneira como as organizações divulgam as informações sobre suasatividades, sejam elas: financeira, ética ou ambiental. Vinculadas 71
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadoà confiança dos clientes e do mercado em suas atividades, asempresas tem se preocupado com a sua responsabilidade eo impacto das suas ações em temas de cunho ético, social eambiental, o que tem incentivado a divulgação de relatórios desustentabilidade empresarial. Neste ponto, a internet tem servidocomo meio alternativo e mais econômico para a divulgação deinformações pelas empresas, através de suas páginas web.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este item apresenta os aspectos associados aosprocedimentos metodológicos utilizados para realização desteestudo. Inicia-se apresentando as características do estudo.Em seguida, é feita a definição da amostra que será utilizada noestudo. Ao final realiza-se a definição de uma Lista de VerificaçãoComposta (LVC) para avaliação dos RSE que compõem aamostra. Ao se considerar os objetivos expostos no item 1, estapesquisa busca analisar a sustentabilidade empresarial com basenos indicadores sociais, ambientais e econômicos e verificar aexistência ou não de uma relação com o desempenho dasempresas do agronegócio brasileiro.3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA Segundo as opções metodológicas descritas por Vergara(2009), a pesquisa pode ser classificada inicialmente como umapesquisa descritiva e exploratória. Na pesquisa descritiva existea possibilidade de emprego de variadas técnicas, dentre as quaisse podem citar: estudos descritivos e correlatos, estudos de caso,estudos causais e análise documental. Assim sendo, a análise de conteúdo foi adotada comoforma de classificar as informações divulgadas nos RSE, com ointuito de filtrar as informações necessárias para quantificaçãoposterior. Portanto, a natureza do estudo pode ser definida comoquantitativa, uma vez que será possível traduzir em númerosas opiniões e informações para obter a análise dos dados e emseguida uma conclusão.72
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.3.2 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA Para alcançar os objetivos definidos, foram selecionadasas empresas que possuem atividades nos diversos segmentosdo agronegócio brasileiro. O primeiro critério para escolha dasempresas foi o volume de vendas apresentado por elas na relaçãodas 50 (cinquenta) maiores empresas do ramo do agronegóciobrasileiro, divulgada pela revista Exame,9 no ano de 2012,referente ao exercício de 2011. O segundo critério adotado para definição da amostra foia análise documental dos RSE das 50 empresas (quando daexistência destes), buscou-se descobrir quais modelos e diretrizesde RSE foram mais utilizados pelas empresas que compõem oestudo. Dentre as 50 (cinquenta) empresas definidas no primeirocritério, foi verificado que o modelo mais utilizado paraapresentação do RSE pelas empresas foi o modelo GRI-G3.A escolha do modelo GRI-G3 também se fundamentou no fatode ser um dos modelos com maior utilização e aceitação porempresas a nível mundial (GRI, 2006). No Quadro 1 é possível ver a estratificação da amostrano que tange aos critérios definidos no parágrafo anterior. Foramescolhidos os RSE que representassem dados do exercícioempresarial de 2011, justificado pelo fato de ser o mesmo ano deexercício empresarial divulgado pela revista Exame.Quadro 1 - Classificação de empresas que utilizam modelo GRINúmero total de empresas 50Empresas que utilizam o modelo GRI a nível nacional 22Empresas que utilizam o modelo GRI a nível Global 7Empresas que utilizam modelo não GRI 6Empresas que utilizam apenas relatórios financeiros 9Empresas que não dispõem informações no site 6 Número de empresas a serem estudadas 22Fonte: Autores a partir de dados da pesquisa (2013)9 http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/as-50-maiores-empresas-do-agronegocio-em-2012. 73
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado Pode-se perceber que dentre as 50 (cinquenta) empresasestudadas, 22 (vinte duas) optaram pela utilização e divulgaçãode seus relatórios de sustentabilidade anual no formatoGRI-G3, em seus websites; 7 (sete) empresas analisadas, porserem empresas multinacionais, englobam seus relatóriosde sustentabilidade à matriz internacional, o que por opçãode pesquisa foi também fator excludente, já que os relatóriosnão retratam apenas a realidade brasileira; 6 (seis) empresasapresentaram relatórios de sustentabilidade em seus websitesem caráter nacional, porém com utilização de outras diretrizesque não a GRI-G3, por isso também foram excluídas, uma vezque, a avaliação dos relatórios, que veremos no decorrer dotrabalho, será formada por uma lista de checagem voltada aosindicadores dos relatórios escolhidos e precisa-se de um padrãodefinido para tal. Das empresas restantes, apenas 9 (nove)mencionaram sustentabilidade em seus websites; as ultimas 6(seis) empresas tampouco apresentam relatórios financeiros oucintam sustentabilidade em seus websites.Quadro 2 - Listagem das empresas selecionadas para o estudo.Posição Nome da Empresa Segmento de Atuação Vendas( US$ milhões) 1º Bunge Alimentos Bens de Consumo 19.319,9 12.859,8 2º BRF/Sadia Aves e Suínos 12.831,8 8.412,8 3º BRF-Brasil Foods Aves e Suínos 7.295,5 5.240,4 4º Copersucar-Cooperativa Açúcar e Álcool 4.882,6 4.833,5 5º Unilever Bens de Consumo 4.576,6 4.473,6 6º Nestlé Leite e Derivados 4.129,7 3.969,6 7º Suzano Prod. Madeira e Celulose 3.888,6 3.846,0 8º Heringer Adubos e Defensivos 3.753,9 3.565,0 9º Marfrig Carne Bovina 10º Bunge Fertilizantes Adubos e Defensivos 11º Amaggi Prod. Agropecuária 12º Copersucar Prod. Agropecuária 13º Klabin Prod. Madeira e Celulose 14º Syngenta Adubos e defensivos 15º Fibria Prod. Madeira e Celulose 16º Minerva Foods Carne Bovina74
