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os olhos do jacaio18

Published by Paroberto, 2019-07-29 18:50:13

Description: os olhos do jacaio18

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esfolada da lida, muitas vezes lida, já sem um pedaço da capa, Jairo Ferreira Machado com algumas páginas soltas, outras páginas coladas com visco de U folhas do mato. 251 Mas ainda assim, e mais pelo estado em que se encontrava, a bíblia tinha o seu valor. A bíblia tinha a sua própria história; divinal, inspirada por 40 autores; podendo ser autores de diferentes religiões e nações. Contém as bases do cristianismo, assim como o alcorão é a base do Islamismo. Para as forças armadas, o sumiço de uma bíblia tinha menor importância do que se tivesse sumido dali do quartel um fuzil. Para a imprensa – todos os dias falando da mesma guerra, que nunca acabava – talvez não... O padre encantou-se com a história e muito mais com a história de Emanuel Rói Osso, por quem rezara muitas vezes, a pedido da própria mãe, quando ele tinha se evadido de casa, para a “pedra do urubu”. Somente os dois sabiam. UV

Os olhos do JacaióAquela sala ampla cheia de ouvidos, não era um confessionário. E tampouco o padre tinha tempo para ouvir todos seus pecados, que resumidos, encheriam um livro. Edu não tinha dúvidas disso. De si mesmo, nada falou! Talvez o pároco não trouxesse perdão suficiente para todas as suas culpas; precisaria de um caminhão. Quem sabe confessasse noutra ocasião. Agora, era só uma questão de prioridade: uma pressãozinha V no cabo, no terceiro-sargento, no segundo-sargento, no primeiro- 252 sargento, passando pelo subtenente, pelos aspirantes, pelos tenentes, pelo capitão, major, tenente coronel, general, e até o marechal, dizendo que Rói Osso, antes de morrer dissera que doaria a bíblia para a sua Igreja; logo, ele, o padre, queria uma solução para o caso. A bíblia era do povo. O padre o ouvia atento lá no íntimo já fazendo seus planos – seria um avanço e tanto para resgatar a fé abalada do povo, a espiritualidade. Precisava daquela relíquia para expor lá na Igreja, como exemplo de fé e de amor ao semelhante – Tal Rói Osso, tal Cristo. De fato, o povo, depois de toda guerra e as mortes sem fim, estava precisando de um alento espiritual. A bíblia seria o regaste da fé esquecida há algum tempo com os efeitos prementes da guerra.

O padre disse, num dia daqueles viria ao quartel falar da Jairo Ferreira Machado importância da palavra de Deus na vida das pessoas. Inclusive U daqueles que estiveram de arma em punho. Talvez, o fato ajudasse a resgatar o amor entre os semelhantes e a confiança que a guerra 253 tirara. Que a guerra já passara. Agora, era a bonança, o resgate do amor, do amor-próprio e do amor coletivo, a harmonia entre as pessoas. Talvez quem tivesse levado a bíblia, se arrependesse, e a devolvesse. Se não quisesse devolver de punho presente, colocasse a bíblia debaixo de uma cama de campanha qualquer, ninguém ficaria sabendo quem foi, disse o padre. Que ele perdoaria e perdoaria também todos os familiares do arrependido. Mesmo que nunca ficasse sabendo quem foi. Deus bem sabia e o agraciaria com bênçãos dos céus! Ainda mais uma bíblia que um soldado da paz deixara para a sua igreja. Foi assim que o padre começou o seu discurso. Falou tanto que o patrão-mor do exército já preferia que tivessem roubado de debaixo do seu nariz, não uma bíblia, mas um tanque de guerra. Teria menos problemas para encontrá-lo e devolvê-lo ao estado. Por certo, no início, o blindado causasse alguma boa sensação por onde passasse, mas ninguém se entusiasmaria por muito tempo em possuí-lo e logo o tanque seria um elefante morto numa via pública – ninguém o queria mais ali. Já uma bíblia como aquela, era um caso mais complicado. Tinha um forte apelo espiritual. Ainda mais uma bíblia com toda aquela história de utilidade – o dono tinha morrido abraçado a ela. Um jovem de ficha limpa, coroinha, cristão. E de cujo apelido a sociedade fazia picardias, falando como se falasse de um bobo da corte.

