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os olhos do jacaio18

Published by Paroberto, 2019-07-29 18:50:13

Description: os olhos do jacaio18

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Logo, Edu disfarçava, olhando de lado, evitando que os Jairo Ferreira Machado demais companheiros de escola notassem; já temendo pelo futuro U de ambos. Mesmo por que, não conseguia esconder o tesão, cada vez mais evidente. Tampouco Tami se controlava, pois um era o 51 pensamento lúbrico do outro. Tami ria da maneira de o parceiro caminhar, assim meio desajeitado, a calça aprumada na altura da braguilha, feita o pináculo de um circo, com a vantagem de não tornar seus desejos tão evidentes quantos os dele. Se muito, a força do brilho no olhar malicioso e o jeito de morder os lábios inferiores, como uma poldra no cio – mastigando ininterruptamente. Foi quando se lembrou do momento em que ela decidira pelo coito e direcionara seu pênis para que ele a deflora-se, num incontido desejo de perder a virgindade. Agora, estava novamente excitada, irrequieta, exalando um peculiar odor de fême, esvoaçando a saia de forma que ele visse suas coxas, a calcinha e tudo o mais que ele adorava nela – atrevimento que muito o incomodava, devido a presença dos colegas sempre por perto. Tami estava indo além da sua trivial astúcia, e isso o preocupava. Pensava em agarrá-la ali mesmo, na presença dos colegas e saciá-la de todas as formas, até que ela caísse desfalecida, e quem sabe, satisfeita, e oxalá, enfim, gratificada. Mas não podia; precisava pensar por Tami, tanto quanto por si mesmo. Não era inocente a ponto de imaginar que os colegas não sentissem por ela o mesmo desejo que ele sentia. Tami sabia expressar sua sensualidade, o que os outros colegas maliciavam e, de certa maneira, o atrevimento o deixava enciumado. O risco de ela ser afastada do grupo pelos familiares se tornava cada dia mais real, bastava que desconfiassem de suas vilezas. Assim, era melhor que não a provocasse, melhor ainda que a desestimulasse

de se fazer tão evidente nos seus atos. Os barrancos tinham ouvidos. As lagartixas tinham ouvidos. Os céus tinham ouvidos. Mas disfarçava a preocupação para não parecer enciumado, embora não gostasse do jeito de ela se comportar. E quanto mais se lembrava da sua nudez, mais a desejava – como se aqueles momentos ainda incandescesse seus hormônios. Piorava com ela agindo daquela forma cínica, expondo o corpo, lasciva, rodopiando a saia de forma a deixá-lo louco de desejo. Imaginava aqueles seios hígidos sob a blusa semi-abotoada, Os olhos do Jacaió e aquele sorriso malicioso e remoia-se de todo, dentro das calças! Quanto mais queria que ela se comportasse digna, mais Tami se divertia com a sua ereção. Bastava um passo em falso, uma atitude impensada e os dois poriam fim àquela aventura; precisavam, portanto, de manterem- V se indiferentes, lutando contra os próprios desejos. 52 A intimidade entre eles, naquelas últimas horas, o deixava inseguro – era melhor que não confiasse totalmente na sua parceira. – Tami tinha perdido o pouco de juízo que lhe restava Assim, Edu torcia que logo chegassem à encruzilhada onde habitualmente se separavam, cada um seguindo o seu próprio caminho. Momentos depois acenaram de longe aos colegas, despedindo-se. O sol da tarde, indo devagar, na mansidão das planícies. Mas antes, Edu, repreendeu-a da excessiva saliência. Um desentendimento de momento, mas jamais esqueceria aqueles instantes sob a sombra do cajueiro, a árvore do pobre pássaro jacaió, para onde a gripe e depois o cavaleiro os havia mandado naquele dia de glória. UV

Depois de toda aquela impudicícia, Edu, não tivera uma Jairo Ferreira Machado só noite comum; foi como nas noites quando não se U masturbava e tinha pesadelos, os mais estapafúrdios, os mais sem pé e sem cabeça, e delirava. 53 Na primeira fase do sono, sonhou: ouvia a própria voz, falava alto, palavras indecifráveis; ainda bem que era sonho, senão, denunciar-se-ia, caso houvesse alguém por perto; mas, não!... estava sozinho. No pesadelo, o pai de Tami corria-lhe atrás – de arma em punho – e sobressaltado sentou-se à cama, o coração batendo na boca. Transpirava a cântaros... Felizmente não passava de um susto e voltou a dormir, mas segundos ou minutos depois voltou a sonhar: desta feita, estava num piquenique, em meio a um canavial, com Tami. Seu inconsciente o colocava à prova, mais uma vez. O farfalhar do vento nas folhas da cana soavam como música aos seus ouvidos. Tami, certa ocasião confessara gostar de garapa, logo, sua memória preservara aquela informação e agora, em sonho ele quis levá-la a experimentar o caldo da cana, no lugar ermo. Pensava. Ou fosse lá outra razão qualquer... Verdade mesmo era que estavam ali – em sonho – e ele descascava e colocava os gomos da cana em sua boca. Tami chupava avidamente o doce da garapa e igualmente ele engolia o caldo, como que engolisse a saliva dela. A jovem

parecia ler seus pensamentos, maliciando, permitindo que a garapa escorresse – de propósito – pelo canto de sua boca e fosse mergulhar nas reentrâncias dos seus seios. Quando ia se limpar, Edu intercedeu na intenção de ele mesmo fazê-lo – à sua maneira – a bem dizer, com a própria boca. No sonho, era a primeira vez que tocava os lábios naquela pele macia e úmida, na intimidade daqueles quentes seios hígidos e sensuais. Os olhos do Jacaió Fascinada, Tami permitia-lhe adular com os lábios o escorrido da garapa, iniciando o ato pelo canto de sua boca, onde a garapa fluía com mais abundância. E ele continuou tomando daquela doçura até os limites do seu decote; mas não ficou só nisso, entrou-lhe de língua adentro – indo a sua essência sensual. V Tami suspirava profundo. Permaneceu tesa, como que traspassada, sentido o calor 54 daqueles lábios quentes deslizando em sua pele. E, lentamente, foi parando de mastigar a cana, absorta na lubricidade: a respiração sôfrega, a libido entoando as fantasias de sua artificiosa mente. Percebe-o desabotoando os primeiros botões de sua blusa e tocando os lábios entre os seus seios, onde a doçura parecia maior. Mais profundamente ela suspirava. Os bustos eretos e firmes, como duas pirâmides, oscilando com a animação que vinha dos lábios dele, ao tempo em que exalava imensa fragrância de cio. Edu lhe acariciava a carne com os lábios; não se continha em apenas sugar o caldo da cana. Logo ela retesou-se de cima abaixo em total extensão dos músculos e dos tendões, alheia a tudo que havia à sua volta: o canavial florido, o farfalhar das folhas da cana ao vento, o cheiro da relva, o sabor do caldo da cana. O sabor dele, Edu.

Parecia flutuar enquanto se sentia tocada ali onde o calor Jairo Ferreira Machado irradiava-lhe ardente. Edu podia chupá-la, mordê-la, o quanto U quisesse, mais ainda na condição de seu amante. 55 Pensando assim, não interrompeu as carícias enquanto ele desabotoava o último botão de sua blusa. Vi-o encantar-se com a beleza ímpar de seus ignotos seios onde seus olhos imergiam, de fato, pela primeira vez, pareceu-lhe. Mas era apenas um sonho. Infelizmente! A essência daqueles mamilos rosados, como se fossem dele; unicamente e totalmente dele. Mas era apenas um sonho! Edu lembrou-se da saíra de sete cores, da sutileza de suas cores: pássaro que o encantara quando menino, época em que acreditou não haver beleza igual. Os matizes das cores: verdes, azuis, pretas, douradas, o adorno das penas refletindo-se à tangência dos raios solares nos seus olhos. Enganara-se. Havia algo mais bonito sim, mais belo que o esplendor do pássaro: duas pirâmides egípcias, lúbricas, de entretom plúmbeo-róseo, apetitosas, ardentes, diante de seus olhos, prontos para sua boca. Tami, uma deusa Olímpia, com seios perversos e sensuais; se não coloridos feito às penas da ave, excessivamente sedutores, emanando irradiante luz em seus olhos. O tesão veio-lhe irresistível! Da experiência vivida naqueles últimos dias surgiam-lhe outros sentimentos e, por consequência da incontida devassidão, outros valores, outras riquezas de nome vida. A vida entre dois corpos ardentes e jovens! Por isso o sonho daquela noite? Só podia mesmo ser um sonho. Edu dizia para si mesmo. Por fim, sabia o quanto de beleza sua mente guardava, mas a realidade à sua frente era algo insonhável: tinha-se ali, na

retina de seus olhos, as mais encantadas formosuras – os seios de Tami, hígidos, simetricamente graciosos, plúmbeos. Podia chupá-los ou, feito um artífice que acaba de concluir sua obra, apenas admirá-los... Mas o instinto falou mais forte. Tocou-os suavemente com os lábios, como se beija uma pétala de flor, absorvendo-lhe antes o aroma. Mas no instante seguinte, já queria mordê-los, comê-los; depois, já não sabia ao Os olhos do Jacaió certo o que deveria fazer. E acolhia-os para os seus olhos, admirando-os, como se olhasse de longe as cores da saíra; com uma diferença – podia tocar aqueles seios com os lábios. Quanto ao pássaro, só podia admirá-lo, à distância. V A excitação veio-lhe intensa. E insistiu nos caprichos de acariciá-los com os lábios. A 56 boca totalmente atraída por eles e ato seguinte, já os mamava, obsceno, obcecado. Tami contraía-se dos pés à cabeça, dos pés aos loiros cabelos – loiros cabelos? Atinou-se; confuso da visão daquele momento. O deus grego dos sonhos personificando suas fantasias, feitas às mensagens da mente mandadas às suas mãos, quando se masturbava. Nada a ver aqueles loiros cabelos com os cabelos pretos e escorridos de Tami. De repente havia outra mulher ali, nos seus braços. Com seios e mamilos exuberantes, os cabelos caídos aos ombros, exalando um adocicado perfume de xampu. Tami – lembrou-se – cheirava sempre a um recente banho de sabonete; era pobre. Logo, aquela não era Tami. O calor não só recendia do chão, vinha mais intensamente daqueles bustos, como dois relevos de contornos piramidais; mas