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade. 17º Mosaic Adubos e Defensivos 3.292,4 18º Duratex Prod. Madeira e celulose 2.907,3 19º Seara 2.743,5 20º Cosan Açúcar e Álcool Aves e Suínos 2.623,1 21º Cosan Açúcar e Álcool 2.271,3 22º Usaçúcar Prod. Agropecuária 1.906,6 Açúcar e ÁlcoolFonte: Revista Exame 2012 O Quadro 2 apresenta as empresas do agronegócio brasileiroque foram citadas pela revista Exame e que contém seusrelatórios no formato GRI-G3 expostos em seus websites. Comose observa, as empresas estão expostas em ordem crescentesegundo os seus respectivos volumes de vendas, em milhões dedólares anuais. O Quadro 2 também apresenta o segmento deatividade em que as empresas atuam no agronegócio.3.3 LISTA DE VERIFICAÇÃO COMPOSTA Como já referenciado neste item, a recolha de dados dosRSE que compõem a amostra foi feita por meio de um estudoexploratório, através de análise de conteúdo e para tal se feznecessária a elaboração de uma Lista de Verificação Composta(LVC), o que torna possível a avaliação das respostas por partedas empresas aos indicadores propostos pelo modelo GRI-G3 noâmbito do tripé sustentável: econômico, social e ambiental. Segundo CICA (2008 apud FARIA, 2010), apenas oapontamento da utilização, ou não, por parte das empresas dosindicadores de desempenho na LVC não torna possível umacorreta avaliação das empresas que compõem o estudo, umavez que, se devem ponderar pesos distintos para cada indicador,levando em conta sua relevância para as características dosetor em estudo. A existência, nas diretrizes dos relatórios GRI,de indicadores essenciais e indicadores adicionais reforça aimportância de uns indicadores sobre outros e torna mais clara anecessidade de uma análise ponderada. Com base nesses pressupostos, pode-se compreenderque a definição dos pesos para cada indicador de desempenhoserá definido pela importância que cada um tem para o setor do 75
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadoestudo. Embora cada indicador receba um peso com base em suarelevância é importante pré-definir os pesos a serem utilizados(CICA, 2008 apud FARIA, 2010).Quadro 3 - Importância do indicador de desempenhoClassificação Descrição da importância da informação PesoFacultativa Depende da indústria ou de condições especificas de cada organização 1Desejável Ajuda a análise do desempenho passado e perspectivas futuras 2Importante Ajuda a analisar as atividades da empresa risco/retorno 4Muito importante Informação proporciona a compreensão das atividades da empresa 5Fonte: Elaborado pelos Autores e adaptado de Faria (2010) Não obstante a ponderação de peso é feita a cada indicadorexistente nas diretrizes dos relatórios GRI-G3 com base naaplicação do setor em estudo, ainda assim, torna-se importanteque se estabeleça uma variável para medição da qualidadeda informação que a empresa apresenta, ou não, para cadaindicador. Assim, CICA (2008 apud FARIA, 2010) sugere que sedefina uma escala para a avaliação da divulgação de informaçãopor parte da empresa. Para tal foi definida uma escala de 0 a 4,como se pode observar no Quadro 4, e com isso quanto maispraticas de ações sustentáveis a empresa efetuar e com maiorpontuação na escala avaliada para cada indicador, maior seráseu Nível de Sustentabilidade Empresarial (NSE).Quadro 4 - Avaliação dos indicadores apresentados pela empresa. Avaliação dos indicadores apresentados pela Empresa EscalaNão faz referência ao indicador 0Faz referência ao indicador como “não aplicável” à sua atividade. 1Faz referência ao indicador mas não o cumpre; não o considera relevante para a sua 2atividade ou o valor é nulo. 3Faz referência ao indicador mas não se verifica na totalidade a sua Implementação. Faz referência ao indicador e o aplica. 4Fonte: Elaborado pelos Autores e adaptado de Faria (2010)76
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade. Após tais ponderações se torna possível à definição deuma LVC para avaliação dos RSE de todas as empresas quecompõem o universo do estudo. Desta maneira é possível, nãosomente realizar uma análise do conteúdo presente nos RSE,como também ranqueá-los por meio do NSE gerado em cadaavaliação de relatório. No Quadro 5 foram listados os indicadoresque compõem as diretrizes do GRI-G3, juntamente com os pesosaplicados a cada indicador de desempenho conforme exposto noQuadro 3, e uma coluna em aberto onde se atribui a avaliação dasinformações apresentadas pelas empresas para cada indicadorde desempenho com base no Quadro 4.Quadro 5 – Extrato Lista de Verificação Composta para avaliação de NSECATEGORIA INDICADORES DE DESEMPRENHO GRI PESO NSE AVALIAÇÃO Valor econômico direto gerado e E-EC1 2 distribuído, incluindo receitas, custos 5ECONOMICOS operacionais,remuneração de empregados, 4 doações e outros investimentos na comunidade. Implicações financeiras e outros riscos E-EC2 e oportunidades para as atividades da organização devido a mudanças climáticas. Cobertura das obrigações do plano de E-EC3 pensão de benefício que a organização oferece.AMBIENTAIS Materiais usados por peso ou volume. E-EN1 2 Percentual dos materiais usados E-EN2 5 provenientes de reciclagem. E-EN3 4 Consumo de energia direta discriminado por fonte de energia primária. 77
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado PRÁTICAS LABORAIS, Total de trabalhadores, por tipo de E-LA1 4 COND. TRAB. emprego, contrato de trabalho e região. E-LA2 4 Número total e taxa de rotatividade de A-LA3 2 empregados, por faixa etária, gênero e região. Benefícios oferecidos a empregados de tempo integral que não são oferecidos a empregados temporários ou em regime de meio período, pelas principais operações. DIREITOS HUMANOS Percentual e número total de contratos E-HR1 5 de investimentos que incluam cláusulas 2 referentes a direitos humanos ou que 1 foram submetidos a avaliações referentes a direitos humanos. Percentual de empresas contratadas E-HR2 e fornecedores críticos que foram submetidos a avaliações referentes a direitos humanos e as medidas tomadas. Total de horas de treinamento em políticas e procedimentos relativos a aspectos de direitos humanos, incluindo o percentual de A-HR3 empregados que recebeu treinamento. Natureza, escopo e eficácia de quaisquer programas e práticas para avaliar e gerir os impactos das operações nas comunidades, E-SO1 2 5 SOCIEDADES incluindo a entrada, operação e saída. 4 Percentual e número total de unidades E-SO2 de negócios submetidas a avaliações de riscos relacionados a corrupção. Percentual de empregados treinados nas políticas e procedimentos anticorrupção da E-SO3 organização.78
