Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemPara iniciar o estudo desta etapa, é im- possível aos profissionais tornarem suasportante lembrar que a partir da criação práticas mais qualificadas e avançaremda Política Nacional de Atenção Integral em direção ao acesso e acolhimento,à Saúde do Homem (PNAISH), em 2009, rumo a uma atenção integral à saúde docomeçou-se a buscar o fortalecimento homem no âmbito da atenção básica.da assistência ao homem, a garantia doacesso e a qualidade da atenção para o 2.1 O cuidado em saúde natratamento de agravos, além da preven- população masculinação de doenças e promoção da saúde,sob uma perspectiva integral de cuidado. Para iniciar o diálogo sobre o cuidado em saúde da população masculina, é im-Como temos ressaltado, a PNAISH está portante termos clareza sobre qual cui-alinhada com a Política Nacional de dado estamos falando. O cuidado é algoAtenção Básica (PNAB). Desta forma, que se produz no próprio ato de cuidar epara o acesso, o acolhimento e o atendi- se estabelece nas relações entre usuá-mento às necessidades em saúde da po- rios e profissionais de saúde. O cuidadopulação de homens foi priorizada a aten- apresenta-se enquanto um processo re-ção básica (AB) com foco na Estratégia lacional complexo, multifacetado e plu-Saúde da Família (ESF), como portas de ral, que se constitui a partir de olharesentrada principais. e significações diversas. Essa definição de cuidado está associada ao conceitoA partir da compreensão dos aspectos de saúde adotado pelo SUS, o qual estásocioculturais e político-econômicos expresso na Lei nº 8080/90:que influenciam nas especificidades emsaúde da população masculina, e em Os níveis de saúde expressam aconsonância com as estratégias de hu- organização social e econômi-manização, a PNAISH emerge no senti- ca do País, tendo a saúde comodo de reconhecer as especificidades em determinantes e condicionan-saúde da população masculina enquan- tes, entre outros, a alimentação,to uma questão relevante e que precisa a moradia, o saneamento bási-ser observada com a devida atenção pe- co, o meio ambiente, o trabalho,los profissionais das equipes de saúde. a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e oPara a consolidação da PNAISH, é preci- acesso aos bens e serviços es-so compreender os contextos nos quais senciais (BRASIL, 1990).estão imersos os homens, para que seja 151
UN2 O acolhimento dos homens na atenção básicaPara que se contemple a complexidade procurar por atendimento em saúde.deste conceito ampliado de saúde, o Outros motivos identificados indicam oexercício do cuidado necessita ser mais medo de terem uma doença grave diag-que um momento de atenção e zelo. É nosticada, e também o horário de funcio-preciso que se estabeleça entre o profis- namento da UBS, que choca com o horá-sional e o usuário uma relação de preo- rio de trabalho (VIEIRA et al., 2013).cupação, responsabilização e desenvol-vimento afetivo mútuo. A influência das masculinidades hege- mônicas também aparecem como umA PNAISH enfatiza a necessidade de fator para a não procura dos serviços demudanças de paradigmas relativas à saúde, em especial os da atenção bási-percepção da população masculina a ca, que possui enfoque preventivo e derespeito do cuidado com a sua saúde. promoção da saúde. Esta representaçãoAssim, é essencial que os serviços pú- é predominante na sociedade, quer sejablicos de saúde sejam organizados para entre os usuários homens, quer seja en-acolher e fazer com que o homem sinta- tre os profissionais do setor da saúde-se parte integrante destes. (FIGUEIREDO, 2005). Importante! Embora a PNAISH tenha Masculinidades hegemônicas > Tra- como porta de entrada os serviços duz-se na representação de uma de atenção básica, conforme preco- imagem de força, virilidade, sexua- nizado pela PNAB, os serviços es- lidade instintiva e autossuficiência, pecializados de atenção secundária que oculta a vulnerabilidade do ho- e terciária ainda são onde ocorrem mem e influencia na capacidade de os principais acessos da população falar sobre suas necessidades de masculina aos serviços de saúde saúde (BRASIL, 2008). (BRASIL, 2008).Para se compreender por que os homens Uma vez que essas características dasentre 20 e 59 anos procuram menos os masculinidades têm pouca afinidade comserviços de saúde (e, consequentemen- os sentimentos que muitas vezes acom-te, cuidam menos da sua saúde), foi reali- panham a procura por assistência, taiszado um estudo em uma Unidade Básica como medo, insegurança e ansiedadede Saúde (UBS) do Sul do Brasil. Nesta (que se aproximam do papel social atri-pesquisa, constatou-se que um dos mo- buído ao feminino), obtém-se como efeitotivos é o fato de se sentirem saudáveis, a menor procura pelos serviços de saúde.o que os deixa até 10 anos ou mais sem Isso faz com que homens adoeçam pre-152
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemcocemente, uma vez que, no desempe- A identidade do homem no contexto so-nho das características daquilo que acre- ciocultural brasileiro posiciona-o como oditam e que é socialmente aceito como responsável pelo provimento financeiromasculinidades, acabam dando pouca da família. Dentre as constatações daatenção às suas condições, pois não que- PNAISH está que os homens tendemrem passar a imagem de fragilidade, indi- a buscar os serviços de saúde apenascada pela doença nesse contexto. quando perdem sua capacidade produ- tiva no trabalho. Em função da relevân-A partir de uma perspectiva de gênero, as cia do trabalho para os homens em ge-doenças passam a ser entendidas como ral, eles têm medo de descobrir algumauma combinação de efeitos biológicos doença que os impossibilite de exercere socioculturais. As questões de gênero suas atividades como provedor da famí-influenciam nos riscos a que os homens lia. Logo, eles passam a não considerarexpõem sua saúde, uma vez que interfe- a possibilidade de adoecer, motivo orem na forma com a qual eles percebem qual os deixa menos sensíveis às polí-e utilizam seus corpos, caracterizan- ticas saúde. Dessa forma, o tempo dedo-se como determinantes sociais em diagnóstico precoce e prevenção é mui-saúde que devem ser observados para a tas vezes perdido, ocasionando necessi-qualificação da assistência e do cuidado dades em saúde mais complexas.(SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005). Gênero > O conceito de gênero é so- Importante! Quando estão estrutura- cialmente construído, e refere-se à das e organizadas adequadamente, organização das relações sociais e as equipes de saúde da família têm econômicas entre os sexos, espe- no âmbito da atenção básica resolu- cialmente na divisão do trabalho e do tibilidade de 85% das necessidades poder (GÓMEZ, 2011). de saúde da sua população adscrita (BRASIL, 2008).Para a definição da categoria de gêne- A atenção básica, enquanto nível dero enquanto um determinante social de atenção que deve ser a porta de entradasaúde, não se trata apenas da diferen- do sistema de saúde, precisa reconhecerciação do sexo biológico, mas sim dos também a população masculina comopapéis que são definidos sociocultural- um grupo que necessita de atenção inte-mente para homens e mulheres. gral à saúde. A partir das características sociais e epidemiológicas dos homens, 153
UN2 O acolhimento dos homens na atenção básicaos profissionais da saúde devem estar zar também demandas que são dos ho-atentos e receptivos para desenvolver mens. Entretanto, verifica-se que a faixaações que acolham também o público etária da população masculina que maismasculino, tal como já ocorre em outros acessa essas ofertas nas Unidades Bá-segmentos populacionais, como mulhe- sicas de Saúde (UBS) corresponde aosres, crianças, adolescentes e idosos. idosos, permanecendo ainda alheia aos serviços a parcela de jovens e adultos.Figura 5 - Construção de ações voltadas à saúde A baixa frequência da população mascu-do homem lina nos serviços de saúde, em especial na atenção básica, além de onerar a so-Fonte: Fotolia ciedade pela maior procura aos níveis de atenção especializada, com maior custo, sobrecarregam também emocionalmen- te as famílias que estão envolvidas. Para que você, profissional, possa ampliar o olhar sobre esta questão, a saúde do homem precisa ser destacada também como relevante, num movimento de pro- moção da igualdade de gênero, enquan- to direito humano.Para auxiliar na compreensão do motivo O público masculino possui especificida-pelo qual a oferta de serviços direcio- des em saúde permeadas por processosnados à população masculina ainda é sociais que exigem um olhar profissionalum desafio para as equipes de saúde, é mais atento. A taxa mais elevada de mor-relevante refletir sobre a forma de orga- bimortalidade masculina é apenas umnização da atenção básica. Esta esteve parâmetro a ser observado para o cui-historicamente estruturada em torno de dado na saúde do homem. É importantequestões relativas à saúde materno-in- que outros aspectos sociais e culturaisfantil. Apenas por meio de alguns progra- sejam considerados e se tornem visí-mas para doenças crônicas, tais como o veis as vulnerabilidades em saúde, comHiperdia para hipertensos e diabéticos, vistas à consolidação de um modelo dealém das campanhas de prevenção do atenção integral (LEVORATO et al., 2014).câncer de próstata, passaram a priori-154
