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BOOK_Saude_Homem_vert

Published by Paulo Roberto da Silva, 2018-12-04 18:03:03

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enfatiza de forma inequívoca que a in- Pais > Quando neste módulo se referir corporação dos pais e da paternidade a “pais” e à “paternidade”, não esta- pelos serviços, gestores, trabalhadores rá falando apenas do laço sanguíneo e profissionais do Sistema Único de Saú- de (SUS) têm o potencial de trazer bene-  entre um homem e seu filho ou filha, fícios para a saúde das mulheres, das mas também de diversos outros ho- crianças e dos homens. mens – padrastos, avôs, tios, irmãos mais velhos, amigos etc. – que tantas A paternidade pode ser estratégica para vezes ocupam este papel, desempe- a inserção dos homens na agenda dos nhando a função paterna com cari- serviços de saúde, à medida em que nho, amor e compromisso. atua como uma “porta de entrada posi- tiva” para estes, podendo contribuir para Numa definição mais abrangente, famí- os direitos sexuais e reprodutivos e para lia é “qualquer grupo de indivíduos que uma melhor qualidade de vida e saúde formam uma família com base no amor, familiar. É importante destacar que um respeito e carinho e fornece suporte dos obstáculos à saúde dos homens é para manter o seu bem-estar” (BOZETT por um lado a relutância de muitos de- apud LIMOGE; DICKINSON, 1992, p. 46). les em adotar um estilo de vida mais Exemplos de outros tipos de família in- saudável e em frequentar regularmente cluem: famílias homoparentais, mono- os serviços de saúde, sobretudo os da parentais, pluriparentais, pais residentes Atenção Básica (AB) em saúde. Impor- e não residentes, pais divorciados, ado- tante considerar também, por outro lado, tivos, padrastos, avós (PROGRAMA, P., que estes mesmos serviços de saúde 2014, p. 30). também apresentam ainda barreiras cul- turais, simbólicas e institucionais que Em razão sobretudo de determinantes dificultam o acesso qualitativo e quanti- econômicos, segundo o Censo do Insti- tativo desta população. tuto Brasileiro de Geografia e Estatísti- ca (IBGE, 2011) a formação tradicional Ao usar a palavra família deve-se ter – pai, mãe, filhos/as – vem dando lu- em mente a diversidade que existe para gar a novas formas de relacionamento além do modelo tradicional, onde ambos e organização familiares. A formação os pais (pai e mãe) vivem juntos em uma tradicional está presente em 49,9% dos casa com seus filhos e filhas. domicílios enquanto que outros tipos de famílias são responsáveis por 50,1%. No Brasil, já são mais de 10 milhões de fa- mílias em que há só a mãe ou o pai.450 

Com este olhar, que compreende a pa- • Este módulo aborda a importância doternidade como um tema fundamental e envolvimento dos homens através danecessário para a realização dos princí- paternidade ativa em todas as etapaspios e objetivos gerais do SUS, convida- da gestação e do desenvolvimento in-mos você a: fantil, bem como a importância deste tema para o acesso com qualidade• conhecer o conceito da “paternidade dos homens aos serviços de saúde ativa”, seus possíveis benefícios, e o da Rede SUS. relevante papel das construções de gênero neste contexto; além de entrar Objetivos de aprendizagem em contato com algumas boas práti- para este módulo cas e recomendações para os profis- sionais de saúde;• descobrir a estratégia “Pré-Natal do Ao final deste módulo o aluno deverá Parceiro”, uma iniciativa recente e ser capaz de reconhecer a importância muito promissora da PNAISH voltada do envolvimento dos futuros pais, como para engajar os homens na esfera da também daqueles homens que já são saúde, gestação, parto, pós-parto, de- pais e podem revivenciar de outros mo- senvolvimento da criança e na equi- dos a paternidade em todas as etapas dade entre os gêneros; da gestação, parto, puerpério, cuidados relacionados ao desenvolvimento da• compreender a importância da diver- criança, bem como saúde e bem-estar sidade para este tema, abordando a de mulheres, homens e crianças. paternidade jovem e adolescente, a homoparentalidade, a paternidade Carga horária de estudo entre pais solteiros e a importância recomendada para este módulo da rede comunitária para a conquista de uma maior visibilidade para esses 30 horas pais e crianças, primando pela com- preensão das relações familiares e vínculos afetivos por eles legitima- mente estabelecidos.  451



Sumário 455 457Unidade 1 460Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde 4641.1 Gênero, masculinidades e a paternidade ativa1.2 Paternidade ativa 4731.3 A equipe de saúde e a paternidade ativa 477 479Unidade 2 483Pré-natal do parceiro2.1 O acolhimento do pai e parceiro 4852.2 Passo a passo do pré-natal do parceiro 4882.3 Pais de filhos e filhas prematurose o Método Canguru 491 495Unidade 3 499Paternidade e diversidade3.1 Paternidade entre homens jovens e adolescentes 5013.2 Homoparentalidade 5023.3 Paternidade em famílias monoparentais 5073.4 Rede de apoioEncerramento do móduloReferênciasSobre os autores  453



UN1Gênero, paternidade ativae os serviços de saúde



Paternidade e cuidadoPara iniciar o estudo desta etapa, é 1.1 Gênero, masculinidadesimportante lembrar que para a saúde e a paternidade ativado homem faz parte o bem estar comsua família. Nesta unidade, você vai se A discussão que iniciamos agora – efamiliarizar com alguns contextos rela- que conduzirá boa parte deste módulo –cionados a sua vivência, seja pessoal, está diretamente relacionada a algo queseja profissional. muitas pessoas em nossa sociedade ainda tomam como uma verdade abso-Você vai perceber e discutir com seus luta: a ideia de que homens e mulherescolegas que o homem e as mulheres so- são “sexos opostos”.frem alguns estigmas ou rótulos sobreas questões de gênero, como que o ho- Tal compreensão se dá, em grande me-mem é o provedor do dinheiro da família dida, pela crença ainda generalizada dee que somente as mulheres é quem são que o nosso sexo biológico, assim comopreparadas para o cuidado com o filho, os nossos hormônios e genética, deter-e esta discussão será importante aos minam não apenas algumas de nossasprofissionais de saúde para compreen- características físicas, mas tambémder a representação da paternidade para nossos desejos, anseios, preferências ealguns homens. aptidões.Também vamos apresentar a importân- O problema é que essa visão tende a co-cia e os desafios enfrentados pelos ho- locar homens e mulheres em rota de co-mens na execução de uma paternidade lisão – como nas brincadeiras de “me-que seja participativa, e estratégias da ninas contra meninos” de programasequipe de saúde para a inclusão do ho- infantis. Isso reforça a noção de “guerramem a fim de conquistar e facilitar uma dos sexos”, bastante difundida em nos-paternidade ativa. sa sociedade e no imaginário simbólico coletivo.A partir da compreensão dos aspectossocioculturais que influenciam nas es- Em sociedades conservadoras como apecificidades em saúde da população nossa, a educação de homens e mulhe-masculina, e em consonância com estra- res é orientada, desde muito cedo, paratégias das equipes de saúde é possível responder a modelos predeterminadosreconhecer as especificidades na abor- (e mutuamente excludentes) do que édagem para uma paternidade ativa. ser homem e do que é ser mulher.  457

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Mas além de estabelecer que “ser homem Para aprimorar seus estudos sobre é diferente de ser mulher”, as constru- a perspectiva relacional de gênero, ções de gênero, marcadas pelo patriarca- do e machismo, também demarcam que  consulte a cartilha Homens também “ser homem é melhor do que ser mulher”. cuidam!, produzida pela UNFPA e Ins- tituto Papai (2007). Disponível em: Figura 1 –As construções de gênero: “Ser homem <http://www.unfpa.org.br/Arquivos/ é melhor do que ser mulher” homenstambemcuidam.pdf>. Esse pensamento insiste em afirmar a existência de um “instinto materno” como um traço quase mágico e inerente à constituição das mulheres. Por outro lado, os homens são frequentemente vistos como naturalmente incompeten- tes ou incapazes de exercer esse cuida- do, sendo a sua principal função social a de prover financeiramente pela família. Fonte: Fotolia. No entanto, tanto homens quanto mulhe- res têm o potencial de cuidar, sendo essa Pessoas e instituições que insistem uma capacidade humana que se mani- em enquadrar homens e mulheres den- festa e se desenvolve de acordo com as tro destas ‘caixas’ específicas, também circunstâncias. costumam rejeitar ou ignorar a discus- são sobre a perspectiva relacional de Ou seja: o cuidado faz o cuidador (Car- gênero. Analisando o cuidado de filhos valho, 2007). E, neste sentido, questio- e filhas, vemos que ainda hoje prevale- na-se: Como esperar que pessoas que ce a ideia de que as mulheres são natu- nunca foram expostas ao cuidado te- ralmente – e mesmo espiritualmente – nham facilidade, disponibilidade e/ou preparadas para a maternidade e para o desejo de cuidar? cuidado de crianças. Esta é a realidade de muitos homens que, desde a infância, não apenas não foram estimulados a exercer o cuidado, como, por vezes, foram castigados ao fazê-lo.458 

Paternidade e cuidadoUm menino que é repreendido verbal- a diferentes movimentos de mulheres,mente ou mesmo fisicamente por brincar feministas, ao movimento LGBT e aode boneca ou de casinha é um exemplo movimento negro, que têm rejeitado hácomum e recorrente deste fenômeno em muitos anos a noção de que o nossonossa cultura. No caso, os adultos ao sexo determina o nosso desejo e os nos-seu redor não enxergam que a criança ao sos comportamentos, e de que algumasrealizar este ato está aprendendo a cui- pessoas são melhores do que outras.dar e exercer o papel de pai, mas sim, queaquela brincadeira pode vir a ter alguma  Assista ao vídeo A história de Márcio,relação com a sua sexualidade futura. da Rede MenCare, que retrata muito bem a situação de um homem queÉ importante ter em mente que nenhum se recusa a repetir velhos modeloshomem ou mulher segue à risca o que é e opta por vivenciar uma paternida-socialmente esperado do comportamen- de ativa e afetuosa. Disponível em:to masculino e feminino. Na verdade, feliz- <http://promundo.org.br/recursos/mente temos cada vez mais pessoas, ins- mencare-video-do-brasil/>.tituições, políticas e leis que respeitam adiversidade e a singularidade de cada um. Inspirando-se nesses movimentos, ho- mens e mulheres começaram, com maisSe hoje observamos tal realidade, onde vigor a partir da década de 1990, a deba-mulheres e também homens possuem ter, pesquisar e traçar iniciativas direcio-maior liberdade para se expressarem e nadas especificamente aos homens ouviverem, devemos isso, em boa medida, às masculinidades.Figura 2 – Tanto homens quanto mulheres têm o potencial de cuidarFonte: Fotolia.  459

