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Morbimortalidade por causas externas na saúde do homemSobre os autoresLarissa Pruner Marques acompanha as condições de vida e saúde de uma coorte de idosos residentes em Floria-Enfermeira graduada pela Universidade Fe- nópolis. Tem experiência na área de Saúdederal de Santa Catarina (UFSC, 2012), espe- Coletiva, com ênfase na área de Epidemio-cialista em Gestão da Atenção à Saúde pelo logia, atuando principalmente nos seguintesInstituto Sírio Libanês de Ensino e Pesquisa/ temas: saúde da mulher e saúde do idoso.Fundação Dom Cabral (2014), e mestre emSaúde Coletiva pela UFSC (2015). É doutoran- Endereço do currículo na plataforma lattes:da do Programa de Pós-Graduação em Saúde <http://lattes.cnpq.br/6737249218821383>.Coletiva/UFSC. Parceiro da Rede de AtençãoIntegral às Pessoas em Situação de Violência André Junqueira XavierSexual (RAIVS), de Florianópolis/SC e mem-bro do Grupo de Pesquisa “Condições de saú- Especialista em Geriatria pela Escola Nacio-de de adultos e idosos de Florianópolis”. Atua nal de Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ, pelana temática Saúde do Idoso, e na Violência Pontifícia Universidade Católica do Rio Gran-com ênfase na articulação em rede. de do Sul – PUC/RS e pela Sociedade Brasi- leira de Geriatria e Gerontologia SBGG/AMB.Endereço do currículo na plataforma lattes: Graduado em Medicina pela Universidade do<http://lattes.cnpq.br/2857170189123921>. Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 1989), mes- tre em Ciências da Computação pela Uni-Eleonora d’Orsi versidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2002) e doutor em Informática na Saúde UNI-Graduada em Medicina pela Universidade do FESP – Universidade Federal de São Paulo/Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 1989), mes- UNIFESP (2007). Atualmente, é professor detre em Saúde Pública/Epidemiologia (1996) Geriatria e Medicina Preventiva da Universi-e doutora em Saúde Pública/Epidemiologia dade do Sul de Santa Catarina. Tem experiên-pela Escola Nacional de Saúde Pública da cia na área de Medicina, com ênfase em Ge-Fundação Oswaldo Cruz (2003). Atualmen- riatria, atuando principalmente nos seguinteste é professora adjunta do Departamento de temas: geriatria, gerontologia, informática,Saúde Pública e do Programa de Pós-Gra- envelhecimento prevenção e interação.duação em Saúde Coletiva da UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC). É coor- Endereço do currículo na plataforma lattes:denadora do estudo Epifloripa Idoso, que <http://lattes.cnpq.br/9125363765724910>. 353
Atenção à saúdemental do homem Fátima Büchele Assis Fernanda MartinhagoLarissa de Abreu Queiroz UFSC 2018
Atenção à saúdemental do homem Fátima Büchele Assis Fernanda MartinhagoLarissa de Abreu Queiroz Florianópolis UFSC / 2018 1ª edição atualizada
Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074 U588a Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância. Atenção à saúde mental do homem [recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Fátima Büchele Assis, Fernanda Martinhago, Larissa de Abreu Queiroz (Organizadoras). — 1. ed. atual. — Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. 86 p. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Aspectos socioculturais da saúde mental masculina. – Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina. - A saúde mental e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para a população masculina ISBN: 978-85-8267-082-8 1. Saúde do homem. 2. Saúde mental. 3. Cuidados de saúde. I. UFSC. II. Assis, Fátima Büchele. III. Martinhago, Larissa de Abreu. IV. Título. CDU: 613.9358
CréditosGOVERNO FEDERALPresidente da RepúblicaMinistro da SaúdeSecretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na SaúdeUNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAReitor: Ubaldo Cesar BalthazarVice-Reitora: Alacoque Lorenzini ErdmannPró-Reitora de Pós-graduação: Hugo Moreira SoaresPró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto SoaresPró-Reitor de Extensão: Rogério Cid BastosCENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDiretora: Celso SpadaVice-Diretor: Fabrício de Souza NevesDEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICAChefe do Departamento: Fabrício Augusto MenegonSubchefe do Departamento: Maria Cristina Marino CalvoEQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDECoordenador: Francisco Norberto Moreira da SilvaCoordenadora substituta: Renata Gomes SoaresASSESSORES TÉCNICOSKátia Maria Barreto SoutoCícero Ayrton Brito SampaioMichelle Leite da SilvaCaroline Ludmila Bezerra GuerraPatrícia Santana SantosJuliano Mattos RodriguesThiago Monteiro Pithon 359
COORDENADORA DO PROJETO REVISÃO DE CONTEÚDO Elza Berger Salema Coelho Revisor Interno: Antonio Fernando Boing COORDENADORA DO CURSO Revisores Externos: Sheila Rubia Lindner Helen Barbosa dos Santos Igor Claber COORDENADORA DE ENSINO Deise Warmling ASSESSORIA PEDAGÓGICA Márcia Regina Luz COORDENADORA EXECUTIVA Gisélida Garcia da Silva Vieira ASSESSORIA DE MÍDIAS Marcelo Capillé COORDENADORA DE TUTORIA Carolina Carvalho Bolsoni DESIGN INSTRUCIONAL, REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT EQUIPE DE PRODUÇÃO EDITORIAL Eduard Marquardt Larissa Marques Sabrina Faust IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO EQUIPE EXECUTIVA Pedro Paulo Delpino Patrícia Castro Rosangela Leonor Goulart ADAPTAÇÃO DO PROJETO GRÁFICO, Sheila Rubia Lindner REDIAGRAÇÃO E ESQUEMÁTICOS Tcharlies Schmitz Laura Martins Rodrigues CONSULTORIA TÉCNICA Eduardo Schwarz AUTORIA DO MÓDULO Fátima Büchele Assis Fernanda Martinhago Larissa de Abreu Queiroz360
Apresentação do móduloOlá, Veremos que os homens têm uma ma- neira singular de expressar suas emo-bem vindo a este módulo do Curso Aten- ções, sofrimento psíquico, apresentandoção Integral à Saúde do Homem, resulta- particularidades inclusive no que diz res-do de uma parceria entre o Ministério da peito à procura pelos serviços de saúde.Saúde (MS) e a Universidade Federal deSanta Catarina (UFSC). Todos esses aspectos estão atrelados às masculinidades construídas socialNosso principal propósito é construir co- e culturalmente, que, de maneira geral,nhecimento na área de Saúde Mental, e, atribuem características aparentementeprincipalmente, qualificarmos a prática inatas do sexo masculino, tais como ade cuidado da atenção básica de saúde e virilidade, força, poder e o papel de pro-na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). vedor da família.Este módulo apresenta os aspectos O objetivo deste texto é identificar os prin-socioculturais da saúde mental mascu- cipais agravos de saúde mental que aco-lina. Nele serão abordadas as masculi- metem os homens e possíveis estratégiasnidades como fatores condicionantes de prevenção e cuidado destes agravos.dos sofrimentos psíquicos; as transfor- Portanto, nossa proposta é que você pos-mações das masculinidades no mundo sa explorar esse conteúdo o máximo pos-contemporâneo; aspectos relacionados sível e aproveitar algumas dessas estraté-à cultura e sofrimento psíquico, e, por gias para a sua prática profissional.último, o uso de álcool e outras drogascomo expressão de masculinidades. Aproveite esse novo aprendizado! 361
Este módulo aborda os principais as- pectos socioculturais na saúde mental do homem e as principais informações epidemiológicas que nela influenciam, bem como o papel de Rede de Atenção Psicossocial na saúde do homem. Objetivos de aprendizagem para este módulo Ao final deste módulo, você poderá iden- tificar os principais agravos de saúde mental que acometem os homens, bem como as possíveis estratégias de pre- venção e cuidado destes agravos. Carga horária de estudo 30 horas362
Sumário 365 367Unidade 1 372Aspectos socioculturais da saúde mental masculina 3771.1 As masculinidades como condicionante do sofrimento psíquico1.2 As transformações das masculinidades no mundo contemporâneo 3791.3 Cultura e sofrimento psíquico 3841.4 O uso de álcool e outras drogas como expressão 385 de masculinidades 3871.5 Recomendação de leituras complementares 389 393Unidade 2 396Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina 4022.1 Sofrimento psíquico 4072.2 Transtorto Mental Comum – TMC2.3 Transtornos Mentais 4092.4 Álcool e outras drogas 4112.5 Suicídio em homens 4172.6 Recomendação de leituras complementares 423 429Unidade 3A saúde mental e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) 431para a população masculina 4333.1 A RAPS e a atenção aos homens em sofrimento psíquico 4413.2 Estratégia de intervenção a partir da abordagem de gênero3.3 Boas práticas – experiências exitosas3.4 Recomendação de leituras complementaresResumo do móduloReferênciasSobre os autores
UN1Aspectos socioculturais dasaúde mental masculina
