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Reabilitação Teoria e Prática

Published by Editora Lestu Publishing Company, 2022-07-14 19:31:45

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Avaliação e prescrição de cadeira de rodas Prescrição de cadeira de rodas A prescrição significa selecionar a melhor correspondência possível entre as cadeiras de rodas disponíveis e as necessidades do usuário. Este procedimento deve ser sempre realizado em conjunto com o usuário, seus familiares e/ou cuidador, se apropriado. É nesta etapa que ocorre a seleção da cadeira de rodas, da almofada, dos acessórios, do tamanho da cadeira e conversa com o usuário sobre qual treinamento será necessário para ajudá-lo a usar e cuidar da cadeira de rodas. Figura 10: Modelo de um formulário de prescrição de cadeira de rodas Fonte: OMS, 2012. 601

Reabilitação: teoria e prática A Organização Mundial de Saúde (2012) fornece um modelo de um formulário de prescrição de cadeira de rodas (Figura 10) que os profissionais podem utilizar adequando de acordo com o serviço que está inserido. Tipos de cadeira de rodas É preciso que a equipe técnica tenha conhecimento sobre os variados tipos de cadeira de rodas, suas funções e público-alvo. Atualmente há no mercado cadeiras de rodas de vários tipos, para diferentes finalidades, e confeccionadas com diferentes materiais. No entanto, as mais solicitadas de acordo com o quadro clínico dos pacientes são: 1. Cadeira de rodas padrão: na maioria das vezes são indicadas para pacientes com bom controle de tronco e que tenham condições de tocá-las de forma independente ou não. Devem ter baixo peso, permitir conforto, segurança e possibilitar regulagens, o que permite a melhor adequação ao paciente, usada por exemplo para pacientes pós acidente vascular encefálico, com lesão medular (paraplégicos), traumatismo cranioencefálico, paralisia cerebral, etc. Imagem 1: Cadeira de rodas padrão Fonte: Autores, 2021. 2. Cadeira de rodas reclinável: é indicado para pacientes que não tem controle cervical e de tronco. Deve apresentar sistema de inclinação gradativa do encosto, apoio de cabeça removível e apoio de panturrilhas, por exemplo pacientes pós doença encefalovascular, com lesão medular (tetraplégicos), paralisia cerebral. 602

Avaliação e prescrição de cadeira de rodas Imagem 2: Cadeira de rodas reclinável Fonte: Autores, 2021. 3. Cadeira de rodas monobloco: é indicada para pacientes com mais agilidade para o manuseio e que tenham maior nível de independência. É mais leve, permitindo uma melhor propulsão, além de fácil montagem. Utilizada para pacientes com lesão medular (paraplégicos). Imagem 3: Cadeira de rodas monobloco Fonte: Autores, 2021. 603

Reabilitação: teoria e prática Além das citadas, existem outros tipos de cadeiras que também podem beneficiar pacientes de acordo com seu quadro clínico: cadeiras para pacientes acima de 90 kg, cadeira higiênica, cadeiras motorizadas, entre outras. Caso clínico Mulher, 24 anos, vítima de acidente automobilístico quando tinha 19 anos e ficou paraplégica. Tem uma cadeira de rodas pesada que não garante boa sustentação, deixando-a bastante cansada durante o uso. Mulher trabalha e dirige, mas tem muita dificuldade com o deslocamento da cadeira de rodas principalmente dentro do carro, precisando sempre de ajuda de terceiros. Desta forma, após avaliação a cadeira de rodas mais adequada é a tipo monobloco, pois é mais leve, fácil manuseio inclusive para transporte. Considerações finais Para muitos pacientes em um centro multidisciplinar, a escolha e adequação da cadeira de rodas faz grande diferença para o sucesso do tratamento, uma vez que possibilita independência que é o objetivo primordial da reabilitação. Referências bibliográficas BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a convenção internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência e seu protocolo facultativo. Brasília – DF: DOU, 2009. KAMENETZ, H. L. A brief history of the wheelchair. Journal of the History of Medicine, v. 4, p 205-210, 1969. OMS. Organização Mundial da Saúde. Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo [direitos cedidos]. Diretrizes sobre o fornecimento de cadeiras de rodas manuais em locais com poucos recursos. São Paulo: Imprensa Oficial, 2014 OMS. Organização Mundial da Saúde. Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo [direitos cedidos]. Pacote de treinamento em serviços para cadeira de rodas. São Paulo: Imprensa Oficial, 2014 604

45 Atuação fonoaudiológica na comunicação suplementar e alternativa Michele Conceição Poluca Roberta Leal Gomes Segundo a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA,1989), a Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) é uma área de atuação clínica que objetiva compensar, temporária ou permanentemente, dificuldades de indivíduos com distúrbios acentuados de expressão, com prejuízos importantes de fala, linguagem e escrita. A (CSA) abrange todas as formas de comunicação alternativas à fala, sendo usada para expressar pensamentos, necessidades, pedidos e ideias de pessoas com complexas necessidades comunicativas. Já para a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia - Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA 2020-2021) é uma área de conhecimento interdisciplinar, mas cabe ao fonoaudiólogo o gerenciamento da avaliação, implementação e acompanhamento em relação às questões da linguagem, interação e comunicação. É uma área em pleno desenvolvimento no Brasil e tem como principal objetivo garantir a todas as pessoas o direito à comunicação, no campo da linguagem e pode ser implementada com crianças, jovens, adultos e com o idoso em diferentes ambientes. O fonoaudiólogo, profissional que atua na área da comunicação, tem condições de colaborar ainda mais na equipe interdisciplinar,

Reabilitação: teoria e prática considerando sua expertise acerca dos aspectos linguísticos implicados no processo de implementação de um sistema de CSA. (CESA, MOTA, 2017) Deste modo, o objetivo desse capítulo é explicar sobre o trabalho da Fonoaudiologia na Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) para os indivíduos que necessitam deste suporte. Considerações sobre a comunicação suplementar alternativa (CSA) No Brasil, a área da Comunicação Suplementar e Alternativa embora apresente crescimento, ainda pode ampliar o número de pesquisadores e fonoaudiólogos capacitados. As áreas do conhecimento relacionadas com o atendimento ao usuário na implementação de recursos de CSA são: fonoaudiologia, psicologia, pedagogia e terapia ocupacional; já as áreas de informática e engenharia elétrica/eletrônica podem influenciar ou impactar na criação de recursos eletrônicos (MANZINI, 2011). Foram identificados estudos também na área da fisioterapia com CSA em conjunto com a atuação fonoaudiológica (CESA, MOTA, 2015). A CSA engloba o uso de símbolos, recursos, estratégias e serviços para garantir a ampliação da comunicação e interação de crianças, jovens, adultos e idosos com deficiência e/ou Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e necessidade complexa de comunicação. O intuito é de ampliar o repertório comunicativo que envolve habilidades de expressão e compreensão, onde são organizados e construídos auxílios externos como cartões e pranchas de comunicação, pranchas alfabéticas e de palavras, vocalizadores ou o próprio computador que por meio de software específico, pode tornar-se uma ferramenta poderosa de voz e comunicação. Os recursos de comunicação são construídos de forma totalmente personalizada e individualizada, que levam em consideração, várias características que atendem às necessidades do usuário (GLENNEN, 1997). O termo “Suplementar” é utilizado para definir o uso de símbolos, recursos e estratégias por pessoas com necessidade complexa de comunicação para ampliar e aumentar as condições de comunicação e interação já existentes, mas que não são suficientes. Há pessoas com deficiência ou TEA que usam a fala, mas essa fala não é suficiente para garantir a funcionalidade da comunicação com diferentes pessoas nas situações de rotina de vida diária e em outras tarefas e/ou contextos mais complexos (VON TETZCHNER, MARTINSEN, 2000). 606

Atuação fonoaudiológica na comunicação suplementar e alternativa Já o termo “Alternativa” significa que o uso dos símbolos, recursos e estratégias de comunicação são utilizados por pessoas com necessidade complexa de comunicação para possibilitar a interação e ter “voz” no discurso com o interlocutor, quando há ausência da linguagem oral e/ou escrita (VON TETZCHNER, MARTINSEN, 2000). Segundo ALENCAR (2002), a comunicação alternativa pode ainda ser classificada sem apoio e com apoio/auxiliada. A comunicação alternativa sem apoio é um termo empregado para quando a pessoa, embora não fale ou escreva, é capaz de usar seu corpo no momento da comunicação, como, por exemplo: realizar movimento de cabeça para o “sim” e “não”, fazer gestos com as mãos, movimentos corporais, sons com entonação, entre outras possibilidades. Estas habilidades podem permitir a interação com outras pessoas, principalmente com aquelas que fazem parte da rotina de vida diária. Já a comunicação alternativa com apoio ou auxiliada, é quando a pessoa com necessidade complexa de comunicação, necessita de um instrumento ou recurso fora do seu corpo para favorecer a interação e a comunicação com outras pessoas, como por exemplo o uso de uma prancha de comunicação, vocalizador ou um aplicativo em um dispositivo móvel por exemplo smartphone ou tablet. A Tecnologia Assistiva (TA) contribui com os recursos de baixa e/ou alta tecnologia. A TA é uma área de conhecimento que engloba recursos, instrumentos, estratégias e serviços para dar qualidade de vida às pessoas com deficiência (ALENCAR, 2002). Vale ressaltar que o uso de gestos, movimentos corporais e expressões faciais podem ser considerados como uma CSA sem apoio. É muito importante valorizar estas habilidades expressivas, porque podem ser as únicas possibilidades que mantém a pessoa com necessidade complexa de comunicação em interação com um outro interlocutor. São habilidades precursoras de modalidades comunicativas mais complexas. Sartoretto, Bersch (2021) referem que o sistema suplementar e alternativo de comunicação é a representação de um significado (sentido) por meio do uso dos símbolos. Os símbolos podem ser sistemas manuais, objetos, fotografias, imagens pictográficas e/ou a escrita. Recurso suplementar e alternativo de comunicação é o uso de um material concreto de baixa ou alta tecnologia que pode favorecer as pessoas com necessidade complexa de comunicação. Alguns exemplos de recursos de CSA: pranchas de papel ou em pastas e cadernos de linguagem com os símbolos impressos, dispositivo móvel com aplicativos para a comunicação, vocalizadores entre outros materiais. 607