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homem Considerando estes aspectos, de que ele existe ou não. Sendo o acolhimento modo você, profissional, em conjunto um processo relacional, este se define com a sua equipe, pode analisar os menos enquanto conceito e mais nas principais temas relacionados à si- práticas concretas de saúde pelas quais tuação em saúde do homem no seu se consolida (BRASIL, 2013). território?Para que seja possível qualificar a aten- Em consonância com a Política Nacio-ção à saúde do homem, é preciso que nal de Humanização, o acolhimento deveos profissionais estejam atentos ao con- partir de uma postura ética assumida pe-texto social e epidemiológico, e também los profissionais da equipe, que, ao teremarticulados como equipe, para planeja- contato com o usuário, devem colocá-larem ações específicas às necessidades em prática, compartilhando saberes, an-em saúde que os homens apresentam. gústias e decisões sobre as intervençõesA fim de colaborar com o enfrentamento de saúde a serem adotadas. Chamamosdeste desafio, o próximo tópico abordará a atenção para o fato de que acolher não éo acolhimento como um instrumento po- apenas ser educado e tratar bem o usuá-tente para a aproximação da população rio, pois além de civilidade e respeito, omasculina e para a promoção da aten- acolhimento pressupõe que seja assumi-ção integral à saúde. da a responsabilidade de se adotar a me- lhor resolubilidade para o caso atendido.2.2 O acolhimento na saúde Importante! O acolhimento se dis- do homem tingue da triagem, pois tem como finalidade a inclusão, que vai alémEm uma perspectiva de cuidado integral,tanto o acesso aos serviços de saúde da recepção. O ato de acolher pres-como o acolhimento se articulam como supõe uma aproximação em relaçãodimensões relevantes das práticas em a alguém. É nesse sentido que asaúde a serem asseguradas. O acolhi- PNH propõe o acolhimento, ou seja,mento pode ser definido pela postura no compromisso de envolver-se eassumida nas relações de cuidado, nos potencializar os protagonismos dosencontros entre usuários e profissionais sujeitos, acolhendo-os nas suas di-de saúde. Existem formas variadas de ferenças, dores, alegrias, modos deacolhimento, sendo válido analisar como vida, sentir e estar na vida.este se dá nos diferentes contextos, nãobastando simplesmente considerar se O acolhimento não se restringe à recep- ção, ele só acontece quando é adotado por toda a equipe como parte do proces- so de produção de saúde, podendo ser 155
UN2 O acolhimento dos homens na atenção básica trabalhado em todos os encontros nos relação às necessidades dos usuários, serviços de saúde. O acolhimento se es- deve acontecer em todo e qualquer es- tabelece como uma forma de reconhe- paço de encontro no qual a atenção à cer a capacidade de todos os membros saúde se realize, e não apenas na porta de uma equipe para atuarem sobre os de entrada do sistema. problemas de saúde, exercendo a ativi- dade dentro de suas competências pro- A perspectiva do acolhimento, não como fissionais específicas, em um trabalho uma atividade específica, mas como prá- centrado no usuário. tica de toda e qualquer atividade assis- tencial, possibilita ao usuário transitar Dessa forma, o acolhimento deve ser em diferentes espaços da rede de saúde, compreendido e trabalhado como um consistindo em um processo contínuo processo de encontro entre indivíduo, de investigação, elaboração e negocia- família, comunidade e trabalhadores de ção das necessidades de saúde. saúde, capaz de colocar em prática, na atenção à saúde, a integralidade, a equi- O acolhimento precisa ter continuidade dade e a resolubilidade. mediante a construção de uma rede de conversação, efetivada por meio do ser- O acolhimento, como processo de cons- viço de saúde, e ao longo da qual são de- trução do vínculo, humanização da aten- finidas as trajetórias que cada usuário e ção em saúde e escuta qualificada em sua família necessitam na busca de sa- tisfação para suas demandas. Ou seja:Figura 6 - A importância do acolhimento adequado dos usuários quando desenhado na atuação da equi- pe, este processo orienta a organização do atendimento para responder adequa- damente às necessidades identificadas.Fonte: Fotolia Nos serviços de saúde, o acolhimento tem o potencial de transformar as rela- ções entre usuários e profissionais e na maneira com que a população tem aces- so aos cuidados em saúde. É um espaço no qual pode haver a informação e orien- tação sobre as ações disponíveis, de modo a atender o homem integralmente (CAVALCANTI et al., 2014).156
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homem Importante! O trabalho em equipe fa- tando o usuário como sujeito portador e vorece a contribuição dos diferentes criador de direitos. saberes, o que não deve eliminar o 2.3 Dispositivos do acolhimento e caráter particular de cada profissional estratégias de aproximação do ou de cada profissão, pois todos de- homem ao cuidado em saúde vem participar de modo a articular um campo que assegure saúde à popula- O vínculo e o acolhimento são dispositi- ção e realização pessoal aos trabalha- vos que favorecem aos homens a percep- dores (CAMPOS, 2003). ção das suas necessidades em saúde. A partir do reconhecimento pelos profissio-Como trabalhadores da saúde, devemos nais das especificidades da saúde do ho-receber os usuários de modo a conhecê- mem, assim como do estabelecimento de-los pelo nome, procurando saber os mo- ações para atendê-las, sob uma perspec-tivos de sua vinda à unidade. O simples tiva de cuidado continuado e integral, osfato de darmos boas vindas já abre um serviços de saúde passam a ser tambémleque para o usuário relatar com confian- reconhecidos pelos homens como um es-ça suas reais necessidades de saúde. O paço onde podem encontrar assistência.atendimento deve ser do tipo dialogado,como uma técnica de conversa possível Em estudo feito na cidade de São Paulode ser realizada por qualquer profissio- (FIGUEIREDO, 2005), a discussão sobrenal, em qualquer momento de atendi- temas relativos às masculinidades e quemento – isto é, em qualquer um dos en- impactam na saúde específica destacontros, que são, enfim, os “nós” dessa população destacou-se como estraté-imensa rede de conversações que carac- gia de cuidado nas salas de espera dosterizam os serviços (TEIXEIRA, 2005). serviços de saúde, a partir de assuntos como violência, alcoolismo e paternida-Portanto, o acolhimento consiste na de. Tanto homens quanto mulheres dehumanização das relações entre traba- diferentes idades participaram destaslhadores e serviço de saúde para com conversas. Observou-se que eram temasseus usuários. O encontro entre esses de grande interesse da população e tam-sujeitos se dá num espaço onde se pro- bém relevantes para a criação de novasduz uma relação de escuta e responsa- práticas assistenciais. Estes momentosbilização, a partir do que se constituem tinham o objetivo de sensibilizar a popu-vínculos e compromissos que norteiam lação como um todo, sobre a importân-as ações para o cuidado em saúde. Esse cia da saúde do homem.espaço permite que o trabalhador usede sua principal tecnologia, o saber, tra- 157
UN2 O acolhimento dos homens na atenção básicaFigura 7 - O profissional de saúde planejando ações integrais Em uma pesquisa realizada no interiore integradas da Paraíba (CAVALCANTI et al. 2014), trabalhou-se com um grupo de homens existente na igreja da localidade, com o objetivo de conhecer os obstáculos para o acesso dos homens e traçar estraté- gias de superação para estes desafios. Encontraram-se como possibilidades: Possibilidades para aumentar o acesso dos homensFonte: Fotolia Ampliação do horário de atendimentoJá os grupos de educação em saúde Maior resolutividade das açõesdevem se realizar em um horário maisflexível, que não seja compatível com o Acolhimento caracterizado pelohorário de trabalho, para que os homens bom atendimentopossam participar. Nos grupos pode ha-ver trocas de experiência e discussão Comunicação por meio dasobre temas cruciais, que forem de inte- transmissão de informaçõesresse da equipe e dos participantes (FI- relevantes ao usuárioGUEIREDO, 2005). Para o chamamentodos participantes, a divulgação pode ser Estabelecimento de vínculo porfeita por meio dos Agentes Comunitários meio das visitas domiciliares ede Saúde (ACS) e demais profissionais fixação de profissionais nada equipe durante as atividades na UBS equipe de saúdee na comunidade; pela distribuição decartazes e panfletos informativos, bem Fonte: CAVALCANTI et al. 2014.como pela utilização das mídias locais,tais como rádios, jornais, informativos Todas essas estratégias estão direta-impressos, parceria com líderes comuni- mente relacionadas à humanização dotários, entre outros. atendimento, tornando esta um ponto crucial na qualificação do acesso.158
