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os olhos do jacaio18

Published by Paroberto, 2019-07-29 18:50:13

Description: os olhos do jacaio18

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UV Os olhos do Jacaió WX



Jairo Ferreira Machado JacaióOs olhos do Florianópolis 2013

© 2013 Jairo Ferreira Machado Projeto gráfico e capa: Paulo Roberto da Silva Editoração: Leonardo Gomes da Silva Revisão: Luiza Andrade Ficha Catalográfica (Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da M149o Machado, Jairo Ferreira Os olhos do jacaió / Jairo Ferreira Machado – Floria- nópolis : Edição do Autor, 2013. 288p. : il. Inclui bibliografia. 1. Ficção brasileira. I. Titulo. CDU: 869.0(81)-31 ISBN 978-85-99554- Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio ou forma sem prévia permissão por escrito do Autor. Impresso no Brasil

Foto – Cuitelão Fonte: Foto de Rafael Bessa, Carmo/RJ.

Pensando num título para este livro, optei por “Os Olhos do jacaió”, jacaió, apelido que dei ao cuitelão (jacamaralcyon tridactyla), pássaro considerado por alguns, em extinção, porém, ainda sobrevivente na zona da mata de Minas Gerais, incluindo o município de Recreio, região que me inspirou as páginas deste livro. Vem-me à memória o jacaió pousado nos galhos do cajueiro. Espécie esta que procria escavando seus ninhos em barrancos próximos de onde habita; daí os apelidos de cavadeira, violeiro... Jacaió parece-me mais apropriado ao pássaro e ao título para este livro.

Agradecimento Especial ao meu primo de primeiro grau “Ci” que certo dia – já com seus cinqüenta anos ou mais – falou-me da “pedra do urubu”, lugar de esconderijo dos jovens que foram convocados e que não quiseram ir para a guerra, a segunda guerra mundial, disse-me ele, com a vaga lembrança de um menino ainda – no tempo em que os fatos aconteceram. Quem sabe algum parente seu, próximo, assim lhe contou um dia...

Quando todas as sensações e impressões externas obrigam a mente humana a tomar decisões, envolvendo os cinco ou mais sentidos – indo das fantasias sexuais, ao descobrimento do amor e aos temores e rigores de uma guerra – colocando um jovem adolescente e depois homem sob o domínio dos hormônios, da força dos sentimentos e dos dissabores da vida, forçando a alma a se superar no tempo presente, antes que o corpo pereça e esse homem não alcance a verdadeira espiritualidade. Afinal, são os desafios que dão graça e esperança à vida...

T ami tornara-se mocinha naquele verão, um pouco Jairo Ferreira Machado antes do início das aulas. Menina moça, desmiolada U – assim o povo a considerava por revelar-se a mais liberal do grupo –, trazia no ardiloso olhar um brilho 11 incomum, como a de uma felina no cio. A própria Afrodite, esculpida, cuspida pelas ondas do mar; deusa grega e, ainda, cafuza. Embora o destino não lhe premiasse com bens-próprios – era pobre – a natureza lhe recompensara com singular beleza física e anímica: despertava-se da infância com a virtuosidade de uma ninfa, na carne e no espírito; o corpo esbelto, tentador; humilde no traje do dia a dia, mas arrebatadora nas formas femininas. O companheiro de grupo, Edu, um ano mais velho, era entre todos o mais reservado. E quem mais próximo da cidade morava – já a meia distância, entre suas moradias e o colégio. Não era lá um deus Olímpico, se muito, um jovem sofrido esbelto e ágil em suas pernas andejas. Edu e Tami conviviam em harmonia desde a infância; agora, nos últimos anos, já adolescentes – na aflição dos hormônios – despertava-lhes mútua atração. Já não eram apenas companheiros de estrada e colégio; o corpo os desafiava para uma aventura, cujo atalho não sabiam onde ia dar. Até o dia em que o destino os surpreendeu com uma endemia – incomum morbidade viral – colocando-os sozinhos ali

na estrada, por conta do adoecimento dos demais. Quem sabe também por influência dos astros e dos inexplicáveis fenômenos sobrenaturais – quiçá, a interferência saudável dos deuses e deusas olímpicas. Agora, entreolhavam-se surpresos, como se não devessem estar ali; mas estavam: em carne e osso. E alma. O astro sol como testemunha. Até então, a expectativa de se encontrarem a sós, era remota – o campo não tem esquinas, ruas, ou cinema que pudesse facilitá-los. Os olhos do Jacaió O dia assemelhava-se a outro qualquer: o céu muito azul, com raras nuvens se formando e logo indo embora, o sol do meio- dia, intensamente sol, esturricando suas jovens cabeças. Edu estranhava aquele acontecimento, ao mesmo tempo em que se vangloriava da sorte. V E já imaginava o melhor daquele acaso, ainda que lhe aumentasse – na mesma proporção – o peso da responsabilidade; 12 antevia os riscos de estarem sozinhos no deserto do caminho, contando com os benefícios da natureza. Haveriam de pesar os prós e os contras. Aproveitavam a oportunidade ou voltavam para casa? Mas se Afrodite, a deusa grega do amor, quisera assim, não seriam tolos de contrariá-la tanto quanto contrariar a si próprios – restava-lhes simplesmente aproveitar o ensejo. E caminhavam... Tami concordava, no olhar. Não era para menos, há muito se deslumbrava entre eles certo lume erótico. Haviam crescido juntos, tendo um participado das transformações físicas e emocionais do outro e, desde então, trocavam entre si olhares tentadores, muito antes da chegada, providencial, da virose, naquela semana de agosto. Vênus, com a mãozinha de Eros, o deus da paixão e do amor.

Edu e Eros, se confundindo num só. Jairo Ferreira Machado Tami trazia a força de Afrodite. U Num repente – como uma nascente que por fim superpõe à força da terra – aflorou-se ali todo o sentimento platônico 13 que os atraia. Não se podia dizer a dimensão do amor, mas sim, o mais intenso dos desejos, da volição juvenil – própria das fantasias de dois adolescentes. Agora, encontravam-se à mercê da vontade um do outro, mas cabia a Edu antes superar o acanhamento, a timidez, a dificuldade da primeira palavra: a garganta presa, engasgada. Talvez nem soubesse mesmo o que dizer, e se precisava mesmo falar alguma coisa, ou, quem sabe, apenas agir naquele instante... Indiferente às preocupações do colega, Tami caminhava resoluta, impávida, exibindo os firmes glúteos sob a saia desbotada do dia-a-dia, o que propunha ao colega imaginar o quanto aquele corpinho recém formado seria macio e rígido ao mesmo tempo. E em seguida ir para casa desfrutar das mais sórdidas fantasias. O surto viral, portanto, lhes foi providencial, naquele instante. O sol como testemunha maior do presente caído das nuvens. E não era um dos seus sonhos: Tami era real, de corpo e alma. Nuvens brancas, andejas, preguiçosas, malhavam o azul do firmamento, fazendo sombras no caminho de chão batido. O caminho do colégio, o caminho da cobiça, do amor e da vida. Era o primeiro e inesquecível dia. UV

Os olhos do JacaióEntre todos, Tami era quem do grupo mais distante morava; como se fosse a última, no fim do caminho – lá nos confins do lugarejo de nome São Joaquim. Na vinda para o colégio seguia a trilha paralela à estrada de ferro, andando por um bom pedaço de chão, às vezes até mesmo equilibrando-se sobre os trilhos, imaginando-se dentro dos vagões indo para longe dali; depois, voltava à realidade, à estrada de chão batido. V Menina moça, a cor da pele como a de qualquer nativa, os 14 cabelos negros escorridos numa cabeça desmiolada – assim a definiam – com a sensualidade a pleno fôlego. Uma deusa de infinitas sensualidades no andar; no fascínio... Diariamente, no decorrer do percurso, iam-se juntando a ela os outros companheiros de jornada, formando o grupo, cada um com o seu particular jeito de ser. Ainda que gostasse de todos, era Edu quem mais lhe despertava o desejo. No retorno das aulas, era também a última a chegar à sua morada; novamente, sozinha. Não temia nada, ninguém e tampouco aquele jovem ali, agora, ao seu lado. Talvez ele a temesse mais, pensava, pois se algum dia ficassem sozinhos, não se responsabilizaria por si mesma. No íntimo, torcia para que isto acontecesse. Decerto, ambos querendo. O vírus, ao que pareceu, atendeu aos seus apelos, mandando os demais colegas para a cama.