Os olhos do JacaióQue às vésperas de fugir para a “pedra do urubu”, confessara a ele, ao padre, que preferia morrer a dar um tiro num seu semelhante, caso fosse para a guerra. Foram aquelas as últimas palavras do padre. Agora o tenente coronel queria que o assunto parasse por ali. – “Deus me livre desse assunto chegar ao marechal”, disse quieto do banco onde sentava como ouvinte. “Aí o exército estaria saindo de uma guerra para outra pior”. Iria sentir o efeito daquela história na própria carne e na moral, na perda do cargo, com os jornais esmiuçando as suas entranhas, as entranhas do próprio exército. E os moços, desertores, esquecidos. E pior: o desgraçado daquele sujeito recusava-se a dar o fora V de seu quartel sem a bíblia, falando em honra... UV254

No dia seguinte, aborrecido e preocupado com toda aquela Jairo Ferreira Machado história de bíblia e a repercussão negativa, o comandante U da corporação mandou enfiar Edu num camburão e soltá-lo bem longe do seu quartel; como cachorro abandonado numa 255 via não pública. Dias depois, Edu voltou tão maltrapilho quanto chegara ali na primeira vez, tendo se instalado do lado de fora da entrada do quartel, fazendo greve de fome; logo, logo os jornais estariam ali, concluiu em tempo o comandante, então, que o colocasse para dentro do quartel, de imediato. E que o alimentassem, que dessem do de melhor, que colocassem comida boca a baixo, antes que Edu adoecesse e o assunto alardeasse aos quatro cantos da terra. Já bastava ter morrido ali um deles, o Rói Osso, que o povo já andava dizendo ser por negligência do serviço médico do exército, por ser ele um desertor. Edu lá, firme nos seus propósitos. Agora que sabia que Lucinha tinha outro, a bíblia seria a sua fiel companheira de infortúnios e esperança; esperança, a única coisa que não queria perder. Permaneceria ali também por estima a Emanuel Rói Osso, até reaver o livro sagrado. Lembrava-o lendo a bíblia com fervor depois que ele, Edu, voltara da visita à casa de Lucinha – Rói Osso agradecendo a Deus por sua volta. Edu nunca rezava.

Achava-se inútil e sem fé bastante para tirar algum proveito da oração; antes, era capaz de Deus não ouvi-lo. Não que não acreditasse no alcance das bênçãos pela fé, mas faltava-lhe inspiração. Sua mente vagava como um redemoinho de vento, que logo se desmancha no espaço. Deus, decerto, nem prestasse atenção e tampouco o ouviria. Rói Osso orava por todos. Os olhos do Jacaió Talvez se esquecesse de rezar por si mesmo, e por isso morreu... Não! Rói Osso, nunca morreria. Ele, Edu, não deixaria: escreveria a sua história. E já lhe batia a saudade. Embora não soubesse saudade do quê! Se de todos os V momentos que tivera na infância, ou mais tarde, na adolescência com Tami, depois com Lucinha e no baile com Cândida ou daquilo 256 de bom que a vida lhe roubara, de repente. Agora, vez em quando sentia saudades de Tami, quando os hormônios vinham lhe incomodar o corpo febril durante as madrugadas frias, e via-se sozinho, sem a companhia de ninguém. Onde estaria Tami? No íntimo, sabia onde. E respondia para si mesmo – “em alguma zona de baixo meretrício”. E decerto, conhecendo-a bem no quesito da luxúria, lá Tami estaria no lugar onde sempre deveria estar. E Cândida? Sentiu saudades do murmúrio da cachoeira, do cheiro do alambique, e daquela noite no baile com ela. Cândida apertando a sua mão e olhando fundo nos seus olhos, no momento em que ele, Edu, lembrou-se da Menina de tranças, que era ela própria.

Tiveram juntos, uma única noite e uma tarde de sol, na enseada Jairo Ferreira Machado do ribeirão, depois que se encontraram naquele dia, depois de U muitos anos sem se verem. Mas aqueles momentos perduravam ainda em sua mente – e vinham e iam, feito chuvas de verão. 257 No mais, seus pensamentos estavam com Lucinha. Naquele primeiro dia, quando suas mãos se tocaram, espontaneamente. Decerto, já havia uma explicação para aquele toque e depois, naquela noite, quando fizeram amor. Nesses momentos, Edu transpunha o portal blindado do quartel e se refugiava nas areias, e se banhava com Lucinha nas águas do rio. E via o beija-flor lá no galho do ingazeiro, fazendo o seu ninho. O casal, num arrebatado caso de amor. Lembrava quando sua vida começara a mudar. Quem sabe fora o esplendor do luar, que lhe atirara nos braços a jovem moça que lhe fizera conhecer a essência do sentimento. A lua dizendo amém, enquanto romântica, e cheia de mistérios, fulgurava lá no céu. Muitas vezes, quando refugiado na “pedra do urubu”, tinha a sensação da alma de Lucinha vir visitá-lo, aproveitando-se do clarão do luar. E naquelas noites não dormia, na intenção de permanecer mais tempo com ela. Mas assim que a lua se escondia, ela, a boneca cobiçada, ia de seus olhos. Por momentos, falava com a lua como se falasse com Lucinha. Quando então, Emanuel Rói Osso pareceu ouvir os seus pensamentos e perguntou-lhe se estava lunático. Estava. Verdadeiramente lunático. Pois nos braços da lua, sentia-se nos braços de Lucinha. Ela fora a razão principal de não ter ido à guerra. Primeiro, ela pediu que não fosse. Depois, ele próprio, não teve forças de deixá-la. Além do que, o que tinha o amor com a guerra, já que naquele momento, viviam simplesmente de ternura?

