Anuário de Itajaí - 1924 51 Leitoras e leitores, que acreditam em somnambulismo e prophecias, (e cujonumero é enorme), confrontar-me-ão a citação do <HAMLET> de Shakespeare, a qualdiz: <Há tanta cousa no céu e na terra, que a vossa sabedoria escolar nem por sonhosvos pode explicar.> Porem uma cousa eu digo com toda sinceridade, se também realizar-se o vaticinio para 1927, e caso eu ainda vague no meio dos vivos, então converter-me-ei, para dedicar-me de corpo e alma ás sciencias mysteriosas do occultismo. Blumenau, 28/9/923. Todos gostam de adivinhar os pensamentos dos outros, mas ninguem gosta quese adivinhen os seus. Vê, ouve e protesta. Quem cala consente e quem consente concorda. E quem concorda não tem opinião e quen não tem opinião é tolo...001-Anuario-001-01-62.indd 51 22/02/2011 10:23:32
Anuário de Itajaí - 1924 52 Mercado Publico Entre os estabelecimentos que honram a nossa cidade apparece em lugar de destaque oMercado Municipal, construido em 1916, durante o período administrativo do Sr. CoronelMarcos Konder. Vencendo todas as difficuldades que se antepunham, de ha muito, á idéada construcção de um Mercado em Itajahy, conseguio o esforçado superintendenteque ainda hoje dirige o nosso municipio, transformar em realidade a idéa aventadacincoenta e tantos annos atráz, satisfazendo assim as mais justas e nobres aspiraçõesda população itajahyense. Inaugurado em 1 de janeiro de 1917, o nosso mercado, um dos mais bellos ehygienicos do Estado, tem sido, desde aquella época, para a nossa população, de muiproveitosa utilidade, fazendo convergir para um único local não só a maior parte dasproducções agricolas de nossa colonias e dos municipios visinhos, mas também grandee variado numero de fructas e legumes cultivados nos arredores da cidade.001-Anuario-001-01-62.indd 52 22/02/2011 10:23:33
Anuário de Itajaí - 1924 53 Convem contar ainda uma outra vantagem de real interesse para os nossoshabitantes: a fixação, naquelle ponto, de todos os açougues da praça, até entãoinconvenientemente installados e dispersos por varias ruas. A construcção, nas immediações d´aquelle estabelecimento, de uma excellentebanca de peixe, a melhor das poucas existentes no Estado, capaz de favorecervantajosamente tanto o publico como os pescadores constituio, tambem, medida demaximo acerto e importancia e veio contribuir efficazmente para que fossem reunidos emum só local, maravilhosamente apropriado para tal fim, todos os comestiveis de primeiranecessidade. Contrariando as idéas de varias pessoas que julgavam o municipio incapazde sustentar, sem o dispendio de consideravel onus, uma casa em taes condicções,porque não viam nossa cidade com o necessario desenvolvimento para tal empreitada,o mercado publico vem, felizmente, constituindo para o municipio excellente fonte derenda, supplantando a maioria dos calculos optimistas. A construcção do nosso mercado só foi levada a effeito após o fracasso devarias tentativas e sua historia deve ter, para os itajahyenses, valioso interesse,001-Anuario-001-01-62.indd 53 22/02/2011 10:23:35
Anuário de Itajaí - 1924 54merecendo ser notada nestas paginas, o que fazemos utilizando-nos de informaçõescolhidas no discruso proferido pelo Sr. Superintendente Coronel Marcos Konder naoccasião de sua inauguração. Foi em 1871, ha cincoenta e tres anno, que surgiu entre nòs a primeira tentativade erigir na Villa do S. S. Sacramento de Itajahy uma casa de mercado. O auctorda proposta, o vereador Antonio Francisco de Souza Medeiros, ao fundamental-a emsessão da camara de 23 de fevereiro de 1871, declarou que era urgente necessidade aedificação de um mercado, porque, á falta de uma casa apropriada, onde os lavradoresdas freguezias circunvisinhas pudessem abrigar seus generos e a si proprios não sedava na villa affluencia e concurrencia dos generos de primeira necessidade. A idéa como todas as idéas novas, não deixou de encontrar a principio no proprioseio da camara, uma pequena, embora passageira opposição. O vereador AntonioTeixeira Canella, tomando a palavra para discutir a proposta objectou <que a medidaera de conveniencia geral, mas não permittindo as forças do municipio a realização desemelhante melhoramento, devia-se guardal-a para mais tarde>. A essas objecçõesrespondeu promptamente o vereador Marianno José Furtado, dizendo que o vereadorCanella não tinha razão em allegar a falta de recursos do municipio, porquanto as rendasda camara haviam tido augmento regular, circumstancia essa que talvez o seu collegaignorasse por não ser vereador effectivo. Essas razões calaram tão profundamente noanimo de Canella que elle acabou declarando votar pelo projecto e assim foi a propostade Medeiros approvada por unanimidade.001-Anuario-001-01-62.indd 54 22/02/2011 10:23:37
Anuário de Itajaí - 1924 55 Approvado este projecto, a camara apressou-se em communicar essa resoluçãoao governo da provincia que por sua vez applaudiu essa iniciativa e poz à disposição domunicipio o engenheiro Pedro Luiz Taulois, afim de levantar a planta do edificio e elaboraro respectivo orçamento. O Tnte. Coronel Jose Henrique Flores, então presidente dacamara, enthusiasmou-se tanto pela idéa a ponto de offerecer gratuitamente o terrenopara a localização do edificio, terreno esse que ficava situado na actual Rua Lauro Müller,pouco mais ou menos no logar entre os armazens das firmas Asseburg e Konder. ACamara adquiriu pedras, tijollos, vigamento, emfim, quasi todo o material necessario.Mas, apezar de todos esses esforços e preparativos não se chegou, por motivos nãoaveriguados, a dar começo à construcção. Nos tempos do imperio outros projectos ainda appareceram nesse sentido masforam tão pouco praticos e viaveis que nem os annaes da Camara delles fazem menção. No regimem republicano, em 1894, um outro projecto merecedor de maioresconsiderações foi apresentado ao conselho pelo sr. Manoel de Souza Cunha. Emborao projecto do Sr. Cunha não entrasse no terreno da realidade fez, todavia, ressurgira idéa e teve ao menos como resultado o Conselho decidir-se a escolher o terreno,em que devia ser localisado o futuro mercado. O então superintendente Sr. SamuelHeusi requereu por aforamento perpetuo, ao governo federal, os terrenos de marinhadevolutos que formam a actual praça do Mercado e onde se acha encravado aquelleedificio. A concessão gratuita do terreno teve lugar em 09 de abril de 1897. Não obstanteassegurado o local, o plano de construcção adormeceu novamente até que em 1906,001-Anuario-001-01-62.indd 55 22/02/2011 10:23:38
Anuário de Itajaí - 1924 56na superintendência do Sr. Pedro Ferreria e Silva, o Conselho aprovou um projecto delei autorisando um empréstimo de 30 contos á erecção do edificio. Foi essa uma dastentativas mais serias que nos tempos republicanos se fizeram para dotar a nossa cidadecom um mercado. O nosso illustre conterraneo Sr. Dr. Lauro Müller, sabedor do facto,enviou do Rio uma bonita planta que o Conselho mandou adoptar as nossas condiçõespelo agrimensor Sr. Frederico Silva. Construiu-se na actual praça do Mercado um rancho para deposito dos materiais,tendo a superintendencia comprado cal, pedras e outros materiaes que ali depositou porlongo tempo. Mas, quando tudo parecia indicar que seriam finalmente satisfeitos os desejos danossa população, que Itajahy ia ter, emfim, o seu mercado, eis que o projecto cae outravez no esquecimento. Archivou-se a planta, vendeu-se o material adquirido e desseplano só restou o rancho que ali ficou inutil e vasio. Dois annos apòs occupavam os cargos de conselheiros municipaes os srs.Marcos Konder e Felix Busso Asseburg e, nessa qualidade fizeram reviver a idéa queestava morrendo. Apresentaram ao Conselho em sessão de 10 de dezembro de 1908 um projecto,innovando a autorização ao poder executivo municipal para abrir o emprestimo necessariopara a construcção do edificio. Esse projecto mereceu a approvação dos demais conselheirose foi convertido em lei, porem, nada de positivo se emprehendeu. A idéa sumiu-se outravez na indifferença e no olvido só reappareceu sete longos annos após.001-Anuario-001-01-62.indd 56 22/02/2011 10:23:40
Anuário de Itajaí - 1924 57 Fôra então eleito superintendente de Itajahay, um de seus filhos e quem seusconterraneos depositavam a mais absoluta confiança pelo seu talento administrativo,pela rectidão de seus actos e pelo firme proposito que lhe inundava o espirito de fazeralguma cousa pela terra que lhe foi berço. Tomando a direcção dos destinos do municipio, um de seus primeiros actosadministrativos foi tomar urgentes providencias para que a construcção do mercadofosse um facto e para isso, solicitou ao conselho, em sessão de 09 de julho de 1915,a approvação de um projecto pelo qual fosse autorisado de qualquer modo a realisaraquella construcção. O conselho, composto por cidadãos que se devotavam com fervôr a causa publicaconcedeu promptamente ampla autorisação para emprehender a obra sendo, sem maisdemora, aberta a concurrencia. A 18 de janeiro de 1916 foi, afinal, firmado o contractopara a construcção sendo, dias apòs, atacado o serviço. Apezar desta construcção estaravaliada em cerca de 35 contos e não dispor a municipalidade em caixa mais que12:700$000, ou o valor de 127 apolices, não vacilou o Sr. Superintendente um sò momentoem enfrentar as difficuldades que poderiam advir caso não encontrasse collocação parao restante das apólices e, com rigorosa economia e invejavel dessassombro conseguiu,apezar das criticas que então se fizeram ouvir e das duvidas que se fizeram sentirquanto ao bom exito do emprehendimento, desvencilhar-se com admiravel galhardia, dograve compromisso assumido e a 1° de janeiro de 1917, entre o regosijo da populaçãoitajahyense foi solemnemente inaugurado aquelle vasto edificio que tanto veio contribuirpara o embelezamento da nossa urbs e para o conforto do nosso povo. Registrando nesta poucas linhas, embora resumidamente, as difficuldades queprecedram á construcção do nosso mercado, fizemol-o na certeza de havermos offertadoaos nossos leitores uma pagina local de real interesse.001-Anuario-001-01-62.indd 57 22/02/2011 10:23:41
Anuário de Itajaí - 1924 58 O Posto de Prophylaxia Rural de Itajahy Dentre os estabelecimentos de utilidade publica existentes em Itajahy nenhum, semduvida, terá trazido á população não só d´este municipio mas também de vastissimazona do littoral do Estado, tão farta messe de beneficios como o Posto de Prophylaxia,installado n´esta cidade. Estendendo sua zona de acção a regular numero de municipios intensamenteinfestados pelas endemias da ankylostomose e do impaludismo, este Posto, sábia ecriteriosamente dirigido pela competencia e energia do illustrado medico Sr. Dr. SizenandoTeixeira, tem de tal modo, beneficiado as populações pobres e falhas de recursos eauferindo resultados tão brilhantes que, pode-se affirmar, sem receio de contestação,a inexistencia de um meio mais efficaz e mais nobre de dispender os dinheiros publicosqual seja este de distribuir, a mãos cheias, saude e energia a um povo que, abatido pelasua enfermidade, desprezado pela sciencia de seu paiz e esquecido por seus governosvia, modorrento e resignado na sua indolencia, a riqueza florescer em torno do lardo extrangeiro sadio, robusto e forte, installado na sua visinhança, quando elle erarepudiado e desprezado pela sua falta de capacidade physica e moral, pela lentidão eincerteza com que se atirava aos mais comesinhos serviços e pela resignação deploravelcom que atravessava uma existencia, soffrendo as maiores vicissitudes e julgando-sesempre preza de invencivel fatalismo. O que se poderia, portanto, esperar de uma população rachitica, enfezada,anemica, invadida em sua quasi totalidade por uma legião de vermes sugadores de forçase de energias, com a sua percentagem de hemoglobina reduzida a menos de metade,atacada pela syphilis, atrophiada pelo impaludismo e outra infinidade de molestias? Apòs a fundação do Posto, diminuiram sensivelmente essas endemias. Quantaenergia restaurada, quanta ambição ressuscitada, quanta face acabrunhada e tristedespertou risonha, corada e feliz para o trabalho e para vida. O Posto, portas francamente abertas a todos que necessitam de seus serviços,já tem matriculado cerca de doze mil pessoas, demonstrando assim o quanto o nossopovo soube avaliar a obra bemfazeja de regeneração physica e moral, iniciada, em boahora, pelo governo federal. Um facto, que indubitavelmente provocará geral admiração, é o que demonstra opessimo estado sanitario em que se encontrava toda a população desta fertillissima zonado littoral catharinense: dos doentes matriculados, somente 75 delles, isto é menos de1% não estavam atacados de vermes. Outra cifra, não menos assombrosa pela sua elevação, é a dos atacados deimpaludismo, a terrivel e impiedosa molestia que, de modo tão destruidor, ataca osmais robustos organismos.001-Anuario-001-01-62.indd 58 22/02/2011 10:23:42
