PARTE 5 HISTÓRIA E LITERATURA
19 história e literatura BOQUEIRÃO, CIDADE DAS ÁGUAS, DAS RIMAS E LETRAS: ANTONIO TRAVASSOS SARINHO, CORDELISTA QUE RETRATA NA ARTE DO CORDEL SEU PODER DE INVENTIVIDADE COM AS PALAVRAS MIRTES WALESKA SULPINO SEVERINA DIOSILENE DA SILVA MACIEL “Sempre teremos diversos motivos para lembrar de onde viemos e essa traje- tória estará carregada da história, costumes e valores daqueles nossos lugares e daquela nossa gente”. (Território e Identidade, MINC) INTRODUÇÃO A leitura de textos literários dá espaço para contemplarmos a subjetividade da linguagem em seu contexto social, nos enriquecendo como leitores e como indivíduos. A leitura literária contribui para que possamos expor nossas emoções e sentimentos ao tempo em que representa uma constante descoberta do mundo, “já que a leitura é necessariamente uma descoberta de mundo, procedida segundo a imaginação e a experiência individual” (ZILBERMAN, 1985, p. 21). Assim, a literatura, enquanto agente de mudança e de formação do homem, tem sua rele- vância na medida em que texto e leitor interagem e produzem sentido. A literatura também se mostra essencial para fomentar as práticas e o do- mínio da leitura e da escrita, efetivando a inclusão do sujeito na sociedade. Nesse sentido, a literatura de cordel, gênero literário de caráter criativo e lúdico, pode ser considerada como um instrumento materializador dessas práticas, pois é uma arte que fomenta o envolvimento e o encantamento de seus leitores, contribuindo para a formação desses leitores, como também de escritores. Ao abordar diversas temáticas, sobretudo de cunho social, a literatura de cordel ou folhetos estabelece uma relação efetiva entre o homem e o seu contexto social, expressando a identidade e a cultura de um povo, como afirma PESAVEN- TO (2006, p. 11),“os homens, desde sempre expressaram pela linguagem o mundo do visto e do não visto, através das suas diferentes formas: a oralidade, a escrita, a imagem e a música”. Nessa perspectiva, esse artigo tem como objetivo fazer um apanhado das características desse gênero literário, uma síntese dos representantes do cordel 351
no Brasil e expor, por meio de uma análise de uma coletânea, a relação entre o cordelista Antônio Travassos Sarinho e a construção da História da Literatura na cidade de Boqueirão. QUAL É, AFINAL, A PROPRIEDADE DEFINIDORA DA LITERATURA DE CORDEL? A Literatura de Cordel é uma arte que por meio da palavra rimada, aborda temas do cotidiano do homem, desde suas lutas, dores, tristezas, alegrias e também amores. É uma arte que, no Brasil, materializou-se no fim do século XIX e início do século XX, como um texto em verso, tematizando sobre o contexto social do nordestino, retratando a peleja desse homem e suas idiossincrasias. É uma expressão artística diretamente vinculada à oralidade tanto sob a perspectiva do produtor quanto do leitor, pois, Os autores, durante muito tempo, compuseram seus poemas mental- mente, utilizando o papel apenas como forma de registro de composições previamente elaboradas e, às vezes, apresentadas em sessões de cantorias (ABREU, 2000, p. 11). Geralmente associada à Literatura de cordel portuguesa, o gênero literário produzido no Brasil é também conhecido como literatura popular, gestou-se com o nome literatura de folhetos, até que nos anos 1970 recebeu a denominação de Literatura de cordel, contudo, Os autores e consumidores nordestinos nem sempre reconhecem tal nomenclatura. Desde o início desta produção, referiam-se a ela como literatura de folhetos ou, simplesmente, folhetos. A expressão literatura de cordel nordestina passa a ser empregada pelos estudiosos a partir da década de 1970, importando o termo português que, lá sim, é empregado popularmente (ABREU, 2006, p. 17). Além da importação do termo português, fomentou-se o discurso de que a arte produzida no Brasil tinha gênese ibérica, por causa da literatura portuguesa do século XVII, entretanto, há estudos que comprovam haver mais diferença entre essas duas literaturas do que aproximação. Segundo a estudiosa Marcia Abreu, há um equívoco quando se atribui a origem da literatura de cordel brasileira à literatura produzida em Portugal. Abreu justifica seu ponto de vista por meio de uma análise que realizou dessas duas pro- duções culturais e chega à conclusão de que 352
A apregoada filiação dos folhetos nordestinos à literatura de cordel história e literatura portuguesa, embora não se sustente após uma comparação atenta, faz parte do senso comum, chegando a parecer natural. Essa naturalidade assenta-se em pressupostos oriundos da relação mantida entre Portugal e Brasil. O imaginário das elites ocidentais construiu o mito do colonizador como ser culturalmente superior a quem cabe oferecer aos colonizados uma língua, uma religião, uma literatura, uma maneira de ver, pensar e organizar o mundo. O colonizado, culturalmente vazio, só teria a receber e nada a ofertar (ABREU, 2006, p. 125). Esse posicionamento de Abreu (2006) é ratificado por outros analistas dessas expressões artísticas a exemplo do pensamento de Luciano (2012), quando ele afirma que O nome literatura de cordel é de origem lusa, mas mal empregado em relação aos nossos folhetos de cordel, visto que são fenômenos distintos, havendo mais divergências do que semelhanças entre eles (LUCIANO, 2012, p. 83). Certamente essa discussão acerca da origem da literatura de cordel ainda dará muita margem para novos estudos, contudo, é relevante destacar aqui que em 2018, essa arte em verso foi reconhecida como patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como um gênero literário, que tem como característica principal a predominância do ritmo, da sonoridade, da inventividade e da fantasia, e que no Brasil, essa arte começou a ser produzido no nordeste, como um ofício e um meio de sobrevivência, pois, No final do século XIX e início do século XX, o cordel fazia parte da vida de nordestinos que viviam no campo, dependendo da agricultura ou ainda nas cidades, com seus pequenos comércios (MARINHO & PINHEIRO, 2012, p.7). Hoje, o Cordel é disseminado por todo o Brasil, como resultado da migração do homem nordestino para os grandes centros em busca de melhores condições de vida,levando consigo,na memória,suas experiências e histórias do imaginário coletivo, que foram transportadas para o papel, lidas em espaços públicos e compartilhadas socialmente, pela voz e escrita dos poetas cordelistas. E, a cidade na qual floresceu o cordel foi, sem qualquer discussão, Recife (LUCIANO, 2012, p. 65), que é considerada 353
a cidade pioneira na impressão dos folhetos, tendo no paraibano, radicado em Recife, João Martins d`Athayde (180-1959), seu grande editor (MAXADO, 2012, p. 105). Além de Leandro Gomes de Barros, considerado o pai da Literatura de Cordel no Brasil, por ter sido o primeiro a sistematizar a produção dos folhetos nordestinos, há grandes cordelistas que produziram e propagaram essa literatura, como Apolônio Alves dos Santos, Silvino Pirauá de Lima, Arievaldo Viana Lima, Aderaldo Ferreira Araújo, João Martins de Athayde, Manoel d`Almeida Filho, Ma- noel Monteiro da Silva, Antônio Araújo de Lucena, Maria Godelivie Cavalcante de Oliveira, Zé da Luz, dentre outros. No que tange as características estruturais, o folheto nordestino ou cordel apresenta-se como uma narrativa composta por estrofes do tipo sextilha, com rimas no 2º, 4º e 6º versos, dispostos em 8 a 16 páginas para as pelejas e poemas de circuns- tancias; 24 a 56 páginas para os romances (MARINHO & PINEIRO, 2013, p. 25), mas há cordel de até 64 páginas, de 11 a 16 centímetros. Assim, de acordo com o número de páginas, os cordéis podem ser classificados como pelejas, folhetos de circunstâncias, ABCs e romances. O mote é outra característica do cordel, é um tema proposto, que funciona com um refrão da narrativa a ser discorrida. Quanto à ilustração,há folhetos com ilustrações de reprodução de fotos coloridas e xilogravuras. Essas começaram a ilustrar os folhetos, acompanhando o conteúdo, a partir de 1940. Essas características foram estabelecidas a partir da publicação sistematizada dos folhetos, por João Martins de Athayde, em 1940, embora, o primeiro cordelista a sistematizar a publicação do cordel tenha sido Leandro Gomes de Barros, que escreveu, editou, vendeu e leu os folhetos, a partir de 1893. CORDEL EM BOQUEIRÃO, PARAÍBA Peço a musa inspiração Para falar a verdade Com rima feita na hora E responsabilidade Eu tenho satisfação De elogiar Boqueirão Minha querida cidade. (Antônio Travassos Sarinho) 354
Boqueirão é um município privilegiado no que diz respeito à quantidade história e literatura de água que consegue acumular em seu manancial. É conhecida como a cidade das águas por possuir o Manancial Epitácio Pessoa, o segundo maior reservatório de água do estado da Paraíba, responsável pelo abastecimento de mais de dez cidades, inclusive a cidade de Campina Grande. A cidade das águas é privilegiada também por fomentar a prática de leitura e escrita literárias, recebendo destaque nacional por promover a partir de 2010 a Festa Literária de Boqueirão, FLIBO, graças ao empenho exitoso de escritores locais, que formam a Associação Boqueirãoense de Escritores, ABES e que promovem a produção e a leitura da arte literária. Dentre esses notáveis amantes e produtores de literatura, tem-se Mirtes Waleska Sulpino, Jane Luiz Gomes, Magna Vanuza Araújo e o cordelista Antônio Travassos Sarinho, que por meio de seus versos e rimas retrata o universo boquei- rãoense, conciliando com maestria o tema e a forma, pois conforme ele afirma, rimar palavras não é fazer poesia. ONDE MORA A POESIA: UMA VIAGEM NAS RIMAS E VERSOS DO POETA POPU- LAR ANTÔNIO TRAVASSOS SARINHO ONDE NASCE A POESIA Autor de mais de trezentos poemas, alguns publicados em folhetos de Cordel, Antônio Travassos Sarinho, poeta popular da cidade de Boqueirão, nasceu no ano de 1942, no Sítio Bonita[1], localizado entre as cidades de Caturité e Boqueirão, mudou-se ainda menino com seus pais para o Sítio Malhada, de onde guarda as melhores lembranças da infância e mocidade até completar vinte anos de idade. Filho mais velho de cinco irmãos, assumiu logo cedo as responsabilidades com a lida do campo, como o trabalho de sol a sol no roçado e a ordenha das vacas de manhã bem cedinho. E foi justamente nesse cenário, que o jovem agricultor começou a cultivar seus primeiros versos, puxando o cultivador para planar a terra, tangendo o gado para o curral no fim da tarde e observando entre uma obrigação e outra, a natureza em forma de poesia, como descreve nos versos a seguir: 1 A referida localidade pertencia ao município de Boqueirão. Porém, no ano de 1994, após a elevação do Distrito de Caturité à cidade, através da Lei Estadual nº 5890, o Sítio Bonita passa a pertencer ao município de Caturité. 355
