Sérgio Medeiros Da esquina com dois olhos Negros arregalados enquanto O José de cabelos revoltos vem correndo Com um guarda-chuva psicodélico Aberto e uma capa transparente No braço Novos casais e outros filhos Então o Ex passa o caderno de capa roxa para a amiga de priscas eras, que desta vez trouxe o marido. Ela lê o haiku sobre José e Maria e repete o último verso: – Casal? Casal! O Ex responde: – Foi o que escrevi aí. Ela lhe devolve o caderno. – Por que não fica com a gente? – ela pergunta. O marido gordo impaciente lhe passa uma cédula de 100 dólares. – Vou lhe solicitar um contrato votivo – declara com palavras de advogado, e ele é um. .........Ele pede que o Ex esculpa em cera a forma anatômica da criança adormecida. 199
[ilustração “somas” 9] .
Sérgio Medeiros – Quanto pesa essa criança? – o Ex pergunta. O pai não sabe, a mãe responde. – Não seria melhor fazer uma imagem da criança em metal ou em madeira? – indaga o gordo chiando sem parar. – Usarei a cera, pois substitui muito bem a carne – o Ex declara irredutível. – Porém, não farei uma imagem realista da criança. Os pais olham intrigados para o artista enquanto o bebê sapateia no ar. Mas não desperta. – Farei um bolo de cera para ser depositado no santuário. O bolo, ou massae cerae, terá o peso da criança e a representará por dentro e por fora! O gordo balança o cabeção discordando. A mãe embala a criança olhando carinhosamente para ela. O Ex é osso duro de roer: – O bolo será moldado com o calor da mão, que é vida! O pai não se contém mais: – Me devolva os 100 dólares! A amiga do artista interfere a seu favor: – Ele prefere o minimalismo. O Ex não lhes expõe a doutrina votiva de que era adepto. Apenas comenta, simplificando, a teoria contemporânea do ex-voto: – A imagem votiva que imita minuciosamente um bebê pode ser infame: um ato de ostentação narcisista e não de humildade ascética! Diria que é como se vocês quisessem .........mostrar ao mundo o quanto o seu bebê é lindo! 201
[ilustração “somas” 10] .
Sérgio Medeiros Os pais ficam em silêncio. Talvez agora se sentissem um pouco envergonhados. – Não queremos pedir uma graça – diz finalmente o gordo cobrindo com um lenço branco o rosto suado. – Só queremos comemorar o nascimento dessa criança. – Pediremos uma graça depois – corrige a mãe olhando para o pai. O pai entrega ao artista mais 100 dólares. – A semelhança constitui um campo e admite uma pluralidade de objetos, de critérios, de suportes e de operações – o artista diz como por acaso ao se despedir do casal e do bebê. – Aprendi com os franceses... E o Ex faz logo uma bola de cera. Ou um bolo de cera. Talvez sem querer ele esteja fabricando o retrato do pai do bebê, que é realmente uma bola. Isso não lhe agrada muito. Bola maçante! Furacão e magia Já não convinha sair do prédio Ao lado havia um centro espírita A senhora ficou impressionada com as nuvens Sobre o centro espírita E permaneceu diante da janela ....... As costas curvas 203
[ilustração “somas” 11] ...
Sérgio Medeiros Os cabelos brancos ainda não lilases Ele esperou mudo em pé na porta do quarto Temia pelo fim do mundo vendo-a perto da janela Com os vidros fechados Fazendo gestos na direção do céu escuro E sussurrando palavras maias Uma oração secreta Quando foi entrevistada Por um cientista eminente Que anotava as suas palavras Mas não lhe extraiu a oração Ela afirmou que o temporal Cessara de repente Se se deflagrasse de novo um huracán... ......... Imóvel na cadeira de balanço Ela olharia para as nuvens (tinha vista boa aos 98 anos) E faria os mesmos gestos? 205
[ilustração “somas” 12] .