fosse quem fosse aquela jovem, ela permanecia em transe, como Jairo Ferreira Machado que esperando o seguimento dos seus afagos, dos seus lábios. U Fascinada de prazer, ela deitou-se na relva – na macia e verde 57 grama que os acolhia – naquele momento, entre as leiras dos canaviais. Por segundos Edu sentiu-se assombrado, tentando compreender o significado da súbita transformação; mas no momento seguinte, como do nada, novamente ressurgia a silhueta de Tami – uma silhueta sobrepondo-se a outra, como na animação de um desenho animado. Naturalmente, com algumas imperfeições que confundiam cada vez mais seus suspeitos sentidos; adormecidos, mas aloucados! Fosse uma ou outra, tinha diante de si algo que lhe parecia íntimo; íntimo, no pensamento, pois apelava a todos os perfis femininos para alcançar o seu júbilo, quando se masturbava. Podia ser aquela, uma de suas fantasias. Novamente ressurgiu a loira como numa proposital brincadeira; para algum propósito de embaraçar sua já conturbada mente. E a jovem não impunha resistência às suas carícias; ao contrário, cedia obsequiosa, agradecida, o peito ofegante, os cabelos lisos e sedosos espalhados sobre a relva do chão. Susteve-se em atroz dúvida. Quem seria ela, pondo-se ali por inteira, como se fosse antigos namorados? Tampouco se importando com os cuidados habituais de dois amantes – punha-se generosa e absorta, oferecia-se a ele, de corpo inteiro, ao seu bel prazer. Tão nua, como viera ao mundo. A própria Hera, deusa grega renascida das trevas, ali, reencarnada e logo desencarnada, por sua confusa mente. Ainda que o local não fosse dos mais atraentes, viam-se protegidos pela sombra das touceiras de cana, onde tampouco alguém os veria. Como ele, Edu, não veria as circunvoluções

anatômicas de seu cérebro, a massa cinzenta, de onde vinha toda aquela insanidade juvenil. Por certo, tudo aquilo era consequência de sua mente fantasiosa, a materialização de um pensamento lúbrico vivido em outros momentos? Ou quem sabe fosse alguma colega sua de escola, daquelas gostosas da sua classe, por quem se masturbava, cuja fantasia, sua mente recordava em sonho, naquele instante. Tudo era possível, deduziu seu travesso inconsciente. Perfazendo em si um milhão de safadezas, as quais, vez em Os olhos do Jacaió quando lhe vinham à lembrança, em resposta à veemência dos seus implicados neurônios, como também do fluxo hormonal que a adolescência impunha ao seu corpo. Só podia mesmo ser essa a explicação! Mais intensamente, naquela noite. V A anatomia daquele corpo recordava alguém... Decerto 58 que sim. Imaginava, olhando o perfil da jovem loira à sua frente. Ou seriam resquícios de algum tesão mal resolvido, recolhido, e agora desaguando, perguntava-se. Tinha mais uma vez a certeza: de fato, aquela não era sua musa Tami! Mas o que importava, caso não fosse? Seria então uma deusa feminina, nascida de suas injunções neurais, chegada ali através de suas sensações, vivenciadas sabe-se lá quando, para seus prazeres carnais, mal alimentados. De qualquer jeito a admirava. Um tanto decepcionado por haver substituído a parceira de escola por uma rival, com a rapidez de um lampejo rasgando o firmamento em direção à terra, num dia de tempestade. Mas não era um quadro desolador; era antes, profícuo. A jovem permanecia receptível, disponível ao seu prazer carnal; assim, beijou aqueles lábios carnudos, enquanto sentia os seus engolidos pelos dela.

A diferença estava nas manobras linguais – que significava Jairo Ferreira Machado um quê a mais de experiência naquele beijo: a astúcia e a suavida- U de daqueles gestos, sem os descontrolados impulsos frenéticos de Tami. Quem sabe uma libertina já muito vivida? 59 Despida, a recém-surgida estendeu a saia sobre a relva, improvisando a própria cama, onde se deitou – não se tratava de dama de primeira viagem e tampouco virgem – atinou Edu, vez que a moça, ou mais precisamente mulher, pôs-se subserviente, sem nenhuma preocupação a mais consigo mesma. Edu usufruía do calor ardente daquele corpo, no instante em que acordou. Depressa se ergueu da cama, assustado, e só então se deu conta de que tudo não passava de um sonho. Era apenas mais uma grande mentira que sua mente pregava a si mesma – ainda que tivesse o falo propulsando dentro do short, ejaculando a torto e a direito. Ainda assim, olhava desconfiado para a cama, imaginando a aparição ainda ali. Impossível reatar o sono, masturbou-se mais uma vez e voltou a dormir. Já no embalo do entorpecimento, voltou a sonhar. Voltara ao mesmo lugar de antes. As folhas da cana tocavam-lhe o rosto, sem que ele entendesse por que estava ali. Talvez buscasse um elo perdido, a moça do sonho, ou fora ali levado por um emaranhado de neurônios complexos e insatisfeitos, que não lhe permitia um sono sereno; ou quem sabe, estivesse sonâmbulo? Não demorou muito e reencontrou os sinais da cana cascada, o bagaço atirado ao chão – era o mesmo local da orgia de minutos antes; mas a sua fantasia já tinha desaparecido. Agora, era Tami que vinha faceira ao seu encontro; mas não era a mesma visão alvissareira de outros momentos: Tami exibia proeminente barriga, como se estivesse grávida.

Arrepender-se-ia de ter voltado a dormir, se pudesse; mas não podia mudar os fatos, as loucuras de sua mente conturbada – a mente crucificando a si mesma. Uma situação um tanto confusa, como também broxante! Tami chegou abraçando-o, cheia de vida. No instante seguinte, já não era Tami. Sentiu-se entediado, abraçado a alguém que não conhecia; ou se conhecia, não lembrava. Quem quer que fosse, atirava-se de corpo e alma aos seus braços. Os olhos do Jacaió No que a beijou, reconheceu, era mesmo Tami. E deitou-se com ela e apalpou-lhe a barriga, certificando-se se era mesmo verdade o que seus olhos viam ou se era apenas imaginação sua; coisas de uma mente mal-dormida. Aliviou-se. Tami exibia a mesma cinturinha fina e sensual de V antes; as coxas ardentes de desejo. E teve-a por inteira em seus braços. O sonho mais uma 60 vez misturava lembranças picantes dos dias que passaram juntos. E sem mais demora, foi tirando-lhe a roupa, a calcinha e – por dever e muito querer – também se despia, num frenesi incontido. Enquanto acariciava-lhe as coxas sentia o gosto daquela língua carregada de cio, enrolando-se à sua. Com ganância, engolia a língua dela. A mente enganando-o a cada instante – a imagem de Tami sobrepunha a uma profusão de corpos, numa velocidade de quem vê da janela de um trem em alta velocidade: o cenário alterava em fração de segundos, sem a certeza do que viria a seguir. De toda maneira, era uma ilusão agradável. E já no auge da excitação, fosse quem fosse a musa fantasiada por sua mente, penetrou-a fundo e ela correspondia com intensos gemidos de prazer – que eram os seus próprios gemidos.

E mais uma vez acordou. Jairo Ferreira Machado Desta feita, gozava majestosamente nos lençóis da cama – a U gosma, ainda quente, jorrando de seu corpo ardente. Depressa voltou à realidade, percebendo o que acontecera. 61 Disfarçou, modo ninguém notar – esquecido que dormia sozinho – e permaneceu sentado na cama até que o cérebro recobrasse o sentido lógico das coisas. Onde estava, o que de fato havia acontecido naquela longa noite de orgia, ou de fantasias? Lá fora, o galo anunciava o raiar do dia, embora ainda lhe parecesse noite; o sonho o deixara confuso: precisava ordenar as ideias, antes da próxima ação. O coração batia-lhe acelerado no peito. Mas no fundo recordava aquela inoportuna visão, a imagem de Tami grávida, já imaginando a encrenca em que se metera, caso fosse alguma premonição. A mente ainda perdida. A consciência punindo-o por todos os pecados cometidos naqueles últimos dias – arguia-se, enquanto os neurônios refaziam-se da lida noturna. Logo voltou à realidade. UV

Os olhos do JacaióAmanhecia. Edu não via o momento de reencontrar Tami e desfazer- se da atroz dúvida: Tami estaria mesmo grávida? Circunstância ilusória essa, e muito menos que ela estivesse em fase adiantada, como presenciara no sonho. Agora, a mente fantasiosa, vinha em seu socorro. Ainda que acreditasse ser impossível, queria que seus olhos testemunhassem; certificar-se de que seus cálculos não estavam V errados, pois cumpriu ao pé da letra as instruções do primo. 62 Mesmo assim, pôs-se desconfiado, e em parte, com o peso na consciência. Na ida para o colégio, novamente viu Tami, faceira como sempre. O corpo esguio e elegante – como no seu natural. Não se pode mesmo acreditar em sonhos – concluiu!, com o coração palpitante e a mente aliviada do pesadelo da noite. Olhou-a nos olhos, disfarçando o sorriso de contentamento. Jurou que daquele dia em diante agiria com mais prudência. A visão nada animadora do sonho parecia um aviso. Lembrou-se da loira. As diferenças físicas eram nítidas, embora pouco recordasse dos detalhes anatômicos da moça do sonho; a aparição, tal como viera, depressa se foi. Tami tinha-se ali, verdadeira, com seu peculiar fulgor-mocinha desmiolada, altiva, a cintura fina, e o semblante extrovertido como sempre; e era só isto o que Edu pretendia saber, naquela hora. Alegrou-se.

