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Anuário 2010

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Description: Anuário 2010

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Anuário de Itajaí - 1949 101 deputado federal e governador do Estado de Santa Catarina. Em 1900 foi promovido a major por merecimento. Terminado o seu mandato governamental, representou o seu Estado no Senado Federal, durante alguns anos apenas, porque voltou ao cargo de governador. Quando tomou possa da Presidência da Província em 1902, o Dr. Rodrigues Alves convidou-o para o cargo de Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas. Data daí, a grande popularidade de que goza o Dr. Lauro Müller. Essa popularidade foi conquistada pelas obras importantes que então iniciou como, por exemplo, a construção da Avenida Central, hoje Rio Branco, na Capital Federal e a Construção e melhoramento de vários portos, inclusive o do Rio de Janeiro. Terminado o governo Rodrigues Alves, fez uma longa viagem pelos países da Europa. Voltou ao senado federal onde, desde então, representou papel proeminente. Havia sido eleito na renovação de mandato, para aceitar a pasta das Relações Exteriores, que lhe foi oferecida, após a morte do Barão do Rio Branco. Para a vaga deste na Academia Brasileira foi eleito em 1912. Em 1913 fez uma viagem aos Estados Unidos da América do Norte, a bordo do couraçado “Minas Gerais”, para corresponder à visita de Elihu Root ao Brasil; durante essa viagem, a Universidade de Harward concedeu-lhe o titulo de doutor em leis.” (“Enciclopédia e Dicionário Internacional”, edição Jackson, volume XIII, pags 7.652/3). Nº da Redação: - Onde na Enciclopédia se lê “n. na província de Santa Catarina”, modificou-se para “n. em Itajaí”. Olegário Souza Júnior – Rua – Nova denominação do antigo “Beco do Agrião”.O seu patrono nasceu em Itajaí em 1923. Aos 15 anos iniciou vida de marítimo, fazendoem barcos o percurso Itajaí-Blumenau. Passou-se depois para o “Araraquara”, doLloyd, no qual exercia as funções de segundo eletricista. Faleceu em 1943, quando oreferido barco, conduzindo um contingente de tropas, foi torpedeado numa travessia doAtlântico. Pedro Antônio Fayal – Rua – Denominação recente da “Rua da Terrestre”.Pedro Fayal nasceu em Itajaí mais ou menos em 1870 e, durante toda a sua vida,exerceu a profissão de estivador terrestre. Foi fundador da Sociedade Beneficente XVde Novembro e um dos grandes defensores de sua classe nesta cidade. Faleceu em SãoFrancisco em 1945. Pedro Ferreira (Dr.) – Rua – Pedro Ferreira e Silva nasceu em 1860 em Cachoeira,na Bahia, e morreu em Itajaí em 1911. Fez estudos preliminares em sua cidade natale secundários e superiores em Salvador, em cuja universidade se formou em medicinaem 1886. Pouco depois de formado, veio para Itajaí exercer a sua profissão. Médicocompetente e extremamente caridoso, tornou-se logo popularíssimo especialmente noseio das classes pobres. Foi esse prestígio popular, aliado ao seu ardor pela causarepublicana que o colocaram no torvelinho da política, levando-o à câmara estadual e,logo depois, à federal. Em 1895 foi eleito prefeito municipal de Itajaí, cargo que exerceuaté 1907, interrompendo-o neste ano para retomá-lo em 1911, data da sua morte. EmPedro Ferreira nunca o político deslustrou o profissional ou vice-versa. Exercia ambasas atividades com tal equilíbrio que jamais se poderá afirmar, com segurança, em qualdos dois terrenos o ilustre baiano foi maior. Talvez que o seu espírito humanitário otenha elevado mais no conceito popular como médico, mas a sua atividade à frentedo executivo municipal o imortalizou como político arguto e como administrador proboe realizador. Deve-lhe a cidade grandes obras, entre as quais citam-se o primeiro001-Anuario-002-63-136.indd 101 22/02/2011 10:46:45

Anuário de Itajaí - 1949 102abastecimento d’água, a sistematização do seu traçado urbanístico, a iluminaçãopública primeiro a querosene e depois a eletricidade, realizadas numa época em queo erário público era tão escasso que Pedro Ferreira destinava os seus subsídios deprefeito para manter uma escola. Pereira Neto – Rua – José Pereira dos Santos Neto nasceu em Itajaí em 1892e faleceu na mesma cidade em 1936. Foi na sua adolescência, aprendiz de mecânico,profissão que abandonou para seguir a carreira marítima, embarcando com 17 anoscomo carvoeiro de navio que fazia o percurso Itajaí-Rio de Janeiro. Durante a guerra de1914-1918, como foguista, fazendo a linha Rio-Estados Unidos. Desembarcou em 1930.Conta-se desta última data, as suas atividades em prol dos estivadores de Itajaí, cujasociedade fundou. Reconstituiu e deu estrutura aos quadros da Estiva e fundou a CaixaBeneficente dos Estivadores, cuja finalidade era possibilitar aos seus associados a casaprópria. Foi sempre um ardoroso defensor da classe portuária. Pedro José João – Rua – Antiga Rua do “Matador”. O seu patrono nasceu emItajaí em 1901 e faleceu em 1942. Iniciou a sua vida como aprendiz de mecânico. Com19 anos entrou para o Lloyd Brasileiro como praticante de máquina. Nesta companhiafez todo o seu aprendizado marítimo, chegando a chefe de máquina. Neste postofaleceu, quando o navio de que era tripulante, o “Cairú”, em operação de transporte, foitorpedeado em águas do Atlântico, em 1942. Samuel Heusi – Rua – Nasceu em Schaffhausen (Suiça) em 1838 e faleceu emItajaí em 1912. Em companhia da mãe viúva e dois irmãos, veio para o Brasil com 12 anos,em 1850, indo trabalhar na então Colônia Dona Francisca, hoje Joinville. Nesta colôniafoi um dos fundadores do “Clube Ginástico”. Com 21 anos, transferiu-se para Itajaí, ondeinicialmente exerceu as profissões de sapateiro e empregado no comércio. Foi um dosfundadores da Igreja Protestante desta cidade. Sua vida pública teve início em 1887,quando foi eleito vereador da Câmara Municipal, cargo que exerceu por várias legislaturas.Em 1894 foi nomeado Superintendente Municipal de Itajaí pelo vice-governador PolydoroOlavo de Santiago. Por várias vezes, exerceu a presidência da Câmara Municipal, cargoque ocupava em 1912, quando veio a falecer. A sua passagem pelo governo municipal,bem como por todos os cargos públicos que exerceu, caracterizou-se pela lisura comque sempre tratou a coisa pública, chegando, mesmo, a prejudicar-se em seus negóciosparticulares, sendo que, ao morrer, estava completamente pobre. Uma das obras do seugoverno é o matadouro público, ainda hoje em serviço. Silva – Rua – Nome de “Rua Silva” foi dado em homenagem a Joaquim Joséda Silva, nascido em São Francisco do Sul em 1831 e falecido em Itajaí em 1893. Sãoprecários os dados biográficos que conseguimos colher a seu respeito, visto que o seudescendente mais próximo, que nos deu estas informações, é a senhora Rosalina MariaBraga, neta do mesmo, e hoje com 70 anos de idade. Tudo faz crer que a denominaçãofosse dada, inicialmente, por tradição oral. Joaquim José da Silva começou a vida demarítimo aos 18 anos de idade, chegando a capitão de navio. Foi comandante de umbarco de propriedade de Antonio Pereira Liberato e mais tarde proprietário da mesmaembarcação. Deixando a vida do mar, estabeleceu-se em Itajaí com casa de negócio001-Anuario-002-63-136.indd 102 22/02/2011 10:46:45

Anuário de Itajaí - 1949 103nas imediações da atual “Samarco”, onde adquiriu vasta área de terras. Foi vereadormunicipal de 1881 a 1884. Doou à Prefeitura a faixa onde foi aberta a parte inicial daRua Silva. É bisavô do Sr. Domingos Braga. Umbelino Damásio de Brito – Rua – Nome da Rua das “7 casas”. Nasceu ohomenageado em 1867, em São José, neste Estado, onde freqüentou a escola pública.Com 14 anos foi residir em Curitibanos, exercendo inicialmente, a capatazia de umafazenda. Aos 20 anos era escrivão da coletoria estadual da referida cidade. Casou emprimeiras núpcias aos 25 anos, viuvando pouco depois. Com 29 anos contraiu segundasnúpcias em Itajaí. Neste município, foi condutor de tropas e negociante em Limoeiro. Foivereador municipal e, durante muitos anos, inspetor do quarteirão. A Rua que tem o seunome foi aberta em terras que lhe pertenciam. Faleceu em Itajaí em 1927. Vasconcelos Drumond – Avenida projetada - Homenagem retardada a AntônioMenezes de Vasconcelos Drummond, diplomata brasileiro, fundador de Itajaí, nascidoem 1794. Segundo Marcos Konder , em cujo opúsculo “A Pequena Pátria” vamos noslouvar, Vasconcelos Drummond teria aportado em Santa Catarina por desejo do ministrode D. João VI, Thomas Antônio de Vila Nova Portugal, de afastá-lo da Corte, onde o seuespírito de patriota se inflamava pela causa da Independência. Segundo essa fonte,Drummond veio pela primeira vez a Santa Catarina em 1818 e aqui voltou em 1819“especialmente para empreender a colonização das terras marginais de Itajaí. Aquiesteve, fundou povoados, construiu um barco e o despachou com um carregamentoao Rio de Janeiro. Foi ainda de Itajaí que ele mandou a madeira para a obra do museudo Campo de Sant’Ana, e mandou de presente, porque fora cortada e serrada à suacusta” (obra citada). Embora muito controverso, é qual certo que Itajaí foi fundado em1820, muito embora, já nessa data, existisse um pequeno estabelecimento agrícola,provavelmente onde hoje fica o bairro de Fazenda, a que os historiadores da épocadenominavam de “Fazenda dos Arzões”. Mas não padece dúvida de que o povoamentomais ou menos sistemático e duradouro foi a obra de Drummond. Regressando o jovemcolonizador para o Rio definitivamente em 1821, lá se envolveu nas lutas da independênciae fundou um jornal, “O Tamoio”, “onde a sua pena vibrante de panfletário verberava sempiedade o procedimento inqualificável dos traidores da independência”(ibid). Organizoue amparou o movimento libertário de Pernambuco, Bahia e outras províncias do norte.Proclamada a Independência, pela qual tanto se bateu, foi desterrado, juntamente comos irmãos Andradas, durante seis anos. Grande estudioso e espírito profundamente culto,“as academias disputavam a honra de acolhê-lo em seu seio. Assim é que ele foi escolhidomembro da sociedade de Geografia e da Sociedade Asiática de Paris, da Academia deBruxelas, da Sociedade Literária de Grand, da Academia Real de Nápoles, dos Arcades deRoma e de outros mais” (ib.). De volta ao Brasil depois do seu exílio recusou o posto deMinistro da Fazenda, “alegando não possuir capacidade para exercer tão elevado posto”. Vidal Ramos – Praça – Nasceu Vidal Ramos em Lajes em 1864. Como deputadoestadual, formou entre os constituintes de 1891. Exerceu a vice-governadoria do Estadode S. Catarina de 1902 a 1906. Foi eleito governador do Estado para o quatriêniode 1910-1914. A sua passagem pelo executivo estadual deu-lhe ensejo em executaruma grande reforma do ensino primário, tarefa para a qual encontrou eficiente e fiel001-Anuario-002-63-136.indd 103 22/02/2011 10:46:45

Anuário de Itajaí - 1949 104executor no inesquecível professor Orestes Guimarães. Como senador, representou oseu Estado de 1914 a 1926 e de 1935 a 1937. É coronel da antiga Guarda Nacional.Reside atualmente no Rio de Janeiro. Nota: - Há no balneário de Cabeçudas as Ruas Marechal Deodoro, MarechalFloriano, Benjamin Constant e Quintino Bocaiuva. Por serem todos os seus patronosfiguras nacionalmente conhecidas, omitimos os seus dados biográficos. Deixamos de incluir neste “roteiro” as Ruas “Blumenau” e “Brusque”, cujos nomes,ao que nos pareces, não se referem nem ao Dr. Hermann Blumenau, nem ao Dr. AraujoBrusque, e sim às cidades de Blumenau e Brusque, localizadas que estão no início dasestradas que levam às duas cidades vizinhas. O mesmo se poderá dizer da Rua Florianópolis, que não é uma homenagem ao“Marechal de Ferro”, mas a abreviatura da denominação popular de “Rua que vai paraFlorianópolis”.001-Anuario-002-63-136.indd 104 22/02/2011 10:46:47

Anuário de Itajaí - 1949 105 Alguns Aspectos do Itajaí Antigo Marcos Konder Pede-me Silveira Júnior alguns aspectos de Itajaí por ocasião do Centenário daDescoberta – 1900. Impossível se me torna relembrar fatos e épocas exatas, uma vez que, poucoantes do Centenário, eu havia deixado a escola primaria e complementar de Blumenaue ensaiava-me na vida comercial, para a qual não sentia vocação alguma. A morteprematura de meu pai deixara-me privado de entrar para um ginásio oficial para seguirum curso superior. O desaparecimento do velho Marcos Konder, que por sinal morrera bem moço,com apenas 48 anos, mergulhou o meu coração do mais profundo desespero. Motivosme sobram, portanto, para não ser um pregador elogioso do passado. Laudatortempotis acti -, como dizia o velho Horácio na sua Arte poética. Apelar para a minhamemória seria, segundo o poeta alemão Fr. Haug, ressuscitar almas frias, quandosomente a recordação sugere sentimentos vivos. Daí o dizer do nosso poeta -Recordar é viver, mas também é sentir. Quero, portanto, deixar falar os sentimentose recordar pedaços do Itajaí, tais quais eu os vi e senti após o centenário, impressõesque consegui gravar mais no coração do que na memória. Daí não poder fixar àsvezes épocas exatas, mas deixar a narração seguir o seu curso, como um relógio queora se adianta, ora se atrasa.001-Anuario-002-63-136.indd 105 22/02/2011 10:46:48

