Important Announcement
PubHTML5 Scheduled Server Maintenance on (GMT) Sunday, June 26th, 2:00 am - 8:00 am.
PubHTML5 site will be inoperative during the times indicated!

Home Explore BOOK_Saude_Homem_vert

BOOK_Saude_Homem_vert

Published by Paulo Roberto da Silva, 2018-12-04 18:03:03

Description: BOOK_Saude_Homem_vert

Search

Read the Text Version

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do HomemA PNAISH é fruto do reconhecimento da acesso e do acolhimento da populaçãogravidade do quadro epidemiológico dos masculina como aspectos-chave para ausuários homens no Brasil, com índices ampliação da cobertura da assistência ade morbimortalidade alarmantes, espe- este público pelas equipes da AB.cialmente se comparados aos mesmosíndices para mulheres e para crianças, o Figura 6 - Os homens devem buscar os serviçosque evidencia a urgência de ações espe- da AB com regularidade para cuidar da sua saúdecíficas para este segmento da população.A partir deste reconhecimento, a PNAISH Fonte: Shutterstockbuscou traçar um cenário sobre a saúdeda população masculina adulta, chegan- Atuam contra a melhoria do acesso edo à conclusão de que a procura dos ho- o acolhimento desta população à redemens pelos serviços de saúde é muito de serviços, tal como configurada, asmais reduzida do que entre as mulheres, barreiras socioculturais, econômicas ee que estes apresentam menor índice institucionais, desafiando os princípiosde adesão às propostas terapêuticas, à norteadores da PNAISH recomendadosprevenção e à promoção da saúde. Este pela política do SUS – equidade, integra-quadro evidencia que muitos agravos lidade e universalidade. Pesquisas apon-poderiam ser evitados caso os homens tam várias razões para isso, mas, de umfrequentassem com mais regularidade modo geral, podemos agrupar as causasos serviços da AB. da baixa adesão dos homens aos servi- ços de saúde em dois grupos principais Porque é tão difícil incorporarmos os de determinantes: barreiras sociocultu- homens nos serviços de saúde e na rais e institucionais (GOMES, 2003; KEI- adoção de hábitos de vida saudáveis? JZER, 2003; SCHRAIBER, 2005). Será que é porque esses espaços não são compatíveis com algumas no- ções de masculinidades?Neste sentido, a interlocução entre aPNAB e a PNAISH no âmbito dos serviçosofertados pela AB é fundamental. A AB,porta de entrada do SUS, é central na con-solidação das ações e estratégias formu-ladas pela PNAISH, tendo a melhoria do  101

UN3 Estratégias de atuação da atenção básica para a efetivação da PNAISH homens, o contrário - a exposição exces- siva a riscos desnecessários é reconhe- cida socialmente como afirmação das masculinidades hegemônicas. Com estas informações em mãos, é possível Isso ocorre na direção oposta e a despeito traçar estratégias para fortalecer e qualifi- da compreensão da PNAISH e da própria car a AB de forma a tornar os serviços mais acepção do conceito de gênero que ad- amigáveis por meio de ações e medidas que vogam - por exemplo, que o cuidado não promovam maior e melhor acesso e aco- tem sexo - é uma qualidade presente e lhimento da população masculina nos ter- disponível na vida de toda e cada pessoa. ritórios, resguardando a integralidade das ações dos serviços de saúde, a equidade, a No que tange ainda às masculinidades longitudinalidade da assistência e a coorde- hegemônicas, esta constitui um aspec- nação do cuidado. to cultural que distancia os homens dos serviços de saúde, apresentando um 3.1 Reconhecimento social da peso significativo nos índices mais al- população masculina no território tos de adoecimento e morte precoce por eles vivenciados. A maneira como os homens foram pre- parados, desde a infância até a vida A inclusão efetiva dos homens na lógica adulta, para o desempenho das mascu- dos serviços ofertados na AB requer es- linidades – hábitos, valores e crenças forços permanentes de todos os envol- sobre o que é ser homem – representam vidos no SUS, sobretudo no combate à uma barreira cultural importante para a discriminação e ao preconceito contra a prevenção e a promoção da saúde. diversidade sexual e de gênero (popula- ção LGBTTI), a diversidade étnico-racial O cuidado com a saúde ainda é visto, (homens negros, indígenas, ciganos, na divisão clássica dos papéis entre os entre outros) e grupos em situação de gêneros, como uma função mais asso- vulnerabilidade pela segregação socioe- ciada às mulheres, uma tarefa e quali- conômica. São segmentos da população dade feminina por elas mais exercida e que convocam os profissionais de saúde reivindicada. Da mesma forma que aos a intervir e romper com práticas precon- ceituosas, seletivas, corporativistas, ra- cistas e sexistas (GOMES, apud OGUN- BIYI; JESUS, 2010).102 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do HomemA qualidade da saúde pública em todo Estas são questões que semeiam práti-território nacional requer investimentos cas de cuidado e estreitam os laços en-na operacionalidade do SUS – procedi- tre os profissionais de saúde e os usuá-mentos laboratoriais, cirúrgicos, organi- rios homens.zação dos serviços, pensamento clínicoe atendimento multiprofissional e inter- Figura 7 - Criação de vínculo e escuta qualificadadisciplinar – mas, também, investimen- entre profissionais e usuáriostos em serviços aptos a responderem aestes desafios sociais e culturais.Para conhecer as necessidades em Fonte: Fotoliasaúde do homem e colocar em açãoo princípio da equidade, é necessá- As pesquisas científicas sobre a saúderio que os profissionais considerem do homem não são recentes, porém,a maneira com que cada usuário lida somente na década de 1970 passou-secom a saúde: a considerar a importância das ques- tões de gênero neste campo. A partir de• se exerce cuidados e como o faz; então, os estudos desembocaram em áreas como a Epidemiologia e a Socio-• o que o afasta dos serviços de logia médica. saúde; Neste percurso, veio à tona um parado-• o que significa ser homem para ele; xo importante: ao mesmo tempo em que os homens geralmente detinham maior• de que maneira esta ideia de poder na vida social que as mulheres, a masculinidades afeta a saúde atenção à saúde da população masculi- dele; na era historicamente relegada pelas po-• quais as condições concretas de vida (onde mora, o que faz, a quem sustenta ou não, entre outras).• quais os impactos do adoecimen- to dele no ambiente em que vive;• como a equipe de saúde pode auxiliá-lo efetivamente.  103

UN3 Estratégias de atuação da atenção básica para a efetivação da PNAISHlíticas públicas, com graves consequên- presentar o masculino. Importandocias em todos os níveis de complexidade ressaltar que o significado de mas-dos agravos (COUTO; GOMES, 2012). culinidades varia segundo o contexto cultural e a época. O que é tipicamen-Essa reflexão impulsionou os pesquisa- te masculino para uma pessoa oudores, a partir da década de 1990, a con- um grupo social, em dado momento,siderarem os homens não apenas como pode não o ser para outros. Em razãoorganismos do sexo masculino: passa- destas variáveis, diz-se que as mas-ram a valorizá-los enquanto sujeitos so- culinidades são plurais.ciais, relacionando a saúde às funções eaos papeis de gênero a eles designados. É muito importante que os profis-A visão ampliada da saúde tornou-se sionais de saúde, independente deinevitável, passando a subsidiar ações crenças pessoais, respeitem o modovoltadas à melhoria da qualidade dos singular de expressão do usuário.serviços a esta população. Pode parecer óbvio, mas ainda vale dizer que as masculinidades não sãoPara abordar a saúde do homem sob a exclusivas de homens provedoresótica de gênero, é importante definir al- de família; não se opõe à função deguns conceitos, estabelecendo, assim, cuidar psicológica e fisicamente dosreferenciais comuns: filhos, da família e de si próprio; não é sinônimo de heterossexualidade, e• Masculinidades – termo utilizado pode abarcar homens que não corres- para contemplar as formas de re- pondem aos estereótipos de gêneroFigura 8 - Diversas formas de masculinidade Fonte: Fotolia104 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem masculino no modo de ser, gesticular, Neste Curso, o significado do termo falar, pensar, vestir, dentre outros. As masculinidades é diretamente relaciona- formas de exercício das masculini- do ao campo da Saúde, buscando aten- dades atendem à singularidade e às der ao propósito de: diferentes construções sociais dos homens. 1. apontar barreiras no acesso dos ho- mens aos serviços de saúde;• Construção social das masculinidades – processo de socialização que define 2. qualificar o acolhimento a partir da re- os valores e as crenças sobre o que é flexão crítica sobre a ideia dominante ser homem. Quando a masculinidade do que é ser homem. é vista como construção social, é pos- sível transformar os estereótipos de 3.2 Estratégias de acesso e adesão gênero dominantes e consolidar novas da população masculina concepções de masculinidades. aos serviços de saúde• Masculinidades hegemônicas – cor- Há diferenças importantes entre ho- responde às masculinidades social- mens e mulheres quanto ao motivo da mente dominantes, atendendo aos procura por serviços de saúde. As mu- interesses diretos e indiretos de su- lheres procuram mais atendimento para premacia do gênero masculino sobre prevenção e realização de exames de ro- outros gêneros e sobre outras formas tina que os homens – 40,3% e 28,4%, res- alternativas de ser homem. pectivamente. Especialmente nos servi- ços orientados pela ESF, são poucos os Importante! Há desafios coloca- estudos que indicam a presença dos ho- dos à masculinidade hegemônica mens nas atividades assistenciais. Eles – protestos de movimentos sociais costumam acessar os serviços motiva- dos por acidentes ou lesões, patologias pela diversidade sexual e de gênero, já instaladas, problemas odontológicos das feministas, dos grupos étnicos ou para uso da farmácia (COUTO et al., marginalizados, das mulheres que 2010). O serviço mais procurado por am- se apropriam de aspectos da mas- bos os sexos é a unidade de saúde, se- culinidade hegemônica no campo guido do consultório particular e do hos- profissional –, o que remete ao di- pital. Apenas no hospital, a frequência é namismo e à complexidade das re- um pouco maior para os homens. lações de gênero.  105

