Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. PSICOLOGIA O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA FORMAÇÃO DOI: http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.516THE ACADEMIC OF PSYCHOLOGY, DEATH AND DYING: THE RELEVANCE OF THE SUBJECT IN THE FORMATION Elaine Kezen R. Nogueira Carnicheli43; Roberson G. Casarin44.RESUMO: O presente estudo busca compreender se a formação acadêmica do curso degraduação em psicologia está oferecendo aos estudantes um aprendizado adequadoreferente o enfrentamento da morte e do morrer. Os acadêmicos estão preparados para lidarcom seus sentimentos relacionados à morte? Como a formação acadêmica está auxiliandonesse processo de compreensão? E de que maneira lidar com essa problemática que é tãopouco abordada nos cursos superiores de saúde mental? Os objetivos eram compreender aconcepção dos acadêmicos de Psicologia acerca da relevância da abordagem dos temasmorte e morrer no processo de formação, assim como se o aluno consegue diferenciar e definirmorte e morrer, além de analisar como a formação acadêmica aborda o processo deenfrentamento à morte e também avaliar quais são os sentimentos dos acadêmicos peranteesses temas. A metodologia utilizada foi à pesquisa de campo exploratória com caráterdescritivo, quantitativo. Os resultados obtidos no estudo demonstram que os participantespossuem dificuldades em diferenciar e definir os termos estudados, além de que a grandemaioria não se sentem preparados para enfrentar na prática este fenômeno que ainda éconsiderado tabu, a partir do prisma dos participantes fica perceptível que a formação não émuito clara no que tange os assuntos morte e morrer, além de que grande parte não se sentempreparados para lidar com seus próprios sentimentos diante de situações pertinentes aostemas.Palavras-chave: Morte. Morrer. Formação em psicologia.ABSTRACT: The present study search to understand the academic formation in graduatecourses in psychology offering for the students appropriate learning face the death and dying.Are the academics prepared to get along yours feelings related to death? How the academicformation helping in this process? And, how to deal with this problem what is not discussed inthe higher education of mental health? The objectives were to understand the conception ofPsychology scholars about the relevance of approaching the themes of death and dying in theformation process, as well as if the student can differentiate and define death and dying,besides analyzing how the academic formation approaches the coping process to death and43 Psicóloga graduada pela Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA. Pesquisadora participante. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6325-9752;44 Psicólogo. Doutor em Saúde. Professor da Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA. Pesquisadorresponsável. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2732-780X.O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 301FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.also to evaluate the feelings of the academics towards these themes. The methodology usedfor inquiry is an exploratory search, it is descriptive and quantitative. The results of the studyshow which the participants haven’t difficulties to differing and defining the study terms, andthe major don’t prepared to face yours feeling about this phenomenon that is still consideredtaboo, from the perspective of the participants is possible to see that the graduation isn’texploring the questions about death and dying, so the students wasn’t prepared to deal yourfelling of the evidence topics.Keywords: Death. Die. Formation in psychologyINTRODUÇÃO tipo de evento, visto que a morte é elemento O que pode haver de importante em diário na atuação do profissional, seja napesquisar uma questão como a morte e omorrer? (1) Na atualidade, fica perceptível clínica, no hospital ou nas demais áreas deuma negação extrema acerca do estudodestas expressões, visto que para o desempenho.homem o enigma não é a morte, mas o fatodele, como sujeito, morrer, pois tal Deste modo, é imprescindível que orealidade gera angústia, medo edesconforto. Deste modo percebe-se, estudo da morte seja discutido na formaçãoentão, um despreparo no que diz respeitoao enfrentamento desse fenômeno, tanto acadêmica, para que os futurosna sociedade em geral como também nosprofissionais ligados à saúde, que profissionais sejam devidamentegeralmente têm sua formação voltada paraa vida.(2) capacitados e preparados para lidar na Dessa forma, o trabalho do psicólogo humanização do cuidado.diante da morte é de fundamentalimportância, pois consiste em propiciar uma O presente estudo foi realizado comatmosfera acolhedora àquele que precisa equeira falar sobre seus medos e 108 acadêmicos do curso de graduação emdificuldades perante o processo de morte emorrer. Assim sendo, faz-se necessário o Psicologia em uma instituição particular eestudo da temática, a fim de ponderar aformação desse profissional diante deste de ensino superior. Teve-se como objetivo compreender a concepção dos acadêmicos de Psicologia acerca da relevância da abordagem dos temas morte e morrer no processo de formação, assim como se o aluno consegue diferenciar e definir morte e morrer, além de analisar como a formação acadêmica aborda o processo de enfrentamento à morte e também avaliar quais são os sentimentos dos acadêmicos perante esses temas. O material utilizado consistiu em um questionário impresso emO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 302FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.folha sulfite, contendo seis questões, sendo expressões acabam consistindo-se emuma pergunta aberta e todas as outras respostas escassas para apresentar oobjetivas fechadas. muito que se imagina e o pouco que se sabe sobre o fenômeno.(4, 5) A morte e o morrer são temas vistosatravés de diferentes perspectivas na A partir desse enigma de conceituarhistória da humanidade, sem afirmar concretamente a morte, torna-se deverdades absolutas, já que, quando extrema importância retratar no presenteabordadas, desperta curiosidade, provoca estudo algumas definições na perspectivadesconforto e geralmente vêm de diferentes teóricos sobre as palavrasacompanhados de inúmeros morte e morrer. Neste panorama torna-sequestionamentos, para os quais se primordial apresentar uma das melhoresdescobre a incontestável resposta de que significações sobre a morte e o morrer ondemorrer é inevitável, intrínseco à vida e Moritz(6) descreve que “a morte érepresenta a certeza de que a todo compreendida como a cessação definitivanascimento integra-se a um momento de da vida e o morrer como o intervalo entre ofim.(3) momento em que a doença se torna irreversível e o êxito letal.”(pag. 30). No Percebe-se que atualmente, são mesmo enfoque, o termo morte apresentamuitos os estudos biológicos, psicológicos, como origem o substantivo latino “mors”,sociológicos, médicos, filosóficos, entre que significa morte, passamento,outros sobre a morte, que busca entender a falecimento e fim da vida.(7)maneira como em diferentes culturas eclasses sociais é encarado o fato de que os Apesar de a morte constituir-se em umseres humanos morrem. Tais estudos são acontecimento intrínseco à vida, os seresde extrema relevância, uma vez que humanos, buscam inventar por meio daevidenciam o tema como um fenômeno ciência novas tecnologias, desenvolvemnatural, social e humano que perpassa o medicamentos importantes, buscamciclo vital e deixa marcas, sendo algo que desenvolver conhecimentos universais,não pode ser descrita de forma precisa, ou porém a tão sonhada pílula da imortalidadeseja, o próprio termo “morte” não dá conta ainda não foi apresentada. Desse modo,do seu real significado, porém cada enquanto não existe um “remédio” queindivíduo tenta associá-la a outra palavra, impeça a morte, a religião oferece ao seras quais possam expressar ideias, humano o alento que a ciência nãofantasias, crenças e mitos. Contudo, essasO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 303FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.consegue, através do prenúncio de que Deste modo a morte adequada necessitariaexiste vida eterna e/ou a reencarnação.(8) estar acompanhada por uma junção entre os princípios religiosos, morais e Assim, faz-se necessário mencionar terapêuticos, propiciando àquele que estáque quando existe uma crença em Deus e morrendo uma atenção respeitosa comna vida após a morte as pessoas tendem a suas crenças e valores. Dessa maneira, aaceitar mais naturalmente a morte como boa morte deve assegurar o sentido da vidauma parte essecial da vida e deste modo e da existência, para que a mesma seja umtentam desenvolver uma conduta de ato de cuidado, pois se o profissional seaproximação a ela, no sentido de privar de seus sentimentos, utilizando comocompreendê-la.(9) proteção uma pretensa neutralidade científica, o paciente é muitas vezes visto Apesar da angústia perante a morte como um mero objeto, deixando assim, decircunscrever toda a nossa existência, ser considerado sujeito de sua vida e deapenas refletimos a seu respeito ao sua morte.(11)depararmo-nos com nossa fragilidadediante da perda de algum ente querido. Assim sendo a psicologia comoAssim, através da morte do outro vemo-nos ciência busca trabalhar essa humanizaçãoem seu lugar e receamos o futuro. Ao e acolhimento do sujeito, enxergando suamesmo tempo, depois de algumas totalidade, potencialidade e vontadesemanas do acontecido, regressamos aos própria.nossos afazeres diários e esquecemo-nosde que também somos simples mortais.(8) A origem da Psicologia moderna ocorreu na Alemanha no final do século Nesta perspectiva de fragilidade dos XIX. Seu status de ciência é adquirido àfamiliares, amigos e até mesmo medida que se “desata” da Filosofia, a qualprofissionais em geral é essencial à de certa forma marcou sua história, e atraiatuação do profissional em psicologia, com novos teóricos e pesquisadores, que,o objetivo de amenizar o sofrimento mediante os atuais padrões de produção dehumano. Assim sendo, a busca por conhecimento, passam a conceituar seuconhecimentos a respeito da morte e suas objeto de estudo, tais como: oabrangências torna-se cada vez mais comportamento, a vida psíquica e acrucial, já que, infelizmente, muitos consciência. A partir de então se buscapacientes e seus familiares carecem da delimitar o campo de estudo, diferenciando-ajuda de um profissional capacitado que o de outras áreas de conhecimento.(12)possa auxiliá-los neste momento crítico.(10).O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 304FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. Deste modo, surge então as Diretrizes é indispensável para este profissional, emCurriculares Nacionais (DCNs) cuja versão específico para os que estão em processofinal foi estabelecida em 2004, que substitui de formação, uma vez que eles são antesos campos que até então era tradicionais de tudo seres humanos, que possuem(Psicologia Clínica, Escolar e sentimentos, crenças, emoções e reaçõesOrganizacional), por ênfases curriculares, a diante desse fenômeno. Por isso, torna-seserem optadas por alunos nos períodos de fundamental relevância a busca definais do curso. Tais ênfases poderiam ter autoconhecimento, especialmente nasinclusive aspectos de duas ou mais áreas questões relacionadas à morte e à vida.(17)interligadas.(14) Desta forma é de fundamental Assim, pode-se dizer que a faculdade relevância que o profissional seja capaz deonde foi realizado o presente estudo, promover uma intervenção eficaz no casooferece aos acadêmicos do curso de de pacientes que estão em iminência depsicologia duas possibilidades de ênfases, morte, incluindo então não apenas osas quais consistem em Psicologia e aspectos biológicos, mas também asprocessos clínicos e Psicologia da Saúde emoções que estes desencadeiam.Individual e Coletiva, ficando então, acritério do estudante optar pela ênfase que Logo, o trabalho durante a formaçãotenha maior afinidade para realizar o acadêmica sobre a morte é imprescindível,estágio final. com a finalidade de que haja profissionais habilitados para trabalharem na Apesar de os cursos de graduação humanização do cuidado. Desse modo,hoje, tentarem oferecer aos acadêmicos torna-se significativo compreender o modopossibilidades de matérias que abordam que se é trabalhado o processo de morte eesses temas, infelizmente, a temática da morrer durante a Graduação em Psicologiaterminalidade ainda é tratada de modo e, com isso, colaborar para um debateincipiente nos cursos de graduação, pós- sobre a imprescindibilidade do preparograduação e extensão.(16) Deste modo em formal desse profissional perante aconcordância, alguns teóricos salientam morte.(15)que diversos cursos de formação da áreade saúde estão desprovidos, em seus Assim, pode-se entender que a funçãocurrículos, de disciplinas que abordem a do psicólogo é fazer com que alguém, quemorte, o luto e o processo de morrer.(11) se acha em um período de perda e doresAssim, pode-se dizer que o estudo da morte intensas, o qual já não acha motivos para existir, descubra razões e ache-os dentroO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 305FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.de si mesmo, manifestando as dores do seu podendo reorganizar sua própria história,corpo e de sua alma, restaurando laços e dando um sentido ao momento e tendo adesfazendo nós. Reconhecendo que, além certeza de que sua existência foide um corpo doente e que já não responde importante.(24)às intervenções, há um ser que ainda viveem sua subjetividade e permanecerá Por meio do exposto fica clara aexistindo no coração daqueles que o indispensabilidade de se completar oamam.(10) espaço na formação de futuros profissionais da saúde, investindo não só Ainda nesta perspectiva, pode-se no que diz respeito ao lidar com a morte edescrever que o papel dos psicólogos, o morrer, mas ainda na questão daenfermeiros e cuidadores consistem em humanização das relações pessoais que seacolhimento, escuta generosa e solidária, dão nos ambientes de atuação, seja elepois a psicologia hospitalar tem como hospitalar, clínico, ambulatório entrefunção dar suporte de conforto, além de outros.(20)amparar afetivamente, provocando então, aminimização do sofrimento para provocar É importante frisar que a universidadepercepções diferentes e novas. Este é o contexto mais apropriado para a criaçãoprofissional é um mediador, um aliado, de uma visão crítica-reflexiva para osendo presença necessária através de sua processo de morte e morrer, que podeescuta e inferências assertivas, promover alteração no olhar/pensar dospossibilitando ao paciente e aos familiares futuros profissionais. Tais olhares ereflexões acerca do contexto de pensamentos advindos de uma críticadoença/saúde. reflexiva podem provocar modificações tanto no meio profissional quanto na O apoio acolhedor e a compreensão sociedade e talvez, em uma visão utópica,diante do sofrimento e dor do outro proporcionar mudanças na cultura de ver ehumaniza, acolhe pela escuta e conduz enfrentar a morte. Afinal, é no ensinopelo método da palavra bem/dita à superior que se produz ciência,intervenção psicoterápica. Tal processo humanização no atendimento e mudançaocorre tanto dentro do contexto hospitalar de paradigmas.(21)como também na área clínica.