Anuário de Itajaí - 1924 59 O trabalho do Posto, quer ministrando medicamentos profficuos, quer combatendoos fócos de culicideos, drenando, desmattando e regularisando os cursos d´agua noslugares pantanosos, tem sido surprehendente e os seus fructos não tardarão a apparecerem toda a plenitude. Mas não vae só até ahi o labor incansavel dos esforçados funccionarios a que estaentregue aquella benemerita casa de saude, verdadeira colmeia de trabalho, preciosotemplo de caridade, parcella gloriosa da heroína cruzada em boa hora iniciada por todoo immenso territorio patrio. [...] O Posto estende tambem a muitas outras enfermidades seus beneficostratamentos attendendo a todos os que vão áquella casa em busca de allivio a seussoffrimentos. [...] Pedro Juvencio, um menino de sete annos de idade residente á Rua Sete deSetembro, atacado de ankylostomose, estava em tal estado de gravidade que os seuspaes haviam perdido toda a esperança de salval-o. Matriculando-se no Posto de Prophylaxia tornou-se necessario que para ali fossetransportado em um carrinho de mão afim de receber os primeiros tratamentos quefelizmente, desde os primeiros dias, deram magnificos resultados. E em menos de dois mezes, com grande admiração para todos aquelles queacompanharam a marcha da molestia e com maior alegria para os seus progenitores,Pedro Juvencio estava radicalmente curado.001-Anuario-001-01-62.indd 59 22/02/2011 10:23:44
Anuário de Itajaí - 1924 60 Um soneto do Dr. Lauro Müller A titulo de curiosidade e, por ser quasi desconhecido, entre nós, vamos publicarnestas columnas um soneto do illustre conterraneo Sr. Dr. Lauro Müller. Si bem quenão seja uma obra prima da poesia nacional elle vem, contudo, revelar-nos, mais umapropriedade intelectual daquelle politico, diplomata, militar, financista e membro daAcademia de Lettras. Ei-lo:SEMPRE Nem mais longe ficaste, nem mais perto Por eu ficar aqui mais demorado, Pois que entre mim e ti eu creio e é certo Que ser distante é ser aconchegado... Foi-se o vapor embóra, no azulado Só resta o fumo a tremular incerto, Enquanto o coração descompassado - Sem ti, - me clama - , o mundo está deserto -. O mar corre ondulante sobre o mar, Vem um tormento após outro tormento: - Tudo é no mundo feito por findar. - Só não se acaba a imagem tão querida Que sempre eterna está no pensamento De quem a ti adora mais que a vida.001-Anuario-001-01-62.indd 60 22/02/2011 10:23:45
Anuário de Itajaí - 1924 61 AVOZINHA Velha, velhinha da doçura boa De uma pomba nevada, etherea, mansa... Alma que se illumina e se balança Entre as redes da fé que nos perdôa... Cabeça branca de serena leôa, Carinho, amor, meiguice que não cança, Coração nobre e sempre como a lança Que não vergue, não fira e que não dôa. Olhos e vóz de castidades vivas, Pão azimo das paschoas affectivas Simples, tranquilla, dadivosa, franca... Morreu tal qual vivera - mansamente, Na alvura casta de um Luar algente Como que morta de uma morte branca. Cruz e Sousa001-Anuario-001-01-62.indd 61 22/02/2011 10:23:46
FIM DE ANUÁRIO DE ITAJAÍ - 1924001-Anuario-001-01-62.indd 62 22/02/2011 10:23:47
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Anuário de Itajaí - 1949 64 Apresentação Há 25 anos passados, Jaime Vieira Fernandes e Juventino Linhares – numaarrojada empresa para as limitadas possibilidades da época – lançavam, nesta cidade,o Anuário de Itajaí para 1924. Por motivos de ordem vária, essa publicação não tevea periodicidade que o seu título sugeria. Saiu um número e silenciou. Não parece seroutro o destino que aguarda o Anuário de Itajaí para 1949. Ao nos lançarmos a esteempreendimento, tivemos o propósito de fazer uma publicação anual. Somente nodecorrer de sua feitura nos demos conta de que a matéria exigida, mais ou menos deinteresse permanente, não poderia ser renovada em tão curto lapso de tempo. Mas onome já tinha sido dado e estampado em anúncios pela imprensa, de modo que nãoencontramos jeito de tirar o título de Anuário, embora impropriamente empregado noque tange à sua periodicidade. A viagem feita pelo Sr. Marcos Konder aos Estados Unidos e aos países daEuropa, onde atualmente se encontra, realizando uma série de conferências rotárias,especialmente na Alemanha, nos impediu que a matéria por nós elaborada lhe001-Anuario-002-63-136.indd 64 22/02/2011 10:46:08
Anuário de Itajaí - 1949 65fosse apresentada antes da publicação. Essa circunstância nos obrigar a delimitarresponsabilidades sobre a matéria de redação contida neste Anuário. Fica, portanto,esclarecido que são de autoria desse nosso culto e prestimoso amigo apenas osartigos por ele assinados. Ao entregarmos ao público este trabalho, desejamos pedir excusas pelas muitasfaltas e omissões que, certamente, terão ocorrido, frutos que são de nossas limitadaspossibilidades materiais e intelectuais. A parte que nos coube na feitura deste Anuárioexecutamo-la em horas roubadas ao nosso repouso. Faltaram-nos por isso vagares paraum trabalho – senão perfeito – pelo menos melhor ordenado e mais bem visto. Ao encerrarmos esta apresentação, desejamos sinceramente agradecer ao auxílioe estímulo que recebemos dos nossos bondosos colaboradores, do comércio e da indústriae de todos que direta ou indiretamente cooperaram para a execução desta obra. Nominalmente, para não tomarmos mais espaço, queremos agradecer ao Cel.Marcos Konder, aos proprietários da Impressora Aurora Limitada, srs. Paulo Willerich eJulio Silva Pereira e ao Sr. José Marçal Dutra (Foto Juca) sem cuja valiosa colaboraçãoteria sido impossível a realização deste trabalho. Itajaí, novembro de 1949. Silveira Júnior001-Anuario-002-63-136.indd 65 22/02/2011 10:46:09
Anuário de Itajaí - 1949 66 Histórico A fundação histórica de Itajaí data do ano de 1820 e é considerado seu fundador Antônio Menezes de Vasconcellos Drummond, jovem diplomata que o ministro de D. João VI, Thomaz Antônio de Vila-Nova Portugal enviara em missão desconhecida a Santa Catarina, a fim de afastá-lo da Corte, onde suas tendências libertárias de jornalista e amigo dos Andradas o tornavam um elemento perigoso e indesejável. Em torno de descobrimentos e descobridores reina geralmente uma profunda controvérsia histórica. A fundação de Itajaí não escapou a esta regra. Julgamos, no entanto, ter elucidado suficientemente a questão na conferência realizada por ocasião do primeiro centenário de Itajaí, em 1920. Demonstramos, pelo testemunho escrito do próprio Drummond nas “Anotações” feitas à sua biografia, publicada em 1836 na “Biografie Universelle ET Portative dês Conteporains”, que devemos admitir Drummond como o verdadeiro fundador de Itajaí e aceitar o ano de 1820 como a data provavelmente exata da fundação. Os pescadores espanhóis e portugueses existentes na costa, principalmente para os lados de Penha, não tiveram intuito de se fixar ao solo nem praticarem ato algum de colonização. Eram elementos instáveis, limitados exclusivamente à pesca erradia do mar. Nas mesmas condições se achariam os Arzões e outras famílias que Drummond por ventura encontrasse pelas imediações da foz do Itajaí-Açu. Drummond permaneceu na nova colônia cerca de dois anos, durante os quais construiu num dos ribeirões próximos um engenho de serrar madeira, um barco, a sumaca “S. Domingos Lourenço”. Qual talvez se possa aceitar como mais provável o ribeirão da Fazenda ou do Cortume Shneider por ser ainda até hoje o desaguadouro mais volumoso da cidade.001-Anuario-002-63-136.indd 66 22/02/2011 10:46:11
Anuário de Itajaí - 1949 67 Esta embarcação, a primeira deste tamanho construída nas margens do Itajaí,levou para o Rio de Janeiro um carregamento de milho, feijão e taboado, “o produtoabençoado dos primeiros itajaienses”. Proclamada a Constituição do Brasil, em virtudeda revolução de 26 de fevereiro de 1821, recebeu Drummond ordem do AlmiranteQuintela, Ministro do Reino, para suspender as obras e retirar-se para a Corte. Terminouassim a missão do fundador de Itajaí. Sucedeu a Drummond na direção da colônia, embora sem caráter oficial, o maisgraduado do lugar, o Coronel Agostinho Alves Ramos, mais tarde comissionado paradirigir a colônia de Itajaí, fundada em 1836 nos lugares Pocinho e Belchior. Em 1824 deu-se a criação do curato de Itajaí com a nomeação do primeiro vigário,o franciscano Frei Pedro Antônio Agote. O terreno da primitiva capela, construída de paua pique, foi doado por José Coelho da Rocha e sua mulher Maria Coelho da Rocha e erao mesmo da atual igreja matriz da Praça Vidal Ramos. Em 1932 passou Itajaí, entãodependente de S. Francisco, para o domínio da vila de Porto Belo e a 13 de agosto de1833 o administrador da Província, Feliciano Nunes Pires, criava a freguesia do SS.Sacramento de Itajaí, cujos limites eram ao norte o Rio Gravatá e ao sul o Rio Camboriú.Em 1835 fundou-se a primeira escola pública. Com a fundação da colônia de Itajaí em 1836 nos arraiais do Pocinho e Belchior,iniciou-se então a verdadeira fase colonizadora das terras marginais do Vale do Itajaí.Em 1845, os belgas Van Leede e os irmãos Lebon fundavam por sua própria conta emterras adquiridas ao Tenente-Coronel José Henrique Flôres, no lugar da atual Ilhota,a colônia Belga, de tão efêmera duração. A decadência precoce da colonização belgadeve-se ao fato dos fundadores terem abandonado as terras escolhidas, sem deixarcontinuadores na direção, nem guias para a exploração e cultivo do solo.001-Anuario-002-63-136.indd 67 22/02/2011 10:46:12
Anuário de Itajaí - 1949 68 Dos irmãos Lebon – Lebon preto e Lebon branco – assim chamados vulgarmentepor ser um de cabelos escuros e outro de cabelos louros, um – o preto – voltou à Bélgicae o outro faleceu como despachante geral em S. Francisco. Van Leede deixou as terrasda colônia em legados a um hospital da Bélgica que, por sua vez, as vendeu ao Sr.Willy Sheeffer, de Blumenau. Este não conseguiu reivindicá-las, por serem um bem delegítimo usucapião, embora os ilhotenses não tenham até hoje cuidado de legalizaros terrenos ocupados. Em 1850, o Dr. Hermann Blumenau, membro proeminente daColônia Itajaí, organizava a bandeira vitoriosa que devia dar vida à mais prósperacolônia do Sul do Brasil: Blumenau. Este engrandecimento do território da freguesia e seu crescente povoamentoexigiam naturalmente maior autonomia para tornar o seu desenvolvimento maisproveitoso e mais eficaz para sua administração. Não tardou fossem estas justasaspirações satisfeitas. A lei nº 164, de abril de 1859, criava o município, desmembrando-ode Porto Belo. O novo município instalado solenemente no dia 1 de julho do anoseguinte compreendia os territórios dos atuais municípios de Itajaí, Brusque, Blumenaue Camboriú; o perímetro da vila ficava delimitado pela extrema das terras de D. FelíciaAlexandrina Leão Coutinho, aos sul, e pelo ribeirão de Joaquim José da Silva, ao norte,e quarenta braças para o centro contadas a beira-mar. Os primeiros vereadores foramos Srs. Joaquim Pereira Liberato, eleito presidente, Claudino Francisco Pacheco, José daSilva Mafra, Francisco Antonio de Souza, Manoel José Pereira Máximo, Jacinto Zuzartede Freitas e José Henrique Flores, avô do autor destas linhas. Mas o verdadeiro organizador da nova administração municipal foi o Sr. JoséPereira Liberato, presidente da Câmara no quadriênio de 1861 a 1864 e um dos maishonestos e operosos administradores que Itajaí tem tido. No mesmo ano da criação do município estendeu-se o movimento colonizador pelovale do Mirim acima com a fundação, em 4 de agosto de 1860, da Colônia de Brusque,assim denominada em homenagem ao então presidente da província, Dr. Carlos de AraujoBrusque. Oito anos depois, em 1868, foi criada a comarca de Itajaí, da qual foi primeirojuiz o Dr. Joaquim da Silva Ramalho. Decorridos nove anos, dava-se a elevação da vila a001-Anuario-002-63-136.indd 68 22/02/2011 10:46:14
Anuário de Itajaí - 1949 69cidade, em 1º de maio de 1867. Era então presidente da Câmara, desde 1865, o CoronelJosé Henrique Flores. No período administrativo do seu sucessor, João Marques da Silva,deu-se a fundação de Luiz Alves, em 1877. O ano de 1880 ficou tristemente assinaladopela grande enchente do Itajaí que se estendeu a todas as cabeceiras e afluentes do rio,destruindo vidas e propriedades e estancando o desenvolvimento de toda a região poralguns anos. No vale do Mirim especialmente, a cheia tomou proporções assustadoras, aponto de ocasionar o desvio da corrente fluvial pela Estrada de Brusque, abrindo assimo rio caminho para o mar por dentro da cidade e ocasionando estragos enormes. As subscrições organizadas no Estado e na Capital do Império, graças aos esforçosincansáveis e ao espírito de sacrifício do então presidente interino da Câmara, GuilhermeAsseburg secundado pelo presidente provincial, Dr. João Rodrigues Chaves, renderam osuficiente para socorrer as vitimas e atenuar os efeitos da trágica catástrofe. Seguiu-se então a época inevitável dos desmembramentos, dando-se vidaautônoma a Blumenau, em 1880, a Brusque, no ano seguinte e a Camboriú em 1884.Apesar de cerceados em território e rendimento, os itajaienses não se entregaramao desânimo, pelo contrário, tudo fizeram para não estacionar o desenvolvimento domunicípio. Debaixo da presidência de Nicolau Malburg (o velho), o exemplar servidorda causa pública, levou-se a efeito a construção do Hospital Santa Beatriz, inauguradooficialmente no dia 3 de janeiro de 1887, quando administrava a província o Dr. FranciscoJosé da Rocha, chamado o “Bacalhau”. O nome de Santa Beatriz dado ao hospital provémdo fato da esposa do presidente chamar-se Beatriz. Um ano depois adquiria o municípioa primeira Casa da Câmara. Quando caiu a monarquia achava-se na presidência interina da Câmara o Sr.Samuel Heusi, um dos poucos elementos políticos e administrativos que a Repúblicahavia de conservar em posição de destaque. Porque com o advento do novo regime,apareceram no cenário político outras figuras, os republicanos históricos de que Itajaípossuía uma luzida falange. Destes, o que logrou maior evidencia foi o médico baianoDr. Pedro Ferreira e Silva, chefe político de situação durante mais de vinte anos.001-Anuario-002-63-136.indd 69 22/02/2011 10:46:15
