J. W. Vesentini V‰nia Vlach MANUAL DO PROFESSOR Ensino Fundamental - Anos Finais GEOGRAFIA COMPONENTE CURRICULAR: GEOGRAFIA
3a EDIÇÃO J. William Vesentini SÃO PAULO, 2018 Livre-docente em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP) MANUAL DO Doutor em Geografia pela USP PROFESSOR Professor e pesquisador do Departamento de Geografia da USP Especialista em Geografia Política/Geopolítica e Ensino de Geografia Professor de educação básica na rede pública e em escolas particulares do estado de São Paulo por 15 anos V‰nia Vlach Doutora em Geopolítica pela Université Paris 8 Mestra em Geografia Humana pela USP Bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por 4 anos Professora do Curso de Graduação e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por 22 anos Professora de educação básica na rede pública e em escolas particulares do estado de São Paulo por 12 anos Ensino Fundamental - Anos Finais GEOGRAFIA COMPONENTE CURRICULAR: GEOGRAFIA
Direção geral: Guilherme Luz Direção editorial: Luiz Tonolli e Renata Mascarenhas Gestão de projeto editorial: Mirian Senra Gestão de área: Wagner Nicaretta Coordenação: Jaqueline Paiva Cesar Edição: Mariana Albertini, Bruno Rocha Nogueira e Tami Buzaite (assist. editorial) Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga Planejamento e controle de produção: Paula Godo, Roseli Said e Márcia Pessoa Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.), Ana Curci, Ana Paula C. Malfa, Arali Gomes, Brenda T. M. Morais, Célia Carvalho, Daniela Lima, Flavia S. Vênezio, Gabriela M. Andrade, Hires Heglan, Luciana B. Azevedo, Luís M. Boa Nova, Patrícia Travanca, Paula T. de Jesus, Sueli Bossi, Vanessa P. Santos; Amanda T. Silva e Bárbara de M. Genereze (estagiárias) Arte: Daniela Amaral (ger.), Claudio Faustino (coord.), Simone Zupardo Dias, Lívia Vitta Ribeiro e Karen Midori Fukunaga (edição de arte) Diagramação: Arte ação Iconografia: Sílvio Kligin (ger.), Denise Durand Kremer (coord.), Daniel Cymbalista e Mariana Sampaio (pesquisa iconográfica) Licenciamento de conteúdos de terceiros: Thiago Fontana (coord.), Luciana Sposito (licenciamento de textos), Erika Ramires, Luciana Pedrosa Bierbauer, Luciana Cardoso e Claudia Rodrigues (analistas adm.) Tratamento de imagem: Cesar Wolf, Fernanda Crevin Design: Gláucia Correa Koller (ger.), Adilson Casarotti (proj. gráfico e capa), Gustavo Vanini e Tatiane Porusselli (assist. arte) Foto de capa: Robert Harding World Imagery/Getty Images Todos os direitos reservados por Editora Ática S.A. Avenida das Nações Unidas, 7221, 3o andar, Setor A Pinheiros – São Paulo – SP – CEP 05425-902 Tel.: 4003-3061 www.atica.com.br / [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Julia do Nascimento - Bibliotecária - CRB-8/010142 2018 Código da obra CL 713503 CAE 631687 (AL) / 631688 (PR) 3a edição 1a impressão Impressão e acabamento II MANUAL DO PROFESSOR
Apresentação Esta coleção é o resultado de muitos anos de prática docente e de reflexões sobre qual Geografia ensinar na escola para o século XXI, com a preocupação não apenas de transmitir conhecimentos e levar o aluno a dominar determinados conceitos da disciplina, mas principalmente de desenvolver nos estudantes determinadas competências, habilidades e atitudes democráticas. A nosso ver, a escola para o século XXI exige, antes de mais nada, uma geografia escolar que enfatize a compreensão dos potenciais e também dos problemas do mundo em que vivemos, da região, do país, bem como do lugar onde moramos, incentivando o aluno a raciocinar sobre textos, mapas, gráficos, charges e fotos de variados lugares do Brasil e do mundo. Nosso intuito é levar o aluno a refletir sobre o seu local de moradia e desenvolver nele o espírito crítico e a consciência de cidadania ativa. Isso porque é papel da escola despertar nos jovens a consciência de direitos e deveres, de comprometimento com a sustentabilidade e com os direitos de cidadania. Nesse sen- tido, acreditamos que a coleção atende aos objetivos do ensino da Geografia para os Anos Finais do Ensino Fundamental, conforme a BNCC1: Essa é a grande contribuição da Geografia aos alunos da Educação Básica: desenvolver o pensamento espacial, estimulando o raciocínio geográfico para representar e interpretar o mundo em permanente transformação e relacionando componentes da sociedade e da natureza. Para tanto, é necessário assegurar a apropriação de conceitos para o domínio do conhecimen- to fatual (com destaque para os acontecimentos que podem ser observados e localizados no tempo e no espaço) e para o exercício da cidadania. Compreendemos, pois, que não se desenvolvem competências e habilidades sem raciocínio a partir de conhecimentos e conceitos científicos. É claro que, sempre que possível, os conteúdos e conceitos devem ser “reelaborados” ou “reconstruídos” pelos alunos por meio da reflexão sobre questões, a partir da interpretação de textos, mapas, anamorfoses, gráficos e outras ilustrações, de maneira que descubram que os conhecimentos só têm sentido na prática, na compreensão do nosso mundo. Dessa forma, nesta coleção não se elimina a necessidade de ensinar ou explicar conceitos científicos essenciais – não apenas aqueles mais identificados com a ciência geográ- fica e arrolados na BNCC (paisagem, natureza, território, região e lugar), mas também outros que são fundamentais para entender a natureza e suas mudanças pela ação humana ou as relações inter-humanas, tais como o formato geoide da Terra, a ordem geopolítica mundial, a Revolução In- dustrial, a produtividade do trabalho e inúmeros outros, que são apresentados aos alunos de modo que possam ser compreendidos e internalizados, para que posteriormente possam ser aplicados e extrapolados por eles em exercícios ou questões pertinentes. Os materiais que compõem esta coleção foram pensados para contribuir com o fazer docente na tarefa de mediar o desenvolvimento de competências e habilidades nos alunos, sem, contudo, desconsiderar os conteúdos essenciais ao saber geográfico. Assim, tanto no livro impresso como no Manual do Professor digital, você vai encontrar atividades e encaminhamentos pedagógicos alinhados com essa concepção de ensino e pensados para apoiá-lo na sala de aula de forma a garantir o desenvolvimento das competências gerais e das específicas previstas na BNCC para o Ensino Fundamental – Anos Finais. 1 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, DF, 2018. III
SUMçRIO Orientações gerais 1 A proposta da Coleção ..................................................................V O estudo do espaço geográfico e o desenvolvimento de competências..............................VII A construção e a aplicação do saber no mundo globalizado.........................................................IX Temas transversais e trabalho interdisciplinar ............... X Estudos do meio ................................................................... X O papel do professor ...........................................................XI Avaliação ..............................................................................XII 2 Nossa Coleção........................................................................... XIII Conceitos e temáticas dos livros.....................................XIII Seções: objetivos e características.................................XIII O Manual do Professor .................................................... XVI 3 A BNCC em foco no 7o ano .......................................................XVIII Competências gerais da Educação Básica.................. XVIII Competências específicas de Ciências Humanas para o Ensino Fundamental .............................................XIX Competências específicas de Geografia para o Ensino Fundamental ......................................................XX Habilidades de Geografia ................................................ XXI 4 Textos de apoio para o professor............................................ XXII 5 Referências bibliográficas.....................................................XXXI IV MANUAL DO PROFESSOR
Orientações gerais por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos originários” (BNCC, p. 383). 1 A proposta da Coleção Além das unidades temáticas anteriormente citadas, trata- Do ponto de vista do ensino da ciência geográfica, esta cole- mos as unidades “Mundo do trabalho”, “Formas de representa- ção está alicerçada na orientação teórica conhecida nos meios ção e pensamento espacial” e “Natureza, ambientes e qualidade acadêmicos como geografia crítica – porém, em uma de suas de vida” nos 6o, 7o, 8o e 9o anos, procurando mostrar como se vertentes, a pluralista, como explicaremos melhor a seguir. Do articulam com as competências gerais, as competências espe- ponto de vista pedagógico, procuramos levar em conta o tipo cíficas de Ciências Humanas e as competências específicas de de ensino que vários autores e instituições (como a Unesco) Geografia, conforme a BNCC sugere. Abordamos, igualmente, as denominam “escola para o século XXI”, voltado para desenvolver questões da sustentabilidade, da cidadania, da democracia, da nos alunos determinadas competências, habilidades e inteli- empatia, da solidariedade humana e planetária. Dessa manei- gências múltiplas, envolvendo não apenas a compreensão de ra, buscamos contemplar as práticas socioemocionais deriva- conceitos e as formas de raciocínio, mas também fomentando das das competências gerais, no sentido do compromisso da atitudes democráticas. Dessa forma, a coleção vai ao encontro educação brasileira com a formação humana integral e com a do preconizado pela BNCC. construção de uma “sociedade justa, democrática e inclusiva” (BNCC, p. 9). Procuramos incentivar o aluno a refletir e debater ideias, a motivar-se para o estudo da dinâmica entre sociedade e nature- Em outras palavras, a geografia crítica que propomos é plu- za, para o estudo do espaço produzido pela humanidade, para os ralista e incorpora inúmeras vertentes teóricas: o ecologismo, problemas socioambientais de seu lugar de moradia, refletindo a geografia física renovada (em especial com a teoria dos sis- sobre possíveis soluções com ajuda dos colegas, contribuindo temas), o pensamento pós-moderno, a fenomenologia e, prin- para o desenvolvimento de seu espírito crítico e senso de cida- cipalmente, as mudanças que ocorrem no mundo, sobretudo a dania, duas propriedades interligadas e inseparáveis. partir do colapso das experiências autointituladas socialistas, com a ascensão de novos centros de poder no cenário mundial, Nesta nova edição, levamos em conta a BNCC para o Ensino a reorganização constante do espaço geográfico brasileiro e as Fundamental – Anos Finais. Fizemos, pois, algumas mudanças nos novas tecnologias que mudam a vida cotidiana das pessoas, em quatro volumes com vistas a atender às unidades temáticas, aos especial a dos jovens, para quem, afinal, esta coleção se destina. objetos de conhecimento e às competências e habilidades sugeri- das para cada ano. Além dos arranjos temáticos explicitados pelo Como nos identificamos com a geografia crítica, gostaría- documento oficial para cada ano, são apresentados outros temas e mos, inicialmente, de esclarecer alguns mal-entendidos: que objetos de conhecimento que dialogam com os arrolados na BNCC, esta seria oposta ou contraditória diante das demais geogra- colaborando para que o aluno desenvolva plenamente as habilida- fias renovadoras que surgiram nos últimos anos ou décadas des referentes à Geografia e as competências gerais da Educação (como a geografia da percepção, o uso da teoria dos sistemas na Básica (CGEB), as competências específicas de Ciências Humanas geografia física ou as geografias pós-modernas); e que criticar para o Ensino Fundamental (CECHEF) e as da própria Geografia consiste fundamentalmente em “falar mal” ou censurar alguma (CEGEF). coisa (o capitalismo, as desigualdades, a globalização, etc.). Nenhuma dessas interpretações, na verdade estereótipos, é Tendo em vista a abordagem das competências específicas de fato verdadeira. de nossa disciplina, e as respectivas habilidades, que se rela- cionam aos conteúdos, conceitos, processos dos objetos de co- Vamos começar pela noção de crítica, muitas vezes mal com- nhecimento, parece-nos importante explicitar nossa concepção preendida. O senso comum imagina que criticar é apenas “falar de geografia crítica pluralista. A geografia crítica que propomos mal” de algo, mas do ponto de vista científico, epistemológico e nesta coleção, cabe ressaltar, não elimina o estudo da natureza filosófico o significado é outro, mais complexo. Etimologicamen- em si. Nossa abordagem respeita as leis da natureza; no 6o ano, te, a palavra “crítica” vem do grego kritikòs, que significa o ato de por exemplo, trabalhamos “as relações entre os componentes examinar ou julgar alguma coisa. Essa palavra é um derivativo físico-naturais” na unidade temática “Conexões e escalas” (BNCC, do vocábulo grego krinò, entendido como a capacidade de dis- p. 360) para, entre outras habilidades, “relacionar padrões cli- tinguir, de estabelecer uma distinção. Portanto, para os gregos máticos, tipos de solo, relevo e formações vegetais” (BNCC, p. da Antiguidade, que criaram esse vocábulo, crítica implica um 383). Paralelamente, mostramos de que maneira os elementos ato reflexivo no qual se avalia ou examina alguma coisa: uma da natureza são apropriados pelo ser humano, em sua luta pela ideia, uma teoria, um comportamento, uma peça de teatro ou vida e, consequentemente, em seu processo de organização e uma obra literária. Uma avaliação tanto dos aspectos positivos reorganização do espaço geográfico, em suas diferentes esca- como dos negativos, um julgamento da “qualidade” dessa coisa, las e ao longo da história da humanidade. Nesse mesmo ano, de sua validade ou veracidade (total ou parcial) e de seus erros contemplamos a unidade temática “O sujeito e seu lugar no mun- ou equívocos (idem). Esse é o significado original e até hoje do” (BNCC, p. 360) de maneira a “comparar modificações das paisagens nos lugares de vivência e os usos desses lugares em diferentes tempos” e a “analisar modificações de paisagens MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL V
empregado nos meios científicos. Portanto, criticar significa ou antinomia. A geografia crítica não denega, não se contrapõe antes de tudo avaliar ou julgar alguma coisa (negativa ou po- ao uso da teoria dos sistemas na geografia física; pelo contrá- sitivamente), o que pressupõe discernimento e conhecimento rio – como enfatizaram autores que se identificam ao mesmo profundo para se ponderar sobre os prós e os contras daquilo tempo com a geografia física e com a crítica4 –, considera esse que é criticado.2 procedimento renovador nesses estudos. Ela tampouco deixa de lado (nem se opõe) a abordagem fenomenológica (centrada Como enfatizam vários expoentes da epistemologia, entre na percepção do lugar) ou as abordagens pós-modernas (que, os quais Karl Popper, a atitude crítica é fundamental no conhe- simplificando, enfatizam inúmeros sujeitos ou agentes, vários cimento científico, pois possibilita o diálogo entre correntes discursos válidos e não apenas uma única verdade; tudo depen- de pensamento, correções e melhoramentos de uma teoria, de dendo do ponto de vista pelo qual uma realidade é analisada). A uma hipótese ou mesmo de um conceito, eventual abandono geografia crítica, na verdade, incorpora ou aproveita algo dessas de um caminho equivocado e a busca de outros. Sem atitude abordagens, que também podem — e devem (desde que de fato crítica não há avanço no conhecimento e, tampouco, democracia almejem alguma cientificidade) — ser críticas. É por esse motivo efetiva. Sem atitude crítica existem apenas dogmas (verdades que nesta coleção analisamos a natureza como sistema, por tidas como absolutas) e nunca conhecimento científico, que vezes apresentamos pontos de vista alternativos sobre uma pressupõe verdades relativas ou sempre provisórias, embora mesma questão e identificamos o conceito de lugar numa pers- importantíssimas para entender e agir sobre a realidade. É por pectiva subjetiva, de identificação com esse local. isso que vários intelectuais e cientistas importantes adotaram esse adjetivo para suas propostas: Paulo Freire e Henry Giroux Dessa forma, longe de apenas desdenhar ou até vilipendiar o com a “pedagogia crítica”, Karl Popper com o “racionalismo crí- capitalismo, a globalização ou mesmo a democracia, como pre- tico”, Theodor Adorno e Max Horkheimer com a “teoria crítica”, tendem alguns, a geografia crítica procura mostrar seus prós e diversos autores com a noção de “ciência crítica do direito”, e e contras, seus inegáveis avanços ou conquistas e, ao mesmo assim por diante. Como sabem e enfatizam todos esses autores, tempo, seus problemas e suas contradições. Procura mostrar além dos geógrafos que adotam a geografia crítica numa pers- isso, em uma obra educativa, com o objetivo (entre outros) de pectiva mais aberta e pluralista (Lacoste, Unwin, Short, Tuathail desenvolver o senso de cidadania nos alunos, pois não existem e outros), a moderna noção de crítica consolidou-se com Kant, cidadãos plenos – nem democracia – sem espírito crítico e o livre um iluminista (logo, adepto da ciência moderna e crítico das debate entre pontos de vista alternativos. E isso é o que esta tradições obscurantistas) e admirador dos direitos de cidadania coleção procura fazer; daí ela ser de fato uma geografia crítica, proclamados pelas revoluções americana e francesa. embora, reiteramos, associada a uma abordagem pedagógica ligada à concepção de uma escola para o século XXI – de induzir o Assim, a crítica é indissociável do avanço do conhecimento aluno a aprimorar suas competências, habilidades, múltiplas inte- científico, do livre pensamento e da livre troca de ideias, dos ligências e atitudes democráticas. E também, ou principalmente, direitos democráticos e de cidadania, do pensar por conta pró- é uma coleção que procura se adequar ao nível de compreensão pria de forma independente dos dogmas, sejam eles religiosos dos alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais, embora com o ou laicos. Nada mais distante do conceito moderno de crítica do objetivo de levá-los a crescer intelectualmente e a desenvolver que a noção vulgar de pensamento panfletário, de simplesmente as competências cognitivas e socioemocionais, o que implica “falar mal” – em vez de avaliar os prós e contras – do capitalismo, colocar em prática as habilidades sugeridas em cada capítulo. da globalização ou até da democracia representativa. Afinal, o que é a geografia crítica e quais são os seus pressu- Na Geografia, Yves Lacoste foi o primeiro a fazer uma abordagem postos metodológicos? crítica e a propor ao ensino – e à educação dos cidadãos em geral, a fim de que aprendam a “pensar o espaço para nele agir” – o conceito Nascida internacionalmente como uma superação – no sen- de raciocínio geográfico, que explicita o caráter crítico e cívico (no tido complexo do termo, não como algo inútil e descartado e sim sentido de cidadania plena) da Geografia. Em suas palavras: como um momento superado, porém, necessário ao avanço do conhecimento – da chamada geografia tradicional, a geografia Uma das razões de ser fundamentais da geografia é a de crítica possui inúmeras correntes ou tendências que, no entanto, tomar conhecimento da complexidade das configurações convergem para a construção de uma ciência geográfica ade- do espaço terrestre. Os fenômenos que se podem isolar pelo quada às transformações do mundo atual, preocupada com a pensamento, [...] se superpõem, e frequentemente de manei- justiça social, com a construção de uma cidadania ativa e com ra bastante complicada. É levando em conta essas múltiplas uma nova compreensão do espaço geográfico. Hoje, ao contrário intersecções entre as configurações precisas dos diferentes do que tradicionalmente se pensava, o espaço geográfico não fenômenos, que se pode agir mais eficazmente, pois isso per- é mais visto como palco ou “terra” onde a humanidade habita mite evitar, por exemplo, aquelas que constituem obstáculo e interage, mas sim como um espaço social, produto da ação à ação que se quer empreender.3 humana sobre a natureza. Quanto às relações entre a geografia crítica e as demais pro- postas renovadoras na ciência geográfica, não existe antagonismo 2 Cf. CARNIELLI, W. A; EPISTEIN, R. L. Pensamento crítico: o poder da lógica e da argumentação. São Paulo: Rideel, 2010. 3 LACOSTE, Yves. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988. p. 68. 4 Vejam-se, sobre esse tema, os diversos artigos da revista de geografia crítica Hérodote – La géographie et sa physique, n. 12, dez. de 1978, com colaborações de J. Tricart, G. Ber- trand, G. Rougerie, J. Dresh, P. Birot e outros. VI MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
A geografia tradicional, nascida no século XIX com o nome O estudo do espaço geográfico e o de “geografia moderna” (para se contrapor à geografia clássica, existente desde a Antiguidade até inícios do século XIX, que em desenvolvimento de competências geral considerava a geografia como parte da astronomia e das matemáticas), foi fruto de uma época romântica na qual pensa- O estudo do espaço geográfico pressupõe a compreensão dores como Humboldt acreditavam que toda comunidade huma- da dinâmica da sociedade que nele vive e o (re)produz cons- na é essencialmente o resultado de sua ocupação em um meio, tantemente e da dinâmica da natureza, fonte primeira de tudo a terra ou a natureza, com o qual viveria em harmonia. Estudar o que existe e é permanentemente apropriada e modificada o meio, a Terra, seria a melhor forma de conhecer o ser humano, pela ação humana. Não se trata da divisão acadêmica entre as comunidades humanas que habitam nesta ou naquela região geografia humana e física, muito menos da compartimentação do globo. Em última instância, os grupos humanos seriam, então, operada pela geografia tradicional (relevo, clima, população, um produto da Terra, do seu meio físico ou natural. Daí sempre se agricultura, etc.). Trata-se, isso sim, de um estudo integrado enfatizar a geografia física, vinda antes da geografia humana, do natural e do social que não perde de vista a especificidade como se a sociedade ou o povo que se encaixasse naquele meio de cada aspecto do real. Integrar não é diluir as diferenças, fosse de certa forma uma espécie de “filho” ou resultado des- não é ignorar a lógica da natureza e estudá-la apenas como sa “sua” terra. Contudo o mundo mudou, como também o clima recurso para o social. intelectual e as ideias científicas. Nos dias de hoje, ninguém mais acredita que vivemos em harmonia com a natureza, que A natureza deve ser entendida como um todo (“A Terra, pla- a natureza de cada povo é resultante do seu meio ambiente, ou neta vivo”, como afirmam hoje vários cientistas e geógrafos im- que a geografia física precede e explica a humana. Já nos anos portantes). Entretanto, como ensina o método científico, para 1950 um importante geógrafo assinalava que: chegar ao todo é necessário analisar as partes que o compõem e as suas interações. Como assinalou com pertinência o pensador Se já não duvidamos do poder sobre a natureza que nos italiano Norberto Bobbio, é sempre melhor uma análise sem sín- confere a ciência, o homem torna-se o centro de nossa preo- tese do que uma síntese sem análise, embora o ideal seja partir cupação. [...] Automaticamente, o homem ocupa o centro da análise para chegar à síntese (compreendendo, por exemplo, das pesquisas. Em lugar de partir das condições ambientes o que é clima e quais são seus fatores, o que é relevo e quais são para chegar aos grupos humanos, a Geografia tende cada suas unidades, etc., para depois perceber suas interações e a vez mais a tomar estes últimos como ponto de partida.5 paisagem como um sistema de elementos interligados e que se influenciam mutuamente). A inovação tecnológica, a industrialização e a urbanização da humanidade, como explicamos nos Livros do Aluno, alteraram O estudo da litosfera, das rochas ou do relevo, da hidrosfera radicalmente aquela imagem romântica do ser humano adaptado e do ciclo da água no planeta, da atmosfera e dos climas em sua ao seu meio físico, evidenciando que atualmente depredamos a especificidade e dinâmica é essencial para o aluno formar a ideia natureza, alteramos as paisagens (para melhor ou para pior), do todo, do meio ambiente e da importância de sua conservação. enfim, reconstruímos o espaço geográfico. Daí hoje a humani- Também abordamos a sua interação com a sociedade e as mu- dade ser o elemento ativo nos estudos geográficos, e não mais danças que esta suscita na natureza, pois as interações entre o meio físico, embora este também seja importante e algo a ser os elementos da sociedade e da natureza, e suas inter-relações, preservado pela consciência e ação ambiental das pessoas. permitem ao aluno compreender a organização do espaço geo- gráfico, mobilizando os princípios que são pilares do raciocínio Descritiva e mnemônica, a geografia tradicional conviveu du- geográfico. rante muito tempo com o ensino tradicional: tratava o aluno como um pequeno adulto que devia meramente memorizar um conheci- A compreensão do espaço geográfico também passa, prin- mento sistematizado, apresentado como algo pronto e acabado, cipalmente nos dias atuais, pelo estudo da questão ambiental, além de indiscutível. Nada temos contra a memorização – assim que não pode prescindir da dinâmica própria da natureza e suas como grande parte dos educadores atuais –, mas esta nunca deve alterações diante da ação humana. Esse estudo é fundamental ser o fim em si, e sim um instrumento para o raciocínio, para o espíri- para perscrutar os rumos da humanidade e de cada sociedade to crítico, para o desenvolvimento de determinadas competências e nacional no século XXI. Estudar a questão ambiental implica habilidades. O problema do ensino tradicional é que a memorização sensibilizar os alunos para a sustentabilidade, promover uma era um fim em si, era o objetivo último do processo de ensino. Mais cidadania ambiental, que é parte da cidadania ativa. Mais uma ainda, era a memorização não de conteúdos e conceitos dinâmicos, vez, cabe reiterar que contribuir para a consciência ambiental que podem ser flexíveis conforme o contexto, ou que podem mudar do aluno, sensibilizá-lo para a questão da sustentabilidade, não com as alterações na realidade, mas sim de conteúdos fixos e es- implica abandonar o estudo da litosfera, das rochas ou do rele- táticos, que aparentemente nunca mudavam. Ademais, a geografia vo, da hidrosfera e do ciclo da água no planeta, da atmosfera e escolar tradicional denegava (afirmando “não serem geográficos”) dos climas. Esses conteúdos não são por si sós tradicionais, temas ou questões que são importantes na geografia crítica, tais como argumentam alguns. Tradicional é ensiná-los como fixos como geopolítica e relações de poder entre Estados, desigualdades e estanques, tão somente como listas de acidentes a serem internacionais, a questão ambiental planetária, preocupações com memorizados, deixando de mostrar suas inter-relações, sua a cidadania e com os direitos democráticos, etc. importância para a sociedade humana e as modificações que esta lhes ocasiona. Além disso, por meio desses conhecimentos, 5 MONBEIG, Pierre. O papel e o valor do ensino da Geogra a. In: Novos estudos de geogra a humana brasileira. São Paulo: Difel, 1957. p. 5-25. MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL VII
entre outros, os alunos são capazes de desenvolver competên- soluções para eles (por exemplo, aprender a importância da cias essenciais, como ressalta Philippe Perrenoud:6 coleta seletiva do lixo e da reciclagem) e principalmente imple- mentá-las ou operacionalizá-las. Quase todas as ações humanas, todas as competências, exigem algum tipo de conhecimento. [...] Conhecimento e Todas as disciplinas escolares permitem o desenvolvimento competência são estreitamente complementares, mas o co- das competências gerais, embora as habilidades específicas nhecimento por si só não resulta em competências. A abor- possam variar (por exemplo: no domínio das diferentes lingua- dagem por competências não rejeita nem os conteúdos nem as gens, a Matemática vai desenvolver as noções de número e de disciplinas escolares, mas sim acentua a sua implementação. quantidade, as habilidades práticas de lidar com cálculos, etc., enquanto a Geografia vai desenvolver a leitura do mundo, das Não há como contestar que a educação se desenrola ao longo paisagens, dos mapas, etc.). Vários estudos já evidenciaram que de toda a vida do ser humano e que o conhecimento obtido na o domínio da língua portuguesa — principalmente a interpretação escola deve explicitar seus vínculos com o mundo real. O co- de textos e a capacidade de falar de forma articulada, lógica e nhecimento deve ser útil na prática, no cotidiano de cada um: com fundamento — aumenta à medida que os professores de não apenas no trabalho, como às vezes se pensa, mas também outras disciplinas contribuem para o seu aprimoramento. na vida em família, na sociedade, nas horas de lazer, nas refle- xões e pesquisas, na busca da felicidade e de um sentido para a Do ponto de vista da Geografia, o domínio da Cartografia vida. O conhecimento deve resultar em competências: seja para é fundamental no aprendizado da leitura do mundo. O mapa é planejar uma viagem, para conhecer melhor uma região ou um uma linguagem visual que se destaca por ser universal, e sua país distante, para fazer negócios, para conhecermos melhor a elaboração se caracteriza pela utilização dos recursos técnicos nós e aos outros, para agir sobre o mundo, enfim, para conviver desenvolvidos pelas civilizações humanas ao longo da História. e exercer a cidadania. Essa concepção de educação está bem Na atualidade, com a internet cada vez mais presente em nosso destacada na BNCC:7 cotidiano, o aluno entra em contato com muitos recursos tecno- lógicos, como fotografias aéreas e imagens de satélites. Ainda No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto que os mapas fixem uma imagem estática do mundo, são cada histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crí- vez mais precisos e apresentam cada vez mais detalhes dos tico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, fenômenos naturais e sociais, que são dinâmicos e cuja distri- produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo buição é importante para conhecer o mundo e para organizar o de informações. Requer o desenvolvimento de competências espaço geográfico. Na verdade, a análise do mapa é fundamental para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada para compreender a Geografia, isto é, as questões espaciais, vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabi- e, sobretudo, para explicar o resultado das investigações cien- lidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conheci- tíficas dessa ciência. mentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situa- A Cartografia é objeto de interesse de várias ciências, e não só da ção e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças Geografia, e ela vem passando por importantes alterações que não e as diversidades. decorrem apenas do acesso aos atuais recursos tecnológicos, mas que derivam, também, da efetiva inclusão dos membros da comuni- Faz-se necessário ressaltar que as competências são concreti- dade que está sendo mapeada no processo de sua elaboração. Essa zadas por meio de habilidades. Para entender melhor, podemos citar, é a denominada cartografia participativa, assim expressa por Burini: por exemplo, a competência geral da Educação Básica número 4: A cartografia participativa é um tipo cartográfico que Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-moto- interessou, nesses últimos anos, um número crescente de ra, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, pesquisadores (geógrafos, antropólogos, etnógrafos, agrô- bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática nomos etc.) e consultores de diferentes instituições (locais e científica, para se expressar e partilhar informações, expe- ou internacionais) que, com finalidades e em contextos riências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produ- territoriais muito diversificados, têm o objetivo comum zir sentidos que levem ao entendimento mútuo. (BNCC, p. 9) de incluir as comunidades locais na representação do lugar que elas habitam e resgatar os elementos úteis para seu en- Essa capacidade de se exprimir em diferentes linguagens volvimento nas ações de planejamento territorial. Este tipo pode resultar, por exemplo, em uma habilidade de interpretar de cartografia é reconhecido, pois, como um instrumento corretamente mapas e gráficos8. que facilita o diálogo entre vários atores, para lhes permitir conduzir uma negociação cujo objeto comum é o território Não somente a competência citada, mas as demais, tanto as habitado por uma comunidade que ali depositou seus pró- gerais como as específicas de Ciências Humanas e de Geogra- prios valores e saberes ao longo dos anos.9 fia, somadas às habilidades a elas relacionadas, devem levar a atitudes democráticas de cidadania ativa. Entre elas, aprender a discernir e hierarquizar os problemas do local onde moramos, da nossa região, do nosso país e do mundo, sabendo propor 6 PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 79. 7 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, DF, 2018. 8 Sobre a relação entre competências e habilidades, ver Perrenoud, PH. et al. As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 143-149. 9 BURINI, Federica. La cartographie participative et la pratique du terrain dans la coopération environnementale: la restitution des savoirs traditionnels des villages de l’Afrique subsaharienne. Disponível em: <https://halshs.archivesouvertes.fr/file/index/docid/389595/filename/burini_terrain_arras.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2018. VIII MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
