Organização: Gustavo Siqueira e Prof. Dr. Joel Dias da Silva
“O ufmutaucroorsreidraáenetraecaatedásutcraoçfãeo” Herbert George Wells (1866 - 1946)
Copyright@2017/2018 by Instituto Gigantes da Ecologia Gigantes da Ecologia 12 Feridas Ambientais do Planeta – ANO 2017/2018Organização: Jornalista Gustavo Siqueira e Prof. Dr. Joel Dias da Silva EditoraPesquisa, Redação de cases e Edição: Liliani Bento (DRT – 817) New Age Comunicação desde 1996Autores e Coautores: Harrysson Luiz da Silva; Lisiane Ilha Librelotto; Paulo Cesar MachadoFerroli; Lauro Bacca; Junia Schultz; Maria Aparecida de Souza; Alexandre Mathiesen; JulianeSilberschmidt Freitas; Priscila Dionara Krambeck Braun; Dirceu Luís Severo; Henry FrançaMeier; Vinicyus Rodolfo Wiggers; Waldir Pedro Martignoni; Laércio Ender; Ramon FilipeBeims; Edison Barbieri; Joel Dias da Silva; Eduardo Alves de Almeida.Redação, pesquisa, adaptações e revisão: Liliani Bento (New Age Comunicação (DRT/817),Eliana Spengler, Joel Dias da SilvaRevisão: Liliani Bento e Eliana SpenglerTradução: Ricardo Wille Revisão: Furb Idiomas - Coordenação: Professora Marina BeatrizBorgmann da CunhaFotografia: Tarciso Sousa de Albuquerque, Divulgação, Giovanni Silva e Banco de imagemTelas: Israel MadeiraProjeto Gráfico e Diagramação: FERVER ComunicaçãoCapa: FERVER ComunicaçãoImpressão e Acabamento: Tipotil Indústria GráficaGigantes da Ecologia 2017Idealização e Coordenação Geral: Gustavo SiqueiraCoordenação Técnica: Prof. Dr. Joel Dias da SilvaCoordenação do Conselho Consultivo para escolha dos homenageados: Prof. Dr. Joel Diasda Silva e Eliana SpenglerProjeto de Educação Ambiental (Manual): Professora Consuelo Reis Valdiero RodriguesInstituto Gigantes da EcologiaPresidente: Gustavo SiqueiraDiretor Geral: Prof. Dr. Joel Dias da SilvaSecretária: Jacqueline Lima dos SantosSuplente: Eliana SpenglerTesoureira: Lilian Patrícia Voltolini Peres GonçalvesConselho de Profissionais: Jaqueline Hertel, Kátia Maraschi, Yassuoshi Otsuka (Tomás),Fábio Ricardo de Oliveira e Ricardo Alves Junqueira PenteadoConselho Fiscal: Reguita Anna Jansen e Washington Luiz HaskelConselho de Projetos: Eliana Spengler, Edson Peres Gonçalves, Solange Oliveira, LisceliWestphal e Regina Aparecida KramerAgradecimentos Especiais:CREA Santa CatarinaFURB – Universidade Regional de BlumenauDepósito Legal na Biblioteca NacionalConforme Decreto nº 182 de 20 de Dezembro de 1907Tiragem: 2 mil exemplares
Realização: INSTITUTO GIGANTES DA ECOLOGIA CNPJ: 12.109. 798/0001-93 Rua Marechal Deodoro, 911 – Sala 04 - Cep 89035-090 Blumenau – Santa Catarina Fone/Fax 47 3285-9138 Cel: 99103-3434 E-mail: [email protected] – Site www.gigantesdaecologia.orgDados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Rogéria Fernandes AlbrechtCRB 14/399I59dInstituto Gigantes da Ecologia12 feridas ambientais do planeta/Instituto Gigantes da Ecologia.Florianópolis: HB Editora, 2017.226 p. il.Inclui BibliografiaEdição bilíngue português – inglês.1. Ecologia.2. Meio ambiente.3. Poluição.4. Crescimento demográfico – Meio ambiente.5. Clima. 6. Urbanização.7. Desmatamento.8. Saneamento básico. I.Siqueira, Gustavo. Silva,Joel Dias.574.5 CDDPrefixo Editorial: 86864NúmeroISBN: 978-85-86864-98-8Título: 12 feridas ambientais do planetaTipo de Suporte: Papel TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Impresso no Brasil/Printed in Brazil EVENTO
SUMÁRIOPrefácio ...................................................................................................................................................................................................................8Entre as metas da ODM está a sustentabilidade ambiental................................................................................................................10As 12 Feridas Ambientais são motivos de preocupação para todo o mundo ............................................................................ 12Crescimento demográfico contribui para surgimento de problemas ambientais...................................................................... 16 Crescimento demográfico e suas consequências ao meio ambiente.................................................................................... 18 Quem sobreviver verá?............................................................................................................................................................................20Urbanização acelerada contribui para aumentar os problemas ambientais............................................................................... 22 Urbanização acelerada............................................................................................................................................................................ 26Desmatamento ameaça a vida tanto dos humanos quanto dos animais..................................................................................... 28 Desmatamento desmedido.................................................................................................................................................................... 32A poluição das águas está matando os peixes e outros organismos vivos................................................................................. 34 Poluição Marinha........................................................................................................................................................................................ 38Poluição do ar e do solo causam doenças sérias...................................................................................................................................40 A Poluição do Ar não tem Fronteiras................................................................................................................................................44Sem água potável, toda espécie de vida está fadada à morte.........................................................................................................46 Poluição e eutrofização de águas interiores – rios, lagos e represas....................................................................................50Perda da diversidade biológica afeta a vida de todos os seres vivos............................................................................................ 52 Perda da diversidade genética: desmatamento e outras ações humanas aumentam a perda de biodiversidade...... 56Resíduos da Construção Civil devem ser reaproveitados .................................................................................................................. 58 Efeitos de grandes obras civis.............................................................................................................................................................. 62Alterações climáticas contribuem para aumento da pobreza...........................................................................................................64 O clima vai esquentar............................................................................................................................................................................... 68Aumento progressivo das necessidades energéticas e suas consequências ambientais.......................................................70 Aumento progressivo das necessidades energéticas e suas consequências ambientais............................................. 74 Aumento da demanda energética mundial........................................................................................................................... 75 A matriz energética mundial e seus impactos associados.............................................................................................. 77É necessário investir em políticas sustentáveis na agricultura..........................................................................................................84 O efeito da agricultura............................................................................................................................................................................. 88Saneamento básico – uma vergonha para o Brasil................................................................................................................................90 Falta de saneamento básico..................................................................................................................................................................94O Planeta só será curado se todos fizerem a sua parte...................................................................................................................... 98Tela - ECO HOME..............................................................................................................................................................................................100Tela - ECO CAR................................................................................................................................................................................................... 101Tela - ECO IDEA................................................................................................................................................................................................. 102Tela - RECYCLING BIN.................................................................................................................................................................................... 103Tela - ECO MIND................................................................................................................................................................................................ 104Tela - ECO SOLUTIONS.................................................................................................................................................................................. 105Tela - TREE OF LIFE......................................................................................................................................................................................... 106Tela - EARTH GREEN........................................................................................................................................................................................107Tela - ECO FRIENDLY...................................................................................................................................................................................... 108Tela - ECO LIGHT.............................................................................................................................................................................................. 109Tela - WIND POWER......................................................................................................................................................................................... 110Tela - ECO WATER...............................................................................................................................................................................................111O prêmio gigantes da ecologia e a importância do reconhecimento............................................................................................112Luislinda de Valois é um exemplo de brasileira.......................................................................................................................................114Tributo a Fritz Müller.........................................................................................................................................................................................116
HOMENAGENS ESPECIAIS........................................................................................................................................................................... 120 CREA-SC auxilia os profissionais a cumprirem a legislação ambiental...............................................................................122 Fatma e meio ambiente: um compromisso que dá certo.........................................................................................................124 Um novo modelo de valorização da biodiversidade: Eco-etno-biotecnologia na amazônia......................................126 Apremavi – 30 anos defendendo a Natureza............................................................................................................................... 130 FURB desenvolve e apoia projetos de proteção ambiental.....................................................................................................132 Alumetal recicla e aproveita água da chuva para diversos processos.................................................................................136PRÊMIO GIGANTES DA ECOLOGIA...........................................................................................................................................................138 W8 Têxtil produz de forma sustentável.......................................................................................................................................... 140 Exaustor Solar ARAM proporciona mais conforto térmico aos ambientes........................................................................142 CIMVI investe em Centro de Referência em Educação Ambiental e Energia.................................................................. 144 SICOOB São Miguel - projeto: água é vida.................................................................................................................................... 146 Grupo “Amigos da Natureza” – um bom exemplo a ser seguido.......................................................................................... 148 Boas práticas realizadas pelo SAMAE Timbó para o abastecimento de água................................................................ 150 Museu de Zoologia da UNESC: a serviço da vida e do meio ambiente...............................................................................154 Blog expedição Vida tem por objetivo disseminar o respeito ao meio ambiente..........................................................156 Polícia Ambiental investe na educação dos jovens ....................................................................................................................158 Bike Patrulha, da Polícia Militar, contribui com o meio ambiente............................................................................... 