(18) 2 METODOLOGIA Assim, o trabalho do psicólogo em O estudo consiste em uma pesquisacaso de morte consiste permitir que o descritiva e exploratória com abordagemindivíduo tenha uma morte digna, holística, quantitativa, realizado no ano de 2016 comO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 306FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.os acadêmicos do curso de graduação em independente, além de não se estabelecerpsicologia de uma instituição particular que tempo limite para o seu preenchimento.conta com um total de 134 acadêmicos Antes da aplicação o questionário passouregularmente matriculados em um por validação instrumental com 10% dosmunicípio do interior do Estado de participantes, em uma populaçãoRondônia, sendo desenvolvido nas semelhante ao estudo. Para a análisedependências da instituição. Dessa utilizou-se de gráficos e tabelas, no quepopulação, 108 estudantes aceitaram concerne às questões objetivas e emparticipar do estudo e 5 recusaram. Os relação à pergunta dissertativa, utilizou-sedemais, ou faltaram no dia da aplicação do categorização e análise de conteúdo.questionário ou são alunos desistentes queainda não efetivaram o cancelamento da O presente estudo foi aprovado pelomatrícula. Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, da Faculdade de Educação e Meio Ambiente – Neste estudo optou-se pelos FAEMA, mediante o parecer de númeroseguintes critérios de inclusão: estar 1.574.269 CAAE: 55049316.1.0000.5601.regularmente matriculado no curso; 3 RESULTADOS E DISCUSSÕESconcordar em participar do estudo; quandomaior de idade assinar o Termo de A pergunta de número um consistiuConsentimento Livre e Esclarecido (TCLE); em uma pergunta aberta, foi questionado oe, quando menor de idade assinar o Termo que os acadêmicos entendem por morte ede Assentimento (TA), assim como obter a morrer, deste modo será utilizadoassinatura dos responsáveis legais no fragmentos das respostas de algunsTCLE. Já quanto aos critérios de exclusão participantes com o intuito de compreenderforam: não compor quadro de acadêmicos as diversas percepções acadêmicas,regularmente matriculados; não aceitar alternando entre o primeiro e o nonoparticipar do estudo; recusar assinar o período sem utilizar identificação dosTCLE ou TA. mesmos. Como instrumento de coleta de dados Os trechos literais expostos abaixofoi utilizado um questionário de caráter são exemplos de algumas expressões emindividual, o qual constou seis questões, que os estudantes apresentam o quesendo uma aberta e cinco fechadas. Para compreendem sobre os termos morte esua aplicação, deu-se preferência à morrer.abordagem de cada turma de formaO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 307FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. “Morte: O fim de uma vida. Morrer: Fim Percebe-se ainda que há assertivas de um ciclo.” que vinculam a morte com a “certeza”, “Um ponto final que pode ser colocado surgindo assim representações simbólicas no meio do discurso a qualquer momento.” que aludem o termo morte a um fato Nos fragmentos acima podemos notar inevitável, imutável, irreparável,a constância da palavra “fim”, que osparticipantes usaram para apresentarem irreversível, concreto e única certeza dasuas percepções acerca da temáticaestudada. vida. No entanto, a relação com a morte “Evento irreparável, irreversível, onde aestá longe de ser unívoca, uma vez que, de vida se finaliza.”acordo com as experiências de cada um,ela pode se mostrar e ser compreendida de “A morte é inevitável, cedo ou tarde eladiferentes formas.(8) vai chegar independente de estarmos prontas ou não. [...]” Deste modo, faz-se necessáriomencionar que apareceram diversas outras Há ainda aquelas expressões querespostas que compreendem os termos expõem a morte como um processo emorte e morrer como “fim”, empregando consequência natural da vida.assim diversas expressões, tais como: fimda vida, fim de um ciclo, fim de uma etapa, “A morte é um processo natural do serfinitude, última fase, fim da existência, humano.”inexistência, término da vida, deixar deexistir em todos os sentidos da vida, A morte infelizmente faz parte da vidapaciente terminal, estágio terminal e humana. É um fato triste e natural,terminalidade. todos um dia vão morrer. Para morrer basta estar vivo. Pode-se dizer que a significação quecada sujeito tem acerca da morte se dá a Em consonância, pode-se dizer que apartir de diversos fatores, entre eles a idade morte representa o findar de um ciclo,cronológica, estrutura da personalidade e o tratando-se de uma circunstância naturalcontexto social e cultural que estão que todos passarão, sendo fato que oinseridos.(22) indivíduo é um ser para a morte e que esta um dia acontecerá, entretanto não se pode saber o exato momento. Todavia cada indivíduo exibe uma reação de acordo com suas próprias experiências, crenças e valores culturais. (21)O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 308FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.Surgiram ainda participantes que Nesse sentido, o modo de compreender a morte é encarando-a comocompreendem a morte e o morrer como um início de um ciclo de vida. Nessa perspectiva de entender a morte,processo biológico, tais como a ausência encontram-se indivíduos que afirmam haver a reencarnação ou a vida espiritual.ou cessação de funções vitais, a cessação Grande parte das religiões e seitas apoia- se nessa maneira de entender a finitude dodo funcionamento orgânico, processo ser humano, garantindo a imortalidade da alma. A ideia é de que após o eventobiofisiológico, desfalecimento fúnebre chegaremos a uma terra de felicidades eternas ou conheceremos oorgânico/biológico, a paralisação dos castigo sem fim, como frequentemente é exposto pelas religiões para satisfazer oórgãos, falência dos órgãos, falecimento de desejo humano de eternidade. (4)si, fim do funcionamento biológico, falta de A religião gera alívio ao sofrimento e proporciona conforto ao indivíduo quesinais vitais, falecimento do corpo e vivencia esse processo de dor. Isso se relaciona ao fato de que o esclarecimentoprocesso biológico. oferecido pelos sistemas religiosos se aproxima mais do contexto sociocultural doNesta perspectiva a morte pode ser homem que as explicações apresentadas pela medicina, muitas vezes de uma formacompreendida pela ótica da interrupção reducionista. (16)completa e definitiva das funções vitais, Por isso, é de fundamental importância que o profissional da área dacom o desaparecimento da integração saúde considere a religiosidade do sujeito enfermo e seus familiares ao planejar efuncional e destruição progressiva das executar suas intervenções, colaborando para a conservação de uma relação deunidades celulares.(23) respeito e confiança com essa clientela. A morte é o fim da vida, quando as No entanto, faz-se notório no presente funções vitais do corpo humano estudo que existe aquele que não acredita cessam. Morrer é o processo que todo ser vivo está destinado a ocorrer/sofrer. Observaram-se ainda respostas comcunho religioso, como início de outraetapa/vida, última etapa, término da vida,vida eterna, passagem, processo detransformação e destino.“O fim da vida terrena e o início da vidaeterna.”“A morte é uma passagem para a vida,a tão sonhada liberdade da alma.”O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 309FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.na existência de outra vida. Nessa mesma sobre a necessidade de algumaslinhagem, surgiu expressão interligada à disciplinas focarem nos sentimentos quequestão mística, como exemplo a menção este acontecimento provoca no acadêmico,de sono profundo. proporcionando assim uma aproximação com indivíduos em diferentes fases do “Sobre a morte, entendo que ela é desenvolvimento, para que assim quando o como se fosse um sono profundo, [...] mesmo chegar ao período de estágio esteja um estado de inconsciência [...].” apto para lidar com situações que demandam preparação emocional e Alguns participantes relataram psicológica.(11)sentimentos como tristeza, medo,frustração, perda, ruptura, desapego, Observa-se ainda resposta queincertezas e conflitos. demonstra o surgimento de transtornos psíquicos como decorrência da morte e do “[...] Processo geralmente doloroso de morrer, evidenciando-se assim que um ruptura. participante considera esse processo como responsável para o aparecimento de “[...] Tenho medo de morrer, mas ainda problemas psicológicos nos familiares que prefiro eu morrer a perder um membro experienciam a perda de entes queridos. da minha família.” [...] um processo de luto que se não A morte representa destruição, falta, elaborado poderá desencadear umaperda, desamparo e separação, sendo série de transtornos psíquicos noconsiderado um território indecifrável, indivíduo.imprevisível, inexplorado, nunca antesexperienciado, podendo ser associada à Nessa mesma perspectiva aparecemdor, crueldade, solidão, abandono, que não também três respostas em períodosse trata exclusivamente de um evento distintos que realçam a não compreensãobiológico, mas intensamente humano.(19) de o “por que” de tal fato acontecer. DesseNessa mesma perspectiva, alguns teóricos modo, surgiram respostas que considerampropõem a criação de ambientes de a morte como algo sem sentido, semdiscussões nos quais os sentimentos escolha e sem explicação. Exemplo:decorrentes da morte possam sercompartilhadas na formação como uma Algo sem muito sentido, você não temmaneira de tornar mínimo os efeitos de lidar ao menos o direito em muita das vezescom este fenômeno, ainda recomendam de se despedir, nenhum um último olhar.O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 310FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. Há ainda aqueles que enfatizam a respostas a dificuldade de definir efalta de preparação para lidar com tal diferenciar os termos.situação e surgiu também à utilização daexpressão estado de nirvana, que pode ser “Não consigo diferenciar os termos.”entendida como uma libertação da afliçãohumana. “Ao meu entender ambas tem o mesmo significado [...].” É o findar da vida e de todos os atributos inerentes a esta. [...] um Torna-se importante frisar que houve estado de nirvana, termo o que uma grande evolução nas respostas dos segundo a teoria que sigo é períodos em etapa final, como exemplo inconscientemente desejado. nono período, porém, apesar do progresso nas respostas desse período, são poucos Observa-se ainda uma resposta que os acadêmicos que de fato conseguiramdescreve a morte como consequência das diferenciar e definir os termos de formanossas crenças e aprendizados, sendo concisa, ou seja, dos 24 acadêmicos do 9°vista como algo transmitido pela cultura e período, 13 conseguiram diferenciar eque é enraizado. definir os termos e 11 participantes não conseguiram fazer essa separação, [...] Morte é o fato não só biológico, mas utilizando assim, uma única resposta para que está infundido na cultura de cada definir ambas as expressões. sociedade, onde existem várias crenças a respeito do tema. Assim, pode-se compreender que dos 108 acadêmicos, 81 apresentam Compreende-se, então, que os dificuldades em conceituar e diferenciar osconceitos sobre a morte e o morrer são termos de forma clara e precisa, restandoestabelecidos ao longo das experiências assim somente 27 respostas que estãoparticulares, culturais, sociais e até coesas. Nessa perspectiva, torna-se deespirituais de cada indivíduo. suma relevância salientar que apesar de estudar a subjetividade e o comportamento Vale ressaltar que uma grande humano pouco se sabe sobre a morte e oquantidade de participantes não morrer. Dessa forma, percebe-se que aconseguiram diferenciar os termos morte e formação tem tentado oferecer subsídiosmorrer, utilizando assim respostas que sobre os temas estudados, no entanto nãodefinam ambos os termos. É importante são suficientes para que os estudantes aenfatizar que alguns utilizaram comoO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 311FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.conceituem e diferenciem de forma clara e que esses cursos em específicos não estãoprecisa. preparando o futuro profissional nas questões relativas à morte de modo A partir da pergunta de número dois, apropriado, sendo notório a escassez deos respondentes deveriam optar por uma discussões teóricas e práticas naúnica alternativa, pois as questões academia.(24)consistiam em objetivas e fechadas, naquestão de número dois em específico, foi Já na terceira pergunta foiquestionado se os acadêmicos questionado se os estudantes participaramconsideravam importante falar sobre a de discussões sobre terminalidade no cursomorte e o morrer, ficando perceptível nos de graduação ou em algum outro momentoresultados, que conforme foi evoluindo os fora do curso, assim os dados obtidos nestaperíodos, maior a porcentagem de grau de questão retratam que dos 108 participantesrelevância do tema representado pelo mais da metade, especificamente 56,48%,número.(5) já tinham participado de discussões que versavam a terminalidade, enquanto que Dessa forma, observa-se que 64,81%, 42,59% dos integrantes da pesquisa nuncados 108 participantes consideram de participaram e 0,93% alegaram queextrema importância estudar morte e participaram de discussões sobremorrer na formação, enquanto que apenas terminalidade fora do contexto acadêmico.um participante avalia que existe pouca Assim, pode-se dizer que de algumarelevância estudar a temática, respondendo maneira o curso de Psicologia tem tentadoassim o grau de relevância menor que é inserir essa temática no alforje de suarepresentado pelo número. (1) formação, o que, segundo os autores citados por último, é essencial. Esse percentual exibido corroboracom estudos que enfatizam a relevância da Concernente à questão quatro, eminclusão do tema na formação do psicólogo, relação ao participante se sentir preparadoafirmando que a morte faz parte do para lidar com seus próprios sentimentoscotidiano profissional, tanto na escola e perante a morte, os resultados revelam quehospital como na área clínica e 77,78% dos 108 acadêmicos utilizaram osorganizacional, entre outras áreas.(24) graus de número (1), (2), (3) que podem ser considerados como um grau em que o Apesar da importância de se abordar estudante não está plenamente preparadoo tema morte é necessário averiguar os para lidarem com seus próprioscursos da área da saúde, comoenfermagem e psicologia, pois, observa-seO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 312FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.sentimentos perante a morte (observar Abaixo se observam as tabelas dosTabela 6). Desse número, apenas 22,22% períodos em que foi aplicado odos acadêmicos responderam as escalas questionário, sendo que a Tabela 6(4), (5), ou seja, apenas uma pequena corresponde a todos os períodosparcela sente-se satisfatoriamente estudados.preparada para lidar com tal situação.Tabela 10 - Respostas 1° Período. Tabela 2 - Respostas 2° Período.Grau de N° de % Grau de N° de %Importância Pessoas Importância Pessoas1 5 17,25 1 6 35,292 8 27,58 2 3 17,653 7 24,14 3 3 17,654 5 17,24 4 2 11,765 4 13,79 5 3 17,65TOTAL 29 100 TOTAL 17 100Tabela 3 - Respostas 3° Período. Tabela 4 - Respostas 4° Período.Grau de N° de % Grau de N° de %Importância Pessoas Importância Pessoas1 4 16,67 1 2 14,292 5 20,83 2 5 35,713 11 45,83 3 6 42,864 3 12,50 4 005 1 4,17 5 1 7,14TOTAL 24 100 TOTAL 14 100Tabela 5 - Respostas 5° Período. Tabela 6 - Respostas de Todos os Períodos.Grau de N° de % Grau de N° de %Importância Pessoas Importância Pessoas1 6 25 1 23 21,302 1 4,17 2 22 20,373 12 50 3 39 36,114 4 16,66 4 14 12,965 1 4,17 5 10 9,26TOTAL 24 100 TOTAL 108 100O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 313FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. Neste sentido, é importante ressaltar ocorre concretamente no contextoque os psicólogos no contexto hospitalar são hospitalar. Assim sendo, o psicólogoconsiderados profissionais apropriados para hospitalar deve saber lidar com a morte.(22)abrandar a angústia e o sofrimento alheio. Assim, é imprescindível que osNo entanto, o que muitas vezes não se profissionais de saúde enfrentem seuspercebe é que tais profissionais apresentam sentimentos perante a morte, já que, paraproblemas com as próprias questões sobre a lidar de maneira honesta com asmorte, logo compete a este profissional estar dificuldades de quem está morrendo, épreparado emocionalmente para aguentar as indispensável conseguirmos encarar asituações presentes no contexto hospitalar, nossa própria finitude.