Anuário de Itajaí - 1949 70 Os primeiros anos da República foram, como em toda a parte, infrutíferos para acausa pública. Foi nomeado primeiro governador o itajaiense Tenente Lauro SeverianoMüller, mas ele não pode manter-se no posto devido às derrubadas de terreno federalista,pródromos da Revolução de 93, que tão profundamente havia agitar o Brasil, numa lutafratricida e inglória. Com a vitória da legalidade, os republicanos voltaram a predominar e só entãopuderam dedicar-se ao bem público. Em junho de 1897, inaugurava-se o serviço deabastecimento de água da cidade, com que o primeiro governo do Sr. Dr. Hercílio Luzdotava Itajaí, graças aos esforços do Dr. Ferreira, então líder do Congresso estadual. Noperíodo, Ferreira fez ainda a remodelação da cidade, com a abertura de novas Ruas epraças e o alargamento e a retificação da viação urbana existente; em 1910, instalava-se a iluminação elétrica, A concessão fora dada a Max Puetter, mas na realidade aempresa era do nosso conterrâneo Felix Busso Asseburg. A Samuel Heusi deve o município a construção do Matadouro Público, além doseu esforço abnegado de dirigente honesto e escrupuloso das obras públicas municipaisdurante mais de quatro lustros. O ano de 1911 marcou outra vez uma colossal enchente, uma dessas inundaçõesperiódicas que, de trinta em trinta anos, com uma regularidade fatal, assolam o Vale doItajaí. Embora os efeitos desta catástrofe não se revestissem ao menos entre nós, damesma gravidade do fenômeno de 1880, ainda assim foram bem consideráveis as perdascausadas à lavoura e ao comércio por este flagelo. Felizmente, com o auxílio do GovernoFederal e Estadual e o produto das subscrições públicas, entre as quais sobressaiu a dojornal Estado de São Paulo, depressa minoraram os sofrimentos e prejuízos maiores,entrando tudo logo numa fase de reconstrução e trabalho. Em 1911 foi concedido o primeiro auxílio do município ao Colégio Paroquial SãoJosé. Em 17 de dezembro de 1912 deu-se o nome de Bairro de Navegantes à povoaçãoda margem esquerda fronteira à cidade. Até aí chamava-se outro lado ou povoado deS. Amaro. Em 4 de dezembro de 1913 festejou-se um acontecimento digno de nota: ainauguração do Grupo Escolar Victor Meireles, um dos primeiros frutos da reformado ensino estadual, essa obra benemérita do Governador Vidal Ramos e do inspetorOrestes Guimarães. Isto se deu na administração do Sr. Jorge Tzaschel, um dos últimosremanescentes da velha guarda de administradores.001-Anuario-002-63-136.indd 70 22/02/2011 10:46:16
Anuário de Itajaí - 1949 71 Na sessão do Conselho Municipal de 17 de dezembro de 1913, concedeu-sepermissão para instalação de uma linha de bondes. A lei ficou no papel e talvez parasempre, desde que inventaram as linhas de ônibus circulares. Em 23 de abril de 1915, já na administração de Marcos Konder, iniciada em 10de janeiro do mesmo ano, foi autorizada a reforma da instrução pública municipal. Em1º de janeiro de 1917, deu-se a lei nº 72 do Conselho Municipal que tornou o ensinoprimário obrigatório para crianças de 7 a 12 anos. Em 1918 foi criada a Agência Fiscalde Luiz Alves. Pelas leis nº 118 e 423 de 1920, foi tornado obrigatório o uso de fossassépticas ou liquefatoras na cidade, ficando o município ainda autorizado a concederauxílio aos proprietários mais necessitados. Os dias 10, 11 e 12 de julho de 1920 foram de grande gala para Itajaí por causado centenário da fundação da cidade. Em comemoração à data máxima itajaiense,passou a denominar-se a Rua São Bento de Avenida Antônio Drummond. Logo emseguida lembraram-se os edis da pobreza e reservaram compartimentos do MercadoPúblico sem aluguel para a venda de carne com isenção de impostos. 1922. Ano do centenário da Independência do Brasil foi também festejado emtodo o município e em todas as escolas. No dia 22 de outubro de 1925 foi inauguradoo novo palacete municipal, um dos maiores e mais imponentes edifícios públicos deestilo barroco existentes no Estado. Foi pena que, ao refazer os muros derrubados, nãose tivesse mantido o mesmo estilo. Em 1926 foi denominado jardim Lauro Müller o daPraça Vidal Ramos e autorizada a colocação de um monumento ao grande itajaiense,num local mais adequado. Em 1927 foi contratado o serviço de luz e força do distrito deLuiz Alves, sendo inaugurado em fevereiro, quando a 12 do mesmo mês comemorou-sesolenemente o 50º aniversário da fundação daquele distrito. A 9 de novembro de 1928contratou o município com a Companhia Telefônica Catarinense o serviço telefônicopara a cidade e os distritos. Dois acontecimentos memoráveis deram-se também deabastecimento de água de Ressacada e a instalação de luz no bairro de Cabeçudas,visto que anteriormente já o havia sido feito em Navegantes. Em 1930, outros doisserviços de valor foram comemorados no município: a ponte de cimento armado sobreo rio Itajaí-Mirim e a instalação do edifício da intendência de Luiz Alves. Com o triunfoda revolução de outubro, tudo se transformou e mudou tanto no sentido político comoadministrativo. Apareceram também as sindicâncias das quais o Itajaí não ficou isento.Mas, passado o temporal, as ondas políticas se amainaram e os antigos administradorese legisladores conseguiram livrar-se de pena e culpa, sendo plenamente absolvidos pelacomissão de sindicâncias e junta de sanções.001-Anuario-002-63-136.indd 71 22/02/2011 10:46:17
Anuário de Itajaí - 1949 72 Na República Nova Gentilmente organizado pelo Sr. Antônio Rocha Andrade, digno SecretárioMunicipal, damos abaixo o quadro das pessoas que exerceram o cargo de prefeito, a partirde 1930 até hoje. Desses, dois foram eleitos constitucionalmente: Irineu Bornhausen emmarço de 1936 e Arno Bauer, atual prefeito que tomou posse em dezembro de 1947. Eis a relação: Sr. Antônio Quintas Maia – (exerceu o cargo como integrante da Juntarevolucionária). Sr. Adolfo Germano D’Andrade – Foi nomeado pelo Sr. Interventor Federal, prefeitodo município em 5/11/1930, exercendo as funções até 21/12/1931. Sr. Alberto Pedro Werner – nomeado prefeito pelo Sr. interventor Federal em21/1/1932, exercendo o cargo até 2/5/1933. Sr. Arno Bauer - Nomeado Prefeito pelo Sr. Interventor Federal em 4/5/1933,exercendo o cargo até 2/4/1936. Sr. Irineu Bornhausen - Eleito Prefeito em Março de 1936, exercendo as funçõesaté Novembro de 1937, nomeado a partir dessa data pelo Sr. Interventor Federal,exerceu as funções até Janeiro de 1939. Sr Francisco de Almeida – Foi nomeado prefeito pelo Sr. Interventor Federal emJaneiro de 1939, exercendo o cargo até 20/3/1945. Sr. Abdon Fóes – Foi nomeado prefeito em 25 de março de 1945, exercendo asfunções até Novembro do mesmo ano. Em 14 de fevereiro de1946 foi novamente nomeado, exercendo o cargo até 26 de abril de 1947.001-Anuario-002-63-136.indd 72 22/02/2011 10:46:20
Anuário de Itajaí - 1949 73 Sr. Júlio Teixeira – Foi nomeado prefeito em Novembro de 1945, exercendo asfunções até 30 de Janeiro de 1946. Sr. Olíndio Rodolfo de Souza – Substituindo o Sr. Prefeito na qualidade dePresidente da Câmara. Sr. João Gaya – Substituindo o Sr. Prefeito na qualidade de Presidente daCâmara. Sr. Paulo Bauer - Substituindo o Sr. Prefeito na qualidade de Presidente daCâmara. Sr. Arno Bauer – Atual prefeito Municipal, que tomou posse em 3/12/1947. Funcionários municipais que substituíram prefeitos, respondendo pelo expedienteda Prefeitura: Sr. Arnaldo José de Oliveira – Períodos de 4/4/1938 a 4/5/1938 e 23/7/1938 a23/8/1938. Sr. Antônio Rocha de Andrade – 5/1/1941 a 5/2/1941, 10/12/1942 a 30/12/1942e no ano de 1944 substitui o Sr. Prefeito Municipal por três meses, por motivo demoléstia do titular. Sr. Benjamim F. Wendhausen – 30/1/1946 a 14/2/1946, 27/12/1946 a 27/1/1947e 28/1/1947 a 7/12/1947. Durante os 17 anos, de 1930 a 1947, houve apenas dois prefeitos eleitos e emmais de 14 anos nada menos de 13 delegados interinos passaram pela Prefeitura. Énatural que, durante esse período discricionário, não se tivesse podido realizar grandes obras, porque, além de serem os pre feitos dependentes da interventoria, estavam ainda sujeitos aos ditames e referendas do Departamento das Municipalidades. Todavia, vamos enumerar tudo o que consta dos anais: 1931 – Em 14 de fevereiro foi instalado o Distrito de Ilhota, criado pela lei estadual de 26 de setembro de 1930. A 1º de outubro, o cemitério de Navegantes, bem como o da cidade, denominado da Fazenda. Este último, a revolução de outubro encontrou em franco andamento, faltando apenas uma parte da muralha e do ornamento para concluí-lo.001-Anuario-002-63-136.indd 73 22/02/2011 10:46:22
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Anuário de Itajaí - 1949 75 1934 – No dia 14 de julho foram contratados os edifícios das intendências dePenha e Ilhota. 1935 – No dia 19 de outubro inaugurou-se o novo mercado de carne e peixe. 1936 – Pela resolução nº 15, de 18 de junho de 1936, criou-se o Ginásio Municipalem prédio próprio, cuja obra foi paralisada em 1939. Em 22 de setembro foi criada aescola noturna para filhos de operários, maiores de 14 anos. Regulamentou-se também, a23 de setembro, a lei de construção de casa para operários. No dia 2 de novembro foramtrasladados, com ato solene e piedoso, com grande acompanhamento para o quadrooficial do Cemitério da Fazenda, os restos mortais dos antigos prefeitos de Itajaí. 1937 – Pela resolução nº 78, de 17 de março, foi criado e denominado BrunoMalburg o novo e moderno jardim localizado atrás da Igreja Matriz. A 13 de maio foiinaugurada a escola noturna João da Cruz e Silva. 1938 – Em 26 de março assina o governo do município num convênio com oEstado para serviços de Saúde Pública em Itajaí, instalando-se o Centro de Saúde, cujoedifício próprio está sendo construído. A 12 de julho celebrou-se um acontecimentomemorável: com a presença do Sr. Interventor Federal, foi inaugurado o busto do nossogrande Lauro Müller, sem a presença do autor da idéia e dos meios angariados, vistoestar ele impedido de vir ao Sul por causa de motivos políticos e nacionalistas. Aindaem 1938, foi a cidade dividida em dois perímetros: o urbano e o suburbano. Por estadivisão foram incluídos nos perímetros da cidade não só o bairro de Cabeçudas, quejá era perímetro urbano, como também as povoações de Barra do Rio, Carvalho, RioConceição e Ressacada e, do outro lado do rio, Navegantes até Saco Grande. Em 1937, um novo período discricionário criou o Estado Novo e anulou, assim,a curta fase constitucional e, em conseqüência, também o regime já implantado detolerância popular. Em seguida sobreveio a grande conflagração mundial, na qual o Brasilteve também de tomar parte não só como aliado dos Estados Unidos, como tambémadversário extremado dos países totalitários. O nosso município, embora pequeno,tomou parte no movimento, quer mandando soldados para o campo de batalha, querassinando bônus de guerra para financiar o envio de tropas à Itália .001-Anuario-002-63-136.indd 75 22/02/2011 10:46:27
