Anuário de Itajaí - 2004 351 O espetáculo está começando... Discurso proferido por Augusto Emílio Dalçoquio, vice-prefeito de Itajaí, na inauguração do Teatro Municipal de Itajaí, em 11 de junho de 2004 Com estas palavras traduzo minha emoção nesse momento, que ficará registrado naspáginas da história de Itajaí como memorável acontecimento cultural, em que a atualadministração Jandir Bellini, onde tenho orgulho de fazer parte como vice-prefeito, faza entrega deste sonho, o nosso Teatro Municipal. Muitos foram os desafios, entretanto, a mais distante meta é atingida por quemtem uma sábia esperança para encontrar o caminho, não importa tanto onde se esteve,mas sim onde se quer chegar. E com esta obra, mais uma vez o itajaiense provou suagrandeza. Um sonho que passou pela união dos esforços, da vontade política e da classecultural. Cada um a seu tempo e com as condições históricas do momento, soubealicerçar e construir este patrimônio cultural que orgulha toda a sociedade itajaiense ecatarinense. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2004.001-Anuario-011-2004-335-354.indd 351 22/02/2011 11:05:29
Anuário de Itajaí - 2004 352 Instituto Fayal de ensino superior Discurso proferido pelo Diretor do Colégio Fayal e do IFES, Vilmar Boni, na inauguração do IFES a 13 de agosto de 2004. Caro senhor Ludgério Niehues, Presidente do Conselho Comunitário da CNEC deItajaí, faz quatro anos, iniciamos nossas atividades no ensino superior. Precisamenteem agosto de 2000. Contudo, nossa caminhada teve início, concretamente, em maio de1999, quando preparamos os processos de criação do Instituto Cenecista Fayal de EnsinoSuperior e de autorização dos primeiros cursos. Pouco tempo depois, em setembro, járecebíamos as comissões do MEC para avaliação das condições iniciais de oferta. A proposta pedagógica, o corpo docente e as instalações mereceram especialatenção dos avaliadores que a tudo observaram com rigor. Ao final de exaustivos diasde trabalho, os primeiros cursos – Administração e Ciências Contábeis – obtiveram bomconceito. Os relatórios finais de avaliação foram encaminhados ao Conselho Nacional deEducação que aprovou, por voto unânime de seus membros, nossos projetos. Coube,então, ao Ministro da Educação da época, Paulo Renato Souza, assinar a Portaria deCredenciamento do IFES no dia 24 de maio de 2000 (numa feliz coincidência, datade nascimento do nosso presidente, Ludgério Niehues). A mesma portaria concedeuautorização para o funcionamento do curso de Administração. Dois dias depois, 26 demaio de 2000, foi autorizado o curso de Ciências Contábeis. Em julho, aconteceu o primeiro vestibular e no dia primeiro de agosto iniciaramas aulas no IFES. Alguns dos presentes: Dr. Juarez Rigon, nosso presidente estadual;Prof. Edison d´Ávila, Secretário Municipal de Educação; Sr. Ludgério Niehues, presidentedo Conselho Comunitário CNEC. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2004.001-Anuario-011-2004-335-354.indd 352 22/02/2011 11:05:30
Anuário de Itajaí - 2004 353 Nova sede da Administração Municipal de Itajaí Homero Bruno Malburg Arquiteto O edifício da nova sede do Poder Executivo de Itajaí (nova Prefeitura Municipal)localiza-se entre a Praça da Bíblia e o Ginásio de Esportes Gabriel Collares, no espaçoantes ocupado pela antiga estação rodoviária já demolida e o Centro de Educação InfantilVer. Heluiz Gonzaga, a demolir. O novo edifício terá acesso pela Praça e pelas ruas Alberto Werner e JoséEugênio Müller. Situado no meio do terreno, permitirá em frente um grande pátio deestacionamento para o público e outro exclusivo para uso de serviço e funcionários,junto ao Ginásio de Esportes. A área total construída será de 6.649,20m2 e constará de dois blocos de serviçosdistribuídos em sete níveis, mais um bloco central. O bloco da frente (sul), junto à praça, com três níveis, abrigará no pavimentoinferior a entrada principal do prédio com um grande balcão de atendimento, protocolo,informações e agências bancárias. No primeiro pavimento, a Secretaria de Planejamentoe Desenvolvimento Urbano e a SEICON. No segundo pavimento, a Secretaria deAdministração, Patrimônio, Recursos Humanos e Apoio Operacional. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2004.001-Anuario-011-2004-335-354.indd 353 22/02/2011 11:05:31
Fim de Anuário de Itajaí - 2004001-Anuario-011-2004-335-354.indd 354 22/02/2011 11:05:33
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Anuário de Itajaí - 2005/2006 356 Apresentação Com a publicação do Anuário de Itajaí 2005-2006, estamos dando continuidade aum trabalho iniciado em dezembro de 1923, quando veio à luz o Anuário de Itajaí 1924.O primeiro Anuário, que acabou por criar a tradição de registrar nas páginas de um livroa história e os valores da nossa terra e da nossa gente, foi editado em comemoração aoprimeiro centenário da Paróquia do Santíssimo Sacramento. Iniciar esta apresentação com referência a um relevante momento histórico donosso município – o centenário da Paróquia que teve papel preponderante para o seusurgimento – não é mera casualidade. É, antes de tudo, uma forma de demonstrar aimportância do conhecimento da História para a construção da cidadania, com a difusãode conhecimentos que formem itajaienses dotados de maior senso crítico. A Fundação Genésio Miranda Lins (FGML) vem abraçando com afinco a tarefade libertar a História da solidão dos arquivos e levá-la para as ruas e espaços públicos,ao encontro de nossas comunidades. Desta forma, contribui de maneira valiosa paraque tenhamos uma população mais apta a conhecer e compreender os acontecimentose processos que resultaram em sua fundação e que determinam os caminhos dodesenvolvimento de Itajaí. Comprometida com o nosso patrimônio cultural material e imaterial, que inclui ashistórias e memórias de nossa gente, a Fundação Genésio Miranda Lins é hoje norteadapor uma política de inclusão. Isso pode ser perfeitamente demonstrado, se lembrarmosalguns eventos voltados para as memórias dos itajaienses, que mobilizaram a nossapopulação: o concurso fotográfico e a exposição Memórias da Pesca, em parceria coma Secretaria de Pesca (Sepesca), e Memória do Esporte, iniciativa em conjunto com aFundação Municipal de Esportes (FME). Ações como estas estão em perfeita sintonia com o programa Memória dos Bairros,uma das principais realizações da Fundação. Ao buscar nas diversas comunidades deItajaí as lembranças de seus memorialistas para compor um acervo de entrevistas sobreo município, o programa reflete a opção da Fundação Genésio Miranda Lins por umaforma não-tradicional de preservar e lidar com fontes históricas, o que resulta tambémnuma outra maneira de produzir conhecimento histórico. É a nossa história registrada e contada a partir das memórias e impressões demulheres e homens anônimos, que, com seu trabalho e suas experiências nos embatesdo cotidiano, tomaram e tomam parte da construção do município. Operários, líderespopulares, benzedores, afro-descendentes, mulheres, idosos. Aqueles que, até então,eram excluídos da história oficial ganham rosto e voz, passam a ter valorizados seuslugares de memória e vêem suas lembranças reconhecidas como fontes históricas. É importante ressaltar que essa maneira diferenciada de ver e produzir a histórianão ignora e não deixa de estabelecer as conexões necessárias com o contexto mais001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 356 23/02/2011 12:31:00
Anuário de Itajaí - 2005/2006 357amplo das grandes transformações político-econômicas que perpassam a trajetória domunicípio. São os eventos, ciclos e mudanças que figuram como grandes marcos nalinha do tempo e também nos ajudam a compreender, agora, a partir de uma visãopanorâmica, macro-explicativa, a sociedade onde estamos inseridos. Estas duas formas – que podem ser vistas como complementares e não-antagônicas – de lidar com o conhecimento histórico tornam mais claro o jogo dasmudanças e permanências na história de Itajaí. Como resultado do trabalho primorosoda Fundação Genésio Miranda Lins, elas se fazem presentes também nas páginasdeste Anuário. São textos que falam de diversos aspectos da vida itajaiense. Desde as marcasdeixadas pela Segunda Guerra Mundial no cotidiano Itajaí até a censura que se abateusobre a nossa imprensa nos anos 70, passando por uma análise histórica do banho demar em Cabeçudas e do Sistema Único de Saúde (SUS) no município. Além destes, mereceram ainda a atenção dos autores temas como nosso Porto,a diversidade étnica na educação, o associativismo de bairro, as benzeduras e asmemórias sobre baleias, entre outros. Assim como a crônica, também tem espaço noAnuário a relação de memorialistas entrevistados pelo programa Memória dos Bairros e oCalendário Histórico de Itajaí, com uma relação de datas, personagens e acontecimentosimportantes para a nossa história. Falar de Itajaí, seja a partir da perspectiva histórica – que apresentamos aqui –ou a respeito de qualquer outro aspecto, é falar de amor. Amor por sua gente simples,trabalhadora e dinâmica: cidadãos que, apesar de pacíficos, sabem muito bem participardas movimentações sociais e lutar por seus direitos. Amor por suas paisagens: desde orio que foi porta de entrada para o surgimento e deu nome à cidade até os recantos maisafastados das suas localidades rurais, passando por suas praias e seu centro urbano. Amor por sua cultura, que revela efervescência no encontro de tradições comos impulsos da renovação. Amor pela arte, que pulsa na produção de seus músicos,poetas, atores e artistas plásticos. Estamos certos, portanto, de que esse amor estáimpresso nas páginas do Anuário que você agora tem em mãos. Volnei José Morastoni001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 357 23/02/2011 12:31:01