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemChamamos a atenção para o fato de que suem papel significativo na assistênciao estudo foi realizado em um grupo já integral à saúde do homem.existente, vinculado a um espaço coleti-vo local, no caso a igreja, que possuía em Os ACS são elos importantes entre asmédia 50 integrantes. Ressalta-se que unidades de saúde e a população, atuan-nem sempre as unidades de saúde pre- do na interlocução da marcação decisam criar grupos próprios; é possível consultas e exames, retirada de medi-se articular com iniciativas já existentes camentos, além da divulgação de quaisna comunidade, facilitando a adesão dos serviços estão disponíveis na UBS. Osparticipantes e o alcance do público-alvo. ACS também contribuem para a identifi- cação das necessidades da população, Importante! Não há um padrão ou levando a demanda à equipe e orientan- do os usuários sobre a procura da unida- protocolo a ser seguido, que segura- de de saúde. O enfermeiro também tem mente será efetivo em qualquer uni- um papel muito relevante, pois costuma dade de saúde. É preciso considerar prestar atenção individualizada desde os aspectos socioeconômicos e cul- o acolhimento às consultas e visitas turais, bem como a dinâmica de cada domiciliares. Este profissional, como local, juntamente com a avaliação de integrante da equipe de saúde da famí- quais recursos humanos e materiais lia, costuma participar do planejamento, estão disponíveis pela unidade. organização e execução das ofertas em saúde conforme as necessidades da co-Nesse contexto, as alternativas vistas cer- munidade (JULIÃO; WEIGELT, 2011).tamente servem para estimular que outraspossibilidades sejam criadas, a fim de con- Com a criação dos Núcleos de Apoio à Saú-tribuir com práticas cotidianas que visem de da Família (NASF), amplia-se o escopoà atenção integral à saúde do homem. e a oferta de serviços da atenção básica, o que pode contribuir de maneira valiosaEm função da predominância do aces- para o cuidado da população masculina.so dos homens aos serviços de urgên-cia e emergência, e menor frequência De acordo com a Política Nacional dena atenção básica, tende-se a ter maior Humanização (PNH), o processo de hu-reconhecimento pela figura do médico. manização constitui-se em qualificar osEm geral, estes usuários desconhecem serviços ofertados, articulando-se o aco-ações de prevenção e o papel dos de- lhimento com os avanços tecnológicosmais profissionais (CAVALCANTI et al. em saúde, promovendo a melhoria do2014). Entretanto, os demais profissio-nais da equipe de saúde da família pos- 159
UN2 O acolhimento dos homens na atenção básicaambiente de cuidado para o usuário e de mental para qualificar a assistência àtrabalho para os profissionais (BRASIL, saúde. É também relevante para o au-2004). mento da agilidade e resolutividade nos serviços de saúde (CAVALCANTI, 2014).Os profissionais, para que estejam pre-parados para o acolhimento e atendi- Importante! Quando há vínculo entremento integral, além de capacitados, o profissional e o usuário, os homensdevem problematizar a realidade da sua demonstram maior satisfação comcomunidade com usuários e gestores,a fim de propor estratégias inclusivas o serviço, indicando que foram bempara este público (VIEIRA et al. 2014). A acolhidos. Mesmo compreendendo-capacitação e a sensibilidade da equipe -se que o vínculo isoladamente nãopara o acolhimento e para a construção assegura o atendimento integral, con-da longitudinalidade do cuidado con- sidera-se que essa relação de aproxi-tribuem para que os homens se identifi- mação entre ambos é essencial paraquem como parte dos serviços de saúde, que se possa pensar em integralidadepotencializando o seu acesso (SILVA et (STORINO; SOUZA; SILVA, 2013).al., 2012). Compreende-se que quando oprofissional busca o usuário, promove-se 2.4 Recomendação de leiturasa aproximação entre ambos, estabelecen- complementaresdo-se o vínculo e a valorização do homemenquanto usuário dos serviços da aten- Para aprofundar seus estudos sobre oção básica (CAVALCANTI et al., 2014). acolhimento dos homens na atenção bá- sica, sugerimos as seguintes leituras: Longitudinalidade > Na Atenção Pri- BRASIL. Ministério da Saúde. Se- cretaria de Atenção à Saúde. Depar- mária à Saúde, longitudinalidade tamento de Atenção Básica. Aco- é empregada para significar “uma lhimento à demanda espontânea. relação pessoal de longa duração Cadernos de Atenção Básica, Brasí- entre os profissionais de saúde e os usuários em suas unidades de saúde” lia, n. 28, v. 1, 2013. Disponível em: (STARFIELD, 2002, p. 247). <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/acolhimento_deman da_espontanea_cab28v1.pdf>.Dessa forma, é importante lembrar que ALVES, R. F. et al . Gênero e saúde: oa humanização nos serviços de saúde é cuidar do homem em debate. Psico-caracterizada pelo acesso, acolhimento, logia teoria e prática. São Paulo, n.comunicação e construção de vínculo, 3, v. 13, dez. 2011. Disponível em:sendo uma estratégia efetiva e funda- <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/ v13n3/v13n3a12.pdf>.160
UN3A integralidade na atençãoà saúde do homem
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemPara a oferta de serviços e atendimento ambientes favoráveis. Isso torna possí-de qualidade, é fundamental uma discus- vel aos profissionais qualificarem suassão sobre a integralidade, considerando práticas e construírem vínculo com a po-a rede de atenção à saúde e as potencia- pulação masculina.lidades da relação profissional-usuário.O Sistema Único de Saúde (SUS) inclui 3.1 A integralidade no acessoa integralidade como um princípio para e acolhimentosua efetivação. Desta forma, o atendi-mento integral está presente nas políti- A integralidade é uma das diretrizes quecas de saúde como a PNAISH, de forma estruturam o Sistema Único de Saúdea responder as necessidades do homem. (SUS) e está centrada na reorientação das práticas de cuidado no cotidianoNeste contexto, a atenção básica torna- dos serviços. Essa diretriz emerge do-se um espaço importante para garantia contexto da reforma sanitária, com lutasda saúde integral do homem, uma vez que e movimentos sociais em prol da saúdeo ambiente é considerado pelo SUS como na década de 1980, que culminaram naporta de entrada do usuário. Desta forma, construção do SUS (LUZ, 2006).precisa-se pensar nas potencialidadese oportunidades, além da estrutura das A Política Nacional de Humanizaçãoinstituições de saúde, garantindo assim o (PNH) prioriza a integralidade e o acolhi-acesso, o acolhimento e um atendimento mento para a maior resolubilidade dasefetivo e resolutivo para os homens. necessidades dos usuários do SUS. A ideia da integralidade está relacionadaA PNAISH está alinhada com a Política ao acesso aos serviços de saúde, ouNacional de Humanização (PNH), trazen- seja, a qualidade que buscamos nosdo à atenção básica o desafio de incluir serviços de saúde deve ter como eixo oos homens de diferentes faixas etárias acesso adequado e oportuno às ações eem suas particularidades de gênero no serviços de saúde que tenham potênciaserviço de atenção à saúde. de responder às necessidades das pes- soas (BRASIL, 2007).Desta forma, para a consolidação daPNAISH é preciso compreender as fra- Como um dos fundamentos da atençãogilidades e as potencialidades do con- básica, a integralidade é ressaltada natexto masculino, a fim de proporcionar PNAB, sendo definida como: 163
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homem Integralidade conhecer as necessidades de saúde da comunidade que abrangem. Integração de ações programáticas e demanda espontânea A PNAISH apresenta a integralidade como meta e busca orientar as práticas Articulação das ações de de saúde com ações para a população promoção, prevenção, vigilância à masculina, primando pela humanização saúde, tratamento e reabilitação da atenção. Embora a integralidade seja um dos princípios norteadores do SUS, Trabalho interdisciplinar e em ainda há desafios para sua efetivação equipe nas práticas assistenciais cotidianas. Para a sua efetivação, é necessário co- Coordenação do cuidado na rede nhecer o contexto e a forma com que as de serviços pessoas vivem, levando-se estes fatores em conta para a estruturação do cuida- Fonte: Brasil, 2011. do. O espaço da atenção básica é rele- vante para a consolidação desta prática, Importante! Temos muitos sentidos pois é o nível de atenção mais próximo para a integralidade, mas indepen- do usuário do SUS e parte do reconhe- cimento do território para a organização dentemente destes, refere-se à im- dos serviços (MATTIONI; BUDÓ; SCHI- portância de tratar os sujeitos com MITH, 2011). suas particularidades e não como números ou marcadores de saúde, Território > O território no qual o ser- ampliando as formas de olhar para o viço está inserido é um espaço vivido, contexto em determinada situação ou no qual são travadas as relações so- para o usuário. ciais que dão sentido às característi- cas locais (SANTOS, 2001).Neste sentido, retomamos a ideia de É importante lembrar que uma formaque para garantir práticas de cuidado para atender o desafio da consolidaçãocom foco na integralidade, estas preci- da integralidade é potencializar o aces-sam ser pautadas por uma estrutura de so do usuário. A integralidade exige queorganização do processo de trabalho no você, enquanto profissional de saúde, re-cotidiano dos serviços, que necessitam conheça a variedade completa de neces- sidades relacionadas à saúde do usuário164