(20)clínico entre outros e que tenha informaçõesimprescindíveis dos casos que lhe É necessário mencionar que esteaparecem. profissional da equipe de saúde é extremamente excepcional, dado que Apesar disso, torna-se importante contém numerosos recursos para lidar commencionar que ele não está imune aos o tema. Tem ele ao seu dispor a supervisão,sentimentos de dor e angústia ao se deparar a literatura e a psicoterapia que podecom a morte, porém nestes casos cabe auxiliá-lo a enfrentar o impacto e significadounicamente ao psicólogo, ao entender que da morte em sua vivência, assim como naestá vivenciando momentos de angústia, não experiência do indivíduo que necessita dese conter, mas sim buscar apoio, seja por seus cuidados. Dessa forma, é inadmissívelmeio de análise, supervisão ou outras que os psicólogos não recorram a essesformas. O que importa é que esse recursos básicos que os preparam paraprofissional necessita trabalhar essas lidarem com casos de terminalidade.(26)demandas em sua própria vida, para queassim possa elaborar em si mesmo as Faz-se imprescindível frisar quequestões que envolvem o morrer.(25) independentemente da especialidade “[...] o mais importante é a atitude que Além disso, a psicologia hospitalar assumimos e a capacidade de encarar atalvez consista na única área da psicologia doença fatal e a morte. Se isto constitui umque tem uma proximidade tão ampla com a grande problema em nossa vida particular,morte, uma vez que dificilmente na clínica o se a morte é encarada como um tabuprofissional perde de fato um paciente e, horrendo, medonho, jamais chegaremos acaso isso ocorra, possivelmente ele não afrontá-la com calma ao ajudar ummorrerá na presença do psicólogo, o que paciente.\"(27) (pág. 42)O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 314FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. Já na questão de número cinco grade curricular do curso e as matérias quequando questionados se no curso de abordam esses tópicos, onde se pode atégraduação de psicologia estão incluídas na entender que o acadêmico em algumgrade curricular disciplinas que abordem momento da graduação já estudou eterminalidade, paciente terminal e luto, participou de discussões que tratam oobserva-se que 86,21% dos 29 assunto.participantes do 1° período usam aresposta de letra (c), que consiste em “Não Pode-se dizer, assim, que ossabe opinar”, ou seja, grande parte não acadêmicos do 1° e 3° período do curso desabe dizer se existem disciplinas graduação em psicologia não temespecíficas que abordem os termos conhecimento do que vem pela frente, outerminalidade, paciente terminal e luto. seja, não sabem o que será estudadoJá nas respostas do 3° período do curso, durante seus próximos anos de academia,observa-se que grande parte dos 17 já que 86,21% dos acadêmicos do 1°acadêmicos da turma tem conhecimento período e 41,18% do 3° período nãosobre a existência de matérias que conseguiram opinar sobre a questão.abordam tais expressões, mas emcontrapartida 41,18% não souberam opinar Ainda nesta questão 50% dos 24sobre a pergunta. acadêmicos do 9° período responderam a letra (a) que consistia em “Sim”, porém em Percebe-se nas respostas do 5° e 7° contrapartida, nota-se que 41,67% dosperíodo respectivamente uma elevação em participantes afirmam a “Não” abordagemrelação ao conhecimento da grade de tais termos em matérias específicas, ocurricular, pois se percebe que dos 24 que é um número alto comparado aosacadêmicos do 5° período, 13 deles períodos anteriores. Dessa forma, observa-afirmam que possuem matérias que se uma dissonância entre este período comabordam os termos, enquanto que somente os outros aqui expostos, o que é4 não souberam opinar sobre a questão, já preocupante, pois inferimos que ou osno 7° período dos 14 acadêmicos acadêmicos não absorveram a matériaparticipantes, 9 afirmam possuir matérias, o anteriormente ministrada ou já esqueceramque equivale a mais da metade dos alunos por não ser de seu interesse, fazendo nósdessa turma. Dessa forma, compreende-se pensar que, embora graduação emque há uma evolução significativa em psicologia ofereça subsídios, a mesmarelação à noção desses alunos sobre a talvez não esteja sendo suficiente nesse ponto.O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 315FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. Assim, fazendo uma junção de todos que dos 108 participantes, 77,78%os períodos, pode-se dizer que dos 108 apontam que a presença do psicólogo noparticipantes 42,59% afirmaram que contexto da saúde é de extremaexiste(m) disciplina(s) na grade curricular importância, enquanto somente 1,85% daque aborda(m) esses temas, porém, em população desconhecem a importânciacontrapartida, 38,90% dos participantes deste profissional no contexto hospitalar.enfatizaram que não existem matérias Assim, o trabalho do psicólogo tornou-seespecíficas que retratam as palavras indispensável no contexto hospitalar, dadamencionadas na pergunta que versa sua sensibilidade e competência em lidarassuntos como terminalidade, paciente com demandas tão desconsideradas porterminal e luto. outros profissionais da saúde, competindo ainda ao mesmo dentro da atmosfera Desta forma, mediante o exposto é hospitalar a escuta terapêutica, onde eleinteressante frisar que a inserção do estudo poderá dar vez e voz aos pacientes e seusda morte deveria ser feito desde os familiares, permitindo que se sintamprimeiros períodos do curso, uma vez que auxiliados e compreendidos, além de queos acadêmicos dos períodos iniciais (1°, 3°) agirá como intermediário entre ambos osdesconhecem a inserção desses assuntos, lados.assim, torna-se fundamental a inserção damorte e morrer, para que quando o Tal profissional poderá orientá-los naacadêmico chegar ao período de estágio reestruturação de suas vidas, que apesaresteja pronto para enfrentar as demandas da proximidade com a morte poderão serque necessitam da capacidade de curtidas revendo amigos, reatando vínculosenxergar, ouvir e sentir o outro em seus perdidos, perdoando e pedindo perdão,medos e angústias diante de tal situação, sendo que isso pode ser libertador, tantoalém de que é relevante que o aluno para quem está em estágio final comobusque informações e tenha a curiosidade também para aqueles que ainda vão ficar.de saber mais sobre a grade curricular e asmatérias que compõem cada período. (10) Já na sexta questão, foi interrogado se 4 CONCLUSÕESo acadêmico como futuro profissional sabia Com base nos resultados alcançados,a importância da atuação do psicólogo emcasos de enfrentamento da morte no foi possível perceber que a morte e o morrercontexto da área da saúde, observando-se são temas de extrema relevância na formação acadêmica, mas também sãoO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 316FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.interditos e poucos discutidos no contexto Concluímos que apesar dosacadêmico. acadêmicos possuírem conhecimentos sobre o tema, eles ainda apresentam Pode-se observar que a morte, devido dificuldades em diferenciar e conceituar osa sua complexidade, gera nos alunos termos de forma precisa, onde assentimentos diversos, tais como: medo, expressões morte e morrer acabam sendoinsegurança, tristeza, incompreensão, vistas e entendidas como uma.entre outros. Dessa forma, é importante que o Os resultados evidenciam que muitos curso de graduação em psicologia ofereçados participantes não se sentem além do estágio na área da saúde matériaspreparados para enfrentarem seus próprios e discussões concernentes aos assuntos,sentimentos diante desse fenômeno, sendo como exemplo a tanatologia que tratanecessário então que os mesmos especificamente sobre a morte, pois sereconheçam suas próprias dificuldades e sabe que a matéria de psicologia hospitalarfragilidades diante da morte. oferecida pelo curso de graduação em psicologia versa diversos temas pertinentes Tal reconhecimento se caracteriza a atuação do profissional no contextocomo o passo inicial para a criação de um hospitalar, porém não foca exclusivamenteambiente mais natural e normal de em questões relacionadas à morte e oaceitação ao tema, uma vez que como morrer.profissional da área da saúde é necessárioestar preparado para acolher, facilitar e É importante salientar, ainda, quepotencializar pessoas que estão em estágio essa disciplina é oferecida já nos períodosterminal ou que vivenciam a perda de finais da graduação, demonstrando aalguém querido. Mas para que esse importância de que temas concernentes àprocesso seja eficaz é imprescindível que o morte sejam vistos nos períodos iniciais daprofissional esteja com seus sentimentos graduação, uma boa matéria seria aorganizados diante de tal fenômeno. inclusão da tanatologia para os graduandos em períodos iniciais, pois quando chegasse Sobre a formação, observamos que, a os períodos de estágio os mesmos jápartir do ponto de vista dos participantes, estariam aptos para lidarem com osnão é muito clara no que tange aos temas pacientes e familiares que vivenciam eabordados neste estudo, uma vez que experienciam a morte e o morrer.foram somente 27 dos 108 participantesque apresentaram claramente a definiçãodos termos estudados.O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 317FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.REFERÊNCIAS Dissertação (Mestrado em Psicologia) Universidade Estadual Paulista - Júlio de1. SILVA, A L P. O acompanhamento Mesquita Filho, 2010.psicológico a familiares de pacientesoncológicos terminais no cotidiano 9. URIBE-RODRIGUEZ, ANA Fernanda ethospitalar. Interação em Psicologia, al. Diferencias evolutivas en la actitud anteParaná, v. 7, n. 1, p. 27-35, jan-jun 2003. la muerte entre adultos jóvenes y adultos mayores. Act.Colom.Psicol., Bogotá , v.2. HOHENDORFF, Jean Von; MELO, 11, n. 1, p. 119-126, June 2008.Wilson Vieira. Compreensão da Morte eDesenvolvimento Humano: Contribuições à 10. DOMINGUES, Glaucia Regina et.al. -Psicologia Hospitalar. Estudos e Pesquisas Atuação do Psicólogo no Tratamento deem Psicologia, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. Pacientes Terminais e seus familiares.480-492, 2009. Psicologia Hospitalar, 2013, v.11, p. 2-24.3. RODRIGUEZ CF. O que os jovens têm a 11. AZEREDO, Nára Selaimen G; ROCHA,dizer sobre a adolescência e o tema da Cristianne Famer; CARVALHO, Paulomorte? (Dissertação de Mestrado em Roberto Antonacci. O Enfrentamento daPsicologia Escolar e Desenvolvimento Morte e do Morrer na Formação deHumano). São Paulo: Universidade de São Acadêmicos de Medicina. Rev. Bras. Educ.Paulo. Instituto de Psicologia; 2005. Med. Rio de Janeiro, v. 35 (1), p.37-43, 2011.4. CUNHA, Anderson Santana. FinitudeHumana: A perplexidade do homem diante 12. BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO,da morte. 5° Encontro de Pesquisa na Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.Graduação em Filosofia da Unesp, v.3,n° 1, Psicologias: Uma introdução ao estudo de2010. Psicologia. Ed° 13, Editora Saraiva, 1999. [onlinne].5. CORALLI, Bruna – O silêncio coletivo: Amorte na atualidade e o desconforto 13. JUNKEIRA, Maria Hercília Rodrigues;causado por ela. O Portal dos Psicólogos KOVÁCS, Maria Júlia. Alunos de Psicologia2012. e a Educação para a morte. Psicologia Ciência e Profissão, v. 28 (3), p. 506-519,6. MORITZ, Rachel Duarte. O efeito da 2008.informação sobre o Comportamento dosprofissionais da Saúde diante da morte. 14. BRASILEIRO, Tânia Suely Azevedo;Tese de Doutorado (Título em Engenharia SOUZA, Marilene Proença Rebello de.de Produção) Universidade Federal de Psicologia, diretrizes curriculares eSanta Catarina – Florianópolis 2002. processos educativos na Amazônia: um estudo da formação de psicólogos. Revista7. CAPUTO, Rodrigo Feliciano. A morte e Semestral da Associação Brasileira deos vivos: Um estudo comparativo dos Psicologia Escolar e Educacional, V. 14, N°sistemas tanatológicos linense bororo e 1, São Paulo – SP, Janeiro/Junho de 2010.suas interveniências nas interações sociaisnestes dois grupos sociais. 2014. 228 F. 15. BANDEIRA, Danieli; BISOGNO, SilvanaDissertação (Mestrado em psicologia) – Bastos Cogo. A abordagem da morte eInstituto de Psicologia, São Paulo 2014. morrer na graduação em enfermagem: Um relato de experiência. Revista Contexto &8. BARBOSA, Camila Garpelli. A família e a Saúde, Ijuí, v. 11, n°. 21, 2011. Disponívelmorte: estudo fenomenológico co em: <adolescentes, genitores e avós. https://www.revistas.unijui.edu.br/index.phO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 318FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.p/contextoesaude/article/view/380 > acadêmicos de enfermagem. EncontroAcesso em: 05 Jun. 2016 Revista de Psicologia, v. 13, n° 18, 2010.16. SCHMIDT, Beatriz; GABARRA, Letícia 22. ARAÚJO, Luciana Teixeira de.Macedo; GONÇALVES, Jadete Rodrigues - Reflexões sobre morte na perspectiva deIntervenção Psicológica em Terminalidade Psicólogos Hospitalares. Monografia.e Morte: Relato de Experiência. Paidéia. UNICEB. Dezembro de 2008.set.-dez. 2011, v. 21, n. 50, p. 423-430Universidade Federal de Santa Catarina, 23. KOVÁCS, Maria Júlia. Morte eFlorianópolis-SC, Brasil. Desenvolvimento humano. Casa do Psicólogo, 1992, São Paulo. [online]17. KLIEMANN, Amanda. Cuidadospaliativos no contexto hospitalar: 24. FARAJ, Suane Pastoriza; Cúnico, Sabrina Daiana; QUINTANA, Albertointervenções psicológicas sistêmicas para Manuel; BECK, Carmem Lúcia Colomé.uma “boa morte”. Familiare Instituto Produção científica na área da PsicologiaSistêmico, Monografia (Graduação em referente à temática da morte. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 19, n. 3, p.Terapia Relacional Sistêmica) 2013. 441-461, dez. 2013.18. RODRIGUES, Eliane Souza; SOUZA, 25. FREITAS, Adriana Francisca SantanaMônica Martins de. A inclusão dos de Carvalho; OLIVEIRA, Samantapacientes em estado terminal pelo viés da Aparecida de. Os impactos emocionaisatuação da Psicologia Hospitalar. Anais do sofridos pelo profissional de psicologiaII Seminário Internacional de Integração frente à morte em contexto hospitalar.Étnico Racial, V. 1, Nº 2, p. 96-100, 2015. Akrópolis v. 18, n. 4, p. 263-273, out./dez. 2010.19. MELO, Adriana Fernandes Vieira de;ZENI, Luciana Lima; COSTA, Célia Lídia 26. MENDES, J.A; LUSTOSA, M.A;da; FAVA, Antônio Sérgio. A importância do ANDRADE, M.C.M. Paciente terminal,acompanhamento psicológico no processo família e equipe de saúde. Revista SBPH,de aceitação de morte. Estudos e Rio de Janeiro, 12 (1), p. 151- 173, .(2009)Pesquisas em Psicologia; v.13, n.1, p. 152-166, Rio de Janeiro, 2013. 27. KLÜBER-ROSS, Elisabeth – Sobre a Morte e o Morrer. 7° Edição, São Paulo,20. LIMA, Vanessa Rodrigues; BUYS, Martins Fonte, Tradução Paulo Menezes,Rogério. Educação para a morte na 1996. [online].formação de profissionais de Saúde.Arquivos Brasileiros de Psicologia. v. 60, n.03, 2008.21. CUSTÓDIO, Misael R. de Martins. Oprocesso de morte e morrer no enfoque dos Como citar (Vancouver)Carnicheli EKRN, Casarin RG. O acadêmico de psicologia, a morte e o morrer: a relevância dos temas naformação. Rev Cient Fac Educ e Meio Ambiente [Internet]. 2018;9(1):301-319. DOI:http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.516O ACADÊMICO DE PSICOLOGIA, A MORTE E O MORRER: A RELEVÂNCIA DOS TEMAS NA 319FORMAÇÃO