Reabilitação: teoria e prática Na confecção de recursos de Comunicação Suplementar e Alternativa como cartões e pranchas de comunicação, são necessários sistemas de imagens para representações verbais ou visuais de conceitos e ideias. Utilizam-se os símbolos gráficos, que são coleções de imagens de diferentes complexidades. Podem variar de figuras ou imagens em preto e branco de alto contraste até imagens pictográficas mais detalhadas a nível fotográfico. São criados para responder a diferentes exigências ou necessidades de comunicação de seus usuários. Estes conjuntos de imagens são também conhecidos como Sistemas ou Bibliotecas de Símbolos que tem entre si uma identificação própria que permite ser categorizados e/ ou agrupados por diversos aspectos como o nome, o que representam e classificação gramatical (SARTORETTO, BERSCH, 2021). Segundo Sartoretto, Bersch (2021), no Brasil os sistemas simbólicos difundidos inicialmente foram o BLISS e o PCS. Posteriormente apareceram novas bibliotecas de símbolos, como ARASAAC, WIDGIT, SYMBOLSTIX, PICTO, REBUS e PICSYMS. Todos eles apresentam desenhos simples e claros, de fácil reconhecimento, adequados para usuários de qualquer idade, facilmente combináveis com outras figuras e fotos para a criação de recursos de comunicação individualizados. São extremamente úteis para criação de atividades educacionais. Principais sistemas são: 1. Sistemas manuais: naturais, convencionais e os idiossincrásicos; 2. Sistemas tangíveis: uso de objetos e miniaturas; 3. Sistemas pictográficos: quando os sentidos são representados por imagens padronizadas, como por exemplo: BLISS, Picture Communication System (PCS), Sistema Arasaac, Sistema Rebus entre outros; 4. Sistema de significação por meio da palavra impressa: escrita. Os recursos de comunicação são pessoais e devem ser confeccionados de forma personalizada e individualizada e devem corresponder às atividades de vida diária de cada usuário. Desta forma, o programa utilizado deve oferecer símbolos e imagens que façam sentido para o usuário em sua comunicação. Também se faz necessário a facilidade de importação de imagens capturadas diretamente na internet, arquivos, fotografias digitais ou fotografias escaneadas de catálogos, livros de histórias ou didáticos (BERSCH, SARTORETTO, 2011). Durante o processo de seleção, implementação e acompanhamento dos recursos e/ou estratégias da comunicação suplementar e alternativa é importante a participação da família, escola e de todo uma equipe de profissionais que possam avaliar cada etapa de procedimento com os alunos usuários do recurso (DELIBERATO, 608

Atuação fonoaudiológica na comunicação suplementar e alternativa 2004). Percebe-se que um grande número de estudos de CSA tem foco nas questões tecnológicas do recurso, acessibilidade e portabilidade (LIGHT, MCNAUGHTON, 2013). Não se discute a importância, mas sinaliza-se que o foco principal é a pessoa com complexa necessidade comunicativa que almeja expressar seus desejos e ideias, desenvolver relacionamentos e ampliar sua participação social (LIGHT, MCNAUGHTON, 2014). Atuação fonoaudiológica no centro de reabilitação A atuação fonoaudiológica objetiva estimular o desenvolvimento das habilidades comunicativas de pessoas com distúrbio de linguagem com déficit na comunicação, sejam elas não verbais que se beneficiarão do uso da Comunicação Suplementar e Alternativa, bem como as que necessitam de recursos de comunicação aumentativa para ampliar seu vocabulário e desenvolvimento da conversação. Tendo como objetivo aumentar vocabulário, familiarizar o usuário com o sistema gráfico PCS – elaborar/ confeccionar prancha de comunicação suplementar e ou alternativa, bem como realizar o treinamento dos pacientes quanto discriminação de símbolos/figuras e ensinar pacientes e cuidador quanto ao uso funcional da prancha. O atendimento é realizado no formato individual ou grupo, onde o terapeuta inicialmente realiza a avaliação com uso do protocolo específico no centro; após este momento é discutido com pacientes e responsáveis os objetivos traçados e como ocorrerá o procedimento. Os atendimentos podem ser individuais ou em grupo. O recurso utilizado para os atendimentos de CSA tanto individual como em grupo é o software Boardmaker (MAYER- JONHSON, 2004). As pranchas são confeccionas de forma individualizada de acordo com a rotina e necessidade de cada paciente. Em relação ao treino, este ocorre de forma sistemática, sendo também a família orientada para continuidade do uso nos diversos ambientes onde o paciente está inserido. O tamanho, a organização e a distância das imagens e símbolos gráficos na prancha de comunicação, depende das habilidades do paciente: motoras, visomotoras, cognitivas, perceptivas e linguísticas, além das características de suas vivências. A distribuição das cores do sistema PCS - Boardmaker (MAYER- JONHSON, 2004) para a rápida localização dos símbolos, é distribuída da seguinte forma: Figuras sociais – cor rosa; Figuras de pessoas – cor amarela; Figuras de verbos – cor verde; Figuras descritivas (adjetivos e advérbios)– cor azul; Figuras miscelânea: cor branca; Figuras de substantivos: cor laranja, podendo ser utilizadas nas bordas ou fundo. 609

Reabilitação: teoria e prática Figura 1: Representação da prancha básica de CSA Fonte: Arquivo pessoal. Figura 2: Representação da prancha básica de CSA Fonte: Arquivo pessoal. 610

Atuação fonoaudiológica na comunicação suplementar e alternativa Figura 3: Treino na prancha de CSA Fonte: Arquivo pessoal. Figura 4: Manuseio da prancha de CSA. Fonte: Arquivo pessoal. 611

Reabilitação: teoria e prática As Figuras 1 e 2 mostram a representação da prancha básica de CSA, um recurso de baixa tecnologia, que contém símbolos pictográficos e gráficos, representando o vocabulário do paciente. Na Figura 3, conforme pode ser observado na imagem, foi confeccionada prancha de comunicação suplementar de acordo com a demanda do paciente, com registro do momento do treino do uso da prancha. A Figura 4 ilustra o paciente já iniciando a comunicação com o auxílio da prancha. Seguem abaixo alguns modelos de prancha de comunicação confeccionadas no setor de Fonoaudiologia de um Centro de Reabilitação. A Figura 5 mostra prancha temática escolar de CSA, é um recurso de baixa tecnologia e contém símbolos voltados para vivência atual do paciente. A Figura 9 ilustra modelo de caderno de linguagem para inserção de vocabulários e inserção da familiarização do paciente com os símbolos gráficos. Vale ressaltar a possibilidade da elaboração/confecção mais de um recurso de comunicação para o mesmo paciente, caso necessário. Figura 5: Exemplo de prancha escolar CSA Fonte: Arquivo pessoal. 612

Atuação fonoaudiológica na comunicação suplementar e alternativa Figura 6 e figura 7: Ilustração da prancha temática de CSA de auto cuidado de bolso Fonte: Arquivo pessoal. Figura 8: Prancha de CSA em modelo de rotina bastante confeccionada para pacientes com TEA. Fonte: Arquivo pessoal. 613

Reabilitação: teoria e prática Figura 9: Caderno de linguagem Fonte: Arquivo pessoal. Considerações Finais O profissional Fonoaudiólogo tem importante papel no processo de avaliação, orientação, produção e treino com pacientes que necessitam do uso da Comunicação Suplementar e Alternativa, que necessitam de atendimento de forma individualizada e integrada. O profissional promove condutas adequadas a cada paciente considerando sua individualidade, ambiente no qual está inserido e necessidades comunicativas. Cabe ressaltar que o uso da CSA não inibe a comunicação verbal, quando existe prognóstico de fala; mas sim auxilia e amplia o processo da comunicação verbal para estes pacientes. O processo evolutivo dos pacientes com uso da Comunicação Suplementar e Alternativa necessita da compreensão, intenção comunicativa e interesse pessoal, familiar e da sociedade, além da adesão quanto ao uso para proporcionar maior qualidade de vida. Referências bibliográficas ALENCAR, G. A. R. O direito de comunicar, por que não? Comunicação Alternativa aplicada a portadores de necessidades educativas especiais no contexto de sala de aula. Disponível em: acessado em: 14 de fevereiro de 2021. American Speech-Language-Hearing Association (ASHA). Competencies for speech-language pathologists providing services in augmentative communication. ASHA, v. 31, p. 07-10, 1989. BERSCH, R.; SARTORETTO, M. L. O que é um sistema de símbolos gráficos? O que é o PCS? O que é o software Boardmaker? 2011. Acesso em: 14 fev. 21. 614