160 Cães treinados ajudam o trabalho dos policiais.................................................................................................................162 Defesa Civil de Blumenau tem um bom exemplo de programa ambiental para redução de desastres naturais........164 Encaminhe Certo oferece soluções sustentáveis para empresas..........................................................................................168 Cemitério e Crematório São José é pioneiro no cuidado com o meio ambiente........................................................... 170 Instituto Senai de Tecnologia presta apoio as empresas..........................................................................................................174 Casa, produzida pelo Senai em parceria com a Habitech, tem baixo impacto ambiental.................................176 Ouseuse contribui com o desenvolvimento de Juruaia.............................................................................................................178 Cidades inteligentes preservam o meio ambiente.......................................................................................................................182 Projeto e execução de cidades inteligentes digitalizadas de baixo custo.............................................................. 184 Projeto habitacional de combate à pobreza com exportação securitizada............................................................185PERSONALIDADES AMBIENTAIS ..............................................................................................................................................................186 Ricardo Voltolini foi pioneiro na consultoria em sustentabilidade empresarial, no Brasil............................................188 Rosemari Bona é conhecida pelas mudanças operacionalizadas no CODAM - Blumenau..........................................189IGE lança cartilha sobre a água................................................................................................................................................................... 190Amigos do planeta............................................................................................................................................................................................192O IGE ............................................................................................................................................................................................................. 204Desde criança, Gustavo Siqueira se dedica a defesa do meio ambiente................................................................................... 206O Prêmio Gigantes da Ecologia 2018 terá por tema a logística reversa.................................................................................... 208PARCEIROS SUSTENTÁVEIS........................................................................................................................................................................ 210 Metaquímica................................................................................................................................................................................................ 212 Adami S/A investe na sustentabilidade e bem-estar dos colaboradores...........................................................................213 Sindseg.........................................................................................................................................................................................................214 New Age Comunicação é especialista na redação de livros e revistas...............................................................................215 Agência Dall’Onder Travel atua com excelência em serviços corporativos.......................................................................216 Jansen Eventos transforma sonhos em realidade........................................................................................................................217 A Editora Bela Vida, presente no mercado de Blumenau há mais de 12 anos, publica.................................................218 Ferver Comunicação apoia inciativas de preservação do planeta........................................................................................219Referências Bibliográficas.............................................................................................................................................................................224Venha fazer parte do IGE...............................................................................................................................................................................224
Prefácio
F eridas ambientais? Numa primeira leitura, a sidade genética; efeitos de grandes obras civis; alteração expressão soa um tanto impactante, forte... global do clima; aumento progressivo das necessidades Alguns talvez argumentem, porém, o termo energéticas e suas consequências ambientais; produção de se aplica como uma luva à realidade. Re- alimentos e agricultura e falta de saneamento básico. correndo ao Dicionário Aulete (LEXIKON, 2014), o verbete, agora atualizado, para “fe- Vinte anos após a Rio 92, mais de 45 mil participantes,rida”, pode referir-se tanto à “ação ou resultado de ferir” conforme noticiado pela imprensa mundial, entre chefes decomo também à “lesão [...] causada por [...] corte”. Lesão governo e sociedade civil, voltaram a se reunir na cidade docausada por corte? Agora, com essas informações adi- Rio de Janeiro, entre 13 e 22 de junho de 2012. O documentocionais, voltando à capa do livro, tem-se a ideia de quão final da conferência, intitulado “O Futuro Que Queremos”,profundo tem sido esse corte. apontou a pobreza como o maior desafio a ser combatido. O texto também defende o fortalecimento do Programa da De acordo com Carvalho e Nodari (2008), “a floresta ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) e a criação de umaparece nas histórias locais como empecilho, um desa- órgão político para apoiar e coordenar ações internacionaisfio que foi vencido pelos colonizadores e precisava ser para o desenvolvimento sustentável.derrubado para o progresso, o desenvolvimento das so-ciedades”. Sim, o conceito de progresso e desenvolvi- Em 2015, os países tiveram a oportunidade de adotarmento significou, durante séculos, explorar ao máximo a nova agenda de desenvolvimento sustentável e che-a flora e a fauna. gar a um acordo global sobre a mudança climática. As ações tomadas em 2015 resultaram nos tão divulgados Mohr et al., (2012) acrescentam ainda que, por conta novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),disto, ocorreu o assoreamento dos rios pelo mau uso do baseados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milêniosolo, bem como a degradação das bacias hidrográficas, (ODM), que buscavam garantir uma vida com dignidadecausada pelo desmatamento da mata ciliar, erosão e lavou- para todos, através da implementação de ações globaisras. O desmatamento, as queimadas, a pecuária, as lavou- para acabar com a pobreza, promover a prosperidaderas e as habitações alteraram os ecossistemas e provoca- e o bem-estar, proteger o meio ambiente e enfrentar asram um enorme desequilíbrio ambiental, não só aqui, como mudanças climáticas.em várias partes do mundo. Não é isso o que vemos nosnoticiários atualmente? Esse novo olhar, juntamente com as pressões por for- mas de produção ambientalmente corretas, fizeram com Apesar desta triste realidade, nas últimas décadas, que a indústria, que por muito tempo tem sido considera-começou-se a delinear uma nova postura em relação ao da a vilã na questão ambiental, se adaptasse. Essa adapta-meio ambiente. Rocha (2005) pontuou que a discussão ção tem sido positiva, como muitos dos estudos de casoda questão ambiental aprofundou-se em encontros mun- apresentados neste livro mostrarão. Programas, projetos, ediais, como o Primeiro Encontro Mundial sobre o Meio empreendimentos hoje valorizam o consumo consciente,Ambiente em Estocolmo, Suécia em 1972, a criação de preocupam-se em minimizar a produção de resíduos sóli-uma Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e De- dos, buscam o consumo racional da água e também o usosenvolvimento (1983-1986) e a Conferência das Nações eficiente da energia.Unidas sobre o Meio Ambiente, conhecida como Rio-92ou Cúpula da Terra, e a Conferência das Partes (COP 3) O Instituto Gigantes da Ecologia o convida para co-que resultou no Protocolo de Kyoto (1997), dentre outras nhecer não somente os grandes problemas que assolamações que se seguiram, mostraram para o mundo a im- ambientalmente a humanidade, como também, iniciativasportância da implantação de políticas de conservação do meritórias de proteção, preservação, melhoramento e con-meio ambiente e dos recursos naturais. servação ambiental, e de personalidades que as incentivam e adotam como premissas em suas vidas. O Relatório do Desenvolvimento Humano 2011, divul-gado no Programa das Nações Unidas para o Desenvol- Esperamos que, o rico conteúdo deste livro, ajude-o avimento (PNUD), trouxe como título a “Sustentabilidade perceber que estamos todos inseridos no contexto dessase Equidade: Um Futuro Melhor para Todos”, apontando graves questões e que a responsabilidade pela mudançaclaramente a influência do meio ambiente sobre o desen- depende de cada um de nós. Sim. O planeta conta comvolvimento, expondo as feridas ambientais com as quais você, conta comigo, conta com todos nós!nos confrontamos diariamente: crescimento demográficorápido; urbanização acelerada; desmatamento; poluição Boa leitura!marinha; poluição do ar e do solo; poluição e eutrofização Gustavo Siqueirade águas interiores (rios, lagos e represas); perda da diver- Prof. Dr. Joel Dias da Silva Gigantes da Ecologia | 9
Entre as metas da ODM está asustentabilidade ambiental As metas do milênio foram estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, com o apoio de 191 nações, e fica- ram conhecidas como Objetivos de Desenvol- vimento do Milênio (ODM). Essa ação tem por objetivo o desenvolvimento e a erradicação da pobreza no mundo.
conheça as metas: poEbrrraedzicaareaaexftoremmae; básicAotiungnirivoeenrssianol;e a aPurotmoonveormaiiagudaladsadmeudelhgêenreeros; mortalidade inRfedaunzitrial; saúde Mmealhtoerranr aa ;a malária e Cooumtbrataesr odHoIeVn/Açidass, ;sustentabilidade amGbaireannttiraal; Epstaarbaeleocedr eumseanpavrocelrviaimmuennditaol . Gigantes da Ecologia | 11
As 12 Feridas Ambientais são motivos de preocupação para todo o mundo U ma análise da UNEP (Unted Nations Environment Programme – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre os grandes problemas mundiais da atualidade relacionados ao ambiente, levantou doze grandes problemas que preocupam pesquisadores, administradores e gerentes da área ambiental. Essas perturbações afetam o mundo de forma geral e todos os seres vivos. Quanto mais graves se tornam, mais dificuldades econômicas, pobreza, doenças e óbitos são registrados em todo o planeta. Vale destacar que as regiões mais pobres são sempre as mais afetadas. Dentre os problemas ambientais que afetam o Brasil, os mais críticos são o desmatamento, que acarreta perda de biodiversidade; a erosão, devido ao desmatamento e manejo ina- dequado do solo na agricultura e pecuária; a poluição das águas e solos, devido à falta de saneamento básico nas áreas urbanas e rurais; e à falta de políticas de gerenciamento de resíduos sólidos nas áreas urbanas, gerando lixões e poluição industrial. Na década de 70, a humanidade começou a tomar consciência dos seus impactos sobre a natureza, devido, principalmente, as consequências econômicas que as reações da nature- za a esses impactos geravam, como mais gastos com saúde pública, falta de água potável e de saneamento. Isso levou ao surgimento de uma nova abordagem de desenvolvimento econômico conciliatório com a conservação ambiental, surgindo, assim, o conceito de de- senvolvimento sustentável. O conceito surgiu. Porém, pouca coisa tem sido feita diante da gravidade dessas doze feridas elencadas pela UNEP, que são tema deste livro. Ainda há muita coisa por fazer. Mas, para isso, é necessário que haja vontade política das lideranças e conscientização da população. Mesmo com alguns bons exemplos, em um ou outro local, o planeta é gigante e os problemas também. Por isso, muitas ações visando à sustentabilidade devem ser multiplicadas.12 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
Crescimento demográfico rápido: Urbanização acelerada: além do rápidoMesmo considerando que a taxa crescimento demográfico, a aglomeração dede fecundidade das mulheres está população em áreas urbanas está gerandodiminuindo nos países desenvolvidos, grandes centros com 15 milhões de habitantes,o crescimento demográfico, aliado ao ou mais. Esses centros de alta densidadedesenvolvimento tecnológico, acelera populacional demandam maiores recursos, energiaa pressão sobre os sistemas e recursos e infraestrutura, além de criarem problemasnaturais, gerando, como consequência, complexos de caráter ambiental, econômico e,mais impactos ambientais, devido ao principalmente, social.aumento na produção industrial e nos Desmatamento: a taxa anualpadrões de consumo. de desmatamento das florestas, especialmente das tropicais, ocasiona erosão, diminuição da produtividade dos solos, perda de biodiversidade, assoreamento de corpos hídricos e outros problemas. Poluição Marinha: a poluição marinha está se Poluição do ar e do solo: ocasionada, principalmente, pelo agravando cada vez mais devido a descargas setor industrial, pela agroindústria e pelos automóveis, em de esgotos domésticos e industriais através de função das emissões atmosféricas das indústrias, da disposição emissários submarinos, desastres ecológicos inadequada de resíduos sólidos, como lixões e de resíduos de grandes proporções, como naufrágios industriais que causam poluição do solo, acúmulo de aerossóis de petroleiros, acúmulo de metais pesados na atmosfera, provenientes da poluição veicular e industrial, no sedimento marinho nas regiões costeiras bem como a contaminação do solo por pesticidas e herbicidas e estuários, perda de biodiversidade, como utilizados pelo setor agroindústrial. espécies frágeis de corais, poluição térmica de efluentes de usinas nucleares e outras formas de Poluição e eutrofização de águas interiores – rios, lagos agressão ao meio ambiente. e represas: a poluição orgânica proveniente dos centros urbanos e de atividades agropecuárias gera uma variedade de14 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta efeitos sobre os recursos hídricos continentais, os quais são fundamentais para o abastecimento público das populações. Essa pressão resulta na deterioração da qualidade da água, causada pelo fenômeno da eutrofização, acúmulo de metais pesados no sedimento e alterações no estoque pesqueiro, o que inviabiliza alguns dos usos múltiplos dos recursos hídricos.
