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Published by Paroberto, 2016-10-15 21:16:57

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Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  151 José Mendes revela ainda que, no período estudado (1974-1996), osprincipais partidos políticos e os meios de comunicação social abandonaram aideia de construir uma identidade açoriana em confronto com o espaço nacionalportuguês e passaram a concentrar esforços no sentido da construção de umaidentidade açoriana transnacional. Essa identidade passa a unir os açorianosdo arquipélago aos migrantes e açorianos-descendentes espalhados pelomundo. Através da Direção Regional das Comunidades, realizaram-se váriosCongressos Mundiais das Comunidades Açorianas; portanto, a reinvençãoda tradição açoriana não é um movimento unilateral de uma elite culturalcatarinense, como pretendem alguns pesquisadores, é um movimento queencontra forte apoio, inclusive financeiro, no Governo Regional dos Açores,que tenta fazer a comunicação entre os integrantes do que se convencionouchamar de diáspora açoriana. Esses homens e mulheres que acreditam ter nosAçores o passado comum compartilham essa identificação como imagem. Segundo Bhabha, citando R. Rorty, a “imagem da identidade humanae, certamente, a identidade humana como imagem... estão inscritas no signoda semelhança”. Isso quer dizer que “a relação analógica unifica a experiênciade autoconsciência ao encontrar, dentro do espelho da natureza, a certezasimbólica do signo da cultura”, pois a concebemos como uma compulsão decrença ao fitar um objeto.55 A açorianidade, que se iniciou como um discursocircunscrito à elite intelectual dos Açores, transformou-se numa ideia decirculação transnacional significativa. O discurso da açorianidade traduziu-se num “processo contínuo de apropriação, difusão e circulação de símbolos,ideias e emblemas capazes de fazer operar centenas de organizações em tornode uma ‘comunidade de sentimentos’ que tem os Açores como raiz e centrosimbólico e suas terminações localizadas nas expressões populares locais, querdas ilhas, quer das comunidades da diáspora.56 Para Bhabha, nos discursosdo pós-estruturalismo, o que permanece “rasurado” “é aquela perspectiva deprofundidade através da qual a autenticidade da identidade vem a ser refletidanas metáforas vítreas do espelho e suas narrativas miméticas ou realistas.57Dessa forma, em Santa Catarina, veremos que o movimento de valorização econstrução de uma açorianidade é um entre tantos movimentos característicosda época em que vivemos.55 RORTY, R. Philosophy and the Mirror of Nature. Oxford: Blackwee, 1980. Mirroring. p. 162- 163 apud BHABHA, op. cit., p. 83.56 LACERDA, Eugenio Pascele. O Atlântico Açoriano: uma antropologia dos contextos globais e locais da açorianidade. Florianóplis, 2003. Tese (Doutorado) ‒ Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.57 BHABHA, op. cit., p. 81.

152  Colóquio NEA 30 anos de História O açorianismo em Santa Catarina tem sido combatido por muitosque veem nele um movimento de elite e o acusam, muitas vezes, deracialista e propositores de uma cultura branca, europeia, com tendênciashomogeneizantes. De fato, assistimos, nos últimos anos, a uma açorianizaçãoda Ilha de Santa Catarina. Tem-se a impressão, segundo a mídia, de que tudoé açoriano por aqui. É comum ouvir que as canoas de garapuvu, a farinhade mandioca, e tantas outras manifestações culturais são açorianas, quando,na verdade, nesse caso, são herança indígena. Como nos lembra Canclini, “Opopular é constituído por processo híbridos e complexos, usando como signosde identificação elementos procedentes de diversas classes e nações”.58 Os discursos das identidades culturais emergentes podem muitas vezescair num “espaço suplementar de duplicação – não de pluralidade – em que aimagem é presença e procuração, em que o signo suplementa e esvazia a natureza”.Isso pode levar ao perigo de “uma política de diferença não-pluralista”.59 Essaé uma acusação que alguns intelectuais têm feito ao açorianismo em SantaCatarina, a pretensão de constituí-la como uma cultura homogênea. Paulinode Jesus Francisco Cardoso, por exemplo, tem constantemente denunciando apretensão de alguns de considerar a Ilha de Santa Catarina como uma culturade matriz única centrada no açoriano. Segundo ele, essa é uma tentativade invisibilizar a presença das populações de origem africanas e nativasamericanas em Santa Catarina. Para ele, o açorianismo teria a mesma base dasteorias racialistas do século XIX.60 Paradoxalmente, tem-se procurado, nesseinício de século XXI, valorizar e preservar as chamadas culturas minoritárias.O próprio termo afro-brasileiro, ou a afrodescendente, de constituição recente,é uma tentativa de valorização da ascendência. Há alguns anos ninguém sedizia afrodescendente. Hoje, a partir dessa identificação, tenta-se uma conexãocom a África, uma busca de herança cultural que não tinha permanecido sobessa designação.61 Assim como se inventou o afro-descendente, inventou-seo açoriano-descendente. Com certeza os africanos que aqui chegaram nosséculos XVIII e XIX não se identificavam como africanos, identificavam-se,no máximo, com sua aldeia. Por que, então, apenas o discurso da açorianidadeé considerado ilegítimo? Essa categoria é chamada por Ella Shohat de cultura hifenizada. Ao sedesignar alguém de afro-americano, hispano-americano ou asiático-americano,58 CANCLINI, op. cit., 220-221.59 BHABHA, op. cit., p. 218.60 CARDOSO, Paulino de Jesus Francisco. Racismo e açorianismo em Santa Catarina. texto mimeografado. Inédito.61 Sobre a construção do termo “África” ver HALL, Stuart. Da diáspora. p. 31.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  153se está condensando diversas culturas num rótulo homogeneizador queapaga suas diferenças e complexidades. Dessa forma, praticamente ninguémse encaixa perfeitamente nos compartimentos hifenizados. Cada cadeiade hífens comporta uma complicada história de identidades aglomeradas epertencimentos fragmentados e deslocados. O fundamental é perceber quea constituição desses rótulos hifenizados faz com que “aqui” estes sejamconsiderados de “lá”, embora mesmo “lá” eles não sejam reconhecidos comodaquele lugar.62 É importante perceber que Ella Shohat está falando de migrantesnos Estados Unidos, ou seja, de pessoas que saíram das mais variadas regiõese que foram designadas aleatoriamente em grupos, tais como caribenhos,asiáticos, árabes ou hispânicos, apesar de toda a diversidade que possa existirentre pessoas e culturas agrupadas sob essas designações. No Brasil, o que sefez foi utilizar a mesma nomenclatura para pessoas cujos antepassados vieramde determinadas regiões e assim foram se criando identidades hifenizadas, porexemplo, afro-brasileiro, teuto-brasileiro, ítalo-brasileiro ou luso-brasileiro. Éimportante dizer que muitos dos que são considerados italianos e alemães hojeem Santa Catarina vieram antes da unificação, ou seja, antes da constituiçãodo Estado italiano ou alemão. Dessa forma, a identidade hifenizada não é aidentidade de alguém de “lá” que está “cá”, tampouco a junção de alguém quetem um pouco de “lá” e um pouco de “cá”, é uma outra coisa. O mais importante é dizer que a constituição dessas identidadeshifenizadas é, antes de tudo, uma luta política, e dessa forma muitosdesdobramentos acontecem. Muitas identidades hifenizadas, por exemplo,não reconhecem as outras, algumas promovem a invisibilidade de outras;portanto, constituir-se como identidade hifenizada é, antes de tudo, a tentativade buscar uma origem legitimadora. “A minoria não confronta simplesmenteo pedagógico ou o poderoso discurso-mestre com um referente contraditórioou de negação. Ela interroga seu objeto ao refrear inicialmente seu objetivo”.63 Como se identificavam esses homens e mulheres que partiram dosAçores, no Século XVIII, rumo ao litoral de Santa Catarina? É bom lembrarque, provavelmente, não se sentiam migrantes, pois não estavam deixando suapátria para irem para outro país com outra língua, outra cultura. Eles estavamse deslocando dentro do mesmo reino, do vasto império marítimo português,saindo do Atlântico norte para o Atlântico sul. Sentiam-se açorianas essaspessoas? É escusado dizer que o chamado sentimento de açorianidade éinvenção do século XX. A expressão foi cunhada pelo poeta açoriano Vitorino62 SHOHAT, Ella. A vinda para a América: reflexões sobre a perda de cabelos e de memória. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 99-117, jan. 2002.63 BHABHA, op. cit., p. 219.

154  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaNemésio em 1932, em uma conferência em Coimbra intitulada “O açorianoe os Açores”. Segundo o professor Antônio Machado Pires: “A açorianidade éalma que se transporta quando se emigra, como também aquilo que de cadaum de nós se espera quando nós vivemos fora... A ilha que somos obrigados aabandonar é um ponto de referência, um ponto de regresso ideal...”64 SegundoMachado Pires, Vitorino Nemésio criou a expressão açorianidade inspiradona hispanidad de Unamuno. Já que a açorianidade é expressão criada em 1932,ela já existiria “avant la léttre?” Creio que dificilmente se tenham estabelecidosvínculos tão fortes, desejantes de regresso, entre os açorianos do século XVIII.A saída dos Açores representava uma ruptura definitiva, uma ruptura não sócom a terra, mas com os parentes que ficavam. No século XVIII, a populaçãode Portugal era quase que absolutamente analfabeta. Entre os açorianos quevêm para Santa Catarina, raríssimos eram alfabetizados, de modo que nemcartas podiam escrever para os seus que se deixaram ficar nas ilhas. Isso seconstitui em um obstáculo para o ofício do historiador, que não pode, comofazem os pesquisadores das populações chegadas no século XIX ao Brasil,utilizar as cartas de saudade e de notícias que os de cá mandavam para os de lá. Segundo Stuart Hall, tornou-se comum dizer que “a época moderna fezsurgir uma forma nova e decisiva de individualismo, no centro da qual erigiu-seuma nova concepção do sujeito individual e sua identidade”. Mas obviamenteisso não significa que anteriormente as pessoas não fossem indivíduos, “masque a individualidade era tanto ‘vivida’ quanto ‘conceptualizada’ de formadiferente”. O que a modernidade fez foi libertar o indivíduo de seus apoiosestáveis nas tradições e nas estruturas.65 É importante atentar para o que StuartHall nos alerta. Dizer que o individualismo, e por conseguinte a identidade, écaracterística importante da modernidade, não implica dizer que esses homense mulheres vindos para Santa Catarina no século XVIII não eram indivíduos,mas que isso era problematizado de forma diferente.ReferênciasARAÚJO, Hermetes Reis de. A invenção do litoral: reformas urbanas ereajustamento social em Florianópolis na primeira república. 1989. Dissertação(Mestrado em História) ‒ Pontifícia Universidade de São Paulo, São Paulo.64 MACHADO PIRES, António. O homem açoriano e a açorianidade. p. 7. Disponível em: <http.//www.cena-madeira.net/cananas/ma>. Acesso em: 11 dez. 2003.65 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. op. cit., p. 24-25.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  155BASTOS, Rafael José de Menezes (Org.). Dioniso em Santa Catarina: Ensaiossobre a Farra do Boi. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993.BHABHA. Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.BOLÉO, Manuel de Paiva. O Congresso de Florianópolis, comemorativo dobicentenário da colonização açoriana. Coimbra: Coimbra Ed. Ltda., 1950.CABRAL. Os Açorianos. In: Congresso de História Catarinense, 1., 1950,Florianópolis. Anais... Florianópolis: Imprensa Oficial, 1950.CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair damodernidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997.CASCAES, Franklin Joaquim. Vida e arte e a colonização açoriana.Entrevistas concedidas e textos organizados por Raimundo Caruso. 2. ed.Revista. Florianópolis: Editora da UFSC, 1989.D’EÇA, Othon Gama. Homens e algas. 3. ed. Florianópolis: FCC: Fundação Banco doBrasil: Editora da UFSC, 1992.FERREIRA, Sérgio Luiz. O banho de mar na Ilha de Santa Catarina.Florianópolis: Editora das Águas, 1998. p. 48.FLORES, Maria Bernardete Ramos. A farra do boi: palavras, sentidos, ficções.2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998.FLORES, Maria Bernardete Ramos. Povoadores da fronteira: os casaisaçorianos rumo ao Sul do Brasil. Florianópolis: Editora da UFSC, 2000.FREYRE, Gilberto. O mundo que o português criou. Lisboa: Edições Livros doBrasil, 1940.HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A.HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. BeloHorizonte: Editora da UFMG. 2003.HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1984.LACERDA, Eugênio Pascele. O Atlântico Açoriano: uma antropologiados contextos globais e locais da açorianidade. Florianóplis, 2003. Tese(Doutorado) ‒ Departamento de Antropologia da Universidade Federal deSanta Catarina.LAGO, Mara Coelho de Souza. Modos de vida e identidade: sujeitos noprocesso de urbanização da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Editora daUFSC, 1996.MACHADO PIRES, António. O homem açoriano e a açorianidade. p. 7.Disponóivel em: <http.//www.cena-madeira.net/cananas/ma>. Acesso em: 11dez. 2003.MENDES, José Manuel de Oliveira. Do ressentimento ao reconhecimento:vozes, identidades e processos políticos nos Açores (1974-1996). Coimbra, 1999.

156  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaTese (Doutorado) ‒ Faculdade de economia da Universidade de Coimbra.NODARI, Eunice Sueli. A renegociação da etnicidade no Oeste de SantaCatarina (1917-1954). Porto Alegre, 1999. Tese (Doutorado) ‒ Departamentode História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.POUTIGNAT, Philippe Teorias da etnicidade. São Paulo: Editora da UNESP,1998.RENK, Arlene. A luta da erva: um ofício étnico no oeste catarinense.Chapecó: Grifos, 1997.RIBEIRO, Luís da Silva. Obras I – Etnografia açoriana. Angra do Heroísmo:Instituto Histórico da Ilha Terceira/Secretaria Regional da Educação eCultura, 1982.SAYÃO, Thiago Juliano. Nas veredas do folclore: leituras sobre política culturale identidade em Santa Catarina (1948-1975). Florianópolis, 2004. Dissertação(Mestrado) ‒ Departamento de História da Universidade Federal de SantaCatarina.SEYFERTH, Giralda. Imigração e cultura no Brasil. Brasília: EditoraUniversidade de Brasília, 1990.SHOHAT, Ella. A vinda para a América: reflexões sobre a perda de cabelose de memória. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, jan.2002.