Atuação fonoaudiológica na comunicação suplementar e alternativa CESA, Carla Ciceri; MOTA, Helena Bolli. Augmentative and alternative communication: scene of Brazilian journal. Revista CEFAC, v. 17, p. 264-269, 2015. CESA, Carla Ciceri; MOTA, Helena Bolli. Comunicação suplementar alternativa: da formação a atuação clínica fonoaudiológica. Revista CEFAC, v. 19, n. 4, p. 529-538, jul./ago. 2017. DELIBERATO, D.; MANZINI, E. J.; GUARDA, N. S. A implementação de recursos suplementares de comunicação: participação da família na descrição de comportamentos comunicativos dos filhos. Revista Brasileira de Educação Especial, Marilia, v. 10, n. 2, p. 217- 240, maio/ago. 2004. DUARTE, E. N. Linguagem e comunicação suplementar e alternativa na clínica fonoaudiológica. 2005. 85 f. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005. GLENNEN, S. L. Augmentative and alternative communication assessment strategies. In: GLENNEN, S. L.; DECOSTE, D. C. (Orgs.). The handbook of augmentative and alternative communication. Los Angeles: Singular Publishing Group, 1997, p. 149-192. LIGHT, Janice; MCNAUGHTON, David. Putting people first: Re-thinking the role of technology in augmentative and alternative communication intervention. Augmentative and Alternative Communication, v. 29, n. 4, p. 299-309, 2013. LIGHT, Janice; MCNAUGHTON, David. Communicative competence for individuals who require augmentative and alternative communication: A new definition for a new era of communication? Augmentative and Alternative Communication, v. 30, n. 1, p. 1-18, 2014. MAYER-JOHNSON, R. The Picture Communication Symbols - P.C.S. software boardmaker. Porto Alegre: Clik Tecnologia Assistiva, 2004. MANZINI, E. J. Formação de pesquisadores para a área de comunicação alternativa. In: NUNES, L. R. O. P.; PELOSI, M. B.; WALTER, C. C. F. (Orgs.) Compartilhando experiências: ampliando a comunicação alternativa. Marília: ABPEE; 2011. p. 139-160. SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. Assistiva tecnologia e educação. Assistiva, 2021. Disponível em: https://www.assistiva.com.br/. Acesso em: 13 fev. 2021. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA - SBFa. Comitê de Comunicação Suplementar e Alternativa. Porto, Portugal: Porto Editora, 2000. 615



46 Dermatologia e reabilitação Iluska Borges Dias Lima Crianças e adolescentes são frequentemente acometidos com dermatoses, como pediculose (piolho), varicela, ptiríase versicolor (também conhecida como “pano branco”) micoses, escabiose e verrugas virais. E quando esse público está em tratamento de reabilitação/habilitação e são acometidos por patologias dermatológicas, muitas vezes precisam se afastar dos atendimentos que fazem regularmente em centros de reabilitação, o que pode prejudicar seu processo de reabilitação. Crianças e adolescentes em processos de reabilitação apresentam patologias diversas, como paralisia cerebral, doenças neuromusculares, mielomeningocele e outras. A assistência multiprofissional é indispensável para a melhora do quadros de saúde, em especial aos acometidos por dermatoses. Por isso a importância que o profissional dermatologista esteja presente no Centro para somar à melhor terapêutica e diante das dermatoses, seja possível o retorno com segurança às atividades o quanto antes e sem prejuízos. No caso das crianças e adolescentes em processo terapêutico a abordagem educacional sobre o tratamento devem também incluir os pais e/ou res- ponsáveis, além de uma abordagem multidisciplinar com outras especiali- dades médicas, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros e nutricionistas. Assim é objetivo do capítulo aprensentar pequenas notas sobre as principais dermatites e formas de tratamento, para evitar que as pessoas com deficiência em tratamento, sejam prejudicados por vários dias afastados dos processos de reabilitação.

Reabilitação: teoria e prática Discussão Pessoas com deficiência física são atendidas nos Centros de Reabilitação, um modelo de assistência que objetiva ser referência na prestação de serviços voltados especialmente para habilitação e /ou reabilitação e ou readaptação. Isso é feito com uma equipe multidisciplinar, incluindo terapias de fonoaudiologia, fisioterapia em solo e na água, psicologia, pedagogia, musicoterapia, terapia ocupacional e reabilitação desportiva, tudo isso garantido por meio do Sistema Único de Saúde. Dentre os atendidos, estão crianças, adolescentes e/ou jovens que muitas vezes antes ou durante a terapia de reabilitação desenvolve alguma lesão de pele. As lesões dermatológicas nesse público geram consequências negativas, tanto em relação aos tratamentos terapêuticos nos centros de reabilitação, quanto impacto psicológico e na qualidade de vida dessa população. O estado de saúde pleno é multifatorial, relacionando-se com fatores sociais, psicológicos e físicos (WEBER, 2012). O diagnóstico dessas lesões é primordial para o tratamento e para evitar a contaminação de outras crianças e jovens que também fazem terapias no centro de reabilitação. Dessa forma é possível fazer a terapêutica adequada e também a prevenção da disseminação de tais patologias. Nos últimos dez anos, a lesão mais comum encontrada em crianças em processo de reabilitação em Teresina – Piauí, foi a Pitiríase Versicolor, correspondendo a 25,5% dos casos, seguida por Pediculose com 21,8% dos casos e Verrugas e Calosidades com 11,9%. Já Larva migrans e Escabiose foram menos observadas, correspondendo a 5% e 4%, respectivamente. Além disso, muitas crianças, adolescentes e jovens, precisam interromper o processo de reabilitação multiprofissional, e destas a maior parte por período superior a 15 dias, o que leva ao desligamento do paciente das terapias, e atrasa todo o processo de reabilitação, pois é necessário neste caso passar por todas as avaliações iniciais novamente para ser reinserido no programa de reabilitação (LIMA, 2013). Dentre as lesões mais comuns encontradas, a Ptiríase Versicolor está em primeiro lugar. Corresponde a uma micose superficial, caracterizada por manchas hipocrômicas, eritematosas ou acastanhadas, furfuráceas no pescoço, tórax e membros superiores, causada pelo fungo Malassezia spp. A transmissão pessoa-a-pessoa não é comum, sendo provavelmente uma predisposição individual (OLIVEIRA, 2002). A Pediculose se destaca por ser prevalente em áreas mais carentes, marcando as desigualdades econômicas do Brasil e, se não tratada, pode gerar graves consequências. É uma condição causada pelo inseto parasita 618

Dermatologia e reabilitação Pediculushumanus capitis, conhecido como piolho. A transmissão ocorre por contato direto, já que são insetos ápteros. As lesões pruriginosas ocorrem no couro cabeludo e podem levar a infecções bacterianas, micoses e miíases. Para o combate, são necessárias ações conjuntas da família e dos profissionais do centro de reabilitação, sendo importante a presença do dermatologista para o manejo correto da lesão (GABANI, 2010). Os profissionais do centro, se bem preparados, contribuem para redução da pediculose no ambiente e para redução dos riscos à saúde das crianças, por meio da promoção de estratégias que previnam as complicações da doença, detecção precoce e educação permanente para as famílias e trabalhadores da área (BRASIL, 2007). Considerações finais As lesões dermatológicas que acometem crianças e adolescentes em reabilitação causam a interrupção do processo terapêutico, podendo gerar prejuízo parcial ou total para esses indivíduos. Dessa forma, a presença do dermatologista nos centros de reabilitação é muito importante, pois assim é possível um diagnóstico precoce da lesão, terapêutica adequada e a prevenção de doenças, o que minimiza os danos à reabilitação do paciente. (BRASIL, 2002). Além disso, é notória a necessidade de Educação em Saúde para essa população, contribuindo na formação da autonomia e consciência dos indivíduos sobre sua saúde, de forma que soluções sejam estimuladas individual e coletivamente. (LEITE e LIMA, 2013). Os Centros de Reabilitação devem adotar medidas educativas sobre as lesões de pele para, assim, prevení-las e impedir a interrupção das terapias realizadas pelas crianças. Tais medidas são importantes tanto para as famílias dos pacientes quanto para todos os profissionais de saúde que lidam com essa população. Referências bibliográficas BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Diretrizes de educação em saúde visando à promoção da saúde: documento base. Brasília: Funasa 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dermatologia na atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. GABANI, Flávia Lopes; MAEBARA, Clarice Martins Lima; FERRARI, Rosângela Aparecida Pimenta. Pediculose nos centros de educação infantil: conhecimentos e práticas dos trabalhadores. Escola Anna Nery, v. 14, p. 309-317, 2010.DOI: https://doi.org/10.1590/S1414-81452010000200014. 619

Reabilitação: teoria e prática LEITE, Mleudy Layenny da Cunha; DE LIMA, Manasés José Bernardo. Educação em saúde: prioridades das equipes de saúde da família. Anais do CBMFC, Belém, n. 12, p. 1093, maio 2013. LIMA, Iluska Borges Dias. Lesões dermatológicas de crianças e adolescentes em processo de reabilitação fisioterapêutico. 44. f. 2013. Monografia (Mestrado Profissional em Saúde da Família) – Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, 2013. OLIVEIRA, Josenildo Rodrigues de; MAZOCCO, Viviane Tom; STEINER, Denise. Pitiríase Versicolor. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 77, n. 5, p. 611- 618, out. 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0365-05962002000500012. WEBER, Magda Blessmann et al. Assessment of the quality of life of pediatric patients at a center of excellence in dermatology in southern Brazil. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 87, n. 5, p. 697-702, out. 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0365-05962012000500004. 620

47 Os benefícios da prática de atividade física para a pessoa amputada Childerico Robson Pereira e Silva Gabriella Alves de Sousa Luz dos Santos Slânia Bastos Martins Barboza A atividade física é essencial para a manutenção da qualidade de vida do indivíduo, proporcionando bem estar físico e mental, além de prevenir doenças cardiovasculares, melhorar taxas metabólicas, normalizar a pressão arterial, fortalecer músculos ossos e articulações, ajudar no controle de peso, entre outros benefícios, mesmo para aquelas pessoas que possam ser acometidas por alguma sequela permanente como é o caso da amputação. Amputação é o termo utilizado para indicar a perda e/ou remoção total ou parcial de um membro. É uma das disfunções que resultam em incapacidade física, podendo levar a uma importante limitação na capaci- dade de executar atividades de vida diária (AVD). Este procedimento deve ser entendido como parte do processo de reabilitação (BRASIL, 2013). A pessoa amputada necessita de atendimento e acompanhamento para reabilitação em várias questões da vida como da própria autonomia. O processo de reabilitação pretende reestabelecer o estado físico, mental e social, o que pode oportunizar a reinserção da pessoa amputada nas Ati- vidades da Vida Diária (AVD) e nas atividades laborais. A amputação pode ter várias causas e levar a muitas barreira na vida da pessoa acometida e de sua família. Nesta fase inicial, em geral a prática da atividade física não apa- rece no quadro de atividades possíveis ou necessárias para a reabilitação de um indivíduo amputado, porém os muitos benefícios físicos que podem