Anuário de Itajaí - 1949 106 Diga-se a verdade, sem querer ofender os brios da nossa terrinha, o Itajaí daquele tempo não era senão um porto atrasado – o atraso de uma época, em que o principal negócio girava em torno da madeira – a história se repete, – mas madeira serrada, em taboado ou pranchões ou pernas de serra que se alteavam em grades enormes para secar e para distinguir a lei, do refugo bom e da qualidade exportável do refugo ordinário. As pilhas começavam no alto da Rua Pedro Ferreira, no porto do Coronel Antônio Pereira Liberato – Tio Antonico chamado – e iam rio abaixo até o trapiche Konder, tendo de permeio os trapiches de João Bauer, Nicolau Malburg Júnior e Guilherme Assemburg. A madeira era toda comprada e exportada pelas firmas de Itajaí, que por sua vez se encarregavam do despacho da manteiga, banha, e carne de porco de Blumenau, e da mandioca, açúcar mascavo e polvilho, de Brusque e Gaspar. Mas, o principal negócio era a exportação de madeira, mandada exclusivamente em consignação para as praças do Rio e Santos – vendas de tabuado a preço fixo cif ou posto não se conhecia ainda. E para tal fim cada firma possuía os seus barcos à vela, desde o lugre “Almirante” de Antonio Liberato, do patacho “Tigre” de Reis e Bauer, da barca “Ramona” e outros de Malburg, do iate “Gertrudes” (célebres pelas suas viagens – relâmpago entre Itajaí e Santos) e da escuna “Felix” de Asseburg e do lugre “Vieria” de Konder. O mestre Pedro Júlio, comandante do “Gertrudes”, era tido como o melhor navegador da costa. Explicações necessárias: O coronel Antônio Pereira Liberato, fora chefe do antigo Partido Liberal em Itajaí. Nicolau Malburg Júnior era o sucessor do velho Nicolau Malburg, um dos negociantes mais antigos do nosso lugar, e avô dos atuais Malburgs. João Bauer era uma negociante de madeiras da colônia Brusque, pai de Bauer Junior e avô dos atuais Bauers. Bauer Júnior era pai de Arno Bauer. José dos Reis, ou capitão Reis, era um antigo comandante de navios a vela, português de nascimento, desembarcado em Itajaí e casado com uma Olinger de Brusque. Ele criou uma grande descendência, entra a qual D. Maria Garção, Madame Pirajá, Madame Carlos Souza, Artur, Júlio, Osvaldo, José e Adolfo Reis. Guilherme Asseburg foi também um dos maiores exportadores de Itajaí e tivera como sócio o Dr. Germano Willerding, avô de Evaldo Willerding. Está visto que, não havendo ainda ruas traçadas ao longo do rio, não era divertimento algum flanar por aquelas paragens. À beira do Itajaí se amontoavam pilhas de madeira, pois quase todo o tabuado vinha em balsas pelo rio, assim de ser puxado, tábua por001-Anuario-002-63-136.indd 106 22/02/2011 10:46:49

Anuário de Itajaí - 1949 107tábua, escolhidas estas com um golpe de enxó na ponta e transportadas depois para asgrades. Mais tarde começou-se a construir pelas Obras do Porto, que aqui existem desdeos primórdios da Primeira República, um cais dito de saneamento, mas que merecia acrítica do nosso Padre João Baptista Peters, vigário da paróquia, mais amante da filosofiado que dos ritos teológicos e redator de único jornal da época – “O Progresso” – O caisera intitulado por ele em letra de fôrma: Cais de marmelada. A velha matriz era muito menor do que hoje, porque somente mais tarde seadicionaram as duas naves laterais. Para o lado da praia existia um largo mal arborizadoque escondia um kiosque, arrendado pela câmara ao velho Maneca Lopes, que ali vendiaroscas e doces e especialmente um parati ou uma laranjinha muito apreciados. Laranjinhaera uma aguardente misturada com essências de laranja que os Brasco traziam do Rio.A freguesia do Maneca Lopes era composta quase só de marinheiros e desocupados,pois os graúdos daquele tempo tomavam a sua cerveja ou o seu vinho do porto ou asua gasosa ou sua pinga na ante-sala ou buffets dos hotéis. Antes da meia noite ManecaLopes fechava a sua tasca e ia com a velha companheira rumo da sua casa. Ele era umvelho bonachão, ostentando uma barba de profeta que infundia respeito, de mais a maisquando ele não era nada pêco em falar. Dizem que merecia o título de maior cacete daépoca. Quem lhe caísse nas garras estava frito. Segundo contavam, ele aproveitou umdomingo ou feriado para fazer uma visita ao seu compadre Geraldo Pereira Gonçalves,sogro do Sr. José Espíndola, e entrou de manhã pelo café e só saiu às 10 horas da noite,quando o dono da casa já estava cochilando. Até quando Geraldo Gonçalves tinha deausentar-se para fazer um serviço, que até o rei não pode mandar executar por outros,o cacete-mór acompanhava o compadre até a porta e de fora continuava: “como eu ialhe dizendo, meu compadre...”001-Anuario-002-63-136.indd 107 22/02/2011 10:46:50

Anuário de Itajaí - 1949 108 O Maneco Lopes nos lembrou um grande atraso do nosso Itajaí como porto demar: não tínhamos cafés em parte alguma. Hoje que a nossa terra está apinhada decafés, é caso de se perguntar como podiam no nosso tempo viver sem cafés, semessas salas ladrilhadas, em que tantos ocupados e desocupados reúnem-se em torno damesa com xícaras e açucareiros, para tratar de assuntos tão sérios, como por exemplo:traçar planos estratégicos durante a guerra, armar combates eleitorais e discutir tesespolíticas, falar mal do próximo, dar palpites sobre o jogo do bicho, etc. Mas, o máximode atraso, além da falta de cafés, era a carência de luz, luz elétrica naturalmente,porque iluminação a querosene todos possuíam, em candeias de folha os mais pobres,em lampiões vistosos os mais ricos. Não há nada como a luz elétrica para nivelar as classes; todas têm a sua lâmpadapara o “tac” do acender e apagar, isto quando a luz e força do Juvêncio, que afinal nãoé dele, não nos prega uma peça, deixando-nos no escuro. Mas, luz a querosene ou a vela ainda passava, quando se estava em casa, mas comohavíamos de caminhar pelas ruas nas noites escuras, sem luar? Muito simplesmente. Amunicipalidade mandara fincar uns postes com grandes intervalos junto aos passeios,ou melhor, nos lados das ruas, uma cúpula de folha e vidro para abrigar as lâmpadasde querosene e o problema estava resolvido. Este serviço era ainda arrendado emconcorrência pública e às vezes aos preferidos, e estes, como diziam as más línguas,eram sempre amigos da situação. Como vêem, a maledicência contra o governo jánaquele tempo era assunto de conversas politiqueiras, nas esquinas ou na praça da001-Anuario-002-63-136.indd 108 22/02/2011 10:46:52

Anuário de Itajaí - 1949 109igreja, já que havia a falta de cafés para focalizar estas questões de interesse municipal.Mas, a luz do “profeta”, assim chamado, acendia-se à boca da noite quando já reinavaa escuridão, pois tratava-se de economizar combustível e apagava-se de madrugada,mal raiava o sol, se de noite algum noctívago beberrão ou inimigo dos arrendatários daluz, não tivesse quebrado um dos lampiões que o pobre homem era obrigado a repor, oualgum temporal não tivesse causado igual estrago. A favor do homem da “escadinha”,assim chamado porque subia com uma escada portátil nos postes para acender e apagaros lampiões, havia uma cláusula: ele não era obrigado a fornecer luz senão durante 15dias, na outra metade do mês ele dançava e entregava o serviço a Lia. E dali por dianteesta cumpria religiosa e gratuitamente com o seu dever, salvo quando o mau temponão viesse ocultar o disco lunar e mergulhar a cidade em plena escuridão. Numa noitedessas, como sair à rua, se o calçamento feito de pedregulho e barro, formava poças delama que somente botas sólidas podiam atravessar? O melhor era então a gente ficarem casa no seu quarto de solteiro e ler à luz de uma vela um livro de sua biblioteca e,por fim, engolir o tédio e dormir. O perímetro urbano também não era muito extenso. Para o lado de Brusque,ele terminava na Rua dos Atiradores, na qual existia o divertimento mais antigo e maispreferido daquele tempo. Para o lado da Fazenda ele ia ter por um lado ao CortumeSchneider, uma das indústrias mais antigas do município, e ao Hospital Santa Beatriz e,por outro lado o morro da Fazenda, onde o irmão mais velho de Lauro Müller, o CoronelEugênio Luiz Müller, habitava uma fazenda e resistia heroicamente às “intermitentes”e onde mais adiante existia a fábrica de cerveja de alta fermentação de Otto Hosang,irmão do meu condiscípulo no Colégio de Blumenau. Pelo lado da Barra do Rio percorria-se primeiro a Rua Pedro Ferreira, e depois entrava-se na Rua Silva que às vezes setornava intransitável, devido a uma ribeirão que enchia e baixava com as marés dorio. Os moradores dali já se haviam habituado ao fenômeno, construindo casas sobre001-Anuario-002-63-136.indd 109 22/02/2011 10:46:53

Anuário de Itajaí - 1949 110estacas com escadas de acesso, parecendo assim uma povoação de habitantesde uma zona lacustre. Ali residia o velho Domingos Braga, pai dos atuais Braga eBraguinhas, mestre de barcos, de nacionalidade lusitana, e Antonio da Silva Lisboa,muito conhecido como mestre-regente de uma “Furiosa”, na qual ele tocava, commuito entusiasmo, a sua requinta. Onde a Rua Silva encontrava a saída da Rua Setede Setembro, o rumo para a Barra do Rio tomava pelo rio acima, exatamente comohoje, e depois de atravessar o ribeirão da Caetana, uma preta muito conhecidade todos, e meio mandingueira que ali morava e exibia uma santa que chorava.Atravessando o pontilhão, chegava-se a uma baixada de areia solta que ia ter aoLargo Gonzaga. Na baixada morava também um marítimo português, de nomeNicolau Diniz Marquez ou Nicolau da Baixada. Era um velho curioso, com uma barbaà passa-piolho e que contava histórias de episódios marítimos, e tratava todo mundocom afabilidade. Do Largo Gonzaga para cima eram barrancos laterais de grama oucapim com leito de areia solta até a Barra do Rio. Essa caminhada eu a fiz durantealgum tempo, duas vezes por dia, de manhã e à noite, quando comecei a dirigir umafábrica de taboinhas de cedro para caixinhas de charutos, no mesmo local central,onde hoje está a Fábrica de Papel. Mas, quem percorresse essas ruas e caminhos no verão, havia de sentir a falta deoutra necessidade: gelo. Sim, no Itajaí havia gelo e as geladeiras ou ainda não tinhamsido inventadas ou não haviam aportado à nossas terras. Todos os hotéis e pessoasgraúdas mandavam construir em suas casas adegas para refrigerar um pouco as suasbebidas, do contrário, não havia outro remédio de que absorver, qual purgante, umagarrafa de gasosa de bolinha ou uma garrafa de cerveja marca barbante. Assim era001-Anuario-002-63-136.indd 110 22/02/2011 10:46:55

Anuário de Itajaí - 1949 111intitulada a cerveja de alta fermentação que se fabricava em Itajaí em duas cervejarias,a de Fernando Treder e a de Otto Hosang, já citada. Para tomá-la, tinha de se recorreraos hotéis, que possuíam um buffet e uma ante-sala, na entrada, para os amigos deGambrinus, tomarem a sua bebida preferida e jogarem um caneco. Na Rua Lauro Müller,no prédio do atual Hotel Itajaí, funcionava o Hotel Brasil, de propriedade do Sr. AlexiusReiser, mais tarde sogro do Sr. Bruno Malburg, sucessor da firma Nicolau Malburg Júnior.A senhora Reiser era uma parteira das damas da melhor sociedade. Na Rua Hercílio Luz, ao lado esquerdo de quem sobe, situava-se nos prédios,atualmente pertencentes a Julio Willerding, o Hotel Scheeffer, dirigido por Frau Scheeffere pelo filho mais velho, Paulo Scheeffer, pai do Sr. Erico Scheeffer. Ali se hospedava omundo oficial e celebravam-se os banquetes da terra. O terceiro hotel era o do Comérciochamado, sito na antiga Rua do Comércio, hoje Felipe Schmidt, onde se localiza hojeo atual Grande Hotel. Era uma hospedaria do pessoal mais pobre, uma espécie deHotel Garcia da época. Era proprietário desde hotel o Sr. Gabriel Heil, um alemão muitobenquisto, pai do nosso Ricardo Heil. Para o pessoal de Luiz Alves e suas carroças havia ainda na Rua Hercílio Luz, emfrente ao atual Hotel Garcia, a pensão do casal Tadeu, pais dos Tadeus.001-Anuario-002-63-136.indd 111 22/02/2011 10:46:57