Observou-a seguir exultante ao seu lado como quem Jairo Ferreira Machado adivinhasse seus pensamentos; tal como das outras vezes, ela U parecia estar no cio. Os colegas vindo atrás. 63 Na parte mais íngreme do caminho, iam rápido, já de caso pensado – os colegas não os alcançariam, considerando a lassidão da recente virose que cada um ainda carregava em si. E uma vez protegidos pela curva da estrada, beijaram-se ardentemente e seguiram em frente, como se nada houvesse acontecido. Cada um vivendo seu eflúvio hormonal. Na conversa, Edu falou do sonho. E Tami ria de si mesma. Nunca pensara em algo parecido. Como seria estar grávida? Possibilidade nem de longe imaginada. O que confirmava a sua total ingenuidade, que, deixou Edu preocupado – Tami realmente não tinha juízo, senão o intuito exclusivo de gozar, e o quanto mais, melhor. Ele, Edu, é que fosse prudente, “na hora h”, pinchasse fora. Coincidentemente, também ela sonhara, com ele, disse. E logo passou a relatar o acontecido: – Ontem, quando nos despedimos, bateu-me imenso desejo: vê-lo daquele jeito, hirto, provocou-me volúpias, depois que nos separamos. Assim, quando me deitei, a imagem do seu órgão enrijecido ainda me vinha aos olhos. Eu imaginava você ali comigo, e não tive alternativa, senão me masturbar, para conseguir dormir. Penso que isso contribuiu para que eu sonhasse com você à noite. No sonho, eu estava deitada lá no paiol, nos fundos da minha casa, local onde costumo descansar das tarefas do dia, aproveitando-me para me masturbar algumas vezes, pensando em você. Edu franziu os cenhos!

Em princípio, descrente de que a colega utilizasse desses subterfúgios físicos, mas a maneira como ela relatava o sonho – muito convincente – mudou sua opinião: – Sonhei que estava dormindo num colchão velho, mesmo lá onde simulo estar cuidando das tarefas e deito para descansar. É de praxe! E às vezes durmo. Outras vezes me masturbo, aproveitando-me de uma fruta verde, descascada, muito conhecida das mocinhas de minha idade. O inconveniente é que Os olhos do Jacaió é fria. Então, no sonho dessa noite, você chegava exatamente como eu queria que acontecesse. O seu espectro, ali. Edu novamente franziu os cenhos, intrigado com o que ouvia. Nunca pensara em algo assim – mocinhas como ela, masturbando-se, feito meninos adolescentes... Por outro lado, V enchia-se de júbilo sabendo que era objeto de sedução e de prazer dela. 64 De certa maneira, sentia-se lisonjeado, apesar de ainda incrédulo. Porém a luminosidade do sol garantia que não estava dormindo ou sonhando. Havia muito brilho naquele olhar... Quanto mais ela falava do sonho, mais excitado ele ficava. Mas se preocupando com os colegas que vinham logo atrás. E ela continuava relatando da maneira mais desavergonhada com atrevimentos e gestos sem precedentes. Discorria sobre suas intimidades, sem o menor acanhamento. Acrescia à história gestos e sinais, modo de melhor ele compreender o seu sonho... – Então, eu senti os seus dedos quentes acariciando o meu sexo – e apontava para as respectivas partes – pena que eu estivesse dormindo, mas assim mesmo, o sonho me parecia real. Eu sentia o calor do seu corpo junto ao meu, igual àquele dia ali no cajueiro (apontava a árvore à beira da estrada).

Falava e olhava maliciosamente para algo avolumando sob a Jairo Ferreira Machado calça do parceiro, sem interromper o que dizia: U – Parece que ainda sinto seus dedos infiltrando-se por 65 dentro de minha calcinha. Não pense que estou inventando coisas, ou que estou delirando, apesar desse sol escaldante – observou – mas foi assim mesmo que aconteceu. Seus dedos ainda parecem tocar-me por dentro. Lembro-me da umidade que me veio, de repente. Foi uma sensação gostosa, que me arrepio só de lembrar; é isso, só de lembrar, me umedeço de novo. Pena você não poder ver agora. E acintosamente remexia as nádegas, como quem tivesse revivendo realmente aquelas sensações. A sensualidade à flor-da- pele. Isto, de certa forma, tornava sua imaginação real. E de fato, era tão convincente sua história que Edu se enlouquecia de vontade de agarrá-la ali mesmo, em plena estrada. Ou mesmo levá-la lá para a sombra do cajueiro e extravasar seus desejos, os mesmos que também torturavam sua mente. Como era impossível naquele momento, tão simplesmente a ouvia, atento, cuidando dos outros colegas que vinham atrás. – Então, (continuou ela, quase sussurrando) apertei sua mão quente contra meus grandes lábios, sentindo seus dedos tocarem meu hímen e minhas saliências. Até sinto como se fosse agora... Naquele instante, eu gemia de satisfação, sensação igual aquela, nem quando eu mesma me masturbo. Você ainda estava de roupa, continuou, então eu abaixei o seu zíper, cuidando de não machucá-lo, pois seu membro estava em estado de armado. Aí, enfiei a mão por dentro de sua braguilha e o tirei para fora. Parecia um tição de fogo, ardendo em meus dedos. Logo você ajoelhou entre minhas coxas, depois arredou de lado as bordas da minha calcinha, deixando à vista

minha pureza. Lembro-me agora: você tinha os olhos crispados em fogo, com um olhar de cão no cio! Eu empunhei seu pênis e o rumei ao meu antro, com toda aquela ansiedade de aprendiz. Nem me lembro se naquele momento (do sonho) eu senti a dor da deflora. Recordo-me, apenas do contentamento em sentir você dentro de mim você indo e voltando, sem tréguas. Exatamente como sempre eu imaginava acontecendo: você chegando ali de repente, para satisfazer minhas fantasias, lá no paiol dos meus desejos. Os olhos do Jacaió Edu estava perplexo. O relato de Tami doía-lhe os testículos tanto quanto sua cabeça, decerto, em razão dos hormônios empurrado em todas as direções o seu fluxo sanguíneo. O suor escorria-lhe rosto abaixo, entre suas pernas e onde mais podia suar. Nem carecia a parceira lhe tocar, apenas V imaginando-se objeto dela, objeto de suas fantasias. E já se via prestes a ejacular, o falo contraindo freneticamente 66 dentro das calças, no pouco espaço que o órgão tinha para isso. Do jeito como Tami narrava, – com todo o requinte de sensualidade e crueldade – sabia que não reteria o gozo por muito tempo, mas emporcalhar-se, sujar as calças naquele instante, seria um papelão pelo qual não gostaria de passar. Mais constrangedor ainda seria chegar ao colégio com a roupa emplacada de gozo, como previa; logo, necessitava urgentemente de uma saída. E tudo que fez foi correr e enfiar-se entre os arbustos, surpreendendo a parceira como também aos colegas que vinham mais atrás. E ajoelhou-se, já acelerado nas mãos. Evidentemente, logo gozou – a ejaculação mais rápida de sua vida! Limpou-se nas folhas do mato e botou o pé na estrada. O coração ainda acelerado, as pernas bambas, hesitantes. Ainda que atenuado nos ânimos, alcançou os colegas que iam à frente.

Tami caminhava mais adiante, rindo entre dentes, cheia de Jairo Ferreira Machado malícia. Era natural que os demais colegas não pensassem como ela; afinal, já havia acontecido antes algumas disenterias, entre eles. Contudo, por trás daquela cara vermelha e sem vergonha, havia o grande esplendor daquele momento. Dali em diante, eles pouco se falaram. UV U 67

Os olhos do JacaióAs aulas voltavam à normalidade, embora a convalescença de alguns jovens estivesse longe do ideal. Tosse coletiva, uníssona, assolava o ambiente escolar; mal-estar, tonteiras, febre, tremores de frio, tudo isso comprometia a compreensão da matéria. A maioria dos alunos já voltava as suas respectivas turmas, antes resumida numa só. Na volta para casa, a rotina de sempre: os dois à frente. Tami intencionava terminar o assunto interrompido na ida, em V razão das prementes necessidades do companheiro, que foi o 68 primeiro a falar: – Precisamos dar um basta nessa situação. Estamos indo longe demais! Tami desconversou, animada em contar o restante da história. Não contara ainda a parte mais importante. Edu não a interrompeu. – Não se faça de tolo! Vejo nos seus olhos uma grande curiosidade de saber o final; a essência do meu sonho... Ele sorriu, conferindo a distância que os separava dos outros, da retaguarda. Acenou positivamente com a cabeça, e manteve os ouvidos bem atentos. As lagartixas continuavam lá, incrédulas, agarradas aos barrancos, onde sobreviviam. E Tami voltou às fantasias. – Lembra-se onde parei? E ela mesma já tratou de se lembrar. – Então, depois de intumescida pelo seu órgão eu senti o seu corpo por inteiro sobre o meu. Voraz, você comia os meus seios

nus, dando a entender, pela sua expressão de espanto, que era a Jairo Ferreira Machado primeira vez que via algo tão bonito e prazeroso. (Tami vangloria- U va-se, divertindo-se, tocando os bustos, apalpando-se!) Então, logo desabotoei sua camisa e nossos corpos se tocaram de verdade. 69 Confesso que o prazer era tanto que parecia mais real, naquele momento, do que quando aconteceu de fato, dias atrás lá no nosso esconderijo. Eu estava inebriada; você me enfiou, bem como eu sempre desejava que acontecesse um dia – quando ali, vivendo minhas fantasias eróticas! Seu falo rasgou-me com a força de um trado entrando em madeira, sufocando o meu tesão. Ao tempo que me entrava você chupava meus seios com ganância, quase que os engolindo totalmente. Você o meu Anquises, seduzindo-me e eu o seduzindo, feito uma louca. Entendo a sua angústia, ouvindo esses relatos. Mas preciso desabafar. Afinal, ainda sinto como se você estivesse dentro de mim, como dias atrás, lá na sombra do cajueiro. O sonho pareceu-me tão real que antes de esquecê-lo – se é que posso e devo – quero dividi-lo com você. Tami remexia as coxas como se gozasse, comprimindo-se, comprimindo as próprias partes uma à outra, à medida que falava. E continuou: – Sinto arrepios, só de lembrar! Edu ali, caminhando ao lado, meio que entortado, o pau atravessado, de tesão. Gostava do olhar intrometido da parceira na sua braguilha e não se continha de vontade de agarrá-la. Ela, a Afrodite, é que o seduzia, com a maestria de uma deusa Olímpica; sensualíssima. O parceiro sabia que o sonho, contado daquela forma, em plena estrada e sob o sol ardente – onde os dois não podiam ir às vias de fato – não era tão excitante como podia ser, mas alcançara seus objetivos: de deixá-lo incitado, alucinado de tesão por ela.