É preciso levar em conta a possibilidade de o aluno efetuar o Geografia compõem o que vários educadores e geógrafos passaram que muitos estudiosos da área denominam de mapeamento cola- a chamar de raciocínio geográfico. borativo, afinal, muitas vezes o aluno tem acesso aos mapas dispo- níveis on-line, seja via celular, tablet, etc. O fato é que há recursos Localizar um fenômeno natural ou humano; mostrar como tal tecnológicos para ele “desenvolver o pensamento espacial, fazendo fenômeno se distribui no espaço geográfico; compreender como os uso das linguagens cartográficas” (BNCC, p. 364), a exemplo de fenômenos naturais e humanos se relacionam entre si e se expres- aplicativos por meio dos quais ele deverá concluir que a elaboração sam de maneira diferenciada na superfície terrestre; e, ao compa- de mapeamentos está em constante mudança, porque o mundo se rá-los, constatar a unidade da Terra, são meios pelos quais o aluno transforma de maneira ininterrupta. coloca em prática os princípios da localização, da distribuição, da diferenciação e da analogia, respectivamente. O domínio da linguagem permite uma leitura do mundo mais crítica à medida que o aluno desenvolve as habilidades da compe- Estabelecer a área de extensão dos fenômenos estudados pela tência leitora por meio da exploração de diferentes linguagens (dos Geografia; trabalhar a conexão entre (e intra) os fenômenos natu- desenhos ao texto verbal, dos gráficos e mapas às expressões ma- rais e humanos em qualquer escala geográfica; analisar e avaliar a temáticas, das charges às fotografias, etc.), como também de uma transformação ininterrupta da sociedade e da natureza ao longo do percepção sobre o explícito e o implícito em um texto, nas relações tempo histórico, de que resulta o espaço geográfico contemporâneo, entre um texto e uma imagem e assim por diante. explicitam o desenvolvimento e aprimoramento dos princípios da Geografia explicitados na BNCC (p. 358). Dessa maneira, o raciocínio Ora, se a criança começa a ler o mundo à medida que o observa, geográfico induz a uma leitura crítica do mundo em todas as suas e a observação é fundamental na Geografia – uma das disciplinas escalas geográficas, o que propicia uma avaliação com a subse- escolares que mais desenvolveu e pratica os trabalhos de campo, quente tomada de decisão quanto aos problemas do nosso lugar, os estudos do meio –, logo o ensino de Geografia deve contribuir da região, do país e do mundo. Por conseguinte, também contribui enormemente no que se refere ao domínio das linguagens. De for- para a formação da cidadania ativa. ma complementar, deve contribuir para desenvolver uma cidadania ativa, uma cidadania ligada à compreensão e à luta pelos direitos A construção e a aplicação do saber democráticos, que, antigamente, se resumiam aos civis, sociais e políticos e, hoje, incorporam também os culturais e os ambientais, no mundo globalizado todos eles constantemente reinventados ou alargados. O que inúmeros educadores e instituições científicas e culturais Alinhada a essas questões, a coleção propõe a leitura crítica do denominam “escola para o século XXI” é uma educação voltada para mundo pelo aluno por meio de diferentes linguagens. Oferece, ainda, formar cidadãos para o mundo globalizado e com sociedades mul- subsídios para trabalhos com outras disciplinas. Em cada capítulo tiétnicas e multiculturais10. Em resumo, formar alunos para apren- da coleção, em todos os volumes, há a seção Conexões, na qual der a aprender, aprender a ser, a conviver com os “outros” e a fazer, propomos atividades interdisciplinares que unem o conteúdo geo- aplicando conhecimentos em situações práticas. Essa proposta vai gráfico e as competências que trabalhamos nesse capítulo com as além – embora não se contraponha a – das ideias do século XX de demais disciplinas escolares do Ensino Fundamental – Anos Finais. (sócio)construtivismo, de tão somente levar o aluno a “construir” (mesmo que no contexto social) os conceitos. Estes – como todo o À medida que o aluno adquire competências específicas pelo conhecimento científico – continuam sendo essenciais no processo de estudo da Geografia, ele desenvolve inúmeras habilidades. Assim, a ensino-aprendizagem, mas devem ser somados ao desenvolvimento competência de ler o mundo sob a perspectiva geográfica promove o de competências e atitudes democráticas. Ademais, não podemos desenvolvimento de habilidades que vão desde a localização do lugar adotar aquela atitude ingênua segundo a qual todo conceito deve onde ele vive até a sua problematização. Por exemplo: a inserção de ser “construído” espontaneamente pelos alunos, sem ser definido um lugar e de sua cultura em uma região que, não obstante a exis- pelo professor ou pelo compêndio escolar. Não devemos confundir tência de recursos naturais importantes, carece de desenvolvimento os conceitos espontâneos das crianças – especialmente no Ensino econômico-social. A compreensão dessa situação-problema, comum Fundamental, Anos Iniciais – com os conceitos científicos, que devem em vários lugares e regiões, é promovida por meio do ensino, o qual ser mediados pelo professor já nos Anos Finais do Ensino Fundamental. também busca fomentar atitudes de cidadania ativa, que proponham Por sinal, um dos expoentes do socioconstrutivismo enfatizou isso soluções ao problema apresentado. muito bem: Representar cartograficamente dados e informações espaciais, e Dir-se-ia que o desenvolvimento dos conceitos espontâ- principalmente saber interpretá-los, é outra competência essencial neos da criança se processa de baixo para cima e que o de- da Geografia. Desenvolver a criticidade e a capacidade de avaliar senvolvimento dos conceitos científicos segue uma trajetória uma situação e de tomar decisões é outra competência específica descendente, [do mais abstrato] em direção a um nível mais importante desse componente curricular, assim como desenvolver elementar e concreto. Isto é consequência da diversidade de a percepção e a valorização da enorme diversidade ambiental, cul- formas como os dois tipos de conceitos surgem. Se procurar- tural, social e econômica que existe em todos os lugares e regiões mos a raiz de um conceito espontâneo veremos geralmente que da superfície terrestre. este tem origem numa situação de confronto com uma situação concreta, ao passo que os conceitos científicos implicam logo de As competências e habilidades desenvolvidas pelo ensino da início uma atitude “mediada” relativamente ao seu objeto. [...] 10 Cf. UNESCO. Educação para a cidadania global – preparando os alunos para os desafios do século XXI. Brasília, Unesco, 2015; DELORS, J. (Org.). A educação para o século XXI – ques- tões e perspectivas. Porto Alegre: Unesco/Artmed, 2005; MORIN, E. et al. Educar na era planetária. São Paulo: Cortez/Unesco, 2003. MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL IX
A influência dos conceitos científicos sobre o desenvolvimento discutidas questões como a responsabilidade de cada um ou o mental da criança é análoga ao efeito resultante da aprendi- respeito pelos outros em situações que evidenciem racismo e zagem de uma língua estrangeira, processo que é consciente preconceito (por exemplo, em uma aula sobre migrações, sobre e deliberado desde o início. Na língua materna de cada qual, o novo racismo na Europa). O mais importante aqui é fomentar os aspectos mais primitivos da linguagem são adquiridos an- as atitudes (isto é, o respeito à alteridade, ao outro), que são tes dos mais complexos. Estes últimos pressupõem uma certa fundamentais para uma sociedade democrática. consciência das formas fonéticas, sintáticas e gramaticais, mas, com uma língua estrangeira, as formas superiores desenvol- Geralmente, esses temas podem ser mais bem explorados vem-se antes do discurso espontâneo e fluente. [...] Há contudo de forma interdisciplinar, ou seja, integrados a outras discipli- também diferenças essenciais entre eles. No estudo das línguas nas. Compreende-se interdisciplinaridade não apenas como a estrangeiras, a atenção fixa-se nos aspectos exteriores, sonoros, abordagem de um mesmo assunto por disciplinas diferentes, físicos do pensamento verbal; no desenvolvimento dos con- mas também como a utilização de conhecimentos e métodos ceitos científicos, a atenção fixa-se nos aspectos semânticos. de outra disciplina para compreender melhor um fenômeno es- [...] A disciplina formal dos conceitos científicos transforma tudado. Nesse sentido, não apenas os temas transversais se gradualmente a estrutura dos conceitos espontâneos da criança prestam a atividades interdisciplinares, mas também inúmeros e contribui para os organizar num sistema; isto impele a criança conteúdos – principalmente da disciplina Geografia, que por sua a mais elevados níveis de desenvolvimento. 11 própria natureza está na interface entre as Ciências Humanas, as Ciências Naturais e a Matemática. Por exemplo, ao abordar A proposta educacional desta coleção concebe professor e conteúdos de demografia em uma dada atividade, pode ser ne- aluno como coautores do saber, isto é, como pessoas capazes cessário o emprego da porcentagem que originalmente é um de pesquisar e chegar a conclusões próprias, que não são meras conteúdo da Matemática. cópias ou simplificações do conhecimento já pronto e instituído. O professor não apenas reproduz, mas também produz saber Como vemos, o trabalho interdisciplinar necessita e pressu- na atividade educativa. O aluno, por sua vez, não pode ser visto põe a existência das disciplinas em si, com abordagens e conteú- como um receptáculo vazio que vai assimilar ou aprender um dos específicos, e não as elimina ou denega como imaginam al- conteúdo externo à sua realidade (etária ou psicogenética, so- guns. Ele pressupõe complementaridade, integração, mas nunca cial, espacial). Ele é um ser humano, com uma história de vida diluição das disciplinas num todo que em tese seria “adisciplinar”. a ser levada em conta no processo de aprendizagem, que ree- labora, assimila à sua maneira — inclusive reconstruindo — o Nesta coleção, o professor pode aproveitar, especialmente, a saber apropriado para tal ou qual disciplina, para este ou aquele seção Conexões, bem como os Projetos ao final de cada unidade, conteúdo. Contudo, reiteramos que a construção dos conceitos para incluir temas transversais e uma abordagem interdisciplinar científicos na escola, especialmente nos Anos Finais do Ensino nas aulas, de modo a levar os alunos à reflexão sobre problemas e Fundamental, não é, necessariamente, do próximo ao distante, fenômenos reais. A abordagem dessas seções também favorece do concreto ao abstrato, como muitas vezes se pensa. Depen- o desenvolvimento das competências gerais do Ensino Funda- dendo do tema, pode ser o inverso – a compreensão do conceito mental, sobretudo das socioemocionais, incentivando a empatia, científico e sua aplicação, sua extrapolação para diferentes si- o respeito ao outro e as atitudes cidadãs. tuações, ou seu entendimento em situações concretas. Estudos do meio Temas transversais e trabalho interdisciplinar Sempre que possível, o professor pode realizar estudos do Temas transversais, como o próprio nome diz (transversal = meio com seus alunos – principalmente de forma interdisciplinar oblíquo ou colateral, que atravessa algo perpendicularmente), são –, com a colaboração de professores de outros componentes cur- aqueles que perpassam vários conteúdos e disciplinas. riculares. Trabalhos de campo ou atividades extraclasse, como excursões educativas e visitas programadas a paisagens espe- Alguns temas transversais são importantíssimos na atuali- cíficas (um parque, uma nascente, um bairro visto do alto para dade, especialmente para desenvolver o senso de cidadania na uma avaliação panorâmica de suas partes, da relação entre o criança e no adolescente, e percorrem os conteúdos da Geografia relevo e a ocupação humana, etc.), a fábricas, campos de cultivo, e de outras disciplinas: ética, questão ambiental, combate aos museus, monumentos tombados, etc. são opções para tornar o preconceitos, saúde, direitos humanos e outros. Esses temas aprendizado ainda mais concreto para os alunos. Entretanto, não podem ser tratados pelo professor de Geografia, de História, devem ser meras atividades de recreação, mas sim estudos para de Ciências da Natureza, de Língua Portuguesa, etc., tanto de a compreensão daquele local, com explicações prévias antes do forma isolada quanto de forma integrada ou interdisciplinar, o trabalho de campo, com anotações e registros fotográficos in que seria ideal. loco por parte dos alunos, para posterior elaboração de relatórios que serão apresentados em sala de aula acompanhados de troca Sempre que possível, o professor de Geografia pode levar de ideias sobre o que foi aprendido. os alunos a refletir sobre determinados aspectos desses temas transversais. Não é necessário, por exemplo, reservar aulas para Os estudos do meio constituem uma técnica produtiva no lecionar ética ou pluralidade cultural, mas esses e outros temas ensino da Geografia. Por sinal, a disciplina escolar Geografia é — ou preocupações — aparecerão naturalmente quando forem a que mais domina e utiliza os estudos do meio, com os indis- 11 VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 93-116. (grifos nossos). X MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
pensáveis trabalhos de campo, nos quais foi pioneira no siste- nem mesmo é necessário ônibus para chegar até ele. Sempre há ma escolar. Seu grande mérito é tornar o conhecimento prático, algo próximo para o aluno ver e sobre o qual refletir: as nuvens, mostrar a realidade in loco, deixar o aluno perceber que tudo o seus movimentos e suas relações com os ventos; um barranco que ele aprende na teoria tem relação com a sua vida cotidiana, onde se pode mostrar o perfil do solo; áreas de risco ocupadas com o que acontece na realidade, com o mundo em que ele vive. por habitações populares (encostas sujeitas a desabamentos Além disso, esses tipos de estudo permitem que o aluno conhe- ou escorregamentos, áreas habitadas no leito maior de um rio ça melhor o local onde reside, o seu bairro, a sua cidade, o seu sujeitas a enchentes periódicas, etc.); o centro da cidade ou do município, e faça uma aplicação dos conceitos geográficos na bairro; áreas mais antigas na cidade ou no bairro; um casarão compreensão dessa realidade. colonial tombado ou de importância histórica; um riacho poluído; um conjunto habitacional construído pelos próprios moradores O estudo do meio, mesmo que consista em uma simples ob- em regime de mutirão; uma vegetação típica que ainda não foi servação da paisagem sob a supervisão e orientação do profes- devastada; e assim por diante. sor, evidencia para o aluno que a Geografia não se resume à sala de aula; ela pode ser igualmente útil para ajudá-lo a compreender Enfim, o estudo do meio contribui, simultaneamente, para seu local de moradia, o sistema de transportes da sua cidade, a que o aluno desenvolva, de um lado, autonomia e liderança, e, localização das fábricas ou das moradias populares, a poluição de outro, atitudes democráticas de cidadania ativa. do rio próximo ao lugar onde mora, o caminho que faz para ir de casa à escola, etc. O papel do professor Nos países desenvolvidos, em geral, utilizam-se muito mais O ensino tradicional tem como base principal a aula expo- estudos do meio, nos Ensinos Fundamental e Médio, do que no sitiva, em que o professor expõe os conceitos e apresenta as Brasil. No Japão, por exemplo, que tem um dos melhores siste- definições e os exemplos já prontos para os alunos, que devem mas educacionais do mundo, toda escola é obrigada, pela legis- apenas assimilar ou memorizar esse conhecimento. O aluno é lação, a fazer no mínimo um trabalho de campo por semana. Na passivo, e o professor, ativo. O professor “ensina” ou reproduz Europa ocidental, é extremamente comum dezenas ou centenas conhecimentos prévios, e o aluno “aprende”, ou melhor, memo- de alunos, acompanhados por professores, visitarem uma fábri- riza. A criatividade e o espírito crítico do aluno não são destaca- ca, um parque natural, um bairro operário típico ou um museu dos no ensino tradicional, pois o objetivo não é desenvolver as (histórico, arqueológico, tecnológico, de ciências naturais, etc.), potencialidades, as competências e habilidades, mas sim fazê-lo onde veem a realidade como ela é, ouvem as explicações e dia- repetir os conhecimentos já elaborados. logam com os expositores e com os professores. O ensino crítico, ao contrário do tradicional, não pretende No Brasil, a prática dessa atividade nas escolas ainda é limi- que os alunos tão somente memorizem os conceitos ou conhe- tada em virtude de diversas questões que vão desde dificuldades cimentos previamente definidos. Sem dúvida, conhecer e saber financeiras para bancar a visita (pagar o aluguel de um ônibus, aplicar conceitos é importante, mas o objetivo principal é desen- por exemplo), e de deslocamento e segurança, até a manutenção volver as potencialidades do aluno: seu raciocínio lógico, suas de uma cultura tradicional de ensino, em alguns centros educa- múltiplas inteligências, sua criatividade, seu espírito crítico, sua cionais, que mantém a concepção de que ensinar é apenas “dar capacidade de aprender por conta própria, de pesquisar e buscar lições dentro da sala de aula”. Ademais, em alguns casos, os coisas novas. Enfim, desenvolver competências ou capacidades, professores não detêm conhecimento adequado porque também habilidades e por fim atitudes democráticas. não tiveram trabalhos de campo quando eram alunos — mesmo em alguns cursos de nível superior. Dessa forma, sentem-se inse- Cabe reiterar que não se desenvolvem capacidades sem co- guros para levar os estudos do meio à prática: não sabem direito nhecimento, conceitos e informações, sem o estudo de alguma como proceder, o que mostrar, que lugares visitar, que aspectos realidade ou de alguma explicação científica. O conteúdo não é destacar. Às vezes não conhecem muito bem a cidade ou o bairro um fim em si, como era na escola tradicional, mas prossegue sen- em que vivem ou o da escola em que atuam e não conseguem do um meio importante para levar os alunos a pensar criticamen- identificar os locais que poderiam servir para trabalhar este ou te e desenvolver competências indispensáveis à cidadania ativa. aquele assunto. Paralelamente, cabe registrar que a memória, como afirmam Contudo, essa realidade precisa mudar, pois não existe ensi- inúmeros especialistas de várias áreas científicas, é parte com- no moderno sem aulas práticas e estudos do meio. Para algumas ponente e essencial do aprendizado, do espírito crítico e do ra- disciplinas, ter aulas práticas talvez signifique, antes de tudo, ir a ciocínio lógico. No fundo, ela é uma auxiliar imprescindível do um laboratório dentro da própria escola. No entanto, para outras pensamento ou da ação dos seres humanos. – principalmente a Geografia – não bastam as atividades reali- zadas no laboratório de informática ou em uma sala de rochas No ensino da geografia escolar crítica, uma preocupação fun- e minerais – embora estas também tenham a sua importância damental é oferecer subsídios ao desenvolvimento da cidadania –; uma aula prática alcança resultados mais efetivos quando os ativa; assim, o professor deixa de ser aquele que reproduz co- alunos saem do ambiente escolar e vão a campo, a fim de estudar nhecimentos prontos para se tornar um orientador que “ajuda o realidades in loco. Ao contrário do que se imagina, nem sempre é aluno a aprender”. O professor também não é alguém que “sabe preciso dispor de muitos recursos financeiros para fazer estudos tudo”, o que seria impossível, mas um intelectual que “aprende do meio. Algumas vezes o local a ser visto fica perto da escola, ensinando”, que renova constantemente suas lições, levando em conta o saber e a curiosidade dos alunos e logicamente as mudanças na realidade e no conhecimento científico. Isso não MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL XI
significa que o professor se torna passivo ou substituível por ção os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais máquinas (vídeos ou computadores, por exemplo). O professor é que promovam as capacidades motoras, de equilíbrio e de um orientador insubstituível, que ajuda o aluno no seu processo autonomia pessoal, de relação interpessoal e de inserção de desenvolvimento cognitivo, na aquisição de novas habilida- social. Uma opção desta natureza implica uma mudança des e atitudes, no aprimoramento de seu senso crítico e de sua radical na maneira de conceber a avaliação, posto que o concepção de vida. ponto de vista já não é seletivo, já não consiste em ir sepa- rando os que não podem superar distintos obstáculos, mas Por sua vez, o aluno deixa de ser um elemento passivo para em oferecer a cada um dos meninos e meninas a oportu- ser participante ativo na (re)construção dos conceitos. Ou seja, nidade de desenvolver, no maior grau possível, todas suas ele não deve simplesmente ouvir e repetir, memorizar e repro- capacidades. O objetivo do ensino não centra sua atenção duzir os conteúdos nas provas, mas, principalmente, ler, pes- em certos parâmetros finalistas para todos, mas nas pos- quisar, dialogar, analisar, desenhar e interpretar, estabelecendo sibilidades pessoais de cada um dos alunos. relações entre o conhecimento científico e sua vida cotidiana. Dessa forma, o professor que quiser implementar um ensino Na perspectiva de um ensino crítico, é fundamental que o crítico alinhado às atuais concepções de ensino-aprendizagem professor adote novos procedimentos didáticos: não apenas deve avaliar o aluno tanto no desenvolvimento das competências aulas expositivas, mas também estudos do meio, trabalhos em específicas de Geografia como no aprimoramento de seu racio- equipe, debates, projetos interdisciplinares, etc. Também deve cínio geográfico, além do aperfeiçoamento das habilidades que extrapolar o conteúdo do livro didático, lançando mão de outros decorrem da leitura geográfica que faz do mundo. Também deve recursos e atividades, como músicas, vídeos (documentários, ser levado em consideração na avaliação do aluno o desenvol- filmes, canais de redes sociais com conteúdo confiável), ativida- vimento de atitudes relacionadas à inteligência emocional, isto des de pesquisa em diferentes mídias (jornais, revistas e sites é, sociabilidade, responsabilidade, cooperação, combate a pre- confiáveis da internet), de construção de maquetes, atividades conceitos, ações no sentido de consciência ambiental, etc. Tais interdisciplinares, etc. competências e atitudes vão além de atividades de conteúdos teóricos e estanques. São, em geral, mobilizadas por atividades Avaliação de trabalho em equipe e que mobilizem múltiplos conhecimentos teóricos, práticos e socioemocionais. Sabemos que, muitas vezes, a avaliação é feita por meio de provas ou testes que medem sobretudo a capacidade de repe- Para Zabala, o processo seguido pelos alunos, “o progresso tição do conteúdo que foi transmitido em sala de aula. O princi- pessoal e o processo coletivo de ensino-aprendizagem aparecem pal objetivo dessa avaliação é “dar notas” aos alunos para que como elementos ou dimensões da avaliação”. Nesse sentido, a eles passem ou não de ano, sendo uma avaliação estritamente avaliação tem de ser concebida como um processo qualitativo e quantitativa. Como afirmou Paulo Freire, essa é uma avaliação contínuo, que vise orientar o aluno e acompanhar o seu desen- burocrática, do tipo bancária (depósitos e saques), isto é, o que volvimento individualmente, mas também como parte de um o professor diz é o “depósito”, e o “saque” é a resposta dada pelo grupo. Isso não significa, contudo, abandonar a prova tradicional, aluno na prova. mas compreendê-la como apenas um dos possíveis recursos de avaliação. Diante dessa ferramenta, deve-se levar em conta Além disso, a avaliação tradicional tende a ser comparativa: o desempenho do aluno em relação à orientação oferecida a uma nota elevada para o “melhor” aluno, aquele que repetiu fiel- ele pelo professor, aos objetivos de aprendizagem esperados mente o que lhe foi ensinado, e uma nota baixa para aquele que e, também, em relação às questões mobilizadas pela turma e não reproduziu o discurso do professor, mesmo que às vezes te- habilidades por ela desenvolvidas. O resultado dessa avaliação é nha tentado dar explicações próprias e originais. De modo geral, menos sancionador e mais diagnóstico, servindo para nortear os a própria seleção dos conteúdos a serem ensinados e avaliados próximos passos do professor de modo a reorganizar suas ações visam ao sucesso em provas e exames, os quais têm natureza a fim de orientar os alunos a alcançar os objetivos previstos em quantitativa e selecionadora. Contudo, nas concepções atuais cada etapa da aprendizagem. de ensino, a avaliação deve ir além da “valoração dos resulta- dos obtidos pelos alunos”, além da avaliação individual, como É também desejável que, em determinados momentos, o pro- ressalta Zabala:12 fessor delegue aos alunos a responsabilidade da autoavaliação, despertando neles a capacidade de análise e interpretação do […] podemos entender que a função social do ensino não que conseguiram aprender e contribuindo para a construção de consiste apenas em promover e selecionar os “mais aptos” sua autonomia, de sua reflexão crítica e de sua capacidade de para a universidade, mas que abarca outras dimensões da julgar ou avaliar a si e aos outros. personalidade. Quando a formação integral é a finalidade principal do ensino e, portanto, seu objetivo é o desenvol- vimento de todas as capacidades da pessoa e não apenas as cognitivas, muitos dos pressupostos da avaliação mudam. Em primeiro lugar, e isto é muito importante, os conteúdos de aprendizagem a serem avaliados não serão unicamente conteúdos associados às necessidades do caminho para a universidade. Será necessário também levar em considera- 12 ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Ernani F. da F. Rosa (Trad.). Porto Alegre: Penso, 2014. p. 197. XII MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
2 Nossa Coleç‹o As seções também buscam contribuir para o desenvolvimento de atitudes democráticas, como o respeito pelas diversidades étni- Esta coleção pretende auxiliar o professor, que é, antes de tudo, um ca, cultural, social e de gênero, a cooperação no trabalho escolar, a orientador (não aquele “que ensina”, mas aquele que “ajuda o aluno a solidariedade humana, a sustentabilidade ambiental, entre outras. aprender”). Os conteúdos são acompanhados por textos que contextua- lizam os temas abordados e questões que demandam geralmente de- Aberturas de unidades e capítulos dução, indução, extrapolação, aplicação de conceitos, estabelecimento de relações, comentários e opiniões por parte do aluno, etc. Tomas Griger/DepositPhotos/Glow Images UNIDADE Brasil: território e Conceitos e temáticas dos livros 1 sociedade O primeiro volume da coleção procura levar o aluno a entender a Nesta unidade, vamos estudar a formação ação humana sobre o planeta, com o objetivo de despertar sua cons- do território e da sociedade brasileira. ciência ambiental e sua percepção de que o ser humano é indissociável Compreenderemos a ocupação e a da natureza: suas ações ocasionam alterações no meio ambiente, daí a expansão do território nacional, importância de contribuir com ações visando a sustentabilidade. Neste a constituição do Estado, a composição volume, retomamos com maior complexidade conceitos de cartografia, étnico-cultural da população do país ou de orientação e localização, que o aluno já estudou anteriormente, e seu perfil demográfico. Analisaremos mas sempre acrescentando algo de novo e desafios para que ele conti- também indicadores sociais do Brasil nue a desenvolver o domínio dessa linguagem (cartografia) ou dessas e de seus estados. competências (orientar-se e localizar-se no espaço geográfico). Observe atentamente a imagem e responda: O volume do 7o ano aborda o espaço social e principalmente o espaço brasileiro. Introduzimos — na medida do possível sob a forma 1 É possível visualizar as fronteiras de desafios para o aluno ir construindo e/ou aplicando o conhecimen- entre o Brasil e seus países vizinhos? to — as noções de sociedade, economia, povo, nação, Estado e país, Por quê? como também os conceitos interligados de regionalização e região, que já foram vistos no volume anterior e aqui são retomados para a 2 O que representam os pontos compreensão de sua aplicação no espaço brasileiro. Da mesma forma, luminosos? Qual é a região do Brasil introduzimos também o estudo da industrialização e da urbanização, que apresenta a menor concentração mostrando como esses processos modificaram o espaço geográfico desses pontos? Por quê? brasileiro. Estudamos ainda neste volume a população brasileira, o meio rural e, finalmente, na última unidade, as regiões do Brasil. Esta imagem, de 2016, 11 apresenta a América do Os volumes do 8o e 9o anos levam o aluno a refletir sobre o mundo Sul e parte da América atual e o papel do Brasil nesse contexto. Apresentamos as duas prin- Central vistas do espaço cipais formas de regionalizar o espaço mundial e os prós e os contras à noite. de cada uma delas. No volume do 8o ano, estudamos a população no mundo contemporâneo, as desigualdades internacionais, a pobreza 10 e a fome, as organizações internacionais, o continente americano em seus aspectos gerais e regionais e o continente africano (idem). As aberturas das unidades e dos capítulos são um chamado à re- Neste volume para o 8o ano, enfatizamos a América Latina, o Mercado flexão por meio de múltiplas linguagens, como mapas, fotos, charges, Comum do Sul (Mercosul) – e logicamente também o Brasil – e a Áfri- tirinhas, pinturas, pequenos textos ou informações que instigam os ca. E no volume do 9o ano, estudamos a nova ordem mundial, a União alunos a pensar sobre o assunto que será estudado antes que ele Europeia, a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), o Japão e seja abordado, levando-os a uma reflexão prévia. os Tigres Asiáticos, a China e a Índia, o Oriente Médio e a Oceania. No final, abordamos também a globalização, a nova divisão internacional Essas aberturas têm várias funções, no fundo concomitantes e do trabalho e, finalmente, a questão ambiental na atualidade. interligadas: estimular a curiosidade dos alunos para os assuntos que serão estudados na unidade ou no capítulo; criar oportunidades Seções: objetivos e características para que expressem suas opiniões, experiências e conhecimentos prévios sobre os temas; e finalmente possibilitar que, pela via da A fim de reforçar e ampliar as temáticas tratadas nos capítulos, os reflexão, tentando solucionar os desafios colocados pelas questões, livros apresentam seções diversificadas. A maioria delas apresenta eles de certa forma desenvolvam sua criatividade e seu senso crítico. encaminhamentos voltados para o desenvolvimento de habilidades A preocupação em considerar os conhecimentos prévios dos alunos cognitivas do aluno, como observar, comparar, analisar, interpretar, parte da nossa convicção de que cada estudante traz para a sala de registrar, descrever, avaliar, criticar, explicar, inferir, debater, etc. Ao aula a sua própria vivência, o seu próprio saber, suas opiniões, enfim, mesmo tempo, estimulam o desenvolvimento das competências a sua visão de mundo, que deve ser o ponto de partida para o processo específicas de Geografia, arroladas no documento oficial da BNCC, de ensino-aprendizagem. garantindo a mobilização das habilidades a elas relacionadas: o re- sultado final é uma leitura crítica do mundo. Geolink A seção funciona como um link, apresentando informações com- plementares aos temas tratados Geolink 1 no capítulo com o objetivo de am- pliar os conhecimentos dos alu- Leia o texto a seguir. nos. A seção encontra-se ao longo do texto principal dos capítulos. Regi‹o e regionaliza•‹o no Brasil É importante criar momentos No ano de 1941, o IBGE elaborou proposta de regionalização baseada nas características fisiográficas do para que os alunos entrem em território nacional e respeitando as fronteiras administrativas estaduais. [...] Já em 1969, há revisão dessa pro- contato com essas informações posta, resultando na atual regionalização do Brasil (atualizada posteriormente devido à criação de novos es- e estabeleçam conexões entre tados). [...] elas e o conteúdo estudado. No fim da seção, algumas questões Duras críticas surgiram sobre a proposta de regionalização oficial. [...]A crítica mais dura [...] diz respeito ao seu têm como objetivo trabalhar a descolamento da realidade, pois, além de não considerar as relações de articulação inter-regionais, também não compreensão e a interpretação considerava suficientemente a formação social destas regiões [...]. do texto analisado. Dadas estas críticas,duas outras propostas de regionalização visaram corrigir estas distorções [da realidade].A primeira é a divisão do Brasil em“complexos regionais”ou“regiões geoeconômicas”,de Pedro Geiger,proposta no final da década de 1960. [...] A segunda proposta de regionalização que visa corrigir distorções e simplificações das anteriores é aquela elaborada por Milton Santos e Maria Laura Silveira, em 2001. Os autores propõem a divisão do país em “quatro brasis”. No estágio atual de desenvolvimento, predomina o meio técnico-científico-informacional, caracterizado pela grande presença de objetos técnico-científicos e da informação no território. É a partir deste conceito que Milton Santos aborda o território nacional. Assim, a região concentrada (Sul-Sudeste) seria aquela com maior densidade de população, capital e técnica, sendo altamente fluida e dinâmica e com grande presença do meio técnico-científico-informacional, centralizando o controle do capitalismo nacional. Por sua vez, a re- gião Centro-Oeste (que inclui Tocantins) apresenta uma agroindústria moderna, mecanizada e competitiva, de ocupação periférica e subordinada aos interesses das firmas da região concentrada. A região Nordeste é definida como um espaço de“rugosidades”, ou marcas Proposta de divisão do Brasil de de herança do passado no espaço geográfico, oferecen- acordo com a concentração do do resistências à difusão do meio técnico-científico- meio técnico-científico-informacional -informacional, que se faz presente de maneira pontual através de infraestruturas e de redes informacionais.A 55º O OCEANO Portal de Mapas/Arquivo da editora região amazônica, por sua vez, é caracterizada pela ra- RR AP ATLÂNTICO refação, tanto de população quanto de técnicas, sendo Equador 0º uma região de tempo lento, com enclaves modernos AM PA MA CE RN (megaprojetos econômicos), em um meio pré-técnico, MT PI vinculada a um sistema informacional que se configura PB externo a esta. PE BOSCARIOL, Renan Amabile. Região e regionalização AC RO TO AL no Brasil: uma análise segundo os resultados do SE BA Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). In: MARGUTI, Bárbara Oliveira; COSTA, N DF Marco Aurélio Carlos; PINTO, Vinícius da Silva. OL GO MG Territ—rios em nœmeros. Brasília: Ipea, 2017. p. 189-194. ES OCEANO S MS Agora, responda: PACÍFICO SP RJ 1 Quais as principais diferenças entre as três formas de Trópico de Capricórnio PR regionalização do Brasil? Região Amazônia SC 610 1 220 km 2 Na sua opinião, qual das duas propostas de regiona- Região Nordeste lização alternativas à do IBGE mais se aproxima da Região Centro-Oeste RS proposta desse instituto? Justifique sua resposta. Região Concentrada 0 Fonte: elaborado com base em SANTOS e SILVEIRA, 2001. In: BOSCARIOL, Renan Amabile. Região e regionalização no Brasil: uma análise segundo os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). In: MARGUTI, Bárbara Oliveira; COSTA, Marco Aurélio Carlos; PINTO, Vinícius da Silva. Territ—rios em nœmeros. Brasília: Ipea, 2017. p. 189-194. 