Edu crescera por ali, de menino a jovem, nas imediações das Jairo Ferreira Machado terras do amo Tonico; diziam mesmo que ele era filho desse com U certa sirigaita que vivera às expensas de um trabalho doméstico na casa de seu Tonico. Antes de ela, sua mãe, fugir com o maquinista 15 do trem, deixando pai e filho, sozinhos. Edu residia ao lado oposto da estrada, numa imponente casa de pé-direito alto e várias janelas em volta, de onde podia ver os colegas indo para o colégio – era quando acelerava o passo para se juntar ao grupo, quase sempre indo à dianteira, assim, par constante com Tami. Mais ainda, naqueles últimos tempos. Comparado à colega, pobre, até gozava de certa nobreza; contudo, não a acompanhava na petulância do assanhamento: aquele olhar provocante, malicioso na sua braguilha; fato que muitas vezes o deixava encabulado tanto quanto excitado, de tal maneira que em certos momentos pensava em agarrá-la, beijá-la, ainda que os colegas sempre estivessem pelas proximidades. Agora, a enfermidade coletiva e a divina Afrodite, os deuses e deusas, ouviu seus apelos íntimos e veio dar um empurrãozinho. Teve a certeza que sim! O dia não se assemelhava a um dia qualquer. Tami viera de encomenda: os trejeitos nem um pouco enrustidos e como sempre o brilho relevante nos olhos, ressaltando a atração, o fogo da veleidade que os mantinham ligados um do outro, desde a pré-adolescência. A situação lhes apregoava alvissareira. Contudo, à medida que caminhavam, sentiam-se vigiados pelas próprias consciências, muito mais que por qualquer imaginário companheiro vindo na retaguarda, razão por que se continham, resistindo ao desejo de se aproximarem logo de início; mas precisavam apressar os acontecimentos, enquanto não vinha ninguém!

Por um lado, a timidez, por outro, o receio de serem vistos a sós. Tami pouco se importando se fora a virose a agente mensageira daquele encontro; a sorte soprava a favor. O companheiro mantinha-se mais comportado, cauteloso! “Nem mesmo somos namorados”, pensava Edu – o pouco juízo somado a quase nenhuma experiência. Afinal, a vida podia estar pregando-lhes uma peça de mal gosto. Logo, nada daquilo acontecia. Tudo não passava do fruto de sua imaginação, ainda que tivesse o sol como testemunha. Os olhos do Jacaió Tami mostrava-se animada, sensual, em carne e osso, vestida em sua tez macia; não a tinha tocado ainda para saber, mas acreditava, olhando-a espargir devassidão no andar. Como se flutuasse pelo caminho. O momento requeria ousadia, tanto quanto precaução, mas V muito mais ousadia... 16 Assim, animados pelo desejo, tais os vividos na solidão de suas camas – ocasião em que buscavam aplacar o desejo no exercício da masturbação – aos poucos foram relaxando a vigília; o momento suscitava ação, aventura, enquanto não chegavam à cidade. Urgia o tempo. Tami via-se ansiosa; pudesse, acabava com o acanhamento do parceiro e beijava-o na boca, para ver no que ia dar; pensara muito nisso, naqueles últimos dias, como assim antevisse os fatos que agora, por fim, aconteciam; claro, sob as influencias das deusas e deuses Olímpicos. Edu sabia que tinha diante de si a musa de seus sonhos, a inspiradora de suas masturbações nas longas noites de desvario hormonal, quando só, na cama e Tami parecia adivinhar-lhe os pensamentos. Excedia em malícia, dona de si, remexendo os quadris, numa mistura de astúcia e sensualidade. Impossível que tudo aquilo não fosse verdade e que Tami não demonstrasse nenhum receio de estarem juntos e a sós, ao

contrário, expunha-se intencionalmente cheirosa – exalando o Jairo Ferreira Machado frescor de um recente banho de sabonete. U Na cabeça a comum ostentação de dois laços de fitas brancas, 17 cuidadosamente enlaçadas nos cabelos caboclos, como se cada dia, antes de sair de casa, pensasse em apresentar-se exultante somente pra ele, o seu deus grego. Esmerara-se no capricho do humilde uniforme, sempre passado e limpo: a saia azul desbotada, acima dos joelhos, os neófitos seios pardos – imaginava-os – sob a blusa branca, com os botões de cima, de propósito, desabotoados. Pensasse melhor, Tami era uma deusa grega, ressurgida das reentrâncias da terra, para o seu bel-prazer, só agora sabia disso, depois que seus hormônios se acordaram. E vangloriava-se da sorte, já presumindo beijando-lhe os seios, os lábios. As espinhas na ardência da cara, aqueles ignotos seios, e o tanto que se exercitava na calada da noite, imaginando-os inteiros em sua boca – degustava-os, mamava-os, de mente. A cara chupada era a prova cabal da diária e costumeira orgia a sós. Tami viera na sua plenitude física – pensava ensimesmado na malícia – pondo o olhar no pueril e pulcro sacolejo da colega a seu lado. Vez por outra se entreolhavam, os olhares a cada momento mais sedutores. Encantados, mas ainda indecisos. “É agora ou nunca, seu idiota”, Edu falava para si mesmo, ou mais que isso, exigia de si mesmo. A virose semeara ali de súbito suas bênçãos, tinha que colher os frutos, mas as palavras não lhe saíam da garganta, como se uma enorme garra o enforcasse, impedindo-lhe a fala; a emoção sufocada. A cidade e o colégio, a cada minuto, mais próximos, ao longe viam já algumas casas, um pouco mais e perderiam aquela oportunidade única e alvissareira; e caso isso acontecesse, iriam para casa, lamentar a oportunidade perdida.

Pensando nisso, Edu cuidou de abreviar a distância que os separava, já que a parceira exibia-se obsequiosa, dadivosa; há muito pensava em momentos como aquele – não seria ingênua de se fazer difícil agora. Num gesto mais ousado, ele tocou-lhe sutilmente a mão, como quem toca as pétalas de uma flor. Sentiu o propulsar da energia que vinha daquele corpo jovem e sensual. Suou frio ao fazê-lo, sem saber se devia, tendo como resposta um sorriso encorajador, feito um aceno singelo acolhendo a sua coragem, o Os olhos do Jacaió seu tato, o seu calor. Animaram-se. Tami mordia os próprios lábios sem tentar dissimular a excitação que sentia. Não era um simples tocar de mãos, um cumprimento de bons amigos, mas sim, dois fios energizados, V faiscantes, encontrando-se. E ela retribuiu ao toque de seus dedos, olhando-o no centro dos olhos. 18 Pela primeira vez tinham as mãos dadas e a estrada aos seus pés, literalmente. Os camaleões, comumente grudados aos barrancos e vítimas contumazes de suas pedradas, naquele dia, punham-se destemidos, incrédulos com o que agora percebiam. E por certo se perguntavam: por que aqueles jovens agem hoje como se nós não existíssemos e não nos apedrejam como de costume? – claro que perguntariam se pudessem falar. A paixão os tornara, de repente, bonzinhos, cegos? os lacertílios sacudiam suas cabeças, provocativos, sem se entocarem, como quando eram incomodados. Corriam os minutos. Uma vez ocultos na curva da estrada – tendo apenas o céu e os camaleões por testemunhas – aconteceu o enlace mais desaforado daquele dia.

Ainda que atrapalhado, Edu adulou Tami, tocando-lhe os Jairo Ferreira Machado ombros, os cabelos, gestos, aqueles suficientes para exacerbar- U lhe a já costumeira ereção. Eros, erótico, Edu. 19 Tami transpirava sensualidades. O profícuo calor de uma fêmea, tão feminina que ele já não conseguia disfarçar a ereção; mesmo que removesse de lado o falo, esse teimava em aprumar- se dentro das calças, profano, pantaleão. Estimulada pela visão, Tami remexia as maliciosas escadeiras e punha-lhe o olhar no detalhe da braguilha, lembrando os momentos em que o queria daquele jeito – à noite na sua cama – nos instantes do costumeiro e solitário deleite. Sentindo-se tentado, mais ainda se excitava; o rosto avermelhado do sol tomava mais cor ainda, não só do embaraçoso eretismo, mas, sobretudo do acentuado rubor hormonal lhe animando a estirpe masculina. Mastodonte. A colega ria entre dentes, vendo ali o seu, dele, o mastro em riste. Podia ouvir-lhe o palpitar do coração e transluzia um sorriso sacana, os olhos voltados para onde mais lhe abundava a sua atenção, a intenção, o seu fascínio – a braguilha da calça estufada do companheiro. E o vazio da estrada. Era como se estivessem em outro lugar, longe, ou talvez sonhando, um verdadeiro conto de fadas antecipado, não fosse o sol do momento. Mesmo que muito se masturbasse na calada da noite, pensando nela, e como seria se um dia se encontrassem sozinhos, agora Edu não sabia como agir, e tampouco, o que dizer. Tami se comportava com naturalidade e segura em seus atos, deslavada sim, mas firme em seus propósitos – interessava-lhe a ação do colega, não queria saber de palavras ou de seus gracejos.