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente. Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO DOI: http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.575 THE PHYSICAL THERAPY APPROACH TO PREVENT DIABETIC FOOT ULCERS Janaina Santos Sousa*45; Nayara de Almeida Consoline*46; Paula Daiane Anízio*47; Patricia Morsch48; Diego Santos Fagundes49.RESUMO: O portador de Diabetes Mellitus necessita de cuidados preventivos em função dascomplicações dessa patologia. Esse trabalho tem como objetivo descrever a atuação daFisioterapia na prevenção de úlceras de pacientes com pé diabético. Foi resultado de umarevisão de literatura, realizado por meio de pesquisa na base de dados Biblioteca Virtual emSaúde utilizando os descritores “Fisioterapia; úlcera, pé diabético”. O diabetes pode levar acomplicações severas como o risco de desenvolver úlceras do pé diabético, culminando empossível amputação. A fisioterapia atua com ações preventivas na rotina do diabético exigindoconhecimento e preparo adequado desse profissional.Descritores (DeCS)50: Fisioterapia. Pé diabético. Úlcera.ABSTRACT: Individuals with Diabetes Mellitus needs preventive care due to complications ofthis disease. This study aims to describe the role of physiotherapy in preventing ulcers inpatients with diabetic foot. It was the result of a literature review conducted by research in theBVS (Virtual Health Library) database using the keywords \"Physical Therapy; ulcers, diabeticfoot.\" Diabetes can lead to severe complications such as risk of developing diabetic foot ulcersand also amputation. Physical therapy works on preventive actions in diabetic patients’ routinewhich requires knowledge and training of this professional.Descriptors: Physical therapy specialty. Diabetic foot. Ulcer.* Igualdade de autoria.45 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA).E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3374-1836;46 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA).E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6601-960X;47 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA).E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6842-1440;48 Doutora em Gerontologia Biomédica pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS. Coordenadora doCurso de Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente – FAEMA. E-mail:[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7186-8219;49 Doutor em Farmacologia e Fisiologia pela Universidad de Zaragoza – Espanha. Professor do curso deFisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA). E-mail: [email protected] Vide http://decs.bvs.br.A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO 320
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. O Diabetes Mellitus (DM) é uma das entre outros(5). Sendo assim, essa revisãomaiores causas de morte no mundo. É uma teve como objetivo descrever as condutasdoença que acomete o sistema de fisioterapêuticas na prevenção de úlcerasconsumo da glicemia, favorece a alta em pacientes com pé diabético.produção hepática de glicose, adesregulação na produção intestinal de O presente trabalho consiste de umahormônios incretínicos, bem como a Revisão de Literatura de artigosdiminuição na secreção de insulina pelo científicos, por meio de busca na BVSpâncreas(1). (Biblioteca Virtual em Saúde) pelos seguintes Descritores Controlados em Uma das complicações crônicas da Ciência da Saúde (DeCS): Fisioterapia;DM são as úlceras do pé diabético, úlcera, pé diabético. Inicialmente, foramcaracterizadas como lesões cutâneas com encontrados 53 artigos, sendo que 15perda de epitélio, podendo acometer os foram excluídos por não estaremtecidos profundos e até mesmo disponibilizados com o texto na íntegra; 18estenderem-se pelo membro inferior(2). foram excluídos por serem escritos em língua estrangeira e 9 artigos foram Alguns fatores como andar descalço, excluídos por não serem dos últimos 5o uso de sapatos apertados, cortes anos. Sendo assim, foram selecionados 10inadequados das unhas e pequenas artigos para compor a presente revisão.dermatoses são prejudiciais aos portadoresde Diabetes(3). Segundo a Associação O DM é considerado uma doençaAmericana do Diabetes, é de extrema crônica grave que ocorre quando oimportância a atuação da equipe pâncreas não produz insulina suficiente oumultiprofissional focada nos cuidados do pé quando o corpo não usa de forma eficaz adiabético para proporcionar melhor insulina que produz. Estudos realizadosqualidade de vida aos portadores de DM, pela Organização Mundial de Saúde (OMS)diminuindo os riscos de complicações(4). estimam que o número de pessoas com diabetes na América Latina aumente para Estudos sobre a atuação da 64 milhões até 2025(5).fisioterapia nessa patologia são recentes, ea intervenção mais utilizada em casos Essa doença é considerada um graveconsiderados leves é a prevenção. Já em problema em vários países emcasos mais graves são utilizados métodos subdesenvolvimento, principalmente por terespecíficos como placas de hidrocolóide, um alto custo governamental paradrenagem, cuidado com posicionamento, tratamento de seus portadores. EstudoA ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO 321
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.realizado no Brasil aponta que 7,6% de Portadores de DM possuem maiorindivíduos entre 30 e 69 anos são risco de desenvolver úlceras do péportadores de DM, sendo que 50% dessas diabético por meio de lesões traumáticas epessoas ainda desconhecem o seu infecções, obedecendo a uma classificaçãodiagnóstico, e 25% sabem, porém não conforme demonstrada no Quadro 1. Afazem nenhum tipo de tratamento(5). maior consequência negativa associada a esses problemas são as amputações(6).Quadro 1 - Classificação de Wagner.Grau da lesão ManifestaçõesGrau 0 Pé em riscoGrau 1 Úlcera superficial, sem envolvimento de tecidos subjacentes. Úlcera profunda envolvendo músculos e ligamentos, mas semGrau 2 osteomielite ou abcesso. Úlcera profunda com celulite, abcesso ou osteomielite.Grau 3 Gangrena localizada (dedos, calcanhar).Grau 4 Gangrena de (quase) todo o pé.Grau 5 Fonte: Aragão (2010)(7). Para compreender a formação das A prevenção consiste em avaliaçãoúlceras é de extrema importância saber precoce, controle de fatores de riscocomo funciona a fisiologia do pé, que tem glicêmico e cardiovascular, orientaçãoentre suas funções a absorção de impacto, nutricional e controle alimentar, atividadesa sustentação do corpo e proporcionar físicas e orientação do uso de sapatos ealavanca para propulsão e proteção de meias adequados, bem como do cuidadotecidos moles[8]. Existem fatores geral com os pés(5), incluindo a higiene, paraextrínsecos e intrínsecos relacionados a evitar infecções fúngicas e lesõeslesões do pé diabético que se associam à cutâneas(4).neuropatia periférica (NP), a doençavascular periférica (DVP) e alterações Atualmente, a fisioterapia não ébiomecânicas. Ainda se desconhece a cura amplamente considerada na atuaçãopara a diabetes, porém, seu controle é preventiva aos portadores de Diabetespossível através da prevenção que pode Mellitus, devido às práticasser realizada com atividades de fisioterapêuticas ainda centrarem noautocuidados, evitando complicações, processo curativo das enfermidades(5).hospitalizações e mortalidade[5]. Porém, a participação desse profissional em cuidados preventivos é de grande Consultas e exames regulares se importância para a concretização dastornam uma rotina para o portador de DM(7). diretrizes de uma assistência integral àA ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO 322
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.saúde, mesmo que na prática profissional úlceras em extremidades inferiores, que naem ações de promoção à saúde ainda maioria dos casos leva a amputações(4).existem muitas dúvidas sobre seu realpapel(5). Conclui-se que o DM causa grandes impactos negativos aos seus portadores A importância da prevenção de forma devido as suas complicações, internaçõesmultidisciplinar ao paciente portador do DM de longos prazos, altos índices dereside da possibilidade de evitar várias incapacidade física e social relacionados acomplicações que podem leva-lo à ela(5). Por isso, é fundamental a execuçãoincapacidade de realizar suas atividades de de ações preventivas, como educaçãovida diária, sendo que problemas como pé envolvendo o indivíduo, familiares e adiabético, cegueira, insuficiência renal população como todo, bem como ocrônica são as principais consequências diagnóstico e tratamento precoce(11).negativas do DM que, além deincapacidade, levam a internações Os fisioterapeutas devem estarrecorrentes. As deformidades preparados para trabalhar com pacientesosteomusculares causadas nos pés com a com DM em qualquer situação, pois aperda de sensibilidade podem favorecer atuação da fisioterapia inicia com açõesalterações na marcha. A atuação do preventivas para evitar úlceras, bem comofisioterapeuta pode evitar esses com a execução de exercícios deproblemas(10). alongamento, fortalecimento, treino na marcha e equilíbrio, adaptações de órteses O paciente deve estar ciente da e próteses para diminuir sequelas do péimportância da prevenção de agravos do diabético, proporcionando uma melhorDM especialmente o cuidado com os pés e qualidade de vida a esses pacientes(12).preocupar-se com o aparecimento deREFERÊNCIAS informação no cuidado do pé diabético. Rev Conex UEPG. 2017;13(1):186–95.1. Oliveira FR. Efeito do Exercício Fìsicoem Indivíduos com Diabetes: uma revisão 3. Ferreira ACBH. Risco para desenvolverbibliográfica. 2015; Monografia de o Pé Diabético utilizando Redes Neuraisconclusão de curso. Escola de Educação Artificiais: Uma tecnologia para o CuidadoFísica, Fisioterapia e Dança. Universidade de Enfermagem. [Dissertação]. Juiz deFederal do Rio Grande do Sul, 48 p. Fora MG. Faculdade de Enfermagem. Universidade Federal de Juiz de Fora.2. Lima IG de, Costa JFL, Oliveira AF, 100p. 2014.Borges JNJ, Peixoto AS, Pancieri MS, et al.Educar para prevenir: A importância daA ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO 323
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.4. American Diabetes Association. Foot 9. Duarte GC, Schwartz E, Santos BP dos,Complications. Living With Diabetes 2016 Lecce TM, Moura PMM. Práticas de(cited 2018 Mar 12); Disponível em: promoção à saúde e prevenção de agravoshttp://www.diabetes.org/living-with- no grupo hiperdia. Rev Espaço Ciênciadiabetes/complications/foot-complications/ Saúde 2015;3:59–69.5. Mendonça SS, Morais JS, Moura MCGG 10. Barros MFA, Mendes JC, Nascimentode. Proposta de um protocolo de avaliação JA do, Carvalho AGC de. Impacto defisioterapêutica para os pés de diabéticos. intervenção fisioterapêutica na prevençãoFisioter em Mov 2011;24(2):285–98. do pé diabético. Fisioter em Mov 2012;25(4):747–57.6. Andrade NHS, Dal Sasso-Mendes K,Faria HTG, Martins TA, Santos MA dos, 11. Caiafa JS, Castro AA, Fidelis C, SantosTeixeira CR de S, et al. Pacientes com VP, Simão E, Jr CJS. Atenção integral aoDiabetes Mellitus: Cuidados e Prevenção portador de Pé Diabético. J Vasc Brasdo Pé Diabético em Atenção Primária à 2011;10(4 sup 2):1–32.Saúde. Rev enferm 2010;18(4):616–21. 12. Souza JM, Pedrosa RS, Oliveira FS,7. Aragão ML, Fernandes VO, Quidute Oliveira ME de. Conhecimentos e atitudesARP, Sales APAM, Dantas FCM, Porto LB, dos acadêmicos concludentes deet al. Perfil microbiológico e desfechos fisioterapia quanto aos cuidadosclinicos de úlceras em pés de diabéticos preventivos no pé diabético. Rev Interdiscipinternados. Rev Bras Promoç Saúde. 2013;6(4):124–31.2010;23(3):231-6.8. Carvalho VF, Coltro PS, Ferreira MC.Feridas em pacientes diabéticos. Rev Med(São Paulo) 2010;89 (3/4):164–9. Como citar (Vancouver)Sousa JS, Consoline NA, Anízio PD, Morsch P, Fagundes DS. A atuação da fisioterapia na prevenção de úlcerasdo pé diabético. Rev Cient Fac Educ e Meio Ambiente [Internet]. 2018;9(1):320-324. DOI:http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.575A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO 324
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente. Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL RECUPERAÇÃO DA MARCHA EM PACIENTES PÓS AVE DOI: http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.574 GAIT REHABILITATION IN POST-STROKE PATIENTS Gabriela Britto Morais*51; Michelle Kaneshigue Ramos*52; Leticia Silva Gomes*53; Patricia Morsch54; Diego Santos Fagundes55.RESUMO: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é conhecido como um transtorno clínico quese desenvolve rapidamente com perturbações focais. O objetivo foi descrever a recuperaçãoda marcha em pacientes pós AVE. Trata-se de uma revisão de literatura realizada por meiode um levantamento bibliográfico. Os achados revelam que existem tratamentos eficazes paraas disfunções ocasionadas pelo AVE, incluindo os treinos de marcha, e o grau de recuperaçãofuncional é determinado pelo local e tamanho da lesão. Diante dos resultados desta revisão,conclui-se que pacientes acometidos por AVE devem ser encaminhados para a reabilitação oquanto antes.Descritores (DeCS)56: Acidente Vascular Cerebral. AVC. Marcha. Reabilitação.ABSTRACT: Stroke is known as a clinical disorder with quick development and focal disorders.This study aims to describe gait rehabilitation in patients’ post-stroke. This is a literature reviewconducted through a bibliographic research on Google Scholar and Scientific Electronic LibraryOnline (SciELO) databases. Findings from the study show that treatment are available toreduce disability caused by this disease; however it depends on the stroke extent to determinefunctional rehabilitation. To sum up, patients who suffered stroke should be admitted torehabilitation as soon as possible for optimal results.Descriptors: Stroke. Gait. Rehabilitation.* Igualdade de autoria.51 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA.ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5677-2048;52 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente -FAEMA. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7594-6480;53 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA.E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3210-4536;54 Doutora em Gerontologia Biomédica pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS. Coordenadora doCurso de Fisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente – FAEMA. E-mail:[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7186-8219;55 Doutor em Farmacologia e Fisiologia pela Universidad de Zaragoza – Espanha. Professor do curso deFisioterapia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA). E-mail: [email protected] Vide http://decs.bvs.br.RECUPERAÇÃO DA MARCHA EM PACIENTES PÓS AVE 325
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. O Acidente Vascular Encefálico (AVE) abordavam o tema, mas apenas 15 delesé compreendido pela sua agilidade de atenderam os critérios de inclusão parasinais clínicos decorrentes de distúrbios esta revisão. Foram retirados os artigos quefocais ou globais da função cerebral[1,2]. Os não atendiam ao tema proposto, incluindosintomas neurológicos apresentados as palavras chave Acidente Vascularrefletem o posicionamento e o tamanho do Cerebral, reabilitação e marcha. Realizou-AVE, mas não diferenciam o tipo do se então uma comparação direta dessasacidente vascular[3]. Várias deficiências são publicações que serviram como conclusãopossíveis após o AVE, entre elas distúrbios desta pesquisa.das funções motoras, sensitivas, mentais,perceptivas e de linguagem, bem como são Segundo a Organização Mundial decomuns os déficits motores e de Saúde o Acidente Vascular Encefálicoalinhamento na transferência de peso[4]. Os (AVE) é conhecido como um transtornodéficits motores normalmente são clínico que se desenvolve rapidamente commanifestados por hemiplegia ou perturbações focais[7]. É um dos principaishemiparesia[5]. Sendo assim, a doença é causadores de incapacidades em adultos eincapacitante e muitos indivíduos passam a suas consequências geralmente acometemdepender de cuidadores[4]. Por isso, em a funcionalidade, levando a dificuldade napacientes vítimas de AVE, a recuperação realização de movimentos[8,9]. Existemda marcha é crítica, pois exige a tratamentos disponíveis para amenizar asreabilitação de vários mecanismos[6]. Este sequelas decorrentes do AVE, porém aestudo tem a finalidade de descrever eficácia da recuperação funcional étratamentos efetivos para melhorar a determinada pelo local e o tamanho damarcha de pacientes acometidos pelo AVE, lesão[8].auxiliando a melhor escolha de tratamento,favorecendo assim a qualidade de vida ao Existem diversas formas depaciente. tratamento para a marcha de pacientes que sofreram AVE, dentre elas a esteira com Esta comunicação breve trata-se de suporte parcial de peso corporal[10]. Alémuma revisão de literatura, realizada por disso, os pacientes são orientados ameio de um levantamento bibliográfico nas realizar exercícios passivos, ativos-bases de dados Google Acadêmico e assistidos e ativos, dependendo do seuScientific Electronic Library Online grau de acometimento físico, com o objetivo(SciELO). Foram analisados 41 artigos que de fortalecer os membros debilitados e modular o tônus muscular[11]. O alto gastoRECUPERAÇÃO DA MARCHA EM PACIENTES PÓS AVE 326
