UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva • Fase de excitação: é a preparação Figura 6 – Diversos fatores de ordem biológica, para o ato sexual, desencadeada pelo psicológica ou sociocultural interferem na saúde desejo. Estímulos psicológicos (pen- sexual samentos e fantasias) ou físicos (tato, olfato, gustação, audição e visão) po- dem levar à excitação. Junto com sen- sações de prazer, surgem alterações corporais que são representadas ba- sicamente, no homem, pela ereção. • Fase de orgasmo: é o clímax de pra- Fonte: Fotolia. zer sexual, que ocorre após uma fase de crescente excitação. No homem, No entanto, quando as dificuldades se- com o prazer, ocorre a sensação de xuais se tornam persistentes e recorren- não conseguir mais segurar a ejacu- tes a ponto de causar sofrimento, estas lação e, então, ela ocorre. devem ser investigadas com atenção, para que se possa identificar se a situa- • Fase de resolução: é um período em ção corresponde ou não a um quadro de que o organismo retorna às condições disfunção sexual (BRASIL, 2010). físicas e emocionais usuais, consi- derando que, nas fases anteriores, a 2.2 Disfunções sexuais respiração, a circulação periférica, os batimentos cardíacos, a pressão arte- As disfunções sexuais são problemas rial, a sudorese, entre outras manifes- que ocorrem em uma ou mais das fases tações do organismo, tenderiam a se do ciclo de resposta sexual, por falta, ex- pronunciar (BRASIL, 2010). cesso, desconforto ou dor na expressão e no desenvolvimento dessas fases, ma- Deixar de vivenciar alguma dessas fases, nifestando-se de forma persistente ou numa atividade sexual, não necessaria- recorrente (BRASIL, 2010). mente significa que a pessoa está com algum problema. Pode se tratar de uma As disfunções sexuais muitas vezes situação transitória, dependendo de di- deixam de ser diagnosticadas porque a versos fatores circunstanciais de ordem pessoa não apresenta a queixa ou por- biológica, psicológica ou sociocultural.600
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemque o profissional de saúde não aborda substâncias, como drogas, remédios oua questão, seja por sentir dificuldade em exposição a toxinas.realizar essa abordagem, seja por não sesentir suficientemente preparado. Figura 7 – Drogas e remédios podem causar dis- função sexual Importante! O diagnóstico das dis- funções sexuais é tão importante quanto a identificação de qualquer outro agravo à saúde, e de suma re- levância, uma vez que elas interferem na qualidade de vida das pessoas (BRASIL, 2010).É importante fazer distinção entre dis- Fonte: Fotolia.função primária (ao longo da vida) e se-cundária (adquirida), bem como entre Veja a seguir alguns fatores relaciona-disfunção generalizada, presente com dos às disfunções sexuais:qualquer parceria, e situacional, presen-te em determinadas circunstâncias ou • Aspectos psicológicos: tabus sobreparcerias (BRASIL, 2010). a própria sexualidade, tais como as- sociações de sexo com pecado, de-O Manual de Diagnóstico e Estatística sobediência ou com punições; baixados Transtornos Mentais 5ª edição (DSM autoestima; fobias relacionadas aoV), publicado em 2013 ressalta que para ato sexual; não aceitação da própriaevitar o risco de superestimar as incidên- orientação sexual, entre outros.cias dessas disfunções, requer que estase mantenha com uma duração mínima • Dificuldades nos relacionamentos:de seis meses reforçando a não medica- brigas, desentendimentos quanto aolização destas disfunções sem o devido que cada um espera do relacionamen-acompanhamento integral em saúde. to; falta de intimidade; dificuldades de comunicação entre os parceiros.A maioria dos casos de disfunção sexualestá relacionada a problemas psicológi- • Questões decorrentes de traumas:cos ou problemas no relacionamento. devido a violências.Mas podem também ser resultado deproblemas orgânicos ou uso de certas 601
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva • Condição geral de saúde: presença a falta de ereção é um dos quatro gran- de disfunção sexual decorrente dos des temores do homem brasileiro. Os efeitos diretos de uma doença, tais outros três são perda da libido, adoecer como depressão, ansiedade, doenças e a queda do poder aquisitivo (VINHAL, crônico-degenerativas, entre outras. 2008). Esses temores, de certa forma, se ancoram no modelo hegemônico de • Efeitos diretos de uma substância: masculinidade, onde o principal eixo é a medicamentos, alguns anti-hipertensi- dominação. Assim, não ter ereção, não vos, alguns antiarrítmicos, alguns psi- ter libido, adoecer e perder o status de cotrópicos, anabolizantes, álcool e ou- provedor são “problemas” que compro- tras drogas, exposição a toxinas, entre metem as marcas identitárias do ser ho- outros. Geralmente, ocorre dentro de mem (NASCIMENTO & GOMES, 2008). um período de intoxicação significati- va ou abstinência de uma substância. A disfunção erétil ou impotência sexual é a incapacidade recorrente e persisten- O homem pode concentrar a sua preocu- te de obter ou manter uma ereção penia- pação de falhar na hora “h”, ficando pas- na em 50% das tentativas do ato sexual sível de experimentar algum grau de di- de forma satisfatória devido à disfunção ficuldade de ereção. Pesquisa realizada psicológica ou orgânica. O grau de dis- pela Universidade de São Paulo, com 10 função erétil pode variar de uma redu- mil pessoas, em 19 cidades, aponta que ção parcial da rigidez peniana, de uma CLASSIFICAÇÃO DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS segundo a Associação Psiquiátrica Americana • Desejo sexual hipoativo: diminuição, ausência ou perda do desejo de ter atividade sexual. A falta ou diminuição do desejo sexual constitui-se um problema quando interfere na vivência da se- xualidade pela pessoa. Não pode ser caracterizada como disfunção quando ocorre em virtude de problemas circunstanciais (momentos de tristeza, luto, estresse, entre outros) ou, ainda, quando se manifesta eventualmente, sem um motivo específico. • Aversão sexual: aversão e esquiva ativa do contato sexual com um parceiro, envolvendo fortes sentimentos negativos suficientes para evitar a atividade sexual. • Falha na fase de excitação sexual ou falha de resposta genital: ocorre quando há incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta de excitação sexual, com lubrifica- ção-turgescência vaginal ou dificuldade de ter ou manter uma ereção adequada (conhecida como disfunção erétil) até a conclusão da atividade sexual.602
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemincapacidade de manter a ereção, até a média de 49,8 anos (desvio padrão defalta completa de ereção. É importante 13,8), e encontrou prevalência de 53,5%ressaltar que essa definição se limita à de algum grau de disfunção erétil.capacidade erétil do pênis e não inclui osproblemas de libido, distúrbios da ejacu- A frequência de disfunção mínima, mo-lação ou do orgasmo (ANVISA, 2012). derada e completa foi de 20,8%, 26,3% e 6,4%, respectivamente. A frequência deFigura 8 – A falta de ereção é um dos quatro gran- disfunção erétil aumentou com o aumen-des temores do homem brasileiro to da idade (MOREIRA JR. et al. 2004).Fonte: Fotolia. Importante! É importante você saber que existem fatores de risco para de- senvolver a disfunção erétil. Dentre eles estão as doenças vasculares (tais como hipertensão arterial sistêmica, cardiopatias, aterosclerose), as doen- ças neurológicas (lesões na medula, mal de Alzheimer e Parkinson), as doenças hormonais (diabetes, queda de testosterona), as doenças da prós- tata, o tabagismo, o consumo exces- sivo de álcool, a obesidade, o uso de certos medicamentos, os distúrbios psicológicos (depressão) e a idade. Outras disfunções sexuais são:A disfunção erétil pode ter causas de or- • Ejaculação precoce: a ejaculaçãodem orgânica ou de ordem psicológica pode ocorrer logo que o homem teme, embora possa ocorrer com maior fre- pensamentos eróticos e ereção, semquência à medida que o indivíduo enve- penetração, ou, ainda, logo após a pe-lhece, não se relaciona apenas à idade. netração, o que leva a uma reduçãoSimbolicamente, a ereção costuma se na sensação de prazer. Questões psi-associar à força e potência, constituin- cológicas como ansiedade, primeirasdo-se numa das expressões centrais da experiências sexuais tensas, novosmasculinidade (GOMES et al., 2008). Um parceiros ou ainda dificuldades noestudo realizado em 380 cidades do Bra- relacionamento, geralmente, estãosil avaliou 71.503 homens, com idade entre as principais causas de ejacula- 603