Reabilitação: teoria e prática ser alcançados com a prática física regular e a tornam indispensável para as pessoas acometidas por algum tipo de amputação. O estatuto do conselho Federal de Educação Física (CONFEF) N° 156/2008, em seu artigo 9º diz: O Profissional de Educação Física é especialista em ativi- dades físicas, nas suas diversas manifestações- ginásti- cas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilita- ção, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais, sendo da sua competência prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capaci- tação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para conse- cução da autonomia, da autoestima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo”, o que deve incluir ações referentes à reabilitação. A Carta Brasileira de Educação Física enfatiza o seu compromisso em relação “às questões contemporâneas da humanidade como, as pessoas com necessidades especiais” (CONFEF, 2000). Além da legalidade, reconhecida a função prioritária deste profissional na manutenção, ampliação e recuperação da força muscular, como o responsável pela avaliação, organização, orientação e desenvolvimento de treinamento resistido, conhecidamente capaz de proporcionar evidente melhora para a saúde e qualidade de vida das pessoas (SEIDEL; NAGATA et al., 2008). Sobre a epidemiologia das amputações, estima-se que a incidência mundial de amputação de membros seja de aproximadamente um milhão de pessoas por ano (REGENSTEINER, 2002). No ano de 2018, foram registradas no Brasil mais de 59 mil amputações. Este número, ao mesmo tempo em que tende a reduzir- 622

Os Benefícios da prática de atividade Física para a pessoa amputada se significativamente se realizados a prevenção e o tratamento precoce correto, por outro lado tende a aumentar devido à elevação da expectativa de vida, que se correlaciona com: maior prevalência das síndromes plurimetabólicas (diabetes mellitus, dislipidemias, obesidade, etc.), menor qualidade de vida (alimentação incorreta, sedentarismo, alto nível de estresse, abuso de substâncias nocivas, como álcool e tabaco) e maior risco de doenças crônicas e sistêmicas (doenças cardiovasculares, pneumopatias, neoplasias, hipertensão arterial, nefropatias, etc.) (American Diabetes Association-ADA, 2000). Os membros inferiores geralmente são os mais acometidos em comparação aos membros superiores. Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), em 2011 a amputação de membros inferiores foi responsável por cerca de 94% de todas as amputações realizadas. Estudos que abordam a incidência e o perfil dos pacientes submetidos às amputações se tornam de extrema importância frente a esse cenário mundial. Independente de ser uma sequela pós-trauma ou de doença, definitivamente a amputação é percebida como uma mutilação e, pelo menos em algum momento, afeta negativamente a vida de qualquer pessoa acometida e de seus familiares. A atividade física para pacientes com a mobilidade reduzida, em qualquer uma das modalidades, traz muitos benefícios, como: melhora no condicionamento físico e cardiorrespiratório; agilidade, equilíbrio, flexibilidade; fortalecimento musculoesquelético; melhora no sistema imunológico; melhora a postura; ajuda na redução de espasmos; e a desenvolver a independência, aumentando a confiança e autoestima do paciente. Histórico das modalidades na Reabilitação Desportiva em um Centro de Reabilitação O setor de Reabilitação Desportiva, desenvolve um papel fundamental na sociedade para a mudança desse estigma e cultura de que o paciente com amputação não pode ou deve praticar esportes com parte do seu processo de reabilitação e habilitação física. No primeiro momento, em 2008, o setor de Reabilitação Desportiva iniciou suas atividades com um esporte muito praticado mundialmente, e com uma facilidade maior de prática em regiões de clima mais quente, com piscinas ao ar livre, a natação. Para um bom desenvolvimento da atividade, é necessário observar e valorizar o que cada paciente, dentro de sua individualidade, se tem experiência ou não no convívio com o ambiente aquático, o que é analisado na avaliação inicial no setor. 623

Reabilitação: teoria e prática Em vários momentos, principalmente no início das atividades, alguns pacientes questionam a validade do esporte como reabilitação, mas após os primeiros contatos com o reabilitador físico, o procedimento é bem aceito. Muitos pacientes inclusive tem grande habilidade em meio líquido, pois antes de suas amputações, estes já tinham contato com piscinas, rios, açudes, lagos ou mesmo lagoas, em suas casas, clubes ou respectivos municípios de origem. Embora a ideia central da reabilitação desportiva não seja a competição, mas contribuir para a melhora clínica, alguns pacientes têm destaque nos esportes e são convidados para treinar de forma mais intensiva para competições de esporte paraolímpico (Figuras 1 e 2). Figura 1: Treinos de natação Fonte: Arquivo pessoal Figura 2: Resultado de competições. Fonte: Arquivo pessoal 624

Os Benefícios da prática de atividade Física para a pessoa amputada Com a natação já bem estabelecida no centro de reabilitação, foram iniciadas atividades do esporte mais praticado no mundo, o futebol, o que foi muito bem aceito pelos pacientes (Figura 3). O grupo de pacientes só aumentou com o tempo, ganhou destaque e faz até apresentações na abertura de eventos públicos (Figura 4). Figura 3: Treino de Futebol . Fonte: Arquivo pessoal Figura 4: Participação em competição Fonte: Arquivo pessoal 625

Reabilitação: teoria e prática Figura 5: Paciente realizando abdução em pé Fonte: Arquivo pessoal Figura 6: Paciente realizando elevação lateral Fonte: Arquivo pessoal A mais recente atividade disponível para os pacientes amputados é a musculação, após inauguração da academia da Instituição (Figuras 5 e 6). Espaço acessível, estruturado e adaptado para atender todas as demandas 626

Os Benefícios da prática de atividade Física para a pessoa amputada dos pacientes. Para iniciar as atividades, os pacientes com amputação são encaminhados ao setor, passam por avaliação com um dos terapeutas da Reabilitação Desportiva (RD), que indicam a necessidade de fortalecimento muscular e quais grupos musculares devem ser priorizados. O setor é composto por profissionais de educação física devidamente registrados no conselho de classe, que definem o plano terapêutico do paciente. A maior parte dos pacientes estão em fase pré-protética, e precisa ganhar principalmente força e resistência muscular. Considerações finais A Reabilitação Desportiva pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes amputados e aumentar as chances de sucesso no processo de protetização. O esporte traz benefícios em várias esferas para os praticantes, desde saúde cardiovascular, condicionamento físico, socialização e bem estar psíquico, todos elementos relevantes e totalmente afins à reabilitação. Desta forma o educador físico tem um papel importante dentro da equipe multidisciplinar em um centro de reabilitação. Referências bibliográficas AMERICAN DIABETES ASSOCIATION et al. Atualização: padrões e recomendações, patologias associadas. Diabetes Clínica, v. 4, p. 118-36, 2000. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à pessoa amputada. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 36 p. CARVALHO, J. A. Amputações de membros inferiores. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. CONFEF – CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Art.9. Estatuto do conselho federal de educação física. Disponível em: https://www.confef. org.br/confef/conteudo/471. Acessado em: maio de 2021. MOURA, Elcinete W. de et al. AACD: fisioterapia: aspectos clínicos e práticos da reabilitação. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2009. PINTO, M. A. G. de S. A reabilitação do paciente amputado. In: LIANZA, S. Medicina de reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. REGENSTEINER, Judith G.; HIATT, William R. Current medical therapies for patients with peripheral arterial disease: a critical review. The American journal of medicine, v. 112, n. 1, p. 49-57, 2002. 627

Reabilitação: teoria e prática SANTOS, C. A. S.; NASCIMENTO, P. F. T. Desbridamento e amputações. In: Pitta, G. B. B.; CASTRO, A. A.; BURIHAN, E. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: http://www.lava.med.br/livro. SEIDEL, Amélia Cristina et al. Epistemology of lower limb amputations and debridements at Hospital Universitário de Maringá. Jornal Vascular Brasileiro, v. 7, n. 4, p. 308-315, 2008. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/ S1677-54492009005000002. SENEFONTE, Flavio Renato de Almeida et al. Amputação primária no trauma: perfil de um hospital da região centro-oeste do Brasil. Jornal Vascular Brasileiro, v. 11, n. 4, p. 269-276, 2012. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/ S1677-54492012000400004. 628

48 Reabilitando com a História da Arte Michael Jakson Furtado Amorim A manifestação artística é indiscutivelmente uma necessidade humana; é possível identificar ao longo do tempo e através das mais diversas civilizações do planeta a presença e a força da arte, que na sua concepção atravessa e continuará atravessando gerações. Acredita-se que o fazer artístico tenha surgido na era do gelo, e depois nas pinturas rupestres, esse período também ficou conhecido como a idade da pedra lascada e se estabeleceu por volta de 40.000 a.C. Desde então tempo o homem vem criando meios de transformar, comunicar-se e expressar seus sentimentos, apontar sua percepção de mundo e os seus valores por meio das mais diversas linguagens e ferramentas do mundo da arte, onde existe um sentido para quase tudo no universo da criação, meio indispensável e de caráter simbólico, com amplitude universal, permitindo o livre acesso à subjetividade e ao nosso “eu” interior. Através do estudo da história da arte, percebe-se como o mundo sofreu modificações, não apenas quanto às técnicas artísticas, mas também quanto à cultura, meio ambiente, política, religião e quanto à própria sociedade, mas é fato que o aconteceu no passado influencia no presente, e continuará a influenciar no futuro; dessa forma compreender o lugar do ser humano no universo e nos superar a cada dia é um desafio constante. A Arteterapia se constitui como área transdisciplinar, na qual se une o fazer artístico à questões terapêuticas e medicinais, agregando pesquisa, teoria, prática e aplicabilidade às mais diversas situações. Segundo a American Art Therapy (AATA), a Arteterapia se caracteriza como