Fico admirado com a mãe natureza Na face da terra, ela criou tudo Um grande, um pequeno e outro miúdo E a cada um, ela deu defesa A uns lentidão, a outros ligeireza As aves deu asas que é para avoar E a formiguinha ensinou a trabalhar Carregando folha, capim e semente A mim ensinou a cantar repente Nos dez de galope na beira do mar. (Antônio Travassos Sarinho) O poeta relembra que na infância sempre buscava água no cacimbão, água salobra própria para alimentar os animais. Em uma de muitas histórias que viveu, ele nos conta com entusiasmo que certa vez, quando tinha uns treze anos de idade, num dia de todos os santos, saiu para buscar duas cargas d’água no jumento, do Sítio Malhada em direção ao Sítio Salgadinho que era propriedade de seu pai, quando no meio do caminho deu uma forte chuva e na volta, ele tirou as tampas das ancoretas[2] e a água saiu derramando pela estrada, pensando ele, que ao chegar em casa, os barreiros estariam todos transbordando. Chegou todo molhado, sem um pingo d’água nos recipientes e os barreiros todos vazios, pois a chuva, sequer passou por perto. Relembra rindo dessa e outras travessuras de menino e da repreensão de sua mãe, que como o mesmo relata, só lhe dera por essa travessura, uns “carãozin”. Essas e outras lembranças, o poeta traduz com maestria na sua literatura de cunho memorialista, ao compor em seus versos o tempo de outrora, sua vivência no sítio desde muito pequeno, como narra no cordel “Só agora foi que me aposentei”: (...) Quando eu morava lá na Malhada Sofri muito no tempo de verão Pra matar a sede da criação Muita água de longe, eu carreguei Em jumento de cangalha, eu montei Já levei machucão em cabeçote Embolei pedra em cima de serrote Só agora foi que me aposentei. 2 Barril de forma achatada para adaptar ao lombo dos animais de carga. 356
Na estrofe supracitada,a relação do poeta com a sua identidade local,ao descrever em seus versos suas atividades cotidianas,seus instrumentos de trabalho,seu lugar de moradia, corrobora com a pesquisadora Sônia Pereira Homolka, (2015, p. 54) quando afirma que, Uma vez que a cultura representa a forma de pensar de um povo, podemos concluir que no quesito cordel, seus versos refletem a visão ou bagagem cultural que o poeta tem do universo em que está inserido, assim como sua percepção desse mundo a sua volta. Nascido e criado nesse universo rural, o poeta Antônio Travassos Sarinho é filho do agricultor pernambucano, Manoel Travassos Sarinho e da costureira paraibana, Rita Cordeiro Duarte (que após o casamento passou a se chamar Rita Cordeiro Sarinho), desde cedo aprendeu a trabalhar com a terra e com os animais, vivenciou secas e tempos de inverno, onde os anos de observação lhes trouxe, como bom agricultor, cuja produção depende fundamentalmente das atividades agrope- cuárias, a sabedoria de ler os sinais do tempo; tempo de plantar e tempo de colher, e ainda o tempo para escrever todas as suas memórias, como nos versos seguintes: Comecei a trabalhar muito pequeno história e literatura Lá no campo só tratando de gado Sem direito a férias nem feriado Levei chuva, sol, poeira e sereno Carreguei pedra, alimpei terreno Muitas vacas brabas eu amansei O imbigo de bezerro eu curei Das novilhas valentes que pariam Trabalhando no campo todo dia Só agora foi que me aposentei. (...) Numa terra de pouca produção Sofri muito como agricultor Já cortei terra com cultivador Já plantei o milho e o feijão Preparei pra fazer a plantação Muita palma no campo já plantei O estrumo no campo espalhei 357
Para fortificar a terra dura Trabalhei muito na agricultura Só agora foi que me aposentei. (trecho do Poema “Só agora que me aposentei”) Mais uma vez percebemos que o poeta nos apresenta através dos seus versos, a sua trajetória de vida, a sua própria identidade como homem do campo. A sua poesia é um convite para que visitemos o seu passado e nele encontremos o Nor- deste representado em muitos outros poetas e em muitas outras poesias. Para De Souza (2014), a poesia coloca o sertanejo como sendo o homem capaz de enfrentar todas as adversidades, pois detém de conhecimento e destreza. O poeta nos insere claramente em seu universo, numa linguagem própria formada na escola da vida, no campo do saber popular, construindo assim, um manual empírico de como preparar o solo para a plantação, de como cuidar das novilhas recém-nascidas ou quanto os sinais da natureza podem influenciar no seu dia a dia como agricultor. Vale lembrar que o poeta Antônio Sarinho frequentou a escola por um curto período de tempo, como nos relata em entrevista: Só estudei até a terceira série, mas as coisas que aprendi, não esqueci mais não. Depois que sai da escola, aprendi muita coisa só de pensar. Assim, aprendi a fazer conta de dividir, conta de multiplicar, somar e diminuir, que é mais complicado. Seu primeiro contato com a literatura popular se deu através dos folhetos de Cordel, que o seu pai trazia da feira, e das Cantorias que ouvia no rádio. Ficava repetindo os versos que ouvia e dali saiam suas próprias rimas. Lembra ainda que um dos primeiros versos que compôs foi durante uma vaquejada, e diz assim: o gado que corre aqui é pesado e tem carreira, no canto que ele passa no chão, deixa a buraqueira, só não disse que faz cavalo chorar, no pé da porteira. Nesse contexto, o poeta Antônio Travassos Sarinho compõe sua poesia a partir de experiências, tanto literária, no contato que teve com os folhetos de cor- del, quanto a partir da sua leitura de mundo. Como ele mesmo frisa: o problema da poesia, não é o verso, porque depois que o caba sabe fazer, ele faz; o bom mesmo é arrumar a história. E história o poeta tem de monte e sabe como contá-las. Em meio às sementes, o agricultor ara a terra, prepara o solo para a plantação, de modo igual, o poeta planta a palavra, rega a vida de esperança, como quem espera colher uma flor. Assim é a poesia do poeta Antônio Travassos Sarinho, onde encon- tramos um diálogo íntimo com a natureza e com as benesses da invernada no sertão: 358
A poesia parece história e literatura Com inverno do sertão Com o claro do relâmpago O estrondo do trovão Nas tardes de invernada Com a espiga de milho assada Na fogueira de São João. (trecho do poema “Como é bela a poesia”) ONDE MORA A POESIA Poesia é companheira do sol, da lua e do vento. Na cabeça do poeta, ela procura aposento. O repente é invisível e a rima é o nível, Que nivela o pensamento. (Trecho do Poema Como é Bela a Poesia) Aguiar e Silva (1988 apud DE SOUSA; DUQUE; VIEIRA, 2020, p. 7), Definem o termo literatura popular como aquela que expressa de modo espontâneo suas crenças, valores tradicionais e o seu viver histórico co- tidiano, constituindo-se de histórias e tradições que são repassadas por sucessivas gerações de forma oral. Ao poeta ou literato popular as ruas, os varais de cordéis, as contações em noite de luar e as calçadas das feiras são espaços que garantem sua eternidade. Esse encontro da oralidade e da escrita e toda a vivência de uma vida, pode ser descrito nos versos do Cordel, em especial na literatura popular de Antônio Travassos Sarinho, aqui apresentada. Dentro das suas memórias, o poeta relembra das cantorias no terreiro da sua casa, no Sítio Salgadinho, município de Boqueirão, onde reunia a família e os amigos ao redor de uma fogueira num encontro com a poesia. Dona Salete, sua esposa, o acompanhava com o violão, alguns sanfoneiros da região davam o tom e seu cunhado, Eronides Cordeiro Leal (irmão mais velho de sua esposa), chamava os versos. E aquela que seria uma reunião entre familiares e vizinhos, transformava-se 359
num encontro de poetas de vários recantos do Nordeste, demonstrando o quanto a poesia passou a dividir espaço com o roçado, o terreiro e com o curral. Entre muitas recordações, o poeta começa a cantarolar uma das cantorias que sempre animavam esses encontros. Nessa em especial, o poeta em tom musical, apresenta-nos a família da sua esposa e prima, Dona Salete, seus sogros e tios, Brás e Antônia Cordeiro e seus onze primos e também cunhados, que conforme diz a letra, “completava uma orquestra inteira”. Eis a cantoria: Lá na casa do meu tio Braz e Antonha Cordeira Véio pai de onze fio E neto de muitoeira Quando me lembro Da fiarada sorteira Que completava Uma orquestra inteira E todo sabo e domingo Dançava sobre a batuque Braz e Antonha Cordeira Nem no bandolim Salete no violão Lurdinha no clarinete Antoin de pandeiro na mão Lucinha e Beatriz Lucinha no cavaquin Fernando e Beatriz E véi Braz nas cuié Ai, meu Deus, como era bom Era bom demais E o restinho da fiarada todinha Ficava em casa Com minha Tia Toinha Era Mazé, José Braz e Nevinha E Edmilson o filho caçulazinha Ai que beleza de família, Minha gente, tanta alegria Que saudade eu sinto agora Não é que eu queira falar bem De meus parentes 360
Mas pra fazer foca e forró história e literatura Não tinha hora Nem no bandolim Salete no violão Lurdinha no clarinete Antoin de pandeiro na mão Lucinha e Beatriz E o véi Braz nas cuié Ai, meu Deus como era bom Era bom demais. Convidamos o leitor deste artigo, a reler o poema cantarolando. Não tem como não sentir o quão festivos e alegres eram esses encontros. Imaginar o cenário com uma noite de lua, poucas nuvens no céu, uma fogueira estralando, crianças correndo, moças e rapazes atentos, família reunida, amigos, poetas e vizinhos, tendo a música e a poesia como testemunhas. Dona Maria da Salete Leal Sarinho e o poeta Antônio Travassos Sarinho. Arquivo Pessoal Com a família já formada, o casal de primos agricultores, casados em 29 de setembro de 1964, ela com 17 anos de idade, ele com 21, transmitiram para os seis filhos, não apenas o amor para com a terra que lhes dava o sustento, através da agricultora, mas também o apreço pela poesia e pelos momentos com a família e amigos proporcionados pelas Cantorias, como nos relata em entrevista, sua filha Ana Rita Sarinho, 361
Papai e mamãe juntavam as meninas da idade da gente, dez, onze, doze anos, a gente ia ralar milho pra fazer pamonha para o pessoal que vinha pra cantoria. Eu gostava demais porque juntava muita gente, a vizi- nhança que vinha. Era gente de Três Lagoas, Guiné, Ramada, Mucunã, Zacarias, Mineiro, Malhada, Emas[3]. Gente de todos os lugares que vinham participar dessas cantorias que haviam aqui. Eu nem lembrava que trabalhava, porque era uma satisfação tão grande que a gente tinha em receber esse pessoal, que nem cansava, minha filha. Tirava a noite, nem tinha cansaço nenhum. Era muito bom, eu gostava muito daquela troca de gente. As pessoas vinham a cavalo, pois naquela época não tinha tanta moto como hoje. Bodas de Ouro do Poeta Antônio Travassos Sarinho e Dona Salete, com os fi- lhos (na sequência) Ana Rita Sarinho, Ana Lúcia Leal Sarinho, Ana Paula Leal Sarinho, Maria José Leal e José do Egito Sarinho. (Arquivo Pessoal, 2014) Antônio Travassos Sarinho, lembra com entusiasmo dos poetas e violeiros que frequentavam suas cantorias, como o saudoso Poeta Zé Laurentino e o então Presidente da Associação dos Repentistas e Poetas Nordestinos (ARPN), Poeta Repentista Santino Luiz, que o ensinou muito sobre as técnicas do cordel e do 3 Comunidades rurais que pertenciam ao município de Boqueirão antes do desmembra- mento ocorrido em 1994. 362
