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Published by comunicacao, 2015-04-29 23:36:47

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OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE of the physiotherapeutic employees. It was found through this research the role of calcium in contraction and particularly in power generation, and its absence is a factor of muscle weakness and imbalances that make it susceptible to diseases such as gonarthrosis. The types of muscle contraction, according to every muscle, may favor the kind of exercise best suited, accelerating the benefits toward the treatment of muscle strengthening. Thus this analysis has shown that the physiological changes caused by knee arthritis can be prevented or mitigated through reinforcement muscle when used with the knowledge of the type of muscle and exercise, which must be customized and adapted to the lifestyle. Keywords: muscle contraction, gonarthrosis, muscle strengthening.1 INTRODUÇÃO O sistema musculoesquelético com o passar do tempo sofremuitas modificações, seja pelo processo natural de envelhecimentoou pela associação de movimentos repetitivos, estilo de vida,posturas viciosas e mantidas durante a jornada de trabalho o quesobrecarrega as diferentes estruturas corporais (SILVA etal., 2006). Essas alterações preocupam já que podem acarretar umasérie de lesões e déficits funcionais importantes como as rupturasde meniscos e ligamentos, perda de equilíbrio, fraqueza muscular,bursites e artrites (JACOB et al., 1990). 49

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimento Dentre as doenças que acometem o sistemamusculoesquelético, as chamadas patologias reumatológicas sãoas mais constantes, e têm na osteoartrose suas maiores incidências(SOARES, 2008). São consideradas um problema mundial queacomete os países desenvolvidos e em desenvolvimento, atingindocerca de 16,2% da população brasileira (SEDA & SEDA apudMOREIRA & CARVALHO, 2001). A osteoartrose é a degeneraçãodos componentes articulares que leva à destruição progressiva dacartilagem hialina, da cápsula articular, da membrana sinovial eque pode atingir de forma secundária os tecidos moles. Pode seragravada pela perda de força muscular consequência geralmentedo sedentarismo, gerando perda de funcionalidade, de estabilidade,de flexibilidade, diminuição de amplitude de movimento (ADM) epropriocepção, o que causa maior instabilidade muscular levandoa outras patologias associadas (RODRIGUES, 2007). A gonartrose, osteoartrose de joelho, é dentre asosteoartroses, as que mais se manifestam devido ao acúmulode carga que suportam o que faz aumentar significativamente aexigência do joelho, desequilibrando assim as forças musculares,e por isso necessitando de reforço muscular (WANNMACHER,2006). A evolução da gonartrose pode levar a substituição total daarticulação, mas o tratamento conservador é a alternativa inicialpara evitar os agravos da patologia. As técnicas fisioterapêuticasneste caso devem melhoram os sinais e sintomas dolorosos, preveniratrofias e perdas de amplitude de movimento sendo fundamentaisas orientações posturais, de atividades de vida diária e a inclusãode atividade física específica (RADL apud CHIARELLO et al.,2005).50

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE2 MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizados no presente artigo os seguintes materiais:artigos, livros, revistas, revistas online, sites relacionados da web.Através do método de consulta, leitura e análise do conteúdo paratranscrever ao artigo.3 DISCUSSÃO Na gonartrose a degeneração da cartilagem articular dojoelho resulta na formação de um osso novo nas superfícies daarticulação. Há uma alteração bioquímica e metabólica que resultana desintegração da cartilagem articular. Com o aumento dassobrecargas mecânicas sobre o colágeno presente na cartilagem,por postura ou trauma, a produção de colágeno pelas célulascartilaginosas aumenta como um mecanismo de defesa. O tecidoresiste ao tensionamento, todavia perde a elasticidade, se espessa,resistindo menos aos impactos. Já os tecidos periarticularesmais espessos e menos flexíveis limitam os micromovimentos eaumentam a coaptação articular (RADL apud CHIARELLO et al.,2005). Inicialmente acontece um amolecimento da cartilagemhialina e em seguida uma separação das fibras até a suadesintegração total fazendo a cartilagem ficar em franjas, picotadae desgastada. O osso cresce sobre a superfície que foi desgastada esaliências ósseas nas bordas da articulação estendem-se por dentrodessa, atingindo tendões e músculos. Essas alterações causamdificuldades nos movimentos articulares e alterações de marcha(PALASTANGA et al., 2000). 51

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimento O edema da cartilagem surge a partir da desorientaçãoda rede de colágeno e da hidrofilia dos proteoglicanos, entãoela se torna rígida e opaca com fibrilações e erosões, causandoprogressivamente modificação na cartilagem até a desnudaçãototal do osso subjacente (RADL apud CHIARELLO et al., 2005). Na gonartrose, a diminuição de líquido pela inatividadefuncional e pela fraqueza muscular gera tensão articular,sobrecarga, fricção e desgaste dos elementos presentes no joelho.O reforço muscular faz com que seja preservado o movimentofuncional e a produção de líquido de forma adequada, fazendo comque as estruturas sejam preservadas e as forças continuem agindocorretamente. A geração de força muscular se dá através de doistipos de contração: a contração isotônica, gerando movimento deforma concêntrica e excêntrica, e de forma isométrica quando nãoacontece movimento (SILVERTHORN, 2003). Na gonartrose, em decorrência da hipotrofia muscularocorre o desequilíbrio muscular e ação incorreta de agonistas eantagonistas. A ação agonista do reto femoral fica prejudicada, pelacompensação gerada no movimento, os vastos laterais e médiosprecisam entrar em ação no movimento de extensão de joelho eos isquiotibiais acabam por funcionar como sinergistas ao auxiliaro movimento. Os músculos, quadríceps e isquiotibiais tornam-sehipotróficos geralmente devido ao desuso ou quadro álgico, quelimita o movimento e a função (OLIVEIRA et al., 2008). A força de forma excêntrica e concêntrica gera um efeitorotatório chamado de torque, associado à rotação de um corpo,em torno de um eixo, aplicando a força a esse corpo. Para queaconteça a rotação de forma mais eficaz, a força fica longe do pontoda mesma. A rotação de um torque está relacionada diretamentecom a força que o está gerando aliado à direção desta em relação52

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEà posição de ponto central. O braço de alavanca vai ser a distânciaperpendicular do eixo que é aplicado à força (FILHO, 2008). O torque serve como medida em análise de estudo devariáveis como, pico de torque concêntrico e excêntrico emdeterminada musculatura. O torque em indivíduos com osteoartrosede joelho está diminuído na forma concêntrica e excêntrica da forçade quadríceps e isquiotibiais todavia o torque excêntrico é menosafetado pela patologia (MELO et al., 2008). A gonartrose é responsável por 50-60% de redução detorque máximo de quadríceps, aliado a dor e a rigidez muscularsão determinantes da diferença de torque e trabalho isocinéticonos pacientes portadores de gonartrose. Por isso, a diminuiçãode torque demonstra a perda de força muscular, principalmenteem quadríceps, que pacientes com gonartrose apresentam o queleva a um desequilíbrio muscular e alteração funcional. Parageração de torque, movimento e de força, deve haver a ação dasmusculaturas agonistas e antagonistas que de forma recíproca eordenada trabalhem para que estas ações aconteçam, tal fenômenoé denomindado de inervação recíproca (MELO et al., 2008). O agonista tem papel principal na execução do movimentoe na manutenção de uma postura contraindo-se ativamente. Osantagonistas possuem ação anatômica oposta ao agonista regulandoa potência ou a rapidez da ação. Usualmente os antagonistas nãoestão se contraindo e nem auxiliando ou resistindo ao movimento(ALBUQUERQUE, 2003). Somente os músculos que atuam sobre uma única articulaçãosão considerados verdadeiros antagonistas. Os músculos queatuam sobre mais de uma articulação agem como antagonistas eoutras vezes como sinergistas. A articulação do joelho tem como 53

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimentoantagonista o reto femoral dos isquiotibiais, porém quando oquadril e joelho fletem simultaneamente o reto femoral funcionarácomo sinergista (ALBUQUERQUE, 2003). A potência funciona como a taxa de trabalho ou a produçãode potência que descreve a intensidade do exercício. Através dacompreensão do termo potência é que se consegue calcular otrabalho realizado e a eficiência do exercício associado (POWERS& HOWLEY, 2000). O mecanismo de contração muscular se dá pelamovimentação dos filamentos de actina e miosina deslizandodurante a contração muscular em decorrência da ação dasnumerosas pontes cruzadas que se estendem como “braços” apartir da miosina e se ligam à actina num “estado de ligação forte”(POWERS & HOWLEY, 2000). O aumento da concentração decálcio citoplasmático termina o disparo da contração muscular.O sistema é controlado pela troponina e tropomiosina, proteínasque fazem parte do filamento fino. As fibras presentes no músculosão de contração rápida e lenta, independendo deste tipo de fibra ainteração das proteínas que formam o músculo esquelético com seusdiferentes tipos de íons, a molécula de ATP( adenosina trifosfato)e seus produtos de hidrólise promovem mudanças estruturais quelevam a contração muscular (PINTO et al., 2004). A força da contração aumenta com a somação dascontrações musculares. A força gerada pela contração de umafibra muscular simples pode ser aumentada pelo incremento davelocidade (freqüência) com que os potenciais de ação estimulama fibra muscular (SILVERTHORN, 2003). O treinamento físico rigoroso acarreta alterações nos tiposde fibra muscular. Tanto no treinamento de endurance quanto o54