UN3 Estratégias de atuação da atenção básica para a efetivação da PNAISH Gráfico 2 - Relação de procura por atendimento articular estas duas dimensões, com o para prevenção e realização de exames de rotina propósito claro de enfatizar, durante os entre homens e mulheres atendimentos, a importância dos hábi- tos e da qualidade de vida na manuten- 40,3% ção da saúde. 28,4% Os homens orientados pelo padrão de masculinidade dominante em geral têm Homens dificuldade de expressar sentimentos e Mulheres necessidades no que diz respeito a cui- dados. Alguns homens não reconhecem, Fonte: COUTO et al., 2010. de fato, o que precisam em relação à saúde, não encontrando, assim, formas Embora estes números estejam se alte- de traduzir necessidades em demandas. rando ao longo dos últimos anos, o resul- Apenas quando os problemas se agra- tado desta pesquisa de alcance nacional vam que essas demandas são identifica- permanece atualizado e de acordo com das (SCHRAIBER et al., 2010). os apontamentos da literatura: os ho- mens, por acharem que não precisam, Figura 9 - Homens que deixam sua situação de usam menos os serviços de saúde, en- saúde se agravar quanto as mulheres se previnem mais (WHITE; CASH, 2004). É costume atribuir às práticas em saú- Fonte: Fotolia de valor eminentemente técnico e ins- trumental: protocolos de atendimento, Assim, a ideia de cuidado precisa ser re- aplicação de condutas, manejo de medi- passada ao usuário como elemento ca- camentos, utilização de artefatos técni- racterístico do humano, cabendo a ele cos e outros procedimentos. As práticas também dizem respeito à vivência coti- diana do usuário. Ao profissional, cabe106 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homemapropriar-se desta função. Embora haja Além destas atitudes cotidianas, outramuitos outros fatores que dificultam os maneira de consolidar as práticas decuidados com a saúde – condição eco- cuidado entre os homens é investir nanômica precária, distância entre a mora- educação das crianças. As meninas, pordia e as unidades de saúde, saneamento exemplo, costumam ser incentivadas adeficiente, baixa escolaridade, entre ou- brincar de boneca e casinha, ensaiandotros –, é preciso intervir onde for possível. o papel de cuidadora. Tais brincadeiras dificilmente são oferecidas aos meninosOs usuários precisam ser informados, e, em casos mais extremos, são repreen-também, sobre as ações de controle didos quando expressam desejo de par-social, fórum no qual podem assumir ticipar. Se, no decorrer da vida, o cuidadoo direito, em alguma medida, ao prota- não é estimulado, irá permanecer comogonismo pela realidade dos serviços. atribuição das mulheres – primeiro dasO recurso da participação social é um mães e, posteriormente, das parceirasgrande avanço propiciado pelo SUS e (VALDÉS; OLAVARRÍA, 1998). Este é umtambém pode ser considerado uma prá- exemplo, e existem diversos outros quetica de cuidado. podem ser observados na educação para estimular a mudança no comportamento.Figura 10 - Meninos aprendendo desde pequenos a importância de cuidarFonte: Fotolia  107

UN3 Estratégias de atuação da atenção básica para a efetivação da PNAISH De maneira geral, as necessidades de Os pontos importantes para instituir saúde podem ser compreendidas em a cultura do cuidado entre os homens quatro dimensões: coincidem com as necessidades de saú- de já descritas até o momento, e dentre • necessidade de boas condições de os quais destacam-se: vida; • vínculos solidários com os usuários; • necessidade de acesso a tecnologias • fomento do seu protagonismo na es- de saúde que melhorem e prolon- guem a vida; fera da saúde; • corresponsabilização do usuário e de • necessidade de vínculo entre o usuá- rio e a equipe de saúde; seus grupos sociais na promoção da saúde. • necessidade de autonomia perante as escolhas e ações cotidianas rela- Quando se consolidam ações de inclu- cionadas à saúde (CECÍLIO, 2001). são dos homens no contexto de produ- ção do cuidado em saúde, as vulnera- É preciso considerar a maneira como o bilidades e as necessidades podem ser usuário vivencia estas dimensões, con- mais facilmente reconhecidas pelos tra- forme aponta a Política Nacional de balhadores da rede, favorecendo respos- Humanização (PNH) do MS. Lembre tas efetivas para as demandas (SCHRAI- também que a AB é reconhecida como BER; MENDES-GONÇALVES, 2000) e a porta de entrada preferencial na orga- dando visibilidade para outros fatores de nização do sistema de saúde, uma vez adoecimento, além dos exclusivamente que muitas demandas trazidas pelos biomédicos, tais como questões de or- usuários podem ser ali solucionadas. dem afetiva, familiar, socioeconômica, entre outros.  Importante! Os serviços da AB são norteados pela PNH, que propõe a va- A partir dessas premissas, a resolutivi- lorização da dimensão subjetiva e so- dade das questões pode ser mais efeti- cial em todas as práticas de atenção va, facilitando a construção de projetos e gestão no SUS, fortalecendo o com- terapêuticos que superem as barreiras promisso com os direitos do cidadão. existentes entre os homens e a promo- ção da equidade de gênero em saúde.108 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem3.2.1 Potencialidades dos serviços maneiras de alcançar o universo dos ho- de saúde para incorporar a mens e chamá-los a construir outra forma população masculina na sua de masculinidade que inclua os cuidados complexidade e particularidade para com a saúde, com deveres e privilé- gios equânimes em relação às mulheres.Nas atividades que envolvem a intera-ção de vários homens, ou de homens e Os atendimentos individuais, tais comomulheres, é comum observar traços de consultas médicas, procedimentos de en-socialização marcados por preconceitos fermagem, atendimentos odontológicos,sexistas e de gênero. Por exemplo: alguns entre outros, são situações privilegiadashomens consideram certos assuntos ina- para conversar com os homens sobrepropriados para serem abordados em pre- práticas de cuidado e construção con-sença de mulheres ou têm receio de expor junta de projetos terapêuticos. Este é umsituações nas quais se sintam desvalori- momento no qual o usuário pode expres-zados frente a outros homens. Quando sar o que sente, expor dúvidas e receios.isso acontecer, o usuário não deve serpessoalmente exposto; mas, quando pos- Para que isso ocorra, é interessante ob-sível, o assunto pode ser discutido e pro- servar o que o profissional de saúdeblematizado como questão pertinente a representa para o usuário – se ele o vêtodos os participantes do grupo. como autoridade com a qual pode ou não debater sobre saúde; se tem medo ou ver-Os lugares típicos de socialização mas- gonha; se oferece resistência, opondo-seculina são espaços estratégicos para sistematicamente às prescrições. Estasconvidar os homens a conhecer e parti- observações podem ajudar a reverter pro-cipar da rotina de atividades, facilitando blemas de relacionamento entre o usuá-a aproximação aos serviços de saúde. rio e o profissional, quando houver.Quando adequado, pode acontecer a pró-pria intervenção, por exemplo, atividade A comunicação efetiva resultante do en-de vacinação em indústria, palestra em contro entre eles acarreta benefícios: docampo de futebol e obras da construção ponto de vista clínico, favorece a práticacivil, distribuição de camisinhas e orien- de cuidados e o êxito do tratamento; traztações sobre prevenção de infecções subsídios para novas ideias e aprendiza-sexualmente transmissíveis (IST) e AIDS gens para ambos; alimenta o debate e oem bares. A despeito da crítica eventual exercício da cidadania; transforma o tra-a dispositivos que reproduzem estereóti- balho e o processo de saúde/adoecimen-pos de gênero, estes são, muitas vezes, to em experiências mais amplas de vida.  109