repente e o levou para se apresentar, no final da década de oitenta em Congressos história e literatura de Cantoria na cidade de Campina Grande, esses são alguns dos importantes poetas que ajudaram a moldar a poesia de Sarinho. O poeta ainda fez parte da ARPN, chegando a ganhar alguns prêmios pelas suas participações em Congressos de Cantoria, organizados por José Gonçalves, Bráulio Tavares, Ivanildo Vila Nova, José Laurentino, Santino Luiz, entre outros nomes da poesia popular. Carteirinha de Sócio da ARPN (Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos). Arquivo pessoal, 2021. Sarinho também é um grande admirador do saudoso Poeta Manoel Mon- teiro, a quem considera um dos maiores cordelistas e de quem cultivou uma grande amizade, sendo frequente suas visitas à Cordelaria Poeta Manoel Monteiro na cidade de Campina Grande, fosse para aprender mais sobre as técnicas do Cordel ou simplesmente para conversar com o amigo, pois sempre que escrevia um novo cordel fazia questão de apresentá-lo ao amigo e poeta Manoel Monteiro. Sobre Antônio Travassos Sarinho, Manoel Monteiro escreveu: Não sabia que em Boqueirão mora um poeta de mão cheia, ou melhor, em Boqueirão mora um poeta de gaveta cheia de originais inéditos, de cordéis geniais.O nome do homem é ANTÔNIO TRAVASSOS.O poeta Antônio Travassos faz em seus versos um retrato em preto e branco da sua região, dos costumes do campo. Sua terra e sua gente são a argamassa que ele manuseia para moldar a sua vasta e original obra. É um poeta autêntico, puro inocente, criativo, encantador. Os versos de Travassos são como água da fonte, leite morno tirado do peito da vaca, cantar de pássaros no alvorecer, balido de ovelha, sorriso de criança. 363
No ano de 2012, Manoel Monteiro participou da terceira edição da FLIBO (Festa Literária de Boqueirão), proferindo uma palestra sobre OS AVANÇOS DO CORDEL E SUA UTILIZAÇÃO EM SALA DE AULA, e foi justamente nesse dia que aconteceu o encontro desses dois vates da nossa literatura popular. Daí por diante, firmou-se uma parceria com a publicação, através da Cordelaria Poeta Manoel Monteiro, de dois cordéis do poeta Antônio Travassos Sarinho, sendo eles: “Os 5 mandamentos do político mau” e “Como é bela a poesia”. Poetas Antônio Travassos Sarinho e Manoel Monteiro, 3ª FLIBO, 2012 (Fonte: Facebook/FliboParaiba) O RECONHECIMENTO DA POESIA Antônio Sarinho demorou a ser reconhecido como poeta na cidade de Boqueirão, ele relata que só era lembrado como poeta em época de campanhas políticas, onde era convidado para participar dos comícios e “enfeitar”as histórias e as promessas de campanha dos políticos da época, compondo músicas para alguns candidatos das cidades de Boqueirão e Caturité. Com o surgimento da ABES, Associação Boqueirãoense de Escritores, no ano de 2009, o poeta passou a ocupar espaço nos eventos promovidos pela asso- ciação, como os saraus nas escolas municipais e na Parede Poética, atividade que fazia parte da programação do Balaio Cultural, evento realizado pela Secretaria de Cultura de Boqueirão, onde reunia em sua programação, atrações musicais, grupos de dança, teatro e exposições. 364
No mesmo ano, o poeta Antônio Sarinho foi premiado no Concurso Literário promovido pela ABES, alcançando o segundo lugar com a poesia: “Como é bela a poesia”. Desde então, sua poesia ganhou destaque nas escolas do município, sendo es- tudada pelos alunos da educação básica ao Ensino de Jovens e Adultos,pois a literatura de Sarinho é versátil e discorre sobre diversos temas, encontrando na escola terreno fértil para propagar a sua poesia,pois conforme De Sousa,Duque e Vieira (2020,p.8), A inserção da literatura popular no universo escolar representa parte do aprendizado cultural, artístico e social do aluno como preconizado na Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (1996),assim como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).Afinal a literatura popular nada mais significa do que a expressão da identidade do povo,e tendo em vista que ela é a expressão genuinamente regional, deve então ser trabalhada na escola, pois engloba a história e as experiências populares, demonstrando aspectos da sociedade no dado momento que se encontram, podendo dessa forma ser utilizado como um meio e como uma ferramenta de construção de conhecimento. Tornou-se membro efetivo da ABES, participando de diversos encontros literários, como a FLIBO, Festa Literária de Boqueirão, Abril pra Leitura e Lite- ratura em Revista (promovidos pelo Centro Cultural BNB) ambos na cidade de Sousa e mais recente, da FLIC, Feira Literária de Campina Grande. história e literatura Literatura em Revista, CCBNB, Sousa, 2011. Poeta Antônio Sarinho, Poeta Shirley Vasconcelos, Jane Luiz Gomes, Professora Francitânia Albuquerque, Poeta Mirtes Sulpino, Senna Xavier (produtor cultural do CCBNB), Poeta Maxwell Dantas e o Poeta Malcy Negreiros. (Fonte: Facebook/FliboParaiba) 365
No ano de 2011 publicou, através da ABES, com apoio da Prefeitura Mu- nicipal de Boqueirão, o Cordel “No São João Tradição”, abordando personalidades artísticas e aspectos culturais dos festejos juninos da cidade de Boqueirão, como nos mostra trecho do poema: Durante o mês de Junho Temos o forró na feira Na noite de São João Tem xote, baião, rancheira, Lá fora a fogueira acesa Pamonha, queijo na mesa Pra comer a noite inteira. Os puxadores de fole Aqui dessa região Mozinho, Vavá seu filho Diomedes seu irmão Que foi o “dedo de ouro” O verdadeiro tesouro Orgulho, filho de Boqueirão. Eu quero também lembrar O Silvio de Boqueirão Que também já fez partida Deixando recordação Que cantou muito feliz Imitando o Concris Sabiá e azulão. Capa e Trecho do Cordel do Poeta Antônio Travassos Sarinho, “No São João Tradição”, 2011. Xilogravura de Fred Ozanan. No ano de 2012 participou do Concurso Literário de Cordel promovido pela Pastoral da Pessoa Idosa da Diocese da cidade de Campina Grande, tendo sido agraciado com o primeiro lugar com o Cordel “A chave do cadeado”. 366
Cordéis: A chave do cadeado, os 5 mandamentos do político mau e Como é história e literatura bela a poesia. (Fonte: http://abespb.blogspot.com/2012/07/poeta-de-boquei- rao-ganha-concurso-de.html) O poema vencedor, faz parte das muitas histórias que permeiam o universo do poeta, um relato jocoso que teve como inspiração “um tio meu amarrado”, como nos confessa. A história é engraçada e prende o leitor em cada verso, em busca de desvendar o esconderijo da “Chave do Cadeado”, como leremos a seguir: 367
Era grande fazendeira Tia Zefa Muçambé Como ela era solteira Tando perto de morrer Trocou os possuído em dólar E sem ninguém dar bola Deixou no cofre trancado Me disse é tudo teu Mas depois foi e escondeu A chave do cadeado. Me disse assim desse jeito Tá dentro do caixa forte Mas você só tem direito Adepois da minha morte E para me tapear Veio comigo morar Dizendo, tá bem guardado É tudo teu, eu não nego No dia certo eu entrego A chave do cadeado. (...) Fui bater no cemitério A uma da madrugada Fui procurar o funério Onde ela estava enterrada A fim de obter a prova Arranquei-la da cova Tava de dente serrado A língua dela eu puxei Dentro da boca encontrei A chave do cadeado. (...) 368
Nessa perspectivava, de acordo com Basques Jr. (2012, p. 204), história e literatura O poeta de cordel fabrica as suas histórias ao desrealizar a realidade e os acontecimentos que viu ou ouviu alguém dizer, entretecendo-os com mentiras e acréscimos de retoques que não se pretendem verdadeiros, mas que, ao seu modo, não deixam de sê-lo. É com esse olhar sagaz que o poeta vai compondo a sua narrativa, cons- truindo a sua história e se firmando como poeta popular, reconhecido através da sua profícua produção literária em todo o Nordeste Brasileiro, frequentando não apenas os bancos escolares, como também, as instituições universitárias que abrem espaço para os poetas populares e suas produções. Além de ser premiado pela composição dos seus versos, o agricultor e poeta Antônio Travassos Sarinho, também foi premiado com a reportagem sobre a sua história de vida: “Poeta Popular Antônio Travassos Sarinho”, exibida no Programa Diversidade (da TV Itararé, Campina Grande, PB). A reportagem participou da Mostra Tropeiros de Telejornalismo (12º Festival Audiovisual Comunicurtas, 2017), vencendo como melhor texto, melhor reportagem, melhor reportagem na linha folkcomunicação (Leandro Pedrosa), melhor edição (André Ventura) e melhor repórter cinematográfico/cinegrafista (Marcel Henriques). Poeta Antônio Travassos Sarinho e sua filha Ana Rita Sarinho, recebendo o Troféu do 12º Festival Audiovisual Comunicurtas das mãos do Diretor de Jornalismo da TV Itararé, Anchieta Araújo. (Fonte: Arquivo pessoal) 369
A afirmação da identidade poética de Antônio Travassos Sarinho se de- senvolveu e se consolidou historicamente através de suas vivências cotidianas, quando infere ao seu texto a sua origem, saberes e fazeres do homem do campo, a observação do mundo que lhe cerca e narrativas que o ajudaram a compor suas histórias, fossem elas verídicas ou não. Partindo desse pressuposto, a literatura de cordel contribui na construção do pensamento sociocultural, ao abordar personagens, costumes e modos de viver que simbolizam o Nordeste brasileiro e ainda, no processo de ensino e aprendizagem, ao fornecer informações que irão auxiliar professores na construção do conhecimento e no incentivo à leitura. Em sua vasta obra, encontram-se ainda textos de Cordéis com temas histó- ricos, como é o exemplo dos Cordéis “Boqueirão: 60 anos de emancipação política”, de 2019, “Vereadores e Prefeitos de Boqueirão (de 1959 a 2020)”, de 2016 e ainda o cordel “Vinda das águas da Transposição”, de 2017. Esses e outros textos são frequentemente estudados nas escolas de Boqueirão como já citado anteriormente. O DIÁLOGO COM AS ESCOLAS Frequentemente os professores utilizam a poesia local e popular de Sarinho para trabalhar diversos temas relacionados às vivências dos alunos, como bem lem- bra o Professor Joab Júnior, professor de Língua Portuguesa no Distrito Marinho, comunidade da Zona Rural de Boqueirão: Ele trata de temas que fazem parte da vivência dos alunos. Os alunos se enxergam na poesia dele, ele escreve de uma forma tão lúdica que você se vê dentro da história, se vê fazendo parte do que ele está narrando. A narrativa dele por mais simples que seja né? simples no sentido de ser uma narrativa humilde e não, simples no sentido de conteúdo, porque é riquíssimo e isso não tem nem o que contestar. É mais na simplicidade do narrar dele, sabe? Faz com que o trabalho dentro da sala de aula se torne um trabalho mais fácil de se fazer. Porque quando você traz para o aluno a realidade de vida dele, né? tudo fica mais fácil. E aí com a poesia de Seu Antônio Sarinho, a gente consegue isso, sabe? Além do mais, ele traz uma comicidade muito bacana, às vezes com palavras que nós temos que adaptar pra levar pra sala de aula. Porém, é um humor bom, um humor sadio. Eu gosto muito de trabalhar os textos dele e sou muito fã da poesia dele. 370