O platonismo, era coisa do passado, precisava ser tocada na carne, na sua essência física, ainda que ele, Edu, não fosse capaz de sequer um galanteio naquele ou outros momentos. Os desejos prementes. Agora podia tocar seu objeto de desejo, sentir-lhe a carne, o calor e ser tocada por ele. Os desejos de há muito contidos, seriam enfim atendidos – antevia os fatos. A virose fora mesmo, benfazeja. Talvez viesse por Os olhos do Jacaió interferência da divindade grega do amor, que por ali ressurgia da história, com toda a sua sexualidade: Afrodite, a deusa do sexo. Em meio à emoção, caminhavam trôpegos no silêncio da estrada, embalados pelas batidas uníssonas de seus corações; era o momento mais inusitado de suas vidas, ao tempo que se V perguntavam se deveriam permanecer de mãos dadas ou se deveriam ser mais ousados. 20 Pensavam assim enquanto ajuizavam um plano emergente, lembrando que transitavam por aquela estrada outras pessoas além dos habituais colegas, que não tinham vindo aquele dia. Somente sabiam é que não podiam ser vistos sozinhos; muito menos naquelas circunstâncias – Edu em natural presteza de ânimo erótico. UV

Entretanto o destino resguardava-lhes mais surpresas. Não Jairo Ferreira Machado bastasse a sorte de os colegas estarem enfermos, agora lhes U vinha no sentido contrário um cavaleiro montado em um alazão. Mais adiante, à beira do caminho – para completar-lhes o ânimo 21 erótico – já havia um garanhão cortejando uma poldra no cio. Os ensaios lúbricos em franca evolução. Os deuses e deusas Olímpicos tinham-se todos por ali, parciais, conduzindo-os ao exercício do deleite. E acuados pela presença do cavaleiro, depressa saíram da estrada e correram e se esconderam embaixo do cajueiro, próximo de onde se encontravam. Ocultos por arbustos aguardariam a passagem do inesperado viajante enquanto atentos à devassidão dos dois outros equinos, do lado oposto da estrada. Ninguém desconfiaria que estivessem ali, e tampouco que estivessem sozinhos. Agora ouviam o tropel do animal vindo, fogoso, agitado, o cavaleiro tentando dominá-lo no freio e no corretivo das esporas. E na intenção de se manterem escondidos no pequeno espaço entre os arbustos os jovens obrigavam-se a se tocarem; ou seria mesmo um toque proposital, conforme tinham intenção... Os corações batendo uníssonos, aloucados, tanto pelos riscos de serem descobertos, quanto pelo clamor dos hormônios a cada segundo mais intensos; mesmo que tivessem perdido o entusiasmo erótico dos primeiros momentos no caminho. A aflição, agora, tinha outros motivos: o encantamento da orgia logo adiante.

Riram quando o macho escorregou-se e caiu, na tentativa da monta, mesmo a poldra se pondo receptiva. Contudo a conjugação carnal, ao que parecia, era questão de tempo. A cada tentativa a poldra se punha mais pronta – conforme as evidências: a calda erguida, o lampejo constante da vulva e a boca mastigando o vazio, o nada. Passados alguns minutos, o macho fez nova tentativa, o que, de certa maneira, acentuava-lhes mais ainda o clima Os olhos do Jacaió de luxúria; desta feita, mais acomodados e conformados no esconderijo. O fulgor hormonal já lhes acentuava novamente a premência do desejo. Edu não disfarçava o estofado da calça e estocava, maliciosamente, as coxas da parceira. Sem impor reação V contrária, Tami permitia que ele a bolinasse, por trás, justificando- se, no tino, do pequeno espaço que havia para os dois. 22 Sentiam-se atraídos, tanto em razão da lascívia ao redor quanto dos hormônios que lhes inundavam o sangue. Tami muito se valendo, fogosa, açodada, com o aconchego dele no seu traseiro. O suor escorria-lhe pela face e pouco tinha a ver com a ansiedade de serem descobertos ali, mas sim, com o deságue de hormônios novamente assanhando a veleidade de suas veias. Passada a temeridade inicial, de serem descobertos, ia- lhes revolvendo de dentro a libido, o desejo irrestrito de se entregarem um ao outro. Edu era quem mais se comportava aflito; afinal, era o homem, e cabia-lhe o maior dolo da atitude que viesse a tomar daquele momento em diante – não esquecendo que nem namorados eles dois eram; apenas, jovens, cheios de tesão. A fragrância de sabonete exalado da companheira atinava cada vez mais seus instintos sexuais, sua jovialidade.

Movido pela aquiescência de Tami – pouco importando que Jairo Ferreira Machado ele tocasse seus côncavos e convexos – mais Edu avultava-se, U fálico, entre o despudor e o agrado dos mimos. Contudo, preferia a cautela, ainda que tivesse o desejo carnal à flor da pele. 23 Lembrou-se da professora: a mestra adentrava à sala vestida numa saia provocante contornando-lhe as coxas. Ele, de olhos compridos por debaixo da mesa onde a mestra corrigia os textos, e vez em quando ela o olhava, como se interessada também; ele querendo ver seus cafundós. Quanta imaginação para apenas poucos momentos de satisfação a sós. Deixou aquele momento e aconchegou-se à colega, como se não fosse mais possível segurar a excitação que sentia por ela. Um calor colossal correndo em suas veias. Estimulada, Tami virou-se e buscou-lhe a boca, na ânsia de ao menos sentir-lhe a língua, ainda que fosse apenas a língua. E aconteceu ali o primeiro beijo; beijo de trincar dentes, de dois jovens ainda inexperientes. Deixaram-se tombar sobre as folhas secas do cajueiro, como que hipnotizados pelo ósculo, esquecendo o tempo lá fora, o coito dos equinos e o cavaleiro que já se aproximava. Feito um lençol no chão de folhas, Tami deitou-se. O pássaro jacaió, como única testemunha, olhava de cima dos galhos, o que nunca vira antes: o inusitado porvir de sensualidades. O sonho que até então lhes parecia impossível, realizava-se naquele momento. Edu sentiu aqueles seios hígidos sob sua blusa branca tocar- lhe o peito ardente. Já pensava em apertá-los, mordê-los, como imaginava nas longas noites de desvario, mas conteve-se apenas ao forte abraço e ao sabor da acidez do primeiro beijo. O sangue intumescia-lhes os genitais.

Tami retribuiu-lhe os afagos, remexendo as coxas, as nádegas, provocante, como seria ao se masturbar na solidão de sua cama. Deliciava-se com o oportuno momento, pouco ligando se o cavaleiro aproximava-se, ainda que não pudessem ser vistos, onde estavam. Mesmo mal conduzidas as manobras da língua, o parceiro tinha os lábios engolindo os seus, numa desmedida ansiedade – mais a mordia que a beijava de fato. Os olhos do Jacaió Os gemidos e relinchos dos animais, os ruídos dos seus cascos nos momentos das tentativas do coito, soavam como música aos seus ouvidos. Animando-os à cumplicidade maior da orgia, todo o ar, agora, com a fragrância de cio. V Tami se punha receptiva e decidida, aproveitaria cada segundo daqueles instantes, as influências favoráveis. 24 Esquecida a timidez inicial, Edu se fez tão impetuoso quanto o garanhão, mostrando a masculinidade pantaleônica, nem tanto quanto Tami mostrara sua feminidade. Atenta ao que acontecia próximo dali, a transa animalesca, Tami colocava-se na condição daquela – tão excitada ou mais que a poldra – sujeitando seu corpo deslizar no calor do parceiro. Imaginava a sensação de ser penetrada, notando o fogoso garanhão cobrindo a poldra com sua inteira virilidade. Ouviu-a soltar um longo gemido, como num frenesi de prazer e dor. Segundo depois, o macho já desmontava, desperdiçando fora uma parte de seu gozo. A cópula, de consenso entre as partes, deixou Tami mais incitada – nunca vira de tão perto algo tão sensual – e aproveitando-se do ensejo de sua distração, Edu tocou-lhe os fundilhos; exatamente onde o gozo mais lhe parecia premente naquele instante.