UN3 Estratégias de atuação da atenção básica para a efetivação da PNAISH Quais são as práticas de cuidado vol- É um processo gradativo pelo qual a tadas para a população masculina saúde integral dessa população possa que, você, profissional da AB, identi- de fato ser priorizada pela AB por meio fica como parte do processo de tra- da reflexão permanente entre as equipes balho das equipes no seu serviço de de saúde e os usuários homens acerca saúde? das histórias de vida, de sofrimento, re- sistência e superação destes, sobretudo  Quais são as atividades planejadas para possibilitar a redefinição de papéis em grupo e/ou comunitariamente que que apontem, primeiro, para relações os homens também participam? mais saudáveis entre os próprios ho- mens e, em segundo, para relações mais Existe alguma atividade exclusiva simétricas e equitativas dentro da lógica para a população masculina no seu da diversidade. Este desafio possibilita, serviço? também, que renovados processos de socialização e educação masculinas, vi- Reflita sobre cada uma destas ques- sando à solidariedade, a compreensão, tões a partir do que existe concreta- o companheirismo e o cuidado com a mente e o que poderia existir a partir sua própria saúde e a dos outros, ocu- da percepção que você tem agora das pem espaço e se tornem uma realidade necessidades específicas da popula- no cotidiano dos processos de trabalho ção masculina. das equipes nos serviços de saúde e no imaginário simbólico da comunidade e A transposição das barreiras institucio- de cada um de seus integrantes. nais e culturais de acesso e acolhimen- to e a introdução de novas práticas de Figura 11 - A importância do profissional incorpo- cuidado para a população masculina, no rar o homem nos serviços de saúde âmbito dos serviços da AB, consiste em um grande desafio para o SUS: maior po- Fonte: Shutterstock lítica de inclusão social do Brasil. Essa nobre tarefa oferece, assim, a pos- sibilidade concreta de a saúde pública se comprometer com a disseminação da PNAISH em todo território nacional e da assimilação da categoria “gênero” como um determinante social de saúde estra- tégico para alavancar melhores indicado- res e maior qualidade de vida para todas as populações em seus ciclos de vida.110 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do HomemNesse contexto, os profissionais de saú- matriz complexa que agregue os proces-de, força motriz do SUS, apresentam sos econômicos, tecnológicos, culturais,um papel crucial na transposição deste políticos, incorporando em sua base adesafio de incorporar a população mas- perspectiva relacional de gênero, em queculina na sua complexidade aos servi- lidar com as particularidades, diferençasços de saúde nos seus diversos níveis e semelhanças entre os gêneros envolvede atenção, sobretudo na AB. São os lidar com a saúde dos homens e das mu-profissionais quem pode reconhecer as lheres, simultaneamente (CARRARA etnecessidades específicas em saúde de al., 2009; COUTO; GOMES, 2012; SCH-cada um destes homens, a partir de uma WARZ; MACHADO, 2012).Os resultados de um estudo realizado no Nordeste do Brasil apontam possíveis estratégias paraaproximar os homens aos serviços de saúde (COSTA E SILVA et al. 2010): • Atividades assistenciais da AB nos próprios locais de trabalho dos homens. • Desenvolver ações em suas residências, estádios de futebol, obras de construção civil, sindicatos e outros lugares onde haja uma maior concentração de homens, com o objetivo de motivá-los a ter práticas de cuidado e hábitos de vida saudáveis, além de facilitar a conscientização sobre os padrões e estereótipos de gênero presentes no imaginário masculino e coletivo. • Adequar, na medida do possível, o horário de atendimento da unidade de saúde, de acordo com a disponibilidade do homem trabalhador, seja ele contratado com carteira assinada ou autônomo.A potencialidade desta articulação pode bém para a ampliação e qualificação dogerar experiências bem-sucedidas tanto acesso, o acolhimento humanizado e ono campo da gestão como no campo da vínculo às ações de assistência integralformação dos trabalhadores e profissio- à saúde a partir do reconhecimento dosnais da saúde, desde que a participação homens como protagonistas de suassocial esteja inclusa, colaborando tam- próprias demandas, mediante a pluralida-  111

UN3 Estratégias de atuação da atenção básica para a efetivação da PNAISH de de contextos, enquanto sujeitos legíti- mos de necessidades, desejos, cuidados e direitos (SCHWARZ; MACHADO, 2012). 3.3 Recomendação de leitura complementar Para entender um pouco mais so- bre teoria de gênero, masculinidade e a PNAISH, leia o artigo “Saúde do  homem na Política Nacional de Aten- ção Integral à Saúde do Homem: uma revisão bibliográfica de autoria de Marco Antonio Separavich e Ana Ma- ria Canesqui”, disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/sausoc/v22n2/ v22n2a13.pdf>.112 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do HomemResumo do móduloNeste módulo, revimos os princípios acesso e do acolhimento dos homensfundantes do SUS, revisitamos a PNAB pelos serviços públicos de saúde, favo-e, aprofundamos, inicialmente, a com- recendo a resolutividade de demandas,preensão acerca da população masculi- a universalização do conhecimento e ona, reconhecendo a importância e o sig- manejo das necessidades deste públiconificado da participação dos homens na em todo o sistema de saúde brasileiro.vida em sociedade, na família, na AB eno SUS, de forma geral. Por fim, reconhecemos que mesmo que a saúde da população masculina estejaPara qualificar o atendimento, devemos ganhando notoriedade e espaço, sejareconhecê-los como um segmento estra- devido à maior divulgação e exploraçãotégico com questões específicas, entre dos dados dos sistemas de informaçõesoutras, relacionadas às vulnerabilidades, epidemiológicas em produções cientí-gênero e masculinidades, índices de mor- ficas ou pela criação de estratégias pú-bimortalidade e cuidados com a saúde. blicas específicas para esta população, ainda existem vários desafios a seremFomos também apresentados à PNAISH, superados para a efetiva implantação eque, em conjunto com este curso, tem a implementação da PNAISH.finalidade de oferecer a você, profissio-nal, subsídios para a reflexão e cons-trução de estratégias de ampliação do  113

Referências ADAMY E. K. et al. Política nacional de aten- Aprova a Política Nacional de Atenção Bá- ção integral a saúde do homem: visão dos sica, estabelecendo a revisão de diretrizes e gestores do SUS. Revista de Pesquisa Cuida- normas para a organização da Atenção Básica, do é fundamental [online]. Rio de Janeiro, v. 7, para a Estratégia Saúde da Família - ESF e o n. 2, abr./jun. 2015, p. 2415-2424. Programa de Agentes Comunitários de Saúde - PACS. Diário Oficial da República Federa- BRASIL. Presidência da República. Casa tiva do Brasil, Brasília, DF, 24 out. 2011a. Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 8080, de 19 de setembro de 1990. _____. Ministério da Saúde. Política Nacional Dispõe sobre as condições para a promo- de Atenção Integral à Saúde do Homem. ção, proteção e recuperação da saúde, a Plano de. Ministério da Saúde. Secretaria de organização e o funcionamento dos ser- Gestão Estratégica e Participativa. Regula- viços correspondentes e dá outras pro- mentação da Lei n. 8.080 para fortalecimento vidências. Disponível em <http://goo.gl/ do Sistema Único da Saúde: decreto 7508, de uPmLMd>. Acesso em: 28 set. 2015. 2011. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 45, n. 6, dez. 2011b. Disponível em: <http:// _____. Ministério da Saúde. Política goo.gl/B7G4dT>. Acesso em: 12 set. 2015. Nacional de Atenção Integral à Saú- de do Homem. Plano de Ação Nacio- CARRARA, S.; RUSSO, J. A.; FARO, L. nal (2009-2011). Brasília, 2009a. A política de atenção à saúde do ho- mem no Brasil: os paradoxos da medi- _____. Ministério da Saúde. Política Na- calização do corpo masculino. Physis, cional de Atenção Integral à Saúde do Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 659-678, Homem. Plano de. Ministério da Saúde. 2009. Disponível em: <http://dx.doi. Gabinete do Ministro. Portaria n. 1.944, de org/10.1590/S0103-73312009000300006>. 27 de agosto de 2009. Institui no âmbito do Acesso em: 29 set. 2015. Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do COUTO, M. T.; GOMES, R. Homens, saú- Homem; Diário Oficial da União, 2009b. de e políticas públicas: a equidade de gênero em questão. Ciência & Saúde Co- _____. Ministério da Saúde. Política Nacional letiva, v. 17, n. 10, p. 2569-78, 2012. de Atenção Integral à Saúde do Homem. Plano de. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. COUTO, M. T. et al. O homem na atenção Portaria n. 2.488, de 21 de outubro de 2011. primária à saúde: discutindo (in)visibili-114 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homemdade a partir da perspectiva de gênero. bre a relação homem-saúde: uma revisãoInterface Comunicação Saúde Educa- bibliográfica. Cadernos de Saúde Pública,ção, v. 14, n. 33, 2010, p. 257-270. Rio de Janeiro, n. 22, 2006, p. 901-11.ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA. GOMES, R. et al. O atendimento à saúdeLinhas gerais e desafios da Política Nacional de homens: estudo qualitativo em qua-da Atenção Básica Portaria n. 2488. Rio de tro estados Brasileiros. Physis, Rio deJaneiro, set. 2012. Disponível em: <http:// Janeiro, v. 21, n. 1, 2011, p. 113-128.goo.gl/Ms7t5e>. Acesso em: 20 set. 2015. IBGE. Brasil: tábua completa de morta-FIGUEIREDO, W. Assistência à Saúde dos lidade – 2010. Disponível em: <http://mens: um desafio para os serviços de www.ibge.gov.br/home/estatistica/atenção primária. Ciência e Saúde Co- populacao/tabuadevida/2010/notastec-letiva, v. 10, n. 1, 2005, p. 105-109. nicas.pdf>. Acesso em: 6 ago 2015.FINKELMAN, J. (Org.) Caminhos da saúde INSTITUTO PAPAI E RHEG. Princípios,no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Edito- Diretrizes e Recomendações para umara FIOCRUZ, 2002. Disponível em: <http:// Atenção Integral aos Homens na Saú-goo.gl/c1cuzr>. Acesso em: 23 set. 2015. de. Recife, 2009. Disponível em: <http:// www.engagingmen.net/files/resour-GOMES, R. Sexualidade masculina e saúde do ces/2010/EME/diretrizes_homens_e_sau-homem: proposta para uma discussão. Ciên- de.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2015.cia e Saúde Coletiva, n. 8, 2003, p. 825-829. KEIJZER, B. Hasta donde el cuerpo aguan-______.(Coord.). Avaliação das Ações Ini- te: género, cuerpo y salud masculina. In:ciais da Implantação da Política Nacional CÁCERES, C. et al. (Coord.). La salud comode Atenção Integral à Saúde do Homem. Rio derecho ciudadano: perspectivas y pro-de Janeiro: IFF/Fiocruz; SCTIE/MS, 2011. puestas desde América Latina. Facultad de Salud Pública y Administración de la Uni-_____. (Coord.). Fortalecimento e dissemina- versidad Peruana Cayetano Herida, Lima.ção da Política Nacional de Atenção Integral Disponível em: <http://www.espolea.org/à Saúde do Homem (PNAISH). Relatório uploads/8/7/2/7/8727772/masculinida-Final. Rio de Janeiro: IFF; Fiocruz, 2013. des.pdf>. Accesso em: 29 dez. 2015.GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F. A produção KNAUTH, D. R.; COUTO, M. T.; FIGUEIREDO, W.do conhecimento da saúde pública so- S. A visão dos profissionais sobre a presença  115