Sérgio Medeiros Murmuraria um feitiço maia-quiché? Como se fosse fácil Varrer o bafo E pôr o mundo Em polvorosa Ele invoca Um Perna: Hu r Aqan! Hu r Aqan! Hu r Aqan! Hu r Aqan! Depois o bafo voltará às ruas E acalmará os ânimos E todos poderão exclamar várias vezes Ela inclusive: O Azul! O segredo das silhuetas ......... (discurso do Ex num santuário) 207
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 1]
Sérgio Medeiros Desenho e corto silhuetas E também planto silhuetas A cada primavera A cada verão Como fazia Ana Mendieta Umas figuras simples Do meu tamanho Do seu tamanho Mas que têm Variados sons variados aromas variada vegetação Têm suas pedras e têm seus insetos Então a silhueta não é arte Ou só arte Mas um monte de pedras Um montinho de grama Um montinho de terra Uns sulcos no chão Um tronco caído ......... Um pouco de barro 209
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 2]
Sérgio Medeiros Por isso elas vão se refazendo se desfazendo se Diluindo se apagando sozinhas Também corto e queimo Silhuetas Ficar ou partir ......... O aviãozinho Desliga o motor Plana indolente Sobre os telhados Então ronca de novo Faz uma curva e Ainda mais alto Passa por cima Dos fornos ativos Na Cidade Morena 211
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 3]
Sérgio Medeiros O Ex se enxuga Numa toalha De rosto limpa: – Estou bem! Largado mole na cadeira O performer místico se pergunta se ele Não deflagraria agora um huracán! Para o benefício de todos! Asas duras ......... Como uma ave empalhada O urubu pousado no poste Mantém as asas abertas Diante das ondas aparadas que Lhe dão serenidade 213
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 4]
Sérgio Medeiros José e Maria saem de cena Uma súbita rajada os afugenta Amolecem enquanto se movem Para longe do calçadão Na praça no centro Da Ilha da Magia Anjos altos de Costas para a rua As suas asas imóveis Douradas e duras São como leques Abertos grudados Nos seus ombros Curvos O performer percorre agora o jornal de Campo Grande: CIDADE DO NATAL SERÁ ABERTA AMANHÃ .........COM O ESPETÁCULO DA GALINHA E OS SEUS PINTINHOS... 215
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 5]
Sérgio Medeiros O Ex também se (i)mobiliza ......... Se se deflagrasse um huracán... O aviãozinho ronca O ator agora repete feliz Tudo o que lhe disse ao Despertar a señora anciana Na esquina ardem Piscinas albinas entre Piscinas azuis Exibidas em pé E numa carroceria Suja uma gigantesca Piscina café com Leite por fora Com borda alta Azulada vem Vindo de ré 217
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 6]
Sérgio Medeiros O ator agora diz calmo Que ele plantou a magnólia E que o ajudou a anciã E era uma plantinha apenas Que ele foi molhando Até virar árvore grande Com flores amarelas E ele até deflagraria um huracán! Para o benefício de todos. De todos! A performance desesperada De madrugada o Ex e um comparsa ......... Rodam a esmo pela pracinha diante da Feérica Cidade do Natal Então eles puxam para cima da cabeça As camisetas largas e 219
. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 7]
Sérgio Medeiros Se aproximam mais O Ex sobe finalmente nos ombros amigos E vira para cima uma câmera De monitoramento Depois outra E mais outra Estão ambos invisíveis E mais nada Será registrado para a posteridade Na manhã quente E tão clara o comparsa Poeta de Corumbá Vê uma lua igual A um igluzinho torto Onde todo mundo Hoje entraria de Bom grado 221
[ilusatração “as declinações de jerônimo tsawé” 8]
Sérgio Medeiros A SEGUNDA MAGNÓLIA Dia 19 de janeiro em pleno bafo A dona do aroma Não sou quem pareço. Pois me cobri de folhas verdes. De mil. De duas mil. E são essas flores que aromatizam o bafo cada dia menos ardido. Parece-me que hoje não está tão quente quanto ontem. Mas ainda se pode fritar ovos na calçada! Eu confesso que sempre temi o frio. As correntes artificiais. Preferia o quente. Não queria ares-condicionados nem ventiladores. Tinha pavor de enregelar-me. Duas senhoras friorentas Ao balançar os meus galhos percebo nitidamente uma senhora sentada imóvel numa cadeira de balanço na varanda. A sombra que lanço sobre a sua casa ameniza um pouco o calor. Essa senhora não aprecia o vento. Nem a brisa. Ela teme o frio. Também eu já temi enregelar-me. E agora o bafo está menos ardido. Virá a aguardada rajada? A cadeira há de balançar. As lufadas varrerão a varanda. O rio congelado Os pássaros esvoaçam. E flutuam no bafo ou descansam nos meus galhos. Lá embaixo .......o pescador deposita no chão a sua caixa de isopor sem tampa. Um peixe no gelo e na 223