Tami queria guardar na mente a ostentação daquele falo para quando fosse dormir e o tesão a importunasse; teria aquela imagem já formada na sua cabeça. Era só colocar os dedos em prática. Masturbar-se-ia com mais prazer, como se o tivesse dentro de si. A visão imaginada teria, portanto, um consolo – a presença do parceiro na sua cama, era só pensar nele. Edu, perplexo. Os olhos do Jacaió Na plenitude daquela tarde, o odor do cio da colega subia à sua cabeça. Tudo aquilo, de certa forma, conspirava contra sua inocência; estava prestes a esquecer seus preceitos morais, mandando tudo às favas, e agarrar a parceira ali mesmo. E possuí- la até saciar-lhe os desejos. V Mas o juízo sobrepunha à sua vontade. Tinha a face contraída da zanga, como se estivesse à beira 70 de uma convulsão erótica. Tami continuava narrando o sonho, da forma mais cínica, que só ela sabia fazer e dominar: – Você transpirava de molhar o nosso corpo, facilitando o nosso deslize, eu me sentindo totalmente sua. A pressão de seu peito sobre os meus seios dificultava-me à respiração. O meu fôlego ficou curto, vez que não podia gemer alto, até no sonho, a consciência me vigiava! Apesar de estarmos lá sozinhos, arriscávamos ser vistos e, por isso mesmo, eu continha os gemidos o quanto podia! Você me estocava com virilidade, fazendo o colchão escorregar assoalho afora. Embora eu implorasse paciência, você agia como se estivesse me estuprando. Mas era assim que eu queria, e era bom! Confesso que muitas vezes pensava em ser possuída daquela maneira, e naquele lugar e hora, aonde habitualmente ia me masturbar. E justifica-se!

– De muito desejá-lo, de véspera, penso, acabei tendo este Jairo Ferreira Machado sonho erótico e selvagem: você me empuxando com requintes U de crueldade. Bem certo, os exageros fossem mesmo fantasias da minha mente, insone. Lembro o pulsar de sua jugular, ao que 71 parecia, você já prestes a ejacular. Naquele momento ocorreu-me de unhar suas costas, com força, talvez esse gesto amenizasse o seu ímpeto e eu aproveitasse um pouco mais da nossa ledice. Quem sabe pretendesse também mostrar-lhe meu instinto bestial. Você nem estava aí para os meus agravos, ao contrário, permaneceu cativo à reação que vinha do seu fogo hormonal e me inundou de sêmen. Foi quando percebi o líquido quente escorrendo fluentemente dentro de mim. E digo-lhe, naquele instante, tanto quanto você, também eu me via nas nuvens, e gozamos juntos. No auge do sonho – continuava Tami – já sôfrega de tesão, alguém abriu a porta do paiol, momento em que eu acordei assustada. Era apenas um sonho bom; daqueles que a gente não gostaria de acordar, nunca... Se muito, dividir com alguém, e o divido com você, agora! Como sempre, acordei sozinha na cama. Não sei qual hora era da manhã, só sei que estava inundada, num mar de gozo. Tendo comigo, no entanto, a aprazível sensação de que você estivera ali, ao menos em espírito; tanto assim, que me sentia totalmente molhada por dentro – Tami arrematou, sorrindo! Atento aos detalhes daquelas palavras, Edu suspirou fundo, desconjuntado dentro das calças, momento em que chegaram à encruzilhada, onde habitualmente cada um seguia o seu caminho. Excitado, apressou o seu despedir, desejando-lhe boas férias e, embrenhou-se no mato, sem que os colegas notassem, com o firme propósito de aliviar-se daquele fogaréu subindo à sua cabeça... UV

Depois de todos aqueles dias de libidinagem – os aqui contados e os vividos no silêncio do caminho – nada mais aconselhável que descansar um fim de semana. Era o que mais Os olhos do Jacaió precisava, Edu falava para si mesmo! O recesso escolar era bem-vindo, ainda que o ânimo da mocidade cobiçasse mais aventuras. Sentiria saudades de Tami, de certeza sim, mas a aventura com ela caminhava para um fim V próximo em razão da volta às aulas e as poucas oportunidades que teriam para se encontrar. 72 Além do que, ainda que se gostassem, as diferenças sociais cuidariam de dar um novo rumo à história, como sabidamente, para tudo, o destino oferece soluções, mesmo a que menos nos agrade. Pensava Edu, logo necessitava de tempo para se repor daquele entojo lúbrico. Outras diversões seriam bem-vindas, torcendo que o corpo e a mente esquecessem a intensa vivência carnal, daqueles últimos tempos. O vírus tinha ido em frente, sabe-se lá para onde. Mas deixara seu rastro de ledice, ao menos para os dois ali. Contudo, era de bom alvitre disfarçar o envolvimento sexual entre eles frente aos demais colegas, modo não por em risco o futuro de Tami que, por isso, seria afastada do colégio. Continuassem naquela estratégia, estariam entrando num terreno perigoso; tratava-se de uma paixão; mas não a paixão de

alma e sim, uma paixão física, hormonal, sujeita às intempéries do Jairo Ferreira Machado tempo, aos acertos e desacertos. U Tami também parecia pensar assim, embora tivesse sua 73 preferência: ele, Edu. Tinham a favor, o tempo; o tempo que traz e leva. Os olhos encovados e vermelhos, a cara chupada, punham Edu em suspeição; carecia recobrar logo as energias. Assim, naquela tarde, alimentou-se e caiu na cama, como se morto estivesse. E dormiu. Despertou no sábado, já refeito do cansaço e logo se assanhou sabendo que a Prima da cidade viria passar aquele fim de semana ali no sítio. Ah!... Aquela Prima gostosa de endoidecer o sujeito. Ela viria com mais duas colegas, foi avisado. E a notícia o encheu de ânimo de novo. Terminados os trabalhos de praxe estaria livre para acompanhá-las pelos campos, num passeio a cavalo, como de costume, quando elas vinham – a Prima sempre propunha coisas diferentes das costumeiras da roça. Inovava, mas também exigia. Logo, dizia a si mesmo, devia estar disponível para as finezas de praxe: ajudá-las a montar a cavalo, cavalgar com elas, levá-las para um banho de ribeirão, e caminhar pelo sítio, aos lugares que só ele, Edu, conhecia. Logo, necessitava estar bem disposto naquele dia. A Prima, por si só, exigiria toda uma atenção especial. Era melhor que fosse amigo dela que tratá-la com indiferença como ela o tratava lá no pátio do colégio – o orgulho sempre em alta, de moça orgulhosa e bonita da cidade. Sentia saudade daqueles dias, quando mais jovem ela o admirava de uma forma especial, com segundas intenções, ao menos assim diziam. Terminadas as atividades daquele dia, caprichou no visual e pôs-se a imaginar uma estratégia para os assédios; de antemão,

sabia que as mocinhas citadinas eram “mansas” e “confiadas”, embora elas preferissem os ladinos da cidade. Mas agora, com a experiência adquirida naqueles últimos tempos – com Tami – convinha-lhe apenas um pouco de sorte, pensou, e a sorte lhe fora promissora naquele romper de adolescência e já no auge dos hormônios, caminhando para a maioridade. Longe dali, existia a realidade de uma guerra e cada vez que Os olhos do Jacaió lhe falavam disso, sentia medo do futuro, principalmente sabendo que outros jovens mais velhos estavam sendo convocados e mandados para fora do país, para guerrear. Uma guerra que não era dele, Edu, e que parecia nunca ter fim. Fazia anos que o mundo inteiro só falava em mortes. Não V queria morrer, considerando os bons momentos de sua vida. Pouco depois do horário previsto, na manhã seguinte, as 74 moças chegaram. O coração disparou-lhe no peito, vendo-as animadas, acenando lá do caminho para o pessoal que as esperava ansioso no terreiro da morada; tinha já ajuizado os planos, antes mesmo de vê-las, embora há muito não visse a Prima, só vez em quando, de longe, lá no pátio do colégio. Ambos viviam em mundos diferentes. E a Prima chegou gostosona e abusada como sempre, exagerando nos cumprimentos. Vestia uma calça azul desbotada mostrando os inteiros e impudicos glúteos, na habitual animação e pujança feminina, abraçando a todos com euforia. As colegas também se sentiam à vontade, procurando entrosarem-se logo na chegada, saudando a todos com a malícia das moças da cidade. Edu fuzilou-a com o olhar felino.