e as demandas dos homens nos serviços de NASCIMENTO, E. F.; GOMES, R. Marcas saúde: perspectivas para a análise da implan- identitárias masculinas e a saúde de homens tação da Política Nacional de Atenção Inte- jovens. Cadernos de Saúde Pública, Rio de gral à Saúde do Homem. Ciência e Saúde Co- Janeiro, v. 24, n. 7, jul. 2008, p. 1556-1564. letiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 10, out. 2012, Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ p. 2617-2626. Disponível em: <http://goo. csp/v24n7/10.pdf>. Acesso em: 24 set. 2015. gl/PEYnL3>. Acesso em: 26 set. 2015. OGUNBIY, A. O.; JESUS, I. F. Educação das LEAL, A. F.; FIGUEIREDO, W. S.; NOGUEIRA- relações étnico-raciais: ensino de história -DA-SILVA, G. S. O percurso da Política Nacio- e cultura afro-brasileira e africana (ensino nal de Atenção Integral à Saúde dos Homens fundamental - anos iniciais e anos finais). (PNAISH), desde a sua formulação até sua São Paulo: Editora Didática Suplegraf, 2010. implementação nos serviços públicos locais de atenção à saúde. Ciência e Saúde Cole- PINHEIRO R. S. et al. Gênero, morbidade, tiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 10, out. 2012, acesso e utilização de serviços de saúde p. 2607-2616. Disponível em <http://goo. no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, Rio gl/UuB0fE>. Acesso em: 21 set. 2015. de Janeiro, v. 7, n. 4, 2002, p. 687-707. LEVORATO, C. D. et al . Fatores associados à SANTOS, N. R. Organização da atenção à procura por serviços de saúde numa pers- saúde: é necessário reformular as estraté- pectiva relacional de gênero. Ciência e Saúde gias nacionais de construção do “modelo Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, abr. 2014, SUS”? Saúde em Debate – CEBES, Rio de p. 1263-1274. Disponível em: <http://dx.doi. Janeiro, a. XXVVIII, v. 28, n. 68, 2004. org/10.1590/1413-81232014194.01242013>. Acesso em: 24 set. 2015. SANTOS, N. R. SUS, política pública de Esta- do: seu desenvolvimento instituído e insti- MOURA, E. C.; LIMA, A. M. P.; URDANETA, M. tuinte e a busca de saídas. Ciência e Saúde Uso de indicadores para o monitoramento Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, jan. das ações de promoção e atenção da Política 2013, p. 273-280. Disponível em: <http:// Nacional de Atenção Integral à Saúde do Ho- goo.gl/d9iJoV>. Acesso em: 22 set. 2015. mem (PNAISH). Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& SCHRAIBER, L. B.; MENDES-GONÇALVEZ, R. pid=S1413-81232012001000009 B. Necessidades de saúde e atenção pri- &lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 set. 2015. mária. In: Schraiber, L. B.; Nemes, M. I. B.; Mendes-Gonçalvez, R. B. Saúde do adul-116 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homemto: programas e ações na unidade básica. SILVA, P. A. S. et al. A saúde do homemSão Paulo: Hucitec, 2000, p. 29-47. na visão dos enfermeiros de uma unida- de básica de saúde. Escola Anna Nery,SCHRAIBER, L. et al. Necessidades de saúde Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, set. 2012, p.e masculinidades: atenção primária no cuida- 561-568. Disponível em: <http://goo.gl/do aos homens. Cadernos de Saúde Pública, FV1WLQ>. Acesso em: 13 set. 2015.Rio de Janeiro, v. 26, n. 5, 2010, p. 961-970. TEIXEIRA, C. Os princípios do SistemaSCHRAIBER, L. B; GOMES, R; COUTO, M. T. Único de Saúde. Texto de apoio elaboradoHomens e saúde na pauta da Saúde Coleti- para subsidiar o debate nas Conferênciasva. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Municipal e Estadual de Saúde. 2011.v. 10, n. 1, 2005, p. 7-17. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ VALDÉS, T.; OLAVARRÍA, J. (Orgs.). Mas-arttext&pid=S141381232005000100002&l- culinidades y Equidad de Género enng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 set. 2015. América Latina. Chile: FLACSO, 1998.SCHWARZ, E.; MACHADO, T. C. S. Reflexões WHITE, A.; CASH, K. The state of men’s healthsobre gênero e a Política Nacional de Aten- in Western Europe. The Journal of Men’sção Integral à Saúde do Homem. Ciência e Health & Gender, v. 1, n. 1, 2004, p. 60-66.Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 10,2012, p. 2581-2583. Disponível em: <http:// WHO. World Health Organization. What aboutwww.redalyc.org/pdf/630/63024360004. boys? A literature review on the health andpdf>. Acesso em: 20 out. 2015. development of adolescent boy. Washin- gton: World Health Organization, 2000.SCHWARZ, E. et al. Política de Saúdedo Homem. Revista de Saúde Públi-ca, São Paulo, v. 46, s. 1, dez. 2012, p.108-16. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102012005000061>.Acesso em: 13 out. 2015.SILVA, M. E. D. C. et al. Resistência dohomem às ações de saúde: percepção deenfermeiras da estratégia saúde da família.Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Tere-sina, v. 3, n. 3, jul./set 2010, p. 21-25.  117

Sobre os autores Elza Berger Salema Coelho como psicólogo e psicoterapeuta, em gru- pos e individualmente. Tem experiência na Professora associada da Universidade Fede- área de Psicologia Clínica, com ênfase em ral de Santa Catarina. Doutorado em Filoso- Psicoterapia Somática e Meditação, e inte- fia da Enfermagem pela Universidade Fede- resse no campo de pesquisa voltado para o ral de Santa Catarina (2000). Coordenadora estudo de gênero, masculinidades e cultura. do grupo de pesquisa Violência e Saúde, vin- culado ao Programa de Pós-Graduação em Endereço do currículo na plataforma lattes: Saúde Coletiva – mestrado e doutorado, <http://lattes.cnpq.br/9831792462600090>. onde ministra disciplina e orienta na área de Violência e Saúde. Desenvolve atividades de Carolina Carvalho Bolsoni extensão na Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNASUS) como Coordena- Possui graduação em Enfermagem pela Uni- dora de Curso de Especialização a distância. versidade Federal de Santa Catarina (2009). Atualmente desenvolve projeto junto ao Mi- Mestre em Saúde Coletiva – Programa de nistério da Saúde, na área temática saúde Pós Graduação em Saúde Coletiva (2012). do homem e da mulher, em parceria com a Doutoranda do Programa de Pós Graduação UFSC, de capacitação em violência e saúde em Saúde Coletiva. Atualmente desenvolve para profissionais da Atenção Básica. atividades junto à Especialização Multipro- fissional em Saúde da Família – UNASUS/ Endereço do currículo na plataforma lattes: UFSC e Curso de Capacitação em Atenção a <http://lattes.cnpq.br/3980247753451491>. Homens e Mulheres em Situação de Violên- cia por Parceiros Íntimos UFSC/MS e Curso Eduardo Schwarz de Atenção à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade UFSC/MS. Área de pesquisa – Possui graduação em Psicologia pela Univer- Violência e Saúde; Saúde do Idoso. sidade de Brasília (1999). Atualmente presta consultoria para o Ministério da Saúde em Endereço do currículo na plataforma lattes: parceria com a Organização Panamericana <http://lattes.cnpq.br/6654871617906798>. de Saúde -OPAS na pasta de Saúde do Ho- mem. Dirige o ECOH – Instituto Brasileiro de Ecologia Humana em Brasília, onde trabalha118 

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do HomemThays Berger ConceiçãoPossui graduação em Enfermagem pela Uni-versidade Federal de Santa Catarina (2010).Mestranda do Programa de Pós Graduaçãoem Saúde Coletiva – UFSC. Atualmente de-senvolve função de Coordenadora de Tutoriada capacitação a distância – Curso de Aten-ção a Homens e Mulheres em Situação deViolência por Parceiros Íntimos e de super-visora de tutoria do Curso de Especializaçãoem Atenção Básica – PROVAB. Tambémcompõe a equipe técnica de produção dematerial da UFSC para o UNASUS. Área depesquisa: Violência e Saúde.Endereço do currículo na plataforma lattes:<http://lattes.cnpq.br/8067887275425001>.  119



Acesso e acolhimento naatenção à saúde do homem Sabrina Blasius Faust Deise Warmling Sheila Rubia Lindner Elza Berger Salema Coelho UFSC 2018



Acesso e acolhimento naatenção à saúde do homem Sabrina Blasius Faust Deise Warmling Sheila Rubia Lindner Elza Berger Salema Coelho Florianópolis UFSC / 2018 1ª edição atualizada

Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074 U588a Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância. Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homem [recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Sabrina Blasius Faust... [et al] Organizadoras. — 1. ed. atual. — Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. 66 p. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Condições de vulnerabilidade na saúde do homem. – O acolhimento dos homens na atenção básica. - A integralidade na atenção à saúde do homem. ISBN: 978-85-8267-083-5 1. Saúde do homem. 2. Acesso aos cuidados de saúde. 3. Cuidados de saúde. I. UFSC. II. Faust, Sabrina Blasius. III. Warmling, Deise. IV. Lindner, Sheila Rubia. V. Coelho, Elza Berger Salema. VI. Título. CDU: 613.9124 

