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Anuário 2010

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Anuário de Itajaí - 2000 251O imigrante alemão na foz do rio Itajaí-Açu: reflexões sobre a formação social do espaço litorâneo catarinense Sônia Miriam T. Moreira Professora do Curso de Geografia do CTTMar – Univali Estudos sobre o litoral catarinense têm assinalado, com freqüência, a contribuiçãoda colonização açoriana na formação social do espaço litorâneo. Por outro lado, umbom número de trabalhos sobre a colonização alemã nos vales do Itajaí-Açu e doItajaí-Mirim vêm discutindo o importante papel desempenhado pelo imigrante alemãonesses vales litorâneos. No entanto, a visão desarticulada de processos que se desenrolam em espaçostão próximos contribuiu para a existência de “vazios” no estudo da formação sociallitorânea catarinense, em especial quando se deseja conhecer as relações entre essassociedades e suas especificidades. Um desses “vazios” refere-se à chegada do imigrante alemão à foz do Rio Itajaí,área não circunscrita aos projetos governamentais de colonização. Considera-se, no caso,o processo de integração do pequeno contingente alemão ao espaço portuário, entre1830 e 1900, sabendo-se que essa implantação se realiza numa área cuja organizaçãosocial e produtiva remonta a um antigo povoamento, achando-se presentes as basesremanescentes da colonização portuguesa. As reflexões iniciais sobre o papel do imigrante alemão na foz do Rio Itajaí tiveramcomo “fios condutores” dois eixos teóricos – o espaço geográfico e a formação socialcatarinense. Coloca-se, ainda, que o presente trabalho não pretende esgotar as múltiplasconsiderações sobre esse processo, mas incentivar novas contribuições sobre o tema. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 251 22/02/2011 10:59:03

Anuário de Itajaí - 2000 252 Arquitetura do esquecimento: o índio na escrita de Itajaí Christiano Schauffert de Amorim Mestrando em História pela UFSC O ponto a ser abordado neste artigo procura chamar a atenção do leitor para o que a palavra, a escrita e toda forma de construção científica textual (filologia) podem esconder sobre o indígena. A existência de um diferente sentido na leitura das palavras e conseqüente interpretação destas aparece neste texto como item principal de estudo. Uma informação ou mensagem codificada pela escrita, ou seja, a palavra, não se resume apenas em um significado momentâneo ao leitor. Em grande parte das palavras relacionadas ao grupo indígena. Esta mensagem pode relacionar-se como negação, morte, vergonha, prisão, entre outras, tendo data programada para sua ação, exatamente no instante que as pessoas realizam a representação no ato de ler. Historicamente percebe-se a produção de signos (sinais) no texto, como a criar vários emblemas para o indígena. Os signos sobre o índio nomeiam outros sentidos do grupo humano em questão, como um sinal para representação, escondendo operações (cristianização, civilidade, incompetência, nojo, entre outros). A passagem do signo para o papel tira-lhe a prática, mas esta retorna nas ações e idéias futuras do leitor bastando outro sinal, como um programa televisivo, outra leitura ou mesmo uma discussão sobre o tema. A identificação de uma escrita científica e política nos parágrafos é resultado de uma violência sutil, mas real. Sutil porque no decorrer da leitura torna-se difícil (na maioria dos casos) perceber as ligações do discurso com o signo; nesse momento, os signos são ativados e a prática vem à tona nas conseqüências materiais para população indígena. Leia o artigo completo no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 252 22/02/2011 10:59:04

Anuário de Itajaí - 2000 253 Espaço LiteraturaNosso idioma reviveu. Organização: NambláGakrãn – Edição bilíngüe xokleng/português A Comunidade Indígena da Reserva Duque de Caxias, localizada no Municípiode José Boiteux, em Santa Catarina, preocupada com a ameaça de extinção de sualíngua e a perda acelerada de suas tradições, vem realizando um trabalho de resgateda história, do artesanato, dos mitos e festas. E neste contexto discute-se, também,o nome do grupo. Atualmente, são nacionalmentee internacionalmente conhecidos como xogleng,mas já foram denominados Aweikoma, kaingang eBotocudos. Todos os nomes lhes foram dados pelosnão-índios. Como outros grupos indígenas brasileiros,este povo não tinha uma autodenominação específicae chamava-se a si mesmo de “nós” em oposição a“outros”, para os estranhos. No processo de resgatedos mitos e histórias, tem surgido alguns nomes,entre os quais Laklãnõ, cogitado como possívelautodenominação do grupo. O termo Xokleng será usado até chegarem aum consenso quanto ao novo nome, o qual passará,então, a constar nos livros, dicionários e outraspublicações. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 253 22/02/2011 10:59:06

Anuário de Itajaí - 2000 254Cansei de ser moderno, quero ser eterno: o esporte em Itajahy Moacir da Costa Acadêmico do Curso de História O que me levou a pensar este artigo foi o aparecimento de inúmeras academias, seja demusculação ou mesmo de dança, que surgiram nos últimos anos e que tem aumentadoem muito no final dos anos noventa. Para se ter uma idéia, somente no informativooficial de cultura de Itajaí, no mês de maio, apareceu oito academias inscritas que vãodesde academias de musculação à academias de patinação artística; sem se levar emconta as que não têm acesso a este tipo de divulgação e que funcionam paralelamentenos inúmeros bairros de Itajaí. Poderíamos dizer que este aumento considerável de academias, de uma formageral, se torna mais visível no verão, pois a busca por um corpo mais bonito e saudávelentra na ordem do dia e o desejo de se mostrar mais belo ao outro assume proporções assustadoras, surgindo as mais diversas fórmulas milagrosas para se obter resultados imediatos. O mais interessante é que esta preocupação com o corpo não se faz presente somente neste século, mas tem-se mostrado uma constante ao longo da história, a exemplo da Grécia antiga com os atenienses nos jogos olímpicos ou os espartanos preocupados com a constituição militar do corpo na formação do cidadão, ou ainda na Idade Média, com os rituais de cavalaria e com seus duelos De certa forma, esta preocupação constante com o corpo está presente em nossa cultura, mas nunca na intensidade como em nosso século e com a velocidade e propósito atual. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 254 22/02/2011 10:59:06

Anuário de Itajaí - 2000 255 Angola/Brasil: uma história escondida no tempo Euclides José da Cruz Graduando em História – Univali Você presta atenção nas mais diversashistórias contadas nos encontros familiares,nas conversas com amigos em bares, clubesou jogos de futebol, onde são reservados umtempo para botar as notícias em dia ou relembraracontecimentos felizes, irônicos, tristes etc. Foi a partir de uma destas manifestaçõesde sociabilidade que descobri meu tema depesquisa, e que aqui o torno em artigo. Soubeque meu cunhado e seus familiares eram naturaisde Angola, país do continente africano, e deonde emigraram com destino a Itajaí em 1976,decorrente do resultado de uma conturbada guerracivil. No entanto, minha indignação ao fato se deusó depois de três anos de convivência quando oassunto foi abordado e deu lugar à curiosidade. Algumas indagações começaram a surgir epor ser eu um graduando em História, resolvi tomaresse assunto como tema de pesquisa monográfica,dando assim um teor mais acadêmico à pesquisa. Minha primeira preocupação ao propor estetema diz respeito ao esquecimento ou talvez a falta deinteresse da historiografia itajaiense sobre esse episódio.Já se passaram quase 25 anos desse deslocamentoimigratório e nada fora escrito sobre os possíveis motivosda vinda para a cidade de Itajaí. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 255 22/02/2011 10:59:08

Anuário de Itajaí - 2000 256 A arte de construir: sob o reboco da história Anderson Sartori Acadêmico de História – Univali Os seres humanos diferenciam-se dos outros animais por uma gama de motivos:“inteligência”, modos de locomoção, de vestir, de alimentar-se e de criar os filhotes,dentre outras formas de adaptação ao meio que nossa espécie conseguiu para sobrevivere perpetuar-se. Este artigo enfocará um desses modos: a moradia e suas formas de construção. Homens e mulheres utilizaram-se de várias formas de habitações durante todaa história: cavernas, cabanas de palha, iglus, castelos, casas de madeira e alvenaria,prédios e, atualmente, o contraste de caixas de papelão e lonas negras com arranha-céus. Vários locais não são destinados ao domicílio privado, mas para uso público,como é o caso de bancos, igrejas, palácios, casas governamentais e casas comerciais,dentre outras. Percebe-se uma multiplicidade de construções que podem ser privadasou públicas, dependendo de cada sociedade humana. Esta multiplicidade acarreta uma falta de percepção no olhar das pessoas sobresuas próprias casas ou locais de trabalho. O que chama atenção são as construçõesmais antigas, com a beleza e suas formas e traços que se diferenciam das fachadas dasconstruções convencionais atuais. Para exemplificar esta consideração, observaremos acidade de Itajaí. Tendo sido habitada por imigrantes europeus de várias nacionalidades,deixaram descendentes e marcas formando uma cidade, como o próprio Brasil,constituído por várias identidades. Tais pessoas foram construindo uma cidadeque, ao passar dos anos e de seu próprio crescimento, ocasionou uma modificaçãoe a perda de vários traços arquitetônicos que representam períodos da história.Felizmente, nem tudo se perdeu. Itajaí possui um belo acervo arquitetônico: Palácio Marcos Konder (hoje MuseuHistórico), Casa Burghardt, Casa Malburg, Casa Konder (Espaço Cultural Caixa EconômicaFederal e Arquivo Público de Itajaí), Igreja do Santíssimo Sacramento, da ImaculadaConceição. São edifícios que chamam atenção e retratam a imponência de uma épocae de seus donos. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 256 22/02/2011 10:59:09