Anuário de Itajaí - 1949 76 A crise não poupou também as rendas municipais que variaram em 5 anos, desde1938 a 1942, entre Cr$ 921.495,60 a Cr$ 924.141,40. Somente em 1943 a receita atingiua Cr$ 1.015.772,20 para subir gradativamente até Cr$1.418.667,90 em 1947. Para oexercício de 1948 foram as rendas gerais do município orçadas em Cr$2.370.000,00,ou seja, o dobro da receita arrecadada em 1945 – Cr$1.241.441,70. Atualmente, omunicípio já possui uma receita capaz de atender aos serviços. As principais verbasde despesas acusam as seguintes percentagens: administração, exação e fiscalizaçãofinanceira, 17%; educação pública, 17,20%; saúde pública, 4,90%; serviços industriais,3,95%; serviços de utilidade pública, 37,35%; dívida pública, 2,07% e encargos diversos,15,60%. Os principais encargos resumem em educação pública e obras públicas. Aprimeira ainda é suscetível de em pequeno aumento de modo a perfazer 20%, o mínimoque o município deve despender com a educação popular. Quanto às obras públicas,descriminadas no orçamento sob a denominação de serviços industriais e serviços deutilidade pública, numa percentagem de 40%, já são molde a satisfazer os serviçosde estradas, de mais a mais quando o Estado já tomou a si o serviço das estradasintermunicipais e até a de Luiz Alves. O maior encargo é o de cuidar de 43 Ruas, muitasdelas apenas abertas e necessitando nivelamento, aterro etc., e de tratar ainda de setepraças, das quais três apenas são ajardinadas. O calçamento das principais Ruas está sendo feito e pago, em grande parte,pelo fundo de contribuição dos proprietários. O calçamento já abrange 3.590 metroslineares, faltando terminar 100 metros da Rua João Pessoa e 1.430 metros lineares daRua Blumenau. A pavimentação de 2.065 metros da Rua 15 de Novembro e 600 metrosda Rua Lauro Müller vai ser iniciado ainda este ano. As Ruas comuns têm a antigalargura de 60 palmos, ou 13,20, as de cabeçudas 10, 8 e 6 metros respectivamente. Háainda em projeto 5 avenidas de 15 e 30 metros de largura. Eis que os dados completosfornecidos pelo Sr. Antonio Andrade, secretário da prefeitura: Calçamento Calçamento da Rua Hercílio Luz (inclusive o lado do jardim Lauro Müller), 750metros lineares; ao lado esquerdo da Igreja, 170 metros; Ruas João Pessoa, 340; PedroFerreira, 400; São Francisco, 150; Felipe Schmidt, 110; Lauro Müller, 470; MarechalDeodoro (Cabeçudas), 650 metros lineares. Ainda este ano serão iniciados os serviços de pavimentação a paralelepípedosnas Ruas 15 de Julho e continuação da Lauro Müller, numa extensão de 265 e 600metros lineares, respectivamente. Outros Informes Os encargos financeiros equivalentes apenas a 2% da receita são tão diminutose insignificantes que permitem empréstimos para aumentar e melhorar os serviçosmais necessários: na cidade, água e esgoto. Água- a que existe – é insuficiente e nãoatinge ainda senão uma pequena parte da população. Esgotos, praticamente, há apenasduas ou três Ruas que gozam deste melhoramento. Para suprir esta falta, há váriasredes particulares. No interior há necessidade de melhores estradas de acesso às vias001-Anuario-002-63-136.indd 76 22/02/2011 10:46:27
Anuário de Itajaí - 1949 77públicas estaduais e de construir edifícios escolares, mesmo de madeira, localizadosem lotes que permitam a instrução agrícola da futura escola rural. Assim possam oexecutivo e o legislativo independente de quaisquer divergências partidárias, colaborarneste sentido e realizar os ideais de todos os habitantes de Itajaí para tornar a nossaterra culturalmente grande, e próspera, em sua riqueza material. Não podemos terminar esta monografia sem nos referirmos a dois vultos quemuito mereceram da sua terra natal. São eles João Gaya e Marcos Gustavo Heusi. Oprimeiro tem mais de oitenta anos e se acha aposentado como funcionário municipale, apesar do muito que lutou, ainda vive, cercado de carinho de sua esposa, seusfilhos, netos e bisnetos. Gaya entrou em moço para o serviço público, dedicando-seespecialmente à nossa Câmara Municipal com um desvelo verdadeiramente exemplar.Durante os últimos anos chegou a exercer três funções: a de secretário, de procurador ede tesoureiro e, apesar de serem pesados estes encargos, jamais deixou de desempenhá-los com proficiência e honestidade. João Gaya foi um funcionário exemplar cujo nomedeve constar da galeria dos bons servidores da Câmara itajaiense. O segundo, Marcos Gustavo Heusi, infelizmente já não se acha mais entre osvivos. Ele deixou a existência terrena no dia 23 de fevereiro de 1947, depois de umavida cheia de serviços dedicados ao País, especialmente ao nosso Itajaí. De aprendizde mecânico, quando ajudou a montar o vapor Blumenau, tornou-se maquinistae chegou ao fim da carreira no posto de chefe das máquinas, tendo trabalhado nasobras das docas de Santos, no nosso porto e nos serviços da nossa costa. Quandodesembarcou definitivamente montou uma oficina e, depois, foi para a roça dirigir umafazenda de seu compadre, Dr. Bachmann, à beira do Itajaí-Mirim. Lá soube adaptar-setão bem ao serviço da lavoura, aplicando os métodos mais modernos, que deixou apropriedade valorizada. Voltando à cidade, o então prefeito de Itajaí, que escreve estaslinhas, convidou-o para dirigir as obras públicas municipais e tão bem que ele soubedesempenhar-se de sua função que em breve tornou-se a mão direita do executivomunicipal e até seu substituto. Nesta qualidade ele entregou a Câmara Municipal aosrevolucionários de 1930 e foi depois, a convite ainda do seu amigo e diretor-gerente daUsina de Açúcar Adelaide, trabalhar na parte técnica deste estabelecimento industrial.Ali prestou serviços tão preciosos que, quando ele se aposentou, dois anos antes do seufalecimento, a Usina Adelaide não teve dúvida em completar a aposentadoria oficial como necessário para perfazer o seu ordenado como diretor-industrial. Mas, em qualquer setor da vida pública de Itajaí, Marcos Gustavo Heusi revelou-se sempre um espírito dedicado, poderoso e inteligente. O seu nome deve, portanto, serinscrito nos anais itajaienses como o de um servidor máximo da sua e da nossa terra,que ele amou como poucos. Itajaí, 1949001-Anuario-002-63-136.indd 77 22/02/2011 10:46:27
Anuário de Itajaí - 1949 78 Uma carta de Lauro Müller Apesar de pertencer à Academia de Letras, Lauro Müller era um homem que escreviapouco. As suas incursões pelo mundo das letras não deixaram grandes reminiscências.Dizia-se até com certa insistência que a única correspondência particular que escreverateria sido um bilhete a um cabo eleitoral de Camboriú. Mas como sempre, ainda aqui, averdade está no meio termo: Lauro escrevia pouco, mas escrevia. Nesta página, a título de curiosidade, divulgamos o fac-símile da carta em 1916,quando o Ministro do Exterior enviou ao seu primo Pedro Schmitt (pai do Sr. BonifácioSchmitt), nos seguintes termos: Rio, 28 de Maio de 1916. Prezado primo e amigo. Tenho um grande praser em enviar-lhe o telegrama recebido por S. Exc. O Sr. Nuncio Apostólico, Monsenhor Aversa, de S. Eminencia o Cardeal Gaspari, Secretario de Estado de Sua Santidade o Papa Bento XV, contendo benção d’Este, por occasião do cincoentenário do seu feliz casamento com minha boa prima Anninha, acompanhado das felicitações do Santo Padre. Fazendo votos pela felicidade de ambos e a de todos os da sua família, com saudade e especial apreço as suas nobres qualidades, Lily e eu lhes enviamos nossas felicitações e um sincero abraço. Disponha do Primo e amigo Lauro001-Anuario-002-63-136.indd 78 22/02/2011 10:46:28
Anuário de Itajaí - 1949 79 Rio das pedras ou dos Taiás? Muito se tem escrito sobre as verdadeiras origens da palavra “Itajaí”. O nome talqual se escreve hoje, não padece dúvida que significa “Rio pedregoso” ou qualqueroutra forma equivalente. Resta, porém, saber se os índios realmente chamavamnosso rio de Itajaí ou de “Tajaí”. Tudo faz crer que usavam a segunda versão, ouseja, “rio dos Taiás”. Nesta coletânea transcrevemos trechos de trabalhos que são verdadeirosdepoimentos de vários estudiosos do assunto. Resumindo-os e citando-lhes asprocedências, desejamos familiarizar os futuros pesquisadores, fontes de consultasobre o tão debatido significado desse topônimo. As provas em favor da versão “Rio dos Taiás” se avolumam e ganham foros delegalidade. Mesmo assim, aquele mofino “i” que adicionaram ao começo da palavra serásempre uma pedra na bota dos estudiosos da toponímia nacional... Vamos, pois, aos depoimentos: “Ora, precisamente esse “i” é um intruso que apareceu, pelo menos, há uns cem anos, com a fundação duma colônia na foz por Drummond em 1820 e a subseqüente criação da paróquia do Santíssimo Sacramento de Itajahy em 1833. Antes dessa época, quando vemos, o nome começava sempre com “t” e só depois generalizou-se o uso ou abuso de lhe interporem um “i”. Achamos, por exemplo, em 1845 Itajahi e ainda Tajahi (Milliet St. Adolphe, Dicc. Geogr. do Brasil). 1827, Itajahy (Menezes de Drummond no Journal dês Voyages); 1822, Tajay (Memórias Hist. do Rio de Janeiro, IX, 268); 1817, Tajahy e Thajai (Ayres Casal, Corografia Brasílica, I, 57, 188., 204); 1816, Tajahi (Paulo Miguel De Brito, Mem. Política Sobre S. Catharina); 1767, Tujuy (Carta do Vice-Rei ao Gov, de S. Paulo, citada por Lucas Boiteux, Notas para a História Cat,. Pagina 143)” (Exerto de um longo trabalho de J. A. Padberg-Drempkol in “Revista de Philologia e de História”. Tomo1 pgs. 427 e segs.) “... por não ter terras para empregar na Agricultura hum suficiente numero de Escravos que tenha, sendo alias tão necessários para o suplimento de sua numerosa família me pedia pellos requerimentos e despaxos correntes que me apresentava lhe concedesse para Sey melhor estabelecimento, Cento e trinta e trez braças de terras de frente com mil quinhentas de fundos que se achavam devolutas no logar denominado Canto da Praia de Itajahy” (Trecho de uma escritura de doação de sesmaria datada de 21/11/1806. Arquivo de Diretoria de Terras de S. Catarina) **001-Anuario-002-63-136.indd 79 22/02/2011 10:46:29
Anuário de Itajaí - 1949 80 “... o vocábulo pode, portanto ter sido inicialmente formado por elementos de pronunciação quase análoga à atual, como por exemplo, Ité-já-y, e que em virtude das formas peculiares à construção de línguas tão diferentes da nossa, em vez de serem consideradas de per si – do que resultaria apenas uma frase sem sentido: (excelente, que água!) formariam, no seu conjunto harmônico a expressão bem significativa: “Que água excelente” (Do trabalho “Nos domínios da semântica”, de Arnaldo S. Thiago, estampado em “A Notícia” de Joinville 12/5/48). ** “... sitas neste Rio de Itajahi Grande no logar Chamado Estaleiro”. E no fecho: “Rio de Itajahy 2 de Abril de 1824” (De uma escritura de doação de terreno onde localiza a Igreja Matriz, transcrita no “Jornal do povo” de 10/4/46). ** Itajaí como localidade sempre foi grafado “Itajaí”. Antes de 1820, todas as cartasgeográficas e documentos grafavam Tajahy, ou mesmo Tajahug ou Tayabeuy. Noteo leitor que o mesmo nas variantes, a parte inicial do termo (“Taiá”) fica invariável.Vejamos alguns documentos: “Sec. XVI – Nenhuma referencia existe sobre o nome “Tajaí”, na toponomástica da costa catarinense do século XVI. “Sec. 17 – Nenhuma referencia minuciosa da “Costa do Governo do Rio da Prata até Brasil”, feita segundo as noticias de Emanuel Figueiredo (português) e de Theodoro Reuter (holandês) que atribuo ao Sec. XVII, transcrevo o seguinte: “Do Cabo Mandiu, segundo Figueiredo, o Nordeste para os que seguem a costa, encontra-se uma Bahia que os portugueses chamam de Enseada das Garoupas e daí uma costa alta, até o rio que os índios chamam de Tajahug até o S. Francisco o mesmo navegante conta 27 léguas...”. “1722 - Num mapa do Paraguai e zonas limítrofes feito pelos jesuítas da Província do Paraguai está assinalado o nome “R. Tayabeuy” para o nosso rio Itajaí. “1818 - Numa exposição feita pelo deputado por S. Catarina, em 15 de maio de 1818, o réu de Portugal, Antenor Menezes de Carvalho, quando fala do rio Itajaí escreve: “... e o famoso Tajay, alem da enseada das Garoupas...” “De 1820 pra cá a grafia de nossa cidade sempre aparece como hoje – Itajaí”. “Analisando o termo “Tajaí” ou “Taiá-i”, temos em primeiro logar a palavra taiá, sinônimo de tauoba (nome usado no centro e norte do Brasil) que no seu sentido primitivo é uma planta herbácea nativa, de folha grande e sagitada, família das aráceas, também conhecida por tarro, talo, pé de bezerro, ou jarro (Xanthosma sagittifolium, Xanthosma violaceum Schott). O nome desta planta passou para o nosso conhecido taiá de folhas igualmente sagitadas e grandes rizomas comestíveis , muito rico em matérias amiláceas, natural das Indias Orientais e do arquipélago malaio, e introduzida no Brasil pelos europeus. Foi chamada taiá porque é semelhante ao nosso taiá nativo e casualmente pertence à mesma família das aráceas.001-Anuario-002-63-136.indd 80 22/02/2011 10:46:30