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.RESPONSABILIDADE SOBRE. PRODUTO Fases do ciclo de vida de produtos e E-PR1 2 serviços em que os impactos na saúde e segurança são avaliados visando melhoria, e o percentual sujeitos a esses procedimentos. Número total de casos de não- A-PR2 4 conformidade com regulamentos e códigos voluntários relacionados aos impactos causados por produtos e serviços na saúde e segurança durante o ciclo de vida, discriminados por tipo de resultado. Tipo de informação sobre produtos e E-PR3 4 serviços exigida por procedimentos de rotulagem, e o percentual de produtos e serviços sujeitos a tais exigências.Fonte: adaptado de (CICA, 2008 apud Faria, 2010) A partir da definição de uma LVC cria-se um método lineare estruturado que proporciona uma análise de conteúdo parciale irrefutável. Embora interpretações do pesquisador para avaliara pontuação de informações apresentadas por cada indicadorpossam sofrer influência pessoal, esta influência tende a serminimizada no resultado final pelas ponderações de peso aplicadasaos indicadores para o cálculo final do Nível de SustentabilidadeEmpresarial (NSE).3.4 VARIÁVEIS A partir das definições anteriores foi possível uma recolhade dados nos RSE levando em conta distintas definições devariáveis, as quais foram agrupadas em variáveis dependentes eindependentes que veremos a seguir.3.4.1 Variáveis dependentes a) NSE A partir da aplicação da Lista de Verificação Composta (LVC)nos RSE foi possível obter dados necessários para compor o NSE.Desse modo, pode-se definir o NSE como sendo uma variáveldependente, resultante da avaliação dos RSE, esta variávelcaracteriza, por si só, o nível de comprometimento das empresascom a sustentabilidade de uma maneira geral, considerando ostrês componentes do tripé sustentável: Economia, Ambiente eSocial. 79
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado b) NSE Econômica Esta variável apresenta as mesmas características davariável NSE, porém leva em conta somente as informaçõesdos indicadores de desempenho econômicos que formam osrelatórios GRI. c) NSE Ambiental Esta variável apresenta as mesmas características davariável NSE, porém leva em conta somente as informações dosindicadores de desempenho ambientais que formam os relatóriosGRI . d) NSE Sociais Esta variável apresenta as mesmas características davariável NSE, porém leva em conta somente as informações dosindicadores de desempenho sociais que formam os relatóriosGRI.3.4.2 Variáveis independentes Os dados referentes às variáveis a seguir descritas foramextraídos de umas destas quatro fontes: Base de dados da revistaExame; RSE; Relatórios Financeiros; e websites das empresas.Todos relacionados única e exclusivamente às 22 (vinte e duas)empresas que compõem o estudo. a) Dimensão É uma variável que leva em conta o volume de vendas (volumede negócios) das empresas no ano. Esta variável, correlacionadacom as variáveis independentes expostas no item anterior, podevir a revelar relações de influência entre elas. b) Idade A idade representa a data de fundação da empresa. Nocaso de multinacionais leva-se em conta a data em que aempresa começou a operar em solo brasileiro, para estar emconsonância com os RSE, que também atendem este quesito.Sua representação é feita em números de anos de atividadeempresarial. c) Segmento Esta variável faz referência à distinção dos segmentos(setores) nos quais as empresas atuam. Os diferentes segmentos80
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.dentro do agronegócio podem representar diferentes realidadesoperacionais, o que justifica a utilização desta. d) Cotada Leva em conta se a empresa é ou não cotada na bolsa devalores de São Paulo, Ibovespa, e seus valores são binários, zeropara não possuir capital aberto e um para possuir capital aberto. e) Endividamento Esta variável leva em conta o endividamento total que aempresa assumiu no ano de 2011. Foi extraído, em sua totalidade,da base de dados da revista Exame.3.5 HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO Neste item, se desenvolvem hipóteses, com o intuito detestar relações e encontrar padrões que possam auxiliar nacompreensão das relações entre o NSE, NSE econômico, NSEambiental e NSE Social praticado pelas empresas e as variáveisindependentes definidas no item 3.4. Com isso, é possível traçarum perfil sobre padrões e tendências que circundam as empresasdo agronegócio brasileiro e suas políticas de sustentabilidadeempresarial, podendo assim, alcançar uma melhor compreensãodos fatores que tem ligação com as características empresariaisexpostas nos RSE das empresas. a) Dimensão A dimensão da empresa é citada por autores como umavariável importante em estudos relacionados à sustentabilidadeempresarial, isto porque, empresas com maior tamanho tendema chamar mais atenção dos consumidores, de forma geral, oque justificaria uma maior tendência a relatar suas ações, secomparadas a empresas com menor dimensão (BRANCO;RODRIGUES, 2008; CHOI, 1999). Algumas empresas veem,nessa visibilidade perante a sociedade, uma oportunidade deelevar seu prestígio, por meio da divulgação de ações sustentáveispositivas. H1: Existirá uma relação positiva entre a dimensão (volume devendas) da empresa e o Nível de Sustentabilidade Empresarial. H1a: É positiva a relação entre a dimensão (volume de vendas)da empresa e o elevado Nível de Sustentabilidade Empresarialsomente para indicadores econômicos. 81