Anuário de Itajaí - 2005/2006 358 Editorial J História, memória e identidade á no início do século XX, o desafio estava colocado: escrever uma história vista debaixo, total, cotidiana e ordinária, impregnada de homens e mulheres reais, de carnee osso. Coincidência feliz, o primeiro anuário de Itajaí, lançado em 1924, estava emconsonância com premissas dos Annales – um movimento historiográfico francês quereinventa uma nova forma de narrar a história. Lá estava a vida real colocada de formaclara e simples. Jayme Vieira e Juventino Linhares escreveram sobre a vida social,política e histórica do nosso município, como das regiões circunvizinhas. Na apresentação do primeiro anuário, os autores explicam que ficou de foragrande parte das pesquisas sobre a história de Itajaí, que chegou a 350 páginas.Naquele momento, as dificuldades financeiras impediram a publicação do texto naíntegra. Reduzido a 156 páginas, muita coisa deve ter sido perdida em termos de dadosinéditos, informações preciosas, relatos de vida. O Anuário de 2005-2006 caminha por heranças semelhantes – a pretensão àhistória total não esmaece. Contudo, ciosos dos limites disso – querer nem sempre époder – nossa preocupação segue o caminho daquilo que o historiador Marc Bloch, umdos fundadores da Escola dos Annales, definiu muito bem: “o bom historiador se parececom o Ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça”. Sempreem busca de carne humana, a besta nunca está saciada. Se a metáfora nos serve, éatrás de gente que estamos, quando organizamos uma pesquisa nos processos-crimeou em algum jornal. Homens e mulheres que viveram suas vidas inseridas em umcontexto social. Pessoas que sofreram as influências de seu tempo, nos modos de beber,ou nos rituais de produção e consumo de alimentos. Campo de combate, a históriapermite ainda ver aqueles que trabalharam, brindaram e morreram por seus sonhos,por suas utopias. Este anuário segue este movimento de falar das pessoas do lugar, sejam elasdescendentes de famílias da cidade, ou que escolheram Itajaí para morar. Um anuário quetenha o sotaque local, mas sem bairrismo. Um periódico atual e, ao mesmo tempo, densode histórias. Para se fazer um condensado de dois anos do município, integrando-o ao seupassado político, social e cultural, foi preciso lançar mão de métodos que transitassempelos ambientes de produção e reprodução da memória e do conhecimento histórico. O Centro de Documentação e Memória Histórica Genésio Miranda Lins – ArquivoPúblico de Itajaí – e as fontes oficiais existentes são celeiros de fontes sobre Itajaí.Os textos aqui presentes são expressões destas fontes. Cabe lembrar que o conceitode fonte se ampliou muito, principalmente com o Programa Memória dos Bairros,que trouxe à tona muitas experiências das comunidades e localidades de Itajaí. Para001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 358 23/02/2011 12:31:01
Anuário de Itajaí - 2005/2006 359além do discurso histórico, esta experiência foi compartilhada através de recursos demídia (vídeos documentários, programas de rádio e TV, página na internet), em livrosdidáticos elaborados junto aos professores da rede municipal de ensino, bem como naincorporação deste debate em sala de aula, ou através de exposições itinerantes: o quepermitiu que se chegasse aos vários ambientes do município em que se vive e se operaa produção de subjetividades. Além dessa vertente que se propõe ser uma expressão da vida, na forma comoela é vivida, a Fundação Genésio Miranda Lins publica o Calendário de Itajaí. Para cadadia do mês, há a descrição dos fatos e acontecimentos que marcaram a nossa história.O Calendário de Itajaí está, também, disponível na página da FGML (www.fgml.itajai.sc.gov.br). A intenção é acrescentar periodicamente novas informações, fazendo docalendário algo dinâmico. Esta edição também volta a trazer (o que só aconteceu nas primeiras edições)informações como índice populacional do município, população estudantil, indicadoreseconômicos e de saúde pública. Estes são indicadores importantes que podem servir defonte para, no futuro, entender melhor a cidade, integrando a parte inicial do anuário,estão registradas as principais ações da Fundação Genésio Miranda Lins, uma forma deprestar contas aos moradores da cidade. Outra mudança é que o periódico integra, agora, as publicações da Editora Mariado Cais. A editora estabelece uma comunicação que faz com que os moradores sesintam mais participantes dos locais de memória da cidade. E o Anuário de Itajaí é ummeio de divulgar estudos sobre a realidade histórica presente de Itajaí, além de divulgaras ações voltadas ao patrimônio cultural do município. Desta forma, esta publicação carrega consigo uma idéia motora: a de desenvolvertrabalhos de inclusão de memórias para compor um grande platô da história de Itajaíe de condensar pesquisas que, muitas vezes, são divergentes na forma de interpretaros acontecimentos históricos. Essa forma de trabalhar é nosso motivador, numa cidadeonde o ser humano está em primeiro lugar. José Roberto Severino Superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins e professor de História da FURB e UNIVALI001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 359 23/02/2011 12:31:01
Anuário de Itajaí - 2005/2006 360Cotidianos... a Segunda Guerra Mundial em Itajaí Marlene de Fáveri Doutora em História e professora da FAED/UDESC Era mês de janeiro de 1942 quando o Capitão Rui Aguilhon Pereira de Mello, entãoDelegado da Capitania dos Portos de Itajaí, fazendo sua ronda na praia de Camboriú,viu-se despertado por um grupo de crianças que estavam “palestrando em línguaalemã” e, no cumprimento do dever patriótico que o momento exigia, foi até elase “indagou se não sabiam exprimir-se em português”. A mãe das crianças, AnelisePaul, percebendo a importunação com as crianças, imediatamente interveio junto aopolicial e teria dito: “sou alemã e as crianças só falarão a língua alemã”. Esse fato, comseus desdobramentos, foi publicado no Jornal do Povo1, no dia 01 de março, sob otítulo “Repelido desrespeitosamente o Comandante da Capitania dos Portos de Itajaí”,quando em cumprimento da “obra patriótica e relevante de nacionalização dos jovensdescendentes de estrangeiros, exprobrando o procedimento da acusada, que passoua expressar-se em alemão impropérios a dignidade do Brasil e a pessoa do oficial”,acrescentando ainda que “seu marido também o fizera com palavras e gestos obscenos”,dando visibilidade a um acontecimento que até então seria trivial, não fosse a guerra emandamento na Europa e a nacionalização forçada da língua, no Brasil. A matéria que aparece no jornal resume os detalhes do Processo crime abertono Tribunal de Segurança Nacional contra Anelise Paul, seu marido, Richard Paul Júnior,e Richard Paul Neto, cujo delito consta nos autos, onde se lê que o dito Capitão, emronda na praia de Camboriú, no dia 02 de janeiro daquele ano, fora desrespeitadopor Anelise que o repeliu de maneira agressiva, mesmo que o Capitão a “fez ver quedevia se dedicar de maneira patriótica”, mas que, em contra partida, teria começadoa “ expressar-se em alemão com palavras ofensivas ao oficial” e que, em seguida, oacusado Richard Paul Neto, teria se colocado na defensiva e “secundou a madrasta nasagressões”. Com esse delito, ambos foram inclusos no Decreto-Lei que lhes cabia, ouseja, de seis meses a dois anos de prisão. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 360 23/02/2011 12:31:02
Um ensaio sobre o Porto de Itajaí José Roberto Severino Doutor em História, professor da Univali e da Furb e Superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins O panfleto publicitário da festa da Marejada, Festa Portuguesa e do pescado, convidapara a mais açoriana das festas do Estado de Santa Catarina. Esta festa teve a suaprimeira edição em 1987, quando os seus organizadorespretenderam impor marcas para tornar porta-voz dasremotas origens do homem do litoral. Criou-se, aospoucos, a necessidade de procura das origens e dos fatosque fundassem a cidade (no caso, a imigração açoriana).Promovia-se a veiculação constante de elementos queevidenciavam a açorianidade da cidade em jornais,panfletos, livros didáticos etc. As relações do homem como mar e, principalmente, com o rio foram reelaboradase tornadas símbolos da cidade. Tais mecanismos, pelosquais uma tradição inventada procura estabelecer umacontinuidade em relação ao passado, podem ser vistosno circuito de festas que foi sendo arquitetado no Valedo Itajaí, conforme Maria Bernadete Ramos Flores. Emseu trabalho Oktoberfest: turismo, festa e cultura naestação do chopp, a autora radiografa as estratégias etáticas utilizadas pelos fazedores de festa na construçãoda maquinaria das festas e na reinvenção de tradições naregião do Vale. Com relação à Marejada, as paisagens utilizadasnas peças publicitárias atestam as características típicasdaquela população litorânea. Fotos de praias, pratos típicosou moços e moças vestidos com trajes típicos açorianos.Ocorre uma folclorização de determinadas atividadesligadas ao mar. Mas com dificuldade em dialogar com arealidade presente, mesmo porque não dialogam com umpassado possível, mas sim, mítico: Itajaí fica no litoral,portanto, é açoriana. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 361 23/02/2011 12:31:04
Correio: Censura na Imprensa de Itajaí na década de 70 Izabele Balbinotti Jornalista O período da ditadura no Brasil (1964- 1985) foi marcado por uma série de violações aos direitos até então garantidos pela Constituição, inclusive, a liberdade de imprensa. Gaspari lembra que após a criação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, “as emissoras de televisão, as rádios e as redações de jornais foram ocupadas por censores recrutados na política e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficinas”. A censura aos meios de comunicação também se efetuou em Itajaí, município de médioporte, situado no Litoral Norte catarinense. Segundo Lima, os principais periódicos deItajaí no período eram o Jornal do Povo, A Nação e Correio. Com o golpe, a imprensada cidade passou a trabalhar de maneira mais cautelosa. As notícias críticas ao governoforam “substituídas pode discretos questionamentos ao regime ditador”. O único veículocensurado em Itajaí foi o jornal Correio, fundado por Elias Adaime em 1973. O artigo mostra de que forma a ditadura interferiu na produção e no posicionamentodo jornal Correio, de Itajaí, no período de sua existência (1973-1982). A investigaçãoé orientanda por uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisadocumental teve como aliada o Centro de Documentação e Memória Histórica GenésioMiranda Lins, de Itajaí, conhecido como Arquivo Público (Fundação Genésio MirandaLins), que preserva os jornais pesquisados. Fez-se uso de uma das principais práticas do jornalismo: a entrevista. Asentrevistas abertas, no modelo “pergunta e resposta” ou à base de questões livres (pormeio do qual não se interrompe o relato do entrevistado e se permite a memória fluir),defendidas por Medina foram aplicadas a jornalistas que trabalhavam nos jornais deItajaí e de Santa Catarina entre 1964 e 1984. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 362 23/02/2011 12:31:05