Perda da diversidade genética: o Perda da diversidade genética: o aumento da concentração dos gases estufa nadesmatamento e outros problemas troposfera terrestre (primeira camada da atmosfera) e de partículas de poluentes estáambientais acarretam perda de causando um fenômeno conhecido como aquecimento global, que é o aumento dabiodiversidade, ou seja, extinção de temperatura do planeta devido a maior retenção da radiação infravermelha térmica naespécies e perda da variabilidade da atmosfera. Cada grau Celsius de aumento da temperatura terrestre trará consequênciasflora e da fauna. A biodiversidade e seus diferentes e acumulativas. De acordo com o 2º relatório do Painel Intergovernamental derecursos genéticos são fundamentais para Mudanças Climáticas (IPCC), apenas 1ºC a mais já é suficiente para derreter as geleiras defuturos desenvolvimentos tecnológicos e topos de montanhas do mundo todo, comprometendo os abastecimentos locais de água.para a saúde do homem. Se o aumento chegar a 4ºC, estima-se que até 3,2 bilhões de pessoas poderão sofrer com a falta d’água e que a subida do nível do mar irá ameaçar a existência de cidades costeiras em todo o planeta. As previsões de aquecimento para o fim deste século estimam entre 1,8ºC e 4ºC a mais, na média da temperatura mundial.Efeitos de grandes obras civis: Aumento progressivo das necessidadesa construção de obras civis de energéticas e suas consequênciasgrande porte, como represas de ambientais: o aumento da demandausinas hidrelétricas, portos e canais, energética devido ao crescimentogera impactos consideráveis e populacional, à urbanização e aodifíceis de mensurar sobre sistemas crescente desenvolvimento tecnológico,aquáticos e terrestres. gera a necessidade da construção de novas usinas hidrelétricas e termelétricas, grandes e pequenas usinas nucleares e de outras fontes geradoras de energia. Quanto maior for a utilização de combustíveis fósseis (termelétricas, carvão mineral), mais gases de efeito estufa serão lançados na atmosfera. Outros tipos de matrizes energéticas, como hidrelétricas e usinas nucleares, possuem impactos ambientais associados a sua construção e operação. Um exemplo é a falta de tratamento para os resíduos nucleares.Produção de alimentos e agricultura: Falta de saneamento básico: principalmente nosa agricultura de alta produção é uma países subdesenvolvidos, a falta de saneamentogrande consumidora de energia, de básico é um problema crucial devido às inter-relaçõeságua, de pesticidas e fertilizantes. entre doenças de veiculação hídrica, distribuiçãoA expansão das fronteiras agrícolas de vetores, expectativa de vida adulta e taxa deaumenta as taxas de desmatamento mortalidade infantil. Tais problemas também sãoe a perda de biodiversidade. causados pela poluição orgânica gerada pelo aporte de esgotos domésticos e drenagem pluvial em corpos d’água, devido à falta de infraestrutura adequada e a lançamentos irregulares. Gigantes da Ecologia | 15
Crescimento demográfico contribui para surgimento de problemas ambientais16 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
E m 1950, a população do mundo era de lação mundial inclui a China, os Estados Unidos, a 2,5 bilhões de pessoas. Atualmente, se- Rússia, o Japão, o Vietnã, a Alemanha, o Irã, a Tai- gundo estudo da Organização das Na- lândia e o Reino Unido. Espera-se que, entre 2017 ções Unidas (ONU), a população global e 2050, metade da taxa de crescimento da popu-é de 7,6 bilhões de habitantes e deve subir para lação ocorra em nove países: Índia, Nigéria, Repú-8,6 bilhões em 2030. Em 2100, a população blica Democrática do Congo, Paquistão, Etiópia,chegará a 11,2 bilhões. A maior parte deste cres- Tanzânia, Estados Unidos, Uganda e Indonésia.cimento será na África, devido, principalmen-te, aos níveis de fertilidade e falta de políticas O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticapúblicas de saúde. De acordo com o relatório (IBGE) divulgou no ano de 2016, um relatório quePerspectivas da População Mundial da ONU, a aponta queda no crescimento demográfico. Emcada ano a população mundial aumenta em 83 2015, no Brasil havia 204,5 milhões de pessoas. Nomilhões de pessoas. fim de 2016 esse número era de pouco mais de 206 milhões, representando um crescimento de apenas Isso é preocupante. O problema do aumento 0,8%. E a tendência é de que esse crescimento sejada população não é apenas o da falta de ali- cada vez menor. Segundo estatísticas do Instituto,mentos, como se temia no passado. Estes po- daqui a 28 anos os números serão negativos.dem ser produzidos para atender a demanda.O problema é bem mais amplo. Refere-se aos A tabela parece uma contagem regressiva:recursos naturais necessários para alimentar, 1,4% de crescimento em 2001, 0,97% em 2011,vestir, transportar, aquecer, refrigerar, iluminar 0,9% em 2013, 0,83% em 2015 e em 2016 0,8%. Ae divertir centenas de milhões de pessoas. Se- expectativa, segundo o IBGE, é de que em 2044gundo um estudo do instituto americano Wol- o Brasil tenha, na linguagem técnica, crescimentofgensohn Center for Development, em 2030 negativo: 0,03%.aproximadamente 5 bilhões de pessoas – cercade 2/3 da população global – poderão perten- Envelhecimentocer à classe média mundial, dispondo de US$ 10 Além do crescimento demográfico, ainda ema 100 por pessoa para gastar por dia. alta em algumas regiões, tem que se levar em conta o envelhecimento da população, com au- O efeito que esta demanda por produtos mento da expectativa de vida. Em nível global,provocará no meio ambiente é imenso: minera- a expectativa de vida para os homens era de 65ção, agricultura, criação de gado, pesca, indús- anos, entre 2000 e 2005. Já entre 2010 e 2015trias de todos os tipos, construção civil, trans- pulou para 69 anos e o índice tem tudo para au-portes e fornecimento de energia e água. Além mentar. Nas mulheres, o índice era de 69 anos, edisso, haverá aumento na geração de resíduos e pulou para 73 anos, no mesmo período.impactos no solo, nas águas e na atmosfera, au- A boa notícia é que na maior parte do mundomentando a emissão de gases, que provocam o o crescimento populacional está diminuindo aoefeito estufa. A necessidade de aumentar a ati- longo dos últimos 20 anos. A redução ainda nãovidade econômica para atender tantas pessoas é muito notável, visto que a maior parte das pes-causará problemas aos ecossistemas remanes- soas, que nasceu entre 1950 e 1970, continua viva.centes, apressando a destruição de espécies. Cientistas recomendam que, para evitar o aumen- to descontrolado da população, principalmente Brasil em países pobres, seja incentivada a educação No Brasil, o relatório aponta que o cresci- das mulheres, proporcionando-lhes mais liberda-mento demográfico será mais lento devido às de individual, acesso à informação e a métodostaxas de fertilidade que baixaram em quase to- contraceptivos. Essa política deveria ser acompa-das as regiões do País. O Brasil está no Top 10 nhada de planejamento familiar esclarecido, livredos países que registraram menor fertilidade da tutela do Estado, da religião, de grupos deem relação ao nível de reposição entre 2010 e pressão ou familiares.2015. O grupo de 83 nações com 46% da popu- Gigantes da Ecologia | 17
Crescimento demográfico e suas consequências ao meio ambiente
A retirada de matéria-prima do meio ambiente desen-cadeou uma grave crise ecológica promovida por conta docrescimento da população mundial. Inúmeras espécies ani-mais desapareceram e outras estão ameaçadas de extinção; Nas últimas décadas o mundo assistiu a uma assusta-dora destruição das florestas, sobretudo as situadas empaíses tropicais; O aumento da atividade agrícola tem contribuído paraaumentar a formação de desertos, principalmente, pelaspráticas de pastoreio, em que inicialmente é realizado des-matamento para posterior exploração do solo; As péssimas condições de vida nos grandes centros urbanos, com formação de favelas, proporcionam a proliferação de doenças infectocontagiosas Fungicidas, pesticidas, herbicidas, produtos fitossanitá-rios, fertilizantes e máquinas pesadas são, atualmente, osinstrumentos de uma agricultura conquistadora de altosrendimentos por hectare e geradora de poluições, empobre-cimento e erosão do solo, destruição dos relevos naturais,poluição das águas de superfície e dos lençóis freáticos; O crescimento urbano resulta na pobreza do meio ruralem face do alargamento dos territórios das cidades, atravésda extração de recursos naturais, como por exemplo, da ma-deira, forçando as populações rurais a migrarem para regi-ões urbanas; O aumento da população representa mais produção de re-síduo. A questão dos resíduos é um problema sério e um dosmais alarmantes na atualidade, visto que o poder público nãoconsegue dar conta da captação destes recursos de formaadequada, pela ausência de estrutura. Com isso, surgem oslixões a céu aberto, proliferando as doenças e riscos ambien-talmente nocivos; As péssimas condições de vida nos grandes centros ur-banos, com formação de favelas, proporcionam a prolifera-ção de doenças infectocontagiosas, bem como o aumentodos índices de violência e a maior vulnerabilidade de aciden-tes naturais e industriais. Gigantes da Ecologia | 19
Quem sobreviver verá?Prof. Harrysson L. da Silva, Dr. (UFSC)Doutor em Inteligência Artificial Os desastres naturais têm se constituído objeto da agen-da mundial de todos os países, em diversos segmentos, sejameles: organismos internacionais, instituições públicas, setorprivado, setor de ciência, tecnologia e inovação, terceiro setore grupos sociais não institucionalizados. Entretanto, todos osesforços para sair da crise civilizatória que imprimiram essapossibilidade como perspectiva ainda estão centrados nomesmo modelo ontológico e, por consequência, antropológi-co, psicológico, sociológico, político e econômico, que redun-dou na mesma situação que se quer resolver. Como se podequerer uma nova resposta para a gestão dos conflitos decor-rentes dos desastres naturais, se a compreensão que se temdos mesmos não permite um caminho para a sua resolução? Os modelos mentais que sustentam a compreensão dosgestores dos organismos internacionais até gestores públicosmunicipais impedem que os mesmos integrem perspectivas degestão dos desastres naturais a quem verdadeiramente devemestar voltadas todas essas ações, ou seja, as suas respectivaspopulações-alvo. No Brasil, o Plano Nacional de Adaptação àMudança do Clima – PNA, lançado em 2016, foi estrategicamen-te concebido em 11 estratégias de adaptação para os setoresselecionados como potencialmente vulneráveis à mudança doclima, e ao mesmo tempo, prioritários para o desenvolvimentodo país, tais como: Agricultura, Biodiversidade e Ecossistemas,Cidades, Desastres Naturais, Indústria e Mineração, Infraestru-tura (Energia, Transportes e Mobilidade Urbana), Povos e Co-munidades Vulneráveis, Recursos Hídricos, Saúde, SegurançaAlimentar e Nutricional, e Zonas Costeiras. As estratégias discutem sobre as principais vulnerabilida-des, lacunas de conhecimento, gestão de cada setor, temasfrente às mudanças do clima, apresentando as diretrizes paraimplantação de medidas adaptativas visando ao incremen-to da resiliência climática. Convém ressaltar que, mesmo se
tendo a compreensão consagrada de que o ambiente é o resultado de uma solução implantada para um conflitoecossistêmico, ou seja, tudo e todos fazem parte dele, ambiental transfronteiriço (Brasil, Paraguai e Argentina),portanto, interdisciplinar, esta é totalmente esquecida sem a intervenção dos Ministérios das Relações Exterio-no âmbito do respectivo PNA que, apesar de eleger me- res dos respectivos países, a partir de pesquisas e açõesritoriamente 11 estratégias, criou uma diáspora de ações integradas através do Ministério Público. Essa soluçãopara mitigar cada uma das respectivas estratégias. recebeu um prêmio na categoria “Água e Direito”, via- bilizando a proposta da ONU como possibilidade para- Nessa perspectiva, não há como deixar de considerar diplomática.que, apesar de todo esforço realizado, o resultado nãoserá o esperado, diante do modelo mental que sustentou Faz 10 anos que essa proposta foi premiada interna-os propositores do PNA brasileiro e dos respectivos ges- cionalmente, e o Brasil e o mundo ainda não acordaramtores públicos que irão implantá-lo, como já vem acon- para a compreensão de uma gestão integrada dos con-tecendo, desde o seu lançamento no ano de 2016. Logo, flitos ambientais; segue na mesma perspectiva a posiçãopode-se antever que se nem as instituições públicas bra- do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que,sileiras e mundiais previram a sua respectiva capacidade no ano de 2016, lançou a “Carta de Brasília”, buscandode suporte diante de uma catástrofe mundial, em termos soluções para Termos de Ajustamento de Conduta, jáde ajuda humanitária, não querendo ser catastrofista, o apontadas em 2002 em pesquisa sobre essa temática.que está por vir é preciso ser pensado no “aqui e agora”:como exigir o “cumprimento de fazer” das instituições e Se no atual estado das coisas, dos objetos, dos ho-organizações diante de um evento extremo, se elas mes- mens, do mundo, das relações, das emoções e do meiomas não possuem uma avaliação da sua capacidade de ambiente ainda não se acordou para essa realidade, serásuporte institucional? preciso que uma grande catástrofe ocorra para que se te- nha a certeza de que não haverá o que fazer? Será preciso Parece que a lógica estabelecida é a regra de Pareto: outro fenômeno extremo, para que se comece a pensarprecisaremos garantir os 20% que mantém o controle da numa cultura de gestão de riscos e de desastres naturais?situação, em detrimento dos 80% que mantém tudo fun-cionando. Nesse contexto, todos os dados, informações e E, em havendo uma população sobrevivente, so-conhecimentos acerca do estado ambiental do planeta, mente assim, as populações e instituições restantes co-ainda passam pelo crivo das agências de inteligência e de meçarão a mudar o seu modelo mental de intervençãocomunicação, que minimizam ou filtram contextos para ambiental diante da experiência de um evento extre-manutenção da ordem pública, que nunca foi ordenada. mo? Portanto, quem sobreviver verá a necessidade da cocriação como possibilidade de gestão dos conflitos Nessa mesma perspectiva, no ano de 2007, Jacques ambientais decorrentes dos desastres naturais, ou aindaChirac propôs a criação da ONUE – Organização das Na- permanecerá com o mesmo modelo mental que o levouções Unidas para o Meio Ambiente, considerando que ao evento extremo? Estaremos, novamente, depois deo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente tudo isso, em rota de colisão ou de coalisão?(PNUMA) das Organizações das Nações Unidas (ONU)em Nairobi (África) apresentava conflitos de competên- Por fim, o que restou para mim é curar, através dacia comum (administrativa) e concorrente (legislativa) sociatria, ou seja, a psiquiatria global, aqueles que porno tratamento dos conflitos ambientais internacionais, falta de visão, audição, voz, vez, dados, informações ediante da quantidade de protocolos internacionais so- conhecimentos, não tiveram a oportunidade de acordarbre o assunto e do status de ratificação de cada país e estabelecer relações entre os contextos e as suas emo-em relação aos mesmos. Por acaso, nesse mesmo ano, ções avassaladoras, por meio da intervenção sociotera-apresentamos no Cannes Water Simposium, em Cannes, pêutica para um futuro possível, a partir do “novo aqui eorganizado pela Universidade de Nice Sophia Antipolis, agora” que se inicia.