Anuário de Itajaí - 2000 257 Museu Maior Márcia d´Ávila Artista plástica O Palácio Marcos Konder foi construído em 1925 para abrigar a PrefeituraMunicipal, Câmara de Vereadores e Fórum da Comarca de Itajaí. Em 1956, o Fórummuda sua sede e, em 1972, o mesmo acontece com a Prefeitura Municipal, ficando aliinstalada a Câmara de Vereadores que ocupava todo o primeiro piso. Em 1977, o itajaiense João Amaral Pereira apresenta ao prefeito Frederico Olíndiode Souza o seu desejo de montar em Itajaí um Museu, que de pronto é aceito, tendo oPalácio Marcos Konder como lugar escolhido. Com a sensibilidade e a determinação de um colecionador, João Amaral Pereiraguardava informações e pertences, desde os mais significativos até aqueles simplesobjetos que fizeram parte do cotidiano dos que construíram Itajaí. O Palácio Marcos Konder necessitava então ser adaptado para abrigar o museuque se formava. O interior do prédio, no seu piso térreo, passou por uma grande reformaexigida pela proposta museográfica que se apresentava. A sua abertura, no ano de 1982, foi, para Itajaí, além de um acontecimento sociale cultural, um ganho imensurável na manutenção da nossa cidadania. O Museu Histórico de Itajaí, desde a sua instalação, vem se atualizando emrecursos técnicos e humanos na abrangência e qualidade da informação que oferece aopúblico. Diria até que, nesses dezoito anos de existência, o museu cresceu tanto nestesaspectos que superou o seu espaço físico primitivo; que, por muitos anos, encontrou-sesufocado neste limite. No ano de 1998, o Arquivo Histórico, que ocupava um dos cômodos do Museu (eque mais sofrera com o limite do espaço), ganhou sede própria. No mesmo ano, retomam-se discussões antigas entre a Câmara de Vereadores e o Museu sobre a ocupação doprédio, momento em que a necessidade de expansão dos dois órgãos exigia maiorespaço. Levantou-se então uma polêmica em torno do direito à permanência de um ede outro, enfocando a finalidade e a adequação justificada por cada uma das entidadesali estabelecidas. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 257 22/02/2011 10:59:10

Anuário de Itajaí - 2000 258 O cotidiano da Guerra em Itajaí Araci Medeiros da Silva Pinto Acadêmica de História – Univali A Segunda Guerra Mundial ocorreu efetivamente na Europa nos anos de 1939a 1945, acarretando reflexos em todos os lugares onde, de uma forma ou de outra,pessoas sentiram e vivenciaram problemas. Embora o palco das batalhas tenha ocorridoalém-mar, distante de muitos lugares, atingiu também o Brasil, Santa Catarina, outrosEstados e municípios brasileiros, como Itajaí, transformando a rotina da cidade e ocotidiano da vida das pessoas. Os habitantes já não viviam como antes, havia blecautesde energia, racionamento de produtos, presença de soldados na cidade. O porto traziaas notícias com rapidez, provocando boatos e rumores quase sempre distorcidos, poisna imaginação do depoente, “a guerra vinha a galope”. Os medos construídos a partir de rumores contribuíram para a tensão, o pavor, otemor, que hoje são lembranças marcadas pelo desespero, haja vista o imaginário fazerparecer que a guerra estava muito mais próxima do que realmente estava. A guerra trouxe problemas que provocaram violência, rememora ArnaldoSchmitt: [...] aí (em Itajaí) morava o velho Hindemauer (sic), ele era alemão [...]. O falecido Stazel, ele tinha um restaurante onde era a casa dos Malburg que foi restaurada [...], esse até cortaram o bigode dele à faca na praça da igrejinha, lá, e depois teve passeata com eles aí (os alemães), com rádio na cabeça [...], para humilhação. O pai do Paulo Bauer foi um dos que foi perseguido [...], ele estava tomando cerveja com outra pessoa quando eles chegaram (os policiais) [...], e aí eles acabaram com a festa e o pai do Paulo Bauer parece que teve que tomar óleo de rícino, uma barbaridade. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 258 22/02/2011 10:59:11

Anuário de Itajaí - 2000 259 Espaço literatura Noturno, 1894. Raimundo Caruso Escritor [...] Moreira César levanta-se bruscamente [...] [...] Mais uma vez, são os poetas metendo-se onde não devem. Mas essa gentetampouco me interessa ou preocupa, eu os conheço. [...] É preciso cortar o mal pelaraiz. Para isso, empregue-os, empregue-os todos sem exceção. Aos mais renitentesacene com dois, três empregos. No entanto, faça isso da seguinte forma: distribuaas benesses invertendo os méritos e a remuneração. A um mau poeta, pague umexcelente salário. A um bom cronista, um salário de fome. [...] E nunca se esqueçade deixar bem explícito o compromisso deles com o governo. Desmoralize-os. Faça-osdesrespeitarem-se uns aos outros e também à própria atividade cultural, que assim serávista apenas como mais uma forma de ganhar dinheiro. Estimule a cizânia, a discórdia,a maledicência, a intriga [...] Crie empregos sem nenhuma função prática e faça-ossentirem-se sem legitimidade. [...] E em breve eles estarão rindo-se um do outro ese desprezarão porque verão no próximo sua imagem e semelhança. Muitos aceitarãoesses empregos pensando que desta forma estarão se infiltrando em mim, que estarãome debilitando desde dentro do sistema, desde o interior do próprio Palácio. Lérias! Eué que os infiltro: com um melhor padrão de vida, com o ócio, a fieira das pequenas esucessivas submissões, a consciência da própria inutilidade [...] [...] Moreira César chama Dona Carolina e pede café e uma jarra com água. Àesquerda da mesa, um político embaçado pela névoa desdobra uma longa folha comuma relação de nomes e endereços.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 259 22/02/2011 10:59:13

Anuário de Itajaí - 2000 260Página infeliz da nossa história: revisitando Itajaí na época do golpe de 1964. José Bento Rosa da Silva Professor do Departamento de História e Departamento de Ciências Sociais e Políticas da Univali Marilena Chauí, ao apresentar a obra de Ecléa Bosi, Lembranças de Velho,adverte-nos: “lembrar não é reviver, mas refazer”. Neste sentido, a função do historiadorse assemelha ao ofício da parteira, aquela que ajuda a trazer à luz novas vidas. No dizersocrático, uma “maiêutica”. No nosso caso, este refazer tem uma característica delicada, pois trata-se de umperíodo de repressão política que um compositor popular denominou de ‘Página infelizda nossa história”. O fantasma do comunismo, argumento utilizado pelos golpistas sobo patrocínio das multinacionais e dos conservadores nacionais, já rondava as cabeçasdesde a década de trinta, ocasião da Intentona Comunista e do Plano Cohen. Estaneurose tomou corpo com o fim da Segunda Grande Guerra e com o surgimento daGuerra Fria. Instituiu-se assim a ideologia da segurança nacional em nome da liberdadedemocrática. Um jornal local, na década de trinta, falava dos que eram ludibriados pelocomunismo, inclusive honrados pais de família: “[...] entre esses encontram-se nomesde chefes de famílias bastante conhecidos e de operários laboriosos, iludidos na sua boafé, ou de almas envenenadas pela má leitura [...]”. Como podemos notar, o estigma do comunismo não foi característica dosanos sessenta em Itajaí, mas no Brasil inteiro e em vários momentos do períodorepublicano. Nosso objetivo aqui é investigar esses “anos de chumbo’, ou esta “página infelizda nossa história” em Itajaí, através de notícias veiculadas nos jornais e de depoimentosdos que vivenciaram aqueles dias. Em sua maioria, são trabalhadores operários da faixaportuária e líderes sindicais. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 260 22/02/2011 10:59:13

Anuário de Itajaí - 2000 261 Espaços públicos de leitura em Itajaí: notícia histórica Edison d´Ávila Historiador e professor da Univali Não resta dúvida de que as bibliotecas, salas e gabinetes deleitura abertos ao público, são invenções da burguesia ascendentee já praticamente hegemônica no século XVIII. Estas instituições,onde se poderia “ler sem comprar”, ou bibliotecas para empréstimos,“serviam à burguesia abastada e culta, assim como ao funcionalismonobre, para a ampliação de seus contatos sociais”. Pode-se dizer quecomo conseqüência desta revolução da leitura surgem as sociedadesliterárias, que “[...] eram o ponto de cruzamento de duas conquistascentrais da emancipação burguesa, por um lado a leitura extensiva,cuja forma de material quase sempre ultrapassava as possibilidadesfinanceiras de cada um; por outro, a ambição por uma organizaçãosocial desse novo público de pessoas ponderadas, numa formarelativamente autônoma. No Brasil, o primeiro espaço de leitura aberto ao público foi aReal Biblioteca do Rio de Janeiro, origem da atual Biblioteca Nacional,criada em 1811 por D. João VI com o acervo às pressas transportadode Lisboa, quando da fuga da família real. Inesperada sede do governoreal, a colônia portuguesa da América precisava ser logo preparadaculturalmente para formar a elite dirigente do reino que agora estavasediada no Brasil. Daí porque foram criadas escolas, academias e abiblioteca. Em Santa Catarina, até com certo pioneirismo frente àsdemais províncias do Império, foram liberais e maçons que em 1832fundaram a Sociedade Patriótica Catarinense e abriram o primeiroGabinete de Leitura da Província. Mas este Gabinete de Leitura tevepouca duração e vinte e dois anos depois, no dizer de Theobaldo CostaJamundá, o Presidente da Província, João José Coutinho, “[...] sentiuque a existência da biblioteca era plena de potencialidades, seriaapelo à inteligência contra o embrutecimento [...]” e decidiu criar aBiblioteca Pública da Província de Santa Catarina, hoje denominadaBiblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 261 22/02/2011 10:59:15

Anuário de Itajaí - 2000 262 Memórias sobre a caça da baleia no litoral norte catarinense Glória Alejandra Guarnizo Luna Acadêmica do curso de História da Univali; membro da Sociedade Sul Americana de Estudos da Terra (SSAET). Desde que os bascos introduziram a caça da baleia na Europa medieval, e esta passoua utilizar a carne como alimento e o óleo como combustível para iluminar as noites dosgrandes centros, a caça da baleia tornou-se uma lucrativa atividade comercial. Portugal,grande potência desta época, viu nas águas brasileiras uma rica e inesgotável fonte derendimentos. Foi o que Gabriel Soares de Souza alegou em 1587, época na qual Portugale Espanha eram governadas por Felipe II, procurando justificar o propósito de ensinaraos pescadores da Bahia os métodos de caça utilizados por espanhóis e franceses, como que escreveu à Coroa: [...] se a Bahia forem os Biscainhos ou outros homens que saibam armar as baleias, em nenhuma parte entram tantas como nela, onde residem seis meses do ano ou mais, de que se fará tanta graxa que não haja embarcações que possam trazer á Espanha. Em Santa Catarina, durante o Brasil Colonial, várias foram as armações baleeirasque prosperaram devido ao interesse da Coroa Portuguesa em explorar este recursotão valorizado no mercado europeu. Esta visão comercial fez com que se instalassemno Estado as armações de Nossa Senhora da Piedade (1740), em Governador CelsoRamos; Lagoinha (1772), em Desterro – atual Florianópolis; Itapocorói (1778), emPenha; Garopaba (1793) e Imbituba (1796), ambas situadas nos municípios de mesmonome (PIAZZA, 1983), e Ilha da Graça (1807), em São Francisco do Sul. Era função dosantigos núcleos baleeiros meridionais (os quais incluíam as armações acima citadas)fornecerem óleo de baleia para iluminação das capitanias em que se encontravam eexportá-lo para o Rio de Janeiro. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 262 22/02/2011 10:59:16