Anuário de Itajaí - 2005/2006 363 Cem anos de banhos de mar em Itajaí(1906-2006): O lazer na praia de Cabeçudas Angelo Ricardo Chistoffoli Historiador e professor na Univali O tema deste trabalho é o surgimento do veraneio em Cabeçudas, Itajaí, na regiãoNorte de litoral catarinense, ocorrido no início do século XX (1911), fato que permitiuo desenvolvimento de novas formas de lazer em sociedade. Para o período estudado, olazer se remete às referencias suscitadas pela medicina, que encorajava a vida próximaao mar como uma das formas de manutenção da saúde, temas bastante trabalhadospor Corbin (1988). A praia passou a desempenhar um papel importante para a história local porqueintroduz, nas relações de alguns segmentos das elites econômicas, os primeirossintomas do desenvolvimento de novas formas de lazer pela utilização dos banhosde mar no verão, dos passeios e o descanso prolongado das famílias. O veraneio foiuma das formas utilizadas pelas elites de todo o Vale do Itajaí para aproveitarem oseu tempo livre. Caracteriza-se a elite com padrões de burguesia que se formou no Vale do Itajaí,demonstrando como se originaram os valores econômicos, bem como os valores culturaisdestes, justificando, assim, as etapas de inclusão do banho de mar e, posteriormente,do veraneio do rol de atividades aceitas e praticadas em sociedade. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 363 23/02/2011 12:31:06
Anuário de Itajaí - 2005/2006 364 Produção sócio-espacial do lazerem Itajaí (SC): Origem e desenvolvimento Edegilson de Souza Professor de História da Rede Municipal de Ensino de Itajaí Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira Doutora em Geografia Humana pela USP e Professora do Programa de Mestrado em Gestão de Políticas Públicas, na Univali Anna Kleine Neves Acadêmica do curso de Direito da Univali O presente artigo objetiva analisar o processo de produção sócio-espacial do lazerem Itajaí, identificando suas representações originárias e as transformações ocorridasao longo da história até os dias atuais. Os pressupostos teórico-conceituais e metodológicos do lazer apontam para umadiversidade de posicionamento de estudiosos dedicados ao tema, dimensionando acomplexidade deste fenômeno social que assumiu significados relacionados ao contextosócio-cultural e político-econômico historicamente construído. Concomitantemente àsconquistas sociais de redução de jornada de trabalho e das discussões de regulamentaçãodo tempo liberado, cristalizava-se o debate teórico acerca do tempo livre enquantoproblemática relacionada às políticas urbanas nas primeiras décadas do século XX.Os sociólogos americanos e franceses saíram na frente, na tentativa de relacionar osfenômenos do lazer aos outros campos da realidade social. Os primeiros estudos nestesentido, segundo, Sant’Anna (1994, p 46), datam das décadas de 1920 e 1930. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 364 23/02/2011 12:31:07
Anuário de Itajaí - 2005/2006 365Diversidade étnica na educação: a história recontada com valorização e inclusão das matrizes africanas, na construção da identidade brasileira Sidneya Silva dos Santos Diretora do G.E Carlos de Paulo Seara. Membro do G.I da Diversidade Étnica na Educação A inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana é uma propostaque se discute desde 1992, em Itajaí, por educadores e militantes do Movimento Negro.Logo, a discussão se ampliou e, em 1993, o vereador na época, Volnei Morastoni,apresentou a Lei Municipal nº2830, a primeira no Estado a determinar o ensino daCultura Africana na Rede de Ensino. Anos mais tarde, o vereado João Vequi, com a LeiMunicipal nº 4008, alterou a primeira lei a fim de adequá-la à Leia Federal nº 10.639,de 2003. Entretanto, a Secretaria Municipal de Educação só começa a organizar suas açõesa respeito desta questão no ano de 2005, com a formação do Grupo de Trabalho sobrea Diversidade Étnica na Educação. A educação das relações étnico-raciais é uma proposta que compete a todasas instituições pedagógicas, sejam elas municipais, estaduais ou particulares, visandoas reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da históriados negros brasileiros. Depende, necessariamente, de condições físicas, materiais,intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino e para a aprendizagem. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 365 23/02/2011 12:31:08
Anuário de Itajaí - 2005/2006 366 Produção de material didático e formação continuada aos professores de História Yomara Feitosa Caetano de Oliveira Historiadora e Mestranda pela Udesc. Professora da Rede Municipal de Ensino de Itajaí. Integra a equipe da Fundação Genésio Miranda Lins Fabiana Nicolau Historiadora e Mestranda em Educação pela USP E Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros (Carlos Drummond de Andrade). ste trabalho é um relato de nossa experiência atuando na FundaçãoGenésio Miranda Lins (FGML), na produção de livros didáticos para o Ensino de Históriae na formação continuada de professores para a Rede Municipal de Ensino de Itajaí:também, responsabilidade da FGML.Um caminho já percorrido... Quando fomos convidadas pelo superintendente da Fundação Genésio MirandaLins, José Roberto Severino, para trabalhar na produção de livros didáticos, sentimosnecessidade, como professoras de história, de produzir material que seja próximo darealidade do aluno e fale de sua cidade. Esta necessidade não se restringe a nós duas,outros professores, crianças e adolescentes demandavam uma outra forma de trabalharHistória no espaço da sala de aula, histórias que permeassem sua cidade, sua vizinhança,suas vidas. O contanto com professores da Rede de Ensino de Município de Itajaí eoutras pessoas, também, interessadas nas questões acerca da memória histórica dacidade e de seus habitantes, instigaram-nos a elaborar um projeto no ensino de históriaque permitisse essas aventuras. Nos últimos anos, os historiadores locais vêm se preocupando em histórias asrelações culturais e sociais de homens, mulheres e crianças catarinenses, sem perderde vista as conexões, reflexos e influências em outra histórias, de outros lugares. Destaforma, as produções historiográficas sobre Santa Catarina e Vale do Itajaí (século XIXe XX), são numerosas e preocupam-se com a relação entre a micro e a macro história,tão discutidas na Historiografia. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 366 23/02/2011 12:31:09
Anuário de Itajaí - 2005/2006 367 Associativismo de Bairro em Itajaí: origens e perfil sócio-político Roberto Wöhlke Acadêmico dos Cursos de Ciência Política e Direito da Univali. Bolsista do CNPq Carlos Eduardo Sell Professora Doutor em Sociologia Políticas (UFSC). Coordenador no mestrado em Gestão de Políticas Públicas da Univali Com o processo de democratização no Brasil, houve um crescimento das organizaçõesnão-governamentais e sem fins lucrativos que desempenham importantíssimotrabalho de base na sociedade civil. Logo mais, com a abertura política e a adoção demedidas neoliberais, o perfil e a identidade destas organizações passaram por umacrise. Reestruturaram e definiram novos objetivos e novas formas de participação.Sabendo-se da importância das associações de moradores de Itajaí, faz-se necessárioconhecer três pontos: a) a origem histórica do associativismo de bairro em Itajaí; b) suacontextualização no conjunto da teoria dos movimentos sociais; c) o perfil sócio-políticoque essas organizações apresentam. O presente artigo será dividido em duas partes. A primeira abordará os aspectos teóricos dos movimentos sociais latino-americanos e o contexto histórico em que o debate é inserido. A segunda parte apresentará resultados de pesquisas realizadas em 2003 com as associações de moradores da cidade de Itajaí, abordando os aspectos históricos dos movimentos, a identidade e o perfil sócio- político dessas associações e, por fim, sua contextualização no debate teórico a respeito dos movimentos sociais. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 367 23/02/2011 12:31:11
Anuário de Itajaí - 2005/2006 368Memórias sobre baleias em Itajaí Oswaldo Ribeiro Jr. Jornalista, autosr do livro “Memórias Francas: Histórias de Homens e Baleias” Santa Catarina possuiu, em toda sua extensão costeira, lindas enseadas quecosturam o litoral de forma surpreendente, com costões rochosos das maisvariadas formas e alturas, verdadeiras fortalezas seguras para embarcações que seaventuram por terras então desconhecidas, porém, fartas em ouro, prata, pau-brasile baleias. Matérias-primas que enriqueciam as nações colonizadoras e estruturavamos povoamentos que se erguiam ao longo da costa. A faixa litorânea de Itajaí é o retrato em diminuta escala do litoral de SantaCatarina. Partindo dos Molhes até a praia Brava, observam-se reentrâncias naspraias de Atalaia, Geremias, dos Cachorros, Cabeçudas, Morcego, Amores e Bravaque muito recordam as enseadas de Armação da Piedade, Penha, Porto Belo e, porvezes, uma ou outra praia de Florianópolis, bem como do litoral Sul do Estado, comoGaropaba e Imbituba. Tamanhas semelhanças não se dão apenas por suas respectivas característicasgeográficas. Nem mesmo pela Mata Atlântica, que outrora existiu com maisexuberância por todo o litoral. Dá-se sim, pela presença de baleias. “Quando eu morava no morro que dá lá na praia Brava, tinha meus cinco anosde idade, a gente via um monte de baleias”, conta Laura Raimundo dos Santos, adona Laura, 77 anos. Ela afirma que, naquela época, por volta de 1930, apareciatanta baleia no Canto do Morcego que ficava contando os dias, de olho no mar, paravê-las se aproximando da costa. Mais recentemente, nos Molhes, entre 1987 e 1989, a arquiteta LucianaFerreira, 33 anos, lembra de uma baleia com filhote que, por dias, ficou rondandoa enseada compreendida entre Navegantes e Cabeçudas, concentrando-se maisdefronte aos Molhes. “Juntava gente de todos os lados para ver a baleia e seu filhoteque ficaram por alguns dias por ali, chamando a atenção de todos”, relembra. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 368 23/02/2011 12:31:11