CréditosGOVERNO FEDERALPresidente da RepúblicaMinistro da SaúdeSecretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na SaúdeUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAReitor: Ubaldo Cesar BalthazarVice-Reitora: Alacoque Lorenzini ErdmannPró-Reitora de Pós-graduação: Hugo Moreira SoaresPró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto SoaresPró-Reitor de Extensão: Rogério Cid BastosCENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDiretora: Celso SpadaVice-Diretor: Fabrício de Souza NevesDEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICAChefe do Departamento: Fabrício Augusto MenegonSubchefe do Departamento: Maria Cristina Marino CalvoEQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDECoordenador: Francisco Norberto Moreira da SilvaCoordenadora substituta: Renata Gomes SoaresASSESSORES TÉCNICOSKátia Maria Barreto SoutoCícero Ayrton Brito SampaioMichelle Leite da SilvaCaroline Ludmila Bezerra GuerraPatrícia Santana SantosJuliano Mattos RodriguesThiago Monteiro Pithon  125

COORDENADORA DO PROJETO REVISÃO DE CONTEÚDO Elza Berger Salema Coelho Revisor Interno: Antonio Fernando Boing COORDENADORA DO CURSO Revisores Externos: Sheila Rubia Lindner Helen Barbosa dos Santos Igor Claber COORDENADORA DE ENSINO Deise Warmling ASSESSORIA PEDAGÓGICA Márcia Regina Luz COORDENADORA EXECUTIVA Gisélida Garcia da Silva Vieira ASSESSORIA DE MÍDIAS Marcelo Capillé COORDENADORA DE TUTORIA Carolina Carvalho Bolsoni DESIGN INSTRUCIONAL Soraya Falqueiro EQUIPE DE PRODUÇÃO EDITORIAL Larissa Marques IDENTIDADE VISUAL E Sabrina Faust PROJETO GRÁFICO Pedro Paulo Delpino EQUIPE EXECUTIVA Patrícia Castro ADAPTAÇÃO DO PROJETO GRÁFICO, Rosangela Leonor Goulart REDIAGRAÇÃO E ESQUEMÁTICOS Sheila Rubia Lindner Laura Martins Rodrigues Tcharlies Schmitz REVISÃO DE LÍNGUA CONSULTORIA TÉCNICA PORTUGUESA E ABNT Eduardo Schwarz Eduard Marquardt AUTORIA DO MÓDULO Sabrina Blasius Faust Deise Warmling Sheila Rubia Lindner Elza Berger Salema Coelho126 

Apresentação do móduloEste módulo traz conteúdos importan- nais, como também as possibilidadestes para você compreender a relação de organização dos serviços de saúde e,dos homens com o serviço de saúde, dentro desse contexto, alcançar um aten-destacando a importância de promover dimento qualificado na atenção básica.estratégias para um atendimento inte-gral, bem como a relevância das ações Nesta etapa, vamos discutir, inclusive, apreventivas e de promoção de saúde, relevância do acesso e a reorganizaçãotranscendendo o atendimento agudo e dos serviços para aproximar o homempontual. Para tanto, apresentamos al- do serviço de saúde. Para que isso ocor-guns desafios a serem superados e es- ra, os profissionais têm papel fundamen-tratégias para o acesso e acolhimento, tal, proporcionando uma escuta qualifi-no sentido de auxiliar você, profissional cada, atendendo de maneira resolutiva eda saúde, a qualificar suas práticas, com realizando os encaminhamentos neces-vistas à atenção integral à saúde do ho- sários, de forma articulada com a rede.mem no âmbito da atenção básica. Existem desafios a serem enfrentadosCompreendendo a saúde enquanto um di- para o acesso dos homens aos serviçosreito do cidadão, devemos atuar junto aos de saúde, e discutiremos três dimensõesserviços da área a fim de garantir o atendi- principais: relativos ao homem-usuário,mento de qualidade, dentro dos princípios aos profissionais da equipe e à estrutu-e diretrizes do Sistema Único de Saúde ra e organização dos serviços. Apesar(SUS). Para isso, é preciso repensar as dos desafios, também encontramos po-práticas de saúde com base na lógica da tencialidades nas práticas de saúde, e ahumanização, considerar a dinamicidade partir destas pode haver a transforma-dos processos de cuidado e a participa- ção das práticas cotidianas.ção ativa dos sujeitos, além de promoverdiálogos entre usuários e profissionais a Esperamos que você se aproxime destefim de construir projetos coletivos. debate, reflita e busque possibilidades para transformar as práticas de saúdePara o acolhimento do homem nos ser- em seu território, junto à sua equipe, noviços de saúde, é necessário considerar âmbito da atenção básica.as barreiras sócio-culturais e institucio-  127

Este módulo busca refletir sobre as es- tratégias de ações de acesso e do aco- lhimento das populações masculinas, sob a ótica da humanização e da inte- gralidade. Objetivos de aprendizagem para este módulo Ao final deste módulo, você será capaz de identificar estratégias de acesso e acolhimento para a população masculi- na, proveniente da demanda espontânea ou programada, nas diferentes especifi- cidades de gênero, com vistas à consoli- dação da PNAISH. Carga horária de estudo 30 horas128 

Sumário 131 134Unidade 1 138Humanização e acesso: garantindo o direito à saúde1.1 A humanização do cuidado 1431.2 O acesso e a qualidade na atenção aos usuários 1471.3 A importância do papel da equipe de saúde 149 na garantia do acesso e atendimento humanizado 1511.4 Recomendação de leituras complementares 155Unidade 2 157O acolhimento dos homens na atenção básica 1602.1 O cuidado em saúde na população masculina2.2 O acolhimento na saúde do homem 1612.3 Dispositivos do acolhimento e estratégias de aproximação 163 169 do homem ao cuidado em saúde2.4 Recomendação de leituras complementares 174 178Unidade 3A integralidade na atenção à saúde do homem 1793.1 A integralidade no acesso e acolhimento 1813.2 O agir em rede para a integralidade na assistência 1853.3 Desafios e possibilidades para a atenção integral à saúde do homem3.4 Recomendação de leituras complementaresResumo do móduloReferênciasSobre os autores



UN1Humanização e acesso:garantindo o direito à saúde



Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemEm âmbito internacional, a discussão econômicas que visem garantir aos ci-sobre os direitos sociais, e em especial dadãos o acesso universal e igualitário àsobre o direito à saúde, iniciou em 1948 assistência à saúde.com a Declaração Universal dos DireitosHumanos. Este documento reitera que  Importante! Diante deste cenário, étodo homem e sua família têm direito à fundamental a compreensão de que asaúde e bem estar, incluindo nesta pers- saúde é um direito e deve assegurarpectiva o acesso a alimentos, vestuário, uma atenção integral, humanizada,habitação, cuidados médicos, direito de qualidade e dentro dos princípios eà segurança em caso de desemprego, diretrizes preconizados pelo Sistemadoença, invalidez, viuvez, velhice ou ou- Único de Saúde (SUS).tros casos de perda dos meios de sub-sistência em circunstâncias fora de seu Para a consolidação do direito à saúde,controle (ONU, 1948). a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) surgiu como resultado de expe-No Brasil, a Constituição de 1988 foi a riências vivenciadas por vários atores,primeira a conferir a devida importância como os usuários, os gestores, os mo-à saúde, tratando-a como direito social vimentos sociais, você, profissional defundamental, cujo texto apresenta dis- saúde, e outros trabalhadores da área, apositivos que tratam expressamente da fim de consolidar e fortalecer o SUS.saúde. O artigo 196 da Constituição re-trata este direito, e dispõe que: Alinhada à PNAB, que é a porta de en- trada ao SUS, o Ministério da Saúde pu- A saúde é direito de todos e blicou a Política Nacional de Atenção dever do Estado, garantido me- Integral à Saúde do Homem (PNAISH), diante políticas sociais e eco- que apresenta estratégias de humaniza- nômicas que visem à redução ção em saúde, em consonância com os do risco de doença e de outros princípios do SUS, promovendo ações a agravos e ao acesso universal e partir da compreensão da singularidade igualitário às ações e serviços masculina nos diversos contextos so- para a promoção, proteção e re- cioculturais e político-econômicos, com cuperação (BRASIL, 1988). vistas à redução de morbimortalidade por causas evitáveis e o consequenteDesta forma, a saúde passou a ser um di- aumento da expectativa de vida. A Es-reito público, que subsidia a formulação tratégia de Saúde da Família (ESF) teme implementação de políticas sociais e privilégio neste desafio do SUS, poden-  133