Reabilitação: teoria e prática uma profissão de assistência ao ser humano, explorando problemas e estimulando potencialidades de maneira verbal e não verbal, através de objetivos distintos, atuando de maneira efetiva na prevenção, reabilitação e assistência em casos crônicos. Atua também como uma ferramenta de terapia em que se utilizam várias linguagens da arte, representando níveis da psique, materializando conscientemente conteúdos, estimulando potencialidades e quebrando barreiras e paradigmas. Assim é objetivo desse capítulo apresentar a arte terapia na história e elementos da sua contribuição nos processos de reabilitação. A Arteterapia na história da reabilitação de pessoas com deficiência Em meados do século XIX, a produtividade artística passou a ser utilizada com fins terapêuticos e medicinais, no início apenas para tratar de doenças mentais, mas ao longo do tempo e através da curiosidade e pesquisa dos psiquiatras a respeito das obras artísticas feitas pelos pacientes se estabeleceu como terapia, mas até então era vista apenas como um meio de distrair, recrear e ocupar a mente dos enfermos, servindo como ferramenta que abordava o lúdico, usada como um passatempo. Progressivamente a Arteterapia conquistou espaço e pouco a pouco obteve importantes contribuições para consolidar a sua estrutura, no campo da psicologia fica em evidência o trabalho de Freud, o pai da psicanálise, que defendia a proposta da imagem como meio de manifestação do inconsciente; para ele a arte não era apenas um ato criativo, mas principalmente a manifestação de um sintoma. Jung defendia que o paciente poderia reorganizar os seus fantasmas internos por meio da produção expressiva através da arte, convidando-os assim para desenhar e pintar os seus medos, angústias e trabalhando o uso da imagem no arquétipo coletivo. Arteterapia teve sua sistematização específica em 1941 pela psicóloga Margaret Naumburg que fundou a escola Walden em Nova Iorque. Acredita-se que o primeiro a usar o termo Arteterapia foi Andrian Hill em 1945, um artista inglês que ao ser internado por conta de uma tuberculose trabalhou artisticamente suas questões ao longo do seu tratamento e recuperação, tornando-se monitor do mesmo hospital onde se tratou. No Brasil, em 1946 a psiquiatra Nise da Silveira foi a grande precur- sora e expoente do uso da arte atrelada a fins medicinais, revolucionando o campo da psiquiatria e propondo transformações na relação médico e paciente, dando importância à criatividade, simbolismo e afetividade no 630

Reabilitando com a História da Arte tratamento dos esquizofrênicos, oferecendo diversos materiais artísticos e expressivos a fim de ter acesso ao inconsciente e inaugurando a psiquiatria interpretativa. Na década de 60 surgem os primeiros cursos de Arteterapia e sua utilização prática foi além da psiquiatria; em 1993 inicia-se a primeira especialização em Goiânia, em 1999 a primeira associação de arteterapeu- tas e em 2006 cria-se a União Brasileira de Associação de Arteterapeutas do Brasil, que tem como conduta normatizar e reconhecer essa profissão. Importante ressaltar que na Arteterapia em tratamento de reabili- tação não se tem como principal objetivo a beleza estética, a técnica apre- sentada ou o resultado final, mas principalmente é o percurso a ser seguido ao longo da reabilitação onde, cada obra produzida no atelier representa o registro, a história e muitas vezes o processo evolutivo. A linguagem atra- vés da arte possibilita um mergulho em quem realmente cada ser é, promo- vendo uma amplitude e facilitando busca por caminhos menos dolorosos. A arte voltada para Reabilitação pretende recuperar através de estímulos, algumas funções básicas provocadas pela doença, acidente ou lesão, assim como desenvolver parâmetros afetivos como recursos como o estudo, a expressão, a flexibilidade, originalidade ressignificação. O setor de Arteterapia representa a parte lúdica, expressiva e artística da instituição de reabilitação, atendendo de maneira individual ou em grupo, crianças e adultos com diversas patologias como mielomeningocele, doenças neuromusculares, pacientes com AVE, doença de Parkinson e principalmente pacientes com paralisia cerebral. É interessante frisar que o atendimento terapêutico, é elaborado ao longo do processo a ser percorrido rumo à reabilitação, de maneira individual e respeitando o desenvolvimento de cada paciente, resultando em um diálogo com a produtividade do paciente e terapeuta, que pode compreender os processos de construção da obra artística com grande envolvimento das capacidades perceptivas, emocionais e criativas. A abordagem tem um efeito imediato por ser lúdica, socializadora e agregar sentimentos de acolhimento, segurança e partilha. Nesse caso o paciente exterioriza sentimentos e tem suas potencialidades ampliadas. Através da reabilitação por meio da arte, os pacientes podem alcançar evolução na coordenação motora fina, na capacidade de preensão e no movimento de pinça, estimulando também a sensibilidade que pode estar adormecida e trabalhando as emoções em busca de equilíbrio emocional. Este é um fator muito importante, levando em consideração que, quanto maior for a autoaceitação e o desejo de superação do paciente, maior será o interesse e a segurança em querer participar de eventos artísticos, frequentar museus, teatros e cinemas. Aprofundar- 631

Reabilitação: teoria e prática se como pessoa criadora é mais um importante aspecto da reabilitação, onde o paciente se vê inventivo e talentoso quando se depara com suas próprias obras, percebendo que sempre é possível se superar através da perseverança e trabalho em equipe, possibilitando uma evolução não apenas durante a terapia, mas como ser humano, que se enxerga capaz de entender e melhorar a si mesmo, além da oportunidade de superar os desafios da vida. O desenho é uma poderosa ferramenta artística e terapêutica, servindo também como base para iniciação, formação e comunicação visual em planos bidimensionais e tridimensionais, facilitando o acesso da Arteterapia por conta da sua simplicidade, valor e mecanismo de manuseio. Desenhar é um ato natural da criança, podendo evidenciar de maneira intuitiva, analítica à personalidade e ao momento vivido pelo paciente. O ato de desenhar para a criança com paralisia cerebral cria uma oportunidade de se expressar e comunicar através de um meio não verbal, obtendo um percurso rápido, fácil e prazeroso. A comunicação por meio da arte possibilita um refúgio mental e uma condição ímpar para materializar o subconsciente através das imagens, grafismos, cores e uma pluralidade formas, signos e códigos. Segundo Luquet (1927 apud Mèredieu, 1974), o desenho infantil possui uma relação direta com seu desenvolvimento cognitivo, estabelecendo-se em quatro etapas de evolução: realismo fortuito, que começa em média aos 2 anos de idade, na época em que acaba a fase do rabisco aleatório (garatuja), a criança começa a desenvolver uma comparação entre o objeto e seu desenho; o realismo fracassado se desenvolve por volta dos 3 e 4 anos, onde a criança tenta construir formas com sucessos e fracassos; o realismo intelectual, inicia-se aos 4 anos e vai se prolongar até os 10 anos, onde a criança desenha não exatamente aquilo que enxerga, mas produz aquilo que sabe a respeito do objeto a ser produzido; e o realismo visual, geralmente tem início aos 12 anos, mas é possível se identificar a partir dos 8 ou 9 anos, o desenho infantil é submetido pelas regras de perspectiva. Na experiência em um centro de reabilitação todos os pacientes inclusive os da clínica de Paralisia Cerebral (PC) passam por uma triagem executada por uma equipe multiprofissional, quando se decide sobre o encaminhamento para o setor de Arteterapia. No setor, cada paciente passa por uma avaliação inicial, que utiliza questionário específico, análise de um desenho do ponto de vista neurológico; o tema abordado através de um desenho de autorretrato imagem da família, com essa abordagem é possível detectar problemas 632

Reabilitando com a História da Arte motores, neurológicos, medos, angústias e condições no uso da coordenação motora fina, capacidade de preensão e consistência do traçado. Após a análise inicial é possível se estabelecer metas, o uso de quais linguagens a serem exploradas para ajudar no tratamento, tanto na parte motora quanto psíquica, sensitiva e cognitiva. Através da reabilitação por meio da arte e também da história da Arte, os pacientes podem alcançar uma evolução na coordenação motora fina, na capacidade de preensão e no movimento de pinça, estimulando também a sensibilidade latente e trabalhando as emoções em busca de equilíbrio emocional. Nas atividades da arteterapia utiliza-se a história da arte como base para diversas atividades, como por exemplo: usar em uma folha de papel amassada, que representaria as paredes das antigas cavernas da era do gelo, o paciente com giz de cera produzindo seus grafismos em uma superfície rugosa e não linear. No caso do giz de cera, os pacientes com Paralisia Cerebral têm a oportunidade de viver uma dificuldade semelhante às dos homens das cavernas, pois terão de expressar seus rabiscos em uma superfície rugosa e com um material bastante simples. Esse exercício traz não só o fazer artístico, mas também a poética, pois estes primeiros artistas da humanidade queriam não apenas retratar o seu dia a dia, mas também realizavam um ritual de magia com seus desenhos. É possível desenvolver uma identificação entre o paciente e o artista. No caso, os artistas habitualmente escolhidos são Frida Khalo, Van Gogh, Toulouse-Lautrec e Edvard Munch, que tiveram diversas dificuldades físicas e psicológicas durante a vida. Também é possível perceber um autoconhecimento por parte dos pacientes, que realizam atividades em conjunto, trocando experiências, e expressam desejos e dificuldades, dessa forma, dando asas à imaginação, em um espaço agradável e acolhedor e estabelecendo relações com colegas e orientador. Podem ter a oportunidade de olhar para si mesmos e refletir sobre suas histórias, seus sonhos e suas dificuldades A criação de um ambiente terapêutico mais expressivo que possa dar ênfase ao fazer artístico mais poético, fortalecendo dessa maneira a autoestima dos pacientes envolvidos e desse modo criando estratégias que contribuam para uma melhor convivência com suas limitações, medos e problemas é objetivo da Arteterapia, assim como incentivar o autoconhecimento e empatia por diversos artistas que tiveram problemas similares e buscaram na arte um refúgio e uma oportunidade de minimizar os problemas. Existe relevância cultural, pois traz oportunidade de conhecer os processos artísticos, alfabeto visual (compõem os códigos e 633