Grupo Arcos: gestão e memória, experiências compartilhadas Ana Lúcia CoutinhoResumo: este artigo tem a finalidade de compartilhar experiências referentesà gestão e memória realizada pela instituição cultural denominada GrupoArcos Pró Resgate da Memória Histórica, Artística e Cultural de Biguaçu,fundada em 1989. Discutir e provocar reflexões sobre o papel da instituição nocenário da cultura popular, suas inter-relações no campo local e no além-mar,vinculando-a à pesquisa, aplicabilidade de metodologia na implantação deações desenvolvidas durante o processo relacionado às propostas instituídaspela instituição na salvaguarda do patrimônio material e imaterial da culturaluso-açoriana no litoral catarinense. Parabenizo os organizadores do Colóquio pela iniciativa de provocareste encontro reflexivo sobre o papel do Núcleo de Estudos Açorianos no litoralde Santa Catarina nestes 30 anos de História. Certamente uma oportunidadeúnica que permanecerá no coração de cada um. Diante deste momento,considero importante a interface com as instituições e seus atores, tutelados ounão, no processo de salvaguarda do patrimônio cultural catarinense e, muitoespecialmente, o luso-açoriano. Isso significa dizer que a viagem anônima ou coletiva se caracterizadesde o seu início como uma construção permanente. Pode-se afirmar queesta não foi em vão e torna-se sinônimo de uma viagem sólida da qual sótemos que nos orgulhar. Acredito que o caminho para muitos não foi fácil,mas certamente foi possível, pois parte do resultado dos trabalhos estão aqui.Alguns de forma simbólica, mas estão aqui, para brindar as pessoas que sededicam e vivem a cultura popular de forma intensa constituindo-se numaforma bem especial.

158  Colóquio NEA 30 anos de História Neste caminho, narramos os anseios, as angústias, as dúvidas, os acertosdessa trajetória e estabelecem com seus pares um pacto de continuidade, tenhocerteza, por mais trinta anos. Embora tenho a consciência de que o caminhorealmente não é fácil. Resumindo, tenho a certeza de que é preciso continuarnesta luta, proporcionando entre as instituições a oportunidade de vivenciara visibilidade das ações de cada grupo no processo competitivo neste mundoglobalizado e de tamanha diversidade. Apesar dos anseios de cada grupo nesse processo, o caminho encontra-se com unicidade nesses 30 anos e constitui-se de segurança, solidez,projeta a renovação e, ainda, oportuniza, para alguns, outros caminhos apartir da escolha de cada um. Confronta experiências e mostra-nos queestamos abertos para agregar e investir no lado luminoso das instituições.Essas situações, sem dúvida, conduzem à formação de alianças formais einformais importantes, quanto à aplicabilidade de ações que conduzem asrepresentações políticas no nosso cotidiano. Na linguagem popular, tem umditado que diz: “não se caminha sozinho”. As alianças são importantes e sãocercadas de inúmeras contribuições. Saber aproveitá-las é sinônimo de bomsenso. As ações engendram caminhos e estabelecem trocas, que seduzemas pessoas e os grupos no seu tempo, traçando compromissos individuais ecoletivos. Na caminhada, o conhecimento circula de forma dinâmica. A cirandaanima cada um de nós e não se fecha. Possui uma característica singular: a deagregar. Permite que voluntários, cientes do seu papel cultural na sociedade,contribuam com os seus saberes e fazeres para que os grupos saiam doanonimato e se institucionalizem, construindo essa imensa teia que representao todo popular. No contexto, ficamos mais fortes! A minha comunicação é o resultado de 26 anos de trabalho nainstituição denominada Grupo Arcos Pró-Resgate da Memória Histórica,Artística e Cultural de Biguaçu que tenho a honra de presidir por tantos anos.Compartilho sua memória e experiência, focada numa gestão compartilhada,centrada no voluntariado, com o compromisso de ser apolítico no que se refereà política partidária. É realmente um grupo que permeia as camadas sociaisdo município em que nasceu. Não está vinculado a nenhuma instituiçãopública. Possui uma postura independente, embora bastante relacionado comas instituições públicas e privadas. O grupo foi gestado alguns anos antes da sua fundação. Ele não nasceupor caso. É fruto de um processo de observação por um grupo de pessoas“inquietas”, no município de Biguaçu; também é fruto da indignação e dodesrespeito institucional público com o patrimônio arqueológico, histórico epaisagístico do município.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  159 Nas causas apontadas, acrescento a minha vinculação direta e, muitoparticular, como pesquisadora da cultura popular, professora, à época, noColégio Maria da Glória Viríssimo de Faria, no município, que se juntou aosalunos com as mesmas inquietações e desejos de ter um lugar melhor parase viver e, ainda, aos profissionais que, nos seus ramos de conhecimentos,também exerciam a mesma preocupação. As ideias agrupadas por um grupo de alunos possuem voz. Muitasforam as conversas e aulas ministradas fora do espaço físico da escola. A aulatradicional dá lugar a uma nova perspectiva: a de se vivenciar a cidade, seuslugares e suas nuanças. Estimular o olhar para os espaços de convívio, suascontradições e feitos foi uma estratégia utilizada. Essas aulas aconteciam emcampo, observando, trocando e sentido o “cheiro” do município. Muitas dessasaulas ocorriam às margens do Rio Biguaçu, que serpeia a cidade; outras, emfrente aos casarios centenários, nas comunidades rurais, ou, ainda, atuava-seno desenvolvimento de projetos e executando atividades ou tarefas junto aorganizações comunitárias de festas populares e religiosas. Viagens culturaisa outros municípios e estados brasileiros também eram utilizadas para que oaluno interagisse com outras culturas e abrisse os seus horizontes. Também foram criados peças de teatro para apresentações nascomunidades e concursos de poesias; encontro de corais; organização deseminários; elaboração de varais literários; e pesquisas sobre a história debairro. Essas ações geram a espontaneidade e o compromisso de cada um,porque os participantes passam a exercer a parceria com o que têm paracontribuir. Ficam abertos ao novo, aparentemente. Essas ações provocam odesejo de cuidar da cidade e de se expor no exercício da cidadania. É comose estivéssemos construindo um lastro para um navio ser colocado no mare tivéssemos a oportunidade de lançar velas. Todos juntos criam, recriam eagregam o desejo de multiplicar o fazer, que se traduz no reconhecimento dasespecificidades culturais. Cada qual à sua maneira, porque acredita-se quenão se constrói a partir de situações únicas e preestabelecidas. Se constrói apartir das relações estabelecidas de convívio, estimulando-as para que o sensocomum aflore e se manifeste formando uma consciência coletiva. Essa plataforma sociocultural e educativa cria um ambiente favorávelpara a formação do grupo que se desperta para um movimento sutil deagregação, através de ideias comuns relativas às questões sociosculturais nomunicípio. Importante mencionar que o aspecto relacionado à indignação citadaanteriormente está vinculado também a duas outras questões. A primeira delasestá ligada ao papel do estado e do município no que se refere ao tratamentodos bens culturais, a fim de tratar e garantir-lhes a preservação. A outra razão

160  Colóquio NEA 30 anos de Históriapresente diz respeito a ser Santa Catarina um estado de alemães e italianos.Ora, Santa Catariana é um estado híbrido e multifacetado, definido pelacontribuição de mais de 22 etnias distintas que compõem o todo catarinense.Nesse contexto estabelecido e institucionalizado, é sentida a necessidade deprovocar a visibilidade de outros grupos étnicos, nesse caso, voltado para acultura luso-açoriana. Todas essas questões se misturam. Outras também são observadasno município de Biguaçu, que cresce desordenado na região metropolitanada Grande Florianópolis. Um exemplo para ilustrar a situação pode sermencionado a passagem da BR-101, cortando o município. A população,apática à participação política à época, não questiona o traço litorâneo dareferida estrada, que, em nome do progresso, não avalia as consequências. A execução de seu traçado na década de 60 destrói a história, a paisagemde uma das primeiras vilas luso-açorianas de Santa Catarina. Na construçãoda estrada que liga o norte ao sul do país, antigas estradas, caminhos, casarioscentenários, ranchos de pescadores, atracadouros para botes e canoas de umúnico tronco e de baleeiras desaparecem. O comércio de entrepostos de peixesà beira-mar, os quintais que beijavam o mar, os campos que serviam de pousopara os tropeiros e foram destruídos na região de Tijuquinhas, na antiga Vilade São Miguel da Terra Firme e na localidade denominada Serrarias, sem falarda paisagem urbana e o abandono das terras por suas famílias, quando asantigas estradas que ligam o município a Tijucas são esquecidas. O rendilhardas praias de areia branca são destruídas e dão lugar a pequenos paredõesde pedras, para segurar a sedimentação de terra na referida construção.Essa imagem resultado da concepção de progresso muda a sua configuraçãopaisagística, sua história e seus pontos de memória. O cenário é facilmente esquecido por aqueles que não possuem ocompromisso com a memória do seu povo. No questionar permanente, éidentificada a falta de compromisso político das autoridades com as questõesculturais do município. Surge então o embrião do Grupo Arcos, que reflete asinquietudes dos indivíduos das mais variadas profissões e idades, mas todoscom as mesmas intenções e objetivos, ou seja, contribuir para a construçãode uma cidade mais humana, independente de raça, credo, entendendo aimportância da história do município no contexto da grande Florianópolis.Com o nome “São Miguel” em homenagem à antiga Vila de São Miguel daTerra Firme um dos primeiros núcleos açorianos da faixa litorânea catarinensede meados do século XVIII, ocorre o primeiro desejo de organização. Em 16 de maio de 1989, se estabelece em definitivo a fundação dogrupo denominado de Grupo Arcos Pró-Resgate da Memória Histórica,

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  161Artística e Cultural de Biguaçu. Com o nome bastante abrangente, a intensãoé permear o trabalho por toda a sociedade e não ser apenas um grupodirecionado para este ou aquele segmento social. Assim, nasce o Arcos, no“fundo de quintal” de uma residência, na antiga Vila Locks, hoje denominadaTabita Schilickamann Locks, na travessa da Rua Hermógenes Prazeres, no 68,centro, no município de Biguaçu. O grupo é direcionado a contribuir para apreservação do patrimônio cultural e paisagístico do município de Biguaçue do litoral de Santa Catarina. Seus objetivos logo foram traçados (já estavamamadurecidos) e estão comprometidos em contribuir para o exercício dacidadania, através do desenvolvimento de ações com aplicabilidade nocampo sociocultural. No planejamento para o funcionamento, está a construção diária daspropostas de trabalho identificadas pelos seus pares e sujeitos sociais presentesou anônimos da sociedade em questão. Engajá-los no processo de salvaguardados bens culturais, frear o descaso com o patrimônio material e imaterial,proporcionar a visibilidade das suas ações e o seu reconhecimento é metapermanente. Promover atividades culturais, a fim de oportunizar e despertarnos cidadãos o compromisso permanente, realizando encontros e discussõessobre o papel do grupo na sua territorialidade, e identificar os sujeitos sociais,focalizando o que fazem, o que pensam, o que criam, recriam e reinventam sãometas permanentes. Nesse olhar, somente três anos após a sua existência, em 1992, o GrupoArcos define de forma pública os seus objetivos e se torna uma sociedadecivil de direito privado sem fins econômicos, políticos, raciais ou religiosos,constituído por número ilimitado de pessoas físicas, sem distinção denacionalidade, religião, sexo, cor ou raça. Os associados estão distribuídos nascategorias: fundadores, honorários, contribuintes, benfeitores e beneméritos.Por mais de quinze anos, funcionou na casa particular onde foi criado, e aliocorrem as reuniões periódicas e os ensaios do Grupo Folclórico Danças eCantares Açoriano, uma ação estabelecida pela instituição para promover edar sustentabilidade e visibilidade aos objetivos do Grupo do Arcos. Na atualidade, o Grupo Arcos utiliza um espaço (sala com cozinha ebanheiro) cedido pela Prefeitura Municipal de Biguaçu (antigo mercadopúblico), que serve exclusivamente para a guarda do seu acervo (mesas,cadeiras, documentação corrente e permanente, louças de barro, trajesfolclóricos, peças etnográficas, painéis fotográficos, cestaria, indumentária,instrumentos musicais, publicações, uma minibiblioteca. Os ensaios oficiaisdo grupo folclórico, por mais de 18 anos, ocorrem no espaço da residênciaonde foi fundado. Outros espaços também foram utilizados, como a oficinamecânica de propriedade de um munícipe chamado de João Luiz Rüdiger;

162  Colóquio NEA 30 anos de Históriaa residência de Dona Isolina Rüdger, que possui cinco netos e três filhosparceiros da instituição; o espaço do ginásio de esporte do Colégio EstadualMaria da Glória Viríssimo de Faria, no centro de Biguaçu, que foi utilizado porcurto espaço de tempo; as residências de Maria Helena Prazeres, fundadora dogrupo; Giovani Salum, integrante do grupo; e de Guilherme Bum. Em 2009, osensaios retornam para o local onde tudo começou. As atividades do Grupo Arcos estão fundamentadas num tripé: apesquisa, a salvaguarda do patrimônio material e imaterial, e a divulgação,focalizando os aspectos da cultura popular luso-açorianos. Como forma dedivulgação das suas atividades e ações, um dos recursos utilizados está centradona criação “Grupo Folclórico Danças e Cantares Açoriano de Biguaçu”, em 16de maio de 1990, traduzindo em ação preestabelecida, que possui a finalidadede pesquisar e apresentar os bailhos do Arquipélago dos Açores estabelecendoum comparativo com as modas do litoral de Santa Catarina. Com a implantaçãodessa ação, realiza-se a interconecção com as origens dos primeiros imigrantesdo município. O Grupo Arcos, no desenvolvimento de suas ações, é reconhecido pelapopulação e toma espaço na mídia local e estadual através do resultado dasações realizadas. Entrevistas são executadas em tvs, rádios, jornais, revistas eartigos. No seu quadro, o número de integrantes é flutuante. Chegou a possuirmais de cinquenta integrantes, dentre os quais mais de trinta integram o seugrupo folclórico. Esse número durante a sua existência sofre alterações. Não éalgo estático. A flutuação é parte da sua trajetória, passando pelo grupo maisde 370 pessoas como membros.O que faz? As atividades desenvolvidas pelo Grupo Arcos Pró Resgate da MemóriaHistórica Artística e Cultural de Biguaçu estão previstas e aprovadas no seu