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva ção precoce. Mas as causas também lacionamento sexual com sua parceira podem ser orgânicas (BRASIL, 2010). ou seu parceiro, é o tamanho do pênis, associado ou não à falta de ereção (GO- • Anorgasmia ou disfunção orgásmica: MES et al., 2008). caracteriza-se por grande retardo ou ausência do orgasmo, de maneira per- Embora o tamanho médio do pênis em sistente ou recorrente, após uma fase adultos seja de 12 centímetros, em seu normal de excitação sexual. O homem estado flácido, e de 13 a 18 centímetros com anorgasmia pode aproveitar ple- de comprimento, em seu estado ereto, namente das outras fases do ato se- não há um padrão único entre os grupos xual – isto é, tem desejo, aproveita estudados. O pênis patologicamente re- as carícias e se excita –, porém algo duzido é aquele que mede quatro centí- bloqueia ou retarda a ejaculação. É metros, em estado flácido, e sete centí- importante buscar saber se o homem metros, em ereção (BERG, 2009). nunca teve orgasmo na vida ou se ti- nha orgasmos e passou a não tê-los Cabe perguntar: por que tamanha preo- mais. A anorgasmia pode ser classi- cupação com o pênis? ficada em absoluta quando ocorre sempre, e situacional quando ocorre Inúmeras respostas podem ser formu- só em certas situações – por exem- ladas para essa questão. Entretanto, plo, em locais onde o homem não se não se pode descartar a ideia de que sente confortável ou em virtude de al- essa preocupação tem muito a ver com gum tipo de conflito (BRASIL, 2010). o símbolo cultural da virilidade. O pênis pode assumir o papel de um arquétipo • Dispareunia: é a dor genital que ocorre em diversas épocas para que homens durante a relação sexual. Pode ocorrer construam a sua identidade masculina em homens, mas é mais comum em e, nesse sentido, problemas – reais ou mulheres. Embora a dor seja mais fre- fictícios – a ele relacionados podem quente durante o ato sexual, também arranhar essa identidade, comprome- pode ocorrer antes ou após o intercur- tendo as imagens de fertilidade, força so da relação sexual (BRASIL, 2010). e poder (GOMES et al., 2008). O pênis não é um simples órgão no imaginário Outra grande preocupação que alguns popular. Costuma ser visto como “uma homens podem ter, e que pode assom- máquina”, “uma obra de arte”, “uma de- brar suas expectativas sobre o seu re- cepção”, “uma arma”, “um cetro”, enfim,604
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemcomo “um símbolo de força e poder”, e atuar na prevenção, diagnóstico precoceembora muitos homens expressem uma e apoio ao tratamento das neoplasias re-intimidade com seu pênis, batizando-o lacionadas à saúde sexual e reprodutivacom nomes próprios e apelidos, desco- da população masculina – dentre elas onhecem o mais básico sobre o seu “fun- câncer de próstata, o câncer de pênis e ocionamento” (BERG, 2009). câncer de testículo.Figura 9 – O símbolo do masculino reproduz clara- 2.3.1 Câncer de próstatamente a ideia de virilidade Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata é o segundo tipo mais incidente no mundo e o primei- ro no Brasil. É mais comum ocorrer em homens a partir dos 65 anos.Fonte: Fotolia. O aumento do número de casos ao longo dos anos tem como possíveis explica-Agora que você já teve a oportunidade ções o aumento da expectativa de vida,de conhecer um pouco sobre as disfun- melhoria da qualidade dos sistemas deções sexuais na população masculina informação, a maior disponibilidade detrazemos a seguir algumas informações métodos diagnósticos e o rastreamentosobre as neoplasias mais prevalentes re- de câncer por meio de PSA e toque retallacionadas a saúde sexual e reprodutiva (FERLAY et al., 2014).desta população. É importante destacar que o câncer de próstata pode estar associado à presen- ça do vírus HPV transmitido sexualmen- te (FIGUEIREDO et al., 2012).2.3 Neoplasias relacionados à Entre os óbitos por câncer, o câncer de saúde sexual e reprodutiva próstata é a segunda causa de morte na população masculina no Brasil; a cadaA seguir, trazemos algumas informações 100 mil homens, 14 morreram pela doen-que consideramos importantes para que ça em 2012 (SIM, 2015).você, como profissional de saúde, possa 605
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva Importante! O principal fator de risco senta taxas de mortalidade muito inferio- para o câncer de próstata é a idade, já res a de outras doenças nos homens. Em que cerca de três quartos dos casos 2012, por exemplo, os números de óbitos ocorrem a partir dos 65 anos. A maio- por infarto e agressão por arma de fogo ria dos tumores cresce de forma tão foram, respectivamente, quatro e três ve- lenta que não chega a dar sinais du- zes maiores do que os óbitos por câncer rante a vida e nem a ameaçar a saúde de próstata. Este é um tipo de câncer pou- do homem. O risco também é maior co agressivo, apesar de em alguns casos entre homens que tenham história evoluir rapidamente e levar à morte, na familiar de câncer de próstata, espe- maioria dos casos o tumor evolui lenta- cialmente quando os casos ocorrem mente, levando até 15 anos para atingir 1 antes dos 60 anos (INCA,2014). cm³, o que não provoca sintomas no ho- mem e não ameaça sua saúde.Vale ressaltar que, dentro do conjunto deenfermidades, o câncer de próstata apre-Figura 10 – Próstata saudável X câncer de próstata Saudável Saudável GângliosRim linfáticos Bexiga Bexiga Uréter Próstata Vesícula seminal Uretra Próstata Próstata Uretra Estágios do câncer de próstata Câncer de próstata Estágio 1 Estágio 2 Rim Tumor Bexiga Uréter Estágio 3 Estágio 4Crescimentos Aumento da anormais Próstata Uretra Fonte: Fotolia.606
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemComo fatores de risco para este tipo de cos com idade inferior a 75 anos. Não hácâncer destaca-se a idade; tanto a inci- evidências que essa prática seja eficaz,dência como a mortalidade aumentam ou as evidências são pobres e conflitan-significativamente após os 50 anos. Pai tes e a relação custo-benefício não podeou irmão com câncer de próstata antes ser determinada (BRASIL, 2010).dos 60 anos pode aumentar o risco em3 a 10 vezes quando comparado à popu- É importante destacar que deve haverlação em geral, o que pode estar relacio- distinção entre rastreamento e diag-nado a fatores genéticos hereditários, nóstico de doenças. Você, como pro-hábitos alimentares ou estilo de vida fissional de saúde, deve estar sempredas famílias. vigilante em identificar a apresentação clínica nos homens sob seus cuidados.Como sinal de alerta para este tipo de Os exames necessários de acordo comcâncer está o relato pelo homem da de- a clínica apresentada não se configurammora em iniciar e finalizar o ato urinário, como rastreamento, e sim diagnósticoe também a nictúria (frequente ato de precoce.urinar à noite), sintomas estes que po-dem conduzir ao diagnóstico precoce Um dos principais temas de discussão édesta patologia. a implantação de programas de rastrea- mento por meio da oferta de teste do an-É importante destacar que para o cân- tígeno prostático específico (PSA) e docer de próstata as evidências científicas toque retal.demonstram o benefício do diagnósticoprecoce a partir da avaliação clínica da O INCA, em 2013, a exemplo de outroshistória de saúde e encaminhamento países, manteve sua posição de não re-oportunos após os primeiros sinais e comendar programas de rastreamentosintomas, conduzindo para tratamento e do câncer de próstata. O INCA não re-redução da morte por esta causa. comenda o rastreamento populacional para o câncer de próstata desde 2002Quanto ao rastreamento, as evidências e ratificou seu posicionamento na notacientíficas ainda são insuficientes para técnica publicada em 2013. Mesmo as-tecer recomendações a favor ou contra a sim, continua acompanhando os estu-adoção deste procedimento para o cân- dos sobre rastreamento envolvendo ocer de próstata em homens assintomáti- exame de PSA e do toque retal. 607
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva Conceitos Exame do toque retal importantes sobre Avalia o tamanho, a forma e a textura da prósta- o câncer de ta. Tem por objetivo detectar alterações nessa próstata glândula, a partir do exame de toque retal. Rastreamento Teste Antígeno Prostático Específico (PSA) Aplicação de exames em indivíduos saudáveis, sem Mensura a quantidade de PSA no sangue, a fim de identifi- sinais ou sintomas da doença, car alterações prostáticas. O PSA é uma proteína produzi- com o objetivo de detectar a da pela próstata, responsável pela liquefação do sêmen, doença em fase pré-clínica. permitindo que o esperma “nade” livremente. Doenças benignas e tumores malignos da próstata podem provocar o aumento dessa proteína no sangue. Os níveis de PSA tendem a aumentar com o avançar da idade. Importante! Cerca de 2/3 dos homens o exame deve ser discutida a cada caso, com PSA elevado NÃO têm câncer de avaliando conjuntamente com o homem próstata detectado na biópsia, e até os riscos e os benefícios. É importante que os gestores organizem sua rede de 20% de todos os homens com câncer serviços para que a confirmação diag- de próstata clinicamente significati- nóstica e o tratamento sejam realizados vo têm PSA normal. O valor preditivo com qualidade e em tempo oportuno. positivo desse teste está em torno de 33%, o que significa que 67% dos 2.3.2 Câncer de pênis homens com PSA positivo serão sub- metidos desnecessariamente à bióp- O câncer de pênis tem maior incidência sia para confirmação do diagnóstico a partir dos 50 anos, embora possa atin- (BRASIL, 2010). gir também os mais jovens. Este tipo de câncer não existe nos Estados Unidos, Como profissional de saúde, você deve nem na Europa. Entretanto, no Brasil a orientar os homens que demandem es- incidência supera a Índia e o Egito. O tu- pontaneamente sobre a realização do mor peniano representa 2% dos casos exame de rastreamento informando-os de câncer que atingem os homens brasi- sobre os riscos e benefícios associados a essa prática. A definição de fazer ou não608