Atenção à saúde mental do homemVocê já reparou como a condição dos ho- 1.1 As masculinidadesmens no mundo ocidental contemporâ- como condicionante doneo vem sendo discutida? Pergunte-se: “O sofrimento psíquicoque é ser homem?” “O que é ser mulher?” As masculinidades e as feminilidades –Figura 1 – O que é ser homem, o que é ser mulher? ou seja, as identidades de gênero – se configuram como o conjunto de traçosFonte: Fotolia construídos na esfera social e cultural por uma sociedade, os quais definem osA lógica destas construções culturais gestos, comportamentos, atitudes, mo-está associada a um conjunto de ideias dos de se vestir, falar e agir tanto parae práticas que baseiam essa identidade homens quanto para mulheres. Essasna virilidade, na força e na própria cons- identidades tendem a estar em conso-tituição biológica do homem. nância com o sexo biológico, mas não necessariamente estão compatíveisNesse sentido, esta unidade traz à tona com ele. Na verdade, elas podem e es-a discussão distribuída nos itens relacio- tão continuamente se renovando, po-nados a esse tema, fundamentais para dendo ser moldadas novamente a cadavocê, profissional de saúde. momento, não sendo fixas e acabadas (SILVA, 2006).Discutir certos conceitos e discorrer so-bre as mudanças sociais que estão ocor- O processo de definição dessas identi-rendo ao longo da história é relevante dades ocasiona um impedimento daspara que você compreenda o momento construções singulares, pois acaba mol-atual, bem como alguns comportamen- dando e preestabelecendo um compor-tos e situações que você vivencia no seu tamento comum a todos os indivíduos,dia a dia. de acordo com o seu sexo biológico. Além disso, este processo avalia deter- minadas ações como corretas e nor- mais, transformando-as em modelo e referência para todos. O problema é que, na maioria das vezes, esse conjunto de normativas não dá conta de toda a com- plexidade e subjetividade que envolve os indivíduos, aprisionando-os nessas “obri- gações” (SILVA, 2006; LOPES, 2011). 367
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina No caso dos homens, o modelo hegemô- mens não necessitariam de programas nico de masculinidades ainda é muito de prevenção ou assistência à saúde. presente na sociedade atual, embasado em valores patriarcais e na associação A Política Nacional de Atenção Integral à do masculino à virilidade, força e domi- Saúde do Homem, promulgada pelo Mi- nação (CRISTO, 2012). nistério da Saúde em 2008, aponta que essa população não acessa com regula- No esquemático abaixo, elaborado a ridade o sistema de saúde pela Atenção partir das observações de Silva (2006), Primária. Em geral, adentra pelos servi- podemos, de maneira geral, perceber ços de média e alta complexidade, bus- como a definição do que é ser homem cando tratamento ou reabilitação para versa a partir de várias negativas, assim os agravos de saúde que já estão insta- como de múltiplas exigências. lados (CRISTO, 2012). De modo amplo, o homem possui uma Perceba, então, que o mesmo ambiente imagem de invulnerabilidade, como se cultural que reproduz a superioridade do danos sociais, físicos e mentais não o homem, acaba prejudicando-o quando o atingissem. Dessa forma, em tese, os ho- induz a descuidar de sua saúde e a ne- Não chorar O que é ser homem? Ser pai Ser provedor Não demonstrar Ser dominador seus sentimentos Ser destemido Ser independente Não ser homossexual Ser agressivo Ser líder Não amar as mulheres Ser detentor de dinheiro, emprego Não ser fraco Ser mantedor de relações sexuais Não ser covarde Não ser perdedor Não ser passivo nas relações368
Atenção à saúde mental do homemgar riscos frente a qualquer falha na fun- No esquemático abaixo você pode vi-ção de provedor, já que quando afetado sualizar que homens e mulheres estabe-por alguma doença, ele tende a se calar lecem diferentes maneiras de vivenciar oe a não buscar apoio. sofrimento psíquico. Já as mulheres tendem a se apegar às relações afetivas no seu meio social, o que acaba tendo efeito protetor, sem acarretar grandes malefícios. Os homens, quando frustrados diante da sua baixa qualidade de vida ou situação socioeconômica,tendem a serem levados pelo álcool como umaforma de fuga desses problemas, ficandosuscetíveis a transtornos mentais e doençasmentais potencializadas.Esse aspecto é apontado em estudo de imagem do masculino, cultural e social-Santos (2008), o qual destaca que além mente falando.de os homens não serem incentivados alidar com seus sentimentos, o fato de es- Pergunte-se: será possível percebertar doente significa fracasso social e aca- como essa identidade construída influen-ba sendo uma condição não aceita tanto cia diversas atitudes desses indivíduos?pelos familiares quanto socialmente. Além disso, esta construção identitária não influencia no modo como os homensIsso tudo demonstra uma forma singu- enfrentam situações adversas, as quaislar dos homens em sua reação frente a podem acarretar sofrimento psíquico edificuldades físicas ou psíquicas. Uma outras consequências sociais?forma singular associada a uma certa 369
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculinaDe modo sucinto, podemos lançar a hi- Isso significa dizer que a vivência depótese de que aqueles que não se enqua- cada indivíduo expressa regras que sãodram ou não se identificam com esses moldadas por certa configuração socialpadrões impostos acabam mudando em determinada cultura e contexto. Éseus comportamentos e papéis sociais, algo que pode ser traduzido na dificulda-em busca de aceitação, ou passando por de em realizar planos, definir o sentido dagrande sofrimento psíquico (SILVA, 2006). vida e sentimento de impotência e vazio.Saiba que o sofrimento psíquico, apesar Essas intercorrências podem incapaci-de envolver aparentemente apenas o tar homens e mulheres a conviverem eâmbito individual, é na verdade construí- interagirem em sociedade, podendo le-do socialmente e tem relação direta com var inclusive à perda da sua condição devalores e normas, sociais e históricas. cidadãos (SANTOS, 2009).Figura 2 – Identidade e sexo biológico. Fonte: Shutterstock370
Atenção à saúde mental do homemPara refletir a respeito das vivências do sexualidade desempenham nas prescri-sofrimento ou do adoecimento psíquico ções sociais impostas sobre as mascu-dos homens, é importante refletir sobre linidades.os papéis centrais que o trabalho e a Trabalho SexualidadeO trabalho parece ser constituinte das masculinidades, A sexualidade marca a virilidade do ho-marca seu cotidiano e é responsável pelas vivências e mem e sua consequente adequação aorepresentações sociais dos homens. Ele promove inde- modelo valorizado socialmente.pendência financeira, status social e poder. A ausênciade trabalho gerando um sentimento de não adequação,fracasso e desorientação nos homens. É como se esti-vessem abandonados e não fossem reconhecidos sem aexistência do trabalho.Ao perder a identidade Os homens são estimulados a conse-de trabalhador, os ho- guir muitas conquistas amorosas e es-mens, em relação às tabelecer uma postura cada vez maismulheres, enfrentam distante de passividade e submissão,maiores dificuldades com exercício ativo e constante da suade reinserção social e sexualidade.reconstrução da iden-tidade anterior. 371
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina Dessa forma, entendemos que o sofri- Para saber mais sobre as transfor- mento psíquico masculino parece estar mações da masculinidade, leia: CON- relacionado à inadequação ao paradig- NELL, R. W. Políticas da masculinida- ma do trabalho na sociedade contempo- rânea e também à privação do exercício de. Educação & Realidade, n. 20, v.2, da sexualidade, ambos representando p.185-206, 1995. Disponível em: <ht- impedimentos para cumprir com o pa- tps://repositorio.ufsc.br/xmlui/bits- pel social de provedor e chefe da famí- tream/handle/123456789/1224/ lia (SANTOS, 2008). No esquemático ao connel_politicas_de_masculini- lado você visualiza as funções do traba- dade.pdf?sequence=1&isAllow lho e da sexualidade sobre as masculi- ed=y>. dades. 1.2 As transformações das masculinidades no mundo contemporâneo Importante! A partir dessas expla- As masculinidades dizem respeito à posi- nações, deixamos registrado que o ção dos homens nas relações de gênero, modelo proposto e fixado da mas- elaborada a partir do conceito de “mas- culinidade hegemônica, que impõe culinidades culturalmente hegemônicas”, o qual sintetizam papéis culturais, sociais a heterossexualidade como modelo e políticos a serem seguidos pelos ho- normativo único, passa a abafar as mens em determinado contexto e mo- potencialidades e multiplicidades do mento histórico. Esse conceito se refere masculino. E por isso as tentativas de a uma configuração de gênero que legi- desconstruí-lo, criticá-lo, tornam-se tima o patriarcado e garante a posição anormais, como um erro ou compor- dominante dos homens sobre as mulhe- tamento desviante, podendo até ser res, constituindo-se a partir dos modelos motivo de chacota, como costuma tradicionais e da personalidade distante ocorrer com os chamados homens emocionalmente, com características afeminados (LOPES, 2011). machistas, heterossexuais, agressivas e apresentação de comportamentos de ris- A identidade de gênero e sexual são pro- co (SILVA, 2006). Perceba ao lado a des- cessos muito complexos que devem ser crição das masculidades hegemônicas. cuidadosamente pensados para que possamos diminuir as pressões sociais Essas colocações parecem retratar a sobre os indivíduos de ambos os sexos, manutenção das masculidades pensa- e, quem sabe, as complicações relacio- nadas à saúde mental, já que ainda há muitos estigmas no que se refere ao adoecimento psíquico masculino.372