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúdeAs reflexões de Kaufman (1999), por dade ‘plena’, que implica desde a decisãoexemplo, reforçam que as masculini- conjunta de ter filhos até as consultas dedades são, geralmente, construídas em pré-natal, o acompanhamento do parto eoposição ao feminino, o que resulta no todos os afazeres e prazeres posterio-distanciamento de muitos homens do res relacionados à criação das crianças,universo da paternidade, do cuidado e da pode ser a faísca necessária para umasaúde e, por outro lado, aproximando-os profunda reflexão e consequente mu-dos comportamentos violentos (contra dança em relação às formas que os ho-mulheres ou outros homens). mens expressam as masculinidades.1.2 Paternidade ativa A paternidade pode representar uma revo- lução dos afetos, uma introdução ou umA paternidade pode contribuir decisiva- aprofundamento em direção à sensibili-mente para uma ‘revolução’ na forma dade, delicadeza e cuidado, algo que, aoscomo os homens expressam e viven- poucos, pode transbordar para as rela-ciam as suas masculinidades. A paterni- ções na sociedade (COSTA LIMA, 2014). Paternidade ativa Participa do cuidado diário, da criação e do desenvolvimento do seu filho ou filha. É corresponsável pela criança, compartilhando com a sua parceira as tarefas domésticas e de cuidado, tais como: alimentar, vestir, passear, colocar para dormir, brincar, dar banho e ensinar. Estimula o desenvolvimento de sua filha ou filho em cada etapa de sua vida. Tem uma relação afetuosa incondicional com ele ou ela. Cria de maneira participativa e com liberdade, dando limites, mas sempre com respeito. É um pai presente, sabendo que isso envolve também prover financeiramente.460 

Paternidade e cuidadoÉ com essa abertura para as emoções e 10 atitudes centrais para o exercício da paternidadeafetos que uma nova paternidade podeemergir, a denominada “paternidade ati- 1. Estar envolvido desde ova”, que envolve um pai, parceiro ou ou- início (desde a decisão detra figura paterna. ter filhos)Seguindo linha similar, a plataforma 2. Compartilhar as tarefasdigital “Homens Cuidam: Envolvendo domésticas e de cuidadoHomens na Paternidade e no Cuidado”,apresenta 10 atitudes centrais para o 3. Assumir e ter orgulho daexercício da paternidade. Observe o es- paternidadequemático ao lado. 4. Cuidar da saúde de seu filho Braço brasileiro da campanha glo- 5. Brincar e rir bal MenCare e também vinculada à Aliança MenEngage, a plataforma 6. Educar em casa e na escola digital “Homens Cuidam” tem como objetivo informar e dar visibilidade às 7. Ser corajoso, demonstrando iniciativas desenvolvidas pela ONG seu afeto Promundo e seus parceiros no Brasil e no mundo, sobre transformação de 8. Criar sem violência gênero através do envolvimento de meninos e homens como cuidadores 9. Ensinar os valores da equitativos e não violentos. Saiba igualdade e do respeito mais em <http://promundo.org.br/ recursos/homens-que-cuidam-um- 10. Apoiar integralmente a estudo-qualitativo-multipais-sobre- mãe/parceira homens-em-papeis-nao-tradicion ais-de-cuidado/>.No entanto, destaca-se que, apesar dos Fonte: <http://homenscuidam.org.br>.avanços graduais no exercício da pater-nidade ativa, este caminho ainda é mar- (CNSH), responsável pela condução dacado por dificuldades. Conforme mate- PNAISH no âmbito do MS, em parceriarial pedagógico do curso “Promoção do com o Instituto Promundo, conhecê-losenvolvimento dos homens na paternida- pode ajudar o profissional de saúde ade e no cuidado, elaborado pela Coor- compreender melhor qual a situaçãodenação Nacional de Saúde do Homem da mulher, do pai ou da família atendida  461

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde e, com isso, buscar o melhor caminho Promundo > A organização não go- (quando possível e desejado pela mu- vernamental Instituto Promundo atua lher) para o envolvimento ativo dos pais ou futuros pais.  em diversos países do mundo – no Brasil, está sediada na cidade do Rio de Janeiro – buscando promover a igualdade de gênero e a prevenção de violência com foco no envolvimento de homens e mulheres na transfor- mação das masculinidades. Quatro obstáculos para o envolvimento dos homens com a paternidade Obstáculos individuais Obstáculos comunitários Não ter tido contato com pai biológico ou Reforço de papéis estereotipados de com outra referência paterna importante; homens e mulheres (por exemplo, homem experiência de violência física ou psicoló- = provedor e mulher = cuidadora) por parte gica com o pai, como vítima direta ou como de serviços de saúde, creches, escolas e testemunha de violências contra mãe e instituições religiosas e falta de apoio e outros familiares; ter recebido educação incentivo dos mesmos; não existência de muito tradicional e rígida em relação aos grupos de pais; não liberação por emprega- ‘padrões de gênero’; alcoolismo ou consu- dor para acompanhar consultas de pré-na- mo abusivo de outras drogas; estar desem- tal, parto e consultas de pediatria e pregado ou ter um trabalho que o distancia reuniões na escola. dos filhos; estar em situação de privação de liberdade; depressão e outros transtor- nos mentais. Obstáculos relacionais Obstáculos sociais Não estar (às vezes nunca ter estado) em Licença-paternidade de 20 dias apenas para um relacionamento afetivo com a mãe da funcionários das empresas que participam criança; vivência de fortes conflitos ou do \"Programa Empresa Cidadã\"; não respei- violências com mãe da criança; distancia- to à Lei no 11.108/05 – Lei do Acompa- mento, falta de apoio e falta de incentivo da nhante – por diversos profissionais ou família para que assuma a paternidade instituições de saúde; machismo e patriar- ativa e corresponsável. cado, que continuam muito presentes em nosso contexto cultural, reforçando papéis estereotipados de gênero; reprodução e reforço de papéis estereotipados de homens e mulheres pela mídia e publicidade.462 

Paternidade e cuidadoPara não correr o risco de criar ou for- Ainda, as mulheres que têm parceirostalecer estigmas, é importante saber envolvidos se sentem mais apoiadasque nenhum desses obstáculos (ou emocionalmente e menos estressadasnenhuma combinação deles) pode ser do que as mulheres com parceiros au-compreendido como determinante para sentes e não envolvidos. Os homenso não envolvimento dos homens com a também se beneficiam: aqueles que par-paternidade – tal como se existisse um ticipam de forma mais igualitária no cui-perfil de “pai ausente”. dado apresentam melhor saúde física e mental do que aqueles que não o fazemNa verdade, eles devem servir como (PROMUNDO, 2015, p. 17).alertas para os profissionais de saúde,apontando cenários que precisam ser No ano de 2016, a paternidade tem con-vistos e trabalhados de forma mais aten- quistas importantes para o país, ondeta, inclusiva e humanizada. Uma das for- a Lei 13.257/2016 estende a licençamas da equipe de saúde potencializar paternidade em mais 15 dias para osa paternidade ativa é a orientação clara funcionários das empresas cidadãs.durante o pré-natal, transmitindo à futura E o decreto nº 8.737 de 03 de maio demãe, ao futuro pai ou ao casal os diver- 2016 amplia a licença paternidade parasos benefícios que podem advir de um os servidores públicos federais em 15envolvimento ativo dos homens com a dias, além dos 5 garantidos pela Consti-gestação, o parto, o pós-parto e os cui- tuição Federal.dados posteriores com a criança.Neste sentido, estudos têm indicado be-  Para saber mais sobre os possíveisnefícios que podem advir de um maior benefícios da paternidade ativa paraenvolvimento dos homens com o papel a gestação e parto, para as crianças,de cuidador, dentre eles, que as crianças mulheres/mães e homens/parceiros,que têm modelos de apoio e afeto de indicamos inscrever-se no curso Pro-uma figura paterna são mais propensas moção do Envolvimento dos Homensa ser mais seguras e mais protegidas da na Paternidade e no Cuidado, umaviolência, têm futuros mais bem-sucedi- parceria entre a CNSH e o Institutodos e lidam com as tensões da vida com Promundo, disponível na Plataformamaior facilidade do que aquelas com um Comunidades de Práticas, do Mi-pai ausente ou sem qualquer modelo nistério da Saúde. Acesse: <https://masculino para se espelhar. cursos.atencaobasica.org.br/cour ses/16135>.  463

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Abaixo são apresentadas algumas recomendações para profissionais e serviços de saúde que podem estimular a paternidade ativa e o acesso dos homens ao cuidado nas unidades de saúde. Na Nova Zelândia, quase 1/3 dos futuros pais modificaram sua dieta e diminuíram ou cessaram o uso de tabaco/cigarro durante a gestação de suas parceiras. Os pais que estão engajados no cuidado de seus bebês são mais propensos a criar um vínculo emocional com eles. Benefícios da paternidade Estudos qualitativos e quantitativos demonstraram para os homens que homens engajados como pais relatam estar mais satisfeitos com suas vidas e cuidar mais de sua saúde. Homens envolvidos com a paternidade são mais propensos a estar satisfeitos com suas vidas, a viver mais tempo, adoecer menos, consumir menos álcool e drogas, estressar-se menos, se envolver menos em acidentes e ter um maior envolvimento com a comunidade. Um dos maiores estudos sobre violência de gangues nos EUA, que durou 45 anos e acompanhou mais de 1000 homens de Boston, chegou à conclusão que um dos principais motivos para que eles não entrassem ou para que saíssem de gangues era o fato de estarem conectados com seus/suas filhos(as). 1.3 A equipe de saúde e a Um dos grandes facilitadores para o en- paternidade ativa volvimento dos homens com a paterni- dade e o cuidado nas ações de saúde, Antes das recomendações que pretende- em especial na Atenção Básica, é que mos apresentar a você, é importante res- a medida traz pouco ou nenhum custo saltar que, apesar da área da saúde ser financeiro para os seus serviços. Como estratégica neste processo de construção costuma afirmar o médico e professor da paternidade ativa e de uma sociedade Geraldo Duarte (chefe do setor de Obs- com maior igualdade de gênero, seus es- tetrícia de Alto Risco do Departamento forços precisam ser acompanhados por de Ginecologia e Obstetrícia da Faculda- outros igualmente importantes, tais como de de Medicina da USP e um dos idea- a ampliação da licença-paternidade. lizadores do Pré-Natal do Parceiro), às464 

