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Anuário 2010

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Description: Anuário 2010

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Anuário de Itajaí - 1960 - Cem Anos de Município 201 Neste sentido de iniciativas culturais o nosso querido Estado tem grau zero!Nada projeta Santa Catarina nos meios culturais do país. Dá pena, principalmente, senos lembrarmos que nossa padroeira, Santa Catarina de Alexandria, que foi, além devirgem e mártir, doutora; uma mulher de assombrosa cultura, e, como diz o Missalcotidiano, “dotada de inteligência brilhante e vasto saber”. Pois invoquemos nesta hora a proteção da padroeira do Estado e com sua ajudanos atiremos corajosamente neste empreendimento magnífico, o “Festival de Itajaí”. Quando a cidade fizer 200 anos (ai de nós) outros farão a festa e nosesforçaremos hoje para que a alegria de então seja fruto magnífico e radioso dasemente que lançamos hoje! Antônio Augusto Nóbrega Fontes nasceu em São Francisco do Sul, em 28 de dezembro de 1923, vindo para Itajaí aos quatro anos de idade. Fez os primeiros estudos no Colégio São José, com as irmãs da Divina Providência, cursando depois o Ginásio Catarinense, em Florianópolis. No Rio de Janeiro, onde reside há 15 anos e é funcionário do Banco do Brasil, fez da divulgação das coisas de Santa Catarina o campo preferido de suas atividades intelectuais. Tem divulgação o folclore catarinense em programas de rádio e televisão, sendo o primeiro a organizar no Rio de Janeiro exposições e vitrines com cerâmica popular e rendas de Santa Catarina. Como delegado do Centro Catarinense, de cuja Diretoria faz parte, participou do III Congresso Nacional de Folclore na Bahia, em 1957 e foi o delegado do Brasil no I Festival Panamericano de Folclore na Colômbia. Colaborou na organização da exposição “Aspectos catarinenses no Século XIX” feita pela Biblioteca Nacional para a Semana de Santa Catarina de 1958. Aceitando o convite que lhe foi feito pela Secretaria de Cultura de Santa Catarina, elaborou o plano para o I Festival Catarinense de Folclore, que foi aprovado. Como Diretor do Grupo de Estudos Folclóricos do Brasil, mantém uma seção permanente sobre folclore na revista AABB.001-Anuario-004-175-204.indd 201 22/02/2011 10:54:59

Anuário de Itajaí - 1960 - Cem Anos de Município 202 Impressão de um viajante do século XX A embocadura do rio Itajaí-Açu que se encontra algumas léguas ao Norte, forma umpequeno porto perfeitamente fechado, onde os navios estão sem segurança, mas, paraaí chegar, infelizmente, é necessário contornar o “banco”, coisa que não é sempre fácildestituída de perigo. A profundidade no local do banco não é sempre a mesma e, emcertas circunstâncias, não chega a 10 pés, e algumas rochas invisíveis que se encontramno meio, vêm ainda aumentar os perigos. Parece-nos não haver um obstáculo invencívela um desenvolvimento considerável e mais extenso da Província, mas que ficará sempreadstrita a uma pequena cabotagem e não admitirá, senão, excepcionalmente, naviosestrangeiros. O rio Itajaí, que perto de sua embocadura forma pequeno porto, é sem contradição,o rio mais considerável e mais extenso da Província e será o mais importante semas dificuldades da barra. Realmente este rio que banha um vasto vale, dos mais001-Anuario-004-175-204.indd 202 22/02/2011 10:55:01

Anuário de Itajaí - 1960 - Cem Anos de Município 203férteis e que com uma largura que atinge e ultrapassa cem braças, apresentando, aomesmo tempo, bastante profundidade para ser percorrido cerca de 8 a 10 léguas porembarcações tirando de 6 a 7 pés, poderia servir para escoadouro dos produtos denumerosa população de trabalhadores, se a dificuldade e os perigos da navegação nãoviessem aumentar as despesas, em detrimento da agricultura. Algumas milhas acima do ponto onde o Itajaí cessa de ser navegável, se achauma cachoeira de algumas braças de altura perpendicular e do outro lado o rio, que nãoé mais navegável senão por pirogas, não tarde a de dividir em muitos braços, vindosde diferentes direções, e sob diferentes nomes, tais como: Rio do Texto, Benedito, etc.,mas atravessando sempre as terras mais férteis; o braço principal conserva o nomede Itajaí, parece vir do Sul e tem sua nascente nos confrafortes da Serra Geral, dianteda ilha de Santa Catarina (?), mas não é negável de maneira continua, mesmo pelasmenores pirogas. Entre a cachoeira do Itajaí e sua embocadura, este rio não recebe senão doisafluentes um pouco importantes: o Itajaí-mirim, à margem direita, a pouca distânciada barra, que tem um curso extenso e sinuoso, navegável durante muitos dias porpequenas pirogas e tem nascente na mesma cadeia que o Itajaí grande; e o rio LuizAlves, na margem esquerda, cerca de 5 léguas de embocadura do Itajaí que é igualmentenavegável por pirogas em grande parte do seu curso, remontando para o norte, e, emseguida, para noroeste, no meio da região selvagem ainda inabitada, mas que poderáser uma das mais férteis e ricas dessa parte da província. O Itajaí e seus afluentes servem de escoadouro às águas de diversos valessituados ao norte bem como ao sul.001-Anuario-004-175-204.indd 203 22/02/2011 10:55:03

Anuário de Itajaí - 1960 - Cem Anos de Município 204 * ** Encontra-se então uma bela praia larga e dura, de cerva de uma légua e meiade extensão que conduz ao rio Itajaí (descrevendo a viagem do norte para o sul, pelolitoral), onde se poderá chegar em dois dias de viagem, de São Francisco. A passagemdo Itajaí é bastante difícil e acontece ser necessário perder tempo se a corrente émuito rápida ou a água muito agitada; em todo caso essa passagem é penosa parao cavalo que deve nadar longo tempo e chega à outra margem mais fatigado que empercurso de muitas léguas. Deixando o Itajaí, o caminho abandonado de novo a praia eatravessa alguns pequenos montes não desbatados, com largura apenas suficiente paracaminharem dois de frente, no meio de pedras enormes entre as quais o cavalo temfreqüentemente dificuldade para encontrar lugar onde pousar a pata, e pelos declivesabruptos da natureza, pois nada foi suavizado e o único trabalho de engenharia foi abriruma passagem com o sabre e o machado. Um pouco depois, uma hora mais ou menos, chega-se ao rio Camboriú que tempouca largura e cujas águas são sempre calmas, o que torna fácil a sua transposição. Em 1844, Léonce Aubé, Professor da Escola Politécnica e de Minas de Paris e oficial do exército francês, empreendeu uma viagem ao Brasil, destinada a verificar as terras dadas como dote à princesa D. Francisca, filha do Imperador Pedro I, casada com o Príncipe de Joinville. O ilustre viajante estendeu sua viagem à grande parte da então província de Santa Catarina e as suas impressões sobre a região do Itajaí-açu oferecemos agora numa tradução do Dr. José Jansen Ferreira, do livro “La Province de Sainte-Catherine”, publicado em 1861. FIM DE ANUÁRIO DE ITAJAÍ - 1960001-Anuario-004-175-204.indd 204 22/02/2011 10:55:03

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Anuário de Itajaí - 1998 206 Apresentação Muito em boa hora tomou o ConselhoCurador da Fundação Genésio Miranda Lins,Mantedora do Museu e Arquivo Histórico deItajaí, a decisão feliz de reeditar o “Anuário deItajaí”, resgatando desta maneira uma iniciativade grande importância cultural, começada porJayme Fernandes Vieira e Juventino Linhares, em1924, e que teve seqüência com Marcos Kondere Silveira Júnior em 1949; em 1959 e 1960, comLaércio Cunha e Silva e Roberto Mello de Faria. Como quiseram sempre aqueles editores,querem os editores deste “Anuário de Itajaí- 1998”registrar e dar vasta circulação aos assuntos econhecimentos sobre a vida social, econômica,política, cultural e histórica de nosso Município.Por isso, foram buscar o concurso valioso deestudiosos e pesquisadores do Museu e ArquivoHistórico de Itajaí que, valendo-se do material deestudo e pesquisa aí disponível, produziram artigose ensaios que ajudam a compor um perfil culturalde Itajaí neste fim de século e milênio. Queremosagradecer o auxilio e o estímulo de nossosimprescindíveis patrocinadores e colaboradores,aos quais, com seus anúncios, textos e ilustraçõestornam possível esta publicação. Em especialagradecemos o apoio da Prefeitura Municipalde Itajaí- mantenedora da Fundação GenésioMiranda Lins – do Conselho Curador e da equipede trabalho da Fundação. Por fim, esperamos seguir contando comtantos apoios e estímulos, para que a periodicidadeexpressa no título do “Anuário” tenha continuidadenos anos seguintes. Itajaí, 15 de Dezembro de 1998. Supervisor Editorial001-Anuario-005-1998-205-228.indd 206 22/02/2011 10:56:05

Anuário de Itajaí - 1998 207Da Escola de Desemburrar àUniversidade - Breves notas sobre a história da educação em Itajaí Prof. Edison d’Ávila Historiador e professor da Univali Decidido a consolidar como pólo de aglutinação urbanaa póvoa que fundara 1824 juntamente com a abertura da suacasa de comércio, Agostinho Alves Ramos, agora já DeputadoProvincial, empenhou-se para implantar na então paróquia doSantíssimo Sacramento de Itajaí outra benfeitoria pública. Foide sua iniciativa o projeto que deu origem à Lei n° 9, de 15 deabril de 1835, criando uma cadeira de primeiras letras, conhecidapelo povo como “escola de desemburrar”, com a qual se fundoua educação pública na cidade. Tanto o zelo cultural do homemde letras que era quanto o interesse comercial no aumento dafreguesia, motivaram Alves Ramos a se por à frente das iniciativasque resultaram na criação da igreja e da escola. O professor de primeiras letras perceberia um ordenadoanual de cento e oitenta mil réis e ensinaria a ler, a escrever,as quatro operações de aritmética, a gramática portuguesa,ortografia e a doutrina cristã. Visto tratar-se duma escolaespecializada em núcleo populacional pequeno, seguia o métodode ensino individual, pois que nos estabelecemos de ensino queficavam nas cidades e vilas maiores usava-se o método Lancasterou de ensino mútuo. Mas o ensino daquele tempo, no dizer dahistoriadora Neide Almeida Fiori, era precário e rudimentar, alémdo que a carreira do magistério oferecia poucos atrativos aoprofessor de primeiras letras, tanto que a escola de Itajaí, criadaem 1835, só teve promovido o primeiro professor, Francisco Joséda Neves, em 1837, logo substituído interinamente em 1838 porAntônio Joaquim Ferreira. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 207 22/02/2011 10:56:07