Atenção à saúde mental do homemdas, percebidas e vivenciadas como Trazendo um contraponto, Kimmelum dado concreto, inquestionável e não (1998) refere que as masculinidadespassível de reflexão. É como se todo ho- são socialmente construídas, e não umamem possuísse naturalmente a essên- propriedade biológica ou social cristali-cia das masculinidades, nascendo e se zada. Dessa forma, variam de culturapercebendo como homem-macho desde para cultura, dentro da mesma culturaos primeiros momentos de vida, sendo no decorrer de certo tempo, e em qual-definido apenas por seu sexo biológico quer cultura por meio de um conjunto de(LOPES, 2011). variáveis, no transcorrer da vida de qual- quer homem. • Baseia-se na configuração relacio- Importante! Segundo Kimmel (1998), nal das práticas de gênero que são aceitas socialmente, estabelecendo a masculinidade não é natural, in- e assegurando as posições de trínseca e que aquilo que está pos- dominantes e dominados, exemplifi- to como o universal masculino, que canda pela subordinação entre os aparentemente parece pronto e aca- sexos. bado, é, na verdade, uma invenção histórica. • Não se refere a indivíduos podero- sos, mas a um tipo de masculinida- Mesmo assim, percebe-se ainda uma in- des tida por exemplar. sistência em associar a imagem do mas- culino à força, resistência, competição, • Possui espectro ideológico, pois virilidade, racionalidade e até violência e naturaliza as diferenças entre os sexo. Trata-se de enquadrar todos numa sexos. normalidade masculina heterossexuada, como se esta fosse a forma natural e ti- • Expressa uma posição sempre em vesse que ser seguida como uma linha disputa, não sendo um modelo fixo. de conduta (LOPES, 2011).Em outras palavras, por trás destas considera- A partir do final da década de 1960, o mo-ções reina a ideia de que os homens são prove- vimento feminista parece ter tido comodores, enquanto as mulheres estariam na reflexo a crise das masculinidades con-posição de providas. Embora haja exceções e temporâneas, levando alguns homens amuitas disputas, prevalece a ideia de masculi- buscarem um modelo que melhor conse-dades que aceita estas diferenças como algo guisse descrever suas subjetividades, jánatural, da própria espécie. 373
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina que o modelo tradicional não conseguia ria aceitável e compreensível, podendo o mais se sustentar frente às mudanças homem admitir ser dominado. As iden- ocorridas no campo do trabalho, das tidades sexuais alternativas (homosse- relações afetivas, sociais e sexuais. Foi xual, bissexual e transexual) também apresentada uma redefinição do papel de são permitidas e fazem parte das subje- pai do homem contemporâneo, chama- tividades masculinas contemporâneas. da de “nova paternidade”, concomitante Teoricamente, o machismo perderia o à entrada das mulheres no mercado de sentido e as relações entre homens e trabalho e na vida pública (SILVA, 2006). mulheres tenderiam a melhorar. Figura 3 – Novos modelos de masculinidade: tare- Porém, a sociedade de consumo se pro- fas domésticas pôs a participar das reflexões com a in- trodução da figura do metrossexual, cria- da para dar conta desse “novo homem”. Construiu-se a ideia de que todo homem poderia ter uma preocupação estética consigo, semelhante ao que fazem as mulheres. A diferença é que agora ele não perderia sua identidade e sua prefe- rência sexual ou, melhor, heterossexual (SILVA, 2006). Fonte: Fotolia Figura 4 – Novos modelos de masculinidade: par- ticipação ativa na educação dos filhos O modelo de masculinidades para esse “novo homem” estaria sustentado pela Fonte: Shutterstock sua capacidade e liberdade de demons- trar seus sentimentos, de executar tare- fas domésticas, participar ativamente na educação dos filhos e, inclusive, exercer profissões antes consideradas femini- nas. Pode inclusive ganhar menos do que sua companheira sem que isso seja um incômodo para ele. No campo da se- xualidade, a possibilidade de falhas se-374
Atenção à saúde mental do homem Importante! O metrossexual caracte- Embora aparente uma possibilidade de riza-se por ser vaidoso, preocupado mudança cultural, o que parece alimen- com sua aparência, frequentador de tar essa nova forma é o fator econômi- espaços que em outro momento eram co, já que o capitalismo contemporâneo produz necessidades fúteis, estimulan- exclusividade das mulheres (como o do o consumismo exacerbado e agora salão de beleza, por exemplo) e por atingindo um novo público-alvo: o narci- ser atento às novidades da moda. Ele é sismo masculino. um personagem da sociedade basea- da no consumo, integrado ao sistema Figura 6 – O masculino como novo alvo do con- de produção capitalista e centrado no sumismo culto à imagem e ao corpo, colocado a serviço das necessidades do mercado e aprisionando-o em mais uma identi- dade (SILVA, 2006).A construção de identidades incorrem Fonte: Fotoliano risco de fragmentar os modos deexercer masculinidades, visto que os ho- Os indivíduos passam a acreditar, então,mens performam modos de ser homem na norma social de que o sucesso e aque reiteram normas mas que também felicidade dependeriam da sua aparên-as subvertem. Assim as masculinidades cia física, sua imagem, acabando por seestão em constante fluidez. enquadrar na busca do padrão estéticoFigura 5 – Novos modelos de masculinidade hegemônico para serem aceitos social- mente. Evidentemente, nem todos naFonte: Fotolia sociedade têm essa possibilidade de consumo, de atender a essa demanda. Dessa forma, o discurso sobre o homem metrossexual e toda a polêmica a res- peito da nova forma de masculinidade está atrelada à formação discursiva da pós-modernidade, em que as grandes lu- tas da humanidade são substituídas por pequenas (GODOI, 2006). 375
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina Aparentemente, os homens da atualida- a das mulheres, demonstrando o poder de estão vivendo uma pressão muito se- desse novo discurso em influenciar na melhante à enfrentada pelas mulheres, ação social (GODOI, 2006). há décadas, para se enquadrar no padrão de beleza hegemônico, não bastando ao Na contemporaneidade então, parecem homem burguês apenas ser proprietário surgir novas relações e, talvez, um en- de bens, adquiri-los e ostentá-los. Ele fraquecimento das relações de poder e precisa também ter um corpo “sarado”, dominação com a entrada dessas no- conhecer as tendências da moda, usar vas formas de masculinidades. Homens roupas e acessórios de grife e frequentar estão sendo, de certo modo, desviriliza- clínicas de estética (GODOI, 2006). dos, frequentando “espaços de mulhe- res”, assumindo relações homoafetivas De fato, observamos que no Brasil da – enfim, estão surgindo masculinidades contemporaneidade há um número cada plurais. Isso pode significar uma nova vez maior de homens que usam cabelos condição, conquista de novas possibili- compridos, unhas e sobrancelhas bem dades, versões e formas de masculinida- cuidadas, acessórios de cabelos, brin- des (LOPES, 2011). cos e outros adereços que não causam mais vergonha ou constrangimento. Se a masculinidade não é natural, mas um produto de encontros e rela- Figura 7 – O metrossexual ções, historicamente construída, ela pode ser muito mais do que os este- reótipos e modelos que fazem tenta- tivas, algumas vezes opressoras, de definir, cercar e cristalizar. Pode ser um universo amplo de imagens, sím- bolos, aliado às subjetividades e sin- gularidades, em vez de generalizável e identificável (LOPES, 2011). O que você pensa? Fonte: Fotolia A tentativa de descrever todos os ho- mens a partir do viés da identidade Uma parte significativa da população sexual e de gênero não consegue dar parece querer seguir esse novo estilo de conta da maioria das singularidades, vida, com vaidade igualada ou maior que pois nem todos conseguem se encaixar e se perceber no modelo tradicional, e376