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEde resistência (peso) acarretam uma conversão das fibras rápidasem fibras mais lentas. A perda muscular passa por duas fases, umalenta, em que 10% da massa é perdida entre os 25 e os 50 anosde idade, e uma rápida entre os 50 e os 80 anos onde ocorre umaperda adicional de 40%, portanto aos 80 anos metade da massamuscular total foi perdida. Ainda ocorre durante este processo aperda de fibras rápidas e o aumento de fibras lentas (POWERS &HOWLEY, 2004). A perda do trofismo e força não é observada somente nosidosos e inativos, mas também, por exemplo, em períodos deimobilização por gesso quando se percebe a redução do tamanhodo músculo. Logo o músculo esquelético é um tecido altamente‘plástico’ que responde tanto ao uso quanto ao desuso. Emborao exercício regular não possa eliminar completamente a perdamuscular relacionada à idade pode-se aumentar a endurance e aforça muscular nos idosos de maneira similar à observada nosindivíduos jovens (POWERS & HOWLEY, 2004). O reforço muscular neste contexto tem papel relevante paragarantia de músculos fortes que gerem melhora da estabilidadefuncional articular e proprioceptiva proporcionando proteçãoarticular, equilíbrio muscular, contração correta e movimento idealdo seguimento. No exercício isométrico nenhuma força externa érealizada, mas a energia é gasta de uma forma substancial. Estetipo de exercício aumenta a resistência vascular periférica de formageneralizada aumentando a pressão sanguínea sistólica e diastólicacom pouco aumento no volume sistólico e no débito cardíaco, causauma sobrecarga de pressão ao coração e os efeitos hemodinâmicosdependem de sua intensidade e também dos grupos muscularesque serão trabalhados. Os exercícios isométricos produzem leve 55

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimentocondicionamento cardiovascular e as alterações circulatóriaspodem ser prejudiciais aos cardiopatas (LIMA, 2007). Os exercícios isométricos trabalham de forma eficiente osmúsculos através de contração muscular que desenvolve tensãosem provocar a alteração do comprimento do músculo. Este tipode exercício não provoca grande hipertrofia (aumento de massamuscular), mas desenvolve força em escala moderada. Seubenefício é de não comprometer a postura durante sua execução(SILVA, 1998). O aumento de força e de massa muscular é observadoatravés deste tipo de exercício na reabilitação de problemasmusculoesqueléticos, inclusive em pacientes que apresentemlimitação articular como, por exemplo, os pacientes com gonartrose.Já que na isometria não existe solicitação de movimentos comamplitudes como os que são solicitados em exercícios maisdinâmicos (LIMA, 2007). O aumento de força irá depender doregime de treinamento, o tipo de ação muscular, a intensidade, ovolume, o posicionamento, a ordem dos exercícios e o período derepouso entre as séries e freqüência (COUTRIN et al., 2008). Apesar dos inúmeros benefícios no ganho de força muscularo exercício isométrico ainda tem várias contra-indicações, peloaumento abrupto que causa na pressão arterial, sendo indicado parapessoas que fazem também outro tipo de atividade física e que nãopossuem hipertensão (CAMARGO & SANTOS, 2007). O “isostreching” é uma técnica postural, desenvolvida naFrança na década de 70 que tem como função estabilizar o corpoatravés de posturas mantidas durante a expiração, com exercíciosde alongamento e contrações isométricas simultâneas. Com essatécnica consegue-se melhorar a mobilização articular, tonifica-se56

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEa musculatura, melhora-se a consciência corporal e das posiçõescorretas da coluna e ainda o condicionamento respiratório. Apostura e o equilíbrio serão consequentemente recuperados. Oprincípio básico do isostreching é fortalecer diferentes gruposmusculares priorizando os profundos que dão sustentação àcoluna vertebral, os abdominais, os glúteos, os dorso-lombares,quadríceps, depressores da escápula e rombóides (PERNOMIAN,2008). O “isostreching” trabalha de maneira benéfica por bloquearas rotações compensatórias, o que acontece com portadores degonartrose, que perdem a mobilidade e a rotação, compensandoos movimentos. O bloqueio é dado por uma forte contraçãomuscular dos agonistas, fazendo com que aconteça o reforço, e oalongamento dos antagonistas. Pela dificuldade imposta ao corpohá o reforço muscular. A forma com que age na coluna, reforçandoseus músculos profundos e tornando-a móvel e tonificada, faz comque mantenha uma retidão por contração de todos os músculos(REDONDO, 2001). O método DeLorme foi criada por Delorme em 1945e se baseia em exercícios resistidos com aumento progressivode carga sobre o músculo, uma sobrecarga. Entre as diversasmaneiras de formular o princípio da sobrecarga, de uma formaampla, o desempenho muscular não pode ser melhorado a nãoser que o músculo seja exigido além da capacidade diária usual.Basicamente, “a parte distal do membro movido pelo músculoou grupo muscular a ser treinado é submetido a peso, de diversosmodos” (RAMALHO et al., 2004). É um método que se baseia na quantidade de peso quese pode conduzir por toda a amplitude de movimento em dezrepetições. Então se trata de um exercício de alta resistência em que 57

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimentoos pesos são distribuídos de maneira que, na primeira série de dezrepetições máximas, seja colocado 50% do peso, na segunda sériede dez repetições máximas coloca-se 75% e na terceira coloca-se 100%. As repetições são o número de execuções completas econtínuas do exercício (MATTOSO, 2006). A musculação orientada pode trazer inúmeros benefícios,esteticamente como modelação do corpo e a diminuição degordura e ainda fisiologicamente com a geração de força muscular.Há melhora da circulação sanguínea, treino do coração, melhorada postura, aumento da flexibilidade, melhora da auto-estima, ena osteoartrite a musculatura fortalecida propicia estabilidadearticular, promovendo menor desgaste entre os ossos (OLIVEIRAet al., 2008). A força é aumentada pela sustentação de carga, podendoser benéfica no aumento de massa óssea e tem se demonstrado sermuito eficaz em pacientes com doenças articulares inflamatórias(PRENTICE & VOIGHT, 2003). Para que o objetivo de ganho de força muscular emportadores de gonartrose seja atingido com sucesso uma alternativabastante válida é a musculação de forma orientada. Pois irá serdirecionado o treino para cada praticante, levando em consideraçãosuas condições de saúde e suas restrições posturais. Percebe-seque os exercícios orientados são um trabalho quase que completono corpo, de forma uniforme, se bem orientado, fortalecendo,condicionando e consequentemente melhorando as articulações,o equilíbrio, a propriocepção e amplitude de movimento(CAMARGO, 2008). No método Pilates é preconizado o condicionamentofísico e mental, trabalhando dessa forma o corpo globalmente.58

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEDesenvolvido por Joseph Pilates em 1920, através de umequipamento específico e um método para balancear e fortalecer osmúsculos e articulações. São exercícios que focalizam a melhorada flexibilidade e a força total do corpo sem a hipertrofia damusculatura. É usado como condicionamento físico, reabilitaçãoe a busca pelo bem-estar físico e mental entre pessoas de todas asidades (BARRA, 2007). O método propicia melhora da circulação, docondicionamento físico geral, da flexibilidade, da amplitudemuscular e do alinhamento postural adequado, melhorandotambém os níveis de conscientização corporal e coordenaçãomotora. Mostra-se muito eficiente no alívio de dores crônicas,diminui o risco de lesões, fortalecendo, alongando e equilibrandoa musculatura ajudando a preparar a reabilitação de áreas comfraqueza muscular (PEREIRA et al., 2008). Com a prática de Pilates, percebe-se que se tem, em relaçãoas outras atividades, uma maior manipulação da gravidade, dabase de sustentação, do comprimento das alavancas e do centrode gravidade, o praticante mostra-se muito mais apto a facilitar osmovimentos adequados com menor esforço, menor fadiga e maiorconservação da percepção do movimento. É um método bastanteeficaz em diagnósticos como distúrbio neurológico e reumático,problemas pediátricos e ortopédicos e aspectos relacionados com asaúde da mulher, visando melhorar o desempenho (DAVIS, 2006). A hidroterapia é um dos recursos para o tratamento deportadores de gonartrose, podendo ser realizado em piscinas,tanque de Hubbard e balneários. A piscina pode ser profunda, embanheiras com redemoinhos de água, banhos de contraste e duchasescocesas onde se alterna água quente e fria (CAMPION, 2000). 59

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimento A água possui propriedades que auxiliam no tratamentoda osteoartrite de joelho. Em águas aquecidas, a temperatura de,em média, 36° estimula o relaxamento muscular e alivia a dor dasarticulações. A flutuação promove a diminuição da sobrecargaarticular, ajudando com que os exercícios de fortalecimento sejamfeitos sem a compressão óssea, logo, não há dor. A viscosidade,fricção e tensão superficial causam resistência ao movimentopromovendo aumento da força muscular (CAROMANO &CANDELORO, 2001). Nesse método, o terapeuta fornece estabilidade para opaciente e a posição de suas mãos influencia na movimentaçãodo paciente e na quantidade de trabalho isométrico e isotônicorealizado. Pode-se conseguir a irradiação dos músculos mais fortespara os que se encontram mais fracos (SKINNER & THOMSON,2000). O método “Qi Gong” é uma terapia alternativa que faz aconexão entre corpo e mente. Constituída por um grupo de técnicasda especialidade da medicina energética, baseando-se que a curado corpo depende de um equilíbrio de energia vital, da mentetranqüila e das emoções controladas. Semelhante aos exercícios deTai Chi, com movimentos lentos, posturas controladas e isentasde impacto que deslocam e estimulam o centro de gravidade docorpo, mostram-se benéficos ao fortalecimento, principalmente emportadores de gonartrose que apresentam limitações de movimentoe devem evitar a impactação articular (DAVIS, 2006). O biofeedback refere-se a integração da mente e do corpo,significando “retroalimentação da vida”, utilizando eletronicamenteas informações emitidas pelo corpo para que o indivíduo percebao que está acontecendo dentro do seu cérebro, do sistema nervosoe de seus músculos, transmitindo sinais imediatos e contínuos das60