Reabilitação: teoria e prática termos usados em desenho e pintura - traço, forma, ponto, luz, cor, sombra, composição...) e incentivar a pesquisa artística para também mostrar aos pacientes que existe uma maneira de se encarar os problemas através da arte. Na verdade o trabalho do arteterapeuta faz-se ativo durante o seu próprio percurso abrindo ramificações para discussões pessoais e trocas de experiências e relatos pessoais e assim criar vínculos de conforto e segurança entre os pacientes e o terapeuta envolvido. As sessões de Arteterapia aplicadas aos pacientes na clínica de Paralisia Cerebral devem ser divertidas, sempre com novidades inquietantes e seguindo a cronologia da história da arte. Os envolvidos farão releituras de obras famosas e trarão à tona as peculiaridades de alguns artistas que buscaram também exibir sua poética. Os exercícios são guardados a fim de se criar uma pasta com a “evolução” das atividades. Não é intenção ou objetivo formar artistas, mas buscar o incentivo à criatividade. Unir o fazer artístico da Arteterapia ou arte reabilitação atrelada à história da arte pode ser algo didático, diferente e estimulante, fazendo essa junção um processo que se torne mais lúdico, intenso e interessante. A ideia é não deixar nada repetitivo e abrir caminho para as criações individuais, assim como o conhecimento e a empatia pelos artistas. O contato com o mundo nos proporciona nosso próprio conhecimento, e ele se inicia desde o nascimento, com as sensações, as cores que vemos, os cheiros que sentimos e sons que ouvimos. E foi isso que os primeiros homens retrataram nas paredes das cavernas. São estas as primeiras manifestações artísticas de que estamos cientes. Devemos nos lembrar do quanto a análise de um trabalho artístico pode revelar sobre seu criador, permitindo também que ele se recupere de diversos problemas ou até mesmo melhorar ainda mais suas capacidades psicomotoras durante a reabilitação. Assim é possível perceber que a arte sempre estará intrinsecamente unida às vidas,e além de promover o autoconhecimento, ela também pode reabilitar dificuldades. Utilizando a Arte do antigo Egito como possibilidade terapêutica é possivel explorar a “lei da frontalidade” - quando olhos, ombros e peito são sempre retratados de frente - era uma regra, e também era impedido o reconhecimento do artista, que não assinava suas obras e não transmitia sua personalidade nela. Após a transmissão informal deste conhecimento, o terapeuta propõe a seguinte atividade: que o paciente, utilizando pincel de cerdas tamanho 8 (oito), tinta guache e papel comum faça uma obra baseada nas artes egípcias, mas colocando-se como o faraó da imagem. Este tipo diferente de autorretrato se torna bastante interessante, pois traz ao paciente a oportunidade de usar sua criatividade, mas também valorizando 634

Reabilitando com a História da Arte a arte da época, e permite que ele conheça melhor a si próprio e melhore sua autoestima, colocando-se, no mundo das ideias e da arte, em qualquer nível hierárquico. Mostrando aos pacientes a difícil realidade dos artistas de época que eram reprimidos, eles também podem perceber o quanto hoje podemos ter liberdade de nos expressar, de sentir e de dizer o que pensamos, demonstrando nossa flexibilidade e o que pode ser conquistado diante da vida. O período da Grécia antiga é outra fase histórica aplicada como atividade aos pacientes com paralisia cerebral, nesse momento, o tema principal é a cultura mítica dos gregos e romanos; essas mitologias tem conjunto de ensinamentos sobre seus deuses e heróis, a natureza do mundo, as origens e o significado de seu próprio culto e práticas rituais, parte principal da religião da época. Os gregos criaram as bases para a cultura ocidental e a atividade proposta abre a possibilidade para o paciente usar sua criatividade, fazendo mosaicos baseados no mesmo tipo de arte da Grécia antiga. Esta atividade é lúdica, a mitologia desperta muita curiosidade em pessoas de todas as idades, e a busca pela beleza e por um trabalho bem feito é muito importante para um melhor desenvolvimento da coordenação motora. Juntamente com o auxílio do terapeuta, o paciente se sente recompensado ao ver sua obra pronta e perceber que seu esforço teve resultado, o que o incentiva a estar sempre buscando melhorar seu desempenho em atividades do dia-a-dia. A colagem permite o ‘encontro’ entre diversas formas e materiais, formas que foram, muitas vezes, parcial- mente destruídas e que servem, agora, a objetivos ou- tros, a reconstrução da imagem. Isso leva a vivência de romper com o já existente para construir o que virá. Quando se juntam imagens, ou pedaços de imagens, criando algo ou dando-lhe um novo sentido, tudo ten- de à transformação. Romper com o antigo seria, simbo- licamente falando, destruir costumes e hábitos em di- reção à reconstrução de algo novo na vida do indivíduo (MACIEL, CARNEIRO, 2012, p. 86). O Impressionismo foi um movimento que surgiu na pintura francesa do século XIX. Vivia-se nesse momento a chamada Belle Epoque ou Bela Época em português. O nome do movimento é derivado da obra “Impressão: nascer do sol” (1872), de Claude Monet. Uma de suas principais características é a valorização da percepção humana da cor (ARAÚJO, Márcia Melo de e BARROS, Reica, 2010, p. 53). Essa grande estima à cor 635

Reabilitação: teoria e prática tornou suas obras com aspecto de inacabadas. Baseado nisso, uma nova atividade para ser trabalhada com os pacientes é colocá-los diante da foto de uma grande paisagem ou de uma imagem de algum dos quadros dos jardins de Monet e pedir que desenhem em papel comum com lápis de cor a paisagem. No entanto, só ficam com seu papel por 3 (três) minutos, após esse período o desenho é passado para o paciente ao lado, em sentido horário, que continua o desenho. Assim, todos participam de todos os desenhos, percebendo a importância do grupo (equipe) e trabalho de todos pode ajudar a construir algo melhor. Esta atividade aumenta o vínculo e confiança entre pares no grupo. Outro ponto importante é que no atendimento do arteterapeuta, o paciente deve liberdade para falar e se expressar, respeitando o sigilo profissional. Todos estes processos terapêuticos podem trazer bons resultados à reabilitação, sempre adaptando as atividades a cada paciente, levando em consideração a faixa etária e a dificuldade que precisa ser superada. Esta relação de terapia com história da arte pode ser muito produtiva e interessante, pois além de trazer para o consultório/ateliê as épocas artísticas de destaque, também faz com que os pacientes conheçam grandes artistas que também passaram por diversas dificuldades físicas e psicológicas. Um exemplo é o de Vincent Willem van Gogh, pintor pós- impressionista holandês, considerado por muitos um dos maiores de todos os tempos. Sua vida foi marcada por fracassos. Além da depressão e da esquizofrenia, pouco teve reconhecimento durante a vida. O trabalho de Van Gogh foi bastante diferente dos que eram feitos na época e ele não conseguiu superar seus problemas emocionais. Usá-lo como exemplo pode mostrar aos pacientes o quanto é importante buscar a reabilitação e a força de vontade para superar suas dificuldades e sempre lutar para crescer e melhorar suas vidas. Pode ser solicitado aos pacientes que façam releituras de suas obras, utilizando tinta acrílica, mais simples, em papel comum. Vale ressaltar que a criatividade dos pacientes sempre será colocada em primeiro plano e que cada obra (copiada) estará agregada aos sentimentos e individualidade de cada paciente envolvido. “Por meio da representação plástica, o cliente dinamiza o seu processo de cura, materializa os conteúdos do inconsciente e reconstrói os símbolos emergentes” (MACIEL, CARNEIRO, 2012) O objetivo da terapia baseada na história da arte - tanto quanto a épocas, quanto a artistas célebres - não é o de tornar os pacientes grandes artistas, mas de proporcionar atividades mais lúdicas a eles; é interessante conhecer a cultura de outra época e a história de artistas que se parecem 636

Reabilitando com a História da Arte um pouco com eles. Desenvolve a coordenação motora, e a autoestima também se torna ainda mais elevada quando o paciente se percebe como alguém que, aumenta bagagem cultural mesmo com as simplificadas explicações do terapeuta, e se percebe capaz de produzir algo, de conseguir olhar sua obra pronta e ter a certeza de que pode sempre melhorar e alcançar reconhecimento através do esforço. Também é importante que o terapeuta estimule o paciente a contar como se sentiu ao realizar cada uma das atividades descritas, para ter um retorno do processo e para identificar se os objetivos estão sendo alcançados. As atividades relacionadas à História da Arte buscam harmonizar conflitos internos, promover o fortalecimento da autoestima e o engrandecimento psicológico agregando estímulos capazes de fazer com que os pacientes possam através de cores, rabiscos e muitos grafismos conquistar aceitação e promover maior liberdade dentro do caminho da reabilitação física e mental Caso clínico na cena da Arteterapia Paciente feminina, vítima de acidente vascular encefálico, com sequelas manuais e psicológicas, e grande dificuldade na consistência do traçado e na capacidade de preensão, movimento da pinça e no campo psicológico apresentava um quadro de tristeza , introspecção, dificuldade de socialização e comunicação. Ingressou no setor da Arte e Reabilitação e foi inicialmente atendida em grupo adulto. Ao longo do processo terapêutico as dificuldades foram progressivamente vencidas e o acolhimento, convivência com outros Figura 1: Paciente executando atividade com tinta acrílica. Fonte: Arquivo pessoal 637