Anuário de Itajaí - 2000 263 Apontamentos para a formação sócio espacial de Itajaí: Vila Operária – uma tentativa de industrialização Márcio Ricardo T. Moreira Formado em Geografia na UDESC, faz mestrado em Geografia, área de concentração: desenvolvimento regional e urbano, na UFSC O Dedico este artigo à minha avó, Evangelina S. P. Teixeira, pelo seu passado vivo, parte dele transcorrido na Vila Operária. surgimento de um povoamento, uma vila ou uma cidade, são fatos que cristalizam,no espaço, as forças sociais de uma época. À medida que estas evoluem, o espaçoé recriado, moldando-se às novas características da sociedade. Espaços urbanos sãoos principais locais onde se concentram as forças sociais e, à medida que as forçasprodutivas mais dinâmicas – na Europa, no decorrer dos séculos XVIII e XIX – passama adquirir características novas, através da indústria, liberando-se da economia agráriade caracteres feudais, as cidades tornam-se os sítios onde dramáticas mudançasocorrem nas relações humanas, reproduzindo no espaço as estruturas e contradiçõesdo capitalismo industrial. Na Foz do Rio Itajaí-Açu, desde o século XVIII, desenvolveu-se fases de ocupaçãoeconômica: uma primeira fase da expansão portuguesa pelo Litoral Sul brasileiro,posteriormente a de colonos açorianos instalados no litoral catarinense. Conjuntamente aesta expansão, em 1778 a presença da armação de pesca de baleia de Itapocorói (a menosde 20 km da Foz do Itajaí-Açu) permitiu o desenvolvimento de um pequeno comércioatravés da navegação de cabotagem, ligando, portanto, profundamente esse sítio a umapequena produção agrícola e ao comércio de pequenos excedentes desta produção. Somente nas primeiras décadas do século XIX o desenvolvimento da articulaçãoentre o povoamento e economia permite o surgimento do embrião da futura cidade. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 263 22/02/2011 10:59:17

Anuário de Itajaí - 2000 264 Bairro Nossa Senhora das Graças: o outro lado do espelho – a imagem que não conhecemos Saionara Almeida Barbosa A Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas; às vezes anula. Nem tudo que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho (Ítalo Calvino). descrição do Bairro Nossa Senhora das Graças contém toda sua história fluidade recordações escritas nos ângulos das ruas, nas janelas de madeira, nas casas à beirado morro e no abandono dos olhares estrangeiros em espelhos invertidos. Nos finais detarde, quem passar por este local vai perceber que a luz, como as casas, sobe o morroe a Rua Pedro José João convida à entrada. Situado a 1,5 Km do centro da cidade e contando com aproximadamente 1.600habitantes, o bairro ocupa uma área privilegiada, localizada entre a encosta Noroeste doMorro da Cruz até o Parque Dom Bosco e a Rodovia Contorno Sul, da qual a universidadeé vizinha. Do antigo matadouro de bois construído no local, em 1908, só restam lembrançase o nome comumente conhecido por todos: Matadouro; topônimo esse que causaestranheza para quem desconhece a sua história. Leia o artigo completo no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 264 22/02/2011 10:59:18

Anuário de Itajaí - 2000 265 Arquivo Histórico de Itajaí: 15 anos resgatando a cidadania Vera Lúcia de Nóbrega Pecego Estork Bibliotecária e arquivista Seja qual for o estatuto econômico, a posição dentro de um sistema global dedependências sociais, um indivíduo participa da vida social em proporção ao volumee à qualidade das informações que possui, mas especificamente em função de suapossibilidade de acesso às fontes de informação [...]. O direito à informação insere-se numa proposta democrática. Permitir o acesso àsinformações através dos órgãos públicos, especialmente dos arquivos, é demonstraçãode cidadania, pois os mesmos abrigam conjuntos documentais, consideráveis fontesprimárias insubstituíveis de pesquisa, possibilitando abordagens e interpretações àrespeito da história do Município, servindo de base para a elaboração de trabalhos. A Lei Federal 8159, de 08 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacionalde arquivos públicos e privados traz, em seu Artigo 1°: É dever do Poder Público a gestão documental e a proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de prova e informação. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 265 22/02/2011 10:59:20

Anuário de Itajaí - 2000 266O programa radiofônico cultural Papa-siri Álvaro Castro Escritor Em 1998 conheci parte da potencialidade musical, poética, literária e artística demeus irmãos itajaienses. Nos contatos diários, na Casa da Cultura Dide Brandão, ondetrabalhava, percebia o quanto sofrem os produtores culturais para materializaremseus sonhos: mostrar seus trabalhos, editar livros, gravar CD´s, veicular suas obras edesenvolver seus talentos. A partir de 1999, passei a desenvolver as funções de Assessor Jurídico na FundaçãoCultural de Itajaí. Além de meus serviços profissionais pertinentes, mantinha contatoscom artistas de modo geral. Por isso, solidário aos produtores culturais, procurei NelsonAbrão de Souza para propor-lhe a criação de um programa radiofônico cultural quepossibilitasse a veiculação de produções musicais, artísticas e literárias e, ao mesmotempo, descobrir novos talentos que possivelmente estariam, em grande número, nodesalento do anonimato. Nelson Abrão, sem o mesmo envolvimento que eu mantinha, em suas atividadesfuncionais na Procuradoria Legislativa do Município, portanto, privado da oportunidadede ter igual conhecimento da nossa potencialidade artística e cultural, questionou-me seteríamos atrações suficientes para preencher um programa radiofônico cultural com umahora de duração. Respondi-lhe, convicto, que certamente não faltaria produção e de boaqualidade. Concordes, após breves reflexões, convencionamos que o nome do programaseria Papa-Siri, já que haveríamos de divulgar a cultura local. Em seguida, no dia 21de outubro, procuramos Zé Polo, gerente da Rádio Difusora de Itajaí, e compramos o horário das 13 às 14 horas, aos sábados. Iniciamos a primeira edição do programa em 30 de outubro de 1999. Na primeira semana conseguimos o patrocínio da Livraria e Papelaria Aladim, ajudando-nos com a doação de livros de autores itajaienses para serem sorteados aos ouvintes e com uma pequena contribuição pecuniária. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 266 22/02/2011 10:59:20

Anuário de Itajaí - 2000 267 Um festival para a cidade Antonio Carlos Floriano Diretor de Planejamento da Fundação Cultural de Itajaí Alguns eventos culturais tomam uma dimensão tão grande que passam a fazerparte da vida de uma cidade. Exemplos disso são os Festivais de Inverno de Camposde Jordão e Ouro Preto, e aqui bem perto, o Festival de Dança de Joinville. Mas aconsolidação de um evento cultural ao nível nacional, com é o caso do Festival deMúsica Cidade de Itajaí, passa necessariamente pela adesão das forças que fazema vida da própria cidade. Estamos vivendo um momento de transição sócio-econômica muito forte,e é preciso uma reflexão sobre o papel da cultura na vida de uma comunidade,a importância de se cultivar e se preservar nossa cultura como passaporte eprincipalmente como identidade num mundo globalizado. Eventos como o Festival de Música podem identificar uma cidade epara isso volto a afirmar: a comunhão de forças é necessária para queo crescimento do evento esteja assegurado, pois ainda estamos nummomento de semeadura e temos a certeza que a colheita irá beneficiartoda a cidade de Itajaí.Cidade da Música Itajaí, ao longo de sua breve história, tem se destacado nocampo musical catarinense. Esse gosto do itajaiense pela músicapopular vem de nossa própria essência mundana, como é natural emcidades portuárias pelo mundo afora. Mas a música popular brasileiraé a manifestação artística mais forte do país: mais do que o país dofutebol e do carnaval, somos o país da música popular e o resultadodisso é que o Brasil produziu uma das músicas mais respeitadasem todo o mundo, seja por sua grande diversidade, seja por suaqualidade. Se existe alguma coisa que o país tem como produtode primeiro mundo, é sua música popular. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 267 22/02/2011 10:59:21

Primeiro salão municipal dos novos Lindinalva Deolla Diretora do Departamento de Artes da Fundação Cultural de Itajaí Um abrangente projeto cultural, tendo como principal objetivo a valorização davocação artística de talentos pouco conhecidos ou ainda não revelados ao grande público,foi instalado em Itajaí, neste ano, pelo Departamento de Artes da Fundação Culturalde Itajaí: o Primeiro Salão Municipal dos Novos. Participando artistas de diferentescidades do nosso Estado, num total de trezentas e quarenta e uma obras, a ComissãoJulgadora, composta pelo crítico de arte da Associação Brasileira de Críticos de Arte,Vilson do Nascimento, por Ane Fernandes Krombauer e Elda Krause, definiram métodosde seleção e premiação na presença das obras, inscritas em número de três por artista.Numa tarefa não muito fácil, foram escolhidos trinta e um artistas de um total dequarenta e sete obras. Definidas por critérios que primam pela observação estéticaou conceitual, além do reconhecimento de uma linguagem própria, inventiva, utilizadapelos artistas, optou-se por escolher as obras que adequadamente se integravam aosprincípios que regem a contemporaneidade. Destacaram-se: Micaela Perez, de Itajaí – Primeiro Prêmio Petrobras, apresentaçãoda instalação de jornais usados, numa arte simplista, onde as formas de papel fazema figura e a figura é o próprio papel; Neovana Janice da Silva, de Balneário Camboriú –Segundo Prêmio Univali, com uma pequena escultura em bronze, vislumbrando figurasnuma linguagem tradicional, cria a impressão da imagem numa proposição poético-visual;Dimitry Igor Stédile, de Balneário Camboriú – Terceiro Prêmio Fundação Cultural de Itajaí,num conjunto de desenhos onde, através de linhas em nanquim sobre papel e pequenasáreas coloridas com efeitos interligados, revela a expansão gestual e a contestaçãointimista do traço. Merecido reconhecimento para Janaína Corá, de Chapecó; EvandroMachado, de Balneário Camboriú, que receberam referências especiais. O espaço físicoda Galeria Municipal de Arte abrigou estas 47 obras selecionadas, adotando-se critériosque facilitaram a leitura desta mostra por parte dos 2.170 visitantes. Incentivando asvisitas à Galeria, foi oferecido monitoramento, principalmente para alunos acompanhadosde seus professores e mestres. Com isso, procurou-se desenvolver a capacidade de analisar e interpretar umaprodução artística, bem como aproximar a criança da visualização de artes convencionaise não convencionais, semente fecunda da imaginação e da criação poética. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 268 22/02/2011 10:59:24