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homeme disponibilize os recursos para abor- informações e indicações quanto à saú-dá-las (Starfield, 2002). Para facilitar o de de outros homens envolvidos naqueleacesso, o SUS apresenta como estraté- espaço. Ou seja: as mesmas predisposi-gia organizacional a Estratégia Saúde da ções à doença que ocorrem no usuárioFamília (ESF), que propõe a reorientação específico também podem existir emdo modelo de atenção à saúde, historica- outros que vivem na mesma comunida-mente centrado na perspectiva da cura, de ou estão expostos às mesmas con-passando a constituir uma nova prática dições sociais, ambientais ou ocupacio-assistencial, construindo relações de nais (STARFIELD, 2002).vínculos entre os serviços de saúde e acomunidade. Desta forma, a ESF poten- Importante! O acolhimento e o vín-cializa o acesso, já que pode ir ao encon- culo aumentam a capacidade de setro do homem, no ambiente de trabalho, prestar uma assistência qualificada ede lazer, em casa, propondo atividades ecuidados para além do espaço físico das integral. Embora a atenção básica nãounidades de saúde. seja capaz de alterar isoladamente a atenção à saúde na rede assistencial,Figura 8 - Construção do vínculo entre usuário ela é a porta de entrada, e certamentee profissional impacta positivamente no acesso dos usuários e pela qualidade do atendi- mento quando é permeada por um olhar humanizado e integral (STORI- NO; SOUZA; SILVA, 2013).Fonte: Fotolia Em relação às estratégias de cuidado da saúde do homem, na atenção básicaAs interações e envolvimento entre pro- são comuns ações pontuais, tais comofissional e usuário que acontecem além campanhas para prevenção de IST/AIDS,da unidade não fornecem apenas dis- com distribuição de preservativos, e cam-cernimento quanto aos prováveis deter- panhas de prevenção do câncer de prós-minantes da má saúde; podem oferecer tata. Para que se alcance a integralidade do cuidado, essas estratégias devem ser complementadas por outras mais am- plas que considerem o acesso, a reso- lubilidade e a qualidade do atendimento efetuado por toda a rede de saúde. Sinalizamos a nota técnica conjunta do MS sobre o rastreamento do câncer de 165
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homempróstata nas leituras complementares nicípio da região Sul do Brasil, com odesta unidade, não deixe de ler. objetivo de se conhecer as formas de cuidado e a interface da integralidadeÉ preciso considerar que no Brasil a com essas práticas. Observaram-se ossaúde do homem vem sendo inserida seguintes aspectos do cuidado integral,lentamente na pauta da saúde pública. sob a perspectiva de saberes e práticas,Visto que as ações de saúde do homem elencando-se cinco eixos principais paramuitas vezes são baseadas em procedi- demonstrar os sentidos encontradosmentos e exames que reforçam a cen- sobre integralidade (MATTIONI; BUDÓ;tralidade da atenção no aparelho genital SCHIMITH, 2011):masculino, ainda é necessário discutircom as equipes de saúde e com a popu- • percepção de diferentes dimensões elação a incorporação da abordagem de da complexidade dos usuários;gênero no serviço de saúde e a atuaçãoda equipe a partir das particularidades • articulação das diferentes formas dedos homens que constroem aquela po- cuidar;pulação, que são pescadores, agricul-tores, empresários, pedreiros, mineiros, • identificação do atendimento das ne-entre outros. Para que se contemple o cessidades em saúde;atendimento integral, é importante va-lorizar a equipe multiprofissional, e não • esforço da equipe em produzir saúde;apenas a figura do médico. • cuidado direcionado a grupos especí- Você percebe como é preciso haver ficos. maior sensibilidade sobre a demanda do seu território? Percebe que para Para a percepção das diferentes dimen- isso precisa haver uma compreensão sões e da complexidade dos usuários, é ampliada dos aspectos diversos que preciso superar o modelo de atenção à influenciam o estado de saúde do saúde biologicista e cartesiano, que di- usuário atendido? Quando o profis- vide e reduz o indivíduo aos seus siste- sional tem um olhar ampliado sobre mas e aparelhos biológicos. Para o rom- o contexto da comunidade, ele pode pimento com esta lógica e o alcance de influenciar positivamente na capaci- visão integral, é preciso o exercício co- dade de resolução das necessidades tidiano estabelecido nas relações entre em saúde pelos serviços. profissional e usuário para o reconheci- mento e resolução da complexidade dasFoi realizado um estudo junto a uma demandas em saúde que levam o indi-equipe de saúde da família de um mu- víduo à busca por assistência. Devem também ser levados em conta, e inclu- sive registrados no prontuário, aspectos166
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemrelativos às relações sociais e condição além da equipe de saúde da famíliade vida e cultura do usuário atendido que recebeu a demanda. Desta for-(MATTIONI; BUDÓ; SCHIMITH, 2011). ma, podem ser mobilizados outros profissionais dos Núcleos de Apoio àCom relação à complexidade das neces- Saúde da Família (NASF) ou dos ou-sidades em saúde dos usuários, pode- tros níveis da rede de atenção à saú-mos exemplificar a partir de uma situa- de, tais como serviços de psicologiação de procura pelos serviços da atenção e assistência social”.básica, conforme descrito a seguir.“Uma usuária procura a UBS buscan- A problematização da realidade na qualdo ajuda para o marido, que é depen- os usuários estão inseridos potencializadente de álcool e para o filho que faz a efetividade das intervenções em saú-uso abusivo de drogas e abandonou de. A percepção sobre a complexidadeos estudos. A equipe de saúde da fa- do usuário traduz-se por reconhecê-lomília, sob um olhar multiprofissional não apenas como portador de depen-e a partir de um conceito ampliado de dência química, mas sim como agentesaúde, buscou conhecer a realidade social, que influencia e é influenciadona qual a família está inserida, bem pelo meio no qual vive.como as relações sociais estabele-cidas entre eles. A partir deste olhar, Neste contexto, a integralidade baseia-sea equipe percebeu que a família em na reorientação das práticas de cuidado,questão possui baixa renda, o marido a partir da valorização da subjetividadetem apenas emprego informal e tem- e singularidade dos envolvidos, criandoporário, o adolescente era seu entea- vínculo, estabelecendo o acolhimento,do e não havia boa relação entre am- valorizando a autonomia e possibilitan-bos. Considerou-se que o problema do a assistência centrada no usuárioinicial apresentado, de uso abusivo (SILVA, 2008).de álcool e drogas, era relevante edeveria ser trabalhado pela equipe. A articulação das formas de cuidar ca-Entretanto, compreendeu-se que racteriza-se a partir da integração entreeste pode ser desencadeado pelos promoção, prevenção, tratamento e rea-outros determinantes sociais que in- bilitação, a partir da dinâmica do proces-fluenciam a família, havendo neces- so saúdedoença. É comum a procura porsidade de uma intervenção ampliada, exames preventivos, tanto para homens como para mulheres. Este acesso, em- 167
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homembora motivado por uma questão pontual, Esta situação pode ser reconhecida emdeve ser visto pelos profissionais como casos em que a intervenção dos profis-uma oportunidade de exercitar a integra- sionais é realizada em grupos específi-lidade, à medida que os usuários podem cos, pois na atenção básica é comummanifestar outras necessidades não encontrar grupos de hipertensos e dia-relacionadas à doença, indicando aos béticos, ou tabagistas e alcoolistas, porprofissionais como podem estruturar exemplo. São pessoas que foram reuni-suas ações de promoção da saúde, qua- das por suas características de cuidadolificando, por fim, o cuidado (PINHEIRO; em específico. Inicialmente, pode-se in-MATTOS, 2001). terpretar essa definição como taxativa, reducionista e centrada na doença. En-Para a identificação e o atendimento das tretanto, cabe aos profissionais de saúdenecessidades em saúde a partir de um o movimento de reconhecer, a partir daolhar integral, é importante assumir que escuta e do acolhimento (tecnologias le-as práticas de cuidado integral partem da ves), esses usuários que foram reunidosrealização de encontros entre os usuá- por sua especificidade em comum ape-rios e profissionais. É a aproximação de nas, e reconhecê-los como indivíduossaberes diversos e maneiras distintas complexos, inseridos em um contextode perceber o mundo que esses encon- social que interfere nas suas demandastros devem se constituir, possibilitando em saúde. Assim, a forma pela qual éa construção compartilhada de decisões formulada a estratégia para prestar ose planos terapêuticos. Quando o saber serviços, e de como fazê-lo de modotécnico do profissional se sobrepõe ao adequado são componentes-chave parado usuário, o cuidado é concebido por melhorar a efetividade e a equidade dosapenas uma das partes, distanciando-se serviços de saúde (STARFIELD, 2002)da integralidade. A exemplo do movimento de reforma sa- Importante! Para que a equipe possa nitária que iniciou a construção do SUS, é preciso propor novas práticas em con- se empenhar na produção de saúde junto com a população, os movimentos da população pela qual é responsá- sociais, os profissionais de saúde e os vel, deve-se priorizar as tecnologias atores governamentais, para a consolida- leves (escuta qualificada, acolhi- ção da integralidade na atenção à saúde mento, vínculo), em detrimento das do homem, no âmbito da atenção básica. tecnologias duras (exames, procedi- mentos).168