Atenção à saúde mental do homemmesmo no modelo contemporâneo de No entanto, ressalta-se mais uma vezmasculinidades. Se vemos apenas a que não é reconstruindo uma nova iden-identidade sexual ou de gênero do indi- tidade masculina o que tornará possívelvíduo, ou se tentamos enquadrá-lo em promover mudanças a respeito do que éalgum dos modelos de masculinidades ser homem na nossa sociedade; ao con-criados, acabamos por deixar de lado o trário, é necessário desconstruir a iden-essencial. Acreditamos que é possível tidade masculina, patriarcal, machistaconstruir masculinidades ou feminilida- que está cristalizada, e assim promoverdes sem hegemonias, sem tanto rigor ou outros acordos e outras relações, semidentidades fechadas (SILVA, 2006). que se crie imediatamente uma substi- tuição que envolva novamente os indiví-Sem dúvida as transformações das mas- duos em normas e padrões engessadosculinidades no mundo contemporâneo que não abarcam as subjetividades evieram questionar o modelo patriarcal singularidades de cada um.de dominação masculina, com desmis-tificação de alguns valores impostos Este tema é novo e gostaríamos quesocialmente e, com isso, construíram-se você complementasse seu estudonovas possibilidades e novas interações. com esta leitura: LOPES, F. H. Mas-As mudanças do mundo contemporâneo culinidade(s): reflexões em torno deestão contribuindo para que os homens seus aspectos históricos, sociais epossam falar de seus sentimentos, ex- culturais. Revista de Artes e Huma-por seus problemas e identificar novos nidades, n. 8, maio/out. 2011. Dis-modelos de masculinidades pautados ponível em: <http://www.revista-na sensibilidade, no companheirismo, na contemporaneos.com.br/n8/dossie/afetividade, enfim, em novos propósitos masculinidadesreflexoes.PDF>.de papéis políticos, sociais e tambémpsicológicos. 1.3 Cultura e sofrimento psíquicoTodo esse processo vem se construindo Abordar a questão da cultura e do sofri-a partir da evolução histórica e cultural, mento psíquico significa analisar a inte-produzida em diferentes sociedades e ração das condições de vida social comépocas, com espaços que devem ser a trajetória específica do indivíduo e suaconquistados e ocupados por homens e estrutura psíquica, sem deixar de lado amulheres. realização pessoal do sujeito em todos os aspectos de seu contexto de vida. Os grandes transtornos apresentados na contemporaneidade, tais como a toxi- 377
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina comania, anorexia, estresse, depressão, As mudanças culturais globais estão es- nos convidam a pensar sobre maneiras tabelecendo também, de certa forma, de atender as pessoas com sofrimento uma rápida mudança social, provocando psíquico, principalmente os homens, que deslocamentos culturais que têm conse- procuram atenção aos seus sofrimentos quências positivas e outras nem tanto, de forma tão singela. como o sofrimento psíquico, por exemplo. Importante! Os sintomas que se for- Do ponto de vista dos conceitos de dor e sofrimento, é possível dizer que eles mam do sofrimento psíquico mascu- não se confundem, mas também não se lino, longe de apontar uma discussão distinguem com facilidade. Todavia, isso estrutural de onde o sujeito fala, indica não nos autoriza afirmar a existência de que é de extrema importância uma es- uma relação de complementaridade en- cuta que possa acompanhar tanto a ori- tre eles. Existe um estreito e tênue limite gem quanto a posição para onde ele se entre os dois termos, relacionado a um dirige com essa fala (CARNEIRO, 2004). sentido etimológico e semântico. Dessa forma, a transformação do sofrimento A cultura tem assumido uma função em adoecimento pode ser compreendi- de importância sem igual no que diz da por um longo percurso, aperfeiçoado respeito à estrutura e à organização da como uma nova técnica de gestão dos sociedade moderna, relacionadas aos homens (MARQUEZ, 2004). processos de desenvolvimento do meio ambiente, aos recursos econômicos e Na gestão do trabalho pós-industrial, por materiais. As trocas culturais têm se ex- exemplo, a disciplina como técnica de pandido por meio das tecnologias e da exercício do poder tem por função não revolução dos meios de comunicação, mais controlar os gestos e os corpos, mas das informações aceleradas, dos recur- o pensamento, a criação e as manifesta- sos humanos, materiais e tecnológicos ções do sofrimento (FOUCAULT, 1979). no mundo inteiro. Até então, o sofrimento é representado O sofrimento ao longo da história rece- como essencialmente negativo, mas, beu diferentes significações e destinos. para Dejours (1994), a existência dele De símbolo do pecado judaico-cristão resultaria em luta entre o sujeito e as for- à patologia da ciência moderna, o sofri- ças ligadas à organização do trabalho, o mento sempre exigiu do homem uma ex- que o levaria ao adoecimento psíquico. plicação lógica quanto mais estranheza Nesse sentido, o sofrimento poderia sig- a sua manifestação provocava na comu- nidade (BRANT, 2004).378
Atenção à saúde mental do homemnificar um processo criativo, uma tenta- 1.4 O uso de álcool e outrastiva de mudança e recuperação, sendo drogas como expressãomais do que simplesmente elementos de masculinidadespatogênicos. O uso de drogas se fez presente em todaDessa forma, Rodrigues (1992, p. 141) a história da humanidade, em diferen-refere que: tes culturas, contextos e com diferentes objetivos e motivações. Este consumo Cada cultura modela ou fabri- pode incluir a ingestão de bebidas al- ca à sua maneira um corpo coólicas, medicamentos e a utilização humano. Toda sociedade se de outras substâncias ilícitas, como a preocupa em imprimir no cor- cocaína e a maconha, em diversos lo- po, fisicamente, determinadas cais, como festas, na rua, em grupo ou transformações, mediante o individualmente. Pode ser realizado por qual o cultural se inscreve [...] o homens e mulheres de diferentes faixas homem não tem um corpo úni- etárias, culturas e níveis de escolaridade co ao qual esteja para sempre (MORAES, 2011). confinado. Esse corpo é muito mais do que algo intrinseca- Figura 8 – O uso de drogas é uma constante na mente ordenado; ele faz parte História, em homens e mulheres das mais diversas do universo convencional como idades qualquer outro objeto vivido ou concebido por humanos. Diante dessas reflexões, é importante Fonte: Fotolia ressaltar que uma saída mais justa, mais ética, mais humana para não Atualmente, o consumo dessas subs- infringirmos no indivíduo quaisquer tâncias está presente em todos os paí- tipos de sofrimentos psíquicos, cons- ses do mundo e suas consequências e truídos na sua diversidade histórica, complicações são conhecidas e consi- social e cultural, é todos nos respei- tarmos como sujeitos, e também res- peitar nossas construções singula- res, indiferente se somos homens ou mulheres, independente das nossas particularidades, dos nossos desejos afetivos ou até mesmo do papel social que exercemos no nosso dia a dia. O que você pensa a respeito disso? 379
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina deradas um problema de saúde pública. mais riscos associados ao uso de dro- Apesar de ser uma problemática comum gas, quando comparados às mulheres, em diversos grupos na sociedade, há e a desenvolverem diversos comporta- uma diferença visível entre a forma que mentos violentos (MORAES, 2011). o uso de álcool e outras drogas é perce- bido, vivido e como adquire significado A consequência da associação entre ál- para homens e mulheres, com marcante cool e masculinidades pode ser obser- reprodução das questões de gênero. vada em dados do Ministério da Saúde, que indicam que 89,1% dos óbitos entre De maneira geral, em nossa sociedade 2000 e 2006 resultantes do consumo de espera-se, a partir do ideal de masculi- bebidas alcoólicas no Brasil foram de nidades, que o homem construa a sua homens (BRASIL, 2009). identidade de homem, a qual é criada por meio de sanções culturais, rituais ou De maneira geral, comportamentos não provas de habilidade e força (CONNELL, saudáveis são entendidos, pelos pró- 1995). Há uma expectativa social sobre prios homens, como característicos essa população, a qual foi educada para da condição masculina, resultando na ter força e coragem, sinônimos das mas- chamada “vulnerabilidade de gênero” culinidades heterossexuais. E são jus- (KNAUTH et al., 2005). O álcool é uma tamente essas referências e cobranças droga amplamente consumida no mun- sociais que levam os homens a correrem do, observe no esquemático abaixo. Estima-se que indivíduos Estima-se que o consumo de 15 anos ou mais entre os homens equivale consumiram em torno de a 13,6 litros por ano; já, 6,2 litros de álcool puro entre mulheres, o índice é em 2010, equivalendo a de 4,2 litros por ano. 13,5g por dia. No Brasil, o consumo total 0 3 6 9 12 15 estimado equivale a 8,7 litros por pessoa, sendo superior à média mundial.380