Anuário de Itajaí - 2005/2006 369 O processo de municipalização do Porto de Itajaí:uma experiência de luta pela cidadania Osvaldo Agripino de Castro Jr. Doutor em Direito e Relações Internacionais pela UFSC. Professor de Direito Marítimo do Mestrado em Direito Internacional, Meio Ambiente e Atividade Portuária da Univali O presente artigo visa contribuir para a consolidação da cidadania brasileira, atravésdo estudo de processos locais de luta emancipatória, por meio do resgate histórico doprocesso de municipalização do Porto de Itajaí. Supõe-se que o mesmo é um modelo queprecisa ser mais bem estudado e pode contribuir pra a construção da cidadania brasileirae para a solução do problema dos gargalos logísticos na atividade portuária brasileira. Assim sendo, será feita uma abordagem que abrangerá a transmissão dos principaisaspectos históricos, jurídicos, políticos, sociais e econômicos da descentralização daatividade portuária através do estudo de caso da municipalização do Porto de Itajaí(SC). Partindo-se da hipótese de que a participação da comunidade local na construçãoda transformação do ambiente institucional para que haja maior eficiência, segurançajurídica e desenvolvimento sustentável, é condição necessária mas não suficiente paramaior eficiência dos portos brasileiros. O artigo pretende contribuir, também, para oaumento da relação cidade-porto-cidade e para a efetividade da Lei dos Portos. Neste sentido, a primeira parte do artigo tratará da crise do federalismo brasileiroe da cidadania, bem como do impacto daquela na infra-estrutura portuária, além dediscorrer sobre a descentralização administrativa, o poder local e o associativismo. Nasegunda parte, discorrerá sobre aspectos relevantes da Lei dos Portos - Lei nº 8.630/93 -,o Conselho da Autoridade Portuária, o porto municipalizado e os interesses regionais. Por fim, na terceira parte, o artigo abordará a origem e a evolução da municipalização do Porto de Itajaí e a importância da participação da comunidade local para o ambiente institucional portuário. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 369 23/02/2011 12:31:12
Anuário de Itajaí - 2005/2006 370 Reflexões acerca do processode implantação do Sistema Único de Saúde no Município de Itajaí – SC Emerson Gonçalves Cientista Político formado pela UNIVALI. Trabalho apresentado ao curso de Ciências PolíticasO município de Itajaí e o sistema descentralizado de saúde O processo de implantação do SUS e a descentralização de ações e serviços tomaramcontornos a partir de 1991, mas ocorreu um retardamento desse processo no anode 1992 devido a uma crise no Governo Collor. Após esse período de retrocesso napolítica Nacional de Saúde, o Governo Itamar Franco (1992-1993), sucessor de Collor,tenta retomar os princípios do SUS através de uma tentativa de dar um novo impulsoà descentralização das ações e serviços de saúde no país, mas esta proposta acabaficando mais clara no primeiro Governo de Fernando Henrique Cardoso. Paralelo a essasreformas, o Governo de Santa Catarina (Administração Vilson Kleinubing, 1991-1995)desenvolve o Projeto de Regionalização da Saúde, projeto este que visava ir de encontroàs diretrizes estabelecidas pelo SUS dando importância à descentralização. O PlanoSIM buscou fazer a Reforma Administrativa do Estado com o objetivo de alcançar asmudanças ocorridas no setor. Conforme destaca o Plano SIM (grifo meu), “não podetardar um minuto sequer a arrancada para a reformulação completa do setor desaúde em Santa Catarina”. Portanto, este plano se apresenta como fundamental para a administraçãoestadual no que diz respeito à descentralização e a efetiva implantação do SUS. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 370 23/02/2011 12:31:13
Anuário de Itajaí - 2005/2006 371 Maria do cais Urda Alice Klueger Escritora Na verdade, Maria descendia de todauma genealogia de Marias, conhecidas comoMaria do Cais, porque nenhuma delas soubequem era o pai nem foi registrada no civil –e teve muito padre que também lhes negouo batismo. Nasciam em pequenos lugaresfétidos ali por perto dos navios, não tinhama chance da escola, e um dia substituíam suasmães, outras Marias do Cais que a morte levavaprematuramente. Como é muito comum entre asputas, tinham uma grande compreensão humana, umagrande capacidade de aconchego e de carinho, mantinham oequilíbrio da sociedade capitalista que fazia de conta que elasnão tinham importância; e sofriam as violências e os desajustesque teriam acontecido nas casas dos seus clientes, caso elas nãoexistissem. A avó da atual Maria do Cais se fora na década de sessenta,quando por ali aportou um navio de Liverpool e ela estava junto nagrande pândega que os marinheiros fizeram no sortido e vistoso bar doalemão João da Silva, para não darmos o nome verdadeiro do alemão eferirmos suscetibilidades, e, quem sabe, sermos processada por algumdos seus descendentes, pois quem acredita que alemão tem botequimde grande pândega na beira do cais? Aqueles marinheiros de Liverpool, noauge da carraspana de caipirinha com camarão, não se comportavam nadamelhor que os velhos piratas da rainha Elizabeth I, e um deles sacou umaarma e fez pontaria em cada garrafa de uma prateleira de licores finos queo alemão colecionava para os comandantes dos navios. A coisa estavaficando complicada, o alemão precisava de auxílio e não havia polícia quepudesse chamar que desse conta daqueles beberrões mal educados.Havia que se apelar para a Maria, e ele apelou. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 371 23/02/2011 12:31:14
Anuário de Itajaí - 2005/2006 372 Escolas para a vida Mariângela Botelho Franco Jornalista e bancária aposentada A idéia das Escolas para Educação para o Lar, de Itajaí, começou há muito tempo,mais exatamente, em 1965. Havia uma moça que desenvolvera sozinha as habilidadesde doceira e confeiteira, embora dominasse, também, a culinária em geral. Chamava-se Dirce Severino Müller. Atualmente, ainda trabalha com a confecção de bolos decasamento e de aniversário, mas grande parte do tempo é dedicado para preparar asdelícias que os filhos, netos e bisnetos adoram. Ah, os alfajores que ela faz... Mas, voltando ao assunto, Dirce era a segunda de doze irmãos numa família depoucos recursos; o pai trabalhava na Fábrica de Papel. Aos oito anos, já sabia fazer opão igual ao da mãe; aos doze, tinha freguesia de doces pela vizinhança. O casamento,em conjunto com o da irmã mais velha, por muitos anos foi lembrado pela beleza dasnoivas e pelo sabor dos doces feitos por Dulce. Sempre em atividade, produzindosalgados e doçuras para ajudar noorçamento, ela recebia muitos pedidospara que ensinasse a cozinhar e confeitar.Quando se deu conta, fizera da própriacozinha uma pequena escola. Ela tambémpercebeu que saber fazer não garantiria osaber ensinar, porém, em Itajaí, não havianinguém que pudesse orientá-la. Então,escreveu uma carta para a autora do livroPrenda seu marido cozinhando, daespecialista em bolos artísticos DoloresBotafogo (uma publicação de 1959), daEditora Científica de São Paulo, aindaencontrável em alguns sebos: uma relíquia.A culinarista, gentilmente, respondeu comorientações didáticas e foi esta a única vezem que alguém ensinou a Dirce Müller opasso a passo de dar aulas. Publicado na íntegra no Anuário deItajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 372 23/02/2011 12:31:15
Anuário de Itajaí - 2005/2006 373 Vó Ema e suas benzeduras Tina Rosa Jornalista e escritora Ema Formari nasceu em 19 de agosto de 1914, em Guaricanas,Rodeio. A segunda de dez filhos de Regina Biz e Giuseppe Fornari,Ema foi batizada na capela na Capela de Guaricanas em 25 desetembro de 1914. Aos 19 anos, casou-se com o agricultor SerafinoConte, com quem teve seis filhas: Maria, Regina, Erica, Tereza,Irma e Olívia. A partir de 1933, Ema e Serafino residiram em várias cidadesde Santa Catarina, a exemplo de Guaricanas, Apiúna e TrombudoCentral, até se instalarem definitivamente no Arraial dos Cunhas,na década de 1960. Após a morte de Serafino, em 14 de outubrode 1978, foi morar com sua filha Tereza, casada com o comercianteLuís Avaní Adami. Neste endereço, morou até sofrer uma queda e fraturaruma de suas pernas. Até sua morte, registrada no HospitalFlorianópolis, em Florianópolis, às 23h15min de 05 de agosto de1989, ela ficou sob os cuidados de sua filha Irma e de seu genro,João José Sanzon, no bairro Santa Terezinha, em Brusque. No seu atestado de óbito, constavam como causamortis: sepsia, broncopneumonia bilateral e fratura de colode fêmur. Ema Formari Conte foi sepultada no cemitério deSanta Terezinha, em Brusque, para onde foram transferidosos restos mortais de seu marido que, em 1978, havia sidosepultado no cemitério do Km 12, em Itajaí. Dona Ema, como era conhecida Ema Formari Conte,destacou-se na comunidade como benzedeira – talentodespertado na infância – e cozinheira. Ainda hoje, passadosvários anos de sua morte e devido à sua fama, ainda éprocurada, por quem ainda não sabe de seu falecimento,para fazer benzeduras e para preparar remédios caseirosque a tornaram conhecida dentro e fora do Estado deSanta Catarina. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 373 23/02/2011 12:31:16
Anuário de Itajaí - 2005/2006 374 O pé de cabra Leandro dos Santos Mestrando em Filosofia (UFSC)Eventos sinistros estavam ocorrendo na ainda incipiente e bem mais pacata municipalidadeitajaiense. Andava às bocas a notícia de uma estranhíssima figura envolta em mistérios, e que estava causando terror às pessoas do bairro. Em algumas noites, rondava pelas ruas escuras e vazias, aquilo que foi batizado pelos concidadãos assustados como o tenebroso pé de cabra. Registra-se que lá pelas tantas da noite, no silêncio e na escuridão, podia-se ouvir a passagem da figura horripilante pelos quarteirões da redondeza. O que se fazia notar em suas andanças era o ritmado compasso e os estalidos secos, que mais pareciam o trote de um animal com cascos: plact, plact, plact... justamente desse som característico emitido pela ruindade, quando resolvia dar o ar de sua desgracença, foi que derivou a alcunha de pé de cabra. Tarde da noite, as ruas então vazias se tornavam também sombrias. Estradas de chão batido, sem iluminação e o céu coberto pela densa cerração que vinha do mar. Quando se escutavam os passos do cabra do inferno, de dentro das casas todos se encolhiam em seus cantos, deitados no leito se encobriam e quietos ficavam, apenas a escutar silenciosamente – pois o silêncio também é refúgio; um bom esconderijo – os trotes que vinham da rua e invadiam suas casa de madeira. Outros assustados e apegados em suas crendices tentavam banir o coisa-ruim por meio de orações. A aparição da entidade assustadora dava-se sempre repentina e rapidamente, logo passava como se estivesse apressado. Quando, então, sem mais nem menos, subitamente, as marcas de sua andança cessavam em algum lugar. O bicho então sumia, pois ninguém mais ouvia. Para onde não se sabe, assim como se desconhecia o porquê da aparição – apesar das especulações em torno das questões. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 374 23/02/2011 12:31:17