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemleiros (INCA, 2013). A ocorrência é maior mente pela falta de higiene no órgão se-nas regiões Norte e Nordeste do país. O xual e tem forte prevalência em homensaumento de casos de câncer de pênis, com fimose (quando o estreitamento naprincipalmente no Maranhão, na Bahia, abertura do prepúcio, a pele que revesteno Piauí e em Pernambuco, faz sua in- a glande, impede que ela seja exposta).cidência ser considerada um problemade saúde pública (UFBA, 2014). No Ma- Figura 11 – O câncer de pênis também atinge ho-ranhão, é identificado um caso de cân- mens jovenscer de pênis a cada 13 dias (SOCIEDADEBRASILEIRA DE UROLOGIA, 2014).No Brasil acontecem, em média, mil am- Fonte: Fotolia.putações de pênis a cada ano. No Ma-ranhão, a cada quinze dias, um homemportador de câncer de pênis tem o seuórgão genital amputado. Esse grande nú-mero de amputações pode estar relacio-nado à falta de informação e à demoraem acessar o tratamento (UFBA, 2014). Importante! Este tipo de câncer é O câncer de pênis inicialmente não apre- um dos poucos tumores malignos senta sintomas, mas tem como causa que podem ser evitados por meio do principal o acúmulo de secreções na glande. Pode evoluir para uma infecção acesso à informação e da adoção de que se transforma em ferida. Se não práticas de cuidados com a saúde. curada, vira um tumor que aos poucos Consiste em lavar a glande com água vai lesionando a região. e sabão, puxar o prepúcio, na hora do banho, depois da masturbação e após A ação educativa para a prevenção de manter relações sexuais. Também câncer de pênis e a detecção precoce usar camisinha para evitar a infecção devem ser entendidas como compro- pelo HPV, que se tem mostrado asso- misso profissional com a promoção da ciado a este tipo de câncer. autonomia do homem no autocuidado e com a qualidade da atenção à saúde.Segundo o INCA, um terço dos casos des-te tipo de câncer no mundo poderia serevitado. A doença é causada principal- 609
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva Você, profissional da saúde, deve orientar os (inflamação dos testículos e dos epidí- homens para o autoexame atentando para os dimos), geralmente transmitidas sexual- seguintes sinais: mente. Está associado a histórico fami- liar, lesões e traumas na bolsa escrotal, • Perda de pigmentação ou manchas es- bem como à criptorquidia (quando o tes- branquiçadas. tículo não desce para a bolsa escrotal). • Feridas e caroços no pênis que não desa- É considerado um câncer curável, prin- pareceram após tratamento e apresentem cipalmente se detectado precocemente. secreções e mau cheiro. Para a detecção, o autoexame mensal • Tumoração no pênis ou na virilha. é importante. Você, como profissional da saúde, pode orientar para que os ho- • Inflamações de longo período com verme- mens realizem o autoexame uma vez ao lhidão ecoceira, principalmente nos porta- mês após tomar um banho quente, por- dores de fimose. que o calor relaxa o escroto e facilita a observação de anormalidade de tama- O exame clínico e a biópsia são indica- nho, sensibilidade e densidade. dos para diagnóstico e o tratamento de- penderá da extensão local do tumor e do Acompanhe estas orientações de como comprometimento dos gânglios ingui- fazer o autoexame para o câncer de tes- nais, podendo incluir cirurgia, radiotera- tículos: pia e quimioterapia. • O homem precisa posicionar-se em O diagnóstico precoce é fundamental pé em frente a um espelho e proce- para evitar as consequências físicas, se- der o exame de cada testículo com as xuais e psicológicas ao homem. Quan- duas mãos, posicionando o testícu- to mais cedo for iniciado o tratamento, lo entre os dedos indicador médio e maior é a chance de cura e menor o risco anular. Deverá observar inicialmente de amputação do pênis. a existência de alterações em alto re- levo na pele do escroto. 2.3.3 Câncer de testículo • Na sequência, deverá palpar o epi- O tumor de testículo representa 5% do dídimo, que está localizado atrás do total dos casos de câncer que atingem testículo, a fim de se familiarizar com os homens. Quando detectado precoce- essa estrutura e não confundir o epi- mente, tem baixo índice de mortalidade. A maior incidência está em homens entre 15 a 50 anos de idade. Pode ser confun- dido e mascarado por orquiepididimites610
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homem dídimo com uma massa suspeita. 2.4 Intercorrências na saúde sexual do adolescente• A seguir, revolver o testículo entre os dedos à procura de alguma dor. A dor Para os adolescentes a sexualidade tem não deve ser sentida neste exame. uma dimensão especial: é nesta etapa que a capacidade reprodutiva vem alia-O homem deverá ser orientado a identi- da às transformações biológicas, psico-ficar sensação de peso no escroto, dor lógicas e sociais. A maturação sexualimprecisa na parte inferior do abdômen vem acompanhada do acelerado cresci-ou virilha, derrame escrotal e dor ou des- mento físico.conforto no testículo ou escroto. Ou seja: informações sobre a saúde se-Quanto aos sinais e sintomas deste tipo xual e reprodutiva são importantes ferra-de câncer, o mais comum é o apareci- mentas para os adolescentes, tanto namento de nódulo(s) duro(s), na maior promoção da saúde como também naparte das vezes indolor, localizados com prevenção de possíveis intercorrências.mais frequência lateralmente aos testí-culos, mas que também podem ser en- Uma dúvida importante que precisa sercontrados na porção ventral (parte de esclarecida, relacionada ao atendimen-baixo dos testículos). É importante es- to em saúde dos adolescentes, é a obri-tar alerta para outras alterações, como gatoriedade ou não do adolescente serendurecimentos, dor imprecisa na parte acompanhado de um adulto responsá-baixa do abdômen e presença de san- vel para receber o atendimento nas uni-gue na urina. Também pode ocorrer au- dades de saúde. A legislação brasileiramento ou sensibilidade nos mamilos por para os adolescentes tem seus princí-aumento na produção de estrógenos ou pios fixados pelo Estatuto da Criança edeficiência da formação de andrógenos. do Adolescente (ECA) e são de proteção integral, da prioridade absoluta e do inte-O câncer de testículo é um câncer agres- resse do adolescente.sivo com rápida evolução. O diagnósti-co precoce a partir da avaliação clínica Dessa forma, a presença ou a anuênciacomplementado por biópsia oportuniza dos pais, mães e responsáveis para oalto índice de cura porque este tipo de exercício de algum direito fundamentalcâncer responde bem a tratamento qui- – direito à vida, à liberdade, à saúde, àmioterápico. integridade física e moral – não é uma condição indispensável para o acesso a 611
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutiva esses direitos, mas somente desejável, Dentre as principais intercorrências na considerando as responsabilidades le- saúde sexual e reprodutiva dos adoles- gais atribuídas à família. centes podem estar as IST e a gravidez Figura 12 – A presença dos pais não é condição in- precoce de sua parceira. dispensável para os adolescentes exercerem seus direitos fundamentais Importante! O início da atividade se- xual se sobressai na adolescência Fonte: Fotolia. pela característica própria desta fase da vida, quando os jovens buscam a afirmação da sua própria identidade e estão ávidos por experiências novas. De modo geral, por se sentirem jo- vens, saudáveis e curiosos por novas situações, os adolescentes podem adotar comportamentos sexuais sem proteção, tornando-os vulneráveis a agravos e infecções, especialmente pelas ISTs e a gravidez precoce (MAL- TA et al., 2011). O artigo 3o do Estatuto da Criança e do Os adolescentes podem ter dúvidas Adolescente diz que: quanto a diversos aspectos do seu de- senvolvimento, fisiológicos ou não, e os A criança e o adolescente go- profissionais da AB têm um papel funda- zam de todos os direitos funda- mental na orientação: mostrar como é mentais inerentes à pessoa hu- possível conduzir a vida com mais saúde. mana, sem prejuízo da proteção integral de que trata essa Lei, Uma estratégia importante de alcance assegurando lhes, por lei ou por desta população é o Programa Saúde na outros meios, todas as oportu- Escola, em que os profissionais de saú- nidades e facilidades, a fim de de atuam de forma integrada aos profis- lhes facultar o desenvolvimento sionais da educação. Um dos temas que físico, mental, moral, espiritual podem ser desenvolvidos é o da saúde e social, em condições de liber- sexual e reprodutiva e as principais inter- dade e de dignidade. corrências com as medidas de preven- ção e diagnóstico precoce.612