Certamente, a guerra não era lugar nem momento de ele, Edu, estar. Tampouco seria lugar para Emanuel Rói Osso, com toda sua grandeza de espírito e sentimento humano. Também não seria lugar para Toninho, que para ele, o mundo não deveria ter divisas, e tampouco morreria por elas. Muito menos iria à guerra, o Jose Surtido, com seu defeito físico, que não sabia de suas limitações para ser soldado; seria Os olhos do Jacaió antes, como foi, considerado incapaz. E Foice Pequena, que ganhara o apelido porque se negava a roçar com foice grande, que era pura burrice, afirmava – pois com jeito e tempo chegava ao mesmo resultado dos outros que preferiam a foi maior. V Para Foice Pequena, decerto, não haveria fuzil que prestasse; muito peso para os seus braços! O gatilho pesaria em seus dedos. 258 E provavelmente não atirasse em ninguém, com pena dos coitadinhos. Brutalidade, tanque de guerra, não eram ferramentas para Foice Pequena. Onde ele estaria agora?... E os outros, agora, senhores do mundo... UV

Edu, saudoso, mal ouvia a notícia que todos alardeavam Jairo Ferreira Machado naquele momento, devido aos chiados do rádio: a guerra U chegara ao fim. 259 Mas nem precisava ouvir pelo rádio, bastava sentir a alegria dos soldados pulando, agitando ao alto as armas, jogando para cima os quepes, e o povo gritando lá fora. No quartel, os aspirantes atiravam seus pertences para cima, para os ares, gritavam, choravam e se abraçavam uns aos outros, eufóricos. Lá de fora vinham os trovejares dos foguetes, gritaria e buzinação. Os sinos da igreja badalavam sem parar, em verdadeira comoção social. A guerra tomara um pouco ou muito da vida de cada cidadão dali e de outras estâncias e só agora, eles res- gatavam. Muitos tinham perdido parentes, conterrâneos, compa- nheiros na guerra. Um marido, um filho, um sobrinho. E mesmo que não fosse essa a razão, alegravam-se contemplados pela vida: a guerra não fazia sentido algum. Era só trocar os dirigentes que a ambicionavam, que a guerra não existiria. Agora, a própria sociedade sabia disso, e almejava um mundo de paz, um mundo melhor. Edu nesse momento chorou. Queria que todos os companheiros do refúgio da “pedra do urubu” estivessem ali, ao seu lado. De qualquer maneira, estariam felizes, onde quer que estivessem. Na terra ou no céu.

Edu preferia estar lá fora, naquele instante, abraçado a eles, pulando com eles, abraçado com Tami, com Lucinha, com Cândida. Não fosse a sua teimosia. E o fato de dois deles terem colocado o pé na estrada. Gostaria que Emanuel Rói Osso estivesse vivo, naquele instante; quando ele, de certeza, pegaria a bíblia e iria se isolar num canto, para melhor orar e agradecer. Pela graça alcançada. Lucinha vivera os momentos de guerra, com muita dignidade, Os olhos do Jacaió inclusive acolhendo-o, quando ele, Edu, estivera no seu quarto, naquela memorável noite. Lucinha arriscara-se dando-lhe guarida – oferecendo o próprio alimento e doando roupas do próprio pai. Lucinha também vivera a guerra; a guerra que não era de todos, mas todos haviam V perdido alguma coisa com ela. Edu havia perdido Lucinha. O pensamento da humanidade naqueles seis anos, estava 260 voltado para a guerra. Em proporções maiores ou menores, cada um dava um pouco de si, ou perdia um pouco de si, naqueles anos. Rói Osso dera a própria vida. Ele, Edu, pelo que lhe constava, não dera nada. A não ser muito de sexo, de corpo, e amolação aos meganhas, com a insolência e a história do desaparecimento da bíblia. Tendo como aliado, o padre, um ferrabrás, um mata-mouros, que a todo instante ligava para o comandante do quartel, dizendo, “eu preciso daquela bíblia, senhor comandante”. Edu nunca queria cair nas garras de um padre. Aquela insistência era uma tentação dos infernos. UV

Era o não de 1942. Naquele momento vivíamos um regime Jairo Ferreira Machado ditatorial getulista, simpático ao modelo fascista do U italiano Mussolini, razão porque o Brasil demorou a tomar punho das armas, para não contrariar o regime ao qual nosso 261 representante mor era simpático. Sucedeu-se que nesse ano, o EIXO inimigo formado por Alemanha, Itália e Japão se embrenhou pelo Oceano Atlântico e com seus submarinos, torpedearam embarcações civis brasileiras. A guerra já estava em fase adiantada e o Brasil precisou reagir. Entrou no bloco dos ALIADOS mesmo sendo um país que vivia econômica e socialmente à margem das grandes potências, e contribuiu para a vitória sobre o inimigo. Calcula-se que foram vítimas dessa guerra, 50 a 70 milhões de combatentes. Anos depois, a bandeira branca foi hasteada na Itália. Mas a guerra não terminava para muitos civis opositores ao regime nazista de Hitler. Hitler pôs em prática o maior genocídio de que se tem notícia: o chamado Holocausto. A guerra provocara também um sacrifício na vida econômica, industrial e científica do mundo, – falando-se da ciência do bem – deixando arruinada a herança humana, senão na carne, na moral, mas na desconfiança de um cidadão pelo outro – persistindo, a guerra psicológica, a chamada guerra fria... UV