Tami posicionou-se subserviente, oferecida, no instante em Jairo Ferreira Machado que ele novamente a abraçou com o rigor de seus braços. U Aproveitando-se, em parte, de saber que ele estaria impedido 25 de seduzi-la, em razão do obstáculo da peça íntima. Edu podia boliná-la ao bel prazer, ao menos naquela hora, fazendo-a sentir na carne as mesmas impressões da masturbação, quando a sós, pensando nele. E contraia-se receosa da total rendição, mesmo sentindo os mesmos desejos da égua – de arreganhar-se toda e ser penetrada, de uma vez por todas! Desde o momento em que se viram sozinhos na estrada até o instante sob a sombra do cajueiro, passara-se uma eternidade. Muita coisa para a cabeça dos dois, assim, pegos de surpresa, pela ação benfazeja do vírus. De qualquer maneira, ser dele, ou não era uma questão de tempo; Tami, lá no íntimo, muito desejando. UV

Os olhos do JacaióOdia ia assinalando a passagem dos minutos, mais precisamente dos segundos. A já desvirginada poldra – nem de toda ainda saciada – via-se excitada novamente, diante da chegada do outro bem-vindo garanhão. O primeiro foi cuidando de esquivar-se do oponente, que se aproximava fogoso e dono de si. Era a sua vez. Por mais que tentasse controlá-lo, o dono não conseguia. Também o cavalo se achava no direito de tomar parte da festa. V Assim, depressa soltou um corcovo e derrubou o cavaleiro, 26 livrando-se do estorvo, como bem pretendia. E aproveitando-se da aquiescência da fêmea a fecundou com a total pujança animalesca. Extasiada, Tami assistia a tudo, pondo-se no lugar da fêmea. Os olhos arregalados, obcecada de desejo. E sem se importunar, permitia que o parceiro tocasse-lhe as coxas, as nádegas, sabendo-se protegida pela peça intima – mesmo que já estivesse umedecida do próprio gozo. No íntimo, pensando, o que havia de tão especial em seu corpo que deixava o colega de classe fascinado daquele jeito, sentindo sobre sua pele a secreção gosmenta jorrada daquele hígido falo. Qual a energia emanada de si que logo o incitava daquele jeito? Pensava, atenta ao parceiro, prevaricando a sós, já no primeiro contato entre eles, e muito se valendo disto, com as próprias mãos, ajudou-o a alcançar a fluência do orgasmo.

A devassidão lhe parecia um sonho do qual logo acordaria Jairo Ferreira Machado – no melhor do sonho – no momento crucial do deleite, como U muitas vezes acontecia e despertava no meio da noite, cheia de volúpias, tendo como companhia apenas os lençóis úmidos e o 27 travesseiro molhado de lágrimas. Agora, mais uma vez frustrava-se com os respingos do sêmen em suas coxas e barriga; Edu parecia fazer de propósito. Mas no fundo, perdoava o companheiro – impedir que ele ejaculasse era tarefa impossível, além do que, seria uma atitude indesejável e, certamente, prejudicial a ele. Contudo, não era aconselhável ele gozar nas calças, lembrou-se, pois quando o cavaleiro fosse embora, também eles continuariam o caminho do colégio – com as calças melecadas, a situação redundaria numa cruel gozação dos colegas de classe. Explicar o que? Tudo acontecia de forma tão intensa e rápida, que lhe permitia os exageros. Se muito entendiam de sexualidade, era do exercício da masturbação compulsiva, cada um no seu canto, ao seu jeito, na satisfação pessoal; nunca em contato carnal, como agora sucedia. Um brilho incomum escapava do olhar de Edu; o furor dos hormônios, o desejo carnal fluindo intensamente dos seus olhos. Tami contraiu-se toda, imaginando aquele falo introduzindo-a, tal como pensava nos seus momentos de auto-acaricio – mas ele nunca se fazia presente! Agora ele desfrutava a sós da ledice; Edu devia-lhe desculpas – satisfazia-se, sem em nada contentá-la. Em tempo Tami tomou-lhe os lábios num beijo selvagem e lúbrico, perdoando-o em pensamento, sentindo-o lasso em seus braços; decerto, do gozo. Passados aqueles momentos, sabia, ele poderia saciá-la da maneira como mais ela pretendia. E o quanto ele desejasse.

Tempo e disposição não lhes faltava. Logo, era providencial aquela ejaculação que o deixaria mais aliviado para curtirem juntos os bons momentos que ainda estavam por vir. Cautela não faria mal a ninguém – mesmo que não se importasse com tais cuidados. O mundo estaria às avessas? Quem sabe... Logo, a epidemia viral era apenas uma amostragem do que acontecia em outras dimensões, na imensidão e nos destinos Os olhos do Jacaió desse universo terreno. Os deuses Olímpicos, ímpios, nefandos, lúbricos, cúmplices daquele momento. Buscavam ainda uma explicação plausível para os fatos, quando notaram o cavaleiro caminhando a passos largos em direção à poldra, depois que o garanhão a tinha coberto pela V segunda vez. O sujeito caminhava com o olhar atento ao redor – já se 28 pondo suspeito do ato que viria a praticar, instantes depois – pois queria também descarregar seus fluidos, estimulado pela reinante impudicícia a sua volta. Cuidou antes de moderar o ímpeto do seu garanhão, amarrando-o num toco. E aproveitando-se da aquiescência da fêmea, pôs-lhe o freio e a encostou de ré – no barranco – enquanto dois olhos esconjurados assistiam a tudo, já imaginando a cena e o propósito de todo aquele ritual. Um Eros animal. Viram-no acomodar-se à anca da fêmea – segurando-a pelas rédeas modo aquela não lhe escapar – e ato seguinte, a adentrar. Condescendente e satisfeita, a poldra murchou as orelhas; decerto, por curiosidade do que se passava lá atrás; que cócega aquela? Saciado, o cavaleiro voltou à estrada, como se nada fizera de incomum e partiram – cavaleiro e cavalo – aliviados do tesão.

Os jovens entreolhavam-se interrogativos. Jairo Ferreira Machado Agora sentiam-se redimidos em parte do peso da consciência, U diante da atitude do homem – não eram os únicos naquele oceano de luxúria; perdiam as aulas daquele dia, mas, no entanto, 29 aprenderam das abstrações lúbricas – vistas e vivenciadas – naquele fim de tarde. Tinham ainda tempo de sobra pela frente; parte das aulas já tinha passado, logo, podiam preencher as horas vagas – vez que era cedo ainda para retornarem para casa – deduziam, conforme a incidência da sombra do cajueiro que o sol arremetia à distância no pasto. Restava-lhes então uma saída – a mais coerente de todas –, permanecerem escondidos ali, até poderem retornar, insuspeitos, aos seus lares. Cuidaram, no entanto, de mudar os pertences de lugar; os embornais atirados à revelia – resultado da pressa de antes –, mesmo que nada daquilo lhes fosse importante naquela hora. Em silêncio, Edu caçoava do emaranhado de folhas secas presas aos cabelos da parceira, como peixes grudados à rede – aspecto esse que em muito contribuía para ultrajar a já despudorada aparência dela. Tami, “só pensava naquilo”. Ainda que não pudesse censurá-la em nada, vez que se encontrava também em riste – o falo escapulindo de sua braguilha, ganhando o aconchego em suas mãos – pronto para mais desfechos. No íntimo, pelo olhar chistoso, Tami comparava as diferenças do seu órgão ao do garanhão; como se tivesse o direito de caçoar, vez que também não se parecia à poldra – a não ser, no ânimo do cio. Maliciava ansiosa esperando uma nova ofensiva do parceiro que não lhe tirava os olhos da blusa desabotoada – a

Os olhos do Jacaiósensualidade a toda prova – num transluzir de seios apetitosos, indóceis, volúveis. Ainda que ele já tivesse ejaculado, o desejo veio-lhe mais ferrenho ainda. Acomodados num lugar mais apropriado, Tami deitou-se obsequiosa, mais uma vez, sobre as folhagens secas, cuidando de se expor ao parceiro o quanto ele quisesse. E o beijou ardentemente, num ímpeto de folguedo, agora, sem demonstrar a pressa e a inexperiência de antes. Senti-o escorregar a mão entre suas coxas e em seguida tirar sua blusa na ânsia de ver toda a riqueza de detalhes que haviam por debaixo daquele leve tecido. Tantas vezes ele a imaginava, nua, ao natural, agora a tinha por inteira: dos seios V desnudos ao seu olhar pedinte. 30 Sabendo ele, de antemão, que ela nunca usava sutiã, talvez mesmo com a intenção de provocá-lo, ou porque já se acostumara à nudez; por muito pouco, tiraria a roupa. Edu podia abocanhá-los com a ganância de quem chupa um sorvete num dia de calor; era o momento mais mágico de seus dias. Tudo que a mente dele imaginava nos momentos mais sublimes da masturbação: dois ignotos botões refletindo a luz nos olhos dele, como rosa em desabrocho. Tami lembrava também das vezes que gozava em consagração ao falo dele. Seus seios, agora, seriam dele. E alucinado de desejo, Edu declinou os lábios e suavemente os chupou, como se chupasse a doçura de um favo de mel. Tami retribuiu o afago, segurando-o pelos cabelos, sem a intenção de machucá-lo ou de afastá-lo de si, mas para melhor sentir sua língua e suas carícias, como se ele tocasse fundo a sua alma.