Urbanização aceleradacontribui para aumentar os problemas ambientais U rbanização é o aumento proporcional da população urbana em re- lação à população rural. Este processo de urbanização moderno teve início no século XVIII, em consequência da Revolução Indus- trial, desencadeada primeiro na Europa e, a seguir, nas demais áreas desenvolvidas do mundo. A urbanização está associada à concentração de muitas pessoas em um espaço restrito e na substituição das atividades pri- márias (agropecuária) pelas secundárias (indústrias) e terciárias (serviços). A recente e rápida industrialização gerou desequilíbrio na expectativa de vida entre a cidade e o campo, tendo como consequências drásticas o de- semprego, subemprego, mendicância, favelas, criminalidade, porque o de- senvolvimento dos setores secundário e terciário não acompanhou o ritmo da urbanização, além da total carência de políticas públicas para minimizar tais efeitos. Fato lamentável é que alguns países subdesenvolvidos, sem tan- ta atividade econômica, apresentam taxas de urbanização iguais e até su-22 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
periores às de países desenvolvidos, gerando problemas Com isso, podemos dizer que a humanidade está se tor-ainda mais graves, como índices elevados de favelização nando majoritariamente urbana, o que parece ser um ca-e mendicância, além da falta de infraestrutura básica. minho sem volta. A ONU possui estimativas que revelam tendência de intensificação do processo. A velocidade dos Em termos de área territorial, no mundo atual, o es- acontecimentos é outro fator preocupante, visto que nãopaço rural geográfico ainda é bem mais amplo do que o há políticas públicas para atender à essa demanda com aurbano. Isso ocorre porque o primeiro exige maior espa- rapidez necessária.ço para as práticas nele desenvolvidas, como a agrope-cuária (espaço agrário), o extrativismo mineral e vegetal, O processo de formação das cidades ocorre desde osalém da delimitação de áreas de preservação ambiental tempos do período neolítico. No entanto, sob o ponto dee florestas. No entanto, em termos populacionais e em vista estrutural, elas sempre estiveram vinculadas ao cam-atividades produtivas, no contexto econômico e capita- po, posto que dependiam deste para sobreviver. Entretanto,lista, a cidade vem se sobrepondo ao campo em número essa situação mudou: agora é o campo que depende dade habitantes, tanto quanto em problemas advindos do cidade para sobreviver, pois é nela que são definidas as po-êxodo rural. líticas econômico-sociais que estruturam o meio rural. Gigantes da Ecologia | 23
O processo de urbanização, no contexto do os locais onde trabalham, uma vez que a esmaga-período industrial, estrutura-se a partir de dois dora maioria dos habitantes que sofrem com essefatores, classificados como atrativos e repulsivos. processo são trabalhadores de baixa renda. A issoFatores atrativos são os que requerem mais condi- somam-se, ainda, as precárias condições de trans-ções estruturais, conforto e possibilidade de cres- porte público e a péssima infraestrutura dessas zo-cimento rápido devido à industrializa- nas segregadas que, por vezes, nãoção. São processos típicos dos países contam com saneamento básico oudesenvolvidos, onde a urbanização asfalto e apresentam elevados índi-ocorreu primeiro. Cidades como Lon- ces de violência.dres e Nova York tornaram-se pre- O processo de A favelização está intrinseca-dominantemente urbanas a partir de urbanização, mente ligada a fatores como a con-1900, em razão da quantidade de em- no contexto do centração de renda, o desempregopregos e condições de moradias ofe- período industrial, e a falta de planejamento urbano.recidas (embora, num primeiro mo- Muitas pessoas, por não disporemmento, a maior parte dessas moradias estrutura-se a de condições financeiras para cus-fosse precária, se comparadas com as tear suas moradias, acabam nãoatuais). partir de dois encontrando outra saída senão ocu- tipos de causas Os fatores repulsivos são aqueles diferentes: os par, de forma irregular (através deem que as pessoas não buscam a ci- fatores atrativos invasões), áreas que geralmente nãodade devido a quaisquer benefícios, apresentam características favorá-mas sim porque são expulsas do cam- e os fatores veis à habitação, como os morrospo face à modernização dos proces- repulsivos. com elevada aclividade. A estimati-sos. Com a substituição do homem va da ONU é de que até 2030 maispela máquina, este, sem ter o que fa-zer, procura uma ocupação na cidade. de 2 bilhões de pessoas estarão mo- rando em favelas em todo o mundo.Este fato colabora para a formaçãode favelas, visto que tais pessoas não estão quali-ficadas para trabalhar na indústria. As cidades não Problemas ambientais urbanosconseguem absorver esse quantitativo populacio- Muitas das questões ambientais estão direta- mente ligadas aos problemas sociais. Por exemplo:nal e os problemas, consequentemente, começam o processo de favelização contribui para a agressãoa aparecer. ao meio ambiente, visto que as ocupações irregula- res geralmente ocorrem em zonas de preservação,Problemas sociais urbanos ou em locais próximos a rios e cursos d’água.Dentre os problemas sociais urbanos, merecedestaque a questão da segregação, fruto da con- Ademais, sabe-se que os problemas ambientais,centração de renda no espaço das cidades e da fal- sejam eles urbanos ou não, são produtos da inter-ta de planejamento público que vise à promoção ferência do homem na natureza, transformando-ade políticas de controle ao crescimento desorde- conforme seus interesses e explorando os seus re-nado. A especulação imobiliária favorece o enca- cursos em busca de maximização dos lucros, semrecimento dos locais mais próximos dos grandes se preocupar com as consequências.centros, tornando-os inacessíveis à grande massapopulacional. Além disso, à medida que as cidades Os locais mais pobres das cidades costumamcrescem, áreas que antes eram baratas e de fácil ser palco das consequências da ação humana so-acesso tornam-se mais caras, o que contribui para bre o meio natural. Problemas como as enchentesque a grande maioria da população pobre busque são rotineiramente noticiados. E a culpa não é sópor moradias em regiões ainda mais distantes. Es- da chuva. Em alguns casos, o processo de inunda-sas pessoas sofrem com as grandes distâncias en- ção de uma determinada região é natural, ou seja,tre os locais de residência, os centros comerciais e aconteceria com ou sem a intervenção humana. O24 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
problema é que, muitas vezes, por falta de planejamento público, loteamen-tos e bairros são construídos em regiões que compõem áreas de risco. Emoutras palavras, em tempos de seca, casas são construídas em locais quefazem parte dos leitos dos rios e, quando ocorrem cheias, tais imóveis sãoinundados. Em outros casos, a formação de enchentes está ligada à poluição urbanaou às condições de infraestrutura, como a impermeabilização dos solos apartir da construção de ruas asfaltadas. A água que, normalmente infiltrariano solo, acaba não tendo para onde ir e deságua nos rios, que se avolumam,transbordam e provocam enchentes. Outro problema ambiental urbano bastante comum é o fenômeno dasilhas de calor, que ocorre nas regiões centrais das grandes cidades. Tal situ-ação é consequência do processo de verticalização, ou seja, a formação deprédios que limitam a circulação do ar que, somada à retirada das árvores,contribui para a concentração do calor. É por isso que as regiões centrais oumuito urbanizadas estão sempre mais quentes que o restante das cidades. Para somar às ilhas de calor, existe também a inversão térmica, um fenô-meno climático que dificulta a dispersão dos poluentes emitidos pela açãohumana. Em virtude disso, gases tóxicos pairam sobre a superfície das cida-des, provocando doenças respiratórias e aumento das temperaturas. ALGUMAS DIFICULDADES GERADAS PELA URBANIZAÇÃO ACELERADA Desemprego: as cidades não têm condições de atender a demanda, en- tão, aumenta o desemprego e, com isso, as pessoas começam a trabalhar na informalidade. Algumas pessoas optam pela criminalidade; Favelas: grande concentração de casebres e barracos em situações pre- cárias, em locais desprovidos de infraestrutura. Sem saneamento básico, as doenças surgem; Cortiços: grande número de pessoas vivendo em pequenos cômodos. Essa modalidade de moradia geralmente oferece péssimas condições sani- tárias e de segurança aos seus moradores; Loteamentos populares: ocorrem em áreas periféricas e a população que habita esses lugares é de baixa renda. O maior problema desse tipo de habitação é que quase sempre são loteamentos clandestinos e as casas são construídas pelos próprios moradores; Enchentes: os centros urbanos possuem extensas áreas cobertas por concreto e asfalto, dificultando a infiltração da água da chuva no solo. As chuvas ocasionam acúmulo muito grande de água e as galerias pluviais não conseguem dar conta do volume, ocasionando as enxurradas que invadem as residências nas regiões mais pobres. Gigantes da Ecologia | 25
Urbanização aceleradaProfa. Lisiane Ilha Librelotto, Dra. (UFSC)Doutora em Engenharia de ProduçãoProf. Paulo C. Machado Ferroli, Dr. (UFSC)Doutor em Engenharia de Produção A habitação é uma das mais importantes criações do homem, possibilitando a sobre-vivência da espécie humana. Inicialmente, o homem nômade utilizava abrigos móveis oupreexistentes. Entretanto, tornou-se sedentário com o passar do tempo, habitando emestruturas fixas. Percebeu também que a vida coletiva poderia oferecer vantagens emtermos de segurança e sobrevivência. Alguns grupos humanos da atualidade conservam o hábito de escavar abrigos emparedões rochosos ou no próprio solo. Este procedimento, ainda hoje, é observado nasproximidades de Paris, China, Tunísia, Turquia e Espanha. Os abrigos naturais possuíamuma série de inconvenientes, levando à busca de abrigos mais flexíveis. Assim, surgiram osabrigos artificiais, cuja criação foi inspirada nos ninhos dos animais e os primeiros núcleosurbanos (período neolítico). No Brasil, a maioria das cidades surgiu espontaneamente, como consequência das in-cursões religiosas ou ao redor de fortes militares. As Cartas Régias impunham normas paraa execução de construções, garantindo que as cidades da colônia mantivessem o aspectoda metrópole. Em 1940, segundo dados do IBGE, cerca de 70% da população brasileira vivia no cam-po. Passados 80 anos, restam menos de 15% da população sediada em áreas rurais. Essedito êxodo rural ocorre de forma desigual, sendo mais acentuado em regiões desenvolvi-das e industrializadas. As cidades se tornam uma solução aos olhos da população e umgrande problema para projetistas e gestores públicos. Uma forte discussão surge no contraponto entre as altas e baixas densidades demo-gráficas. Os modelos de planejamento urbano pautados na criação de regiões de baixadensidade, denominados de subúrbios, não consideram por igual as necessidades dosusuários. Em contraponto, críticas são tecidas aos modelos de alta densidade, que por umlado reduzem o custo de infraestrutura mas, por outro, geram espaços pobres, concen-tram grande carga no solo, gerando problemas em edificações, dificultam o controle dapermeabilidade do solo e facilitam a ocorrência de inundações, propiciam grandes áreasde sombreamento e deficiência de áreas com iluminação natural, facilitam a propagaçãode doenças pela dificuldade de renovação do ar, entre outros problemas.