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemFigura 9 - Ações realizadas em conjunto A atenção básica tem um importanteFonte: Fotolia significado no acesso ao atendimento dos homens, porém, é necessário agir em rede para um atendimento integral e para a construção de vínculos. Em al- guns estudos realizados no Brasil, tem- -se discutido a questão do não acesso observando-se por dois ângulos distin- tos, tanto a partir da baixa procura dos homens, como da forma com a qual os serviços se estruturam, estando mais voltados para outros grupos sociais (crianças, mulheres e idosos) (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).3.2 O agir em rede para a A presença dos homens nos serviços integralidade na assistência de saúde aumenta em determinadas atividades, especialmente nas consul-A implementação de um modelo de tas médicas, atendimentos em odonto-atenção básica em saúde voltado para logia e atividades disponibilizadas emresponder as necessidades de saúde serviços como o Programa de Tuber-dos diferentes sujeitos que constituem culose e Hanseníase, a fisioterapia euma população exige uma organização a saúde mental. Também há incentivoágil e eficiente de diferentes elementos, dos profissionais para participação dosincluindo serviços de saúde e profissio- homens em atividades criadas com onais, que devem compor uma rede arti- Programa de Atenção Integral à Saúdeculada de cuidados, de modo a dar conta da Mulher (PAISM), como é o caso dode um conjunto extenso e variado de su- Programa de Planejamento Reprodutivo,jeitos e demandas (VILLELA et al., 2009). em que, a partir de um maior estímuloPara responder a este desafio, cada mu- de práticas como a vasectomia, nota-nicípio tem o compromisso de organizar -se discreto crescimento de interesse eseus serviços e atividades oferecidos à participação dos homens (e dos casais)sua população de acordo com as neces- (COUTO, 2010).sidades identificadas e prioridades defi-nidas localmente. 169
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homemFigura 10 - Casais frequentando juntos os espaços de saúde dos os agravos à saúde do homem e não somente dar ênfase aos problemasFonte: Fotolia urológicos. Segundo alguns gestores en- trevistados no estudo, uma nova política Neste contexto, pode-se destacar como significa novas demandas, em um sis- potencialidade da AB a possibilidade de tema municipal de saúde que, com fre- juntar a equipe e realizar reuniões regu- quência, precisa de suporte para atender larmente, a fim de atender as demandas às necessidades existentes. Nesse sen- da população adscrita. Esta organização tido, é relevante a negociação dos ges- por parte da equipe pode melhorar a ca- tores com os Conselhos Municipais de pacidade de análise e oferta dos servi- Saúde, profissionais da equipe de ESF, ços para um atendimento integral, com a NASF, buscando demonstrar a impor- possibilidade de criação de redes e par- tância e as possibilidades para o aten- ceiros de atendimento. dimento. Os gestores reconhecem que as equipes na atenção básica já estão, Importante! As reuniões de equi- muitas vezes, sobrecarregadas. pe são um passo importante para a Na visão dos entrevistados, o profissio- construção da integralidade, na me- nal de saúde tem a iniciativa de promo- dida em que esta exige a interação ver ações no serviço e articular o atendi- dos saberes e das práticas dos mem- mento com a equipe de saúde a partir da bros da equipe de trabalho (VILLELA demanda e necessidade de encaminha- et al., 2009). mentos da população masculina. Neste olhar, é possível planejar e organizar a O estudo de Leal, Figueiredo e Silva resolubilidade dos problemas de saúde (2012) considera relevante atender to- do homem, uma vez que essas ações te- riam impacto direto sobre a credibilidade do trabalho do profissional e da unidade de saúde. A presença de uma rede con- solidada de atenção, em que o usuário seja atendido por serviços com diferen- tes graus de complexidade dentro do sistema, foi salientada por gestores e profissionais de saúde. Os recursos hu- manos – médicos, especialmente – são pontuados por diversos entrevistados170
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homempara a implantação da PNAISH (LEAL; Figura 11 - Ações em rede a partir da demanda e necessidadeFIGUEIREDO; SILVA, 2012). da população.Também é relevante que haja o compro-misso do sistema de saúde para que osprofissionais se envolvam na organiza-ção das instituições, a fim de agilizar oatendimento do usuário em outros níveisde atenção quando necessário, manten-do-se ativa a referência e a contrarrefe-rência entre os pontos da rede (KAN-TORSKI et al., 2009).O perfil de usuários que não residem em Fonte: Fotoliatorno das unidades também deve serlevado em conta, pois contrasta com Desta forma, você poderá promover aelementos atribuídos à ideia de integra- saúde e organizar serviços de acordolidade, tais como adscrição da clientela, com a população que não somente re-vínculo e acompanhamento dos usuá- side, mas que convive naquela comuni-rios. Para as pessoas que se deslocam dade (VILLELA et al. 2009). Será neces-por longas distâncias em função do tra- sário estabelecer uma discussão sobrebalho e não acessam as unidades de a adequação das ofertas de serviços àsaúde próximas da sua residência, são população, sendo que a população mas-necessários novos arranjos organizacio- culina muitas vezes precisa ser atendidanais, que possibilitem o acesso destes nas unidades de saúde próximos ao am-usuários ao serviço de saúde próximo biente de trabalho.ao local onde trabalham. Ou seja: açõesque possam atender e buscar esta po- Mais do que melhorar o acesso, a redepulação que, durante o horário de aten- de serviços precisa ser estruturada paradimento, está no ambiente de trabalho. ampliar a oferta de serviços, ou seja, ofe- recer atendimento à saúde com opções Adscrição da clientela > Refere-se de horários, com uma oferta de profissio- nais que possam atender a demanda e ao novo vínculo que se estabelece a necessidade daquela população, com de modo permanente entre os grupos uma equipe multiprofissional e interdis- sociais, as equipes e as unidades de saúde. 171
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homemciplinar que conheça a rede de serviços, que permitam a vinculação ao serviço,garantindo que o atendimento e o enca- contribuindo para a consolidação da in-minhamento aconteçam em quaisquer tegralidade, a partir da viabilização doregiões da cidade, mesmo nos casos acesso (PEREIRA, 2004).de mudança de moradia ou emprego, afim de se atender as especificidades em Neste contexto, considerando que ossaúde do homem. homens procuram pelo atendimento e serviços de saúde geralmente com aFigura 12 - Oferta de diversos serviços de saúde enfermidade já instalada e numa fase aguda, com sintomas ou dores, faz maisFonte: Fotolia do que sentido que gestores, profissio- nais de saúde e pesquisadores invistamAssim, propõem-se modelos mais flexí- na reestruturação e qualificação da RAS.veis de organização dos serviços, com Segundo Mendes (2011) para que estatodas as categorias profissionais se rede funcione de maneira efetiva, eficien-corresponsabilizando pelo atendimento, te e humanizada, há que se distribuir decom mais horários disponíveis, em locais forma equilibrada, as pessoas usuáriasdiversos e não somente na instituição de por todos os seus pontos de atenção àsaúde ou domicílio, mas também o am- saúde, organizando o atendimento con-biente de lazer, de trabalho, as organiza- forme os riscos envolvidos. Por exem-ções sociais como associações, igrejas, plo, ao organizar as demandas em saú-comércio – todos proporcionando uma de dos hospitais e emergências seriarede de atenção, com modelos flexíveis necessário provavelmente remanejar um grande número de pessoas portadoras de urgências menores, reclassificando- -as para o atendimento na AB. Por outro lado, para que as pessoas com situações de urgências possam ser atendidas na atenção básica, é necessá- rio atentar para as condições crônicas, atendendo-se as urgências menores decorrentes destas situações e, no mé- dio e longo prazo, diminuir a demanda nas unidades de urgência e emergência mais graves.172