Anuário de Itajaí - 2005/2006 375 Gênese e emancipação de Itajaí José Roberto Severino Doutor em História, professor da UNIVALI e FURB e Superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins Itajaí nasceu em terras de disputa colonial. Durante os séculos XVII e XVIII, asdisputas de terras entre as metrópoles portuguesa e espanhola resultaram no Tratadode Tordesilhas (1494). Desse conflito entre metrópoles, uma extensa colônia passava ase formar. De 1500 a 1700, mais de 100 mil portugueses se deslocaram para o Brasil-Colônia. Portugal temia invasões espanholas no sul do Brasil, principalmente SantaCatarina e Rio Grande do Sul, áreas estratégicas para se chegar ao Rio da Prata. Olitoral permitia o abastecimento de água e alimentos às embarcações. Na disputa, anecessidade de alargar as fronteiras da colônia Brasil. Contudo, somente no século XIXforam dados os primeiros passos para uma ocupação mais efetiva do território, compolíticas de povoamento para o sul. Em 1829, foi instalada, no Estado, a primeira colônia de alemães, em São Pedro deAlcântara. Pouco depois, em 1837, a colônia Nova Itália, e, em 1850, a colônia Blumenau,no Vale do Rio Itajaí-Açu. Depois surgiram no Itajaí-Mirim a colônia Itajaí-Príncipe D.Pedro, atuais municípios de Brusque, Guabiruba e Botuverá. O porto de Itajaí foi centralnos processos de colonização no vale, mesmo antes da formação da cidade. Os primeirospassos para a ocupação de Itajaí são atribuídos adois nomes: Antonio Menezes de VasconcelosDrummond (1820) e Agostinho Alves Ramos(1824). Nomes que representam o início da“fundação” do primeiro núcleo. Para o historiadorOswaldo Cabral, Itajaí é situadamagnificamente à entrada doVale do Itajaí e possui um portopraticável, o que fez nascer umnúcleo urbano. Isto se deu deforma mais definitiva em 15 dejunho de 1860, com a instalaçãodo município (vila) de Itajaí,desmembrando-se de Porto Belo. Publicado na íntegra no Anuáriode Itajaí 2005/2006.001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 375 23/02/2011 12:31:17
Fim de Anuário de Itajaí - 2005-2006001-Anuario-012-2005-2006-355-376.indd 376 23/02/2011 12:31:20
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Apresentação A edição do Anuário de Itajaí 2009 vem retomar a periodicidade de suapublicação anual, interrompida em 2005. Deste modo, damos continuidade a umtrabalho iniciado em 1998, quando o Conselho Curador da Fundação Genésio MirandaLins decidiu pela reedição do “Anuário de Itajaí”, cuja primeira publicação se deuem 1924 por Jayme Fernandes Vieira e Juventino Linhares. A obra teve sequênciaem 1949, com Marcos Konder e, mais tarde, em 1959 e 1960, com Laércio Cunhae Silva e Roberto Mello de Faria. Trata-se de uma obra aberta, democrática, escrita por estudantes e profissionaisdas mais diversas áreas do conhecimento, cujo conteúdo retrata o desenvolvimento dacidade de Itajaí sob aspectos culturais, sociais, econômicos, históricos entre outros.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 378 22/02/2011 11:07:52
Anuário de Itajaí - 2009 379 Por isso, o Anuário de Itajaí é considerado uma das mais importantes publicaçõesda Fundação Genésio Miranda Lins porque reúne poesia, fotografia e artigos científicosproduzidos, essencialmente, por pesquisadores locais sobre a cidade de Itajaí e região,que também utilizam como fonte de pesquisa, o acervo do Centro de Documentação eMemória Histórica “Genésio Miranda Lins”. Como guardiã da memória e da história da cidade, a Fundação Genésio MirandaLins, ao publicar mais uma edição do Anuário de Itajaí, cumpre uma de suas funçõesprimordiais: a divulgação do legado histórico e do conhecimento produzido pelacomunidade. Tenham todos uma boa leitura.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 379 22/02/2011 11:07:54
Anuário de Itajaí - 2009 380As dimensões do encontro Eu - Outro: In-tolerância e alteridade Cintia Cardoso Graduada em Filosofia pela Unifebe e especialista em História O ser humano é, essencialmente, único e ao mesmo tempo diverso na pluralidade deculturas existentes. Impõe-se à esfera humana uma dualidade conflitante, que não é,tradicionalmente, “corpo e alma”, mas que igualmente divide o ser humano: a essênciahumana (microcosmo) e a cultura na qual está inserido (macrocosmo). A essência humana é única e universal, permeada de características que jálevaram a diversas discussões ao longo da história da filosofia. Alguns pensadoresafirmaram que, o ser humano, é em sua essência mau. Maquiavel, por exemplo,na obra O Príncipe, quando se refere à condição humana do príncipe, diz que ele“será bom sempre que possível e fará com que o estimem; mas, não sendo possível,será cruel e praticará o mal”. Defende, assim, que há uma tendência natural para omau. Thomas Hobbes, em sua máxima mais famosa, diz que “o homem é lobo dopróprio homem”, corroborando a idéia de uma essência má para o ser humano. Mashá, também, os que defendem a bondade natural e, ainda, os que dizem que o serhumano não é naturalmente bom e nem mau, mas vai tornando-se um ou outroao longo de sua vida, dependendo dos estímulos culturais que recebe. Enfim, sãocaracterísticas atribuídas a uma essência única e universal, inserida na pluralidadecultural do mundo. É na cultura que o ser humano se identifica, se conhece e tem o primeirocontato com o “Outro”. Dentro de uma visão personalista de existência, o ser humanodescobre o seu ser por intermédio do outro. A existência se dá em um exercíciocontínuo de relação do homem consigo mesmo, com o mundo e com os outros.Esta é, portanto, a forma originária de conhecimento do ‘Eu’ e do ‘Outro’, imersosna cultura e na pluralidade de valores e concepções de mundo. Um exemplo destacondição é a situação de descoberta do Outro que a criança faz. Antes de descobrira si mesma, ela descobre a mãe e, após, esta descoberta lhe é favorecida peloconhecimento de si. É o contato com o Outro, que neste caso é a mãe, que vai lhepossibilitar conhecer sua própria condição humana. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 380 22/02/2011 11:07:57
Anuário de Itajaí - 2009 381 Inclusão digital: desafios que vão além das boas intenções Maria Tereza Lira Professora da Rede Municipal de ensino Rosana Radke Acadêmica de Jornalismo - UNIVALI V Introdução ivemos num mundo em constante evolução tecnológica. Em poucas décadas, ainternet revolucionou a comunicação. Através dela, o mundo da globalização tornou-secada vez menor e mais rápido. O uso desta ferramenta, já indispensável para milharesde pessoas, possibilita um intercâmbio de ideias e troca de informações. Na educação, as ferramentas digitais, se utilizadas de forma correta, podem setornar aliadas na preparação das aulas e incentivo à aprendizagem dos alunos, pois ela possibilita a interação dos estudantes com pessoas de diversos lugares do mundo, ultrapassando as paredes da sala de aula. Quando pensamos em inclusão digital na educação, logo associamos este fato ao uso de computadores nas escolas, mas ela vai muito além. A fim de saber como está se fazendo inclusão digital no município de Itajaí, decidimos levantar uma pesquisa nas escolas da rede pública e privada da cidade. Após coletar informações nas seis escolas escolhidas (todas situadas em Itajaí), abordaremos o acesso à inclusão digital e as dificuldades para implantá-la. Nossos questionamentos se dão em como ela é utilizada para melhorar os estudos ou se ainda é um tabu para os educadores que não sabem ao certo como manuseá-la. Até que ponto ela contribui para educação do ensino fundamental e médio? Após esta apuração, traçaremos um quadro comparativo. Outro problema levantado é a questão da falta de indicadores de qualidade: será que a inclusão digital, da forma como é aplicada, supre a necessidade de educadores e governantes? Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 381 22/02/2011 11:08:02
Anuário de Itajaí - 2009 382Ao Mestre com Carinho: meu antepassado,o Construtor e Arquiteto Guilherme Müller Dr. Carlos Henrique Müller Médico e genealogista Nascido em 30 de agosto de 1838 na cidade de Helmstedt, em Braunschweig, ebatizado com o nome de Johann Carl Georg Wilhelm, Guilherme Müller era filho de pessoasde origem humilde. Sua mãe, Johanna Juliane Müller, era costureira. Seu pai, AugustLudwig Schmidt, era um sapateiro que prestava serviços ao antigo Ginásio (Collegium)naquela cidade. Perdeu a mãe ainda na infância e passou a ser criado pelo pai e pela tia materna,Elisabeth Schmidt. Apesar das dificuldades econômicas da época, recebeu uma saudáveleducação familiar e aprendeu a ler e escrever corretamente o idioma alemão. Naquelesdifíceis tempos cresceu e aprendeu o ofício de pedreiro, chegando a mestre de obras. Ainda em Helmstedt, ele conheceu Caroline Strohmeier, com quem casou aos28 anos, na secular igreja de Saint Stephani, da comunidade evangélica luterana emHelmstedt, a mesma onde ele fora batizado e onde também batizou, no ano seguinte, oprimeiro filho: Carl Hermann Franz Georg Müller. Neste período, a vinda para o Brasil estava sendo estimulada por diversos agentesde emigração. No mês de outubro de 1867, ele e sua família embarcaram no veleiro detrês mastros Victoria, no porto de Hamburgo, com destino a São Francisco de Sul. O finalescolhido por ele para aquela longa viagem foi a Colônia Blumenau. Curiosamente, estamesma viagem trouxe ao Brasil um outro imigrante que teria seu nome vinculado à históriada cidade de Itajaí, e com quem Guilherme manteria, anos mais tarde, intensa amizade:Jorge Tzaschel (Georg Tzasehel), o qual viajou ainda criança e acompanhado dos pais. A travessia do Navio Victoria foi marcada pelo surto de cólera e pela morte de51 pessoas do total de 262 passageiros. Uma das vítimas desta moléstia contagiosa foia esposa, Caroline. Quando o Navio chegou ao porto de São Francisco, às vésperas doNatal, os passageiros não puderam desembarcar antes da liberação pelas autoridadeslocais. Guilherme, juntamente com outros passageiros, assinou uma nota de repúdio,datada de 26 de dezembro de 1867, e dirigida à Presidência da Federação Norte Alemãem Berlim, contra a agência Donati & Cia, situada em Hamburgo, responsável pelaviagem do navio Victoria. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 382 22/02/2011 11:08:04