Reabilitação: teoria e prática Figura 2: Paciente fazendo releitura com tinta acrílica da obra do artista Claude Monet. Fonte: Arquivo pessoal pacientes, dinâmicas e o uso da história da Arte em parte das atividades passaram a ilustrar o processo de reabilitação, e que muitas dessas atividades produzidas serviram de inspiração para outros pacientes, alguns desses registros arteterapêuticos passaram a ser exibidos em exposições de Arte e na decoração permanente da instituição (Figuras 1 e 2). O gosto pela pintura foi crescente, os sinais de evolução cada vez mais evidentes, além de melhora de humor, capacidade de expressão, envolvimento com outros pacientes e criação de vínculos na terapia. A paciente através da Arte e da sua história também adquiriu novos conhecimentos na área e dessa maneira passou a usar as atividades da arteterapia no seu dia a dia, conquistando assim melhor qualidade de vida. Considerações finais A arte amplia os horizontes do ser humano e seus benefícios para saúde mental e física não podem ser mensurados de forma objetiva. O arteterapeuta tem papel importante na equipe de reabilitação com atividades que melhoram função motora, coordenação, destreza, e também a esfera cognitiva, além de promover socialização. A História da Arte pode e deve ser trabalhada neste contexto, com benefícios amplos para a pessoa com deficiência e percebidos por toda a equipe. Referências bibliográficas COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 638

Reabilitando com a História da Arte COSTA, R. X. Educação especial por meio da arte. In: Ministério da Educação e do Desporto. Integração, v. 7, n. 19, p. 64-9, 1997. COUTINHO, Vanessa. Arteterapia com idosos: ensaios e relatos. Rio de Janeiro: Wak Ed, 2008. FAGALI, E. Q. Arte, terapia e a transição: entre linguagens expressivas no contexto de saúde. In: Arte medicina, p. 75, 2005. FERREIRA, A B H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FISCHER, H. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. FONTES, O. L. Além dos sintomas: superando o paradigma saúde e doença. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 1995. FRANCISQUETTI, Ana Alice. Arte medicina. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2005. 639



49 O origami modular como recurso arteterapêutico para reabilitação física de adultos Emanoella Mayumi Pereira Sato A Arteterapia atua na prevenção de doenças, tanto em seu tratamento, como em casos crônicos e na reabilitação de vários distúrbios da saúde. “[...] a arte é utilizada como meio de expressão para facilitar a elaboração verbal e a arteterapia no contexto de ateliê terapêutico, que explora a arte como produto do indivíduo, aprofundando-se na linguagem artística” CHIESA (2004, p.39). Para que isso ocorra, é fundamental a participação do arteterapeuta como orientador e facilitador do processo, sem, contudo, invadir a criatividade do paciente. O capítulo discute o processo de reabilitação física através da arte de um grupo de adultos com Lesão Encefálica Adquirida (LEA), por meio Arte-Reabilitação. É uma terapia que ajuda o paciente a se readaptar à sua nova vida de desafios e dificuldades causada por acontecimento traumático e emocional, sempre trabalhando sua limitação cognitiva e motora. O estudo ocorreu nas dependências em um centro de reabilitação, sendo a técnica escolhida - Origami, arte de dobrar papel de origem japonesa, como alternativa de melhoria da qualidade de vida através da arte. De acordo Tommasi (2010, p.47): “[...] originando uma relação terapêutica diferente entre o sujeito (criador), o objeto de arte (criação) e o terapeuta”. Tem a seguinte problemática como norte: Quais são os benefícios e as limitações da utilização do Origami Modular como terapia na reabilitação de pacientes adultos com LEA?

Reabilitação: teoria e prática Notas de revisão de literatura A Arteterapia é o uso da arte como base de um processo terapêutico e propicia resultados em um breve espaço de tempo. Os primeiros experimentos de arte como terapia foram realizados por Freud através de análises de obras de arte, e Jung que começou a usar a linguagem artística associada com a psicologia. A arte como terapia foi ganhando progressivamente espaço. No Brasil, a Arteterapia, começou representada pelos psiquiatras Nise da Silveira e Osório César no trabalho com arte junto a pacientes em instituições de saúde mental, na segunda metade do século XX. No artigo Arte-Reabilitação: um caminho renovador na área da Arteterapia, Francisquetti (2016) novamente permeia na história da arteterapia até os dias atuais, e a criação da Arte-Reabilitação com referência na medicina neurológica, como uma forma de terapia para aliviar dores, reabilitação física, cognitiva e mental de cada um dos assistidos. Patologias diversas são atendidas em centro de reabilitação: paralisia cerebral, mielomenigocele; mal formação congênita, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, lesão medular, doenças neuromusculares e outros. No artigo Arte-Reabilitação: Infantil e Adulto (2007) a autora Ana Alice Francisquetti mostra a vivência diária dos atendimentos AACD-São Paulo. Fala da importância do corpo seguindo a abordagem fenomelógica, “baseada na exploração cognitiva das relações entre a realidade e subjetividade das ideias, emoções e possibilidades do paciente, [...]” (2007, p. 880). O estudo demonstra que os pacientes de patologias neurológicas podem, através da arte, ter mais confiança motora, equilíbrio emocional e cognitivo e dentre outros, uma melhor qualidade de vida de cada assistido no setor da Arte- Reabilitação. A obra Origami em Educação e Arteterapia de Sonia Bufarah Tommasi e Luiza Minuzzo (2010) enfatiza a importância do origami através da sua história e seus símbolos. O livro contém as contribuições das dobraduras na pedagogia, na psicologia e principalmente na arteterapia. “[...] o foco se concentra no restabelecimento da saúde psíquica e física. Para se atingir equilíbrio e harmonia são necessários o desenvolvimento da criatividade” (2010; p. 48). Além dos conceitos teóricos, também perpassa pela invenção do papel. O origami é a arte de dobrar papel. A palavra Origami é composta por duas palavras: ori “dobrar” e kami “papel”, também significa Deus. Essa arte foi transmitida por gerações de forma oral. Ninguém sabe quem foi o criador do origami, mas acredita-se na sua essência, “a união de várias pessoas para a criação” (Ibid. 2010, p. 27). A simbologia é sempre presente no papel e nas dobraduras. 642

O origami modular como recurso arteterapêutico para reabilitação física ... A necessidade da arte como terapia, Celeste Carneiro em seu livro Arte, Neurociência e Transcendência (2010), traz a abordagem da Arteterapia, sua história e o papel do arteterapeuta. Procurando entrelaçar a Psicologia Analítica, a Psicologia Transpessoal e os avanços da Neurociência em relação à arte e à inteligência. A seguir alguns exemplos de casos de pacientes atendidos em grupo no setor de Arteterapia em centro de reabilitação (Figura 1): Os participantes autorizaram a divulgação dos registros aqui discutidos Identificação breve das observações: Paciente 1. Mulher, 28 anos; sequela de trauma cranioencefálico em acidente automobilístico. Coma prolongado na fase aguda com hiper- tensão intracraniana acentuada nesse período. Apresenta irritabilidade e tem déficit de memória. É a mais persistente do grupo e que influencia os demais; Paciente 2. Homem, 42 anos; Sequela de trauma cranioencefálico em acidente motociclístico. Apresenta hemiparesia direita e redução da fluência verbal. Tem queixas de equilíbrio e atenção. Paciente 3. Mulher, 64 anos; acidente vascular encefálico isquê- mico, dupla hemiparesia, disartria e disfagia. Tem alteração de memória e fala. Cultiva o hábito da leitura e tenta realizar todas as atividades com as duas mãos. Paciente 4. Paciente 4. Mulher, 50 anos; acidente vascular encefáli- co isquêmico; escreve originalmente com a mão esquerda (sinistra); hemi- paresia direita, diplopia, disartria e desequilíbrio. E Tem labilidade emocio- nal (antecedente de depressão). Figura 1: Confecção do Origami. Fonte: Arquivo pessoal 643

Reabilitação: teoria e prática Relatos dos Atendimentos Clínicos Todos os participantes já frequentavam o setor de Arte e Reabilitação, durante o período de atendimento foram introduzidas técnicas artísticas diferentes. Entretanto observou-se que o Origami Modular foi a técnica que mais proporcionou a socialização do grupo. Uma explicação neste caso é o fato de o Origami Modular ser um trabalho que pode ser executado ao mesmo tempo por várias pessoas. Como há a repetição das dobras para a formação de várias peças com estruturas semelhantes, os participantes tendem a ser solidários uns com os outros. Esse comportamento se estende durante o momento da montagem, onde é preciso seguir uma sequência lógica, com um roteiro de conexão para que a peças se encaixem de modo a formar o objeto. A arte milenar japonesa utiliza uma ideia para, através da forma, estruturar aspectos de espaço e tempo que necessitam de mãos para ser executadas. O origami vem simbolicamente para subjetivar conforme Ostrower (2001, p.25), “[...] trata-se, nessas ordenações interiores, de processos afetivos, ou seja, de formas do íntimo sentimento de vida. São as nossas formas psíquicas”. Durante o processo terapêutico, é necessária atenção nas dobraduras e na montagem, pois envolve raciocínio lógico. Assim, facilita a concentração na atividade e também desencadeia histórias intimamente ligadas à vida dos participantes. Por meio dos relatos de cada um, avaliamos as dificuldades, os anseios e as preocupações. A persistência é o foco da atividade por causa das limitações de cada um. Ostrower (2001, p.27) afirma que “Os caminhos podem cristalizar-se e as vivências podem integrar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência, se refaz sempre [...]”. Durante a terapia, além das habilidades manuais, foram trabalhados também aspectos emocionais de cada participante. Embora a atividade exija atenção para a execução correta, no momento em que as dobraduras se tornaram automáticas, os pacientes se sentiram à vontade para compartilhar sentimentos. Houve relatos de conflitos internos com os familiares ou reclamações quanto à solidão que sentem. Muitos deles são acometidos por ansiedade e depressão. A arteterapia pode contribuir para a superação dessas doenças na medida em que estimula o desenvolvimento de outras habilidades como afirma Ciornai, (2004, p.80) “A Arteterapia pode ajudar pessoas rígidas, pouco flexíveis, perdidas e angustiadas em face da velocidade das 644