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdedo evitar a segmentação dos serviços a categoria sexual, tendência esta ali-partir do trabalho em equipe e do plane- mentada pelo imaginário social e pelajamento de atendimentos e ações, for- organização dos serviços de atençãotalecendo serviços em rede e cuidados primária, que historicamente privilegia-da saúde. ram a saúde materno-infantil. Contudo as maiores vítimas de mortalidade sãoOcorre uma invisibilidade dos homens homens, negros de 14 a 24 anos, e a pro-nos serviços de atenção básica, e para dução de cuidado ainda se dá na posi-propiciar que os homens acessem a ção materno-infantil (SARTI, 2005).rede de atenção à saúde do SUS é ne-cessário que se entenda os caminhos na Portanto, é preciso que a saúde, sobbusca pelo cuidado em saúde pela popu- essa perspectiva de direito, seja umalação masculina ao invés de culpabilizar prática rotineira em nossos serviços.os homens pela alta incidência de agra- Por isso, propomos repensar as práticasvos em saúde que geram internações e com base na lógica da humanização.mortalidade precoce em comparação àsmulheres (SANTOS, 2013). Nesta primeira unidade abordaremos a humanização como estratégia transfor-Não apenas a garantia de acesso é ne- madora de práticas e sujeitos, e o aces-cessária, mas sim viabilizarmos estra- so como forma de assegurar o direito àtégias para que os homens referenciem saúde. Acompanhe!estes serviços em suas demandas desaúde. No Brasil, sabemos que antes 1.1 A humanização do cuidadoda emergência do SUS, somente traba-lhadores de carteira de trabalho assina- Na trajetória de construção e efetivaçãoda tinham garantidos certos direitos de do SUS, sabemos que muitos obstácu-acesso à saúde (CARRARA, 2005). los foram vencidos e muitos direitos fo- ram conquistados, com destaque paraNa esfera do Programa de Saúde da Fa- a implantação de políticas, o avanço namília uma das questões discutidas é a discussão de saúde integral e o atendi-predominância de mulheres e crianças mento humanizado. No contexto desteentre os frequentadores dos serviços de curso, vale destacar a implantação daatenção básica. Os homens procuram PNAB, a Política Nacional de Humaniza-os serviços como idosos e não como ção (PNH) e a PNAISH.134 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemTodas essas políticas foram criadas Figura 1 - Humanização da assistência à saúdecom a finalidade de efetivar os princí-pios do SUS no cotidiano das práticas desaúde. A PHN surgiu como uma políticatransversal ao SUS e atravessa e pro-blematiza diferentes ações do sistema,como a discussão da PNAB, da PNAISHe de outras políticas, buscando construirtrocas solidárias e comprometidas coma produção de saúde, traduzindo os prin-cípios do SUS em modos de operar dosdiferentes equipamentos e sujeitos darede de saúde (BRASIL, 2013).Mas o que seria essa humanização da Fonte: Fotoliasaúde, considerando que todos somoshumanos? Para a PNH, a humanização é gestão dos conflitos existentes nos ser-entendida como a inclusão das diferen- viços. A participação dos trabalhadoresças nos processos de gestão e cuidado, na gestão é fundamental para que elesque impactam em mudanças práticas. sejam ativos nas mudanças dos seusMas estas não se constroem a partir de processos de trabalho. A inclusão dosuma pessoa ou de um grupo isolado; de- usuários e suas redes sociofamiliaresvem ser efetivadas de maneira coletiva e também é um recurso importante, umacompartilhada. vez que amplia a corresponsabilização do autocuidado (BRASIL, 2013). E como você, profissional de saúde pode promover a inclusão das dife- Humanizar significa ir além de uma boa renças? educação ou colocar-se no lugar do ou- tro, humanizar é respeitar os sujeitos,Dentre as alternativas está a realização sua autonomia, garantir saúde e acessode rodas de conversa, a atuação em à informação, ao serviço.rede e junto aos movimentos sociais, e a  135

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdeA PNH, com base nas experiências exi- inseparável entre modos de cuidartosas de humanização, afirma que há (prestar serviços), gerir e se apropriarum “SUS que dá certo”. E, a partir dele, do trabalho. É importante que os tra-formulam-se princípios que operam de balhadores e usuários conheçam asacordo com diretrizes norteadoras para formas de gestão e redes de atençãosuas ações, permitindo o surgimento de à saúde, sabendo como participararranjos e dispositivos capazes de indu- dos processos de tomada de deci-zir redes cooperativas, a fim de superar são. Entretanto, a responsabilidadeo caráter centralizado, fragmentado e pelo cuidado é compartilhada entreverticalizado dos processos de gestão a equipe de saúde e o usuário, quee atenção. também deve assumir uma postura protagonista.Os princípios da PNH (BRASIL, 2013)são o que sustenta e dispara um deter- • Protagonismo, corresponsabilidademinado movimento na perspectiva de e autonomia dos sujeitos e coleti-política pública. São eles: vos – as mudanças que consideram a autonomia e vontade das pessoas• Transversalidade – a PNH é uma po- tornam-se mais concretas, pois acon- lítica transversal à medida que deve tecem com o reconhecimento da im- estar inserida em todas as políticas portância do papel de usuários e tra- e programas do SUS. Indica a amplia- balhadores de forma conjunta. ção do grau de comunicação entre sujeitos e serviços, visando à transfor- As diretrizes da PNH são as orientações mação nas relações de trabalho e a al- clínicas, éticas e políticas, que podem teração das relações de poder hierar- ser melhor entendidas a partir de alguns quizadas entre profissional e usuário. conceitos norteadores e suas formas de execução, conforme o quadro a seguir.• Indissociabilidade entre atenção e gestão – afirma que há uma relação136 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemQuadro 1 - Diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH): conceitos e formas de se colocar em prática.Diretriz O que é? Como você pode colocar em prática?Acolhimento É o reconhecimento do que o outro Por meio de uma escuta qualificada, que possibilite traz como legítima necessidade de ao usuário expor suas demandas em saúde, garan- saúde. Sustenta-se na relação entre tindo o acesso oportuno às tecnologias necessá- equipe e usuário, visando à constru- rias e tornando efetivas as práticas de cuidado. ção de relações de confiança, com- promisso e vínculo. Gestão É a inclusão de novos sujeitos nos Alguns grupos de trabalho, tais como colegiadosparticipativa processos de decisão referentes à gestores, mesas de negociação, contratos inter- e cogestão gestão. nos de gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Trabalho de Humanização (GTH), Gerência de Porta Aberta (GPA) são possibilidades de efetivação da cogestão na saúde.Ambiência Consiste na viabilização de espaços A ambiência pode se efetivar a partir da decisão saudáveis, acolhedores, que propi- compartilhada da organização dos espaços físicos, ciem mudanças no processo de tra- de acordo com as necessidades de ambos, usuá- balho e encontros entre as pessoas. rios e trabalhadores. Por exemplo, garantir que te- nha uma cadeira para o homem no consultório de forma a facilitar a inclusão deste nas consultas e colocar cartazes que inclua os homens.Clínica ampliada É uma ferramenta que permite a Uma forma de colocá-la em prática é a partir da compreensão da singularidade do qualificação do dialogo entre profissionais e profis- sujeito, da complexidade do proces- sional-usuário, o que desencadeia decisões com- so saúdedoença e a superação da partilhadas. fragmentação do conhecimento.Valorização do Consiste no reconhecimento da ex- Buscar espaços de diálogo, para reflexão e análi- trabalhador periência dos profissionais e sua in- se do que causa sofrimento e adoecimento, bem clusão nos processos de tomada de como do que fortalece o grupo de trabalhadores, decisão. qualificando as formas de agir no serviço de saúde. Também é relevante a participação dos tr’abalha- dores nos espaços coletivos de gestão.Defesa dos O direito à saúde é garantido por lei, Assegurar o direito do cidadão de acesso à saúde;direitos dos e os serviços de saúde têm o papel mantê-lo informado sobre seu estado de saúde e de informar os usuários sobre isso tomar decisões compartilhadas sobre as interven- usuários e assegurar que os direitos sejam ções necessárias para o seu cuidado. efetivados.Fonte: Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2013).  137

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdeA articulação entre os princípios, as dire- A produção da saúde é um processo emtrizes e os dispositivos da PNH sustenta rede que envolve sujeitos, processoso que se caracteriza como intervenções de trabalho e ainda diferentes saberespara transformação dos processos de e poderes. A forma como agimos emtrabalho e práticas de saúde. Desse nosso trabalho cotidiano pode contribuirmodo, constrói-se a perspectiva de uma ou não para uma transformação social.rede de produção de saúde em conexão, É na tentativa de superação da separa-na qual sujeitos e pontos de atenção se ção entre o usuário e profissional, e pelainterligam. Esta é uma tarefa de reinven- construção de uma relação mais hori-ção, que se faz com um trabalho constan- zontal que estamos propondo reflexõeste de produção de outros modos de vida, sobre a humanização do cuidado.de novas práticas de saúde, de outrosmodos de cuidar, sendo imprescindível a 1.2 O acesso e a qualidade naatuação e inovação dos profissionais da atenção aos usuáriossaúde sob três grandes dimensões: aten-ção, gestão e controle social. Para que se possa intervir na situação de saúde da população, o acesso e oTemos na PNH um método que encontra acolhimento são dimensões essenciaisseus caminhos por meio dos seus parti- do atendimento. O processo de saúde ecipantes, isto é, uma metodologia inclu- doença é uma constante na vida de todosiva e participativa dentro da capacidade cidadão, já que sempre haverá necessi-e possibilidade daqueles que pensam, dade de procura pelo serviço de saúde.planejam e executam suas ações. Para O modo como o usuário é recebido e aa inclusão de sujeitos, é necessário que oferta de atenção no ambiente da insti-o processo de trabalho se aprimore, que tuição de saúde, considerando os aspec-haja planejamento de ações, consideran- tos de estrutura, acolhimento, as infor-do que as estratégias podem funcionar mações repassadas e a rede de atençãoou não e que irão funcionar à medida construída a partir do encontro, todosque a equipe der conta de incluir e lidar são elementos que favorecem a reorga-com os fatores que intervêm nas ações. nização da assistência e qualificam oDesta forma, você percebe que o plane- atendimento.jamento faz sentido quando ele é discu-tido e incluído no processo de trabalho Inicialmente, é importante trazer a defini-da sua equipe. ção de acesso, que é: o alcance do uso138 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemadequado dos serviços para o atendi-  Importante! Pesquisadores anseiammento das demandas dos usuários. Ou que para uma adequada adesão daseja, é a forma com que a pessoa expe- população masculina, com idade en-rimenta o serviço de saúde ao procurá-lo tre 20 e 59 anos, esta deveria aces-(SOUZA, 2008). sar os serviços de saúde da atenção básica ao menos uma vez por anoTambém é importante destacar que aces- (LEAL, FIGUEIREDO, NOGUEIRA-DA-so difere de acessibilidade, visto que a se- -SILVA, 2012).gunda se caracteriza pela possibilidadede as pessoas chegarem aos serviços de Você e sua equipe já refletiram sobre asaúde, mais relacionada à existência ou procura do homem pelo serviço de saú-não de unidades de saúde no local e ao de da sua instituição? Enquanto profis-transporte adequado para tal. Desta for- sional da prática de saúde, você pode jáma, acesso e acessibilidade são concei- ter se questionado sobre o acesso dostos que devem ser abordados de forma homens, uma vez que os serviços decomplementar (STARFIELD, 2004). saúde geralmente estão lotados e com profissionais sobrecarregados: como,Existem diferenças nos acesso aos ser- então, incluir e garantir o acesso do ho-viços de saúde entre homens e mulhe- mem na agenda de atendimentos?res, sendo que as mulheres geralmentepossuem uma vasta oportunidade de Para a melhoria do acesso do homemacesso à atenção básica (AB) para pre- aos serviços de saúde, faz-se necessáriavenção, procurando o serviço para reali- a reorganização do atendimento de acor-zação de exames de rotina. Desta forma, do com a lógica preconizada nas políti-a AB pode ser considerada como porta cas públicas. Para isso, são necessáriasde entrada ao serviço de saúde para ações de fortalecimento e qualificaçãoelas. Já o homem, na grande maioria das da AB que possibilitem a realização devezes, procura o serviço de saúde quan- atividades de promoção de saúde, pre-do está com algum caso de dor ou doen- venção de doenças e agravos evitáveis.ça aguda; logo, sua porta de entrada, namaioria das vezes, é a atenção secundá-ria ou terciária.  139