Para o professor de Geografia, José Iolanilson das Chagas, que teve contato história e literatura com a literatura do poeta Antônio Sarinho, através dos netos do poeta que eram seus alunos, sendo Missias Sarinho de Brito na EMEF Padre Inácio e José Lucas Leal Higino, na Escola Criativa da Mônica, ambos estudantes do ensino funda- mental II, e foi a partir de alguns trabalhos desses alunos, que sempre apresentavam os poemas do avô, que o professor Iolanilson acabou conhecendo pessoalmente o poeta. O professor nos relata que, Foi a maior riqueza que eu já tive ao trazer os cordéis dele para a sala de aula. Riquíssimos trabalhos, né? Ajudou não somente o nosso trabalho, mas também os trabalhos dos alunos. A ter mais interesse nas aulas, prestar mais atenção, e por ser uma metodologia diferente, os alunos se envolviam muito mais.Trouxe muitos resultados positivos para os alunos, a cada conteúdo, eles mesmos pediam que fosse feito em cordel. Resultou de muitas coisas boas diante dos alunos, não só a percepção, o raciocínio, a escrita. Então foi uma experiência riquíssima trabalhar com os cordéis de Seu Antônio Sarinho. Para o Professor e Doutor em Literatura Brasileira, Hélder Pinheiro (MA- FESSOLLI; MAIA, 2018), a poesia contribui e muito para a formação dos alunos se for trabalhada cotidianamente, visando formar sua sensibilidade, sua percepção do mundo, das pessoas, dos fatos [...], continua experimentar estas descobertas com os próprios alunos sempre traz bons resultados. E foi desta forma que o Professor Ió (como é chamado pelos alunos), introduziu em suas aulas de Geografia, o Cordel do Poeta Antônio Travassos Sarinho, “Lendo a Geografia”, com capa e trechos disponíveis a seguir: 371
Vou buscar no pensamento Força pra minha memória Construindo com repente Uma pequena história Lendo a Geografia Descrevo com poesia Pra ver se chego à vitória (...) No estado de São Paulo São grandes os cafezais Em Mato Grosso a soja Paraná os milharais O trigo e o algodão Pra riqueza da nação Tem grandes canaviais (...) Capa e Trecho do Cordel do Poeta Antônio Travassos Sarinho, “Lendo a Geografia”, s/d. Acervo do Professor José Iolanilson das Chagas. O professor José Iolanilson explica que ao invés de se debruçar apenas sobre o livro didático, como única metodologia de ensino, explorou a literatura presente no folheto de cordel, constatando que, foi muito valioso para mim e para o conhecimento dos alunos. Importantíssima a leitura dos cordéis de Seu Antônio Sarinho que fizemos em sala de aula. Uma pessoa impar para a nossa cultura aqui da cidade de Boqueirão. Nesse contexto, corroboramos com a abordagem de Paulo Freire (1996), quando fala da grande importância política e pedagógica que se reveste a ação do professor quando leva em consideração os conhecimentos de mundo dos alunos, bem como o contexto socioeconômico e cultural em que os mesmos se encontram. Diante do exposto, a poesia de Antônio Travassos Sarinho aqui apresentada, expressa, através da Literatura de Cordel reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil (IPHAN, 2018), elementos da cultura popular nordestina, especialmente da região do Cariri Paraibano, mantendo a preservação da nossa cultura, possibilitando assim, que outras gerações tenham acesso a essas narrativas que ajudaram a tecer e a contar as nossas histórias. 372
CONSIDERAÇÕES FINAIS história e literatura Um artigo é pequeno para mostrar a grandiosidade inventiva da escrita do poeta Antônio Travassos Sarinho. Suas narrativas nos convidam a conhecermos uma literatura que promove encantamento e sentimento de pertencimento, pois ao lermos a poesia desse vate, tendo o contato com seus versos, nos reconhecemos como membros do seu universo inventivo e somos tocados por sua arte e genuína manifestação cultural, a Literatura de Cordel. Companheiro da poesia, confunde-se com a sua própria narrativa, quando converte a sua experiência de vida e o seu saber empírico em versos. Um menino que brincava com a chuva, que aprendeu a plantar e a colher como bom agricultor, observando os sinais da natureza e ouvindo os ensinamentos dos seus pais. Escreve sobre História, Geografia, política, amores e saudades. Escreve sobre si mesmo e todo universo ao seu redor, com a simplicidade e a sabedoria de quem soube construir a sua vida com o cabo da enxada, muitos sonhos e muito suor. Como tantos outros poetas populares, frequentou a escola da vida e dela extraiu os melhores ensinamentos. Prestes a completar 80 anos de vida, coube-nos a tarefa de narrar um pouco da sua História.Tomemos esse texto então, como uma ode de respeito ao poeta Antônio Travassos Sarinho e a todo o universo que ele nos apresenta em sua poesia. Desta forma, como não nos reconhecermos nas personagens Salete no violão, Lurdinha no clarinete, Antoin de pandeiro na mão e o Véi Braz nas cuié, pessoas comuns, do contexto familiar de Sarinho, que serviram de tema para sua poesia? Como não nos sentirmos bem representados quando em seus versos esse poeta diz sobre o nosso Boqueirão, “tu és o coração das terras do cariri”? Então, aqui, não estamos fazendo considerações finais, mas, antes de tudo, nos instigando a ler mais, refletir mais e escrever mais sobre a vida e a obra desse poeta que tão bem sabe representar a nossa Boqueirão, a nossa cultura e a nossa literatura em seus versos. REFERÊNCIAS ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. 2ª reimpressão, Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2006. ___________. As variadas formas de ler. In: No fim do século: a diversidade – o jogo do livro infanto e juvenil. (org. Graça Paulino e outros). Belo Horizonte: Autêntica, 2000. BASQUES JR., Messias M. As verdades da mentira. Ensaio etnográfico com folhetos de cordel. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Universidade Federal de São Carlos, 2012. 373
DE SOUZA, Francisco Wellington Carneiro. A poesia de Patativa do Assaré como voz de resistência à condição subalterna: uma leitura acerca do sertanejo nordestino. 2014. Tese de Doutorado. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. DE SOUSA, Vanessa Fortaleza; DUQUE, Adauto Neto Fonseca; VIEIRA, Maria Alveni Barros. Versos, Rimas e Assombração: a literatura popular na sala de aula do semiárido Piauiense. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 6, p. 33775-33791, 2020. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: paz e terra, 1996. HOMOLKA, Sônia Pereira. Literatura de Cordel: Vozes da Identidade e um Breve Es- tudo Memorialístico. 2015. 77 p. Dissertação (Master of Arts) – Department of Spanish and Portuguese, Brigham Young University. LUCIANO, Aderaldo. Apontamentos para uma história crítica do cordel brasileiro. São Paulo: Editora Luzeiro, 2012. MAFESSOLLI, Isabel Aparecida; MAIA, Samanta Rosa. Entrevista com Hélder Pinheiro, sobre o livro “Poesia na sala de aula”. Mafuá, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, n. 29, 2018. MARINHO, Ana Cristina & PINHEIRO, Hélder. O cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012. MAXADO, Franklin. O que é cordel na literatura popular. Rio Grande do Norte: Queima Bucha, 2012. PESAVENTO. Sandra Jatahy. História e literatura: uma velha-nova história. In. COS- TA, Cléria Botelho da e MACHADO, Maria Clara Tomaz. (orgs.) História e Literatura: identidades e fronteiras. Uberlândia-MG: EDUF, 2006. p. 11 a 28. SARINHO, Antônio Travassos. Minha cidade. Boqueirão, s/d. ___________. Antônio Travassos. A Chave do Cadeado. EDUEPB, 2012. ___________. Antônio Travassos. No São João Tradição. Boqueirão, 2011. ___________. Antônio Travassos. Como é bela a poesia. Boqueirão, 2012. ___________. Antônio Travassos. Só agora foi que me aposentei. Boqueirão, s/d. ___________. Antônio Travassos. Lendo a Geografia. Boqueirão, s/d. ZILBERMAN, Regina (org.) Leitura em crise na escola: alternativas do professor. 4.ed. [por] Vera Teixeira Aguiar [e outros]. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. 374
20 história e literatura A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DE CORDEL PARA O REGISTRO HISTÓRICO DO DISTRITO DO MARINHO - BOQUEIRÃO, PB. ANDREZA PAULA MATIAS JOAB JORGE LEITE DE MATOS JÚNIOR 1 INTRODUÇÃO A literatura de cordel tão presente e enraizada no nordeste brasileiro, herança dos colonizadores portugueses, é um tipo de literatura popular que traz em suas narrativas situações do dia a dia, clamores, denúncias, comicidade, causos, entre outros temas que tratam da vida do povo nordestino que apesar das adversidades se nega a perder a esperança e a vontade de lutar por uma realidade de vida melhor, mesmo que muitas vezes, apenas no imaginário. Ao narrar as histórias vividas, vistas, inventadas o poeta de cordel acaba por criar um registro histórico daquele recorte de tempo no qual está inserido. Isso é de suma importância para que essas narrativas não se percam com o tempo e por mais que se tratem de folhetos simplórios, os cordéis funcionam como ferramenta de perpetuação da história de nosso povo. Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância da literatura de cordel como registro histórico, funcionando assim como agente perpetuador da cultura de um povo, no caso específico do Distrito Marinho – Boqueirão – PB. Acreditamos que seja relevante abordar o assunto e realizar o devido reconhecimento desta mani- festação popular que tanto na rua, nas feiras, no trabalho docente, possibilita que as histórias, crenças, costumes sejam passados de geração em geração e dessa forma a cultura de um povo nunca caia em esquecimento nem muito menos deixe de existir. Para realização de nosso estudo, inicialmente efetuou-se a leitura do material que serviu de aporte teórico, para com este, termos ferramentas para resolvermos indagações que perduraram por todo o nosso estudo. Logo em seguida, iniciamos a explanação dos corpus escolhidos, observando as nuances históricas presentes em simples versos de cordel. Dessa forma chegamos à conclusão de que toda manifestação é válida desde que seja vista pela ótica correta para aquele momento histórico, e que por mais simples que seja uma arte, ele tem sim sua importância e traz a oportunidade de registro da história de um povo. Por fim, já mostrado o nosso objetivo, esperamos que de alguma forma, o estudo realizado, venha a contribuir de uma maneira geral no âmbito escolar ou 375