A expansão urbana deveria prever o menor impacto abertos, a pratica da conservação de energia, a presen-aos recursos naturais, sendo esta uma premissa básica ça de cinturões verdes como elementos de contençãopara o desenvolvimento urbano sustentável. O tema é dos grandes centros, o uso integrado do solo nos planoscomplexo e abundante, relacionando a gestão urbana e diretores, permitindo o desenvolvimento de um mix dea discussão atual sobre sustentabilidade. A gestão públi- atividades, o equilíbrio da densidade urbana, a duplica-ca ineficiente inviabiliza o planejamento e a preservação ção e melhoria dos espaços abertos, a revitalização dedos recursos naturais existentes, às vezes, não obede- espaços industriais, a melhor resposta à equação traba-cendo a uma ordem de prioridades necessárias do espa- lho/casa, o estabelecimento de códigos que asseguremço, mas, sim, a interesses particulares. A construção de a construção de habitações dentro de padrões mínimosedifícios públicos e privados deveria ser vista como um (LEED, água,) e estratégias projetuais que utilizem-se deagente redutor das desigualdades e promotor do desen- componentes naturais e construídos que respondam àsvolvimento das comunidades numa parceria entre inicia- questões bioclimáticas regionais. Algumas ferramentastivas público/privadas. podem ser utilizadas para gerir a expansão urbana rumo a cidades verdes ou mais sustentáveis, como o Modelo O cenário urbano real da maioria dos grandes centros ESA Edifício e o IQVU (Índice de Qualidade de Vida Ur-é de exclusão social, exploração e ocupação descontro- bana), que permitem a definição de estratégias atravéslada do território, deficiências de saneamento, falta de do monitoramento de indicadores para a promoção derede pública de energia ou uma capacidade de forneci- cidades mais qualificadas.mento de energia inferior à demanda, problemas na pa-vimentação das vias, deficiências de transporte coletivo, Assim, os gestores públicos devem acompanhar per-passeios públicos, arborização, sinalização viária e de manentemente a evolução da estrutura espacial da cida-identificação e equipamentos públicos comprometem de, ajustando-a e equilibrando-a por meio de incentivosainda mais a qualidade do espaço. Percebe-se ainda a e desincentivos sobre a ocupação do espaço e constru-carência de espaços e equipamentos de lazer impedindo ção de edificações.as relações de convívio, além do espaço da própria casaou família. Problemas como a favelização, violência, po- Gigantes da Ecologia | 27luição, falta de mobilidade, acentuação de desigualdadessociais e econômicas, esgotamento ambiental, déficithabitacional e insuficiência de empregos para atender àcrescente população são o reflexo do caos urbano. São necessários instrumentos que ajudem a gerir aqualidade dos espaços públicos em conjunto com as es-tratégias adotadas no edifício e o desempenho por elasobtido. Mais do que coleções de tecnologias limpas, oedifício sustentável deve pensar na estratégia tecnológi-ca certa para suprir e sustentar as necessidades daquelecontexto e só pode ocorrer em cidades sustentáveis, enão de forma isolada. Não há receita. Apenas existe a melhor solução paraaquele contexto, que deve ser sempre fruto de planeja-mento. Desta forma, a concepção de cidades sustentáveisperambula entre a concepção das unidades que a consti-tuem, ou seja, dos edifícios e dos caminhos e, sobretudo,das relações e vínculos que podem se estabelecer. Na sua mais perfeita forma, uma cidade sustentávelé verde. Aponta-se como fatores relevantes para a sus-tentabilidade urbana a compacidade das cidades, o usode sistemas de transportes multimodais e dos espaços
Desmatamento ameaça a vida tanto dos humanos quanto dos animais28 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
D ados divulgados, em junho de 2017 pelo Sistema de Alerta de des- matamento (SAD) revelam que a Floresta Amazônica, considerada o pulmão do mundo, perdeu 365 quilômetros quadrados, uma que- da de 23% em relação ao mesmo período de 2016. Quer dizer, houvemenos desmatamento nesse período, mas não deixou de acontecer. O SAD écoordenado pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Ima-zon). O Instituto também mostrou uma queda na degradação florestal. A áreatotal medida é de um quilômetro quadrado. Isso é equivalente a uma reduçãode 99% em relação a maio de 2016, quando a degradação somou 1.959 quilô-metros quadrados. Notícia boa? Nem tanto, pois esse é um dado isolado. AFundação SOS Mata Atlântica e o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), emmaio de 2017, apresentaram um estudo no qual constava que o desmatamentoda Mata Atlântica cresceu quase 60% em um ano. Para ser exato, o desmatamento cresceu 57,7% em um ano, entre 2015 e2016, quando o bioma perdeu 29.075 hectares, o equivalente a mais de 29mil campos de futebol. No período anterior (2014-2015), o desmate no biomahavia sido de 18,433 hectares. Segundo avaliação da diretora executiva daSOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, há 10 anos a área, que se espalha por 17estados, não registrava um desmatamento dessas proporções. O que maisimpressionou os pesquisadores foi o enorme aumento no desmatamento noúltimo período. Foi um retrocesso muito grande, com índices comparáveis aosde 2005. No período de 2005 a 2008, a Mata Atlântica perdeu 102.938 hecta-res de floresta, ou seja, uma média anual de 34.313 hectares a menos. Os índices do SAD mostram apenas um período pequeno. Tanto que ospesquisadores acreditam que, mesmo apresentando queda no mês de maiode 2017, comparado com maio de 2016, a tendência é de aumentar o desma-tamento e a degradação, que mede a atividade madeireira, que acontece deforma quase que totalmente ilegal na Floresta Amazônica. Os madeireiros en-tram na Floresta intacta e tiram dela as árvores com valor comercial. Deixamuma floresta em pé, mas empobrecida e cortada por estradas. Essa florestateria condições de se recuperar se fosse deixada em paz. No entanto, após aextração das árvores de valor comercial, o que segue é o desmatamento total,para abertura de pastagem e especulação com a terra. Entre 2015 e 2016 a Bahia foi o estado onde houve mais desmatamento,com 12.288 hectares desmatados, 207% a mais do que no período anterior,quando foram destruídos 3.997 hectares de vegetação nativa. Minas Geraisaparece em segundo lugar no ranking, com 7.410 hectares desmatados. Osprincipais pontos de desflorestamento ocorreram nos municípios de ÁguasVermelhas, São José do Paraíso e Jequitinhonha. Segundo dados da SOS MataAtlântica e do Inpe, a região é reconhecida pelos processos de destruição paraprodução de carvão ou pela conversão da floresta por plantios de eucalipto. No Paraná, o desmatamento do bioma passou de 1.988 hectares, entre 2014e 2015, para 3.545 hectares, entre 2015 e 2016, o que representa um aumentode 74%. Este foi o segundo ano seguido de crescimento do desmatamentono Estado. Segundo o relatório, a destruição está concentrada na região dasaraucárias, espécie ameaçada de extinção. Gigantes da Ecologia | 29
MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica perdeu aproximadamente 93% da sua cobertura vegetal, restando apenas 7%.Do território brasileiro, 15% eram ocupados pela a Mata Atlântica. Hoje, é considerada a quinta área mais ameaçada do planeta. Esta avaliação é alarmante. E isto que não De acordo com levantamentos realiza- estão todos os estados nesse estudo. De acor- dos pela Organização das Nações Unidas do com a pesquisa, o setor produtivo voltou (ONU), atualmente, no mundo, são des- a avançar sobre as florestas, não só na Mata matados quase sete milhões de hectares Atlântica, mas em todos os biomas, após as por ano. Isso significa a perda de vegeta- alterações realizadas no Código Florestal e o ção e de várias espécies de animais. Com subsequente desmonte da legislação ambien- isso, o equilíbrio ecológico está seriamen- tal brasileira. te ameaçado. Países desenvolvidos Dentre as diversas consequências do O desmatamento impacta de forma devas- desmatamento estão o esgotamento dos tadora a biodiversidade, acentuando inunda- solos com a intensificação de processos ções e intensificando o efeito estufa. No mun- de erosão e desertificação; a extinção do, os primeiros a praticar de forma intensiva o ou degradação de rios e lagos, graças ao desmatamento foram os países desenvolvidos. maior acúmulo de sedimentos gerados; e Para o soerguimento de suas economias, so- a ocorrência de desequilíbrios climáticos bretudo após o advento do sistema capitalis- em razão da ausência das florestas que ta, algumas nações exploraram intensamente tinham como função gerar mais umidade os seus recursos naturais, avançando essa ex- do ar e absorver o calor atmosférico, entre ploração também para outras áreas. Com isso, muitos outros problemas. muitas florestas do hemisfério norte foram pra- ticamente dizimadas. Por todos esses motivos, a ONU e ou- Atualmente, os que mais desmatam são os tros organismos internacionais, bem como países de economias emergentes. O Brasil ain- inúmeras entidades regionais, reconhe- da é um dos que mais desmata, mas deixou de cem e enfatizam que a solução deve le- ser o campeão, dando esse lugar para a Indoné- var em conta fatores locais e globais, num sia, que possui uma ampla área verde, mas que projeto multidisciplinar articulado em lar- vem desflorestando duas vezes mais do que é ga escala, e que deve envolver não só os desmatado anualmente no território brasileiro. cientistas, mas os governos, as empresas e as instituições, além, principalmente, da30 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta população.
