Introdução crítica aos pensamentos sociológicos de Marx, Durkheim e Weber, Draft lecture Script. Autor: Peter R. Beck, Departamento de sociologia, UEM, 09/2020; [email protected] estabelecida. A referência às interpretações funcionalistas de Parsons, e utilitaristas de Giddens, que foram criticados por vários direções como por exemplo, por Alvin Gouldner e Wright Mills no que concerne o Parsons e a sua versão de um funcionaismo utilitarista, yuma tendência que o funcionalismo de Merton quis mitigar, - o debate sociológico sobre a teoria de dualidade estrutura de Giddens ainda faz falta de perspectiva critica - não quer contradizer a tese sobre o caracter pluridimensional da sociologia contemporânea. Mas além destas diferencias, uma observação que atribuímos ao facto que cada uma das perspectivas teóricas fazer referência a diferentes tradições da filosofia de pós- esclarecimento. Estas diferenças paradigmáticas que caracterizam, desde o seu início, a sociologia e o seu pluralismo teórico, são responsáveis para a criação de modelos teóricos competitivos para estudo de fenómenos sociais: assim o paradigma estruturalista e estruturo-funcionalista que fica na tradição de Durkheim parte analisar escolas e comportamentos individuais em função dos constrangimentos estruturais e como consciências e perspectivas individuais e contextos institucionais e estruturais se afectam mutualmente. Visto de uma perspectiva hermenêutica, o estudo vai concentrar sobre as construções de sentido, de senso comum, e como estas construções moldam perceções, escolhas racionais e comportamentos individuais e coletivos num dado contexto e num dado grupo alvo. Todavia, as diferentes perspectivas teóricas, os diferentes paradigmas, partilham e têm, no seu fundo, este mesmo axioma de adaptação. Diferem na maneira como abordam e estudam os processos e formas desta adaptação. Aqui reside a cumplicidade teórica entre Weber e Durkheim, e a oposição axiomática com Marx. Importa salientar esta clivagem que só se revela em relação com a filosofia de esclarecimento e, antes de tudo, com esta de Kant. No entanto, e apesar das diferencias axiomáticas que resultam deste posicionamento diferente vis-à-vis a filosofia do esclarecimento e o seu programa social, os sociólogos da primeira geração nunca perderem de vista a influencia estruturante do capitalismo sobre todos os aspectos da vida social fornecendo exemplos antecipados sobre aquilo que, mais tarde, Mills caracterizou com a essência da imaginação sociológica: a capacidade de descriptar em cada fenómeno individual, o peso dos factores estruturais completado pela reconstrução do seu caracter histórico e socialmente construído que viu com o método mais eficaz para sair das construções e convicções de senso comum. Significa, para a sociologia actual, de reconhecer que hoje em dia, esta influência estruturante sobre a articulação dos fenómenos sociais, políticos, culturais e económicos vem da economia neoliberal que representa a vitória ideológica dos interesses corporativos sobre os interesses democráticos. Até, como conseguimos ver, infetaram as teorias de justiça que tão facilmente enquadra no paradigma neoliberal codificado no ‘Consenso de Washington’ e que devia ser chamado o ‘Consenso de Wall street’, o consenso de especulação financeira. A versão neoliberal do capitalismo, com já indica o termo, refere a uma ideologia antiga utilizando as avanças técnicas da nova globalização, a primeiro sendo esta de imperialismo e de colonialismo. Virou as costas á uma versão capitalista mais inclusiva, mais redistributiva que caracterizou o desenvolvimento dos países industrializadas depois da 2ª 251
Introdução crítica aos pensamentos sociológicos de Marx, Durkheim e Weber, Draft lecture Script. Autor: Peter R. Beck, Departamento de sociologia, UEM, 09/2020; [email protected] guerra mundial e que foi mais em acordo com a experiência desastrosa provocado pelo capitalismo descontrolado e ‘liberal’ e a sua associação com regimes fascistas que não somente caracterizou países com o Japão, a Itália ou a Alemanha, mas também os países que conseguiram evitar a catástrofe com a Inglaterra ou os EU. Tem em comum com estes regimes a hostilidade contra as uniões de trabalhadores e contra a contestação de direitos de propriedade.547 Representa o paradigma dominante actual infiltrando tanto todos os sectores de actividades, quanto as representações intelectuais: perspectivas, abordagens e quadros teóricos científicos incluindo sociológicos. Um desenvolvimento que ganhou forca através da infeliz ‘reforma’ de Bologna que, em conjunto de programas de pós- graduação financiado pela indústria de