A Modernidade aporta em Itajaí: os olhares sobre a inserção de bens culturais em museus Marco Antonio Figueiredo Ballester Junior Acadêmico da 8ª fase do curso de Bacharelado em Museologia do UNIBAVE O presente artigo tem o intuito de construiruma leitura do surgimento, uso e intervençõessociais da máquina fotográfica na sociedade e seusreflexos na cidade de Itajaí/SC. O método utilizadopara o desenvolvimento da pesquisa foi o históricopor permitir a análise de aspectos relacionados aodesenvolvimento de tecnologias e instituições. [...] do princípio de que as atuais formas de vida social, as instituições e os costumes tem origem no passado, é importante pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função (MARKONI; LAKATOS, 2004, p. 30). Tendo como análise a cidade de Itajaí,a pesquisa enfatiza como essa localidade foiinfluenciada por fatores externos na sua gênese e osregistros tridimensionais deixados nos seus espaçosde memória, no qual cito o Museu Histórico de Itajaíe as interpretações que esse local construiu sobreseu acervo.A Cidade A cidade de Itajaí, localizada no litoral norte do Estado de Santa Catarina,apresentando-se através de sua privilegiada posição geográfica, juntamente com asfacilidades de atracação e um porto protegido de intempéries marítimas, favorece ocontato com outras localidades no mundo. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 383 22/02/2011 11:08:05
Itajaí numa perspectiva histórico geográfica Elisabete Laurindo Professora de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Itajaí Edegilson de Souza Professor de História da Rede Municipal de Ensino de Itajaí A Introdução configuração geográfica do Brasil foi se conformando num processo multifacetadooriginando-se das relações estabelecidas pelos colonizadores portugueses, a populaçãoautóctone e africana e posteriormente pelos imigrantes europeus influenciandosobremaneira o modelo de produção social, cultural, econômica e política. O solocatarinense inicia um processo de mudança no seu desenho territorial num verdadeiromosaico etnico-cultural representado pelos povos europeus, os nativos e os africanos. O desenho sócio-espacial itajaiense foi formatado seguindo os mesmos parâmetrosnacional e estadual, ainda no século XVII motivado pela necessidade de povoamentocontra a invasão espanhola no território catarinense. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva discutir a formação sócio-espacialdo município de Itajaí ao longo da história. Na primeira parte serão apresentadasas questões relativas à organização espacial de Itajaí. Na segunda será abordado aconstrução do plano diretor. Por fim as considerações finais e as referências.A formação sócio-espacial de Itajaí (SC) A compreensão acerca da formação sócio-espacial do Brasil suscita o estudohistórico contextualizado das motivações que engendraram o uso e ocupação do solohabitado por um mosaico sócio-cultural que construiu esta imensa nação de proporçõescontinentais. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 384 22/02/2011 11:08:08
Uma Associação a serviço de Itajaí Marlene Dalva da Silva Rothbarth Memorialista Um dos maiores acontecimentos realizados em Itajaí, neste ano de 2009, foram assolenidades para festejar os 80 anos de fundação da Associação Empresarial de Itajaí– ACII. A programação teve início em fevereiro com o lançamento das ações de 80 anos daAssociação Empresarial, com a presença do Prefeito Jandir Bellini. Outro grande eventoocorreu com solenidades de aniversário da ACII, dia 29 de maio, no Itamirim Clube deCampo, ocasião em que foi entregue o troféu “Empresário do Ano” na sua 20ª edição. ACâmara de Vereadores realizou sessão solene para homenagear os 80 anos de fundaçãoda Associação. Em seguida, foi a vez da Assembléia Legislativa prestar as homenagens.A Câmara da Mulher Empresária de Itajaí realizou o 9º Encontro da Mulher Empresária.Assuntos importantes foram discutidos em reuniões da diretoria, como a apresentaçãode novos associados, o lançamento da Campanha do Milésimo Associado, contandocom a participação intensa dos diretores, conselheiros, coordenadores das Câmaras eNúcleos Setoriais, associados e amigos da entidade. A associação se fez presente na 23ªMarejada divulgando os serviços prestados à comunidade durante todos os anos de suaeficiente atuação. Em outubro, num jantar festivo, a ACII homenageou as empresas quecompletavam 25, 50, 75 e 100 anos de fundação, na Sociedade Guarani. Para encerraras festividades de aniversário, a diretoria resolveu convidar escritores da cidade paraorganizar um livro que registraria a história da ACII. A edição terá seu lançamento emjaneiro, por ocasião da posse da nova diretoria. É pretensão do atual presidente, MarcoAurélio Seára Júnior, e sua equipe, lançar a pedra fundamental da construção da novasede da ACII, um sonho acalentado por muitos anos. A história da Associação Empresarial de Itajaí começa lá pela terceira década doséculo XX, quando um grupo de entusiasmados sonhadores se reuniu para encontrarcaminhos que solucionassem a crise financeira desencadeada pela recessão mundial.A cidade era ainda pequena, mas enfrentava dificuldades quanto aos negócios deexportação e importação de produtos comercializados através do pequeno porto, portaaberta para o crescimento econômico da região. Com firme decisão, resolveram tomar ainiciativa de formar uma associação que defendesse os interesses econômicos, evitandoprejuízos à sociedade local. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 385 22/02/2011 11:08:10
Anuário de Itajaí - 2009 386 Bairro Cordeiros Flávio André da Silva Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Itajaí Porta de entrada para a colonização do vale, o rio Itajaí-Açu sempre representou fontede riquezas para Itajaí e região. Fora através deste rio que muitos imigrantes, famíliasde agricultores e pescadores, acabaram se fixando e fundando pequenas colônias quese transformaram em importantes cidades. O fato de uma família que se estabeleceranestas terras, onde hoje está o bairro Cordeiros, em meados do século XIX, deu origemao nome do bairro. O tronco dessa família foi Francisco Vieira Cordeiro, ilhéu português,ex-combatente da Guerra do Paraguai que, chegando a Itajaí, por volta de 1872, recebeuterras que foram doadas em troca de serviços prestados ao governo imperial. Tambémdeixou fama de homem rigoroso em tudo e que legou aos seus muita dignidade. Mais tarde, em 1930, com a inauguração da Ponte Marcos Konder sobre o rioItajaí-Mirim, efetivou-se a ligação terrestre entre os bairros Barra do Rio e Cordeiros,vindo contribuir de maneira significativa o acesso para a estrada Itajaí-Blumenau e paraa efetiva ocupação do local. No decorrer de 1935, durante a gestão do prefeito Arno Bauer, tendo em vista amatrícula da escola municipal da vizinha localidade de Espinheiros registrado em númeroreduzido de alunos, resolveu-se transferi-la para o bairro Cordeiros. Posteriormente,em 1966, na gestão do prefeito Dadinho Canziani, procedeu-se a transformação destaescola em Grupo Escolar Antônio Ramos devido à doação do terreno ao município que omesmo fez antes de falecer, o qual ficou sendo seu patrono. Antônio Ramos, possuidorde muitas terras neste bairro, foi um dos pioneiros da carpintaria naval na região, tendoconstruído em seus estaleiros barcos de grande porte que faziam a linha entre Itajaí eoutros portos do país transportando nossas riquezas, principalmente madeira. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 386 22/02/2011 11:08:11
Anuário de Itajaí - 2009 387 Percepção sócio-espacial do lazer no contexto itajaiense Edegilson de Souza Professor de História da Rede Municipal de Ensino de Itajaí Elisabete Laurindo Professora de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Itajaí A Introdução origem etimológica da palavra lazer está relacionada às particularidadeslinguísticas latinas e gregas. Segundo a interpretação de Krippendorf (1989), é possíveldistinguir os significados originais da terminologia lazer de acordo com o entendimentoespecífico das sociedades grega e romana. Para os romanos, o termo original “licerce”era entendido como a liberdade de se fazer algo desejado: “lícito”, “ser permitido”,“poder”. Já os gregos utilizavam o termo “scholè”, significando uma ação limitante detemporalidade: “parar”, “cessar” ou “tempo para si”. Para Guerra Filho (apud BACAL, 1988) a etimologia da palavra ‘’ócio’’ temorigem nobre, originando-se da expressão grega skolé, que em latim significa schola,em castelhano escuela e, em português, tem o significado de escola. Este significadopressupõe a educação enquanto ócio, pois do ponto de vista semântico, a raiz skoléimplicava nos atos de parar ou cessar, indicando idéias de repouso ou paz. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 387 22/02/2011 11:08:12
Anuário de Itajaí - 2009 388Outras cabeças. Ainda mais sentenças Cristiano Moreira Poeta À minha frente paira uma névoa espessa (Ossip Mandelstam). Alguns aspectos chamam a atenção na instalação coletiva dos artistas da AOCA,Associação de artistas da cidade de Itajaí/SC. Aspectos que possibilitam a este textoa possibilidade de tecer alguns comentários que tenham em vista um posicionamentodialético diante da imagem exposta, bem como a problematização acerca do lugar (a)possível da arte contemporânea. A instalação é um painel com reproduções de fotos emprimeiro plano dos artistas da AOCA. Fotografias, ou melhor, cópias de fotografias empreto e branco que reproduzem o rosto de cada artista com os olhos fechados. O painel,sem título, de aproximadamente três metros de largura e oito de comprimento, desce deuma parede branca e se estende pelo chão. Há, no centro, uma poltrona. Uma poltronaque, como objeto útil, sugere ou convida ao ato simples de olhar. Mas olhar o que? Por que um painel com rostos de olhos fechados? Não se trata de um conjuntode cabeças decapitadas como as que eram fotografadas no século XVIII; seria uma re-leitura da fotografia do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião? Ou ainda, se quisermoscontinuar uma leitura vertical, um neo-dadaísmo, seguindo o manifesto Dada ondelemos as palavras de Francis Picabia bradando que “Dada é vida, Dada é nada: vida emorte”. Um simulacro de mortos como um mausoléu das artes, um museu? Museu decabeças? O museu é uma política para as artes que estabelece o ponto final, a morte.Podemos lembrar Giorgio Agamben quando diz que “tudo pode tornar-se museu, namedida em que esse termo indica simplesmente a exposição de uma impossibilidadede usar, de habitar, de fazer experiência” (AGAMBEN, 2007, p. 73). Impossibilidade deusar, diz Agamben, para lembrar uma aporia da arte diante do mundo do dispêndio e doespetáculo. Pensar a arte como utilidade na medida em que torna o próprio objeto in-operante, ou seja, retirar dele toda a utilidade. Exemplo disto foi o que Marcel Duchampfez com o banco de cozinha que todos passaram a chamar de Roda de Bicicleta. Duchampin-operou o banco de cozinha, retirou dele a utilidade para o qual foi criado. Então diantedeste painel de rostos, olhamos o que não nos vê? Não somos vistos? Vejamos algumasarmadilhas espalhadas pelo campo que um rosto. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 388 22/02/2011 11:08:14