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemCom relação às neoplasias, apesar de O homem idoso tem suas funçõesraro, o câncer de testículo é o que mais sexuais alteradas basicamente pe-preocupa nesta fase da vida, pois atinge las mudanças fisiológicas e anatô-os homens na idade produtiva a partir micas provocadas pelo processo dedos 15 anos. envelhecimento, porém não se pode associar essa fase da vida a perda ou Importante! O câncer de testículo a incapacidade de manter relações pode ser mascarado por orquiepidi- sexuais. A partir dos 40-50 anos os ho- dimites, geralmente transmitidas se- mens podem relatar mudanças na sua xualmente. Fique atento! saúde sexual e reprodutiva pela dimi- nuição lenta e gradual da testosterona,2.5 Intercorrências na saúde e também porque a partir desta idade sexual do homem idoso ocorrem com maior incidência doenças cardiovasculares, hipertensão arterial,A vivência da sexualidade faz parte de diabetes, obesidade e dislipidemias mui-todas as etapas da vida e sua expressão tas vezes agravadas pelo fumo, álcool,saudável é fundamental para a felicida- estresse e sedentarismo. Estas são cau-de e realização do ser humano. sas orgânicas que podem afetar as fun- ções sexuais e reprodutivas do homem.A crença de que o avançar da idade e o Figura 13 – A crença de que o avanço da idade e odeclinar da atividade sexual estão inexo- declínio da atividade sexual estão necessariamen-ravelmente ligados também tem sido res- te ligados não é verdadeponsável pela pouca atenção dada a essaquestão nessa etapa da vida, aumentan-do a vulnerabilidade do idoso, inclusive,para as IST/HIV/Aids (BRASIL, 2013).No entanto, a liberação sexual fez com Fonte: Fotolia.que muitos tabus fossem quebrado. Omaior acesso a medicamentos estimu-lantes da atividade sexual proporcionouaos idosos o sentimento de maior se-gurança para manter a atividade sexual,modificando sua vida. 613
UN2 Disfunções e outros agravos relacionados à saúde sexual e reprodutivaAlém destas causas orgânicas, surgem Embora a frequência e a intensidade danesta etapa da vida questões de ordem atividade sexual possam mudar ao longoemocional referentes à aposentadoria, da vida, problemas na capacidade de des-casamento, doenças, autoestima, além frutar prazer nas relações sexuais não de-de fatores sociais e culturais. No entan- vem ser considerados como parte normalto, as alterações sexuais masculinas do envelhecimento (BRASIL, 2006).são lentas e progressivas, dando tempoao homem de se adaptar a uma ativida- Ao avaliar uma queixa de disfunção per-de menos intensa. gunte ao homem idoso se ele tem ereção noturna involuntária. A resposta afirma-As alterações na sexualidade do idoso tiva está relacionada à não presença depodem estar relacionadas à ausência da problemas relevantes na sua saúde físi-parceira devido à viuvez, a valorização ca. Nestes casos, as causas podem estardo padrão da beleza jovem, a ocorrência relacionadas a questões emocionais. Sede doenças, o uso de medicamentos e a resposta for negativa, é importante in-as mudanças na fisiologia sexual (ALEN- vestigar os medicamentos que o homemCAR et al., 2014). idoso está utilizando, hábitos relaciona- ALTERAÇÕES SEXUAIS NO HOMEM IDOSO • Ansiedade quanto ao desempenho sexual, que leva ao medo de tomar a iniciativa de realizar o ato sexo. • Dificuldade de conseguir ter ereções espontâneas quando há necessidade. • A ereção é mais lenta, aumentando o tempo necessário para se chegar à rigidez adequada. • As ereções já não são tão firmes e nem se sustentam por tanto tempo quanto antes. • Há uma menor capacidade e menor necessidade de se chegar ao orgasmo, possibilitando encon- tros mais prolongados, mais carinhosos, que não se encerram com o orgasmo. • Tem rápida detumescência, quase que imediata ao cessar os estímulos sexuais. • Aumenta o período refratário entre as relações, principalmente quando há o orgasmo. • Outras alterações: menor emissão de secreção uretral, menor volume do material ejaculado, me- nor pressão da ejaculação, orgasmo mais curto e às vezes seco (diabetes e pós-prostatectomia), menor ocorrência de tumescência peniana noturna, menor concentração de fibras elásticas nos corpos cavernosos e alteração endotelial vascular.614
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemdos ao estilo de vida tais como o tabagis- causas de aborrecimentos, excessomo, o consumo excessivo de álcool e o de gordura, sal e açúcar.uso de drogas podem estar intimamenterelacionados a este quadro. É importan- • Procurar tratamento para as doençaste investigar também condições e doen- crônicas, como diabetes, hipertensão,ças como diabetes mellitus, hipertensão hipercolesterolemia. Tratar os proble-arterial, doenças vasculares, cirurgias mas psicológicos e emocionais como(próstata, aneurisma de aorta), gineco- ansiedade, estresse e depressão.mastia (aumento das mamas por doençaendócrina), abdome volumoso e pênis de • Procurar manter vida sexual ativa.pequenas dimensões, doenças neuroló-gicas periféricas e atrofia dos testículos. Vamos agora para a unidade final deste módulo.Dentre as ações de promoção da saúdesexual e reprodutiva do homem, você, 2.6 Recomendação de leituraprofissional de saúde, pode dar as se- complementarguintes orientações:• Fazer uma preparação para a tercei- ALENCAR, D. L. et al. Fatores que in- ra idade ainda entre os 40 e 50 anos, identificando e afastando os fatores terferem na sexualidade de idosos: de risco que provocam ou que acele- uma revisão integrativa. Ciência e ram o envelhecimento. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 8, p. 3533- 3542, 2014.• Cultivar bons hábitos alimentares, per- der e manter o peso adequado, praticar exercícios físicos, cultivar boas amiza- des, manter bom convívio familiar.• Entender, aceitar e se adaptar pro- gressivamente às alterações do enve- lhecimento.• Eliminar os fatores de risco como fumo, drogas, álcool, sedentarismo, 615
UN3Recomendações aos profissionaisda Atenção Básica
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemComportamentos em saúde são difíceis nas relações sexuais.Para que o usode mudar. Relacionam-se a fatores pes- seja de forma correta alguns cuidadossoais, cognitivos, econômicos, sociais, são importantes. O profissional de saúdeculturais e estruturais. A compreensão deve lembrar-se de orientar os homensdestes precisa embasar a prática em in- para o uso do preservativo, fornecendotervenções multidimensionais. as seguintes instruções:Com relação às Infecções Sexualmente • Armazenar o preservativo longe doTransmissíveis (IST), por exemplo, é ne- calor, observando-se a integridade dacessária uma avaliação da visão do pro- embalagem, bem como o prazo deblema das IST/HIV na população, e para validade.isso é necessário salientar que os novostratamentos do HIV e seu aparente con- • O preservativo deve ser colocado an-trole podem ter levado a um “relaxamen- tes da penetração, durante a ereçãoto” em relação a práticas e comporta- peniana.mentos de risco. • A extremidade do preservativo deveHomens que fazem sexo com homens e ser mantida apertada entre os dedosque também utilizam drogas injetáveis durante a colocação, retirando todo o(HSH-UDI) estão entre os grupos com ar do seu interior.comportamentos de risco mais elevadopara adquirir e transmitir o HIV, refletin- • Ainda segurando a ponta do preserva-do a superposição de risco. Entre ado- tivo, deve-se desenrolá-lo até a baselescentes, a ocorrência de gravidez, con- do pênis.tracepção de emergência, baixa adesãoao uso de preservativo em todas as rela- • Devem-se usar apenas lubrificantesções sexuais, o uso de drogas e históri- de base aquosa (gel lubrificante), poisco de sintomas genitais permitem con- a utilização de lubrificantes oleososcluir que os adolescentes apresentaram (como vaselina ou óleos alimentares)comportamentos de risco que podem danifica o látex, ocasionando sua rup-aumentar a incidência de IST/HIV. tura. O gel lubrificante facilita o sexo anal e reduz as chances de lesão.Neste contexto, uma importante formade prevenção de doenças para os ho- • Em caso de ruptura, o preservativomens se dá pelo uso de preservativos deve ser substituído imediatamente. 619
UN3 Recomendações aos profissionais da Atenção Básica• Após a ejaculação, retirar o pênis ain- Além disso, é importante destacar de da ereto, segurando o preservativo que forma o profissional de saúde da pela base para que não haja vaza- Atenção Básica pode contribuir para a mento de esperma. oferta de uma atenção de qualidade no campo da saúde sexual. A seguir elen-• O preservativo não pode ser reutiliza- camos algumas orientações que você do (BRASIL, 2015a). pode seguir: RECOMENDAÇÕES AO PROFISSIONAL DA ATENÇÃO BÁSICA • Primeiramente ouvir... • Ser proativo no que se refere a abordar nos atendimentos os temas sexualidade e qualidade da atividade sexual: satisfação, prática do sexo seguro, existência e tipos de dificuldades. • Considerar, na abordagem, o contexto de vida das pessoas, influências religiosas, culturais, edu- cação sexual, qualidade da relação e da comunicação com o parceiro, uso de álcool e outras drogas, desejo ou não desejo em relação a ter filhos, entre outras questões que possam ser rela- cionadas à saúde sexual. • Prestar suporte emocional e psicológico (acolhimento, escuta qualificada). • Orientar e ajudar a desfazer mitos e tabus, com uma abordagem positiva do prazer sexual. • Quando houver dificuldades sexuais, discutir as possibilidades para a realização de mudanças graduais, no sentido de buscar maior satisfação, por exemplo: • Dialogar sobre a possibilidade de o casal aumentar o repertório sexual (local, posições etc.). • Incentivar a comunicação entre os parceiros, o que resultará maior confiança e segurança para solicitar um ao outro o que desejam. • Trabalhar com a pessoa o direito que ela tem em se sentir confortável, para sentir e dar prazer. • Despertar na pessoa a consciência de que ela também tem responsabilidade pelo seu próprio prazer. • Incentivar o autoconhecimento. • Incentivar a troca de carinhos e carícias que não estejam restritas aos genitais. • Instituir cuidados gerais da saúde e promover o autocuidado, que contribuem para uma melhor saúde sexual. • Identificar e substituir, quando possível, medicamentos que possam interferir na saúde sexual e na saúde reprodutiva.620