Atenção à saúde mental do homemEssa vulnerabilidade tem sido reconhe- de violência estão associadas ao uso decida como produto de uma socialização substâncias psicoativas, trazendo umaem que as masculinidades do homem demanda bem específica aos serviçosestá sempre à prova, vigiada inclusive de saúde com relação a essa populaçãopor outros homens, necessitando se (MORAES, 2011).opor às referências feminina e homos-sexual (ROSA; NASCIMENTO, 2015). Os problemas de saúde que mais atingem os homens jovens são decorrentes do usoEnvoltos por todas essas regras e ex- de álcool e outras drogas, sendo o consu-pectativas a que são submetidos, os ho- mo dessas substâncias comumente as-mens acabam se sujeitando a situações sociado à socialização masculina, sejade risco ou malefício à sua integridade como passagem da adolescência à vidafísica, que são justamente as ações co- adulta ou como afirmação da masculini-nectadas a essas exigências sociais dade ao longo da vida (BRASIL, 2010).(ROSA; NASCIMENTO, 2015).Isso significa dizer que a maneira pela Figura 9 – Álcool e sociabilidadequal são construídas socialmente as Fonte: Fotoliamasculinidades influencia diretamenteno fato de os homens ou meninos seexporem mais a situações arriscadasdo que a população feminina. Para oshomens, o consumo de substâncias psi-coativas pode representar uma forma deexpressar as suas masculinidades, vistoque as crenças construídas socialmentevalorizam a exposição e superação deriscos no sexo masculino, bem como aimagem de provedor da família.Conforme já foi mencionado, a expressão Consumir bebidas alcóolicas, por exem-do poder por meio da violência também plo, é visto socialmente como um privilé-é um aspecto importante nesse sentido, gio do sexo masculino, uma maneira dejá que algumas vezes esses atos são divertimento entre amigos, que inclui atévistos como elementos próprios do “ser o orgulho e compartilhamento de con-homem”. Desse modo, muitas situações quistas amorosas ou de outros tipos. 381
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina Todos esses aspectos fazem parte de uma relação entre o consumo de álcool e as tentativa de expressar as masculinidades masculinidades, evidenciando que essa de acordo com o que é exigido socialmen- substância está presente como uma for- te, muitas vezes de maneira implícita. ma de expressão do “ser homem”. Para saber mais sobre o uso de ál- Segundo Mendoza (2004), inicialmen- cool e suas representações sociais te este comportamento é muitas vezes com relação à masculinidade, leia: reforçado pelo grupo familiar, e, poste- riormente, pelo grupo de amigos. O ál- ROSA, L. F. A.; NASCIMENTO, A. R. A. cool, além de um elemento facilitador Representações sociais de bebidas da interação nos espaços sociais, ainda alcoólicas para homens universitá- mostra-se um importante instrumento rios. Arquivos Brasileiros de Psico- de afirmação e reconhecimento social logia. Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. desses indivíduos (MENDOZA, 2004). 3-19. Disponível em: <http://seer. psicologia.ufrj.br/index.php/abp/ar- ticle/download/881/918>. A fase da adolescência, período de gran- Figura 10 – Consumo de álcool: uma tradição mi- des transformações, identificações e lenar? significações, tem peculiaridades rela- cionadas ao beber e à expressão e afir- Fonte: Fotolia mação das masculinidades. Os jovens parecem ter aprendido que o consumo Além disso, ainda com relação aos ado- do álcool é um ato próprio do homem lescentes, comumente esses jovens têm nos ritos proporcionados pelos grupos dificuldade de pedir apoio diante de al- de referência, utilizando-o muitas vezes guma dificuldade por terem medo de pa- como meio para manter a coesão, o sen- recer vulneráveis ou femininos. A repres- tido de pertença, de continuidade, de tra- dição familiar. É como se fosse um hábito, uma norma. Como se fosse ensinado que esta é a postura e a reação esperada de todos os homens (MENDOZA, 2004). Em estudo sobre uso de álcool em ado- lescentes, Mendoza (2004) aponta a382
Atenção à saúde mental do homemsão dessas emoções, algumas vezes, Ao se depararem com recaídas, o de-faz com que também seja favorecido o pendente passa a ser visto como fraco,consumo de drogas, sobretudo de álcool irresponsável, havendo uma ideia implí-(BRASIL, 2010). cita de fracasso e de que o indivíduo é in- capaz de tomar suas próprias decisõesNesse sentido, é visível que o processo (MORAES, 2011).de socialização dos homens interfere emcomo esses indivíduos cuidam da sua Importante! Problematizar aspec-saúde. Nos serviços de Saúde Mental,como os Centros de Atenção Psicosso- tos relacionados às masculinidadescial – álcool e outras drogas (CAPS-AD), é fundamental, buscando descobrirdiferentemente de outros serviços de de que modo influenciam na saúdesaúde pública, os homens são a maioria mental dos homens e no cruzamentoda população atendida. de diversas problemáticas que podem surgir nos atendimentos dos serviços.De maneira geral, eles buscam ajuda Dentre elas, entendemos que é neces-apenas quando se deparam com situa- sário eliminar a lógica punitiva, restritivações de gravidade maior, as quais não ou culpabilizante diante do uso de álcoolpodem ser solucionadas de outra forma, e outras drogas, abrindo espaço para amostrando o quanto é arraigada a crença responsabilização e o resgate da auto-de que devem superar os limites de seus nomia desses sujeitos.corpos. Isso ocorre porque ao longo dosanos as masculinidades vem sendo as- Figura 11 – Rotulações prévias podem comprome-sociadas a fatores como independência, ter o atendimento em saúdeautonomia e autoconfiança (MORAES,2011; JABLONSKI, 1995).Quando consegue chegar até os serviçosde saúde, é comum a essa população –homens usuários de álcool e outras dro-gas – se deparar com preconceito e rotu-lações, os quais equivocadamente aindabaseiam intervenções de profissionaisvisando à manutenção da abstinência. Fonte: Fotolia 383
UN1 Aspectos socioculturais da saúde mental masculina Para tanto, o olhar profissional, especial- 1.5 Recomendação de leituras mente, deve ser voltado às estratégias complementares de Redução de Danos, construção de Projeto Terapêutico Singular, uma escu- Para complementar o que você estudou ta qualificada e um acolhimento isento nesta unidade, leia: de julgamentos, que ajudam a garantir os princípios da cidadania e dos direitos SILVA, S. G. A crise da masculini- humanos. dade: uma crítica à identidade de gênero e à literatura masculinista. Há uma grande demanda de discussão Psicologia Ciência e Profissão, n. 26, gerada a partir dessas problemáticas, já v. 1, 2006, p. 118-131. Disponível que o questionamento e reflexão sobre a em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/ vulnerabilidade dos homens nesse con- texto relacionado ao uso de álcool e ou- v26n1/v26n1a11.pdf>. Acesso em: tras drogas ainda não está muito presen- 20 dez. 2015. te no cotidiano das práticas de cuidado em saúde. MORAES, M.; CASTRO, R.; PETUCO, D. (Orgs). Gênero e drogas: contri- Há ainda muitos estigmas sobre o pro- buições para uma atenção integral blema, tanto em homens como em à saúde. Recife: Instituto PAPAI, mulheres, e muita desatenção para as 2011. (Série Homens e Políticas- peculiaridades e complexidades que en- Públicas). Disponível em: <http:// volvem as questões de gênero. psicologiasocial.uab.es/fic/es/web- fm_send/523>. Acesso em: 20 dez. 2015.384
UN2Aspectos epidemiológicosna saúde mental masculina
Atenção à saúde mental do homemEsta unidade tem como objetivos abor- Em geral, as pessoas nessa condiçãodar primeiramente os aspectos epide- que procuram o sistema de saúde apre-miológicos da saúde mental masculina sentam problemas agudos de ansiedaderelacionados ao sofrimento psíquico. Na e depressão, com sintomas menos gra-sequência, veremos o Transtorno Mental ves, os quais estão associados a even-Comum, os transtornos mentais mascu- tos estressantes da vida, com predomí-linos, a questão do álcool e outras dro- nio de sintomas somáticos em relaçãogas e, por fim, o suicídio em homens. aos sintomas psicológicos (FORTES; VILLANO; LOPES, 2008).2.1 Sofrimento psíquicoA vivência de um intenso sofrimento Figura 12 – Aspectos culturais estão relacionadospsíquico é chamada, na psiquiatria, de às doenças mentaistranstorno mental, sendo compreendidacomo a manifestação de característicaspsíquicas na vida de um indivíduo.As doenças mentais são constituídas Fonte: Fotoliapor diversos aspectos: neurológicos, fi-siológicos, sociais, culturais, religiosos, Uma pesquisa realizada nos serviços defilosóficos e econômicos. Essas mani- Atenção Primária, em São Paulo, com ho-festações causam aos indivíduos mui- mens de 18 a 60 anos, mostrou que 29,4%to sofrimento psíquico e repercutem na dos indivíduos atendidos eram casosvida pessoal, familiar e relacional. Ape- que apresentavam sofrimento mental,sar do intenso sofrimento, há sempre a sendo a prevalência maior em homensexistência da possibilidade de constru- solteiros ou naqueles que consumiam al-ções de recursos de enfrentamento das gum tipo de substância psicoativa. Alémproblemáticas decorrentes do processo disso, 87,9% dos prontuários com queixaa partir das subjetividades de cada um psicológica (depressão, ansiedade, raiva,(DALMOLIN; VASCONCELLOS, 2008).O adoecimento psíquico é um problemade saúde pública em âmbito mundial, jáque afeta pessoas em diversos países eregiões, localizadas em diferentes con-textos socioeconômicos e culturais. 387