ENTENDA MAIS SOBRE O ASSUNTO: Desmatamento: O desmatamento, também chamado de desfloresta-mento ou desflorestação, é o processo de remoção total ou parcial da ve-getação em uma determinada área. Normalmente, esse processo ocorrepara fins econômicos, com objetivos mercantilistas, para o aproveitamentoda madeira das árvores e o aproveitamento dos solos para a agriculturae a pecuária. A atividade mineradora e a construção de barragens parahidrelétricas também são apontadas como motivos do desmatamento. Odesmatamento é um dos mais graves problemas ambientais da atualidade. Florestas: As florestas são áreas que possuem uma alta densidade deárvores, em que as copas se tocam formando uma espécie de “teto” verde.Elas são fundamentais para a preservação da vida humana. São também ohabitat natural de muitas espécies de animais e plantas. Causas do desmatamento: As causas são muitas. Mas, as mais conhe-cidas são resultado das atividades humanas, por meio de expansão agro-pecuária (abertura de áreas para agricultura, pastoreio ou áreas rurais àespera de valorização financeira), atividade mineradora (áreas que são de-vastadas para a instalação de equipamentos e atividades de exploração deouro, prata, bauxita, alumínio, ferro, zinco, etc..), crescente exploração dosrecursos naturais e aumento das queimadas e urbanização. Impactos: As consequências e impactos gerados pelo desmatamentosão devastadores. E a primeira afetada é a biodiversidade local, pois umavez que há a destruição das florestas, perde-se o habitat natural de muitasespécies, contribuindo para a morte de muitos animais e até mesmo para aextinção dos tipos endêmicos, trazendo problemas para a cadeia alimentare para os ecossistemas locais. Essa perda pode impactar até as atividadeseconômicas, como a caça e a pesca. O desmatamento gera efeitos negativos também sobre a água e os so-los. Como as florestas são responsáveis pela regulação de 57% das águasdoces superficiais do mundo, elas contribuem fornecendo umidade parao ambiente. Ou seja, a retirada delas implica na alteração do equilíbrio cli-mático de muitas regiões, isso sem falar na intensificação do efeito estufa.Além disso, elas melhoram a drenagem dos terrenos e sua ausência inten-sifica os deslizamentos de terra em terrenos de forte inclinação, acentua asinundações, facilita a erosão do solo e a desertificação. Como consequên-cia, há a privação dos solos de seus nutrientes, o que ocasiona o assorea-mento de rios e lagos pelo depósito da terra carregada nos seus leitos. Odesmatamento é a principal causa da degradação dos solos. Mata Atlântica: A Mata Atlântica perdeu aproximadamente 93% da suacobertura vegetal, restando apenas 7%. Do território brasileiro, 15% eramocupados pela Mata Atlântica. Hoje, é considerada a quinta área mais ame-açada do planeta. Gigantes da Ecologia | 31
Desmatamento desmedido Prof. Lauro E. Bacca, Me. (FURB) Mestre em Ecologia Certo dia, ao pousar no Aeroporto de Navegantes, junto à foz do rio Itajaí, deparei-me com uma imagem que há tempos sabia existir, mas que nunca tinha visto daquele ângulo privile- giado: um gigantesco leque de águas barrentas lançadas pelo rio ao mar, empurrado pelas correntes marítimas no sentido Norte. Fotografei a bela e triste cena. Como estudante de Mestrado em Manaus-AM, aprendi com o grande mestre alemão, Dr. Harald Sioli, que os rios são o sistema renal da paisagem. Por isso, a simples visão daquela cena permitiu-me, qual médico com seu paciente, deduzir, pelos sintomas, o que vem acontecendo no Vale do Itajaí, como em tantos outros vales: falta de controle da erosão dos solos urbanos e rurais, perdas preocupantes de solo fértil com prejuízos à agricultura, gigantescas quantidades de sedimentos transportados e depositados no rio e no mar, prejuízos à vida marinha e ao rendimento da indústria pesqueira, necessidade de constantes e dispendiosas dragagens do canal de acesso aos navios nos portos de Itajaí e Navegantes, encarecimento do tratamento de águas nas cidades, etc. Ali, enfim, havia um indicativo de muito desmatamento em áreas impróprias para tal. O desmatamento no Vale diminuiu drasticamente, quase 100%, assim como em todo o do- mínio da Mata Atlântica brasileira, graças ao Decreto 750, de 10 de fevereiro de 1993, que, final- mente, proibiu o corte e a supressão dessas florestas e disciplinou seu uso. Restaram, porém, cerca de 10% das florestas originais a nos lembrar sempre nossa estupidez de termos lançado ao chão, a ferro e fogo, 90% das florestas desse bioma. Os 10% remanescentes, em geral, são apenas um espectro da qualidade econômica e ecológica, quantidade e biodiversidade origi- nais, o que aponta para a inviabilidade do retorno da exploração da mata por muito tempo e que o que restou precisa ser enriquecido, recuperado, restaurado e ampliado. Em termos mundiais, a cena se repete. Apenas 9% das florestas do mundo podem ser consideradas intactas - um planeta inteiro devastado por um Homo pseudosapiens que não sabe o faz. As consequências já são por demais conhecidas, por isso, menciono apenas um único exemplo aqui no Brasil: ironia das ironias, enquanto o País gasta bilhões de dólares com a transposição de águas do rio São Francisco para o semiárido nordestino, com o desmatamen- to da Amazônia, estamos destruindo a transposição natural e gratuita de águas pelo “rio aé- reo” de umidade que de lá se origina e provoca abençoadas chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, sem as quais o Brasil não seria, jamais, uma potência agrícola mundial. Para os que defendem (para seus próprios interesses, diga-se de passagem) a ampliação da área ocupada pela agropecuária nacional, apenas dois lembretes: primeiro, temos que nos preocupar com a conservação dos solos, das florestas, das águas e, com isso, mantendo e au- mentando a produtividade com muito menor área de plantio ou criação de gado. Em segundo lugar, para os que acham que desmatar é sinônimo de desenvolvimento, lembrar que o Japão, por exemplo, possui dois terços de seu pequeno território ocupado por florestas nativas. É como se toda a população brasileira ocupasse apenas 85% da região Sul e mesmo assim, 67% do território seria ocupado por florestas. Toda uma proteção florestal que não impede que o Japão seja a terceira potência econômica mundial.32 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
Lauro Bacca nos Aparados da Serra Catarinense, no trecho preservadopelo Parque Nacional de São Joaquim,em Urubici, no alto do Morro da Igreja Gigantes da Ecologia | 33
A poluição daságuas está matando os peixes e outros organismos vivosO mundo derrubou suas fronteiras e limites ge- ográficos graças às tecnologias, porém, mui- to antes delas existirem, já havia um territó- rio comum a todos os habitantes do planeta: a imensidão azul dos mares e oceanos. Não existem fronteiras nas águas. Sem ser de ninguém e ao mesmo tempo de todos, gradativamente, as águas dos mares têm sido poluídas por todas as nações. A cada dia, um grande volume de diferentes poluentes tem sido despejado nos rios e oceanos. De acordo com o Pai- nel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), sobre Impacto, Vulnerabilidade e Adaptação das Cidades Costeiras Brasileiras às Mudanças Climáticas, 60% das pessoas do mundo vivem em áreas costeiras. Quanto maior for o número de pessoas que vivem em áreas costeiras, maior será a produção de resíduos, muitos com descarte inadequado. Em muitos lugares, ainda não há tratamento de esgoto e estes é despejado em rios e mares, contaminando as águas e contribuin- do para a extinção de muitos ecossistemas. A fauna marinha não está conseguindo lidar com o excesso de resíduos, metais pesados, hormônios e outros. Atualmente, segundo um estudo feito pela Acade- mia Nacional de Ciências dos EUA, estima-se que 14 bilhões de quilos de resíduos são jogados nos oceanos todos os anos.
Infelizmente, nos mares é possível encontrar de tudo, desde embala-gens diversas até carros inteiros, óleos e manchas de petróleo. Os na-vios petroleiros e os oleodutos são alguns dos causadores da poluição,devido aos vazamentos. Quando os taques dos navios são lavados, tam-bém a água suja com petróleo é jogada ao mar. Esse tipo de poluição échamada de “maré negra”. É necessário que providências urgentes sejam tomadas, havendo oenvolvimento de todos, com investimentos reais em sistemas de trata-mento de efluentes, e que cada um faça a sua parte quanto ao descartecorreto dos resíduos. Essas medidas contribuirão para que não haja aextinção de milhões de organismos vivos que têm por habitat os marese rios. As pessoas também são prejudicadas por utilizarem as águascontaminadas.