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEalterações corporais que ele nem percebe, como pressão arterial,atividade das ondas cerebrais ou tensão muscular. O Biofeedbackmensura, por um aparelho, uma resposta fisiológica melhorandoo componente sensorial de um mecanismo de retroalimentação(feedback), para que a sensibilidade compensada e a força perdida,forneçam respostas apropriadas, com uma associação nova entreestímulo e resposta (BOTTOMLEY apud DAVIS, 2006). Este método é amplamente utilizado na reeducaçãomuscular, para que o paciente visualize o movimento, muitasvezes nas amplitudes que ele não consegue mais realizar, comonos casos em que a musculatura está fraca. Pode ser colocado emmúsculos normais ou no correspondente da extremidade saudável,realizando os movimentos em todas as amplitudes ou a contração eo relaxamento para ajudar a preparar o paciente para trabalhar como músculo ou grupo muscular que foi afetado, ensinando o pacientea ler o medidor e a ouvir os “sons musculares” (DAVIS, 2006). Durante a aplicação do aparelho para ajudar a respostado paciente, podem ser aplicadas todas as formas de exercício,facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e o posicionamentocorporal, para que se alcance o objetivo de recrutar as unidadesmotoras que estão funcionais. Em um músculo enfraquecidoexiste o mesmo número de unidades motoras do que em outromúsculo não considerado fraco, mas, o que difere é estes temmenor atividade muscular quando comparada com as milharesde unidades recrutadas de uma musculatura normal. Por isso nobiofeedback é enfatizada a atividade potencial das unidades de ummúsculo aparentemente paralisado. Após o recrutamento dessasunidades motoras o movimento voluntário é realizado com maisprecisão, e na medida em que progressivamente vão melhorando obiofeedback vai sendo tirado gradualmente. Trata-se então de um 61

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimentoaparelho auxiliar na função do fortalecimento para detectar quala capacidade do músculo ou grupo muscular, para que seja entãorealizado um programa adequado e mais eficaz de fortalecimento(DAVIS, 2006). O método Kabat ou FNP desenvolvido nos EstadosUnidos pelo Dr. Kabat consiste no uso de padrões funcionais demovimento para aceleração das respostas neuromusculares, emque o fisioterapeuta dá vários estímulos sensoriais para facilitaro movimento, como pressão e toque com as mãos sobre o corpoe no sentido do movimento, estiramento rápido do músculo a serestimulada (facilitado), tração ou compressão conforme objetivo ecomando de voz do fisioterapeuta para estímulo ao movimento. Atécnica pode ser utilizada para início de contração, fortalecimentomuscular, aumentar a mobilidade e melhorar a coordenação motora(FAVARÃO & PIERETTI, 2004). Os padrões de facilitação neurofuncional proprioceptiva(FNP) de fortalecimento utilizados para joelho são os que destacama rotação tibial manualmente resistidos, essenciais para o treino dafunção normal. Os movimentos são realizados em cadeia cinéticaaberta, devendo incluir apenas contração ativa, utilizando o padrãode movimento funcional. Padrões resistidos são feitos em períodosem que o músculo já está mais fortalecido Os exercícios sãofeitos sempre em diagonais, seguindo os movimentos funcionais,em todos os ângulos que a articulação permite (PRENTICE &VOIGHT, 2003). A vantagem do FNP/Kabat é que a parte mais forte damusculatura fortalece as debilitadas e por serem atividadesalternadas a fadiga demora mais tempo para ocorrer. A posiçãoem alongamento é o estímulo de estiramento, o contato manual éo estímulo visual, ainda conta com o estímulo verbal e a máxima62

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEresistência é a seqüência de movimento. A contração gera omovimento, trabalha função, gerando atividade (PRENTICE &VOIGHT, 2003). A corrente Russa trata-se de uma corrente elétrica bifásica,com ciclo positivo e negativo, possui uma corrente portadora de2500 Hertz ou 4000 Hertz, agindo diretamente no sistema nervosoperiférico, diminuindo a sensibilização do paciente, possibilitandoque sejam aplicadas maiores valores de corrente. A corrente aindatem uma freqüência de ação muscular, podendo ser trabalhadoem vários tipos de fibras, dando maior resultado na hipertrofiamuscular (FILHO, 2003). Para que seja escolhida a freqüência adequada no objetivodo tratamento é preciso conhecer as fibras que serão estimuladas.Como com o enfraquecimento perdemos mais fibras rápidas(contrações fortes e rápidas, com fadiga rápida) e aumentam asfibras lentas (resistentes à fadiga, mas necessitam maior tempopara gerar força) é preciso escolher dentro da corrente russaa estimulação correta para nossos objetivos. À medida que aintensidade da estimulação elétrica aumenta mais fibras muscularessão estimuladas, dando lugar a contrações mais fortes. O trabalhose torna muito mais eficaz se, junto com a corrente elétrica, forrealizada contração muscular ativa contra uma resistência. Asfibras musculares tônicas e fásicas devem ser estimuladas para quese obtenha um trabalho muscular mais efetivo. Porém dependendodo objetivo funcional é que se determina qual delas deve serpriorizada. No caso dos portadores de gonartrose enfatizam-se asfibras fásicas, responsáveis pelas contrações rápidas e potentes queatuarão diretamente no fortalecimento do quadríceps. (PRENTICE& VOIGHT, 2003). 63

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimento4 CONCLUSÃO Dentre os benefícios do reforço muscular em portadoresde gonartrose estão: a redução de alterações funcionais, afacilitação das atividades diárias, a redução da dor, o aumento deamplitude de movimento e força muscular e a melhora da posturae do condicionamento físico. O tratamento fisioterapêutico variade acordo com cada caso, dependendo do estágio clínico daarticulação, porém sempre objetiva o ganho de função sem geraçãode estresse articular. Uma das causas mais significativas que levam a gonartroseé a fraqueza muscular, causada por diversos fatores gerados pelosedentarismo, pela obesidade e pelo desequilíbrio muscular quepodem ser reforçadas através de posturas erradas e de atividadesrealizadas de forma inadequada. Apartir, do estudo anatômico e fisiopatológico da articulaçãodo joelho bem como das teorias fundamentais da fisiologia doexercício pode-se chegar à análise dos recursos fisioterapêuticosque beneficiam o fortalecimento e que podem prevenir ou retardaros agravos da gonartrose. Através dos mecanismos fisiológicos da contração musculardurante o exercício, fica evidente o papel do cálcio na geração deforça sendo que sua falta é, portanto, um fator desencadeante dafraqueza muscular e conseqüente desequilíbrio que pode gerar agonartrose. Os tipos de exercícios, de acordo com cada músculo,podem favorecer o fortalecimento, acelerando os benefíciosque o mesmo proporciona frente à gonartrose. Como no caso da64

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEcontração tipo isotônica que aumenta a resistência e a isocinéticaque vai proporcionar ao paciente graduar a mesma. Entre os apresentados, o método DeLorme foi o que menospareceu viável já que necessita de um elevado tempo de duraçãopara que seja realizado, apresenta a utilização de cargas compesos indefinidos, exige alta resistência do indivíduo praticante,além de serem restritas a alguns usuários em vistas as suas contra-indicações. O Biofeedback foi considerado um auxílio para que osexercícios dentro de cada técnica sejam mais bem aproveitados eindique qual a deficiência ou a condição da musculatura trabalhada.Tem grande importância para a reeducação dos pacientes e treino,mas nem sempre é um recurso disponível ao paciente. A busca de recursos fisioterapêuticos para o fortalecimentomuscular na gonartrose fez com que se levantasse uma gamade técnicas indicadas para a patologia, porém as que parecemtrazer mais benefícios são aquelas que combinam movimentos,englobando as atividades funcionais e atingindo de formauniforme a musculatura. Por isso percebe-se que a musculatura dosjoelhos deve ser priorizada, mas não deve ser esta apenas o focoreabilitativo, uma vez que toda musculatura de forma global deveser estimulada. As técnicas que se enquadraram nestes quesitosforam: os exercícios isométricos, o Isostreching, a musculação, ométodo Pilates, a hidroterapia, o método Qi Gong, o método Kabatou FNP e a corrente russa. Portanto, apesar de algumas mudanças fisiológicas naarticulação não poderem ser evitadas, o fato de as conhecê-las através da sua fisiopatologia e dos recursos fisioterapêuticosdisponíveis mais utilizados abre caminhos para criação de um 65

TAVARES, Aline Fróes – GOMES, Thais do Nascimentotratamento preventivo ou curativo mais efetivo que impeça o avançoda gonartrose. O reforço muscular efetivo pode ser conquistadoatravés de um enfoque personalizado as necessidades do paciente eadaptado ao seu estilo de vida.5 REFERÊNCIASALBUQUERQUE, Leiliane. Músculos agonistas e antagonistas.2003. Disponível em: <www.wgate.com.br/fisioterapia>. Acessoem: 7 set. 2008.BARRA, B. S. O efeito do método Pilates no ganho daflexibilidade. 2007. Disponível em: <www.cdof.com.br/>. Acessoem: 26 set. 2008.BOTTOMLEY, Jennifer M. Biofeedback: Mente e corpoconectados. In: DAVIS, Carol M. Fisioterapia e Reabilitação:Terapias Complementares. 2. ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2006.CAMARGO, P. de F. A. Avaliação e Orientação Física. Fazerou não musculação? 2008. Disponível em: <www.sentirbem.com.br/>. Acesso em: 24 set. 2008.CAMARGO, P. A.; SANTOS, J. S. Exercícios isométricos:aliados na malhação. 2007. Disponível em: <www.xenicare.com.br/>. Acesso em: 21 set. 2008.CAMPION, Margaret Reid. Hidroterapia: Princípios e prática.São Paulo: Manole, 2000.CAROMANO, FÁTIMA M.; CANDELORO, Juliana M.Fundamentos da hidroterapia para idosos. 2001. Disponívelem: <www.sld.cu.pdf >Acesso em: 28 set. 2008.COUTRIN G. C.; GUEDES L. U.; MOTTA, A. R. Treinamentomuscular na face: a prática dos fonoaudiólogos de Belo Horizonte.Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 13, n. 2,p. 127-135, 2008.DAVIS, Carol M. Fisioterapia e Reabilitação: TerapiasComplementares. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.66