Em pensamento, Edu voltava à “pedra do urubu” e ao cajueiro, onde sempre via pousado o pássaro jacaió. Quem sabe ainda ele estivesse lá, como um joão-bobo, quieto no seu galho, por sua Os olhos do Jacaió inocência, correndo riscos de um gavião ou predador qualquer roubar-lhe a vida. O jacaió somente alçava voo à cata de um ou outro inseto voejante, que por descuido próprio passasse por ali. Fosse uma V borboleta ou insetos de outra natureza, atraídos pela resina que a árvore lhes oferecia 262 Venturoso na investida, o pássaro golpeava a presa no galho até que ela perdesse os sentidos e voava, enfiando-se no buraco do barranco, próximo de onde se encontrava, sempre e tão somente, só. Talvez levasse comida à parceira, quem sabe... Edu lembrava e relembrava, triste, cabisbaixo, aqueles dias de iniciação de sua vida sexual, pois lembrando aqueles momentos, vinha-lhe a mente Tami e sua preterição por ela, depois que conheceu Lúcia. Agora, sua vida, enfurnado num quartel, assemelhava-se a vida do jacaió, enfurnado num quartel, – mesmo estando ali de livre e espontânea vontade – e só iria embora quando lhe devolvessem a bíblia do finado amigo, Rói Osso. Era uma questão de honra, já que honra era a palavra da moda naquele período – honra à pátria, honra às armas, honra à bandeira! Honra à bíblia!

Edu não era um daqueles soldados que voltavam da Jairo Ferreira Machado guerra, cheios de divisas nos ombros e com medalhas no peito, U como agora, devia estar desfilando o namorado de Lucinha, os braços dados com ela. Surtido, a contragosto, havia lhe 263 confiado a má notícia. Já que não empunhara fuzil ou mosquetão nenhum, nem guiara um tanque de guerra, nem matara inimigo nenhum, agora, bem poderia ser útil prestando serviços aos necessitados, aos carentes de fé, pensou Edu. O homem sempre tem alguma coisa de si a oferecer ao seu semelhante. O próprio ambiente do exército necessitava de gente assim, interessada em ajudar e com destreza para certos afazeres, que outro não conseguia desempenhar a contendo. A própria vida lhe ensinara muitas coisas. Principalmente naquelas comunidades onde o exército se fazia presente – quando, muito, vez em quando, os soldados saíam dos quartéis – e já que estava ali por querer, podia entrar e sair, quando quisesse, sem restrições. Tomara que fosse de vez! Faria qualquer coisa, mesmo sem autorização do comandante do quartel, para preencher suas horas vagas, enquanto esperava e esperaria a vida inteira, era o mínimo que podia fazer por Rói Osso. E lembrava de Lucinha, lá na cidade, braços dados com outro. E eventualmente, pensava em Tami, quando o tesão vinha-lhe incomodar nas noites insones, lobo no cio. Não demorou muito e já tinha a sua freguesia e os companheiros de conversação. Os soldados, as pessoas de fora do quartel, vinham procurá-lo para trocar ideias, quando pediam-lhe que prestasse algum serviço, algum favor – como pregar um botão numa roupa, remendar,

Os olhos do Jacaiócosturar um coturno, fazer curativos, curar suas feridas. Falar de coisas do dia a dia. Era quando Edu aproveitava para contar suas histórias e fazer amizades. Assim conheceu muita gente e muitos queriam conhecer as suas aventuras – as anteriores à sua chegada ao quartel e depois, quando resolveu ficar, por incumbência de reaver a bíblia. Em tributo a alma de Rói Osso UV V 264

Um dia lhe trouxeram, às escondidas, uma lista de todos que Jairo Ferreira Machado estavam no quartel na noite em que morrera Emanuel Rói U Osso. Os serviçais, os soldados, e os eventuais em trânsito por ali. 265 Da lista, eliminou quem não tinha acesso à enfermaria, sobrando os plantonistas, os de sobreaviso, os serventes da cozinha, os soldados de prontidão. Agia como se fosse um detetive! Em princípio, sua desconfiança recaiu sobre os que eram católicos, mas depois se lembrou de que a bíblia era um símbolo sagrado, que não contava com a simpatia de pessoas de outras crenças. Ainda mais em tempos de guerra. Assim, poderiam querer roubá-la e queimá-la, nos moldes da Santa Inquisição – “Os autos de fé.” Então, até prova ao contrário, desconfiou de todos os nomes contidos na lista. Passados os dias da pressão e da coação do pároco, o chefe do exército já colocava panos frios nos fatos, embora aquele, o desertor – assim apelidado pejorativamente pelos mandões do esquadrão –, ainda insistisse em só sair dali quando tivesse a bíblia em suas mãos. O general logo soube que ele estava investigando o desaparecimento da bíblia e deixou correr; também tinha interesse em saber o paradeiro da sagrada escritura para logo se livrar daquele constrangimento interno, passando por mau administrador. Afinal, a bíblia tinha desaparecido de debaixo do seu nariz.