O figurino, a calça apertadíssima, dava a imaginar o Jairo Ferreira Machado volume daquelas coxas sedosas e irrequietas; a blusa cobrindo U levemente o arquétipo par de seios, – muita mulher para o meu balaio – falava para si mesmo, contendo-se nos pensamentos; 75 afinal, ela era prima de sangue! Cumprimentaram-se. Uma de suas colegas, valendo-se do conceito de mansidão das citadinas, exagerava-se nos abraços, envolvida pelo reinante entusiasmo da moçada, parecendo querer, de saída, quebrar o gelo e mostrar-se íntima. Por certo orientada pela Prima que bem sabia da timidez do primo do interior; mas desta vez a Prima estava enganada, confiava no seu taco! Cabia às visitantes toda a iniciativa, pareceu ouvir as palavras da Prima, caso pretendessem alguma aproximação, mais tarde. Os primos eram uns caipiras que se negavam a estender a própria mão para os cumprimentos habituais, o que em outros tempos, foi a mais absoluta verdade. Agora não mais. E tudo que a Prima conseguiu foi que ele, o primo caipira, ficasse rubro de vergonha, diante de todos aqueles agrados. De antemão, sentindo algo diferente no coração quando esse pulsava; sabe-se lá o que era? Precavido, economizou nos cumprimentos quando se aproximou da primeira das colegas da Prima – uma loira alta, de olhos azuis e risonhos, como aquela do sonho – que pelo porte, impôs-lhe respeito, feito a Prima – muita mulher para o seu caminhão. O mesmo acanhamento não sentiu ao cumprimentar a colega dela – a mais misteriosa e contida das três, mostrando de início certa timidez. Adjetivos esses retratados fielmente naquele meigo rosto oculto pelos lisos e longos cabelos escorregadios pelos ombros. Uma santificada beleza, como nunca vira antes.

Tocou-lhe a mão, num leve cumprimento. Não podia dizer o mesmo do olhar, que teve o rumo certo do seu coração. Sentiu algo não habitual velejando por suas artérias, acelerando sua respiração, o seu sangue, como num encanto repentino, desses que nunca se sabe de onde vem: o crivar daqueles olhos negros nos seus, e a concomitância de um sorriso encantador, saudando-lhe – Muito prazer! Lúcia! Os olhos do Jacaió Divina, Olímpica, isso, sim! Ouvira o nome, mas sequer o registrou na mente, assustado com a irradiante energia inundando-lhe os sentidos. Ruborizou- se. A timidez ardeu-lhe a face, o peito e o sangue. Após os V cumprimentos, sem que assim quisessem, suas mãos voltaram a se tocar, involuntariamente, como se um ímã os atraísse naquele 76 momento, num sublime magnetismo. – Diabos! Edu exclamou em silêncio, pondo-se à distância de onde se encontrava. Não antes de notar igualmente as maçãs vermelhas daquele rosto angelical; também ela sentia a mesma emoção, pareceu-lhe. Mas nada entendeu do que se passava entre eles; qual a razão dos seus sentimentos reagirem daquela forma tão estranha e incontida, como um deságue de fluidos? – o encontro de dois rios, num só, as águas revoltas. Com a anuência, decerto, das deusas e deuses Olímpicos, todos por ali, favoráveis. Tiranas, tiranos, quem sabe. Algo de muito extraordinário deslumbrou-se de dentro de si; algum fenômeno surreal que desconhecia até então; nada parecido à atração animalesca, incontida, curtida por Tami desde os primórdios da adolescência.

Diferente de tudo que vivenciara naqueles primeiros dias Jairo Ferreira Machado de sua adolescência. U Segundos depois, aventurou um olhar em direção a ela, 77 tendo se surpreendido: também a jovem o procurava em meio àquela profusão de beijos e abraços. “Santo Deus!” Falou para si! Até então, senhor de si, no seu chão, nos seus parcos conceitos, agora, perdido naquele olhar fulminante e cativo que lhe tirava a lucidez dos pensamentos. E o chão ruiu-lhe sob os pés. Não sabia como proceder e, tímido, abaixou o olhar. Talvez, não se achando merecedor. Encarando-a, submeter-se-ia a ela e a todo aquele sentimento louco desconhecido – o coração batendo-lhe forte no peito, de forma alucinada, sem saber por quê. Por quem, sim! Era ela, a jovem recém-chegada, Afrodite na alma, no físico, com seus dotes encantadores. Tivesse ela mais perto de si e talvez ouvisse o pulsar de suas artérias. E teve medo! Talvez fosse aquilo a tal paixão – imaginou – sentimento ao qual o primo sempre se referia e que ele, Edu, não conhecia até aquele instante. Era meramente um ignorante, bronco, no campo dos sentimentos. E já temeu pelos futuros saldos daquele encontro. Havia uma fragilidade dentro de si, que pensou nunca existisse. Soube num instante o quanto um simples olhar podia ser fatal. E se sentiu confuso diante de sua própria insegurança. Já experimentara várias emoções, mas nada semelhante ao que fervilhava no seu peito, no seu coração, como um vulcão prestes a explodir dentro de si. Ao imaginar os belos seios da Prima, masturbava-se, gozava, e pronto! Tivera momentos alucinantes com Tami – de quase ejacular sangue, de querê-la como nunca quis ninguém – mas tudo

se resumia à afeição carnal. Logo depois era como se nada mais os prendesse um ao outro! Como os fluidos do cio que se vão... Agora, era diferente – algo desconhecido o incomodava; fosse lá o que fosse, era um sentimento que lhe insurgia de adormecido do seu peito e que, repentinamente, acordara grande; tão grande que o sufocava. De mal poder respirar ou aspirar o próprio ar que precisava! Assustou-se. Pela primeira vez percebia a distinção, a incomensurável Os olhos do Jacaió diferença entre o puro desejo carnal e a afeição – sentimento esse, cujos sintomas não se pode descrever, somente sentir. Pensava na paixão como mera baboseira do primo e que, portanto, podia controlá-la e, mais que isso, nunca ser vítima dela. No entanto, inesperadamente – se é que aquilo fosse mesmo a tal V paixão – ela invadira seu peito e lá se alojara. Cativa. Perdidamente 78 cativa. E nem sabia se de lá sairia algum dia... Nada parecido ao bucólico e simples prazer carnal, que tanto vivenciara naquele início de adolescência e já moço. Algo insurgia novo no seu íntimo. O episódio lhe fez crer: o coração é um órgão que se acovarda facilmente diante de novos fatos; pior, tratando-se de sentimentos. E recolhe-se pequeno, medroso, atrás dos arcos costais. Ao passo que o falo é puramente nervura, carnal, vascular, obediente a uma ordem límbica que passa antes pela percepção dos olhos, pelo toque de mãos e logo se enrijece. Bastasse que visse um pedacinho de coxa ou uma porção de seio escapulindo pelo cavado de uma blusa decotada, o resto era imaginação e esperar pelo alastre hormonal. Então, masturbava- se e o tesão passava. O mesmo não acontecia com o seu coração, um lago sanguíneo, profundo, um abismo, que transborda diante de um

simples olhar, não um olhar comum, mas um olhar que tocara Jairo Ferreira Machado fundo o seu peito, a sua alma. Que o fez, em segundos, perder o U controle da situação; era o olhar de Lúcia. 79 Coração e falo assemelhavam-se num único detalhe: ambos agiam indiferentes à sua vontade. Soube logo que não tinha nenhum domínio sobre eles. O grande aprendizado sobre isso eram os momentos de tesão vivenciados com Tami e agora, ali, o repentino sentimento por Lúcia. Ambos obedeciam aos ditames da mente, algo que nascia lá, como uma avalanche de fluidos, incontroláveis. Conjuntura pela qual passava naquele momento – os hormônios animando-se, como se sua alma, de repente, acordasse para um fim contíguo ao corpo. O coração algoz de si mesmo. Buscava a todo custo fugir daquele embaraçoso caso, para o qual o seu corpo viril e ingênuo o empurrava; repentino sentimento, pura emoção, anseio ou o que mais fosse tudo aquilo que sentia. A situação fugia-lhe ao controle. Se é que alguém tivesse o poder de domínio sobre os sentimentos. Era bem possível que não. Logo, estava, naquele instante, deliberadamente apaixonado! UV

Os olhos do JacaióPassado o impulso emocional, voltou a pensar na Prima. Mais que das vezes anteriores, agora, tinha motivos para cobiçá-la, ela, Héstia, deusa, simbolizada pelo fogo da lenha se queimando; o ardor, a chama de vida e a devassidão estampada naquele rosto malicioso. E aqueles seios despudorados rompendo-lhe do decote, parecia, com propósitos volúveis. A Prima, como sempre, exibia- se estonteante: tanto gostosa, quanto afetuosa, enganando e V deixando-se enganar pelos laços familiares. 80 Facilitando as aproximações, com o seu jeito peculiar – o olhar nos olhos, o roçar de seios, numa brincadeira, num abraço ou mesmo enroscando-se maliciosamente a ele, Edu, com a intenção de provocá-lo tanto quanto para sacaneá-lo... Edu imaginava ser aquele atrevimento, apenas afeição familiar, coisa costumeira de primos. Era possível, considerando o típico jeito de ela mostrar-se íntima, extrovertida e até carinhosa. Mas, muito melhor que isso: gostosa! Com o passar do tempo percebeu que não era somente o parentesco que a tornava achegada daquele jeito; havia malícia naquela sensualidade, malícia de moça da cidade. A maneira de ela se requebrar, chamando a atenção, além da forma de se vestir – calça justa ou saia curta, a blusa sempre decotada, como se a costureira economizasse pano de propósito – para ela revelar a salutar exuberância mamária!