192 UNIDADE 4 ¥ Brasil: diversidades regionais XIIIMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Glossário Mulheres e homens no mundo Conexões CONEXÕES COM ARTE E LÍNGUA PORTUGUESA do trabalho Em todos os volumes da co- Trabalho remunerado: Atividades que favorecem ¥ O cordel é uma literatura popular típi- Reprodução/J. Borges leção, as palavras e termos mais Nos dias atuais, situações de desigualdade entre homens e mulheres no merca- trabalho retribuído a abordagem de temas trans- ca do Nordeste brasileiro. Geralmente difíceis ao longo do texto são des- do de trabalho ocorrem em diversos países do mundo. No Brasil, quanto ao trabalho financeiramente por versais (Pluralidade Cultural, é acompanhado por xilografia (ou xilo- tacados. O significado de cada um remunerado, as mulheres ainda estão em desvantagem em relação aos homens. Em salário ou remuneração Meio Ambiente, Saúde, Ética) gravura), uma forma de ilustração que deles foi inserido em destaque 2010, cerca de 39 milhões de mulheres trabalhavam exercendo atividades remune- em dinheiro. e exploram as relações da se utiliza de uma matriz de madeira. A na lateral, próximo às palavras, radas (em 2016, esse índice foi de 45 milhões); o número de homens que exerciam Geografia com outras disci- matriz é entalhada à mão com um bu- na própria página em que elas se atividades remuneradas era de 53 milhões em 2010 (em 2016 o índice foi de 57 mi- plinas: Matemática, Língua ril ou outro instrumento cortante. As encontram. É importante orientar lhões). Contudo, o número de mulheres que exercem atividades remuneradas vem Portuguesa, História, Arte ou partes altas que receberão a tinta é os alunos a consultar também o aumentando bastante nas últimas décadas, e na década de 2020 ou de 2030 prova- Ciências, conforme o caso. que imprimem a imagem no papel. dicionário sempre que necessá- velmente já estará equiparado ao dos homens. Seria interessante trabalhar Veja a xilografia ao lado, do artista rio, pois facilita a compreensão do essas atividades em parceria J. Borges, e, abaixo, alguns versos do texto e desenvolve a precisão da Brasil: participação de homens e mulheres na força de trabalho com professores das demais cordel “Aboios e vaqueiros”, de Dalinha linguagem. disciplinas, mas, como isso Catunda. Ano 1940 1960 1980 2010 Os boiadeiros, xilogravura do artista Homens 81% 82,5% 73% 56,5% J. Borges, sem data. Mulheres 19% 17,5% 27% 43,5% Fonte: IBGE. Recenseamentos gerais. Disponível em: <www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/ Aboios e vaqueiros populacao/9662-censo-demografico-2010.html?=&t=downloads>. Acesso em: 28 maio 2018. No sertão eu me criei, Observe no quadro acima que na década de 1940 apenas 19% da força de trabalho Vendo a boiada passar. Ai como ainda me lembro Da lembrança não me sai, no Brasil era de mulheres. Com o passar do tempo, as mulheres foram conquistando seu Os aboios dos vaqueiros Dos encantos de outrora, O velho Chico Carmina. espaço no mercado de trabalho. Atualmente, em grande parte das famílias brasileiras, a Sempre gostei de escutar. Eu, debruçada na janela. Vaqueiro de seu Esmeraldo, mulher e o homem são igualmente responsáveis pela renda familiar; muitas mulheres A boiada seguia em frente A boiada passando lá fora. O esposo de dona Joelina. encabeçam o sustento da família. Seguindo o canto dolente Dói demais meu coração Por minha rua ele passava, Do vaqueiro a aboiar. Boas lembranças do sertão, E tangendo o gado aboiava O fato de a participação feminina no mercado de trabalho ser ainda relativamen- Que na alma saudosa aflora. Cumprindo a sagrada rotina. te pequena (tendo em vista que elas constituem aproximadamente 51% da população nacional) não quer dizer que as mulheres trabalham menos que os homens. Na reali- Meu coração sertanejo Vaqueiro trajando couro, Eita tempo velho malvado, dade a mulher comumente realiza a maior parte das atividades domésticas, e essa função de dona de casa Cassandra Cury/Pulsar Imagens Transborda de emoção, Com perneiras e gibão, Que abusa da judiação. não é computada nas es- tatísticas relativas à popu- Quando vejo uma boiada Esporas e botas nos pés Maltrata essa nordestina, lação ocupada ou com ati- vidades remuneradas. E Tirando poeira do chão. Como manda a tradição. Que deixou o seu sertão. mesmo quando a mulher trabalha fora do lar, ela O som firme do berrante Assim eu via os vaqueiros, E feito um bezerro apartado continua a exercer boa par- te das atividades domésti- Sai do boiadeiro amante Passando em meu terreiro, Bem longe do seu estado cas, um trabalho dobrado, que é denominado dupla Que gosta da profissão. E me acenando com a mão. Chora querendo seu chão. jornada de trabalho. CATUNDA, Dalinha. Aboios e vaqueiros. Disponível em: <http://cordeldesaia.blogspot.com/2010/03/aboios-e-vaqueiros.html>. Acesso em: 11 out. 2018. Agora responda: a) O que a xilografia representa? b) Em que bioma e região brasileira essa cena ocorre? Por quê? c) Você acha que a cena retratada na xilogravura ainda é algo comum na pecuária brasileira? Explique sua resposta. d) Qual é a região citada no cordel? O que a autora expressa em relação a essa região? Farmacêutica trabalha em e) Em duplas, troquem ideias: O que é um aboio? laboratório no município de Ribeirão Preto (SP), em 2014. População brasileira • CAPÍTULO 3 59 Regiões brasileiras • CAPÍTULO 9 199 nem sempre é possível, elas podem ser realizadas com a turma Infográfico na aula de Geografia, sempre levando os alunos a integrar apli- cações ou conteúdos geográficos com conteúdos ou aplicações INFOGRçFICO de outras disciplinas escolares. O aluno vai perceber que as Urbanização da humanidade Segundo a ONU, em 2020, cerca de 600 cidades em todo o mundo terão pelo menos 1 milhão de habitantes, e quase disciplinas se complementam, que elas se unem para enfrentar 30 delas estarão no Brasil. Haverá mais de 30 aglomerações urbanas com pelo menos 10 milhões de habitantes – as cha- madas megacidades – no globo, e o Brasil terá duas delas: São Paulo e Rio de Janeiro. Com isso, o grande desafio será fornecer moradias decentes, sistema de transporte eficiente, segurança, eletricidade, água encanada e tratada, rede de esgotos, áreas verdes e de lazer para essa imensa população que se concentra cada vez mais em áreas urbanas. Onde vive a população mundial? Maiores aglomerações urbanas No Brasil, o Recenseamento Geral de 2010 constatou os desafios sugeridos nessas atividades variadas que incluímos do mundo e do Brasil em (2020)* que cerca de 11,5 milhões de pessoas viviam em “aglo- Durante a maior parte da história da humanidade, a maioria da população viveu no campo. No entanto, desde População merados subnormais”, popularmente conhecidos como em todos os capítulos. meados do século passado, a população mundial vem se urbanizando num ritmo muito rápido. Em 2007, a maioria Posição no em 2020 favelas, invasões, grotas, comunidades, mocambos, bai- da população do globo já vivia nas cidades, e, segundo projeções da ONU, em 2050, cerca de 70% da população mun- ranking mundial Aglomeração urbana** xadas, ressacas ou palafitas, conforme a região. Em todo dial viverá no meio urbano. 37 393 129 o mundo, segundo a ONU, em 2010, 827 milhões de pes- 1 Tóquio (Japão) soas viviam em moradias precárias e irregulares ou em Em países como Argentina, Bélgica, Israel, Kuwait, Luxemburgo, Catar e Cingapura, mais de 90% da população total habitações sem as mínimas condições de higiene. vive no meio urbano; em outros, como Bangladesh, Índia, Níger, Moçambique, Paquistão e Serra Leoa, a maioria da popu- 2 Délhi (Índia) 30 290 936 lação vive no meio rural, embora ocorra um processo de urbanização. 3 Xangai (China) 27 058 479 São atividades que envolvem cálculos, interpretação de poemas, textos literários ou pequenos textos científicos; são Taxa de Mundo: taxa de urbanização (2018) 4 São Paulo (Brasil) 22 043 028 gráficos, quadros, charges ou fotos, que podem ser interpreta- dos de um ponto de vista geográfico, matemático, histórico, das urbanização é a N 0º 5 Cidade do México 21 782 378 ciências da natureza, etc., sempre com a preocupação de levar proporção (porcentagem) (México) o aluno a utilizar ensinamentos de duas ou mais disciplinas, OCEANO GLACIAL ÁRTICO evidenciando que os problemas práticos nunca são de exclusivi- dade de uma disciplina isoladamente, mas em geral pressupõem da população urbana O Círculo Polar Ártico a integração e a complementaridade entre elas. em relação à população L total de um país ou de S 6 Dhaka (Bangladesh) 21 005 860 uma região. 7 Cairo (Egito) 20 900 604 Trópico de Câncer OCEANO Meridiano de Greenwich OCEANO 8 Pequim (China) 20 462 610 Ricardo Oliveira/Tyba ATLÂNTICO Portal de Mapas/Arquivo da editoraPACÍFICO Equador Taxa de urbaniza•‹o OCEANO 0º 9 Mumbai (Índia) 20 411 274 (em %) PACÍFICO OCEANO 10 Osaka (Japão) 19 165 340 80,1-100,0 Trópico de Capricórnio ÍNDICO 60,1-80,0 40,1-60,0 0 3 350 6 700 km 21 Rio de Janeiro 13 458 075 20,1-40,0 0-20,0 Círculo Polar Antártico OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 66 Belo Horizonte 6 084 430 sem dados 92 Brasília 4 645 843 Fonte: elaborado com base em UNITED NATIONS. World Urbanization Prospects: The 2018 Revision. 108 Porto Alegre 4 137 418 Disponível em: <https://esa.un.org/unpd/wup/Maps/>. Acesso em: 12 jul. 2018. A população do Brasil População rural e urbana no Brasil (1950-2050) 109 Recife 4 127 092 No Brasil, as maiores Moradias no município de vem crescendo num ritmo populações que vivem em Manaus (AM), em 2016. comunidades estão em São Paulo menor que no passado e, por (em milhões) 112 Fortaleza 4 073 465 (2,1 milhões ou 11% da população Banco de imagens/Arquivo da editora metropolitana), Rio de Janeiro volta de 2040, começará a 250 (1,7 milhão ou 14,4% da população), View Apart/Shutterstock/Glow Images Belém (1,1 milhão ou 53% da decrescer em consequência de um 120 Salvador 3 839 076 população), Salvador (931 mil ou 26% da população) e Recife (852 mil ou saldo populacional negativo (número 23% da população). de nascimentos + número de 200 124 Curitiba 3 678 732 imigrantes) – (número de óbitos + número de emigrantes). A urbanização também deverá 150 146 Campinas 3 300 794 estabilizar-se entre 91% e 92% da população total 192 Goiânia 2 690 011 vivendo em cidades. 100 224 Belém 2 334 462 População total 50 1950 Ano * Estimativas feitas pela Organização das Nações Unidas. População urbana 0 1960 População rural 1970 ** Aglomeração urbana inclui a cidade principal e as cidades 1980 próximas e interligadas a ela. Campinas, por exemplo, inclui a cidade 1991 principal e 19 municípios: Americana, Itatiba, Valinhos, Vinhedo, 2000 Hortolândia, Indaiatuba, entre outras. 2010 2020 Fonte: elaborado com base em UNITED NATIONS. Population Division 2030 (2018). In: World Urbanization Prospects: The 2018 Revision, Disponível 2040 em: <https://esa.un.org/unpd/wup/Download/>. Acesso em: 13 jul. 2018. 2050 Fontes: elaborado com base em IBGE. Censos demográficos 1940-2010; IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: 2007; IBGE. Anuário Estatístico do Brasil, 1981, v. 42, 1979. IBGE. Projeção da população por sexo e idade: Brasil 2000-2060. Rio de Janeiro, 2013. 94 95 Sempre que necessário, há infográficos para que o aluno Atividades visualize e reflita sobre conteúdos complexos apresentados de forma simples, numa combinação de imagens, dados e pe- No fim de cada capítulo, são propostas atividades para o quenos textos. O infográfico é, de fato, um recurso visual que aluno realizar individualmente ou em grupo. Essas atividades facilita a visualização de informações de maneira didática e empregam diferentes linguagens, geográficas e não geográfi- fácil de compartilhar, incentivando o pensamento crítico e a cas, como poemas, letras de canção, mapas, gráficos, reporta- criatividade do aluno. gens recentes sobre algum tema abordado no capítulo, trechos de artigos atuais, fotos, gravuras, charges, etc. As atividades subdividem-se em: Indœstria moderna Hulton-Deutsch Collection/Corbis via Getty Images Texto e ação ATIVIDADES a) Qual é a crítica que o economista citado no texto faz + Ação ao recente crescimento da região Nordeste? A indústria moderna se originou da Revolução Industrial, que ocorreu inicialmen- A seção consiste em ques- + Ação Há questões de compreen- te no Reino Unido (Inglaterra) em meados do século XVIII e depois se espalhou prati- tões que têm como objetivo b) Quais são os estados mais beneficiados com o cres- são de textos e/ou reflexão so- camente por todo o mundo. Diferente do artesanato e da manufatura, a indústria sistematizar o conhecimento 1 A região Nordeste, nas últimas décadas, vem crescen- cimento industrial do Nordeste, segundo o texto? bre eles. moderna fez da fabricação de bens ou objetos materiais a atividade econômica mais ou muitas vezes levar o aluno a do mais que as regiões Sul e Sudeste do país. Entretan- importante da sociedade. O uso maciço de máquinas cada vez mais complexas é sua produzir novos conhecimentos to, alguns argumentam que esse crescimento não be- c) Na sua opinião, as informações do texto comprovam Várias vezes a seção suge- principal característica. sobre a teoria apresentada. Ela neficia toda a região. Leia o texto a seguir e responda uma desconcentração industrial no Brasil? Justifique. re a realização de pesquisas em aparece dentro do capítulo e é às questões. grupo sobre temas relacionados Ao se expandir, a atividade industrial modificou não apenas as cidades – com a uma oportunidade para os alu- 2 Leia os versos e responda às questões: ao capítulo e, quando possível, urbanização que acompanhou a industrialização e com as fábricas dominando a pai- nos verificarem o aprendizado, Nordeste ampliou concentração de riqueza ligados à realidade dos alunos. sagem urbana (e poluindo o ar e as águas) –, mas também o campo, com a mecani- solucionarem dúvidas e discuti- em tr•s Estados Quando o inverno é constante É importante que o professor os zação das atividades agrícolas e o desmatamento de áreas de vegetação nativa para rem com os colegas. O professor o Sertão é terra santa; acompanhe em cada etapa da acomodar grandes plantações. Por esse motivo, a indústria moderna é considerada a pode aproveitar esta seção para O crescimento industrial do Nordeste não ocorre de quem vive da agricultura pesquisa, assessorando-os no atividade humana que mais modificou o espaço geográfico. fazer uma avaliação continuada forma igualitária, segundo avalia o professor do Depar- tem muito tudo que planta. que for necessário, e organize tamento de Economia da Universidade Federal deAla- Há fartura e boa safra, um cronograma para a apresen- O emprego de máquinas modernas permite que a indústria possa produzir em goas e doutor em economia regional, Cícero Péricles todo pobre pinta a manta... tação dos resultados. larga escala e em série. Em larga escala, porque as fábricas produzem enormes quan- Carvalho. De acordo com ele,falar em desenvolvimento tidades de bens, em níveis jamais atingidos pelo artesanato ou pela manufatura; em da região como um todo se torna um equívoco, já que a Quando finda o mês das festas, série, porque passa a existir mais divisões de tarefas; além disso, a máquina uniformi- industrialização é um fenômeno real apenas em três Es- e entra o mês de janeiro, za a produção, isto é, os produtos industrializados são feitos de acordo com um padrão tados: Bahia, Ceará e Pernambuco. quem tem roçado, destoca comum, que os torna iguais. Em relação aos artesanais, os bens industrializados têm a e encoivara, ligeiro, vantagem da quantidade: a Para Carvalho, os números pujantes da economia cada um quer ter a glória produção é gigantesca e em nordestina escondem uma ampliação da concentração de ouvir o trovão primeiro. [...] curto prazo. Assim, na maior das riquezas nos maiores centros da região,com pouca parte das vezes, esses pro- oportunidade para os demais Estados. Se pega a chuva em janeiro, dutos custam menos que os Faz o povo a plantação; artesanais. “Ampliou-se uma distorção já existente,que é a con- Em fevereiro e em março, centração geográfica interna. Na faixa oriental entre Quatro ou cinco limpas dão; Em resumo, podemos Fortaleza,Recife e Salvador,estão 90% do PIB industrial De vinte de abril em diante, afirmar que as característi- da região. Como as economias nordestinas são assi- Já comem milho e feijão... [...] cas básicas da indústria mo- métricas, as unidades maiores e as mais ricas saíram derna são: a mecanização na frente”, declara. E então no mês de julho, (uso intenso de máquinas) e O Sol já fica mais quente, a produção em série ou pro- Segundo ele,hoje,as regiões metropolitanas de For- Caem as folhas dos paus, dução massificada. taleza, Recife e Salvador têm mais população e renda Seca o verde de repente, do que os estados de Alagoas, Paraíba, Rio Grande do É o mês de pouco trabalho, Na imagem, trabalhadoras em Norte, Piauí e Sergipe juntos. Folga quase toda a gente... [...] fábrica de biscoitos, em O “milagre econômico do Nordeste” está concen- Fonte: GUEDES, Antonio Batista. Sertão d’inverno. In: Luis Liverpool, Inglaterra, em 1926. trado nos três grandes centros industriais,nos Estados da Câmara Cascudo. História de vaqueiros e cantadores de Ceará,Bahia e Pernambuco. O mais pujante deles é para jovens. São Paulo: Global: edição digital, 2015. Texto e a•‹o 1. A atividade industrial modificou as paisagens, poluiu o ar e as águas e ocasionou a o Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca urbanização, aumentando a concentração de pessoas nas cidades. No campo, a mecanização (na região metropolitana do Recife). a) Qual é a sub-região do Nordeste sobre a qual o autor das atividades agrícolas aumentou a produção; áreas de vegetação nativa fez esses versos? foram desmatadas, modificando o espaço geográfico. O complexo pernambucano foi o que mais recebeu investimentos e promessas nos últimos anos. De 2007 b) Quais são as estações do ano nessa área? Quando 1 Explique por que a industrialização modificou profundamente o espaço geográfico. a 2011, foram investidos US$ 9,7 bilhões, de um total cada uma começa e o que as marca? previsto de US$ 26,1 bilhões. [...] 2 A expansão da atividade industrial aumentou enormemente os bens à disposição das pessoas: Fonte: MADEIRO, Carlos. Nordeste ampliou concentração de riqueza c) O que o autor quis dizer com a frase “se pega a chu- máquinas diversas, geladeiras, rádios e televisores, telefones, automóveis, aparelhos de ar condicio- em três Estados, diz economista. Disponível em: <https://economia. va em janeiro”? nado, etc. No entanto, ela incentiva o consumismo e produz impactos negativos no meio ambiente. uol.com.br/noticias/redacao/2013/02/19/investimentos-no-nordeste- Em duplas, conversem sobre os aspectos positivos e negativos da atividade industrial. Depois, com- d) Explique o que significam os seguintes versos: “quem partilhem com a turma o que conversaram. se-concentram-em-ce-ba-e-pe.htm>. Acesso em: 2 jun. 2018. tem roçado, destoca e encoivara, ligeiro”. Atividade industrial no Brasil • CAPÍTULO 4 79 218 ATIVIDADES de seus alunos e propor encaminhamentos necessários, em vez de se ater a avaliações quantitativas praticadas em finais de bimestre ou de semestre. XIV MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Lendo a imagem Lendo a imagem 5 Etnias Edson Grandisoli/Pulsar Imagens Biblioteca do aluno 1 Em duplas, observem a imagem abaixo. Atividades relacionadas à Considera-se que a população brasileira foi constituída, ao Sugestões de leituras com- Tiago Queiroz/Agência Estado longo de cinco séculos, por diversos grupos étnicos dos povos plementares de livros paradidá- observação e análise de ima- Thomaz Vita Neto/Tyba indígenas, dos negros africanos e dos brancos europeus. ticos, com o objetivo de enrique- cer os temas estudados. gens (esquemas, fotos, char- A miscigenação entre os grupos étnicos foi bastante intensa no Brasil. De acordo com a denominação nas esta- tísticas oficiais, da miscigenação originaram-se os mestiços ou pardos: o mulato (branco + negro); o caboclo ou mame- luco (branco + indígena); e o cafuzo (indígena + negro). Observe os dados oficiais a respeito dos diversos grupos étnicos na população brasileira. ges, tirinhas, etc.), com base Indígenas da etnia Desano em área indígena próxima ao rio Negro, no município de Manaus (AM), em 2015. em informações complementa- Brasil: grupos étnicos na população total res, bem como à interpretação de mapas. São propostas para Etnias % da população em 1950 % da população em 1980 % da população em 2010 Trabalhador aplica agrotóxico em plantação de cana-de-açúcar no município de Planalto (SP), em 2016. Brancos 61,7 54,7 47,7 a) Listem os elementos visíveis na foto. Negros 11,0 5,9 7,6 b) O que o trabalhador está fazendo? c) Por que ele está usando máscara? Pardos 26,5 38,5 43,1 d) Que danos o uso de agrotóxicos pode provocar ao meio ambiente e às pessoas? 2 Observe a fotografia abaixo. Amarelos e indígenas* 0,6 0,6 1,5 Não declarados 0,2 0,3 0,1 Total 100,0 100,0 100,0 trabalho em duplas ou em gru- * Na etnia amarela são incluídos os asiáticos (japoneses, chineses, coreanos, etc.). Antes do Censo de 2010, os indígenas também eram incluídos nessa categoria, mas, no último recenseamento (2010), o IBGE dividiu essa população entre amarelos ou orientais (2,1 milhões de pessoas naquele ano) e indígenas (821 mil). Fonte: IBGE. Recenseamentos gerais de 1950, 1980 e 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/populacao/9662-censo- demografico-2010.html?=&t=downloads>. Acesso em: 28 maio 2018. pos e podem ser extremamen- Esses dados demonstram que o Brasil não é um país de maioria branca, de origem Minha biblioteca europeia. te produtivas, pois contribuem Doze lendas brasileiras: Os afrodescendentes como nasceram as para melhorar a comunicação Vista de paisagem rural em Sinop (MT), em 2015. estrelas, de Clarice e a interatividade não só entre ¥ Qual é o aspecto negativo da agropecuária retratado na imagem? Por séculos, milhares de africanos foram escravizados e trazidos para o Brasil Lispector e ilustração de os componentes da própria para trabalhar como mão de obra, acabando por ter papel relevante na formação da Suyuara. Rio de Janeiro: sociedade brasileira. Rocco, 2016. A autora reconta lendas Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2017 mostram brasileiras, uma para desigualdades entre brancos e negros quanto à taxa de alfabetização: a taxa de cada mês do ano, com analfabetismo dos brancos com 15 anos ou mais de idade corresponde a 4%, sendo representações do 9% entre os negros. Esses índices variam de acordo com as regiões do Brasil; no folclore brasileiro, entanto, em todas as regiões se observa maior taxa de analfabetismo entre os negros. apresentando aspectos Quanto aos anos de estudo, os adultos brancos apresentam, em média, 10,3 anos culturais da formação e os negros, 8,7. da nação brasileira. ATIVIDADES 133 População brasileira • CAPÍTULO 3 63 equipe, mas também entre as Mundo virtual demais equipes da sala de aula. Desde que haja participação e Indicações de sites para O termo nação é mais complexo e possui dois sentidos principais. No primeiro, consulta, pois consideramos mais geral, nação é o mesmo que povo, ou seja, um conjunto de pessoas com língua empenho por parte dos integrantes ao trabalhar em grupo, os alu- as redes de computadores e tradições comuns. Nesse sentido, podemos falar em nação cigana, nação curda, ti- uma ferramenta fundamental betana, chechena, etc. No outro sentido, nação é um povo com território, governo e nos têm contato com atitudes que serão fundamentais ao longo na busca de informações re- leis próprias. Dessa forma, o povo cigano, por exemplo, não constituiria uma nação, centes e atualizadas. pois não tem território nem governo próprios. Neste segundo sentido, nação significa de toda a sua vida, como cooperação, respeito mútuo e aceitação país ou Estado-nação. de diferentes pontos de vista. Drop of Light/Shutterstock Assim, nação é o mesmo que país, isto é, um povo que vive num território próprio, tendo um governo que o representa. Esse é o significado de nação empregado inter- Projeto nacionalmente e aceito pela Organização das Nações Unidas (ONU). Brasil, Estados Unidos, China, Alemanha, etc. são exemplos de países. Observe abaixo a foto da sede da ONU, organização internacional formada por quase todos os países do mundo. É nesse local que esses Estados nacionais se reúnem para discutir problemas comuns. Há povos que chamam a si próprios de nações e almejam alcançar sua indepen- dência. É o caso, como vimos, dos mongóis, dos tibetanos, dos curdos e dos bascos, entre outros. Eles podem vir a tornar-se países ou Estados-nações, mas por enquan- to são povos dominados, que vivem em um território sob o controle de outros povos. O conceito de nação usado pela ONU é o mesmo adotado neste livro: um povo com território e governo próprios. Na foto, sede da ONU, localizada em Nova York, Estados Unidos, em 2015. PROJETO Língua Portuguesa Para iniciar o projeto, junte-se a três ou quatro Gerson Gerloff/Pulsar Imagens colegas. Em grupo, respondam: O Brasil em revista Apresentação da dança Texto e ação Mundo virtual • Com base no que aparece na mídia (rádio, te- pau-de-fita em festa gaúcha Ao longo da Unidade 4, você estudou as regiões brasileiras e já sabe as diferenças entre levisão e internet), que imagens vêm à mente em Santa Maria (RS), em 2017. 1 Em duplas, elaborem um pequeno texto sobre o Brasil utilizando os Organização das Nações a regionalização proposta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a pro- quando vocês pensam na região conceitos de sociedade, povo, nação e país. 1. Resposta pessoal. Unidas (ONU) posta pelo geógrafo Pedro Geiger. A primeira divide o Brasil em cinco regiões: Norte, Nordes- Disponível em: <http:// te, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Já a segunda regionalização divide o território brasileiro em • Norte? 2 O conceito de nação usado pela ONU é o mesmo adotado neste livro. Qual onu.org.br/>. Acesso em: apenas três regiões: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul. • Sul? é esse conceito? 2. Povo com território e governo próprios. 30 ago. 2018. • Nordeste? Você também já sabe que o Brasil é um país com diversificadas características econômi- • Sudeste? 3 Em que cidade e país se localiza a sede da ONU? Ao observar a foto desta O site da ONU traz notícias cas, sociais, culturais e físicas. Observe algumas manifestações culturais das diversas regiões • Centro-Oeste? página, algum elemento chamou a sua atenção? Qual? e artigos relacionados à do país. sua área de atuação, Tomem nota, no caderno ou em uma folha avul- 3. Localiza-se em Nova York, nos Estados Unidos. A segunda parte da resposta é pessoal, como direitos humanos, Bruno Zanardo/Fotoarena Lula Castello Branco/ASCOM sa, de todos os pontos levantados pelos integrantes mas chame a atenção dos alunos para as bandeiras hasteadas, símbolos visuais dos países. ações humanitárias, do grupo. desenvolvimento 14 UNIDADE 1 ¥ Brasil: território e sociedade sustentável, entre outros Agora, reflitam: Será que o que a mídia apresenta sobre as regiões brasileiras consegue temas. abarcar todas as características que as regiões realmente apresentam? Por exemplo, é comum que as pessoas pensem na região Sudeste, especialmente no estado de São Paulo, como uma área próspera e de desenvolvimento econômico constante. Entretanto, na região Sudeste há áreas bastante carentes. O intuito deste projeto é pesquisar aspectos menos noticiados de cada região. Depois, cada grupo montará uma revista com as informações que descobriram. O Festival Folclórico de Parintins é uma festa a céu aberto realizada Coco de Roda é um ritmo típico do Nordeste brasileiro. Vamos come•ar! 5 Problemas urbanos De olho na tela anualmente no último fim de semana de junho do município de A batida dos pés é marcante. A foto mostra o Festival Parintins (AM). A festa é bastante apreciada no Norte do Brasil e de Coco de Roda em Maceió (AL), em 2015. Etapa 1 – O que fazer O processo de urbanização no Brasil, assim como nos países subdesenvolvidos e Sugestões de filme ou docu- atrai turistas do mundo inteiro. Na foto, apresentação do Auto do em parte dos emergentes, vem acarretando uma série de problemas urbanos que mentário relacionados ao con- Boi, no Bumbódromo, em Parintins (AM), em 2018. Após a conversa inicial do grupo, escolham uma região brasileira para pesquisar. necessitam ser solucionados. Grande parte desses problemas é ocasionada por fato- teúdo estudado em cada uni- A respeito da região escolhida, pensem nas notícias que vocês mais ouvem sobre ela e res como a industrialização tardia e a rápida urbanização; o tipo de desenvolvimento dade, que podem ser utilizados Marco Antonio Sá/Pulsar Imagens A Congada ou Dança do Congo é uma festa afro-brasileira bastante o que ainda não sabem, mas gostariam de descobrir. econômico no qual a distribuição social da renda é extremamente concentrada, geran- como importante ferramenta popular na região Centro-Oeste: com dança e canto, o bailado Então, elenquem pelo menos quatro aspectos dessa região sobre os quais vocês gosta- do muitos bolsões de pobreza, principalmente nas periferias das grandes cidades; auxiliar no trabalho do professor encena a coroação de um rei do Congo. Seu enredo também conta riam de saber e que não são tão noticiados pela mídia. Vocês podem escolher temas de certo descaso do poder público – federal, estadual e municipal –, que muitas vezes em sala de aula, além de estimu- a vida de São Benedito. Na foto, Congada em Vila Bela (MT), em 2014. cultura, belezas naturais, patrimônios históricos, folclore, lazer, política, clima, etc. não investe adequadamente em programas de moradia popular, transporte coletivo, lar o interesse dos alunos. Pesquisem sobre os temas escolhidos e conversem com familiares e com os colegas. segurança, tratamento e distribuição da água, rede de esgotos, iluminação e asfalta- CP DC Press/Shutterstock mento das vias públicas, entre outros. Etapa 2 – Como fazer Moradia popular Após a realização das pesquisas sobre o(s) tema(s) escolhido(s), organizem a elaboração O Brasil é famoso pelas escolas de samba e pela exuberância do de uma revista. Juntem as informações pesquisadas, troquem ideias e combinem os artigos, A carência de moradias populares é um dos graves problemas do Brasil atual. As De olho na tela Carnaval. A festa é apreciada não somente na região Sudeste, mas notícias ou reportagens que vão escrever. comunidades vêm aumentando em número e população nos grandes e médios centros urbanos de modo significativo desde a década de 1950. Algumas vezes, desocupa-se Fantasmas urbanos. em todo o país. Na foto, ala das baianas em apresentação de Cada notícia, reportagem ou artigo deve ser acompanhado de imagens (fotografias, Direção: Matheus escola de samba no Rio de Janeiro (RJ), em 2017. mapas ou ilustrações). Marestoni. Brasil, 2013. 254 PROJETO Deem um nome para a revista. uma comunidade para a construção de uma obra no terreno, e parte da sua população O documentário aborda Lembrem-se de que, além dos artigos, a revista deve ter uma capa e um sumário. é transferida para conjuntos habitacionais construídos com recursos públicos. No a questão da ocupação entanto, outra parte dessa população não é beneficiada pelo programa habitacional e de edifícios Etapa 3 – Apresentação precisa arrumar uma forma de se manter na cidade, daí o aparecimento de novas abandonados no centro da cidade de São Paulo. Em data combinada com o professor, cada grupo deverá apresentar para a turma a re- vista criada. Informe aos colegas qual foi a região escolhida, quais assuntos motivaram a pesquisa e que informações encontraram. Socialize a revista com a turma para que todos possam ler e observar as imagens. Após o intercâmbio das revistas na turma, vocês vão perceber que sabem mais sobre as regiões do Brasil do que antes do projeto. PROJETO 255 comunidades e o crescimento das já existentes. Muitas famílias transferi- Simon Plestenjak/UOL/Folhapress das para conjuntos habitacio- nais acabam retornando às Ao final de cada unidade, a seção apresenta uma proposta de moradias precárias, chamadas atividade interdisciplinar, cujo objetivo é trabalhar os conteúdos estudados, levando os alunos a pesquisar, investigar e analisar pelo IBGE de submoradias, vários temas e convidando-os a refletir e debater sobre eles. Todos os projetos solicitam uma produção final: um cartaz, um vídeo, pois o desemprego e o su- uma exposição, etc. bemprego inviabilizam o pa- gamento das prestações do apartamento no conjunto ha- bitacional. Dessa forma, esses conjuntos habitacionais cons- truídos para abrigar popula- ções de baixa renda acabam, muitas vezes, servindo à clas- se média empobrecida. Outro tipo de habitação popular encontrada nos gran- des centros urbanos do país e Vista de casas na comunidade de Paraisópolis, na zona sul do município de São Paulo (SP), em 2017. que se multiplicou nas últimas décadas são as casas erigidas a partir da autoconstru- •‹o: a casa própria construída pela família e por amigos em um lote de terra compra- do na periferia da cidade. A construção pode demorar vários anos, e o material (tijolos, Poupan•a: parte cimento, encanamento, tinta, etc.) é adquirido aos poucos, com recursos da pequena dos rendimentos poupança que a família faz. que é economizada. 