E possuída, arqueou-se por inteira, o corpo literalmente Jairo Ferreira Machado vergado, tenso, os calcanhares plantados ao chão – na certeza U e no espasmo de um divino e solitário gozo que ele lhe oferecia. 31 Estava já decidida pela consumação do ato; não mais se sujeitaria a delongas, afeições, como as infindas carícias, quando, na ânsia própria de se satisfazer, ela inventava, no tino, mil maneiras de conjugação carnal – agora, não era mais momentos para fantasias. Tampouco estava sonhando. Podia senti-lo – mais de corpo que de alma – colado aos seus glúteos, ao seu dispor; sentia o ardor de uma glande ardente no seu intróito, onde o furor era-lhe premente. Ainda que muito desejasse, receava o ato da intromissão. Em princípio, indecisa. Afinal, repetiam para si mesmos, nem namorados eram! Os gemidos de prazer ressoavam febris a cada tentativa do parceiro, tendo o mesmo firmado seus glúteos, modo de ela não escapar – longe de assim ela querer – e o sentiu impingir-lhe o falo com a exatidão do garanhão, na monta da poldra. Embora não fosse o acesso pretendido, Tami não impôs resistência. Antes, Edu lembrou-se do primo da cidade, salivou a glande para torná-la escorregadia e, sem mais demoras, intumesceu-a densamente. Tami gemeu longa satisfação. Enfim, possuída – entre o prazer da ledice e da dor – ouviu-o balbuciar gracejos aos seus ouvidos, sugerindo-lhe que relaxasse; que o desconforto logo, logo passaria. Tami se firmou à touceira de capim ao seu alcance, para melhor suportar o regozijo de molesto e prazer, numa indescritível sensação de gozo, com a impressão de algo lhe rasgando dentro. Que não lhe pareceu tão ruim assim.

Já não se importava com a violação de seu corpo; desejara aquele momento desde que ele, Edu, alcançara a adolescência e se olhavam com olhares carnais. Contudo, não imaginara sentimento tão brutal e aprazível ao mesmo tempo. Permaneceu serena, quieta, confiante de que o êxtase superasse o desconforto inicial da inserida e na posição em que se encontrava, ficou – em paralisante paz – o jeito mais prudente de tirarem proveito da conjuntura. Os olhos do Jacaió Sentia que qualquer movimento, por mais sutil que fosse, traria algum incômodo, naquele instante – e não era bem isso o que desejava. Cabia-lhe dar ao parceiro os sinais, quando já preparada para os movimentos volúveis – lentos, profícuos. Vez que fora ela quem mais sentira o desconforto da pegada. V O prazer de ser possuída na carne superava todos os deleites a sós de particular fornicação, quando da costumeira lascívia. 32 Edu tocou-lhe o pescoço com os lábios – dando-lhe mais satisfação ainda – incitado pelo peculiar perfume de sabonete misturado ao suor que exalava de sua pele macia e quente. Na sublimidade de um infinito gozo, Tami iniciou os movimentos da pelve; devagar, epicena. Sobre o galho do cajueiro via-se enigmático e sozinho o pássaro jacaió, sempre ali, atento ao que se passava nas imediações, embora ao voar de um galho a outro, derrubasse sobre eles, os amantes, as flores recém-floridas do cajueiro. Perto, recompondo-se das energias gastas no ato da cópula, o garanhão pastava, indiferente ao que se passava ao redor. Tami vivenciava, no íntimo, as glórias do gozo da poldra, como se fosse a própria. Passado o desconforto inicial, permitiu-se atrever à animação carnal buscando o maior proveito da primeira relação a dois, ainda que não fosse à plena.

Não era somente o seu proveito; Edu sentia-se resoluto e Jairo Ferreira Machado satisfeito como nunca, ejaculando, agora, no calor daquele antro, U até então, só imaginado. 33 Não precisava mais forçar o pensamento nas pernas da professora, para se masturbar, bastava recordar a plenitude do corpo de Tami. Embora as pernas da mestra rendessem-lhe dividendos lúbricos, apesar das notas baixas na matéria – assunto nem um pouco preocupante naquele instante. Tami sentia-se exultante, sentindo o líquido seminal fluir em suas entranhas. No fundo, a satisfação de dividir com o parceiro os infinitos prazeres e as sensações emanados de seu corpo, embora, com algumas pregas a menos. Não podia ser tudo aquilo mais um de seus sonhos? E como de fato não era, extasiava-se em sublime gozo. Profana. O sol anunciava vagarosamente o fim da tarde; era chegado o momento de retornarem às suas casas, como de praxe. Desta feita, aliviados! Vestiram-se, recolheram os pertences e partiram, tendo o cuidado de não serem vistos saindo do refúgio. E tal como quando iam para o colégio, retornaram, na aparência de apenas bons companheiros – como se nada daquilo tivesse acontecido. Entreolhavam-se na tentativa de entender o ocorrido, aliviados da atração que há muito os incomodava, mas satisfeitos com o desfecho da situação. Pensavam em tudo, mas nunca em um dia como aquele! Tami seguia fúlgida, a alma sublimada, os olhos pregados ao chão, como se olhasse os próprios pés. A mente recordando os bons momentos e pensando se aqueles últimos instantes não passavam mesmo de um sonho. Um tentando adivinhar o pensamento do outro.

Os olhos do JacaióPorém, nada havia por trás daquele lúgubre silêncio, além de um absorto cansaço. Edu acenou-lhe sorridente, mostrando a merenda no embornal; só então lembraram de que ainda não tinham lanchado. Sorrindo, Tami aceitou uma parte da merenda, de bom gosto. E tão logo chegaram à encruzilhada da estrada, despediram-se, num discreto aceno... Permaneceu lá no cajueiro, o jacaió. O pássaro seria a única testemunha da iniciação carnal dos dois. Edu, jamais o esqueceria. Aquele olhar tristonho e o contumaz jeito de o coitado viver a própria vida. Sempre na mesma árvore. Enquanto o mundo lá fora explodia; a epidemia viral era somente uma amostra superficial do que os homens tinham V por enfrentar... 34 UV

Concluído os afazeres do dia seguinte Edu reuniu os Jairo Ferreira Machado pertences e tomou o sentido da estrada, ainda vivendo U atroz dúvida: o porquê do sonho daquela noite, o que havia acontecido à Tami?... Preocupando-se, sobretudo se ela iria 35 para o colégio, e se iria sozinha... Podia alguém tê-los denunciado aos pais dela e eles teriam passado em Tami um exemplar, assim, justificaria o choro dela nos seus sonhos daquela noite. A dúvida suscitava uma alude de ideias, as mais descabidas e dispensáveis. Ou talvez o sonho fosse influências de sua mente cansada, do excesso da orgia da véspera. Já na encruzilhada, onde habitualmente se encontravam, deparou com Tami novamente sozinha. Trazia no rosto o sorriso de sempre e na cabeça dois laços de fita branca presa às tranças. O coração palpitou-lhe forte no peito, como quem acorda de um pesadelo: feliz em saber que nada de anormal havia acontecido a ela; ao contrário, Tami exultava-se feliz, ao vê-lo. Logo se abraçaram, vez que estavam realmente sós. Edu não podia resistir àquele perfume de sabonete vindo daquele corpo esbelto e sensual; assim, maliciosamente, no abraço, apertou seu peito aos seios dela, já tendo o falo a prumo. Agora, impunha-lhe carícias às coxas, tanto quanto lhe erguia a saia, excitado. Para sua surpresa, Tami o repeliu, fazendo-se de mais amadurecida e precavida. Não podiam ser surpreendidos ali em plena estrada; melhor que não abusassem da sorte, a mesma que os amparara