E via-se encafifado com o fato, ainda que o sumiço de uma simples bíblia nada representasse de tão importante ao seu comando. Uma simples bíblia... Sua função era a de gerenciar soldados, não cuidar de um livro de pequenas proporções. O exército todo e seu quartel – em particular – vivia ainda os eflúvios de uma recém-terminada guerra, com vitória. Estava mais interessado em arrumar a própria casa e se adequar à nova situação e as insígnias a mais que a guerra lhe Os olhos do Jacaió conferiria ao peito. Entre os afazeres, o de muito eventualmente cumprir umas e outras honrarias: mandar carta de agradecimentos, senão de pêsames, aos parentes dos pracinhas que lutaram e voltavam vivos ou mortos da guerra. E vez em quando pregar no peito V de alguém uma medalha de honra, hastear a bandeira, e de “sentido”, ouvir e cantar o Hino. 266 UV

Não seria aquele pária ali, desertor, renunciado de guerra, Jairo Ferreira Machado de livre e espontânea pretensão, que iria roubar os méritos U militares de uma guerra ganha, pensava o general. Muito menos por tão insignificante livro. 267 Esquecido de um exército de homens e de mulheres que a história nunca esqueceu: Isaias, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oseias, Malaquías, Mateus, Lucas, João, Tiago, Pedro, Marcos, Paulo, Samuel, Rute, Ester, Madalena, Cristo, José, Maria, cuja fé e bondade davam sustentação espiritual ao mundo. Às pessoas. Não! A bíblia não era um simples livro, como podiam pensar os de insígnias no peito e ombros. Era uma bíblia, constando os escritos da aliança dos homens aqui na terra com Deus. Mesmo aquele que pensasse diferente, ou não acreditasse em nada disso, olhava a bíblia com certo respeito. Havia um regente maior, sem galões no peito e nem papas na língua. Sem aviões e tanques de guerra. Sem mosquetões, metralhadores e fuzis. Um homem simples, filho de Deus, chamado Jesus e sua palavra escrita em centenas de línguas. Aquele que certo dia morreu na cruz para a salvação da humanidade. Como também sofreram todos aqueles seus seguidores que travaram uma guerra santa, sem armas, seguindo os seus mandamentos, desde então... Thiago, o

Os olhos do Jacaiómaior, martirizado, Pedro, crucificado, Mateus, morto por um ferimento de espada... quase todos torturados. Sem esquecer Madalena (Tami), apedrejada. UV V 268

Edu acordou desolado naquela manhã. Jairo Ferreira Machado Sonhara com Lucinha. Não sabia precisar exatamente em U que lugar estava e se já estivera lá com ela algum dia, em que território, cidade, ou país. Sabia, no entanto, que era um lugar 269 distante; tão distante quanto a “realidade” vivida no sonho. Lucinha, no sonho, estava presa e ele haveria de libertá- la, antes que morresse. Contudo, tentava, tentava, mas não conseguia alcançá-la. Quando se aproximava, Lucinha parecia se afastar mais ainda, com a mão direita estendida para o seu lado, como se não quisesse ir. Vestia-se como um anjo, em meio a brumas e nuvens; estava muito bonita e com a mão esquerda cobria o próprio ventre, deixando escapar o brilho dos olhos, que deles Edu ainda se lembrava: eram dois ônix. Ainda que tentasse a cada momento esquecê-la, não esquecia, e amanheceu incrédulo, sem poder mudar os fatos. Era como dizer à açucena que não mais florisse e nem exalasse a sua fragrância – sabendo que no ventre daquela, haveria uma flor cativa, esperando apenas o aceno da primavera. O mais distante que pôde ir – no pensamento – foi à beira do rio, ao pé do ingazeiro, onde estava o beija-flor fazendo o ninho. Lucinha era o seu beija-flor de quem haveria de nunca esquecer. Muito tempo se passara, desde aquela vez em que esteve no quarto de Lucinha, assim, sem ser convidado, maltrapilho, e com ela fizera amor de verdade – entre a força da afeição e a