UN2 Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculinainsônia, distúrbios de sono, entre outros) bem como as desordens psiquiátricas, éeram de homens que relataram alguma algo muito complexo e influenciado porforma de violência frequente, principal- vários aspectos.mente física ou sexual (ALBUQUERQUE;BARROS; SCHREIBER, 2013). A assistência psiquiátrica no Brasil vem passando por grandes transformaçõesOutro estudo, realizado por Sachs-Erics- nas últimas décadas, principalmenteson et al. (2000), correlaciona gênero, após o movimento de Reforma Psiquiá-papéis sociais e desordens psiquiátri- trica, que propôs outras práticas de pro-cas, mostrando, ao encontro de outras moção de saúde mental, fora dos regi-pesquisas, que não existem diferenças mes de internações fechadas, como é osignificativas de gênero nas perturba- caso dos manicômios. Para isso, atual-ções psiquiátricas, sendo 15,3% para mente a atenção a essa população temhomens e 17,3% para as mulheres. Em sido realizada nos Centros de Atençãopatologias específicas como depressão, Psicossocial (CAPS), com o objetivo dedistimia, ansiedade generalizada, pânico oferecer atendimento à população eme fobia, as mulheres tiveram taxas mais um modelo que prioriza a reabilitação eelevadas. Já os homens lideraram no a reintegração psicossocial do indivíduoabuso de drogas ilícitas e álcool. pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dosPercebe-se, então, que relacionar papéis laços familiares e comunitários.sociais, gênero, sofrimento psíquico, Reforma Psiquiátrica > A Reforma Psiquiátrica brasileira é um movimento social que surgiu no final dos anos 1970, durante a crise do modelo de assistência em saúde mental centrado no hospital psiquiátrico. Inicialmente, os profissionais de saúde mental e os familiares das pessoas com transtornos começam a denunciar os manicômios como locais de violência, propondo, em seguida, a construção de uma rede de serviços com atuação territorial e comunitária, sem isolar os indivíduos da sociedade. Em 1990 o Brasil assina a Declaração de Caracas, a qual propõe a reestruturação da assis- tência psiquiátrica, e em 2001 é aprovada a Lei 10.216, que dispõe sobre o direito das pes- soas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo de atenção em saúde mental. Da aprovação da lei origina-se a Política de Saúde Mental, que tem como objetivo garantir o cuidado desses indivíduos nos serviços substitutivos, como os CAPS e hospitais gerais, superando a lógica das internações fechadas e de longa permanência.388
Atenção à saúde mental do homemNesse sentido, os estudos epidemioló- transtorno, principalmente a depressãogicos são de grande importância para e ansiedade, as quais constituem asdeterminar a magnitude das questões duas grandes dimensões desse tipo deem saúde mental, causadoras de muito transtorno (WHO, 2001).sofrimento psíquico, sendo muito úteise relevantes nas decisões e no plane- Quadro 1 – Transtornos Mentais Comuns: sintomasjamento de políticas públicas de saúdemental, bem como na organização dos Os Transtornos Mentais Comunsserviços e nas estratégias de prevenção (TMC) caracterizam-se por ume tratamento. conjunto de sintomas2.2 Transtorto Mental Comum – TMC Irritabilidade FadigaSegundo a Organização Mundial da InsôniaSaúde (OMS), a prevalência e o impac- Nervosismoto dos transtornos mentais, assim como Dificuldade de concentraçãoos problemas de saúde mental de ma- Esquecimentoneira geral, foram durante muito tempo Ansiedadesubestimados, sendo frequentemente Depressãotratados de maneira inadequada e maldiagnosticados (WHO 2001).Atualmente, essa questão desperta cada Dores de cabeçavez mais o interesse da sociedade e dopoder público, fazendo com que muitos Queixas somáticas inespecíficas (sintomaspaíses construam políticas de saúde psiquiátricos não-psicóticos)mental comprometidas com o desen-volvimento de novas formas de cuidado, Fonte: Goldberg (1992)com a melhoria da qualidade de vida,garantia dos direitos de cidadania e com- Segundo Santos (2002), Transtorno Men-bate às formas de violência, exclusão e tal Comum se refere à situação de saú-estigma de que são alvo as pessoas com de de uma população que não preenchetranstornos mentais (AMARANTE, 1995). os critérios formais para diagnósticos de depressão ou ansiedade segundo asCerca de 90% das manifestações psi- classificações DSM-IV (Diagnostic andquiátricas se referem a esse tipo de Statistical Manual of Mental Disorders – Fourth Edition) e CID-10 (Classifica- 389
UN2 Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina ção Internacional de Doenças – 10ª Re- Estudo realizado por Coutinho (1999) visão). Apesar de não preencherem os apontou que nas grandes capitais Por- referidos critérios, apresentam sintomas to Alegre e São Paulo, cerca de 50% das que acarretam algum comprometimento pessoas que procuram a Atenção Primá- na sua vida pessoal e profissional. De ria em Saúde são consideradas portado- maneira geral, esse quadro clínico não res de transtornos mentais não-psicóti- faz os indivíduos procurarem a assistên- cos. Já no Rio de Janeiro esse quadro cia necessária, e muitas vezes, ao procu- aparece em cerca de um terço dos pa- rarem, são subdiagnosticados e acabam cientes em um ambulatório geral univer- não recebendo o tratamento adequado. sitário (COUTINHO, 1999). Estudos epidemiológicos mostram que Em outro estudo, realizado em 2002, no milhões de pessoas sofrem algum tipo Recife, evidenciou-se prevalência de 35% de transtorno mental no mundo e este de TMC (LUDERMIR; MELO FILHO, 2002). número vem aumentando progressiva- mente, especialmente nos países em de- No que diz respeito às diferenças entre senvolvimento. gêneros, estudo transversal realizado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em Alguns estudos populacionais realiza- 2004 e 2005, apresentou resultados con- dos no Brasil estimaram a prevalência sistentes com estudos prévios. A preva- de TMC em adolescentes e adultos, os lência de transtornos mentais comuns quais verificaram 36,0% no Nordeste na população geral foi 28,0%, sendo (COSTA; LUDERMIR, 2005) e 17,0% no 32,8% entre mulheres e 23,5% dos ho- Sudeste (MARIAN-LEON et al., 2007). Já mens. O estudo apontou que a chance na região Sul do país, na cidade de Pe- de falsos-negativos entre os homens lotas, 28,8% de adolescentes apresenta- é maior quando se refere à triagem em ram TMC; 28,5% de adultos e 22,7% de saúde mental. Isso ocorre porque os indivíduos com 15 anos ou mais (LIMA; homens, além de usualmente associar SOARES; MARI, 1999). doença à fraqueza, tendem a demons- trar menos suas ansiedades e os senti- Como os TMC se expressam principal- mentos de tristeza quando comparados mente por meio de queixas somáticas às mulheres, inclusive tendo dificuldade inespecíficas, é alta a sua prevalência na de relatar seus sintomas emocionais Atenção Básica, já que é a primeira en- para entrevistadores (ANSELMI et al., trada dos serviços de saúde (FONSECA; 2008). Observe no mapa o panorama do GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008). Transtorno Mental Comum.390
Atenção à saúde mental do homem “Transtornos mentais são a terceira tos de TMC em uma população assistida causa de afastamento do trabalho”. por uma equipe do Programa Saúde da Assista em: <https://www.youtube. Família (PSF), mostraram também que com/watch?v=fTFo7d2N32c>. o gênero feminino apresentou uma taxa de prevalência significativamente maisDados de outro estudo, cujo objetivo era elevada de TMC (48,37%), quando com-verificar a prevalência de casos suspei- parado ao gênero masculino (34,41%) (MOREIRA, 2010). No Recife, foi encontrada a prevalência de 35% de TMC, em 2002 (LUDERMIR; MELO FILHO, 2002). Segundo Coutinho (1999), Em Pelotas, a prevalência de em Porto Alegre e São TMC na população geral foi 28,0%, sendo 32,8% entre Paulo cerca de 50% das mulheres e 23,5% dos homens. pessoas que procuram a O estudo apontou que a chance de falsos-negativos entre os Atenção Básica são homens é maior que para as portadores de transtornos mulheres. Ao associar doença à fraqueza, os homens acabam por mentais não-psicóticos. demonstrar menos suas ansiedades e sentimentos deNo Rio de Janeiro, cerca de tristeza, ou seja, têm dificuldadeum terço dos pacientes em em relatar seus sintomas emocionais para entrevistadores um ambulatório geral (ANSELMI et al., 2008).universitário apresentavam 391 esse quadro.