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdePara aumentar esse acesso, são neces- são principalmente as situações de ur-sárias, no âmbito das equipes da ESF, gência e prevenção focadas nos examesreflexões para a construção de meca- de próstata, ou se é o próprio do serviçonismos para qualificar a assistência a que, por estar organizado para atenderesse público. Em estudo feito na região essas necessidades, torna-as mais vi-Sul do Brasil (JULIÃO; WEIGELT, 2011), síveis para os profissionais (KNAUTH;foram referidas as seguintes estratégias COUTO; FIGUEIREDO, 2012).para o cuidado da saúde do homem naatenção básica:  Convidamos você, profissional de saúde, a refletir se a baixa procura dos homens pelas ações de saúde deve-se ao modelo tradicional de masculinidades, ou, então, se por não haver a oferta de serviços, as demandas em saúde do homem per- manecem invisibilizadas. Qual a sua opinião? Estratégias para o cuidado da saúde do Embora existam aspectos culturais que homem na atenção básica: fazem com que os homens procurem menos a AB para assistência em saúde, • realização de exames periódicos para os serviços possuem papel fundamental detecção de neoplasias ou doenças na reestruturação das ofertas em saúde crônicas; para esse público, a fim de aproximá-lo das unidades de saúde. • orientações sobre planejamento reprodutivo; • uso de preservativos e prevenção do uso Uma forma de viabilizar o maior acesso dos homens à unidade de saúde é, certa- abusivo de drogas; mente, ampliar o horário de atendimen- • criação de grupos de educação em saúde. to, voltando a organização dos locais de atendimento também para a necessida-Em estudo que investigou as perspecti- de do usuário.vas de implantação da PNAISH, os au-tores problematizaram a relação entre a Estudos têm apontado que locais queoferta de serviços e as necessidades em disponibilizaram atendimento durantesaúde da população masculina. Ques- os finais de semana, horário de almoço,tionou-se se as demandas dos homens140 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemno período noturno ou durante 24 horas, Eficiência > Capacidade administrati-obtiveram maior frequência do público va de produzir o máximo de resulta-masculino nos novos horários imple-mentados (VIEIRA et al., 2013; LEVORA-  dos com o mínimo de recursos.TO et. al. 2014). Efetividade > Diz respeito ao resulta- do concreto, ou às ações que fizeram acontecer esse resultado concreto.Figura 2 - Horários alternativos para atendimento A questão do trabalho, que muitas ve-aos homens zes faz o homem deixar de buscar os serviços de saúde, também pode serFonte: Fotolia vista sob outro aspecto. Em vez de um impedimento, pode vir a ser uma poten- cialidade. As ações de saúde do traba- lhador podem ser qualificadas no sen- tido de atender também demandas de prevenção e cuidados com a saúde que envolvam e sensibilizem os homens, transcendendo o papel burocrático dos pontuais exames periódicos (GOMES; NASCIMENTO, 2007).Para a ampliação do horário de trabalho Os homens devem ser protagonistas dosdas UBS, cada equipe deve avaliar, prefe- processos de ações em saúde; as açõesrencialmente em conjunto com a popu- devem estar pautadas nas demandaslação, as necessidades de cada local. É e necessidades da população mascu-preciso pensar na viabilidade, na eficiên- lina considerando seus diferentes seg-cia e na efetividade da ação. Pode inclu- mentos. As ações que visam o acessosive não ser necessário o atendimento dos homens na atenção básica podem24 horas em todos os locais para que o ocorrer no território em que os homensserviço seja mais acessível ao homem. circulam, de acordo com os contextosContudo, disponibilizar horários alterna- loco-regionais.tivos ao horário de trabalho da maioriados homens da comunidade, em geral, A partir da reorganização da assistênciapossui efeitos positivos em relação ao com vistas a ofertar e atender tambémdesafio do baixo acesso. as necessidades em saúde do homem,  141

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdetem-se a possibilidade de despertar no pulação, principalmente as questões depúblico masculino maior sensação de masculinidades, em que o homem sepertencimento a estes espaços. Sobre considera “forte” em relação à saúde,a estrutura das ofertas, é identificado interferem no acesso à atenção básica.como fator negativo para o acesso o E um dos caminhos possíveis para quetempo gasto para a realização dos pro- os profissionais possam reduzir essascedimentos, de agendamento e encami- barreiras nos serviços é a construção donhamentos para serviços de referência vínculo. O estabelecimento do vínculoem saúde, além da dificuldade de acesso entre profissional e usuário é o primeiroa exames e atendimento, o que implica passo a ser dado para se romper com ana baixa resolutividade da assistência. invisibilidade do homem nos serviços, valorizando-se os princípios de equidadeO fator do tempo gasto e da dificulda- e integralidade do SUS.de de acesso a exames e atendimentoé uma barreira que não é exclusiva da No estudo de Leal, Figueiredo e Silvapopulação masculina. Mas, em relação (2012), investigou-se a percepção dosaos homens, este desafio pode gerar a profissionais sobre a presença masculi-impressão de que apenas eles não se na nas unidades de saúde. Em geral, osimportam com o cuidado da sua saúde. usuários homens foram descritos comoPercebemos, então, mais um desafio a o acompanhante da mulher gestante, deser superado: para o profissional, parece crianças ou pessoas idosas; ou um me-tratar-se de falta de interesse ou baixa diador, que vem marcar uma consulta ouprocura do homem; e para o usuário, por um exame para outra pessoa.não lhe ser acessível, acaba-se por afas-tá-lo dos serviços de saúde (KNAUTH; Entende-se que, além de aumentar oCOUTO; FIGUEIREDO, 2012). acesso dos homens à unidade de saúde, é preciso que a equipe esteja sensível Importante! É preciso compreender para reconhecer a população masculi- na também como usuária, acolhendo-a, que os homens são tão vulneráveis aprimorando a comunicação e cons- quanto os demais grupos (crianças, truindo vínculo para que esta possa esta- mulheres, idosos etc.), necessitando belecer o cuidado em saúde necessário. que suas especificidades em saúde Desta forma, pode-se pensar junto com sejam reconhecidas e valorizadas. a equipe sobre as possibilidades de am- pliação do atendimento e fortalecimentoTanto as questões estruturais dos ser- da atenção básica.viços como os aspectos sociais da po-142 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemA discussão sobre masculinidades nos É preciso que as equipes de saúde este-serviços potencializa o rompimento do jam atentas para esse fenômeno, a fimestereótipo socialmente construído da de promover práticas e estratégias deinvulnerabilidade masculina, tornando cuidado que possam transcender esteos profissionais mais sensíveis às de- paradoxo, promovendo a saúde e a qua-mandas de saúde do homem. Também lidade de vida desta população.torna essas necessidades em saúdemais aparentes, favorecendo mudanças 1.3 A importância do papel da equiperelevantes, e contribuindo para a am- de saúde na garantia do acessopliação da equidade, integralidade e uni- e atendimento humanizadoversalidade na assistência (STORINO;SOUZA; SILVA, 2013). A disponibilidade e o acesso a um conjun- to de ações e serviços influenciam a saúdeA questão de vulnerabilidade masculi- da população, mas não o suficiente parana é vista sob dois ângulos distintos: resolverem todas as questões implicadas.há uma contradição entre os resultados No contexto da implementação do SUS,das informações epidemiológicas, que os debates firmaram a perspectiva de queapontam para a vulnerabilidade mas- não basta aumentar a disponibilidade e oculina, e o senso comum, que reforça acesso ao atendimento; há que se pensara invulnerabilidade masculina. Ambas em que tipo de atendimento é esse. A for-as percepções, embora contraditórias, ma como o serviço em saúde é oferecidocomplementam-se, pois justamente por potencializa o seu grau de resolubilidade.serem vistos como invulneráveis é que Não é suficiente que o usuário tenha aces-os homens tendem a se expor mais – so ao SUS, se esse acesso não garantetornando-se mais vulneráveis (GOMES e a sua saúde em todos os componentesNASCIMENTO, 2007). envolvidos no binômio saúde–doença. A origem e o transcurso histórico dos pro- Convidamos você, profissional, a refletir sobre a colocação de Gomes e Nascimento (2007), que enxergam a questão de vulnerabilidade masculina sob dois ângulos distintos: há uma contradição entre os resultados das informações epidemiológicas, que apontam para a vul- nerabilidade masculina, e o senso comum, que reforça a invulnerabilidade masculina. Ambas as percepções, embora contraditórias, complementam-se, pois justamente por serem vistos como invulneráveis é que os homens tendem a se expor mais – tornando-se mais vulneráveis.  143