O origami modular como recurso arteterapêutico para reabilitação física ... mudanças que ocorrem à nossa volta nos dias de hoje, a desenvolver seu potencial criativo e seu senso de individualidade”. Algumas limitações da pesquisa No início, a proposta do origami tradicional foi recebida com resistência pelos pacientes, que relacionavam a técnica como uma atividade infantil, e ao mesmo tempo se preocuparam com a limitação de seus próprios movimentos para realizá-la. No entanto quando foi proposta a implantação do Origami Modular, explicada a técnica e os benefícios, houve aceitação por parte do grupo. E mesmo com a maior complexidade das dobraduras, chamou a atenção dos participantes a repetição das dobras e das peças, a sequência da montagem e o fato de ser um trabalho que pode ser executado por várias pessoas ao mesmo tempo (Figura 2). Mas como já era esperado todos tiveram problemas de limitações motoras e muitas dificuldades durante a execução e montagem das pequenas obras, principalmente nos primeiros atendimentos. Figura 2: Confecção do Origami Fonte: Arquivo pessoal Apresentação dos dados Paciente 1: Persistente na dobradura e na montagem. Trazia de casa as peças já dobradas. Fez um pequeno vaso (Figura 3). Às vezes esquecia o esquema da montagem e desmanchava e montava novamente. 645

Reabilitação: teoria e prática Relatou que ajudou melhorar a sua memória em alguns aspectos. Disse que logo após a fase aguda da lesão, não se lembrava do acidente, nem que era casada e considerava o marido um estranho. Gostou tanto da atividade que levou para seus atendimentos em outras terapias. Durante o acompanhamento, voltou a dirigir e teve reinserção profissional efetivada com sucesso. Sua recuperação foi muito rápida. Paciente 2: No início recusou, com o estímulo da Paciente 1, começou a dobrar os papéis. Até arrumou estratégias para conseguir dobrar, utilizando a tampa da caixa para segurar algumas etapas da dobradura. Disse que quando concentrava até esquecia as queixas que mais incomodavam e conseguia organizar os pensamentos. Na montagem foi o único que conseguiu, quase sem erros, montar um jarro (Figura 4). Gostou da atividade e ajudou os demais do grupo. Paciente 3: Houve uma pequena dificuldade nas dobraduras, pela limitação motora. Com a repetição conseguiu controlar razoavelmente a força. Gosta da atividade, montou uma flor de lótus com ajuda da terapeuta (Figura 5). Esforçou-se para melhorar os movimentos da mão mais fraca. Paciente 4: Teve dificuldade de compreensão na dobradura por causa das limitações físicas, depois conseguiu manter o controle. Às vezes chorava devido aos problemas familiares e precisava de exercícios de relaxamento para concluir o atendimento na terapia. Não conseguiu realizar a montagem devido náuseas quando tentava se concentrar. Pediu para somente fazer as dobraduras (Figura 6). Figura 3 Figura 4 Fonte: Arquivo pessoal 646

O origami modular como recurso arteterapêutico para reabilitação física ... Figura 5 Figura 6 Fonte: Arquivo pessoal Mesmo com limitações específicas, todos os pacientes relataram maior controle dos movimentos e aumento da força. Também foi observado maior concentração durante a execução das dobraduras. Outro aspecto relevante foi a nítida mudança de humor de cada um. Eles se apresentavam mais dispostos e estimulados a conseguir montar a peça final, a Paciente 4, dentro de suas limitações, melhorou muito a interação em todas as terapias. Na Arte-Reabilitação, entende-se que a terapia ajuda o paciente a reorganizar aspectos que impactam diretamente na aceitação quanto à nova realidade. Primeiro trabalhando suas necessidades básicas e o entendimento de sua nova vida, para lidar com o que deixou para trás e também seu emocional. O trabalho realizado deve ter objetivo de explorar o máximo da funcionalidade, para maior independência e socialização. Considerações finais É possível a aplicação do Origami Modular na reabilitação física. O origami inicialmente pode se apresentar desafiador, pela própria característica da técnica e também pela limitação motora dos pacientes. Mas com o passar do tempo a execução se torna menos complicada, à medida em que o esforço é somado à atenção particular do arteterapeuta. A arte atua de maneira lúdica no interior de cada um. Todos os pacientes buscam se adaptar à nova vida após a doença/lesão. E cada conquista de um movimento novo é seguida por um sorriso emocionado de uma meta alcançada. 647

Reabilitação: teoria e prática Referências bibliográficas CARNEIRO, C. Arte, neurociência e transcendência. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2010. CIORNAI, S. (Org.) Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus, 2004. CHIESA, R. F. O diálogo com o barro: o encontro criativo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. (Coleção Arteterapia). FRANCISQUETTI, A. A. Arte-reabilitação: infantil e adulto. In FERNANDES, A. C. et al. AACD medicina e reabilitação: princípios e práticas. São Paulo: Artes Médicas, 2007. p. 865-887. FRANCISQUETTI, A. A. Introdução à arte-reabilitação. In: FRANCISQUETTI, A. A. et al. (Orgs.). Arte-reabilitação: um caminho renovador na área da arteterapia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2016. p. 25-76. FRANCISQUETTI, A. A. et al. (Orgs.). Arte-reabilitação: um caminho inovador na área da arteterapia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2016. FERNANDES, A. C. et al. (Orgs.). AACD medicina e reabilitação: princípios e práticas. São Paulo: Artes Médicas, 2007. OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. TOMMASI, S. B.; MINUZZO, L. Origami em educação e arteterapia. São Paulo: Paulinas, 2010. (Coleção Expressão e Comunicação). SATO, E. M. P. O origami como recurso arteterapêutico para reabilitação física de adultos. 2015. Monografia (Especialização em Arteterapia) – Universidade Estadual do Vale do Acaraú, Teresina- PI, 2015. 648

50 O trabalho do serviço social no centro especializado em reabilitação: intervenções interdisciplinares em foco Nayanna Alves Bezerra Leal de Alencar Ana Kelly Pereira da Silva Izabel Herika Gomes Matias Cronemberger Karina Raquel de Sampaio Lemos Islany Ribeiro de Vasconcelos Pitanga O Serviço Social desenvolve seu fazer profissional pautado na perspectiva da democratização do acesso aos serviços de saúde, do incentivo à participação popular, da democratização das informações com ênfase na emancipação dos sujeitos. Concordando com Costa (2000) o trabalho dos (as) assistentes sociais não se desenvolve independentemente das circunstâncias históricas e sociais que o determinam, uma vez que a inserção profissional nos diversos processos de trabalho encontra- se profunda e particularmente enraizada na forma como a sociedade brasileira e os estabelecimentos empregadores do Serviço Social recortam e fragmentam as próprias necessidades do ser social e a partir desse processo como organizam seus objetivos institucionais que se voltam a intervenção sobre essas necessidades. Nessa perspectiva, Bravo e Matos (2008, p. 17) acrescentam que a atuação da (o) assistente social “[...] na área da saúde passa pela compreensão dos aspectos sociais, econômicos, culturais que interferem no processo saúde doença e a busca de estratégias para o enfrentamento

Reabilitação: teoria e prática destas questões”. Desse modo, a compreensão da saúde como resultante das condições de vida da população. No cotidiano são evidenciados os limites postos ao trabalho profissional característicos do contexto de precarização das políticas públicas, o que, inevitavelmente, recai sobre a condição dos usuários que demandam serviços sociais e sobre os próprios assistentes sociais como trabalhadores assalariados, também limitados pelas condições objetivas de trabalho precarizados de instituições públicas. O Serviço Social contribui para a produção e reprodução desta sociedade, ele participa deste processo enquanto trabalhador coletivo que, por meio de seu trabalho, garante a sobrevivência e a reprodução da força de trabalho. É desta forma, uma profissão socialmente necessária “[...] por que ela atua sobre questões que dizem respeito à sobrevivência social e material dos setores majoritários da população” (IAMAMOTO, 2009, p. 67). Diante deste quadro o exercício profissional da(o) assistente social não possuiria seu próprio processo de trabalho, mas se inseriria em processos preestabelecidos, ou seja, a partir do pressuposto de que a instituição empregadora organiza o processo de trabalho da (o) assistente social, ele não se apresenta como um único processo de trabalho, este varia de acordo com o campo no qual o profissional está inserido. Para tanto é objetivo desse capítulo discutir elementos do processo de trabalho em que a/o assistente social está inserido. Elementos do processo de trabalho do Serviço Social na Saúde A partir do processo de trabalho da (o) assistente social junto às famílias percebem-se inúmeros desafios, em destaque o acesso às políticas públicas. Tratar dessa temática é incursionar por questões complexas e por realidades reconhecidamente em transformação, o que se torna desafiador com o agravo da crise econômica e redução de políticas sociais que fragiliza a proteção social das famílias assistidas. Iamamoto (2009) reforça que os (as) assistentes sociais não detêm todos os meios para efetivar seu trabalho [...] dependem de recursos 650


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