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  163estatuto. A missão se define em “tornar o cidadão um indivíduo cada vezmais feliz, transformando-o em um guardião responsável pela preservação edivulgação do patrimônio histórico, cultural e paisagístico”. Seus objetivos estãoassim denominados: preservar, valorizar e divulgar a cultura do município deBiguaçu, que é predominantemente de base açoriana. Inerente ao desejo depreservar os aspectos culturais, está a necessidade de pesquisá-los e registrá-los, tornando-os visíveis. Sendo assim, o ponto de partida para as atividades dogrupo é a pesquisa do patrimônio material e imaterial, com foco nos traços dacultura popular que estejam ligados à história dos imigrantes que povoaram omunicípio e o litoral catarinense, em especial os açorianos. O Grupo Arcos realiza pesquisas de forma a estimular uma consciênciacoletiva, quanto à valorização e salvaguarda dos seus bens culturais. Promoveoficinas como instrumento de educação complementar, nas áreas do saber e dofazer, da dança folclórica, cuja intenção é promover a troca de conhecimento,fortalecer o exercício da cidadania. Seus integrantes acreditam que, atravésdessa prática, o conhecimento permeia a sociedade, valoriza a história e amemória se mantém viva, e, através dela se constrói a rede do saber popular. Ogrupo realiza e estimula a criação de seminários, cursos, palestras, exposiçõesitinerantes e edições de publicações como forma de contribuir com açõessocioeducativas na área do patrimônio e da cidadania. Na trajetória do grupo, destaca-se o papel da presidente do grupo,que, por ser historiadora, facilita a pesquisa realizada para a instituição,que fica sobre a sua responsabilidade. As informações são por ela coletadase organizadas, dando origem a um acervo com uma série de elementos esímbolos da cultura de base açoriana composto por peças cerâmicas, demadeira, de cestarias, impressos, instrumentos musicais, indumentáriasligadas a trajes típicos do Arquipélago dos Açores e do litoral catarinense.Também compõe o acervo uma série de fitas cassete e VHS que narram asvivências do grupo, seus ensaios, suas apresentações e interlocuções comoutras instituições. Fotografias e exposições também são elaboradas e contamcom a participação da fotógrafa Catarina Rüdiger, conselheira da instituição.Pesquisas bibliográfica e iconográfica, relatos de história oral, documentos,cantorias, coreografias, celebrações manifestações, arrolamento da cultura debase açoriana local, receitas culinárias, entre outras formas de registro tambémsão executadas.

164  Colóquio NEA 30 anos de História Paralelo a este trabalho está ação vinculada a divulgação das ações rea vés das pesquisas e que podem ser presenciadas de várias formas: expoográficas, certames, cursos, seminários, palestras, oficinas de danças e de c ular, objetos etnográficos, publicações, pinturas de painéis (técnica de Paralelamente a este trabalho, está a ação vinculada à divulgação dasrciazevanédPtsraaosdraaelusaofemoçrflirõbopcmeiaepnsaansaarsqsoe:ieunadlesiéidsextzieapaasdsdoatasnrcniseaçaçiaõbdateqcsarasaulidevhdeéfeoaods)tdped,oeeoagscsr,druteáápeluftaemiutcslairaiqlçazsuiã,szaipeosadcoarensopvrpduestialnroqamecuprs,ueceoesolopn,rabmocdjcdeiaauatoerordmtssaiaeosssesstde,tpanridasvsopeeçugrmerollásogviefnacáioncáçrascoriãiiiasaoso,msds.p,audufsEoparbdolsarleiamlscevbaasaáçteçorrsõõiar:aepesass,saçerxãerpoedoaesldisizçeaõddebeasa tuorgariásfiecxaeues,tcipluciiznteaatrnudtrdaaaomss-sedeesem,copcmafuienorséteoiasssps,(atpçésoceonmpoicsuianmláadureireoogsssr,eaefpiaptaeaslrereaesdpaterlrsiazesads,deeaonpsfrtiéeacdmçiinõopaensasoindcéeoeisndGtnraoarnuucçpiradbosaadnFeeo,odleclócurilctuoraDapnutlaarre, soAbdbaajçrecortiaordcisaaadsneec)out,nlrtcoeuoagrlamriizásafoedixcoaeoscsspu,uotarapdaauprsbtrielsimitncacsafeiçlpsoõtcaaeaslsips,v.oiDpptureiinslnattarueecr.saamesa-ssdea,eparienpsdeaani,ntaaéçieõsleasb(odtréoacGçnãrioucpdaoe de grafitealizadas eFmolclpóariicnoéDisançaasceidCaadnet,aruetsiAlizçoarniadnooccommooaessupaapçroinocispaml vuirtroisnee. paredes de prédio centro urbano da cidade), realizados por artistas locais. Elaboração de barracas lturais executadas em festas populares e as apresentações do Grupo Folclórico DançasCantares Açoriano como a sua principal vitrine. Princípios e objetivos do grupo Os princípios norteadores da instituição estão centrados na liberdade participativa, dignidade humana, melhoria da qualidade de vida, preservaçãoINCÍPIOdoSpEatrOimBônJiEo TcuIlVtuOralSeDeOnteGndRimUenPtoOcomunitário que vise tornar o indivíduo um agente do seu próprio desenvolvimento. No que se refere aos objetivos, estes são:RnpiIdrNianCdceÍíPphIiuoOmsSanEn1oa)Or, tdipeBmmroaeJasdemtEeelorurhTvrinaoaeIiirVcrss,íivdpaOaoidlooSdaerseaiDtzaitaqdnoOruodseaatGcdsialtiitvRuaadusriUalçigqndãPaueeroneOassdtemõe;eeessmtvãqióoudreiaac,ahfepiesntrtaóetmrrsaiecdoars,ovasbarteçínsnãtsioacmadealoitcbeurpeiltarauidstrraaeildmeônpiaortcicuilpendimento comunitário que vise tornar o indivíduo um agente do seu ps princípios norteadores da instituição estão centrados na liberdade participativa,egnnvidoaldveimhuemntaon.aN, moeqlhuoerisaedraefqeuraeliadoasdeodbejevtiivdao,sp: reservação do patrimônio cultural e

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  1652) promover, por todos os meios, a valorização, o aperfeiçoamento e a divulgação dos trabalhos de preservação cultural, organizando encontros, ciclos de palestras e estudos, conferências, certames, exposições, cursos, seminários e mesas-redondas, intercâmbios, viagens culturais e de lazer;3) adquirir, restaurar e conservar edifícios e acervos existentes no município, que demonstrem valor histórico-cultural;4) estimular o crescimento dos valores artísticos no campo da literatura, da dança, da música, do teatro, das artes cênicas e plásticas e do folclore;5) buscar a integração social através das manifestações culturais, com eixo fundamental do desenvolvimento da sociedade;6) promover o intercâmbio entre as comunidades, estimulando a produção cultural;7) participar de eventos relacionados com seus objetivos, de forma a promover a integração e a atualização;8) prestar assistência técnica e serviços, quando solicitado, dentro de suas possibilidades, ao governo e à sociedade civil;9) obter de pessoas físicas e jurídicas donativos destinados a custear as atividades do Grupo Arcos;10) firmar convênios, ajustes, contratos e outros atos congêneres, com pessoas jurídicas de direito público e/ou privado, para a consecução de seus objetivos;11) estimular a conscientização da sociedade através de encontros culturais e de lazer para a importância dos valores culturais;12) realizar oficinas que estimulem a valorização do indivíduo na sociedade;13) assistir os integrantes carentes do grupo;14) proporcionar aos seus integrantes, atividades sociais, culturais e de lazer;15) proteger judicialmente ou extrajudicialmente o patrimônio histó- rico, artístico, paisagístico e cultural;16) estimular no educando o conhecimento de técnicas e procedimentos para o aprendizado através de visitas a oficinas, atelier e locais de trabalho;17) cuidar tecnicamente do Grupo Folclórico Danças e Cantares Açoriano de Biguaçu;

166  Colóquio NEA 30 anos de História18) divulgar as manifestações da cultura popular, em especial a do folclore de base açoriana;19) incentivar, participar e realizar festivais folclóricos no âmbito nacional e internacional, com o objetivo de divulgar o mosaico cultural catarinense;20) realizar publicações, exposições e encontros que visem ao aprimoramento da cultura popular catarinense;21) promover e incentivar as atividades para pessoas da terceira idade, portadores de deficiência e povos indígenas.Como realiza suas atividades? A organização das tarefas no grupo é determinada no seu estatuto. Cabeao grupo eleger a diretoria para proceder a administração, a qual é compostapor seis membros: presidente, vice-presidente, tesoureiro, segundo tesoureiro,secretário e segundo secretário. Fica sob responsabilidade da diretoria, ainda, a criação de funçõesexecutivas quando necessário, desde que sejam aprovadas nas reuniões dediretoria. A diretoria é instituída através de votação em Assembleia Geral,e o mandato tem validade de dois anos, com possibilidade de reeleição.Nos últimos anos, a diretoria tem adotado como estratégia a inserção deintegrantes do grupo folclórico Danças e Cantares Açoriano para assumircargos na diretoria como forma de proporcionar um maior envolvimento ecomprometimento dos integrantes com as ações da instituição. A presidentedo grupo considera de fundamental importância o empoderamento desseselementos para a continuidade do Grupo Arcos. O Conselho Fiscal é composto por cinco membros (três efetivos e doissuplentes), eleitos em Assembleia Geral e cuja responsabilidade é a de analisare aprovar, através de parecer, a prestação de contas elaborada pela Diretoria.O mandato do Conselho Fiscal é de dois anos, e também é possível a reeleiçãodos seus membros. Podem constituir o quadro de associados do grupo pessoasfísicas e jurídicas divididas nas categorias: associados fundadores (os quecompareceram à reunião em que se aprovou o primeiro estatuto), associadoshonorários (aqueles que participaram ou participam do Grupo FolclóricoDanças e Cantares Açoriano de Biguaçu), associados contribuintes (aquelesque contribuem com anuidade de vinte por cento de um salário mínimo),associados benfeitores (aqueles que doarem, em espécie ou bens materiais,quantia igual ou superior a dez salários mínimos) e associados beneméritos

PPreesrearvnatnedo a aheransçoa ccuiletudraal adçoerianaéemdSaonttaaCdaotarinade todas as exigê1n6c7ias legaamente fun(caiqounelaescqouemdooauremma, emgreasnpdéceiefoaumbeílnisam” antearriarias, aqupanrteiasiidgueanltoeu. sPupoerrieorxemplo,respeito aàcionqrugAeaonnstaiazssasaolçácrãiiaoodsomds,aínésipmetoramsr)e.itfidaos poartigcripuapr odasnaãsosemabplerieass,evnottaar ue mserermegulameque determvointaadoesspsaaraoous acqarugoesladaatDiviriedtoardiae, ,supgoerriérmmerdeidaalsizúateois apolsaninetejraemsseesndtoo anual q grupo e convocar extraordinariamente a Assembleia Geral para resolução deesponsabiliadsasudnetods ededinistecriepssleingaerrala. s ações. Os integrantes são dotados de um gran Constituem-se como obrigações dos associados: votar nas Assembleiase responsabGielriadisadpaeraema elreeiçlãaoçãdaoDaisreatotirviaide addoeCsodnseeslheonvFiosclvali,ddaesdiecara-ose,sqeuuanadcoervo. Aefilneaiftlooidsr,amdàeaesxdedceauçdinãeosltiidtbuoeisçrãcaoaç.rgãOoos geprruceopnsoctrréibitufaoirrmnpoaalrmaeseatnarteetaulritezogaiçseãtmoraddoroe,s lpoaobçsjeãstuoiivoausmAe ssembla segue o cdCreNictlPéaJrraiedosaeddceeaurvaticoltitedaraiçdzaãe opcúosmbilimocauppmleealaseCncâtoimdmaadraeaMcpuurltneuiscraieplnasçledmae dBfiinegsuulaumçcuraetteAivrsoçsseo,msdebnoledsioaassociadmeira conLveogcisalaçPtiãevroaandtoee aEssdtoaecdieodqdauedaeS,aléqndtuaoetCardatoandrúienmtao.dearsoas edxeigênacsisasolcegiaaids.o“Isnteermnamuenmtea segunação. As cfnuoonncqtiuroienbaduciizoçmrõeoespusemitpaoagàrraanordageafnamimzaaíçlniãauo”,tndeaanrsrçatãaaorperfaedsso,idoegngtrreuudppooogrnuaãpodov.aPêpormerseexndetamaspulmop,ublicaçõas, das mregsualsamdenetorienfteerrnêonqcuiae dcetuerlmtuirnaalesesalaobuoarqaudealasatpivaidraadet, eprocreémiroresalibzaaseadas o planejamento anual, que tem a responsabilidade de disciplinar as ações. Osa açorianaintdeogranlitteos rsaãol dcoatatdaorsindeenumsegreanddeassensaopdreerseespnotnasçaõbeilisdardeeaelmizraeldaaçãso àpselo Gru atividades desenvolvidas e ao seu acervo.co. Embora oA feorsmtaatudteodelmibeerançcãioopnrescraita ncoateesgtaoturtioaemdoreslaçãaossàoAcsisaemdoblseia com suuições o greseumgpupoeriomnceuriirntaécrciaoondcveouvcmoaçtapãçorãieoudsiemeqspuslaeelsq,uicteoermmnúampdreoersoeendsçeataadstseuouctoima.dtoeAsrçetomridbuousmiaa-ssssoeecgiuaendsdosasa atitudeão em quecreoafnlovizoiacdacaçrsã,ioad.daAsosmcoaenstarfsiubdnueicçrõieofeesnrpêanarrcaianamcaualftnuourrtaemln, çeaãlaobvdoooraglduruansptopáaarrdiaavêtemercdeaairssopssui,mbblaicseataeçdõmaess proced seisnGaarnucopuolsinFdáorelicaleóaxrçioicsroit.aêEnnmacdbiooar.laitooreasltcaatutatorinmeennsec,ioendeaas apresentações realizadas pelovinte e categoria dos associados com suas contribuições, nunca cumpriu-se esse item do estatuto. Atribui-se essa atitude ao propósito com o qual foi criado: funcionar na forma voluntária, e, assim, tem procedido nesses 26 anos de existência.ÕES