Só de imaginar aqueles seios, Edu sentia fulgor nos genitais; Jairo Ferreira Machado percebera isto desde quando fora ajudá-la a montar a cavalo e ela U pedira que ele a empurrasse para cima da sela; da última vez, que ela estivera ali. Não tendo como negar, e mesmo não podendo – 81 caso contrário a moçada colocaria em cheque sua masculinidade – e seria execrado moralmente, pensara na ocasião! Assim, pela coragem de espalmar aquela polpuda nádega, desde então seu tesão aflorara-se por ela; coisas simplesmente de hormônios. Agora, não podia vê-la sem pensar naquele sinuoso bumbum ao seu dispor, enchendo suas mãos, e as tais bem feitas curvas femininas, das quais nunca mais se livraria. E não era apenas isso! Na realidade, quando ela debruçara sobre a montaria para enganchar-se à sela, é que ele, Edu, mergulhou seu olhar naqueles mamilos rosados ingenuamente, ou propositadamente, escapulindo do decote de sua blusa. Foi quando arregalou os olhos neles, o mais que pode, para nunca mais esquecê-los. Uma suprema alegoria, lembrava! Sem pressa ela cobriu os seios com as mãos, deixando escapar um sorriso sacana que dizia, “podem ser seus”, como que satisfeita por tê-los mostrado – deu-se ao dever de assim pensar! – e desde então tornara-se obcecado por aquele corpo: aquela abundância lhe serviria aos propósitos de um sem número de gozos. Eros, o deus erótico, encantado. A imagem daquele momento ficara registrada em sua mente – o que não lhe convinha, por ser ela, parenta – mas não podia culpar-se por isso. Embora pudesse curti-la e admirá-la à distância, como prima, no fundo tentava evitar o incestuoso pensamento.

Não tinha esquecido ainda sua última estada ali: quando muito emagreceu, de tanto consolar-se, em mente, naquelas carnes. Recordava aquele dia, no milharal: ele foi lá colher algumas espigas, a pedido dela e, como demorava voltar, ela resolveu seguir-lhe os passos, encontrando-o a prevaricar-se agarrado a uma touceira de milho. Ela não chegara, de fato, a vê-lo com a mão na massa, mas desconfiara de sua atitude – naquela posição incomum, como se Os olhos do Jacaió escalasse a touceira de milho, fazendo-a tremer de cima abaixo. E, desde então, ela o perseguia aos limites da paciência, como se ele houvesse cometido um pecado mortal, para o qual não havia perdão; não para ela! Mas, desta feita, pensou, ela que não se metesse à santinha V de pau-oco, era capaz de agarrá-la, se a Prima lhe provocasse com seus gestos liberais de moça ladina da cidade. 82 Por bobo, desta vez, não passaria! UV

Naquele anoitecer, a lua banhava a relva de um peculiar Jairo Ferreira Machado prateado. Sentados ali no terreiro, em torno de uma U fogueirinha, mantinham-se atentos aos casos que a Prima contava. E todas as vezes que aventurava uma olhada para o 83 lado, Edu deparava com aquele olhar meigo buscando o seu, em meio ao apogeu romântico da noite. Era o olhar de Lúcia. A Prima, ainda que atenta à troca de olhares dos dois, distraia os demais com o relato de suas experiências vividas, bem vividas – fazendo questão de incitar os mais crentes – moças e rapazes presentes ao local; inclusive, as vizinhas, que se ajuntavam para o entretenimento. O luar, a presença das “meninas” da cidade, as conversas da Prima, tudo contribuia para o reinante clima de lubricidade. Os hormônios um tanto animados. O satélite iluminado dava o tom, ou muitos tons prateados à escuridão da noite. Foi quando Edu observou Lúcia manifestar o desejo de se afastar da roda e aproveitar o luar, dar umas voltas, isolar- se do grupo modo ver se ele, Edu, a acompanharia, pareceu assim pensar. Atenta aos fatos, a Prima leu seus pensamentos e interrompeu a conversa. – Vamos caminhar, disse eufórica, já se levantando. Alguns a seguiram. Outros optaram por terminar a noite ali mesmo, e foram dormir.

Lá no céu, a magnitude da lua. Num trecho do caminho, esgotados os casos da Prima e em razão do adiantado das horas, resolveram retornar. Cantarolavam animados sob o clarão da lua cheia. Num repente, a Prima se fez de assustada, gritou, como visse uma “aparição”, fato suficiente para que todos corressem; ou quase todos... O estardalhaço já era combinação entre as duas. Lúcia agiu como se lhe faltassem as pernas e Edu obrigou-se Os olhos do Jacaió a acompanhá-la, aproveitando-se do pretexto da assombração. A jovem abrigou-se junto dele, demonstrando medo e ao mesmo tempo, malícia. Por mais que Edu quisesse também correr, achou prudente ficar, fazendo-se de valentão, enquanto os demais iam à desabalada carreira. V Num piscar de olhos, tinha em seus braços, face a face consigo, a morena que fizera galopar seu coração naquela 84 manhã, ainda o sol nem acabara de se esquentar. Pensou estar sonhando, mas não estava. Tudo que fez foi acolhê-la, dando-lhe a segurança que tanto ela parecia querer, embora também ele temesse as histórias de duendes. Mas se havia algo de fantástico ali, que lhe metesse medo de verdade, era ela, a própria Lúcia e seus encantos, cujos efeitos ele já provava, sem saber por qual razão. Quanto mais Lúcia demonstrava medo, mais ele aproveitava em aconchegá-la ao seu peito; afinal, uma oportunidade como aquela era ideal para impressioná-la; e era tudo também o que Lúcia queria naquele instante; o Olímpico instante de sua vida. Afora o chiado dos grilos, tudo o mais transcorria em profundo silêncio. A claridade da lua cobria de um tom prateado o verde escuro da vegetação, que compunha o brilho de seus olhos.

Tão profundo era o silêncio que podiam ouvir seus corações Jairo Ferreira Machado batendo uníssonos, na magnitude daquele enlace: Lúcia caíra do U céu diretamente nos seus braços, no seu coração. 85 E assim, assustados, entreolhavam-se surpresos diante dos fatos, como se não soubessem lidar com o imprevisto – os deuses e deusas olímpicos estavam indo depressa demais. Abraçados, os corações disparados, Lúcia, – de certeza instruída pela colega – fazia-se de boneca em seus braços. Ainda que encabulada, cobiçada, permitindo-se imaginar o melhor: que ele, Edu, a beijasse, tocasse seus lábios, cerceados de batom. A energia do luar acendia-lhes a fluidez do sangue, como algo insinuando em seus órgãos vitais – as glândulas, o cérebro, o coração, os órgãos sexuais, todos em perfeita sintonia. O verdadeiro Apolo, o deus grego da juventude e da luz. Tivesse ali a lira, o instrumento musical de Apolo, ele, Edu, dedicaria a ela, Lúcia, uma esquecível serenata. Deus, o verdadeiro, iluminando o cenário para os dois. Não podia acreditar no que acabava de acontecer. Parecia estar dormindo e sonhando. Enquanto sentado à beira do terreiro – antes de sair para o passeio daquela noite – fizera mil planos para aproximar-se dela, abraçá-la e beijá-la, sendo que nenhum dos planos pareceu-lhe plausível. E, no entanto, num piscar de olhos, a sua moreninha encantada, caíra por inteira em seus braços. Estava ali ao seu dispor, como uma deusa Hera, soberana, tanto quanto o luar da noite, vinda das profundezas da terra. Claro, com a ajuda da engenhosa Prima – assegurou-se! E mal respirava ou mesmo podia balbuciar o nome dela ou dirigir-lhe a palavra, tão emocionado se via; quando muito perdia-se no brilho

daqueles grandes e negros olhos, como dois ônix – cerceados em exuberantes sobranceiras. Banhando-se no brilho do seu luar, Lúcia assemelhava-se à própria lua. Forçasse a mente e os olhos, era bem capaz de vê-la nua. Contemplavam-se desejosos um do outro, mas receosos do rumo que a situação tomava, perguntando-se: que eflúvio energético era aquele e de onde vinha, de súbito, para ajuntá-los num só, ali, naquele instante. Os olhos do Jacaió Edu permanecia atento àqueles lábios carnudos, trêmulos e pedintes, de frente para sua boca, igualmente trêmula, como dois sedentos na ânsia de um gole d’água. A lua alumiava o rosto de Lúcia, como se já não lhe bastasse a luz própria, vestindo-a com o seu tom prateado reluzente. V Edu não se conteve e a beijou com a rispidez de um matuto; por momentos comia aqueles lábios como comera os lábios de 86 Tami. Mas logo percebeu a diferença – naquela boca encontrava a suavidade dos gestos de quem beija, antes, com o cora-ção. E conteve-se. Controlou-se, modo não parecer rude. Estava sob a emoção do primeiro beijo, do verdadeiro primeiro beijo. Tratava-se de uma afeição mais pura, mais suave, com a aquiescência da alma, ainda assim regada a muito tesão. A aura emanada de seus corpos misturava-se, entrelaçava- se, como se estivessem entrando um no corpo do outro, e não apenas a saliência de suas línguas em insólito frenesi! Não alongaram muito o beijo; afinal, ainda sentiam-se assustados, com os repentinos acontecimentos daquela noite. Momentos depois, assustada, Lúcia fugiu de seus braços e caminhou; os passos maculando o prateado da lua na superfície do caminho.