até mesmo no acadêmico, como proposta pedagógica para o ensino de língua ou até mesmo como fonte de pesquisa para os que venham a interessar-se pelo tema. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 GÊNERO CORDEL: UM POUCO DE SUA HISTÓRIA, SUAS FORMAS E SEUS TEMAS A pesquisa sobre literatura de cordel tem aumentado com o passar dos anos. Outras áreas estão igualmente oferecendo a sua contribuição para o estudo desta modalidade de literatura, entre as quais podemos mencionar a Teoria da Literatura, a Sociologia, a Antropologia, a Semiótica, entre outras. Por outro lado, de acordo com Pinheiro e Lúcio (2001, p. 7), nota-se que a venda dos folhetos de cordel encontra-se em queda, mas que, ao contrário do que se possa pensar, esse fato não se deve ao desinteresse do público, que revela boa receptividade aos “poemas de bancada”. O que realmente influi no retraimento do leitor é a falta de um trabalho eficiente de divulgação dos folhetos, ao mesmo tempo em que cresce a cada dia o número e a diversidade de novas mídias que o assediam de todas as formas. O cordel consiste em poesia popular,composta em versos que narram histórias de batalhas, amores, fatos políticos, etc., e que, como toda produção cultural, vive momentos bons e maus. No final do século XIX e início do século XX, os folhetos concentravam-se quase exclusivamente na narrativa da vida dos nordestinos que viviam no campo ou nos vilarejos, onde constituíam-se como pequenos comer- ciantes. O movimento migratório provocado pela seca na virada do século XIX, empurrando populações inteiras do campo para as cidades, em busca de melhores condições de vida, foi decisivo para a constituição da literatura de cordel como hoje a conhecemos (PINHEIRO E LÚCIO, 2001, p. 11-12). Os escritores que foram para as cidades neste período levaram consigo uma bagagem de experiências de vida e de histórias contadas e ouvidas. Transpondo para o papel essas histórias, conferiram ao cordel as características singulares de ritmo, e musicalidade e riqueza temática que caracterizam os folhetos como docu- mento de identidade histórico-cultural do nordeste brasileiro. A partir de então, o cordel, visto como literatura própria de comerciantes analfabetos, agricultores pobres e ex-escravos, abrangendo apenas o âmbito familiar e as rodas de amigos, sai gradativamente destes ambientes restritos, para ocupar espaços antes reservados à elite letrada do país. 376
A expressão “literatura de cordel”foi inicialmente empregada por estudiosos história e literatura da língua, para nomear os folhetos vendidos nas feiras, a exemplo do que acontecia em Portugal. Lá, esse tipo de literatura, direcionado ao público das camadas médias da sociedade (militares, padres do baixo clero, funcionários públicos, artesãos, etc.), era vendida a baixo preço, em livros pendurados por um cordão. Quem geralmente os comprava era uma pessoa letrada, que os lia para um público não-letrado. No Brasil, assim como em Portugal, a leitura do cordel, tanto no passado como no presente, realiza-se coletiva ou individualmente. O autor dos folhetos é aqui conhecido atualmente como “cordelista”ou “poeta de bancada”. Suas temáticas principais são as histórias de cangaceiros, de boiadeiros heróicos, de príncipes, reis e princesas, de animais encantados, de “mal-assombros”, de personalidades ilustres da história ou pitorescas, de figuras e fatos que fazem parte do imaginário histórico, religioso e social do nordeste brasileiro. Ainda de acordo com Pinheiro e Lúcio (2001, p. 15), as características formais, de apresentação e de linguagem dos folhetos se definem entre o final do século XIX e o início do século XX, quando Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista e João Martins de Athayde iniciaram a publicação de seus trabalhos e estabeleceram regras de composição e de comercialização dos cordéis. Nessa época, (1893 – 1908) constitui-se um público leitor-ouvinte que aguardava a saída dos folhetos e os comprava, fielmente (GALVÃO, 2006, p. 31). Inicialmente os folhetos eram impressos em tipografias de jornais, mas com o passar do tempo começaram a ser impressos nas tipografias dos próprios autores, que produziam e vendiam, e com isso garantiam o sustento da família. No início, a venda dos folhetos se fazia nas ruas, mas, a partir de 1920, passaram a ser vendidos também em mercados públicos, através de revendedores. Com o sucesso da venda dos cordéis, alguns cordelistas, como João Martins de Athayde, compraram os direitos de publicação da obra de outros autores, tor- nando-se editores proprietários. Isso, de acordo com Pinheiro e Lúcio (2001, p. 17) gerou muita confusão, pois o editor só colocava o seu nome no material e o do autor legítimo sumia. Para evitar tais transtornos, os cordelistas passaram a escrever seus nomes em acrósticos, nas últimas estrofes dos poemas. Hoje em dia esses problemas com a autoria dos cordéis não existem mais, mas o acróstico continua a ser usado. Deve-se ainda a João Martins de Athayde a definição das características gráficas dos folhetos, na década de 20 do século passado. Em média, o número de páginas que cada cordel deve conter, dependendo do assunto abordado é de 8 a 16 para pelejas e folhetos de circunstância e 24 a 56 para os romances (PINHEIRO E LÚCIO, 2001, p. 17). 377
2.1. A POESIA COMO CONSTRUÇÃO Bráulio Tavares, na introdução de Contando histórias em versos (2005), aponta a importância da existência de livros que ofereçam suporte técnico para auxiliar na escrita de poemas. Segundo o autor, técnica existe para mostrar a quem escreve que o poema possui uma variedade maior de combinações que podem ser feitas com palavras e com isso melhorar o seu trabalho de linguagem. O sentimento, na poesia, necessita estar associado à técnica, e Tavares, no livro, aborda com mais ênfase a poesia narrativa, que conta uma história geralmente rimada, tomando como material de análise a poesia que herdamos dos portugue- ses, a literatura de cordel. O poema narrativo está presente também no teatro e na música. O trabalho dos poetas é baseado em contar histórias e em fazer perguntas, trabalho este que começou há muito tempo. Mas, já que se fala aqui em poesia, seria interessante perguntar-se: o que é a poesia? “Poesia, segundo o poeta inglês Coleridge, são as melhores palavras na melhor ordem possível” (TAVARES, 2005, p. 15). Cada nova leitura do mesmo poema pode nos fazer interpretá-lo de forma diferente, com uma informação nova. O ato de escrever poesia, segundo o autor, é uma ação que acontece de dentro para fora, quando quem escreve quer expor seus sentimentos ou opiniões com relação a algo, e também de fora para dentro, quando o poeta lê poesias que lhe servirão de base ou inspiração para as suas futuras escrituras. Com o hábito da leitura de poemas, o leitor cria uma “mala de ferramentas” que lhe servirá para o presente e para o futuro como escritor/leitor de poemas (poesia). Os elementos da poesia são, basicamente: a música, a imagem e a ideia, e sua função é criar interação mútua entre todos eles dentro do texto poético. Cada autor faz uso desses elementos, de um às vezes mais do que do outro, mas o que realmente importa é a sensação que o poema causa em quem o lê, musicalmente, imageticamente ou no campo das ideias. A sonoridade do poema quem faz é o seu autor, e tem relação direta com a quantidade de vogais e consoantes que este coloca, como também a ordem segundo a qual elas são dispostas dentro do poema. O efeito da música não se dá apenas com a repetição de poucos sons, mas também através de uma combinação de sons diferentes. Variar a sonoridade das palavras quando escrevemos é muito importante. O efeito dessa sonoridade vai variar de acordo com quem está lendo. Assim sen- do, considera-se a rima como um dos elementos estilísticos mais eficazes para a transmissão de estados de alma através do texto poético. O uso da rima nos poemas populares já se tornou parte de uma herança canônica comum à cultura nordestina, inclusive no que concerne ao senso artístico dos leitores habituados ao esquema rímico adequado a determinadas sonoridades sugeridas no poema. 378
A rima consiste na repetição de sonoridades que passaram há pouco pela história e literatura nossa mente e ainda não se apagaram de nossa memória. A rima exata ou consoante é a que exige igualdade de sons no final de dois versos, da vogal da sílaba tônica em diante. O elemento musical tem como seu principal instrumento a métrica, que consiste numa sequência de versificação ordenada por regras de metrificação espe- cíficas. Os tipos de versos quanto à metrificação mais utilizados na poesia popular são os versos setissílabos, ou heptassílabos, isto é, de sete sílabas. 2.2. A POESIA NARRATIVA A literatura oral antecedeu em muito a literatura escrita. O poeta trabalha por associação de ideias; conta a história com todos os seus detalhes, sem prender-se a nenhuma ordem dos acontecimentos, desses detalhes. Os poemas não-narrativos mostram um pequeno fato isolado e fazem alguma reflexão sobre o que ele significa, oferecendo uma descrição de um dado momento,sem contar uma história na íntegra. No poema narrativo, o poeta segue uma sequência teleológica, na qual a história tem um começo, um meio e um fim. O poeta pode então narrar aconte- cimentos de sua vida, como se fossem parte da vida de uma personagem, e não da sua própria. Neste tipo de poema, o autor opta por utilizar-se ou não de rimas, sendo o resultado final da métrica e da musicalidade de seu poema de sua inteira responsabilidade. A poesia ganha espaço na transição da oralidade para a escrita. Cria-se então, na idade média, o que se designa por romance, isto é, cada poema isolado, e romanceiro: o conjunto deles todos reunidos. Não existe formato fixo para os romanceiros ibéricos, mas na maioria das vezes eles têm algumas características em comum (versos de sete sílabas, rimas, etc.). O fato incontestável é que neles reside a base cultural, histórica e composicional para a poesia popular nordestina. Há diversos modos de se ler um poema, diversas formas de interpretação. O folheto de cordel, de uma maneira geral, representa um modo particular de contar uma história. Narrar uma história é uma atividade que envolve raciocínio e intuição, ambos adquiridos com o hábito e a prática. O sucesso obtido vai depender inteiramente, segundo o autor, de dois fatores: a história que é contada e o modo de contá-la. Ao contar uma história não se pode dar informações demais, nem de menos; deve-se ponderar as informações e deixar o ouvinte sempre na expectativa da continuidade dos eventos que constituem o fato narrado. Poesia, para Tavares, consiste em linguagem concentrada, que permite múl- tiplas leituras, e que foi trabalhada, tendo em vista não apenas a transmissão de uma ideia, mas também, das imagens utilizadas e da impressão de música que nos 379