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemFigura 13 - Homem decidindo to cuidadoso e qualificado. Desta forma,procurar atendimento para o atendimento da demanda espon- tânea, trata-se de encontrar o equilíbrio entre a boa prática clínica e a oferta dos recursos para diagnósticos e terapias disponíveis, com base na integralidade e na perspectiva das necessidades de saúde (CAMPOS; BATAIEIRO, 2007).Fonte: Fotolia Um sistema de saúde que procura me- lhorar a atenção deve estar preparadoA migração para um modelo de atenção para mudanças na organização, tornan-às condições e doenças crônicas, com a do possível implementá-las por meio deorganização dos atendimentos a partir processos de gestão. Assim, é relevanteda estratificação dos riscos, pode forne- que os profissionais de saúde identifi-cer tempo às equipes de saúde para as- quem as melhorias no atendimento e tra-sistir, além das ações programadas, as balhem com a aplicação de estratégiasnão programadas, que seriam situações efetivas, envolvendo o uso de incentivosurgentes de demanda espontânea. à equipe de saúde que reforcem estas mudanças. Para a melhoria da condiçãoHá contradições e críticas relativas à de saúde das pessoas, é preciso con-oferta de atendimento por demanda es- verter o sistema de atenção à saúde depontânea ou portas abertas nas unida- reativo e fragmentado para um sistemades de saúde, uma vez que gera mais que seja proativo, integrado, contínuo,demanda aos profissionais. Esta situa- focado na promoção e na manutençãoção traz uma discussão importante para da saúde. Isso exige não somente deter-os serviços de saúde, pois é preciso ga- minar que atenção à saúde é necessária,rantir o acesso e benefícios de exames e mas definir papéis e tarefas para asse-consultas especializadas, assegurando- gurar que as pessoas usuárias tenham-se também a garantia de um atendimen- uma atenção estruturada e planejada. Requer, também, um monitoramento padronizado e regular, para que as pes- soas usuárias não fiquem abandonadas depois de deixar uma unidade de saúde (MENDES, 2011). 173
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homem3.3 Desafios e possibilidades para a atenção integral à saúde do homemA análise sobre a procura pelo cuidado Para que você, profissional de saúde,e a prevenção de doenças na população possa permanecer atento e preparadomasculina tem perpassado historica- para o desafio de assegurar o acesso emente por diferentes aspectos, dentre o acolhimento sob uma perspectiva deos quais se destacam os socioculturais, cuidado integral e humanizado, são apre-ligados ao gênero e às questões vincula- sentados e discutidos a seguir algunsdas aos serviços de saúde. fatores considerados desafios impor- tantes a serem enfrentados na atençãoBuscar o envolvimento e a captação dos básica. Estes desafios encontram-sehomens representa uma importante ta- divididos em três dimensões principais:refa para os profissionais de saúde, haja relativos ao homem-usuário, relativosvista que a procura pelos serviços de aos profissionais da equipe de saúde esaúde para os homens ainda está atre- relativos à estrutura e organização doslada a um quadro clínico de doença já serviços de saúde.cronificado, com repercussões biopsi-cossociais para sua qualidade de vida.Quadro 2 - Desafios para o acesso dos homens aos serviços de saúde. Medo Relativos ao homem VergonhaNão pertencimento Identificar uma doença grave ou que atinja as atividades laborais do indi- víduo e sua autonomia em outras áreas. A exposição do corpo para o médico pode ser desconfortável para muitos homens. Em especial pelo enfoque nas ações preventivas, por exemplo, quando há a indicação clínica para realizar o exame do toque retal relacio- nado ao câncer de próstata. A maioria das ofertas dos serviços de saúde ainda são destinadas às mulhe- res e crianças, podendo fazer com que os homens não se sintam integrados ao serviço.174
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homem Centralidade na Relativos aos profissionais de saúde saúde reprodutiva A priorização de procedimentos e exames centrados no aparelho genital Ações pontuais masculino. em saúde Há predominância de ações clínico-assistenciais específicas em detri- Invisibilidade mento de ações ampliadas, preventivas e de promoção de saúde. dos homens Com a oferta de serviços estruturada para outros grupos específicos, a Capacitação presença dos homens, além de menos comum, acaba pouco percebida pessoal pela equipe. Horário de aten- A não disponibilidade de aperfeiçoamentos e materiais didáticos que ins- dimento trumentalizem o profissional para essa demanda. Sistema de Relativos aos serviços de saúde agendamento O período de atendimento dos serviços de atenção básica coincide com o Espaço físico horário de trabalho dos homens. Falta de es- Os procedimentos para agendamento e encaminhamento a referências pecialistas especializadas em geral são lentos, tornando-se pouco acessíveis aos homens que trabalham.Fonte: Do autor. A limitação dos espaços físicos nas UBS dificulta a implementação de outras frentes de atuação, além das já existentes. Os homens procuram atendimento por causas mais complexas, demandam mais recursos humanos e estruturais, por vezes não disponíveis na atenção básica.Os principais desafios para o acesso social, a vergonha de expor seu corpoaos serviços de saúde apresentados, re- e o sentimento de não pertencimentolativos ao homem, tais como a presença podem ser enfrentados a partir da com-do medo de buscar o cuidado em saúde preensão das questões de gênero pelose deparar-se com alguma doença que o profissionais de saúde.incapacite para o exercício do seu papel 175
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homemComo já analisado nas discussões rela- procedimentos médicos, deslocando-setivas às masculinidades hegemônicas, o enfoque da saúde do homem centra-a resistência dos homens repercute do do nos exames preventivos de câncerfato de a doença ser considerada por eles de próstata e direcionando-o para umum sinal de fragilidade. Reconhecer, com- contexto mais amplo. As questões so-preender e considerar este aspecto socio- cioculturais, ambientais, laborais quecultural no acolhimento do usuário é parte influenciam nos fatores de risco para asdo atendimento humanizado, que possibi- doenças mais prevalentes nos homens,lita a criação do vínculo e de uma relação tais como o alcoolismo, o tabagismo, ode confiança entre profissional e usuário. uso de drogas, a alimentação inadequa- da e o sedentarismo, devem ser consi- Importante! A invisibilidade dos ho- deradas para a elaboração de ações de mens nos serviços de saúde é um prevenção e promoção da saúde. desafio que precisa ser reconhecido e superado pelas equipes e serviços Para que esse conjunto de ações seja de saúde. de possível efetivação, a abordagem da saúde do homem deve ser um assuntoÀ medida que as ofertas em saúde es- debatido na formação acadêmica. Nostão mais direcionadas ao público que serviços, gestores e profissionais devemprocura mais a unidade, tal como crian- estar atentos às necessidades de qualifi-ças, mulheres, gestantes e idosos, os cação e capacitação permanente.homens jovens e adultos permanecemdistantes dos serviços, visto que suas Figura 14 - Abandono de maus hábitos de saúdenecessidades em geral são pouco ounão são contempladas.Neste contexto, para captação da popu- Fonte: Fotolialação masculina, as ações propostas de-vem visar à integralidade, e não somenteações que incentivem o serviço a “bus-car” o homem ou o homem a “buscar”o serviço. Também há uma importantereflexão ética envolvendo a prevençãodo consumo excessivo de exames. Éimportante desmistificar o conceito deprevenção associado à realização de176
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemA literatura aponta que a procura pelo Considerando que as principais causasserviço de saúde pelos homens aumen- de morbimortabilidade entre homens es-ta nos locais que ampliam o horário de tão relacionadas a questões complexas,atendimento para outros turnos, como o que transcendem o campo da saúde, taisnoturno, horário de almoço ou finais de como a violência, acidentes, abuso de ál-semana. Apesar de a ampliação não ser cool e drogas, apontamos a necessidadeindicada em todas as unidades de saú- de esforço intersetorial. Faz-se neces-de, a concentração de homens nesses sário desenvolver atividades e projetoshorários aponta ainda para uma poten- intersetoriais, para além dos serviços decial eficácia da estratégia de se criar ho- saúde, alcançando-se outras instituiçõesrários alternativos para o atendimento, na sociedade. Para contribuir com essasobretudo dos trabalhadores (GOMES; perspectiva, vimos também algumas ex-NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007). periências exitosas de adesão e cuidado da população masculina, que vão alémAlguns fatores institucionais remetem do espaço das instituições de saúde.à dinâmica e aos horários de funciona-mento dos serviços que, geralmente, são A atenção básica é o ponto de entradaincompatíveis com as atividades labo- para a atenção à saúde individual, o localrais masculinas. Sobre esta situação, os da responsabilidade continuada peloshorários estendidos da atenção básica usuários com participação da populaçãonão se restringem à facilidade de aces- e o nível de atenção na melhor posiçãoso somente aos homens, uma vez que para interpretar os problemas apresenta-para as mulheres também é importante dos no contexto histórico e meio socialesta alternativa, por trabalharem em si- do paciente (STARFIELD, 2002).tuações semelhantes. Desta forma, o mais importante neste Importante! Neste processo estraté- processo é construir junto aos homens gico de sensibilização dos homens e condições para que eles possam reco- nhecer suas vulnerabilidades e necessi- das equipes de saúde, o importante é dades. Sendo assim, a expectativa é de ampliar a equidade e a integralidade que haja envolvimento dos profissionais da assistência a partir do reconhe- e intencionalidade de reconhecer essas cimento de outras necessidades de necessidades de saúde, de produzir saúde, além das já reconhecidas pe- ações que sejam menos punitivas ou los serviços e políticas da área (STO- RINO; SOUZA; SILVA, 2013). 177