Crônicas Luciana Zonta Jornalista Sob pés urbanos Ele estava entre três ou quatro amigos e era o menor do grupo. Aproximei-me e omenino, de não mais de 1,30m de altura, olhou-me com ar de espanto, enquanto euperguntava quanto ele cobrava pelo serviço. Negociado o preço, ele me acompanhou atéo banco vazio da calçada da praia, descansou sua pequena caixa de madeira no chão enão disse uma só palavra até o momento em que perguntei. Maurício chagas, 10 anos, não sorri enquanto trabalha. Senta-se, abre o pequenocompartimento onde guarda uma latinha de graxa, escova de dente velha e um pedaçode flanela que usa para lustrar os sapatos, e então inicia seu serviço. De cabelosdespenteados, roupas sujas e pé no chão – apesar do vento frio de 15 graus – quase nãoolha para cima enquanto responde às perguntas. Dirige toda a sua atenção à tarefa. Engraxate de rua há mais de dois anos, o menino conta que sai para trabalharno início da tarde, logo depois que volta da escola, e só retorna para casa lá pelas setehoras da noite. Com isso, tira cinco reais por dia. O dinheiro fica com a mãe, faxineira,que o incentiva a ajudar na despesa da família. Além dele, seus pais ainda sustentammais quatro filhos menores. Maurício não tem idéia do que vai ser quando crescer. Por enquanto, caminhapelas ruas da cidade. seu ponto favorito para trabalhar é uma lanchonete no centro,onde, junto cm mais uma dezena de amigos engraxates, oferece seus serviços. Dequebra, ganha restos de coca-cola e batata frita. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000.001-Anuario-007-2000-249-272.indd 269 22/02/2011 10:59:27

Anuário de Itajaí - 2000 270Osny Duarte Pereira – in memoriam Hélio Floriano dos Santos Jornalista Osny Duarte Pereira nasceu na cidade de Itajaí no dia 05 de julho de 1912. Erafilho do comerciante Plácido Conrado Pereira e de D. Eulália Duarte Pereira. Era netode João Maria Duarte, considerado por todos como um dos grandes vultos da educaçãoitajaiense e catarinense, preceptor de Henrique da Silva Fontes, entre outros tantosnomes ilustres da história barriga-verde. Estudou inicialmente no Grupo Escolar Victor Meirelles onde, com apenas oitoanos de idade, teve a iniciativa de fazer circular um jornal manuscrito que muitas vezestinha tiragem de um único exemplar. Seguiu seus estudos no Ginásio Catarinense, ondefundou o Órgão Oratório com o objetivo principal de “debater problemas sociais”. Comquinze anos começou a colaborar com a revista O Echo, de Porto Alegre, e utilizando-se de férias escolares para ajudar na redação do jornal Avante, editado na cidade deCanoinhas (cidade que seus pais passaram a fixar residência). Ainda em Canoinhas,militou no movimento estudantil e fundou o jornal O Peru. Em 1932 ficou ao lado da Revolução Constitucional de São Paulo, tendo de fugirpara este Estado para não ser preso, recebendo abrigo da população revoltosa de Iguapee Cananéia. Cursou Direito na Faculdade Nacional de direito e Faculdade de Direito doParaná, onde respondeu pela presidência do Diretório Acadêmico, colando grau no anode 1933. No Paraná, trabalhou com Armando Petrelli no jornal A Tarde e, com dezenoveanos, respondeu como promotor público nas cidades de Antonia e Rio Negro. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2000. 22/02/2011 10:59:28001-Anuario-007-2000-249-272.indd 270

Variações da Carne O boi bebe o rio na sede passageira da infância Enquanto navega o pasto o homem espreita a mesa Rogério Lenzi001-Anuario-007-2000-249-272.indd 271 22/02/2011 10:59:31

Fim de Anuário de Itajaí - 2000001-Anuario-007-2000-249-272.indd 272 22/02/2011 10:59:32

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Anuário de Itajaí - 2001 274 Editorial Em que pese todos os atributos da Fundação Genésio Miranda Lins, a qual mantém oArquivo Público e o Museu Histórico de Itajaí, salvaguardando documentos referentesà história da cidade, bem como disponibilizando para a visitação pública o acervode objetos que fizeram parte da vida de muitas famílias itajaienses, uma vez maisapresentamos ao público leitor, pesquisadores, comunidade e aos patrocinadores oAnuário de Itajaí – 2001. Assim, erguido com a colaboração de seus vários autores, os quais muiresponsavelmente desenvolveram seus artigos para compor esta obra de consulta,esta publicação vem atingindo seus objetivos de deixar registrado parte de muitas dashistórias que compõem o desenvolvimento da região. É este um aspecto merecedor deatenção: diacronicamente, todos os artigos até hoje publicados no anuário despertamo interesse do leitor em suas mais diversas concepções, seja por pesquisa, curiosidade,aprendizado ou pelo simples prazer da leitura. Atenciosa contribuição dos patrocinadores, o Anuário de Itajaí – 2001 reforça suaimagem vinculando-se a um fato importante para a cidade: a constituição e inauguraçãoda sede própria do Arquivo Público de Itajaí, o qual recebe o justo nome de Centro deDocumentação e Memória Histórica Genésio Miranda Lins e que culminou, na mesma data de sua abertura ao público, com o lançamento do livro Genésio Miranda Lins – Empresário e Homem Público. Sabedores da importância deste gesto, aos patrocinadores que prontamente atenderam ao chamado para viabilizar a quarta edição do anuário, reforçamos nosso apreço. Aos articulistas, mantemos a certeza de uma colaboração mútua no que diz respeito ao atendimento de necessidades provenientes da elaboração de pesquisas de caráter histórico. A todos, os nossos agradecimentos. Os editores001-Anuario-008-2001-273-294.indd 274 22/02/2011 11:01:13

Anuário de Itajaí - 2001 275 Genésio Miranda Lins - Empresário e homem público (I) Edison d´Ávila Presidente da Fundação Genésio Miranda Lins Hoje são cumpridas duas muito gratas e sérias missões a que se impõe a FundaçãoGenésio Miranda Lins, ao comemorar 25 anos de sua criação, quais sejam, abrigarem prédio próprio e amplo o acervo documentalhistórico de Itajaí e prestar homenagem de queera devedora a seu ilustre patrono e benfeitor. Pois no dia de hoje, como sabemos,gratamente entregamos à cidade o Centro deDocumentação e Memória Histórica GenésioMiranda Lins, há pouco inaugurado, e agora vamoslançar o livro “Genésio Miranda Lins – Empresárioe Homem Público”. Senhoras e senhores, como sabemos, aFundação Genésio Miranda Lins foi um sonho doitajaiense João Amaral Pereira, que apaixonado pelanossa história e pela preservação do patrimôniohistórico de Itajaí, contou com entusiasmo do entãoPrefeito Municipal Frederico Olindio de Souza paracriar a primeira instituição pública municipal deproteção do nosso patrimônio cultural, em 1976.Quando se discutiu a denominação que se daria ànova instituição cultural, João Amaral Pereira e AryGarcia, que trabalhavam no projeto, sugeriram aoprefeito o nome do “ilustre conterrâneo” GenésioMiranda Lins; sugestão imediatamente acatada.Desde então, têm sido o nome e a memória deseu patrono um patrimônio que a Fundação buscasempre preservar e analtecer, por seu significadode grandeza, dedicação à causa pública eentranhado amor a Itajaí. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 275 22/02/2011 11:01:14

Anuário de Itajaí - 2001 276 Genésio Miranda Lins - Empresário e homem público (II) Jandir Bellini Prefeito Municipal de Itajaí A cidade de Itajaí dá cumprimento hoje a duas ações da maior relevância social e cultural que permite nos destacar, no contexto de Santa Catarina, como uma comunidade que respeita o seu patrimônio cultural e igualmente reverencia a memória de seus filhos ilustres. Por isso, há pouco inauguramos o Centro de Documentação e Memória Histórica Genésio Miranda Lins e agora estamos aqui lançando o livro “Genésio Miranda Lins – Empresário e Homem Público”. A inauguração das instalações do Centro de Documentação significa que o poder público municipal, diretamente ou pela Fundação Genésio Miranda Lins, quis dar à documentação histórica de Itajaí um lugar digno para sua guarda e preservação. Tem sido uma preocupação constante da atual administração do Município estabelecer políticas e realizar ações que protejam a herança de cultura de nossos antepassados e a faça conhecida e amada pelos itajaienses. Neste sentido, criamos a Fundação Cultural de Itajaí e instalamos o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Itajaí, dando início aos primeiros tombamentos de bens históricos pelo Município, bem como a reforma e restauração dos prédios históricos pertencentes à municipalidade. Igualmente estabelecemos uma proveitosa parceria com a Fundação Genésio Miranda Lins e com a iniciativa privada que permitiram a ampliação e remodelação do Museu Histórico de Itajaí no ano de 2000 e a construção de um espaço cultural mais amplo e mais adequado para o abrigo dos documentos da história da cidade, agora em 2001. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 276 22/02/2011 11:01:15

Anuário de Itajaí - 2001 277 Genésio Miranda Lins - Empresário e homem público (III) Eduardo Santos Lins Empresário Prefeito Jandir Bellini, autoridades, meus senhores e minhas senhoras. Agradeço em nome de minha família à Prefeitura de Itajaí pela edição deste livroque conta a vida do meu pai. O livro não se atém somente a pessoa de Genésio MirandaLins, pois falando da sua vida, recorda hábitos, costumes, aeconomia e todas as modificações que esta cidade passou aolongo dos anos 30 até os fins dos anos 60. Tempos que Itajaí se transformou, cresceu, deixando de seruma pequena cidade e se estruturou a ser uma cidade grande. O livro conta da participação do INCO e de seu criadornesse progresso. Nesta oportunidade, por justiça, abro o leque da nossahistória recente e junto com a de meu pai lembro de toda a suageração, aquela nascida nas cercanias do ano de 1900, na viradado século, e que tanto contribuiu para o progresso da nossa cidade.Faço-lhe ima homenagem relembrando os Prefeitos Municipais daépoca: Irineu Bornhausen, Chiquinho Queiros, Abdon Fóes, ArnoBauer, Paulo Bauer e Lito Seara. Tenho para mim que se deve contar, bem contadas, asHistórias das nossas cidades. Foi isso, imagino, que o PrefeitoJandir Bellini pretendeu editando este livro. Que venham outrashistórias alem das já escritas, senhor Prefeito, senhor Secretárioda Educação, Professor Edison d´Ávila, para sabermos melhor deonde viemos, onde estamos, para onde estamos indo... a respeito,gostei muito de memórias do Juventino e “Famílias de Itajaí”, escritopor Marlene Dalva Silva Rothbarth e Lindinalva Deólla da Silva. Ascidades são como as pessoas, cada um tem seu jeito de ser. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 277 22/02/2011 11:01:16