Inúmeras são as ações desenvolvidas pela instituição. Destaca-se a isa no campo na área da história, antropologia e da cultura popular; ovolvimen1t6o8 epublicação da Carta Cultural de BigCuoalóçquui;o aNEsAO30faincoisndaesHidsteóriCa ordas; asna “Trama Viva”; as Oficinas permanentes de Danças Açorianas e das danças do As ações de Santa Catarina; as Oficina de “Rodas de Histórias, onde mestres contamias”; a JpoersnqaudiIsnaaúnFmooetcroaamgs rpsáãofoincaaasádarçeeõaeBdsaidgheuissaetnçóvurio;al,vaiadnartesroappleiolzlaoagiçniãasoteitdudioaçãcIoun.lvtDuerenasttpáaocrapiomul-dasroe; oaPatrimônioral de Bicdgoeursdaenaçsvu;o;lavsaimoflieucnitntaoape“eTplrauambpliarceVasçieãvoar”v;daaaçsãCoofaicrditnaoaCsCupaletsrumararaãlnodeenBtBeosigrdnueaeDçuad;noaçsasSoAfíitcçiioonraiHasnidasestórico e doduto em eSdãaos dManiçgausedlo; laitoFraelsdtae SdaontDa Civaitnaroinea;sapseocfiifcicnasmdeen“tReo. dAasindde aHiesstótãrioas,vinculadasas ações doanocdIoenvomepenesttárrraeiçsoãcdooontcPaoamtmrhimiasôtónsreiioamsC”a;unaltaJuordranoladsdeaaBFfirogotuodageçrusá;cfiecaanldudeteaBnpitgeeulsaaçpduree; saBerrievgaaluçiãzaaoççudãoo, a festa dorsário doDCmaivsuianrnoãioceíBsppoierocni,feiacdapmoaerSntítiteico.ipAHaiinçstdãóaoriecnsotoãeoCdvooinnAcsqueullaehddoaustdoàosemsNuSaúsãcoalçeMõoeigsduaeelc;EoasoFtpueesdrtaaoçsdãooAçorianos;âmbios mccouumlntiuacrípaseiioms,,aancapoaldróotqiscuiapifoarçosãd,oespncaeolnedCseotnrntaesses,lhdoae BdroiegauNlaiúçzucal,eçaoãofdeestdaEesdtousdeaomnsiviAneráçsoráriroiiaosn,odsop; alestras ecações soinbtreercaâmcubilotus racupltouprauisl,arc.olóquios, palestras, a realização de seminários, palestras e publicações sobre a cultura popular. Experiências compartilhadas em 26 anos ■■ Apresentações folclóricas................................................ 3.272ERIÊNCIAS ■■C■■ OELaxMnpçoaPsmiAçõeRnestTo...s.I....L........H........A........D........A......S..........E......M..............2....6........A........N........O........S...................................3..5172 ■■ Lançamentos terceiros..........................................................48 ■■ Oficinas/danças e patrimônio........................................... 421 ■■ Desfiles/recepções (cívicos/festas)................................... 192 Apresentaçõ■e■ sPafolelsctrlaósrsicobarse.p..a.t.r..im...ô..n..i.o...............3.....2...7..2........................... 127 Exposições ■■..■■..SE.e.n.m.c.o.in.n.át.r.r.oi.o.d.s.e......H.....i..s...t..ó....r...i..a.....e......F...o....l...c..l...o....r..e.....................3......5....7............................................................0162 Lançamento■s■ .V..a.r.a..l.l.i.t.e..r.á.r.i.o...................................................1..2................................6 Lançamento■s■ TVaerracleliitreorásr.i.o...‒..t.e.r.c..e.i.r.o..s.................................4...8.............................37 Oficinas/ Danças e Patrimônio ................ 421

PPRREEMMIAIAÇÇÕÕEESS  169 PREMIAÇÕES Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina DDeseDtsaetcasacta-asc■■-e■■sae-CJoosareosvnsaapoldeprstaêerpmfênormtaiêoopmigosrraiásoeçfiasec..ha...eho......om..h....m..oe....nm..e....na..e..g..a..n..ge..a..n..e..g..ns..e....s..nr....es..r..ce....r..ec..e..be..c..b.i...ed..i..b..da....isa..d....s..ad....s..de....e..d..i..n..e..i..ns....it..sn..i..t..siu85ttuiiçtiuõçiõeçseõsecsocomcmoomododoodNorerfeefrreeerfneentreetenatoaeosastortasrbatbaralahblhoaoslhsroersaelraielziaazldaizdoaosdspopesleoploeGloGruGruprpouopFoFoolFclolcóllcórilrcóiocriocDoDaDnançaaçnsaçsaCsCaCnantaatnraetraserseAsAçAoçorçiroairnaiHHisiHtsotiorsirtaiodardoiaorPdroreeremdeidaaaçdõAaAertsrAetserãsteãsãcrcirvciveriierviare;air;ar;erverveelevalçeaãlçaoãçoãoddoodoTTuurTirsuimsrimsomo oemememSSanaSntaatnataCCaCtaarerceocreoncnhohencehicmeimceinemntoetonDrteeorsaetlaraieclziaaazmldai-zdosaoedpoopeslepaplraeêAmlaAsiossAsesemsesmhebomblmelbieeanlieaaLigaLeengeLsgiersielgscalietasbiltviaidvatoiavsdaddeeediSneSastnaSitntuaatinaçtCõaeCasCtacatoaramitrnaiornai;an;aC;CâCmâmâamrVVereVeraeedaredoaoredrseoCosrdaeNndestEeaBdArBei,sgiBrgAueuafiçegoçarurueçinau,tnç,edousdu,,udaadoesaussHeatdiesrsaditçboeiraõdçilõeiahçdseoõo,sser,RrseRe,oadotRlaiaztorAaaytdrrayotCersysClãpulCceubrlloibeuv,eebGi,EreraE,um;pmErboemvbraeFrbltoaaerlçtcaleãl;tóole;CrldiC;coooColTélDuogérlagiiénosigmçoaiEoosEliElsiasliasAaAnAndRPPRreirsemPRitsmareteuiaiesmrurtioaarreonauintrrEeoaeSEetEenmnamMTnnctrMEbetSoocaarnafonManaéCnctntuneetaroaatlzteoM;rnanizCCorntaeiiraonnnhdzotleaahoideézn;rgo.eiiChidnn.oFâoahemEF;oo.lr,olaieFcserlcadalocooiAdllntorcaenhedlrVdeoeocreriidrpemoedeelailee;dodnPoCtRerroCieeamssrnaCtedeaneaieualrleirnBiozlanaeiiEngnhdltnuiohaencaaMoçphuneeaa,lteanrdoeuTAezdaTsirsnesorTeehFofmdoroéfio.lbçuécõfluleéoeisurMa;eMRLdaeoMenagtCaineasrzaelnyanizteCneiizvlnhliuainhonbhdoheae;oededietiadtdaitdoaodConclusãoA relação de amor com a instituição é fator fundamental para acontinuidade do grupo e manter a sua união. O comprometimento seCCOOCNNOCCNLLCUULSpinSrÃUseÃtsOSietOurÃvi aOeçmão plataforma que se reverte em ações concretas, considerando a da cultura material e imaterial do município de Biguaçu e dolitoral catarinense, com destaque para a cultura popular. As parcerias e trocasAArAepdrleeearlreçamexãçlpiaoãteeçormdãiêdeonoecadimaaeesmmoacpoomromrcdooecirnromascmmtoitaemuaniiçtnoaiõnsetisdsintocisuosttuiniçstgieuãçêuoinãsçeoãérienoésfteaeéfgtmaorftaaornntrítfoveufersunl fnpnduaadancrmaaidomaneamanelsnteueatnalaintlpvateipalsrrainpbaraaialcariidaoaacndaocaeloncntoitnninutiuindiudaidadgrergrveurveuprgereportvuroetepeereoetmeemmemreeaaemnamplçaantaõçceartiaõeraeonçsOenrtoõaesacedardcocssoeoonausssncencuaàjnourscacvneuruuottecalounaltvtrusniaeiuãdmrsitaconãeae.oco.sinãaon.tOçcoonsõoO.iseddniscOodesocrideedomaerxcnemaseoperrndnmcaprdoíovnrcopoomidaolrmvooaeidpdmteaaipratmeseircpmsetiedepirsmneearedvslntraeoeavatnnorçaivtinsãçaoaess,oãtçeiuostãidutenoiiidalnsçizaãitdscaniotanucsiudttulpuicitoeltuuitureourlmimtaesruemaearimasmapmapleematacsleptsataoaraeltiatssfaraeotiflaraoriflmaeromleraimemaimqaiaqumddoomdmouunmnicuiícnpíinrpiceoailíaopidnçiõdesoteeiBstduBeeiingçiBtãguroeuaigeçagmuurçuauSpeçaoeundstdoecaooCdlniolatgiotêtalornriatiernolraearlcsaeacletnaacroteraasfitrlnAeaitneçreionenornseeerssne,,essa,cueloécl,tmomacdmododmeddepeserdtospaemteqsastoquqavuueqeiersupaaepasirarpnaertaaaecrlgiauczraaulctçdluuãatourlstaruaprapoopppuoulpalupparacprecarericraiesarsieacseotmretorgoctrarcuosapcsoadssdeceudeltexeuxpreapeixsrepidrêeienêronciuêicatnirsacssiacmsocaomtcrmoizmiensinsctisuintltisuuttuiriçtaiuõçisiõe.çseõsecsoconcngogênnêgneêrenereserseesmememnnívínveílevlenlnacanicaoiconinintetirennrtnaecarnicoaioncnaiolanlpapelremprmeirtimeteioteoeomempempoodpdeoredarmearmeanmenteotnodtodoosdsosessuesusesuinsinteitngetgreargnarntaetnsetsepsparaparaaraaasausuasauvavisivisbiisbiilibldiildapparaapraaoroaddeoseedsneesnvevonolvvlviomilmveinemntoetondtodoodexoexeerexcríeccríiccoiíocdiodaadciacdicdaidaddaanadniaainauiautitluilztiiazlinazndadonodooos soassapsapesceptceotcostsoresrlearlecalicaoiconinao

170  Colóquio NEA 30 anos de História O grupo, em sua trajetória, tem a consciência do papel socioculturalque desempenha para a divulgação, visibilidade e salvaguarda do patrimôniohistórico, cultural e paisagístico dos lugares de referência da cultura luso-açoriana no litoral catarinense. Importante lembrar que o seu compromissonão é exclusivo com esse segmento cultural.ReferênciaCOUTINHO, Ana Lúcia (Org.). Catálogo do Grupo Arcos, 1989 e 2008. ______.Biguaçu: terra dos biguás, Grupo Arcos: ideia que deu certo, 2001.______. Passaporte do Grupo Arcos, Alternativa, 2007; Estatuto do Grupo Arcos,1992.Sites:<http://br.geocities.com/grup_arcos>.<http://members.xoom.com/grupo_arcos>.<http://www.grupoarcos.cjb.net>.Imagens:Catarina Rüdiger/Acervo Grupo Arcos

Portugal dentro do Brasil Esta é uma história de amor, perseverança e comprometime quPe otinrhtautgudaolpdarea ndatrrocerdtooe Bacrreadsitainldo nesta intuição que concretamente sustentabilidade para o desenrolar da história. Há uma frase de Confúcio que diz; Escolhes um trabalhe que que trabalhar nenhum dia na tua vida”que quCalanidr oFersme itarnaobalha por deixa de ser necessariamente um trabalho,mas um meio de satisfaçãEssa é uma hisEtórfioaideaasmsiomr, ppeerslaevesraatniçsafaeçcãoompdreomeesttiamr enntãoocosmó umfazendo umprojeto que tiennhtaretutednoimpaernatdoa,rqcueertaov, ea,naçcarmedoitsanvdoolunnetsasraiainmtueinçtãeo,lefuviaenmdodae frente umbusca dHeásuumstedaneftrnaatbsrieolidddeaedCeoupnmafrúaaciosoadlqaeuseednderioza:lau“rElads,cadoahlhis4etªóurmsiaé.rtireadboalhEonqsuineotuFguonstdeas,mental,one não terás qudeitsrcaibpallihnaar dneen, hhuismtódriiaa nparetuvaiaviadca”h, pegoiasd, aquoasnidmoisgertarnabteaslheampoSranta Cataadme soart,isefsasçeãtorapbeaslshooalEduesmitxuadpadranezdseoer.rennetcãeossoarsiapmoerntuteguuemsetsr,abaaflrhoos,,emsapsanuhmóims,epioortuguesesentreteEnifmoieansetsoim, aq,luepemelaaãveasanst,çipsaofmalçooãnsoevdsoeelusenstteaarrijnaamãpoeosnnótêefs,a,lzeevpnaodnrodqouumàe ftrnreaanbtaenluhomossmpaaroscjueidmtoade, tínhque iniciou emjapuomnaessaalsa.de aula da 4a série do Ensino Fundamental, em que ocurrículo dCaatdairsicainpalNi,naeandcterueHlmeislietnósârpniaocpriatruegdvuioaesopereso,sjtaeuftdrooosdd, eaesscephnaevngoahdlóvaised,mopososirmtufiiggzureaemnsetoesss-em Santa uma feiraçorianos, itasliaalnaosd,ealaemulãae.s,Epuolaonoesesaleunatoés,jtarpoounxeesmes,osvisptoarqauesanlaa ndoessaaula, objecidadeNhaavciualdmreuilanísqâfunaicmaiasíldidaosasjparpfoaojmenteoísl,aiafsi.szemmaoissuamnatigfeaisra. Tcurlotuurxaelmdeonstrpoedssaosaaslapara entrde aula. Eu e toíspiacluasnos dtraosuxevmáorsiapsaracsoallaondiezaauçlõaeosbjeteosstuadnatidgaos, peeças idme provisamrelíquias dtíapsicafaalsemmdílaãisaessv,máproaiairsstuacgnoutlioegnsaeisz.sa,Tiçtrõaoeluisaxneesmotsuo,dseapdaeaçssos,oreiaasinmpoapsr.raoveinstarmevoisstaarlmguonss,comidastrajes, alemãe(sf,optoor)tu0g1ueses, italianos e açorianos. A atividade foi simples,mas a escola neste dia estava rec