UN3 A integralidade na atenção à saúde do homemprescritivas, e mais resolutivas, consi- no sentido de uma atenção progressiva-derando a autonomia dos sujeitos no mente integral.processo saúde-doença, assim como ainserção social desses indivíduos (STO- 3.4 Recomendação de leiturasRINO; SOUZA; SILVA, 2013). complementaresCriar possibilidades de acolhimento e Para aprofundar seus estudos sobre avínculo para os homens no sistema de integralidade na atenção à saúde do ho-saúde é o primeiro passo para romper mem e a nota técnica sobre o rastrea-com a invisibilidade do público mascu- mento do câncer de próstata, sugerimoslino, renovando-se assim os serviços, as seguintes leituras: STORINO, L. P.; SOUZA, K. V.; SILVA, K. L. Necessidades de saúde de homens na aten- ção básica: acolhimento e vínculo como potencializadores da integralidade. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, set./dez. 2013, p. 638-645. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.5935/1414-8145.20130006>. BRASIL, Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Nota técnica 001/2015. jun. 2015. Disponível em: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/9e6e07004a50e- ca8968bd6504e7bf539/Nota+T%C3%A9cnica+CAP+finalizada.pdf?MOD=AJPERES&CA- CHEID=9e6e07004a50eca8968bd6504e7bf539>. Acesso em 04.08.2016.178
Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemResumo do móduloNeste módulo, estudamos que, para a cial de captar também os homens quan-efetivação da integralidade, é necessá- do é realizado de maneira humanizada,rio conhecer o contexto e a forma com estabelecendo vínculo entre usuário eque as pessoas, em especial os homens profissional, assegurando-se o acesso edo território, vivem, levando isso em acolhimento de qualidade.conta para a estruturação das práticasde cuidado. Um caminho para atender Trouxemos também alguns dispositivoso desafio do alcance da integralidade é e estratégias para a superação dos de-potencializar o acesso do usuário aos safios encontrados para o acesso e aco-serviços de saúde, devendo a equipe de lhimento na atenção básica. Estes exem-saúde da família participar ativamente plos contribuem com a qualificação dasdeste processo. Sobre direito à saúde e práticas dos profissionais de saúde, pos-a humanização do cuidado nas diferen- sibilitando a implementação da Políticates especificidades de gênero, aborda- Nacional de Atenção Integral à Saúde domos a saúde como um direito, a fim de Homem (PNAISH).garantir um atendimento de qualidade,dentro dos princípios e diretrizes do Sis- Ressaltamos que, para a saúde pública, atema Único de Saúde (SUS). Para isso, discussão e inclusão da integralidade nasabordamos a metodologia inclusiva e práticas cotidianas de atenção à saúdeparticipativa dentro da capacidade e do homem são necessárias, visto a pre-possibilidade daqueles que pensam, pla- dominância da atuação focada equivoca-nejam e executam suas ações. damente em procedimentos e exames re- lacionados ao sistema genital masculino.Observamos que a oferta de serviçosprecisa ir além do espaço físico da uni- Também salientamos a importância dedade de saúde e da realização de exa- agir em rede, considerando as particu-mes. É preciso atuar no território de laridades e necessidades da populaçãomaneira ampliada, a fim de alcançar a masculina, além do compromisso e de-população masculina nos espaços onde safio de organização dos serviços deela se encontra: o ambiente de trabalho, saúde, relacionando o sentido de doen-os espaços de lazer, os domicílios, entre ça para os homens, o momento da pro-outros espaços sociais. O trabalho do cura pelo serviço e o horário de atendi-profissional de saúde tem maior poten- mento dos serviços. 179
O atendimento na atenção básica pode experiências e possibilidades de práti-resultar em oportunidades para a in- cas relacionadas às ações em saúde dotegralidade à saúde do homem. É na homem, para que você, profissional, pos-atenção básica, onde as formas de cui- sa refletir sobre a sua realidade, buscardado devem partir das necessidades de meios de qualificar o seu processo desaúde que emergem no território, que trabalho e, consequentemente, a aten-se podem desenvolver ações nas unida- ção à saúde da população masculina dodes de saúde e para além destas. Nesse seu território.sentido, foram compartilhadas algumas180
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Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homemSobre os autoresSabrina Blasius Faust Sheila Rubia LindnerPossui graduação em Enfermagem pela Uni- Possui graduação em enfermagem pela Uni-versidade Federal de Santa Catarina. É mestre versidade Federal de Santa Catarina (2002),pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde mestrado em Saúde Pública pela Universida-Coletiva da Universidade Federal de Santa de Federal de Santa Catarina (2005) e dou-Catarina (UFSC). Desenvolve seus estudos na torado em Saúde Coletiva pela Universidadelinha de pesquisa Humanização e Bioética. Federal de Santa Catarina. É pesquisadora na temática de violência por parceiro íntimo.Endereço do currículo na plataforma lattes: Trocar para professora Adjunta da Universi-<http://lattes.cnpq.br/4270585121162578>. dade Federal de Santa Catarina (UFSC).Deise Warmling Endereço do currículo na plataforma lattes: <http://lattes.cnpq.br/3507140374697938>.Possui graduação em Nutrição e Especializa-ção Multiprofissional em Saúde da Família pela Elza Berger Salema CoelhoUniversidade Federal de Santa Catarina. É mes-tre e doutoranda do Programa de Pós-Gradua- Possui graduação em Enfermagem pela Uni-ção em Saúde Coletiva da Universidade Federal versidade Federal de Santa Catarina (1977)de Santa Catarina (UFSC). Desenvolve seus es- e doutorado em Filosofia da Enfermagem,tudos na linha de pesquisa Violência e Saúde. pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). Atualmente, é professora adjunta doEndereço do currículo na plataforma lattes: Departamento de Saúde Pública da Universi-<http://lattes.cnpq.br/8072187390411463>. dade Federal de Santa Catarina. Tem expe- riência na área de Saúde Coletiva, com ênfa- se nas áreas temáticas de Saúde da Mulher e Violência e Saúde. Endereço do currículo na plataforma lattes: <http://lattes.cnpq.br/3980247753451491>. 185
Prevenção e cuidados às doenças prevalentes em homens Anne Caroline Luz Grüdtner da Silva Márcia Regina Kretzer Nazaré Otília Nazario UFSC 2018
Prevenção e cuidados às doenças prevalentes em homens Anne Caroline Luz Grüdtner da Silva Márcia Regina Kretzer Nazaré Otília Nazario Florianópolis UFSC / 2018 1ª edição atualizada
Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074 U588p Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância. Prevenção e cuidados às doenças prevalentes em homens [recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Anne Caroline Luz Grüdtner da Silva, Márcia Regina Kretzer, Nazaré Otília Nazario (Organizadores). — 1. ed. atual. — Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. 83 p. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Condições de vulnerabilidade na saúde do homem. – Aspectos epidemiológicos na população masculina. – Estratégias de cuidado e atenção em rede. ISBN: 978-85-8267-087-3 1. Saúde do homem. 2. Prevenção de doenças. 3. Cuidados de saúde. I. UFSC. II. Silva, Anne Caroline Luz Grüdtner da. III. Kretzer, Márcia Regina. IV. Nazario, Nazaré Otília. V. Título. CDU: 613.9190