UN2 Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina Destaca-se que, de maneira geral, as mu- bre o adoecimento psíquico, ainda exis- lheres apresentam maior risco e maior tente nas práticas de saúde, que dificulta prevalência para os transtornos não-psi- ainda mais a procura e a eficácia dos cóticos ou transtornos mentais comuns, atendimentos e das ações de cuidado. podendo estar relacionados com fatores biológicos e hormonais, derivados do ci- Diante disso, um desafio que se coloca clo menstrual, do pós-parto (WHO, 2001) é formar profissionais aptos a diagnos- ou também às questões de gênero. ticar e tratar adequadamente os Trans- tornos Mentais Comuns, especialmen- Importante! Você sabia que os trans- te aqueles mais prevalentes, como é o tornos relacionados ao uso de subs- caso da ansiedade e da depressão. tâncias psicoativas são mais preva- De maneira geral, os estudos realizados lentes na população masculina? Isso no Brasil e em países com economia se- acontece porque as mulheres têm melhante, apontam que há alta taxa de maior facilidade de identificar os sin- prevalência de TMC na Atenção Primária tomas, admiti-los e buscar ajuda, en- e na comunidade, bem como falta de ca- quanto os homens tendem a buscar pacitação adequada para as equipes de nas drogas lícitas e ilícitas uma ma- saúde, que possibilite aos profissionais neira de aliviar seu sofrimento psíqui- compreenderem como lidar com essas co ou angústia (SANTOS, 2010). formas de sofrimento, as quais não es- tão classificadas nos manuais de diag- Com relação ao tratamento dos Trans- nóstico (FONSECA; GUIMARÃES; VAS- tornos Mentais Comuns, ainda existe CONCELOS, 2008). uma grande dificuldade em relação ao acesso e à procura pelos serviços de Figura 13 – TMC: ansiedade e depressão saúde. As barreiras são inúmeras: cul- turais, financeiras e estruturais, ou seja, Fonte: Fotolia os serviços não estão preparados para atender e diagnosticar esses casos, com pouca disponibilidade e falta de treina- mento das equipes de atenção básica para fazerem o acolhimento e encami- nhamento dessas pessoas. Além disso, um aspecto muito importante a respeito dessa condição refere-se ao estigma so-392
Atenção à saúde mental do homem2.3 Transtornos Mentais contextos sociais e patologias. Mesmo assim, os dados epidemiológicos têmSegundo dados da Organização Mundial sido confiáveis para estimar a magnitu-da Saúde (OMS), uma em cada quatro de dessa problemática.pessoas sofrerão algum transtorno men-tal ou comportamental em um dado mo- São poucos os estudos existentes quemento da vida. Estimou-se que, em 2001, mostram prevalência de transtornos psi-aproximadamente 450 milhões de pes- quiátricos em adultos. Kohn et al. (2005)soas no mundo apresentavam algum tipo reuniram publicações da América Latinade transtorno neurobiológico ou psicos- e do Caribe entre 1980 e 2004, verifican-social, com 5% a 10% dos trabalhadores do que as psicoses afetivas e a esquizo-sendo acometidos por transtornos men- frenia foram observadas em 1,4% da po-tais graves (WHO, 2001). A OMS também pulação em algum momento da vida, semestimou que em 2020 teremos no mundo diferenças significativas entre os sexos.154 milhões de pessoas com depressão,25 milhões com esquizofrenia, 91 mi- Um estudo realizado em São Paulo, Por-lhões com problemas de alcoolismo e 15 to Alegre e Brasília mostrou que os índi-milhões com uso de drogas (WHO, 2011). ces de transtorno mental na vida foram de 30%, 43% e 51% respectivamente. En-Na população geral, em estudo com tre as mulheres, as prevalências forammais de 60 mil adultos de 14 países, a maiores em Porto Alegre (50%) e Brasí-OMS registrou que a presença de algum lia (54%), enquanto que em homens foitranstorno psíquico presente no DSM- maior em São Paulo (33%).-IV (Diagnostic and Statistical Manual ofMental Disorders – Fourth Edition) variou Figura 14 – Índices de Transtornos mentais nade 4% em Xangai, na China, a 26% nos vida em grandes cidades.Estados Unidos (WHO, 2004). Dessa for-ma, os transtornos psiquiátricos mere- Brasília TMcem atenção da sociedade, dos serviçosde saúde e também do meio científico. 51%É importante pontuar que no caso des- São Paulo Portosas pesquisas, existem limitações meto- Alegredológicas para quantificar essa questão 30%em amostras populacionais, tendo-se 43%em vista a diversidade de instrumentos, Fonte: Almeida-Filho et al (1997) 393
UN2 Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina Os diagnósticos específicos para os viços de saúde. O impacto da violência transtornos delirantes, como esquizofre- sofrida pela população masculina é de- nias, manias e quadros psicóticos atin- monstrado em estudos nos quais há as- giu prevalências que variaram entre 1% e sociação entre episódios de agressão a 4% (ALMEIDA-FILHO et al., 1997). sintomas de sofrimento mental e trans- tornos mentais comuns e graves. As No Brasil, estudo realizado com adultos agressões se referem à violência domés- mostrou que a prevalência de indivíduos tica e violência urbana (ALBUQUERQUE; com pelo menos um diagnóstico do DS- BARROS; SCHRAIBER, 2013). M-III (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Third Edition), en- Gráfico 1 – Cinco dentre as principais causas controu 61% em Brasília, 35% em São mundiais de incapacitação Paulo e 52% em Porto Alegre (ADREO- LI et al., 2000). Em transtornos mentais Distúrbios obsessivo-compulsivos específicos, a esquizofrenia situa-se em 2,8% torno de 1% na população em geral (PÁ- DUA et al., 2005), e os transtornos bipo- Esquizofrenia lares atingem de 3% a 6% da população 4% (SHANSIS; CORDIOLI, 2005). Transtornos Afetivos Bipolares Em estudo da Universidade de Harvard e 3,3% da Organização Mundial de Saúde (OMS), das 10 principais causas de incapacita- Alcoolismo ção em todo o mundo, cinco delas esta- 7,1% vam associadas aos TM, dentre as quais a depressão (13%), a ingestão de álcool Depressão (7,1%), os transtornos afetivos bipolares 13% (3,3%), a esquizofrenia (4%) e os distúr- bios obsessivo-compulsivos (2,8%). 0% 3% 6% 9% 12% 15% Fonte: Albuquerque; Barros; Schraiber (2013) Outro aspecto relevante sobre os agravos Importante! Homens que sofreram de saúde, e especialmente sobre a saúde mental, é a violência. Homens envolvidos violência por parceiro íntimo são mais em situações de violência têm sua saúde propensos a apresentarem sintomas muito impactada, e muitas vezes essas de depressão, fazerem uso de me- situações são negligenciadas pelos ser- dicação psiquiátrica e desenvolver doença mental crônica, além de terem a percepção de que sua saúde é frágil (COKER et al., 2002).394
Atenção à saúde mental do homemEssa população foi estudada por Rho- em especial física ou sexual. Dos ho-des et al. (2009), mais especificamente mens que apresentaram algum tipo dehomens atendidos em hospital dos Es- sofrimento mental (com queixa, diag-tados Unidos. Estes apresentaram taxas nóstico ou utilização do serviço de Saú-mais altas de problemas psiquiátricos de Mental), 45,7% foram submetidos aem comparação aos não envolvidos situações de violência física ou sexualem situações de violência, com 18,4% e mais de uma vez, além de 25,7%, que re-3,3%, respectivamente. Mostraram sin- lataram sofrer uma vez (ALBUQUERQUE;tomas de depressão grave ou modera- BARROS; SCHRAIBER, 2013).da, e também observou-se prevalênciade transtorno pós-traumático em 10,3% Dados do Ministério da Saúde apontamdos homens envolvidos, e 1,1% entre os que 3% da população geral brasileiranão envolvidos. sofre com transtornos mentais graves e persistentes; 6% com transtornos psi-Dentre os homens que relataram sofrer quiátricos graves decorrentes do uso dede ansiedade ou nervosismo (registro álcool e outras drogas, e 12% necessi-mais prevalente), 89,6% referiram ter so- tam de algum atendimento, seja ele con-frido situações de violência recorrente, tínuo ou esporádico.Gráfico 2 – Transtornos mentais graves e persistentes na população (geral) brasileira. Necessitam de algum atendimento 12% Sofrem de transtornos mentais graves e persistentes 3% Sofrem de transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas 6% 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12%Fonte: Brasil (2007) 395