Paternidade e cuidadovezes, tudo o que o(a) profissional de jamento reprodutivo, da gestação, dosaúde precisa é colocar duas cadeiras parto, do pós-parto e do desenvolvi-na sala durante o pré-natal e, durante mento de seus filhos e filhas;esse atendimento, se comunicar aberta-mente, direcionando a sua atenção tanto • em instituições de saúde onde o focopara a mulher quanto para o homem. quase sempre foi direcionado às mu- lheres/gestantes/mães e às crianças,Figura 3 – Comunicação aberta do profissional de devemos estimular e criar estratégiassaúde para que, sempre que possível, os ho- mens/parceiros/pais sejam incluídos integralmente.Fonte: Fotolia. Com a finalidade de aprofundar mais este tema, a seguir serão apresentadas duas iniciativas que têm contribuído sobremaneira para suplantar esses obs- táculos: a estratégia “Unidade de Saúde Parceira do Pai” e o “Programa P”. Unidade de Saúde Parceira do PaiSe os obstáculos materiais são poucos Em 2002, a Prefeitura do Rio de Janeiroou inexistentes, os obstáculos simbó- criou o Movimento pela Valorização dalicos são grandes. Para enfrentá-los, é Paternidade, tendo como embasamentointeressante levar em consideração que: as seguintes constatações:• em uma sociedade machista, onde  O envolvimento do pai nas o cuidado e afeto dos homens é não ações de cuidado é um dos re- apenas desestimulado, como, por ve- cursos mais importantes e, no zes, combatido, devemos enquanto entanto, mais mal aproveitados profissionais de saúde e formadores na promoção da saúde e do de- de opinião difundir a mentalidade de senvolvimento das crianças e que homens cuidadosos e afetuosos dos adolescentes. Os próprios têm não somente o compromisso, serviços de saúde, muitas vezes como também o direito de se envol- denominados materno-infantis, verem em todas as etapas do plane- contribuem para afastá-los, re-  465

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde forçando a concepção de que caram que o maior desafio enfrentado as referidas ações – de cuidado pelos serviços é – são de responsabilidade ex- clusiva das mulheres. (CASTEL-  contribuir para que este homem LO BRANCO et al., 2009, p. 3). se sinta valorizado como pai e te- nha oportunidades de receber in- Desde então, o Movimento – composto formações, trocar experiências, por diferentes órgãos municipais, uni- desenvolver habilidades de cui- versidades, ONGs e voluntários – tem dado e formar vínculos significa- desenvolvido diversas estratégias, den- tivos com os filhos. (CASTELLO tre elas a instituição do mês de agosto BRANCO et al., 2009, p. 6). como “Mês de Valorização da Paternida- de” e a criação de campanhas cujo foco Como resposta a esse desafio, o movi- é um maior envolvimento dos pais. mento criou a estratégia “Unidade de saú- de parceira do Pai”, que vem sendo im- Figura 4 – Unidade de Saúde Parceira do Pai plantada com sucesso no município do Rio de Janeiro e tem como metodologia norteadora os “10 Passos para ampliar a participação do pai nas políticas públi- cas”, que apresentaremos logo a seguir. Fonte: Brasil (2002). É também importante destacar que a equipe precisa estar preparada para a Ao chegar à conclusão de que a maioria entrada do pai nas rotinas assistenciais. dos pais está presente de alguma forma Este preparo precisa do apoio dos ges- na vida de seus filhos e filhas, especial- tores para a mudança de concepções de mente durante os primeiros anos de vida, gênero e de família, já que, anteriormen- os integrantes deste Movimento identifi- te,a prioridade era das mães. As diversas equipes de profissionais pre- cisam estar sensibilizadas para a impor- tâncias da presença do pai, que deixa de ser um mero espectador e se torna atuan- te e parceiro no cuidado com a família, reconhecendo o impacto benéfico do en- volvimento paterno na saúde da criança.466 

Paternidade e cuidadoVeja algumas estratégias de inclusão do homem nas ações de pré-natal, parto e cui-dados com a criança, no quadro a seguir.Na visita às famílias: onde houver gestante, portante do cuidado familiar. Algumas estraté-busque o contato com o companheiro desta gias simples compartilhadas pela publicação:para estimulá-lo a comparecer às consultas eàs atividades grupais no pré-natal e no cuidado • acrescente cadeiras nos consultóriospediátrico. para que homens/pais possam participar das consultas com suas companheiras eAo longo do pré-natal: pergunte à futura mãe filhos, fazendo com que se sintam acolhi-sobre o envolvimento do pai com a gestação. dos e motivados para retornar nas outrasConverse com ela, sensibilizando-a para os be- consultas;nefícios do envolvimento dos homens com oscuidados com a família. Ofereça o seu apoio • exponha cartazes, fotos e revistas compara ajudá-la a conversar com ele se for ne- imagens e conteúdos que valorizem acessário. Registre no prontuário ou na ficha de paternidade: nas salas de espera, nosacompanhamento se o pai está envolvido com corredores, nas enfermarias e nos aloja-a gestação. mentos conjuntos;Nas consultas de pré-natal: convide os pais a • divulgue informações sobre licença-pa-sentarem e participarem da conversa, estimu- ternidade e o direito dos pais de acom-lando-os a tirarem suas dúvidas. O exame de ul- panharem o parto por meio de cartazes etrassonografia é uma situação privilegiada para informes nos quadros de aviso.a vinculação do pai com a criança. Muitos paiscomentam que nesse momento “cai a ficha”. Dar visibilidade ao tema do cuidado paterno: o preconceito quanto ao homem cuidar frequen-Promover atividades educativas com os ho- temente está presente no meio social onde osmens: os serviços de saúde devem ter uma pais vivem, e que muitas vezes desvaloriza suapreocupação especial em oferecer aos ho- participação nas tarefas com as crianças. Amens uma oportunidade para aprendizado e falta de apoio da rede social faz com que mui-troca de experiências sobre atividades cuida- tos pais deixem de reivindicar a sua participa-doras. A publicação sugere a criação de espa- ção no cuidado dos filhos na sua relação comços de discussão – sobretudo para os pais de as mulheres e com os serviços de educação e“primeira viagem” – com metodologias partici- saúde. A equipe de saúde pode contribuir imen-pativas que facilitem a expressão de sentimen- samente para a superação desse obstáculo aotos, a troca de experiências e o desenvolvimen- desenvolver ações com diferentes setores dato de habilidades e competências. sociedade e da comunidade, promovendo a va- lorização do cuidado paterno, como por exem-Acolher e cuidar dos homens: aproveite a pre- plo o Mês da Valorização da Paternidade.sença dos homens para incentivá-los a cuidarda própria saúde, atualizar suas vacinas e fre- Criar horários alternativos: dialogue com aquentar os diferentes serviços da unidade. equipe e gestores sobre a possibilidade de ofe- recer horários alternativos, tais como sábadosPreparar o ambiente: crie para o pai um am- ou 3o turno, para consultas, atividades de gru-biente acolhedor, onde ele se sinta parte im- po e visita à maternidade, de forma a facilitar a  467

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde presença dos pais que trabalham. A sociedade a necessidade de recolhimento da mulher e é bem menos tolerante com os homens em permitindo que ela possa mergulhar profunda- relação a faltar ao trabalho para acompanhar mente no contato com seu corpo. Estimule-o alguma consulta ou internação. a apoiá-la. Fortalecer a rede de apoio social: a falta de Nos primeiros momentos de vida da criança: emprego e de qualificação para o trabalho é um estimule-o a pegar o recém-nascido e a cortar dos principais obstáculos para o envolvimento o cordão umbilical, conduzir o bebê com a mãe dos homens, principalmente os pais jovens de ao alojamento conjunto. Incentive os pais a da- baixa escolaridade. Torna-se fundamental es- rem o primeiro banho do bebê. O pai também tabelecer parcerias com a Assistência Social e poderá praticar o “Método Canguru”, caso o outros setores para facilitar o acesso a empre- bebê seja prematuro e este método esteja in- go, profissionalização, ajuda para obras, Bolsa dicado. Valorize o apoio emocional que os pais Família etc. podem dar às mães durante a amamentação. Informe sobre a Lei no 11.108/2005, que per- Durante o trabalho de parto: oriente-o para que mite o acesso dos pais nos hospitais no pré- mantenha a atenção cuidadosa à gestante, evi- -parto, parto e pós-parto, enfatizando que “pai tando conversas longas e tensas, respeitando é cuidador, não é visita”. Este esforço de inclusão deve começar o Apesar do interesse em participar, al- mais precocemente possível, nas ações guns homens ficam presos ao trabalho, de contracepção e no teste de gravidez. perdendo oportunidades únicas em suas Os profissionais precisam deixar claro trajetórias dentro da paternidade. Por que a presença do homem e pai é ben- isso, é de suma importância oferecer vinda e que estes devem ser explicita- sempre que possível uma declaração de mente convidados para todas as ativida- comparecimento por parte da unidade des relacionadas ao cuidado com seus de saúde para que eles possam justifi- filhos ou parceiras, incluindo consultas, car o motivo da legítima ausência junto exames, grupos reflexivos e educativos. a sua família. O pai ou parceiro, principalmente quan-  As informações que acabamos de do a família é formada apenas pelo ca- compartilhar são de autoria de Cas- sal, costuma ser a única ou principal re- tello Branco et al. (2009), e foram ferência emocional e social da gestante. aqui apresentadas de forma resu- Quando bem informado e preparado, mida. Acesse e conheça mais so- este dá segurança emocional à mulher, bre esse valioso trabalho: <http:// trazendo benefícios à sua saúde e à da primeirainfancia.org.br/wp-content/ criança. uploads/2016/04/unidade-de-sac3 bade-parceira-do-pai.pdf>.468 