Anuário de Itajaí - 1949 81 “O “i” ou o “hy” significa água, rio” (Do extenso e bem documentado artigo “Itajaí significa rio dos taiás”, do Padre Raulino Reitz, publicado no “Jornal do Povo” de 25/4/48). “... no celebre mapa Garaffa oferecido pelos jesuítas do Paraguai ao R. P. Vincenzo Garaffa, VII General da Companhia de Jesus, supondo Rio Branco que o trabalho tenha sido delineado entre os anos de 1637 e 1641, encontra-se a designação R. Tayabug; nos segundo e terceiro mapas do Paraguai, de 1722 e 1732, respectivamente, persiste o elemento taiá na forma Tayabuy, em ambos registrada; no mapa do Paraguai por d’Aanvile, datado de 1733, constante de tini XL das Lettres Edifiantes, já se encontra a forma Tajahug, tendo o j o som de i e no Mapa das Cortes, datado de 1749, no Mapa de los Confines de las dos Coronas de España y Portugal em La America Meredional de 1760, e no Mapa Geografico de America Meredional, feito e gravado por Ormedilla, em 1775 – verifica-se a fização da forma Tajai”. O autor deste artigo também registra a forma “Tahei”, usada por Manoel Gonçavelsde Aguiar num documento datado de 1711. E termina: “O documento mais antigo que consegui encontrar no Arquivo da Diretoria de Justiça, e no qual já figura a forma Itajahy data de 1799, e é do seguinte teor: “Illustrissimo e Excellentissimo Senhor. Diz Joaquim Francisco de Salles e Mello, Capitão, Governador da Fortaleza de Santo Antonio de Ratones da Ilha de Santa Catharina, que elles pertende que Vossa excellencia se digne conceder-lhe por Sesmaria huma legoa de terras em quadra no rio Itajahy-Merim, fazendo frente ao Sul do mesmo rio, com fundos ao Norte, confrontando pela parte Leste com terras que anda requerendo o Capitão Manoel Antonio Tavares: e pela parte de Oeste com terras devolutas, para neste lugar construir uma fabrica de assucar para seu interesse e dos Reaes Dizimos, portanto: Pede a Vossa Excellencia se digne a conceder-lhe no Real Nome de Sua Magestade o terreno que suplica, e receberá merce. Despacho. Informe o Tenente Coronel Governador, ouvindo por escrito a Camara e ao Intendente de Marinha. Rio, 30 de Agosto de mil setecentos e noventa e nove. Com a rubrica do Senhor Conde, Vice-Rei”. (Do trabalho “A propósito do topônimo Itajaí”, de Carlos da Costa Pereira, publicado em “O Estado”, de Florianópolis, de 18/4/48). ** “... encontrei, agora, no livro de Carl Friederich Phil. Von Martius – Glossaria Linguarum Brasiliensis – editado em Erlangen, no ano de 1863, além da interpretação “tajahy” – fluvius herbae taia – mais esta: Taix: formiga vermelha e hy: água, ou seja: rio das formigas” (Norberto Bachman, in “Jornal do Povo”, de 23/1/49, na nota “Sobre a origem da palavra Itajaí”).001-Anuario-002-63-136.indd 81 22/02/2011 10:46:32
Anuário de Itajaí - 1949 82 Uma jóia da Renascença em Itajaí Não será excessode entusiasmo afirmar-se queuma das mais valiosas obrasda arte pictórica existente noBrasil encontra-se em Itajaí e érepresentada pela belíssima tela deGuido Reni, intitulada “Madalena”,cuja fotografia estampamos nestapágina (reprodução de outra telade Guido Reni). Procedendo do períodoáureo da pintura – o século XVII– e tendo saído do pincel de ummestre do classissismo italiano,a tela encanta pela harmoniae serenidade de suas linhas emais ainda pelo soberbo do seucolorido. De propriedade dobanqueiro Dr. Rodolfo RenauxBauer, “Madalena” se acha expostana residência do seu proprietárioem Cabeçudas, onde tem sidoapreciada por cultores das artes erecebido os maiores elogios dos entendidos em pintura clássica. O seu autor, nascidoem Bolonha em 1575, foi discípulo de Calvaert e Carrache, tendo pintado vários afrescosna Capela de São Pedro, inclusive a celebre “História de Átila”. São de sua autoria alémde outras telas famosas: “A crucificação de São Pedro de Xisto V”, “A fortuna”(hoje noCapitólio), duas Madalenas que se encontram no Louvre, etc. Quando exposta no Quitandinha, a famosa tela recebeu verdadeira e entusiásticaconsagração da critica nacional, sendo-se de destacar as seguintes opiniões de doisrenomados artistas: De Portinari: – Trocaria toda a minha galeria de arte por esta “Madalena”. De Osvaldo Teixeira: – Se alguém copiou esta tela, é maior do que Guido Reni. Contemporâneo e rival do grande Caravágio, “o seu estilo consiste na graça e nadelicadeza, um desenho elegante e correto, um colorido doce e brilhante, a suavidadena expressão, a riqueza e a harmonia na distribuição da luz”.001-Anuario-002-63-136.indd 82 22/02/2011 10:46:33
Anuário de Itajaí - 1949 83 Um pedacinho da vida escolar de Itajaí Henrique Fontes E´´ sempre com júbilo o mais intenso que revejo o meu Itajaí, “a ditosa Pátria minhaamada”; e é com júbilo não menos vivo que, por vezes, verifico ser, nos meios escolares,tido ainda como um dos que nele se acham enquadrados. Nestas declarações, ficapatete o meu reconhecimento aos jovens que quiserem ter-me por seu paraninfo numasolenidade escolar realizada em minha terra natal. Cumpre-me pois, manifestar-lhes,de público, esse reconhecimento, entremeando-o de palavras de conselho, de animaçãoe bons augúrios. E, para as proferir de coração totalmente aberto e para melhormente me ajustaraos verdores de sua idade, nada será mais próprio do que volver ao passado, voltarao meu tempo de menino de escola, narrar as circunstâncias em que recebi o ensinoprimário, para depois, em largas passadas, tornar aos tempos atuais e ao momentopresente. Há quarenta e cinco anos, minhas boas amiguinhas e meus bons amiguinhos,quando eu estava em plena necessidade de instrução elementar, era aqui um dos sériosproblemas da escola. Havia escolas públicas e escolas particulares. Havia tambémescola alemã. Nas escolas nacionais, reduzido era o programa, não indo muito além001-Anuario-002-63-136.indd 83 22/02/2011 10:46:34
Anuário de Itajaí - 1949 84de ler, escrever e contar. Nesse tempo, as escolas públicas eram procuradas quaseexclusivamente pelas crianças pobres; por isso, eu fui aluno de escolas particulares eaqui, com saudade, e veneração, recordo o nome das minhas bondosas professoras Da.Teresa de Souza, esta ainda viva e por todos respeitada. Freqüentei, a seguir, escolasalemãs, porque nelas, além da língua respectiva, se ensinavam outras disciplinas,ministradas também em alemão. Pelo que minhas lembranças de menino permitem hoje interpretar, eram essasescolas organizadas por iniciativa pessoal dos professores, sem outro intuito que o deexercer atividade remunerada, ensinando eles em alemão, porque era a língua queconheciam, como ensinariam em português, se o nosso idioma lhes fora familiar. Assim éque uma das minhas professoras fazia grande empenho em que os alunos aprendesseminglês. Não devo, pois, em homenagem à justiça, misturar as escolas que conheci efreqüentei em menino, escolas de existência precária, com as escolas estrangeirasmontadas e mantidas dentro do plano preestabelecido e com determinada finalidade. Mas, apesar dessa discriminação, manda a verdade que eu também aqui reveleque não me foi possível suportar a atmosfera não nacional que nelas respirava; e,assim, embora andasse então na casa dos dez para os onze anos, tive a compreensãode que aquele não era o centro educacional que me convinha; e, um dia, resolutamentee com a autoridade que o meu conceito de rapaz estudioso e bem procedido me dava,disse ao meu pai que não queria mais andar em escola alemã. Eu queria conhecerprimeiramente, e bem, a nossa língua. Fui atendido, mas era preciso continuar a estudar, e nas escolas nacionaispouco mais eu podia aprender do que já sabia. Era preciso estudar sozinho, em casa,ou com professor que acidentalmente aparecesse, como já ocorrera, quando eu, porobsequio muito especial, fora o único aluno do Juiz de Direito Dr. Pedro CelestinoFelício de Araújo. Pouco depois, instalou-se, entretanto, uma excelente escola particular, a de Da.Rosa Valente Vieira de Souza. Normalista, possuidora, além disso, de cultura bastante001-Anuario-002-63-136.indd 84 22/02/2011 10:46:35
Anuário de Itajaí - 1949 85superior à que se obtinha no modesto curso normal de então, organizadora, enérgica,mas bondosa, e entusiasta do ensino, alcançou logo boa matrícula; e, no fim do ano, deudemonstração do seu esforço e correspondente resultado em exames realizados compublicidade no edifico municipal, fazendo parte da banca examinadora o inesquecívelDr. Pedro Ferreira, médico e Prefeito, e o Juiz de Direito Dr. Sálvio de Sá Gonzaga.Infelizmente, morte prematura roubou a Itajaí a exemplar educadora cujo nome deveser lembrado entre os que aqui estão vinculados a causa do ensino. Igual lembrançatambém merece o mencionado Dr. Sálvio Gonzaga, hoje desembargador aposentado,que, dado o insuficiente preparo dos rapazes que já haviam ultrapassado a idade escolare dado principalmente o seu amor a língua vernácula, aqui, a exemplo do que fizeraem Brusque, manteve aula noturna gratuita de português. Apesar de menino tambémfui recebido por aluno, e ainda, hoje, posto tenha título de magistrado me dá direito dechamar-lhe colega, com respeitosa camaradagem só o trato de mestre. Temos depois o sábio Padre João Batista Peters, Vigário da Paróquia, paraatender a insistentes pedidos de amigos, conveio em lecionar a reduzido número dealunos, entre os quais estava eu. Depois dele, vem Tibúrcio de Freitas, com o ExternatoItajaiense, que foi de mais larga duração e geral matrícula e onde se fazia ótimo cursode português, matéria em que Tibúrcio era exímio, já na segura exposição gramatical, jánas exigências que punha na estilística. E, após esse fraternal amigo do nosso torturadoCruz e Sousa, veio para cá o esforçado professor João Maria Duarte, cujo colégio,semelhantemente aos que tivera na capital do Estado e na Laguna, se distinguiu pelobom aproveitamento dos alunos, em programa já mais complexo do que os das escolasde ler, escrever e contar, pois que continha história, geografia, já avançava na aritméticaaté proporções e operações dela derivadas e já dava extensas noções gramaticais, queabrangiam análise léxica e lógica e desenvolviam especialmente os verbos, que eramestudados e repetidos em todos os seus acidentes formais. E por esse tempo, isto é, no alvorecer do século XX, numa coisa estávamos jáaqui adiantados: era na realização de festas cívicas com préstitos pelas ruas e sessõesliterárias, em que tinham grande parte as escolas. Aqui houve mesmo uma sociedadedestinada a incentivar o movimento escolar, literário e cívico, o Grêmio Três de Maio,cujo nome e origem se prendem à comemoração grandiosa que aqui se fez do quartocentenário do descobrimento do Brasil. Neste ponto de educação cívica popular, cabe, pois, ao nosso Itajaí categoria deprecursor. Desse rápido quadro da minha vida escolar, em que fica um pedacinho da vidade Itajaí, e que se estende até começos de 1903, quando daqui me ausentei para fazero curso ginasial, podeis ver, meus atenciosos afilhados, quão difícil era então fazer aquium bom curso elementar, até para um rapaz morador na cidade e pertencente a famíliade alguns recursos e de excelentes amizades. É fácil imaginar quanto maiores seriam osembaraços para os menos bafejados da sorte. Voltemos agora ao presente.001-Anuario-002-63-136.indd 85 22/02/2011 10:46:35
Anuário de Itajaí - 1949 86 Hoje são outras condições e vós as conheceis tão bem como eu. E consolidadasestão as instituições de ensino, de que é padrão o Grupo Escolar Victor Meirelles, queora festeja o seu quarto de século e que iniciou aqui a ação benemérita do programaeducativo de Vidal Ramos, a que Orestes Guimarães deu todo o seu esforço e todo o seuidealismo. E estais em vésperas de ter curso ginasial. Hoje, pode-se afirmar que todos aqui, seja qual for a sua situação econômica,podem fazer bom curso primário, acrescido ainda do que completastes e que do primárioé aperfeiçoamento e ampliação. Para esse aprendizado, abre-se uma escola particular excelente como esta,em que me honro de presidir a vossa formatura, e abre-se também a escola oficial,não menos primorosa, que a todos acolhe, sem outra contribuição – e somente pararemediados – que a sabiamente estabelecida na Carta Constitucional e fundada nodever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados. E, nas demais escolas, tem presentemente o aluno a consciência de continuar dentroda sua pátria, brasileiro completo, só brasileiro e cada vez mais brasileiro, entendendoa todos e de todos sendo entendido, e não num compartimento absurdamente extra-territorial, em que passava à condição de estrangeiro e que, se era perigoso para osque, como eu, saíam de meio familiar inteiramente nacional, mais perigoso se tornavapara os que no lar, já falavam a língua estrangeira. Ninguém contesta a vantagem do conhecimento de outras línguas. Mas tambémninguém contestará a primazia e a indispensabilidade do conhecimento correto da línguanacional, pois, sem esse conhecimento, que não é suplementar mas fundamental, quenão é assessório mas principal, ninguém se sentirá compatriota dos seus concidadãos,nem brasileiro no Brasil. E a idade natural para o aprendizado do vernáculo é a da infância e da puerícia.Daí a necessidade de as resguardar de influências que, à sombra da nossa liberdade, iamdificultando esse aprendizado e ainda, com línguas estrangeiras, infiltrando e arraigandoo espírito de outras pátrias. Foram necessárias medidas severas, mas impostas pela mesma realidade quemostrou ser desnatural educar sem religião e que, por isso, declaradamente admitiu orespectivo ensino no horário das escolas públicas. Vedes, assim, meus queridos amiguinhos, que a vida colegial vos vem correndocom mais suavidade do que se desenvolvera para mim e para os meus contemporâneos,e que a muitos de vós, se iguais fossem as condições daqueles e destes tempos, não seteria oferecido ocasião para aprenderes o que hoje sabeis ou, ao menos, para aprenderesna verde idade que desfrutais. No meu tempo, foi maravilha conseguir a matrícula noterceiro ano ginasial; no entanto, hoje, se, como creio, bem aproveitastes o ensino, éesta a altura escolar em que deveis estar. Assim, o que no meu tempo, representava esforço individual, merecedor deapreço, e felicidade, que a poucos se deparava, hoje, dadas as facilidades do ensino, étarefa de comum execução, é natural dever de que ninguém pode excusar-se.001-Anuario-002-63-136.indd 86 22/02/2011 10:46:37