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemRessaltamos ainda que a atenção inte- bilidade, garantindo atendimento huma-gral a esse grupo de agravos necessita nizado e resolutivo.não apenas da implementação de açõesbásicas de prevenção e assistência, mas Também se faz necessário o desenvol-também do fortalecimento da integra- vimento de ações na comunidade queção entre os diferentes níveis de atenção promovam o aumento da percepção deà saúde existentes no município ou re- risco para esses agravos, além de esti-gião, cuja resolubilidade varia de acordo mular a adoção de práticas seguras paracom os recursos financeiros, técnicos, a saúde.humanos e de infraestrutura do serviço.Figura 14 – Informação é sempre 3.1 Recomendação de leiturasa melhor alternativa complementares BRASIL. Ministério da Saúde. CONI- TEC. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexual- mente Transmissíveis. Brasília, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Secre- taria de Atenção à Saúde. Departa- mento de Atenção Básica. Rastrea- mento. Brasília, 2010.Fonte: Fotolia.É fundamental que a organização dosserviços de saúde promova um melhoracesso àqueles que buscam o serviço eque cada profissional incorpore em suarotina a preocupação de identificar oshomens em situação de maior vulnera- 621
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemResumo do móduloEste módulo trouxe alguns aspectos im- Ressaltamos a importância de vocêportantes relacionados às intercorrên- conhecer a rede de atenção à saúde ecias da saúde sexual e reprodutiva do assim ter os encaminhamentos neces-homem e à abordagem destas pelos pro- sários para outros pontos de atenção,fissionais de saúde na Atenção Básica. garantindo o acesso e a resolubilidade.Na perspectiva de que a cultura preven- Os desafios são grandes. No entanto, es-tiva e de autocuidado entre esta popula- peramos ter estimulado você a continuarção ainda é uma prática pouco frequente, estudando para conhecer mais sobre aslançamos o desafio para que você, como intercorrências na saúde sexual e repro-profissional de saúde, na sua prática co- dutiva do homem. Lembrando que seutidiana construa estratégias de aproxi- olhar precisa estar atento às possibilida-mação com a população masculina de des de ampliação do acesso aos servi-seu território e amplie as possibilidades ços de saúde para a população masculi-de acesso à informação e aos serviços na, em todas as faixas etárias, nas açõesde saúde. de promoção da saúde, prevenção das doenças, tratamento e reabilitação.Neste módulo deixamos links de acessoa materiais que podem ampliar seu co- Bons estudos e bom trabalho a você!nhecimento sobre a atenção clínica àsintercorrências, de modo que você pode-rá acessá-los e utilizá-los como protoco-los de atendimento. 623
Referências ABDO, C. H. N.; OLIVEIRA JR, W. M.; ______. Ministério da Saúde. Pesquisa de SCANAVINO, M. T.; MARTINS, F. G. Disfunção conhecimentos, atitudes e práticas da Erétil: resultados do estudo da vida sexual população brasileira de 15 a 64 anos de do brasileiro. Revista da Associação Médica idade (PCAP – DST, 2008). Brasília, 2011a. Brasileira, v. 52, n. 6, p. 424-429, 2006. ______. Ministério da Saúde. SAS.SVS. Nota ALENCAR, D. L. et al. Fatores que interferem Técnica Conjunta no 391/2012. Realização na sexualidade de idosos: uma revisão do teste rápido da sífilis na Atenção Básica integrativa. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de no âmbito da Rede Cegonha. Disponível Janeiro, v. 19, n. 8, p. 3533-3542, 2014. em: <http://189.28.128.100/dab/docs/ sistemas/redecegonha/nt_n391_sifilis. BERG, O. L. D. O homem e o pênis: as pdf>. Acesso em: 30 maio 2016. disfunções sexuais masculinas... suas causas e tratamentos. Disponível em: ______. Ministério da Saúde. Secretaria de <http://www.saudesexual.med.br/tamanho. Atenção à Saúde. Departamento de Atenção html>. Acesso em: 20 fev. 2009. Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de ______. Ministério da Saúde. CONITEC. Atenção Básica. Envelhecimento e saúde Protocolo Clínico e Diretrizes da pessoa idosa. Brasília, 2006. Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Transmissíveis. Brasília, 2015a. Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Brasília, 2010. ______. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico – Aids e DST. Ministério ______. Ministério da Saúde. Secretaria da Saúde. Secretaria de Vigilância em de Vigilância em Saúde. Departamento Saúde – Departamento de DST, Aids e de DST, Aids e Hepatites Virais. Hepatites Virais. Brasília, 2015b. Adolescentes e jovens para a educação entre pares: sexualidades e saúde reprodutiva. Brasília, 2011.624
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homem______. Ministério da Saúde. Boletim GUERREIRO, I. C. Masculinidades e prevençãoEpidemiológico – Sífilis. Ministério da do HIV. Boletim do Instituto de Saúde, v. 14,Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde n. 1, p. 17-23, ago. 2012. Disponível em:– Departamento de DST, Aids e Hepatites <http://portal.saude.sp.gov.br/resources/Virais. Ministério da Saúde, 2015c. instituto-de-saude/homepage/bis/pdfs/ bis_v14_1.pdf>. Acesso em: 30 maio 2016.______. Ministério da Saúde. ProtocoloClínico e Diretrizes Terapêuticas para MALTA, D. C. et al. Saúde sexual dosManejo da Infecção pelo HIV em Adultos. adolescentes segundo a Pesquisa NacionalSecretaria de Vigilância em Saúde – de Saúde dos Escolares. Revista BrasileiraDepartamento de DST, Aids e Hepatites de Epidemiologia, v. 14, n. 1, p. 147-Virais. Ministério da Saúde, 2015d. 156, 2011. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.1590/S1415-790X2011000500015>.______. Ministério da Saúde. Instituto Acesso em: 30 maio 2016.Nacional do Câncer José Alencar Gomesda Silva. Disponível em: <http://www2. MEDRADO, B. et al. Princípios,inca.gov.br/wps/wcm/connect/inca/portal/ diretrizes e recomendações para umahome>. Acesso em: 30 maio 2016. atenção integral aos homens na saúde. Recife: Instituto PAPAI, 2009.FIGUEIREDO, R.; MCBRITTON, M.; PEIXOTO,M. Promoção de saúde integral e abordagem MOREIRA JR., E. D. et al. Epidemiologiade gênero como estratégia de ação em da disfunção erétil no Brasil: resultadossaúde sexual e reprodutiva de homens da pesquisa nacional do projeto avaliar.heterossexuais. Boletim do Instituto Revista Brasileira de Medicina, Rio dede Saúde – BIS, v. 14, n. 1, 2012. Janeiro, v. 61, n. 9, p. 613-625, 2004.GOMES, R. Sexualidade masculina, gênero NASCIMENTO, E. F.; GOMES, R. Marcase saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. identitárias masculinas e a saúde de homens jovens. Cadernos de SaúdeGOMES, R. et al. As arranhaduras da Pública, v. 24, p. 1556-1564, 2008.masculinidade: uma discussão sobre otoque retal como medida de prevenção PINHEIRO, T. F.; COUTO, M. T. Homensdo câncer prostático. Ciência e Saúde e camisinha: possibilidades e limitesColetiva, v. 13, n. 6, p. 1975-1984, 2008. na construção da Saúde do Homem. Boletim do Instituto de Saúde – BIS, v. 14, n. 1, ago. 2012. 625
REIS, A. A. S. et al. Aspectos clínico- epidemiológicos associados ao câncer de pênis. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 1105-1111, jun. 2010. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.1590/S1413-81232010000700018>. Acesso em: 28 mar. 2016. VINHAL, M. Disfunção erétil. Revista Vigor – Movimento e Saúde. Brasília: Thesaurus Editora, 2008. Disponível em: <http://www.revistavigor.com. br/2008/09/02/pesquisa-sobre-disfuncao- eretil/>. Acesso em: 21 fev. 2009. WANICK, F. B. F. et al. Carcinoma epidermoide do pênis: estudo clínico-patológico de 34 casos. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 86, n. 6, p. 1082-1091, 2011.626
Intercorrências na saúde sexual e reprodutiva do homemSobre os autoresCarmem Regina Delziovo Caroline Schweitzer de OliveiraPossui graduação em Enfermagem e Obste- Possui graduação em Enfermagem pela Uni-trícia pela Universidade Regional do Noroes- versidade Federal de Santa Catarina/UFSCte do Estado do Rio Grande do Sul (1985), (2003), Especialista em Educação Sexualgraduação em Licenciatura Em Enfermagem pela Universidade do Estado de Santa Cata-pela Universidade Regional do Noroeste do rina (2005), Especialista em Desenvolvimen-Estado do Rio Grande do Sul (1985) e mes- to Gerencial de Unidade Básica de Saúde dotrado em Ciências da Saúde Humana pela SUS (2008), Especialista em Saúde PúblicaUniversidade do Contestado (2003), douto- pela Escola de Saúde Pública Professorrado em Saúde Coletiva pela Univerisdade Osvaldo de Oliveira Maciel (2010), MestraFederal de Santa Catarina (2015). Atua na em Saúde Coletiva pela UFSC (2014). TemSecretaria de Estado da Saúde do Governo experiência na Estratégia Saúde da Famíliado Estado de Santa Catarina na Gerência (ESF), nos municípios de Lages/SC, Correiada Coordenação da Atenção Básica. Tem Pinto/SC e Antônio Carlos/SC e foi coorde-experiência na área de Saúde Pública, com nadora do Programa de Saúde da Mulher eênfase em Gestão , atuando principalmente da Rede de Atenção às Vítimas de Violêncianos seguintes temas: políticas de saúde, re- Sexual (RAIVVS) em Florianópolis/SC. Tam-gulação, redes de atenção à saúde, saúde da bém atuou como docente para formação demulher e da criança e violência. Agentes Comunitários de Saúde e Técnicos em Enfermagem. Atualmente é assessoraEndereço do currículo na plataforma lattes: técnica da Coordenação-Geral de Saúde das<http://lattes.cnpq.br/9192985272761930>. Mulheres do Ministério da Saúde, atuando principalmente com a temática da violência, aborto previsto em lei e Direitos Sexuais e Reprodutivos. Endereço do currículo na plataforma lattes: <http://lattes.cnpq.br/4627038463350744>. 627