CréditosGOVERNO FEDERALPresidente da RepúblicaMinistro da SaúdeSecretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na SaúdeUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAReitor: Ubaldo Cesar BalthazarVice-Reitora: Alacoque Lorenzini ErdmannPró-Reitora de Pós-graduação: Hugo Moreira SoaresPró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto SoaresPró-Reitor de Extensão: Rogério Cid BastosCENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDiretora: Celso SpadaVice-Diretor: Fabrício de Souza NevesDEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICAChefe do Departamento: Fabrício Augusto MenegonSubchefe do Departamento: Maria Cristina Marino CalvoEQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDECoordenador: Francisco Norberto Moreira da SilvaCoordenadora substituta: Renata Gomes SoaresASSESSORES TÉCNICOSKátia Maria Barreto SoutoCícero Ayrton Brito SampaioMichelle Leite da SilvaCaroline Ludmila Bezerra GuerraPatrícia Santana SantosJuliano Mattos RodriguesThiago Monteiro Pithon 191
COORDENADORA DO PROJETO REVISÃO DE CONTEÚDO Elza Berger Salema Coelho Revisor interno: Antonio Fernando Boing COORDENADORA DO CURSO Revisores externos: Sheila Rubia Lindner Helen Barbosa dos Santos Igor Claber COORDENADORA DE ENSINO Deise Warmling ASSESSORIA PEDAGÓGICA Márcia Regina Luz COORDENADORA EXECUTIVA Gisélida Garcia da Silva Vieira ASSESSORIA DE MÍDIAS Marcelo Capillé COORDENADORA DE TUTORIA Carolina Carvalho Bolsoni DESIGN INSTRUCIONAL Soraya Falqueiro EQUIPE DE PRODUÇÃO EDITORIAL Larissa Marques IDENTIDADE VISUAL E Sabrina Faust PROJETO GRÁFICO Pedro Paulo Delpino EQUIPE EXECUTIVA Patrícia Castro ADAPTAÇÃO DO PROJETO GRÁFICO, Rosangela Leonor Goulart REDIAGRAÇÃO E ESQUEMÁTICOS Sheila Rubia Lindner Laura Martins Rodrigues Tcharlies Schmitz REVISÃO DE LÍNGUA CONSULTORIA TÉCNICA PORTUGUESA E ABNT Eduardo Schwarz Eduard Marquardt AUTORIA DO MÓDULO Anne Caroline Luz Grüdtner da Silva Márcia Regina Kretzer Nazaré Otília Nazario192
Apresentação do móduloEste módulo traz conteúdos relevantes Na sequência, a unidade 2 esboça quaispara compreender quais são os principais as doenças mais prevalentes entre osagravos que acometem os homens. Nele, homens, como impactam a morbimorta-vamos acompanhar os fatores de risco lidade da população masculina e quaispara as doenças, de que modo as ques- são os fatores de risco, aprofundandotões de gênero interferem na maior vulne- conhecimentos neste tema.rabilidade dos homens e quais as possibi-lidades de atenção a estes agravos. Para finalizar, na unidade 3 são discutidas possibilidades de atenção à saúde do ho-Logo ao iniciar os estudos, a unidade 1 mem, tanto no âmbito da promoção daapresenta a interferência das condições saúde quanto da prevenção e tratamen-de vulnerabilidade na saúde do homem, to das doenças, além de refletir sobre asrefletindo sobre a influência da perspecti- possibilidades de atenção em rede.va de gênero no cuidado à saúde do mes-mo. Nesse contexto, a unidade mostra Vamos lá! Bons estudos!também como os principais fatores derisco se comportam nessa população. 193
Este módulo se destina a apresentar as doenças que mais acometem os homens, considerando o gênero e a situação so- cioeconômica como determinantes so- ciais de saúde, e levando os profissionais de saúde a refletir sobre as possíveis for- mas de prevenção destes agravos. Objetivos de aprendizagem para este módulo Ao final deste módulo, você poderá: • compreender a importância de consi- derar a influência das questões de gê- nero no cuidado do homem para com sua saúde; • conhecer a epidemiologia e os fato- res de risco das doenças prevalentes entre os homens; • discutir estratégias de cuidado e atua- ção em rede e identificar possíveis formas de prevenção destes agravos. Carga horária de estudo 30 horas194
Sumário 197 199Unidade 1 203Condições de vulnerabilidade na saúde do homem 2081.1 Gênero, masculinidades e cuidado com a saúde 2121.2 Alcoolismo, tabagismo e outras drogas 2151.3 Obesidade e sedentarismo1.4 Pressão alta, colesterol elevado, hiperglicemia 2711.5 Recomendação de leituras complementares 219 225Unidade 2 227Aspectos epidemiológicos na população masculina 2312.1 Doenças cardiovasculares (DCV) 2392.2 Diabetes Mellitus (DM)2.3 Doenças Respiratórias Crônicas (DRC) 2412.4 Neoplasias e tumores 2432.5 Recomendação de leituras complementares 250 255Unidade 3 260Estratégias de cuidados e atenção em redes3.1 Estratégias de prevenção primária e promoção à saúde 2613.2 Prevenção secundária, diagnóstico precoce, tratamento 2623.3 Rede de Atenção à Saúde – RAS/SUS 2703.4 Recomendação de leituras complementaresResumo do móduloReferênciasSobre os autores
UN1Condições de vulnerabilidadena saúde do homem
Prevenção e cuidados às doenças prevalentes em homensPara começar este estudo, precisamos 1.1 Gênero, masculinidades ereconhecer que o uso dos serviços de cuidado com a saúdesaúde pelos homens ainda difere, emgeral, do praticado pelas mulheres. Os A baixa procura dos serviços de atençãohomens adultos entram em contato com primária à saúde pelos homens e a bus-os serviços de saúde geralmente por ca de auxílio especializado apenas quan-meio da atenção especializada ou das do as doenças já estão instaladas têmurgências e emergências, com doenças sido temas de estudos, com o objetivojá instaladas e, consequentemente, com de melhor compreender as causas destepiores prognósticos – o que pode gerar fenômeno e comportamento. A dificulda-um alto custo ao sistema. de em sair do trabalho para ir à unidade básica de saúde ou ao hospital é umaReconhecendo essa diferença, a Política das principais causas relatadas, porém, éNacional de Atenção Integral à Saúde do inadequado limitar a discussão à infraes-Homem (PNAISH) destaca a necessida- trutura dos serviços de saúde, pois háde de se fortalecer e qualificar a atenção outras questões implicadas sob a pers-primária para a população masculina, pectiva de gênero que influenciam essapossibilitando alcançar a promoção da realidade. No campo da saúde, o gênerosaúde e a prevenção de agravos evitá- deve ser visto como um fator de grandeveis. Para isso é necessário considerar a importância na caracterização dos pa-categoria de gênero como um importan- drões de morbimortalidade masculina.te determinante social de saúde na po-pulação masculina. No texto da PNAISH A masculinidade, situada no âmbito doé possível perceber a importância dos gênero, representa um conjunto de atri-aspectos socioculturais, e da perspec- butos, valores, funções e condutas quetiva relacional de gênero, para a cons- se espera do homem em uma determi-trução e implementação de linhas de nada cultura. Os papeis de gênero sãocuidados que respeitem a integralidade então construídos em oposição do queda atenção à saúde dos homens. Assim, é ser homem e do que é ser mulher. Se,vamos discutir, nesta unidade, como as por um lado as mulheres frequentemen-questões de gênero influenciam no cui- te ainda são criadas para serem frágeisdado à saúde do homem e como os fato- e dominadas, os homens são orienta-res de risco se comportam na população dos para serem provedores e protetores,masculina. para não demonstrarem sentimentos, e suportar sem chorar as suas dores físi- cas e emocionais (BRAZ, 2005). 199
UN1 Condições de vulnerabilidade na saúde do homem Gênero > O conceito de gênero é so- • possui aspecto ideológico, pois natu- raliza as diferenças entre os sexos; cialmente construído, e refere-se à organização das relações sociais e • expressa uma posição sempre em econômicas entre os sexos, espe- disputa, não sendo um modelo fixo cialmente na divisão do trabalho e do (GOMES, 2008). poder (GÓMEZ, 2011). Neste sentido, podemos apreender que Na construção de gênero, muitos ho- gênero é, entre outras coisas, uma ca- mens assumem riscos que interferem tegoria ordenadora de práticas sociais, em suas condições de saúde. Essa cons- que condiciona a maneira como perce- trução, ainda, também define o modo bemos, sentimos e agimos no nosso como os homens usam e percebem os mundo, interna e externamente. A não seus corpos. Os homens, muitas vezes, adesão masculina aos serviços de saú- desempenham comportamentos consi- de é revelada, em parte, por estereótipos derados pouco saudáveis, relacionados de gênero, baseados nestas característi- a um modelo de masculinidade hegemô- cas culturais, que normatizam um tipo nica, e isso aumenta os riscos à saúde de masculinidade – denominada hege- (CONNELL, 1995). mônica – a qual obedece por fundamen- to a ideia de que doença é sinônimo de Importante! “Os homens sentem-se fragilidade, e por isso não inclusa no uni- incomodados com a situação passi- verso das qualidades masculinas. va e dependente do papel de doente e isto contribui para que ignorem sinais Estas masculinidades hegemônicas de alarme” (KORIN, 2001, p. 71). apresentam algumas características: Neste modelo, o ser homem depende do • baseia-se na configuração relacional reconhecimento dessas características das práticas de gênero que são acei- de masculinidade pelos pares. Ou seja, tas socialmente, estabelecendo e as- colocam-se à prova por um temor gera- segurando as posições de dominan- do em função da possibilidade do não tes e dominados, exemplificada pela reconhecimento dessa hombridade, o subordinação entre os sexos; que se reflete em suas práticas de falta de cuidado para com a saúde. • não se refere a indivíduos poderosos, mas a um tipo de masculinidade tida por exemplar;200
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