O susto da assombração, o súbito abraço e o cio daquele Jairo Ferreira Machado beijo a deixavam tensa; sucedeu-lhe um calor visceral: o coração U pulsando forte, desgovernado no peito. 87 Também Edu estava confuso. Seria aquele sentimento repentino, aquilo mesmo que o primo chamava paixão? Edu perguntava-se. Nada que seu corpo e sentimentos conhecessem até então. Tampouco Lúcia esperava desfecho tão intenso, como se seu corpo dissipasse no clarão da lua cheia, explícita, atordoada com a fluidez de energia que seu coração parecia arremeter para todas as direções. Tinham ido longe demais, não no beijo, mas nos sentimentos – ambos se misturando ao dinamismo do satélite que os iluminava. A química de seus corpos em dueto sem precedentes. Lúcia ainda degustava o sabor do beijo, que também Edu fazia questão de não esquecer, como se fosse o primeiro e único de suas vidas. As pitadas de ousadia daqueles últimos dias, os momentos com Tami, eram insignificantes diante do momento de agora, Edu bem o sabia. Seria aquele um sentimento definitivo ou passageiro? Perguntava-se. Sentia-se como um prisioneiro, encarcerado numa armadura de ferro, onde mal podia respirar, sem saber como e quando se livraria de todo aquele sentimento incontido e inesperado. Já não estavam sozinhos. Todos os deuses e deusas eram testemunhas daquele instante. Minutos depois chegaram à sede do sítio, e sutilmente tocaram-se os lábios numa sutil despedida. E nada mais falaram do que um singelo boa-noite, e foram dormir. Ou tentar dormir; cada um no seu aposento, parecendo, no entanto, que seus corpos

Os olhos do Jacaióiam juntos para a mesma cama. Longe no caminho o curiango cantava; também era testemunha daquele momento! Absorto nos pensamentos, à distância, Edu ouvia conversações e risos. O que parecia serem fuxicos sobre os acontecimentos do dia e da noite; lógico, conhecendo bem a Prima, o que acontecera entre ele e Lúcia, daria “muito pano pra manga”. Decerto, todo aquele alvoroço, era a Prima rindo dos fatos, com suas fantasias de moça fogosa, no momento em que Edu entregou-se ao cansaço e ao sono; só o corpo, naturalmente, pois tudo o mais em si permanecia vivo, mais vivo que nunca. Um luzeiro o iluminava por dentro, como, se naquela noite, uma luz astral se acendera dentro de si. Ou quem sabe fosse sua alma incandescida, enfim viva. A mente, sempre alerta, diligente, V ligada aos acontecimentos do dia. E, ao dormir, sonhou... 88 UV

Mais uma vez, a Prima. Jairo Ferreira Machado O subconsciente carregado de mazelas, revelando-se em U sonhos. Ia por um atalho, desses que só alguns neurônios malucos sabem o caminho de ida. De onde, o despertar, sem muito ele 89 querer, trazia-o de volta. Galopava o seu cavalo levando a Prima em sua garupa que, assustada, firmava-se em sua cintura, decerto aproveitando para esfregar-lhe os seios como para sentir-se mais segura, mas já pensando em afogueá-lo; quem apostaria que não? Tratando-se da Prima, tudo era possível. Achando, por ser parenta, ele, Edu, fosse aliviar; mas bem sabia que não... Logo, aproveitava deleitando-se do calor dela, chicoteando o animal, obrigando-a apertá-lo cada vez mais, para se manter firme, tendo a vantagem do aconchego e do hálito doce de sua respiração acariciando a sua nuca. Quanto mais ela rogava que fosse devagar, mais Edu galopava o animal – mais animal que o próprio! Os reclames da Prima suscitava mais prazer, e propositadamente, desviou a montaria por um arrastão, indo direto a um remanso de ribeirão, que só ele e seus mal intencionados neurônios, conheciam, já de outros sonhos! Apesar do regateio da jovem, alegava não poder controlar o cavalo que se mostrava sedento, permitindo que o mesmo fosse para as profundezas do córrego, onde beberia da água mais fresca.

A Prima deu-se por vencida vendo o equino entrar poço adentro, gritando que ele, Edu, evitasse o pior. E apertava a sua cintura, unhava-o e mordia seus ombros, clamando por misericórdia. Mas por conta de todas as raivas que passara com ela, no pátio do colégio, quando pouco a Prima o cumprimentava, deixou o animal prosseguir os seus intentos. Saciada a sede, o cavalo pôs-se a bater as patas dianteiras na Os olhos do Jacaió água, preparando-se para banhar-se, insatisfeito em apenas matar a sede. Ainda que percebesse a intenção do animal, Edu nada fez para evitar, e foi arremessado às profundezas da água com a Prima junto. Teve tempo apenas de prendê-la ao seu corpo – e não podia ser diferente, tão atarracada ela estava a ele – enquanto V tentavam escapar das funduras do remanso. Após ligeiro caldo, saíram abraçados, um ajudando o outro, até alcançarem 90 o ponto mais raso do poço. A água escorria-lhes pelos cabelos e face. Edu encantou-se no deleite daquela visão magistral sob a blusa de seda molhada – o esplendor róseo daqueles seios – os reais motivos dos seus extenuantes sonhos eróticos! E de fato estava sonhando, mas o sonho parecia por demais real. Continuou abraçado à cintura dela. Faltava-lhe tão somente a coragem de sufocá-la de beijos! Inebriado com o fascínio da pujança feminina que a transparência da blusa o permitia notar – uma nudez quase que profana – onde seus olhos aguçados mergulhavam fundo. No esplendor daquela gostosura. Só podia ser mesmo verdade; sua mente, sua imaginação, levava-o a acreditar que sim! Sentiu o falo, antes encolhido pelo choque térmico da água fria, em tempo, criar tamanho dentro da calça.

A Prima assemelhava-se a uma sereia recém submergida, Jairo Ferreira Machado tanto molhada, quanto seminua! A boca tão próxima à sua, que U podia sentir o calor da respiração que lhe vinha de dentro. Num instante, seus lábios se tocaram, e sua língua mergulhou, por 91 inteira, naquela infinita vastidão de folguedos. Infinita ilusão! Acordou assustado. Ouvia, no silêncio da noite, as batidas do seu próprio coração. E sentiu o calor do suor escorrer-lhe pelo rosto, pelo peito. Por instantes, pensou estar ainda no remanso das águas, achando tratar-se o sonho de uma realidade. Mas ao perceber o membro contrair-se sozinho dentro do short – já prestes a ejacular – caiu em si. Sua mente o enganara mais uma vez. Tantos eram os sonhos semelhantes e ainda não aprendera a distinguir a fantasia da realidade. Tratando-se da Prima, estava de certa forma, concordando e ao mesmo tempo feliz, de ter acordado antes que acontecesse o pior. Restou-lhe então utilizar a velha e costumeira artimanha do onanismo a sós, inspirado na visão daqueles deleitosos seios sob a blusa molhada. E masturbou-se à vontade. Parcialmente satisfeito, voltou a dormir, mais batendo-se na cama, que propriamente dormindo. UV

Acordou com o sol nascendo e já fazendo planos para o domingo. Não deixou que o sonho da noite tomasse o lugar de Lúcia nas suas intenções. Os olhos do Jacaió Sentia-se melhor, embora muito confuso quando degustou o desjejum, tendo na mente parcas lembranças do sonho da noite – ainda a sensação da Prima junto dele, uma sereia nos seus braços. V Mais tarde – já fizera planos – relataria o sonho à Prima, que adorava ouvir relatos eróticos de toda natureza, com os quais 92 também ela sonhava. Ainda mais, sabendo que o sonho do primo tinha a ver com sua pessoa, seu ego iria às nuvens; precisaria, no entanto, fazer tudo às escondidas de Lúcia, por quem seu coração palpitava alegre naquele momento. O sol vinha chegando devagar. Sentado ali na varanda, tomando uma xícara de café, imaginava Lúcia saindo do quarto, vestida numa camisola transparente, tendo apenas a calcinha por baixo – hábito costumeiro das mocinhas da cidade, que os matutos adoram fantasiar. Era uma visão assaz alvissareira. A Prima era mestra nisso – na arte da sedução dos primos, em particular, ele, Edu! Teve esperanças de que Lúcia adotasse os mesmos trajes das mocinhas da cidade e ficou aguardando o seu despertar; ficaria ali a vida inteira, se preciso fosse.

Na expectativa daquela suposta visão matinal, o sol se Jairo Ferreira Machado aprumando por trás da montanha, e ela, Lúcia, chegando com os U primeiros raios solares. 93 Minutos depois, a porta do quarto se abriu e Lúcia resplandeceu do recinto feito o raiar do dia. Olhou-a com os olhos de águia. Os seus músculos mastigatórios cessaram paralisados, embora pretendesse esvaziar logo a boca para reverenciá-la com um entusiasmado: Bom dia! Mas não conseguiu – ficou de boca aberta com aquela visão impar – os olhos iluminados de Lúcia mirando os seus. Antes que dissesse alguma coisa, Lúcia acenou-lhe com um suave sorriso; e já lhe bastou: como se ela lhe abrisse as portas do coração. E adiantou-se animosa, os pés descalços caminhando em direção à mesa posta, a pele morena contrastando com uma curtíssima camisola azul-celeste, suspensa em finas alças, deixando seus ombros a descoberto. Imaginou-se selando os lábios naqueles ombros sensuais e naquela pele morena e delicada. Talvez desmaiasse de emoção. Antes que ela sentasse, observou-a recolhendo as sobras da camisola entre as próprias coxas, o que exacerbou o seu desmedido tesão. A seda obediente àqueles paradisíacos seios, envolvendo- os, como se os quisesse só para ela; ambos, visivelmente rígidos. Edu, já os imaginando seus... O sol da manhã invadia a janela ofuscando parcialmente a silhueta de Lúcia, mas sol nenhum ofuscaria toda a sua beleza. Após se servirem do café, trocaram algumas palavras e logo Lúcia retornou ao quarto para vestir-se mais apropriadamente, fugindo do crivo daquele acintoso olhar.