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.energético pode contribuir para a fadiga bibliográfico, conclui-se que pacientesprecoce, durante a realização do acometidos por AVE devem serexercício[12], já que a disfunção motora encaminhados o quanto antes paraocorre por um desequilíbrio muscular, por tratamentos de reabilitação, inclusive dafalta de uso e da fraqueza muscular[13,14]. marcha, associando diversas formas deNeste sentido, a falta de mobilidade e a tratamentos, prevenindo assim odificuldade execução dos exercícios, levam sedentarismo e comprometimento funcionalos hemiparéticos/hemeplégicos a de membros, culminando em um declínioapresentar maior vulnerabilidade ao da qualidade de vida do paciente.sedentarismo[15]. Diante deste estudoREFERÊNCIAS 7. Oliveira LL, Mejia DPM. A importância do tratamento precoce em pacientes hemiplégico ,1. Polese JC, Tonial A, Jung FK, Mazuco R, no processo de reaprendizagem motora após oOliveira SG De, Schuster RC. Avaliação da acidente vascular encefálico [Internet]. Goiania:funcionalidade de indivíduos acometidos por 2007. Available from:Acidente Vascular Encefálico. Rev http://portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/32/Neurociências 2008;16(3):175–8. 142_-2. Ministério da Saúde. Diretrizes de Atenção à _A_imp.a_do_tto_precoce_em_pctes_hemiplYReabilitação da Pessoa com Acidente VascularCerebral. Brasilia - DF: 2013. gicos_no_processo_de_reaprend.motora_apY s_AVE.pdf3. Leite HR, Nunes APN, Corrêa CL. Perfil 8. Pedrolo DS, Kakihara CT, Almeida MM de.epidemiológico de pacientes acometidos poracidente vascular encefálico cadastrados na O impacto das sequelas sensório-motoras naEstratégia de Saúde da Família em Diamantina, MG Epidemiological profile of stroke survivors autonomia e independência dos pacientes pós-registered at the Health Family Strategy of AVE. O mundo da Saúde 2011;35(4):459–66.Diamantina , MG. Fisioter e Pesqui2009;15(4):34–9. 9. Carvalho AC, Barbatto LM, Bofi TC, Silva FA.4. Trindade APNT, Barboza MA, Oliveira FB, Estudo da mobilidade funcional deBorges APO. Influência da simetria e hemiparéticos crônicos Tratados comtransferência de peso nos aspectos motores Fisioterapia no Formato de Circuito de Treinamento. Rev Adapt 2015;11(1):19–24.após Acidente Vascular Cerebral. RevNeurociência 2011;19(1):61–7. 10. Pinheiro LOR. Eficácia do treinamento de marcha em esteira com suporte parcial de peso5. Araujo LPG, Souza GS, Dias P de LR, corporal na capacidade funcional de pacientesNepomuceno RM, Cola C dos SD. Principais após Acidente Vascular Encefálico: Uma metanálise. 2015; Dissertação de mestrado.fatores de risco para o acidente vascular Programa de Pós Graduação em Tecnologiasencefálico e suas consequências: uma revisão da Saúde. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Públicade literatura. Rev Interdiscip do PensamentoCientífico 2017;1(3):283–96. 11. Silva E de JA da, Viana M. Reabilitação após o AVC. 2010;6. Barcala L, Colella F, Araujo MC, Shiguemi A, 12. Jakaitis F, Santos DG dos, Abrantes CV, Gusman S, Bifulco SC. Atuação da FisioterapiaSalgado I, Oliveira CS. Análise do equilíbrio em Aquática no Condicionamento Físico do Paciente com AVC. Rev Neurociênciapacientes hemiparéticos após o treino com oprograma Wii Fit. 2011;24(Ml):337–43.RECUPERAÇÃO DA MARCHA EM PACIENTES PÓS AVE 327
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.2012;20(2):204–9. Científica Univiçosa 2015;7(1):311–7.13. Junqueira RT, Ribeiro AMB, Scinanni AA. 15. Silva FC da, Silva SM, Sampaio LMM,Efeitos do fortalecimento muscular e sua Corrêa JCF, Corrêa FI. Relação entrerelação com a atividade funcional e a recuperação motora e força muscularespasticidade em indivíduos hemiparéticos. respiratória de hemiparéticos crônicos eRev Bras Fisioter 2004;8(3):247–52. agudos após acidente vascular encefálico. Ter Man 2012;10(48):1–6.14. Moreira MAF, Silva ED, Paula LG de,Moraes SHO, Martinho KO. A influência daatividade física, principalmente treinamento deforça, em pacientes hemiplégicos. Rev Como citar (Vancouver)Morais GB, Ramos MK, Gomes LS, Morsch P, Fagundes DS. Recuperação da marcha em pacientes pós AVE.Rev Cient Fac Educ e Meio Ambiente [Internet]. 2018;9(1):325-328. DOI: http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.574RECUPERAÇÃO DA MARCHA EM PACIENTES PÓS AVE 328
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. CIÊNCIAS HUMANASENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO PENSAMENTO PÓS-COLONIAL DOI: http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.565ESSAY ON A SCIENCE IN THE TRANSITION FROM THE ABYSSAL LINE: FROM SOCIAL CRITIQUE TO POSTCOLONIAL THOUGHT Samuel Correa Duarte57; Dhiogo Rezende Gomes58.RESUMO: O presente ensaio procura traçar reflexões a partir da constatação da emergênciada razão instrumental como fundamento da ciência moderna. O diagnóstico de Max Weber éque a ciência entendida como técnica tende a inverter a lógica da relação homem-conhecimento produzindo um mundo “administrado”. Ainda no campo da ciência positiva, masbuscando descentrar o sujeito cognoscente a partir do pensamento eurocêntrico, discutimoso esforço de Pierre Bourdieu e análise disposicional de Bernard Lahire para deslocar o olharcientífico para a perspectiva do ator social. A seguir, atravessando o Atlântico a convite deBoaventura Sousa Santos, recuperamos a contribuição da CEPAL para entender o mundovisto do lado de cá da linha abissal. Enfim nos reportamos às contribuição de autores comoAchilles Mbembe e Walter Mignolo para dialogar sobre a necessidade de (re)pensar a(pós)modernidade e seu duplo designado pelo termo (pós)colonialidade. Espera-se com issoidentificar novos horizontes epistemológicos que se desenham para a pesquisa ao “sul doEquador”.Palavras-chave: Razão instrumental. Pós-moderno. Pós-colonial.ABSTRACT: The present essay tries to draw reflections from the observation of theemergence of instrumental reason as the foundation of modern science. Max Weber'sdiagnosis is that science understood as technique tends to reverse the logic of the man-knowledge relationship by producing a \"managed\" world. Still in the field of positive science,but seeking to decentralize the cognoscent subject from the Eurocentric thought, we discussthe effort of Pierre Bourdieu and Bernard Lahire's dispositional analysis to shift the scientificperspective to the perspective of the social actor. Then, crossing the Atlantic at the invitationof Boaventura Sousa Santos, we recovered CEPAL's contribution to understanding the worldseen from here on the abyssal line. Finally, we refer to the contributions of authors such asAchilles Mbembe and Walter Mignolo to discuss the need to (re) think of (post) modernity and57 Bacharel em Sociologia e Mestre em Ciência Politica pela UFMG, Mestre em Desenvolvimento e PlanejamentoTerritorial pela PUC Goiás, Doutorando em Sociologia pela UECE, docente do quadro efetivo do curso dePedagogia UFT Campus Arraias. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3169-3383;58 Licenciado em História pela UPE e Mestre em Ensino de História pela UFT, docente do quadro efetivo doInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão IFMA - Campus Grajaú. E-mail:[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3221-6415.ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 329PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.its double designated by the term (post) coloniality. It is hoped to identify new epistemologicalhorizons that are designed for research in the \"south of Ecuador\".Keywords: Instrumental reason. Post-modern. Postcolonial.1 A RAZÃO INSTRUMENTAL COMO justamente todo o conjunto de variáveisFUNDAMENTO DA CIÊNCIA MODERNA culturais que no escopo do materialismo histórico erigido pelo pensamento marxista Como ponto de partida para entabular havia sido relegado ao segundo planoreflexões sobre a ciência moderna e seus como epifenômeno do mundo econômico.desdobramentos no campo do pensamentopós-colonial, reportaremos primeiro ao Neste sentido é que nos estudosesquema analítico-sociológico proposto por sobre a ética protestante Max WeberMax Weber como uma chave para entender postula que o homo oeconomicus nãoo lugar da ciência no contexto da sociedade deriva diretamente do processo decapitalista. Max Weber admite no seu acumulação de capital, mas de um adventoesquadro teórico como pressuposto de uma nova ética, um novo conjuntofundamental a constatação de que desde axiológico que visa orientar oseu nascedouro nas revoluções burguesas comportamento dos indivíduos numao capitalismo se constituiu o fator chave quadra burguesa.para a compreensão da modernidade emfunção do seu caráter totalizante. Contudo Ao adicionar os fatores culturais naele foi além e empenhou-se em entender a explicação do comportamento humano,lógica cultural que permitiu a ascensão e Max Weber rompe com o determinismomanutenção do capitalismo enquanto material professado pela vulgata marxista,sistema social e não apenas como modo de mas não abandona a perspectivaprodução econômico. materialista de análise, como bem a atesta a tese sobre a secularização e O sujeito moderno em Max Weber desencantamento crescente do mundonasce num ambiente envolvente cuja lógica moderno, de modo que ao contrário deestruturante é material e materialista, Marx para o qual o materialismo é o pontoracional e racionalista, e cuja mola mestra de partida, para Weber ele constitui o pontoé o pensamento burguês e sua criação, o de chegada: a modernidade é o tempo docapitalismo. De acordo com Riesebrodt(1) o reino material. Na ótica de Riesebrodtque Max Weber deseja incluir na agenda de deduz-se que Max Weber concorda compesquisa do campo sociológico é Karl Marx sobre a natureza da sociedadeENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 330PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.burguesa, discordando de sua origem e economia, educação, justiça, ciência)situando a mesma como um cosmo cultural produz sua própria racionalização, masno qual emergem invenções como aquilo como vimos anteriormente, o sistemaque viria a ser chamado de individualismo capitalista enquanto ambiente envolventepossessivo(2). interfere nas diferentes dimensões da vida na atualidade, comumente mobilizando o De acordo com Sell(3) no modelo de aparato político-estatal para regular a vidaanálise derivado do pensamento weberiano social. Assim podemos distinguir entre umpodemos identificar três passos da análise tipo de racionalização que diz respeito a umsocial: o primeiro passo consiste em situar processo histórico e cultural (aa influência das estruturas sobre o nível da transformação da mentalidade) e aação do sujeito; o segundo passo diz racionalização de cada esfera da vidarespeito ao processo de identificar o modo social em particular, de onde se deriva umcomo o sujeito decide seu curso de ação; campo específico para cada caso, se tratarpor fim o terceiro nível implica na junção de religião, política, ciência, etc... aentre a volição individual e a estruturação economia interfere, mas não determina – esocial. portanto há espaços para dissonâncias. Aqui reside um divisor de águas Nessa linha pode-se verificar comanalítico weberiano, na medida em que ao Weber que somente no campo de umanível do sujeito situam-se os instrumentos racionalidade prática é que encontramos oque orientam suas ações no plano social, sentido possível da ação passível de serenquanto ao nível da estrutura estão as captado no plano sociológico. Mas qualrelações sociais orientadas tendo como seria o conteúdo dessa racionalidadereferência a ordem política ou econômica prática? Ela não é apenas instrumental novigente, p. exe. o campo científico e suas sentido de buscar a justa adequação entreinterlocuções com Estado e mercado. A meios e fins; também não é puramenteanalítica weberiana prevê a investigação eletiva na medida em que seleciona valoressobre os fins da ação, os meios para conduzir a escolha dos fins a seremempregados e os valores culturais que almejados; nem tampouco se resume aformam o tecido social, no qual se uma dimensão normativa na medida quedesenrola as atividades humanas. uma variável axiológica intervém sobre a ação. A racionalidade prática se bifurca Na ótica de Sell(4) também é preciso numa linha formal (escolher e ajustar meiosdestacar no pensamento weberiano quecada esfera da vida moderna (religião,ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 331PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.e fins) e outra moral (o esquema normativo do meio natural “fabricando-se mundos” navigente). artificialidade (trabalho). A última atividade nos interessa sociologicamente, pela Na tipologia clássica weberiana temos referência da coletividade eminentementea ação racional com relação a fins, a ação política como condicionante daracional com relação a valores, a ação humanidade, basilar para relações deafetiva e ação tradicional. Essa tipologia alteridade, a ação como única atividadealém de não ser mutuamente excludente (a realizada na pluralidade, na multiplicidademesma ação pode conter mais de um dos “seres homens” em agência e não dosentido) também estabelece uma “ser homem” como Arendt frisa.hierarquia entre o ideal e o efetivo, entre oracional que o mundo moderno coloca Na tópica da sociedade racionalizada,como desiderato e a realidade irracional ganha destaque de acordo com a visãodos valores, tradições e relações de afeto weberiana o termo “técnica” pode serque não podem ser eliminados sob risco de entendido como o somatório dos meios quetomar o homem como um ser artificial. Sell a ação emprega para se efetivar. Sobre anos lembra que ao apontar o curso da “técnica” se impõe o fator econômico parahistória rumo à racionalização Max Weber sua consecução: a racionalidade “técnica”anota que somos demasiados humanos(5) e depende das condições materiaisque esse traço incontornável é justamente disponíveis ao agente para que se efetue.o ponto a ser analisado pelo prisma Fazendo o escrutínio da escrita weberiana,sociológico. Sell(7) observa que o termo “técnica” busca reunir sob o mesmo jugo os meios e os fins, Uma análise que pode partir de uma no sentido de obter a melhor eficácia: osbase para o entendimento da condição objetivos definem a dimensão das técnicashumana levantada por Hannah Arendt(6) ao e recursos a serem empregados para otratar da humanidade constituída por três sucesso da ação. Mas são os meios queatividades matriciais de íntima inter- consubstanciam a “técnica” na medida querelação: labor, trabalho e ação. Sendo as são desenhados de acordo com objetivos eduas primeiras, atividades cuja condição possibilidades – aqui reside o cerne dahumana dialoga com a natureza questão visto que o espectro histórico eaprioristicamente pela marca da cultural