UN2 Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina Além desses dados, foi revelado que o índi- Importante! Os transtornos psiquiá- ce de utilização dos serviços de saúde ain- tricos são observados em ambos os da é baixo, cerca de 13% (BRASIL, 2007). sexos, mas os homens, por sua difi- Isso significa que a maioria das pessoas culdade em falar sobre suas angústias com algum transtorno mental não procura atendimento em saúde mental, o que pare- e problemas, devem receber um olhar ce estar relacionado ao preconceito, des- que considere esse aspecto. Além dis- conhecimento da doença e também à fal- so, há muitas outras diferenciações ta de treinamento das equipes de saúde. entre os gêneros que podem influen- ciar tanto no tratamento quanto nas No que se refere às diferenças entre gê- origens desses transtornos, os quais neros, no caso do transtorno de humor estão associados aos papéis sociais bipolar, estudos referem que não há di- que os homens exercem e as cobran- ferença significativa entre homens e mu- ças referentes à sua masculinidade. lheres. Kessler et al. (1994) estimaram que a prevalência de mania na vida é de Para ampliar seu conhecimento so- 1,7% para mulheres e 1,8% para os ho- mens. Formas mais leves do transtorno bre transtornos mentais, você pode elevariam os números para 3,5% a 5% pesquisar no livro: DSM-V-TRTM: (AKISKAL et al., 2000). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. De maneira geral, as prevalências de 2.4 Álcool e outras drogas transtornos psiquiátricos não diferem significativamente entre os sexos, sendo No ano de 2011, o Escritório das Nações 26,4% para os homens e 24,7% para as Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mulheres. Destaca-se a predominância estimou que de 167 a 315 milhões de do alcoolismo nos homens e também pessoas no mundo, com idade entre 15 o transtorno antissocial. Já no sexo fe- e 64 anos, fizeram uso de alguma subs- minino predominam as psicoses. A es- tância ilícita no último ano. Esse dado quizofrenia fica em torno de 0,98% para corresponde a 3,6% e 6,9% da população ambos os sexos. As internações psiquiá- mundial adulta. Em comparação com o tricas parecem seguir o mesmo padrão ano de 2008, houve aumento de 18% no quando realizadas comparações entre número total de pessoas que consumi- gênero: 0,5% foi a taxa da primeira inter- ram drogas ilícitas no último ano, o que nação para as mulheres e 0,7% para os reflete um aumento na população mun- homens (MORGADO; COUTINHO, 1985). dial e também da prevalência do uso des-396
Atenção à saúde mental do homemse tipo de substâncias (UNODC, 2011). Os dados apontados corroboram com o II Levantamento Domiciliar sobre Uso deO VI Levantamento sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas no Brasil (2005), oDrogas em Estudantes de 12 a 18 anos qual mostrou que os indivíduos do sexodas 27 capitais brasileiras, realizado masculino, comparados com o sexo fe-pelo Centro Brasileiro de Informações minino, apresentam maior prevalência desobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), uso na vida de álcool, tabaco, maconha,em 2010, mostrou que 25,5% dos estu- solventes, cocaína, alucinógenos, crack,dantes referiram uso na vida de alguma merla e esteroides. Já as mulheres, pordroga (com exceção de álcool e tabaco), sua vez, apresentam maiores usos de10,6% uso no último ano e 5,5% uso no estimulantes, benzodiazepínicos, orexí-último mês. genos e opiáceos (CARLINI et al., 2007).Fazendo comparações entre os gêne- Detalhando um pouco mais alguns tiposros masculino e feminino, esse mesmo de substâncias psicoativas que apre-levantamento aponta que os homens sentaram resultados relevantes nessausam mais drogas como cocaína (3,6% e pesquisa, o uso de tabaco ao longo da1,5%), solventes (9,4% e 8,1%), maconha vida está presente em 50,5% dos ho-(7,2% e 4,3%) e esteroides (2,3% e 0,5%) mens, enquanto que, entre mulheres, o(CARLINI et al., 2010). índice é de 39,2%.Quadro 2 – O consumo de drogas em estudantes de 12 a 18 anos nas capitais brasileiras, 2010No Brasil, levantamento sobre o 25,5% dos estudantes re- 10,6% uso no último anoconsumo de drogas em estudan- feriram uso na vida de al- 5,5% uso no último mêstes de 12 a 18 anos nas capitais guma droga (com exceçãono ano de 2010 mostrou que: de álcool e tabaco) Tipo de droga Uso por homens Uso por mulheres 3,6% 1,5%Comparando gêneros masculi- Cocaína 9,4% 8,1%no e feminino, este mesmo le- Solventes 7,2% 4,3%vantamento revela quais são as Maconha 2,3% 0,5%drogas de uso frequente: EsteroidesFonte: Carlini et al. (2010). 397
UN2 Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina Quadro 3 – Tipos de drogas e seus usos entre homens e mulheres Tipo de droga Homens Mulheres Maconha Cocaína Uso 14,3% Uso 5,1% Solventes Dependência 2,41% Dependência 0,54% Fonte: Carlini et al. (2007). Uso 5,4% Uso 1,2% Uso 10,3% Uso 3,3% Dependência 0,27% Dependência 0,20% Essa diferença entre gêneros também que entre mulheres (0,54%). A cocaína é visível em relação aos dependentes apresenta padrão semelhante, com pre- dessa substância, sendo 11,3% no sexo valência de uso na vida entre 5,4% dos masculino e 9,0% no feminino. homens e 1,2% das mulheres, com maior diferença entre os gêneros a partir dos Apesar de a prevalência ser maior entre 35 anos (com 4,5% de homens e 0,6% de os homens, esse dado mostra que a re- mulheres). Já o uso de solventes na vida lação entre uso e dependência aparenta ficou com 10,3% para o sexo masculino padrão semelhante entre os sexos, sen- e 3,3% para o feminino. Os dependentes do que para cada quatro homens ou mu- somam 0,27% e 0,20%, respectivamente lheres que fazem uso de tabaco, um se (CARLINI et al., 2007). torna dependente (CARLINI et al., 2007). Além desses importantes dados, o es- Com relação à maconha, o uso na vida é tudo mostra que a percepção de risco em média três vezes maior para o sexo grave do uso de álcool, maconha e co- masculino do que para o feminino, em to- caína ou crack é maior nas mulheres do das as faixas etárias, totalizando 14,3% que nos homens, o que de certa forma e 5,1%, respectivamente. A dependência explica o consumo mais frequente e de maconha foi aproximadamente cinco mais intenso dessas substâncias pelo vezes maior entre os homens (2,41%) do sexo masculino. Outro dado que tam-398
Atenção à saúde mental do homembém pode ser relevante para explicar Quando comparamos os dados epide-o consumo ampliado de drogas para o miológicos do consumo de álcool entresexo masculino é a prevalência do ofe- homens e mulheres, vemos situaçõesrecimento de drogas aos indivíduos. En- bem distintas. De acordo com o Levanta-tre os homens, 8,6% referiram que já lhe mento Nacional de Álcool e Drogas rea-foi oferecido algum tipo de droga, sendo lizado no ano de 2012, 62% dos homensque entre as mulheres esse número cai entrevistados e 39% das mulheres afir-para 2,8% (CARLINI et al., 2007). maram ter consumido álcool no último ano. Já o hábito de beber regularmente,No que se refere às consequências do uso mais especificamente uma vez na se-de substâncias psicoativas, cerca de 87% mana ou mais, mostrou-se similar aodas mortes associadas com essa ques- anterior, estando presente em 64% dostão ocorrem com os homens, mostran- homens e 39% das mulheres. Por fim, odo que as taxas de mortalidade são bem beber em binge, que corresponde à in-maiores para esse público específico. Os gestão de quatro a cinco doses de álcoolacidentes de trânsito após o consumo de no período de duas horas, foi relatado pordrogas, especialmente, têm prevalência 66% dos homens e 49% das mulheres en-de 4,1% para o sexo masculino e 0,6% trevistadas. Esses dados mostram a in-para o feminino (CARLINI et al., 2007). gestão pesada entre homens e mulheres; mas fica evidente que os homens bebemO álcool, por ser uma droga lícita ampla- mais quando fazemos essa comparação.mente consumida ao redor do mundo, Da mesma forma, com relação à depen-merece atenção especial. A Organização dência de álcool na população brasileira,Mundial da Saúde (OMS) estima existi- o levantamento mostra que o consumorem cerca de dois bilhões de pessoas no regular e abusivo do álcool está presentemundo que consomem essa substância, em 6,8% da população, sendo 10,5% ho-sendo que, dentre os usuários, 76,3 mi- mens e 3,6% mulheres, com visíveis dife-lhões apresentam problemas com o uso renças entre gênero (LENAD, 2013).de bebidas alcoólicas, o que constitui umíndice alarmante (WHO, 2004). No Brasil, Em 2005 o II Levantamento Domiciliardados demográficos apontam que o con- sobre Uso de Drogas Psicotrópicas nosumo do álcool determina mais de 10% Brasil, os homens também apresentamde toda a morbidade e mortalidade ocor- maior prevalência de uso na vida de ál-rida no país, o que representa um dos pro- cool em todas as faixas etárias e regiõesblemas de saúde pública mais graves da do Brasil, com 83,5% e 68,3% das mu-atualidade (MELONI; LARANJEIRA, 2004). lheres. Com relação à dependência do 399
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