Anuário de Itajaí - 2001 278Colégio São José – 60 anos de educação a serviço de Itajaí Ir. Maria Adelina da Cunha Diretora Quantas gerações, durante estas décadas, passaram pelas salas de aula do ColégioSão José, dirigido pelas Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Muitas delas dedicaramsua vida ao serviço de crianças e jovens. Com a marca de Me. Paulina em 1941, as Irmãzinhas da Imaculada Conceiçãoassumiram a escola dirigida pelas Irmãs da Divina Providência. Em 1918, por cinco anos,aqui auxiliaram o vigário, na escola das Irmãzinhas de Nova Trento. Quando terminou aGuerra, as irmãs alemãs, como eram chamadas, voltaram. Na época eram mantidos os seguintes cursos: jardim de infância, curso primário eescola normal primária, curso este que depois foi transformado em curso complementar.As Irmãzinhas, em 1940, compraram a escola paroquial e esse pagamento ajudou nosgastos da construção da Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, que estava iniciando.No dia 27 de janeiro de 1941, aqui chegaram as primeiras irmãs para dirigirem a EscolaParticular São José: Maria de Lourdes (Diretora), Gualberta, Pelágia, Marília e Valdomira.Em setembro vieram Irmã Ester Furlani e Irmã Emiliana. Quando as irmãs vieram, Me.Paulina, que ainda acompanhava o crescimento da congregação, disse: “Vão, Irmãs,para Itajaí, vão, minhas filhas, façam o bem àquele povo, ajudem o mais que puderema Paróquia” (p. 232 do livro Me. Paulina, de Pe. Lourenço da Costa Aguiar). Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 278 22/02/2011 11:01:17

Uma história de vida Professora Hilária Zimmermann de Mello Nasceu no dia 08 de março de 1924, na localidade de Braço Baú, cidade de Ilhota, a qual, na época, pertencia ao Município de Itajaí. Era a terceira dos nove filhos de Leopoldo Miguel Zimmermann e Maria Isabel Costa Zimmermann. Iniciou sua vida escolar na Escola de Braço Baú, no Distrito de Ilhota, e os encerrou com o Curso Complementar no Grupo Escolar Victor Meirelles, em Itajaí. Sua vida profissional foi longa, profícua e digna durante os trinta e seis anos e quatro dias que foram dedicados somente à educação. Meus pais, naturais de Gaspar, após seu casamento radicaram-se na localidade de Braço do Baú, onde adquiriram grande extensão de terra. Plantavam arroz, cana-de-açúcar, mandioca, banana, feijão, milho, etc., tirando dela todo o sustento com muito esforço e trabalho. Residiam na região poucas famílias e não havia escola. Meus pais trouxeram uma professora para ensinar as primeiras letras aos seus filhos. O tempo passou, a comunidade continuava sem escola. Urgia tomar uma atitude. Os moradores reuniram-se e vieram para Itajaí requerer, junto ao Prefeito, Senhor Alberto Pedro Werner, a criação de uma escola naquela localidade. O Prefeito prometeu-lhes apenas a professora, pedindo-lhes que doassem um imóvel, construíssem o prédio escolar, móveis para o mesmo, e também garantissem hospedagem para a professora. Incumbiu o Senhor Prefeito ao Inspetor Escolar, Gaspar da Costa Moraes, queencontrasse uma professora que dispusesse a lecionar no interior. Todas as exigênciasforam cumpridas pelos moradores do Braço do Baú e, como professora, veio a SenhoritaJudite Gonçalves, a qual se hospedou na residência de Leopoldo Zimmermann. A escolaficava a três quilômetros distante dali. Havia crianças que percorriam mais ou menoscinco quilômetros para chegar até ela. Finalmente, no dia 1º de fevereiro de 1932, comoito anos de idade, iniciei minha vida escolar, na Escola Municipal de Braço do Baú,Distrito de Ilhota. Desde então de todos ouvia que eu seria professora, e cresci com aconvicção que um dia a seria realmente. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 279 22/02/2011 11:01:19

Anuário de Itajaí - 2001 280Arqueologia de Itajaí: uma tentativa de resgate da pré-história local Darlan Cordeiro Arqueólogo e Professor de História e Geografia da Rede Municipal de Ensino de Itajaí A Arqueologia é uma disciplina da área das ciências sociais que tem como objetivoprincipal de seus estudos o Homem e suas diversas formas de manifestação social,cultural e artística, reconhecidas e identificadas através de remanescentes materiaisde culturas extintas. Alguns cientistas a definem como “estudo sistemático dos restosmateriais da vida dos povos antigos”. Assim, a Arqueologia objetiva resgatar o passadoe o desenvolvimento da humanidade, compreendendo suas relações de interação einteratividade com o meio ambiente. Para tanto, é evidente que a Arqueologia precisa – e deve – utilizar os conhecimentosde diversas outras disciplinas para levantar, de forma meticulosa e com segurança, todos osdados possíveis relativos àquela cultura que estiver sendo investigada pelo pesquisador, oque irá lhe proporcionar maior embasamento teórico-metodológico para aventurar hipótesese conjeturar interpretações a respeito dos traços culturais de sua população. Conclui-se,então, que o uso da interdisciplinaridade, como ferramenta para o desenvolvimento dapesquisa arqueológica, é uma prerrogativa de capital importância para obter-se resultadosconfiáveis e abrangentes sobre o modo de vida da sociedade em estudo.O povoamento do Continente Americano Os primeiros habitantes do Brasil foram índios. Estes chegaram aqui no continenteamericano por meio de várias correntes migratórias. Como precisavam sobreviver, essescaçadores vinham perseguindo os grandes mamíferos, que buscavam novas fontes dealimento (escassas em virtude da glaciação), passando por uma imensa ponte de gelo,formada durante a última era glacial entre 50.000 e 12.000 anos antes do presente, queligava o Estreito de Bering, na América do Norte, e a Sibéria Oriental, na Ásia. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 280 22/02/2011 11:01:21

Anuário de Itajaí - 2001 281In totum – a ritualização da arte e do artista Márcia d´Ávila Artista plástica e arte educadora Outro dia saí de casa como uma espectadora, atraída por um convite para uma exposiçãode artes plásticas. Em lá chegando, encontrei um número expressivo de pessoas efiquei pensando quais expectativas as mobilizaram para estarem lá. Porém, estavacerta de que uma era comum a todas: a expectativa ou a necessidade inconsciente do“encontro”. Falo do encontro de si mesmo. Que só se confirma no coletivo e, neste caso,a arte seria mediadora. Enfim, lá estávamos e a expectativa aparente era a de apreciaruma exposição a mais dos quadros do artista plástico Agê Pinheiro. Mas o artista foialém, rompeu seu mundo egóico e, como nas culturas primitivas a tribo é o espaçolegítimo onde se celebra o produto da caça, da colheita, coletivizou ritualisticamente oseu trabalho, sua criação de maneira sui generes. Surpreendi-me então, logo de início,envolvida num ritual onde a priori o artista coletiviza a celebração de um ciclo da suaarte. Foram seguidos momentos cheios de significados e de reflexão. A importância daqueles momentos superou a apreciação das obras de Agê.O processo de sublimação dos rituais que foram ocorrendo ao longo da história, nascivilazações contemporâneas, têm promovido o crescente fenômeno de desimbolizaçãoque se dá pela ausência de ritualidade dos nossos símbolos. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 281 22/02/2011 11:01:23

Anuário de Itajaí - 2001 282 8° Salão de Artes Cidade de Itajaí Lindinalva Deólla Diretora do Departamento de Artes da Fundação Cultural de Itajaí e Curadora do 8° Salão de Artes Cidade de Itajaí O Salão de Artes Cidade de Itajaí, criado em 1992 e que acontece bienalmente, temse destacado pela sua crescente qualidade e pela representatividade dentro da produçãoartística contemporânea nacional. Com a participação de vários artistas brasileiros, o Salão de Arte propõe aosvisitantes a oportunidade única para os que não têm acesso aos grandes salões queacontecem no Brasil. Nesta oitava edição, tivemos um número expressivo de inscrições, sendo 53artistas selecionados. Os críticos de arte João Evangelista, Sérgio Kirdziej e Elton Silveiraselecionaram as obras através de uma avaliação entre adequação da proposta do artistae o aspecto surpreendente do trabalho, a não repetição de soluções muito percorridas ea qualidade da obra refletindo em si a idéia com substância. A artista plástica Suzie Signore, de Campinas/SP, foi a vencedora do 8° Salão deArtes Cidade de Itajaí (Prêmio Petrobras) com a obra Mania de Lavadeira, instalaçãocom fios e lençóis brancos, que despertam relações com a memória/imaginação numresultado de transposição do espaço externo para um universo particular e ao mesmotempo universal. Nas frágeis paredes de “voil”, o envolvimento corpóreo, por meio dotato, e a recordação marcante de lençóis estendidos nos varais dos quintais. Edmilson Vasconcelos, de Florianópolis/SC, ficou em segundo lugar (PrêmioFundação Catarinense de Cultura) com a obra Do you know?, apresentando plantascortadas. É a interferência humana desafiando a imaginação, transgredindo o próprioconceito de preservação da natureza, carregado de caráter contemporâneo. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 282 22/02/2011 11:01:25

Anuário de Itajaí - 2001 283 Cidade-irmã de Sodegaura Antonio Carlos Floriano Diretor de Planejamento da Fundação Cultural de Itajaí, fez parte da Comitiva que visitou Sodegaura em novembro de 2001. A primeira visita do Japão é agrária. Como o aeroporto de Narita fica situado no interior da província de Chiba, a paisagem inicial é feita de imensos arrozais onde casas mais amplas e pequenos bosques compõem a paisagem. O detalhe fica por conta dos telhados azuis e do mar de vento no cabelo do arroz. A cidade de Sodegaura, nossa cidade irmã, fica nas costas de Chiba, de frente para a baía de Tóquio, uma pequena cidade entre o mar e montanhas. Como Itajaí, seu destino é marítimo. Há vinte e dois anos existe entre estas duas cidades tão distantes e tão semelhantes um convênio que as une com o objetivo de troca de experiências, informações e cooperação mútua. Em 1979 o então Prefeito Amílcar Gonzaniga foi a Sodegaura com sua comitiva dando início a uma série de intercâmbios que perduram até hoje. Depois dele, em 1990 outro prefeito também visitou o Japão. O Prefeito João Omar Macagnan reforçou os laços de amizade e prova disso são as lembranças guardadas na Prefeitura da cidade numa sala especial dedicada à Itajaí. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 283 22/02/2011 11:01:26