gana do tesão, já sabendo ser aquela a primeira e talvez a única noite juntos; depois disso, somente o tempo saberia, quando em seguida se meteu novamente na clausura da “pedra do urubu”, e de lá saiu por livre e espontânea vontade, junto com os demais companheiros, para se entregarem aos homens da farda verde-oliva. Quanto já tinha perdido! Dois amigos sumidos no mundo, outro curado do aleijão, um Os olhos do Jacaió falecido, mas que continuava muito vivo na sua mente, no seu peito. Emanuel Rói Osso virara uma unidade espiritual, com um imenso carisma de Santo, sem nunca ter pensado nisso um dia, tal Aristeu, o deus grego adorado protetor dos caçadores, pastores e rebanhos. Um deus beneficente que levava cura onde V essa fosse necessária. Alguém, sem muito querer, ajudara-o a alcançar a notoriedade 270 – roubando-lhe a bíblia numa daquelas madrugadas. Deus, de fato brasileiro, mudando a ordem das coisas – o assunto da guerra, aos poucos, foi sendo enterrado; falava-se agora, em reconstrução, em trabalho, em reconciliação. Preceitos da sagrada escritura. Um exército de homens estava no encalço da bíblia – com objetivos claros de reavê-la de uma vez por todas. Tal bíblia, tal alcorão, todas as religiões, numa só. Um único Deus. Dias depois, de livre e espontânea necessidade, um senhor de olhos tristes ultrapassou os portões do exército, trazendo um embrulho debaixo do braço, endereçado a Edu. De imediato, o coronel mandou que Edu comparecesse ao seu gabinete. Foi a primeira vez que sentou na ostentação de uma sala rica, mas, muito, muito carente de espírito. Era a bíblia.

Com todos os rasgos e defeitos, sequela do longo manuseio Jairo Ferreira Machado imposto a ela pelas mãos de Emanuel Rói Osso. Foi exatamente U isso que Edu observou de imediato e a identificou. 271 O coronel tinha a intenção de ele mesmo entregar a bíblia a Edu. Mas o general do exército – de corpo presente – foi quem se apresentou no dia da cerimônia, fazendo longo discurso – que todos os ensinamentos eram bem-vindos e a bíblia era um símbolo da força espiritual. Logo, todo bom soldado devia mantê-la em sua mesinha de cabeceira. O senhor de olhos tristes se fazia presente. Edu o abraçou. Era o pai do soldado que teve a intenção de tomar para si o livro sagrado – era um dos vigias da enfermaria naquela noite – e o fez com a intenção particular de tê-lo como lembrança daquele moço, tantos dias ali – com a bíblia em mãos e depois, devido à repercussão do caso, teve medo de devolvê- la e sofrer represálias por isso. Assim como Ezequias, explicava sua incondicional devoção a Deus. Queria apenas uma lembrança daquele que era para si, um grande soldado, o maior de todos: Emanuel Rói Osso, que morrera naquela enfermaria, com honras e glórias. Aquele não fora um dia como outro qualquer, naquele quartel. Viveu-se um estado de comoção; não houve quem não abraçasse Edu e chorasse. Ou por debaixo dos panos, não lhe passasse alguns trocados em paga por ter convivido com ele, já sabendo que Edu recomeçaria sua vida, do nada. Estava voltando da sua guerra particular, sem medalhas no peito, sem uma única insígnia nos ombros. Somente com uma velha bíblia desbeiçada da lida, que tampouco lhe pertencia.

Os olhos do JacaióO portão do quartel se abriu e Edu saiu através dele, sozinho, levando a sagrada escritura debaixo do braço, com a garantia de que o General não permitiria nenhuma reprimenda a Ezequiel, que sem muito saber, dera seu exemplo de fé, separando a vida de soldado daquela que tinha como a maior dentro de si: a fé em Deus. UV V 272

Naquele dia, o cajueiro à beira do caminho via-se florido e as Jairo Ferreira Machado mangangabas e as abelhas vinham colher de suas flores a U bebida dos deuses, o mais puro néctar. 273 O sol do meio-dia, torrencial. A sombra era convidativa, mas ainda que não o fosse, Edu pararia ali para relembrar. Bem podia seguir de carona, mas disse pra si mesmo, faria o resto do caminho a pé, relembrando os velhos tempos de menino e de adolescente, quando ia ou voltava da escola. Descansaria um pouco, aproveitando-se para ter uma conversa com o seu amigo jacaió. Uma conversa de pé de ouvido. Quiçá, ter também um tempo com Deus – se é que Deus o ouviria, agora. E deitou-se – como fazia Rói Osso – com a bíblia servindo de travesseiro – só para lembrar o companheiro – procurando entre os galhos o solitário jacaió. Naquele instante, caiu-lhe uma flor no peito. Só podia ser o jacaió dizendo-lhe, “aqui estou, menino fujão!” Menino, agora, homem. Mas o pássaro não estava mais sozinho. Eram três contando a mãe e o filhotinho. Não sabia se sorria ou chorava. Encantava-se com o que via... Às avessas de uma guerra, o pássaro criara sua prole, tão livre quanto se viam, agora, Toninho e Foice Pequena. Onde os dois estariam? Um dia, quem sabe, os encontraria...