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado H1b: É positiva a relação entre a dimensão (volume de vendas)da empresa e o elevado Nível de Sustentabilidade Empresarialsomente para indicadores ambientais. H1c: É positiva a relação entre a dimensão (volume de venda)s da empresa e o elevado Nível de Sustentabilidade Empresarialsomente para indicadores sociais. b) Idade da Empresa Segundo Choi (1999), as empresas que possuem maiortempo de atividade, tem mais a perder com exposições negativasdo que empresas com menor expressão, uma vez que podempôr em jogo uma reputação positiva construída perante seusstakeholders. H2: Quanto maior o tempo de funcionamento da empresamaior o Nível de Sustentabilidade Empresarial. H2a: Quanto maior o tempo de funcionamento da empresamaior o Nível de Sustentabilidade Empresarial somente paraindicadores econômicos. H2b: Quanto maior o tempo de funcionamento da empresamaior o Nível de Sustentabilidade Empresarial somente paraindicadores ambientais. H2c: Quanto maior o tempo de funcionamento da empresamaior o Nível de Sustentabilidade Empresarial somente paraindicadores sociais. c) Segmento de atuação É sabido que, a cada dia, mais empresas estão na mirade entidades governamentais responsáveis pela fiscalização depossíveis impactos ambientais por elas causados, o que poderesultar em punições severas e acarretar custos relevantes aestas empresas (Patten, 1991). Partindo deste pressuposto,segmentos que atuam em contato maior com ambiente ou queestão com maior grau de exposição à sociedade tendem a utilizar-se dos RSE como ferramenta de defesa e divulgação de uma boaimagem. Moneva e Llena (1996) aponta que empresas do setorelétrico tem grande números de informações divulgadas, no quetangem aos indicadores sociais, o que poderia ser um indício douso dos relatórios como meio de melhorar a reputação. H3: Existem segmentos de atuação da empresa em que osNíveis de Sustentabilidade Empresarial são maiores.82
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade. H3a: Existem segmentos de atuação da empresa em que osNíveis de Sustentabilidade Empresarial são maiores apenas paraindicadores econômicos. H3b: Existem segmentos de atuação da empresa em que osNíveis de Sustentabilidade Empresarial são maiores apenas paraindicadores ambientais. H3c: Existem segmentos de atuação da empresa em que osNíveis de Sustentabilidade Empresarial são maiores apenas paraindicadores sociais. d) Cotada O fato de empresas terem seu capital aberto em bolsas devalores acaba elevando a visibilidade destas perante o mercado,tornando assim, importante a manutenção de uma imagempositiva (ARCHEL, 2003). Esta imagem poderia ser atingida pormeio da divulgação de boas práticas de sustentabilidade, em ummundo cada vez mais atento a causa. Além do que uma exposiçãonegativa da empresa, em teoria, poderia desencadear diminuiçãono valor de suas ações. H4: As empresas com capital aberto apresentam um Nível deSustentabilidade Empresarial maior. H4a: As empresas com capital aberto apresentam um Nívelde sustentabilidade empresarial maior apenas para indicadoreseconômicos. H4b: As empresas com capital aberto apresentam um Nívelde sustentabilidade empresarial maior apenas para indicadoresambientais. H4c: As empresas com capital aberto apresentam um Nívelde Sustentabilidade Empresarial maior apenas para indicadoressociais. e) Endividamento Segundo Roberts (1992), quanto maior for o endividamentode uma empresa, mais próxima ela tende a estar das partesinteressadas, que neste caso seriam os credores. Isto poderiajustificar um maior interesse por parte destas empresas com adivulgação de bons resultados e boas práticas, o que, teoricamente,proporcionaria uma imagem de empresa com menor risco deinvestimentos. 83
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado H5: O endividamento da empresa está positivamenterelacionado com o Nível de Sustentabilidade Empresarial. H5a: O endividamento da empresa está positivamenterelacionado com o Nível de Sustentabilidade Empresarial apenaspara indicadores econômicos. H5b: O endividamento da empresa está positivamenterelacionado com o Nível de Sustentabilidade Empresarial apenaspara indicadores ambientais. H5c: O endividamento da empresa está positivamenterelacionado com o Nível de Sustentabilidade Empresarial apenaspara indicadores sociais.4 ANÁLISE DE RESULTADOS A partir do momento em que foi estabelecida a metodologiaa ser seguida para análise de conteúdo dos relatórios desustentabilidade empresariais, se faz necessária sua aplicaçãona amostra definida anteriormente. Assim, foi efetuada a análisede conteúdo com base no Quadro 5 apresentado no item anterior;posteriormente, são realizadas provas estatísticas, teste dehipóteses e análise dos resultados atingidos.4.1 DEFINIÇÃO DO NSE No capítulo anterior foi apresentada a elaboração de umaLVC com base nos indicadores de desempenho que compõeas diretrizes do modelo GRI-G3 e com base nas definiçõesapresentadas por CICA (2008 apud FARIA, 2010), que sugerea aplicação de pesos a serem ponderados para cara indicadorque compõem o modelo GRI-G3 conforme a área de atuaçãodas empresas, neste caso o agronegócio. Cabe salientar queessa escolha fica a cargo do pesquisador a quem é incumbidaà função de avaliar intuitivamente quais indicadores devem termaior ou menor relevância levando em conta seu conhecimentoacerca do assunto fundamentado pela pesquisa de literatura econhecimento de campo. Após a elaboração da LVC e recolha dos relatórios desustentabilidade a serem avaliados, em visita aos websites84
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.das empresas, se fez importante a construção de uma planilhaeletrônica com base na LVC para tornar o processo de avaliaçãomais consistente e seguro. A base de calculo para definição do NSE e empregada naplanilha é definida por: Σ (B1*C1) B1 Onde: B1= Peso atribuído aos indicadores conforme sua importância.[1; 2; 4; 5] conforme definido no Quadro 3. C1= Escala atribuída pelo pesquisador para cada indicadorapresentado, ou não, pela empresa. [0;1;2;3;4].conforme definidono Quadro 4. Com a base de dados formada, após avaliação dos RSE,foram obtidos os NSE. O NSE foi definido sobre o valor escalarapresentado no Quadro 4, o que limita seus valores entre[0...4], onde 0 é o valor mínimo possível e 4 o valor máximopossível. Após análise foi possível se perceber que o NSE variasignificativamente entre as 22 (vinte e duas) empresas estudadaso que representa que enquanto algumas empresas praticam asustentabilidade com mais afinco e outras nem tanto.4.2 ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE BIVARIADA A fim de comprovarmos estatisticamente os dados coletadosatravés da análise de conteúdo, será definida a seguir a estatísticadescritiva e efetuadas as análises bivariadas cabíveis a esteestudo. A Tabela 1 apresenta a estatística descritiva para variáveisdependentes e variáveis independentes como se pode observar:Tabela 1 - Estatísticas descritivas das variáveis numéricas Variáveis Dependentes Mediana Media Desvio Padrão N Válidos ,82674 22NSE Social 2,9687 2,6573 1,0003 22 ,9441 22NSE Ambiental 2,6479 2,5055 ,7991 22NSE Econômico 2,6 2,5818NSE 3,0136 2,5903 85