Editora da Univali Osmar de Souza Professor da Unival e Coordenador da Editora A Editora da Univali foi legalmente aprovada pelo CEPE em 2 de dezembro de1997, pela resolução 048/CEPE/97. As atividades para a sua implantação, no entanto,começaram muito antes. A história da Editora já começa em 1994, com a criaçãoda publicação do primeiro número da revista “Alcance”. Em 1995, surge a revista“Novos Estudos Jurídicos”, ligada ao Mestrado de Ciência Jurídica. Estas duasrevistas eram produzidas sem uma articulação de equipe. Em 1996, destina-se uma sala, contratam-se profissionais, adquirem-se equipamentos.Organiza-se uma equipe para dar outra face às publicações da Univali.A revista “Alcance” ganha nova roupagem. Em 1997, nomeiam-seos conselheiros da Editora e o próprio Conselho. Finalmente, osregulamentos são aprovados e a Editora tem a sua identidadereconhecida. Atualmente, compõem o Conselho da Editora osseguintes professores: Edison d’Ávila (Secretário daEducação da Prefeitura de Itajaí e professor da Univali);Guilherme Santana (professor e vice-coordenadordo Mestrado em Turismo e Hotelaria); Hercílio Pedro da Luz (professor da área daSaúde); Marcus Polette (professor de Oceanografia); Osvaldo Ferreira de Melo (vice-coordenador do Mestrado em Ciência Jurídica e Presidente do Conselho da Editora);Vera Grillo (professora do Mestrado em Ciências Políticas e Ciências Sociais); ValdirCechinel Filho (professor de Farmácia) e Wagner Teixeira Ferreira (professor do cursode contabilidade). Desde a sua instalação, o Conselho se reúne ordinariamente uma vez por mêse extraordinariamente conforme as necessidades da Editora. Até o momento foramdiscutidas e aprovadas quatorze publicações. Destas, nove já estão editadas e cincoencontram-se ou em fase de diagramação ou com os autores para as últimas revisões. Os títulos já publicados são: Por um Pedaço de Terra: Luís Alves, Dydimia Lázzaris (esgotadas) – Aborda aemigração italiana no Município de Luís Alves. A autora consulta fontes primárias pararespaldar o seu trabalho. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 208 22/02/2011 10:56:10

Literatura itajaiense Rosa de Lourdes Vieira e Silva Escritora e professora da Univali Literatura é uma arte por excelência. Como o cinema, ela pode reunir todas as artes,todos os momentos, todos os espaços. É a sensibilidade transformada em palavra,este misterioso instrumento, este código perfeito onde se aprofunda o universo quevai encurtando distâncias e guardando o tesouro que só se iguala à Criatura Humanaonde, no recôndito da alma, reside o Criador. Expressão pura da sociedade, que se dátoda, despida como uma fêmea para o ato sagrado do Amor. Que se dá para a leituraapaixonada dos que têm Alma e Fé. É o próprio homem residindo nas páginas eternasdos livros que se responsabilizam pelo relatório santo da Criação. É fundamental, pois,que o nosso matrimônio com esta Rainha das artes seja celebrado no primeiro espaço,no primeiro universo de nossas vidas, cujo altruísmo destrói fronteiras e nos faz alçarvôo do condor que se assenhora das alturas, voltando, em geometria mágica, ao solobom que lhe hospedou o ninho. Alceu Amoroso Lima assim a definiu: “[...] Literatura étoda expressão verbal, com ênfase nos meios de comunicação”. Literatura, enfim, é aexpressão de uma sociedade, feita com Arte, num determinado tempo e espaço. E então, a pergunta: Há uma literatura itajaiense? Graças a Deus, sim. Não faltaram homens emulheres para tornar esta terra o celeiro de inspiraçãoem prosa e em verso. Basta que busquemos as fontesà nossa disposição. Depois disso, é necessário queprocedamos à organização desse material, a fim deque os interessados tenham acesso aos autores e àssuas respectivas obras. Simultaneamente, cumpre-nos estimular a leitura do mundo, a idiossincrasia queresulta no amor por Itajaí, provado, com maestria,por aqueles com os quais constituímos o painel aseguir [...]. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 209 22/02/2011 10:56:12

Academia Itajaiense de Letras Adilson Amaral Jornalista Congregar as pessoas que se dedicam à arte de escrever e formar um grupo destinadoà criação e desenvolvimento de um movimento literário na cidade. Foi com esse objetivoque se estruturou a Academia Itajaiense de Letras (AIL), órgão fundado no ano de1997 e instalado em 10 de junho de 1998, quando 29 acadêmicos foram oficialmenteempossados como membros perpétuos da instituição. A formação da Academia Itajaiense de Letras remonta ao final do ano de 1995,quando se incorporava a idéia da criação de uma Associação de Escritores de Itajaí.Através de conversas isoladas, a idéia da reunião de um grupo para formar uma espéciede “cooperativa literária” foi tomando corpo na cidade, com o objetivo de viabilizar aimpressão de livros de autores do Município. A proposta foi levada ao conhecimento do então Secretário Municipal da Culturae Esportes, José Valdevino Coelho. Ao analisar a proposição e o possível apoio do PoderPúblico à iniciativa, o secretário sugeriu a criação não de uma associação e, sim, deuma Academia. Surgia então o embrião do que se tornaria, futuramente, na AcademiaItajaiense de Letras. A proposta de criação de uma Academia em Itajaí foi levada ao conhecimentodo escritor Paschoal Apóstolo Pítsica, presidente da Academia Catarinense de Letras.Durante a reunião que contou com a participação de diversos outros membros daAcademia Catarinense de Letras, Paschoal Pítsica não só ofertou todo o apoio para afundação de um órgão similar em Itajaí como também forneceu orientações sobre osprocedimentos a serem levados a cabo para o funcionamento da instituição. Chega o ano de 1996 e, com ele, a disputa das eleições municipais. A criaçãoda Academia Itajaiense de Letras, já fomentada através de encontros isolados entrepoetas e escritores, acabou figurando como “metas de governo” de praticamente todosos candidatos que disputavam o controle administrativo do Município. O momentopolítico influiu negativamente na criação da entidade, haja vista a suspensão temporáriado projeto para evitar que o órgão fosse citado como conquista política e não umaentidade independente e apolítica como pretendiam (e o conseguiram) os seus membrosfundadores. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 210 22/02/2011 10:56:15

Bento Nascimento - O poeta doce-amargo Vânia Campos Jornalista Cítrico e delicado, amoroso e insuportável. Assim se pode definir o temperamentode Bento Nascimemto, um dos maiores poetas que já passaram por esta terra. Umpoeta de verdade. Um grande poeta. Um amigo. O itajaiense morreu em novembro de1993, aos 31 anos, mas sua riquíssima obra – que reúne centenas de poemas, letrasde música e peças teatrais – ficou e precisa ser divulgada. Com exceção do único livro,Celacanto, editado em parceria com o poeta Antonio Carlos Floriano, a genialidade deBento Nascimento permanece virgem. Desde os tempos da escola do bairro São João, onde se destacava pelo jeitolargado de todo gênio feliz e muitas boas notas, principalmente em redação, Bentocolecionou amigos. Na faculdade, ele fez história no curso de Letras. Participou doMovimento Estudantil e foi assíduo freqüentador do já lendário Bar do Tulipa, em frenteà Univali, na rua Uruguai. Com sua pasta branca-suja sempre embaixo do braço, Bento foi ser professorestadual. Deu aulas até em Luís Alves. Gostava do convívio com os alunos. Comia alguns“esses” quando falava, mas escrevia com a grandeza de uma alma que dispensava aulasde gramática. E ele era uma fera nisso. Na faculdade, conseguiu até um difícil novenuma prova de regência verbal aplicada pelo professor Andrade. E não usavarelógio, perdido para sempre em 1974. Bento escreveu num poema que a vida era um fogo-fátuo. Umaluz rara que nasce da decomposição da matéria orgânica, efeito naturalcomum em cemitérios. Ele gostava de Álvares de Azevedo, que morreumuito jovem, vítima de tuberculoso. Tinha uma fascinação pela mortee, em muitas de suas composições, falou sobre o caráter efêmeroda existência humana. Mas ele amava muito e não queria morrer.Nunca acreditou que isso pudesse acontecer com ele. Dormia atétarde, tomava porres memoráveis, chateava os amigos e irmãos,tinha o dom de irritar garçons em bares e restaurantes. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 211 22/02/2011 10:56:17

Anuário de Itajaí - 1998 212Poema para BentoNa pequena colina de pinheirosas colunas cinzasdo cemitérioguardam kanjiscom nomes ilegíveistantas aflições esquecidasno silêncio abreviadoda tardeNenhum fogo-fátuoexplodee te trazna minha lembrançaAntonio Carlos Floriano (Cemitério de Katsutaday – Japão – 1994).001-Anuario-005-1998-205-228.indd 212 22/02/2011 10:56:18

Anuário de Itajaí - 1998 213 Música em Itajaí Mônica Zewe Uriarte Maestrina A música tem como raiz registros egípcios datadosde 2.500 aC, localizando também o ensino de músicainstrumental, canto e dança para meninos chineses de 1050a 256 aC, assim como relatos de que mulheres estudavaminstrumentos musicais durante o período de 713-762. O valor da música, como parte integrante daformação geral do homem, tem sido discutido desdeos tempos da Grécia antiga, quando a preocupaçãobásica da educação da época era o desenvolvimento do homemideal, física e mentalmente equilibrado. No Brasil, a prática da música data do período dodescobrimento, pois os índios que aqui estavam tinham suas dançase músicas que impressionaram os colonizadores. Situadas na foz do rio Itajaí-Açu, a cidade tem na confluência de águas fluvial e atlântica seu dúbio destino: do confronto entre a asfixia do vale e a aragem dos mares deriva a pulsação da cidade que, a plenos pulmões, canta. O mapa de Itajaí se redesenha em sons, para além de sua mera cartografia geológica ou política – cidades são nada, se não são animadas pela arte de seus povos. No caso, o povo vivaz e inventivo de codinome Papa-Siri (Dennis Radüz – A Cidade Liquefeita dos papa-siris – Anexo/Jornal “A notícia” de 22/03/98). Esta mescla de sonoridades que vem do mar é devidamente preparada,transformando-se na música vívida e eclética de Itajaí. Três são os sinalizadores danavegação artística: 1) o movimento insuflado pelo Festival de inverno, realizado nosanos 70 – ecoando nos diversos discursos artísticos como música, teatro, dança e artesplásticas, trazendo a consolidação do “Salão das Artes Cidade de Itajaí” na sua sextaedição, a retomada da “Noite dos Candelabros”, a “Mostra Itajaiense de Teatro”, o“Festival de Dança Mery Rosa” e, em 1998, o “1º Festival de Música Cidade de Itajaí” ea “1ª Oficina de Música Popular Brasileira Cidade de Itajaí”. 2) A obra de Carlos Nohues(1957-1994), engenheiro elétrico e compositor itajaiense, que traz em suas melodiasum misto de melancolia e suavidade, típicos de um fundo à margem do porto, autorde dois CDs que muito marcam a música local? “Antigo Lugar” (1990), e “Diamante”,lançado postumamente com participações especiais de Dori Caymmi e Peter Sprague.Certamente Niehues é um marco na música itajaiense, [...]. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998001-Anuario-005-1998-205-228.indd 213 22/02/2011 10:56:19