O QUE É? Poluição marinha é aquela caracterizada pela presença de resíduos sólidos e poluentes líquidos nas águas dos mares e oceanos, que são frutos de atividades humanas. PRINCIPAIS CAUSAS DA POLUIÇÃO MARINHA: • Petróleo, combustíveis e outros produtos químicos que chegam às águas dos oceanos quando ocorrem vazamentos em navios, ou são descartados propositalmente por pessoas responsáveis por embarcações; • Acidentes em oleodutos ou plataformas de petróleo que geram vazamento para as águas marinhas. Esse fenômeno é conhecido como Maré Negra; • Resíduos materiais (plásticos, ferros, vidros entre outros) que são jogados por pessoas que estão em navios, ou jogados nas praias; • Lançamento de esgoto doméstico e industrial, sem o devido tratamento, nas águas. Grande parte do esgoto que chega aos mares e oceanos tem como origem os rios que receberam estes poluentes em algum ponto de seu trajeto; • Descarga de lama de dragagem; • Deposição de resíduos radioativos ou perda acidental de submarino nuclear; • Cerca de 85% de todo o resíduo encontrado nos mares e oceanos é composto por plásticos.36 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
PROBLEMAS GERADOS (CONSEQUÊNCIAS) PARA O MEIO AMBIENTE:• Prejuízos para os ecossistemas marinhos, principalmente desequilíbrio ecológico;• Contaminação de peixes e outros animais marinhos que serão consumidos por pessoas;• Mortes de pássaros que se alimentam de peixes contaminados. Nos casos de vazamento de petró-leo, também é comum ocorrer a morte de muitos pássaros que entram em contato com o petróleo;• Águas das praias tornam-se impróprias para o banho;• Alta mortandade, dependendo da poluição, de espécies animais marinhas;• Degradação de regiões de mangues;MEDIDAS PARA EVITAR A CONTAMINAÇÃO:• Construção de navios cargueiros mais seguros;• Controle do escoamento dos fertilizantes e outros produtos nocivos à água;• Instalações de estações de tratamento de esgoto;• Proibição da descarga de efluentes nos mares;• Fiscalização de indústrias;• Educação ambiental para a população. Gigantes da Ecologia | 37
Poluição MarinhaPesq. Júnia Schultz, Me. Doutoranda emBiotecnologia Vegetal e Bioprocessos daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) A poluição marinha é proveniente de uma rede complexa de resíduos oriundos das ati-vidades industriais, agrícolas, turísticas, comerciais e residenciais. Imensas quantidades deplástico, poluentes orgânicos, metais pesados, óleo, energia, resíduos radioativos e altas car-gas de nutrientes são lançadas diariamente no oceano, e estes se caracterizam como asprincipais fontes de contaminação (Thain et al., 2008; Brown; Takada, 2017). Na literatura pertinente, observa-se que o grande vilão da deterioração da saúde dosecossistemas oceânicos, atualmente, são os plásticos (Boucher; Friot, 2017). Estes são polí-meros sintéticos, que contêm substâncias químicas tóxicas, particularmente duráveis. Essassubstâncias são difíceis de serem degradadas e impactam os oceanos, principalmente, pelasenormes ilhas de “lixo”, como o relatado por Bryant et al. (2016), de uma área no Pacíficoestimada em mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de superfície e com cerca de 10metros de profundidade, onde foram registradas consequências fatais a inúmeros organis-mos marinhos. Os plásticos, ao serem transformados por ações físicas das ondas, salinidade dos oce-anos e radiação solar, originam os microplásticos, pequenos fragmentos que podem serobservados a olho nu ou serem partículas de 20 micros de diâmetro, ou seja, mais finosque o cabelo humano (Galloway et al., 2017). Estes microplásticos fazem a água parecerturva e são mais facilmente ingeridos pela vida marinha, especialmente por organismosfiltradores, que filtram a água do mar e acumulam essas partículas não só no estômago,mas também em seus tecidos e fluidos (Wegner et al., 2012). Estes compostos entram nacadeia alimentar e podem atingir aos humanos, pelo consumo desses animais envenena-dos, e causar impactos potenciais para a saúde, como alteração hormonal (Wright et al.,2013; Rochman et al., 2016). A poluição por óleo é considerada a mais rápida e impactante, justamente por ser umadas formas mais visíveis de danos à saúde do meio marinho, especialmente quando ocor-rem catástrofes petrolíferas. Um exemplo foi o incidente no Golfo do México, que ocorreuem 2010 e derramou 5 milhões de barris de petróleo no oceano, devido à explosão de uma
plataforma da British Petroleum, causando um dano ambien-tal calculado em mais de 17 bilhões de dólares (Bishop et al.,2017). Entretanto, essas catástrofes representam apenas cer-ca de 10% da poluição global por óleo no contexto marinho.Grande parte do óleo que polui o mar é resultante de REMESSAfontes difusas, como o tráfego de petroleiros, vazamentosdurante a extração de petróleo, operações de limpeza de 35%tanques ilegais no mar ou descargas nos rios, que sãoentão levados ao mar, componentes voláteis do óleo FONTES NATURAISoriginados pela queima e que entram em contato DESASTRES DO TANQUEIROcom a água, que diariamente são lançados no am- INDEFINIDObiente (Bosch et al., 2010). 5% EFFLUENTE, ATMOSFERA,Porém, seja por fonte difusa, ou catástrofe am- ROTAÇÕES DE PERFURAÇÃObiental, o impacto do petróleo é perturbador, umavez que sufoca a vida marinha até a morte, espe- 45%cialmente a barreira de corais, que são animais ex-tremamente sensíveis à poluição e possuem uma 10% Gigantes da Ecologia | 39regeneração lenta ao impacto ambiental. Com aperda da biodiversidade dos corais, que é um dosprincipais prestadores de serviços ambientais, háperda de qualidade da saúde dos oceanos (Tur-ner; Renegar, 2017). Cita-se, ainda, como efeito aquebra do isolamento térmico para aqueles animais 5%que sobrevivem, posto que conduzem a mudançascomportamentais da biota e alteram de forma brutatodo o ecossistema afetado, seja em superfície, ou emprofundidade. Todo o aporte desses contaminantes citados e muitosoutros gerados pela ação humana ao ambiente marinho vemsendo alvo de constantes e intensas pesquisas por parte dacomunidade científica que, apesar desse conhecimento dis-ponibilizado à população pela mídia, redes sociais, veículoscientíficos e Organizações Não-Governamentais de cunhoambiental, a poluição marinha está se agravando, especial-mente pelo consumo desenfreado pela sociedade, falta detratamento adequado e, ainda, pela falta de informação.
Poluição do ar e dosolo causam doenças sérias
O desenvolvimento urbano e o consumo causar irritação nos olhos e diminuição da capacida- cada vez mais exagerado dos humanos, de pulmonar. O dióxido de enxofre causa irritação com utilização em excesso de materiais nas vias aéreas superiores, podendo acarretar gra- descartáveis, entre outros, são os grandes ves problemas ao pulmão. É importante lembrar queresponsáveis pela poluição do ar e do solo. A polui- os mais afetados são os idosos e as crianças.ção é um problema real que atinge o ar, a água e osolo. O ar poluído pode causar sérios problemas ao De acordo com as condições do tempo, a quali-homem, inclusive doenças que levam a óbito. dade do ar pode melhorar ou piorar. Em períodos de baixa umidade e poucos ventos é mais fácil vermos A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima cidades com maior concentração de poluentes. Nes-que, anualmente, mais de 2 milhões de pessoas em sas épocas, aumenta a incidência de doenças pul-todo o mundo corram o risco de morrer devido a monares.problemas respiratórios causados pela poluição. NoBrasil, as principais fontes de poluição estão dividi- A poluição do ar é muito mais discutida do quedas em três setores: fixas, as indústrias da transfor- a do solo, mas ambas são ruins para a qualidade demação, de mineração e de produção de energia por vida. O solo pode ser contaminado pela deposição,meio de usinas termoelétricas; as móveis, decorren- armazenamento, acúmulo, injeção, aterramento outes de veículos automotores; e as agrossilvipastoris, infiltração de produtos, que provocam alterações narelacionadas às queimadas, incêndios florestais, pul- sua composição natural.verização de fertilizantes e agrotóxicos. Normalmente, a contaminação do solo se dá pe- A poluição do ar tem aumentado consideravel- las ações do homem, mas processos naturais tam-mente desde a Revolução Industrial com o aumento bém podem causar esse transtorno. A urbanização,no número de carros circulando, que lançam diver- os aterros sanitários, a agricultura, a pecuária e a mi-sos poluentes na atmosfera. Entre os poluentes do neração são práticas humanas que agridem o solo.ar, os mais conhecidos são a fumaça, as partículas As fontes naturais de poluição estão nos maremotos,inaláveis, o dióxido de enxofre, o ozônio, o dióxido de terremotos e atividades vulcânicas.nitrogênio e o monóxido de carbono. Essas substân-cias causam sérios problemas de saúde. O monóxido Dependendo do tipo de poluição do solo, a so-de carbono, por exemplo, diminui a capacidade do brevivência de plantas e animais pode ser inviabili-sangue de transportar oxigênio pelo corpo, podendo zada, o ciclo do nitrogênio pode ser alterado e doen-causar hipóxia tecidual. O ozônio, em excesso, pode ças podem se desenvolver na população.
Os agrotóxicos são considerados os principais causadores de po- A poluição doluição dos solos. Mas um outro tipo de poluição que se destaca é a ar é muito maisdestinação inadequada do esgoto doméstico. Além de provocar a discutida do que apoluição do solo, tanto os agrotóxicos quanto o esgoto desenca- do solo, mas ambasdeiam a contaminação, ou seja, a presença de organismos capazes são ruins para ade provocar doenças em humanos e em animais. qualidade de vida. Para solucionar o problema da poluição do solo é primordial quesejam feitas constantemente fiscalizações, com o objetivo de dimi-nuir o despejo inadequado de resíduos. É importante que sejam cria-dos aterros sanitários adequados e que a coleta seletiva funcione,além das atividades agropecuárias serem controladas, diminuindo,principalmente, o uso de fertilizantes e agrotóxicos. Efeitos da contaminação Poluentes depositados no solo, sem nenhum tipo de controle,causam a contaminação dos lençóis freáticos (ocasionando tambéma poluição das águas) e produzem gases tóxicos, além de provocarsérias alterações ambientais como, por exemplo, a chuva ácida; O resíduo depositado em aterros é responsável pela liberação deuma substância poluente que mesmo estando sob o solo, em buracos“preparados” para este fim, vaza, promovendo a contaminação do solo; Outro problema grave que ocorre nestes aterros é a mistura doresíduo tóxico com o resíduo comum, pelo fato de não haver umprocesso de separação destes materiais. Assim o solo passa a rece-ber produtos perigosos e com grande potencial de contaminaçãomisturados com o resíduo comum.
PRINCIPAIS FONTES POLUIDORAS DO SOLO: • Componentes eletrônicos• Inseticidas • Tintas• Solventes • Gasolina, diesel e óleos automotivos• Detergentes • Fluidos hidráulicos• Remédios e outros produtos farmacêuticos • Fertilizantes• Herbicidas • Produtos químicos de pilhas e baterias• Lâmpadas fluorescentes porte de oxigênio pelas células. Esse gás é pro-ELEMENTOS TÓXICOS: veniente da queima incompleta de moléculas or- Óxidos de nitrogênio e enxofre: esses gases gânicas e sua principal fonte de emissão são os motores de veículos como automóveis, ônibus,tóxicos são liberados na queima industrial de com- caminhões, motos, etc.;bustíveis fósseis como o carvão mineral e o óleodiesel. O dióxido de nitrogênio pode provocar Compostos orgânicos voláteis: materiaisbronquite, asma e enfisema pulmonar. Quando como gasolina, solventes e soluções de limpezaesses gases se combinam com o vapor de água que se encontram no ar em estado de vapor;presente na atmosfera, eles são convertidos emácido nítrico e ácido sulfúrico. Diante disso pode- Metais pesados como chumbo, cádmio e mer-mos concluir que eles são os responsáveis pelas cúrio: antigamente o chumbo era utilizado na ga-chuvas ácidas; solina para aumentar seu poder detonante, mas após coleta de sangue feita em várias pessoas, ve- Dióxido de carbono (gás carbônico): resul- rificaram-se altos níveis de chumbo. Diante disso,ta das combustões e da respiração de animais e o governo aboliu o uso desse metal pesado, queplantas. Serve de matéria prima para os vegetais desde 1988 não é utilizado na gasolina. O cádmiona fotossíntese. A cada dia sua concentração no é utilizado nas baterias recarregáveis de celularesar aumenta, sendo ele um dos principais responsá- e outros eletroeletrônicos, e o mercúrio é utilizadoveis pelo efeito estufa; nas baterias de relógios. Ambos são muito tóxicos e exigem extremo cuidado ao serem reciclados. Monóxido de carbono: gás incolor, inodoro,mais leve que o ar e extremamente tóxico. Ao secombinar com a hemoglobina, prejudica o trans-