Eleonora d’Orsi André Junqueira Xavier Graduada em Medicina pela Universidade do Especialista em Geriatria pela Escola Nacio- Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 1989), mes- nal de Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ, pela tre em Saúde Pública/Epidemiologia (1996) Pontifícia Universidade Católica do Rio Gran- e doutora em Saúde Pública/Epidemiologia de do Sul – PUC/RS e pela Sociedade Brasi- pela Escola Nacional de Saúde Pública da leira de Geriatria e Gerontologia SBGG/AMB. Fundação Oswaldo Cruz (2003). Atualmen- Graduado em Medicina pela Universidade do te é professora adjunta do Departamento de Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 1989), mes- Saúde Pública e do Programa de Pós-Gra- tre em Ciências da Computação pela Uni- duação em Saúde Coletiva da Universidade versidade Federal de Santa Catarina (UFSC, Federal de Santa Catarina (UFSC). É coor- 2002) e doutor em Informática na Saúde UNI- denadora do estudo Epifloripa Idoso, que FESP – Universidade Federal de São Paulo/ acompanha as condições de vida e saúde de UNIFESP (2007). Atualmente, é professor de uma coorte de idosos residentes em Floria- Geriatria e Medicina Preventiva da Universi- nópolis. Tem experiência na área de Saúde dade do Sul de Santa Catarina. Tem experiên- Coletiva, com ênfase na área de Epidemio- cia na área de Medicina, com ênfase em Ge- logia, atuando principalmente nos seguintes riatria, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde da mulher e saúde do idoso. temas: geriatria, gerontologia, informática, envelhecimento prevenção e interação. Endereço do currículo na plataforma lattes: <http://lattes.cnpq.br/6737249218821383>. Endereço do currículo na plataforma lattes: <http://lattes.cnpq.br/9125363765724910>.628
Homens e atenção à saúde no trabalho Fabrício Augusto Menegon Lizandra da Silva MenegonRodrigo Otávio Moretti PiresDouglas Francisco Kovaleski UFSC 2018
Homens e atenção à saúde no trabalho Fabrício Augusto Menegon Lizandra da Silva MenegonRodrigo Otávio Moretti PiresDouglas Francisco Kovaleski Florianópolis UFSC / 2018 1ª edição atualizada
Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074 U588p Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância. Homens e atenção à saúde no trabalho [recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Fabrício Augusto Menegon [et al.] (Organizadores). — 1. ed. atual. — Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. 68 p. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Saúde do trabalhador. Doenças e acidentes relacionados ao trabalho. Ações de saúde do trabalhador na atenção básica.. ISBN: 978-85-8267-088-0 1. Saúde do homem. 2. Prevenção de doenças. 3. Doenças do trabalho. I. UFSC. II. Menegon, Fabrício Augusto. III. Menegon, Lizandra da Silva. IV. Pires, Rodrigo Otávio Moretti. V. Kovaleski, Douglas Francisco. VI. Título. CDU: 613.9632
CréditosGOVERNO FEDERALPresidente da RepúblicaMinistro da SaúdeSecretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na SaúdeUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAReitor: Ubaldo Cesar BalthazarVice-Reitora: Alacoque Lorenzini ErdmannPró-Reitora de Pós-graduação: Hugo Moreira SoaresPró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto SoaresPró-Reitor de Extensão: Rogério Cid BastosCENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDiretora: Celso SpadaVice-Diretor: Fabrício de Souza NevesDEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICAChefe do Departamento: Fabrício Augusto MenegonSubchefe do Departamento: Maria Cristina Marino CalvoEQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDECoordenador: Francisco Norberto Moreira da SilvaCoordenadora substituta: Renata Gomes SoaresASSESSORES TÉCNICOSKátia Maria Barreto SoutoCícero Ayrton Brito SampaioMichelle Leite da SilvaCaroline Ludmila Bezerra GuerraPatrícia Santana SantosJuliano Mattos RodriguesThiago Monteiro Pithon 633
COORDENADORA DO PROJETO REVISÃO DE CONTEÚDO Elza Berger Salema Coelho Revisor interno: Antonio Fernando Boing COORDENADORA DO CURSO Revisores externos: Sheila Rubia Lindner Helen Barbosa dos Santos Igor Claber COORDENADORA DE ENSINO Deise Warmling ASSESSORIA PEDAGÓGICA Márcia Regina Luz COORDENADORA EXECUTIVA Gisélida Garcia da Silva Vieira ASSESSORIA DE MÍDIAS Marcelo Capillé COORDENADORA DE TUTORIA Carolina Carvalho Bolsoni DESIGN INSTRUCIONAL Soraya Falqueiro EQUIPE DE PRODUÇÃO EDITORIAL Larissa Marques IDENTIDADE VISUAL E Sabrina Faust PROJETO GRÁFICO Pedro Paulo Delpino EQUIPE EXECUTIVA Patrícia Castro ADAPTAÇÃO DO PROJETO Rosangela Leonor Goulart GRÁFICO E REDIAGRAÇÃO Sheila Rubia Lindner Laura Martins Rodrigues Tcharlies Schmitz ESQUEMÁTICOS CONSULTORIA TÉCNICA Tarik Assis Pinto Eduardo Schwarz REVISÃO DE LÍNGUA AUTORIA DO MÓDULO PORTUGUESA E ABNT Fabrício Augusto Menegon Eduard Marquardt Lizandra da Silva Menegon Rodrigo Otávio Moretti Pires Douglas Francisco Kovalesk634
Apresentação do móduloEste módulo tem por objetivo colocar das tradicionais teorias da segurançavocê em contato com aspectos teóricos e higiene ocupacional, compreendendoe históricos da saúde do homem traba- a centralidade do trabalho na vida daslhador, com a legislação brasileira em pessoas e no desenvolvimento de suassaúde do trabalhador, com a Política Na- potencialidades.cional de Saúde do Trabalhador e da Tra-balhadora e com a discussão sobre os Veremos que, no entanto, caminhar poraspectos mais relevantes relacionados à essa perspectiva nos obriga a rompersaúde do homem no trabalho. com certos paradigmas e preconceitos historicamente construídos e socialmen-As transformações observadas nos mo- te legitimados. Exemplo disso é a noçãodos de produção e nos padrões de con- de “ato inseguro” ou de “falha humana”,sumo da sociedade, principalmente das como fatores explicativos da ocorrênciaúltimas décadas do século XX até os dos acidentes de trabalho. Percebere-dias de hoje, condicionaram o homem a mos que, na maioria das vezes, a ocor-novas formas de trabalhar e de se orga- rência destes eventos é circunstanciadanizar no trabalho. Veremos, assim, que por fatos pregressos acumulados aomais do que fonte de renda, o trabalho longo do tempo, “democratizando” o ris-desempenha papel central na determina- co entre aqueles que trabalham, e culmi-ção da saúde e da doença. Além disso, nando num desfecho negativo: o aciden-detalhamos como e por que as doenças te em si. Neste contexto, o homem atuarelacionadas e os acidentes de trabalho ajustando os sistemas e absorvendo asdevem ser encarados como importante variabilidades, condições frequentemen-demanda referente à saúde do homem. te desconsideradas no planejamento das tarefas de trabalho.A saúde do trabalhador, enquanto cam-po de conhecimento, se preocupa em A implementação da Rede Nacional deanalisar, avaliar e intervir na relação saú- Atenção Integral à Saúde do Trabalhadorde-trabalho, utilizando metodologias de (Renast) é a estratégia recente para abase quantitativa e qualitativa para mer- efetivação da atenção integral à saúdegulhar na imbricada relação entre o mun- do trabalhador, e tem por objetivo inte-do do trabalho e a saúde humana. Tam- grar a rede de serviços do Sistema Únicobém, procura lançar um olhar ampliado de Saúde (SUS) à assistência e à vigilân-sobre o tema, que avance para além cia em saúde do trabalhador, além da 635
notificação de agravos à saúde relacio- Este módulo busca trabalhar as ques- nados ao trabalho em rede de serviços tões envolvidas na saúde do homem sentinela. A Renast tem nos Centros de trabalhador mediante a Política Nacional Referência em Saúde do Trabalhador de Saúde do Trabalhador e da Trabalha- (Cerest) o polo irradiador de saberes e dora e o papel do profissional de saúde práticas relacionados à atenção à saúde frente a esta população. desta parcela significativa da população, congregando profissionais capacitados Objetivos de aprendizagem para o matriciamento e apoio às equipes para este módulo de saúde, principalmente as da Estraté- gia de Saúde da Família (ESF). Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os riscos à saúde, as Estes conhecimentos se voltam a uma doenças ocupacionais e do trabalho e as abordagem aplicada ao cotidiano da ações de saúde do trabalhador na Aten- saúde do trabalhador na Atenção Bási- ção Básica. ca (AB), instrumentalizando você, profis- sional do SUS, para a construção de um Carga horáriade estudo olhar mais fiel à dura realidade vivida nas recomendada para este módulo múltiplas dimensões da Saúde do Tra- balhador no Brasil, dotando-o de mais 30 horas instrumentos para cumprir o seu papel de agente de Estado, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do ho- mem trabalhador, e, por consequência, para a garantia de seu direito à saúde.636