Escolinha de Arte de Itajaí: registro de uma experiência Márcia d’Ávila Arte Educadora No conturbado período pós-guerra, emerge com muito mais força a necessidade deas pessoas expressarem seus sentimentos em relação ao mundo que se apresentasobre as perspectivas e sonhos, sobre a reconstrução de suas vidas. Era preciso criarum espaço para a expressão destes sentimentos. Porém, o pensamento racional nãodava conta de atender esta necessidade, nem de delinear um projeto de reconstruçãoneste sentido. Com isto, o mundo se obriga a fazer uma reflexão epistemológica sobreos descaminhos da humanidade. A educação formal passa a ser o foco preferido destareflexão. Ancorada em premissas cartesianas, a educação sempre esteve a aprimorar arazão em detrimento de outras dimensões da pessoa, reduzindo assim as potencialidadeshumanas. Percebe-se, então, a urgência de mudanças. Buscou-se um espaço para a expressão genuína dos sentimentos humanosabalados nos últimos tempos. A maior questão a ser atendida era como possibilitar aexpressão do sentimento de dor e perplexidade vividos na guerra. Embora se apontassepara a educação como saída, alguns estudiosos denunciavam o emaranhado de intençõesem que estava envolvida esta área do conhecimento, principalmente naquele momentoem que tudo ou quase tudo estava voltado para o mundo do trabalho, onde a habilidadetécnica era o que importava. Herbert Haed (1893 – 1968), escritor e filósofo norte-americano, percebia queera no âmbito da educação, em atividades que atendessem a subjetividade das pessoas,que se encontraria o caminho. Conhecedor do pensamento filosófico de Platão e Schiller,que propõe a arte como educação da pessoa, Herbert Haed reconhece que, além demudar a concepção curricular do ensino das artes, era fundamental uma mudança dementalidade sobre esta disciplina. Desejava uma educação que aprimorasse a percepçãpdos sentidos e dos sentimentos da pessoa, uma educação que contribuísse para aintegração das potencialidades humanas. A partir disto, concebe uma educação atravésda arte. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 214 22/02/2011 10:56:20

Anuário de Itajaí - 1998 215 O teatro em Itajaí – 1970 a 1990 Valentim Schmoeler Ator e diretor teatral Itajaí viveu nos anos 70 a maior efervescência teatral com grupos fortes e atuantes,tendo o seu auge nos anos de 1974 e 1976. Neste período, os grupos atuantes eram: Arte Drama (SESC); Folk (Colégio NiltonKucker); Os Robsons (Igreja Matriz do Ss. Sacramento); Cata Louco (Escola Técnicado Comércio de Itajaí); Grupo Sérgio Cardoso (Colégio Nereu Ramos); Grupo CharlesChaplin (Igreja Matriz do Ss. Sacramento); Grupo Chave (Proart/Emobresc). Em 1974, participaram do 8° Festival de Teatro de Blumenau os grupos Os Robsons,com a peça A Beira do Abismo, com o texto e direção de Valentim Schmoeler, e Folk,com a peça O Paranóico de Siracusa, texto homônimo de Guilherme Figueiredo e direçãode José Darci da Silva Jr., com premiações de melhor figurino e melhor iluminação. Em1975, o mesm grupo (Folk) representa Santa Catarina no 5° Festival Nacional do TeatroInfantil, em Arcozelo, no Rio de Janeiro, com a peça O Carrossel de Açúcar, sendo oespetáculo interditado durante a apresentação pelos promotores do evento devido aocontexto político do espetáculo. Em abril, surge em Itajaí o 1° MADI (Movimento de Arte Dramática de Itajaí),reunindo todos os grupos atuantes na época, tendo apenas as apresentações dos gruposCata Louco e Folk, pois o movimento fora interditado pela Polícia Federal devido àcensura vigente da época. Em 1975, a peça Meu Espírito Jovem (Grupo Charles Chaplin) vence o primeiroEmobresc em Criciúma/SC. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 215 22/02/2011 10:56:21

Anuário de Itajaí - 1998 216 A cultura popular: as surpresas do cotidiano José Roberto Severino Mestre em História e professor da Univali Quando me convidaram para escrever sobre as festas populares em Itajaí, constatei duas dificuldades que já se prenunciavam em uma pesquisa que desenvolvi com fins acadêmicos. Uma delas foi a dificuldade em localizar fontes (escritas e orais) sobre o assunto. O problema tornava-se maior na medida em que recuava no tempo. Os dados sobre as manifestações populares quase inexistem, principalmente na região de Itajaí, que era um centro menor e sem uma grande importância econômica e política nos últimos anos do século XIX e nos primeiros do século XX. O outro problema, de ordem muito mais interpretativa, foi relacionado ao que se escreveu sobre cultura popular na cidade e no litoral catarinense. Nesses escritos, a tradição cultural açoriana aparece como única possibilidade para o litoral catarinense. O problema da falta de fontes é uma constante no quotidiano do historiador. Resolvi, em parte, com muito trabalho – o que não significa que tenham surgido quaisquer novas informações sobre manifestações culturais a muito esquecidas pela população da cidade. O segundo problema tornou-se um verdadeiro labirinto e sem muitos sinais de orientação. E é a partir dele que eu gostaria de seguir o fio de um suposto novelo de lã – que talvez nos tire do labirinto que eu creio ter encontrado (ou criado). O labirinto a que me refiro é a própria noção de cultura popular, e consequentemente, todo o conjunto de manifestações culturais e artísticas a ela associados. Uma cultura popular – tal como é vista – pressupõe uma cultura erudita – lapidada nas academias, nos refinados salões – ou tantas outras opções que se queira [...]. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 216 22/02/2011 10:56:22

Anuário de Itajaí - 1998 217 Sonhos e prazeres da modernidade:o corpo saudável em Itajaí na década de 20 Francisco Braun Neto Professor e pós-graduado em História Itajaí vive os “frenéticos” anos vinte sob a balada da modernidade. Vale Lembrar que éuma década de mudanças na vida urbana, onde o “progresso” se constitui como umemblema a ser encontrado. A partir da década de 20, é notório a busca de uma brasilidade, onde procura-se elaborar um discurso que situe o Brasil dentro de uma vanguarda moderna (umexemplo é a Semana de Arte Moderna de 1922), próximo dos países europeus. Assim,os espaços públicos vão se constituindo, as instituições e o saber científico vão tomandocorpo e ocupando lugares nestes espaço. Nesse momento, apesar de Itajaí ser uma cidade sem expressão se comparada comcidades como Rio de Janeiro e São Paulo, não fica a ver navios. No ritmo da modernidade,a cidade reorganiza seus espaços: as novidades traziam um ar de “dinamismo”, comoa fundação da sede municipal em 1925; em 1927, um hidroavião descia nas águas doItajaí-Açu; nesse período, o telefone e o cinema encurtavam distâncias - as “delíciasdo mundo moderno“. O mundo estava mudando, as pessoas deveriam mudar seus comportamentos,seus hábitos em público. Passa a haver uma preocupação cada vez mais intensaem disciplinar condutas e corpos, preocupação esta presente nas leis e mesmo nosjornais. No ano de 1923, é criada uma lei que multava aqueles que deixavam animais nasruas da cidade, pois atrapalhavam a vida pública, como nos passeios de rapazes e moçasque sentiam-se constrangidos ao terem que caminhar entre os animais. Temos aquiuma outra sensibilidade dos comportamentos em público. Juntamente a esse discursoa saúde vai tornar-se objeto de discussão nos jornais, encontrando-se dizeres como“Evite cuspir no chão; é um hábito sujo e muito perigoso para a saúde de todos”. O cuidado agora não está só na preocupação de limpar a cidade, mas tambémdisciplinar os corpos quando como cuspir no chão se torna, na ótica do articulista, umhábito sujo, indelicado e um perigo para a saúde. Esse discurso vai procurar delimitaros comportamentos, mas principalmente insistir na idéia de um corpo saudável, viaatividades esportivas. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 217 22/02/2011 10:56:24

Anuário de Itajaí - 1998 218 A cultura operária papa-siri: primeiras décadas do século XX José Bento Rosa da Silva Doutorando em História do Brasil pela UFPE e Professor na Univali Quando optamos pelo título acima exposto, pensamos o conceito de cultura operáriatendo em vista a sua capacidade de organizar-se, sua dinâmica, seja no confronto coma classe oponente – os donos do capital – quanto na busca de soluções das tensõesexistentes dentro do próprio grupo. Itajaí nasceu basicamente ao redor do porto. Este pode ser considerado a “Portade Entrada” para a colonização européia no Vale do Itajaí, desde a segunda metade doséculo XIX. Desta forma, mesmo sem haver um desenvolvimento industrial na região deItajaí, foi em função do porto que surgiu um operariado urbano. No ano de 1906 foi fundada a primeira Sociedade Beneficente, visando agregarespecificamente trabalhadores da área portuária, sendo esta contemporânea da SociedadeBeneficente Operária Itajahiense, que agregava todos os tipos de trabalhadores,ocasionando muitas vezes desavenças entre seus sócios. A Sociedade Beneficente XVde Novembro tinha, por finalidade: “... agremiar todas as pessoas que se ocupam ou venham a occupar-se, nesta cidade, nos trabalhos de praça, portos, cargas e descargas de navios, mantendo entre ellas a maior harmonia possível; regular os horários dos trabalhos, estabelecer os respectivos salários, auxiliar pecuniariamente os seus associados quando enfermos ou inválidos, bem como em caso de falecimento do sócio, às suas famílias; concorrer para o funeral de seus associados” (O Pharol, 18/10/1908). A esta época, o Porto de Itajaí sofria modificações sob a mediação do Ministro daIndústria e Viação, Lauro Severiano Müller, filho de Itajaí. Conseqüentemente, as melhoriastrouxeram um maior contingente de operários, para o Porto (O Pharol, 14/07/1905). Éneste contexto que surge esta entidade voltada especificamente para o trabalho na faixaportuária. Será a partir desta fase que podemos falar numa cultura operária “papa-siri’. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 218 22/02/2011 10:56:25