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgado Variáveis Independentes Mediana Media Desvio Padrão N Válidos 22Dimensão 4049,65 5619,250 4255,297 22 22Idade 54,5 50,500 36,7990 22Endividamento 57,7 46,964 33,1101Segmento Atuação 3 3,409 2,5757Fonte: Autores a partir de dados da pesquisa (2013) Em um primeiro momento foi realizada à exploração dos dadosatravés de uma análise de frequências. Foi calculada a mediana,a média e o desvio padrão das 22 (vinte e duas) empresascomponentes da amostra como podemos ver respectivamentenas colunas dois, três e quatro da tabela acima. Porém, paracargo de avaliação, leva-se em conta somente a mediana emrazão da base de dados ser formada por valores ordinais e nãocontínuos. Como se trata de um estudo de natureza exploratóriase aplica de forma mais adequada métodos estatísticos nãoparamétricos bivariados para testar as relações entre as variáveisindependentes, “dimensão”, “idade”, ”segmento”, “cotação” e“endividamento” e as variáveis dependentes, representadas pelo“NSE”; “NSE Econômico”, “NSE Social” e “NSE Ambiental”. Para testar a variável “cotação”, que é medida em uma escalaordinal, foi utilizado o teste de Mann-Whitney U. Já para o testedas variáveis “dimensão”, “idade” e “endividamento” foi utilizado oteste de Spearman’s Rho; e para a variável “segmento” utilizou-se o teste de Kruskal-wallis.4.2.1 Teste de Mann-Whitney U Existe a finalidade de testar a existência de umacorrelação significativa entre a variável ordinal “cotação” e asvariáveis dependentes “NSE”, “NSE Econômico”, “NSE Social” e“NSE Ambiental”, conforme hipóteses estabelecidas no item 3.5.As hipóteses (H4; H4a; H4b; H4c) questionam o fato de que umaempresa cotada na bolsa de valores poderia apresentar nível desustentabilidade empresarial superior às empresas não cotadas.86
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.Tabela 2 - Testes De Mann-Whitney: Não Significativos NSE_social NSE_ambiental NSE_economico NSE 646 ,698Asymp. Sig. ,275 ,778Fonte: Autores a partir de dados da pesquisa (2013) Todas a hipóteses, como podemos ver na Tabela 2, foraminconclusivas e não puderam ser comprovadas, ao que parecenão existe relação entre a empresa estar cotada na bolsa com osníveis de sustentabilidade empresarial divulgados.4.2.2 Teste de Spearman’s Rho Para testarmos a veracidade das hipóteses apresentadas noitem 3.5, que são compostas pelas variáveis independentes de“Dimensão”, “Idade”, “Endividamento”, e as variáveis dependentes“NSE”, “NSE Econômico”, “NSE Social” e “NSE Ambiental”, foramestabelecidas hipóteses. conforme podemos ver no item 3.5. Com exceção da hipótese H1b, todas as demais hipótesesnão foram comprovadas. O grau de endividamento empresarial(H5; H5a; H5b; H5c) e a idade da empresa (H2; H2a; H2b; H2c)parecem não influenciar no Nível de Sustentabilidade Empresarial.Tabela 3: Teste Spearman’s Rho Hipótese válidada NSE_social NSE_ambiental NSE_economico NSE ,099 ,407 Correlation Coefficient ,359 ,468* ,660 ,060Dimensão ,101 ,028 Sig. (2-tailed) *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).Fonte: Autores a partir de dados da pesquisa (2013) Já dentre as hipóteses relacionadas à dimensão da empresa(H1; H1a; H1b; H1c), a hipótese H1b apresenta uma relaçãopositiva e estatisticamente significativa entre o NSE Ambiental ea dimensão da empresa representada pelo volume de vendas,logo a hipótese H1b é aceita como se pode ver na Tabela 3.4.2.3 Teste de Kruskal-wallis O segmento em que a empresa atua parece não influenciarno Nível de Sustentabilidade Empresarial. As hipóteses (H3; H3a;H3b; H3c), que se pode ver no item 3.5, aparentam ter um graude relação entre segmento e NSE não significativo, embora não 87
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadose deva rechaçar a hipótese devido à limitação da base de dadosem que foram testadas. Na Tabela 4 os resultados do teste deKruskal-wallis.Tabela 4 - Teste de Kruskal-wallis: não significativo NSE_social NSE_ambiental NSE_economico NSE Asymp. Sig. ,606 ,155 ,424 ,445Fonte: Autores a partir de dados da pesquisa (2013) Ao final se verifica que das hipóteses testadas, somente aH1b se mostra significativa, o que demonstra que o volume devendas está diretamente relacionado com os NSE Ambientais.O fato dos NSE ambientais terem se mostrado relevantes nesteestudo, ao contrário dos outros dois pilares de sustentação dotripé sustentável (NSE Econômico e NSE social), pode significarque as empresas tendem a se preocupar mais com questõesambientais do que com as outras duas definições de indicadores. Uma justificativa plausível para este resultado seria o fatode que, cada dia mais, a sociedade cobra das empresas umcomprometimento com o meio ambiente, e o não comprometimentopoderia significar retaliações por parte stakeholders, sejam eles,fornecedores, clientes empresariais ou clientes pessoa física. Não menos importante, a incidência cada vez maior demultas pesadas e embargos de funcionamento por parte dosórgãos competentes para empresas que não cumprem asnormas ambientais, também pode fazer com que as empresasdemonstrem essa preocupação.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Norteadas cada vez mais pelas exigências impostas pelasociedade, às empresas buscam investir e se organizar no que serefere a práticas sustentáveis, não somente no âmbito ambiental,mas também levando em conta fatores sociais e principalmenteeconômicos, o desenvolvimento sustentável pode ser a únicaalternativa para a humanidade em um mundo que clama cadavez mais por desenvolvimento mas que ao mesmo tempo tem acada dia mais pessoas para alimentar.88