A Poluição do Ar não tem Fronteiras Profª. Maria A. de Souza, Dra. (Faculdade de Tecnologia SENAI) Doutora em Engenharia Ambiental Desde os primórdios da civilização, a sobrevivência do homem esteve sempre atrelada à exploração dos recursos naturais, gerando grandes quantidades de resíduos. No entanto, os desejos insaciáveis dos seres humanos mostram, nos dias atuais, que o perigo dos eleva- dos níveis de consumo não está relacionado apenas aos danos causa- dos pela extração, que conduz à exaustão dos recursos naturais, mas ao processamento e, principalmente, ao destino final, tanto dos resídu- os gerados durante o processamento, quanto do produto final descar- tado em forma de resíduo. Outra grande preocupação que se inclui neste universo de análise está relacionada com a velocidade do processo de geração dos resí- duos, superior ao processo natural de degradação. Este incremento do processo de geração dos resíduos é evidenciado principalmente no meio urbano, representando impactos ambientais relevantes, que afe- tam e degradam a qualidade de vida. (TENÓRIO; ESPINOSA, 2004).44 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
O crescimento populacional seguido da do aquecimento global, outros poluentes comoquantidade e da diversidade de resíduos ge- monóxido de carbono, compostos orgânicosrados, além dos desperdícios, tem conduzido voláteis, SOx, NOx, hidrocarbonetos, materiaiso planeta Terra para situações catastróficas e particulados, entre outros, têm contribuído nade desequilíbrio global. A poluição gerada por poluição atmosférica e, consequentemente, naações antropogênicas não tem fronteiras, e a poluição da água e do solo. A poluição do ar,contaminação e a escassez dos recursos natu- pode ser definida como a presença ou o lança-rais disseminam-se em escala de crescimento mento no ambiente atmosférico de substânciasexponencial, comprometendo a qualidade do em concentrações suficientes para interferirar, da água e do solo. direta ou indiretamente na saúde e bem-estar público e ser danoso aos materiais, à fauna e à Os fatores físicos ar, água e solo, além de flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozofundamentais, estão interligados e se encon- da propriedade e à qualidade de vida da comu-tram no mesmo patamar de importância. Por- nidade. Essas substâncias que afetam a quali-tanto, o impacto negativo causado a um deles, dade do ar, podem ser de origem natural ou daconsequentemente afetará aos demais, poden- ação antropogênica, onde destacam-se princi-do gerar reações em cadeia com efeitos siner- palmente a utilização dos combustíveis fósseis,géticos que repercutem no(s) ecossistema(s), a geração e disposição inadequada dos resídu-onde os efeitos de uma ação somam-se aos os, as queimadas e a emissão de poluentes in-efeitos de outras e, por essa sinergia, produzem dustriais sem o devido monitoramento e trata-um resultado inesperado (COIMBRA, 2004). mento. Para tanto, se fazem necessárias ações de prevenção, combate e redução das emissões Entretanto, pelo fato do ar estar livremente de poluentes e dos efeitos da degradação dodisponível sem que seu uso exija qualquer ônus ambiente atmosférico, a fim de garantir não so-ou esforço, este recurso não é utilizado pelas mente a preservação do meio ambiente, comocomunidades de maneira parcimoniosa. Além a preservação da espécie humana. Gigantes da Ecologia | 45
Sem água potável, toda espécie de vida está fadada à morte 46 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
A água é essencial para a vida de todos os seres vivos. Ela repre- senta cerca de 70% da massa do corpo humano e seu consumo é fundamental. As pessoas podem ficar dias sem comer. Porém, sem água, apenas quatro dias. Depois disso, é morte na certa.Além disso, a produção de alimentos, de energia e de bens industriaistambém depende de água. Resumindo: é o recurso mais importante paraa sobrevivência e a evolução de todas as espécies. Mas, parece que o serhumano está esquecendo disso, pois tem aumentado consideravelmentea quantidade de rios e lagos contaminados. Ao contaminar a água potável, que poderia ser consumida, o ser hu-mano está colocando em risco a preservação da espécie, visto que gran-de parte da água presente no planeta não pode ser usada para consumo.Mesmo cobrindo mais de 3/4 do planeta, cerca de 97,3% dela está pre-sente nos oceanos (água salgada), ou seja, imprópria para uso. A água doce representa 2,7% do total, mas 2,4% dela estão situadasem locais de difícil acesso, em regiões subterrâneas e nas geleiras, so-brando 0,3% para utilização. Estão no Brasil 13% da água doce disponívelno mundo, com 73% dela na Bacia Amazônica, uma das que vêm sendocontaminadas pela ação do homem. Com a poluição, os lençóis freáticos, lagos e rios, além dos mares, sãoo destino final de todo poluente solúvel em água que tenha sido lançadono ar ou no solo. Além deles, as águas ainda recebem os poluentes vindosda atmosfera e litosfera (solo). As fontes de poluição podem ser separa-das em pontuais e não pontuais. Por pontuais, entendem-se as fontes poluidoras facilmente identificá-veis: como um encanamento ou uma vala. Outro exemplo, é o lançamentode poluentes de uma fábrica diretamente na água. As não pontuais já sãomais difíceis de ser identificadas. Também chamadas de fontes difusas,são relacionadas à contaminação que não é originada de uma fonte in-dividual e discreta. Como não são provenientes de um ponto específicode lançamento ou de geração, o controle e a identificação são difíceis.Alguns exemplos de fontes difusas são as infiltrações de agrotóxicos nosolo, o descarte incorreto de substâncias prejudiciais ao meio ambiente, oresíduo e o lançamento de esgoto nos córregos. O certo é que a poluição, independente se é pontual ou não, causaprejuízos para o ser humano e para os animais. Muitas doenças, comoleptospirose, amebíase, febre tifoide, diarreia, cólera e hepatites atingemos homens e os animais. Cerca de 250 milhões de casos de doenças porcontaminação de águas são registradas todos os anos no mundo inteiro.Elas são responsáveis por aproximadamente 10 milhões de mortes anuais,sendo que 50% das vítimas são crianças. O que fazer Muitos governos possuem leis estritas que ajudam a minimizar a polui-ção da água. Essas leis normalmente são voltadas para indústrias, hospi-tais e áreas de comércio que controlam como despejar, tratar e monitoraros efluentes desses locais. O tratamento dos efluentes deve ser feito paradiminuir a poluição nos corpos d´água. No entanto, nem todo mundoobedece à lei e, por isso, a contaminação continua ocorrendo. Gigantes da Ecologia | 47
A POLUIÇÃO SE DIVIDE EM QUATRO TIPOS: Sedimentar: é o acúmulo de partículas em suspen- são. Quando vindas do solo pelo processo de erosão, desmatamento e extração de minérios, elas podem interferir no processo de fotossíntese, bloqueando os raios solares, e interferir na capacidade dos animais de encontrar alimentos. Esses sedimentos também po- dem ser provenientes de produtos químicos insolúveis que absorvem e concentram os poluentes biológicos, os poluentes químicos e atrapalham o processo de fo- tossíntese. Os sedimentos constituem a maior massa de poluentes nos corpos d´água. Biológica: ocorre com a introdução de detritos or- gânicos lançados geralmente por esgotos domésticos e industriais, que podem ser direcionados diretamente à água ou podem se infiltrar nos solos, atingindo lençóis freáticos. São compostos de carboidratos, gorduras, proteínas, fosfatos e bactérias. Alguns exemplos são restos de alimentos, fezes humanas, detergentes, etc. Na decomposição desses dejetos, o oxigênio é consu- mido, causando um desequilíbrio no nível da água, o que proporciona a morte de peixes e outros organis- mos aquáticos. A alta concentração de nutrientes cria a eutrofização (proliferação de algas na superfície, que impedem a passagem de luz). Esses detritos também estão cheios de bactérias, vírus, vermes e protozoários. Térmica: pouco conhecida por não ser facilmente observável (não é visível ou audível), mas seu impacto é considerável. Ela ocorre quando a temperatura de um meio de suporte de algum ecossistema (como um rio, por exemplo), é aumentada ou diminuída, causan- do um impacto direto na população desse ecossiste- ma, como a diminuição dos níveis de oxigênio na água e perda da biodiversidade. Química: é a contaminação ambiental gerada por produtos químicos que acabam tendo como destino os recursos hídricos. Pode ser intencional ou acidental. A primeira forma é a mais comum, pois muitas indús- trias despejam produtos químicos em rios, lagos ou na rede de esgoto, sem o tratamento adequado. É co- mum, também, a ocorrência de poluição na zona rural através da contaminação por uso de agrotóxicos. Esta causa grandes danos para a vida marinha nos rios e lagos, além de prejudicar animais que interagem com o ecossistema, como aves que se alimentam de peixes. Entre as principais causas para esse tipo de poluição constam fertilizantes agrícolas, agrotóxicos, esgotos doméstico e industrial, compostos orgânicos sintéti- cos, plásticos, petróleo e metais pesados.48 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
O QUE É EUTROFIZAÇÃO? A eutrofização é um processo, normalmente, de origem antrópica (provocada pelo homem) ou,raramente, de ordem natural, tendo como princípio básico a gradativa concentração de matéria or-gânica acumulada nos ambientes aquáticos.PRINCIPAIS EFEITOS DA EUTROFIZAÇÃO O aumento da biomassa de fitoplâncton, resultando em “proliferação de algas”, hipóxia (diminui-ção do conteúdo de oxigênio dissolvido de um corpo de água), a mortandade de peixes e a perdada biodiversidade de espécies.A EUTROFIZAÇÃO PODE SER NATURAL OU CULTURAL Natural é quando ocorre ao longo de grandes períodos de tempo, como parte do processo desucessão ecológica e que se verifica durante a evolução dos ecossistemas. A cultural resulta das ati-vidades humanas (origem antrópica) e verifica-se junto a zonas urbanas ou agrícolas. Os nutrientesque atingem o lago são, principalmente, nitratos e fosfatos, com origem na agricultura e na pecuária,na erosão do solo e nos efluentes das estações de tratamento.O QUE VOCÊ PODE FAZER Além das medidas de controle e tratamento realizadas pelos governos, existem algumas simplesações que você pode fazer para ajudar. Confira algumas dicas:• Descarte seu resíduo de maneira correta;• Diminua seu resíduo;• Faça compostagem com seus resíduos orgânicos;• Tenha preferência por alimentos orgânicos;• Caso tenha horta ou plantação, tente não utilizar fertilizantes industriais e diminua o uso de pesticidas;• Não jogue remédios, cigarros, camisinhas, fraldas, absorventes, ou qualquer outro resíduo que conte-nha substâncias tóxicas, na privada;• Não jogue tintas, solventes, óleos e outros produtos que contenham químicos diretamente no ralo;• Use a água correta e evite desperdícios.
Poluição e eutrofização de águasinteriores - rios, lagos e represasPesq. Alexandre Mathiesen,Dr. (EMBRAPA Aves e Suínos) A poluição de um rio pode ser com- sendo mais difícil identificar (e compro- preendida como a alteração nos pa- var) a sua origem. Um exemplo, é o car- râmetros de qualidade da água, como reamento de resíduos de agricultura para cor, cheiro, concentração de oxigênio um corpo d’água durante um evento de dissolvido, quantidade de material em chuva. Ao contrário da poluição pontual, suspensão, concentração de nutrientes a poluição difusa está sempre associada dissolvidos, etc., refletindo em modifica- a um uso específico do solo. A agricultu- ções nas relações ecológicas do ambien- ra é um dos principais contribuintes para te. Essas alterações podem ser causadas a poluição difusa no meio rural, mas as por uma grande variedade de atividades deposições atmosféricas no meio urbano que ocorrem no próprio rio ou nas terras também são contribuintes importantes de seu entorno, que fazem parte de sua para a poluição não pontual. bacia de captação. Em regiões de plantio e de produção Podemos classificar as fontes de po- animal, as fontes de poluição difusa in- luição como pontuais e não pontuais. A cluem pesticidas, fertilizantes químicos e poluição pontual acontece quando a fon- adubos provenientes de dejetos animais te de poluição é facilmente identificável que, quando em excesso no solo, são e, normalmente, provem de um único lo- carreados junto com os sedimentos pela cal, como a saída de um cano de esgoto. água da chuva para dentro dos rios, lagos As águas residuárias industriais são nor- e represas. O excesso de sedimentos nos malmente descartadas em rios dessa for- corpos d’água resulta em elevada turbi- ma. Outro exemplo pode ser um desastre dez, comprometendo áreas de reprodu- ambiental decorrente de um acidente ção de espécies e podendo levar à perda ocorrido num local específico. de habitats aquáticos. Pesticidas usados na agricultura são transportados pelas No caso da poluição não pontual, águas superficiais, ameaçando a vida sel- também chamada de poluição difusa, vagem e silvestre, e a saúde humana das não existe um foco definido de poluição, comunidades que fazem uso dessa água.50 | As 12 Feridas Ambientais do Planeta
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