Anuário de Itajaí - 1998 219 JUDITH Judith ama o mar pois amar foi sua morte. Paira sobre o cais no fundo de ser alguma coisa a noite o ar o véu Profundo luto que contra luta Judith tem na alma o mar – escuna confidente de um pedaço de anjo morada de descanso além-a-mar. O coração puro engana na manhã na tarde na esperança Rogério Lenzi – Contínuo Ato001-Anuario-005-1998-205-228.indd 219 22/02/2011 10:56:26

Anuário de Itajaí - 1998 220 O porto natural do Rio Itajaí:a formação social da cidade portuária Sônia Miriam Teixeira Moreira Mestra em geografia pela UFSC e professora da Univali Era, portanto, o mar “o elemento natural dos habitantes dessa região (onde) todo A mundo sabe de que lado sopra o vento e a que horas a maré vai subir ou descer” (Saint – Hilaire). inserção do porto natural do rio Itajaí no contexto do litoral catarinense podeser considerada, de certa forma, tardia, levando-se em conta a atuação pioneira deportos como São Francisco, Desterro e Laguna. O lento processo dessa inserção, noque se refere ao quadro natural, deve-se, em parte, às dificuldades que encontravamas embarcações ao penetrar a barra no rio Itajaí-Açu, dada a presença de um bancode areia em sua foz. Segundo Léonce Aubé, esse obstáculo, observado já no iniciodo século XIX quando de sua passagem pela província de Santa Catarina, limitaria odesenvolvimento futuro do porto fluvial e das terras em seu entorno, admitindo apenasembarcações de pequena cabotagem. Recortada por inúmeras baías e enseadas, a costa catarinense favoreceu opequeno comércio marítimo desde os primórdios de seu povoamento, assinalando-se, no espaço litorâneo, locais adequados para a comercialização e o desembarque demercadorias oriundas da produção agrícola/ pesqueira. Por outro lado, a precariedadedas comunicações terrestres, condenando os grupos luso-açorianos ao isolamento desuas propriedades ou em pequenas freguesias, condicionava-os ao uso freqüente daságuas costeiras. Dessa forma, no espaço litorâneo catarinense desde cedo emerge, aolado dos pequenos produtores de subsistência, uma classe pesqueira não desarticuladada produção agrícola. Como bem observou Saint-Hilarie, “qualquer que seja a profissãoque os moradores dessas terras tenham, eles são sempre pescadores (...) não háninguém que não possua uma canoa e não saiba manejá-la com destreza. Portanto, os pequenos contingentes litorâneos tomaram a única direção possívelpara a realização de sua produção – a costa marítima. Viajantes estrangeiros que poraqui passaram no final do século XVIII e início do século XIX, deixaram registradasimpressões sobre os pequenos portos cheios de barcos muito bem construídos,comumente usados no transporte de peixe seco, observando-se “um aspecto de comérciopor toda a parte”. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 220 22/02/2011 10:56:27

Anuário de Itajaí - 1998 221 Áreas de preservação Marcos dos Anjos Mestrando em Geografia As questões ambientais vêm sendo discutidas há pouco tempo, passando a ter maiorrelevância à humanidade somente a partir da década de 70, quando surgiram os primeirosmovimentos organizados de proteção à natureza. Anteriormente, o meio ambiente nãoera visto como fundamental à manutenção da vida e do planeta. Não obstante a isso,com vistas a posicionar-se favoravelmente à preservação e manutenção dos diversosecossistemas encontrados em nosso país, o Poder Público Federal criou formas legaisde preservação, denominadas, abrangentemente, de Unidades de Conservação. AsUnidades de Conservação englobam algumas formas de preservação de ecossistemas,sendo definidas de acordo com sua complexidade. Em Itajaí, foram criadas três unidadesde conservação: o Parque Municipal da Ressacada, a Área de Proteção Ambiental doBrilhante e a Área de Preservação Permanente do Saco da Fazenda.O Parque Municipal da Ressacada Os parques têm por objetivo a preservação da fauna e da flora, podendo serutilizados para visitação em geral, educação ambiental, aulas voltadas a conhecimento epreservação do meio ambiente e turismo ecológico (Ecoturismo). O Parque Municipal da Ressacada foi criado pelo Decreto2824, de 10 de dezembro de 1982, abrangendo toda a áreapertencente ao Patrimônio Público Municipal, compreendidaentre as caixas d´água da Fazenda e Ressacada, consideradasáreas de preservação permanente pelo Zoneamento Municipal.Este parque tem por objetivo a preservação da fauna e flora daregião. Caracterizado por uma flora extraordinária, rica em espécies,o Parque Municipal da Ressacada constitui parte da exuberanteFloresta Tropical Atlântica. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 221 22/02/2011 10:56:28

Anuário de Itajaí - 1998 222Transformação urbana e o Marco Zero: Praça Vidal Ramos Luciana Ferreira Arquiteta Urbanista Muitos perguntam por que devemos preservar as casas “velhas” de nossa cidade.Os argumentos contra são vários, mas o principal é aquele em que o “deixar de ganhardinheiro” é a pior perda. A preservação, além de favorecer uma relação de respeito com o passado, deproteger um modo de vida e uma cultura, pode ser também um investimento turístico eeconômico de alta rentabilidade. Se pensarmos que estamos construindo o passado dasgerações futuras, talvez tenhamos maiores cuidados com a nossa cidade. Itajaí, assim como muitas outras cidades, é um bom exemplo. O trio que margeiao nosso centro foi e é o protagonista de, praticamente, toda nossa história; não é poracaso que é nessa área que encontramos grande parte do nosso patrimônio construído.Poucos sabem a história de nossa cidade e por conseqüência, não valorizam o palcodesses acontecimentos. Alguns podem dizer que Itajaí não possui patrimônio, ao menoso que restou, e por si só é importante. Por que é tão interessante ir a outros lugares, conhecer a casa de personagenshistóricos? Por que conhecemos esses personagens e suas histórias. Então, por quenão tornamos conhecida nossa história, nossos personagens, nosso patrimônio, ecomeçamos a fazer disso um valor real da cidade? Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 222 22/02/2011 10:56:30

Anuário de Itajaí - 1998 223 A cidade revelada Ana Bela Machado Historiadora D Jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Mas como não escrever sobre as cidades, se são tantas e o papel parece inacabável? (Angel Rama). esde o final do século VXIII, as terras às margens do rio Itajaí-Mirim já tinhamsido ocupadas por alguns posseiros. Entretanto, somente começou a se organizar acidade após a vinda de Agostinho Alves Ramos, por volta de 1823, que se estabeleceuna rua Lauro Müller, antiga Rua da Praia, com sua esposa, dando verdadeiro impulso aItajaí, na época chamada de Póvoa do Ss. Sacramento. Porém, a mais antiga área urbana da cidade é o Bairro Fazenda, antigapropriedade do Tenente-coronel Alexandre José de Azeredo Leão Coutinho, aíestabelecido desde 1793. Com certeza a cidade cresceu, evoluiu, mesclando-se aos vários estilosarquitetônicos, alemães e açorianos em sua maioria. Atualmente, é uma cidadecomo tantas outras: uma parte abriga o que chamamos de Centro Histórico, comsuas construções do início do século e algumas do século passado, como a casa deAgostinho Alves Ramos ou a pequena Igreja da Imaculada Conceição, hoje tombadaestadualmente. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 223 22/02/2011 10:56:31

Anuário de Itajaí - 1998 224Breve passeio pela paisagem urbana Deise Souza Arquiteta Para podermos compreender a atual ocupação urbana da cidade de Itajaí, entendermoso porquê do seu traçado viário e da distribuição na malha urbana da cidade dos edifíciosque atualmente compõem um significativo patrimônio arquitetônico, é necessáriorecuarmos mais de um século no tempo, resgatando a memória daqueles que ajudarama construir a cidade, deixando sua contribuição para as gerações seguintes. É sabido que, desde o século XVII, vicentistas, açorianos, alemães e italianosocuparam as terras da foz do rio Itajaí-Açu e nelas se estabeleceram como pescadores,agricultores e comerciantes. Alguns estudos apontam os vicentistas, oriundos de SãoFrancisco do Sul, como os primeiros a chegarem. Esses povos foram chegando a esmo,requerendo ou comprando as terras inabitadas e aí se arranjando com suas famílias,plantando, pescando ou trabalhando na carpintaria. As primeiras edificações que deram à Itajaí ares de vila foram surgindo ao longoda antiga Rua da Praia, hoje Lauro Müller, próximas à Igreja Matiz de Nossa Senhora daConceição (hoje Igreja da Imaculada Conceição), construída em 1840 e tombada peloPatrimônio Histórico a nível estadual (em 25 de junho de 1998), e a Praça da Matriz,hoje Praça Vidal Ramos, ambas voltadas para o rio. Nesta região instalaram-se as primeiras residências de famílias que vieram a tergrande importância política e social na cidade, como a Casa Asseburg, a Casa Malburg,as edificações das famílias Bauer e Konder. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 224 22/02/2011 10:56:33

Anuário de Itajaí - 1998 225 Oficina de História Oral: desafios de uma história experimental Ivan Carlos Serpa Mestre em História e professor da UNIVALI Desde 1995 um grupo de historiadores da Universidade do Vale do Itajaí vem sereunindo com o objetivo de aprofundar conhecimentos teóricos e metodológicos numanova abordagem das pesquisas históricas: a história oral. Dar ao público uma noção doque é história oral e demonstrar a proposta de trabalho da Oficina de História Real sãoobjetivos deste artigo. A história tem como principal característica a utilização de narrativas oraisbaseadas na memória de indivíduos que viveram uma dada situação histórica, comofonte de pesquisa. Desde a antiguidade, tem-se utilizado a memória como fonte de conhecimentoshistóricos; Homero (800 a.c) e Heródoto (V a.c), por exemplo, traduziam para a formaescrita as memórias de seus contemporâneos, transmitidas de gerações em gerações.Autores como Revelais e Shakespeare, no século XVI, Michelet e os irmãos Grimmcoletaram memórias de camponeses na França e na Alemanha, transformando-as emobras históricas de grande relevância. Modernamente, a história oral surgiu com a criação da “Oral History ResearchOffice”, na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, em 1948. A invenção dosgravadores de fitas k-7 deu grande impulso à história oral, pois possibilita a gravaçãodas entrevistas para sua posterior análise e arquivamento. Atualmente, a preocupação central dos historiadoresoralistas diz respeito à sua investigação da história dosexcluídos, dos marginalizados, daqueles que “poucasoportunidades tiveram para ocupar a tribuna da história”. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 225 22/02/2011 10:56:34