precisa viabilizar uma “técnica” paraindividualidade. Natureza, meio pelo qual que essa ganhe concretude. Em suma, aprovem os humanos e se mantém prática depende não só das “técnicas”biologicamente (labor) e na transformaçãoENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 332PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.disponíveis, mas também do ambiente operandi de instituições públicas,cultural no qual ela se inscreve. empresas, partidos, igrejas, etc. A ciência Há de se lembrar que na óticaweberiana a análise sociológica toma como não fica de fora dessa quadrareferência o sentido que os atores atribuemaos seus atos no contexto social, de modo racionalizante se tornando alienada eque para além da “tecnicidade” enquantooperações no plano do modo de produção alienante em relação ao mundo da vida,material, Max Weber coloca em evidência opapel das mentalidades para a formação de visto que a razão instrumental levaria a umaum conjunto de práticas, seja no âmbitojurídico, familiar, econômico, etc. Neste irrefutável desumanização dassentido podemos identificar o modo de agirsocial com o modo de agir técnico e assim organizações pela imposição de rotinas atorna-se evidente que toda ação socialpossui uma instrumentalidade intrínseca. um só tempo, impessoais, rígidas e O processo de racionalização nutre- autocentradas.se da substituição dos costumes arraigadospela projeção da ação com base em 2 DESCENTRANDO O SUJEITOinteresses, que podem ser privados oucoletivos. Assim a racionalização implica COGNOSCENTE A PARTIR DOnuma colonização do mundo da vida pelainstrumentalidade e a tecnicidade de modo PENSAMENTO EUROCÊNTRICOque a secularização e desencanto domundo levam a uma forma de vida calcada De acordo com Bourdieu(8), as regrasna racionalização técnica. do método sociológico precisam Dito isso, Sell chega ao veredito deque a prevalência da burocracia sobre o reconhecer o império da empiria no sentidocarisma significa que os meios passaram asubjugar os fins, desviando as instituições de se adaptarem às condições reais dede sua atividade finalística para outra afeitaao seu aparato burocrático. Isso implicaria pesquisa. A validade/relevância dosnuma crescente petrificação do modus dados/fontes/materiais é conferida pelo olhar do pesquisador tendo como filtro sua perspectiva teórica. Mas há de se considerar que tudo aquilo que a teoria informa como relevante forma um grupo de fenômenos em análise e assim se opera uma exclusão de “todo o resto” – mas que de modo algum perde relevância senão para aquela pesquisa como foi desenhada. A noção de campo surge como um guia para se identificar o que há de se fazer, saber e verificar num determinado objeto de análise. Contudo a construção de um objeto científico é também romper com o senso comum, ou seja, com as representaçõesENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 333PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.partilhadas por todos, em particular as Uma disposição pode ser revelada por“oficiais”. O sociólogo deve operar uma meio de mecanismos como a “descriçãodúvida radical e colocar em suspenso todos densa” de Clifford Geertz(10), ouos pressupostos inerentes ao fato de que experiências etnometodológicas como asele é um ser social e, portanto, sua propostas por Garfinkel(11). O que está emconcepção de mundo influi na sua tela nessas estratégias é criar meios paraespeculação científica. acessar a visão de mundo multifacetada que o sujeito possui e que orienta sua ação A sociologia retira do mundo social os – nesse sentido não há porque supor umaseus problemas, conceitos e instrumentos coerência lógica interna dos modos dede conhecimento – logo é socialmente pensar, visto que ao interagir com adeterminada. Assim os problemas que se realidade de uma modernidade líquidaestuda são orientados pela dinâmica da como descrita por Bauman (12) exige umsociedade – o que estudar? A objetivação sujeito mais propício a operar bricolagensparticipante seria uma forma de abordagem mentais que lhe permitam agir no mundoque requer a ruptura das aderências e das sem parecer estar todo o tempo deslocadoadesões mais profundas e mais no tempo e espaço social – a capacidadeinconscientes que povoam a mente do de adaptação a diferentes contextos é maispesquisador. A estratégia discursiva dos crucial que a coerência, num processo quediferentes atores envolvidos na pesquisa Halbwachs(13) já indicou estar sujeito àdeve ser analisada e o discurso posto em elaboração mental da memória (atribuirsuspenso para fins de verificação, contraste sentido e significado pós-facto a algo quee exame. no momento da sua ocorrência parecia absurdo é um processo de construção da Explorando essa linha investigativa, biografia e dotação dessa de umaem Lahire(9) encontra-se a descrição e coerência artificial elaborada).aplicação do que ele chama de “tradiçãodisposicionalista”, a qual procura ter em Mas Lahire alerta para a questão deconta no processo de pesquisa e análise que ao focalizar os atores sociais em si edas práticas e comportamentos sociais para si, não se pretende substituir a ciênciafatores como o passado e a memória pelo senso comum, não se trata de tomar ainscritos no modo de agir dos atores doxa pela ratio, mas transformar aindividuais. A proposta se coaduna com realidade social em matéria prima sobre auma agenda de pesquisa que vise inquirir qual a reflexão sociológica se debruça. Assujeitos concretos e suas visões de mundo.ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 334PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.evidências sociológicas obtidas por meio da informando sua visão da transformação napesquisa de campo, entrevistas, relação tradição/modernização o que nosquestionários e etc, não são “evidentes” em leva às tensões que podem existir entresi mesmas, demandando interpretação e pesquisado e mundo da vida. Para ter umaanálise com a objetivação e comparação de compreensão mais realista de umafenômenos. disposição é preciso dar conta de um trabalho interpretativo que envolve a A proposta é identificar os níveis de análise de práticas e opiniões que sehomogeneidade (a base solidariedade reproduzem ao longo do tempo, ou seja,mecânica) e de heterogeneidade (a base ações recorrentes. Disso decorre que ada solidariedade orgânica) inscritos nas disposição é internalizada pela socializaçãodisposições que os atores individuais e se perpetua pela reprodução emportam em suas interações ao longo da situações similares (ela cria um rol devida. Essas disposições são derivadas do respostas para situações do cotidiano).percurso biográfico e das experiências de Mas não se trata de uma respostasocialização por um lado, e por outro lado, automática a um estímulo, e sim um mododas interações cotidianas com outros de sentir e definir um curso de ação dentreatores e instituições sociais. A disposição, vários possíveis. Também não implica notal qual seu termo correlato, o habitus, são ajuste entre comportamento, disposição eestruturantes ao mesmo tempo que são expectativas dos agentes sociaisestruturados (memória e projeção se envolvidos – comportamentos podem serarticulam para dar coerência ao passado e inibidos, outros incentivados oureduzir a sensação de risco futuro). Assim é transformados pela dinâmica da interação.possível elevar os esquemas interpretativosde um estado semiconsciente para um uso Na exposição de Lahire o conjunto dereflexivo que nos permite identificar a disposições a que o sujeito pode recorrerdinâmica social por meio do exame daquilo para lidar com as diferentes situações doque se poderia chamar de mentalidades ou cotidiano formam um sistema que pode serestados mentais. estudado pela pesquisa empírica. Ele propõe um percurso para a interpretação Nesse sentido caberia tomar como em estudo de caso: reconstrução daspontos centrais para a pesquisa itens como disposições sociais a partir de materiala exposição do entrevistado a diferentes empírico; como a alteração do contexto decontextos socializadores; a variação ação afeta também as disposições;diacrônica das disposições pode contribuirENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 335PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.Identificação das propriedades sociais do desapareceram). Supostamente só haveriacontexto; como o processo de socialização um modelo civilizatório, globalizado einterfere na produção de uma identidade? padronizado ao qual nos cabe somente se adaptar. Um ponto importante nesse Nessa mesma linha, tratando do processo é o recurso ao discurso científicoconceito de identidade, Hall (14) nos alerta para desestruturar a constituição holísticaque as narrativas derivadas do Iluminismo da realidade. Corpo, mente, sentidos e serentraram em declínio fazendo surgir um aparecem como que separados emosaico de identidades e assim rompendo estanques. A lógica cartesiana leva a umacom a visão de um sujeito unidimensional. ruptura ontológica entre razão e mundo daA crise de identidade faz parte de um vida que produz uma realidade morta. Se osprocesso de mudança em larga escala fruto pensadores gregos clássicos desejavamdo ‘descentramento’ do indivíduo. O sujeito entender o mundo a partir seu lugar napós-moderno não possui uma essência ou constelação cósmica, o pensamentouma identidade fixa. A identidade passou a moderno leva ao desencantamento doser ‘negociada’ conforme transitamos nos mundo e do saber como antecipou Maxdiferentes sistemas culturais nos quais Weber.estamos inseridos. Inquirir as diferentesidentidades se tornou assim um passo Santos e Meneses(17) identificam arelevante para compreender a realidade existência uma linha artificial que tornapara além das noções pré-concebidas. visível a existência do lado3 O MUNDO VISTO DO LADO DE CÁ DA ocidental/colonizador e invisibiliza o outroLINHA ABISSAL lado da linha, a cultura subalterna. A dicotomia prevalecente nas sociedades Lander(15) nos adverte que o problema pós-coloniais consiste no binômioda pós-modernidade é que o sujeito “apropriação/violência”. O colonial éfragmentado gerado nela almeja a concebido como “estado de natureza” noliberdade mas se torna presa da qual aquele constitui uma espécie de graudesertificação neoliberal e que a mais zero a partir do qual se erige o edifício dapotente expressão da hegemonia do civilização. Mas os nativos do mundopensamento neoliberal é a naturalização colonial não seriam capazes de evoluçãodas relações sociais. Nessa lógica vivemos per si, daí derivando o “fardo do homemhoje a metáfora do “fim da história” de branco”: a tarefa de tirar do atraso e daFukuyama (16) no qual as clivagens sociais miséria a periferia do globo recairia sobredeixaram de importar (já que nãoENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 336PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.os ombros da Europa, seu Estado, sua gradativa de características de mercadoreligião e sua ciência. O mundo do lado de concorrencial e luta de classes; 2º. Soblá da linha abissal é constituído por modos condições de dependência econômica,de vida baseados em saberes que operam social e política a revolução burguesa éna interseção entre ciência, teologia e dinamizada pela articulação do capitalfilosofia, sendo incompatíveis com a pureza privado nacional com o estrangeiro numado “cogito ergo sum” e que portanto devem relação mediada pelo intervencionismoser substituídos pela razão iluminista. estatal; A ciência moderna na percepção de Neste mesmo prisma Cardoso eLander é um epifenômeno da cultura Faletto(19) ao analisar o desenvolvimentoeuropeia colonizadora, prenhe dos seus subalterno destacam que além daarquétipos e aparelhos de dominação – no necessidade de identificar os fatoresseu escopo somente o discurso sociais também se demanda um esforço nopretensamente racional de matriz sentido de perceber as condiçõeseurocêntrico seria válido e teria históricas particulares (grifo do autor) queabrangência universal. Por isso no permeiam o plano nacional e externo, bemprocesso colonial não bastava ocupar o como compreender os objetivos dos gruposterritório, mas era preciso também colonizar envolvidos na definição do projeto nacional.as mentes. Tomada como referência O ponto chave aqui consiste em pensar ounilateral da evolução histórica, a Europa desenvolvimento como derivado dase ergue como centro difusor da cultura e interlocução de grupos e classes comciência e assim as populações colonizadas interesses diversificados que negociam ossão postas como um ponto de fuga no acordos com base nas oposições ehorizonte da humanidade. aproximações que permeiam as relações materiais. Isso permite que dada a estrutura Aqui podemos aduzir as contribuições social e, portanto, das regras e recursos doda CEPAL para o debate precursor acerca jogo, os grupos e classes dominantesdas derivações oriundas da condição efetivem e perpetuem seus interesses.colonial. Florestan Fernandes (18) defendeque o estudo das sociedades periféricas Na visão de Cardoso e Faletto, oimplica analisar o regime de classes em poder econômico de uma classe ou grupoduas situações distintas: 1º. Sob condições se expressa como dominação social eneocoloniais em que existe um sistema utiliza dos instrumentos políticos para imporcapitalista incipiente com a emergência à sociedade seu modus operandi eENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 337PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.sustentar as relações de produção que lhe obtenção da mais valia deixando um rastropermitam a manutenção da sua posição de industrialização e desindustrializaçãosocial. Nessa ótica embebida no marxismo, que migra do centro rumo à periferia doa análise sociológica não pode omitir as sistema, mas mantendo a hegemonia edeterminantes econômicas derivadas do controle financeiro sob o jugo das grandesmercado mundial, bem como as relações economias globais; a percepção do Estadode poder a nível internacional, a como instrumento de classe se acentuaorganização e lógica do sistema nacional e tendo em vista a formação dos trustessua relação com o mercado exterior. globais com poder de agenda sobre asCompletando esse quadro Florestan decisões daquele, permitindo assim umFernandes indica que nas sociedades processo de acumulação de capitalperiféricas há de se analisar o papel da ampliado.ciência como instrumento para o exercícioda dominação burguesa. E considerando-se que o saber é uma forma de poder, na roda do capital também O dilema das sociedades pós- a ciência é um ativo econômico e meio decoloniais consiste no fato de que as dominação – vide-se as biociências e suaestruturas sociais absorvem as relação com a indústria farmacêutica, atransformações do capitalismo sem gerar pesquisa na área química e osintegração e desenvolvimento social agronegócios, a educação e osenquanto a dominação externa estimula o conglomerados internacionais que operamcrescimento nos segmentos associados na sua provisão, etc.aos seus interesses. 