Edu também se levantou da cadeira e, como acertado de véspera, foi encilhar as montarias para o passeio dominical. Anteciparia o despertar da Prima, modo livrar-se da imagem ainda fresca do sonho em sua cabeça; lembrava o mergulho inesperado e a Prima submergindo-se sensual, junto ao seu peito, a sua boca quase colada à dela. Estaria ela agora despojada sobre a cama recuperando o sono, já que demorou a dormir, face aos fuxicos daquela noite, quando provocara altas risadas às companheiras de quarto. Os olhos do Jacaió Era sempre assim: espalhafatosa e alegre nas vezes que ia ao sítio e conversava até altas horas da madrugada; e em razão de dormir tarde, tarde também acordava. Mas o seu coração, agora, era de outra, dizia para si Edu. De montarias prontas, não perderam tempo. Lúcia pediu-lhe que a V ajudasse a montar. E logo estava sobre a sela. O sol da manhã 94 ainda refletindo sua tênue luz no orvalho do capim gordura. Lúcia vestiu-se elegantemente numa calça brim-azul – mais adequada à cavalgada –, porém sem muito jeito com as rédeas; assim mesmo, era como a luz do sol, daquele domingo, compondo- se com a beleza de uma jovem amazona. Edu agradecia aos céus que ela estivesse ali. E desapareceram na curva do caminho, ambos inebriados pela poesia que o sol arremetia sobre a relva dos campos – cavalgando, como quem cavalga nas nuvens! Distantes, liderados pela Prima, vinham os retardatários no compasso lento da montaria. A Prima, de certeza, esfregando a feminilidade na testa da sela. Era mesmo uma “desvairada”, como diziam os colegas e primos. Deixou-a pra lá! Pareou-se à montaria de Lúcia e ofereceu-lhe a mão, que ela segurou de bom grado e – numa aventura mais ousada –

beijaram-se, pela segunda vez: inusitado beijo a cavalo. O odor do Jairo Ferreira Machado dentifrício ainda em suas bocas. U Os animais empacaram facilitando-lhes o esplendor do 95 ósculo. O sol iluminando seus rostos. Logo adiante apearam à sombra de uma árvore e novamente se beijaram. Agora seus corpos se tocavam por inteiro. O suficiente para exacerbar-lhes o enfático tesão. Edu acautelou-se. Afinal, Lúcia era diferente de Tami, pela qual tinha o tesão à flor da pele. Bastava que um tocasse o outro. Com Lúcia, mesmo que se excitasse, conter-se-ia, por que assim o coração parecia pedir – seu coração é que dava as ordens; não mais o seu falo. Logo, não entendia as reações de seu organismo, despertando outros fluidos químicos desconhecidos até então – não só a testosterona, hormônio que Tami sabia muito bem despertar nele, todas as vezes que estavam juntos. Com Lúcia, o coração batia-lhe forte, mas compassado, embora a respiração fosse ofegante, modo o peito poder abarcar todos os outros sentimentos que aos poucos seu corpo descobria. A emoção revolvendo-lhe o íntimo, a alma. Quanto mais Lúcia acariciava seu rosto, mais ele queria sufocá-la de beijos. O magistral toque de suas mãos, tocando o seu coração. Lúcia exigia um tratamento diferenciado, mas não sabia por quê. Provavelmente seu coração soubesse. Tanto que palpitava saltitante no seu peito, feito o de um pássaro caído no alçapão – temendo ser preso, perdendo a liberdade. Edu sentia-se, literalmente, preso. E contorcia-se, tentando esconder a força do hormônio e o volume que o falo acrescia à sua calça; o corpo, esquecido dos bons preceitos. Situação totalmente adversa de quando ao lado de Tami; que não se importava se ele, Edu, fosse tão evidente, grosso mesmo,

ao contrário, ficava feliz, encantada, porque sabia por quem o mastro dele se levantava. Não muito longe dali vinham os demais retardatários. Era prudente e razoável que a galera não o surpreendesse decomposto, daquele jeito: o falo hígido, o sangue enrubescendo sua face, nem tanto da vergonha de estar daquele jeito, mas de não se fazer civilizado, pensava. Impossível que em poucas horas tivesse tomado tanto juízo Os olhos do Jacaió daquela maneira – arguia-se – a ponto de evitar tocar as coxas de Lúcia, enquanto sua língua enrosca-se à dela. Lúcia, sem muito conhecê-lo, o incitava, acariciando seu rosto, os cabelos; assim um tanto ingênua, sem saber os reais riscos que corria. Ato seguinte, Edu tocou-lhe os ombros nus, a pele sedosa V e delicada em contato com suas mãos rústicas. A delicadeza de Lúcia, de certa forma, contribuía para que se acautelasse no trato 96 com ela. Lúcia, precisava ser cuidada, como um cristal. Tocava-a como se tocasse uma pétala de flor, quando desejava mesmo era esmagar aquela carne macia, senão mordê- la, degustá-la. Chupá-la por inteira. Porém, algo de mais forte o impedia, atenuando-lhe a estupidez. Além do que, carecia conter- se antes da aproximação da cavalgada e, modo fugir àquele furor momentâneo, procurou distrair-se com uma abelha colhendo o néctar da flor da árvore que lhes dava sombra; sem muito entender a razão daqueles lábios pedintes se afastando dos seus, Lúcia olhou à sua volta e percebeu a chegada dos companheiros, cuidando de também se recompor a tempo. À medida que chegavam, os atrasados apeavam e iam sentando ao chão – cada um conspirando sobre o que se passara sob aquela sombra, naqueles últimos momentos. A Prima era quem mais se mostrava curiosa.

O que importava? Era assunto apenas dos dois. Jairo Ferreira Machado Vez em quando, vinha-lhe à memória o sonho com a Prima – U a consciência pesada, como se tivesse cometido um crime. Ainda que nada acontecesse de fato, não podia encará-la, pensando 97 naqueles seios rosados embaixo da blusa transparente. Seriam assim mesmo como vistos no sonho? Antes que os hormônios se assanhassem novamente, aquietou-se ao lado de Lúcia, tentando esquecer aquela outra doce língua enroscada a sua, em sonhos. Naquele mesmo dia, ao aproximar-se o crepúsculo, Lúcia, a colega e a Prima retornaram à cidade. Os olhos de Edu foram juntos no aceno de Lúcia, no exato momento em que o sol dobrava seus raios no horizonte. Momentos antes de cair a penumbra da noite... UV

Os olhos do JacaióT empos depois do encontro com Lúcia, Edu ainda amargava o ardor do sentimento que tomara-lhe o peito de moço irreverente; algo de muito extraordinário mexera com o seu íntimo, com o seu coração, mas não estava certo se era um fenômeno bom ou ruim – via-se entre a alegria e a tristeza, entre a luz do sol e as trevas da noite. Como um pássaro preso sem poder voar. A experiência com Lúcia naquele fim de semana roubava-lhe V a paz de espírito; a jovem não lhe saía do pensamento! Precisava 98 agir com cautela nos intervalos das aulas, considerando que Tami estaria atenta, de olho nos acontecimentos. Com a esperança de que a mente viesse superar a força de seus hormônios – o que lhe convinha – embora, agindo dessa maneira, significasse fraquejar sua estirpe masculina. Tami, decerto, não suportaria o desprezo com que ele a trataria dali em diante; não era mais moça, – isto, não era mesmo – de se submeter a qualquer preterição e calar-se. Ferida no brio, iria seduzir os próprios colegas de turma, levada pelo ciúme tanto quanto pelo furor uterino. Edu não negava o tesão por ela, mas precisava ser comedido. Fora longe demais naquele envolvimento, considerando que tudo começara sem o alicerce do amor; apenas o tesão dando as ordens. E isto não era bastante para um relacionamento duradouro. Tami fizera-o avançar algumas etapas de seu crescimento pessoal, que só agora ele entendia, como necessárias para uma

convivência a dois. Embora a culpa não fosse somente dela. Jairo Ferreira Machado Houve as contingências da vida, aquele surto viral, e um cavaleiro U vindo ao encontro deles. E todos os deuses e deusas a favor. 99 Mas não era tão simples assim, deixá-la ou evitá-la, além do tesão, Tami sentia por ele alguma coisa que ele, Edu, não sentia por ela. Além disso, Tami precisava saber das dificuldades de um novo encontro. A epidemia da gripe já tomava outros rumos, tinha completado o seu surto e estava voltando às suas origens. Se é que o vírus tivesse um ponto de partida. Indignada, a colega agia de forma espalhafatosa colocando em risco o segredo entre eles. Hum cochilo de ambos e estariam em maus lençóis, principalmente Tami, que seria afastada do colégio, de certeza. Logo, ela precisava moderar a saliência, enquanto não houvesse oportunidade de novos encontros, já que a falta às aulas era coisa do passado. Não podia mais contar com o álibi da epidemia, embora fosse um segredo só deles. Sabendo, no entanto, que não podia contar com sua discrição, Tami nem estava ali para os riscos da situação e continuava nos atrevimentos, provocando-o aos extremos, quando próximos um do outro. Provara do gozo e não mais podia viver sem ele, era o que parecia. Tami tinha o fogo da libido entre as pernas. Logo passou a dispor-se, pôr-se ao gosto dos companheiros de colégio, para que ele, Edu, sentisse ciúmes. Edu se aproveitava desse fato para afastar-se, mesmo que por dentro sentisse pitadas de ciúmes dela com os outros; embora viesse desencorajando novos encontros, o que não acontecia antes.

Difícil explicar como em poucas horas criara tanto juízo, ou não era aquele sentimento juízo, e sim a tal paixão, de que o primo falara e, sem muito estar preparado para isso, que sentia por Lúcia. Ouvisse suas mais longínquas glândulas e procurasse entender sua testosterona, saberia que também essa lhe dava uma pausa, ao menos naqueles dias, lembrando-o que seu corpo não vivia somente de luxúria. Havia outros afazeres. Os olhos do Jacaió Talvez, para que pensasse melhor suas atitudes de antes. O mundo não era feito somente de relações físicas, de luxúrias, dos pecados da carne. Razão porque se comportava de medo mais cuidadoso do que antes, ainda que envaidecido desde aquele fim de semana lá no sítio. V Agora, ajuizava outros valores que não só a peculiar propulsão sexual. Lúcia, sem pensar em tal coisa, mostrou-lhe isso, fazendo-o 100 descobrir o próprio coração e o sentimento que achava não possuir. Importava-se com Tami; ah!... Isto era verdade, mas era Lúcia quem ocupava o seu coração. Lúcia o fizera descobrir outras veredas de sua construção humana, que desconhecia até então. Por ambas, curtia desejos diferentes, como se estivesse tomado de duas ou muitas personalidades, se considerasse também a fluência dos sonhos. Num instante era um adolescente irracional, bruto, tesudo, e no momento seguinte, um jovem mais amadurecido – mais coração que falo – e, em razão disso, já desconfiava de algo incomum pulsando forte em suas veias: a paixão. Lembrasse de Tami o ímpeto de tesão reacendia seus genitais; pensasse em Lúcia, o coração descompassava no peito, tanto ativo quanto sofrível, causando inquietações emocionais


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