Mas o livre-arbítrio mais sublime, era a alma de Emanuel, que partira para outra dimensão, para um mundo melhor. O jacaió também, a qualquer momento, expulsaria dali o seu filhote e ele voaria em busca de outro lugar, de uma companheiro ou companheira para tentar nova vida. Mas aquele jacaió, ali, parecia, nunca querer partir. Aquela era a sua árvore. As abelhas vinham e voltavam. As mangangabas vinham e voltavam. Como os aviões em tempo de guerra. Pensava assim, Os olhos do Jacaió quando o mormaço do sol da tarde o levou a uma dimensão nunca antes experimentada, em todas aquelas outras vezes que estivera ali. Ao redor da árvore existia uma infinidade de vida, em que ele antes nunca tinha reparado. E embalado pelo coral de vozes que V vinham dos insetos, como o som de um milhão de harmônicas, logo dormiu e sonhou... 274 UV

Lucinha estava grávida. Seria mãe. Acordou assustado. O Jairo Ferreira Machado subconsciente tomava à dianteira avisando-lhe, que seria U melhor não voltar a vê-la, pois se Lucinha estivesse grávida, o filho, de certeza, era do namorado, não seu. 275 Talvez Afrodite também quisesse invocar-lhe – não volte! Ou quem sabe fosse Emanuel Rói Osso, enviando-lhe uma mensagem do além, através das estrelas que via ao longe, no sonho – siga o seu próprio caminho. Logo depois escurecia. Confessava também às estrelas, perguntando, qual caminho prosseguir... Hora em que o jacaió já devia estar dormindo. Levantou-se e foi em frente, já de caso pensado. No instante em que a lua prateada surgia de detrás da serra com o seu olhar de encanto, os olhos de Lucinha. Lucinha nunca sairia de seus pensamentos. Não tinha dúvidas, disso. Os vaga-lumes aqui, acolá, o acompanhando. Tempo depois, longe, viu as luzes da periferia da cidade, brilhando tanto quanto brilhavam antes as estrelas no céu. Nunca tinha se sentido tão só. Era o próprio jacaió, quando lá empoleirado nos galhos do cajueiro, enquanto vivendo suas orgias, com Tami. Deixou que o coração acompanhasse os seus pés. Os seus pés, mais que o seu coração, sabia o caminho onde decidira ir. Não muito tempo depois, estava diante da zona de baixo meretrício. Um poste no final de uma rua pobre iluminava o lusco-fusco de uma casa de prostituição. Permaneceu ali uma

eternidade de tempo, olhando a tenuidade da luz. Sem saber se tinha o direito de chegar ou continuar em frente, após todos aqueles anos afastado de Tami. Desde que ela e Lúcia brigaram no pátio do colégio, e ele já estava apaixonado. O amor por Lúcia nunca mais deixara seu coração. Resolveu aventurar-se, afinal ali era o lugar dos homens em busca de algo que não tinham por completo em suas vidas. Homens, fisicamente carentes, e que pagariam qualquer Os olhos do Jacaió preço por uns momentos fortuitos, mesmo que por pouco tempo, pois logo a prostituída cairia nos braços de outro. Esperou os homens partirem e o silêncio tomar conta do lugar. Logo depois as luzes se apagaram. Decidido, adiantou-se e bateu na janela de Tami que acordou, V deveras, assustada. Era hábito o cliente entrar pelo salão, onde as frequentadoras do lugar aguardavam, e de comum acordo entre as 276 parte, a escolhida aproveitava para surrupiar dele a paga de alguma bebida, enquanto acertavam o preço do deleite momentâneo. E só então ela o levava para o quarto. Quem seria então, vindo às avessas, àquela hora da madrugada? Tami abriu a janela e incrédula, levou a mão ao coração. Há muito tempo não o via. Somente tinha notícias dele. Uma hora diziam que tinha morrido, em outro momento, que estava preso, como desertor da pátria. Mais tarde, diziam que continuava no quartel por causa de uma bíblia. O que teria acontecido com aquele moço que certo dia a tinha deflorado, ou ela o deflorou, num dia de muito sol, sob o pé do cajueiro? Edu parecia muito diferente, embora a noite atrapalhasse sua visão, já um pouco embaçada. Não era mais o jovem de antes,