Anuário de Itajaí - 1949 112 Para divertimento e bailes somente a festa anual dos Atiradores, pois o “Guarany”ainda continuava mais carnavalesco do que clube social. Nos Atiradores não reinavaetiqueta nem cerimonial algum. Havia o tiro ao alvo e jogo de bola (ou bolão) paraos homens e outros jogos para senhoras. Quando uma dama ganhava um prêmio,exclamava Gabriel Heil: viva a nossa senhora do nosso sócio! Eram entusiastas dos Atiradores do Sr. Heil, o negociante Pedro Bauer, estabelecidona esquina atual do Sr. Santangelo com uma loja de ferragens, onde havia de tudo porpreços bem salgados, e o mestre Müller – Sr. Guilherme Müller, pedreiro e construtor dacidade e avô do nosso amigo Fritz Schneider. Para namoros, os jogos de prendas em casas de família, que tinham filhascasadoiras, ou as portas laterais da igreja; ou o gargarejo das janelas, o que nemsempre era permitido ou as procissões em que de longe se acompanhava a namorada,vestida de virgem, ou os leilões, em que cada janota procurava vencer o concorrente naoferta do leilão para a preferida que ficava bem longe. “Dou mais tanto para oferecer aDona Miloca...” Sentindo e vivendo tudo isto, em uma cidade sem luz, sem cafés, sem divertimentos,sem nada, a gente tinha vontade de exclamar como Carlos Drummond de Andrade, aodescrever, em versos futuristas, uma aldeia, assim: mas que vida besta, meu Deus! Os rapazes que podiam ou tinham coragem abandonavam Itajaí. Arranjavamuma passagem num barco a vela e iam para Santos ou Rio, a fim de arranjar emprego,ou então embarcavam logo no navio para seguirem carreira de piloto ou tomavamos poucos vapores que escalavam em nosso porto para serem foguistas e futurosmaquinistas. O único vapor de passageiros que passava em Itajaí eram Lloyd da linhade Laguna, Florianópolis, Itajaí, S. Francisco, Santos e Rio. Os cargueiros começavamtambém a aparecer; eram vapores sem linha regular e pertencentes a armadores deSantos e Rio e chamavam-se Normandia, Augusto Leal e Itararé. Faziam concorrência001-Anuario-002-63-136.indd 112 22/02/2011 10:46:58

Anuário de Itajaí - 1949 113aos navios de vela da praça e eram consignados à nossa firma, porque tínhamos perdidoo nosso lugre “Vieira”, quando ele atendia ao serviço de um navio alemão, na enseadade Cabeçudas, e batera, ao entrar na barra, na laje da ponta da Atalaia. Os pilotos,maquinistas e dispenseiros desses vapores eram moços algo instruídos e traquejadosna vida social das grandes cidades, e assim misturavam-se com a nossa mocidade esacudiam a modorra da nossa aldeia... Mas, poucos dias eles permaneciam aqui, e seufito principal era namorar, desembarcar e arranjar uma mocinha ingênua da provínciapara casar. Foi assim que o pernambucano Eduardo Pessoa Lins ficou em Itajaí, preso aosencantos de uma moça da antiga família itajaiense, com a qual se casou. Foi feliz noconsórcio, embora a morte o surpreendesse em pleno vigor da mocidade. Eduardo Linsdeixou três filhos que honram a memória paterna: Genésio Lins e Mario Lins, banqueiros,e Cesar Lins, piloto de longo curso. Não sei se os fatos que narro são cronologicamente exatos, pode ser que sedessem antes ou depois. O que pouco importa, pois já disse o poeta: “a memóriaevoca almas frias”. Quero apenas constatar que para nós, uma meia dúzia de moços,que aspirávamos uma vida mais interessante e mais inteligente, o destino ainda nãochegara. No entanto, quando menos esperávamos, ele chegou. Desembarcou do vapor da carreira de Laguna um moço jovem e moreno,carregando uma pequena maleta, que demonstrava poucos haveres e abrigou-se numhotel da cidade. Chamava-se Luiz Tibúrcio de Freitas. Logo informou-se do hoteleiroe de outras pessoas, das condições do ensino público, e elas confirmavam os dizeresdos letrados de Laguna, de onde ele voltava. Havia em nossa terra apenas escolasoficiais ou particulares de desemburrar ou do B-à-Bá para as crianças pobres; os paisque tinha posses, mandavam seus filhos para os colégios de Blumenau. Percebeu omoço imediatamente que para ganhar a sua subsistência, só havia um meio: abrir umcolégio. Em uma casa à Rua Lauro Müller, pertencente ao capitão desembarcado da001-Anuario-002-63-136.indd 113 22/02/2011 10:46:59

Anuário de Itajaí - 1949 114Marinha Mercante, Sr. Maneca Pereira, sogro do Sr. Bonifácio Schmitt, ele encontroulogo uma sala vasta e ali abriu a sua escola: de manhã para as crianças maiores que játivessem absorvido as primeiras letras, e, de noite, um curso para adultos. Nesse cursonoturno depressa nos inscrevemos, pois estávamos ansiosos por aprender mais algumacousa. Formamos logo uma turma composta de meu irmão Arno, de Antonio Tavaresd’Amaral, que trabalhava no armazém de secos e molhados, sito à Rua Pedro Ferreira,dos seus tios, irmãos, João José Pinto do Amaral, de Artur da Silva Valle, empregado donegociante varejista Sr. Donato Gonçalves da Luz e do autor desta crônica e outros. Istopara somente falar nos mais velhos. O nosso companheiro Juvêncio Amaral tambémaparecia, quando não estivesse em viagem de compras no interior e especialmenteno Rio Pequeno e Limoeiro, onde ele tinha um conhecido patrício, de nome Carlos deSouza Caldas, denominado Carlos Galego ou Carlos Cabeludo. Também meus irmãosAdolfo e Victor freqüentavam o curso, quando se achavam em férias. É que o nossocurso não abrangia somente gramática portuguesa, mas também francês e, sobretudoliteratura. Tibúrcio era um excelente explicador como mestre, mas, como intelectualcativava à primeira vista, e sabia escolher os seus alunos. E nós que andávamosà cata de um guia na vida, sem demora fomos ao seu encontro e ele nos recebeude braços abertos para formarmos um grupo de amigos e companheiros, capazesde compreende-lo e de tornar mais ameno e agradável o clima social da província.Revelou-nos com franqueza a sua vida. Nascera e se educara no Ceará, donde viera para o Rio conhecer um centro maior.Na antiga Corte ele se empregara no correio e conhecera, através de amigos, o nossopoeta máximo Cruz e Sousa, de quem se tornara um discípulo dileto. Assistira à tragédiado poeta, lutando para viver num meio hostil ao negro, apesar da abolição, e o viramorrendo na última miséria, vítima da peste branca, a tuberculose. Morto o seu grandemestre, ele pedira demissão do seu emprego para conhecer o torrão natal de Cruz eSousa, cujos encantos sedutores da natureza privilegiada, especialmente das praias eáguas da Ilha, ele tanto elogiava, pintando a sua terra como um recanto do paraíso. ETibúrcio desembarcou em Florianópolis, viu e admirou a terra do mestre, mas sentiulogo que ali não havia lugar para ele ganhar a vida. Prosseguiu viagem para Laguna,001-Anuario-002-63-136.indd 114 22/02/2011 10:47:01

Anuário de Itajaí - 1949 115donde, depois de alguns dias, aconselhado por confrades literários, resolveu terminar asua peregrinação em nossa terra. Sentiu que acertara com o seu rumo. O seu rosto largode um moreno carregado, em que já se pintava o tédio do artista cansado, começou aadquirir feições vivas de um sonhador triunfante. Sua cabeça, grande, ornada de umacabeleira de cabelos pretos e corredios de caboclo, seus olhos escuros de árabe, seupescoço taurino, seu tórax desenvolvido e largo, enfim, a figura mais alta do que baixa,denunciava o homem forte do adusto Ceará. Cearense que, como trabalhador, não podendo resistir à seca agreste, emigrapara o Acre, a fim de extrair borracha, do homem de letras que procura centros maiorespara triunfar pelo talento. Mas a figura de Tibúrcio, física ou intelectual, não era fácilde ser compreendida. As mulheres que amavam os peraltas e pelintras da época, viamnele um individuo exótico e estranho; talvez fizessem galhofa secretamente daquelecolarinho duro e alto, à Santos Dummont, da sua gravata ampla de borboleta, do seupaletó de alpaca preta e suas calças listradas, e do seu modo de andar, balançando namão uma bengalinha de junco. Os homens o tachavam de um professor esquisito e meiomaluco. Somente os seus discípulos o compreendiam e amavam. E éramos apenas dois(Antonio Amaral e Marcos) que formavam com o mestre uma trindade inseparável. Àsvezes aparecia o Arthur Vale, que não chegava a entendê-lo, e nas férias meus irmãosVitor e Adolfo que muito o admiravam. O meu irmão Arno, prestes a deixar o Itajaí,não se entusiasmava muito pela literatura: assim na realidade ficávamos nós dois areceber integralmente as lições do mestre querido para tornar-nos depois seus amigose admiradores para a vida e para a morte. A primeira lição de português que ele deu, nos deixou a princípio estarrecidos.“Si queres aprender a língua portuguesa, nada mais fácil: lede um bom livro”. E nosentregou nas mãos algumas obras, de quem? De Eça de Queiroz. Sim, desse Eça quedepois de mais de quarenta anos, está sendo apregoado entre a mocidade de hoje comoum grande romancista e mestre da escola realista! E com o Eça aprendemos não só a manejar um português moderno, livre do rançoclássico do Romantismo, e da escola do Castilho português, como ainda a manobrar umaarma literária e perigosa que ainda não conhecíamos – A IRONIA. E Tibúrcio começou anos explicar, como se podia diagnosticar ao vivo, pelo microscópio a ironia, os Pachecos,os Conselheiros Acácios, os Padre Amaro, os Primos Basilios, etc. Mas, a lição não001-Anuario-002-63-136.indd 115 22/02/2011 10:47:02

Anuário de Itajaí - 1949 116 ficou só no Eça, ela estendeu-se aos célebres Vencidos da Vida da literatura Coimbrã: Ramalho Ortigão, irmão gêmeo na amizade e nas letras de Eça, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e o poeta que era um santo: Antero de Quental. Fora desse círculo, conhecemos umas grande escritora, Maria Amália Vaz de Carvalho e o seu marido português – brasileiro Gonçalves Crespo, e os outros poetas suaves, como Cesários Verde e Antônio Nobre, e um notável orador sacro: Antônio Cândido. Mais um grande entre os grandes, o mestre da sátira portuguesa Fialho de Almeida. Está visto que, no começo das nossas lições, havíamos também sofrido o velho Camões, das análises lógica e gramatical, e os romancistas antes de Eça: Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco e os críticos Teófilo Braga e João Barreira, este último um dos ídolos de Tibúrcio. Depois passamos à França mais moderna – pois Tibúrcio amava a cultura francesa – Victor Hugo, autor dos “Miseráveis” e da “Notre Dame de Paris”, Chateaubriand com o “Gênio do Cristianismo”, o enorme Balzac da “Comédia Humana”, o Renan da “Vida de Jesus”, a romântica George Sand, Sainte Beuve, o crítico Taine com a sua “História da Arte”, o conteur Maupassant, os naturalistas Emile Zola e Alfonse Daudet, os Alexandre Dumas, pai e filho, Stendhal, o autor da “Cartuxa de Parma”, Pierre Loti, o escritor de viagens, o suicida talentoso Gerard de Nerval, Barbey d’Anrévilly, os poetas Teófile Gautier e Alfred de Musset, e aquele que Tibúrcio mais apreciava, pelo estilo impecável, Gustave Flaubert, o romancista da “Madame Bovary”, da “Salambô” e da “Tentação de Santo Antão”. Entre os autores antigos recordávamos: o campeão da sátira e da irreverência anticlerical, Voltaire, os filósofos Pascal, Montesquieu, Rousseau, Diderot e Michelet. E outros autores, de que não me recordo assim de cor. E quando nos foram revelados Charles Baudelaire, o poeta satânico, e os mestres do simbolismo: Paul Verlaine. Artur Rimbaud, Stéphane Mallarmé e outros da mesma escola, o nosso amigo se exaltava e lembrava-se do mestre do simbolismo no Brasil, João da Cruz e Sousa. Mas antes de falar na literatura brasileira, quero mencionar os grandes nomes da literatura estrangeira que apareciam traduzidos em francês ou português. O polonês Henrique Sienkiewicz autor de “Quo Vadis”, os russos Pouchkine, poeta e dramaturgo, Gogol, o mestre do realismo russo com o seu Tarass Bulba, o nihilista Ivan Tourgenev, o grande Dostoievsky com o seu001-Anuario-002-63-136.indd 116 22/02/2011 10:47:03

Anuário de Itajaí - 1949 117“Crime e Castigo”, o profeta Leon Tolstói, autor da “Guerrae Paz”. Os ingleses, sem falar no imortal Shakespeare, osromancistas Walter Scott e Charles Dirkens, os dois Thomazese historiadores Carlyle e Macaulay, os poetas AlfredoTernnison e John Ruskin, pregador da “Estética Moderna”e seu discípulo Oscar Wilde, autor de “Dorian Gray” e da“Balada do Cárcere de Reading”, e Lord Byron, o maior gêniopoético da Inglaterra. E o belga Maurice Materlink, célebre pela “Vida dasAbelhas”. Na literatura alemã, além dos poetas máximosGoethe e Schiler, tomávamos conhecimentos sobretudo comos filósofos Schopenhauer, o inimigo das mulheres, ImmanuelKant, com a sua crítica da “Razão Pura”, e Frederico Nietsche,o autor do “Superhomem” e do “Assim falou Zarathustra”. Ecomo poeta, o rei da ironia, que eu já conhecia através doslivros da pequena biblioteca de meu pai, Henrique Heine. Maseste não era somente satírico, fazia também versos, como osdo “Intermezzo” que o elevaram à categoria do maior lírico dalíngua alemã ou talvez de todos os poetas do mundo civilizado.O “Intermezzo” foi traduzido por Gonçalves Crespo, marido daescritora portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho. No domínio das letras italianas naturalmente ressaltavaDante Alighieri, o mestre antigo e imortal da Divina Comédia:os mais modernos chamavam-se Leopardi, o Mansoni dos“Noivos”, os poetas Carducci e o extravagante e um tantocabotino e dramático, Gabriel d’Annunzio, Da Espanha admirávamos sempre a obra imortal de“Don Quixote da La Mancha” de Cervantes, por ser, segundodoutrinava o nosso mestre, debaixo da capa de sua sátiraà cavalaria andante, uma síntese do Ideal a cargo de D.Quixote, e do Materialismo na pessoa de Sancho Pansa. Onotável tribuno Emilio Castellar, o historiador Perez Galdós eoutros nomes pouco familiares ao nosso meio. E da Américaapenas um nome, e dos maiores, nos impressionava – EdgarAllan Poe. Aprendemos a recitar “O Corvo” do poeta trágicoe dos contos tétricos e fantásticos. Voltemos ao que já havíamos começado: à literaturabrasileira: Conhecidos mestres da língua, entre os quaiso grande Antônio Vieira e os escritores e poetas doromantismo e do parnasianismo, José de Alencar, FagundesVarella, Castro Alves, etc,. ficávamos presos em Machadode Assis, que o próprio Eça intitulava o maior escritor daliteratura brasileira.001-Anuario-002-63-136.indd 117 22/02/2011 10:47:05