de véspera. Deste modo, seguiram o caminho do colégio, contrariando os próprios anseios, que era de se enveredarem em direção à sombra do cajueiro. Até então, não sabiam qual atitude tomar: se seguiriam para o colégio – a conduta mais sabia – ou para a sombra do cajueiro. Julgando-se o mais maduro, Edu cuidou de aprovar a decisão da parceira. Cautela, naquele instante, não faria mal a ninguém. Contudo, um imenso calorão tomou-lhe o inteiro do corpo – como se fosse incendiar-se – face àqueles salientes seios Os olhos do Jacaió escapando pelo decote da blusa dela, a saia curta mal lhe cobrindo três dedos das coxas – a sensualidade a toda mostra. Não podia estar sonhando. Invocou a todas as divindades e as mais longínquas forças supremas, que elas lhe viessem em socorro e a Hefesto, o deus do V fogo; não podia fraquejar naquele instante e agarrá-la ali. 36 Não, naquele momento, quando haveria de concordar com a parceira e seguir o caminho do colégio. Seria melhor para os dois. Lembrou-se da noite mal-dormida. Do sonho e do pesadelo, quando jurava e rogava perdão pela ação da véspera. Prometera que se desculparia com Tami por ter-lhe violado a intimidade, ainda que ela tivesse compartilhado da ledice de corpo e alma. Mas nada do que prometera a si mesmo cumpria naquele instante: o desejo lhe era mais forte. Também Tami não tirava os olhos da sua braguilha, como se nada pudesse apaziguar seus desejos. A carne fraca, a mente endoidecida. A cautela exigia que não cedesse aos caprichos da sua bestial natureza e tampouco a sensualidade de Tami. Continuaram o caminho, como se não quisessem nunca chegar. A obrigação escolar podia ficar para outro momento.

Tami seguia pensativa, evidenciando certa maturidade – como se Jairo Ferreira Machado dormisse adolescente e acordasse mulher feita. U As lagartixas ainda estavam lá, interrogativas, agarradas aos 37 barrancos; vez por outra elas sacudiam suas cabeças, provocativas. A sombra do cajueiro – palco da orgia da véspera – aos poucos ia ficando para trás. Tami sorria maliciando os bons momentos ali vividos. Edu a desculpava, mas muito mais glorioso da própria atitude; ao menos conseguira frear os seus instintos bestiais – seus e os dela – e optaram por seguir o caminho do colégio. Edu, já acostumado à rotina da masturbação e as tantas ações promíscuas, tendo por fantasia as bem-feitas coxas da colega que ora caminhava ao seu lado, lamentava, não poder agarrá-la. Tami, Afrodite, em carne e osso, bem-vinda de um longínquo passado, inteira, para si. A muito custo dominava seus instintos, os mesmos que utilizava para sentir o prazer do gozo quando pensava nela ou nas próprias colegas de classe. Com dificuldades, anulava a excitação que acrescia os seus genitais. Falhasse nessa tentativa, levá-la-ia para o esconderijo e a satisfaria no desejo que lhe era mais premente; não só a ela, mas a si também. Como não podia, haveria de resgatar o próprio domínio – a consciência lhe vindo em socorro. Não era conveniente gazetear mais um dia de aula e correrem o risco de serem descobertos; a situação exigia prudência. O sol se fazendo torrencial. A vegetação seca, como no solstício de verão. Céu límpido. No instante em que reinava calmaria à beira da estrada, onde antes abundava a luxúria dos animais, restava ali somente o amassado e a lembrança da encenação. Foram em frente.

Tami requebrando os quadris como que de propósito, na intenção de seduzir o parceiro, seu titã Olímpico. Mesmo imaginando sentado em uma bacia de gelo – truque ensinado pelo primo da cidade e já usado com sucesso anteriormente – Edu ainda assim permanecia priápico. Entre uma excitação e outra, chegaram à porta da escola e lá encontraram o aviso: “Não haverá aulas. Motivo: epidemia de gripe”. Tanto melhor; voltaram num pique só, ao mesmo lugar da Os olhos do Jacaió véspera. A árvore do jacaió. Agora sossegados do dever cumprido não tinham culpa de não haver aulas. Persistia ainda lá o amassado de antes – a cama de folhas secas onde, na véspera, trocaram malícias e carícias. O sol da V tarde insinuava-se por entre as folhas do cajueiro, malhando seus corpos de uma tênue luz. A luz que vinha do espaço sideral. 38 Sem perda de tempo, trocavam beijos, abraços e amassos, enquanto, pousado no galho do cajueiro, quieto, o atento jacaió. Tami não era mais a mocinha ingênua de antes; insurgia- se autêntica como uma cadela no cio, expondo maliciosamente seus desejos, mordendo os próprios lábios. Sobretudo quando o parceiro tocava-lhe as intimidades e animada, retribuía as carícias, como quem brincasse com seu objeto de desejo. Uma felina no cio. Divertindo-se com a presa antes de devorá- la. Fera, insaciável, num verdadeiro furor uterino, mas, sem a pressa e a inexperiência de antes. Assim permitia que Edu tocasse suas coxas e punha-se ao seu inteiro dispor, num entreter-se lúbrico e provocativo, fazendo-o gozar, mal iniciada à orgia daquele dia. Tami adiantou-se em masturbá-lo, ela própria, e mais intensamente roçava-lhe os genitais, modo de ele sentir o mesmo prazer de quando ele a adentrara, de véspera.

Agora, lascivos, um bolinava o outro, sem constrangimentos, Jairo Ferreira Machado num ressoo lúbrico de gemidos, pouco se importando com o U desconforto dos relevos do chão. 39 Os hormônios à flor da pele. A face de Edu já corada evidenciava também os efeitos do mormaço quente, tanto quanto dos hormônios tomando-lhes o fervor sanguíneo. Tami assistia-o, animosa, mordendo os próprios lábios, como se ele gozasse dentro dela. Pretendia a introdução, porém, o orgasmo precoce do parceiro era bem-vindo: teriam tempo de sobra pela frente. E ele estaria mais aliviado e mais compromissado com o papel de amante. Sonhara com ocasiões como aquela; logo, não podia desperdiçar a oportunidade única; talvez não houvesse outra! Lembrava os momentos de masturbação a sós, quando o imaginava teso, mas ele nunca se fazia presente. Era apenas fantasia de sua mente! Chegou o momento de ele passar à prática: sonhava muito com isso. E mais esfregava seu corpo ao dele, em puro desvario, permitindo sua língua quente e úmida tocar-lhe o pescoço, as orelhas e onde mais ele quisesse. Segundos depois, sentiu o fogo Olímpico do membro do parceiro entre suas coxas; às vezes ele exagerando no aconchego, só pra ela sentir sua pujança; ou fosse mesmo o intenso tesão. Edu cuidava de não satisfazê-la de imediato, mesmo ela querendo; pesava-lhe o dolo de ser o mais maduro dos dois e, logo, o mais culpado. Fosse obedecer à vontade – Edu recordava – teria tirado-lhe a virgindade já no primeiro dia, quando afoita, ela direcionou o seu pênis para o próprio antro; salvara-lhe, na ocasião, o ensinamento

do primo – “nas aflições siga a via secundária, que é mais segura” – que, no final, também ambos gostaram. Importava a Tami à plenitude do prazer, pouco ligando à película tecidual – o tal hímen – que só lhe servia como adorno de moça virgem. Que não estava à vista dos curiosos e tampouco ela ou alguém sentiria falta algum dia; o que lhe daria um salutar desafogo. Pouco importaria se alguém resolvesse colocá-la à prova para saber se era virgem ou não? Apostaria na integridade Os olhos do Jacaió virginal, ou simplesmente dizia-se mulher, prostituta e pronto! Mas o infeliz do hímen, para os menos letrados, cabaço, cabresto, persistia ali, como um selo restringindo o seu prazer carnal. O prazer de gozar tudo que lhe era de direito e de dever – a sua condição feminina! Queria para si mesma todas as sensações físicas e emocionais notadas V no parceiro, quando o viu masturbando momentos antes. De nada adiantaria ele tentar ludibriá-la com pequenos 40 agrados: beijos, carícias e coisas e tais... Queria a introdução com a qual sonhava desde o despertar dos hormônios, ocasião em que aflorou a libido e as espinhas de sua cara; mudanças essas, já notadas também em Edu. E preparou-se para o desfecho final. O parceiro que desfizesse de sua calcinha e tirasse-lhe a virgindade, de uma vez por todas; não tiraria ela mesma a peça íntima, com o pretexto de uma maior conivência entre os dois: necessitava da co-autoria dele no ato. Zeus, deus dos deuses, ordenando, faça assim, faça isso... Seria mais prazeroso, e de conformidade com a relação animalesca, entre o garanhão e a poldra, que tinha presenciado de véspera. O tempo passando devagar – o sol parecia querer iluminar aquele instante – nenhum juízo ou sã consciência evitaria mais o