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSEFAVARÃO, D. M.; PIERETTI, M. C. A Utilização do MétodoKabat na Paralisia Facial Periférica. 2004. Disponível em:<www.fai.com.br/> Acesso em: 1 out. 2008.FILHO, Blair J. R. Biomecânica Global. 2003. Disponível em:<www.wgate.com.br/ /fisioterapia/>. Acesso em: 7 set. 2008.JACOB, W. Stanley; FRANCONE, Clarice A.; LOSSOW, Walter J.Anatomia e Fisiologia Humana. 5. ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 1990.LIMA, D. R. Café, uma bebida natural, é a mais saudável paraatletas. 2001. Disponível em: <www.abic.com.br/> Acesso em: 20set. 2008.MATTOSO, Juliana. Intervenção fisioterapêutica através dométodo de DeLorme. 2006. Disponível em: <www.wgate.com.br/fisioterapia/> Acesso em: 8 out. 2009.MELO, Sebastião L. et al. Avaliação da força muscular de flexorese extensores de joelho em indivíduos com e sem osteoartrose.Revista Brasileira de Cineantropometria & DesempenhoHumano, v. 10, n. 4, p. 335-340, 2008.OLIVEIRA, Éder J. I., Porque a musculação é tão recomendada?Disponível em: <www.ciadofitness.com.br/> Acesso em: 24 set.2008.OLIVEIRA, Elaine O.; CARVALHO, Renata O.; SILVA, Renata S.A Indicação do Fortalecimento em Paciente com Gonartrose.Disponível em: <www.vitalsampol.com.br/>. Acesso em: 9 set.2008.PALASTANGA, Nigel; FIELD, Derek; SOAMES, Roger.Anatomia e movimento humano estrutura e função. 3. ed. SãoPaulo: Manole, 2000.PEREIRA, M. J. et al. Efeitos do método Pilates na lombalgia:Estudo de 2 casos. 2008. Disponível em: <www.wgate.com.br/fisioterapia/> Acesso em: 26 set. 2008.PERNOMIAN, C. V. Isostreching. Disponível em: <www.fisioclinicacianorte.com.br/> Acesso em: 22 set. 2008.PINTO, Verônica S.; SOUSA, Valéria P.; CAMERON, L. C. Asbases estruturais e moleculares da contração muscular. FisioterapiaBrasil, n. 4, p. 298-305, 2004. 67

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O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICAO TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA BEZERRA, Juliane Pukall1 GOMES, Thais do Nascimento2 RESUMO Este estudo foi sancionado pelo uso da técnica de estabilização central pélvica no tratamento da dor lombar. A dor lombar tem causas multifatoriais podendo levar a desgastes físicos, emocionais e funcionais prejudicando na qualidade de vida. Neste estudo que tem por objetivo conhecer como a estabilização central pélvica pode ser eficaz no tratamento da dor lombar a investigação se dá através das alterações que desequilibram a musculatura extensora e flexora do tronco e como os músculos paravertebrais e abdominais podem auxiliar na estabilização e sustentação da coluna lombar para uma movimentação ampla e saudável. O tratamento da dor lombar através da estabilização central pélvica visa trabalhar com o equilíbrio estático e dinâmico nas1 Fisioterapeura, pós-graduanda em Fisioterapia Dermatofuncional2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituro Cenecista do Ensino Superior,Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia, Especialista emSaúde Pública, Especialista em Docência para o Ensino Superior e Mestre em Educação nasCiências. 69

BEZERRA, Juliane Pukall – GOMES, Thais do Nascimento disfunções musculoesqueléticas. O estudo evidenciou que a estabilização central pélvica pode permitir que seu praticante retorne suas atividades diárias em um nível alto de funcionalidade, melhorando o controle postural, o sistema neuromuscular, garantindo o equilíbrio da musculatura do tronco e abdominal. Palavras–Chave: Dor Lombar, Estabilização Central Pélvica e Método Pilates. ABSTRACT The present research was sanctioned by using the central pelvic stabilization technique on back pain treatment. Back pain has multi-factorial causes that can lead to physical, emotional and functional consuming, which affects life quality. This research finding out how central pelvic stabilization may be efficacious for the treatment of back pain which is investigated through changes that unbalance the torso´s extensor and flexor musculature with paravertebral and abdominal muscles that must support the stabilization and sustentation of the spinal tap for wide and healthy movements. Back pain treatment through central pelvic stabilization aims at working with the static and dynamic muscular distemper which occours muscle/ boné related dysfunctions. The torso´s musculature interacts with others structures forming a dynamic system offering strength, stability and dynamic70

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA balance. The research showed that the central pelvic stabilization enables the person to return to his/her daily activities in a highly functional level improving postural control and neuromuscular system which assures torso and abdominals muscular balance. Keywords: Back Pain, Central Pelvic Stabilization, Pilates Method.1 INTRODUÇÃO Atualmente diversos estudos vêm demonstrandopreocupação com distúrbios relacionados à coluna lombar. Nota-se que cerca de 2,4% (homens) e 1,7% (mulheres) da populaçãoeconomicamente ativa já presenciou ou presencia episódios dealgias lombares. A dor instalada de forma contínua ou por longosperíodos facilita o desenvolvimento de distúrbios psicomotorespodendo vir acompanhado de outros sintomas como: desconforto,fadiga e rigidez articular (SILVA et al., 2004; REINEHR et al.,2008). Das diversas técnicas utilizadas pela fisioterapia notratamento da dor lombar as que se baseiam na estabilizaçãocentral pélvica objetivam fortalecer o centro de força ou “powerhouse” que é constituído por grupos musculares da região dacintura pélvica que se estendem da base das costelas até a regiãoinferior da pelve e que geram um regime preventivo e terapêuticoessencial para o alívio da dor lombar. Esse centro localiza-se juntoao centro de gravidade corporal e fornece através de sua ação uma“cinta muscular” que trabalha estabilizando a coluna, o tronco e osmovimentos dos membros (REINHER et al., 2008). 71

BEZERRA, Juliane Pukall – GOMES, Thais do Nascimento Os músculos paravertebrais e abdominais devem manter-seequilibrados com as demais estruturas para que constitua um sistemadinâmico que forneça força, estabilidade e auxilie na estabilizaçãoe sustentação da coluna lombar em uma movimentação ampla esaudável. Este estudo buscou investigar os mecanismos utilizadospela estabilização central pélvica através da análise de seufuncionamento, de suas inter-relações com a dor lombar e como desequilíbrio muscular estático e dinâmico da musculatura dotronco.2 MATERIAIS E MÉTODOS O estudo desenvolveu-se como uma pesquisa bibliográficabaseado em artigos científicos, livros e demais periódicos a cercado tema.3 DISCUSSÃO A coluna lombar auxilia o corpo humano a adaptar-sefuncionalmente como um pilar de suporte oferecendo equilíbrioestático e dinâmico para a musculatura do tronco. As estruturasque a compõem suporta uma pressão permanente que é amortecidapelas forças gravitacionais que se formam neste local através docentro de gravidade corporal (PALASTANGA et al. 2000; HORRE& DALLEY, 1999). As concavidades da coluna vertebral têm a função desustentar grandes cargas compressivas. As vértebras, os discosintervertebrais, ligamentos, articulações e músculos interagem72

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICAformando uma estrutura dinâmica promovendo ao corpo humanomovimento em diversas dimensões (CANAVAN, 2000) A musculatura encurtada ou enfraquecida vai restringir acapacidade da pelve e da região lombar em manter seu alinhamentocorreto causando déficit no desempenho funcional e físico devidoao efeito dos músculos em suas fixações (DILLMAN, 2004). Os músculos do tronco, principalmente os músculostransverso do abdômen e multífido lombar, devem fornecerendurece, força e resistência suficiente para uma ótima eficáciado sistema musculoesquelético (CRAIG, 2000; HODGES &MOSELEY, 2003). Segundo O’Sulivan, o multífido lombar e o transverso doabdômen tem com funções: O músculo multífido fornece controle dinâmico para o movimento segmentado na zona neutra. E o transverso do abdômen auxilia na manutenção da pressão intra- abdominal, agindo em co-contração com o multifidio lombar através do seu apego toracolombar (2002, p.6). A dor lombar é uma resposta adaptativa e protetora aoestresse imposto a coluna vertebral e que se reflete através deresposta irritável dos músculos quando realizam movimentosrápidos de torção ou de levantamento causando déficit funcionais(DUFOUR, 2004). Vários são os mecanismos de resposta doorganismo à dor além das alterações na excitabilidade do sistemamotor como a reação do sistema sensorial e nervoso central(HODGES & MOSELEY, 2003). Muitos pacientes com dor lombar apresentam diminuiçãoda contração dos músculos do tronco, dos discos intervertebrais, do 73