Anuário de Itajaí - 1949 118 E na poesia adorávamos os poetas sublimes do nosso tempo, Olavo Bilac, RaimundoCorrêa, Alberto de Oliveira, Álvares Azevedo e o nosso vate barriga-verde Luiz Delfino.Mas, por fim, tributávamos as nossas homenagens ao mestre do nosso mestre – Cruze Sousa. E Tibúrcio enternecia-se até às lágrimas, louvando a obra do grande negro elendo páginas orquestrais da sua prosa e recitando versos de uma grandeza sublime,que tocavam qualquer coração humano e bem formado. Demonstrava-nos ainda queCruz e Sousa era o mestre incontestável do simbolismo da língua portuguesa. Passadosquarenta anos, hoje, todo o mundo literário reconhece, e chega-se até guindá-lo à alturado maior simbolista das línguas ocidentais. Está visto que a maioria dessa literatura nósnão podíamos aprofundar, mas apenas sabíamos através das conversas esporádicas deTibúrcio, do valor e das idéias dos autores, afim de podermos depois pelo autodidatismotomar conhecimento melhor dos artistas das letras. Assim nasceu a minha biblioteca. Ninguém julgue, porém, que a nossa convivência com Tibúrcio de Freitas consistiasimplesmente em aprender português, francês e literatura. Não! Como moços, ele sabiaque necessitávamos de distrações e assim organizava divertimentos que não custavammuito dinheiro, porque nós todos, inclusive o autor destas notas, não dispúnhamos derecursos para grandes gastos. Nas noites de luar, por exemplo, Tibúrcio nos convidava a uma passeio pelacidade; especialmente pelo lado da Fazenda, então a mais habitada zona da cidade ede ruas mais largas. Íamos apreciar e admirar “o clarão branco, lânguido, Lívio subindodos montes”, como dizia Cruz e Sousa, recitar versos e cantar melodias nacionais ouportuguesas, e, às vezes, acompanhávamos as serenatas, muito comuns naquela época,e nas quais tomava parte também um conhecido nosso – Álvaro Cigarreiro – ÁlvaroRodrigues da Costa – que tocava um instrumento talvez desaparecido hoje – O Machete.Ele era de origem portuguesa e fabricava cigarros de palha ou papel, porque naqueletempo, as fábricas de fora não faziam cigarros, mas apenas forneciam papel, palha efumo para os cigarreiros da província. Álvaro era também dado às letras e afeiçoado àarte dramática que exerceu em tempos passados, nas funções de ponto, ensaiador econtra-regra. De gênio alegre e irônico, Álvaro nos deliciava com os seus trocadilhos epiadas amorosas puxando o seu cavanhaque e uma pera vistosa. Ele era avô da senhorado Dr. Juca Schmitt. Tibúrcio ainda inventava excursões aos domingos e feriados pelos001-Anuario-002-63-136.indd 118 22/02/2011 10:47:06

Anuário de Itajaí - 1949 119morros das redondezas, especialmente da Caixa d’Água, para contemplar embevecidoe comovido nas águas cantantes dos ribeirões. E com mutismo de um panteísta, eleadorava aquela linfa cristalina e, quando falava, era para exclamar a sua admiração decearense, por aquele líquido que eles não tinham no nordeste e cuja abundância nós nãosabíamos apreciar. Outras vezes, íamos fazer umas pândegas (naquele tempo ainda nãose havia inventando o termo farra), para comer uma bacalhoada, na venda de DomingosMarquesi, um dispenseiro desembarcado e que armara a sua tasca numa casinha,situada perto do atual prédio Malburg à direita da Rua Pedro Ferreira. Ali numa saletados fundos, entrávamos no bacalhau, preparado pelo Marquesi e fornecido pelo AntônioAmaral, e bebíamos cerveja marca Barbante, fria e quase gelada que o vendeiro haviacolocado no fundo de um poço, que existia atrás da saleta. E quando a bebida loirejavanos copos grossos da taverna, Tibúrcio começava a recitar Castro Alves: Escravo, encheessa taça! Quero espancar a nuvem da desgraça que além dos ares lentamente passae meu gênio quebranta! Outras vezes, principalmente nas noites ventosas e frias deum terral cortante, íamos visitar o botequim de Carlos Frederico Seára Junior, sito naesquina em que hoje funciona a firma de G. Miranda. Anexa ele tinha uma fábrica degasosa de bolinha que se fechavam e abriam com uma bolinha metida no início dogargalo, daí o nome de gasosa de bolinha, mas nós não queríamos água gaseificada,desejávamos era ingurgitar vinho no Porto nº4, uma marca que minha casa importavadiretamente. E ali tomamos, como dizia Antônio Amaral, uma tarrascada de amargasrecordações. Cada um deitava o verbo, encarapitado num meio alqueire, de doca parabaixo, e ainda me lembro que eu intitulei de reverendíssimos os ouvintes que eramapenas quatro, os três da nossa roda e o Carlos Seára. O botequim mandávamos fecharpara ninguém nos aborrecer: Revendêssemos: falava em mim então o subconsciente,como se diz hoje, lembrando que eu deixara de ser frade franciscano. Tibúrcio ainda animava as festas do “Grêmio 3 de Maio” que fora fundado paracomemorar as datas nacionais. Quanto aos jogos de prenda, ele os achava meio cacetes e pouco fracos para ligarnamoros casamenteiros. E por isso, quando meu sogro Alexandre Justino Regis, o velhoChandoca chamado, fundou o Clube 20 de Agosto, ele ficou tão entusiasmado que nosobrigou a mandar fazer uma indumentária nova, um fraque e uma cartolina. Foi umafesta de truz, abrilhantada pela banda da cidade.001-Anuario-002-63-136.indd 119 22/02/2011 10:47:07

Anuário de Itajaí - 1949 120 É preciso que se diga que o meu sogro somente se animou a fundar esse clubeporque encontrou em casa do Sr. Gabriel Heil que acabara com o Hotel, uma sala espaçosacapaz de comportar pessoal dançante da cidade. O Sr. Regis havia sido demitido pelogoverno Prudente de Morais ou Campos Salles e alugara a casa grande do hotel paraestabelecer uma refinaria de açúcar mascavo e para as filhas poderem lecionar piano eo ensino primário. Uma das professoras era a minha futura mulher e, entre os discípulosde primeiras letras, lembro-me havia o menino Mário do Canto Liberato, hoje diretor doserviço cambial do Banco do Brasil em São Paulo. Mas, voltemos ao “20 de Agosto”. De fato este clube era um excelente catalisador para os namorados, e muitomoço conseguiu ali firmar bases para um conjugo vobis. Talvez fosse eu também umdos interessados, pois ali morava minha namorada e filha do dono da casa, conformejá acima ficou dito. Como era natural, todos tínhamos nossos namoros, menos o nossoTibúrcio. Quis casar com duas itajaienses; a uma delas dedicou uma “prosa em verso”encantadora, mas ambas recusaram. Confirmou-se o fato de que, a não ser o granteGoethe, nenhum artista de pensamento de valor, conseguiu ser compreendido e amadopelas mulheres. Além dos namoros e bailes, havia também as palestras e os “cavacos” (naqueletempo ainda não se conhecia o bate-papo) com algumas figuras interessantes da cidade,mais para colher impressões da fauna humana e aprender a conhecer os homens. Umdos nossos prediletos encontros era com o velho Botica, o maior farmacêutico da cidade.Emílio da Cruz Coutinho, chamado vulgarmente Emílio Botica, era português e tinha suabotica numa casa velha da Rua Lauro Müller que foi demolida para dar lugar ao prédioda Farmácia Santa Terezinha. Mais tarde, Emílio edificou um prédio para sua farmáciada esquina da Rua 15 de Julho com a Lauro Müller. Ele era um velho interessante esimpático, ostentando um gorro de borla na cabeça, e inteiramente barbado – disse-nos que somente uma vez o barbeiro lhe pusera a navalha no rosto e que ele tremerapensando no perigo que correra. – Dizia-se com muito orgulho monarquista e assinavao “Jornal do Brasil”. Nós às vezes inticávamos com ele por causa das nossas idéias001-Anuario-002-63-136.indd 120 22/02/2011 10:47:08

Anuário de Itajaí - 1949 121republicanas e ele respondia: “bela coisas vocês fizeram exportando o velho Imperadorcomo uma saca de café”. Não acreditava nos remédios que vendia e dizia que tudonão passava de droga. Era dono de oito esquinas da cidade, se não me engano, e eujá prevendo em mim os ideais georgistas, fazia minhas restrições à acumulação deterrenos urbanos para não serem edificados. Ele respondia de pronto: “Tolo é quem põe os bens ao luar”. Enfim, o EmílioBotica fez época e deixou uma grande descendência na família Coutinho que todosconhecem. Mas, a convivência íntima entre o antigo mestre e seus discípulos, a ligaçãomais estreita entre o amigo e seus companheiros, devia terminar um dia. O trabalho desubsistência nos chamava e obrigava a cuidar mais da vida material do que de literatura.Antônia Amaral mudara-se para Florianópolis para colocar-se no comércio da Capital.Eu mesmo, na falta de meu irmão Arno que fora para o Rio, era obrigado a assumir agerência da casa de minha mãe e, ao mesmo tempo, resolvera casar-me, uma vez que avida de solteiro se tornara insuportável. E dissolvemos o nosso grêmio, contando com aaquiescência do nosso grande amigo que compreendia a nossa situação, e, se não faziao mesmo, era porque o amor fora hostil e cruel ao seu grande espírito. Continuávamos,entretanto, ligados, embora, não tão intimamente, a Tibúrcio de Freitas, cujos triunfosem Itajaí nós acompanhamos com viva satisfação: a abertura de um grande colégio edepois a fundação de um jornal semanal e moderno – “O Novidades” – que teve famaem todo o Estado e fora dele. E nós não desfalecemos na veneração ao grande mestre e amigo, pois nãopodíamos esquecer que Tiburcio de Freitas fora o nosso inesquecível guia espiritual naVida e nos fizera compreender estas três verdades fundamentais: “Nem só de pão vive o homem, disse o Apóstolo”. “A arte é tudo, todo o resto é nada, sentenciou Eça de Queiroz”. “O caráter é a metade do talento, afirmou Antero de Quental”. ITAJAÍ – 1949001-Anuario-002-63-136.indd 121 22/02/2011 10:47:09

Anuário de Itajaí - 1949 122 Centro Cultural de Itajaí Nereu Corrêa Visitando as cidades do Sul do país numa viagem de estudos, durante a qualreunia material para uma revista econômica de que era diretor em Recife, o jornalistapernambucano Ângelo Cibela gostou da terra de Lauro Müller e aqui se demorou pormais de duas semanas. Orador de palavra fluente e colorida, dono de uma culturageral admirável, não lhe foi difícil, com tão peregrinas qualidades, cativar de pronto,a simpatia dos itajaienses. Realizou aqui várias conferências sobre a vida do nordeste,e, ao cabo de alguns dias de permanência em Itajaí, viu-se rodeado de um grupo dejovens em cujo espírito havia lançado o fermento de um ideal. Foi assim que nasceu oCentro Cultural de Itajaí, em 5 de dezembro de 1941. É verdade que nenhum dessesjovens conservou a fama que Cibela lhes despertara com seu entusiasmo, pois todosaos poucos foram abandonando essa pequena seára de espírito, uns por desinteresse,outros por dispersão. Mas vieram novos operários que sucederam aos primeiros, e aseára aí está, nutrindo, com os seus frutos, que são os livros da sua preciosa biblioteca,as bocas famintas de cultura espiritual. É interessante verificar o método inicialmente adotado para a formação dabiblioteca. O Centro, como era natural, não dispunha, no início de suas atividades,de recursos financeiros para a aquisição de livros. Resolveu então dirigir um apelo atodos os itajaienses, expedindo centenas de cartas a pessoas residentes aqui ou emoutras cidades, solicitando a doação de livros para a sua biblioteca.O resultado não se fez esperar. Decorridos alguns diascomeçaram afluir, para a sede do cenáculo,livros e mais livros, de tal modo queao cabo de dois meses o Centrodispunha de uma bibliotecanumerosa, capaz desatisfazer às suasmodestas001-Anuario-002-63-136.indd 122 22/02/2011 10:47:10

Anuário de Itajaí - 1949 123necessidades iniciais. Os itajaienses, num belo gesto que revela a sua alta compreensãopelas coisas do espírito, souberam corresponder aos anseios dos seus jovensconterrâneos, auxiliando-os, assim a vencer uma das etapas mais difíceis da suainiciativa. Alguns não se contentaram em remeter apenas um volume, mas enviavamcoleções completas, como Sr. Marcos Konder, seu Presidente de Honra, a quem o centrodeve a maior contribuição entre os seus doadores. Hoje essa biblioteca conta com 1.750volumes encontrando-se ali algumas obras preciosas, como todos os volumes editadosaté agora das obras completas de Rui Barbosa, as coleções de Machado de Assis, José deAlencar, Humberto de Campos, Coelho Neto, Eça de Queiroz, etc. Para o enriquecimentoda biblioteca, grande tem sido a contribuição do Instituto Brasil–Estados Unidos deFlorianópolis, sendo que este último, além de várias obras em português, opulentouo patrimônio bibliográfico do Centro com uma preciosa coleção de obras em inglêsdos mais afamados autores americanos antigos e modernos, sem falar na remessa,durante vários anos, de um grande e variado número de revistas norte-americanas,hoje infelizmente interrompida. A biblioteca do Centro Cultural de Itajaí tem prestado os mais assinalados serviçosaos seus associados, principalmente a esses jovens que não dispõem de recursos paracomprar livros e que ali, com o sistema do empréstimo para leitura em domicílio, tema feliz oportunidade de escolher os seus autores favoritos, ampliando, assim, os limitesda sua cultura.001-Anuario-002-63-136.indd 123 22/02/2011 10:47:12