Paternidade e cuidadoPrograma P: Manual para o Exercício  Aprofunde a leitura do Programa Pda Paternidade e do Cuidado – Manual para o exercício da pater- nidade e do cuidado. Acesse: <http://Destinado a profissionais de saúde, da promundo.org.br/recursos/programaeducação e trabalhadores comunitários, o -p-manual-para-o-exercicio-da-paPrograma P (‘P’ de ‘Pai’, no Brasil, e de ‘Pa- ternidade-e-do-cuidado/>.dre’, na América Latina) é um manual ba-seado nas evidências das melhores práti- Dentre as diversas e valorosas contri-cas sobre a participação de homens e de buições deste manual, listamos as reco-suas parceiras (ou parceiros) no exercício mendações a seguir:da paternidade e do cuidado, assim comona saúde materno-infantil e inclusão daperspectiva de autocuidado masculino.1) Dicas para quando a mãe vai sem o pai às • Se o futuro pai não pode acompanhá-la nasconsultas de pré-natal consultas por razões como viagens, traba- lho, prisão etc., oriente a mãe a transmitir a• Se a gestante chega à consulta sem acom- ele todas as informações para que se sinta panhante, pergunte sobre o seu relaciona- estimulado a se envolver no processo mento com o futuro pai da criança e se ela gostaria que ele a acompanhasse nas próxi- 2) Dicas para quando o pai está presente nas mas consultas e durante o parto. consultas de pré-natal• Se a gestante quiser ir com o pai, converse • Envolva-o ativamente na entrevista e nas com ela sobre como convidar, sobre os be- consultas de pré-natal, não o trate como um nefícios desse envolvimento e sobre o que personagem secundário ou isolado. teriam que considerar para a sua participa- ção (horário a constar no pedido de autori- • Informe sobre alguns problemas que podem zação para sair do trabalho etc.). Conside- surgir durante este período, com destaque rar a possibilidade de uma carta modelo ou para a diabetes gestacional, síndrome hiper- folheto que a mãe possa levar dirigida a ele. tensiva, infecção do trato urinário etc. Certifi- que-se de chamar o futuro pai especialmente• Se a gestante não quiser que o pai participe, para este momento. Converse sobre os si- questione quais as razões e se gostaria que nais e sintomas para identificar uma emer- outra pessoa a acompanhasse. Explique os gência obstétrica e quais os passos a seguir. benefícios de ter um acompanhante nestes momentos. • Fale sobre a transmissão vertical das IST, como a sífilis e a Aids, e explique que é im-• Se ela decidir não ter o futuro pai como prescindível que o homem faça todos os acompanhante, respeite a sua decisão. Ana- exames voltados a esta questão. Demonstre lise se o comportamento do pai pode pôr em que esta é uma das primeiras atividades de perigo a saúde da gestante ou a gravidez. cuidado que ele pode exercer com seu filho.  469

UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde • Pergunte sobre as preocupações do casal • Explique de forma resumida e claramente quanto à vida sexual durante a gravidez. ao pai onde poderá estar na sala de parto e Forneça informação e orientação a ambos qual a sua contribuição para este processo. sobre o exercício da sexualidade nesta fase. Insista na importância de sua presença. • Incentive o futuro pai a dar apoio emocional • No momento do parto, verifique se o pai se e também apoiar nas tarefas práticas duran- encontra em local adequado, onde se sinta te toda a gestação. confortável e possa dar apoio emocional e psicológico à mãe durante o procedimento. • Incentive-o a participar na promoção de esti- los de vida saudáveis durante a gravidez. Por • Apoie o pai para que entre em contato com exemplo: alimentação saudável, ambientes seu filho o mais cedo possível: cortar o cor- livres de tabaco, consumo responsável de dão, segurá-lo, pesá-lo, acompanhá-lo em álcool, descanso, recreação, entre outros. procedimentos etc. • Convide o pai a participar de cursos de pre- • Lembrar ao pai que a Lei do Acompanhante paração para o parto (se houver) e juntos no 11.108/2005 se aplica a todos os tipos de fazerem uma visita à maternidade. parto (fisiológico e cesariana). • Fale sobre os seus direitos, como a licença Como apontado por este Programa, além de paternidade e a Lei do Acompanhante no todo o trabalho de orientação e sensibilização 11.108/2005. para gestores e profissionais de saúde, é im- portante que sejam criados protocolos, indi- 3) Dicas para o momento do pré-parto e do cadores e metodologias que possam avaliar o parto envolvimento e a participação dos pais/parcei- ros. Nesse sentido, o manual disponibiliza um • Em caso de o pai ser o acompanhante, diga Guia de avaliação sobre a paternidade nas uni- que a sua presença e apoio são essenciais dades de saúde, para o momento do pré-natal, para a mãe e para o bebê durante todo o parto e pós-parto, trazendo algumas questões processo de pré-parto e parto. Certifique-se básicas e norteadoras para os profissionais de que o pai e a mãe se sentem confortáveis e saúde, tais como: que são protagonistas neste momento tão significativo. » Perguntamos pelo pai da criança quando a mãe chega sozinha? • Explique o que é violência obstétrica e como a sua presença pode ser fundamental para » Reforçamos a importância da presença evitar que isso aconteça durante o parto. do pai no pré-natal? • Inclua o futuro pai e dê-lhe instruções es- » Registramos a presença ou a ausência do pecíficas sobre o que fazer nas situações pai em cada consulta? em que pode e quer participar, como ajudar a vestir a mãe, acomodar seus pertences, » Temos horários adequados para homens apoiá-la emocionalmente, fazer contato físi- que trabalham em tempo integral? co, entre outros. » Temos cursos para os pais durante a gra- • Inclua o futuro pai nas atividades de traba- videz? lho do método psico-profilático. Por exem- plo: fazer massagens na mãe, dizer-lhe pala- vras de incentivo e apoio, entre outros.470 

Paternidade e cuidadoFinalizando esta seção, ressalta-se uma como nas consultas de saúde e ou-máxima muito conhecida por quem tra- tras ações promotoras de saúde;balha com homens e saúde: É preciso iraonde os homens estão. • confrontar e questionar preconceitos e ideias machistas ou sexistas;Nesse sentido, o momento das visitasdomiciliares e o papel dos Agentes Co- • detectar interações vinculares “inse-munitários de Saúde é imprescindível guras” entre os pais ou mães e seuspara o sucesso de qualquer ação que filhos ou filhas e buscar promover in-queira sensibilizar e envolver os homens terações cooperativas, de diálogo ecom a paternidade e o cuidado. apoio;De acordo com o manual Paternidad • reforçar os aspectos positivos e asActiva, de Aguayo e Kimelman (2012, habilidades dos cuidadores e dosp. 52), algumas ações simples estão ao pais ou figuras, das mães e da família;alcance dos profissionais de saúde parapromover este encontro com os homens • convidar e motivar os pais ou figurasdurante as visitas domiciliares: paternas a participarem de oficinas e grupos sobre habilidades parentais• programar a visita em um horário em nas unidades de saúde. que os pais ou figuras paternas e as mães que trabalham fora de casa  Fotógrafo mostra a rotina de pais possam estar presentes; suecos que tiraram um ano de li- cença paternidade. Acesse: <http://• considerar os pais ou figuras pater- razoesparaacreditar.com/fotografia/ nas interlocutores importantes para fotografo-mostra-a-rotina-de-pais- as discussões sobre saúde, cuidado -suecos-que-tiraram-um-ano-de-li- e criação, assim, quando fizer per- cenca-paternidade/>. guntas ou dar orientações, se dirija a ambos (quando ambos estiverem presentes no momento da visita);• promover sempre a participação ati- va do pai ou figura paterna no cuidado diário de seus filhos ou filhas, assim  471



UN2Pré-natal do parceiro



Paternidade e cuidadoOlá! Nesta unidade abordaremos de que nos debates e ações voltadas para o pla-modo uma estratégia formulada recen- nejamento reprodutivo como uma estra-temente por iniciativa da PNAISH – o tégia essencial para qualificar a atençãoPré-natal do parceiro – pode contribuir à gestação, ao parto e ao nascimento,para que alguns dos conceitos e reco- estreitando a relação entre profissionaismendações descritos na Unidade 1 se- e trabalhadores de saúde, comunidade e,jam implementados na lógica da gestão sobretudo, aprimorando os vínculos afe-e dos serviços do SUS. tivos familiares dos usuários e das usuá- rias por meio dos serviços ofertados.A estratégia Pré-Natal do Parceiro, vol-tada para engajar os homens na esfe- Além deste importante foco, estasra da saúde, gestação, parto, pós-parto ações têm grande potencial para auxiliare na equidade entre os gêneros, busca num dos principais objetivos da política:contextualizar a importância do envol- ampliar o acesso e o acolhimento dosvimento consciente e ativo de homens homens aos serviços e programas deadolescentes, jovens adultos e idosos saúde, e qualificar as práticas de cuida-em todas as ações voltadas ao planeja- do com sua saúde de maneira geral nomento reprodutivo, e, ao mesmo tempo, âmbito do SUS.contribuir para a ampliação e melhoriado acesso e acolhimento desta popula- Para todas estas ações, a PNAISH res-ção aos serviços de saúde, com enfoque salta a importância da reflexão contínuana Atenção Básica. sobre as construções sociais de gênero voltadas às masculinidades, buscandoNeste sentido, o Pré-Natal do Parceiro abolir papéis estereotipados que afas-propõe-se a ser uma das principais por- tam os homens da saúde, do cuidado, dotas de entrada aos serviços ofertados afeto e da construção de relações maispela Atenção Básica em saúde à popu- igualitárias e humanizadas em suas par-lação de homens pais ou parceiros, ao cerias sexuais e afetivas.enfatizar ações orientadas à prevenção,à promoção, ao autocuidado e à adoção Da mesma forma, aponta a necessidadede estilos de vida mais saudáveis. de se pensar e desenvolver ações em saúde fora do enquadramento biológicoA PNAISH aposta na perspectiva da in- e heteronormativo – reconhecendo e va-clusão do tema da paternidade e cuida- lorizando, assim, os diversos arranjos fa-do, por meio do Pré-Natal do Parceiro, miliares existentes e as diferentes pos-  475

UN2 Pré-natal do parceiro sibilidades de vivenciar a paternagem, gurar à mulher o direito ao planejamento como, por exemplo, em casais homos- reprodutivo e à atenção humanizada à sexuais, pais solteiros, adolescentes ou gravidez, ao parto e ao puerpério, bem idosos, e também homens que desem- como o direito ao nascimento seguro e penham a função paterna (avôs, tios, ao crescimento e desenvolvimento sau- amigos, padrastos, etc.). dáveis das crianças. Com isso, a política busca enfatizar que Figura 6 – Rede Cegonha o momento da gestação e os cuidados posteriores com as crianças também devem ser aproveitados para valorizar modelos positivos de masculinidades, pautados pela cooperação, diálogo, res- peito, cuidado, não-violência e por re- lações entre gêneros que respeitem a diversidade, a pluralidade e a equidade como princípios básicos. Figura 5 – Cooperação, diálogo, respeito: modelos Fonte: Brasil (2011) positivos de masculinidades Esta rede visa proporcionar às mulhe- Fonte: Fotolia. res saúde, qualidade de vida e bem-es- tar durante a gestação, parto, pós-parto Dentro das políticas públicas afins, a e o desenvolvimento da criança até os Rede Cegonha, instituída no país em dois primeiros anos de vida. Ainda, tem 2011 (BRASIL, 2011a, 2011b), consiste a finalidade de reduzir a mortalidade em uma rede de cuidados que visa asse- materna e infantil e garantir os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e ho- mens, jovens e adolescentes. A propos- ta qualifica os serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no plane- jamento reprodutivo, na confirmação da gravidez, no pré-natal, parto e puerpério, constituindo uma oportunidade propícia para a inclusão e participação ativa dos pais/parceiros.476 