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade. Este estudo objetivou o entendimento das políticas assumidaspelas empresas do agronegócio brasileiro bem como verificou sea politica sustentável promovida e divulgada por estas empresasestaria diretamente relacionada às suas características e práticasorganizacionais. Para se atingir os objetivos foram analisadas 50(cinquenta)empresas que apareceram na lista das 50 (cinquenta) maiores doagronegócio brasileiro fornecida pela revista Exame. Dentre as 50(cinquenta) empresas que compunham a lista somente 22(vinte eduas) foram aproveitadas para análise estatística por atenderemao critério: possuírem relatórios de sustentabilidade empresarial.Dentre as restantes cabe destacar que as empresas queocupavam as últimas posições da lista (menor volume de vendas)não apresentavam sequer citações sobre sustentabilidade nowebsite o que poderia significar intuitivamente uma possívelrelação entre o tamanho da empresa e o NSE. Após a definição da amostra foram analisados todos osrelatórios através de uma Lista de Verificação Composta levandoem conta o grau de presença dos indicadores GRI-G3 nos RSEdas empresas, durante essa análise foi possível avaliar que dentreas 22(vinte e duas) empresas uma grande maioria não atendegrande parte dos indicadores essenciais que o modelo indica. Ajustificativa foi encontrada nos próprios relatórios apresentadosou nos websites das empresas e circunda em torno da recenteintrodução de modelos sustentáveis na cultura destas empresas. Durante a avaliação dos relatórios verificou-se ainda umavasta quantidade de informações incompletas e que fizeram oNSE destas cair substancialmente. Empresas de maior expressãocomo a “Bunge” que neste estudo encabeça a lista em volume devendas apresentam uma melhor organização e apresentação doRSE em relação às empresas com menor expressão e volume devendas. Embora exista um padrão de diretrizes delineado pelo GRI,se percebeu que muitas empresas não o seguem corretamenteo que dificultou a análise, não somente com a não apresentação 89
Felipe Ghisleni Freitas - Catarina Delgadode informações como referido anteriormente, mas também com adescaracterização do modelo. Estes fatores levam a crer que as empresas do setorestudado, embora sejam empresas de expressão internacionalno ramo em que atuam, ainda não estão totalmente engajadasem um conceito sustentável. Para uma melhor análise do estudo foram delineadas 20hipóteses contendo relações entre 5 variáveis independentes:“dimensão”; “idade da empresa”; “cotada na bolsa”;“endividamento”; e “segmento de atividade”. Todas estas variáveisindependentes citas formularam hipóteses com cada uma das4 variáveis dependentes do estudo: “NSE”; “NSE econômica”;“NSE ambiental”; “NSE social”; estas três últimas, representandoestratificações da variável NSE que contem informações sobretodos os indicadores de desempenho. Ao serem efetuados os testes de hipóteses sobre todasas 20 hipóteses, se observou que somente a hipótese H1bapresentou resultado significativo. A hipótese afirma ser positivaa relação entre a dimensão da empresa (volume de vendas) e oNSE ambiental. O fato da relação de dimensão ser significativasomente com o NSE ambiental pode significar que empresastendem a se preocupar mais com as questões ambientais doque com as outras duas definições de indicadores. As cobrançasimpostas pela sociedade e órgãos públicos podem elevar o graude preocupação das empresas sobre esses indicadores (Brancoe Rodrigues, 2008). Outro fator que poderia justificar esta relação é a incidênciacada vez maior de multas pesadas e embargos de funcionamentopor parte dos órgãos competentes para empresas que nãocumprem as normas ambientais também poderia fazer com que asempresas demonstrem essa preocupação. O tamanho da empresatambém é citado por autores, como uma variável importante paraestudos relacionados à sustentabilidade empresarial, isto porque,empresas com maior tamanho tendem a chamar mais atençãodos consumidores em forma geral, o que justificaria uma maior90
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: Uma Análise Baseada nos Relatórios de Sustentabilidade.tendência a relatar suas ações do que uma empresa com menordimensão e visibilidade (BRANCO; RODRIGUES, 2008; CHOI,1999). Por fim, podemos salientar que a demanda por alimentosem uma constante crescente diretamente relacionada como crescimento da população mundial, eleva ainda mais aimportância de aplicações de políticas sustentáveis. Também jáse pode perceber que é crescente a parcela da sociedade mundialconsciente dos efeitos da degradação ambiental e da importânciade evitá-la. Essa perspectiva influencia diretamente o ponto devista, positivo ou negativo, que o consumidor e os mercados terãoem relação às empresas.REFERÊNCIASADAMS, C. A.; FROST, G. R. The Development of CorporateWeb-sites and Implications for Ethical, Social andEnvironmental Reporting through these Media. The Instituteof Chartered Accountants of Scotlan, 2004.ARCHEL, P. La divulgación de la información social ymedioambiental de la gran empresa española en el período1994-1998: situación actual y perspectivas. Revista Españolade Financiación y Contabilidad. 2003, Vol.117, pp. 571-601.BANERJEE, S. B. Managerial perceptions of corporateenvironmentalism: interpretations from industry and strategicimplications for organisations. Journal of Studies, 2001, pp. 489-513.BANERJEE, S. B. Corporate environmentalism: The constructand its measurement. Journal of Business Research. 2002, pp.177-191.BECKER, D. F. Desenvolvimento Sustentável necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul: Edunisc, 3ª edição, 2001.BRANCO, M. C; RODRIGUES, L. L. Factors Influencing Social 91