Sumário 639Unidade 1 644Saúde do trabalhador1.1 A evolução do conceito de saúde ocupacional: da 652 658 medicina do trabalho à saúde do trabalhador 6611.2 Aspectos da legislação brasileira e políticas públicas em s 663 aúde do trabalhador 6681.3 Riscos à saúde do trabalhador 6721.4 Recomendação de leituras complementares 675 679Unidade 2Doenças e acidentes relacionados ao trabalho 6812.1 Doenças profissionais ou doenças ocupacionais 6902.2 Doenças no trabalho2.3 Acidente de trabalho 6912.4 Recomendação de leitura complementar 692 694Unidade 3Ações de saúde do trabalhador na Atenção Básica3.1 Recomendação de leitura complementarResumo do móduloReferênciasSobre os autores
UN1Saúde do trabalhador
Homens e atenção à saúde no trabalhoO trabalho é uma atividade humana que Uma questão apontada pelosacompanha o homem desde os primór- homens para a não procura pe-dios de sua existência. Por meio do tra- los serviços de saúde está liga-balho, o homem transforma o ambiente da a sua posição de provedor.em que vive e por ele é transformado. No Alegam que o horário do funcio-mundo do trabalho, as características fí- namento dos serviços coincidesicas, cognitivas e emocionais de cada com a carga horária do trabalho.pessoa são colocadas à prova em situa- Não se pode negar que na preo-ções dinâmicas que demandam troca cupação masculina a atividadede saberes e experiências acumuladas. laboral tem um lugar destacado,Quando trabalhamos, podemos desen- sobretudo em pessoas de baixavolver ações individuais com vistas a al- condição social o que reforça ocançar objetivos previamente estabeleci- papel historicamente atribuídodos. Essas ações individuais; no entanto, ao homem de ser responsáveltêm repercussão coletiva, pois nenhum pelo sustento da família. Aindaser humano está sozinho no planeta. que isso possa se constituir, emPortanto, toda ação de trabalho interfere muitos casos, uma barreira im-na vida e no trabalho de outras pessoas. portante, há de se destacar que grande parte das mulheres, deDessa forma, assumimos o trabalho todas as categorias socioeco-como componente central para a com- nômicas, faz hoje parte da forçapreensão da sociedade, da saúde, das produtiva, inseridas no mercadoformas de sociabilidade e dos modos de trabalho, e nem por isso dei-de produção da vida. Sendo o trabalho xam de procurar os serviços deessencial para a sobrevivência e tam- saúde (BRASIL, 2012).bém fator de reconhecimento e inclu-são social, ele marca a identidade das A relação entre o trabalho e a saúde/pessoas e está diretamente ligado à doença constatada desde a Antiguida-qualidade de vida. de, e exacerbada a partir da Revolução Industrial, nem sempre se constituiu emA temática relaciona-se diretamente com foco de atenção. No trabalho escravo oua Saúde do Homem na medida em que, no regime servil inexistia a preocupaçãosegundo a Politica Nacional de Atenção em preservar a saúde dos que eram sub-Integral à Saúde do Homem (PNAISH), metidos ao trabalho, pois este era consi- derado um castigo. 641
UN1 Saúde do trabalhador “Saúde do Trabalhador” é o termo usado para demarcar as ações de saúde relacionadas ao trabalho, e constitui um campo de estudo e atuação onde uma ampla gama de profissionais deve atuar de forma multidisciplinar. As relações entre trabalho e saúde têm sua origem e segui- mento em cenários políticos e sociais (MEN- DES; DIAS, 1991). O processo saúde-doença dos trabalhadores, como e por que adoecem e morrem, e como são organizadas e atendidas suas necessidades de saúde são construções sociais que mudam em cada sociedade e mo- mento histórico (DIAS, 2000). Para fazermos uma aproximação do da Psicopatologia do Trabalho para a campo da Saúde do Trabalhador, é ne- compreensão do conceito de saúde. cessário definir qual conceito de saúde estamos falando. O conceito de saúde A Fisiologia contribui com a noção de que proposto pela Organização Mundial da o organismo humano vive em um estado Saúde (OMS, 1947) entende-a como “um dinâmico, sendo importante observar que completo estado de bem-estar físico, a condição de saúde depende deste mo- mental e social e não apenas a ausência vimento. O corpo deve ter movimentos de doenças”. Embora esse conceito já livres para o trabalho, evitando-se pos- tenha sido aprimorado pela própria OMS, turas rígidas e extremas. Aponta-se que traz a noção de um estado de saúde es- existem relações substanciais entre cor- tático, sem movimento, inerte, o que in- po e mente, demonstrando que cada pes- viabilizava atingir um “completo estado soa tem sua história, seu passado, suas de bem-estar”. experiências, sua família, e que ter saúde significa ter também desejo e esperança. Ora, o homem é um ser vivo em constan- te movimento. É impossível pensar num Importante! A Psicopatologia do Tra- estado de bem-estar que desconsidere balho aponta o trabalho como um essa característica da natureza huma- elemento fundamental para a saúde, na. Dejours (1986), ao criticar o conceito sendo a organização do trabalho o proposto pela OMS, destaca a contribui- aspecto de maior impacto no funcio- ção da Fisiologia, da Psicossomática e namento psíquico.642
Homens e atenção à saúde no trabalhoA redefinição do conceito de saúde da superação do conceito da OMS, pois ma-OMS proposta por Dejours (1986, p. 11) foi: terializa a saúde na vida das pessoas e coloca o trabalho em papel de destaque, A saúde para cada homem, valorizando assim a saúde do trabalha- mulher ou criança é ter meios dor. Devemos lembrar que a questão do de traçar um caminho pessoal homem no trabalho tem especificidades e original, em direção ao bem- diferentes em relação ao mundo do tra- -estar físico, psíquico e social. balho das mulheres. Isso demanda um Para o bem-estar físico é preci- enfoque distinto para a abordagem da so a liberdade de regular as va- saúde do trabalhador e da trabalhadora riações que aparecem no esta- pelos profissionais de saúde. do do organismo. O bem-estar psíquico é, simplesmente, a li- O trabalho também apresenta diferentes berdade que é deixada ao dese- definições. Adotamos a definição de Ab- jo de cada um na organização bagnano (1999, p. 964), que afirma: de sua vida. O bem-estar social é a liberdade de se agir indivi- o trabalho representa a ativida- dual e coletivamente sobre a or- de cujo fim é utilizar as coisas ganização do trabalho, ou seja, naturais ou modificar o ambien- sobre o conteúdo do trabalho, te e satisfazer as necessidades a divisão das tarefas, a divisão humanas. dos homens e as relações que mantêm entre si. A capacidade humana de executar o tra- balho foi chamada de força de trabalho.O conceito de saúde que pauta nosso en- A força de trabalho enquanto capacidadetendimento e as ações no Brasil, chama- de realizar trabalho físico e psíquico pelodo conceito ampliado de saúde, conside- homem adquiriu a dimensão de valorra que a saúde é influenciada por fatores econômico e social. Enquanto valor eco-condicionantes e determinantes, como o nômico, a força de trabalho pode ser tro-acesso à alimentação, condições de mo- cada por salário e constituir-se em umaradia, saneamento básico, meio ambien- mercadoria.te, condições de trabalho, renda, níveleducacional, atividade física, meios de Mercadoria > é tudo aquilo que é co-transporte, acesso ao lazer e aos bens locado no mercado para ser vendido.e serviços essenciais para a vida (BRA-SIL, 1990). Dessa forma, há uma visível 643
UN1 Saúde do trabalhador Para Braverman (1980, p. 55), o trabalho, Os objetivos da “Saúde no Trabalho” antes entendido como processo criador (OMS, 1975) incluem o aumento da ex- de valor útil para a sociedade, passou pectativa de vida, a minimização da in- a ser produto de exploração do capital, capacidade (doença, dor, desconforto), com o objetivo direto de expansão de ga- a realização pessoal, a criatividade e a nhos e criação do lucro. melhoria da capacidade mental e física. No estudo da Saúde do Trabalhador é Mendes (2003), analisando a “Doença no importante compreendermos o proces- Trabalho” inclui o estudo do agravo à saú- so de reestruturação produtiva que ocor- de ocasionado pelo exercício cotidiano reu ao longo dos últimos anos, e que ge- do trabalho. O conceito de doença tran- rou profundas transformações na forma sita entre o subjetivo e o objetivo, entre o de se trabalhar e de se viver. individual e o coletivo, entre o físico e o mental na história da humanidade. Esse A Reestruturação Produtiva ou capitalis- autor identifica duas dimensões das mo flexível foi um processo que se ini- doenças: a primeira seria a dimensão in- ciou na segunda metade do século XX e dividual, em que a ideia sobre o que é o que correspondeu ao processo de flexi- dano ou agravo à saúde sofre influência bilização do trabalho na cadeia produti- de valores culturais, de acordo com o ní- va. Está associada à Terceira Revolução vel de sensibilidade e idiossincrasias de Industrial, também chamada de Revolu- cada pessoa (o que pode ser agravo para ção Técnico-Científica Informacional, e um pode não ser para outro). A segunda é ao processo de implementação do Neoli- a dimensão populacional, que resulta das beralismo enquanto sistema econômico. dimensões individuais. Essa dimensão é socialmente fundamentada na dinâmica A flexibilização do trabalho > está de padrões culturais, econômicos, políti- relacionada à crise do sistema for- cos, científicos e do conhecimento. dista/taylorista de produção. Assim, 1.1 A evolução do conceito de saúde onde antes predominava o modo de ocupacional: da medicina do produção caracterizado pelo trabalho trabalho à saúde do trabalhador repetitivo executado pelo trabalhador e o processo de produção em mas- Veremos, a seguir, que a construção do sa de mercadorias, agora se pratica conceito de saúde do trabalhador se dá a flexibilidade do trabalho, em que o por meio de um processo de amadure- mesmo empregado executa variadas cimento do entendimento sobre os im- funções no ambiente da empresa.644