Anuário de Itajaí - 1998 226A imprensa de Itajaí – década de 1970 Hélio Floriano dos Santos Jornalista e professor da Univali O mundo experimentou, a partir do final da década de 60 e início da década de70, um período de grandes transformações tecnológicas, caracterizado como a TerceiraRevolução Industrial. Nenhum setor produtivo ficou incólume às mudanças decorrentesdesse processo. Contudo, um dos setores onde estas mudanças mostram completavisibilidade é o setor de comunicação social. Como não poderia deixar de ser, a imprensa em Itajaí também entrou, na década de70, experimentando um processo acelerado de mudanças que vão gestar gradualmentea nova imprensa regional. Novas rádios (AM e FM), redes de televisão (aberta e viasatélite), rede Internet, novos jornais (diários e semanais), sucursais bem estruturadasde jornais com circulação estadual são alguns exemplos dessas transformações. Como reflexo direto desse processo histórico é que surge o primeiro ano da décadade 80 o CIITA – Clube de Imprensa de Itajaí – como uma entidade que vai congregartodas as pessoas que gravitam em torno da imprensa regional, dotando o setor de umórgão representativo e de expressiva participação na história do Município. A principal liderança do CIITA foi José Pereira, mas as atas do clube trazemassinaturas de comunicadores reconhecidos pela sociedade itajaiense, como DalmoFeminella, Milton Ribeiro da Luz, José Tolentino da Silva, Nilton Issac Russi, OsmarHenrique Schroeder, Nilson Nicolau da Costa, Rui Ademar Rodrigues, Manoel ErnestoMachado, Constâncio Severino, Valdemir Corrêa das Chagas, Emerson Ghislandi, EliasSilveira, Eládio Cardoso, Luis Carlos Pereira (Tigrão), Elias Adaime, João Carlos da Luz,Gerd Klotz, Adilson Reis Batschauer, Eucil Luiz, Célio Alves Marinho, Hernani Fabeni,Aldo Pires de Godoy, Jucelino Orben, Irene Boemer, Francisco Ivan Ramos, Alvino Filho,Rosa de Lourdes Vieira e Silva, Salésio Rocha Machado, Luiz Bozzano, Pedro Luiz deOliveira, Ronaldo Silva Júnior, Victor Borba. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 226 22/02/2011 10:56:36

Anuário de Itajaí - 1998 227 Adeus a Lito Seára Carlos de Paula Seára – Lito Seára – nasceu em Itajaí, a 13 de maio de 1904,descendente de dois ilustres troncos familiares itajaienses: os Heusi e os Seára. Seu avômaterno, o velho imigrante suíço Samuel Heusi, fora duas vezes vereador no Império,quatro vezes vereador na República, Presidente da Câmara Municipal por três vezes eduas vezes Prefeito Municipal. Na infância, Lito freqüentou a escola pública do mestre Donato Campos, numtempo em que quatro anos de ensino primário equivaliam por todo o curso ginasial. Ingressou no mundo do trabalho como auxiliar de serviços nas obras do porto deItajaí, tocadas pela antiga empresa COBRAZIL, ajudando a construir, pedra à pedra, osmolhes de nossa barra. Em 1919, moço de 15 anos, participou da fundação do ClubeNáutico Almirante Barroso – apaixonada dissidência marcilista – levada a efeito poruma ala da mocidade desportista. No Clube, foi atleta do remo e campeão em célebresdisputas do esporte náutico que então fazia sensação na cidade. Nos anos 20, esteve junto ao político e empresário José EugênioMüller, diretor da Sociedade Construtora Catarinense, fundador doBairro Vila Operária, o primeiro bairro urbanisticamente planejado emItajaí. Alguns anos depois, Lito Seára construiria ali sua residência,onde morou até sua morte em 15 de maio de 1998. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1998.001-Anuario-005-1998-205-228.indd 227 22/02/2011 10:56:37

FIM DE ANUÁRIO DE ITAJAÍ - 1998001-Anuario-005-1998-205-228.indd 228 22/02/2011 10:56:39

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Editorial A expectativa que tínhamos quanto à continuidade do Anuário de Itajaífelizmente se concretiza com a edição deste ano. Os apoios e estímulos continuaram e aboa receptividade da edição de 1998 entre leitores e estudiosos nos animou a seguir emfrente. É intenção da Fundação Genésio Miranda Lins fazer do Anuário de Itajaí os seusanais, trazendo à lume, a cada ano, os trabalhos escritos por estudiosos e pesquisadoresdo Museu e Arquivo Público de Itajaí, bem como divulgar os eventos culturais, sociais eeconômicos mais relevantes da cidade para registro histórico. Não resta dúvida de que,sendo o compromisso maior da Fundação Genésio Miranda Lins a ação cultural, estapublicação voltar-se-á em especial aos temas culturais. No entanto, não é nossa intenção fazer do anuário um veículo de produçõessomente acadêmicas e, sim, abrir-lhe espaço para tudo aquilo que de significativopara a cidade for produzido nos campos da literatura, das artes, das ciências e dacomunicação social. Muito importante para esta edição de 1999 continuou sendo a participação dosque contribuíram com suas produções, a quem agradecemos. Muito especialmenteagradecemos aos patrocinadores e o apoio da Prefeitura Municipal de Itajaí, quemantém a Fundação Genésio Miranda Lins, cuja equipe se empenhou na realizaçãodeste trabalho. Aos nossos leitores, entregamos o Anuário de Itajaí – 1999, na certeza de querecebem informação, arte e cultura, numa publicação de alto nível que testifica acapacidade e os valores dos itajaienses. Itajaí, dezembro de 1999. Supervisor editorial001-Anuario-006-1999-229-248.indd 230 22/02/2011 10:57:46

Anuário de Itajaí - 1999 231Das estrelas da Ursa ao Cruzeiro do Sul Professora Carla Andrich Ex-prefeita do Município de Vallada de Agordino, ItáliaO Fenômeno Migratório no Final do Século XIX Atualmente é possível abordar o evento central do presente trabalho: a grandeemigração oriunda do Vale do Rio dos Biois (Itália), em particular dos nascidosno município de Vallada Agordina, para o Brasil. Ocorrida em um curto espaço detempo, esta se dirigiu sobretudo à colônia (hoje município) de Luís Alves, no Estadode Santa Catarina. Nesta veio a se estabelecer, em um território tropical iluminadopelo Cruzeiro do Sul, uma realidade similar àquela que estes imigrantes deixaram nohemisfério boreal. Do Arquivo Histórico dos municípios de Vallada, Canale d’Agordo e Falcade,tendo dificuldade de confrontar as diferentes gestões dos registros , conseguimoslevantar que cerca de quatrocentas pessoas, entre 1877 e 1893 (182 de Vallada, 115de Canale d’Agordo e Falcade) partiram para o Brasil. A estes se deve acrescentaros imigrantes que partiram do município de San Tomaso que, pela contigüidadeterritorial entre os dois municípios, mantinham ligações de parentesco e de amizadecom os de Vallada. Em San Tomaso, infelizmente, não foi ainda efetuada umapesquisa sobre o tema. No âmbito desta pesquisa, analisando a situação local do século XIX, nos baseamossobretudo em documentos concernentes ao município de Vallada. Naturalmente, asreferências às outras localidades do Vale serão contínuas, não somente pela matrizcultural, mas também porque foram comuns os acontecimentos e as soluções parcialmentediferentes, assim como as motivações que parecem rapidamente ter conduzido a umêxodo assim consistente.O Empobrecimento da Comunidade No período napoleônico, foram instituídos os municípios que, localmente,suplantaram as antigas Regola, herdando destas os bens. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 231 22/02/2011 10:57:47

Anuário de Itajaí - 1999 232 Uma história através do tempo Didymea Lazzaris de Oliveira Da Academia Itajaiense de Letras Itajaí e Navegantes, encravados no territótio do grande São Francisco do Sul,formavam uma terra só, apenas cortada pelo rio Itajaí-Açu. A história destas terrasentra no cenário catarinense pelos idos de 1658, quando o povoador de São Franciscodo Sul, Capitão Mor Manoel Lourenço de Andrade, oriundo de São Paulo, se estabelece,definitivamente, naquela região e distribui terras a seus companheiros; esta regiãotinha o seu limite estabelecido ao norte com o Termo da Vila de Paranaguá e, ao Sul,com a Enseada das Garoupas. Entre esses beneficiados por Lourenço de Andrade estava João Dias de Arzão,cuja sesmaria, por ele adquirida, estaria na foz do Rio Itajaí. Teve-se, inicialmente, aidéia de que ela estaria à sua margem direita, entretanto, pelo mapa existente nasprimeira sesmarias localizadas no Baixo Vale do Rio Itajaí, vê-se esclarecido que elaestaria em terras de Navegantes, naquela época, o “lado Norte do Rio”. O caminho deSantos a Paranaguá, e daí a São Francisco do Sul, era pela rota do litoral. Os bandeirantes, em busca de ouro e pedras preciosas, seguiam este rumo,evitando os sertões devido aos ataques dos índios botocudos. Os primeiros portuguesesforam explorando o litoral do grande São Francisco e, assim, João Dias de Arzão chegaà praia, na margem esquerda do Itajaí-Açu, banhada pelo Oceano Atlântico, onde nãopermaneceu, porque a região era pobre no minério que ele procurava. Em 1748, os açorianos chegam em Desterro. Devido a invasão dos espanhóis àilha de Santa Catarina, em 1777, os açorianos que estavam estabelecidos na Armaçãoda Piedade, lado do continente em direção à Ponta Norte da Ilha de Santa Catarina,transferem-se para Penha de Itapocorói. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 232 22/02/2011 10:57:48

Anuário de Itajaí - 1999 233 Itajaí e o Meio ambiente: o papel dasinstituições na preservação do ambiente natural Antonio Henrique Roman Oceanógrafo, membro da SSAET Antes que a leitura alcance os próximos parágrafos deste artigo, ao qual me sintohonrado em realizá-lo, faz-se necessário uma explanação em relação ao termo ecologia.É natural que, para muitos, ecologia seja sinônimo de preservação dos ambientesnaturais e dos animais que neles habitam, mas isto é apenas um pequeno ramo dagrande árvore desta tão nobre ciência. Ecologia deriva do grego oikos (moradia) ede logos (estudo). Assim torna-se muito mais significativo associar ecologia com seusignificado mais amplo, ou seja, o estudo da interação do homem com a natureza (acasa), cujas ferramentas de trabalho atuam na busca do consenso entre a preservaçãoe o desenvolvimento. Apesar de sua terminologia recente (Ernest Haeckel, 1869), a ecologia talvez sejaa mais antiga de todas as ciências, pois desde o primórdio o homem já interagia coma natureza. Este conhecimento empírico propiciou ao homem a capacidade de mudar oambiente ao qual vivia, buscando torná-lo agradável à sua vida e da sua comunidade, oque resultou na formação de diversos núcleos organizados, mas desfigurados do meionatural. Com o crescimento populacional, e estrutural, novas ciências foram surgindoem função da complexidade que estes núcleos, ou cidades, foram assumindo. Estaorganização foi o resultado de duas importantes ciências que o homem passou a praticardurante a idade medieval: a política, a qual permitia a poucos manipularem a grandemaioria; e a economia, a qual permitia ao homem estudar as melhores formas deadministrar a organização atingida pela sociedade. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 233 22/02/2011 10:57:50