... [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 9]
Sérgio Medeiros serragem. Há lágrimas no seu olho voltado para cima. A senhora sentada na cadeira de balanço na varanda enrijece o corpo. Vê o vapor saindo da caixa. Se pudesse ela empurraria a caixa para longe dali com os pés. Campo e cidade compactados Ouvi um mugido. Achei que o vento inesperado havia trazido o som do estábulo. Mas a vaca estava na calçada. Pisou na minha raiz. Animal grande. Não senti o vento. Havia o bafo. Um bafo menos ardido. Ela esticou o pescoço longo e olhou para cima. Viu as flores. Aspirou o seu perfume. Então mugiu baixo. Cada vez mais baixo. Mugiu baixinho admirando uma flor amarela. Abaixou o focinho. A nova tatuagem Um dia esse moço que se balança sozinho na varanda noite e dia sem parar haverá de se levantar da cadeira para ir embora. Terá as costas úmidas. As pernas suadas. Tropeçará nas minhas raízes. E sentirá náusea e vertigem. Então ele apoiará o corpo no meu tronco. E deixará marcada nele a sua magra silhueta. A cabeça dele também estará pingando. O suor escorrerá pelo seu pescoço fino de dar dó. A visão abrangente Posso contemplar daqui de cima o teto de um santuário. Mangueiras circundam todo o edifício. Com uma luneta eu vislumbraria Cuiabá e Foz do Iguaçu entre nuvens verdes. ........Mais longe do que isso não enxergo. Ouço o som de uma torrente e de pétalas caindo. 225
.. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 10]
Sérgio Medeiros A catarata gigantesca! Mas o bafo permanece estacionado na minha rua e põe as patas e o focinho na calçada. Maior do que a Cidade Morena. Talvez um deus africano O enxame de abelhas me alcança. Gira no bafo duas ou três vezes. Depois o enxame paira sobre mim e descansa no ar. Nuvem preta! O enxame me faz rir. Então as abelhas se aproximam de novo e me rodeiam ao girar no bafo. O enxame cruza os meus galhos. Nenhuma folha ou flor estremece. O enxame me dá alegria. Então é como se juntos rodopiássemos no ar. Agora paramos de brincar. A contemplação das flores Um grupo de artistas cruza confortavelmente a cidade numa van com ar-condicionado. O bafo não está tão ardido assim! O carro para na minha sombra. Atores e músicos vestem trajes típicos. Admiram as flores e aspiram o seu aroma. O Nô é tão silencioso! Os japoneses entram de novo na van. Não me dirigem a palavra. Estariam atrasados? A caminho do aeroporto? Mas é bem aqui ao lado! Uma vendedora arcada Uma señora vem vindo na minha direção. Vende sofisticados sabonetes italianos. Desses grandes que uma mão não pode pegar. Então os anciãos trêmulos cortam o sabonete ao meio com uma faca. Cada sabonete exala o perfume de uma flor diferente. Sinto daqui. E tem aroma de magnólia! Essa anciana não deveria sair por aí sob o sol levando esse peso ........todo. Mas é cheiroso. E refinado ao extremo! 227
.. [ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 11]
Sérgio Medeiros O passo do macaco Ouço passos se aproximando. E passos se afastando. Os vizinhos começam a passear pois o bafo está menos ardido agora. Porém não vejo ninguém nas calçadas. Só ouço passos. Parece que alguém atirou um balde dentro de um poço fundo. Como se houvesse poços ao meu redor. Um dos meus galhos acabou de vibrar. Parece que foi um macaco que saltou em cima de mim. Nada mais a declarar. Ninguém será libertado Não creio que uma anciã esteja confinada no meu tronco. Nem aquele moço que diariamente usufrui a minha sombra. Se um jardineiro da prefeitura rasgasse neste instante o meu tronco dele não retiraria ninguém. Não ouço gemidos. Se aqui dentro de mim houvesse alguém eu ouviria os seus suspiros. Que encheriam o bafo embrulhados no perfume das flores. Mas não ouço nada parecido. Nada. Não ouço a mim mesma .................................................................................................................................................................. .................................................................................................................................................................. .................................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................................. 229