4 (RE)PENSAR A (PÓS)MODERNIDADE E SEU DUPLO: A (PÓS) Giddens(20) argumenta que podemos COLONIALIDADEidentificar nas sociedades capitalistas umtipo especial de modernidade com É nesse contexto decaracterísticas particulares: uma ordem “descentramento” do sujeito moderno queeconômica ancorada na competição e ganham relevo os estudos pós-coloniais, osexpansão dos mercados com base na quais constituem um esforço crítico-inovação tecnológica e arranjos de poder; analítico de revisão dos pressupostos dauma capacidade econômica de Estados e teoria da modernidade tendo surgido nogrupos empresariais que permite intervir na campo da literatura e se difundido pelasrealidade em escala global; a circulação do ciências humanas. No entendimento decapital em busca de condições ótimas de Costa (21) a crítica social elaborada a partirENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 338PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.do referencial (de)colonial permite desvelar Estado, que criou limites ao exercício doos pressupostos ocidentais da ciênciamoderna e seu discurso hegemônico a poder político e o submeteu aos interessesserviço de uma visão ideológica e políticaque pretende demarcar uma linha entre da comunidade e da cultura.centro e periferia, entre dominadores eseus subalternos. Nesse sentido o Mas a percepção desse cenário peloconhecimento, saberes e práticastradicionais dos povos originários e prisma da ciência fica comprometida vistoreduzida à condição de pseudociência aqual deve ser ignorada ou se possível que como afirma Borsani(23) o “cogito”suprimida. Para romper com essa lógica épreciso desconstruir o discurso cartesiano tem como duplo o “ego“West/Rest”, conforme destaca Stuart Hall,e avançar para a percepção do outro não conquiro”, a lógica da submissão do outro.mais como o “incompleto”, mas como“alteridade” que porta em si mesma os Não é possível desamarrar essa lógica semvalores para sua validade – acaso nãoforam bem-sucedidos os nativos dos atacar a sua raiz, que consiste no casocontinentes africano e ameríndio naocupação desse vasto território por tempos colonial no uso político da noção de “raça”.imemoriais antes da invasão europeia?Cabe lembrar com Pierre Clastres(22), a E aqui o recorte racial aparece velado portítulo de exemplo, que entender a lógicanativa implica numa reversão das técnicas camadas de verniz econômico, social esociais e analíticas: a invés da ausência, aincompletude, perceber a astúcia da razão cultural que são utilizados para naturalizardita “primitiva”: segundo esse autor, maisdo que sociedades “sem Estado”, o que se a condição subalterna. Sendo assim, averifica na cultura ameríndia é umasociedade “contra o Estado”, uma tríade modernidade-colonialidade-sociedade que adiantou em muito àseparação entre religião e política, Igreja e decolonialidade expressa com precisão o circuito histórico e político percorrido pela ciência desnudando seu rastro de violência, genocídio, expulsões. A resistência no contexto da subalternidade precisa ir ao encontro das formas de imperialismo epistêmico na busca de erigir saberes autônomos, reinterpretar e ressignificar a realidade tomando como perspectiva as vivências nativas e suas expressões. Nessa linha crítica é que Mbembe(24) distingue “raça” e “razão negra” (pode-se aqui inferir uma “razão indígena”): a raça é uma construção cujo alicerce consiste num conjunto de ideologias e práticas criadas para gerar medo e impingir terror provocando servidão; a razão negra é todaENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 339PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.uma imagética do saber que transita da simbólicos entre a cultura (interna) dosdominação para sua superação, saberes tradicionais e a “cultura” do outroconstituindo o que ele chama de “complexo (da sociedade envolvente). A cultura compsiconírico”. A lógica da superação aqui aspas teorizada por Cunha (26), reivindicadaimplica combater o “alterocídio”, que por grupos étnicos e desenvolvida emconsiste na mortificação continuada do trânsito intercultural dando a cultura de umoutro por julgá-lo uma ameaça ao seu modo povo o caráter de ser residual, masde vida. Resistir ao silenciamento é irredutível.também resistir à morte – a raça permiteeleger um contingente de pessoas como Bhabha(27) enfatiza que “a crítica pós-descartáveis, a razão negra é seu combate. colonial é testemunha das forças desiguais e irregulares de representação cultural Revisar as hierarquias estabelecidas envolvidas na competição pela autoridadena produção semântica de signos e política e social dentro da ordem do mundosignificados é uma ação política que visa moderno. As perspectivas pós-coloniaisalterar as relações de poder. Nesse sentido emergem do testemunho colonial dosa ciência, com seu corpus teórico países do Terceiro Mundo e dos discursosdominante e práticas de poder derivadas das ‘minorias’ dentro das divisõestambém é passível de revisão, com o intuito geopolíticas de Leste e Oeste, Norte e Sul.de se reconhecer outros saberes e outros Elas intervêm naqueles discursosarranjos teóricos possíveis. Se pensarmos ideológicos da modernidade que tentam dara ciência como produto cultural dotado de uma ‘normalidade’ hegemônica aoplasticidade, ela admite múltiplos arranjos desenvolvimento irregular e às históriasepistemológicos visto ser a própria cultura diferenciadas de nações, raças,um elemento dinâmico, colocando em comunidades, povos. Elas formulam suasquestão o cânone ocidental e abrindo uma revisões críticas em torno de questões dejanela de oportunidades para novos diferença cultural, autoridade social edesenvolvimentos críticos. discriminação política a fim de revelar os momentos antagônicos e ambivalentes no Além de dinâmica, a cultura se interior das ‘racionalizações’ daestabelece para povos e grupos no modernidade”.presente ainda contextualizado em“situação colonial” como expõe Na ótica de Mignolo(28) a crítica pós-Balandier(25), em complexas relações intra colonial nos permite repensar o sistemae intercultural, cambiando-se regimes mundial tomando como referência asENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 340PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.experiências de fronteira entre o moderno e Esse processo estaria a abrir portaso colonial, colocar em primeiro plano as para novos tempos nos quais a ciênciahistórias dos povos esquecidos, do pensada de forma plural passa a acolhersubalternizado. Desnudar a condição discursos transgressores oriundos decolonial permite evidenciar o modo como a vozes dissonantes e representativas degeoeconomia global opera para articular os grupos minoritários e suas pautas de luta einteresses econômicos que perpassam os pesquisa - por exemplo, mulheresterritórios no sentido de criar distinções de (gênero), negros (raça), homossexuaisraça e classe que se fixam na estrutura (homofobia) e migrantes do Terceiro Mundosocial e garantem o status quo dominante. (diáspora, refugiados, a divisão internacional do trabalho). Nesse cenário A crítica ao pensamento hegemônico rico em representações culturais eeuropeu nos leva à necessidade de pensar produção de subjetividades descortina umaa colonialidade como ponto de partida, mas miríade de arranjos de saberes que tornamnão como ponto de chegada – donde a escrita sobre a realidade polissêmicaresulta a defesa da emancipação das borrando as fronteiras ciência e arte,epistemologias subalternas. conhecimento e narrativa. Aqui ciência e resistência se Nesse sentido, a resistência latino-encontram, visto que não se pode despir a americana deveria estar ancorada numaprimeira das relações de poder na qual está perspectiva epistêmica capaz de relacionarinserida e, na periferia do globo qualquer educação e práxis no escopo da ação dossuposta neutralidade já indica uma tomada movimentos sociais como expressão dede posição pró-status quo. No agentes histórico-políticos capazes deentendimento de Bhabha a cultura como ressignificar o passado e propor um novoforma de resistência pós-colonial recusa as ethos a partir do mundo da vida dos gruposformas holísticas de explicação da subalternizados. Como exemplo, temos arealidade social e reconhece que na tensão escolarização dos povos indígenas, nadas fronteiras culturais e epistemológicas é transição de uma educaçãoque se dá a ontogênese das inovações “assimilacionista civilizadora” para projetosculturais. Resistir é afirmar a existência de ainda inconclusos de uma educaçãoum outro significante e assim repensar os escolar indígena diferenciada, interculturalalicerces da razão dualista da modernidade e comunitária. Realidade que entra embem como propor o diálogo de saberes. contato com outro paradigma educacional,ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 341PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente. Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.a pedagogia decolonial pensada por reflexiva incorporando o devir e as condições materiais de existência comoCatarina Walsh(29) para enfrentar violências constitutivo do saber e das práticas. Conhecimento e realidade não se descolamepistêmicas que o ocidente traz nas como no pensamento cartesiano pois a episteme revolucionária os apreendeciências e na “invenção do outro” (inverso e imbricados como aparecem aos sentidos. A cultura seria ao mesmo tempo oinferiorizado ao padrão do sistema-mundo espaço/tempo social no qual se elaboram as práticas sociais que reintegrammoderno), como se refere Castro-Gómez homem/natureza e homem/humanidade.(30). A efetividade desse modelo de socialização depende da supressão das Como expressa Barbosa(31) “na “verdades ideológicas”, derivadas da “gramática normativa” identificada porAmérica Latina cada vez mais se reivindica Gramsci na cultura hegemônica do capital e o questionamento aberto dos matizesa existência de outras episteme, culturais que evidenciam a colonização, o patriarcalismo, o racismo, o sexismo, comoreconhecidas como matrizes constitutivas nos aponta Barbosa “no enfrentamento da gramática normativa, os movimentosde outras racionalidades, as quais definem sociais indígenas e camponeses elaboram um léxico particular, uma gramáticaformas próprias de interpretação da vivencial, consolidando seu papel histórico de movimentos educativo-políticos, derealidade social e de posicionamento intelectuais orgânicos coletivos, no permanente desafio de disputar o terrenopolítico. Conforme mencionei da linguagem”.anteriormente, os quatro elementos Hoetmer(33) resgata a percepção foucaultiana de prática social para situar oconstitutivos dos movimentos sociais Estado como resultante de formações culturais em torno de relações de poderindígenas e camponeses herdam situadas no tempo e que se prolongam noreferentes epistêmicos da cosmovisão, daslínguas originárias, da memória históricadas lutas antepassadas, da identidadecultural, que em seu conjunto conformauma polissemia epistêmica na sua práxispolítica”. Essa perspectiva permite apreenderos movimentos sociais dentro do processodialético teoria/ação na condição desujeitos que promovem umaformação/educação política. Recupera-seaqui a dimensão orgânica do papel dosintelectuais conforme proposto porGramsci(32) na medida que se “agepensando” e se “pensa o agir” de formaENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 342PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.devir gerando estruturas como o exército, a adulto al niño, el hombre a la naturaleza, la razón a laspolícia, o fisco. Esse modelo cultural de emociones y la ciencia a los saberes prácticos, efectivamente,poder tem sido nomeado por Quijano como produciendo la colonización de lo segundo por lo primero [...]“colonialidade do poder” no qual a história é De acordo com Escobar(34). os povostranscrita como uma linha que se inicia pela tradicionais e sua luta pelo território deve ser analisada a partir de dois eixos: amatriz cultural europeia, se desdobra sobre problematização da identidade nacional quando contrastada com as matrizeso “novo mundo” através do processo culturais tradicionais; a problematização da vida em termos materiais tendo em vista acolonial e que não se esgota com a crescente degradação da biodiversidade. Para lidar com essas questões o autoremancipação política dos Estados latinos propõe uma ontologia política do território, que permite perceber os povos tradicionaisvisto que, ao ter-se dado ao largo da como ponto de ruptura com a lógica capitalista e neoliberal. Aqui a relação entrepopulação originária, esse processo território (espaço) e ancestralidade (tempo) assume papel central na medida em queconsolida a hegemonia de uma classe permite vislumbrar a dinâmica identitária dos povos tradicionais.invasora no aparelho Estado imposto Nesse sentido, esse processo deàquela população. Na medida mesmo que consumo da natureza pelo homem na ordem capitalista pode ser analisado emos povos originários não divorciam seu perspectiva marxista. De acordo com Foster(35) Marx emprega em sua obra omodo de vida da natureza ou, dito de outra conceito de metabolismo para indicar o processo de trabalho como uma relaçãoforma, não operam na lógica cartesiana entre o homem e a natureza no qual se estabelece a mediação física entre amboshomem/natureza, mas numa lógica nativa que permite a sobrevivência humana. Contudo uma “falha metabólica’ teriaholística e integrada, formam uma unidade.Desse modo no ato de colonização operadopelo elemento estrangeiro, subentende-sea subjugação do homem e através dessetambém da natureza. Nas palavras de Hoetmer: [...] la idea de que la dominación de la naturaleza implica su transformación en «civilización», revela una comprensión y práctica del poder colonial-moderno, en lo cual el polo dominante/activo tiene el deber de civilizar/formar/constituir/disciplinar al polo subordinado [...] Es decir, según esta lógica el hombre tiene que gobernar a la mujer, el blanco al indígena, el rico al pobre, elENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 343PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.surgido como efeito colateral da relação matriz europeia hegemônico? A respostaentre a produção capitalista de exploração indicada pelos autores pós-coloniais apontapredatória tanto do homem como da para o resgate dos saberes tradicionais. Énatureza e do antagonismo entre cidade e nesse momento em que devemos noscampo. Tanto a agricultura quanto a perguntar: tendo em perspectiva umindústria capitalista tem no seu cerne a sistema totalizante como o capitalprática da exploração crescente de solo e transnacional como se explica ado trabalho. Marx entendia que a atividade capacidade dos povos tradicionais emlaboral visa criar valor de uso a partir dos sustentar a luta pelos seus territórios,recursos naturais de modo que o fluxo produção, cultura e saberes?circular econômico inclui por definição ainteração metabólica entre seres humanos O argumento de Escobar é que ae natureza. defesa da vida na ótica dos povos tradicionais opera no campo ontológico, A crítica de Marx acerca da relação do elaborando narrativas que vinculam acapital com a natureza é que o primeiro existência imaterial à terra mediada pelasomente se importa com a segunda sua cosmovisão. Nesse sentido urge fazerenquanto pode explorar suas qualidades a crítica e combate ao projeto moderno denaturais. A falha metabólica existente entre transformação do espaço e da vida ema cidade que explora o campo também mercadorias bem como a homogeneizaçãopoderia ser percebida na relação entre das práticas culturais. A ontologia modernapaíses produtores de produtos separa homem e natureza bem como asindustrializados e produtores de formas de vida humana, abrindo espaçocommodities. A sustentabilidade residiria no para a exploração predatória da natureza euso consciente da terra em sua função do próprio humano. O que não se questionasocial e inalienável para a manutenção das é que esse mundo do “capitalismocondições de existência e reprodução da selvagem” se erige contra as formasespécie humana. “selvagens” de cultura e torna insustentável5 CONSIDERAÇÕES FINAIS a manutenção da diversidade cultural e degrada a biodiversidade. Romper com a lógica da sociedadecapitalista e sua prática da exclusão e Para contrapor-se a essa ontologia oespoliação do homem e da natureza exige autor propõe pensar uma outra na qualuma nova epistemologia. Mas existe nada, seja humano ou não-humano,alguma alternativa ao modelo científico de preexiste às relações que o constituemENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 344PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.como ser, de modo que essa nova visão indígena não é linear, mas espiralontológica da realidade implica ao menos (regressão / progressão; repetição /em quatro fatores centrais: um profundo superação) e permite vislumbrar umentendimento da vida, uma estratégia de momento em que pensar a história e fazerorganização política da luta, uma forte a história estarão em sintonia.consciência das interconexões globais euma visão holística da relação homem- As perguntas chaves que a autoranatureza. elenca podem ser sintetizadas: Quais são os grupos arcaicos e conservadores que Rivera-Cusicanqui (36) entende que a grassam uma sociedade? O que é amodernização proposta pelas elites descolonização e qual sua relação com aeuropeias ao longo da história resultou em modernidade? Como superar osucessivos processos de “recolonização” nacionalismo elitista e avançar rumo a umada América Latina. A modernidade “pátria para todos”? Como pensar osignificou a escravidão dos povos presente colonizado e as perspectivas deindígenas e um ambiente de espoliação. A emancipação?condição de uma hegemonia indígena estáancorada no território da nação moderna e Não há respostas definitivas, mas umno contexto de um mundo contemporâneo ponto de partida: a constatação de que adominado pela lógica do mercado global. diversidade é vivida para além dosFrente ao “rentismo” colonial, o projeto dos conceitos e, portanto, captar seus sentidosKatari-Amaru era a expressão da exige recuperar a dimensão da prática dosmodernidade indígena com vistas à sujeitos concretos. São horizontesautodeterminação. epistemológicos que se desenham para a pesquisa ao “sul do Equador”. E nesse O pós-modernismo cultural das elites caso, o único “pecado” é insistir no vício de pensar a própria realidade pelas lentes docolonizadoras visa reproduzir um espectro “outro” colonizador.social fragmentado e subordinado à lógicado capital. A perspectiva da historiografiaREFERÊNCIAS 2. Macpherson CB. The Political Theory of Possessive Individualism: Hobbes to Locke.1. Riesebrodt M. A ética protestante no Oxford, Oxford University Press; 1962contexto contemporâneo. Tempo soc., SãoPaulo, v. 24, n. 1, p. 159-182, 2012. 