Anuário de Itajaí - 1999 234 As representações do Negro nas memórias de Juventino Linhares José Bento Rosa da Silva Doutorando em História, membro do Núcleo de Reflexão Afro-descendente Manoel Martins dos Passos da região de Itajaí Juventino Linahres, um intelectual nascido na Barra do Camboriú mas que cedo mudou-se para Itajaí, além de jornalista teve, na década de trinta, atuação na política local. No entanto, este artigo prende-se à sua atividade intelectual, mais precisamente em seus escritos veiculados no jornal O Popular, a partir de 1958 e, posteriormente, no Jornal do Povo (1962-1963) quando, sexagenário, começou a colocar em público suas memórias com o sugestivo título O que a memória guardou. O objetivo deste é efetuar uma leitura das memórias de Linhares (uma espécie de hermenêutica), apontando como os negros aparecem representados em suas crônicas ou, em outras palavras, como sua memória guardou a imagem dos negros que residiam em Itajaí na sua época. Nossa pretensão consiste em analisar as representações que se faziam do negro. Neste sentido, a obra de Juventino manifesta a opinião vigente na época: é a expressão de um determinado grupo social do qual o autor fazia parte; como lembrou o sociólogo francês Maurice Halbwahs, a memória tem um caráter coletivo além do aspecto individual. Linhares foi intelectual da época que mais visibilidade deu à população negra residente em Itajaí, ainda que de uma maneira estereotipada, comumentemente folclorizada. Uma última advertência: para empreendermos tal leitura, utilizamos a coletânea organizada e publicada pela Editora da Universidade do Vale do Itajaí sob o título O que a memória guardou. Linhares lembrou que Joaquim Lopo fora socorrido, em certa ocasião, por Antônio Pereira Liberato, sendo que este marinheiro português nunca mais esquecer tal préstimo, qual seja: Lopo ficara sem cozinheiro quando passava por Itajaí, sendo atendido por Liberato que lhe cedera um de seus escravos, perito cozinheiro, para acompanhá-lo até o Rio de Janeiro. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 234 22/02/2011 10:57:51

Anuário de Itajaí - 1999 235 Bombachas à Beira-Mar Luiz Felipe Falcão Professor do curso de História da Univali e do Dept. de Estudos Geo-históricos da Udesc Carros de som convidando a população para um rodeio, cartazes nas paredes dauniversidade anunciando um fandango, autoridades municipais com trajes campeirosno interior de um Centro de Tradição Gaúcha (CTG), não são decerto as imagens queum visitante espera encontrar em Itajaí e imediação. Sim, porque localizada na foz dorio que lhe valeu o nome, a cidade é muitas vezes apresentada como portadora de umacultura portuguesa (ou, mais exatamente, açoriana), e representa uma das portas deentrada para um vale decantado pela colonização de origem alemã e italiana( ou, maisprecisamente, um pedacinho da Europa no sul do Brasil). Afinal, caberia perguntar, oque fazem por aqui estes indivíduos de bombacha, montados num cavalo, assando umchurrasco ou sevando chimarrão? Teria por fim o Rio Grande do Sul consumado suaspresumidas ambições imperialistas sobre o território catarinense? Intrigado, o visitante ficaria ainda mais surpreso ao verificar que, em toda aregião, é mais fácil encontrar um restaurante oferecendo o “espeto corrido” no horáriodo almoço do que chucrute ou mesmo uma pasta al pesto. Estupefato, ele observariaque, nas proximidades, existem pelo menos 19 CTGs reconhecidos oficialmente (2 emBalneário Camboriú, 3 em Camboriú, 1 em Içara, 1 em Ilhota, 5 em Itajaí, 2 em Itapema,2 em Luís Alves, 1 em Navegantes, 1 em Penha e 1 em Piçarras), e que o prefeito deItajaí, Jandir Bellini, é um grande apreciador do movimento tradicionalista gaúcho, ouque o prefeito de Balneário Camboriú, Leonel Archangelo Pavan, é há anos “patrão dehonra” do CTG Poncho Molhado. Em verdade, para alguém mais avisado, não haveria motivopara tanto pasmo, uma vez que o tradicionalismo tem se espalhadopor todo o Estado de Santa Catarina, não importando a matriz culturalque predomina entre seus habitantes, a atividade econômica maisproeminente no município, ou a intensidade dos contatos com o sul-rio-grandense e suas referências identitárias. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 235 22/02/2011 10:57:52

Anuário de Itajaí - 1999 236 O Erotismo no início do século Marlene de Fáveri Professora de História da Univali e Udesc e Doutoranda (UFSC) No início do século, as mulheres e os homens das classes distintas de Itajaí seconduziam conforme os padrões morais construídos ao longo de décadas anteriores; aeducação das moças estava voltada ao recato, o pudor e os bons costumes, o que asfazia diferentes das outras mulheres ou daquelas que estavam fora da esfera que sepreocupava com a privacidade. Na educação formal as classes eram de sexos separados; as mulheres aprendiammúsica, francês, trabalhos do lar, puericultura, num esforço voltado para o refinamentoe o preparo para as funções ditas do feminino: a maternidade e o lar. Os homenseram educados para exercerem funções na esfera pública e provedores do lar, como“os de maiores recursos, ou de mais tenacidade, que conseguiram alcandorar-se aosestudos superiores”, preparados para exercícios ditos e aceitos como do masculino. Naconstrução de gêneros, feitas nas relações e na cultura, masculino e feminino recebiameducação diferenciada, distinta para cada sexo. Sociedades que reuniam senhoritas eram comuns na época: Edelweis,Perseverança, Estudantia das Magnólias e Estudantia Iracema constavam como lugaresde sociabilidades das moças de famílias distintas onde recebiam para atitudes contidas,impulsos controlados e desejos enclausurados. Era também o momento em que orefinamento dos costumes determinava quem podia participar da esfera social e quem estava excluída – essas associações eram formadas por “filhas das principais famílias de Itajhay”, portanto, davam-se visibilidade, anunciando em jornais os entretenimentos que portavam a distinção de suas famílias. Essas mulheres estavam afinadas com as modas que vinham de lugares mais modernos, e a indumentária lhes dá ares virginais, como se vê nas fotografias, onde a discrição não as deixava sequer mostrar o tornozelo. Vestes brancas, sérias, poses sóbrias; que sonhos guardavam essas mulheres? Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 236 22/02/2011 10:57:52

Anuário de Itajaí - 1999 237 A nação: o surgimento do jornalismo moderno em Itajaí Hélio Floriano dos Santos Jornalista e professor da Univali O jornal A Nação iniciou suas atividades no município de Itajaí no ano de 1962,pelas mãos de Nilton Isaac Russi e Wilfredo Currlin. Naquela época, os Diários Associadospossuíam três jornais em Santa Catarina: A Nação, impresso em Blumenau, que circulavanos municípios de Blumenau, Itajaí e Brusque; o Jornal de Joinville, que também tinhagráfica própria e o Diário Catarinense, com sede em Florianópolis, mas que era impressoem Joinville. Todos impressos pelo sistema Linotypo, sendo que a sede da sucursal deItajaí estava localizada na Rua Pedro Ferreira, número 44, no prédio que ainda hojeabriga o cartório da família do ex-prefeito Júlio César. Com a implantação do jornal A Nação, os jornalistasitajaienses pela primeira vez entram em contato diretocom o jornalismo moderno praticado nos grandescentros urbanos brasileiros. Contudo, esse processode transição entre o jornalismo opinativo e artesanalpara o jornalismo técnico, nos moldes do jornalismonorte-americano, não se deu de forma radical erápida. Os primeiros jornais feitos pela sucursal deItajaí abrigam uma miscelânea de estilos, ondea técnica do jornalismo americano aparece commais nitidez nas matérias oriundas das agênciasde notícias do Rio de Janeiro e do exterior. Podemos dar como exemplo dessafase de transição a cobertura que ojornal A Nação promoveu no anode 1965, quando da ocorrência doincêndio do navio Petrobras Norte, noporto de Itajaí. Apesar dos dois textosselecionados estarem relacionados ao mesmotempo/fato jornalístico, eles possuem lógicascompletamente diferenciadas. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 237 22/02/2011 10:57:53

Um jovem diplomata e a colônia que deu certo Ivan Carlos Serpa Mestre em História e Professor da Univali Por que alguém se interessaria na pesquisa e na história de uma pequena comunidade rural do interior de município de Itajaí? Revendo-se a bibliografia sobre a fundação deste município e na maneira como a questão foi estudada ao longo de quase um século de discussões no campo da historiografia, talvez fique mais clara a pertinência desta investigação. Inicialmente, faz-se necessário esclarecer que a questão mais debatida pela historiografia itajaiense é a que diz respeito à fundação desta importante cidade catarinense. Reconhecer e legitimar o fundador do município foi motivo de acalorados debates entre os historiadores itajaienses. Enquanto a vizinha cidade de Blumenau sempre reverenciou a figura do Dr. Herman Blumenau, exaltando-o como inconteste fundador e incomparável administrador, cheio de virtudes, verdadeiro “herói” dos blumenauenses, Itajaí carecia de tal figura. Brusque tinha também seu herói, representado na figura do Barão Maximillian Von Schneeburg. O primeiro a tentar resolver foi Marcos Konder quando, ao escrever “A Pequena Pátria”, em 1920, exalta Antônio Menezes de Vasconcelos Drumond como “primeiro colonizador destas paragens”. Seu texto, no entanto, é mais poético do que histórico, repleto de metáforas de exaltaçãocomo “figura varonil”, típica de discursos políticos, haja vista que o livro, publicado em1923, é a transcrição de sua conferência proferida em sessão solene do Conselho Municipalem 12 de outubro de 1920. Os argumentos históricos, todavia, são imprecisos. Não sesabe, sequer, se Drumond efetuou sua colonização pioneira no Itajaí-Açu ou no Mirim. Seuestilo poético, no entanto, encantou várias gerações que aprenderam, com a “PequenaPátria”, a venerar a figura de Drumond como fundador de Itajaí. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 238 22/02/2011 10:57:54