BEZERRA, Juliane Pukall – GOMES, Thais do Nascimentocontrole muscular e um maior depósito de gordura na região lombar(PARKKOLA et al., 1993). A atividade elétrica em pacientes comdor lombar apresenta-se aumentada e a fadiga dos eretores daespinha mostram-se evidentes. Ocorre a perda da mobilidade nosegmento L5 e S1 com o aumento subseqüente na mobilidade deoutros segmentos (DUFOUR, 2004). A instabilidade lombar é uma evidente alteração encontradaem indivíduos com dor lombar (HODGES & GANDEVIA, 2000).Sendo definida por Bisschop: É um prejuízo na capacidade do sistema estabilizador da coluna lombar em manter a zona neutra da amplitude do movimento de um segmento dentro dos limites fisiológicos. Que muitas vezes pode alterar-se devido a um desequilíbrio muscular (2003, p. 122). Por isso a co-contração da musculatura extensora e flexorado tronco antagonista é imprescindível para possibilitar umaestabilidade mecânica à coluna lombar para manter-se em umaposição neutra (CHOLEWICKI et al., 1997). A estabilização central pélvica ocorre pelo controlemecânico articular onde os músculos agem como limitadores econtroladores dos movimentos evitando desequilíbrios musculares,padrões de distorção, dominância sinérgica e adequando o controlepostural dinâmico ideal para a realização dos movimentosfuncionais (PRENTICE & VOIGHT, 2003). O mecanismo utilizado na estabilização central é aconcentração que ajuda o sistema nervoso central (SNC) nasolicitação dos músculos adequados para a realização das atividades74

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICAfuncionais promovendo ativação antecipatória dos músculosprofundos, aperfeiçoando a estabilidade lombar ocasionando alívioda dor (GUEDES, 2000). A estabilização ocorre por três sistemas: sistema passivo,ativo e neural que devem manter-se em equilíbrio e interligadotrabalhando a conscientização corporal para que as estruturasforneçam estabilizações necessárias para a movimentação. Sendoassim, a estabilização central pélvica visa fortalecer o centro deforça ou “power house” prevenindo ou tratando a dor lombar(GUEDES, 2000). A contração dos músculos do tronco deveser aprendida com certo nível de consciência uma vez que estesmúsculos agem de forma involuntária (LIEBENSON, 2000). O treino muscular para garantia da estabilidade deve estarassociada a posição neutra da pelve, ou seja, a pelve não deve estarnem na anteversão ou na retroversão pélvica, mas neutra a estasduas posições. A amplitude de movimento fisiológica total duranteo treino divide-se em duas zonas: a zona neutra que correspondea posição inicial da amplitude de movimento contra o mínimode resistência e a zona elástica que é a porção da amplitude demovimento mais próxima a amplitude final dentro da zona neutracom uma resistência interna maior (PALASTANGA, 2000). A estabilização central pélvica divide-se em cinco estágioscom níveis progressivos de dificuldade conforme a consciênciacorporal do indivíduo. Gradualmente a contração deve sermantida por 6, 10 e 20 segundos para que após seja aumentadoo número de repetições e evolução para o próximo estágio. Oestágio I os exercícios dão ênfase no recrutamento de músculosabdominais, glúteos, posteriores de coxa e transverso do abdômen,sem anterversão ou retroversão pélvica durante as contrações.Envolvem neste primeiro estágio exercícios como a ponte, flexãolateral, cinturão abdominal. No estágio II ocorrem os exercícios 75

BEZERRA, Juliane Pukall – GOMES, Thais do Nascimentode correção do desequilíbrio de força e resistência muscular,progredindo os exercícios do estágio I com maior nível deexigência. No estágio III o objetivo é a reeducação dos músculosestabilizadores abdominais e escapulares em cadeia cinética, comexigência ainda maior que a anterior. O estágio IV se dá através deexercícios avançados de estabilização dinâmica onde se incluem osexercícios pliométricos (REINEHR et al., 2008). Através da orientação das fibras musculares a contraçãodo músculo transverso do abdômen resulta na diminuição dacircunferência abdominal causando aumento da tensão na fásciatoracolombar e aumento da pressão intra-abdominal. Por issoa compressão axial e as forças de cisalhamento são reduzidas etransmitidas por uma área maior, tornando a região lombar maisestável durante o levantamento de cargas externas. Portanto ofortalecimento dos músculos que constituem o “centro” podedar maior estabilidade à coluna atuando como se fosse uma“plataforma biomecânica” que se tornando mais sólida e eficientee ajusta os músculos periféricos ligados a coluna lombar e a pelvedistribuindo as forças na pelve e nos membros inferiores (HODGES& MOSELEY, 2003). A reabilitação musculoesquelética tradicional enfatiza amecânica articular isolada com a melhora da ADM, flexibilidade,aumento da força e da resistência muscular, ao invés de trabalharas informações aferentes obtidas pelas articulações que sãoprocessadas pelo sistema de controle postural. Recentemente tem-se dado ênfase as modalidades cinesioterapêuticas que enfatizamo treino proprioceptivo destacando o sistema neural da articulação(PRENTICE & VOIGHT, 2003). Dentre os recursos cinesioterapêuticos que auxiliamno reequilíbrio muscular e na normatização dos músculos dotronco através da estabilização central estão: o método Pilates,76

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICAa contrologia, o alongamento pós-facilitação e os exercíciosespecíficos em cadeia cinética funcional. O Método Pilates utiliza exercícios que favorecem otrabalho dos músculos estabilizadores, promovendo a eliminaçãoda tensão excessiva em certos grupos musculares evitando dessaforma as compensações causadas por desequilíbrios musculares(CRAIG, 2005; GUEDES, 2000; DAVIS, 2006; FERNANDES,2006). A atividade harmônica entre músculos locais e globaispermite a estabilização da coluna lombar. Estudos evidenciamque o músculo transverso do abdômen é o primeiro a ser ativadodurante os movimentos do tronco e membros tendo ação sinergistae adotando uma reação antecipatória aos movimentos produzindoassim a firmeza necessária à coluna lombar. A desativação destemúsculo-chave pode gerar desequilíbrios musculares importantese consequentemente levar à dor (PEREIRA et al., 2008). O alongamento pós-facilitação utiliza no tratamento demúsculos encurtados através de contração isométrica sustentadadurante 7 segundos seguida de 12 segundos de alongamento(HAMMER, 2003). Este tipo de modalidade reabilitativa podeauxiliar na reequilibração muscular beneficiando a estabilizaçãocentral. A reabilitação em cadeia cinética funcional que visamelhorar a capacidade do sistema nervoso central (SNC) depermitir que os músculos agonistas, antagonistas, sinergistas,estabilizadores e neutralizadores atuem de forma eficiente paramanter-se em equilíbrio e por isso pode ser um método coadjuvanteao da estabilização central (PRENTICE & VOIGHT, 2003). As modalidades que derivam da estabilização centralpélvica ou a associam durante os exercícios proporcionam 77

BEZERRA, Juliane Pukall – GOMES, Thais do Nascimentobenefícios sem prejudicar a flexibilidade, enfatizando a contraçãoisotônica (concêntrica e excêntrica) e isométrica nos músculos dotronco e abdominais que formam o centro de força (GUEDES,2000). Pelo fato de desenvolverem a conscientização corporalaprimorando o seu desempenho em tarefas funcionais, melhorandoo condicionamento físico, a capacidade cardiovascular e a reeducando1a respiração diafragmática. Por isso pode ser um excelente recurso1indicado no controle da dor lombar (TEIXEIRA, 2004).4 CONCLUSÃO Através do presente estudo pode-se constatar que odesequilíbrio muscular e a deficiência do controle neuromuscularocasionados na musculatura extensora e flexora do tronco sãouma das mais importantes causas dos distúrbios que ocorremna coluna lombar e que por sua conseqüência levam a dor destaregião. Para manterem-se funcionais estes músculos devem estarfortes e capazes de fornecer sustentação a pelve e a coluna lombarauxiliando também na proteção e suporte as demais estruturas. A estabilização central pélvica se dá pelo controlemecânico articular, através da contração muscular isométricaconsiderando como um centro de força que estabiliza a coluna econseqüentemente aliviando a dor. Assim a técnica visa manter ourestabelecer um centro neuromuscular integro fornecendo força eresistência para impedir movimentos compensatórios. Portanto a estabilização central pélvica permite que oindivíduo em tratamento retorne as suas atividades diárias em umnível alto de funcionalidade, melhorando todo o sistema postural,neuromuscular e reequilibrando a musculatura que dá suporte esustentação a coluna lombar consequentemente diminuindo a dor epermitindo a normatização da estabilidade lombar.78

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA5 REFERÊNCIASBISSCHOP, Pierre. Instabilidade Lombar: implicações para ofisioterapeuta. Revista Terapia Manual, v. 1, n. 4, p.122-126,2003.CANAVAN, Paul K. Reabilitação em medicina desportiva: umguia abrangente. São Paulo: Manole, 2000.CHOLEWCKI, Jacek; PANJABI, Manohar; KHACHATRYAN,Armen. Função dos músculos flexores e extensores do tronco naestabilização da coluna em uma posição neutra. Spine, v. 22, n. 19,p. 2207-2212, 1997.CRAIG, C. A função do transverso do abdômen na promoção daestabilidade vertebral. Revista de Terapia Manual, v. 4, n. 2, p.107-113, 2000.CRAIG, C. Pilates na Bola. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2005.DAVIS, Carol. Fisioterapia e reabilitação: terapiascomplementares. 2. ed. São Paulo: LAB, 2006.DILLMAN, E. O pequeno livro de Pilates: guia prático quedispensa professores e equipamentos. Rio de Janeiro: Record,2004.DUFOUR, Michel. Anatomia do aparelho motor: cabeça etronco. Vol. 3. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.FERNANDES, F.S. Método Pilates. 2006. Disponível em:<www.cyberdiet/>. Acesso em: 4 mar. 2008.GUEDES, S. B. Desequilíbrios musculares: fortalecimento,alongamento e relaxamento com o método pilates. 2000. Disponivelem: <www.efisioterapia.net/>. Acessado em: 17 ago. 2008.HAMMER, I. W. Exame Funcional dos tecidos moles etratamento por métodos manuais. 2. ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2003.HODGES, P.; GANDEVIA, S. Mudanças na pressão intra-abdominal durante postural e respiratório humano ativação dodiafragma. Revista Fisioterapia, v. 89, p. 967-976, 2000.HODGES, P.W.; MOSELEY, G. L. Pain and motor control of thelumbopelvic region: effect and possible mecanhisms. Journal ofElectromyography and Kinesiology, v. 13, n. 4, p. 361-370, 2003. 79