Anuário de Itajaí - 2001 284 Ferramentas para a memória Ana Bela de S. F. A. Machado Historiadora Desde tempos imemoriais tem o homem feito a cidade de depósito. Nela depositaesperança, sonho, desejo, afeição e sua própria trajetória, de seu nascimento à suamorte. De seus ritos e de seus hábitos, de sua memória à sua história. Esta última éa que sempre nos faz voltar ao início da trajetória humana enquanto integrantes domesmo espaço urbano. É evidente que as pessoas não vivem à espera a cada momentode entrarem para a história, mas o fato é que entram. O resgate da identidade e da memória histórica não é tão fácil quanto ir aoarquivo, ler três ou quatro papéis e escrever sobre o que não se entendeu e é aí quemora o perigo. Já que os jornais são formadores de opinião, são sérios, ou pelo menosassim os julgamos quando lemos algum artigo ou notícia. Mas muitas vezes, o quepublicam não corresponde exatamente o que leram seus colunistas. Outra coisa absorvente e desafiante é pesquisar essa mesma memória históricaque permeia todos os locais de uma cidade, todas as construções, todas as praças evidas passadas. Mas não pesquisamos para nós. Alguns guardam fotos, papéis, cartas,jornais. Guardam o passado temerosos de esquecerem-se de como eram e isso muitasvezes vai para acervos, museus, vindo a auxiliar o trabalho de resgate histórico, político,econômico, etc. O pesquisador gasta os olhos nos arquivos, consome lindas tardes primaverislendo antigas atas da câmara, jornais amarelados, confidenciais cartas de família enegócios, agora já não mais confidenciais e que podem ser usadas em sua pesquisa. Consultando antigas fotos no arquivo ou no museu, percebemos que ao longodas gerações a cidade se modificou enormemente, basta sabermos das demoliçõesfeitas no centro antigo (histórico) da cidade: o Clube Guarani; a Casa Asseburg; a CasaBonifácio Schmidt, só para citar algumas. Leva a pensar na degradação dos edifíciose que se afigura como irrecuperável, sendo o único caminho – segundo o pensamentodos demolidores – a demolição radical da construção, premeditando novas construçõesmodernas. Isto na concepção deles. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 284 22/02/2011 11:01:28

Anuário de Itajaí - 2001 285 Introdução ao estudo da Maçonaria em Itajaí Carlos Fernando Priess Advogado, economista e docente do Ensino Superior A “Ter sempre como o aperfeiçoamento do Homem e como conseqüência, de toda a Humanidade” (Constituição de Anderson de 1723, Grande Loja de Londres). Maçonaria, que também foi conhecida como Franco-Maçonaria pela sua origem nosmestres de obras das catedrais medievais da Inglaterra, é, em verdade, uma associaçãovoluntária de homens livres, e cujos registros tem origem na Idade Média. Modernamente, teve seu inicio em 24 de junho de 1717, com o advento daGrande Loja de Londres, com um contingente de mais de onze milhões de membros emtodo o mundo. Em Itajaí, a Loja Acácia Itajaiense no 1, e também uma das instituidoras da GrandeLoja de Santa Catarina, foi fundada em 24 de junho de 1911, graças ao movimento deum grupo de maçons, já residentes em nossa cidade, e que reunidos em uma casaparticular à Rua Silva resolveram por bem dar início a uma Loja. Foram seus fundadores Joaquim Mariano Ferreira Jr. (Funcionário Público); Dr.Américo da Silveira Jr. (Juiz de Direito); Adolpho Walter da Silva Schiefler (Maquinista);Dr. Alcebíades Rotoli (Médico); Max José Schumann (Engenheiro); José Felippe Geraldo(Comerciante); Alexandre Justino Regis (Funcionário Público); Dr. Antônio Lopes deMesquita (Agrimensor); Alois Fleischmann (Comerciante) e Castor Cesares Arias(Maquinista). A primeira diretora foi composta pelos fundadores: Dr. Américo da Silveira Nunes,como Venerável; Alcebíades Rotoli, na função de Orador, e Adolpho Walter da SilvaSchiefler, como Secretário. A Loja Acácia Itajaiense foi regularizada no dia 1º de setembro do mesmo ano,junto ao Grande Oriente do Brasil e, diante da evolução histórica de Maçonaria no pais,em setembro de 1927 transferiu-se para a chamada GRANDE LOJA, onde recebeu onúmero 1. Mas devemos registrar que ela foi a quarta Loja Maçônica de Santa Catarina,tendo sido precedida pela AMIZADE AO CRUZEIRO DO SUL, fundada em 1855, LUZSERRANA DE LAGES, em 1886, e UNIÃO III, em 1899. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 285 22/02/2011 11:01:30

Editora Univali – 4 anos Osmar de Souza Coordenador da Editora da Univali A história editorial da Univali começa entre 1980 e 1981, com a primeira tentativa de implantação de uma revista, Hélade. Tratava-se de uma revista vinculada à então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Depois disso, há um hiato até 1994, quando surge a revista Alcance, agora como revista científica da Univali, já concebida para atender a todos os campi da universidade. Mas não se restringia apenas à ela. Já no início conta com a presença, numa entrevista, de Aziz Ab, então Presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). De lá para cá já são quase oito anos, com publicações ininterruptas semestrais, além de publicações especiais nas áreas de História, Enfermagem, Psicologia, Odontologia, Administração, Pesquisa e Iniciação. Em 1995, nasce Novos Estudos Jurídicos, revista científica ligada ao Mestrado Acadêmico em Ciência Jurídica. Também revista semestral, vem cumprindo a sua agenda com muita propriedade. Estas duas revistas já estão indexadas internacionalmente no CSA – Science Collection – San Diego/ Califórnia/EUA. Mais recentemente, surge a revista Turismo, Visão e Ação, revista bilíngüe, português-inglês, que atende ao programa de Pós-Graduação, stricto sensu, na área de Turismo e Hotelaria. Em 2001, nasce a revista Contrapontos, vinculada ao Mestrado Acadêmico em Educação. Assim, em termos de periódicos, a história editorial na Univali já conta com uma produção significativa. Quanto às publicações de livros, a editora da Univali entra em 2001 em seu quarto ano. Os primeiros passos foram dados em 1996, com a composição de um grupo de trabalho, equipamentos, sala ambiente. Naquele ano ainda se circunscreveu à publicação apenas de revistas. Em 1997, instala-se o Conselho Editorial, presidido pelo professor Dr. Osvaldo Ferreira de Melo Filho, com duas incumbências: organizar o regimento geral do Conselho e o regimento da Editora. Ambos foram apreciados e aprovados pelos Conselhos Superiores da Univali, no segundo semestre daquele ano. O primeiro livro aprovado pelo conselho foi Por um pedaço de terra, de Dydimea Lazzaris, seguido por O que a memória guardou, de Juventino Linhares. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 286 22/02/2011 11:01:33

Univali FM: alternativa de boa programação no rádio catarinense e brasileiro Alberto César Russi Jornalista e coordenador da rádio Educativa Univali FM A rádio Educativa Univali FM, uma emissora da fundação UniversidadeVale do Itajaí, está no ar em caráter definitivo desde o dia 22 de março de 1999.Contudo, deu início às suas transmissões em caráter experimental no dia 18de dezembro de 1998, em classe B1 e na freqüência de 90,9 MHz e 4 Kw depotência. Desde o dia 27 de março de 2001, opera em classe A3 com potênciade 20 Kw, na freqüência 94,9 MHz. O início das transmissões da Univali FM ocorreu durante a gestão diretiva doReitor, Edison Vilela; do vice-reitor, Moisé Stromer; do Secretário de Integração,Antônio Scatolin Pinheiro; do Pró-Reitor Administrativo, Danilo Melim; da Pró-reitora de Ensino, Sueli Petry da Luz; do Pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa eExtensão, José Roberto Provesi; e do Procurador Geral, Félix Eugênio Reichert. Sua programação jornalística e musical segue os padrões de qualidadecom destaque para o que há de melhor nos mais diversos gêneros musicais.Independente de qualquer vínculo com gravadoras ou interesses comerciais,muitas vezes impostos pela indústria fonográfica ou cultural, a Univali FM,desde que foi implantada, prima pelo respeito aos ouvintes de bom gosto, peloresgate histórico e sócio-cultural dos grandes poetas e compositores do Brasile do exterior. Embora eclética, a programação musical da emissora contemplaprioritariamente a música popular brasileira. Seu jornalismo, embora modesto, se fundamenta nos princípios da ética,da responsabilidade e da agilidade. Dentro desta ótica tem-se constituído emexcelente laboratório, auxiliando os alunos do curso de Comunicação Social,habilitação Jornalismo, no aprendizado das técnicas e práticas do jornalismodiário. Exemplo mais recente foi a cobertura das eleições municipais de 2000,quando escalou em torno de 20 acadêmicos de jornalismo da Univali que,juntamente com profissionais da emissora, realizaram reportagens externas aovivo dos municípios de Itajaí, Balneário Camboriú, Piçarras e Penha, com flashesque culminaram com a apuração dos votos em todas as localidades. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 287 22/02/2011 11:01:35

Anuário de Itajaí - 2001 288 41° Jogos Abertos de Santa Catarina: a nova edição itajaiense de uma festa móvel Ivan Rupp Bittencourt Diretor da Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Itajaí Criados com objetivos específicos, certos eventos ganham uma grandeza inesperada ao longo de sua evolução.Este fato, observado no âmbito de diversas áreas, repete-se a cada nova edição dosJogos Abertos de Santa Catarina, a maior festa do esporte amador do Estado e uma dasmaiores do Brasil, iniciada em 1960 por força da determinação do empresário brusquense,Arthur Schlösser, falecido em 1969. Sua característica itinerante e a maneira com queincorpora componentes culturais específicos de cada região onde ocorre, dão a esteevento um novo impulso a cada ano e o mantém revigorado e atuante através de suasjá inúmeras edições. Aliados a estes fatores, seus objetivos primeiros de amor ao esporte, de buscada perfeição dentro das limitações humanas e de respeito aos ideais olímpicos, fundem-se na crença de uma utopia possível: a do congraçamento entre as diversas culturascatarinenses através do esporte e a certeza de estarmos caminhando, todos juntos,na direção de um futuro sempre melhor. Seja no norte, seja no oeste, no meio-oeste,no litoral ou no sul do Estado, este sentimento maior que permeia a todos, atletas,dirigentes, organizadores e público, se mantém, dando aos Jogos Abertos de SantaCatarina o status de evento atemporal que deixa marcas indeléveis na nossa memória. Neste ano de 2001, Itajaí foi escolhida e teve a honra de sediar, pela terceiravez em sua história, os 41° Jogos Abertos de Santa Catarina, a grande festa móvel doesporte amador catarinense e os primeiros jogos do novo milênio (jogos que já haviamsido realizados aqui, anteriormente, em 1972, durante o governo de Júlio César, e, em1982, durante o governo de Amílcar Gazaniga). Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 288 22/02/2011 11:01:36