106 UNIDADE 2 ¥ Brasil: utiliza•‹o do espa•o Para saber mais Transição demográfica Bibliografia Bibliografia A seção aparece quando há Como é possível observar no quadro da página anterior, as taxas de morta- A bibliografia incluída no AB’SABER, A. N. Amazônia: do discurso à práxis. São LEVINAS, l. et al. Reestruturação do espaço urbano e regional a necessidade de comunicar lidade vêm diminuindo no Brasil desde os anos 1940. Esse decréscimo foi anterior fim do livro do aluno relaciona Paulo: Edusp, 2001. do Brasil. São Paulo: Annablume, 2002. informações de destaque so- à redução das taxas de natalidade, o que é comum no mundo todo. Em geral, as obras utilizadas e consul- bre o tema estudado. costuma ocorrer primeiro uma queda na mortalidade e somente após uma ou tadas pelos autores na ela- 2017. . Brasil: paisagens de exceção. São Paulo: Ateliê, LIMA, R. C. Pequena história territorial do Brasil: sesmarias e duas décadas é que se verifica uma queda semelhante na natalidade. A esse pe- boração de cada volume da terras devolutas. 4. ed. Brasília: ESAF, 1988. ríodo damos o nome de transição demográfica, no qual o crescimento da popu- coleção. lação se acentua muito. . Os domínios de natureza no Brasil: OLIVEIRA, F. de. Elegia para uma re(li)gião. 6. ed. Rio de Nos países desenvolvidos, a transição demográfica (veja o boxe abaixo) ocorreu potencialidades paisagísticas. 6. ed. São Paulo: Ateliê, 2010. Janeiro: Paz e Terra, 1993. durante o século XIX e início do XX. Atualmente, esses países possuem taxas de natalidade e de mortalidade baixas, com um crescimento vegetativo pequeno. Às AFFONSO, R. de B.; SILVA, P. L. (Org.). Federalismo no Brasil: PATERSON, J. H. Terra, trabalho e recursos: uma introdução vezes, chegam a apresentar até mesmo taxas negativas de crescimento. desigualdades regionais e desenvolvimento. São Paulo: à Geografia econômica. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. Fundap/Unesp, 1995. Os países subdesenvolvidos e os emergentes encontram-se em duas fases ou PEARCE, D. Geografia do turismo. São Paulo: Aleph, 2003. estágios. Alguns – como Argentina, Coreia do Sul, Uruguai e Brasil – já estabilizaram AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Conjuntura dos seu crescimento demográfico em baixas taxas. Outros, como parte das nações afri- recursos hídricos no Brasil: 2017. Brasília: MMA/ANA, 2017. PIERRON-BOISARD, F. Espaces & civilisations. Paris: Belin, canas e asiáticas – Libéria, Burundi, Somália, Uganda, Paquistão, Afeganistão –, 1987. apresentam mortalidade em declínio e continuam com altas taxas de natalidade (são ANDRADE, M. C. de. A terra e o homem no Nordeste. São atualmente os países com o maior crescimento populacional no mundo). Paulo: Cortez, 2005. PIFFER, M.; FURLAN, S. A. Amazônia. São Paulo: Editora Brasileira, 2018. Para saber mais CAMPANHOLA, C.; GRAZIANO DA SILVA, J. O novo rural brasileiro: novas atividades rurais. Brasília: Embrapa RIBEIRO, A. C. T. et al. Brasil, território da desigualdade. Rio A evolução demográfica Informação Tecnológica, 2004. v. 6. de Janeiro: Zahar, 1991. Como se observa no gráfico ao la- Modelo de transi•‹o demogr‡fica CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do do, geralmente, os países passam por Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Luiz Fernando Rubio/Arquivo da editora etapas da evolução demográfica em Fase Fase de transição Fase Fase CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado: investigações de ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do Brasil. 8. ed. São Paulo: sua população. Existem cinco fases Pré-industrial moderna atual Antropologia política. Porto: Edições Afrontamento, 1979. Edusp, 2011. de crescimento populacional: a pri- Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 CUNHA JÚNIOR, H. Tecnologia africana na formação RUBENSTEIN, J. M. Cultural Landscape. 11. ed. London: brasileira. Rio de Janeiro: CEAP, 2010. Prentice Hall, 2013. meira fase, que dura séculos, ocorre GONÇALVEZ, C. W. P. Amazônia, Amazônias. São Paulo: SACHS, I.; WILHEIM, J.; PINHEIRO, P. S. (Org.). Brasil: um Contexto, 2001. século de transformações. São Paulo: Companhia das quando ambas as taxas (natalidade Letras, 2001. HAESBAERT, R. Regional-global: dilemas da região e da e mortalidade) são elevadas, resul- regionalização na Geografia contemporânea. Rio de SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. Edusp, 2004. tando num crescimento demográfico pequeno. Na segunda fase, que se inicia com a industrialização e a urba- Decréscimo nização do local, há uma grande que- da população da na mortalidade que não é acom- Crescimento vegetativo Taxa de natalidade Taxa de mortalidade JARMAN, K.; SUTCLIFFE, A. Agriculture and Rural Issues. ; SILVEIRA, M. L. Brasil: território e sociedade no London: Simon Ross, 1990. (Longman Co-Ordinated início do século XXI. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. panhada pelo declínio da natalidade; Fonte: elaborado com base em ORT Campus virtual. Disponível em: <http://campus. Geography). THE WORLD BANK. World Development Indicators, 2018. o resultado é uma aceleração do belgrano.ort.edu.ar/cienciassociales/articulo/204483/modelo-de-transicion-demografica>. TUAN, Y. Espaço & lugar. São Paulo: Difel, 1983. crescimento populacional, conhecido Acesso em: 13 jun. 2018. KREIN, J. D.; WEISHAUPT, P. M. Economia informal: UNWIN, T. El lugar de la Geografía. Madrid: Cátedra, 2007. aspectos conceituais e teóricos. Brasília: OIT, 2010. como explosão demográfica. A terceira fase ocorre quando a taxa de natalidade começa a cair, havendo ainda um (Trabalho Decente no Brasil; Documento de Trabalho, n. 4). crescimento demográfico elevado (embora menor que na fase anterior). A quarta fase é aquela na qual começa a haver uma confluência entre ambas as taxas (natalidade e mortalidade), o que provoca uma diminuição do cres- cimento da população, tornando-se mínimo. Por fim, a quinta e última fase ocorre quando há um decréscimo KRUGMAN, P. Desarrollo, geografía y teoría económica. VENTURI, L. A. B. Ensaios geográficos. São Paulo: Barcelona: Antoni Bosch, 1997. Humanitas, 2008. populacional, ou seja, as taxas de natalidade são menores que as de mortalidade. Nessa última fase, a fecundidade média da mulher é menor que 2,1 (o número mínimo de filhos por mulher em idade fértil para que a população se VOGT, C.; FRY, P. Cafundó: a África no Brasil. 2. ed. Campinas: Unicamp, 2014. mantenha estável). ; FUJITA, M.; VENABLES, A. J. Economia espacial. São Paulo: Futura, 2002. População brasileira • CAPÍTULO 3 47 256 BIBLIOGRAFIA MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL XV
O Manual do Professor Além das respostas às atividades, esse manual conta com orienta- ções didáticas, indicação de habilidades e competências da BNCC, O Manual do Professor em formato em U foi pensado para facili- atividades e textos complementares e sugestões de fontes para tar a atuação do professor em seu dia a dia. Assim, as informações aprofundamento. Observe a seguir como essas informações são estão dispostas em torno da reprodução da página do livro do dispostas no Manual do Professor. aluno, permitindo ao professor acessar o conteúdo prontamente. Objetivos da unidade Relaciona os objetivos de aprendizagem pretendidos com o estudo dos conteúdos abordados na unidade. Objetivos da unidade Estrada que liga os municípios de Lauro Müller e Bom Jardim da Serra, UNIDADE Paisagens Orienta•›es did‡ticas • Conhecer o relevo, o clima, no estado de Santa Catarina. A estrada possui 284 curvas e sua extensão naturais e Antes de começar o estudo da é de 23 km. Essa serra é conhecida como serra do Rio do Rastro. 3 a•‹o humana a hidrografia e a vegetação unidade, chame a atenção dos do Brasil. 136 Nesta unidade você vai estudar a alunos para o percurso feito até • Entender a dinâmica entre dinâmica própria dos elementos da este momento. Inicialmente, foi os elementos da natureza natureza – relevo, clima, hidrografia e necessário compreender como na formação do espaço geo- vegetação – e como as ações humanas se organizou e como se formou gráfico do Brasil. interagem com esses elementos na o território brasileiro, de forma a • Compreender a ação antró- organização dos espaços ocupados e compreender a sua população e pica sobre espaço geográfi- modificados pelas atividades como ela utiliza o espaço geo- co brasileiro e seus efeitos. desenvolvidas em nossa sociedade. gráfico. Neste momento, é im- • Refletir sobre a importância portante conhecer as paisagens de preservar os recursos naturais existentes no país e co- naturais. mo a população interage com ela e altera essa paisagem. Competências Imagem de abertura: Oriente Gerais da Educação Básica os alunos a observar a imagem mobilizadas na unidade: de abertura. Pergunte quais ele- mentos são naturais e quais são • Competência geral 1 antrópicos. Trabalhe as questões • Competência geral 2 propostas e questione-os sobre • Competência geral 3 outras intervenções humanas • Competência geral 4 semelhantes a essa no municí- • Competência geral 5 pio ou no estado em que vivem. • Competência geral 6 • Competência geral 7 Aproveite a oportunidade para • Competência geral 8 consultar o plano de desenvol- • Competência geral 9 vimento do bimestre disponível • Competência geral 10 no material digital Específicas de Ciências Tales Azzi/Pulsar Imagens Observe a foto e responda às seguintes Humanas para o Ensino questões: Fundamental mobilizadas na unidade: 1 O que chama a sua atenção na imagem? • Competência específica 1 • Competência específica 3 2 O que foi construído na paisagem? • Competência específica 6 Qual é a necessidade humana • Competência específica 7 satisfeita com a realização dessa obra? Específicas de Geografia para o Ensino Fundamental 3 Quais foram os impactos ocorridos mobilizadas na unidade: no local após essa intervenção humana? Como eles alteraram a • Competência de Geografia 1 paisagem? • Competência de Geografia 3 • Competência de Geografia 4 • Competência de Geografia 5 • Competência de Geografia 6 137 Habilidades trabalhadas nesta unidade EF07GE11 Caracterizar dinâmicas dos componentes físico-natu- rais no território nacional, bem como sua distribuição e biodiversi- EF07GE01 Avaliar, por meio de exemplos extraídos dos meios de dade (Florestas Tropicais, Cerrados, Caatingas, Campos Sulinos e comunicação, ideias e estereótipos acerca das paisagens e da for- Matas de Araucária). mação territorial do Brasil. EF07GE12 Comparar unidades de conservação existentes no Muni- EF07GE09 Interpretar e elaborar mapas temáticos e históricos, in- cípio de residência e em outras localidades brasileiras, com base na clusive utilizando tecnologias digitais, com informações demográ- organização do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). ficas e econômicas do Brasil (cartogramas), identificando padrões espaciais, regionalizações e analogias espaciais. 136 MANUAL DO PROFESSOR - UNIDADE 3 137MANUAL DO PROFESSOR - UNIDADE 3 Competências Habilidades Orientações didáticas Apresenta as competências gerais Relaciona as habilidades da BNCC Oferece sugestões de e específicas da área de Ciências que são trabalhadas na unidade. encaminhamentos pedagógicos, Humanas e as de Geografia que são proporcionadas por meio do estudo informações adicionais aos proposto na unidade. temas abordados, orientações necessárias ao desenvolvimento de atividades ou ampliações. XVI MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Habilidades CAPÍTULO Atividade industrial 1 Do artesanato à indústria Orientações didáticas trabalhadas neste no Brasil Oriente os alunos a ler o texto capítulo 4 moderna e a observar a imagem. É impor- EF06GE02 EF06GE08 A fabricação de bens necessários à vida humana ocorre desde que a humanidade O produto artesanal se tante que eles compreendam as começou a transformar elementos da natureza para fazer artefatos, como vasos, origina da criatividade de diferenças entre o artesanato e EF06GE05 EF06GE09 arcos e flechas, instrumentos de madeira e de argila, etc. Essa fabricação de bens a cada artesão; dessa forma, a manufatura. partir de matérias-primas retiradas da natureza conheceu diferentes momentos ao é improvável que haja peças EF06GE06 EF06GE10 longo da História até chegar às profundas alterações realizadas atualmente pela ati- exatamente idênticas de um Comente com os alunos que, vidade industrial. As principais etapas desse processo foram o artesanato, a manufa- mesmo produto. Na imagem, apesar do desenvolvimento da EF06GE07 tura e a indœstria moderna. de 2016, mulheres produzem manufatura e da indústria, mui- artesanato com fibra do sisal tas pessoas ainda vivem do ar- Orientações didáticas Artesanato no município de Valente, na tesanato. Pergunte aos alunos Oriente os alunos a observar Bahia. Elas são conhecidas se conhecem algum produto de Durante muitos milênios, o artesanato foi a maneira pela qual as pessoas produ- como “cantadeiras do sisal”: origem artesanal. Eles podem a fotografia apresentada e a ler ziram seus primeiros objetos de uso: potes e vasos feitos de argila, machados, facas, enquanto fiam, cantam mencionar produtos feitos de a legenda. Em seguida, peça a roupas, entre outros. cantigas de trabalho com crochê e tricô, doces e bolos ar- eles que respondam oralmente estrofes que narram o dia tesanais, sabonetes, objetos de às questões. Verifique os conhe- A principal característica do artesanato é a ausência da divisão social do traba- a dia da produção. decoração, entre outros. cimentos que eles já dispõem so- lho, ou seja, cada pessoa faz um objeto inteiro, do início até o fim. Assim, desde a bre o tema a ser abordado neste ideia inicial da confecção de um casaco, por exemplo, o artesão realiza todas as Comente com os alunos que capítulo. etapas, até obter o produto final: escolhe o modelo e o tecido, faz o molde, corta o alguns ofícios são considerados pano, costura as partes, põe o forro, prega os botões. artesanais, como: alfaiate, carpin- Atividade 1: Espera-se que os teiro, carroceiro, chapeleiro, cor- alunos identifiquem os produtos Os instrumentos de trabalho doeiro, cuteleiro, ferreiro, oleiro, fabricados pela indústria têxtil são simples (facas, tesouras, marte- ourives, pedreiro, peleiro, sapa- que ele e sua família utilizam no los, agulhas, linhas de costura, etc.) e teiro, seleiro, serralheiro, tanoei- dia a dia, como roupas, tapetes, geralmente pertencem ao próprio ro, tecelão e tintureiro. Pergunte toalhas, lençóis, etc. trabalhador, o artesão. Tradicional- a eles se conhecem pessoas que mente, o principal objetivo da ativi- praticam esses ofícios, quais de- Atividade 2: Caso o município dade artesanal é atender às neces- les ainda estão presentes no dia onde os alunos vivem seja muito sidades do artesão e de sua família, a dia e por que são cada vez mais grande e possua muitas empre- embora muitas vezes troquem ou raros de se encontrar. sas, a questão pode ser reduzida vendam seus produtos. para o bairro onde moram. Es- Explique aos alunos que na timule-os a buscar as informa- Pode-se dizer que o artesanato manufatura, por causa da divisão ções solicitadas nessa questão depende basicamente das habilida- do trabalho, a quantidade produ- na internet ou por meio de pes- des do artesão, pois se trata de um zida é maior e há certa padroni- quisa de campo, caso as indús- trabalho manual e individualizado. zação do produto final. Enquanto trias disponibilizem algum tipo Observe a foto ao lado. predominou, entre os séculos XVI de canal de comunicação com João Prudente/Pulsar Imagens e XVIII, a produção manufatureira a população local. Sergio Pedreira/Pulsar Imagens visava atender principalmente o mercado local. O conteúdo desta Se julgar conveniente, co- Para come•ar página permite tangenciar as ha- mente que a atividade indus- bilidades EF07GE05 e EF07GE08. trial colabora com o bem-estar Trabalhadora em fábrica têxtil no município de Amparo (SP), em 2015. Observe a foto e Manufatura da população ao proporcionar converse com os Se oportuno, com a finalidade empregos, fornecer máquinas, Neste capítulo vamos conhecer o que é indústria, como ela se desenvolveu e quais colegas e com o A manufatura é considerada uma etapa intermediária entre o artesanato e a de ilustrar o conteúdo sobre arte- alimentos e bens de consumo são alguns de seus tipos. Vamos estudar ainda o processo de industrialização do Brasil, professor: indústria moderna. Predominou na Europa entre os séculos XVI e XVIII, e tem como sanato, proponha aos alunos que duráveis e não duráveis. No en- além das principais atividades industriais existentes hoje no país. Analisaremos a dis- principal característica o uso de máquinas simples (teares manuais, por exemplo). Na assistam ao documentário His- tanto, ela também contribui para tribuição da atividade industrial pelo território para compreender por que a indústria é 1. Você ou sua família manufatura, há uma divisão social do trabalho: cada trabalhador ou grupo de traba- tórias rendadas, direção: André alterar o meio ambiente, muitas o tipo de atividade ou trabalho humano que mais modifica o espaço geográfico. utilizam produtos lhadores fica responsável por uma tarefa. É o conjunto de tarefas de todos os Seiti e Richner Allan, 2016. Idea- vezes degradando-o. A partir des- desse tipo de trabalhadores que permite a obtenção do produto final. Apesar disso, ainda é a lizado pela designer Fernanda sa reflexão, pergunte aos alunos indústria? Quais? habilidade das pessoas que comanda o processo de trabalho, e não as máquinas. Yamamoto, o documentário mos- que solução eles poderiam propor tra a riqueza do trabalho das ren- para que a indústria continuas- 2.Há fábricas no deiras do Cariri (PA), bem como se a produzir bens sem causar município onde você a realidade por elas enfrentada, danos ao meio ambiente. Este é mora? De onde vem a importância da preservação bom momento para trabalhar de a matéria-prima dessa tradição, a valorização forma introdutória a CECHEF3. delas? desse trabalho manual e o proje- to que a designer executou com 1. e 2. Resposta pessoal. as artesãs. 76 UNIDADE 2 ¥ Brasil: utilizaç‹o do espaço Atividade industrial no Brasil • CAPÍTULO 4 77 O texto ao lado apresenta a relevância do trabalho do arte- Texto complementar são para o turismo e a economia local, além de mencionar as di- A importância do artesanato para o turismo Com a venda de suas peças para os turistas, os artesãos movimen- ferentes características dos pro- tam a economia local, geram emprego e renda não só para a família dutos artesanais pelas regiões O Brasil tem cerca de 10 milhões de artesãos. Gente criativa que do artista como também para toda a sua comunidade. [...] brasileiras. vive de bordar, costurar e esculpir, e que comercializa seus produtos em diferentes espaços como feiras, mercados ou centros de artesa- VALADARES, Carolina. A importância do artesanato 77MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 4 nato. É a arte e a cultura de um povo refletida em diversos produ- para o turismo. Portal do Ministério do Turismo, 18 mar. 2016. tos, uma arte passada de geração em geração. Comemorado neste sábado (19), o Dia Mundial do Artesão deste ano terá um sabor es- Disponível em: <www.turismo.gov.br/chamadas/6032-a- pecial, será a primeira celebração da data após a regulamentação da import%C3%A2ncia-do-artesanato-para-o-turismo.html>. profissão, em 22 de outubro de 2015. [...] Acesso em: 6 set. 2018. 76 MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 4 Texto complementar Habilidades trabalhadas Textos de referência sobre neste capítulo um tema abordado no livro a fim Destaca as habilidades que de complementar informações são desenvolvidas no decorrer ou contribuir para a formação do capítulo. continuada do professor. Orientações didáticas Até as primeiras décadas do século passado, Eduardo Knapp/Folhapress A partir da leitura do texto e da por exemplo, não existiam, na maioria dos países, conversa sobre o tema, os alunos devem compreender que todos escolas públicas e obrigatórias para os jovens; as os serviços públicos e leis, que visam garantir proteção e quali- pessoas não podiam expressar opiniões contrárias dade de vida, nem sempre existi- ram, mas são ganhos históricos, ao governo por causa do risco de serem presas e que cresceram ou se modifica- ram com o tempo. Adquirir essa até torturadas. Esses direitos democráticos se noção histórica é importante para que os alunos se reconhe- transformam com o tempo, conforme surgem no- çam como cidadãos dentro um contexto social específico, numa vas necessidades e mudanças na sociedade. Hoje, época determinada. Ao enten- der que nem sempre foi assim, há direitos democráticos que não existiam até também podem compreender que ainda muito pode mudar, recentemente, como o de atendimento médico- porém isso exige informação e participação social. -hospitalar, de moradia, de meio ambiente sadio, Se achar adequado, pontue entre outros. que os níveis de escolarização de um país estão diretamente Uma grande desigualdade social, como a que Segundo o Ministério da Saúde, todos os cidadãos devem ter acesso ligados à cidadania, pois a alfabe- existe no Brasil, não é boa para a democracia nem igualitário e gratuito a atendimento médico, desde atendimento tização e a formação crítica são para a cidadania. Por sinal, ambas são interligadas. ambulatorial até cirurgias e transplante de órgãos. O direito à saúde é um fundamentais para a capacidade Já vimos que na história do Brasil, no período co- dever do Estado. Na foto, área interna do Hospital Geral de Vitória da de compreender a sociedade em Conquista (HGVC), em Vitória da Conquista (BA), em 2015. que se está inserido e exercer a cidadania. lonial, a sociedade foi criada para servir aos objetivos da metrópole colonizadora. Nessas O desdobramento do tópico condições, a cidadania pouco se desenvolveu no Brasil. contempla a CGEB10. Até o fim do século XIX, a maioria da população era escravizada ou muito pobre e Texto e ação quase não possuía direitos políticos. Houve mudanças desde essa época: abolição da Atividades 1 e 2: Após a lei- tura do texto das páginas 39 e escravatura, a vinda de grandes contingentes de imigrantes, intensa urbanização com 40, é esperado que o aluno sai- ba que o desenvolvimento eco- volumosas migrações do campo para as cidades, introdução de eleições e do direito nômico e social da população como um todo está atrelado à ao voto, etc. democracia. Esta é um regime político que, idealmente, é de- Dessa forma, a construção Luciana Whitaker/Pulsar Imagens dicado aos interesses da popu- lação, promove a igualdade dos da cidadania, base da democra- cidadãos, assegura a pluralidade de visões e posicionamentos e cia, é algo ainda a ser ampliado Para aprofundar garante os seus direitos civis, políticos e sociais. no Brasil. É um desafio para esta Boxe com indicação de sites, livros, filmes, Atividade 3: Apesar de a res- e para as novas gerações. artigos científicos, etc. que posta ser pessoal, o aluno deverá visam ao aprofundamento embasar sua opinião em dados e Brasileira votando no município do de um tema abordado, argumentos, valendo-se de indi- proporcionando a cadores e informações estuda- Rio de Janeiro (RJ), nas eleições de atualização do professor. dos durante este capítulo e de 2014. O voto é obrigatório para os seu conhecimento prévio. Mo- biliza-se, assim, a CGEB7. cidadãos entre 18 e 70 anos e Atividade complementar facultativo para quem tem 16 ou Proponha aos alunos uma ati- 17 anos e mais de 70 anos. vidade de pesquisa a respeito dos direitos e deveres dos cida- 1. O desenvolvimento não depende apenas de crescimento econômico, mas também da qualidade dãos brasileiros, trabalhando assim a CGEB1. No dia em que da democracia. A qualidade de vida de uma população está interligada trouxerem as informações pes- quisadas, aproveite para fazer Texto e a•‹o à garantia de seus direitos e à criação de novos direitos, já que com as uma roda de conversa para o mudanças sociais surgem novas reivindicações de direitos. A ampliação da compartilhamento das informa- ções que obtiveram. Pergunte se cidadania também é um indicativo do desenvolvimento de um país. eles cumprem com os deveres e se sentem que seus direitos são 1 Explique por que desenvolvimento e democracia são processos interligados. garantidos, promovendo uma reflexão sobre ser e se sentir ci- 2 Por que a cidadania plena – isto é, sem restrições – só existe em sociedades democráticas? dadão brasileiro, mobilizando a CECHEF2. 3 Você acha que a cidadania plena existe no Brasil tal como nos países desenvolvidos e democrá- 40 MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 2 ticos? Converse com os colegas. 2. Toda sociedade democrática desenvolveu e expandiu a cidadania por meio da ação das pessoas, que pressionaram seus governos para conquistar mais direitos. Atividade complementar Esses direitos são constantemente alargados, ou seja, podemos, com o decorrer Sugestão de atividade sobre temas 3. Resposta pessoal. do tempo, aperfeiçoar ou mesmo criar novos direitos, desde que eles beneficiem que podem ser sistematizados ou toda a sociedade ou a maioria dela. aprofundados, auxiliando o professor 40 UNIDADE 1 ¥ Brasil: território e sociedade diante das necessidades dos alunos. Para aprofundar CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil – O longo caminho. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. Nesse livro, o cientista político e historiador brasileiro explica o desenvolvimento da democracia brasileira desde o período da indepen- dência até o fim do século XX. Ao longo do livro discute sobre os cidadãos e os direitos que possuíam em cada período. Ao fim, faz um ba- lanço trazendo à tona a desigualdade social existente no país e os desafios da democracia e da cidadania que ainda devem ser enfrentados. XVIIMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
3 A BNCC em foco no 7o ano Competências gerais da Educação Básica Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4 Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como co- nhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e senti- mentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e co- municação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar- -se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, au- tonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a cons- ciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emo- ções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a coope- ração, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. XVIII MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Competências específicas de Ciências Humanas para o Ensino Fundamental Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4 Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 1. Compreender a si e ao outro como identidades dife- rentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos. 2. Analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-científico-informacional com base nos conhe- cimentos das Ciências Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo contemporâneo. 3. Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza e na sociedade, exercitando a curio- sidade e propondo ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social e cultural, de modo a participar efetivamente das dinâmicas da vida social. 4. Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvi- das com relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencia- lidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 5. Comparar eventos ocorridos simultaneamente no mesmo espaço e em espaços variados, e eventos ocor- ridos em tempos diferentes no mesmo espaço e em espaços variados. 6. Construir argumentos, com base nos conhecimen- tos das Ciências Humanas, para negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental, exercitando a responsabilidade e o protagonismo voltados para o bem comum e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 7. Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográ- fica e diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal relacionado a localização, distância, direção, duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e conexão. XIXMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Competências específicas de Geografia para o Ensino Fundamental Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4 Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 1. Utilizar os conhecimentos geográficos para entender a interação sociedade/natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução de proble- mas. 2. Estabelecer conexões entre diferentes temas do co- nhecimento geográfico, reconhecendo a importância dos objetos técnicos para a compreensão das formas como os seres humanos fazem uso dos recursos da natureza ao longo da história. 3. Desenvolver autonomia e senso crítico para com- preensão e aplicação do raciocínio geográfico na análise da ocupação humana e produção do espaço, envolvendo os princípios de analogia, conexão, dife- renciação, distribuição, extensão, localização e ordem. 4.Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das linguagens cartográficas e iconográficas, de diferentes gêneros textuais e das geotecnologias para a resolução de problemas que envolvam informações geográficas. 5. Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedi- mentos de investigação para compreender o mundo na- tural, social, econômico, político e o meio técnico-cien- tífico e informacional, avaliar ações e propor perguntas e soluções (inclusive tecnológicas) para questões que requerem conhecimentos científicos da Geografia. 6. Construir argumentos com base em informações geográficas, debater e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam a consciência socioam- biental e o respeito à biodiversidade e ao outro, sem preconceitos de qualquer natureza. 7. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autono- mia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e deter- minação, propondo ações sobre as questões socioam- bientais, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. XX MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Habilidades de Geografia Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4 Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 (EF07GE01) Avaliar, por meio de exemplos extraídos dos meios de comunicação, ideias e estereótipos acerca das paisagens e da formação territorial do Brasil. (EF07GE02) Analisar a influência dos fluxos econômicos e populacionais na formação socioeconômica e territorial do Brasil, compreendendo os conflitos e as tensões his- tóricas e contemporâneas. (EF07GE03) Selecionar argumentos que reconheçam as territorialidades dos povos indígenas originários, das co- munidades remanescentes de quilombos, de povos das florestas e do cerrado, de ribeirinhos e caiçaras, entre outros grupos sociais do campo e da cidade, como direitos legais dessas comunidades. (EF07GE04) Analisar a distribuição territorial da popula- ção brasileira, considerando a diversidade étnico-cultu- ral (indígena, africana, europeia e asiática), assim como aspectos de renda, sexo e idade nas regiões brasileiras. (EF07GE05) Analisar fatos e situações representativas das alterações ocorridas entre o período mercantilista e o advento do capitalismo. (EF07GE06) Discutir em que medida a produção, a circu- lação e o consumo de mercadorias provocam impactos ambientais, assim como influem na distribuição de rique- zas, em diferentes lugares. (EF07GE07) Analisar a influência e o papel das redes de transporte e comunicação na configuração do território brasileiro. (EF07GE08) Estabelecer relações entre os processos de industrialização e inovação tecnológica com as transfor- mações socioeconômicas do território brasileiro. (EF07GE09) Interpretar e elaborar mapas temáticos e históricos, inclusive utilizando tecnologias digitais, com informações demográficas e econômicas do Brasil (car- togramas), identificando padrões espaciais, regionaliza- ções e analogias espaciais. (EF07GE10) Elaborar e interpretar gráficos de barras, gráficos de setores e histogramas, com base em dados socioeconômicos das regiões brasileiras. (EF07GE11) Caracterizar dinâmicas dos componentes físico-naturais no território nacional, bem como sua dis- tribuição e biodiversidade (Florestas Tropicais, Cerrados, Caatingas, Campos Sulinos e Matas de Araucária). (EF07GE12) Comparar unidades de conservação existen- tes no Município de residência e em outras localidades brasileiras, com base na organização do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). XXIMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