Homens e atenção à saúde no trabalhopactos do trabalho na saúde do homem. ao mesmo tempo em que a periculosi-Para descrever mais claramente por que dade das máquinas era responsável poro trabalho pode ser fonte de adoecimen- mortes e mutilações (MINAYO-GOMEZ;to, é necessário romper com pragma- THEDIM-COSTA, 1997).tismos téorico-práticos saturados e in-suficientes. A este processo somam-se Trabalhador “livre” > O termo livre,novas teorias que analisam o trabalhode maneira mais ampliada. entre aspas, enfatiza uma liberdade condicionada: a única opção era sub-1.1.1 A medicina do trabalho meter-se ao processo de trabalho tal qual estava configurado, não restan-A medicina do trabalho surge na Ingla- do a este homem a opção da escolhaterra, na primeira metade do século XIX, sobre como, onde e quando produzir.com a Revolução Industrial. Naquelemomento, o consumo da força de tra- As propostas de intervenção estatal nasbalho, resultante da submissão dos tra- indústrias expressavam uma sucessãobalhadores a um processo acelerado e de normatizações e legislações na Ingla-desumano de produção, exigiu uma in- terra. A presença de um médico no inte-tervenção, sob pena de tornar inviável a rior das unidades fabris representava umsobrevivência e reprodução do próprio esforço em detectar os processos dano-capitalismo (MENDES; DIAS, 1991). sos à saúde e um aliado do empresário para recuperação do trabalhador, visan-Com o advento da Revolução Industrial, o do seu retorno à linha de produção. Ins-trabalhador, “livre” para vender sua força taurava-se assim a Medicina do Trabalho,de trabalho, tornou-se presa da máquina, com suas características, em grande me-de seus ritmos, do processo de produção dida, mantidas até hoje: sob uma visãoque visava apenas à acumulação rápida eminentemente biológica e individual, node capital e ao máximo aproveitamento espaço restrito da fábrica, buscam-se asdos equipamentos, antes de se tornarem causas das doenças e acidentes (MINA-obsoletos. As jornadas extenuantes em YO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997).ambientes extremamente desfavoráveisà saúde às quais se submetiam homens, A Medicina do Trabalho orienta-se pelamulheres e crianças eram incompatíveis unicausalidade: para cada doença, umcom a vida. A aglomeração humana em agente causador. Transplantada para oespaços inadequados propiciava a proli- trabalho, essa perspectiva isola riscos es-feração de doenças infecto-contagiosas, pecíficos e atua sobre suas consequên- 645
UN1 Saúde do trabalhador cias, medicalizando em função de sinais trabalhador e seus familiares à indústria e sintomas associados a uma doença (MENDES; DIAS, 1991). legalmente reconhecida. Como as doen- ças originadas no trabalho são percebi- A relação entre trabalho e doença foi das geralmente em estágios avançados, estabelecida por Ramazzini, para 50 pro- torna-se difícil identificar os processos fissões, no clássico livro De Morbis Arti- que as geraram sob essa perspectiva ficum Diatriba (“As Doenças dos Traba- reducionista. Outro papel importante da lhadores”), publicado em Módena, Itália, Medicina do Trabalho é a detecção de em 1700. Este médico viveu de 1633 a doenças na seleção da força de trabalho, 1714, sendo considerado o “Pai da Medi- um recurso para impedir o recrutamento cina do Trabalho”. de indivíduos com problemas de saúde que possam ser percebidos, dentre tan- Uma contribuição da obra de Ramazzini tas outras características (MINAYO-GO- foi sua visão sobre a determinação so- MEZ; THEDIM-COSTA, 1997). cial da doença, mostrando a necessida- de do estudo das relações entre o estado Figura 1 – A revolução industrial transformou as de saúde de uma dada população e suas relações de trabalho condições materiais de vida, que são determinadas pela sua posição social e pelos os fatores que agem nos coletivos e nos indivíduos. Fonte: Fotolia A abordagem utilizada por Ramazzini in- clui a visita ao local de trabalho e entre- A implantação de serviços de medici- vistas com trabalhadores. À abordagem na do trabalho baseados no modelo da clínico-individual, Ramazzini agregou a unicausalidade rapidamente se expan- prática da história ou anamnese ocupa- diu por outros países além da Inglaterra, cional. Outra área na qual esse médico assim como para os países capitalistas deixou sua contribuição foi a da sistema- periféricos em função da transnaciona- tização e classificação das doenças segu lização das economias. Esses serviços do a natureza e o nexo com o trabalho. funcionavam para controlar e atrelar o As contribuições de Ramazzini conti- nuam válidas até hoje, e são aprimoradas de acordo com o desenvolvimento de no- vas tecnologias de cuidado e diagnóstico.646
Homens e atenção à saúde no trabalho1.1.2 A saúde ocupacional vés do controle do tempo e movi- mentos, pelo cronômetro tayloristaHistoricamente, o capitalismo incorpo- e produção em série fordista (AN-rou o trabalho da mulher, o infantil e o TUNES, 1995, p. 17).da juventude desde o primeiro ciclo daRevolução Industrial, na Inglaterra, como O fordismo e o taylorismo, que predo-forma de ampliar a exploração, e aumen- minaram em grande parte da indústriatar a mais-valia, o que aumenta os ga- capitalista, apresentam ainda comonhos dos empresários. No início do sécu- característica a separação sistemáticalo XX são implantadas modificações dos entre quem pensa e quem executa o tra-processos de trabalho para ampliação balho. Dessa forma, observam-se tarefasda mais-valia, como o fordismo e a admi- parceladas, repetitivas e alienantes, quenistração científica do trabalho de Taylor. caracterizam o advento da organização funcional da indústria (setores, gerênciasO fordismo, como maneira de organiza- e departamentos) (ANTUNES, 1995). Es-ção do trabalho, surge em 1914, quando truturou-se, enfim, o novo sistema deHenry Ford introduz a jornada de oito ho- reprodução da força do trabalho com aras a cinco dólares de recompensa para sociedade do consumo em massa.o trabalho em linha de montagem, e seexpande pelo setor produtivo. Apresen- Mais-valia > é uma expressão criadatando momentos de diferenciação em por Karl Marx no âmbito da Econo-seu desenvolvimento, pode-se dizer queo mia, e significa parte do valor da forçafordismo atinge a maturidade no perío- de trabalho assalariada e que não édo imediato ao pós-guerra, persistindo remunerado pelo patrão.até 1973. Sobre esse período, Antunes(1995) chama a atenção para o seguinte: Fordismo > refere-se ao modelo de produção em massa de um produ- O fordismo pode ser compreendido, fundamentalmente, como a forma to, ou seja, uma linha de produção pela qual a indústria e o processo onde cada trabalhador realiza uma de trabalho consolidaram-se ao ação específica. O Fordismo foi cria- longo deste século [...], e cujos ele- do pelo norte-americano Henry Ford, mentos constitutivos básicos eram em 1914, revolucionando o mercado dados pela produção em massa, automobilístico e industrial da época. através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos; atra- Taylorismo > tem como base a frag- mentação do processo de trabalho, em que cada trabalhador realiza uma atividade específica no sistema in- dustrial. A organização passa a ser sistematizada e o tempo de produção passa a ser cronometrado. 647
UN1 Saúde do trabalhadorA tecnologia industrial evoluiu de forma cas sociais e de emprego afinadas àsacelerada com o desenvolvimento de no- exigências de produtividade e lucrati-vos processos industriais, novos equipa- vidade das empresas sob controle dasmentos e com o rearranjo de uma nova divi- mesmas. Essa intervenção regulacio-são internacional do trabalho. Entre outros nista, longe de ser universal, é voltadadesdobramentos deste processo, a me- unilateralmente para a força de traba-dicina do trabalho mostra-se insuficiente lho economicamente ativa e inseridapara intervir sobre os problemas de saúde no sistema produtivo (ABRAMIDES; CA-causados pelos processos de produção. BRAL, 2003).Cresce a insatisfação e o questionamen-to dos trabalhadores e dos empregadores, Considerando a intervenção do Estadoonerados pelos custos ocasionados pelos no processo de expansão do capitalis-agravos à saúde dos trabalhadores. mo é que podemos definir o surgimento das ações de Saúde Ocupacional. Veja aDurante esse processo de expansão do seguir como isso foi definido pelo Comi-capitalismo, o Estado desenvolve políti- tê Misto da OIT-OMS, em 1950. A SAÚDE OCUPACIONAL DEVERIA TER COMO FOCO: a promoção e manutenção do mais alto grau de bem-estar físico, mental e social em todas as ocupações; a prevenção, entre os trabalhadores, de distanciamentos da saúde causados pelas condições de trabalho; a proteção dos trabalhadores em seus empregos de riscos resultantes de fatores adversos para a saúde; a colocação e manutenção do trabalhador num ambiente de trabalho adaptado aos seus equipamentos fisiológicos. Para resumir: a adaptação do trabalho ao homem e cada homem à sua atividade (MENDES; DIAS, 1991).648
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