239 Anuário de Itajaí - 1999 III Se te amo não perguntes pois não posso Mais que um sorriso louco e indevassado Agora responder, distante te ouço O riso e o ouço vago e desolado. Olvida o que talvez eu tenha dito E finge que não sabes se hei te amando, Faze de conta, passa, se eu repito Esse gesto, esse riso, tão passado... Se me disseste alguma coisa esquece Que eu sei fazer que esqueço quando morro E sei morrer calado se te penso, Não penses tu porém que me falece A imagem morta e linda com que forro A outra minh’alma oculta que hoje venço. Marcos Konder Reis - O Templo da Estrela001-Anuario-006-1999-229-248.indd 239 22/02/2011 10:57:54

Anuário de Itajaí - 1999 240 A Terra tem a idade da Terra Edmundo Campos Ceramista A prática da cerâmica levou-me a montar uma frase: “A terra tem a idade da Terra”.Proposição irrefutável. Cerâmica é feita de terra, que chamamos de barro ou argila.Ela é transformada em objeto resistente pela ação do fogo; este fogo é produzido pelocorpo da árvore, que é formada pela terra e pela luz do sol (fotossíntese). Todos ostijolos, pisos e azulejos de todos os edifícios e casas são feitos com terra e árvores,mesmo que tenham sido árvores pré-históricas (hoje petróleo). A cerâmica é uma Arte (artesanato) e também indústria, que tem a terra e aenergia como elementos principais. E toda terra tem a idade da Terra. O próprio pensamento tem como base e condição para existir no suporte que é ocorpo humano. Este corpo é feito de terra; existe um lembrete bíblico que diz: “Lembra-te, homem, que és pó, e ao pó hás de voltar”. Este pó é a terra, que tem a idade daterra, tão antiga quanto ela. Os bites de computador são armazenados em semi-condutores de silício, e osilício é terra. É um suporte de terra. Estamos sendo levados a viver o chamado mundovirtual: o tatu virtual, tucano virtual, tamanduá virtual, mata atlântica virtual, justiçavirtual, governo virtual, sexo virtual, mas a terra continua a ter a idade da Terra.Edmundo Campos molda o ser, no barro, na função de ser. Em sua cerâmica, nada se refugia; expansão de ressonâncias contidas natransubstanciação do barro, elimina o pecado que reside, antes de tudo, em não-ser. Magnitude na forma, o minério flutua alquimicamente ao fogo – ouro–brancoperene – resguardando o conteúdo à surpresa do criador. É legítimo na estética. Na forma plástica vinculada ao barro se encontra agratificante essência de quem nos hospeda, transmutada para além de sua natureza,mas que permanece residente: a terra. Moldar o ser, pois que também nós somos pó,moldados, ás vezes, sem saber ser. Rogério Lenzi001-Anuario-006-1999-229-248.indd 240 22/02/2011 10:57:56

Anuário de Itajaí - 1999 241Artes plásticas nos festivais de inverno Márcia d´Ávila Artista plástica O Arquivo Histórico de Itajaí é, sem dúvida, um espaço garantido ao públicopesquisador, em catorze anos de existência. Nos últimos tempos, quase sucumbiu, sufocadona antiga e pequena sala reservada a ele junto ao Museu Histórico, no Palácio MarcosKonder. Hoje, em suas novas instalações, permite ao pesquisador uma empreitada deestudos bem mais confortável, onde pode desfrutar da quantidade de informações queguarda e preserva, da organização do seu acervo e do bom atendimento dispensadopelos funcionários aos que lá se dirigem. Ao folhear cada jornal da cidade, enquanto pesquisava, envolvi-me comgratas lembranças. As notícias ali encontradas sobre os Festivais de Inverno de Itajaísurpreenderam-me, agora não mais como espectadora das artes e demais eventos, maspela impressão que os Festivais causavam nos meios de comunicação e no público emgeral. Daí a decisão de transcrever algumas notícias e falas de pessoas, tal como estãoali relatadas. [...] entre as várias manifestações culturais, previstas na programação do I Festival de Inverno de Itajaí, foram incluídas cinco exposições de artes plásticas, com a apresentação de artistas nascidos ou radicados na cidade “Porta do Vale”. Estarão expondo seus trabalhos nas instituições bancárias da cidade: Ernesto Meyer Filho, Osny Schauffert, João Souza e Filho, J. Brandão e Diniz (Jornal do Povo, 30/06/73). Amanhã, às 19:00 horas, na agência do Banco do Brasil S. A., será aberta a exposição do pintor Ernesto Meyer Filho, natural de Itajaí, porém, há muito tempo residindo em Florianópolis. Até sexta-feira, seus trabalhos continuarão expostos possibilitando aos conterrâneos do pintor apreciarem sua arte, consagrada em Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro [...]. O trabalho denominado “O Galo”, responsável pela popularização do pintor Ernesto Meyer Filho, consta do acervo que durante toda a semana estará em exposição na agência do Banco do Brasil para o público interessado [...]. É a primeira vez que o artista mostra seus trabalhos na sua cidade. É dever dos conterrâneos prestigiarem esta bela mostra (jornal A Nação, 01/07/73). Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 241 22/02/2011 10:57:58

Anuário de Itajaí - 1999 242Discurso Proferido por Antônio Augusto Nóbrega Fontes Idealizador do Festival de Inverno de Itajaí, ao receber o título de Cidadão Honorário de Itajaí, em julho de 1982, na Sociedade Guarani, durante o X Festival de Inverno Senhoras e Senhores: A vossa magnanimidade me abriu os portais de vossas casas, permitindo-me quepor eles eu entrasse e me assentasse às vossas mesas. Os vossos filhos, os mais novos pela natural curiosidade da infância e os maisvelhos pela malícia que, por certo, já se aninha em seus corações, vos interrogarão:“Pai, quem é o peregrino de vestes tão estranhas, que se assenta à nossa mesa, com oqual repartimos o nosso pão e o nosso vinho, e que nos olha com um olhar de aço e luz que atravessa o nosso peito e vai interrogar o nosso coração?” Se quiserdes, e tendes todo o direito, não respondais nada; mas se o fizerdes, fazei-o com a verdade toda inteira. Eu sou o pecador cujo maior pecado é amar o amor e a liberdade e cuja grande esperança é o perdão. Eu amo o amor. Eu amo a liberdade. Eu amo a liberdade dos meus olhos. Com eles posso medir o equilíbrio das formas e o desequilíbrio destas mesmas formas, às vezes até mais freqüentes. Eu amo a liberdade dos meus ouvidos. Por eles me comovem as sinfonias e com eles eu ouço os apupos e as vaias daqueles cujo maior pecado, escondido no fundo do coração, é a inveja de não terem a coragem de ver como eu sou. Eu amo a liberdade do pensamento. Com ele vou às profundezas dos abismos e subo ao incomensurável das alturas. E na escalada para o infinito sigo as pegadas dos anjos do Senhor e deixo para trás as marcas dos meus pés amigos de Lúcifer. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 242 22/02/2011 10:57:59

Anuário de Itajaí - 1999 243 Associação dos Artistas Plásticos Profissionais de Itajaí Elda Vieira Wendhausen Krause Presidente da AAPPI – gestão 1997/1999 Lilian Fernandes Martins Associada AAPPI No final da década de setenta e dos anos oitenta, o movimento artístico em Itajaíse fazia sentir através de manifestações como a criação da Escolinha de Artes, Festivalde Inverno, jornal cultural O Papa-Siri e uma vontade grande de pessoas expressaremseus sentimentos por meio das artes e oportunidade para poder fazê-lo. Na época, umgrupo de artistas plásticos sentia necessidade de um maior entrosamento para expandiras artes plásticas e a cultura de nossa região. Foi dentro desta sensibilidade que a idéia foi se fortificando e o grupo se uniu paraformar uma associação. E assim, em 08 de junho de 1989, foi fundada a Associaçãodos Artistas Plásticos Profissionais de Itajaí, entidade civil com personalidade jurídicaprópria, destinada a congregar artistas plásticos de Itajaí e região, divulgar e expandiras artes plásticas com aperfeiçoamento de técnicas, através de cursos, palestras eeventos que possibilitem o enriquecimento cultural dos artistas inscritos. Fundada como Associação dos Artistas Plásticos de Itajaí, teve, em 31 de agostode 1995, alterada a sua razão social para Associação dos Artistas Plásticos Profissionaisde Itajaí, dando assim caráter profissionalizante aos seus associados. Na ocasião, foielaborado o Regimento Interno da Associação. Nestes dez anos de existência, a Associação vem cumprindo seus objetivos dentrodas possibilidades oferecidas e conquistadas com esforço dos seus associados. Muitoseventos vêm acontecendo, como exposições coletivas, dentro e fora do Município e doEstado; palestras; cursos e oficinas ministradas por bons professores. Entre todas as atividades realizadas, há de se destacar o Salão de Artes daCidade de Itajaí, planejado e criado pela Associação com o apoio da Prefeitura Municipalde Itajaí. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 243 22/02/2011 10:58:00

Anuário de Itajaí - 1999 244 Salões de Arte, um mal necessário ou um bem desnecessário? Sérgio Kirdziej Professor e crítico de arte Para o público em geral, não aquele mais especializado, não há coisa que cause maisestranheza que um salão de artes plásticas. Aquela porção de obras, algumas facilmentereconhecíveis como tais e outras nem tanto, algumas que apresentam um aspecto atébonito, outras francamente horrorosas, e o conceito que o cidadão observador comumpoderia ter de arte se vê ameaçado. Normalmente este indivíduo se recolhe ao seupróprio e seguro universo artístico e trata de esquecer aquela barafunda de coisasque lhe foram apresentadas como arte; pois se estavam até num salão, foram feitaspor presumíveis artistas e selecionadas e premiadas por críticos de arte, que é genteque deve entender do assunto... Melhor apreciar obras à antiga, já consagradas, quemais diretamente ao intelecto e à emoção e sobre as quais não há dúvida de que sãorealmente obras de arte. O espectador sai destes salões afastado do que deveria serum desfrute artístico, repelido por um mistério que recobre esta estranha atividade.E o valor pecuniário das obras? Por que tal obra, tão pequena, vale tanto dinheiro? Eaquela outra, tão maior e tão mais bonita é tão mais barata? “Ora, esta história de artesplásticas não é para mim mesmo”, sai ele pensando. “É só para estas pessoas cultas queentendem disto, é um assunto que não faz parte do meu mundo”. Na verdade, hoje a apreciação da arte na base do “gostei” e “não gostei” nãoé mais suficiente. O pretenso apreciador deverá dominar informações básicas sobre ouniverso artístico contemporâneo, em que pesem as dificuldades para tanto. Já diziaLionello Venturi que você pode afirmar peremptoriamente “gosto” ou “não gosto” arespeito de uma pessoa, sem precisar explicar mais nada, mas as mesmas afirmaçõesfeitas por uma pessoa conseqüente a respeito de arte exigem uma posterior justificação.Saber “ler” e avaliar condignamente uma obra de arte nunca foi tarefa para leigos. Éassunto para pessoas especializadas? A nível crítico, sim, ousaríamos dizer, como tantosoutros assuntos o são neste nosso crescente mundo de especializações onde falta cadavez mais a visão holística. Por que se fazem os salões? Ainda mais que eles dão trabalho e custam dinheiroaos promotores. E os promotores, o que é que ganham com isso? Algum tipo de lucro elesdevem ter, do contrário não fariam. Tentemos lançar alguma luz sobre estas questões. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 244 22/02/2011 10:58:02