Conselho e a mesma se encantou com tudo o que viu,e o que mais lhe chamou a aten172  foi realmente a mostra das comidas típicas eCoalrótqeusiaonNaEtAo 3d0aainmosigdreaHçãisotóariçaoriana. Saindodali foi até a prefeitura e falou com o prefeito que se dispôs ir até a esc A avteivrindoasdseo ftoraibsaimlhpol.es, mas a escola nesse dia estava recebendo a visitadfaazibaipblairotteecdáoriCaOoqnpurseeeflehjáioto.eEsftilacavosaue deennecsceaannntvtaoodluov,ecenosdmugoetuerisdusoeqoutreqaufbieazlévhsiosue,mjeuonostqouumaeomevNaeiEnsAtlohmee aior para atinchamou amaatiesnpçeãsosofaosi,croeanlvmideanrtaesaesmcoolsatsr,aosdepaciosme imdeasstrteípsidcaosseabaerrtefasazneratnoa daarte do trançadoisme digisrpaçôãsopiraalçahotaér,diaaonebsaoc.roAdlaaodvsoea,rdirondocaoslsniotfaotdrioaarbtéadleahcpoa.ruesfeoi,tudorateeafraeloduacgoamstroonpormefieai.to, que O prefeitAosfsiicmoufieznemcaonstaedonoe sduiage2r8iudqeuemfaizioésdseem1o9s99u,mumevmenotvoimmeanitoor,muito grandepara atingciirdamdaei,nsapecsosmouasn,idcaodneviodnadreaas eessccoollaase, sotsavpaaiisnseemrideas.tFreosi dnoo ssaalbãeor Cfaozmerunitário do baignaasatrrotenodmoquitaera.tnuçdaodaocodnetepcaeluhae, mdoarbcoourdcaodmo,cdeolebcorindtaaddeoor edveecnatou.so, do tear e da Assim fizemos, e, no dia 28 de maio de 1999, um movimento muitogrande n(aFoctoids)ade, na comunidade onde a escola estava inserida. Tudoaconteceu no salão comunitário do bairro e marcou com celebridade o evento. Vieram alunos da rede municipal, estadual e de escolas particulares. AprefeituMraasdilsepmoVnbieirborailmiqzouuea,tlruaannnotssepsorddtaeispsorra,edtpoeadroams.uennirciiqpuale,cerestnaodsusaoles trpaabrtailchuolasr,es.A prefeitvisitamosduismponenibgielinzhouo tdraenfsaproinrtheapdraetmodaonsd. ioca e de cana-de-açúcar e fomosconversar com Mpeasssoleams dbarociqduaedeanqtuese hdiasvsioa,mpaferaitoenurmiquceucresrondoessdoasntçraabaaçlohroiasnvaisitamos engencnoomema phriésdtseotirmfiaaordinodhreaa fAditenasamcLaaunscdsieiaotecCsao,cuodteminchaaosn.am-Tdúievs-eiacmçaúsocseaarfcieteasfssoodmreioavstíadcomenobvécemorsmadrodcaoNnmEçaApsessoas da cidaçorianasq. uTeudhoaevriaammuifteoitdoifícuiml, mcausrasosugdeestãdoaenrçaaquaeçonroiadniaa apcoremsenatáshsiesmtoroisadora,Ana Lupelo menCosouutminahod.aTnivçeam. os acessória também do NEA no empréstimo de fitas cassetes com

música e fitas de vídeo com danças açoriana.Tudo era muito difícil,mas a sug que no dia apresentássemos pelo menos uma dança.  173Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina Chegou o grande dia! O salão estava todo arrumado, preparados,sabiam falar muitas coisas das nove ilhas.Sabiam locmpraeppaa-rmCadChMpúoeahnsguled,ohngisu,aaodfb,ouaimi,lagamarrofasadnflaandagsleãarrhroadenmidrasdaa!uanesOibçtaiasahdssamieclcaãrou!oailqstneauuOsçsrteaaadsivasasasaldctinleouãiondxolvotaeudareinarlassrhoituapssamssov.araadSdeaeclobieto,xiosamo,admsadouaarlnleosuiancndradopralauisdozmdeáerse-atltaabedívsilnolaernh,msoooa,,srmenoadlsuandoedssodeptsrrcaeenpnçadaredganodetroedasseç,dspõaeaebvlshiá,aarmei,amsqfaguaselernaarãçtoõimnesshau,baieitmaamqsuheqceuortediisnaaahdlsiaonmdsaahsnsaeorbnsdesoaarvdecoesosmeislauhfbanaezisrd.eeSarsdaeeebsfitadaíznmaehrcaelumsoldoctuaas rliazád-elabsascuMltuurnaddi,e bfaaslaeraçdoraisanha.eranças culturais deixadas por eles,renda do bilro,tra palha,mas não sabiam que ali na nossa comunidade tínhamos descendentes gerações, e que tinham herdados saberes e fazeres da cultura de base açorianaNesse dia estava presente o Jones Araujo, que nos fez um convite paraparticipar da cfeoNsrtraee-sactçoeorrdrieai,naeaeaesgmtoarvPaoajrápteorxeBisgeeilaon.mtSeaeious ppJoreisnmqeuesiirsAoa,Arcaoçuomjro.p,reomesetteimneonstofeez Outro um comuito endsaaioF.eEsrtaama,çnoaréipaoncaa,esmeisPpoarretos dBeecrloia.nSçaesudpe rniomveeair1o0Aançoosrd. e idade.Neste dOiautersotavcaorprree-sceonrtreeoe JoangeosraArjaáujoe,xeigesiate nmoasisfezpeusmquciosna,vciotempparroamda Festa açoriana em Porto Belo. Seu primeiro Açor.

Açorescomeçamos os ensaios e preparativos para a viagem que era um ppara sair com crianças de menores como erma na época.174  O prefeito na época era LeopoClodlóoquioANlEvAe3s0, anuoms deiHniscteórniativador da secretáriaZulma Simon na época, que não mediram esforços para que tudMais uma vez pedi socorro ao NEA, que nos disponibilizou mais ferramentaspara qumeupiutodécsseermtooselecvoamr aosupcaelcsosop.eFloizmemenooss ruomuapsadsunaos vdaasn,çacso. nseguimos um artesãcomeçDafamezoepsroosasslegeundnseasifoiptsaaserecpsarsedspeeatertaaetmivdoaens vcpíaadsreao.Tas uvddieaogdenamnoçvqaous eoperairrgaainueamsistrpedoaourscnAoaçloofnreegsset,a muito longpara saciridcaodme.crianças menores de idade como eram na época.a secreOtárpiare, fZeOuitloômnnaiabSéuimpsooecnraa, eqdruaaeLnpeãroeopfmeoiletdudoriraAaemlvpeeass,rfauomrsçuoirsnpcpreeanrsataivqnauãdeootrueddstoaaocvucaoltarurureatso,sreeizado, entãomuito aceprtoolíecicaomR.Fsuecdeesrsaol. Fniozsempoasroruouepatisvneomvoass, qcounesedgaurimooms auimoradrtiesscãuorso para conploanrgaendopasafnsasozasersr.aMaclgiaduiasndsedp.eaurescdeerttaomsaóncaqsu. eTudchoengoavmo poasraaetrsatrseaadronsa fpesatraamouitodesfile que Opriômneibiruos deersafidlea nporeAfeÇituOraR.e, para surpresa, não estava autorizado,então, na viagem, a Polícia Rodiviária Federal nos parou e tivemos que dar omaior discurso para convencê-los a passar. Mais deu certo, só que chegamosatrasad(ofos tpoa)ra o desfile que seria nosso primeiro desfile no AÇOR. A vida segue seu percurso normal, e nós seguimos na nossa caminha,participandoAdveidtoadsoegs uoes seevuenptoesr,cuqrusaondnoorcmoanlv,ideadnoós,s vseeigouoim7oosAnçaornoemssa caminha,pGaropaba, participamos do desfile e das apresentações artísticas, mas nãoalojamdoes. tFoodiousmevbeantetoes vqoulatan,dpooics,onnvaiqduaedlaosé,povceai,o q7uºemAçcoororedmenaGvaaroospaba , particftircaabvaalhcdooesmsdfieolneptreeossddoaoaslCdaoopnarseretslehesonatndaaoçtõoN.eEsAaertríastaicMaasr,miaaAspaarinecdiadanBãaotiastleoljlaame eolsa.jáFoi um bate naquela época quem coordenava os trabalhos dentro do Conselho do NEA Aparecida Batistella e ela já ficava com o pessoal do artesanato. (foto)

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  175 Veio o 8º AÇOR em São José. Lá ficamos alojados e Milton Scheffer, que nos apoio para que as crianças pudes melhor a festa.Lá tivemos uma aula com a Ana Lúcia ConLppruúedcfieeasitsCoVe,moeninMuooaftimsiéiconlpathtaroo8roaconaV,valAojqSeeeejuÇaircrsoeaddhOaJenoaeRosfodsfe8séefaecºoroMluii,ArgrririqateuÇleitunraonmOetlmnoiszRnueSeaolcpsdhsehstooamoerbarsfaefrpsameS.eoorfã,eoisoqoSsstuãaJtpdoer.oaeLnsJrjoáoéeassd.stéiqaLeva.upenáLaeomlçáifgoaoiaucfussinsacupc.smamrampiSroaaaaosonsasqsçuamuoaallseaolsooajdcjapssoaedudmcdoardoiaseagsan,snAerçseçaaneoadsomas.percfeiicfdeaiortosalnoSomos agmraedlehcoidroas afetésthao.Ljeá, ptoivrqeumeofsoiunma aépaouclaaucmoamveardAandaeirLaúmcieastCrao. ntinho,que no os trajes e alguns passos de danças. Somos agradecidos até hoje,porq uma verdadeira mestra.9ºAçor- Araraquari.9LºAonçogre- Apraarraaqnuóasriq. ue morávamos no Sul.Longe para nós que morávamos no Sul.

176  Colóquio NEA 30 anos de História9o Açor – Araraquari Longe para nós que morávamos no Sul. 10º Açor- Tijucas . Lá recebemos o troféu açorienidade.10o Açor – Tijucas Lá1r0eºceAbçeomro- sToijTurcoafséu. LAáçorreiacneibdeamdeo.s o troféu açorienidade. 11º Açor em São Francisco do Sul 11º Açor em São Francisco do Sul

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  17711o Açor1e1mº ASãçoorFreamnciSsãco dForaSnulcisco do Sul12o Açor em Barra Velha. 12º Açor em Barra Velha. 13º Açor em Laguna- Muita chuva e pouco público.

178  Colóquio NEA 30 anos de História 13º Açor em Laguna- Muita chuva e pouco público.13o Açor em LagunaMu1i3taº cAhuçvoareepmouLcoagpuúnblaic-oM. uita chuva e pouco público.14o Açor 1em4ºGoAvçeornradeomr CeGlsoovRearmnoasdorCelso Ramos- Foi muito bom,muito Fo1oi 4mrgºuaiAtnoiçzbooarmda,emmaufietGostobavo.neirtnoaedmoruCitoelbseomRoragmanoizsa-daFaofiesmta.uito bom,muito bo organizada a festa. 16ºAçor-Palhoça 16ºAçor-Palhoça

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  17916o Açor – Palhoça17o Açor – Gov1er7nºaAdoçroCreGlsoovRearnmaodsor Celso Ramos. 17º Açor Governador Celso Ramos. 18ºAçorSombrio18ºAçorSombrio

180  Colóquio NEA 30 anos de História18o Açor1–8SºAomçborrioSombrio 19º São Francisco do Sul.19o Açor – São Francisco do Sul 20º Açor –Içara

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  18120o Açor2–0ºIçAarçaor –Içara 20º Açor –Içara21o Açor2–1ºFFlloorriiaannóóppoolliiss. 21ºFlorianópolis.aconteDceemlánapDraeergailãácoáp. aRtreeacmecobásetmepmoasrotsTicrpiopafarétduicoAipdçaoedroitaodndeiadstaoddaeassnfoeassAtafçseosrtaaçesomraiçTaonijrauisacnaqassu, eeque acontetrouxemroesgipãaor,a fneosstaso amçourniaicníapdioo meastiasdtorê,s mtraorfcéauns:doumprpeasreançDaoneamPetdordiansh,a,recebemosum paraaçoormieunnidicaídpeioneo eAuçorerceembi Tuimjuccaosm, eo tproeursxoenmaolisdapdaera. Mnousistoosmfournaicmípoios mais trêsprêmioEsm, ap20o0io3D,eleiengcaleláinztapimvaoroaps aocrgaárqutuepemopcouosdmépossaGermtriucopisopcaAodnçotoirndSuuearl Cttoraadtbaaarsilnhaaesnndsfeoe,.es,tapsoraçorianaconta dis rseog, irãeoce,befmesotsaapaoçioodrioangoavdeornoefsetdaedroa,l, amtraavrécsadnadLoei Rproeusaenneçt,apeleom todas açorienidade no Açor em Tijucas, e trouxemos para nosso municíp

182  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaMinistério do Turismo. Em 2007, firmamos um convênio com o Ministérioda Cultura como Ponto de Cultura, e, por intermédio deste, muitos prêmiostemos recebido. No ano de 2007, recebi o prêmio como Mestra da CulturaPopular e, em 2009, um prêmio com Melhor História de Ponto de Cultura. Em2010, fizemos intercâmbio cultural com o Grupo da Casa dos Açores do Rio deJaneiro, onde aprendemos várias danças da Ilha Ilha Terceira. Em 2011, ganhamos um projeto de intercâmbio cultural para os Açores,Portugal, e lá ficamos por 7 dias, na Ilha do Pico, São Jorge e Faial, onde fizemosatuação nas festas de agosto: na Madalena, no Bodo do leite na Ilha do Pico, ena praça de São Jorge e em Faial. Em 2014, fomos selecionados para participar da Mostra da Copa doMundo em Porto Alegre, onde o grupo pôde se apresentar para vários turistasdo mundo que vieram ao Brasil assistir à Copa. A Dona Pedrinha recebeu oPrêmio de Mestra da Cultura Popular e foi expor seus chapéus em Natal, RN,onde participou da Feira Solidária por uma semana, com as despesas todascusteadas pelo Ministério da Cultura. Em 2015, o grupo participou da Teia Catarina, um evento que contoucom a participação de vários pontos de cultura de todos os estados do país etambém a caravana do Ministério da Cultura; Sombrio está representado naComissão Nacional dos Pontos de Cultura, onde faço parte de GT CulturaPopular. Por toda essa trajetória, temos muitos a agradecer. Agradecer aos que,de uma forma ou de outra, nos ajudaram, nos apoiaram a chegar até aqui,como o NEA, Ana Lucia Coutinho, Jones Araujo, Daia, Silézia, Podinho, entreoutros que têm nos apoiado. E Ter sucesso e gostar do que se faz, e quem gosta do que faz, nunca se cansa de trabalhar.