ou se era, não parecia tanto. Teve dificuldades para identificar Jairo Ferreira Machado em meio à escuridão. Aquele rosto trazia os traços de algum U desgosto, que ela não definiu de imediato. 277 Viu apenas aqueles olhos arregalados para o seu lado, como um duende trazendo de fora os mistérios da noite. Vindo de outros mundos... Trazia na mão esquerda uma bíblia, que Tami olhava, sem nada entender. Na direita, uma flor silvestre, que alguém derrubara em seu peito. Uma flor de cajueiro, presente do Jacaió para ela. Conhecia-o de cor e salteado, de corpo e alma. Mais de corpo que de alma, claro. Será que aquela alma desajuizada mudara? O que a vida fizera com aquele moço? Ou era tudo aquilo resultado de uma insana guerra? Não era hora de perguntas. Puxou-o pela camisa para dentro de seu quarto, ajudando-o a escalar sua janela. Deitou-o em sua cama e o beijou com a ganância da primeira vez, ainda sentindo naquela boca um pouquinho do seu próprio gosto, dos fluidos dele renascidos de seus sentidos. Era mulher da vida sim, mas carregava dentro de si a lucidez daqueles primeiros dias, lá no cajueiro, e do pássaro jacaió. Edu fora o primeiro e único. Os demais foram de menos. E o amou como nunca amara ninguém, depois dele, em todos aqueles anos de meretrício. Acordaram abraçados já com o sol entrando pela janela. Exalavam o mais puro e sagrado sexo. Tami aprontou-se com o vestido mais bonito e espetaculoso que tinha e se foi, levando a bíblia debaixo do braço. Antes, solicitou às colegas que servissem a Edu o melhor café da manhã, dando-lhes o dinheiro para que comprassem o

Os olhos do Jacaiónecessário. As colegas de trabalho em volta de Edu, cheias de curiosidade. Conheciam aquele homem – das muitas histórias que Tami contava, nos seus momentos de saudosismo – e que muitos já o julgavam morto. Agora queriam saber, por que ele estava ali... Tanto quanto queriam saber onde Tami fora levando uma bíblia debaixo do braço, àquela hora da manhã? E tudo que Edu fez foi silenciar-se enquanto engolia o pão e uma xícara de café com leite; o café mais gostoso que tomara naqueles últimos anos. A zona, não era de toda ruim! Lembrando que também era um prostituto, um prostituto da vida. Só não ganhara nenhum dinheiro, até então... V UV 278

Era um domingo. A igreja repleta de fieis. Jairo Ferreira Machado Tami seguiu pelo corredor do templo, com a mesma U pompa que eventualmente desfilava pelas ruas da cidade, seja: excessivamente espetaculosa. Olhares femininos estupefatos 279 fulminavam-na de cima abaixo. Os homens abaixaram a cabeça, consentindo-lhe somente um olhar de soslaio. Fez pouco caso, sorriu como sorriria uma noiva no dia do casamento, vendo o noivo esperando-a, no altar. “Branca e radiante... lá vai a noiva...” Podia ouvir Agnaldo Timóteo cantando prá ela. Madalena sim, mas não arrependida. O padre interrompeu o sermão e ficou observando ela vindo, espetaculosa, até chegar ao altar e entregar-lhe a bíblia, dizendo que era presente de Edu, para a mãe de Rói Osso. O padre já conhecia a história da bíblia e pediu que todos se ajoelhassem. – Aconteceu uma graça, disse – Aliás, duas graças – corrigiu- se a tempo. Primeiro era a bíblia, recuperada, o presente caído dos céus, em suas mãos. Ato seguinte ergueu a bíblia para que todos a vissem, depois pediu a recém-chegada que tocasse aquele símbolo sagrado, na presença de todos. Era a segunda graça, disse o pároco. Tami nunca pusera os pés naquela igreja; não se achava merecedora. E tampouco tinha pegado na escritura sagrada, de fato.

Os olhos do JacaióTami obedeceu e também se ajoelhou, com os olhos cheios de lágrimas. Em seguida, foi-se da igreja, deixando para trás uma irresistível fragrância de mulher da vida. E como sempre, perfumada. De rua em rua, atravessou a cidade e chegou ao meretrício, de onde saiu ao entardecer, de braços dados com Edu. Ele voltara. E carregava sua mala, em direção à rodoviária. O sol se despedia do dia e os pássaros se recolhiam aos seus refúgios. De repente o jacaió cruza os ares e pousa num pequeno arbusto, como que viesse saudá-los, com saudade. Recordaram o antigo cajueiro e o olhar curioso do jacaió a testemunhar suas primeiras aventuras amorosas. Foi um dia incomum, naquela cidade de interior. V E foi à última vez que foram vistos juntos ali... UV280

Pode-se imaginar o sepulcro de Emanuel Rói Osso e alguém Jairo Ferreira Machado depositando lá um buquê de flores. Rói Osso, que respondia por U tal alcunha, por que roía o osso, deixando a carne para os irmãos menores, famintos, magérrimos. 281 UV

Os olhos do JacaióHomenagem póstuma de guerra: Segundo Batalhão de Carros de Combate – Inc. 2. III. 1942 Exc. 7. XI. 1944 Cabo/Fileira – Cidade Caçapava. V 282 Acima citados os cidadãos recreenses que participaram da segunda guerra mundial – assim consta na placa e no livro publicado pelo ferroviário e escritor falecido, Senhor Aristides Dorigo, morador da cidade de Recreio, MG – em cujo município ainda se ostenta, esquecida, a “pedra do urubu”.

Homenagem também a todos aqueles, que não foram à Jairo Ferreira Machado guerra, mas sofreram as consequências dela. E morreram um U pouco com ela. Os personagens aqui apresentados, inventados ou havidos de fato, nunca antes lembrados. 283 UV






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