4 Textos de apoio para o professor e sociais quanto às educativas. Questão em alguns casos re- solvida, mas nunca de forma duradoura. Ousamos afirmar Ao elaborar esta coleção, partimos do pressuposto de que o que, atualmente, a pressão da competição faz com que muitos processo de ensino-aprendizagem requer do professor estudo e responsáveis esqueçam a missão de dar a cada ser humano os atualização constantes. Com a intenção de contribuir para esse meios de poder realizar todas as suas oportunidades. A tensão aprimoramento, selecionamos alguns textos que discutem ques- entre o extraordinário desenvolvimento dos conhecimentos e tões importantes relacionadas ao ensino de Geografia, à avaliação as capacidades de assimilação pelo ser humano. Finalmente, escolar e a algumas temáticas tratadas em cada um dos quatro e trata-se também neste caso de uma realidade permanente, volumes. Para melhor fundamentar o projeto pedagógico da esco- existe a tensão entre o espiritual e o material. Cabe à educa- la, sugerimos que a leitura dos textos e a reflexão sobre eles sejam ção a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradi- feitas em conjunto com os demais educadores da instituição, ções e convicções de cada um, respeitando integralmente o comprometidos com um ensino de qualidade. pluralismo, esta elevação do pensamento e do espírito para o universal e para uma espécie de superação de si mesmo. Educação, um tesouro a descobrir O conceito de educação ao longo de toda a vida aparece, Evitai (disse o lavrador) vender a herança pois, como uma das chaves de acesso ao século XXI. Ultra- passa a distinção tradicional entre educação inicial e educa- Que de nossos pais veio ção permanente. Vem da resposta ao desafio de um mundo em rápida transformação […] a fim de se estar preparado Pois ela esconde um tesouro. para acompanhar a inovação, tanto na vida privada como na vida profissional. É uma exigência que só ficará satisfeita Mas ao morrer o sábio pai quando todos aprendermos a aprender. Mas a modificação profunda nos quadros tradicionais da existência humana Fez-lhes esta confissão: coloca-nos perante o dever de compreender melhor o outro, de compreender melhor o mundo. Esta tomada de posição O tesouro está na educação. levou esta comissão a dar mais importância a um dos quatro pilares considerados as bases da educação. Trata-se de apren- La Fontaine der a viver juntos, desenvolvendo o conhecimento acerca dos outros, da sua história, tradições e espiritualidade. Contudo, Ante os múltiplos desafios do futuro, a educação surge não se esquece dos outros três pilares da educação, que for- como um trunfo indispensável à humanidade na sua cons- necem de algum modo os elementos básicos para aprender trução dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social. a viver juntos. Em primeiro lugar, aprender a conhecer. […] Ao terminar os seus trabalhos, esta comissão faz questão Em seguida, aprender a fazer. […] Finalmente e acima de de afirmar a sua crença no papel essencial da educação no tudo, aprender a ser […]. desenvolvimento contínuo, tanto das pessoas quanto das sociedades. Não como um “remédio milagroso” […], mas A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e efi- como uma via que conduza a um desenvolvimento humano caz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados mais harmonioso, mais autêntico, de modo a fazer recuar a à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opressões, futuro. Simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as guerras... [...] Para tal, há que encarar de frente, para ul- as referências que impeçam as pessoas de ficar submergidas trapassar, as principais tensões que, não sendo novas, cons- nas ondas de informações, mais ou menos efêmeras, que in- tituem o cerne da problemática do século XXI. vadem os espaços públicos e privados e as levem a orientar-se para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos. À A tensão entre o global e o local: tornar-se pouco a pouco educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um cidadão do mundo sem perder as suas raízes e participando, mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo ativamente, da vida do seu país e das comunidades de base. tempo, a bússola que permita navegar através dele. Nesta visão uma resposta puramente quantitativa — uma bagagem A tensão entre o universal e o singular: a mundialização escolar cada vez mais pesada — já não é possível nem mesmo da cultura vai-se realizando progressiva, mas ainda parcial- adequada. Não basta que cada um acumule uma determinada mente. Ela oferece promessa e também riscos, dos quais o quantidade de conhecimentos. É antes necessário estar à menor certamente não é o esquecimento do caráter único de altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, cada indivíduo, de sua vocação para escolher o seu destino todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer estes e realizar todas as suas potencialidades, mantendo a rique- primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em za de suas tradições e da sua própria cultura ameaçada. A mudança […]. Como regra geral, o ensino formal orienta-se tensão entre tradição e modernidade tem origem na mesma essencialmente, se não exclusivamente, para o aprender a problemática: adaptar-se sem negar a si mesmo, construir a conhecer e, em menor escala, para o aprender a fazer. Ora, sua autonomia em dialética com a liberdade e a evolução do pensamos que cada um daqueles quatro pilares do conheci- outro, dominando o progresso científico. A tensão entre as mento deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino soluções a curto prazo e a longo prazo, tensão eterna, mas alimentada hoje pelo domínio do efêmero e do instantâneo, num contexto onde o excesso de informações e emoções efêmeras leva a uma constante concentração sobre os pro- blemas imediatos. A tensão entre a indispensável competição e o cuidado com a igualdade de oportunidades. Questão clássica proposta já desde o início do século XX, tanto às políticas econômicas XXII MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
estruturado. Isso supõe que se ultrapasse a visão puramente A educação tem por missão, por um lado, transmitir co- instrumental da educação, considerada como a via obriga- nhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por tória para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de outro, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe e da interdependência entre todos os seres humanos do pla- a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa neta. Algumas disciplinas estão mais adaptadas a este fim, que, na sua totalidade, aprende a ser. em particular a geografia humana, desde o ensino básico, e as línguas e literaturas estrangeiras mais tarde […]. Os Aprender a conhecer: este tipo de aprendizagem não visa professores que, por dogmatismo, matam a curiosidade ou tanto à aquisição de um repertório de saberes codificados, o espírito crítico dos seus alunos, em vez de os desenvolver, mas antes ao domínio dos próprios instrumentos do conhe- podem ser mais prejudiciais do que úteis. O confronto através cimento, que deve ser considerado um meio e uma finalidade do diálogo e da troca de argumentos é um dos instrumentos da vida humana. Um meio porque se pretende que cada um indispensáveis para a educação do século XXI. aprenda a compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente, Excertos extraídos de: DELORS, J. (Org.). Educação, um tesouro para desenvolver as suas capacidades profissionais, para co- a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional municar. E, finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. Aprender a conhecer sobre Educação para o Século XXI. Brasília: MEC/Unesco, supõe antes de tudo aprender a aprender, exercitando a aten- 1998. Disponível em: <http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/ ção, a memória e o pensamento. O exercício do pensamento database/000046001-000047000/000046258.pdf>. ao qual a criança é iniciada pelos pais, em primeiro lugar, Acesso em: 27 jul. 2018. e pelos professores, em seguida, deve comportar avanços e recuos entre o concreto e o abstrato. Também se devem O que são competências e como a escola pode ajudar a combinar, tanto no ensino quanto na pesquisa, dois métodos construí-las apresentados muitas vezes como antagônicos: o dedutivo e o indutivo, pois na maioria das vezes o pensamento necessita Afinal, vai-se à escola para adquirir conhecimentos ou da combinação dos dois. para desenvolver competências? Essa pergunta oculta um mal-entendido. O mal-entendido está em acreditar que, ao Aprender a fazer: normalmente se considera isto como uma desenvolverem-se competências, desiste-se de transmitir co- adaptação da educação à formação profissional. Mas como fa- nhecimentos. Quase a totalidade das ações humanas exige zer isso hoje em dia quando não se pode mais prever qual será a algum tipo de conhecimento, às vezes superficial, outras evolução do mercado de trabalho? Na indústria, especialmente vezes aprofundado, oriundo da experiência pessoal, do senso para os operadores e os técnicos, o domínio do cognitivo e comum, da cultura partilhada em um círculo de especialistas do informativo nos sistemas de produção torna um pouco ou da pesquisa tecnológica e científica. Quanto mais com- obsoleta a noção de qualificação profissional e leva a que se dê plexas, abstratas, mediatizadas por tecnologias, apoiadas em uma maior importância à competência pessoal. As tarefas pu- modelos sistêmicos da realidade forem consideradas as ações, ramente físicas são substituídas por tarefas de produção mais mais conhecimentos aprofundados, avançados, organizados intelectuais, mais mentais, como o comando de máquinas, a e confiáveis elas exigem. […] sua manutenção e vigilância, ou por tarefas de concepção, de estudo, de organização à medida que as máquinas se tornam São múltiplos os significados da noção de competência. mais “inteligentes” e que o trabalho se “desmaterializa”. Qua- Eu a definirei aqui como sendo uma capacidade de agir efi- lidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com cazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em os outros, de gerir e de resolver conflitos tornam-se cada vez conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. Para enfrentar mais importantes. E esta tendência torna-se ainda mais forte uma situação da melhor maneira possível, deve-se, via de por causa do desenvolvimento do setor de serviços. regra, pôr em ação e em sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre os quais estão os conhecimentos. No Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros: sentido comum da expressão, estes são representações da essa aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores realidade que construímos e armazenamos ao sabor de nossa desafios da educação. O mundo atual é, muitas vezes, um experiência e de nossa formação. Quase toda ação mobiliza mundo de violência que se opõe à esperança posta por alguns alguns conhecimentos, algumas vezes elementares e espar- no progresso da humanidade. Até agora a educação não pôde sos, outras vezes complexos e organizados em rede. Assim fazer grande coisa para modificar essa situação. Poderemos é, por exemplo, que conhecimentos bastante profundos são conceber uma educação capaz de evitar os conflitos ou de os necessários para: resolver de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade? A tarefa • analisar um texto e reconstituir as intenções do autor; é árdua, porque, muito naturalmente, os seres humanos têm a tendência a supervalorizar as suas qualidades e as do grupo • traduzir de uma língua para outra; a que pertencem, e a alimentar preconceitos desfavoráveis em relação aos outros. A educação deve utilizar duas vias • argumentar com a finalidade de convencer alguém cético complementares. Num primeiro nível, a descoberta progres- ou um oponente; siva do outro. Num segundo nível, ao longo de toda a vida, a participação em projetos comuns, que parece um método • construir uma hipótese e verificá-la; eficaz para evitar ou resolver conflitos latentes. • identificar, enunciar e resolver um problema científico; • detectar uma falha no raciocínio de um interlocutor; • negociar e concluir um projeto coletivo. As competências manifestadas nessas ações não são, em si, XXIIIMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
conhecimentos. Elas utilizam, integram ou mobilizam tais discernimento, em tempo real, ao serviço de uma ação eficaz. conhecimentos. Embora conhecedor do Direito, a competên- Ora, os esquemas de mobilização de diversos recursos cog- cia do advogado ultrapassa essa erudição, pois não lhe basta nitivos em uma situação de ação complexa desenvolvem-se conhecer todos os textos para levar a bom termo o assunto do e estabilizam-se ao sabor da prática. No ser humano, com momento. Sua competência consiste em pôr em relação seu efeito, os esquemas não podem ser programados por uma in- conhecimento do direito, da jurisprudência, dos processos tervenção externa. Não existe, a não ser nas novelas de ficção e de uma representação do problema a resolver, fazendo uso científica, nenhum “transplante de esquemas”. O sujeito não de um raciocínio e de uma intuição propriamente jurídicos. pode tampouco construí-los por simples interiorização de um Da mesma maneira, um bom médico consegue identificar e conhecimento procedimental. Os esquemas constroem-se mobilizar conhecimentos científicos pertinentes no momento ao sabor de um treinamento, de experiências renovadas, ao certo, em uma situação concreta que, evidentemente, não mesmo tempo redundantes e estruturantes, treinamento esse costuma apresentar-se como “um problema proposto em tanto mais eficaz quando associado a uma postura reflexiva. aula” para o qual bastaria encontrar a “página certa em um grande livro” e aplicar a solução preconizada. Que o clínico Cabeças bem cheias ou cabeças bem-feitas? Desenvolver disponha de amplos conhecimentos (em física, em biologia, uma competência é assunto da escola? Ou a escola deve li- em anatomia, em fisiologia, em patologia, em farmacologia, mitar-se à transmissão do conhecimento? O debate sobre as em radiologia, em tecnologia, etc.) não é senão uma con- competências reanima o eterno debate sobre cabeças bem-fei- dição necessária de sua competência. Se estivesse reduzida tas ou cabeças bem cheias. Desde que essa discussão existe, a a uma simples aplicação de conhecimentos memorizados escola procura seu caminho entre duas visões do currículo: para casos concretos, iria bastar-lhe, a partir dos sintomas típicos, identificar uma patologia registrada e encontrar, em • uma consiste em percorrer o campo mais amplo possível sua memória, em um tratado ou em um banco de dados, de conhecimentos, sem preocupar-se com sua mobiliza- as indicações terapêuticas. As competências clínicas de um ção em determinada situação, o que equivale, mais ou me- médico vão muito além de uma memorização precisa e de nos abertamente, a confiar na formação profissionalizante uma lembrança oportuna de teorias pertinentes. Nos casos ou na vida para garantir a construção de competências; em que a situação sair da rotina, o médico é exigido a fazer relacionamentos, interpretações, interpolações, inferências, • a outra aceita limitar, de maneira drástica, a quantidade invenções, em suma, complexas operações mentais cuja or- de conhecimentos ensinados e exigidos para exercitar de questração só pode construir-se ao vivo, em função tanto de maneira intensiva, no âmbito escolar, sua mobilização seu saber e de sua perícia quanto de sua visão da situação. em situação complexa. [Portanto], uma competência nunca é a implementação A primeira visão parece dominar de modo constante a “racional” pura e simples de conhecimentos, de modelos de história da escola obrigatória, em particular no ensino médio, ação, de procedimentos. Formar em competências não pode mas o equilíbrio das tendências está flutuando ao longo das levar a dar as costas à assimilação de conhecimentos, pois décadas. O dilema não para de ser redescoberto, de ser apa- a apropriação de numerosos conhecimentos não permite, rentemente decidido, antes de renascer alguns anos depois, ipso facto, sua mobilização em situações de ação. O reco- sob outros vocábulos. E um dilema coletivo, na medida em nhecimento da própria pertinência da noção de competência que o sistema educacional vive, desde seu nascimento, em continua sendo um desafio nas ciências cognitivas, assim tensão entre essas duas lógicas, encarnadas por atores que como na didática. […] ocupam posições ritualmente antagônicas no campo cultural. O dilema também pode envolver qualquer um que não se Qual a diferença entre um computador e um campeão de deixe levar por teses extremistas; para entender o mundo e xadrez? O computador pode armazenar em sua memória um agir sobre ele, não se deve, ao mesmo tempo, apropriar-se de grande número de jogos, de situações de jogo e de jogadas conhecimentos profundos e construir competências suscetí- eficazes, de regras. Também pode calcular mais rapidamente veis de mobilizá-los corretamente? A figura do especialista do que um ser humano, o que lhe permite vencê-lo em todas as o atesta: ele se define, simultaneamente, como um cientista, situações “clássicas”, ou seja, repertoriadas. Em uma situação um erudito, alguém que “leu todos os livros” e acumulou inédita, entretanto, um grande campeão ainda pode superar tesouros de conhecimentos por meio da experiência; alguém a máquina, pois ele lança mão de esquemas heurísticos mais que tem intuição, senso clínico, savoir-faire e o conjunto das econômicos e mais potentes do que os do computador, princi- capacidades que permitem antecipar, correr riscos, decidir, palmente quando recorrem a um pensamento analógico. Da em suma, agir em situação de incerteza. mesma maneira, temos a capacidade de reconhecer em um só olhar uma letra do alfabeto, por mais malformada que seja, ta- À pergunta: “Conhecimentos profundos ou perícia na im- refa essa para a qual um computador exige uma impressionante plementação?”, gostaríamos de responder: ambos! O dilema potência de cálculo. O desenvolvimento da inteligência artifi- educativo é, sobretudo, uma questão de prioridade: sendo cial consiste precisamente em identificar, codificar os esquemas impossível fazer tudo, no tempo e no espaço de uma forma- heurísticos e analógicos dos especialistas humanos, de maneira ção profissionalizante inicial ou de uma escolaridade bási- a poder simular seu funcionamento. Por isso, tornou-se cada ca, o que fazer de mais útil? Quem, a longo prazo, poderia vez mais difícil vencer o computador em um jogo de xadrez. defender conhecimentos absolutamente inúteis para a ação, em seu sentido mais amplo? Inversamente, quem, hoje em A construção de competências, pois, é inseparável da for- dia, poderia continuar defendendo um utilitarismo estreito, mação de esquemas de mobilização dos conhecimentos com limitado a alguns savoir-faire elementares? Agir em uma sociedade mutante e complexa é, antes, entender, antecipar, XXIV MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
avaliar, enfrentar a realidade com ferramentas intelectuais. os conflitos consubstanciais a qualquer relação social, têm, “Nada é tão prático como uma boa teoria”, dizia Kurt Lewin, como ponto de partida e chegada, a realidade vivida pelas um dos fundadores da psicologia social. [...] pessoas envolvidas na construção de um projeto educativo em uma determinada unidade escolar. [...] Por que será que vemos atualmente o que Romainville chama de uma “irresistível ascensão” da noção de compe- O Estudo do Meio [...] faz parte, na verdade, de uma “tra- tência em educação escolar? Talvez, globalmente, porque as dição escolar” que, inspirada em educadores tais como Fran- ameaças de desordem e desorganização estão tornando-se cisco Ferrer y Guardia (1859-1909) e Célestin Freinet (1896- cada vez mais vivas nas épocas de mudança e crise. A ex- -1966), tem por objetivo proporcionar aos estudantes uma plicação mais evidente consiste em invocar uma espécie de aprendizagem “mais perto da vida”, ou seja, um contato mais contágio: como o mundo do trabalho apropriou-se da noção direto com a realidade estudada, seja ela, natural ou social. de competência, a escola estaria seguindo seus passos, sob Como ressalta Goettems (2006, p. 52)14: o pretexto de modernizar-se e de inserir-se na corrente dos valores da economia de mercado, como gestão dos recursos A metodologia de ensino que atualmente é denominada, humanos, busca da qualidade total, valorização da excelência, ainda que muitas vezes de forma indiscriminada, de “Es- exigência de uma maior mobilidade dos trabalhadores e da tudos do Meio”, é o resultado do trabalho de inúmeros organização do trabalho. No campo profissional, ninguém educadores que, ao longo de várias décadas, se dedica- contesta que os empíricos devam ser capazes de “fazer coisas ram a construir práticas de ensino que possibilitassem difíceis” e que passem por uma formação. A noção de quali- uma melhor compreensão do mundo e a superação dos ficação tem permitido por muito tempo pensar as exigências desafios socioeducacionais que se lhes apresentavam à dos postos de trabalho e as disposições requeridas daqueles época. que os ocupam. As transformações do trabalho — rumo a uma flexibilidade maior dos procedimentos, dos postos e das No Brasil, [...] embora os Estudos do Meio tenham se dis- estruturas — e a análise ergonômica mais fina dos gestos e seminado e se popularizado nos anos 1960 no interior do das estratégias dos profissionais levaram a enfatizar, para movimento da Escola Nova, há registros que mostram sua qualificações formais iguais, as competências diferenciadas, realização em escolas fundadas por grupos de imigrantes evolutivas, ligadas à história de vida das pessoas. Já não é europeus anarquistas que, no início do século XX, fixando-se, suficiente definir qualificações-padrão e, sobre essa base, sobretudo em São Paulo, ocuparam os postos de trabalho na alocar os indivíduos nos postos de trabalho. O que se quer indústria brasileira nascente e em franco desenvolvimento na é gerenciar competências, estabelecer tanto balanços indi- época. Inspiradas nas ideias pedagógicas de Ferrer, as escolas viduais como “árvores” de conhecimentos ou competências criadas pelos militantes do movimento anarquista tinham que representem o potencial coletivo de uma empresa. No como princípio oferecer um ensino racional, fundamentado mundo do trabalho, a mudança de vocabulário reflete uma em observações de campo, em discussões e na formação do verdadeira mudança de perspectiva e até de paradigma. [...] espírito crítico sobre o meio circundante, ou seja, o contexto social do entorno da escola ao qual pertenciam os alunos PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. (PONTUSCHKA, 2004b)15. Os anarquistas fundaram escolas Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 7-41, passim. que tinham um currículo aberto, no qual o método de ensino empregado era caracterizado pela imersão na realidade em O Estudo do Meio um processo de pesquisa e descobertas. Todavia, as eviden- tes consequências desta proposta pedagógica, entre outros O Estudo do meio pode ser compreendido como um mé- fatores, colocaram em rota de colisão os ideais anarquistas todo de ensino interdisciplinar que visa proporcionar para nelas presentes e os interesses do governo brasileiro na época. alunos e professores contato direto com uma determinada Destarte, por motivos políticos, essas escolas foram fechadas realidade, um meio qualquer, rural ou urbano, que se decida pelo poder governamental. estudar. Esta atividade pedagógica se concretiza pela imersão orientada na complexidade de um determinado espaço geo- Mais acentuadamente, durante a década de 1960, sob gráfico, do estabelecimento de um diálogo inteligente com inspiração do movimento da Escola Nova, os Estudos do o mundo, com o intuito de verificar e de produzir novos co- Meio retornam à agenda dos educadores preocupados com nhecimentos. [...] a seleção do lugar a ser visitado, bem como a constituição de um ensino atraente e uma aprendizagem a formulação das principais questões a serem respondidas significativa. Afirmando o princípio de que “escola é vida”, na pesquisa de campo, todas as etapas de sua realização, o Sylvia Magaldi, em artigo de 1965, assim se pronunciava: planejamento, a execução e a avaliação, são orientadas, por um lado, pela “dialogicidade” e, por outro, pelo despertar da O problema das relações ESCOLA e VIDA tem sido co- “curiosidade epistemológica” de todos os membros da comu- locado, não de hoje, pelos educadores, tanto na Europa nidade escolar (FREIRE, 2000)13. Ou seja, todas as etapas e quanto na América. Mais de uma vez afirmou-se como respectivas ações que o estruturam são realizadas na busca verdade pacífica, neste plenário mesmo, o princípio de de acordos e contratos pedagógicos possíveis que, sem negar que ESCOLA É VIDA e não pode fechar-se, portanto, em relação àquilo que constitui, em cada momento, o 13 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 14 GOETTEMS, A. A. Problemas ambientais urbanos: desafios e possibilidades para a escola pública. 2006. 221 páginas. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. 15 PONTUSCHKA, N. N. Estudo do meio, interdisciplinaridade, ação pedagógica. IN: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, 13., 2004 Goiânia. Anais... Goiânia, GO, 2004b. XXVMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
próprio contexto em que o homem faz sentido, não pode outros. Com o advento, por exemplo, dos computadores portá- continuar a ser um compartimento fechado, pseudopre- teis e aparelhos de GPS, fruto da revolução tecnológica na qual parando para a vida, fora da vida. (MAGALDI, 1965, estamos imersos, o caderno de campo em seu formato tradi- p. 69)16. cional – um bloco de papel em branco para anotações escritas, desenhos e croquis – tem perdido importância relativa. [...] Para a autora, o Estudo do Meio seria um “recurso por excelência” para que se pudessem “suprimir as fronteiras A experiência tem mostrado que o caderno de campo de- entre a escola e a vida”. [...] sempenha função didático-pedagógica fundamental em todas as etapas da realização dos Estudos do Meio. Nele, os parti- O Estudo do Meio, como já salientamos, é uma metodolo- cipantes da atividade devem facilmente encontrar as prin- gia de ensino interdisciplinar na qual se buscam alternativas cipais instruções relativas à coleta de dados e informações e à compartimentalização do conhecimento escolar e à exces- ao processo de observação, além de espaços adequados para siva segmentação do trabalho docente. Seu ponto de partida, registros escritos, desenhos e esquemas. [...] Entendemos que então, é a reflexão individual e coletiva sobre as práticas a participação ativa dos alunos no processo de elaboração e pedagógicas desenvolvidas em determinada escola e o desejo manejo do caderno de campo é um fator que joga a favor do de melhorar a formação do aluno, construindo um currículo despertar de seu espírito investigativo e crítico. Trata-se de mais próximo dos seus interesses e da realidade vivida. As- uma feliz oportunidade de desenvolver, nos alunos, hábitos sim, a realização dos Estudos do Meio é impulsionada pelo e procedimentos de pesquisa tais como: a observação orien- desejo de maior autonomia docente e do projeto educativo tada, o registro de dados e informações mais sistematizados da unidade escolar em relação às instâncias administrativas e, até mesmo, de suas impressões mais pessoais sobre a rea- superiores que, tradicionalmente, controlam o currículo. lidade. Não se pensa, particularmente, ao se tratar de alunos Nesse processo, busca-se, pelo exame das características do da escola básica, do desenvolvimento em sentido mais estrito, lugar/solo em que uma determinada unidade escolar deseja da pesquisa nos moldes da academia, mas sim e, fundamen- fincar suas raízes – ou seja, o exame de seus problemas, de talmente, da promoção de uma atitude indagadora diante seus desejos, enfim, de suas mais sérias questões –, a seleção do mundo. Como buscamos mostrar, apropriando-nos de de temas e espaços a serem estudados e que poderiam tornar uma tradição que une pesquisadores de diversas áreas do seu currículo e seu projeto educativo mais significativos para conhecimento, a utilização do caderno de campo, em Estudo os alunos. Ao privilegiar o estudo do lugar não se quer isolá-lo do Meio, cumpre uma função que extrapola largamente seus de outras escalas de análise possíveis e inter-relacionadas, atributos mais clássicos no trabalho de pesquisa de campo de nem que espaços mais distantes não possam ser escolhidos geógrafos ou antropólogos, por exemplo. Nesse caso, o cader- para serem estudados. no de campo é um guia, um dos elementos estruturadores do trabalho a ser desenvolvido por um determinado grupo. [...] Os espaços ou lugares a serem estudados em uma atividade de ensino desse tipo são variados e podem estar situados, Vejamos, então, os principais elementos que devem compor nas adjacências da unidade escolar, tais como: o quarteirão, o caderno de campo. A capa, elaborada por um aluno ou o bairro, o fundo de vale mais próximo, passando pelo mu- pelo professor, deve expressar o tema central ou um aspecto nicípio, tais como um distrito industrial, um prédio público significativo do Estudo do Meio a ser desenvolvido. [...] e seus arredores, uma área de mata nativa, até lugares mais distantes como uma cidade histórica, um parque ecológico, Outro elemento orientador do trabalho de campo e que uma barragem de hidrelétrica etc. [...] deve constar no caderno de campo é um cronograma com as atividades que serão desenvolvidas, um roteiro ilustrati- Os Estudos do Meio podem ser realizados em todos os vo do percurso a ser descrito e que pode ser rápida e, con- níveis de ensino e, inclusive, nos processos de formação con- venientemente, consultado pelos participantes. Ainda que tinuada de professores. Contudo, é preciso lembrar que sua modificações, pela própria natureza da atividade aqui em realização, especialmente nos Ensino Fundamental e Médio, discussão, sejam frequentes, os participantes do trabalho requer atenção especial dos organizadores quanto à seguran- de campo saberão, antecipadamente, os lugares que serão ça dos alunos. Além da prévia autorização dos pais ou res- visitados, itinerários, horários e objetivos a eles associados. É ponsáveis e da contratação, quando necessária, de transporte importante prever, também, horário de paradas para lanches e de alojamento, a elaboração dos roteiros de observação e e refeições e, oportunamente, momentos de lazer. [...] pesquisa devem levar em consideração o estágio de desenvol- vimento cognitivo e emocional dos estudantes. Deste modo, Textos e mapas de apoio: trata-se de uma coletânea de a definição do espaço a ser estudado não pode prescindir de textos, de mapas, de gráficos etc. selecionados que visam uma prévia visita ao local e da identificação, considerando subsidiar o grupo no trabalho de campo a ser desenvolvido as características dos participantes, de um itinerário que não em sua dimensão conceitual, procedimental e atitudinal. coloque em risco a sua segurança. Em suma, tanto para evitar São textos que instrumentalizam teoricamente o processo de aborrecimentos desnecessários, como para alcançar êxito, observação, a realização das entrevistas, os procedimentos toda e qualquer saída a campo, seja com professores seja com mais recomendados para o tratamento do material coletado, alunos, precisa ser planejada com rigor e sensibilidade. [...] sínteses históricas e geográficas do lugar ou região estudado. Devem-se anexar também, ao caderno de campo, mapas da O caderno de campo é um instrumento tradicional no tra- área a ser estudada, sendo alguns deles temáticos que corres- balho de pesquisa de geógrafos, antropólogos, geólogos, entre pondam aos interesses do trabalho de campo em pauta. [...] 16 MAGALDI, S. O estudo do meio no curso ginasial. Revista de Pedagogia. S‹o Paulo, v. 11, n. 19-20, p. 69-76, 1965. XXVI MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Uma das etapas fundamentais dos Estudos do Meio é o tra- educação em ir além do desenvolvimento do conhecimento balho de campo. É preciso, entretanto, para evitar mal-en- e de habilidades cognitivas e passar a construir valores, ha- tendidos, que façamos alguns comentários a respeito. A ideia bilidades socioemocionais (soft skills) e atitudes entre alunos de ir a campo apenas como “necessidade de sair da sala de que possam facilitar a cooperação internacional e promover aula”, é um pouco perigosa. Pode, seguramente, esvaziar as a transformação social. [...] potencialidades educativas dessa atividade como método de ensino e, subestimar, obviamente, os momentos de aprendi- A ECG tem um papel crucial a desempenhar para equipar zagem realizados na sala de aula. Assim, as práticas de campo alunos com competências para lidar com o mundo dinâmico em um Estudo do Meio não devem ser caracterizadas como e interdependente do século XXI. Embora a ECG tenha sido uma ocasião de ruptura do processo ensino-aprendizagem. aplicada de diferentes maneiras em diferentes contextos, re- Ao contrário, fazem parte dele, são momentos especiais, sem giões e comunidades, ela possui vários elementos comuns, dúvida, mas que não se sustentam isoladamente. Não se des- que incluem fomentar nos alunos: considera, evidentemente, a dimensão lúdica de uma saída de campo em um Estudo do Meio. O que queremos evitar é a • uma atitude apoiada por um entendimento de múltiplos sedimentação de estereótipos da sala de aula, “naturalmente níveis de identidade e o potencial para uma identidade chata” sendo preciso “retirar” os alunos para “passear de vez coletiva que transcenda diferenças individuais culturais, em quando” noutro lugar. A pesquisa de campo é reveladora religiosas, étnicas ou outras; da vida, ou seja, por meio dela pretende-se conhecer mais sistematicamente a maneira como os homens e as mulheres • um conhecimento profundo de questões globais e valores de um determinado espaço e tempo organizam sua existência, universais como justiça, igualdade, dignidade e respeito; compreender suas necessidades, seus desejos, suas lutas com vitórias e fracassos. Assim, durante o trabalho de campo, edu- • habilidades cognitivas para pensar de forma crítica, sistê- cadores e educandos devem submergir no cotidiano do espaço mica e criativa, incluindo a adoção de uma abordagem de a ser pesquisado, buscando estabelecer um rico diálogo com o multiperspectivas que reconheça as diferentes dimensões, espaço e, na condição de pesquisadores, com eles mesmos. [...] perspectivas e ângulos das questões; Todavia, travar diálogos com o espaço pressupõe o domínio de conceitos e linguagens diversas de muitas disciplinas. O • habilidades não cognitivas, incluindo habilidades sociais, Estudo do Meio não prescinde, portanto, das características ou como empatia e resolução de conflitos, habilidades de co- identidade das diversas disciplinas. São elas que, de fato, per- municação e aptidões de construção de redes (networking) mitem compreender mais profundamente a dimensão social da e de interação com pessoas com diferentes experiências, organização do espaço e, ao mesmo tempo, da influência que origens, culturas e perspectivas; e essa organização exerce sobre a vida dos homens e mulheres que nele vivem. Compreendendo o meio como uma “Geografia • capacidades comportamentais para agir de forma cola- viva”, é preciso ir a campo [...] sem pré-julgamentos ou precon- borativa e responsável a fm de encontrar soluções globais ceitos: liberar o olhar, o cheirar, o ouvir, o tatear, o degustar. para desafios globais, bem como para lutar pelo bem co- [...] Ao romper as fronteiras dos territórios institucionalizados letivo. [...] de aprendizagem – a sala de aula e a escola –, a pesquisa de campo permite a ampliação desse território levando, ao mesmo Apesar de diferenças de interpretação, existe um entendi- tempo, a “a sala de aula e a escola” para o mundo – um lugar mento comum de que cidadania global não implica uma situa- ou situação mais específica ou particular deste mundo para ser ção legal. Refere-se mais a um sentimento de pertencer a uma pesquisado e estudado –, e o mundo – mais real ou concreto comunidade mais ampla e à humanidade comum, bem como –, para dentro da sala de aula e da escola. [...] de promover um “olhar global”, que vincula o local ao global e o nacional ao internacional.17 Também é um modo de entender, PONTUSCHKA, N. N; SANCHES, C. L. Estudo do Meio: teoria e prática. agir e se relacionar com os outros e com o meio ambiente no Geografia (Londrina) v. 18, n. 2, 2009. Disponível em: <http://www.uel.br/ espaço e no tempo, com base em valores universais, por meio do respeito à diversidade e ao pluralismo. Nesse contexto, a revistas/uel/index.php/geografia/article/view/2360/3383>. vida de cada indivíduo tem implicações em decisões cotidianas Acesso em: 10 ago. 2018. que conectam o global com o local, e vice-versa. Educação para a cidadania global [...] A ECG [Educação para a Cidadania Global] é um marco A abordagem da ECG enriquece os conceitos e o conteúdo de paradigmático que sintetiza o modo como a educação pode todas as matérias e áreas da educação, ampliando suas dimen- desenvolver conhecimentos, habilidades, valores e atitudes sões. Por meio desse processo, alunos e educadores examinam de que os alunos precisam para assegurar um mundo mais as raízes e as causas de eventos e desenvolvimentos no âmbito justo, pacífico, tolerante, inclusivo, seguro e sustentável. Ela local, consideram as conexões com o contexto global e iden- representa uma mudança conceitual, pois reconhece a re- tificam possíveis soluções aos problemas identificados. Essa levância da educação para a compreensão e a resolução de investigação da relação de questões e desenvolvimentos entre questões globais em suas dimensões sociais, políticas, cultu- os níveis micro e macro é um elemento crucial para preparar rais, econômicas e ambientais. Também reconhece o papel da alunos para desempenhar seu potencial em um mundo inter- dependente e em rápida mudança. [...] 