Memória: um patrimônio irrenunciável. Comunidades do distrito do Ribeirão Pequeno da Laguna Laércio Vitorino de Jesus Oliveira Todos os povos têm cultura, porque trabalham, porque transformam o mundo e, ao transformá-lo, se transformam. A dança do povo é cultura. A música do povo é cultura, como cultura é também as formas como o povo cultiva a terra. Cultura é também a maneira que o povo tem de andar, de sorrir, de falar, de cantar, enquanto trabalha [...]. Cultura são os instrumentos que o povo usa para produzir. Cultura é a forma como o povo entende e expressa o seu mundo e como o povo se compreende nas suas relações com o seu mundo. Cultura é o tambor que soa pela noite adentro. Cultura é o ritmo do tambor. Cultura é a ginga dos corpos do povo ao ritmo dos tambores. (FREIRE, 1997, p. 75-76). Com esse pensamento de Paulo Freire, inicio este artigo emcomemoração aos 30 anos do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA), quandofui um dos convidados a participar do colóquio que teve como objetivo refletira caminhada desse núcleo de pesquisa da Universidade Federal de SantaCatarina (UFSC). O que pretendo nessas poucas linhas é descrever a caminhada daAssociação Grupo de Cultura Casa da Dindinha, do distrito do1 RibeirãoPequeno da Laguna, conforme apresentei no colóquio.21 Faz parte da cultura local a utilização de expressões do tipo: “vou na Laguna”e não “vou em Laguna”; “Sou da Laguna” e não “Sou de Laguna”. Portanto, por opção, utilizarei nesse artigo as expressões: “na”, “da”, “do”. São expressões que envolvem posse do lugar, forma carinhosa, íntima, familiar do modo de falar da existência do lugar. São termos fortes que nos dão um sentido de pertencimento, de apropriação do lugar.2 O “Colóquio NEA 30 Anos de História: Preservando a Herança Cultural Açoriana em Santa Catarina” aconteceu entre os dias 24 a 28 de março de 2015. Participei de uma mesa redonda

184  Colóquio NEA 30 anos de História O grupo de dança Casa da Dindinha foi fundado “oficialmente” no dia30 de junho de 2007,3 quando dançamos pela primeira vez uma música dofolclore açoriano, mas, na realidade, tudo começou quando me efetivei na EEBGregório Manoel de Bem, em 1990, como professor de História e Geografia doEnsino Fundamental. Portanto, o grupo é uma atividade de aprendizagem4ou um dos projetos desenvolvidos nesse estabelecimento de ensino. O trabalhoé desenvolvido com alunos do Ensino Fundamental e Médio, e hoje com ex-alunos, além de pais e pessoas da comunidade. É coordenado por mim5 e por Albertina Bonomi de Jesus Oliveira,professora de Língua Portuguesa e Literatura. Procuramos inserir conteúdospertinentes às nossas disciplinas no contexto do grupo. Fazem parte do grupo: O Museu Itinerante: mantemos, numa das salas de aula do prédioescolar,6 um acervo material: guarda roupa, cama, mesa, baú, fogão a lenha,pilão, tear, roda de fiar, diversos objetos antigos, alguns ultrapassando os seuscem anos, representando uma casa típica açoriana do início do século XXdos nossos ascendentes. São móveis e utensílios doados pelos moradores das no dia 27 juntamente com Ana Lúcia Coutinho “Patrimônio e Memória: experiências compartilhadas pelo Grupo Arcos pró-resgate da memória histórica, artística e cultural de Biguaçu” e Clair Fermiano “Portugal dentro do Brasil – Grupo Folclórico Açor Sul”.3 Nessa data realizamos uma festa da escola que não chamamos de festa junina, mas, em comum acordo com a direção na época, chamamos de “Festa da Cultura”, com apresentações das manifestações culturais local, como apresentação de boi de mamão, terno de reis, bandeira do Divino, entre outras.4 Entendo que “é condição para uma atividade de aprendizagem que aquele que aprende (o aluno) tenha um motivo para aprender, veja uma finalidade em aprender e sinta uma relação do aprendido com a sua vida”. (TEMPO DE APRENDER, 2000, p. 17-18).5 Sou graduado em Estudos Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, RS; em História pela Universidade do Extremo Sul-Catarinense (UNESC) de Criciúma SC; possuo especialização em História e Geografia do Brasil pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Registro, São Paulo, e mestre em Educação – Educação e Movimentos Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na linha movimentos sociais, tendo a professora Dra. Maristela Fantin como orientadora e o professor Dr. Juares da Silva Thiesen como coorientador. Atualmente estou na função de Gestor nesta escola.6 O acervo que mantemos na escola é realmente itinerante em todos os sentidos. Como não temos ainda um espaço definido dentro do prédio escolar, ele já dividiu espaço com uma sala de aula das séries iniciais (a turma era pequena e então, do meio da sala para trás, era o museu e, do meio para a frente, ficavam os alunos); já dividiu espaço com o depósito da escola; já esteve numa sala interditada pelo corpo de bombeiros; e atualmente está novamente fixado numa sala de aula, agora, porém, dividido por uma parede de madeira.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  185comunidades que formam o distrito,1 organizados, ou seja, separados em umquarto, uma sala, uma cozinha e um paiol de antigamente. Esse acervo2 étransportado para os eventos culturais, quando somos convidados a participar. Estamos em fase de construção de uma casa de pau a pique no pátioescolar, para resguardar esse acervo. Ganhamos um engenho em desuso, doqual aproveitaremos as telhas, as ripas e os esteios. A construção será feita porhomens que ainda lembram a técnica de construção desse tipo de imóvel. Nossaintenção é que a casa seja barreada pelos alunos e professores, sob a mediaçãodesses mestres na arte da construção dessas casas que predominavam o iníciodo povoamento desse lugar. Grupo de Cantoria e Dança: envolve danças típicas do folcloreaçoriano, além de danças típicas do folclore do litoral catarinense: chimango,pau de fita cantado, ratoeira, bloco de Carnaval, pereira, serenata, cantoriasde mulheres e homens trabalhando. São aproximadamente 30 participantesentre alunos (músicos e dançarinos) e pais (cantores e tiradores de versos).O grupo já se apresentou em diversas cidades do litoral de Santa Catarina,como Sombrio, Criciúma, Tubarão, Laguna, Imbituba, Garopaba, Palhoça,Florianópolis, Governador Celso Ramos, Bombinhas e São Francisco do Sul.Em 2007, participou pela primeira vez da festa do Açor, em Laguna, como museu itinerante. Também no 14o Açor, em Governador Celso Ramos,apresentou-se com o museu itinerante e com o grupo de danças. Nas demaisedições dessa festa, participou com o grupo de danças. Oficineiros: são alunos que demonstram na prática como se faz esteira,balaio, boneca de pano, bodoque, loucinha de barro, arapuca, renda de bilro,tecelagem de mantas, tapetes, sabão caseiro, nego deitado, entre outros. Projeto “Memória: um Patrimônio Irrenunciável – Comunidadesdo Distrito de Ribeirão Pequeno da Laguna”: é um trabalho desenvolvidodesde o ano de 2000 através de entrevistas dos alunos junto aos idosos dascomunidades que formam o distrito do Ribeirão Pequeno e que resultou numlivro que foi lançado no dia 30 de outubro de 2010 pela editora da UNISUL.Divulgamos nosso trabalho duas vezes na UFSC (na Semana Paulo Freire e naSemana dos Supervisores em Educação) e também nas Faculdade Anhanguerade Joinville e na UNISUL de Tubarão. Além disso, foram até a nossa escolaconhecer o nosso trabalho um grupo de alunas do curso de Pedagogia daUNOESC de Campos Novos e um grupo de alunos da UFSC.1 O distrito de Ribeirão Pequeno foi criado no dia 9 de março de 1911, desmembrado do distrito de Pescaria Brava. É formado pelas comunidades da Madre, Cortiçal, Ribeirão Grande, Ribeirão Pequeno (sede do distrito), Parobé, Ponta do Daniel, Figueira, Morro Grande e Bananal.2 O museu já esteve presente em diversos eventos, entre eles no 14o AÇOR, em Governador Celso Ramos; Festa de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, entre outros eventos.

186  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaJustificando nossa caminhada O distrito do Ribeirão Pequeno da Laguna fica distante aproximadamente30 km do centro da cidade, sendo considerado zona rural. Conserva aindatraços da cultura de base açoriana,3 a qual carinhosamente chamamos de“cultura do pirão com peixe”. Quando os açorianos aqui chegaram, entre 1748 e 1756, tiveram quese adaptar à nova realidade: terreno arenoso, devido à aproximação do mar,o que os impossibilitou de desenvolver a cultura do trigo, como faziam noArquipélago dos Açores, passando então a cultivar a mandioca adaptando-se e inovando as técnicas de beneficiamento da farinha de mandioca dosindígenas que aqui moravam. Do pão adaptaram-se à cultura do pirão. Diga-se de passagem, adaptaram-se muito bem. Em pouco tempo, o pirão de feijãoou o pirão d’água e seus derivados já faziam parte da mesa do novo lagunense. Foram décadas tendo como base a farinha de mandioca. Ao se levantar,tomava-se o “mata-bicho” com o que tivesse: um café com farofa de banana,com rosca de polvilho, com beiju ou cuscuz ou tão somente um café puro, eiam para a roça. Às nove horas da manhã, paravam suas atividades e tomavamum café reforçado, “o zonza”, com pirão de feijão. Ao meio dia, novamentepirão de feijão com peixe, que chamavam de “janta”, e à noite, na refeição quechamavam de “ceia”, comiam novamente pirão com peixe. Muitas mulheres ànoite comiam pirão d’água. Essa cultura perpassou o século XX até meados da década de 1970,quando muitos jovens das comunidades que formam o distrito do RibeirãoPequeno migraram para São Paulo com o objetivo de trabalhar como garçom.Foi uma verdadeira febre. Voltavam para visitar a família principalmente noCarnaval: cabelos curtos, pele branca por trabalhar em ambiente fechado,dinheiro na carteira e roupas que nunca havíamos visto. O jovem voltavatransformado, irreconhecível – alegre, carnavalesco, “inteligente” –, deixandoaos jovens do lugar uma vontade enorme de seguir o mesmo caminho. Asmoças só queriam namorar esses rapazes. São Paulo se apresentava como o“Eldorado” brasileiro. Assim, o estilo de vida urbana foi se infiltrando atravésdesses jovens trabalhadores. Entre 1980 e 1990, a cultura urbana se difundiuentre os jovens de nosso distrito também através da televisão, que até entãonão influenciava porque era rara a família que tinha um aparelho de televisão,devido à péssima recepção do sinal.3 A base da cultura do distrito do Ribeirão Pequeno é açoriana, mas estão presentes as culturas trazidas pelos imigrantes italianos, alemães e poloneses, sem esquecer-se da forte herança cultural indígena, além da presença não tão marcante da cultura de base africana.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  187 Em 1990 me efetivei na Escola de Educação Básica Gregório Manoelde Bem, de Ribeirão Pequeno. A escola recebe alunos desde a comunidadede Bananal, passando por Morro Grande, Figueira, Ponta do Daniel, Parobé,Ribeirão Pequeno, Ribeirão Grande e Madre. Dessa década em diante, a médiade matrículas oscila entre 200 e 250 alunos.4 Como professor de História e Geografia, fui percebendo a mudança a cadaano, nas atitudes dos alunos, referente à cultura local. Tornou-se perceptível osefeitos da globalização nos nossos jovens e eu dando aulas de História, falandode Revolução Francesa, de Revolução Industrial, de República Velha. Nada,ou muito pouco sobre a história da cidade, que é uma cidade tombada comopatrimônio histórico nacional,5 e menos ainda sobre a história, sobre a culturalocal, resultado da miscigenação das culturas carijó, vicentina, açoriana, negrae dos imigrantes europeus. Sempre dava exemplos usando a realidade local,mas nunca como foco central, até que, numa noite, fui à casa de um aluno darum recado da escola e eles estavam jantando pirão com peixe. Peguei-os desurpresa. Não sabiam o que fazer. Muito envergonhado, o pai me convidoupara jantar, mas se desculpou por que era pirão. O aluno tentou esconder oprato de comida. Embaraçado diante da situação, procurei ser o mais rápidopossível. Saí dali convicto de que precisava fazer alguma coisa como professorde História: trabalhar a disciplina sob a ótica da cultura, da valorização doque é nosso, do nosso jeito de ser e viver neste mundo. Para isso, tive que medespir da minha metodologia tradicional para alçar voos numa metodologiatotalmente nova, que não me ensinaram na academia. Era fim dos anos 90.Estava nascendo um projeto de valorização da cultura local que resultou nolivro “Memória. Um patrimônio irrenunciável. Comunidades do distritodo Ribeirão Pequeno da Laguna”.Metodologia do trabalho Primeiro eu precisava conhecer o olhar dos estudantes sobre a comunidadeem que viviam: como a sentiam, como se relacionavam com o lugar, qual o valorda comunidade para eles. O objetivo era observar, descrever os detalhes dacomunidade, ter um olhar diferenciado sobre o local de vivência. Confesso queeu não tinha clareza do que queria, nem onde esse trabalho ia parar. No decorrer do ano de 2000, nos finais de semana ou após a aula, àtardinha, me reunia com os alunos de uma determinada comunidade do4 Hoje, 2015, temos 241 alunos distribuídos entre o Ensino Fundamental e Médio.5 Desde 1985 o centro foi tombado. Na linguagem de hoje falamos em “Centro Histórico”.