Anuário de Itajaí - 2009 389 Diários de viagem Max José Schumann Transcrição feita por Saulo Adami Escritor e editor Relatos de viagens do engenheiro Max José Schumann foram publicados no jornal Novidades, de Itajaí, na primeira década do século XX: No centro do município de Nova Trento (1908), Uma excursão no centro de Brusque (1907), Uma excursão pelo interior de Brusque (1908) e D’aqui a Lages em 3 dias (1908). O engenheiro Max José Schumann foi chefe do Comissariado de Terras e Colonização do Segundo Distrito, com sede em Brusque (1907-1912), organizou e realizou várias expedições pelo interior daquele município, a maior parte delas descritas em textos publicados no jornal Novidades, de Itajaí, em 1907 e 1908. Foi membro da Comissão das Comemorações dos 50 Anos de Brusque (1910), foi premiado (medalhas de ouro e prata) na Grande Exposição Nacional do Rio de Janeiro (1908) e conquistou o Grande Prêmio da Grande Exposição Internacional de Turim (Itália, 1911), com 308 amostras de madeiras. Mantida a ortografia original.1. No centro do município de Nova Trento O conhecimento que agora assim se tem d’essas terras, vem demonstrar as vantagens e facilidades que offerecem á construcção da estrada na sua 1ª. secção, isto é, até o Ribeirão do Ouro. São várzeas fertilizadas por abundantes cursos d’água e portanto com optimas condições para colonisação. Por sua vez, o terreno em geral, n’aquella zona, não apresenta accidentes que difficultem a construcção. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 389 22/02/2011 11:08:15
Silvestre João de Souza Júnior Cláudia Telles Artista plástica Silvestre João de Souza Júnior, nascido na década de 50 no bairro Fazenda, na Itajaídas chácaras e dos carros de molas. Desde menino demonstrou sensibilidade para asartes, em especial a modelagem em argila, o que mais tarde se revela sua grandepaixão artística. Foi aluno do Colégio Salesiano, Victor Meirelles e Morisco, e nesse foico-autor do Hino de Itajaí. Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1975, naFEPEVI (atual UNIVALI) e depois de algumas incursões em diversas funções na área,iniciou sua jornada em busca de experiências na Arte. Na sua trajetória artística realizou trabalhos e investigações em diversaslinguagens, desenho, entalhe, pintura, escultura e cerâmica; participando de cursos emJoinville, São Paulo, Buenos Aires e Varanasi/Índia. Realizou estudos de cerâmica, que foram definitivos para mergulhos maisprofundos na sua vivência de artista. Realizou diversos murais: entalhe em madeira,murais cerâmicos, mosaicos cerâmicos expostos em locais públicos de Itajaí, Blumenaue Joinville e Buenos Aires. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 390 22/02/2011 11:08:18
Anuário de Itajaí - 2009 391 A História Oral como fonte de Pesquisa no Cotidiano Escolar Elizete Maria Jacinto Professora da Rede Municipal de Ensino Berenice de Oliveira Piccoli Professora da Rede Municipal de Ensino Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela (PAULO FREIRE - Pedagogia da Autonomia, 1996). A tradição da história oral não é algo recente, está contida nas experiênciasdos povos anteriores à escrita. É um registro da memória individual de cada um que,entrelaçado como uma rede, nos traduz uma memória coletiva dando sentido a umahistória local, onde as pessoas comuns buscam compreender suas próprias trajetóriasde vida nas relações de pertencimento e construindo identidades. Jacques Le Goff (1992, p. 428) afirma que “[...] o primeiro domínio onde se cristalizaa memória coletiva dos povos sem escrita é aquele que dá um fundamento – aparentementehistórico – à existência das etnias ou das famílias, isto é, dos mitos de origem”. A utilização da História oral requer o interesse do pesquisador não apenas peloobjeto da história, mas pelo sujeito que transmite o que a sua memória guardou, dentro de um contexto repleto de interpretações e significados no campo social tornando a história muito mais democrática. Para Paul Thompson (1992, p. 22), a história oral “[...] pode derrubar barreiras que existam entre professores e alunos, entre gerações, entre instituições educacionais e o mundo exterior”. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 391 22/02/2011 11:08:19
Anuário de Itajaí - 2009 392 Tiro de Guerra 05-005/Brusque Renata L. Montagnoli Professora de História do Ensino Fundamental na Rede Pública Municipal de Itapema/SC “Exército: mão forte e amiga” Exército Brasileiro E Introdução ste trabalho foi escrito a partir de pesquisas que revelassem importância social/militar do Tiro de Guerra de Brusque para a cidade. Para falar sobre Tiro de Guerraera necessário inicialmente entender o contexto militar/político que permeiava o nossoestado na época de sua criação. O Estado de Santa Catarina sempre foi ponto estratégico para as “Forças Oficiais”que comandaram o país desde os colonizadores portugueses, passando pelo Impérioe posteriormente República. Não importando quem estivesse no poder, ou quando seencontrava nele, Santa Catarina foi um local geograficamente estratégico para taisforças. Afinal, o Estado está no meio da região sul, ao lado das minas de prata dascolônias espanholas, e faz fronteira com o Rio Grande do Sul, regiões estas, que noinício da colonização não estavam com suas fronteiras bem definidas. Portando, montaruma guarda nessa região era primordial para assegurá-las dos possíveis aventureirosque delas quisessem se posar. Somando-se a isso, tinha-se o porto na Ilha de Santa Catarina (posteriormentedenominada Nossa Senhora do Desterro e atualmente Florianópolis, capital do Estado).Na ilha de Santa Catarina, tudo chegava tudo saía, desde mercadorias legais comoilegais (ouro e prata roubados das colônias espanholas) e, é claro, pessoas. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 392 22/02/2011 11:08:21
Sedução, defloramento e desonra: crimes sexuais contra mulheres em Itajaí e região nas décadas de 1930 e 1940 Priscila Regina Carneiro Grimes Acadêmica de História - UNIVALI Paulo Rogério Melo de Oliveira Professor de História da UNIVALI A Introdução s décadas de 1930 e 1940 são marcadas por uma política de normatização edisciplinamento dos corpos e das condutas. O governo visava a criação de uma naçãomoderna e progressista, livre da degenerescência. Nesse contexto, Itajaí se preocupacom a conduta de seus habitantes e com o uso que os mesmos fazem dos espaços dacidade. A emergência de limpar a cidade dos “miasmas” que poderiam contaminar oorganismo social fizera da punição dos crimes sexuais, o meio de intervir no cotidianodas classes populares. A grande quantidade de processos criminais de defloramento, entre 1930 e 1942,na comarca de Itajaí suscitava indagações. Quem eram os envolvidos nos processos?Quais atores sociais circulavam na cidade? Que papéis sociais eram divulgados eexigidos? Para responder tais indagações faz-se necessário perceber que cidade haviase tornado Itajaí.Itajaí nas décadas de 1930 e 1940: que cidade é essa? As mudanças decorrentes das políticas progressistas e higienizadoras do início doséculo XX ainda reverberam na cidade. Continua-se a ouvir os ecos de pás e picaretas ademolir, e reconstruir a nova cidade “moderna”. Itajaí foi alvo da modernização irradiadapelos grandes centros no começo do século. Remodelada em suas particularidades, a cidadefoi sendo escrita e reescrita embasada nos preceitos de modernidade e progresso. Publicado na íntegra no Anuário de Itajaí 2009.001-Anuario-013-2009-377-394.indd 393 22/02/2011 11:08:23
Fim de Anuário de Itajaí - 2009001-Anuario-013-2009-377-394.indd 394 22/02/2011 11:08:25
Anuário de Itajaí - 150 anos 2010001-Anuario-014-2010-395-464.indd 395 18/03/2011 13:12:29
Anuário de Itajaí - 2010 - Itajaí: 150 Anos 396 Apresentação E´ sempre honroso abrir as páginas de mais uma publicação do Anuário de Itajaí, agora em sua décima edição (desde que a Fundação Genésio Miranda Lins reeditou o título, em 1998). O leitor, até este ponto, caminhou por parte da história de Itajaí focada nos anuários anteriores, nos mais diferentes artigos protagonizados por tantos autores. O Anuário é assim: congrega sem diferenciação, acredita no senso crítico do leitor, confia na qualidade textual de seus colaboradores; plural, faz integrar em suas páginas ciência e arte em artigos, poesias, prosas e imagens. E quando Itajaí faz 150 anos, este Anuário de Itajaí 2010, esboçando alguns falares desta cidade, é um presente que se enternece ao município: como passado, molda-se para vir a ser o que é. Rogério Lenzi001-Anuario-014-2010-395-464.indd 396 18/03/2011 13:12:31