dá a sua sonoridade. Considerando a poesia narrativa do romanceiro popular do Nordeste, cultura oral e escrita se completam. A cultura oral, como meio de transmissão dos poemas populares no decorrer do tempo, tem funcionado como veículo eficiente para a manutenção da memória histórico-cultural do povo que a adota: ao escutar uma história contada, o ouvinte se torna um contador e assim, não deixando de existir estes, a cultura oral sobrevive até hoje. Os romanceiros, como produtos resultantes dessa dinâmica da cultura oral, compõem-se de poemas contados há muito tempo, que paulatinamente ganham nova roupagem, mas que continuam com a mesma essência. Dessa forma, como derivada desses romanceiros, a literatura de cordel nordestina adquiriu perfil próprio. Modernamente, Leandro Gomes de Barros é considerado o pai da literatura de cordel nordestina, em virtude da nova feição por ele conferida não só à composição literária e tipográfica dos folhetos, mas também à sua comercialização. Na esteira da produção deste artista, a literatura de cordel teve seu auge entre as décadas de 1930 e 1950. No que concerne à estrutura,o cordel apresenta a sextilha,estrofe de seis versos de sete sílabas, como a sua unidade métrica básica. De acordo com Tavares (2005), a sextilha deixa o poeta mais livre do ponto de vista estético, para compor a toada, forma final da poesia narrativa popular, que pode ser, na leitura, contada ou recitada. 2.3. AS MODALIDADES DO CORDEL: PELEJAS, FOLHETOS DE CIRCUNSTÂNCIA, ABCS, ROMANCES As pelejas consistem em desafios que acontecem nas feiras e nas casas dos cantadores de viola. Podem basear-se em desafios reais ou imaginários, e geral- mente são escritas em ritmo de martelo. A apresentação dos cantadores, do lugar da disputa e do público presente faz-se mediante uma rápida introdução, antes da descrição da luta. Os combates das pelejas podem seguir para o campo da ciência (conhecimento adquirido através dos livros) ou da depreciação mútua. Os folhetos de circunstância retratam fatos históricos logo depois que acontecem. Essa característica de crônica lhes confere um tempo limitado de fun- cionamento e venda, a não ser que se reportem a fatos ou pessoas cujo interesse permanece vivo. Poderíamos citar a morte de Lampião, a morte de Padre Cícero, a inauguração de Brasília, os feitos de Getúlio Vargas, de Tancredo Neves, a vida e a morte de Lady Di, entre outros. Nos folhetos de circunstância é possível encontrar acontecimentos recentes como histórias de assombrações que andam pelo sertão. Durante muito tempo essa modalidade de folheto exerceu a função de “correio” entre as localidades isoladas do sertão nordestino. 380
Os ABCs são poemas narrativos em que cada estrofe corresponde a uma história e literatura letra do alfabeto. Requerem grande poder de inventividade do autor, pela qualidade de síntese do assunto que o reduzido número de versos exige. A literatura infantil e a música popular brasileira têm retomado cada vez mais frequentemente essa modalidade de composição (PINHEIRO E LÚCIO, 2001, p. 25). Os romances, que constituem a modalidade de poemas mais extensos da literatura de cordel, são basicamente escritos em sextilhas, ou seja, em estrofes de seis versos. Já nas primeiras estrofes ficamos sabendo quem são os personagens principais, o lugar onde se passa história, qual o tipo de história, entre outras carac- terísticas. Pode-se ressaltar a presença de poucos personagens, e ainda a opção por evitar descrições detalhadas de paisagens e situações. Qualquer que seja o tipo de história (amor, mistério, aventura, humor, etc.), é sempre bom lembrar: os folhetos eram feitos para serem lidos em voz alta e as longas descrições tornam-se exaustivas. Sendo uma modalidade de publicação que circula predominantemente em ambientes não letrados, os cordéis buscam já em sua apresentação cativar a atenção do leitor. Os folhetos trazem em suas capas duas formas diferentes de ilustração: reproduções de desenhos ou fotos coloridas e xilogravuras feitas por artistas popu- lares. O uso das xilogravuras é relativamente recente, remontando à década de 40 do século passado. Deve-se à pobreza dos autores, que não dispondo de recursos técnicos para a gravação das imagens, recorriam ao emprego artesanal da talha em madeira. Hoje, as xilogravuras existem independentemente dos folhetos e dão inspiração a muitos artistas, como forma autônoma de criação. 2.4. A UNIDADE DO POEMA, O SOM E O RITMO Quando analisamos um poema, podemos isolar alguns de seus aspectos, para efeito didático,num procedimento artificial e provisório.A linguagem literária,em sua especificidade, seleciona e combina as palavras não apenas pela sua significação, mas também por outros critérios, um dos quais, o sonoro. O resultado dessa fusão entre som e ritmo confere ao poema a sua identidade estética (GOLDSTEIN, 1995, p.5). O ritmo faz parte da vida de qualquer pessoa. Na poesia, o ritmo se mostra de forma especial, pois, possibilita ao leitor/ouvinte, viajar embalado nos seus braços. A musicalidade do poema é exatamente a junção de ritmo e música. O ritmo por seu caráter repetitivo facilita a memorização, no jogo de alternância entre sílabas fortes e fracas, na repetição de vogais. Estes fatores são fundamentais para a cons- tituição da poesia popular. Na linguagem poética, as questões da rítmica, da metrificação e da versifi- cação estão entranhadas há muito tempo. São elas que oportunizam/possibilitam ao autor a criação de um jogo de sensações que este pode criar na construção de 381
um poema, embora alguns poetas atinjam esse mesmo resultado sem se prender à risca aos aspectos formais do trabalho de criação. O ritmo poético acompanha a mudança de ritmo da vida das pessoas ao passar do tempo, e hoje já se encontra mais solto, mais livre, menos simétrico (GOLDSTEIN, 1995, p. 13). Havia, durante a Antiguidade e a Idade Média, o sistema quantitativo, que considerava a alternância entre as sílabas longas | -- |, e as sílabas breves | U |. Com o passar do tempo, passou-se ao critério de intensidade, ou seja, a alternância entre sílabas acentuadas e não – acentuadas. Nosso sistema é o silábico-acentual, ou seja, conta-se o número de sílabas dos versos, e depois, observa-se quais são acentuadas ou não em cada verso. A contagem das sílabas de um verso chama-se escansão. Estrofe é o nome que se dá a um conjunto de versos. Conforme o número de versos que contém, a estrofe recebe um nome diferente. Por exemplo, dois versos formam um dístico; três versos, um terceto; quatro versos originam uma quadra ou quarteto; cinco versos, um quinteto ou quintilha: seis versos formam um sexteto ou sextilha; sete versos, uma sétima ou septilha; oito versos, uma oitava; nove versos, uma novena ou nona; dez versos, uma décima. A unidade do poema também se faz através da constância com que o seu tema é retomado ao longo do texto, seguindo o esquema rítmico principal. Quando um grupo de versos se repete ao final de uma estrofe ou de um grupo de estrofes, tem-se o refrão. Na poesia popular existe um tipo de refrão mais elaborado, o mote, que tanto funciona como organizador do texto, como o refrão tradicional, como também como motivo de criação, em torno do qual o poema é montado. O mote é característico das pelejas e desafios. Pode ser dado pelo oponente ou pelo público presente, geralmente em dísticos decassílabos. O desafiado desenvolve o tema e repete o mote, devolvendo-o ao adversário. O poeta popular pernambucano Oliveira de Panelas é o autor de um mote bastante famoso, que ele mesmo desenvolve: “nesse nosso planeta tem de tudo/ só não vejo é quem faça a divisão”. Ainda dois outros motes tornaram-se famosos mais recentemente, no cenário da música popular brasileira. O primeiro deles na voz de Zé Ramalho: “mulher nova, bonita e carinhosa/faz o homem gemer sem sentir dor”; o segundo na voz de Elba Ramalho: “imagine o Brasil ser dividido/e o Nordeste ficar independente”. O esquema de rimas ou rímico é outro fator fundamental para a unidade do poema. Rima (ou parentesco sonoro) é o nome que se dá a repetição de sons semelhantes, externa ou internamente ao verso. A rima externa acontece quando se repetem sons semelhantes no final de diferentes versos. A rima interna verifica-se quando há rima entre a palavra final de um verso e outra no interior do verso seguinte. 382
A rima pode ser consoante, quando apresenta semelhança entre consoantes história e literatura e vogais, ou toante, quando só apresenta semelhança na vogal tônica. A posição das rimas interfere igualmente na composição poética, conferindo ao texto uma característica própria. Há uma grande variedade de possibilidades criativas para esse elemento estilístico: tem-se as rimas cruzadas, emparelhadas, interpoladas, misturadas, agudas, graves, esdrúxulas, ricas e pobres. Como se pode ver, diante de tanta diversidade, cabe ao artista orientar-se em meio a esse “mar” metalinguístico, o que o poeta de bancada faz com muita simplicidade e sabedoria. Podemos citar como exemplo viagem a São Saruê, em que Manoel Camilo dos Santos mantém a redondilha menor (estrofe de seis versos) e o esquema rímico ABCBDB, como nas estrofes 5 e 6, reproduzidas abaixo: Surgiu o dia risonho Na primavera imponente As horas passavam lentas O espaço incandescente Transformava a brisa mansa Em um mormaço dolente. Passei do carro da brisa Para o carro do mormaço O qual veloz penetrou No além do grande espaço Nos confins do horizonte Senti do dia o cansaço (VSS, 5,6). As rimas cruzadas obedecem ao esquema ABAB CDCD, ou seja, a cada dois versos: o primeiro e o terceiro, o segundo e o quarto, o quinto e o sétimo, e o sexto e o oitavo, etc. As rimas interpoladas adotam o esquema ABBA, ou seja, o primeiro rima com o quarto verso, e o segundo com o terceiro. Se as rimas tiverem outro tipo de organização, reunindo alguns dos tipos conhecidos, são chamadas de rimas misturadas. As agudas são formadas por palavras oxítonas; as graves, por palavras paroxítonas e as esdrúxulas por palavras proparoxítonas. Quanto às rimas ricas e pobres, de acordo com o critério gramatical, tem-se que a rima pobre ocorre entre palavras pertencentes à mesma categoria gramatical e a rima rica se dá entre termos pertencentes a diferentes categorias gramaticais. Pelo critério fônico, na rima pobre igualam-se as letras a partir da vogal tônica; na rima rica, a identificação começa antes da vogal tônica. 383