óbvio. Tami provava o ardor do pênis dele forçando o seu hímen, Jairo Ferreira Machado na esperança do defloramento. U Sabe-se lá o que o parceiro pensava daquele ato e se sentia 41 igualmente à vontade para romper-lhe a abjeta película? Talvez ele não tivesse certeza ainda de que aquele momento era real e não se tratava de um sonho. No espaço de algumas horas suas existências mudaram do nada para o inusitado; das obrigações diárias a mais salutar das diversões a dois e a sós, ali. O que custara a Edu um cem números de fantasias, agora era a mais pura verdade: ele estava prestes a saber o que realmente era um cabaço e como seria o prazer de dilacerá-lo. Se o tampo natural tratava-se de um pedaço ácido de carne macia e quente ou fosse lá o quê... Bem capaz fosse inútil a cautela até então, Tami podia já ter perdido o adereço natural antes, mas escondia o fato, querendo Edu e que fosse àquele um momento único, para nunca mais esquecê-lo. O jacaió testemunharia tudo. Deixou que ele alisasse-lhe o dote feminino com desvelo, cuidadoso, como estivesse lapidando-o, venerando-o, antes de rompê-lo de uma vez por todas, ele, cada vez provando- lhe a resistência. Ansiosa, Tami cedeu aos caprichos do parceiro, com a satisfação de quem não precisava ser entrada para sentir o prazer do gozo, bastava o calor dele na sua carne. E mais uma vez Edu lembrou-se do primo da cidade – era quem, certa vez, lhe falara de sexo – Tami que compreendesse se algo não lhe saísse do agrado, já que pouco sabia das coisas abstratas do corpo dela; somente o conhecia pelas costumeiras fantasias.

Enquanto isso Tami o saboreava tomando para si a doçura do seu calor lúbrico: Edu, Ares, o deus grego, seu primeiro amante; por nada adiaria o que mais desejava todos aqueles dias e anos, desde que o viu tomando os ares de jovem adolescente. E pôs-se ali, pronta ao júbilo, prestes a despedir-se da inocência para o sempre. O hímen opondo-se à glande dele, feito terra resistindo à eclosão da semente, mas cedendo enfim, para cumprir o seu Os olhos do Jacaió papel, numa imensidão de sentimentos. E já não se preocupava com a introdução, mas sim com a ardência que tirava o esplendor do seu gozo, sem se dar conta das horas, dos minutos e do que se passava ao redor. Já não invejava a poldra como invejara dia antes, no momento que aquela fora V adentrada pelo macho. Conteve a respiração, em regozijo, na tentativa de amenizar 42 todo o brado da penetração e do intumescimento de sua carne; já inteiramente úmida e pronta. E na consagração do prazer unhava o parceiro, mordia-lhe os ombros, o pescoço, de raiva e gosto, buscando a cumplicidade dele para sua aflição carnal; precisava senti-lo, ter a certeza de que não estava sonhando, mas sim, que ele estivesse ali de carne e osso e falo em riste, como sempre o desejava nas horas das prementes precisões sexuais. Queria senti-lo por inteiro. E não somente os dedos dele ou os seus próprios, em seus genitais – como quando se acariciava – nos momentos de mais necessidade, quando pensava nele à noite. Foi às nuvens, como se algo a rasgasse por dentro; literalmente. Já não era mais virgem. Gritou; xingou; sorriu; agradeceu. O jacaió assistindo a tudo.

A sensação em nada se assemelhava aos solitários deleites; o Jairo Ferreira Machado prazer infinitamente superior as mais variadas formas de orgasmo U as quais se habituara desde o início de sua adolescência. 43 Edu, um Poseidon, deus do mar e dos terremotos. O chão tremia sob si, ou eram os dois que faziam tremer o chão, as árvores, os céus. Repartiam a plenitude da lubricidade, o clímax, sozinhos ali sob a sombra do cajueiro; pela primeira vez, ainda em tenra idade. E para Tami, já era tarde! Quanto mais o órgão do parceiro vibrava-lhe dentro, mais ela se deliciava como num supremo júbilo, dividindo, somando, com ele, o seu inteiro e ávido furor uterino. E para melhor senti-lo, agarrou-o pelos cabelos, navegou nas glórias de se sentir mulher; a sensação lhe vindo funda do plexo feminino, ali, à sombra do cajueiro, no macio colchão de folhas secas, nada mais lhes importava senão viver intensamente a devassidão daquele momento; deixando aflorar tudo que havia de latente na juventude de seus órgãos sedentos de desejo. Edu lembrou-se dos recursos da véspera, quando Tami almejava a perda da virgindade e ele optara pela menos arriscada, naquele momento, mas agora, vez que iam à via de fato, o conselho do primo vinha socorrer-lhe mais uma vez. “Na ‘hora h’ pincha fora”, o que a prudência pedia. E fez. Tami contraiu-se, como que agradecida, sem cessar a animação, soltando gemidos de prazer. E permaneceu ali, enrijecida por inteira, vergada ao fascínio, até que ele acabasse o gozo e voltasse para dentro de si. Via-o ejacular sobre suas coxas e desafiava-o com seus gestos de concubina; ainda alucinada de tesão; queria-o logo dentro de si, novamente.

Modo não decepcioná-la de tudo, Edu acariciou-lhe o ima- ginário “pontoG” comsuapolpadigital,massageando-a,simulando lá a presença do seu próprio órgão – embora o manuseasse com a outra mão, no deleite a sós, como recomendara o primo. Um tanto decepcionada, Tami remexia-se, espinoteava, vibrava-se, imaginando aqueles dedos o próprio membro dele. Mas preferia a introdução de fato, o que superava em muito as carícias próprias das caladas da noite. Os olhos do Jacaió Tão logo ele jorrou fora o último sêmen, já a satisfez novamente. E mais uma vez alcançou o êxtase, num enlevo de suspiros, como se sua alma engrandecesse no instante em que perdia parte de si pra sempre – o inservível e desprezível cabresto. Livrava-se, por fim, daquele adereço tecidual, que só lhe V reprimia, e sentiu-se livre! Já não era a mocinha ingênua de antes, que se manuseava às escondidas sob os cobertores, a cada 44 anoitecer. E abraçou o parceiro e o beijou em desmedida ledice, sentindo-se, por fim, mulher. Contente. Todos os sonhos, imaginações e fantasias de sua mente tornavam-se, agora, realidade. E o sêmen dele inundando sua pele servia-lhe aos deslizes de seus corpos, em total intimidade. Tudo o mais ficara na lembrança dos tempos ruins, o tempo da apenas imaginação, do mais ingênuo e penoso platonismo. Não era mais um sonho. Os olhos de Tami faiscavam de tesão – ainda nem de toda satisfeita – retribuindo levianamente aos empuxos do parceiro. Lembrava a solidão da cama, as noites mal-dormidas, momento em que o imaginava com ela, e ele, Edu, nunca estava ali para satisfazê-la; a não ser, no pensamento. Desfazia-se, por fim, daquele brutal tesão; extravasava-se, consumia-se naquele membro rígido, impávido, tornando plena sua alma.

Lá longe a imensidão do firmamento, pleno de luz, ao Jairo Ferreira Machado exemplo de seus órgãos, pleno de gozo. U Edu mais uma vez pinchou fora – fiel aos conselhos do primo. 45 Terminada a cessão libidinosa, ambos tombaram sobre o colchão de folhas secas, extenuados, num sublime cansaço. Tami apoiou a cabeça sobre o peito do colega, agora amante e permaneceu inebriada, lembrando toda a sublimidade do momento: o olhar buscando o azul infinito do céu. O franzino e delineado corpo nu ardente, finalmente desperto, satisfeito. Livrara-se por fim, do cabaço e de toda limitação que o artefato físico lhe impunha – a frustração da vida sexual, sem se importar com o olhar esconjurado do espreito e cumplice jacaió, pousado sobre o galho do cajueiro. Apenas sorriu para ele! Edu recapitulava-se nas digressões sexuais vivenciadas ao bolinar outras fêmeas sem nunca se satisfazer. E nem ele, a elas! Acabara de desempenhar a mais legítima junção carnal; sensação da qual seu primo falara: o momento supremo da iniciação e do gozo a dois. Comparava o feito à visão do arrebol das manhãs. Tami sentiu o prazer nas entranhas, os fluidos e a energia do parceiro ocupando cada milímetro de seu corpo, como cacimba prestes a romper do seio da terra. Entreolhavam-se deitados sobre a maciez da natureza morta, no colchão de folhas secas; e assim, curiosa, Tami tocou o sêmen do companheiro com a intenção de saber-lhe a consistência. E ria friccionando-o entre as polpas digitais, curiosa ainda levou-o ao nariz, agora, querendo saber-lhe o odor. Em seguida, correu o olhar por aquele corpo malhado de sol. A pele queimada onde os raios solares o castigava no dia-a- dia e alva onde as vestes o protegiam, lembrando as marcas de um veranista eventual.