Anuário de Itajaí - 1949 87 Hoje, o saber adquirido é, em grande parte, mais dádiva social do que esforçopessoal, daí, o não merecerem perdão os que não aproveitam as oportunidades que selhes abrem para aprender, e a maior obrigação que têm os que aprenderam de fazer osdemais participantes do seu saber. E certo estou, minhas gentis afilhadas e meus venturosos afilhados, de quefareis bom uso do vosso saber e de que continuareis a aumentá-lo. E sei tambémque, ou no magistério, para cujo acesso é o vosso curso um degrau, ou em outraqualquer carreira, a que os conhecimentos aqui adquiridos e as qualidades moraisaqui temperadas em ambiente cristão, vos derem ingresso, honrareis a instrução quese ministra em Santa Catarina, honrareis esta casa amiga e as suas dignas e piedosasmantenedoras, sendo sempre a ufania do vosso paraninfo, que para vós exora a Deusvida feliz e útil à sociedade. Dados Biográficos Henrique da Silva Fontes. Nasceu a 15 de março de 1885, na cidade de Itajaí. Filho do comerciante e industrial Manoel Antônio Fontes e de Da. Ana da Silva Fontes. Bacharel em Ciências e Letras pelo Ginásio Nossa Senhora da Conceição, de São Leopoldo, Estado do Rio Grande do Sul (1906). Aluno da Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1908). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Paraná (1927). Professor de Português e de História do Brasil no Ginásio Catarinense (1910 a 1917) e de Pedagogia e Psicologia (1911) e de História e Geografia (1911 a 1918) na Escola Normal Catarinense. Encarregado do Serviço de Recenseamento Estadual (1918). Diretor da Instrução Pública (1919 a1926). Secretário da Fazenda (1926 a 1929). Juiz Federal substituto (1929 a 1934). Juiz do Tribunal Regional Eleitoral e Procurador do mesmo Tribunal (1932 a 1934). Procurador Geral do Estado (1934 a 1937). Desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (1937 a 1946). Professor da Faculdade de Direito de Santa Catarina, de que foi um dos fundadores. Diretor da mesma Faculdade (1933 a 1935 e 1942 a 1945). Fundou em 1910, em Florianópolis “A Época”, semanário de orientação católica. Representante do Estado de Santa Catarina na Conferência Interestadual de Ensino Primário (1921) e no Congresso de Ensino Secundário (1922), no Rio de Janeiro; do Tribunal de Apelação MP Congresso Jurídico Nacional (1943), e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina no X Congresso Brasileiro de Geografia de Santa Catarina e correspondente dos Institutos do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Membro da Academia Catarinense de Letras e sócio correspondente da Academia Carioca de Letras. Membro correspondente da Academia Brasileira de Filologia, do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudo Filológicos, de São Paulo. Presidente do Primeiro Congresso de História Catarinense (1948). Publicações: uma série de livros de ensino elementar, iniciada em 1920, quando Diretor de Instrução, e sempre mantida sem qualquer vantagem econômica: Cartilha Popular; Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Livro de Leitura; A Nova Ortografia (1931), ampliada no Prontuário Ortográfico e Prosódico (1932); O Empréstimo Americano (estudo matemático, 1933); O Conselheiro José Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Melo (biografia, 1938); Lacerda Coutinho (biografia e crítica literária, 1943); Estudinhos Antropomínicos (1ª série, 1944; 2ª série, 1949); Projeto de Consolidação da Legislação de Terras do Estado de Santa Catarina (1947), e Digressões Antoponímicas (em publicação). Tem publicado em jornais e revistas artigos assinados e também como editoriais, versando principalmente assuntos históricos, geográficos, econômicos e filológicos.001-Anuario-002-63-136.indd 87 22/02/2011 10:46:38
Anuário de Itajaí - 1949 88 Herbário Barbosa Rodrigues PE. Raulino Reitz V “A natureza fez tudo a nosso favor, nós, porém, pouco ou quase nada temos a favor da natureza” (José Bonifácio, o patriarca). ale ainda hoje a queixa do Patriarca da Independência: “quase nada temosfeito a favor da natureza”. Em todos os recantos de nossa terra, preciosas matas vãosucumbindo, vítimas do fogo e do machado, da ignorância e do egoísmo. Não é somente a árvore, em cujo favor Plínio diz “ser o maior presente dosdeuses”, que desaparece nas derrubadas, mas com ela, milhares de outros não menosadmiráveis espécimes vegetais de utilidade próxima e remota como também animaisindígenas que habitam lugares bem circunscritos de nossas matas. Do reino vegetal dependem o animal e o homem. Se o protegermos ele nos darávida e força com seus alimentos, agilidade com seus frutos e alegria com suas flores. Os filhos do sertão são dum físico muito mais avantajado aos da cidade porqueeles vivem mais diretamente das plantas, respiram o ar oxigenado por suas folhas esentem mais de perto todos os efeitos dos seus benefícios. No intuito de deixar aos nossos pósteros a documentação das riquezas de nossasselvas que tendem a desaparecer, e para tornar as plantas amigas mais conhecidas aohomem foi em tempo fundado o Herbário Barbosa Rodrigues que se está aparelhandosempre melhor para suas finalidades patrióticas. Bons passos já têm dado. Constam suas coleções de 4 a 5 mil números de plantasestudadas por 39 especialistas botânicos nacionais e estrangeiros de três continentes.A nova sede com sua biblioteca especializada e laboratório serão em breve um orgulhopara nossa cidade. A flora do município de Itajaí está sendo estudada com todo o carinho. Diversasexcursões botânicas, de resultados positivos, já foram levadas a efeito no litoral e“hinterland” desse município privilegiado. É digna de nota a excursão realizada, em princípios de 1948, no cume do Morrodo Baú. Em companhia do Pe. Afonso Reitz, Vigário de Luiz Alves, fomos galgando aescarpa rochosa daquele soberbo bloco conglomerático. Cada gota de suor correspondiaa um interessante achado. O Dr. Lyman B. Smith, do United States National Museum001-Anuario-002-63-136.indd 88 22/02/2011 10:46:38
Anuário de Itajaí - 1949 89de Washington, que determinou grande parte do material, escreveu em carta: “It hasbeen difficult to name your plants, but well worth the effort because they are good andspecies that rare or lacking in your herbarium”¹. Pagou, pois, bem a pena o tempo gasto nos três dias que exploramos o cumedaquela montanha cuja altitude ascende a 850 metros. Cerca de 300 espécies de plantasforam coletadas no Morro do Baú e seus arredores. Parcialmente também foi estudadaa vegetação de S. Brás, Escalvados, Brilhante, Praia de Itajaí, Cabeçudas, Praia Bravae diversos outros lugares. Nos dois últimos lugares os estudos foram realizados emcompanhia do Dr. Mulford B. Foster, grande botânico norte-americano e especialista emplantas e artes tropicais. Representa o conjunto uma boa contribuição para o estudofitogeográfico do município de Itajaí. Mesmo que amanhã as matas nativas estejam já em grande parte destruídas pelohomem, todo amigo da nossa flora revendo o material do Herbário Barbosa Rodriguespoderá reconstruir o ambiente primitivo de uma selva local. Um caminho de grandesrealizações está à nossa frente. Somente o levantamento das dezenas de milhares deespécies de nossas plantas é um ideal digno de conquistas. Com a instalação da nova sede, montagem do laboratório técnico, essa sociedadecientífica pretende, auxiliada pelos poderes públicos e pela compreensão dos itajaienses,lançar-se ao estudo árduo, mas profícuo de nossas riquezas vegetais. ¹ Nota: “Foi difícil classificar suas plantas, mas bem valeu o esforço porquehavia bons espécimes e espécies que eram raras ou até mesmo inexistentes em nossoherbário. N.A. O reverendo padre Raulino Reitz, de família catarinense que já deu aosacerdócio três dos seus filhos, é natural de Biguaçu, neste Estado. Exerceu, por algumtempo, o cargo de coadjutor da paróquia de Itajaí, sendo, atualmente, professor doSeminário de Azambuja (Brusque). Estudioso e entusiasta da botânica, fundou e dirige,nesta cidade, o Herbário Barbosa Rodrigues, que mantém intercâmbio com os maisconceituados institutos congêneres de várias partes do mundo.001-Anuario-002-63-136.indd 89 22/02/2011 10:46:40
Anuário de Itajaí - 1949 90 Ginásio Itajaí O Ginásio Itajaí foi criado pela Resolução de nº15, de 16/6/1936, quando prefeitoo Sr. Irineu Bornhausen e neste mesmo ano foi iniciada a construção do seu edifício,que deveria obedecer à planta cujo clichê estampamos na página seguinte. As paredesforam levantadas até a altura do madeiramento. Com a saída do Sr. Irineu Bornhausen daPrefeitura, as obras foram paralisadas e ficaram expostas à devastação do tempo. Com avinda de um batalhão para Itajaí foi o edifício coberto, embora as paredes não estivessemainda inteiramente terminadas, e onde deveria ser o Ginásio foi alojada uma companhiamilitar. Por razões que sendo demais complexas e mesmo incompreensíveis, não cabemaqui neste pequeno relato, a instalação do ginásio foi protelada por doze anos. Era quase um crime falar-se em ginásio nesta terra. Mas o povo sabia muito bem o que queria. Se uma tentativa falhava, punha emprática outra. Até que se recorreu a uma sociedade anônima como único meio de levantarfundos que pudessem fazer as despesas de instalação da nossa escola secundária. E emcomeços de 1948 instalava-se sem grandes solenidades, mas com propósitos firmes decontinuidade, o nosso Ginásio. Foi esta uma autêntica vitória popular. Mesmo assim, osderrotistas vaticinavam fracasso. Realmente as rendas eram mínimas. Como, pois, pagar professores e diretores?Ainda aqui a boa vontade operou milagres. Não há dinheiro? Pois se leciona de graça!E também a sua diretoria não será remunerada. E um grupo de abnegados passou umano inteiro lecionando por amor à arte. À exceção do diretor técnico, todos os demaispostos administrativos eram e são cargos honorários. E assim o programa foi esgotado. No fim de 1948 os exames mostraram oaproveitamento da primeira turma com uma boa média de promoções. Iniciou-se o anode 1949 com três séries, funcionando com uma matricula de 128 alunos. Além do cursoginasial propriamente dito, funcionam ainda anexos ao estabelecimento um curso deadmissão com cerca de 20 alunos, um curso de datilografia com 40 alunos e uma escolano SENAC com dois cursos de balconista e um de datilografia também do SENAC. É interessante notar o interesse despertado pelos cursos do SENAC recentementecriados: 75 alunos freqüentam as suas aulas de balconista e 20 o curso de datilografia.A direção técnica do Ginásio está a cargo do professor Dr. José Medeiros Vieira, de longotirocínio na parte educacional. Sob sua orientação foram criadas várias associações001-Anuario-002-63-136.indd 90 22/02/2011 10:46:41
Anuário de Itajaí - 1949 91extra-classes tais como: “Clube Ginasiano”, “Organização das Decurias”, e uma “Secçãoda Liga Católica Jesus, Maria, José”. O “Clube Ginasiano”, por sua vez, edita um mensáriointitulado “O Ginasiano” e dirige um “cassininho”. Com essas inovações o ambiente escolar do Ginásio tem-se tornado o mais agradávelpossível. O corpo docente do educandário está constituído pelos seguintes professores: Dr.Abílio Ramos, História da Civilização; Alfredo Correia da Silva, Trabalhos Manuais; Antoniode Souza Cunha Júnior, Geografia e Matemática, exercendo também as funções de sub-diretor-secretário e tesoureiro; Ary Mascarenhas Passos, Desenho; Tte. Baltazar M. PereiraMarques, Educação Física; Dr. Felix Malburg, Matemática; Dr. Francisco Rangel, Francês;Da. Hilda Melo de Faria, Português e História da Civilização/ Da. Jenny Liberato, CiênciasNaturais; Dr. José Medeiros Vieira, Latim, Literatura e Geografia; Júlio Pacheco Monteiro,História da Civilização; Luiz de Almeida, Inglês; Maria Seára Alegria, Canto Orfeônico,Nereu Corrêa de Sousa, Português; Padre Vendelino Hobold, Religião; Senhoritas AcindinaSiemann e Zelandia Romano, professoras auxiliares do curso de datilografia. Professores dos cursos de balconista do SENAC: Dr. José Medeiros Vieira, diretordos cursos e professor de Psicologia; Dr. Abílio Ramos, Educação Moral e Cívica; Dr. FélixMalburg, Matemática; Dr. Francisco Rangel, Técnica de Venda; Júlio Monteiro, NoçõesGerais de Comércio; Nereu Corrêa de Sousa, Português. A parte administrativa da sociedade anônima está assim constituída: Diretor-Gerente, Genésio Miranda Lins; Diretor Tesoureiro, Érico Scheefer; co-diretorescomerciais: Arno Bauer, Carlos de P. Seára e Raul Seára. Oportuno é salientar, ao encerrarmos estas notas, a valiosa contribuição doBanco Indústria e Comércio de Santa Catarina S/A que, sempre pronto a auxiliariniciativas que visam o engrandecimento da nossa terra, prontamente doou aimportância destinada aos acabamentos de emergência do edifício a fim de possibilitara imediata instalação do nosso estabelecimento. Constituindo a criação de um Ginásioa maior aspiração do povo de Itajaí é compreensível o apoio e a boa vontade de todospara com o novo educandário. Cabe aqui também uma referencia especial ao Ginásio Feminino, mantido pelasbondosas Irmãzinhas da Imaculada Conceição que grande serviço vem prestandoà educação das nossas jovens, completando-se um ao outro visto que um serve apopulação escolar feminina e outro à masculina.001-Anuario-002-63-136.indd 91 22/02/2011 10:46:42