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análise ENVOLTÓRIA DE DADOS NA GERAÇÃO DE LUCRO: um estudo DA EFICIÊNCIA dE empresas do ibrx-50 DA bm&fbovespa análise ENVOLTÓRIA DE DADOS NAGERAÇÃO DE LUCRO: um estudo DAEFICIÊNCIA dE empresas do ibrx-50 DA bm&fbovespa Tarcísio Pedro da Silva10 Débora Gomes Machado11 José Ari Verhagen12 Nelson Hein13RESUMOO desempenho organizacional tem sido objeto de estudo em diversas pesquisas, desta forma o tema se mostra relevanteno meio acadêmico e empresarial. Nesse ínterim, este trabalho teve por objetivo identificar se o giro do ativo total, analisadopelo Data Envelopment Analysis - DEA, reflete a eficiência do ativo total em gerar receitas, mensurada pelo lucrode empresas componentes do Índice IBrX-50 da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros - BM&FBovespa. A pesquisadesenvolveu-se por meio do raciocínio dedutivo, caracterizou-se como exploratória, descritiva, documental e quantitativa.Para análise dos resultados foi utilizada a análise envoltória de dados com a finalidade de identificar a eficiência dasempresas frente aos índices do giro do ativo do total e da margem líquida no período de 2005 a 2009. As DecisionMaking Units – DMUs, neste estudo foram empresas. A amostra se constituiu de 32 empresas não financeiras quecompõem o IBrX-50 da BM&FBovespa, excluídas as holdings e empresas que não constavam da listagem no períodoanalisado. Por meio dos resultados do estudo pode-se inferir que o giro do ativo total reflete na eficiência da empresa paraa geração do lucro líquido e técnica DEA se revelou adequada para identificar as empresas eficientes e não-eficientes,possibilitando que as mesmas busquem melhorar seu desempenho.Palavras-chave: Indicadores de desempenho. Análise de Eficiência. IBrX-50.ABSTRACTOrganizational performance has been studied in several surveys and therefore the theme seems to be relevant in theacademic and business environments. Meanwhile, this study is aimed at identifying the total asset turnover, analyzed byData Envelopment Analysis - DEA, whether it reflects the efficiency of total assets in generating revenue, as measured byprofit business components IBrX-50 Index of the Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros - BM&FBovespa.The survey was developed through deductive reasoning, was characterized as exploratory, descriptive, documental andquantitative. For data analysis we used the data envelopment analysis in order to identify companies’ efficiency comparedto the indexes of the total asset turnover and net margin in the period 2005 to 2009. The Decision Making Units - DMUs inthis study were non-financial companies. The sample consisted of 32 non-financial firms from the IBrX-50 of BM&FBovespa,excluding holding and companies that were not in the list during the mentioned period. The results of the study imply thatthe total asset turnover reflects the efficiency of the company to generate net income and the DEA technique seemsadequate to identify efficient and inefficient enterprises, enabling them to seek ways to improve their performance.Keywords: Performance Indicators. Efficiency Analysis. IBrX-50.10 Doutor em Ciências Contábeis e Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau (PPGCC/FURB)11 Doutora em Ciências Contábeis e Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau (PPGCC/FURB). Professora da Universidade Federal de Rio Grande - FURG12 Mestre em Ciências Contábeis pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau (PPGCC/FURB)13 Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau (PPGCC/FURB) 95
Tarcísio Pedro da Silva - Débora Gomes Machado - José Ari Verhagen - Nelson Hein1 Introdução No contexto da análise de desempenho das empresas, váriastécnicas financeiras e não financeiras têm sido desenvolvidas aolongo do tempo, o interesse fundamental dessas técnicas reside emcontribuir nas tarefas de monitoramento e controle, especialmentepara a remuneração de gestores e acionistas que possuem comobase o desempenho organizacional. Também, avaliar a eficiênciade unidades organizacionais continua a ser um problema difícilde resolver, principalmente quando a multiplicidade dos fatoresde produção (recursos, custos) e saídas (serviços, produtos)associados a estas unidades é considerada. (WU, 2006). Brown (2006) mostra que profissionais do setor de serviçosfinanceiros estão cada vez mais usando medidas de eficiência,em particular, para avaliar o desempenho gerencial e parajustificar a consolidação e a globalização das organizações. Alémdisso, alguns aspectos da política de regulação se baseiam emaumentar a eficiência ou a manutenção do nível de eficiência. Uma das técnicas que contribui para a análise de eficiênciaé a Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis -DEA), que foi desenvolvida por Charnes, Cooper e Rhodes(1978), com o objetivo de determinar a eficiência econômicarelativa das empresas, excluindo o aspecto financeiro, e quetrabalhassem com múltiplos insumos e produtos. ConformeMello et al. (2005) o DEA foi desenvolvido para determinar aeficiência de unidades produtivas, onde não seja relevante oaspecto financeiro, dispensando, portanto a conversão de todosos insumos e produtos em unidades monetárias e sua atualizaçãopara valores presentes. Segundo Anjos (2005), o DEA faz parte de uma série demodelos e técnicas de construção de fronteiras de produção emedidas de eficiência, que não necessitam de uma função préviae nem da definição de pesos para insumos e produtos. ParaVasconcellos, Canen e Lins (2006) DEA define a eficiência deuma unidade em relação às melhores unidades de desempenhoobservadas. Conforme Asmild et al. (2007) o DEA pode serutilizado para medir a eficiência global e, também para avaliar aeficácia de objetivos mais gerais de comportamento.96