Anuário de Itajaí - 1949 124 Mas as atividades da primeira Diretoria do Centro, que tinha à frente um moçodinâmico, inteligente e impregnado do mais sadio ideal, como era o Sr. Laercio Cunhae Silva, atualmente exercendo as suas atividades na Capital Federal, não se limitaramapenas a esse setor. Foi organizado também um programa de palestras cívicas e culturais,tendo sido convidados vários intelectuais da terra, como os Srs. Des. Dr. Henriqueda Silva Fontes, que falou sobre o significado de uma iniciativa desse gênero nummeio desservido de escolas secundárias como o nosso; Pe. Tomaz Fontes homenageadopor ocasião de seu jubileu sacerdotal, quando foi saudado pelo nosso conterrâneo Dr.Francisco Rangel em significativa oração; Dr. José Müller, que discorreu sobre o seupassado político; Genésio Lins, que abordou um tema econômico numa palestra bastanteinstrutiva; Nemésio Heusi, que discorreu sobre a Liberdade Dirigida; Marcos Konderem várias oportunidades, e muitos outros de que no momento não nos lembramos;foram ouvidos em sessões bastantes corridas. Mas além desses ilustres itajaienses,perlustraram a tribuna do Centro Cultural de Itajaí algumas personalidades de altaprojeção nos meios culturais do nosso País, como Dr. Ivo d’Aquino, então secretárioda Pasta do Interior e Justiça do Estado, especialmente convidado para inaugurar abiblioteca do Centro; a Sra. Ana Amélia Carneiro de Mendonça, ex-presidente da Casado Estudante do Brasil e poetisa largamente conhecida em nosso país, o escritor RoyNash, que escreveu um excelente livro sobre o Brasil, o sociólogo Carleton SpragueSmith e vários outros expoentes da moderna cultura norte-americana. O conhecidopublicista catarinense, Sr. Ildefonso Juvenal, realizou uma conferência sobre o tema“Os valores culturais do Itajaí de ontem e de hoje”, mais tarde editada pelo próprioCentro em elegante plaquete. Lançou também duas edições do Livro “Lauro Müller”, deMarcos Konder, e um volume de poesia do Cap. Francisco Araújo Galvão sob o titulo de“Sentindo a Alma das cousas”.001-Anuario-002-63-136.indd 124 22/02/2011 10:47:13

Anuário de Itajaí - 1949 125 No setor artístico, patrocinou recitais de nomes famosos, como Alice Ribeiro,Olga Praguer Coelho e Arnaldo Rebelo. Feito esse pequeno inventário de suas atividades culturais, o leitor há de querersaber como vive essa instituição cultural. Até há um ano atrás, desde a sua fundação,mantinha-se apenas à custa da rendas, aliás bastante instável, dos 100 sócios (comonão se podia deixar de ser numa sociedade desse gênero, em que poucos aquelescontribuem por puro espírito de colaboração), cada um contribuindo a princípio comCr$2,00 mensais, passando mais tarde para Cr$5,00, e uma subvenção municipal deCr$6.200,00 anuais. Entretanto, achamos que o Centro Cultural de Itajaí merecia umaverba que lhe pudesse conferir maior independência financeira e transformá-lo embiblioteca pública municipal. Não desejamos encerrar este retrospecto sem lembrar aqui a atuação dassenhoritas Cléia Schneider, Jaci Pereira e Zari Macedo, a quem o Centro Cultural deveos mais assinalados serviços. Nereu Corrêa nasceu em Tubarão em 18 de julho de 1914. Obrigado a interromper os estudos escolares, entregou-se ao autodidatismo com método e persistência. Estudioso dos assuntos sociológicos, filosóficos e lingüísticos, conseguiu formar um cabedal de cultura que, sem favor, o coloca entre os mais destacados intelectuais da nova geração catarinense. Possui estilo escorreito e temperado nos moldes clássicos. Tem escrito para a imprensa não só da Capital do Estado, mas também para a do Rio e Porto Alegre, ensaios e critica literária. Possui um livro inédito sobre “Temas dos nossos tempos”. Há vários anos é Presidente do Centro Cultural de Santa Catarina S/A., nesta cidade. O trabalho que estampamos nestas páginas foi entregue como matéria de redação, mas nós declinamos o nome do seu autor para que ele figurasse na relação dos nossos colaboradores.001-Anuario-002-63-136.indd 125 22/02/2011 10:47:15

Anuário de Itajaí - 1949 126 Poder Judiciário em Itajaí A Comarca de Itajaí foi criada por lei estadual de Julho de 1868 e instaladaem 5 de Agosto do mesmo ano, tento sido seu primeiro Juiz o Dr. Joaquim da SilvaRamalho. Antes desta data Itajaí estava subordinado à Comarca de São Francisco. Por decreto de 4 de Fevereiro de 1880 a Comarca foi suprimida e novamentesubordinada ao termo de S. Francisco, sendo restabelecia em 30 de Março de 1881como Comarca de primeira entrância. Foi reinstalada em 5 de Janeiro de 1883 pelomagistrado Dr. Antonio Ferraz da Motta Pedreira. Em 1889 foi elevada a segunda entrância, categoria que foi confirmada por leisde 1911 e 1915, sendo posteriormente elevada à terceira entrância que é a atual. O Poder Judiciário na Comarca está assim constituído: Juizado de Direito, a cargodo Dr. Eugênio Trompowsky Taulois Filho; Promotoria Pública, a cargo do Dr. Delfimde Pádua Peixoto; Juizado de Paz, a cargo do Sr. Vitor Zaguini; promotor adjunto, Sr.Camilo Nicolau Mussi, Delegacia Regional de Policia, com jurisdição nos municípios deCamboriú, Itajaí e Brusque, a cargo do Dr. Ari Silveira; os seguintes Cartórios: Cível,eleitoral, registro de imóveis, titular Dr. Aldo Mário de Almeida; orfanológico, ausentes,resíduos e 2º tabelionato, titular Damásio Umbelino de Brito, exercido presentementepelo Sr. Eurico Krobel; Crime e Feitos da Fazenda, titular Arnou Teixeira de Melo;Registro Civil, Títulos e Documentos da sede do distrito, titular Arnaldo Heusi. E maisdos seguintes cartórios distritais: Penha, titular Manoel Henrique de Assis; Luiz Alves,titular Aníbal Gaya; Ilhota, titular Pedro Teixeira de Melo. No município de Camboriú:Cartório Distrital; titular, Gui Angelino Vieira. Os cartórios municipais exercem limitadamente as atribuições de tabelionato. Há também em cada distrito um Juiz de Paz.001-Anuario-002-63-136.indd 126 22/02/2011 10:47:15

Anuário de Itajaí - 1949 127 Asilo Dom Bosco O Asilo D. Bosco, fundado em 1936, a-pesar-de ser uma das instituições cujofuncionamento mais urgência requer, para abrigar uma centena de desválidos queperambulam pela cidade, até hoje não poude concluir a sua sede. Os seus dirigentes entendem e com justa razão que para obra de tão elevadasfinalidades sociais não devem andar pedindo e implorando auxílio, porque este deveser levado pelo próprio povo com a simples espontaneidade de quem cumpre umaobrigação, minorando o sofrimento dos seus irmãos mais desamparados. E essa ajuda tem chegado, é verdade, mas com extrema morosidade, de formaque a construção do seu imponente e amplo edifício, localizado na Vila Fiúza Lima, vemse arrastando a mais de dois lustros preterida por obras sociais que, embora tambémúteis, não podem ser postas em pé de igualdade com as altruísticas finalidades do Asiloque virá dar um lar aos nossos pobres e inválidos. Felizmente tudo indica que a construção de sua sede terminará em 1950, graçasem parte da valiosa contribuição de Cr$1000.000,00 feita recentemente pelo GovernoFederal e à anuidade de Cr$30.000,00 também destinada pela União para idêntico fim. Serão 150 pobres que poderão ser abrigados no Asilo D. Bosco, reduzindo, senãoeliminando, a mendicância ambulante que diariamente passea as suas e as nossasmisérias pelas ruas da cidade, como um atestado doloroso da nossa pouca caridade, outalvez mais acertadamente, da nossa maneira pouco racional de praticá-la. Porque na verdade o itajaiense dá esmolas e auxílios a quantos lhe peçam, mascom isso não soluciona nem o problema da mendicância nem o da velhice desamparada.Somente o Asilo poderá solucionar parcialmente esses males da nossa comuna. João Cesário, por exemplo, há treze anos que vem lutando por essa obra comoseu provedor. Nem a pobreza das ofertas, nem a distância da obra evitaram que JoãoCesário Pereira fosse diariamente à construção que já se prolonga por uma dezenade anos. Como ele a senhora Rosinha Souza, quer pela imprensa quer pela palavra faladae pela ação, tem batalhado pela conclusão da sede do “Jovem Velhinho”. José Corbeta, Ademar Garcia e Laércio Malburg, todos eles da Diretoria do Asilo,são nomes a quem a sociedade itajaiense muito deve pelo que vem realizando em favorde uma obra que, sobre vir resolver um dos mais angustiosos problemas municipaisnos redimirá de uma dívida de honra qual seja a de amparar aqueles a quem a sorte foiadversa, e que na luta pela vida caíram antes da última batalha.001-Anuario-002-63-136.indd 127 22/02/2011 10:47:15

Anuário de Itajaí - 1949 128 Sociedade Guarani A Sociedade Guarani, a mais tradicional e seleta associação recreativa de Itajaí,foi fundada em 1897 como clube carnavalesco. Somente em 1906 é que tomou ocaráter que conserva até hoje. Empreendimento grandioso para a época, essa sociedade tem mantido atravésde ano sua tradição de sociabilidade do itajaiense. Mas a sede ainda em uso, se foi um arrojo para as possibilidades do Itajaí docomeço do século, já hoje não preenche as suas necessidades mais imediatas. E por issoos seus atuais dirigentes estão construindo novo e grandioso edifício para a mesma. Esse prédio, que se localiza à Rua Hercílio Luz, já se acha em adiantada fase deexecução e é pensamento dos atuais diretores dar a obra concluída breve. Não tem sido pequenas as dificuldades para reunir fundos para tão avultada obra,que orça em mais de um milhão de cruzeiros, mas a boa vontade dos seus associadostem permitido que, embora devagar, a construção da nova sede prossiga. Como muito bem disse o seu presidente Sr. Genésio Lins, “a construção do novoedifício é uma dívida de honra que contraímos com os que nos antecederam e que dentrodas suas possibilidades nos legaram o que de melhor podiam ter feito no seu tempo”. A sua atual Diretoria está assim constituída: Presidente, Genésio Miranda Lins,vice-presidente, Abdon Fóes; 1º secretario, Arno Mário Heusi; 2º secretário, PauloMalburg; 1º tesoureiro, Evaldo Willerdin; 2º tesoureiro, Mario Uriarte; orador, PauloBauer; bibliotecário, Rubens Almeida; Conselheiros fiscais: Nelson Heusi, FranciscoEvaristo Canziani e Arnaldo Heusi. Cabendo a esta diretoria uma das gestões de maiores responsabilidades na vidasocial do “Guarani” em virtude das obras de construção da sua nova sede exigiremgrandes recursos, é verdadeiramente elogiável a coragem com que se lançaram aempresa, de forma que a nova construção não sofra solução de continuidade. E assim o simpático clube fundado por Joca Brandão e outros vem mantendo asua tradição de meio século.001-Anuario-002-63-136.indd 128 22/02/2011 10:47:17

Anuário de Itajaí - 1949 129 Rádio Difusora Itajaí A Rádio Difusora de Itajaí foi fundada em 1942 e funcionou em caráterexperimental até 1947, ano em que recebeu o seu prefixo – ZYK-9. A estação primitivaera constituída de um minúsculo transmissor de onda local e os seus estúdios eramlocalizados na sede da Sociedade Guarani. Em 1947 foi definitivamente instalada naatual sede sendo equipada com um moderno aparelho de 100 watts. Os testes com anova aparelhagem provaram que em horas de menor interferência o seu alcance atingetodos os estados do sul do Brasil, tendo sido captada até na Bahia, conforme provamcartas de ouvintes deste último Estado. Desde sua fundação é dirigida pelo Sr. Dagoberto Nogueira, pioneiro da rádio-difusão em Itajaí, sendo que a parte técnica da nossa emissora está a cargo do Sr.Adolfo de Oliveira Junior, a que se deve a construção do transmissor primitivo. O seu corpo de funcionários está assim constituído: Srtas. Hilda e Irene Souza,locutoras e auxiliares de secretaria; Adolfo Pereira, técnico de som; Amaurí de Souza,auxiliar da técnica de som; Sebastião A. dos Reis, Ribeiro da Luz e Hermógenes Ramos,locutores; Adamastor de Oliveira, encarregado do departamento Esportivo; OrlandoFóes, encarregado do programa Notícias do Dia e Ubaldino João da Costa, encarregadodo Posto de Transmissão na Vila Operária. Atuando numa cidade de pequenas possibilidades artísticas, como sãotodas as demais do interior, a Rádio Difusora Itajaí, mesmo assim, tem levado aosnossos receptores várias peças de rádio-teatro, transmissões esportivas, conjuntosregionais, músicas selecionadas, etc., ou seja, o máximo que permitem os nossosexíguos recursos. Realiza também programas de auditório, noticiário, sociais, esportes, etc. Não éfácil a manutenção de uma pequena estação de rádio e daí o ser elogiável a tenacidade eo esforço de Dagoberto Nogueira a cuja persistência se deve a manutenção da “imprensafalada” nesta cidade. A princípio poucos acreditavam na sobrevivência da estação que era, no verde muitos, uma tentativa por demais arrojada para o nosso modesto e conservadorambiente provinciano, onde apenas o jornal semanário tinha possibilidade demanutenção. Mas o amparo do comércio e da indústria a esse sistema da propagandainsistente e contínua possibilitou o funcionamento da nossa já indispensável ZYK-9,cujos programas são “alimento” dos mil e pouco rádios-receptores da cidade e dointerior do município. Dispondo de um pequeno, mas bem montado estúdio e umauditório de grande capacidade para programas populares, a Rádio Difusora Itajaí vemcumprindo o programa que traçou de oferecer à nossa cidade o máximo que fossepossível em matéria de “broadcast”.001-Anuario-002-63-136.indd 129 22/02/2011 10:47:17