Paternidade e cuidadoNeste contexto, a Rede Cegonha pode Importante! De acordo com o relatóriocontribuir positivamente para a inserção A situação da paternidade e Cuidadodos homens nas consultas de pré-natal, no Brasil (Promundo e Mencare, 2015,e consolidar a mudança crucial do para-digma – do binômio mãe-criança para o  no prelo), ainda que timidamente, al-trinômio pai-mãe-criança. gumas ações da Rede Cegonha têm contemplado a população masculina,As equipes de saúde devem incentivar em especial no que tange ao acompa-o envolvimento do pai ou parceiro e sua nhamento e humanização do parto eparticipação desde o teste de gravidez, ao envolvimento com a amamenta-passando pelo puerpério até o acom- ção. Uma comparação entre as ca-panhamento do desenvolvimento inte- dernetas da gestante de 2008 e 2014gral do filho. O enfermeiro ou o médico, ilustra bem os avanços em curso.como integrante dessa equipe são res-ponsáveis pela realização do pré-natal 2.1 O acolhimento do pai e parceirona atenção básica, devendo proporcio-nar o acolhimento na unidade e sua inte- No momento em que a mulher ou pai pro-gração ao processo. curam o serviço de saúde com a suspei- ta de uma gravidez, devem ser seguidasDesta forma, adota-se também a estra- as orientações contidas no Teste rápi-tégia Pré-Natal do Parceiro como uma do de gravidez na Atenção Básica: guiaimportante “porta de entrada positiva” técnico (BRASIL, 2014), elaborado pelapara os homens nos serviços de saúde, Coordenação Geral de Saúde das Mulhe-aproveitando sua presença nas consul- res, em 2014, que indica o TRG para mu-tas relacionadas à gestação para ofertar lheres em idade fértil que apresentemexames de rotina e testes rápidos, convi- atraso menstrual, sendo em sua maioriadando-os a participarem das atividades igual ou superior a sete dias. Deve ser fa-educativas e ao exercício da paternidade cilitado o acesso ao TRG, com respeitoativa, buscando a integralidade no cuida- e atenção específica às adolescentes,do a esta população. devido às singularidades da faixa etária. Destaca-se que nesse momento deve ser realizado um acolhimento humani- zado, sendo que alguns aspectos, pon- tuados a seguir, devem ser observados pelos profissionais para a abordagem de homens ou de mulheres. Caso ele não  477

UN2 Pré-natal do parceiro possa estar presente, deve ser explicada e, sobretudo, empática, que pode ocorrer para sua parceira a importância do en- em boa parte dos momentos de interação volvimento deste. entre usuários e profissionais de saúde. Figura 7 – Qual o histórico do usuário com a pa- Quanto maior o vínculo estabelecido, ternidade? mais trocas verdadeiras se potenciali- zam entre o pai ou parceiro e os profis- Fonte: Fotolia. sionais que o assistem, possibilitando então o acesso respeitoso às informa- Durante o atendimento, é importante que ções mais íntimas destes homens no o profissional resgate o histórico deste que tange à sexualidade, práticas e usuário com o tema da paternidade, no eventuais comportamentos de risco e à sentido de conhecer suas experiências dinâmica conjugal e divisão de papéis e e vivências pregressas e expectativas tarefas nesta relação. quanto ao desempenho deste importan- te papel afetivo e social, a fim de captar Independente do resultado do teste rápi- quais são as facilidades e as dificulda- do de gravidez ou do exame laboratorial des encontradas, dialogando de maneira βHCG, esse primeiro contato deve ser sensível e construindo junto possíveis aproveitado para incorporar o homem nas estratégias de enfrentamento. ações voltadas para o cuidado integral à saúde, as quais podem ser desenvolvi-  Importante! Talvez não seja logo no das, como sugestão, em grupos focais de primeiro encontro que o profissional saúde do homem, durante as visitas dos abordará questões ligadas à intimi- agentes comunitários de saúde e em lo- dade do usuário, e sim ao longo do cais estratégicos do território (empresas, processo. áreas de lazer, bares), entre outros. O acolhimento não é um momento fixo ou É oportuno ofertar, já na primeira con- uma etapa, mas uma postura ética, política sulta, os testes rápidos de sífilis, HIV e o aconselhamento. Na consulta de retorno, o teste de gravi- dez apresentando resultado positivo, de- ve-se iniciar a rotina de pré-natal, parto e puerpério do parceiro, seguindo o fluxo apresentado a seguir.478 

Paternidade e cuidado2.2 Passo a passo do pré-natal do parceiroApós a confirmação da gravidez, em consulta médica ou de enfermagem, dá-se inícioà participação do pai ou parceiro nas rotinas de acompanhamento da gestante e nasações direcionadas aos cuidados com este pai ou parceiro. Este processo é compostopor cinco passos. Veja abaixo o esquemático do passo a passo do pré-natal do parceiro.Chegada do casal no serviço SUS 1o PASSO Realização do teste Primeiro contato com postura rápido de gravidez acolhedora: incentivar a partici- pação do parceiro nas consultasTeste realizado na UBS de pré-natal e atividades educa- tivas, informar que poderá tirarSIM NÃO dúvidas e se preparar adequada- mente para exercer o seu papelResultado Repetir teste durante a gestação, parto e pós- na unidade -parto. Explicar a importância e ofertar a realização de exames.Negativo Positivo 2o PASSO Vincular o homem as Vinculação a rotinaações de saúde da UBS do pré-natal Solicitar os testes rápidos de sífi- lis, HIV, Hepatites B e C e os exa- SIM Presença do parceiro mes de rotina de acordo com a no momento do teste idade do homem e os fatores deOfertar testes rápidos risco a que está exposto. e exames de rotina NÃO Ampliar o acesso e a oferta da Atualização do Convocar o parceiro testagem e do aconselhamento cartão de vacina para consulta para as infecções sexualmente transmissíveis é uma importan-Incentivar participação nas atividades te estratégia para a prevenção. A educativas, nas consultas e exames institucionalização dessas ações permite a redução do impactoParticipação no momento do parto  479

UN2 Pré-natal do parceiro destas doenças na população, a pro-  Importante! Conhecer o diagnóstico e moção de saúde e a melhoria da quali- ter acesso ao tratamento é um direito dade do serviço prestado nas unidades do cidadão. de saúde. Permite também conhecer e aprofundar o perfil social e epidemio- Estes procedimentos e exames devem ser lógico da comunidade de abrangência, solicitados respeitando-se os protocolos dimensionar e mapear a população de estabelecidos pelo Ministério da Saúde. maior vulnerabilidade, e com isso re- Caso seja detectada alguma alteração formular estratégias de prevenção e em algum desses exames, o pai deve ser monitoramento. referenciado para o tratamento dentro da rede SUS. O mesmo procedimento deve Confira no esquemático abaixo os exa- ser adotado caso o profissional verifique mes e procedimentos a serem solicita- a necessidade de outros exames. dos para o pai. Tipagem sanguínea e Eletroforese da hemoglobina Aferição de Pressão Arterial Fator RH no caso da (para detecção da mulher ter RH negativo) doença falciforme) Verificação de Peso e cálculo de IMC Pesquisa de antígeno de Dosagem de Glicose superfície do vírus da (índice de Massa Corporal) Hepatite B (HBsAg) Hemograma; Lipidograma; Teste treponêmico e/ou não Dosagem de Colesterol HDL; treponêmico para detecção de Dosagem de Colesterol LDL; Sífilis por meio de tecnologia Dosagem de Colesterol Total; Dosagem de Triglicerídeos convencional ou rápida Pesquisa de anticorpos Pesquisa de Anticorpos do vírus da Hepatite C anti-HIV (anti-HCV)480 

Paternidade e cuidado3o PASSO oferecidas pelo PNI e a participação do pai ou parceiro na vacinação da família.Vacinar o pai ou parceiro conforme a si-tuação vacinal encontrada. A vacinação  Acesse o Calendário Nacional deé a medida mais eficaz para a prevenção Vacinação em: <http://portalsaude.de doenças que podem ser prevenidas. saude.gov.br/index.php/o-ministe rio/principal/leia-mais-o-ministerio/Com esse objetivo, o Programa Nacional 197-secretaria-svs/13600-calendade Imunizações (PNI) disponibiliza para rio-nacional-de-vacinacao>.toda a família o Calendário Nacional deVacinação, que atende todas as etapas 4o PASSOda vida, como para a criança, adolescen-te, adulto e idoso. Toda e qualquer consulta é uma opor- tunidade de escuta e criação de vincu-O pai ou parceiro, durante o acompanha- lo entre os homens e profissionais demento do período gestacional, deve atua- saúde, propiciando o esclarecimento delizar o seu Cartão da Vacina e buscar parti- dúvidas e orientação sobre temas rele-cipar do processo de vacinação de toda a vantes, tais como relacionamento comfamília, em especial da gestante e do bebê. a parceira, atividade sexual, gestação, parto e puerpério, aleitamento materno,Figura 8 – É importante que pai/parceiro mante- prevenção da violência doméstica.nha o seu Cartão de Vacina atualizado Na figura 20 a seguir você pode acompa- nhar algumas sugestões de atividades educativas com temas voltados para o público masculino. Importante lembrar que o envolvimento do pai pode acontecer mesmo quando ele e a gestante não estiverem em um relacionamento afetivo.Fonte: Fotolia. Para isso, é importante conversar com a gestante e saber se ela deseja que eleCom isso mantém-se o intuito de possi- participe deste momento. É de suma re-bilitar conhecimento e acesso às vacinas levância também que os profissionais de  481

UN2 Pré-natal do parceiro saúde reconheçam, respeitem e contem- puerpério e incentivá-lo a conversar com plem as diversas configurações fami- a parceira sobre a possibilidade da sua liares e expressões da paternidade em participação neste momento. Conversar suas ações. Mais adiante abordaremos com os futuros pais sobre a relevância a diversidade na paternidade. de sua participação no pré-parto, parto e puerpério, dando exemplos do que ele  Mais exemplos de atividades educa- poderá fazer, como: ser encorajado a tivas exitosas com foco no público cortar ou clampear o cordão umbilical masculino podem ser visualizadas em momento oportuno; levar o recém- em: <http://atencaobasica.org.br/>. -nascido ao contato pele a pele; incenti- var a amamentação; dividir as tarefas de 5o PASSO cuidados da criança com a mãe etc. Esclarecer sobre o direito da mulher a Algumas sugestões de atividades para um acompanhante no pré-parto, parto e realizar no seu local de trabalho estão no esquemático abaixo. Orientação • Prática de atividades físicas regulares de hábitos • Alimentação balanceada e saudável (preferência saudáveis por alimentos in natura) Atividades educativas • Usar óleos, gorduras, sal e açúcar com moderação com temas voltados • Limitar o uso de produtos prontos para consumo • Evitar comidas prontas tipo fast food etc., diminuir para o público masculino ou cessar consumo de bebida alcoólica, cigarro e outras drogas Realização de rodas de conversa • Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do abordando temas Homem como • Gênero, socialização masculina e impactos para a vida de homens, mulheres e crianças • Sexualidade, direitos sexuais e direitos reprodutivos • Paternidade, como ser um pai/parceiro presente • Prevenção de acidentes e violências entre a população masculina, dentre outros482 