17 MARSHALL, H. Developing the global gaze in citizenship education: exploring the perspectives of global education NGO workers in England. International Journal of Citizenship and Teacher Education, v. 1, n. 2, p. 76-91, 2005. XXVIIMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Enquanto a ECG pode assumir diferentes formas, ela possui as paisagens têm sempre o caráter de heranças de processos alguns elementos comuns, que incluem fomentar nos alunos de atuação antiga, remodelados e modificados por processos as seguintes competências: de atuação recente. Em muitos lugares — como é o caso dos velhos planaltos e compartimentos de planaltos do Brasil — os • uma atitude apoiada por um entendimento de múltiplos processos antigos foram responsáveis sobretudo pela compar- níveis de identidade e também o potencial para a constru- timentação geral da topografia. Nessa tarefa, as forças naturais ção de uma identidade coletiva que transcenda diferenças gastaram de milhões a dezenas de milhões de anos. Por sua individuais culturais, religiosas, éticas ou outras (como o vez, os processos remodeladores são relativamente modernos e sentimento de pertencer a uma humanidade comum e o mesmo recentes, restringindo-se basicamente ao período Qua- respeito pela diversidade); ternário, e medem-se por uma escala de atuação de processos interferentes, cuja duração gira em torno de alguns milhares, • um profundo conhecimento de questões globais e valores até dezenas, ou, quando muito, centenas de milhares de anos. universais, como justiça, igualdade, dignidade e respeito (como entendimento do processo de globalização, inter- Os primeiros agrupamentos humanos assistiram às varia- dependência/interconectividade e dos desafios globais que ções climáticas e ecológicas desse flutuante “universo” paisa- não podem ser abordados adequada ou unicamente por gístico e hidrológico dos tempos quaternários e foram pro- Estados-nação, tendo “sustentabilidade” como o principal fundamente influenciados por elas. Entrementes, dentro da conceito do futuro); escala dos tempos históricos — nos últimos cinco a sete mil anos — a despeito de algumas modificações locais ou regio- • habilidades cognitivas para pensar de forma crítica, sistê- nais dignas de registro, tem dominado um esquema global de mica e criativa, incluindo a adoção de uma abordagem de paisagens zonais e azonais, muito próximo daquele quadro múltiplas perspectivas, que reconheça diferentes dimen- que ainda hoje se pode reconhecer na estrutura paisagística sões, perspectivas e ângulos de questões (como habilidades da superfície terrestre. de raciocínio e de resoluções de problemas, apoiadas por uma abordagem de múltiplas perspectivas); Num segundo plano de abordagem, é indispensável ressaltar que as nações herdaram fatias — maiores ou menores — da- • habilidades não cognitivas, incluindo habilidades sociais, queles mesmos conjuntos paisagísticos de longa e complica- como empatia e resolução de conflitos, e habilidades de da elaboração fisiográfica e ecológica. Mais do que simples comunicação e aptidões para networking e para a interação espaços territoriais, os povos herdaram paisagens e ecolo- com pessoas de diferentes contextos, origens, culturas e gias, pelas quais certamente são responsáveis, ou deveriam perspectivas (como empatia global e sentimento de soli- ser responsáveis. Desde os mais altos escalões do governo e dariedade); e da administração até o mais simples cidadão, todos têm uma parcela de responsabilidade permanente, no sentido da utili- • capacidades comportamentais para agir de forma colabo- zação não predatória dessa herança única que é a paisagem rativa e responsável, a fim de encontrar soluções globais terrestre. Para tanto, há que conhecer melhor as limitações de para desafios globais, bem como para lutar pelo bem co- uso específicas de cada tipo de espaço e de paisagem. Há que letivo (como sentimento de compromisso e habilidades de procurar obter indicações mais racionais, para preservação do tomadas de decisão). equilíbrio fisiográfico e ecológico. E, acima de tudo, há que permanecer equidistante de um ecologismo utópico e de um [...] economismo suicida (Walder Góes, 1973). Já se pode prever que entre os padrões para o reconhecimento do nível de desen- Mais comumente, a ECG tem sido oferecida como parte volvimento de um país devam figurar a capacidade do seu povo integral de uma matéria já existente (como educação cívica ou em termos de preservação de recursos, o nível de exigência e para a cidadania, estudos sociais, estudos sociais/ambientais, o respeito ao zoneamento de atividades, assim como a própria cultura mundial, geografia mundial). Por exemplo, no Canadá, busca de modelos para uma valorização e renovação corretas a noção específica de ECG é cada vez mais reconhecida por dos recursos naturais. autoridades e profissionais de educação e, assim, passa a ser integrada em alguns currículos estaduais adaptados a diversos Evidentemente, para os que não têm consciência do sig- contextos educacionais.18 [...] nificado das heranças paisagísticas e ecológicas, os esforços dos cientistas que pretendem responsabilizar todos e cada UNESCO. Educação para a cidadania global. Brasília, um pela boa conservação e pelo uso racional da paisagem e Unesco, 2015, disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/ dos recursos da natureza somente podem ser tomados como images/0023/002343/234311por.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018. motivo de irritação, quando não de ameaça, a curto prazo, à economicidade das forças de produção econômica. Potencialidades paisagísticas brasileiras A substituição de componentes das paisagens tropicais — Todos os que se iniciam no conhecimento das ciências da nos setores de mais amplo aproveitamento agrícola — tem natureza — mais cedo ou mais tarde, por um caminho ou sido a fórmula predominante e até hoje insubstituível para a por outro — atingem a ideia de que a paisagem é sempre uma conquista dos espaços econômicos das áreas primariamente herança. Na verdade, ela é uma herança em todo o sentido da florestadas dos trópicos úmidos. A supressão da floresta por palavra: “herança de processos fisiográficos e biológicos, e grandes espaços, senão pelo espaço total, para o encontro de es- patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como território de atuação de suas comunidades”. Num primeiro nível de abordagem, poder-se-ia dizer que 18 DELORS, J. et al. Learning: the treasure within. Report to Unesco of the International Commission on Education for the Twenty-First Century. Paris: Unesco, 1996. XXVIII MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
paços agrários, tem sido lamentavelmente a única fórmula até A urbanização explosiva de algumas áreas e a aceleração hoje experimentada pelos países tropicais em vias de desenvol- do processo industrial, sob níveis altamente polarizadores, vimento. Não se sabe como superar este velho dilema, ou seja, acrescentaram e empilharam problemas para certas áreas me- o de que para ocupar economicamente o espaço é necessário tropolitanas e determinadas faixas industriais preferenciais. A sacrificar o revestimento vegetal primário. Isto é tanto mais concentração irrefreável da urbanização e da industrialização sério quanto as possibilidades de uma agricultura sombreada em pequenos espaços de conjuntura geoeconômica favorável de modelos econômicos e ecológicos autossustentados podem redundou em problemas novos, num tremendo círculo vicioso. inverter o esquema dominante, sobretudo no que concerne aos Nas áreas mais críticas, as implicações da era dos transpor- grandes espaços florestados da Amazônia brasileira. tes motorizados e da industrialização explosiva puseram em perigo a própria qualidade do viver para o homem habitante No passado, vastas áreas cobertas por florestas atlânticas de todas as classes sociais. Com isso, as paisagens foram mo- foram devastadas para a extensão dos canaviais e dos cafezais dificadas direta ou indiretamente em enormes extensões das em diferentes áreas do país. Apenas a cultura do cacau pôde periferias urbanas metropolitanas. Grandes massas de traba- ser introduzida sem que fosse necessária a eliminação total lhadores braçais passaram a disputar os espaços disponíveis da cobertura florestal (sul da Bahia). De resto, a exploração ao seu nicho social, procurando garantir um pouco de chão madeireira para carvão vegetal, destinado à siderurgia e ao para um futuro que se afigurava difícil e incerto. Novos pa- consumo doméstico — antes da generalização do uso do gás drões rústicos de urbanização foram acrescentados ao tecido engarrafado —, contribuiu para o desfiguramento quase total urbano das metrópoles principais, formando nébulas de bai- de vastas áreas do Brasil de Sudeste. Decididamente, o brasi- xos-dormitório de baixos padrões de urbanização e de saúde leiro tem tido dificuldade, por uma razão ou por outra, em pública nas “periferias” correspondentes ao grande cinturão da manter partes da cobertura vegetal e em conviver com uma Metrópole Externa. Perturbações desintegradoras acarretaram paisagem onde sobre-existam florestas. Há como que uma uma conscientização de homens e administradores para com implicância atávica pelos “sertões” florestados extensivos que problemas até então insuspeitados e não previstos. dificultaram a vida dos primeiros povoadores... E, por outro lado, há a considerar que foram muito simples e bem apren- Não se pode falar em potencialidades paisagísticas sem pen- didas as técnicas de desmatamento e queimadas, suficientes sar no grande dilema dos tempos modernos: o economismo e para fazer a grande “limpeza” na paisagem. o ecologismo. Enquanto o economismo é de um imediatismo por vezes criminoso, o ecologismo, tomado em seus termos O certo é que, com tudo isso, restaram somente reservas de mais simples, é de uma ingenuidade e puerilidade tão grandes ecossistemas naturais naqueles espaços topográfica e climatica- que chega a prejudicar qualquer causa que vise à proteção dos mente mais incômodos e difíceis de ser atingidos. Ou naquelas recursos naturais ditos renováveis, na maioria dos casos de áreas em que por algum tempo foi necessário preservar a flo- muito problemática reconstrução. Entre nós, Walder Góes resta, devido à importância que ela possuía para uma economia preocupou-se adequadamente com esse problema, chegando inteiramente vinculada à coleta e ao extrativismo em geral. a sintetizá-lo nos seguintes termos: Enquanto o povoamento da Amazônia se fez através dos rios Nem o ecologismo nem o economismo. O ecologismo manda e sob um estilo inteiramente “beiradeiro”, o estoque global da conservar a natureza, reservando-a à função de paraíso am- natureza amazônica pouco ou quase nada sofreu. Mas, desde biental. O economismo manda transformar o capital ecoló- que as rotas terrestres franquearam a região, atingindo-a pelos gico em consumo, acelerando o esgotamento dos recursos. O interflúvios, a partir das terras altas do Brasil Central, tudo ponto de equilíbrio será encontrado na planificação racional se modificou. que compatibilize os objetivos de crescimento da economia com a proteção e desenvolvimento da constelação de recursos Pouco se sabia da “resposta” dos solos florestais da Ama- naturais, em proveito de metas a um só tempo econômicas e zônia a uma agricultura ao estilo daquela que fez a riqueza ecológicas. (Góes, 1973) e a interiorização do desenvolvimento em áreas como o in- terior de São Paulo e o norte do Paraná. Com as rodovias de Partilhamos inteiramente dessa opinião. E pensamos que integração, um novo ciclo de devastamento — um tanto às nunca houve tanta oportunidade para trabalhar no sentido pressas — fez-se na direção da Amazônia florestada, violando de evitar a descapitalização de velhas heranças da natureza os “centros”, que até então estavam praticamente preserva- quanto no fim do terceiro quartel do século XX. dos sob a forma de proteção estratégica da biodiversidade tropical. E, bruscamente, as últimas reservas começaram a AB’SABER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil. ser mexidas indistintamente, ainda uma vez sob um siste- São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 9-10/24-26. ma inegavelmente predatório e extensivo da paisagem e da ecologia. Em poucos anos, áreas como a de Marabá, as terras Avaliação formativa: inicial, reguladora, final integradora situadas ao norte de Imperatriz e aquelas dos arredores de Paragominas adquiriram estragos lamentáveis e irreversíveis Antoni Zabala pela completa ausência de racionalidade e pelo imediatismo da exploração econômica do solo, sob a sofisticada expressão A tomada de posição em relação às finalidades do ensino, rela- de empresas agropecuárias. cionada a um modelo centrado na formação integral da pessoa, implica mudanças fundamentais, especialmente nos conteúdos Mas as paisagens também se estragam às portas das grandes e no sentido da avaliação. Além do mais, quando na análise da cidades brasileiras, onde o desenvolvimento e o subdesenvol- avaliação introduzimos a concepção construtivista do ensino vimento periurbanos marcaram encontro. e a aprendizagem como referencial psicopedagógico, o objeto da avaliação deixa de se centrar exclusivamente nos resultados obtidos e se situa prioritariamente no processo de ensino/apren- XXIXMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
dizagem, tanto do grupo/classe como de cada um dos alunos. Por ensino igual para todos; não é o ensino quem deve se adaptar outro lado, o sujeito da avaliação não apenas se centra no aluno, às diferenças dos alunos. como também na equipe que intervém no processo. O conhecimento que temos sobre como se produzem as Como pudemos observar, procedemos de uma tradição aprendizagens revela a extraordinária singularidade destes educacional prioritariamente uniformizadora, que parte do processos, de tal maneira que é cada vez mais difícil estabelecer princípio de que as diferenças entre os alunos das mesmas propostas universais que vão além da constatação destas dife- idades não são motivo suficiente para mudar as formas de renças e singularidades. O fato de que as experiências vividas ensino, mas que constituem uma evidência que valida a função constituam o valor básico de qualquer aprendizagem obriga a seletiva do sistema e, portanto sua capacidade para escolher os levar em conta a diversidade dos processos de aprendizagem melhores. A uniformidade é um valor de qualidade do sistema, e, portanto, a necessidade de que os processos de ensino, e já que é o que permite reconhecer e validar os que servem. especialmente os avaliadores, não apenas os observem, como Quer dizer, são bons alunos aqueles que se adaptam a um os tomem como eixo vertebrador (Quadro 8.2). Quadro 8. 2 Função social e aprendizagem Objeto Sujeito Referencial Avaliação Informe Seletiva e propedêutica Alunos Disciplinas Sanção Quantitativo Resultados Alunos/ Descritivo/ Uniformizador e transmissor professores interpretativo Formação integral Processo Capacidades Ajuda Sob uma perspectiva uniformizadora e seletiva, o que in- em cada ocasião, como as experiências educacionais também teressa são determinados resultados em conformidade com são diferentes e não se repetem. Isto supõe que, no processo certos níveis pré-determinados. Quando o ponto de partida é de aplicação, em aula, do plano de intervenção previsto, será a singularidade de cada aluno, é impossível estabelecer níveis necessário adequar às necessidades de cada aluno as diferentes universais. Aceitamos que cada aluno chega à escola com uma variáveis educativas: as tarefas e as atividades, seu conteúdo, bagagem determinada e diferente em relação às experiências as formas de agrupamento, os tempos, etc. Conforme se de- vividas, conforme o ambiente sócio-cultural e familiar em que senvolva o plano previsto e conforme a resposta dos meninos vive, e condicionado por suas características pessoais. Esta e meninas a nossas propostas, haverá que ir introduzindo diversidade óbvia implica a relativização de duas das variáveis atividades novas que comportem desafios mais adequados das propostas uniformizadoras – os objetivos e os conteúdos e e ajudas mais contingentes. O conhecimento de como cada a forma de ensinar – e a exigência de serem tratadas em função aluno aprende ao longo do processo de ensino/aprendizagem, da diversidade dos alunos. Portanto, a primeira necessidade do para se adaptar às novas necessidades que se colocam, é o que educador é responder às perguntas: que sabem os alunos em podemos denominar avaliação reguladora. relação ao que eu quero ensinar? Que experiências tiveram? O que são capazes de aprender? Quais são seus interesses? Quais Alguns educadores, e o próprio vocabulário da Reforma, são seus estilos de aprendizagem? Neste marco a avaliação já utilizam o termo de avaliação formativa. Pessoalmente, para não pode ser estática, de análise de resultado, porque se torna designar este processo prefiro usar o termo avaliação regula- um processo. E uma das primeiras fases do processo consiste dora já que explica melhor as características de adaptação e em conhecer o que cada um dos alunos sabe, sabe fazer e é, e adequação. Ao mesmo tempo, esta opção permite reservar o o que pode chegar a saber, saber fazer ou ser, e como apren- termo formativo para uma determinada concepção da avalia- dê-lo. A avaliação é um processo em que sua primeira fase se ção em geral, entendida como aquela que tem como propósito denomina avaliação inicial. a modificação e a melhora contínua do aluno que se avalia; quer dizer, que entende que a finalidade da avaliação é ser um O conhecimento do que cada aluno sabe, sabe fazer e como instrumento educativo que informa e faz uma valoração do é, é o ponto de partida que deve nos permitir, em relação aos processo de aprendizagem seguido pelo aluno, com o objetivo objetivos e conteúdos de aprendizagem previstos, estabelecer o de lhe oportunizar, em todo momento, as propostas educacio- tipo de atividades e tarefas que têm que favorecer a aprendiza- nais mais adequadas. gem de cada menino ou menina. Assim, pois, nos proporciona referências para definir uma proposta hipotética de interven- O conjunto de atividades de ensino/aprendizagem realizadas ção, a organização de uma série de atividades de aprendizagem permitiu que cada aluno atingisse os objetivos previstos num que, dada nossa experiência e nosso conhecimento pessoais, determinado grau. A fim de validar as atividades realizadas, supomos que possibilitará o progresso dos alunos. Mas não é conhecer a situação de cada aluno e poder tomar as medidas mais do que uma hipótese de trabalho, já que dificilmente a educativas pertinentes, haverá que sistematizar o conhecimento resposta a nossas propostas será sempre a mesma, nem a que do progresso seguido. Isto requer, por um lado, apurar os re- nós esperamos. A complexidade do fato educacional impede sultados obtidos – quer dizer, as competências conseguidas em dar, como respostas definitivas, soluções que tiveram bom relação aos objetivos previstos – e, por outro, analisar o proces- resultado anteriormente. Não apenas os alunos são diferentes so e a progressão que cada aluno seguiu, a fim de continuar sua formação levando em conta a suas características específicas. XXX MANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
Seguidamente o conhecimento dos resultados obtidos é de- lugar, é o instrumento que tem que nos permitir melhorar signado com o termo avaliação final ou avaliação somativa. Pessoalmente, acho que a utilização conjunta dos dois termos é nossa atuação na aula. ambígua e não ajuda a identificar ou diferenciar estas duas ne- cessidades: o conhecimento do resultado obtido e processo que ESQUEMA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA o aluno seguiu. Prefiro utilizar o termo avaliação final para me referir aos resultados obtidos e aos conhecimentos adquiridos, Avaliação inicial, planejamento, adequação e reservar o termo avaliação somativa ou integradora para o do plano (avaliação reguladora), conhecimento e a avaliação de todo o percurso do aluno. As- sim, esta avaliação somativa ou integradora é entendida como avaliação final, avaliação integradora. um informe global do processo que, a partir do conhecimento inicial (avaliação inicial), manifesta a trajetória seguida pelo A partir de uma opção que contempla como finalidade aluno, as medidas específicas que foram tomadas, o resultado fundamental do ensino a formação integral da pessoa, e final de todo o processo e, especialmente, a partir deste co- conforme uma concepção construtivista, a avaliação sem- nhecimento, as previsões sobre o que é necessário continuar pre tem que ser formativa, de maneira que o processo ava- fazendo ou o que é necessário fazer de novo. liador, independentemente de seu objeto de estudo, tem que observar as diferentes fases de uma intervenção que deverá Por que avaliar? O aperfeiçoamento da prática educativa é o ser estratégica. Quer dizer, que permita conhecer qual é a objetivo básico de todo educador. E se entende este aperfeiçoa- situação de partida, em função de determinados objetivos mento como meio para que todos os alunos consigam o maior gerais bem definidos (avaliação inicial); um planejamento grau de competências, conforme suas possibilidades reais. O da intervenção fundamentado e, ao mesmo tempo, flexível, alcance dos objetivos por parte de cada aluno é um alvo que entendido como uma hipótese de intervenção; uma atua- exige conhecer os resultados e os processos de aprendizagem ção na aula, em que as atividades e tarefas e os próprios que os alunos seguem. E para melhorar a qualidade do ensino é conteúdos de trabalho se adequarão constantemente (ava- preciso conhecer e poder avaliar a intervenção pedagógica dos liação reguladora) às necessidades que vão se apresentando professores de forma que a ação avaliadora observe simulta- para chegar a determinados resultados (avaliação final) e neamente os processos individuais e os grupais. Referimo-nos a uma compreensão e valoração sobre o processo seguido, tanto aos processos de aprendizagem como aos de ensino, já que permita estabelecer novas propostas de intervenção que, desde uma perspectiva profissional, o conhecimento de (avaliação integradora). como os meninos e meninas aprendem é, em primeiro lugar, um meio para ajudá-los em seu crescimento e, em segundo ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Ernani F. da F. Rosa (Trad.). Porto Alegre: Penso, 2014. p. 198-201. 5 Refer•ncias bibliogr‡ficas CALVO, Alfredo H. Viagem à escola do século XXI. Assim trabalham as escolas mais inovadoras do mundo. Madrid: Fundação Telefonica, AB’SABER, Aziz N. O que é ser geógrafo. Rio de Janeiro: Record, 2007. 2016. Disponível em: <http://fundacaotelefonica.org.br/wp-con tent/uploads/pdfs/04-11-16-viagem-a-escola-do-seculo-xxi2.pdf>. . Os domínios da natureza no Brasil. Potencialidades paisa- Acesso em: 16 nov. 2017. gísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. CAPRA, Fritjof et al. Alfabetização ecológica. São Paulo: Cultrix, 2006. ALMEIDA, Rosângela D. de et al. Cartografia escolar. São Paulo: Con- texto, 2007. CARLOS, Ana Fani A. (Org.). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. (Coleção Repensando o Ensino). BARBOSA, Cal (Org.). Olhares: registro de práticas pedagógicas. São Paulo: C. Barbosa, 2002. CARNIELLI, W. A.; EPISTEIN, R. L. Pensamento crítico. O poder da lógica e da argumentação. São Paulo: Rideel, 2010. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular Alternativa, 2002. (BNCC). Brasília, DF, 2018. Disponível em: <http://basenacionalco mum.mec.gov.br/abase>. Acesso em: 13 out. 2018. . O ensino da Geografia na escola. Campinas: Papirus, 2012. BUSQUETS, Maria D. et al. Temas transversais — Bases para uma CLAVAL, Paul. Terra dos homens. A Geografia. São Paulo: Contexto, formação integral. São Paulo: Ática, 2000. 2010. BUTT, Graham (Org.). Geography, education and the future. London: Continuum International Publishing Group, 2011. XXXIMANUAL DO PROFESSOR - PARTE GERAL
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3a EDIÇÃO J. William Vesentini SÃO PAULO, 2018 Livre-docente em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP) Doutor em Geografia pela USP Professor e pesquisador do Departamento de Geografia da USP Especialista em Geografia Política/Geopolítica e Ensino de Geografia Professor de educação básica na rede pública e em escolas particulares do estado de São Paulo por 15 anos V‰nia Vlach Doutora em Geopolítica pela Université Paris 8 Mestra em Geografia Humana pela USP Bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por 4 anos Professora do Curso de Graduação e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por 22 anos Professora de educação básica na rede pública e em escolas particulares do estado de São Paulo por 12 anos 7 Ensino Fundamental - Anos Finais GEOGRAFIA COMPONENTE CURRICULAR: GEOGRAFIA MANUAL DO PROFESSOR 1
Direção geral: Guilherme Luz Direção editorial: Luiz Tonolli e Renata Mascarenhas Gestão de projeto editorial: Mirian Senra Gestão de área: Wagner Nicaretta Coordenação: Jaqueline Paiva Cesar Edição: Mariana Albertini, Bruno Rocha Nogueira e Tami Buzaite (assist. editorial) Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga Planejamento e controle de produção: Paula Godo, Roseli Said e Márcia Pessoa Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.), Ana Curci, Ana Paula C. Malfa, Arali Gomes, Brenda T. M. Morais, Célia Carvalho, Daniela Lima, Flavia S. Vênezio, Gabriela M. Andrade, Hires Heglan, Luciana B. Azevedo, Luís M. Boa Nova, Patrícia Travanca, Paula T. de Jesus, Sueli Bossi, Vanessa P. Santos; Amanda T. Silva e Bárbara de M. Genereze (estagiárias) Arte: Daniela Amaral (ger.), Claudio Faustino (coord.), Simone Zupardo Dias, Lívia Vitta Ribeiro e Karen Midori Fukunaga (edição de arte) Diagramação: Arte ação Iconografia: Sílvio Kligin (ger.), Denise Durand Kremer (coord.), Daniel Cymbalista e Mariana Sampaio (pesquisa iconográfica) Licenciamento de conteúdos de terceiros: Thiago Fontana (coord.), Luciana Sposito (licenciamento de textos), Erika Ramires, Luciana Pedrosa Bierbauer, Luciana Cardoso e Claudia Rodrigues (analistas adm.) Tratamento de imagem: Cesar Wolf, Fernanda Crevin Ilustrações: André Araújo, David Martins, Julio Dian, Luiz Fernando Rubio, Milton Rodrigues Cartografia: Eric Fuzii (coord.), Robson Rosendo da Rocha (edit. arte) e Portal de Mapas Design: Gláucia Correa Koller (ger.), Adilson Casarotti (proj. gráfico e capa), Gustavo Vanini e Tatiane Porusselli (assist. arte) Foto de capa: Robert Harding World Imagery/Getty Images Todos os direitos reservados por Editora Ática S.A. Avenida das Nações Unidas, 7221, 3o andar, Setor A Pinheiros – São Paulo – SP – CEP 05425-902 Tel.: 4003-3061 www.atica.com.br / [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Julia do Nascimento - Bibliotecária - CRB-8/010142 2018 Código da obra CL 713503 CAE 631687 (AL) / 631688 (PR) 3a edição 1a impressão Impressão e acabamento 2 2 MANUAL DO PROFESSOR
Apresenta•‹o Há livros-estrela e livros-cometa. Os cometas passam. São lembrados apenas pelas datas de sua apa- rição. As estrelas, porém, permanecem. Há muitos livros-cometa, que duram o período de um ano letivo. Mas o livro-estrela quer ser uma luz permanente em nossa vida. O livro-estrela é como uma estrela guia, que nos ajuda a construir o saber, nos estimula a perceber, refletir, discutir, estabelecer relações, fazer críticas e comparações. Ele nos ajuda a ler e transformar o mundo em que vivemos e a nos tornar cada vez mais capazes de exercer nossos direitos e deveres de cidadão. Estudaremos vários tópicos neste livro, entre os quais: • A formação do Estado e do território do Brasil; • Economia e disparidades socioterritoriais; • A população brasileira; • Indústria e industrialização; • Urbanização; • Meio rural; • O meio fisiológico: relevo, clima, biomas, hidrografia. Esperamos que ele seja uma estrela para você. Os autores 3 MANUAL DO PROFESSOR 3
CONHEÇA SEU LIVRO Abertura da unidade Em página dupla, apresenta uma imagem e um breve texto de introdução que relacionam algumas competências que você vai desenvolver na unidade. As questões ajudam você a refletir sobre os conceitos que serão trabalhados e a discuti-los previamente. Estrada que liga os municípios de Lauro Müller e Bom Jardim da Serra, UNIDADE no estado de Santa Catarina. A estrada possui 284 curvas e sua extensão é de 23 km. Essa serra é conhecida como serra do Rio do Rastro. 3 Paisagens naturais e a•‹o humana Nesta unidade você vai estudar a dinâmica própria dos elementos da natureza – relevo, clima, hidrografia e vegetação – e como as ações humanas interagem com esses elementos na organização dos espaços ocupados e modificados pelas atividades desenvolvidas em nossa sociedade. CAPÍTULO Nordeste Observe a foto e responda às seguintes questões: 10 1 O que chama a sua atenção na Rubens Chaves/Pulsar Imagens imagem? Tales Azzi/Pulsar Imagens 2 O que foi construído na paisagem? Gerson Gerloff/Pulsar Imagens Qual é a necessidade humana satisfeita com a realização dessa obra? 3 Quais foram os impactos ocorridos no local após essa intervenção humana? Como eles alteraram a paisagem? 136 137 O relevo e a sua import‰ncia Rubens Chaves/Pulsar Imagens Dependendo de suas características, o relevo fa- vorece ou dificulta a ocupação humana. Ele pode ser um obstáculo ao uso da terra no campo ou na cidade Para começar e dificultar ou encarecer a construção de grandes obras 1. Como ocorre em de engenharia (estradas, aeroportos, hidrelétricas, etc.). todo o Brasil, a região Nordeste também é Áreas montanhosas com rochas sólidas exigem uma área com grandes contrastes. Abertura maior planejamento e maior dispêndio de recursos para Você já ouviu falar do capítulo sobre algum alterá-las e evitar que a paisagem sofra efeitos que contraste dessa O capítulo inicia-se com um pequeno região? texto introdutório acompanhado de uma resultem em erosão ou desmoronamentos. Contudo, ou duas imagens. Vista do polo industrial no município de Camaçari (BA), em 2017. 2.Você conhece áreas outras formas de relevo favorecem a ocupação huma- modernas no atual Você provavelmente sabe que o Nordeste brasileiro tem belas praias e lugares Nordeste brasileiro, na, como áreas planas tanto de planícies quanto de aprazíveis. Você já deve ter ouvido falar das secas nessa região, fenômeno muito como mostra a foto explorado pela literatura, em romances, e pela mídia, em filmes, canções ou notici- desta página? Cite planaltos. Nessas áreas, o custo para a construção de ários. Muitas vezes, as imagens transmitidas pelos meios de comunicação são exa- pelo menos três. geradas e originam mitos ou explicações equivocadas. estradas, por exemplo, é mais baixo do que em áreas Neste capítulo, você vai conhecer não apenas o Nordeste onde ocorrem as secas, montanhosas. Além disso, superfícies de relevo plano mas também a região moderna, que possui entre suas paisagens metrópoles e cidades com áreas industriais, comércio intenso, estações de metrô e agricultura de ponta. facilitam o plantio e a colheita de diversos gêneros ali- Rodovia dos Imigrantes em trecho próximo a Cubatão (SP), em 2018. mentícios. Por isso, podemos dizer que o relevo tam- Esse tipo de intervenção na paisagem altera completamente a 202 UNIDADE 4 ¥ Brasil: diversidades regionais bém facilita a ocupação humana no campo. dinâmica natural do local, pois, com essa construção, carros começam a percorrer a área, emitindo gases poluentes na atmosfera. O relevo ainda pode ter um grande valor cênico, Marcos Amend/Pulsar Imagens como a cidade do Rio de Janeiro (RJ) ou a chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, como atração turística. Observe as imagens ao lado, que mostram duas for- mas de interação com o relevo. Alguns tipos de relevo são inapropriados para cons- truções, como áreas de várzeas de rios, que são perio- dicamente inundadas pelas enchentes nas épocas de fortes chuvas, ou as encostas ou vertentes de morros e montanhas, que podem ser erodidas pela infiltração da água das chuvas no solo e provocar desabamentos ou escorregamentos de terras. Esse fato leva, às vezes, ao soterramento de habitações e outras edificações, Para começar que em geral são irregu- Dispêndio: gasto. Cachoeira Véu da Noiva, na Chapada dos Guimarães, no município de lares por estarem locali- Vertente: superfície em declive. mesmo nome (MT). Foto de 2015. Observar essa paisagem ou O boxe traz questões sobre as ideias zadas em áreas de risco. fotografá-la não a altera. fundamentais do capítulo. Elas possibilitam a você ter um contato 3 Indicadores sociais Texto e a•‹o inicial com os assuntos que serão 1 Cite exemplos de formas de relevo cuja ocupação irregular ocasiona catástrofes frequentes. Você estudados e também expressar suas Há ainda outros indicadores do de- Crianças guaranis e opiniões, experiências e senvolvimento humano ou social de uma professor em sala de aula conhece algum caso desse tipo no Brasil ou em seu município? Qual(ais)? conhecimentos prévios sobre o tema. sociedade, um deles é a escolaridade da em escola da aldeia Tekoa 2 Observe o mapa sobre as principais unidades de relevo no Brasil (página 142) e responda às questões população. Todo país desenvolvido tem Koenju, no município de uma população com escolaridade média São Miguel das Missões (RS), a seguir em seu caderno. elevada. Observa-se o contrário nos países em 2016. a) Que forma de relevo é minoritária no território brasileiro? Onde ela se localiza? em desenvolvimento e subdesenvolvidos, b) Qual é a cor que indica as áreas montanhosas? Onde elas se localizam? muitos deles com elevada porcentagem c) Que forma de relevo predomina no estado onde você mora? de analfabetos. 144 UNIDADE 3 ¥ Paisagens naturais e a•‹o humana Em países desenvolvidos, como o Ca- nadá, a Áustria ou a Dinamarca, por exem- Texto e ação plo, a taxa de analfabetismo entre a po- pulação com 15 anos de idade ou mais é praticamente zero; no Brasil é de 7,2%, se- Ao fim dos tópicos principais há algumas atividades gundo dados de 2017; em Angola, de 29%; e no Sudão do Sul, de 68%. A taxa de pes- para você verificar o que aprendeu, resolver dúvidas soas com 25 anos ou mais com curso superior no Japão foi de 60% (em 2016); no Canadá foi de 61%. Em contrapartida, essa taxa no Brasil foi de 14%; na Turquia, de 17%; e comentar os assuntos em questão, antes de na Indonésia, de 8%; e na África do Sul, de apenas 7% no mesmo ano. Outro indicador importante para avaliar as condições de vida de um povo é a porcentagem da população que vive abaixo da linha internacional da pobreza, ou seja, que vive com menos de 2 dólares por dia. No Brasil, cerca de 20 milhões de pessoas (quase 10% do total) vivem nessa condição degradante, segundo dados de 2016. Na Venezuela, são mais de 25% da população e, na Índia, cerca de 22%, ou seja, 290 milhões de pessoas. Para saber mais continuar o estudo do tema do capítulo. Linha internacional da pobreza Glossário Trata-se de um parâmetro que busca definir o valor da renda mínima necessária por Os termos e as expressões destacados pessoa para garantir a sua subsistência. Com esse parâmetro é possível diagnosticar a remetem ao glossário na lateral da página, população de um país ou de uma região que não possui nem ao menos esse rendimento, ou seja, pessoas que se encontram em situação de pobreza absoluta. Não existe um consenso sobre qual é o valor exato para esse índice, que costuma variar de 1,25 até 5 dólares ao dia, de acordo com o órgão que faz o cálculo e o momento econômico em que é feito. Para saber mais Os indicadores ligados à saúde e à longevidade (expectativa de vida) da população Padr‹o de vida: refere-se permitem saber mais sobre o quadro econômico e social de um país. Nos desenvolvi- à qualidade dos serviços e A seção traz curiosidades e dos, a expectativa de vida de recém-nascidos (isto é, quantos anos espera-se que eles produtos a que se tem informações que complementam o vivam em média, levando-se em conta o padrão de vida da população, ou seja, sua acesso, o que depende do alimentação, saúde, atendimento médico-hospitalar, etc.) é bem maior que nos países poder aquisitivo de uma tema estudado na unidade. subdesenvolvidos. Nestes países, a taxa de mortalidade infantil é muito superior à dada população. dos países ricos. Essa taxa mede, para cada grupo de mil crianças, quantas morrem antes de completar 1 ano de idade. 34 UNIDADE 1 ¥ Brasil: território e sociedade que apresenta o seu significado. 4 4 MANUAL DO PROFESSOR