188  Colóquio NEA 30 anos de Históriadistrito e saíamos caminhando. O trabalho consistia em os alunos apresentar olocal onde viviam: engenhos, cemitério, cachoeiras, casas antigas, o comérciolocal, a igreja, enfim, falar de seu meio. Os olhos dos alunos brilhavam aoapresentar sua própria comunidade diante da filmadora que eu tinha emmãos. Minha primeira grande surpresa foi que muitos alunos, em todas ascomunidades, não as conheciam por inteiro. Atingi o objetivo de fazê-losolhar de forma diferente sua própria comunidade. Cada aluno apresentava umaspecto, e eram eles que me conduziam dizendo o que havia de importantena comunidade. Subimos morros, descemos por cachoeiras, até encontrar olugar que eles diziam “ser bonito” e que merecia ser filmado. Mesmo diante datimidez, eles se colocavam na frente da filmadora e falavam dos seus lugares. O segundo passo foi pesquisar junto aos moradores da comunidadecomo eles viam e sentiam sua comunidade através de pesquisa oral extraclasserealizada pelos alunos: o comércio local, as manifestações religiosas, sociais,culturais. No meio do trabalho, foi inevitável, a história do distrito estava lá, todauma rica cultura que até então era tida como inferior: os engenhos de farinhade mandioca e cachaça, as fazedoras de tarrafa, os mestres na arte de fazercanoas de pesca, o boi de mamão, o terno de reis, a bandeira do Divino, aslavadeiras de cachoeira, a culinária de base açoriana, as benzedeiras, as ervasmedicinais, as histórias de assombração, as superstições, o trabalho masculinoe feminino, etc. Esse foi o primeiro grande momento. Nessa caminhada, nasceu o segundo grande momento, já interdisci-plinar, tendo como carro-chefe a disciplina de História, mas já envolvendooutras disciplinas, e, por fim, toda a comunidade escolar. Foi o momento dereunir a história de cada comunidade do distrito em uma feira cultural naescola, a qual demos o nome de Feira Cultural Histórica. Essa feira aconteceuem 2001 e movimentou todo o distrito. Cada sala de aula foi transformada emuma comunidade. De novo, a responsabilidade em apresentar as comunidadesera dos alunos. Cada comunidade ficou com uma sala de aula. Montamosambientes representativos de uma casa antiga, como exemplo: uma sala, umquarto, uma cozinha, os instrumentos de trabalho, os brinquedos, até umacapela foi montada na escola para mostrar como era o Morro Grande, aFigueira, o Parobé, o Ribeirão Pequeno, o Ribeirão Grande e a Madre, entre osanos de 1900 e 1950. Foram três dias de feira. Treze escolas da Laguna nos visitaram, incluindo escolas públicas eparticulares; mas o que mais me chamou atenção foi o orgulho de cada aluno emapresentar sua comunidade. Era de jovem para jovem, de jovem para adultos.Sem vergonha de mostrar a esteira, o alguidar, onde as crianças comiam.Sem vergonha de falar do peixe seco dependurado sobre o fogão a lenha. Foi

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  189surpresa ver alunos do centro da Laguna ouvindo os nossos estudantes comatenção e respeito. Por isso esse segundo momento foi tão marcante na históriada escola. Envolveu os professores, a direção e os funcionários. Dezenas depais e de outras pessoas que, mesmo achando um absurdo e uma loucura,emprestaram objetos, fotos, camas, guarda-roupas, mesas, canoa, carro de boietc. Não só emprestaram como foram visitar a feira. Muitos se emocionaram aose depararem com a reconstrução do seu cotidiano. Vi gente chorar diante dacadeira de dentista já toda quebrada, mas que reviveram diante dela toda umaparte de suas histórias, ou sorrirem ao verem no chão a esteira com o alguidarcom o pirão e peixe. Os olhos brilhavam ao reviverem cenas que fizeram partede suas vidas quando pequenos e que estavam esquecidas, apenas guardadas asete chaves em suas memórias. De 2001 a 2004, num trabalho de formiguinha, os alunos saíram em novapesquisa extraclasse, entrevistando idosos das comunidades, perguntandosobre suas infâncias, a fase da juventude, sobre tudo que envolvesse a história,a cultura do distrito de Ribeirão Pequeno. Mas o que fazer com todo essematerial produzido pelos alunos? Nasceu o sonho de se produzir um livro,mas onde angariar fundos para tamanha façanha? Foi quando, nas minhasandanças com alunos pelo centro histórico, conheci o Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (IPHAN). A parceria foi inevitável. AGizely, funcionária do IPHAN da Laguna tomou conhecimento donosso trabalho e da nossa vontade de trabalhar na preservação da memóriacultural do distrito do Ribeirão Pequeno. Estava selada uma amizade quese construía na afinidade da “Educação Patrimonial”. Foi quando fomosconvidados a participar do Concurso Tesouros do Brasil em 2004. Entrávamos no terceiro momento, que ocorreu no final de 2004.Reunimos todo o material que tínhamos: os escritos, o resultado dasentrevistas, fotos, filmagem, e montamos o projeto a ser enviado. Na corridacontra o tempo, o maior cuidado era respeitar o que os alunos haviam escrito.Foi um trabalho exaustivo com a participação do IPHAN da Laguna, que nosajudou e muito na elaboração do projeto, e, no último dia, postamos o trabalhoque foi enviado a São Paulo. O tempo passou e que surpresa agradável quando, no início de 2005, fomosinformados que estávamos classificados entre os 74 melhores trabalhos. Em salade aula festejamos a conquista, sentindo-nos vitoriosos diante de um concurso anível nacional. Foram 1.296 trabalhos inscritos, 617 escolas, envolvendo 13.663alunos. O tempo passou e, por fim, nos ligaram informando-nos que havíamosconquistado o primeiro lugar na categoria memória. Se já estávamos satisfeitoscom a classificação em 74o lugar, agora era só comemorar a tamanha façanha.

190  Colóquio NEA 30 anos de HistóriaComo uma escola do interior de Laguna poderia ter conquistado um prêmiodesses? Creio que pela simplicidade e pelo trabalho construído no coletivo, ondeeu também era aprendiz, fazendo o trabalho de mediador dessa caminhada. Durante o ano de 2005, vivemos o quarto grande momento, que foitransformar todo o material guardado, desde fitas com entrevistas, em umlivro, escrito pelos alunos, que pudesse contemplar fragmentos da culturalocal. Para isso, assistiram aos vídeos produzidos nos anos anteriores. Emdupla, transformaram esse documento visual em documento escrito; leram asproduções textuais realizadas pelos alunos em anos anteriores e reescreveramesses textos numa linguagem mais parecida com a deles. Foi elaboradauma carta, a respeito dos trabalhos que aconteceriam, a qual foi lida noscultos dominicais da Igreja católica de cada comunidade, e os idosos foramconvidados a participar, enviando receitas, histórias de assombrações, históriado lugar, histórias de famílias etc. Mais de uma dezena de idosos participaramenviando textos escritos a mão, que estão arquivados. Foram coletadas mais de300 fotos antigas referentes às pessoas e às comunidades. Cada dupla de alunossaiu pela comunidade em busca dessas fotos, selecionamos as que mais nosinteressavam e as arquivamos em CD. Formaram-se equipes por comunidade(abrangendo alunos da 5a, 6a, 7a e 8a série): em cada equipe de 4 a 6 alunosforam escolhidos dois líderes para organização do trabalho. O objetivo eraentrevistar os idosos. As perguntas foram elaboradas por eles sob minhamediação. Agora as pesquisas tinham um caráter mais científico. Nessa etapado trabalho, eu chamava os alunos de “historiadores”. Os temas pesquisados foram: a história do lugar – desde a chegadados índios, passando pela chegada dos vicentinos, dos açorianos, negros edos imigrantes europeus; origem do nome das comunidades; a economia dascomunidades entre os anos de 1900 e 1950; os meios de transporte (canoa, treme carro de boi); a cultura: como eram os nascimentos (trabalho das parteiras),os registros (muitos só se registravam quando iam casar), os brinquedos e asbrincadeiras de criança; a educação dada pelos pais e na escola (fez-se umhistórico minucioso sobre as escolas das comunidades); como era ser jovem:diversão (bailes, domingueiras, pereiras, blocos carnavalescos, carnavais, ofutebol, terno de boi e terno de reis, reizado, a bandeira do Divino, serenatas,ratoeira, pau de fita, pão por Deus, boi na vara, etc.); os namoros nos passeios;os casamentos, os fugidos, a prostituição; as rezas (missas e terços, passandopelo histórico de cada Igreja até a chegada dos protestantes no distrito); comoera a vida em família; como eram as casas; os paióis, os objetos das casas e osinstrumentos de trabalho; a culinária (receitas antigas de doces e salgados);o papel da mulher e o papel do homem na comunidade; as benzedeiras, oscurandeiros, receitas dos chás da época; as superstições; as adivinhações

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  191e as sortes que faziam; as assombrações (aspecto importantíssimo da nossacultura que está morrendo); os pasquins; os mendigos que transitavam peloscaminhos; os borrachudos (inseto que inferniza as pessoas) como parte dacultura; como era morrer naquela época, entre outros temas abordados. As escritas das entrevistas eram realizadas em dupla; depois foram feitasdiscussão em sala de aula dos resultados, incluindo a autoavaliação de cadaaluno. No computador, sistematizei os textos de forma temática. No decorrer do trabalho, senti a necessidade de registrar em vídeoalgumas entrevistas, também, como valorização dos entrevistados que,durante o ano de 2005, por várias vezes receberam os alunos e ficaram horasconversando com eles. Através de encontros extraclasse nos finais de semanaou à noite, me reunia com os alunos de uma determinada comunidade e, coma câmara em mãos, íamos até as casas dos entrevistados e lá os alunos e eufazíamos perguntas e registrávamos tudo e, novamente, elaborávamos novostextos. Estão guardadas em vídeo entrevistas de aproximadamente 27 idosos. Desde 2006 estamos integrados à Fundação Lagunense de Cultura daPrefeitura Municipal de Laguna e ao Núcleo dos Estudos Açorianos (NEA)da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresentando-nos nasfestas do Açor, que acontecem a cada ano em uma cidade diferente do litoralcatarinense, além de inúmeras apresentações em eventos culturais e religiosos.A inclusão no NEA foi um marco na caminhada do grupo. Podemos considerarcomo o grande quinto momento. Até o ano de 2006 havíamos identificado os aspectos da cultura queconsideramos mais significativos e registramos em um projeto de livro. Daísurgiu um novo objetivo, o de valorização da cultura. Foi quando nasceua ideia da formação de um grupo permanente de cultura que tivesse comoobjetivo maior estar sempre preparado para, em datas significativas, apresentara cultura do distrito do Ribeirão Pequeno. O nome mais significativo foi de“Casa da Dindinha”,6 representando toda a cultura material e imaterial queocorria e ocorre no espaço das casas das famílias de nosso povo. Em 2007, realizamos a Festa da Cultura no lugar da festa junina da escola.Esse foi o sexto grande momento. As apresentações foram: brincadeiras de6 “Dindinha” é uma forma carinhosa de chamar a vovó na cultura açoriana. Foi feita uma eleição entre os alunos para escolha do nome do grupo de dança que estava nascendo. Venceu o nome “Casa da Dindinha”, porque era na casa da dindinha que a manifestação da cultura de base açoriana se manifestava, principalmente nas rodas de conversa à noite, após a ceia, sob a luz de lamparina. Também porque se percebeu a importância da mulher da época, que, apesar de se dizer que elas “ajudavam” seus maridos, na realidade a decisão de todo o processo familiar estava praticamente em suas mãos.

192  Colóquio NEA 30 anos de Históriacrianças de antigamente pelos alunos das séries iniciais;7 apresentação de umadança mostrando o processo de fabricação da farinha de mandioca; a dança dochimango;8 pau de fita cantado;9 ratoeira; bandeira do divino; terno de reis demoça; serenata; boi de mamão;10 os pereiras.11 Nesse evento, fomos agraciadoscom a presença do Grupo Arcos de Biguaçu, sob a coordenação de Ana LúciaCoutinho,12 dos índios da aldeia Mybiã de Imaruí13 e do pesquisador Gelci JoséCoelho, mais conhecido como professor Peninha, que depois nos escreveufalando da emoção em participar da nossa festa:7 Cantigas de roda que eram realizadas nos finais de tarde em frente de alguma casa ou na praça da comunidade e nas escolas no horário do lanche.8 A dança do chimango foi um resgate importante. Há mais de quarenta anos não se dançava essa música nos salões das comunidades. Quando apareceu nas entrevistas esse nome, a princípio pensávamos que se tratava de um queijo. Depois descobrimos que se tratava também de uma dança. Um casal de idosos lentamente foi lembrando a letra e os passos da dança. Hoje, é uma das danças mais importantenas apresentações do grupo.9 Para nossa surpresa, descobrimos que o pau de fita também era dançado em época de Carnaval. Nesta Festa da Cultura, apresentamos essa dança com um senhor idoso tirando versos e os alunos vestidos a caráter com roupas brilhosas lembrando o tempo do Entrudo, do Carnaval.10 Hoje, o boi de mamão é apresentado nos eventos culturais. Nas entrevistas nos contaram que o boi de mamão poderia se apresentar em qualquer tempo. Também quando uma família mudasse de casa, era comum o boi se apresentar para trazer alegria ao casal na nova moradia.11 O pereira era uma brincadeira do tempo do Carnaval: os homens de vestiam de mulher, com várias saias e/ou vestidos um por cima do outro e com o rosto coberto com panos. O legal da brincadeira era descobrir quem era o pereira. Com tambores cantavam músicas de carnaval embalados a muita bebida alcóolica. Saíam pelas ruas das comunidades cantando, dançando e jogando água nas pessoas que encontrassem pelo caminho.12 Ana Lúcia Coutinho é considerada a madrinha do nosso grupo. Em 2006, quando aconteceu o Açor em Laguna, ela nos procurou. Era um sábado, por volta do meio dia. Chegou perguntando se ali morava o professor Laércio. Disse que era eu, convidei-a para entrar, e ela foi me entrevistando. Acabou almoçando conosco e, à tarde, a levei até a comunidade de Ribeirão Pequeno, para lhe mostrar um pouco dos fragmentos da cultura local. Chegando a um alambique no sertão da comunidade conhecida como Coloninha, ficou encantada com a fala do proprietário. Ligou dali para o Joi Cletison falando do encantamento do que via, e disse: “Joi parece que estou no interior das ilhas dos Açores. Estou conversando com um senhor que falava como os homens do interior do arquipélago dos Açores”. Disse ainda: “Não podemos deixar de apresentar o trabalho desse professor no Açor”. Assim, nos cedeu o estande que seria do Grupo Arcos, para que mostrássemos o nosso museu itinerante. Daí em diante, estamos unidos ao Joi e ao NEA.13 A presença dos índios emocionou a todos, pelo belo espetáculo cultural através da dança e pelo fato de que tudo começou com eles. Eles foram os primeiros moradores do que hoje chamamos de distrito do Ribeirão Pequeno da Laguna.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  193 “Aconteceu um fenômeno na comunidade de Ribeirão Pequeno em Laguna.Uma estradinha ruim, péssima, perigosa, contorna a lagoa de Santo Antônio dosAnjos. Indo a dentro passamos por diversas comunidades como Figueira, Parobé,Madre, enfim, chegamos a Ribeirão Pequeno. Gente, gente, muita gente de todasas gerações e de todo tipo. Destaque para os belos índios e índias guarani queprovocaram emoção, admiração e encantamento. Lágrimas lavaram o salão. Foide extrema beleza, de tanto que é todos choramos. Reuniram na festa tambémo exemplo de organização e esclarecimento cultural realizado pelo Grupo Arcosde Biguaçu, apresentando danças folclóricas dos Açores e os reflexos da herançacultural que se apresenta indelével em nossas almas descendentes dos açorianos.Foi lindo! Lindo mesmo. Mais lindo ainda foi o que a comunidade apresentou,com a participação das crianças, jovens, adultos e o povo da sabedoria, os avós.Estavam lá, bem satisfeitos de si e de seus rebentos. Simples, mas bonitos, educados,receptivos. Vai me explicar! É uma gente muito querida. É isso. Foi incrível a noitede 30 de junho em Ribeirão Pequeno. Todos devoram com os olhos, os ouvidos, asmagníficas apresentações, as cantorias do Divino Espírito Santo, o Terno de Reisdas Moças, a dança do Ximango, a Quadrilha apresentando todo o processo deconfecção da farinha de mandioca, o Pau de Fitas duplo, o Pão por Deus, a Serenata,a Ratoeira, o folguedo do Boi de Mamão, as brincadeiras cantadas pelas crianças,o Zé Pereira, os mascarados e tudo o mais, sem esquecer a consertada quentinha,as roscas, o beiju, cuscus, pinhão, amendoim, pamonha e uma quantidade evariedade de doces deliciosos de gritar de alegria e foi o que aconteceu. Embriaguei-me de luz, quer saber, fiquei maravilhado. Agradeço por ter vivido o momento dedizer que não precisamos de esperança, ela já é e está apresentada pela Educação.Parabéns! Felicidade para toda aquela gente daquela região de Laguna. As pessoasenvolvidas na organização da noite cultural no salão paroquial da Igreja de SãoBrás, envolvendo todos os colégios, as comunidades, os apoios que receberam forammerecidos e merecem toda a consideração das autoridades, empresários, as igrejas,as instituições particulares e as municipais, as estaduais e as federais. Nem consigodestacar nenhum nome, pois todos foram de extremo significado e digo de novo,muito obrigado, gente amada, principalmente pelos professores abnegados e todosos estudantes e familiares de Ribeirão Pequeno, mas com uma alma imensa. Digo denovo, obrigado pela vivência”. (Gelci José Coelho – Peninha –, inverno de 2007). Nesse mesmo ano, recebemos o troféu açorianidade (troféu Ilha de SantaCatarina), que homenageia a cada ano uma escola do estado pelo trabalhorealizado em prol da cultura de base açoriana.1414 A presença dos índios emocionou a todos, pelo belo espetáculo cultural através da dança e pelo fato de que tudo começou com eles. Eles foram os primeiros moradores do que hoje chamamos de distrito do Ribeirão Pequeno da Laguna.