Paternidade e cuidadoCaso a gestação seja de alto risco, com Este precioso manual, elaborado pelochances de o recém-nascido nascer MS em 2011, afirma que os profissionaisprematuro ou com baixo peso, reco- de saúde precisam estar cientes dessasmenda-se incentivar os pais/parceiros repercussões e compreender na práticaa conhecerem a unidade neonatal da que, quando um bebê nasce prematura-maternidade de referência. Além disso, mente, tanto eles necessitam ter preparoo profissional deve mostrar ao futuro instrumental e afetivo para adaptar-se apai que ao participar do parto, ele pode esta condição, quanto o foco da assis-ajudar a potencializar os diversos benefí- tência à família muda significativamente.cios, respaldados pela OMS, desde 1985. O manual deixa claro que o nascimento de O Governo Federal instituiu em 2005 um bebê pré-termo – aquele cuja gesta- a Lei Federal no 11.108/05, que ga- ção durou mais de 20 semanas e menos de 37 semanas – geralmente represen- rante o direito a um acompanhante ta um momento de crise para a família. de livre escolha da mulher durante Neste cenário, todas as pessoas presen- todo o período de trabalho de parto, tes no ambiente da unidade neonatal – parto e pós-parto imediato. O artigo o bebê internado, os pais, os familiares “Presença do acompanhante durante e a equipe de profissionais – possuem o processo de parturição: uma re- alguma vulnerabilidade e necessidades flexão”, de Santos et al. (2011) dis- específicas que devem ser identificadas corre sobre os benefícios da inser- e atendidas adequadamente. ção do acompanhante no trabalho de parto, apresentando evidências No entanto, quando bem trabalhado pela científicas sobre o assunto. Aces- equipe de saúde, este momento de crise se: <http://www.reme.org.br/artigo/ pode se constituir num ambiente propício detalhes/58>. à formação e fortalecimento de vínculos afetivos, auxiliado por técnicas como o2.3 Pais de filhos e filhas “Método Canguru”. Como descrito no prematurose o Método Canguru Manual, a posição canguru propicia:Como descreve a publicação Atenção  [...] o desenvolvimento de laçoshumanizada ao recém-nascido de baixo afetivos de modo mais natural,peso: Método Canguru, a gestação e o pois permite que os pais pos-nascimento de uma criança representaum momento de grande importância nociclo vital de mulheres e homens, trazen-do repercussões profundas e duradouras.  483

UN2 Pré-natal do parceiro sam ter um contato pele a pele néficas para a retomada do seu desen- íntimo com o bebê, ajudando‐os volvimento físico, emocional e cognitivo, a se sentirem mais confiantes fortalecendo o vínculo pai-bebê e dando em si mesmos. A posição can- mais segurança às mães, à medida em guru diminui, também, o estres- que passam a se sentir mais apoiadas se do bebê, evitando, assim, o por seus parceiros. aumento do nível de cortisol e, em consequência disso, pre-  Conheça o projeto “Pai Canguru”, servando o cérebro do bebê de realizado no Hospital Estadual Rocha possíveis danos causados pelo Faria, em Campo Grande, RJ. Acesse: estresse. (BRASIL, 2013, p. 50). <https://razoesparaacreditar.com/ viver/projeto-pai-canguru-ajuda-noFigura 9 – Método Canguru -desenvolvimento-e-aproxima-pais -e-bebes-prematuros/>. Fonte: Governo do Rio de Janeiro (2014) Sempre que possível, os pais/parceiros devem ser convidados e estimulados a realizarem este contato pele a pele com o seu bebê, tendo em vista que esse momento pode proporcionar novas ex- periências proprioceptivas e perceptivas para os recém nascidos que sejam be-484 

UN3Paternidade e diversidade



Paternidade e cuidadoO modelo tradicional de família – em  [...] conforma estereótipos e ex-que um pai e uma mãe vivem juntos com pectativas que são (re)produzidosseus filhos e filhas, e, por vezes, com ou- nos níveis institucionais (a Saúde)tros parentes – continua sendo o que pri- e findam por invisibilizar as ne-meiro vem à mente de muitas pessoas cessidades de saúde dos homensquando questionadas sobre o assunto. (e das mulheres), negando-lhes, inclusive, a possibilidade de atua-No entanto, apesar das novelas e comer- ção como sujeitos de direitos naciais continuarem retratando tal modelo relação com os serviços de saú-como se ele representasse a esmagado- de” (COUTO et al., 2010, p. 258).ra maioria, ou mesmo a totalidade dasfamílias brasileiras, olhando ao redor, Tendo isso em vista, é fundamental quefacilmente se constata que a realidade é os profissionais da saúde fiquem atentosbem diferente. às diferentes situações encontradas nos serviços durante o período da gestação,Figura 10 – Diversidades parto e pós-parto, já que a mãe ou o pai da criança podem estar em relacionamen- tos homoafetivos, não estarem ou nunca terem estado em relacionamento íntimo e terem diferentes configurações familiares. Os serviços de saúde precisam reconhe- cer e apoiar a diversidade de formas de cuidado existente entre homens e as ne- cessidades das diversas configurações familiares, incluindo pais solteiros, pais adotivos, pais gays e pais adolescentes (LEVTOV et al., 2015).Fonte: Fotolia  O termo “invisibilidade social”, muito utilizado no debate sobre o preconceitoCouto et al. (2010) trazem grande con- ou indiferença no campo do trabalho,tribuição para este debate, ao afirmarem pode contribuir para a reflexão e sen-que, associado a referenciais como ge- sibilização aqui vislumbrada. Assistaração, classe e raça/etnia, a perspectiva ao vídeo Invisibilidade Social (TVBetimde gênero UHF, 2013) e conheça mais sobre o as- sunto. Acesse: <https://www.youtube. com/watch?v=0geo2ZIW3wA>.  487

UN3 Paternidade e diversidade 3.1 Paternidade entre homens Por isso, alguns pontos são bastante im- jovens e adolescentes portantes para a reflexão dos profissio- nais de saúde no cuidado do pai/parcei- Raramente se pergunta aos homens – ro adolescente: em especial aos jovens e adolescentes – sobre sua participação, responsabilidade • o filho em geral é percebido, em nos- e desejo no processo de reprodução. sa cultura, como sendo da mãe; Figura 11 – Mesmo quando desejam assumir a pa- • o homem jovem quase sempre é per- ternidade, os adolescentes geralmente enfrentam cebido como naturalmente promís- obstáculos cuo, inconsequente, aventureiro e im- pulsivo; • o jovem pai é visto, sempre e por prin- cípio, como ausente e irresponsável: “Nem adianta procurá-lo porque ele não quer nem saber!”; • o jovem pai é reconhecido mais no papel de filho do que de pai; Fonte: Fotolia. • a preocupação com as experiências reprodutivas dos adolescentes con- Mesmo quando desejam assumir a pa- centra-se em grande medida na no- ternidade, os adolescentes geralmente ção de prevenção (INSTITUTO PAPAI enfrentam obstáculos, já que essa ex- et al., 2001). periência é vista como um “desvio” ou mesmo uma patologia para boa parte Ao invés de considerar a gravidez de da sociedade, dificultando para os ado- adolescentes e de jovens como um lescentes pensar, prevenir ou assumir “evento problema”, o mais adequado é sua condição de pai real ou virtual (FON- que se busque compreendê-la, sabendo SECA, 1997). que ela pode fazer parte do projeto de vida destes adolescentes, tendo signifi- cados diferentes para cada um deles, e podendo se revelar como um elemento488 

Paternidade e cuidadoreorganizador da vida, e não somente de seus filhos durante a gestação, odesestruturador (BRASIL, 2010). parto e o cuidado para com a criança;Figura 12 – A gravidez pode ser um elemento reor- • sensibilizar profissionais que jáganizador da vida atuam junto a adolescentes sobre a necessidade de compreenderem e apoiarem pais adolescentes, a fim de serem criadas condições para seu exercício mais favorável; • produzir e divulgar conhecimentos sobre a paternidade adolescente e as maneiras de apoiá-la (FONSECA, 1997).Fonte: Fotolia.  Fonseca (1997) traçou uma propos- ta que viria a se constituir no PAPAINesse sentido, os profissionais de saú- (Programa de Apoio ao Pai), que al-de precisam desenvolver ações, com a guns anos depois se transformaria nafinalidade de: ONG Instituto Papai. Conheça mais sobre essa ONG em <http://www.insti tutopapai.blogspot.com.br>.• apoiar adolescentes de sexo masculi- Compreendendo que, assim como a ma- no para que possam assumir, de ma- ternidade, a paternidade representa um neira responsável, sua vida reprodu- processo de transição emocional e exis- tiva, fortalecendo seu envolvimento tencial e que o período da adolescência durante a gestação, o parto e no cui- acarreta mudanças biológicas, psicoló- dado para com o filho, ajudando-o a gicas e sociais, os profissionais de saú- construir seu espaço dentro da famí- de devem: lia, num outro lugar que não apenas o de filho ou de chefe provedor; • ter disponibilidade para realizar a es- cuta ativa da adolescente e do seu• sensibilizar adolescentes de sexo fe- parceiro, reduzindo suas dúvidas e minino quanto à desejabilidade e ne- prestando os esclarecimentos neces- cessidade do envolvimento dos pais  489