Geolink CONEXÍES COM ARTE E LÍNGUA PORTUGUESA 1 Observe, na tirinha abaixo, o diálogo entre as personagens Mafalda e sua amiga Suzanita. Leia o texto a seguir. De acordo com um dicionário eletrônico, o termo preconceito pode ser definido das seguintes formas: Culin‡ria afro-brasileira: africanos enriqueceram a cozinha brasileira 1. qualquer opinião ou sentimento [...] concebido sem exame crítico. © Joaquín Salvador Lavado (Quino) Toda Mafalda/Fotoarena/Quino Os indígenas se alimentavam da mandioca, das frutas, dos peixes e das carnes de caça. Com a chegada dos co- 1.1. ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado [...] sem maior conhecimento, ponderação ou razão. lonizadores portugueses, o pão, o queijo, o arroz, os doces e os vinhos foram se incorporando à nossa alimentação. 2. atitude, sentimento [...] de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma Mas uma das contribuições mais importantes aos nossos hábitos alimentares, durante todo o período de colo- experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância (por exemplo, contra um grupo religioso, nacional nização, foi aquela que veio daÁfrica [...]. Se os comerciantes de escravos traziam os ingredientes (especiarias), os ou racial). escravos traziam na memória os usos e os gostos de sua terra. Era aí que estava o segredo. INSTITUTO ANTONIO HOUAISS (Org.). Grande Dicionário da língua portuguesa (on-line). [...] Os ingredientes nobres, o preparo requintado e as maneiras europeias à mesa aconteciam na casa-grande. Disponível em: <https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-3/html/index.php#0>. Enquanto isso, a cozinha negra se desenvolvia na senzala, em tachos de ferro. Acesso em: 10 set. 2018. Alguns escravos conseguiam criar algum animal ou cul- Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo Geolink Agora, converse com os colegas: tivar uma pequena horta.Talvez por isso o tempero e o uso a) Na opinião de vocês, a tirinha apresenta alguma forma de preconceito? de uma grande variedade de pimentas deram um sabor Apresenta textos com informações b) Vocês acham que Mafalda concordou com a opinião de Suzanita? Por quê? especial aos seus pratos. O azeite de dendê também foi um complementares aos temas c) O modo de pensar de Suzanita estimula a desigualdade social? Por quê? dos ingredientes mais importantes da culinária negra. [...] tratados no capítulo para ampliar d) Com base na tirinha e nos seus conhecimentos, relacionem medidas que poderiam ser tomadas para pro- seu conhecimento. No fim da Uma outra tradição, a de vender comida nas ruas, em seção, há sempre questões para porcionar “bem-estar” (conforme mencionado por Mafalda) ao personagem do primeiro quadro. grandes tabuleiros, se estabeleceu na mesma época na ci- você avaliar o que leu, discutir e 2 Em duplas, observem a charge e depois respondam às questões. dade de Salvador, na Bahia. Esses tabuleiros traziam de expressar sua opinião. tudo. [...] Entre essas iguarias estava, além do acarajé, do a) Qual é o problema social que a tirinha enfatiza? Justifique sua resposta. vatapá e do abará, angu, mingau, pamonha e canjica. [...] b) Há relação entre a crítica da tirinha e o conteúdo do capítulo? Um outro fator que ajudou a difundir a comida de origem Economia e disparidades socioterritoriais • CAPêTULO 2 41© Armandinho/Acervo do cartunista negra foi a religião africana – o candomblé. O candomblé tem uma relação muito especial com a comida. Os devotos Conexões servem para os santos comidas que pertencem à tradição africana. Como as comunidades negras se espalharam pelo Contém atividades que possibilitam conexões Brasil, a culinária que veio daÁfrica se espalhou por todo o com outras áreas do conhecimento. país. [...]. Os caldos, extraídos dos alimentos assados, mistu- rados com farinha de mandioca (o pirão) ou com farinha de milho (o angu), são uma herança dos africanos. Podemos lembrar que daÁfrica também vieram ingredientes tão im- portantes como o coco e o café. Para terminar, não se pode deixar de mencionar um dos A tradição da venda de quitutes nos tabuleiros das baianas é pratos favoritos do país:a feijoada,que também se originou muito comum nas ruas da Bahia e de outras regiões do nas senzalas. Enquanto as melhores carnes iam para a Nordeste. Essa prática, considerada um patrimônio imaterial mesa dos senhores,os escravos ficavam com as sobras:pés do país, é herança da cultura africana trazida pelos povos e orelhas de porco,linguiça,carne-seca etc.,eram mistura- escravizados. Na foto, baiana fritando a massa do acarajé, em dos com feijão-preto [...] e cozidos num grande caldeirão. Salvador (BA), em 2015. STRECKER, Heidi. Culinária afro-brasileira: africanos enriqueceram a cozinha brasileira. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades. Disponível em: <www.ceert.org.br/noticias/historia-cultura-arte/ 10124/culinaria-afro-brasileira-africanos-enriqueceram-a-cozinha-brasileira>. Acesso em: 29 maio 2018. Agora, responda: 1 Você já comeu algum dos alimentos citados no texto? Quais? 2 O texto afirma que a culinária africana contribuiu muito para os hábitos alimentares no Brasil. De que forma isso ocorreu? Brasil: formação do Estado e do território • CAPÍTULO 1 23 INFOGRÁFICO Segundo a ONU, em 2020, cerca de 600 cidades em todo o mundo terão pelo menos 1 milhão de habitantes, e quase 30 delas estarão no Brasil. Haverá mais de 30 aglomerações urbanas com pelo menos 10 milhões de habitantes – as cha- Urbanização da humanidade madas megacidades – no globo, e o Brasil terá duas delas: São Paulo e Rio de Janeiro. Com isso, o grande desafio será ATIVIDADES b) Quais são, em sua opinião, os motivos para se con- fornecer moradias decentes, sistema de transporte eficiente, segurança, eletricidade, água encanada e tratada, rede de sumir o produto orgânico? Qual deles você acha que esgotos, áreas verdes e de lazer para essa imensa população que se concentra cada vez mais em áreas urbanas. + Ação mais convence as pessoas a usar produtos origina- dos da agricultura orgânica? Onde vive a população mundial? Maiores aglomerações urbanas No Brasil, o Recenseamento Geral de 2010 constatou 1 Nas prateleiras dos supermercados, nas feiras livres ou Lendo a imagem do mundo e do Brasil em (2020)* que cerca de 11,5 milhões de pessoas viviam em “aglo- nos eventos sobre meio ambiente, são cada vez mais c) Procure explicar por que quanto mais pessoas con- 1 Em duplas, observem a imagem abaixo. Durante a maior parte da história da humanidade, a maioria da população viveu no campo. No entanto, desde merados subnormais”, popularmente conhecidos como comuns a propaganda e a venda de alimentos orgânicos. sumirem produtos orgânicos, mais baratos eles meados do século passado, a população mundial vem se urbanizando num ritmo muito rápido. Em 2007, a maioria favelas, invasões, grotas, comunidades, mocambos, bai- Você sabe o que é alimento orgânico? Leia o texto a seguir. ficarão. Trabalhador aplica agrotóxico em plantação de cana-de-açúcar no município de Planalto (SP), em 2016. da população do globo já vivia nas cidades, e, segundo projeções da ONU, em 2050, cerca de 70% da população mun- xadas, ressacas ou palafitas, conforme a região. Em todo a) Listem os elementos visíveis na foto. dial viverá no meio urbano. o mundo, segundo a ONU, em 2010, 827 milhões de pes- O que define um produto orgânico? d) Os produtos orgânicos já fazem parte da sua ali- b) O que o trabalhador está fazendo? soas viviam em moradias precárias e irregulares ou em mentação e de seus familiares? Que alimentos or- c) Por que ele está usando máscara? Em países como Argentina, Bélgica, Israel, Kuwait, Luxemburgo, Catar e Cingapura, mais de 90% da população total habitações sem as mínimas condições de higiene. Para ser considerado orgânico, o produto deve ser cul- gânicos você costuma consumir? d) Que danos o uso de agrotóxicos pode provocar ao meio ambiente e às pessoas? vive no meio urbano; em outros, como Bangladesh, Índia, Níger, Moçambique, Paquistão e Serra Leoa, a maioria da popu- tivado em um ambiente que considere sustentabilidade 2 Observe a fotografia abaixo. lação vive no meio rural, embora ocorra um processo de urbanização. Posição no Aglomeração urbana** População social, ambiental e econômica e valorize a cultura das 2 Leia o texto a seguir. Depois, responda às questões. Tiago Queiroz/Agência Estado ranking mundial em 2020 comunidades rurais. A agricultura orgânica não utiliza Thomaz Vita Neto/Tyba 37 393 129 agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos quí- Pecuária orgânica é um sistema de produção baseado em 1 Tóquio (Japão) micos, antibióticos ou transgênicos em qualquer fase da 3 elos:o meio ambiente,o econômico e o social; tendo os três a 30 290 936 produção. [...] mesma importância. O sistema orgânico busca produzir da 2 Délhi (Índia) forma mais natural possível,economicamente viável e social- 27 058 479 Os produtores de orgânicos utilizam o rodízio de cultu- mente participativa na região que se encontra. 3 Xangai (China) ras e diversificação de espécies entre e dentro dos cantei- ros [isto é, policultura ao invés da monocultura]. Nas lavou- Ambientalmente, é um sistema preocupado com os re- Taxa de Mundo: taxa de urbanização (2018) 4 São Paulo (Brasil) 22 043 028 ras, são aplicados cordões de contorno com plantas diver- cursos naturais existentes, preservando-os ao máximo. sas, que ajudam a proteger o cultivo de pragas e doenças, Entre algumas das coisas, busca a preservação e recupe- urbanização é a N 0º 5 Cidade do México 21 782 378 servem como quebra-vento e também protegem o solo ração da flora e da fauna locais, não utilização de animais proporção (porcentagem) (México) contra erosão. Praticam o plantio direto, caracterizado pelo geneticamente modificados (transgênicos) ou substâncias OCEANO GLACIAL ÁRTICO cultivo em cima do resíduo da cultura anterior, sem que o químicas artificiais, utilização racional do solo e da água trator limpe o solo. [...] O solo é enriquecido com adubo or- e tratamento dos resíduos produzidos. da população urbana O Círculo Polar Ártico gânico que promove o desenvolvimento da vida neste solo, em relação à população L como minhocas, bactérias e fungos benéficos [além de Economicamente ainda é um sistema que busca uma folhas e restos de vegetais], que contribuem para o equi- alta produção e lucro, porém diferente dos outros sistemas total de um país ou de S 6 Dhaka (Bangladesh) 21 005 860 líbrio do sistema. produtivos, não tem esse como o elo de maior importância. Como um sistema produtivo, ainda tem que operar e se uma região. 7 Cairo (Egito) 20 900 604 [...] A produção orgânica vai além da não utilização de manter no mercado. agrotóxicos. O cultivo deve respeitar aspectos ambientais, Trópico de Câncer OCEANO Meridiano de Greenwich OCEANO 8 Pequim (China) 20 462 610 Ricardo Oliveira/Tyba sociais, culturais e econômicos, garantindo um sistema No âmbito social, o sistema orgânico se preocupa e se in- ATLÂNTICO Portal de Mapas/Arquivo da editoraPACÍFICO agrícola sustentável. [...] sere na sociedade local, cumprindo as leis trabalhistas, dan- Equador do preferência aos trabalhadores locais, melhorando a quali- Taxa de urbaniza•‹o OCEANO 0º 9 Mumbai (Índia) 20 411 274 O produtor orgânico se preocupa com a preservação do dade de vida destes e do resto da comunidade ao seu redor. (em %) PACÍFICO meio ambiente e tem compromisso com a qualidade de OCEANO 10 Osaka (Japão) 19 165 340 vida de seus empregados. O produto, então, pode ter seu Além disso tudo, sua produção é baseada no bem-es- 80,1-100,0 Trópico de Capricórnio ÍNDICO custo de produção um pouco maior, acrescido destas res- tar, onde os animais são criados o mais próximo possível 60,1-80,0 ponsabilidades. A oferta em relação à procura por produtos do seu natural. 40,1-60,0 0 3 350 6 700 km 21 Rio de Janeiro 13 458 075 mais saudáveis também eleva o preço no mercado. Tanto 20,1-40,0 em supermercados como em feiras livres é possível adqui- Fonte: PECUÁRIA orgânica. Disponível em: 0-20,0 Círculo Polar Antártico OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 66 Belo Horizonte 6 084 430 rir produtos orgânicos com preços compatíveis. [...] <www.usp.br/pecuariaorganica/?page_id=176>. sem dados Fonte: Canal Rural, 24 maio 2015. Disponível em: Acesso em: jul. 2018. 92 Brasília 4 645 843 <www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/que-define- a) Quais são os três componentes ou elos básicos da Fonte: elaborado com base em UNITED NATIONS. World Urbanization Prospects: The 2018 Revision. 108 Porto Alegre 4 137 418 produto-organico-56619>. Acesso em: 11 abr. 2018. pecuária orgânica? No que ela difere da pecuária Disponível em: <https://esa.un.org/unpd/wup/Maps/>. Acesso em: 12 jul. 2018. Responda às questões: tradicional? a) Quando um produto é considerado orgânico? A população do Brasil População rural e urbana no Brasil (1950-2050) 109 Recife 4 127 092 No Brasil, as maiores Moradias no município de b) Explique no que consiste a preocupação com o bem- vem crescendo num ritmo Manaus (AM), em 2016. -estar do gado na pecuária orgânica. menor que no passado e, por (em milhões) 112 Fortaleza 4 073 465 populações que vivem em c) Alguns criticam a preocupação econômica em qual- Banco de imagens/Arquivo da editora comunidades estão em São Paulo quer forma de agropecuária, inclusive a orgânica. volta de 2040, começará a 250 View Apart/Shutterstock/Glow Images Você acha que essa crítica é procedente? Seria pos- sível um cultivo ou criação sem nenhuma preocupa- decrescer em consequência de um 120 Salvador 3 839 076 (2,1 milhões ou 11% da população ção econômica? Por quê? metropolitana), Rio de Janeiro saldo populacional negativo (número de nascimentos + número de 200 124 Curitiba 3 678 732 (1,7 milhão ou 14,4% da população), Belém (1,1 milhão ou 53% da imigrantes) – (número de óbitos + número de emigrantes). população), Salvador (931 mil ou 26% da população) e Recife (852 mil ou A urbanização também deverá 150 146 Campinas 3 300 794 estabilizar-se entre 91% e 92% 23% da população). da população total 192 Goiânia 2 690 011 vivendo em cidades. 100 M224atriz enBeelérmgética 2b334r46a2 sileira População total 50 1950 Ano * EstimativMasafetirtaizs peenlaeOrrggaéntiizcaçaãoédoascNoaçnõjeusnUtnoidadse. fontes de energia utilizadas por um país ou População urbana 0 1960 ** Aglomeração urbana inclui a cidade principal e as cidades População rural 1970 próxrimeagsiãeointeermligatdoasdaoeslao. Csamsepiunass,speotroexreemspdloe, inactluiivaidciadaddees econômicas: indústrias, agricultura, 1980 pHroinrtcroieplâasnldiedia1ê,9Innmcdauiainaistcuí,pbtiaor,sae:nnAtmrsepeorouictrartanesa.,sI,taetitbca,.VÉalinohoqsu, Veinsheedoc,hama oficialmente de consumo primário 1991 Fontde:eelaebnoreadrogciaom, obuaseseemjaU,NaITEuDtiNliAzTaIOçNãSo. PdoepuleatnioenrDgiviiasioenm suas variadas formas: eletricidade, 2000 e(2m01:8c<)o.hItmntp:sWb://uoerssldat.Uuívnrb.eoairnsgi/z,uanlteipodnn/whPruaops/opDeuocwtscn:alTohraved/ã2>0o.1A8pcReasersvaoisieoamnq,:Du13iespjcuoli.nm2ív0ee1l8n. to, etc. Quando uma matriz energé- 2010 2020 tica faz uso principalmente de fontes renováveis, ela é considerada “limpa”. Já quan- 2030 2040 2050 Fontes: elaborado com base em IBGE. Censos demográficos 1940-2010; IBGE. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro: 2007; IBGE. Anuário Estatístico do Brasil, 1981, v. 42, 1979. IBGE. Projeção da população por sexo e idade: Brasil 2000-2060. Rio de Janeiro, 2013. 94 do se utilizam fontes de energias não renováveis, sobretudo as de origem fóssil 95 (carvão mineral e petróleo), as mais poluidoras, trata-se de uma matriz energética “suja” ou não renovável. Compare a matriz energética do Brasil com a do mundo em Vista de paisagem rural em Sinop (MT), em 2015. ¥ Qual é o aspecto negativo da agropecuária retratado na imagem? 2016 nos dois gráficos a seguir. Infográficos, Brasil: matriz energética (2016) Mundo: matriz energética (2016) 132 ATIVIDADES ATIVIDADES 133 mapas, gráficos e imagens André Araújo/Arquivo da editora 1,5% 5,4% 0,7% 6,9% 4,5% 3,2% André Araújo/Arquivo da editora Energia Outras Outras renováveis Hidráulica Energia nuclear Outras renováveis No decorrer dos capítulos você nuclear renováveis (biomassa, eólica, (biomassa, eólica, solar, encontra infográficos, mapas, solar, das marés, das marés, etc.) gráficos e imagens variadas 17,5% etc.) especialmente selecionadas Derivados da para ajudá-lo em seu estudo. cana-de-açúcar 36,5% 33,2% Atividades Petróleo e Petróleo e 5,5% derivados derivados No fim de cada capítulo, esta seção está dividida em duas subseções: Carvão mineral 24,1% +Ação - Trata-se de atividades relacionadas à compreensão de texto. Gás natural Lendo a imagem - Apresenta atividades relacionadas à observação e 8% 12,3% 12,6% 28,1% à análise de fotos, mapas, infográficos, obras de arte, etc. Lenha e Gás natural Hidráulica Carvão mineral carvão vegetal Fonte: elaborado com base em EPE. Balanço energético nacional, 2017. Fonte: elaborado com base em BP STATISTICAL Review of World Energy, Disponível em: <https://ben.epe.gov.br/downloads/S%C3%ADntese%20do junho 2017. Disponível em: <https://www.bp.com/en/global/corporate/ %20Relat%C3%B3rio%20Final_2017_Web.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2018. energy-economics/statistical-review-of-world-energy.html>. Acesso em: 30 set. 2018. Como se observa nos gráficos, tanto a matriz energética Vanderlei Tacchio/ Divulgação Eletrosul mundial (média de todos os países do globo) como a brasileira são consideradas “sujas”, pois usam mais fontes de energia não re- nováveis. Entretanto, o Brasil usa menos fontes não renováveis que a média do restante do planeta; isso significa que em termos comparativos nossa matriz energética é mais “limpa”, graças ao uso intensivo da energia hidráulica (que produziu cerca de 68% da eletricidade no Brasil em 2016) e ao etanol, amplamente usado no país como combustível nos veículos automotivos. Outro importante avanço rumo a uma matriz energética mais renovável tem sido a ampliação dos parques eólicos, que produ- zem eletricidade a partir da força dos ventos. A energia eólica, praticamente inexistente no Brasil até o final do século passado, já produziu 5,4% da energia elétrica do país em 2016. Parque Eólico Geribatu, no município de Santa Vitória do Palmar (RS), em 2015. Esse parque faz parte do Complexo Eólico Campos Neutrais, o maior do Brasil e da América Latina, que produz energia elétrica para mais de 3 milhões de pessoas. 84 UNIDADE 2 ¥ Brasil: utiliza•‹o do espa•o PROJETO História e Arte Marcia Minillo/Olhar Imagem A cultura também se manifesta na alimentação. O feijão-tropeiro é um prato bastante apreciado no Minha biblioteca Pesquisa e exposição: Manifestações Brasil, principalmente nas culinárias mineira, goiana e paulista, e leva, geralmente, feijão, Apresenta indicações de leitura que culturais na cidade e no campo farinha de mandioca, linguiça e ovos. podem enriquecer os temas estudados. O Brasil é o maior país da América do Sul em área territorial e o quinto maior do mundo. Secom/Prefeitura Municipal de Corupá De olho na tela No território brasileiro habitam mais de 200 milhões de pessoas, de diversas origens e as- Hans von Manteuffel/Opção Brasil Imagem cendências, o que confere diversidade à nossa cultura. A cuca, bastante apreciada no Sul do Brasil, Contém sugestões de filmes e vídeos que é de origem alemã. Seu nome provém da se relacionam com o conteúdo estudado. Que manifestações culturais você reconhece no estado onde mora? Neste projeto, você vai pesquisá-las para conhecer mais sobre elas. palavra alemã kushen, que significa “bolo”. Mundo virtual O frevo, ritmo carnavalesco, Apresenta indicações de sites que é uma manifestação ampliam o que foi estudado. cultural típica da região Nordeste. Na foto, passistas Audiovisual dançam frevo em Olinda (Pernambuco), em 2015. Indica que há material audiovisual relacionado ao tema ou ao conteúdo abordado. Bruno Kelly/Reuters/Fotoarena a Whitaker/Pulsar Imagens Criações artísticas como o Etapa 1 – O que fazer artesanato são manifestações culturais presentes em todo o Organizem-se em grupos de 3 ou 4 alunos e conversem sobre as manifestações Brasil. A foto mostra artesã culturais que já conhecem no estado onde produzindo bordado, em moram. Caso o grupo tenha dificuldade de identificá-las, realizem uma pesquisa na Florianópolis (SC), em 2017. internet ou com colegas, professores e fa- miliares. Então, escolham duas manifestações culturais para conhecer melhor: elas podem estar relacionadas a festas, danças, vestu- ário, culinária, música, artesanato, etc. Lucian Etapa 2 – Como fazer Marcelo Bittencourt/Futura Press Sobre cada manifestação cultural que vocês escolheram, procurem saber: A capoeira é uma manifestação cultural brasileira. Mistura de jogo, dança e luta, essa • Qual é a origem dessa manifestação arte se manifesta por todo o Brasil, sendo conhecida e praticada também no exterior. cultural? Sua origem é africana. Na foto, capoeiristas no município do Rio de Janeiro (RJ), em 2016. A arte indígena é bastante diversificada. Artefatos e • Quais são suas características? adornos com plumas e penas, bem como objetos de cerâmica e utensílios trançados em vime e outras • Onde é realizada? fibras destacam-se na cultura indígena. Na foto, mulher Guarani confecciona cestos de fibra em São • Ela é mais frequente na área urbana, na rural ou em ambas? Por quê? Paulo (SP). No detalhe, cocares feito por indígenas Munduruku, em Itaituba (PA). Fotos de 2017. Tudo o que o grupo descobrir deve ser exposto em um cartaz: elaborem um texto para cada uma das manifestações culturais ou arranjem as informações em tópicos. Não se es- Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo queçam de usar imagens que representem a cultura de seu estado: podem ser fotos ou ilustrações. Todas as imagens devem ser legendadas e os créditos precisam ser informados. Etapa 3 – Apresentação Combinem com o professor e os colegas uma data para apresentarem as produções. Aproveitem o momento para trocar ideias com os colegas! 134 PROJETO PROJETO 135 Projeto 5 No final de cada unidade, há uma proposta de atividade interdisciplinar, que levará você a trabalhar com variados temas e a refletir sobre eles. MANUAL DO PROFESSOR 5
SUMçRIO 3 Indicadores sociais ....................................................34 Unidade 1 Geolink: Desigualdade social aumenta vulnerabilidade de crianças e adolescentes....36 Brasil: território e sociedade ...............10 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)....37 CAPÍTULO 1: Brasil: formação do 4 Cidadania e democracia...........................................39 Estado e do território ............................................12 1 Sociedade, Estado, povo, nação e país ..............13 Conexões..............................................................................41 2 O Estado e suas funções .........................................15 Atividades............................................................................42 A origem do Estado e as sociedades sem Estado..............................................................16 CAPÍTULO 3: População brasileira..................44 3 Territórios e fronteiras .............................................18 1 Crescimento demográfico.......................................45 4 Formação do Estado e do território no Brasil .........................................................................19 Transição demográfica.........................................47 Formação histórica e expansão Taxas de mortalidade no Brasil .........................48 territorial do Brasil ................................................19 Taxas de natalidade no Brasil ............................48 Geolink: Culinária afro-brasileira: africanos enriqueceram a cozinha brasileira ......................23 2 Estrutura da população por idade e O princípio do uti possidetis.................................24 por sexo..........................................................................50 A construção da nação.........................................25 Proporção entre homens e mulheres..............51 Primeiro o Estado e depois a sociedade.........26 Conexões..............................................................................27 3 População ativa e setores de atividades ..........54 Atividades............................................................................28 Desemprego e setor informal............................56 CAPÍTULO 2: Economia e disparidades Geolink: Os mecanismos do socioterritoriais........................................................30 envelhecimento ..........................................................58 1 PIB e renda per capita ...............................................31 Mulheres e homens no mundo 2 Distribuição da renda................................................33 do trabalho ..............................................................59 Tomas Griger/DepositPhotos/Glow Images 4 Migrações......................................................................61 5 Etnias ..............................................................................63 Os afrodescendentes ...........................................63 Os indígenas............................................................66 Os grupos étnicos derivados dos brancos e asiáticos....................................................................67 Conexões..............................................................................69 Atividades............................................................................70 Projeto ..................................................................................72 Unidade 2 Brasil: utilização do espaço...................74 CAPÍTULO 4: Atividade industrial no Brasil .......................................................................76 1 Do artesanato à indústria moderna....................77 Artesanato ............................................................... 77 Manufatura..............................................................77 6 6 MANUAL DO PROFESSOR
Geolink: Ofício das Paneleiras de Ocupação da terra pela agropecuária........... 116 Goiabeiras ...............................................................78 Geolink: Segurança alimentar, Indústria moderna.................................................79 nutrição e saúde ...................................................... 118 2 Classificação da indústria moderna....................80 2 Estrutura e concentração fundiária .................119 Indústria de transformação................................80 Reforma agrária .................................................. 120 Indústria extrativa .................................................81 3 Produtos agrícolas.................................................. 121 Indústria de construção.......................................81 Café......................................................................... 121 3 Indústria e energia.....................................................83 Soja ......................................................................... 122 Matriz energética brasileira................................84 Cana-de-açúcar .................................................. 123 4 A industrialização no Brasil....................................85 Arroz ....................................................................... 124 Fatores que propiciaram a industrialização...85 Trigo ........................................................................ 125 Concentração industrial.......................................86 Algodão.................................................................. 125 Desconcentração industrial................................87 Feijão ...................................................................... 126 5 Indústria e espaço geográfico...............................88 Cacau...................................................................... 126 Conexões..............................................................................89 Fumo ...................................................................... 126 Atividades............................................................................90 Uva .......................................................................... 126 Milho e mandioca ............................................... 127 CAPÍTULO 5: Urbanização e rede urbana....92 Frutas ..................................................................... 127 1 A urbanização ..............................................................93 4 Pecuária ...................................................................... 129 Pecuária bovina................................................... 129 INFOGRÁFICO: Urbanização da humanidade.....94 Outras criações ................................................... 130 2 A urbanização no Brasil ...........................................96 Conexões...........................................................................131 Atividades.........................................................................132 As cidades: sítio urbano e situação ..................97 Projeto ...............................................................................134 A função das cidades............................................98 Centro e expansão das cidades .........................99 Unidade 3 3 Metropolização e regiões metropolitanas .... 100 4 Rede urbana .............................................................. 103 Paisagens naturais e Hierarquia urbana............................................... 104 ação humana.................................................... 136 5 Problemas urbanos................................................106 Moradia popular.................................................. 106 CAPÍTULO 7: Relevo e clima............................ 138 Transporte coletivo e infraestrutura 1 A dinâmica da natureza ........................................139 urbana.................................................................... 107 Geolink: Desabamento de edifício de 2 Estrutura geológica e relevo...............................140 24 andares revela o drama do déficit Estrutura geológica do relevo brasileiro...... 141 habitacional na cidade de São Paulo ............... 108 Principais unidades de relevo no Brasil ....... 142 Violência urbana.................................................. 109 Outras unidades de relevo............................... 143 Problemas ambientais e urbanos.................. 110 O relevo e a sua importância........................... 144 Conexões...........................................................................111 Relevo e sociedade humana............................ 145 Atividades.........................................................................112 Geolink: Nasa cria sistema capaz de CAPÍTULO 6: Meio rural..................................... 114 prever deslizamentos de terra em todo 1 O novo rural brasileiro...........................................115 o mundo...................................................................... 146 7 MANUAL DO PROFESSOR 7