Anuário de Itajaí - 2001 289 Literatura itajaiense começa a se popularizar nas escolas Adilson Amaral Jornalista, membro da Academia Itajaiense de Letras O ano de 2001 foi singular no que diz respeito ao desenvolvimento da literaturaitajaiense, tanto no quesito “produção’ quanto no que diz respeito à repercussão juntoà comunidade, especialmente na penetração em meio aos estudantes. Este crescimentoé devido à conjugação de alguns fatores, como a criação do Programa de Leiturainstituído pela Secretaria de Educação de Itajaí; o projeto Debate-papo com o autor,da Academia Itajaiense de Letras; a revista Literatura papa-siri, da AlternativaEditora, e das inúmeras iniciativas dos próprios escritores itajaienses que resultaramna publicação de uma série de novos títulos, em estilos os mais variados, lançados nodecorrer deste ano. Para entendermos as mudanças relativas à literatura regional, somos forçadosa recuar alguns anos. O município de Itajaí sempre foi destaque pelo seu alto nívelcultural, mais especificamente quando o assunto era teatro e artes plásticas (comartistas e obras premiadas em todo o Brasil), e na música, com talentos itajaiensestocando em palcos de todo o Estado Catarinense. Até então não se via – interna eexternamente – qualquer expressão de literatura itajaiense, salvo algumas iniciativaspioneiras e corajosas que, se não chegaram a formar um forte movimento literário,pelo menos desbravaram fronteiras que permitiu a identificação de uma forte vocaçãoliterária que merecia ser explorada. Foi neste contexto que se fundou, em setembro de 1997, a Academia Itajaiensede Letras. Desde a sua primeira reunião, ficou definido entre os autores que a AIL nãose trataria de uma instituição festiva ou meramente decorativa nos anais da cidade. Aocontrário, seus membros fundadores da Academia concordaram em fazer da entidadeuma instituição voltada ao fomento da literatura local, estimulando a produção dosautores já consagrados, bem como a descoberta de novos talentos. Tive a honra de ter sido o primeiro presidente da Academia Itajaiense de Letrasnesta fase inaugural. Durante minha gestão, a preocupação maior foi com relação àestruturação da Academia enquanto instituição legalmente reconhecida. Mesmo assim,começaram a surgir alguns projetos, ainda tímidos, mas que marcaram a presença daAIL na vida da cidade. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 289 22/02/2011 11:01:38

Anuário de Itajaí - 2001 290 Cruz e Sousa, um negro de destaqueem um Estado de “pouca expressão”. Moacir da Costa Prof. Bel. em História De certo modo, a cidade de Nossa Senhora do Desterro diferia muito da Florianópolismoderna que conhecemos hoje. A Desterro da época do nascimento de João da Cruz eSousa era, de certa forma, mais provinciana, e com uma infinidade de territórios negrosespalhados por todos os cantos, incluindo a área central da cidade. Era normal ver asquituteiras venderem seus quitutes pelas mais diversas ruas da cidade (para uma maiordiscussão sobre o assunto, ver: Territórios Negros em Florianópolis no Século XX; ClaudiaMortari e Paulinho J. Cardoso. In. História de Santa Catarina; Estudos Contemporâneos.Org. Ana Branquer. Ed Letras Contemporâneas). A impureza e a péssima qualidade das águas mostrava-se como elemento formidável à destruição da vida, ocasionando uma enorme quantidade de enfermidades oriundas das mais diversas áreas da cidade, incluindo o centro, onde a existência de miasmas infestava até os mais sofisticados ambientes da cidade, cuja origem derivava da putrefação da matéria orgânica que viciava o ar. Nesta Desterro, por vezes o número de óbitos ultrapassava o número de nascimentos, e seria neste contexto que algumas das mais altas autoridades da cidade chegaram a afirmar que o pequeno burgo seria impróprio para a habitação humana. Desta forma, alguns dos letrados da cidade clamavam, junto às autoridades, melhorias no que dizia respeito a saúde pública. Seria assim que se dava a vida cotidiana de Desterro, que aos poucos começava a se modernizar, ainda que em passos tímidos e acanhados, mas que dava sinais, nem que fosse uma espécie de modernização `moda “manezinha”. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 290 22/02/2011 11:01:38

Que história temos; que 22/02/2011 11:01:40 história queremos; que história fazemos? Caroline Jaques Cubas Acadêmica de História Desde setembro deste ano, quando aconteceram os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono (EUA), estamos sendo “bombardeados” por todo o tipo de informação acerca da cultura islâmica, dos problemas do Oriente Médio e do risco de uma nova guerra, santa ou não. Jornais, revistas e televisão travam uma verdadeira batalha entre si para deixar- nos “bem informados” acerca do que realmente pode estar acontecendo. Analistas e especialistas, sobre o Afeganistão, o terrorismo e coisas afins. Entretanto, antes destes ataques, o Afeganistão já havia ganhado visibilidade na mídia pelas ações da milícia do Talibã que, mesmo não sendo reconhecido como governo oficial Afegão, vem tomando decisões baseadas numa leitura fundamentalista do Alcorão. Uma dessas decisões, que ganhou recentemente grande repercussão na imprensa, foi a de destruir todas as estáatuas que fizessem referência ao passado pré-islâmico do país, e entre essas encontravam-se os Budas de Bamiyan que, esculpidas em pedra há mais de 1500 anos, estão (ou estavam) entre as maiores representações conhecidas de Buda. Esse tipo de decisão não é revoltante apenas pela beleza e suntuosidade do que foi destruído, mas pelo que estas estátuas, sejam elas grandes ou pequenas, significavam pelo o que elas representavam. Mesmo que o Oriente Médio esteja em voga nos últimos meses, este não é o único local conhecido que sofre sob ameaça de destruição de seu patrimônio histórico e cultural. A fim de aproximar-nos um pouco mais da temática poderíamos citar o exemplo de Itajaí, nossa velha conhecida. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 291

Os Konder e a Literatura Magru Floriano Presidente da Academia Itajaiense de Letras e pesquisador da literatura itajaiense Falar do nome Konder é falar de política. Mas, ao contrário do que muita gente pensa,os integrantes da oligarquia Konder/Bornhausen não atuaram com exclusividade no setorpolítico. Muitos de seus membros conciliaram a atividade política com a literatura, sendoque alguns seguiram com exclusividade os caminhos do jornalismo e das artes. MarcosJosé Konder Reis, por exemplo, se dedicou em tempo integral à literatura, enquantoMarcos Konder Neto foi o arquiteto que projetou o monumento em homenagem aospracinhas da Segunda Grande Guerra, no Rio de Janeiro. Quando a esposa de Marcos Konder, Corina Régis Konder (Sinhá Konder), resolveumigrar para o Rio de Janeiro fugindo dos problemas advindos com a Revolução de Trinta,entrou em contato com uma plêiade de homens de esquerda, chegando até mesmo aser amiga do líder comunista Luis Carlos Prestes. Por isso mesmo, o ramo da famíliaque se formou no eixo Rio-São Paulo se identificou mais com o discurso ideológico da esquerda, oferecendo grandes nomes para o jornalismo e as letras do Brasil, como é o caso de Rodolfo Konder, Leandro Konder, Fábio Konder Comparato e Victor Márcio Konder. Uma exceção ideológica parece ser o romancista e jornalista Alexandre Konder. Já o ramo da família que permaneceu mais próximo à Adelaide Konder (mãe de Marcos Konder, avô de Antônio Carlos Konder Reis e Jorge Konder Bornhausen) tendeu para ideologias de direita, apesar de também terem migrado para o estado de São Paulo (Santos) e depois Rio de Janeiro, durante a Revolução de Trinta. Contudo, ao contrário de Corina, Adelaide Konder resolveu voltar para Santa Catarina assim que a situação política se normalizou. A verdade é que, independente da orientação ideológica que os membros da família Konder adotaram nas suas atividades políticas, um número expressivo deles manteve também uma intensa vida intelectual e literária. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 292 22/02/2011 11:01:43

Crônicas O galo Adão H. D. Pinheiro O maior sonho daquele homem simples do interior do Rio Grande do sul era ter umgalo de raça, não para botar em briga de rinha, mas sim para que cantasse quandoos primeiros raios do sol brotassem por entre as colinas e acordasse a pampa paraum novo dia. Todo o galo que conseguia, no entanto, não correspondia à expectativadaquele peão de estância que com muito esforço tinha conseguido comprar uma chácara,construir um rancho e formar uma família. Ou o animal morria, ou andava sempre tristede asa caída, como se estivesse pedindo ajuda para o dono para acabar com aquelesofrimento. Corria a notícia de que no terreiro daquele homem galo de raça não se criavade jeito nenhum. Parecia até praga de madrinha, que quando pega não sai nem comreza brava. Como foi criado meio só e longe dos pais, quando ainda era pequeno aquelehomem saiu para a vida, como se diz na campanha, mas aprendeu a não desistir denada. “Nunca perdi nada na vida”, insistia em dizer como se procurasse lá no fundo doseu eu, provar para si próprio que ainda iria reverter aquela triste situação. A procurapelo tal galo, entretanto, já estava virando obstinação e incomodando a família. A companheira, mulher de poucas palavras, mas de uma visão de mundoespetacular, procurava fazer o marido esquecer o sonho daquele galo especial. “Nãoprecisamos deste bicho”, dizia. “Já nos bastam as galinhas que estamos criando”,reforçava. As palavras da mulher, no entanto, não conseguiam fazer o velho companheiromudar de idéia. Afinal, queria porque queria um galo de raça. Quando tudo parecia perdido, o velho senhor, que no dia anterior havia passado nocapão de mato localizado no fundo do rancho cortando a lenha que faltava para enchera carroça e vender na cidade, se pôs cedo de pé. Atrelou a melhor parelha de cavalosna carroça, que havia preparado cuidadosamente com antecedência, como se estivessemontando uma obra de arte destas que os entendidos, que para ele não passavam de colafina, costumam chamar de arte moderna, e se colocou a caminho da cidade. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2001.001-Anuario-008-2001-273-294.indd 293 22/02/2011 11:01:45