[ilustração “as declinações de jerônimo tsawé” 12]
Sérgio Medeiros A TERCEIRA MAGNÓLIA Um mar tão próximo! Ouço a água. Um estrondo. Que vem vindo. Sou toda ouvidos. Posso imaginar um chorão verde roçando a lama. Posso garantir que a maré se aproxima e que todos nos balançaremos nela... A garoa fina Ouço a garoa. Ainda bem fina. Fininha mesmo. Aguinha morna? Boa talvez para um bonsai maltratado. Deixado na calçada para se lavar. Para tirar o pó das folhas. Mais morto do que vivo... O bafo parou de roncar ................................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................................. .................................................................................................................................................................. .................................................................................................................................................................. 231
[ilustração “petróglifos ao sol” 1]
Sérgio Medeiros A QUARTA MAGNÓLIA Atrás do espelho Agora estou atrás de um espelho velho. Grudada nele. Pintada nele. Um pé de magnólia florido. Limparam a minha casa. Trouxeram a penteadeira para a calçada e a deixaram junto do canteiro. Então minha sombra caiu nas costas dela. Então grudei nela. Ninguém me viu. Talvez eu seja mesmo apenas um pôster grudado ali com tachinhas. Botaram a penteadeira numa caminhonete sem quebrar o espelho. Levaram embora a penteadeira. Me levaram embora. Passei por piscinas secas em pé na esquina. Tomei ar. O tempo mudou. O céu fechou. Caiu chuva. Vi o temporal. Vi o furacão que saltitava num pé só. Aqui e ali. Então desceram a penteadeira da carroceria da camionete porque havia acabado a gasolina e a levaram cuidadosamente (apesar da ventania) na direção da porta de um vasto depósito de móveis velhos. O cartaz atrás da espelho da penteadeira foi se desgrudando. Talvez alguém o tenha arrancado com a mão. Agora não estou mais atrás da penteadeira. Atiraram-me no chão. O vento me leva de um canto para outro. De repente me vejo aqui fora no temporal. Sou um papel grosso que o vento comprime até me deixar igual a um guarda-chuva fechado. Então me lanço no ar como um foguete descontrolado. Vou ao chão e depois ao céu. Depois ao chão. Acabo retornando para casa e fico presa nas grades da varanda. Ali gato não entra mais. Além da grade tem uma telinha fina para afugentar felinos. Me puxam para dentro e me abrem no chão. Então pisam em cima de mim para me desamassar. Sou então a foto de um pé de árvore? Uma foto já suja? Ou uma pintura escorrendo tinta? Estou no papel de corpo ......inteiro. Me recortam com uma 233
[ilustração “petróglifos ao sol” 2] ....
Sérgio Medeiros tesoura e me queimam ali mesmo. Jogam combustível em mim. O vento aviva a chama. A casa se incendeia em meio ao furacão. Um Perna dá um chute no moço que me incinerou. Depois outro. Outro. Outro! 235
(Solicitação do autor: insira aqui uma folha virtual.)
Sérgio Medeiros UM PERFORMER SEM TETO Ratos sem olfato Que eu saiba ratos nunca se sentiram atraídos por flores. Os ratos fazem pouco caso delas. Ratos não apreciam essas coisas. Mas então tudo virou na calçada. E para irem e virem livremente os ratos agora se enfiam nos galhos floridos. Mato Grosso do Sul desmatado! Ninhos são levados pela enxurrada. Um ao lado do outro. Um atrás do outro. Milhões de ninhos fervilham na água morena. Como se todas as nossas árvores estivessem se afogando no asfalto. Ovos e bolhas se chocam! Um salto arriscado Decido voltar para a Ilha da Magia. Mas ao saltar sobre a enxurrada não posso evitar que um galho se introduza na minha camisa e me puxe para trás. Literalmente na sarjeta. Então fujo de gatinhas. As costas lanhadas. Mas em pé! Encontro com o xamã Fugi. Mas não do indiozinho. Que é um guarani. Um astuto pajé. Ele me seguiu e disse que já havia se hospedado na minha casa. Impossível! Que casa? A da señora anciana na .......Cidade Morena? A minha quitinete na Ilha da Magia? 237
[ilustração “petróglifos ao sol” 3] ...