3 Clima e massas de ar .............................................147 3 As Unidades de Conservação .............................171 Massas de ar que influenciam o Tipos de Unidades de Conservação .............. 172 clima do Brasil ..................................................... 147 Geolink 2: Cinco grandes problemas que as Unidades de Conservação enfrentam 4 Os tipos de clima do Brasil ..................................149 no Brasil ......................................................................174 Clima equatorial úmido..................................... 149 Clima litorâneo úmido ....................................... 150 Conexões...........................................................................175 Clima tropical semiárido ................................... 150 Atividades.........................................................................176 Clima tropical continental ................................ 151 Projeto ...............................................................................178 Clima tropical de altitude.................................. 151 Clima subtropical úmido................................... 151 Unidade 4 5 Solo urbano e enchentes no Brasil...................152 Brasil: diversidades regionais...... 180 Conexões...........................................................................153 Atividades.........................................................................154 CAPÍTULO 9: Regiões brasileiras.................. 182 1 O que é região......................................................... 183 CAPÍTULO 8: Hidrografia e biomas ............. 156 1 A hidrografia brasileira..........................................157 Dividindo um espaço em regiões................... 184 2 Regionalização do território brasileiro............185 Bacias ou regiões hidrográficas ..................... 158 Comparando as duas regionalizações.......... 188 Geolink 1: A crescente escassez de 3 Regionalização e formação água potável.............................................................. 159 Águas subterrâneas........................................... 163 histórico-territorial do Brasil..............................190 4 As estreitas ligações entre as 2 Os biomas brasileiros ............................................ 164 Bioma da Amazônia........................................... 165 três regiões................................................................191 Bioma Mata Atlântica........................................ 167 Influência do mercado internacional............. 191 Bioma Caatinga ................................................... 168 Geolink 1: Região e regionalização Bioma Cerrado..................................................... 168 no Brasil ................................................................ 192 Bioma Pantanal................................................... 169 5 Transportes, comunicações e integração Bioma Pampa ...................................................... 170 regional .......................................................................193 Geolink 2: Por que o Brasil abriu mão do trem Tales Azzi/Pulsar Imagens e ficou tão dependente do caminhão .......... 196 Os meios de comunicação ............................... 197 Conexões...........................................................................199 Atividades.........................................................................200 CAPÍTULO 10: Nordeste.................................... 202 1 Breve histórico .........................................................203 As migrações nordestinas................................ 204 2 Meio físico.................................................................. 205 Hidrografia............................................................ 205 3 Sub-regiões do Nordeste..................................... 208 Meio-Norte ou Nordeste Ocidental .............. 208 8 8 MANUAL DO PROFESSOR
Geolink 1: Quebradeiras de coco-babaçu...... 209 Geolink 2: ONG aponta desmatamento no Sertão..................................................................... 210 Pantanal para pecuária e agricultura...............234 Zona da Mata....................................................... 211 Outras áreas do Centro-Sul............................. 235 Agreste .................................................................. 213 Conexões...........................................................................236 Atividades.........................................................................238 Geolink 2: Seca no Nordeste brasileiro........... 214 CAPÍTULO 12: Amazônia................................... 240 4 O “novo” Nordeste.................................................. 215 1 A maior região brasileira ......................................241 Conexões...........................................................................217 Atividades.........................................................................218 Geolink 1: Mulheres indígenas e direitos dos povos tradicionais no Pará..........................243 CAPÍTULO 11: Centro-Sul................................. 220 2 Meio físico..................................................................244 1 A região mais rica e populosa do Brasil..........221 Relevo .................................................................... 244 Clima....................................................................... 244 2 Meio físico..................................................................222 Hidrografia............................................................ 245 Os biomas do Centro-Sul ................................. 224 Geolink 2: Fenômeno dos “rios voadores” ....246 3 A floresta e seu desmatamento........................247 Geolink 1: Caiçaras, o tradicional povo 4 Economia regional ..................................................247 do litoral brasileiro..................................................226 Conexões...........................................................................251 Atividades.........................................................................252 3 Unidades espaciais do Centro-Sul....................227 Projeto ...............................................................................254 Megalópole........................................................... 227 Zona da Mata mineira ....................................... 229 Bibliografia ......................................................................256 Grande Belo Horizonte e Quadrilátero Ferrífero................................................................. 229 Triângulo Mineiro ................................................ 229 Porção sul de Goiás............................................ 230 Sul da região......................................................... 230 O Pantanal ............................................................ 232 Jose Caldas/Brazil Photos/LightRocket via Getty Images 9 MANUAL DO PROFESSOR 9
Objetivos da unidade Tomas Griger/DepositPhotos/Glow Images • Conhecer o processo de formação do território e da sociedade brasileira e ana- lisá-lo criticamente. • Analisar criticamente a eco- nomia e as desigualdades sociais. • Conhecer aspectos demo- gráficos gerais da população brasileira, como crescimen- to demográfico, taxas de natalidade e mortalidade, estrutura por idade e sexo, população economicamen- te ativa (PEA), etc. • Compreender a população brasileira nos âmbitos da distribuição, composição, migrações e matrizes ét- nicas. • Aprimorar a habilidade de leitura de mapas, dados, in- dicadores sociais e gráficos. Competências Esta imagem, de 2016, Gerais da Educação Básica apresenta a América do mobilizadas na unidade: Sul e parte da América • Competência geral 1 Central vistas do espaço • Competência geral 2 à noite. • Competência geral 4 • Competência geral 5 10 • Competência geral 7 • Competência geral 8 Habilidades trabalhadas nesta unidade EF07GE03 Selecionar argumentos que reconheçam as territoria- • Competência geral 9 lidades dos povos indígenas originários, das comunidades rema- • Competência geral 10 EF07GE01 Avaliar, por meio de exemplos extraídos dos meios de nescentes de quilombos, de povos das florestas e do cerrado, de comunicação, ideias e estereótipos acerca das paisagens e da for- ribeirinhos e caiçaras, entre outros grupos sociais do campo e da Específicas de Ciências mação territorial do Brasil. cidade, como direitos legais dessas comunidades. Humanas para o Ensino Fundamental mobilizadas EF07GE02 Analisar a influência dos fluxos econômicos e popu- EF07GE04 Analisar a distribuição territorial da população brasilei- na unidade: lacionais na formação socioeconômica e territorial do Brasil, com- ra, considerando a diversidade étnico-cultural (indígena, africana, • Competência específica 1 preendendo os conflitos e as tensões históricas e contemporâneas. europeia e asiática), assim como aspectos de renda, sexo e idade • Competência específica 2 nas regiões brasileiras. • Competência específica 3 • Competência específica 5 • Competência específica 6 • Competência específica 7 Específicas de Geografia para o Ensino Fundamental mobilizadas na unidade: • Competência de Geografia 1 • Competência de Geografia 3 • Competência de Geografia 5 • Competência de Geografia 6 • Competência de Geografia 7 10 MANUAL DO PROFESSOR - UNIDADE 1
UNIDADE Brasil: Orientações didáticas território e 1 sociedade Oriente os alunos a observar a imagem de abertura, valorizan- Nesta unidade, vamos estudar a formação do suas experiências, hipóteses do território e da sociedade brasileira. e saberes. Explique que essa ima- Compreenderemos a ocupação e a gem de satélite noturna mostra expansão do território nacional, pontos luminosos em diferen- a constituição do Estado, a composição tes níveis de concentração no étnico-cultural da população do país espaço geográfico. Permita que e seu perfil demográfico. Analisaremos eles percebam que os pontos também indicadores sociais do Brasil luminosos representam áreas e de seus estados. urbanas e que, quanto maior a concentração desses pontos, Observe atentamente a imagem e responda: maior é a área urbana, onde há mais atividade humana notur- 1 É possível visualizar as fronteiras na e uma rede mais densa de entre o Brasil e seus países vizinhos? distribuição de energia elétrica. Por quê? Atividade 1: Espera-se que 2 O que representam os pontos os alunos percebam que não é luminosos? Qual é a região do Brasil possível visualizar as fronteiras que apresenta a menor concentração entre o Brasil e seus países vizi- desses pontos? Por quê? nhos, pois elas são imaginárias, criadas pela sociedade. Portanto, não é possível vê-las em imagens de satélite, sejam diurnas, sejam noturnas. Atividade 2: Os pontos lumi- nosos representam as concen- trações urbanas. A região que apresenta menor concentração desses pontos é a região Norte, onde se encontra a Floresta Ama- zônica e que possui, portanto, poucas áreas urbanas. Aproveite a oportunidade para consultar o plano de desenvol- vimento do bimestre disponível no material digital. 11 EF07GE05 Analisar fatos e situações representativas das al- EF07GE09 Interpretar e elaborar mapas temáticos e históricos, in- terações ocorridas entre o período mercantilista e o advento clusive utilizando tecnologias digitais, com informações demográ- do capitalismo. ficas e econômicas do Brasil (cartogramas), identificando padrões espaciais, regionalizações e analogias espaciais. EF07GE06 Discutir em que medida a produção, a circulação e o consumo de mercadorias provocam impactos ambientais, assim EF07GE10 Elaborar e interpretar gráficos de barras, gráficos de como influem na distribuição de riquezas, em diferentes lugares. setores e histogramas, com base em dados socioeconômicos das regiões brasileiras. 11MANUAL DO PROFESSOR - UNIDADE 1
Habilidades CAPÍTULO trabalhadas neste capítulo Brasil: formação do Estado EF07GE01 EF07GE04 1 e do território EF07GE02 EF07GE05 Alexandre Schneider/Getty Images Para começar EF07GE03 EF07GE09 Observe a imagem e Orientações didáticas responda: Introduza o tema deste capí- 1. Por que a bandeira tulo verificando o conhecimento prévio que os alunos têm sobre e o Hino Nacional, as palavras “sociedade”, “povo”, “nação”, “Estado” e “país”, suas dois símbolos da hipóteses e até estereótipos a serem revistos a respeito dessas nação brasileira, noções. Solicite que relacionem essas palavras com a fotografia estavam presentes da seleção brasileira feminina de futebol: Quais delas estão asso- Jogadoras da seleção brasileira de futebol cantam o Hino Nacional Brasileiro antes de no momento da ciadas ao que vemos na fotogra- uma partida entre Brasil e Canadá, em São Paulo (SP), durante as Olimpíadas de 2016. foto? fia? De que forma? 2.Em que situações Em seguida, peça que res- pondam às perguntas do Para Muitas vezes usamos as palavras sociedade, povo, nação, Estado e país como você costuma ver a começar oralmente. Conduza es- sinônimos. São palavras que têm sentidos parecidos, mas não significam exatamente bandeira do Brasil sa atividade de forma que todos hasteada? possam participar, respeitando o colega que fala. Ressalte que a mesma coisa. Compreender o que cada uma significa é importante para ajudar a 3.Em sua poinião, o que as respostas são pessoais e to- das elas estão corretas neste entender a formação do Estado e do território brasileiros. Neste capítulo você vai significa viver em momento. estudar o significado de cada um desses conceitos. Vai aprender também como o sociedade? E o que é Para começar território, o Estado e a nação brasileiros foram construídos no decorrer de séculos. ser brasileiro? Atividade 1: Verifique se os 1. Espera-se que os alunos entendam a relação dos símbolos nacionais com o país que representam (o Brasil). alunos compreendem que a ban- deira e o hino estão presentes 2. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos indiquem eventos como jogos esportivos e datas na fotografia porque a seleção feminina está representando o 12 UNIDADE 1 ¥ Brasil: território e sociedade comemorativas de importância nacional, etc. Brasil nos Jogos Olímpicos. Es- ses símbolos se relacionam com 3. Resposta pessoal. Deixe que os alunos se expressem livremente e incentive-os a compartilhar suas opiniões. o conteúdo do capítulo por serem símbolos nacionais do Estado brasileiro. Atividade 2: Os alunos podem citar situações como o hastea- mento da bandeira durante par- tidas de jogos internacionais, cerimônias do Estado, ou em fren- te a edifícios de instituições pú- blicas. Atividade 3: Espera-se que os alunos tenham a noção de que viver em sociedade é viver com um grupo de pessoas em um mesmo local seguindo as leis nele instituídas. Os alunos devem compreender que ser bra- sileiro não é ser de uma etnia es- pecífica, mas se identificar como parte da sociedade brasileira. 12 MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 1
1 Sociedade, Estado, povo, Orientações didáticas nação e país Oriente os alunos a ler o texto e verifique se compreenderam as O ser humano é um animal gregário, o que significa que ele vive em grupos ou Tradiç‹o: determinado diferenças entre os conceitos de conjuntos de indivíduos e famílias, que são chamados de sociedades. Uma sociedade hábito ou costume sociedade e povo. humana, portanto, é um conjunto de pessoas que vive em determinado espaço e transmitido de uma tempo e de acordo com certas regras. Quando não existem regras, não há uma socie- geração para outra. Por Ressalte que as pessoas de dade, e sim um ajuntamento de pessoas em constante conflito. exemplo: vestimentas, um mesmo povo não estão vin- canções, jogos e culadas necessariamente por Os povos são grupos de pessoas que falam a mesma língua e possuem as mesmas brincadeiras, receitas de compartilharem o mesmo espaço tradições. Por exemplo: o povo brasileiro, o povo inglês, o povo judeu, o povo cigano, etc. comidas ou de bebidas, num mesmo tempo: há grupos comemorações e festas, que vivem em diferentes luga- Esses dois conceitos podem se referir ao mesmo agrupamento; por exemplo, po- rituais religiosos, etc. res do mundo, e ainda assim se demos falar em povo ou em sociedade brasileira. Mas isso não é válido sempre: às vezes reconhecem como parte de um um povo pode estar espalhado por vários países e não formar uma sociedade única. Por mesmo povo. Por outro lado, po- exemplo, não há judeus apenas em Israel, na sociedade israelense; há milhões deles nos vos diversos podem formar uma Estados Unidos (nesse caso, eles fazem parte da sociedade norte-americana), em países só sociedade ao conviverem den- europeus e em várias outras partes do mundo. tro de um mesmo território, por exemplo. Um povo não precisa necessariamente ter um território próprio. Alguns deles, como parte dos ciganos, se deslocam constantemente pelo espaço geográfico. Eles Solicite aos alunos que ob- são povos nômades, isto é, não têm residência fixa. servem as características dos operários retratados pela pinto- Há também povos sedentários, que possuem uma área de permanência fixa. ra Tarsila do Amaral e as carac- Entretanto, alguns desses povos sedentários não possuem um território próprio, pois terísticas dos colegas da turma, vivem em regiões de um país que é formado por outro povo ou, às vezes, por outros dos professores da escola, dos povos. Por exemplo: os mongóis, no norte, e os tibetanos, no sudoeste da China; os familiares e das pessoas que curdos, que se espalham por trechos do Iraque, do Irã, da Turquia e da Síria; os cheche- encontram nas ruas. O objetivo nos, em áreas montanhosas do Cáucaso, na parte asiática da Rússia; ou os bascos, é levá-los a perceber que não que ocupam uma área na fronteira da Espanha com a França. Esses povos normal- só os operários têm diferentes mente almejam ter um território próprio e independente, mas, por enquanto, vivem rostos, mas que as pessoas ao sob o domínio de outros povos. nosso redor também são dife- rentes umas das outras. Assim Tarsila do Amaral Empreendimentos/Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo Operários, de Tarsila do Amaral. Óleo é a sociedade brasileira, etnica- sobre tela, 150 cm × 205 cm, 1933. Nesta mente diversa e miscigenada. tela, a pintora modernista retratou a Ao colocar isso em evidência a variedade da sociedade brasileira. CGEB1 é trabalhada. Observando a pintura, podemos perceber que o brasileiro não tem um Atividade complementar só rosto: muitos povos e diversas etnias, de várias partes do mundo, Oriente uma pesquisa sobre compuseram a nossa população. outros povos nômades, como os beduínos, os fulas (ou fulanis), Brasil: formação do Estado e do território • CAPÍTULO 1 13 os bajaus e os dukhas. É reco- mendado que a atividade seja realizada em grupos, promoven- do a cooperação entre os alunos. A pesquisa deve apresentar um perfil sobre esses povos, quais as suas principais atividades e onde habitam para mobilizar assim a CGEB9 e contemplar as CECHEF1 e 3 e as CEGEF1 e 5. Para aprofundar HOBSBAWN, Eric J. Nações e nacionalismos desde 1780: progra- ma, mito e realidade. São Paulo: Paz e Terra, 1991. 230 p. Nesse livro, o historiador britânico reflete sobre o papel do Estado moderno no surgimento do nacionalismo e as transfor- mações dos conceitos de nação e protonacionalismo. O autor discute ainda a relação entre governo e os diferentes estágios econômicos observados até o final do século XX. 13MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 1
Orientações didáticas Drop of Light/Shutterstock O termo nação é mais complexo e possui dois sentidos principais. No primeiro, mais geral, nação é o mesmo que povo, ou seja, um conjunto de pessoas com língua Após a leitura do texto, veri- e tradições comuns. Nesse sentido, podemos falar em nação cigana, nação curda, ti- fique se os alunos compreen- betana, chechena, etc. No outro sentido, nação é um povo com território, governo e deram a diferença entre os leis próprias. Dessa forma, o povo cigano, por exemplo, não constituiria uma nação, conceitos de nação e Estado pois não tem território nem governo próprios. Neste segundo sentido, nação significa nacional. país ou Estado-nação. Se julgar oportuno, comente Assim, nação é o mesmo que país, isto é, um povo que vive num território próprio, que as nações curda, tibetana, tendo um governo que o representa. Esse é o significado de nação empregado inter- chechena, entre outras, buscam nacionalmente e aceito pela Organização das Nações Unidas (ONU). Brasil, Estados a independência e a criação de Unidos, China, Alemanha, etc. são exemplos de países. um Estado próprio. Esses po- vos, porém, não somente não Observe abaixo a foto da sede da ONU, organização internacional formada por contam com o reconhecimento quase todos os países do mundo. É nesse local que esses Estados nacionais se internacional, como são dura- reúnem para discutir problemas comuns. mente perseguidos e reprimi- dos. Esclareça também que nem Há povos que chamam a si próprios de nações e almejam alcançar sua indepen- sempre os grupos minoritários dência. É o caso, como vimos, dos mongóis, dos tibetanos, dos curdos e dos bascos, reivindicam uma nacionalida- entre outros. Eles podem vir a tornar-se países ou Estados-nações, mas por enquan- de independente; eles podem to são povos dominados, que vivem em um território sob o controle de outros povos. habitar estados plurinacionais. O conceito de nação usado Comente que sociedade não é pela ONU é o mesmo adotado o mesmo que nacionalidade. Ex- neste livro: um povo com plique que uma sociedade pode território e governo próprios. ser composta de pessoas de di- Na foto, sede da ONU, ferentes nacionalidades. localizada em Nova York, Estados Unidos, em 2015. Se desejar ampliar o debate, apresente os critérios utilizados Texto e ação Mundo virtual para conceder a nacionalidade: o jus solis e o jus sanguinis. Os 1 Em duplas, elaborem um pequeno texto sobre o Brasil utilizando os Organização das Nações dois termos são do latim e signi- conceitos de sociedade, povo, nação e país. 1. Resposta pessoal. Unidas (ONU) ficam, respectivamente, “direito Disponível em: <http:// de solo” e “direito de sangue”. Os 2 O conceito de nação usado pela ONU é o mesmo adotado neste livro. Qual onu.org.br/>. Acesso em: países que utilizam o primeiro cri- é esse conceito? 2. Povo com território e governo próprios. 30 ago. 2018. tério concedem a nacionalidade conforme o local de nascimento 3 Em que cidade e país se localiza a sede da ONU? Ao observar a foto desta O site da ONU traz notícias (como os Estados Unidos, o Ca- página, algum elemento chamou a sua atenção? Qual? e artigos relacionados à nadá e a França). Já nos países sua área de atuação, que adotam o segundo critério, a 3. Localiza-se em Nova York, nos Estados Unidos. A segunda parte da resposta é pessoal, como direitos humanos, nacionalidade é reconhecida de mas chame a atenção dos alunos para as bandeiras hasteadas, símbolos visuais dos países. ações humanitárias, acordo com a ascendência (co- desenvolvimento mo a Itália, o Japão e a Suíça). O 14 UNIDADE 1 ¥ Brasil: território e sociedade sustentável, entre outros Brasil, porém, utiliza como crité- temas. rio primário o jus solis e como cri- tério secundário o jus sanguinis, Texto complementar possuindo um sistema híbrido de concessão da nacionalidade. Texto e ação Atividade 1: Embora a respos- ta seja pessoal, verifique se os alunos utilizaram os conceitos de forma correta. Atividade 2: Espera-se que os alunos tenham identificado os dois sentidos que o livro apre- senta para o conceito de nação e que saibam explicar o adotado pelo livro. Atividade 3: É esperado que os alunos saibam procurar e iden- tificar informações sobre a foto a partir de sua legenda. Constituição da República Federativa do Brasil c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasilei- Art. 12. São brasileiros: ra, desde que sejam registrados em repartição brasileira com- petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil I - natos: e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 2016. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 27 ago. 2018. desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federati- va do Brasil; 14 MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 1
2 O Estado e suas funções Orientações didáticas Muitas vezes, o Estado é confundido com o governo. Embora sejam dois concei- Se os alunos apresentarem dificuldade em compreender a tos interligados, eles são distintos. Por exemplo, como você chamaria um funcionário distinção entre as duas instân- cias, acrescente a explicação de público que trabalha num posto de saúde ou numa escola públicos: de funcionário do que a estrutura do Estado dificil- mente é modificada e que isso governo ou funcionário do Estado? Por quê? geralmente envolve processos longos e complexos, diferente- Na verdade, eles são funcionários públicos, isto é, do Estado (e não do governo). mente do governo, que deve ser transitório. Estado é o conjunto das instituições que formam a organização político-administra- Conte que o Brasil é um Estado tiva de um povo ou nação: o governo, as Forças Armadas, as escolas públicas, as federativo, formado pelo conjunto de estados, municípios e Distrito prisões, os tribunais, a polícia, os postos de saúde e os hospitais públicos, etc. Nesse Federal, que por sua vez possuem estruturas próprias, ou seja, o sentido, Estado é o mesmo que poder público. Governo é somente a cúpula, a parte poder político é descentraliza- do. Além disso, é pluripartidário dirigente do Estado. e possui separação de poderes entre Executivo, Legislativo e Em outras palavras, o Lineu Kohatsu/Olhar Imagem Judiciário. governo é somente uma par- O Poder Executivo é responsá- vel por realizar políticas públicas te do Estado. Este é mais e administrar o aparelho público. O presidente, o governador es- amplo e, como vimos, englo- tadual ou distrital e os prefeitos são representantes eleitos pela ba outros setores, todos os população e compõem o Poder Executivo. O Poder Legislativo é níveis do poder público – fe- responsável por criar as leis do país e fiscalizar as políticas pú- deral, estadual e municipal – blicas do Poder Executivo. Essas funções são executadas pela e todas as atividades ligadas Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Já o Poder Ju- a esses níveis. Por exemplo, diciário é responsável por fazer julgamentos baseados nas leis toda escola pública e toda criadas pelo Poder Legislativo e na Constituição Federal. O Po- delegacia de polícia fazem der Judiciário é composto de um conjunto hierárquico de tribunais parte do Estado, mas elas (Supremo Tribunal Federal, Su- perior Tribunal de Justiça e os não fazem parte do governo. Tribunais de Justiça estaduais). Outra diferença é que o go- Ressalte que essa estrutura do Estado brasileiro não sofre verno é transitório, temporá- mudanças, independentemen- te dos resultados das eleições rio, ao passo que o Estado é diretas para presidente, gover- nadores estaduais ou distrital e permanente. Podemos falar prefeitos, pois o que muda com as eleições é o governo. em governo de um determi- Posto de saúde no Quilombo Mangal e Barro Vermelho, no município Sítio do Mato (BA), 2015. Os nado presidente, governador postos de saúde públicos fazem parte da organização político-administrativa do país, ou seja, do Certifique-se de que os alunos ou prefeito, que pode durar Estado. compreenderam as diferenças entre os conceitos de Estado e vários anos. Mas não podemos falar em Estado de algum presidente ou governador, governo. pois ele é de toda a sociedade e prossegue mesmo com as alterações no governo. Dessa forma, cada Estado geralmente corresponde a um povo ou uma nação: o Estado francês, o Estado inglês ou o Estado brasileiro. Existem inúmeras exceções: os chamados Estados multinacionais, onde há povos ou minorias étnicas que falam idiomas diferentes do oficial. Como exemplo temos o Estado canadense, que engloba uma população de origem francesa, concentrada na província de Quebec. Uma parte dessa população gostaria de ter seu próprio Estado, independente do atual, onde predominam pessoas de origem inglesa. Outro exemplo é o povo tibetano, que vive na China. É o Estado chinês que controla o Tibete. Os tibetanos, contudo, são um povo e se consideram uma nação, com idioma, tradições e religião próprios (eles não se consideram chineses). Existem vários Estados na Ásia e na África, como a Índia e a Nigéria, respectivamente, onde há dezenas ou até centenas de povos diferentes, cada um deles com seu idioma e suas tradições. Brasil: formação do Estado e do território • CAPÍTULO 1 15 15MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 1
Orientações didáticas Todos os funcionários públicos – Luciana Whitaker/Pulsar Imagens Oriente os alunos a ler o texto. escriturários, médicos de postos de saú- Se apresentarem dificuldades em entender a noção de sobera- de, garis ou o presidente da República nia, resgate o conceito de nação para explicar que existem países – são trabalhadores do Estado; portan- que não são membros da ONU, como Kosovo e Taiwan: apesar to, exercem atividades públicas ou esta- de se declararem independen- tes, respectivamente, da Sérvia tais. Alguns têm empregos estáveis e e da China e de possuírem fron- teiras, sustentação econômica e trabalham no setor público até se apo- governo nacional, sua soberania externa não é reconhecida por sentar; outros podem exercer tempora- todos os países-membros da organização. riamente um cargo ou uma função, como Certifique-se de que os alunos os ministros, os prefeitos ou os gover- compreenderam de que modo a ampliação da divisão do trabalho nadores. Todos eles são servidores do pode ter dado origem ao Estado. À medida que surgem novas ativi- Estado, ou melhor, da sociedade, pois a dades e há uma grande expansão demográfica, torna-se importan- principal função do Estado é servir a so- te um modo de organização que centralize e administre as ativi- ciedade, promovendo a lei e a ordem, dades produtivas, o uso e o fluxo de recursos, etc. defendendo o território das ameaças Peça aos alunos que imagi- externas e organizando serviços básicos nem como era o Estado em tem- pos passados, e mesmo remotos. para a população (educação, saúde, apo- Os professores das escolas públicas brasileiras são funcionários do Estado. Na foto, Pergunte se eles supõem que as professora em escola estadual em Itaituba (PA), em 2017. funções do Estado permanecem sentadoria, entre outros). as mesmas ao longo da História. É esperado que eles suponham O Estado, portanto, engloba todas as funções ou atividades que não são privadas que muitas funções se mantêm, embora a forma de organização ou particulares, e sim públicas ou coletivas: das delegacias de polícia à prefeitura, da do Estado se modifique. A mo- narquia, por exemplo, é outra escola pública à arrecadação de impostos, da polícia rodoviária ao governo federal. forma de organização do Estado que prevê o poder na mão de um A palavra estado pode ter, ainda, outro significado: indicar as divisões territoriais monarca, um rei que centraliza as funções do Estado. de um país. No Brasil, por exemplo, Minas Gerais, Paraná e Amazonas são conside- Se achar oportuno, explique rados estados, ou seja, são unidades político-administrativas que compõem o terri- também que há formas de orga- nização do Estado que permitem tório brasileiro. Em alguns países essas divisões territoriais recebem o nome de pro- maior ou menor participação so- cial nas decisões públicas. Essa víncias; em outros são chamadas de cantões ou departamentos. Para existir um observação se relaciona com o conteúdo que será apresentado Estado, no sentido estrito do termo, ele deve ter uma soberania, algo que somente o Soberania: autoridade mais à frente na unidade. Estado federal ou nacional possui. É por isso que o verdadeiro Estado brasileiro – superior a todas as outras aquele que representa o país na ONU e em outras organizações internacionais, que num determinado território. cuida da moeda, da economia e das relações externas – é o chamado Estado federal ou Estado nacional. A origem do Estado e as sociedades Minha biblioteca sem Estado A presença indígena na Na maior parte da história da humanidade, por centenas de milhares de anos, formação do Brasil. nenhuma sociedade tinha Estado. A origem do Estado é muito discutida. Não se sabe Vários autores. Brasília: exatamente quando nem onde ele surgiu. MEC/Unesco, 2006. Disponível em: <http:// É bem provável que o Estado tenha surgido há milhares de anos, em sociedades que unesdoc.unesco.org/ começavam a expandir, tornando-se mais complexas, com diversidade cada vez maior images/0015/ de atividades. Em sociedades muito simples, com pouca divisão do trabalho, não existe a001545/154566por.pdf>. Estado. Nessas sociedades há apenas uma divisão do trabalho: em geral, as mulheres Acesso em: 29 maio 2018. plantam e cuidam das crianças, e os homens caçam e pescam ou extraem produtos da floresta. Entretanto, quando a divisão do trabalho se amplia, surgem novas atividades ou Ricamente ilustrado, o profissões: geralmente é nesse momento que surge o Estado. Portanto, um dos motivos livro mostra como eram para o surgimento do Estado é o crescimento demográfico e o advento das várias divisões as sociedades indígenas do trabalho entre os membros da sociedade. em 1500 e avança até os dias de hoje, apresentando a luta indígena pela conquista de direitos e cidadania. 16 UNIDADE 1 ¥ Brasil: território e sociedade Para aprofundar CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado: pesquisas de an- tropologia política. São Paulo: Ubu, 2017. Célebre coletânea de textos lançada em 1974 que trata das sociedades sem Estado ameríndias. Recusando a ideia de que a essas sociedades “falta” um Estado, Clastres defende que, na verdade, são sociedades que recusam a centralização do poder e a hierarquização social. 16 MANUAL DO PROFESSOR - CAPÍTULO 1
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