Anuário de Itajaí - 1949 130 Colégio São José Em 1941, ao chegarem as Irmãzinhas da “Imaculada Conceição” em Itajaí, era a atualEscola Normal “São José” um Colégio Paroquial, com os seguintes cursos: primário ecomplementar. Em 1945 foi instalado o Curso Fundamental, passando o estabelecimento adenominar-se: Instituto de Educação São José. A primeira turma de fundamentalistascursa, atualmente, a primeira série do Curso Normal. Em 1947 criou-se o Ginásio, sob inspeção federal, o qual está em sua 3ª série. Entre as criações do então Curso Complementar, anexo ao Grupo Escolar “SãoJosé”, destaca-se como principal, e de alto valor educativo, o órgão escolar “Progresso”,caprichosamente manuscrito e mesmo com alguns artigos ilustrados. Por motivo dedificuldades financeiras, não era possível pensar-se em um órgão impresso. A boa vontade,porém, de elementos dirigentes, venceu, provisoriamente, a dificuldade e assim, emJunho de 1942, saem vitoriosos os dois primeiros números: um para o departamento deEducação, outro, para o próprio estabelecimento. Finalmente, coroando esforços inauditos,em Maio de 1945, “Progresso” ostenta caracteres gráficos, e até o presenteé mantido, graças a anúncios angariados entre as firmas da cidade, pelasalunas, dando-se-lhes assim oportunidade de desenvolverem o espírito deiniciativa e de se porem em contato com problemas da vida prática. Um troféu de bronze repousa sobre o arquivo do educandário,conquistado graças à original e impecável apresentação dos alunosem uma manifestação patriótica. Muitas excursões são realizadas pelas estudantes. Em todaselas, procura-se aliar o prazer de um dia de passeio ao cuidado dailustração do espírito, mediante novas e ocasionais informações. Ezelando-se pela formação do caráter através do trato social afável,entre colegas e autoridades, no momento conhecidas. Visitas a outros estabelecimentos de ensino são organizadas.E com muita cortesia, recebem-se colegas de fora, entretendo-seos estudantes em competições esportivas e palestras amistosas. Organizam-se concursos nos quais os candidatos submetem-se a provas que medirão seu aproveitamento nos estudos, emmatéria determinada. Os debates, por vezes muito animados,despertam vivo interesse entre os senhores pais. Por iniciativa das alunas, organizam-se festas, cujo fundoreverte em beneficio da biblioteca escolar ou de alguma obrabeneficentes.001-Anuario-002-63-136.indd 130 22/02/2011 10:47:17

Anuário de Itajaí - 1949 131 Entre as semanas de estudos levadas a efeito, destaca-se a semana sobre o SantoPadre, em Abril do corrente ano, a qual finalizou com uma sessão solene e um programaradiofônico. Por várias vezes o estabelecimento se tem apresentado aos estúdios daRádio Difusora Itajaí, em programas de realização artística. São numerosas as sessões lítero-musicais organizadas, seja para recebervisitantes ilustres, seja para cultuar uma figura da Historia Pátria ou uma data de altasignificação moral ou patriótica. Para estímulo dos alunos, e numa justa apreciação de valores, conseguiu-se despertar o interesse das autoridades competentes em favor de dois alunos queconcluíram com brilhantismo seus estudos primários. A primeira, em cerimônia pública, recebe uma coroa de louros que lhe valeu oprêmio de uma bolsa de estudos no Colégio Coração de Jesus, em Florianópolis. Destaforma, a aluna consegue um diploma de normalista, e hoje, exercer o magistério no“Grupo Escolar Victor Meirelles”. O segundo aluno distinto pelo exemplar procedimento deaplicação, mereceu, pela menção honrosa que lhe foi conferida no fim do curso primário,um lugar no Colégio Catarinense. Transferido para o Ginásio Itajaí, vai mantendo combrilhantismo, o primeiro lugar. Assim, procurando, por todos os meios educar a mocidade de Itajaí, o Ginásio“São José” vai realizando uma obra que deve interessar a quantos se preocupam pelobem estar do Brasil.001-Anuario-002-63-136.indd 131 22/02/2011 10:47:19

Anuário de Itajaí - 1949 132Instalação da Escola Normal A fundação da Escola Normal “São José” a outro objetivo não obedeceu que ode proporcionar às jovens catarinenses um meio seguro de ilustrar sua inteligência aplasmar seu caráter segundo a sapientíssima doutrina da Igreja, a primeira a defenderos direitos sagrados da mulher, a primeira a coroá-la rainha porque reconhecendo seuvalor pelas suas virtudes e não apenas pelos seus encantos. Tratando-se de uma obra cuja atuação social seria profunda, embora lenta,evidentemente os obstáculos surgiriam e dificuldades muitas criadas por um conjuntode fatos, cada qual defendendo um ponto de vista, um interesse particular. Por mercê de Deus, esclarecendo dúvidas, debatendo erros e defendendo princípios,a Escola Normal “São José”, obedecendo a todos os requisitos legais, recebe a primeiraturma de 15 jovens, para os exames de admissão. E a 1 de Março de 1949, as primeirasnormalistas começam a receber novas luzes pela ciência ministrada de molde a instruir,pois a ciência é um bem para a humanidade; porém instruir para educar a vontade; educarpara que a aplicação da ciência não seja arma de destruição, mas alicerce para grandesrealizações. Fazer com que cada indivíduo seja bom e seja sábio em toda a extensão dapalavra: individualmente bom para que seja socialmente ótimo, pois que a bondade daspartes faz a bondade do todo. E completar essa perfeição mediante um respeito cristão àgrandiosa realidade sobrenatural que envolve a pessoa humana. Tendo-se diante dos olhos essa verdade que encerra tão grande soma deresponsabilidade, as disciplinas passaram a ser desenvolvidas, respeitando-seintegralmente convicções pessoais quando justas e irrefutáveis, não se capitulando,porém, diante de raciocínios incompletos ou de sofismas elaborados quer por orientaçãoestranha e falsa, quer por pretensão de originalidade. Respeita-se a liberdade, a personalidade da aluna, mas não se aceita insubordinaçãoou orgulho intelectual: diante de uma opinião as provas que acompanham devem serconvincentes. Está-se então diante da verdade, e em face da mesma, cátedra e discípulosse submetem. Eis porque se adotou, em classe, o método de debates: além de reunir asvantagens acima mencionadas, obedece à nova orientação pedagógica. A fim de formar convicções baseadas em fatos comprovados, foram feitasvisitas a bairros pobres da cidade: que a miséria moral e física de muito despertasse acompaixão pelo sofrimento alheio e se sentisse a necessidade premente de trabalharpara o advento de dias melhores. Para salvar a sociedade de um naufrágio moral, procurou-se trabalhar com ainfância, ministrando-lhe aulas semanais de Doutrina Católica. Fundou-se para essefim, o curso catequético, e em 11 de Maio, as normalistas enfrentam as dificuldades domagistério, percorrendo as classes do Grupo Escolar “Victor Meirelles”, preparando oNatal de Jesus, na alma dos pequenos itajaienses. Lá se vão vários meses de catequese001-Anuario-002-63-136.indd 132 22/02/2011 10:47:19

Anuário de Itajaí - 1949 133e pode-se constatar a perseverança das catequistas que começam a encarar comseriedade a vida, dedicando-se a encargos de responsabilidade. Em princípios de Junho, organizou-se uma sessão lítero-musical, a cargo exclusivodas alunas. Além de números de ginástica rítmica idealizados e ensaiados por duasdentre as alunas, foram lidas teses tais como: Da educação física da criança – Daeducação artística da criança – Da educação social-religiosa da criança. Organizando-se a Cruzada Eucarística Infantil na cidade, coube a três alunas daEscola Normal “São José”, o cuidado de orientar as crianças, zelando pela disciplina nasreuniões semanais, acompanhando-as a passeios, promovendo festas... As associações escolares – Liga pró-língua nacional – Pelotão de Saúde – foramigualmente entregues à Escola Normal. As festas do educandário, neste ano, contaramcom a colaboração ativa das normalistas, escrevendo elas mesmas os números cujaresponsabilidade de apresentação assumiram. Uma vez já mais ambientadas ao novocurso e a par de novos conhecimentos, passaram as alunas a colaborar no “Jornal doPovo”, periódico local, com artigos quinzenais. E hoje, como uma grande esperança, funda-se a Ação Católica na Escola Normal“São José”, e espera-se ver então as jovens alunas encarando a vida por um outro prisma,trabalhando, com ardor sempre crescente, pelo engrandecimento moral de Itajaí!Nota da Redação O trabalho acima foi elaborado a nosso pedido, pela culta e prestimosa Irmã Maria de Lourdes, diretora do Colégio São José. Era seu desejo mantê-lo como matéria de redação e nosso propósito atender a esse apelo da sua modéstia. Mas a necessidade de acrescentar-lhe mais algumas linhas nos forçou esta explicação por temor de que estas pudessem ser injustamente tidas como um auto-elogio por aqueles que conhecem a maneira de escrever da autora do artigo acima. É que o Colégio São José é justamente reconhecido como estabelecimento escolar modelo em nossa cidade pela austeridade das suas disciplinas e pela excelência da sua direção entregue ao desvelo e competência da reverendíssima Irmã Maria de Lourdes. As irmãzinhas da Imaculada Conceição a cuja ordem pertencem as religiosas dirigentes do Colégio São José e do Hospital Santa Beatriz deve a população de Itajaí inestimáveis serviços prestados nos setores educacional, assistencial e religioso. Trabalhando incessantemente dentro dos mais sólidos princípios de ética e dos mais elevados padrões de moral cristã, as Irmãzinhas da Imaculada Conceição são dignas do nosso respeito, do nosso estímulo e da nossa ajuda, para que possam manter a grandiosa obra escolar e hospitalar que vem dirigindo em Itajaí.001-Anuario-002-63-136.indd 133 22/02/2011 10:47:19

Anuário de Itajaí - 1949 134 Aconteceu este ano Súmula dos principais acontecimentos verificados em Itajaí no período de 1º de Janeiroa 31 de Outubro de 1949. Extraída dos jornais “Itajaí” e “Jornal do Povo”, desta cidade,e de “A Notícia”, de Joinville. Janeiro – Falece em sua residência o Industrial Alfredo Eicke Senior, antigodiretor-gerente da Fábrica de Papel Itajaí – A imprensa noticia a breve instalação detelefones automáticos – Pedro Raimundo, o “az da sanfona”, dá um recital em Itajaí. Fevereiro – O “Teatro do Amador de Itajaí” leva à cena no Guarani a peça em3 atos “A Felicidade Pode esperar”, original de Eurico Silva – O Sr. Genésio Lins daUDN é eleito presidente da Câmara Municipal de Itajaí por 6 votos, tendo empatado navotação com Paulo Bauer e sido empossado por ser mais velho – Realiza-se a bençãodos novos sinos da velha Igreja Matriz – Celebra-se com grande animação os festejoscarnavalescos – O Dr. Valério Konder realiza na Prefeitura uma conferencia defendendoa exploração do petróleo por meio do monopólio estatal – O Sr. Abdon Fóes é eleitopresidente do Rotary Club em Itajaí. Março – Falece em sua residência o Sr. Adolfo Gropp, antigo dentista de Itajaí– A imprensa noticia o nascimento das trigêmeas Maria da Graça, Maria José e MariaTerezinha, filhas do casal Antonio e Maria Bolda, de Luiz Alves – Continua o impasse naCâmara Municipal de Itajaí, motivado pela recusa da bancada do PSD em reconhecer apresidência de Genésio Lins – Completa 30 anos de existência o C. N. “Marcilio Dias”. Abril – Volta a circular “O Itajaí” após ter suspendido as suas edições por algunsmeses – É recebido com desagrado geral um artigo de Raquel de Queiroz, publicado narevista “O Cruzeiro”, intitulado “Olhos Azuis” e contendo conceitos injustos à colonizaçãoalemã do Vale do Itajaí – Segue para Poços de Caldas uma delegação do Rotary Club localque representará o nosso Clube na Conferência Rotaria daquela cidade – Visita Itajaío embaixador inglês no Rio – Celebram-se com grande fervor religioso as festividadesda Semana Santa – Continua o impasse da Câmara Municipal – Falece na Penha o Sr.Cecílio Filermon de Oliveira – O Teatro dos Estudantes do Paraná leva à cena no Guarani“Espectros”, de Ibsen, com magistral interpretação. Maio – Foi escolhido para chefiar a embaixada de engenheirandos de Curitibaque visitará o Uruguai, o nosso conterrâneo Mário Stamm – O Tribunal de Justiça mandaproceder nova eleição para presidente da Câmara de Vereadores, sendo eleito o Sr.Paulo Bauer do PSD – É contratado para cargo de diretor técnico do Ginásio Itajaí oProfessor Moacir Mourisco – A Lamport e Holt Line LT., de Liverpool, inaugura escalade navios de sua linha em Itajaí, com a entrada do vapor “Devis” de 15.000 toneladas– Visita-nos uma comissão de deputados federais que veio estudar a zona do vale doItajaí – 179 crianças tomam a Primeira Comunhão na Igreja Matriz – Em viagem deinteresse rotário e de turismo, segue para os EE. UU e Europa o Sr. Cel. Marcos Konder001-Anuario-002-63-136.indd 134 22/02/2011 10:47:22