Anuário de Itajaí - 2010 - Itajaí: 150 Anos 397 Depoimentos - Itajaí 150 Anos Nasci no centro de Itajaí, pertinho do Angeloni, rua Brusque, onde na épocaexistiam poucas casas, muito verde, muita segurança... A Igreja Matriz, onde todos osdias eu passava quando caminhava até o Colégio São José, onde era minha segundacasa... Nossa Itajaí é um porto de encanto natural, situada no coração de Santa Catarina,cresceu tanto e tornou-se conhecida e respeitada por todos. Completa 150 anos de lutae trabalho... (Mercês Maria Pires). Itajaí, o que posso eu dizer deste lugar que me acolheu quando cheguei, a mais oumenos 35 anos, vindo de Garopaba e aportando nesta cidade que considero como minhaCidade Natal, onde cresci, me formei e aprendi a amar cada parte desta abençoada terra,que não faz distinção, muito pelo contrário, acolhe. Itajaí das praças, onde encontramosos amigos conquistados ao longo dos anos. Amo Itajaí e este povo hospitaleiro que, aolongo dos anos, fazem cada vez mais Itajaí se desenvolver. Cidade de encantos e belezasnaturais. Amo-a sim, de coração. Itajaí: cidade de povo humilde e amado. Agradeço aDeus por me proporcionar esta alegria de viver dias felizes nesta cidade, com um povoFeliz. 150 anos nem parece, de tão jovem e sem rugas (Marco Aurélio dos Santos). A primeira vez que meu pai veio à Itajaí, ele tinha treze anos. Veio de Tijucascarregando um carrinho de mão cheio de esteiras. Tinha treze anos, mas já era um“cavalo” de um homem. Veio para fazer um serviço por um velhinho que o acompanhava.Mesmo calçando tamancos de madeira, meu pai falava que o velhinho ficava quase umquilômetro atrás dele. Ele sentava no carrinho até o velhinho se aproximar e lá ia elede novo, mais um quilômetro adiante. Levaram quase um dia. Tempos depois, meu paideixou Tijucas para sempre. Embarcou num barco à vela, barco de cabotagem em Santos.Numa dessas viagens conheceu minha mãe, aqui em Itajaí. Casaram, formaram família,meu pai marítimo e minha mãe cuidando da família, fazendo casa, cuidando dos filhos, eassim até hoje. Meu pai morreu faz um quinze anos e minha mãe continua sua vida comosempre: trabalhando, conversando, em plena atividade. O que mais gosto em Itajaí é dorio. Sempre vejo a chegada dos navios e por mais que isso se repita, para mim é sempreuma surpresa. Quando o navio apitava era sinal que meu pai poderia estar chegando.Hoje, quando escuto o apito do navio, de certa forma sei que uma lembrança me acorda,é sinal que temos nessa cidade histórias para lembrar (Nelson Nagel). Eu não me esqueço, meu cunhado era tropeiro, puxava gado de Lages. Mil equinhentas cabeças de gado eu vi passar no Rio Pequeno. Era puxado por três changueiros.Mil e poucas cabeças eu vi passar em tropas. O caminho era o antigo Rio Pequeno. Omatador dos Werner, era onde é o cadeião hoje. Eu saía da Vila Operária, onde eumorava, para ir ver matar boi. Eu já vi morrer boi de 26 arrobas. Esse gado vinha deLages, Curitibanos, Bom Retiro... Vinha tudo por estrada. À noite, eles paravam, faziamrancho numa pousada; o gado ficava tudo aqui. De manhã cedinho se levantava tudo,arrumava o changueiro e iam embora (João Machado).001-Anuario-014-2010-395-464.indd 397 18/03/2011 13:12:33
Anuário de Itajaí - 2010 - Itajaí: 150 Anos 398 Aqui na Canhanduba, ali no meu pai, vinha tropa de boi... nós íamos todos praver. Aquilo vinha, fechava a estrada, 400 ou 500 bois. Tudo tocado a cavaleiro. Vinhade Lages pra Florianópolis. A maioria parava no meu pai. Enchia aquele pasto, era coisalinda de se ver... Ficavam ali no meu pai. Não pagava nada. Ganhavam cama pra dormire ganhavam comida (Euclides Legal). Nós tínhamos engenho de cana e engenho de farinha, aqui na Canhanduba. Nóscolhíamos café. Meu pai era um homem muito trabalhador, não tinha hora. Foi no meucaso, o que eu fiz aqui. Eu não tinha hora pra comer, nem para dormir, porque senãonão dava conta da vida (Luiz Amandio Vicente). Meu pai comprou este terreno em 1920. Então meus irmãos mais velhos vinham trabalhar aqui, preparar a terra. Depois, em 1930, meu falecido pai veio com a mudança. Eu tinha dois anos. Então meus irmãos começaram a plantar arroz. Foram os primeiros a plantar arroz na comunidade. Quando meu falecido pai comprou este terreno, o nome era Morretes. Então tinha o Nato, chamavam ele de Nato Gastardi... O rio fazia muitas curvas naquele tempo e tinha muita enchente. Um dia ele foi tomar banho, no verão, e deu um mergulho. Ele viu uma bola, um brilhante...disse que foi...mas não conseguiu...aí foi de novo e disse que não achou mais. Então ele contava esta história para os outros, do Brilhante. Ali que veio depois o nome Brilhante Primeiro e veio Brilhante Segundo (Pedro Lira). O transporte em Itajaí tinha era muito carro de mola. Táxi, naquele tempo, não havia quase nada. Ônibus que era bem pouco, tinha trem [...] eu acho que a maioria na praça era o carro de mola (João de Jesus). Essa enchente, para nós aqui, não foi uma enchente, foi meio dilúvio... os antigos aqui que nunca viram, nem de perto, nem parecido... foi uma coisa fora de sério, dava medo na gente, tinha lugar que a gente passava... dava medo... tinha casa que a água quase passou por cima do teto... ali, na rua ali, naquele tempo não era calçada, era bairro, podia andar com uma baterazinha ali na rua (Arnoldo José Pereira). Hoje não dá mais pra comer peixe no rio, não dá mais [...], não tem condição. Tem um tio meu que ele cansou de pegar camarão pra gente comer. Pegava no rio e trazia pra casa e dava pra comer. Hoje, vai comer pra ver, não tem mais, não tem, e, se tiver, não tem condição (Olga Cardoso). Cidade localizada junto ao mar e junto ao rio que lhe empresta o nome, permanece como um dos raros lugares onde a paz e o progresso se misturam de forma harmoniosa. A Itajaí que apaixona os visitantes com suas belezas naturais, que permite o001-Anuario-014-2010-395-464.indd 398 18/03/2011 13:12:33
Anuário de Itajaí - 2010 - Itajaí: 150 Anos 399crescimento do indivíduo através de seu comércio, que permite ao privilegiado moradordesta cidade usufruir de locais de especial beleza como o Canto do Morcego, é o mesmomunicípio que se engrandece com as atividades pesqueiras realizadas pelos homensdo mar que mantém vivas as tradições e o contato com o oceano, sendo desta formaos guardiões de um dos aspectos que moldaram o perfil de Itajaí, tanto materialmentecomo culturalmente. Itajaí de prédios e praias, do Morro da Cruz e Universidade, paze progresso, Itajaí de homens e mulheres orgulhosos de sua terra,de sua história, enfim, de sua pequena pátria. Nesses 150 anos,espalhou graça, luz, charme, cultura e desenvolvimento na foz dorio Itajaí-Açu. Imprime, neste início de século XXI, a certeza deque nos próximos 150 anos manterá tal postura, permitindo a estacidade e a este povo que possam, com trabalho, ordem e dedicaçãoque lhes é tão natural, assegurar o espaço de direito e democraciaentre as grandes sociedades humanas (André Felipe Penteado). Quando criança, se pescava muito no Saco da Fazenda, muitospeixes, siri e camarão... hoje, infelizmente, não se tem a farturacomo antes. Mesmo assim, ainda pratico a pesca artesanal, queaprendi com meu avô. Desde pequeno aprendi a tarrafear e fazertarrafas e redes. Não é à toa que somos chamados de “pexeiros” e“papa-siri” (Paulo Sérgio Cabral). Cidade maravilhosa, linda, hospitaleira. Bela ITAJAÍ. Nasci nobairro Sao João. Só existia madeireira, poucas casas; lembro-me domeio de transporte de passageiros que nos levava para Blumenau,Lontras e Rio do Sul. Quando voltávamos, pegávamos um carro de molapara ir para casa. A estaçao ferroviária era no bairro Fazenda, onde hojeé o supermercado Xande... ITAJAÍ, EU TE AMO (Valtrudes Haack). Itajaí, minha terra de encantos mil... Hoje vejo como minhaItajaí cresceu e se desenvolveu. Por aqui chegaram os imigrantesque colonizaram Santa Catarina. De berço acolhedor, tornou-seberço exportador. Pelo seu maior patrimônio natural - que já nosassustou tantas vezes - leva pelos mares do mundo a riqueza não sómaterial, mas a riqueza dessa gente hospitaleira, amiga, sincera eleal. Fiquei e fico emocionado quando, pelos meios de comunicação,vejo nossa Itajaí se preparando para o seu sesquicentenário. Nãotenho como não dizer “Parabéns, cidade praiana”. Itajaí, das praçase ruas floridas, do povo sincero, amigo e leal, jamais visto outroigual; das bicicletas e dos barcos de pesca, dos navios e caminhões,das festas e canções, das alegres Marejadas e das tristes enchentesque já passaram como águas que não movem mais moinhos, doSaco da Fazenda e Beira Rio...Caminho de Sodegaura, dos casarõese das famílias, dos trabalhadores portuários, dos artesões e dasvocações, das praias urbanas e das comunidades rurais, do meuamado São João e da Rua Conceição, és tudo isso e muito mais. Por001-Anuario-014-2010-395-464.indd 399 18/03/2011 13:12:35
Anuário de Itajaí - 2010 - Itajaí: 150 Anos 400isso não posso descrever o que só o meu coração sabe o quanto me orgulho de dizer:SOU PEIXEIRO, SIM (Cleber Brugnago Rosa). Lembro-me que íamos para outras cidades de trem ou litorina, pois o meio detranporte ferroviário era o mais usado naquele tempo. Na estação ou terminal ferroviário,tinha vários carros de mola esperando passageiros do trem. A estação ficava localizadaonde hoje é o supermercado Xande. Onde é o Mercado Público, ficava a rodoviária. Soupapa-siri com orgulho, pois amo minha cidade e meu povo. Parabéns, Itajaí, és a belezade Santa Catarina (Valtrudes Haack). Itajaí: minha vida é te amar! (Leonardo Monfardini). A praça do Costa Cavalcante me traz doces lembranças da infância e da juventude,quando lá existia nos anos 70 o Parque Infantil Léa Leal de Souza onde esperavamosalegres na fila, o guarda abrir os portões. Era um senhor de idade e quando estavamoscansados de brincar ele contava histórias de castelos e princesas pra gente. Já as equipesKorpuz Som e Status Som embalavam as noites de sábado e as tardes de domingocom os sucessos da década de 80. Eram momentos de confraternização que estão namemória daqueles que passaram por lá. São belas histórias das gerações que fizeramparte da juventude do bairro Cordeiros (Elizete Maria Jacinto). É interessante lembrar que, quando criança, ao brincar nas ruas para caçarborboletas, utilizávamos as asas para decorar bandejas e cinzeiros de vidros. A rua ondemorava foi cortada para a construção de uma importante Avenida, a Irineu Bornhausen.O que me vem à lembrança também é quando, nesta Avenida ainda de terra, passavamfilas de tratores carregando madeiras para o porto. Estes tratores foram substituidos porcaminhôes carregados de diferentes mercadorias. Que venha o progresso e na memóriafica a saudade. Parabéns Itajaí (Rosete Pereira). O que mais gosto de lembrar: a liberdade de poder brincar na rua. Morava naHildebrando José da Silva, tempo em que a rua Indaial era de lajota; o Mini-preço, que erao Vitória, era onde hoje tem uma academia, próximo a rótula. Meu pai, senhor Orcely J.Vanzuita, travalhava na madeireira Irmãos Pinto. Eu adorava brincar descalça, soltar sapinho,não tinha problema nenhum em ser menina e não poder brincar de pilica ... foi a minhamelhor época até então vivida... meu pai me levava de bicicleta até a praia de Cabeçudas.Lá ele mergulhava do trampolim e na volta parávamos para tomar caldo de cana. Ele nasceuno Bairro Salseiros, em 1933, descedente de belgas por parte de pai e bugre por parte demãe. Ele me ensinou a amar a cidade onde moro, a ter orgulho de ser itajaiense. E é por estemotivo que deixo aqui minhas palavras registradas (Luciana Maria Vanzuita).001-Anuario-014-2010-395-464.indd 400 18/03/2011 13:12:36
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