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O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMERO EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER NASCIMENTO, Gabriela Lied1RESUMONo Brasil e no mundo, o número de idosos vemaumentando consideravelmente, fenômenoacompanhado pela crescente incidência e prevalênciade doenças típicas da terceira idade, dentre elas aDoença de Alzheimer (DA), que é uma das principaiscausas de demência e fator resultante de diversasincapacidades físicas e mentais. Acredita-se nanecessidade de encontrar meios preventivos paraesta patologia, especialmente através da prática deexercícios físicos. O presente estudo caracteriza-se por uma revisão bibliográfica de artigos e livrospublicados de 1995 a 2008, em língua portuguesae inglesa, sobre a prevenção da DA e a ação dosexercícios físicos na sua prevenção, com o objetivode avaliar se seriam benéficos ou não. Com baseno estudo realizado, observou-se que a inatividadefísica é considerada um fator de risco para a DA.1 Fisioterapeuta, pós-graduanda em Docência para o Ensino Superior e em Fisioterapiaem Uroginecologia. Formanda no Método Pilates. 81

NASCIMENTO, Gabriela Lied Assim sendo, o exercício físico, quando praticado regularmente, pode amenizar o declínio cognitivo a longo prazo. Dentre os efeitos do exercício físico sobre a função cognitiva, destaca-se a redução da formação de placas de proteína β-amilóide no cérebro, o que é relevante na abordagem preventiva da DA. Quanto maior for a demanda cognitiva exigida através do exercício, melhores serão os resultados. Concluiu- se que o exercício físico regular pode prevenir a DA, quando praticado a longo prazo e, anteriormente a um comprometimento cognitivo leve ou algum tipo de demência. Características individuais como a predisposição genética para a DA e o histórico familiar também devem ser levados em conta nessa intervenção preventiva. Espera-se que esse estudo possa servir de estímulo a novas investigações que venham contribuir para a atuação da fisioterapia preventiva e para a qualidade de vida dos idosos. Palavras-chave: Exercício físico, prevenção, Doença de Alzheimer, cognição, idoso. ABSTRACT In Brazil and worldwide, the number of elderly people is considerable increasing, it’s a phenomenon followed by the growing incidence and prevalence of typical diseases in the third age, between then the Alzheimer disease (AD), that it’s one of the main causes of82

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMERdementia and resulted factor of several physicaland mental incapacity. It’s believed on the need tofind prevented resources for this disease, speciallythrough the practice of physical exercises. Thepresent study characterizes by a bibliographicalreview of articles and published books from 1995 to2008, in Portuguese and English languages aboutthe prevention of AD and the action of the physicalexercises in its prevention, with the aim of evaluatingwhether or not would be beneficial. Basing in thetook place study we could observe the physical needis considered a risk factor to the AD, in such case,the physical exercises when practiced regularly canreduce the cognitive decline in a long term. Betweenthe effects of the physical exercise on the cognitivefunction, it stands out the reduction of the β-amyloidprotein plates in the brain, that is relevant in thepreventive approach of the AD. Bigger the cognitivecontest demanding through the exercise, betterthe results. It concluded that the regular physicalexercises can prevent the AD, when practiced in longterm and previously to a light cognitive commitmentor some kind of dementia. Individual characteristicsas the genetic predisposing to the AD and the familiarhistoric also must be checked on this preventiveintervention. It’s hopped that this study can serve asa stimulus to new investigations that will contribute tothe preventive physiotherapy performance and to thelife quality of the elderly. 83

NASCIMENTO, Gabriela Lied Key-words: Physical exercise, prevention, Alzheimer disease, cognition, elderly.1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, com a queda da natalidade e o aumento daexpectativa de vida, várias populações do mundo vêm apresentandoum aumento considerável do número de idosos, fenômeno quetambém vem ocorrendo no Brasil. De fato, pesquisas concluemquanto à ocorrência futura de uma duplicação do número de idosos,aumentando assim, portanto, o universo de pessoas portadoras deincapacidades físicas e mentais. Além disso, uma das doenças que causam incapacidadesfísicas e mentais em idosos é a Doença de Alzheimer (DA). Seruma das principais causas de demência da população idosa é oque motivou eleger-se esta patologia como enfoque principal dopresente estudo. Delimitou-se esta pesquisa à investigação da ação dosexercícios físicos na prevenção deste distúrbio, com o objetivode avaliar se seriam benéficos ou não. Desta forma, estabeleceu-se como problema da pesquisa o seguinte questionamento: arealização de exercícios físicos de forma regular pode prevenir aDA? Através deste estudo, pretende-se identificar se hábenefícios dos exercícios físicos para a saúde mental e cognitivados idosos. Inicialmente esta revisão irá identificar os fatores derisco para a DA, discutir a sua fisiopatogenia e conhecer os efeitosneurofisiológicos dos exercícios físicos no idoso.84

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER A relevância da elaboração de pesquisas com a temáticaDA é justificada quando se considera o aumento progressivo naprevalência da DA com a idade, bem como o crescimento daproporção de idosos na população brasileira. Em contraste com o notável desenvolvimento e valorizaçãoda Fisioterapia Preventiva, muitas vezes os profissionais esquecemque também devem ser engajados na prevenção das doenças, entreelas da DA. A Doença de Alzheimer (DA) foi descrita pelo neurologistaalemão Alois Alzheimer em 1907, ao estudar uma paciente chamadaA. D. com 52 anos de idade que apresentava déficits cognitivose de memória importantes (MEDALHA &NAVEGA apud DRIUSSO & CHIARELLO, 2007). Examinandoanatomopatologicamente o cérebro da paciente durante a necropsia,Alzheimer observou um cérebro atrofiado com emaranhadosneurofibrilares, placas senis e perda neuronal (ALMEIDA, 1997). Alois Alzheimer contribuiu em diversos aspectos paraos novos entendimentos sobre a DA, como o quadro clínico eprogressão dos sintomas, anatomopatologia e correlação entreo quadro clínico e a patologia cerebral (ALMEIDA, 1997). Há100 anos o primeiro caso de DA foi apresentado à comunidadecientífica, e ainda há muito que se estudar sobre esta doença, poisalguns fatores como os seus mecanismos etiológicos, não estãobem esclarecidos. No Brasil, os primeiros estudos publicados sobre estapatologia concluem que a mais comum das demências é a DA, coma prevalência relacionada em grande parte com a baixa escolaridadee analfabetização (NITRINI et al., 1999). 85

NASCIMENTO, Gabriela Lied Calcula-se aproximadamente que entre as pessoas commais de 85 anos de idade, 20% têm uma forma grave de DA, alémdisso, um grande número de pessoas apresenta sintomas destadoença e ainda não foram diagnosticados (GELLER & REICHELapud REICHEL, 2001). A DA é considerada por Pittella (apud FREITAS, 2006),como a principal causa de demência e de doença no idoso, e comoum dos maiores problemas médicos e sociais da atualidade. EstePittela ainda expõe alguns dados epidemiológicos desta patologia: Ocorre em cerca de 1% da população entre 65-69 anos, em 15-20% após os 80 anos e em 40-50% após os 95 anos. A idade média de início da doença situa-se por volta dos 80 anos. Em cerca de 6-7% dos casos, inicia-se precocemente, antes dos 60-65 anos. Aproximadamente 7% de todos os casos de início precoce têm origem genética, com padrão de herança autossômica dominante (2006, p.224). Existem cerca de 4 milhões de casos de idosos com DA,e estima-se que até 2050 a incidência desta doença quadruplique,gerando um impacto ainda maior que o atual nas despesas de saúde,morbidade e mortalidade (ZABAR apud JONES, 2006). O transtorno cognitivo leve (TCL) é avaliado por Pittella(apud FREITAS, 2006), como um precursor de demências.Argimone Montes (2004) também consideram o prejuízo da memória um dosfatores de risco para a DA, assinalando-o como um indício inicial.Já Medalha e Navega (apud DRIUSSO & CHIARELLO, 2007)descrevem que o déficit de memória é comum entre a populaçãoidosa, com evolução para demência em alguns casos. Porém,acreditam que a grande maioria destes idosos, não desenvolve aDA.86

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER O envelhecimento é definido por Pittella (apud FREITAS,2006), como o principal fator de risco para a DA. De formasimilar, Zabar (2006) relata que o risco para esta doença aumentaprogressivamente com a idade, podendo dobrar a cada cincoanos, a partir dos 65 anos. Este autor ainda afirma que além daidade avançada, a história familiar (parentes de primeiro grau), ogenótipo da apolipoproteína E (ApoE), a hipertensão, o acidentevascular e níveis de homocisteína em jejum, também são fatores derisco. O padrão genético também está envolvido no surgimentodesta patologia. Smith (1999) aborda este assunto ao relatarque os genes da ApoE 4, da α-2-macroglobulina e da catepsinaD, que participam do metabolismo da proteína β-amilóide (Aβ),são fatores de risco; inclusive o gene da ApoE 4 é responsávelpor aproximadamente 50% dos casos de DA esporádicos e deacometimento tardio. Contudo, Pittella (apud FREITAS, 2006)afirma que a presença do alelo ε4 da ApoE não é necessária e nemsuficiente para o desenvolvimento da doença. Caramelli e Viel (2006) sugerem como potenciais fatoresprotetores para esta doença os exercícios físicos regulares, aescolaridade alta, fatores alimentares (dieta mediterrânea) e umaatividade intelectual produtiva. No meio de muitas tentativas, com objetivo de desenvolverum método diagnóstico preciso para a DA, surgiram alguns testes;porém, nenhum é considerado totalmente completo para este fim.Pittella (apud FREITAS, 2006) comenta a utilização do protocoloCERAD (Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’sDisease), em que se obtêm grupos diagnósticos. O diagnóstico da DA é considerado por alguns autorescomo de exclusão, devido às causas multifatoriais da patologia e 87