desenvolvimento, tenta por fim ao ensino crítico e a uma sociologia critica e tornar sociólogos e a sociologia de uma teoria de sociedade, num veículo de engenharia social intelectualmente incapaz de questionar o senso comum capitalista e, por conseguinte, derrubado da sua capacidade de aplicar o método da ‘imaginação sociológica’, ou seja, como notou o doutor Rieux na novela sobre ‘La Peste’ de Camus, “de fazer o seu trabalho”.548 Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon e Jean- Claude Passeron, no ensaio sobre a profissão do sociólogo avisaram contra o perigo de não problematizar este senso comum transportado para os conceitos cujo significado está a dar a falsa ideia de clareza, uma falsa impressão que afecta a validade dos métodos de pesquisa. Como notou Bernard Dantier num breve comentario sobre o ensaio dos tres autores : « tester des hypothèses, c’est les confronter à des données qu’en fonction d’elles on extrait du monde social. Le questionnaire, l’entretien font partie des techniques qui procurent ces données. Mais ces techniques ne sont pas neutres : en effet, les données risquent d’être autant produites par le questionnaire ou l’entretien que par les individus ou les groupes que l’on interroge et sur lesquels ainsi on s’expose à ne recevoir que des connaissances à la fois partielles et déformées. » 549 Sem abordar e resolver a problemática de rutura com as construções de senso comum a imaginação sociológica fica 547 Todavia, estes direitos de propriedade perdem o seu estatuto de direito humano quando representam obstáculos a expansão capitalista como demostram as políticas de expropriação dos agregados e comunidades ocupando espaços de interesse capitalista e criando laços de cumplicidade entre representantes de governo e industriais. Políticas de expropriação caracterizam a indústria mineira em particular, uma indústria cuja história revela a não-existência de fronteiras claras entre a economia legal, ilícita ou criminal. Quanto ao Moçambique os estudos de Silva & Osório sobre os investimentos mineiros em Tete e Cabo Delgado provocando expropriações maciças de populações derrubadas dos seus direitos costumeiros de propriedade têm o mérito de revelar o lado feio da ‘nova economia’, sem falar do seu potencial impacto desastroso sobre o equilíbrio ecológico e a mudança climática. 548 A reforma de Bologna aplica-se portanto o aviso de Bourdieu, Chamboderon e Passeron sobre “la soumission de la sociologie aux commandes politiques” que, através da via da ‘reforma’ tenta esconder este acto de submissão e de eliminação do pensamento crítico e autorreflexivo da sociologia. Le metier de sociologuewww.lebaron-frederic.fr: Le métier de sociologue. Préalables épistémologiques, 549 http://classiques.uqac.ca/collection_methodologie/bourdieu_et_al/fausse_neutralite_techniques/fausse _neutralite_texte.html 252
Introdução crítica aos pensamentos sociológicos de Marx, Durkheim e Weber, Draft lecture Script. Autor: Peter R. Beck, Departamento de sociologia, UEM, 09/2020; [email protected] presa no matagal de um senso comum que já não transporta as prenoções do mundo da vida, mas da economia capitalista cuja construção teórica desterrou o conceito de capitalismo e que não tem resposta teórica para explicar factos sociais com o surgimento de bilionários; um facto social que, conforme a logica da teoria neoclássica não devia existir. Vis-à-vis desta degradação da teoria económica que, na versão da teoria neoclássica, fica mais perto daquilo que a antropologia caracterizou como pensamento mágico, a sociologia devia, a imagem dos clássicos, reencontrar a sua voz face a economia política capitalista e sair deste lugar subalterno mas tão confortável deixado pela economia, isto é, o estudo das ações irracionais (Pareto), sintoma de uma sociologia tematicamente e epistemologicamente castrada. No fim, se defende aqui que querer organizar o estudo de ciências sociais que elimina o estudo sobre os fundamentos filosóficos que caracterizam e permitem entender e explicar os diferentes raciocínios científicos e, no que diz respeito a sociologia em primeiro chefe, o desenvolvimento e a coexistência de axiomas e paradigma teóricas terá por efeito de reduzir a capacidade para desenvolver um pensamento, uma atitude critica vis-à-vis a realidade e as construções de senso comum associadas com ela. No caso da sociologia clássica, é através da reconstrução destes fundamentos filosóficos que as diferencias axiomáticas e paradigmáticas que caracterizam as obras de Marx, Weber e Durkheim, não somente se tornam visíveis, mas também explicáveis. 253
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