Anuário de Itajaí - 1999 245 Movimento Poético Catarinense Osmar Pisani Poeta e crítico de Arte Historicamente, a poesia catarinense se manifesta em quatro momentos decisivos,com destaques individuais que preenchem, em determinadas épocas, o espaço culturalde Santa Catarina. A rigor, os professores Celestino Sachet, Lauro Junkes e o crítico literário AntônioHohlfeldt já fizeram intenso levantamento de nossa produção. No entanto, este artigotem uma direção: vai tocar também na criação poética. Primeiramente temos a figura de Luiz Delfino (1834/1910), que foi consideradopor Sílvio Romero o maior poeta brasileiro pela variedade e extensão de sua obra edesignado, ainda, de “O príncipe dos Poetas Brasileiros”, em 1885. Para o escritorPéricles Eugênio da Silva Ramos, “Luiz Delfino foi substancialmente romântico, massua obra reflete várias fases por que passou a poesia brasileira, do Romantismo aoSimbolismo. Por isso mesmo foi apreciado pelos últimos românticos, pelos adeptos dacorrente realista social. Pelos parnasianos e até pelos simbolistas”. Surge agora o grande poeta simbolista Cruz e Sousa (1861-1898), consideradohoje um pioneiro do Modernismo. “Broqueis” (1893), “Evocações” (1898), “Pharóes”(1900) e “Últimos sonetos” (1905) consolidam o Simbolismo no Brasil e, se seus livrosfossem escritos em francês ou inglês, teriam certamente uma projeção internacionalpela força de sua obra. É preciso citar, também, outro destaque individual. Maura de Senna Pereira(1904-1992), que publica em 1931 “Cântaro de Ternura”. Muda-se para o Rio de Janeiro,deixando aqui um espaço academizante. Como Cruz e Sousa e Maura de Senna Pereira, Marcos Konder Reis tambémvai para o Rio de Janeiro e publica, em 1944, seu primeiro livro de poemas – “Tempoe Milagre” – e desde então já chegou ao 15º livro com uma obra densa e profunda.Entre seus inúmeros temas, chamo a atenção para um deles que me agrada muito: aslembranças do menino, o universo da infância perdida. O marasmo ilhéu foi sacudido pelo Grupo Sul, em 1947, que definiu as idéias doModernismo Brasileiro e, entre outros, contribuiu com dois poetas: Aníbal Nunes Pirese Eglê Malheiros. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 245 22/02/2011 10:58:04

Anuário de Itajaí - 1999 246A Festa do Divino Espírito Santo em Itajaí: Invenção da Tradição Edison d’Ávila Historiador e Professor da Univali A festa do Divino Espírito Santo é hoje presença marcante no calendário religioso e cultural de Itajaí. Ela vem merecendo a atenção especial de estudiosos, porque foi introduzida em 1991 como resgate da tradição que remontaria ao passado histórico da cidade às suas origens luso-açorianas. As discussões nesta direção se tornaram acesas por conta da atenção que as manifestações culturais catarinenses têm tido dos estudiosos, sobretudo historiadores de mentalidades e de cultura. Tem havido também manifesto interesse de pesquisadores em fazer das festas da região de Itajaí – Divino Espírito Santo, Nossa Senhora dos Navegantes, Marejada – objeto de estudos. As festas, vistas por Marcel Mauss como “fatos sociais totais”, são acontecimentos em que se manifestam elementos de uma tradição já há muito estabelecida; mas também podem nela se manifestar idéias, falas e comportamentos outros, diferentes da tradição conservada. Esta duplicidade de constituição dá às festas um caráter tanto de conservação como de renovação, permitindo-lhes “invenções”. Segundo Eric Hobsbawn, uma tradição é inventada quando se criam rituais e regras buscando estabelecer uma continuidade histórica com o passado bastante artificial. No caso da festa de Itajaí, a continuidade com o passado tem sido articulada através da tradição cultural luso-açoriana da cidade e por causa da conservação, desde o século XIX, dos valiosos símbolos da festividade: a bandeira, a coroa e o cetro do Imperador, em prata lavrada. Esta sobrevivência fez supor a existência num tempo anterior de alguma festividade, embora não se tenha memória alguma nem registro documental de sua realização anteriormente ao ano de 1991. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 246 22/02/2011 10:58:05

Anuário de Itajaí - 1999 247A euforia dos aficionados da sétima arte Marlene Dalva da Silva Rothbarth Educadora Arte centenária, o cinema foi, até o advento da televisão, o divertimento popularmais apreciado e a melhor forma de lazer dos itajaienses, competindo, nas décadas detrinta e quarenta, com as corridas de cavalos, as famosas regatas no rio Itajaí-Açu e asdisputas entre os clubes de futebol da cidade. Aos domingos, depois do costumeiro almoço, reunindo toda a família na casa dosavós, as crianças se aprontavam – revistinha debaixo do braço – e se encaminhavampara o Cine Itajaí, na Rua Hercílio Luz. Antes de começar a matinê das três, ficavam,na frente do cinema, trocando as revistas. Depois, entravam na sala de espetáculos,escolhiam uma poltrona e ficavam lendo a nova revista trocada um pouco antes, atése apagarem as luzes para começar o filme. Famosos eram os de faroeste quando agurizada torcia pelo “mocinho” e vaiava os bandidos. Ou então, as histórias de Tarzan,com sua companheira Jane e as molecagens da macaca Chita. Havia ainda os famosos seriados, estimulando a criançada a voltar ao cinemapara saber o que havia acontecido ao “mocinho” que, no capítulo anterior, teria ficadoem perigo. Eram “O segredo da Ilha do Tesouro”, o “Zorro” e as “Aventuras de Rin-Tin-Tin”. A matinê das cinco era mais freqüentada pelos jovens, acompanhados de suasnamoradas ou pretendentes a um encontro para iniciarem um namoro. Alguns maistímidos, outros mais afoitos, ficavam “flertando” à distância. Antes da inauguração do Cine Itajaí, em 1938, Immanuel Currlin já se aventuravaem projetar os filmes mudos, no Cine Ideal, instalado nas dependências do majestosoprédio da Sociedade Guarani, cedidas pela sua diretoria. O prédio, construído na esquinada antiga Rua Guarani, hoje Dr. José Bonifácio Malburg, possuía camarotes em voltado salão e um palco de bom tamanho, onde eram encenadas peças teatrais nos bonstempos do Teatro Amador de Itajaí. Os filmes eram passados em partes, com intervalos para enrolar as fitas. Nesseintervalo, havia a apresentação da orquestra Currlin ou D. Andoeta Seára Mussi distraíama platéia, executando algumas músicas ao piano. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999.001-Anuario-006-1999-229-248.indd 247 22/02/2011 10:58:07

Anuário de Itajaí - 1999 248 In memorianDr. Luiz Carlos Schmidt de Carvalho Há trinta dias o Estado de Santa Catarina, seu governo e os catarinenseslamentaram a trágica perda do Secretário de Estado da Segurança Pública e da Justiçacumulativamente, Dr. Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, vitimado em acidente aviatório.Como prefeito municipal, colho da oportunidade de celebração desta missa de trigésimodia de falecimento, aqui na Matriz do Santíssimo Sacramento, para prestar-lhe aindamais esta homenagem do Município de Itajaí. Nossa cidade, muito mais do que uma autoridade estadual, perdeu sim um filhoquerido; um conterrâneo com incontáveis e relevantes serviços prestados à sua terrade adoção; e um homem público venturoso, para quem, com certeza, o futuro guardavaainda altos e importantes cargos públicos. Foi, por todas estas circunstâncias, uma perda irreparável, que só nossa confiançana vontade divina faz com que estejamos conformados. A história profissional do Dr. Luiz Carlos Schmidt de Carvalho em Itajaí, cidadeem que cresceu, estudou e adentrou no mundo de responsabilidades adultas, comosabemos, transcorreu toda a Prefeitura Municipal e em nossa Universidade, até 1980,quando daqui transferiu residência. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 1999. Fim de Anuário de Itajaí - 1999001-Anuario-006-1999-229-248.indd 248 22/02/2011 10:58:08

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Anuário de Itajaí - 2000 250 Editorial Sendo o Anuário de Itajaí os anaisda Fundação Genésio Miranda Lins, e livrode consulta por excelência, carrega aresponsabilidade de dinamizar a produçãointelectual desenvolvida por profissionaisque se utilizam do acervo do ArquivoHistórico de Itajaí na composição de suaspesquisas. Em seu terceiro ano de continuidade,trazemos à lume as pesquisas realizadas no âmbitoda história regional, demonstrando, desta forma, aprofícua preocupação para com o nosso passado. Os artigos, desenvolvidos concisae responsavelmente, apresentam autores já conhecidos no meio acadêmico e social,mas que também revelam a força crescente e obstinada de estudantes universitários,oriundos do curso de História, cuja participação enriquece esta publicação. Razão há, também, nos artigos dedicados aos fatos sócio-culturais que sedestacaram no decorrer deste ano, caracterizados pela novidade ou releitura de seusacontecimentos e marcados por sua utilidade pública em revelar valores, oferecerentretenimento e educar. E como não poderia deixar de ser, o anuário apresenta, para deleite de seusleitores, literatura e artes plásticas, distribuídas em diversas páginas desta edição, comopossibilidade de informação, aprendizado e apreciação das artes. Assaz importante a contribuição dos patrocinadores, conscientes que são emvincular suas empresas à imagem autêntica de vetores culturais, que de maneiradecidida prontificaram-se em viabilizar os recursos necessários para esta nova edição. A todos os nossos agradecimentos. Aos nossos leitores, com a certeza de que contribuímos com a formação culturalda cidade, apresentamos o Anuário de Itajaí – 2000. Os Editores001-Anuario-007-2000-249-272.indd 250 22/02/2011 10:59:03


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