NASCIMENTO, Gabriela Liedalgumas semelhanças neuropatológicas encontradas no cérebro deidosos saudáveis. McRae (apud REICHEL, 2001) complementatal informação ao dizer que hoje, tal idéia está sendo modificadapor vários especialistas, que optam por um diagnóstico de inclusãopara esta doença, fundamentado nas características da história,exame físico e curso da doença. O autor também cita duas escalasque determinam a evolução e o estágio da DA, a Escala deDeteriorização Global e a Escala Clínica de Demência. Entretanto,não podemos esquecer que as análises histopatológicas continuamsendo o padrão ouro para a demarcação do diagnóstico da DA,apesar de exigirem um exame invasivo e “post mortem”. Um dos testes mais utilizados para o diagnóstico dealterações cognitivas é o Mini-exame do Estado Mental (MEEM).Segundo Abreu et al. (2005), o MEEM possui um questionáriodividido em categorias que avaliam funções cognitivas específicas,resultando em um escore que pode variar de 0 a 30 pontos. A suacombinação com uma escala funcional que avalie atividades davida diária (AVD’s), pode complementar o diagnóstico da doença.A identificação do transtorno cognitivo leve também é um achadoimportante, pois é caracterizado como uma fase pré-demencial dadoença (CARAMELLI & VIEL, 2006). Entre as múltiplas etiopatogenias da DA sugeridas pelospesquisadores, percebe-se que o padrão genético é preponderanteno surgimento desta patologia. Chaves et al. (2002) informam quea doença é transmitida de forma autossômica dominante, sendo queaproximadamente 25% da prole podem manifestar esta doença,correspondendo a um risco 3,5 vezes maior para aqueles indivíduoscom pelo menos um parente de 1° grau com esse tipo de demênciaem relação ao restante da população. O envolvimento etiológicodo padrão genético na DA, permite, segundo Pittella, uma divisãodesta doença:88

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER de início tardio, esporádico, o mais comum, associado com o alelo ε4 da apolipoproteína E (gene localizado no cromossomo 19q32.2); de início precoce, entre 40 e 50 anos, raro, familial, de herança autossômica dominante, devido a mutações do gene da: (a) proteína precursora do amilóide; (b) presenilina-1, o tipo familial mais comum; (c) presenilina – 2, o tipo familial mais raro; associado com a Síndrome de Down, na qual a trissomia do cromossomo 21 triplica o gene da proteína precursora do amilóide, favorecendo o aparecimento de alterações neuropatológicas similares às da DA nos portadores da síndrome de Down por volta da meia-idade e de demência em torno dos 40-70 anos (2006, p.224). Esta moléstia é caracterizada por vários sintomas ealterações neuropatológicas, fato que leva Geller e Reichel (apudREICHel, 2001) a sugerirem que seja uma síndrome e não umadoença propriamente dita.As alterações neurológicas microscópicase macroscópicas que ocorrem na DA são semelhantes àquelasderivadas do processo do envelhecimento, porém em intensidademuito maior. Pittella (apud FREITAS, 2006) relata que o cérebrodo portador de DA sofre redução do peso e atrofia cortical, difusa,bilateral e simétrica. Estas características são observadas commaior freqüência na parte medial do lobo temporal e nas áreasde associação dos lobos frontal e parietal, com estreitamento dosgiros e alargamento dos sulcos. A atrofia está diretamente ligadaà progressão, estadiamento e duração da patologia e tambémao distúrbio cognitivo, possuindo intensidade e local variávelconforme o tipo de DA (familial, esporádico, de início precoce outardio). Forlenza (2005) comenta que microscopicamente, nota-seperda de neurônios e degeneração das sinapses. 89

NASCIMENTO, Gabriela Lied Acredita-se que um dos fatores fisiopatológicos da DA sejaa falha do sistema colinérgico, através do envolvimento do núcleobasal de Meynert, que sofre diminuição do seu número de células,afetando a ação moduladora da memória, ação sobre a atividadedos neurônios do sistema límbico e do neocórtex associados àmemória (GARBELLINI apud REBELATTO & MORELLI,2007). Como a maioria dos neurônios acetilcolinérgicos se originano núcleo basal de Meynert, o envolvimento precoce deste núcleotem como conseqüência a diminuição dos níveis de acetilcolinacom a progressão da doença, prejudicando a cognição do idoso(ZABAR, 2006). Gallucci et al. (2005) mencionam que no examehistopatológico cerebral post mortem, observam-se, entre outrascaracterísticas, as placas senis e os emaranhados neurofibrilares,destacando-as como as principais lesões desta patologia. As placassenis e os emaranhados neurofibrilares são citados por Forlenza(2005) como estruturas compostas por massas granulares efilamentos ao redor das células nervosas, respectivamente. No quadro clínico da paciente Auguste D., Alois Alzheimerobservou que a queixa de ciúmes com relação ao marido progrediupara o surgimento de uma pessoa alheia, com deterioração damemória, passando a deambular pela casa, a perder objetos e aacusar as pessoas de perseguição (CARAMELLI & VIEL, 2006).Garbellini (apud REBELATTO & MORELLI, 2007) adicionaque as primeiras características observadas em um idoso portadorde DA, são alterações de memória com desorientação têmporo-espacial e alterações do reconhecimento simbólico. A evocação,o processamento e o armazenamento de novas informações sãoafetados por esse prejuízo na memória, no entanto, as informaçõesmais antigas são perdidas somente em estágios mais avançadosdessa patologia (CHAVES et al., 2002).90

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER McRae (apud REICHEL, 2001) descreve a DA como umapatologia de início insidioso e gradual, que somente manifesta seussinais neurológicos à medida que a doença progride. As alteraçõesna linguagem também podem ser observadas logo no início dadoença, como a dificuldade em encontrar palavras. Nos portadores de DA, nota-se um rápido e progressivodeclínio da independência na realização das AVD’s (McRae apudREICHEL, 2001). Conforme Garbellini ((apud REBELATTO &MORELLI, 2007), manifestações motoras clínicas como apraxia(dificuldade em executar tarefas motoras complexas na ausênciade déficit motor como fraqueza ou espasticidade), agnosia espacial(dificuldade de localização de objetos no espaço) e afasia (distúrbioda expressão ou da compreensão da linguagem) são observadasinicialmente no idoso com esta demência. Mais tardiamente,surgem as apraxias ideomotora e para vestir-se, as somatognosias(negligência corporal na ausência de déficit sensorial) e ocomprometimento global das funções cerebrais. Inicialmente, são os transtornos afetivos, a desinibição e airritabilidade que predominam nestes pacientes. Na fase moderadada demência, os sintomas psicóticos, a agitação e a ansiedadeaparecem. Já na fase avançada, a atividade motora aberrante épredominante. A apatia, a depressão, a perambulação e os sintomaspsicóticos também são sintomas desta demência (TAVARES &VIEIRA apud FREITAS, 2006). Como a DA é progressiva, o óbito acontece em torno dooitavo ano de evolução da doença, devido a comorbidades tais comobroncopneumonia, doenças cardiovasculares e embolia pulmonar.Na fase final desta demência, geralmente o idoso está debilitado,incapaz de andar, com hipofagia, incontinência urinária e fecal eaté mesmo úlceras de pressão por não se mover independentementena cama (PITTELLA apud FREITAS, 2006). 91

NASCIMENTO, Gabriela Lied O tratamento da DA baseia-se na melhora dos sintomas eno retardo da progressão da mesma, através da administração dealgumas drogas e da intervenção fisioterapêutica, já que a DA nãotem cura. Com relação ao uso dos medicamentos, hoje disponíveispara o tratamento desta patologia, não se conseguiu retardar a mortedas células afetadas, mas sim aumentar a liberação da acetilcolinapor meio dos fármacos antagonistas da acetilcolinesterase(colinesterásicos) (MEDALHA & NAVEGA apud DRIUSSO &CHIARELLO, 2007), ou diminuir a ação do glutamato, através douso da memantina (ARAÚJO & PONDÉ, 2006). Chaves et al. (2002)acrescentam que o Donepezil, a Galantamina e a Rivastigminatambém podem ser utilizadas no tratamento farmacológico destademência. A abordagem fisioterapêutica na DA visa especialmentepermitir que o idoso volte a realizar as suas AVD’s da melhormaneira possível, através das mesmas técnicas que são utilizadaspara a terceira idade, porém, de um modo especial e específicopara esta patologia. Orientações aos cuidadores e modificaçõesambientais, quando necessárias, também fazem parte destaintervenção. A assistência fisioterapêutica é em geral, preventiva,mantendo o indivíduo ativo e independente e evitando a progressãodos sintomas. Para tanto, nos estágios leves e moderados destadoença, objetiva-se prolongar a habilidade do idoso de movimentar-se independentemente e estimular as suas funções cognitivas(OLIVEIRA & WIBELINGER, 2005). Nóbrega et al. (1999) descrevem os diversos efeitosfisiológicos e psicológicos induzidos pelo exercício físico, sendoque alguns deles foram selecionados e organizados na Tabela 1.92