Sérgio Medeiros A nova ilha de Taiwan Agora um chinês acompanha o pajé que me acompanha. Pergunto-lhes mal-humorado se estão atrás da Terra sem Mal. Dizem apenas que vão abrir na Ilha da Magia um restaurante de comida chinesa. Não aceito ser sócio deles. A visão de um sem-terra As eufóricas cigarras só se interrompem para rapidamente limpar a garganta. Olho para os lados e para cima. Aviões passam lançando reflexos no céu claro e funcionando otimamente como de costume. O que mais? A visão de um sem-teto Quando o helicóptero surge voando baixo um pássaro vem ao seu lado e ambos cruzam rapidamente diante mim. Depois o pesado aparelho volta já sem nada do lado de fora. E não me interessa mais contemplá-lo assim. Um pássaro na gaiola Mal ponho os pés na praia me chamam. Tem um pica-pau preso entre as paredes de vidro de uma loja. A vitrine está um forno. Então lhe abrimos a porta e sem voar para fora ele respira calmo no chão com uma penugem no bico. A casa nova ......... 239
[ilustração “petróglifos ao sol” 4] .
Sérgio Medeiros Alguém se aproxima e respeitosamente agita um leque às minhas costas. Eu faria dessa brisa a minha casa nova. Não me movo nem me volto para ver quem é. Talvez não seja ninguém. Apenas a brisa marinha como um leque redondo. Um performer preso por vadiagem Fui eu que desenhei o pé de magnólia. Num papel que grudei atrás da penteadeira. E fui eu que ajudei a señora anciana a plantar na calçada o pé de magnólia. O meu desenho era um cartaz anunciando profeticamente as flores perfumadas. Fui eu que ontem ou anteontem ou muito antes disso recortei e queimei a silhueta da señora anciana como faziam os xamãs chineses. Em vão. O espírito friorento não deu meia-volta. Desgarrou- se! Fui eu que comecei a escrever há pouco este monólogo. O monólogo continua a crescer. Talvez menos rapidamente do que deveria. Mas tenho planos. Em breve poderei recitá-lo nas escolas. Se me deixarem livre agora. O ano letivo vai começar. Finalizarei isto antes de soarem as velhas marchinhas de fevereiro e março. Muita coisa já está soando ao meu redor! Tudo soa agora nesta manhã de Carnaval Por exemplo o grito do estridente quero-quero O grito estridente do quero-quero se afasta rápido Pela praia da Cachoeira do Bom Jesus Enquanto o grande avião o segue ........ Lerdo no céu limpo da manhã 241
[ilustração “petróglifos ao sol” 5] ..
Sérgio Medeiros Então uma algazarra passa em sentido contrário Agitada nuvem de pássaros! Tudo voa agora nesta tarde de Carnaval O urubu se afoba no ar Ao saltar de um poste Mas logo desliza fácil Sobre a areia da praia Que contorna a névoa Estacionada na baía Tudo vem à tona agora nesta noite de Carnaval Menos o polvo Que se abrigou No pote de barro No fundo do mar Uma armadilha! Ele virá à tona De qualquer jeito ......... No Mar do Japão 243
[ilustração “petróglifos ao sol” 6] .
Sérgio Medeiros Quando amanhã Também lá Anoitecer 245
[ilustração “petróglifos ao sol” 7]
Sérgio Medeiros OUTONO E INVERNO (fragmento) Os aviões se mexem ............... Saindo e chegando Enquanto escunas e 247 Iates iluminados Esperam que o sol Se erga um pouco Mais
[ilustração “petróglifos ao sol” 8] .....
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