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdeblemas devem necessariamente ser con- rios, assim como as próprias formas desiderados, bem como as diferentes con- viver o trabalho em saúde. Compreenderformações e os espaços onde se situam. o trabalho em saúde como relacional éIsso tem relação direta com a maneira de imprescindível, considerando-o a inte-executar o trabalho em saúde – ou seja, ração entre trabalhadores e usuários,como o processo de trabalho é orientado. envolvidos com a produção do cuidado (CECÍLIO, 2001).Em seu cotidiano, você já deve ter perce-bido que apenas o conteúdo técnico da Considerando o exposto, a atenção bási-assistência não é suficiente para resol- ca possui outro potencial para a integra-ver os problemas relacionados à saúde. lidade do atendimento, que é a equipe deUma assistência de qualidade e ações profissionais de saúde, considerando asde promoção e prevenção são funda- equipes de ESF e o Núcleo de Apoio àmentais, mas também é muito importan- Saúde da Família (NASF). O trabalho emte o comprometimento dos indivíduos equipe não deve ser apenas uma sim-envolvidos, ao que se denomina corres- ples superposição de profissionais emponsabilidade e coparticipação. um mesmo espaço ou serviço de saúde. Este trabalho se caracteriza pela relaçãoOs trabalhadores de saúde, como você, interativa entre os trabalhadores, que tro-possuem projetos individuais e coleti- cam conhecimentos e se articulam paravos próprios que de alguma forma inter- a produção de saúde da comunidade,ferem no contexto das unidades onde relacionando e interagindo dimensõestrabalham. Isso se dá porque, antes de complementares de trabalho.serem trabalhadores, são sujeitos quetrazem no ato da produção de saúde a O sistema de saúde vigente preconizasubjetividade, a historicidade e os con- a interdisciplinaridade. Para tanto, há atextos da corporação a que pertencem. necessidade de dois ou mais profissio- nais que interajam e se comuniquemA dimensão humana do trabalho reflete por meio de seus diferentes saberes.o vínculo dos profissionais com os usuá- Porém, a interdisciplinaridade é um de- Subjetividade > É produzida por instâncias individuais, coletivas e institucionais. Aquilo que produzimos – tecnologias, conceitos, ideias, técnicas – também transforma nosso modo de ser. Portanto, os “objetos” que produzimos interferem no processo de produção de subjetivi- dades (TEIXEIRA, 2003).144 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemsafio percebido pelas equipes de saú- que não se sentiu minimamente com-de, que têm dificuldade de se relacionar preendido em sua queixa desconsideredevido aos níveis hierárquicos. Além as orientações de tratamento.disso, há certa fragmentação do traba-lho, ocasionando contradições em que Uma tecnologia que possibilita acessarmuitas vezes o profissional atua apenas melhor o problema de saúde é a reali-individualmente. Para apoiar o usuário zação da escuta qualificada pelo traba-em suas necessidades – física, subjeti- lhador de saúde. O adjetivo “qualifica-va, social –, é necessário que os traba- da” aqui significa que há um processolhadores também constituam espaços de reflexão desse trabalhador sobre osde apoio à equipe, discutindo suas fra- sentidos que a escuta do outro tem nagilidades e limites como sujeitos, como clínica, seja ela qual for: de medicina, decoletivo, como serviço. enfermagem, de psicologia etc.Figura 3 - Interdisciplinaridade nas equipes de Escuta qualificada > É um dos dispo-saúde sitivos da PNH. A escuta qualificada  deve ser prática corrente de toda a equipe de saúde, podendo-se identi- ficar os sinais de maior risco ou sofri- mento do usuário, proporcionando a priorização do atendimento e fazendo os devidos encaminhamentos.Fonte: Shutterstock Nesta reflexão sobre a escuta, a pessoa que fala deixa de ser um mero informan-A humanização do cuidado passa por se te, que fornece ao profissional de saúdeconsiderar que as necessidades de saú- dados objetivos sobre seu problema, ede devam ser definidas tanto pelos pro- passa a ser compreendida como um su-fissionais quanto pelos usuários. Isso jeito atravessado por uma subjetividade,nos alerta para a necessidade de escu- que é singular, que interage com o profis-tar com atenção, dando legitimidade à sional durante o atendimento e que podedemanda apresentada pelo usuário, pois ser uma manifestação ativa, protagonis-o sentido dado por ele ao problema pode ta da mudança na sua própria saúde.ser a chave para uma solução efetiva docaso. É alta a chance de que um usuário Na escuta qualificada, informações, da- dos, fatos e demandas são considera-  145

UN1 Humanização e acesso: garantindo o direito à saúdedos, mas não somente isso. Os afetos e As estratégias de saúde do homem de-vínculos que podem ser estabelecidos ali vem estar contempladas em outras polí-também são alvo de atenção, pois o que ticas de saúde existentes no contexto dao usuário sabe, pensa e sente em relação atenção básica, como saúde bucal, saú-à situação que está enfrentando é crucial de da mulher, saúde da população negra,para o processo de atenção à saúde. saúde do adolescente. Ou seja, a saúde do homem, constituída enquanto políti-Figura 4 - Escuta qualificada do profissional da ca de saúde estar contemplada no coti-saúde com o usuário diano dos serviços, sem desconsiderar que as populações masculinas sofrem determinadas iniquidades e desta forma ações específicas são necessárias para fomentar o acesso destes.Fonte: Fotolia Aprendemos, geralmente, em nossa formação na saúde, a valorizar condu-Exatamente por identificar demandas tas objetivas, neutras, junto ao usuário,que não estavam explícitas na queixa ini- por estarem associadas ao que con-cial, e que frequentemente são decisivas vencionamos designar rigor científico.para a melhora geral do quadro de saúde Tal escuta “objetiva” deixa de lado tudodo usuário, a escuta qualificada nos pos- aquilo que não é da ordem da “evidên-sibilita saber quando um caso demanda- cia científica”.Assim, o portador de ce-rá conversas com outros profissionais, faleia crônica, por exemplo, na maioriapossibilitando um cuidado mais integral. das vezes, será conduzida apenas com base em perguntas de ordem técnica Mas, se a escuta qualificada é tão po- ou protocolar. Esse tipo de atendimento tente, por que ela acontece com uma consegue captar pouco das singularida- frequência bem menor do que gosta- des do usuário, reduzindo a escuta a um ríamos nos serviços de saúde? ato protocolar, a uma técnica de coleta de evidências. Uma escuta assim pode reduzir ou enquadrar o usuário em uma identidade estereotipada, reducionista como, por exemplo, supostamente al- guém que ao expressar suas queixas e reclamações legítimas acaba sendo inti- tulado de “reclamão”.146 

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemA escuta qualificada tem se organizado específico em cada serviço, envolvendode modos distintos nas diferentes expe- um conjunto de ações articuladas queriências de acolhimento em curso pelo deverão ser construídas coletivamente,país. Em geral, é realizada em espaço para refletirem as vontades e o entendi-privativo, podendo ser acionada em dife- mento não só da equipe de saúde, masrentes momentos, por diferentes profis- também dos usuários e gestores.sionais. A fim de garantir melhor acessoe resolutividade possível, já sabemos 1.4 Recomendação de leiturasque a escuta qualificada é fundamen- complementarestal. Além dela, é importante analisarmosnosso processo de trabalho para organi- Para aprofundar seus estudos sobre azá-lo de modo que nos ajude a: humanização e acesso da população masculina aos serviços de saúde, suge-• atender a todos com resolutividade; rimos as seguintes leituras:• priorizar o que é mais grave;• encaminhar adequadamente o que BRASIL. Humaniza SUS: Política Nacional de Humanização, 2013. precisa de continuidade no atendi- Disponível em: <http://bvsms.saude. mento. gov.br/bvs/publicacoes/politica_na- cional_humanizacao_pnh_folheto.Atendimento Escuta resolutivo qualificada  pdf>. MACHADO, M. F.; RIBEIRO, M. A. T. Os Processo discursos de homens jovens sobre o de trabalho acesso aos serviços de saúde.  Inter- face (Botucatu), Botucatu, v. 16,  n. Encaminhamento 41,  p. 343-356,  jun. 2012. Disponível adequado em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/ 2012nahead/aop2912>.Priorização do que émais gravePara alcançar tais objetivos, há ferra-mentas que nos auxiliam nessa organi-zação do acolhimento. Vale lembrar queeste sempre será um processo singular,  147



UN2O acolhimento dos homensna atenção básica


Like this book? You can publish your book online for free in a few minutes!
Create your own flipbook