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMERTabela 1: Adaptações Fisiológicas e Psicológicas induzidas peloExercício Físico. Mantém e/ou melhora a densidade mineral óssea Melhora da força muscular e da flexibilidade articular Aumento do VO² máximo e melhora da função pulmonar Maiores benefícios circulatórios periféricos Aumento da massa muscular Melhor controle da glicemia e da pressão arterial de repouso Diminuição do peso corporal Melhora do equilíbrio, da marcha e da dependência na realização das AVD’s Melhora do perfil lipídico Aumento da auto-estima, da confiança e da qualidade de vidaFonte: Nóbrega et al. (1999). Atualmente, vários autores têm proposto a inatividadefísica como um possível fator de risco para o aumento dodeclínio cognitivo. Baseando-se nesta idéia, Yaffe et al. (2001)desenvolveram um estudo com 5925 mulheres saudáveis, de65 anos ou mais. Após 8 anos de estudo, os autores concluíramque quanto maior era o nível de atividade física das mulheres,menores eram os riscos de declínios cognitivos, relacionando talacontecimento ao estilo de vida saudável, a redução nos fatores derisco cardiovasculares e a efeitos diretos sobre os neurônios. Deforma similar, Weuve et al. (2004) selecionaram 18766 mulheressaudáveis de 70 a 81 anos. O exercício físico regular, incluindomodalidades como a caminhada, foi associado a um melhordesempenho cognitivo e a um menor declínio desta função. O desempenho neuropsicológico de 40 mulheres nãodemenciadas na faixa etária de 60 a 70 anos, foi pesquisado porAntunes et al. (2001), com avaliação antes e após um programa 93

NASCIMENTO, Gabriela Liedde condicionamento físico aeróbico (caminhadas três vezes porsemana com duração de 60 minutos, exercícios de alongamento ede flexibilidade articular) de 6 meses de duração. Como resultadoobteve-se um enriquecimento da memória lógica, remota, remotavisual, imediata e operacional, uma melhora da atenção concentrada,da rapidez de reação (agilidade motora), da orientação têmporo-espacial, da fluência verbal, do consumo máximo de oxigênio etambém do humor, sugerindo-se que a atividade física pode ajudarno combate à depressão. Além do bem-estar mental, a memória foi investigadapor Perrig-Chiello et al. (1998) como um fator influenciado pelotreinamento de resistência com duração de 8 semanas, a curto e alongo prazo. Os resultados obtidos a partir da aplicação de testesespecíficos em 46 idosos, antes e após as intervenções, ressaltaramque este treinamento reforçou o bem-estar psicológico, e que emlongo prazo (depois de 1 ano), houve um acréscimo no desempenhocognitivo (memória). Apesar disso, os autores não consideramo treinamento de resistência como o único fator causal destebenefício, expondo os novos hábitos saudáveis, a motivação paranovos desafios e a autoconfiança como variáveis decorrentes destetipo de exercício que também influenciam o bom funcionamentocognitivo. Acreditando que o exercício pode aumentar aaprendizagem e a neurogênese em nível hipocampal, retardando ocomprometimento da cognição, Praag et al. (2005) desenvolveramum estudo com ratos jovens (3 meses de idade) e ratos velhos (19meses de idade) submetidos à prática de exercício físico em gaiolas(roda giratória). Os resultados e conclusões alcançados foram:maior vascularização do giro denteado reforçando a neurogênese; oato de correr ainda jovem causou manutenção da função cognitiva;94

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMERos novos neurônios dos animais com mais idade foram semelhantesaos produzidos pelos animais jovens, sugerindo que as funções dascélulas do cérebro destes animais estavam intactas; as propriedadesdestes novos neurônios não mudaram com o envelhecer o que indicauma sustentação da neurogênese; e o aumento da neurotrofina quepode contribuir para a melhoria da aprendizagem. Hillman et al. (2004) compararam as respostascomportamentais eletrocorticais de idosos com nível de atividadefísica baixo, moderado e elevado, com relação a um grupo controlecomposto por jovens. Concluiu-se neste estudo, que a atividadefísica melhora o controle da função cognitiva e a velocidade doprocessamento cognitivo, amparando a idéia de que moderadose elevados níveis de atividades físicas podem reduzir o declíniocognitivo. Apesar do que já foi exposto, o efeito do exercício físicosobre a função cognitiva irá depender de fatores como a intensidadee o tipo de atividade praticada. Há estudos que divulgaram que oexercício intenso com demanda anaeróbica máxima, pode causarfadiga e conseqüentemente um declínio cognitivo. Já o exercíciorealizado de forma aguda pode não originar resultados sobrea cognição, sendo necessária uma intervenção de longo prazo(ANTUNES et al., 2006). No tratamento da DA, a prática de exercício físico temalcançado ótimos resultados. O papel da Fisioterapia nesta doençafoi incluído no estudo de Arcoverde et al. (2008). Observou-seque a estimulação física e cognitiva dos portadores de DA, fez comque a progressão do quadro clínico (limitações físicas e cognitivas)diminuísse, em comparação com o grupo de idosos sedentários. O pesquisador Lautenschlager (2002) investigou meiosde prevenção de demências como a DA, analisando possíveis 95

NASCIMENTO, Gabriela Liedinterferências sobre os principais fatores de risco para estasdoenças. Ele recomenda o diagnóstico precoce de transtornoscognitivos leves nos idosos, identificados como os indivíduos commaior risco de desenvolver demência, afirmando que somenteantes destes sujeitos alcançarem maiores limitações essas medidaspreventivas poderão ser aplicadas. A prevenção da DA também foi estudada por Laurin etal. (2001), através de uma grande amostra de idosos canadensescognitivamente saudáveis (4615), acompanhados e avaliadosdurante 5 anos por meio de entrevistas, questionários e avaliaçõesmédicas correspondentes à atividades físicas e condições desaúde. Alcançaram-se os seguintes resultados: o exercício físicoregular foi associado a menores riscos de aparecimento da DA;quanto maiores os níveis de atividade física, menores os riscosde DA (através do mais elevado nível de atividade física ocorreuredução de 60% dos riscos para a DA, em comparação com os quenão praticavam atividades físicas). Estes resultados foram maisevidentes entre as mulheres do que entre os homens do estudo. De forma similar, Larson et al. (2006) desenvolveramum estudo com o objetivo de detectar a incidência de demência.Concluiu-se neste estudo que o exercício físico regular pode atrasaro aparecimento da DA, sendo que aqueles idosos praticantes deatividades físicas durante 3 ou mais vezes por semana, apresentaramuma taxa de incidência menor do que aqueles que exerceramexercícios físicos menos de 3 vezes por semana, correspondendo auma redução em 32% do risco de demência. O risco de DA associada a atividades físicas foi o objetode estudo de Podewils et al. (2005). Notou-se que os participantescom maior gasto de energia e maior número de atividades físicastiveram um risco menor de DA quando comparados com os outros96

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMERparticipantes. Os idosos que desenvolveram demência no decorrerdo estudo, foram aqueles com mais idade, menor nível educacional,os mais susceptíveis ao alelo ApoE 4 e com maiores dificuldadesfísicas. Crespo (apud FRONTERA, 2001) sugere que a menorprevalência de doenças crônicas entre indivíduos que se exercitamregularmente, pode estar relacionada não apenas a participaçãoem atividades físicas, mas também a uma predisposição genéticapara níveis altos de condicionamento físico, o que é comumenteencontrado em pessoas fisicamente ativas. Ainda neste contexto, Wang et al. (2002) verificou que,os idosos, que participam de atividades sociais e mentais, temuma menor incidência de demência quando comparados comaqueles que não as realizam. A incidência foi menor ao aumentara freqüência de participação nestas atividades. Atividades físicase de lazer também foram incluídas no estudo de Simons et al.(2006), como alternativas de proteção cognitiva. Observou-seque a atividade diária de jardinagem destacou-se, possuindo ummaior efeito de manutenção da função cognitiva do que outrasmodalidades, representando uma redução de 36% do risco de DA. O efeito protetor da atividade física é explicado por Marinhoet al. (2007), através de uma revisão bibliográfica sobre o assunto.Os autores comentam que a inatividade física e a perda progressivade memória acarretam a diminuição da síntese de fatores decrescimento neuronais como o fator neurotrófico derivado docérebro (BDNF). O BDNF é uma neurotrofina que estimula assinapses, a regeneração neural e a neuroplasticidade. A atividadefísica aumenta a liberação desta substância e conseqüentementeestimula a neurogênese, o aprendizado e o desempenho cerebral.Segundo estes autores, quando praticada regularmente, a atividadefísica aumenta a capacidade de aprendizagem e reduz a formação 97

NASCIMENTO, Gabriela Liedde placas de proteína beta-amilóide no cérebro, evitando odesenvolvimento da DA. Por meio de um estudo do tipo coorte, Verguese et al. (2003)verificaram a relação de alguns tipos de atividades de lazer com orisco de demência. Entre as atividades de lazer, a leitura, os jogosde tabuleiro, os instrumentos musicais e a dança foram associadosa um menor risco de demência. Este efeito foi observado em maiormagnitude naqueles que praticavam estas atividades num maiornúmero de vezes por semana, sendo que os idosos que fizerampalavras cruzadas quatro vezes por semana tiveram riscos 47 porcento menores de desenvolver demência, quando comparados comaqueles que praticavam esta atividade uma vez por semana. Wilson et al. (2002), em outro estudo, verificaram ahipótese de as atividades físicas diminuírem o risco de DA, obtendoresultados importantes como uma redução em 64% do risco deincidência dessa demência para os maiores níveis de atividadescognitivas, e em contrapartida, a quantidade de horas semanais deatividades físicas não foi relacionada ao risco da doença. Fabrigoule et al. (1995) selecionaram aleatoriamente2040 idosos na França e dentre as atividades sociais e de lazerencontradas, a jardinagem, o tricô e o ato de viajar, apresentaramsignificantes interferências sobre o risco de demências, quandorealizadas de modo regular, o que pôde ser observado na maioriados estudos encontrados.2 DISCUSSÃO Apesar de a maioria dos autores afirmar que o exercícioinduz vários benefícios psicológicos e cognitivos, alguns deles98


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