Fim de Anuário de Itajaí - 2001001-Anuario-008-2001-273-294.indd 294 22/02/2011 11:01:47

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Anuário de Itajaí - 2002 296 Apresentação Em seu quinto ano consecutivo, apresentamos às comunidade e ao público leitor oAnuário de Itajaí – 2002. Várias são as homenagens contidas nesta publicação, como a do grande catarinenseLauro Müller (decorridos 76 anos de sua morte), do fraterno padre Pedro Baron, doincansável Tiago José da Silva, do inesquecível Paulo Bauer, os quais dedicaram a vidaem prol do bem-estar do Brasil (no caso do primeiro) e de Itajaí. Em outros textos, encontraremos o desenvolvimento de alguns setores que hojesão indispensáveis ao cidadão: o empreendimento do transporte coletivo, através doartigo sobre os ônibus em Itajaí; o soerguimento de uma livraria, uma história de sebo.Também agremiações (neste sentido, a dos jornalistas itajaienses, a CIITA, sempreincansável em sua obrigação em bem informar); perdas e ganhos são questionadosna esfera do patrimônio histórico, assunto sempre tão polêmico, através da discussãosobre o que é ou não é patrimônio. Na área institucional, vale o registro dos 40 anos do Colégio Cenecista Fayale todos seus dividendos adquiridos em quatro décadas de luta; a preservação dosobjetos que tem ligação direta e indireta com a história da cidade, através de minuciosadescrição, é tema do artigo sobre o Museu Histórico de Itajaí; em se tratando de Museu,o qual completou 20 anos em 2002, registra-se a solenidade comemorativa com apresença do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina nas dependências doPalácio Marcos Konder, sede da Fundação Genésio Miranda Lins, mantenedora do Museue Arquivo Público de Itajaí. Como sempre, não nos furtamos aos aspectos culturais e literários. A dançaganha espaço para uma entrevista-relato de uma das primeiras academias de Itajaí; as Massas de Promessa, devoção religiosa presente na cultura catarinense e na região litorânea, expande-se em artigo especial para o anuário; os mistérios de Santa Catarina, presença também de fé, em prosa efetuada pro membro da Academia Catarinense de Letras; os 30 anos do poeta catarinense Alcides Buss, em diversas páginas do anuário, e o documento poético-fotográfico do processo de uma construção turística são aqui apresentados. Eis o Anuário de Itajaí – 2002, o qual esperamos, uma vez mais, cumprir com uma das finalidades da Fundação Genésio Miranda Lins em levar conhecimento e cultura para o cidadão itajaiense.001-Anuario-009-2002-295-312.indd 296 22/02/2011 11:02:35

Anuário de Itajaí - 2002 297 Lauro Müller e a Capital da República Jarbas Silva Marques Professor, jornalista, membro do IHGDF e Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico do DF Decorridos 76 anos da morte de Lauro Severiano Müller, no dia 30 de julhode 2002, Brasília e o Distrito Federal ficaram mais uma vez sem render as devidashomenagens a esse eminente brasileiro, nascido em Itajaí, Santa Catarina. A ele devemos a articulação parlamentar e a redação do Artigo 3º da PrimeiraConstituição Republicana que dispôs: Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal. Parágrafo único. Efetuada a mudança da Capital, o atual Distrito Federal passará a constituir um Estado. Ainda jovem mudou-se para o Riode Janeiro, capital do Império dos Orleanse Bragança, empregando-se como caixeironuma loja comercial. Após o expedientecomercial, à luz do candeeiro punha-se a leras mais variadas obras, até que seu patrãoo apanhou lendo e o despediu. Influenciadopor um tio, cursou Humanidades em Niterói eapós diplomar-se ingressou na Escola Militartornando-se Engenheiro Militar. Proclamada a República, o GovernoProvisório o nomeia para Governador de SantaCatarina, cargo que ocupa por poucos meses,sendo então eleito Deputado na Constituintepor Santa Catarina, que também elegeu oCapitão-de-Infantaria Carlos Augusto deCampos e o Capitão do Estado-Maior, FelippeSchimith, ambos catarinenses. Publicado na íntegra no Anuário deItajaí 2002.001-Anuario-009-2002-295-312.indd 297 22/02/2011 11:02:36

Anuário de Itajaí - 2002 298 Padre Pedro Baron Renato André Wölke Professor universitário Distam a poucos metros, uma da outra, duas imagens, dois monumentos, como que simbolizando a identidade gigantesca que os caracterizou, a identidade de homens que fizeram história, a identidade de homens que mudaram a história, a identidade de homens marcados pelo carisma de mestres luminares. E não para menos, um foi fiel discípulo de outro, tendo-se tornado grande este, pela magnitude incomensurável daquele: Dom Bosco, logo ali à frente, no Parque, e o Padre Pedro Baron, aqui ao nosso lado. A muito feliz e oportuna homenagem que se presta a este educador itajaiense, sacerdote e ex-diretor do Colégio Salesiano de Itajaí, desaparecido dentre nós tão precocemente em 1968, é movida por respeito, devoção e muita gratidão. Acrescenta-se ao título da mimosa pracinha o próprio busto do seu patrono, num reforço daqueles sentimentos que têm nutrido todos os que, um dia, tiveram a felicidade de conviver com o Padre Baron. Aqui há dos que foram seus confrades de congregação; aqui há dos que foram seus alunos, ou alunos do Colégio quando diretor; aqui há dos que foram professores que lhe ombrearam, sob sua liderança, no ensino daquele colégio, também enquanto diretor. Aqui há pais daqueles alunos e cidadãos, tão simplesmente, que conheceram, e aqui há alunos e ex-alunos do Colégio Salesiano que não o conheceram. A estes sim, não há como não lastimar a lacuna e o vazio deixado pela ausência do Padre Baron; a estes, sim, cabe referi-lo, como referi-lo vamos, no quanto não nos trair a memória, num deslizar descritivo da sua personalidade, de passagens da convivência que com ele tivemos, de algumas das grandes ações que realizou. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2002.001-Anuario-009-2002-295-312.indd 298 22/02/2011 11:02:37

Anuário de Itajaí - 2002 299Tiago José da Silva – um itajaiense ilustre Noemi dos Santos Cruz Secretário Municipal de Comunicação Social O homem bateu palmas uma, duas, três vezes, diante da casa simples na Rua FranklinMáximo Pereira, conhecida como “Coloninha”, no Bairro São João. Quando Dona Noêmiaveio atendê-lo, perguntou logo se o “Seu” Tiago estava. Dona Noêmia respondeu queele não estava, mas que não demoraria a chegar. O homem era magro, tinha o rostomarcado, o terno barato e surrado (o que não era sinal de posses numa época em queos homens vestiam-se de ternos e se saudavam levantando os chapéus) e pela suaexpressão. Poderia se adivinhar que passava por maus bocados. Aquela já era umaexpressão conhecida pela dona da casa e, também, por toda a vizinhança. O endereçodescrito acima era, então, nos anos de 1950 e 1960, o abrigo certo dos necessitados, eajudar e dar apoio a estas pessoas desválidas, a razão maior de Tiago José da Silva emse dedicar à vida pública. Nascido em 6 de agosto de 1911, na mesma “Coloninha”, região circunscritaao porto, este cidadão exemplar teve sempre sua vida ligada ao porto de Itajaí e àsatividades profissionais propiciadas pelas características geográficas de nosso município.Antes de se ligar ao Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Armazenador de Itajaí,em 19 de setembro de 1931, Tiago trabalhou nas barcaças que levavam produtos daregião, especialmente telhas de barro, para Blumenau. Casado em primeiras núpcias com Perciliana da Costa da Silva, com quem teveseis filhos, dois não resistiram e faleceram ainda bebês, e mais José Tiago da Silva,Júlia Costa da Silva, Jurema Costa da Silva e Tiago José da Silva Júnior, enviuvou emsetembro de 1941, contraindo segundas núpcias com Noêmia Goulart da Silva, comquem teve mais dois filhos, que infelizmente, também faleceram nos primeiros diasapós o nascimento. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2002.001-Anuario-009-2002-295-312.indd 299 22/02/2011 11:02:38

Anuário de Itajaí - 2002 300 O Clube da Imprensa de Itajaí Hélio Floriano dos Santos Presidente da Academia Itajaiense de Letras e diretor da União Brasileira de Escritores/ secção Santa Catarina. O Clube da Imprensa de Itajaí surgiu no primeiro ano da década de oitenta tendocomo objetivo principal reunir, em torno de uma instituição oficial, todos os trabalhadorese colaboradores integrantes das empresas de comunicação instaladas nos municípiosda Região da Grande Itajaí. Em um primeiro momento, constituiu-se como um cluberecreativo que visava um maior entrosamento entre todos os profissionais que atuavamna imprensa itajaiense. Contudo, no decorrer de sua história, o CIITA também foimanifestando sobre questões técnicas e políticas, quer defendendo seus filiados contraatos de censura e arbitrariedades, quer promovendo grandes Coletivas de Imprensa. Tendo a frente os jornalistas José Pereira e Valdemir Corrêa das Chagas (gerente erepórter da sucursal de O Estado, respectivamente) a primeira reunião para a criação doClube ocorreu no dia 17 de novembro do ano de 1980, nas dependências do restauranteCantina Italiana, ao lado da Sociedade Guarani, na Rua Hercílio Luz. Participaram destaprimeira reunião os jornalistas e radialistas Constância Teresinha Severino e AdilsonPacheco (Assessoria de Imprensa da Prefeitura), Osmar Henrique Schroeder e ÁlvaroArmando Balbinot (Rádio Difusora), Júlio Sérgio Freitas (gerente da sucursal de ANotícia), Jucelino Orben, José Pereira, Valdemir Chagas (sucursal de O Estado), Nilor José de Souza Moreira, João Carlos de Jesus da Luz (sucursal do jornal de Santa Catarina), Dalmo Feminela (Rádio Clube), Renato Mannes de Freitas e Magru Floriano (Jornal de Itajaí). As reuniões de organização do Clube foram ocorrendo informalmente quase diariamente, até que no dia 28 de novembro ocorreu a assembléia de fundação do Clube da Imprensa de Itajaí, no restaurantes Cantina Italiana, contando com a presença dos radialistas e jornalistas [...]. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2002.001-Anuario-009-2002-295-312.indd 300 22/02/2011 11:02:38


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