Anuário de Itajaí - 1949 92 Teatro do ... O teatro do Amador de Itajaí, nasceu de uma conversa de café entre Mário Uriarte,Emílio Gazaniga e Ary Mascarenhas Passos, três entusiastas do amadorismo teatral. Foram da idéia, à execução, já a esta altura auxiliados por Antônio Noronha eRodolfo Bosco. Dispondo de bom material humano que tarimba de Antônio Noronha e RodolfoBosco foram amoldando à difícil arte cênica, em poucos meses o grupo nascente levavaà ribalta a peça “Saudade”, desempenhada por Mário Uriarte, Arno Bernardes Hilda eIrene de Souza, Cacilda Nocetti e Antônio Noronha. Desde a estréia desta peça, o entusiasmo popular pelo teatro amador foicrescendo. O público notou, desde logo, que os nossos artistas – dos quais se salientamMário Uriarte, Hilda Souza, Arno Bernardes e Diná Oliveira – tinham possibilidades parafazer teatro. À peça “Saudade”, segue-se “Feia”, original de Paulo de Magalhães, com pequenasvariantes no elenco e com o mesmo sucesso da primeira. Outras peças foram encenadas: “Esfinge”, “O poder da Fé”, “Apuros de umCoronel”, “A felicidade pode esperar”, etc. Motivos de ordem vária fizeram com que nosso Teatro do Amador interrompessepor algum tempo os seus trabalhos. E somente agora nova peça está sendo ensaiada. Grande perda para o grupo, foi sem dúvida, o recente falecimento de AntonioNoronha, que além de bom artista, paciente ensaiador, produziu também várias peçasde grande sucesso. O renascimento do teatro em Itajaí encorajou a vinda a esta cidade do excelenteconjunto artístico que é o “Teatro do Estudante do Paraná” que aqui encenou uma peçade Ibsen, com o maior sucesso. Mario Uriarte, sem dúvida a figura central deste renascimento artístico, pelo seudinamismo, pelo seu profundo conhecimento do “metiê”, tem sido o propulsor do nossoteatro amador. Pascoal Carlos Magno da Província, é ele quem movimenta, que dinamisa, quegera ânimo entre os seus companheiros de palco. Também Rodolfo Bosco, ensaiador experimentado tem contribuído para que aarte cênica há pouco revivida não seja mais uma tentativa fracassada como tantasoutras do campo espiritual aqui iniciadas.001-Anuario-002-63-136.indd 92 22/02/2011 10:46:42
Anuário de Itajaí - 1949 93 Resta agora a certeza de que o nosso público, sempre tão apático a essasmanifestações de arte foi ao teatro, gostou e foi novamente. Isso já é um galardão paraos nosso esforçados amadores. A prática tem demonstrado que a capacidade artística do nosso grupo – é comprazer que proclamamos – está bem acima da quase mediocridade das peças encenadas.E se ainda não podem desempenhar com desenvoltura Shakespeare, Moliére ou Ibsen,está bem assim do “primeiro livro de leitura teatral” que é Paulo Magalhães. Antes assim. Não se pode também exigir demais da nossa gente, muito embora se devaincentivá-la a produzir sempre mais e melhor. A atual diretoria do Teatro do Amador, que tem como Presidente MárioUriarte, Vice-Presidente, Arno Bernardes, 1º Secretário, Rodolfo Bosco; Tesoureira,Odemira Noronha; Bibliotecário, Milton Luz e Orador, Lío Macedo, e muito tem feitopela arte cênica em Itajaí. Quanto aos demais amadores, deles se poderá dizer quepraticam a arte pela arte, que fazem teatro num sincero esforço de melhorar o nívelda nossa cidade.001-Anuario-002-63-136.indd 93 22/02/2011 10:46:44
Anuário de Itajaí - 1949 94Roteiro das Ruas Ao incluirmos o presente “roteiro” e praças neste trabalho não tivemos em mente senão reavivar a memória daqueles cujos nomes servem de denominação às nossas Ruas. Tanto assim que das 87 vias públicas da cidade apenas nos ocupamos daquelas que levam nomes de pessoas. Deixamos também de dar traços biográficos de patronos cujos nomes têm projeção nacional. Neste particular fizemos exceção apenas a Lauro Müller que, como um dos mais ilustres filhos de Itajaí, não poderia estar ausente neste roteiro.(Dados biográficos dos seus patronos) Nomes humildes na sua maioria, mas, para julgá-los, não nos devemos deslocar do ambiente limitado em que eles viveram. Nem esquecermos que as cidades não vivem somente à custa de políticos e de figurões. É o homem comum que desbrava a terra, que planta a cidade, que constrói a fábrica. Nada mais justo, portanto, que render-lhes depois as homenagens. A exigüidade de espaço nos obriga a dedicar apenas algumas linhas a cada um.Daí as muitas omissões contidas nos esboços biográficos que se seguem. Recolhendoesses dados – na sua quase totalidade – de simples informações verbais, sem outrafonte de consulta mais precisa, pedimos excusas pelas faltas e omissões porventuracometidas. Alberto Werner – Rua – Nasceu o homenageado em Itajaí em 1871 e faleceuna mesma cidade em 1940. Fez estudos primários na sua terra natal. Começou a vidacomo condutor de tropas, seguindo depois a carreira comercial, como proprietário decasa de secos e molhados. Iniciando-se tarde na política, somente em 1930 se empolgou pela CampanhaLiberal da qual foi um dos chefes neste Município. Vencida a revolução, foi nomeadoPrefeito Municipal, cargo que exerceu de 1932 e 1933. A sua passagem pela Prefeitura,numa época em que uma recente reviravolta na política nacional não encorajava nempermitia grandes empreendimentos, foi suficiente, porém, para caracterizá-lo comohomem de grande honestidade, tendo realizado o máximo que as exíguas possibilidadespermitiam. Entusiasta do turfe, foi o fundador da Sociedade Hípica do Vale do Itajaí.001-Anuario-002-63-136.indd 94 22/02/2011 10:46:44
Anuário de Itajaí - 1949 95 Alfredo Trompowsky – Rua – Alfredo Von Trompowsky nasceu na antiga Desterro,hoje Florianópolis, em 1885. Fez na Capital do Estado seu curso de humanidades e,em 1905, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde se bacharelouem 1909. Ingressou na polícia de carreira do Estado Bandeirante e, nessas funções,permaneceu até 1917. Voltando para seu Estado, ingressou na magistratura como Juizde Direito de São Bento, sendo em 1919, removido para Itajaí, onde judicou por quase9 anos, até 1927. Foi nomeado Juiz da Primeira Vara da Comarca da Capital e, nestasfunções permaneceu até 1935, quando foi nomeado desembargador do Tribunal deJustiça. Em 1947, por contar mais de trinta anos de serviço público, foi aposentado aseu pedido. Exerce, atualmente, o magistério superior como professor catedrático dedireito judiciário civil, na Faculdade de Direito de Santa Catarina e isso desde a fundaçãodesse instituto. Andrade – Rua – Adolfo Germano de Andrade, mais conhecido por “CapitãoAdolfo”, nasceu em Portugal em 1874 e faleceu, vítima de um desastre de automóvelna estrada Rio do Sul – Lajes em 1939. Veio criança para o Brasil, dedicando-se à vidado mar. Com 22 anos de idade obtinha carta de capitão de longo curso da MarinhaMercante Brasileira, após ter exercido todos os postos intermediários. Durante 32 anoslutou, afrontando as dificuldades da profissão que abraçara e que, na sua época, nãocontava com os recursos de hoje. Comandou navios para a Europa, América do Norte,portos da Prata e nacionais. Foi proprietário de um navio a vela de grande tonelagem,que fazia a linha Itajaí - Rio e vice-versa. Com o que muito contribuiu para o progressodo Vale do Itajaí, numa época em que as conduções eram deficientes e escassas. Com a vitória da revolução de 1930, foi nomeado Prefeito Municipal, cargo queexerceu até fins de 1931, quando solicitou exoneração. Foi posteriormente nomeadomembro do Conselho Consultivo do Município, tendo exercido essas funções cerca dedois anos. Doou à Prefeitura as terras onde foi aberta a Rua que tem o seu nome. Andrade Müller – Rua – Antônio Pedro de Andrade Müller, filho de Lauro Müller,nasceu nesta cidade. É formado em direito e em medicina e se dedica a essas profissõesna Capital da República. Exerceu, por algum tempo, cargos políticos em Santa Catarina.Como deputado estadual em duas legislaturas, foi o autor do projeto de lei que concediafavores à Construtora Catarinense Limitada, organização que idealizou e construiu a VilaOperária de Itajaí, cujo bairro se localiza na Rua que tem o seu nome. Barão do Rio Branco – Praça – Biografia muito divulgada. Benjamim Franklin Pereira – Rua – Filho de Franklin Máximo Pereira e de DonaMaria Vieira Pereira. Nasceu no distrito da Penha (Itajaí) em 1905 e faleceu em 1942.Fez estudos primários em Itajaí, seguindo, depois, para Curitiba, onde foi empregado docomércio. Ainda jovem, empregou-se na Companhia de Navegação Costeira, onde chegoua imediato. Passando-se para o Lloyd Brasileiro do navio “Mandú”, posto que ocupavano barco “Cairú” da mesma Companhia, quando este foi torpedeado em 8 de março de1942, vindo o imediato Franklin a falecer em conseqüência desse afundamento. Comooficial de longo curso, fez a linha estrangeira, especialmente a dos Estados Unidos. Como nome de “Imediato Franklin”, existe em Piçarras uma Colônia de Pesca.001-Anuario-002-63-136.indd 95 22/02/2011 10:46:45
Anuário de Itajaí - 1949 96 Bruno Malburg - Jardim – Nasceu em Itajaí em 1873 e faleceu em 1918. Erafilho do imigrante e professor alemão Nicolau Malburg. Com 10 anos, foi estudar naAlemanha, fazendo o curso ginasial em Iena. Voltou para o Brasil aos 21 anos, mas,em virtude de acidente sofrido quando estudante, logo que regressou à Pátria, adoeceugravemente, tendo de voltar à Alemanha, onde esteve em tratamento. Com 23 anos,voltou definitivamente para o Brasil. Aqui trabalhou até à morte na casa fundada porseu pai ainda hoje existente (Casa Malburg), na época chefiada por um irmão de Bruno– Nicolau Malburg Jr. Com a morte do irmão, passou a dirigir a firma, cargo que exerciaquando veio a falecer. Foi, por muitos anos, provedor das sociedades “São Vicente dePaula” e “Irmandade do Santíssimo Sacramento”. Carlos Seára – Rua – Carlos Frederico Seára nasceu no Rio de Janeiro em 1867e faleceu em Itajaí em 1946. Veio para esta cidade com 11 anos e aqui completou oseu estudo preliminar. Por alguns anos, exerceu o cargo de Escrivão da Mesa de RendasAlfandegada desta cidade. Por várias vezes foi Juiz de Paz da Comarca. Em mais de umalegislatura foi conselheiro municipal, chegando a Presidente da Câmara de Vereadores.Foi um dos fundadores da Sociedade Guarani e seu Presidente. Fundador do ClubeNáutico Almirante Barroso e seu Presidente. Por muitos anos foi provedor do HospitalSta. Beatriz e Presidente da Liga Católica. Curt Hering – Rua – Nova denominação da terminal da Rua Blumenau, entre aesquina que vai para a “passagem da Barra do Rio” e a curva que leva à ponte sobre oItajaí-Mirim. O patrono Curt Hering nasceu em Blumenau em 1881 e era filho de HermannFriedrich Hering e dona Minna Hering, naturais da Saxônia. Desde 15 anos de idadecomeçou a ajudar o seu progenitor, trabalhando na fábrica deste, instalada no bairrode Bom Retiro, em Blumenau. Impossibilitado de aprimorar os seus conhecimentos nasescolas existentes na sua cidade natal, ainda jovem percorreu vários países da Europa.Esteve na Alemanha, Suíça, Itália e França, onde entrou em contato com a culturaeuropéia. Com a morte de seu pai, Curt Hering assumiu a Presidência das IndústriasHering, que se tornaram, com a sua direção, uma das maiores organizações têxtis do suldo Brasil. Homem progressista, apoiou financeiramente quase todos os empreendimentosindustriais não só da sua cidade como de muitos municípios do Vale do Itajaí. Nestacidade, por exemplo, juntamente com Fides Deeke, Gottileb Reif e outros, fundouuma das nossas maiores indústrias que é a Fábrica de Papel Itajaí, de cujo ConselhoDiretor foi presidente por muitos anos. Foi prefeito de Blumenau de 1923 a 1926 ede 1926 a 1930. O seu nome está ligado ainda a dois grandes empreendimentos: aEmpresa Força e Luz Santa Catarina e o Banco Agrícola e Comercial de Blumenau S.A.,este surgido em 1928, de uma fusão da Caixa Agrícola e mais tarde incorporado peloBanco Indústria e Comércio de Santa Catarina S.A. Espírito democrático e tolerante“na fábrica, ainda hoje não há empregado ou operário, por mais humilde, que não serefira com simpatia à figura daquele antigo chefe, bondoso e acessível, que se faziarespeitar e obedecer como nenhum outro, sem jamais usar de meios coercitivos”.Faleceu em Blumenau em 1948. (Dados extraídos da palestra proferida pelo Dr. Paulo Malta Ferraz, no RotaryClub de Blumenau, em 28/12/48).001-Anuario-002-63-136.indd 96 22/02/2011 10:46:45