análise ENVOLTÓRIA DE DADOS NA GERAÇÃO DE LUCRO: um estudo DA EFICIÊNCIA dE empresas do ibrx-50 DA bm&fbovespa Dentre as pesquisas desenvolvidas no Brasil que utilizaramo DEA destaca-se que um dos primeiros estudos que aplicou osmodelos DEA em dados financeiros foi o estudo de Ceretta eNiederauer (2001), apresentando a análise de eficiência e tambémda rentabilidade de 144 instituições bancárias do país, foramutilizados dados sobre o montante de capital dos proprietários,capital de terceiros, receita total e resultado do semestre. A pesquisa de Anjos (2005) buscou analisar a indústria têxtilbrasileira sob o ponto de vista dos desafios enfrentados pelosegmento, bem como, verificar sua produtividade e/ou eficiênciarelativa, utilizando o método DEA para sua quantificação. Osdados foram obtidos nas pesquisas anuais e conjunturais doIBGE e do Ministério do Trabalho. Os resultados corroboram aafirmação de que a estrutura produtiva brasileira abandona suatendência à diversificação e torna-se competitiva em segmentosnos quais existem sólidas vantagens competitivas. O estudo realizado por Mendes, Barbosa e Barbosa (2009)sobre a eficiência de bancos, sob a ótica de rentabilidade,com base em atividades de responsabilidade socioambiental,utilizando análise envoltória de dados, buscou propor metas derentabilidade as instituições bancárias. Os autores analisaramdados de cinco instituições financeiras brasileiras constantes noestudo, no período de 2005/2006. Os inputs do modelo foram osíndices de responsabilidade socioambiental e os outputs foramo índice de eficiência e o retorno sobre o patrimônio líquido.O resultado demonstrou que os bancos Bradesco e CaixaEconômica Federal atingiram o índice de eficiência de 100%,enquanto que o Unibanco se destacou dos demais, pelo seudesempenho inferior, chegando ao índice de 59,42%. Além disso,o programa gerou metas dos indicadores de rentabilidade para osbancos considerados não eficientes. Macedo, Silva e Santos (2006) buscaram um índice deperformance relativa que fosse capaz de conjugar indicadoresfinanceiros de lucratividade e de risco, na análise de desempenhoorganizacional. O estudo utilizou como amostra seguradoras dequatro segmentos: 25 de automóveis, 10 de saúde, 13 de vidae previdência e 18 de coberturas diversas, que estavam em 97
Tarcísio Pedro da Silva - Débora Gomes Machado - José Ari Verhagen - Nelson Heinoperação no Brasil em 2003, listadas no ranking da Revista BalançoFinanceiro da Gazeta Mercantil de 2004, acerca do desempenhodas melhores seguradoras e outras instituições financeiras. Osresultados evidenciaram que através da aplicação do DEA foramidentificadas as unidades eficientes e ineficientes, dentro de umconjunto de dados homogêneo, além da possibilidade de obteríndices capazes de indicar quanto as unidades ineficientesprecisam melhorar para se tornarem unidades eficientes. A taxade eficiência não fornece apenas a ordenação das seguradorasnum ranking, mas também sugere o grau de ineficiência de umaseguradora quando comparado com a unidade referencial deeficiência (benchmark). Dentre os indicadores financeiros de análise de desempenho,a ciência contábil conta com o Giro do Ativo Total - GAT. ParaBrigham e Houston (1999) o GAT é considerado um dosindicadores de atratividade que permite medir a eficiência daempresa. Os autores acrescentam que este é o último índice deatividade e é calculado dividindo-se as vendas pelo ativo total.A premissa assumida por este estudo é de que o giro do ativototal, representado pela relação entre vendas e ativo total, deverefletir a eficiência do ativo em gerar receitas. Desta forma, surgeo seguinte problema de pesquisa: o giro do ativo total, analisadopelo DEA, reflete a eficiência do ativo total em gerar receitas,mensurada pelo lucro de empresas componentes do IBrX-50 daBM&FBovespa? O objetivo que esta pesquisa busca responder se traduz emidentificar se o giro do ativo total, analisado pelo DEA, reflete aeficiência do ativo total em gerar receitas, mensurada pelo lucrode empresas componentes do IBrX-50 da BM&FBovespa. A academia tem ampliado esforços no aperfeiçoamentoteórico-empírico dos indicadores de desempenho, este fatofica comprovado pelos diversos estudos realizados, tais como:Macedo, Silva e Santos (2006), Cipola, Nogueira e Ferreira (2008),Neves Jr. e Godoi (2009) e Mendes, Barbosa e Barbosa (2009)que utilizaram diversas metodologias. A razão de investir tempoe esforços nesses estudos pode ser devido à sua relevânciacomo instrumento gerencial no âmbito das organizações e a98
análise ENVOLTÓRIA DE DADOS NA GERAÇÃO DE LUCRO: um estudo DA EFICIÊNCIA dE empresas do ibrx-50 DA bm&fbovespametodologia DEA tem sido testada nesse ambiente. Desta forma,esse estudo busca contribuir com o meio acadêmico, no sentidode testar empiricamente um indicador de desempenho financeiroem conjunto com a técnica DEA. Conforme Macedo, Silva e Santos (2006) e Cipola, Nogueirae Ferreira (2008), a análise de desempenho de uma organizaçãoé sempre algo passível de muitas discussões e questionamentos,sobre quais indicadores utilizar e como consolidá-los de formaa estabelecer um critério justo de avaliação de performance nodia a dia das empresas. Sendo assim, o meio organizacional eprofissional carece de estudos que contribuam na diluição de taisexpectativas. A pesquisa de Neves Jr. e Godoi (2009) reforça a ideia deque a utilização de ferramentas que permitem medir o nível deeficiência da organização é cada vez mais usada pelos gestorespara auxiliá-los na tomada de decisão. Os autores realizaram umapesquisa com o objetivo de discutir o desempenho dos planosde saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Bancodo Brasil (CASSI), a partir do conceito de fronteira de eficiênciaabordado no modelo DEA. Após as análises, os planos estudadosforam considerados eficientes em todos os indicadores e ficouevidenciado que apenas um plano ficou próximo da fronteirade eficiência com um escore de 98%. Por fim, os resultados dapesquisa permitiram inferir, segundo os autores, que o modeloDEA pode ser aplicado em empresas operadoras de plano desaúde. A partir desta introdução que compreende a problemática doestudo, segue, na seção dois a revisão de literatura de suporteao estudo, na seção três encontram-se os procedimentosmetodológicos que direcionaram a pesquisa e a caracterizaçãoda mesma no campo científico, na sequência estão expostos osresultados, na seção quatro e, por fim, as considerações finais,na seção cinco.2 INDICADORES DE DESEMPENHO O processo de avaliação do desempenho das empresascompreende a utilização de várias bases, como as informações 99
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