Embora outros elementos estilísticos concorram para a unidade do poema, estes são os que nos interessam para efeito da presente pesquisa, por serem os mais significativos no âmbito da poesia popular. 3 EXPOSIÇÃO DOS CORPUS ESCOLHIDOS. O projeto que nos serviu de base para pesquisa foi realizado numa turma de 6º ano do ensino fundamental na modalidade EJA, em uma escola municipal do interior de Boqueirão – PB, localizada no Distrito do Marinho, e o outro foi uma produção independente para participação do evento Som das Pedras realizado no mês de novembro de 2019. Levando-se em conta a grande carga cultural que pesa sobre a literatura de cordel, achou-se relevante levá-la para a sala de aula para que os alunos tivessem um contato maior com este tipo de texto. Com isso, foram realizadas diversas leituras de vários livretos, também foram elaboradas diversas discussões acerca da temática dos textos lidos, e houve também em vários momentos a construção de pontes entre a história lida e a realidade de vida dos alunos. Partindo do interesse e da identificação por parte dos alunos com o gênero em questão, surge a brecha para a sugestão da realização de uma pequena produção, ideia esta que foi acatada unanimemente. Antes de iniciarmos a nossa produção, fez-se necessário conhecer um pouco sobre o que iríamos produzir. Para isso, bus- camos auxilio nos livros: Cordel na sala de aula – Pinheiro e Lúcio (2001),Tavares (2005) entre outros, para assim termos um aporte teórico e darmos início a nossa produção. Foram dedicadas várias aulas a realização desse projeto, porém o ímpeto e o empenho de cada um fizeram com que a dedicação valesse a pena. No decorrer do trabalho, surgiram algumas dificuldades com relação a linguagem a ser usada no folheto, pois bem se sabe que uma das maiores caracte- rísticas do folheto de cordel é justamente a predominância da oralidade na escrita, até porque essa é uma das qualidades fundamentais que diferenciam dos outros tipos de gênero. No entanto, com o decorrer do trabalho, com base no estudo feito e já com uma certa intimidade com o gênero a ser produzido, a nossa produção foi sendo realizada. Perto do período que finalizaria o projeto, iniciamos a etapa da produ- ção dos livretos. Após montados os textos foram apresentados em um evento na escola, o que trouxe para os alunos o que muitas vezes eles não conseguem: RECONHECIMENTO. Ao término do projeto chegou-se a conclusão de que a produção textual trabalhada em sala de aula deve fazer com que o aluno enxergue a funcionalidade do trabalho que está efetuando, só a partir daí, é que eles irão produzir motivados, 384
e não como mera atividade quantitativa para nota, ou seja, produção com função. A proposta foi desenvolver o gosto pela leitura e escrita a partir de suas vivências, justamente com esse gênero que aproxima os alunos a sua realidade. Com relação à produção relacionada ao evento Som nas Pedras, de início a produção foi motivada por força das amizades e pela oportunidade de visibilidade de uma produção de uma pessoa do lugar ter espaço em um evento estadual e assim, com muito carinho foi realizada a produção e declamada no dia do evento. Tomando por base o relato de experiências citado anteriormente,iremos agora mostrar trechos das produções e focar na parte referente aos registros históricos que em ambas foram espontaneamente inseridos. A língua como instrumento de interação é a maior responsável pelo sucesso nas relações entre as pessoas.Dentro de cada esfera social revelamo-nos em um papel social diferente, e introduzido nestes, moldamos nossa linguagem para adaptar-se as necessidades de cada um desses papéis, e por mais simples que possa parecer, traz um valor muito singular no que concerne ao passar suas histórias adiante. Sabemos que dependendo do local onde a língua está sendo utilizada, sofre algumas variações e algumas mudanças, as quais muitas vezes são tidas como er- radas, incorretas- é o caso da variação regional. No corpus escolhido, podemos ver claramente a influência sofrida por essa variação, assim como também em diversos trechos podemos ver citações diretas para pessoas que fizeram parte da história do lugar, assim como também menção ao estilo de vida e tradições que cultivavam. Observe: Zezin Não tinha trabalho Variante Diatópica, já que se tra- E era a fim de ganhar um tostão ta de variação regional Estourava espinhas em Raimundo Nome que fez parte da história Onde a recompensa era um pão (5, 1-4) do lugar No trecho mostrado anteriormente podemos perceber a utilização da variante história e literatura regional, pois é muito comum o uso do diminutivo em nome de pessoas, quando se quer demonstrar uma relação de proximidade ou até mesmo de afetividade. Como na fala geralmente acontece, alguns sons são esquecidos, prevalecendo o som anterior. No nosso caso, podemos ver que além da utilização do diminutivo Zezin (Zezinho), indicando relação de proximidade, constatamos também o uso da regressão da palavra José para apenas Zé, e nessa mesma variação ainda podemos ver outra diminuição da palavra que acontece na sílaba final, em que seria Zezinho fica sendo apenas Zezin. No entanto, isso não compromete de nenhuma forma a informação passada. A variação não é uma forma errada de expressão, é apenas uma forma diferente de comunicar-se, prova disso é que a informação passada 385
pelos escritores do texto analisado foi compreendida, mesmo sendo utilizada uma variante regional da língua. Dentro da mesma linha de pesquisa, analisemos outros fragmentos do corpus escolhido: Candido Mineiro no lugar Influência da oralidade na Era um famoso sapateiro escrita Fazia butina chinelo e sapato Nome que fez parte da história E ganhava muito dinheiro (8, 1-4) do lugar Seu Terto e dona Terezinha Influência da oralidade na escrita Ajuntaram de tudo um pouquinho. Nomes que fizeram parte da Construíram o grupo, a igreja história do lugar E o cemitério do Marinho. (10, 1-4) Acima foram mostrados dois fragmentos do corpus escolhido, nos quais aparecem o mesmo tipo de variação, palavras que na grafia oficial são escritas de uma certa forma, aqui estão escritas de outra, justamente como são pronunciadas, em que podemos ver a forte influência que a oralidade exerce sobre a escrita. Vê-se que os usuários tendem a escrever as palavras da forma como essas são pronuncia- das, ajuntaram no lugar de juntaram, butina no lugar de botina, mas isso impede a construção de sentido do texto? Vemos que não. Isso ocorre porque a língua falada é espontânea, livre e mesmo que fora dos padrões estipulados pela ortografia ofi- cial, cumprem a sua função, que não é de ser vista como escrita “certa” e sim como escrita funcional, e no mais, dentro do gênero estudado é perfeitamente cabível. Observe os dois últimos fragmentos de nossa análise: O Marinho antigamente Uso informal da língua Era um grande tormento Modo de vida simples Carregava água enlatada Nos pinhaço do jumento. (14,) A serra do Marinho Uso informal da língua Tem aquela tremenda altura A história do Marinho. De lá da pra se ver Nossa grande belezura. (33,) 386
Capa do cordel analisado. A História do Marinho, 2008. história e literatura Passamos agora a exposição do cordel “Um lugar chamado Marinho” que foi produzido para ser declamado no circuito Som das Pedras. 387
388
389 história e literatura
390
391 história e literatura
É formidável como a maneira simples da expressão regional é funcional. A impressão que nos passa é de que estamos realmente vendo o jumentinho car- regando os vasilhames cheios d’água em seu lombo, a imagem de uma bela vista do alto de uma serra, retratados de forma tão simples, tão humilde, e tão eficaz. Portanto, não importa se a língua que está sendo utilizada num dado momento é vista por alguns como feia, errada, ou pior, ignorante, o que importa é que não houve a ausência de comunicação, é sim uma comunicação ativa, a qual não privou o leitor de nenhuma informação, e digo mais, informações que foram passadas de belas formas e o mais importante por mais que o registro seja simples, este por sua vez, tem importância e total relevância no perpassar dos acontecimentos do lugar que está sendo construída essa parte da história. O trabalho com o gênero cordel é muito produtivo por se tratar de um texto em que há uma certa identidade dos alunos do Nordeste Brasileiro, pois esta narra histórias de seus antepassados, como também de ídolos de sua e de outras gerações, além do tipo de linguagem trazer para o leitor uma certa intimidade, por se tratar na maioria das vezes de linguagem informal, com traços de variação diatópica. 392
CONSIDERAÇÕES FINAIS história e literatura Ao término desta pesquisa, chegamos à conclusão de que, língua falada e língua escrita são vias de uma única mão, metades que se completam, sem claro, uma querer transpassar a outra. Vimos que, no plano da escrita, a língua é utilizada numa certa “fôrma” cha- mada ortografia, que nada mais é do que um molde fixo para se registrar produções realizadas, como também entendemos que a língua falada é responsável por todos os novos surgimentos, já que a interação acontece no âmbito da oralidade. Tivemos a oportunidade de ver um pouco das variações que essa língua sofre no entremeio da fala para escrita, assim como também as mudanças que a língua sofre historicamente em detrimento dessas variações. Constatamos que existem inúmeras variações da nossa língua e que mais estão surgindo, fato que nos revelou que a língua é dinâmica e está em constante mudança. A língua é um fenômeno vivo. Esperamos que de alguma forma o estudo realizado venha a contribuir de uma maneira geral no âmbito escolar ou até mesmo no acadêmico, como proposta pedagógica para o ensino de língua, de história ou até mesmo como fonte de pes- quisa para os que venham a interessar-se pelo tema. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BAGNO. Marcos. Português ou Brasileiro? Um convite a pesquisa/ Marcos Bagno – 4ª ed – São Paulo: Parábola Editorial, 2004. _____________. Preconceito Linguístico: o que é, e como se faz? / Marcos Bagno – 43ª ed – São Paulo: Edições Loyola, 2006. GALVÃO, Ana M. de Oliveira. Cordel: leitores e ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ed. Ática, 2000. GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. São Paulo: 9. ed. Ática, 1995. ILARI. Rodolfo. O português da gente: a língua que nós estudamos e a língua que nós falamos/ Rodolfo Ilari, Renato Basso. 2ª ed – São Paulo: Contexto, 2009. KOCH. Ingedore Villaça. Ler e escrever: estratégias de produção textual/ Ingedore Villaça Koch, Vanda Maria Elias. – São Paulo: Contexto, 2009. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa/ Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. – 3. Ed. – Brasília: A Secretaria, 2001.144p.: Il.; 16x23cm. PINHEIRO, Hélder. Cordel na sala de aula / Hélder Pinheiro, Ana Cristina Marinho Lúcio. – São Paulo: Duas Cidades, 2001 – (Coleção literatura e Ensino, 2). TAVARES, Bráulio. Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular do Brasil. Bráulio Tavares – São Paulo: Ed 34, 2005. 393