Anuário de Itajaí - 1949 135– Arnaldo Rebeldo dá um recital de piano em Itajaí – Falece nesta cidade o Sr. ArturSiqueira – A cidade é abalada pela notícia do suicídio do Sr. Indio Canziani, ocorridono campo do Marcílio e sem motivo aparente - É criada a Associação Profissional dosEmpregados do Comércio de Itajaí. Junho – Instala-se à Rua Silva uma agência do I.A.P.I – Falece no Hospital SantaBeatriz o reverendo Antonio Luiz Dias, que, por muitos anos, foi vigário de Camboriú –um caminhão apanha e mata um menor, à Rua Hercílio Luz – O estivador Manoel Costa,trabalhando a bordo do “Cabedelo”, é vitima de uma queda no porão do navio, falecendoimediatamente – É homenageado com um grande banquete no Hotel Cabeçudas o Cte.Walfrido Quintanilha, capitão do porto, por motivo da sua transferência para o Rio –Falece o Sr. Augusto Heil – é decidida por maioria da Câmara a cobrança do impostopredial em Navegantes – Falece a Sra. Maria Leonor Claudio de Souza, mãe do jornalistaconterrâneo Josué Claudio de Souza - Realizam-se com grandes solenidades os festejosde Corpus Cristi – É inaugurada a ponte “Dr. Constantino d’Ivanenko” sobre o Ribeirão daCaetana na Rua Cel. Eugênio Müller – Falece o Sr. Pedro Burghardt, antigo proprietáriodo “Grande Hotel” – Falece Antonio Z. de Noronha, autor e ator teatral. Julho – A Associação Comercial e a Prefeitura pedem uma Agência do Banco doBrasil para esta cidade – O Jornal “Itajaí” lança uma edição especial de aniversário –Comemora o seu 102º aniversário Sra. Luiza dos Santos, nascida em Armação em 21de Julho de 1847. Agosto – É eleita “Miss Bloco dos XX” a senhorita Julia Maria de Miranda –Assume a Capitania do Porto o Capitão de Corveta Alfredo Morais Filho – Assume o cargode Delegado regional de Polícia o Dr. Ari Silveira de Souza – Celebra-se com grandefestividade o “Dia do Chofer”, com benção da imagem de São Cristovão e procissão deveículos motorizados – É dado à publicidade o “Guia Prático dos Armadores, Agentes eEmbarcadores”, de autoria do Sr. Luiz Zaguini - Instala-se no Ginásio Itajaí um “Cursode Balconistas”, do Serviço Nacional de Aprendizado Comercial, SENAC – Falece em LuizAlves o comerciante Valetim Hess – Na Assembléia Estadual o deputado Antônio CarlosKonder Reis apresenta uma indicação no sentido de ser substituída a velha ponte sobreo Rio Piçarras por uma de concreto – Falece o Sr. Rodolfo Ebert. Setembro – Circula o primeiro numero de “O Ginasiano”, órgão dos alunos doGinásio Itajaí – Comemora-se festivamente o Sete de Setembro – Inaugura-se a ponte“Dr. Thiers Fleming”, sobre o Ribeirão Schneider – A rumbeira cubana Lia Ray dá umrecital em Itajaí – A direção geral do Banco do Brasil informa à Câmara Municipal quenão instalará a agência pedida para esta cidade – Lamentável acidente de caminhãocausa morte de Idalvino Lourenço Alexandre, da “Cobrasil” – Anuncia-se que o Prefeitoapresentará a renda prevista de Cr$ 2.700.000,00 – Verdadeira epidemia de cãesraivosos infesta a cidade – Instalam-se os primeiros telefones automáticos em Itajaí –Ancora em nosso porto o navio hidrográfico “Juruema” – Na Câmara Estadual o deputadoHeitor Liberato pede Coletoria Federal para Ilhota – Causa profundo pesar o desastreocorrido no porto de Iguape com o hidroavião da TABA que se dirigia a Porto Alegre econduzia a bordo a senhora Hedwig Odebrecht Miranda e a senhorita Marcília de Oliveiraque ficaram grave e levemente feridas respectivamente.001-Anuario-002-63-136.indd 135 22/02/2011 10:47:24

Anuário de Itajaí - 1949 136 Outubro – Começam as obras de melhoramento do nosso aeroporto – Comemora-se a “Semana da Criança” com a intensificação de registro civil – Alice Ribeiro realizano “Bloco dos XX” um recital de canto, acompanhada ao piano por Arnaldo Rebelo – Éfestivamente recebido pela população D. Joaquim Domingues de Oliveira, arcebispometropolitano que aqui ministrou a crisma a mais de 4.000 crianças – O GovernoFederal concede Cr$ 100.000,00 ao Asilo Dom Bosco e estabelece uma anuidade de Cr$30.000,00 para o mesmo fim - Falece na Penha o Sr. Manoel Henrique de Assis, antigoTabelião naquele Distrito – Falece em Curitiba o Sr. Eurico da Silva Fontes, industrial emGaspar – O “Jornal do Povo” dá uma edição especial de aniversário. FIM DE ANUÁRIO DE ITAJAÍ - 1949001-Anuario-002-63-136.indd 136 22/02/2011 10:47:24

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Anuário de Itajaí - 1959 139 Apresentação O Anuário de Itajaí é mais uma vez editado. Desta feita implica numa homenagemtoda especial a Itajaí, cujos primeiros cem anos de emancipação político-administrativaestamos comemorando neste 04 de abril de 1959. Terá falhas e omissões que por certo serão relevadas pelo nosso inteligente leitorque bem apreenderá não ter o nosso trabalho, outro intuito, senão o de enalteceràquelas figuras e instituições que com o seu trabalho e empreendimentos, marcaram demaneira extraordinária estes cem anos de município de nosso Itajaí. O editor001-Anuario-003-137-174.indd 139 22/02/2011 10:52:48

Anuário de Itajaí - 1959 140 Itajaí – cem anos de município O labor afanoso, árduo e constante de um grupo de pioneiros, continuado pelodecorrer dos anos por aqueles que os sucederam ou por outros que aqui se estabeleceram,resultou nesta realidade tangível e admirável que é Itajaí, cujos primeiros cem anos devida autônoma está se completando, sem as galas e as manifestações devidas a umacontecimento de tamanho relevo. Desde as primeiras roças dos Arzões, Azeredo Coutinho, Rocha Coelho e maisainda, os lineamentos fundamentais da sua colonização definitiva, estabelecidospor essa admirável figura de criador de cidades que foi o Coronel Agostinho AlvesRamos, o crescimento de Itajaí foi decorrendo num ritmo disciplinado e ascendenteque a transformaram nesta cidade progressista, moderna e bela, centro irradiador decivilização e progresso para todo um rico vale, hoje transformado numa atuante colméiade trabalho, orgulho de todo o Estado.001-Anuario-003-137-174.indd 140 22/02/2011 10:52:50

Anuário de Itajaí - 1959 141 A Lei Provincial 464, de 04 de abril de 1859, era o coroamento do ideal deprogresso depositado por aquele pugilo de colonizadores que plantaram na dadivosaplanície à foz do grande rio, a semente do seu trabalho, fecundada com sacrifício,renúncia e esperança, e que não tardou a oferecer os almejados frutos. Tal qual novos conquistadores, sem a sede de sangue e extermínio que marcarammuitos dos que se lançaram ao desbravamento das terras ameríndias, abriram clareiras,plantaram cidades, sempre buscando no seio da terra fértil e dadivosa o fruto dos seusideais. Tal qual novos e ignorados Dvoraks, compuseram, assim, sem o saber, novosmovimentos na grandiosa sinfonia do Novo Mundo. Itajaí hoje esplende em toda a sua pujança. Seu porto acolhe barcos desfraldandosuas bandeiras dos quatro cantos do mundo. Por ele entram elementos que vem seassociar na produção das variadas riquezas que por ele depois saem em busca dedistantes mercados, levando assim o testemunho de sua grandeza e da grandeza dovale do qual é porta de entrada. O ruído de suas fábricas, o sazonamento das suaslavouras, o movimento sempre crescente do seu comércio, completam este quadromajestoso, plasmado nestes cem anos de município.001-Anuario-003-137-174.indd 141 22/02/2011 10:52:52

Anuário de Itajaí - 1959 142 Vista de olhos ao passado Lucas Alexandre Boiteux O passado e o futuro são dois pontos que o presente examina, estuda e marca (Fagundes Varela).O cenário I – Quem, do alto mar, ao embalo da vaga verde e caprichosa, em dia claro, cheio desol, despido de velilho matutino, vier, curioso, demandando rumo ao poente o grandiosomaciço continental do Estado de Santa Catarina, entre os paralelos extremos de 26°e 27° latitude austral, verá destacar-se dos ásperos contornos da violácea cordilheira,esbatida no fundo de majestoso quadro, que a emoldura, o perfil singular de umamontanha altaneira, de forma típica, fantasista, a lembrar no recorte nu de suas sóbriaslinhas, o túmulo pétreo e imponente daqueles rebeldes e audaciosos centauros que, emremotas eras, numa tentativa vã, pretenderam escalar o Olimpo e fulminados tombarampelos raios do implacável Júpiter.001-Anuario-003-137-174.indd 142 22/02/2011 10:52:55

Anuário de Itajaí - 1959 143 É o famoso Baú ou Canastra, assim apelidado pela simplória marujada d´antanho,ao compará-lo ao conhecido utensílio doméstico; e, posteriormente, celebrado comocofre ou arca inexaurível de gemas preciosas, graças à imaginação exaltada dos ávidosgarimpeiros e bandeirantes paulistas. Hoje, acalmada a auri sacra famos, é natural e segura balisa a assinalar, nasobrancelha de seus 870 metros de altitude, o privilegiado vale de terras pingues,ubérrimas, que o pitoresco Itajaí, sua principal artéria fluvial, avolumado em estiradocurso, por inúmeros confluentes, e com seus naturais meandros e voltas sinuosas,banha e fecunda. E no âmbito desta vasta, copiosa e panífera bacia, nos distanciados tempos dadescoberta (1502), cabildas da raça nativa, do belicoso ramo Guarani, campeavamlivres e dominadoras, vivendo a lei da natureza, fartas de pescado e caça, que lhesproporcionavam as águas dos rios e do mar vizinho e os recessos da floresta virgem. E o volumoso coletor de tantas variadas vertentes, entre ribas alcantiladas elongos espraiados, rolava túmido, gorgolejante, a caminho do oceano, arrastando consigoemaranhados camalotes de aguapés, nelumbos e nenúfares, roubados em redemoinhoaos seus remansos, “... largo sulco nas terras que devassa, - como escorregadiça,argenta estrada, obra sem par das mãos da natureza...”. II – Três lustros volvidos após o desvendamento do ribamar catarineta, se deparaem raro monumento cartográfico coetâneo (1516) um primeiro topônimo que se nosafigura muito bem se ajustar ao maior curso d´água do nosso Estado – Rio das Voltas. Contudo, por longo tempo, permaneceram mudos a seu respeito os roteiros eportulanos da costa sul. Como é sabido, pelos meados do século em vista, mesquinhos e aleatóriosagrupados, principalmente de arribadiços, desertores e náufragos castelhanos, surgiramem recantos do entretalhado litoral catarineta. Por vezes, dentre os supérstites uns maisanimosos e atrevidos, aventurando a vida, tentaram romper o sertão desabrido e inóspito,na atormentada ânsia de alcançar a nascente cidade de Assunção do Paraguai.001-Anuario-003-137-174.indd 143 22/02/2011 10:52:57

Anuário de Itajaí - 1959 144 Ora, bem possível é que, rumo ao oeste, guiados pelo sol e ao arrepio da extensaestrada líquida, que é o Itajaí, os mais felizes, vingando os escabrosos socalcos dasserras do Mar e do Espigão, lograssem a meta almejada... E o tempo se escoava. Eis que ao findar o século XVI e o alvorecer do seguinte,vindas do norte, procedentes de São Vicente e São Paulo, criminosas vagas assassinase incontidas de predadores de escravos vermelhos, espraiando-se por todos os recantosdo ubertoso vale, o encheram de clamores ante a desumana rázia praticada contra osmiseráveis ameríndios naturais da terra. E os escapos das terríveis pilhagens foramrecalcados e confinados às sombrias florestas da cordilheira marítima, alimentando noimo peito a promessa de implacável vingança.O povoamento I – A fúria escravagista sofrera relativa acalmia, podemos assim dizer, mercê aestonteante nova de achamento de nobres metais e pedras preciosas nos caneiros dosrios e nas grotas dos montes costeiros do sul. Daí uma romaria irrefreável de indivíduos,em anseios de enriquecimento, para aquelas paragens que a natureza tão bem dotara. O século XVII ia em meio. Um loco-tenente do Marquês de Cascais, estabelecidona Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco do Sul, distribuía aos seusacompanhantes lotes de terras virgens dentro de sua alçada. Um deles, o Capitão JoãoDias de Arzão, foi aquinhoado com uma sesmaria no rio de Itajaí (1655). Fácil é deimaginar que, além das sementes e mudas lançadas à humosa terra, o destemerosopaulista tivesse, com as mãos febris, palpado, revolvido as areias do álveo do fabulosorio, lavrado as faisqueiras de suas encostas, e, com olhos fisgados no fundo das bateias,procurando descobrir piscas, folhetas e pepitas do áureo mineral. E ao findar do século, encontramos um filho do velho povoador, o Capitão MiguelDias de Arzão, na faina sobremaneira ingrata de explorar as “pobressimas faisqueiras”do Itajaí, “onde algum tempo se tirara bastante ouro”, segundo o testemunho de umcontemporâneo, o Sargento-Mor Manuel Gonçalvez de Aguiar. E outros Arzões se sucederam e os encontramos a varejar o sertão, arraigados àspesquisas de minas de argênteos e de aleonados metais. Afinal, um deles, certamentedesiludido, no primeiro quartel do século passado volveu ao torrão avoengo e às ribas001-Anuario-003-137-174.indd 144 22/02/2011 10:53:00