UN3 Paternidade e diversidade sários, mesmo que necessite dispen- • reconhecer os adolescentes como sar mais tempo na consulta; sujeitos de direitos sexuais e reprodu- tivos, incluindo a paternidade como • favorecer espaços (nas consultas, nos direito. Deve-se estimular sua presen- grupos e nas oficinas) para que ado- ça, sempre que possível, e respeitá- lescentes do sexo masculino possam -los da mesma forma como se faria assumir a paternidade (BRASIL, 2012). com os adultos. Assim se contribui para fortalecer sua autonomia e seu Para que o processo de inclusão e de senso de responsabilidade como pai apoio aos pais jovens e adolescentes seja (CASTELLO BRANCO et al., 2009); possível, é imprescindível desconstruir alguns estereótipos atrelados aos ado- • é importante ter claro que nem todo lescentes e à gravidez na adolescência, pai adolescente é relapso e que nem fugindo assim de generalizações, já que, toda experiência de paternidade é ne- gativa para os jovens, como somos  Se esperamos rapazes violen- ensinados a pensar e a esperar. O tos, se esperamos que eles mesmo se aplica às mães adolescen- não se envolvam com cuidados tes (PROMUNDO, 2015); com seus filhos e que não par- ticipem de temas ligados à saú- • apoiar a adolescente que engravida e o de sexual e reprodutiva de uma seu parceiro não significa estimular a forma respeitosa e comprome- gravidez entre adolescentes; significa tida, então criamos profecias criar condições para que esse processo que se autocumprem” (INSTI- não resulte em problemas físicos e psi- TUTO PAPAI et al., 2001, p. 11). cossociais para o casal (PAPAI, 2001). A seguir, compartilhamos outras recomen- Por fim, mas não menos importante, os dações ou colocações que podem ser úteis profissionais devem ficar atentos à pres- para os serviços e profissionais de saúde: são sofrida pelos futuros pais – que é igualmente ou ainda mais sentida pelos • estimular os adolescentes no desem- pais jovens e adolescentes –, para que penho das funções de mãe e pai, en- assumam a função de provedor. Com corajando-os para o exercício da ma- frequência, essa pressão leva muitos ho- ternidade e paternidade responsável, mens jovens a largar os estudos prema- evitando, entretanto, subestimar a turamente e a assumirem trabalhos em sua capacidade (BRASIL, 2012); condições precárias, por vezes até ilegais.490 

Paternidade e cuidadoNesse contexto, o diálogo aberto e res- homens nem sempre é ‘aberta’ e contun-peitoso com o futuro pai pode funcionar dente, o que não a torna menos grave.como um contraponto ao que ele ouvede amigos e familiares, levando-o a reco- Figura 13 – Homoparentalidadenhecer que a paternidade é muito maisdo que ser apenas o provedor e a se en-volver de forma consciente e ativa. Importante! Em qualquer atendimento Fonte: Fotolia. de saúde realizado com adolescen- As diversas formas de discriminação so- tes e jovens, é de suma importância fridas por homens e pais homossexuais, que os/as profissionais respeitem a assim como a rotineira invisibilidade de- confidencialidade e sigilo, garantindo les em escolas, serviços de saúde, ins- assim que as informações partilhadas tituições religiosas etc., têm a mesma não serão transmitidas aos seus pais origem, à saber, o fato da homoparenta- e/ou responsáveis, sem a sua concor- lidade confrontar o senso comum sobre dância explícita (BRASIL, 2007). relações de gênero, sexualidade e cui- dado de crianças (LEVTOV et al., 2015;3.2 Homoparentalidade CASTELLO BRANCO et al., 2009).Homens gays, bissexuais e transexuais Frequentemente, esse senso comum,se tornam pais em diversos contextos ‘alimentado’ por nossa cultura sexista ecomo pais solteiros; em relacionamentos homofóbica, por vezes, também via cren-com outros homens ou com mulheres; ças religiosas, constrói obstáculos quecomo homens gays que tiveram crian- podem distanciar ou mesmo inviabilizarças em relacionamentos heterossexuais o contato entre esses pais e os profissio-anteriores; como homens que adotaram nais e serviços de saúde. Por isso, existeformalmente ou informalmente e como a necessidade de a equipe de saúde dis-homens que se tornaram pais utilizando cutir e trabalhar essa questão, apoian-técnicas de fertilização assistida ou de‘mães solidárias’ (LEVTOV et al., 2015).Ao abordar o tema da homoparentalida-de – o cuidado da criança por pai ou ca-sal homossexual – é importante ressal-tar que a discriminação sofrida por esses  491

UN3 Paternidade e diversidade do os pais, independentemente da sua Família, que ignora a existência das fa- orientação sexual e organização familiar mílias homoparentais ao definir a entida- (CASTELLO BRANCO et al., 2009). de familiar como “[...] o núcleo social for- mado a partir da união entre um homem O preconceito e a discriminação contra e uma mulher, por meio de casamento pessoas LGBTI – Lésbicas, Gays, Bisse- ou união estável, ou ainda por comunida- xuais, Travestis, Transexuais, Trangêne- de formada por qualquer dos pais e seus ros e Intersexuais – se revela não ape- descendentes”. nas nas relações interpessoais, como também nas políticas e leis. Veja a seguir alguns mitos relacionados à homoparentalidade e reflexões que po- Um exemplo disso foi o projeto de lei no dem auxiliar na desconstrução destes 6.583/13, conhecido como Estatuto da (SUPER INTERESSANTE, 2012). Mito 1) “Os filhos serão gays!” estima-se que 183 mil crianças americanas perderam os pais. No Brasil, 17,4% das famí- A lógica parece simples. Pais e mães gays lias são formadas por mulheres solteiras com só poderão ter filhos gays, afinal, eles vão filhos. Na verdade, os papéis masculinos e fe- crescer em um ambiente em que o padrão é mininos continuam presentes como referência o relacionamento homossexual, certo? Não mesmo que não ocorra através dos pais. necessariamente (se fosse assim, seria difícil, por exemplo, explicar como filhos gays podem Mito 3) “As crianças terão problemas psicoló- nascer de casais heterossexuais). Um estudo gicos por causa do preconceito!” da Universidade Cambridge comparou filhos de mães lésbicas com filhos de mães hete- Elas sofrerão preconceito. Mas não serão as rossexuais e não encontrou nenhuma diferen- únicas. No ambiente infantil, qualquer diferen- ça significativa entre os dois grupos quanto à ça – peso, altura, cor da pele – pode virar alvo identificação como gays. Mas isso não quer de piadas. Não é certo, mas é comum. Uma dizer que não existam algumas diferenças. As pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas famílias homoparentais vivem num ambiente Econômicas com quase 19 mil pessoas mos- mais aberto à diversidade – e, por consequên- trou que 99,3% dos estudantes brasileiros têm cia, geralmente com mais respeito e tolerân- algum tipo de preconceito. Entre as ações de cia, caso algum filho apresente também uma bullying, a maioria atinge alunos negros e po- orientação homossexual ou deseje ter experi- bres. Em seguida vêm os preconceitos contra ências neste campo. homossexuais. Felizmente, isso não é senten- ça para uma vida infeliz. Pesquisas que com- Mito 2) “Eles precisam da figura de um pai e param filhos de gays com filhos de heterosse- de uma mãe” xuais mostram que os dois grupos registram níveis semelhantes de autoestima, de relações Filhos de gays não são os únicos que crescem com a vida e com as perspectivas para o futu- sem um dos pais. Durante a 2a Guerra Mundial, ro. Da mesma forma, os índices de depressão492 

Paternidade e cuidadoentre pessoas criadas por gays e por heteros- por líderes religiosos, mantém a crença so-sexuais não são diferentes. bre o “perigo” que as crianças correm quando criadas por gays. Até hoje, as pesquisas aindaMito 4) “Essas crianças correm risco de sofrer não encontraram nenhuma relação entre ho- abusos sexuais!” mossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National LongitudinalEsse mito é resquício da época em que a ho- Lesbian Family Study reportou abuso sexualmossexualidade era considerada um distúrbio. ou físico. Outra pesquisa, realizada por trêsDesde o século 19 até o início da década de pediatras americanas, avaliou o caso de 2691970, os gays eram vistos como pervertidos, crianças abusadas sexualmente. Apenas doisportadores de uma anomalia mental trans- agressores eram homossexuais. A Associa-mitida geneticamente. Foi só em 1973 que a ção de Psiquiatria Americana ainda esclarece:Associação de Psiquiatria Americana retirou a “Homens homossexuais não tendem a abusarhomossexualidade da lista de doenças men- mais sexualmente de crianças do que homenstais. É pouquíssimo tempo para a história. O heterossexuais”.estigma de perversão, sustentado tambémFelizmente, essa Lei (ainda não sancio- Figura 14 – Tanto pais gays quanto mães lésbicasnada) não pode se sobrepor à decisão do cuidam de seus filhos e filhas de forma muito si-Supremo Tribunal Federal (STF), que, em milar a pais e mães heterossexuais2012, reconheceu a união entre pessoasdo mesmo sexo como entidade familiar.De acordo com Coutinho Filho e Rinaldi(2015, p. 292), “A interpretação do Su-premo reconheceu um quarto modelo defamília brasileira que seriam: a decorren-te do casamento, a união estável, a enti-dade familiar ‘monoparental’ (compostapor uma pessoa com filhos) e a famíliadecorrente da união homoafetiva”. Paraos autores, essa decisão também mo-dificou a prática de adoção no Brasil, jáque, casais homoafetivos passaram apoder pleitear conjuntamente a adoção. Fonte: Fotolia.  493

UN3 Paternidade e diversidade Pesquisas têm mostrado que tanto pais  A partir desse reconhecimento, gays quanto mães lésbicas cuidam de a política apresenta, como obje- seus filhos e filhas de forma muito simi- tivo geral promover “[...] a saúde lar a pais e mães heterossexuais, e que integral de lésbicas, gays, bis- as suas crianças são tão saudáveis e sexuais, travestis e transexuais, bem adaptadas socialmente quanto as eliminando a discriminação e o demais (LEVTOV, et al., 2015). preconceito institucional, bem como contribuindo para a re- No âmbito da saúde, os debates e mo- dução das desigualdades e a bilizações políticas sobre esse tema, consolidação do SUS como sis- que se fortaleceram a partir da década tema universal, integral e equi- de 1980, resultaram na elaboração da tativo. (BRASIL, 2013, p. 18). Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis Figura 15 – Novos casais, novas famílias e Transexuais, instituída, no âmbito do SUS, no dia 1o de dezembro de 2011, pela Portaria no 2.836. Embasada nos princípios Constitucio- nais da cidadania e dignidade huma- na e da busca pela promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, essa política apresenta, como uma de suas principais justificativas, o fato de a discriminação por orientação sexual e por identidade de gênero incidir na  [...] determinação social da saú- Fonte: Fotolia. de, no processo de sofrimento e adoecimento decorrente do Mesmo sabendo que ainda há muito preconceito e do estigma social a ser feito neste campo para que a po- reservado às populações de pulação LGBT tenha seus direitos reco- lésbicas, gays, bissexuais, tra- nhecidos e respeitados, como pontuado vestis e transexuais. (BRASIL, por Nascimento (2015), existe uma cres- 2013, p. 18).494 