Anuário de Itajaí - 1949 97 Coronel Eugênio Müller – Rua – Eugênio Luiz Müller nasceu em Itajaí em 1856e faleceu no Rio de Janeiro em 1936. Ainda muito moço mudou-se para a capital daRepública, onde exerceu profissão de comércio. Voltou para Itajaí, contraindo matrimôniocom D. Guilhermina Büchele. Foi deputado estadual em várias legislaturas, vice-governador de Santa Catarina e seu representante na Câmara Federal. Abandonando avida pública, fixou residência no Rio, onde passou a desempenhar-se como tabelião. Eracoronel da antiga Guarda Nacional. Duque de Caxias – Avenida – Biografia muito divulgada. Expedicionário Marquetti – Rua – Felix Marquetti nasceu no Distrito Federalem 1919, sendo filho de Alfredo Marquetti e D. Maria Marquetti, estes de tradicionalfamília itajaiense. Começou a sua vida como empregado no comércio da Capital daRepública. Com 18 anos assentou praça no 1º Regimento de Infantaria (RegimentoSampaio). Como sargento fez a campanha da Itália na segunda guerra, falecendo emcombate em 1944. Felipe Schmidt – Rua – Militar e político catarinense. Nasceu em Lajes em1859 e faleceu em 1930. Assentou praça em 1876 no 2º Regimento de ArtilhariaMontada, matriculando-se na Escola Militar, no curso preparatório, adido ao Batalhão deEngenheiros. Em 1890, quando tenente, foi eleito deputado por S. Catarina. Promovidoa capitão, foi eleito governador do Estado no quatriênio de 1894-1898. De 1902 a 1911foi senador pelo seu Estado. Novamente eleito senador em 1911, exerceu esse cargoaté 1917, interrompendo-o nesse ano para assumir a governadoria do Estado, para cujomandato foi reeleito para o quatriênio 1914-1918. Nesta legislatura, resolveu o velholitígio de limites com o Estado do Paraná. De 1919 a 1928, voltou ao senado. Morreu em1930 no posto de general do Exército. Fiuza Lima – Rua e Bairro – Juvenal Fiuza Lima nasceu em Uruguaiana, RioGrande do Sul, em 1887. Moço, veio para Laguna, onde se casou, dedicando-se aocomércio. Posteriormente transferiu-se para o Estreito (Florianópolis), exercendo alio comercio de exportação de couros para o estrangeiro. Como os negocios não lhecorressem bem, fixou residência em Itajaí, onde continuou o mesmo ramo de atividades,até que as dificuldades do mercado externo não mais lhe permitiram negociar em basescomerciais. Recomeçou, então, as suas atividades como pequeno criador de gadoleiteiro, e passou a residir para além da Vila Operária (hoje Bairro Fiuza), onde em1930, comprou uma vasta gleba de terra quase virgem e dividiu-a em 600 lotes, que iavendendo às pessoas de poucos recursos em prestações mensais de 10 e 20 cruzeiros.Com esse loteamento, prolongou grandemente o perímetro urbano de Itajaí para o ladooeste, pois o Bairro Fiuza conta com 13 novas ruas e 235 casas residenciais, quasetodas de madeira. Em 1944 transferiu residência para o Rio, deixando os seus negóciosde terras, nesta cidade, a cargo do Sr. Teodoro Luiz Pereira. Frederico Selva – Rua – Denominação recente da Rua que conduz a Cabeçudas.Frederico Selva nasceu na cidade de Biela (Itália) em 1862 e faleceu em Florianópolisem 1938. Veio moço para o Brasil, tendo recebido grau de engenheiro pela FaculdadeLivre de Engenharia do Rio de Janeiro. Foi funcionário do Ministério das Obras Públicas.001-Anuario-002-63-136.indd 97 22/02/2011 10:46:45
Anuário de Itajaí - 1949 98Serviu por longos anos na Comissão de Melhoramentos dos Portos e Rios de SantaCatarina. Foi encarregado das obras do porto de Itajaí como seu auxiliar técnico. Àsua orientação profissional e aos auxílios que prestou, deve-se a abertura da longa eacidentada Rua que tem o sue nome. Frei Apolônio Weil – Rua – Antigo “Beco do Inferninho”, André Weil, nome civilde Frei Apolônio, nasceu em Lapa, Paraná, em 1911, onde fez estudos preliminares.Iniciou o curso de humanidades no Colégio dos Franciscanos em Blumenau, terminandono Seminário de S. Luiz, na cidade paranaense de Rio Negro. Tomou o hábito franciscanoem 1928, ordenando-se em 1934,depois de cursar as faculdades de filosofia e teologia,respectivamente de Curitiba e Petrópolis. Logo depois de formado, ingressou nocorpo docente do Colégio Diocesano de Lajes, cuja direção assumiu em 1938. Nesteeducandário revelou-se autorizado professor de português, fundando, com elementos docorpo discente do Colégio, a Academia Frei Veloso. Como diretor do Colégio Diocesano,Frei Apolônio fez-se ardorosamente estimado pelos seus alunos, tal a maneira comoos tratava e pela facilidade com que transmitia aos seus discípulos os seus profundosconhecimentos da língua nacional. Atualmente Frei Apolônio é professor secundário emBastos, S. Paulo, município de densa população japonesa. Segundo apurou-se, o nometeria sido dado por um engenheiro que esteve fazendo um levantamento urbanístico emItajaí, e por achar mal soante a denominação antiga do “beco”, sugerira por-lhe o nomedo seu antigo professor. Ainda não foi oficializado o nome, mas o público, ao que tudoindica, já o consagrou pelo uso. Getúlio Vargas – Avenida – Biografia muito divulgada. Gonzaga – Largo do – Logradouro público mal conservado, situado na confluênciadas Ruas Tijucas/Blumenau, Andrade e Coronel Eugênio Müller. Denominação dadapor tradição oral e, mais tarde, oficializada, por ato do poder público municipal. OLargo ficava situado em terras de Antônio Lopes Gonzaga, que nasceu em Itajaí em1869. O referido patrono iniciou-se no comércio aos 12 anos, estabelecendo-se commodesta oficina de funileiro, ainda hoje existente e pertencente a descendentes seus.Exerceu também o comércio de compra e venda de açúcar, etc. Adquiriu grande áreade terras nas imediações do atual Largo do Gonzaga e doou à Prefeitura a parte ondefoi delineado o logradouro que tem seu nome. Somente há poucos anos, abandonouo comércio e a oficina. Hercílio Luz – Rua – Hercílio Pedro da Luz nasceu em Florianópolis em 1860 efaleceu em 1924. Formou-se em Engenharia Civil na Bélgica. Foi eleito governador doEstado, pela primeira vez, para o quatriênio 1898-1902. Entre as suas obras de maiorimportância nessa legislatura, conta-se a construção do imponente edifício do palácio dogoverno. Exerceu a senatoria pelo dilatado espaço de 20 anos. Foi vice-governador deSanta Catarina de 1918 a 1922, mas, nessas funções, exerceu a governadoria durantetodo o período construindo, em Florianópolis, o canal saneador em cujas margens corre aAvenida Hercílio Luz. Eleito novamente para o governo do Estado para o quatriênio 1922-26, não completou esse período, tendo falecido em 1924. Desta última passagem pelogoverno, deixou a ponte que tem o seu nome, ligando a capital ao continente. Espírito001-Anuario-002-63-136.indd 98 22/02/2011 10:46:45
Anuário de Itajaí - 1949 99autoritário, imputam-lhe os seus adversários uma série de violências e desmandos, nãoobstante, todos reconhecerem os méritos da sua obra, grandiosa para a época. João Gaya – Rua – João Gaya, filho de conhecida família portuguesa, vinda daVila Nova de Gaya (Portugal), nasceu em Navegantes (Itajaí) em 1862. Começou a vidacomo marinheiro num barco do seu progenitor. Prestou relevantes serviços ao municípiocomo distribuidor de remédios e assistência, quando da epidemia de febre amarela queassolou esta cidade nos fins do século passado, trabalho que executou como auxiliar doDr. Pedro Ferreira. Convidado por este último, ingressou no quadro de funcionários da Prefeitura deItajaí, exercendo simultaneamente as funções de secretário, tesoureiro e procurador,antigamente enfeixadas em um único cargo. Durante quarenta anos, exerceu essasfunções. Depois de aposentado, foi eleito vereador municipal, chegando a Presidentedo Conselho. Espírito prestativo, tornou-se grandemente conhecido e estimado,especialmente pelos habitantes do interior que a ele recorriam para trazer as suas queixasou pedir-lhe orientação. Foi um dos organizadores da Colônia de Pesca de Navegantes.Fundou a Sociedade Recreativa 1º de Maio e muito contribuiu para a instalação de luzelétrica no referido bairro. Joca Brandão – Avenida – O seu patrono, João Marques Brandão, nasceu emItajaí em 1880 e faleceu na mesma cidade em 1930. Dedicou-se ainda jovem ao comércioe, posteriormente, foi nomeado despachante aduaneiro, cargo em que se manteve atéa morte. As atividades de Joca Brandão avultam, especialmente, no terreno social. Com17 anos, fundou o Corpo Cênico que foi o passo decisivo para a criação da SociedadeGuarani, o mais tradicional clube de Itajaí. Com menos de 20 anos, idealizava e fundavaa Sociedade Guarani, cuja sede, ainda hoje existente, foi edificada graças aos seusesforços. Orientou a fundação do Clube 13 de Maio, sociedade de homens de cor. Fundoua Sociedade Beneficente XV de Novembro. Era sócio fundador do Grêmio Literário 3de Maio, da Banda Musical Guarani (a antiga), da Liga Católica Sagrada Família, etc.Religioso que era, introduziu em Itajaí a Procissão de Passos e a celebração integral daSemana Santa. Organizou e manteve um museu particular que foi a “Meca” dos visitantesilustres de Itajaí. No seu livro de presenças deram impressões as mais favoráveis AfonsoE. Taunay, Bastos Tigre, Margarida Lopes de Almeida e outros. Na mocidade publicouum jornal manuscrito, do qual apareceram cerca de dez números. Dirigiu, também, “AFlexa”, órgão oficial da Sociedade Guarani. Humorista fino, dele diz um dos que teceramo necrológio: “... foi sempre um espírito esbanjador do mais fino humorismo e da maisespontânea verve. Onde estivesse, acompanhava-o sempre o riso que desopila, a graçaque desfastia, o sorriso que encanta. Mesmo os momentos mais graves da vida eramsempre vistos por ele, um perfeito Emilio Menezes catarinense, sob o prisma gracioso”.Morreu em meio a um discurso, quando, numa festa que organizava para celebrar otérmino da revolução de 30, discursava no túmulo do Dr. Pedro Ferreira. Jorge Tzaschel – Rua – Nasceu Jorge Tzaschel em Hamburgo (Alemanha) em1867, onde iniciou os estudos preliminares, completando-os em Blumenau. Acompanhadodos pais, que se destinavam à colônia fundada por Hermann Blumenau, imigrou com001-Anuario-002-63-136.indd 99 22/02/2011 10:46:45
Anuário de Itajaí - 1949 10010 anos para o Brasil, a bordo do veleiro “Vitória”. Aqui chegado, freqüentou por algunsmeses a escola, entrando, logo depois, para o comércio. Com 20 anos, mudou-se paraItajaí, onde foi caixeiro da casa de Nicolau Malburg, durante dezesseis anos. Saindodeste emprego, estabeleceu-se com loja de fazenda, ocupação que teve até a suamorte ocorrida em 1923. Por muitos anos, exerceu o cargo de juiz federal substituto deItajaí. Sendo prefeito o Dr. Pedro Ferreira, por várias vezes substituiu este na direçãodo Município. Por morte do Dr. Ferreira, foi eleito Prefeito Municipal de Itajaí, cargoque ocupou por quatro anos. No governo de Marcos Konder, exerceu a presidência daCâmara de Vereadores. João Pessoa – Avenida – Dados biográficos muito divulgados. José Cândido – Rua – Nasceu José Cândido em Tijucas em 1860 mais ou menos.Com 12 anos fixou residência em Itajaí, passando a operário braçal com ordenado decinco mil réis por mês. Nesta profissão trabalhou até 21 anos. Foi lavrador em Barra deLuiz Alves. Voltando para Itajaí, pôs um açougue de sociedade com Jorge Pessoa. Foi,depois, sucessivamente condutor de tropas, negociante em Itajaí e Pedra de Amolar.Com as economias que conseguiu, comprou um grande terreno com frente para a RuaBlumenau, no qual abriu uma passagem (Hoje Rua José Cândido) para possibilitar oloteamento e a venda de pequenos lotes urbanos. Vendeu as suas terras tão barato, queo então prefeito Marcos Konder mandou chamá-lo à Prefeitura – é o próprio José Cândidoquem conta, imitando muito bem o timbre de voz do seu conselheiro – para dizer queele estava fazendo uma loucura, esbanjando sua propriedade. Assim, malbaratou todosos seus haveres e hoje vive humildemente e sozinho num rancho a alguns metros daRua que tem o seu nome. Embora preto, nunca foi escravo. José Quirino – Rua – José Pedro de Souza, popularmente conhecido por JoséQuirino, nasceu em Itajaí em 1906. Freqüentou a escola municipal de Pedra de Amolar,completando o ciclo primário no Grupo Escolar Victor Meirelles desta cidade. Com 15anos de idade ingressou no comércio como empregado, profissão que exerceu até os23 anos. Em 1930, foi admitido como operário da Usina de Açúcar Adelaide S.S., ondeexerce, atualmente, as funções de encarregado da sessão de ensacamento. A Rua quetem o seu nome foi aberta em terreno de sua propriedade. Lauro Müller – Rua – Lauro Severiano Müller. Político n. em Itajaí em 1863 e m.em 1926. Dedicando-se muito moço à carreira militar, assentou praça no exército em1882 e matriculou-se pouco depois na Escola Militar. Em 1885 foi promovido a alferesaluno e, em 1889, a segundo tenente, recebendo o grau de bacharel em matemáticase ciências físicas. Espírito culto, corajoso, altivo, em breve se distinguiu na propagandadas idéias democráticas. Fora dos mais amados discípulos de Benjamim Constant, oespírito filosófico que preparou o advento da República. “Logo depois de proclamada a República foi promovido a primeiro tenente no corpo de engenheiros e, pouco depois, a capitão, pelos serviços relevantes prestados à causa republicana. Nessa época, representou o seu Estado natal na Assembléia Constituinte. Combateu, sustentando o governo do Marechal Floriano Peixoto, quando se revoltou a armada nacional, sob a chefia do almirante Custódio de Melo, em 1898. Foi depois001-Anuario-002-63-136.indd 100 22/02/2011 10:46:45
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