Anuário de Itajaí - 1959 145do rio amigo estabeleceu “uma fazenda de lavoura chamada Arzão, única que com casase encontra ali” – nos informa Paulo J. M. de Brito em sua preciosa “Memória”. Mas a fama da uberdade do nemoroso e pitoresco vale havia crescido e propagava-se despertando a cobiça de latifundiários. E assim é que, em 1792 e 1813, haviam sidoconcedidas sesmarias a 21 indivíduos, entre estes ao Capitão Azeredo Coutinho, a SilvaMafra, a Leal Correia, a Medeiros etc. Como é de ver nem todos esses aquinhoadosimplantaram logo campos lavradios, de criação e qualquer estabelecimento industrial. II – Em 1820 o catarinense Miguel Gonçalvez dos Santos, administrador daArmação de baleias de São Domingos, no Rio de Janeiro, em carta ao Ministro VillanovaPortugal, entre outros assuntos, fez a seguinte referência ao Itajaí: “O ri oTayahi eradigno de uma freguezia e isto se conseguiria com facilidade, se o Governador daquelailha (Santa Catarina) tivesse espírito criador”. Alertado assim o ministro, penso eu, chamou ele um dos seus auxiliares maisde peito, o brasileiro Antonio Menezes Vasconcellos de Drummond, possivelmente paraafastá-lo das conjuras emancipatórias, e comissionou-o para “tomar posse d´huas Teraspara o mesmo senhor (D. João VI) junto ao rio Tajahy-mirim, afim de nelas forma humestabelecimento, seguindo a direção que o hade dar o mesmo Governador na formadas instruções que serão a este dadas por esta Secretaria de Estado de Negócios doReino”. Drummond apresentou-se em Santa Catarina mas, ao que se sabe, não alcançourealizar o projeto do ministro, apeado do governo no ano seguinte. O fato é, confessaDrummond, “que não houve tempo nem meios para os levar ao cabo”, tal empresa. Nos albores da independência, cerrando as portas de sua casa comercial naPraça do Desterro (Florianópolis) transfere-a para a margem direita do Itajaí-açu, obrasileiro Capitão Agostinho Alves Ramos. Homem de apreciável cultura, simpático, deboas maneiras, dinâmico, empreendedor e caritativo, em pouco tempo soube captar aconfiança e a afeição dos moradores da região. Tornou-se em pouco tempo o principalexportador de todos os produtos da terra. Seu prestígio ia em ascensão. Graças a ele seergueu a primeira capela no nascente povoado, que se beneficiou com um Cura de almas,com um Mestre-Escola, um pequeno estaleiro de construção naval, uma olaria. EleitoDeputado Provincial e elevado aos altos postos da Guarda-Nacional continuou a bater-secom afinco e desprendimento pelo progresso da circunscrição política que representava epelo bem-estar de seus moradores. Nele tinha nos governos provinciais o seu fac-totum;001-Anuario-003-137-174.indd 145 22/02/2011 10:53:02

Anuário de Itajaí - 1959 146no abrir estradas, no estabelecimento de colônias, na exploração do sertão, na repulsaaos silvícolas etc. Graças ainda a ele e de acordo com a Resolução do Conselho Geral daProvíncia, de 12 de agosto de 1833, o arraial de Itajaí foi elevado à categoria de Paróquiasob o orago do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição.A vila I – Pelas cinco horas da merencória tarde de 16 de julho de 1853 (fulminado por umaapoplexia), deixava de existir o prestante cidadão a quem Itajaí deve, incontestavelmente,a sua organização política e administrativa, sua identidade civil: viúvo, pobre, semdescendência, sepultado sem pompa num coval ignorado e sem ter podido ver a terraque tanto amou e por quem tanto se bateu elevada à categoria de vila. Passam-se os anos. Achava-se à frente dos destinos da então província de SantaCatarina o Dr. João José Coutinho, que foi seu undécimo administrador (1850-59) e quepor mais tempo, entre antecessores e sucessores, se manteve nesse alto cargo. Pela Resolução de 04 de abril de 1859, n° 464, esse presidente fazia saber a todosos habitantes da Província que a Assembléia Legislativa decretara e ele sancionava oato abaixo: Artigo 1° - Será elevada à categoria de Vila a Paróquia do Santíssimo Sacramentod´Itajaí, logo que seus munícipes tenham prontificado, à sua custa, casa para a sessãoda Câmara. Artigo 2° - Esta paróquia, a de Camboriú e a de Nossa Senhora da Penha do Itajaíserão desmembradas dos municípios de Porto Belo e de São Francisco do Sul, de queora fazem parte, e formarão o Município denominado de Itajaí. Artigo 3° - O Município de Itajaí se regulará pelas atuais posturas de Porto Belo,enquanto a Câmara respectiva não confeccionar as suas. Artigo 4° - A sede da vila de Porto Belo passará para a freguesia de São Sebastiãode Tijucas, logo que na nova vila tenham os habitantes prontificado casa para as sessõesda Câmara. Esta freguesia, a de Porto Belo, e a de São João do alto Tijucas, que ficadesmembrada do Município de São Miguel, formarão o Município com a denominação deSão Sebastião.001-Anuario-003-137-174.indd 146 22/02/2011 10:53:04

Anuário de Itajaí - 1959 147 Artigo 5° - O Município de Itajaí pertencerá à Comarca de Nossa Senhora daGraça, e o de São Sebastião a de São José. Artigo 6° - Ficarão revogadas as disposições em contrário. Mando portanto a todas as autoridades a quem conhecimento e execução dareferida Resolução pertencer, que a cumpram, e façam cumprir, tão inteiramente comonela se contêm. O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr. Dadano Palácio do Governo da Província de Santa Catarina, os quatro dias do mês de abrilde mil oitocentos e cinqüenta e nove, trigésimo da Independência e do Império – JoãoJosé Coutinho. Nesta Secretaria do Governo da Província de Santa Catarina, foi selada e publicadaa presente Resolução, aos 4 dias do mês de abril de 1959. Manoel da Costa Pereira.Registrada a fls. 37v do Livro 5° de Leis Provinciais. Secretaria do Governo de SantaCatarina – 04 de abril de 1859 – José Caetano Cardoso. II – No ano seguinte, já na administração do Presidente Dr. Francisco Carlos deAraújo Brusque, teve lugar o Auto de posse e Juramento dos Vereadores da Vila doSantíssimo Sacramento do Itajaí, e instalação da mesma vila da Comarca de NossaSenhora da Graça da Província de Santa Catarina, como abaixo se declara: Ano de Nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessentaanos, trigésimo nono da Independência e do Império. Aos quinze dias do mês de junho dodito ano, nesta Paróquia do Santíssimo Sacramento do Itajaí, termo da ex-vila de PortoBelo, na sala da casa destinada pelos encarregados de a prontificarem, para servir dePaço da Câmara Municipal, e nela se celebrar as sessões, a qual pertence a João Clinaid,aí achando-se presente o Tenente José Simão da Silva Simas, Presidente da CâmaraMunicipal da Vila de São Sebastião da Comarca de São José desta Província, comigoSecretário da mesma Câmara, ao diante nomeado, tendo comparecido o Vereador daCâmara Municipal mais votado eleito para esta nova Vila do Santíssimo Sacramento doItajaí, o cidadão brasileiro Joaquim Pereira Liberato, bem como os Vereadores imediatosem votos, os cidadãos brasileiros José Henrique Flores, Claudino José Francisco Pacheco,José da Silva Mafra, Francisco Antonio de Souza, deixando de comparecer Jacinto Zuzartede Freitas por talvez ignorar o presente auto e Manoel José Pereira Máximo por se achardoente em perigo de vida, o Senhor Presidente faz ciente aos ditos Vereadores que por001-Anuario-003-137-174.indd 147 22/02/2011 10:53:06

Anuário de Itajaí - 1959 148ordem do Excelentíssimo Presidente desta Província de trinta do mês próximo findo,que havia se apresentado nesta sala, a fim de prestar juramento aos ditos SenhoresVereadores, lhes dar posse, e fazer instalar esta Vila do Santíssimo Sacramento doItajaí, da Comarca de Nossa Senhora da Graça da Província de Santa Catarina, emvirtude da Lei de sua criação, que é de forma, maneira e teor seguinte: Depois que se declarou que os limites das Freguesias e distritos, de que se compõeeste novo município são as expressas e designadas nas leis, e ordens respectivas daereção das mesmas freguesias, sendo as do Município, ao norte o rio de Itapocu, e ao sulas vertentes do morro do Boi, logo passou a deferir juramento aos sobreditos Vereadores,os quais puseram sua mão direita em um livro dos Santos Evangelhos, e na forma doartigo sessenta da Lei de 1 de outubro de 1828 juraram desempenhar as obrigaçõesde Vereadores desta Vila do Santíssimo Sacramento do Itajaí, e de promoverem emquanto em si couber, os meios de sustentar a felicidade pública. Aceitas por eles, assimo dito juramento o Senhor Presidente proclamou a inauguração desta Vila do SantíssimoSacramento do Itajaí da Comarca de Nossa Senhora da Graça da Província de SantaCatarina, que por esta forma e auto solene fica instalada, e elevada à categoria de Vila,compondo-se seu Município da Paróquia desta Vila e de Camboriú e a de Nossa Senhorada Penha do Itapocoroy, que de hora em diante fica desmembrada do Município de SãoFrancisco, como determina o artigo segundo da citada lei de criação deste Município.Assim concluído este ato o Senhor Presidente instalador desta Vila convidou ao SenhorPresidente da nova Câmara a tomar assento, cedendo-lhe a cadeira, bem como todos osdemais senhores e Vereadores os quais concordaram em fazer celebrar na Igreja destaVila um Te Deum às duas horas da tarde em ação de graças ao Supremo Criador doUniverso bem como no regresso dar um respeitável “Viva à sua Majestade o Imperador,o Senhor Dom Pedro II, à Constituição política da Nação Brasileira e à Religião CatólicaApostólica Romana do Estado, e ao Exmo. Senhor Presidente desta Provínica”. E de tudopara constar se lavrou este auto que foi assinado pelas pessoas acima mencionadas.E eu José Mendes da Costa Rodrigues, Secretário da Câmara Municipal da Vila de SãoSebastião, que a escrevi. III – Com justa razão e não menos natural ufania, cerca-se de galas a risonhae dinâmica cidade de Itajaí para festejar, com merecido entusiasmo e arruído, a grataefeméride que assinala o centenário de sua merecida ascensão, de simples e discretoCurato ao predicamento de Vila, mercê seu notável progresso nos diferentes ramos dasatividades humanas e o labor fecundo de seus filhos.001-Anuario-003-137-174.indd 148 22/02/2011 10:53:08

Anuário de Itajaí - 1959 149 INCO – uma organização genuinamente catarinense Até 1934, a rede bancária catarinense resumia-se numas poucas agências de Bancos, mais propriamente sete do Banco Nacional do Comércio e três do Banco do Brasil. A idéia de um banco catarinense surgiu quando Irineu Bornhausen e Otto Renaux, em Rio do Sul, quando aqueles dois industriais tiveram dificuldades de descontar um cheque de dez mil cruzeiros naquela localidade. De início pensaram somente na fundação de uma organização bancária que prestasse assistência à economia do Vale do Itajaí, o que mereceu desde logo o valioso apoio do inesquecível Cônsul Carlos Renaux. Mas deixemos que a história do INCO seja contada pelo seu dinâmico e atual Diretor- Superintendente Genésio Miranda Lins. A gênese estava naquela troca de idéias em Rio do Sul: Surgiu, assim, o INCO, corajosamente a enfrentar os negócios bancários com galhardia e prudência. Outros nomes se juntaram aos incorporadores: Bonifácio Schmitt, Victor Konder, Antonio Ramos, Fritz Schneider, José Menescal do Monte, Nestor Schiefler, Francisco Almeida, Augusto Voigt e centenas de outros, todos amigos de primeira hora. Assim é que havendo constituído juridicamente em Assembléia Geral de 23 de fevereiro de 1935, com o capital de CR$1.200.000,00 recebeu a carta patente n° 1283 de 08 de outubro de 1935, e afinal, em 13 do mesmo mês e ano, o INCO abria suas portas em Itajaí, nos altos dos escritórios da firma Almeida & Voigt.001-Anuario-003-137-174.indd 149 22/02/2011 10:53:10

001-Anuario-003-137-174.indd 150 Em 1936 encampou o Banco de Crédito Agrícola de Bela Aliança, aumentando o seu capital para dois milhões de cruzeiros. A fase áurea começou em 1942, quando foi incorporado o Banco Agrícola e Comercial de Blumenau, passando o seu capital para seis milhões de cruzeiros e aumentando a nossa cobertura econômica, já de âmbito estadual, com as novas agências de Blumenau, Joinville, Ibirama, Jaraguá e Mafra, saindo, conseqüentemente, do Vale do Itajaí para uma esfera maior: a de Santa Catarina. Em 1943 foram instaladas agências na capital do Paraná e em 1944 na capital da República. Passou, assim, o INCO, a ter âmbito nacional. Já agora, o seu capital atingia 22 milhões e 500 mil cruzeiros. A expansão do INCO era inevitável e uma decorrência lógica do próprio desenvolvimento econômico do Estado e do País. Em 1957 incorporava o Banco Nacional da Cidade de São Paulo, passando assim a operar no grande estado bandeirante, no estado do Rio e na riquíssima zona norte do Paraná. Seu capital já aí atingia a apreciável cifra de CR$125.000.000,00. Mas fixemo-nos no que representou para Itajaí a localização de sua matriz nesta cidade. Sem dúvida trouxe enormes e acentuados reflexos ao desenvolvimento da cidade. Possibilitou trabalho a centenas de jovens capazes e inteligentes que hoje desfrutam de destacadas posições nos altos quadros administrativos do Banco; foi uma escola para muitos outros que atualmente em outros setores de atividades, moldaram sua conduta, caráter e personalidade nessa grande escola que é o INCO. Tem sido o esteio de inúmeros empreendimentos locais nos mais variados setores. O Ginásio Itajaí é hoje uma realidade graças ao amparo que lhe dispensou o INCO. Conta-se às centenas as bolsas de estudo que distribui não só na cidade como em todo o Estado a várias inteligências jovens que careciam de recursos econômicos para a realização de suas aspirações. Propicia um perfeito e modelar sistema de assistência social aos seus funcionários através do Serviço de Assistência ao Funcionário (INCOSAF). Ainda agora, no início deste ano, colocou em vigor uma velha aspiração da classe bancária, qual seja, a aposentadoria integral, colocando-se assim como um dos 22/02/2011 10:53:11


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