Edu retribuía-lhe o olhar, indagando-se. Qual a explicação para aquela lubricidade e o porquê daquele desejo intenso e irresistível, os olhos já sem a timidez de antes quando evitava encará-la. Agora, já não conseguia desviar os olhos daquela nudez, da higidez daqueles seios, tão próximos de sua boca que podia beijá-los, ou sugá-los, ou mesmo, mordê-los. Não acreditava no que via; mesmo que estivesse sob a luz do sol para crer-se acordado e, logicamente, não estava sonhando... Os olhos do Jacaió Aqueles seios lúbricos e cálidos, os motivos reais de sua mente fantasiosa, quando se lembrava dela. Agora, estavam tão nus quanto à natureza os fizera; e naturalmente, tão seus, naquele instante. Finalmente os tinha ali pra si; ainda assim, pareciam enigmáticos, mesmo que sentisse o gosto deles em sua boca, a V prova cabal de que tinham sido seus, de fato, e de gosto, minutos antes. 46 Não eram mais invencionices de sua mente insone; tinha o sol, os céus e o jacaió como testemunha. Daquele momento em diante os imaginaria reais, como eram ao natural. E não precisaria mais fantasiá-los, quando sedento de desejos, por ela. Conhecia cada centímetro daquele corpo, da brancura dos dentes às suas mais íntimas curvas; portanto, tinha-a definitivamente para si, lá nos recôncavos de sua mente, para quando precisasse, um dia, mais tarde, de toda aquela sensualidade para aliviar o seu tesão. E, decerto, precisaria. Assim colhia para suas retinas todos os detalhes físicos da parceira, para que nada dela faltasse-lhe nos momentos de luxúria, a sós, ocasião em que a pujança juvenil haveria de querê- la, ainda que fosse a tom de fantasias.

Passavam-se os minutos e ainda lembravam as implicações Jairo Ferreira Machado daquela arrebatadora trama sexual, sem muito compreenderem U os caminhos pelos quais estavam ali. Quais os mistérios que os deixaram sós. 47 De fato, em havendo algum responsável por tudo aquilo, seria o vírus da gripe, senão a deusa Afrodite no momento da concepção de Eros. Ou mais precisamente, a força da adolescência e do tesão de ambos, pensando um no outro. No mais, Tami muito contribuíra para sua estimulação, quase exigindo a atitude que ambos provaram e aprovaram, por fim. Tami mudara de comportamento naquelas últimas horas; dava para notar as diferenças daquele olhar – a claridade do sol acentuando o brilho dos olhos dela nos seus, agradecida. Edu, mais uma vez, a beijou docilmente, claro, sem o frenesi de antes – um beijo mais de gratidão que de excitação – em seguida, deitou seu rosto por entre os seios dela e permaneceu ali, feito criança no seu berço de descanso, refazendo-se do cansaço e da emoção. O sol caía no horizonte levando junto a profícua sombra do cajueiro que aos poucos se deslocava para o infinito – o entardecer, o ocaso, chegando. Tami curtiu ligeira madorna e já acordou, entretida com o Jacaió pousado sobre o galho do cajueiro, minutos antes de cada um seguir o seu caminho naquele entardecer. UV

Os olhos do JacaióEdu acordou assustado e cansado ao extremo no dia seguinte. Num ímpeto se pôs de pé, tomou o desjejum e saiu para os afazeres do dia, antes de seguir para as atividades escolares. Esperava mais uma vez usufruir da companhia de Tami. Animou-se, pensando nessa possibilidade e já que se sentia vigoroso, embora não chegasse à maioridade, mas não muito longe disso. Para sua surpresa Tami não estava mais sozinha e parecia V triste, com a liberdade vigiada pelos colegas de turma, a 48 maioria tinha recobrado as forças e voltavam às aulas; alguns ainda combalidos, arrastando-se nas subidas dos morros. Mas chegaram! No recém reaberto colégio, havia poucos alunos – o que bem caracterizava a gravidade da morbidade viral. Ainda que parte do professorado não voltasse às aulas; muitos ainda em casa, convalescendo-se da doença. A solução para o impasse foi o ajuntamento das classes para atender quem reiniciava o ano letivo. A natureza assanhada de Tami mais uma vez veio à tona. Ela sentou-se na carteira ao lado, maliciosa, com o propósito de mais uma vez seduzi-lo – concluía assim Edu – ainda que estivesse numa sala de aula. Por nada conseguia desviar o olhar daquelas coxas, inquietas, abrindo e fechando, de propósito, como se Tami abanasse o próprio fogo do desejo, tirando-lhe a atenção da matéria que a professora explicava.

Edu contorcia-se na carteira, tentando disfarçar a ereção. A Jairo Ferreira Machado salvação veio-lhe no toque do sino, anunciando o recreio, quando, U rapidamente, ele correu paro o banheiro, sendo observado pela parceira que já sabia o porquê de toda aquela afobação. 49 Entre quatro paredes, aliviou-se no dever da masturbação, rebuscando na memória a imagem real daquelas coxas e seios bem guardados nas circunvoluções da sua massa cinzenta – o pensamento devaneando pelos corredores do colégio, ao encontro dela, na tentativa de tornar real aquele momento. Mais precisamente, relembrando os beijos e as carícias dela, naquela véspera à sombra do cajueiro, sob o olhar do jacaió. Pensava em satisfazê-la, satisfazendo a si mesmo, sabendo que Tami mostrava-se orgulhosa de também sentir-se desejada. De alguma forma, Tami estava ali junto dele, presa a ele. No pensamento, também ela compartilhava de todo o seu costumeiro onanismo. Lá fora os colegas esmurravam a porta do banheiro, apressados nas suas necessidades. Não era bem o melhor lugar para contentar-se, mas precisava. Imaginava aquele corpinho e aquelas curvas bem feitas e fresquinhas ainda em sua mente. A lubricidade abrasadora e aqueles lábios pedintes, como se fosse o calor de suas mãos, o próprio fulgor dela. Dada as circunstâncias, ainda assim, o gozo foi frutífero – no íntimo, também a saciava. Findo o recreio, todos retornaram à sala de aula. Edu trazia ainda na face, a palidez do recente esforço, fato que levou a professora supor tratar-se de mais um caso da gripe, e o abordou de forma quase maternal, falando-lhe aos ouvidos: – Está se sentindo mal, jovem? – Estou bem, professora, respondeu no ato, assustado com a presença da mestra. A face mostrando o rubor da vergonha, enquanto Tami ria entre dentes, vendo-o tentando se explicar.

– Foi apenas um mal-estar passageiro, já vou melhorar professora. Quem saberia mais que ele, acostumado àquelas sovinices... Ainda assim, enquanto ministrava a aula, a mestra não lhe tirava os olhos de cima. Contudo, seus olhos teimavam em olhar para onde Tami insistia que ele olhasse, sem que a professora e outros colegas notassem. De nada adiantou ter ido à aula naquele dia; da matéria mesmo, nada aprendera, soube num instante. Valeu pela cara de compaixão da Os olhos do Jacaió mestra, a qual, seus olhares se cruzavam nas vezes que furtivamente ele a olhava, insistentemente, por debaixo da mesa. Absorta em elucubrações sexuais, Tami tinha a mente longe – lá na sombra do cajueiro, com sua desavergonhada disposição lúbrica. V Terminadas as aulas, o retorno para casa deu-se do jeito costumeiro: ambos envoltos em lúbricos pensamentos. 50 Cuidavam de caminhar à frente dos demais, seguidos de longe pelos recém-convalescidos – buscando a privacidade dos olhares, sem levantarem suspeitas. Obviamente, algum colega já desconfiava da presença deles, sempre juntos. Mas, testemunha mesmo do fato, só o pássaro jacaió. Mas esse não sabia falar. Enquanto seguiam, recapitulavam-se nas cenas do dia anterior; cenas, que jamais esqueceriam, enquanto transitassem por aquela estrada, onde o cajueiro tornara-se presença contumaz em suas vidas. Tami mordia os próprios lábios, deslizando a mão sob a blusa semi-abotoada, como que se acariciasse, com a finalidade de seduzi-lo. A natureza lasciva, o desejo carnal nunca satisfeito. Os olhos cheios de brilho, feitos os de uma cadela no cio. E modo provocá-lo mais ainda, dava de ombros, saltitava, nem se importando, como se a responsabilidade de evitar escarcéu fosse apenas dele, Edu.


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