Paternidade e cuidadocente visibilidade das “novas famílias”, o Construída a partir de crenças religiosasque pode ser atestado pelos – como, por exemplo, “Até que a morte nos separe” – e de convenções sociais, [...] debates sobre casamento as quais tentam estabelecer papéis es- igualitário entre pessoas do mes- pecíficos para homens e mulheres nos mo sexo, a incorporação de ca- relacionamentos – determinando o que sais homoafetivos na legislação é uma “família de verdade” –, tal idealiza- sobre reprodução assistida e a ção pode, muitas vezes, restringir visões contabilização, no ultimo censo de mundo mais abertas e inclusivas, pre- do IBGE de 2010 de cerca de 60 judicando o exercício de uma paternida- mil domicílios no país formados de consciente por parte dos homens. por casais homossexuais. Reconhecendo as múltiplas facetas das A homoparentalidade vem sendo famílias e dos relacionamentos, e aten- abordada por diversas matérias e ta à delicadeza dessas situações para também em novelas. Por exemplo: a paternidade, alguns aspectos de pais o documentário Meu amor que me solteiros e viúvos, pais separados e pais disse, dirigido por Cátia Nucci e reali- ausentes, devem ser observados aten- zado pelo Centro Universitário Senac, tamente pelos profissionais de saúde, aborda quatro distintas histórias de como aponta a cartilha elaborada por famílias homoparentais (acesse em: Castello Branco et al. (2009, p. 19-21). <https://www.youtube.com/watch? Acompanhe. v=fccwbnRgoKc>). Pais solteiros e viúvos Também, a matéria “Filhos reve- lam como é crescer em lar com pais Alguns pais cuidam de seus filhos sem gays”, do sítio UOL, traz 12 vídeos a presença das mães e enfrentam os curtos sobre o assunto. Em: <http:// preconceitos de gênero nos diversos noticias.uol.com.br/cotidiano/ulti setores da sociedade que não acredi- mas-noticias/2013/05/29/filhos-re tam na sua capacidade cuidadora. Esse velam-como-e-crescer-em-lar-com preconceito muitas vezes se inicia neles -pais-gays.htm>. mesmos, que se sentem despreparados e incapazes.3.3 Paternidade em famílias monoparentais Necessitam, portanto, de apoio da equi- pe para valorização de sua experiên-Similar à maneira como pais e mães cia, já que, apesar de bons cuidadores,idealizam seus filhos e filhas durante agestação, existe uma idealização da fa-mília e dos relacionamentos.  495

UN3 Paternidade e diversidade costumam se sentir desvalorizados em A principal alteração trazida com a lei comparação às mulheres, ainda percebi- é que, não havendo acordo entre pais e das como as cuidadoras tradicionais. mães sobre a guarda, o juiz determina- rá prioritariamente que a mesma seja Especial atenção deve ser dada aos compartilhada. Antes da lei, com maior pais cujas parceiras faleceram (no parto frequência, a guarda era concedida para ou em outras circunstâncias). Além da a mãe e o pai precisava entrar com um tristeza e trauma pela morte da compa- pedido de guarda compartilhada. nheira, muitas vezes eles ainda precisam enfrentar uma disputa com familiares da Nos atendimentos, a equipe deve deixar mãe pela guarda dos filhos. clara a importância dos dois, e colaborar para que ambos continuem a comparti- Pais separados lhar a responsabilidade e o amor pelos filhos (CASTELLO BRANCO et al., 2009). Tendo como foco o benefício da saúde emocional da criança, os vínculos com o Pais ausentes pai e com a mãe devem ser preservados, como recomendado pelo Estatuto da Mesmo nas situações em que está au- Criança e do Adolescente (ECA), que afir- sente fisicamente, o pai deve ser incluí- ma que toda criança tem direito ao cui- do nos atendimentos por meio da fala dado de pai e mãe, e com o art. no 1.579 do profissional e da pessoa que está do Código Civil, que prevê que o divórcio sendo atendida (gestante, mulher, crian- não modificará os direitos e deveres dos ça ou adolescente). Nas dificuldades de pais em relação aos filhos. relacionamento entre os pais é comum que as mulheres excluam o pai da vida Importante! A equipe de saúde deve das crianças. Se for necessário, a equi- conhecer a Lei no 13.058, de 2014 pe pode pedir autorização à mãe para realizar o contato com ele, por telefone  – Lei da Guarda Compartilhada, que ou correspondência, e, de acordo com estabelece o significado da expres- sua aceitação, poderá marcar um aten- são “guarda compartilhada” e dispor dimento com o pai, com o objetivo de sobre sua aplicação. De acordo com a estimular o vínculo e o cuidado paterno. Lei, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibra- No caso de pais falecidos ou de impos- da com a mãe e com o pai, sempre sibilidade de contato, a equipe poderá tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos.496 

Paternidade e cuidadoapoiar psicologicamente a mãe e incen- Frente a tão diversas possibilidades etivá-la a facilitar que familiares ou ami- arranjos familiares, o relatório global dagos possam servir como referência afe- MenCare (LEVTOV et al., 2015) alertativa masculina para a criança. que não devemos confundir “não resi- dência” com ausência, já que, em dife-Quando o pai é privado de liberdade rentes graus, os pais geralmente conti-ou comprometido com ações ilegais, a nuam comprometidos com seus filhosequipe precisará trabalhar as dificulda- e filhas, mesmo não residindo ou nãodes emocionais e sociais da família. Tais estando em uma relação afetiva com asituações demandam uma reflexão in- mãe destes.terna da equipe no apoio à manutençãodo vínculo paterno, no sentido de traba- Apesar dessa constatação, a realidadelhar os preconceitos com relação a es- de homens que optam por não manterses homens e reconhecê-los como pais, contato algum ou mesmo reconhecerindependentemente das circunstâncias. seus filhos e filhas continua sendo muito presente no Brasil, o que pode ser ilus-No caso de pais que não assumiram a trado pela estimativa de cinco milhõespaternidade, a equipe poderá apoiar a de estudantes que não possuem o nomemulher para a realização de teste de DNA, do pai na certidão de nascimento e noorientando-a a procurar a Defensoria Pú- documento de identidade (CNJ, 2015).blica. Quando necessário, o juiz executa-rá um laudo pericial e solicitará a realiza- Além disso, em diversas ocasiões, a se-ção de exame de DNA com gratuidade de paração ou divórcio pode significar nãojustiça (CASTELLO BRANCO et al., 2009). apenas o rompimento do relacionamento afetivo, mas também o distanciamento, Sobre paternidade ou famílias mono- por vezes total, de pais e crianças, mui- parentais, leia o artigo “Quando um tas vezes gerando danos para mulheres, dos genitores detém a guarda dos homens e, especialmente, filhos e filhas. filhos: que configuração familiar é essa?” (ISOTTON, R.; FALCKE, D. Pen- No intuito de contribuir para a prevenção sando Famílias, v. 18, n. 1, 2014, p. dessas situações, apresentamos a se- 92-106); o livro Famílias Monoparen- guir nove sugestões do sítio Chile Crece tais, de E. O. Leite (São Paulo: Revista Contigo, as quais que podem ser dadas dos Tribunais, 2003) e a matéria “Eles para pais e mães que estão passando são Superpais” (Saúde Plena, 2013, por uma separação: em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ penf/v18n1/v18n1a09.pdf>.  497

UN3 Paternidade e diversidade • possibilitar o máximo de contato das • manter contato telefônico com filhos; crianças com os pais e mães: pai e mãe devem realizar acordo quanto ao • jamais utilizar os filhos como medida esquema de tempo, responsabilidades, de pressão ou castigo. cuidados e tarefas compartilhadas; Figura 16 – Pais separados jamais devem utilizar • manter e cumprir os horários de visi- os filhos como medida de pressão ou castigo tas ou de cuidado, pois as crianças se acostumam melhor à nova situação quando há clareza e os horários acor- dados são seguidos; • trabalhar de forma cooperativa e com Fonte: Fotolia. o mínimo de conflito com a ex-parcei- ra; romper o silêncio, conversar sobre os problemas, os desejos e expectati- vas relacionados ao contato e à cria- ção dos filhos e filhas; • desenvolver um ‘trabalho de equipe’ Por fim, destaca-se que o cuidado é uma com a ex-parceira, pois os filhos pre- potencialidade humana, presente em ho- cisam ambos que trabalhem de for- mens e mulheres, mas que necessita de ma coordenada; circunstâncias e condições para se mani- festar e desenvolver (CARVALHO, 2007). • esforçar-se para manter uma relação Nesse sentido, os profissionais de saúde afetiva e compreensiva com filhos, es- possuem papel estratégico junto à rede tabelecendo limites claros e regras que de apoio mais ampla, no estabelecimento estejam de acordo com a idade deles; efetivo dessas circunstâncias e condições. • postergar, na medida do possível, outras  Assista os vídeos Quatro incríveis mudanças, como de residência, cidade, pais solteiros (Hospital Israelita Albert berçário, jardim de infância ou colégio; Eistein, 2012, em: <https://www.you tube.com/watch?v=XD9f2qCMcK8>) • ajudar os filhos ou filhas a manter con- e A história de Steven (MenCare, em tato com amigos, avós e tios de am- <https://www.youtube.com/watch? bas as famílias e outras redes sociais; v=1wIfQ1WhzpY>), que abordam ex- periências de homens como os princi- pais cuidadores de suas filhas e filhos.498 

Paternidade e cuidado3.4 Rede de apoio questões de gênero, já que, de modo geral, as mulheres possuem redes maisA rede social representa um complexas, com mais contatos e fun- ções mais diversas do que as dos ho- [...] conjunto de seres com quem mens, o que pode torná-las menos vul- interagimos de maneira regular, neráveis no que tange às questões de com quem conversamos, com saúde (GUTIERREZ; MINAYO, 2008). quem trocamos sinais que nos corporizam, que nos tornam Neste contexto, é importante incentivar reais (SLUZKI, 1997 apud GU- por parte dos profissionais de saúde a TIERREZ; MINAYO, 2008, p. 15). formação de redes e grupos sociais de apoio dentro das comunidades existen-Em uma espécie de “retroalimentação”, tes nos territórios, vinculados direta ouesta rede afeta a saúde e o bem-estar do indiretamente aos serviços de saúde daindivíduo – e este, por sua vez, afeta a Atenção Básica, onde os homens pos-sua rede social. sam ter o espaço legítimo e consentido para desempenhar um protagonismoEsse efeito foi chamado por Sluzki de saudável ao compartilhar sua história“círculo virtuoso”, quando pessoal, momento de vida e suas dú- vidas, receios, certezas e projetos em [...] a ação apoiadora da rede so- relação aos compromissos, desejos e cial ajuda a proteger a saúde das deveres que envolvem a paternidade, a pessoas e a pessoa saudável chegada de um novo filho e a relação afe- fortalece e amplia sua rede” e tiva ou de amizade com a mãe/parceira. ‘círculo vicioso’, quando “[...] a situação de doença gera o afas- Figura 17 – Formar redes e grupos sociais de tamento do grupo da convivên- apoio dentro das comunidades cia com a pessoa enferma e essa ausência gera maior agra- vamento, o que contribui para maior afastamento, o que pro- voca novo agravamento” (GU- TIERREZ; MINAYO, 2008, p. 5).A rede social e os seus efeitos sobre asaúde também são influenciados pelas Fonte: Fotolia.  499


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