BIOGRAFIA DOS AUTORES
ANDRÉ VINICIUS ANDRADE BRITO Formado em Licenciatura Plena em Geografia, pela Universidade Estadual da Paraíba, Professora do Ensino Fundamental II pela Prefeitura Municipal de Bo- queirão (2013-2017). Participou de projetos interdisciplinares desenvolvidos pela COAPECAL e atuou como Membro do Conselho Municipal de Educação. ANDREA CARLA DE AZEVÊDO Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB (1993); Especialista em Marketing e Propaganda Eleitoral pela Faculdade Rei- naldo Ramos - FARR/CESREI (2007); Mestra em Desenvolvimento Regional pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB (2012); Doutora em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - IPPUR/UFRJ (2017); Doutora em Governação, Conhecimento e Inovação pela Universidade de Coimbra - FEUC/UC/COTUTELA, Portugal (2018). Fez Doutorado Sanduíche no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra - CES/UC, Portugal com bolsa da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ (2015-2016). Pós-doutorado em Governança e Gestão de Recursos Hídricos pelo Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra (2019-2021). Foi Assessora Técnica no Instituto Nacional do Semiárido - INSA (2017-2019). Fez parte da Comissão Editorial do Projeto 100 anos de Celso Fur- tado. Com experiência e publicações com resultados de pesquisas nos seguintes temas: Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Regional; Governação, Conhecimento e Inovação; Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional; Políticas Públicas, Água e Desenvolvimento Regional; Gestão e Governança de Recursos Hídricos no Semiárido Brasileiro; Políticas Públicas e Semiárido Brasileiro; Água, Educação Ambiental e Comunidades Tradicionais; Comunicação Pública; Plane- jamento Urbano e Regional; Planejamento Urbano e Sustentabilidade Ambiental. ANDREZA PAULA MATIAS Professora da rede privada de ensino no município de Boqueirão. Licenciada em Letras - Língua Portuguesa. Licenciada em Pedagogia. Especialista em Educação de Jovens e Adultos. 395
CIDOVAL MORAIS DE SOUSA É Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (1995), cursou Ciências Sociais (1986-1990),especializou-se em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (1997) e Geociências da Universidade Estadual de Campinas (2005). Fez Pós-documentação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em Sociologia da Ciência e Tecnologia (Abordagem CTS), com orientação da Profa. Dra. Maria Cristina P. Innocentini Hayashi. É professor titular da Univer- sidade Estadual da Paraíba (UEPB), vinculado a Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. Colabora como PPGCTS da UFSCar. EDRIANO SERAFIM DE ARAÚJO É um apaixonado pelo Cariri paraibano, que tem buscado preservar a história e a identidade do seu povo. Geógrafo com especialização em Arqueologia e Patrimô- nio, atualmente leciona geografia na Escola José Estevam, no Distrito de Riacho Fundo em Barra de São Miguel e é um dos coordenadores do projeto turístico do Lajedo do Marinho, em Boqueirão. FABIANO CUSTÓDIO DE OLIVEIRA Doutor em Planejamento Urbano e Regional, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017). Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba (2007). Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Atualmente é professor da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e lotado no Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido – CDSA, Sumé/ PB. Atuando como professor de Geografia da Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo na Área das Ciências Humanas e Sociais. Tem experiência na área de Geografia, atuando nas seguintes linhas: Ensino de Geografia, Educação Contextualizada, Produção e Experimentação de Recursos Didáticos no Ensino de Geografia/ Estudo da Dinâmica e Produção de Territoriais/ Educação do Campo e sua Relação com o Ensino de Geografia e Educação Ambiental. 396
IDA STEINMÜLLER É administradora e agropecuarista, respectivamente formada pela Universidade Regional do Nordeste e pós-graduada pela Universidade Federal da Paraíba. É fun- dadora e Presidente de honra do Instituto Histórico de Campina Grande- IHCG. JEFESSON FRANCIARLLY FARIAS DE ANDRADE Nasceu na cidade de Campina Grande, no ano de 1985. Concluiu seus estudos primários e secundários no, assim chamado, Colégio do Estado de Boqueirão. Gra- duado em História pela UFCG, produziu sua monografia, “A Revolução Católica: as mudanças do Concílio Vaticano II para a Igreja Católica”. É professor desde o ano de 2004, atualmente exercendo a profissão na Escola Padrão de Boqueirão e na José Estevam Neto, distrito de Riacho Fundo de Barra de São Miguel. JOAB JORGE DE LEITE MATOS JÚNIOR Professor da rede municipal de ensino. Licenciado em Letras - Língua Portugue- sa. Licenciado em Pedagogia. Especialista em Linguística Aplicada ao ensino do Português Especialista em Metodologia do Ensino de Arte.Especialista em Educação Especial e Inclusiva. Especialista em Libras. Mestre em Engenharia Agrícola – Construções Rurais e Ambiência. Doutorando em Engenharia Agrícola – Construções Rurais e Ambiência. JOÃO PAULO FRANÇA Mestre e Graduado em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Bacharel em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Foi secretário de Educação do Município de Barra de São Miguel – PB e atuou como professor em diversas Redes de Ensino nas cidades de: Cabaceiras-PB, Santa Cruz do Capibaribe-PE, Parelhas-RN e Guarabira-PB. Atualmente é professor do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Campus Esperança. É autor do livro “Apontamentos para a História de Barra de São Miguel-PB” pela MaxGraf, 2019. 397
JOSÉ CARLOS SILVA Natural da comunidade Moita (Zona Rural de Boqueirão, PB), nascido no dia 31/05/1981. Filho da senhora Lenilde e do senhor Ramos. Mestrando em Histó- ria pela UFCG. Graduado em História pela UEPB e em Pedagogia pela UFPB. Foi professor de Jovens e Adultos e das Séries Iniciais na comunidade Moita de Boqueirão-PB, de 1999 a 2007. Atualmente é professor das Séries Iniciais do município de Campina Grande e de História pelo Estado da Paraíba. Desenvolve pesquisa sobre as práticas alimentares e medicinais de uso dos cactos e das bromélias e publicou em 2020, o conto “Zezinho e Pereba: um amor animal”. JOSÉ IOLANILSON CAVALCANTE CHAGAS José Iolanilson Cavalcante Chagas (Prof. Ió), nasceu em Boqueirão, PB, em 13 de agosto de 1964, tendo se formado em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e se especializou em Educação Ambiental pelo Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP. Além de Geógrafo e entusiasta em etnolinguística, História, Paleontologia e Arqueologia, o autor tem fortes ligações com as artes, pois é também músico, desenhista, pintor, ator e admirador assíduo da Literatura de Cordel, tendo participado de vários tra- balhos e/ou amostras pedagógicas com relação a esse gênero literário, bem como outros trabalhos educacionais apresentados tanto na universidade, como nas escolas públicas e privadas por onde tem passado. Fundou a primeira Banda Marcial da Escola Cenecista (atual EMEF Padre Inácio) e ainda, fundador e coreógrafo do primeiro grupo de dança folclórica de Boqueirão. JOSÉ JONAS DUARTE DA COSTA Professor do Departamento de História – UFPB. Líder do Grupo de Pesquisa sobre o Semiárido: Patativa do Assaré UFPB/CNPq. Coordenação do SEAMPO/ UFPB. Historiador, Mestre em Economia UFPB/1996. Dissertação sob o título: O Declínio da Cotonicultura na Paraíba – Uma análise das causas. Doutor em História Econômica USP/2003,com a Tese: Impactos Socioambientais das Políticas de Combate as secas na Paraíba. Ex-vereador em Boqueirão entre 1983 e 1988. 398
Search
Read the Text Version
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- 8
- 9
- 10
- 11
- 12
- 13
- 14
- 15
- 16
- 17
- 18
- 19
- 20
- 21
- 22
- 23
- 24
- 25
- 26
- 27
- 28
- 29
- 30
- 31
- 32
- 33
- 34
- 35
- 36
- 37
- 38
- 39
- 40
- 41
- 42
- 43
- 44
- 45
- 46
- 47
- 48
- 49
- 50
- 51
- 52
- 53
- 54
- 55
- 56
- 57
- 58
- 59
- 60
- 61
- 62
- 63
- 64
- 65
- 66
- 67
- 68
- 69
- 70
- 71
- 72
- 73
- 74
- 75
- 76
- 77
- 78
- 79
- 80
- 81
- 82
- 83
- 84
- 85
- 86
- 87
- 88
- 89
- 90
- 91
- 92
- 93
- 94
- 95
- 96
- 97
- 98
- 99
- 100
- 101
- 102
- 103
- 104
- 105
- 106
- 107
- 108
- 109
- 110
- 111
- 112
- 113
- 114
- 115
- 116
- 117
- 118
- 119
- 120
- 121
- 122
- 123
- 124
- 125
- 126
- 127
- 128
- 129
- 130
- 131
- 132
- 133
- 134
- 135
- 136
- 137
- 138
- 139
- 140
- 141
- 142
- 143
- 144
- 145
- 146
- 147
- 148
- 149
- 150
- 151
- 152
- 153
- 154
- 155
- 156
- 157
- 158
- 159
- 160
- 161
- 162
- 163
- 164
- 165
- 166
- 167
- 168
- 169
- 170
- 171
- 172
- 173
- 174
- 175
- 176
- 177
- 178
- 179
- 180
- 181
- 182
- 183
- 184
- 185
- 186
- 187
- 188
- 189
- 190
- 191
- 192
- 193
- 194
- 195
- 196
- 197
- 198
- 199
- 200
- 201
- 202
- 203
- 204
- 205
- 206
- 207
- 208
- 209
- 210
- 211
- 212
- 213
- 214
- 215
- 216
- 217
- 218
- 219
- 220
- 221
- 222
- 223
- 224
- 225
- 226
- 227
- 228
- 229
- 230
- 231
- 232
- 233
- 234
- 235
- 236
- 237
- 238
- 239
- 240
- 241
- 242
- 243
- 244
- 245
- 246
- 247
- 248
- 249
- 250
- 251
- 252
- 253
- 254
- 255
- 256
- 257
- 258
- 259
- 260
- 261
- 262
- 263
- 264
- 265
- 266
- 267
- 268
- 269
- 270
- 271
- 272
- 273
- 274
- 275
- 276
- 277
- 278
- 279
- 280
- 281
- 282
- 283
- 284
- 285
- 286
- 287
- 288
- 289
- 290
- 291
- 292
- 293
- 294
- 295
- 296
- 297
- 298
- 299
- 300
- 301
- 302
- 303
- 304
- 305
- 306
- 307
- 308
- 309
- 310
- 311
- 312
- 313
- 314
- 315
- 316
- 317
- 318
- 319
- 320
- 321
- 322
- 323
- 324
- 325
- 326
- 327
- 328
- 329
- 330
- 331
- 332
- 333
- 334
- 335
- 336
- 337
- 338
- 339
- 340
- 341
- 342
- 343
- 344
- 345
- 346
- 347
- 348
- 349
- 350
- 351
- 352
- 353
- 354
- 355
- 356
- 357
- 358
- 359
- 360
- 361
- 362
- 363
- 364
- 365
- 366
- 367
- 368
- 369
- 370
- 371
- 372
- 373
- 374
- 375
- 376
- 377
- 378
- 379
- 380
- 381
- 382
- 383
- 384
- 385
- 386
- 387
- 388
- 389
- 390
- 391
- 392
- 393
- 394
- 395
- 396
- 397
- 398
- 399
- 400
- 401
- 402
- 403
- 404
- 405
- 406
- 407
- 408