194  Colóquio NEA 30 anos de História No dia 30 de outubro de 2010, mais um marco na história dacaminhada desse grupo: o lançamento do livro: “Memória. Um patrimônioirrenunciável. Comunidades do distrito de Ribeirão Pequeno da Laguna”, oqual representou o sétimo grande momento. Mais de uma dezena de idososque participaram das entrevistas se fizeram presentes nesse evento, e foramchamados a compor a mesa um a um, sendo chamados, por mim, como mestresdos saberes e fazeres da cultura local. Cada um recebeu um livro como formade agradecimento pelas entrevistas, pelas vezes em que nos receberam em suascasas para falar da infância, da juventude, do trabalho, da religiosidade, dascrenças. Nesse dia, os agraciamos com uma mesa farta da culinária local, umverdadeiro “café da roça”. Estiveram presentes nesse evento alunos, professores, os entrevistados,pessoas das comunidades que formam o distrito, amigos, familiares, alémde autoridades do município da Laguna, do IPHAN, a professora Dra. DeisiScunderlick Eloy de Farias, professora da UNISUL que acompanhou todo oprocesso de construção do livro, realizando um trabalho de orientação. Alémdisso, tivemos a grata satisfação pela presença de professor Joi Cletison.15 Em 2013, novamente fomos agraciados com mais um troféu açoria-nidade, agora, com o troféu Ilha Terceira, que homenageia, a cada ano, umgrupo folclórico. Concluindo este artigo, gostaria de dizer que, a cada ano vencido, maiorvisibilidade e respeito conquistamos com o nosso trabalho. Assim, vamoscantando e dançando, e contando um pouco da nossa cultura local, que é debase açoriana, pelas ruas, pelas praças, pelos palcos das cidades do litoral deSanta Catarina. Foi o resultado desse trabalho que nos trouxe a esse colóquio,para que compartilhássemos um pouco das flores e dos espinhos que colhemosnessa caminhada. Assim, falamos no colóquio da nossa experiência e agoraescrevemos. Com certeza não dissemos tudo. Apenas pincelamos pequenosfragmentos dessa cultura tão rica, tão bela, que não é superior e nem inferior atodas as culturas espalhadas por esses chãos do nosso planeta. O que queremosdo nosso trabalho é mostrá-lo, é dizer:15 Depoimento de Joi Cletison no dia: “As histórias que o Laércio está contando são muito parecidas com as que existem onde eu moro, Florianópolis. É fundamental esse registro que o Laércio fez com maestria e devolver isso a comunidade. Isso que ele está fazendo hoje com o Grupo Casa da Dindinha, coroando com esse trabalho maravilhoso aqui no distrito do Ribeirão Pequeno. O NEA trabalha com 45 cidades do litoral de Santa Catarina, valorizando essa identidade cultural que o açoriano deixou aqui, na religiosidade, no jeito de falar, no seu saber fazer, no artesanato, na arquitetura. Tudo isso, que o açoriano trouxe pra cá e deixou na costa catarinense, esse é o objeto de trabalho dos professores açorianos”.

Preservando a herança cultural açoriana em Santa Catarina  195ei, você... você mesmo. Queremos que você nos conheça, a nossa formade fazer, de saber, de sentir, de viver, nesse pequeno espaço de terra,entre os morros e a lagoa Santo Antônio, chamada distrito do RibeirãoPequeno da Laguna, através da Associação Grupo de Cultura Casa daDindinha.



Garopaba: de vila de pescadores a cidade turística Cleide de Souza Até o início dos anos de 1980, não havia entre os moradores nativos deGaropaba percepção de que a cultura que lhes dava identidade era de origemaçoriana. Os moradores estavam se deparando com pessoas de outras culturas,trazidas pelo turismo, e não se identificavam com a maneira de ser e viverdesses visitantes. Nessa mesma época, a Secretaria Municipal de Educação e Culturaconhece os trabalhos do NEA e passa a promover ações relativas ao despertarda cultura açoriana, realizando palestras, inserindo a cultura açoriana nocurrículo escolar, fazendo com que as pessoas se reconheçam como parte dessacultura e reativando movimentos e grupos que estavam sendo desvalorizados eesquecidos pelos moradores locais, como o caso do Grupo São Luiz Gonzaga,que faz a cantoria do terno de reis e a do Divino. A realização do VII AÇOR, em Garopaba, no ano de 2000, levou paraa praça a riqueza da cultura açoriana, fazendo moradores de Garopaba,reviveram lembranças de suas infâncias e promovendo um grande encontrode bairros e festividade local. O que gerou um grande contentamento napopulação e solicitou às autoridades locais a permanência de uma festa anualque reunisse todos os bairros e suas manifestações culturais. Surgiu então aquermesse comunitária de Garopaba. A quermesse deu continuidade como evento no qual ocorremapresentações diversas, tomando por base a cultura açoriana, mas, porcausa da popularidade, viu a necessidade de agregar outras manifestaçõesculturais, provindas dos mais diversos povos que chegavam a Garopabapara habitar.

198  Colóquio NEA 30 anos de História Destaca-se que, após a cultura açoriana ter sido colocada em evidência,outras culturas foram sendo reveladas, como a quilombola. Com os estudosfeitos pela Universidade Federal de Santa Catarina, o quilombo Morro doFortunato passou também a se evidenciar, por ter relações com hábitos dacultura açoriana. O modo de prestigiar e preservar os patrimônios materiais e imateriaislocais também passou a ser mais cuidadoso e singular. São patrimôniosmateriais de destaque em Garopaba: as construções açorianas ‒ como igrejado centro histórico ‒, a capela da Praça central, as casas do centro na rua dospescadores, os engenhos de farinha, o boi de mamão, São Luiz Gonzaga entreoutros; e são patrimônios imateriais: cantoria do terno de reis e cantoria doDivino, a culinária, a pesca artesanal, as festas religiosas: festa do Divino, Festade Nossa Senhora dos Navegantes, procissão de Corpus Christi entre outrasatividades. Atualmente, uma das manifestações culturais de cunho açoriano quemais se destaca é Festa dos Navegantes, que tem como ponto alto a corrida decanoas de um pau só, que reúne outros municípios do litoral de Santa Catarina,numa grande festividade e competição. É importante ressaltar que as pesquisas feitas pelo Núcleo deEstudos Açorianos (NEA) trouxeram grandes benefícios aos municípios decolonização açoriana, não só pelo resgate da cultura, modo de viver e destaquede patrimônios imateriais, mas pelos laços afetivos e de amizades entre osmunicípios que fazem parte do entorno de pesquisa do NEA, que hoje faz dolitoral catarinense uma grande rede que traz às praias as belezas da culturaaçoriana.

Cerâmica açoriana: memória viva de um povo Lourival Medeiros A arte das olarias em São José, SC, foi, por muitos anos, fonte de renda detradição cultural, além de grande legado deixado pelos imigrantes açorianos,na época em que a cerâmica utilitária produzida pelos mestres oleiros era derelevante importância para o desenvolvimento da cidade tipicamente de baseaçoriana. São José produzia peças de cerâmica para toda a região da grandeFlorianópolis, como também exportava para vários estados brasileiros, comoParaná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Tanta era a importânciada produção cerâmica que a cidade chegou a receber o título de Capital daLouça de Barro. A chegada do alumínio e do plástico como matéria-prima para osutensílios domésticos foi responsável, porém, pelo declínio e quase extinçãoda profissão dessa tradição milenar passada de pai para filhos, desde a históriade Protugal/Açores/Brasil. Lourival Medeiros, filho e neto de josefenses descendentes de açorianos,oleiro que assistiu e participou de todo esse processo, preocupado com operigo que corria a tradição da atividade do barro, resolveu criar o projeto“Cerâmica açoriana, memória viva de um povo”, que consistia em levar paraos Açores (centro da origem dos nossos oleiros) tudo o que foi mantido comrelação ao trabalho, desde as técnicas, formas, peças, nomenclaturas até aforma de trabalho com fornos etc. Ele desejava, com isso, possibilitar umatroca de cultura e experiência entre os artífices das várias regiões. Foi com essa missão que Lourival foi para os Açores visitar várias ilhase colocar em prática seu projeto para fomentar e registrar toda a informaçãonecessária para diagnosticar o que estava acontecendo nas várias regiões comrelação ao processo em que vivia a tradição das olarias. Chegando lá, ficoumaravilhado por estar pisando em terras de sua origem e cultura, mas tambémdesapontado com o que foi descobrindo, pois esperava encontrar muitos

200  Colóquio NEA 30 anos de Históriaoleiros em várias ilhas e poder experienciar troca de informações até de formaespiritual com seus irmãos de trabalho. Diz Lourival Medeiros: Eu que pensava encontrar muitos oleiros e até me sentia constrangido em mostrar o pouco que sei a esses mestres que iriam ter muito mais a me ensinar do que eu a eles, acabei foi descobrindo que já não havia quase nenhum oleiro trabalhando; acabei foi dando oficinas para crianças, adolecentes e adultos, os quais muitos já nem conheciam o jeito de se trabalhar com o barro. Na ilha de São Miguel, mais precisamente na Olaria Museu de Vila Franca do Campo, ministrei oficinas e conheci alguns oleiros muito idosos que não trabalhavam mais e não passaram seu conhecimento, pois diziam que já não existia interesse em aprender. Conheci o único oleiro, o João da Rita, com sua olaria produzindo mais peças em miniaturas para venda a turistas. Com ele, tive, sim, uma experiência que jamais me esquecerei. Para mim, esse homem tinha mais de mil anos de conhecimento e trazia consigo o mesmo jeito, a mesma alma dos oleiros de São José. Depois nada mais, além da empresa Cerâmica Veira, que produz, em larga escala, peças com esmaltes branco e azul. Na ilha Terceira, em Angra do Heroísmo, conheci a Olaria São Bento, com o jovem e exímio oleiro Ricardo Simas, o único oleiro que encontrei produzindo as peças em tamanho original com tamanha maestria que, realmente, me provocou emoções diversas e que foi de valiosíssima importância para nossas trocas, dando verdadeiro sentido ao meu projeto. À parte disso, na ilha de Santa Maria, só encontrei um torno parado em uma casa paroquial, na qual ministrei oficina a duas pessoas, às quais dediquei uns dias a ensinar algumas técnicas para elas desconhecidas, já que tinham recebido, há uns anos, aulas de um oleiro que veio de Portugal e lhes deu noções básicas da roda de oleiro. Foi importante o que repassei para elas, mas precisaria muito mais para formá-las melhor. Foi aí, então, que Lourival Medeiros se deu conta de que o que tinhaacontecido nas ilhas do arquipélago açoriano estava a acontecer também emSão José, por falta de uma atenção mais cuidadosa quanto à importância dessetesouro cultural. Então, ao voltar ao Brasil, depois da execução desse projeto e de realizarpalestras como contrapartida pelo trabalho desempenhado nos Açores, Lourivalsentiu a necessidade urgente de dar continuidade ao seu projeto, principalmenteno tocante à formação de novos oleiros, tanto em São José quanto nos Açores,que, mais que tudo, necessita desse amparo para o resgaste da sua tradição. Por isso, hoje ele prepara sua volta a Portugal, depois de ter permanecidoà frente da Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros, em São José. Agorasuas vistas se detêm na parte continental do país português para complementaro seu trabalho de pesquisa.


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