3. Sell CE. Weber no Século XXI: Desafios e Dilemas de um Paradigma Weberiano.ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 345PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.Dados, Rio de Janeiro, v. 57, n. 1, p. 35-71, 19. Cardoso FH; Faletto E. Dependência emar. 2014. Desenvolvimento na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar Editores; 1973.4. Sell CE. Racionalidade e racionalizaçãoem Max Weber. Rev. bras. Ci. Soc., São 20. Giddens A. As consequências daPaulo, v. 27, n. 79, p. 153-172, jun. 2012. modernidade. Ed. Unesp, 1991.5. Nietzsche F. Humano Demasiado 21. Costa S. Desprovincializando aHumano. São Paulo: Companhia das sociologia: a contribuição pós-colonial. Rev.Letras; 2000. bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 21, n. 60, p. 117-134, Feb. 2006.6. Arendt H. A Condição Humana. 10. ed.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 22. Clastres P. A sociedade contra o2007. Estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify; 20037. Sell CE. Máquinas petrificadas: MaxWeber e a sociologia da técnica. Sci. Stud., 23. Borsani ME. \"Razón y conquista:São Paulo, v. 9, n. 3, p. 563-583, 2011. reflexiones decoloniales en torno a pasados límites\" Actas IV Jornadas Historia de la8. Bourdieu P. A Miséria do Mundo. Patagonia. Universidad Nacional dePetrópolis-RJ: Vozes; 1997. Pampa, 2010 ISBN 978-987-26198-0-0 Formato Digital.9. Lahire B. Retratos Sociológicos:disposições e variações individuais; trad.: 24. Mbembe A. Crítica da razão negra.Patrícia Chittoni Ramos Reuillard e Didier Lisboa: Antigona; 2014.Martin. Porto Alegre: Artmed; 2004. 25. Balandier G. Sociologie actuelle del’10. Geertz C. A Interpretação das culturas. Afrique Noire: dynamique sociale emRio de Janeiro: Zahar; 2008. Afrique Centrale. Paris: PUF, 1976.11. Garfinkel H. Studies in 26. Cunha MC. Cultura com aspas e outrosEthnomethodology. Cambridge England: ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009.PolityPress; 1984. 27. Bhabha HK. O local da cultura. Belo12. Bauman Z. Modernidade Líquida. Rio Horizonte: Ed. UFMG; 1998.de Janeiro: Zahar; 2003. 28. Mignolo WD. Histórias locais/projetos13. Halbwachs M. A Memória Coletiva. 2ª globais: colonialidade, saberes subalternosed. São Paulo: Ed. Centauro; 2013. e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG; 2003.14. Hall S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A; 2006. 29. Walsh C. Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir, re-existir e15. Lander E. La colonialidad del saber: reviver. In: CANDAU, V. M. (Org.).euroccentrismo y ciencias sociales: Educação Intercultural na América Latina:perspectivas latinoamericanas. CLACSO: entre concepções, tensões e propostas. RioBuenos Aires; 1993. de Janeiro: 7 Letras, 2009.16. Fukuyama F. O fim da História e o último 30. Castro-Gómez S. Ciências sociais,homem. Rio de Janeiro: Rocco; 1992. violência epistêmica e o problema da invenção do outro. In: Lander E. (Org.). A17. Santos BS; Meneses MP (orgs.) colonialidade do saber: eurocentrismo eEpistemologias do Sul. Edições Almedina: ciências sociais Perspectivas latino-Coimbra; 2009. americanas. Bueno Aires: Clacso, 2005.18. Fernandes F. Mudanças Sociais noBrasil. São Paulo: Difel; 1974.ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 346PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.31. Barbosa LP. Movimentos Sociais na cultura, Estado y movimientos sociales.América Latina e a luta por uma nova Lima: Fondo Editorial de la UNMSM, 2009,hegemonia. Conferência apresentada na p. 85-108.Mesa “Organizações sociais e a luta poruma nova hegemonia”. I Jornada 34. Escobar A. Territorios de diferencia: laInternacional de Estudos e Pesquisas em ontología política de los “derechos alAntonio Gramsci (I JOINGG). Fortaleza; territorio”. Desenvolv. Meio Ambiente, v. 35,2016. p. 89-100, dez. 2015.32. Gramsci A. “Apontamentos e notas 35. Foster JB. A ecologia de Marx:dispersas para um grupo de ensaios sobre materialismo e natureza. 4ª ed. Rio dea história dos intelectuais”. In: Cadernos do Janeiro: Civilização Brasileira; 2014.Cárcere. Vol. 2. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2006. 36. Rivera-Cusicanqui S. Ch’ixinakax utxiwa. Una reflexión sobre prácticas y33. Hoetmer R. Después del fin de la discursos descolonizadores. Buenos Aires:historia. Reflexiones sobre los movimientos Tinta Lemón; 2010.sociales latinoamericanos de hoy. In:Repensar la política desde América Latina: Como citar (Vancouver)Duarte SC, Gomes DR. Ensaio sobre a ciência na transitividade da linha abissal: da crítica social ao pensamentopós-colonial. Rev Cient Fac Educ e Meio Ambiente [Internet]. 2018;9(1):329-347. DOI:http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.565ENSAIO SOBRE A CIÊNCIA NA TRANSITIVIDADE DA LINHA ABISSAL: DA CRÍTICA SOCIAL AO 347PENSAMENTO PÓS-COLONIAL
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200. ENFERMAGEM CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PAPEL DO ENFERMEIRO NA ESTRATÉGIA E SAÚDE DA FAMÍLIA DOI: http://dx.doi.org/10.31072/rcf.v9i1.517CERVICAL CANCER: ROLE OF THE NURSE IN THE STRATEGY AND FAMILY HEALTH Bruna Leticia Silveira59; Rafaela Cristina Bandeira Maia60; Mariana Ferreira Alves de Carvalho61.RESUMO: O Câncer Cervical é considerado atualmente um importante problema de saúdepública, não apenas no Brasil, como no mundo. O mesmo tem sido responsável por cerca de10% dos casos de câncer na população feminina, o que tem gerado ao ano aproximadamente500 mil casos novos, que pode ser traduzido em 02 mortes por minuto. Frente a este contexto,surge como ferramenta indispensável do cuidar, o papel do profissional de Enfermagem naEstratégia e Saúde da Família (ESF), setor primário de atenção à saúde, o qual atuaprincipalmente com promoção e prevenção das patologias, dando ênfase a Saúde da Mulher.Este estudo objetivou descrever por meio de uma revisão de literatura, o valor do examePapanicolau na prevenção do câncer do colo do útero, com foco na atuação da equipe deenfermagem na ESF. A pesquisa foi realizada por meio de uma sistemática revisão deliteratura, as estratégias de busca foram às bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde(BVS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Manuais do Ministério da Saúde e acervoda Biblioteca Júlio Bordignon da Faculdade de Educação e Meio Ambiente- FAEMA. Por meioda leitura e análise dos artigos, percebeu-se que é de suma importância o exame Papanicolaupara o diagnóstico precoce da doença e concomitante, redução de danos à saúde da mulher,bem como, a efetiva atuação do enfermeiro dentro da ESF, uma vez que este possui formaçãomais generalista, com focos em humanização e educação em saúde, o que pode contribuir demaneira significativa para o enfrentamento do câncer de colo uterino.Descritores (DeCS): Enfermagem. Colo do útero. Neoplasias. Papanicolau. Prevenção.ABSTRACT: Cervical cancer is considered an important public health problem today, not onlyin Brazil, but also in the entire world. This has been responsible for approximately 10% ofcancer cases within the female population, which has generated approximately 500 thousandnew cases per year, which can be translated into 02 deaths per minute. Looking at this context,59 Bacharel em Enfermagem pela Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA. E-mail:[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7788-7269;60 Pós Graduação em andamento em Gestão e Logística Hospitalar pela Universidade Cândido Mendes, R.J.Brasil. Bacharel em Enfermagem pela Faculdade de Educação e Meio Ambiente – FAEMA. E-mail:[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1189-5391;61 Mestre em Teologia, pela Faculdades EST. Especialista em Especialização Multiprofissional em Saúde daFamília pela Universidade Federal de Goiás - UFG. Especialista em Enfermagem em Obstetrícia pela PontifíciaUniversidade Católica de Goiás - PUC GOIÁS, Brasil. Graduação pelo em Enfermagem. Centro Universitário deAnápolis, UNIEVANGÉLICA. E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3811-0339.CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PAPEL DO ENFERMEIRO NA ESTRATÉGIA E SAÚDE DA FAMÍLIA 348
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.the role of a nursing professional in the Family health and strategy (FHS), the primary healthcare sector, is an indispensable tool for caring, working mainly with promotion and preventionof pathologies, emphasizing at the moment the health of women. This scientific study aimed todescribe, through a review of the literature, the importance of the pap smear in the preventionof cervical cancer, focusing on the performance of the nursing team in the FHS. The researchwas carried out through a systematic review of the literature, the search strategies were thedata to the databases: Virtual Health Library (VHL), Scientific Electronic Library Online(SciELO), Manuals of the Ministry of Health and library of Júlio Bordignon, Library of theCollege of Education and Environment - FAEMA. Through the reading and analysis of thearticles, it was noticed that the pap smear of early diagnosis of the disease and concomitant,reduction of the damage to the woman's health, as well as the effective performance of nurseswithin the FHS once he or she has a more general training, with focus on humanization andhealth education, which can contribute significantly to the fight against cervical cancer.Descriptors: Nursing. Uterine cervix. Neoplasms. Papanicola. Prevention.INTRODUÇÃO tardio da doença, o qual, pode está O Câncer do Colo do Útero vem sendo relacionado aos mais diversos fatores, podendo citar: dificuldade de acesso daresponsável por aproximadamente 10% população aos serviços de prevenção edos casos de cânceres na população dificuldades dos gestores em estabelecerfeminina no mundo, este por sua vez, tem ações que envolvam os vários níveis degerado aproximadamente 500 mil casos atenção, integrando promoção, prevenção,novos ao ano, o que por sua vez, pode ser diagnóstico e tratamento. (1)traduzido em duas mortes por minuto (1). Étido no Brasil como um problema de saúde O câncer cervical desenvolve-sepública, sendo que as maiores taxas de através de uma lesão que antecede oprevalência e mortalidade da doença têm epitélio na junção escamo-colunar e estásido encontradas em mulheres que ligado a diversos fatores de risco, como porpossuem baixa condição socioeconômica. exemplo: infecção por Papiloma Vírus Humano (HPV), tabagismo, condições(2) socioeconômicas, sistema imuno- suprimido, atividades sexuais de início Segundo Arruda et al. (3), é citada precoce dentre diversos outros. (4)como a segunda neoplasia mais prevalentenas mulheres, sendo também, a segunda Um dos principais meios de identificarmaior causadora de mortes nesse público uma lesão no colo do útero é através dono Brasil, sendo superada apenas pela exame de preventivo, denominadoneoplasia da mama. Esses números Papanicolau. No entanto, muitas mulheresalarmantes de mortalidade estão deixam de fazê-lo por medo, vergonha, faltadiretamente relacionados ao diagnósticoCÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PAPEL DO ENFERMEIRO NA ESTRATÉGIA E SAÚDE DA FAMÍLIA 349
Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente.Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018. ISSN: 2179-4200.de informação e algumas vezes, até por Justifica-se a importância destafalta de confiança no profissional de saúde, pesquisa, ao destacar a necessidade dodeixando evidente, a necessidade de maior profissional enfermeiro em traçar melhorescompreensão do profissional enfermeiro, estratégias junto a sua equipe, parasobre sua atuação nesse contexto. (5) alcançar o público alvo específico, de modo a conseguir demonstrar a importância do Frente ao exposto, o Papanicolau é exame preventivo Papanicolau e assim,uma importante ferramenta do cuidar e favorecer a redução dos índices desimultaneamente do prevenir, faz-se morbimortalidade da doença.indispensável mencionar a Atenção Básica 2 METODOLOGIAa Saúde (ABS), a qual corresponde ao nívelde assistência primária a saúde, O presente estudo, trata-se de umaresponsável pela promoção e prevenção. revisão de literatura atual, que foi realizadaEsta, por sua vez, desenvolve suas por meio de revisão sistemática de artigosatividades por meio da Estratégia e Saúde indexados e publicados em base de dadosda Família (ESF), programa este, que visa da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), queà reorganização da assistência em saúde, compreende a SciELO (Scientific Eletronictrabalha a família como centro da atenção, Library Online), Biblioteca de Saúdee não mais o doente, de modo a agir Pública – Fundação Oswaldo Cruzpreventivamente sobre essa população. (FIOCRUZ), Acervo da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), Considerando que o melhor método Sistema de Informação da OMSpara redução de índices de (Organização Mundial de Saúde), LILACSmorbimortalidade da doença, está (Literatura Latino-Americana e do Caribebasicamente, em atitudes preventivas, em Ciências da Saúde), MEDLINEtorna-se de suma importância a atuação (Literatura Internacional em Ciências dadeste setor, especialmente, com Saúde), Manuais de normas técnicas doelaboração de estratégias que visem o Ministério da Saúde e Ministério dasalcance da população. (6) Cidades, o acervo da biblioteca Júlio Bordignon também foi utilizado para a O diagnóstico precoce da doença tem- construção desta pesquisa.se a possibilidade de obter um tratamentoadequado e com danos de menor amplitude A delimitação temporal de 2.000 àao cliente, o qual pode chegar em até 100% 2.016, porém, houve utilização dede expectativa de cura. (7) publicações relevantes consideradasCÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PAPEL DO ENFERMEIRO NA ESTRATÉGIA E SAÚDE DA FAMÍLIA 350
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